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bem ambiental revista Uma publicação da MYR Projetos Sustentáveis www.revistabemambiental.com.br Ano 1 - número 01 - março de 2010 Hemerocallis flava, nome popular: lírio amarelo. Família: Liliaceae. Prefere clima ameno e tem mais de 50 variedades em cores, formas e tamanhos.

Revista BEM AMBIENTAL

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1a edição da revista BEM AMBIENTAL, que trata das questões ambientais e urbanas.

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Page 1: Revista BEM AMBIENTAL

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Uma publicação da MYR Projetos Sustentáveis www.rev is tabemambienta l .com.br

Ano 1 - número 01 - março de 2010Hem

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Page 2: Revista BEM AMBIENTAL

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Page 3: Revista BEM AMBIENTAL

Editorial ÍndiceA MYR tem em sua identidade o compromisso de se dedicar ao desenvolvimento de soluções sustentáveis, o que presume um equilíbrio entre a questão ambiental, social e econômica. Mas aplicar estes conceitos em seu dia a dia tem sido ao mesmo tempo um grande desafio e uma exce-lente oportunidade. A sociedade se preocupa cada vez mais com a questão ambiental, mas as nossas cidades clamam por soluções que possam resgatar a vida em comunidade e a qualidade de vida. É neste ambiente que atuamos desde o nascedouro da empresa, através de uma equipe multidis-ciplinar competente e dedicada, capaz de incrementar os conhecimentos a cada novo projeto e incorporando novos parceiros e colaboradores ao longo de todo o processo.

A revista BEM AMBIENTAL é um projeto que surgiu da iniciativa dos nossos colaboradores com o intuito de reunir reflexões e estimular discussões. Logo percebemos que esta empreitada vai muito além do nosso ambiente e de-veria ser estendida para toda a cidade. Assim, oferecemos a BEM AMBIENTAL a vocês, leitores, contribuindo de alguma forma com o desenvolvimento de uma visão crítica da nossa sociedade, mas também otimista, pois acredita-mos nas nossas transformações.

Espero que a leitura promova bons momentos,

um abraço,

Sergio [email protected]

Expediente

Bem Ambiental é uma publicação institucional da MYR Projetos Sustentáveis.

Coordenação geralEquipe MYR Projetos SustentáveisProdução e EdiçãoSensata Comunicação EstratégicaJornalista responsávelIsadora Camargos – JP 07449MGProjeto Gráfico e DiagramaçãoAna Carolina DinizFotos Caterina Uxa JacobJonas GerblerImpressãoImprimaset Gráfica

Todos os direitos reservados a MYR Projetos Sustentáveis. O con-teúdo pode ser reproduzido desde que devidamente citado, sem al-teração de sentido ou contexto. A versão digital pode ser acessada no site www.revistabemambiental.com.br

Entrevista: Ronaldo Vasconcellos ..................... 4

Padrão Fifa presenteia belo-horizontinos ........ 8

Vetor Norte ....................................................... 10

Efeito estufa ....................................................... 12

Geoprocessamento ........................................... 14

Futuro mais limpo ............................................. 16

Análise .................................................................18

Lata, pet e papelão ........................................... 19

Normatização ................................................... 20

Jardinagem ......................................................... 22

Aquecimento global ......................................... 24

COP 15 .............................................................. 25

Faça sua parte .................................................... 26

Opinião .............................................................. 27

A arte do lixo ..................................................... 30

Coleta seletiva ................................................... 32

Em busca de uma cultura ambiental ............. 33

Artigo ................................................................ 34

Page 4: Revista BEM AMBIENTAL

O Secretário Municipal de Meio Ambiente

de Belo Horizonte, Ronaldo Vasconcel-

los, tem a trajetória política marcada pelas

ações e inquietações de um ambientalista.

Em entrevista exclusiva à Bem Ambiental,

ele fala dos desafios de planejar o desen-

volvimento sustentável em uma metrópole

prestes a receber jogos da Copa do Mun-

do.

Bem Ambiental: Podemos afirmar que o desen-volvimento sustentável deixou de ser um sonho e passou a ser uma urgência?

Ronaldo Vasconcellos: Desenvolvimento sustentável é muito diferente de desen-volvimento econômico, muito diferente de crescimento econômico. É um desen-volvimento que respeita os recursos naturais. Isso é mais do que quase uma obrigação, é uma necessidade de sobre-vivência do indivíduo. Se nós não tivermos o desenvolvimento sustentável, nós temos o planeta só, não dá para colocarmos um elástico no planeta para tentar repercutir a mesma coisa na cidade. Nós vamos todos piorar cada vez mais a situação do pla-neta. Nós vamos todos nos arrebentar, a verdade é essa.

Bem Ambiental: Mas, na prática, com a cobrança diária, às vezes não parece um paradoxo crescimento e desenvolvimento sustentável?

Ronaldo Vasconcellos: Sempre tem, sempre tem. Nós estamos agilizando o processo de licenciamen-to ambiental. Mas sempre pedindo ao empreend-edor, seja ele público, entenda-se Sudecap, seja ele

privado, as construtoras, que façam bons trabalhos de EIA, de Rima, de RCA, de PCA, porque senão os nossos técnicos são competentes e vão criar di-ficuldades mesmo. A base de um trabalho bem feito, entregue no tempo e à hora, contrata uma empresa de engenharia ambiental boa, que essa questão sai séria aqui da secretaria. Nós estamos nesse processo e estamos avançados. Inclusive já votamos algumas deliberações normativas. Por exemplo: na questão da “Minha Casa, Minha Vida”, hoje de uma maneira geral sem entrar nos detalhes, nós fizemos a junção da LP e da LI na mesma licença, na primeira licença, porque aí quem já tiver a LP e a LI pode começar a construção das casas.

Bem Ambiental: Durante um bom tempo o meio ambiente foi visto como uma pasta de governo à parte. No interior do Estado ainda é comum um secretário de obras, desenvolvimento, planejamento e meio ambiente. Hoje, em Belo Horizonte, o meio ambiente é um tema transversal no poder execu-tivo? Ronaldo Vasconcellos: A questão do meio

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Entrevista

Page 5: Revista BEM AMBIENTAL

ambiente ainda é marginal nas prefeitu-ras do interior. Marginal no sentido de ficar à margem, de ser secundário ou ter-ciário. Aqui em Belo Horizonte, nós tivemos um problema entre 2000 e 2009 porque a secretaria ficou subjugada a uma condição de secretaria adjunta du-rante nove anos. Nós estamos agora em um processo de recuperação. Imagina o trabalho que eu tive. Eu quero até te contar uma vantagem histórica da minha parte, que eu fiz parte da câmara municipal de Belo Horizonte que criou a secretaria municipal de Meio Ambiente em 1983. E agora como Secretário de Es-porte e Meio Ambiente conduzi o processo de re-torno da secretaria municipal ao status de secretaria de primeiro nível, que a gente fala de secretaria de coordenação. Em Belo Horizonte a pasta de meio ambiente é transversal. Participa das reuniões do secretário e do prefeito, estamos sempre em debate com o prefeito, com os outros secretários, há um envolvimento, há dificuldade, há discussão principal-mente com a pasta de políticas urbanas.

Bem Ambiental: Se a gente pudesse voltar no tem-po, e tivesse o conhecimento que hoje se tem de meio ambiente, de impacto ambiental, de desenvolvimento

sustentável, Belo Horizonte poderia ser muito dife-rente do que é?

Ronaldo Vasconcellos: Muito diferente para me-lhor. Nós perdemos muito tempo nesse nove anos que a secretaria ficou ai como secretaria de segun-do nível. Eu acho que, mesmo que nes-sas prefeituras tenham feito umas ações pontuais importantes, nós não criamos uma política municipal de meio ambi-ente. Agora nós estamos no processo de criar. Por exemplo: uma reunião do Comam não pode ser somente uma reunião de julgar um proces-so, de dar licença para aquele processo. Uma reunião do Comam, eu já estou fazendo isso na minha ad-ministração, vota algumas deliberações normativas. Votei “Minha Casa, Minha Vida”, votei dos hotéis, agora nós estabelecemos a questão de um selo am-biental para aquelas empresas que trabalharam ade-quadamente com a questão ambiental e já tem gente pleiteando e pedindo esse selo. O que mostra a preocupação da área empresarial com a questão da qualidade do serviço que presta à comunidade. Não vende ali um produto, mas também quer realizar um trabalho adequado na área ambiental.

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Page 6: Revista BEM AMBIENTAL

Bem Ambiental: Quando se fala em propor outras alternativas de tráfego, de veículo, de mudança de comportamento, o cidadão está aberto a essas modi-ficações?

