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RESPOSTA A ACUSAÇÃO

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 12ª VARA CRIMINAL DA CAPITAL Autos Nº.: 0715478-22.2013.8.02.0001. Autor: Ministério Público Estadual Denunciado: Rafael Felipe de Lima Lopes

RAFAEL FELIPE DE LIMA LOPES, brasileiro, solteiro, estudante, portador do CPF nº. 864.805.074-62 e RG nº. 3208484-6 SEDS/AL, residente e domiciliado na Rua Miramar, nº. 171, Prado, Maceió, CEP 57.010-180, por meio de seu advogado e bastante procurador, que esta subscreve, nos autos que lhe move o MINISTÉRIO PÚBLICO, vem, mui respeitosamente perante a presença de Vossas Excelências, apresentar RESPOSTA À ACUSAÇÃO, com fulcro nos artigos 396 e 396-A, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:

DA EXORDIAL ACUSATÓRIA Segundo narrativa da exordial acusatória, no dia 17.06.2013, por volta das 21:30 horas, na Rua João Lício Marques, em frente a um posto de saúde, no bairro do prado, nesta Capital, o ora denunciado, foi preso em flagrante delito após roubar pertences e documentos pessoais em nome de EVANICE DA SILVA GUEIROS. Emerge ainda que a vítima José Manuel Pedro Melo dos Santos ligou para o COPOM para informar que havia sido assaltado pelo acusado, em frente a sua residência, no bairro do Trapiche da Barra e que, logo em seguida, o perseguiu, tendo em vista que este ultimo, logo após o ato, se dirigiu até um veículo Fiat Palio Edx, de cor azul, placa JMB 8160. Que horas antes, o denunciado e seus comparsas, estes últimos ainda não identificados, roubaram a pessoa de Jeovaneide Santos Viana da Rocha e de uma outra pessoa identificada como Evanice da Silva Gueiros, no bairro da Pajuçara, levando suas respectivas bolsas, contendo documentos e objetos pessoais. Logo após à perseguição, a vítima José Manuel identificou o suposto veículo usado na pratica delitiva estacionado, e ligou para a Polícia Militar. Ao

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chegar no local, percebeu a Guarnição da Policia Militar, que o veículo encontrava-se fechado. Instantes depois, os policiais indagaram a uma senhora que morava naquela localidade se ela sabia a quem pertencia o veículo. Apesar de não saber o nome do proprietário, a mesma afirmou que o dono morava numa casa próxima àquele local, vizinho a um bar. Desta forma, seguindo as informações recebidas, os policiais seguiram em direção à residência do denunciado, onde foram recebidos pela avó do acusado, logo foram convidados para entrar e tendo o acusado prestado as informações necessárias, o mesmo recebeu voz de prisão e encaminhado até o IML para a realização do exame de corpo de delito. Por fim, requereu o Digníssimo Representante do Ministério Público, a condenação do acusado nas sanções previstas do artigo 157, § 2º, I e II do CPB. Em suma, os fatos.

DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL Aduzem os artigos 396 e 396-A:

Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz se não rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que interessa à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.

PRELIMINARMENTE - DA INÉPCIA DA DENÚNCIA Douto Julgador, a denúncia para ser apta, tem que preencher todos os

requisitos elencados no artigo 41 do CPP, todavia, devem, estar presentes a exposição de fato criminoso, com todas as suas circunstâncias. Sendo, de grande e necessária importância, apontar qual a conduta efetivamente típica praticada pelo agente ativo.

