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28 Algomais MAR/2014 29 Algomais MAR/2014 capa NOVO CICLO DE DESENVOLVIMENTO DE GOIANA Município recebe investimentos de R$ 6 bilhões com os polos automotivo, vidreiro e farmacoquímico A trajetória eco- nômica de Goia- na, marcada historicamente pela cana de açúcar e pela produção têxtil, começa a dar espaço para uma nova fase do município, com a instalação dos polos au- tomotivo, vidreiro e far- macoquímico. A terceira onda de desenvolvimento do município da Zona da Mata Norte coloca a cidade mais uma vez como uma das protagonistas da economia de Pernambuco. A ainda presente produção sucroalcooleira, responsável por uma parcela signifi- cativa do PIB local, convive no mes- mo cenário dos novos polos de inves- timentos, que estão atraindo para a região mais de R$ 6 bilhões, além de milhares de empregos diretos e indi- retos. Porém, dentro desse panorama de grandes oportunidades e players internacionais, a inserção dos traba- lhadores e empresas locais nos elos dessas cadeias produtivas é o grande desafio para transfor- mar o prometido cres- cimento da região em desenvolvimento sus- tentável. O novo tecido in- dustrial que começa a ganhar forma na Mata Norte difere em muito das atividades econô- micas características do município. Goiana viveu intensamente os ciclos da cana de açúcar e da indús- tria de tecidos – com o auge da Fia- ção de Tecidos Goiana, fases em que havia uma forte dinâmica na econo- mia pernambucana. Além disso, o município viveu ainda uma grande projeção comercial devido ao fun- cionamento do Porto Fluvial local, que serviu de abastecimento para as grandes cidades que se localizavam ao norte do Estado. “Goiana foi o polo abastecedor de grande parte das províncias do Nordeste. (…) Desenvolveram-se em Goiana, em torno do seu porto flu- vial, durante todo o século XIX, ati- vidades manufatureiras de diversas espécies, destacando-se a tecelagem, vidraçaria e cerâmica. De acordo com Teobaldo Machado, no livro "Insur- reições liberais em Goiana". A pu- blicação do historiador pontua que na época 94 engenhos do município eram responsáveis por alimentar os carregamentos das barcaças que se- guiam para o Recife. A exemplo das ondas econômicas anteriores, Goiana entrou no ritmo de reindustrialização do Estado com a instalação dos três polos indus- triais em seu território. No entanto, juntamente com as oportunidades, a entrada nesse mercado global am- plia as ameaças de colapsos sociais e urbanos. “A chegada desses grandes empreendimentos vai estimular o surgimento de novas cadeias produti- vas e reposicionar antigas atividades, além de redesenhar a nova economia, ocasionando um forte crescimento populacional. O preço do desenvolvi- mento é bom, mas é preciso ter cons- ciência dos efeitos colaterais que o Rafael Dantas Mais INDÚSTRIA âNCORA DO POLO AUTOMOTIVO, A FIAT CHRYSLER COMEçA NESTE ANO A PRODUçãO DOS PRIMEIROS VEíCULOS.

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capa

Novo ciclo de deseNvolvimeNto de GoiaNa Município recebe investimentos de R$ 6 bilhões com os polos automotivo, vidreiro e farmacoquímico

a trajetória eco-nômica de Goia-na, marcada historicamente

pela cana de açúcar e pela produção têxtil, começa a dar espaço para uma nova fase do município, com a instalação dos polos au-tomotivo, vidreiro e far-macoquímico. a terceira onda de desenvolvimento do município da Zona da mata Norte coloca a cidade mais uma vez como uma das protagonistas da economia de Pernambuco. a ainda presente produção sucroalcooleira, responsável por uma parcela signifi-cativa do PiB local, convive no mes-mo cenário dos novos polos de inves-timentos, que estão atraindo para a região mais de R$ 6 bilhões, além de milhares de empregos diretos e indi-retos. Porém, dentro desse panorama de grandes oportunidades e players internacionais, a inserção dos traba-lhadores e empresas locais nos elos dessas cadeias produtivas é o grande

desafio para transfor-mar o prometido cres-cimento da região em desenvolvimento sus-tentável.

