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1 Dezembro/2012 - edição 69 sesctv.org.br FOTO: DIVULGAÇÃO CINEMA DIRETORAS REPRESENTAM A MULHER E A SOCIEDADE NA MOSTRA FEMININO PLURAL DOCUMENTÁRIO O ÚLTIMO KUARUP BRANCO E O CAMINHO DOS IRMÃOS VILLAS-BÔAS NO XINGU MÚSICA A TRADIÇÃO DOS COMPOSITORES PARAENSES EM SHOW DE FAFÁ DE BELÉM

Revista SescTV - Dezembro de 2012

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Na entrevista, Fafá de Belém fala sobre cultura brasileira e música. Em artigo, a cineasta Cláudia Priscilla escreve sobre mulheres, mães e o cinema.

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dezembro/2012 - edição 69sesctv.org.br

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Cinemadiretoras representam a muLHer e a soCiedade na MOSTRA FEMININO PLURAL

doCumentÁrioO ÚLTIMO KUARUP BRANCO e o CaminHo dos irmãos

viLLas-BÔas no Xingu

mÚsiCaa tradição dos

Compositores paraenses em sHoW de FaFÁ de BeLÉm

Romance de FormaçãoDireção: Julia de Simone

A história de jovens e seus sonhos para chegar à universidade

@sesctvyoutube.com/sesctv

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destaques da programação 4

entrevista - Fafá de Belém 8

artigo - Claudia Priscilla 10

Movimentos culturais muitas vezes se confundem com transformações sociais. O SescTV veicula produções audiovisuais que favoreçam a reflexão sobre mudanças impactantes nos variados segmentos da sociedade.

O espaço conquistado pelas mulheres nas últimas décadas expandiu também o alcance de seu domínio na área cinematográfica. A Mostra Feminino Plural, que integrou o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo em 2011, com curadoria de Zita Carvalhosa, e agora estreia no canal, evidencia o caráter prolífico e diversificado das realizações de diretoras brasileiras. São 23 curtas que denotam par-ticularidades da apreciação feminina sobre temas como infância, adolescência, morte e relacionamentos amorosos. Claudia Priscilla, que dirigiu Sexo e Claustro (2005), um dos títulos da mostra, escreve sobre o feminino no cinema no artigo desta revista.

Para lembrar o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, o SescTV apresenta neste mês o documentário O Homem que Engarrafava Nuvens (2009), de Lírio Ferreira, que trata da história do parceiro de Gonzaga, o compositor Humberto Teixeira, a partir da busca de sua redescoberta empreendida por sua filha, Denise Dummont. A jornada revela também o papel do baião no desenvolvimento da musicalidade nacional.

O regionalismo também está presente em outros destaques do mês. No show Canto das Águas, Fafá de Belém recapitula a trajetória dos compositores do Pará; na entrevista desta edição, a cantora comenta os bastidores da realização do espetáculo. Os cem anos de nascimento de Mazzaropi, ícone caipira, são celebrados com a exibição do longa Tapete Vermelho (2006), de Luiz Alberto Pereira, comédia que relata a saga do personagem Quinzinho (Matheus Nachtergaele) ao levar seu filho para assistir a um filme estrelado pelo ator.

Boa leitura!

Danilo Santos de MirandaDiretor Regional do Sesc São Paulo

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CAPA: Mostra Feminino Plural. Filme: Teresa, de Paula Szutan

e Renata Terra Cunha. Foto: Divulgação

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MÚSICA

Berço de Belém

FaFÁ Legitima soBrenome artÍstiCo em sHoW que Homenageia Compositores do parÁ

MÚSICA

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Ao longo da carreira, Fafá deu voz a compositores de origens diversas – como Chico Buarque e Ivan Lins, do Rio, Milton Nascimento, de Minas Gerais, e os autores de fado, de Portugal. Mas, se navegar é preciso, voltar para casa faz parte da viagem. Após transitar por gêneros e ritmos de tantas localidades, a intérprete reafi rma o sobrenome artístico ao aportar em sua terra natal na concepção do show Canto das Águas, que estreia no SescTV no dia 31 deste mês.

