22
9 Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI André Lemos [email protected] Claudio Cardoso [email protected] Marcos Palacios [email protected] Introdução O objetivo deste artigo é efetuar uma nova reflexão sobre o processo de elabora- ção e execução de um projeto de Educação a Distância pela Internet, o Projeto Sala de Aula 1 , do Centro de Estudos e Pesquisa em Cibercultura (Ciberpesquisa) da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, apresentando algumas conclusões decorrentes desta experiência pioneira 2 , neste momento revisitada após quase uma década. Visamos assim contribuir para o estabeleci- mento de alguns parâmetros sobre as tecnologias do virtual e sua interface com a Educação, sugerindo caminhos que possam servir de subsídio para aqueles envol- vidos com esse tipo de experiência pedagógica. Apesar da já abundante literatura sobre Ensino a Distância pela Internet, a grande maioria dos relatos de experiências ainda se refere a projetos realizados fora da

Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

9

Revisitando o ProjetoSala de Aula no Século XXI

André [email protected]

Claudio [email protected]

Marcos [email protected]

Introdução

O objetivo deste artigo é efetuar uma nova reflexão sobre o processo de elabora-ção e execução de um projeto de Educação a Distância pela Internet, o ProjetoSala de Aula1 , do Centro de Estudos e Pesquisa em Cibercultura (Ciberpesquisa)da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, apresentandoalgumas conclusões decorrentes desta experiência pioneira2 , neste momentorevisitada após quase uma década. Visamos assim contribuir para o estabeleci-mento de alguns parâmetros sobre as tecnologias do virtual e sua interface com aEducação, sugerindo caminhos que possam servir de subsídio para aqueles envol-vidos com esse tipo de experiência pedagógica.

Apesar da já abundante literatura sobre Ensino a Distância pela Internet, a grandemaioria dos relatos de experiências ainda se refere a projetos realizados fora da

Page 2: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

10

comunidade lusófona, disponíveis em língua inglesa.3 Dois eficientes pontos departida para uma visão geral de vários aspectos e indicações de estudos de casosda Educação via Internet no mundo lusófono são a Biblioteca Virtual de Educa-ção à Distância do CNPq4 e a Biblioteca Online de Ciências da Comunicação(BOCC)5 , coordenada pelo Prof. António Fidalgo, da Universidade da BeiraInterior.

De uma maneira geral, a bibliografia de língua inglesa sobre EAD apresenta aindauma certa predominância de descrição de casos relacionados com o ensino médionorte-americano (K12) ou com experimentos de caráter curricular, muitas vezesassociados a disciplinas presenciais ou semi-presenciais em cursos regulares degraduação ou pós-graduação.

Este artigo, ao procurar fazer uma descrição crítica do Projeto Sala de Aula, re-mete a um experimento não curricular, de extensão universitária, e portanto volta-do para um público adulto e relativamente qualificado6 .

Tecnologias do virtual

As experiências educativas são, por definição, compostas por infinitas combina-ções de processos de virtualização e atualização, tomando esses termos de acordocom o exposto por Pierre Lévy7 . Virtualizações e atualizações fazem parte dacomposição daquilo que chamamos de realidade, sendo assim uma falácia pensar-mos o virtual como oposto ao real. Cabe explicar rapidamente esse conceito paraaplicarmos ao processo pedagógico e a sua incorporação ao Projeto Sala de Aula.

Podemos ver o real como o conjunto de processos de virtualização e atualizaçãosucessivos, sendo os primeiros dispositivos de questionamento de um determina-do estado de coisas, e os segundos formas de resoluções desses problemas. Assimsendo, quando escrevemos este artigo, virtualizamos (pomos em questão) essatemática: educação e novas tecnologias, atualizando-a quando escolhemos umaabordagem e não outra, quando finalizamos escrevendo este texto. O processo éinfindável, já que o leitor vai de novo virtualizar nosso texto ao lê-lo, ao questioná-

Page 3: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

11

lo com suas referências adquiridas e com uma criação de relações e vínculospróprios. Grosso modo podemos, para o que nos interessa aqui, dizer que todoprocesso de virtualização é um deslocamento do aqui e agora, próximo da atividadeda “leitura”. Por outro lado, a atualização é uma resposta a essas questões, sendosimilar ao processo de “escrita”. Assim, virtual se opõe ao atual, fazendo parte doreal.

O processo educativo é, independente de novas ou velhas tecnologias, virtualizantepor natureza. Não é básico de toda e qualquer experiência educacional avirtualização dos assuntos de uma determinada matéria? Não é objetivo de profes-sores e alunos extrapolar os limites da certeza e ouvir outras vozes? Não devemos,enquanto professores, fazer com que nossos alunos problematizem questões ebusquem de modo permanente ou temporário, atualizar essas questões em respos-tas que comprovem o alcance de uma determinada idéia sobre o assunto?

Para exemplificar, mostraremos rapidamente como conceitos hoje atribuídos àsnovas tecnologias podem ser aplicados ao processo educativo clássico, tradicio-nalmente exercido com livros, quadros negros e giz. Dizemos que as novastecnologias são interativas, hipertextuais, ou seja, que elas utilizam simulações,interatividade, não linearidade (ou multilinearidade), multivocalidade e tempo real.Todas essas características são possíveis sem nenhuma mediação tecnológica evivemos isso no nosso sistema educativo atual, com menor ou maior sucesso.Vejamos.

A interatividade é possibilitada pela relação entre alunos e professores, entre osdiversos jogos possíveis em práticas pedagógicas e nos trabalhos em grupo. Asimulação sempre foi usada em escolas, seja em laboratórios, seja em atividadespráticas de outro gênero, onde busca-se construir e experimentar modelos que“funcionam como se fossem a coisa real”. A multilinearidade, ou não linearidadepode ser exercitada pelos professores nas mais diversas tarefas que abordem umdeterminado assunto por caminhos não óbvios ou pré-estabelecidos. O tempo realé a própria classe em atividade, onde as coisas acontecem live, “ao vivo”, entretodos os participantes, alunos e professores.