o novo tecido in-dustrial que começa a ganhar forma na mata Norte difere em muito das atividades econô-micas características do município. Goiana viveu intensamente os

ciclos da cana de açúcar e da indús-tria de tecidos – com o auge da Fia-ção de tecidos Goiana, fases em que havia uma forte dinâmica na econo-mia pernambucana. além disso, o município viveu ainda uma grande projeção comercial devido ao fun-cionamento do Porto Fluvial local, que serviu de abastecimento para as grandes cidades que se localizavam ao norte do estado.

“Goiana foi o polo abastecedor de grande parte das províncias do Nordeste. (…) desenvolveram-se em Goiana, em torno do seu porto flu-

vial, durante todo o século XiX, ati-vidades manufatureiras de diversas espécies, destacando-se a tecelagem, vidraçaria e cerâmica. de acordo com teobaldo machado, no livro "insur-reições liberais em Goiana". a pu-blicação do historiador pontua que na época 94 engenhos do município eram responsáveis por alimentar os carregamentos das barcaças que se-guiam para o Recife.

a exemplo das ondas econômicas anteriores, Goiana entrou no ritmo de reindustrialização do estado com a instalação dos três polos indus-triais em seu território. No entanto, juntamente com as oportunidades, a entrada nesse mercado global am-plia as ameaças de colapsos sociais e urbanos. “a chegada desses grandes empreendimentos vai estimular o surgimento de novas cadeias produti-vas e reposicionar antigas atividades, além de redesenhar a nova economia, ocasionando um forte crescimento populacional. o preço do desenvolvi-mento é bom, mas é preciso ter cons-ciência dos efeitos colaterais que o

Rafael Dantas

Mais

indústriaâncoRa Do polo autoMotivo, a fiat chRysleR coMeça neste ano a pRoDução Dos pRiMeiRos veículos.

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desenvolvimento irá trazer. Não são só benefícios, mas problemas tam-bém”, declara luciano Pinto, diretor da agência condepe/Fidem.

a Fiat chrysler tem a projeção de gerar 7 mil empregos durante as obras e 4,5 mil na operação da fábri-ca. Juntamente com a montadora ita-liana, o parque industrial de Goiana será constituído por 16 empresas. o parque de fornecedores irá produ-zir 450 itens, que serão demandados pela fábrica, que terá capacidade de produção de 200 mil unidades de ve-ículos por ano. as linhas de produtos responderão por 40% da demanda de partes e componentes da montadora. entre as empresas que integrarão o parque estão as italianas magneti ma-relli/Faurecia e tiberina, a americana lear e a alemã Brose.

os polos farmacoquímico e vi-dreiro, juntos, com 18 empresas, serão responsáveis pela geração de cerca de 2,5 mil postos de trabalho. Juntamente com esses empreendi-mentos estruturadores, a possibili-dade de adensamento dessas cadeias produtivas na região e a atração de serviços para atender a nova popula-ção local tendem a gerar um volume ainda maior de oportunidades para a mão de obra goianense e pernambu-cana.

Na Hemobrás, âncora do polo far-macoquímico, o acesso aos postos de trabalho depende de concurso públi-co. a empresa, no entanto, com o ob-jetivo de gerar oportunidades para os moradores de Goiana, criou um pro-grama de estágio voltado para alunos do ensino médio das escolas públicas locais. além disso, a estatal prevê a criação de 2.720 empregos indiretos assim que a fábrica entrar em opera-ção. entre as oportunidades de forne-cimento de serviços, que em tese são mais os elos da cadeia onde a popula-ção e as empresas locais teriam maior facilidade de participar, são nas áreas de lavanderia industrial, comércio de combustíveis, distribuidores de insu-mos farmacêuticos em geral, forneci-mento de fardamento específico para a indústria farmacêutica, entre outras.