Ronaldo Vasconcellos: Se fosse assim há 30 anos, a questão do meio ambiente era vista assim como coisa de poetas, sonhadores, qualquer coisas assim, lunáticos. Hoje a sociedade e o cidadão já têm uma noção da questão ambiental. Mas a sociedade e o ci-dadão individual não têm nenhuma ação propositiva ou pró-ativa em relação à questão ambiental. Alguns poucos fazem o trabalho de coleta seletiva do lixo, alguns poucos deixam de jogar o lixo na rua, ou qualquer coisa assim. Mas hoje pelo menos eles já têm a informação e têm a consciência. O que falta à sociedade hoje é uma ação efetiva pró meio ambiente, uma ação propositiva.

Bem Ambiental: Mas as perspectivas para as novas gerações num médio prazo são melhores?

Ronaldo Vasconcellos: Eu acho que se a so-ciedade não tiver uma participação efetiva nós vamos caminhar para o fim do plan-eta. Não quero ser draconiano ou fim-de-mundista, mas poder público tem que agir, tem que investir. Tivemos agora a conferência de Cope-nhagen. Em-bora estivesse muito fria e fosse muito desorganizada a Cope, teve muita coisa positiva. Por exemplo, fi-cou muito clara a participação das grande lideranças mundiais na questão ambiental, ficou muito claro que esses países todos vão investir na área ambiental inclusive o Brasil. É recurso, você não faz gestão am-biental sem recurso financeiro. Bem Ambiental: E a Copa? Receber a Copa aqui vai mexer no planejamento da cidade. Que oportuni-dade nós temos agora?

Ronaldo Vasconcellos: Oportunidade de ouro para que Belo Horizonte faça sua inserção defini-tiva no circuito internacional de grandes cidades, de metrópoles, de megalópoles, qualquer coisa nesse sentido. Só que nós temos que preparar, temos que investir. Por exemplo, nós temos que investir de ma-neira geral, depois eu falo da Copa, na questão da qualidade da água da Lagoa da Pampulha. Lá o in-

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Page 7: Revista BEM AMBIENTAL

vestimento é da ordem tranquilamente de 300 mi-lhões de reais. Não adianta eu falar em 150 ou 120, se não investir cerca de 300 milhões de reais na Lagoa da Pampulha, seja na retirada dos resíduos que lá estão, seja na questão da qualidade da água, seja na questão de tratamento de esgoto para evitar que o esgoto chegue lá. A água não melhora da noite para o dia, ela demora um ano ou dois, e por isso tem que fazer um processo agora. Do lado da Copa, no Mineirão há um projeto para instalação de painéis fotovoltagens para geração de energia elétrica. Não é para gerar energia para o Mineirão, é para gerar energia para rede elétrica da Cemig. Entrega para a Cemig e a Cemig distribui da maneira que for con-veniente, que for preciso. Bom é uma energia mais limpa, tem que aproveitar aquela dimensão enorme que do Mineirão, porque Belo Horizonte tem que ter um diferencial. Nós não podemos de dei-xar de fazer a neutralização de carbono de todo efeito da Copa do Mundo aqui em Belo Horizonte. Que nós vamos ter gente vindo de avião, vamos ter transporte, va-mos ter movimento, nós vamos ter som, vamos ter alimentação, essas coisas to-das e então tem que fazer um processo

de neutralização da Copa do Mundo aqui em Belo Horizonte. Temos que cuidar melhor das nossa árvores, dos nossos parques, nós temos até 2013 para fazer isso, mas temos que começar agora.

Bem Ambiental: Passada a Copa, passada a festa, o que a gente pode ter para a rotina do cidadão belo-horizontino?

Ronaldo Vasconcellos: Primeiro o pessoal tem que se educar mais no ponto de vista da educação ambiental, educação de tratar o turista, de Belo Horizonte se transformar efetivamente em uma metrópole, numa megalópole, em qualquer coisa assim, e também os benefícios que vamos ter es-truturais. Por exemplo, hoje a pessoa que desce no Aeroporto de Confins passa um vexame quando chega naquele bagageiro, por que na verdade aquilo não é um bagageiro aquilo é um maleiro né, se você pensar bem, na rodoviária deve ter uma maleiro me-lhor do que aquele, aquilo é uma vergonha, um exemplo pequeno. A reforma do Independência que já começou que não é uma coisa pra frente é uma obra de cerca de 50 milhões de reais.

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Page 8: Revista BEM AMBIENTAL

Por Rebeca Iene

O torcedor mineiro tem vários motivos para come-morar. Além de ter jogos da Copa em nossa capital, o freqüentador do Mineirão vai ganhar uma nova arena. Embora o estádio Governador Magalhães Pin-to, mais conhecido como Mineirão, seja o segundo maior do Brasil (perdendo apenas para o Maracanã no Rio), ainda precisará de algumas reformas para se adequar às normas oficiais para os jogos da Copa.

Em termos de capacidade não haverá problemas, jáque o mínimo exigido pela Fifa é 60 mil pessoas e hoje o Mineirão pode abrigar um pouco mais que 70 mil. Mas, certamente, não como abrigava antes. Para a Fifa, como está descrito no documento Foot-ball Stadiums - Technical Recommendations and Re-quirements não pode existir a famosa “geral”, onde o torcedor senta nos degraus de cimento ou fica em pé, todos os pagantes devem ter um assento individ-ual próprio com recosto e espaçamento mínimo en-tre as cadeiras. O material deve ser inquebrável, con-fortável e à prova de fogo. Banquinhos sem recosto não são aceitos. Os pontos de venda de comidas e bebidas também estão presentes nas recomendações, todos inclusos nas dependências do estádio, com

monitores que permitam acompanhar o que se passa no campo, com espaço regulamentado para filas e assentos. E mesmo novos telefones públicos serão exigidos nas novas instalações.

A imprensa futebolística mineira também será pre-senteada com salas amplas equipadas com banda larga e conexões para apalheragem, além de áreas exclusivas para fotógrafos, assentos reservados e di-ferenciados, um sistema de iluminação anti-reflexo e tanto para a imprensa quanto para os torcedores VIP’s e até mesmo por segurança a Fifa exige um “helipad” um mini heliporto na área de construção do estádio.

A segurança também será um ponto positivo para os torcedores. Após os jogos da Copa teremos um estádio com câmeras de segurança, salas de centro de controle de segurança com monitores e salas de primeiros socorros equipadas para eventuais aci-dentes. A Fifa também exige que todo esse aparato de segurança tenha seu próprio gerador, garantindo assim que, mesmo num possível apagão, a seurança não seja prejudicada.

Mas com as novas tecnologias e a crescente preo-cupação com o meio ambiente existem metas mais exigentes, como, por exemplo, as do programa Green Goal da Fifa. Esse programa de preocupação ambiental começou em 2006 e tem como objetivo estabelecer alguns padrões de consumo inteligente para os estádios mundiais. Seguindo as sugestões do programa, os estádios devem ter meios de reduzir o uso de água potável (armazenando água da chuva e utilizando sistemas de descargas inteligentes nos banheiros), evitar ou minimizar o desperdício, esti-mular o uso de embalagens recicláveis para comidas e bebidas e a coleta própria desse lixo, o uso eficiente de energia (com sistemas inteligentes de uso de ener-gia solar, por exemplo) e especialmente o aumento da utilização de transporte publico para ir aos jogos (com a disponibilidade de trens e ônibus fartamente). Conseguindo alcançar ao menos parte dessas me-tas do Green Goal, não só os torcedores, mas a comunidade Belo Horizontina estará ganhando.

Padrão Fifa presenteia belo-horizontinos

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Copa do Mundo

Page 9: Revista BEM AMBIENTAL

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Page 10: Revista BEM AMBIENTAL

Por Sérgio Myssior

O Vetor Norte da Região Metropolitana Belo Hori-zonte está diante do desafio de promover o equilíbrio entre o aquecimento econômico, a preservação am-biental e cultural, e o desenvolvimento social. Esta-belecer o tão almejado desenvolvimento sustentável depende de planejamento ambiental e urbano, bem como do desenvolvimento de uma gestão comparti-lhada e participativa, capaz de envolver toda a socie-dade e municípios nessa complexa discussão.

Promover o desenvolvimento sustentável começa por considerar a importância histórica, cultural e ambiental do Vetor Norte, além de seu potencial turístico, de capacitação, e de formação de cidadãos mais conscientes e engajados com a preservação do planeta. A região abriga a APA Carste, a Serra do Cipó, o parque do Sumidouro, o Circuito das Grutas, além de uma diversidade de uso, ocupação, densidade e costumes. Respeitar essas características será fundamental no contexto de um crescimento

Crescimento acelerado traz o desafio da sustentabilidade

acelerado da região. Em 2004, com a retomada dos vôos regionais para o Aeroporto Internacional Tan-credo Neves, em Confins, o Vetor Norte iniciou um processo de transformação do tecido urbano. Em seguida, com o anúncio da Linha Verde, do Centro de Manutenção da Gol Linhas Aéreas, e posterior-mente do Cidade Administrativa de Minas Gerais, o Vetor Norte passou a apresentar uma nova vocação, com reflexos expressivos em sua dinâmica e nas perspectivas de futuro.

