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Volume 16 Número 1 2010 Revista da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Seção São Paulo ISSN 0104-1258 Infecção do trato urinário adquirida em ambiente hospitalar em idosos Produção científica do 6º Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia – GERP 2009 “Os Velhos Guris”: relato de experiência com musicoterapia Atenção ao idoso no domicílio: o enfoque da enfermagem Percepção das dificuldades funcionais no Comprometimento cognitivo leve Prevenção de quedas com suplementação oral de vitamina D Fatores associados à funcionalidade física e cognitiva em longo prazo

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Volume 16 Número 1 2010

Revista da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Seção São Paulo

ISSN 0104-1258

Infecção do trato urinário adquirida em ambiente hospitalar em idosos

Produção científica do 6º Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia – GERP 2009

“Os Velhos Guris”: relato de experiência com musicoterapia

Atenção ao idoso no domicílio: o enfoque da enfermagem

Percepção das dificuldades funcionais no Comprometimento cognitivo leve

Prevenção de quedas com suplementação oral de vitamina D

Fatores associados à funcionalidade física e cognitiva em longo prazo

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torlos

torlos

ecator H

indapen

karvil

ecator

azukon

betacard

amlocor

branta

DOIS GRANDES ALIADOS PARA O DESAFIO DA ADESÃO

Registro M.S. Número: 1.0525.0005 Registro M.S. Número: 1.0525.0004

TORLÓS (losartana potássica). Registro MS nº 1.0525.0005. Composição, Forma Farmacêutica e Apresentações: cada comprimido contém 25 ou 50 mg de losartana potássica. Embalagens com 28 comprimidos de 25 mg; 14 e 28 comprimidos de 50 mg. Indicação: hipertensão arterial como monoterapia ou em combinação com outros agentes anti-hipertensivos. Contra-indicações: hipersensibilidade à losartana ou aos demais componentes da fórmula. Gravidez e lactação: está contraindicada durante a gravidez e quando esta for detectada seu uso deve ser interrompido imediatamente. Em relação à lactação, deve-se optar pela interrupção do tratamento ou da amamentação quando a droga for vital para a mãe. Precauções e Advertências: se for detectada gravidez durante o tratamento, a medicação deve ser suspensa ou substituída de imediato. Cautela em pacientes com insufi ciência renal ou hepática grave. Cautela no início do tratamento de pacientes com ICC ou depletados de sódio, pois pode causar hipotensão severa. Nos pacientes com enfermidade cérebrovascular ou cardiopatia isquêmica, nos quais o quadro pode se agravar como consequência de uma hipotensão severa. Apresenta efeito uricosúrico potente. Interações medicamentosas: tem-se relatado efeitos natriuréticos e efeitos depletores de potássio. Recomenda-se controle periódico dos níveis de potássio em pacientes em tratamento com diuréticos. Toxicidade ao lítio em pacientes em tratamento com drogas que aumentam a eliminação de sódio. Não se sabe se o uso concomitante com cetoconazol ou sulfafenazol pode causar alguma infl uência no efeito da losartana. Reações adversas: as mais frequentes são: mal-estar epigástrico, diarréia, mialgia, cãibras, tonturas, insônia, congestão nasal, astenia, fraqueza, edema, náuseas, faringites, cefaléia, hipotensão ortostática. Posologia: a dose inicial usual é de 50 mg uma vez ao dia, ou 25 mg em pacientes com possível depleção de volume intravascular, e em pacientes com histórico clínico de insufi ciência hepática. TORLÓS pode ser administrado 1 ou 2 vezes ao dia, com doses diárias variando de 25 a 100 mg. (Fev 09). VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. “AO PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO”.TORLÓS-H (losartana potássica + hidroclorotiazida). Uso Adulto. Registro MS nº 1.0525.0004. Composição, Forma Farmacêutica e Apresentação: cada comprimido contém: losartana potássica 50 mg e hidroclorotiazida 12,5 mg. Embalagens com 14 e 28 comprimidos. Indicação: hipertensão arterial. Contra-indicações: hipersensibilidade a losartana e/ou à hidroclorotiazida ou aos demais componentes da fórmula. Durante a gravidez e lactação: quando a gravidez for detectada, a medicação deve ser suspensa ou substituída de imediato. Pacientes com anúria ou hipersensibilidade a outras drogas derivadas da sulfanilamida. Advertências e Precauções: se for detectada gravidez durante o tratamento deve ser suspenso ou substituído. Insufi ciência renal ou hepática grave. Tratamento de pacientes com insufi ciência cardíaca ou depletados de sódio, pois pode produzir um quadro de hipotensão severa. Pacientes com enfermidade cérebrovascular ou cardiopatia isquêmica, nos quais o quadro pode se agravar como consequência de uma hipotensão severa. Pacientes com função hepática deteriorada ou doença hepática progressiva. Os tiazídicos podem exacerbar ou ativar o lúpus eritematoso sistêmico. Os pacientes recebendo tratamento com tiazídicos devem ser observados para os sinais de hiponatremia, alcalose, hipocloremia, hipocalemia, hipomagnesemia ou hipercalcemia. Em pacientes diabéticos pode requerer ajustes na dose de insulina ou hipoglicemiantes orais. Diabetes mellitus latente pode tornar-se manifesto durante a terapia com tiazídicos. Interações Medicamentosas: pode haver toxicidade ao lítio em pacientes em tratamento com drogas que aumentam a eliminação de sódio. O uso concomitante com álcool, barbitúricos ou narcóticos pode provocar hipotensão ortostática. A absorção da hidroclorotiazida é fortemente reduzida pelo uso concomitante de colestiramina ou colestipol. O uso conjunto com ACTH pode levar à hipocalemia. AINEs pode reduzir o efeito diurético e anti-hipertensivo dos tiazídicos. Corticosteróides pode causar hipocalemia. Metotrexato, pode ocasionar granulocitopenia. Propranolol pode intensifi car o efeito hiperglicêmico da hidroclorotiazida. Reações adversas: as mais frequentes: mal-estar epigástrico, diarréia, mialgia, cãibras musculares, tonturas, insônia, congestão nasal, astenia, fraqueza, edema, náuseas, faringites, cefaléia, hipotensão ortostática. Posologia: dose inicial é de 1 comprimido 1 x ao dia. Após cerca de 3 semanas, a dose pode ser aumentada para 2 comprimidos 1 x ao dia. Insufi ciência renal: o tratamento com este produto pode ser realizado enquanto o clearance de creatinina for superior a 30 ml/min. Insufi ciência hepática: não é recomendado. (Fev 09). VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. “AO PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO”.Referências Bibliográfi cas: 1. Revista ABCFARMA número 218, outubro de 2009. 2. Dahlof B et al. “Cardiovascular morbility in the losartan Intervention For Endpoint reduction in hypertension study (LIFE): a randomized trial against atenolol. “ Lancet 2002; 359(9311): 995-1003. 3. Flack JM et al. “Antihypertensive effi cacy and safety of losartan alone and in combination with hydrochlorothiazide in adult African Americans with mild to moderate hypertension.” Clin Ther 2001; 23(8): 1193-208. 4. Oparil S et al. “Effi cacy and safety of losartan/hydrochlorothiazide in patients with severe hypertension.” Am J Cardiol 2001; 87(6): 721-6. 5. Podzolkov VI et al. “Central and peripheral hemodynamic effects of losartan and in combination with hydrochlorothiazide in mild to moderate essential hypertension.” Blood Pressure, 2003; 12:239-245. 6. Medline 7. Bula do Produto.

Fatores determinantes para a adesão ao tratamento da hipertensão arterial

nº 1.0525.0005. Composição, Forma Farmacêutica e Apresentações: cada comprimido contém 25 ou 50 mg de losartana potássica. Embalagens com 28 comprimidos de 25 mg; 14 e 28 comprimidos de : hipertensão arterial como monoterapia ou em combinação com outros agentes anti-hipertensivos.

Composição, Forma Farmacêutica e Apresentações:: hipertensão arterial como monoterapia ou em combinação com outros agentes anti-hipertensivos.

Composição, Forma Farmacêutica e Apresentações:Contra-indicações:

Composição, Forma Farmacêutica e Apresentações:Contra-indicações:

Composição, Forma Farmacêutica e Apresentações: cada comprimido contém 25 ou 50 mg de losartana potássica. Embalagens com 28 comprimidos de 25 mg; 14 e 28 comprimidos de Contra-indicações:

cada comprimido contém 25 ou 50 mg de losartana potássica. Embalagens com 28 comprimidos de 25 mg; 14 e 28 comprimidos de cada comprimido contém 25 ou 50 mg de losartana potássica. Embalagens com 28 comprimidos de 25 mg; 14 e 28 comprimidos de hipersensibilidade à losartana ou aos demais componentes da fórmula.

cada comprimido contém 25 ou 50 mg de losartana potássica. Embalagens com 28 comprimidos de 25 mg; 14 e 28 comprimidos de cada comprimido contém 25 ou 50 mg de losartana potássica. Embalagens com 28 comprimidos de 25 mg; 14 e 28 comprimidos de Gravidez e lactação:

cada comprimido contém 25 ou 50 mg de losartana potássica. Embalagens com 28 comprimidos de 25 mg; 14 e 28 comprimidos de

Fatores determinantes para a adesão ao

hipertensão arterial

ECONOMIA (1)

EFICÁCIA ANTI-

HIPERTENSIVA (3,4,5)

Comprovada pela

vasta referência

bibliográfi ca (6)

CONVENIÊNCIAPOSOLÓGICA

SEGURANÇA DEVIDO À BOA

TOLERABILIDADE (2,3,4)

BAIXA INTERAÇÃO

MEDICAMENTOSA (7)

Contraindicação: hipersensibilidade à losartana e/ou à hidroclorotiazida Interação Medicamentosa: lítio

Contraindicação: hipersensibilidade à losartana ou a qualquer componente da fórmula Interação Medicamentosa: lítio

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 2010 33

ExpedienteSociedade BraSileira de

Geriatria e GerontoloGia Seção São Paulo

Departamento de Geriatria da Associação Paulista de Medicina

editor Geral: Maysa Seabra Cendorogloeditor de Gerontologia: Maria de Fátima Nunes Marucci

corpo editorialAnita Liberalesso Néri – UNICAMP – PsicologiaAlexandre Kalache – OMS – Genebra – EpidemiologiaAna Maria Cervato Mancuso – FSP/USP – NutriçãoAndréa Viude – HCFMUSP – FonoaudiologiaCássio M. C. Bottino – FMUSP – Psiquiatria GeriátricaDavid Espino – University of Texas – Arlington - EpidemiologiaEmilio H. Moriguchi – UFRGS – GeriatriaJaime Novaes – University of Washington – Psiquiatria GeriátricaJair Licio Ferreira-Santos – FMRP/USP – EpidemiologiaJeanne Wei – Harvard Medical School – Boston – Cardiologia GeriátricaJulio Cesar Moriguti - FMRP - USP - GeriatriaJoão Toniolo Neto – UNIFESP - GeriatriaJosé Manoel R. Casado – Universidad de Madrid – Cardiologia GeriátricaLaércio Joel Franco – FMRP/USP – EpidemiologiaMaria do Carmo Sitta – FMUSP – GeriatriaMaria Helena Morgani de Almeida – FSP/USP – Terapia OcupacionalMaria José Diogo D’Elboux – UNICAMP – EnfermagemMaria Lúcia Lebrão – FSP – SP – EpidemiologiaMilton L. Gorzoni – FM – Santa Casa – GeriatriaMiriam Najas – UNIFESP – NutriçãoMônica Perracini – UNIFESP – FisioterapiaPaulo Chaves – Johns Hopkins Institute – Baltimore – EpidemiologiaRicardo Nitrini – FM-USP – NeurologiaRicardo S. Komatsu – FAMEMA – GeriatriaRoberto Kaplan – Hospital Italiano – Argentina – GeriatriaRosalina Ap. Partezani Rodrigues – EERP – EnfermagemRuth Lopes – PUC/SP – PsicologiaSônia Lima – Instituto Dante Pazzanese – Assistência SocialSusan B. Roberts – HNRC/USDA – Tufts University – Boston – Nutrição e MetabolismoWilson Jacob Filho – FMUSP – Geriatria

“O conteúdo dos artigos publicados não reflete necessariamente a opinião do corpo editorial ou da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Seção do Estado de São Paulo”

Coordenação editorial, criação e produção gráfica: Atha Comunicação e Editora - [email protected] Machado Bittencourt, 190 CEP 04044-000 - São Paulo - SP - Tel.: 55-11-5087-9502 - Fax: 55-11-5579-5308

CONSELHO DIRETORPresidente: Toshio Chiba1º Vice-Presidente: Roberto Dischinger Miranda2º Vice-Presidente: Naira Dutra Lemos3º Vice-Presidente: Renato Moraes Alves FabbriSecretário Geral: Ambrósio Rodrigues Brandão1º Secretário Adjunto: Omar Jaluul2º Secretário Adjunto: Maria de Lourdes do Nascimento

Av. Brigadeiro Luís Antonio, 388

Conj. 21 – B. Vista – 01318-000

– São Paulo, SP.

Tel. Fax: (11) 3106.1331

Tel: (11) 3101.9984

Tel: (11) 3107.6119

E-mail: [email protected]

www.sbgg-sp.org.br

1º Tesoureiro: Elina Lika Kikuchi2º Tesoureiro: João de Castilho CaçãoDiretor Científico: Maysa Seabra CendorogloBibliotecário: Eduardo Borges de Oliveira

CONSELHO CONSULTIVOLuiz Eugênio Garcez LemeRicardo Shoiti KomatsuClaudia Fló

SUPLENTESPaulo José Fortes Villas BoasJosé Campos FilhoRenata Freitas Nogueira SallesAparecida Yoshie YoshitomeSônia Lima MedeirosValmari Cristina Aranha

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 201044

Editorial

Prezados colegas

O XIX IAGG World Congress of Gerontology and Geriatrics ocorreu este ano e contemplou temas importantes relacionados com a pesquisa em ciências básicas e clínicas, estudos epidemiológicos, ensino na graduação e pós-graduação, políticas públicas, serviços geriátricos e gerontológicos, além de tecnologias. Um dos aspectos que chamou a atenção foram os debates e resultados de pesquisas dos múltiplos fatores relacionados com a fragilidade e o envelhecimento bem-sucedido, definindo novas áreas do conhecimento.

Outro aspecto inovador e instigante foram as apresentações de alguns “consórcios” – pesquisa translacional –, os quais apresentaram resultados epidemiológicos, marcadores clínicos e laborato-riais, pesquisa diagnóstica e marcadores genéticos em populações de diferentes locais, submetidas ao mesmo protocolo de pesquisa. O Genome-wide Association Studies of Healthy Aging and Longevity: The Cohorts for Heart & Aging Research in Genome Epidemiology (CHARGE) Consortium of Longitudinal Population Based Cohort Studies, por exemplo, integra dados do The Rotterdam Study, Cardiovascular Health Study e The Health, Aging and Body Composition Study. Essa proposta tem sido estimulada, a integração de diferentes grupos de pesquisa na busca de marcadores do envelhecimento que superem diferenças culturais e fronteiras.

Muitos serviços e grupos de pesquisa brasileiros estiveram representados, trazendo contribuições significativas, tais como discussões sobre a síndrome metabólica e a obesidade no idoso. As questões relacionadas com o valor da medida da circunferência abdominal, sarcopenia, impacto sobre a capa-cidade funcional e tratamento desses pontos tem preocupado a geriatria e gerontologia brasileira. As síndromes demenciais, a depressão e a fragilidade foram abordadas de maneira extensa e multidisci-plinar, expressando a complexidade desses desafios e propondo alternativas de resgate da qualidade de vida desses pacientes. Muitas das questões discutidas nesse fórum mundial, e outras, vão ao encontro dos debates propostos no GERP 2009, colocando-nos em sintonia com as preocupações que envolvem o envelhecimento.

Os temas abordados neste número também são destaque no panorama mundial e esperamos que, cada vez mais, o acumulo de conhecimento produzido pelas pesquisas possa nos inspirar a uma prática geriátrica e gerontológica melhor, permitindo que alcancemos também benefícios individuais.

