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SOFALA: RESENHA HISTÓRICO-CULTURAL E TOPONÍMICA

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SOFALA: RESENHA HISTÓRICO-CULTURAL E

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Copyright© Editorial FundzaTodos os direitos reservadosISBN: 000000000000000

Coordenação editorial e Revisão: Gustavo SabambaDesenho da capa: Gimo da GraçaCoordenação e distribuição: João Paulo MarimeProjecto gráfico e Edição: Gimo da Graça

Todos os direitos reservados à Editorial Fundza Sociedade Unipessoal Lda.Cidade da Beira, Agosto de 2018E-mail: [email protected]

Título: Sofala: Resenha Histórico-Cultural e toponímica

Autor: ARPAC-Instituto de Investigação Sócio-Cultural de Sofala

Editora: Editorial Fundza

Data de Impressão: Agosto de 2018

Registo: 0000/RLINLD/2018

Género: Académico

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Prefácio............................................................................................7Introdução.......................................................................................8

ORIGEM DE SOFALA ..............................................................11FEITORIA E FORTALEZA DE SOFALA................................13Dinâmicas em Torno de Sofala..................................................15O Posto Administrativo de Sofala.............................................19

LUGARES SAGRADOS ASSOCIADOS À ORIGEM DE SO-FALA.............................................................................................21Bhue Ra Nhanhe..........................................................................21Santuário de Mwenhemukuru...................................................24

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DA PROVÍNCIA DE SO-FALA.............................................................................................26GASTRONOMIA TIPICA DE SOFALA.................................27

DESCRIÇÃO TOPONÍMICA DOS DISTRITOS DE SOFA-LA.................................................................................................28Técnicas de Conservação de produtos agrícolas.....................33Instrumentos utilizados na actividade pesqueira...................34Conhecimentos e técnicas artesanais........................................35Esteira............................................................................................35Cestaria ........................................................................................35Tipos de Habitação de Sofala.....................................................36

CONHECIMENTOS, CRENÇAS E RITUAIS NO USO DE PLANTAS.....................................................................................37

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PREFÁCIO.

Sofala foi e continua a ser uma referência nacio-nal e internacional, o que se evidencia pela convivência de vários povos e destino turístico. Sofala foi e é de facto cosmopolita. Esta resenha materializa o Programa Quin-quenal do Governo e o Plano de Desenvolvimento Estra-tégico da Província de Sofala (2010-2020), no que tange à valorização do Património Cultural moçambicano.

No que diz respeito ao passado da região da Áfri-ca Austral, Sofala se destacava estrategicamente e cons-tituía uma rota de escoamento das riquezas auríferas do Império de Mwenemutapa, uma referência incontorná-vel da História de Moçambique, de África e do mundo. Actualmente, Sofala goza de uma localização igualmente estratégica no País (um verdadeiro coração de Moçam-bique). No contexto da economia nacional bem como da região, Sofala é um ponto de entrada e de saída da SADC. Possui uma vasta diversidade sociocultural, abundância de recursos naturais e infra-estruturas socioeconómicas estratégicas. Sofala é um destino turístico por excelência.

No entanto, o nome de Sofala tem sua história marcada por factos que nos colocam no mapa global. É pertinente saber donde vem o nome Sofala. Esta pergun-ta para além de ser motivada pela curiosidade académica que move os pesquisadores do ARPAC-Instituto de In-vestigação Sócio-Cultural, sempre foi preocupação nossa como governo de registar a nossa história. Havia, de fac-to, a necessidade de registar a história da origem de So-fala, um nome lindo que é reforçado pela fisionomia do mapa da Província. Aliás as informações sobre a origem de Sofala, a história, os bens culturais, a gastronomia lo-cal, são um dado importantíssimo para o turismo, uma das prioridades estratégicas do desenvolvimento.

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As informações patentes, nesta resenha, são uma base da nossa auto-estima.

O que é Sofala? Donde vem nome Sofala. Estão todos convidados a ler esta resenha de So-

fala.

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INTRODUÇÃO

Sofala: Resenha Histórico-Cultural e toponímica apresenta-se como uma exposição do percurso etimo-lógico e circunstancial do nome da Província de Sofala. Neste contexto, são apresentadas informações de carác-ter histórico, associadas a manifestações e bens culturais deste ponto do País. Trata-se, portanto, de documentário textual com o caracter informativo. Na abordagem dos temas, tomou-se em conta que a componente sociocultu-ral de Sofala é manifestamente o resultado de momentos históricos importantes, tendo-se destacado os etnocon-tactos, ou seja, a relação entre os povos nativos, asiáticos, europeus e das américas. Por conseguinte, as evidências da inculturação e da aculturação estão presentes no mo-saico cultural de Sofala.