Sendo o Pará um país, como diz a letra de Porto Caribe, de Paulo André Barata e Ruy Barata, é na riqueza sonora de sua capital que a cantora se aprofunda, resgatando os nomes que estabeleceram a cultura musical da região. Para o tributo, em um palco caracterizado como um trecho da mata, desembarcam compositores de velhas e novas guardas. Sebastião Tapajós, introduzido por Fafá como “um dos maiores violonistas do mundo”, representa a tradição com sua Guitarrada. Na proa da “novíssima geração”, o capitão é o guitarrista Felipe Cordeiro, que executa Legal Ilegal, de sua autoria.

“O olhar do show é a pluralidade da música do Pará, um olhar acústico, como se nós estivéssemos em um quintal”, demarca a artista. “É um repertório de músicas de compositores só de Belém, uma coisa bem de raiz, mesmo.”

A gênese desse olhar navega por correntes que trazem elementos de etnias diversas. “A mescla do som da Amazônia, que é a música cabocla, é negra,

indígena e caribenha”, situa o compositor Paulo André Barata. “Tem muita infl uência do Caribe, porque no Pará era mais fácil sintonizar uma rádio caribenha do que uma rádio de São Paulo ou do Rio de Janeiro. Então se ouviam as grandes orquestras que vinham da República Dominicana”, menciona.

Reafi rmar a identidade da gente paraense em tão vasto quintal é também propósito do espetáculo. “O meu sonho é apresentar esse programa para as comunidades ribeirinhas todas, para que o Pará lembre quem nós somos”, diz Fafá. “Nós somos um povo só. E nós somos feitos de barro, nós somos feitos de chita, nós somos feitos de chão, nós somos feitos de cerâmica marajoara. Isso é a nossa história. Podemos até namorar outras coisas, mas a sonoridade dos rios é a sonoridade da nossa música. O bater da quilha do barco nas águas é a nossa percussão. Nós somos um povo aquático.”

Em Canto das Águas, Fafá de Belém é acompanhada por Jonas Dantas de Moraes e Luiz Antônio Karam, nos teclados; André Lopes Martins, no violão; Renato Schneider Loyola, no contrabaixo; Esdras de Souza, no sax e na fl auta; Melina Mulazani e Marisa Brito, nos backing vocals; e o Trio Manari na percussão. Davi Amorim assina os arranjos e a direção musical, além de tocar violão. A direção para TV é de Antonio Carlos Rebesco.

arthur verocaiDia 5/12, quarta, às 22h

archie sheppDia 12/12, quarta, às 22h

CeumarDia 19/12, quarta, às 22h

trilogia da guitarraDia 26/12, quarta, às 22h

Fafá de BelémDia 31/12, segunda, às 21h

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DOCUMENTÁRIO

o ÚLtimo Kuarup BranCo reCupera o Legado dos irmãos viLLas-BÔas no parque do Xingu

Reservas culturais

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Uma análise mais humanista da sustentabilidade passa pela preservação não apenas da natureza, mas também dos povos que a habitam. Foi essa a diretriz quando, nos anos 1940, os irmãos Orlando e Cláudio Villas-Bôas se deslocaram para o interior do país em um esforço expedicionário de proteção.

No documentário O Último Kuarup Branco (2007), que o SescTV mostra no dia 16, o diretor Bhig Villas Bôas vai ao Parque do Xingu, no norte do Mato Grosso, para constatar os desdobramentos da ação dos irmãos Villas-Bôas, a qual culminou no estabelecimento daquele território indígena. Ampliando o foco da discussão para problemas recentes, o fi lme costura esse legado pelos depoimentos de integrantes das tribos e de estudiosos daquela causa.

“Os Villas-Bôas trouxeram a ideia de que as culturas indígenas seriam em si mesmas um ideal a ser protegido, uma riqueza da humanidade”, afi rma o antropólogo George de Cerqueira Leite Zazur.

O agrupamento de várias comunidades em um mesmo espaço delimitado foi a saída contra a aniquilação. “Eram populações que, estando extremamente debilitadas, foram trazidas para dentro do parque em uma situação de pré-extinção”, explica o indigenista André Villas-Bôas. “O parque possibilitou a recuperação desses povos.”