O anúncio recente dos diversos empreendimentos polarizadores, incluindo o valor simbólico e político da mudança da sede do Poder Estadual, certamente implicará numa alteração significativa na vocação e dinâmica da região, e consequentemente na forma de organização sócio-espacial e ambiental. Essa tendência tem de ser acompanhada por uma aborda-gem criteriosa da realidade da região e comprometi-da com os valores históricos, culturais e ambientais. E será imprescindível que este desafio envolva toda a nossa sociedade.

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Vetor Norte

Page 11: Revista BEM AMBIENTAL

HISTÓRIA

Desde o seu nascedouro, Belo Horizonte apresenta uma vocação metropolitana. Desde a década de

30, a cidade apresenta um crescimento populacional e urbano intenso, extrapolando os limites da

cidade planejada. O processo de industrialização, a partir da década de 40, e a expansão descontrolada

dos parcelamentos, em especial aqueles voltados para a baixa renda, configuraram uma nova paisagem

metropolitana, integrada por municípios do vetor oeste da capital com empreendimentos polariza-

dores, como a Fiat em Betim e a Cidade Industrial em Contagem.

Com a construção do Complexo da Pampulha, na região noroeste, a implantação da avenida Antônio

Carlos e da estrada para Brasília, o eixo de desenvolvimento foi de certa forma ampliado de oeste para

norte. Ainda na década de 70, a capital ultrapassou a barreira de 1 milhão de habitantes.

O professor da UFMG/Cedeplar Roberto Luís de Melo Monte-Mór, explica em artigo publicado*

que esse foi um fenômeno observado em alguns municípios brasileiros nessa época. As grandes

cidades industriais se estenderam sobre suas periferias de modo a acomodar as indústrias, seus prove-

dores e trabalhadores, gerando amplas regiões urbanas em seu entorno que se tornaram as regiões

metropolitanas. “É a essa urbanização que ocorreu para além das cidades e áreas urbanas, e que car-

regou com ela as condições urbano-industriais de produção (e reprodução) como também a práxis

urbana e o sentido de modernidade e cidadania, que tenho chamado urbanização extensiva”, escreveu

o professor.

*MONTE-MÓR, R.L.M. O que é urbano, no mundo contemporâneo. Cadernos de saúde Pública. Rio de janeiro, 2005.

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Page 12: Revista BEM AMBIENTAL

Hoje percebemos os ciclos da Terra - e sabemos que temos que aprender a lidar com elesPor Thiago Metzker

Segundo nossos geólogos a Terra possui cerca de 4,6 bilhões de anos de história. Apenas nas últimas dé-cadas da humanidade paramos para avaliar os ciclos naturais climáticos do planeta, até porque não dava mais para não ver. Em toda a história, foram perío-dos de frio – como as eras glaciais – e de muito calor devido principalmente as altas emissões provenientes das atividades vulcânicas. Estas mudanças aconte-ciam conforme os ciclos naturais do planeta, que duravam milhares de anos, e eram acompanhadas por diversas mudanças na estrutura e composição da Terra.

Entretanto, a preocupação hoje está voltada para a velocidade e a intensidade com que ocorrem as mu-danças no sistema climático da Terra, principalmente a partir da Revolução Industrial do século XVIII. Durante a “Cúpula da Terra”, ou ECO-92

como ficou conhecida, uma convenção sobre as mu-danças climáticas foi assinada por representantes de mais de 154 países do mundo, além da Comunidade Europeia. Esta convenção declara uma preocupação internacional sobre as consequências dos altos ín-dices de Gases de Efeito Estufa na atmosfera para a economia, para o meio ambiente e para toda a hu-manidade.

O efeito estufa e o aquecimento global

Na atualidade lidamos com o termo “Efeito Estufa” de maneira muito negativa, com uma ideia de que é prejudicial para o planeta. A princípio, devemos lembrar que a vida no planeta Terra só é possível graças ao calor que este efeito estufa retém. Em out-ras palavras, o problema não está no efeito estufa e sim no aumento exacerbado dos gases na atmosfera. Nossa humanidade, com o aumento da utilização de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural),

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Efeito Estufa

Page 13: Revista BEM AMBIENTAL

fez com que a concentração dos gases formadores do efeito estufa aumentasse muito, tornando-a hoje uma séria preocupação para a humanidade. O efeito estufa é um processo natural no planeta que dependeu de milhões de anos e di-versas condições naturais para se formar. É uma camada constituída por gases chamados nor-malmente por gases de efeito estufa (GEE).

Muito se fala do dióxido de carbono (CO2), este gás é o que mais contribui para o aquecimento do planeta, porque representa cerca de 55% do total das emissões mundiais dos gases de efeito estufa.

O tempo de sua permanência na atmosfera é cerca de 100 anos, com impactos no clima ao longo de séculos. Mas existem outros gases formadores desta camada, como o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluorcar-bonos (PFCs) e os hexafluoreto de enxofre (SF6), porém esses gases, ao contrário do CO2, têm suas emissões resultantes em boa parte pelas atividades humanas.

Os gases formadores do efeito estu-fa são um dos responsáveis por ter-mos temperaturas agradáveis durante a noite, pois retêm o calor que chega à superfície da Terra impedindo que todo

ele volte para o espaço. Sem este efei-to, teríamos noites muito geladas e dias extremamente quentes, uma vez que os gases que formam a camada do efeito estufa também devolvem para o espaço parte do calor que é emitido pelo sol du-rante o dia.

A Lua, por exemplo, não possui uma camada de gases protetora e as variações de temperatura em sua superfície são enormes, podendo chegar a ex-tremos de –150ºC à noite e 100ºC na sua superfície exposta ao sol. A partir da Revolução Industrial no século XVIII, os índices de gás carbônico na at-mosfera tiveram um expressivo aumento, passando de 260 ppm (partes por milhão) ao índice atual de cerca de 388,6 ppm – recorde dos índices de CO2 já registrados. As emissões antropogênicas durante a industrialização, somadas à grande emissão de gases pelas queimadas florestais (sendo o Brasil o maior emissor na atualidade), fizeram com que a atmosfera retivesse mais calor.

Esta maior taxa de calor acumulado pe-los gases do efeito estufa faz com que as temperaturas médias subam causan-do graves desequilíbrios ecológicos e sociais.

Figura 1: Aumento das taxas de carbono na atmosfera com o passar dos anos (esquerda)Aumento das temperaturas médias (direita). Fonte: Adaptado do Observatório de Mauna Loa e Robert A. Rohde / Global Warming Art.

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Co 2

Page 14: Revista BEM AMBIENTAL

Por Daniel Sampaio, Eduardo Araújo e Michel Jeber

As técnicas de geoprocessamento, processamen-to digital de imagens de alta resolução espacial e de métodos de inferência espacial de áreas urba-nas podem ser usadas para atingir as metas de diag-nóstico e produção de informações sobre a cidade, com vistas ao seu desenvolvimento sustentável e à melhoria da qualidade de vida de seus habitantes.

A área urbana é um dos sistemas mais dinâmicos e variados do nosso planeta por ser resultado da ação humana em um ambiente natural. A interação das atividades hu-manas com a natureza agrega à urbe características complexas que demandam um estudo detalhado dos vários componentes deste sistema. A dificuldade de diagnosticar os problemas dos centros urbanos, prin-

cipalmente nas grandes metrópoles, deve-se ao fato de que estes ambientes são bastante heterogêneos e com múltiplas atividades simultâneas.

Problemas como as enchentes, o desaparecimento ou o rebaixamento do lençol freático, o trânsito conges-tionado e poluição, além da falta de energia, água, sa-neamento e serviços públicos adequados são exemplos das conseqüências de uma urbanização desordenada e voltada freqüentemente a interesses econômicos. O espaço urbano, normalmente fragmentado, necessita ser mapeado para se realizar ações locais e, assim, me-lhorar as características de cada um destes segmentos.

O uso das técnicas de sensoriamento re-moto e geoprocessamento auxilia na obtenção de informações sobre o uso do

Tecnologia para o planejamento urbano

Cruzamento de planos de informações

Geoprocessamento

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Page 15: Revista BEM AMBIENTAL

solo e na elaboração de um diagnóstico que subsidia o planejamento e a solução de problemas. Estas técnicas são utilizadas para a coleta e integração de informações por várias razões: são normalmente mais baratas e rápidas e proporcio-nam um melhor entendimento espacial das relações entre os objetos vistos de cima. Técnicas de processamento digital de imagens de alta resolução espacial possibilitam a realização de estu-dos e mapeamentos temáticos detalhados em esca-las de até 1:5000. Além disso, a aplicação de méto-dos de inferência espacial, a partir da integração dos dados de sensores remotos de alta resolução e seus produtos derivados com dados originados de outras fontes (como dados censitários, geológicos, ambien-tais, legais, etc) em um Sistema de Informações Geográficas (SIG), permitem a geração de informações relevantes aos governos e à população para tomadas de decisões sobre a cidade, tais como expansão urbana, ocupações irregulares, áreas com aptidão a receber empreendi-mentos e áreas susceptíveis a eventos, como desliza-mento/erosão de encostas, que podem causar danos à propriedade e aos indivíduos.