Page 4: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

12

Nesse sentido, o que as novas tecnologias podem fazer é, não exatamente instau-rar uma novidade radical, mas forçar a utilização dessas dinâmicas. Hoje, emnossa sala de aula, os processos virtualizantes ficam dependentes da maior oumenor competência do professor. Com as tecnologias de comunicação e informa-ção os professores e alunos ficam induzidos a utilizar o potencial hipertextual domeio. Caso contrário, porque usá-lo? Como utilizar a Internet na educação semexercitar a não linearidade, a interatividade, a simulação8 e o tempo real? Daí suaimportância. As novas tecnologias aplicadas à educação podem recolocar profes-sores e alunos em papéis de agentes de virtualização.

Com isso o que pretendemos afirmar é que a educação é (deveria ser) virtualizantepor essência, não sendo essa característica uma prerrogativa das novas tecnologias.Educar significa propor questões, problematizá-las e resolvê-las, mesmo que tem-porariamente. Esse processo pedagógico existe desde a maiêutica socrática, pas-sando pela Academia de Platão e o Liceu de Aristóteles, chegando hoje as nossasUniversidades. Ou, ao menos, assim deveria ter sido. Assim, muito mais do queproduzir rupturas, as novas tecnologias permitem, a nosso ver, a potencializaçãode algumas estratégias pedagógicas.

A crise do sistema educacional não pode ser solucionada apenas pela inclusão denovas tecnologias da informação, mas por uma recondução do processo de ensi-no/aprendizagem (virtualização/atualização). Talvez a crise venha da ênfase dadaàs atualizações e não aos processos virtualizantes: hoje, a lógica do “passar deano” e no vestibular obriga os alunos a saberem respostas prontas ao invés dequestionarem e formularem novas questões. Com as novas tecnologias talvez pos-samos passar de uma educação atualizante para uma outra virtualizante. No en-tanto, erroneamente, as tecnologias vêm sendo pensadas e propostas como panacéiapara a questão da comunicação e da educação, como uma simples intervençãoinstrumental. Insistimos, conseqüentemente, no erro de pensar que soluções téc-nicas possam resolver problemas que são eminentemente político-culturais.

Outro sentido pode ser dado ao virtual quando utilizado para fazer referênciaàquilo que é online ou fruto da telemática. É o sentido que entendemos quandofalamos de espaço virtual, comunidade virtual, escola virtual, para ficar nessastrês expressões. O virtual aqui é empregado com uma espécie de substituto das

Page 5: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

13

aspas que poderíamos utilizar em expressões para induzir suas compreensões apartir de outros significados. Dessa forma, a questão do virtual aplicada à informática,tem a vantagem de problematizar instâncias clássicas já constituídas.

Quando falamos espaço, comunidade ou escola virtuais, estamos falando de “es-cola”, “comunidade”, “espaço”, todos entre aspas, que não podem ser compreen-didos em seus sentidos clássicos10 . De fato, uma escola, um espaço ou uma comu-nidade virtual são “escolas”, “comunidades”, “espaços” reais, mas que não sãomais compreensíveis em seu sentido usual. Uma comunidade virtual é uma “co-munidade” real, mas não como os sociólogos compreenderam as comunidades noséculo XIX. Quando falamos em espaço virtual, nos referimos a um “espaço” queé real mas que não corresponde ao espaço geométrico euclidiano. E por fim, quan-do falamos de escola virtual, estamos nos referindo efetivamente à “escolas”, masàquelas que não correspondem mais às escolas tradicionais. Agora escola, comu-nidade, espaço, jornais, livros, etc., adquirem novos significados, impactando todaa cultura contemporânea, mesmo que ainda em um estágio minoritário e inicial.

O ciberespaço, enquanto hipertexto planetário, é de fato ainda um fenômenominoritário, mas, no entanto, hegemônico, como afirma Lévy. Assim o foi com aescrita que fundou a civilização ocidental e que surgiu como instrumento de exer-cício do poder de minorias (cleros, nobres). O mesmo acontece hoje com ociberespaço. Ele institui um conjunto de textos vivos interligados, possibilitandouma comunicação todos-todos, de forma ativa (interativa) com informações digi-tais e com pessoas, estimulando processos de simulação, uma “não linearidadeem tempo real”. Ele é hegemônico mesmo que ainda minoritário.

Essa situação força que escolas, professores e alunos comecem a pensar em comotirar proveito dessa nova configuração socio-técnica. Assim, com olhar crítico eatencioso, o ciberespaço deve ser utilizado, por seu potencial virtualizante, noprocesso educacional. Devemos implantar ferramentas virtualizantes em espaçosde virtualização, como são as escolas.

As ferramentas disponíveis no ciberespaço (e-mail, www, chats, muds, simula-ções) estimulam de certa maneira um comportamento hipertextual, seja da partedos professores, seja da parte dos alunos. Esse comportamento corresponde à

Page 6: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

14

passagem da forma um-todos de transmissão de informações (emissor-massa /professor-alunos) para um sistema pedagógico de tipo todos-todos (emissor éreceptor e vice-versa; professor é orientador/problematizador e o aluno é maisautônomo). Vejamos então como essas ferramentas atuam no ambiente educacio-nal, antes de relatarmos nossa própria experiência no Projeto Sala de Aula.

A utilização de web-sites nos permite explorar através de links (ou lexias) recur-sos diversos em localidades também diversas, em tempo real e de forma interativa(interatividade digital10). Com essa ferramenta, o processo educativo pode usar eabusar da multivocalidade, da escolha de percursos autônomos, da visualizaçãode processos com simulações, de recursos audiovisuais. A Web permite a experi-mentação de obras abertas, fundamental para processos de virtualização e atuali-zações nos processos educativos. Já os chats permitem o intercâmbio em temporeal e sob a forma de diálogos entre alunos, e entre alunos e professores, instituin-do debates abertos, conferências ou simples bate-papos. Formas de conferênciaspodem ser utilizadas como entrevistas ou para estimular os debates e aparticipação.

