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O dragão do PIS-COFINS foi finalmente vencido. No último dia 13 de outubro o presidente da república assinou a lei que isenta os frigoríficos do pagamento desses tributos ATÉ QUE ENFIM! ABRAFRIGO cria Departamento de Comércio Exterior para seus associados O responsável pelo departamento de Comércio Exterior, Thomas C.S. Kim, fala sobre tendências do mercado VEJA ENTREVISTA Abrafrigo Revista da ED. Nº 3 | ANO 1 | NOV. DE 2009 ABRAFRIGO muda estatuto para se modernizar e cria Conselho de Administração

Revista Abrafrigo03

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O dragão do PIS-COFINS foi finalmente vencido. No último dia 13 de outubro o presidente da república assinou a lei que isenta os frigoríficos do pagamento desses tributos

até que enfim!

› ABRAFRIGO cria Departamento de Comércio Exterior para seus associados

O responsável pelo departamento de

Comércio Exterior, Thomas C.S. Kim, fala

sobre tendências do mercado

veja entrevistaAbrafrigoRevista da

ED. N

º 3

| AN

O 1

| N

Ov.

DE

2009

› ABRAFRIGO muda estatuto para se modernizar e cria Conselho de Administração

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .3

Associação Brasileira de Frigoríficos Av. Cândido de Abreu, 427 - 16º andar - sala 1601/1602 - Centro Cívico - CEP 80530-000

Fone (41) 3021-3221 Fax (41) 3254-7977e-mail: [email protected]

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jORNAlIstA REsPONsávElBernardo staviski

ImPREssãOGráfica Capital

tIRAGEm 5.000

Expediente

Esta edição da Revista da Abra-frigo tem muito o que comemorar. Afinal, foram quase cinco anos de uma luta diária em quase todos os escalões da área econômica do gover-no federal para convencer o governo a restabelecer o equilíbrio e um retor-

no a uma mais leal competição no setor de carnes. Conseguimos juntar um belo time de deputados e senadores para levar adiante a desoneração do PIS/Cofins, livrando os pequenos e médios frigorífi-cos brasileiros de impostos que não podiam pagar porque não possuíam capacidade contributiva para isso. E o resultado saiu no dia 14 de outubro passa-do, quando o Diário Oficial da União publicou a Lei 12.058 assinada pelo Presidente Luis Inácio Lula da Silva, que finalmente tornou uma realidade definiti-va esta isenção tão importante para o setor. Sem os 4,5% sobre o faturamento bruto que eram obrigados a pagar, as empresas terão, a partir de agora, melho-res condições de investir em qualidade e atualizar sua tecnologia reduzindo os riscos de simplesmente fecharem as portas. No fundo porém, quem ganhou foi o povo brasileiro que terá mais produtos inspe-cionados pelos serviços governamentais e uma me-lhor garantia sobre o que consome, já que com a Lei não existe mais motivo para existir o abate clandesti-no que deverá diminuir e muito em todo o país.

Além dos integrantes e associados da Abrafri-go, que colaboraram em todas as situações com a estratégia de ir convencendo o governo aos poucos para a realidade e as dificuldades do setor, o sucesso da empreitada muito se deve ao apoio obtido junto ao Vice-Presidente da República, José Alencar, ao Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, ao ex-senador pelo PMDB do Tocantins, Leomar Quinta-nilha, e aos deputados federais Colbert Martins da Silva Filho (PPS BA), Marcos Montes (DEM-MG), Silas Brasileiro (PMDB-MG) e o paranaense Luiz Carlos Setim (DEM). E a muitos outros que direta ou indiretamente contribuíram para que um setor da economia brasileira ficasse mais eficiente e produti-vo e, sobretudo, mais justo.

Péricles Pessoa SalazarPresidente

Uma decisão histórica

4. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

O dragão do PIS-COFINS foi finalmente vencido. No último dia 13 de outubro o presidente da república assinou a Lei que isenta os frigoríficos do pagamento desses tributos

ATÉ QUE ENFIM!

Capa

08Pág

Índice

Indicadores do trimestre pg 05

Novo Status: A Secretaria de Defesa Sanitária do Mapa apresentou em João Pessoa, seu programa para 2010.

O responsável pelo departamento de Comércio Exterior, Thomas C.S. Kim, fala sobre tendências do mercado e os novos rumos para exportação brasileira de carne bovina

Ampliar a liderança é questão de tempo

Entrevista

16Pág

Ação de ambientalistas faz com que frigoríficos da Região Amazônica se adaptem aos novos tempos.

Pressão contra o desmatamentomeio-Ambiente

20Pág

Defesa sanitária pg 15

A nanotecnologia chega a pecuária para auxiliar no controle de doenças como a febre aftosa.

Pesquisa e Desenvolvimento pg 19

No seu melhor momento na história do país, a farinha de carne e ossos volta a ser rentável para os frigoríficos.

Investimentos pg 24

mercado pg 36

Operações da FBS/Friboi e Mafrig vão colocar os produtores diante de poucas opções para comercializar seus animais.

setor de Carnes pg 31

4. Revista da ABRAFRIGO maio de 2009

O aumento da exportação de boi vivo continua afetando a cadeia produtiva segundo o estudo “Desvantagens Econômicas da Exportação de gado em pé”.

Boi em pé pg 27

Setor de carne bovina já vive relativa estabilidade e tem claro que 2010 pode ser o ano de retomada.

Diretriz pg 40Ministério da Agricultura quer mudar regulamento da exportação de despojos bovinos.

Biocombustível pg 42Para os frigoríficos, a importância econômica do sebo e do couro já é a mesma. A queda dos preços do couro é uma das maiores da história.

Comércio Exterior pg 44Recém-criado departamento da ABRAFRIGO terá como ação prioritária a inclusão de novas plantas pequenas e médias no rol de empresas exportadoras.

ABRAFRIGO pg 46Abrafrigo cria cargo de Presidente Executivo e seu Conselho de Administração. O crescimento da entidade e de sua representatividade, além de sua maior presença junto aos órgãos públicos, levaram a necessidade de se instituir uma mais moderna estrutura de gestão.

Notas pg 48

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .5

Indicadores do trimestre

Em setembro foram exportadas

104,7 mil tone-ladas, volume que

representou queda de 22% em compa-ração ao resultado de

setembro de 2008

Exportações: preços sobem e a tendência é de melhorar em volume até o final do ano

Para a Rússia, houve um aumento de

1,31% no volume exportado e para a

União Europeia, o volume exportado

cresceu 10,16%.

Aumento

Ainda em baixa

se tornam positivos, o levanta-mento feito pela Abrafrigo, com base nas informações da Secre-taria de Comércio Exterior (Se-cex) informa que em setembro foram exportadas 104,7 mil to-neladas, volume que representou queda de 22% em comparação ao resultado frente a setembro do ano passado. Em receita, as vendas externas somaram US$ 367,7 milhões em setembro, de-sempenho que demonstra uma queda de 36% sobre a receita do mesmo período do ano passado.

No acumulado de janeiro a setembro deste ano, as exporta-ções brasileiras de carne bovina

RetomadaA retomada

das compras pelo Chile, que chegou

a estar entre os cinco maiores

importadores da carne

brasileira até o final de 2006

Mês2008 2009

Ton. US$* Ton. US$

Jan. 124.711 465,3 81.840 255,7

Fev. 105.733 341,5 90.339 271,2

Mar. 112.891 364,3 112.061 336

Abr. 120.109 412 112.538 343,3

Mai. 127.312 478,2 101.741 325

Jun 112.065 442,3 118.732 384,3

Jul. 124.220 513,7 107.333 365,4

Ago. 125.678 533,2 97.834 344,3

* milhões Fonte: secex/Decex/mDIC

Embora os números de ja-neiro a setembro de 2009 ainda demonstrem queda em compa-ração com o mesmo período de 2008, o mercado já vislumbra que existe uma tendência de normalização das exportações brasileira de carne bovina. A re-tomada das compras pelo Chile, que chegou a estar entre os cin-co maiores importadores da car-ne brasileira até o final de 2006, com cerca de 100 mil toneladas anuais, e a ampliação das aqui-sições pela Rússia, nosso maior cliente, e a União Européia, é que apontam nessa direção.

Enquanto os números não

6. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Por outro ladoA carne bovina

exportada pelo Brasil subiu 18,8% em dólar

entre janeiro e agosto. A tonelada vendida a US$ 2.976,4 em

janeiro passou para US$ 3.535,8, em agosto.

A Rússia continua sendo o principal destino da carne bovi-na brasileira embora este mer-cado não tenha recuperado os mesmos níveis de anos anterio-res à crise econômica. De janei-ro a agosto o Brasil vendeu para os russos 228,2 mil toneladas ou 22% a menos que as 291 mil toneladas comercializadas nos mesmos meses do ano passado. Em preço, houve uma queda de 42%. O nosso segundo maior

somaram 927,1 mil toneladas, volume 15% inferior ao regis-trado no mesmo período do ano passado, quando foram expor-tadas 1,086 mil toneladas. Já a receita com estas exportações foi de US$ 2,9 bilhões, ou seja: retração de 27% em compara-ção ao mesmo período de 2008, quando se registrou US$ 4,1 bi.

Os resultados poderiam ser bem piores, não fosse o fato de que os preços da carne bovina exportada pelo Brasil subiram 18,8% em dólar entre janeiro e agosto. A tonelada vendida a US$ 2.976,4 em janeiro passou para US$ 3.535,8, em agosto.

Maiores Compradores

No entanto, essa valorização foi praticamente engolida pela des-valorização do dólar frente ao Real desde o início do ano, tam-bém, de 18%, embora o dólar te-nha parado de cair nos últimos tempos. Na média, os preços da carne brasileira no mercado in-ternacional apresentaram uma valorização mensal de 2,25% neste ano. Segundo a Scot Con-sultoria, mantendo-se esta ten-dência, é possível que os frigo-ríficos registrem um ganho real ainda em 2009 com o mercado exportador, já que no mercado interno eles já conseguiram essa melhora nos resultados.

mercado, Hong Kong, que por vias transversas introduz nossa carne bovina na China, incre-mentou suas compras em 29%, passando de 103 mil toneladas em 2008 para 133 mil toneladas em 2009, com crescimento de 31% na receita. O Egito, que era nosso quinto maior comprador, passou para a terceira posição, aumentando suas compras em 12%, de 56 mil toneladas para 63 mil toneladas. O quarto maior

Porta de entrada Hong Kong, que por vias transversas introduz nossa carne bovina na China, incrementou suas compras em 29%.

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .7

Os principais estados exportadores

São Paulo, onde está instalada a maior parte do parque industrial de processamento da carne bovi-na brasileira, continua sendo o estado com maior produção destinada a exportação: entre janeiro e agosto de 2009, o estado comercializou com o ex-terior 325 mil toneladas, contra 422 mil toneladas no mesmo período de 2008, ou seja: uma queda de 23%. Na segunda posição está o Mato Grosso com 107,5 mil toneladas vendidas, perseguido por Goiás que exportou 107,1 mil toneladas e ficou no terceiro lugar. Na quarta posição vem o Mato Grosso do Sul, com 88 mil toneladas exportadas e em quin-to lugar está Minas Gerais, com 58 mil toneladas. Minas Gerais e o Mato Grosso do Sul, ressalte-se, são estados que estão recuperando suas exportações porque possuem o maior número de fazendas habi-litadas a vender para a União Européia. Entre 2008 e 2009 as vendas para o exterior cresceram 25% em Minas Gerais e 42% no Mato Grosso do Sul.

cliente continua sendo os Estados Unidos apesar de uma queda nas importações de 34 mil toneladas para 32 mil toneladas. Na quinta colocação está o Irã que era o sex-to em 2008, com compras de 40 mil toneladas até agosto.

Por região, a maior consumi-dora da carne bovina brasileira é a do Leste Europeu, com 10 países e 233 mil toneladas importadas, vin-do em seguida o Extremo Oriente, com 5 países e 144 mil toneladas; a África, com 35 países e 135 mil toneladas; o Oriente Médio com 13 países e 128 mil toneladas ad-quiridas no Brasil. A Europa Oci-dental, com 27 países, comprou apenas 90 mil toneladas, sofrendo ainda os efeitos dos embargos pro-movidos pela União Européia, que começam a desaparecer na medida em que mais fazendas brasileiras são habilitadas a exportar para aquele grupamento econômico. Atualmente, estão habilitadas para vender carne bovina a União Eu-ropéia perto de 1.400 propriedades em todo o Brasil. O necessário, no entanto, para retomar os níveis de vendas de 2006, por exemplo, quando foram comercializadas 314 mil toneladas para o bloco econô-mico, seriam pelo menos 5 mil propriedades habilitadas.

2 º Mato Grosso › 107,5 mil toneladas 3º Goiás › 107,1 mil toneladas 4º Mato Grosso do Sul › 88 mil toneladas 5º Minas Gerais › 58 mil toneladas

São Paulo › 325 mil ton. 1o Lugar

Região consumidoraO maior consumidor da carne bovina brasileira é o Leste Europeu, com 10 países e 233 mil toneladas importadas.

