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intellectus os números daCIÊNCIA

Revista Intellectus - Março 2014

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Page 1: Revista Intellectus - Março 2014

intellectus

AAnnoo 33 NNúúmmeerroo 1177 mmaarrççoo 22001144 Trimestral CCiiêênncciiaa ee TTeeccnnoolloogg iiaa

os números

daCIÊNCIA

Page 2: Revista Intellectus - Março 2014

intellectus 2

Números da Ciênciapág. 8

Mentes Geniaispág. 4

Cosmos vs Caospág. 33

Projeto GNU (cont.)pág. 10

Intel lectus nº 17. . .Índice. . .

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3intellectus

Sugestões...

Intellectus: Ficha TécnicaDiretor: Tiago Carvalho. Redação/Colaboradores: Cristina Barreiro, João Carvalho, Magda Lomba, Flávio Távora, Vânia Costa, JoséFrancisco Alves, Samantha Alves, Ricardo Vieira, Ricardo Serrado, Rui Leandro Ferreira, Andreia Carmo, Josué Carvalho, Isabel Alentejeiro,Luís Carlos Matos, Miguel Barroso, Filipe Costa, Sérgio Fontinhas, Rogério Marques, Carla Vieira, Alzira Sousa, Dario Figueira. Paginação:João Carvalho, Tiago Carvalho. Proprietário: Cientificamente - Associação para a Divulgação da Ciência e Promoção do DesenvolvimentoIntelectual. Pessoa Coletiva: 510421814. Editor: Tiago Jorge Lima Carvalho. Redação e Administração: Rua Pereira da Cunha, 4940-542,Paredes de Coura, PORTUGAL. Telefone: 938524887. Email: [email protected]. Registo ERC: 126149.

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intellectus 4

mentes

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5intellectus

geniais

Page 6: Revista Intellectus - Março 2014

intellectus 6

Tales deMileto

Este filósofo que viveu antes de Sócrates foi

na essência científica mais notável do que

este último, pois a sua referência de

pensamento era a physis (matéria),

enquanto que para a escola socrática apenas

se dava primazia ao pensamento e às ideias.

Isto pode parecer vago, mas é fundamental

no que concerne à compreensão do mundo

natural (universo). Tales era um

experimentador, enquanto Sócrates

defendia que tudo era compreensível,

através do pensamento.

iep.utm.edu/thales | mathopenref.com/thales

al-KhwarizmiEste notável persa que viveu (780 - 850) e serviu a

humanidade durante o califado dos Abássidas de

Bagdade, tornou-se numa das figuras mais emblemáticas

do mundo dos números, devido ao seu enorme contributo

pela sintese da Álgebra. O seu entusiasmo pelo

conhecimento permitiu progressos significativos em

várias áreas na Casa da Sabedoria de Bagdade, resultando

ainda na criação de outras casas de sabedoria, a saber

como exemplo mais conhecido: a Casa da Sabedoria de

Fez (Marrocos). Graças a árabes como Al-Khwarizmi o

saber das antigas civilizações greco-romanas foi em parte

preservado.

bit.ly/O8MCaE | tinyurl.com/al-khwarizmi-1 bio

624 a.C. - 546 a.C.

Page 7: Revista Intellectus - Março 2014

intellectus 7

RenéDescartes

Alexander Grothendieck

Aristarco de samos

"Penso logo existo", esta é a frase que imortalizou

Descartes. Foi um filósofo e um matemático

brilhante, mas também um cético, alguém que gostava

de questionar tudo. Chegando mesmo a duvidar da

sua própria existência, chegou à conclusão - depois de

exaustivo debate interior - que a famosa frase

descreve. Tornou-se uma das principais figuras do

método científico, pois questionar é primeiro passo.

Pouco conhecido do público em geral, mas tremendamente

admirado pelos matemáticos de todo o mundo, tornou-se uma

referência incontornável no universo dos números pelos seus

notáveis contributos na área da álgebra. Nascido em 1928 na

Alemanha, este brilhante matemático do século XX,

abandonou o seu trabalho científico por volta de 1970, devido

a uma disputa política na atribuição de fundos para fins

militares, em vez dos mesmos serem usados na investigação e

educação: uma revolta pessoal para inspirar outros ao protesto.

310 a.C. - 230 a.C. : Este cientista da Grécia Clássica foi o primeiro

humano (tanto quanto se sabe) a propor que a Terra desloca-se em torno

do Sol e que a própria Terra executa um movimento de rotação sobre o

seu próprio eixo. Muitos referem que Nicolau Copérnico teve acesso ao

trabalho de Aristarco, antes de apresentar, no século XVI, o seu modelo

heliocêntrico do universo.

tinyurl.com/reneDescartesLife | tinyurl.com/4grothendieck | tinyurl.com/aristarchus1

Page 8: Revista Intellectus - Março 2014

intellectus 8

Os números da Ciência atual

Artigos CientíficosNúmero de artigos de investigação científicapublicados pelas principais nações a trabalharnesse sentido em 201 2, bem como a proporçãode investigação feita em cada país (nesse ano)que consta no 1 % artigos mais citados*.

*Dados recolhidos de janeiro a outubro de 201 2 em 39países, perfazendo um total de 6000 artigos.

Percentagem de aumento relativamente a 201 1

1 3,4

8,97,6

4,81 ,4

-1 ,3

Arábia Saudita

China (cont.)

