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9 771981 887003 8 5 1 0 0 ISSN 1981-8874 61 Atualidades Ornitológicas On-line Nº 158 - Novembro/Dezembro 2010 - www.ao.com.br Revisão histórica e toponímica do itinerário de Emil Kaempfer no Mato Grosso do Sul ¹ A coleção oriunda do Mato Grosso do Sul obtida por Kaempfer e depositada no American Museum of Natural History (AMNH) de Nova York consta de 290 exemplares, colecionados em “Campanario”, “Rio Amambahy” e “São Francisco Ranch” (T.Trombone, 2009, in litt.). ² Consideradas apenas as informações geográficas relevantes e somente aquelas alusivas a Kaempfer; nenhuma destas localidades é tratada por Vanzolini (1992). Fernando Costa Straube¹ & Alberto Urben-Filho² Ainda pouco conhecido no sentido ornitológico, o estado do Mato Grosso do Sul é uma área de relevante interesse biogeográfi- co que, até o presente, permanece subestimada no tocante à sua composição avifaunística como um todo. De conhecimento forte- mente focado na Planície do Pantanal, onde abundam publicações pertinentes (para revisão, vide Tubelis & Tomas, 2003), os outros setores de seu território permanecem ainda obscuros e merecedo- res de escassos estudos de composição (Pivatto et al., 2006). No mesmo sentido pode-se afirmar sobre a merecida análise das con- tribuições, sob a forma de material documental e mesmo crônicas, deixado pelos tantos naturalistas que naquela região se aventura- ram, em busca de informações sobre as suas características ambi- entais. O legado da expedição do naturalista alemão Emil Kaempfer ao Brasil e adjacências fronteiriças da Argentina, Paraguai e Uruguai é unanimemente reconhecido como uma das mais importantes con- tribuições à Ornitologia brasileira de todos os tempos. Entretanto, com exceção da breve intervenção de Camargo (1962), poucos se aventuraram e investigar a fundo os tantos detalhes de sua estada de quase seis anos no País, compreendida entre dezembro de 1925 (Maranhão) e outubro de 1931 (litoral sul do Rio Grande do Sul) O itinerário de Kaempfer: controvérsias (Naumburg, 1928, 1935). Essa situação se repete-se lamentavel- É certo que tudo o que se conhece positivamente sobre o pequeno mente na consideração dos espécimes obtidos, dos quais apenas percurso visitado por Kaempfer no estado do Mato Grosso do Sul uma pequena parcela é tratada por Naumburg (1928, 1934, 1937, resume-se à revisão geral do itinerário apresentada por Naumburg 1939) e somente os espécimes gaúchos são revisados por Belton (1935), bem como algumas rápidas e descompromissadas menções (1984, 1985). Afora essas compilações, ainda há algumas outras, na literatura especializada (p.ex. Pacheco & Bauer 1994, 1995, dispersas pela literatura, no tocante a alguns exemplares examina- Pivatto et al. 2006). Cabe, no entanto, à primeira autora as palavras dos em revisões mais amplas (p.ex. Zimmer 1931a e subsequen- até então tidas como definitivas sobre o assunto, tal como transcrito tes). abaixo (Naumburg 1935:467-468). Se considerado como um todo, o itinerário de Kaempfer pelo Bra- sil parece razoavelmente bem esclarecido, mediante a excelente MATTO GROSSO revisão apresentada por Naumburg (1935), baseada primariamente nos rótulos dos espécimes colecionados e também na correspon- AMAMBAHY (town). – Alt. 650 ft. ; June 22-30, 1930. dência trocada entre o próprio naturalista e essa autora entre os AMAMBAHY, RIO. – June 22-30, 1930. anos de 1926 e 1931. CAMPANARIO.¹ – Alt. 1200 ft. ; June 7, 16, 19, 20, and July No entanto, uma análise mais cuidadosa de datas, percursos e, 6-17, 1930. principalmente, da factibilidade para percorrê-los na época consi- _________________ derada, aponta para certos problemas cronológicos, levando a dis- ¹ Not located ; on map as Campeiro. crepâncias em torno de datas e locais em alguns estados brasileiros por onde teria o naturalista passado (Straube & Scherer-Neto, SÃO FRANCISCO (ranch). – Alt. 1200 ft.¹ ; July 3, 1930. 2001). No presente estudo, analisamos o trajeto utilizado para seu SÃO FRANCISCO TERERÉ. ² – Alt. 135 meters. trabalho de campo no Mato Grosso do Sul e, sob indícios de novas TERERÉ, RIO. – July 3, 1930. informações geográficas e históricas colhidas in situ, incluímos _________________ algumas correções necessárias para o esclarecimento de sua breve ¹ Altitude seems to high but given by collector. estada nessa unidade da federação. ² No date given by collector as no collecting was done just there. Figura 1. Fragmento do mapa encartado em Naumburg (1935) indicando as localidades visitadas por Emil Kampfer no oeste do Paraná, sul do Mato Grosso do Sul e Paraguai.

Revisão histórica e toponímica do itinerário de Emil Kaempfer no

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9 771981 887003 85100

ISSN 1981-8874

61Atualidades Ornitológicas On-line Nº 158 - Novembro/Dezembro 2010 - www.ao.com.br

Revisão histórica e toponímica do itinerário de Emil Kaempfer no Mato Grosso do Sul

¹ A coleção oriunda do Mato Grosso do Sul obtida por Kaempfer e depositada no American Museum of Natural History (AMNH) de Nova York consta de 290 exemplares, colecionados em “Campanario”, “Rio Amambahy” e “São Francisco Ranch” (T.Trombone, 2009, in litt.).

² Consideradas apenas as informações geográficas relevantes e somente aquelas alusivas a Kaempfer; nenhuma destas localidades é tratada por Vanzolini (1992).

Fernando Costa Straube¹ & Alberto Urben-Filho²

Ainda pouco conhecido no sentido ornitológico, o estado do Mato Grosso do Sul é uma área de relevante interesse biogeográfi-co que, até o presente, permanece subestimada no tocante à sua composição avifaunística como um todo. De conhecimento forte-mente focado na Planície do Pantanal, onde abundam publicações pertinentes (para revisão, vide Tubelis & Tomas, 2003), os outros setores de seu território permanecem ainda obscuros e merecedo-res de escassos estudos de composição (Pivatto et al., 2006). No mesmo sentido pode-se afirmar sobre a merecida análise das con-tribuições, sob a forma de material documental e mesmo crônicas, deixado pelos tantos naturalistas que naquela região se aventura-ram, em busca de informações sobre as suas características ambi-entais.