*entre janeiro e agosto de 2009

8. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

A sessão do Congresso que aprovou a mP 462 entrou noite adentro

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Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .9

Demorou anos, mas final-mente o Diário Oficial da União trouxe em suas páginas as novas regras

para a tributação de PIS/Cofins e do pagamento e compensação do crédito presumido dos frigo-ríficos brasileiros. O se-tor esperava esta notícia há quase cinco anos e a partir de 1º de novem-bro, quando entrou em vigor, nova Lei passou a corrigir uma das maio-res distorções tributá-rias de um importante segmento da economia brasileira que fazia pe-quenos e médios frigo-ríficos pagarem 4,5% de impostos sobre o seu faturamento, enquan-to as grandes empresas eram beneficiadas com isenções e incentivos. Era uma concorrência desleal onde os pequenos não po-diam concorrer com os grandes e acabavam engolidos, mais cedo ou tarde. Com isenção dos impos-tos haverá um maior equilíbrio no mercado. Afinal, é importante que o Brasil tenha grandes indústrias frigoríficas, atuando com força no mercado internacional, mas não é possível deixar de lado a relevância dos pequenos e médios frigoríficos para o setor como vi-nha ocorrendo. Essas indústrias

são importantes reguladores do mercado. São alternativas para os pecuaristas e têm sua importân-cia que, afinal, acabou sendo re-conhecida depois de uma árdua e demorada batalha que envolveu o trabalho da Abrafrigo e da Abiec

e de dezenas de políticos de todo o país, a come-çar pelo próprio Vice-Presidente da Repúbli-ca, José Alencar, um dos maiores defensores do estabelecimento do equilíbrio no setor.

Na prática, o gover-no suspendeu desde 1º de novembro passado, o pagamento da contri-buição para o PIS/Pasep e Cofins incidente sobre a receita bruta de venda no mercado interno de toda a cadeia produtiva da carne bovina. A medida constou

da Lei 12.058 publica-da no Diário Oficial e foi sancionada numa quarta-feira, dia 14 de outubro, pelo presi-dente Luiz Inácio Lula da Silva. A Lei teve como base a Medida Provisória 462, aprovada pelo Congresso no final de setembro, cujo objeto principal é o repasse de R$ 1 bilhão aos mu-nicípios para cobrir as perdas de receitas do Fundo de Participação

O dragão do PIs-COFINs foi finalmente vencido. No último dia 13 de outubro o Presidente da República, luiz Inácio lula da silva, assinou a lei que isenta os frigoríficos que operam no mercado interno do pagamento desses tributos. A economia para o setor será de R$ 140 milhões anuais que poderão ser usados na modernização das empresas.

ATÉ QUE ENFIM!

Capa

"A partir de agora a

tendência é que mais frigoríficos

se formalizem porque

muitas micro e pequenas

empresas não tinham

condições de arcar com os

impostos"

10. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

REINhOlD stEPhANEsEm 22 de março de 2007, foi nomeado ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e é deputado federal licenciado (PmDB). Formado em Economia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especializado em Administração Pública, na Alemanha, e em Desenvolvimento Econômico, pela CEPAl/ONU. trabalhou no ministério da Agricultura durante oito anos, no início dos anos 70, e foi secretário da Agricultura do Paraná de 1979 a 1981. Foi presidente do Instituto Nacional da Previdência social (INPs) – 1974 a 1979; ministro de Estado do trabalho e Previdência social - de 20 de janeiro a 5 de outubro de 1992; ministro de Estado da Previdência e Assistência social – de 1 de janeiro a 31 de janeiro de 1995 e ministro de Estado da Previdência e Assistência social - de 2 de fevereiro de 1995 a 3 de abril de 1998.

Os políticos que mais ajudaram o setor

A adesão do quadro político brasileiro e do governo à proposta da Abrafrigo desoneração do PIs/Cofins foi se realizando aos poucos, num trabalho de convencimento que era feito diuturnamente. Pela adesão de primeira hora ou pelo esforço com que se engajaram no processo que levou a aprovação das medidas Provisórias que redundaram na lei definitiva que livrou os frigoríficos dos impostos, alguns nomes merecem uma homenagem e um agradecimento especial do setor. são eles:

jOsé AlENCAR GOmEs DA sIlvA Como empresário, em 1967 ajudou a fundar em montes Claros (mG) a Companhia de tecidos Norte de minas – Coteminas, hoje um dos maiores grupos industriais têxteis do país e foi presidente da Associação Comercial de Ubá, Diretor da Associação Comercial de minas, Presidente do sistema Federação das Indústrias do Estado de minas Gerais e vice-Presidente da Confederação Nacional da Indústria. Em 1998 elegeu-se senador por minas Gerais com consagradora votação: quase três milhões de votos e em 2002, compôs a chapa do candidato luiz Inácio lula da silva, elegendo-se vice-Presidente da República para o período 2003/2006.

mARCOs mONtEsO deputado federal marcos montes Cordeiro pelo DEm de minas Gerais é Professor de medicina e médico do trabalho. Foi prefeito de Uberaba e secretário de Estado de Desenvolvimento social e Esportes, Governo de minas Gerais, 2004-2006; membro do Corpo Clínico do hospital-Escola da Universidade Federal do triângulo mineiro, UFtm, Uberaba, mG, 1979- ; secretário municipal de turismo, Esporte e lazer em Uberaba, mG, 1992-1996; Presidente da Companhia habitacional do vale do Rio Grande (COhAGRA), Uberaba, mG, 1993-1996. já foi presidente da Comissão Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural de 14/2/2007-6/2/2008

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Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .11

lUIz CARlOs sEtIm O deputado federal pelo DEm do Paraná, luiz Carlos setim é agropecuarista, advogado e administrador de Empresas. Primeiro vice-presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural foi prefeito de são josé dos Pinhais e também presidente da Empresa Frigorífico Argus na mesma cidade, além de Presidente do Comitê de Bacias do Alto Iguaçu e Alto Ribeira. Ocupou a presidência do sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados do Paraná e é vice-Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná

lEOmAR QUINtANIlhA O senador leomar Quintanilha (PmDB-tO) licenciou-se do mandato dia 17 de outubro para assumir o cargo de secretário de Educação do tocantins. Fez carreira no Banco do Brasil, tendo atuado em Arraias, Araguaína, Paraíso e Gurupi, quando estes pertenciam à região Norte de Goiás. Formou-se em Direito e estreou na vida política disputando a prefeitura de Araguaína, em 1976 e em 1982. Essas experiências foram importantes para se eleger deputado federal, em 1988 – a primeira eleição realizada no recém-criado Estado do tocantins. Foi secretário da Educação e Cultura no período de 1989/1990.

DEP. COlBERt mARtINs O médico e Deputado federal Colbert martins,

do PPs da Bahia, está na sua segunda legislatura na Câmara. Entre outras atividades, foi diretor do sindicato da categoria em seu estado onde

também exerceu o cargo de professor na Universidade de Feira de santana, cidade onde também foi chefe de medicina social do extinto

Inamps. Foi eleito o melhor Deputado Estadual da legislatura 1991-1995 pela imprensa da Bahia.

sIlAs BRAsIlEIRO O deputado federal silas Brasileiro (PmDB-mG)

é empresário e produtor rural. Foi secretário-executivo do ministério da Agricultura até abril de 2009, o segundo cargo em importância do órgão, na gestão de Reinhold stephanes. Foi

também diretor-executivo do Conselho Nacional do Café (CNC), além de secretário de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de minas

Gerais.

12. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

dos Municípios (FPM). No entan-to, na tramitação pela Câmara e Senado, a MP ganhou 22 emen-das, chamadas de "contrabando", que trataram de outros temas, incluindo o PIS/Cofins incidente sobre os frigoríficos.

O presidente da Abrafrigo, Péricles Salazar, vê a lei como um marco histórico. "Vamos nos re-ferir ao setor como antes e depois do PIS e Cofins", disse. Segundo ele, a partir de agora a tendência é que mais frigoríficos se forma-lizem porque muitas micro e pe-quenas empresas não tinham con-dições de arcar com os impostos e agora não terão mais razão para continuar com o abate clandesti-no. Por sinal, a medida acaba beneficiando toda a cadeia, de pecuaristas a consumidores, pas-sando pelos frigoríficos, aumentando o potencial do mercado de carne bovina e derivados. “A recuperação da rentabi-lidade vai trazer novas e grandes empresas como a BRFoods e as coope-rativas para setor. Isso deve diminuir a concen-tração que está ocorren-do”, afirmou o dirigente.

O movimento do setor não é nada desprezível: a cadeia pro-dutiva da carne bovina, com to-dos os segmentos, inclusive o do couro, é responsável por 8% do Produto Interno Bruto (PIB), bra-sileiro e somente os frigoríficos empregam, diretamente, 400 mil pessoas no país. Em 2008, as ex-portações do setor foram de US$ 5,3 bilhões. Dentro da nova Lei, os frigoríficos que atuam apenas no abastecimento do mercado in-terno pretendem economizar R$ 140 milhões por ano com a pro-posta de isenção na cobrança de PIS/Cofins.

A opinião dos políticos

“Foi uma luta dura e difícil e que durou muito tempo”, reco-nheceu o ex-senador pelo PMDB do Tocantins, Leomar Quinta-nilha, atualmente Secretário de Educação daquele estado. "É uma medida que acaba com a desi-gualdade no setor e dá competi-tividade aos 800 frigoríficos que só operam no mercado interno", disse o deputado federal Marcos Montes (DEM-MG), ex-presi-dente e membro da Comissão de Agricultura da Câmara. Para ele, a redução na alíquota para até

zero deve diminuir a informalidade no setor de abate bovinos. Es-timativas indicam que 37,5% do abate nacional é irregular, ou seja, dos 40 milhões de cabeças de gado abatidos anual-mente, 15 milhões saem de frigoríficos sem ne-nhum tipo de fiscaliza-ção. "Houve consenso, inclusive na área eco-nômica do governo, e muito boa vontade do presidente Lula, por isso a medida saiu", afirmou Montes que junto com o deputado Colbert Mar-

tins da Silva Filho ( PPS BA) teve grande atuação na defesa da deso-neração.

Outro deputado atuante na defesa da desoneração, o parana-ense Luiz Carlos Setim (DEM), primeiro vice-presidente da Co-missão de Agricultura da Câmara afirma que a isenção significa o fim da concorrência desleal e que com ela muitas empresas em di-ficuldades vão voltar ao normal. “A Lei atende o frigorífico que exporta e o que não exporta e, com certeza, vai diminuir o ritmo de concentração do setor porque muitas empresas vão recuperar

"A recuperação da rentabilidade vai trazer novas e grandes empresas como a BRFoods e as cooperativas para setor. Isso deve diminuir a concentração que está ocorrendo no setor"

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .13

Orientação de liderança para votação da mPv nº

462/2009 que deu origem a lei 12.058. Na foto, Dep. luis

Carlos heinze (PP-Rs), Dep. Ronaldo Caiado (líder do DEm), Dep. Cândido vaccarezza (líder

do Pt) e henrique Fontana (líder do governo)

Votação no Congresso

sua rentabilidade e não serão mais vendidas”, disse ele.

O deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) vice-líder da bancada tucana na Câmara, lembrou que o setor de frigoríficos cortou 22 mil empregos desde o início da crise econômica mundial, no último trimestre de 2008 e que a deso-neração tributária pode incentivar a produção e a recontratação de muitos destes trabalhadores. Já os criadores pediram a extensão da medida de desoneração a toda a cadeia produtiva: "Para o produ-tor, que paga PIS e Cofins sobre uma série de produtos, a medida

não traz qualquer benefício", afir-ma Antenor Nogueira, presidente da comissão de pecuária da CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil). Já Luciano Vacari, superintendente da As-sociação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat), disse que “é uma questão de lobby. Vamos nos articular para que isso se estenda para os demais elos," garantiu.

Os efeitos da nova Lei, to-davia, não vão demorar a apare-cer: no Rio Grande do Sul, por exemplo, o esperado é que mais frigoríficos sejam legalizados. O presidente do Sicadergs, Ronei

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14. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Lauxen, prevê queda nos percen-tuais de gado abatido sem inspe-ção oficial. As indústrias gaúchas devem fechar 2009 com o abate de 1,3 milhão a 1,4 milhão de bo-vinos e a estimativa do Sicadergs é que, historicamente, a clandesti-nidade representa de 20% a 25% do volume inspecionado. Para Ronei Lauxen, a carga tributária é o maior motivo para as empresas se mantenham na ilegalidade mas a medida é um incentivo muito grande para que as empresas se organizem, cresçam e se qualifiquem”, explicou.

Além de propiciar a formalidade do setor, a lei ainda coloca em si-tuação de igualdade os frigoríficos exportado-res - que já contavam com a suspensão - e os que vendem para o mer-cado interno. "É uma situação nova para a in-dústria brasileira", disse Ronei Lauxen. Os di-rigentes não acreditam que a medida possa re-sultar em aumento de preços ao consumidor. Com a suspensão da cobrança dos frigoríficos, o crédi-to presumido do varejo, que era de 100% sobre o valor de compra da matéria-prima, cai para 40%.

Além da suspensão da cobran-ça de PIS e Cofins, o segmento do varejo terá 40% de crédito pre-sumido na entrada dos produtos (antes o percentual era de 60%), mas fica mantida sua carga normal na saída. O crédito presumido dos exportadores passou de 60% para 50%, mas o setor ganhou liquidez porque poderá realizar compen-sações de PIS e Cofins com qual-quer outro tributo federal.

