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retranca Residência Médica Disputa por vagas pode prejudicar formação acadêmica Alexandre Padilha Ministro fala sobre projetos para a saúde no Brasil Publicação da Associação Médica de Minas Gerais, Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais e Sindicato dos Médicos de Minas Gerais. Edição 3 - Junho de 2011 S.O.S. Serviços de urgência e emergência necessitam de reestruturação Fechamento autorizado. Pode ser aberto pela ECT.

Revista Médicos das Gerais - Edição 3

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(AMMG), Conselho Regional de Medicina de MG (CRMMG) e Sindicato dos Médicos de MG (SinmedMG) - Junhoo 2011

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Page 1: Revista Médicos das Gerais - Edição 3

retranca

Residência Médica Disputa por vagas pode prejudicar formação acadêmica

Alexandre PadilhaMinistro fala sobre projetos para a saúde no Brasil

Publicação da Associação Médica de Minas Gerais, Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais e Sindicato dos Médicos de Minas Gerais. Edição 3 - Junho de 2011

S.O.S.Serviços de urgência e emergência

necessitam de reestruturação

Fechamento autorizado. Pode ser aberto pela ECT.

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35 Médico das Gerais Junho de 2011

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Junho de 2011 Médico das Gerais 3

in íc io de conversa

Novos planos para a saúde

O poder de eleger a cada quatro anos novo representante para o país dá aos brasileiros a esperança de que melhorias estão por vir. Esse contexto de mudanças gera uma série de incertezas sobre o futuro de muitas atitudes políticas, entre elas as de saúde, mas não deixa de trazer expectativas positivas. Dando continuidade ao governo Lula, Dilma foi eleita e nomeou para o cargo de ministro da Saúde, Alexandre Padilha, profissional com longa experiência na área. Ao ser nomeado, Padilha deixou claro em seu discurso de posse que estaria aberto ao diálogo com a classe.

Nesta edição da Médico das Gerais, demos a palavra a ele para entendermos um pouco mais do que está por vir para a saúde bra-sileira. Entretanto, quando indagado sobre questões mais delicadas, mostrou-se evasivo.

Sobre a Emenda Constitucional 29, que destina recursos para o financiamento da área de saúde, a pergunta foi se o orçamento de R$ 77 bilhões previsto para este governo seria realmente aplicado em ações de saúde ou se pretendia dar outros destinos para a verba. Na resposta, ele se restringe a dizer que a regulamentação da EC 29 é uma ferramenta importante no enfrentamento do tema do subfi-nanciamento da saúde e que, para que ela funcione, seria necessário firmar compromisso com os governadores e prefeitos, de todos os partidos, em defesa de regras claras para o setor.

Mas a Médico das Gerais discute outras questões a fundo nesta edição. Uma das mais importantes é a situação dos profissionais que trabalham em serviços de urgência e emergência no país. As condi-ções oferecidas nesse ambiente de trabalho —baixa remuneração, risco de violência, quantidade excessiva de plantões— não atraem médicos experientes e não conseguem atender à sociedade de forma completa. Os profissionais alegam, entre outros fatores, a falta de valorização do serviço, a desorganização do sistema emergencial e a prevalência dos interesses econômicos dos gestores de hospitais.

Também abordamos o tabagismo no meio médico. Apesar de os pro-fissionais conhecerem os riscos do tabaco como ninguém e lidarem com a saúde em sua rotina, estima-se que o percentual de fuman-tes na classe médica pode chegar a mais de 30%, dependendo da região do país. Um número alarmante, mas que tem diminuído.

Pensando no seu tempo livre, a Médico das Gerais apresenta opções de atividades de lazer para o inverno. Com muita cultura, gastrono-mia e boa música, os festivais de Minas são uma boa pedida.

Boa leitura.

expe

dien

te Revista Médico das Gerais®Presidentes:Cristiano Gonzaga da Matta Machado José Carlos Vianna Collares FilhoManuel Maurício Gonçalves

Conselho Editorial:Cláudia Navarro Duarte Lemos (CRMMG)Cristiano do Couto Mourão (AMMG)Cristiano Gonzaga da Matta Machado (Sinmed-MG)Fernando Luiz de Mendonça (Sinmed-MG)João Batista Gomes Soares (CRMMG)José Carlos Vianna Collares Filho (AMMG)Manuel Maurício Gonçalves (CRMMG)Jornalistas Fabíola Sanches (AMMG), MarinaAbelha de Fuccio Barbosa (CRMMG) e ReginaPerillo (Sinmed-MG)

Contatos:Associação Médica de Minas GeraisAv. João Pinheiro, 161 - Centro30130-180 - Belo Horizonte/MGTel: (31) 3247-1600 Fax: (31) 3247-1632E-mail: [email protected]

Conselho Regional de Medicina de Minas GeraisAv. Afonso Pena, 1500/8º andar - Centro 30130-921 - Belo Horizonte/MGTel: (31) 3248-7700 Fax: (31) 3248-7701E-mail: [email protected]

Sindicato dos Médicos de Minas GeraisRua Padre Rolim, 120 - São Lucas30130-090 - Belo Horizonte/MGTelefax: (31) 3241-2811E-mail: [email protected]

Produção Editorial:Interface Comunicação EmpresarialCoordenação Editorial:Veronica Anselmo Soares - MG13722 JPJornalista Colaboradora: Daniella Maria - MG15799 JPRedação: João Eugênio, Lucas Creek e Marina DiasDiagramação: Fernanda Braga

Fotos: RR Produções FotográficasCharge: Luiz Oswaldo Rodrigues (LOR)Impressão: Gráfica Formato

Publicação Semestral - Junho - 2011Tiragem: 43 mil exemplaresCartas para a redação: [email protected]

Errata Na 2ª edição da Revista Médico das Gerais, as fotos das páginas 23, 24, 25 e 31 ficaram sem crédito. O fotógrafo responsável pelas imagens foi Honofre de Souza Júnior, de Governador Valadares (MG).

É proibida a reprodução do conteúdosem autorização prévia. A charge e os

comentários dos entrevistados não refletemnecessariamente a opinião das entidades.

>> Da esquerda para a direita: Cristiano da Matta Machado (Sinmed-MG), Manuel Maurício Gonçalves (CRMMG) e José Carlos Vianna Collares Filho (AMMG)

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4 Médico das Gerais Junho de 2011

cartas

“Mais uma vez, cumprimento as entidades médicas pela edição da excelente revista, contendo temas atuais, com abordagem jornalística ampla, democrática e diversificada. Gostaria de lamentar, entretanto, não ter sido publicada nenhuma linha de minha consideração feita à revista em agos-to [2010], relativa à matéria “Mais qualidade na graduação”, da Edição 1. A matéria dizia: “Em decisão histórica, o STF [Supremo Tribunal Federal] proibiu o Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais (CEE) de reconhecer, autorizar ou credenciar instituições privadas de ensino superior.” A afirmação ficou descontextualizada, levando à conclusão de que a abertura indiscriminada de escolas médicas em Minas foi de responsabilidade do Conselho. Gostaria de lembrar dois fatos que relatei anteriormente:

1- O CEE autorizava abertura de cursos superiores em obediência à Constituição do Estado de Mi-nas, promulgada em 1989, seguindo diretriz da Constituição Federal de 1988. Somente a decisão atual do STF teve força legal para mudar esse dispositivo.

2- Das 28 escolas de medicina citadas na matéria, apenas cinco foram autorizadas pelo CEE. Dois fatos importantes: das seis escolas da Região Metropolitana de Belo Horizonte, apenas uma foi autorizada pelo CEE; no período de 1999 a 2007 nenhuma escola foi autorizada pelo CEE e o MEC autorizou 12 novas escolas.

A luta das entidades para evitar a abertura de novas escolas deve continuar vigorosamente. Atual-mente, existem 10 projetos de novas escolas em tramitação no MEC. O que deve ficar claro é que a instituição que menos contribuiu para esse grave problema foi o CEE.”

Cid Velloso - cardiologista e ex-conselheiro do CEE - CRMMG 3340

As informações publicadas pela revista Médico das Gerais estão corretas. O Conselho Estadual de Educação não foi o único, mas contribuiu significativamente para a proliferação de escolas médicas no estado. Dos 20 cursos privados de medicina em funcionamento em Minas, oito tiveram sua abertura autorizada por decreto estadual. Lembramos que o Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucionais os dispositivos da legislação mineira que embasaram as autorizações de cursos superiores privados pelo Conselho Estadual de Educação. Apenas o Ministério da Educação tem autonomia para reconhecer, autorizar ou credenciar instituições privadas de ensino superior.

“Gostaria de prestar um esclarecimento a respeito do envio de recursos para o PSF [Programa Saúde da Família]. Em matéria publicada na Edição 2 da Revista Médico das Gerais, o secretário de Saúde de Minas Gerais, Antonio Jorge Souza, destaca que o repasse de R$ 9,6 mil por equipe, são des-tinados não ao pagamento de salários (função dos governos municipais), mas ao investimento na estrutura e ações da estratégia. O que ocorre é que as prefeituras contam com o repasse, exclusiva-mente, para pagar os salários da equipe. No que diz respeito às férias e 13º, temos direito a esses benefícios trabalhando no PSF, já que o programa é federal e a constituição garante tais benefícios.”

Emiliano Rosseto - médico de família - CRMMG 047314

“Gostaria de cumprimentá-los pela revista Médico das Gerais. Trata-se de uma publicação de assun-tos bastante pertinentes da nossa realidade, de leitura agradável e com visual de muito bom gosto.”

Paulo César Mesquita – otorrinolaringologista, diretor social e de comunicação da Associação Médica de Lavras - CRMMG 28813

* As cartas publicadas podem ser editadas pela Revista Médico das Gerais.

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Junho de 2011 Médico das Gerais 5

EntrevistaPerspectivas e projetos para a saúde brasileira

sumár io

21Ética MédicaConsultas e retornos regulamentados

6

26LegislaçãoPelo valor da carreira de estado

13AdministrePreparados para o futuro

24Além da MedicinaTesouros particulares

9Educação MédicaDisputa na residência médica

28Dia a diaDicas úteis

32Tempo LivreCultura aquece inverno

30Cuide-seConscientes do vício

34Causos

16Saúde PúblicaDesafios na porta de entrada

opin ião

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6 Médico das Gerais Junho de 2011

entrev ista

Após servir ao governo Lula como ministro de Relações Institucio-nais, o médico Alexandre Padilha começa 2011 retornando à sua

área de atuação original, como ministro da Saúde da presidente Dilma Roussef. Formado pela Universidade de Cam-pinas (Unicamp) e pós-graduado pelo Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), foi diretor Nacional de Saúde Indígena da Fundação Nacional do Índio (Funasa) e já coordenou projetos do ministério em que acaba de ocupar o cargo máximo.

>>Alexandre Padilha se diz aberto ao diálogo com a classe, mas é

evasivo nas respostas

Como ministro, os desafios que se apresentam são muitos, mas Padilha diz estar aberto a discuti-los, com a proposta de dialogar constantemente com profis-sionais da medicina, gestores, entidades médicas e outros setores da sociedade, para que as melhores soluções sejam alcançadas. Nesta edição, ele fala sobre alguns desses desafios, comenta a inten-ção de criar uma avaliação da qualidade e da abrangência do Sistema Único de Saúde (SUS), destaca a necessidade de se prover condições de trabalho para os médicos de todo o país e a importância da formação profissional de qualidade e atualizada em relação ao contexto atual da saúde no país.

Durante sua posse como ministro da Saúde foi mencionado o termo “qualidade no SUS”. O que é essa qualidade? Qual será a prioridade de sua gestão?