Embora a convivência de 14 diferentes etnias indígenas em um mesmo ambiente tenha sido facilitada por semelhanças entre seus costumes, a saudade da terra de origem tem desorientado essas nações. “Elas vivem hoje uma situação muito peculiar de reafi rmação étnica”, avalia André. “Começaram um processo de reivindicação daquilo que consideram ter sido uma perda.” “A gente aceitou a transferência, mas nunca esqueceu a nossa terra”, diz o cacique Molobô, da nação Ikpeng.

As intervenções dos plantadores de soja no entorno da reserva em muito contribuem para a insatisfação dos habitantes do local, uma vez que os agrotóxicos das plantações contaminam a água do rio, que é usada pelos índios. O documentário contrapõe tais marcas de desenvolvimento ao que as práticas ancestrais dos nativos têm a ensinar ao colonizador branco – o que a jornalista Memélia Moreira chama de “lembrança de humanidade”. “A gente entra numa casa e as pessoas estão rindo, não existe castigo físico sobre as crianças”, ressalta o antropólogo George Zazur. “A vida é como se fosse uma grande festa, ou um grande ritual, o viver de um mito fantástico.”

Entre as simbologias desse cotidiano, o Kuarup é o rito que homenageia os mortos, particularmente os grandes líderes. Ao incluir a fi gura de Orlando Villas-Bôas na celebração, as comunidades xinguanas afi ançam, sob o viés crítico dos diretamente atingidos, a notoriedade histórica dos feitos do desbravador.

Esse olhar ativo dos que na maioria das vezes são passivamente retratados constrói a temática de outro destaque da programação do canal neste mês – Sentimentos Indígenas (2012), episódio de CurtaDoc que vai ao ar no dia 18. São quatro fi lmes, comentados pelo líder indígena Ailton Krenak: Para os Nossos Netos, em que aborígenes assumem o controle narrativo da câmera ao registrar suas tradições; Corpo a Corpo, sobre a exploração nociva do ouro em terras de índios; Monumento a Uruçumirim, contraponto às reverências a Estácio de Sá, fundador do Rio de Janeiro; e Canções de Resistência Guarani, que faz um recorte das crenças e da educação em tribos indígenas a partir dos relatos e dos cânticos de seus representantes.

DOCUMENTÁRIO

CURTADOC

o Último Kuarup Branco (2007)Direção: Bhig Villas BôasDia 16/12, domingo, às 19h

sentimentos indígenas (2012)Direção: Kátia KlockDia 18/12, terça, às 21h

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Reinado centenárioCINEMA

Não é apenas na tradução certeira da angústia do retirante que está a força da obra de Luiz Gonzaga, cujo centenário de nascimento, no dia 13 deste mês, é homenageado pelo SescTV.

O impacto do cancioneiro desse nordestino de Exu (CE) em diversos movimentos culturais do Brasil é sentido a partir da história de seu parceiro de composições, Humberto Teixeira, que é mote do documentário O Homem que Engarrafava Nuvens (2009), que estreia no dia 25.

Dirigido por Lírio Ferreira, o fi lme é centrado na contextualização histórica do baião para relatar o papel de Teixeira e Gonzaga no espraiamento dos ritmos do Nordeste, mais que pelo eixo Rio-São Paulo, por outros países.

A narrativa segue a verve exploratória da atriz Denise Dummont, produtora do longa e fi lha de Teixeira. Ela arregimentou depoimentos de pessoas artística e emocionalmente íntimas do pai para “saber como ele era, porque a gente era muito próximo e muito distante”.

O conceito de proximidade criativa se estende na medida em que músicos de diferentes gerações se dizem infl uenciados pela dupla. “Humberto era a pólvora, e Gonzaga, o canhão”, defi ne Otto. “Hoje em dia, ele [Luiz Gonzaga] seria o maior pop star. Ele já veio com roupa de couro, já veio Elvis.”

eXiBição do FiLme O HOMEM QUE ENGARRAFAVA NUVENS marCa Cem anos do nasCimento de LuiZ gonZaga, o rei do Baião

doCumentÁrio

O jornalista Tárik de Souza aprimora a descrição. “Eles se completavam. O Luiz Gonzaga trazia aquela coisa de artista do povo, um cara acostumado a conquistar as plateias mais adversas, e o Humberto Teixeira era um literato, um poeta, um escritor.”

