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REVISTA DOS BANCÁRIOS 1 O EXERCÍCIO DIÁRIO DA SOLIDARIEDADE O EXERCÍCIO DIÁRIO DA SOLIDARIEDADE A solidariedade não é um sentimento que deve ser colocado em prática apenas no final do ano. É um exercício diário que se faz sem esperar nada em troca. Neste momento em que os bancários do BB, Santander e Itaú passam por dificuldades, a solidariedade de colegas de outros bancos ajuda a superar obstáculos e a garantir direitos Leia as matérias completas em www.bancariospe.org.br DOS Bancários Revista Ano II - Nº 25 - Dezembro de 2012 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Revista dos Bancários 25 - dez. 2012

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Dezembro de 2012

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REVISTA DOS BANCÁRIOS 1

O EXERCÍCIO DIÁRIO DA SOLIDARIEDADEO EXERCÍCIO DIÁRIO DA SOLIDARIEDADE

A solidariedade não é um sentimento que deve ser colocado em prática

apenas no final do ano. É um exercício diário que se faz sem esperar nada em troca. Neste momento em que os bancários do BB, Santander e Itaú passam por dificuldades, a

solidariedade de colegas de outros bancos ajuda a superar obstáculos

e a garantir direitos

Leia as matérias completas em www.bancariospe.org.br

DOS BancáriosRevista

Ano II - Nº 25 - Dezembro de 2012 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco

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Opinião Editorial

>>Em pleno século 21, o ser humano ainda dá mais valor ao dinheiro do que a vida. E a solidariedade é o grande remédio para este mal

Solidariedade eesperança

DOS BancáriosRevista

Redação: Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00Fone: 3316.4233 / 3316.4221Correio eletrônico: [email protected]ítio na rede: www.bancariospe.org.br

Presidenta: Jaqueline MelloSecretária de Comunicação: Anabele SilvaJornalista responsável: Fábio Jammal MakhoulConselho editorial: Anabele Silva, Geraldo Times, Jaqueline Mello e João RufinoRedação: Fabiana Coelho e Fábio Jammal MakhoulProjeto visual e diagramação: Libório Melo e Bruno LombardiFoto da capa: ©Depositphotos/Giuseppe RamosImpressão: NGE GráficaTiragem: 11.000 exemplares

Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

ÍndiceFrevo é patrimônio da humanidade

Solidariedade na luta

Entrevista: Sérgio Bertoni

Os limites da imprensa

A criminalização da pobreza

Vila Oliveira e a especulação imobiliária

Dicas de Cultura

Bancário artista

Conheça Pernambuco

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Fim de ano é tempo de renovar as esperanças e exercer a solidariedade que muitas vezes fica es-condida ao longo dos doze meses. E esta edição da Revista dos Bancários trata justamente destes dois temas: esperança e solidariedade.

Esperança de construirmos, a cada dia, um mundo melhor, onde todas as pessoas sejam tratadas de forma igualitária e tenham acesso a itens básicos

de cidadania, como moradia, educação, saúde...

Infelizmente, acontecimen-tos recentes como a destruição da Vila Oliveira, no Recife, mostram que a igualdade entre as pessoas ainda está longe de ser uma realidade. Em pleno século 21, o ser humano ainda dá mais valor ao dinheiro do que a vida. Em São Paulo,

por exemplo, a polícia mata milhares de pobres e a mídia justifica os assassinatos como se o estado estivesse acabando com os bandidos. Investigações mais apuradas mostram que a maioria dos mortos, no entanto, não tinham sequer passagem pela polícia.

O dinheiro também fala mais alto que a vida no dia-a-dia do nosso trabalho. Os bancos, por exemplo, demitem milhares de pais e mães de família, obrigam seus funcionários a trabalharem além do expediente sem pagar hora extra, tudo em nome do vil metal.

E é nessas horas que os bancários precisam ter solidariedade para lutar junto com os colegas, mesmo que o problema não afete diretamente o seu banco e nem o seu trabalho.

Como se vê, a solidariedade não deve ser um sen-timento apenas de final de ano. Ela deve ser exercida 365 dias por ano para que a gente possa construir, de fato, um mundo melhor.

O jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano resume bem a importância deste sentimento: “Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro”.

Boa leitura e um ótimo ano novo!

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Cultura Patrimônio

Desde o dia 5 de dezembro, o frevo, ritmo genuinamente pernambucano, é reconhecido oficialmente como Patrimônio

Imaterial da Humanidade. O anúncio foi feito em Paris, durante a cerimônia pro-movida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Presente à solenidade, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, festejou o anúncio: “É extremamente importante

a escolha do frevo. Ele é uma força viva. Para nós, o frevo junta dança, música, artesanato. É um enorme orgulho, ter todas estas capacidades reconhecidas”, disse. Marta também observou a importância do título diante da comunidade internacional. “Ajuda manter e preservar nossa riqueza”, frisou.

Em 2007 o frevo recebeu título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro e agora é reconhecido mundialmente. O ritmo foi a única expressão da cultura brasileira avaliada nesta sessão, junto com outras 35 propostas. E “bateu” rivais poderosos, como o repentismo cubano, o canto budista indiano de Cashemira, a arte tradicional dos luthier de violinos de Cremona, na Itália, a ariranga, música tradicional da Coreia.

