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X Textando Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - UCS O abandono das escolas no interior de Bento - pgs. 6 e 7 Planeta desperdício Os apelos da cerveja artesanal Prazeres japoneses em Caxias Lixo eletrônico: descartar corretamente é o mínimo - pg. 3 Os desafios da coleta seletiva de resíduos - pg. 5 Março de 2012 Maikeli Alves Fernando Gomes/Sistema Fecomércio/Divulgação Ilustração: Emmanuel Rambo dos Santos Frei Celso e a preservação da história

Revista Textando - 1/2012

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Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - UCS - Março 2012

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Page 1: Revista Textando - 1/2012

XTextando

Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - UCS

O abandono das escolas no interior de Bento - pgs. 6 e 7

Planeta desperdício

Os apelos da cerveja artesanal

Prazeres japoneses em Caxias

Lixo eletrônico: descartar corretamente é o mínimo - pg. 3

Os desafios da coleta seletivade resíduos - pg. 5

Março de 2012

Maikeli A

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Fernando Gomes/Sistema Fecomércio/Divulgação

Ilustração: Emm

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Frei Celso e a preservação da história

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“Um jornal é ou deveria ser um espelho da consciência crítica de uma comunidade em determinado espaço de tem-po. Um espelho que reflita com nitidez a dimensão aproxima-da ou real dessa consciência. E que não tema jamais ampliá-la. Pois se não lhe faltarem talen-to e coragem, refletirá tão so-mente uma consciência que de todo ainda não amanheceu. Mas que acabará por amanhecer”.

As ideias de Ricardo No-blat, contidas no livro A Arte de Fazer um Jornal Diário elucidam o propósito do jornal TeXtando, bem como a experiência trazida por ele aos alunos: a de colocar em prática os conhecimentos de redação de uma forma diferente. Esta edição traz uma di-versidade de pautas da re-gião, que incluem as cida-des de Caxias do Sul, de Bento Gonçalves e de Farroupilha.

Entre as reportagens que você poderá conferir estão: a que re-vela a situação de escolas aban-donadas no interior de Bento Gonçalves, a que mostra os re-flexos da participação da comu-nidade nos orçamentos públicos, uma entrevista sobre os 20 anos da Coleta Seletiva em Caxias do Sul, a superlotação dos presídios, os serviços que as Farmácias Po-pulares prestam em Farroupi-lha, mais uma série de matérias.

O caderno Resenha tam-bém está recheado de bons textos. Você poderá conferir como a cul-tura tem se desenvolvido nos mais variados pontos de Ca-xias do Sul, os desafios das mi-crocervejarias artesanais, os apaixonados por tecnologia e a questão do lixo eletrônico, a luta por verbas para o Museu do Imigrante, em Bento Gonçal-ves, entre outras reportagens. Boa leitura!

EDITORIAL

Reitor - Isidoro ZorziDiretora do Centro de Ciências da Comunicação - Marliva Vanti GonçalvesCoordenador do Curso de Jornalismo - Álvaro Benevenutto JúniorProfessora - Alessandra RechAlunosAndré Roberto Fiedler Carolina Leonir Dallegrave Douglas Barreto Oliveira Egui Antonio Baldasso Gabriel Venzon Jeferson Batista Scholz Lucas Guarnieri Maikeli Alves de Anhaia

Espelho de uma comunidade

É notória a insatisfação dos jornalistas com a decisão do Supremo Tribunal de Justiça sobre a queda do diploma para essa profissão. Valendo-se de comparações pouco equilibra-das, o Poder Judiciário decidiu pelo fim da obrigatoriedade de um ensino superior para o ofí-cio na imprensa brasileira. Desde junho de 2009, essa mudança acirrou a polê-mica sobre o verdadeiro valor de um jornalista. Vivemos em tempos de grandes mudanças tecnológicas. Com a invenção de blogs, câmeras fotográficas e de vídeo inclusas em celula-res fica mais evidente o “bom-bardeio” de informações que podemos receber via internet. Podemos confiar? Pes-soas desconhecidas enviam fo-tos e críticas sobre situações que presenciam. Mas isso não

é jornalismo. Não basta saber escrever, é necessário ouvir as fontes antes de publicar algo, esse é o conceito básico de um formador de opinião. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) se apre-sentou contra desde o início da mudança, e no site podemos perceber um grande apoio de organizações como a Ordem dos Advogados do Brasil, sena-dores e deputados. Uma pasta foi criada especialmente para reunir todos os documentos: artigos, e-mails, notícias ou abaixo-assinados para o fim dessa decisão equívoca. O povo é reclamão e as-sim deve ser, requisitar seus direitos, denunciar o que é er-rado. Mas o povo não é jorna-lista, este sim é o mediador que tentará apresentar com clareza a notícia verossímil.

Jornalistas reclamões

CRÔNICAEXPEDIENTE

Textando é um produto da disciplina de Redação Jornalística III - 2° semestre de 2011 -

Universidade de Caxias do Sul.Tiragem: 400 exemplares.

Novo projeto gráfico: nesta edição, no ano em que o Curso de Jornalismo da UCS completa 20 anos, Textando apresenta

novidades na logotipia e layout.

GABRIEL VENZON

Guilherm

e Dedecek

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Computadores, laptops, ce-lulares, tablets... equipamentos cada vez mais presentes na vida dos consumidores, seja por ne-cessidade ou pelo simples dese-jo de aderir ao que há de mais moderno no mundo teconológico. Com rápido avanço e novidades lançadas anualmente, a indústria de eletrônicos desperta a fanta-sia dos apaixonados pelos gad-gets mais modernos, mobilizando fãs e lançando novos conceitos a cada novidade. Esse dinamis-mo na indústria, aliado às mais diversas plataformas de acesso a conteúdo, impulsiona as ven-das dos fabricantes e desperta o desejo dos consumidores em se manter sempre conectados. Mas há um efeito colateral: de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), até 2030 o Brasil produzirá cerca de 680 mil tone-ladas de lixo eletrônico por ano. Problema que até agora não re-cebeu a atenção merecida.

O designer de interfaces Car-los Roberto Roise, 23 anos, sem-pre foi fã de tecnologia. Com 17 anos começou a trabalhar com informática mais seriamente. Aos 19, conseguiu o primeiro empre-go na área. Sempre atualizado, possui um laptop, um computa-dor e um iPhone, além dos vi-deogames Xbox e Playstation 3. “Gosto da tecnologia pela varie-dade de informação, interativida-de e acesso rápido”, explica.

Embora não troque de celular e videogame com tanta frequên-cia, Carlos procura ter sempre os equipamentos mais avançados em seus computadores. Para atu-alizar e melhorar o desempenho das máquinas, compra novas pe-ças para substituir as antigas. E é justamente aí que mora o pro-blema da indústria de eletrôni-cos. Para se manter atualizados, os consumidores acabam desati-vando seus aparelhos antigos e

Descarte da maneira certaNovidades tecnológicas e falta de pontos de coleta prejudicam o ambiente

encontram dificuldade na hora de encontrar uma forma de destiná-los corretamente. “Sempre que troco uma peça por outra melhor, procuro vender a antiga. Mas se ela estiver estragada, coloco no lixo mesmo”, admite Carlos.

