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Revista Reformador de Março de 2003

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O Estado e as religiões – Juvanir Borges de Souza 5 Os fins essenciais – Marcelo Paes Barreto 7 Os bons médiuns – Manoel Philomeno de Miranda 8 Da influência moral do médium – Allan Kardec 9 Tipos de solo – Richard Simonetti 10 A Doutrina Espírita tem dono? – Umberto Ferreira 12 Congresso Espírita em Goiânia 15

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RReeffoorrmmaaddoorrRevista de Espiritismo Cristão

Ano 121 /Março, 2003 / No 2.088

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação da

Federação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

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Para o BrasilAssinatura anual R$ 30,00Número avulso R$ 4,00Para o ExteriorAssinatura anualSimples US$ 35,00Aérea US$ 45,00

Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Antonio Cesar Perride Carvalho, Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oli-veira São Thiago; Secretário – Iaponan Albuquerqueda Silva; Gerente – Amaury Alves da Silva; REFOR-MADOR: Registro de Publicação no 121.P.209/73(DCDP do Departamento de Polícia Federal do Mi-nistério da Justiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 –

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Capa: Rogério Nascimento

Tema da Capa: O tema deste mês é Mediunidade– abençoada por Jesus, esclarecida por Kardec eexemplificada por Chico Xavier.

EDITORIAL 4Intercâmbio abençoado

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 13 Jesus e mediunidade – André Luiz

ESFLORANDO O EVANGELHO 21Não tiranizes – Emmanuel

REFORMADOR DE ONTEM 26O começo da história sem fim – Lino Teles

A FEB E O ESPERANTO 29O problema lingüístico na atualidade –Affonso Soares

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 32Aparições – Allan Kardec

SEARA ESPÍRITA 42

O Estado e as religiões – Juvanir Borges de Souza 5

Os fins essenciais – Marcelo Paes Barreto 7

Os bons médiuns – Manoel Philomeno de Miranda 8

Da influência moral do médium – Allan Kardec 9

Tipos de solo – Richard Simonetti 10

A Doutrina Espírita tem dono? – Umberto Ferreira 12

Congresso Espírita em Goiânia 15

Compromisso mediúnico – André Luiz Rabello 16

Existência dos seres – Washington Borges de Souza 19

Os três toques – Mário Frigéri 20

Há Espíritos? – Marcos Túlio Larcas 22

Hydesville – Leôncio Correia 25

A Mensagem de Deus – Passos Lírio 31

Os Espíritos intervêm em nossas vidas! – Jorge Leite de Oliveira 34

Isolamento – Corydes Monsores 36

O Espiritismo hoje – Robinson Soares Pereira 37

A era Psi – Adésio Alves Machado 38

Nossos Colaboradores 39

Por que dizer não ao carnaval? – Bittencourt Rezende di Nápoli 40

II Encontro Nacional de Coordenadores de ESDE 41

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AHistória registra as manifestações mediúnicas em todas as épocas da Humanidade. Os Espíritos jamaisdeixaram de se comunicar com os homens, estando a mediunidade presente na vida comum dos indi-víduos, assim como no seio das religiões, desde o totemismo. “Todavia – afirma Emmanuel1 –, onde a

mediunidade atinge culminâncias é justamente no Cristianismo nascituro. Toda a passagem do Mestre ines-quecível, entre os homens, é um cântico de luz e amor, externando-lhe a condição de Medianeiro da Sabedo-ria Divina.”

Com os Apóstolos, explode no dia de Pentecostes, quando Pedro, mediunizado, se reporta à profecia deJoel: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vos-sos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos.”2

Na noite de 31 de março de 1848, em Hydesville, Estado de Nova York (EUA), na casa da família Fox,as meninas Kate e Margaret estabelecem diálogo publicamente reconhecido com o Espírito Charles B. Ros-ma, iniciando a fase contemporânea das manifestações mediúnicas, que da América passam para a Europa,com as mesas girantes e falantes.

Em Paris, o Professor Hippolyte Léon Denizard Rivail examina o fenômeno, aprofunda as investigações,e, sob a supervisão do Espírito de Verdade, questiona os Espíritos Superiores, coordena metodicamente osseus ensinos, e lança, em 18 de abril de 1857, com o pseudônimo Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, obrafundamental da Doutrina Espírita, que inaugura uma Nova Era para a Humanidade.

Antes cerceada e estigmatizada, a mediunidade desponta gloriosa, em meado do século XIX, concreti-zando a vinda do Consolador prometido por Jesus, personificado na presença do Espírito de Verdade, que fi-cará para sempre conosco.3

Sob a égide do Evangelho de Jesus, e praticada à luz dos ensinos espíritas, a mediunidade vence tanto oobscurantismo religioso quanto o cepticismo científico-filosófico, e estabelece, em definitivo e de forma os-tensiva, abençoado intercâmbio entre os dois planos da Vida.

1 XAVIER, Francisco C. e VIEIRA, Waldo. Mecanismos da Mediunidade, prefácio Mediunidade. 20. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001, p. 14. 2 Atos, 2:16-17.3 João, 14:15-17.

EditorialIntercâmbio abençoado

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Desde a Antiguidade, passandopelas idades Medieval, Mo-derna e Contemporânea, en-

contramos sempre os governos (Es-tado) ligados estreitamente às di-versas denominações religiosas.

É notória a união entre os go-vernos da maioria dos países daÁsia Central e da Ásia Menor como Islamismo.

No Ocidente, não foi menor avinculação entre a Igreja Romana eos Estados europeus e americanos,até os fins do século XIX.

O denominado “direito divi-no”, invocado e defendido por reis,imperadores e aristocracias a eles li-gadas, foi sustentáculo, por muitosséculos, das teocracias diversas.

As denominadas democracias,regimes políticos baseados na sobe-rania popular, fortaleceram-se coma conquista da liberdade, que sevem firmando no mundo, por todaparte, apesar de alguns retrocessoscompreensíveis, diante das própriasimperfeições humanas.

No Brasil, desde a queda doImpério e a proclamação da Repú-blica, em 1889, ocorreu a separaçãoentre o Estado e a Igreja Católica.

Apesar das tentativas para o re-torno do vínculo Estado-Igreja, to-das as Constituições que se segui-ram à de 1891 mantiveram a se-

paração e, conseqüentemente, liber-dade de culto, de consciência, dereunião.

Foi, sem dúvida, a consagra-ção, na prática, da liberdade paratodos, maiorias e minorias religio-sas, que se deve à argumentação fir-me e convincente de Rui Barbosa eBenjamin Constant, dois grandestrabalhadores contra a opressão.

O Movimento Espírita, refle-tindo os princípios da Doutrina dosEspíritos, posiciona-se sempre emdefesa da liberdade, sem prejuízo daresponsabilidade individual e cole-tiva.

Reconhece, por isso, o papelimportante das religiões, especial-mente na formação e aperfeiçoa-mento moral dos indivíduos.

Mas as religiões, que sempreinvocam a inspiração divina parafundamentação de seus preceitos,não devem assumir o controle dosgovernos, seja pelos enganos inter-pretativos de seus seguidores, sejapelo fanatismo individual que semanifesta em muitos de seus repre-sentantes, seja pela presunção de su-perioridade.

Provas dessa presunção tivemosrecentemente, quando, após a Con-ferência pela Paz Mundial de Líde-res Religiosos e Espirituais, realiza-da pela ONU, em Nova York, de28 a 31 de agosto de 2000, o Papadeclarou que todas as outras reli-giões são inferiores ao Catolicismo.

Declaração semelhante fez oAiatolá Khomeini a respeito do Islã.

Que dizer dos erros e fanatis-mo geradores da Inquisição, queperseguiu e condenou à fogueiramilhares de “hereges”, pelo crimede não seguirem a religião domi-nante?

E dos Cruzados, empenhadosna matança de inocentes porque“Deus assim o deseja” (“Deusvult”)?

Lembremos que outra religiãoimpunha a morte da viúva na mes-ma pira funerária do marido e ain-da outra denominação religiosa de-terminava que os avós deveriammorrer nas geleiras, voltando à na-tureza.

Acima estão alguns exemplosde excessos, de presunção, de igno-rância e de insensibilidade, preconi-zados por religiosos em nome desuas religiões, a demonstrarem que,apesar de princípios morais eleva-dos que fazem parte das doutrinase crenças, quando no poder seus re-presentantes muitas vezes se exce-dem, dando oportunidade à mani-festação de suas paixões e infe-rioridades.

Daí o inconveniente das teo-cracias de variadas origens, pela fa-cilidade das degenerações, em fun-ção das imperfeições de todos oshabitantes do nosso mundo.

Milênios se passaram até queconsiderável parcela da populaçãoterrestre, esclarecida por filósofos,pensadores e pela própria práticapolítica, chegasse à conclusão deque o Estado laico e democrático é

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O Estado e as religiões Juvanir Borges de Souza

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a melhor forma de organização es-tatal, no qual o representante dopoder tem a obrigação de respeitara todos, independentemente desuas convicções religiosas.

...O Espiritismo e o Movimento

que o pratica e representa no Brasilbem cedo conheceram os rigores einconvenientes do Estado unidoà religião oficial e majoritária – oCatolicismo.

Apesar dos predicados de ho-mem justo e esclarecido, o Impera-dor D. Pedro II nem sempre pôdeevitar as perseguições e incom-preensões de que foram vítimas osespíritas, no final do Império bra-sileiro.

Essa foi uma das razões quefundamentaram o empenho de al-guns representantes do povo, naConstituinte de 1891, a lutarempela separação da Igreja Católica doEstado brasileiro.

Hoje, já bem distante daqueleato político-social de grande im-portância, sentimos todos – maio-rias e minorias religiosas – os efei-tos benéficos da separação, dos quaisressalta uma melhor compreensãoe acentuada tolerância entre os re-ligiosos das diversas denomina-ções.

Se todas as grandes religiõestêm inscrito o princípio do amor aDeus e ao próximo em seus núcleosde sustentação moral, urge que ca-da seguidor dê preeminência a es-se mandamento comum, superior,em torno do qual todos podem en-tender-se.

Muitas vezes, por ignorância efanatismo, um governante, repre-sentando uma determinada religiãono poder, julga necessário favorecer

sua facção em detrimento das de-mais.

É, evidentemente, um erro degraves conseqüências quando trans-formado em prática governamen-tal.

Os governantes que se posicio-nam sempre em favor da religiãoque representam, em detrimentodas demais, agem defendendo oprincípio de que “os fins justificamos meios”, perigoso e injusto emsuas conseqüências.

Em substituição a tal princípioeis a regra correta: “à pureza dosfins deve corresponder aos meiosjustos empregados para alcançá--los”, uma vez que, prejudicar mi-norias, perseguir, desconhecer direi-tos alheios não são meios justos desatisfação de interesses pessoais oude facções, travestidos de bons ob-jetivos.

Na Era atual, a Era Espírita,torna-se necessário evitar determi-nadas práticas e concepções errô-neas, utilizadas por milênios, emdetrimento dos interesses e do pro-gresso dos próprios homens.

Uma dessas práticas, aceita ain-da na atualidade, é a da confusãodo poder governamental de umanação com determinada religião.

Além do cerceamento da liber-dade, a utilização dessa forma degovernança é causa de conflitos eguerras, além da grande injustiçacometida contra muitas mentes quenão se ajustam ao regime.

As religiões que se impõematravés dos governos fogem às suasfinalidades precípuas, transformam--se em verdadeiras blasfêmias con-tra os princípios morais e éticos econtra a razão, pela presunção deseus representantes em muitos dosatos que praticam.

A Verdade, as realidades da vi-da devem ser sempre aceitas pelohomem, com liberdade de pensa-mento e nunca sob coação. Suaaceitação deve ser obra do tempo eda evolução do entendimento hu-mano.

Assim, pela lei do progresso,onde quer estejamos, seja qual for aposição social, raça e grau de civili-zação, todos seremos chamados, nodecorrer dos tempos e através dassucessivas reencarnações, a aceitar asverdades eternas, pelo livre entendi-mento da razão.

A Doutrina Espírita, por seucaráter e por sua índole, não obrigaa ninguém obedecer compulsoria-mente seus princípios e postulados.

As leis divinas, as lições que oCristo deixou em sua Mensageme o Consolador são claros nessesentido.

Em função dessa norma supe-rior, divina, o Espiritismo, assimcomo não impõe seus princípios,também não aceita a imposição deoutras correntes de pensamento, fi-losóficas e religiosas.

Há que se obedecer à liberdadede convencimento para todos, jáque o Criador dotou os homens dolivre-arbítrio.

Em lugar da imposição, o cor-reto é a persuasão, através do escla-recimento, do estudo, do confron-to de princípios, da demonstração,da experiência. Em uma palavra, aevolução, o progresso individual sãoobras de educação, tanto no campointelectual quanto no moral-espiri-tual.

As religiões exercem influênciasobre as massas de seguidores. Senão há segurança sobre os preceitossuperiores de ordem moral, advin-dos, em geral, através das revela-

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ções, porque os homens neles inter-ferem através de interpretações pes-soais, interesses imediatos, presun-ção e orgulho, as conseqüências nãosão boas, gerando fanatismos, pseu-doverdades, imposições, como é co-mum nas instituições em que o Es-tado se apóia na religião e vice--versa.

Trabalho, solidariedade, tole-rância, a célebre divisa do Codifica-dor, continua sendo segura orienta-ção para todos os espíritas.

O Movimento Espírita preci-sa preocupar-se com a educaçãodas massas, em sentido lato, com adivulgação da Doutrina, por todosos meios lícitos, mas não com aconquista do poder transitório, pa-ra impor-se, como ocorre com ou-tros movimentos filosóficos e reli-giosos.

Não devemos esquecer que asobras fundamentais das grandes re-ligiões – Hinduísmo, Budismo,Cristianismo, Islamismo – não sãoobras definitivas, absolutas.

Suas origens remontam a umpassado em que a Humanidade vi-via em estágios evolutivos muitodistantes do atual.

Não foi por outra razão que oCristo de Deus prometeu um outroConsolador, que viria para aclararmuitos de seus ensinamentos e tra-zer novos conhecimentos.

E o Consolador, o Espiritismo,por sua vez, na lição dos EspíritosSuperiores e de Kardec, adverteque a Doutrina dos Espíritos incor-porará novos conhecimentos, no-vas verdades, desde que comprova-dos.

O Cristo, por outro lado, reti-ficou muitos entendimentos do Ve-lho Testamento, interpretados li-teralmente, formulando a síntesemaravilhosa baseada no amor aDeus e ao próximo, extensiva aoshomens de todas as latitudes e detodas as religiões.

O complexo do comporta-mento humano, das crenças, dasinstituições, dos valores espirituais-

-morais e materiais não se transfor-ma tão-somente com imposições,com revoluções políticas ou econô-micas, mas sim pelo conhecimentodas verdades eternas que se inter-nalizam nas consciências indivi-duais e coletivas, provocando o pro-gresso, a evolução.

Em suma, toda imposição, emmatéria religiosa, revela fanatismo.

Se a imposição vem do Estado,as conseqüências negativas são mui-to maiores.

Como conclui W. StaintonMoses, em sua obra Ensinos Espiri-tualistas, pág. 154 da 4. ed. FEB:

“Qualquer religião, de qual-quer raça, em qualquer ponto doglobo, que tenha a pretensão depossuir o monopólio da VerdadeDivina, é uma ficção humana nas-cida da vaidade e do orgulho dohomem.”

“Nenhum sistema de teo-logia tem o monopólio da verda-de (...).”

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“A encarnação, aliás, precisa

ter um fim útil.” (O Evangelho

segundo o Espiritismo, cap. IV –

item 26.)

Fala-se muito em mundos su-periores, melhores e maisadiantados espiritualmente

que o nosso planeta, e muito se es-pera da bondade do Pai Celestialpara que possamos alcançar essasesferas mais evoluídas.

Mas será que estamos traba-

lhando, verdadeiramente, para ob-ter um bom lugar na seara do Di-vino Criador? Será que estamos fa-zendo da nossa passagem por estaescola um efetivo meio de alcan-çarmos o concreto progresso da al-ma? Parece-nos que não! Basta, pa-ra isso, analisarmos o termômetrodo mundo. Tem estado em tempe-ratura elevada, com muitos e mui-tos conflitos, desde os menores atéos maiores grupos.

Nesse contexto é que denota-mos a importância do conheci-mento do mecanismo reencarnató-

rio, que faz a nossa inteligência vis-lumbrar um roteiro de etapas, comamplas possibilidades de progres-so, no caso de um planejamentode percurso bem elaborado.

Conscientes dessa realidade,é-nos possível a elaboração de umprojeto, aproveitando, é claro, avontade, o esforço e a coragem,combustíveis necessários para atransposição das etapas evolutivasà nossa frente.

Assim é que os Espíritos Supe-riores alertaram, de forma essen-cialmente pedagógica, para a en-carnação útil como condiçãoprimordial para o sucesso na estra-da terrena.

Os fins essenciaisMarcelo Paes Barreto

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Inerente a todos os seres huma-nos, a faculdade mediúnica ex-pressa-se de maneira variada,

conforme a estrutura evolutiva, osrecursos morais, as conquistas espi-rituais de cada indivíduo.

Incipiente em uns e ostensivanoutros, pode ser considerada co-mo a peculiaridade psíquica quepermite a comunicação dos homenscom os Espíritos, mediante cujocontributo inúmeras interrogaçõese enigmas encontram respostas eelucidações claras para o entendi-mento dos reais mecanismos daexistência física na Terra.

Distúrbios psíquicos inexplicá-veis, desequilíbrios orgânicos injus-tificáveis, transtornos comporta-mentais e dificuldades nos relacio-namentos sociais e afetivos, malque-renças e aflições íntimas destituídasde significado, exaltação e desdobra-mentos da personalidade, algumasalucinações visuais e auditivas, namediunidade encontram seu campode expansão, refletindo os dramasespirituais do ser, que procedem dasexperiências anteriores à atual exis-tência física, alguns transformadosem fenômenos obsessivos profunda-mente perturbadores.

Malcompreendida por largotempo através da História, foi en-volta em mitos e cercada de supers-tições, que nada têm a ver com asua realidade.

Sendo uma percepção da alma

encarnada cujo conteúdo as célulasorgânicas decodificam, não signifi-ca manifestação de angelitude ou desantificação, como também não re-presenta punição imposta por Deus,a fim de alcançar os calcetas e endi-vidados perante as Soberanas Leis.

Existente igualmente no ser es-piritual, é uma faculdade do Espíri-to que, através dos delicados equi-pamentos sutis do seu perispírito,faculta o intercâmbio entre os de-sencarnados de diferentes esferas daErraticidade.

Dessa maneira, não se trata deum calvário de padecimentos intér-minos em cujo curso a tristeza e osofrimento dão-se as mãos, comopretendem alguns portadores decomportamento masoquista, mastambém não é característica de su-perioridade moral, que distingue oseu possuidor em relação às demaispessoas.