As listas de discussão são instrumentos que servem como um verdadeiro coletivointeligente, onde os assuntos, agrupados de forma temática, são tratados por espe-cialistas das mais diversas áreas, discutindo, comentando ou informando. For-mam-se assim fóruns permanentes, proporcionando trocas mais profundas do queas obtidas nos chats, por exemplo. Cria-se uma comunidade informativa extrema-mente importante no processo pedagógico. O e-mail, forma mais utilizada daInternet, permite um contato individualizado, como as cartas epistolares, entrecolegas e/ou com o professor, servindo como instrumento ágil para dirimir dúvi-das pontuais ou efetuar consultas específicas. Vamos ver agora como esse ambi-ente hipertextual se caracteriza e como obter desse novo espaço eletrônico todo oseu potencial pedagógico.

Contextualizando o ambiente

A fim de melhor compreender o ambiente dos cursos à distância, torna-se neces-sária à discussão do conceito de hipertexto e sua aplicabilidade em experiências

Page 7: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

15

educacionais com tecnologias telemáticas. Conhecendo as possibilidades e limitesdesse ambiente hipertextual, que é a Internet, poderemos desenvolver cursos queutilizem todo seu potencial.

É interessante apontar que a idéia de criar “textos de textos” nasceu da dificulda-de em lidar com muitas informações. Nesse sentido, o pioneiro e ancestral doshipertextos, o “MEMEX” (“Memory Extender”), foi inventado por Vannevar Bush,conselheiro do presidente Roosevelt, no texto “As We May Think” de 194511 ,para resolver esse problema. O MEMEX, que nunca existiu na realidade, seriauma espécie de arquivo ou biblioteca pessoal, um dispositivo para estocar e pro-curar informações, baseado em microfilmes e em informações indexadas. A ne-cessidade de indexar informações de forma descentralizada e rapidamente acessí-vel está na base do surgimento dos hipertextos contemporâneos.

O nome hipertexto é atribuído a Ted Nelson em 1965, quando este lança o ProjetoXanadu12 . O hipertexto é pensado por Nelson como um media literário onde, apartir de textos colados a textos, poderíamos abrir janela e janelas de janelas dan-do sobre mais e mais informações (textuais, sonoras e visuais). A idéia básica deXanadu é criar uma biblioteca com toda a literatura mundial. Hoje o WWW é umhipertexto planetário, onde o “internauta” pode navegar de informação em infor-mação, de site em site, em tempo real, através de interfaces gráficas que são osbrowsers. O ciberespaço é assim um imenso hipertexto planetário, um espaçorizomático13 .

A forma do texto eletrônico como hiperficção ou hipertextos caracteriza-se pelacriação de um espaço de informação (o site) onde o leitor/navegador escolhe seupercurso através dos links. A relação entre o escritor e o leitor como também entreo leitor e a leitura passam assim por questionamentos; assim como aquelas entre oaluno e o professor. O professor parece que cada vez mais deva dirigir seus esfor-ços para atuar com orientador. Esse “nomadismo” de papéis (leitor-autor, profes-sor-aluno etc.) é tratado de diversas maneiras pelas teorias pós-estruturalistas. Énesse sentido que Landow14 vai mostrar como os hipertextos podem atuar comolaboratório para a experimentação dessas teorias (Barthes, Derrida, Foucault...).

No hipertexto digital on-line ou off-line, como o WWW ou o CD-ROM, respecti-vamente, podemos navegar sem que, aquele que os tenha concebido tenha o poder

Page 8: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

16

de determinar a centralidade do nosso percurso (guardando claro, os limites deopções dadas por ele ao programa utilizado). Dessa forma, devem-se valorizarleituras descentralizada, aproveitando as possibilidades abertas pelas indexaçõespropostas através de links. A navegação interativa deve ser bem utilizada em cur-so online já que essa ação não mais é uma verdadeira leitura, no sentido clássico,mas um estado de “atenção-navegação-interação” ou screening, como propõeRosello15 . O percurso é agora multi-linear, indeterminado a priori, dependente da“ação” do “usuário-ator-navegador”, do screener. A interatividade digital é assimmais próxima das colagens e cut-ups dos dadaístas, que da narrativa romanescaclássica. No hipertexto planetário, que é o ciberespaço, “everyone is an author,which means that no one is an author: the distinction upon which it rest, theauthor distinct from the reader disappears”16.

Conceitos para aplicação

Pensar qualquer atividade pedagógica no ciberespaço demanda pela compreensãodesse novo ambiente. Esse ambiente pode ser compreendido por alguns conceitoschaves que esboçamos aqui a partir dos trabalhos de G. Landow17 . Os principaisconceitos que nos permitem avaliar a funcionalidade de um site são: interatividade,navegabilidade, intratextualidade, intertextualidade, multivocalidade, sem falarlogicamente da parte estética. Como estamos analisando aqui a experiência do“Sala de Aula”, gostaríamos de expor como esses conceitos podem ajudar a criaruma experiência online que utilize todo o potencial do meio. Procuramos seguir,para montar o curso, esses conceitos chaves.

Interatividade é, talvez, a palavra chave dos hipertextos. Embora tenha umaconotação ampla, interatividade pode ser definida como uma forma de diálogoentre o usuário e o ambiente informacional, permitida por um espaço de negocia-ção chamado de interface. A Interatividade é a forma de ação em hipertextos,devendo ser valorizada a todo momento na montagem de experiências como oProjeto Sala de Aula. Entendemos interatividade aqui, não somente como a possi-bilidade de “interação” entre alunos e professores, mas como a forma de caminharpelas informações disponíveis. Devemos então potencializar formas interativasde busca de informação e de discussão de tarefas propostas, como foi o caso do“Introdução a Cibercultura”, primeiro curso do Projeto.