Esta resenha resulta de uma actividade de pes-quisa inserida no Inventário do Património Cultural Imaterial, levada a cabo pelo ARPAC-Instituto de Inves-tigação Sócio-Cultural - Delegação Provincial de Sofala.

Em termos metodológicos, as informações pro-vieram do trabalho de campo e heurística dos acervos documentais. No trabalho de campo, para além da ob-servação foram efectuadas entrevistas.

Refira-se que abordagem desta resenha histórica é descritiva e sintética, acompanhada de alguns quadros, fotografias e breves relatos.

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1. ORIGEM DE SOFALASofala é o nome da província que se localiza na

zona centro de Moçambique, ocupando uma superfície de 68. 018 Km². A província possui uma costa banhada pelo Oceano Indico.

De acordo com documentos primários (crónicas, livros de viagens, diários de bordo e outros), a palavra Sofala é de origem asiática. Eduardo Costa refere que os primeiros portugueses, que se ocuparam de Sofala e do seu sertão, julgaram que estavam no lendário reino de Ofir da Bíblia Sagrada, País donde o rei Salomão (da bí-blia sagrada) recebeu o ouro da Rainha de Sabá. Assim, na sua percepção, na conjugação linguística, o termo de Sofala ligava-se ao de Ofir que por sua vez seria a pri-meira forma de afura, ou fura. Associado a isso, o rio Sa-bia, actual Save, era o reino de Sabá. (Ferreira 1967:41). Entretanto, esta informação foi inicialmente tida como fábula.

Contudo, após algum tempo e algumas análises a que Eliseu Reclus faz menção, acreditou-se que Sofala era, sim, o porto de Ofir, aonde as frotas do rei bíblico Sa-lomão e dos fenícios vinham carregar o ouro, as pérolas e as pedras preciosas. (Ferreira 1967:48).

Entretanto, Serrão explica que o nome nativo de Sofala era bwane e mais tarde tomou a designação árabe Zufar, que também se escreve Sofora, Sofar e Sfar. Serrão

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argumenta que a expressão árabe Zufar quer dizer terras baixas. Os asiáticos (árabes e persas) chamavam a povoa-ção de Sufalah Wakwak, que queria dizer Terra Baixa dos Bosquinianos.

Al Massudi explica que os povos nativos de Sofa-la usavam peles de leopardo e comercialização de ouro.

O arqueólogo Hilário Madiquida explica que a palavra Sofala era usada para designar toda a costa mo-çambicana envolvendo 7 cidades, sendo uma delas a ci-dade de Chibuene. No século X, um barco árabe sofreu uma tempestade e foi arrastada até à costa, tendo-se en-calhado no local onde mais tarde foi construída a forta-leza. Neste local, foi instalado um entreposto comercial. Mais tarde, a zona Sul passou a chamar-se Nova Sofala. Os contactos com os povos nativos e com os árabes ini-ciaram por volta do século VIII da nossa era. Os árabes deram à região, o nome de costa de Zendj. Sofala era o término das viagens dos marinheiros de Oman e Syraf. (Ferreira, 1967:53).

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Os asiáticos consideraram Sofala como terra de muito ouro. Esta informação chegou aos portugueses. Foi assim que D. João II enviou Pêro de Covilhã, que procurando a terra do Prestes João, chegou a Moçambi-que, tendo sido o primeiro português a pisar esta terra em 1489. Aliás, Lobato explica que Sofala por acaso, na viagem dos portugueses à India. Tendo ouvido falar da mina de Sofala, a coroa portuguesa decidiu fundar uma feitoria, em 1505. Pêro de Covilhã era um explorador que dominava a língua árabe. Aqui fica registado que antes de Vasco da Gama, Covilhã já havia pisado as terras de Moçambique.

2. FEITORIA E FORTALEZA DE SOFALACom a chegada dos portugueses foram instaladas

em Sofala uma feitoria e a fortaleza. São dois conceitos distintos. Uma feitoria era apenas um estabelecimento comercial, com o seu pessoal e um gerente. O gerente recebia o nome de feitor. Uma fortaleza era uma infra-es-trutura de caracter de segurança. A fortaleza de Sofala foi construída de pedra e cal. Normalmente, a fortaleza era composta por homens de armas e artilharia.