Dos 120 patrimônios imateriais protegidos pela Unesco desde 2001, apenas 20 estão na América, sendo três brasileiros.

DE PERNAMBUCO PARA O MUNDOO frevo agora é Patrimônio Imaterial da Humanidade

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Trabalho Capa

Este final de ano tem sido de muita luta para os bancários.

No Banco do Brasil, os fun-cionários dos Centros de Su-

porte Operacional e de Logística (CSO e CSL) resistem a uma reestruturação que pretende transferir grande parte desses setores que hoje funcionam no Recife para Belo Horizonte.

No Santander, os bancários enfrentam uma nova onda de demissões, iniciada às

SOLIDARIEDADE

Reestruturação no Banco do Brasil, demissões em massa no Santander, ampliação do horário de atendimento no Itaú. Estes problemas não são apenas dos funcionários. A briga é de toda a categoria bancária

NA LUTAvésperas do Natal, e que já ceifou o emprego de milhares de pais e mães de família por todo o país, inclusive em Pernambuco.

Enquanto isso, os empregados do Itaú lutam contra a decisão unilateral do banco de ampliar o horário de atendimento das agências, ignorando a proposta dos bancários para o tema. Dessa forma, o novo horário tem trazido consequências como a extrapolação diária da jornada de trabalho sem o devido pagamento das horas extras e fragilizado a segurança das unidades.

A reestruturação do Banco do Brasil, as demissões em massa no Santander e o horário estendido de atendimento do Itaú não são apenas problemas dos funcionários destas insti-tuições financeiras. A briga é de toda a categoria bancária.

“Hoje é o Santander quem está demitindo, mas amanhã pode ser outro banco. O BB

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Trabalho Capa

está desativando uma boa parte do seu centro administrativo aqui em Pernambu-co, mas no mês que vem pode ocorrer em outra instituição. O importante é lutarmos todos juntos, com solidariedade, porque o problema que está ocorrendo numa em-presa pode se repetir em outra”, comenta Jaqueline Mello, presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco.

A dirigente destaca que a luta solidária sempre foi uma marca dos bancários. Nas campanhas salariais, por exemplo, é comum que os empregados dos bancos públicos, que têm estabilidade, ajudem os colegas das instituições financeiras privadas a fecharem suas agências na greve.

“É comum a gente ver bancários de bancos públicos fecharem o seu local de trabalho na greve e se dirigirem aos bancos privados para ajudar os colegas a pararem as agências. Esta solidariedade fortalece o movimento grevista e, mais do que isso, ajuda a unir ainda mais a nossa categoria. Afinal, a unidade dos bancários é exemplo para todas as outras categorias. Somos os únicos trabalhadores no Brasil que têm uma Convenção Coletiva Nacional que garante os mesmos direitos e salários para todos os funcionários dos bancos no país. E isso se

deve à nossa unidade”, ressalta Jaqueline.

A LOngA E DiFÍCiL COnStruçãO DA uniDADE A busca da unidade nacional dos bancá-

rios é uma luta que vem sendo travada pela categoria desde que ela existe. Até o início dos anos 1980, os bancários não tinham data-base única no país inteiro, como é hoje. Nem os salários e direitos eram os mesmos em todo o território nacional. Os acordos salariais da categoria eram assinados pelos sindicatos e federações estado por estado.

A primeira grande vitória na luta pela unidade da categoria ocorreu em 1982, quando os bancários conseguiram unificar a data-base nacional em 1º de setembro. Em 1986 foi criado o Departamento Nacional dos Bancários da CUT (DNB/CUT), para organizar a ação dos sindicatos filiados à central sindical e buscar a unidade nacional com os sindicatos e entidades de outras cor-rentes. O DNB foi transformado em Confe-deração Nacional dos Bancários (CNB) em 1992. Neste mesmo ano, pela primeira vez a CNB-CUT assina a Convenção Nacional dos Bancários com a Fenaban.

A Confederação Nacional dos Trabalha-dores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT)

foi criada em 2006 em substituição à CNB, com o objetivo de organizar e representar, além dos bancários, os cerca de 1 milhão de trabalhadores que atuam em financeiras, promotoras de venda, mercado de capitais, cooperativas de crédito...

Outro passo importante para a unidade nacional da categoria ocorreu em 2003, quando o Banco do Brasil e a Caixa Econô-mica Federal, que antes faziam negociações e acordos separados, participaram pela primeira vez da mesa da Fenaban - dando início a um período de conquista de aumen-tos reais. O que transforma os bancários na única categoria profissional com a mesma convenção coletiva e os mesmos direitos em todo o território nacional.

JAquELinE MELLO

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Entrevista Sérgio Bertoni

Em 2010, o número de casas brasileiras com computadores era de 39%. Mas nem só de casa as pessoas acessam os compu-

tadores. Há as escolas, as lan houses, os centros de inclusão digital. No Brasil, 71% das pessoas que usam Internet acessam blogs e 81% acessam redes sociais. Ou seja: há um espaço que pode servir para a liberdade de expressão. Ou não. Sérgio Bertoni é jornalista, blogueiro, representan-te da TIE Brasil – uma rede de informações e cooperação entre trabalhadores e organi-zações sindicais. Segundo ele, passamos da era do capitalismo industrial e financeiro para o capitalismo informacional. “O valor de mercado de uma empresa como o Goo-gle é superior ao da maior montadora de automóveis do mundo. E a saúde financeira das empresas de tecnologia e informação fariam o combalido sistema financeiro mundial passar vergonha”, diz. Ou seja, os servidores e as plataformas de redes sociais que hoje usamos têm donos. E, portanto, a democracia vai só até onde não prejudique o lucro e o poder de seus proprietários.