A percepção do usuário do SUS é de que o atendimento é satisfatório, mas sua agili-dade ainda deixa a desejar. Como ministro

da Saúde, tenho uma obsessão que é garantir acolhimento de qualidade

nos serviços de saúde brasileiros. Queremos criar um indicador nacional de garantia de acesso

para mensurar o andamento das políticas públi-

cas de saúde e o impacto delas na vida das pessoas. Esse índice será de dimensão nacional, mas levará em conta as peculiarida-des regionais para que nos ►

Perspectivas e projetos para a saúde brasileira

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Junho de 2011 Médico das Gerais 7

entrev ista

aponte o que o SUS oferta para as neces-sidades de saúde de um determinado ter-ritório. Precisamos avaliar o que o sistema consegue resolver em uma região, em que medida o acesso à saúde é de qualidade e qual o nível de satisfação do usuário.

As entidades médicas lutam há anos pela classe. Que tipo de relaciona-mento pretende manter com as enti-dades durante sua gestão? Que ga-rantias serão oferecidas ao médico no que se refere à progressão de sua carreira, acesso à educação continu-ada e estrutura para trabalhar?

Em primeiro lugar, garanto que nesta ges-tão o diálogo será constante. Acredito que o salto de qualidade no acesso à saúde que desejamos conquistar só é possível com a articulação entre todos os níveis de governo e também da sociedade e da academia. As entidades médicas têm um papel essencial nesse processo.

Quanto ao estímulo aos profissionais, nós temos diretrizes federais para que estados e municípios implementem seus próprios Planos de Cargos, Carreiras e Salários e já estamos discutindo parâmetros para a evolução dessas propostas. Paralela-mente, trabalhamos na formulação de ações articuladas à proposta de carreira para a contratação e fixação de profissio-nais, principalmente nas regiões em que há grande mobilidade ou dificuldade de encontrar mão de obra capacitada.

No que se refere à qualificação, o minis-tério desenvolve ações para reorientar a formação desses profissionais, bem como a educação permanente daqueles que já estão em serviço. O Programa Nacional de Reorientação Profissional e Saúde (Pró-Saúde) e o PET Saúde (Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde) atingem, aproximadamente, mais de 100 mil estudantes de 600 cursos de gradua-ção. No apoio à capacitação dos profissio-nais, contamos com o Telessaúde Brasil —já são mais de 1.200 unidades em todo o país—, e a Universidade Aberta

do SUS (UnA-SUS), que é formada por uma importante rede de universidades e secretarias de saúde.

O que o senhor fará em prol da regulamentação da Emenda Cons-titucional 29 que destina recursos para o financiamento da área de saúde? A saúde terá orçamento de R$ 77 bilhões nesse novo Gover-no. Esse recurso será realmente aplicado em ações de saúde ou pretende-se dar outros destinos para a verba, como saneamento básico e infraestrutura geral?

A regulamentação da EC 29 é uma ferramenta importante no enfrentamen-to do tema do subfinanciamento da saúde. Para montá-la, temos de firmar um compromisso com os governadores e prefeitos, de todos os partidos, em defesa de regras claras para o setor.

Como o senhor ministro vê um eventual retorno da CPMF?

Quando comparamos nossa realidade à dos demais países emergentes, não en-contramos nenhum modelo de cobertura e atendimento público de saúde com a dimensão do SUS. Custear esse modelo tem sido um desafio para a União, para os estados e para os municípios.

É evidente que precisamos ampliar a disponibilidade de recursos para a saúde, mas a origem desses recursos não é prer-rogativa para o ministério definir. Nossa

Alexandre Padilha, ministro da Saúde

“O salto de qualidade no acesso à saúde que desejamos conquistar só é possível com a articulação entre todos os níveis.”

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8 Médico das Gerais Junho de 2011

entrev ista

tarefa é cumprir o desafio de gerenciar me-lhor, com maior transparência e eficiência, os recursos de que já dispomos.

O relatório da Comissão especial para a elaboração de proposta de carreira para médicos no SUS já está sendo revisado? O que já foi feito e quais são os planos em relação a esse assunto? Essa medida irá facilitar a contratação de médicos em locais distantes dos grandes centros, contribuindo para uma distribuição mais equânime dos profissionais? Outras medidas serão tomadas para promover e incentivar a fixação de profissionais médicos em locais afas-tados dos grandes centros?

Criar condições de trabalho para os pro-fissionais em todo o país é, certamente, uma questão central na condução do pro-cesso de ampliação do acesso à saúde no país. Estou convencido de que, com nossa dimensão continental e nossa diversidade, não teremos alternativas únicas para a oferta profissional pela rede pública.

Só a partir do diálogo iremos definir quais são viáveis, para que contextos. Uma possibilidade é avançar na ideia de termos uma carreira do SUS, cujos servido-res atuariam em situações específicas. Medidas concretas já foram tomadas, com participação do Congresso Nacional, como o reforço no quadro da saúde das Forças Armadas e o estímulo a profissio-nais formados com apoio do ProUni ou do Fies a atuarem no SUS.

O governo está tendo, cada vez mais, um papel controlador na saúde suple-mentar. Qual será o papel do Ministério da Saúde na implantação da CBHPM, que representa um dos principais pila-res para a satisfação dos médicos com relação aos honorários profissionais?

Eu defendo que a relação entre o SUS e a saúde suplementar seja de complemen-taridade. Durante o levantamento das ne-

cessidades e demandas da rede de saúde por estado, que será feito para nortear a construção de indicadores de qualidade de atendimento, é preciso levar em conta a capacidade instalada nas redes privada e pública, de modo a aproveitar me-lhor eventuais ociosidades e planejar os investimentos para otimizar a oferta dos serviços escassos em cada localidade.

Mesmo o tema estando ligado diretamente à pasta da Educação, o Ministério da Saúde pode contri-buir para a contenção da abertura indiscriminada de escolas médicas, tendo em vista que a formação de médicos por escolas não capacita-das interfere na formação dos pro-fissionais e, diretamente, no atendi-mento à saúde. O que deve ser feito pelo Ministério da Saúde em relação a essa questão?

Nós precisamos discutir com a sociedade, com as universidades e com as entidades da saúde a questão da formação profissio-nal, tendo em vista a universalização do atendimento e a redefinição das deman-das dos usuários por conta da mudança no perfil socioeconômico do Brasil, que implica transformações na pirâmide etária e ampliação nas doenças típicas dos países desenvolvidos.

O senhor é a favor da regulamenta-ção da profissão médica? Se sim, o Ministério da Saúde pode atuar junto ao Congresso Nacional para agilizar a tramitação do PL?

O Ministério da Saúde sempre apoiou o debate sobre a regulamentação das profissões, trabalhando a favor do diálogo entre as categorias e na construção de consensos. E isso está acontecendo com a tramitação do projeto sobre o Ato Médi-co. Quanto à atuação junto ao Congresso Nacional, o ministério dá subsídio ao legislativo como orientador nos processos de regulamentação. Estou confiante de que avançaremos na definição dessa questão.

>>Padilha destaca ser tarefa

do ministério cumprir o desafio de gerenciar melhor

os recursos para a saúde

Ministério da Saúde / Erasmo Salomão

Page 9: Revista Médicos das Gerais - Edição 3

retranca

Junho de 2011 Médico das Gerais 9

Disputa na residência médica

A carreira médica passa por várias etapas: primeiro vem a decisão de se tornar médico, o vestibular, a

faculdade. Depois de seis anos na graduação, chega o momento de passar para a residência. É a hora de escolher a especialidade e se prepa-rar para as seleções dos programas. No entanto, assim como ocorre na graduação, tornar-se médico residen-te envolve uma série de dificuldades que se estendem mesmo depois de conseguir a vaga.

Instituída no Brasil em setembro de 1977, a residência médica é uma modalidade de estudo de pós-gradu-ação destinada a médicos egressos da graduação. Os cursos funcionam em instituições de saúde públicas e privadas, nos quais os residentes permanecem sob a orientação de preceptores —profissionais que devem possuir elevada qualificação ética e profissional. Os programas conferem aos médicos residentes o título de especialistas nas carreiras que pretendem seguir.

Entretanto, de 1977 para cá, houve muitas mudanças no quadro do en-sino de medicina no Brasil e, é claro, na residência. O número de facul-dades da área no país passou por um ritmo de crescimen-to acelerado nos últimos anos. Contudo, isso não foi acompanhado na mesma proporção pelos programas

educação médica

de residência. O resultado caracteriza um dos principais problemas enfren-tados: a falta de vagas oferecidas em algumas especialidades em relação ao número de concluintes do curso de medicina.

De acordo com o presidente da Co-missão Estadual de Residência Médica de Minas Gerais (Cerem-MG), Sérgio Gonçalves, em Minas, o número de vagas oferecidas na residência médica é de 3.198, sendo que em R1 esse número é de 1.225. Dessa forma, não chega a suprir um terço dos estudantes que concluem a graduação no estado. “Acreditamos que apenas 30% dos estudantes que saem da faculdade entram diretamente na residência e, não faz muito tempo, essa proporção era ainda menor”, afirma. O problema também é constatado pela coordena-dora da residência em ginecologia e obstetrícia do Hospital das Clínicas da UFMG e diretora de Residência da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Regina Aguiar. “Se considerarmos o número de egressos das diversas

escolas médicas fica evidente que o número de vagas nos programas de residência é sem dúvida insuficien-te. Se analisarmos a preocupante abertura de novas escolas médicas em Minas Gerais, poderemos ver que essa situação tende a se agravar ainda mais”, avalia.

A falta de vagas também é aponta-da pelo presidente da Associação Mineira dos Médicos Residentes (Amimer), Guilherme Salgado. Para ele, a disputa acirrada e a concor-rência têm levado muitos médicos a fazerem suas residências fora do es-tado. “Faltam vagas de uma maneira geral. Em algumas especialidades existe uma demanda muito maior

>>Sérgio Gonçalves, presidente

da Cerem-MG: número de vagas na residência não suprem um

terço dos formandos

Page 10: Revista Médicos das Gerais - Edição 3

10 Médico das Gerais Junho de 2011

educação médica

programas nos grandes centros. “Isso faz com que o recém-formado repita o modelo de permanência dos médicos nas grandes cidades após a residência médica, mantendo uma disparidade entre o número de médi-cos por habitantes que existe entre os grandes centros e as cidades menores”, afirma Regina Aguiar.

Sérgio Gonçalves explica que a Co-missão Nacional de Residência Mé-dica (CNRM), da qual ele é membro, tem procurado distribuir as vagas de acordo com as necessidades de cada região. “A CNRM tem como ob-jetivo aumentar o número de vagas em todo o Brasil, principalmente no interior. A intenção é descentralizar a residência”. De acordo com ele, em Minas Gerais essa expansão já vem ocorrendo, mas o processo esbarra

do que a disponibilidade de vagas. Exemplo disso são: dermatologia, medicina do trabalho, otorrinolarin-gologia e radiologia, que são muito procuradas e têm um número muito pequeno de vagas. Por conta disso, vários médicos acabam optando por fazer a residência em outros estados. É grande o número de profissionais que vão para São Paulo, por exem-plo, por conta do baixo número de vagas aqui em Minas”, conta.

Distribuição irregular

As dificuldades, entretanto, não se resumem à reduzida quantidade de vagas. Os programas de residência de Minas não estão distribuídos no estado de forma satisfatória. De maneira geral, há concentração dos

no número de faculdades de me-dicina e nas dimensões do estado, um dos maiores do Brasil. “Hoje, existem programas de residência no Triângulo, no Sul e no Norte do estado”. Segundo Gonçalves, essa descentralização vem crescendo proporcionalmente, principalmente nos dois últimos anos.