Mas já há algumas ações para resolver o problema e uma solu-ção definitiva pode estar a cami-nho, pelo menos em Caxias do Sul. No dia 13 de agosto o Siste-ma Fecomércio do Rio Grande do Sul iniciou uma campanha para o recolhimento do lixo eletrônico do Estado. A intenção é recolher 100 toneladas de placas, celula-res, computadores e outros equi-pamentos e encaminhá-los para a reciclagem. Em Caxias, a ação foi lançada com um evento na Praça Dante Alighieri, que em algumas horas recolheu 13.230 quilos de material eletrônico e, até o dia 30 de agosto, a cidade já havia descartado quase 40 toneladas. “Caxias deve atingir sozinha a

meta do Estado”, avalia Maria Cecília Pozza, vice-presidente do Sistema Fecomércio e coordena-dora da campanha na cidade.

Conforme ela, um dos objeti-vos da ação é ajudar municípios que não dispõem de pontos de coleta a destinar corretamente esses equipamentos. Ela lembra que com a implantação da nova Política Nacional de Resíduos Só-lidos, em agosto de 2012, a res-ponsabilidade de um descarte sem danos ambientais será divi-dida entre consumidores, comer-ciantes e fabricantes. Para isso, será preciso que os municípios estejam preparados para tria-gem e desmanufatura dos apare-lhos. “Queremos que no final da campanha os municípios tenham pontos permanentes (de coleta)”.

O material recolhido é envia-do para empresas especializadas em desmanufatura deste tipo de lixo, sem custos para o consumi-dor. A maior parte dos equipa-

mentos são reciclados em em-presas de Cachoeirinha. O que não é possível segue para São Paulo ou Bélgica, onde há tecno-logias mais avançadas no proces-so de reciclagem.

Com o sucesso da campa-nha, que terminou em 21 de se-tembro, já há negociações para implantar em Caxias do Sul um ponto de recolhimento perma-nente. “A sociedade tem respon-dido e empresas têm nos procu-rado” diz Maria.

De acordo com dados da cam-panha, 200 milhões de celulares e 15 milhões de computadores são fabricados por ano no Brasil. Só no Rio Grande do Sul há 13 milhões de celulares, sendo que 1,5 milhão estão desativados, ou seja, poderiam servir de maté-ria-prima para outros produtos. “Podemos construir a nova tec-nologia a partir do que estamos descartando”, resume Maria.

ANDRÉ ROBERTO FIEDLER

Brasil fabrica por ano 15 milhões de computadores com metais que podem causar doenças e danos ao ambiente

[email protected]

OS VILÕESConfira os equipamentos que mais se acu-

mulam e poluem o ambiente:

POR QUE SÃO PERIGOSOS, SE DESCARTADOS INCORRETAMENTE?

Equipamentos eletrônicos possuem metais e outros componentes que causam danos à saú-de e ao meio-ambiente. Confira abaixo:

- Notebook

- Carregador

- Impressora

- Monitor

- Placa-mãe

- Celular

- Cabo

- Mouse

- Gabinete

- Teclado

- Chumbo: afeta o sistema nervoso e san-guíneo

- Mercúrio: Danos cerebrais e ao fígado

- Cádmio: envenenamento, danos em rins, ossos e pulmões

- Arsênico: Danos ao sistema nervoso, além de causar câncer e doenças de pele.

- Belírio: Câncer no pulmão

- PVC: se inalado após a queima, causa problemas respiratórios

- Retardantes de chamas: desordens hormonais, nervosas e reprodutivas

Fonte: Sistema Fecomércio

Fernan

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ação

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nal. E boa parcela da culpa pelo nosso esquecimento é do nosso amigo (olha ele de novo) engenheiro ou mecâ-nico, que cresce lendo pouco e, consequentemente, es-crevendo errado, sem zelo, de qualquer maneira.

Daí surge nossa falta de vontade de ter um bom texto, ao menos sem erros gramaticais. Afinal, escrever bem é frescura, ninguém o faz, é coisa para quem gosta de ler.

Eis talvez o principal ponto da discussão sobre a interação do brasileiro com o livro. De acordo com dados da Agência Brasil, a média de leitura no país é de 1,3 livro por pessoa/ano. Embora o gover-no planeje mais do que triplicar essa quantidade a médio/longo prazo por meio do Plano Nacio-nal de Cultura, a realidade é que nossos conterrâneos andam mui-to mais preocupados com o fute-bol dos finais de tarde e novelas vividas no Leblon do que a lista de títulos a ser adquirida na pró-xima feira do livro do município.

Aproveitei o feriadão de 15 de novembro para ir à praia. Por conta do trabalho, não é em todo feriado prolongado que posso me dar a esse luxo. A última vez ha-via sido na Páscoa.

Assim como muita gente, topo enfrentar, no mínimo, duas horas de estrada e até congestio-namentos para estar mais perto do mar. Sou um adorador do mar. Faço todo o esforço necessário para poder curtir uma praia. Tudo por um motivo: o maior contato com a natureza. Em cada ponta dos 200 km que separam Caxias do Sul da cidade de Torres, onde costumo ir, é como se existissem dois “eus” diferentes. Ao pôr os pés na areia, o estresse, as preo-cupações com os compromissos, os próprios compromissos da sel-va de pedra em que vivemos, pa-recem fazer parte de um mundo utópico. De fato, é como se eu realmente trocasse de mundo.

Caminhar descalço na bei-ra da praia é um dos momentos mais incríveis que o planeta pode oferecer a nós, humanos. Ainda assim, insistimos em destruí-lo. Frequentemente, enquanto ca-minho e sinto as ondas nos meus pés, percebo a natureza em sua essência. Vejo ela de braços

Pés na areia

abertos, me esperando com tudo que pode oferecer. É um momen-to de parceria único. Sinto como se voltasse aos tempos primiti-vos, da criação da humanidade. De fato, caminhar na beira da praia nos torna mais primitivos. E quando digo isso, não quero dizer que, ao fazê-lo, perdemos nossa inteligência. Mas ao caminhar na praia não precisamos dela. Cami-nhar e desviar de obstáculos são situações de que o instinto pode perfeitamente dar conta.

Quando digo que o mar nos torna mais primitivos, é porque ele nos permite que apreciemos

com outros olhos as belezas que a natureza pode criar. Olho com respeito e com agradecimento por ela ter feito isso por nós. O mar nos torna primitivos porque permite que possamos andar des-calços, como, afinal, o homem foi feito para andar. Sapatos, celu-lares, carros, aparelhos de som. Sim, eles são necessários hoje. E eles são necessários em uma cidade litorânea. Mas o mar não vai lhe exigir nada, apenas res-peito. Nós é que exigimos dele. Queremos que esteja sempre limpo, calmo, com água quente para que possamos aproveitar ao

máximo nosso tempo com ele e, em seguida, continuar nossas vi-das. Mas mesmo a mais violenta das ressacas mostra uma sabe-doria da natureza que não sabe-mos valorizar.

Em um de meus passeios à beira-mar neste feriadão pensei por alguns momentos em quan-tos movimentos fazem as ondas durante nossa correria contra o tempo em meio a edifícios e au-tomóveis. Na paciência da natu-reza em esculpir as falésias que se destacam na paisagem de Tor-res. No espetáculo que é ver as ondas explodirem contra os mor-ros e em seguida escorrerem de volta ao mar. Paro e penso como seria esse ambiente há milhões de anos. Sem casas, sem ruas, sem pessoas para mexer naqui-lo que a natureza não mexeria. Penso em como seria poder pas-sar alguns minutos na natureza intocada.

Mas aí olho novamente para as ondas arrebentando contra as pedras e vejo que há milhões de anos, não devia ser muito dife-rente. E é aí que percebo que es-tar no mar é o mais próximo que podemos chegar da criação da natureza. Por isso ele cura todos os males.

