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A importância de articular habilidades e competências com as diferentes áreas do conhecimento A leitura como suporte para a compreensão do mundo Escolas Inovadoras Você está pronto para a escola conectada com o mundo, que propõe aprendizagens significativas e forma alunos críticos e pró–ativos? ANO 1 • N o 1 • MAIO/2011 Venda proibida. Distribuição gratuita. revista Cidadão do século 21 Ler para compreender Artigos • A educação transforma ou reproduz a sociedade? • O que esperar de um mundo mais veloz do que a luz?

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A importância de articular habilidades e competências com as diferentes áreas do conhecimento

A leitura como suporte para a compreensão do mundo

Escolas InovadorasVocê está pronto para a escola conectada com o mundo, que propõe

aprendizagens significativas e forma alunos críticos e pró–ativos?

Ano 1 • No 1 • mAIo/2011

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Cidadão do século 21

Ler para compreender

Artigos• A educação

transforma ou reproduz a sociedade?

• O que esperar de um mundo mais veloz

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4 maio 2011

EXPEDIENTE

Conselho Editorial: Marcos MeloLuciana Melo

Produção: Projeto Comunicação(41) 3022 [email protected]

Editora-Chefe:Melissa Castellano

Reportagem:Brisa TeixeiraLuciana ZentiRosiane Correia de Freitas

Colaboradores:Celso AntunesMario Sergio Cortella

Revisão:Maikon Kempinski

Projeto Gráfico:Celso Arimatéia

Diagramação e Arte-Final:Goretti Carlos

Ilustração de Capa:Marcos de Mello sobre fotode iStockphoto.com/Caracter Design; Shutterstock/Ajt

Ilustrações:Daniel KleinMarcos de Mello

Fotos:AI/Guilherme PupoDreamstime.com/Yuri ArcursiStockphoto.com/LuomanShutterstock/Laurence GoughShutterstock/PhotoCreateShutterstock/Photocriate

4 maio

BAtE-PAPoEm uma entrevista exclusiva, José Pacheco, o criador da Escola da Ponte propõe uma reflexão sobre mudanças prementes no currículo da escola, na formação pessoal e social do aluno, no espaço mobiliário das instituições e na relação das famílias com a escola.

HABILIdAdEs E ComPEtênCIAs Empreendedorismo, trabalho em equipe, responsabilidade social, comunicação oral e autoliderança são algumas das habilidades e competências fundamentais para o cidadão do século 21. Você sabe como articulá-las com as diferentes áreas do conhecimento?

EdItorIAL

EsCoLAs InoVAdorAsVocê está pronto para a escola que está aberta para a sociedade, propõe aprendizagens significativas, motiva os alunos a aprender ativamente, forma cidadãos críticos e preparados para interagir com o planeta de maneira integral? Bem-vindo ao mundo das escolas inovadoras!

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A Revista Educador Educar é uma publicação da Futuro Eventos. Todos os direitos reservados. Rua Rolândia, 1281 – Pinhais (PR) (41) 3033 8100 www.futuroeventos.com.br

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Índice

tECnoLogIAdos livros às redes sociais: professores e alunos dividindo diferentes realidades em sala de aula.

PArA PEnsAro educador mário sérgio Cortella discute sobre a educação que transforma e reproduz a sociedade.

LIdErAr é PrECIsodentro da sala de aula, é necessário instigar, orientar e formar novas lideranças. Fora dela, é preciso colaborar para uma melhor organização da instituição de ensino.

três Em umEspecialistas de três países debatem sobre a utilização da avaliação como instrumento de gestão, tanto no aspecto político quanto no pedagógico.

sustEntABILIdAdEo desenvolvimento sustentável é um dos grandes desafios da sociedade. A educação, o caminho pelo qual chegaremos lá.

LiVrOs e FiLmesUma seleção de livros e filmes para você reciclar o repertório.

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ComPortAmEntoo bullying é a mais cruel face da violência escolar. saber reconhecê-lo e combatê-lo é uma tarefa de todos: professores, pais, funcionários e alunos.

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mAIs VELoz quE A Luzo educador Celso Antunes questiona o “aprender a viver” e o despertar da sensibilidade do aprendiz para que ele se torne protagonista de seu tempo.

LEr PArA ComPrEEndErA leitura deixou de ser apenas um instrumento de alfabetização. ela ocupa cada vez mais espaço como suporte para a compreensão do mundo.

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6 maio 2011

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maio 2011 7

Quando assumimos a Direção do Educador/Educar, em Dezembro de 2009, sabíamos da imensa responsabilidade em recolocar esse evento no

lugar de destaque que ele sempre teve.

Até então, haviam sido realizadas 16 edições do Educador/Educar e, a partir de 2010, coube a Futuro Eventos a missão de efetivá-lo como o

maior evento da América Latina.

Para isso, desde o início estabelecemos um planejamento a curto, médio e longo prazo que vem sendo periodicamente avaliado com o intuito de

atingirmos, a cada momento, um degrau a mais da nossa aspiração.

Nosso foco está voltado para um evento sólido, sustentável e que atenda os anseios de participantes dos congressos e seminários, visitantes

das feiras, expositores, palestrantes, patrocinadores, apoiadores, fornecedores e imprensa especializada.

O lançamento da Revista Educador Educar, neste ano, marca um momento interessante de registro e divulgação dos fatos, dos profissionais

e negócios que estarão envolvidos, ano a ano, nesse evento.

A ideia é ter uma edição voltada para as situações temáticas propostas nos congressos e seminários e, ainda, no momento que precede a

realização e no encaminhamento para a próxima edição, mostrar o que foi feito e o que pretendemos para o ano seguinte.

Ótima leitura a todos!

Editorial

Luciana Melo e Marcos Melo Futuro Eventos

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8 maio 2011

é preciso ousarpara mudar

Professores do mundo todo visitam a Escola da Ponte, em Portugal, e se surpreendem com tanta inovação. Hoje, José Pacheco, o idealizador da instituição, fundada em 1976, está aposentado e deixou-se “colonizar” pelo Brasil. Nesta entre-vista exclusiva para a Revista Educador Educar, José Pacheco nos leva a refletir sobre mudanças urgentes que precisam ocorrer no currículo da escola, na formação pessoal e social do aluno, no espaço mobiliário das instituições e na relação das famílias com a escola.

Bate-Papo

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É preciso ser ousado e quebrar mui-tas regras para tornar uma escola inovadora? José Pacheco: Para tentar acabar com a possibilidade de erigir uma escola em mito, direi que, em 1976, a escola funcionava num velho edifício contíguo a uma lixeira. As poucas carteiras com buraco para o tinteiro ameaçavam des-fazer-se. O banheiro estava em ruínas e não tinha porta. Havia classes de “lixo”, em sua maioria constituídas por alunos com idade para sair da escola, mas que não sabiam ler. Os pais dos alunos não apareciam na escola. Havia alunos que batiam em professores. Estávamos no fim de uma ditadura de 48 anos. Foi preciso ousadia, trabalho em equipe e apoio da comunidade para fundamentarmos teo-ricamente tudo aquilo que mudamos na nossa prática.

Que disciplinas são imprescindíveis para o aluno de hoje? Pacheco: Não se prepara para a vida, mas na vida. Em vez de nos preocuparmos com a acumulação cognitiva de conteú-dos, que são inutilidades para debitar em provas, e que a memória (porque é inte-ligente) esquecerá, talvez devêssemos incluir no currículo muito mais formação pessoal e social, a aprendizagem da convivencialidade. Talvez seja necessário aprender a se alimentar para escapar à tentação do fast-food. Talvez aprender a resistir ao consumismo e, efetivamente, respeitar o ambiente. Talvez aprender a resistir à violência urbana, sem depender de novelas, big brothers e outras aliena-ções. Talvez desenvolver a sensibilidade e o sentido estético para saber distinguir entre música e o lixo sonoro com que a mídia nos bombardeia.

“talvez devêssemos incluir no currículo muito mais formação

pessoal e social, a aprendizagem da convivencialidade. Talvez seja

necessário aprender a se alimentar para escapar à tentação do fast-food. Talvez aprender a resistir

ao consumismo e, efetivamente, respeitar o ambiente...”

José Pacheco

O educador José Pacheco deixou-se “colonizar” pelo Brasil

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10 maio 2011

E a alfabetização digital?Pacheco: Obrigatória ela será, mas não como vem acontecendo. As escolas converteram-se ao mundo digital, mas mantêm e reforçam práticas de ensino ob-soletas. No improviso e imediatismo das “novas” práticas, o insucesso mantém-se e prospera. Lousas digitais e quadros interativos são mera cosmética, para disfarçar a manutenção da mesmice. As escolas poderiam esvaziar os chamados “laboratórios de informática” e disponi-bilizar, em todos os seus espaços, instru-mentos de pesquisa, ajudando os jovens a analisar criticamente a informação que recolhem. Mais do que cumprir o papel de censor, os professores deveriam ensinar os seus alunos a selecionar conteúdos e a comunicar.

Como deveria ser o currículo desse novo século?Pacheco: É requerido às escolas que edu-quem para o consumo, para o ambiente, para a saúde, para o trânsito, para a ci-dadania. O conjunto de saberes que uma escola deve abordar deveria depender das peculiaridades do seu entorno, con-textualizado na sociedade globalizada. Já não faz sentido alguém prescrever um currículo único para diferentes realida-des sociais e culturas. Sobretudo num país como o Brasil. As escolas deverão ser produtoras e não reprodutoras de currículo, trabalhando a partir de neces-

sidades concretas, fazendo mediações para a prática de currículo subjetivo. Cada ser humano é único e irrepetível. Cada aluno deveria poder construir o seu currículo, em processos de auto-construção do conhecimento, apoiado em mediadores que o orientasse na busca de informação. Porém será necessário prevenir alguns equívocos provocados por certas modas pedagógicas – nem sempre a aprendizagem tem de partir das necessidades do aluno.

Quais são as principais barreiras da escola tradicional para se tornar uma escola adaptada ao mundo atual? Pacheco: A primeira barreira é o pro-fessor autossuficiente, autocentrado, solitário. Professor sozinho na sala de aula é algo que já não faz sentido há mais de um século. Mas a cultura e o peso da tradição são reforçados por uma formação reprodutora desse modelo. Não sei se é o medo que impede a mudança, há muito tempo necessária. Talvez seja acomodação. Talvez a burocracia reine sobre a pedagogia nos órgãos de decisão e falte competência àqueles que detêm a responsabilidade de tomar decisões de política educativa. Talvez falte dignidade profissional para muitos professores. Ou talvez seja conveniente às elites que a reprodução da ignorância e das desigualdades sociais perdure. Talvez os obstáculos desapareçam quando se exigir

do professor autenticidade: um professor não ensina aquilo que diz; um professor ensina aquilo que é.

A arquitetura das escolas precisa mudar? Pacheco: A arquitetura escolar ainda hoje se inspira num modelo do século 18. Em 1976, adotamos o chamado modelo de escolas de “área aberta”, libertando a criança da rigidez dos espaços e do mo-biliário tradicionais. É preciso procurar o ambiente que encoraje uma melhor comunicação entre alunos e professores; mobilizar os professores para o trabalho em equipe; facilitar a adaptação da orga-nização escolar às diferenças individuais e à contínua aquisição de conhecimentos, a fim de permitir os reagrupamentos fun-cionais de alunos; estimular nas crianças a multiplicação dos contatos pessoais; e facilitar múltiplas e diversas organiza-ções, transformações temporárias (por vezes permanentes), permitir as mais variadas modificações, dando assim fle-xibilidade não só aos diferentes modos de organização escolar, como também aos diferentes tipos de pedagogia.

