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PUBLICAÇÃO INSTITUCIONAL DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PUBLICAÇÃO INSTITUCIONAL DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO ISSN 1981 - 3813 Ano II – N° 04 – Agosto/2008 Assuntos de Segurança Pública 4

Revista Prelecao Edicao 04

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    04 Agosto/2008

    PUBLICAO INSTITUCIONAL DA POLCIA MILITAR DO ESTADO DO ESPRITO SANTO

    [email protected]

    PUBLICAO INSTITUCIONAL DA POLCIA MILITAR DO ESTADO DO ESPRITO SANTO

    ISSN 1981 - 3813Ano II N 04 Agosto/2008

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  • PUBLICAO INSTITUCIONAL DA POLCIA MILITAR DO ESTADO DO ESPRITO SANTO

    REVISTA

    PRELEOPRELEO

    Assuntos de Segurana Pblica

    Vitriaano II, n. 4, ago. 2008

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  • REVISTA PRELEO Publicao Institucional da Polcia Mili-tar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica. Ano II, n. 4, ago. 2008. Vitria: PMES/DEI, 2008.

    ISSN 1981 - 3813 Semestral

    1. Segurana Pblica. 2. Generalidades/Peridicos.I. Polcia Militar do Estado do Esprito Santo (PMES).II. Diretoria de Ensino e Instruo (DEI).

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  • Tenente Coronel Orozimbo C. LyrioPerodo: de 1906 a 1911

    Comandante Geral da Polcia Militar

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  • Sumrio

    Editorial ................................................................................................7

    Artigos .................................................................................................9

    A Instruo do Soldado: do Nascimento da Guarda Provincial Criao da Companhia-Escola

    Mnica Cristina Moreira Pinto ...................................................................................... 11

    Vtimas Coletivas da ViolnciaRicardo Brisolla Balestreri ............................................................................................ 39

    Dilemas no Controle da Criminalidade no BrasilCludio Beato ............................................................................................................... 51

    Mapa do Crime: Geoprocessamento e Anlise Espacial da Criminalidade Violenta do Esprito Santo - 2007

    Adriano Hantequeste / Leonardo Nunes Barreto / Pablo Lira ..................................... 63

    O Gerenciamento de Crises Policiais em Ocorrncias com Refns Localizados e o Amparo da Doutrina Internacional de Direitos Humanos

    Irio Doria Junior ............................................................................................................ 85

    Uso de Algemas no Momento da Priso: Uma Abordagem Finalstica

    Kerlington Pimentel de Freitas ................................................................................... 103

    Catlogo de Monografias do CAOCurso de Aperfeioamento de Oficiais Turma 2007/2008 .......... 113

    Artigos Publicados nas Edies Anteriores da Revista Preleo ........................................................................ 129

    Como publicar um artigo na Revista Preleo .............................. 132

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  • ExpedienteREVISTA PRELEO

    Publicao Institucional da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica

    Criada pela Portaria do Comando Geral da PMES n 440-R, datada de 15/03/2007Registro ISSN 1981-3813 Ano II, n. 4, ago. 2008

    CONSELHO EDITORIALPresidente: Cel PM Antonio Carlos B. Coutinho Comandante Geral da PMESVice-Presidente: Cel PM Carlo Marx S. Rocha Subcomandante Geral/ Chefe do EMGDiretora Executiva: Maj PM Sonia do Carmo GrobrioRedao: Cap PM Januir Carlos Pinheiro da SilvaCirculao: 1 Ten PM Marcelo Dergos Ribeiro

    2 Ten PM Elizabeth Pereira Bergamin RubimSd PM Lvia da Silva Netto

    Reviso: Cap PM Celso Luiz Ferrari 1 Ten PM Silvagner Andrade de Azevedo 2 Ten PM Sylvia Mara PedriniNormalizao: Subten PM Edelci Lima do Nascimento SouzaJornalista Responsvel Convidada: Karina Amorim Gonalves CRJ/ ES: 01374Bibliotecria Convidada: Arilaine da Silva Gave CRB/ES: 618Fotos: Sd PM Luis Adriano PaesDigitao: Estagirios Endrio Ohnesorge e Roger Souza Ferreira

    MEMBROSCel PM Galdino Brando de OliveiraCel PM Oberacy Emmerich JniorTen Cel PM Ilton Borges CorreiaMaj PM Helio Alexandre Lima HolandaMaj PM Reginaldo Santos Silva

    REDAODiretoria de Ensino e Instruo Quartel do Comando Geral da PMESAv. Marupe, n 2.111 Bairro Marupe, Vitria/ES CEP: 29.045-231Tel.: (27) 3380-2737 FAX: (27) 3380-2846e-mail: [email protected] no Brasil / Printed in BrazilDistribuda em todo o territrio nacionalTiragem: 1.500 exemplares

    Editorao Eletrnica: Bios EditoraoImpresso: GSA Grfica e Editora

    Nota: Os artigos publicados expressam a opinio dos seus autores e no necessariamente dos integrantes do Conselho Editorial da Revista Preleo.

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  • Editorial

    Data de 1835 a criao da Polcia Militar do Esprito Santo - PMES. Segundo pesquisas, a atividade de ensino foi estruturada na Corporao no ano de 1924, quando da criao da Companhia Escola, instalada no Quartel do Moscoso - antiga sede da Fora Pblica.

    Com base nesta data, no ms de agosto de 2008, comemora-se os 84 anos do ensino policial militar, sendo o momento de render justas ho-menagens aos professores civis e militares, alunos e aos integrantes da Diretoria e Ensino e Instruo - DEI e do Centro de Formao e Aperfei-oamento CFA, e como parte das comemoraes, ocorre o lanamento da 4 Edio da Revista Preleo.

    Neste ano, temos vrios cursos em andamento, destacando-se o Curso Superior de Polcia CSP destinado aos Oficiais Superiores que efetivamente esto em nveis estratgicos de Chefia e Comando das Uni-dades da Corporao. Em fase de concluso temos o Curso de Aper-feioamento de Oficiais CAO, em que os Capites-Alunos apresentam seus trabalhos cientficos, catalogados nesta edio. O Curso de Forma-o de Oficiais CFO 2 Ano est em andamento na Polcia Militar de Mi-nas Gerais. Cumprindo o plano de carreira, est em andamento o Curso de Habilitao de Sargentos CHS, destinado a capacitar nosso nvel de gerncia operacional. O Curso de Formao de Soldados CFSd, tambm em andamento, visa formar novos policiais militares dentro de uma doutrina profissional de mediao de conflito e garantia de direitos dos cidados.

    Alm destes cursos regulares, a PMES possui uma previso de cur-sos de capacitao em seu calendrio anual, bem como est enviando policiais militares para participarem de cursos em outras corporaes.

    A meta avanar cada vez mais, iniciando estudos para oferecer cur-sos a distncia, o que parece ser perfeitamente vivel aos interesses da Corporao, garantindo a formao e qualificao permanente baseada na constante atualizao tecnolgica e profissional, abrangendo o espa-o geogrfico do Estado do Esprito Santo, dentro do tempo disponvel de estudo e de forma a reduzir custos sem perder em qualidade.

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  • Artigos

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  • [ 11 ]

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    A Instruo do Soldado: do Nascimento da Guarda Provincial Criao da

    Companhia-Escola

    Mnica Cristina Moreira Pinto1

    RESUMO

    O presente trabalho versa sobre a formao e instruo do solda-do da Polcia Militar do Esprito Santo antes da criao da Companhia Escola, em 1924 e retrata o grau de instruo desta parcela da tropa, quando de sua admisso na corporao, nos anos de 1912 e 1920. Pro-curamos, neste trabalho, ressaltar qualquer tentativa de instruir o solda-do, no perodo pesquisado, inclusive atravs de prelees institudas pelo Comandante Geral ou Comandantes de Unidades. Objetivou-se, outrossim, apresentar o posicionamento dos Presidentes da Provncia e, posteriormente, do Estado, sobre a questo. Teve-se, tambm, como meta abrir a discusso para o fato de que a hipossuficincia da instruo do soldado recorrente e que, guardadas as devidas propores hist-ricas, os administradores da Provncia e do Estado a relegam a segundo plano, para poder proporcionar sociedade o policiamento preventivo, face os reduzidos efetivos. A pesquisa foi realizada em normas jurdicas federais e estaduais, em literatura especializada e em Boletins e Ordens do Dia da Polcia Militar do Esprito Santo, alm de mensagens dos pre-sidentes da Provncia e do Estado do Esprito Santo aos respectivos legislativos.

    Palavras-chave: Esprito Santo. Polcia Militar. Histria. Soldado. For-mao. Instruo.

    1 Procuradora de Justia no Estado do Esprito Santo e pesquisadora da Histria da PMES. Pro-fessora do CFA Centro de Formao e Aperfeioamento.

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  • [ 12 ] Mnica Cristina Moreira Pinto

    REVISTA PRELEO Publicao Institucional da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica ano II, n. 4, ago. 2008

    Fatos recentes envolvendo soldados das polcias militares brasileiras, em lamentveis episdios que resultaram na morte de civis, nos levaram a refletir sobre a qualidade da instruo dada a tal categoria funcional. A justificativa, em pelo menos um dos casos, foi a de que os milicianos dei-xaram de freqentar curso de revitalizao de contedos, tendo em vista a necessidade de mant-los no policiamento ostensivo. Pretendemos, ento, analisar a qualidade da instruo, examinando, ao mesmo tempo, sempre que possvel, o aporte da administrao provincial ou estadual para a soluo dos problemas verificados desde o incio da existncia das polcias e, neste caso especfico, da Polcia Militar do Esprito Santo, objeto de minhas pesquisas para tese doutoral, at a criao da Compa-nhia Escola, em 1824, primeiro rgo formal de educao de militares nesta Unidade da Federao.

    Registramos, assim, que depois da criao do Corpo de Polcia, os Presidentes de Provncia, vez por outra, em seus relatrios, se referiam instruo militar, no mais das vezes, como uma necessidade urgente.

    VICTORINO DO REGO TOSCANO BARRETO, chefe de polcia de JOS FERNANDES DA COSTA PEREIRA JNIOR, em 18622, ao pedir au-mento do efetivo da fora justificava o pleito com o fato de que as praas, em virtude da premncia da realizao das diligncias e destacamentos, no tinham tempo nem de ouvir a leitura das normas que as regiam, pois, to logo recebiam as fardas, o servio exigia sua sada da Capital. Dizia, ento, que com o aumento do nmero de praas, seria possvel ministrar instruo a umas, enquanto as outras trabalhavam.