Pode ser considerada como amoderna escada de Jacó, que per-mite a ascensão espiritual daqueleque se lhe dedica com abnegação edevotamento.

Semelhante às demais faculda-des do ser humano, exige cuidadosespeciais, quais aqueles que se dis-pensam à inteligência, à memória,às aptidões artísticas e culturais...

O conhecimento do seu meca-nismo torna-se indispensável paraque seja exercida com seriedade, aolado de cuidados outros que se lhefazem essenciais, quais sejam, aidentificação da lei dos fluidos, aaplicação dos dispositivos morais

para o aperfeiçoamento incessante,a disciplina dos equipamentos ner-vosos, as disposições superiores pa-ra o bem, o nobre e o edificante.

Neutra, sob o ponto de vistaético-moral, qual ocorre com as de-mais faculdades, é direcionada peloseu portador, que se encarrega deorientá-la conforme as próprias as-pirações, perseguindo os objetivoselevados, que são a meta essencialda reencarnação.

À medida que o médium intro-jeta reflexões em torno do seu con-teúdo valioso, mais se lhe dilatam aspossibilidades que, disciplinadas, fa-cultam ensejo para a produção deresultados compatíveis com o dire-cionamento que se lhe aplique.

A observação cuidadosa dossintomas através dos quais se ex-pressa favorece a perfeita identifica-ção daqueles que se comunicam epodem contribuir em favor do pro-gresso moral do medianeiro.

O hábito do silêncio interior eda quietação emocional faculta-lhe acaptação das ondas que permitem ointercâmbio equilibrado, amplian-do-lhe a área de serviços espirituais.

Concessão divina para a Huma-nidade, é a ponte que traz de voltaaqueles que abandonaram o corpo fí-sico ou que dele foram expulsos, semque deixassem a vida, comprovando--lhes a imortalidade em triunfo.

Ante a impossibilidade de seralcançada a perfeição mediúnica,em face da condição predominantede mundo de provações que carac-teriza o planeta terrestre e tipifica os

Os bons médiuns

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seus habitantes por enquanto, cadaservidor deve lutar para adquirir aqualidade de bom médium, isto é,aquele que comunica com facili-dade, que se faz instrumento dócilaos Espíritos que o utilizam sob aorientação do seu Mentor.

Nunca se acreditando imacula-do, sabe que pode ser vítima da mis-tificação dos zombeteiros e maus,não a temendo, mas trabalhando porsutilizar as suas percepções psíquicase emocionais, e elevando-se moral-mente para atingir patamares maisenobrecidos nas faixas da evolução.

A facilidade com que os desen-carnados o utilizam, especialmentepor estar disponível sempre que ne-cessário, propicia-lhe maior sensibi-lidade e o credencia ao apoio dosGuias da Humanidade, que o cer-cam de carinho e o inspiram para aascensão contínua.

Consciente dos próprios limitese das infinitas possibilidades da Vi-da, reconhece o quanto necessita detransformar-se interiormente paramelhor, a fim de ser enganado me-nos vezes e jamais enganar aos ou-tros, pelo menos conscientemente.

A disciplina e o equilíbrio mo-ral, os pensamentos e as ações hono-ráveis, o salutar hábito da oração e dameditação precatam-no das investi-duras dos maus e perversos que pu-lulam em toda parte, preservando--lhe os sutis equipamentos mediú-nicos dos choques de baixo teor vi-bratório que lhes são inerentes, aju-dando-o, assim, a manter contatocom esses infelizes, quando necessá-rio, porém, sob o controle dos Guiasque os conduzem, jamais ao paladare apetite da loucura que os avassala.

O bom médium é simples esem as complexidades do agrado daignorância, do egoísmo e da pre-

sunção, cujas conquistas são inter-nas e que irradia os valores moraisde dentro para fora, qual antenaque possui os requisitos própriospara a captação das ondas que serãotransformadas em imagens sonoras,visuais ou portadoras de força mo-triz para muitas finalidades.

Quando esteja açodado pelasconjunturas difíceis ou afligido pe-las provações iluminativas, que fa-zem parte do seu processo de evo-lução, nunca deve desanimar, nemesperar fruir de privilégios, que osnão possui, seguindo fiel e tranqüi-lo no desempenho da tarefa que lhediz respeito, preservando a alegriade viver, servir e amar.

O trabalho edificante será sem-pre o seu apoio de segurança, que ofortalecerá em todos os momentos daexistência física, nunca se refugiandona inoperância, que é geradora demil males que sempre perturbam.

Porque identifica as próprias

deficiências, não se jacta da faculda-de que possui, reconhecendo queela pode ser bloqueada ou retirada,empenhando-se para torná-la umaferramenta de luz a serviço doAmor em todos os instantes.

Os bons médiuns, que escas-seiam, em razão da momentâneainferioridade humana, são os ins-trumentos hábeis para contribuí-rem em favor do Mundo Novo deamanhã, quando a mediunidade,melhor compreendida e mais bemexercida, se tornará uma conquistavaliosa do espírito humano creden-ciado para a felicidade que já estarádesfrutando.

Manoel Philomeno de Miranda

(Página psicografada pelo mé-dium Divaldo P. Franco, na sessãomediúnica da noite de 8 de agostode 2001, no Centro Espírita Ca-minho da Redenção, em Salvador,Bahia.

Da influência moral do médium

Se o médium, do ponto de vista da execução, não passa de um instrumento,exerce, todavia, influência muito grande, sob o aspecto moral. Pois que, pa-

ra se comunicar, o Espírito desencarnado se identifica com o Espírito do mé-dium, esta identificação não se pode verificar, senão havendo, entre um e outro,simpatia e, se assim é lícito dizer-se, afinidade. A alma exerce sobre o Espírito li-vre uma espécie de atração, ou de repulsão, conforme o grau da semelhança exis-tente entre eles. Ora, os bons têm afinidade com os bons e os maus com os maus,donde se segue que as qualidades morais do médium exercem influência capitalsobre a natureza dos Espíritos que por ele se comunicam. Se o médium é vicio-so, em torno dele se vêm grupar os Espíritos inferiores, sempre prontos a tomaro lugar aos bons Espíritos evocados. As qualidades que, de preferência, atraemos bons Espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade do coração, oamor do próximo, o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que osafastam são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sen-sualidade e todas as paixões que escravizam o homem à matéria.

Allan Kardec

Fonte: O Livro dos Médiuns. 70. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, cap. XX, item

227, p. 287-288.

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Mateus, 13:1-9

Marcos, 4:1-9

Lucas, 8:4-8

Eo semeador saiu a semear.

Uma parte das sementes caiuà beira do caminho, e vieram

as aves do céu e as comeram, e ou-tras foram pisadas pelos homens.

Outras caíram em lugares pe-dregosos, onde não havia muita ter-ra nem umidade. Logo as sementesgerminaram porque a terra não eraprofunda, mas ao surgir o sol, quei-maram-se e, porque não tinhamraiz, secaram.

Outras caíram entre os espi-nhos; e os espinhos cresceram e assufocaram, e não deram fruto al-gum.

Outras, finalmente, caíram emterra boa, fértil e, brotando, cresce-ram e produziram frutos. Algumasproduziram trinta, outras sessentae outras cem por um.

Temos aqui a famosa Parábolado Semeador, a primeira contadapor Jesus, dentre dezenas. É umadas mais populares, com um deta-lhe: o Mestre a explicou aos dis-cípulos.

A semente é a “Palavra de Deus”,representada por seus ensinamen-tos.

O que Deus espera de nós?Segundo Jesus, que nos ame-

mos uns aos outros; que façamos aopróximo todo o bem que desejaría-mos; que estejamos dispostos ao sa-

crifício dos interesses pessoais emfavor do bem comum.

O solo onde caem as semen-tes divinas é o coração humano.

...

Há a turma da “beira”. É o pessoal do lado de fora,

alheio à palavra. Seus representantes compare-

cem ao Centro Espírita motivadospor variados problemas, de ordemfísica e emocional.

Procuram o hospital. Sua intenção é meramente re-

ceber benefícios. Escasso interessequanto às palestras e orientações.

A atenção fica difícil, vêm osbocejos; as pálpebras pesam; cer-ram-se os olhos e o sono triunfa.

Há quem fale em influência es-piritual. Espíritos que não queremseu aprendizado. Boa explicação,mas é difícil imaginá-los ao nossolado, exercitando suas artes. E ondefica a proteção dos benfeitores espi-rituais, vedando seu acesso ao recin-to da reunião?

Estariam a vibrar do lado defora?

Complicado imaginá-los con-centrados, alhures, a sintonizar comsuas vítimas, sugerindo-lhes dormirsentadas.

E as barreiras vibratórias deproteção, não funcionam?

Ouvi um dorminhoco justifi-car:

– Fecho os olhos para concen-trar-me melhor.

Se é assim, por que a cabeça vaise inclinando lentamente, e só nãocai porque está fixada no pescoço?

As igrejas tradicionais resolvemesse problema com o senta-levantado culto, em momentos específicos,envolvendo rezas. Impossível dor-mir.

No culto evangélico há os hi-nos. Quando o pastor percebe queos fiéis estão se entregando aosbraços de Morfeu, logo os con-vida à cantoria. Soltar a voz éuma boa maneira de afugentar osono.

Não obstante, por mais sofisti-cados sejam os recursos para man-tê-los atentos, o aproveitamentodos nossos irmãos da “beira” serásempre precário, principalmenteem relação à Doutrina Espírita,apelo à razão, que exige atenção edisposição para assimilar seus con-ceitos renovadores.

...

Há a turma das “pedras”.Ouvem a palavra e a recebem

com alegria.Assimilam algo, mas não estão

dispostos a enfrentar os dissaboresda adesão.

O sol abrasador dos preconcei-tos e das discriminações torra facil-mente as frágeis raízes de sua fé.

Acontecia com o Espiritismono passado.

Falava-se que os espíritas eramadoradores do demo. As pessoas re-cusavam-se a passar em frente ao

Tipos de soloRichard Simonetti

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Centro. Na própria família haviaproblemas. Raros resistiam.

Ainda hoje, temos simpatizan-tes que não se integram para nãocriar problemas com o cônjuge, re-nunciando a um dos dons maispreciosos da existência – a liberda-de de consciência, o direito de exer-citar nossos ideais e convicções.

Conheço senhoras que não fre-qüentam o Centro, embora amema Doutrina Espírita, para não con-trariar o marido.

E o que dá ao marido o direitode decidir quanto à crença da ca-ra-metade? Como pode funcionarbem um casamento em que um doscônjuges interfere nas convicçõesreligiosas do outro?

Frágeis as sementes de nossa fé,quando permitimos que isso acon-teça.

...

Há a turma dos “espinhos”.Aceitam a palavra, mas as se-

duções do mundo a sufocam.Com a ampla visão das realida-

des espirituais que a Doutrina Espí-rita nos oferece, ficam encantados,mas…

Conversei, certa feita, com umsimpatizante:

– O Espiritismo é bênção deDeus. Amo seus princípios, a açãoespírita no campo social, o exercí-cio da caridade. Gostaria de parti-cipar, mas não me sinto preparado.Sou fumante inveterado e abusodos aperitivos. Como comerciante,nem sempre me comporto com li-sura e reconheço ter gênio difícil.

O Espiritismo deitou boas raí-zes nele, mas as fraquezas, espinhosdanosos que não quer eliminar, fa-lam mais alto.

Outro dizia:

– Reconheço-me despreparadopara a Doutrina, mas não me preo-cupo. Temos a eternidade pelafrente.

Realmente, temos todo o tem-po do mundo para atingir a per-feição, mas as pessoas esquecemuma recomendação de Jesus (João,12:35):

Andai enquanto tendes luz.

Imperioso aproveitar as opor-tunidades de edificação da jornadahumana. É para isso que estamosaqui.

Amanhã, poderá nos faltar aluz, a lucidez, a saúde, o vigor físi-co, a possibilidade de mudar e pe-noso será o futuro se não o fizer-mos.

...

E há a turma do “solo fértil”.É o pessoal que ao primeiro

contato com a palavra sente umfrêmito de emoção, algo que toca omais íntimo do ser, como se sua vi-da estivesse, até então, em compas-so de espera. É um maravilhosodespertar, que ilumina os caminhos.

Estes logo “arregaçam as man-gas” e tornam-se multiplicadoresde sementes, produzindo trinta,sessenta ou cem por um, segundosuas possibilidades, mas sempre es-tendendo o Bem ao redor de seuspassos para que o Reino se estendapelo mundo.

...

Há um aspecto a ser destacado.Por que, se somos todos filhos

de Deus, há vários tipos de solo?Por que muitos não se sensibi-

lizam?Por que há os que se sensibili-

zam, mas permanecem distantes,preocupados com opiniões alheias?

Por que há os que se aproxi-mam, mas não estão dispostos a seenvolver?

Por que, enfim, há os que seenvolvem?

Por que, dentre eles, há os queproduzem pouco e os que produ-zem muito?

Que fatores determinam rea-ções tão díspares?

Se a palavra é para todos, porque não somos todos dadivosos?

A teologia medieval situava aturma do “solo fértil” como indiví-duos escolhidos por Deus para asantidade, mas isso só complicaa questão, configurando uma injus-tiça inconcebível.

Por que Deus escolheu o meuirmão ou o meu vizinho ou o meuadversário?

Por que não eu?Só a reencarnação pode expli-

car essa diversidade de solos.A natureza de nosso envolvi-

mento com os valores do Evange-lho e o que produzimos condi-cionam-se à maturidade.

A vocação de servir, a disposi-ção de uma participação efetiva sãofrutos de experiências pretéritas.

Geralmente, o servidor do Evan-gelho já nasce feito, não por meragraça divina, mas como o resulta-do de suas experiências anterio-res.

Veio da “beira” para o “solo da-divoso”, com trânsito pelos “espi-nhos” e as “pedras”.

...

Será que podemos, já na pre-sente existência, entrar para a tur-ma especial do “solo dadivoso”?

Sem dúvida! >

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> O lavrador pode limpar o cam-po, tirar as pedras e os espinhos, re-volver a terra, aplicar adubo…

Podemos e devemos fazer isso.Para isso estamos aqui.Depende de nossa iniciativa.É preciso tão-somente usar a

enxada da vontade, revolver a terra

da indiferença e aplicar o adubo dotrabalho, preparando o solo do co-ração para as sementes do Evange-lho.

Então, gloriosa será a nossapassagem pela Terra, com frutos da-divosos em favor do próximo eabençoada edificação para nós.

Durante uma palestra sobrequestões éticas, numa jorna-da médica, um expoente da

psiquiatria brasileira, a certa altura,comentou que o médico não é do-no da Medicina. Tanto é que elenão pode ensinar a sua profissão aosfilhos, nem passá-la para eles. Emais: quando ele morre, a famíliatem o dever de levar a sua cédula deidentidade de médico ao ConselhoRegional de Medicina.

Podemos aplicar essa lição aoEspiritismo. O espírita não é donodele, nem das casas espíritas. Comoo próprio nome indica, a DoutrinaEspírita pertence aos Espíritos Su-periores, que, por sua vez, traba-lham sob a orientação de Jesus, oGovernador Espiritual da Terra. Eas casas espíritas pertencem ao Es-

piritismo, à Causa, portanto. Nãoàs pessoas.

Cabe a nós, espíritas, o deverde respeitar e preservar a DoutrinaEspírita na sua pureza, como nosfoi legada por Kardec, sobretudoporque os seus ensinamentos fun-damentais são de ordem moral. Elesestão sempre atualizados; são váli-dos para todos os tempos.

Poderão argumentar algunsadeptos que Kardec deixou umaabertura para atualização dos ensi-nos espíritas, mas apenas para osconhecimentos que são objeto deestudo científico. Afirmou ele quese fosse provado pela Ciência que oEspiritismo estivesse errado em al-gum ponto, ele poderia atualizar-senesse aspecto. Isso só poderia serfeito depois que o conhecimentoestivesse bem consolidado comoverdade científica. Isso não signifi-ca que se possa alterar o que o Co-dificador escreveu. As alterações sópoderiam ser feitas como comentá-rios de rodapé ou em livros ou arti-

gos que desenvolvessem estudos so-bre as obras básicas da Doutrina.

Um outro ponto importante aser observado é quanto às con-cessões. Nenhum espírita tem o di-reito de fazer concessões, tanto noque diz respeito ao conteúdo dou-trinário quanto à prática espírita,com o objetivo de agradar a quemquer que seja.

Um aspecto que requer muitocuidado é a introdução de práticasnovas. Com o argumento de quetudo evolui e que o Espiritismo nãopode ficar para trás, alguns traba-lhadores, escudados na liberdade deque gozam os espíritas, deixam-selevar pelo entusiasmo e introduzempráticas novas no Movimento Es-pírita. Antes de concretizar a novaprática, algumas condições preci-sam ser observadas: É prática espí-rita? A prática está fundamentadanas obras básicas de Allan Kardec?Para se atingirem os objetivos pro-postos pelo Espiritismo, há necessi-dade dessas práticas? Elas realmen-te vêm para somar? Se for com-provado que não são práticas ade-quadas ou até mesmo nocivas aoEspiritismo, será fácil retirá-las? Seas respostas forem todas positivas,ainda assim há necessidade de cau-tela. Se uma ou mais forem negati-vas, a prudência recomenda não in-troduzir a prática em exame.

O ideal é que a prática espíri-ta se limite ao que está bem funda-mentado na Codificação e tam-bém no opúsculo Orientação aoCentro Espírita, que é um trabalhocuidadosamente elaborado peloConselho Federativo Nacional daFEB.

Com certeza, não precisamos iralém disso para praticar o ver-dadeiro Espiritismo.

A Doutrina Espíritatem dono?

Umberto Ferreira

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DIVINA MEDIUNIDADE –Em nos reportando a qual-quer estudo da mediunidade,

não podemos olvidar que, em Jesus,ela assume todas as característicasde exaltação divina.19

Desde a chegada do ExcelsoBenfeitor ao Planeta, observa-se-lheo pensamento sublime penetrandoo pensamento da Humanidade.

Dir-se-ia que no estábulo sereúnem pedras e arbustos, animais ecriaturas humanas, representando osdiversos reinos da evolução terrestre,para receber-lhe o primeiro toquemental de aprimoramento e beleza.

Casam-se os hinos singelos dospastores aos cânticos de amor nas

vozes dos mensageiros espirituais,saudando Aquele que vinha libertaras nações, não na forma social quesempre lhes será vestimenta às ne-cessidades de ordem coletiva, masno ádito das almas, em função davida eterna.

Antes dele, grandes comandan-tes da idéia haviam pisado o chãodo mundo, influenciando multi-dões.

Guerreiros e políticos, filósofose profetas alinhavam-se na memó-ria popular, recordados como disci-plinadores e heróis, mas todos des-filaram com exércitos e fórmulas,enunciados e avisos, em que se mis-turam retidão e parcialidade, som-bra e luz.

Ele chega sem qualquer prestí-gio de autoridade humana, mas,com a sua magnitude moral, impri-me novos rumos à vida, por dirigir--se, acima de tudo, ao espírito, emtodos os climas da Terra.