O legado dessa química fi rmou bases em cenas variadas. Caetano Veloso, um dos mais tradicionais intérpretes de Asa Branca – cujo “ruminar mastigado” quis gravar devido a sua “situação de exilado e à necessidade de voltar” –, cita célebres terceiros ao fazer conta dessa abrangência. “O [Gilberto] Gil achava que a batida de bossa nova inventada pelo João Gilberto era devedora do baião”, testemunha. E “Augusto de Campos diz que, na Tropicália, por trás de todas as experimentações, estava o ritmo do baião”. O rock de Raul Seixas também incorporou elementos desse regionalismo.

Dummont desbrava os cantos do sertão e seus cegos sanfoneiros, os salões de forró na roça, os vaqueiros cantadores. Visita Patativa do Assaré, Raimundo Fagner, Belchior, Sivuca, Alceu Valença, Bebel Gilberto, Gal Costa, Chico Buarque. E encontra o músico americano David Byrne, para quem Humberto Teixeira, o “Doutor do Baião”, era o “invisível” à sombra dos holofotes de Gonzaga, o “Rei”.

O sonho do compositor, que ouvimos de seu próprio discurso – “o sonho de um mundo só, uno, indivisível, sem fronteiras, sem seca, sem guerra, integralmente em paz” –, realiza-se de alguma forma através do companheiro Luiz Gonzaga, que universalizou a mensagem de ambos – sintetizada no palco pela linguagem da sanfona.

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o Homem que engarrafava nuvens (2009)Direção: Lírio FerreiraDia 25/12, às 19h

Curadoria: Zita CarvalhosaDe 22/12 a 2/3. Sábados, às 21h

sweet Karolynne (2009) de Ana Bárbara Ramos

dez elefantes (2008)de Eva RandolphDia 22/12

espalhadas pelo ar (2007) de Vera Egito

estação (2010)de Marcia FariaDia 29/12

Confira a programação completa e a classificação indicativa no site.

mostra Feminino pLuraL

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CINEMA

Elas por elas

diretoras oBservam a soCiedade e o papeL da muLHer na mostra Feminino pLuraL

O filtro do gênero na observação da sociedade e da condição da própria mulher é o que unifica a diversidade temática dos 23 curtas-metragens brasileiros – ficções e documentários – da Mostra Feminino Plural, que estreia no SescTV no dia 22 deste mês, às 21h. Dirigidos por mulheres, os filmes suscitam reflexões sobre particularidades e conflitos na caracterização do feminino em diferentes faixas etárias e meios socioeconômicos. Daí a pertinência do termo “plural”. Com curadoria de Zita Carvalhosa, a mostra integrou o 23º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, em 2011.

Os aprendizados da infância em localidades do interior do Brasil conectam as narrativas de Sweet Karolynne (2009), de Ana Bárbara Ramos, e Joyce (2006), de Caroline Leone. O primeiro mostra a percepção de uma menina da Paraíba acerca da morte. O contato com a finitude dá-se pelo destino de seu galo de estimação – a panela – e pela consciência de que Elvis Presley vive tão somente nas fotografias e na performance de seu pai, que o incorpora em shows regionais. O segundo aborda o despertar, aos 12 anos, ainda inocente da sexualidade. Dez Elefantes (2008), de Eva Randolph, por sua vez, relata a vida de uma garota de oito anos em uma casa no campo.

Também são recorrentes entre os trabalhos considerações acerca da problemática da adolescência e suas implicações no mundo adulto. Em Espalhadas pelo Ar (2007), de Vera Egito, a iniciação amorosa de uma jovem torna-se válvula de escape para sua

vizinha, que, na casa dos 30 anos, busca um ponto de apoio e cumplicidade para enfrentar o fim de seu casamento. Handebol (2010), de Anita Rocha da Silveira, retrata a violência na quebra das regras de convívio entre adolescentes de colégio. A maturidade é o ponto de referência de Olhos de Ressaca (2009), em que Petra Costa narra um amor que permanece por seis décadas.