Vejamos as seguintes jurisprudências:

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“Os requisitos do art. 41 do CPP, são indeclináveis não só em nome do princípio da lealdade processual, como também por força do princípio do contraditório, que é preceito constitucional. Se a denúncia acusatória não for clara, precisa e concludente, não se poderá estabelecer o contraditório em termos positivos, com evidente prejuízo para a defesa, sujeita a vagas acusações” (TACRIM-SP-HC Rel. Vlaporé Caiado) “Se a denúncia não preenche os requisitos do art. 41 do CPP, o processo criminal constitui um constrangimento para o indiciado, pelos prejuízos morais e incômodos materiais que lhe causa. Não pode a denúncia desatender a lei, sob pena de importar o seu recebimento em coação ilegal” (STF-HC Rel. Barros Monteiro – RT 411/407) “Denúncia – INÉPCIA – DESCRIÇÃO INSUFICIENTE. É inepta a denúncia que não descreve pormenorizadamente o fato criminoso, dificultando o exercício da ampla defesa. Recurso de Habeas Corpus provido” (STF-RHC-59839-1 – Rel. Rafael Mayer – DJU 4.6.82, P. 5.460)

Assim sendo, a denúncia interposta pelo Representante do Ministério Público, não expôs todas as circunstâncias em que se deu o crime de roubo, inclusive, deixou de apontar o verdadeiro autor do delito.

Portanto MM Juiz pugna a defesa, pela INÉPCIA DA DENÚNCIA.

DO EXCESSO DE PRAZO PARA A FORMAÇÃO DA CULPA O nosso ordenamento jurídico exige prioridade para casos de réu preso, pois os excessos de prazo justificáveis e não longos são aceitáveis. Caso contrário a segregação cautelar transgride às determinações explicitadas no art. 5º, LXXXVIII da CF e art. 46 do CPP. No caso em tela, o excesso de prazo para o oferecimento da denúncia é manifesto, extenso e injustificável. O acusado foi preso em flagrante em 17/06/2013, sendo em 18/06/2013 convertida a prisão em flagrante em preventiva. Entretanto, a denúncia somente foi apresentada em 02/08/2013, sendo recebida em 07/08/2013. Portanto, é de se reconhecer o constrangimento ilegal para o acusado cautelarmente preso, advindo do excesso de prazo para o oferecimento da denúncia. Vejamos os seguintes julgados:

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"CRIMINAL. HC. ROUBO QUALIFICADO. FORMAÇÃO DE QUADRILHA. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO E DE USO RESTRITO. PRISÃO PREVENTIVA. EXCESSO DE PRAZO PARA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA. DEMORA INJUSTIFICADA ATRIBUÍVEL EXCLUSIVAMENTE AO ESTADO-ACUSAÇÃO. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE QUE MILITA EM FAVOR DO PACIENTE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA. PEDIDO DE REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA PREJUDICADO. I. Hipótese em que o paciente se encontra preso há mais de 48 dias sem que tenha sido oferecida denúncia pelo representante do Ministério Público. II. Não obstante a dificuldade apresentada pelo Tribunal a quo, decorrente da ausência de Promotor de Justiça na Comarca em que ocorreram os fatos apurados no Auto de Prisão em Flagrante, o atraso caracterizado no oferecimento da denúncia não pode ser considerado razoável, sendo atribuível exclusivamente ao Estado-Acusação, não podendo o paciente suportar, preso, o cumprimento das providências legais. III. O princípio da razoabilidade, que nesta Corte tem sido utilizado para afastar a existência de constrangimento ilegal em feitos complexos, no presente caso milita a favor do paciente. IV. O constrangimento ilegal por excesso de prazo deve ser reconhecido quando a demora é injustificada. V. Ordem concedida para determinar a imediata expedição de alvará de soltura em favor do paciente, se por outro motivo não estiver preso, mediante condições a serem estabelecidas pelo Juízo de 1º grau, julgando-se prejudicado o pedido de revogação da prisão preventiva." ( HC 61118/MT, 5ª Turma , Rel. Min. Gilson Dipp , DJU de 09/10/2006).

"PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EXCESSO DE PRAZO PARA OFERECIMENTO DE DENÚNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. 1. Ultrapassado, em muito, o prazo de cinco dias para o oferecimento da denúncia previsto no artigo 46 do Código de Processo Penal, configura-se constrangimento ilegal. 2. Ordem concedida." ( HC 42023/SE, 6ª Turma , Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa , DJU de 05/09/2005).

"PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 171, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. EXCESSO DE PRAZO PARA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA. Ultrapassado, em muito, o lapso previsto no artigo 46, 1ª parte, do CPP, é de se reconhecer o constrangimento ilegal, para o réu cautelarmente preso, advindo do excesso de prazo para o oferecimento da denúncia. Ordem concedida. Pedido

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julgado prejudicado em relação ao paciente SÍLVIO CÉSAR DE ABREU, em virtude do pleito ter sido atendido no HC nº 36137/SP." ( HC 36171/SP, 5ª Turma , de minha relatoria , DJU de 13/09/2004).

Portanto MM Juiz pugna a defesa, pelo RELAXAMENTO DA PRISÃO

EM FRAGRANTE. DA NULIDADE DA DESCISÃO Ainda em sede preliminar, há de se verificar a existência de vício de nulidade na decisão que indeferiu o pedido de liberdade provisória sem prévia oitiva do Ministério Público. A invalidade decorre da inobservância do Provimento nº 13/2009 da Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas, e na violação aos preceitos delineados nos artigos 5o, LV, e 127, caput, da Constituição Federal. Não se pode dispensar o exame do Ministério Público nas hipóteses exigidas em lei, sob pena de privá-lo do exercício de suas funções constitucionais. Afinal, a Constituição Federal de 1988 constituiu novos contornos à instituição ministerial, dotando-a de prerrogativas e de poderes – indispensáveis e não passíveis de mitigação pelo Poder Judiciário – visando ao melhor exercício da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Saliente-se que o Ministério Público, além de figurar como parte no processo penal, atua, ainda, como fiscal da lei e defensor da ordem jurídica, de forma que a sua participação não se restringe à defesa do ius puniedi do Estado, mas também objetiva a defesa de direitos que podem, eventualmente, ser do próprio acusado, o que, de certa forma, agrava a nulidade decorrente de sua exclusão/afastamento do processo. Nas palavras de Calamandrei, o Ministério Público “como sustentáculo da acusação, devia ser tão parcial como um advogado; como guarda inflexível da lei, devia ser tão imparcial como um juiz”. E é a partir desse já delineado novo contexto constitucional de atuação do Ministério Público – que vincula inexoravelmente a validade da legislação ordinária – que as regras processuais e materiais penais devem ser entendidas. Veja-se que, se em 1940 a intervenção ministerial já era essencial para a concessão de liberdade provisória, mais ainda sob a égide da nova ordem constitucional, que traz no próprio conceito de Ministério Público a sua indispensabilidade à função jurisdicional. Em verdade, considerada a natureza da intervenção, trata-se de nulidade absoluta a não-observância do determinado no artigo 310 do Código de Processo Penal, sendo inadmissível o tratamento conferido à causa, como se fora hipótese de mera irregularidade. Portanto, pela inobservância do Provimento nº 13/2009 da Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas, que dar vistas ao Ministério Público, quanto ao protocolo de qualquer petição, principalmente quando existe

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pedido de liberdade provisória, e da violação aos preceitos delineados nos artigos 5o, LV, e 127, caput, da Constituição Federal de que trata a presente resposta a acusação, não há possibilidade de se negar validade à lei, devendo ser respeitada a determinação de vista prévia dos autos ao Ministério Público como condição de possibilidade de concessão de liberdade provisória. Não se trata de preciosismo ou de um formalismo conservador exigir o cumprimento da lei – e por consequência a determinação de necessária prévia oitiva do Ministério Público em casos de liberdade provisória – pela simples razão de que nem sempre a liberdade não concedida se dá em conformidade com o ordenamento jurídico. Em verdade, o descumprimento de expresso texto legal – estar-se-á institucionalizando a discricionariedade judicial da escolha dos casos em que o Juiz daria ou não vista ao Ministério Público. Ora, isso seria acreditar que todas as decisões são corretas e que todos os Juízes estão imbuídos do dom da infalibilidade. Seria, ainda, possibilitar ao Poder Judiciário a relativização das funções do Ministério Público, matéria que, definitivamente, não é de sua alçada. Pelo exposto, a defesa, pugna pela nulidade da decisão, e entende como medida mais justa, o relaxamento da prisão, fazendo cessar a irregularidade da prisão, expedido o competente alvará de soltura.