O que o senhor tem visto de mais inovador por aqui?Pacheco: Eu tive oportunidade de co-nhecer muitos professores e escolas de países europeus, que veem em Reggio Emília e na Ponte caminhos possíveis para melhorar a educação e o mundo. No

Bate-Papo

“As escolas converteram-se ao mundo digital, mas mantêm e reforçam práticas de ensino obsoletas. No improviso e imediatismo

das “novas” práticas, o insucesso mantém-se e prospera. Lousas digitais e quadros interativos são mera cosmética, para disfarçar a

manutenção da mesmice.”José Pacheco

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Brasil, onde me encontro, contam-se por centenas as escolas que trabalham inspi-radas na Escola da Ponte; são milhares os professores e as universidades que es-tudam a nossa escola. Estou aposentado, mas não inútil. E, quando me apercebi de que o Brasil tem os professores certos a trabalhar de modo errado, deixei-me “co-lonizar” pelo Brasil. Encontrei professo-res com salário indigno e estatuto social depreciado, que dão sentido às suas vidas dando sentido à vida das crianças e das escolas. Sinto-me um privilegiado por encontrar tanta generosidade e ousadia responsável. Decidi juntar-me a eles, para acabar com os discursos miserabilistas e provar que este país tem boas escolas.

Os excelentes profissionais que nelas la-butam possuem saberes suficientes para romper o círculo vicioso do insucesso. E compreenderam que o seu país não pa-dece de carência de recursos – o Brasil gere mal ou desperdiça recursos.

Uma boa relação entre a escola e a família faz realmente diferença?

Pacheco: Ouvimos falar da crise das instituições e, em particular, da crise da instituição família. Muitas crianças chegam às escolas já destruídas por pais inseguros, permissivos ou prepotentes. Num tempo de narcisismo exacerbado, muitos pais esquecem-se de educar os filhos e consideram as escolas depósitos de alunos. Na Ponte, a existência de tutores permite maior aproximação. Os pais dos alunos são recebidos pelos

tutores dos seus filhos a qualquer hora de qualquer dia, sem prejuízo no trabalho dos professores.

O modelo da Escola da Ponte pode ser seguido por outras escolas? Pacheco: Aquilo que na Ponte se faz não deverá ser clonado. Nada se repete. Cada escola é diferente de outra escola. Não há segredo para o “sucesso”. Na Ponte, apenas fizemos perguntas: Por que ra-zão há alunos que não aprendem? Por que razão as aulas duram 50 minutos? Buscamos respostas e substituímos os absurdos por soluções. Se os professores de outras escolas se dispuserem a rever as suas práticas, a identificar as suas dificul-dades de ensinar, a assumir autonomia e efetuar mudanças, também poderão fazer de todos os seus alunos seres mais sábios, pessoas mais felizes. Em equipe!

“não se prepara para a vida, mas na vida.”

José Pacheco sobre o Brasil: “Sinto-me um privilegiado por encontrar tanta generosidade

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12 maio 2011

Habilidadese Competências

Cidadão do século 21ALgUmAs hAbiLidAdes e cOmpeTêNciAs se TOrNAm cAdA Vez mAis NecessáriAs NO mUNdO ATUAL. e A escOLA precisA deseNVOLVê-LAs de FOrmA ArTicULAdA cOm As áreAs dO cONhecimeNTO.

por RoSIAnE CoRREIA DE FREITAS

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Não importa o ano em que o aluno entre na escola, algumas coisas continuarão sendo sempre iguais: dois mais dois serão sempre quatro; as leis de Newton continu-arão sendo aplicadas da mesma maneira na Física; e Pedro Álvares Cabral continuará tendo chegado ao Brasil em 1500. No entanto, mudam as gerações e também o mundo em torno da sala de aula. E, claro, os educadores precisam se adaptar a cada momento para preparar seus alunos para o mundo real.

Especialistas em educação concordam que o cidadão do século 21, que está em formação em nossas escolas, precisa dominar, além do conhecimento formal, algumas competências e habilidades que o ajudarão em sua carreira e na sua vida como um todo.

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14 maio 2011

Mas quais são essas habilidades? Como fazer para que os estudantes desenvol-vam as competências necessárias? Essas são as perguntas que alguns estudiosos vêm tentando responder.

Há competências que são considera-das fundamentais. É o caso do empreen-dedorismo, por exemplo. Hoje, o aluno tem de chegar ao mercado de trabalho disposto não apenas a obedecer: precisa saber criar, inventar, “fazer a diferença”. “É uma competência essencial para sobreviver em uma sociedade que abre espaços de crescimento para quem é visionário, sabe planejar, criar e execu-tar. Caso contrário, ele será um mero executor de ações empreendidas por ter-ceiros”, afirma Nilbo Ribeiro Nogueira, mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).

questionar A inovação faz parte desse pacote. E

também deve estar presente no processo educativo. “O que se quer é que o aluno tenha a capacidade de pensar, de reavaliar, de se reinven-tar”, diz o consultor Eduardo Shinyashiki. Para ele, o padrão autoritário de ensino, que não permite o questionamento, impede que a troca em sala de aula seja mais prazerosa e de-safiadora para os estudantes.

“Eu sempre pergunto para os meus colegas professores se há outra forma de fazer o que estamos fazendo. E eu mesmo respondo: sim, há tantas formas quanto a gente quiser”, opina.

Doutor em Comunicação e autor de livros sobre o ambiente corporativo, o professor da USP Luli Radfahrer diz

que os alunos de hoje também precisam desenvolver acentuada capacidade de trabalhar em equipe. “Hoje nem video game se joga sozinho”, brinca o profes-sor. “Todas as atividades são sociais. O aluno vai precisar saber trabalhar neste mundo”, diz.

E para trabalhar com outras pessoas é essencial saber se expressar bem. “A comunicação oral é a competência que fará com que o aluno interaja mais com outros atores sociais, possibilitando-lhe conquistar maior ou menor sucesso, de-pendendo de como e o quanto consegue se comunicar oralmente”, afirma.

gestão do tempo Outra característica do século 21 que

influencia a vida dos jovens – e, portanto, precisa estar presente na mente dos edu-cadores – é a gestão do tempo. Segundo o consultor Christian Barbosa, autor de livros sobre gerenciamento de tempo e produtividade, pesquisas mostram que 80% das pessoas desperdiçam de 30 mi-nutos a três horas de seu tempo por dia. “Algumas empresas ainda têm a cultura de valorizar o empregado que fica depois do horário, como se isso fosse indicativo de que ele tem muito que fazer. Mas as empresas que estão se preparando para ser mais produtivas sabem que o profissional que tem tempo para viver, que planeja e usa bem o tempo é mais produtivo”, ensina.

Um dos temas mais prementes hoje em todo o mundo é a questão ambiental. E aqui o discurso tem de ser aplicado na prática. “Já presenciei projetos sobre meio ambiente em que foram expostas várias maquetes feitas de isopor e, ao final da exposição, todas foram jogadas no lixo. Como o professor admitiu o uso e

Habilidadese Competências

Competências do cidadão do século 21, segundo Eduardo ShinyashikiSEr – inteligência emocional, capacidade de lidar com sentimentos, controlar rea-ções e lidar com situações de conflito.FAzEr – capacidade de inovar e de criar.rElACiOnAr – competência social, habi-lidade para se relacionar, para lidar com outras pessoas, para se comunicar.PEnSAr – capacidade de pensar, de aprender, relacionada à cognição.

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o descarte do isopor, que permanecerá no ambiente por cerca de 100 anos?”, indaga Nilbo Nogueira. No mesmo sentido, a responsabilidade social é outro tema a ser desenvolvido. “Tal qual o meio ambiente, considero a responsabilidade social uma questão primeiro de consciência e depois de atitude”, afirma.

Para Nogueira, outro fator muito importante é a inteligência emocional. “Relacionar-se bem e plenamente com as pessoas, independentemente da emoção que estamos (nós e elas) vivenciando, é precioso para ter um comportamento de relacionamento o mais linear possível”. Aqui, especialmente, há um desafio para os professores. “Nós, professores, não fomos educados formalmente na escola para desenvolver esta inteligência emo-cional. Portanto, se não desenvolvermos primeiramente em nós, como seremos capazes de trabalhar com a educação emocional de nossos alunos?”, questiona.

Finanças Outro tema, por fim, destacado

pelos especialistas é a necessidade de apostar mais na educação financeira das crianças. “Nosso país só vai dar certo quando as pessoas aprenderem a fazer uso consciente do dinheiro. Em Cingapura, crianças de cinco anos já têm aulas de educação financeira”, diz Christian Barbosa.

E os pais, querendo ver tudo isso sen-do desenvolvido em seus filhos, cobram das escolas. De acordo com o sociólogo suíço Philippe Perrenoud, especializado em educação, essa cobrança é positiva e a escola precisa estar aberta a uma par-ticipação maior das famílias. Mais do que isso, deve incentivar tal atitude. “Nos dias de hoje, o dever de informar e envolver os pais na escola faz parte das atribuições

de um professor e requer competência. É obrigação da escola informar os pais em relação à educação de seus filhos”, afirma o professor no livro ”10 Novas Competências para Ensinar”.

E o professor, como fica?Com o “novo aluno” do século 21,

quais são as mudanças que o professor tem de fazer? De acordo com Perrenoud, o docente também precisa desenvolver novas competências para desempenhar com eficiência o papel de ensinar. A tecnologia é um componente importan-te nesta nova sala de aula. Mas, para o especialista em mídia digital Luli Ra-dfahrer, os alunos já têm familiaridade com produtos tecnológicos. São os pro-fessores que precisam “correr atrás”. “O professor é que precisa entender que as ferramentas tecnológicas estão aí. Ele precisa conhecê-las, precisa aprender a ser professor nesse mundo”, recomenda.

Já para Nilbo Nogueira, as compe-tências necessárias para se tornar um melhor docente podem ser resumidas em dois pontos: comunicação eficaz e flexibilidade. Ele aponta que o professor precisa ver o processo comunicativo como uma via de mão dupla, em que é permitida a troca. “Para tanto, o profes-sor precisa entender e desenvolver uma nova linguagem, que é aquela utilizada pelos alunos. Caso contrário não haverá comunicação e, sem esta, não ocorrerá a aprendizagem”, alerta. Nogueira também recomenda aos professores que sejam flexíveis “no sentido de mudar rotas, aceitar desafios, experimentar novas possibilidades pedagógicas, se atualizar e, principalmente, inovar em função das necessidades comportamentais desta nova geração de alunos”.

1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem.

2. Administrar a progressão das aprendizagens.

3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.

4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho.

5. Trabalhar em equipe.

6. Participar da administração escolar.

7. informar e envolver os pais.

8. Utilizar novas tecnologias.

9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão.

10. Administrar a própria formação.

Dez competências para ensinar,

segundo Philippe Perrenoud

Fonte: www.unige.ch/fapse/life

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16 maio 2011

EscolasInovadoras

inovação ou acomodação:

de qual lado sua escola está?

por BRISA TEIxEIRA

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“O que as pessoas mais temem é dar um novo passo, pronunciar uma nova palavra.” Quando trazemos o pensamento do escritor russo Fiódor Dostoiévski para dentro dos muros escolares, percebemos que ele espelha parte da realidade escolar. Apenas parte. Isso porque a escola também é terreno fértil para aqueles capazes de inovar, articular mudan-ças e projetar o futuro.