Por isso, é hora de desenvolver ferramentas próprias, de in-

vestir no software livre e, principalmente,

Os limites dademocracia digital

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de pressionar o governo e parlamento para garantir a neutralidade na rede.

REVISTA DOS BANCÁRIOS - Qual a importância do Marco Civil da Internet?

SÉRGIO BERTONI - O Marco Civil da Internet é uma espécie de Constituição para o meio digital, que cria parâmetros para a ação de cada indivíduo e da cole-tividade. A criação do Projeto de Lei foi uma experiência completamente nova em termos legislativos no Brasil e no mundo. É um projeto que foi discutido em rede, com a participação de milhares de pessoas de todo o Brasil. Após um longo processo de consultas, o projeto foi apresentado no Parlamento, onde se criou uma Comissão Especial, que realizou várias audiências públicas em distintos estados do Brasil.

REVISTA DOS BANCÁRIOS - E agora, a quantas anda a discussão?

BERTONI - Os debates no parlamento estão desconfigurando a proposta original e transformando-a em um monstrinho res-tritivo, que protege apenas os direitos dos donos de propriedade intelectual, restrin-gindo os demais direitos na internet. Aliás, a neutralidade na rede nos Estados Unidos está garantida por uma decisão política de Barack Obama. Aqui, no Brasil, o ministro das comunicações quer jogar o debate para a Anatel alegando ser esta uma questão técnica. E sabe quem está certo neste debate? O Barack Obama. A manutenção da neutralidade na rede é uma questão de vontade política. E nós só conseguiremos mantê-la se tivermos capacidade de colocar milhares de pessoas nas ruas e pressionar o parlamento e o governo federal.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Mas o que é exatamente esta neutralidade na rede?

BERTONI - É o que garante a liberdade de circulação da informação. Atualmente, tanto um grande provedor de conteúdo como um cidadão que apenas usa uma rede social três vezes por semana podem trafegar

dados livremente na rede. Com o fim da neutralidade, a coisa passaria a funcionar assim: quem tiver mais grana, paga mais e consegue trafegar seus dados mais rápido. Então, um gigante como o Google teria seus serviços acessados com muito mais rapidez que, por exemplo, o site do Sindicato dos Bancários de Pernambuco. É como se, além de estabelecer um pedágio, garantiriam também que uma carreta de 80 toneladas tivesse a pista livre para viajar a 120 km por hora, enquanto os cidadãos comuns ficariam parados com seus “fusquinhas” liberando a estrada.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Como está a tramitação do projeto?

BERTONI - O relatório final da Comis-são está pronto, aguardando uma votação que já foi adiada por sete vezes consecuti-vas. O grande nó é a neutralidade na rede e o livre compartilhamento de informações e conhecimentos. A neutralidade na rede é combatida pelas empresas de telecomu-nicações e o livre compartilhamento de conhecimento é combatido pela chamada indústria do direito autoral. São dois grandes lobbies que contam com muitos deputados de aluguel no parlamento brasileiro e tam-bém no governo federal.

REVISTA DOS BANCÁRIOS - A democracia digital é um mito?

BERTONI - É e não é. Criada pelo complexo militar norte-americano no fim dos anos 1960, a Internet foi incorporando mil e uma utilidades. É usada para fazer política, para comprar e vender coisas, para conversar com amigos distantes, para mandar cartas, trocar tecnologias, namorar. Então ela é bastante democrática graças à neutralidade na rede. Acontece que no sistema capitalista tudo é mercadoria. E, excludente por concepção, o capitalismo não pode admitir que tudo flua livremente. Então, ao mesmo tempo em que eles forta-lecem o mito da democracia digital, tentam criar mecanismos para direcionar e limitar essa liberdade de forma que gerem lucros

para as empresas privadas.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Mas quais os limites, hoje, para as redes sociais e blogosfera?

BERTONI – As redes sociais mais famo-sas são empresas privadas estrangeiras com objetivo de lucro. Logo, os interesses econô-micos destas empresas não serão colocados em risco só porque o João Ali da Esquina quer expressar sua opinião. Enquanto o João Ali da Esquina estiver compartilhando futi-lidades, ninguém vai incomodá-lo. Mas a partir do momento em que ele faça algo que possa representar perda ou diminuição dos lucros para os do-nos das redes sociais privadas, os caras cor-tam a liberdade de expressão dele.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – E qual a saída?

BERTONI - Precisamos de um projeto de desenvolvimento tecnológico nacional. Não se propõe aqui reinventar rodas, mas sim juntar as partes que hoje se desen-volvem em separado e criar sinergias que possibilitem o desenvolvimento conjunto delas. Uma das alternativas aos modelos que existem hoje é o conceito de Rede Social Federada, que vem sendo desenvolvido há quase dois anos. A finalidade principal é per-mitir que usuários de diferentes redes sociais possam se conectar, trocando informações entre si, possibilitando novas formas de in-teração através da Web: duas pessoas podem se relacionar e compartilhar informações e conhecimentos independentemente de quais redes sociais participem.