No centro do país, o empre-sário e suplente de senador pelo Tocantins, José João Batista Stival também comemora a medida, diz que ela é “histórica”e que “traz

equilíbrio e cria condições para o empresário trabalhar, diante de si-tuações de dificuldade e insolvên-cia pelas quais vinham passando”. Segundo ele, a isenção dos impos-tos vai trazer mais investimento, modernização e aporte de tecno-logia para os pequenos e médios frigoríficos. “Em última instância quem ganhou foi o Brasil porque com tudo isso quem vai passar a ter produtos de melhor qualidade é o consumidor”, afirma. “Além disso vai acabar o que conhece-

mos como “frigorífico floresta”, ou seja, o aba-te clandestino”, conta. Ele cita como exemplo dos efeitos da Lei no futuro a possibilidade de quase 4 mil mata-douros municipais que existem no país, e que na verdade são empresas privadas, se legalizarem e passarem a ter inspe-ção federal, melhorando seus produtos. “E esta é uma conquista defi-nitiva. Agora é Lei. É

uma questão de saúde pública e o assunto foi exaurido em todos os seus aspectos”, diz José João Ba-tista Stival. Ele reconhece o grande trabalho realizado pela Abrafrigo, da qual é um dos vice-presidentes, e dos políticos que participaram da aprovação dos Decretos transfor-mados em Lei. Destaca também o papel da FIESP – Federação das Indústrias de São Paulo que “jun-tou num intenso debate a Abrafri-go e a Abiec para que se chegasse no entendimento entre as associa-ções do setor, num ponto comum de reivindicações que atendesse tanto os frigoríficos que atuam so-mente no mercado interno como também os que exportam: “Isso feito, foi mais fácil encaminhar as questões às autoridades econômi-cas para que decidissem pela isen-ção”, conclui ›‹

"Em última instância quem ganhou foi o Brasil porque com tudo isso quem vai passar a ter produtos de melhor qualidade é o consumidor"

sEtOR DE CARNE BOvINA

Fonte: Abrafrigo

Participação do PIB 8% do Produto Interno Bruto

Empregos diretos 400 mil

Exportações em 2008 US$ 5,3 bilhões

ABATE AnUAl 40 milhões de cabeças

ABATE clAndESTIno 6 milhões de cabeças

Abate sem fiscalização 15 milhões de cabeças

A estruturação dos serviços de defesa sanitária nos estados, fortalecimento dos serviços veterinários

nas áreas livres de doenças, con-solidação do serviço de rastreabi-lidade de bovinos, ampliação do acesso aos mercados internacionais e conquista do status de Brasil li-vre de febre aftosa com vacinação. Estas são as prioridades para 2010 apresentadas pela Secretaria de Defesa Agropecuária, do Minis-tério da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento (SDA/Mapa), na 1ª edi-ção do Encontro Nacio-nal de Defesa Sanitária Animal (Endesa), reali-zado em João Pessoa/PB, dia 19 de outubro.

Segundo Inácio Kro-etz, responsável pela secretaria, as ações do ministério vão procurar também dar maior visibi-lidade ao trabalho desen-volvido pelo Serviço Ve-terinário Oficial em prol da sociedade brasileira. “Busca-se também har-monizar os procedimen-tos técnicos relativos aos diversos Programas de Saúde Animal de-senvolvidos no Brasil, bem como, aumentar o conhecimento técnico/científico dos profissionais envol-vidos, direta ou indiretamente, nas

ações de defesa sanitária animal no País”, afirmou ele no encontro.

Ele também destacou que al-guns estados brasileiro mudaram

de um cenário ruim para se tornar exem-plo aos demais estados da federação em pouco tempo em questões de sanidade. “O Gover-no Federal uniu esfor-ços e tem investido em equipamentos de ponta, meios de comunicação, como rádios e telefones via satélite, transportes, como motos e camione-tes com tração nas qua-tro rodas, além da ins-talação de postos fixos e móveis para controlar todo o tipo de doen-ça”, explicou. Ele citou Rondônia como um exemplo dessa mudança.

No encontro, o se-cretário de Defesa

Agropecuária, Inácio Kroetz, disse ainda que a regulamen-tação do Serviço de Defesa Sanitária Animal, hoje de-nominado Departamento de Saúde Animal, comple-

A secretaria de Defesa sanitária do mapa apresentou em joão Pessoa, seu programa para 2010

Novo status

"Busca-se também harmonizar os procedimentos técnicos relativos aos diversos Programas de saúde Animal desenvolvidos no Brasil, bem como, aumentar o conhecimento técnico/científico dos profissionais envolvidos"

Defesa sanitária

ta 75 anos. “Quero parabenizar o trabalho dos médicos veterinários brasileiros, que atuaram, nesse pe-ríodo, na erradicação, controle e prevenção de doenças como febre aftosa, doença de Newcastle, tu-berculose, brucelose, peste suína e bovina”, enfatizou. Para ele, o in-vestimento em defesa agropecuária é necessário e dá retorno. “Para isso, é necessário trabalhar com o tripé: governo federal, estadual e setor privado”, disse. Ele destacou o trabalho desenvolvido pelo setor privado e, principalmente, pelos produtores, que têm participado das campanhas de vacinação con-tra a febre aftosa. “Essa ação con-

fere alto índice de imunização aos rebanhos”, fina-lizou ›‹

15

16. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Como o Sr está vendo o mercado para a carne bovina brasileira atualmente? › Revista da Abrafrigo

Thomas C.S. Kim › O mercado de carne bovina bra-sileira passa hoje por um processo de ajuste bastante complexo. Há basicamente três questões: (1) Queda de número de animais prontos para o abate, (2) a recu-peração dos frigoríficos com dificuldade financeira, e

(3) a consolidação do setor de indús-tria de carnes no Brasil iniciada pelas operações dos grupos JBS/Bertin e Marfrig. Sobre o primeiro item, nos últimos anos, o Brasil vem abaten-do grande número de fêmeas além de animais mais novos, criando-se um vácuo na produção. No entanto, tudo indica que essa situação pode-rá melhorar a partir do ano que vem quando teremos maior oferta de ani-mais para o abate.

E a segunda situação? › Revista da Abrafrigo

Thomas C.S. Kim › Ela é mais complexa, pois a crise mundial ti-rou boa parte do crédito que essas empresas vinham utilizando para suas operações e o corte desse fluxo de capital provocou um tremendo buraco nas suas finanças. Um dos problemas envolve dívidas com pe-cuaristas, o que e deixou muitas se-quelas. Uma das consequências des-sa situação é a condição de venda picada e à vista praticada pelos pe-cuaristas hoje. Não é bom que essa situação continue, pois isso prejudi-ca a montagem de escala dos frigo-ríficos além de exigir maior capital de giro para o pagamento à vista. Não está sendo bom também para pecuaristas que sentem muita inse-gurança para fazer negócios, além de perder dinheiro por não conse-guir vender animais no seu melhor

momento. Portanto, o setor torce para que essas em-presas recuperem sua situação financeira mais breve possível.

E o terceiro ponto? › Revista da Abrafrigo

Thomas C.S. Kim › A terceira situação é muito re-cente e não sabemos como isso vai afetar o mercado

Ampliar a liderança é questão de tempo

Entrevista

THOMAS C. S. KIM, 54 ANOS, nascido na Coréia do Sul, e no Brasil desde 1971, ingressou na área da carne em 2004 como diretor de desenvolvimento de negócios e de exportação da Cooperfrigu, de Gurupi, Tocantins. Formado em administração de empresas, foi da Shell Petróleo de 1982 a 1995 e, depois disso, ajudou a montar o Consórcio ATL de Telecomunicações (Algar Telecom Leste), que ganhou a licença de exploração de Banda B do Rio de Janeiro em 1997/1998. Foi consultor de empresas coreanas como LG, Samsung, Kia, SK e Lotte. Há algum tempo colabora com a Abrafrigo como diretor executivo e, a partir, de novembro, tornou-se responsável pelo departamento de comércio exterior da entidade. Aqui ele faz uma ampla avaliação do mercado externo, suas dificuldades, oportunidades e necessidades. A seguir, a entrevista:

Thomas C.S. Kim, responsável pelo Departamento de Comércio Exterior

da ABRAFRIGO

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .17

de carne. É importante mencionar também que essas empresas como JBS/Bertin já não são empresas so-mente brasileiras, hoje são multinacionais atuando em vários países do mundo além de operar em diferentes tipos de carne como frango e suíno. Há pecuaristas preocupados pensando que perderão o poder de ne-gociação com esses grandes grupos. É possível, se a oferta de animais for maior que a demanda. Por isso, continuo defendendo a expansão da nossa exportação para os mercados em que ainda não estamos atuando. O mercado interno já está bem consolidado sendo o consumo per capita brasileiro em torno de 36 kgs/ano, mas no mercado mundial, temos muito espaço para crescer e relativamente rápido.

Onde podemos fazer as exportações crescerem? › Revista da Abrafrigo

Thomas C.S. Kim › Nós estamos bem posicionados nos Países Árabes, Rússia, África e na Eu-ropa. Este último, o mercado europeu, ape-sar de estarmos enfrentando ainda alguns problemas com relação a rastreabilidade, avançamos bastante no último ano. Hoje há um número significativo das fazendas apro-vadas para esse mercado. O que está acon-tecendo no momento é uma questão co-mercial em que o preço e o consumo desse mercado sofreram um ajuste e ele está bem menor que antes da crise econômica do ano passado. O Brasil está firme na negociação de aumento de Cota Hilton ou um progra-ma similar com a comunidade européia cujo resultado saberemos em breve. O próximo passo é conquistar o mercado asiático, que se divide em três, na minha concepção: (1) Coréia do Sul, Japão e Taiwan; (2) China; (3) Sudes-te Asiático – Indonésia, Malásia, Filipinas, Vietnam, Singapura, etc.

Quais as características destes mercados? › Revista da Abrafrigo

Thomas C.S. Kim › Sobre o primeiro grupo, estes países alegam que o Brasil não atingiu ainda a condi-ção sanitária de Livre de Febre Aftosa Sem Vacina-ção, porém vejo que o problema não é técnico; é ne-cessário vencermos o lobby americano e australiano. De tanta pressão, inclusive com ameaças de ir a OMC, os coreanos marcaram uma visita ao Brasil para veri-ficar a condição sanitária do estado de Santa Catarina nos próximos meses, o único estado brasileiro livre de febre aftosa sem vacinação, porém sem represen-tatividade no setor de carne bovina. Um episódio

ocorrido no ano passado em que o presidente coreano assinou um acordo com os americanos para “trocar” carne americana, com vaca louca, com carros coreanos, tem provocado uma ira da população coreana que saiu na rua quebrando tudo, com vários ministros renun-ciando o cargo, é um exemplo do que se espera nessa disputa pelo mercado desses países. Só para se ter uma idéia, a Coréia do Sul mais o Japão representam mais de 50% da exportação de carne americana. Acha que eles largarão esse osso facilmente? Temos que mobilizar o governo federal para viabilizar esses mercados.

E a China? › Revista da Abrafrigo Thomas C.S. Kim › O mercado de China, como todos sabem, é enorme e o potencial de consumo é praticamente infinito. Apesar de ser o terceiro maior possuidor de rebanho e da produção de carne, isso não é nada em comparação ao número de habitantes na-

quele país continental. A última viagem mi-nha na China, tive reuniões com membros da associação dos importadores da carne e também dos economistas chineses. Eles dis-seram que a China tem sistema de produção de boi baseado numa estrutura de produção familiar que dificulta o crescimento sendo que o mercado chinês de carne bovina vem crescendo numa taxa anual de 4%. Como na China existem cerca de 300 milhões de pes-soas pertencente a classe média, algo maior que a população brasileira, e que vem incor-porando proteína de animal na mesa, imagi-ne o potencial desse mercado. Entretanto, os chineses parecem ter descoberto uma porta não convencional para abastecer carne no seu mercado. É sabido hoje que a carne entra

na China através de Hong Kong e também através de Vietnam. Apesar de alguns frigoríficos terem sido ha-bilitados para exportar para a China recentemente, os importadores não conseguem licença de importação. Aliás, talvez nem tenham interesse em consegui-la. O motivo é que o imposto de importação na China é de 40%, sendo que a carne que entra na China via Hong Kong ou Vietnam “paga” um “adicional” de cerca de 25%. Como já se criou um “mercado” que funciona dessa maneira, a posição oficial do governo de Chi-na pode continuar “tapeando” os países membros da OMC. Portanto, o papel do governo federal é extrema-mente importante para a abertura do mercado chinês. Eles precisam flexibilizar as condições, principalmen-te tributárias, para que o Brasil possa exportar para lá. Na minha opinião, isso só acontecerá no momento em que China sentir necessidade de negociar com Brasil algo realmente importante para eles.