    Parece que tal pretenso ainda no havia sido atendida, no final de 1870, quando o chefe de Polcia, ANTONIO JOAQUIM RODRIGUES, con-siderava a organizao da fora policial informe, sem methodo e sem systema3.

    A necessidade de instruo militar tambm era destacada por MA-NOEL RIBEIRO COITINHO MASCARENHAS, vice-presidente, no exerc-

    2 Apenso ao relatrio referente ao ano de 1862, apresentado pelo presidente da Provncia JOS FERNANDES DA COSTA PEREIRA JNIOR.

    3 Anexo ao Relatrio do Dr. ANTNIO DIAS PAES LEME, presidente, datado de 18.09.1870, ao passar a administrao ao Coronel DIONYSIO ALVARO RESENDO, primeiro vice-presidente.

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  • [ 13 ]A INSTRUO DO SOLDADO: DO NASCIMENTO DA GUARDA PROVINCIAL CRIAO DA COMPANHIA-ESCOLA

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    cio da presidncia, em 18744, o que pode justificar a edio da Lei Provin-cial n 27, de 14 de novembro do mesmo ano, que, dentre os requisitos indispensveis para sentar praa, alm das condies fsicas e morais, dava preferncia aos pretendentes que no fossem analfabetos.

    Apesar de tantas e to amiudadas reclamaes apenas quarenta anos depois de nascida a Polcia Militar do Esprito Santo que a preocu-pao com a educao formal se manifesta, por meio da Lei n 28, de 19 de novembro de 1875, com a criao de uma escola de ensino primrio e elementar.

    Coordenada por um oficial ou inferior, indicado pelo comandante e no-meado pelo presidente, mediante a gratificao mensal de 10$000, o edu-candrio, contudo, no iniciou o seu funcionamento a partir da criao.

    Isto pode ser verificado no Relatrio do Presidente MANOEL JOS DE MENEZES PRADO, que na instalao da assemblia provincial, aos 15.10.1876, informava que por no ter a Companhia pessoal bastante tem deixado de funcionar a aula de primeiras letras creada pelo art. 2 da citada lei.

    A escola, todavia, continuou a existir, o que se pode constatar ao exame da Lei n 25, de 07 de dezembro de 1876.

    O fato de a escola existir e no funcionar persistiu em 18785 e nos anos seguintes, anotando HERCULANO MARCOS INGLEZ DE SOUZA6, em 1882, que a Companhia de Polcia, no que concernia instruo e disciplina, no estava em estado muito lisonjeiro.

    Depois da referncia admisso de menores e rfos para a banda de msica da corporao, renovada em 1902 pela Lei n 396, de 02 de dezembro, existe um hiato nos documentos pesquisados a respeito da educao formal ou instruo dos soldados at o ano de 1909, enquan-to a administrao do Estado estava distrada com a criao de outros corpos militariformes, como, v. g., o Corpo Volante, pela Lei n 434, de

    4 Relatrio Assemblia Legislativa Provincial, em 1 de setembro de 1874.5 Relatrio do Dr. AFFONSO PEIXOTO DE ABREU LIMA ao passar a administrao ao Tenente

    Coronel ALPHEU ADELPHO MONJARDIM dANDRADE E ALMEIDA, primeiro vice-presidente, aos 19.02.1878.

    6 Relatrio do Dr. HERCULANO MARCOS INGLEZ DE SOUZA, ao passar a administrao da pro-vncia ao Dr. MARTIM FRANCISCO RIBEIRO DE ANDRADE JNIOR, aos 09.12.1882

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  • [ 14 ] Mnica Cristina Moreira Pinto

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    26 de novembro de 1904 e a Guarda Civil, pela Lei n 526, de 03 de no-vembro de 19087.

    apenas na fala Assemblia, de JERONYMO MONTEIRO8, em 1912, que o administrador, depois de dizer-se convencido de que as collectividades s do prova de fora e valor, quando dominadas por severo e rigoroso regimen, boa ordem e disciplina segura, concretiza tal preocupao com aes, informando estar trazendo para o governo o pensamento de dispensar os melhores cuidados milcia, ministrando-lhe instruo e ensino especial e proporcionando-lhe o bem estar de que era digna, afim de eleva-la ao nvel a que devia ascender, para bem cor-responder ao fim para que foi organizada e mantida.

    Esclarecia, ento, que para atingir tais objetivos, havia sido estabele-cido o curso obrigatrio de esgrima para os oficiais e criada uma escola regimental dentro do prprio corpo, para ensino aos inferiores de no-es da nossa lngua e de outros contedos que julgavam indispens-veis para o desempenho dos deveres militares.

    Informou que, para tanto, o Capito JOO DE BARROS e um infe-rior SRGIO FURTADO DE MENDONA, primeiro tenente na poca do relatrio, foram mandados a So Paulo, afim de se instrurem na discipli-na e nos ensinamentos da policia daquele Estado, que incontestavel-mente o melhor modelo no Brasil, e adaptarem-nos depois entre ns.

    Aduziu que tais oficiais foram encarregados, ao regressarem, da transmisso dos conhecimentos adquiridos a outros integrantes do Cor-po de Policia.

    O hiato legislativo a que nos referimos acima, s foi superado no final do ano de 1910, com a Lei de Efetivos para 1911 Lei n 706, de 26 de novembro de 1910 onde encontramos novamente meno instruo no Corpo Militar de Polcia.

    A referncia, contudo, no era contedo da instruo, mas to so-mente a competncia, pois a lei, no seu ventre, declarava que a guarni-o da Capital, a instruo e os servios extraordinrios estavam a cargo da 1 Companhia.

    7 Artigo da autora Tropas de Elite Histrico Vcio Capixaba, indito.8 Exposio sobre os negcios do Estado, relativa ao quatrinio de 1909 a 1912, no dia 23 de maio

    de 1912, ao Congresso Legislativo.

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  • [ 15 ]A INSTRUO DO SOLDADO: DO NASCIMENTO DA GUARDA PROVINCIAL CRIAO DA COMPANHIA-ESCOLA

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    Os dados daqueles que ingressaram na corporao em 1912 de-notam que no s a instruo militar, como tambm a educao formal, eram necessidades, eis que 43% (quarenta e trs por cento) dos solda-dos admitidos eram analfabetos (Grfico n 01).

    Grau de Instruo dos Soldados em 1912

    Analfabetos

    Alfabetizados

    No Consta

    43%53%

    4%

    Fonte: Dados da Pesquisa

    No ano em estudo, a instruo dos praas engajados era dada no primeiro ms, pois a lei os considerava recrutas nesse perodo, escla-recendo que s executariam servio interno, recebendo soldo e etapa. Aps o primeiro ms receberiam dois uniformes de brim, ocasio em que se daria a efetivao do praa.

    Apesar da concluso acima, o Boletim de 20 de dezembro de 1912 contm ordem do comandante para que os recrutas fossem empregados no servio policial, depois de dez dias de praa, em virtude da escassez de pessoal para o servio.

    1912 o ano remoto mais profcuo de dados que encontramos, no recorte temporal aqui proposto, dada a facilidade de acesso aos Boletins do Comando Geral.

    Desta maneira, possvel afirmar, com pondervel certeza, que o Corpo Militar de Polcia do Estado do Esprito Santo, comandado pelo Tenente Coronel PEDRO BRUZZI, eventualmente substitudo pelo Major-Fiscal ALFREDO PEDRO RABAYOLI, tinha vrias previses de exerccio geral e de formatura geral, com a advertncia expressa de que quando estivesse presente o Chefe de Polcia era recomendado o maior asseio no armamento e no uniforme.

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  • [ 16 ] Mnica Cristina Moreira Pinto

    REVISTA PRELEO Publicao Institucional da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica ano II, n. 4, ago. 2008

    nesse ano tambm que criada a Escola de Sargentos9, com o objetivo de habilit-los para o concurso a que eram obrigados, de acordo com a lei, para preenchimento das vagas de 2 tenente. O funcionamento da Escola seria de 11 horas ao meio dia, dividida em duas cadeiras: a primeira, escriturao militar, redao de ofcios, partes etc., a cargo do Capito Instrutor JOO DE BARROS, funcionando s segundas, quartas e sextas-feiras e a segunda instruo individual e manejo de armas, s teras, quintas-feiras e sbados e a cargo do 1 Tenente SRGIO DE MENDONA FURTADO. A Escola estaria aberta a todas os praas que soubessem ler e escrever e tivessem interesse. A ordem do comando isentava os sargenteantes de todo o servio, para que no faltassem as aulas.

    No ano em comento as aulas de educao cvica foram restabele-cidas nas Companhias, devendo o programa estar relacionado com os temas Patriotismo, Bandeira, Hino Nacional e do Estado, Disciplina, De-veres do Soldado com seus Superiores, Deveres do Soldado com seus Camaradas, Deveres do Soldado para com sua Famlia e para Consigo e Apresentao do Soldado a seu Superior. O Boletim de 20 de junho de 1912, que as restabeleceu, determinou, tambm, que na 1 Cia. seriam nas segundas e quintas-feiras; na 2 Cia., teras e sextas-feiras; na 3 Cia., quartas-feiras e sbados; e na Companhia do Estado Menor aos sbados. As palestras deveriam ser ministradas preferencialmente pelos comandantes das unidades ou, no seu impedimento, pelo subalterno de-signado.

    Foi feita, outrossim, a previso de exerccio geral todas as teras e quintas-feiras, uma hora por dia, a cargo do tenente instrutor SRGIO DE MENDONA FURTADO, com comparecimento obrigatrio para os oficiais subalternos e todas as praas prontas e empregadas internamen-te10.

    A instruo de recrutas e dos praas prontos era ministrada diaria-mente pelo 1 Sargento Corneteiro-Mr FRANCISCO DE PAULA SOARES e Cabo MANOEL DARIO NDIO DO BRAZIL. Nas quintas-feiras estava

    9 Boletim de 18 de maro de 1912 Ordem do Dia n 4710 Boletim de 02 de outubro de 1912.

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  • [ 17 ]A INSTRUO DO SOLDADO: DO NASCIMENTO DA GUARDA PROVINCIAL CRIAO DA COMPANHIA-ESCOLA

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    prevista Escolla de Seco11, ministrada pelo 1 Tenente SERGIO DE MENDONA FURTADO, com meia hora de aula.

    Fica claro, tambm, que, inicialmente, o instrutor do Corpo era o 1 Tenente SRGIO DE MENDONA FURTADO12, substitudo pelo 2 Tenen-te JOAQUIM PEREIRA DE MATTOS13, exercendo a funo desde 26 de outubro do mesmo ano.