Curtas como Sexo e Claustro (2005) tratam de formas distintas de opressão, sejam ou não resultantes do comportamento machista. Nesse documentário, a diretora Claudia Priscilla ouve na Cidade do México o depoimento de uma senhora que, ao devotar-se à religião nos anos de juventude, reprimiu sua sexualidade e mais adiante pagou o preço psíquico desse sufocamento, antes de se libertar.

O enclausuramento físico assinala o roteiro de Cocais, a Cidade Reinventada (2008), de Inês Cardoso, um passeio por uma cidade-manicômio no interior de São Paulo, e o de Visita Íntima (2005), de Joana Nin, um retrato de relacionamentos de mulheres em liberdade com homens na prisão. Em Estação (2010), de Marcia Faria, é a falta de uma oportunidade que dê vazão a seu sonho de ser atriz o que aprisiona a personagem, a qual faz do Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo, a sua morada.

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ENTREVISTA

Água da fonte

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ENTREVISTA

Você, que já interpretou músicas de grandes

compositores do Sudeste do País – do Rio, de São

Paulo e de Minas –, estabeleceu uma volta às origens

em Canto das Águas. Como e por que você decidiu

realizar esse projeto? O CD O Canto das Águas foi

gravado em parceria com a Secretaria [de Estado]

de Cultura em 2002. O espetáculo foi realizado em

Belém, no Teatro da Paz, e em Portugal, em Lisboa

e Póvoa do Varzim. O projeto nasceu de um convite

do secretário de Cultura [do Pará], Paulo Chaves.

Quando assumiu a Secretaria de Cultura, ele fez o

registro dos autores, cantores e instrumentistas

paraenses, conhecidos nacionalmente ou não. Nosso

projeto foi um dos últimos a ser realizado. E o olhar é

sobre o autor paraense, do mais erudito – Waldemar

– aos populares, como Mestre Verequete e Cupijó,

passando, é claro, por nossos grandes Paulo André

Barata, Ruy Barata e Nilson Chaves, conhecidos e

respeitados nacionalmente, e também pelo grande

Sebastião Tapajós. Qual a importância de manter

vivas as tradições de uma região rica culturalmente

Maria de Fátima Palha de Figueiredo, a Fafá de Belém,

nasceu em Belém do Pará em 1956 e começou a carreira

de cantora profi ssional na década de 1970. Já lançou mais

de 20 álbuns – o primeiro foi Tamba Tajá, de 1976 – e

interpretou composições de Chico Buarque, Ivan Lins,

Milton Nascimento, Caetano Veloso, Roberto Carlos e

Marcos Valle, entre tantos outros. No disco O Canto das

Águas, que ela gravou em 2002 e que é base do show

homônimo, Fafá faz um tributo a músicos paraenses.

“ao mostrarmos nossa CuLtura sem a CaraCteriZação FoLCLÓriCa,

esse povo estÁ LÁ representado Com dignidade e respeito”

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como o Pará? Você vê essa preocupação com o

regionalismo nos trabalhos de outros artistas

brasileiros importantes e que são provenientes do

Norte e do Nordeste do país? Sim. Felizmente hoje

esta é uma preocupação que estamos transformando

em registro, um olhar sobre este Brasil muitas vezes

esquecido pela mídia óbvia e visto como “exótico”.