Profa. Dra. Maysa Seabra Cendoroglo

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 2010 55

Sumário

infecção do trato urinário adquirida em ambiente hospitalar em idosos

Produção científica do 6º congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia – GerP 2009

“os Velhos Guris”: relato de experiência com musicoterapia

atenção ao idoso no domicílio: o enfoque da enfermagem

14

11

06

22

27 Estudos comentados

Percepção das dificuldades funcionais no comprometimento cognitivo leve

Prevenção de quedas com suplementação oral de vitamina d

Fatores associados à funcionalidade física e cognitiva em longo prazo

Paulo José Fortes Villas Boas, Adriana Polachini do Valle, José Carlos Christóvan, Tânia Ruiz

Milton Luiz Gorzoni, Sueli Luciano Pires, Renato Moraes Alves Fabbri

Claudimara Zanchetta, Patrick Alexander Wachholz

Márcia Maria Porto Rossetto Mazza, Fernando Lefèvre, Ana Cristina d’Andretta Tanaka

Okonkwo OC e cols – J Am Geriatr Soc. 2009;57:978-84.

Bischoff-Ferrari HA e cols – BMJ 2009;339:b3692

Newman AB e cols - J Am Geriatr Soc 2009; 57:432-440.

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 201066

Artigo OriginalArtigo Original

Paulo José Fortes Villas Boas1, Adriana Polachini do Valle2, José Carlos Christóvan3, Tânia Ruiz4

Infecção do trato urinário adquirida em ambiente hospitalar em idosos

1 – Professor Doutor Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp.2 – Professora Doutora Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp.3 – Professor Assistente Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp.4 – Professora Adjunta Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp.

Endereço para correspondência: Paulo José Fortes Villas Boas – Rua Cardoso da Almeida, 1.807 – 18602 – 130 Botucatu, SP, Brasil. E-mail: [email protected] Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

reSuMo

Introdução: A infecção do trato urinário adquirida no hospi-tal (ITUH) é uma importante causa de morbidade em idosos. Objetivo: Avaliar a ocorrência e os fatores de risco de ITUH. Métodos: Estudo prospectivo em amostra de 322 idosos, inter-nados em hospital universitário. Os critérios para definição de infecção foram do Centers for Disease Control and Prevention. Na análise estatística dos dados foram utilizados cálculo de frequências, odds ratio e regressão logística. Resultados: A taxa de infecção hospitalar foi de 23,6%. As topografias prevalen-tes foram: pneumonia (27,6%), trato urinário (26,4%) e sítio cirúrgico (23,6%), com 21, 20 e 19 episódios, respectivamente. A densidade de incidência de ITUH associada ao cateterismo urinário foi de 24,2 infecções por 1.000 cateteres-dia. O tempo de internação dos pacientes sem infecção hospitalar foi de 6,9 dias e com ITUH foi acrescido em 10,4 (p < 0,05). A letalidade dos pacientes com ITUH foi de 20%. Foram isolados patógenos em 75% dos episódios de ITUH, sendo os prevalentes: Escheri-chia coli (33%) e Pseudomonas aeruginosa (20%). Os fatores de risco encontrados para ITUH foram: realização de cateterismo urinário (odds ratio (OR) = 43,1; intervalo de confiança de 95% (IC 95%) = 3,9 – 311,1), internação com infecção comunitária (OR = 21,9; IC 95% = 4,9 – 97,9), doença vascular (OR = 14; IC 95% = 2 – 98), diabetes mellitus (OR = 5,5; IC 95% =1,4 – 21) e cateterismo urinário por mais que três dias (OR = 3,7; IC 95% = 1 – 13,8). Conclusões: A ITUH apresentou incidência elevada e aumentou o tempo de internação.

Descritores: infecção do trato urinário; idoso; infecção hospita-lar; cateterismo vesical.

aBStract

Introduction: Hospital-acquired urinary tract infection (HAU-TI) is an important cause of morbidity in the elderly population. Objective: Evaluate the occurrence of HAUTI and risk factors associated with it. Method: This is a prospective study of a sample of 332 elderly people, interned in a university hospital. Criteria for defining infection were established by the Center for Diseases and Prevention Control. Statistical analysis of data used calculation of frequencies, odds ratio and logistic regres-sion. The rate of hospital infection was 23.6%. The prevalent topographies of infection were respiratory infections (27.6%), urinary tract infections (26.4%) and surgical wound infections (23.6%, with 21, 20 and 19 episodes, respectively. The HAUTI incidence density associated with urinary catheterization was 24.2 infections by 1,000 catheter-days. The length of hospital stay of patients without nosocomial infection was 6.9 days and with HAUTI was increased in 10.4 (p<0.05).The rate of morta-lity of patients with HAUTI was 20%. Pathogens were isolated in 75% of episodes of HAUTI and the prevalent were: Escheri-chia coli (33%) and Pseudomonas aeruginosa (20%). Risk factors found for HAUTI were urinary catheterization implementation (odds ratio (OR) = 43.1; 95% confidence interval (95 CI%) = 3.9 – 311.1), hospitalization with community infection (OR= 21.9; 95% CI = 4.9 – 97.9); vascular diseases (OR=14; 95% CI = 2 – 98); diabetes mellitus (OR= 5.5; 95% CI = 1.4 – 21) and urinary catheterization by more than three days (OR=3.7; 95% CI = 1 – 13.8). Conclusions: HAUTI presented elevated incidence and it increased the length of hospital stay.

Keywords: urinary tract infection, elderly, nosocomial infection, urinary catheterization

Hospital-acquired urinary tract infection in the elderly

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 2010 77

introdução

Por ser causas frequentes de hospitalização e morte nos pacientes idosos (pessoas com idade de 60 anos e mais), as doenças infecciosas são importantes objetos de estudos de ocorrência e risco.Devido às alterações do envelhecimento e às comorbidades pre-sentes, pessoas idosas estão mais suscetíveis à infecção(1). No idoso, acometido pelo processo infeccioso, observa-se aumento na morbidade e mortalidade quando comparado com indivíduos mais jovens(2). Dentre as condições infecciosas que acometem essa popula-ção, assume importância a infecção hospitalar (IH), também denominada infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS). A ocorrência dessa condição determina aumento do tempo de internação (de quatro dias, em média), dos custos de interna-ção e dos índices de mortalidade na população acometida(3). A IH é definida como a adquirida após a admissão do paciente em ambiente hospitalar e cuja manifestação ocorreu durante a internação ou após a alta, podendo estar relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares(4,5). Cerca de 54% das IHs acometem pessoas idosas(6).Segundo diferentes estudos, as topografias mais frequentes de IH são infecção do trato urinário (ITUH), pneumonia e in-fecção do sítio cirúrgico(7,8). A ITUH é a IH mais frequente, com prevalência variando de 23% a 40%(7,9) e também é a mais predominante nos idosos, sendo responsável por 44% dessas infecções nessa população6. Aproximadamente 80% das ITUH estão associadas à cateterização urinária(9-11).Poucos são os trabalhos que analisam os fatores de risco para ITUH no grupo etário geriátrico, condição especificamente importante nessa idade(2,6,12).O presente estudo teve por finalidade conhecer a ocorrência e os fatores de risco de ITUH em população de idosos internados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Botucatu (HC-FMB) – Unesp.

MetodoloGia

Foram avaliados prospectivamente 322 idosos com 60 anos ou mais internados no HC-FMB, hospital universitário localizado no município de Botucatu, Estado de São Paulo, no ano de 2000. A determinação do tamanho amostral foi calculada pela fórmula de Fisher e Belle, utilizando-se intervalo de confiança de 95% e precisão de 3% para a prevalência esperada de IH de 8,5%, conforme descrito previamente(13).Para definição de infecção do trato urinário hospitalar foi uti-lizado critério do Centers for Disease Control and Prevention (CDC-EUA)(4): 1) Cultura de urina com mais 105 colônias/mL com não mais de duas espécies de microrganismos e pelo menos um dos seguin-tes quadros: febre, urgência miccional, aumento de frequência, disúria ou dor suprapúbica, ou2) Dois dos seguintes: febre, urgência, aumento de frequência, disúria, dor suprapúbica e mais um dos seguintes:

a) Teste positivo para estearase leucocitária e/ou nitrato.

b) Piúria (> três leucócitos/campo em urina recém-emitida).c) Microrganismo visto em urina recém-emitida (gram).d) Duas culturas repetidas com o mesmo uropatógeno com > 102

colônias/mL (gram negativos e Staphylococcus saprophyticus).e) Urocultura com menos de 105 colônias/mL de uma única

bactéria em paciente sendo tratado com antimicrobiano adequado.f) Diagnóstico médico.g) Médico institui terapia antimicrobiana.

Os pacientes foram avaliados, em visitas à unidade hospita-lar, quanto ao diagnóstico principal de internação, conforme constatado no prontuário (segundo o CID-10), e diariamente pelo pesquisador ou auxiliar treinado quanto à realização de procedimentos de risco a que foram submetidos e aparecimento de ITUH. Após 30 ± 3 dias ocorreu contato telefônico com o paciente submetido a procedimento cirúrgico, sendo questiona-do sobre o aparecimento de alguma infecção.O paciente, para ser incluído no estudo, leu e assinou o termo de consentimento informado e esclarecido, que foi fornecido a ele ou a seu responsável pelo pesquisador no momento da avaliação inicial.Os dados obtidos da aplicação do instrumento e da pesquisa nos prontuários foram inicialmente descritos em termos de variáveis quantitativas discretas ou contínuas e transcritos em instrumen-to desenvolvido para a coleta dos dados.Foram calculadas: taxa de IH (número de episódios de IH/número de pacientes), taxa de pacientes com IH (número de pacientes com IH/número de pacientes), prevalência por 100 admissões, densidade de incidência de ITUH relacionada com cateterismo vesical (episódio novo de ITUH x 1.000/número de cateteres-dia), distribuição percentual das topografias de infec-ção, taxa de letalidade e agentes etiológicos da ITUH.Para realização de uma análise exploratória preliminar, as variá-veis foram transformadas em binárias e foi testada a associação com o evento ITUH pelo teste do qui-quadrado e cálculo do odds ratio (OR) e intervalo de confiança de 90% (IC 90%), apli-cados a cada variável separadamente. Preservaram-se apenas as variáveis cujo efeito foi significativo (p < 0,05) para a ocorrência do evento. A análise multivariada com regressão logística foi realizada com a introdução, no modelo, de cada variável uma a uma, partindo-se daquela com maior OR na análise univa-riada para a menor. No modelo final preservaram-se apenas as variáveis estatisticamente associadas ao evento. A metodologia utilizada, introduzindo as variáveis uma a uma, permitiu a observação do confundimento e interação.O programa estatístico utilizado para o armazenamento e aná-lises dos dados foi o SPSS versão 14.0. O projeto de pesquisa recebeu parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da FMB – Unesp (Parecer 268/99).

reSultadoS

Foram avaliados 332 idosos, totalizando 2.842 pacientes-dia, sendo 56,3% do sexo feminino. A idade média foi de 69,9 ± 6,3 anos, com mínima de 60 e máxima de 91. O tempo médio de internação foi de 8,5 + 7,2 dias.

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 201088

Topografia Episódio (n) %

Pneumonia 21 27,6

Infecção do trato urinário 20 26,4

Infecção do sítio cirúrgico 19 23,6

Infecção da corrente sanguínea 9 11,9

Infecção do trato gastrintestinal 5 6,6

Infecção de pele e partes moles 3 3,9

Total 76 100

Tabela 1 - Infecções hospitalares por topografia em amostra de pacien-tes com 60 anos ou mais internados no HC-FMB-UNESP, 2000.

Tabela 3 - Resultado do ajuste do modelo de regressão logística de variáveis associadas à infecção do trato urinário hospitalar em amostra de pacientes com 60 anos ou mais internados no HC-FMB-UNESP, 2000.

Variável N OR (IC 95%) Valor de p

Realização de cateterismo urinárioSim Não

18 26,986,12 – 118,85

0,03

Cateterismo urinário por mais de três diasSim Não

17 16,48 6,18 – 43,97 0,02

Doença arterial periféricaSim Não

16 9,50 2,58 – 34,90 0,01

Diabetes mellitusSim Não 11 5,56 2,17 – 14,26 0,00

Infecção comunitáriaSim Não 9 3,17 1,26 – 7,97 0,00

Tabela 2 - Risco relativo de variáveis encontradas como associadas a infecção do trato urinário hospitalar em amostra de pacientes com 60 anos ou mais internados no HC-FMB-UNESP, 2000.

A taxa de infecção hospitalar geral foi de 23,6% (76 episódios em 332 pacientes).A tabela 1 apresenta a distribuição percentual das topografias das infecções hospitalares, sendo as prevalentes: pneumonia (27,6%), do trato urinário (26,4%) e do sítio cirúrgico (23,6%), com, respectivamente, 21, 20 e 19 episódios. Quando o paciente adquiriu ITUH, o tempo de internação foi acrescido em 10 ± 4 dias (p < 0,05). A prevalência de ITU foi de 6,02 por 100 admissões. Fizeram uso de cateter vesical (CV) 96 pacientes dos 332 ava-liados. O número de cateteres-dia (CD) foi de 743. Dos 20 pacientes que cursaram com ITUH, 18 foram submetidos a esse procedimento.A densidade de incidência de ITU relacionada com a cateteri-zação urinária foi de 24,2 infecções por 1.000 CD.Foram isolados patógenos em 75% dos episódios de ITUH, sendo os prevalentes: Escherichia coli (33%), Pseudomonas aeru-ginosa (20%) e Candida sp (13,3%).Apresentaram associação com ITUH, após análise estatística por regressão univariada, a realização de procedimentos como cateterismo urinário e a duração do cateterismo por mais de três dias, e a presença das seguintes condições clínicas: doença vascular periférica, diabetes mellitus e internação com infecção comunitária (tabela 2).As variáveis que apresentaram associação com a ocorrência de ITUH, após análise multivariada, foram: cateterismo urinário, doença vascular periférica, diabetes mellitus, internação com infecção comunitária e duração do cateterismo por mais de três dias (tabela 3).Foram utilizados para tratamento das ITUH um antimicrobia-no em 18 episódios (90%) e dois em dois (10%). Os antimicro-bianos prescritos foram: ciprofloxacina (75%), amicacina (10%), fluconazol (10%), cefepima (5%) e imipenem (5%).Dois pacientes evoluíram para óbito, com taxa de letalidade da ITU de 10%.

diScuSSão

As IH decorrerem de complicações naturais de um desequilíbrio entre a flora microbiana normal do paciente e seus mecanismos de defesa. Essa alteração do equilíbrio natural pode ser determi-nada pela alteração fisiológica da imunidade do indivíduo idoso, por doenças responsáveis pela hospitalização, por procedimentos invasivos ou por terapias imunossupressoras a que o paciente for submetido.Os coeficientes de IH podem diferir de um hospital para ou-tro, de acordo com aspectos da instituição. Fatores que podem