De acordo com a Cerem-MG, há dois anos, aproximadamente 80% dos programas de residência médi-ca do estado estavam concentrados na capital e em seu entrono. Hoje, essa distribuição de vagas fica em torno de 50% alocadas em Belo Horizonte e Região Metropolitana e 50% no interior do estado. A Cerem-MG pretende descentra-lizar a distribuição em regionais, para realizar melhor o processo.

>> Regina Aguiar, coordenadora de residência em ginecologia e obstetrícia no Hospital das Clínicas da UFMG, constata que o número de vagas é insuficiente

Page 11: Revista Médicos das Gerais - Edição 3

Junho de 2011 Médico das Gerais 11

educação médica

“A princípio haveria a regional Zona da Mata, em Juiz de Fora, a regional do Triângulo e a regional do Circuito das Águas, em Pouso Alegre”, com-plementa Gonçalves.

Preparados para a concorrência

A falta de vagas nos programas de re-sidência médica faz com que algumas especialidades apresentem grande concorrência para o acesso. Segundo dados da Cerem-MG, especialida-des como oftalmologia e radiologia e diagnóstico por imagens ultrapassam a marca de 20 concorrentes para cada vaga oferecida. Neurocirurgia, a especialidade campeã, chega a atingir a marca de 58 candidatos por vaga.

Para Regina Aguiar, o fato de algumas especialidades apresentarem enorme concorrência enquanto outras, às vezes, nem chegam a preencher todas as vagas é consequência da mudança nas expectativas dos egressos das fa-culdades de medicina. “Conviver com a possibilidade de ter quatro ou cinco empregos para garantir uma sobrevi-vência minimamente digna impacta

no interesse pelas especialidades. Algumas que têm como características o trabalho em serviços de urgência, por exemplo, têm sofrido uma queda significativa na procura”, analisa.

O fato é que a grande disputa para conseguir as vagas nas especialidades mais concorridas torna a entrada na residência um dos momentos mais competitivos da carreira médica. Frente a esse quadro, uma série de estudantes concluintes da faculdade recorre a cursinhos preparatórios ainda durante a graduação. A acadêmica de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Raphaela Menin cursa o 11º período, pretende fazer ginecologia e é uma das estu-dantes que optou pelos cursinhos preparatórios, o que, segundo ela, vai ajudá-la a conseguir a vaga. “En-trei para ter um direcionamento de estudos e também porque todo mundo faz. Acho que eu me sentiria um pouco insegura no momento da prova sabendo que todos os colegas fizeram e eu não”, ressalta. Já o estudante do 12º período de medicina também da UFMG, Luís Guilherme Mendonça, decidiu se preparar para a residên-

As vagas nos programas de residência não são suficientes para atender a todos os acadêmicos de medicina que concluem anualmente a faculdade. Embora todas especialidades apresentem esse déficit, algumas chegam a apresentar grande número de concorrentes disputando uma única vaga. Veja os números em Minas Gerais:

Grande demanda, poucas vagas

>>O acadêmico Luís Guilherme Mendonça decidiu se preparar para a residência por conta própria

Alergia e Imunologia Pediátrica

Anestesiologia

Cancerologia Pediátrica

Cardiologia

Cardiologia Pediátrica

Cirurgia da Coluna

Cirurgia da Mão

Cirurgia do Aparelho Digestivo

Cirurgia do Joelho

Cirurgia do Quadril

Cirurgia Geral

Cirurgia Pediátrica

8

11,4

13,5

3,3

4

6

5

8,5

3

3

9,3

5

Cirurgia Plástica

Cirurgia Torácica

Cirurgia Vascular

Clínica Médica

Coloproctologia

Dermatologia

Ecocardiografia

Endocrinologia

Endocrinologia Pediátrica

Endoscopia Digestiva A

Endoscopia Digestiva B

Endoscopia Ginecológica

Gastroenterologia

10,7

3,5

6,1

8,8

6,2

32,3

8

7,6

9

3

3

5

5

Otorrinolaringologia

Patologia

Pediatria

Pneumologia Pediátrica

Psicogeriatria

Psiquiatria

Radiologia e Diagnós- tico por Imagem

Reumatologia

Ultrassonografia em Ginecologia e Obstetrícia

Urologia

Fonte: Cerem-MG

20,4

6,4

5,3

14

3

10,3

22,85

3,8

4,5

7,3

Ginecologia e Obstetrícia

Hematologia e Hemote- rapia Pediátrica

Hemodinâmica e Cardio- logia Intervencionista

Infectologia

Infectologia Pediátrica

Medicina do Trabalho

Nefrologia

Neurocirurgia

Neurologia

Neurologia Pediátrica

Oftalmologia

Ortopedia e Traumatologia

4,1

3

7

6,2

3

11

4,2

58,5

15,9

6,33

23,4

9,8

Page 12: Revista Médicos das Gerais - Edição 3

educação médica

cia por conta própria, procurando não perder o foco da faculdade. “Agora estou mais preocupado com os internatos. Quero aproveitá-los enquanto eu ainda sou acadêmico para, mais tarde, manter uma dis-ciplina para as provas [de seleção para a residência] realizadas em outubro”, conta.

Formação em risco

A situação divide opiniões entre médicos, preceptores e estudan-tes. Para alguns, o fato de muitos acadêmicos dedicarem-se aos cursinhos faz com que eles colo-quem a conclusão da graduação em segundo plano. É o que afirma a preceptora Regina Aguiar. “Essa é hoje uma preocupação enorme dos docentes das faculdades de medici-na. Sabemos que no último ano e, principalmente, no último semestre, o aluno se envolve cada vez mais com a seleção para a residência mé-dica, deixando em segundo plano sua formação em áreas importan-tíssimas dos internatos”, afirma. Para ela, a entrada dos chamados “cursinhos” na preparação para o ingresso na residência médica faz com que os estudantes dediquem seu tempo não apenas em aprender medicina, mas em como responder às questões dos testes de seleção. “Isso representa um enorme prejuízo na formação prática dos alunos, pois o raciocínio clínico só se desen-volve com destreza quando baseado na vivência diária na condução de casos reais e, muitas vezes, o aluno não tem tempo para vivenciar isso, pois tem a demanda das apostilas para decorar”, conclui.

Para a professora da Unifenas-BH, tesoureira da Cerem-MG e precepto-ra há 11 anos no hospital Semper, Gláucia Cadar, a dedicação dos estudantes aos cursinhos prepara-tórios não chega a comprometer a conclusão do curso, mas a situação

não reflete um panorama ideal de formação. “É claro que, em um cenário ideal, os estudantes deve-riam passar por todo o curso, depois pelos internatos e estágios e, em se-guida, se prepararem para residên-cia, mas isso acaba sendo invertido de certa forma”, considera.

A residente em clínica médica do Hospital das Clínicas da UFMG (HC) e presidente da Associação dos Médicos Residentes do HC (Amerehc), Carolina Martins, acha que os exames de seleção são necessários, entretanto, não conseguem avaliar a qualidade do médico que entra na residência. “Não acho que apenas um exame faça uma boa avaliação que retrate a qualidade do profissional. Na maioria dos casos, é uma prova teórica de múltipla escolha, como em um vestibular. Às vezes algumas pessoas treinam mais o hábito de fazer prova e acabam não demons-trando que são médicos de quali-dade”, afirma. Para ela, é possível conciliar a conclusão do curso com os cursinhos preparatórios, desde que o estudante saiba priorizar a faculdade. “O que não pode ocorrer é o aluno deixar de participar das aulas de graduação para ir às aulas do cursinho”, finaliza. É o que tam-bém afirma Sérgio Gonçalves, para quem as atividades da faculdade devem sempre ser prioritárias. “Tudo aquilo que você faz prejudicando a graduação, prejudica a formação final. A graduação tem de ser priori-tária. É nela, incluindo uma fase de internatos bem feitos, que o médico se forma”, destaca.

<<A residente em clínica médica e presidente da Amerehc, Carolina Martins, afirma ser possível conciliar a faculdade com os cursinhos preparatórios

12 Médico das Gerais Junho de 2011

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Junho de 2011 Médico das Gerais 13

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Preparados para o futuro

Planejar a aposentadoria para ter segurança de estabilidade financeira no futuro é o segredo de muitos médicos para uma vida mais tranquila. Entretanto, a rotina atribulada e a dedicação

intensa a atendimentos e plantões fazem com que esses profissionais deixem de lado a preocupação com ques-tões financeiras, e não dediquem tempo suficiente para pensar sobre o que os aguarda no futuro.

Na maioria das vezes, a aposentadoria de profissional liberal não garante aos médicos a manutenção da mes-ma situação financeira que possuíam enquanto exer-ciam a profissão, nem mesmo aqueles que somam à renda aposentadoria de um emprego público no Ipsemg ou no INSS. O diretor-financeiro do Departamento de Medicina Preventiva e Administração em Saúde da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Lincoln Lopes Ferreira, afirma que a ideia de que a medicina é uma profissão totalmente liberal é uma ilusão, já que apenas 3% da classe médica conseguem isso e, os outros 97% da categoria, trabalham com vínculo trabalhista ou têm uma atividade intermediada por convênios. A preocupação em constituir patrimônio deve, portanto, estar presente desde o início da carreira do médico. “É um mito achar que os gastos vão cair depois que se aposenta, já que na verdade as despe-sas serão mantidas, além de acrescidos os gastos com saúde”, destaca o diretor.

Médicos-administradores

Ferramentas administrativas eficientes são necessárias para os médicos controlarem seus gastos e lucros e, consequentemente, reduzirem o risco de terem problemas financeiros. Segundo Renata Veronesi Boerger, diretora de uma empresa de contabilidade especializada em pres-tação de consultoria para médicos, o principal problema percebido com os clientes é a falta de informação de quanto se ganha e se gasta. “O tempo corrido faz com

que muitas vezes os controles essenciais para a admi-nistração de suas finanças fiquem de lado ou na mão de terceiros, que nem sempre têm preparo para isso”, diz.

Para a contadora, “foi-se o tempo em que o médico podia ser só médico”, já que hoje em dia ele tem de enxergar seu negócio como uma empresa e perceber que preci-sa sim lidar com questões trabalhistas e contábeis. “Os consultórios e clínicas se transformaram em empresas de saúde com fins lucrativos”, salienta. Em sua empresa de contabilidade, por exemplo, a principal demanda de ser-viços é de consultoria de custos e apuração de resultados de consultórios e clínicas.

Planejamento certo

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para mudanças no perfil demográfico do Brasil, que caminha rumo a uma estrutura etária cada vez mais madura, o que torna a necessidade dos ►

>>Para Lincoln Lopes Ferrreira, é um mito achar que os gastos diminuem após a aposentadoria

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Seja por falta de tempo ou desinteresse, o fato é que a classe médica é carente de educação financeira. Muitos são os cur-sos voltados para essa temática e tanto Lincoln Ferreira como Renata Boerger incentivam que os médicos os façam. “Além de permitir a definição do tipo de investimento que melhor se encaixa a seu perfil, cursos na área financeira também orien-tam os bons hábitos quando o assunto é dinheiro”, aconse-lha Lincoln. Entre os perfis de investidores que existem, estão o conservador, o moderado, e o agressivo.