    Esta seqncia de substituies parece ter existido em virtude de priso e submisso a conselho de investigao14 do Tenente SRGIO DE MENDONA FURTADO, por fuga de presos. Posteriormente, o oficial recebeu a cidade por menagem15, at sua liberao, por haver sido com-provada a sua no culpabilidade pela fuga de presos16.

    As regras para a instruo foram estabelecidas no Boletim de 13 de agosto de 1912, atravs do qual foi determinada a formatura de todos. Exce-o se fazia aos sargenteantes que s deveriam formar no exerccio geral os praas que sassem do reforo e os que tivessem trabalhado at depois de meia-noite. O instrutor era um sargento que, das 7h s 7h40, ministraria instruo de p para os recrutas e de armas para os praas antigos. Das 8h s 8h30 haveria ginstica de desenvolvimento, continuando os recrutas na mesma instruo. Das 8h30 s 8h40 eram as aulas de esgrima.

    As prelees deveriam ser tarde, mas os praas estavam sobrecar-regadas de servio pela deficincia de pessoal. Assim, passariam a ser feitas diariamente pelos comandantes de companhia, na hora da revista, no meio da tarde, podendo o restante do tempo ser aproveitado em aulas de primeiras letras, nomenclatura de armas, progresso de tiro, a juiso e criterio dos mesmos officiaes.

    Cumprindo as exigncias do comando, as prelees passaram a ser feitas nas Companhias e pudemos levantar a freqncia e o contedo com o exame dos Boletins do Comando Geral do ano de 1912.

    11 Parte de um esquadro, que a seco de um regimento de cavalaria; troo de gente de ar-mas;

    12 Boletim de 05 de junho de 1912 Ordem do Dia n 98.13 Boletim de 14 de novembro de 1912.14 Bol. 13 de agosto de 1912.15 Boletim de 14 de agosto de 1912.16 Boletim de 27 de agosto de 1912.

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  • [ 18 ] Mnica Cristina Moreira Pinto

    REVISTA PRELEO Publicao Institucional da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica ano II, n. 4, ago. 2008

    Alm das que faremos constar na Tabela que se segue, existe um re-gistro no Boletim de 23 de agosto de 1912 de prelees feitas na 1 Cia. e na 2 Cia., cujos temas esto ilegveis, dada a deteriorao do papel do boletim examinado.

    TABELA Prelees na PMES em 1912

    BOLETIM UNIDADE TEMABoletim de 22 de junho de 1912 Estado Menor17 Patriotismo e Modo do Soldado se

    Conduzir Quando na Rua a Servio ou a Passeio

    Boletim de 27 de junho de 1912 1 Cia.18 Os Deveres do Soldado para com os seus Superiores

    Boletim de 29 de junho de 1912 2 Cia.19 DisciplinaBoletim de 1 de julho de 1912 No Consta20 O Soldado de Passeio, nos bomds,

    de patrulha e seus Deveres para com os seus Camaradas

    Boletim de 02 de julho de 1912 No Consta21 Modo de Apresentar ao seu Superior, sobre .... de Patrulhamento e Cuidado em seus Uniformes

    Boletim de 30 de julho de 1912 3 Cia.22 Continncia e Modo do Soldado se Conduzir quando de Passeio, Embriaguez e Mentira

    Boletim de 04 de junho(?) de 1912 1 Cia. Deveres do Soldado para com os seus Superiores, para com sua famlia e consigo mesmo e Continncias

    Boletim de 05 de julho de 1912 2 Cia. Modo de effectuar prises especialmente com loucos e brios e Modo de pronunciar-se quando tiverrem ocasio de depor sobre qualquer facto

    Boletim de 08 de julho de 1912 1 Cia. Disciplina, Servios Militares e Patrulhamento

    17 1 Ten Jos Vicente da Conceio, comandante do Estado Menor18 2 Tenente Joaquim Pereira19 1 Ten Gasto Franco Americano20 2 Ten Amrico do Couto Teixeira21 2 Ten Jos Tinoco de Oliveira22 Ten Srgio de Mendona Furtado, comandante interino

    Revista_Prelecao_04(Miolo).indd 18Revista_Prelecao_04(Miolo).indd 18 21/8/2008 11:36:3221/8/2008 11:36:32

  • [ 19 ]A INSTRUO DO SOLDADO: DO NASCIMENTO DA GUARDA PROVINCIAL CRIAO DA COMPANHIA-ESCOLA

    REVISTA PRELEO Publicao Institucional da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica ano II, n. 4, ago. 2008

    Boletim de 10 de julho de 1912 3 Cia. Deveres para com os seus Camaradas, Deveres para com a sua Famlia e Consigo Mesmo quando de Passeio

    Boletim de 11 de julho de 1912 1 Cia.23 O Modo do Soldado se Apresentar ao seu Superior e os Deveres para com os seus Camaradas

    Boletim de 13 de julho de 1912 Estado Menor Deveres do Soldado e DisciplinaBoletim de 13 de julho de 1912 3 Cia. Obedincia s Autoridades, Auxlio

    aos Camaradas, aos Agentes de Segurana, Continncias e Honras

    Boletim de 15 de julho de 1912 1 Cia. Os Deveres do Soldado para com os seus Superiores e Disciplina

    Boletim de 16 de julho de 1912 2 Cia. Patriotismo e Amor Honra: Desinteresse e Lealdade Disciplina Como o Soldado Deve Tomar um Bond

    Boletim de 17 de julho de 1912 3 Cia. Punies Disciplinares e Servio no Alojamento

    Boletim de 18 de julho de 1912 1 Cia. Disciplina, Deveres do Soldado para com os seus Superiores e Para com os seus Camaradas e Recompensas

    Boletim de 22 de julho de 1912 1 Cia. Deveres do Soldado para com os seus Camaradas e sobre a Honra

    Boletim de 23 de julho de 1912 2 Cia. Bandeira Nacional, Hino Nacional e Ptria

    Boletim de 24 de julho de 1912 3 Cia. Modo do soldado falar com os seus superiores; deveres do soldado quando de patrulha e quando de passeio e quando de sentinela

    Boletim de 26 de julho de 1912 2 Cia. Modo de conduzir-se quando em passeio, Disciplina e Como se apresentar aos superiores

    Boletim de 27 de julho de 1912 3 Cia. Disciplina, Camaradagem, Desero e Embriagues

    Boletim de 27 de julho de 1912 Estado Menor Continncia, Modo de tratar seus camaradas e continncia bandeira

    23 Capito Francisco de Carvalho da Silva, comandante

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  • [ 20 ] Mnica Cristina Moreira Pinto

    REVISTA PRELEO Publicao Institucional da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica ano II, n. 4, ago. 2008

    Boletim de 30 de julho de 1912 1 Cia. O Soldado na Rua, Apresentao ao seu Superior, Deveres do Soldado no Alojamento e Reclamaes

    Boletim de 30 de julho de 1912 2 Cia. Modo do Soldado Apresentar-se ao seu Superior e Comportar-se em Passeio

    Boletim de 1 de agosto de 1912 1 Cia. Servio de guarnio e sobre visita de oficial

    Boletim de 02 de agosto de 1912 2 Cia. Deveres do Soldado para com os seus superiores, deveres do soldado para com as suas famlias

    Boletim de 03 de agosto de 1912 Estado Menor Embriaguez, Continncia, Desero, Mentira

    Boletim de 03 de agosto de 1912 3 Cia. Camaradagem, Disciplina e Relao entre o Inferior e Superior

    Boletim de 05 de agosto de 1912 1 Cia. Rondas e Patrulha e RecompensasBoletim de 06 de agosto de 1912 2 Cia. Faltas Disciplinares do

    Regulamento em VigorBoletim de 07 de agosto de 1912 1 Cia. Deveres do Soldado para com

    seus camaradas, para com sua famlia e consigo mesmo e faltas disciplinares

    Boletim de 09 de agosto de 1912 2 Cia. Honra, respeito e deferncia; a disciplina; respeito entre os superiores e inferiores; camaradagem, esprito de corpo e faltas aviltantes

    Boletim de 12 de agosto de 1912 1 Cia. Servio de Guarnio e Recompensas

    Boletim de 14 de agosto de 1912 3 Cia. Relao entre o Superior e o Inferior, Camaradagem, Adulao do Inferior para com o superior

    Boletim de 16 de agosto de 1912 2 Cia. Os deveres da sentinela, quando so sentinelas, de armas encobertas

    Boletim de 17 de agosto de 1912 3 Cia. Respeito e Deferncia, modo de entregar as sentinelas

    Boletim de 19 de agosto de 1912 1 Cia. Deveres do soldado, quer de servio, quer de folga, no quartel ou a passeio

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  • [ 21 ]A INSTRUO DO SOLDADO: DO NASCIMENTO DA GUARDA PROVINCIAL CRIAO DA COMPANHIA-ESCOLA

    REVISTA PRELEO Publicao Institucional da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica ano II, n. 4, ago. 2008

    Boletim de 20 de agosto de 1912 2 Cia. Deveres do Soldado para com a sua famlia, para consigo mesmo e modos do soldado se conduzir quando em passeio

    Boletim de 21 de agosto de 1912 3 Cia. Honra, preguia, mentira, embriagues

    Boletim de 22 de agosto de 1912 1 Cia. Asseio do soldadoBoletim de 27 de agosto de 1912 2 Cia. Deveres do soldado para com sua

    famlia, para com seus superiores e para consigo mesmo

    Boletim de 28 de agosto de 1912 3 Cia. Delao, anonimato e adulaoBoletim de 02 de setembro de 1912 1 Cia. Como o soldado deve se conduzir

    quando a passeio, no bond e quando na rua

    Boletim de 09 de setembro de 1912 1 Cia. Brasil e ContinnciaBoletim de 11 de setembro de 1912 3 Cia. Preguia e deseroBoletim de 12 de setembro de 1912 1 Cia. Deveres do soldado no alojamento da

    Companhia e servio militarBoletim de 14 de setembro de 1912 2 Cia. Soldado na rua; apresentao a um

    superior; deveres do soldado no alojamento

    Boletim de 14 de setembro de 1912 3 Cia. Honra, respeito, defernciaBoletim de 19 de setembro de 1912 3 Cia. Modo de falar com seus superiores e

    quando a passeioBoletim de 20 de setembro de 1912 1 Cia. EmbriaguesBoletim de 23 de setembro de 1912 1 Cia. Modo de se apresentar ao superior e

    disciplinaBoletim de 24 de setembro de 1912 2 Cia. A educao do soldadoBoletim de 27 de setembro de 1912 1 Cia. Obrigao do soldado brasileiro;

    sinais de respeito; apresentao ao seu superior e deveres do soldado

    Boletim de 27 de setembro de 1912 2 Cia. Faltas disciplinares em nosso regulamento, descrevendo sobre os 1s a 40