com a geração de empregos surge um dos maiores desafios para a re-gião: a requalificação da sua mão de obra. a tradição da economia cana-

vieira, em que há mínima demanda por formação educacional e quali-ficação profissional, resultou numa vasta população de analfabetos nos municípios da mata Norte. segun-do dados do iBGe, elaborados pela ceplan, 57% da população ocupada do município não tem instrução ou dispõe apenas do ensino fundamen-tal incompleto. “Goiana possui ainda um legado maldito da sua economia dedicada à cana de açúcar. ao mes-

mo tempo que o município convive com indicadores de saúde e educa-ção de um mundo decadente, com graves problemas sociais, ele passa a receber empresas maduras e de esca-la global”, declara o economista Jorge Jatobá.

além da reduzida taxa de edu-cação formal, a cultura do trabalho na cana de açúcar é outra barreira a ser vencida. No polo de suape, por exemplo, poucos trabalhadores vin-dos das atividades econômicas tradi-cionais, que foram capacitados pelos programas de formação do Governo do estado, não se adaptaram à rotina de trabalho das empresas que desem-barcaram em ipojuca. as expectati-

FarMaCOQUÍMiCaa fÁBRica Da heMoBRÁs É uMa Das GiGantes Que se instalaM no Município. Qualificação pRofissional É o GRanDe GaRGalo paRa tRaBalhaR na eMpResa.

Novos Polos IndustriaisPolo AutomotIvo dA FIAt

Investimentos: R$ 4 bilhõesEmpregos diretos: 4,5 mil (na operação)

Polo vIdReIRo

7 empresas

Âncora: Vivix (R$ 1,04 bilhão)Investimentos: R$ 1,09 bilhãoEmpregos diretos: 1.129

Polo FARmAcoquímIco

11 empresas

Âncora: Hemobrás (R$ 800 milhões)Investimentos: R$ 1,09 bilhãoEmpregos diretos: 1.443

PeRFIl do muNIcíPIo de GoIANA:

População: 75 mil habitantes60 km de distância do Recife

2,2 mil foi o saldo de empregos em 2013

PIB Municipal R$ 789,431 milhões (2011)

vas na mata Norte não são distintas.“as grandes empresas que estão

chegando tem dificuldade de absor-ver essa mão de obra local, que está acostumada com o ciclo da cana. seis meses trabalhando e seis meses ina-tivos. Na cultura industrial não existe entressafra, além de uma série de pro-cedimentos e rotinas que esse traba-lhador tem dificuldade em se adaptar. É preciso preparar a mão de obra das gerações futuras. Provavelmente os fi-lhos e netos dos cortadores de cana e catadores de caranguejo, se bem pre-parados, poderão aproveitar a oportu-nidade de trabalhar numa indústria do porte da Fiat”, aponta Jatobá.

ao mesmo tempo em que há um

esforço em capacitar a população jo-vem do município para o novo mo-mento econômico da região, através de instituições como senai e sesi, existe uma preocupação do poder público na preservação das ativida-des tradicionais, como a agricultura, comércio e o artesanato. em parti-cipação na Rodada da mata Norte de desenvolvimento, promovida pelo clube de engenharia de Pernambu-co, representantes do instituto agro-nômico de Pernambuco (iPa) e do instituto Nacional de colonização e Reforma agrária (incra) destacaram a necessidade de proteger e investir na produção agropecuária familiar.

“cerca de 67% dos alimentos de

mesa são produzidos pela produção familiar camponesa, mas as pesqui-sas e inovações tecnológicas ainda são são voltadas para os pequenos produ-tores. e com o aumento da atividade industrial em Goiana, haverá um cres-cimento na demanda por consumo. isso é uma oportunidade grande para a agricultura, mas se não houver um des-pertamento nesse sentido, a tendência é que as empresas adquiram alimentos de fora do estado”, diz José Horário si-queira, chefe do serviço de assistência técnica e extensão rural do incra.