Mas, afinal, o que faz uma escola ser inovadora? Alguns exemplos clássicos, como a Escola da Ponte, de Portugal, e a italiana Reggio Emília – onde as classes não são di-vididas por paredes e a arte é utilizada para dar significado e sentido ao mundo em que os alunos vivem –, povoam o imaginário dos que trabalham com educação.

EsCoLA InoVAdorA é AquELA quE APrEndE Com o ALuno E não A quE ApeNAs TeNTA eNsiNAr. É A escOLA qUe FOrmA ALUNOs pró-ATiVOs, cOm VisãO críTicA, NA qUAL Os prOFessOres prepArAm cidAdãOs

cApAzes de iNTerAgir cOm O mUNdO de mANeirA iNTegrAL.

“Para cada modelo de escola inovadora, deve-se ter a formulação de um currículo

que dê suporte à forma de organização do trabalho pedagógico escolhido.”

Marcos Cordiolli

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18 maio 2011

No entanto, muitos educadores defendem que os modelos da Ponte e da Reggio Emília foram formulados em contextos históricos e sociais específicos e não podem ser copiados e aplicados em outras escolas sem um ajuste e uma correlação com a realidade das mesmas. “Suas experiências são importantes e devem servir de referência, mas não constituem exemplos esquemáticos prontos que podem ser transpostos no tempo e no espaço”, afirma Marcos Cor-diolli, consultor em gestão do trabalho pedagógico e proposições curriculares na Educação Básica.

Há quem ache, diz o consultor, que inovação pedagógica tem a ver com mu-danças no currículo ou com a introdução de novas disciplinas. “Para cada modelo de escola inovadora deve-se ter a formu-lação de um currículo que dê suporte à forma de organização do trabalho peda-gógico escolhido”.

Colocar em práticaÉ preciso ousar. Mas só ter ideias

não basta. Quantas escolas deixam seus projetos na gaveta? “É preciso envolver e mobilizar a comunidade escolar. Colo-car as inovações em prática, promover diversas experimentações, avaliar cada passo para reformular o que não está fun-cionando e aprimorar o que está bom”, aponta Cordiolli.

Há vários modos de se conceituar uma escola inovadora e isso, segundo o educador Carlos Cury, tem uma variação no tempo e no espaço. “O que chamamos de escola tradicional já foi, um dia, logo após a Revolução Francesa, uma escola inovadora. Pode ser inovadora hoje uma escola que faça um projeto pedagógico em equipe e busque a interdisciplinari-dade. Mas ela só será inovadora se tais mudanças de fato se efetivarem.”

Aprendizagem significativaPara José Manuel Moran, pesquisador

em educação humanista inovadora, não há lugar para a escola enclausurada na repetição, centrada na fala do professor, nas aulas de 50 minutos e na aprendiza-gem passiva. “A escola necessita incorpo-rar uma mentalidade aberta para o mun-do, para a vida. Num mundo com tantas possibilidades interessantes de aprender, como podemos ter tantos alunos que não sabem ler, interpretar, pesquisar, escre-ver?”, questiona. Segundo ele, a escola inovadora é um conjunto de espaços ricos em aprendizagens significativas, presen-ciais e digitais, que motivam os alunos a aprender ativamente, a pesquisar o

tempo todo, a serem pró-ativos, a tomar iniciativas e a saber interagir.

Moran ainda defende que uma boa escola precisa de menos aulas informati-vas e mais atividades de pesquisa, expe-rimentação, desafios e projetos. Precisa ainda fomentar “redes de aprendizagem, entre professores e entre alunos; que aprendam com os que estão perto e também longe, conectados, com os mais experientes ajudando os que têm mais dificuldades”.

Escola particularFoi pensando nas necessidades

das escolas particulares que buscam a diferenciação e o trabalho pedagógico articulado com o mundo atual que a Aymará Educação desenvolveu o Programa Escola Inovadora, cujo pré-lançamento acontece no evento Educador/Educar deste ano.

O Programa Escola Inovadora é ba-seado em três eixos transversais muito significativos: a Literatura, as Competên-cias para o século 21 e a Tecnologia. A inovação do produto está na articulação desses eixos com os conteúdos curricula-res. A proposta traz uma série de serviços de apoio aos educadores e às escolas, complementando os recursos didáticos impressos e virtuais.

O eixo Literatura, com a sua rique-za e diversidade de gêneros textuais, apresenta atividades que visam formar alunos leitores e alunos cidadãos, a par-tir dos valores presentes nas narrativas literárias de todas as histórias. Os livros didáticos das áreas do conhecimento fa-

EscolasInovadoras

“pode ser inovadora uma escola que faça um projeto pedagógico em equipe e busque a

interdisciplinaridade. mas ela só será inovadora se tais mudanças de fato se efetivarem.”

Carlos Cury

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zem remissões diretas às histórias literárias, articulando os saberes curriculares com as narrativas, permitindo melhor compreensão por parte dos alunos.

O eixo Competências para o século 21 traz a educação para o contexto do mundo atual, articulando protagonismo e cidadania, com foco em temas-chave, como empreendedorismo, autoliderança, comunicação oral, trabalho em equipe, administração do tempo, responsabilidade com o meio ambiente e sustentabilidade, responsa-bilidade social, educação para o consumo e educação financeira. Tais temas fazem parte das expectativas dos pais de alunos e dos desafios enfrentados por muitas escolas, que agora passam a contar com uma solução formatada e articulada com as áreas do conhecimento.

O eixo Tecnologia amplia as atividades dos materiais impressos, trazendo para um ambiente virtual de aprendizagem funcionalidades de rede social monitorada. Este ambiente, chamado de “Plug Escola Inovadora”, traz objetos interativos de aprendizagem articulados com livros didáticos, projetos e atividades. Há também o “Espaço do Educador”, uma área específica para os profissionais com orientações metodológicas, cursos de capacitação e ambiente colaborativo para troca de experiências e projetos com outros educadores.

A articulação é uma das características intrínsecas do Programa Escola Inovadora. Afinal, a escola particular busca cada vez mais a interdisciplinaridade, a formação de leitores autônomos, a real integração da tecnologia e o desenvolvimento de habilidades e com-petências adequadas às demandas do século 21 (saiba mais sobre o Programa Escola Inovadora na página 20).

O conflito de gerações é um dos pontos que deve ser levado em consideração, segundo Benne Catanante, psicóloga e consultora organizacional, na hora de pensar em inovar. Para ela, o mundo está vivendo um fenômeno novo, em que o maior desafio é reconhecer que as crianças atualmente já vêm com uma consciência de mundo muito mais ampla do que quando esse professor tinha a mesma idade. Segundo Benne, muitos professores ainda atuam com base na hierarquia vertical da transmissão do conhecimento, na qual se sentem superiores ao aluno e exigem respeito com base nessa premissa equivocada. “Um educador experiente e bastante humilde consegue reconhecer essa diferença e estimular a troca na diversidade, enriquecendo a todos, principalmente a si”.

Conflitode gerações

“A escola inovadora promove aprendizagens significativas, presenciais e digitais, que motivam os alunos a aprender ativamente, a serem pró-ativos, a tomar iniciativas e a saber interagir.”José Manuel Moran

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20 maio 2011

André Caldeira, diretor-presidente da Aymará Educação, fala sobre o Programa Escola Inovadora e as razões da proposta da empresa para articular Literatura, Competências para o século 21 e Tec-nologia com as áreas do conhecimento.

quais os principais objetivos do Programa Escola Inova-dora?Nosso maior objetivo é apresentar para escolas particulares uma solução nova, diferenciada, que venha ao encontro do que as famílias e, por consequência, as escolas buscam: um programa pedagó-gico que desenvolva competências fun-damentais, como leitura, protagonismo, cidadania e uso adequado da tecnologia, de acordo com o currículo e com as áreas do conhecimento.

Para quem é destinado esse programa?Para escolas particulares que buscam soluções de vanguarda, inovação e dife-renciação em sua proposta pedagógica e nos materiais didáticos adotados. São escolas preocupadas em oferecer educa-ção de altíssima qualidade e que, além disso, estão atentas às novas tecnologias e às competências que os alunos devem desenvolver, tanto em termos pessoais como em termos curriculares.

qual a expectativa da aceita-ção das famílias?Hoje, mais do que nunca, a escola ocupa um papel muito importante na formação de uma criança, principalmente em uma sociedade em que os pais têm cada vez menos tempo para se dedicarem à edu-cação dos seus filhos e, por isso, buscam soluções cada vez mais eficazes. Os pais querem ter certeza de que os filhos estão sendo adequadamente preparados e de que suas competências essenciais estão sendo desenvolvidas. Os pais querem ver em seus filhos o aprendizado dos saberes tradicionais, mas, tão importante quanto, querem que seus filhos aprendam a ler o mundo, que sejam leitores autônomos, que se conheçam e expressem da melhor forma suas potencialidades, que sejam ci-dadãos ativos e responsáveis, que façam uso adequado e consciente da tecnologia. E o Programa Escola Inovadora traz exa-tamente esta proposta.

Como a leitura e a Literatura estão contempladas neste programa?A Aymará Educação tem uma experiência grande e reconhecida em leitura e Lite-ratura. Acreditamos que, ao desenvolver um aluno leitor, estamos criando um trampolim no processo de aprendizagem do aluno. Como leitor autônomo, este aluno certamente vai entender melhor seu mundo, vai aprofundar suas ideias, questionar pontos de vista e compreender melhor, inclusive, as áreas do conheci-mento.

20 maio 2011

de olhono futuro

André Caldeira

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EscolasInovadoras

“Articulação é a palavra-chave do programa escola inovadora.

Articulamos os conteúdos curriculares com Literatura, com

competências relevantes para o século 21 e com tecnologia.”

ndré CaldeiraA

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maio 2011 21

o programa dá grande ênfase à articulação. por quê?Articulação é a palavra-chave do Pro-grama Escola Inovadora. Articulamos as áreas do conhecimento com a Literatura, com as competências relevantes para o século 21 e com a tecnologia. Tudo isso é articulado com serviços pedagógicos diferenciados e consistentes, que dão apoio constante para educadores e es-colas adotantes do programa.

A escola interessada terá que comprar todos os recursos?Cada escola é diferente e está inserida em uma realidade distinta. Por isso, nosso conceito oferece flexibilidade de adoção, com opções de recursos modularizadas, para procurar atender às necessidades individuais de cada escola.

quem são os profissionais envolvidos na produção do material?Para a produção do Programa Escola Inovadora, contamos com um time de talentos formado por mais de 80 pesso-as. A abordagem da equipe é a de uma empresa de educação, que trabalha o editorial em conjunto com a tecnologia educacional. Toda a produção é feita com a preocupação de que tudo o que estamos criando e desenvolvendo seja o melhor possível. Para isso, investimos muito em sondagens e pesquisas formais, nas principais praças do País, para avaliar as soluções existentes no mercado e para ajudar na concepção do Programa Escola Inovadora.

maio 2011 21

Sobre a Aymará Educação

“o Programa Escola Inovadora é voltado para escolas que buscam recursos pedagógicos que desenvolvam

competências fundamentais, como leitura, protagonismo, cidadania e uso adequado da tecnologia, de acordo com o

currículo e as áreas do conhecimento.”ndré Caldeira

A

A Aymará Educação acredita na educação para a transformação das pessoas, escolas, empresas e cidades. Com esse foco, iniciou suas atividades em 2005 com o propósito de investir em projetos diferenciados e inovadores, desenvolvendo produtos e serviços em diversas mídias e atendendo aos mais variados públicos: de escolas públicas e privadas, da Educação infantil ao Ensino Médio, a instituições de Ensino Superior, na modalidade EAD.