A inferência espacial considera diversos planos de informação para gerar o dado necessário

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Page 16: Revista BEM AMBIENTAL

Por Isadora Camargos

Até pouco tempo atrás, lixo era aquilo que a gente descartava em casa, aquilo que sobrava, aquilo que fedia, aquilo que a gente colocava num saco e nunca mais queria ver. Lixo ainda pode ser isso para alguns. Mas isso vem mudando, e, em 2009 houve um marco legal em Minas para estimular uma forte mudança de percepção. A Lei Estadual 18.031, de janeiro de 2009 e seu decreto 45.181, de setembro de 2009, de-finem a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dei-xam claro que lixo urbano é aquilo tem valor agregado e, por que não, diz muito sobre a população que o produz.

Pela definição legal, gestão integrada dos resíduos

sólidos é “o conjunto articulado de ações políticas, normativas, operacionais, financeiras, de educação ambiental e de planejamento desenvolvidas e apli-cadas aos processos de geração, segregação, coleta, manuseio, acondicionamento, transporte, armazena-mento, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos”.

Essa definição aponta para algumas mudanças de comportamento que são esperadas e vêm sendo estimuladas. A primeira delas, e também mais importante, é que resíduo é uma questão de todos. Mesmo que alguém alegue que não é político, nem técnico ambiental, nem funcionário da prefeitura, nem banco financia-dor, nem professor da escola básica, nem estudioso

Novas leis sobre resíduos estimulam mudança de comportamentoPolítica Estadual dos Resíduos Sólidos, publicada em 2009, deixa claro que a questão do lixo envolve todos os cidadãos

Futuro mais limpo

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Page 17: Revista BEM AMBIENTAL

da área, não tem como fugir do fato de estar implica-do no processo da geração e nos impactos que seus atos provocam desde a segregação até a destinação final.

Outro destaque deste pequeno trecho da lei é a quantidade de processos que existem entre a geração e a destinação final: segregação, coleta, manuseio, acondicionamento, transporte, armazenamento e tratamento. Isso sem falar no reaproveitamento e na reciclagem, nem das detalhadas normas para escolher a área que abrigará a destinação final e os contínuos processos de tratamento e acompanhamento que de-vem ser feitos nos aterros sanitários e unidades de triagem e compostagem.

Mas o convite à participação popular vai além dos processos. Vale destacar três das 14 diretrizes da Lei. A primeira é “a participação da sociedade no planejamento, na formulação e na im-plementação das políticas públicas, bem como na regulação, na fiscalização, na avaliação e na prestação de serviços, por meio das instâncias de controle social”. Somada a essa está a diretriz de “responsabilidade socioambiental compartilhada entre poder público, geradores, transportadores, distribuidores e con-sumidores no fluxo de resíduos sólidos”. E ainda “a integração, a responsabilidade e o reconhecimento da atuação dos catadores nas ações que envolvam o fluxo de resíduos sólidos, como forma de garantir-lhes condições di-gnas de trabalho”.

Art. 6º - São princípios que orientam a Política

Estadual de Resíduos Sólidos:

I - a não-geração;

II - a prevenção da geração;

III - a redução da geração;

IV - a reutilização e o reaproveitamento;

V - a reciclagem;

VI - o tratamento;

VII - a destinação final ambientalmente adequada;

VIII - a valorização dos resíduos sólidos.

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Page 18: Revista BEM AMBIENTAL

Por Isadora Camargos

Quando o engenheiro arquiteto Cássio Velloso Ver-siane, de 65 anos, começou a trabalhar na recém fun-dada Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) de Belo Horizonte, na década de 70, havia poucas nor-mas balizadoras das ações, mas a certeza de que era necessário agir para controlar o lixo urbano. Apenas na década de 90 que o conceito de gestão in-tegrada dos resíduos começou a ser entendido e agora – 20 anos depois – que chegou à legislação.

Cássio fazia parte da equipe que desenvolveu a pri-meira célula do aterro sanitário da capital, em 1974. “O rigor técnico não passava de uns 5% do que temos hoje”, afirma. “O negócio era manter a cidade limpa. Tanto a percepção, quanto a identificação de proble-mas e busca de soluções eram muito recentes em todo o mundo”, lembra o engenheiro.A legislação atual tem como avanço o fato de começar a respeitar as características brasileiras da geração e

tratamento de resíduos, além de prever alterações de acordo com os fatores geológicos, climáticos e estru-turais. “Hoje as leis começam a ser coerentes, viáveis, aplicáveis. Muitas vezes as normas são importadas da Europa, e de repente repetimos receitas sem conhecer os nossos ingredientes”, diz. Cássio, que por muito tempo teve poucos interlocu-tores para discutir de maneira criteriosa a gestão de resíduos, avalia as novas leis como promissoras, mas ainda vê um longo caminho a ser percorrido. “Não tenho a ilusão de ver uma revolução, mas a inércia vem sendo rompida”, diz.

Ele enumera dois pontos da lei que são avanços muito importantes. O primeiro é ter clareza que o resíduo não é homogêneo e por isso é possível fazer tratamen-to e reaproveitamento. O segundo avanço é registrar que os geradores têm parcela de responsabilidade pelo lixo produzido.

Para o futuro, Cássio afirma que a eficiência da gestão depende diretamente da ação de todos os cidadãos, governos e empresas, para que toda a cadeia – ge-ração, segregação, tratamento, reaproveitamento, reci-clagem e mercado – possa ser integrada. “O mercado de recicláveis só se justifica com a participação da in-dústria, o que atualmente é um processo restrito. Te-mos que criar um novo mercado consumidor”, afirma o engenheiro.

“Vinte anos depois o conceito de gestão integrada do lixo chegou à legislação”

Análise

Interdisciplinariedade

A humanidade sempre produziu lixo, mas

isso não era um problema. Com a formação

de cidades, começou o acúmulo e começaram

algumas ações para controlar o ambiente. Du-

rante muitos anos, a engenharia foi capaz de con-

trolar o impacto dos resíduos. Mas desde a década

de 90 que os resíduos começaram a ser percebidos

como uma questão interdisciplinar.

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Por Érica Maruzi

Nas 104 unidades prisionais de Minas, cerca de seis mil presidiários segregam o alumínio, vindo das em-balagens das quatro refeições diárias, além de gar-rafas pet e papelão. Em cada unidade prisional há um espaço para triagem desses materiais que é uti-lizado diariamente pelos presidiários. São recicladas cerca de 20 toneladas mensais em todas as unidades, que posteriormente são vendidas para indústrias que utilizam esse material como insumo. O dinhei-ro arrecadado com a venda é direcionado para me-lhoria e manutenção das unidades, como explica o sub-secretário de administração prisional, Genilson Ribeiro Zeferino.

Como contrapartida, os presidiários que participam da reciclagem recebem três quartos de um salário mínimo, em que 50% é recebido em mãos, 25% é depositado como pecúlio e os 25% restante é de-volvido para o estado como forma de indenização pelo gasto com o preso. Além disso, a cada três dias trabalhados o presidiário recebe um dia na redução de sua pena.

A quantidade de detentos que participam desta e outras ações ainda é pequeno, tendo em vista que

o sistema prisional do estado abriga 39 mil deten-tos, mas, segundo Zeferino, para que medidas como esta sejam ampliadas é necessário mais parcerias en-tre o Estado e o setor privado. “Ainda estamos ca-minhando timidamente nas ações de ressocialização, para que isto mude é necessário mais parcerias entre os setores público e privado, hoje temos cerca de 164 parceiros, mas, para ampliar essas ações é necessário muito mais, e o estado está totalmente aberto para essas parcerias”, conclui o sub-secretário.

O programa de reciclagem é uma das medidas que compõem a política prisional, que compreende di-versas ações, como a plantação de mudas em uni-dades prisionais, a poda de árvores e jardins nos mu-nicípios onde as penitenciárias estão instaladas, entre outras. O objetivo da política, adotada em 2003 pelo Estado, é buscar a humanização do sistema prisional e a ressocialização do presidiário.

“A política prisional é estruturada em três eixos que compreende a construção e ampliação de unidades, a modernização da administração e a humanização do sistema prisional, que se dá em relação ao trabalho, a saúde e a educação dos presidiários”, diz o sub-secretário.