De acordo com Teixeira da Mota (1973:5-8), nas construções iniciais da fortaleza havia uma fortificação simples, composta por uma cerca quadrada, com tran-queira e fosso. Pêro de Anaia foi quem a construiu. Mais

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tarde, Manuel Fernandes construiu a torre, entre 1509 a 1512. A fortaleza acabou tendo uma torre quadrada de dois sobrados, ligados a uma das fases de uma marraria de pedra quadrangular, tendo nos cantos baluartes re-dondos. Frei João dos Santos, que esteve em Sofala no fi-nal do século XVI, explica que a Fortaleza era quadrada, com um murro com 25 palmos de altura, quatro baluarte nos cantos, Além disso, numa quadra do lado do mar existia uma torre para dois sobrados. Próximo da fortale-za, a população converteu-se ao cristianismo. Dentro da fortaleza existia a igreja matriz e na quadra do muro do lado da povoação via-se a casa da feitoria onde os portu-gueses fizeram primeiro edifício.

Fig.2: Panorama geral da Fortaleza de São Caetano de Sofala. Fonte: Arpac, In: Monografia do Território de Manica e Sofala, 1940.

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A fortaleza foi construída por motivações estra-tégicas, pois Sofala era a porta de entrada para o interior. Na Fortaleza, de acordo com Lobato (1974), no início, só haviam quatro colonos ou moradores, com direito a vencimento e subsídio. Havia também 4 mulheres de-gredadas que estavam proibidas de se relacionar com os nativos. Aliás, nas regras de funcionamento da fortaleza e da feitoria, aliadas à conjuntura da época, proibia-se o relacionamento íntimo entre pessoas de religiões dife-rentes.

3. DINÂMICAS EM TORNO DE SOFALAO Posto Administrativo de Sofala é um local re-

sultante da miscigenação cultural entre os povos nativos, os asiáticos e europeus. Apesar dessa miscigenação, os

Fig.3: Panorama da Fortaleza de São Caetano, visto numa gra-vura na parede.

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povos africanos mantiveram as suas tradições e parte de-las são descritas neste livro.

Depois dos asiáticos no século VIII, destaca-se a chegada dos portugueses constituída por regimento da frota de Pedro Álvares Cabral, a quem foi incumbido por D. Manuel I a tarefa de estabelecer uma feitoria em Sofala no ano de 1400. De regresso do Oriente, Pedro Álvares Cabral, já no Indico mandou um dos seus navios, capi-taneado por Sancho de Toar, para descobrir o «famoso» porto de Sofala. Foi esta a primeira presença portuguesa no território de Sofala, que foi seguida pela passagem da segunda armada de Vasco da Gama, em 1502 e que moti-vou o estabelecimento de uma grande feitoria em Sofala (1).

De acordo com Montaz, em 1501, Santos de Toar, levou para Lisboa presentes de Ouro do Rei árabe de So-fala. Ele próprio também tinha recebido bastante ouro. Em 1502, Pêro Afonso de Aguiar igualmente tinha le-vado ouro a Lisboa e um anel de ouro que o rei árabe de Sofala tinha tirado do seu dedo para oferecer a coroa portuguesa; Sofala era tida como a terra que dava ouro. Não só a terra, como também as pessoas davam o ouro. Esta era a concepção portuguesa de Sofala.

À medida que o tempo ia passando, a coroa por-tuguesa ia se interessando cada vez mais com Sofala.

Até 1499, Sofala era considerada e legendada

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com orgulho pelo rei português D. Manuel, como sendo terras em que há minas de ouro. Em 1501 era legendada como terra em que há grandes quantidades de ouro; em 1502, era grande mina de ouro; em 1504 era legendada como as minas mais ricas em fama que nenhuma outra daquelas partes de que eram conhecidas; e em 1506 Sofala foi considerada como terra de ouro infinito.

Nessa altura, em Portugal, o rei deliberou criar um Vice-Reinado na India, para o qual nomeou D. Fran-cisco de Almeida, que não poderia ocupar o lugar de Vice-Rei sem antes cumprir determinadas obrigações, entre as quais, a de erguer uma fortaleza em Sofala e es-tabelecer junto dela, uma feitoria para resgate de ouro de Mwenemutapa.

Para cumprir essa missão, foi escolhido por D. Manuel o capitão Pêro de Anaia, também conhecido por Pedro de Anaia, tendo chegado a Sofala a 04 de Setembro de 1505.

De acordo com Bermudes, “Com a construção da fortaleza de S. Caetano de Sofala e da feitoria, Sofala tor-nou-se maior empório da África Oriental; a fortaleza pro-tegia mais de seiscentos europeus formando uma povoação de portugueses mestiços e gente de terra. Dela distanciada cerca de quatrocentos metros, crescia outras povoações formadas por mouros, que se empregavam no serviço da fortaleza e no comércio de ouro, marfim e âmbar, tornan-

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do-se a vila que era a capital do distrito da Sofala”.A importância de Sofala foi descrita em árabe,

no século XV, através de um texto que Almiro Lobo (1996:208) caracteriza como um dos antigos e belos poemas, de que há memória sobre Sofala, da autoria de Ahmad Ibn Madjid, intitulado As- Sufaliyya. De referir que Ahmad Ibn Madjid foi o alegado piloto árabe de Vas-co da Gama.