"O Brasil está firme na

negociação de aumento de

Cota hilton ou um programa similar com a comunidade

européia cujo resultado

saberemos em breve"

18. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

E o terceiro grupo, o Sudeste Asiático? › Revista da Abra-frigo

Thomas C.S. Kim › A abertura do terceiro grupo está mais próxima de ser realizada por vários motivos: em primeiro lugar, esses países estão melhorando de vida, o que permite o consumo maior de proteína de animal. O segundo motivo é que esses países tem a demanda reprimida basicamente por conta de alto preço de carne fornecida pelos países como Austrália, Nova Zelândia e EUA. Para se ter uma idéia, Indonésia tem 240 milhões de habitantes, sendo que o con-sumo per capita de carne bovina é um pouco mais que 1 kg/ano. Já pensou se eles come-rem apenas 1 kg a mais por ano? Seria 240 mil toneladas ! A situação não é muito dife-rente no Vietnam: é um país com 90 milhões de habitantes e consumo per capita é de 1 kg/ano. Eles consomem muita carne de búfalo e os cortes de músculo e peito tem a preferên-cia do povo vietnamita. Portanto, esse grupo tem um potencial enorme e nós estamos pra-ticamente iniciando a nossa operação comer-cial por lá.

Como estão os nosso principais concorrentes mun-diais, como Austrália e Argentina? › Revista da Abrafrigo

Thomas C.S. Kim › A Austrália tem pre-sença já bem consolidada principalmente no mercado asiático onde duas situações favorecem a sua exporta-ção: a condição sanitária de livre de febre aftosa sem vacinação e a distância que permite comercializar pro-dutos resfriados. Também o tipo de carne que vendem, com marmorização maior que nossa carne, tem melhor aceitação nos steak houses dessas regiões. A Argenti-na está sendo favorecida pelo câmbio, onde o preço é bem mais competitivo que o nosso, afetado pela valo-rização do Real. Entretanto, esses países não tem pro-dução suficiente para atender a demanda do mercado

em crescimento. Assim, continuo acreditando que Bra-sil reúne condições mais favoráveis a médio e longo prazo. Quanto a novos concorrentes, a Índia continua vendendo seus búfalos a um preço bem inferior. Ape-sar do sabor e a dureza de sua carne, os asiáticos e ára-bes ampliaram a importação dessa carne por questão de preço. No futuro, talvez, tenhamos que enfrentar o continente africano, que tem condições de ocupar um lugar expressivo na pecuária mundial, porém isso é uma questão ainda para longo prazo, basicamente devi-

do à condição sanitária dos países africanos.

Há muitos países impondo barreira sanitárias ao Brasil hoje em dia? › Revista da Abrafrigo

Thomas C.S. Kim › Vários países fecharam a porta depois do surgimento de febre afto-sa no Mato Grosso do Sul em 2005 e alguns continuam fechados.A África do Sul é um exemplo. Recentemente, Brasil mandou uma missão conjunta, comercial e sanitária, para aquele país e eles prometeram avaliar a situ-ação brasileira brevemente, porém até agora não temos algo concreto sobre abertura desse mercado. Vejo novamente aqui componentes não-técnicos, mas algo político/comercial. Sou defensor da ideia de que o governo fede-ral tem que se envolver nessas negociações de forma ativa, oferecendo e exigindo “trocas”.

Como o Sr. vê o futuro das nossas exportações? O Brasil é um país com mercado consolidado? › Revista da Abrafrigo

Thomas C.S. Kim › A estatística projeta um aumen-to de quase 50% da população mundial nos próximos 50 anos, sendo que a área agricultável no mundo vai diminuir significativamente inclusive por razões do meio-ambiente. Há cada vez menor espaço para pe-cuária e o Brasil terá que também buscar melhoria de produtividade com aprimoramento tecnológico na ali-mentação dos animais, seja nos pastos ou nos confina-mentos. Também é necessário avançarmos alguns de-graus na indústria de transformação da matéria-prima. Além de ganharmos um valor agregado significativo, poderemos evitar desperdícios e aumentar a seguran-ça alimentar.O Brasil possui cerca de 20% do rebanho mundial com 17% de abate total. A nossa produção de carne bovina já representa mais de 15% da produção mundial sendo o volume médio exportado nos últimos anos foi mais de 2 milhões de toneladas/ano, repre-sentando mais ou menos 30% da exportação mundial. Isso coloca o Brasil na liderança mundial de exporta-ção de carne bovina. Isso tudo mesmo fora dos merca-dos como EUA, Coréia do Sul, Japão, Indonésia, etc. Portanto, a tendência é esses números melhorarem nos próximos anos ›‹

Feira de Moscou em Setembro 2009

"O Brasil está cumprindo seu programa de defesa de saúde animal e investindo pesadamente nisso. tanto mAPA como estados brasileiros estão cientes da importância desse tema"

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .19

meio Ambiente

Na Universidade de São Carlos, no interior pau-lista, um grupo de cien-tistas da área de Biofísica

Molecular do Instituto de Física e do Instituto de Estudos Avançados está estudando a aplicação da nanotecnologia para de-tectar a febre aftosa na população brasileira de bovinos. Hoje isso ainda é feito via métodos imu-nológicos desenvolvidos para quantificar a con-centração de antígenos e anticorpos, sendo o principal deles o Leitor Elisa (do inglês Enzyme-linked immuno sorbent assay). No entanto, é um processo de alto custo e demorado, no qual uma amostra de sangue do animal deve ser encaminhada para aná-lise em laboratório credenciado pelo Ministério da Agricultura, normalmente distante das áreas de produção e que tem provoca-dos muitos resultados duvidosos.

Esta é a primeira tentativa fei-ta no Brasil de se levar ao campo um desenvolvimento científico notável : a nanotecnologia, ciência da reorganização de moléculas e átomos numa escala quase inimi-ginável - 1 bilhão de vezes menor que o metro.

“O que estamos pesquisando é a imobilização de nanopartículas metálicas sobre circuitos eletrôni-

cos especiais que vão detectar a presença de anticorpos", explica Valtencir Zucolotto, professor do Instituto de Física da UFSCar. "

Caso o animal já tenha apresentado sinais de aftosa, ele desenvolveu anticorpos e os sen-sores detectarão isso", acrescenta. Segundo ele, aproximadamen-te dentro de um ano e meio o primeiro protó-tipo para comercializa-ção deverá ser produ-zido e em dois anos, o kit estará pronto para comercialização.

Há vários outros projetos de nanotec-

nologia para o campo que estão sendo desenvolvidos em vários pontos do país, com pesquisas concentradas no desenvol-vimento de sensores tidos como "lín-gua" e "nariz" e le t rôn icos , capazes de realizar ta-refas como medição da umidade do solo e da

Nanotecnologia no campo

Pesquisa & Desenvolvimento

A nanotecnologia, um dos mais impressionantes desenvolvimentos científicos das últimas décadas, chega a pecuária para auxiliar no controle de doenças como a febre aftosa

maturação de frutos, detecção de bactérias para embalagens de ali-mentos, nanofibras de celulose a partir do derivados do leite ou a descoberta da febre aftosa no re-banho bovino. No caso do reba-nho brasileiro, a nanotecnologia trará um processo mais barato e rápido porque os testes de aftosa poderão ser feitos in loco e com resposta imediata. Para um país que é o maior produtor e expor-tador de carne bovina do mundo, certamente será um instrumento valioso e que deverá evitar a cria-ção de novas barreiras sanitárias semelhantes às que forma impos-tas ao país depois da descoberta de febre aftosa no Mato Grosso em 2005 ›‹

"O que estamos fazendo é a

imobilização de nanopartículas

metálicas sobre circuitos

eletrônicos especiais que vão detectar

a presença de anticorpos"

20. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Depois da divulgação, em junho passado, de um relatório do Gre-enpeace, intitulado "A

Farra do Boi na Amazônia", que detalhava a ligação entre a des-truição da floresta e a expansão da criação de gado na Amazô-nia, e que provocou enorme repercussão mundial, algumas empresas multinacionais, in-cluindo fabricantes de calçados como Adidas, Nike e Timber-land prometeram cancelar con-tratos a menos que recebessem garantias de que seus produtos não estavam associados ao gado

Ação de ambientalistas do Greenpeace faz com que frigoríficos que atuam na região amazônica se adaptem aos novos tempos.

Pressão contra odesmatamento

meio-Ambiente

20. Revista da ABRAFRIGO maio de 2009

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .21

ou trabalho escravo na Amazônia. Mais do que isso: empresas que com-pram carne bovina como McDonald's e Wal-Mart pressio-naram os produtores a mudarem suas práticas na Amazônia.

Com receio de que esta situ-ação se alastrasse e provocasse perdas inimagináveis na econo-mia do setor, as maiores empresas do país se movimentaram parta deter o avanço da onda ambien-talista. O resultado foi que, no dia 5 de outubro, a organização não governamental Greenpeace assi-nou com os frigoríficos Marfrig,

Boi PirataPressão contra a

criação de gado em áreas de preservação ambiental na

região amazônica. Na foto, gado sendo retirado pela Operação Boi Pirata 2 na

Flona da jamanxim no Pará.

Revista da ABRAFRIGO maio de 2009 .21

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22. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Bertin, JBS-Friboi e Minerva um compromisso para que estas em-presas não comprem mais carne de produtores que contribuem com o desmatamento da flores-ta. Segundo a entidade, 80% das áreas desmatadas na Amazônia são ocupadas pela pecuária e para o diretor da campanha do Gre-enpeace, Paulo Adário, este é um passo fundamental no combate ao desmatamento.

Outro fator de peso que impulsionou os su-perfrigoríficos à mo-ratória foi a crescente pressão derivada do fato de o BNDES con-tar com fatias relevan-tes nos controles dos grandes frigoríficos, o que inclusive ajudou a influenciar e a acelerar a consolidação da as-sinatura do acordo. O banco também estava representado na sede da FGV, bem como o IFC, braço de financiamen-tos privados do Banco Mundial.

O compromisso in-cluiu uma agenda com seis pon-tos, com o monitoramento do desmatamento na cadeia produti-va e cadastro de todas as fazendas produtoras. "O prazo depende do tipo de fornecedor. Para o boi de corte, os frigoríficos têm seis meses para identificar todas as fazendas. Já para os criadores de bezerros, por exemplo, são dois

anos", segundo a ONG. Estudos do Greenpeace apontam que um hectare da floresta é transforma-do em pasto para gado a cada 18 segundos, mas para a entidade, em breve o consumidor brasilei-ro poderá comprar carne tendo certeza que não está contribuin-do para o desmatamento. Estima-se que a destruição das florestas tropicais ao redor do mundo seja responsável por cerca de 20%

das emissões globais de gases do efeito estufa. Conforme o Institu-to do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a pecuária na Amazônia responde por cerca de 44% das emissões de gases-es-tufa do Brasil. A conta é simples: segundo o Imazon, o desmatamen-to representa 55% das emissões brasileiras, e a fatia pecuária corres-ponde a 80% do total.

Além de monitorar suas cadeias de fornece-dores e estabelecer me-tas claras para o regis-

tro das fazendas que fornecem o gado, tanto direta quanto indire-tamente, os frigoríficos informa-ram que conceberão medidas para colocar um fim à compra de gado de áreas indígenas ou protegidas, e de fazendas que usam o traba-lho escravo. Até mesmo Blai-ro Maggi, governador do Mato Grosso, o Estado brasileiro com

"O prazo depende do tipo de fornecedor. Para o boi de corte, os frigoríficos têm seis meses para identificar todas as fazendas. já para os criadores de bezerros, por exemplo, são dois anos"

taxa mais alta de desmatamento da Amazônia e o maior rebanho bovino do país, e considerado o inimigo número 1 das florestas do Norte de seu Estado, disse na ocasião que apoiaria os esforços para proteger a Amazônia e forne-ceria imagens de alta resolução por satélite para ajudar a monitorar a região. A própria Associação Bra-sileira dos Supermercados também

Na foto, o ministro Carlos minc acompanha a retirada de Boi Pirata de dentro da Flona da jamanxim.

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .23

Rebanho para o Fome Zero

Em outubro deste ano, o Ibama doou ao Programa Fome Zero 625 cabeças de bois e 101 ove-lhas apreendidas dentro da Floresta Nacional do Jamaxim, uma unidade de conservação localizada no município de Novo Progresso, no oeste do Pará, durante a Operação Boi Pirata II.Na foto, o resultado da primeira operação Boi Pirata, em junho de 2008, em que foram apreendidas 3,5 mil cabeças de gado na Estação Ecológica Terra do Meio (uma Unida-de de Conservação de Proteção Integral), estado do Pará.

assinou o acordo, assegurando ain-da mais o cumprimento por parte dos frigoríficos, mas nem todos fi-caram felizes com o acordo: pecua-ristas mostraram-se preocupados e, para a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), os critérios do convênio são turvos e impreci-sos com a tendência de que as cota-ções do boi sofram maior pressão e a carne fique mais cara no varejo ›‹

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24. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Na foto o Gerente Comercial do Frigorífico Argus, Ricardo José Di Pretoro. "Não chegamos a formar estoque porque a demanda está alta"

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .25

Depois que a Encefalopa-tia Espongiforme Bovina EEB (doença da vaca lou-ca) se espalhou por vários

países e mercados mundiais impor-tantes, a farinha de carne e ossos foi considerada um grande vilão e um dos agentes dissemina-dores da doença. Resulta-do: quem estava nesse ne-gócio quebrou ou passou muito perto disso. No Brasil, embora não te-nham ocorrido casos da doença, o receio da con-taminação também exis-tiu e o produto passou a ser quase que ignorado pelos grandes consumi-dores, os fabricantes de rações para suínos, aves e animais de estimação.