O legado da expedição do naturalista alemão Emil Kaempfer ao Brasil e adjacências fronteiriças da Argentina, Paraguai e Uruguai é unanimemente reconhecido como uma das mais importantes con-tribuições à Ornitologia brasileira de todos os tempos. Entretanto, com exceção da breve intervenção de Camargo (1962), poucos se aventuraram e investigar a fundo os tantos detalhes de sua estada de quase seis anos no País, compreendida entre dezembro de 1925 (Maranhão) e outubro de 1931 (litoral sul do Rio Grande do Sul) O itinerário de Kaempfer: controvérsias(Naumburg, 1928, 1935). Essa situação se repete-se lamentavel- É certo que tudo o que se conhece positivamente sobre o pequeno mente na consideração dos espécimes obtidos, dos quais apenas percurso visitado por Kaempfer no estado do Mato Grosso do Sul uma pequena parcela é tratada por Naumburg (1928, 1934, 1937, resume-se à revisão geral do itinerário apresentada por Naumburg 1939) e somente os espécimes gaúchos são revisados por Belton (1935), bem como algumas rápidas e descompromissadas menções (1984, 1985). Afora essas compilações, ainda há algumas outras, na literatura especializada (p.ex. Pacheco & Bauer 1994, 1995, dispersas pela literatura, no tocante a alguns exemplares examina- Pivatto et al. 2006). Cabe, no entanto, à primeira autora as palavras dos em revisões mais amplas (p.ex. Zimmer 1931a e subsequen- até então tidas como definitivas sobre o assunto, tal como transcrito tes). abaixo (Naumburg 1935:467-468).

Se considerado como um todo, o itinerário de Kaempfer pelo Bra-sil parece razoavelmente bem esclarecido, mediante a excelente MATTO GROSSOrevisão apresentada por Naumburg (1935), baseada primariamente nos rótulos dos espécimes colecionados e também na correspon- AMAMBAHY (town). – Alt. 650 ft. ; June 22-30, 1930. dência trocada entre o próprio naturalista e essa autora entre os AMAMBAHY, RIO. – June 22-30, 1930.anos de 1926 e 1931. CAMPANARIO.¹ – Alt. 1200 ft. ; June 7, 16, 19, 20, and July

No entanto, uma análise mais cuidadosa de datas, percursos e, 6-17, 1930.principalmente, da factibilidade para percorrê-los na época consi- _________________derada, aponta para certos problemas cronológicos, levando a dis- ¹ Not located ; on map as Campeiro.crepâncias em torno de datas e locais em alguns estados brasileiros por onde teria o naturalista passado (Straube & Scherer-Neto, SÃO FRANCISCO (ranch). – Alt. 1200 ft.¹ ; July 3, 1930.2001). No presente estudo, analisamos o trajeto utilizado para seu SÃO FRANCISCO TERERÉ. ² – Alt. 135 meters.trabalho de campo no Mato Grosso do Sul e, sob indícios de novas TERERÉ, RIO. – July 3, 1930.informações geográficas e históricas colhidas in situ, incluímos _________________algumas correções necessárias para o esclarecimento de sua breve ¹ Altitude seems to high but given by collector.estada nessa unidade da federação. ² No date given by collector as no collecting was done just there.

Figura 1. Fragmento do mapa encartado em Naumburg (1935) indicando as localidades visitadas por Emil Kampfer no oeste do Paraná, sul do Mato Grosso do Sul e Paraguai.

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Paynter & Traylor (1991) em seu “Ornithological Gazetteer of Brazil” assim se posicionam, na tentativa de identificar e localizar os topônimos:

AMAMBAÍ: Mato Grosso do Sul2305/5513 (USBGN)

545 m; in southernmost Mato Grosso do Sul, 105 km SW of dourados and 15 km S of Rio Amambaí, near its head; Kaemp-fer, 22-30 June 1930 (Naumburg, 1935:467 as 'Amambahy').

CAMPANÁRIO: Mato Grosso do Sul 2248/5503 (USBGN)

1,200 ft [360 m] (Naumburg, 1935:467); in southern part pf sta-te 70 km SSW of Dourados and 38 km NE of Amambaí; Kaempfer, 7, 16, 19-20 June, 6-17 July 1930 (Naumburg, 1932:9), as 'Companario'; 1935:467; erroneusly spelled 'Cam-peiro' on map).

SÃO FRANCISCO DO TERERÉ; Mato Grosso do Sul 2119/5750 (USBGN)

ca. 25 m, in swampy southwestern part of state on Rio Tereré, near its mouth on Rio Paraguai; Kaempfer, at 1,200 ft. [360 m] O detalhe que fragiliza essa conclusão, entretanto, é geográfico e [?], 3 July 1930 (Naumburg, 1935:468, map, as 'São Francisco cronológico: as localidades de Campanário e do ponto onde preten-(ranch)'; Vaurie, 1966, Amer.Mus.Novit. no. 2251, p.27 as 'São samente estaria o “São Francisco do Tereré”, tem quase 350 km Francisco, Campanario, Mato Grosso'; Vaurie reference pre- entre si em linha reta, trecho totalmente inviável de ser percorrido, sumably to this locality, but this os not near Campanario”. na época, em tão pouco tempo. Se avaliadas as informações de

Naumburg (1935), Kaempfer deveria ter retornado a “Campanário” TERERÉ, RIO; Mato Grosso do Sul após sua visita à citada [Fazenda] “São Francisco”, o que reforça

2120/5749 (USBGN) essa suspeita. A mesma incongruência é verificada nas localidades paraguaias posteriormente visitadas, todas elas muito mais próximas

Small tributary on eastern side of upper Rio Paraguai, with its da cidade de Ponta Porã (Brasil) e Pedro Juan Caballero (Paraguai) mouth 40 km N of Pôrto Murtinho, southwestern Mato Grosso do que de quaisquer das margens do rio Paraguai (vide adiante).do Sul; Kaempfer, on river [where?] and at 'São Francisco Seguindo a lógica e as demais informações cronológicas dispo-(ranch)' [São Francisco do Terere], 3 July 1930 (Naumburg, níveis, é possível supor que Kaempfer esteve no Mato Grosso do 1935:468). Sul pelo menos entre 7 de junho e 17 de julho de 1930, que são as

datas, respectivamente, mais recuadas e avançadas de exemplares Com base nesta preleção descuidada, o natural seria aceitar que ali coletados.