Page 9: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

17

Por navegabilidade compreendemos a maneira pela qual o usuário interage com asinformações, referindo-se particularmente à forma de estruturação do site, seudesign e sua arquitetura informacional. Uma boa navegabilidade deve permitirum percurso fácil, prático e fluido através das informações disponíveis. Nessesentido, para construir uma experiência de cursos on-line temos que levar emconta uma economia de links e permitir que o aluno não se perca pelas informa-ções indexadas. O site deve ser facilmente visualizado para que o aluno não sesinta desestimulado a prosseguir, seja pelo excesso de links e de percursos tortu-osos, seja pela falta de possibilidade de intervenções abertas. A navegabilidadeseria assim o “conforto” da nossa “Sala de Aula”.

Um dos aspectos fundamentais dos hipertextos situa-se na vinculação de docu-mentos de forma a ampliar o leque de informações e trazer instantaneamente umaabordagem mais complexa e sofisticada do assunto abordado. Isso é vital paratoda e qualquer atividade pedagógica. Essa possibilidade chamamos aqui deintratextualidade e de intertextualidade. Muito bem abordada por Landow, aintratextualidade refere-se a lexias internas ao site, a informações ampliadas eanexadas situando-se dentro da própria estrutura dos sites. Nesse sentido utiliza-mos a intratextualidade quando propúnhamos em algumas semanas consultar tex-tos de leitura que se situavam no próprio site do Sala de Aula. Por sua vez aintertextualidade pode ser compreendida como a indexação a informações exter-nas ao site. Assim, ao explicarmos o que é um hipertexto e sua história podemos“linkar” essa informação ao site (externo) Xanadu, do pioneiro Ted Nelson, oumesmo à sua página pessoal. Nesse sentido os links externos e internos permitemdar voz própria a uma nova informação (multivocalidade), colocando-a em pé deigualdade com a informação textual que a vinculou.

A utilização de links internos e externos é fundamental para a utilização de todo opotencial desse ambiente hipertextual. A intratextualidade e a intertextualidadesão formas de ampliação do universo informacional, possibilitando, fora da hie-rarquia do “pé de página”, uma multivocalidade. Essa multivocalidade (forma devincular discursos diversos e contraditórios) deve ser explorada em experiênciasde educação online visto que ela é a forma de passar ao aluno versões complexassobre um assunto, deixando ao mesmo a possibilidade de efetuar suas própriassínteses. Nossa experiência, mesmo que sob o rótulo de um projeto piloto, procu-rou utilizar todos os recursos da hipermídia, a partir desses conceitos chaves.

Page 10: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

18

O Projeto Sala de Aula

O Projeto Sala de Aula foi criado pelo Centro de Estudos e Pesquisa emCibercultura, na época denomindo Grupo de Pesquisa em Comunicação e Culturano Ciberespaço (Ciberpesquisa) 18 da Faculdade de Comunicação (FACOM) daUniversidade Federal da Bahia (UFBA) pelos professores André Lemos, ClaudioCardoso e Marcos Palacios como um espaço de experimentação para técnicas deensino à distância utilizando a Internet como ambiente comunicacional.

O primeiro curso oferecido pelo Sala de Aula teve como tema “Introdução àCibercultura” e foi conjuntamente elaborado pelos três professores envolvidos noprojeto, no período de junho a setembro de 1997, tendo sido realizado entre outu-bro e dezembro desse mesmo ano como a primeira experiência de ensino nestamodalidade no norte e nordeste do país. Disponível na rede como um Curso deExtensão oficialmente certificado pela UFBA, “Introdução à Cibercultura”19 contoucom 62 inscritos, sendo que desse total, 21 inscreveram-se formalmente e paga-ram as taxas que lhes deram direito ao certificado de extensão universitária poste-riormente expedido pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade. Os demais seinscreveram como participantes livres, sem direito à certificação formal.

A partir desta primeira experiência pioneira o projeto consolidou-se como umaatividade de extensão permanente da Faculdade de Comunicação da UFBA, sen-do realizados diversos cursos a cada ano. Desde o seu lançamento, já foram reali-zados 21 cursos, totalizando mais de 300 inscritos em interação por mais de 600horas através da rede.

No início de 2002 encontravam-se disponíveis cerca de oito cursos, sendo ofere-cidos em um regime de rodízio durante os meses do ano, alguns concomitantemente.A esta época faziam parte do portifólio um total de 10 cursos, conforme o seguin-te: Jornalismo On-line, Hipertexto e Ficção Literária, Marketing On-line e Co-mércio Eletrônico na Internet, Novas Tecnologias e Educação, Arte Eletrônica,Cultura Cyberpunk, Web Design, Introdução ao Discurso Filosófico daModernidade, Poéticas Digitais, e Gestão da Informação e da ComunicaçãoOrganizacional.

Page 11: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

19

No primeiro semestre de 2002 foram realizados os cursos de Introdução ao Dis-curso Filosófico da Modernidade, e o de Gestão da Informação e da ComunicaçãoOrganizacional, sendo as primeiras inscrições efetuadas no mês de Fevereiro da-quele ano.

Montagem e Disponibilização

A idéia de disponibilizar um Curso de Extensão pela Internet surgiu das discussõesno Ciberpesquisa. Os três docentes que se propuseram a montar o curso pilototinham experiência prévia apenas em termos de utilização da Internet como ferra-menta de apoio em cursos presenciais, tanto a nível de graduação quanto pós-graduação. O trabalho de montagem do curso iniciou-se com a escolha de umatemática específica, e a tomada de decisão sobre sua duração.

Optamos pelo tema “Introdução à Cibercultura” por nos parecer suficientementeabrangente e apropriado para uma experiência piloto na Internet, oferecendo umasérie de conceitos fundamentais aos alunos e participantes livres. Fixamos emoito semanas a duração total do curso e, após alguma discussão sobre as linhasmestras a serem seguidas e as temáticas de cada semana, dividimos os módulos(semanas) entre os três docentes, cabendo três a dois deles e duas ao terceiro.