Unidades prisionais reciclam pensamentos

Lata, pet e papelão

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Por Cynthia Fantoni

Foi aprovada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) a norma para aterros sanitários de pequeno porte. São diretrizes para localização, pro-jeto, implantação e operação de aterros simplificados que poderão atender cerca de 70% dos municípios. O aumento da quantidade de resíduos sólidos ur-banos (RSU) associados à crescente preocupação com a qualidade ambiental, a saúde da população e a inexistência de um modelo adequado de gestão nas prefeituras, tem induzido a busca de tecnologias que atendam um padrão de sustentabilidade econômica, ambiental, técnica e social.

No Brasil, 73% dos municípios apresentam uma pop-ulação inferior a 20.000 habitantes. Nesses municí-pios, 68,5% dos resíduos gerados são dispostos em locais inadequados (IBGE, 2009). Em muitos desses municípios faltam recursos humanos especializados e critérios técnicos, econômicos e sociais com pro-gramas específicos para tratar a questão dos resíduos sólidos. Este fato tem conduzido a sérios problemas ambientais e de saúde pública. A grande quantidade de resíduos sólidos gerados não é compatível com as políticas públicas, com o desenvolvimento tecnológi-co e com os investimentos para o setor, tornando-se imprescindível a participação ativa e cooperativa do governo, iniciativa privada e sociedade civil.

O depósito de resíduos sólidos a céu aberto ou lixão é uma forma de disposição desordenada sem compactação ou cober-tura dos resíduos, o que propicia a polui-ção do solo, ar e água, bem como a pro-liferação de vetores de doenças. Por sua vez, o aterro controlado é outra forma de deposição de resíduo, tendo como único cuidado a cobertura dos resíduos com uma camada de solo ao final da jornada diária de trabalho com o objetivo de reduzir a prolif-eração de vetores de doenças.

Para reversão desta situação uma das ações pos-síveis é a busca por alternativas tecnológicas de dis-posição final sustentável entendida como aquela que atente para as condições peculiares dos municípios de pequeno porte quanto às dimensões: ambiental, sócio cultural, política, econômica e financeira e que, simultaneamente, seja integrada as demais etapas do GIRSU. Com este objetivo aborda-se a alternativa tecnológica para município de pequeno porte de-nominada ATERRO SUSTENTÁVEL. A concepção desta tecnologia, busca: o manejo ambientalmente adequado de resíduos sólidos urbanos; capacitação téc-nica das equipes responsáveis pelo projeto, operação, monitoramento e encerramento do aterro; geração de emprego e renda; custos adequados à realidade sócio-econômica dos municípios e o efetivo envolvimento dos atores políticos, institucionais e da população local.

Maioria dos municípios agora poderão adotar aterros sanitários de pequeno porte

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Normatização

Page 21: Revista BEM AMBIENTAL

ExperiênciaPor meio do PROSAB (Programa de Pesquisa em Saneamento Básico)

e a UFMG/DESA (2001-2004) foi implantado no município de Catas

Altas- MG (4500 habitantes), o aterro sustentável, em escala real para

a disposição de seus resíduos sólidos urbanos de maneira sustentável

técnica, econômica e ambientalmente. Utilizou-se como método opera-

cional as trincheiras, as quais foram dimensionadas de forma a otimizar

a operacionalização da área do aterro e prolongar a sua vida útil. Equi-

pamentos e procedimentos alternativos foram desenvolvidos para ações

como: compactação, drenagem de gases e líquidos percolados, sistemas

de cobertura, entre outros. Os resultados de todas essas aplicações bem

como uma análise econômica preliminar demonstraram que o aterro

estudado tem grande sustentabilidade para municípios de pequeno porte.

Melhorias ambientais efetuadas na área previamente degradada pelo lixão

e pelas boas operações de drenagem, compactação, cobertura do resíduo,

etc.; sustentabilidade sanitária através das melhorias em saúde pública

trazidas aos seus operadores e a população como um todo e finalmente;

a sustentabilidade técnica por meio da capacitação de um corpo técnico e

resgate da consciência cidadã.

Minas Sem Lixões

Em Minas Gerais, o Programa Minas sem Lixões, da Secretaria de Estado

de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) contabili-

zou, até 2006, a redução de 35% dos municípios que ainda dispõem seus

resíduos em lixões e o aumento de 200% no número de municípios que

utilizam maneiras adequadas para a disposição final dos RSU. As metas

para 2011 são o fim de 80% dos lixões e disposição final adequada para

60% do resíduo produzido no Estado. Destaca-se a Política Estadual de

Resíduos Sólidos (Lei 18.031), publicada em janeiro de 2009, que define

a Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos Urbanos (GIRSU) como o

“conjunto de ações políticas, normativas, operacionais, financeiras, de

educação ambiental e de planejamento desenvolvidas e aplicadas aos

processos de geração, segregação, coleta, manuseio, acondicionamento,

transporte, armazenamento, tratamento e destinação final dos resíduos

sólidos”.

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Page 22: Revista BEM AMBIENTAL

Por Cândida Campolina

Quando as pessoas compram ou ganham um vaso de flores, pretendem, antes de tudo, conferir beleza e elegância ao ambiente, seja em sua casa ou no tra-balho. Entretanto, na maioria das vezes, isso trata-se de uma grande “rata” com a planta: são colocadas em espaços que não são ideais para as característi-cas da espécie, o que acaba comprometendo a be-leza da folhagem e da floração. Sem poder desen-volver adequadamente, a planta acaba morrendo mesmo seguindo à risca os cuidados necessários.

Porém, é muito simples não incorrer nesse erro, bas-tando para isso entender que existem dois tipos de plantas. As perenes florescem numa determinada estação e depois voltarão a florescer se tiverem os cuidados necessários. As anuais duram até um ano e depois do florescimento morrem. Sendo assim, o primeiro passo é saber qual o tipo da planta que se tem: perene ou anual? Sabendo isso, o segundo passo é conhecer os cuidados básicos que se deverá ter com

aquela que veio só para embelezar. Seguindo alguns passos, dá para ter um belo espécime o ano todo.

Vamos a eles:> Definir o local onde a planta ficará, levando-se em conta a luminosidade e espaço.Se a planta é florífera, coloque-a em um lugar enso-larado pois elas precisam de pelo menos quatro ho-ras de ensolação por dia para garantir boas floradas. Se é uma folhagem, observe a cor das folhas: verdes claras, precisam de maior exposição á claridade, ver-des escuras podem ficar nos locais mais sombreados. Na medida do possível, evite o vento para todos os tipos de plantas, o que não significa impedir a cor-rente de ar.

> As plantas perenes voltarão a florescer se tiverem um mínimo de cuidado.

Regas: Cada planta tem uma característica própria. Mas há um modo bastante simples para saber se a

Como cuidar dos vasos que você tem em casa

Jardinagem

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sua está precisando de água ou não: Basta pressionar o solo com os dedos e sentir a umidade da terra. Se seus dedos ficarem úmidos, as raízes também estarão. Aí não molhe até que ao fazer esse mesmo teste seus dedos não apresentem umidade. Excesso de água é tão prejudicial quanto a falta dela.

Adubação: As plantas que vivem em área restrita como vasos ou canteiros, dificilmente encontrarão todos os nutrientes que necessita para viver. Mas isso pode facilmente ser resolvido com os adubos quími-cos (NPK) adquiridos nas casas especializadas e que basta seguir as instruções contidas na embalagem.

> Muitas vezes a planta se desenvolve e a embalagem fica apertada para ela. Aí é conveniente replantá-la num vaso maior. Não mude nunca de um vaso muito pequeno para um muito maior. Você alcançará um resultado melhor utilizando um vaso médio. A seguir os passos para um reenvasamento:

1. Forre o fundo do vaso com pedrinhas e cacos de cerâmica.

2. Coloque sobre esse material um pouco da seguinte mistura:Para as plantas ornamentais:* 7 partes de terra comum de jardim* 3 partes de esterco curtido ou composto orgânico* 2 partes de areia grossa.

Para cactos e suculentas:* 2 partes de terra comum de jardim* 1 parte de esterco ou composto orgânico* 2 partes de areia grossa* 1 parte de material de drenagem (areia, pedriscos, etc) 3. Retire a muda do vaso com bastante cuidado para não quebrar o torrão de terra e instale o torrão com a muda no centro do vaso.

4. Preencha com a terra restante todo o espaço em torno da muda e vá apertando com os dedos de modo a fixar o torrão ao novo espaço.

5. Regue generosamente.

Seguindo esses cuidados básicos, as plantas de inte-rior são muito fáceis de cuidar, e é bom saber: além da beleza e ornamentação, as plantas tem outras van-tagens: dão vida ao ambiente, reduzem o estresse e renovam o ar que você respira.