ANDRÉ ROBERTO FIEDLER

[email protected]

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ação

O ódio ao livroTodos nós, ao menos algum

dia, já ouvimos falar que ler é importante, leitura é essencial, que quanto mais lermos melhor será nossa dissertação, que isso ou aquilo. Porém, muitos não acreditam na “mentira” que nos contam. E mais que isso: aonde está escrito que precisamos dis-criminar quem não leva adiante esse hábito?

Você vai ser um péssimo en-genheiro se odiar romances? Al-gum mecânico deixou de conser-tar a vela de um motor por nunca ter aberto um Machado de Assis? Não, nenhum profissional de áre-as aparentemente adversas aos livros deixou de construir carreira por não ter o seu autor preferido, um companheiro de viagens mo-nótonas, um desafogo literário em meio à correria do dia a dia. Contudo, engenheiros, arquitetos ou até mesmo certos publicitá-rios repugnam a leitura.

Com o passar dos anos, es-quecemos da importância desse exercício, aprendemos (na prá-tica) que ler não deixa ninguém mais esperto ou menos profissio-

A solução está nas escolas, no in-centivo dos professores a alunos capazes de optarem por uma boa leitura durante o final de sema-na, ao invés de queimar tardes inteiras em frente a um simples e inútil jogo de computador. Tudo passa pelas salas de aula, sem dúvida. Mas a importância do apoio familiar nessa empreitada também precisa ser ressaltada.

EGUI BALDASSO

Já está mais do que provado que crianças, ao crescerem vendo os pais lerem, criarão hábito idênti-co, e o passarão aos seus filhos. E assim se cria o ciclo, faz-se va-ler as iniciativas do governo que, embora tímidas, ao menos re-presentam que o futuro do Brasil pode, definitivamente, estar nas próximas páginas.

[email protected]

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ação

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TeXtando: De que forma a coleta tem contribuído para a qualidade de vida dos caxienses?Adiló Didomenico: A coleta seleti-va contribui de várias formas para a vida dos caxienses. Uma delas é que reciclando reduzimos gastos com ampliação do aterro sanitário. Outro aspecto que pode ser evidenciado é o social, pois o material reciclável é fonte de renda para muitas famílias. E também podemos lembrar que re-ciclar é reutilizar, uma forma inteli-gente de preservar o meio ambiente.

TeXtando: Que ações Caxias tem desenvolvido na área da coleta seletiva que tornam o município modelo no país? Didomenico: Várias ações, entre

elas palestras, projetos e progra-mas educativos que ensinam e incentivam a comunidade a reciclar e a cuidar do meio ambiente. Nas escolas, são desenvolvidos os pro-jetos Consciência Ambiental, A Arte de Brincar Reciclando Valores e o Caminhos do Lixo. Nas empresas, realizamos, gratuitamente, palestras educativas. Nos bairros, temos o Programa Troca Solidária. Nas ruas, tem o Catador Legal e, na mídia, o programa Codeca dá a Dica. Além desses programas, participamos de eventos coordenados por outras secretarias, bem como empresas do setor privado para distribuição de folhetos. Todos voltados a repassar informações sobre a importância da separação e destinação correta dos materiais seletivos.

Em 20 anos, Caxias se tornou modelo no país e se desenvolve cada dia mais no campo da reciclagem

CAROLINA DALLEGRAVE

15 de agosto de 1991. Na-quele dia, Caxias do sul daria um dos passos mais importantes para a preservação do meio ambiente e qualidade de vida dos caxienses. Era implantada a coleta seletiva. Vinte anos depois, o município se tornou referência e tem se desenvolvido cada vez mais nessa área. Para ana-lisar o panorama da coleta seletiva na cidade, o TeXtando conversou com o Diretor-Presidente da Compa-nhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), Adiló Didomenico, que explica como a cidade tem evo-luído neste campo.

TeXtando: Você vê alguma dife-rença na cultura de reciclagem de resíduos de Caxias do Sul em comparação com outras cidades? Didomenico: Há diferenças, sim. Em Caxias do Sul, o serviço de co-leta seletiva é realizado pelo poder público de uma forma efetiva, ou seja, o poder público recolhe todos os resíduos e os entrega gratuita-

mente às recicladoras. Em muitas cidades, a coleta do seletivo é feita apenas por catadores que fazem seleção do material diretamente na lixeira e recolhem o que interessa, deixando no local muitos resíduos, que em grande parte são levados para os aterros sanitários.

TeXtando: Quantas toneladas de lixo são produzidas na cidade diariamente e qual é a porcen-tagem desses resíduos que é reciclada? Didomenico: A comunidade caxien-se produz atualmente 450 toneladas de lixo. Destas, 90 toneladas são de resíduos recicláveis, o que corres-ponde a 20% do total.

TeXtando: Apesar de o sistema

mecanizado de coleta seletiva ser um modelo, muitas pessoas ainda continuam a não separar o lixo. Existe alguma razão para este tipo de atitude? Didomenico: Um fator que pode levar as pessoas a não separar cor-retamente o lixo orgânico do seletivo é a falta de hábito. A separação, na maioria das vezes, é cultural. Outro

fator que pode ser citado também é o processo de migração. Todos os dias, a cidade recebe novos morado-res, provenientes dos mais diferen-tes lugares onde, muitas vezes, não existe programas de separação de resíduo seletivo.

TeXtando: Como os Programas Troca Solidária e Catador Legal têm ajudado na preservação? Didomenico: O Troca e o Catador Legal contribuem significativamente na preservação ambiental. O Troca é desenvolvido pela Codeca em parce-ria com a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a Funda-ção de Assistência Social (FAS). Uma ação inédita no Estado que permite a troca de quatro quilos de resíduo seletivo por um quilo de alimento.

Kaiser, 1º de Maio, Fátima Baixo, Conquista, Villa Lobos, Cânyon, Monte Carmelo e Planalto são alguns dos bairros que o caminhão do Troca Solidária visita. São quatro bairros a cada semana, sempre aos sábados. O Troca se consolidou de forma sin-gular. Não se vê mais, como em pe-ríodos anteriores, materiais seletivos em frente às casas, jogados nas vias urbanas. Nos dois anos, completa-dos em junho, o programa recolheu mais de 553 toneladas de resíduos e distribuiu mais de 153 toneladas de alimentos, beneficiando mais de 17 mil famílias. O programa Catador Legal também cumpre o papel de preservação do meio ambiente, pois cerca de 75 catadores conveniados com a Codeca, juntamente com ou-tros 60 encaminhados para o cadas-tro, recolhem cerca de 30 toneladas/dia de resíduos recicláveis.

TeXtando: Quais as dificuldades encontradas na conscientização das pessoas sobre a importância da separação do lixo? Didomenico: Entre as dificuldades podemos apontar o grande número de imigrantes que chegam à cidade. O trabalho de educação ambiental realizado pela Codeca não consegue abranger toda a população. Uma grande maioria não possui a cultura da separação correta dos resíduos. Outros, não estão habituados a se-parar. Educar a todos é um processo demorado.

TeXtando: O que está programa-do para que se desenvolva ainda mais a área da coleta seletiva em Caxias do Sul? Didomenico: A Codeca e outras se-cretarias estão sempre trabalhando para ampliar programas e projetos que proporcionam qualidade de vida à população. Especificamente para a coleta seletiva, está sendo realizado um estudo para ampliação do nú-mero de bairros do programa Troca Solidária. As campanhas educativas estão sendo intensificadas, sejam elas realizadas em escolas, empre-sas ou por meio da mídia eletrônica e impressa.