Graças a uma política severa de qualidade e higiene implanta-da a partir de novas regras de fa-bricação criadas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), a farinha de carne e ossos vem re-cuperando seu antigo posiciona-mento no mercado. Medidas como a obrigatoriedade da esterilização efetivamente permitiram a reclassi-ficação do Brasil junto à OIE como país de risco desprezível para En-cefalopatia Espongiforme Bovina. Assim, o produto voltou a ser um componente importante de recei-ta para os frigoríficos e graxarias. Basta ver o que aconteceu com os preços: de março de 2007 a agosto de 2009, o preço boi gordo em São Paulo subiu 41%. Para a carne no atacado (boi casado), a alta foi de 47%; para o sebo, 38%. Para a fari-

nha de carne e ossos o crescimen-to foi de 225%. Já o couro, antigo campeão de rentabilidade, perdeu valor.

A OIE recomenda aos países esterilizar a farinha de carne e osso a 133ºC du-rante 20 minutos e o Mi-nistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-to (Mapa) determina, por meio da Instrução Nor-mativa nº 15 de 2003, a esterilização da farinha. Para isso, os frigoríficos e graxarias independen-tes devem dispor dos equipamentos necessá-rios para a esterilização. Hoje, poucas empresas não executam o processo graças a rigorosa fiscali-zação do Mapa.

Como o país se tornou proprie-tário do maior rebanho do mundo e no maior exportador de carne, a produção de farinha de carne e ossos tem aumentado na mesma

No seu melhor momento de mercado na história do país, a farinha de carne e ossos volta a ser um produto rentável para os frigoríficos

Farinha de carne

"Até pouco tempo a

produção da farinha de

carne nem era interessante,

mas hoje ela já está na terceira

posição entre os produtos que

mais trazem rentabilidade a um frigorífico"

Investimentos

Nova Estrutura

A mais moderna instalação para a produção de farinha de carne e ossos

do país foi inaugurada dia 23 de outubro pelo frigorífico

Argus, em são josé dos Pinhais-PR.

26. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

proporção. Só que ela é utilizada somente para o abastecimento do mercado interno. “Até pouco tem-po a produção da farinha de carne nem era interessante, mas hoje ela já está na terceira posição entre os produtos que mais trazem renta-bilidade a um frigorífico. Em pri-meiro lugar estão os miúdos, em segundo o sebo e ela é a terceira colocada”, explica Ricardo José Di Pretoro, gerente comercial do Frigorífico Argus, de São José dos Pinhais, no Paraná. O couro, quarto colocado, já foi o primei-ro. O Argus está apostando neste mercado. Investiu R$ 8 milhões em novas instalações que foram inauguradas no último dia 23 de outubro com capacidade de pro-dução da ordem de 1 mil tonela-das mensais e se tornou referên-cia sobre como tratar o produto. “Vem gente de outros estados para ver como fazemos e nosso estoque estão sempre próximos do zero. Nossa graxaria é modelo”,

acrescenta o gerente comercial.Na verdade, a farinha de carne

está no melhor momento de sua história. Apesar da produção ter aumentado bastante em função do crescimento do abate no país, o consumo interno cresceu tanto que absorve tudo que é fabricado. “A linha Pet de rações contribuiu

trituração da matéria-prima

no processo de produção de farinha

de carne e ossos

O QUE Um BOvINO ADUltO GERA

202 kgde carne

48 kgde miúdos

40 kgde peles

27 kgde peles

12 kgde sebo

muito para isso”, conta Di Preto-ro. “Na época da vaca louca o pre-ço chegou a cair para 10 centavos o quilo, mas nem assim tínhamos compradores. Hoje está em 75 cen-tavos o quilo, o que não é exage-rado, mas há demanda crescente e acredito ainda em um pouco mais de alta neste ano”, acrescenta ele ›‹

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .27

A exportação de produtos primários como alimen-tos, bebidas, matérias-pri-mas agrícolas,

etc, tem características próprias que a distin-guem da atividade de exportação de produ-tos manufaturados e de serviços. Para países em desenvolvimento, o modelo de economia primário-exportadora oferece uma série de di-ficuldades, como a dete-rioração dos termos de troca: a tendência de, a longo prazo, ocorrer a queda dos preços dos produtos primários em relação aos preços dos produtos manufatura-dos. Assim, atingir pa-tamares mais elevados de desenvolvimento requer que se evite esse modelo de economia primário-exportadora, inclusive quando se trata da movimentação de carga viva.

O crescente aumento da ex-portação do “boi em pé”, ou seja, a exportação de gado vivo para o abate, vem afetando negativamen-te a oferta doméstica deste pro-duto no mercado interno e reduz o potencial de geração de valor agregado (renda interna) e empre-go no país. E para aflição da ca-deia produtiva, a cada ano, nota-se um ritmo firme de aumento dos embarques. Em relação ao perío-do de janeiro a outubro de 2008, comparado ao mesmo período de

A cada ano, o crescente aumento da exportação de boi vivo vem afetando negativamente a economia da cadeia produtiva do setor e reduzindo o potencial de geração de renda interna e emprego no país. é isso que aponta um estudo intitulado de “Desvantagens Econômicas da Exportação de gado em pé”.

Mais Prejuízos

Boi em pé

2009, houve crescimento de quase 20% no total de bovinos vendidos ao exterior, atingindo uma receita

de US$ 308,117 milhões. Segundo a conclu-

são de um estudo inti-tulado Desvantagens Econômicas da Expor-tação de gado em pé, “O gado deve ser abatido o mais próximo possível da fazenda de origem e a exportação de bovinos deve ser substituída pela exportação de carne, couro e subprodutos. Os inúmeros problemas associados à exportação de gado em pé são evi-dências categóricas da ineficiência deste tipo de comércio, especial-mente para um país em forte desenvolvimento

como o Brasil”. O autor, o profes-sor Dr. Reinaldo Gonçalves, Titu-

"Os inúmeros problemas associados à exportação de gado em pé são evidências categóricas da ineficiência deste tipo de comércio, especialmente para um país em forte e desenvolvimento como o Brasil"

Menos empregos

A exportação do "boi em pé" afeta negativamente a

oferta doméstica deste produto no mercado interno e reduz o potencial de geração de valor

agregado, ou seja, de renda interna e emprego no país

28. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

lar de Economia Internacional do Instituto de Economia da Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro, justifica mostrando que o bovino é o insumo básico não somente de toda a cadeia produtiva da carne bovina (frigoríficos, indústria de processamento de alimentos, su-permercados e açougues) como também da cadeia produtiva do couro (veja quadro). “Os efeitos de encadeamento da pecuária são expressivos visto que atingem as indústrias de alimentos, artefatos de couro, vestuário, mobiliário, calçados e material de transporte (setor automotivo). Neste sentido, a lógica econômica mais evidente é que o deslocamento da produção de gado para o exterior afeta nega-tivamente a oferta doméstica deste produto no mercado interno e re-duz o potencial de geração de valor

agregado, ou seja, de renda interna e emprego no país”, afirma o pro-fessor.

Principal exportador mundial de carne bovina em volume, o Bra-sil aparece como o quarto maior vendedor de gado vivo a outros países, de acordo com o Departa-mento de Agricultura dos EUA. É superado pelos países que forne-cem bovinos para engorda para os Estados Unidos - Canadá e México (primeiro e terceiro do ranking) - e pela Austrália (a segunda), que atende o Sudeste Asiático.

Péricles Salazar, presidente da Abrafrigo, qualifica a exportação de gado vivo como retrocesso, por "não agregar valor" à cadeia pro-dutiva. Salazar diz temer que a prática se espalhe, "num momen-to em que o rebanho nacional di-minui, pela preferência do produ-

RECEItAs COm ExPORtAçãO DE BOIs vIvOs mesmo diminuindo o número de embarques, os bons preços do mercado internacional aumentaram a receita do produtor.

Pecuária deCorte Frigorífico Curtumes

ProdutosQuímicos

Indústria deComponentes

Coureiro Importações deCouro

Calçados deOutros

Materiais

Artefatos deOutros

Materiais

Calçados deCouro

Artigos deCouro

IndústriaMoveleira em

Couro

Indústria deConfecções em

Couro

Componentesem Couro paraEstofamentos

IndústriaTêxtil

Máquinas eEquipamentos

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .29

tor por outras atividades".Segundo Salazar, para se con-

trapor ao crescimento do embar-que de "boi em pé", a indústria precisa de "novos nichos", levando ao consumidor produtos cada vez mais elaborados, e não peças intei-ras, com pouco processamento.

Maus tratos

Além do ponto de vista eco-nômico, existem também um agravante desse tipo de prática: as condições de maus-tratos a que os animais são submetidos durante longas jornadas. Já foi cientifica-mente comprovado que o trans-porte por longas distâncias causa extremo sofrimento aos animais, com restrições de espaço, água e alimentação, sendo que muitas vezes a adaptação à nova dieta não é adequada. Confinados em ambientes impróprios e em con-dições de superlotação, eles tam-bém têm que suportar mudanças extremas de temperatura e venti-

lação. Além disso, experimentam estresse e exaustão pelo manejo inadequado. A taxa de mortali-dade pode chegar a 10% duran-te a jornada de até 21 dias. “O abate humanitário, realizado em um frigorífico próximo à fazenda

mERCADO Participação no mercado internacional de boi vivo e carne fresca, refrigerada e congelada 2003 - 2007 (% na receita de exportações)

Fonte: Nações Unidas (COMTRADE)

onde os animais foram criados, não só terminaria com a cruelda-de do transporte por longas dis-tâncias como criaria empregos e geraria arrecadação de tributos no Brasil.”, ressalta Gonçalves no estudo ›‹

13,212,911,2

10,5

6,9

Carne fresca, refrigerada e congelada

Boi vivo

4,6

1,30,70,10,0

Exportação de bois para

o Líbano: retrocesso

para a cadeia produtiva

30. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Exportação de bois para

o Líbano: retrocesso

para a cadeia produtiva

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .31

A recente aquisição do fri-gorífico Bertin pelo JBS-Friboi e o protocolo de intenções firmado pelo

Mafrig com os Frigorífi-cos Margen e Mercosul para o arrendamento de 11 unidades frigoríficas que, juntas, possuem ca-pacidade de abate de 8,8 mil cabeças de gado por dia e de uma indústria de charquearia com produ-ção de 1.700 toneladas de produtos industrializa-dos por mês, trazem in-dicadores preocupantes. Como ocorreu no setor de cítricos, a excessiva concentra-ção pode trazer problemas enor-mes aos fornecedores e ao merca-do, como o simples fato de que o poder em mãos de poucas empre-sas faz fornecedores receberem

menos e consumidores pagarem mais.

E o pior é que isso está sen-do bancado pelo próprio governo

brasileiro porque foi o BNDES (Banco Nacio-nal do Desenvolvimen-to Econômico e Social) quem patrocinou a con-glomerização do setor de carne no país, fornecen-do os recursos para as grandes empresas absor-verem seus concorrentes, numa iniciativa temerá-ria e contraproducente que pode vir a desorgani-zar uma cadeia produtiva

complexa e competitiva.A compra do Bertin somada a

da norte-americana Pilgrim's Pride deve fazer com que o faturamento do JBS-Friboi chegue próximo ao das maiores empresas brasileiras,

As operações da FBs/Friboi, comprando o frigorífico Bertin, e da mafrig, alugando as instalações do margen e do mercosul, vão colocar os produtores diante de poucas opções para comercializar seus animais e surge o receio de que estas empresas ditem os preços no mercado

Mais Concentração

"o poder em mãos

de poucas empresas faz fornecedores

receberem menos e

consumidores pagarem mais"

setor de Carnes

US$ 28,7 BI*US$ 28,1 BIjBs + Bertin + Pilgrim´s (Brasil)tyson Foods (EUA)

3o vio (holanda) US$ 12,7 bi

4o smithfield (EUA) US$ 12,5 bi

5o Brasil Foods (Brasil) US$ 12,1 bi

1o

Algumas marcas do grupoFriboi • Swift • Maturatta • Bertin Danúbio • Vigor Leco • Faixa Azul

RANkINg MUNDIAL DAS EMPRESAS DE PROTEíNA

*Estimativa Fonte: JBS

EmPREsA sERá A 3a mAIOR DO BRAsIl Em RECEItA Receita líquida em 2008.

1a Petrobras 215,12a vale 70,53a JBS + Bertin + Pilgrim´s 60,7**Estimativa

32. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Sede da JBSFriboiNa foto vista da matriz da jBs Friboi, em são Paulo. Com as aquisições, a jBs s.A., que já era a primeira no ranking do comércio mundial de carne bovina, passou a liderança em proteína animal - incluindo frangos e suínos.

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .33

34. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

como a Vale do Rio Doce, trans-formando o frigorífico no maior do mundo em carne bovina. O JBS teve um faturamento de R$ 35,9 bi-lhões entre julho de 2008 e junho de 2009. Se for somado o fatura-mento do Bertin, - R$ 7,5 bilhões no ano passado - e do Pilgrim's R$ 15,3 bilhões em 2008, a receita to-tal do JBS sobe R$ 58,7 bilhões. A Vale, por exemplo, obteve fatura-mento de R$ 61,6 bilhões nos últi-mos 12 meses, menor apenas que o da Petrobras.