- DA NEGATIVA DE AUTORIA

No caso em tela, não existe provas para a condenação do denunciado, visto que, as vítimas não reconheceram o mesmo como autor do crime, o que será provado na instrução criminal. Ausentes também a res furtiva e qualquer materialidade que comprove o ilícito penal. Não apenas o Poder Judiciário, mas toda a sociedade deve conferir credibilidade aos agentes públicos responsáveis pela segurança e manutenção da paz social. Neste diapasão, a presunção de que agem os policiais corretamente é uma presunção relativa, iuris tantum. Assim, quanto aos depoimentos policiais, devem ser estes objeto de ressalvas, conforme entendimento reiterado de nossos Tribunais. Vejamos:

“O depoimento de policial, como elemento de informação judicial, para ser acolhido, deve estar sempre acompanhado e confortado por outras provas obtidas no curso da instrução processual, formando um todo coerente e logicamente harmônico, designativo da responsabilidade criminal do réu.” (TJSP – AP 102.370-3 – Rel. Mário Bártoli – j. 03.04.91)

“Já que a missão da polícia é obter dados convincentes que informem a atuação do Ministério Público, seria afronta ao princípio do contraditório condenar com base, apenas,

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no testemunho de seus agentes.” (TACRIM – SP – AP – Rel. Roberto Martins – JUTACRIM – SP 43/166).

Muito embora possa se afirmar que o depoimento de policiais é corroborado pela existência de vítimas, melhor tratamento não deve ser dispensado a tais depoimentos: a uma, porque nega o acusado veementemente a prática de conduta delituosa, da forma como lhe é atribuído à denúncia a acusações infundadas levadas a efeito por policiais, o que não se mostra distante da realidade atual; e, a duas, porque também eivados de suspeição depoimentos de suposta vítima, já que envolvidas diretamente na questão tendem a relatar a dinâmica do fato de acordo com as suas conveniências, até omitindo acontecimentos de relevância para o deslinde da causa. Portanto, diante do exposto, torna-se imperiosa a decretação de preceito absolutório, uma vez que insuficientes e eivados de suspeição os elementos probatórios acostados aos autos, autorizando a ABSOLVIÇÃO com fulcro no art. 386, inciso VII do Código de Processo Penal. DA AUSÊNCIA DO CONCURSO DE PESSOAS E DA AUSÉNCIA DA CONTINUIDADE DELITIVA. Manifesta-se também a defesa pelo afastamento da qualificadora do concurso de pessoas diante da falta de vínculo subjetivo entre o acusado e as pessoas não identificadas envolvidas no crime. Logo o acusado somente emprestou seu veiculo, e o uso do mesmo para as praticas delitiva aconteceu sem a aquiescência do acusado, pois não há como cogitar-se concurso de pessoas, até porque, o plano inicialmente traçado (finalismo), a ação, do início ao fim, não teve a participação do acusado e sim das pessoas não identificada no crime. Nelson Hungria elucida bem a questão, quando enfatiza ser “indispensável que haja uma consciente combinação de vontades na ação criminosa, para caracterizar a causa especial de aumento de pena” (Comentários ao código Penal, 1ª Ed., vol. VII, p. 44) o insigne Des. Hoeppner Dutra, por seu turno, acrescenta que não se compreende a majorativa sem a aquiescência dos co-participantes” (O Furto e o Roubo, 1955, p. 244). Sendo assim, temos que não há qualquer indício da autoria do crime de roubo!

Assim sendo, requer, a defesa, ABSOLVIÇÃO do acusado Rafael Felipe de Lima Lopes, por negativa de autoria.

DO MÉRITO Sem prejuízo das preliminares suscitadas, e, incontestável a fragilidade

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probatória acostada aos autos, razão pela qual não deve imperar a decretação do édito condenatório, o denunciado passa a manifestar-se sobre a sua conduta social.