A primeira discussão que enfrentamos na experiência piloto foi sobre que recur-sos incorporar ao curso. Esta primeira experiência definiu aspectos fundamentaispara toda a pedagogia adotada desde então. Partimos da realidade do provedorInternet da FACOM/UFBA de 1997, onde e quando o nosso primeiro curso ficouhospedado. Inicialmente pensávamos em utilizar uma Lista de Discussão e umsoftware de Chat (IRC) para interações em tempo real. Após algumasexperiências com softwares de Chats20 , em especial o WebBoard (http://webBoard.ora.com) e o CommunityWare (http;//www.communityware.com)21 ,decidimos que, em função dos tempos médios de acesso, que se mostraram bas-tante longos, a utilização dos Chats não seria viável e acabamos por optar pelautilização de apenas uma Lista de Discussão, implantada no próprio provedor cen-tral da UFBA. Foi criada a Lista de Discussão “sala01”, de uso exclusivo e restritoaos participantes do Projeto Sala de Aula22 .

Page 12: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

20

Durante os meses de julho e agosto de 1997 trabalhamos na construção dosmódulos, usando como softwares de autoria o Frontpage e o Netscape Composer.Em reuniões semanais, apreciávamos o que cada um estava construindo, trocáva-mos idéias e sugestões. Optamos por não padronizar as páginas dos módulos,deixando a cargo de cada docente elaborar seus próprios sub-sites, por considerar-mos que a padronização, neste caso, poderia ser sinônimo de monotonia, especial-mente em se considerando que o curso teria uma duração relativamente longa.Além disso, tratando-se de um projeto piloto, a utilização de páginas diferencia-das forneceria uma oportunidade para comparações e avaliações posteriores demaior ou menor eficácia dos diferentes designs usados.

A Página de Abertura e o Programa de Curso foram construídos coletivamente.Discutimos e experimentamos com diversos desenhos e logomarcas23. Optamospor um design leve, que propiciasse rápido carregamento. Apenas a Barra de Na-vegação foi padronizada para todas as páginas do curso. Em setembro os diversosmódulos (semanais) estavam prontos e o curso apresentava a seguinte estrutura:

• Primeira e segunda semanas: Sociedade Digital e Cibercultura (Prof. André Lemos);• Terceira, quarta e quinta semanas: Ciberespaço e Comunidades Virtuais

(Prof. Marcos Palacios);• Sexta e sétima semanas: A Internet no Brasil e no Mundo (Prof. Claudio Car-

doso);• Oitava semana: Censura e Privacidade no Ciberespaço (Prof. André Lemos).

Em Julho de 1999 efetuamos uma completa revisão da estrutura do WebSite do Projeto Sala de Aula, de forma a dotá-lo de um design compatível com asnovas exigências de navegação e acesso à informação, além de um tratamentovisual mais arrojado. O novo formato encontrou forte aceitação entre os usuários,e acabou por consolidar-se após três anos de utilização consecutiva e intensa.

Page 13: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

21

Utilizando a rede

Uma das principais preocupações do grupo de professores que elaborou esta pri-meira experiência se concentrou na tentativa de utilização da Internet da formamais adequada quanto possível às suas capacidades, em vez de simplesmente re-produzir uma sala de aula convencional na rede. Este foi, inclusive, o motivo paraa escolha do nome do programa de cursos online da FACOM. O nome do progra-ma serve de alusão ao fato de que os exercícios de pesquisa, debates, consultas aocorpo discente e avaliações fossem orientados pela própria natureza do meio, co-locando em questão a sala de aula convencional.

Deste modo, a elaboração dos oito módulos foi efetuada a partir da compreensãode que se tratava de um curso online que deveria utilizar as vantagens, facilidadese limitações do próprio meio. A orientação para a busca de fontes de estudo pro-positadamente concentrou-se na Web. O debate sempre feito através da Lista deDiscussão e as consultas aos professores e colegas, através do e-mail. A intençãofoi sempre valorizar o aprendizado, concernente não apenas ao conteúdo dosmódulos, mas também à própria Internet como ferramenta de pesquisa e estudo,ou seja, a intenção foi a de promover a imersão e a autonomia na busca das infor-mações e nas elaborações das sínteses pelos alunos.

A propósito desta orientação, vale a pena ressaltar que a Internet vem ocupandodesde então um papel extremamente relevante como fonte de pesquisa para uni-versidades de todo o mundo e particularmente suprindo deficiências daquelas quenão possuem uma boa estrutura de bibliotecas e outros acervos de pesquisa. Oscursos à distância oferecidos através da Internet em nosso país vêm desempe-nhando o duplo papel de viabilizar ofertas que não seriam possíveis em localida-des longínquas, seja pelas dificuldades de deslocamento de professores e alunos,seja pelas deficiências de instalações das universidades, seja pela drástica redu-ção de custos.

Mas, além disso, é preciso ressaltar uma função estratégica da Internet para oensino brasileiro pelo fato dela hoje oferecer um imenso acervo bibliográfico,

Page 14: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

22

tornando-se praticamente um complemento indispensável às atuais condições dasinstituições universitárias brasileiras. Os cursos à distância através da Internetdesempenham ao mesmo tempo uma importante função didática para o uso darede, habilitando os alunos a utilizá-la como importante aliada aos estudos e pes-quisas.

Tendo essas questões em perspectiva, o programa do curso Introdução àCibercultura procurou valorizar a navegação por sites de referência nos diversostemas explorados em cada um dos módulos e incentivou o debate através da Listade Discussão, que registrou a significativa marca de 1.342 mensagens enviadasdurante as oito semanas do curso, aqui contabilizadas as indagações dos alunos,considerações dos professores e a discussão entre todos. A cada módulo os alunosforam solicitados a realizarem tarefas específicas efetuando visitas a Web Sitesatravés de links disponibilizados nas próprias páginas dos módulos. Após isto, erasempre solicitada alguma participação na Lista de Discussão, como cumprimentodas respectivas tarefas, enviando para ela – e conseqüentemente para todos nelainscritos, colegas e professores - seus comentários críticos.