Confira algumas opções de cursos on-line:

. Gestão financeira (Portal Educação) www.portaleducacao.com.br/

. Finanças pessoais e mercado de ações (BM&F Bovespa) www.bmfbovespa.com.br/

. Administração financeira: decisões de investimento e financiamento (FGV) www.fgv.br/fgvonline

Conheça e entenda

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profissionais planejarem sua velhice ainda mais relevan-te. Enquanto em 2008 havia 24,7 idosos de 65 anos ou mais para cada grupo de 100 crianças de 0 a 14 anos, em 2050 a previsão é que existam 172,7 idosos para o mesmo grupo de crianças. Lincoln acredita que essa inversão da pirâmide etária significa que muitas pessoas não terão aposentadoria convencional e, por isso, aconselha que comecem a poupar da forma que julgarem ser mais proveitoso.

Aquisição de imóveis, fundos privados de aposentadoria e poupança, para os mais disciplinados, são as suges-tões de investimentos de Lincoln. “Todos os médicos, principalmente os mais jovens, devem se preocupar em imobilizar seu patrimônio de alguma forma, seja adqui-rindo imóveis ou ações, por exemplo”, aconselha. Em relação à aposentadoria, ele dá uma receita clássica: se a pessoa recebe uma quantidade satisfatória como pessoa física, é aconselhável aplicar parte do montante em um Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL), um plano pre-videnciário privado que permite acúmulo de recursos por determinado prazo. Já se a pessoa possui uma empresa e se aposentou recebendo como pessoa jurídica, não é tão vantajoso ter a aposentadoria privada.

A diversidade de produtos financeiros disponíveis no mer-cado é, para Renata Boerger, um fator que, apesar de de-mocrático, pode atrapalhar os médicos na hora de escolher o alvo do investimento. O ideal, segundo a contadora, é que não se coloque todos os “ovos na mesma cesta”, como diz o ditado, e se faça a diversificação dos investimentos

em títulos de renda fixa, previdência privada e/ou ações, de acordo com o seu perfil e com o tempo que o dinheiro pode ficar aplicado. “Se a pessoa tem um capital de R$ 10 mil que vai precisar para daqui a quatro meses, seria muito arriscado aplicar na bolsa de valores e o melhor a fazer seria aplicá-lo em um fundo de renda fixa”, exemplifica.

Para onde foi o meu dinheiro?

A falta de cuidados com as questões contábeis faz com que o médico acabe não sabendo quais foram os destinos de toda a verba gasta naquele mês e, com isso, acaba tendo suas questões financeiras prejudicadas, o que pode acarretar problemas futuros como a não informação de quanto ele tem poupado para quando encerrar sua carreira. “Muitos nos procuram sem conhe-cimento de receitas e custos, arrochados com questões inflacionárias, com a remuneração dos planos de saúde e aposentadorias. E quando é proposto um plano de ação para que essa pessoa altere essa condição, ela fica preocupada com seu status”, conta Renata.

Segundo a contadora, essa é uma grande dificuldade da classe: aceitar abaixar seu padrão social, o que é mais um motivo para incentivar os profissionais a dedicarem

<<Renata Veronesi Boerger, diretora de uma empresa de contabi-lidade especializada em prestação de consultoria para médicos, aconselha a diversificação nos investimentos

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Junho de 2011 Médico das Gerais 15

certo tempo durante a carreira para planejarem sua apo-sentadoria e seu futuro financeiro, em geral. “Quando atendo médicos endividados, sempre listo com eles suas despesas de casa e consultório, o que quase sempre revela que eles gastam mais do que ganham. A solução, nesses casos, é sempre eliminar despesas supérfluas”, explica. Outra dica é estar atento para a importância de um bom livro-caixa, que assegure todas as medidas le-galmente previstas, o que implica em economia na hora de acertar com o fisco.

No caminho certo

Contribuir com o teto do regime geral do Instituto Na-cional do Seguro Social (INSS) é a forma mais segura, segundo Renê Pessoa Coelho Júnior, perito médico previdenciário do INSS, de garantir a aposentadoria. “Dessa forma, o contribuinte vai se aposentar recebendo um benefício próximo ao valor do teto”, explica. O valor mensal do teto atualmente é R$ 734,85, o que cor-responderá a um benefício de R$ 3.689,66, corrigidos para o ano em questão.

Para o perito, quem não pode ou não quer contribuir com o teto já no início de sua carreira profissional deve se esforçar para ir melhorando o valor da contribuição progressivamente até alcançar o teto. “Isso evitará que, ao se aposentar, o médico veja que as ações não saíram conforme o planejado e não seja obrigado a continuar trabalhando para tentar manter o padrão de vida que tinha no passado”, diz.

Embora se aplique apenas a uma pequena parcela da classe médica, a aposentadoria especial, instituída pela Lei 3.807, de 26/08/60, permite que alguns profissionais se-jam beneficiados por trabalharem com frequente exposição a riscos e em ambientes insalubres. Com suas característi-cas preventivas e compensatórias, essa modalidade de apo-sentadoria determina o encerramento da carreira do profis-sional com 15, 20 ou 25 anos, dependendo da atividade e da exposição a agentes nocivos à saúde, diferentemente da aposentadoria tradicional, em que homens se aposentam após 35 anos de contribuição e mulheres, depois de 30.

Renê explica que atualmente apenas os médicos que trabalham em laboratórios de autópsia, de anatomia e de anatomocitologia; com exumação de corpos ou que atuam exclusivamente com portadores de doenças contagiosas têm direito a essa modalidade previdenciária. “As mudanças que ocorreram em 1997, com o Decreto 3.048, trouxeram

Benefício para poucos

muitas restrições. Agora, a legislação está sendo revista para que se aplique também aos médicos que lidam com raio-x”, conta o perito, que é um dos membros do Grupo de Trabalho de Aposentadoria Especial em Brasília.

A aposentadoria especial se divide em dois períodos, antes de 28/4/95 (Lei 9.032) e depois. Antes, bastava exercer a atividade médica para ter direito a ela. Depois, vieram limitações atrás de limitações. “As mudanças na legislação foram deixando a classe médica insatisfeita. É complicado perder um direito que antes lhe era assegurado“, afirma o perito. As restrições são ainda mais drásticas para os médicos servidores públicos que, se admitidos depois da Emenda Constitucional 41, de 2003, precisam “construir” sua própria aposentadoria. “Os que já ocupavam um cargo público antes dessa data têm a equivalência como servidor ativo com direito a receber quantidade similar de quem está na ativa”, esclarece.

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>> Renê Pessoa Coelho Júnior, perito médico previdenciário do INSS, explica os casos de aposentadorias especiais

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<<Ana Paula Fernandes, pediatra da UPA-Norte de Belo Horizonte, considera ser preciso mais agilidade para fazer a engrenagem de qualquer sistema de saúde funcionar

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Desafios na porta de entrada

Os dilemas dos serviços de ur-gência e emergência são mar-cantes e determinam tensão permanente entre os usuários

e profissionais desses setores. As “portas abertas” sugerem a possibilidade de atender a tudo e a todos, especialmente os casos remanescentes da atenção bá-sica deficitária e a dificuldade de marca-ção de consultas eletivas. Assim, como a demanda é crescente e com recursos finitos, a consequência é a superlotação, geradora de conflitos e estresse para paciente, familiares e equipe.

Solucionar os problemas da urgência e emergência ainda é um grande desafio para a gestão da saúde em nível local, nacional e mundial. De acordo com a médica e membro do Departamento de Qualidade e Gestão da Sociedade Minei-ra de Terapia Intensiva (Somiti), Maria Aparecida Braga, esse é um problema sistêmico, decorrente de falhas existentes em todos os níveis de atendimento, prin-cipalmente o básico. “Como o atendimen-to básico não é resolutivo e não atende toda a demanda, uma imensa gama de pessoas procura a solução fácil do pronto-atendimento”, destaca. Assim, segun-do Maria Aparecida, os serviços de urgência e emergência não estão preparados nem para o atendimento dos casos ameaçado-res da vida, nem para o atendimento da grande demanda determinada pelas falhas na prevenção e na atenção primária.

Serviços de urgência e emergência precisam de reestruturação

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Em busca de melhorias

É para tentar encontrar uma solução viável para os problemas da urgência e emergência que a Federação Nacional das Cooperativas Médicas (Fencom) promo-ve há dois anos um grupo de estudos para avaliar a questão. De acordo com o diretor-presidente da entidade, José Augusto Ferreira, o atendimento nos pronto-socorros tem muitas variáveis e características diferentes. “Do ponto de vista do usuário, os serviços de urgência e emergência são convenientes e cômo-dos, pois lá se tem acesso a exames e tratamentos que não seriam oferecidos no consultório. Mesmo sendo demorado, o paciente sempre encontra atendimento e não é preciso marcar consulta. Já os médicos, por terem alto custo de manu-tenção com os consultórios, muitas vezes, acabam fazendo do pronto-socorro o seu local de atendimento”, ressalta.

Para José Augusto, é preciso haver uma modernização na maneira como as consultas são agendadas, bem como uma descentralização no atendimento dos pronto-socorros. Segundo os estudos da Fencom, cerca de 85% dos pacientes que procuram o atendimento de urgência e emergência não precisariam ir a um hospital. Os estudos também apontam a insatisfação do usuário. “Hoje, o paciente é atendido sempre, mas precisa espe-rar e pode não encontrar um serviço de qualidade. É preciso que se criem alterna-tivas. Há a necessidade de se redirecionar o serviço de urgência e emergência para uma opção mais adequada e confortável para o paciente”, diz o diretor-presidente da entidade.

No que se refere ao médico, José Augusto enfatiza a dificuldade de se manter uma mesma equipe nos serviços de urgência e emergência. “As condições de trabalho são desgastantes, existe o risco de violência médica e a questão dos plantões noturnos

e em finais de semana e feriados. Não falta médico. O que há é a dificuldade de se fixar profissionais no atendimento, principalmente os mais experientes, pois nem a remuneração, nem as condições de trabalho, são boas”, explica.

Qualificação em xeque

Outro grande problema que diz respeito ao médico no contexto da urgência e emergência, segundo Maria Aparecida Braga, é a escassez de profissionais capa-citados para o atendimento das emer-gências. “Por um longo período, devido à

>>José Augusto Ferreira, diretor-presidente da Fencom, destaca a necessidade de se modernizar o sistema de agendamento de consultas

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evolução tecnológica da medicina, esse setor foi relegado a um segundo plano por todos —sociedade, gestores, políticos, instituições e profissionais da saúde. Não há investimento, o profissional é sub-re-munerado e na maioria das universidades não é oferecida uma disciplina específica de Urgência/Emergência”, alega.

Em decorrência dessa desatenção, a maioria dos serviços atua com profissio-nais jovens, recém-formados, que ainda não concluíram uma especialização. “Eles veem o serviço apenas como uma ponte para conseguir atividade mais valorizada”, pontua Maria Aparecida. Ela acredita que se por um lado esse descaso causa espanto e indignação, por outro, há uma conivência velada por parte daqueles que poderiam resolver a situação. “A solução dessas questões passa pelo reconheci-mento dos problemas; pela definição e entendimento dos objetivos do serviço, pela formação dos profissionais, que identificarão e prestarão o atendimento apropriado; pela valorização da profissão com condições satisfatórias de trabalho e remuneração justa e; por fim, pela criação de locais adequados para o atendimento de ‘pronta-consulta’”, argumenta.

De acordo com José Augusto, além da insatisfação do usuário, a ineficiência do atendimento de urgência e emergência aumenta os custos de todo o sistema de saúde e causa um afastamento dos médi-cos. “Quem paga por isso é a sociedade. Aumenta a mensalidade do plano de saúde e os médicos estão cada vez menos interessados nesse tipo de trabalho, cau-sando, consequentemente, uma decaída no nível de qualidade do serviço, devido ao mau preparo do profissional”, frisa.