    Boletim de 03 de outubro de 1912 1 Cia. Modo do soldado proceder para com sua famlia

    Boletim de 04 de outubro de 1912 2 Cia. DisciplinaBoletim de 10 de outubro de 1912 1 Cia. Deveres do soldado no alojamento

    da companhia, punio e recompensa

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  • [ 22 ] Mnica Cristina Moreira Pinto

    REVISTA PRELEO Publicao Institucional da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica ano II, n. 4, ago. 2008

    Boletim de 15 de outubro de 1912 2 Cia.24 Deveres do Soldado para com o seu Superior e Recompensa

    Boletim de 17 de outubro de 1912 1 Cia. Defeitos que podem os Soldados Adquirir quando Amigos das Tavernas

    Boletim de 18 de outubro de 1912 2 Cia. Como Deve o Soldado Apresentar ao seu Superior, Deveres do Mesmo no Alojamento da Companhia e Como Deve Proceder os Cabos de Dia A Companhia

    Boletim de 19 de outubro de 1912 Estado Menor Respeito e Deferncia, Disciplina, Camaradagem, Adulao, Delao e Anonimato

    Boletim de 31 de outubro de 1912 1 Cia. Disciplina, Deveres do Soldado para com seus Superiores e Camaradas

    Boletim de 22 de outubro de 1912 2 Cia. Continncias, Recompensas, Sentinelas em Geral e Deveres do Soldado

    Boletim de 24 de outubro de 1912 1 Cia. RespeitoBoletim de 25 de outubro de 1912 2 Cia. Pedido e RecompensaBoletim de 04 de novembro de 1912 3 Cia. Deveres do Soldado para com os

    seus Camaradas, Quando a Passeio e no Rancho

    Boletim de 05 de novembro de 1912 2 Cia. Ptria e Patriotismo, Bandeira e Disciplina

    Boletim de 07 de novembro de 1912 1 Cia. Deveres do Soldado Brasileiro Quando em Campanha

    Boletim de 08 de novembro de 1912 2 Cia. Famlia. Deveres do Soldado para Consigo e na Rua

    Boletim de 09 de novembro de 1912 Estado Menor O Soldado na Rua; Deveres do Soldado no Alojamento da Companhia; Visita do Oficial; Reclamaes; Soldados Quando Doentes

    Boletim de 10 de novembro de 1912 1 Cia. Disciplina e Servio MilitarBoletim de 12 de novembro de 1912 2 Cia. DisciplinaBoletim de 14 de novembro de 1912 1 Cia. Soldado na Rua; Sinais de Respeito

    e Ateno; Apresentao a seu Superior

    24 O comandante era um sargento

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    REVISTA PRELEO Publicao Institucional da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica ano II, n. 4, ago. 2008

    Boletim de 16 de novembro de 1912 3 Cia. Relao entre Superior e Inferior e Camaradagem

    Boletim de 16 de novembro de 1912 Estado Menor Modo do Soldado se conduzir na rua quando de passeio e no bond

    Boletim de 18 de novembro de 1912 1 Cia. Ptria, Patriotismo, Bandeira, Hino Nacional e Quando em Passeio

    Boletim de 20 de novembro de 1912 3 Cia. Embriaguez e DeseroBoletim de 21 de novembro de 1912 1 Cia. Juramento Bandeira; Disciplina e

    Deveres do Soldado para Consigo e sua Famlia

    Boletim de 23 de novembro de 1912 3 Cia. Continncia que Deve Fazer o Soldado Desarmado; Continncia que Deve Fazer o Soldado Isolado, Armado, Marchando ou a P Firme; Continncia e Honras Prestadas pelos Sentinelas

    Boletim de 26 de novembro de 1912 No Consta Servio de Patrulha e Quando de Guarda

    Boletim de 27 de novembro de 1912 3 Cia. Obedincia s Autoridades; Auxlio aos Camaradas e aos Guardas Agentes de Polcia; Quando a Praa de Dia ao Alojamento

    Boletim de 29 de novembro de 1912 2 Cia. Servios MilitaresBoletim de 02 de dezembro de 1912 1 Cia. A Praa Quando em Passeio; Asseio

    do Fardamento e Quando em FormaBoletim de 03 de dezembro de 1912 2 Cia. Servio de Guarnio e DisciplinaBoletim de 04 de dezembro de 1912 3 Cia. O Soldado em passeio, continncias

    e honrasBoletim de 05 de dezembro de 1912 1 Cia. Disciplina, Deveres do Soldado para

    com o seu SuperiorBoletim de 07 de dezembro de 1912 3 Cia. Quando o Soldado em Passeio e

    ArmadoBoletim de 09 de dezembro de 1912 1 Cia. Disciplina e Deveres do Soldado para

    com os seus SuperioresBoletim de 10 de dezembro de 1912 2 Cia. Deveres do Soldado para com o seu

    SuperiorBoletim de 11 de dezembro de 1912 3 Cia. Faltas AviltantesBoletim de 12 de dezembro de 1912 1 Cia. Proibio do Soldado Usar Armas

    ProibidasBoletim de 13 de dezembro de 1912 2 Cia. Deveres do Soldado para com os

    seus CamaradasBoletim de 15 de dezembro de 1912 3 Cia. Honra, Respeito, Diferena e

    DisciplinaBoletim de 16 de dezembro de 1912 1 Cia. Disciplina, Recompensa e Punies

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  • [ 24 ] Mnica Cristina Moreira Pinto

    REVISTA PRELEO Publicao Institucional da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica ano II, n. 4, ago. 2008

    Boletim de 17 de dezembro de 1912 2 Cia. Recompensas e DisciplinaBoletim de 18 de dezembro de 1912 3 Cia. Punies DisciplinaresBoletim de 19 de dezembro de 1912 1 Cia. Disciplina e Servio MilitarBoletim de 21 de dezembro de 1912 3 Cia. Continncias e HonrasBoletim de 23 de dezembro de 1912 1 Cia. Disciplina, Hino Nacional, Ptria e

    PatriotismoBoletim de 24 de dezembro de 1912 2 Cia. Deveres do SoldadoBoletim de 26 de dezembro de 1912 1 Cia. Modo do Soldado Conduzir-se

    Quando de Patrulha e Como Deve Prestar esse Servio

    Boletim de 30 de dezembro de 1912 1 Cia. Disciplina e Deveres do Soldado para com seus Superiores

    Fonte: Dados da pesquisa

    Um aspecto peculiarssimo das prelees, cujos temas tivemos o cui-dado de transcrever, mesmo correndo o risco da exausto, foi a repetio de termos, no aleatoriamente a nosso sentir, mas a repetio de termos que esto estreitamente relacionados aos objetivos colimados com a re-alizao das prelees.

    Assim que a palavra continncia aparece no menos do que treze vezes; dever, trinta e oito vezes; os vocbulos modo e como, tendo como sinonmia linha de conduta, dezessete e seis vezes, respectiva-mente; disciplina, trinta e duas vezes; superior vinte e nove vezes; infe-rior, cinco vezes; famlia, nove vezes e patrulha, sete vezes.

    Valores Preponderantes nas Prelees de 1912

    8%

    24%

    15%21%

    19%

    3% 6%4%

    Continncia

    Dever

    Modo/Como

    Disciplina

    Superior

    Inferior

    Famlia

    Patrulha

    Fonte: Dados da pesquisa

    Dentre as cento e trs palestras proferidas, a patrulha, atividade-fim, atingiu apenas 4% (quatro por cento) de prioridade, em relao, v. g., ao dever, que figurou com 24% (vinte e quatro por cento).

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    A igualdade ou regularidade das palestras nas Unidades demonstrou ser heterognea.

    Despontou como a mais dedicada instruo a 1 Companhia, como ver-se- no Grfico n 03.

    No podemos, entretanto, atribuir tal dedicao erudio dos co-mandantes ou seu amor educao, sob pena de se estar fazendo um exerccio de adivinhao. Isto porque a Lei n 706, de 26 de novembro de 1910, qual nos referimos alhures, havia declarado que o servio de ins-truo, dentre outros, era competncia da 1 Companhia. A expressivida-de alcanada, portanto, por aquela Unidade, pode ser devida a tal fato.

    Freqncia das prelees nas Unidades da PMES em 1912

    0 10 20 30 40 50

    1 Cia.

    2 Cia.

    3 Cia.

    Estado Menor

    No Consta

    Fonte: Dados da Pesquisa

    Ainda em 1912, o Presidente MARCONDES ALVES DE SOUZA, em mensagem apresentada na terceira sesso ordinria da stima legisla-tura ao Congresso do Esprito Santo, aos 08 de outubro, sugeria que se educasse um pequeno contingente de praas, especialmente escolhido, para socorros em casos de incndio.

    A criao de um corpo de bombeiros, anexo ao corpo militar de pol-cia, ento, no se demorou e veio por fora da Lei n 874, de 26 de dezem-bro de 1912. A finalidade da frao era a de extinguir incndios e a norma legal trouxe autorizao expressa de verba para material e instruo.

    Infelizmente se perdeu o Relatrio anexo mensagem de BERNAR-DINO DE SOUZA MONTEIRO, presidente, ao Congresso Legislativo, de 12.10.1916. Dele, s pudemos colher, alm das afirmativas que coloca-

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    vam em destaque o esprito de disciplina, obedincia e abnegao do Corpo Militar de Polcia, a informao de que a instruo militar era objeto do Relatrio que deveria estar em anexo.

    No muito, mas denota, quando nada, que existia preocupao com a instruo militar e que seu estado era reportado ao Presidente do Estado do Esprito Santo.

    Na mensagem que o mesmo presidente acima referido apresentou ao Congresso Legislativo, aos 16 de outubro de 1918, na abertura da terceira sesso ordinria da nona legislatura, existe informao de que o Corpo Militar era comandado pelo Tenente Coronel PEDRO BRUZZI e instrudo pelo Tenente do Exrcito EURICO MARIANNO.

    Em artigo escrito por CELSO DE CASTRO25, pesquisador do CPDOC da Fundao Getulio Vargas, ao se referir a esta quadra da histria militar, comenta o articulista:

    Em termos doutrinrios, organizacionais e de instruo, as principais altera-es foram decorrentes das atividades da Misso Militar Francesa, que per-maneceu no Brasil no perodo compreendido entre as duas guerras mun-diais. Atravs da contratao de uma misso estrangeira, o Exrcito brasileiro seguia o exemplo de vrios outros pases sul-americanos (Nunn, 1983). O cenrio militar europeu era, nessa poca, dominado pela noo de Nao em Armas, segundo a qual as Foras Armadas, alm de responsveis pela defesa, deveriam ser tambm uma espcie de escola da nacionalidade, j que idealmente recrutariam elementos de todos os setores da populao, de todas as origens sociais, dotando-os de um sentimento de unidade nacional.