BrasilCoreia do Sul

ÍndiaEstados Unidos

Japão

Reino Unido

Polónia1 7 6020,79%

Portugal1 0 0680,86%

Irlanda62380,91 %

Grécia92811 ,1 3%

República Checa84001 ,32%

Áustria1 1 1 321 ,52%

Noruega94561 ,33%

Dinamarca1 2 3761 ,77%

Bélgica1 6 4421 ,63%

Países Baixos30 61 61 ,66%

França57 3200,99%

Itália48 3531 ,1 0%

Alemanha83 21 61 ,21 %

Espanha44 9351 ,01 %

Estados Unidos31 1 9751 ,1 9%

Canadá51 1 071 ,09%

México90340,70%

Brasil29 9240,43%

Argentina68660,94%

Page 9: Revista Intellectus - Março 2014

intellectus 9

ponto da situação... 2012

Percentagem de aumento relativamente a 201 1

33,1

1 000 artigos 1 00artigos

1 0 000 artigosTToopp aarrttii ggooss

220011 22**

*Artigos no top 1 % por citação e por áreade investigação e idade.

Turquia1 9 3960,47%

África do Sul76251 ,44%

Irão20 0650,44%

Arábia Saudita62030,89%

Israel1 0 8441 ,30%

Egito591 10,46%

Malásia70370,30%

Nova Zelândia731 40,98%

Taiwan23 5920,64%

Coreia do Sul41 7700,50%

Austrália40 9011 ,20%

Singapura93471 ,01 %

Japão66 8200,50%

Índia40 91 20,37%

China (continental)1 59 1 210,56%

Reino Unido86 5441 ,44%

Rússia22 3400,52%

Suíça21 7961 ,91 %

Suécia1 9 4211 ,22%

Finlândia93681 ,28%

Polónia1 7 6020,79%

fonte: THOMSON REUTERS/ESSENTIAL SCIENCE INDICATORS

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intellectus 1 0

projeto GNU... por Richard Stallman

[continuação... final]

Page 11: Revista Intellectus - Março 2014

intellectus 1 1

Em janeiro de 1984 deixei o meu emprego

no MIT e comecei a escrever o GNU

software. Deixar o MIT era

fundamentalmente necessário para que o

MIT não fosse capaz de interferir na

distribuição do GNU como software livre. Se

eu tivesse permanecido na equipa, o MIT

poderia ter reclamado também como seu o

trabalho que eu estava a desenvolver e

poderia mesmo ter imposto os seus próprios

termos de distribuição (ou pior: ter

transformado o trabalho num pacote de

software proprietário). No entanto, o

professor Winston (chefe do MIT AI Lab. ),

gentilmente convidou-me para continuar a

usar as instalações do laboratório. Eu não

tinha intenção de realizar um grande esforço

só para vê-lo tornar-se inútil perante o seu

enorme potencial: criação duma nova

comunidade de partilha de software.

"GNU seria umcompilador

multiplataforma"

Linus Torvalds (2009)

Pouco antes de começar o projeto GNU ouvi

sobre a Free University Compiler Kit também

conhecida como VUCK (palavra holandesa

para "livre"). Este compilador foi projetado

para lidar com múltiplas linguagens

informáticas - incluindo C e Pascal - e para

suportar múltiplas máquinas de destino. De

seguida escrevi ao seu autor, perguntando se

projeto GNU poderia usá-lo. Ele respondeu

com ironia, afirmando que a universidade era

free (livre), mas o compilador não era. Por

isso, decidi que meu primeiro programa para

o projeto GNU seria um compilador

multilinguagem e multiplataforma. Na

jornada de evitar a necessidade de escrever o

compilador inteiro sozinho, consegui o

Início do projeto Primeiros Passos

Page 12: Revista Intellectus - Março 2014

intellectus 1 2

código fonte do compilador Pastel, que era

um compilador multiplataforma desenvolvido

no Laboratório Lawrence Livermore, tendo

este sido escrito numa versão estendida de

Pascal, concebida para ser uma linguagem de

programação. Então, adicionei uma

reformulação em linguagem C (C front-end)

e comecei a utilizá-la no computador

Motorola 68000. Porém tive de desistir deste

compilador, quando percebi que necessitava

de muitos recursos de armazenamento

(muitos megabytes), invalidando o seu uso

no 68000 que só permitia 64 k (kilobytes).

Naquela altura, concluí que teria de escrever

um novo compilador do zero. Esse novo

compilador é agora conhecido como GCC;

tendo conseguido adaptar e usar o C front-

end que tinha escrito na tentativa com o

compilador Pastel.

"GNU é um acrónimo recursivo de GNU's NotUnix (GNU não é Unix)"

GNU EmacsComecei a trabalhar no GNU Emacs em

setembro de 1984 e no início de 1985 já

estava a começar a ser utilizável. Isso

permitiu-me começar a usar sistemas Unix

para fazer edição; não tive interesse em

aprender a usar o vi ou ed. Daí em diante,

utilizadores começaram a querer usar o GNU

Emacs, o que levantou a questão de como

distribuí-lo. Coloquei-o num servidor de FTP

anónimo num computador do MIT que eu

usava: prep.ai.mit.edu. Este tornou-se o site

de distribuição ftp principal do projeto GNU

e só quando foi desativado, alguns anos mais

tarde, transferimos o nome para o nosso

Page 13: Revista Intellectus - Março 2014

intellectus 1 3

"Muitos programaslivres são protegidospor direitos de autor"

necessariamente que ele será um software

livre para todos que tem uma cópia do

mesmo. Por exemplo, o software de domínio

público (software que não é protegido por

direitos de autor) é um software livre; porém

qualquer um pode fazer uma versão

modificada proprietária do mesmo. Da

mesma forma, muitos programas livres são

protegidos por direitos de autor, mas sendo

distribuídos através de licenças permissivas

simples, permitem a criação de versões

proprietárias modificadas. O exemplo

paradigmático deste problema é o X

Window System. Desenvolvido no MIT e

lançado como software livre com uma

licença permissiva, logo foi “aproveitado”

por diversas empresas de informática. Estas

utilizaram o X Window System nos seus

sistemas Unix proprietários, sob o mesmo

acordo de confidencialidade. Estas

cópias/versões do X Window System

novo servidor de ftp. Mas naquela época,

muitos dos interessados - pessoas que não

usavam a internet - não conseguiram obter

uma cópia por ftp, portanto, a questão era a

seguinte: o que diria eu a eles? Eu poderia

ter dito: "Peça uma cópia a um amigo que

está na rede (internet).". Por outro lado,

poderia ter feito o que fiz com o original

PDP-10 Emacs : dizer-lhes: "Envie-me uma

fita e um SASE que o quanto antes

devolverei com o Emacs gravado nela.". Mas

eu não tinha trabalho e estava à procura de

maneiras de ganhar dinheiro com software

livre. Então, anunciei que enviaria uma fita,

para quem solicitasse uma cópia do Emacs,

por um valor de 150 dólares americanos.