Como esse resgate cultural da música paraense se

relaciona a questões socioeconômicas ainda mais

abrangentes no que diz respeito à população local,

caso da preservação das comunidades ribeirinhas? Li,

há alguns anos, uma reportagem sobre a sociedade

inglesa no fi nal do século XVII, que ia ao zoológico

para ver em jaulas os “povos exóticos” – pretos,

índios e quetais. Ao mostrarmos nossa cultura

sem a caracterização folclórica, esse povo está lá

representado com dignidade e respeito. Sendo

uma artista politicamente engajada, como você vê

o papel da mídia e o da própria arte na discussão

dessas questões? Infelizmente vivemos um momento

em que qualquer “lobby” transforma qualquer coisa

em verdade, qualquer coisa que uma assessoria seja

contratada para fazer virar “forte e verdadeiro”. Mas

também temos a internet e a curiosidade verdadeira

de nossa gente para esperar as marés passarem e ver

o que fi ca. E assim seguimos... A nova geração de

músicos do chamado “país Pará” se vale, de alguma

forma, das novas plataformas de mídia para fazer com

que seu trabalho seja apreciado por um maior número

de pessoas? Isso benefi ciaria também gerações

anteriores no reconhecimento de suas obras, no caso

de haver um encadeamento de estilos, uma união

entre os músicos paraenses de diferentes épocas? Há

o que é bom e o que é presepada. Entendo que esse

movimento só ganhará vida longa se o que deu base

ao que é verdadeiro e hoje repercute for respeitado e

divulgado. Como evoluiu a música paraense ao longo

dos anos? Você poderia citar artistas signifi cativos

de diferentes gerações que tenham infl uenciado

seu trabalho? Belém foi uma das primeiras capitais

culturais do Brasil. A ópera e a música erudita desde

sempre se misturavam com nossa música popular.

Durante a Segunda Guerra, a base americana trouxe

o jazz e o bebop. Fui criada nesse ambiente. Do

jazz aos ritmos populares e caribenhos, tudo me

infl uenciou. Os músicos locais conseguem sobreviver

apenas de sua arte? Quais os principais problemas

que enfrentam? Infelizmente só poucos conseguem

sobreviver apenas da música. Os principais problemas

são a distância e um mercado local pequeno que

não consegue gerar a boa concorrência para que os

cachês sejam valorizados.

“o oLHar É soBre o autor paraense, do mais erudito - WaLdemar - aos popuLares,

Como mestre verequete e CupiJÓ, passando por pauLo andrÉ Barata, ruY Barata e

niLson CHaves”

“BeLÉm Foi uma das primeiras Capitais CuLturais do

BrasiL. a Ópera e a mÚsiCa erudita desde sempre se

misturavam Com nossa mÚsiCa popuLar. do JaZZ aos ritmos

popuLares e CariBenHos, tudo me inFLuenCiou”

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ARTIGO

Mulher, sem vergonha

Cláudia Priscilla é cineasta e diretora do longa-metragem Leite e Ferro (2010). É autora do � lme Sexo e Claustro, em exibição pelo Sesctv neste mês, na mostra Feminino Plural.

Depois do nascimento do meu fi lho Pedro, eu me senti motivada a discutir o tema maternidade. Realizei então o documentário de longa-metragem Leite e Ferro, que trata da amamentação no cárcere. A intenção era investigar como a experiência da maternidade acontecia em uma situação limite, tanto física quanto psicológica. Em 2007, comecei a frequentar diariamente o Centro de Atendimento Hospitalar à Mulher Presa, um lugar que abrigava detentas em fase de aleitamento. Foram dois meses de pesquisa de campo. Lá, estavam 70 mulheres com seus bebês. Foi uma experiência incrível – muitas vezes dolorosa – mergulhar em um universo que não me pertencia.

Após viver tudo isso, percebo que o que fi zemos ali não é diferente do que ocorre com um “bando de mulheres” a uma mesa de bar ou em qualquer outro lugar. Mulher gosta mesmo de falar e de ouvir casos de suas iguais e, claro, eu não fujo à regra.

Se é possível fazer a generalização – sem sermos acusados de preconceituosos – de que mulher gosta de falar, podemos também dizer, felizmente, que mulher gosta de fi lmar. Mas foi um longo caminho até que mulheres conseguissem discutir “assuntos de mulheres” no cinema. Nossa entrada na tal da sétima arte se deu através das “divas”. A beleza feminina diante de uma lente sempre apontada – diretor e diretor de fotografi a – por um homem. Tempos depois, avançamos para um protagonismo, mulheres com desenhos psicológicos mais complexos e, agora, assumimos a direção e muitas funções técnicas que eram exclusividade masculina.