- DA CONDUTA SOCIAL DO DENUNCIADO Sobre a conduta social do Acusado devemos informar que: a) o denunciado é primário, conforme certidões criminais da

justiça estadual e federal já anexadas aos autos; b) possui residência fixa, pois reside na Rua Miramar, nº. 171,

Bairro do Prado, Maceió – AL, Cep 57.010-180, conforme comprovante de residência anexo;

c) possui profissão definida e é estudante de cursos profissionalizantes, onde já concluiu o curso de Prevenção de Acidente de Trabalho, Curso Informática Básica, Curso de Interpretação da Norma da ABNT e o Curso de Departamento Pessoal, conforme faz prova certificados já anexados aos autos, além de ter prestado o último concurso da Policia Militar, recibo de pagamento também já anexado aos autos.

Portanto, comprovadas estão, as excepcionais qualidades do

denunciado, sobretudo a sua exemplar conduta social.

“A conduta social e a personalidade do agente somente podem ser valoradas favoravelmente, sob pena de se ferir o princípio constitucional da legalidade”. (TJMG, Processo 1.0024.98.135297-4/00/(1), Rel. Alexandre Victor de Carvalho) “4. A conduta social do agente deve ser sopesada em relação à sua situação nos diversos papéis desempenhados junto à comunidade, tais como atividades relativas ao trabalho e à vida familiar, dentre outros, não se confundindo com os antecedentes criminais, mas como verdadeiros antecedentes sociais do condenado.

O que se vê ao longo das páginas desse processo, é uma verdadeira injustiça a acusação, ferindo-se de morte todos os mais sagrados princípios constitucionais, no que tange aos direitos e prerrogativas do cidadão. Por isso, pugna a defesa pela IMPROCEDÊNCIA DA DENÚNCIA.

- DOS FUNDAMENTOS QUE AMPARAM A REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA

Esse Douto Juízo, em tais condições, e amparado no artigo 312 do CPP, afirma que, são motivos ensejadores para a sustentação da decretação da prisão preventiva.

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Entretanto, vale destacar que o princípio Constitucional da Presunção de Inocência, associado ao direito de permanecer em liberdade provisória, configuram o quadro ideal para a situação dos réus. A regra constitucional estabelece a liberdade como padrão, sendo a incidência da prisão processual uma excepcionalidade, só tendo espeque quando se fizer imprescindível, conforme obtempera, dentre outros, TOURINHO FILHO (Processo Penal, v. 3., 20. ed., São Paulo, Saraiva, 1998, p. 451). A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, LVII, consagra o princípio da presunção de inocência, dispondo que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”, destacando, destarte, a garantia do devido processo legal, visando à tutela da liberdade pessoal.

Ainda, o art. 8º, I, do Pacto de São José da Costa Rica, recepcionado em nosso ordenamento jurídico (art. 5º, § 2º da CF/88 – Decreto Executivo 678/1992 e Decreto Legislativo 27/1992), reafirma, em sua real dimensão o princípio da presunção da inocência, in verbis: “Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa”.

A esse respeito preleciona Fernando Capez, sem a real e efetiva

necessidade para o processo, a prisão preventiva seria “uma execução da pena privativa de liberdade antes da condenação transitada em julgado, e, isto, sim, violaria o princípio da presunção da inocência. Sim, porque se o sujeito está preso sem que haja necessidade cautelar, na verdade estará apenas cumprindo antecipadamente a futura e possível pena privativa de liberdade.” (in Curso de Processo Penal, 2a ed., Ed. Saraiva, p. 224).

E na lição de Mirabete (Mirabete, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 8a ed.,

rev., at. – São Paulo: Atlas, 1998. p. 402): “Sabido que é um mal a prisão do acusado antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, o direito objetivo tem procurado estabelecer institutos e medidas que assegurem o desenvolvimento regular do processo com a presença do imputado sem o sacrifício da custódia, que só deve ocorrer em casos de absoluta necessidade. Tenta-se assim conciliar os interesses sociais, que exigem a aplicação e a execução da pena ao autor do crime, e os do acusado, de não ser preso senão quando considerado culpado por sentença condenatória transitado em julgado”.