Já o Blogoosfero é uma plataforma livre e colaborativa, que surgiu a partir da necessidade de blogueiros progressistas terem um provedor seguro e confiável. Baseado no conceito de gerenciador de

Entrevista Sérgio Bertoni

“No sistema capitalista tudo

é mercadoria. E, excludente

por concepção, o capitalismo

não pode admitir que

tudo flua livremente”

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conteúdo para sites com redes sociais, tudo é integrado permitindo o comparti-lhamento imediato das informações seja no blog seja na Rede social. Por exemplo, você faz um comentário em um artigo do blog, este comentário imediatamente aparecerá no mural da rede social. Se uma pessoa que estiver na rede social responder ao seu comentário, esta resposta imediatamente entra no blog. A plataforma também permite criar clones dos blogs que são hospedados em lugar seguro, distinto daquele de origem do blog e substituí-lo automaticamente sempre que censurado ou bloqueado, seja por questões técnico--empresariais ou por decisões políticas ou jurídicas.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – E como se mantém a Plataforma?

BERTONI - A manutenção é feita pelo próprio movimento dos blogueiros em parceria com o movimento de software livre. E usando a ferramenta livre noosfero é possível criar e manter sites distintos em uma só instalação. Com isso deixamos de ser apenas usuários, consumidores de serviços de internet e passamos também

a ser provedores e gestores de redes sociais próprias e autônomas. Em outras palavras, em lugar de pagar para que empresas priva-das, muitas delas ligadas a velha mídia e a grandes grupos econômicos, hos-pedem nossos blogs e sites, estamos pagando para nós mesmos por estes serviços, reduzindo custos e estimulando formas al-ternativas de economia e empreendimento solidário e livre.

REVISTA DOS BANCÁRIOS - Win-dows ou Linux: o que significa a escolha por um software livre?

BERTONI - Significa fazer uma esco-lha entre liberdade e prisão. Autonomia e dependência. Segurança e insegurança. Significa optar entre ser dono do sistema operacional ou ser por ele possuído. O Software Livre traz consigo toda uma filo-sofia de vida autônoma e livre, onde você pode estudar, copiar, modificar e distribuir livremente o Software. E o que é software? É conhecimento. Significa mais segurança

de teus dados, de tua informação e a certeza de que sua máquina não está sendo bisbilhotada por uma empresa ou um serviço de espionagem qualquer. Significa anos e anos de tranquilida-de em relação a vírus, invasões e ataques. E significa opção de esco-

lha, pois são mais de 35 mil programas e aplicativos livres, testados e homologados, disponíveis inteiramente grátis na internet.

REVISTA DOS BANCÁRIOS - Por-que a adoção dos software livres não consegue avançar nem mesmo dentro dos movimentos sindicais e sociais?

BERTONI - Sem dúvida nenhuma, um dos principais fatores é o medo, gerado por forte e diuturna propaganda oficial e extra oficial sobre as ditas qualidades e facilida-des do sistema operacional proprietário. Como já se sabia no nazismo, uma mentira repetida mil vezes vira verdade. Aí fica difí-cil o cara se libertar do medo. Afinal ele já está acostumado a usar aquele sistema.

Entrevista Sérgio Bertoni

Acesse: Blogoosfero: http://Blogoosfero.cc/ • Noosfero: Noosfero.org/

“A escolha de um sofware livre

é uma escolha entre liberdade e prisão. Significa optar entre ser

dono do sistema operacional ou ser por ele possuído”

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O dia D da comunicação na Ar-gentina foi adiado mais uma vez. No dia 7 de dezembro, os 21 grupos de comunica-

ção que não se enquadrassem à nova lei, aprovada em 2009, deveriam ter apresentado seus Planos de Adequação à legislação. No entanto, em mais uma manobra judicial, juízes da Câmara Civil e Comercial Federal, aliados do Clarín, decidiram prorrogar a medida cautelar que beneficia o grupo. Ou seja, a lei continua em suspenso “até que se dite sentença definitiva”, conforme a decisão judicial.

A nova Lei de Meios de Comunicação da Argentina é um marco para a América Latina. Ela dá limites ao monopólio e garante maior pluralidade na concessão das licenças. Uma de suas cláusulas

estabelece, por exemplo, que o espaço radioelétrico se divida em três partes: uma para os meios privados, uma para o Estado e outra para empresas administradas por organizações da sociedade civil.

Determina também que as empresas com número de licenças superior ao permitido pela nova regulação vendam o excedente para se adequar. Uma empresa pode ter no máximo 35% do mercado nacional e 24 licenças. Não é à toa que o Clarín, que detém 237 licenças de cabo e 25 de TV aberta, esteja recorrendo a todas as medidas para se livrar do enquadramento legal. Além da guerra judicial, o grupo faz uma campanha ostensiva na mídia, denunciando o governo por atentar contra a liberdade de imprensa.