Portanto, dada a forte presença asiática, sobre-tudo a dos comerciantes árabes, os portugueses deram início à construção da fortaleza de São Caetano em 1502.

Neste período, o primeiro administrador colonial português chamava-se Mário Ferreira Gonçalves. As in-fra-estruturas de origem portuguesas existentes naquele local foram construídas por prisioneiros negros, particu-larmente, os que sonegavam o pagamento de impostos. Tais criminosos eram provenientes de todos os distritos da província de Moçambique.

Refira-se que o território da província de Sofala estava integrado conjuntamente com o da actual Provín-cia de Manica, e chamava-se Distrito de Manica e Sofala até 5 de Agosto de 1970.

Assim, o Distrito de Manica e Sofala foi subdivi-dido em distritos de Manica e de Sofala. Com a indepen-dência de Moçambique a 25 de Junho de 1975, o Distrito de Sofala passou à categoria de Província.

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Volvidos alguns anos, Portugal entra em guerra em toda a costa oriental e é sujeito à coroa espanhola, o que contribuiu para a redução do movimento comercial em Sofala, e a lenta destruição do porto e da fortaleza pela erosão provocada pelas águas do rio Carona, por volta de 1862. Esta situação obrigou o governo, em 1865, a transferir a capital do Distrito de Sofala para a Ilha de Chiloane. (Boletim do Arquivo Histórico de Moçambi-que, n°6, 1989). Seguiram-se viagens de sondagem pela costa e para o interior, que em 1895 levaram o Tenente- Coronel de artilharia, Joaquim Carlos Paiva de Andra-de, cognominado «Mafambisse» (4), pelas populações locais, às terras de Gorongosa e de Mussorize, até ao rio Púnguè. Em consequência disto, foi por ele proposto o estudo da navegabilidade deste rio e das condições do porto em que se desemboca.

4. O POSTO ADMINISTRATIVO DE SOFALAO Posto Administrativo de Sofala faz parte do

distrito de Búzi, localizado a sul da província de Sofala. Com uma área de 7.160 km², o distrito do Búzi localiza-se no sudeste da província de Sofala, ao longo da bacia hidrográfica do rio Búzi com os seguintes limites: Norte – distrito do Dondo e Nhamatanda; Sul – distrito de Ma-changa; Leste – Oceano Indico, junto dos estuários dos rios Búzi e Púnguè; Oeste – distrito de Chibabava.

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Em termos de localização cósmica, o distrito lo-caliza-se entre as seguintes coordenadas: Norte – 19˚ 34` 08``, Sul - 20˚ 33` 09``, Este - 34˚ 46` 57``, Oeste - 33˚ 53` 07``.

A partir da cidade da Beira, o acesso ao distrito de Búzi é feito por duas vias de comunicação: a marítima e a terrestre. Por via marítima, parte-se da cidade da Bei-ra, concretamente da Ponte Cais, enquanto por via Ter-restre, usa-se a Estrada Nacional número 1 até ao Posto administrativo de Tica, no distrito de Nhamatanda. Dali usa-se a estrada Tica-Buzi. Pode-se também sair do Dis-trito do Búzi com destino a cidade da Beira pelos seguin-tes trajectos: Búzi a Muxúnguè “ via Casa Nova”; Búzi a Mutindir “ via Grudja” e Búzi a Machanga “ via Ampara”.

Um dos postos administrativos do distrito de Búzi é Sofala, composto pela localidade de Ampara e So-fala-sede.

O Posto Administrativo de Sofala fica a norte do distrito. Localiza-se em terrenos fortemente influencia-dos pelo mar e ambiente pantanoso na parte sudoeste do distrito. É neste Posto Administrativo de Sofala onde fo-ram fixadas as primeiras instalações do governo colonial, em Sofala.

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5. LUGARES SAGRADOS ASSOCIADOS À ORIGEM DE SOFALA

Um dos factos marcantes no Posto administrati-vo de Sofala é a existência de lugares sagrados, que estão bastante associados a história de Sofala. Estes lugares sa-grados diagnosticam o processo de aculturação que teve como actores os povos nativos e a presença de povos es-trangeiros. De seguida, são apresentados alguns dos lu-gares sagrados.