Transmitindo as ondas mentaisdas Esferas Superiores de que pro-cede, transita entre as criaturas, des-pertando-lhes as energias para a Vi-da Maior, como que a tanger-lhesas fibras recônditas, de maneira aharmonizá-las com a sinfonia uni-versal do Bem Eterno.

MÉDIUNS PREPARADO-RES – Para recepcionar o influxomental de Jesus, o Evangelho nosdá notícias de uma pequena con-gregação de médiuns, à feição detransformadores elétricos conjuga-dos, para acolher-lhe a força e ar-mazená-la, de princípio, antes que

se lhe pudessem canalizar os recur-sos.

E longe de anotarmos aí a pre-sença de qualquer instrumento psí-quico menos seguro do ponto devista moral, encontramos impor-tante núcleo de medianeiros, desas-sombrados na confiança e corretosna diretriz.

Informamo-nos, assim, nos a-pontamentos da Boa Nova, de queZacarias e Isabel, os pais de JoãoBatista, precursor do Médium Di-vino, “eram ambos justos peranteDeus, andando sem repreensão, emtodo os mandamentos e preceitosdo Senhor” 20, que Maria, a jovemsimples de Nazaré, que acolheria oEmbaixador Celeste nos braços ma-ternais, se achava “em posição delouvor diante do Eterno Pai” 21, queJosé da Galiléia, o varão que o to-maria sob paternal tutela, “era jus-to” 22, que Simeão, o amigo abne-gado que o aguardou em prece,durante longo tempo, “era justo eobediente a Deus” 23, e que Ana, aviúva que o esperou em oração, notemplo de Jerusalém, por vários lus-tros, vivia “servindo a Deus”. 24

Nesse grupo de médiuns admi-ráveis, não apenas pelas percepçõesavançadas que os situavam em con-tacto com os Emissários Celestes,mas também pela conduta irrepre-

113

PRESENÇA DE CHICO XAVIER

Jesus e mediunidade

19Em A Gênese (p. 293 e 294, FEB, 12. ed. ),anota Allan Kardec, com referência aos fenô-menos da mediunidade em Jesus:

“Agiria como médium nas curas queoperava? Poder-se-á considerá-lo poderoso mé-dium curador? Não, porquanto o médium éum intermediário, um instrumento de que seservem os Espíritos desencarnados e o Cristonão precisava de assistência, pois que era elequem assistia os outros. Agia por si mesmo, emvirtude do seu poder pessoal, como o podemfazer, em certos casos, os encarnados, na medi-da de suas forças. Que Espírito, ao demais,ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentose encarregá-lo de os transmitir? Se algum in-fluxo estranho recebia, esse só de Deus lhepoderia vir. Segundo definição dada por umEspírito, ele era médium de Deus.” – (Nota in-dicada pelo Autor espiritual.)

20Lucas, 1:5.21Lucas, 1:30.22Mateus, 1:19.23Lucas, 2:25.24Lucas, 2:37.

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ensível de que forneciam testemu-nho, surpreendemos o circuito deforças a que se ajustou a onda men-tal do Cristo, para daí expandir-sena renovação do mundo.

EFEITOS FÍSICOS – Cedocomeça para o Mestre Divino, er-guido à posição de Médium deDeus, o apostolado excelso em quelhe caberia carrear as noções da vi-da imperecível para a existência naTerra.

Aos doze anos, assenta-se entreos doutores de Israel, “ouvindo-os einterrogando-os” 25, a provocar ad-miração pelos conceitos que expen-dia e a entremostrar a sua condiçãode intermediário entre culturas di-ferentes.

Iniciando a tarefa pública, naexteriorização de energias sublimes,encontramo-lo em Caná da Gali-léia, oferecendo notável demonstra-ção de efeitos físicos, com ação adistância sobre a matéria, em trans-formando a água em vinho 26. Mas,o acontecimento não permanececircunscrito ao âmbito doméstico,porquanto, evidenciando a extensãodos seus poderes, associados ao con-curso dos mensageiros espirituaisque, de ordinário, lhe obedeciam àsordens e sugestões, nós o encontra-mos, de outra feita, a multiplicarpães e peixes 27, no tope do monte,para saciar a fome da turba inquie-ta que lhe ouvia os ensinamentos, ea tranqüilizar a Natureza em desva-rio 28, quando os discípulos assusta-dos lhe pedem socorro, diante datormenta.

Ainda no campo da fenome-

nologia física ou metapsíquicaobjetiva, identificamo-lo em plenalevitação, caminhando sobre aságuas 29, e em prodigiosa ocorrên-cia de materialização ou ectoplas-mia, quando se põe a conversar,diante dos aprendizes, com doisvarões desencarnados que, positi-vamente, apareceram glorificados,a lhe falarem de acontecimentospróximos.30

Em Jerusalém, no templo, de-saparece de chofre, desmateriali-zando-se, ante a espectação geral 31,e, na mesma cidade, perante a mul-tidão, produz-se a voz direta, emque bênçãos divinas lhe assinalam arota. 32

Em cada acontecimento, senti-mo-lo a governar a matéria, disso-ciando-lhe os agentes e reintegran-do-os à vontade, com a colaboraçãodos servidores espirituais que lhe as-sessoram o ministério de luz.

EFEITOS INTELECTUAIS –No capítulo dos efeitos intelectuaisou, se quisermos, nas provas da me-tapsíquica subjetiva, que reconhecea inteligência humana como pos-suidora de outras vias de conheci-mento, além daquelas que se cons-tituem dos sentidos normais, re-conhecemos Jesus nos mais altostestemunhos.

A distância da sociedade hiero-solimita, vaticina os sucessos amar-gos que culminariam com a suamorte na cruz 33. Utilizando a clari-vidência que lhe era peculiar, ante-vê Simão Pedro cercado de persona-lidades inferiores da esfera extrafi-

sica, e avisa-o quanto ao perigo queisso representa para a fraqueza doapóstolo 34. Nas últimas instruções,ao pé dos amigos, confirmando aprofunda lucidez que lhe caracteri-zava as apreciações percucientes, de-monstra conhecer a perturbaçãoconsciencial de Judas 35, a despeitodas dúvidas que a ponderação sus-cita entre os ouvintes. Nas preces deGetsêmani, aliando clarividência eclariaudiência, conversa com ummensageiro espiritual que o recon-forta.36

MEDIUNIDADE CURATI-VA – No que se refere aos poderescurativos, temo-los em Jesus nasmais altas afirmações de grandeza.Cercam-no doentes de variada ex-pressão. Paralíticos estendem-lhemembros mirrados, obtendo socor-ro. Cegos recuperam a visão. Ulce-rados mostram-se limpos. Aliena-dos mentais, notadamente obsi-diados diversos, recobram equilí-brio.

É importante considerar, po-rém, que o Grande Benfeitor a to-dos convida para a valorização daspróprias energias.

Reajustando as células enfermasda mulher hemorroíssa, diz-lhe,convincente: – “Filha, tem bom âni-mo! A tua fé te curou.” 37 Logoapós, tocando os olhos de dois cegosque lhe recorrem à caridade, excla-ma: – “Seja feito, segundo a vossafé.” 38

Não salienta a confiança porsimples ingrediente de natureza mís-tica, mas sim por recurso de ajusta-

14

25Lucas, 2:46.26João, 2:1-12.27João, 6:1-15.28Marcos, 4:35-41.

29Marcos, 6:49-50.30 Lucas, 9:28-32.31João, 7:30.32João, 12:28-30.33Lucas, 18:31-34.

34Lucas, 22:31-34.35João, 13:21-22.36Lucas, 22:43.37Mateus, 9:22.38Mateus, 9:29.

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mento dos princípios mentais, nadireção da cura.

E encarecendo o imperativo dopensamento reto para a harmoniado binômio mente-corpo, por vá-rias vezes o vemos impelir os sofre-dores aliviados à vida nobre, comono caso do paralítico de Betesda,que, devidamente refeito, ao reen-contrá-lo no templo, dele ouviu aadvertência inesquecível: – “Eis quejá estás são. Não peques mais, paraque te não suceda coisa pior.”39

EVANGELHO E MEDIU-NIDADE – A prática da mediuni-dade não está somente na passagemdo Mestre entre os homens, juntodos quais, a cada hora, revela o seuintercâmbio constante com o PlanoSuperior, seja em colóquios com osemissários de alta estirpe, seja em sedirigindo aos aflitos desencarnados,no socorro aos obsessos do cami-nho, mas também na equipe doscompanheiros, aos quais se apresen-ta em pessoa, depois da morte, mi-nistrando instruções para o edifíciodo Evangelho nascente.

No dia de Pentecostes, váriosfenômenos mediúnicos marcam atarefa dos apóstolos, mesclando-seefeitos físicos e intelectuais na pra-ça pública, a constituir-se a mediu-nidade, desde então, em viga mes-tra de todas as construções do Cris-tianismo, nos séculos subseqüentes.

Em Jesus e em seus primitivoscontinuadores, porém, encontra-mo-la pura e espontânea, como de-ve ser, distante de particularismosinferiores, tanto quanto isenta de si-monismo. Neles, mostram-se os va-lores mediúnicos a serviço da Reli-gião Cósmica do Amor e da Sabe-

doria, na qual os regulamentos divi-nos, em todos os mundos, instituema responsabilidade moral segundo ograu de conhecimento, situando-se,desse modo, a Justiça Perfeita, noíntimo de cada um, para que se ou-torgue isso ou aquilo, a cada Espíri-to, de conformidade com as pró-prias obras.

O Evangelho, assim, não é o li-vro de um povo apenas, mas o Có-digo de Princípios Morais do Uni-verso, adaptável a todas as pátrias, atodas as comunidades, a todas as ra-ças e a todas as criaturas, porque re-presenta, acima de tudo, a carta deconduta para a ascensão da cons-

ciência à imortalidade, na revelaçãoda qual Nosso Senhor Jesus-Cristoempregou a mediunidade sublimecomo agente de luz eterna, exaltan-do a vida e aniquilando a morte,abolindo o mal e glorificando obem, a fim de que as leis humanasse purifiquem e se engrandeçam, sesantifiquem e se elevem para a inte-gração com as Leis de Deus.

André Luiz

Fonte: XAVIER, Francisco C. e VIEIRA,Waldo. Mecanismos da Mediunidade.21. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, p. 181--188.

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39João, 5:14.

Congresso Espíritaem GoiâniaPromovido pelaFederação Espírita doEstado de Goiás, de 1o a 4deste mês, realiza-se noCentro de Cultura eConvenções de Goiânia oXIX Congresso EspíritaEstadual, com o temacentral Jesus: Guia eModelo da Humanidade,que será abordado, naconferência de abertura,por ZalminoZimmermann, edesenvolvido, através depalestras e seminários,pelos expositoresMarlene Rossi SeverinoNobre, Altivo Ferreira,Otaciro Rangel, ManoelTibúrcio Nogueira,Carlos A. Baccelli,Nehemias Marien, entreoutros.

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Nos últimos tempos pode-sever um aumento considerávelde obras espíritas sobre o

exercício correto da mediunidade.Este quadro aponta, incontestavel-mente, para uma preocupação cres-cente por parte da Espiritualidadesuperior pela maneira como a ativi-dade mediúnica está sendo executa-da por nós, os médiuns da Terra.

Essa apreensão de nossos esti-mados mentores espirituais infeliz-mente tem fundamento, pois a lei-tura desses livros mostra claramenteos desvios morais e emocionais queboa parte daqueles reencarnadoscom a tarefa da mediunidade trou-xe em sua jornada mediúnica.

Os motivos para esta triste rea-lidade são variáveis, mas não há dú-vida de que o principal deles conti-nua sendo a vaidade cultivada poruma parte dos médiuns, ao acredi-tarem que os dons mediúnicos quepossuem os colocam num pedestale que, por isso, devem ser tratadoscomo seres superiores, postura essareforçada pela invigilância de mui-tas pessoas que contribuem paraque esse comportamento equivoca-do recrudesça, endeusando os mé-diuns, incentivando neles, cons-ciente e inconscientemente, essaatitude orgulhosa.

O conjunto desses fatos, sem

dúvida alguma, faz com que essesmédiuns sejam manipulados porEntidades espirituais de baixa en-vergadura moral e fracassem emsuas tarefas, pois eles acabam vendoa mediunidade não como umaoportunidade de serviço redentorpara auxílio de Espíritos infelizes,mas como uma plataforma de pro-paganda pessoal e um meio de pro-jeção do ego.

Allan Kardec, em O Livro dosMédiuns, no princípio do capítulo14, deixa bem clara a completa im-propriedade dessa forma de pensa-mento quando afirma categorica-mente: “Essa faculdade é inerenteao homem; não constitui, portan-to, um privilégio exclusivo (...).” Emais adiante diz: “Pode, pois, dizer--se que todos são, mais ou menos,médiuns”, esclarecendo definitiva-mente a todos nós que a sensibili-dade mediúnica é comum a todasas pessoas, embora se manifeste deformas e com intensidades diferen-tes em cada uma delas. Porém, issonão deve ser justificativa para se su-por que existam aptidões mediúni-cas superiores a outras, pois o maisimportante é o bom uso que se fazdessa nobre faculdade e o quantoela contribui para o bem do própriomédium e dos Espíritos em sofri-mento a quem ele auxilia utilizan-do-se de sua mediunidade, e não oquanto ela chama a atenção daque-les que estão em volta, dando à prá-tica mediúnica um caráter exibicio-nista, completamente afastado das

diretrizes nobres pelas quais devesempre se conduzir.

Contamos, também, com apalavra segura de Emmanuel paraconfirmar a opinião do Codificador.No seu livro Emmanuel (o primei-ro que escreveu através da mediu-nidade de Chico Xavier) retira osmédiuns de sua posição de superio-ridade espiritual, ao afirmar napág. 66: “Os médiuns, em sua gene-ralidade, não são missionários naacepção comum do termo; são al-mas que fracassaram desastradamen-te, que contrariaram, sobremaneira,o curso das leis divinas, e que resga-tam, sob o peso de severos compro-missos e ilimitadas responsabilida-des, o passado obscuro e delituoso.”

Lendo essa afirmação, pode-mos concluir que aqueles que têmpor tarefa a mediunidade sãoEspíritos moralmente em débitocom a Lei, como a quase totalida-de daqueles reencarnados na Ter-ra, mundo de provas e expiações,mas devido à sua vontade de re-novar-se espiritualmente recebe-ram uma oportunidade bendita dereparação de seus erros através doserviço mediúnico correto, prati-cado com o propósito da caridade.E esse serviço deve ser executa-do sem vaidade, pois Emmanuel,mais à frente, esclarece que os mé-diuns “não deverão encarar a me-diunidade como um dom ou co-mo um privilégio, sim como ben-dita possibilidade de reparar seuserros de antanho, submetendo-se,

Compromisso mediúnicoAndré Luiz Rabello

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dessa forma, com humildade, aosalvitres e conselhos da Verdade”.

Todavia, a realidade que vemosno meio espírita no que concerne àmediunidade é que parte dos mé-diuns é vitima da vaidade e do de-sequilíbrio emocional, não só dei-xando de cumprir o que prome-teram no plano espiritualcomo contraindo dívidasmais graves para si mes-mos.

Podemos ver esse qua-dro doloroso em vários ro-mances espíritas que tra-tam sobre a mediunidade,mas para não nos alongar-mos em demasia, falaremosapenas de um deles.

Esse exemplo se refereà obra Os Mensageiros, deAndré Luiz. Quando emvisita ao centro de mensa-geiros no ministério das co-municações da colônia es-piritual Nosso Lar, lugaresse destinado à preparaçãode médiuns e doutrinadores parareencarnação no planeta terrestre,André se apercebe pela primeira vez,desde sua desencarnação, do cuida-do e preocupação da Espiritualida-de maior com a atividade mediúni-ca em nosso planeta. Todos os re-cursos possíveis são postos à dis-posição dos candidatos à mediuni-dade para que triunfem nos objeti-vos a que se propõem. Entretanto,na maior parte das vezes, esses recur-sos são utilizados de forma negativa,como nos mostra o instrutor Telés-foro, na página 37, em preleção aesses Espíritos aspirantes a retomaro exercício mediúnico no orbe ter-reno e se recuperar dos antigos er-ros. Afirma Telésforo: “Quando oSenhor vos enviava possibilidades

materiais para o necessário, regres-sáveis à ambição desmedida; anteo acréscimo de misericórdia do la-bor intensificado, agarrastes a idéiada existência cômoda; junto às ex-periências afetivas, preferistes osdesvios sexuais; ao lado da família,voltastes à tirania doméstica.”

O inspirado orador continuadando exemplos de como aquelesex-médiuns terrenos malbarataramas possibilidades que lhes foram ofe-recidas pela misericórdia de Deus,dando vazão a seus antigos vícios edefeitos, esquecendo-se das tarefasque lhes foram confiadas para suaprópria redenção. E mais adiante,os expectadores daquela sublime pa-lestra choram de arrependimentoquando o nobre mentor cessa o usoda palavra, reconhecendo seus des-lizes no pretérito. Posteriormente,André Luiz ouve depoimentos im-pressionantes de Espíritos perten-centes àquela escola de médiuns nomundo espiritual, que exerceram amediunidade na Terra e que recebe-ram de seus queridos instrutores es-

pirituais ampla assistência e valiososrecursos para serem bem-sucedidosem seus labores mediúnicos, masque falharam desastradamente, pornão conseguirem neutralizar as in-fluências negativas das quais foramalvo nem domar suas más incli-nações. Esses mesmos Espíritos in-

formam o padecimentoque enfrentaram em zonasespirituais inferiores logoapós deixarem a vida físi-ca, devido à sua invigilân-cia moral, tendo agora anecessidade urgente dereencarnar novamente, emsituações talvez bem maiscomplicadas, devidas a no-vos compromissos moraisassumidos.

Esses fatos, contadosno segundo livro da sérieespiritual Nosso Lar, con-tudo, não podem nos le-var a crer que todos aque-les que reencarnam comtarefas no campo mediú-

nico malogram. Muitos médiuns,mesmo cercados de dificuldades, aci-catados por diversas tentações, e ten-do de suplantar obstáculos imensos,conseguem ser vitoriosos, fazendode suas mediunidades apostoladosdivinos.

O primeiro exemplo que vem àmente de todos nós é o do nossoquerido Francisco Cândido Xavier.Mesmo tendo nascido pobre, tendode conviver com diversas doenças eoportunidades de riqueza e fama,nunca se desviou do caminho reto,fugindo às tentações do mundo e su-portando com resignação os males fí-sicos que lhe atacavam a organizaçãocorpórea. Agindo assim, fez de suamediunidade um instrumento per-feitamente afinado, manejado com

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primor pelos bons Espíritos que es-creveram através de suas mãos.