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Aumento da temperatura ameaça bem-estar humano

Aquecimento Global

locais, a comunidade biótica responderá à altura mu-dando seus padrões pré-existentes, principalmente pa-drões de distribuição, crescimento e composição de espécies. Bom, para a vida na Terra essas mudanças não são necessariamente um problema, pois na ver-dade já aconteceram várias vezes nestes milhões de anos. O problema consiste é na velocidade em que tais mudanças estão ocorrendo. Para estes mesmos cientistas a questão agora não é se haverá mudanças no sistema climático – pois já estamos passando por elas. O mais importante é sabermos a magnitude dos impactos que estas mudanças trarão com o passar do tempo e trabalhar no desenvolvimento de adequadas ações e políticas públicas locais, regionais e internacionais de miti-gação e adaptação climática.

A lógica é simples: Recentemente a National Geo-grafic chamou de “Dinâmica da Banheira” – Ima-gine-mos uma torneira aberta despejando carbono em uma banheira em que a Terra está dentro (isso se compara a queima de combustíveis fósseis, queimadas e mau uso da terra). Pelo ralo da banheira está saindo parte deste carbono (função das florestas, do solo, captação pelos oceanos, por sedimentos e pelas rochas).

Fonte: National Geografic Brasil

Com o aumento da vazão da torneira (após a Re-volução Industrial) e a diminuição das florestas (sumi-douros), o ralo não está conseguindo eliminar todo o carbono fazendo com que ele acumule gradualmente na atmosfera tornando a Terra cada vez mais quente.

Por Thiago Metzker

O aquecimento global, (temperaturas médias mais elevadas), é um fato comprovado cientificamente e constitui uma das mais sérias ameaças ao bem-estar humano e aos ecossistemas naturais no século que se aproxima. Para se ter uma ideia, a temperatura média da Terra já subiu pelo menos 0,5°C no último século e segundo o Painel Intergovernamental sobre Mu-danças Climáticas, (Intergovernmental Panel on Cli-mate Change – IPCC), a temperatura média do pla-neta deverá subir de 1ºC a 3,5°C até o fim do século XXI, sendo o maior aumento de temperatura regis-trado desde o aparecimento da civilização na Terra.

O IPCC, que reúne mais de dois mil cientistas de to-das as partes do mundo, afirma que o aumento da temperatura na Terra causará efeitos dire-tos e sinérgicos ao meio ambiente, à agri-cultura, à saúde pública, para o bem-estar humano global e consequentemente para a economia mundial. Derretimento de calotas polares com elevação do nível do mar provocando in-undação de zonas costeiras e ilhas, mudanças geográ-ficas de larga escala nos ecossistemas, mudanças de tempo e maior frequência de tempestades, furacões, secas e outros eventos climáticos extremos são reali-dades esperadas até o final do século XXI. Para o Brasil especificamente, que possui uma vasta biodiversidade, os prejuízos podem ser ainda mais altos, uma vez que toda a diversidade de espécies animais e vegetais estão relacionadas através de complexas interações ecológi-cas. Para exemplificar, sabe-se hoje que as formações florestais (como a Floresta Amazônica e Mata Atlân-tica) estão intimamente relacionadas aos ciclos hi-drológicos regionais e que aumentos de temperaturas e mudanças no uso do solo (como o desmatamento) vêm acompanhados de alterações nos índices plu-viométricos durante o ano. Isso quer dizer que com o aumento da temperatura e com mudanças no regime de chuvas áreas florestais tendem a estar mais quentes e secas no futuro. Mudando o padrão abiótico destes

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Por Thiago Metzker

No final de 2009 tivemos a realização de um dos maiores eventos ambientais do planeta. A 15a Con-ferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáti-cas realizada em Copenhague – Dinamarca, reuniu mais de 190 nações de todo mundo para que juntas firmassem um acordo convincente de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Apesar do término dramático da Conferência sem a defini-ção precisa de um novo acordo climático (premedi-tado ou não!), a COP-15 teve sim sua importância e relevância para o planeta, através da inserção de uma nova dinâmica na política do clima global.

Um fato é que nunca na história da mídia televisiva e jornalística um evento ambiental possuiu uma co-bertura de tamanha dimensão e repercussão. Para se ter uma ideia o site oficial da COP-15 recebeu cerca de 1,65 milhões de acessos durante a conferência. A publicidade dada ao meio ambiente refletiu ainda em programas, matérias, entrevistas que provocaram o espectador a pensar sobre suas atitudes, refletindo assim em pequenas mudanças de pensamento e con-sequentemente de comportamento. Além disso, este novo segmento da sociedade, que agora passa ao menos a pensar no assunto, pressiona seus governan-tes a fiscalizarem os grandes emissores, exigindo um sério posicionamento quanto as questões relativas as emissões de carbono.

Outro fato que chama atenção é que as economias emergentes formadas por países como o Brasil, a Índia, a China e a África do Sul, ao contrário dos encontros anteriores, desempenharam um papel fundamental em Copenhague, principal-mente face à pressão inexorável expressa pelos países ricos. Exemplo este que fará com que outros países menores se encorajem e que, or-ganizados, reivindiquem por seus direitos na próxima reunião climática da ONU em 2010 (COP-16, Cancun - México). Contudo, não basta que agora os Gover-

nos fiquem satisfeitos com a cobertura ambiental da mídia e que, como de costume, logo nos envolva com fatos e notícias supérfluas, mudando o foco de um as-sunto que precisa urgentemente ser melhor debatido. Iniciativas como a Lei 12.187 de 2009 que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima (meta de redução das emissões nacionais de GEE entre 36,1 e 38,9% até 2020), o Decreto 44.042 de 2005 que institui o Fórum Mineiro de Mudanças Climáti-cas e mesmo o Decreto 12.362 de 2006 que cria o Comitê Municipal sobre Mudanças Climáticas e Ecoeficiência de Belo Hori-zonte (do qual já realizaram até o Inventário de Gases de Efeito Estufa do município), são bons exemplos de como o poder pú-blico pode se comprometer com respon-sabilidade frente as questões climáticas.

Com a saída da presidente da COP-15, Connie He-degaard e depois de reuniões intermináveis que vara-vam madrugadas a COP acabou mesmo deixando a desejar, sem a formalização de BOM acordo multila-teral climático. Segundo alguns especialistas o desafio maior agora é transformar o pouco que foi acordado em Copenhague em algo real, mensurável e verificá-vel durante a COP-16. A recente renúncia de Yvo De Boer, ex-Secretário Executivo da ONU, trouxe ainda mais ansiedade para o este próximo encontro climático.

A opinião pública aliada às lideranças locais e regio-nais têm um papel decisivo para a COP-16, pois a continuidade da formulação e implemen-tação de políticas públicas municipais, estaduais e nacionais é um pré-requisito para que gradualmente possamos mi-grar para uma economia de baixo car-bono imergido no conceito de eficiên-cia energética internacional. Somente uma forte pressão da POPULAÇÃO pode garantir es-forços reais dos políticos e lideranças mundiais.

Ponto de Vista

COP-1515a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas

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Por Thiago Metzker

O planeta agora está em ritmo diferente e neste mo-mento não podemos nos dar ao luxo de mantermos na inércia do passado. O desenvolvimento contínuo da nossa sociedade é certo e necessário, contudo mu-danças nos padrões de produção e consumo são fortes demandas atuais. O uso de energias alternativas prov-enientes de fontes renováveis como a eólica e solar podem se tornar uma forte realidade a partir do mo-mento que ganhem visibilidade e escala de produção, gerando juntamente com outros produtos de menor emissão, uma economia realmente sustentável.

Se você acha que já está fazendo alguma coisa repense suas atitudes e tente sair um pouco mais da sua “Zona de Conforto”.

Abaixo pequenos detalhes que podem fazer a dife-rença:> Busque a eficiência energética (uso de fontes de energias alternativas ou renováveis, alternativas tec-nológicas de processos menos poluentes);> Dê preferência para o uso de matéria prima reciclada;> Influencie o poder público na elaboração depolíticas públicas para viabilizar ações referentes ao

assunto das mudanças climáticas escrevendo cartaspara editores, imprensa e políticos cobrando posicio-namento e ações efetivas;> Reduza o consumo de energia: apague atela do computador quando não estiverem em uso,feche as portas e janelas quando o ar condicionadoestiver ligado, utilize dispositivos automáticos para aluz em locais onde não há necessidade de lâmpadasacesas o dia todo;> Pratique a carona: sugira vagas prioritárias no esta-cionamento para aqueles que oferecerem carona aoscolegas de trabalho ou da escola;> Consuma alimentos produzidos em sua região: eles não precisam ser transportados de longa distância e, por isso, a emissão de gases de efeito estufa é menor;> Seja um consumidor responsável: durante as com-pras, evite produtos com excesso de embalagens, com-pre somente o necessário, prefira produtos de em-presas socialmente responsáveis e utilize sua própria sacola;> Pense sempre em suas emissões e formas de mini-mizá-las – neutralize as demais emissões com investi-mentos em plantio de florestas nativas;> Reduza seu consumo e do desperdício de água (o tratamento da água é caro e promove emissões de GEE);> Plante árvores. Pode acreditar: você irá se sentir melhor;> Caminhe mais ou ande de bicicleta!