    Para CASTRO, a viso que os oficiais tinham dos soldados era a de que eles eram oriundos do rebotalho, da escria da sociedade.

    Em 1920, 34% (trinta e quatro por cento) dos soldados admitidos eram analfabetos (Grfico n 04).

    O Boletim de 09 de janeiro de 1920 Ordem do dia n 7, d conta do trmino do prazo de frias dado ao servio de instruo, determinando o seu reincio, em horrio estabelecido no ano anterior.

    A instruo de recrutas era, ento, diria e para o restante, s quin-tas-feiras.

    25 CASTRO, Celso. In corpore sano - Os militares e a introduo da educao fsica no Brasil. An-tropoltica, Niteri, RJ, n 2, p.61-78, 1 sem. 1997

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    REVISTA PRELEO Publicao Institucional da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica ano II, n. 4, ago. 2008

    Formao Acadmica dos Soldados em 1920

    34%

    63%

    3%

    Analfabeto

    No Consta

    Sim

    Fonte: Dados da Pesquisa

    Excepcionalmente encontramos figurando como auxiliar de instrutor de recrutas o Soldado ANTNIO GOMES (Boletim de 25 de maro de 1920).

    Ao que parece, o prazo de recruta era de trinta dias, como em 1912. Tal afirmativa tem supedneo na observao do lapso de tempo decor-rido em que o pretendente a soldado era considerado recruta no ensino e a data em que passava a pronto da instruo. Exemplo disto so os relacionados a MANOEL FERREIRA DA ROCHA, considerado recruta no ensino no Boletim de 16 de janeiro de 1920 e BENJAMIN PEREIRA (FER-REIRA) DE SOUZA, idem no Boletim de 09 de janeiro de 1920 e que pas-saram a prontos da instruo de recrutas no dia 10 de fevereiro de 1920, conforme constante no boletim respectivo.

    Em julho de 1920 o 2 Tenente Joo da Costa Simes substitudo no servio de instrutor pelo intendente Hermnio Silveira26 (Boletim de 19 de julho de 1920 n 36). H comprovao, atravs do Boletim n 89, que referido oficial permaneceu na condio de instrutor de infantaria pelo menos at de 09 de setembro de 1920, data do boletim mencionado.

    A instruo, em 1920, foi estendida a todos os integrantes do Corpo, sendo os oficiais pela manh e recrutas tarde. O horrio foi fixado pelo Bo-letim n 37, de 20 de julho de 1920, ficando deliberado atravs de tal docu-mento que das 7h s 8h a instruo era extensiva a todos e das 14h s 15h, especialmente para os recrutas. Haveria, ainda, paradas s 13h e 15h.

    A instruo dos militares, entretanto, era disseminada atravs de ou-tros atos, que no aqueles com a finalidade precpua de ensinar.

    26 O Boletim n 40, de 23 de julho de 1920 esclarece que ele era 2 tenente

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    O Boletim n 53, de 5 de agosto de 1920, elenca as formalidades que deveriam ser seguidas no dia de pagamento dos praas: fixao de horrio para toque de formatura; toque de avanar; estabelece os uniformes, de-clarando que os cintos deveriam estar sem sabres; dispe que os integran-tes da banda de corneteiros e tambores e msica deveriam estar armados e com instrumentos. E, mais, como demonstrou ser praxe inclusive no Exrcito de antanho era obrigatria a leitura pelo sargento ajudante da parte disciplinar Captulo XIX, Seo II do Regulamento do Corpo.

    S depois de cumpridas essas formalidades, todos dirigir-se-iam ao alojamento, onde se efetuaria o pagamento, findo o qual haveria relatrio ao comando.

    Alguns valores morais, de outro lado, eram presumidos e desvalori-zados, em face do soldado que agisse correta e honestamente.

    Exemplo concreto disto est no Boletim n 61, de 13 de agosto de 1920, que aps narrar o fato de que um soldado encontrara uma impor-tncia em dinheiro pertencente a um anspeada e a devolveu, dando parte do achado ao comando, transcreve despacho do Comandante do seguinte teor:

    Ao soldado que cumpre com o seu dever no se elogia, este cumprir o que faz o bom soldado, recto e conhecedor de seu dever, e a lei manda que cousas achadas deve ser entregue aos chefes de servios, para entre-gar aos ligitimos donos, mas todavia, o louvo e desejo que todos saibo cumprir o dever de soldado, esse manutenedor da ordem, guarda do bem publico e alheio, e segurana da ptria.

    As alocues do comando, em datas comemorativas, tambm con-tm farto material, por meio do qual se pode avaliar a escala de valores e as expectativas da gerncia da corporao em relao aos comandados.

    Na cerimnia de juramento bandeira, contida no Boletim n 70, de 22 de agosto de 1920, possvel constatar tal assertiva no discurso do Comandante Geral, que assim se dirigiu aos milicianos:

    Essa formalidade, a mais nobre e mais tocante, em nossalma de bra-zileiro, por ser a representao de um juramento que prestamos nossa Ptria, representada na ephigie a Bandeira. A nossa fora estadoal, mais o Estado uma parcela da nao, e defendendo-a, defendemos a ptria se achar-mos.

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    O juramento a bandeira o elo de compromisso para a exactido dos de-veres de soldado; o soldado soldado, quando sabe interpretar as leis que o rege, a sua aco enrgica, o seu proceder com exactido e tudo sem ser preciso o seu superior os advertir para a execuo.

    Hoje foram designados os recrutas da 1 Companhia e em outros dias, seram os dmais e, cada um, procurando comprehender o seu dever.

    Terminando comsinto-vos a repetir a formula do juramento como manda o Art. 26 do Regulamento do Corpo ALISTANDO-ME soldado da Fora Publica do Estado do Esprito Santo, comprometto-me a cumprir rigo-rosamente todas as ordens que me forem dadas pelas autoridades a que estiver subordinado, a respeitar meus superiores hierarchicos, a tratar com affeio meus irmos de armas e com bondade os que ve-nham a ser meus subordinados e a votar-me inteiramente ao servio do Estado, cuja honra e integridade defenderei com sacrifcio da pr-pria vida. (sem grifos no original)

    Ponto que nos chamou a ateno, no conjunto de documentos exami-nados, foi a preocupao quase doentia com os detalhes dos movimentos.

    Ao fixar regras para continncias para os praas, o Boletim 126, de 16 de outubro de 1920 determinava:

    [...]na distancia de 5 passos e desfasendo-as logo a passagem de 3 pas-sos depois, tomando igual distancia, para no encontrarem-se. Quando nos passeios devem dar a calada no somente para os superiores, como tambm para as senhoras e senhoritas e cidados respeitveis.

    As prelees dos Comandantes de Companhias aos praas con-tinuaram a ter importncia nesta quadra da histria da Polcia Militar. Assim que o Boletim n 9, de 29 de novembro de 1920, traz recomen-dao nesta direo para que fosse cumprida aos sbados, s 13h.

    Esclarecia o documento do comando que o sentido das prelees era dar conhecimento aos praas de todo o servio policial militar e os deveres de um militar para com o publico.

    Na mesma rubrica, elucidava o comandante que ficava expressamente proi-bido a praa quando de servio, parar nas ruas para palestrar, entrar nas ven-das, botequins e cafs, a no ser para em cumprimento de ordens superiores.

    Ressaltava, outrossim, a importncia de esclarecer aos praas sobre o modo de trajar-se com os seus uniformes asseados, bem recortados,

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    botinas limpas, cabelos aparados, no usar calado e uniformes que no sejam adoptados no Corpo, aduzindo que faltas nesse sentido seriam punidas com excessivo rigor pelo comando geral.

    Explanava, ainda, que depois da preleo, as peas de fardamento deveriam ser passadas em minuciosa revista, constatando as que fal-tarem, explicando e participando o motivo, para assim ser descontado dos mesmos, trocarem ou venderem aos seus prprios camaradas, que sero punidos, tanto o vendedor como o comprador.

    Depois da revista os comandantes de companhias deveriam fazer uma parte explicativa das peas estragadas e as que faltassem, objeti-vando o fornecimento de outras ao infrator, que ser punido com rigor e at expulso, se continuar a proceder por essa forma.

    A fiscalizao na parada seria feita pelo Capito Ajudante do Corpo, acompanhado pelo sargento ajudante, que tomaria nota das faltas, para que o comando geral pudesse punir os infratores.

    Um 2 sargento, auxiliar de instrutor, ministraria, diariamente, instru-o para todo o pessoal de folga (Boletim n 10, de 30 de novembro de 1920), enquanto os exerccios gerais seriam s segundas, quartas e sextas-feiras, pelo oficial instrutor, formando todos os officiaes subalter-nos.

    Era competncia do auxiliar de instrutor entregar nota para passa-rem a prompto de recrutas no ensino dos praas que estivessem aptos no servio de instruo. A nota seria entregue ao oficial instrutor que, por sua vez, a entregaria ajudncia do corpo, para publicao em boletim.

    O crescimento da Polcia e a necessidade do registro de suas ativi-dades acabou gerando certa burocratizao e produo de papis. Isso levou criao de uma Escola de Graduados, pelo Boletim n 20, de 10 de dezembro de 1920.

    O Comandante Geral da corporao assim justificava a criao do rgo:

    Havendo grande necessidade de serem instrudos todos os graduados desta Corporao na pratica de confeccionar papeis de companhias e prin-cipalmente de destacamentos, nomeio o Snr, 2 Tenente Hermnio Silveira, auxiliado pelo 1 sargento Joo Sodr da Silva para ensinal-os, noite, das 7 s 9 horas a partir de hoje, na sala da musica, onde devero ser collocadas mezas prprias, devendo comparecerem todos os graduados

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    promptos e empregados (com excepo dos ordenanas, que por motivo de servio no possam comparecer), neste Quartel. Sero punidos aquel-les que, sem justificativa no cumprirem com esta ordem.Este commando quer conhecer o grau de adiantamento e preparo dos divi-sados, afim de que no tragam embaraos no servio de destacamento.

    No mesmo Boletim consta Aditamento esclarecendo que os estudos co-meariam na segunda-feira prxima (o dia 10.12.1920 foi uma sexta-feira).

    A Escola de Graduados, porm, foi suspensa pelo Boletim n 24, de 14 de dezembro de 1920, sob a alegao de em vista terem alguns re-clamado e declararem que tem pratica bastante, para serem examinados em concurso.

    Assim, com a auto declarao de capacidade dos interessados, o Comando Geral determinou que todos fossem examinados por uma co-misso composta por trs oficiais.