Variável N OR (IC 95%) Valor de p

Realização de cateterismo urinárioSim Não

18 43,18 3,99 – 311,14 0,00

Infecção comunitáriaSim Não

9 21,90 4,90 – 97,93 0,01

Doença arterial periféricaSim Não

16 14,07 2,02 – 98,02 0,00

Diabetes mellitusSim Não

11 5,55 1,46 – 21,09 0,01

Cateterismo urinário por mais de três diasSim Não

17 3,73 1,00 – 13,85 0,01

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 2010 99

influenciar essas taxas são as características do paciente inter-nado, sendo maiores nos com doenças crônicas e extremos da idade (recém-nascidos e idosos). A realização de cirurgia e de procedimentos invasivos como cateter venoso central, sondagem vesical, entubação traqueal e ventilação mecânica também po-dem modificar esses indicadores.Das IH, 54% podem ocorrer nos pacientes idosos(6). A maior ocorrência dessas infecções nessa faixa etária pode ser explicada pelas alterações fisiológicas, dentre elas as alterações do sistema imunológico, e patológicas que acometem o paciente geriátrico. O envelhecimento do sistema imune é comprovado pela menor resposta às novas vacinas, pelo aumento de autoanticorpos, pela menor função dos anticorpos e pela menor atividade das células natural killer(14).A ITUH foi o segundo tipo mais frequente de IH nessa po-pulação, com um total 20 episódios (26,4%), próximo ao rela-tado de 28,6% em população com idade média de 61 anos(15), porém menor que outro dado, de 44% em pacientes com 15 a 78 anos(6). A frequência topográfica da IH varia conforme a diferença da casuística estudada. Neste estudo, desenvolvido em hospital universitário de atendimento terciário, é esperada maior incidência de infecções respiratórias, explicada pela maior gravidade da população assistida. A prevalência foi de 6,02 ITU por 100 admissões, sendo rela-tado que ela pode variar de 2,39 a 17,7 ITU por 100 admissões em hospital geral(3,16), sendo causa importante do aumento dos custos de internação(17).A densidade de incidência infecção do trato urinário relacionada com a cateterização urinária (DI-ITU) em pacientes adultos de unidades de terapia intensiva do Estado de São Paulo no ano de 2008 foi de 15,06 por 1.000 CD(18). No presente estu-do a DI-ITU foi de 24,2. Esse maior valor pode explicado pelo perfil da população estudada (idosa) e o cenário da pesquisa ser hospital de ensino, onde os procedimentos frequentemente são realizados por profissionais da área de saúde em fase de treinamento.No presente estudo, 90% das ITU hospitalares foram em pa-cientes com cateterismo urinário, sendo já relatado que de 70 a 80% ocorrem em pacientes sondados(19).Em nossa pesquisa foram identificados como fatores indepen-dentes a realização do cateterismo vesical, cateterização por mais de três dias, diabetes mellitus, paciente ser portador de doença vascular periférica e infecção comunitária prévia.Estudo identificou como fatores para o desenvolvimento de ITUH em pacientes cateterizados a duração do cateterismo urinário, diabetes mellitus, ausência de antimicrobiano, sexo feminino, creatinina sérica maior que 2mg/dl, erros de mani-pulação do cateter(20). Em unidade de terapia intensiva, com indivíduos com média etária de 62 anos, os fatores de risco para aquisição de ITUH encontrados foram: grau de severidade na admissão, duração da cateterização urinária (maior que cinco dias) e presença de diabetes mellitus(21). Em outro estudo com

pacientes de diversas faixas etárias, com média de idade de 61 ± 19 anos, os fatores de risco encontrados foram cateterização urinária e idade maior que 60 anos(15).A duração do cateterismo urinário é importante para o desen-volvimento da ITUH(22) Ocorre aumento de 3 a 10% por dia adicional de permanência do cateter com sistema fechado de drenagem. Dez a 20% dos pacientes apresentam bacteriúria no momento da sondagem, 50% no 15o. dia e 100% no 30o dia(23). No presente estudo, a realização de cateterismo urinário e a duração maior que três dias foram fatores de risco independentes para o desenvolvimento dessa infecção.Diabetes mellitus predispõe à ITUH pela menor função dos granulócitos e pelo menor efeito bactericida da urina (pelo de-créscimo da excreção da proteína de Tamm-Horsfall). Adicio-nalmente, os pacientes com diabetes mellitus, aparentemente, apresentam aumento da capacidade de adesividade das bac-térias nas células epiteliais da bexiga(9). No presente estudo, diabetes mellitus foi fator de risco para ITUH, semelhante ao de relatos prévios(20,21).Foram fatores de risco para ITUH a doença arterial periférica e internação com infecção comunitária. Não encontramos na litera-tura relato dessas condições como predisponentes para ITUH. Os agentes microbiológicos foram isolados em 75% dos casos de ITUH. Os patógenos mais frequentes foram: E. coli em 33,4% e Pseudomonas aeruginosa em 20% dos episódios. Em estudos prévios, os agentes prevalentes foram: E. coli, Enterococcus spp, Candida spp, Klebsiella spp e Pseudomonas spp(15,24). Observa-se que os microrganismos isolados são semelhantes aos relatados na literatura.A taxa de letalidade por ITUH em estudo desenvolvido em unidade de terapia intensiva com pacientes com idade média de 61,2 ± 17,4 anos foi de 18%(17), maior que a observada no presente estudo, de 10%. Esse dado pode ser explicado pela maior gravidade dos pacientes da primeira pesquisa. As drogas antimicrobianas utilizadas para tratamento das ITUH, orientadas por urinocultura, foram as recomendadas por diversos consensos(25,26).

concluSão

A IH é um sério problema dos hospitais, com importante taxa de mortalidade e aumento do tempo de internação. A ITUH aparece como topografia frequente em várias estatísticas. No-tavelmente, encontramos aspectos modificáveis como fatores de risco para essa condição (cateterismo urinário), assim como condições clínicas detectáveis como diabetes mellitus e doença arterial periférica.Os achados neste estudo de casos de ITUH necessitam ser con-siderados no contexto de limitações, dentre elas, a incidência de 20 episódios e por alguns pacientes hospitalizados não apresenta-rem todos os sinais e sintomas necessários para o diagnóstico(24). A despeito disso, acreditamos que a ITUH tem importantes implicações para a segurança do paciente hospitalizado.

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 20101010

Para a redução do risco de ITUH relacionada com o cateterismo urinário recomendam-se a instalação do cateter com técnica estéril, utilização de sistema fechado de coleta e drenagem de urina por gravidade(7). As estratégias mais importantes para pre-venção da ITU relacionada com o cateter são: evitar a inserção

do cateter e, se ele for necessário, limitar a duração pelo menor tempo possível(24). Assim, acreditamos que a equipe de saúde possa utilizar o presen-te resultado para identificar pacientes com maior probabilidade de desenvolver ITUH, observando essas condições de risco.

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reFerÊnciaS

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 2010 1111

Artigo Original

Produção científica do 6º Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia – GERP 2009

(Scientific output of the 6TH São Paulo Congress on Geriatrics and Gerontology – GERP 2009)

1 – Professor Ajunto.2 – Instrutor de Ensino.3 – Professor Assistente.

Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II e Disciplina Fundamentos de Gerontologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.Endereço para correspondência: Milton Luiz Gorzoni – Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II – Avenida Guapira, 2.674 – 02265-002 – São Paulo/SP. Tel.: (11) 2176-1204. Fax: (11) 5589-9408. E-mail: [email protected]; [email protected] Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

Milton Luiz Gorzoni1, Sueli Luciano Pires2, Renato Moraes Alves Fabbri3

reSuMo

É evidente o progressivo aumento de produção científica em Geriatria e Gerontologia no Brasil, mas qual seria o seu padrão no 6º. Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia - GERP 2009? Analisaram-se seus anais publicados na revista Envelheci-mento e Saúde. Avaliaram-se o número de autores por trabalho, local de origem do tema livre e temática principal. Estabeleceu-se divisão temática por critérios definidos pelos três autores. Os anais do GERP 2009 continham 377 resumos, não havendo di-visão entre Geriatria e Gerontologia ou agrupamento pelo tema. Média de autores por resumo: 5,0 ± 2,6 (um a 12). Instituições de ensino apresentaram 290 temas livres (76,9% do total), sen-do que em 12 deles houve coautoria de outra universidade. Entidades privadas expuseram 106 estudos (28,1% do total). Agrupou-se a temática dos trabalhos apresentados em 59 itens, havendo 115 temas livres (30,5% do total) com a associação de dois itens como tema principal. As principais temáticas foram sobre cognição (14,3% do total), instituições asilares (12,2%) e reabilitação (9,8%). Encontraram-se, na literatura consultada, apenas duas avaliações sobre eventos nacionais ocorridos em 1994 e 1996. Comparando-se dados entre o presente estudo e os outros dois, observou-se aumento do número de trabalhos apresentados e de autores por tema livre. Manteve-se significante percentual de trabalhos produzidos em instituições de ensino, notadamente universidades públicas. A diversidade de temáticas expostas no GERP 2009 indica que a proposta básica de visão multiprofissional quanto ao idoso está ocorrendo. Há necessi-dade de futuras publicações para melhor definir aspectos das tendências observadas no presente estudo.

Descritores: geriatria, gerontologia, indicadores de produção científica

aBStractS

The scientific output in Geriatrics and Gerontology in Brazil is increasing steadily, but what will the trend be in the 6th São Paulo Congress on Geriatrics and Gerontology - GERP 2009? We analyzed the GERP Congress annals published in the jour-nal “Envelhecimento e Saúde”. The number of authors per study and the place of origin of papers were assessed. Papers were grouped according to criteria devised by the three authors. The Annals of the GERP 2009 contained 377 abstracts, which had not been divided into Geriatrics and Gerontology or grouped by type of research. Mean authors per abstract was: 5.0 ± 2.6 (1 to 12). Teaching institutions submitted 290 papers (76.9% of total), 12 of which involved co-authorship with other Uni-versities, while private entities contributed 106 studies (28.1% of total). The studies presented were grouped into 59 topics, where 115 papers (30.5% of total) were categorized into two main topics. The main topics were cognition (14.3% of total), nursing homes (12.2%) and rehabilitation (9.8%). Only two assessments on national events were found in the literature, published in1994 and 1996. The present study revealed an in-crease in the volume of studies presented and a higher number of authors per paper compared with the results of two previous studies. The proportion of studies produced by teaching ins-titutions, particularly public Universities, remained high. The broad range of papers presented at the GERP 2009 indicates that the fundamental goal of a multi-professional approach to the elderly is being pursued. Further investigations are needed to elucidate the trends observed in the present study.

Keywords: geriatrics, gerontology, scientific publication in-dicators.

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12

Local de origem Unidade ou FaculdadeTotal de resumos

Universidade de São Paulo 98

Faculdade de Medicina (*) 55

Escola de Artes, Ciências e Humanidades

21

Faculdade de Saúde Pública

4

Escola de Enfermagem 2

Faculdade de Odontologia 1

Não especificada (+) 15

Univ. Federal de São Paulo 40 (#)

Pontifícia Univ. Católica de São Paulo 22(**)

Univ. de São Paulo - Ribeirão Preto 15

Univ. Estadual de Campinas 14

Hosp. Servidor Público Estadual 13

Univ. Federal de Mato Grosso Sul 12

Univ. Federal de São Carlos 12

CRI - José Ermírio de Moraes 11

ISCMSP e FCMSCSP 11

Tabela 1 - Principais locais de origem dos temas livres apresentados no 6º Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia - GERP 2009 (2).

Univ. = Universidade; Hosp. = Hospital; CRI = Centro de Referência do Idoso; ISCMSP = Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo; FCMSCSP = Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; (*) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) é co-autora de dois temas livres; (+) Universidade de Maringá - Paraná (UNIGÁ) é co-autora de um tema livre; (#) Co-autora de cinco temas livres da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas e de um da Universidade Cidade de São Paulo; (**) Co-autoria em dois temas livres da Universidade de São Paulo.

introdução

Fundada em 16 de maio de 1961, numa sala do Hospital Miguel Couto, na Cidade do Rio de Janeiro, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) chegou ao Estado de São Paulo em fevereiro de 1976 com a formação da Seção São Paulo (SBGG-SP), a partir de reunião realizada no Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato de Oliveira”. Os anos iniciais de suas atividades como Seção Estadual foram pontuados pelo desenvolvimento de setores e serviços de Geriatria e Gerontologia em diversas instituições universitárias paulistas. Criou-se, assim, massa crítica e oportunidade para a realização da 1ª Jornada Paulista de Geriatria e Gerontologia, em agosto de 1987, que, após várias edições, se converteu no 1º Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia (GERP), em junho de 1998(1). Os subsequentes GERPs apresentaram progressivo aumento no número de temas livres, colaborando para a documentação da produção científica de vários centros de pesquisa e ensino. Mas, qual seria o padrão – qualitativa e quantitativamente – desses estudos relativos ao 6º Congresso Paulista de Geriatria e Geron-tologia – GERP 2009?

oBJetiVoS

Determinar o padrão de trabalhos apresentados como temas livres no 6º Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia – GERP 2009.

MÉtodoS

Realizou-se a análise dos anais do GERP 2009 publicados na revista Envelhecimento e Saúde, volume 15, Suplemento 1, em 2009(2). Avaliaram-se os trabalhos quanto a: (1) Número de au-tores, (2) Local de origem do tema livre – universidades/facul-dades ou não, públicas ou privadas, (3) Temática principal e/ou relevante. Estabeleceu-se que a classificação dos temas livres por temática seguiria concordância entre os três autores. Definiu-se reabilitação como trabalhos relacionados com as ati-vidades fisioterápicas e/ou de terapia ocupacional, ações sociais quanto a estudos sobre atitudes e/ou atividades que objetivaram incluir os idosos em contextos sociais; cuidadores em temas li-vres enfocando aspectos referentes a familiares ou profissionais e seu relacionamento com idosos; hospital como pesquisas sobre atendimento hospitalar e pacientes idosos; cardiovascular em trabalhos abordando doenças ou aspectos cardiovasculares em idosos. Agruparam-se também trabalhos com assunto correlatos, como fármacos e/ou iatrogenia, cuidados paliativos e/ou dor, en-velhecimento humano e/ou nonagenários e centenários, doenças e/ou síndromes geriátricas e maus tratos e/ou violência. Classificaram-se temas livres pelos nomes de profissões (fono-audiologia, psicologia e enfermagem) quando seus autores en-fatizaram o papel desses profissionais em abordagens geronto/geriátricas.O presente trabalho faz parte do Projeto n° 130/09 aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

reSultadoS

Os anais do GERP 2009 continham 377 resumos sequenciais, não havendo divisão entre Geriatria e Gerontologia ou agrupa-mento pelo tema principal do estudo. O resumo 343 não relatava seu local de origem, embora os outros dados pudessem ser anali-sados. Houve também a sobreposição de textos nos resumos 257 e 260, prejudicando sua avaliação quanto à temática.A média de autores por resumo foi de 5,0 ± 2,6 (extremos de um a 12). Instituições de ensino foram responsáveis por 290 temas livres (76,9% do total), sendo que em 12 deles houve coautoria de outra universidade (3,2% do total). Entidades privadas apresenta-ram 106 estudos (28,1% do total). Os principais locais de origem das pesquisas estão sumarizados na tabela 1. Merece menção o encontro de 62 trabalhos (16,5% dos resumos) oriundos, total ou parcialmente, de locais situados em outros Estados: Mato Grosso do Sul (13 trabalhos), Amazonas (nove), Bahia (sete), Alagoas (seis), Ceará (seis), Distrito Federal (seis), Minas Gerais (cinco), Maranhão (três), Goiás (dois), Santa Catarina (dois), Pará (um), Rio Grande do Sul (um) e Rio de Janeiro (um).Agrupou-se a temática dos trabalhos apresentados em 59 itens, havendo 115 temas livres (30,5% do total) com a associação de dois itens como tema principal. As principais temáticas estão apresentadas na tabela 2.

ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 2010

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13

Temática Nº

Cognição 54Instituições asilares 46Reabilitação 37Relato de caso 31Ações sociais (*) 30Cuidadores 26Nutrição 20Depressão 18Fármacos e/ou iatrogenia 17Fonoaudiologia 17Hospital 15Quedas 14Cardiovascular 12Qualidade de vida 11Diabetes mellitus 10Programa de Saúde de Família 10Envelhecimento humano e/ou nonagenários-centenários 9Fragilidade 8Multidisciplinaridade 7Cuidados paliativos e/ou dor 6Capacidade funcional 6Atividade física 5Morte e mortalidade 5Doenças e síndromes geriátricas 5Exame clínico 4Infecções 4Maus tratos e violência 4Osteoporose 4Sexualidade 4Acupuntura 3Ensino sobre a terceira idade 3Métodos de imagem 3Alcoolismo 2Doença de Chagas 2Educação na terceira idade 2Espiritualidade 2Incontinência urinária 2Independência funcional 2Psicologia 2Enfermagem 2

Tabela 2 - Principais temáticas relacionadas com os temas livres apresenta-dos no 6º Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia - GERP 2009 (2).