5.1. Bhue Ra NhanheO nome Bhue ra Nhanhe pronuncia-se em lingua

Ndau e traduz-se em: Bhue - Pedra, Ra- da e Nhanhe- Se-nhora, aglutinado fica Pedra da Senhora.

De acordo com Cadete Miguel Muchanga 1“ Bue Ra Nhanhe é um lugar sagrado onde uma viajante mu-çulmana ficou soterrada junto a sua filha e a empregada, quando estas se refugiavam de uma tempestade numa gru-ta de rochedos. Os muçulmanos ergueram um edifício em memória destas vítimas. A vítima chamava-se de Fátima, e ficou conhecida por Bibi Fátima, que significa avó Fáti-ma. Este local passou a designar-se Bue Ra Nhanhe, que quer dizer pedra sagrada em homenagem a Bibi Fátima”.

1 Entrevistado em Abril de 2016, no povoado de Chiconjo, no Posto Administrativo de Sofala, Distrito do BúzI, zelador do Santuário Bue Ra Nhanhe e Bhangi da mesquita local.

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Uma outra versão, mais desenvolvida sobre este lugar sagrado, explica que Bue ra nhane surge dum in-cidente por que passou uma senhora de origem árabe, chamada Bibi Fátima. Esta, na companhia de sua filha, empregada e um cavalo, fugiam duma guerra entre os árabes e portugueses na fortaleza de Sofala. Depois de uma longa caminhada, depararam com uma grande chu-va onde foram obrigados a procurar abrigo. Entraram numa caverna que repentinamente ficou encoberta, difi-cultando assim a saída.

Dias depois, as pessoas que passavam pelo lo-cal ouviam choros de criança. Na tentativa de salvar a criança, escavaram a caverna durante um dia inteiro, e ao anoitecer decidiram interromper. Já no dia seguinte, ao retomar o trabalho encontraram a caverna coberta como antes. No terceiro dia, encontraram o lugar transforma-do num túmulo. Deste modo, decidiu-se construir uma campa em memória das pessoas que estavam dentro da caverna. Por sua vez, um caçador passando por aquela zona na caça de porcos-bravos, descobriu uma pegada do pé direito numa pedra a 500 metros da caverna. E pensa-se que seja da mesma senhora. Para todos os efei-tos, este local é sagrado para as comunidades.

Para o santuário de “Bue Ra Nhanhe”, várias pes-soas provenientes de diversos quadrantes da Província, do País e do mundo vão fazer pedidos com vista ao al-

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cance de sucessos nos negócios, sorte de casamentos, fertilidade, etc. O local está a cargo de um zelador que explica e guia as pessoas que pretendam apresentar as suas preces. O momento das preces segue um ritual. O ritual ocorre dentro do edifício construído no local sa-grado, que é o túmulo. Durante o ritual, o zelador orienta as pessoas para se descalçarem. As pessoas ajoelham-se defronte ao túmulo. O zelador inicia com uma oração seguida pelo pedido da pessoa segundo a necessidade e o objectivo que a levou para lá. As preces são feitas em silêncio. No fim o zelador faz a última oração e saem do edifício. Este acto não se paga, Entretanto, os visitantes deverão levar frutas, bolachas e outros alimentos que são comidos pelos macaquinhos que aparecem no local. Não obstante, o peticionário dentro da sua livre e espontâ-nea vontade deixa num lugar apropriado certo valor não quantificado que serve para fazer face às despesas da ma-nutenção do edifício, através da aquisição de artigos de higiene, limpeza e outros.

Fig.4: Vista lateral externa do Santuário Bue Ra Nhanhe.

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5.2. Santuário de MwenhemukuruNa maior parte da comunidade muçulmana, so-

bretudo na residente no Posto Administrativo de Sofala, acredita-se que o santuário tenha surgido como resul-tado da materialização de um sonho. De a cordo com Fátima Mereja, muçulmana e natural do Posto Adminis-trativo de Sofala... foi com base em sonhos constantes de alguns membros da comunidade que davam conta da exis-tência algures de uma sepultura pertencente a um santo...Os anciãos locais decidiram reunir-se e dar um tratamento de carácter santo a referida sepultura como forma de dar resposta a este sonho.

Entretanto, uma outra versão refere que os ha-bitantes sonhavam de forma persistente com um corpo próximo da Fortaleza. Este corpo estava envolvido em panos com escritas árabes. Assim, um grupo de muçul-manos preparou uma viagem para verificar se de facto o sonho persistente tinha a ver com alguma situação

Fig.5: Interior do Santuário Bue Ra Nhanhe. Pormenor da campa da Bhibhi Fátima.