Desta forma, eu comecei um negócio de

distribuição de software livre: o precursor

das empresas que hoje distribuem

distribuições do sistema GNU/Linux.

Um programa é livrepara todos osutilizadores?

Se um programa é software livre quando sai

das mãos do seu autor, isto não significa

Page 14: Revista Intellectus - Março 2014

intellectus 1 4

deixaram de ser, ao abrigo desse acordo,

software livre, tal como acontecera com

alguns sistemas Unix. Os programadores do

X Window System não consideravam isso

um problema. O seu objetivo não era a

liberdade, mas apenas "sucesso", definido

como: "ter muitos utilizadores". Eles

simplesmente não se importavam se os

utilizadores tinham liberdade no uso do

software, somente olhavam para os números:

popularidade do programa. Este facto levou

a uma situação paradoxal: software livre

usado para criar software proprietário (em

código fechado e não gratuito); e em que a

maioria dos utilizadores do X Window

System, por exemplo, “corriam” as versões

proprietárias que vinham com sistemas Unix

proprietários e não a versão gratuita e livre.

Como o crescente interesse em usar Emacs,

mais pessoas quiseram envolver-se no

projeto GNU e por isso decidiu-se que era

hora de procurar financiamento uma vez

mais. Assim, em 1985 foi criada a Free

Software Foundation (FSF), uma instituição

sem fins lucrativos com o objetivo de

desenvolver software livre. A FSF assumiu

também o negócio de distribuição de fita

Emacs e mais tarde distribuiu outros

softwares livres (criados a partir do projeto

GNU e também outros softwares livres de

origens diversas). A maior parte do

rendimento da FSF costumava vir da venda

de cópias de software livre, de outros

"1985 foi criada a FreeSoftware Foundation"

Free SoftwareFoundation (Fundação

Software Livre)

fsf.org

Page 15: Revista Intellectus - Março 2014

intellectus 1 5

programas, porque o âmbito do projeto GNU

não era apenas sobre ferramentas

informáticas ou ambientes de

desenvolvimento de software. O nosso

objetivo primordial era a criação dum

sistema operativo completo e, para isso, eram

necessários esses programas, entre outros.

*Bourne Again Shell é uma designação

brincalhona surgida a partir do nome

"Bourne Shell", que era a shell mais comum

no sistema Unix.

serviços relacionados (CD-ROM de código-

fonte, CD-ROMs com binários, manuais

impressos, todos com a liberdade de

redistribuir e modificar) e de distribuições de

sistemas operativos (distribuições para as

quais construímos toda a coleção de

softwares necessários). Hoje em dia, a FSF

ainda vende manuais e outros serviços, mas

o seu financiamento principal provêm de

quotas dos associados. Por isso apelamos:

torna-te associado e participa da FSF em

www.fsf.org. Funcionários/colaboradores da

Free Software Foundation escreveram e

mantiveram uma porção de pacotes de

software GNU. Os dois mais notáveis são a

C library e a shell. A GNU C library é o que

todos os programas executam - num sistema

GNU/Linux - para se comunicar com o

Linux, tendo sido desenvolvido por um

membro da Free Software Foundation,

Roland McGrath. A shell utilizada na

maioria dos sistemas GNU/Linux é o BASH

(Bourne Again Shell*), que foi desenvolvido

por Brian Fox, membro da FSF. Procurou-se

financiar o desenvolvimento desses

"O financiamento daFSF provêm

essencialmente dequotas de associados"

Suporte ao SoftwareLivre

A filosofia do software livre rejeita uma

prática comercial generalizada, mas não é

contra o negócio propriamente dito. Quando

as empresas respeitam a liberdade dos

utilizadores, desejamos que elas tenham

sucesso. Vendendo cópias de Emacs

demonstrou que é possível criar um tipo de

Page 16: Revista Intellectus - Março 2014

negócio com base no software livre. Quando

a FSF assumiu esse negócio, eu precisava

encontrar uma outra maneira de ganhar a

vida. E encontrei-o na venda de serviços

relacionados com o software livre que eu

tinha desenvolvido. Isto incluia o ensino –

sobre temáicas de como programar GNU

Emacs, como personalizar GCC (GNU

Compiler Collection) – e desenvolvimento de

software. Atualmente, cada um deste tipo de

negócios de software livre é praticado por

um número considerável de empresas.

Alguns distribuem coleções de software livre

em CD-ROM, outros vendem suporte técnico

em níveis que variam desde responder a

dúvidas dos utilizadores, até à correção de

“bugs” (falhas técnicas) e criação de novas

caraterísticas dos variados softwares livres

(mediante novas necessidades). Porém,

existem, atualmente, um crescente número

de empresas que se associam à definição

"open source software" que, realmente,

assentam os seus negócios em software não

livre que funciona com software livre. Estas

não são empresas de software livre,

simplesmente são empresas de software

intellectus 1 6

Page 17: Revista Intellectus - Março 2014

Objetivos técnicos

memória, a menos que se excedesse um

megabyte. Nos programas para os quais o

manuseamento de arquivos grandes não era

crucial, incentivou os programadores a lerem

um arquivo de entrada inteiro em núcleo.