Na avaliação do presidente da Abrafrigo, Péricles Salazar, as con-dições de competição entre peque-nos, médios e grandes frigoríficos se tornarão ainda mais discrepantes com a união entre JBS e Bertin. "Essa notícia é muito preocupante para os médios e pequenos frigoríficos, uma vez que a aquisição amplia ainda mais a concentração no segmento, o que dificulta acesso à matéria-prima e reduz o poder de nego-ciação junto a atacadis-tas e varejistas", diz ele. Além destas operações, a Marfrig, que chegou a negociar uma fusão com a Bertin, anunciou a compra da Seara, unidade de carnes da ameri-cana Cargill e, em maio deste ano, Perdigão e Sadia se juntaram para

formar a Brasil Foods. Para Joes-ley Batista, presidente-executivo da JBS, que junto com cinco ir-mãos dirige o grupo, “sem o apoio do BNDES não teria sido possível a transformação da empresa numa multinacional e na líder do mer-cado mundial de carnes”, segundo declarou aos jornais.

O Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Social (BNDES) informou em nota ofi-cial que vê como positiva a união entre os frigoríficos JBS Friboi e a Bertin, que criou a maior empre-sa de proteína animal do mundo. O banco, que é acionista das duas

empresas, informou que a sua participação acio-nária resultante da as-sociação será de 22,4% dos negócios integrados. Atualmente, a BNDES Participações (BNDES-Par) detém 26,9% do ca-pital do Bertin e 19,4% do capital do JBS/Fri-boi. Em nota, o banco destacou que também considera positivo o processo de internacio-nalização do JBS/ Fri-boi, que tem planos de abrir capital nos Estados Unidos. "A estratégia de

crescimento destas empresas visa ao aproveitamento de sinergias no processo de agregação de valor na cadeia produtiva por meio do aumento da industrialização, da verticalização, dos investimentos em logística, em canais de distri-buição nacionais e internacionais, além dos ganhos de escala ineren-tes ao processo de consolidação em curso", afirma o banco no seu comunicado. Só para a aquisição a norte-americana Pilgrim’s Pride a JBS contará com algumas linhas de crédito suficientes para finan-ciar dívida de aproximadamente US$ 1,5 bilhão, segundo revelou a empresa.

Capacidade de abate

A jBs-Bertin, em todo o mundo, conta com capacidade

de processamento diário de 90,4 mil bovinos, 48,5 mil

suínos, 7,2 milhões de aves, 19,5 animais de pequeno porte

(ovinos e caprinos), 148,5 mil metros quadrados de couro e

1.266 toneladas de lácteos.

"A aquisição amplia

ainda mais a concentração no segmento, o que dificulta

acesso à matéria-prima

e reduz o poder de negociação

junto a atacadistas e

varejistas"

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .35

Maior do mundo

A Bertin, fundada há cerca de 30 anos é também uma das maio-res exportadoras de produtos de origem animal da América Latina, como carne bovina in natura e pro-cessada, lácteos e couros. A empre-sa tem 38 unidades produtivas no Brasil e no exterior e emprega mais de 35 mil funcionários. A JBS pos-sui uma capacidade global de abate de 73,9 mil cabeças/dia, com ope-rações em 25 plantas industriais em 9 Estados brasileiros, 6 plantas em 4 províncias argentinas, além de 16 plantas nos EUA, 10 na Austrália e 8 na Itália. A empresa, maior ex-portadora mundial de carne bovi-na, tem capacidade total de abates no Brasil de aproximadamente 26 mil animais por dia. A nova empre-sa que deverá resultar da operação, será responsável, sozinha, por 15% das exportações brasileiras e 10% do mercado interno.

Em alguns locais esta concen-tração alcançará níveis nunca ima-ginados: a Associação dos Criado-res do Mato Grosso revelou que, no estado, a JBS passará a contro-lar quase 50% dos abates. Dos 29 frigoríficos em operação naquele

estado, a JBS e a Bertin controlam 11. A Sociedade Rural do Paraná, por sua vez, disse que “vê surgir um oligopólio com características de monopólio, o que desequilibra ainda mais a relação entre produto-

res e a indústria, segundo disse seu presidente, Alexandre Kireeff. Para Antenor Nogueira, presidente do Fórum Permanente da Pecuária de Corte, “o momento já é ruim para o produtor e quanto mais concen-trado o mercado mais o produtor perde poder na formação dos pre-ços”, declarou num encontro da Associação Nacional dos Confi-nadores realizada em Goiânia em setembro passado.

Após a fusão com a Bertin e a compra da Pilgrim's, a JBS será líder em processamento de carne bovina no Brasil, na Austrália, na Argentina, na Itália e uma das maiores dos EUA, com capacida-de de abate de 90,4 mil bovinos por dia. Será a terceira em suínos nos EUA, com capacidade de aba-te de 48,5 mil cabeças por dia, e uma das maiores em aves naquele país e globalmente, com capacida-de de abate de 7,2 milhões frangos por dia ›‹

POsICIONAmENtO Nota oficial da ABRAFRIGO sobre as fusões Friboi-Bertin, marfrig-margen-mercosul, aborda os seguintes pontos:

• A ABRAFRIGo tem sistematicamente se posicionado contrária a concentração industrial no ramo de frigoríficos;

• Não concordamos com a injeção de recursos públicos nas empresas, na condição de sócio, pelo BNDEs, os quais têm sido a fonte maior da concentração industrial no nosso segmento;

• Todavia, não nos restam outras alternativas que possam evitar estas fusões e incorporações, senão a de continuarmos esclarecendo a opinião pública, os poderes constituídos da nação e também as entidades de representação dos pecuaristas, sobre as prováveis conseqüências deste processo;

• Reconhecemos, porém, que o país eventualmente poderá se beneficiar, uma vez que estas empresas terão maior poder de competitividade nos mercados externos, colaborando para a nossa balança comercial;

• Entretanto, a ABRAFRIGO espera que no dia-a-dia dos mercados do boi e da carne possa haver concorrência leal e salutar entre todas as empresas, e que, sob nenhuma hipótese, vamos tolerar quaisquer indícios de manipulação de preços e distorção do padrão de comportamento comercial que deve haver nestes mercados;

• A entidade deposita um crédito de confiança nestas fusões, mas esclarece que não hesitará em tomar as medidas administrativas, legais e judiciais caso algum mínimo sinal de irregularidade no campo comercial seja detectado por quaisquer das nossas entidades e empresas filiadas.

• Continuaremos monitorando permanentemente estes mercados, em todas as regiões do país, na esperança de que continuem sendo objeto das relações normais de oferta e procura agregadas, com os preços sendo definidos como resultantes destas duas variáveis, sem artifícios e sem manipulações.

36. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .37

Dos mais presentes no noticiário econômico brasileiro nos últimos tem-

pos, graças a grandes negociações e também a grandes dificuldades, o setor de frigoríficos foi um dos que mais sofreu retração com a crise. Quatro grandes frigo-ríficos, desde setembro de 2008, pediram recu-peração judicial e apro-ximadamente 30 mil pessoas que estavam empregadas direta ou indiretamente nessas empresas, perderam sua ocupação.

As dificuldades que nos foram impostas depois de setembro de 2008, com a crise fi-nanceira mundial, ainda não foram totalmente recupera-das. As exportações continuam abaixo da média histórica dos úl-timos meses anteriores a setem-bro, embora tenham aumentado mês a mês.

O que se observa é que, ape-sar da forte retração, o setor tem reagido, aos "trancos e barran-cos”, o que pressupõe que até o final de 2009 ele vai ficar se ajustando o tempo todo. E em

2010 devei começar a ver uma luz no fim do túnel. Por exemplo: a

paralisação e a recupe-ração judicial de alguns empreendimentos aca-baram gerando mercado para outras empresas. A Brasil Foods (BRFoo-ds), resultado da fusão entre as empresas de alimentos Sadia e Perdi-gão, já mostrou que tem interesse em comprar o frigorífico Indepen-dência, um dos maiores exportadores de carne bovina do país, depois que este reestruturar sua dívida, segundo noticiá-rio de agências interna-cionais. Claro que isso é um primeiro ref lexo da desoneração do PIS/Co-fins que restabeleceu o equ i l í br io

no setor. Agora, a BRFoods quer ex-pandir a sua atuação na comercialização de carne bovina, já que em relação ao comércio de frango, a empresa já detém uma posição de lide-rança, mas mesmo que a operação en-tre Independência e

Numa época de definições e ajustes, depois dos meses de crise e das incorporações de empresas ocorridas, o setor de carne bovina já vive relativa estabilidade e tem claro que 2010 pode ser o ano de retomada plena da atividade. Prova disso é a tentativa da Brasil Foods entrar no setor.

Luz no fim do túnel

mercado

RetornoDepois de terem

saído do mercado anos atrás, sadia e Perdigão querem voltar ao setor

de carne bovina pela via da nova empresa, a recém-criada BRFoods (foto), uma associação

entre as duas

"Os preços, no final de 2009, estão estáveis

na faixa de R$ 77,00. Não

teremos em médio prazo, a repetição dos R$ 88,00 que

se registraram em 2008"

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Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .37

38. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Brasil Foods não se concretize, a indústria de alimentos vai conti-nuar se consolidando.

Atualmente, os frigoríficos brasileiros estão operando com apenas 60% de sua capacidade de produção. A queda da produ-ção dos frigoríficos, no entanto, está relacionada também à mi-gração de alguns criadores para a produção de cana-de-açúcar. Alguns pecua-ristas têm sido bastante tentados pelo eucalipto porque empresas do se-tor de papel e celulose preocupadas com uma possibilidade falta de matéria-prima futura estão oferecendo, em arrendamento, algo próximo de R$800,00/alqueire, algo com que fica realmente difícil da pecuária competir.

A oferta de bovinos ainda não está absolu-tamente regular para os frigoríficos e em algumas regiões há di-ficuldade de aquisição de bois como no Nor-te de Minas Gerais. No entanto, no Paraná, Sul de Minas Gerais, Triângulo Mineiro, Goiás e Mato Grosso do Sul há tendência de queda de preço em virtude do au-mento de oferta. Em relação aos últimos dois anos, o número de

animais disponíveis está visivel-mente maior e a tendência é que os preços cedam no curto/médio prazo. “Os preços, no final de 2009, estão estáveis na faixa de R$ 77,00. Não teremos em médio prazo, a repetição dos R$ 88,00 que se registraram em 2008”, ex-plica o suplente de senador pelo Tocantins, José João Batista Sti-

val, vice-presidente da Abrafrigo. “Mas o grande acontecimento deste ano foi a cons-tatação de que o mer-cado interno é muito forte e absorveu quase tudo o que deixou de ser exportado no perí-odo de crise, o que dá maior segurança ao produtor com vistas ao futuro da atividade”, acrescenta.

Lá fora os preços começaram a melhorar e os exportadores con-seguiram em média va-lores 15% maiores em dólar que os que esta-vam sendo praticados no início do ano. No entanto, esta conquista foi inteiramente anula-da pela desvalorização

do Real frente ao dólar no perío-do. Outro fator de desequilíbrio e mantém de certa forma a situ-ação delicada é o preço baixo do couro, um dos itens de maior ren-

tabilidade dos frigoríficos brasi-leiros e que responde por 18% do seu faturamento, entre os 78 itens de produção. “Neste qua-dro, o novo desafio é o aumento da produtividade”, diz José João Batista Stival. “Precisamos tam-bém mudar a estrutura de paga-mento do boi para o pecuarista para o quilograma do boi vivo e não mais arroba dele já abatido, o que dá uma sensação ao produtor de que é só o frigorífico que está ganhando , o que não correspon-de a realidade. Acho que é hora de lançarmos isso em debate”, conclui ele ›‹

janeiro R$ 85,00

Fevereiro R$ 82,00

março R$ 78,00

Abril R$ 80,00

maio R$ 81,50

Fonte : Scot Consultoria

"Precisamos também mudar a estrutura de pagamento do boi para o pecuarista para o quilograma do boi vivo e não mais arroba dele já abatido, o que dá uma sensação ao produtor de que é só o frigorífico que está ganhando, o que não corresponde a realidade"

PREçOs variação do preço da arroba do boi gordo em 2009 – Barretos – sP

junho R$ 82,00

julho R$ 81,00

Agosto R$ 78,00

setembro R$ 79,00

Outubro R$ 77,00

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .39

mARGENs DO vAREjO CONtINUAm AltAs mesmo com os preços da carne oscilando bastante desde o início do ano, as margens do varejo continuam elevadas e nada é repassado ao consumidor final.