(*) Atitudes e/ou atividades que objetivaram incluir os idosos em contextos sociais.

diScuSSão

Busca no portal http://www.scielo.br - em 9/5/2009 pelo unitermo (assunto) “Idosos” - encontrou 192 referências, nas quais nenhuma analisava a produção científica apresentada em eventos nacionais ou regionais relacionados com Geriatria e Gerontologia. Já a revista Gerontologia (1993-2004), órgão oficial de divulgação

da SBGG-SP, substituída atualmente pela revista Envelhecimento e Saúde, avaliou temas livres relativos ao X Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia - XCBGG (1994)(3) e à IX Jorna-da Brasileira de Geriatria e Gerontologia - IXJBGG (1996)(4). Mesmo considerando-se o GERP 2009 como congresso regional e realizado, respectivamente, 15 e 13 anos após os outros dois eventos, observa-se crescimento do número de temas livres de 171 (XCBGG)(3) e 170 (IXJBGG)(4) para 377 (GERP 2009)(2), ou seja, no intervalo de uma década e meia a produção científica nesse padrão de apresentação mais que dobrou em números absolutos. A presença de instituições de outros Estados em 16,5% de resumos do GERP 2009(2) sugere que esse crescimento é nacional e não apenas local. O número de autores também aumentou de 3,9 ± 2,7/tema livre (um a 13) no XCBGG(3) e de 3,6 ± 2,6/tema livre (um a 15) no IXJBGG(4) para 5,0 ± 2,6/tema livre (um a 12) no GERP 20092. Justificativa possível para esses números decorreria da ampliação dos programas de residência médica e de especiali-zação/aperfeiçoamento e o desenvolvimento de ligas acadêmicas e cursos de graduação em Gerontologia, provocando assim núcleos de Geriatria e Gerontologia com maior número de participantes. Nota-se igual situação pelo alto percentual de estudos produzidos em instituições de ensino, notadamente universidades públicas. Outro fato que caracteriza esse progresso quanto aos trabalhos apresentados foi que sete locais com tradição em Geriatria e/ou Gerontologia (Universidade de São Paulo, Universidade Federal de São Paulo, Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto, Ponti-fícia Universidade Católica de São Paulo, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Hospital do Servidor Público Estadual) estiveram presentes nos três eventos(2,3,4), documentando fluxo constante em assistência, ensino e pesquisa relacionados com a terceira idade. Não há como comparar a temática do presente estudo com a dos outros dois, visto que no XCBGG(3) os temas livres foram clas-sificados quanto à metodologia e não pelo tema e no IXJBGG(4) dividiram-se os trabalhos em Geriatria e Gerontologia apenas. Cabe, porém, observação sobre a diversidade de temáticas expos-tas nos resumos do GERP 2009(4), compondo a proposta básica da SBGG sobre a visão multiprofissional que se deve ter quanto ao idoso.

concluSão

Mesmo diante do pequeno número de publicações que analisaram a produção científica em eventos de Geriatria e Gerontologia, pode-se considerar que está havendo real progresso – quantitati-vo e qualitativo – quanto a estudos nesta área do conhecimento humano.

REFERÊNCIAS

1. Gomes FA. À vida, à história - Narrativas da Sociedade Brasileira de

Geriatria e Gerontologia. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Rio de Janeiro: Equipe Editorial, 2000;112p.

2. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Seção São Paulo.

Resumos - GERP 2009 - 6º. Congresso Brasileiro de Geriatria e

Gerontologia. Envelhecimento e Saúde. 2009;15(Supl 1):1-79.

3. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Seção São Paulo.

Balanço dos temas livres apresentados durante o X Congresso Brasileiro

de Geriatria e Gerontologia. Gerontologia. 1994;2:193-7.

4. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Seção São Paulo.

Balanço dos temas livres apresentados durante a IX Jornada Brasileira de

Geriatria e Gerontologia. Gerontologia. 1996;4:47.

ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 2010

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 20101414

“Os Velhos Guris”: relato de experiência com musicoterapia

Artigo Original

““The Aged Kids”: Experience report of music therapy as therapeutic alternative in long term care institution for the aged

1 – Musicoterapeuta, formada pela FAP/PR. Presidente da Associação de Musicoterapia do Paraná – AMT-PR. Musicoterapeuta do Lar de Idosos Recanto do Tarumã – Curitiba, PR. Especializanda em Gerontologia Clínica e Social pela Universidade Positivo – Curitiba, PR.2 – Médico. Especialista em Clinica Médica – SBCM. Especialista em Geriatria – SBGG. Pós-Graduado em Gerontologia Social – UFSC. Professor convidado dos Cursos de Pós-Graduação em Geriatria e Gerontologia Social da Universidade Positivo – Curitiba, PR. Pre-ceptor do Programa de Residência Médica em Geriatria da PUCPR – Curitiba, PR.Lar de Idosos “Recanto do Tarumã”. Serviço de Geriatria. Pontificia Universidade Católica do Paraná.Endereço para correspondência: Claudimara Zanchetta. Rua Prof. Ewaldo Schiebler, 360, Jd. Social – 82530-160 – Curitiba, PR. E-mail: [email protected] autores declaram não haver conflitos de interesse.

Claudimara Zanchetta1, Patrick Alexander Wachholz2

reSuMo

A inserção do idoso em contextos sociais carregados de ativi-dades significativas move-o a pensar e a querer. Objetivando ocupar os idosos moradores em instituições, melhorar o bem-estar individual e coletivo, assim como disponibilizar meios que propiciem a busca de percepções mais positivas de qualidade de vida, são propostas diversas atividades ocupacionais e terapêuti-cas. A musicoterapia vem sendo apresentada como uma forma de tratamento em que o paciente, através do canal sonoro-musical, dá vazão à sua criatividade, estimulando suas capacidades físicas, mentais, cognitivas e sociais. A musicoterapia pode, portanto, estar inserida na equipe multidisciplinar como uma das formas de tratamento para melhorar a qualidade de vida de idosos institucionalizados. Este relato de experiência, sob o enfoque da representação social, apresenta a experiência com grupo de musicoterapia em instituição de longa permanência filantrópica para homens idosos, no município de Curitiba-PR.

Descritores: idoso, instituição de longa permanência, musi-coterapia

aBStract

The insertion of the aged ones in loaded social contexts, replete of significant activities, move them to think it and to want. In order to occupy the aged inhabitants in institutions, to improve the individual and collective welfare, as well as augmenting their positive perceptions of quality of life, diverse proposals of occupational and therapeutical activities can be used. The musical therapy could be one of these activities, where the pa-tient, through its sonorous-musical canal, create an outflow to its creativity, stimulating its physical, mental, cognitive and social capacities. The musical therapy can, therefore, be inserted in the multidisciplinary team as one of the forms of treatment to improve the quality of life of institutionalized elderly. This experience report, presented under the approach of the social representation, presents our experience with a group of musical therapy in a institution of long term care for aged men, in the city of Curitiba - PR.

Keywords: aged, homes for the aged, musical therapy

introdução

O acelerado ritmo de envelhecimento populacional observado na atualidade cria novos desafios para a sociedade brasileira. Em 1960 estimava-se que a população com idade superior a 65 anos representava aproximadamente 5% da população brasileira; para 2025 as projeções são de que essa proporção alcance 14%(1).Dados sugerem que, em futuro próximo, o Brasil será conside-rado um país envelhecido e a sua população idosa desencadeará grande impacto no que tange à demanda de cuidados públicos,

especialmente com saúde e moradia(2). Esse aumento significa-tivo no número absoluto de idosos, porém, não tem sido acom-panhado proporcionalmente por avanços na disponibilização de melhores condições de vida a esse segmento etário. Envelhecer no mundo contemporâneo, onde a juventude é promulgada pela mídia como a melhor fase da vida, instiga a procura de artifícios para retardar o envelhecimento. Com poucas e fascinantes exceções, a impressão que se tem é de que somente jovens podem ser felizes e que a maioria dos idosos

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 15(3) - 2009 15

Apresentações:

30 cápsulas de 2,5 mg; 5 mg e 10 mg.

Referências Bibliográfi cas: 1. HEART OUTCOMES PREVENTION EVALUATION STUDY INVESTIGATORS. Effects of ramipril on cardiovascular and microvascular outcomes in people with mellitus: results of the HOPE study and MICRO – HOPE substudy. Lancet, v. 355, p. 253-9, 2000. 2. Yusuf, S. et al. Ramipril and the developmentof diabetes. JAMA, v. 286, n.1882-5, 2001. 3. Yusuf, S., Clinical, public health, and research implications of the HEART OUTCOMES PREVENTION EVALUATION (HOPE) study. Eur Heart J, v. 22,p. 103-4,2001. 4. Revista ABCFARMA número 218, outubro de 2009.

Apresentações:

Registro M.S. Número: 1.0525.0022

Como é bom poder contar com a família toda!

Alcance social no tratamento da ICC.

Reduz signifi cativamente os índices de mortalidade, infarto do miocárdio e AVC.(1,2,3)

Custo acessível de tratamento.(4)

Contraindicação: hipersensibilidade aos IECAsInteração Medicamentosa: diuréticos poupadores de potássio

torlos

torlos

ecator H

indapen

karvil

ecator

azukon

betacard

amlocor

branta

ECATOR® (ramipril). USO ADULTO. Registro MS: 1.0525.0022. Composições, Formas farmacêuticas e Apresentações: 2,5 mg, 5 mg, 10 mg. Embalagens contendo 30 cápsulas. Indicações: hipertensão arterial; insufi ciência cardíaca congestiva; pós-infarto do miocárdio; nefropatia glomerular manifesta e nefropatia incipiente, em pacientes diabéticos ou não-diabéticos; prevenção de infarto do miocárdio; AVC ou morte por patologia cardiovascular, em pacientes com alto risco cardiovascular, como coronariopatia manifesta; caso anterior de AVC ou de doença vascular periférica; prevenção de infarto do miocárdio; AVC ou morte por patologia cardiovascular, em pacientes diabéticos, na prevenção da progressão de microalbuminúria e nefropatia manifesta. Contra-indicações: pacientes com hipersensibilidade ao ramipril, a qualquer outro IECA ou a qualquer um dos componentes da formula; história de angioedema; obstrução na artéria renal hemodinamicamente relevante, bilateral ou unilateral; quadro de pressão arterial baixa ou instável. Crianças na faixa etária inferior a 13 anos. Gravidez e Lactação: o ramipril não deve ser administrado durante a gravidez e a amamentação. Precauções e advertências: angioedema de cabeça, pescoço, extremidades ou intestinal. Não há dados sufi cientes disponíveis sobre o uso de ramipril em crianças. Pacientes com insufi ciência renal grave e pacientes sob diálise. Dirigir veículos ou realizar outras tarefas que requeiram atenção. Recomenda-se a monitoração da função renal, principalmente nas primeiras semanas de tratamento com um IECA, particularmente necessária em pacientes com: insufi ciência cardíaca; doença vascular renal; alteração da função renal e transplante renal. Monitoração regular dos níveis de potassemia e de leucócitos. Pacientes idosos: recomenda-se avaliação da função renal no início do tratamento. Grupos de Risco: pacientes com sistema renina-angiotensina hiperestimulado; pacientes com doenças hepáticas; pacientes com risco especial de queda acentuada da pressão sanguínea; Interações medicamentosas: Associações contraindicadas: tratamentos extracorpóreos nos quais o sangue entra em contato com superfícies carregadas negativamente (diálise, hemofi ltração e aferese de lipoproteínas de baixa densidade com sulfato de dextrano): Associações não-recomendadas: sais de potássio e diuréticos poupadores de potássio. Associações que exigem precauções no uso: outros agentes anti-hipertensivos, vasoconstritores simpatomiméticos; alopurinol, imunossupressores, corticosteróides, procainamida, citostáticos e outras substâncias que podem alterar o perfi l hematológico; sais de lítio; agentes antidiabéticos (insulina e derivados da sulfoniluréia); Associações a serem consideradas: Antiinfl amatórios não-esteroidais, heparina; álcool; sal e terapia dessensibilizante. Reações adversas: excepcionalmente podem ocorrer sintomas e reações leves como: cefaléia, alterações do equilíbrio, taquicardia, fraqueza, sonolência, superfi cialização de consciência ou diminuição da capacidade de reação, edema periférico, rubor, vertigem, zumbidos, fadiga, nervosismo, depressão, tremor, agitação, alterações visuais, alterações do sono, confusão, ansiedade, impotência erétil transitória, palpitações, sudorese, alterações auditivas, sonolência, regulação ortostática alterada. Tosse seca irritativa; excepcionalmente pode ocorrer angioedema leve. Posologia: Tratamento da hipertensão arterial: recomenda-se dose única diária, iniciando-se com de 2,5 mg e, se necessário, a dose pode ser aumentada para 5 mg em intervalos de 2 a 3 semanas. A dose usual de manutenção é de 2,5 a 5 mg/dia. A dose máxima diária permitida é de 10 mg. Tratamento da insufi ciência cardíaca congestiva: se a dose diária de 2,5 mg ou mais de ECATOR for necessária, esta pode ser administrada em tomada única. A dose máxima diária permitida é de 10 mg. Tratamento após infarto agudo do miocárdio: dose inicial recomendada de 5 mg/dia, dividida em duas administrações de 2,5 mg. Dependendo da resposta do paciente, a dose poderá ser aumentada. Recomenda-se que a dose, se aumentada, seja dobrada em intervalos de 1 a 3 dias. Numa fase posterior, a dose diária total poderá ser administrada como tomada única diária. A dose máxima diária permitida é de 10 mg. A experiência no tratamento de pacientes com insufi ciência cardíaca grave (NYHA IV) imediatamente após infarto do miocárdio ainda é insufi ciente. Se mesmo assim a decisão tomada for tratar estes pacientes, recomenda-se que a terapia seja iniciada com a menor dose diária possível e que a dose seja aumentada somente sob cuidados especiais. Tratamento de nefropatia glomerular manifesta e nefropatia incipiente: iniciar com a menor dose possível. A dose máxima permitida é de 5 mg/dia. Prevenção do infarto do miocárdio, AVC ou morte por patologia cardiovascular, redução da necessidade de realização de procedimentos de revascularização em pacientes com alto risco cardiovascular; prevenção da progressão e microalbuminúrria e nefropatia manifesta: recomenda-se dose inicial de 2,5 mg, uma vez ao dia. A dose deve ser gradualmente aumentada, dependendo da tolerabilidade do paciente. Após 1 semana de tratamento, recomenda-se duplicar a dose para 5 mg/dia. Após outras 3 semanas, aumentar para 10 mg/dia. Dose usual de manutenção: 10 mg/dia. Doses acima de 10 mg/dia não foram adequadamente avaliadas em estudos clínicos controlados. Pacientes com insufi ciência renal grave não foram adequadamente avaliados. Populações especiais: em pacientes com disfunção renal deve-se iniciar com a menor dose possível. A dose diária máxima permitida nesses pacientes é de 5 mg. Em pacientes tratados previamente com diuréticos, deve-se descontinuar o diurético, no mínimo, 2 a 3 dias ou mais antes de se iniciar o tratamento. Em pacientes com insufi ciência hepática, o tratamento deve ser iniciado somente sob rigorosa supervisão médica. A dose máxima diária permitida nestes casos é de 2,5 mg. Em pacientes idosos deve-se considerar a menor dose possível. Modo de administração: ECATOR deve ser deglutido inteiro, sem mastigar, antes, durante ou após as refeições. Pacientes idosos: recomenda-se avaliação da função renal no início do tratamento. (Fev 09). VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. AO PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO.

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Anúncio50 anos

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Anúncio50 anos

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Apresentação:

30 comprimidos revestidos de liberação controlada de 1,5 mg.

torlos

torlos

ecator H

indapen

karvil

ecator

azukon

betacard

amlocor

branta

Contraindicação: hipersensibilidade às sulfonamidasInteração Medicamentosa: lítio

a qualidade de vida do seu paciente.Eliminar o excedente e manter o principal:

Não apresenta efeitos adversos associados à glicemia e parâmetros lipídicos.(2,3)

Custo de tratamento mais acessível do mercado.(4)

Efi cácia na redução da pressão arterial sistólica comparado à hidroclorotiazida.(5)

Diurese com controle metabólico.(1)

Registro M.S. Número: 1.0525.0017

30 comprimidos revestidos de liberação controlada de 1,5 mg.

Contraindicação:Interação Medicamentosa:

Referências Bibliográfi cas: 1. Kuo SW & Pei D. “Effect of inadapamide SR in the treatment of hypertensive patients with type 2 diabetes.” Am J Hypertens 2003; 16(8): 623-8. 2. Ambrosioni E et al. “Low-dose antihypertensive therapy with 1.5 mg sustained release indapamide: results of randomized double-blind controlled studies. European study group.” J Hypertens 1998; 16(11): 1677-84. 3. Weidmann P. “Metabolic profi le of indapamide sustained-release in patients with hypertension: data from three randomized double-blind studies.” Drugs Saf 2001; 24(15): 1155-65. 4. Natrilix SR, Servier. Revista ABCFARMA, número 218, outubro de 2009. 5. Emeriau JP et al. “A comparison of indapamide SR 1.5 mg with both amlodipine 5 mg and hydrochlorothiazide 25 mg in elderly hypertensive patients: a randomized double-blind controlled study.” J Hypertens, 2001; 19(2): 343-50.