Emil Kaempfer teria adentrado o Mato Grosso do Sul por meio da Mas, afinal, porque Kaempfer teria ampliado a sua viagem e cidade paranaense de Guaíra, transpondo o Rio Paraná (na altura seguido por esse caminho e não, simplesmente, adentrado no terri-das extintas Sete Quedas) e dali seguido por toda a zona fronteiriça tório paraguaio diretamente pela transposição do rio Paraná em com o Paraguai, desde a Serra de Maracajú e pelo Rio Apa até as Guaíra, na região de Salto del Guayrá ? E, ainda, como explicar a proximidades da região chamada de Fecho dos Morros (perto da sua estada no dia 7 de junho em “Campanario” se no dia 2 estaria cidade de Porto Murtinho) (Figura 1). em Foz do Iguaçu e no dia 9 de junho em Guaíra, para aparecer

Figura 2. O sul do Mato Grosso [do Sul] em esboço cartográfico apontando as regiões onde ocorria a erva-mate em quantidades comerciais e a extensíssima área de concessão da Companhia Matte Larangeira (Fonte: Lima-Figueiredo 1942).

Figura 3. Peça preservada na vila da sede da Fazenda Campanário (Mato Grosso do Sul): locomotiva e um vagão do pequeno trem utilizado para o transporte de erva-mate da sede da fazenda até as margens do Rio Amambaí (Fotos: F.C.Straube).

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novamente em Campanario no dia 16 ? As respostas, ou suposi- pela erva-mate que era comercializada pela empresa “Matte ções, podem ser mais aclaradas nos itens seguintes do presente Larangeira” abrangia basicamente suas duas bases logísticas: ensaio, baseados em análise de fontes históricas diversas e visita “Campanario” (sede extrativista) e “Porto Guayra” (sede adminis-realizada pelos autores a essa região em 13 de outubro de 2009. trativa). Ambas, assim como o entreposto de Porto Felicidade, às

margens do Rio Amambaí, recebiam, desde a década de 10, recur-sos vultosos por parte da companhia, por meio de investimentos de

O trajeto da erva-mate: bases históricasinfraestrutura e transportes.

A erva-mate, oriunda das folhas da aquifoliácea Ilex paraguari-Na Fazenda Campanário a erva-mate era colhida por centenas de

ensis, é um produto de imensa importância no cenário histórico trabalhadores locais, graças às grandes quantidades do produto que

paranaense e de toda a região fronteiriça, desde mesmo o Século ali existia em condições naturais. Em seguida, a erva passava por

XVII. Largamente utilizada pelos indígenas, participou, direta ou todo o processo de preparação (incluindo a “sapecada” ou queima

indiretamente, de quase todos os ciclos econômicos locais e, até os prévia), colheita, passagem pelo “barbacuá” (forno de secagem),

dias de hoje, possui significativo espaço no cenário econômico dos “cancheamento” (moagem) e armazenamento. Todo esse processo

três países (Brasil, Paraguai e Argentina) e quatro estados brasilei-era feito nos arredores da fazenda, em instalações construídas

ros (Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do exclusivamente para esse fim e encontra-se bem documentado

Sul) onde a planta ocorre espontaneamente.(p.ex. Melo e Silva 1939).

Em 1877, o comerciante catarinense Thomaz Larangeira criou Uma vez acondicionada em grandes sacas, a erva era transporta-

em Concepción (Paraguai) a “Empresa Matte Larangeira” voltada da por trem (Figura 3) por uma pequena ferrovia que ligava Cam-

ao extrativismo e comercialização da planta. Inicialmente modesta, panário a outro ponto da propriedade, situado às margens do rio

a iniciativa cresceu e obteve do governo imperial brasileiro (Decre-Amambaí. De lá seguia ao longo do rio até certo ponto onde havia

to Imperial n° 8977 de 9 de dezembro de 1882) uma imensa conces-uma série de corredeiras e pequenos saltos que tornavam a navega-

são para atuar também no Brasil, estabelecendo-se às margens do ção inviável.

rio Paraguai, no então “Matto Grosso” (Figura 2). Por ocasião da Graças a esse detalhe orográfico é que a parte seguinte do trans-

Proclamação da República do Brasil (1889), pela grande penetração porte era realizada com tração animal, ou seja, no lombo de mulas

política de Thomaz, a empresa se expandiu substancialmente, gra-ou em grandes carroções (de rodas enormes) puxados por boi, que

ças ao monopólio de extração e comércio da erva-mate a ela atribuí-levavam a safra até o “porto fluvial do Amambaí”, conhecido como

do em toda a sua área de atuação, ocorrido em 1890. Dois anos depo-Porto Felicidade (Figura 4); eventualmente também se considera-

is a empresa muda de nome, agora “Companhia Matte Larangeira”, em virtude da venda da maior parte das ações à influente e rica famí-lia Murtinho, por meio do “Banco Rio Branco e Matto Grosso” que a essa família pertencia. Na ocasião, planejando o crescimento estrondoso que estava por vir, o grupo empresarial adquiriu a Fazen-da Três Barras, situada na margem esquerda do Rio Paraguai e ali estabeleceu um porto fluvial, denominado Porto Murtinho, em alu-são ao patriarca Joaquim Murtinho. Com isso, a área arrendada, que era inicialmente pequena, passou, em 1895 a uma área próxima de 5 milhões de hectares da região meridional do Mato Grosso do Sul.

Não tardou para que, às portas do Século XX, a já poderosa empresa passasse a dominar totalmente a exploração e o mercado de exportação da erva-mate, suprindo grandes centros como Assunção, Buenos Aires e mesmo alguns países da Europa. Só para se ter uma ideia, estima-se que a receita anual da empresa, em 1924, era seis vezes maior do que de todo o estado do Paraná (Wa-chowicz 1982).

No fim dos anos 20 e início da década seguinte, período que coin-cide com a presença de Kaempfer no Brasil, o trajeto percorrido

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Figura 5. Porto Mendes, no Rio Paraná, visto da margem paraguaia, mostrando a grande inclinação ali existente e o percurso das zorras

(Fonte: http:www.radioeducadora.com; acessada em 2 de setembro de 2010).

Figura 4. Flagrantes do transporte da erva-mate em Porto Felicidade, para o qual utilizava-se de tração animal bovina em carroças de rodas enormes e barcaças por via fluvial (Fonte: acervo da Fazenda Campanário).