Faça sua parte

Figura 1: Mapa de emissões de Gases de Efeito Estufa. Países que mais emitem são os mais gordinhos no mapa. Fonte: Word Mapper.

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Por Marcela Camargo Matteuzzo

Depois de passar pela Revolução Cultural e Revolução Industrial, o que falta à espécie humana é a Revolução Ambiental. Acredito que os primeiros passos já foram dados, ainda tímidos e de pouco impacto sobre a es-trutura econômica global. Assumindo que a revolução já começou, os processos de minimização de impac-tos e maximização de favores ambientais estão pouco a pouco ganhando espaço, ainda lentos, pois as ações funcionam no âmbito do capital.

As empresas investem nessa faceta do negócio por exigência do cliente. É oneroso manter “se-los verdes”, todos sabem. E o que impulsiona a exigência do cliente e o comprome-timento das empresas seria o fato das alterações ambientais estarem afetan-do mais significativamente suas vidas?

Os aspectos comportamentais das massas neste con-

Opinião

Revolução ambiental: origem econômi-ca, cognitiva ou biológica?

texto econômico global podem ter origem diversa. A primeira seria puramente econômica, pois se não mudarem perderão clientes. A segunda seria cogni-tiva, pois os cientistas do clima e da esfera biológica estão dando alarmes concisos baseados em fatos e mostrando o potencial arrasador das mudanças am-bientais sobre grandes massas populacionais e em futuro próximo. A terceira seria de origem biológica, pelo fato da espécie lutar instintivamente pela redução geral nas emissões de GEE, poluição das águas, resíduos sólidos domésticos e industriais, manutenção de florestas para regularização dos regimes de chuvas sazonais. Preservar a qualidade do ambiente para o fu-turo, para a perpetuação de seus genes. Uma pequena viagem pela História Biológica da nossa espécie ajuda a refletir sobre o tema.

Aspectos evolutivos da espécie Homo sapiensAs primeiras espécies hominídeas surgiram a partirde primatas do passado dotados de hábitos arbóreos,em que apresentavam mãos e pés preênseis, aptidão

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sensorial com olhos voltados para frente, que dife-rentemente dos outros grupos conferiu-lhes visão bastante desenvolvida, resultado de seleções naturaisque favoreceram seu estilo de vida.

A linguagem foi uma das primeiras revoluções quetrouxe muitas vantagens para espécie, pois somente através dela que os indivíduos poderiam trocar as “ex-periências do raciocínio individual” e somarem seus benefícios para o bem do grupo. Esta ferramenta só foi possível depois de estabilizar a passagem da lin-guagem de pais para filhos, dentro do núcleo familiar.

O desenvolvimento da escrita, entremeados por símbolos e figuras, permitiu ao homem registrar seu conhecimento, seus sentimentos e suas histó-rias vividas. Isto só foi possível pelo fato da nossa espécie possuir o movimento do polegar contra o dedo indicador (movimento de pinça) somado a um senso artístico, que desde cedo apareceu de modo rudimentar e também de modo apurado.

A manipulação do fogo trouxe mudanças em alguns aspectos da espécie, entre eles a mudança de dieta. Com o cozimento da carne a digestão se tornou maissatisfatória melhorando a nutrição. A alimentação com carne deixava os indivíduos saciados por mais tempo. Percebendo esta qualidade da carne passaram a se alimentar mais da caça. Com o passar dos tem-pos a contínua saída dos homens para a caça e a per-manência das mulheres nas proximidades dos abrigos trouxe a essas comunidades o domínio da agricultura. A descoberta da reprodução das plantas foi oriun-da da observação destas mulheres, que ao se alimenta-rem de frutas acabavam por jogar suas sementes nas imediações dos abrigos, observando então que a partir das sementes nasciam novas plantas. Paralelamente, alguns animais buscavam junto às famílias humanas os restos de frutas, ou carcaças de animais, dando a opor-tunidade de, com o tempo, desenvolverem tolerância à presença humana, tornando mais fácil a sua domes-ticação. Animais domesticados e agricultura familiar resultam no estabelecimento de condições mínimas à subsistência. Os núcleos familiares tornaram-se sede-ntários deixando aos poucos o hábito nômade. A re-volução agropecuária trouxe novos padrões no com-portamento do grupo, exigindo soluções criativas a problemas simples, como a construção de cabanas, de fogões a lenha, objetos para transporte e armazena-mento de água, e outras ferramentas que poderiam

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facilitar o trabalho de tratar os alimentos duros, como os moinhos para moer trigo. A busca de soluções práticas resultaram no aprendizado e manipulação de metais e confecções de novas ferramentas, panelas, a roda, entre outros objetos.

O desmatamento para estabelecimento de culturas de cereais, utilização da madeira para construções e móveis, e a concen-tração de pessoas foram aumentando.

A aglomeração humana estimulou o desenvolvimento da organização social, para garantir proteção, troca de mercadorias, troca de serviços, induzindo à obtenção de recursos variados. Este comércio primitivo entre aglomerados foi se tornando mais promissor, e a busca por novos produtos permitiu o estabelecimento de re-lações entre populações cada vez mais distantes. Surge neste contexto as moedas, que possuem o poder de comprar, ao invés de trocar mercadorias.

As nações foram se estabelecendo, e as relações de comércio intensificadas. Frotas de comerciantes fer-viam e surgiam opções de transporte de gente e de mercadorias cada vez mais sofisticadas. A organiza-ção de sistemas de empregos para realizar trabalhos em linha de produção (ainda de forma artesanal) foi uma grande sacada, fazendo de seus idealizadores e executores pessoas dotadas de poder econômico su-perior (moedas) aos agricultores, ferreiros, marcinei-ros. O trabalho especialista em um setor da produção

aumentava a velocidade de produção e garantiam me-lhor qualidade. O oferecimento de empregos tinha um lado bom: era uma opção à sobrevivência. O ofício traria um retorno em moedas para o empregado. Mais tarde, as máquinas a vapor aceleraram as linhas de produção substituindo parte dos empregados, o que causou a primeira grande crise econômica quando as taxas de desemprego subiram estrondosamente.

O grande volume de transformações na forma de se trabalhar com as novas ferramentas deu início entre a idade média e a idade moderna, entretanto as trans-formações continuam aceleradas até os dias atuais. Em cada povo do planeta isso ocorreu de uma forma ou de outra. As linguagens multiplicaram-se exponen-cialmente.

Hoje não basta a linguagem de origem (língua escrita e falada). O mundo globalizado inseriu na rotina do homem linguagens eletrônicas, culturais, escritas, compartilhadas por telefones celulares, em mensagens de internet, em programas de TV, sem as quais se fica desatualizado e já não acompanha mais o ritmo glo-bal.

E é nesta dança globalizada que estamos inseridos. Já não é mais a música a linguagem universal. É na rotina global que vivemos envolvidos, e precisamos dançar “conforme esta música”. Porém a pista de dança está ficando perigosamente escorregadia, e corremos o risco de cair para não dançar mais.

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São Francisco é feito de várias garrafas Pet. As cores são tiradas de sacos de papel de padaria. Um Detalhe: os olhos foram tirados de uma re-vista. Segundo o Oceano Cavalcante, este São Francisco é bem brasileiro, pois em um de seus braços está pousado um papagaio. Esta obra ficou exposta na Casa Cor 2008.

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A arte do lixoPor Érica Maruzi

Reciclando garrafas pet, papel, papelão, saco cimento e, principalmente idéias. É assim que o pernambuca-no Oceano Cavalcante, de 48 anos, faz suas escultu-ras. Enfermeiro de profissão, Oceano conta que sua relação com materiais recicláveis começou em 2006, quando ele cuidava de um idoso no bairro Serra. Eco-logista desde que nasceu, como Oceano define seu pa-ciente Luiz Carlos de Portilho, que foi o seu principal incentivador. “Aos 99 anos, ele conseguiu mudar meu conceito sobre meio ambiente” afirma Cavalcante. No condomínio em que morava Luiz Carlos existia coleta seletiva e entre conversas e notícias relacionadas ao problemas do meio ambiente, como o aquecimento global e o lixo urbano, Cavalcante decidiu que iria contribuir de alguma maneira com a causa ambiental, “como sempre gostei de arte, eu resolvi fazer alguma coisa, mas queria fazer algo diferente, ai decidi fazer esculturas usando como matéria prima coisas que eu retirava do lixo”, conta o artista. Seu primeiro trabalho foi feito a partir de um filtro de barro que ele encon-trou jogado fora, desde então Cavalcante utiliza gar-rafas pet, papel, saco de cimento, madeira, caixa de pa-pelão e diversos outros materiais como matéria prima

para suas obras. O processo de criação das obras é feito minuciosa-mente e cada detalhe é extremamente valorizado pelo artista, como a escultura de São Francisco de Assis de quase dois metros de altura, em que o artista foi além dos tradicionais pombos que acompanham a imagem, e colocou um papagaio verde e amarelo pousado em um dos braços do santo. Cavalcante conta que não costuma utilizar tinta nas suas obras e que as cores são feitas a partir de colagens de papéis coloridos, como a imagem de Nossa Senhora feita em tons de azul e vermelho. Entre diversas exposições, confecção de troféus e cenários, Cavalcante conta que o dinheiro ganho com sua arte é o suficiente para se manter, mas que ainda hoje, trabalha como cuidador de idosos por amor aos seus pacientes. “Meu plano é trabalhar somente com as esculturas, mas continuo trabalhando como enfer-meiro porque meus pacientes são idosos e tenho mui-to carinho por eles. Gosto muito do meio ambiente, penso até em fazer uma faculdade na área ambiental” relata. O preço das esculturas do artista variam de R$ 500,00 a R$ 2.500,00 dependendo do tamanho e da complexidade da obra. Desde que começou a realizar este trabalho, Cavalcante já confeccionou cerca de 500 peças, entre Dom quixote, São Francisco de Assis e mais recentemente, o presépio que enfeitou o natal do Parque Municipal.