O investimento em qualificação também é apontado pela diretora financeira adjunta da Associação Médica de Minas Gerais

Principais problemas:

- falta de visão gerencial: impacto direto no fluxo dos pacientes;

- dificuldades burocráticas;

- dificuldades individuais de entendimento dos processos pelos profissio-nais de saúde e pelos pacientes;

- falta de resolutividade no atendimento básico;

- falta de profissionais qualificados e interessados;

- salários inadequados e carga-horária excessiva;

- baixo estímulo à qualificação.

Possíveis soluções:

- descentralização do atendimento;

- atendimento básico resolutivo, com mais opções de atendimento e siste-ma de marcação de consultas mais eficaz;

- salários mais justos e estímulo à qualificação;

- redução da carga horária trabalhada;

- criação de clínicas 24 horas para atendimento da demanda.

Fonte: Quadro elaborado com base nas informações passadas pelos entrevistados desta matéria.

Urgência/Emergência: entre problemas e soluções

<<De acordo com a médica Maria Aparecida Braga, membro do Departamento de Qualidade e Gestão da Somiti, os desafios da urgência e emergência são decorrentes de falhas em todos os níveis de atendimento

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(AMMG), Márcia Mendonça Carneiro. Ela trabalhou de 1999 a 2003 na Materni-dade do Hospital das Clínicas da UFMG como preceptora do plantão, além de ser professora adjunta do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, discutindo frequente-mente a questão da Urgência/Emergência com os estudantes. “Faz-se necessário aumentar o investimento na qualificação e educação permanente desses profissionais de saúde, além de qualificar a assistência e promover a capacitação continuada das equipes”, enfatiza.

Desafios à frente

A diretora da AMMG acrescenta que são muitas as conquistas a serem alcança-das pelo sistema como um todo, o que acaba afetando os serviços de urgência e emergência, como a criação de estraté-gias promocionais da qualidade de vida e saúde capazes de prevenir agravos; e a promoção de projetos estratégicos de atendimento às necessidades coletivas em saúde, de caráter urgente e transitório, de-corrente de situações de perigo iminente, de calamidades públicas e de acidentes com múltiplas vítimas.

Ela ainda aborda a necessidade de se conciliar as diferenças da noção que os trabalhadores, os usuários e os gestores têm de urgência, além de corrigir as de-ficiências estruturais da rede assistencial básica e de urgência. “Se para o profissio-nal de saúde o termo já é complexo, para o usuário toma um outro foco. Ele o utiliza na forma da sua necessidade, sua per-cepção e sua experiência de vida. Assim, acaba procurando os serviços de urgência e emergência em busca de atendimento ‘rápido’ e onde se oferecem ‘mais recur-sos’”, constata Márcia.

Porta de entrada

Trabalhando há 15 anos como clínico no Hospital João XXIII em plantões de 12 horas, Carlos William Delfim avalia que existe uma falência no sistema de saúde, o que afeta o serviço de pronto-atendi-mento. “Como a resolução dos problemas é mais rápida na Urgência/Emergência, os pacientes acabam buscando o serviço e gerando uma sobrecarga, apesar de muitos já saberem que no João XXIII os casos mais graves são priorizados”, conta.

Para Carlos, é preciso que ocorra uma mudança em todo o sistema. “Salários melhores, menos horas de trabalho para ter tempo de se reciclar e incentivos para a qualificação”, indica. Ele também alerta sobre a relação conflituosa existente entre ►

>>Carlos William Delfim, clínico no Hospital João XXIII, alerta para a relação conflituosa entre médicos e gestores das instituições de saúde

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os médicos e os gestores das instituições de saúde. “Muitas vezes a parte humana é deixada de lado pelos administradores. Quando tenho um caso complicado nas mãos não penso se estou gastando muito. Quero apenas salvar uma vida”, expõe.

Na opinião do profissional que se dedica há tanto tempo ao serviço, se o SUS e os planos de saúde tivessem sistemas mais modernos e dessem mais atenção à prevenção e ao atendimento primário, seria menor o número de pacientes que precisam do pronto-socorro. “Atendemos a um grande número de pacientes que sofreram um derrame ou um infarto. Isso poderia ser evitado se fosse feito o controle da pressão arterial e do coles-terol. O mesmo se pode afirmar sobre os acidentados. Se controlássemos o alcoolismo, haveria menos acidentes de trânsito”, observa.

Além dos hospitais

Os problemas da urgência e emergência também atingem as Unidades de Pronto Atendimento 24 horas (UPAs), criadas para serem estruturas de complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde e as portas de urgência hospi-talares. É o que constata a pediatra da UPA-Norte de Belo Horizonte Ana Paula Fernandes. “Quase sempre a demanda para todas as áreas que atendem nas UPAs —clínica médica, pediatria, cirurgia ambulatorial e ortopedia— é excessiva. Assim, o laboratório e o serviço de raio X também trabalham em limite máximo de atendimento”, diz.

Ela ainda enfatiza que em caso de emer-gência para qualquer uma das clínicas, o paciente é encaminhado imediatamente

para atendimento prioritário. “A classifica-ção do risco de cada paciente é realizada pela equipe de enfermagem e cada médi-co atende em média quatro pacientes por hora, priorizando as urgências e emer-gências. Além de terem de avaliar exames e reavaliar os pacientes que demandam observação”, revela.

Frente a essa realidade, a pediatra avalia que entre os principais gargalos encontrados nas UPAs estão: deman-da excessiva de pacientes; às vezes, dificuldades para encaminhar pacientes que necessitam de assistência hospi-talar; e superlotação do ambiente de observação clínica, em alguns períodos do ano. “Lidamos com problemas onde os determinantes biológicos se somam aos sociais, culturais e econômicos. É preciso muita competência, paciência, persistência e coragem para enfrentar o dia a dia. Atuar na saúde pública foi uma escolha pessoal e não ocorreu por falta de opção. Entretanto, gostaria que o profissional da saúde do SUS fosse mais valorizado e mais respeitado nos meios acadêmicos e também pelos gestores da saúde”, assinala.

Ana Paula também ressalta que é preci-so haver mais agilidade para fazer a en-grenagem do SUS e de qualquer outro sistema de saúde funcionar. “É preciso redimensionar a demanda e oferecer um atendimento médico resolutivo, principalmente na Atenção Primária à Saúde (APS), que representa a porta de entrada do SUS. Muitas vezes, os pa-cientes procuram as UPAs sem nenhum problema de saúde classificado como grave ou urgente, mas em busca dessa resolutividade que relatam não encon-trar na APS”.

<<Márcia Mendonça Carneiro, diretora financeira ad-junta da AMMG, aborda que é preciso conciliar as diferentes noções que as pessoas têm de urgência

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Consultas e retornos regulamentados

Desde janeiro, médicos de todo o país passaram a seguir novas regras para a marcação de consultas e retornos. No dia

10 daquele mês, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a resolução nº. 1.958/2010 que traz as novas nor-mas. De acordo com o texto, agora são os próprios médicos que devem decidir sobre quando o encontro com o pacien-te deve ser caracterizado consulta e os prazos que configurarão um retorno. A resolução considera que uma consul-ta médica é composta por anamnese; exame geral e específico; levantamento de hipóteses ou conclusões diagnósticas; e solicitação de exames, quando forem necessários. Com a confirmação das hipóteses o médico conduz o tratamento da doença, enquanto não se identifica por completo a patologia, procede-se com o tratamento dos sintomas.

Partindo dessa definição de consulta, o médico fica livre para decidir quando to-das essas etapas são vencidas, estabele-cendo, de acordo com cada caso clínico, qual o prazo para o retorno, quando o

paciente apresentará, por exemplo, os resultados de seus exames. Isso significa que planos de saúde, ambulatórios e clínicas não poderão mais interferir e decidir quando o encontro do médico com o paciente configura situação de retorno ou outra consulta.

Essas entidades determinam que o critério para a marcação de nova consulta é o tempo decorrido após o encontro anterior com o médico. Os prazos geralmente são estabelecidos dentro de um período que varia de 15 dias a um mês. Se, dentro desse espaço de tempo, um paciente voltar a procurar o médico apresentando sintomas diferentes que exigem nova anamnese, exames físicos e laboratoriais, o profissio-nal não pode cobrar novos honorários por seu atendimento.

De acordo com o conselheiro do Conselho Federal de Medicina (CFM) e relator da nova resolução, Antônio Pinheiro, essa era uma situação comum à rotina dos profissionais. “Os planos de saúde decidiam sobre a marcação de consultas e retornos a partir de um prazo. Ao recebe-rem o paciente com outra doença ou novo sintoma, os médicos não poderiam configurar o atendimento como consulta”, observa. Segundo ele, esse tipo de determinação não pode ser feita baseada no tempo decorrido após a consulta. “O médico deve decidir. É uma questão técnica e médica; e não comercial e administrativa. Há exames que demoram algum tempo para serem feitos e o médico sabe disso. Essas questões só podem ser determinadas a critério médico. É baseado na experiência que o profissional dirá o tempo necessário para ter os exames de seu paciente em mãos”, alega.

Para o pediatra José de Alencar Faleiros, de Varginha (Sul de Minas), o fato de as determinações para marcação de retorno e cobrança de

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novas consultas partirem dos convênios representava uma espécie de interferên-cia no exercício da medicina. “Ficávamos reféns dos convênios, porque a maior parte dos nossos atendimentos é dos planos. Acho que não deve haver muitas normas na marcação de consultas e retornos. No caso de uma doença aguda, por exemplo, é preciso acompanhar a criança todos os dias. Então, tudo tem que ser baseado no bom senso do médico. Os convênios não consideram características das especialidades”, afirma.

Segundo o conselheiro do CFM e do Conselho Regional de Medicina de Mi-nas Gerais (CRMMG), Alexandre de Me-nezes, a resolução oficializa uma prática

que já era recorrente entre alguns médicos. “Proceder como se fosse um retorno ou tratar o paciente como em uma nova consulta a partir de novas patologias já era uma prática, a legislação veio respaldar e regulamentar a situação para operadoras e pacientes.”

Além disso, ele afirma que as normas dão aos médicos poder de ne-gociação junto aos convênios, uma vez que muitos deles operam em cerca de 80% do mercado em algumas regiões do estado, como ocorre na capital. “A resolução fortalece a classe, ajudando-a a fazer a devida cobrança pelo seu trabalho”, complementa.

Mais impacto para alguns

Ter o tempo decorrido após a consulta como o critério para a marcação de retorno e cobrança de novos honorários tinha distintos impactos em diferentes especialidades. No caso da ginecologia e obstetrícia, de acordo com a ginecologista e obstetra Cynara Maria Pereira, de Passos (Sul de Minas), a cobrança de novos honorários ficava especialmente complicada para o acompanhamento de gestantes. “Se elas se sen-tem mal, não procuram uma unidade de urgência e emergência, mas os médicos que fazem seu pré-natal. Nesses casos, os médicos não podem cobrar novos honorários, ainda que seja um sintoma totalmente diferente do apresentado no encontro anterior”, conta. “Agora o médico tem mais liberdade para falar sobre isso com o paciente, a relação fica mais clara e mais justa entre ambos”, conclui.