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va o transporte humano, ou seja, com os trabalhadores, a pé, carre- (Figura 5).gando enormes fardos e, mais modernamente, na carroceria de Possuía enorme importância estratégica e logística: de lá a erva caminhões (vide fotos em Melo e Silva 1939:171 e 179). seguia por grandes navios rumo a Buenos Aires, passando por Foz

Ali a erva era estocada brevemente em um grande galpão que do Iguaçu, Posadas, Corrientes e, por fim, chegando à foz do Rio da dava acesso ao rio, de onde era levada por diversos tipos de embar- Prata. Porto Mendes era um local muito prestigiado no panorama cações, especialmente a vapor. A partir daí, seguia pelo Amambaí social e econômico da época. Ali aportavam embarcações grandes até sua desembocadura no Rio Paraná. Então acompanhavam a mar- e especialmente adaptadas ao transporte de erva-mate. Um dos gem direita deste rio, passavam o limite sul das ilhas Grande e do navios mencionados por Nogueira (1920), chamado “Tembey” Pacu e chegavam finalmente a Guaíra, na época contígua aos saltos tinha 54 x 8 metros, com 4 pés de calado e movidos por uma grande das Sete Quedas. roda na popa. O motor, movido a lenha, podia carregar até 1.800

De Guaíra, por sua vez, a erva era levada de trem até Porto Men- sacas de erva-mate, cada uma com 60 kg, ou seja, um montante des, em ferrovia especialmente construída pela empresa. Essa aproximado de 108 toneladas de carga.estrada de ferro peculiar, com 60 km de extensão, contornava as Há razoáveis descrições na literatura (Silveira Neto 1914, pequenas elevações do relevo daquela região, sendo percorrida por Nogueira 1920, Lima-Figueiredo 1937, 1944, 1947) acerca desse trens pequeninos com apenas 60 cm de bitola, lembrando um trajeto, bem conhecido a partir de fontes historiográficas, algumas “...brinquedo de criança”, segundo Nogueira (1920). delas bastante minuciosas. Interessa-nos, no entanto, esclarecer os

Esse transporte por via férrea começou apenas a partir de 1915; topônimos visitados por Kaempfer em sua estada no Mato Grosso antes disso, a erva era transportada por carroças de tração bovina do Sul, os quais são apresentados a seguir. até a altura de Salto Kãrãpã (Paraguai) onde passava por grandes roldanas que permitiam a transposição do Rio Paraná para a mar- A Fazenda Campanário gem paraguaia. Por muitos anos foi uma via de acesso de uso exclu- Naumburg (1935), além das fontes por ela mencionadas, baseou-sivo da Matte, mas, já no fim da década de 20, a ferrovia foi aberta se também em mapas para indicar os pontos de visita de Emil ao público, por meio do Decreto n° 365 de 27 de fevereiro de 1929. Kaempfer ao Mato Grosso do Sul. Em certos casos, a conclusão

O Porto Mendes, na margem esquerda do Rio Paraná, era situado sobre a localização precisa de tais locais foi desastrosa (vide tam-à jusante de Guaíra. Propriedade da Matte Larangeira, era um local bém abaixo sob Fazenda São Francisco). Uma dessas incorreções especialmente projetado para o embarque da erva-mate, dispondo refere-se à Fazenda Campanário plotada em mapa como “Campei-inclusive de uma zorra (rampa para abastecimento de navios) a ro” (hoje distrito de Sidrolândia) lugarejo dali distante por mais de vapor; nesse ponto, o rio Paraná conta com 200 metros de largura 180 km (vide Figura 1), talvez com base em semelhança toponími-

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Figura 6. Quase que uma cidade, a Fazenda Campanário dispunha de moderna infraestrutura, incluindo amplo “Consultorio Medico” e 'Pharmacia” e até uma quadra de cricket (acima) (Fonte: acervo Fazenda Campanário). Grande parte das edificações se preservam até os dias de hoje (abaixo) (Fotos: Alberto Urben-Filho, outubro de 2009).

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ca e com base na altitude informada pelo coletor, mas, por fim, de soja e milho. Contém uma pequena vila com cerca de 20 edifica-admitindo como “not located”. ções onde reside parte dos seus 220 funcionários e também uma

Na realidade, a Fazenda Campanário se tratava, naquela época, reserva legal com mata preservada, somando 7.800 hectares distri-de um centro importantíssimo de extrativismo da erva-mate, buídos em vários remanescentes, dos quais um deles com 3600 ha.amplamente conhecido e fartamente documentado. Foi construída Situa-se no município sul-matogrossense de Laguna Caarapã a e estabelecida por volta de 1910, durante a administração de Heitor 22°47'05,24”S e 55°04'01,48”W e a uma altitude de 420 m (Figura Mendes Gonçalves (de onde vem, inclusive, o topônimo “Porto 8), distante cerca de 32 km (mais 3 km de acesso secundário sinali-Mendes”). Segundo Guillen (2003a,b, 2007) a propriedade, tal zado) da cidade de Caarapó, pela rodovia MS-156 após passar os como Guaíra, tratava-se de um centro urbano emergente, dispon- rios Piratini e Campanário. do de infraestrutura invejável para os padrões normalmente conhe-cidos, com água encanada, sistema hierárquico de residências, qua- O Porto Felicidadedras esportivas, cinema, hospital, farmácia e até telefone e telégra- Porto Felicidade, topônimo fluvial às margens do Rio Amambaí, fo, serviços que permitiam a comunicação entre as duas sedes e tam- era apenas mais um – embora fosse o mais importante – dentre mui-bém Porto Felicidade. Para essa mesma autora: “Campanário, em tos outros portos por onde passava a erva-mate proveniente da 1930, tinha mais de mil habitantes, e cerca de trezentas casas, Fazenda Campanário e pertencente à grande rede fluvial empreen-enquanto Guaíra era um pouco maior. Tais dimensões podem nos dida pela Matte Larangeira para coletar o produto oriundo do sul parecer ínfimas, mas, se comparadas às povoações que existiam na do Mato Grosso do Sul. Entre Campanário e Guaíra, utilizava-se – fronteira nessa época ambas pareciam mesmo duas grandes cida- de acordo com a circunstância e a época – os rios Iguatemi, Pirajuí, des” (Figuras 6 e 7). Maracaí, Laranjaí, Guiraí, Pirabebe e Ivinhema. Por eles “...cruza