Estas decisões permitiram que muitos

programas GNU superassem os “seus

semelhantes em Unix” em termos de

confiabilidade e velocidade.

proprietário, cujos produtos pretendem

seduzir os utilizadores através do uso de

software “conveniente” ao invés de software

que proteja a liberdade. Eles designam esses

programas de "pacotes de valor adicional",

demonstrando bem os valores que eles

adotaram: conveniência acima da liberdade.

Se valorizarmos mais a liberdade devemos

chamá-los de “pacotes contra a liberdade".

"GNU não tevenenhuma vantagem

técnica em relação aossistemas UNIX"

O principal objetivo do projeto GNU é criar

software livre. O próprio sistema GNU não

teve nenhuma vantagem técnica

relativamente ao seu predecessor Unix. Teve,

sim, uma vantagem social, permitindo aos

seus utilizadores a possibilidade de

cooperarem e uma vantagem ética,

respeitando a liberdade dos utilizadores.

Além disto, rejeitou-se a ideia do sistema

Unix de funcionamento com uma memória

reduzida, ao decidir-se não apoiar máquinas

de 16 bits (ficou claro que as máquinas de 32

bits seria a norma na altura em que o sistema

GNU estaria finalizado) e não fazendo

nenhum esforço para reduzir o uso de

intellectus 1 7

Computadores doadosComo a reputação do projeto GNU cresceu

as pessoas começaram a oferecer-se para

doar máquinas (computadores funcionando

com sistema Unix) para auxiliar o projeto.

Estes foram muito úteis, porque a maneira

mais fácil de desenvolver componentes para

o projeto GNU era fazê-lo em sistema Unix;

e simultaneamente começando a substituir os

componentes desse sistema um por um.

Porém isto levantou uma questão ética: Seria

Carta de referência GNU Emacs

Page 18: Revista Intellectus - Março 2014

correto ter uma cópia do Unix? Unix era (e

ainda é) software proprietário e a filosofia do

projeto GNU defende que não se deve usar

software proprietário. Contudo – aplicando o

mesmo raciocínio que leva à conclusão de

que a violência em legítima defesa é

justificada –, cheguei à conclusão de que era

legítimo usar um software proprietário

quando isso fosse crucial para o

desenvolvimento de um substituto livre, que

iria ajudar os outros a parar de usar software

proprietário. Mas mesmo tendo sido um mal

justificável, ainda era um mal. Hoje não

temos nenhuma cópia do Unix, porque temos

sistemas operativos livres. Portanto, se não

pudéssemos substituir o sistema operativo

duma máquina por um livre, substituia-se a

máquina.

intellectus 1 8

SSiisstteemmaa ooppeerraattiivvoo DDeebbiiaann//GGNNUU

Lista de tarefas doprojeto GNU

À medida que o projeto GNU avançava e um

número crescente de componentes do

sistema foram sendo encontrados e/ou

desenvolvidos, eventualmente, tornou-se útil

fazer uma lista das lacunas restantes. Esta

lista tornou-se conhecida como a lista de

tarefas GNU. Além da falta de alguns

componentes que funcionavam em Unix,

incluímos vários outros projetos de software

e documentação úteis, pensando num sistema

verdadeiramente completo. Hoje*,

Page 19: Revista Intellectus - Março 2014

produtos de software proprietários têm o

direito de incluir o código de software livre.

Porquê, então, colaborar com uma filosofia

de software baseada na recusa de partilha?

Usando a LGPL para a biblioteca GNU C,

ou para qualquer biblioteca, é uma questão

de estratégia. A biblioteca GNU C faz um

trabalho genérico; cada sistema proprietário

ou compilador vem com uma biblioteca C.

Portanto, tornando a nossa biblioteca C

disponível apenas para trabalhar com

software livre, não teria dado qualquer

impulso significativo ou vantagem à sua

utilização generalizada por parte dos

utilizadores de computadores. Um sistema é

exceção a isto: no sistema GNU (incluindo

GNU/Linux), a biblioteca GNU C é a única

biblioteca C. Não há razão ética para

dificilmente qualquer componente Unix

reside na lista de tarefas GNU, pois os

softwares fundamentais foram já

desenvolvidos, com exceção duns poucos não

essenciais. Todavia, a lista está repleta de

projetos que alguns poderiam chamar

simplesmente de "aplicações". Qualquer

programa/software que agrade a mais de

uma classe restrita de utilizadores, seria útil

para adicionar a um sistema operativo. Jogos

são incluídos na lista de tarefas e tem sido

desde o início. Unix incluiu jogos, então

naturalmente GNU deve incluir também.

Contudo a compatibilidade não foi um

problema para o desenvolvimento de jogos,

por isso não siga a lista de jogos Unix. Em

vez disso, criamos um espetro de diferentes

tipos de jogos que os utilizadores possam

gostar. *Escrito em 1998. Em 2009, já não

mantemos uma lista de tarefas GNU. A

comunidade informática desenvolve software

livre tão rápido que não conseguimos manter

o controlo de tudo. Alternativamente temos

uma lista de projetos de elevada prioridade:

uma lista muito mais curta de projetos que

realmente queremos encorajar as pessoas a

desenvolver.