Os nossos Tribunais, assim tem se manifestado a respeito da concessão da Revogação da Prisão PREVENTIVA:

APELAÇÃO CRIMINAL – ROUBO MAJORADO – PROVA – CONDENAÇÃO COM SUPEDÂNEO EM

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DADOS PROBANTES OBTIDOS EXCLUSIVAMENTE EM INQUÉRITO POLICIAL – AUSÊNCIA DE CONFIRMAÇÃO EM JUÍZO – INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DE CONTRADITÓRIA – ABSOLVIÇÃO – Não encontra justificativa hábil a decisão condenatória baseada exclusivamente em inquérito policial, por significar manifesta violação do princípio constitucional do contraditório, insculpido no art. 5º, inciso LV da Lei Fundamental da República e violação ao artigo 155 do Código de Processo Penal. Provimento ao recurso que se impõe. (TJMG – ACr 1.0103.06.000553-7/001 – 3ª C.Crim. – Rel. Antônio Carlos Cruvinel – DJe 05.05.2010) "Habeas corpus - Homicídio - Prisão Preventiva - Ausência de periculosidade - Concessão da ordem. Habeas corpus. Homicídio. Prisão preventiva. Improcedência. Conduta delitiva não reveladora de periculosidade. Ordem concedida." (Paraná Judiciário 3/244). "Habeas corpus. Prisão preventiva. Homicídio qualificado - Réu primário, de bons antecedentes, profissão e residência definidas - Crime passional que não demonstra a periculosidade do agente - Concessão da Ordem. Ementa oficial: habeas corpus. Homicídio qualificado. Prisão preventiva decretada sob os pressupostos da garantia da ordem pública, da aplicação da lei penal e da conveniência da instrução criminal. Constrangimento ilegal. Comprovação de que o paciente, pelo ato isolado que representa o evento, se permanecer solto, não será ameaça à ordem pública e nem causará óbice à realização da instrução criminal." (Paraná Judiciário 30/219).

- Da Garantia da Ordem Pública

Aplicação da lei penal - Postura do acusado - Ausência de colaboração — O direito natural afasta, por si só, a possibilidade de exigir-se que o acusado colabore nas investigações. A garantia constitucional do silêncio encerra que ninguém está compelido aauto-incriminar-se. Não há como decretar a preventiva com base em postura do acusado reveladora de não estar disposto a colaborar com as investigações e com a instrução processual.

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Sendo o acusado posto em liberdade, de nenhuma forma estarão prejudicada a ordem Pública, visto que o denunciado é homem de boa conduta, é estudante e trabalhador.

Ora, a jurisprudência concorda que, mesmo no caso de crimes

inafiançáveis é possível ao réu responder ao processo em liberdade. Senão vejamos:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. ORDEM PÚBLICA. I. É ilegal a prisão preventiva para a garantia da ordem pública, baseada tão-somente na gravidade do fato, na hediondez do delito ou no clamor público. II. Há lesão à ordem pública quando os fatos noticiados nos autos são de extrema gravidade e causam insegurança jurídica a manutenção da liberdade do Paciente. III. A prisão preventiva não constitui antecipação da pena, não bastando, portanto, para legitimá-la o apelo à gravidade do tipo ou, em concreto, do fato criminoso. IV. A prisão cautelar somente tem legitimidade, se ficar comprovada a real necessidade da sua adoção, pois se trata de extraordinária medida de constrição do status libertatis A Turma, por unanimidade, concedeu ordem de habeas corpus impetrada em favor de Valdeni Lopes de Oliveira, mantendo, assim, a liminar. (TRF1. HABEAS CORPUS 2009.01.00.010830-2/MT Relator: Desembargador Federal Tourinho Neto).

Vejamos outra jurisprudência:

"Habeas corpus - Homicídio - Prisão Preventiva - Ausência de periculosidade - Concessão da ordem. Habeas corpus. Homicídio. Prisão preventiva. Improcedência. Conduta delitiva não reveladora de periculosidade. Ordem concedida." (Paraná Judiciário 3/244).