BrASiL O discurso é semelhante ao que vem sendo travado pela grande mídia em países

como o Brasil. “Liberdade de imprensa tem de estar vinculada a garantia do direito à informação e liberdade de expressão. Não pode servir para inibir outros discursos e ideias. Aqui, a ausência de pluralismo silencia vozes e impõe verdades”, afirma João Brant, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.

O Código Brasileiro de Telecomunicações é de 1962. Construído a partir das propostas dos empresários, vê a comunicação como negócio e não como direito. As cláusulas que tratam do assunto na Constituição de 88 continuam sem regulamentação até hoje.

Sociedade brasileira está de olho na Argentina, para quemudanças nas leis de comunicação sirvam de exemplo

O dia D da comunicação

Mídia Democracia

A grAnDE MOBiLizAçãO DOS ArgEntinOS PELA nOVA LEi COLOCA EM xEquE A CrEDiBiLiDADE DOS VEÍCuLOS DE COMuniCAçãO

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Somente no mês de outubro, 571 pessoas foram mortas em São Paulos: mais de dez assassinatos por dia. Até a data de fechamen-

to desta edição, já eram 4.107 mortes no ano. A mídia, a Justiça, o Estado preferem atribuir todas as culpas à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). A no-vela das nove da Rede Globo, Salve Jorge, reforça estas vozes e enaltece o exército e a política de intervenção nas favelas. Mas quem vive de perto o drama destas mortes sabe que a história é bem diferente.

A criminalização da pobreza foi um dos temas mais debatidos durante o 18º curso do Núcleo Piratininga de Comunicação, realizado no final de novembro, no Rio de Janeiro. A equipe de Comunicação do Sin-dicato estava lá. Além da mesa dedicada especificamente ao tema, a forma como o sistema tem tratado os pobres e as favelas foram objeto de várias discussões.

“O sistema de execução sumária de hoje é muito sofisticado. Somos a maior câmara de gás sem gás do mundo. Somos o maior campo de concentração sem arame farpado do mundo”, afirma o sociólogo José Cláudio Alves, autor do livro “Dos barões ao extermínio: uma história da violência na Baixada Fluminense”.

O drama da violência e das execuções não é novo. Em 2006, foram 600 assassinatos que nunca foram esclarecidos. O filho de Débora Silva foi um deles e esta perda lhe deu forças para criar o grupo “Mães de Maio”, que hoje se articula em 170 organizações pelo Brasil em busca de justiça. “Debaixo do capuz dos esquadrões está o Estado. Pedimos a federalização das investigações sobre os 600 crimes de 2006, mas tudo foi arquivado e permanece impune. Se os culpados são todos do PCC, porque não querem investigar?”, denuncia Débora.

Em São Paulo, a estrutura penitenciária é um dos motores da violência. O chamado PCC surgiu dentro dos presídios. “Seus líderes começaram com pequenos delitos. Foi o sistema carcerário que os transformou no que são hoje. Em 94, tínhamos no Brasil 94 mil presos. Hoje, são mais de 500 mil, e mais de 150 mil só em São Paulo. Então, a violência que hoje atinge o estado é, na verdade, fruto de uma ruptura na negociação entre o governo e o PCC”, afirma a socióloga Vera Malaguti Batista, professora de Criminologia da Universidade Cândido Mendes e autora do livro “O medo na cidade do Rio de Janeiro”.

A outra ponta do iceberg são os grupos de extermínio e a relação entre o Estado e o tráfico. Segundo José Cláudio, a formação destes grupos sempre esteve articulada ao aparato policial do Estado. “O discurso dos matadores é que eles estão matando

A maior “câmara de gás” do mundoDez pobres são assassinados por dia em São Paulo. Para a mídia, são todos bandidos

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bandidos, mas nunca se ouviu falar de grandes bandidos sendo mortos por eles. Matam pessoas veiculadas pela mídia como vagabundos, marginais, que todo mundo quer ver morto - numa espécie de catarse social”, afirma o sociólogo.

O interesse por essa limpeza étnica se junta aos interesses por uma economia que movimenta bilhões. “Um quilo de cocaína custa sete mil reais. Se misturar com pó Royal, sobe pra 49 mil. Nenhum empreendimento dá algo com essa velo-cidade, com essa garantia de ‘isenção’ de impostos. Esse dinheiro vai ser pul-verizado dentro do sistema financeiro em inúmeras contas bancárias, ou inúmeras empresas de fachada que são criadas para lavar dinheiro”, diz José Cláudio Alves.

Em outras palavras: segundo o sociólo-go, o dinheiro do tráfico vai circular normalmente pela cidade e ser usado no financiamento a gran-des eventos. Os grandes eventos, por sua vez, vão fomentar a especulação imobiliária e atrair os interesses pelas áreas mais nobres da cidade que ainda são ocu-padas por comunidades pobres. E aí “ou eles removem a população ou, quando há possibilidade, passam a explorá-las comercialmente por meio das UPPs”, afirma Vítor Lira, morador da comuni-dade de Santa Marta.

O ESPEtáCuLO DA PACiFiCAçãO

Quem assistiu à abertura da novela “Salve Jorge”, viu a seguinte cena: o galã, do Exército, calça as botas, veste a farda,

beija a medalhinha de São Jorge, pede bênção à mãe e se encaminha para intervir no Morro do Alemão. Cenas da realidade se misturam à ficção para criar o cenário. A comunidade comemora, a bandeira

tremula e a paz passa a reinar. Eis o espetáculo...