    Foi marcado o dia 25 de dezembro para incio dos exames e o com-parecimento de todos os graduados da corporao que estivessem na sede era obrigatrio.

    Os pontos para exame para sargentos (1, 2 e 3) estavam assim arrolados:

    MAPPAS DE QUALQUER COMPANHIA, OU SALA DE ORDEM, RECAPITU-LAO DE VENCIMENTOS, BORRES, GRADES DE RANCHO, PERNOI-TES, MAPPAS-CARGA, CAUTELAS, RECOLHES, PARTES FUNDAMENTA-ES E A QUEM DIRIGIDAS, OFFICIOS DE DESTACAMENTOS, GUIAS DE SOCORRIMENTOS27.

    Os cabos e anspeadas deveriam estar preparados para: REDAC-O DE OFFICIOS, MAPPAS-CARGA DO DESTACAMENTO, FOLHAS DE PAGAMENTOS E PARTES DE GUARDA.

    Compensando a liberalidade do Comandante Geral que dera ltima forma Escola de Graduados, aquele que fosse reprovado no concurso estaria sujeito freqncia obrigatria escola, a partir de janeiro do ano vindouro.

    J se falava, em 1920, da elaborao de programas de instruo, o que era de competncia do tenente instrutor. Deveria o oficial fazer com

    27 Mantida a grafia original, em caixa alta.

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    antecedncia os programas, para serem visados pelo Comandante Geral e publicados em boletim28

    A instruo das praas empregadas e prontas seria nas segundas, quartas e sextas-feiras, das 5h s 7h30.

    O mesmo Boletim n 38 determinou que os 1 e 2 sargentos seriam instrudos pelo tenente instrutor e os 3 sargentos, cabos e ans-peadas pelo sargento auxiliar do instrutor, que poderia aproveitar um graduado para auxili-lo.

    Restava aos oficiais a obrigao de acompanhar as instrues, a fim de auxiliarem os trabalhos.

    Nas tardes de sbados, teras e quartas-feiras, as companhias de-veriam apresentar ao sargento instrutor os graduados prontos 3 sar-gentos, cabos e anspeadas, para que ele explicasse o programa a ser executado no dia seguinte.

    E advertia o Comandante Geral:

    Ninguem pde ser dispensado da instruco sem ordem deste Commando ou por determinao medica. Punirei os faltosos com todo o rigor sino justificarem-se por motivos justos.

    No Boletim n 38, de 28 de dezembro de 1920, sob a rubrica PRO-GRAMA DE INSTRUO, constava:

    Escola de Soldado.5,30 Formao da fora desarmada;5,40 Sentido e descanar;5,45 Direita volver por tempo;5,55 Direita volver sem tempo;6 h. Esquerda volver por tempo;6,10 Esquerda volver sem tempo;6,20 Meia volta por tempo;6,30 Meia volta sem tempo.

    Escola de Esquadra6,40 Marcha em frente;6,50 Marchar sem cadencia;7 h Marchar e fazer alto;7,20 Converses por esquadras;7,30 Dril geral pelo tenente instructor (Em conjuncto).

    28 Boletim n 38, de 28 de dezembro de 1920

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    No perduraram muito, no entanto, as disposies acima menciona-das, pois modificadas pelo Boletim n 39, de 29 de dezembro de 1920.

    Por fora desse documento subseqente, o Comando Geral exer-ceria fiscalizao direta sobre a instruo, designando os oficiais para instruir e comandar a fora no ptio do quartel. Foi abolida a figura do instrutor designado.

    O Comandante Geral designaria um oficial para fazer o programa a ser executado que, depois de aprovado, seria publicado em boletim subseqente.

    Para os exerccios dos programas semanais, atuariam trs sargen-tos.

    Incumbia ao oficial de dia garantir que a fora estivesse formada s 5h30 no ptio do quartel.

    Considerarei falta se passar UM MINUTO! O dever do militar a pontualidade, ningum pde esquecer e nem distrahir-se das obrigaes determinadas. admoestava, ento, o Comandante Geral.

    Continuando as modificaes, nas tardes de sbados, teras e quar-tas-feiras, ao invs da apresentao dos graduados ao sargento designa-do, bastaria a apresentao de seus dois auxiliares.

    A banda seria instruda em separado, pelo sargento contra-mestre, utilizando o mesmo programa publicado no boletim.

    Para o Coronel NESTOR GOMES, contudo, o Corpo Militar de Polcia, recomposto, em boa parte, aps a revolta de 192029, estava aparelhado, mas no convenientemente preparado30.

    Assim que a Lei n 1.316, de 30 de dezembro de 1921, criou uma escola regimental, cujo professor teria vencimentos de 3:600$000 ao ano. No caso de ser oficial, alm dos vencimentos, teria direito a uma gratificao mensal de 100$000. Neste ltimo caso, o excedente poderia ser aplicado a juzo do Secretrio do Interior em gratificaes a infe-riores e auxiliares dos professores. A organizao do programa da escola ficou a critrio do professor, mas teria de ser aprovado pelo Conselho Administrativo.

    29 Mnica Cristina Moreira Pinto Revista Preleo Ano I N 01 Abril/2007 pg. 43 a 55 Po-lcia e Poltica: Uma Combinao Perigosa para os Vencidos.

    30 Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo 07.11.1920

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    O Professor da Escola Regimental comeava a ser includo no seleto crculo militar com a edio da Lei n 1.355, de 26 de dezembro de 1922. Nela, integram o efetivo, os civis, declarados como sendo os guarda-livros e o professor regimental.

    Apesar de no ter obtido aumento de vencimentos com essa norma, o professor da Escola Regimental assim como o guarda-livros e o mes-tre de msica contratado passaram a fazer jus s honras da gradua-o de 2 tenente.

    Reorganizada a Fora Pblica do Estado, por fora da Lei n 1.475, de 23 de agosto de 192431, o professor da Escola Regimental ganhou lugar no quadro de oficiais, mais precisamente no Quatro de Tcnicos (QT), que congregava os oficiais de sade, professores de msica e da escola regimental, bem como os encarregados da intendncia, enquanto permanecessem na funo.

    Havia, ainda, para o QT a previso de nomeao de civis, gozando das honras do posto correspondente, mas sujeitos s leis e regulamen-tos militares.

    A norma criou, tambm, a Companhia Escola. Seu primeiro Coman-dante parece ter sido o Capito JLIO BARBOSA DE ALMEIDA. Tal con-cluso est autorizada pela leitura de livro escrito pelo oficial32 sobre a participao da Polcia Militar do Esprito Santo na Revoluo Paulista de 1924. Na obra, o Capito transcreve ofcio remetido ao Comandante da corporao, Tenente Coronel ABLIO MARTINS, datado de 09 de feve-reiro de 1925, requerendo cpia do Boletim n 242, de 26 de agosto de 1924, para fazer uso em seu livro, de elogios aos militares participantes do movimento revolucionrio paulista. Subscreve o referido ofcio identi-ficando-se como capito-commandante da Companhia Escola daquele REGIMENTO (Figura n 01).

    Mais tarde, em 1930, h notcias de que o Capito JULIO BARBOSA DE ALMEIDA obteve seis meses de licena com vencimentos, para trata-mento de sade, atravs do Decreto Presidencial n 9.928, de 16.01.1930 (Boletim n 14, de 17 de janeiro de 1930). O mesmo documento reporta o

    31 Revogada pela Lei n 1.543, de 11 de julho de 192532 A Revoluo Paulista e a Polcia Esprito Santense, Editora Escola Graphica, Vitria, ES, pg. 125

    e 126.

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    deslocamento de tal oficial para Domingos Martins, cidade do interior do Esprito Santo, com clima de montanha.

    Figura 1

    Agentes de ligao da PMES na Revoluo Paulista, de 1924, vendo-se, esquerda, o ento Te-

    nente Jlio Barbosa de Almeida que, em 1925, promovido a Capito, era o Comandante da Com-

    panhia Escola da Corporao. direita, o Tenente Brulio P. Dria.

    No pode, deste modo, prevalecer a afirmativa de que o rgo de ensino da Polcia nasceu com a Lei n 1.678, de 09 de novembro de 1928, consoante j assevervamos em trabalho apresentado Universidad Del Museo Social Argentino no ano de 200133.

    Ao final destas breves consideraes sobre a instruo do soldado, desde a criao da Guarda de Polcia Provincial at o estabelecimento de uma educao formal, surgida com o nascimento da Companhia Escola,

    33 Pinto, Mnica Cristina Moreira NOTAS SOBRE A INSTRUAO DO SOLDADO DA POLCIA MI-LITAR DO ESPRITO SANTO 1930 A 1988. Monografia apresentada a UMSA como requisito parcial para a concluso do Curso de Doctorado en Ciencias Jurdicas y Sociales, na Disciplina Histria del Derecho. 2001.

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    em 1924, constatamos que por diversas vezes, no perodo examinado, a corporao deixou de instruir seus agentes, sacrificando a formao deles para atender a interesses polticos-sociais de policiamento osten-sivo.

    Os administradores da Provncia, inicialmente, e, depois, do Estado, ao tratar da questo, ora adotaram o discurso lamentoso do tudo falta, ora criticaram o estado dos praas da corporao, agindo, todavia, como se fosse um fato estranho sua administrao e alheio sua interveno e, deste modo, absolutamente fora de suas responsabilidades.

    Iniciativas de modificao que puderam ser aferidas atravs das leis criadas, demonstram as no raras dificuldades para fazer valer tais nor-mas, colocando-as em efetivo funcionamento.

    No encontramos nenhuma atitude efetiva dos comandantes da cor-porao no sentido de fazer concretizar o que se concebeu para o as-sunto em questo, nem cremos que o fizessem, nem sabemos se seria razovel que deles se exigisse tal comportamento, eis que ocupantes de cargo de confiana, demissvel ad nutum.

    Tudo era(?) difcil na formao e instruo do soldado no perodo pesquisado(?).

    REFERNCIAS

    ESPRITO SANTO. Polcia Militar. Boletins do Comando Geral 1912 a 1920.

    ESPRITO SANTO. Arquivo Pblico Estadual. Documentos Histricos ES.

    PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE MINAS GERAIS. Pr-Reitoria de Graduao. Sistema de Bibliotecas. Padro PUC Minas de norma-lizao: normas da ABNT para apresentao de artigos de peridicos cientficos. Belo Horizonte, 2007. Disponvel em . Acesso em: 23 fev. 2007.

    ALMEIDA, Jlio Barbosa de. A Revoluo Paulista e a Polcia Esprito Santense. Vitria, ES: Editora Escola Graphica, [s.d.].

