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PEC III
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Monitoria de Pensamento Econômico III (Prof. André Guimarães)
UFF - Faculdade de Economia
Rodrigo Siqueira Rodriguez
Resumo referente a primeira parte da matéria
A primeira parte da matéria se refere ao método, origens e estrutura da escola
Neoclássica, objeto de estudo do curso. Porém, antes de alcançarmos o objeto do curso,
devemos entender bem o debate epistemológico que gira em torno da batalha dos métodos, no
final do século XIX.
Portanto, para entendermos o debate epistemológico, devemos entender as variadas
fontes do conhecimento. Inicialmente estudamos a fonte do conhecimento que é empírica, ou
seja, baseada em experimentos. Estudamos também a fonte do conhecimento que é
racionalista, ou seja, originadas do campo das ideias.
Sabendo as fontes do conhecimento, agora devemos atentar para outro aspecto: como
diferenciarmos o conhecimento “verdadeiro” do conhecimento “falso”? Existe alguma forma
de separarmos ambos, tratando especificamente do conhecimento científico? Para isso,
buscaremos o estudo dos métodos, que nos auxiliará a separarmos a ciência do que é não
ciência, e também nos auxiliará na compreensão do porque que algumas questões que eram
dadas como ciências em alguma época deixaram de ser.
Vamos analisar como alguns pensadores fizeram para alcançar este conhecimento,
começando por Schlick, em um grupo de discussão formado em Viena, na Áustria. Este
acontecimento ficou conhecido como Círculo de Viena.
Influenciados pelas descobertas da lógica (Gödel), pela física moderna (Einstein e
Heisenberg), os pensadores que participaram do Círculo de Viena tomaram elementos do
Positivismo e uniram ao desenvolvimento obtido pelo pensamento lógico.
Deste resultado, nasce o Positivismo Lógico, que influenciou a metodologia durante o
século XX.
O Positivismo Lógico busca limpar o terreno do conhecimento científico e vai além
disso, “inaugura um corpo de conhecimentos que assume uma relativa autonomia nos debates
científicos e filosóficos, a saber, a filosofia da ciência.”(CAVALCANTI, Carolina).
Conhecimento bom deveria consistir em sentenças sintéticas (a posteriori) e em sentenças
analíticas (a priori). Toda outra forma de conhecimento deve ser considerada metafísica e não
deve ser considerada como ciência.
O principal critério utilizado para a separação das sentenças com significado para o
campo do conhecimento (analíticas e sintéticas), das sem significado para o campo do
conhecimento (metafísicas) foi a verificação. Este critério consiste em testar as sentenças
empiricamente, e caso fossem validadas, seriam consideradas científicas. Quanto mais testes
empíricos fossem feitos, melhor se tornava a teoria.
Outro marco do Positivismo Lógico é o modelo Hipotético-Dedutivo. Tal modelo
consiste basicamente em deduzir leis gerais e verifica-las em experimentos, reforçando que
ele não emprega outras regras de inferência lógica além da dedução. Sua composição se trata
de pelo menos uma lei geral e um conjunto de condições iniciais (ou explanans) e um
fenômeno deduzido dessa lei geral e das condições iniciais (ou explanadum). Ressaltando que
tais leis gerais não são derivadas mediante generalização indutiva a partir de exemplos
individuais. (Ver BLAUG, Mark. 1999; Pág. 40)
“Essa lei geral pode ser de natureza determinística (modelo nomológico-dedutivo) ou
probabilística (modelo indutivo-probabilístico). No primeiro caso o explanandum sempre
decorre do explanans, enquanto no segundo caso existe uma probabilidade, não uma certeza,
de que o explanandum decorra do explanans”. (CAVALCANTI, Carolina)
Alguns autores prosseguiram através da estrutura lógica do modelo H-D demonstrando
que a operação chamada explicação envolve as mesmas regras de inferência lógica da
operação chamada previsão, sendo uma o “avesso” da outra. Essa noção de que existe uma
relação simétrica lógica entre explicação e previsão foi nomeada tese da simetria.
A verdade para o positivismo lógico é absoluta e racionalmente justificada. A verdade
consiste em corresponder termos teóricos (“frases protocolo”) com os fatos empiricamente
verificáveis do mundo. Desta forma seria feito o mapeamento de todas as observações com a
teoria, a fim de alcançar um conhecimento universal.