[email protected]

Cristofer Giacomet

Luiz Chaves

O desafio da coleta seletiva5

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Os reflexos do êxodo rural no interior de Bento Gonçalves estão expressos numa cena que chama atenção de quem passa pelas comunidades dos quatro distritos do município: o aban-dono das escolas municipais. Ao todo são 56 instituições que estão sem utilização, tanto pela comunidade local, quanto pela prefeitura. A conservação des-tes prédios é precária e o que resta para quem vive nessas co-munidades são as lembranças do tempo em que as aulas eram ministradas ali.

Uma árvore no meio do que antes era uma sala de aula, vi-dros quebrados, sujeira, teias de aranha, falta de manutenção e abandono. Essas são algumas palavras que descrevem a situ-ação das escolas que estão sem utilização no interior da cidade.

Falta demanda

Conforme Adriane Lazzarot-to, da divisão de administração interna da Secretaria Municipal de Educação (Smed) algumas das escolas já estão desativadas há tantos anos que os prédios não existem mais e os terrenos, em sua maioria, pertenciam a moradores ou a prefeitura. Adriane afirma que o principal

Escolas-fantasmaO fechamento de 56 instituições de ensino reflete no abandono do patrimônio público no interior

Foto

s: Maikeli A

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Sobraram só as paredes da Escola Imaculada Conceição, na Linha Alcântara

MAIKELI ALVES motivo foi porque a clientela foi se extinguindo. “O reduzido número de alunos fez com que fosse implantado o serviço de transporte escolar, onde os pou-cos residentes nos locais vão sendo transportados para esco-las mais centrais. Portanto, não há demanda das comunidades a fim de que a prefeitura invista nestas escolas”, explica.

A funcionária da Smed tam-bém afirma que não há proje-tos comunitários para uso das escolas desativadas e, por isso, um investimento nestes locais não teria retorno. No entanto, os poucos alunos que restaram foram amparados com transpor-te escolar pago pela prefeitura. Cerca de 2 mil estudantes do interior do município utilizam o serviço. Ao todo são 35 veícu-los que conduzem as crianças até os colégios centrais e nos lo-cais onde há linhas regulares de transporte coletivo a prefeitura envia vales transporte escolares.

Adriane explica que confor-me legislação, as escolas de zona rural são primeiramente desativadas, podendo ser rea-bertas durante os próximos cin-co anos. “Não ocorrendo a re-abertura, passados cinco anos, elas devem ser definitivamente extintas. Não temos incidência, em nenhum local do interior, que a demanda de alunos tivesse

retomado uma crescente e não há perspectiva, neste momento, de fechamento de alguma outra escola”, assegura a funcionária.

Como começou

A primeira escola a entrar para o rol do abandono foi a Es-cola Municipal Riachuelo, locali-zada na Linha Pradela, em 1973. O último prédio desativado, me-diante aval da comunidade lo-cal que optou pelo fechamento e transferência dos alunos para a escola central do distrito, foi o da Escola Municipal de Ensino Fundamental Euclides Cunha, de Faria Lemos, no início de

2009. Esta escola abrigava no último ano cerca de oito alunos, comprovando a diminuição no número de estudantes.

Cada distrito abriga, pelo menos, duas escolas abandona-das. Em algumas comunidades, as escolas ainda são utilizadas para as aulas de catequese, como na antiga Doróther Mül-ler. Porém, o fato de a atividade acontecer no espaço não impe-de que as grades e os brinque-dos estejam enferrujados. En-tre Pinto Bandeira e São Pedro, a escola Presidente Roosevelt também era local de aulas reli-giosas, em uma das salas, que se mantém conservada.

No Vale Aurora, uma árvore invadiu o espaço da Escola Segundo Lazzari

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À esquerda, a Escola José Mário Mônaco, na Linha Alcântara, onde só restou o quadro.À direita, na Linha Paulina, a Escola Es-tadual Ipiranga, que agora é ocupada por ovelhas

Para a presidente do Sindi-cato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul e Santa Tereza, Inês Fagherazzi, falta incenti-vo para as escolas do interior. “Não há incentivo para essas escolas e para o jovem perma-necer no campo. Há, inclusive, um preconceito com o ensino do interior, onde estimula-se que o das escolas centrais é melhor”, conta.

Inês afirma que o número de filhos dos agricultores tem diminuído bastante nos últi-mos tempos. “Muito disso, é falta de incentivo à agricultu-ra familiar e ao preço baixo da uva, no caso da nossa região. Esses fatores fazem com que o jovem não queira permanecer no interior, já que na cidade ele tem a mesma renda com me-nos trabalho”, destaca.

Ela acredita ainda que a tendência é que não sejam fe-chadas mais escolas no inte-rior. “Nenhuma mãe quer ver seu filho longe de casa, é uma situação complicada, mas eu acredito que não vai se agra-var. Fala-se tanto de turismo rural, mas o próprio governo desestimula os agricultores e os jovens a ficarem no interior. Sem eles não há o turismo”, observa Inês, que sugere um envolvimento maior dos políti-cos do município também nes-sas questões.

Para o empresário Alexandre Ferrari, olhar para a Escola Esta-dual Maurício Cardoso, localiza-da no Vale dos Vinhedos, onde estudou por cinco anos, dá uma sensação de saudade e tristeza. “A primeira vista tenho saudade, mas depois, observando o aban-dono, fico triste, pois as paredes dessa escola estão marcadas por histórias e carregam em seu in-terior a sabedoria de muitos”, ressalta.

Ferrari explica que na esco-la onde estudou as instalações eram bem simples, até mesmo precárias. “Tinham duas salas de aula onde estudavam quatro tur-mas, ou seja, duas turmas para cada sala. Além de uma cozinha e dois banheiros. Erámos em tor-no de 15 alunos para cada tur-ma e um professor para as duas”, conta. Para ele o ensino era tão bom quanto o de uma escola par-ticular na cidade. “Contávamos com o esforço das professoras, que se superavam para dar conta do recado. As condições de infra-estrutura não eram boas, mas o

Saudade do ensino e tristeza pelo abandono

Escola Maurício Cardoso, da Linha 6 da Leopoldina, foi desativada, mas as instalações são ocupadas pelo Ceacri

material humano era excelente. Todas superavam suas limitações com criatividade e boas ideias para garantir que os alunos fos-sem alfabetizados”, destaca.

O empresário diz ainda que não se arrepende de ter estuda-do lá e que colocaria seus filhos em sua antiga escola. “Escolas do interior são menos influen-ciadas pelas drogas e coisas que não fazem bem a vida das crian-ças. Nós brincávamos de coisas simples e fazíamos verdadeiros amigos, sendo que conservo pra-ticamente todos até os dias de hoje”, afirma.

Na antiga escola de Ferrari, os alunos lidavam com a falta de alguns brinquedos inventan-do novas brincadeiras. “Para nos divertir nos intervalos nós orga-nizávamos um show de calouros, onde todos competiam e canta-vam alguma canção. Para nos avaliar montávamos um júri, que em muitas vezes era formado por alguma professora. Foram mo-mentos que marcaram”, lembra o empresário com carinho.