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    REVISTA PRELEO Publicao Institucional da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo Assuntos de Segurana Pblica ano II, n. 4, ago. 2008

    CASTRO, Celso. In corpore sano - Os militares e a introduo da educa-o fsica no Brasil. Antropoltica, Niteri, RJ, n 2, p.61-78, 1 sem. 1997

    PINTO, Mnica Cristina Moreira Polcia e Poltica: Uma Combinao Perigosa para os Vencidos Revista Preleo Ano I N 01 Abril/2007 pg. 43 a 55.

    PINTO, Mnica Cristina Moreira Tropas de Elite Histrico Vcio Capi-xaba, indito.

    PINTO, Mnica Cristina Moreira NOTAS SOBRE A INSTRUAO DO SOLDADO DA POLCIA MILITAR DO ESPRITO SANTO 1930 a 1988. Monografia apresentada a UMSA como requisito parcial para a conclu-so do Curso de Doctorado en Ciencias Jurdicas y Sociales, na Discipli-na Histria del Derecho. 2001.

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    Vtimas Coletivas da Violncia

    Ricardo Brisolla Balestreri1

    RESUMO

    A correlao entre desenvolvimento e segurana pblica, violncia e criminalidade sugere uma superao do conceito linear de progresso para uma concepo mais ampla de bem-estar nacional. Uma discusso que, h algum tempo deveramos fazer, da qual temos abdicado, impor-ta no enfrentamento do drama da segurana pblica como uma crise perpetuada sem norte. Norte este que no deveria ser apenas o de pro-videnciar ordenamento social, mas o de buscar ambincia bsica para que haja investimento pblico e privado, pessoal e grupal no bem-estar da populao.

    Palavras-chave: Vtimas. Violncia. Crime. Polcia. Direitos Huma-nos. Segurana Pblica.

    Pelo menos trs aspectos so levantados, hoje, pela comunidade acadmica internacional como condicionantes mnimos para haver de-senvolvimento com bem- estar, todos facilmente relacionveis questo da segurana pblica e a interditos que o domnio do crime e da vio-lncia representam.

    O primeiro fator, que nos traz o Professor Robert Putnam, aquele relacionado formao das chamadas Redes de Engajamento Cvico. A

    1 Educador, consultor educacional e conferencista de Segurana Pblica. Licenciado em Histria, Especialista em Psicopedagogia Clnica e em Terapia de Famlia. Coordenou a Rede Nacional de Altos Estudos em Segurana Pblica-RENAESP, do Ministrio da Justia. Integra o Comit Nacional de Educao para Direitos Humanos e o Comit Nacional de Combate e Preveno Tortura no Brasil. Atuou como especialista contratado pelo Programa da Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), no Grupo de Arquitetura do Sistema nico de Segurana Pblica (SUSP/SENASP). Integrou o Grupo de Trabalho para Avaliao do Atendimento Scio-Educativo ao Adolescente Autor de Ato Infracional. Presidiu a Anistia Internacional - Seo Brasileira. Pos-sui, em autoria e co-autoria, diversas obras publicadas sobre os temas da educao, cidadania, direitos humanos e polcia. Atualmente ocupa o cargo de Secretrio Nacional de Segurana Pblica/ MJ.

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    teoria de Putnam lembra-nos que a causa do desenvolvimento de algu-mas regies do planeta em contraponto com outras, tambm ricas, mas atrasadas, a constituio de fortes redes de engajamento cvico.

    Em visita ao Brasil, atravs de entrevistas Putnam identificou-nos neste ltimo grupo os pases extremamente ricos, mas que no conse-guiram se desenvolver e trazer bem- estar sua populao, pela carncia histrica tanto de voluntariado social articulado como de engajamento do cidado.

    Temos a o primeiro interdito representado pelo predomnio do cri-me organizado e da violncia. No Brasil, onde evidentemente a maior parte da populao pobre, s vezes vivendo em regies conflagradas onde o estado se ausenta, h um vcuo de poder e tendemos a um pre-domnio das atividades delinqenciais, aquilo que vulgarmente se tem chamado de crime organizado, delinqenciais.

    Contudo, o Comando Vermelho, PCC e outros grupos que hoje so citados largamente pela Mdia, no so o crime organizado, at porque este est em um patamar de sofisticao muito superior. So organiza-es delinqenciais, empregadas do crime predominando em determi-nados territrios, como pontos de venda de narcotrfico, por exemplo.

    Em tal ambincia pessoas que vivem em comunidades pobres e que teriam uma vocao natural liderana so sufocadas e impedidas pelo predomnio do ilegal e do ilcito. Onde o crime viceja, onde a violncia do-mina, no h terreno para a formao de Redes de Engajamento Cvico porque tal predomnio significa o exerccio de uma liderana autoritria objetiva sobre a comunidade.

    So raros os exemplos de coragem, de pessoas que conseguem se sobrepor a essa violncia. Assim, temos o primeiro interdito, o primeiro impedimento. Onde o crime est, aplasta os pobres e no se formam Redes de Cidadania sistmicas e expressivas.

    O segundo fator tambm proposto por pesquisa de Harvard, lide-rada por um professor de linha ideolgica diversa, o Dr. David Landes, que, contudo, igualmente investiga as razes da riqueza e da pobreza das naes e nos prope uma abordagem em que o elemento mais fun-damental para o desenvolvimento o empreendorismo popular. Co-meamos, a, a identificar o novo interdito. Onde o crime domina, onde

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  • [ 41 ]VTIMAS COLETIVAS DA VIOLNCIA

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    a violncia domina, no h ambincia para empreendedorismo popular. Vamos traduzir isso de maneira simples: em regies de prevalncia de grupos delinqenciais h bem pouco estmulo, por exemplo, para a aber-tura de uma pequena confeco nos fundos de casa ou para manter um mercadinho, ou qualquer outro tipo de atividade econmica autnoma. No permitido empreender sem a permissividade e, muitas vezes, sem a participao espria e exploratria da atividade criminosa. preciso submisso lgica autoritria, preciso pagar pedgio, preciso ser servil. No se pode pensar em empreender livremente a partir da base, de baixo para cima. Muito menos h ambincia e estmulo para empre-endimento de maior vulto. Em um quadro dramtico de uma cidade com magnficas potencialidades, mas tambm eivada de sofrimento como o Rio de Janeiro, no necessrio argir muito para que percebamos que a atividade do turismo, por exemplo, uma das indstrias mais importan-tes do planeta, se v absolutamente prejudicada em sua capacidade de empreendedorismo pela atividade criminosa. Temos, assim, o segundo interdito ao desenvolvimento. Segundo Landes, Nos pases em que se formam, historicamente, Redes de Empreendedorismo Popular , de livre empreendedorismo, h uma forte alavancagem do desenvolvimento e da distribuio de bem estar. Temos, no somatrio, ento, um caldo da cultura altamente desfavorvel ao desenvolvimento: a dificuldade de formao de redes autnomas de Engajamento Cvico e a dificuldade de formao de redes de empreendedorismo popular.

    O terceiro elemento desencadeador do bem-estar e em nosso caso o terceiro interdito, uma rede de educao de qualidade acessvel a todos. Nesse campo h um consenso.

    Contudo, no podemos confundir educao com escolarizao, ainda que esta ltima tambm seja fundamental. Nem sempre a escola educa. Um pressuposto para que a escola possa educar que haja liber-dade para ensinar e aprender. Em uma proposio de corte freiriano, os professores necessitam de liberdade para ensinar e aprender e os alunos tambm. Em uma grande capital brasileira, durante palestra para professores - de escola de periferia, de favela, vivi, neste sentido, uma forte revelao: - professor de Histria, com evidente liderana entre os alunos e colegas, relatou o fato de que, numa aula sobre feudalismo ha-

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    via estabelecido pontes entre o passado e o presente, didaticamente, a fim de criticar o que compreendia como enfeudamento na contem-poraneidade brasileira: classes mdias e ricas cada vez mais protegidas em condomnios fechados e pobres cada vez mais submetidos, ou como mo-de-obra barata e servil, ou como prisioneiros reais, dos grupos de-linqenciais, empregados do crime organizado. Essa comparao, essa ponte entre o passado e o presente, fez com que, na aula seguinte, ao dar uma explicao e pousar a mo no quadro verde, um punhal voasse do meio da sala para ating-lo. Olhei para a diretora, que se encontrava sentada frente, e perguntei: o que fizeram diante disso? No fizemos nada professor. Queremos continuar vivos, ela respondeu. J o docen-te vitimado disse o que fez: Revisei todo o contedo programtico do ano e retirei desse contedo tudo aquilo que pudesse ofender de alguma maneira aos grupos criminosos.Nesse contexto no h educao. Pode haver mera escolarizao, mas no educao porque no h condio mnima de ensinar e de aprender. Agregam-se a esse fator outros, como o fechamento das escolas, o temor dos alunos, pais recebendo telefo-nemas de filhos relatando situaes de desespero onde h tiroteios e assim por diante. Ento, a terceira predisposio ao desenvolvimento e socializao de bem-estar passa, no Brasil, a constituir-se um terceiro interdito. Se pensarmos nosso pas sob esse contexto, temos sobradas razes de susto e de temor pelo nosso futuro.

    Vivemos, de maneira geral, para a maioria da populao, um quadro em que os trs interditos esto fortemente presentes. Assim, impe-se a seguinte reflexo: - como podemos desenvolver nosso pas em tal con-texto? Ou melhor, como superar tal contexto obliterante?

    H uns anos, convidado por um sindicato de policiais na Sucia para uma palestra sobre nossa realidade, me apresentei dizendo que vinha de um pas pobre chamado Brasil. (Saliento que os suecos estudam muito a cultura latino-americana e que conhecem muitos dados). Um dos policiais levantou a mo, pedindo desculpas pela interrupo. Fazia um curso de portugus e de cultura brasileira na universidade. Trouxe uma srie de informaes e, baseando-se nelas, disse que minha apresenta-o estava incorreta porque eu no vinha de um pas pobre, mas de um pas muito mais rico do que a Sucia. Senti-me, e ainda me sinto cons-

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    trangido, por ser isso uma verdade objetiva. No somos filhos e filhas de um pas pobre. Somos filhos e filhas de um pas injusto, que precisa e pode se desenvolver, distribuindo bem-estar. uma das razes para dedicar-me rea da segurana pblica, na qual temos esses trs fortes interditos. Nesse contexto, preciso que entendamos os porqus da marcante reao da populao brasileira insegurana pblica, reao esta s vezes desmedida e emocional e algo filo-fascista, propensa a solues que no so soluo alguma. Tal reao busca bem inten-cionada, mas infeliz, fruto da intuio popular que, sensao desse nosso destino obliterado, percebe-se impedida das benesses do desen-volvimento, caso no resolvamos o drama da segurana pblica. Assim, no estranho, tambm, que nas pesquisas, nas enquetes populares, o drama da segurana venha despontando como a principal preocupao da populao brasileira.