"Se não pudéssemostrocar o sistemaoperativo duma

máquina por um livre,trocávamos amáquina"

intellectus 1 9

GNU LGPLA biblioteca GNU C usa um género especial

de copyleft chamado Licença Biblioteca

Geral Pública GNU (GNU Library General

Public License (GNU LGPL)*), dando

permissão para ligar o software proprietário

com a referida biblioteca. Porquê desta

exceção? Não é uma questão de princípio;

não há princípio suficiente que diga que

Page 20: Revista Intellectus - Março 2014

permitir aplicações proprietárias no sistema

GNU, mas estrategicamente não permitindo

o seu uso em sistemas proprietários faria

mais para desencorajar o uso do sistema

GNU, do que encorajar o desenvolvimento

de aplicativos gratuitos. É por isso que o uso

da licença LGPL é uma boa estratégia no

caso duma biblioteca C. Relativamente a

outras bibliotecas, a decisão estratégica

precisa ser considerada caso a caso. Quando

uma biblioteca faz um trabalho especial que

pode ajudar a escrever certos tipos de

programas, distribuindo-a com licença GPL

e limitando-a, assim, a programas livres é

uma maneira de ajudar outros

programadores de software livre, dando-lhes

intellectus 20

uma vantagem relativamente ao software

proprietário. Considere GNU Readline, uma

biblioteca que foi desenvolvida para fornecer

a edição em linha de comandos para BASH.

Readline é distribuída sob GNU GPL e não

sob GNU LGPL. Isto, provavelmente, reduz

a quantidade de utilizadores de Readline,

mas isso não representa uma perda para o

movimento software livre. Enquanto isso,

pelo menos, um aplicativo útil tem sido

desenvolvido como software livre para que

especificamente use Readline, acabando

deste modo por representar um ganho real

para a comunidade. Programadores de

"Porquê colaborar .. .?"

Page 21: Revista Intellectus - Março 2014

verdade para os meus próprios programas: o

compilador GNU C, o GNU Emacs, GDB e

GNU Make. Alguns programas GNU foram

desenvolvidos para lidar com ameaças

específicas à nossa liberdade. Assim,

desenvolvemos o gzip para substituir o

programa Compress, que havia sido perdido

pela comunidade por causa das patentes

LZW. Descobrimos pessoas que

desenvolveram LessTif e mais recentemente

o GNOME e o Harmony, para solucionar-se

problemas causados por certas bibliotecas

proprietária. Estamos a desenvolver o GNU

Privacy Guard para substituir software de

criptografia proprietário, porque os

utilizadores não devem ter de escolher entre

privacidade e liberdade. Claro, as pessoas

que escrevem estes programas interessam-se

vivamente por este trabalho e muitos extras

"Programadoresde software livreprecisam de criarvantagens unspara os outros"

intellectus 21

Impulso versus Plano

software proprietário tem as vantagens que o

dinheiro proporciona; programadores de

software livre necessitam de criar vantagens

uns para os outros. Espero que um dia

tenhamos uma grande coleção de bibliotecas

sob licença GNU GPL, sem paralelo

disponível para software proprietário,

fornecendo módulos úteis que servirão como

“blocos de construção” para um novo

software livre e criando, assim, uma enorme

vantagem para o desenvolvimento de

software livre. *Esta licença é agora

chamada GNU Lesser General Public

License, para evitar a ideia de que todas as

bibliotecas deveriam usá-la.

Eric Raymond diz que "Todo bom trabalho

de software começa com uma comichão

pessoal do programador." Talvez isso

aconteça algumas vezes, mas muitas das

peças essenciais do software GNU foram

desenvolvidas com o objetivo de criar um

sistema operativo livre e completo;

resultando duma visão e dum plano, não dum

impulso. Por exemplo, nós desenvolvemos a

biblioteca GNU C, porque um sistema do

género do Unix necessita duma biblioteca C,

BASH, porque um sistema semelhante ao

Unix precisa duma shell e “tar GNU”,

porque um sistema do género do Unix

precisa dum programa “tar”. O mesmo é

Page 22: Revista Intellectus - Março 2014

foram adicionados a estes e outros por várias

pessoas devido às suas próprias necessidades

e interesses. Contudo não é por isto que os

programas existem.

intellectus 22

desenvolvê-los mais e mais, tornando-os, em

muitos casos, incompatíveis com Unix e com

outros sistemas. Este processo tornou esses

programas muito mais poderosos e atraiu

fundos e mais participantes para o projeto

GNU. Mas, provavelmente, também atrasou

a conclusão dum sistema funcional mínimo

por vários anos. Com o passar do tempo os

programadores do sistema GNU foram

mantendo essas importantes parcerias com

programadores e utilizadores dos programas

e simultaneamente adicionando novos

recursos para componentes já existentes, ao

invés de escrever um novo componente atrás

do outro.

"Livre como em Liberdade"

Richard Stallman,

fundador do

projeto GNU

Desenvolvimentosinesperados

No início do Projeto GNU imaginei que

iríamos desenvolver todo o sistema GNU e

depois distribuí-lo como um todo. Todavia

isso não aconteceu. Cada componente do

sistema GNU foi implementado em sistemas

Unix e assim cada componente podia ser

executado em sistemas Unix, mesmo antes

da existência dum sistema GNU completo.

Alguns destes programas tornaram-se

populares e os utilizadores começaram a

Page 23: Revista Intellectus - Março 2014

Em 1990, o sistema GNU estava quase

completo. O único componente relevante que

faltava era o kernel. Tínhamos decidido

implementar um kernel desenvolvido por

nós, como um grupo de processos de

servidor sendo executados sobre Mach.

Mach é um microkernel desenvolvido na

Carnegie Mellon University e Utah

University. O GNU Hurd é um conjunto de

servidores (ou seja, um “rebanho de gnus”),

que funcionam sobre o microkernel Mach,

fazendo várias tarefas como o kernel do

Unix. O início do seu desenvolvimento foi

atrasado, enquanto esperávamos que o Mach

fosse lançado como software livre (como

havia sido prometido pelas instituições que o

tinham desenvolvido). Uma das razões para a

escolha deste projeto foi evitar o que parecia

ser a parte mais difícil do trabalho: a

depuração dum programa de kernel sem um

depurador de nível de fonte. Esta parte do

trabalho já havia sido feita – no Mach – e,

daí, esperávamos depurar os servidores Hurd

como programas de utilizador: com o GDB.

No entanto levou muito tempo para que isso

fosse possível e os servidores de vários

segmentos que enviam mensagens uns aos

outros acabaram por ser muito difíceis de

depurar.