GEstÃO MUniCiPaL. Junto com o crescimento de empregos e investi-mentos, Goiana começa a ver um

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aumento da arrecadação municipal, como reflexo do momento econô-mico da região. “teríamos um orça-mento financeiro previsto de R$ 127 milhões e foi arrecadado em torno de R$ 150 milhões. isso mostra cres-cimento importante do orçamento. mas o déficit social de Goiana é enor-me e a estrutura da máquina pública é ainda muito ineficiente. Fundamen-talmente só se consegue melhorar a cidade se melhorar a gestão”, afirma o secretário de Planejamento do mu-nicípio, Bruno lisboa. o crescimento da receita municipal, de acordo com o secretário, se deu através do impos-to sobre serviço (iss) e dos impostos urbanos (iPtU e itPi).

ao mesmo tempo que crescem os recursos, as demandas sociais advin-das do novo momento econômico, como o déficit de moradias e os sinais no trânsito, se multiplicam. as esti-mativas mais pessimistas indicam que em quatro anos a população goianen-se, que atualmente é de 75 mil habi-tantes, deve dobrar. alguns cenários a longo prazo apontam para uma popu-lação de 350 mil pessoas em 30 anos, um crescimento habitacional que passaria da esfera dos 450%.

Para evitar os processos de fave-lização e de desequilíbrios sociais – que já aconteceram, por exemplo, em camaçari (Ba), Betim (mG), macaé (RJ) e suape - as empresas âncoras da região estão apoiando a capacita-ção da gestão pública da prefeitura, um dos maiores desafios das cidades que passam por processos acelerados de crescimento econômico. Na pre-paração das leis de orçamento anu-al (loa), diretrizes orçamentárias (ldo) e no Plano Plurianual (PPa), a

prefeitura já pode contar com o apoio da tGi consultoria e Gestão, que foi contratada pela Fiat e está assesso-rando na qualificação do quadro de pessoal técnico da prefeitura e na ela-boração do planejamento local.

de acordo com a consultora car-mem cardoso, as empresas traçaram diagnósticos não só de Goiana, mas de toda a área de influência dos po-los, que compreende quatro municí-pios da Paraíba e 13 de Pernambuco. “esse estudo evidenciou uma carên-cia endêmica na perspectiva social e cultural. Goiana tem um patrimônio histórico e cultural enorme, mas tudo descuidado. a situação ambiental também é muito fragilizada. mas, paradoxalmente, há um volume de investimentos impressionante indo para lá. Já temos exemplos de muni-cípios de Pernambuco, na mata sul, que a partir de suape poderiam ter acompanhado o desenvolvimento social, sintonizando com os inves-timentos, mas isso não aconteceu e agora está se tentando correr atrás do prejuízo. a perspectiva é de Goia-na estar preparada para receber esse desenvolvimento ao menos ao final dessa gestão”, declara.

além da situação socioeconômica da cidade, o diagnóstico da estrutura do Poder Público também é bastante negativo. os últimos PPas do muni-cípio foram considerados pelos espe-cialistas como uma peça de ficção e o Plano diretor uma colcha de retalhos, que não retratam a situação nem os desafios locais. a exemplo da maioria das prefeituras do Nordeste, a capa-cidade de controle e planejamento da prefeitura é muito reduzida e sem um choque de gestão e um esforço na ca-pacitação dos recursos humanos di-ficilmente será possível enfrentar as pressões sociais advindas do desen-volvimento da região. “o desafio é ter uma gestão de fato efetiva, eficiente no uso de recursos, mas eficaz na pro-dução dos resultados, e controlada. além de oferecer serviços qualificados para a população e conduzir o desen-volvimento econômico de forma arti-culada”, pontua carmem cardoso.

além do apoio da tGi, a prefeitu-ra assinou um convênio com o movi-mento Brasil competitivo (mBc), que irá trabalhar em três frentes: a) atuar