Vítor Lira e o rapper Fiell são mora-dores da comunidade de Santa Marta, no Rio de Janeiro, onde há cerca de quatro anos foi instalada uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). Eles serviram

como guias para o grupo de participan-tes do curso do Núcleo Piratininga, que resolveu fazer uma visita ao local, entre os quais a Comunicação do Sindicato.

O local é aclamado nos grandes meios de comunicação como favela modelo. Lá já aportaram artistas como Michael Jackson. A área visitada por ele ganhou painel de Romero de Brito e até mudou de nome. Passou a prestar homenagem ao roqueiro norte-americano ao invés de homenagear Dedé – o morador que fazia as ligações elétricas e morreu eletrocu-tado. A imagem de favela modelo atrai cerca de 15 mil turistas por mês. “Eles chegam em jipes, saem fotografando todo mundo sem pedir licença, como se fôssemos animais em um grande jardim zoológico”, afirma Fiell.

Santa Marta não tem escola nem posto de saúde. A única creche é comunitária e todos os melhoramentos foram feitos apenas até uma parte do morro. “Daí pra cima, a gente chama de ‘linha do apartheid’. As casas foram proibidas de fazer melhoramentos. Os degraus são os mesmos que foram feitos pela comunida-de”, diz Vítor.

A exclusão não é por acaso. De cima do morro, tem-se a visão de todas as áreas nobres do Rio de Janeiro. Ou seja, sobre aquelas famílias da área mais alta, e bela, da comunidade de Santa Marta paira a ameaça da remoção.

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Quando cai um avião, o governo

faz nota de pesar. Mata-se 600 pessoas

dentro da favela e ninguém diz nada.

DÉBORA SILVA

Cidadania Violência

“SALVE JOrgE” EnALtECE A POLÍtiCA DE intErVEnçãO

nAS FAVELAS

DEBAtE nO CurSO DO nPC: VitO giAnnOtti,DéBOrA SiLVA, JOSé CLéuDiO E VErA MALAgutti

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Mariluce Maciel era mo-radora da Vila Oliveira, no Pina, uma das regiões mais valorizadas do Recife.

Chegou no bairro quando a maré ainda tomava as ruas, há cerca de 35 anos. “A gente tinha uma casinha de tábua. Foi trabalhando, melhorando, construindo aos pouquinhos... Minha casa tava linda: com cerâmica, grade...”, diz, aos prantos, a manicure. Ela viu, no início de novem-bro, sua casa ser destruída, junto com as residências de outras vinte famílias que há quase quatro décadas estavam no lugar.

Como ela, todos os outros moradores tinham o título de posse da área, con-cedido pela antiga Cohab. A área havia sido desapropriada em 1988 pelo governo

A demolição da Vila Oliveira, no Recife, mostra como o poder público privilegia o capital e os grandes empreendimentos em prejuízo da população mais pobre

Arraes, que deu posse aos moradores. De 1993 a 2009 se arrastou o processo de con-testação aberto pelos pretensos proprietários, com ganho de causa dos moradores em primeira instância. “No entanto, eles foram abandonados pela defensoria pública na segunda instância e a decisão foi revertida”, conta a advogada Maria José do Amaral, que assumiu o caso no ano passado. Segundo ela, a ação de desapropriação ocorreu quando havia vários recursos pendentes.

No dia 6 de novembro, eles viram cair por terra mais de 30 anos de história e de trabalho. O oficial de Justiça chegou acompanhado de vários caminhões da Tropa de Choque. A tentativa de resistência da comunidade esbarrou na violência da desocupação. A Avenida Domingos Ferreira foi isolada para facilitar a operação e, no dia seguinte, o foco da notícia na grande imprensa era o prejuízo causado ao trânsito.

A Justiça não se limitou a cumprir o mandado de reintegração. Todas as casas foram derrubadas. Seu Geraldo, que tinha uma oficina mecânica no local e morava em um pavimento superior, viu seus móveis e pertences serem jogados do alto. A esposa de Geraldo estava internada, com tuberculose. Agora, de alta, o médico recomendou re-pouso, em casa. Mas já não há mais casa para repousar. “A impressão que tenho é que estamos no meio de um bombardeio na Faixa de Gaza. Só que, aqui, o bombardeio é feito com trator”, desabafa a advogada.

Cidade fatiada

Cidadania Especulação imobiliária

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Cidadania Especulação imobiliária

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Vários recursos estão pendentes, inclu-sive pedido de ações reparatórias. Toda sexta-feira, as famílias estão fazendo vigília na frente do Tribunal de Justiça de Pernambuco para pressionar o Judiciário. A maioria dos moradores está em um abrigo da Prefeitura. Uma reunião com o governador estava prevista para ocorrer em dezembro. A expectativa era de que, também neste período, houvesse alguma resposta aos recursos impetrados no TJPE.

A COBiçA DASCOnStrutOrAS

O caso Vila Oliveira não é isolado. Por trás dele, paira o fantasma do tão aclamado desenvolvimento que, sobre-tudo em anos que antecedem Copa do Mundo, desperta a cobiça das grandes construtoras. A sentença favorável aos pretensos proprietários do terreno de Vila Oliveira saiu um ano antes da inauguração do Shopping Rio Mar, que transformou a região do Pina, que um dia foi só maré, em uma das áreas mais valorizadas da capital pernambucana.