Atacado02/11 a 06/11

Varejo 02/11 a 06/11

diferença Margem Bruta supermercados

Alcatra - Miolo R$ 10,65 R$ 19,06 R$ 8,41 78,97 %

contra File R$ 9,87 R$ 16,35 R$ 6,48 65,65 %

coxão Mole R$ 8,28 R$ 14,38 R$ 6,58 79,47 %

File Mignon s/ cordão R$ 17,51 R$ 30,12 R$ 12,61 72,02 %

lagarto R$ 7,70 R$ 13,15 R$ 5,45 70,78 %

Patinho R$ 7,69 R$ 15,32 R$ 7,63 99,22 %

Fonte: Scot Consultoria - Preços Médios SP

40. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

O Ministério da Agricultura ainda não fez a divulgação de nenhuma informação sobre como seriam estas

mudanças, mas a assessoria de co-municação do Mapa confirmou que o Dipoa – Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, está estudando altera-ções na atual regulamentação que dá as diretrizes para a produção e exportação de produ-tos que são classificados como despojos do abate de bovinos e bubalinos. Neste setor, há um mer-cado interessante para vários frigoríficos brasi-leiros de pequeno e mé-dio porte porque muitos países, com costumes e hábitos alimentares di-ferentes do brasileiro,

adquirem produtos que no Brasil normalmente são remetidos para a graxaria e que em algumas regi-ões do mundo são tratados como iguarias. Esta exportação é feita somente por frigoríficos habili-tados pelo Mapa para realizarem vendas externas, mas muitas em-presas locais vendem seus dejetos para estes frigoríficos exportado-res. Atualmente, o setor é baliza-

do pela Circular 279, de 2004, que regulamenta e permite estas exporta-ções e as operações entre os frigoríficos do merca-do interno, uma vez que entre os compradores in-ternacionais de despojos não há grandes exigên-cias de ordem sanitária. Pelo que se comenta no mercado, a partir de ago-

ministério da Agricultura quer mudar regulamento da exportação de despojos bovinos. Os estudos estão em andamento no Dipoa e, pelo que se sabe, só frigoríficos habilitados a exportar poderão realizar operações de venda de despojos exportáveis, mesmo nas vendas entre empresas feitas no mercado doméstico.

Novas Regras

Diretriz

Neste setor, há um mercado interessante para vários frigoríficos brasileiros de pequeno e médio porte

ra o Mapa quer que as vendas feitas no mercado interno de frigorífico para frigorífico tendo como obje-tivo a exportação de despojos seja realizada somente entre empre-sas que possuem habilitação para atuar no mercado externo, com o que, na prática, muitos frigoríficos teriam que correr para se adaptar às regras do Ministério da Agricul-tura. A Abrafrigo é contrária a este tipo de iniciativa que pode preju-dicar muitas empresas de pequeno médio porte que não teriam como resolver o destino de parte de seus despojos, o que pode até mesmo criar problemas ambientais. Para a entidade, a situação atual, como prevalece pela Circular 279 é mui-to mais justa e satisfatória. Como muita gente não conhece o teor desta Circular, estamos publicando o documento na sua íntegra ›‹

CERtIFICADO vEtERINáRIO DE

sANIDADE ANImAlE DE sAÚDE

PÚBlICA

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .41

NOvAs REGRAs Ainda em vigor, a Circular que disciplina a manipulação de despojos bovinos poderá ser alterada em breve pelo ministério da Agricultura. segue abaixo a instrução:

42. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Na história econômica do setor de carnes do Brasil é a primeira vez que isso ocorre. Em 15

março de 2008, o quilo do sebo valia R$ 0,95 e o de couro verde, R$ 2,20. Em novembro, o quilo já valia R$ 1,70, o mesmo valor do couro, que tinha iniciado uma trajetória de queda em meio a crise econômi-ca. Em maio deste ano, o sebo já valia R$ 2,30, enquanto o quilo do couro, R$ 1,80. Um animal adulto produz

40 quilos de couro e somente 12 quilos de sebo, mas mesmo com o valor de mercado mais alto,

o sebo representa de 1,5% a, no máximo, 2% da receita das in-dústrias frigoríficas. No entanto, segundo a Scot Consultoria, a im-portância econômica dos dois produtos, para o frigorífico, se igua-lou. Em setembro de 2007 o quilo do couro valia 126% mais que o do sebo. Hoje ele vale 65% menos. Enquanto que o mercado do sebo

Para os frigoríficos, a importância econômica do sebo e do couro já é a mesma. A queda dos preços do couro é uma das maiores da história

A vez do sebo

Para um material que até bem pouco tempo era tratado como resíduo, queimado ou enterrado, gerando passivos ambientais, trata-se de uma grande mudança

Biocombustível

ReceitaUm animal adulto produz 40 quilos de couro e somente 12 quilos de sebo. No entanto, a importância econômica dos dois produtos se igualou para os frigoríficos

mercado do sebo bovino:

expansão por causa do

biodiesel

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .43

se expandiu no decorrer dos últi-mos anos, com o advento do bio-diesel, o do couro encolheu, em função do uso de produtos sin-téticos. Resultado: não há mais sobras de sebo no mercado.

A maior explicação para este comportamento está no fato de que a gordura animal, atualmen-te, é a segunda matéria-prima mais utilizada para a produção de biodiesel no Brasil, atrás apenas do óleo de soja. Segundo o últi-mo Boletim Mensal de Biodiesel da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) -, a gordura animal - sebo bovino, quase em sua totalidade - responde por 14,62% da produ-ção nacional, enquanto que o óleo de soja representa 78%. Confor-me a ANP, o uso do sebo bovino superou em mais que três vezes o óleo de algodão (4,11%). Outras oleaginosas como a mamona, dendê, pinhão-manso, girassol e a canola aparecem como “outros materiais graxos” e equivalem a apenas 2,57% do que se consome para produzir o biodiesel.

Para um material que até bem pouco tempo era tratado como resíduo, queimado ou enterra-do, gerando passivos ambientais, trata-se de uma grande mudança, ocorrida em função do cresci-mento da participação do Brasil no mercado mundial da carne e porque o sebo é uma matéria-pri-ma mais barata que o óleo de soja. A Bertin, por exemplo, apostou nessa tendência e inaugurou em agosto de 2007, a Brasbiodiesel em Lins, no interior paulista, para produzir 125 milhões de litros de biodiesel por ano, 70% com sebo de boi e 30% com óleo de soja. A Biocapital, arrendada pelo JBS Friboi, com sua usina localizada em Charqueada (SP) é a maior do país em aproveitamento exclusi-vo do sebo, mas outras 65 usinas

detêm autorização da ANP para processar gordura animal. Des-tas, pelo menos sete - BrasBiodiesel, Fri-gol, BioCar Biodie-sel, CLV Agrodiesel, BioPar Parecis, Ouro Verde e Amazon Bio, localizadas em São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia, usam o sebo como matéria-prima.

Já o couro é muito dependen-te do mercado externo, que vem se retraindo neste ano por con-ta da menor demanda da Itália, maior compradora do produto brasileiro, e dos Estados Unidos - o Brasil exporta 80% do couro que produz. Até julho, as expor-tações brasileiras de couros re-gistraram receita de US$ 588,62 milhões, com queda de 52%, em relação ao mesmo período de 2008. segundo dados elaborados pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), com base no balanço da Secretaria de Comércio Exterior, do Ministé-rio do Desenvolvimento, Indús-tria e Comércio Exterior ›‹

Em março de 2008, o quilo do sebo valia R$ 0,95 e o de couro verde,

R$ 2,20. já em maio deste ano, o sebo valia R$ 2,30,

enquanto o quilo do couro, R$ 1,80.

14,62%sebo Bovino

2,57%Outros*

4,11%Óleo de Algodão

78%soja *mamona, dendê,

pinhão-manso, girassol e a canola

COmPOsIçãO. matéria-prima para Produção de Biodiesel

Couro X Sebo

44. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Por demanda dos seus asso-ciados, a Abrafrigo criou no início de outubro, o seu Departamento de Comér-

cio Exterior. Daqui para frente, ele deverá exercer um papel efetivo na inserção de mais empresas no setor de comércio exterior, cumprindo um importante papel na manu-tenção da liderança brasileira no mercado mundial de carnes no fu-turo. O Brasil possui cerca de 20% do rebanho mundial com 17% do abate total. A produção de carne bovina representa mais de 15% da produção mundial, sendo que o volume médio exportado nos úl-timos anos foi mais de 2 milhões de toneladas/ano, representando mais ou menos 30% da exportação mundial o que colocou o Brasil na liderança mundial de exporta-ção de carne bovina, mesmo fora dos mercados como EUA, Coréia do Sul, Japão, Indonésia, etc. Por-tanto, a tendência é esses números melhorarem nos próximos anos e, nesse aspecto, os associados da Abrafrigo podem desempenhar um papel relevante.

Para criar, organizar e tornar operacional este departamento a entidade convidou um dos maio-res especialistas no setor, Thomas C. S. Kim que já começou seu tra-balho e está à disposição dos in-teressados. Segundo ele, o Depar-tamento de Comércio Exterior da Abrafrigo terá basicamente quatro grandes áreas de atuação: (1) Infor-mação do Mercado Internacional; (2) Informação da Política Brasilei-

ra na Área de Comércio Exterior; (3) Atuação nas Habilitações de Plantas dos Associados; (4) Con-sultoria na Área de Comércio Ex-terior a Associados.

Para buscar e atualizar infor-mações do mercado internacional, o departamento terá uma partici-pação ativa nas missões comerciais e sanitárias do MAPA e do MDIC. Com isso, deverá informar aos as-sociados tudo que está acontecen-do no mercado mundial de carne em tempo dessas informações se-rem muito bem aproveitadas para novos negócios. Também pretende manter conversas com as associa-ções dos países importadores para firmar colaboração mútua de troca de informações. O departamen-to manterá um colaborador que

Recém-criado departamento da ABRAFRIGO terá como ação prioritária a inclusão de novas plantas pequenas e médias no rol de empresas exportadoras, além de prestar um valioso auxílio de consultoria

Novo passo

Comércio Exterior

Da esquerda para a direita, Thomas C. S. Kim, Francisco

Turra (ABEF), Pedro Camargo Neto (ABIPECS), Celio Porto

(Secretário de Relações Internacionais – MAPA) – Na embaixada em Moscou onde

foi tratada a questão de cota de exportação de carne

com o governo russo.

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .45

"A nossa política

será total transparência

onde todos saberão

exatamente qual é a regra

de jogo para participar nas habilitações"

vai estar próximo ao MAPA e ao MDIC para uma representação ins-titucional e auxiliar os associados.

Neste momento, o grande inte-resse dos associados, sem dúvida, é o de saber como funcionará o departamento para atuar nas habi-litações de plantas. É bom lembrar que houve uma época em que isso parecia uma caixa preta, onde poucos tinham privilégio de con-seguir habilitações para países que melhor remu-neravam. “Na Abrafrigo, isso não acontecerá. A nossa política será total transparência onde todos saberão exatamente qual é a regra de jogo para par-ticipar nas habilitações. Nós iremos colocar na mesa as condições exigi-das pelos países impor-tadores e os próprios associados participarão na avaliação técnica de suas próprias plantas, e as que tiverem condições, Abrafrigo irá recomendar para fazer parte da lista do MAPA”, explica Thomas C. S. Kim. Ele ressalta que serão “respeitadas as condições exigi-

das pelos importadores cuja regra terá total transparência. Para isso, talvez seja necessária uma pré-avaliação técnica por profissionais competentes. O departamento po-derá assessorar as plantas a se qua-lificarem técnica e comercialmen-te para conquistar habilitações”, completou.

Ele também informou que so-bre consultoria na área de comér-cio exterior, entre os associados da entidade, alguns ainda não têm experiência nessa área, ou talvez venham a ter situações em que poderão ter dúvidas ou necessitar de alguma dica de soluções. “O departamento pretende dar assis-tência permanente desses assuntos aos associados”, garantiu. Segun-do ele, neste setor o papel do go-verno federal é muito importante na abertura de novos mercados, alguns muito cobiçados pelos pa-íses concorrentes tais como EUA e Austrália. “Falo isso, no nível de negociações bilaterais, não técnica e sanitária. Isso envolve o Itama-

raty, especificamente o setor de negociações co-merciais do Itamaraty. Na minha gestão, pre-tendo estabelecer um re-lacionamento próximo com esse setor para que a gente possa encontrar “moeda de troca” que o Brasil possa utilizar nas negociações de abertura do mercado de carne”, informou. Thomas S. Kim acabou de retornar de uma missão comer-cial na Arábia Saudita

- retornou em 06/11. Segundo ele, “ no início do ano, em fevereiro de 2010, teremos uma feira em Dubai onde todos os importadores dos países árabes estarão presentes. É uma feira importante para a qual convido todos os associados da Abrafrigo a participar”, finalizou ›‹

O BRAsIl NO mERCADO mUNDIAl

Rebanho de 200 milhões de cabeças

20% do rebanho mundial

17% do abate total

15% da produção mundial

30% das exportações

2 milhões de ton/ano de carne

46. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

C riada em 2004, como en-tidade representativa do segmento industrial da carne bovina que

atua no mercado interno e no comércio exterior, com atuação nacional, congregando empresas, sindicatos e associações estaduais da indústria de carnes, a Abrafrigo fez sua primeira mudan-ça importante no seu formato institucional. No último dia 6 de no-vembro, numa reunião realizada nas instala-ções da Federação das

Indústrias de São Paulo (FIESP), foram criados os cargos de Presi-dente Executivo da entidade e o

seu Conselho de Admi-nistração (C.A.), além de se dar posse ao novo diretor do recém-criado Departamento de Ex-portação, um setor que, com a ampliação da atuação da Associação passou a ser necessário, a partir da solicitação dos seus integrantes.

Da reunião parti-ciparam aproximada-mente 35 integrantes da diretoria da entidade

Abrafrigo cria cargo de Presidente Executivo e seu Conselho de Administração. O crescimento da entidade e de sua representatividade, além de sua maior presença junto aos órgãos públicos, levaram a necessidade de se instituir uma mais moderna estrutura de gestão.