PatriMÔniOa iGReJa De nossa senhoRa De RosÁRio Dos pRetos (foto aciMa) É uM Dos vÁRios teMplos histÓRicos coM seDe eM Goiana. a pReseRvação Desses espaços É uM Dos Desafios Da Gestão Municipal.

de imediato nos principais gargalos administrativos e financeiros da pre-feitura; b) implementar o plano dire-tor e de mobilidade urbana; c) criar um banco de projetos. “agora iremos construir um plano de metas do mu-nicípio e criaremos posteriormente um conselho de desenvolvimento sustentável e o programa Goiana Par-ticipa, que é uma ferramenta de escuta popular”, afirma Bruno lisboa, secre-tário de Planejamento de Goiana.

PrEsErVaÇÃO CULtUraL. Uma característica singular de Goiana, em comparação a outras cidades que re-ceberam polos industriais com alto volume de investimentos, é a rique-za do patrimônio histórico e cultural do município. a preocupação com a preservação das igrejas, dos prédios históricos e das tradições da cidade é compartilhada pelo Poder Público, população e também pela iniciativa privada. “a modernidade e os sítios históricos não entraram em conflito em outros países, onde foi valoriza-da a perspectiva da preservação do patrimônio histórico. além disso, é importante não deixar à margem desse processo de desenvolvimento as populações que fazem a história da

região”, declarou alexandre moura, membro do clube de engenharia e coordenador da Rodada de desenvol-vimento da mata Norte.

a cidade é conhecida por sua parti-cipação nas revoluções que marcaram a história de Pernambuco, além das insurreições liberais que marcaram a trajetória do município. Fatos como a Batalha das Heroínas de tejucupapo e a participação da Junta de Goiana na instauração da confederação do equador são apenas dois episódios da sua vasta tradição de luta política. a abolição da escravatura em Goiana, por exemplo, aconteceu mais de um ano antes da assinatura da lei Áurea, feita pela princesa isabel, em 1888.

Um dos guardiões da história da região é alcides Rodrigues, advogado aposentado, que há 74 anos mora no município, e é dono de uma bibliote-ca de sete mil livros. “em 1570 come-çou a história conhecida de Goiana, que sempre teve essa característica de ser rebelde e de muita prosperidade. agora que está estourando esse novo ciclo de Goiana uma das grandes pre-ocupações que temos é de lutar para manter toda essa riqueza histórica”, declara o ancião que mora ao lado da igreja de Nossa senhora do Rosá-

rio dos Homens Pretos, um dos oito templos religiosos locais que foram tombados pelo instituto do Patri-mônio Histórico e artístico Nacional (iPHaN), desde 1938.

além das igrejas, a cidade possui ainda outros prédios históricos que compõem o patrimônio arquitetôni-co do município e contam um pouco dos fatos e costumes vividos na re-gião. mas, mesmo com o potencial turístico do local, a maioria desses prédios encontra-se em grau eleva-do de degradação. “se não tivermos cuidado de guardar a identidade da Goiana histórica, com seu patrimônio e diversidade cultural, vamos acabar com a cidade. talvez Goiana seja o primeiro caso do País de receber um grande empreendimento num polo com forte identidade cultural. mas essa parceria com as grandes empre-sas pode resultar num case de suces-so da preservação cultural patrimo-nial”, acredita Bruno lisboa, que é ex-presidente da Fundarpe.

rOdada dE dEsEnVOLViMEntO.as queixas levantadas pela população de Goiana foram o insumo para que o clube de engenharia de Pernambuco discutisse soluções para a região com

ECOnOMia. ao laDo Do BooM inDustRial, ativiDaDes tRaDicionais coMo o coMÉRcio De Rua e o aRtesanato seGueM vivas.