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concreta. Este grupo localizou o corpo e foram ver que o sonho era real. Enterraram o corpo e passaram a render a sua homenagem às sextas-feiras, de 15 em 15 dias. Jun-taram dinheiro e construíram uma capela justamente ali, onde as pessoas visitam e fazem seus pedidos espirituais.

Para visitar o santuário, normalmente leva-se oferendas podendo ser comidas ou valor monetário. Os produtos mais aconselhados a levar ao Santuário são pão, banana, açúcar, bolacha e amendoim. É comum apare-cerem macacos no local. Acredita-se que se os macacos comem os produtos dos visitantes é sinal boa recepção e se rejeitam significa que o pedido foi rejeitado.

Fig.6: Vista geral do Santuário de Muenhe Mukuru em Nova Sofala.

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6. MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DA PROVÍNCIA DE SOFALA

Nᵒ DE EXPRESSÃO LOCALIZAÇÃO ESPACIAL

Dança

01 Utse Caia, Chemba, Cheringoma, Dondo, Beira, Marromeu, Marínguè e Muanza.

02 Mapadza Gorongosa.

03 Makuai Machanga, Búzi, Chibabava.

04 Mukapa Búzi e Chibabava.

05 Mandoa Búzi, Beira e Machanga.

06 Mandhiki Búzi, Beira, Dondo, Machanga e Nhamatanda.

07 Marodzwi Chibabava, Búzi, Beira e Machanga.

08 Chikema Machanga, Búzi e Chibabava.

09 Semba Machanga e Búzi.

10 Ndhokodo Machanga, Búzi, Beira e Chibabava.

11 Ndjole Caia, Chemba e Marínguè.

12 Chitonga Chemba e Marínguè.

13 Varimba Caia, Chemba, Marínguè, Cheringoma, Muanza, Dondo, Beira, Nhamatanda, Gorongosa, Búzi, Chibabava e Machanga.

14 Nhacapini Marínguè e Chemba.

15 Nghetekete Chemba, Caia, Marínguè, Cheringoma, Muanza e Marromeu.

16 Likhubha Chemba, Caia e Marínguè

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17 Marromeu Cheringoma e Muanza.

18 Gundula Marromeu, Caia e Marromeu.

19 Cikuzire Marromeu, Caia Chemba Marínguè e Cheringoma.

20 Djagadja Marromeu, Caia e Cheringoma.21 Massesseto Marromeu, Caia, Cheringoma,

Marínguè e Chemba.

7. GASTRONOMIA TIPICA DE SOFALA

Nᵒ DE ORDEM

EXPRESSÃO LOCALIZAÇÃO ESPACIAL

Gastronomia

01 Thepwe Beira, Búzi e Machanga.

02 Cherechende Beira, Búzi e Machanga.

03 Marora Beira, Búzi e Machanga.

04 Mufuswa no hove Beira, Búzi e Machanga.

05 Mufumba Búzi, Beira e Machanga.

06 Hakana Búzi, Beira, Dondo, Nhamatanda, Caia, Chemba e Marromeu.

07 Mussopo Búzi, Beira, Dondo, Nhamatanda, Caia, Chemba e Marromeu.

08 N’gonokono Dondo, Caia, Marromeue e Chemba.

09 Ntchokobwe Dondo, Caia, Chemba, Marromeu Marínguè, Gorongosa Muanza e Cheringoma.

10 Nsima ya mapira Nhamatanda, Gorongosa, Caia, Chemba, Cheringoma, Muanza e Maringue.

11 Nsima ya gon’go Caia, Chemba, Marínguè Cheringoma Gorongosa e Marromeu.

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12 Nsima ya mapiramanga Chemba, Maringue, Nhamatanda, Gorongosa, Caia e Marromeu.

13 Mathapa Todos distritos da Província

14 Mumano/Mpani Caia, Chemba, Marínguè, Cheringoma, Muanza, Dondo, Beira, Nhamatanda, Gorongosa, Búzi, Chibabava e Machanga.

15 Murivho Búzi, Chibabava, Machanga, Dondo, Nhamatanda e Beira.

16 Mbombwe Beira, Búzi e Machanga

17 Zhwingobhwe Toda a Província de Sofala

8. DESCRIÇÃO TOPONÍMICA DOS DISTRITOS DE SOFALA

81. Distrito de CaiaDados obtidos, a partir da pesquisa documen-

tal no centro de documentação do ARPAC-Instituto de Investigação sócio-cultural, referem que o nome Caia é originário das antigas fábricas de açúcar que foram ins-taladas ao longo do vale do Zambeze, nomeadamente, na zona de Caia e Marromeu, do lado de Sofala, Mopeia e Luabo, do lado da Zambézia.