INDAPEN SR (indapamida). Registro MS n.º 1.0525.0017. Uso adulto. Composição, Forma Famacêutica e Apresentação: cada comprimido contém 1,5 mg de indapamida. Embalagem com 30 comprimidos revestidos de liberação prolongada. Indicações: hipertensão arterial essencial. Contra-indicações: hipersensibilidade às sulfonamidas; insufi ciência hepática ou renal grave; encefalopatia hepática; hipocalemia. Precauções: no caso de insufi ciência hepática, o diurético deve ser suspenso imediatamente. O sódio deve ser controlado antes do início do tratamento e depois, em intervalos regulares, mais freqüentemente, em idosos e cirróticos. O risco de hipocalemia deve ser previsto em idosos e/ou desnutridos e/ou polimedicados, cirróticos portadores de edemas e de ascite, coronarianos e portadores de insufi ciência cardíaca. Nesses casos, o controle mais frequente da calemia torna-se necessário. Os diuréticos tiazídicos podem hipercalcemia transitória. Nos pacientes hiperuricêmicos, a tendência do ocorrer crises de gota pode aumentar. Hidratar o paciente e avaliar a função renal no início do tratamento. INDAPEN SR contém um princípio ativo que pode induzir uma reação positiva nos testes realizados durante o controle “anti-dopping”. Gravidez e Lactação: a administração de diuréticos deve ser evitada durante a gravidez e nunca ser utilizado para o tratamento de edemas fi siológicos da gravidez. O aleitamento é desaconselhado. Interações medicamentosas: associações desaconselhadas: lítio e medicamentos não antiarrítmicos causadores de “torsades de pointes” (astemizol, bepridil, eritromicina IV, halonfantrina, pentamidina, sultoprida, terfenadina, vincamina). Associações com precauções particulares: AINEs e salicilatos em doses elevadas com possível diminuição do efeito anti-hipertensivo da indapamida, anfotericina B (via IV), glico e mineralocorticóides, tetracosactídeo, laxativos: risco aumentado de hipocalemia. Baclofeno por potencialização do efeito anti-hipertensivo. Associações a serem consideradas: diuréticos hipercalemiantes, IECAs, quinidina, disoprimida, anlodarona, bretílio, sotalol, metformina, contastes iodados, antidepressivos tricíclicos, neurolépticos, sais de cálcio, ciclosporina, corticóides e tetracosactídeo. Reações adversas: hipocalemia, hiponatremia, hiperuricemia, hiperglicemia e hipotensão ortostática; muito raramente pode ocorrer trombocitopenia, leucopenia, agranulocitose, aplasia de medula e anemia hemolítica. Posologia: 1 comprimido ao dia. (Fev 09). VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. “AO PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO”.

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 2010 19

está condenada a envelhecer sem propósitos ou estímulos, e sobreviver até o último de seus dias sentados, ociosos, esperando a vida se acabar(3). O envelhecimento populacional brasileiro ocorre num cená-rio de profundas transformações sociais, urbanas, industriais e familiares(1). Com a redução dos núcleos familiares, evidenciam-se dificuldades para o desempenho de funções tradicionalmen-te atribuídas ao seio parental: a de educadora das crianças e cuidadora dos mais velhos(3). Efeito tardio da transição demo-gráfica, a redução na disponibilidade dos cuidados providos pelas mulheres, devido à participação feminina no mercado de trabalho, deverá ocorrer de modo ainda mais rápido no Brasil nos próximos anos(2). A transferência de um idoso para uma instituição de longa per-manência (ILP) é alternativa plausível e adequada em diversas situações: necessidade de reabilitação intensiva no período entre a alta hospitalar e o retorno ao domicílio, ausência temporária do cuidador domiciliar, estágios terminais de doenças ou níveis de dependência muito elevados. A institucionalização definitiva de idosos com baixos níveis de dependência, porém, é o paradigma de um modelo anacrônico de assistência já abandonado em diversos países e muito similar ao tratamento psiquiátrico baseado no modelo manicomial.Se outrora as instituições para idosos se destinavam à velhice desvalida, hoje, em uma sociedade marcada pelo despreparo social e financeiro no suporte ao envelhecimento, passam a ter uma nova missão: cuidar de idosos necessitados não só pela pobreza, mas pela incapacidade da sociedade em mantê-los no seio da comunidade(3).Pouco se conhece ainda sobre o perfil dos idosos institucionali-zados em nosso meio; sabe-se, porém, que em geral apresentam um perfil heterogêneo, grande nível de sedentarismo, carência afetiva, perda de autonomia causada por incapacidades físicas e mentais, ausência de familiares para ajudar no autocuidado e insuficiência de suporte financeiro(3). O processo de envelhecimento saudável, independente do meio onde este acontece, transcende os limites puramente biológicos, pois o objetivo maior é a melhora da qualidade de vida. O su-cesso da promoção desse processo em ILP depende fundamen-talmente da intervenção de uma equipe multi e interdisciplinar, proporcionando ao idoso um atendimento individualizado e apropriado às necessidades particulares de cada interno. A inserção do idoso em contextos sociais carregados de ativida-des significativas move-o a pensar e a querer. Objetivando ocu-par os idosos moradores em instituições, melhorar o bem-estar individual e coletivo, assim como disponibilizar meios que propiciem a busca de percepções mais positivas de qualidade de vida, muitas ILPs oferecem aos seus moradores atividades de recreação e ocupação, terapêuticas ou não. Essas ativida-des podem envolver desde o uso de jogos lúdicos, o estímulo à dança ou a expressão corporal, até a prática de artesanato, pintura ou música, contribuindo assim com a sociabilização, a descoberta de novas possibilidades e o reencontro com a

espontaneidade e a expressividade.A musicoterapia é uma forma de tratamento em que o pacien-te, através do canal sonoro-musical, dá vazão à sua criativida-de, estimulando suas capacidades físicas, mentais, cognitivas e sociais, seja em grupo ou individualmente(4). A musicoterapia pode, portanto, estar inserida nessa equipe como mais uma das formas de tratamento para melhorar a qualidade de vida dos moradores de uma ILP. Não existem até o momento, porém, descrições de experiências ou iniciativas envolvendo a musicoterapia em ambiente de longa permanência. O objetivo deste artigo é apresentar um relato de experiência com grupo de musicoterapia em ILP filantrópica para homens idosos, no município de Curitiba-PR.

MÉtodoS

Trata-se de estudo qualitativo utilizando a abordagem da re-presentação social, descrito como relato de experiência. A re-presentação social é uma forma de saber prático, que liga um sujeito a um objeto (de natureza social, material ou ideal), pois a representação se encontra em uma relação de simbolização e de interpretação de seus significados(5).A experiência teve início quando um dos autores (CZ), com formação de musicoterapeuta, foi formalmente contratado pela ILP no ano de 2003, com o objetivo de promover atividades terapêuticas e de socialização entre os internos da instituição.A proposta inicial do trabalho era a de proporcionar aos mora-dores do Lar uma atividade terapêutico-ocupacional que contri-buísse para a melhoria na percepção de qualidade de vida, pois a tendência dos idosos dessa instituição, até então, era permanecer no isolamento e na inatividade. Os atendimentos são abertos a todos os moradores e o próprio idoso toma a iniciativa de “convidar” outros idosos, reforçando sua autoestima, bem como suas próprias habilidades de comu-nicação e relações sociais. As sessões ocorrem três vezes por semana, com grupos pequenos, dependendo da necessidade e da disponibilidade de cada idoso. Ao comparecer pela primeira vez, o idoso é submetido a uma entrevista informal, que objetiva conhecer o histórico sonoro-musical e do curso de vida do indivíduo. Nesse mesmo mo-mento é proporcionada oportunidade de exploração instrumen-tal (tocar instrumentos musicais) para verificar com qual(is) instrumento(s) o idoso se identifica, para então elaborar os objetivos a serem trabalhados. O centro do trabalho musicoterápico é sempre uma experiência musical. Existem quatro tipos distintos de experiências: impro-visação, recriação, composição e audição musical(4). Cada um desses tipos de experiência possui suas próprias características, envolvendo comportamentos sensório-motores, habilidades per-ceptivas e cognitivas e estímulo a diferentes emoções. Os atendimentos musicoterápicos dão oportunidades de expressão através do cantar, do explorar os instrumentos musicais, através dos atos criativos de composição e da improvisação e também

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 20102020

por meio dos movimentos corporais. Alguns idosos são atendi-dos individualmente, pois estão mais debilitados ou ainda pas-sam por um tempo de adaptação no lar. Outros idosos optam, voluntariamente, por formar grupos com habilidades particu-lares, como o gosto pelo cantar.Depois de três meses de trabalho, além dos grupos terapêuti-cos regulares, um dos idosos participantes sugeriu a formação de grupo específico, apenas com idosos que já possuíam algu-ma noção musical. O grupo passou a ser conhecido como “Os Velhos Guris”, nome escolhido pelos próprios integrantes. Os encontros e ensaios desse grupo específico passaram a ocorrer duas vezes por semana, com duração de uma hora. O repertó-rio é vasto e vai do samba-canção à música sertaneja, devido à diversidade musical dos integrantes. Atualmente, são cinco os integrantes do grupo. O presente relato de experiência não se utilizou de técnicas estruturadas de entrevista ou diário de campo, mas aprovei-tou-se da ação participante e da anotação de depoimentos espontâneos, manifestos pelos idosos durante as práticas do grupo. Os autores selecionaram os depoimentos mais autênti-cos e correlacionados com a metodologia proposta, de modo a permitir a identificação das principais representações, ima-ginário e associações expressos pelos participantes dos grupos terapêuticos da musicoterapia na instituição.

reSultadoS e diScuSSão

Segundo Gatti(6), a musicoterapia tem contribuído e demonstrou ser eficaz para promoção de bem-estar subjetivo em grupo de idosos de baixo nível socioeconômico com queixas de memória. Após pesquisar qualitativamente o envolvimento da musico-terapia no envelhecimento, Zanini(7) concluiu que o “cantar” é meio para autoexpressão e autorrealização; que as canções revelam a “subjetividade/existencialidade interna do ser”; e que a autoconfiança dos participantes de coros terapêuticos faz com que eles tenham melhores expectativas para o futuro.O atendimento individual proporciona ao idoso maior interação e desenvoltura com a música e auxilia no redescobrimento de sua identidade. Cantar, poder se ouvir e descobrir suas poten-cialidades o preparam para a participação em grupo. Quando se percebe uma melodia conhecida, o idoso, ao escutar, imedia-tamente se modifica: sorri, chora ou simplesmente fica com o olhar perdido, demonstrando que a música acessou sua memória e história pessoal.O trabalho desenvolvido com o grupo dos “Velhos Guris” é um grande exemplo do como a convivência musical integra e esti-mula. As primeiras observações feitas do grupo, dentro de um processo gradual, foi o estabelecimento de maior vinculo entre os participantes e, com isso, aumento nas relações interpessoais, fato vivenciando também fora do espaço terapêutico. O.B. (76 anos), um dos membros do grupo, destaca a importância da identificação do outro e o estímulo à amizade que o trabalho proporcionou: “Sabe, eu observo sempre o J.F.... como ele gosta de

sertanejas, né? Eu não gostava, mas ele me ensinou a gostar! Bom é que ele tem uma facilidade muito grande em ´decorrer todas as letras, independente do estilo musical. Bom porque daí eu também ensinei ao meu novo amigo o que eu gostava”. Nesse mesmo sentido, reproduzimos as palavras originais de Beauvoir, citadas por Cunha(8), quando diz que a ocupação re-afirma a identidade do indivíduo, revela seus interesses, é fator de equilíbrio e integração social. A aproximação e participação do grupo representaram, para esse idoso, não só a oportunida-de de revisitar um prazer, mas a chance de estabelecer novos vínculos sociais.Alguns idosos do lar já haviam sido músicos durante grande parte de sua vida, e nos atendimentos de musicoterapia apre-sentaram suas aptidões tanto de voz, quanto na execução dos instrumentos musicais. O.B. relembra: “Eu parei de tocar há muitos anos, e agora estou resgatando tudo o que havia ficado pra trás. Estar aqui faz bem pra mente e aquece o coração”. Desde o início dos trabalhos esse idoso destaca, no grupo e no cotidiano do lar, a associação forte que estabeleceu entre a recuperação de suas memórias mais remotas, de sensações e emoções previa-mente esquecidas, e o ingresso no grupo.Outro membro do grupo, H.S. (62 anos), sempre tocou gaita de boca e desabafa: “Há uns 40 anos atrás eu brincava de gaita... mas hoje eu estou tocando aqui, tocando e tocando melhor, junto com os Velhos Guris”. O estímulo à manutenção do interesse pelo aprendizado e aprimoramento destaca metas e prioridades onde antes só se via solidão, angustia, desinteresse. Um sen-timento forte, expresso pela quase totalidade dos idosos que já passaram pelas oficinas e grupos terapêuticos da ILP, é de que a vida não acabou: é possível sim “ensinar novos truques a cachorros velhos”, como diz o ditado popular. É possível sim reacender o interesse pelo estudo, quando essa construção é coletiva e comunga de interesses comuns. É o sentimento do empoderamento manifestando-se, exibindo que participar do próprio futuro é planejá-lo, e criar meios para que ele possa se concretizar, inclusive pelo esforço próprio.Com o avançar do talento e dos ensaios, o grupo começou a fazer pequenas apresentações na comunidade local e logo rece-beu apoio financeiro e institucional de algumas empresas. Em poucos meses, idosos que outrora permaneciam isolados em seus quartos, esperando o horário da próxima refeição, grava-ram um CD com um repertório vasto, 11 canções da música popular brasileira e uma composição própria, de autoria de um dos integrantes do grupo. Essa conquista foi festejada por todos, principalmente pelos músicos veteranos, que sonharam com isso uma vida toda. Mas, não obstante a alegria desses, o orgulho maior ficou evidente no semblante dos demais internos que, mesmo não fazendo parte do grupo, se sentiam orgulhosos e comungavam da felicidade de que pessoas como eles poderiam sim, mesmo institucionali-zados, recuperar parte dos papéis sociais que foram forçados a abandonar. Um dos membros mais ativos dos “Velhos Guris”,

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 2010 2121

E.J. (86 anos; in memoriam) costumava comentar: “Gosto muito daqui, e hoje sinto prazer em me apresentar nos lugares, em repre-sentar todo mundo que mora aqui... é quando fico mais feliz”.A melhora na autoestima dos idosos do Lar foi significativa, evidente inclusive na forma de se vestir e nas expressões faciais dos idosos integrantes e dos que convivem com eles na ILP. Apesar de não mensurada diretamente, houve evidente avanço nas relações pessoais, pois aumentou o respeito pelas diferenças entre eles, e a reconstrução da história de vida através do cantar permitiu emergir uma alegria previamente abandonada. A frase mais comum nas conversas do grupo é: “que cada um respeita as diferenças do outro, pois um gosta de MPB, o outro de samba e, além de tudo, cada um tem seu ritmo”. E.J. (86 anos; in memoriam) sempre falava: “Sou muito realizado! Quando estou com meu violão, não tem nada que me entristeça. Faço planos para continuar cantando e escrevendo. A coisa que mais me dá prazer é me apresentar com o grupo, mas não tem importância o lado financeiro... quero apenas o prazer de ver o povo acompanhando e aplaudindo, esse é o maior gosto que tenho na vida...”O mais importante do trabalho musicoterapêutico dentro do Lar é fazer com que os idosos descubram que a maturidade é uma fase da vida onde se tem muita história para contar e cantar, e que se tem muito tempo para viver feliz!

conSideraçÕeS FinaiS

Estimular o potencial do idoso é reorganizá-lo globalmente. Os atendimentos musicoterápicos possibilitam um espaço para que o idoso possa reconstruir-se no tempo a partir do resgate de sua memória musical, não mais para recordar o passado ou o “bom tempo que se foi”, mas para se reestruturar e se apossar

do presente, podendo assim reorganizar e/ou acrescentar situa-ções novas à sua história, sendo musical ou não, principalmente resgatando sua identidade(9).A música cria o elo durante os atendimentos de musicoterapia: sabemos que ela sempre acompanhou os passos e também o envelhecer da humanidade, dando sentido aos momentos e às lembranças, refletindo sentimentos e sonorizando realidades. Nunca houve nem haverá um povo sem música, pois as canções estabelecem uma delicada relação afetiva, eficaz e agradável, trazendo prazer tanto para quem toca e canta como para quem escuta. Bergold e Sobral10, por exemplo, destacam que, como uma onda, a música se propaga, estimula e socializa sentimentos e emoções, rompendo hierarquias e quebrando resistências. E, com isso, mobilizamos a autoexpressão. Bruscia(4), comentando as possibilidades de autoexpressão no processo musicoterápico, afirma que, ao cantarmos ou tocarmos instrumentos, liberamos nossa energia interna para o mundo externo, fazemos nosso corpo soar, damos formas a nossos im-pulsos, vocalizamos o não dizível ou as ideias não pronunciáveis e destilamos nossas emoções em formas sonoras descritivas. A utilização da música como terapia pode ajudar o paciente a recuperar funções cognitivas, restabelecer ou manter a saúde e promover estímulos à manutenção da autonomia e possivelmen-te da capacidade funcional. A saúde compreende e depende do indivíduo e de todas as suas partes (corpo, mente e espírito), bem como da relação do indivíduo com os contextos mais abrangen-tes da sociedade, da cultura e do meio ambiente. Inseridos nesse contexto, a disponibilização de atividades ocupacionais em ILP, associadas ou não a estímulos e práticas inovadoras e simples, permite o resgate da percepção de bem-estar desses idosos.