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Jenner Guimarães, presidente da AD Diper, fala a Algomais sobre a possi-bilidade de chegada de mais investi-mentos a região e acerca dos desafios logísticos e de adensamento das cadeias produtivas.

ainda há expectativa para atração de novos investidores para esses polos? tem havido procura de empresários de olho em Goiana?sim. e não só expectativa. isso já é uma realidade. Basta ver as empre-sas que já começam a anunciar seus investimentos como fornecedoras da Fiat e outras que obtiveram apro-vação de seus respectivos projetos de incentivos fiscais para integrar o Polo vidreiro, que gravitará em torno da vivix, composto por um total de sete empresas. ademais, no esforço para continuar intensificando os in-vestimentos no interior do estado, o Governo de Pernambuco, através da ad diper, já identificou outras áreas, em municípios vizinhos, que poderão abrigar outros empreendimentos li-gados à cadeia automotiva e também ao Polo vidreiro, como é o caso de aliança onde deverá ser implantado mais um loteamento industrial im-portante, nas proximidades de Goia-na, além de timbaúba, onde já conta-mos com área disponível para abrigar novos empreendimentos.a questão logística ainda é um entrave

para novas captações de empreendi-mentos e para a operação dos atuais?Não chega a ser um entrave, mas, no Brasil inteiro, a logística é um proble-ma que precisa ser atacado. existem municípios e mesorregiões com um bom potencial a ser explorado, mas que dependem de uma infraestrutura mais adequada à produção e ao es-coamento dessa produção. salgueiro, por exemplo, apresenta-se como um polo de logística estratégico para a Região Nordeste como um todo. em Pernambuco, o dever de casa está sendo feito. obras importantes estão sendo realizadas e monitoradas. Uma delas que em breve estará saindo do papel é exatamente o arco metropo-litano, que ligará Goiana ao Porto de suape, integrando à rota do cresci-mento diversos municípios das matas

Norte e sul e até mesmo alguns do agreste, que se tornarão mais próxi-mos às BRs 101 e 232.

Como tem sido a reação dos empresá-rios locais a todo esses investimentos que chegam ao Estado e em especial a região? Existe alguma sinalização de adensamento dessas cadeias produti-vos com as empresas locais?em geral, mesmo os grandes investi-mentos que chegam de outras regiões e até de outros países são instados a utilizar os serviços e produtos de em-presas pernambucanas. obviamen-te, que nem tudo que elas precisam é produzido no estado, mas a ad diper vem desenvolvendo um trabalho de adensamento das cadeias produtivas e clusters locais, buscando identi-ficar os principais insumos que são adquiridos por essas empresas, em que quantidade são adquiridos e, sobretudo, onde estão sendo adqui-ridos. o objetivo é exatamente saber qual a expectativa de mercado que se pode criar em torno desses gran-des investimentos externos, para que as empresas pernambucanas possam também investir e aproveitar essas oportunidades, agregando valor aos seus respectivos produtos e serviços para se habilitarem como fornecedo-res ou integrantes das cadeias de su-primento desses grandes investimen-tos.

entrevista

“Existem municípios e mesorregiõescom um bom potencial a ser explorado”

Jenner GuimarãesPresidente da ad diper

a 4ª Rodada de desenvolvimento da mata Norte, que aconteceu entre os dias 19 e 21 de fevereiro. sete painéis reuni-ram representantes de diversos órgãos públicos federais, estaduais e muni-cipais, que tiveram a oportunidade de expor as suas iniciativas e ouviram as demandas dos moradores locais.

“Nossos seminários tem o objetivo de discutir soluções para os problemas. a situação que observamos ainda não

se constitui um problema, mas repre-senta um risco. temos que ver o cres-cimento econômico integrado com o desenvolvimento. É preciso fazer que esse momento possa efetivamente fi-nanciar o desenvolvimento social. Pois, se não houver distribuição de renda efe-tiva e a resolução de problemas sociais, não há porque se falar em crescimento econômico”, disse alexandre santos, presidente do clube de engenharia.

o espaço da população local no processo de desenvolvimento da re-gião e a cobrança por uma revolução social no mesmo ritmo dos investi-mentos econômicos foram colocados em debate em todos os seminários. É do resultado dessa equação entre o passado, presente e o futuro que passa o sucesso dos empreendimen-tos da mata Norte para o povo per-nambucano.