REVISTA VILLEGAGNON 2010

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Escola Naval Brasileira Revista de 2010 em PDFCrédito: Site da Escola Naval do Brasil

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Alguns sonhos no mudam. Quer dizer, s de tamanho.Crdito Imobilirio e Consrcio de Imveis do Banco do Brasil com uma das menores taxas e os melhores prazos. Esse momento todo seu. Simule no bb.com.br/imoveis.Sujeito anlise de crdito e demais condies dos produtos. Saiba mais no bb.com.br.

ISSN 1981-3589

Ano V Nmero 5 2010

Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001 SAC 0800 729 0722 I Ouvidoria BB 0800 729 5678 I De ciente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088

Revista

de

Villegagnon

2010

Caro Leitor,Apresento, com grande satisfao, a 5 edio da Revista de Villegagnon. Concebida no ano de 2006, a revista acadmica da Escola Naval mantm, at os dias de hoje, o seu propsito inicial: incentivar a produo intelectual do corpo docente e discente da Escola Naval, trazendo novidades no campo do conhecimento acadmico e prossional, relevantes formao dos futuros Sentinelas dos Mares de nossa Marinha. motivo de orgulho constatar que a tiragem desta publicao vem aumentando a cada ano, revelando o crescente interesse do pblico civil e militar em conhecer os projetos, as atividades e as reexes acadmicas da tripulao da Ilha de Villegagnon. Para que todos tenham acesso, sua verso on-line est disponvel no site da Escola Naval (www.en.mar.mil.br). Destaca-se que, juntamente com este nmero, esto sendo distribudos os Anais do VII Congresso sobre Defesa Nacional, que a Escola Naval sediou entre 30 de agosto e 02 de setembro. Agradecendo a todos que permitiram a confeco desta revista, convido-o, meu Caro Leitor, a percorrer as pginas que se seguem e a desfrutar de uma agradvel e profcua leitura!

L Leonardo Leonardo Puntel ar r Contra-Almirante Comandante

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SUMRIOO problema da traduo: tradu ore, traditore ? ...................................3 Cartas de Villegagnon: reminiscncias da vida do Almirante Maximiano Fonseca...........................................................8 Um personagem da Histria Naval Brasileira .....................................14 Inuenciar pessoas: a essncia da liderana ........................................18 A era dos grandes encouraados ...........................................................22 As novas possibilidades para a guerra de minas no Brasil ....................................................................................28 As cincias exatas e os erros ...................................................................34 O monge e o militar ................................................................................40 Do outro lado do mundo: a Escola Naval Chinesa .............................46 O processo de formulao de estratgias organizacionais: menos planejamento e mais aprendizagem? .........52 Viagem Antrtica ..................................................................................58 A Escola Naval..........................................................................................66 Uma misso em Goa ................................................................................70 Magistrio militar naval na EN 1968 1985 ........................................76 A atuao do Batalho de Operaes Ribeirinhas de Fuzileiros Navais na proteo da Amaznia e a Estratgia Nacional de Defesa ..........................................................84 Rio 2011 os jogos da paz...................................................................88 Crnica do tempo .....................................................................................92 Rebocadores, os melhores amigos do nauta ........................................94 A vida a bordo de um submarino na viso do Aspirante ................102 Notcias de Villegagnon ........................................................................110

REVISTA DE VILLEGAGNON ANO V NMERO 5 2010 ISSN 1981-0342Revista de Villegagnon uma publicao anual, produzida e editada pela Escola Naval. Leonardo Puntel Contra-Almirante Comandante Editor CMG (RM1) Ricardo Tavares Verdolin Conselho Editorial CMG (Ref) Jlio Roberto G. Pinto CMG (RM1-IM) Ccero Pimenteira CMG (RM1) Pedro G. dos Santos Filho CMG (RM1-EN) Joo Batista L. Vieira CC Dante Jos de Andrade Alexandre Prof. Lourival Jos Passos Moreira Prof. Dr. Ana Paula Araujo Silva Prof. Mrcia Malta Miguez Ferreira Reviso: CMG (Ref) Jlio Roberto Gonalves Pinto, Prof. Dr. Ana Paula Araujo Silva e Prof. Lourival Jos Passos Moreira Diagramao e Arte nal: Simone Oliveira ([email protected]) Impresso: WalPrint Grca e Editora Agradecimentos: Ao CT Seda, Aspirante Pires Ferreira, SO Batista, 2 SG (RM1) Macedo, 3 SG Avelar, 3 SG Renato, FC Vicente, FC Baeta e fotgrafo Eduardo; Os artigos enviados esto sujeitos a cortes e modicaes em sua forma, obedecendo a critrios de nosso estilo editorial. Tambm esto sujeitos s correes gramaticais, feitas pelo revisor da revista. As informaes e opinies emitidas so de exclusiva responsabilidade de seus autores. No exprimem, necessariamente, informaes, opinies ou pontos de vista ociais da Marinha do Brasil. DISTRIBUIO GRATUITA

Suplemento: Anais do VII Congresso Acadmico sobre Defesa Nacional

Ano V Nmero 5 2010

Nossa Capa: Foto area da Escola Naval, apresentando a garagem de barcos e a parte alta da ilha, onde se encontram as salas de aula, camarotes e alojamentos.