Foi exatamente sob essas circunstâncias que Emil Kaempfer um grande número de embarcações, rebocadas por lanchas a ali permaneceu, entre os meses de junho e julho de 1930, coleci- vapor e a motor de explosão. Desembocam no Paraná e descem em onando espécimes nos arredores da propriedade e a eles consig- direção a Guaira, levando a erva coletada naquela emaranhada nando o topônimo como localidade de coleta. floresta de centenas de léguas quadradas, de rumos confusos e ator-

A Fazenda Campanário é hoje uma grande propriedade rural con- doantes. E quase todos os rios acima indicados têm também os tando com 37.000 hectares onde se pratica a pecuária e agricultura seus afluentes, por onde é veiculado o produto colhido no esgalha-

do de ervais perdidos naquelas brenhas” (Melo e Silva 1948).Atualmente, pode-se acessar facilmente o porto, que se encontra

na margem esquerda da Rodovia MS-180 (que liga Juti a Iguatemi, a cerca de 13 km da primeira) e muito próximo da ponte sobre o Rio Amambaí, construída em 1983 (Figura 9). A localização precisa é 22°58'15,54”S e 54°33'49,23”W, altitude de 260 metros.

Nesse local há apenas duas edificações, ambas bastante antigas, em péssimo estado de conservação, mas servindo de testemunho valioso sobre os tantos acontecimentos que ali ocorreram nos anos 20 e 30. Uma dessas construções é um grande barracão que dá para o Rio Amambaí; em sua arquitetura é possível perceber detalhes como a matéria-prima utilizada, árvores de lei, outrora abundantes na região e até mesmo os resquícios da escadaria por onde a erva era transferida do galpão para o rio (Figura 10).

A paisagem local, segundo nossas próprias observações, é constituí-da por uma floresta estacional bastante modificada, dominada por extensivas frentes agrícolas e de pecuária extensiva. Esse padrão flo-restal é notado em particular na beira do Rio Amambaí, onde parcela da vegetação foi preservada (Figura 9). Há que se ressaltar, porém, que segundo informações de um antigo morador da região (Sr. Adão Dani-el Filho, na época com 76 anos de idade), nas áreas entre a cidade de Juti e o rio, especialmente em pontos mais planos e de maiores altitu-

Figura 8. Sede da Fazenda Campanário (imagem capturada do Google Earth, a 7,28 km de altura, em 1° de setembro de 2010),

indicando a sua localização e o contexto ambiental, com diversos remanescentes florestais preservados.

Figura 7. Antiga sede da Fazenda Campanário vista de frente nos anos 30 (Fonte: Acervo Fazenda Campanário) e modernamente, em visão lateral (Foto: A.Urben-Filho).

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des, a fitofisionomia dominante era o cerrado, tanto formando campos O trajeto de Kaempfer no Mato Grosso do Sulcerrados (“onde tinha muitas emas...”) quanto transições de vegetação Desvendar o caminho percorrido por Kaempfer no Mato Gros-mais robusta, ou seja, cerradões. Em direção ao Rio Amambaí, a paisa- so do Sul exige o conhecimento, antes de tudo, dos pontos onde gem se modificava gradativamente obedecendo a orografia: antes uma ele adentrou e deixou o território desse estado. Mas também obri-mata estacional de “solo vermelho”, depois uma mata seca de difícil ga a análise de algumas localidades visitadas nos territórios con-transposição e com abundantes bromélias espinhentas e, então, a vár- tíguos do estado do Paraná e da República do Paraguai (Tabela zea do Rio Amambaí, formada por matas sazonalmente alagáveis. 1).

Figura 9. Porto Felicidade (imagem capturada do Google Earth, a 1,22 km de altura, em 1° de setembro de 2010), indicando a sua localização precisa às margens do Rio Amambaí, nas proximidades da Rodovia MS-180, onde (abaixo) está a ponte sobre o mesmo rio.

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Tabela 1. Progressão cronológica dos pontos visitados por Emil regiões, para depois – com melhor logística – dirigir-se definitiva-Kaempfer no oeste do Paraná (PR), Mato Grosso do Sul (MS) e les- mente a eles. Isso explicaria a próxima datação: 29 de maio em Foz te do Paraguai (Fonte: Naumburg, 1935). do Iguaçu (incluindo uma visita a Puerto Bertoni), 7 de junho na

Fazenda Campanário, depois 9 a 11 de julho novamente em Guaíra e, enfim, 16 de junho de retorno a Campanário. DATA (ANO DE 1930) LOCALIDADE

Ocorre que, refém da navegação fluvial dos rios Paraná e Amambaí 14 a 26 de abril Guayra – PRpara ligar as duas sedes da Matte Larangeira, foi construída pela 1 a 2 de maio Porto Mendes (Rio Paraná) – PRempresa, nos anos 20, uma estrada – segundo consta, em excelente 5 a 9 de maio Porto Britania (Rio Paraná) – PRestado de conservação – que possibilitava uma via de acesso num tem-16 a 29 de maio Foz do Iguassú – PRpo de três horas entre Guaíra e Campanário (Guillen 2003). E automó-maio ou junho (?) Puerto Bertoni – Paraguaiveis, naquela época, especialmente em dois expressivos centros urba-7 de junho Campanario – MSnos como Guaíra e Campanário, não eram raros, servindo, inclusive, 9 a 11 de junho Guayra – PRcomo forma de ostentação das classes mais abastadas (Figura 11).16, 19 e 20 de junho Campanario – MS

Dessa forma, parece lícito imaginar que Kaempfer, ao chegar em 22 a 30 de junho Rio Amambahy – MSGuaíra e inevitavelmente ser informado sobre essa “moderna con-3 de julho Fazenda São Francisco – MSdição”, teria realizado uma visita rápida, de apenas um dia ou dois, 6 a 17 de julho Campanario – MSà sede da Fazenda Campanário, seguindo pela rodovia da Matte 25 a 30 de julho Ñu Porã (Rio Ypané) - ParaguaiLarangeira! Atravessara o Rio Paraná por balsa e, a partir do Porto 5 a 11 de agosto Belén (Rio Ypané) - ParaguaiDom Carlos, estaria já na estrada. Decidida a logística, retornaria a 15 e 16 de agosto Campos do Mancuello - ParaguaiGuaíra, ali permanecendo mais alguns dias (9-11 de junho) para, então, seguir viagem pelo interior do Mato Grosso do Sul. Essa é Não há dúvida, pelo exposto, que há algo de estranho no confron-uma hipótese bastante convincente o que, a priori, poderia ser to entre trajeto e datação informados por Naumburg (1935), uma interpretado como erro de rotulagem ou mesmo tipográfico. vez que intercalam pontos paranaenses, sul-mato-grossenses e