Um dos críticos mais conhecidos do Positivismo Lógico é Karl Popper. Para Popper,
não devemos diferenciar o que tem significado daquilo que não o tem, devemos, portanto,
utilizar um critério de demarcação que divide o conhecimento humano em duas classes, a
ciência e a “não ciência”. Os predecessores de Popper se posicionavam a respeito dessa
questão da seguinte forma: a ciência difere da “não ciência” por utilizar-se do método
indutivo: “a ciência começa com experiência e prossegue através de observação e
experimentos, até chegar ao arcabouço de leis universais com as ajudas das regras de
indução… Por exemplo, os homens deduzem a lei universal de que o sol sempre nasce de
manhã a partir da experiência passada, que mostra que o sol nasce de manhã; entretanto, isso
não pode ser uma dedução logicamente conclusiva, no sentido em que premissas verdadeiras
necessariamente implicam conclusões verdadeiras, pois não há garantia de que aquilo que
experimentamos até agora persista no futuro.” (BLAUG, Mark. 1999; pág.49).
O problema dessa questão, colocado por Hume, é que de fato ao deduzirmos algo com
bases empíricas isso não significa que as deduções serão logicamente aceitas. Partindo de tal
questão, nomeada de problema da indução de Hume, Popper revela que não há uma lógica de
verificação, mas sim há uma lógica de refutação.
No entanto, isso não faz Popper abandonar o teste empírico. Popper acredita que não
se deve fugir do experimento, e as condições iniciais devem ser testáveis. Uma de suas
contribuições mais importantes é a de que não devemos adotar hipóteses “ad hoc” ou outras
formas de fechar os modelos para torna-los mais protegidos da falsificação, portanto, para
alcançarmos teorias científicas boas devemos falsifica-las a todo o momento.
Popper defende que existem inúmeras fontes para o conhecimento, e o conhecimento
que temos é sempre parcial e passível a críticas. Uma de suas frases mais conhecidas retrata
tal questão: “Nosso conhecimento é finito, mas nossa ignorância é necessariamente finita”.
Portanto, as soluções encontradas serão sempre parciais, devendo sempre ser criticada.
Vimos até agora que Positivistas Lógicos e Karl Popper discutiram os métodos a fim
de chegar a algo próximo da verdade( ou algo verossímil), porém, até então, não apareceram
propostas dessa discussão sob uma ótica de evolução histórica das teorias científicas. Quem
desenvolve tal ponto são os Teóricos do Crescimento do Conhecimento: Kuhn e Lakatos.
Thomas Kuhn tenta mostrar como as teorias mudam no tempo, e como o que é
considerado verdade em um período deixa de o ser em outro período. Kuhn estabelece o
conceito de paradigma como realizações científicas que geram modelos que orientam o
desenvolvimento posterior das pesquisas exclusivamente na busca de solução para os
problemas suscitados por tal realização. Das questões não explicadas por um paradigma,
podem ocorrer revoluções científicas na qual surge um novo paradigma. Tal novo paradigma
tem a capacidade de solucionar questões não bem explicadas pelo primeiro e mais, podem até
ser incomensuráveis devido a diferentes visões de mundo.
Revoluções científicas representam rupturas importantes no desenvolvimento
científico, a partir da proliferação de novas teorias e do surgimento de controvérsias
metodológicas.
O interessante de tais questões colocadas por Kuhn referentes às evoluções históricas
podem ser observadas através da história da ciência, como por exemplo, na revolução
newtoniana. Esse esquema simplifica a questão apresentada por
Kuhn:
Imre Lakatos entende a ideia de Kuhn da incomensurabilidade de paradigmas como
algo perigoso que pode gerar questões de irracionalismo no desenvolvimento da ciência.
Lakatos de certa forma resgata a questão do progresso para Popper, sem ignorar os fatos das
transformações históricas de Kuhn. De tal forma, Lakatos sugere que as transformações das
teorias ocorrem de acordo com programas de pesquisa científica:
“De acordo com Lakatos, teorias que compartilham um mesmo núcleo rígido
compõem um programa de pesquisa científico (doravante, PPC), cujos limites são dados
pelo cinturão protetor desse PPC. O núcleo rígido não é passível de contestação por parte da
comunidade científica que dele partilha, constituindo campos de pesquisas interditados ao
sujeito cognoscente – representa a heurística negativa de uma tradição de pensamento. Já nos
limites do cinturão protetor os cientistas estão habilitados a expandir o campo de
conhecimentos iluminado pelo núcleo rígido, constituindo a heurística positiva do
PPC”.(CAVALCANTI, Carolina). Esquematizando:
Em suma, temos que o núcleo duro representa as crenças, valores e metafísica. Dentro
do cinturão protetor estão as teorias testáveis e suas hipóteses. Ao expandir seu cinturão
protetor, mais fenômenos são alcançados e explicados pelas teorias; ou seja, esse PPC se torna
progressivo. Ou melhor, na definição apresentada por Blaug: um PPC progressivo é aquele
que continuamente tem sucesso ao fazer novas previsões. Caso ocorra o oposto, ou seja, a
retração do cinturão protetor, o PPC será degenerativo.