“Todas superavam suas limitações com criatividade e boas ideias para garantir

que os alunos fossem alfabetizados”

Alexandre Ferrari, empresário

Inês Fagherazzi, preside o STR

Acabou o incentivo

[email protected]

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Marcilei R

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Já no Governo do Estado, o que vigora atualmente é um sis-tema de participação popular am-plo, com dezenas de ferramentas que trabalham desde a simples sugestão do cidadão gaúcho até a decisão de como o Executivo estadual vai investir parte do di-nheiro arrecadado. Isto inclui, entre outras, a Consulta Popular e Cidadã (onde são escolhidas prioridades para investimento no orçamento do ano seguinte), Plano Plurianual (PPA) Participa-tivo 2012-2015, Gabinete Digi-tal (www.gabinetedigital.rs.gov.br) e os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes).

Para a coordenadora da re-gião Funcional 3 de Participação Popular do Governo do Estado (que inclui as regiões da Ser-ra, Campos de Cima da Serra e Hortênsias), Silvana Piroli, é de fundamental importância a participação popular nas ações governamentais. “Mais do que uma concessão do popular públi-co é um direito do cidadão e é um dever do Estado de propor-cionar espaço para participação. No planejar junto com o povo,

os recursos públicos têm uma melhor utilização, naquelas de-mandas que a comunidade avalia como importantes e que melho-ram a qualidade de vida da po-pulação. Isso também torna o Estado mais eficiente”, destaca.

De acordo com Silvana, a principal novidade no projeto de participação popular do atu-al governo foi a inclusão da po-pulação na construção do PPA 2012-2015 do Estado. Houve um alinhamento das estratégias que foram debatidas para o PPA Parti-cipativo com o Orçamento 2012, e que começou a tomar forma com audiências públicas regio-nais. Após a realização dessas audiências, deu-se seguimento aos Fóruns Regionais nas 28 Re-giões dos Coredes. Estes Fóruns serviram para determinar quais seriam os projetos regionais para serem incluídos nas cédulas de votação do dia 10 de agosto, na Consulta Popular e Cidadã.

A votação de prioridades do Orçamento 2012, segundo o Go-verno do Estado, contou com a participação de mais de 1 milhão de votantes (1.134.141), que es-

A voz do povo nas decisõesAo longo dos anos, participação popular na construção dos orçamentos tem aumentado

LUCAS GUARNIERI

O Brasil vive atualmente o maior período de democracia desde a proclamação da Repú-blica, em 15 de novembro de 1889. Nestas mais de duas dé-cadas recentes, a população bra-sileira pode escolher e também destituir do poder, de forma livre, governantes das três esferas: municipal, estadual e federal. Po-rém, ainda falta muito para que a democracia alcance a plenitude, segundo alguns especialistas na área. Mesmo com a participação democrática por meio do voto, ainda carece de maior aprofunda-mento a participação da socieda-de nas decisões governamentais.

Independentemente da ide-ologia política que esteja no po-der, algumas ferramentas têm sido criadas para propiciar a par-ticipação popular, principalmente nas decisões que envolvem os orçamentos dos governos para os anos seguintes. E os nomes são variados: Orçamento Parti-cipativo/Comunitário, Consulta Popular, Participação Cidadã, etc.

Em âmbito municipal, as formas de participação institu-cional conhecidas começaram a ser implementadas durante o governo Pepe Vargas, do Partido dos Trabalhadores (1997-2004), com o Orçamento Participativo (OP). Mantendo o espírito, mas

alterando o nome e a forma de execução do projeto, o atual pre-feito José Ivo Sartori, do PMDB (desde 2005 no governo), criou o Orçamento Comunitário (OC).

Diferente do OP, onde as decisões aconteciam em assem-bleias regionais entre os bairros da cidade, com a presença da fi-gura do delegado (pessoa da co-munidade que representa o bair-ro nas decisões da plenária), no OC as decisões acontecem em cada um dos bairros, aumentan-do, portanto, o número de reu-niões e de projetos executados. Mesmo assim, obras de maior representativi-dade, como um Centro Comu-nitário ou uma Unidade Básica de Saúde, que eram aprova-das com maior facilidade no Or-çamento Participativo, são mais difíceis de serem executadas por meio do Orçamento Comunitário, pelo seu alto custo financeiro.

Conforme o coordenador de Relações Comunitárias da Prefei-tura de Caxias, Gelso Marcon, as reuniões do OC tem um cunho altamente técnico. “Nessas reu-niões, a comunidade é que dis-cute e indica uma prioridade, uma necessidade para o seu lo-cal de moradia”. De acordo com

ele, o critério para que uma obra consiga a verba necessária para execução é o número de pesso-as presentes nas reuniões. Para saber o valor de cada indivíduo, se divide o total de participan-tes pela previsão de investimen-tos da Prefeitura no Orçamen-to Comunitário, que para 2012 ficou em R$ 15 milhões. “Se a comunidade conquistou o va-lor da obra aprovada, ela será encaminhada”, explica Marcon.

Em 2011, foram realiza-das 248 pré-reuniões, nos bair-ros que compõem as 16 Regiões

Administrativas da cidade. Nes-ses encontros se estabeleceu três pré-pro-postas, e destas uma foi esco-lhida nas reuni-ões definitivas,

que ocorreram entre os dias 29 de setembro e 30 de novem-bro. A expectativa do Gover-no Municipal era de que mais de 50 mil caxienses participas-sem dessas reuniões. Até o fe-chamento desta edição, a lis-tagem de obras aprovadas no OC para serem executadas em 2012 ainda não estava concluída.

Marcon lembra que mesmo que uma prioridade seja aprova-da, mas o valor da obra não for al-cançado, a comunidade pode tro-

car o investimento por outro, que custe menos. Pela organização comunitária caxiense, ele consi-dera que a cidade tem um modelo de orçamento participativo único no país, com votações anuais e execução de centenas de obras.

O coordenador de Relações Comunitárias da Prefeitura tam-bém comemora o crescimen-to da participação da população nos últimos anos. “Desde 2009, quando assumi essa função no Orçamento Comunitário, perce-bo um crescimento constante na participação de ano para ano, co-meçando lá em 2005, e isso se deu devido à forma como se en-caminha o processo atualmente”.

Segundo dados repassa-dos pela Prefeitura, no primeiro ano do Governo Sartori cerca de 12,5 mil pessoas participaram das reuniões do OC, enquan-to que em 2010 a participação foi de mais de 39,4 mil. Nes-se período - entre 2005 e 2010 - 1.206 obras foram aprovadas, e a maior parte delas (em torno de mil propostas) foi executada.

Para 2011, foram elenca-das 217 obras, sendo que fal-tavam menos de 10 para serem executadas antes do fim do ano, por problemas nas licitações. Conforme a Administração Mu-nicipal, foram investidos cer-ca de R$ 18 milhões no Orça-mento Comunitário neste ano.

Estado trabalha com sistema de participação

colheram até quatro demandas dentre as propostas regionais. Desse total, aproximadamente 64 mil caxienses participaram. Para a Serra, serão encaminha-dos no próximo ano, por meio da Consulta Popular, R$ 9,2 mi-lhões (confira na página 9 a lis-ta com as 10 propostas apro-vadas para a região serrana).

Silvana Piroli comemora o aumento do número de cidadãos que compareceram aos locais de votação ou pela internet. “Em 2011 tivemos um média de par-ticipação maior do que nos últi-mos anos. Para o primeiro ano de um novo governo, os índices são muito positivos. Foi uma aceitação muito grande”, avalia.

Consulta Popular ao longo dos anos

Não importa o partido no poder, formas de

participação têm sido criadas: OC, Consulta Popular, entre outras.