1. Ramos LR, Veras RP, Kalache A. Envelhecimento populacional: uma realidade brasileira. Revista Saúde Pública. 1987; 21(3):211-24.2. Chaimowicz F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século XXI. Revista de Saúde Pública. 1997; 31(2):184-200.3. Griesbach CT, Silva DJC, Wachholz PA. Atividades sócio-ocupacionais e recreativas em instituições de longa permanência para idosos: análise de atividades gênero-específicas na percepção da qualidade de vida em idosos institucionalizados em Curitiba-PR [monografia]. Curitiba: Universidade Positivo, 2008.4. Bruscia KE. Definindo musicoterapia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000; 872.5. Bretas JRS, Pereira SR. A abordagem na representação social. In: Matheus MCC, Fustinoni SM. Pesquisa qualitativa em enfermagem. São Paulo: LMP Editora, 2006;43-52.6. Gatti P. Práticas musicoterápicas e o desempenho cognitivo em idosos

com queixas de memória. [internet]. Anais do SIMCAM4 – IV Simpósio de Cognição e Artes Musicais – maio 2008. Citado em: 10/1/2009. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/ dl/ simcam4/downloads_anais/SIMCAM4_Patricia_Gatti.pdf7. Zanini CRO. Envelhecimento saudável – O cantar e a gerontologia social. Revista da UFG. 2003;5(2)[internet]. Citado em: 10/1/2009. Disponível em: URL: www.proec.ufg.br8. Cunha R. A intervenção da musicoterapia na pessoa Idosa. In: Jornal de Musicoterapia AMT-PR. Curitiba: Agência Jr UFPR, 2002: p.4.9. Souza MG. Musicoterapia e a clínica do envelhecimento. In: Freital EV et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002;976.10. Bergold L, Sobral V. Music for care humanization. Online Braz J Nurs. 2003;2(3):[internet]. Citado em: 11/1/2009. Disponível em: www.uff.br/ nepae/ojn2003bergoldsobral.htm.

REFERÊNCIAS

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Atenção ao idoso no domicílio: o enfoque da enfermagem

Márcia Maria Porto Rossetto Mazza1, Fernando Lefèvre2, Ana Cristina d’Andretta Tanaka3

Attention to the elderly in the home: The nursing focus

introdução

Assistência domiciliária respaldada em conhecimentos e habi-lidades necessários à prestação de cuidados integrais ao indi-víduo e sua família é uma prática tradicionalmente utilizada em Saúde Pública.O cuidado prestado no domicílio está intrinsecamente relacio-nado com a enfermagem, sendo essa prática executada desde o Iluminismo. A literatura refere que esse cuidado, na sua origem, era prestado pelas mulheres religiosas ou voluntárias aos doentes e necessitados(1).Duarte e Diogo(2) também referem que “a enfermagem é a chave para determinar as demandas dos pacientes e a adequação dos modelos domiciliários a serem adotados” (p.8).A enfermagem moderna brasileira teve seu marco no começo do século passado com a criação da primeira Escola de Enfermagem

Artigo Original

reSuMo

Por meio de uma breve retrospectiva da história da enfermagem brasileira, este artigo se propõe a apresentar as diferentes formas de atenção ao idoso no domicílio, elucidando as complexidades do cuidado de enfermagem e a importância do conhecimento proporcionado pelo profissional no contexto domiciliar. Apre-senta também trechos das representações sociais de cuidadores familiares e de idosos sobre o que é o cuidado e em que consiste o ato de cuidar do idoso com fragilidades e dependências. A questão que fica para a reflexão é que a realização do cuidado no contexto domiciliário é uma atividade complexa, que exige dos profissionais envolvidos uma atitude de escuta e de parceria com os atores desse cuidado, no caso, os idosos e seus familiares.

Descritores: assistência domiciliária, enfermagem, idoso, cui-dador, cuidado.

aBStract

By means of a brief retrospective of the history of Brazilian nursing the article aimed at displaying the different forms of home care for the elderly, elucidating the complexities of nursing care and the importance of nursing knowledge rendered by this professional in the household context. It also presents excerpts of social representations of family caregiver and elderly on what care is and what comprises the act of caring for the elderly with their fragilities and dependencies. The issue for pondering is that the carrying out of care in the home context is a complex activity that demands the professionals involved to exercise an attitude of listening and partnership with the actor of such care-the elderly and their relatives.

Keywords: home care, nursing, elderly, caregiver, care.

Anna Nery, no Rio de Janeiro, em 1923, sob a influência da enfermagem norte-americana, que introduziu os conhecimentos e conceitos de saúde pública com caráter de assistência predo-minantemente primária(3). O cenário nacional vivenciado pelo Brasil, na época, era a urgência no combate a epidemias e endemias que assolavam o país e que, por sua vez, comprometiam a economia e o comércio exterior.As primeiras enfermeiras de Saúde Pública, formadas no Bra-sil, foram contratadas pelo Departamento Nacional de Saúde Pública para trabalhar na profilaxia da tuberculose e prestar atendimento na área da saúde materno-infantil, com atenção especial à visitação domiciliária. Esse trabalho voltado exclusi-vamente para a Saúde Pública foi exercido pelas enfermeiras até o final da década de 1930. A partir daí ocorreram mudanças na

1 – Enfermeira do Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Mestre e Doutora em Saúde Pública da FSP/USP.04516000 São Paulo.2 – Professor Titular do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. 3 – Professora Titular do Departamento de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Diretora do Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

Endereço para correspondência: Márcia Maria Porto Rossetto Mazza.Av. Rouxinol, 201, apto. 121 – 04516-000 – São Paulo. Tels.: 5543-2047(res.), 3061-7807 e 3061-7721. E-mail: [email protected] autores declaram não haver conflitos de interesse.

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independência pelo maior tempo possível com sua família e na comunidade(6). Dal Ben e Souza esclarecem que, de modo geral, a assistência domiciliária no Brasil está sendo realizada por meio de três mo-dalidades de atenção, a saber: visita domiciliária, atendimento domiciliário e internação domiciliária(7). Para Lacerda et al., “a assistência domiciliária é um conjunto de ações realizadas por equipe interdisciplinar no domicílio da família, a partir do diagnóstico da realidade em que está inseri-da, favorecendo o desenvolvimento e adaptação de suas funções, restabelecendo sua independência e autonomia”(8).A presença da enfermagem nesses três diferentes tipos de atenção no domicílio justifica-se. O cuidado é a essência da enfermagem, não importando em que nível de complexidade ele se apresente.Essas atividades exigem dos profissionais envolvidos: conheci-mento científico-tecnológico, autonomia, responsabilidade, ex-trema habilidade no relacionamento interpessoal para trabalhar com o paciente, os familiares e a equipe multiprofissional(8). Como instrumentos de Saúde Pública, essas modalidades de atenção possuem peculiaridades: a visita domiciliária “é um con-junto de técnicas, procedimentos de enfermagem, utilizada para a intervenção no processo saúde-doença familial realizada no local de moradia, dentro de seu contexto social”(9).O atendimento domiciliário compreende atividades assisten-ciais de maior complexidade e visitas programadas pela equipe interdisciplinar para realizar os procedimentos no domicílio. Essa atividade necessita ter um responsável pelo cuidado no domicílio, no caso, o cuidador. Esse tipo de atenção, na sua grande maioria, está vinculado aos grandes hospitais da rede pública, que tem como objetivo substituir a hospitalização re-pentina por necessidade aguda de cuidados, para diminuir uma longa internação institucional e manter os indivíduos em seus domicílios e comunidades(2,10). A internação domiciliária é uma atividade de assistência que requer cuidados especializados e aparato tecnológico no seu dia a dia, com a presença constante de profissionais de enfermagem para executar a terapêutica proposta. Essa atenção no domicílio é mais presente no setor privado, tendo financiamento dos próprios pacientes e seus familiares e reembolso dos planos de saúde(2,7).

Dadas essas considerações, concorda-se com Lacerda et al. quan-do ponderam que o enfermeiro, ao exercer o cuidado domicili-ário, deverá estar munido de conhecimento científico que sus-tentará suas ações, porque o cuidado no domicílio exige saber/pensar/agir e também observar/analisar/cuidar/orientar, para que, com esses atributos, possa propor estratégias adequadas de atenção aos problemas encontrados(8).

o cuidado realizado no domicílio como cenário para a assistência ao idoso fragilizado e dependente

É no domicilio que o cuidado ao idoso se concretiza e é também nesse espaço privado que o profissional de saúde se insere para auxiliar essa família em suas necessidades e cuidados.

economia brasileira com o acelerado processo de industrializa-ção e urbanização, a expansão do atendimento de saúde e da previdência social, com a priorização do atendimento hospitalar e a modernização dos hospitais, relegando os serviços de saúde pública ao segundo plano. Essas modificações forçaram os profissionais da área de saú-de, em especial as enfermeiras, a desenvolverem habilidades e se prepararem para novas funções voltadas à administração dos hospitais, assumindo cargos de chefia do pessoal de enfermagem, abandonando com isso o cuidado direto ao paciente. A assistência de enfermagem no domicilio praticamente desaparece (3). Esse novo paradigma de atenção à saúde foi o que desarticulou a assistência domiciliária como estratégia de serviço voltado ao indivíduo, sua família e comunidade.

o idoso e a importância do cuidado domiciliário

As transformações demográficas e epidemiológicas por que pas-sa o Brasil desde a década de 1960 acarretaram envelhecimento populacional cada vez mais acentuado, com predomínio das doenças não transmissíveis que, por sua vez, são mais prevalentes na faixa etária mais velha da população.O modelo de atenção à saúde vigente com o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e com a implantação definitiva da municipalização dos serviços de saúde culminou com a des-centralização da assistência e possibilitou proximidade maior da população com a tomada de decisões em nível local e, por consequência, maior acesso aos serviços públicos de saúde. Esse modelo faz parte das diretrizes nacionais de políticas públi-cas adotadas pelo Brasil para o fortalecimento dos mecanismos de proteção social e de saúde da nossa população, principalmen-te dos segmentos mais vulneráveis, onde se incluem os idosos. A problemática do idoso no Brasil vem apresentando-se como um desafio para a Saúde Pública, exigindo ações eficientes dos sistemas públicos e previdenciários no sentido de di-minuir as desigualdades sociais e de saúde nos diferentes estratos da população.(4).Para Duarte e Lebrão, (5), as doenças crônicas não transmissíveis no Brasil e no mundo não irão desaparecer, constituindo-se no maior desfio do século XXI. No ano 2020, as doenças crônicas corresponderão a 80% do total de agravos de saúde nos países em desenvolvimento e os seus encargos recairão sobre a família, a sociedade e os governos.Essas mudanças estimularam o retorno da assistência domi-ciliária como estratégia de atenção à saúde, uma vez que a política imposta pelos hospitais era o de diminuir o tempo de internação e, por conseguinte, a diminuição dos custos hospitalares com a proposta de tratamento e seguimento dos pacientes no domicílio.Há também o retorno da proposta de dar maior ênfase aos programas de atenção primária e de promoção da saúde à população idosa, em que o objetivo principal deverá ser a ma-nutenção da sua capacidade funcional a fim de prevenir e/ou retardar sua dependência, propiciando desse modo a sua

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Ao se abordar o assunto sobre cuidados no domicílio, é necessá-rio precisar alguns conceitos sobre o que representam o cuidado formal e o cuidado informal. Nesse sentido, podemos dizer que o cuidado formal é aquele exercido por profissionais geralmente remunerados e o cuidado informal, o executado pela família, pelos amigos, vizinhos ou parentes, sem remuneração(11,12). Para ilustrar o tema aqui discutido, apresentaremos a seguir alguns dados de trabalhos(4,6) em que se buscou pesquisar como o cuidado era percebido pelos cuidadores familiares e seus idosos no seu cotidiano de vida, de fragilidades, dependências e, muitas vezes, conflitos.O espaço escolhido para o estudo foi o domicílio através de visitas domiciliárias, com a realização de entrevistas gravadas, tendo como objetivo extrair as representações sociais dos cuida-dores familiares e dos idosos acerca do cuidado que prestavam os cuidadores, e no cuidado que recebiam os idosos. No primeiro estudo, o universo dos sujeitos foi composto de 17 cuidadores, com idade que variava de 35 a 84 anos, familiares dos idosos que apresentavam dificuldades para a realização das AVDs (ati-vidades da vida diárias) e AIVDs (atividades instrumentais da vida diária). No segundo estudo, o universo foi de 31 idosos na faixa etária de 65 a 95 anos, portadores de alguma incapacida-de funcional e/ou dependência e que possuíssem um cuidador familiar. Todos os sujeitos dos estudos pertenciam à área de abrangência do Centro de Saúde Escola.A metodologia utilizada nestes estudos foi qualitativa, com base na teoria da representação social de Moscovici (1976) e para a análise dos dados foi utilizada a técnica do discurso do sujeito coletivo de Lefèvre & Lefèvre (2005).Inúmeras foram as representações extraídas dos discursos dos cuidadores e de seus idosos. Para demonstrar como as relações interpessoais são ricas de significados e nuanças, elegeram-se al-gumas representações para ilustrar como o cuidado é percebido por essa díade no seu cotidiano de vida.A título de observação, vale assinalar, de acordo com a metodo-logia do DSC, que cada discurso do sujeito coletivo é o resultado da contribuição de um determinado número de depoimentos que apresentam sentido semelhante; por esse motivo, após cada DSC são aqui indicados, por letras e números, com quantos e com quais depoimentos um determinado DSC foi composto. A retribuição é uma representação frequentemente referida nos trabalhos com cuidadores, aparecendo nos discursos dos cui-dadores e dos idosos do nosso estudo. O cuidado é visto como um retorno, como uma consequência do que se recebeu ante-riormente. É uma consequência natural da vida.Abaixo, trechos dos depoimentos:

cuidador

“Gosto é um prazer, porque eu sendo filha e fui criada, ela cuidou de mim e não é porque é minha mãe que agora eu vou deixar ela de lado... Então é um retorno que eu dou porque, quem não ama a mãe, para mim, não é nada... Além de dar o

melhor para ela, eu tou devolvendo um pouquinho da atenção que ela me deu quando eu era bebê...” (C.3; C.4; C.8; C.17)

idoso

“...Boa cuidadora, é demais, ela cuida muito bem, é muito atenciosa, é espetacular. É fora de série, ela vale por 10... Na verdade, ela tem muito cuidado comigo porque eu criei ela, quando ela tinha uns dois ou três anos, eu ia almoçar em casa, ela me agarrava e não largava, chorava, queria um brinquedo... Eu também cuidei muito dos filhos dela, cuidei toda a vida... Então, tá a prova aí; tudo o que ela faz, todo dia traz comida, traz pão, vê se precisa de alguma coisa, me aplica insulina. Nossa, ela faz com amor...” (Id.05; Id.06; Id.12; Id.16; Id.20; Id.21; Id.26; Id.29)O teor dos discursos a seguir tem uma conotação diferente no sentido da retribuição. Aparecem como obrigação/responsabi-lidade, no caso dos cuidadores, e como imposição/expectativa de comportamento, para os idosos.

cuidadores

“Bom, eu no fundo eu cuido dele, mas eu acho, sinto que é mais como uma obrigação de filho, sei, vamos dizer, tá idoso, tem dificuldade de fazer tudo praticamente, então eu cuido, mas naquela obrigação, eu me sinto na obrigação de ter que cuidar; agora, sinceramente, gostar a gente não gosta muito não; eu sei da minha responsabilidade, sei da minha obrigação, então, procuro fazer da melhor forma possível...” (C.8)

idosos

“Ah, eu brigava, fazia um escândalo porque, ou tem que me ajudar ou, se não, pinica... tem que ir embora. Porque eu gosto muito de brigar. Eu gosto das coisas direitas. Não gosto de nada errado. Ou bem ou mal. Se faz por bem, fica por bem, se faz por mal, some da minha frente. Mas ele nunca diz não, ele é bonzinho... sempre me ajuda bem. Ainda bem que eu criei ele... A gente já está com tanta idade... Não vai amolar os outros....É a tua obrigação porque é a tua mãe, mas muita gente tem como obrigação e não por amor...” (Id.14; Id.16; Id.17; Id.22; Id.26).Ao se defrontar com esses discursos, pode-se imaginar como fica difícil realizar o cuidado quando o cuidador não possui habilidades e disposição para a tarefa e também como ficam complicadas as relações familiares quando seus membros assu-mem posturas duras e intransigentes, gerando situações difíceis para ambos e para o seu entorno.Outra representação encontrada e que é muito mencionada pe-los estudiosos é com respeito ao desgaste e à sobrecarga que o cuidado gera no cuidador e que é percebido pelos idosos.

cuidador

“Eu ando um pouco cansada, você entende, tudo acaba em cima de mim. É que ela não quer outra pessoa para fazer, ela quer eu.