Para o mercado corporativo, produz conteúdo específico e adaptado à realidade das empresas, além de outros recursos didáticos próprios. na área editorial, tem em seu portfólio livros didáticos, paradidáticos, transdidáticos (Coleção Cidade Educadora), de literatura, obras de referência, audiolivros e livros para educação a distância, educação de jovens e adultos, para a formação de professores e educação especial.

na área de tecnologia educacional, oferece soluções inovadoras e convergentes, que incluem conteúdos interativos (e-learnings), Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), audiolivros, vídeos educativos, redes sociais e outras ferramentas. Para saber mais, acesse: www.aymara.com.br.

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22 maio 2011

Leitura

abertaA LEIturA dEIxou dE sEr APEnAs um InstrumEnto dE

ALFAbeTizAçãO. eLA OcUpA cAdA Vez mAis espAçO cOmO sUpOrTe pArA A cOmpreeNsãO dO mUNdO.

Leitura: janela

para o mundo

por BRISA TEIxEIRA

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maio 2011 23

“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros”. Essa frase, quem diria, foi dita certa vez pelo multimilionário da informática Bill Gates. Ele sabe muito bem o fascínio que a tecnologia desperta nas crianças, mas destaca a preocupação de que ela não deve substituir o livro.

Os baixos números da leitura no Brasil – onde 45% da população é classificada como “não leitora”, ou seja, não leu nenhum livro no período de um ano – têm mobili-zado educadores, mídia e governo em ações a favor da melhoria dos índices e da qua-lidade da leitura nas escolas brasileiras. Já a população leitora lê, em média, 1,3 livro por ano. Quando incluídas as obras didáticas e pedagógicas, o número sobe para 4,7.

“quando o leitor se sente próximo do texto, mais

facilmente ele se deixa envolver pelo que lê e seguramente vai

querer ler mais e mais”.Marta Morais da Costa

Dificuldades dos brasileiros17% leem muito devagar

7% não compreendem o que leem11% não têm paciência para ler

7% não têm concentração

Fonte: Pesquisa retratos da leitura no Brasil, 2007.

Os dados estão na pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, feita com 5.012 pessoas em 311 municípios de todos os Estados, em 2007. A mesma pesquisa revela que a maior influência para a for-mação do hábito da leitura vem dos pais, e é na escola que o hábito se consolida.

Para Marta Morais da Costa, doutora em Literatura Brasileira pela Univer-sidade de São Paulo (USP) e diretora do conselho pedagógico da Aymará Educação, uma das maneiras de incen-tivar a formação de novos leitores e o amadurecimento dos já existentes é a valorização da leitura de diferentes gêneros textuais, que irá amadurecer no leitor diferentes habilidades. “Se à leitura de textos verbais for acrescida a leitura de diferentes linguagens – a visual, a gestual, a de movimentos, por exemplo –, cresce a possibilidade de uma

atuação mais competente do leitor. Isso tudo incentivado com atividades lúdicas, criativas e mobilizadoras da sensibilidade e do imaginário dos leitores”.

Culpa da metodologiaA educadora Sandra Bozza – pro-

fessora de Linguística, Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa, Literatura Infantil e Práticas Alfabetizadoras – acre-dita que o pouco interesse pela leitura por parte dos alunos brasileiros tem sua origem na metodologia do ensino de Lín-gua Portuguesa. E isso, segundo ela, vem desde a Educação Infantil. Sandra explica que, não raro, as crianças de algumas escolas são colocadas em situação de aprendizagem da gramática normativa ou de sílabas e palavras e, como isso não é do universo vivenciado pelo aluno (não está nas mídias eletrônicas nem no cotidiano familiar, por exemplo), não se estabelece relação entre o ato social da leitura e aquilo que o aluno é obrigado a vivenciar em situação de aprendizagem escolar. “Somente um professor que é capaz de compreender o valor social da leitura e da escrita será capaz de ensinar a ler e a escrever com competência” (continua na página 26).

marta morais da Costa

sandra Bozza

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ação

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24 maio 2011

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maio 2011 25

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26 maio 2011

O brasileiro não lê 54% por falta de tempo

34% possuem outras preferências19% por desinteresse

18% por falta de dinheiro15% por falta de bibliotecas

Fonte: Pesquisa retratos da leitura no Brasil, 2007.

CriAr UM AMBiEnTE DE lETrAMEnTOna cultura contemporânea, muitos são os suportes e textos que circu-lam no cotidiano. Cartazes, folhetos, imagens, publicidades, jornais, revistas, contas, documentos e muitos outros exemplos. Usando esse material, o professor estimula práticas leitoras variadas, reais e de uso social.

Leitura

DAr O ExEMPlOUm professor que não demonstra em sua prática que a leitura, os livros e as múltiplas linguagens são de seu interesse e fazem parte de sua atividade diária, terá muita dificuldade em convencer e demons-trar que ler é uma ação necessária para o crescimento pessoal, cultural e social.

COMPArTilhAr lEiTUrASProfessores são mediadores do conhecimento e interlocutores maduros para a troca de experi-ências de leitura e de significações resultantes da ação de interpretar. rodas de conversa, clubes de leitura, relatos sobre textos lidos e apreciados, resenhas críticas oralizadas e troca de informações (escritas ou não) constituem formas de trabalhar para obter um compartilhamento de textos e significações.

Práticas de letramento

Fonte: Marta Morais da Costa.

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DiVErSiFiCAçãO DE SUPOrTESTextos em diferentes suportes (telas, impressos, corpos, obje-tos, por exemplo) exigem do leitor diferentes posturas, modos de ler e de atribuir significados. A familiari-zação com essa produção cultural amplia horizontes e resulta em maturação leitora e segurança expressiva.

SElEçãO E ADEQUAçãO DE TExTOSUm bom profissional formador de leitores tem bom repertório cultu-ral, capaz de lhe fornecer exemplos diversificados e que podem ser adequados a diferentes públicos e situações. Quando o leitor se sente próximo do texto, mais facilmente se deixa envolver pelo que lê e seguramente vai querer ler mais e mais.

PlAnEJAMEnTO DE PráTiCAS lEiTOrASUm bom projeto para a formação de leitores não abre mão de pla-nejamento prévio. Saber quais leitores atingir, suas situações e conhecimentos anteriores (“capital cultural”), o grau progressivo de dificuldades a serem vencidas, os objetivos, o material adequado à idade e ao interesse dos leitores ini-ciantes, o entusiasmo do mediador e seu conhecimento sobre a leitura são qualidades indispensáveis para um bom projeto de formação de leitores.

A descoberta de cada um“A leitura tem de ser uma descoberta

pessoal”, defende Gabriel Perissé, doutor em Filosofia da Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Pau-lo (USP). “Kafka dizia que cada um tem de ser a sua própria lição de casa. Cada leitor precisa criar-se como leitor e cada um pode começar por onde quiser”. Isso significa procurar expor-se aos livros, deixar-se conquistar por eles, visitar livrarias, frequentar bibliotecas e arriscar essa ou aquela leitura.

O educador Geraldo Almeida, doutor em Teoria Literária pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), indica leitu-ras diferentes daquelas propostas pelas escolas. Para ele, nada como a liberdade de escolha. Deixar o aluno ler o que ele quiser. “Ninguém começa lendo Machado de Assis. Muitas crianças e adolescentes começam com histórias em quadrinhos. Isso já é um bom começo”, acredita.

Para a escritora Benita Prieto, a con-tação de histórias também é fundamental no processo de formação dos leitores. Ela ajuda o desenvolvimento do raciocínio, a construção do pensamento estruturado, a

ampliação do imaginário, a vivência das emoções e a potencialização dos afetos. “Se isso acontece desde o início da vida, facilitam-se a promoção da leitura e a aproximação com a literatura.”

Visão amplaNa opinião da professora Sandra

Bozza, crianças da Educação Infantil podem se interessar pela leitura quando são levadas a conhecer parlendas (rimas infantis para divertir), poemas, trava-línguas, adivinhas e letras de músicas. Já no Ensino Fundamental, o professor terá de levar, para serem refletidos na sala, textos que circulam socialmente, cuja discussão seja sobre as ideias que o texto veicula e sobre como os conteúdos de Língua Portuguesa se organizam para tornar o texto claro e coeso. “Com essa ação sistemática, o aluno pode constatar que ler pode ser interessante e dinâmico, pois a diversidade de textos trabalhados proporcionará uma visão mais ampla da realidade social. Isso refletirá diretamente na relação do aluno com a escrita e fará com que a escola seja apenas mais uma janela para o mundo,

como é o computador, a televisão e outras mídias”.

Professor leitor “Estar atualizado nas questões sobre

a formação do leitor e estar continua-mente formando-se leitor são exigências naturais para um bom professor. Afinal, quanto mais consistente e amadurecida for a capacidade do professor de interpre-tar textos, melhores serão suas condições para tornar leitores os seus alunos”, diz Marta. Para ela, a formação de um leitor é ilimitada e interminável, e um bom professor não se constitui sem a compe-tência leitora. “Como formar leitores se o profissional encarregado dessa função não lê com eficácia nem gosta de fazê--lo?”, pergunta.

E o mais importante nesta jornada é que professores leitores têm habilidades para argumentar, fascinar e produzir em sala de aula um ambiente favorável ao diálogo e à provocação intelectual. São mágicos que transformam textos abstra-tos em histórias inesquecíveis e ajudam a enriquecer a já fértil cultura brasileira também pela palavra escrita.

45% da população brasileira é classificada como “não leitora”, ou seja, não leu nenhum livro no período de um ano.

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28 maio 2011

o que esperar de um mundo mais veloz que a luz?Escrevo com meu computador apoia-

do em uma mesa. Sobre o tampo de vidro que o ampara, existe também um pedaço de granito que encontrei em minha ca-minhada de ontem. Enquanto escrevo, lanço um furtivo e enciumado olhar a essa rocha. Descubro os belos veios escuros que se desenham na massa quase branca. Esse pedaço de granito é real, autêntico e belo. Ele efetivamente existe.

Lá fora, no jardim, Negus, meu que-rido e velho vira-lata, espera impaciente por meu assobio que o convida para uma volta. Vez por outra emite um tímido grunhido, como a me lembrar de que não devo esquecer o passeio. Finjo que o ignoro, mas meu olhar o descobre ali, estático e atento. Esse cão é real, autênti-co e belo. Ele não apenas existe, ele vive.

Há um abismo de diferenças entre existir e viver, ainda que, na pressa com que percebemos as palavras, poucos no-tem essa desigualdade. O existir é frio, sem emoções, incapaz de sentimentos e percepções. Viver é bem mais que existir, ainda que a existência possa ser perene e a vida sempre transitória. O cérebro de um cão talvez não cogite sobre a diferen-ça entre existir e viver, mas todo cérebro humano percebe a diferença.

“Existir” vem do latim existere e sig-nifica ter uma existência real. Uma pedra, um pedaço de madeira e uma pessoa que olhamos possuem existência real e, dessa forma, podemos tocá-los, mas en-tre eles existem diferenças substanciais. A pedra não possui vida e foi formada geologicamente, impassível ao tempo ali

permanecerá se nenhuma força ou ação a tirar de seu lugar. O pedaço de madeira, ao contrário, não existia até se tornar árvore ou arbusto e assim atravessar o ciclo de uma existência, que o levará à inevitável transformação. Hoje é pedaço de pau, amanhã poderá ser tampa de uma caixa ou alimento e, um dia, vermes se encarregarão de seu fim.