Uma documentação extremamente valiosa que fornece informa-paraguaios, sem uma lógica aparente. ções sobre essa região é um filme mais ou menos contemporâneo O percurso percorrido entre 14 e 29 de maio, ou seja, entre Guaíra de Kaempfer, que foi produzido por Luiz Thomas Reis, major do e Foz do Iguaçu parece mais do que óbvio: primeiro Kaempfer saiu Exército brasileiro conhecido como cinegrafista da Comissão Ron-de Guaíra pela estrada de ferro até Porto Mendes e, de lá, seguiu don. Em uma de suas obras, datada de 1931 e da qual apenas tive-pelo Rio Paraná até a cidade de Foz do Iguaçu. Em algum momento mos acesso à resenha³, aparece todo o caminho percorrido pela (infelizmente Naumburg não menciona a data), decidiu visitar “Pu-“Inspeção de Fronteiras” liderada por Rondon em 1925, a fim de erto Bertoni” o que poderia ter sido realizado, sem nenhuma difi-acompanhar a Coluna Prestes. Segundo a descrição, “os membros culdade pelo Rio Paraná. Esse local é a antiga sede de uma fazenda, do S.P.I. [Serviço de Proteção ao Índio, hoje Funai] chegam ao Por-na margem direita do Rio Paraná, defronte à fronteira com a Argen-to D. Carlos. localizado à margem direita do rio Paraná, no estado tina e que era propriedade da família do naturalista suíço Moisés de Mato Grosso [do Sul], que liga-se por estrada de rodagem ao Santiago Bertoni (1857-1929), um dos mais expressivos intelectu-Porto da Felicidade e à Campanario. Descendo o rio Paraná avis-ais sul-americanos de todos os tempos (para biografia vide Baratti e ta-se Guaíra, onde encontra-se a vila industrial da Companhia Candolfi, 1999). Ali o cientista dedicava parte do seu tempo reali-Matte Laranjeira”. De fato, esse ponto de travessia do Rio Paraná é zando pesquisas de grande valor nos campos da biologia (especial-bem citado na literatura em geral, tendo sido inclusive mencionado mente botânica), linguística e meteorologia, bem como ao cultivo em mapa por Lima-Figueiredo (1937). de espécies nativas ou exóticas e manutenção de uma pequena

Graças a essa prestativa descrição, fecham-se também os deta-biblioteca e museu de animais colecionados nas redondezas. lhes sobre a visita ao Rio Amambaí e, inclusive, fica esclarecido A localidade é clássica pelos inúmeros exemplares lá obtidos e definitivamente que a “Fazenda São Francisco, Rio Tereré” não se depositados em várias coleções de todo o mundo, especialmente localiza na região inidcada costumeiramente na literatura. por iniciativa de seu filho Arnoldo de Winkelried Bertoni (1878-

De acordo com as datas mostradas por Naumburg (1935), e con-1973), autor das famosas obras "Aves nuevas del Paraguay: conti-siderando-se sinônimos os pontos chamados São Francisco nuación a Azara" e "Fauna Paraguaya" (Bertoni 1901, 1913). (ranch), São Francisco Tereré e Rio Tereré (todos apenas mencio-Parece sugestivo imaginar, desta forma, que Kaempfer ao chegar nados como visitados em 3 de julho), as localidades visitadas por em Guaíra, tomou conhecimento da presença deste ponto relevante Kaempfer foram: Campanario (até 20 de junho) – Amambahy e, por motivos vários, decidiu visitá-lo. Já amplamente amostrado (town) e Rio Amambahy (ambas entre 22 e 30 de junho) – São Fran-o local, no tocante à sua avifauna, pouco se interessou Kaempfer cisco/Rio Tereré (3 de julho) – Campanario (6-17 de julho). em despender seu tempo com essa atividade, o que explica a inexis-

De acordo com os rótulos originais da coleção Kaempfer, ainda, tência de material documental dali procedente.há duas localidades atribuídas a “Campanario”, distinguíveis pela Essa estada na região fronteiriça brasileira é apenas indicada dis-altitude: “1100 f[ee]t” e “1200 f[ee]t” (respectivamente 335,28 e cretamente no mapa apresentado por Naumburg (1935) e, pela con-365,76 metros). Essa pequena diferença orográfica nada significa tingência política, aparece no item “Paraguay”, cujas demais loca-no contexto de distribuição, mas aponta para o fato do coletor ter lidades destoam bastante quanto às datas. De fato, todas as locali-tido o cuidado de mostrar dois pontos distintos de coleta, detalhe dades paraguaias, com exceção de “Puerto Bertoni”, foram visita-esse que foi omitido por Naumburg (1935). Segundo a mesma fon-das entre julho de 1930 e janeiro de 1931, portanto, depois de sua te, não há uma localidade de “Amambahy (town)”: o topônimo de estada no Mato Grosso do Sul (junho a julho de 1930).coleta é clara e invariavelmente mencionado como “Rio Amam-Parece que Kaempfer, durante suas viagens, fazia verdadeiras bahy” e, nos rótulos, a altitude informada é tão somente “650 ft.”. pesquisas sobre locais interessantes para trabalhar. Em alguns Apontar a altitude em que, ao longo de um rio, encontra-se uma casos, acreditamos que ele chegava a fazer vistorias prévias nessas

3 http://base2.museudoindio.gov.br/cgi-bin/wxis.exe?IsisScript=phl82/003.xis&bool=exp&opc=decorado&exp=PARAGUAY&tmp=/tmp/fileagXv3Y; acessada em 28 de agosto de 2010. Segundo consta, o filme é uma película 35 mm p&b, com 16 min 43 s, intitulada “Matto Grosso e Paraná: fronteiras com o Paraguay e Argentina” e está tombada no Museu do Indio sob n° SN00709X NOX.