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Até já saí do outro serviço que trabalhava de manhã, também para mim estava sendo muito pesado. Eu chegava do serviço e vinha correndo onze horas e fazia as coisas rapidinho aqui e já ia trabalhar. Mas, eu falo cansada assim, não é de olhar ela, de cuidar dela, é de trabalhar fora. Então, se o filho não tiver uma cabeça muito boa, bem feita, ele não consegue cuidar da pessoa. Precisa ter uma cabeça muito boa porque ele desgasta muito da gente, físico e mental.” (C.3; C.7)

idosos

“...É uma boa cuidadora, é atenciosa, ela cuida bem de mim, só que ela é muito nervosa comigo. Ela acha que eu sou muito teimoso... No restante, ela me trata muito bem até, que nós vivemos já há 45 anos, só que ela briga muito comigo. Às vezes, eu quero falar qualquer coisa assim, ou mesmo quando eu falo de telefonar para os amigos, ela acha ruim. Acha ruim, porque não precisa falar. E eu fico triste com isso...De vez em quando ela se exalta, mas passa... Fala que eu sou muito chato (risos)... Mas ela é uma boa esposa, uma boa cuidadora. Não resta dú-vida.” (Id.4; Id.29).O desgaste que o cuidado gera nessa ídade pode ser verificado nesses discursos, onde a constante superação do cansaço, da tristeza e da conciliação entre eles se faz necessária para a so-brevivência de ambos. A ambivalência e conflito de sentimentos foi outra representação encontrada que nos faz refletir o quão difícil é a execução do cuidado e quão grande é o conflito de sentimentos do cuidador. A presença da fragilidade e da necessidade de cuidados do idoso provoca no cuidador uma ambivalência de sentimentos, que é a precursora do seu estresse.

cuidador

“Bom, gostar assim, eu nem sei explicar, a gente tem que levar, ah! Eu fico assim..., nervosa, mas a maior parte do tempo eu fico contente; tem hora que me enervo mesmo, como eu já falei, no fundo, no fundo... O que a gente vai fazer? No asilo não dá pra pôr, uma, e a outra, a gente não tem condições e também a gente tem dó, pois chega a uma certa idade, ter que colocar no asilo, sabe lá como é tratado. Tem hora que ela ultrapassa os limites, às vezes a gente chama ela pra ir ao banheiro, ela xinga, ela é fogo. Quando foi segunda-feira, eu chamei ela para ir ao banheiro de manhã, ela disse: “Eu não vou nada, você vai pra puta que pariu”, é fogo. Você acha que velho é uma coisa boazinha, fica quietinha, fica, senta quietinha, mas ela é malcriada, malcriada, mas o que vai fazer, se tivesse no asilo, tava apanhando, não é todo mundo que tem paciência...” (C.10).Ao confrontar esses discursos, pode se avaliar como o cuidado é uma atividade desgastante e muitas vezes onerosa para os envolvidos nessa ação.Quando se trata do cuidado executado na família, por familia-res, aos idosos com fragilidades e dependências, pode-se afirmar que o ônus é maior e mais devastador.

O profissional de enfermagem, ao prestar assistência domi-ciliar, deverá estar sensível a todos esses fatos, entendendo e auxiliando esses familiares no seu dia a dia de cuidados. Para finalizar, o discurso desses idosos serve para reflexão quando mencionam o valor que o cuidador familiar tem em sua vida.“Eu não sei o que seria de mim., eu acho que eu morria à min-gua porque não tinha ninguém para cuidar. É dose a gente ser sozinha porque não tem mãe, pai, não tem marido e estou velha. Tenho irmã, netos, mas nem sempre estão bem para ajudar e a gente também não pode ficar perturbando eles para fazer certas coisas... Então é ela que cuida de mim, todo dia ela separa o meu remédio... Se não tivesse ela, teria que me arrumar sozinha, teria que me esforçar mais para não esquecer de tomar o remédio, para lembrar de outras coisas, me preocupar... Mas ela me cuida muito bem, graças a Deus. Deus que ajude ela, que dê bastante saúde, porque para enfrentar o que ela enfrenta aqui, é dose. Ela é até forte demais... Se não fosse ela, eu estava aí, só jogada no mundo...” (Id.1; Id.3; Id.7; Id.9; Id.15; Id.18; Id.19; Id.21; Id.25)Por meio da experiência nos domicílios, pode se ponderar que os profissionais que trabalham com idosos e seus familiares no âmbito domiciliar, prestando ajuda aos seus familiares, têm a oportunidade de vivenciar as tensões, as angústias, os anseios e mazelas das relações familiares. Com o aparecimento da fragili-dade e da dependência, os membros familiares são requisitados a assumir o cuidado, muitas vezes sem preparo, disposição e disponibilidade para a nova função.A importância da família para o cuidado ao idoso é fator de-terminante para o sucesso da terapêutica. O profissional que se encontra no domicílio precisa estar atento para identificar o universo pessoal no qual estão inseridos o idoso, seu familiar e sua família, sendo que cada um deles possui desejos, esperanças e projetos de vida diferentes.O cuidado ao idoso no contexto de fragilidade e dependência envolve vários segmentos da sociedade, como a família, a comu-nidade e o Estado na operacionalização de políticas públicas para a promoção e prevenção de agravos mais importantes.

conSideraçÕeS FinaiS

O profissional de enfermagem, ao adentrar no domicilio, deverá ter em mente que o cuidado que os membros daquela família executam é uma construção e reconstrução cotidiana dos afetos, do carinho, do vencer barreiras e fantasmas do passado. É estar todos os dias com o idoso, “apesar de”.Será possível aos profissionais de saúde dominar suas expec-tativas, levar para o domicílio seus conhecimentos, técnicas aprimoradas, sem impor sua autoridade? Será possível também respeitar as vontades, anseios, dúvidas, medos, cansaço do cuidador e do idoso?Para responder a esses questionamentos, pode-se recorrer a Ayres(13), que afirma: “...é necessário aos profissionais de saúde ter um autêntico interesse em ouvir o outro onde é possível, dar a voz aos sujeitos envolvidos...” (p.186), sendo reiterado por Barros(14) quando pondera: “...a execução do cuidado envolve

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1. Mazza MMPR. A Visita domiciliária como instrumento de assistência de saúde. Rev Bras Cresc Des Hum. 1994;IV(2):60-8.2. Duarte YAO, Diogo MJDE. Atendimento domiciliário: um enfoque gerontológico. In: Atendimento domiciliar: um enfoque gerontológico. cap.1.1ª ed. São Paulo: Atheneu, 2000;3-17. 3. Angerami ELS, Gomes DLS. Análise da formação do enfermeiro para a assistência de enfermagem no domicílio. Rev Latino-Am Enferm. 1996; 4(2):5-22.4. Rossetto Mazza MMP. Cuidar em família: análise da representação social da relação do cuidador familiar com o idoso [dissertação de mestrado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP, 2002.5. Duarte YAO, Lebrão ML. O cuidado gerontológico: um repensar sobre a assistência em gerontologia. Mundo da Saúde. 2005;29:566-74.6. Rossetto Mazza MMP. O cuidado em família sob o olhar do idoso [tese de doutorado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP, 2008.7. Dal Ben LW, Souza RMC. Adaptação de instrumento para dimensionar horas diárias de assistência de enfermagem residencial. Rev Esc Enferm USP. 2004;38(1):80-9.8. Lacerda MR, Zagonel IPS, Martins SK. Padrões de conhecimento de

enfermagem e sua interface ao atendimento domiciliar à saúde. Online Braz J Nurs. 2006;5(2). 9. Egry EY, Fonseca RMGS. A família, a visita domiciliária e a enfermagem: revisitando o processo de trabalho da enfermagem em saúde coletiva. Rev Esc Enferm USP. 2000;34(3):233-9.10. Dal Ben LW, Gaidzinski RR. Proposta de modelo para dimensionamento do pessoal de enfermagem em assistência domiciliária. Rev Esc Enferm. 2007; 41(1):97-103.11. Rocha EG, Machado ALG, Fialho AVM, Moreira TM. Análise da produção científica da enfermagem acerca do cuidado familiar no domicílio (2000-2005). Rev Bras Enferm. 2008;61(3):361-5. 12. Figueiredo MLF, Luz MHBA, Brito CMS, Sousa SNS, Silva DRS. Diagnósticos de enfermagem do idoso acamado no domicílio. Rev Bras Enferm. 2008;61(4):464-9.13. Ayres JRCM. O cuidado, os modos de ser (do) humano e as práticas de saúde. Saude Soc. 2004;13(3):16-29.14. Barros MEB. Seria possível uma prática do cuidado não reflexiva? O cuidado como atividade. In: Pinheiro R, Matos RA (org.). Razões públicas para a integralidade em saúde: o cuidado como valor. Rio de Janeiro: IMS/UERJ/ CEPSC: Abrasco, 2007;404.

REFERÊNCIAS

intuição e paixão, e não é algo que possa ser empacotado num embrulho de técnicas para serem usadas... não pode ser reduzida a qualquer operação mental... (p.120). Fica um alerta a todos os profissionais que executam o cuidado em estar sistematicamente refletindo sobre sua prática e evitar erros tão frequentes. Para tanto, o cuidado prestado não pode ser autoritário, carre-gado de saber científico, de modo impessoal; os conhecimentos dos cuidadores deverão ser reconhecidos e valorizados; os pro-fissionais não deverão impor condutas e procedimentos difíceis de ser executadas pelos cuidadores; os profissionais deverão ter

sensibilidade de reconhecer as reais necessidades do paciente e de seu cuidador; a equipe de atendimento domiciliário deverá respeitar o ritmo da família, solicitando sempre que possível a colaboração de seus membros na execução de técnicas e procedimentos necessários ao idoso; a equipe de atendimento domiciliário deverá preparar e ensinar o cui-dador a executar o cuidado, tornando-se assim uma parceria no cuidado. E, por fim, será necessário despertar nos profissionais a impor-tância da escuta como atitude para a prestação do cuidado.

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 2010 27

Estudos comentados

Estudos comentados

PercePção daS diFiculdadeS FuncionaiS no coMProMetiMento coGnitiVo leVe

Okonkwo OC e cols – J Am Geriatr Soc. 2009;57:978-84.

Bianca Figueiredo Barros e Lara M. Quirino Araújo

conteXto

O termo anosognosia tem sido utilizado para designar a fal-ta de percepção ou a negação dos déficits em pacientes com comprometimento cognitivo. Embora esteja relacionada com o acometimento dos lobos frontais, essa alteração pode ser obser-vada em todas as demências. Estima-se que 25% dos pacientes com doença de Alzheimer apresentam anosognosia na fase leve, com aumento dessa proporção nas fases mais graves. Além de apresentar implicações práticas evidentes para o profissional de saúde e para o cuidador, a falta de percepção dos déficits cog-nitivos e funcionais tem sido associada a maior probabilidade de envolvimento em situações de risco. Encontra-se bem estabelecido na literatura o conceito de que o comprometimento cognitivo leve (CCL) é acompanhado de um declínio discreto no desempenho das atividades instrumentais, especialmente as mais complexas, como direção veicular e admi-nistração financeira. No entanto, uma questão que permanece pouco investigada é a que diz respeito ao reconhecimento desses déficits pelo indivíduo com CCL.

eStudo

Objetivos: Avaliar se os pacientes com CCL têm percepção de suas dificuldades em atividades instrumentais, comparando o autorrelato com o desempenho real.Delineamento: Estudo de caso-controle.Ambiente: Ambulatorial em uma clínica de memória no Estado norte-americano de Alabama.Participantes: Foram selecionados 57 indivíduos com CCL e 68 controles normais. Os grupos tinham idade média de 67,9 a 70,1 anos, escolaridade de 15,1 a 15,4 anos e mostraram-se comparáveis em todas as características, exceto pelo escore na Dementia Rating Scale, mais baixo no grupo com CCL.

Medidas e Desfechos: O desempenho em atividades instru-mentais foi avaliado em cinco domínios funcionais: direção veicular, habilidades financeiras, gerenciamento de medicações, compras e uso de telefone. Inicialmente, os participantes respon-deram a dois questionários sobre sua funcionalidade: Current Financial Capacity Form e MILES Self-Report Questionnaire. A seguir, foi observado em laboratório o desempenho real nas tarefas correspondentes, de acordo com quatro instrumentos de avaliação objetiva: Financial Capacity Instrument, Observed Tasks of Daily Living, Timed Instrumental Activities of Daily Living e On-Road Driving Evaluation.Resultados: Quando comparada com o grupo controle na avaliação direta da capacidade funcional, maior proporção dos indivíduos com CCL apresentou dificuldade nos domínios de direção veicular (71% vs 51%), habilidade financeira (39% vs 6%) e uso do telefone (88% vs 68%). A discrepância entre o autorrelato e a medida direta de desempenho foi maior no grupo CCL no domínio de habilidades financeiras, com 29% dos casos superestimando sua capacidade, em contraste com 5% dos con-troles. Apesar de os participantes com CCL apresentarem maior tendência de superestimar habilidades de direção veicular (46% vs 29%), essa diferença não alcançou significância estatística.

diScuSSão

A discrepância entre o autorrelato e o desempenho objetivo atingiu significância estatística em apenas um domínio, quando indivíduos com CCL foram comparados com controles normais. O resultado pode ser atribuído ao tamanho pequeno da amostra (erro tipo II), mas dá suporte à ideia de que a falta de percep-ção dos déficits é um fenômeno heterogêneo, mais intenso em alguns domínios do que em outros.É interessante notar que os dois domínios em que foram obser-vadas as maiores discrepâncias, habilidades financeiras e dire-ção veicular, representam atividades em geral muito valorizadas pelo idoso como importantes na manutenção de sua autonomia. Assim, as discrepâncias mais intensas nesses domínios talvez possam ser atribuídas a uma atitude defensiva do indivíduo, que vê a sua autonomia ameaçada pelo declínio cognitivo.Em termos práticos, é importante ressaltar que uma proporção substancial dos pacientes com CCL superestima as suas habili-dades financeiras e que esses indivíduos terão maior dificuldade em procurar auxílio adequado ou aceitar intervenções necessá-rias. Assim, podem estar expostos a maior risco de empobre-cimento por decisões incorretas ou exploração de terceiros. A superestimação da capacidade de dirigir também deve ser objeto

Através de revisão periódica das publicações de interesse, são selecionados estudos originais de boa qualidade metodo-lógica e relevância clínica. Os estudos são contextualizados, apresentados e discutidos, dando-se ênfase aos aspectos me-todológicos. Endereço: http://gevidencias.wordpress.com

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de preocupação, já que pode trazer riscos para a segurança do indivíduo e da comunidade.Merece atenção ainda o fato de que tanto os idosos normais quanto os com CCL apresentaram discrepância importante entre o autorrelato e o desempenho objetivo, com tendência geral de superestimar capacidades. Esse achado reforça a importância de complementar as informações dadas por autorrelato com as ob-tidas por meio da observação direta no desempenho de tarefas. Na avaliação da capacidade funcional de idosos normais ou com comprometimento cognitivo, o desenvolvimento de instrumentos precisos e compatíveis com a prática clínica ainda é um desafio.