O PROBLEMA DA TRADUO: TRADUTTORE, TRADITORE ?[...] ao m de alguns instantes, as chamas subitamente reanimadas foi traduzido: ao m de alguns instantes, tudo o que nela o chamava, se acordou (com certeza a tradutora vendo chamas achou que se tratava do verbo chamar). Aonde ponho: o pai estava despenteado, a tradutora pe:o pai estava sem flego. [...]. Eu escrevi no original: Fiquei tonta, disse ela. A tradutora traduziu: Fiquei estpida, disse ela. (A tradutora deve conhecer melhor o espanhol e tonto em espanhol quer dizer mais ou menos estpido.).[...] Imaginem que escrevi, em m hora, no original: a boca em forma de muchocho. E sabem como ela, toda engraadinha traduziu? Assim: la bouche en culde-poule.[...] Sem falar, em liberdades engraadas que ela tomou. Eu escrevo:a criada e ela traduz:a criada preta sendo que em nenhum pedao do livro se fala em nenhum criado negro. [...] Ento vou procurar esquecer que o livro foi traduzido. (Carta de Clarice Lispector, indignada, reclamando da traduo francesa de um de seus livros)

Professora Marina C. Moreira Cezar

No primeiro semestre deste ano, uma revista de grande circulao no pas1 comemorou o fato de uma das principais ferramentas de busca do mercado - o Google - considerado o gigante da internet, ter disponibilizado a traduo quase instantnea de textos para1

Veja, A lngua do Google. So Paulo: 5 mai 2010.

52 lnguas, entre elas a lngua portuguesa, atingindo no total cerca de 1,7 bilho de pessoas, e com estimativa de chegar a 250 idiomas em dez anos. Segundo a revista, este fato equivaleria a colocar o leitor diante de um macrocosmo cultural, uma biblioteca infinita, onde ele descobriria maravilhado que todas as publicaes esto em portugus.

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Nos ltimos anos, linguistas conceituados e especialistas em inteligncia artificial vm apontando o papel destacado dos tradutores digitais em reas como as de cincia, tecnologia, economia e turismo, uma vez que 90% dos contedos de alta qualidade nesses campos esto em ingls. De acordo com estes estudiosos, o primeiro estgio da traduo universal est bem avanado, pois, embora ocorram alguns tropeos gramaticais nas construes das sentenas, os textos apresentados permitem a compreenso do assunto tratado (o que seria melhor do que nada). verdade que pessoa alguma, em s conscincia, pode negar a importncia da traduo, especialmente em um pas como o Brasil, onde muitas pessoas s falam a lngua materna, e as redes sociais, como o Orkut, o Twitter e o Facebook, tm 24,693 milhes, 5,945 milhes e 5,006 milhes de usurios, respectivamente2. O problema do texto traduzido, no entanto, mais complexo. E quando o texto no informacional, ou instrucional, isto , no se funda na linguagem cotidiana, no pertence ao campo da referencialidade, mas ao da literatura, espao das impossibilidades, da lngua desautomatizada, em que a transgresso a norma, e o leitor instado a preencher as lacunas propostas, a completar os silncios, a se apossar da escritura? A traduo, nesse caso, pode ser fiel ao texto original? Pedagogicamente, importante que se ressaltem o valor e a necessidade de uma boa traduo, ou de uma boa adaptao, especialmente quando a obra for direcionada aos jovens, leitores ainda em formao, que devem ser incentivados a procurar informaes e outros textos do escritor (ou do tradutor, ou do adaptador), e a elaborar suas prprias selees textuais, aprendendo a tomar decises, tornando-se mais independentes. Um dos maiores escritores brasileiros contemporneos, Carlos Heitor Cony, ao defender a necessidade de se adaptar os clssicos (nacionais, ou estrangeiros), para que as jovens geraes tenham acesso s grandes histrias3, admite que nenhuma adaptao substitui o texto original. Sua funo, de fato, consiste em servir de veculo para a leitura da obra no original, porque, geralmente, com ela que os jovens se iniciam nos textos clssicos.2