No Brasil, foi a cineasta Cleo de Verberena que deu o pontapé inicial na trajetória das diretoras com a realização de O Mistério do Dominó Preto, em 1930. Depois dela vieram algumas outras que contribuíram para a construção da nossa história fílmica e garantiram a discussão do papel da mulher na telona. Vale lembrar também que a responsável pela chamada retomada do cinema nacional nos anos 90 foi Carla Camurati com o fi lme Carlota Joaquina, Princesa do Brasil. Uma retomada com toque – e retoque – feminino.

Algumas cineastas internacionais me chamam a atenção. Uma delas é Maya Deren, que mudou a lógica dos fi lmes americanos de vanguarda dos anos 1940 e 50 com a produção de Meshes of the Afternoon, em 1943, reconhecido como um marco do cinema experimental. Agnès Varda, através de seus fi lmes, foi a mulher que prenunciou a Nouvelle Vague na França. Além das contribuições estilísticas para o cinema, elas são ainda importantes para a discussão do feminino no cinema, no sentido mais amplo que essa expressão possa sugerir.

Assumir a direção e funções técnicas fundamentais como fotografi a e montagem não apaga a fi gura da atriz. Papéis memoráveis vividos na telona questionaram muitos padrões de comportamento. Um dos que me vêm à mente é Catherine, vivida por Jeanne Moreau em Jules e Jim. Nesse fi lme, ela vive um labirinto de paixão com dois homens em uma história de amor nada convencional. Grandes nomes como a “femme fatale” Marlène Dietrich, a “mais que heroína” Ingrid Bergman e “a deusa sexual dos anos 50”, Marilyn Monroe, deixaram marcas no cinema e na história das mulheres.

O bom é perceber que chegamos a um momento em que o gênero não é condição para essa discussão. O feminino está no olhar das mulheres, mas está também na mira de Pedro Almodóvar, que carrega nas cores para falar com propriedade do feminino. Pensando bem, as grandes mulheres/personagens do cinema foram criadas e dirigidas por homens e, na minha opinião, isso não é problema algum. É bonito ver que o feminino também pertence aos homens. O que faz sentido é ser assunto corriqueiro, pauta de discussão e interesse, já que falar de mulher é falar, “somente”, da vida e do mundo.

O feminino hoje é impossível de enquadrar, de encaixar e, por isso, torna-se indefi nível. O termo se espalha e segue variadas direções. Não pertence à esfera do palpável. O que é feminino? Impossível responder, porque não existe mais uma gaveta que o comporte. O feminino está diluído. Está em tudo e em todos.

Depois do fi lme com as mães presas, segui fazendo outros. De algum modo, todos apontam para o feminino. Nos meus últimos trabalhos dividi a direção com dois homens. No longa-metragem Olhe Pra Mim de Novo, o parceiro foi Kiko Goifman. No curta Vestido de Laerte, dividi a direção com Pedro Marques. Os dois tratam de transexualidade por óticas diferentes. No primeiro, Syllvio Luccio, personagem central, se defi ne assim: “Nasci mulher, fui lésbica e agora sou homem”. Na fi cção Vestido de Laerte, a cartunista Laerte é o foco. Vestidos, batons, calças jeans ou terno. O feminino está sempre em deslocamento. Cada vez menos a genitália como forma de medida. Vem-me à cabeça a ideia de uma mulher sem vergonha. Que bom, sem vergonha nenhuma. Nenhuma. O feminino está livre. Ainda bem.

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ÚLTIMO BLOCO

para sintonizar o sesCtv: anápolis, Net 28; aracaju, Net 26; araguari, Imagem Telecom 111; Belém, Net 30; Belo Horizonte, Oi TV 28; Brasília, Net 3 (Digital); Campo grande, JET 29; Cuiabá, JET 92; Curitiba, Net 11 (Cabo) e 42 (MMDS); Fortaleza, Net 3; goiânia, Net 30; João pessoa, Big TV 8, Net 92; maceió, Big TV 8, Net 92; manaus, Net 92; natal, Cabo Natal 14 (Analógico) e 510 (Digital), Net 92; porto velho, Viacabo 7; recife, TV Cidade 27; rio de Janeiro, Net 137 (Digital); são Luís, TVN 29; são paulo, Net 137 (Digital). uberlândia, Imagem Telecom 111. no Brasil todo, pelo sistema DTH: Oi TV 28 e Sky 3. Para outras localidades, consulte sesctv.org.br

Esta revista foi impressa em papel fabricado com madeira de refl orestamento certifi cado com o selo do FSC® (Forest Stewardship Council ®) e de outras fontes controladas.A certifi cação segue padrões internacionais de controles ambientais e sociais.