A construção destas fábricas constituiu um Com-plexo Agro-Industrial Açucareira que em sigla deno-minou-se de CAIA.

Entretanto, António Ferreira, bem como fon-tes orais, explicam que no passado havia uma floresta com árvores frondosas, que se situava nos arredores da actual sede do distrito. A referida floresta denominava-se Nhacachemba, na qual viviam duas tribos de origem Bantu, nomeadamente, os A-Tembo e os A-Bande, de

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proveniência Tonga e Nhanja, respectivamente. Portan-to, Chemba é originário da palavra Nhacachemba, que em língua portuguesa numa tradução literária significa Pequeno Chemba.

8.2. Distrito de BúziSegundo fontes de acervos documentais, o nome

“Búzi” vem de Bhudji (singular) e Maphudji (plural). Maphudji é um tipo de legume comestível, semelhante à abóbora e que era plantado nas margens do rio Búzi, particularmente entre as zonas de Machaze e a foz. No contexto dos etnocontactos, quando os portugueses che-garam à região, perguntaram aos nativos o nome do Rio. Uma vez que os nativos estavam a plantar o ‘‘maphudji’’, estes julgaram que os estrangeiros estivessem a se referir a maphudji. Os nativos responderam que estavam a se-mear Bhudji ou Maphudji. Os estrangeiros entenderam que o rio chamava-se Bhudji. O nome do Búzi resulta assim da dificuldade de pronunciação palavra ‘‘Bhudji’’.

8.3. Distrito de ChibabavaSegundo informações patentes nos acervos do-

cumentais, baseadas em fontes orais, presume-se que o nome Chibabava provém da palavra Chibaba, que sig-nifica um homem de estatura baixa. Em torno dos et-nocontactos, quando os portugueses chegaram tiveram dificuldade de pronunciar a palavra Chibaba e pronun-ciaram Chibabava. Outras fontes dizem que o nome chi-babava provém de uma árvore que em língua local cha-ma-se ruvava.

8.4. Distrito de CheringomaAcredita-se que o nome Cheringoma tenha igual-

mente surgido no contexto dos etnocontactos. Quando os portugueses chegaram pela primeira vez no distrito,

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encontraram-se com um caçador nas baixas de Nhama-tope, que tinha nas suas mãos um rabo de antílope, fica-ram curiosos e perguntaram ao caçador, o que era aqui-lo que tinha nas mãos. O caçador respondeu que tinha “Nchira wa Ngoma”, mas por má pronúncia das palavras Nchira wa Ngoma pelos portugueses passaram a chamar Cheringoma.

8.5. Distrito de DondoNo contexto dos etnocontactos, o nome Dondo

surgiu com a chegada dos portugueses. Outrora, esta re-gião chamava-se Dhondo, que em língua Mbangue, sig-nifica “Mata Densa”. Assim, na tentativa de melhorar a pronúncia, os portugueses chamaram a região de Dondo, nome que o Distrito ostenta.

8.6. Distrito de GorongosaSemelhantemente aos topónimos de outros dis-

tritos, os etnocontactos deram origem ao nome do Dis-trito de Gorongosa. Acreditava-se que antes da chegada dos portugueses, Gorongosa era chamado localmente por “Goro”, nome da montanha que hoje é conhecida por Serra de Gorongosa. Entretanto, o nome terá surgido na advertência que os Makombes fizeram aos portugue-ses para não subirem a serra porque havia perigo. A ex-pressão usada foi Kugoro Kuna Ngozui”, que significava “na montanha há perigo”. Daí, os Portugueses juntaram os dois termos “Goro e Ngozui”, tendo ficado Gorongo-sa, que é o nome actual do distrito. Na verdade, outrora, a Serra da Gorongosa viveu um momento de luta entre os nativos e os Macombes vindos de Báruè, com o objec-tivo principal de expandir o seu Reino. Dos confrontos, os guerreiros locais refugiaram-se para o cimo da mon-tanha (Goro), onde se instalaram durante um longo pe-ríodo. Daí, o exército Macombe, sempre na tentativa de

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atacá-los no cimo da montanha, os nativos empurravam grandes pedras contra o inimigo (Macombes) que ten-tasse aproximar-se, causando assim mortes e ferimentos graves; os Macombes sentiam-se derrotados e recuavam para tomar novas posições.

8.7. MachangaRelativamente ao Distrito de Machanga, os acer-

vos documentais permitem afirmar que o factor cultual ambiental oikos=o meio ambiente foi determinante para o aparecimento do nome Machanga. Nome Machanga provém de changa (Caniço) em português.