Confessa ainda o escritor, nessa mesma entrevista, que ser um bom adaptador no implica, necessariamente, ser um bom tradutor: Desde 1962, eu escrevia prefcios para os livros de bolso da Ediouro, que se chamava Tecnoprint na ocasio; ento intensiquei esta atividade. No fui diretamente para as adaptaes, fui inicialmente para fazer prefcios, introdues. Depois me pediram para fazer tradues, mas no sou bom tradutor. Comecei com Tom Sawyer, de Mark Twain. Fiz uma traduo do original, traduo mesmo. Como no sou uente em ingls, pedi ajuda primeira mulher do Antonio Callado, uma inglesa, e ela me ajudou muito. Depois dessa traduo que a Ediouro me pediu uma verso para o pblico juvenil. As aventuras de Tom Sawyer, portanto, foi minha primeira adaptao. Usei minha prpria traduo como base e a fui cortando as gorduras do livro, deixei sequinho, enxuto no ritmo gil da garotada. Foi o comeo para valer dessa nova atividade, a de adaptador prossional. A adaptao chegou a ocupar um espao bem significativo nos anos 70, quando era bastante comum, autores respeitados, como Clarice Lispector, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga e Rachel de Queiroz, por necessidades financeiras, dedicaram-se a fazer adaptaes de obras clssicas estrangeiras e mesmo nacionais. Nos dias atuais, apesar de o adaptador desfrutar de um reconhecimento profissional, um determinado status, j que se atribui a ele uma coautoria (ao contrrio do tradutor), o papel da adaptao bastante controvertido, e no raro o conceito de adaptao estar associado simplificao, ou ao empobrecimento, dos textos originais. Alguns docentes, favorveis aos textos traduzidos e/ou adaptados, declaram ser de fundamental importncia colocar o estudante em contato com os clssicos da literatura universal, que lhe revelam um universo novo, de culturas diferentes, com vises multifacetadas, diversificadas, o que ajudaria o jovem a compreender melhor o mundo e a si mesmo. Argumentam tambm que h casos nos quais o trabalho do tradutor, alm de merecer elogios, ajuda a

O Globo, Caderno de Economia. O que est acontecendo? Rio de Janeiro: 26 mai, 2010, p.23. Entrevista, disponvel em, http://www.unicamp.br/iel/memoria/ projetos/teses/tese5b.doc; acessado em 10 mar., 2010)

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enriquecer a obra original, como as tradues feitas por Monteiro Lobato, Pollyanna, de Eleanor H. Porter; Machado de Assis, O corvo, de Edgard Allan Poe; Mario Quintana, sombra das raparigas em flor, de Marcel Proust; e Ea de Queiroz, As minas do rei Salomo, de Henry Rider Haggard, por exemplo. Sem negar o valor dessa posio, no se pode esquecer que os textos, escritos em outra lngua que no a portuguesa, embora traduzidos por escritores de tal porte, no deixam de ter uma certa especificidade, uma vez que foram escritos originalmente em outra lngua histrica (alemo, francs, ingls, italiano, espanhol, v.g.). A professora Leyla Perrone-Moiss, tradutora dos livros de Roland Barthes, ao discutir a questo da traduo, afirma que traduzir entrar na dana e acertar o passo necessrio, pois novo corpo vai entrar nessa dana, com os meneios prprios de uma outra lngua: [...] para o escritor, a lngua no uma mina de riquezas ou um repertrio de possibilidades; a lngua insucincia e resistncia. Isso pode servir de consolo ou de nimo, para o tradutor, que tende frequentemente a crer que a segunda lngua carente ou imprpria, confrontada aos desempenhos do texto em sua lngua original. Se no fcil, para o tradutor, achar o dizer exato, tambm no o foi para o escritor, ao enfrentar sua prpria lngua. Traduzir recomear a luta da escritura para transform-la novamente em dana. A nica vantagem do tradutor, que ele dispe de uma coreograa previamente traada. (2004:65-66) Assim, no obstante a construo do sentido poder ser mais, ou menos, recuperada, segundo a maior, ou