Para o anestesista Luiz Carlos Moreira, de Belo Horizonte, os trata-mentos de alguns casos de dor também ficavam limitados às normas dos convênios e instituições de saúde. “Um paciente poderia vir se queixando de uma dor no ombro e, poucos dias depois, reclamar de dor no joelho, por exemplo. Os convênios limitavam a marcação de uma nova consulta, desconsiderando como é o nosso dia a dia”, diz. Ele afirma que, com a nova resolução, o CFM conseguiu assegurar e normatizar a realidade dos médicos. “O critério agora está bem estabelecido”, finaliza.►

>>Alexandre Menezes, conselheiro do CFM

e do CRMMG, ressalta que a resolução oficializou o que já era prática

<<O anestesista Luiz Carlos Moreira afirma que agora é possível assegurar e normatizar a realidade dos médicos

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O pediatra José de Alencar Faleiros alega que, em sua especialidade, o critério de cobrança baseado no tempo era especialmente problemático. Segundo ele, o fato de as crianças serem mais suscetíveis a doenças não se conciliava com as determinações de planos e instituições de saúde. “Uma criança com idade entre seis meses e 5 anos tem de oito a 10 viroses por ano. Se, dentro de um prazo para retorno estabelecido em até 20 dias, uma criança contraísse outra virose, o médico ficava em uma situação muito ruim com a família”.

Para ele, situações desconfortáveis com as famílias dos pacientes eram uma das más consequências do critério antigo. “Nos casos de novos sin-tomas que apareciam dentro do prazo estipulado como retorno, algumas famílias entravam em atrito com os médicos no que se refere à cobrança das consultas. Esse atrito atrapalha a relação médico-paciente, e na pedia-tria é importante haver um vínculo com a família, para o bom atendimento da criança”, assinala.

Faleiros considera que a nova resolução vem tornar a relação entre médicos e pacientes mais transparente e direta na medida em que ambos podem discutir mais abertamente sobre os motivos de consultas e retornos, entran-do em um acordo sobre o assunto. “A nova regra vai ajudar a fazer com que o diálogo fique mais direto, mais claro. Com isso, as famílias e os médicos vão se entender melhor. Favorece a relação médico-paciente”, pontua.

É o que também pensa Cynara Pereira, para quem uma boa relação médico-paciente é parte de um acompanhamento de qualidade. “A resolu-ção vem proteger o exercício da profissão e o que é considerado uma boa medicina no que se refere a um bom relacionamento com o paciente”. Se-gundo ela, quanto mais claras, as questões da cobrança de novos honorá-rios são mais bem recebidas pelos pacientes. “Eles entendem muito bem. Muitas vezes, os pacientes ficavam constrangidos de estar no consultório por outro motivo e não pagar nova consulta”, declara.

A implantação da nova resolução do CFM não foi recebida com grandes surpresas pelos planos de saúde em Minas Gerais. Pelo menos é o que afirma o diretor da Unimed-Patos de Minas, Márcio Abdala. De acordo com ele, as novas de-terminações não alteram muito para os convênios de saúde. “Em Patos de Minas, sempre existiu uma prática de que os retornos são feitos dentro de um prazo de 30 dias, mas se dentro desse período o paciente apresentasse outros sinto-mas, outra patologia, o convênio autorizava a cobrança de novos honorários. Acho que é uma questão de bom senso, nossa relação sempre foi muito tranquila”, relata.

Segundo ele, o estabelecimento do prazo para retorno dentro de um período de 30 dias decorridos após a consulta sempre foi praxe entre os médicos, não só nos atendimentos conveniados. Sobre o fato de muitos médicos considerarem

Do outro lado

as determinações dos convênios como uma interferência no exercício da medicina, Abdala afirma que sempre foi uma preocupação dos convênios que isso não ocorresse, de forma a não abalar os acompanhamentos médicos. “Entendemos que a medicina é uma área em que os administradores não podem interferir muito”, observa.

Questionado sobre a possibilidade de que o aumento do número de consultas afetasse as finanças dos convênios, Abdala alega que o novo quadro não deve comprometer a realidade dos planos. “Não haverá grandes alterações. Caso um paciente tenha sido atendido por um médico e, em um segundo momento, precise de nova consulta e não consiga atendimento com o mesmo profissional, vai procu-rar outro, de forma que o gasto para as operadoras será o mesmo”, conclui.

>>Cynara Pereira, ginecologista e obstetra, enfatiza que a resolução protegerá o bom relacionamento dos médicos com os pacientes

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Juntar objetos que tenham alguma característica comum, com ou sem motivos óbvios, é prática no mundo todo. O

colecionismo, considerado hobby ou forma de entretenimento por alguns e atividade cultural por outros, faz parte da história da humanidade e contribui, até os dias de hoje, para a criação dos grandes acervos do passado.

De caixas de fósforo a carros luxuosos, os itens colecionáveis variam de acordo com o gosto e com o “ta-manho do bolso” do colecionador e, independentemente de valor ou tempo de existência, têm alto valor para o proprietário. É o que acontece com o especialista em reprodução humana assistida Bruno Augusto Brum Scheffer, 39 anos, que, desde a adolescência, coleciona enfeites de Natal. “Minha família sempre fazia um campeonato de adornos e cada um colocava seus próprios adornos na árvore. Eram peças de tecido, madeira e qualquer material que desse um efeito legal”, conta.

Em suas viagens constantes, o médi-co começou a trazer souvenires dos países que visitava e percebeu que não queria objetos comuns como chaveiros ou ímãs de geladeira. “Buscava algo diferente e notei que, em qualquer época do ano, todas as cidades tinham uma loja de Natal”, conta. Foi aí que, aos 19 anos, ele decidiu que queria colecionar enfei-tes de Natal para árvores.

Adquiridos no Brasil, em outros países ou ganhados de amigos e fa-miliares, os enfeites já somam mais de 140. E eles não ficam apenas em caixas: “Todos os finais de ano, seleciono as peças mais bonitas para a árvore de Natal da minha casa”. Dentre as peças mais especiais e diferentes da coleção de Bruno estão um canguru de feltro da Austrália,

um globo de palha da China, um passarinho de lantejoulas da Nova Zelândia, um guarda real da Inglater-ra e um Notre Dame entalhado em madeira da França.

Segundo Bruno, cada um de seus enfeites lembra algum momento ou pessoa especial. “Alguns me reme-tem à minha infância e à minha mãe, e têm também os que eu trou-xe da Disney quando levei minha avó lá”, conta. Em relação às viagens, o especialista comenta que é comum ter problemas na alfândega: “Sempre sou questionado sobre a quantidade de bolas e alvo de desconfiança. Uma vez, quando estava trazendo 30 bolas de Nova York, tive que abri-las uma por uma para mostrar que não tinha nada dentro”.

Atraído pelas badaladas

A coleção do pediatra José Sabino de Oliveira, 64 anos, começou de forma diferente e inesperada. Foi em 1999, incentivado por um vendedor da Feira de Antiguidades da Avenida

além da medic ina

Tesouros particulares

<<Bruno Brum Scheffer, especia-lista em reprodução humana assistida, começou sua coleção de enfeites de Natal aos 19 anos

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Junho de 2011 Médico das Gerais 25

além da medic ina

Tesouros particularesBernardo Monteiro, em Belo Horizonte, que ele decidiu começar a colecionar sinos. “Sempre quis ter uma coleção e, após ser provocado por esse vendedor que queria que eu comprasse uma de suas peças, acabei dando o passo inicial.” Depois desses, vieram os outros sinos, de origens, valores e tamanhos variados, e as visitas a antiquários começaram a ser cada vez mais frequentes.

Comprados por ele mesmo em viagens ou ganhados de familiares e amigos, os 980 sinos do acervo de Sabino vêm de mais de 30 países, como Argentina, Bélgica, Bolívia, Canadá, China, Equador, Espa-nha, Estados Unidos, França, Grécia, Ho-landa, Índia, Itália, México, Peru, Rússia e Turquia. Há, também, peças de cidades mineiras como Juiz de Fora, Oliveira, Ouro Preto, São João del-Rei e Tiraden-tes. Os materiais das peças vão de vidro a ouro, tendo também sinos de cristal, prata, bronze, cobre, estanho, porcelana, biscuit e materiais sintéticos. “Meu pre-ferido é um de 1950, feito de moedas de 20 centavos, em forma triangular”, revela.

Paixão em quatro rodas

Já o otorrinolaringologista Roger Abdo Mendes, 43 anos, morador de Muriaé, na Zona da Mata mineira, começou, ainda na faculdade, a colecionar miniaturas de carros, especialmente Corvettes. De carrinhos do tamanho de um dedo aos que têm dois terços das proporções de um carro real, a paixão o levou a um acervo atual de mais de 100 peças provenien-tes de países como Alemanha, Estados Unidos e Itália.

Em uma prateleira em seu consultório, o médico possui 40 carrinhos e, ao os verem, muitos pacientes costumam o presentear com novas peças. “É um gesto que revela carinho. Uma vez ganhei de um deles uma miniatura de cristal bem rara”, comenta. Ele também costuma trazer carrinhos de suas viagens e sempre

ganha de amigos e parentes. “Estou fican-do cada vez mais seletivo e não compro qualquer peça. Não quero que meu hábito de colecionar deixe de ser um hobby e vire um vício. Dou mais valor à qualidade que à quantidade”, diz.

Em sua casa, Roger mantém a coleção em sua garagem. Lá ficam os carros de todos os tamanhos, inclusive um Corvette em tamanho real. “Planejei minha garagem para ela refletir a evolução dos carros por meio da minha coleção. Há quadros nas paredes mostrando isso”, diz o médico, que já está passando o gosto para os filhos. “Daniel e Henrico também já gostam de carros e às vezes nem dá mais para definir os carrinhos que são meus e os que são deles”, comenta.

>>O hobby de Roger Abdo Mendes, otorrinolaringolo-gista, agrada os filhos que o ajudam com a coleção

>>O pediatra José Sabino Oliveira possui quase mil sinos de mais de 30 países

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26 Médico das Gerais Junho de 2011

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Pelo valor da carreira de estado do médico

A valorização do médico do setor público é assunto em discus-são na Câmara dos Deputados. Está em pauta, na Comissão de

Constituição e Justiça e de Cidadania, uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que pretende organizar um plano de car-reira para os médicos do Sistema Único de Saúde (SUS). A PEC 454/2009, proposta pelos deputados Ronaldo Caiado (DEM/GO) e Eleuses Paiva (DEM/SP), tem como obje-tivo a valorização da classe, ao inseri-la na categoria de carreira de estado.

Segundo o texto, essa inserção é possível já que a prestação de serviço à saúde realizada pelos médicos é imprescin-dível e está entre as funções caracte-rísticas do estado —função de estado stricto sensu, função econômica, função social. Diz a proposta que a função social consiste no “provimento universal dos bens sociais fundamentais —saúde, educação, habitação—, cobertura dos riscos sociais, proteção dos setores mais necessitados etc.”

Assim, a PEC sugere que os mé-dicos que desejarem se-

guir carreira no setor público tenham

um plano profissional, benefícios e salário

equiparados a outro exemplo de carreira de estado: o do poder judiciário. Entre as propostas do texto estão o exercício da atividade por cargos efetivos, ocupa-dos por meio de concursos públicos, a ascensão funcional com base em critérios alternados de merecimento e antiguida-de; e salário inicial de R$ 15.187, com reajustes anuais.

Plano de carreira

Não é apenas a pretensão salarial sugerida na PEC que se inspira no esquema do judiciário. A intenção é que o médico de estado tenha um plano de carreira que siga a mesma metodologia. Elaborado pela Federação Nacional dos Médicos, juntamente com a Fundação Getúlio Vargas, o plano sugerido na pro-posta prevê também a mobilidade por tempo de serviço e por critérios de merecimento.

Desse modo, o médico recém-formado, assim como o juiz, começaria nas me-nores cidades. Depois de certo tempo de serviço, seria transferido para outra maior, podendo chegar às capitais. “O juiz que vai para um município, fica lá por um tempo e vai progredindo tem uma carreira desenhada”, explica o diretor de saúde suplementar da Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e conselheiro do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), Márcio Bichara. “O médico,

<<Márcio Bichara, diretor de saúde suplementar da Fenam e conselheiro do Sinmed-MG, ressalta que os médicos terão garantia de que poderão progredir na carreira

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Junho de 2011 Médico das Gerais 27

• A atividade no estado será exercida por médicos em car-gos efetivos, ocupados por meio de concurso público.