"ao invés deescrever-se um

componente atrásdo outro"

intellectus 23

GNU Hurd

AlixO kernel do sistema GNU não era,

originalmente, para ser chamado de Hurd.

Seu nome original era Alix – uma

homenagem à mulher que era minha

namorada na época. Ela, uma administradora

de sistemas Unix, tinha referido como o

nome dela caberia num padrão de

nomenclatura comum para versões do

sistema Unix e como uma brincadeira ela

disse aos seus colegas: "Alguém deve

nomear um kernel depois de mim." Eu não

disse nada, mas decidi surpreendê-la com um

Page 24: Revista Intellectus - Março 2014

kernel chamado Alix. Mas o nome não ficou

assim. Michael Bushnell, principal

programador do kernel, preferiu o nome

“Hurd” e atribuiu o nome Alix a uma

determinada parte do kernel. Mais tarde,

Alix e eu terminamos e ela mudou de nome.

De forma independente, o projeto Hurd foi

alterado para que a biblioteca C enviasse

mensagens diretamente para os servidores e

isso fez com que o componente Alix

desaparecesse do kernel.

"Seu nome original eraAlix - uma homenagemà mulher que era minhanamorada na época"

Linux e GNU/LinuxO GNU Hurd não é adequado para uma

finalidade mais produtiva e não sabemos se

algum dia será. Felizmente, outro kernel está

disponível. Em 1991, Linus Torvalds

desenvolveu um kernel compatível com Unix

e chamou-lhe “linux”. Aquando da sua

conclusão o kernel linux era uma ferramenta

proprietária, mas em 1992, Linus fez uma

versão linux que era software livre.

Combinando o linux com o sistema GNU

resultou num sistema operativo livre e

completo. Combiná-los exigiu um trabalho

substancial, é claro, mas é graças ao kernel

linux que podemos realmente executar uma

versão do sistema GNU nos dias de hoje

Page 25: Revista Intellectus - Março 2014

Chamamos a isto um sistema GNU/Linux,

para expressar a sua composição como uma

combinação do sistema GNU com o linux

como kernel. Daí, por favor, não se habitue,

na prática, a chamar sistema "linux", uma

vez que significa atribuir todo o trabalho do

projeto GNU a outra pessoa.

Desafios futurosNós demos provas da nossa capacidade de

desenvolver um amplo espetro de software

livre. Isso não significa que somos

invencíveis e imparáveis. Vários desafios

fazem do futuro do software livre algo muito

incerto. Para reconhecê-los será necessário

um esforço constante, podendo exigir anos.

Exigirá o tipo de determinação que as

pessoas mostram quando valorizam a sua

liberdade, não deixando mesmo ninguém

aniquilá-la. As quatro secções seguintes

abordam estes desafios.

"Vários desafios fazem do futuro do

software livre algo muito incerto"

Page 26: Revista Intellectus - Março 2014

gnu radio project

Os fabricantes de hardware tendem cada vez

mais a manter as especificações do hardware

secretas. Isso torna difícil a missão de

desenvolver “drivers” livres para que o Linux

e XFree86 possam suportar o novo

hardware. Temos, hoje, sistemas livres

completos, mas não vamos tê-los amanhã, se

não podermos dar suporte aos computadores

de amanhã. Há duas maneiras de lidar com

este problema. Os programadores podem

fazer engenharia inversa para descobrir como

suportar o hardware, ou podemos escolher o

hardware que é suportado por software livre.

Com aumento desta realidade, o sigilo nas

especificações tornar-se-á uma filosofia

autodestrutiva. A engenharia inversa é um

trabalho complexo e muito moroso. Teremos

programadores com determinação suficiente

para realizá-lo? Sim, se construirmos um

"sigilo nasespecificações tornar-se-á uma filosofiaautodestrutiva"

Hardware Secreto

forte sentimento de que o software livre é

uma questão de princípio fundamental e que

os drivers não-livres são intoleráveis. E será

que um grande número de nós gastará

dinheiro extra, ou até mesmo um pouco de

tempo extra, para que possamos usar drivers

livres? Sim, se a determinação de ter

liberdade for generalizada.

Bibliotecas não-livresUma biblioteca não-livre que seja

implementada em sistemas operativos livres

funciona como uma armadilha para os

pragramadores de software livre.

Caraterísticas atraentes da biblioteca

proprietária são o isco; se for usada essa

Page 27: Revista Intellectus - Março 2014

biblioteca, cai-se na armadilha, porque esta

não pode ser parte da criação dum sistema

operativo totalmente livre. Pior ainda, se um

programa que usa a biblioteca proprietária se

torna popular, ela pode atrair outros

programadores não alertados para a

armadilha. O primeiro caso foi o kit de

ferramentas Motif, nos anos 80. Embora não

houvesse ainda um sistema operativo livre,

ficou claro que problemas causaria o Motif.

O Projeto GNU respondeu de duas maneiras:

pedindo projetos de software livre

individuais para apoiar os X Widgets Toolkit

livres, ou pedindo para alguém escrever

integralmente um substituto livre do Motif.

O trabalho demorou muitos anos. LessTif

desenvolvido por programadores húngaros,

tornou-se poderoso o suficiente para

suportar a maioria das aplicações Motif

apenas em 1997. Entre 1996 e 1998 outra

biblioteca não-livre, chamada Qt, foi usada

numa coleção substancial de software livre: o

desktop KDE. Sistemas livres GNU/Linux

foram incapazes de usar o KDE, porque não

podíamos usar essa biblioteca. No entanto,

alguns distribuidores comerciais de sistemas

GNU/Linux, que não eram rigorosos quanto

ao software livre, adicionaram KDE aos seus

sistemas, dando-lhes mais recursos, mas

menos liberdade. O “grupo” KDE estava a

encorajar ativamente mais programadores a

usar Qt e milhões de novos "utilizadores de

Linux" que nunca haviam sido expostos à

ideia de que havia um problema nisso. A

Page 28: Revista Intellectus - Março 2014

situação parecia sombria. A comunidade de

software livre respondeu ao problema de

duas maneiras: GNOME e Harmony.