Esta orientação para o debate sobrecarregou um pouco os professores dos módulosque obrigatoriamente desempenhavam a função de moderadores da lista. Apóstrês semanas de iniciado o curso, o grupo de professores percebeu a sobrecarga doresponsável pelo módulo e os outros dois professores foram solicitados a partici-par de modo mais ativo na tarefa de pontuar e orientar as discussões, o que alivioua sobrecarga sobre cada um dos responsáveis pelos módulos daí em diante.

A esta época já tínhamos contato com vários programas bem mais adequados àformação de debates via rede, sobretudo aqueles voltados para aplicações Web24 ,mas, como foi dito acima, as instalações do servidor de comunicação da FACOMnão ofereciam à época condições favoráveis para a implementação de um destessoftwares, o que na ocasião acabaria consumindo esforços de adaptação e tempo(quase inexistentes!) para testes e validação. Optou-se pela solução mais simplese segura já disponível das Listas de Discussão, o que, na prática, teve um resulta-do bastante satisfatório. Durante as semanas do curso vários alunos solicitaram

Page 15: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

23

acesso às mensagens enviadas anteriormente e também a lista dos inscritos nocurso. Os softwares especialistas criam automaticamente estas facilidades para osusuários, mas as Listas também oferecem estes serviços. Os professores dosmódulos forneceram os comandos e orientaram os solicitantes a executarem elespróprios seus pedidos para a Lista de Discussão.

Criando um método pedagógico

Talvez o aspecto mais relevante de toda a nossa experiência com o projeto deve-se ao fato de que, ao acreditarmos na capacidade do meio de estabelecer diálogose proporcionar alternativas de “entrada” nos assuntos, acabamos por criar, emconjunto com os alunos, um método de ensino extremamente alinhado à própriaorientação da nossa Faculdade.

No Brasil, o ensino do segundo grau tem privilegiado uma orientação na qual oestudante é permanentemente levado a acompanhar um programa de leituras epesquisas, mediante um estímulo constante das escolas. Em maior ou menor graueste estímulo possui características coercitivas. Contudo, este não é o aspectocrucial da questão que gostaríamos de abordar aqui, e sim o fato de que o interessepela busca de conhecimento nestas condições não parte do próprio aluno, mas deuma entidade externa a ele que lhe demanda o cumprimento de uma tarefa.

Não entraremos aqui na questão da validade ou do alcance deste procedimentobastante aplicado no ensino médio do nosso país, nem tampouco avaliaremos seeste método é de fato o mais adequado ao grau de maturidade desta fase da vidados estudantes. Entendemos o período de educação universitária como uma exce-lente – talvez única - oportunidade para o indivíduo passar de uma postura maispassiva em relação à busca do saber, para uma atitude de auto-educação perma-nente, onde a motivação para a busca de conhecimento e produção de saber resideno próprio indivíduo, questionador, criativo e capaz de optar por novas aborda-gens com autonomia. Buscamos assim atingir o máximo de processo devirtualização.

Page 16: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

24

Alinhado a esta orientação universitária, nosso curso online acabou por estabele-cer um ambiente extremamente propicio a esta abordagem, onde alunos e profes-sores, em conjunto, debateram de forma ampla os assuntos dos diversos módulos,ficando reservado aos professores o papel de orientadores das discussões e dosprogramas de leitura e pesquisa.

Voltando nosso olhar para a experiência dos cursos oferecidos pelo Projeto Salade Aula, concluímos que os recursos foram utilizados para potencializar uma ori-entação que proporciona ao aluno que ele “faça seu próprio caminho” em buscado conhecimento, garantindo o papel do professor como responsável pela orienta-ção voltada a esclarecer e otimizar o percurso dos estudantes, e assegurando oespaço necessário para que o aluno encontre seu estilo de aprendizagem e se sintaresponsável pelo próprio destino. O método pedagógico do projeto resultou doencontro de alunos e professores neste ambiente co-criado.

Nesse sentido, um ponto importante para reflexão diz respeito à questão da fixa-ção das chamadas “cargas horárias”, em cursos oferecidos via Internet. Seria de seesperar que, trabalhando com populações heterogêneas, tanto quanto à sua forma-ção cultural e educacional prévias, quanto no que diz respeito à capacidade deutilização da Rede e disponibilidade de tempo para dedicar-se aos cursos, viessema ocorrer problemas quanto à sincronização do grupo em relação às tarefas pres-critas, nos cursos oferecidos pelo Sala de Aula.

A experiência nos ensinou que a maneira mais eficiente de se lidar com tal proble-ma é através da fixação de um conjunto mínimo de tarefas, complementadas poruma série de atividades “extras”, que podem ser trabalhadas por aqueles partici-pantes que disponham de mais tempo ou tenham mais rapidez na consecução dostrabalhos prescritos. Exemplificando, um curso sobre hipertexto e literatura, podepropor como “extras” incursões sobre aspectos da escrita feminina na Rede, rela-ções entre literatura e outras formas de expressão (cinema, rádio, multimídia, etc).Em termos de design e navegabilidade, passamos a utilizar a margem esquerda datela, que originalmente constituía um espaço “em branco” na interface do Sala deAula, para apresentar tais “extras” e incentivar os participantes mais avançados,ou com maior disponibilidade de tempo, a complementar ou aprofundar seus estu-dos sobre determinados temas.

Page 17: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

25

O final do projeto Sala de Aula

Após a consolidação do sucesso da primeira iniciativa, o Ciberpesquisa decidiuconcentrar seus esforços na elaboração de um segundo curso, maior e mais con-sistente, reunindo numa mesma oferta de extensão universitária, as diversas espe-cialidades dos pesquisadores do grupo.