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Artesanato

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Por Fabiana Lima

“Quando eu era criança não entendia porque o meu pai me pedia para segurara o lixo até chegar em casa.”

Quando se é criança muitas coisas não tem a importân-cia que deveria ter, algo simples como segurar, guardar, reservar em algum lugar as embalagens dos produtos que consumimos, e não simplesmente abrir janela é arremessa-lo para bem longe, sem preocupação.

A coleta seletiva faz parte da minha vida e a minha qualidade de vida mudou desde que comecei a fazer coleta seletiva. Não tem muito tempo que separo o lixo em casa. Um dia vi a minha irmã separando o lixo, eu tinha vontade de implantar na minha casa, só não tinha encontrado o método correto de fazer isso.

Descobri que a maneira mais fácil é aquela que se ade- qua melhor ao seu perfil. O meu perfil é de como mui-tas pessoas, trabalho o dia todo é só estou em casa a noite e nos finais de semana, como poderia fazer para que a minha coleta seletiva desse certo? Além de tudo, eu não tinha espaço para depositar o lixo no meu apartamento. Comecei com uma pequena e sim-ples caixa de papelão, apenas isso. Encontrei um local estratégico para coloca-la e nela que deposito todos os materiais recicláveis que produzo.

Observei que a minha geração é de muitas em-balagens recicláveis, tais como: longa vida e ma-

teriais plásticos como pet, embalagens e sacolas.

Como dar destino correto a esse material 100% reci-clável? Ao buscar informações, descobri que na minha re-gional não tem coleta seletiva da prefeitura, a única maneira era levar o lixo até os Locais de Entrega Vo-luntária – LEVS espalhados pela cidade. Então, todo final de semana passei a levar o lixo para a reciclagem, sendo a primeira coisa do dia, não que eu quisesse me livrar logo, não era essa a intenção. O fato de deposi-tar o lixo no local correto me dá um prazer enorme, eu me sinto muito feliz por fazer a minha parte pe-rante as necessidades que uma cidade como Belo Horizonte.

Atualmente, BH não possui um local próprio para o destino final do lixo. As toneladas que são geradas aqui são encaminhadas a um aterro sanitário particular em outro município.

Não é apenas para cidade que a coleta seletiva é necessária, contribui também com as pessoas que ti-ram do lixo o seu sustento, então falar de realização era pouco, eu me sinto útil. Pensando bem, o meu pai me criou, sem saber, uma gestora de resíduos. Sei que ele nunca pensou que essa área fosse me interessar um dia, como de fato aconteceu. Sei que ele tem muito orgulho de me ver atuar na área ambiental e da minha preocupação e interesse pelo meio ambiente.

Relato pessoal

Coleta seletiva

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Por Carla Pereira Silva

Os desequilíbrios ambientais são um conjunto de alertas à humanidade e um questionamento aos paradigmas existentes. Para tentar resolver ou pelo menos amenizar os problemas ambientais algumas mudanças são imprescindíveis, tanto na estrutura das sociedades, quanto na cosmovisão dos indivíduos.

A relação entre homem e natureza está diretamente ligada à cultura à qual esse faz parte. Em cada civi-lização a cultura exerce o papel de mediadora na re-lação do ser humano com a natureza. Assim, para a preservação ambiental, não basta apenas o uso de tecnologias sustentáveis, mas também, uma alteração na forma como percebemos o meio ambiente.

A percepção ambiental pode ser alterada pela edu-cação ambiental, que deverá inter-relacionar aspec-tos históricos, culturais, econômicos, ecológicos e políticos, visando alcançar objetivos comuns para a melhoria da qualidade de vida de toda a população.

O Brasil possui uma política nacional específica para a Educação Ambiental, dispondo de importantes instrumentos para sua efetivação. Hoje, as políticas públicas em educação ambiental são conduzidas pelo MEC e pelo MMA por meio dos seus setores especializados em educação ambiental, baseados no PRONEA – Programa Nacional de Educação Am-biental.

A Educação Ambiental também deve fornecer conhecimentos fundamentais que contribuam para a sensibilização e o desenvolvimento de habilidades em relação aos problemas ambientais e, conseqüen-temente, incentivar a participação e o surgimento de novas formas de comportamento frente ao meio am-biente.

A Educação Ambiental é essencial não apenas em locais onde há uma demanda por preservação e con-servação dos recursos naturais, seu desenvolvimento é fundamental também, em locais onde existam ne-cessidades de melhoria do ambiente e de suprimento de diferentes carências.

Educação Ambiental

Em busca de uma cultura ambiental

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Por Edézio Teixeira de Carvalho

Para operar sistemas complexos René Déscartes sepa-rou componentes, criando o método analítico; apli-cados conceitos da área de conhecimento correspon-dente à parte, restariam solucionados os problemas do todo. A engenharia é domínio típico de aplicação da filosofia cartesiana. Não restam dúvidas de que o mé-todo cartesiano levou o homem à lua e realizou façan-has como a descoberta do pré-sal, primor de coope-ração interprofissional entre geologia e engenharias executivas. Não obstante, a ruptura da barragem de Tetum, EEUU, anos 70, constituiu alerta quanto a pos-sibilidades de que a soma das partes não equivalha ao todo; uma parte pode funcionar como elo da corrente e, rompendo, comprometer o todo. De modo muito simplificado teria ocorrido o seguinte no caso citado: consta que geóloga recomendara não se usar certo tipo de solo local no sistema de drenos e filtros da bar-ragem e, não sendo atendida, pedira demissão; mais tarde a ruptura foi debitada exatamente ao mau fun-cionamento desse sistema. A comissão nomeada por Carter concluiu ter faltado coordenação entre setores especializados, que teriam agido de forma estanque, sem a intercomunicação essencial ao bom resultado esperado.

Mais que qualquer barragem, a Cidade é um todo feito de partes construídas por diversos agentes em épocas distantes sob escassa e imperfeita coordenação da lei. Lei não necessariamente escrita foi adotada na maioria das cidades eurocêntricas, algo tácito: inspiradas em

Déscartes, elas separaram problemas, e assim separa-ram suas soluções; não só separaram soluções, mas também estruturas administrativas destinadas a con-struí-las. Não foi sem razão que Moynihan, assessor de Nixon para assuntos urbanos, dizia que os planejadores urbanos estavam perplexos com o fato de que no meio urbano “tudo se relaciona com tudo”. Embora tenha posto o dedo na ferida, ele não achou solução para seu próprio país, com problemas insolutos em cidades como New Orleans e Los Angeles, por exemplo.

Pedindo vênia aos médicos: As cidades podem ter problemas com alergias ou infecções localizadas e aí certo especialista poderia resolvê-los, mas quando o especialista, no corpo humano ou na cidade, não per-cebe os arredores da parte, ele pode contaminar o todo com as ramificações emanadas de uma solução desastrada. Está nesta linha o famoso piscinão de São Paulo, que apenas organiza a fila do apressado retorno da água ao mar. Depois de passada a chuva e esgotado o piscinão, fica lama, fica gato morto, ficam miasmas da podridão. É uma função urbana que socorrerá a ci-dade por 30 dias por ano, evidentemente substituível pela coleta disseminada telhado a telhado, anulando no nascedouro o descontrole das águas. Esta não afeta o arredor, enquanto o piscinão tira um problema e põe outros no lugar. É por esta razão que infecções urba-nas assumiram o caráter de verdadeiras septicemias.

Quanto ao seu trato, sistêmico, exatamente, então, com a palavra os médicos, que, quando podem agir, contro-lam a tempo e horas epidemias e pandemias. Carte-sianamente: O edificado sobre terra ignorada não faz cidade.

Artigo

Alergias Urbanas

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