GNOME, GNU Network Object Model

Environment, é um projeto desktop GNU.

Iniciado em 1997 por Miguel de Icaza e

desenvolvido com o apoio da Red Hat

Software, o GNOME foi criado para

fornecer ambientes gráficos desktop

semelhantes ao KDE, mas usando

exclusivamente software livre. Para além

disto, tem vantagens técnicas como é

exemplo suportar variadas linguagens de

programação e não apenas C + +. Porém, o

seu principal objetivo era a liberdade: não

exigir o uso de qualquer software não-livre.

Harmony é uma biblioteca compatível de

substituição projetada para tornar possível a

execução do software KDE sem usar Qt. Em

novembro de 1998, os programadores do Qt

anunciaram uma mudança na sua licença de

distribuição, que aquando da sua

concretização poderia ter tornado o Qt em

"Ou será que muitosde nós trocarão aliberdade pelaconveniência? Ofuturo depende danossa filosofia."

software livre. Não temos certezas quanto a

isto, mas eu acho que esta mudança deveu-se

à firme resposta da comunidade perante o

problema que o Qt criou quando era não-

livre. Salienta-se que em setembro de 2000

foi relançado Qt sob a licença GNU GPL,

resolvendo definitivamente este problema e

tornando o Qt em software livre. Como

vamos responder a uma seguinte biblioteca

não-livre e tentadora de se usar? Será que

toda a comunidade entende a necessidade de

evitar a armadilha? Ou será que muitos de

nós trocarão a liberdade pela conveniência,

fazendo parte assim dum grande problema?

O nosso futuro depende da nossa filosofia de

vida.

Page 29: Revista Intellectus - Março 2014

aqueles que valorizam o software livre

porque esperam que este seja tecnicamente

superior, tendem a rejeitá-lo (mesmo que seja

temporariamente) quando uma patente não

lhe permite o uso de determinadas

caraterísticas. Assim, embora seja útil falar-

se sobre a eficácia prática do modelo "bazar"

de desenvolvimento, bem como a sua

fiabilidade e poder de algum software livre,

não devemos parar por aí. Devemos falar

sobre liberdade e princípios.

"A pior ameaçaque enfrentamosvem das patentesde software"

Patentes de softwareA pior ameaça que enfrentamos vem das

patentes de software, que permitem

algoritmos e recursos fora dos limites da

designação de software livre até 20 anos.

Existem maneiras de lidar com as patentes:

nós podemos procurar evidências de que

uma patente é inválida e podemos procurar

formas alternativas para fazer um trabalho.

Mas cada uma dessas maneiras funciona

apenas algumas vezes. Quando ambos

falham, uma patente pode forçar todos os

softwares livres a ficarem carentes de uma

ou mais caraterísticas que os utilizadores

querem ou necessitam. O que fazemos

quando isto acontece? Aqueles que

valorizam o software livre por amor à

liberdade utilizarão apenas software livre.

Conseguiremos executar o trabalho sem o

uso de recursos patenteados. Contudo,

Documentação livreA maior deficiência nos sistemas operativos

livres não é algum software em falta, mas

Page 30: Revista Intellectus - Março 2014

sim bons manuais livres que se poderiam

incluir nos nossos sistemas. A documentação

é uma parte essencial de qualquer pacote de

software; quando um importante pacote de

software livre não vem com um bom manual

livre, isso sim é uma grande lacuna. Temos

muitas dessas lacunas hoje. Documentação

livre, como no software livre, é uma questão

de liberdade e não de preço. O critério

fundamental para um manual livre é

praticamente o mesmo do software livre:

refere-se a uma questão de dar a todos os

utilizadores certas liberdades. Redistribuição

(incluindo a venda comercial), deve ser

permitida em suporte on-line e em papel,

para que o manual possa acompanhar cada

cópia do programa. A permissão para a

modificação é também crucial. Regra geral,

não acredito que é essencial que as pessoas

tenham permissão para modificar todos os

tipos de artigos e livros. Por exemplo, eu não

"A maior deficiêncianos sistemas

operativos livres nãoé algum software emfalta, mas sim bonsmanuais livres que sepoderiam incluir"

acho que você ou eu somos obrigados a dar

permissão para modificar-se artigos como

este, que descrevem as nossas ações e os

nossos pontos de vista. Mas há uma razão

específica para que a liberdade de modificar

seja crucial para a documentação de software

livre. Quando as pessoas exercem o seu

direito de modificar o software, adicionando

ou alterando características, devem estar

conscientes que precisarão de mudar o

manual, igualmente, para que possam

fornecer a documentação precisa e útil com

o programa modificado.

Page 31: Revista Intellectus - Março 2014

ensinar-lhes a educação cívica da nossa

comunidade. Precisamos fazer as duas coisas

e precisamos manter os dois esforços em

equilíbrio.