Uma pessoa, tal como um cão, cum-pre também um ciclo existencial e, quem sabe, continuará a existir por meio de sua obra, se fará presente em alguma saudade ou lembrança algum tempo após sua extinção. Para a pedra, existir é sina perene, para a madeira, circunstância atemporal, e para o homem, uma possi-bilidade que se prolonga muito ou pouco, mas que resiste à vida e se perpetua em

por CELSo AnTUnES

Crônica

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Celso Antunes Educador

obra ou se esfumaça na lembrança.“Viver” também tem origem latina e

vivere expressa a ideia de possuir vida, quase como o existir. Mas viver é bem mais que apenas existir. Viver expressa desejo de usufruir, vontade de aprender, fome de sabedoria. Viver significa – sem precisar ser arquiteto, escultor, fotógrafo ou músico – aprender a admirar os velhos monumentos, deliciar-se em museus e exposições de pintura, arrepiar-se de emoção ao assistir a concertos. Viver é anular a solidão por sentir plenamente a natureza e o mundo que se transforma.

É muito breve o viver e há muito a aprender, mas quem não aprende na verdade não vive, não existe. A pedra não aprende a ser pedra, o pedaço de madeira não precisa aprender a ser o que é, mas

as pessoas existem mais intensamente quando aprendem a viver. É esse o magní-fico sentido das palavras de Oscar Wilde: “Viver é a coisa mais rara do mundo, a maior parte das pessoas apenas existe”.

mas o que significa “aprender a viver”?

E, com essa singela pergunta, alcan-ça-se a resposta para o título. Ensinar a viver é saber despertar a sensibilidade do aprendiz e, dessa forma, fazê-lo protago-nista efetivo de seu tempo. Ensinar a vi-ver é se valer dos recentes estudos sobre a mente humana e ajudá-lo a administrar e domar sua atenção. Quem aprende a ser extremamente atento, quem tem olhos e ouvidos abertos à plena sensibilidade sabe viver.

Este ensino é hoje possível e nele acreditamos. Não é necessário que se realize a cruel verdade declamada pelo poeta Francisco Otaviano há muitos anos:

“Quem passou a vida em brancas nuvens e em plácido repouso adormeceu,quem não sentiu o frio da desgraça, quem passou pela vida e não sofreu foi espectro de homem, não foi homem, só passou pela vida, não viveu.”

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o que esperar de um mundo mais veloz que a luz?

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30 maio 2011

Tecnologia

mídias sociais

Alberto tem 15 anos e está se pre-parando para o retorno às aulas depois de dois meses intensos de férias. Nesse período, ele viajou para a casa de seus primos e passou a maior parte de seu tempo livre no bate-papo na Internet, fazendo download de músicas, visitando os vídeos mais procurados do YouTube, tuitando e postando fotos das férias nas redes sociais. Depois de curtir muito, Alberto já estava com saudades da escola e não via a hora de encontrar seus amigos e, é claro, mostrar o seu novo celular que tira fotos e também filma. Chegando à escola, ele cumprimenta seus amigos e, ansioso, espera a primeira aula.

prOFessOres e ALUNOs: diFereNTes reALidAdes diVidiNdO O mesmO espAçO NA sALA de AULA.

do livro àspor BRISA TEIxEIRA

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maio 2011 31

A aula é de Geografia e, rapidamente, Alberto se lembra do dia em que estava com seus primos explorando as páginas do Google Earth, no qual foi possível visualizar a distância entre a sua casa e a de seus primos. Passados mais de 20 minutos de aula, Alberto sente um desconforto e, já cansado, percebe que nos próximos 30 minutos restantes professor e alunos passarão a aula lendo o livro didático e anotando no caderno o que foi passado no quadro. Assim que termina a aula, Alberto decide falar com o professor e pergunta: “Professor, quando vamos utilizar o computador?”. Nesse momento o professor lembrou que não estava preparado para dar aulas utilizando tecnologia e se esquiva da pergunta. Ficando evidente a realidade de dois mundos distintos: a do professor, parado no tempo, e a dos alunos, que voa na mesma veloci-dade que as inovações tecnológicas.

Essa história, embora fictícia, ainda é a realidade de muitas escolas brasileiras, sejam elas públicas ou particulares. Para o americano David Thornburg, um dos maio-

“qUANdO miNhA gerAçãO desApArecer, NãO hAVerá mAis esTA excLUsãO digiTAL NO qUe diz respeiTO AO AcessO. mAs, NA

soCIEdAdE dA IntErnEt, o ComPLICAdo não é sABEr nAVEgAr, mAs sABEr AondE Ir, ondE BusCAr o quE sE quEr EnContrAr E o quE

FAzer cOm O qUe se eNcONTrA. issO reqUer edUcAçãO.”*

Manuel Castells*Entrevista do sociólogo para o jornal espanhol El País, em janeiro de 2008

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32 maio 2011

res especialistas mundiais em tecnologia na educação, o ideal é que se tenham computadores disponíveis sempre que necessário na escola e que as tecnologias trazidas pelos alunos, como os smartphones, sejam usadas como recursos de aprendizagem. Mas de nada adianta, diz ele, que isso ocorra se os professores não perceberem a importância da tecnologia para as crianças e adolescentes. “Primeiro, os professores precisam ser usuários eficazes da tecnologia, saber utilizá-la e entender o seu uso no ambiente educacional.”

Quem concorda com ele é Sonia Cristina Vermelho, doutora em Educação. Para ela, quem faz, explora e atribui significado aos artefatos midiáticos e tecnológicos são as pessoas que os utilizam. Tal apropriação é fortemente mar-cada por um processo de identificação, que “abre as portas” para situações de aprendizagem muito ricas e criativas.

Tecnologia

“os EstudAntEs PrECIsAm APrEndEr A ComPrEEndEr E A ProduzIr tExtos nos gênEros LiNgUísTicOs dAs pLATAFOrmAs digiTAis, cOmO Os

Posts dE BLogs, dE ComunICAdorEs InstAntânEos Como o msn, dE mInIBLogs cOmO O FAcebOOk e

twIttEr, mEnsAgEns dE sms E dE E-mAILs.” marcos Cordiolli

A facilidade de acesso à internet requer dos professores a promo-ção de formas de seleção das informações disponíveis. “Apenas parte do conteúdo que está na internet tem lastro acadêmico ou de confiabilidade. não se trata de censura, mas de orientar a busca de sites que disponibilizam sabe-res respaldados por instituições acadêmicas ou por especialistas”, defende Marcos Cordiolli.

Estudantes, segundo ele, pre-cisam aprender a compreender e a produzir textos nos gêneros linguísticos das plataformas di-gitais, como os posts de blogs, de comunicadores instantâneos como o MSn, de miniblogs como o Facebook e Twitter, mensagens de SMS e de e-mails e ainda as composições para as homepages. “Eles precisam dominar estes gêneros para produzir e disponi-bilizar conteúdos.”

Com professores e alunos adap-tados aos novos meios de ensi-nar e aprender, a escola, explica Cordiolli, vai se consolidar como um espaço de aprendizagem de linguagem, de reflexão crítica, de sistematização e produção de conhecimentos. “Os pais e professores serão os que vão coordenar processos e orientar os filhos e estudantes a construir conhecimentos para além das in-formações e devem estar vigilan-tes aos perigos das vias digitais”, alerta o educador. neste contexto, continua ele, a superação dos limi-tes disciplinares potencializa as ações educativas, pois os temas de estudos podem ser tratados de diferentes formas, sendo que o controle dos conteúdos e das linguagens não está mais restrito aos professores.

informações disponíveisprecisam de

seleção rigorosa

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maio 2011 33

FlexibilidadePara Marcos Cordiolli, mestre em

Educação pela PUC-SP, na medida em que a organização do trabalho pedagógico na sala de aula for flexibilizada e aberta, melhor será a condição de interação en-tre a escola e as tecnologias. “Na escola, as formas de tratamento dos conteúdos sobre a sociedade, a natureza, os espor-tes e a arte estão mudando rapidamente, graças aos materiais disponibilizados na nuvem digital”, explica. A dificuldade maior, acredita Cordiolli, está nas formas e nas condições em que professores e currículos estão se adaptando a esta nova situação.

“Se não forem bem feitas, estas mudanças no currículo e no plano peda-gógico podem levar ao desperdício de investimentos”, afirma David Thornburg. É preciso, segundo ele, estar atento às oportunidades oferecidas pelos softwa-res. Ele exemplifica que há muitos pro-gramas poderosos que estão disponíveis sem nenhum custo, levando as escolas a economizar muito dinheiro por muitos anos. “O OpenOffice é um software livre que faz tudo o que você faria com progra-mas comerciais como o Microsoft Office. Além disso, bons programas educacio-

nais, como Geogebra e Celestia, estão disponíveis gratuitamente.”

inovaçãoEmbora possa ser agradável para

cada criança ter um computador na es-cola, isso pode não ter qualquer impacto sobre a educação se as ferramentas não forem utilizadas com eficácia. A obser-vação é de Thornburg, que defende que as grandes mudanças devem ocorrer no aspecto pedagógico e não no tecnológi-co. O desafio, diz ele, é estabelecer uma política que todos entendam o uso eficaz dessas ferramentas. “Se os telefones celulares são usados em apoio à apren-dizagem do estudante, essa atividade é recomendada. Se ela interfere nega-tivamente, não é. Muitas escolas ainda têm uma política de ‘nenhum telefone celular’. Eu não acho que isso seja uma boa ideia a longo prazo.”

Usar tecnologia em sala de aula requer infraestrutura, atividades pedagógicas e um modelo mental aberto à inovação, não só por parte do professor, mas de diretores e coordenadores. “Sem o claro envolvi-mento da direção, dificilmente a adoção de inovações será bem-sucedida numa escola”, acredita o consultor em mudança

e redirecionamento estratégico Marcos Telles. Ele ressalta que nenhum professor resiste à mudança porque se trata de uma mudança. “Ele resiste, legitimamente, às perdas e inseguranças normalmente associadas às mudanças. Por isso, o pro-cesso de adoção de tecnologia em sala de aula tem que ser visto, desenhado e gerido como um processo de mudança.”

Em relação aos alunos, a aceitação é imediata, pois a proposta possibilita a prática e o desenvolvimento da cria-tividade de forma lúdica. A opinião é da educadora Silvana Zilli, especializada em robótica. Segundo ela, o professor deve saber organizar e estimular situações de aprendizagem, promover trabalhos em equipe, usar os recursos tecnológicos e outros materiais relacionados, a fim de promover seu uso efetivo aplicado à metodologia orientada ao trabalho educacional. “O professor, ao trabalhar com a robótica educacional, por exemplo, tem um papel de facilitador e mediador durante todo o processo. Para isso, além de promover a aprendizagem, ele deve favorecer aspectos sociais, propondo de-safios e estimulando uma ampla reflexão dos conceitos que envolvem o trabalho, propiciando o desenvolvimento da análise crítica”, explica Silvana.

liVrOS:• “Uma Escola Sem/Com Futuro – Educação e Multimídia”, de Nelson De Luca Preto, Ed. Ibepex

• “Novas Tecnologias de Informação e Comunicação em Redes Educativas. Diálogos entre Praticantes da Educação”, organização de Josias Pereira, Ed. ErD

• “Tecnologia e Educação – As Mídias na Prática Docente”, organização de Wendel Freire, Ed. WAK

SiTE:• www.webparaeducadores.blogspot.com, um blog sobre como utilizar as tecnologias na educação.