Dessa forma, psicografou maisde 400 livros, exaltando o Espiritis-mo como o Consolador prometidopor Jesus, e balsamizou o coraçãode milhares de pessoas que haviamperdido seus entes queridos, atravésde suas mais de 10.000 mensagenspsicografadas por Espíritos que vi-nham dizer a seus amados na Terraque não mais chorassem, pois elesestavam vivos e esperando ansiosospelo reencontro na vida verdadeira.

Outro exemplo interessante acitar é o encontrado no livro Voltei,de Frederico Figner (irmão Jacob).Nascido na Tchecoslováquia, vindomorar no Brasil quando adulto,Figner, quando encarnado, traba-lhou ativamente pelo Espiritismo,principalmente na área de mediu-nidade de cura e na doutrinação.Nos momentos que antecederamsua morte, surpreendentemente en-contra dificuldades para deixar seucorpo físico, demonstrando ainda,nos seus primeiros instantes de de-sencarnado, certo apego à vida ter-rena, que acabara de se extinguir.Tempos depois, mesmo já acostu-mado ao clima da Erraticidade, seviu na contingência de realizar in-tensos estudos na colônia espiritualonde se encontrava, sendo acompa-nhado de perto por Espíritos de es-col como Guillon Ribeiro, Bitten-court Sampaio e outros. Além dis-so, teve de esforçar-se para se livrardo excesso de vaidade que aindacarregava em seu coração, o queimpedia que seu perispírito irradias-se qualquer iluminação, contrastan-do com a luminosidade de seus ex-celsos companheiros

Esse fato acabou sendo perce-bido por um Espírito a quem ele

tentou doutrinar, em visita ao am-biente terrestre. Durante a conver-sa entre ambos, esse Espírito lhelançou acusações muito fortes sobrecondutas erradas praticadas por seudoutrinador fora da mesa mediúni-ca, não vendo nele, portanto, auto-ridade moral para doutrinar ne-nhum Espírito sofredor.

Profunda tristeza e espanto lhecausou esse acontecimento. Apenasdepois de um certo tempo, atravésde muito estudo, paciência, a obser-vação de diversas situações, masprincipalmente pela conscientizaçãode sua pequenez espiritual, é queFigner consegue, numa ocasião naqual, indo de retorno a sua cidadeespiritual após uma excursão a Ter-ra, foi abordado por um grupo declérigos desencarnados que começa-ram a lhe fazer ameaças e a proferirxingamentos em sua direção. E,orando humilde e sinceramente, pe-dindo proteção à Espiritualidademaior, conseguiu criar ao seu redoruma leve aura de luz arroxeada. Es-sa sua luminescência perispiritual fezcom que aqueles Espíritos que omolestavam se assustassem e se afas-tassem dele. Figner, ao ver isso, ficouimensamente aliviado e feliz ao mes-mo tempo, pois aquele era seu pri-meiro passo importante para a extir-pação do orgulho que ainda reinavano âmago de seu espírito. A partirdali, prosseguiu Frederico Figner es-tudando, trabalhando e se aperfei-çoando cada vez mais e hoje conti-nua laborando em prol do Espiri-tismo do Brasil junto com outrosvalorosos Espíritos.

Analisando todos esses fatos,podemos ver que a mediunidade éuma tarefa importantíssima paraaqueles que a realizam e que deveser tratada com a máxima responsa-

bilidade e não como instrumento deprojeção social ou de exacerbaçãodo orgulho. E mesmo fora do am-biente de trabalho mediúnico, omédium deve manter uma posturaevangélica em todas as ocasiões dasua vida cotidiana, pois ele não éapenas médium no centro espírita,mas sim em todos os lugares aondevai e em todas as situações que vi-vencia, como expõe tão bem o ins-trutor Áulus no capítulo 30 do livroNos Domínios da Mediunidade.

Apenas com o estudo constan-te, os hábitos morais dignos, a dis-ciplina dos sentimentos, o trabalhoincessante no bem, o cultivo daoração e da humildade, é que o mé-dium conseguirá ter sucesso em suatarefa mediúnica, afastando de si asmás interferências e granjeando oamoroso apoio de seus mentores es-pirituais para sua caminhada, fazen-do de sua mediunidade, mesmoque seja modesta, uma luz paramuitos daqueles irmãos desencarna-dos que ainda se encontram nassombras. E mesmo que retorne apátria espiritual com sua tarefacumprida, seu trabalho nem por is-so acabará, pois o progresso é inces-sante. Só através do trabalho e dadedicação ao próximo é que poucoa pouco deixaremos para trás nos-sos defeitos e maus hábitos, tor-nando-nos a cada dia melhores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1 XAVIER, Francisco Cândido. O Livro dosMédiuns, 70. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.2 __________. Emmanuel, 21. ed. Rio deJaneiro: FEB, 2000.3 ___________. Os Mensageiros, 38. ed. Riode Janeiro: FEB, 2002. 4 ___________. Voltei, 22. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2001.5 __________. Nos Domínios da Mediu-nidade, 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.

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ADoutrina Espírita ensina quea vida resulta da união da ma-téria com o princípio vital e se

manifesta e se evidencia, nos seresorgânicos, por meio da vitalidade.Os seres vivos, portanto, nascem,crescem, reproduzem-se e morrem.São dotados de órgãos apropriadosà sua existência.

São muito variados os concei-tos a respeito de sexo, tanto emmeios científicos quanto entre lei-gos, religiosos ou profanos.

Esse tema não tem sido ade-quadamente considerado, dada asua relevância no contexto das leisnaturais e na influência que exercena conduta e nas ações humanas.

Há muitas discussões em tornodesse assunto. Perante as leis da Na-tureza é indiscutível o que o sexorepresenta na geração e procriaçãodos seres. A Doutrina Espírita, porisso mesmo, esclarece e enfatiza es-sa importância, por ser ele instru-mento divino adequado a propor-cionar oportunidades de progressoda alma mediante sucessivas reen-carnações. Os pronunciamentos es-pirituais são unânimes ao acentua-rem a importância do sexo no cursoda existência encarnada e das suces-sivas reencarnações do Espírito.

Os Espíritos destacaram sem-pre, enfaticamente, o respeito e a

sublimidade com que devem sertratadas as questões atinentes à se-xualidade, dada a gravidade das fal-tas cometidas a esse respeito, empráticas eróticas lamentáveis quedeslustram a grandeza da condiçãohumana.

Constitui, também, errônea in-terpretação das Leis de Deus deixarde atribuir ao sexo a função de ins-trumental divino indispensável aoaprimoramento espiritual. O esta-do de imperfeição é a causa princi-pal de graves deslizes morais e, emquase todos eles, há implicações se-xuais em arrastamentos ignóbeis de-vidos à ignorância dos preceitos doamor, cuja ação constrói e sustentaa própria vida.

Ocorrem, também, divergên-cias entre algumas pessoas ligadasao Movimento Espírita, a respeitodo sexo dos Espíritos. Allan Kardec,o insigne Codificador da DoutrinaEspírita, indagou sobre isso, na per-gunta 200, constante do CapítuloIV, de O Livro dos Espíritos: “Têmsexos os Espíritos?” E obteve comoresposta: “Não como o entendeis,pois que os sexos dependem da or-ganização (...)”. Esclarecem, ainda,na questão seguinte:“Em nova exis-tência, pode o Espírito que animouo corpo de um homem animar o deuma mulher e vice-versa?”

A resposta dada significa queos Espíritos não têm sexo como nósentendemos, ou seja, com órgãosmasculinos ou femininos. Contu-do, em sua aparência, se apresen-

tam com as características dos seusperispíritos, isto é, masculinas oufemininas, porém, até quando hãode mantê-las é hipótese que escapaàs nossas reflexões, em razão donosso atual grau de progresso, so-mente sendo devidamente elucida-da quando alcançarmos estágioscompatíveis com os das almas evo-luídas.

Verifica-se, também, em Espí-ritos pouco adiantados, conceitua-ção errônea trazida de suas encarna-ções pretéritas referentes a pro-cedimentos sexuais infelizes e quesão manifestos em processos obses-sivos, que requerem esclarecimentoe ajuda fraterna.

As expressões e vestígios sexuaissão facilmente vistos nos seres orgâ-nicos inferiores da Natureza, ani-mais e vegetais, o que demonstraque a Divina Providência se utilizada sexualidade a fim de receberemo impulso do princípio vital exis-tente no Universo para a criação davida e perpetuação das espécies.

É sempre oportuno lembrarque todos os aviltamentos, abusos edesvarios sexuais constituem delitosgraves perante as Leis Divinas e im-põem dolorosos resgates.

A reprodução das espécies nosreinos animal ou vegetal se dá deforma sexuada ou assexuada. Oprogresso científico e tecnológicoalcançou métodos que permitem ainseminação e as enxertias. A Biolo-gia conquistou notáveis progressosna Terra. A reprodução assexuada,

Existência dos seresWashington Borges de Souza

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com a clonagem conseguida no rei-no animal, gera discussões acalora-das tendo em vista a possibilidadede ser estendida aos seres humanos,por envolver questões éticas, religio-sas, filosóficas etc. Os processos defertilização são, atualmente, objetode acurados estudos e aprofundadasexperimentações. Contudo, é sem-pre oportuno repetir que o dom davida, o de criá-la, é exclusivamentede Deus, o que não significa que a

Ciência esteja impedida de apro-ximar-se dos processos naturaisoriundos do Criador Universal.

A Doutrina Espírita ensina queo ser humano é formado pelo cor-po somático e pela alma ou Espíri-to. Onde não há essa dualidade nãoexiste o ser humano, sendo que acriação do Espírito é obra privativade Deus e o corpo físico é tambémpor Ele criado para morada provi-sória da alma.

É por meio do sexo que seconcretiza a encarnação do Espíritoe as reencarnações sucessivas possi-bilitam a cada um alcançar o seudestino, purificar-se, livrar-se dasimperfeições.

O fim do corpo físico se dácom a morte, mas, o Espírito éimortal e seu destino é aproximar--se do Senhor da Vida, aprimorar--se e melhor servir e ajudar na obrada Criação.

Foi em Hydesville que se ouviram toques,Em mil oitocentos e quarenta e oito.Na casa de tábuas da família FoxPercutiram “raps”, toques e retoquesVindos do invisível, de alguém muito afoito.

Com ele dialogam, no bate-rebate,As adolescentes Kate e Margaret:Descobrem que, em vida, o ente foi mascate,Morto ali na casa, em traiçoeiro abate...Logo em todo o mundo o fato foi manchete!

É o toque-atenção... E, para um mundo em choque,Foi esse o primeiro e alvissareiro toque.

França. Agora estamos em mil oitocentosE cinqüenta e seis, na casa de Kardec.Ele está escrevendo, nos seus aposentos,Quando escuta toques, a princípio, lentos,Que vêm colocar-lhe a redação em xeque.

No dia seguinte, por gentil menina,A jovem Baudin – via mediunidade –,Lhe é dito que aquela intervenção divinaPresente estaria sempre na Doutrina:Vinha de seu Guia – O Espírito Verdade.

É o toque-razão... Um luminoso enfoqueTrouxe a todo o mundo esse segundo toque.

Mas quem toca o mundo agora é o próprio Cristo:Ele vem joeirar, enfim, Sua seara.Pois nenhuma ovelha, nenhum grão benquisto,Que o Senhor Lhe deu, tal como foi previsto,Deixará de ornar Sua real tiara.

E sussurra meigo ao coração do crente,Envolvendo-o em Luz e Espiritualidade:– Eis que estou à porta e bato suavemente,Quem me ouvir a voz e abri-la, certamente,Comigo estará por toda a Eternidade.

É o toque-emoção... Que o mundo inteiro o evoque,Pois esse é o terceiro e derradeiro toque.

Os três toques(De Hydesville à Nova Jerusalém)

Mário Frigéri

Toque da alma

“Quando a sinceridade e a boa vontade se ir-manam dentro de um coração, faz-se no san-tuário íntimo a luz espiritual para a sublimecompreensão da verdade.”

Emmanuel*

*Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador, 7. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1977, pergunta 222, p. 134.

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Não tiranizes“E, com muitas parábolas semelhantes, lhes dirigia a

palavra, segundo o que podiam compreender.”– (Marcos, 4:33.)

Na difusão dos ensinamentos evangélicos, de quando em quando en-contramos pregadores rigorosos e exigentes.

Semelhante anomalia não se verifica apenas no quadro geral do serviço.Na esfera particular, não raro, surgem amigos severos e fervorosos que recla-mam desesperadamente a sintonia dos afeiçoados com os princípios religiososque abraçaram.

Discussões acerbas se levantam, tocando a azedia venenosa.Belas expressões afetivas são abaladas nos fundamentos, por ofensas in-

débitas. Contudo, se o discípulo permanece realmente possuído pelo propósito

de união com o Mestre, tal atitude é fácil de corrigir.O Senhor somente ensinava aos que o ouviam, “segundo o que podiam

compreender”.Aos apóstolos conferiu instruções de elevado valor simbológico, enquanto

que à multidão transmitiu verdades fundamentais, através de contos simples.A conversação dEle diferia, de conformidade com as necessidades espi-

rituais daqueles que o rodeavam. Jamais violentou a posição natural deninguém.

Se estás em serviço do Senhor, considera os imperativos da iluminação,porque o mundo precisa de servidores cristãos e, não, de tiranos dou-trinários.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso, 21. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2001, cap. 143,

p. 297-298.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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Introdução

Após descortinar a realidade da vida, através desua dualidade espírito-matéria, em O Livro dosEspíritos, Allan Kardec continua estudando es-

ta questão e abre a primeira parte de O Livro dos Mé-diuns elucidando nossa pergunta-título e confirman-do a existência dos Espíritos. É o próprio Codificador1

que apresenta os prováveis dois maiores escolhos aoentendimento desta veracidade espiritual: 1) “Geralmente são figurados como seres à parte na

criação e de cuja existência não está demonstradaa necessidade.”;

2) “A dúvida, no que concerne à existência dos Espí-ritos, tem como causa primária a ignorância acer-ca da verdadeira natureza deles.”A excessiva crendice de alguns acaba sendo um

desserviço, pois, descompromissada com a lógica, ter-mina não resistindo ao mínimo embate, fazendo comque os incrédulos desdenhem da tese apresentando sor-risos de mofa. O homem, intelectual por natureza, ne-cessita de explicações racionais, e a Doutrina Espíritatem apresentado, para o primeiro item, de Kardec aosdias de hoje, não somente um número incontável defatos que confirmam a existência dos Espíritos, comotambém esclarecido que pertencemos todos, encarna-dos e desencarnados, a uma mesma realidade. Espíri-tos somos todos nós, os que nos encontramos na car-ne ou fora dela, e os ditos “fantasmas” são aqueles denós que atravessamos a porteira da vida para acordar-mos na pátria espiritual portadores dos créditos ou de-méritos acumulados em várias romagens corpóreas.

O segundo item, porém, é bem mais complexo deser explicitado. A grande questão a ser respondida é on-de habitam os Espíritos. Pode-se supor que eles existam,esta, aliás, é a atitude do verdadeiro cientista que nun-ca teme suposições, mesmo as mais disparatadas. Mas,enfocado do ponto de vista do espaço-tempo, há de ha-

ver uma teoria que comporte a existência dos Espíritos.Tal teoria existe e suas implicações serão o tema centralque abordaremos neste artigo.

Além da geometria tridimensional

No dia 10 de junho de 1854 nasceu uma novageometria. Seu autor chamava-se Georg BernhardRiemann (1826-1866), um dos mais importantesmatemáticos que o mundo conheceu. Riemann foi osegundo dos seis filhos de um pastor luterano pau-pérrimo que não poupou esforços para educar o fi-lho, o qual, desde muito cedo, apresentava muita fa-cilidade de aprendizado. Ele aprendia tão depressaque estava sempre superando o conhecimento dosseus professores, os quais consideravam impossívelacompanhá-lo. O diretor da escola secundária, queRiemann cursava à época, resolveu mantê-lo ocupa-do dando-lhe um livro muito árduo. Tratava-se deTeoria dos Números, de Adrien-Marie Legendre, umaimensa obra-prima de 859 páginas, o mais avançadotratado existente então no mundo sobre a ainda ho-je espinhosa matéria da Teoria dos Números. Rie-mann devorou todas aquelas dificílimas páginas emsomente seis dias. Uma semana após, quando o dire-tor perguntou: “– Quanto você já leu?” O jovem res-pondeu: “– Esse é sem dúvida um livro maravilhoso.Eu o assimilei por completo.” Acreditando tratar-sede uma fanfarronice do rapaz, o diretor preparouuma vasta gama de obscuras questões, todas extraídasdaquele livro e, alguns meses mais tarde, aplicou-lheo questionário. Riemann respondeu a todas elas comperfeição magistral.

Com 19 anos Riemann foi encaminhado para aprestigiosa Universidade de Göttingen, onde veio a seraluno de nada menos que Carl Friedrich Gauss (1777--1855), o aclamado “Príncipe dos Matemáticos”. Gaussnunca se sentiu satisfeito com os limites da Geome-tria Euclidiana que, além de plana, era tridimensio-nal. A realidade é que, quando jovem, Gauss tentou le-var à frente um experimento para tentar provar que a

Há Espíritos?Marcos Túlio Larcas

1 KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. 62. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996.

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soma dos três ângulos de um triângulo não era iguala 180 graus e mostrar que o espaço não é plano. O ex-perimento de Gauss falhou porque ele o realizou a dis-tâncias muito pequenas, postando-se em uma monta-nha e posicionando dois de seus assistentes, cada umem outra montanha, para formarem um triângulo emedir a soma de seus ângulos internos. Hoje se sabeque, de fato, o espaço não é plano, mas curvo. Porém,só é possível fazer esta verificação através das enormesdistâncias estelares. Gauss já estava velho demais e nãoarriscaria sua fama fazendo “conjecturas perigosas”. As-sim, pediu ao seu brilhante aluno Riemann para pre-parar uma apresentação oral sobre os “fundamentosda geometria”. Riemann, contudo, ficou aterrorizado.Seu mestre lhe pediu para preparar uma palestra sobreo mais difícil problema matemático do século. Devi-do à pobreza, que o acompanhou durante toda a vi-da, o menino Riemann nunca teve uma boa alimen-tação. Por este motivo, sua saúde sempre foi muitodébil. Levar a maior parte de sua vida entre quatro pa-redes, estudando febrilmente, só piorou seu estado desaúde. Desta forma, sua saúde finalmente entrou emcolapso e ele sofreu um esgotamento nervoso no iní-cio de 1854. Mesmo assim, ainda naquele ano, eleconseguiu apresentar uma conferência que foi consi-derada a mais importante da história da matemática.