A construção da Via Mangue, empre-endimento da Prefeitura para fazer escoar o trânsito na nobre zona sul, é um trunfo a mais para a especulação imobiliária. Em janeiro deste ano, um grupo de mo-radores bloqueou a Ponte Paulo Guerra.

Eram alguns dos que foram removidos para que os grandes empreendimentos se ergam. Exigiam moradia e não uma indenização de apenas R$ 7 mil como propunha a Prefeitura. O protesto só não passou em branco porque, como em todos os outros, foi tratado como motivo de engarrafamento.

No último dia 30 de novembro, mais um protesto. Desta vez, na sede da Pre-feitura, que convocara reunião extraordi-nária do Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU), para apreciar o Projeto Novo Recife. Trata-se de um empreen-dimento, patrocinado pela mega-empresa Moura Dubeux, que prevê a construção de treze edifícios de até 40 andares na área onde hoje é o Cais José Estelita.

Um grupo de pessoas contrárias ao projeto, ao saber da apressada e silencio-sa convocação, se organizou pelas redes sociais e foi ao local. Queriam ter assento na reunião, mas foram barrados.

Para além da polêmica sobre o projeto, o que transparece, em meio a um dos relatórios de defesa do Projeto, é a forma como a cidade vem sendo loteada. Após várias considerações sobre a degradação no centro do Recife, diz o parecer: “Em contraponto, na Ilha do Leite, na Ilha Joana Bezerra e nos bairros do Pina e Boa Viagem, a economia é pulsante,

expressada na expansão do Polo Médico, na implantação do Polo Jurídico e na concentração de negócios em edifícios empresariais, no surgimento de flats e home-services e, mais recentemente, na construção do shopping Rio Mar”.

COquE SOB AMEAçABetânia Andrade é moradora do Coque

desde criança. Ela lembra que quando fizeram o Fórum, a ideia era que houvesse vários empresariais de advocacia. “Mas a gente brigou, se juntou e conseguiu barrar”, diz.

No entanto, o projeto não morreu. Pelo contrário. Às vésperas de deixar o go-verno, o prefeito João da Costa, além de tentar emplacar o “Novo Recife”, enviou para a Câmara de Vereadores o projeto para construção do Polo Jurídico Joana Bezerra. Lançado em 2010, o projeto esbarrava nas contrapartidas que a Prefei-tura exigia do setor jurídico: um parque público, um centro de educação infantil, um acesso ao Terminal Integrado.

O novo projeto, recém enviado à Câma-ra, elimina a necessidade das contrapar-tidas. Ao redor do Fórum, serão erguidos oito prédios para abrigar setores do Tri-bunal de Justiça, Ministério Público, De-fensoria Pública, Escola de Magistratura e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). “Já vieram engenheiros para medir nosso terreno”, conta Betânia. E completa: “E a gente sabe que, quando vem um projeto desses, depois chegam outras empresas, com escritórios de advogados, para em-purrar a comunidade sabe-se lá pra onde”, diz a moradora.

No dia 18, os moradores do Coque fa-zem passeata contra a ocupação da área: “O Coque sempre foi nosso, dos pobres. No começo era só maré e a linha do trem. Tentaram nos mandar para o Janga, e logo voltamos. E a Joana Bezerra também é parte do Coque: foi aqui que o papa João Paulo celebrou a santa missa e, depois, um grupo de jovens instalou uma cruz”, recorda o morador Paulo Germano.

MOrADOrES DO COquE rESiStEM à ESPECuLAçãO iMOBiLiáriA DO

FAMigErADO “POLO JurÍDiCO”

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Cultura Dicas

REI DO BAIÃO

exu presta homenagem ao seu filho mais ilustre

No mês de centenário de Luiz Gonzaga, tem programação especial em vários lugares do estado. Na capital, são três dias de muita festa, começando pela quinta-feira, 13. No Pátio de São Pedro, as homenagens ficam por conta de Almir Rouche, Cezzinha, Daniel Bueno, Beto Ortiz, Terezinha do Acordeon e Dudu do Acordeon. Na Praça do Arsenal, o arrasta-pé vai de quinta a sábado, com atrações como Karolinas com K, Fagner, Alceu Valença,Bia Marinho, Santanna, Assisão, Nando Cordel, Genival Lacerda, Petrúcio Amorim, Silvério Pessoa e vários outros.

Em vez de papais-noéis, renas e trenós, esse alegre musical leva ao palco figuras típicas da cultura popular nordestina, como o Mateus, o Jaraguá, o bumba meu boi ou os caboclinhos, todos embalados por canções ori-

ginais, inspiradas nos ritmos e nas tradições da região. O texto de Ronaldo Correia de Brito e Francisco Assis Lima e as músicas de Antônio Madureira ganham vida neste espetáculo. No Marco Zero, de 23 a 25, às 20 h.