"As estimativasatuais são de que há

dez milhões deutilizadores de

sistemas GNU/Linux"

Devemos falar sobreliberdade

As estimativas atuais são de que há dez

milhões de utilizadores de sistemas

GNU/Linux, como são exemplos o Debian

GNU/Linux e o Red Hat. O software livre

tem desenvolvido tais vantagens práticas que

os utilizadores estão a migrar para este(s)

por razões puramente práticas. As boas

consequências disso são evidentes: mais

interesse em desenvolvimento de software

livre, mais clientes para as empresas de

software livre e mais capacidade de

incentivar as empresas a desenvolver

software livre comercial em vez de produtos

de software proprietários. Mas o interesse no

software está a crescer mais rápido do que a

consciência acerca da filosofia em que este

se baseia; e isto é um sério problema. A

nossa capacidade para enfrentar os desafios e

ameaças descritas acima depende da vontade

de defender firmemente a liberdade. Para

garantir que a nossa comunidade tem essa

vontade precisamos difundir a ideia/filosofia

aos novos utilizadores. Todavia não estamos

a conseguir fazê-lo. Os esforços para atrair

novos utilizadores para a nossa comunidade

está a superar de longe os esforços para

“Open Source”Ensinar novos utilizadores sobre liberdade

tornou-se mais difícil em 1998, quando uma

parte da comunidade decidiu parar de usar o

termo "software livre" e passou a usar

"software open source" em substituição da

terminologia inicial. Alguns dos que

apoiaram esta nova terminologia visavam

evitar a confusão de "free" com "grátis", ou

seja, tinham um objetivo válido. Outros, no

entanto, com o objetivo de anular o espírito

inicial que havia motivado o movimento

software livre e projeto GNU, apelaram à

utilização empresarial e económica – uma

ideologia que coloca o lucro acima da

liberdade – em vez do espírito de

comunidade e liberdade. Assim, a retórica do

Page 32: Revista Intellectus - Março 2014

"open source" enfatiza o potencial do

software, em oposição (ou desprezo) pelas

ideias de liberdade, comunidade e princípio.

As revistas "Linux" são um exemplo claro

desta realidade, pois estão cheias de anúncios

de software proprietário que trabalha com

GNU/Linux. Quando o próximo Motif ou Qt

aparecer, irão estas revistas alertar os

programadores sobre os seus perigos, ou será

que vão publicar anúncios com vista ao

lucro? Apoiar os negócios pode contribuir

para a comunidade de várias maneiras,

porém falar menos sobre liberdade e

princípio para ganhar mercado pode ser

desastroso. Torna o desequilíbrio entre

divulgação e educação cívica ainda mais

acentuado. "Software Livre" e "Open

Source" descrevem praticamente a mesma

categoria de software, mas dizem coisas

diferentes sobre software e seus valores. O

"software livre: paraexpressar a ideia deque a liberdade, enão apenas atecnologia, éimportante"

Projeto GNU continua a usar o termo

"software livre" para expressar a ideia de que

a liberdade, e não apenas a tecnologia, é

importante.

Tenta!O seguinte aforismo de Yoda, "Não existe

tentar”, pode soar bem, mas não funciona

para mim. Eu tenho feito grande parte do

meu trabalho sem ter a certeza se teria

capacidade suficiente (sentindo-me muitas

vezes ansioso por causa disto) para o

concluir. No entanto, eu tentei, porque não

havia ninguém além de mim entre o “inimigo

e a minha cidade”. Surpreendendo-me a

mim próprio, várias vezes fui bem sucedido.

Várias vezes, também, falhei. Algumas das

“minhas cidades caíram”. Então, fui

encontrando outras cidades ameaçadas e, daí,

preparei-me para mais batalhas. Com o

tempo, aprendi a olhar para as ameaças e a

colocar-me entre estas e as “minhas

cidades”, inspirando e apelando a outros

hackers para se juntarem a mim. Hoje em dia

não sou o único. É um alívio e uma alegria

quando vejo um “regimento” de hackers

lutando para que mais “esta ou outra cidade

possam sobreviver” (pelo menos por agora).

Mas os perigos são maiores a cada ano que

passa. Atualmente, a Microsoft

explicitamente marcou como alvo a nossa

comunidade. Por isto, não podemos dar

como garantida a liberdade que até agora

preservamos. Não é um dado adquirido! Se

queres manter a tua liberdade, tens de estar

preparado para defendê-la, para lutar por ela.

+ info:www.fsf.org

Page 33: Revista Intellectus - Março 2014

. alnilam

Page 34: Revista Intellectus - Março 2014

Se pudesses captar o gás quente que a estrela

Alnilam está a lançar para o espaço sideral,

num milhão de anos terias o suficiente para

fazer duas estrelas do tamanho do nosso Sol.

Contudo, tu não farias qualquer tipo de

diferença, pois Alnilam é um dos monstros

da Via Láctea. Alnilam é a estrela central do

"cinturão" ou das "três marias" da

constelação de Órion, que fazem uma linha

compacta de três estrelas brilhantes

apontando para cima do horizonte leste nas

noites de janeiro. Alnilam é o membro mais

impressionante do chamado cinturão. É a

mais brilhante das três estrelas, mesmo

estando centenas de anos-luz mais longe do

que as outras duas. Enquanto cada uma das

outras, na verdade, consistem na combinação

de duas estrelas, Alnilam move-se através da

galáxia sozinha. Alnilam é uma supergigante.

Cerca de 40 vezes a massa do Sol, dezenas

de milhares de graus mais quente e centenas

de milhares de vezes mais brilhante. A sua

radiação é tão intensa que lança um "vento"

de densas partículas carregadas, a partir da

sua superfície para o espaço. Embora

Alnilam tenha apenas alguns milhões de

anos de idade (ao contrário do Sol que tem

cerca de 5 mil milhões de anos), está a

aproximar-se rapidamente do fim da sua

vida. Consome o seu combustível

(hidrogénio, tal como em qualquer estrela)

muito rapidamente, devido às altíssimas

temperaturas no seu núcleo e tendo por isso

um período de vida curto. Posteriormente, o

"Alnilam é umasupergigante comcerca de 40 vezes a

massa do Sol"

seu núcleo entrará em colapso, enquanto as

suas camadas exteriores serão lançadas no

espaço, através dum tipo de "morte" estelar

chamada supernova e nessa altura brilhará de

tal forma que se poderá ver em pleno dia.

Estrela Alnilam

+ info:

space-facts.com

astronomyonline.org

Alnilam

Constelação de Órion