Como ocorre em muitas das mais importantesobras de física ou matemática, o cerne essencial da teo-ria geométrica riemanniana é de fácil compreensão. OTeorema de Pitágoras, um dos mais importantes acha-dos dos gregos no campo da matemática, estabelece arelação entre os comprimentos dos três lados de umtriângulo retângulo. Os dois lados menores de umtriângulo retângulo são chamados “catetos”. O ladomaior denomina-se “hipotenusa”. Por este teorema, asoma dos quadrados dos catetos de qualquer triângu-lo retângulo é igual ao quadrado da hipotenusa; ou se-ja, se nomearmos os catetos por c1 e c2 e a hipotenusapor h, o Teorema de Pitágoras será c

12+ c

2 2 = h2. Este

é o formato bidimensional do Teorema de Pitágoras.Escrevê-lo em três dimensões é bastante simples.Suponha-se um paralelepípedo cujas três arestas adja-centes sejam c1, c2 e c3. Se sua hipotenusa for h, entãovale a relação c

12 + c

22 + c

32= h2. O ponto de partida de

Riemann foi supor a existência de um sólido, que cha-maremos de “hipercubo”, num espaço de dimensãosuperior a três. Se c1, c2,...,cn forem os comprimentos

dos lados deste cubo N-dimensional* e h o compri-mento de sua diagonal, então pode-se generalizar oTeorema de Pitágoras para c1

2 + c22 +...+ c 2

n= h2. Ex-

traordinariamente, ainda que nossos cérebros não pos-sam visualizar um cubo N-dimensional, é fácil redigira fórmula para os seus lados.

Aqui é importante fazermos um rápido comentário.O leitor, desacostumado com o linguajar técnico, pode-rá não compreender a diferença entre as duas aborda-gens, a euclideana e a riemanniana. De forma sucinta,deve-se aperceber que, até então, sempre se pensara quea investigação de um mundo proibido, com dimensõesespaciais adicionais, originaria terríveis contradições. Pa-ra surpresa geral, Riemann estendeu várias equações tri-dimensionais para o caso N-dimensional, construiu no-vos objetos matemáticos e, sobretudo, erigiu um po-deroso formalismo para descrever não somente espaçosN-dimensionais planos, mas também espaços com qual-quer número de dimensões e curvatura arbitrária; e, pormais incrível que possa parecer, ele não encontrou ne-nhuma contradição. Qualquer espaço N-dimensional,por ele estudado, era bem definido e coerente.

Conseqüências da quarta dimensão

Imagine-se com visão de raio X capaz de, cami-nhando, atravessar paredes, desaparecer ou reaparecerà vontade. O que um criminoso poderia fazer com taispoderes? Entraria no banco mais fortemente protegi-do, localizaria os valores e o dinheiro através das maci-ças paredes, enfiaria a mão tirando tudo que quisessepara fora, depois, simplesmente iria embora. Nenhu-ma prisão poderia detê-lo. Que ser possuiria um podertão divino? Resposta: um ser do mundo multidimen-sional. Evidentemente, estas proezas estão acima da ca-pacidade de qualquer pessoa tridimensional.

O que é exatamente viver em múltiplas dimensões?Vamos fazer uma correspondência entre os seres 4-di-mensionais e nós, 3-dimensionais, usando de uma ana-logia entre nós e supostos seres 2-dimensionais que vi-vessem numa folha de papel. Neste mundo hipotéticonão haveria objetos sólidos. Tudo seria chato. Para os se-res que lá vivessem não haveria sentido falar-se em al-

* O N que aparece em N-dimensional indica um número genérico pa-ra as dimensões espaço-temporais. Este N, ou n, pode ser, por exem-plo, 3 , 4, 5, bem como qualquer número inteiro que se queira.

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tura. Eles só conseguiriam enxergar comprimento e lar-gura. Lá, o indivíduo que falasse ser possível saltar parafora daquele mundo-folha, usando uma “fantasmagóri-ca” terceira dimensão, estapafurdiamente chamada altu-ra, imediatamente seria tachado de louco ou charlatão.

No nosso mundo tridimensional, para se aprisio-nar alguém, é necessário construirem-se caixas conten-do comprimento, largura e altura. No mundo-folha,como só existem duas dimensões, para encarcerar-seum criminoso, basta fazer um quadrado, com uma li-nha fechada, envolvendo o indivíduo. Em duas di-mensões é impossível escapar deste quadrado. No en-tanto, uma pessoa tridimensional pode puxar oencarcerado para fora da cadeia, levando-o para a ter-ceira dimensão. Do ponto de vista do carcereiro, o pri-sioneiro pareceria ter evaporado misteriosamente.

A verdade é que o mundo-folha, bidimensional, es-tá imerso no mundo tridimensional. Os seres bidimen-sionais não possuem energia suficiente para trafegar atra-vés da dimensão extra (altura). Da mesma forma, nós,seres tridimensionais, estamos imersos no espaço N-di-mensional. Após aprofundarmos o conhecimento damatemática e da física, conseguimos perceber (intelec-tualmente, é claro) a existência das múltiplas dimensõesespaciais. Desafortunadamente, não sabemos ainda comexatidão qual quantidade de energia está envolvida noprocesso que nos permitiria saltar para o hiperespaço. Éaté provável que a energia necessária para tal salto sejasuperior a tudo que existe hoje disponível na Terra. Poroutro lado, mesmo que já dispuséssemos da quantidadeenergética necessária, não conhecemos o mecanismo pa-ra “abrir” aquelas dimensões extras e realizar o estupen-do salto ao hiperespaço.

Conclusão

O universo em que vivemos é multidimensional. Is-to é certo. Para se ter uma idéia da veracidade desta afirma-tiva, deve atentar-se para o fato de que as teorias da relati-vidade de Einstein e a mecânica quântica assentam suasbases na geometria multidimensional riemanniana. Nos-sa percepção sensorial limitada permite-nos enxergar so-mente três das infinitamente possíveis. Nós e os Espíritosvivemos no mesmo universo. Eles conseguem trafegar, li-vremente, através de dimensões superiores, enquanto esta-mos momentaneamente encarcerados em três. Mesmo en-tre os Espíritos, isto sabemos, existem gradações. Há

obsessores que preferem a convivência mais próxima à ma-téria, como também há os mentores espirituais, ditos Es-píritos de Luz, mais refinados e purificados. A literatura es-pírita nos informa que, em geral, os Espíritos sofredoresnão conseguem enxergar os Espíritos superiores. São ex-tensos os relatos de materializações ocorridas na esfera es-piritual. O Espírito Matilde materializou-se diante de An-dré Luiz e Gúbio para poder conversar com eles, e, maistarde, foram ambos que se materializaram ao chegarem auma esfera espiritual menos elevada, para que os seres da-quela região pudessem enxergá-los2. Também é comumassociarmos aos Espíritos de escol maior poder, e, conse-qüentemente, maior capacidade energética. Daí cogitamospossível haver Espíritos que conseguiriam dar saltos ao hi-perespaço em dimensões mais elevadas que outros. Estaconclusão parece-nos bastante razoável. Dizemos isto nãosomente para Espíritos desencarnados, mas também entrealguns encarnados no desprendimento pelo sono, ou noestado sonambúlico (transe mediúnico, por exemplo).

Matemáticos e físicos teóricos de todo o Planeta,da década de 70 aos dias de hoje, vêm febrilmente de-senvolvendo a denominada Teoria das Supercordas.Esta tem sido chamada de “teoria do tudo”, pois sepretende que ela contenha em seu bojo as quatro teo-rias fundamentais do Universo que se conhecem. ATeoria das Supercordas não alcançou ainda o status de“teoria do tudo”, devido à impossibilidade operacio-nal de se testar experimentalmente suas conclusões.Segundo esta, vivemos em um espaço de múltiplas di-mensões, mas a quantidade de energia para saltarmosao hiperespaço, tudo indica, vai além de nossa capa-cidade tecnológica atual. Dia virá, podemos imaginar,em que nós, os encarnados, construiremos máquinaspara abrir portais multidimensionais e realizar proe-zas impensáveis através de distâncias incomensuráveis,em frações de segundo, o que hoje só é possível pormeio da mediunidade. Neste dia, haveremos de en-contrar os seres, amados de nossos corações, que se li-bertaram das algemas tridimensionais e se encontramlivres e vivos no espaço multidimensional. A comuni-cação entre estes dois mundos será uma constante ereceberemos, felizes, diretamente dos mentores espi-rituais, as imorredouras lições para nosso aperfeiçoa-mento intelecto-espiritual.

2 XAVIER, F. C. Libertação. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994.

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Hydesville “Recordas a Belém de nossa fé, Manjedoura

feliz do Espiritismo!”

Nas telas sucessivas da verdade, Brilharás como estrela para os povos Na alegria recôndita que invade A existência ideal dos homens novos!

Todo o roteiro espírita cristão Algo de teu caminho nos descerra; Concha acústica da Revelação, Teus raps ecoaram pela Terra!

Contigo, um lar humilde e ignorado Trouxe o verbo do Além, sereno e forte, Revelando às Nações, em grande brado, Para a glória da vida que há na morte.

Três jovens médiuns contra os preconceitosVenceram emboscadas e sofismas, Mostrando aos olhos cegos e imperfeitosLições da Antigüidade noutros prismas.

Fulguras como excelsa encruzilhada Aos destinos humanos sofredores, E és ainda a baliza iluminada Por doce lenitivo às nossas dores.

Hydesville! Saudamos-te de pé, Na luta contra as sombras do ateísmo! Recordas a Belém de nossa fé, Manjedoura feliz do Espiritismo!

LEÔNCIO CORREIA

(Poema recebido pelo médium Waldo Vieira, em 7/11/1960, na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, MG.) Fonte: REFORMADOR de março de 1998, p. 9.

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Na noite de 28 de março de1848, nas paredes de madei-ra do barracão de John D.

Fox, começaram a soar pancadasincomodativas, perturbando o sonoda família, toda ela metodista. Asmeninas Katherine (Katie ou Kate),de nove anos de idade, e Margaret-ta, de doze anos 2, correram para oquarto dos pais, assustadas com osgolpes fortes nas paredes e teto deseu quarto.

Esse barracão, na aldeia deHydesville, no Condado de Wayne,Estado de New York, era construí-do em terreno pantanoso. Os ali-cerces eram de pedra e tijolos até àaltura da adega e daí para cima sur-giam paredes de tábuas. Seus últi-mos ocupantes haviam sido osWeekmans, que posteriormentetambém confessaram ter ouvido alibatidas na porta, passos na adega efenômenos outros inexplicáveis.

No dia 31 de março de 1848 afamília Fox deitou-se mais cedo do

que de costume, pois havia três noi-tes seguidas que não podiam conci-liar o sono. Foi severamente reco-mendado às crianças, agora dor-mindo no quarto dos pais, que nãose referissem aos tais ruídos, mesmoque elas os ouvissem.

Nada, porém, obstou a quepouco depois as pancadas voltas-sem, tornando-se às vezes em verda-deiros estrondos, que faziam tremeraté os móveis do quarto.

As meninas assentaram-se nacama, e o Sr. John Fox resolveu daruma busca completa pelo interior epelo exterior da pequena vivenda,mas nada encontrou que explicasseaquele mistério.

Kate, a filha mais jovem do ca-

sal, muito viva e já um tanto acos-tumada ao fenômeno, pôs-se emdado momento a imitar as panca-das, batendo com os seus dedos so-bre um móvel, enquanto exclama-va em direção ao ponto onde osruídos eram mais constantes: “Va-mos, Old Splitfoot, faça o que eufaço.” Prontamente as pancadas do“desconhecido” se fizeram ouvir, emigual número, e paravam quando amenina também parava.

Margaretta, brincando, disse:“Agora, faça o mesmo que eu: con-te um, dois, três, quatro”, e ao mes-mo tempo dava pequenas pancadascom os dedos. Foi-lhe plenamentesatisfeito esse pedido, deixando atodos estupefatos e medrosos.

O começo da história sem fimLino Teles

1

REFORMADOR DE ONTEM

A cabana Fox, Condado de Wayne, Hydesville, N. Y., 31 de março de 1848

1 Pseudônimo de Ismael Gomes Braga.2Há, com relação a essas idades, pequenasdiferenças entre os autores, seja para menos, se-ja para mais. As idades que anotamos são devi-das a Robert Dale Owen, e parecem ser as cor-retas. (Veja-se a obra Kate Fox, de W. G.Langworthy Taylor, 1933, págs. 47/48.)

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Estava estabelecida a comuni-cação dos vivos com os mortos e as-sentada uma nova era de mais di-latadas esperanças, com a provaprovada da continuidade da vidaalém do túmulo.

Naquela mesma noite de 31de março várias perguntas fo-ram feitas pelos donos da hu-milde casa e por alguns dos inú-meros vizinhos ali chamados,obtendo-se sempre, por meio decerto número de pancadas, res-postas exatas às questões formu-ladas. O comunicante invisívelforneceu ainda a sua história: foraum vendedor ambulante, que anti-gos moradores daquela casa assassi-naram, havia uns cinco anos, parafurtar-lhe o dinheiro que trazia; seucorpo se achava sepultado no po-rão, a dez pés de profundidade.

No barracão havia residido, em1844, o casal Bell, sem filhos, e quesó tinha uma criadinha, LucretiaPulver, que não raro dormia fora,em casa dos pais. Feito um inquéri-to, foi ela ouvida, pois o casal já ha-

via desaparecido do lugar. Lembra-va-se de um vendedor ambulanteque certo dia aparecera no barracão,e que os patrões a mandaram dor-mir na casa dos pais, para que o

hóspede pernoitasse no quarto dela.Pela manhã compareceu ela em ca-sa dos patrões e soube que o vende-dor partira muito cedo.

Diante do depoimento obtidopelos golpes do batedor invisível,foram feitas escavações no porão,mas era tempo de chuvas e, como aágua enchia logo a fossa que seabria no terreno pantanoso, resol-veram realizar a busca em épocapropícia. No verão, continuaram aescavação e, a cinco pés de profun-didade, foram encontrados carvão,cal e alguns ossos humanos. Por sermuito incompleto o achado, os in-crédulos teceram suas dúvidas sobrea verdade da revelação.

As pancadas continuavam, ten-do-as testemunhado várias centenasde curiosos. A pouco e pouco fo-ram estabelecendo uma convenção

para receberem respostas maisdetalhadas às perguntas que sefaziam aos autores invisíveis.Convencionou-se um alfabe-to em que cada letra represen-taria determinado número debatidas: o A seria uma, o Bseria duas, o C, três, e assimpor diante.

As meninas Fox viaja-ram, e também em outras ca-

sas, onde se hospedavam, ou-viam-se as tais pancadas, tra-

vavam-se novas conversações comos Espíritos, processando-se aindaoutros fenômenos interessantíssi-mos. Notou-se que possuíam elasuma faculdade especial, e poucodepois se observou que outras pes-soas eram dotadas de semelhantesfaculdades: ao contacto de suasmãos uma mesa se levantava, davapancadas com os pés, e essas pan-cadas respondiam com inteligên-cia a perguntas. Nomes de respei-

Primeira comunicação obtida em Hydesville, quando Kate Fox receberesposta aos seus sinais. Desenho de S. Drigin

As irmãs Fox (Margaret, Kate e Leah),

litografia de 1850

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táveis personalidades já falecidasassinavam belas mensagens anun-ciadoras de uma revolução nocampo moral das criaturas huma-nas, dizendo que afinal os temposeram chegados para que novos ho-rizontes se descortinassem aos des-tinos do homem.

Surgiu a época das mesas gi-rantes que se tornou epidemia nomundo, como se pode ver da inte-ressante obra de Zêus Wantuil, AsMesas Girantes e o Espiritismo.

Foram as mesas girantes, e de-pois falantes, que chamaram a aten-ção do Prof. Hippolyte Léon Deni-zard Rivail para os fenômenosespíritas.

Depois das mesas surgiu a es-crita com o lápis preso a uma cesti-nha de vime e, finalmente, com amão do médium. Servindo-se des-ses últimos meios, Rivail elaboroua grandiosa Codificação do Espi-ritismo.

Outros casos de depoimentospessoais de mortos foram registra-dos e alguns confirmados poste-riormente. Os rappings e knockingsnão mais se usaram na transmis-

são de notícias einformações dealém-túmulo. Obarracão de JohnFox envelheceu edesmoronou emparte3, esquecidode todos, vistoque surgiram fe-nômenos muitomais expressivos,formas de identi-ficação de Espíri-tos comunicantesmuito mais con-vincentes que le-varam os estu-

diosos à certeza da continuação davida post mortem.

Passou meio século de esqueci-mento sobre Hydesville. Eis senãoquando, alguns escolares da aldeia,brincando no local das ruínas dobarracão, notaram que havia caídoparte de uma parede interna, juntodo alicerce, deixando visível um es-queleto humano quase inteiro e umbaú de ferro. Reconfirmava-se, as-sim, a declaração do Espírito dovendedor ambulante feita havia cin-qüenta e cinco anos. O casal Bellocultara o cadáver e o baú junto daparede da adega e construíra pelolado interior outra parede. O fatofoi consignado pelo Boston Journalde 23 de novembro de 1904, quedisse terem ficado assim desvaneci-das as últimas sombras de dúvidaainda existentes.

Ao que tudo indica, o cadáver

fora enterrado no centro do porão.Depois, conforme argumenta SirArthur Conan Doyle, alarmado ocriminoso pela facilidade que haviaem ser descoberto o crime, exumouo corpo para junto do muro. Ouporque a transferência se verificassecom muita precipitação, ou porquea luz era escassa, ficaram vestígiosda inumação anterior.

Hoje, esses ossos e o baú seacham em Lily Dale, em um mu-seu, registrando a triste história dainferioridade humana, e recordan-do o nascimento de uma Nova His-tória para a Humanidade.

Um mundo de novos fenôme-nos mediúnicos, que se seguiram aoepisódio de Hydesville, abriu outroscaminhos aos estudiosos. Allan Kar-dec dilatou ainda mais os conheci-mentos a esse respeito, sabiamentecoordenando-os para uma com-preensão menos imperfeita e maisjusta do todo. Posteriormente, céle-bres trabalhos, devidos a homensnotáveis, trouxeram subsídios im-portantes à obra do Codificador,muitos deles incorporando-se à Co-dificação, pois que esta não poderiaficar estática em determinado tem-po, tendo de viver e crescer sempre,confirmada e apoiada por novos fa-tos bem verificsados e inteligente-mente interpretados.

O começo da História do Es-piritismo é a noite de 31 de marçopara 1o de abril de 1848, mas onascimento da Codificação é o dia18 de abril de 1857. Houve noveanos de estudos e observações dosfenômenos, antes de aparecer olivro primeiro de Allan Kardec.

Essa história teve começo, masnão terá fim.

Fonte: Reformador de abril de 1978,p. 129-130.

Situação atual do barracão de Hydesville transferido por Benjamin F.Bartlett, em maio de 1916, para Lily Dale Spiritualist Camp. N. Y.

3Em 1916, Benjamin F. Bartlett adquiriu osrestos do velho barracão, reconstruindo-o nacidade de Lily Dale, N. Y., onde é conservadoaté os dias atuais. (Veja-se o Grand SouvenirBook of the World Centennial Celebration ofModern Spiritualism, obra publicada nos Esta-dos Unidos, em 1948, p. 12.)