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2011

Total empenhado: R$ 19.257.546,84, sendo R$ 673.274,06 para a Ser-ra. Disso, R$ 124.400,00 foram para obras executa-das em Caxias do Sul.

Uma das obras executadas – Constru-ção/Ampliação de Unidade Hospitalar, Hospital Geral (aprovado na consulta de 2010): R$ 499.700,00

2010

Total Empenhado: R$ 88.619.507,16, sendo R$ 5.802.597,79 para a re-gião serrana, e disso R$ 1.597.100,00 aplicados na cidade.

Uma das obras executadas – Ampliação/adequação da área física do HG (aprovado na consulta de 2009): R$ 999.400,00

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Mesmo com as inúmeras ferramentas e o aumento gra-dativo na participação do povo nas decisões do Governo, ainda falta muito para que a democra-cia alcance a plenitude. Para o atual chefe de gabinete do Vice-Governador Beto Grill e que por muitos anos esteve à frente do Conselho Regional de Desenvol-vimento (Corede) da Serra como secretário-executivo, José Ada-moli, mesmo com a participação democrática por meio do voto, ainda carece de maior aprofunda-mento a participação da socieda-de nas decisões governamentais.

“O processo de participação social está muito aquém daquilo que precisamos. Se nós pegar-mos a organização social brasi-leira, infelizmente ao longo da história faltou uma coisa funda-mental que é a autonomia. Ou seja, os movimentos sociais pre-cisam se articular e se organizar numa visão de empoderamento e controle do Estado. É preci-so que a sociedade tenha noção clara da importância do Estado, do quanto ela paga para mantê-lo e de quanto esse Estado de-volve para sociedade em termos de serviços e obras públicas”, alertou Adamoli, durante partici-pação no programa Dito e Feito Debate da Rádio São Francis-co SAT AM, no dia 10 de outu-bro de 2011, que tratava sobre a importância da participação

popular nas decisões de governo. Para o presidente da União

das Associações de Bairros (UAB) de Caxias do Sul, Valdir Walter, essas formas de participação são de extrema importância. “Todas as obras deliberadas pelas as-sociações de moradores, como calçamento e esgotos, e mesmo as obras de maior porte, só são possíveis pelo espaço que temos na construção orçamentária do município e também em âmbi-to estadual, mesmo que seja de uma pequena parcela da arreca-dação”. Também na avaliação do comunitarista existe a necessi-dade de uma participação ainda maior no planejamento da cidade.

Além de garantir o espaço para discussão das políticas de Governo, o que mais preocupa a população é o efetivo cumpri-mento daquilo que foi votado como sendo prioridade. José Ada-moli avalia que é fundamental haver por parte dos governantes um comprometimento com este processo e que além de levar para a sociedade a oportunidade de discutir o conjunto das polí-ticas públicas, oportunize uma determinada faixa de recursos para deliberação da sociedade e cumpra. “As experiências que nós temos ao longo desse tempo, entretanto, são de que entre os compromissos criados e os efe-tivamente concretizados há uma distância muito grande”, lamenta.

População Popular ainda tem o que melhorar

Outras formasde participar

A criação dos Conselhos, em todos os níveis da Federa-ção, e a realização de Confe-rências Nacionais sobre os mais diferentes temas também têm sido formas de diálogo que o governo vem mantendo com a sociedade civil ao longo dos úl-timos anos. Em Caxias, existem 20 Conselhos Municipais cons-tituídos, que cuidam de temas como assistência social, habi-tação, saúde, educação, turis-mo, transporte, entre outros.

De 1941 a 2010 foram rea-lizadas 115 Conferências Nacio-nais, sendo que 74 ocorreram entre 2003 e 2010, abrangendo 40 áreas setoriais em níveis lo-cal, municipal, regional, estadu-al e nacional. Essas conferências mobilizaram cerca de 5 milhões de pessoas no debate de pro-postas para as políticas públicas.

Para o ano 2012 estão previstas oito conferências na-cionais, com uma estimativa de participação de mais de quatro milhões de pessoas, incluindo as etapas municipais, livres, regio-nais, estaduais e nacional. Entre os assuntos que serão aborda-dos nas edições do ano que vem estão: Direitos da Criança e do Adolescente; Pesca e Aquicultu-ra; Defesa Civil; Turismo; Trans-parência e Controle Social; Tra-balho e Emprego, entre outros.

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Propostas aprovadas na

Consulta Popular 2011

SAÚDER$ 1.850.000Melhoria e ampliação da in-fraestrutura regional de saúde

EDUCAÇÃOR$ 1.761.304Recuperação, ampliação e qualifi-cação da infraestrutura física e mo-dernização tecnológica de escolas.

DESENVOLVIMENTO RURALR$ 1.110.000Fortalecimento das ca-deias produtivas locais e re-gionais de base familiar.

SEGURANÇAR$ 927.000Compra de viaturas e equipa-mentos para as polícias da região.

HABITAÇÃO E SANEAMENTOR$ 927.000Produção de casas e lotes urba-nizados e apoio à infraestrutura em cooperativas habitacionais.

INFRAESTRUTURA ELOGÍSTICAR$ 920.000Concluir o trevo de acesso nos mu-nicípios de Caxias do Sul (Acesso Norte), construir trevo no bairro São Cristóvão em Nova Prata, trevo de acesso à União da Serra, em Serafina Corrêa, na VRS 129 e trevo de acesso a Veranópolis.

CIÊNCIA, INOVAÇÃO EDESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICOR$ 741.601Ensino, pesquisa e exten-são através da UERGS e apoio a incubadoras tecnológicas.

TURISMOR$ 460.000Elaboração e divulgação de um Plano Estratégico para o Turismo da Região do Corede Serra e de um calendário modelo com os eventos municipais e regionais de 2012.

MICRO E PEQUENA EMPRESAR$ 278.101Apoio a eventos municipais e microrregionais e edifica-ções envolvendo micro e pe-quenas empresas artesanais e agroindústrias na Região.

POLÍTICA PARA AS MULHERESR$ 270.000Enfrentamento da violência con-tra as mulheres.

Escolha de prioridades do Orçamento 2012 do RS, contou com a participação de mais de 1 milhão de votantes

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mantém tratamento contínuo de doenças. Já são conhecidos de nossa equipe”, revela Arrosi. En-tre as enfermidades líderes em procura estão o diabetes e pro-blemas com pressão alterada.Ao todo, a Farmácia Popular dispõe de 131 itens em seu estoque regular. O serviço tam-bém oferece encaminhamento em casos que necessitam da intervenção do Estado. Em situ-ações omissas ao funcionamen-to habitual, os pacientes são orientados a buscar via proces-sos administrativos ou judiciais o auxílio do governo. Segundo o gerente do Pró-Saúde, há uma lista previamente disponível

para solicitação de remédios junto ao Estado, com interme-diação do município. Se mesmo assim não forem disponibili-zados, o usuário pode pleitear na Justiça o tratamento. Hoje, vários casos dessa natureza são controlados pela Farmácia. Desta maneira, o Estado repas-sa os recursos, que em algumas situações individuais podem chegar a até R$ 15 mil mensais, e o município fica responsável pela aquisição e entrega. A Farmácia Popular de Farrou-pilha fica na Rua Rui Barbo-sa, 139. Informações podem ser obtidadas pelo fone (54) 3268.4376.