Fim de anorECOMEnDADO

Na terra de Gonzagão, a festa começa mais cedo. O projeto Cultura Li-vre nas Feiras, do governo do estado, faz uma edição especial no dia 15, para comemorar o aniversário do Rei do Baião. Já às sete horas da manhã, uma roda de contos se forma em frente da Casa de Januário, na fazenda do Araripe. De lá, cerca de 15 sanfoneiros saem tocando, em cima de um pau--de-arara, para refazer o percurso que Gonzagão fazia até a feira. Enquanto isso, tem programação na feira a partir das 9 horas, com roda de causos sobre o velho Lua e cortejo com bandas de pífanos. Os sanfoneiros que che-garem em caravana se juntam ao cortejo e seguem até a frente da Igreja, onde o sanfoneiro Joãozinho do Exu comanda a festa.

gonzagão, 100 anos

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Baile do Menino Deus

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Cultura Bancário Artista

“As histórias que contei” é o nome do livro re-cém-publicado pelo escritor e bancário

Israel Pinheiro. Lançado no último dia 24 de novembro, na Livraria Saraiva do Shopping Center Recife, ele reúne nove contos do autor, dos quais sete são premiados.

“Eu percebi que, ao invés de disputar em concursos literários e ter meus tra-balhos publicados de forma dispersa, eu poderia juntar o resultado destes dez anos de minha incursão pela literatura”, diz Israel.

A trajetória artística do escritor é bem mais longa que sua história no banco, que começou há quatro anos, na Cai-

xa Econômica Federal. Quando começou a escrever, Israel era ainda estudante. Estava entrando na universidade, onde fez o curso de Letras e assim manteve a literatura no seu encalço. Logo de primeira, teve um conto premiado no Concurso da Universidade Vale do Paraíba: “Fustigo de ano bom”. Depois vieram outras premiações. E outros contos.

Funcionário da Caixa em Vitória de Santo Antão, desde que iniciou a vida de bancário, Israel já não tem como manter a disciplina da escrita diária. Por outro lado, ele garante que o trabalho no banco tem suas vantagens: “material é o que não falta para criação”, diz. Ele revela que, ainda que indiretamente, o dia-a-dia vivido em seu ambiente de trabalho se reflete em suas histórias.

O exemplo mais concreto disso é o conto “O desenganado”. Neste texto, o personagem principal é um bancário, do BNB. Bem sucedido e satisfeito com sua carreira e sua vida, ele passa a rever seus conceitos e a se reinventar a partir da descoberta de um tumor maligno.

Com o livro de contos lançado, a próxima meta é a publicação de um romance, cuja criação iniciou desde o ano passado. “É a história de dois irmãos, judeus do sul do Brasil que migram para Pernambuco”, antecipa o escritor. Ele garante que a história já está bem adiantada, mas ainda não tem data para ser concluída.

ISRAEL PINHEIRO

Históriasque contei

BAnCáriO DA CAixA EM nOitE DE AutógrAFOS, DurAntE O LAnçAMEntO DO SEu LiVrO, EM 24 DE nOVEMBrO

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Turismo Conheça Pernambuco

O Parque Nacional do Catimbau fica a 280 quilômetros do Recife, menos de quatro horas de viagem. Na praça da vila, pode-se encontrar guias credenciados, que levarão o grupo à trilha escolhida. A Trilha das Torres, da Pedra da Concha e a do Cânion são algumas boas opções. Já no início da caminhada, a primeira escultura nas rochas: a “pedra do cachorro”. Dependendo do ângulo, é possível enxergar a cabeça de um cão, esculpida com perfeição pelos ventos.

Na base das rochas que levam até as torres, sulcos feitos em baixo relevo despencam do alto de uma parede imensa em tons multicoloridos, em mais uma imagem impres-sionante. Em cada um dos paredões e mirantes, a visão da paisagem complementa-se pelo som dos ventos e dos pássaros. São cerca de 150 espécies de aves, segundo o Ibama. E, entre os vegetais, algumas espécies raras de bromélias.

Mas, o grande motivo da fama do Catimbau é a riqueza histórica que ele nos pro-porciona. Trata-se do segundo maior sítio arqueológico do país, com imensa variedade de inscrições e registros rupestres. O Sítio Alcobaça é de todos o mais rico: perde apenas para a Pedra Furada, em São Raimundo Nonato, no Piauí. Situado em um pé de monte, tem a forma de um anfiteatro semicircular, que protege os grafismos dos fortes raios solares.

As inscrições rupestres distribuem-se por mais de 50 metros do painel. Em esca-vações realizadas no local, foram descobertos sepultamentos humanos logo abaixo dos painéis pintados, acompanhados por coquinhos, utensílios cerâmicos, cestaria e esteiras trançadas.

E, para quem decidir aventurar-se nesta viagem, uma dica: é bom levar água e comi-da, pois o restaurante mais próximo fica a cerca de dez quilômetros do local. Concluída a caminhada, aí sim: vale ir até Buíque e pedir o prato típico da região: o bode.

SirinhAéM

O deslumbramento acompanha o viajante que decide embre-nhar-se em uma das várias trilhas pelo Vale do Catimbau,

em Buíque. As rochas esculpidas pelos ventos, os cemitérios indígenas, inscri-ções rupestres, fontes de água cristalina, paredões de arenito, cavernas e cânions dão ao visitante uma sensação de pe-quenez diante da paisagem. Em 200 mil hectares, são cerca de duas mil cavernas e 28 cavernas-cemitérios conhecidas.

Esculpido pelos ventos

BuÍquE