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Onúmero de julho/2002 da re-vista Esperanto, órgão oficialda Associação Universal de

Esperanto (Rotterdam, Holanda),estampou interessante texto de seuDiretor Geral, Trevor Steele, sob otítulo “Nós e o inglês”, em que sãoavaliadas as perspectivas do Espe-ranto diante da crescente presençada língua inglesa no campo das re-lações internacionais.

Tem-se ali, inegavelmente, umarealística configuração do problemalingüístico na atualidade, pela qualTrevor Steele, sendo ativo esperan-tista e fecundo literato na LínguaInternacional Neutra, procura evi-denciar forças e deficiências, verda-des e mitos na argumentação queos esperantistas vêm mobilizan-do na defesa e sustentação de seuideal. Ao mesmo tempo, TrevorSteele formula prognóstico igual-mente realístico para a evolução dastendências que agora se manifestamcom respeito à adoção de uma lín-gua internacional para a Humani-dade, encorajando os esperantistasà atitude que, no presente estágio,melhor lhes convém nos serviçosem favor da nobre causa.

Trevor questiona a existênciade um imperialismo lingüístico,

quando muitos homens, como é ocaso dos holandeses, abraçam a cau-sa do inglês sem, aparentemente,sofrerem quaisquer pressões. Nãoobstante, menciona o fato, igual-mente constatado, de que pessoas eorganizações tiram, conscientemen-te, proveito econômico e culturalda difusão de sua língua todo-pode-rosa.

Evidencia também prováveisbrechas no argumento de que o Es-peranto desempenharia, no mundomoderno, o papel de protetor daslínguas fracas. Trevor formula a in-dagação: não seria natural o fato deque línguas e dialetos tendem a“morrer” por contingências sociaisa que estão submetidos?

O argumento da relativa facili-dade do Esperanto, embora reflitauma verdade indiscutível, não re-vestiria a importância que lhe temsido atribuída, pois se a questão fos-se apenas em torno de facilidade, oEsperanto já teria vencido há mui-to tempo. A facilidade, por si só,questiona Trevor, não constituiriamotivação suficiente num contextoem que ainda prevalecem condicio-namentos ditados por interesses ex-clusivamente econômicos e finan-ceiros.

Um forte argumento em favordo Esperanto é o de que ele assegu-ra igualdade a todos, indivíduos epovos, ao mesmo tempo que ense-ja economia de recursos aplicáveis

em outros campos. Aqui Trevor fo-caliza um traço bastante significati-vo da posição dos homens em gerala respeito da diversidade lingüísticae dos problemas que ela acarreta: aquestão não reveste prioridade paraa imensa maioria, não obstante osnexos existentes entre diversidadelingüística e desigualdades econô-micas e culturais.

A análise das esperanças que omovimento esperantista tem ali-mentado, ao longo das décadas, arespeito da desejada, e adiada, vitó-ria final, assume especial interesse,uma vez que Trevor Steele nelatambém inclui as relações entre Es-peranto e Espiritismo no Brasil. Ospioneiros do Esperanto puseram asbases da vitória no apoio de elitesintelectuais com mentalidade inter-nacionalista. Nos anos 20 e 30, pre-tendeu-se ver no triunfo do socia-lismo a condição para a generali-zação do Esperanto, e, segundo Tre-vor, uma expectativa semelhanteparece reinar nos círculos espíritasdo Brasil. E as grandes organizaçõesinternacionais, não obstante apoiossimbólicos, reconhecimentos for-mais do valor do Esperanto, nãodemonstram inclinar-se a qualqueratitude mais objetiva, concreta, emfavor da grande causa, aparente-mente enfraquecida no contextoatual, ainda bastante impregnado desentimentos de exagerado naciona-lismo, de autarquismos de diversa

A FEB E O ESPERANTO

O problema lingüístico na atualidade Affonso Soares

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natureza, de egoísmo particularis-ta.Trevor Steele conclui suas análi-ses com criteriosa exortação emque, reunindo realismo e idealismo,convoca todos os adeptos da causaesperantista à atitude que melhorlhes convém e que, a rigor, podeaplicar-se a outros grandes ideaisque, como o Esperanto, marchamainda bem distantes da sonhadageneralização.

Aqui passamos a palavra aopróprio autor do artigo, transcre-vendo, em tradução, trechos do tex-to em foco:

“Penso que devemos aceitar,com realismo, estarmos atravessan-do uma época desfavorável à idéiade uma língua internacional neu-tra. Se não aceitarmos esse fato,corremos o risco de ficar batendo acabeça contra muros inamovíveis..........................................................

Devemos, porém, recolher-nosem nosso acampamento, cuidar denosso pequeno jardim e desfrutar ocalor aconchegante de um grupinhoíntimo?

Tanto a tentativa quixotescade lutar contra o atual estágio evo-lutivo, quanto uma quase-renúnciaà expansão externa, se me afiguramuma visão deficiente das dimensõesde nossa campanha. Temos, afinalde contas, tentado resolver um pro-blema provavelmente tão velhoquanto a Humanidade, e ainda as-sim deixamo-nos subjugar pela im-paciência apenas porque já mais deum século tem passado sem o ad-vento da vitória final!

A língua Esperanto está pron-ta, é um belo instrumento suscetí-vel de evolução, mas será que omundo está preparado para aceitá--la? A Humanidade precisa ama-

durecer mais para ter uma justacompreensão das questões que temoslevantado como motivo de nossaatividade..........................................................

Trabalhemos por essa nobrecausa, mesmo que não vejamos re-sultados imediatos. E o que fizer-mos, façamos com empenho, de mo-do criativo e prazeroso. Nossacontribuição é necessária, mas de-cisiva apenas quanto ao dever demanter vivas a língua e sua idéiaaté que a própria Humanidade de-cida.

A propósito, um último pensa-mento: o mundo se modifica comgrande rapidez. Consideremos asdiferenças entre o planeta em 1900e em 2000. É fora de dúvida queas modificações serão maiores nospróximos cinqüenta anos do que oforam nos cem últimos. Em 2002 oEsperanto está sendo usado poruma porcentagem muitíssimo pe-quena da Humanidade. Talvez em2052 sua popularidade venha a su-perar a que o inglês hoje desfruta.”

...Muitas considerações podería-

mos tecer em torno do pensamen-to de Trevor Steele, um valorosoidealista que, não tendo seu pensa-mento fecundado pelasperspectivas oferecidas pe-la Revelação Espírita, delasse aproxima por um sadio,esclarecido e equilibradootimismo. Mas vamos ape-nas reapresentar exortaçõesque o venerando EspíritoEmmanuel dirigiu a IsmaelGomes Braga através damediunidade de Chico Xa-vier:

“(...) Em tuas lutas,

meu irmão, não te sintas abando-nado. Devotados samideanos doAlém colaboram contigo em teus es-forços. A luta é árdua, mas é neces-sária, em face da vitória indis-cutível. A missão do Esperanto égrandiosa e profunda junto das co-letividades humanas. Não te en-tristeças, contudo, se os resultadosda difusão da linguagem interna-cional parecem, por vezes, medío-cres em extensão. A tarefa esperan-tista é muito grande e as realizaçõesjá efetuadas no orbe, pelos seus tra-balhadores, são numerosas e consis-tentes, pressagiando as edificaçõesdo futuro.

(...) Não te entristeças, repito,e nem te atormentes em face da in-diferença do mundo. Toda impassi-bilidade é transitória. Além disso,a missão de Zamenhof é de ontem.Poucos lustros assinalam as suas es-peranças do princípio. E Jesus? Nãopodemos esquecer que o Evangelhoespera a adesão do mundo há qua-se dois mil anos.

Continuemos, pois, em nossosesforços e não duvidemos dAqueleque é a luz e o amor de nossas al-mas.

Que Deus te abençoe. – Em-manuel.”

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Conhecido banco paulista, porintermédio de sua agência noRio de Janeiro, fez afixar em

vários pontos da cidade, de fácilacesso à visão, expressivo outdoorcom o seguinte fundo publicitário:de um lado oito crianças, de tama-nhos e raças diferentes; de outro, osdizeres: “As crianças são a Mensa-gem de que Deus não perdeu a es-perança nos homens.” (Tagore.)

Por várias vezes, detivemo-nosem contemplar o grupo infantil, to-do ele formado de criaturinhas riso-nhas, tranqüilas e felizes: cinco me-ninos e três meninas.

Do conjunto liliputiano, passá-vamos ao texto do imortal pensadore filósofo indiano.

Ligávamos as duas coisas – ascrianças às palavras – para concluirque ali estava expressa uma das maio-res e mais consoladoras verdades detodos os tempos. Sobretudo nas con-dições em que era feita a apresenta-ção do pensamento do autor e doobjeto a que ele se reportava.

Crianças de nacionalidades eraças diferentes, formando um blo-co feliz e esperançoso...

Elas realmente se acham espa-lhadas por todas as partes do mun-do, vicejando e florescendo em so-los pátrios diferentes, entrosadas noorganismo social de vários povos,cobrindo a superfície da Terra co-mo peças vivas da Natureza, dando

vida e beleza à paisagem nebulosa esombria das nações.

Elas são efetivamente os marcosluminosos da Esperança Celestial,deitando suaves e doces claridadespor sobre os caminhos nevoentos eempoeirados da Crosta Planetária.

Elas falam de um futuro quepoderá ser a mais empolgante e ra-diosa realidade dos nossos sonhosno presente.

Elas apontam uma posteridadeintegrada nas verdades e virtudes daVida Imortal.

Graças a Deus existem criançasno Brasil, nas Américas, na Europa,na Ásia, na África, na Oceania, emtodos os continentes, “como estre-las caídas da amplidão” nos recessospromissores dos lares e no cariciosoregaço das famílias.

Graças ao Senhor há meninose meninas cheios de vivacidade einocência, de encantos e atrativos,flores em botão apendoados no Jar-dim da Vida, frutos em maturaçãono imenso Pomar do Mundo, en-feitando o panorama conturbadoda existência humana.

“As crianças são a Mensagemde que Deus não perdeu a esperan-ça nos homens.” (Tagore.)

Não há dúvida de que assim é.Vendo-as espalhadas pelos quadran-tes do Planeta, como promissoras se-mentes atiradas à Gleba Terrena pe-las mãos misericordiosas do Pai, nóssabemos que há outros corações, ain-da virgens das maldades humanas,capazes de amar, de esperar, de orar,de trabalhar, de servir, de entender,de alcandorar-se nos altiplanos dos

sentimentos; nós sabemos que há ou-tras mentes – inúmeras mentes –suscetíveis de mentalizar o melhor esuperior, de pensar somente no sen-tido do Bem, da Luz e da Verdade,de formular raciocínios altamente lu-minosos e benéficos, de delinear pla-nos humanitários e beneméritos, deconceber idéias generosas e emitir vi-brações construtivas.

Enquanto houver crianças noMundo, estará de pé a esperança dechegarmos um dia a Deus e de sera Terra promovida a Paraíso.

Enquanto lhes ouvirmos as vo-zes ricas de doces e penetrantes so-noridades; enquanto lhes surpreen-dermos nos lábios os risos cândidose atraentes; enquanto lhes virmos osgestos espontâneos, encantadores egraciosos; enquanto pudermosapreender-lhes nos olhos o brilhoda candura, irradiando doce mag-netismo e impregnando-nos a almade blandiciosos eflúvios; enquantotudo isto puder ser visto, ouvido esentido, haverá promessas de felici-dade para a Humanidade inteira.

Mas, para que essas promessasse concretizem em dulçorosas reali-dades, é mister que semeemos nacriança as noções grandiosas dosensinamentos de Jesus, educan-do-as para Deus.

Só então a Sua Mensagem deEsperança será encontrada em cadaum de nós e dos nossos, depois deadultos, pois fazermo-nos homense mulheres, com valores divinos emmovimentação em nossas almas, é aúnica maneira de assegurar a nossaprópria felicidade e a de todos.

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A Mensagem de DeusPassos Lírio

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Ofenômeno das aparições apre-senta-se hoje sob um aspectode certo modo novo, proje-

tando uma viva luz sobre os misté-rios da vida de além-túmulo. Antesde abordar os estranhos fatos quevamos relatar, julgamos de nossodever repetir a explicação que foidada e completá-la.

Não se deve de maneira algu-ma perder de vista que, durante avida, o Espírito encontra-se unidoao corpo por uma substância semi-material que constitui um primeiroenvoltório que designamos sob onome de perispírito. Tem, pois,o Espírito dois envoltórios: umgrosseiro, pesado e destrutível – ocorpo; e outro etéreo, vaporoso eindestrutível – o perispírito. A mor-te nada mais é que a destruição doenvoltório grosseiro, é a roupa usa-da que deixamos; o envoltório se-mimaterial persiste, constituindo,por assim dizer, um novo corpo pa-ra o Espírito. Essa matéria eterizada– é bom que notemos – absoluta-mente não é a alma, é apenas o seuprimeiro envoltório. A natureza ín-tima dessa substância ainda não éperfeitamente conhecida, mas a ob-servação nos colocou no caminhode algumas de suas propriedades.Sabemos que desempenha um pa-pel capital em todos os fenômenos

espíritas; após a morte, é o agenteintermediário entre o Espírito e amatéria, assim como o corpo du-rante a vida. Por aí se explica umaporção de problemas até então in-solúveis. Veremos, em artigo subse-qüente, o papel que ele representanas sensações dos Espíritos. A des-coberta do perispírito, portanto, seassim nos podemos expressar, per-mitiu que a ciência espírita desseum passo enorme e entrasse numavia inteiramente nova. Mas, direis,não será esse perispírito uma cria-ção fantástica da imaginação? Nãoseria mais uma dessas suposiçõesfeitas pela ciência para explicar cer-tos efeitos? Não; não é obra da ima-ginação, porque foram os própriosEspíritos que o revelaram; não setrata de idéia fantástica, desde quepode ser constatado pelos sentidos,ser visto e tocado. A coisa existe;apenas o termo é nosso. Necessita-mos de palavras novas para expri-mir coisas novas. Os próprios Espí-ritos o adotaram nas comunicaçõesque tivemos com eles.

Por sua natureza e em seu esta-do normal, o perispírito é invisívelpara nós, embora possa sofrer mo-dificações que o tornam perceptívelà vista, seja por uma espécie de con-densação, seja por uma mudançaem sua disposição molecular: é en-tão que nos aparece sob uma formavaporosa. A condensação – termoque utilizamos à falta de outro me-lhor, mas que não deve ser tomadoao pé da letra – a condensação, di-

zíamos, pode ser de tal intensidadeque o perispírito passa a adquirir aspropriedades de um corpo sólido etangível, embora seja capaz de reto-mar instantaneamente o seu estadoetéreo e invisível. Podemos ter umaidéia desse efeito pelo vapor, que écapaz de passar da invisibilidade aoestado brumoso, depois ao líquido,em seguida ao sólido e vice-versa.Esses diferentes estados do perispí-rito são o produto da vontade doEspírito, e não de uma causa físicaexterior. Quando ele nos aparece éque dá ao seu perispírito a proprie-dade necessária para o tornar visí-vel, e essa propriedade ele a podeestender, restringir e fazer cessar àvontade.

Uma outra propriedade dasubstância do perispírito é a de pe-netrabilidade. Nenhuma matérialhe opõe obstáculo: ele as atravessatodas, como a luz atravessa os cor-pos transparentes.

Separado do corpo, o perispíri-to assume uma forma determinadae limitada, e essa forma normal é ado corpo humano, embora não se-ja constante; o Espírito pode dar--lhe, à vontade, as mais variadasaparências, até mesmo a de um ani-mal ou de uma chama. Aliás, con-cebe-se isso muito facilmente. Nãovemos homens que imprimem aorosto as mais diversas expressões,imitando, a ponto de nos engana-rem, a voz e as expressões de outraspessoas, parecerem corcundas, co-xas, etc.? Quem na rua reconhece-

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE

Aparições

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ria certos atores que só são vistos ca-racterizados no palco? Se, portanto,o homem pode assim dar ao seucorpo material e rígido aparênciastão contrárias, com mais forte razãoo Espírito poderá fazê-lo com umenvoltório eminentemente flexívele que se pode prestar a todos os ca-prichos da vontade.

Os Espíritos, pois, geralmentenos aparecem sob a forma humana;em seu estado normal não tem essaforma nada de bem característico,nada que os distinga uns dos outrosde uma maneira muito nítida; nosbons Espíritos, ela é ordinariamen-te bela e regular: longos cabelos flu-tuantes sobre os ombros e túnicas aenvolver-lhes o corpo. Mas quandoquerem fazer-se conhecidos, tomamexatamente todos os traços sob osquais eram conhecidos e, quandonecessário, até mesmo a aparênciado vestuário. Assim, para exempli-ficar, como Espírito, Esopo não édisforme: mas se for evocado comoEsopo, ainda que tivesse tido váriasexistências posteriores, apareceriafeio e corcunda, com a indumentá-ria tradicional. Essa vestimenta, tal-vez, é o que mais espanta; porém, seconsiderarmos que faz parte inte-grante do envoltório semimaterial,concebe-se que o Espírito possa dara esse envoltório a aparência de talou qual vestuário, como a de tal ouqual fisionomia.

Tanto podem os Espíritos apa-recer em sonho como em estado devigília; essas últimas não são rarasnem novas; sempre existiram emtodos os tempos e a História as re-gistra em grande número; mas semretroceder tanto, hoje essas visõessão bastante freqüentes e muitagente, num primeiro instante, as to-mou por alucinações. São freqüen-

tes sobretudo nos casos de morte depessoas ausentes, que vêm visitarseus parentes ou amigos. Muitas ve-zes não têm um fim determinadomas, em geral, podemos dizer queos Espíritos que assim nos apare-cem a nós são atraídos por simpa-tia. Conhecemos uma jovem se-nhora que à noite, em sua casa,com ou sem iluminação, via ho-mens que entravam e saíam, embo-ra as portas estivessem fechadas. Is-so a deixava muito espantada,tornando-a de uma pusilanimidadeque tocava as raias do ridículo. Cer-to dia viu distintamente seu irmão,então na Califórnia e que absoluta-mente não havia morrido, o quevem provar que o Espírito dos vivospode vencer as distâncias e aparecernum determinado lugar, enquantoseu corpo repousa alhures. Desdeque foi iniciada no Espiritismo essasenhora não mais teve medo, por-que se deu conta das visões e sabeque os Espíritos que a vêm visitarnão podem fazer-lhe nenhum mal.Quando seu irmão apareceu, é pro-vável que estivesse dormindo; sepudesse ter explicado a sua presen-ça poderia ter mantido conversaçãocom ele, o qual, ao despertar, talvezconservasse uma vaga lembrançadesse encontro. Além disso, é pro-vável que nesse momento ele so-nhasse que se achava ao lado dairmã.