Dicas delivros e site

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34 maio 2011

o BuLLyIng É A mAis perVersA FAce dA ViOLêNciA escOLAr. sAber recONhecer e cOmbATer esse TipO de AçãO É UmA TAreFA de TOdOs: prOFessOres, pAis, FUNciONáriOs e ALUNOs.

por LUCIAnA ZEnTI

Se você trabalha com educação, certamente já ouviu a palavra bullying. Nos últimos meses, o tema tomou conta das rodas de discussão em torno de dois casos bastante graves. Austrália, março de 2011. Um vídeo que mostra uma briga de escola ganhou o mundo pela Internet. Nas imagens, um garoto coloca um ponto final na perseguição que sofria agredido por um colega menor (saiba mais no box da p. 37). Rio de Janeiro, abril de 2011. Uma tragédia envolvendo um ex-aluno de escola pública, suposta vítima de bullying, chocou o País. Doze crianças foram mortas a tiros.

Diante dessas notícias, o questiona-mento é inevitável: você, como professor, se sente 100% preparado para lidar com esse tipo de violência na sua escola? O bullying é uma agressão física ou emo-cional que se caracteriza pela escolha de um alvo. Acontece de forma repetitiva e envolve o desequilíbrio de forças entre os envolvidos. Nessa forma de violência es-colar, há sempre o mais fraco e o “valen-

Isto é problema seu

Comportamento

tão” – justamente o significado da palavra inglesa bully, que deu origem ao termo conhecido hoje como bullying. A ação, no entanto, nem sempre envolve apenas dois alunos. Muitas vezes a agressão contra a vítima é feita por um grupo que se forma na própria escola e passa a agir contra determinado estudante.

Problema antigoO bullying sempre existiu. O que

chama a atenção é que os casos têm se tornado cada vez mais frequentes. “A violência escolar vem crescendo há muito tempo, mas só agora estamos tendo co-nhecimento”, alerta a psicopedagoga Ele-nice Silva, autora do livro Corredores de Justiça, que trata do combate ao bullying. Por isso, a formação de professores e de toda a equipe que trabalha nas escolas é primordial. “Antigamente o papel da escola era ensinar. Hoje, é preciso se preocupar também com a socialização, que influencia no comportamento e na cidadania”, completa Elenice.

Em outras palavras: o bullying é um problema seu. E de todos nós. “A sociedade tem se conscientizado sobre a gravidade desse tipo de violência”, diz a pedagoga Aloma Felizardo, que, ao lado de Elenice, fundou o programa Bullying e ciberbullying: o combate de todo brasileiro. Por meio de palestras, levam informações a professores de diversas partes do Brasil. Para elas, a tragédia no Rio de Janeiro acordou o Brasil para o problema. “Infelizmente este será um marco nacional e internacional”, lamenta Elenice.

O assunto é tão sério que foi incluído em uma pesquisa nacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a saúde dos estudantes, divulgada no ano passado. O estudo fez um retrato do bullying em 6.780 escolas brasileiras, a partir de respostas forne-cidas por alunos do 9° ano do Ensino Fundamental, e mostrou que 25,4% já foram vítimas desse tipo de violência. Os casos mais graves, em que a agressão é

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constante, afetam 5,4% dos estudantes. Na maioria, meninos de escolas privadas. Entre as capitais, a campeã da violência é o Distrito Federal, seguido por Belo Horizonte e Curitiba.

Outra pesquisa recente foi realizada pela organização não governamental Plan International, que trabalha com o desen-volvimento da criança e do adolescente em 60 países. Os números mostram que o bullying faz parte de um clima genera-lizado de violência no ambiente escolar. Dos jovens que responderam à pesquisa, 70% afirmaram ter presenciado cenas de agressões entre colegas. Outros 30% afirmaram terem sido vítimas pelo me-nos uma vez, e 10% sofreram agressões frequentes. Dados bastante próximos dos apresentados pelo IBGE.

No Brasil, a ONG lançou em 2008 a

campanha Aprender sem medo, que é desenvolvida em sintonia com as ações globais. O foco está na formação de pro-fessores e no desenvolvimento de progra-mas preventivos que trabalham também com os estudantes e suas famílias. A ideia é envolver toda a sociedade para que seja possível criar um ambiente de aprendizagem seguro, justo e solidário.

A pesquisa também chama a atenção para um dado interessante. A maior parte dos casos acontece com adolescentes de idade entre 11 e 15 anos. “Na entrada da adolescência, as meninas começam a formar ‘panelinhas’ muito fechadas e podem isolar alguma colega”, explica o psicólogo Marcos Meier, que é mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Já os meninos fazem o bullying por meio da agressão física.

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liVrOS: • “Ciberbullying: Difamação na Velocidade da luz”, de Aloma ribeito Felizardo, Ed. Willem Books.

• “Corredores de Justiça: Combatendo a prática do bullying nas escolas, educando uma sociedade para a paz”, de Elenice Silva, Ed. do autor.

• “Bullying escolar: perguntas e respostas”, de José Augusto Pedra e Cleo Fontes, Ed. Artmed.

• “Bullying: o que você precisa saber”, de lélio Braga Calhau, Ed. impetus

SiTE: • No www.plan.org você encontra diversas publicações produzidas pela Plan Brasil direcionadas a professores e pais.

Dicas delivros e site

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36 maio 2011

Comportamento

“A mAiOr diFicULdAde pArA ACABAr Com o BuLLyIng é quE muItAs PEssoAs, InCLusIVE pAis e prOFessOres, ACrEdItAm quE sE trAtA APEnAs dE umA BrInCAdEIrA dA IdAdE, sAudáVEL PArA o AmAdurECImEnto dAs criANçAs”Aloma Felizardo

vezes chega a acreditar que merece ser perseguida por ser diferente. Na escola, tenta se proteger procurando a presença de um adulto. Pede ao professor para fi-car em sala de aula na hora do recreio ou está sempre na biblioteca. Nos trabalhos ou jogos, é a última a ser escolhida pelo grupo. Nunca faz perguntas nem tem dú-vidas. O desempenho escolar muda e as faltas são constantes. Em geral, as notas caem, mas há casos em que o isolamento faz com que o aluno tenha um rendimento acima do que vinha apresentando.

Em casa, o aluno perseguido pode apresentar dificuldades para dormir, ter pesadelos e reclamar da escola ou da professora – evita, assim, denunciar os colegas e sofrer mais ataques. Nunca é convidado para festas nem traz colegas em casa. Em casos extremos, a criança muda de escola, abandona os estudos e pode tentar o suicídio.

mitos comuns sobre o bullying Se você, como professor, já disse ou ouviu alguma destas frases, fique atento. levar o problema a sério é o primeiro passo para mantê-lo fora da sua escola.

• O bullying sempre existiu. Por que eu deveria me incomodar com isso se os alunos sempre se resolveram sozinhos?A violência escolar não é novidade, mas está mais forte e conta com outros mecanismos, como o ciberbullying. Além disso, as famílias estão mais ausentes, o que incita a escola a trabalhar uma educação fundamentada em valores. “As ações pedagógicas devem ser aplicadas de acordo com as características sociais e culturais de cada escola”, diz a pedagoga Aloma.

• Isto faz parte da idade, é apenas uma fase que daqui a pouco passa. O bullying não acontece apenas na idade escolar. Se não for combatido, pode ser levado pelo agressor para toda a vida adulta, afetando o ambiente nas universidades e no tra-balho. “Vivemos em sociedade e precisamos, desde cedo, aprender a conviver com os outros respeitando as diferenças”, diz a psicopedagoga Elenice.

• É um problema do aluno que está sendo provocado. Ele é que deve reagir.É papel do educador fazer sua parte para construir um ambiente escolar saudável. “O desequilíbrio de forças é muito grande. Tem que haver respaldo dos pais, da coordenação e dos professores. não é só a vítima que tem que reagir”, diz o educador Marcos Meier.

mal geralQuando a violência se instala na esco-

la, todos são prejudicados: quem provoca, quem sofre e quem assiste. Por isso o educador Marcos Meier defende que a escola esteja permanentemente atenta. “Um simples apelido pode ser uma porta de entrada para o bullying”, diz. Quando o professor não dá importância ao fato, repassa aos alunos a mensagem de que aquilo é uma atitude aceitável. Com isso, inicia-se um círculo vicioso. “Colegas pró-ximos do agressor repetem o mau com-portamento e passam também a agredir o colega mais frágil”, completa. “A maior dificuldade para acabar com o bullying é que muitas pessoas, inclusive pais e pro-fessores, acreditam que se trata apenas de uma brincadeira da idade, saudável para o amadurecimento das crianças”, diz Aloma. “Outras vezes a expressão é banalizada e qualquer briguinha ou

Aprenda a reconhecer os atores envol-vidos na prática de bullying.

VíTiMA – apresenta alguma carac-terística diferente, um traço físico marcante, algum tipo de necessidade especial, o modo de se vestir. A obe-sidade é uma causa comum. Também podem ser alvos alunos com poder aquisitivo superior ao dos colegas ou meninas que se destacam pela bele-za. Costumam ser pessoas tímidas, inseguras e passivas.

AgrESSOr – sempre espera que todos façam suas vontades. Tem dificuldade em se adaptar a regras e aceitar limi-tes. Algumas vezes vem de família na qual o comportamento agressivo é tolerado e há pouco afeto. Busca obter popularidade junto aos colegas e ser aceito pelo grupo de referência. É reconhecido à medida que seus atos são observados e consentidos pela omissão das testemunhas.

TESTEMUnhAS – os alunos que as-sistem às agressões também fazem parte do cenário e contribuem para a manutenção da violência escolar. São a grande maioria da escola. Temem serem as próximas vítimas, por isso se calam. Mas sofrem por se sentirem inseguros e incomodados.

O cenário da violência

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brincadeira de mau gosto é chamada de bullying”. É preciso deixar claro que a ação que ocorre uma única vez não faz parte desse conceito de violência escolar.

Independentemente da razão que leva essas crianças e adolescentes a agredir de forma tão cruel colegas tão próximos, a escola tem o poder de transformar essa realidade. Um olhar atento deve recair sobre os autores da violência. “Não podemos esquecer que esses agressores são crianças e adolescentes”, lembra Marcos. Punir apenas não resolve o problema, pois faz com que eles se revoltem e mantenham o mesmo comportamento quando estão longe dos olhos dos adultos. “O ideal é que a escola assuma a responsabilidade de educar esse jovem para que ele realmente entenda que suas atitudes provocam dor no outro”, completa. Ou seja, proteger a vítima é o primeiro passo. Mas a escola só estará livre do bullying se os agressores forem vistos como alunos que também precisam de ajuda e de atenção. “O papel da escola é estar preparada. Ser um porto seguro para formar e capacitar cidadãos fortes, que irão marcar sua geração por meio da ética e da cidadania”, conclui Elenice.

Ciberbullying:o inimigo virtual

Quando o aluno usa recursos tec-nológicos – como o computador ou celular – para agredir sua vítima, está praticando o ciberbullying. Trata-se de uma versão moderna da violência escolar. Difere do bullying por se propagar mais rapidamente, muitas vezes sem que o agressor seja identificado. As armas usa-das são os e-mails com conteúdo maldoso, as mensagens anônimas enviadas pelo celular e os falsos perfis construídos em redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter.