Assim, foi elaborado um Web Site bem mais estruturado, obedecendo a critériosde navegação e design padronizados, e contando com o apoio do Laboratório deMultimídia da FACOM (LabMedia)25 que, desde então já dispunha de pessoalplenamente habilitado à construção de Web Pages e Sites de forte apelo gráfico econtendo pequenas aplicações Web. É fundamental destacar-se a importante con-tribuição do Prof. José Mamede, que como coordenador do LabMedia foi umponto de apoio essencial para a sustentação do projeto. Deste modo, o Web Sitedo Sala de Aula, passou não apenas a oferecer cursos de extensão, mas também acontrolar o acesso dos alunos através de senhas, aceitar matrículas através dopreenchimento de formulários Web, comandar mensagens para Listas de Discus-são, também através de formulários Web, e proporcionar a inscrição e participa-ção em Chats.

Ao final do processo de construção do novo programa, em Julho de 1999 - queainda mantém disponível um link para a primeira versão oferecida em outubro de1997 -, tínhamos um verdadeiro Web Site do Projeto Sala de Aula, estruturado,padronizado e estruturado para crescer, aberto que estava para incorporar novosmódulos futuros.

Durante o período de funcionamento do Sala de Aula o visitante do Web Siteencontrava a seguinte estrutura à sua disposição: uma “Secretaria”, onde estãodisponíveis os programas e calendários dos cursos oferecidos, assim como as da-tas e valores das inscrições; uma “Biblioteca”, que disponibiliza em três diferen-tes seções - Referências, Bookmark e Glossário -, texto, artigos, livros e outrasinformações online para cada curso ou módulo oferecido; uma “Cantina”, lugarde socialização onde os inscritos podem trocar idéias com outros participantesdos cursos e circular notícias de interesse para toda a comunidade do Sala deAula; e, por fim, as próprias “Salas”, onde estavam disponíveis os conteúdos dos

Page 18: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

26

cursos propriamente ditos, onde acontecem as aulas, e onde participantes tinhamacesso apenas mediante apresentação da senha fornecida pela Secretaria.

O Sala de Aula continuou oferecendo cursos de Extensão, envolvendo diversosdocentes e pesquisadores ligados ao Ciberpesquisa e, por conseguinte, a todo oprograma de pós-graduação da FACOM/UFBa. Acreditávamos que tais cursos, decurta duração e envolvendo uma vasta gama de áreas de conhecimento, continua-riam funcionando como peças laboratoriais importantes para o teste de teorias epráticas pedagógicas no novo ambiente educacional.

Um dos problemas que identificamos, ao longo do experimento, é que, de ummodo geral, os docentes que ainda não tiveram experiência de envolvimento comEducação a Distância tendem, equivocadamente, a perceber esse tipo de docênciacomo mais apropriado a temáticas relacionadas com Informática, Telemática,Cibercultura, etc.

Percebida tal postura, tivemos o cuidado de publicizar o Projeto Sala de Aulaentre colegas de diversas áreas de formação e atuação, buscando demonstrar queas tecnologias eletrônicas que estamos utilizando para cursos como Webdesign ouCibercultura são facilmente ajustáveis a cursos de áreas mais tradicionais. Asresistências nesse sentido parecem ainda consideráveis, mas alguns avanços fo-ram notáveis, quando comparamos o último menu do Sala de Aula, com aquele deseus primórdios. Acreditamos que o chamado “efeito demonstração” tenha atuadocomo o método mais eficiente de convencimento dos “resistentes”: à medida emque cursos mais “tradicionais” foram sendo incorporados ao menu do Projeto e semostraram viáveis, notou-se um crescimento do interesse geral por parte de do-centes das mais variadas áreas de atuação.

No primeiro semestre de 1999, a Universidade Federal da Bahia estabeleceu umGrupo de Trabalho para a elaboração de uma política de Educação à Distância eUso de Recursos da Informática no Ensino. O Projeto Sala de Aula, em virtude deseu caráter pioneiro e da experiência acumulada por seus participantes nos doisanos conseguintes, foi apontado como um dos parâmetros para o balizamento dapolítica a ser traçada e como modelo para experimentos da Universidade nessaárea.

Page 19: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

27

O objetivo dos pesquisadores do Ciberpesquisa era de ampliar o alcance e a fun-ção social do Projeto Sala de Aula, abrindo-o para usuários potenciais, de dentroe de fora da Universidade, que se interessavam pelo oferecimento de cursos emdiferentes áreas de conhecimento, a partir da plataforma de trabalho instalada àépoca, num sistema de parceria com a FACOM. Com a chamada Internet 2 e asRedes de Alta Velocidade, a exemplo da Rede Metropolitana de Alta Velocidade(REMA)26 em Salvador, novas perspectivas estavam sendo abertas em termos depossibilidades de utilização de recursos tecnológicos, possibilitando interfacesmais sofisticadas e complexas.

A partir do final de 2002 o projeto sofreu um progressivo esvaziamento a partir domomento em que nós - Marcos Palacios, André Lemos e Claudio Cardoso - assu-mimos novas funções acadêmicas e administrativas na UFBA, o que acarretou naredução do nosso tempo de dedicação para motivar pessoas, promover inovaçõese operacionalizar o Sala de Aula.

Finalmente, consideramos essencial que seja reforçado o diálogo entre institui-ções envolvidas em experiências congêneres. O projeto de colaboração firmadoentre a UFBA e a Universidade de Aveiro, em Portugal, através da CAPES e ICCTI,entre os anos de 2002 e 2004, é um exemplo extremamente positivo desse tipo deiniciativa. Caso fossem estabelecidos ainda mais novos elos de cooperação, oProjeto Sala de Aula poderia ter deixado de ser apenas um programa experimentalda FACOM, para tornar-se um Projeto de Educação a Distância de toda a comuni-dade lusófona.

Fica a história de um projeto pioneiro e bem sucedido em toda a sua simplicidadetécnica e pedagógica, talvez um pequeno mas relevante exemplo para novas inici-ativas de maior alcance na educação a distância das IES do Brasil.

Page 20: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

28

Notas

1 ®© Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, http://www.facom.ufba.br/saladeaula/.