O caniço é uma espécie de cana delgada, abun-dante nas margens do Rio Save. Este, no plural desig-na-se por Mamuchanga que quer dizer grandes quanti-dades de caniços. O nome sempre foi vulgar, desde dos nossos antepassados e, com o andar do tempo, passou a designar-se Machanga. Changa (caniço) e mamuchan-ga (grandes quantidades de caniço), o que resultou na origem do nome Machanga (Brochura-CL-Machanga, 1ª edição/2004)

8.8. MarínguèDados dos acervos documentais informam que

o nome de Marínguè vem do riacho Mphata, que atra-vessa os montes localizados a poente da sede do distrito, formando uma catadupa que em língua local se chama “Mororonguè”, nome pelo qual se designa os montes e a região. No contexto dos etnocontactos, os portugueses apreciaram e gostaram do local, dada a sua paisagem. A forma como os portugueses pronunciavam o nome de Mororonguè deu assim a origem de Marínguè. Fonte oral: Dendja Vilacajo (residente na vila sede).

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8.9. MarromeuO contexto dos etnocontactos entre os nativos e

os portugueses deram origem ao nome Marromeu. Se-gundo as fontes, os primeiros portugueses que escalaram o distrito de Marromeu vieram de barco, navegando o rio Zambeze. Na viagem crê-se que entraram na floresta de Marromeu e encontraram caçadores em suas caba-nas a cortar carne. Tentaram comunicar-se com eles mas não se entendiam. Depois de várias tentativas, frustrados para estabelecer diálogo, pensa-se que no fim pergunta-ram o nome da região e como resposta os caçadores que estavam cansados de ouvi-los disseram Pamarremelo. Era um tronco único e comum, usado para esquartejar a carne de caça. “Pamarremelo” (Significa local onde se esquarteja carne em Sena phozo).

8.10. MuanzaO nome Muanza surge igualmente no contexto

dos etnocontactos. Aquando da chegada dos portugue-ses naquela zona, houve conflitos de terra entre os nati-vos e os colonos portugueses que pretendiam explorá-la para a produção de algodão, girassol, sisal e exploração do calcário. Na verdade, era uma espécie de expropriação das terras dos nativos. Nessa reivindicação, os nativos diziam “Muadza Muatygumana”. Traduzindo esta ex-pressão significa: “vieram e nos encontraram”. Segundo fontes orais, a interpretação correcta do termo de origem Bantu tem como objectivo de simbolizar as atitudes e os efeitos da dominação e pilhagem colonial, por parte do povo nativo.

8.11. NhamatandaCerca de 1938, o Distrito era chamado Bambo

Krick, nome dado por causa de um inglês que trabalhou na construção da linha férrea Beira - Machipanda.

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Diz-se que mais tarde, sob jurisdição do governo colonial, passou a chamar-se Vila Machado, nome de um engenheiro que também trabalhou na construção da li-nha férrea.

Assim, a 10 de Junho de 1980, Vila Machado as-cendeu a categoria de distrito e foi atribuído o nome de Nhamatanda que é, portanto, o nome de um rio periódi-co que passa pelas suas redondezas e que durante as épo-cas chuvosas inunda as margens e arrasta consigo muitos mitanda (troncos).

Técnicas de conservação de produtos agrícolas Nhumbo é construído de capim, é um depósito cilíndri-co tecido com folhas de palmeira e ou capim, muitas das vezes é usado para a conservação da mapira.

Fig. 7: Produto já colhido pronto para a conservação no chitumba. Fonte: ARPAC

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Nhumbo é construído de capim, é um depósito cilín-drico tecido com folhas de palmeira e ou capim, muitas das vezes é usado para a conservação da mapira.

Instrumentos utilizados na actividade pesqueira

Fig. 8: Nhumbo-Fonte: ARPAC

Fig.9: Mambule (rede para a pesca, Fig.10: Ndjangaiya (alcofa)

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Conhecimentos e técnicas artesanais Esteira O fabrico da esteira é uma das actividades prati-cadas em Sofala. Na sua produção usam palha e linha de fibra têxtil.

Cestaria Cestaria é o processo artístico que consiste no fabrico de cestos usando como material a palha. Neste processo também pode-se fazer chapéus, carteiras, vas-souras , tapete e mais outros utensilios de uso doméstico.

Fig.10: Canoa

Fig.11: Escolha do shereshende (peixinho seco).

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Tipos de Habitação de Sofala

Fig.12: Tipo de Habitação típica de Sofala Produzido com material local

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Conhecimentos, crenças e rituais no uso de plantas As comunidade de Sofala detem o conhecimento de diversas plantas usadas para a cura. O uso de plantas e respec-tivas aplicabilidades curativas são nalguns casos imbuídos em rituais suportados nas crenças e visão do cosmo.

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