Remédio, por favorFarmácia Popular de Farroupilha alivia orçamento com itens gratuitos

so, desde que esteja dentro do prazo de validade. Esses produtos entram no estoque informal da estrutura, e são entregues à comunidade tam-bém somente com a devida receita médica.

Em 2004, o governo Federal institui em todo o país o progra-ma Farmácia Popular, por meio da Lei nº 10.858, de 13 de abril daquele ano, disponibilizando medicamentos a preços acessí-veis ou gratuitos para parte da população que não pode arcar com despesas de tratamentos de doenças. Contudo, desde agosto de 2002 a comunida-de farroupilhense conta com o serviço oferecido através da Associação Pró-Saúde, braço da Secretaria Municipal de Sáude, criada para desburocratizar o sistema no município.Atualmente, a entidade atende usuários da rede pública, enca-minhados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), vindos de postos e do próprio Hospital São Carlos, único na cidade. Para receber o benefício, todos os cadastrados precisam obrigatoriamente resi-dir em Farroupilha e apresentar a receita assinada pelo médico. Os que buscam consultórios particulares também têm direi-to à gratuidade. Nesses casos é necessário comprovar renda inferior a três salários mínimos para obter a medicação. Conforme o gerente geral da unidade, João Reinaldo Arrosi, pegando como mês base agos-to de 2011, foram entregues 19.797 medicamentos, em um total de 9.691 pessoas atendi-das, atingindo média superior a 420 receitas recebidas por dia. “Vários usuários pegam mais do que um remédio por receita, por isso a diferença no número de produtos distribuídos. A maioria

Farmácia atende usuários da rede pública e privada na Rui Barbosa, 139

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[email protected]

EGUI BALDASSO

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Atenção com funções vitais?

LUCAS GUARNIERI

No corpo humano, os órgãos vitais, como coração, pulmões e o cérebro, por exemplo, es-tão de alguma forma protegidos por caixas ósseas, que aumen-tam a segurança no caso de for-tes impactos e no próprio dia a dia da pessoa. Imagine se não existisse o crânio. A cada bati-dinha naquela porta superior do armário, que faz com que um galo “cante” por diversos dias em nossa cabeça, perderíamos alguma função corporal, como a memória ou a coordenação mo-tora, dependendo de como fos-se o impacto e a intensidade. As sequelas seriam irreparáveis.No Estado, algumas funções também são vitais para que a estrutura pública funcione ple-namente. Para que tudo dê cer-to, os servidores públicos devem estar no pelotão de frente das ações governamentais. Portan-to, todos, de certa forma devem ser valorizados, como órgãos importantes para o corpo esta-tal.Mas, como no corpo humano, duas ou três carreiras se desta-cam por sua relevância e porque, sem elas, o Estado não funcio-na. Me refiro às dos professores e policiais, que sustentam todo o trabalho estatal nas áreas de educação e segurança.Porém, diferentemente do que acontece no nosso corpo, não se vê a proteção do Estado para que essas funções sejam valo-rizadas e trabalhem na sua ple-nitude. Salários baixos, falta de condições de trabalho básicas, como ferramentas (materiais de aula, no caso de professores, ou de equipamentos de segurança, para os policiais militares e civis) e de estrutura física são a rotina nas repartições públicas.Quando a discussão é transpos-ta para o argumento salarial dos profissionais, quem mais sofre é a população, vítima indireta de paralisações dos servidores, ou espectadora de protestos acalo-rados nos mais diversos rincões do Rio Grande do Sul. Por que é (foi e deve continuar sendo) tão difícil aos governantes pagar o piso nacional dos professores ou reajustar os vencimentos dos profissionais que arriscam suas vidas pela segurança da popula-ção? Se sem nosso cérebro ou coração não vivemos, sem pro-fessores e policiais motivados e valorizados o Estado Gaúcho também padece.

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CRÔNICA

Embora a legislação brasileira preveja o repasse de mecida-mentos a custos baixos, em Farroupilha o sistema funcio-na apenas de forma gratuita, de acordo com normatização municipal nº 2.689, de 21 de maio de 2002. Outros serviços também estão vinculados à es-trutura, como a distribuição de preservativos e fornecimento de produtos para transplan-tados, que não são encontra-dos no comércio convencional. Para evitar desperdícios, o Pró-Saúde ainda adequou ser-viço de recebimento de me-dicamentos que não são mais utilizados. Qualquer pessoa pode doar remédios em desu-

Apenas medicamentos sem custo

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A superlotação dos pre-sídios se tornou um assunto quase que banal. Todas as pe-nitenciárias brasileiras têm mais detentos que o permitido. Em Caxias do Sul não é diferente. Uma realidade tão próxima da Universidade de Caxias do Sul, basta atravessar a rodovia BR 116. Segundo o delegado peni-tenciário da Serra Gaúcha, Hélio de Souza Fraga, a Penitenciária de Caxias do Sul, a PICS, está com quase três vezes mais ape-nados do que o planejado, cerca de 800 detentos para 270 va-gas. A solução desse problema não está nas mãos de Fraga. Mas coube a ele montar o planeja-mento necessário para alojar as dezenas de detentos que frequen-temente entram nas celas.

Lotação de presídios, onde ninguém fica preso. Caxias é o reflexo das condições carcerárias nacionais

O espelho do Brasil

“Esquematizamos a divisão de presos em alas. A escolha é determinada pelo bairro do indiví-duo ou cidade. Uma forma de ten-tar manter a ordem e segurança no local”, explica o delegado. Além dele, a juíza da Vara de Execuções Criminais de Ca-xias, Sonali da Cruz, tem um tra-balho constante dentro da PICS. Ela se torna os ouvidos para as clemências e solicitações dos detentos. Muitas vezes mal in-terpretada pela sociedade, por manter criminosos nas ruas, ela defende os direitos humanos dos detentos. “As penitenciárias de hoje não ressocializam os apenados. Elas muitas vezes pioram a pes-soa. Deixar na rua um delinquen-te de furto pode ser melhor para a sociedade do que manter ele na presença de um homicida”, co-menta a juíza. Atualmente a penitenciária

é vigiada pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Su-sepe) na parte interna dos pavi-lhões e pela Brigada Militar nos muros externos. Fraga explica que já houve algumas tentati-vas de fuga do regime fecha-do, porém nenhuma teve êxito. Dois pequenos motins foram feitos no presídio, o último no dia 31 de dezembro de 2010, du-rante os festejos de Ano-Novo. Em razão das precárias condições de alguns locais e da superlotação, a juíza já interdi-tou a PICS. Nesse caso, muitos detentos são encaminhados para o Presídio Regional de Caxias do Sul, na localidade conheci-da como Apanhador, porém este também sem condições de rece-ber presos de outras penitenci-árias. Com capacidade para 432 detentos, apenas 280 ocupam integralmente as celas, porém duas alas estão em obras e não

há espaço para totalizar a capa-cidade. “Os presos não têm ativi-dades, não têm incentivos para trabalhos e estudos. Simplesmen-te não fazem nada além de comer e dormir mal”, explica Sonali. Pela falta de presídios, o fraco rigor da lei e o constante ‘quebra-cabeça’ de autoridades para tentar manter o criminoso longe de crimes, muitas pesso-as deixam de pagar sua pena e circulam entre a sociedade rein-cidindo seus delitos. O subcomandante do 36º Batalhão da Policia Militar, capi-tão Alessandro Bernardes, rea-lizou uma pesquisa e constatou que de 100 presos, 80 são pesso-as que estariam cumprindo pena, ou já cumpriram. Uma prova do sistema carcerário fraco que es-tamos vivendo.