Reestruturação

Abrafrigo

"A nossa política será total transparência onde todos saberão exatamente qual é a regra de jogo para participar nas habilitações"

Nova DiretoriaDa esquerda para a direita, o presidente do Conselho de Administração, o empresário e suplente de senador pelo tocantins, josé joão Batista stival, o presidente executivo, Péricles salazar e o Diretor de Comércio Exterior thomas C. s. Kim.

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .47

que aprovaram a reforma dos es-tatutos e indicaram para exercer o cargo de primeiro presidente do C.A. o empresário e suplente de senador pelo Tocantins, José João Batista Stival. Para a Presidência Executiva, o indicado foi o atual presidente da Abrafrigo, Péricles Salazar e na Diretoria de Comér-cio Exterior assumiu Thomas C.S. Kim. Fazem parte do Conselho, a partir de agora, todos os presiden-tes de sindicatos filiados a entida-de.

Com o Conselho de Adminis-tração e a Presidência Executiva, a Abrafrigo adota um moderno instrumento de gestão. Trata-se de uma estrutura que substitui, em certos casos, a instalação da assembléia-geral, órgão societário de quem a complexa burocracia rouba a agilidade. Nele pode-se reunir com certa regularidade as pessoas que se interessam pelo se-tor para discutir o desempenho da entidade, os desafios que ela vem enfrentando, além das estratégias que devem ser utilizadas para al-cançar as metas oferecendo um feedback ao Presidente Executivo sobre a percepção do Conselho.

Durante o encontro com os presidentes de Sindicatos, o Pre-sidente Executivo da Abrafrigo, Péricles Salazar aproveitou para comunicar os resultados de sua reunião com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), realizada em outubro com a participação da Abiec, so-bre os problemas de desmatamen-to na Região Norte do País. “O Banco nos comunicou que a par-tir de agora não irá mais financiar empresas que ainda compram animais que sejam originários de regiões de Áreas de Preservação da Amazônia. Daqui para frente o rastreamento bovino será obri-gatório nestas regiões para com-provar a origem do gado”, infor-mou ele ›‹

Para a Abrafrigo, grandes frigoríficos precisam priorizar pagamentos de pecuaristas

A ABRAFRIGO está preocupada com as conseqüências da onda de pedidos de recuperação judicial entre os frigoríficos e está solicitando as empresas que priorizem o pagamentos de pecuaristas. Segundo o presidente da entidade, Péricles Salazar “apesar de representar apenas os pequenos frigoríficos, a Abrafrigo é afetada indiretamente por esta tendência dos grandes grupos”, explicou. Ele disse que acredita ainda que essas empresas fatalmente terão que entrar em acordo com seus credores: “Esse nó vai ter que ser desatado. Se o BNDES quiser injetar recursos, os grupos terão que priorizar o pagamento do produtor”, afirmou. Ele informou que os pequenos e médios frigoríficos respondem atualmente por 70% do abastecimento nacional e que muitos produtores preferem vender para esses pequenos grupos. “Nós temos um número razoável de plantas frigoríficas atuando no país hoje. Se nós computarmos todas as pequenas, médias e micro empresas, temos algo ao redor de 2,5 mil,

incluindo os matadouros municipais. O que ocorreu nos últimos anos é que os grandes grupos cresceram e os pequenos e médios foram acompanhando marginalmente essa evolução”, revelou.

No último dia 5 de novembro, por exemplo, a situação do Frigorífico

Independência começou a ser resolvida. São 1.524 pecuaristas de MS, MT, MG, RO e GO com uma conta a receber da ordem de R$ 194 milhões. Os pecuaristas que esti-veram na assembleia geral dos credores do Independência e Nova Carne Indús-tria de Alimentos,

realizada no Centro de Convenções do Hotel Tran-samérica, em São Paulo, decidiram aceitar a proposta do Plano de Recuperação Judicial apresentada pela empresa. Pelo plano, haverá pagamento à vista de quem tem a receber até R$ 100 mil; os com crédito supe-rior receberão R$ 100 mil de entrada e saldo dividido em 36 parcelas, sendo que na 24ª parcela a dívida será quitada, corrigida pela taxa Selic.

"Esse nó vai ter que ser desatado. se o BNDEs quiser injetar recursos, os grupos terão que priorizar o pagamento do produtor"

48. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Notas

A partir de 1º de janeiro, as propriedades rurais do Sul e Leste do Pará vão ser monitoradas pelo siste-ma de georreferenciamento por satélite para ajudar a acabar com o desmatamento na Amazônia. A ideia do projeto é acompanhar a evolução da pecuária em todo o estado para que o setor não seja mais responsabili-zado pela derrubada da vegetação amazônica. Dessa forma, os produtores que forem flagrados pelo siste-ma desmatando perderão a Guia de Trânsito Animal (GTA) de todo o rebanho. Sem o documento, que passa a ser eletrônico, o proprietário fica impedido de comercializar seus animais para outras unidades da

federação. O projeto nasceu há oito meses e das 14 mil proprie-dades previstas para serem georreferencia-das, 12,5 mil já estão prontas.

A Arantes Ali-mentos, frigorífico em recuperação judicial com dívidas da ordem de R$ 1 bilhão, e um dos maiores players nacionais do setor de proteínas animais, com capacidade instalada de abate de 5.500 cabeças de gado e 253.000 aves por dia, e produção de milhares de quilos de embutidos diaria-mente, está propondo pagar tudo o que deve em 12 vezes. A empresa gera mais de

O BNDES (Banco Nacional de Desenvol-vimento Econômico e Social) anunciou que quer deixar a sociedade que possui na Independência Participações, holding controladora da Indepen-dência S.A. e Nova Carne, as duas empresas do mesmo grupo que controla o frigorífico. O banco pretende também utilizar uma cláusula contratual que obriga os proprietários do Independência a recomprarem a participação de mais de 20% que o BNDES possui na holding, alegando que a empresa descumpriu termos contratuais, como o próprio pedido de recuperação judicial a revelia do banco. Na última assembléia de credores o Independência sugeriu aos pecuaristas pagamento integral das dívidas com limite até R$ 100 mil e o saldo restante em 36 parcelas mensais.

BNDES pula fora do IndependênciaContratos

Sul e Leste do Pará terão georreferenciamento

meio-ambiente

Arantes faz propostaRecuperação

5.000 mil empregos diretos e outros 8.000 indiretos. O Grupo faturou R$ 1,6 bi em 2008. A empresa informou que, para concluir o processo no menor prazo pos-sível, são realizadas reuniões com grupos de credores para apresentação do seu plano e propostas. O plano estabelece condições para que a Nova Arantes torne-se um dos principais players deste mercado em um breve futuro.

A concentração da indústria frigorífica foi um dos pontos altos em debate junto com a nova

realidade de mercado e os desafios regulatórios do setor por um grupo de 100 entre os mais destaca-dos pecuaristas brasileiros que se reuniu de 21 a 25 de outubro, no EcoResort do Cabo, em Per-nambuco, para a realização do "Meeting Agrone-gócios - Pecuária". O evento foi organizado pelo grupo ProBiz e contou com o apoio da CNA, SRB e ACNB, além do Canal Terraviva. "Não está fácil ser agropecuarista neste país", explicou o diretor da ProBiz, Silmar Muller. Para Silmar, além das pres-sões econômicas, com custos de produção elevados e preços baixos para o boi, o pecuarista brasileiro precisa atender requisitos de rastreabilidade sani-tária, bem-estar animal, habilitação especial para exportar para a União Europeia, reservas ambien-tais legais, áreas de proteção ambiental, o desafio do novo Código Florestal, etc, além da insegurança fundiária, de ter de permanentemente defender sua propriedade de invasões de sem-terras, de índios ou de ladrões de gado.

Eventos

Debatendo o futuro

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .49

Três procuradores da Re-pública apresentaram em1º de outubro a proposta de um Ter-mo de Ajustamento de Conduta (TAC) para o setor frigorífico em Mato Grosso para evitar o desmatamento provocado pela pecuária. Representantes de frigoríficos, do setor pecuário e dos órgãos ambientais estadual e federal iniciaram a discussão do TAC, que propõe aos frigorífi-cos que se comprometam a não comprar animais para o abate oriundos de áreas que praticam desmatamento ilegal, que não

Com produ-tos de alto valor agregado, a Ca-juru Alimentos, empresa familiar proprietária da marca Gold

Meat de carnes temperadas, está despertando o interesse do setor. Com sede em Cajuru (SP) e pro-prietária de outras quatro marcas de carnes, a empresa está em negociações com três grandes companhias do setor para ser comprada. Alguns frigoríficos estão com a intenção de entrar num nicho do mercado que é mais prestador de serviço para agregar valor e não mais fazer grandes aquisições para mostrar aos acionistas. Sabe-se que re-presentantes da empresa manti-veram conversas recentes com o JBS, maior empresa de proteínas no planeta, mas Mafrig, Minerva e até mesmo Independência e Arantes, que enfrentam proces-sos de recuperação judicial, se interessaram pelo negócio de carne com grife.

TAC’s agora no Mato grossoConduta

Mais uma incorporaçãoCajuru Alimentos

Souza, foi sugerido ao governo chileno uma nova data, mas até o momento o SAG não enviou resposta. Além do Tocantins, a missão irá auditar os sistemas de defesa agropecuária dos estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Espíri-to Santo. Atualmente, o Chile importa carne de oito empresas do Rio Grande do Sul, sendo 16

Nova missão chilena vai começar visita ao Brasil pelo Tocantins

Auditoria

O Tocantins não foi au-ditado pelo Serviço Agrícola Ganadero do Chile entre os dias 5 e 16 de outubro como es-tava previsto. A visita da missão técnica ao Brasil foi adiada e a informação repassada por meio de ofício do Ministério da Agri-cultura à Adapec (Agência de Defesa Agropecuária). Segundo o diretor de Sanidade Animal do Mapa, Jamil Gomes de

unidades certificadas. Dentre as exigências que deverão ser cobradas estão a implementa-ção do Programa de APPCC - Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle, os PPO-Hs - Procedimentos Padrão de Higiene Operacional, e as BPF - Boas Práticas de Fabrica-ção e de testes microbiológicos para avaliação dos processos de produção.

possuam licenciamento ambien-tal, que exploram mão-de-obra em condições de escravidão, que estão localizadas em áreas indígenas ou quilombolas, que tenham registro de violência agrária ou que sejam áreas de desmatamento recente. Segundo o procurador da República, Má-rio Lúcio de Avelar, o objetivo é trazer os produtores do setor pecuário de Mato Grosso para a legalidade e garantir o controle da sociedade sobre a atividade produtiva.

50. Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009

Notas Internacionais

O Ministério da Agricultura, através do Secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz, solicitou a Abrafrigo, no início de maio, uma reunião com todos

Rússia volta ao mercado brasileiro da carne “in natura”

De volta ao mercado

As exportações de carne bovina e de vitelo da Austrália durante setembro caíram em 9% com rela-ção ao ano anterior. Os exportadores continuam en-frentando uma fraca demanda e um dólar australiano valorizado, enquanto as ofertas se reduziram com os processadores diminuindo os abates. As exportações atingiram 75.778 toneladas, levando o total para os primeiros nove meses de 2009 para 701.000 tonela-das - um pouco a mais que os volumes no período correspondente de 2008.

Austrália

O Instituto Americano de Carnes dos Estados Unidos (Ame-rican Meat Institute - AMI) está pedindo que as Escolas Públicas de Baltimore reconsiderem sua decisão de manter as "Segundas sem carne", dizendo que os produ-tos de carnes vermelhas e brancas são partes essenciais de uma dieta balanceada. Isso porque o sistema de Escolas Públicas de Baltimore se tornou em outubro o primeiro dos EUA a se comprometer a não servir carnes nas segundas-feiras. Isso significa que 80.000 estudan-tes não terão carne como opção no cardápio nas segundas-feiras. "Vocês estão removendo os pratos de carne vermelha ou branca nas segundas-feiras, privando as crianças e seus pais da capacidade de determinar o que é apropriado para suas dietas e suas próprias circunstâncias pessoais", disse o presidente da AMI, Patrick Boyle.

Na Austrália como aqui

AlimentaçãoPrivando as crianças de carne

Os produtores do Uruguai estão otimistas quanto a ter aces-so à parte da cota adicional para carne de animais confinados da União Europeia. Recentemente a UE habilitou a importação de uma cota paralela à cota Hil-ton, de 20.000 toneladas, para carne proveniente de confinamentos que deve cumprir com condições mui-to específicas. Ainda

habilitaçãoEuropa quer carne uruguaia

os associados habilitados a exportação de carne bovina

“in natura” para o mercado da Rússia. O encontro foi para tratar dos requisitos sanitários e de procedimentos nos portos para ex-portação àquele país. Participaram da reunião, além dos frigoríficos, os representantes da DIPOA e da Coordenação Geral de Vigilância Agropecuária – Vigiagro.

que a cota seja para novilhos e novilhas menores de 30 meses, com um regime especial de alimentação em confinamento, o Uruguai buscou ter acesso a essa cota e a UE aceitou, enviando um documento pedindo uma ampliação de informações. A partir daí, a cadeia de carnes do

Uruguai, através do Insti-tuto Nacional de Car-nes (INAC), preparou

um documento de quase 40 páginas para esclarecer as dúvidas dos europeus.

Revista da ABRAFRIGO novembro de 2009 .51

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