Costumam ser divulgadas pelo agressor fotomontagens e informa-ções sigilosas ou mentirosas sobre o colega, que acabam se espalhan-do entre os colegas de escola com a velocidade de um vírus. Em pouco tempo, o boato vira “verdade”. O que muitos alunos desconhecem é que a publicação de conteúdo falso na internet é crime. E os pais, detentores da guarda dos filhos menores de idade, é que podem pagar por esses atos. “É preciso promover a conscientização sobre o uso ético, seguro e responsável das ferramentas disponíveis na internet”, alerta a pedagoga Aloma Felizardo. O desafio é mostrar aos alunos que as agressões virtuais têm o mesmo efeito daquelas que acontecem na vida real. “Se um aluno rouba a senha de um colega, é como se estivesse roubando o dinheiro da mochila dessa pessoa”, destaca.

quer saber mais sobre a história de Casey Heynes, o estudante australiano que ficou conhecido na internet após se defender de bullying? Por meio do código BEEtAg ao lado, você pode assistir no seu celular a uma reportagem em que Casey e os envolvidos no caso se pronunciam. para assistir, basta seguir os passos a seguir:

1. com o seu celular, acesse www.phdmobi.com2. Faça o download do leitor de códigos 2d3. Abra o aplicativo e use a câmera (scan)4. mire ou fotografe o código 2d ao lado5. pronto. Você será direcionado ao conteúdo.

Assista na internet

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38 maio 2011

Há uma natureza contraditória das instituições sociais e, aí, a possibilidade de mudanças; a Educação tem uma fun-ção conservadora e uma função inovado-ra ao mesmo tempo.

A escola pode, sim, servir para re-produzir as injustiças, mas, concomitan-temente, é também capaz de funcionar como instrumento para mudanças; as elites a utilizam para garantir seu poder, mas, por não ser asséptica, ela também serve para enfrentá-las. As elites con-trolam o sistema educacional, contro-lando salários, condições de trabalho, burocracia etc., estruturando, com isso, a conservação; porém, mesmo que não queira, a Educação por elas permitida contém espaços de inovação a partir das contradições sociais. Não é casual que as elites evitem ao máximo a universalização

qualitativa da escola em nosso país. Para um otimismo crítico, o educador

tem um papel político/pedagógico, ou seja, nossa atividade não é neutra nem absolutamente circunscrita. A educação escolar e os educadores têm, assim, uma autonomia relativa, que pode ser representada pela inserção da escola no interior da sociedade como uma via de mão dupla, e não como em um otimismo ingênuo (com a escola totalmente inde-pendente) nem um pessimismo ingênuo (com ela dominada inteiramente).

Os educadores estão, dessa forma, mergulhados nessa dupla faceta; nossa autonomia é relativa e, evidentemente, nossa determinação também é. Por isso, não é uma questão menor pensar nossa prática nessa contradição; o prioritário, para aqueles que discordam da forma

como nossa sociedade se organiza, é construir coletivamente os espaços efe-tivos de inovação na prática educativa que cada um desenvolve na sua própria instituição.

Assim desponta mais fortemente hoje uma preocupação: não basta reafirmar que o aumento da quantidade de cidadãos na escola pública leva a uma queda da qualidade de ensino (com as causas já apontadas); é preciso pensar uma nova qualidade para uma nova escola, em uma sociedade que começa, paulatinamente, a erigir a Educação como um direito sub-jetivo de Cidadania e, portanto, inerente a cada sujeito, a cada pessoa.

Fortalece-se a percepção de que, no momento em que as classes trabalhado-ras passam a frequentar mais amiúde os bancos escolares, os paradigmas pedagó-

por MARIo SERGIo CoRTELLA

Para Pensar

A educação transforma e reproduz a sociedade. qual é a sua escolha?*

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Mario Sergio Cortella

gicos em execução são insuficientes para dar conta plenamente desse direito social e democrático.

A qualidade tem que ser tratada junto com a quantidade, não pode ser revigo-rado o antigo e discricionário dilema da quantidade X qualidade. A democratiza-ção do acesso e da permanência deve ser absorvida como um sinal de qualidade social.

A qualidade na Educação passa, ne-cessariamente, pela quantidade. Em uma democracia plena, quantidade é sinal de qualidade social; se a quantidade total não é atendida, não se pode falar em qua-lidade. Afinal, a qualidade não é obtida por índices de rendimento unicamente em relação àqueles que frequentam escolas, mas pela diminuição drástica da evasão e pela democratização do

acesso. Não se confunda qualidade com privilégio; em uma democracia plena, só há qualidade quando todas e todos estão incluídos; do contrário, é privilégio.

Essa qualidade social, por sua vez, carece de uma tradução em qualidade de ensino e, assim, a formação do educador necessita abranger o elemento técnico de especialização em uma área do saber (e a capacitação contínua) e também a dimensão pedagógica da capacidade de ensinar. A discussão sobre tal dimensão envolve ainda temas mais amplos, como a democratização da relação professor/aluno, a democratização da relação dos educadores entre si e com as instâncias dirigentes, a gestão democrática englo-bando as comunidades e, por fim, como objetivo político/social mais equânime, a democratização do saber.

A democratização do saber deve se revelar, então, como objetivo último da escola pública, na educação da classe trabalhadora (agora a frequentando em maior número) com uma sólida base científica, formação crítica de cidadania e solidariedade de classe social.

*Fragmentos, rearranjados pelo autor, de: CORTELLA, Ma-rio Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epis-temológicos e políticos. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

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A educação transforma e reproduz a sociedade. qual é a sua escolha?*

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40 maio 2011

acontecer Liderar para fazer

por RoSIAnE CoRREIA DE FREITAS

dEntro dA sALA dE AuLA, é PrECIso orIEntAr os ALunos e FOrmAr NOVAs LiderANçAs. FOrA deLA, É NecessáriO cOLAbOrAr pArA UmA meLhOr OrgANizAçãO dA iNsTiTUiçãO de eNsiNO.

Gestão

Imagine uma sala de aula. Lá estão os alunos, o quadro-negro, as carteiras e também, é claro, o professor. Imagine que o professor tem domínio do conteúdo e os estudantes estão prontos a ouvi-lo. A campai-nha toca. Tudo está pronto para a aula começar. No entanto, falta um elemento para termos certeza de que o processo de educação será bem--sucedido. Do que se trata? Estamos falando da capacidade do professor em transformar aquele momento em algo instigante, que faça os alunos se engajarem no processo.

A boa condução de uma aula é um fator que está ligado diretamente a uma das principais competências exigidas de um professor: a lideran-ça. Ser um líder em sala de aula, porém, não esgota todo o papel que a liderança desempenha na vida profissional de um educador. O professor deve ser um líder em tempo integral, não pode abrir mão dessa carac-terística em nenhum momento.

“Essa liderança se expressa por meio do planejamento das atividades, da implantação de um clima participativo e favorável à aprendizagem, da garantia de que as tarefas serão desenvolvidas e do cumprimento dos prazos, entre outros pontos”, afirma Júlio Furtado, doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Havana e reitor do Centro Universitário Uniabeu, no Rio de Janeiro.

“É inconcebível um professor que não seja um líder. A ação educativa no ambiente escolar pressupõe liderança”, afirma Furtado. Para ele, a liderança exigida de um professor é necessária para “fazer acontecer” e se divide em duas partes. Por um lado, existe a liderança dentro de sala. Por outro, o professor precisa saber tomar a frente dentro da

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própria organização, fazer com que as coisas aconteçam da melhor maneira na instituição de ensino em que trabalha.

Júlio Furtado explica que, para a escola, é fundamental ter profissionais com esse perfil. “Organizacionalmente, a escola não funciona sem uma liderança que facilite e promova a construção e ma-nutenção coletiva de um projeto político--pedagógico. É por meio desse projeto que a liderança da escola faz acontecer, mobilizando todos os envolvidos no processo escolar (família, professores, alunos e comunidade próxima)”, diz.

Reitor da Universidade de Lisboa, o professor português Antônio Nóvoa concorda com a necessidade de liderança dentro da organização da escola. E vai mais longe. Diz que é necessário haver líderes mesmo entre os professores, levando todo o corpo docente a funcio-nar melhor por meio do exemplo e da iniciativa. “É urgentíssimo consolidar lideranças profissionais nas escolas, com base nos professores mais competentes e mais prestigiados, de forma a enquadrar os ‘menos capazes’ e a definir práticas de avaliação do trabalho docente”, afirmou em entrevista recente.

Já a liderança dentro da sala de aula, diz Furtado, concretiza-se no de-senvolvimento do potencial de liderança dos alunos. Cabe ao professor dar aos estudantes a chance de desenvolver seus talentos e permitir que todos, democrati-camente, possam exercitar sua liderança, não dando essa oportunidade apenas

àqueles que parecem ter naturalmente uma disposição para serem líderes. Não se trata, afinal, de criar líderes e lidera-dos, mas, sim, de dar a chance para que todos conheçam plenamente o seu poten-cial e o levem ao máximo grau possível.

Furtado dá algumas dicas de como isso pode ser integrado à prática cotidia-na da sala de aula. Para ele, estimular o trabalho em equipe é fundamental. Mas é preciso tomar alguns cuidados: garan-tir que os grupos não sejam sempre os mesmos e que os líderes dentro de cada equipe também se alternem. “Essas são ações essenciais do professor que se propõe a desenvolver a liderança em seus alunos”, afirma.

Formar líderes dentro da sala de aula, de acordo com Furtado, acaba sendo uma das principais metas do bom professor. E isso se consegue insistindo dia a dia na criação de um ambiente que permita aos alunos se desenvolverem. Como se faz isso? “Propondo atividades em que os alunos tenham a oportunidade de liderar. Essas atividades precisam deixar claras as atribuições do líder e como ele deve agir. Devem, também, permitir a autoava-liação do aluno para que ele perceba os pontos em que precisa melhorar”, ensina o professor.

Assim como os alunos, portanto, o professor também vai exercitando a sua liderança no dia a dia e aprendendo com ela. Afinal, educação, como se sabe, é um aprendizado contínuo, até mesmo para os líderes.

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Avaliação

três em umAvaliar é o ato de investigar a qualidade, mensurar, documentar, analisar e

estabelecer planos de ação. Os sistemas de gestão não podem trabalhar com garantias de que encontrarão o resultado esperado. No entanto, mensurar de forma constante a avaliação de todos os processos escolares (incluídos aí serviços e produtos) é uma ação fundamental para aqueles que buscam a melhoria e a inovação em nome do crescimento e da continuidade das instituições de ensino. Mas como usar a avaliação como processo de gestão?

42 maio 2011

especiALisTAs de Três pAíses debATem sObre A UTiLizAçãO dA AVALiAçãO cOmO iNsTrUmeNTO de gesTãO, TANTO NO

AspecTO pOLíTicO qUANTO NO pedAgógicO.

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Na medida em que a avaliação per-mite obter informações de retorno (o feedback) sobre o andamento de um processo, ela é, por essência, uma ferramenta de regulamentação. Regular significa intervir no curso de um mecanismo para mantê-lo dentro de certos limites ou dirigi-lo para certos padrões, os quais definem o objetivo de um trabalho finalizado.

Para conduzir o processo, deve-se ter: uma visão clara do objetivo; fa-zer um balanço periódico para saber onde se está e ajustar suas ações às informações recolhidas. Sempre se pode melhorar, seja no nível político ou educacional. Só são necessários mais rigor e precisão no levantamen-to das informações recebidas. Por exemplo, procurando-se indicadores mais relevantes ou avaliações mais informativas e objetivas que nos leva-rão a um resultado mais justo e útil.

Em qualquer tipo de gestão, a avalia-ção, por si, sempre foi e sempre será um recurso que subsidia o processo. A avaliação, por si, não resolve nada; quem resolve é a gestão. O que ela faz, então? Ela investiga a qualidade dos resultados de uma ação e oferece essa informação ao gestor, para que este atue da forma mais adequada frente aos objetivos que se tenha.