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estação de colecionamento é procedimento valioso e extremamen- teremos uma diferença altitudinal de 55 metros, que deve ser o desvio, te preciso para o resgate de informações. Nesse sentido, pode-se para menos, das anotações indicadas. Com esse número se pode chegar admitir que houve uma única localidade de onde procedem os a uma altitude aproximada do ponto onde Kaempfer esteve trabalhan-exemplares atribuídos ao “Rio Amambahy” que estaria na cota de do no Rio Amambaí (cerca de 230 m) que, por sinal, aproxima-se mui-198,12 metros s.n.m. de seu curso fluvial. to da localização onde está Porto Felicidade. Aqui cabe lembrar que a

Se tomarmos o exemplo da Fazenda Campanario e confrontarmos as cidade de Amambai, mencionada por Naumburg (1935) como visitada altitudes precisas (420 m) e informadas (1200 ft) (cf. Naumburg, 1935), por Kaempfer, não foi sequer considerada em seu trajeto, tal como nos

Figura 10. Remanescentes das edificações em Porto Felicidade: residência (1,2) e barracão que era usado para armazenamento e distribuição das sacas de erva-mate que provinham da Fazenda Campanário e seguiam pelo Rio Amambaí, mostrando vista frontal (3),

detalhes arquitetônicos laterais (4) e fundos (5,6) como os testemunhos da rampa que dava no Rio Amambaí (Foto: F.C.Straube).

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mostram as informações colhidas de seus rótulos, nominalmente e alti- Fontes adicionais para esse assunto podem ser ainda obtidas a 4 partir das fontes aqui consideradas. Isso porque, segundo os rótulos tudinalmente falando. Essa pequena cidade do Mato Grosso do Sul

originais de Kaempfer, alusivos aos (somente) sete exemplares por está entre 450 e 500 metros de altitude, portanto em elevações expressi-ele colecionados (AMNH-319384, 319412, 319425-319426 e vamente maiores do local indicado nos rótulos de Kaempfer. 321806 a 321808) no local, consta claramente a altitude de 1200 Com base nessa conclusão, o naturalista teria simplesmente usado a feet (=365,76 metros) que, por sinal, também é mencionada por rodovia ali existente para seus deslocamentos. Por meio de uma incur-Naumburg (1935), mas com a seguinte advertência: “Altitude são de nove dias (22 a 30 de junho), estabeleceu-se em Porto Felicida-seems to high but given by collector”, mostrando que ela própria de, local que – naquela época – já dispunha de condições para o alojar, suspeitou da suposta localização perto de Porto Murtinho.inclusive com disponibilidade de fornecimento de alimento e água

Cabe adicionar que os últimos três desses espécimes incluem potável. Cabe ressaltar que, até os anos 20, todos os gêneros de prime-informação relevante no sítio de coleta: “Campanario, São Fran-ira necessidade chegados a Campanário provinham de Buenos Aires e cisco”, o que leva a crer que a tal localidade situar-se-ia nada menos isso apenas se modificou com a presença da Ferrovia Sorocabana em do que nos próprios arredores da grande fazenda, o que pode ser Porto Epitácio quando víveres ali aportavam originários do interior de confirmado pelos valores altitudinais. São Paulo (Guillen 2003). De qualquer forma, as condições para um

A questão agora se volta ao percurso de saída do Mato Grosso do viajante não deveriam ser fáceis, exigindo que – em certos pontos – Sul. A última data de colecionamento em Campanário foi 17 de julho ele se obrigasse a contar com a presença dessa estrutura mínima. de 1930 e sabe-se que, depois disso, aparece apenas a data de 25 de Se esse foi o itinerário tomado, então a enigmática “Fazenda São julho, já em “Niu Pona (Rio Ypané)” (Paraguai). Essa localidade se Francisco” estaria situada entre Porto Esperança e a Fazenda Campa-trata, na realidade, da “Estancia Ñu Porá” (Hayes nário, especificamente em algum local ao longo da estrada carroçá-1995:23°09'S/56°19'W), localizada no Departamento de Concep-vel que ligava ambas as localidades e que era francamente utilizada ción e banhada pelo Rio Ypané. Depois disso, Kaempfer ainda esteve para o escoamento da erva-mate entre a região de extrativismo e o em “Belén”, também às margens deste rio e, em seguida, visitou vári-porto fluvial. A cronologia confere. Ali estivera em 3 de junho para, os outros pontos do Paraguai oriental, antes de seguir para o Chaco. três dias depois, já aparecer novamente na Fazenda Campanário. Infe-

Esse Rio Ypane, cujo curso é mais ou menos paralelo ao dos rios lizmente não foi possível identificar com precisão o ponto onde essa Apa e Aquidabán (a norte) e Aguaray guasu e Jejui guasu a sul, é um fazenda se situava, mas, pela tese aqui defendida, teríamos apenas o afluente do Rio Paraguai, em cuja foz está a cidade de Concepción. intervalo de 55 km entre Campanário e Porto Felicidade, o que já aju-Ele nasce na Serra de Maracajú, na fronteira litigiosa entre o Brasil e da bastante na compreensão de todos os desdobramentos biogeográ-o Paraguai (cf. Straube 2003) a poucos quilômetros da cidade de Pon-ficos que um lapso desse poderia levar (vide adiante). Provavelmente ta Porã. Ocorre que esse núcleo urbano fronteiriço, situa-se a 76 km outras pesquisas de campo ou mesmo junto aos registros de terras por estrada da Fazenda Campanário, com a qual mantinha ligação contemporâneos poderão resolver definitivamente essa questão.

Figura 11. Automóveis não eram incomuns, em plena década de 20, em locais emergentes como a Fazenda Campanário (Fonte: acervo Fazenda Campanário).

4 A maior parte dos mapas e diversas fontes da literatura consideram um topônimo Amambai oxítono e com acento agudo na última sílaba (“Amambaí”). No entanto, a pronúncia utilizada em toda a região é paroxítona (portanto “Amambái”). A origem do erro é provavelmente ligada ao Departamento paraguaio homônimo (Amambay), cuja capital é Pedro Juan Caballero. Ocorre que, em guarani, o verbete alusivo corresponde a amambái, ou seja, samambaia ou toda a sorte de pteridófitas de pequeno porte; Amambay é, ao pé-da-letra, traduzido como “rio das samambaias” pela aglutinação dos étimos “amambái + y”.