Dissemos que o perispírito po-de adquirir a tangibilidade; já fala-mos desse assunto quando nos refe-rimos às manifestações produzidaspelo Sr. Home. Sabemos que pordiversas vezes fez aparecessem mãos,que se podia apalpar como se fos-sem vivas mas que, repentinamen-te, se desvaneciam como uma som-bra; mas não se tinham visto ainda

corpos inteiros sob essa forma tan-gível, embora esse fato não seja im-possível. Numa família do conheci-mento íntimo de um de nossosassinantes, um Espírito se vinculouà filha do dono da casa, menina deseus dez a onze anos, sob a formade um belo garoto da mesma idade.Fazia-se visível para ela qual se forauma pessoa comum, e visível ou in-visível para os outros conforme lheaprouvesse; prestava-lhe toda sortede bons serviços, trazia-lhe brinque-dos, bombons, fazia o serviço do-méstico, ia comprar aquilo de queprecisavam e o que mais o valha.Não se trata absolutamente de umalenda da mística Alemanha, e deforma alguma é uma estória da Ida-de Média, mas, sim, de um fatoatual, que se passa no momento emque escrevemos, numa cidade daFrança e numa família muito hon-rada. Fizemos até mesmo estudosbastante interessantes sobre esse fa-to, os quais nos forneceram as maisestranhas e inesperadas revelações.Haveremos de entreter nossos leito-res de modo mais completo em ar-tigo especial que publicaremos bre-vemente.

Allan Kardec

Fonte: Revista Espírita — dezembro de

1858. Tradução de Evandro Noleto Be-

zerra.

NOTA

A partir deste mês, passamos apublicar a seção PÁGINAS DAREVUE SPIRITE – fundadapor Allan Kardec –, traduzidaspor Evandro Noleto Bezerra epor ele selecionadas.

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Afora aquelas pessoas que nãocrêem na sobrevivência da al-ma após a morte do corpo fí-

sico, muitas outras existem queimaginam ser a desencarnação a se-paração definitiva entre os chama-dos vivos e os mortos.

Algumas narrações evangélicasparecem confirmar essa última su-posição. Em Lucas (16:27-31), Je-sus narra a parábola de Lázaro, omendigo, e do homem rico. Apósa desencarnação de ambos, o últi-mo pede ao Espírito Abraão paraenviar Lázaro, que gozava das bem--aventuranças celestes, para avisaros cinco irmãos do rico sobre ostormentos morais dos que, comoeste, desfrutaram egoisticamente dasriquezas materiais quando encar-nados.

Em resposta, ouve o seguinte:“Têm Moisés e os profetas; ouçam--nos.”

O rico então replica que se al-gum dos mortos fosse ter com eles,arrepender-se-iam.

Mas Abraão lhe diz: “Se nãoouvem a Moisés e aos profetas,tampouco acreditarão, ainda que al-gum dos mortos ressuscite.”

Se essa parábola, ou mesmoa passagem evangélica em que Jesuspede para deixar “aos mortos ocuidado de enterrar seus mortos”

(Lucas, 9:60) significassem que nãohá qualquer possibilidade de comu-nicação com os Espíritos, não fa-riam sentido as narrativas de Ma-teus (18:3-4) e Lucas (9:28-36), nasquais Jesus toma consigo Pedro,Tiago e João, condu-los a um altomonte e, ali, após o Cristo irradiarintensa luz, às vistas desses apósto-los, surgem os Espíritos Moisés eElias, que conversam com o Mestre.

A visão foi tão real que Pedropropôs a Jesus fazer três tabernácu-los, um para este e os outros doispara Moisés e Elias (Mateus, 17:4).

Coube aos Espíritos superioresrestabelecerem a verdade sobre o in-tercâmbio entre os dois planos deuma mesma existência: a física e aespiritual. Na questão 459 de O Li-vro dos Espíritos, somos informa-dos de que os Espíritos influem detal modo em nossas vidas que, ge-ralmente, eles nos “dirigem”.

Nossa alma é um Espírito quepensa. E, muitas vezes, vários pen-samentos nos ocorrem simultanea-mente sobre um mesmo assunto. Éaí que se misturam com os nossosos pensamentos dos Espíritos, con-forme lemos na questão 460 daobra supracitada.

A liberdade de ação cabe a nós,por isso, afirmam os Espíritos aKardec, não é muito importantedistinguirmos nossos próprios pen-samentos dos que nos são sugeri-dos. (Op. cit., q. 461.)

A capacidade de distinguir seum pensamento sugerido procede

de um bom ou um mau Espírito éadquirida pelo estudo de cada caso.Como pode ser lido na questão464: “Estudai o caso. Os bons Es-píritos só para o bem aconselham.Compete-vos discernir.”

Orientam-nos, ainda, os Espí-ritos superiores, que podemos noseximir da influência dos Espíri-tos que procuram nos arrastar parao mal “(...) visto que tais Espíritossó se apegam aos que, pelos seus de-sejos, os chamam, ou aos que, pe-los seus pensamentos, os atraem.”(Op. cit., q. 467.)

A forma de neutralizar a in-fluência dos maus Espíritos é a prá-tica do bem e a confiança em Deus.(Op. cit., q. 469.)

Se observarmos atentamente osinúmeros acontecimentos de nossasexistências físicas, podemos encon-trar, de forma incontestável, a con-firmação das informações transmi-tidas pelos Espíritos a Allan Kardec.

Sim, nossas vidas e as das pes-soas que conhecemos, ou não, sãoricas de fatos atestatórios das in-fluências dos Espíritos sobre os cha-mados vivos. E a destes sobre aque-les também é normal, embora nemsempre conscientes disso, assim co-mo as influências dos encarnadosentre si, que também podem ser os-tensivas ou ocultas.

Filho de pai espírita convicto,embora este tenha falecido preco-cemente, aos cinqüenta e poucosanos, quando tínhamos onze anos,aos vinte anos iniciamos, de fato,

Os Espíritos intervêm em nossas vidas!Jorge Leite de Oliveira

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nossa participação no MovimentoEspírita do Rio de Janeiro. Por vá-rias décadas, ansiávamos por teruma demonstração patente da so-brevivência do Espírito paterno,embora tenhamos tido sonhos va-gos com ele. Casamo-nos e... nada.A esposa, médium vidente, após al-guns anos de casados, afirmou-nostê-lo visto em certa ocasião e, aoperguntar-lhe, mentalmente, se eleficaria conosco, respondeu-lhe quesim, espiritualmente.

Os anos passaram, a vontade dereceber notícias do pai inesquecívelpermaneceu, mas também perma-necemos calado. Jamais havíamosfalado com ninguém sobre esse de-sejo. Desde que nos casamos, e hámais de vinte anos, cultuamos oEvangelho no lar. Durante esse pe-ríodo, sempre ouvimos de nossacompanheira a notícia de que temosum mentor espiritual, mas nunca fi-zemos qualquer correlação destecom a figura paterna. Até que, há al-guns meses, a esposa tornou a vê-loe, discretamente, transmitiu-nos me-diunicamente a seguinte mensagem:“Meus filhos queridos, tenho acom-panhado-os por todos esses anos.Presenciei o renascimento de cadaum dos seus três filhos e fui encar-regado de ser o mentor espiritual doEvangelho no lar de sua família.Deixo aqui o meu abraço para todosvocês...” E identificou-se.

Era demais; a Espiritualidadecoroava-nos a paciência da esperade mais de trinta anos com a men-sagem daquele que, em vida, nacurta convivência dos nossos onzeanos, tínhamos como o modelo dehonestidade, de elevação moral e depai ideal.

Pouco tempo após, viajamospara o Rio de Janeiro e, abrigados

na casa materna, recebemos a liga-ção de um primo, que mora emNiterói. Espontaneamente, falou--nos ter assistido a uma reuniãomediúnica em Minas Gerais, na ca-sa da esposa de seu irmão. Essa se-nhora, também médium vidente ede psicofonia, embora sem nuncater conhecido nosso pai, afirmoupara todos os presentes a uma reu-nião do culto do Evangelho em seular que fora informada sobre a si-tuação de diversos Espíritos familia-res desencarnados. Concluiu afir-mando: “De todos, o que está emmelhor situação espiritual é oSr. Sebastião.” E o identificou co-mo tio do meu primo e meu ines-quecível pai.

É como disse um dia ChicoXavier: “o telefone toca de lá paracá e não de cá para lá”. Quando osEspíritos nos julgam merecedores,se apresentam para nós, e se fazemconhecer, mas é preciso ter “olhospara ver e ouvidos para ouvir”, co-mo falava Jesus. Por isso, diziaKardec que o Espiritismo não éCiência, no sentido comum dessapalavra. É Ciência de observação.Embora também se lhe aplique ométodo experimental, requer todoum procedimento que deman-da esforço, crescimento espiritual.

“Assim como a Ciência propria-mente dita tem por objeto o estu-do das leis do princípio material,o objeto especial do Espiritismo éo conhecimento das leis do prin-cípio espiritual.” (KARDEC, Al-lan. A Gênese. 22. ed. Rio de Ja-neiro: FEB, 1980, cap. I, item 16,p. 21.)

Há poucos anos, participan-do de uma atividade de pesquisana Biblioteca de Obras Raras, naFEB/Brasília, tivemos a felicidadede ler artigos de um “ex-inimigo doEspiritismo”: César Lombroso, ofamoso psiquiatra e antropologistaitaliano, criador de uma tese famo-sa, utilizada ainda hoje, pela ciênciacriminológica, para identificar, pe-los caracteres psicofísicos, a tendên-cia de uma pessoa às atitudes crimi-nosas, além de outras tendências.Era, então, César, materialista con-victo. (LOMBROSO, César. Hip-notismo e Mediunidade. Trad. Al-merindo Martins de Castro. 2. ed.Rio de Janeiro: FEB, 1974, p. 38).Até ter resolvido participar de algu-mas reuniões mediúnicas em casade médium famosa, Eusápia Paladi-no, que materializou o Espírito damãe de Lombroso. Este ficou tãoemocionado e estupefato com apresença e expressões maternas, quenão teve mais qualquer dúvida: oEspírito de sua mãe viera dar-lhe acerteza da imortalidade da alma.(Op. cit., p. 56.)

A partir desse dia, Lombroso setornou um dos mais fervorosos di-vulgadores da Doutrina Espírita eautor da obra Hipnotismo e Me-diunidade, traduzida pela Federa-ção Espírita Brasileira, em que en-foca, à luz da Ciência espírita, arealidade dos fenômenos mediú-nicos. >

“O objeto especial

do Espiritismo é o

conhecimento das

leis do princípio

espiritual”

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> Na obra E a Vida Continua...,cap. 25, “Nova diretriz”, ditada pe-lo Espírito André Luiz a FranciscoCândido Xavier, é narrado o casoda influência, mente a mente, entreo Espírito Evelina Serpa e seu ex--marido, Caio Serpa, que ainda seencontrava encarnado.

A esposa desencarnada busca-va atuar sobre os pensamentos deCaio, objetivando influenciá-lo nadecisão de consorciar-se com Vera,jovem por quem ele se apaixonara,mas se encontrava indeciso entre as-sumir ou não um compromisso demaior responsabilidade, como o deum segundo casamento.

O casamento entre Caio e Ve-ra ajudá-los-ia a se reajustarem an-te a lei de causa e efeito, como defato ocorreu.

A influência dos Espíritos po-de, entretanto, ser boa ou má. Osmaus inspiram-nos maus pensa-mentos, “sopram a discórdia” entrenós, insuflam-nos as “más paixões”e nos “exaltam o orgulho”. Os bons

Espíritos inspiram-nos bons pensa-mentos, fazem-nos todo o bem quepodem e se rejubilam com as nos-sas alegrias. Os nossos males moraisos afligem mais do que os físicos.(O Livro dos Espíritos, q. 486 e487.)

Temos, ainda, além da prote-ção dos parentes e amigos que nosprecederam na “outra vida”, a donosso Espírito protetor, comumen-te chamado anjo de guarda. (Op.cit., q. 489 e seguintes.)

Todo o nosso relacionamentocom os Espíritos está na base dasintonia. Se nos ligarmos aos maus,os bons se afastam, se cultivarmos obem, estes se aproximam e aquelesse afastam ou se convertem ao bem.Não foi por outra razão que Jesusnos recomendou: “Vigiai e orai, pa-ra não entrardes em tentação.”(Mateus, 26:41; Marcos, 14:38.)

O Espírito Emmanuel, no li-vro Caminho, Verdade e Vida, psi-cografado por Francisco CândidoXavier (Lição 170: “Domínio Es-

piritual”.) afirma-nos: “Nos transesaflitivos a criatura demonstra sem-pre onde se localizam as forças ex-teriores que lhe subjugam a alma.”E, como mais elevada companhia,cita a do próprio Criador junto denós, como sempre esteve junto doCristo, conforme atestam suas pa-lavras em João, 16:32: “Não estousó, porque o Pai está comigo.”

Se também estivermos em per-feita sintonia com Jesus, o Pai tam-bém estará conosco, assim como to-dos os Espíritos que Ele destinoupara nos instruir, testar o nossoequilíbrio, evoluir conosco.

É a lei de solidariedade, juntoà de justiça, amor e caridade, queregem os nossos destinos e nos soli-citam, permanentemente, o bomuso do livre-arbítrio, a fim de queas boas influências espirituais se re-flitam em nossos pensamentos, pa-lavras e atos. Por isso, a sabedoriapopular já afirma: “Dize-me comquem andas e te direi quem és”.

Se nos fosse possível o isolamentoe, isolados, pudéssemos seguirsem sofrer nem causar constrangimentoque nos prejudicasse no porvir;

se nos fosse possível o encantamentodos prazeres viver, sem dor sentir,bloquearíamos nosso sentimentoprejudicando o eterno progredir.

Na convivência a alma cai em si,se chora, se padece, também riao descobrir, na caridade, a luz.

Por isso conviver é importantetroca de experiências, incessanteaprendizado aos olhos de Jesus.

Isolamento Corydes Monsores

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Nascido há 146 anos, o Espiri-tismo surgiu como o Conso-lador prometido por Jesus,

conforme João (14:15-17 e 26), pa-ra trazer ao mundo a revelação daBoa Nova do Cristo visando à liber-tação da Humanidade de dogmas,ao ensinamento de novas verdades,à correção dos desvirtuamentos nadoutrina original do Cristo e à con-solação dos aflitos de todos os ma-tizes.

Sem a preocupação de fazerprosélitos a todo custo, como ensi-nava Allan Kardec, o Codificador,a divulgação da Doutrina Espíritavem crescendo muito através doMovimento Espírita, graças à tare-fa abnegada de muitos dos seus di-rigentes, sobretudo pela necessida-de premente da população deencontrar uma religião segura, semfalsas promessas, ou engodos de to-da a sorte.

Com milhões de seguidoresno Brasil e no Exterior, a Doutri-na dos Espíritos Superiores estápaulatinamente ocupando um lu-gar de destaque nos meios científi-cos, acadêmicos, artísticos e cul-turais. Mas não deixando de avan-çar na grande camada humilde dapopulação, que é seu maior objeti-vo, já que esses são os mais necessi-tados de consolo.

Ao contrário do que pensamalguns poucos pessimistas, o Espi-ritismo tem crescido sim, e muito.O esvaziamento verificado em de-terminados agrupamentos espíritasdá-se, não raro, por dirigentes des-preparados para a função de direçãode uma instituição espírita, que aca-bam arvorando-se como verdadei-ros “donos do centro espírita”, afas-tando muitos potenciais trabalha-dores que, por seu lado, tambémsão incapazes de superar os melin-dres para fazerem prevalecer, sobreos seus sentimentos, o sentimentomaior pelo engrandecimento daCausa de Deus.

O Espiritismo, em função doseu crescimento, tem incomodadoalguns dirigentes de seitas e atémesmo de algumas religiões cente-nárias, que vêem nele uma ameaça,

não à salvação dos espíritas, comocostumam pregar nos seus cultos,mas como uma real possibilidadede perda de seus fiéis, caso essesdescubram o que de fato é o Espiri-tismo como doutrina do amor ver-dadeiro, não discriminatório, nemapelativo, mas de acordo com oMandamento Maior da Lei, dadopor Jesus (Mateus, 22:34-40).

De outro lado, caminhandojunto com a Ciência, o Espiritis-mo, em alguns centros de estudosérios, está colaborando para des-vendar o grande mistério da Ciên-cia do Espírito, que em futuro, jánão tão longínquo como outrora,possibilitará esclarecer os enigmasda vida pós-matéria e os grandesconflitos do homem vivente nocorpo material, preocupando-senão com o “Ter”, mas com o “Ser”de todos nós: o maior desafio deconquistarmos a nós mesmos, ven-cendo primeiro a luta interior con-tra as nossas imperfeições, para de-pois podermos dizer que vencemoso mundo: o mundo da indiferen-ça diante do sofrimento alheio, doegoísmo destruidor, do orgulhosem sentido; enfim, das nossas ma-zelas humanas na busca da angeli-tude, já que nascidos de Deus, pa-ra Deus estamos voltando.

O Espiritismo tem demonstra-do que nos dias atuais é, sem dúvi-da alguma, a doutrina mais apta asecundar o movimento de regene-ração da Humanidade na busca dedias melhores.

O Espiritismo hojeRobinson Soares Pereira

O Espiritismo, em

alguns centros de

estudo sérios, está

colaborando para

desvendar o grande

mistério da Ciência

do Espírito

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Ohomem navega desde muitotempo na era Psi, a letra gre-ga designadora dos fenôme-

nos parapsicológicos que se vêmtornando constantes no campopsicológico da vida humana.

Joseph Banks Rhine forneceu,com suas pesquisas, as armas ou oselementos aos que combatiam, equiçá ainda hoje continuem a com-bater, os fenômenos espíritas. Nãoera, em verdade, uma negação daexistência dos fenômenos, pois quese constituíam em fatos difíceis denão serem aceitos, porém, a nega-ção do modelo de explicações espí-ritas quanto aos seus fenômenos, osquais eram tidos como fora do na-tural...

J. B. Rhine continuou os seusesforços de pesquisador e, por fim,chegou à evidência de que “há nohomem um conteúdo extrafísico eque a mente sobrevive à morte docorpo, a percepção extrasensorialera uma realidade”.

Não obstante todas as negati-vas que tentavam obstaculizar oavanço do Espiritismo, foram umsucesso as experiências de voz-dire-ta levadas a efeito em Londres e asexplicações sobre as assombrações,muito comuns em palácios e resi-dências da capital inglesa, que nadamais seriam do que manifestaçõesdos chamados mortos, ou dos Es-

píritos. Abriam-se os caminhos, eraindubitável.

Nessa época, o Clero mostrou--se ainda mais preocupado, sofreuforte abalo, tendo em vista que ho-mens sérios, de ciência, seus gran-des e ferrenhos adversários, tivessempassado a estudar com freqüênciaos fenômenos estranhos, com issochegando cada vez mais perto dasafirmações fenomenológicas espiri-tistas.