- Da Conveniência da Instrução Criminal Manter o requerente preso sob a alegação de conveniência da instrução

criminal, não é fato de que pode ser concebido, uma vez que os mesmos não possuem nenhuma intenção em perturbar a busca da verdade real. A intenção do denunciado é tão-somente defender-se das acusações que lhes são imputadas.

Distintamente do que se alega, em momento algum influiu relativamente

à produção de provas.

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- Da Aplicação da Lei Penal Ademais, não deve prosperar a prisão sob este argumento, posto que o

requerente possui emprego definido, possui endereço conhecido, podendo ser localizado a qualquer momento para a prática dos atos processuais, sendo domiciliado no distrito da culpa, e em momento algum buscou fugir à eventual responsabilidade criminal.

Portanto, é do total interesse do requerente permanecer no local,

responder ao processo e defender-se, pois, constitui pura ilação a conclusão de que o acusado pretende fugir, abandonando o acompanhamento da instrução.

Aduz o artigo 314 do CPP:

Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições do art. 19, I, II ou III, do Código Penal.

Aduz ainda o artigo 316 do Código de Processo Penal:

“O Juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivos para que subsista, bem como decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem”.

Segundo o entendimento do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL a prisão

preventiva deverá ser decretada por Excepcionalidade respeitando algumas situações dentre eles se destacam:

“Em virtude do princípio constitucional da não-culpabilidade, a custódia acauteladora há de ser tomada como exceção. Deve-se interpretar os preceitos que a regem de forma estrita, reservando-a a situações em que a liberdade do acusado coloque em risco os cidadãos. Suposições - Impropriedade — A prisão preventiva tem de fazer-se alicerçada em dados concretos, descabendo, a partir de capacidade intuitiva, implementá-la consideradas suposições. Núcleos de tipologia - Impropriedade — Os elementos próprios à tipologia bem como as circunstâncias da prática delituosa não são suficientes a respaldar a prisão preventiva, sob pena de, em última análise, antecipar-se o cumprimento de pena ainda não imposta. Materialidade do crime e indícios da autoria - Elementos neutros — A certeza da ocorrência do delito e os indícios

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sobre a autoria mostram-se neutros em relação à prisão preventiva, deixando de respaldá-la. Clamor público — A repercussão do crime na sociedade do distrito da culpa, variável segundo a sensibilidade daqueles que a integram, não compõe a definição de ordem pública a ser preservada mediante a preventiva. A História retrata a que podem levar as paixões exacerbadas, o abandono da razão. (GRIFOS NOSSOS) (HC nº 83.943-6/MG, 1ª Turma, rel. min. Marco Aurélio, j. 27.04.04, m.v., DJU 17.09.04, p. 78, nº 1.600).

Destarte, observa-se que essas situações não se aplicam ao caso

concreto. DOS PEDIDOS Ante o exposto, requer: Postas tais considerações e por entendê-las prevalecentes sobre as

razões que justificaram o pedido de condenação despendido pelo preclaro órgão de execução do Ministério Público, confiante no discernimento afinado e no justo descortino de Vossa Excelência, a defesa requer a ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA do denunciado à guisa das teses ora esposadas em sede preliminar, nos termos do artigo 397 do CPP.

No mérito, protesta, o acusado, pela IMPROCEDÊNCIA da ação. Para fazer cessar o constrangimento ilegal que sofre o acusado, por

ofensa aos prazos processuais e pela da nulidade da decisão que o mantém preso, requer o RELAXAMENTO DA PRISÃO, expedindo-se, imediatamente, Alvará de Soltura

Caso Vossa Excelência não reconheça a ilegalidade da prisão, requer,

outrossim, a REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, com a conseqüente expedição do competente do alvará de soltura em favor do denunciado, face à inexistência dos pressupostos ensejadores de sua manutenção, na forma do artigos 312, do CPP, para responder a todos os atos processuais em liberdade, por ser imperativo da mais pura e cristalina JUSTIÇA!

Termos em que, Pede deferimento.

Maceió/AL, 27 de Agosto de 2012.

GUSTAVO HUGO SANTOS LESSA ADVOGADO OAB/AL 11.577