PreVenção de QuedaS coM SuPleMentação oral de VitaMina dBischoff-Ferrari HA e cols – BMJ 2009;339:b3692

Daniel Apolinário

conteXto

O papel da vitamina D na homeostase do cálcio encontra-se bem estabelecido e o uso dos suplementos orais atualmente é considerado um componente essencial no tratamento da oste-oporose. Os compostos contendo vitamina D3 têm sido prefe-ridos, já que alguns estudos sugerem que sejam mais efetivos do que os que contêm vitamina D2. Outro fator determinante é que a dosagem sérica convencional de 25(OH)D, cada vez mais utilizada na prática clínica, não é sensível à administração de vitamina D2. As formas ativas da vitamina D (calcitriol e alfacalcidiol) também estão disponíveis no mercado, mas apre-sentam limitações determinantes relacionadas com o custo e o perfil de segurança.Evidências mais recentes têm revelado a importância da vitami-na D na manutenção do trofismo muscular, através de recep-tores nucleares específicos presentes nos miócitos. Um corpo crescente de evidências fisiopatológicas e clínicas sugere que a suplementação de vitamina D possa diminuir o risco de quedas em idosos. No entanto, os ensaios clínicos que avaliam os efeitos de suplementos orais e das formas ativas da vitamina D na preven-ção de quedas em idosos têm apresentado resultados mistos.

eStudo

Objetivos: Avaliar a eficácia da suplementação oral de vitamina D na prevenção de quedas em idosos.Delineamento: Metanálise de dez ensaios clínicos randomizados.Ambiente: Variável, com seis estudos conduzidos exclusiva-mente em regime ambulatorial e quatro que incluíram parti-cipantes institucionalizados.Participantes: Idosos (n = 2.426) com idade média de 80 anos incluídos em oito ensaios clínicos que avaliaram os efeitos da suplementação oral de vitamina D2 (três estudos) ou D3 (cinco estudos). Idosos (n = 624) com idade média de 73 anos incluídos

em dois ensaios clínicos que avaliaram os efeitos de formas ativas da vitamina D (calcitriol e alfacalcidiol). Foram sele-cionados apenas estudos que apresentaram descrição clara da definição de queda, assim como a metodologia utilizada na detecção dos eventos.Desfechos e Medidas: O desfecho primário foi definido como o risco relativo de pelo menos uma queda no período de segui-mento, que variou de dois a 36 meses.Resultados: Quando os oito estudos que utilizaram suplemen-tação oral de vitamina D2 ou D3 foram submetidos a metanálise, o risco de quedas mostrou-se menor no grupo que recebeu su-plementos de vitamina D, com RR de 0,87 (IC95%; 0,77-0,99), mas com heterogeneidade significativa (teste Q = 0,05). A pre-sença de heterogeneidade indica que os estudos não são compatí-veis e não deveriam ser analisados em conjunto. A estratificação por dose diária (200-600 vs 700-1000U) mostrou-se capaz de neutralizar a heterogeneidade. O RR observado nos estudos que utilizaram doses de 700 a 1.000U foi de 0,81 (IC95%; 0,71-0,92) e o RR nos indivíduos que atingiram dosagem sérica de 25(OH)D ≥ 60nm/l foi de 0,77 (IC95%; 0,65-0,90). A análise de subgrupos revelou ainda que o efeito dos suplementos de vitamina D na redução de quedas independe de gênero, idade, nível de independência (institucionalizados ou não), tipo de composto utilizado (D2 ou D3) e da administração concomi-tante de cálcio. Nos dois estudos que utilizaram formas ativas da vitamina D, o RR foi de 0,78 (IC95%; 0,64-0,94), com ocorrência de hipercalcemia duas vezes maior na comparação com placebo (12% vs 6%).

diScuSSão

Nos últimos ano,s diversas metanálises avaliaram os efeitos dos suplementos de vitamina D na incidência de quedas em ido-sos. Resultados discordantes têm sido observados, que podem ser atribuídos aos critérios adotados na seleção de estudos e à metodologia utilizada para análise de subgrupos. Em meta-nálise de 2004, Bischoff-Ferrari e cols encontraram evidên-cias de que a falha em detectar benefício poderia ser explicada pela dosagem baixa de vitamina D utilizada em alguns estudos (JAMA. 2004;291:1999-2006). A nova metanálise, conduzida pelos mesmos autores, além de incluir novos estudos publicados desde então, destaca-se pelos critérios de seleção rigorosos e pela análise cuidadosa dos subgrupos.Os resultados demonstram que os suplementos de vitamina D são efetivos na prevenção de quedas em idosos, mas que os efeitos dependem da dose administrada e do nível sérico alcançado. Nenhum efeito foi observado em indivíduos que receberam doses menores que 700U e nos que obtiveram ní-vel sérico de 25(OH)D abaixo de 60nmol/l. O ajuste de dose baseado na dosagem sérica de 25(OH)D ainda é controverso e provavelmente deve ser reservado para os casos de deficiência.

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Na prática clínica, a administração de vitamina D3 em uma dose universal de 700 a 1.000U tem sido proposta e encontra suporte nesse estudo. Na comparação entre vitaminas D2 e D3, utilizando o critério da redução relativa de risco, há tendência de superioridade para a D3, porém, sem significância estatística. As formas ativas da vitamina D também parecem apresentar efeitos comparáveis aos das vitaminas D2 e D3, mas não podem ser recomendadas como rotina pelo risco de hipercalcemia.

FatoreS aSSociadoS à Funcionalidade FíSica e coGnitiVa eM lonGo PrazoNewman AB e cols - J Am Geriatr Soc 2009;57:432-40.

Renato Laks, Rodrigo Ambrósio Wallau e Lara M. Quirino Araújo

conteXto

As questões relativas à qualidade de vida tomam importân-cia cada vez maior à medida que se atinge o aumento da lon-gevidade. A identificação dos fatores de risco e de proteção para declínio cognitivo e físico pode ser um caminho para o desenvolvimento de estratégias efetivas na preservação da capacidade funcional e, possivelmente, da qualidade de vida nas idades avançadas.O Cardiovascular Health Study (CHS) é um grande estudo de corte norte-americano que incluiu 5.888 participantes com 65 anos ou mais. Nos anos 1989/90 foram incluídos 5.201 indi-víduos e, em 1992/93, uma amostra adicional 687 afro-ameri-canos para efeito de correção da composição étnica. Nos anos 2005/06 essa coorte foi novamente recrutada para uma extensa reavaliação. Do total de participantes incluídos no recrutamento original, 58,9% haviam morrido e 10,9% não puderam ser rea-valiados por motivos diversos, restando 1.677 participantes, que compuseram a coorte denominada CHS All Stars Study.

eStudo

Objetivos: Avaliar os fatores de risco para declínio da capaci-dade física e cognitiva em longo prazo.Delineamento: Estudo de coorte com 13 anos de seguimento.Ambiente: Comunidade, com recrutamento em quatro centros norte-americanos.Participantes: Idosos (n = 1.677) com idade média de 85 anos; 66,5% do sexo feminino e 16,6% negros. Medidas e Desfechos: As variáveis preditoras incluíram dados sociodemográficos, autopercepção de saúde e diversos fatores de risco para doença cardiovascular. As principais variáveis de desfecho para funcionalidade física foram a presença de dificul-dades para cinco atividades básicas de vida diária: transferência, banho, vestir-se, alimentação e toalete. O Mini-Exame do Esta-do Mental Modificado (3MS) foi utilizado como parâmetro de funcionalidade cognitiva, com pontuação menor que 80 (total

de 100) definindo comprometimento cognitivo.Resultados: Dos 1.677 participantes, 891 (53,1%) mantiveram a independência física e cognitiva ao longo dos 13 anos de segui-mento. Entre os que evoluíram com declínio funcional, 25,6% apresentaram incapacidade física; 9,9%, comprometimento cog-nitivo; e 9,6%, incapacidades em ambos os domínios. Todas as incapacidades associaram-se à idade, principalmente quando os dois domínios estavam afetados. As variáveis contínuas de funcionalidade cognitiva e física (Digit Symbol Substitution Test, 3MS e preensão palmar) mostraram declínio durante o seguimento em todos os grupos, inclusive nos idosos que man-tiveram a independência funcional, apresentando relação signi-ficativa com idade. Nos indivíduos independentes, o declínio de todas as variáveis contínuas foi menor e os resultados dos testes no início do seguimento eram melhores. Os participantes que permaneceram independentes apresentaram tendência de ser mais jovens, do sexo masculino, com maior escolaridade e com rendimentos maiores. Além disso, apresentavam menor prevalência de hipertensão (HAS), diabetes (DM), doença car-diovascular e estavam envolvidos em maior nível de atividade física. A obesidade associou-se a incapacidade física e de ambos os domínios, mas não com incapacidade cognitiva isolada.

diScuSSão

A manutenção da capacidade funcional foi obtida em meta-de dos participantes, especialmente nos com melhor condição funcional, menor número de fatores de risco cardiovasculares e menor número de comorbidades no início do estudo, apoiando o conceito da reserva funcional na manutenção da independência na longevidade. Os fatores preditores de declínio cognitivo foram idade, escola-ridade e presença de HAS. A incapacidade física relacionou-se com o sexo feminino, HAS e obesidade, apresentando relação inversa com a prática de atividade física. A ausência de associa-ção significativa entre funcionalidade e tabagismo, DM e pro-teína C reativa pode refletir a maior mortalidade em indivíduos com esses fatores de risco.Esse estudo apresentou algumas limitações importantes, como dificuldade de recrutar e de examinar todos os sobreviventes. A baixa prevalência de declínio cognitivo pode ter sido subesti-mada, pois pacientes com déficit cognitivo tendem a participar menos dos estudos. O papel dos fatores de risco cardiovasculares na determinação do declínio funcional é inquestionável, mas pode ter sido superestimado, já que o CHS foi delineado para avaliação desses fatores, tendo incluído múltiplas medidas nesse domínio em detrimento de outros.A abordagem do idoso buscando a prevenção desses fatores preditores de incapacidade pode ser uma forma de melhorar a qualidade de vida na longevidade. O padrão diferente de fatores de risco para o declínio físico e cognitivo sugere que múltiplas metas devem ser atingidas para a manutenção da independência na longevidade.

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ENVELHECIMENTO E SAÚDE 16(1) - 20103030

A revista “Envelhecimento e Saúde”, órgão oficial da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Seção São Paulo, tem periodicidade trimestral e publica artigos de interesse científico na área de envelhecimento. Os artigos submetidos devem ser inéditos e fica subentendido que serão publicados exclusivamente nesta revista. Para ser aprovados, os artigos são submetidos à avaliação de dois revisores (peer review) que recebem o texto de forma anônima e decidem por sua publicação, sugerem modificações, requisitam esclarecimentos aos autores e efetuam recomendações ao editor geral.

cateGoriaS de artiGoSArtigos originais: apresentam resultados inéditos de pesquisa, constituindo trabalho completo com todas as informações relevantes para o leitor; artigos de revisão: preferencialmente solicitados pelos editores a especialistas da área, se destinando a englobar e avaliar criticamente os conhecimentos dis-poníveis sobre determinado tema; comunicações breves: artigos originais, porém curtos, com resultados preliminares ou de relevância imediata para a saúde pública; relatos de casos: apresentação de experiência profissio-nal, baseada em estudo de casos peculiares e comentários sucintos de interesse para a atuação de outros profissionais da área; cartas ao editor: opiniões e comentários sobre o conteúdo da revista, sua linha editorial ou sobre temas de relevância científica.

PreParação de ManuScritoOs manuscritos enviados deverão estar em padrão PC com arquivos DOC, papel A4, espaço duplo, margem de 2,5 cm. Artigos originais podem conter até 5.000 palavras; artigos de revisão, até 6.000 palavras; comunicações breves e relatos de casos, até 1.500 palavras (com até duas Tabelas e uma Figura, e no máximo 15 referências). Os autores devem enviar uma cópia impressa e o referido disquete (ou CD) com o manuscrito, além de carta de autorização de publicação. O manuscrito deve ser inteiramente incluído em um único arquivo. Tabelas, Figuras, legendas e quadros podem estar incluídos no arquivo do manuscrito ou ser enviados através dos arquivos originais.

conFlito de intereSSeSConforme exigências do Comitê Internacional de Editores de Diários Médicos (ICMJE), Grupo de Vancouver e resolução do Conselho Federal de Medicina no 1.595/2000 os autores têm a responsabilidade de reconhecer e declarar conflitos de interesse financeiro e outros (comercial, pessoal, político, etc.) envolvidos no desenvolvimento do trabalho apresentado para publicação. Devem, ainda, declarar apoios financeiros e de outras naturezas.

orGanização do arQuiVoA revista “Envelhecimento e Saúde” adota as normas internacionais do Grupo de Vancouver (International Committee of Medical Journal Editors), estabelecidas em 1997 (Ann Intern Med 1997;126:36-47). O documento pode ser obtido na Internet no endereço http://www.acponline.org/jour-nals/annals/01jan97/unifreqr.htm. Só devem ser empregadas abreviaturas padronizadas.

PáGina de roStoA página de rosto deve conter:a) o título do arquivo, que deve ser conciso e informativo;b) O nome completo dos autores, juntamente com o título acadêmico mais alto e afiliação institucional;c) Nome do departamento e instituição aos quais o artigo deve ser atribuído;d) Nome e endereço do autor responsável pela correspondência;e) Indicação de agências de fomento que concederam auxílio para o trabalho;f) Se baseado em tese acadêmica, indicar título, ano e instituição em que foi apresentada.

reSuMo e deScritoreSO resumo, de no máximo 250 palavras, deve conter justificativa do estudo, objetivos, métodos, resultados e principais conclusões, e ser apresenta-do em português e inglês. As palavras-chaves, em número máximo de seis, devem ser baseadas nos Descritores de Ciências da Saúde (DeCS) – http://decs.bireme.br e, em inglês, baseadas no Medical Subject Headings (MeSH) – http://nlm.nih.gov/cgi/mesh/2006/MB_cgi.

teXtoApresentar, sequencialmente, introdução, material (ou casuística) e mé-todos, resultados, discussão e conclusões, referências, tabelas e figuras. Em estudos que o requerem, indicar se os procedimentos seguiram as normas do Comitê Ético sobre Experiências Humanas da instituição na qual a pesquisa foi realizada ou de acordo com a Declaração de Helsinki de 1995 e Animal Experimentation Ethics. Os quadros, tabelas e gráficos devem ser numerados consecutivamente, bem como as figuras, em alga-rismos arábicos, na ordem em que foram citados no texto, e apresentar um título breve. As grandezas, unidades e símbolos devem obedecer às normas internacionais. As fotografias devem ser apresentadas em papel brilhante. No verso devem constar o título do arquivo, nome do autor e número da figura. Em formato eletrônico, as figuras devem ser encami-nhadas em alta resolução (mínimo 300 dpi). Legendas de ilustrações devem ser redigidas em papel separado e numeradas. Fotos em branco e preto serão reproduzidas gratuitamente; fotos coloridas serão sujeitas a taxa de publicação.

aGradeciMentoSDevem ser breves, diretos e dirigidos apenas a pessoas ou instituições que contribuíram substancialmente para a elaboração do trabalho, vindo imediatamente antes das referências bibliográficas.

reFerÊnciaS BiBlioGráFicaSCitar até cerca de 30 referências, restritas à bibliografia essencial ao artigo. As referências devem seguir as normas do International Committee of Medical Journal Editors. No texto, devem ser numeradas de acordo com a ordem de citação, em números arábicos sobrescritos.Os títulos dos periódicos devem ser referidos na forma abreviada conforme o Index Medicus.Incluir os seis primeiros autores, seguido de et al.a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do periódico. ano; volume:página inicial-final.b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição. Tradutor(es). Local de publicação: editora, ano, total de páginas.c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo. In: Editor(es) do livro. Título do livro. Edição. Tradutor(es). Local de publicação: editora, ano, páginas(s).d) Resumos: Autor(es). Título. Periódico. Ano;volume (suplemento e número, se for o caso):página(s).e) Tese: autor. Titulo da obra, seguido por (tese) ou (dissertação). Cidade: instituição, ano, número de páginas.f) Documento eletrônico: Título do documento (Endereço na Internet). Lo-cal: responsável (atualização mês, ano; citado em mês, ano). Disponível em: site.

endereço Para SuBMiSSãoRevista Envelhecimento e SaúdeSBGG-SP - Luciana de Assis Santana Av. Brigadeiro Luís Antônio, 388 - Conj. 35 - Bela Vista01318-000 - São Paulo - SPE-mail: [email protected]

Normas para publicação

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