• A partir da aprovação da PEC, constituirão carreiras em extinção os médicos estaduais e municipais concursados pelas regras anteriores.

• Os médicos de estado terão regime de dedicação exclu-siva e não poderão exercer outro cargo ou função pública, exceto pelo magistério.

Principais pontos da PEC 454/2009

• Os profissionais estarão proibidos de receber honorários ou outros tipos de remuneração, seja ela de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, exceto por aquelas previstas em lei.

• A ascensão na carreira será realizada por tempo de servi-ço e por critérios de merecimento, alternadamente.

• O piso salarial, estabelecido por lei e com reajustes anu-ais, será de R$ 15.187.

Fonte: PEC 454/2009 em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/727136.pdf

do mesmo modo, fará concurso público, será designado para uma cidade e terá a garantia de que poderá progredir na carrei-ra”, completa.

Um dos principais benefícios da emenda para o médico é a possibilidade de não ficar, durante toda a vida profissional, na mesma cidade. “O cidadão vai desenvol-ver atividades no interior do país e, com o tempo, vai alçando locais de maior inte-resse para ele”, observa o autor da PEC, Ronaldo Caiado.

Outra vantagem é fugir da politicagem e pouca garantia dos atuais contratos com os municípios. Muitas vezes, os médicos são contratados, sem concurso, na condição de temporários. Assim, de acordo com Bicha-ra, passam a depender da “boa vontade” do prefeito, do resultado de eleições e ou-tras variáveis políticas. “Se o médico cobra melhores condições, por exemplo, passa a ser inimigo político e fica muito vulnerável na relação. Ele fica na mão do gestor do momento”, critica.

A emenda pode contribuir também para que o sistema de saúde complete o quadro de médicos nos municípios do país. Com maior segurança e perspectivas na carrei-ra, o profissional tem mais incentivo para trabalhar em cidades de menor porte, mais afastadas e com condições que pouco favorecem o serviço médico. “Falta médico em municípios do norte do país porque lá ele não tem perspectiva e é contratado precariamente”, afirma Bichara.

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Deputado Estadual Ronaldo Caiado, autor da PEC 454

“O cidadão vai desenvolver

atividades no interior do

país e, com o tempo, vai

alçando locais de maior

interesse para ele.”

Situação atual

Segundo o texto da PEC 454/2009, a justificativa para a proposta são as condições atuais com que os médicos do SUS têm de lidar. “É com pesar que se vê o desprestígio que o médico que presta serviços para o Sistema Único de Saúde vem passando. Baixos salários, péssimas condições de trabalho, pouco ou nenhum estímulo à especialização do profissional, suscetibilidade aos desmandos dos governantes locais são os principais percalços que os médicos atravessam quando decidem optar pelo concur-so público”, diz a PEC.

A proposta exemplifica a situação da classe profissional com um quadro de honorários do SUS e, em seguida, protesta: “R$ 235,10 e R$ 308 não são honorários que recompensem o trabalho de um médico, que lida com a vida do ser humano.”

A PEC, apresentada à Câmara em 16 de dezembro de 2009, já tem novo relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, o deputado Mendonça Prado (DEM-SE). Caso seja aprovada, segue para análise de uma comissão especial e, em seguida, vai para a votação em dois turnos no Plenário.

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Dicas úteis

Grande parte dos médicos não imagina que um dia poderá enfrentar um processo judicial movido por algum paciente. Essa situação, entretanto, está cada vez mais frequente. Na maioria dos casos, a acusação não procede, mas, mesmo assim, provoca muita dor de cabeça. Médicos que realizam procedimentos cirúrgicos ou que trabalham em serviços de urgência e emergência têm mais chance de enfrentar o problema. Se algum dia você for acusado por algum paciente, tiver que prestar depoimento ou mesmo estiver sendo alvo de ameaças em seu consultório, procure a Comissão Estadual de De-fesa do Médico. Parceria entre a AMMG e o Sinmed-MG, há quase 20 anos, ela oferece orientação e assessorias jurídica e de imprensa a médicos envolvidos em inqué-ritos policiais ou ações na justiça. Todo o atendimento tem garantia da privacidade. Outras informações: (31) 3247-1634 ou [email protected].

Na hora do aperto

Você sabia que alguns prontuários eletrônicos não permitem a eliminação do papel? Antes de escolher um software para seu consultório, clínica ou hospital, conheça as normas estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em parceria com a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (Sbis). Sistemas de informática já estão sendo certificados e, segundo o CFM, em breve os médicos brasileiros terão novas carteiras de identidade e CRMs digitais. Leia a Resolução do CFM nº 1821/2007, disponível em www.portalmedico.org.br, e informe-se melhor no site www.sbis.org.br. Lá, você encontra o “Manual de Certificação para Sistemas de Registro Eletrônico em Saúde” e a lista de programas já certificados pelo CFM/Sbis. Mais informações: (11) 3791-3343.

Prontuário eletrônico

Os gestores que tentarem de alguma forma obstruir um movimento de greve também podem estar sujeitos a sanções. Segundo informa o departamento Jurídico do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, consta do art. 6º, §§ 2º e 3º da Lei Nº 7783/89 (Lei de Greve) que é vedado ao empregador “adotar meios para constranger o empregado ao comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do movimento”. O Código Penal também tipifica como crime contra a organização do trabalho (art. 203) o ato de “frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho”. A sanção consiste em detenção de um a dois anos e multa, além da pena correspondente à violência.

Obstrução de movimento grevista

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dia a d ia

De acordo com o Código de Ética Médica, é direito do médico “apontar falhas em normas, contratos e práticas internas das instituições em que trabalhe quando as julgar indignas do exercício da profissão ou prejudiciais a si mesmo, ao paciente ou a terceiros, devendo dirigir-se, nesses casos, aos órgãos competentes e, obrigatoria-mente, à comissão de ética e ao Conselho Regional de Medicina de sua jurisdição.” (cap.II, inciso III). O Código também diz que o médico pode “recusar-se a exercer sua profissão em instituição pública ou privada onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar a própria saúde ou a do paciente, bem como a dos demais profissionais. Nesse caso, comunicará imediatamente sua decisão à comissão de ética e ao Conselho Regional de Medicina”. (cap. II, inciso IV).

Denunciar falhas é direito do médico

Você já registrou seu título de especialista no CRMMG? A Lei 3268/1957 dá ao médico o direito de exercer a Medicina em todas as suas especialidades. Entretanto, a divulgação de especialista está vinculada à com-provação de registro no CRMMG, que segue a norma prevista pelo CFM.

Parecer do CRMMG determinou que o médico só pode declarar vinculação com especialidade ou área de atu-ação quando for possuidor do título ou certificado a ele correspondente, devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina. Para tanto, o médico deve enca-minhar seus títulos e certificados para o devido registro de especialidades no Conselho Regional de Medicina e só depois poderá anunciar-se como especialista.

Especialidades médicas

A resolução CFM nº 1.488/1998 dispõe de normas específicas para médicos que atendam o trabalhador. Segundo parecer do CRMMG, ao médico do trabalho, no exercício de suas atividades dentro do âmbito da empresa, é facultada a possibilidade de discordar de atestado médico apresentado pelo trabalhador, assim como estabelecer novo período de afastamento de-corrente de sua avaliação médica, sempre assumin-do a responsabilidade pelos seus atos.

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Conscientes do vício

Leonardo Cançado Monteiro Savassi tinha apenas 10 anos quando experimentou o primeiro cigarro. Aos 14, já fumava diariamente e

o vício se estendeu até dezembro do ano passado. Hoje, com 35 anos, ele é espe-cialista em medicina familiar e de comu-nidade, além de presidente da Associação Médica de Betim. “Eu já estava viciado quando me tornei médico e não parei, mesmo conhecendo os malefícios que a prática traz. A gente realmente não projeta o futuro para o dia de hoje. Como em toda doença crônica, o medo das repercussões não altera o comportamento presente, a não ser que tenhamos gatilhos importantes que modifiquem nossos hábitos. Ainda que percebamos o risco e a susceptibili-dade, temos a tendência a adiar decisões difíceis”, admite.

como diversos tipos de câncer, enfisema pulmonar, impotência sexual e acidente vascular cerebral (AVC). “A nicotina é uma droga pesada, cuja dependência é de difícil tratamento em qualquer pessoa, inclusive entre médicos”, avisa.

Maria das Graças chama a atenção para uma pesquisa publicada, em 2007, no Jornal Brasileiro de Pneumologia da Socie-dade Brasileira de Pneumologia e Tisiolo-gia sobre o tabagismo na classe médica. “Até a década de 40, cerca dois terços dos profissionais de saúde fumavam. Apenas quando surgiram os primeiros estudos científicos que relacionavam o cigarro a diversas doenças, o número de médicos fumantes passou a diminuir. Entretanto as estatísticas ainda não são boas. O estu-do indica que o percentual de médicos fumantes no Brasil pode chegar a 32%, dependendo da região analisada”, afirma. Ela explica que a maioria dos fumantes fica dependente antes dos 20 anos de idade e que isso não é diferente na área de saúde. “Há estudos que evidenciam que mais de 80% dos médicos começaram a fumar antes de iniciarem a faculdade e muitos continuaram durante o curso e até depois”, completa. Ela alega que parte do problema é a pequena carga horária e pouca importância dispensada ao estudo do tabagismo nas escolas de medicina.

Difícil de se livrar

Esse foi o caso do cirurgião geral de Divi-nópolis (Centro-Oeste de Minas) Alfredo Mattar Neto, que começou a fumar com 20 anos, na época da faculdade. “Quando eu cursava medicina, era moda fumar. Todo mundo fumava e acabei nessa tam-bém. Mas ninguém continua no tabagismo simplesmente por achar bonito. A nicotina causa dependência e é difícil se ver livre

Maria das Graças Rodrigues de Oliveira, pneumologista e presidente da Contad-AMMG

“A nicotina é uma droga

pesada, cuja dependência

é de difícil tratamento em

qualquer pessoa, inclusive

entre médicos.”

30 Médico das Gerais Junho de 2010

O tabagismo já se consolidou como uma prática bastante danosa à saúde. Hoje, ele é a principal causa evitável de doenças e mortes prematuras. Segundo a presidente da Comissão de Controle do Tabagis-mo, Alcoolismo e Uso de outras Drogas da Associação Médica de Minas Gerais (Contad-AMMG), a pneumologista Maria das Graças Rodrigues de Oliveira, o cigarro contém, aproximadamente, 5 mil substân-cias tóxicas que são responsáveis, direta ou indiretamente, por mais de 50 doenças,

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Junho de 2011 Médico das Gerais 31

Conscientes do vício dela”, confessa. Ele continuou no vício por mais 30 anos e só parou há quatro, aos 51 anos, mas conta que já tinha planos para deixar o vício bem antes disso. Até que percebeu que começou a sofrer de problemas como otites agudas, resfriados e infecções gripais com muito mais frequência, além de estar com sua capacidade respiratória bastante reduzida. “Um dia resolvi parar e nunca mais coloquei um cigarro na boca. Achei que fosse ter uma dificuldade maior, mas consegui sem usar qualquer tipo de técnica. Mes-mo assim, ainda tenho vontade de fumar em algumas situações como após as cirurgias ou em um bar com os amigos”, revela.