2 Um comentário sobre os momentos iniciais do Projeto foi publicado em Análise e Dados, CIE,Salvador, julho 1999.

3 Referências recentes e valiosas relacionadas com o processo de avaliação de experiências de Educa-ção à Distância podem ser encontradas em CIT INFOBITS February 2002, No. 44, ISSN 1521-9275,em http://www.unc.edu/cit/infobits/ Outro site interessante para início de pesquisa é o canadenseTele-Education localizado em http://teleeducation.nb.ca/english.shtml. Uma boa coleção de artigos erecursos com referência à construção de Sites Educacionais está na página Web Based InstructionResources mantida por John H. Curry, da Utah State University (http://english.usu.edu/jcurry/wbi.html). Igualmente importante é o Electronic Learning in a Digital World, do The Global Institutefor Interactive Multimedia (http://www.edgorg.com/index.htm), que oferece uma série de links parasites da área, incluindo bibliografia especializada.4 Em http://www.prossiga.br/rei.html.5 Em http://bocc.ubi.pt6 Os inscritos no curso, apesar de não terem sido fixados pré-requisitos formais de qualquer natureza,eram sem exceção pessoas de nível superior ou alunos de graduação da UFBA e de outras universida-des.

7 Ver LÉVY, P. O que é o Virtual, R. J., Ed. 34, 1997.8 Uma exposição sobre os usos da Simulação na Internet enquanto recurso pedagógico pode serencontrada num site preparado pelo Prof. Marcos Palacios para uso em treinamento de professoresdo ensino médio no interior da Bahia, já em 1997/98 Vide: http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/palacios/aula/index.htm

9 Para uma discussão dos limites das definições clássicas de Comunidade, ante a emergência de novasformas de sociabilidade no Ciberespaço, ver Palacios, Marcos. Cotidiano e Sociabilidade noCiberespaço: apontamentos para uma discussão, in: Neto, Antonio Fausto e Pinto, Milton José. OIndivíduo e as Mídias, R.J., Ed. Diadorim, 1996. Ver também, Lemos, André. Cibersocialidade, inRubim, A., Bentz, I., Pinto, J. Práticas Discursivas na Cultura Contemporânea, São Leopoldo, Ed.Unisinos/COMPÓS, 1999, p.9-22.

10 Ver LEMOS, A. Anjos Interativos e Retribalização do Mundo. Sobre Interatividade e InterfaceDigitais, in Tendências XXI, Lisboa, 1997.

11 BUSH, V. As We May Think, in Atlantic, August, 1945. O artigo é hoje considerado um clássico daliteratura sobre o Hipertexto e pode ser acessado em http://www.facom.ufba.br/think.

12 Uma coletânea de ensaios sobre diversos aspectos do Hipertexto foi produzida como resultado deuma disciplina ministrada na FACOM pelo Prof. André Lemos e pode ser encontrada em http://www.facom.ufba.br/hipertexto. Sobre a história dos hipertextos ver Lauffer, R., Scavetta, D. Texte,hypertexte, hypermedia. 2nd ed. Paris: Presses universitaires de France, 1995. O Projeto Xanadu, em

Page 21: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

29

sua forma atual está em http://www.xanadu.net13 DELEUZE, G., GUATTARI, F. Mille Plateaux. Capitalisme et Schizophrénie. Paris, Les Editionsde Minuit, 1980.

14 LANDOW, G. P. Hypertext. The Convergence of Contemporary Critical Theory and Technology,The John Hopkins University Press, Baltimore and London, 1992.

15 Rosello propõe que devamos substituir a palavra leitor por “screener” e seu ato de navegação de“screening”. Rosello, Mireille, Michel de Certeau’s “Wandersmänner and Paul Auster’s HypertextualDetective, in LANDOW, G. P., Hyper/Text/Theory, The John Hopkins University Press, Baltimore& London, 1994.16 WOOLEY, B. Virtual Worlds. A Journey in Hype and Hyperreality, Penguin Books,1992, p. 165.17 LANDOW, G. P., op. cit.18 htttp://www.facom.ufba.Br/ciberpesquisa19 O curso continua disponível e com livre acesso no site da FACOM em http://www.facom.ufba.br/saladeaula

20 Nesse período esteve na FACOM, como Professor Visitante, o Dr. Steven Williams, da Universityof California, Los Angeles (UCLA), que foi um grande incentivador do projeto.

21 Durante o período de realização do curso, entrou em operação a versão brasileira do CommunityWare,que está disponível em http://wwww.communityWare.com.br.

22 Nesse ponto foram inestimáveis as colaborações de João Gualberto Rizzo ([email protected]) e ClaudeteAlves ([email protected]), do Centro de Processamento de Dados (CPD-UFBA) pelo interesse eagilidade que demonstraram durante a implantação do projeto e o funcionamento do curso.

23 Contamos com a colaboração do artista plástico e professor da Universidade Estadual de SantaCruz (UESC) Otávio Nascimento Filho ([email protected]).

24 A propósito de aplicações de debates através da Web, sugerimos uma visita ao Site Formations, daUniversidade de Ulster na Irlanda do Norte, coordenado pelo Prof. Dr. Dan Fleming que efetuou umleitorado de dois meses entre Novembro de 1997 e Janeiro de 1998 na FACOM a convite doCiberpesquisa, em http://formations.ulst.ac.uk/. Outro Site dedicado ao ensino a distância e coorde-nado pelo Dr. Steven Williams da UCLA, onde a FACOM ocupa uma das áreas para debates,encontra-se em http://www.glo.org/facom/.

25 O LabMedia da FACOM (www.facom.ufba.br/labmedia) é constituído por estudantes bolsistas,que recebem treinamento especializado e se dedicam aos vários projetos executados pelo Laboratório.

26 Para informações sobre a REMA e a Internet 2 em geral ver http://www.ufba.br/rema

Page 22: Revisitando o Projeto Sala de Aula no Século XXI Introdução

30