Isso significa que ela subsidia a gestão de um projeto. Caso o gestor deseje efetivamente produzir resul-tados significativos, a avaliação é sua aliada. Nesse caso, necessita ser aplicada como uma investigação, o que exige recursos metodológicos próprios da pesquisa. Isso implica que os instrumentos de coleta de dados a respeito do desempenho dos educandos devem ser elaborados se-gundo as regras da metodologia cien-tífica. Nenhuma investigação será realizada com êxito se o investigador assumir definições prévias arbitrá-rias à pesquisa. Hoje, infelizmente, em nossas escolas, os instrumentos de coleta de dados para a avaliação são insatisfatórios do ponto de vista metodológico, o que leva o avaliador e, consequentemente, o gestor ao engano, seja na leitura da realidade ou na intervenção. Desse modo, os instrumentos não auxiliam a gestão.

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Sem esquecer a voz dos sujeitos Almerindo Afonso (Portugal)

Professor associado da Universidade do Minho diretor do Mestrado em Sociologia da

Educação e Políticas

A avaliação tem sido um instrumento importante para ajudar na tomada de decisões políticas, em diferentes âmbitos e patamares dos sistemas educacionais. O que me preocupa é a utilização de formas de avalia-ção que dão grande importância aos resultados mensuráveis e aos indicadores quantitativos (o que alguns autores chamam de “governo pelos números”), desvalorizando os processos concretos, esquecendo a voz dos sujeitos e dispensando a participação e o diálogo político – que não pode deixar de reconhecer os antagonismos presentes numa sociedade aberta e democrática.

No contexto pedagógico, a avalia-ção pode ser um instrumento de discriminação negativa, de seleção e de reforço das desigualdades ou, pelo contrário, ser uma oportuni-dade para o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal e coletivo, ajudando na emancipação dos su-jeitos. Entre muitos outros fatores, há que se ter em conta que existem constrangimentos que pesam sobre a ação dos educadores e professores, sendo muito importante a existência de compromissos políticos e educa-cionais na busca de uma sociedade mais justa e igualitária. Por isso, diferentes formas de avaliação ser-vem a diferentes objetivos, e estes são, frequentemente, contraditórios.

Mais rigor e preciosismo Charles hadji (França)

Professor emérito da Universidade PierreMendès France grenoble 2 de Filosofia

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Quem transforma é a gestão Cipriano luckesi (Brasil)

Professor do Programa de pós-graduaçãoda Faculdade de Educação (FACED)

e Universidade Federal da Bahia (UFBA)

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Sustentabilidade

educação verde Sustentabilidade. A palavra é compri-

da, mas o significado pode ser resumido como a combinação de crescimento eco-nômico com desenvolvimento social e com o uso racional dos recursos naturais. E o que tem a educação a ver com isso? Para ser alcançada e incorporada ao nosso dia a dia, a sustentabilidade prevê a adoção de novos hábitos e atitudes. E um dos caminhos para isso é a educação das novas gerações – que têm nas mãos a oportunidade de mudar a forma como vivemos até hoje. “Educar é fundamental. Não se trata do único vetor a influenciar o modo como vivemos e a gerar desen-volvimento econômico e social, mas com certeza é o mais importante”, acredita

O deseNVOLVimeNTO sUsTeNTáVeL É Um dOs grANdes desAFiOs dA sOciedAde. e A edUcAçãO, O cAmiNhO peLO qUAL chegAremOs Lá.

PoR LUCIAnA ZEnTI

Mozart Ramos, autor do livro “Educação Sustentável”, e conselheiro do movimen-to nacional Todos Pela Educação.

O termo sustentabilidade foi usado pela primeira vez em 1987, quando a primeira ministra da Noruega Gro Brun-dtland – então presidente de uma comis-são das Nações Unidas – publicou o livro “Our Common Future” (Nosso Futuro em Comum, em tradução livre). Nesta obra, ela traça um paralelo entre progresso e meio ambiente e mostra que é possível que os países cresçam sem esgotar os recursos naturais. Também cunhou o conceito, até hoje popular, sobre desen-volvimento sustentável. A ideia é que nosso padrão de consumo atenda nossas

necessidades no presente, mas sem comprometer que as futuras gerações também satisfaçam suas necessidades.

O papel da educaçãoEducar para sustentabilidade signifi-

ca preparar pessoas de todas as idades para assumir a responsabilidade de criar um futuro melhor. É nas escolas que nascerá uma sociedade preparada para atuar de maneira sustentável.

A educação informal é outra impor-tante aliada nessa mudança de compor-tamento. É o que acredita a Unesco, a agência das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura.

Como forma de mobilizar um grande

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número de pessoas em torno desta causa, a Unesco decretou o período entre 2005 e 2014 como a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. A meta é divulgar um conceito mais amplo de aprendizagem, que busca o equilíbrio entre o bem-estar humano e econômico com as tradições culturais e o respeito aos recursos naturais.

Preparar professores e outros mul-tiplicadores a lidar com o tema da sustentabilidade é um dos objetivos da Unesco. Não há receita pronta, mas uma mudança de postura das próprias escolas que devem incluir, de forma transversal, a discussão sobre assuntos importan-tes neste nosso século, como consumo responsável, esgotamento de recursos naturais e combate à pobreza.

Segundo Celso Schenkel, coordena-dor de Ciências e Meio Ambiente Unesco no Brasil, é preciso que a sustentabilida-de faça parte dos currículos. Não se trata de criar uma nova disciplina e, sim, inse-rir o tema nas diferentes matérias para que possamos construir uma visão do que é desenvolvimento sustentável. “Nós ainda estamos trabalhando em caixinhas. É preciso acabar com essa divisão e ver quais são os pontos de contato nas várias áreas de conhecimento que podem con-vergir e estabelecer novos parâmetros para as questões de produção, consumo, distribuição de trabalho e renda”, explica Celso.

Conheça alguns macrotemas que devem ser incluídos no planejamento da Educação para o Desenvolvimento Sustentável.

Sociedade – É importante que os alunos conheçam como funcionam as institui-ções sociais e os sistemas democráticos e participativos. Assim será possível que eles entendam o papel dos governos no de-senvolvimento social e, no futuro, exerçam o direito do voto com responsabilidade. A dimensão social inclui os seguintes te-mas: direitos humanos, paz e segurança, igualdade de gêneros, diversidade cultural e saúde. Meio ambiente – Os alunos devem ser cons-cientizados sobre a utilização dos recursos naturais e os efeitos das atividades econô-micas no meio ambiente. Também devem

Em sala de aula

compreender que as questões ambientais são o elemento primordial no desenvolvi-mento de políticas sociais e econômicas. A dimensão social inclui os seguintes temas: recursos naturais (água, energia, agricul-tura e biodiversidade), mudança climática e aquecimento global, desenvolvimento rural, urbanização sustentável e prevenção de desastres.Economia – A escola deve abordar a ques-tão do crescimento econômico e de seus impactos na sociedade e no meio ambiente. Além disso, deve incentivar que os alunos reduzam seu consumo individual e coletivo. A dimensão econômica inclui os seguintes temas: redução da pobreza, responsabili-dade das empresas e economia global de mercado.

Fonte: Texto adaptado da publicação “Década da Educação das nações Unidas para um Desenvolvimento Sus-tentável, 2005-2014: documento final do esquema internacional de implementação”. Brasília: UnESCO, 2005.

A abordagem da susten-tabilidade deve estar próxima da realidade diária dos alunos, desenvolver o pensamento crí-tico e estimular a capacidade de encontrar soluções para os problemas que enfrentamos atualmente. A base de todo esse trabalho está na constru-

ção de princípios e valores. A palavra é respeito. Ao próximo, à diversidade, ao meio ambiente, aos recursos naturais e às gerações presentes e futuras.

educação ambientalPara a pedagoga Lucy Duró, que

integra o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Atividade Pedagógica da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), é preciso que o professor amplie o campo de visão de seus alunos para que eles entendam os impactos de suas ações no meio ambiente. “Não tenho dúvidas de que a escola pode estimular a mudança de comportamento”, diz. “Mas esse trabalho está diretamente ligado à formação dos professores”, completa.

Apesar de muitas universidades ainda não terem acordado para a importância da capacitação para o ensino da susten-tabilidade, algumas organizações não governamentais começaram a fazer sua parte. É o caso da Fundação SOS Mata Atlântica. Por meio do Programa Mata Atlântica Vai à Escola, professores de escolas do Estado de São Paulo que atu-am no Ensino Fundamental estão sendo preparados a trabalhar com seus alunos temas que envolvem a conservação do Meio Ambiente.

Os educadores recebem material pedagógico e sugestões de atividades para serem aplicadas em sala de aula. A proposta é que cada professor trabalhe a educação ambiental dentro da sua disci-plina ou de projetos pedagógicos que já existem. “O meio ambiente está em tudo que rodeia uma pessoa, então na escola deve ser assim também. Dessa forma, o professor de Português, Matemática ou qualquer outra disciplina consegue inse-rir o tema nas suas aulas”, explica Beatriz Siqueira, coordenadora do programa.

Dicas de livros• “Educação Sustentável”, de Mozart ramos, Ed. Altana.• “Educar para a Sustentabilidade: uma Contribuição à Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável”, de Moacir gadotti, Ed. instituto Paulo Freire.

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46 maio 2011

Livros e Filmes

A ArTE DE lEr OU COMO rESiSTir A ADVErSiDADE

O livro da antropóloga francesa Michèle Petit apresenta dezenas de tes-temunhos de jovens sobre a importância da leitura na formação do su-jeito e o papel que ela desempenha em contextos de crise. Comentando experiências de mediadores de leitura, a autora investiga as diferentes maneiras pelas quais a forma narrativa pode atuar como educadora da sensibilidade, ao mesmo tempo em que se afirma como instrumento de resistência ao caos interior e à exclusão social.EDiTOrA 34 |Preço sugerido: r$ 46,00

PrODUzinDO TExTO COM “VElhAS” E “nOVAS” TECnOlOgiAS

O livro de glaucia Brito e Paulo negri indica maneiras para o professor aplicar as novas tecnologias da comunicação

e informação e valoriza instrumentos antigos que, muitas vezes, o educador pensa em abandonar.

Pró inFAnTil EDiTOrA | Preço sugerido: r$ 26,00

não pode faltar na sua biblioteca

EnTrE OS MUrOS DA ESCOlAVencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 2008, o filme francês “Entre os Muros da Escola” retrata a experiên-cia de um professor do Ensino Fundamental com uma turma de alunos que pode ser encon-trada em qualquer escola do mundo: alunos desinteressa-dos, agressivos e bagunceiros. O professor tem de lidar não só com a falta de interesse dos alunos, mas também com as diferenças sociais e o choque entre as culturas africana, árabe, asiática e europeia dentro das quatro paredes da sala de aula.

NA WEB

A ESCOlA MATA A CriATiViDADE?O especialista em criatividade Sir

Ken Robinson nos desafia a repen-sar a escola e defende uma revisão

radical dos sistemas escolares que devem cultivar a criatividade e

reconhecer os diferentes tipos de inteligências (em inglês).

www.ted.com/talks/lang/eng/ken_robin-son_says_schools_kill_creativity.html

CUrTA nA ESCOlA“Curta na Escola” (www.curtanaes-

cola.org.br) é uma rede colaborativa para o uso de curtas-metragens

brasileiros em salas de aula.

Para ver e rever

TíTUlO OriginAl: “Entre les Murs”lAnçAMEnTO: 2007 (França)

DirEçãO: laurent CantetATOrES: François Bégaudeau,

nassim Amrabt, laura Baquela, Cherif Bounaïdja rachedi.

DUrAçãO: 128 mingênErO: Drama

DiCA DE BETinA PriETO

DiCA DE MArCOS

COrDiOlli

DiCA DE DAViD

ThOrnBUrgDiCA DE BETinA PriETO

DVD

46 maio 2011

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