    Quais seriam as solues para isso? No vou, aqui, fazer coro ao discurso nico de praticamente toda a mdia, do senso comum da clas-se mdia brasileira, inclusive de muitos setores da intelectualidade, que hoje submetem-se retrica vazia da represso desqualificada.

    Essa no a soluo. H 40 anos, no Brasil contemporneo, fazemos predominantemente represso desqualificada e os resultados so os que estamos vendo nas cidades do Rio de Janeiro, Vitria, So Paulo, Recife, Fortaleza, Salvador, Porto Alegre, ou em qualquer conglomerado urbano do pas. Parto do pressuposto de que o pecado a nfase. Dessa forma, acredito que mais do mesmo nos levar exatamente ao mesmo lugar ou a um lugar mais grave do que este, onde chegamos hoje. De maneira geral, vejo uma tendncia perigosssima do senso comum, da grande mdia, de muitos gestores da segurana pblica, para a repetio doentia das mes-mas velhas frmulas. fcil fazer demagogia, difcil dar uma resposta racional e cientfica ao drama que estamos vivendo. fcil agradar ao senso comum, difcil ser conseqente. O senso comum aponta, hoje, fortemente, para a legitimao, para a naturalizao da violncia, como resposta violncia. Por exemplo, me choca, moral e racionalmente a naturalizao da tortura, tendncia galopante no Brasil e no mundo. Mas acredito que tenhamos que fazer uma discusso no apenas de ordem moral. As perguntas tambm precisam partir do campo da eficcia.

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    Vindo da comunidade de direitos humanos, e atuando h vinte anos com segurana pblica, j abdiquei de insistir com o discurso moral quando se trata de persuadir o senso ordinrio. Sei que, moralmente, terrvel pensar nas conseqncias do aplauso barbrie. Contudo, preciso entender o drama, o desespero do senso comum, a sua emo-cionalizao e, de certa forma, ter alguma compaixo. No possvel, contudo, ter compaixo pela autoridade pblica e nem pelo intelectual que repete, que reproduz, de forma demaggica, o senso comum. Ainda assim, quero dizer que, o discurso moral, muitas vezes, no nos leva a caminho algum. Tenho feito, historicamente, essa experincia e vejo que no muito frutfera, porque camos no campo da subjetividade.

    Venho optando, assim, pelo discurso da eficcia, por um discurso mais analtico funcional. Optando pela grande pergunta, que : Com este modelo de segurana pblica, com este modelo tradicional, que hoje se torna clamor popular, surfando na crista da onda da mdia ordi-nria brasileira, com tal prtica, o que que conseguimos? A que lugar chegamos? Quais so os ndices de violncia e criminalidade neste pas? Que tem isso a ver com o drama de um pas imerso em homicdios, numa situao pior do que aquela que encontramos no Oriente Mdio? Onde que chegamos com dcadas de explorao barata das emoes? Tal drama no apenas produto de polticas sociais equivocadas, lembre-mos aqui. tambm produto de polticas de segurana pblica equivo-cadas, as mesmas que hoje se apresentam como novas velhas solues. Se abdicarmos um pouco do patamar do argumento moral, ingressando no patamar funcional, podemos perguntar aos gestores de segurana pblica, aos policiais, a todos aqueles envolvidos com o sistema, qual foi o resultado de 40 anos de mais do mesmo, daquilo que, de novo, se est propondo? Onde chegamos, por exemplo, com essa tendncia a um penalismo primrio e conservador? Se prendermos todo mundo, ser que vamos resolver os dramas e os problemas da segurana pblica? Teramos que ter o dobro da rede prisional e quando consegussemos constru-la, seria preciso dobrar novamente. No me esquivo, com isso, da obrigao que tm os governos federal e estaduais, de construrem presdios, mas digo claramente que tal penalismo primrio no soluo nenhuma, at porque sabemos que os presdios so entes criminginos

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    de alta potncia. no presdio que se aprende praticamente tudo o que h de tecnologia no campo da criminalidade, pelas bvias razes que conhecemos: superlotao, promiscuidade dos nveis de periculosida-de, no cumprimento da lei de execues penais, domnio das faces criminosas, condies cruis e degradantes... Sim, preciso abrir vagas nos presdios, mas preciso repensar o sistema prisional. preciso ter a coragem, contraditando o senso comum, de dizer que necessrio esvaziar os presdios e no lot-los. preciso ser rigoroso com os crimi-nosos de alto potencial, anti-social, mas , igualmente, preciso repensar o locus da sano para a grande maioria dos condenados, fora dessa categoria dos caracteres psicticos.

    O carter psicoptico, que domina um pequeno segmento do pres-dio, domina, ali, a vida de todos. A par de uma rigidez maior no controle desse tipo minoritrio de populao, urge que reconheamos que a maio-ria da massa prisional, seguramente, no deveria estar presa. Est apenas se estragando, aprendendo a tecnologia do crime e da violncia.

    Poderamos entrar no tema das penas alternativas. Em minha viso, me empresto um pouco de Piaget, cujo saber pedaggico bem ser-ve rea. H basicamente duas maneiras (ele escrevia sobre crianas, mas vale para adultos tambm), de trabalhar a questo da sano. A sano, como tal, absolutamente necessria. A impunidade um mal. Contudo, a sano por reciprocidade a melhor. H um rol de sanes por reciprocidade, e a melhor de todas a reparao. Causou dano? Repare o dano que causou. Isso educativo e isso recupera. No Brasil o senso comum abraou a outra linha, a da sano expiatria. Por isso queremos mais gente presa, queremos punir mais gente, do ponto de vista vingativo, e no nos damos conta de que (no do ponto de vis-ta de uma discusso moral), isso um desastre em termos de sistema de segurana pblica. No funciona, no d certo. uma poltica burra. Como burrice acreditar em qualquer lgica da eliminao. Se matar, prender, sumir com os desajustados resolvesse as coisas, estaramos no paraso.

    As solues, ao contrrio, passam pela coragem de contradizer a mentalidade ordinria, passam por polticas de carter tcnico-cientfico, por polticas de carter preventivo, especialmente em relao aos jovens,

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    por uma discusso mais profunda sobre as questes das drogas e par-ticularmente do lcool. O lcool no Brasil, alis, sob o ponto de vista de dano social, tem um nome: cerveja. Se atentarmos para as pesquisas sobre os lugares que tm conseguido reduzir os ndices de homicdio, veremos que, alm da limitao do uso do lcool, adotam polticas com-plexas de preveno casadas. Essa uma questo que se escamoteia no Brasil porque mexe com um cone do nosso capitalismo. Quando se trata de grandes patrocinadores, complicado inclusive para a mdia. Bordieu (Sobre a Televiso) diz que h uma censura real permanente na mdia: a grande capital. No tocamos muito na questo lcool, no vamos muito a fundo, mas esse enfrentamento fundamental porque o lcool a grande porta de ingresso a praticamente todas as formas de violncia e, do ponto de vista psicolgico, ao consumo de quase todas as drogas.

    H alguns anos, nossos pais tinham a preocupao com a maconha porque era para eles, a porta de ingresso para as outras drogas. No sabiam, mas isso d-se por conta da venda casada, importante para o crime do ponto de vista econmico. A porta de ingresso para todas as drogas do ponto de vista psicolgico o lcool, que quebra o superego, quebra a autocensura permissivo e onipotencializador das pessoas, permissiona a ao e o consumo de todas as coisas. Ento, essa uma discusso muito sria.

    Uma outra discusso sria uma educao contra-hegemnica em relao mdia. No estou, com isso, criticando o conjunto da mdia, mas setores muito importantes que, reproduzindo o senso comum, tm pres-tado um desservio causa da segurana pblica. Numa entrevista para uma matria de capa a importante portal da internet, com chamada participao popular, uma jornalista visivelmente bem intencionada, mas mal preparada para o campo da segurana pblica, ilustrou essa tese. Falei-lhe longamente, dizendo que precisamos ingressar no sculo XXI no campo da segurana pblica, olhar para a questo de uma maneira mais cientfica, que precisamos, por exemplo, no campo policial, dotar os nossos policias das tecnologias mais contemporneas, inclusive de armamentos no letais (ao lado da arma de fogo que o policial precisa usar em casos extremos). Que precisamos intensificar os programas de proximidade da polcia com a comunidade, que precisamos superar essa

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    polcia que circula tresloucadamente, que foi abduzida do povo, pela ditadura militar, e at hoje no devolvida. Que precisamos partir para uma polcia que conviva, que esteja enraizada com a comunidade. Que alm da viatura, que vai continuar sendo necessria, mas apenas como apoio, saia, caminhe, conviva, converse, ande de bicicleta, ande pelo bairro. A notcia publicada foi a seguinte: Diretor da SENASP defende o desarma-mento da polcia e a substituio da viatura pela bicicleta. Durante uns dez dias fui, possivelmente, a pessoa mais enxovalhada naquele portal da Internet. Mauricinho, burocrata de Braslia, Vamos fard-lo e coloc-lo de bicicleta e com armas no letais no Complexo do Alemo. E assim por diante. Vrias propostas a meu respeito. O senso comum responde de forma truculenta e desinteligente, mas digo isso com compaixo pelo sofrimento do senso comum. A culpa de quem deveria formar opinio e deforma e desinforma.

    Contudo, no podemos entender que policiais ajam assim, no po-demos entender que autoridades gestoras do sistema portem-se dessa forma, porque estaremos, a, entregues nas mos de uma espcie de burrice armada e poderosa. A burrice desarmada j um drama; armada insupervel.

    Est, assim, dando-se combate violncia e ao crime? No. Est se fazendo somente o que se faz h 40 anos e que no vai levar-nos a lugar nenhum. No passado, generais de planto na segurana pblica j de-fendiam tais propostas. Mudamos?

    Concluindo, diria que precisamos racionalizar a questo do sistema prisional, inclusive nessa racionalizao, evitando a promiscuidade de nveis de periculosidade. Isso fundamental e no to difcil de fazer. preciso deciso poltica.

    Da mesma maneira, precisamos incrementar os padres de policia-mento de proximidade que, aqui no Brasil, batizamos de polcia comu-nitria. Mas isto uma simplificao. A polcia comunitria uma forma muito sofisticada de fazer polcia. Significa, necessariamente, traar es-tratgias policiais em conjunto, no debate com a comunidade, e para se chegar na polcia comunitria temos que construir uma malha de proximi-dade policial