Sem ressocialização, com falta de agentes e as precárias condições de alojamentos, presidiários passam a maior parte do seu tempo dentro da cela

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O Apanhador está localizado próximo à Rodovia Rota do Sol, afastado das cidades. Já a PICS, na BR 116 está junto de residências, hospitais e escolas

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TeXtando: Como foi criado o instituto e qual sua área de atuação?

Gabriel Lazzarotto Simio-ni: O Instituto Orbis de Proteção e Conservação da Natureza foi criado por mim e por um grupo de colegas do curso de Biologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Nos últimos semestres da faculdade, percebemos que havia um grande vazio na área da Bio-logia da Conservação em Caxias do Sul. Também nos perguntá-vamos o que vamos fazer depois de formados. Por isso, criamos o Instituto Orbis de Proteção e Conservação da Natureza, que não tem fins lucrativos. Os obje-tivos da entidade são promover pesquisas em todos os níveis e campos para promover a prote-ção e a conservação da natureza, defender o patrimônio natural e cultural do país, formar grupos de estudo, pesquisa e consultoria nas matérias relativas aos objeti-vos sociais, promover a educação ambiental, entre outros.

TeXtando: Como o institu-to trabalha na preservação do ambiente em Caxias do Sul?

Simioni: Chamo a atenção para os projetos de Educação Ambiental e as palestras de Edu-cação Ambiental, como o Projeto TEGA e as palestras que desen-volvemos nos diferentes cursos de graduação da UCS, outras ins-tituições de ensino e professores.

TeXtando: De que forma cidadãos comprometidos com as causas ambientais podem

“Fiscalização funciona para alguns”Presidente do Instituto Orbis não vê empenho significativo na preservação ambiental

Em tempos em que se discute (e se percebe) os efeitos do ho-mem sobre a natureza, o traba-lho realizado por órgãos de pre-servação ambiental ganha cada vez mais visibilidade. Dedicado a educar as pessoas, promover en-contros e realizar pesquisas, en-tre outras atividades, o Instituo Orbis de Proteção e Conservação da Natureza é referência na re-gião. Criado em 2005, o Instituto foi idealizado por estudantes de Biologia que perceberam a falta de preocupação ambiental na ci-dade. E as ações de preservação ainda estão longe do ideal.

Ao TeXtando, o presidente do órgão, Gabriel Lazzarotto Simio-ni, afirma que já buscou parce-rias com entidades públicas, mas não foi atendido. Diz ainda que a prefeitura poderia fazer mais pela preservação e que o próprio poder público desrespeita as leis ambientais. Confira a entrevista.

colaborar com o instituto?Simioni: Como mencionado, o Instituto Orbis não tem fins lu-crativos. Isso significa que todos os recursos adquiridos são dire-cionados a um projeto que busca os objetivos da instituição. Pesso-as e empresas podem contribuir por meio de doação de recursos financeiros ou adquirindo alguns materiais, como camiseta. Para informações, as pessoas podem entrar em contato com a institui-ção pelo telefone (54) 9129.6691 ou pelo e-mail [email protected].

TeXtando: Ultimamente é possível observar muitos cor-tes de árvores em Caxias. Al-guns, inclusive, causaram po-lêmica, como na barragem das Marrecas e o corte de um eu-calipto que matou uma mora-dora no Desvio Rizzo. Caxias do Sul tem políticas corretas para preservação ambiental?Simioni: Temos que analisar muito bem cada situação. No caso da barragem das Marre-cas, somos contra pela falta de transparência dos órgãos públi-cos. Também sabemos que há a possibilidade de arrumarem a rede de água, acabando com va-zamentos e, consequentemente, não perdendo cerca de 60% da água tratada do município. Se é possível arrumar os desperdí-cios, por que construir uma nova barragem? Quanto ao corte do eucalipto que matou a moradora no Desvio Rizzo, ficou claro que foi a falta de preparação e ne-gligência dos trabalhadores. Sou favorável ao corte de espécies vegetais exóticas. Essas espécies são plantas invasoras, trazidas de outras regiões. Sabemos que o Brasil tem uma das melhores políticas ambientais do mundo. O problema sempre é a fiscalização. No caso de Caxias é complicada a situação, uma vez que há muitos interesses (principalmente eco-nômicos) envolvidos nos dois la-dos, seja por parte daquele que licencia, seja por parte de quem pede um licenciamento. É claro que a fiscalização aqui funciona para alguns. Para outros, não.

TeXtando: Como você vê a questão do reflorestamen-to? Ocorre em locais adequa-dos, que realmente reparam o dano causado ao ambiente com a retirada de árvores do local original?Simioni: Para não ser tão pes-simista, já vi situações em que realmente o infrator teve de fa-zer a compensação ambiental no local onde cometeu o delito.

Por outro lado, nem sempre isso ocorre, principalmente quando o interessado pela licença ambien-tal é o mesmo que licencia. Como exemplo, cito o corte de árvores nativas que a prefeitura fez nos pavilhões da Festa da Uva para construir a cancha de laço. Al-guém sabe onde foram plantadas as árvores de compensação? Não adianta dizer que foram distribu-ídas não sei quantas mil mudas para a população. Isso, perante a lei, não pode, já que não sabe-mos se realmente foram planta-das. Por fim, a questão do reflo-restamento, a meu ver, aqui em Caxias do Sul, funciona para os menos favorecidos. Para os “ami-gos do rei”, passa em branco.

TeXtando: Como o poder pú-blico trata da preservação ambiental? Há muita burocra-cia ou as autorizações pas-sam sem muita análise pelos órgãos competentes?Simioni: O poder público poderia e deveria fazer muito mais. Acre-dito muito na educação ambien-tal como estratégia para buscar a preservação. Conheço vários programas da Secretaria Munici-pal do Meio Ambiente (Semma) de educação ambiental. São tra-balhos que têm seu valor, mas pouco. Ofereci para a Semma um trabalho para fazermos em parceria, mas foi negado. Não somos amigos. Não nos deixam participar do Conselho Munici-pal de Defesa do Meio Ambiente (Comdema). Quanto às autoriza-

ções, também poderíamos dizer que funcionam para os menos favorecidos. Não sei exatamente se a burocracia para conseguir as autorizações é maior ou menor do que em outros municípios. Sei que tendo um processo que es-clarece todos os itens pedidos no Termo de Referência, não teria o porquê de demorarem. Quanto à falta de análise do órgão compe-tente, não sei informar, pois não trabalho com eles. Mas imagino que possa acontecer.

TeXtando: Em sua opinião, a população é engajada na luta pela preservação ambiental?Simioni: Ainda são poucos, in-felizmente. Tudo o que consumi-mos vem da natureza. As pessoas estão muito egoístas. Só querem saber de ter lucro, passando por cima de qualquer coisa. Esquece-ram que vivem em comunidade e que “todos estamos no mesmo barco”. O planeta é um só e se al-guém fizer coisas erradas “lá”, os efeitos serão sentidos aqui tam-bém.

TeXtando: Quais são os princi-pais desafios na área ambien-tal para os próximos anos?Simioni: São muitos. Temos que nos preocupar logo. Como princi-pais, vejo as questões relaciona-das ao lixo. Há também os pro-blemas com a água, com extinção da biodiversidade, tanto vegetal como animal e efeitos causados pelo aquecimento global.

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ANDRÉ ROBERTO FIEDLER

Para Simioni, poder público pode fazer mais pela preservação do ambiente

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Fiedler

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