A ideia da série Compacto, que estreia neste mês nos intervalos da grade do SescTV, é destacar, em episódios de cerca de quatro minutos, passagens curiosas e importantes da carreira de artistas da música nacional. No programa de Edu Lobo, o compositor lembra como, aos 19 anos, começou uma parceria com Vinicius de Moraes na mesma noite em que se conheceram. João Donato revela que seu instrumento preferido é o trombone e que adotou o piano por “praticidade”, enquanto Ronnie Von recorda a reação de familiares – “Onde foi que nós erramos?” – quando Meu Bem, sua versão para Girl, dos Beatles, chegou às rádios. O formato também contempla, entre outros, Wagner Tiso, Roberto Menescal, DJ Hum, Naná Vasconcelos, Alaíde Costa e Lucas Santtana, além de Ernesto, imortalizado no Samba do Arnesto, de Adoniran Barbosa. A direção é de Carlos Zen e Max Alvim, e a produção, do Canal Independente. Classifi cação indicativa: Livre.

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Sincronize seu celular no QR Code e assista ao vídeo com os destaques

da programação.

vaLLe dos instrumentos

O sétimo e último episódio de Isaac Julien: Geopoéticas – série do programa Videobrasil na TV, com curadoria de Solange Farkas, que faz uma retrospecção dos trabalhos do artista plástico e cineasta inglês – vai ao ar no dia 3. Mar de Telas (16 anos) apresenta detalhes da montagem da obra Ten Thousand Waves, de 2010, em cartaz no Sesc Pompeia, obra essa em que Julien usa o recurso de projeções audiovisuais múltiplas para contar histórias que ligam o passado remoto da China ao seu presente. São apresentadas imagens de bastidores, além do próprio artista falando sobre sua instalação. Serão ainda reprisados os episódios Passagens: Caixa Preta – Cubo Branco, no dia 10 (16 anos); Territórios e Identidades, no dia 17 (14 anos); Poéticas do Gênero, no dia 24 (16 anos); e Poéticas na Sexualidade, no dia 31 (16 anos). Segundas, às 23h. O lado instrumental de Marcos Valle sempre foi muito forte, como

ele mesmo diz – “mesmo na música cantada tem os improvisos, os arranjos”. O compositor, que ganhou status como ícone da bossa nova, desenvolveu sua habilidade já desde criança, quando aprendeu piano clássico. Mais tarde adotou o acordeom – fã de Luiz Gonzaga que era – e o violão. É no manejo dos teclados que ele mostra canções de sua autoria, como Azimuth, Selva de Pedra e Jet Samba, no show do Instrumental Sesc Brasil, gravado no Sesc Consolação, do dia 17 (livre). A série também apresenta Liquidus Ambiento, no dia 3 (10 anos); Funk Como Le Gusta, no dia 10 (livre); Panorama do Choro Paulista Contemporâneo, no dia 24 (livre); e Duofel, no dia 31 (livre). Segundas, às 22h.

ondas proJetadas

Foi com o jeito típico do caipira paulista que Mazzaropi conquistou seus admiradores. Um desses fãs é personagem de Tapete Vermelho (2006), exibido no dia 23, às 19h (14 anos), por ocasião do centenário de nascimento do ator. O longa de fi cção, dirigido por Luiz Alberto Pereira, narra a aventura de Quinzinho ao levar seu fi lho de dez anos para conhecer um cinema e assistir a um fi lme protagonizado por Mazzaropi, ídolo do menino.

Outro homenageado do mês é Carlos Drummond de Andrade, escritor nascido há 110 anos e que morreu em 1987. Leituras de seus poemas, realizadas por atores e atrizes brasileiros, distribuem-se pela programação do canal em Pílulas Poéticas de 30 segundos. O projeto dessa série, que estreou em 2009, é de Fabio Malavoglia.

Caipira CentenÁrio

pequenas doses de drummond

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