Leonardo Savassi não teve a mesma facilidade para abandonar o hábito. Ele conta que a vontade de deixar o tabagismo surgiu em 2009, quando seu filho nasceu. “Comecei a vislum-brar todos os momentos da vida do meu filho dos quais eu não partici-paria por encurtar minha vida com o vício. Também sabia que a condição de fumante passivo poderia prejudi-cá-lo, e em curto prazo”. Leonardo contou com a ajuda das substâncias bupropiona e vareniclina, que foram bastante efetivas, mas admite que ainda assim teve dificuldade para abandonar o cigarro. “Aos meus conhecidos e pacientes tabagistas, recomendo que marquem uma data para parar e a respeitem, por mais difícil que seja. Todos têm de parar um dia e é melhor fazê-lo quando ainda é mais por vontade do que por necessidade. O vício fez parte de minha personalidade durante muito tempo, a ponto de todos que me de-senharam, ‘cartoonaram’ ou descre-veram apenas se lembrarem de mim com um cigarro na mão. Parar foi muito difícil para mim, assim como será para quase todos”, confessa.

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Conscientização e prevenção

A Contad-AMMG realiza um traba-lho contínuo de estudo dos vários aspectos do tabagismo e divulgação das mais recentes descobertas para os médicos mineiros, com o objetivo de que se convençam e ajudem seus pacientes fumantes a abandonarem o hábito. A entidade promove, tam-bém, campanhas para a prevenção do consumo entre crianças e ado-lescentes e eventos populares para divulgar os malefícios do tabagismo, questões relativas ao seu tratamento e prevenção no Dia Mundial sem Tabaco —31 de maio— e no Dia Nacional de Combate ao Fumo —29 de agosto. Maria das Graças salienta que o papel do médico é primordial no trabalho de prevenção. “Eles são formadores de opinião na sociedade e vistos por ela como modelos. Um doutor que fuma perde muita cre-dibilidade com seu paciente. Vários

estudos mostram que os fumantes esperam que seus médicos os acon-selhem e ajudem a parar de fumar. Se o profissional de saúde é fumante, o seu poder de convencimento é muito menor. O médico deveria apresentar comportamentos saudáveis”, explica.

Alfredo Mattar reconhece que tem de dar bons exemplos para seus pacien-tes, mas admite que não se considera um exemplo a ser seguido. “Penso que eu não deveria ter sido fumante, mas minha especialidade é uma da-quelas onde o vício está mais presen-te. Realizar cirurgias é sempre muito estressante e os médicos acabam cedendo, um pouco mais, ao cigarro. Muitos, entretanto, já se conscienti-zaram dos males da prática”, afirma. A recomendação geral aos médicos tabagistas é para que deixem o vício o mais rápido possível e que incentivem e ajudem conhecidos e pacientes a também fazê-lo.

>>Leonardo Savassi, especialista

em medicina familiar e de comunidade e presidente da

Associação Médica de Betim, resolveu abandonar o vício

quando seu filho nasceu

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32 Médico das Gerais Junho de 2011

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No segundo semestre do ano, com a chegada do inverno, muitas pessoas ainda ficam sem saber o que fazer nas horas vagas. Se no verão destinos como o litoral ou cachoeiras do

interior do estado parecem certos para grande parte dos mineiros, as opções de lazer e descontração nos períodos mais frios do ano ainda são desconhecidas para muitos. Entretanto, engana-se quem pensa que as únicas op-ções que restam são os cinemas e bares para os fins de semana, ou até mesmo as sessões de vídeo aproveitando algum canto quentinho de casa.

Por mais que essas sejam ótimas pedidas para os dias frios, não se pode esquecer que durante o inverno várias cidades do interior de Minas promovem festivais com muita música, arte, gastronomia e conhecimento. Tudo sempre naquela atmosfera típica das cidades mineiras.

Entre os festivais mais tradicionais e os mais recentes, há opções para todo tipo de gosto. Os amantes da literatura,

da música, da gastronomia e da cultura geral estão bem servidos em Ouro Preto, Diamantina, Tiradentes, São João del-Rei e outras cidades interioranas.

Semana Roseana

Localizada a 120 km de Belo Horizonte, Cordisburgo, apesar de pequena, é cidade natal de um dos maiores nomes da literatura brasileira. Para celebrar a memória de João Guimarães Rosa, ela realiza, anualmente, a Semana Roseana.

Durante os sete dias, a programação é intensa na cidade. Entre as atividades promovidas no evento estão palestras, mesas redondas e oficinas, além de teatro e lançamentos de livros. Mas o destaque é mesmo a Caminhada Eco-Literária, já tradicional na Semana Roseana. Ela propõe que os partici-pantes percorram caminhos da região que foram descritos pelo escritor em seus livros. O percurso ainda é acompanha-do por um grupo de músicos e atores locais que interpretam trechos das obras de Guimarães Rosa.

O festival recebe, em média, 5 mil pessoas por ano, entre moradores e visitantes. A população da cidade é de cerca de 8,5 mil habitantes. Neste ano, o evento será realizado entre 10 e 16 de julho.

Cultura e Gastronomia

Quem se interessa por culinária ou simplesmente gosta de comer bem não pode perder o Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes. Realizado na charmosa cida-de histórica, já está em sua 14ª edição.

Durante o evento, nomes nacionais e internacionais da gastronomia compartilham suas experiências em jantares, cursos, degustações, aulas e debates. Além disso, há ainda a agenda cultural, marcada por shows, exposições, espetáculos, cinema ao ar livre e outras programações.

Os jantares, chamados de Festins e considerados o ponto alto do Festival, ocorrem nas noites das sextas-feiras e aos sábados nas pousadas Pequena Tiradentes e Vila Paolucci. Ao todo, são oito Festins comandados por renomados chefs.►

Cultura aquece inverno de Minas

>> Festival leva a Tiradentes chefs renomados da alta gastronomia

>> Semana Roseana promove anualmente Caminhada Eco-Literária

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tempo l ivre

Em 2011, o Festival será realizado entre 19 e 28 de agosto e seu tema é a “Nova Geração de Chefs”. A ideia é destacar os novos talentos do cenário gastronômico brasileiro que já prati-cam uma culinária regional, com estilo próprio e criativo.

Festival de Inverno da UFMG

O Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um dos mais antigos e tradicionais do es-tado, tem eventos para todo gosto, pois abrange as artes audiovisuais, literárias, musicais, cênicas e plásticas. Neste ano, na sua 43ª edição, terá como tema “Zonas de Interferência: artes - cidades - conhecimento”.

O propósito do festival é mostrar as no-vas práticas em termos de arte, ou seja, atrai tanto quem procura atualização quanto quem deseja se iniciar no mundo cultural. São realizadas oficinas, shows e diversas manifestações culturais ao longo de todo o evento.

O festival, que começou como itinerante e já foi fixo em diversas cidades de Minas,

em 2011 volta a ser “nômade” e dura todo o mês de julho. Ele será realizado de 8 de julho a 7 de agosto, e passa por Belo Horizonte, Brumadinho (Inhotim), Cataguases, Diamantina e Tiradentes.

Vesperata

Para quem não pode se programar com tanta antecedência, ou prefere outras temporadas para passear, Diamantina também oferece programação cultural fora do festival de inverno da UFMG. A cidade promove, de março a outubro, a Vesperata. Por duas vezes a cada mês, a Rua da Quitanda, no centro histórico, transforma-se em um palco para um encontro de bandas. Os músicos ficam posicionados nas sacadas e janelas dos sobrados antigos e são regidos pelos maestros, que ficam em um pequeno palco montado na calçada, junto ao público. Cada apresentação atrai de 500 a 600 pessoas.

Em 2011, a Vesperata será nos dias 2 e 9 de julho, 6 e 20 de agosto, 3 e 24 de setembro e 1º e 15 de outubro, sempre às 21h.

Semana Roseana Cordisburgo (10/07 a 16/07)

Informações:

Tel: (31) 3715-1358 / (31) 3715-1387

www.cordisburgo.mg.gov.br

XIV Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes (19/08 a 28/08)

Informações:

www.culturaegastronomia.com.br

Festival de Inverno UMFG Diamantina (08/07 a 07/08)

Informações:

www.ufmg.br/festival

Vesperata

02/07, 09/07, 06/08, 20/08, 03/09, 24/09, 1º/10 e 15/10

Informações:

Tel: (38) 3531-9532

www.diamantina.mg.gov.br

Programe-se:

>>Vesperata, realizada em

Diamantina, reúne músicos locais em diversas datas

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34 Médico das Gerais Junho de 2011

causos

O ortopedista Cícero Morais conta que no Pronto Socorro do Hospital Regional de Governador Valada-res, único serviço de Ortopedia público do Leste de Minas, os pacientes aguardavam em uma antessala para serem chamados. Certa vez estava de plantão o Dr. Tadeu, filho do Dr. Raul Fernando Chaves Corrêa, primeiro ortopedista da cidade, chamando os pacien-tes e encaminhando-os para a sala de raio X. Após examinar uma paciente idosa que tinha fraturado o pu-nho, orientou-a a fazer uma radiografia e, em seguida,

Envie seu causo!Se você tem uma boa história para contar, envie para [email protected].

Em 1972, Milton Nascimento sofreu repentina distensão em suas cordas vocais durante um show no teatro Marília, em Belo Horizonte. O cantor foi conduzido ao Instituto de Otorrinolaringologia de Minas Gerais, onde eu estava de plantão como médico residente. A recepcionista fez a ficha do paciente e, ao me chamar, falou que um cantor, que ela nunca tinha ouvido falar, aguardava para ser atendido. Quando percebi que era o Milton Nascimento, o Bituca, que eu já conhecia do conjunto musical “W Boys”, de

Alfenas, recuei e pedi que chamassem o otorrino de sobre-aviso, Sinval dos Santos. Ao ser indagado pelo empresário do cantor se eu não teria competência para efetuar o aten-dimento, respondi: “Tenho, mas no joelho do Pelé e na voz do Milton Nascimento eu não ponho a mão”. Quem saiu na coluna do Wilson Frade foi o Sinval, e não este simples residente de Otorrino de Boa Esperança, Carlos Roberto Naves Morais, que na época era apenas um pediatra aprendendo um pouco de otorrino.

Nascimento e quase morte de uma voz

Atendimento inesperado

A velhinha e o ortopedistachamou o próximo paciente, Valtair. A velhinha, que já estava na porta de saída, voltou e parou na frente do médico, que indicou novamente a mesma porta e depois chamou o Valtair de novo. Ela voltou mais uma vez e, na terceira vez que o Valtair foi chamado, a se-nhora disse, impaciente: “Pare de fazer hora com a mi-nha cara e ficar mandando eu “voltar aí”. Eu podia ser sua avó”. Só então o Dr. Tadeu se deu conta do mal entendido e, mais uma vez, mandou-a para a sala de raio X, explicando-se e procurando o paciente Valtair.

Em mais um pacato plantão na cidade de São Tomás de Aquino (MG), o médico Leandro Urquiza foi requisitado pela enfermeira para se preparar, pois o telefonista havia avisado que chegaria uma emer-gência. Ele verificou os equipamentos que provavelmente seriam necessários no atendimento: laringoscópio, desfibrilador, balão de oxigênio, dentre outros. Após alguns minutos, chega a ambulância com a tal emergência: um paciente com o prepúcio preso em um zí-per. O médico informou a ele e à sua esposa —um casal de senhores um pouco acanhados e de poucas palavras— que o problema seria resolvido, mas que não se tratava de uma urgência, e rapidamente foi interrompido pela senhora, que disse: “O dotô, se pra ôce isso num é uma tar de urgência, pra mim é”. Entendendo sua aflição, Leandro rapidamente resolveu a urgência do casal.

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Lição de Anatom

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