O corpo bioplásmico surgiu naRússia, na Universidade de Kirov,justamente numa terra em que háaté hoje, menos agora do que anti-gamente, um certo predomínio dasidéias marxistas materialistas, ou,no mínimo, uma reminiscência domaterialismo científico. A provacientífica da sobrevivência da almadesenhava-se a olhos vistos. O cor-po espiritual decantado pelo Após-tolo Paulo mostrava-se às vistas atô-nitas dos homens de ciência daRússia, causando perplexidade, cla-ro, dando cabal razão às realidadesanunciadas pelo ousado Espiritis-mo. Segundo Herculano Pires, hou-ve verdadeiro alvoroço nas hostesdos “mágicos de picadeiro, jejunosem ciências, trânsfugas da razão,intoxicados de incoerência cantan-do de galo nas rinhas da ignorân-cia”. Referia-se ele aos cientistas in-transigentes e aos clérigos obsti-nados.

A mediunidade, que outra coi-sa não é senão o intercâmbio deidéias realizado pelas mentes dosEspíritos encarnados e desencarna-

dos, fez-se visível; facilmente verifi-cáveis se tornaram seus fenômenosquando, nas experimentações, ha-via a ausência do preconceito, damá-vontade, ou seja, quando erameles observados por pessoas experi-mentadas na prática da mediunida-de, e não pelos que nada sabiam, eque se limitavam a negar o incom-preendido.

Chegou-se, como explicação, aaventar a idéia de que a materializa-ção de Espírito, realizada com aparticipação da médium russa Sta-nislava, era um desdobramento desua metade, ou seja, ela se dividiaem duas personalidades, o que con-trariava, frontalmente, o que ocor-ria, tendo em vista que eram duaspersonalidades a se mostrarem psi-cológica e fisicamente distintas.

Os recursos utilizados pelosmisoneístas de todos os tempos são,foram e serão sempre os mesmos,pois que se baseiam em não quere-rem acreditar. Para eles é o que bas-ta, mesmo que as provas os agridamafrontosamente.

Arthur Colan Doyle, famosoescritor inglês, autor das histórias deSherlock Holmes, que chamouLéon Denis de o Druida de Lorena,e que mais tarde escreveu a Histó-ria do Espiritismo, numa de suasconferências, realizada em Paris, em1920, ressaltou palavras deste após-tolo de Allan Kardec, segundo oqual estava mais do que claro queo século XX veria a vitória do Es-piritismo. Léon Denis não se enga-nou, porque, exatamente, é isto que

A era PsiAdésio Alves Machado

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mais se comprova com o passar dosanos.

Nesse século, então, presen-ciou-se não os adeptos espíritas em-penhados em comprovar suas afir-mações fenomênicas mediúnicas,mas os cientistas bafejados pelas lu-zes da Espiritualidade aceitando co-mo fatos os fenômenos espíritas.

Chega a era de Freud no cam-po psicológico, a qual inaugura ostempos da Psicanálise, que atingiuo seu auge com Jung revelando osseus arquétipos, os quais somentetiveram realidade, devidamentecomprovável, porque vicejaram nadimensão dos Espíritos. O espiri-tual seria, como está sendo, bemconhecido de todos, numa aceita-ção crescente, sem o enfrentamen-to de maiores barreiras.

A era Psi prossegue com as lu-zes cada vez mais brilhantes e difun-didas pelas terras do Brasil e dealém-mar, malgrado os ventos bra-vios da ignorância humana, cujapredisposição atávica é pelo como-dismo, pelo mais fácil, não se empe-nhando pelo estudo que leva à acei-tação das verdades espíritas, tendopor meta conduzir a todos, que a elese filiarem, à perfeição espiritual,desde que abracem de forma deste-mida e com amor os ensinos crísti-cos como norma de conduta.

Saibamos, e nunca é demais sa-lientar, que não basta abraçar o Es-piritismo. É necessário, imprescin-dível mesmo, sermos por ele abra-çados, o que significa vivermos osseus postulados doutrinários.

Os fenômenos que envolvem opsiquismo são os mesmos de antes,comandados pela mediunidade, sóque menos freqüentes, tendo emvista que a fase de despertamentoatravés da necessidade de impressio-

nar os sentidos arrefeceu, trocou delugar com o uso da razão, da lógicae do bom senso, qualidades carac-terísticas do nobre Codificador doEspiritismo, Allan Kardec, que sou-be assentar toda a sua inteligênciano princípio científico de que “to-do efeito tem sua causa, e que se oefeito é inteligente a causa há de sertambém inteligente”. Assim ele che-gou aos Espíritos e aos fenômenosprovocados por eles. Rapidamentecompreendeu que tudo quantoacontecia de estranho no lado es-piritual da vida podia ser estudadoe que havia uma finalidade prepon-derante: a de acordar a mente hu-mana para a nossa imortalidade,para a vida além da sepultura e queJesus era e é o Guia e Modelo daHumanidade.

Não cessarão jamais os fenô-menos e o crescente número dosque adotam o Espiritismo comoa Ciência, a Filosofia e a Religião a

serem estudadas pelo ser humano.Ali ele certamente encontrará recur-sos inteligentes para uma transfor-mação intelecto-moral, a qual via-bilizará o seu ingresso na falange defiéis trabalhadores de Jesus.

Os Espíritos desencarnados es-tão associados aos encarnados, nu-ma tarefa santificante, como diz oEspírito Lacordaire, em mensagemencontrada em O Evangelho segun-do o Espiritismo (capítulo XVI,item 14), para, juntos, consegui-rem a regeneração do homem,usando estas palavras: “(...) Nós nosdevemos uns aos outros; somentepela união sincera e fraternal entreos Espíritos e os encarnados serápossível a regeneração.” Depois de-monstra que os bens terrenos sãoum dos maiores óbices para o nos-so adiantamento moral e espiritual.Desapeguemo-nos deles, antes quedeles sejamos prisioneiros, escra-vos.

Nossos Colaboradores

Agradecemos aos nossos colaboradores a sua valiosa con-tribuição para que Reformador continue mantendo sua linha

editorial de divulgação da Doutrina Espírita no tríplice aspectode Ciência, Filosofia e Religião. A limitação de espaço nem sem-pre nos permitiu publicar os artigos logo após seu recebimentopela Redação, obrigando-nos a retê-los para inclusão em ediçõesfuturas. A fim de evitar esse transtorno, aumentamos a quanti-dade de páginas de texto, de 32 para 40, a partir de janeiro desteano.

Em face de programarmos nossas edições com antecedência,solicitamos aos colaboradores o obséquio de anteciparem de doisa três meses a remessa dos artigos que se reportarem a datas etemas específicos: Ano-Novo, Allan Kardec, O Livro dos Espíri-tos, Dia das Mães, Natal, etc.

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Encontramos na humilde bi-blioteca de nosso estimadopai, o Sr. Leonardo di Nápoli

Filho, em um livro intitulado Se-menteira Cristã, publicado pelaFEB em 1939, de autoria de ClovisTavares, dedicado estudioso espíritade Campos, Estado do Rio de Janei-ro, no capítulo XXIII, bela historie-ta denominada “Nos três dias deCarnaval”. Na parte final deste capí-tulo foi colocada a bibliografia e alinda mensagem de nosso queridoEmmanuel, guia do Apóstolo daMediunidade Francisco CândidoXavier, por este psicografada em ju-lho de 1939, a qual transcrevemosabaixo:

Sobre o carnaval

“Nenhum espírito equilibradoem face do bom senso, que devepresidir a existência das criaturas,pode fazer a apologia da loucura ge-neralizada que adormece as cons-ciências nas festas carnavalescas.

É lamentável que, na épocaatual, quando os conhecimentos no-vos felicitam a mentalidade huma-na, fornecendo-lhe a chave maravi-lhosa dos seus elevados destinos,descerrando-lhe as belezas e os obje-tivos sagrados da Vida, se verifi-quem excessos dessa natureza entreas sociedades que se pavoneiam com

os títulos de civilização. Enquantoos trabalhos e as dores abençoadas,geralmente incompreendidos peloshomens, lhes burilam o caráter eos sentimentos, prodigalizando-lhesos benefícios inapreciáveis do pro-gresso espiritual, a licenciosidadedesses dias prejudiciais opera, nas al-mas indecisas e necessitadas do am-paro moral dos outros espíritos maisesclarecidos, a revivescência de ani-malidades que só os longos apren-dizados fazem desaparecer.

Há nesses momentos de indis-ciplina sentimental o largo acessodas forças da treva nos corações e,às vezes, toda uma existência nãobasta para realizar os reparos preci-sos de uma hora de insânia e de es-quecimento do dever.

Enquanto há miseráveis queestendem as mãos súplices, cheiosde necessidade e de fome, sobramas fartas contribuições para que ossalões se enfeitem e se intensifiqueo olvido de obrigações sagradas porparte das almas cuja evolução de-pende do cumprimento austero dosdeveres sociais e divinos.

Ação altamente meritória seriaa de empregar todas as verbas con-sumidas em semelhantes festejos,na assistência social aos necessitadosde um pão e de um carinho.

Ao lado dos mascarados dapseuda-alegria, passam os leprosos,os cegos, as crianças abandonadas,as mães aflitas e sofredoras. Por queprotelar essa ação necessária das for-ças conjuntas dos que se preocu-pam com os problemas nobres da

vida, afim de que se transforme osupérfluo na migalha abençoada depão e de carinho que será a esperan-ça dos que choram e sofrem? Queos nossos irmãos espíritas com-preendam semelhantes objetivos denossas despretensiosas opiniões, co-laborando conosco, dentro das suaspossibilidades, para que possamosreconstruir e reedificar os costumespara o bem de todas as almas.

É incontestável que a sociedadepode, com o seu livre-arbítrio cole-tivo, exibir superfluidades e luxos na-babescos, mas, enquanto houver ummendigo abandonado junto de seufastígio e de sua grandeza, ela só po-derá fornecer com isso um eloqüen-te atestado de sua miséria moral.”

...Amigo leitor, esta mensagem já

completou 63 anos e continuaatualíssima.

Sabemos que nós, espíritas, quedesejamos cumprir nossos deveresdiante da oportunidade que Jesusnos concede na reencarnação atual,devemos analisar com segurança aorientação de nosso instrutor espiri-tual, justamente pela clareza de suaexposição de idéias, principalmenteno que diz respeito ao encaminha-mento melhor dos recursos pecuniá-rios que são desperdiçados por oca-sião dos festejos de Momo.

Não podemos entregar-nos aestes desvios que nos conduzem ao“materialismo dissolvente”.

Nestes festejos, em seus quatroprincipais dias, ocorrem as grandes

Por que dizer não ao carnaval?Bittencourt Rezende di Nápoli

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calamidades sociais como: atropela-mentos, crimes, assaltos e outrasinfelizes barbaridades catalogáveispela polícia e pela medicina socor-rista.

Nosso elevado destino é o pro-gresso, a evolução espiritual paraatingirmos melhor patamar na es-piritualidade que cedo ou tarde nosaguarda.

O instrutor espiritual Hum-berto de Campos, que posterior-mente se cognominou Irmão X, pe-la singular psicografia de ChicoXavier, nos informa que “as pessoaspassam o ano inteiro mascaradas enos dias de Momo retiram as más-caras”; muitos companheiros, atédentro das hostes espíritas, nos di-zem que o carnaval é alegria; podeaté ser, mas é uma alegria negativa.

Nestes dias de Momo os Espí-ritos vinculados às regiões umbrali-nas aproveitam para exercer suas fa-culdades de vampirismo, sugandoas energias dos nossos desavisados eincautos irmãos.

Precisamos ajudar os nossos jo-vens a definirem o que deverão fa-zer nesses dias em que ocorrem taisfestejos, que têm causado tantas in-felicidades em nossa comunidade;existem tantas tarefas a executar emuitas delas bastante inovadorasabrindo um grande leque para seportarem com legítima fraternida-de e solidariedade cristã.

Neste Terceiro Milênio, necessi-tamos oferecer o melhor a Jesus, pa-ra que a Doutrina Espírita seja comtoda força “Uma Nova Era para aHumanidade”, conforme nos infor-mou o Codificador – Allan Kardec.

Façamos o que nos dizem osinstrutores espirituais: “Valorize-mos o tempo para que o temponos valorize.”

Transformai-vos pela reno-vação da vossa mente. Pau-lo (Romanos, 12:2).

A Federação Espírita Brasileirarealizará, nos dias 25, 26 e 27 dejulho de 2003, em sua sede emBrasília, o II Encontro Nacional deCoordenadores de ESDE, em co-memoração dos vinte anos daCampanha do Estudo Sistematiza-do da Doutrina Espírita, lançada,em novembro de 1983 pelo Con-selho Federativo Nacional da FEB.Os Coordenadores e Monitores deESDE serão o público-alvo desseEncontro, podendo cada Federati-va dele participar com até quatrorepresentantes.

Tendo por eixo temático aexortação de Paulo de Tarso, emepígrafe, o II Encontro Nacional deCoordenadores de ESDE buscaráatingir os seguintes objetivos:

Objetivo geral: refletir sobre oobjetivo do ESDE e sua importân-cia como instrumento de transfor-mação do ser.

Objetivos específicos: a) evi-denciar as conseqüências do ESDEpara o indivíduo, para as CasasEspíritas e para a Sociedade;b) apontar problemas e propor so-luções para o bom funcionamentodo ESDE; c) avaliar a atual situa-ção da Campanha do ESDE;d) trocar experiências sobre a im-plantação, a manutenção e o acom-panhamento da Campanha do

ESDE; e) propor ações para a di-namização da Campanha do ES-DE; f ) comemorar os 20 anos dolançamento da Campanha do ES-DE em nível nacional.

O II Encontro Nacional deCoordenadores de ESDE consti-tuir-se-á, dessa forma, em oportu-nidade excelente não só para a ava-liação do estágio atual do ESDEem todo o Brasil, como tambémpara a elaboração de metas com vis-tas à dinamização da Campanhaem referência.

Assim, a participação no even-to e o empenho na aplicação dosseus resultados serão a nossa melhorcontribuição para que o Estudo Sis-tematizado da Doutrina Espíritapossa, de fato, como afirmou Kar-dec em Obras Póstumas, exercercapital influência sobre o futuro doEspiritismo e sobre suas conseqüên-cias.

II Encontro Nacional de Coordenadores de ESDE

REFORMADOR ENCADERNADO

A coleção completa, com ín-dice alfabético das matérias, de Re-formador de 2002, título em grava-ção dourada, está à venda naLivraria da FEB, na Avenida Pas-sos, 30, Rio de Janeiro-RJ.

Os interessados não-residentesno Rio de Janeiro poderão endere-çar o pedido de seu exemplar para aRua Souza Valente, 17, CEP 20941--040 – Rio de Janeiro-RJ.

Algumas coleções de anos an-teriores igualmente estão à venda.

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Paraná: Reunião Inter-RegionalA Comissão Inter-Regional, que abrange as áreas dasUniões Regionais Espíritas das 2a e 12a Regiões – ór-gãos da Federação Espírita do Paraná –, realiza no dia16 do corrente mês, no Centro de DesenvolvimentoTecnológico de Guarapuava, a Reunião Inter-Regio-nal Centro, com o seguinte programa: Seminário Ge-ral – Influência espiritual paralisante; Seminários Se-toriais: a) Área Administrativa/Institucional – Coe-rência administrativa; b) Área Doutrinária/Difusão –O espírita: lucidez; c) Área de Infância e Juventude –A pedagogia do amor; d) Área de Assistência SocialEspírita – A caridade do esclarecimento.

FEERJ (RJ): Projeto Água VivaA Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro pro-moveu, nos dias 1o e 2 de fevereiro, o Seminário “Pro-jeto Água Viva” – Os pilares da Educação sob a óticaespírita –, com os educadores de Natal (RN) SandraBorba Pereira e Francisco de Assis Pereira.

Itália: Livros espíritas em italianoO novo catálogo das “Ediziones Mediterranee”, com116 páginas, contém as obras completas de AllanKardec, grande parte das obras escritas por León De-nis, Emanuel Swedenborg, Ernesto Bozzano e ArthurConan Doyle.

As Casas Fraternais O Nazareno, de Santo André(SP), presididas por Dorival Sortini, já traduziram pa-ra o italiano mais de 40 títulos de livros espíritas psi-cografados por Francisco Cândido Xavier e DivaldoPereira Franco, de autoria dos Espíritos Emmanuel eJoanna de Ângelis. As obras são distribuídas na Itáliaatravés da Livraria “Ilponte” (Via Delle Legue, 5 –Milão - Itália; e-mail: [email protected]).

Encontro Espírita de Sergipe e AlagoasRealizou-se na cidade de Penedo (AL), no Teatro 7 deSetembro, em 16 de fevereiro passado (e não em 16de dezembro/2002, como noticiado na Seara Espíri-ta de janeiro) o I ENESEAL – Encontro Espírita deSergipe e Alagoas –, promovido pelas Federações Es-píritas dos referidos Estados, com o apoio da Prefei-tura Municipal de Penedo, do qual participou o Pre-

sidente da FEB, Nestor João Masotti. Tema central –A Contribuição da Doutrina Espírita na Transfor-mação Social.

São Carlos (SP): CONRESPI 2003A USE Intermunicipal de São Carlos sedia, no perío-do de 1o a 4 de março corrente, a XXI CONRESPI –Confraternização Regional Espírita – promovida pelaUSE Regional de Ribeirão Preto, com o tema centralSexualidade – Uma abordagem espírita, subdivididoem quatro módulos: O Espírito e o sexo, Espíritos, co--criadores com Deus, O Jovem no Mundo e Sexo comresponsabilidade. A palestra de abertura é proferida porJúlia Nezu,Vice-Presidente da USE Estadual, com otema A influência moral do médium.

Suécia: Reunião da Coordenadoria Europa do CEIA Coordenadoria Europa do Conselho Espírita Inter-nacional (CEI) realizará sua sexta reunião em Esto-colmo, de 9 a 11 de maio de 2003, a qual tratará dediversos assuntos de interesse dos países-membros doCEI, assim como da realização, em 2004, do 4o Con-gresso Espírita Mundial, em Paris.

Congresso de Cegos EspíritasO I Congresso Internacional de Cegos Espíritas deve-rá realizar-se no Rio de Janeiro (RJ), de 17 a 20 deabril deste ano, com um programa de palestras, reu-niões de grupos e atividades artísticas, cujos temasabordarão a deficiência visual à luz do Espiritismo, olivro espírita em Braille, entre outros. A promoção éda Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille (SPLEB)e as informações sobre o evento podem ser obtidas pe-lo telefone (21) 288-9844 e fax (21) 572-0049.

Porto Rico: Congresso EspíritaA Escuela de Consejo Moral De Puerto Rico, Inc. no

499 promoveu, no período de 27 de fevereiro a 2 demarço corrente, o Congresso Espírita Portorriquenho2003, no Centro de Belas Artes Angel O. Berríos, ci-dade de Caguas, com o tema central Espiritismo: OConsolador Prometido para a Transformação da Hu-manidade, desdobrado em 18 subtemas. O eventocontou com a participação de Divaldo Pereira Franco.

SEARA ESPÍRITA

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