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rodoviária trivial, inclusive por ter sido uma das sedes da Matte ção, por exemplo, de Penelope superciliaris que, no mapa apresen-Larangeira (Lima-Figueiredo 1949). Parece claro, assim, que tado por Vaurie (1966) figura com um ponto de registro no local Kaempfer tomara essa rota para adentrar a República do Paraguai. onde corretamente seria a Fazenda São Francisco (sul do Mato Gros-

Indícios comparáveis podem ser colhidos inclusive, do idêntico so do Sul) e não nas imediações de Porto Murtinho, onde a espécie roteiro seguido pela “1° Divisão Revolucionária” (Coluna Prestes) não consta ocorrer (Short 1975 e Straube et al. 2006). Esse cracídeo em maio de 1925 quando, a partir de Guaíra, ocupou Porto Felici- é pouquissimamente registrado no Pantanal (Tubélis & Tomas, dade, depois Campanário e dali seguiu para Ponta Porã (Donato 2003) e, no Mato Grosso do Sul, suas populações concentram-se a 1986:235, Meireles 1995). leste da Serra de Maracaju ou, ainda, em pontos isolados com flo-

restas estacionais (p.ex. Parque Nacional de Serra da Bodoquena), Implicações biogeográficas as quais se constituem o seu principal ambiente de ocorrência.

O assunto aqui discutido poderia parecer pouco importante no Outra informação interessante refere-se a Pyriglena leucoptera, que diz respeito a um pequeno itinerário e que gerou um pouco sobre a qual Zimmer (1931b:9) se expressa claramente sobre mate-expressivo montante de espécimes, sendo que a correção deste des- rial de Kaempfer guardado no American Museum of Natural His-lize bibliográfico já fora alertada por Straube et al. (2006). tory: “The record from southern Matto Grosso ('Campanario, Sao

A importância da discussão, no entanto, é amplificada pelo signi- Francisco Ranch') constitutes an extension of the range of this ficado biogeográfico deste equívoco, o qual poderia aferir erronea- form [Pyriglena leucoptera leucoptera]...”. Essa indicação tem rele-mente a presença de espécies típicas da bacia hidrográfica do Rio vância não somente biogeográfica como histórica. Embora seja Paraná em pontos profundamente diferentes, já sob forte influência mencionada na avifauna de algumas regiões do Paraguai oriental do Chaco. Uma ilustração desta problemática aparece na distribui- (Hayes 1995), a espécie em questão conta com escassos registros

Figura 12. Pontos de coleta, principais marcos toponímicos e itinerário presumido (linha vermelha) de Emil Kampfer no estado do Mato Grosso do Sul (Fonte: adaptado de imagem do Google Earth).

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aNacional. Brasiliana, Série 5 , Volume 97: Biblioteca Pedagógica Brasileira. ção desse registro para os domínios do Chaco (levando-se em conta a 197 p.localização da “Fazenda São Francisco” por Naumburg, 1935) poderia Lima-Figueiredo, [J.de]. (1942). O Rio Paraná no roteiro da Marcha para o Oeste.

Revista Brasileira de Geografia 4(1):143-148.levar a importantes problemas distribucionais. Isso porque, a forma ocor-Lima-Figueiredo, [J.de]. (1944). Paraná-oeste. Revista Brasileira de Geografia rente ao longo do Rio Paraguai é Pyriglena leuconota maura a qual,

6(4):527-536.inclusive, é passível de consideração futura como espécie plena, em vir- Lima-Figueiredo, [J.de]. (1947). O sul de Matto Grosso. Boletim Geográfico tude de diferenças morfológicas, vocais e da extensa zona de parapatria 5(55):816-819.

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Meirelles, D. (1995). As noites das grandes fogueiras: uma história da Coluna Pres-Grosso do Sul é coerente no ponto de vista de vegetação e das exigênci- tes. Rio de Janeiro, Record.

Melo e Silva, J. de [1939]. (2003). Fronteiras guaranis. Campo Grande, Instituto as ecológicas da espécie, tida como endêmica da Mata Atlântica. Além Histórico e Geográfico do Meto Grosso do Sul. 2° edição, atualizada e anotada disso, concorda com a inexistência de zona de contato (ou, no máximo por Hildebrando Campestrini. 237 pp.

de parapatria) entre ambas as formas o que, de fato, não ocorre em vir- Melo e Silva, J. de [1947] (2004). Canaã do oeste. Campo Grande, Instituto Históri-tude de uma distância de várias centenas de quilômetros. co e Geográfico do Meto Grosso do Sul. 2° edição, atualizada e anotada por

Hildebrando Campestrini. 163 pp.Esse assunto é também relevante porque correlaciona biogeografia Naumburg, E.M.B. (1928). Remarks on Kaempfer's collection in Eastern Brazil. com o necessário aprofundamento sobre certos registros antigos, os

Auk 44(1):60-65.quais merecem avaliação profunda como esse que aqui apresenta- Naumburg, E.M.B. (1935). Gazetteer and maps showing stations visited by Emil

Kaempfer in eastern Brazil and Paraguay. Bulletin of the American Museum of mos. Tendo Zimmer analisado o material de Kaempfer do American Natural History 68: 449-469.Museum of Natural History e publicado diversas menções explícitas

Naumburg, E.M.B. (1937). Studies of birds from eastern Brazil and Paraguay, a uma localidade “Campanario, São Francisco Ranch”, qual a razão based on a collection made by Emil Kaempfer: Conopophagidae, Rhi-de Naumburg, quatro anos depois, baseada em mesmo material, ter nocryptidae, Formicariidae (part). Bulletin of the American Museum of Natu-

ral History 74(3):indicado a localidade como próxima de Porto Murtinho? A razão tal-Naumburg, E.M.B. (1940). Studies of birds from eastern Brazil and Paraguay, vez nunca seja explicada, mas, no entanto, oferece mais pistas que

based on a colletcion made by Emil Kaempfer: Formicariidae (part). Bulletin devem ser consideradas em futuros estudos com o material de of the American Museum of Natural History 76(6):231-276.

Nogueira, J. (1920). Do Rio ao Iguassú e ao Guayra. Rio de Janeiro, Editora Cario-Kaempfer, já que Elsie Naumburg não apenas se baseou nas informa-ca. 168 pp. ções originais descritivas enviadas por via postal por Kaempfer. Ela

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que contemplem cegamente a revisão toponímica de Naumburg. É 65:10-13.provável que outras incoerências sejam reconhecidas e, assim, revi- Paynter-Jr., R.A. & M.A.Traylor-Jr. (1991). Ornithological gazetteer of Brazil.

Cambridge, Museum of Comparative Zoology. 788 pp., 2 vols.sores precisam ter a devida cautela para evitar erros que dificilmente Pivatto, M.A.C., D.D.G.Manço, F.C.Straube, A.Urben-Filho & M.Milano, M. seriam reparados no futuro, particularmente para táxons cuja situa- (2006). Aves do Planalto da Bodoquena, Estado do Mato Grosso do Sul (Bra-

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