“Para Lawson (1997: xiii) e para os restantes realistas críticos da designada escola de
Cambridge, a economia contemporânea caracteriza-se por uma negligência da ontologia, ou
seja, por uma falta de atenção sobre a natureza do ser (social) ou da existência. A corrente
ortodoxa, bem como as discussões habituais sobre a metodologia da economia, tende a
enfatizar as questões epistemológicas, em detrimento dos problemas ontológicos. O principal
erro da teoria padrão reside naquilo a que Lawson designa por falácia epistémica, ou seja, a
crença de que as afirmações sobre a existência podem ser sempre reduzidas a afirmações
sobre o conhecimento.” (ALMEIDA, Vasco. 2006).
O Realismo Crítico chama a atenção que Popper, apesar de ter criticado o positivismo
e, mais em particular, o positivismo lógico da escola de Viena, acabou por não lhe dar um
golpe fatal, já que deixou de pé a estrutura dedutivista da ciência. A este propósito, diz
Lawson (1997: xv):
“O positivismo, incluindo o positivismo lógico, assenta, pelo menos, em duas
assumpções fundamentais. Não só supõe que a ciência é essencialmente monística no seu
desenvolvimento, mas, também, que é dedutiva na sua estrutura. Se as contribuições de
Popper para a teoria do conhecimento, e em particular o seu trabalho sobre falsificacionismo e
dedutivismo […] contribuíram para minar o primeiro aspecto, os mesmos escritos, (pelo
menos, tal como maioritariamente foram interpretados) deixaram intacta a estrutura
dedutivista assumida.”
O Realismo Crítico exposto por Tony Lawson identifica problemas metodológicos na
questão proveniente dos métodos denominado dedutivismo. Lawson critica o modelo H-D
aplicado à economia por considerar esta como sistema fechado (implicação do dedutivismo),
mas sim um sistema aberto, compatível com o mundo, sem conservação de energia e/ou
informação. Ao rejeitar o método dedutivo e mais, o indutivo, a solução encontrada pelos
realistas críticos é apresentar a realidade como algo estruturado, aberto e composto por várias
camadas.
Para Lawson, a realidade possui três domínios ontológicos, irredutíveis uns aos outros;
O empírico, referente ao que acontece e observamos e que podemos experimentar; o efetivo,
referente ao que acontece, porém não é observável, não experimentável; e por último, o real,
onde se encontram as leis e mecanismos causais de todas as questões, observáveis ou não.
Dessa questão podemos tirar que não existe perfeita harmonia entre os elementos, ou seja,
podemos observar casos em que o mecanismo é real porém não efetivo, e que o mecanismo é
efetivo porém não empírico.
A partir disso, podemos considerar que o realismo empírico cai, ao constatarmos que
os fenômenos empíricos são resultados de diferentes mecanismos causais.
A afirmação positivista da metodologia neoclássica:
Tanto Senior como Mill viam a necessidade de formular os princípios que regiam os
métodos de investigação da economia política. Cabe a Senior o primeiro enunciado
distinguindo a ciência da economia pura e positiva da arte da economia impura e normativa,
além da formulação explicita da idéia de que a economia científica está baseada
essencialmente em sentenças gerais, que resultam da observação, ou consequência, das quais
conclusões são extraídas e consideradas verdadeiras. Mill além de lidar com essas questões
aborda a metodologia de tal forma que denominou “ciências morais” aquelas que chamamos
ciências sociais, onde considera os métodos indutivos inúteis, devido essencialmente a forma
abusiva pela qual era utilizada e não muito criteriosa. Suas contribuições mais destacadas
estão em torno de tal questão, por considerar as normas da indução como um conjunto de
normas não-demonstrativas de confirmação. Outra questão defendida por Mill é o monismo
metodológico, aderindo também ao individualismo metodológico e a questão da análise
positiva.
Contrapondo essas concepções de Mill, encontramos a Escola Histórica Alemã, que
propõe uma alternativa ao método dedutivo a priori, baseados na história. Para esses autores, e
aqui cabe destacar Schmoller, a ciência econômica não deve ser vista como uma ciência
separada das demais ciências sociais, pois para a economia ser estudada no concreto, devemos
atentar ao seu contexto histórico específico, pois este muda ao longo da história. Os membros
dessa escola também ressaltavam o caráter normativo, se preocupando com questões como
reformas sociais: “O que deveria ser”.
Destas duas manifestações (uma dedutiva a priori e outra indutiva) surgiu o debate que
envolve a batalha dos métodos.
John Neville Keynes busca reconciliar a tradição de Senior e Mill com as questões
colocadas na escola histórica, justificando a visão abstrato-dedutiva da economia. Keynes
utiliza-se do caráter a priori da economia política clássica, revelando como as questões
começam e terminam com observações empíricas. Keynes interpreta essa tradição do
pensamento composta em cinco teses:
(1) É possível distinguir-se entre uma ciência positiva e uma arte normativa da economia
política;
(2) Eventos econômicos podem ser isolados, pelo menos até certo ponto, de outros
fenômenos sociais;
(3) A indução direta de fatos concretos, ou o método a posteriori, não é apropriada do
ponto de vista da economia;
(4) O procedimento correto é o método a priori a partir de alguns poucos e indispensáveis
fatos da natureza humana levados em conta de forma conjunta com as propriedades
fisiológicas do solo e a constituição fisiológica do homem.
(5) O homem econômico é uma abstração e, por conta disso, a economia política é uma
ciência de tendências, e não de realidades.
Ao questionar as questões referentes à escola histórica, resume-a em uma visão de
economia “ética, realista e indutiva” de tal forma que nega cada uma das cinco teses
acima citadas.
O método para Keynes não é exclusivamente dedutivo, mas predominantemente
dedutivo, ajudado e controlado pela indução, podendo ser dividido em três etapas
fundamentais:
(1) Definir leis a partir das observações características efetivas dos homens
(2) A dedução deve consistir em isolar o fenômeno em estudo das demais forças que o
acompanham (ceteris paribus) e por esta mesma condição, a dedução deve gerar
conclusões condicionais sobre os casos particulares.
(3) Não abandonar o empírico: devemos ilustrar, testar e confirmar as inferências
dedutivas.
Como podemos perceber, esse método se aproxima da visão positivista, à medida que
mescla empirismo e dedutivismo, sendo tal um dos pilares do método utilizado pelos
neoclássicos.
Glossário:
Apriorismo: Ponto de vista metodológico que considera as teorias econômicas como sendo
baseadas em uns poucos axiomas óbvios de forma intuitiva ou princípios que não precisam
ser independentemente estabelecidos
Adução: Termo usado para designar inferências não-demonstrativas, que erroneamente é
confundido com indução
Epistemologia: Ramo da filosofia que trata do estudo científico do conhecimento.
Estratagemas de Imunização: Certos tipos de estratagemas adotados pelos cientistas para
proteger suas teorias contra a refutação.
Falsificacionismo: Ponto de vista metodológico que considera teorias e hipóteses científicas
se e somente se suas previsões, pelo menos em princípio, são empiricamente falsificáveis.
Individualismo metodológico: Visão de que as teorias sociais devem ser baseadas nas atitudes
e comportamento dos indivíduos, opondo-se ao holismo metodológico, que assevera que as
teorias sociais devem ser baseadas no comportamento de grupos irredutíveis de indivíduos.
Indução: Processo de inferir leis gerais a partir de eventos específicos ou observações
individuais.
Instrumentalismo: Ponto de vista metodológico que considera todas as teorias científicas e
hipóteses como sendo nada mais que instrumentos para fazer previsões.
Modelo Hipotético-dedutivo: A visão segundo a qual todas as explanações científicas
assumem a forma de dedução de um enunciado sobre um evento a partir de pelo menos uma
lei universal combinada com um conjunto de condições iniciais.
Monismo metodológico: Visão segundo a qual existe apenas uma metodologia comum tanto
para as ciências sociais quanto para as naturais.
Ontologia: segmento filosófico que trata da natureza do ser, da realidade e das questões
metafísicas.
Problema da demarcação: dificuldade existente na distinção de teorias científicas e não-
científicas, só podendo afirmar que ciência é o provado empiricamente.
Proposições(ou sentenças) analíticas: Enunciados que são verdadeiros pela definição em seus
próprios termos.
Proposições(ou sentenças) sintéticas: Enunciados definidos sobre o mundo real que são
verdadeiros ou falsos.
Realismo Empírico: Só existem os dados do experimento, não existem „coisas‟.
Tese de Duhen-Quine: Argumento de que nenhuma hipótese científica específica pode ser
falsificada de forma conclusiva, pois nós necessariamente testamos a hipótese em conjunção
com condições auxiliares e, portanto, nunca podemos localizar uma fonte de uma refutação.
Tese de simetria: Noção de que existe uma simetria lógica perfeita entra a natureza da
explicação e a natureza da previsão, de forma que a explanação seja simplesmente a previsão
pelo-avesso; parte essencial do modelo de explicação científica hipotético-dedutivo.
Verificabilidade: Ponto de vista metodológico que considera teorias e hipóteses científicas se
e somente se suas previsões forem, pelo menos em princípio, empiricamente verificáveis.