menor, competncia do tradutor e do interlocutor, o estudante no estar tendo acesso aos recursos lingusticos, como a expressividade rtmica, a sonoridade, as assonncias, as aliteraes, os jogos imagsticos, os jogos de palavras, as combinaes dos vocbulos nas estruturas frasais, recursos trabalhados esteticamente por Lewis Carroll, Emily Dickinson, Pablo Neruda, Marcel Proust, Fidor Dostoivski, ou Jorge Luis Borges, mas a um outro texto, fruto da reelaborao, da reescritura, do trabalho de quem faz a traduo. Visto que a traduo recontextualiza a obra literria original, gerando outras imagens reescrevendo-as numa outra realidade na qual percebida, esclarece Amorim (2005:29), seria ingenuidade assumir que o tradutor no se faa presente nos textos que so publicados como traduo (idem:125). Preocupadas com essa situao, muitas editoras elaboram cuidadas publicaes bilngues, como O engenhoso fidalgo, D. Quixote de La Mancha, de Cervantes (trad. de Srgio Molina), Parmnides (trad. de Maura Iglesias e Fernando Rodrigues), os textos de T. S. Eliot (trad. de Ivan Junqueira) etc., que, ao lado da traduo, trazem o texto original, permitindo ao leitor, dessa forma, confrontar as escrituras (o que torna mais produtiva a sua leitura), enquanto lhe desenvolve a percepo esttica. O certo que, mesmo com o avano das mais recentes ferramentas de traduo automtica, fundamentadas em princpios ancorados em estudos da rea de inteligncia artificial (associando palavras e nmeros; lingustica e matemtica) e o constante aperfeioamento das mais novas mdias digitais: celulares, iPads, e-books, e.g., na rea da arte verbal, em que h um jogo dialgico com o interlocutor, e as palavras carregam uma grande complexidade intrnseca, rompendo os limites da significao, atingindo espaos insuspeitados, iluminando novas possibilidades de se perceber a realidade, o problema da traduo ainda se configura de difcil soluo.

BIBLIOGRAFIAAMORIM, Lauro Maia. Traduo e adaptao: encruzilhadas da textualidade em Alice no pas das maravilhas, de Lewis Carol, e Kim, de Rudyard Kipling. So Paulo: UNESP, 2005. PERRONE-MOYSS, Leyla. Lio de casa. In: Barthes, Roland. Aula. So Paulo: Martins Fontes, 2005. UCHA, Carlos Eduardo Falco. Coseriu e a lingustica do texto. Conuncia. Revista do Instituto de Lngua Portuguesa do Liceu Literrio Portugus. Rio de Janeiro: Liceu Literrio Portugus, n. 25-26, p. 24-35, 2003.

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CARTAS DE VILLEGAGNON: REMINISCNCIAS DA VIDA DO ALMIRANTE MAXIMIANO FONSECAAlm da simptica e risonha simplicidade e do slido e esperanoso patriotismo, a ns, da famlia, marcava-nos a sua autenticidade. Gostava de agir, sempre, de acordo com a sua natureza. E foi com essa delidade a ela (sua natureza) que ganhou a admirao de todos que com ele conviveram e que, de Taboas, foi parar em Braslia. Ansioso e avesso rodeios, eram comuns seus ... v direto ao assunto!que, apesar de nos preocupar pela aparente rispidez, logo percebemos, soavam ao interlocutor como garantia de conabilidade e terminavam por gerar admirao. (...) A Marinha foi sua vida. Desde a aventura na jangada, improvisada para travessuras de menino, e referida como de grande inuncia para sua vocao naval, at seus ltimos dias, ele a viveu intensa e prazerosamente. Em casa, j na reserva, preparava-se com animao para atender aos convites a qualquer tipo de cerimnia naval. Sempre que nos vamos, mesmo j doente, recebia-me com a mesma vida pergunta: quais so as novidades na Marinha? Para todas, continuava a ter convicta e, quase sempre, arrojada opinio. Costuma-se dizer que para a Marinha s se entra, e que dela nunca mais se sai. Assim aconteceu com o meu pai1 Vice-Almirante Luiz Fernando Palmer Fonseca

Asp Vitor Deccache Chiozzo

VILLEGAGNON, EM 4 DE ABRIL DE 2010Excelentssimo Almirante Maximiano Eduardo da Silva Fonseca, Hoje, passa-se doze anos que Vossa Excelncia atendeu convocao de Nosso Supremo Comandante-emChefe, para seguir em sua derradeira comisso. Tomei a liberdade de escrever, pois, sempre em sua carreira, adotou uma poltica de portas abertas recebendo a todos que quisessem lhe falar, sem maiores formalidades e sem discriminao de posto ou graduao, mantendo assim contato estreito com pessoas de todos os nveis hierrquicos, dando a todos a oportunidade de se manifestarem livremente sobre o que consideravam importante2. Participo atravs dessa missiva, como o senhor sempre desejava saber, as novidades na Marinha, e sem rodeios e pormenores, sigo direto ao assunto. NAVEGANTE, POR ONDE SINGRARES, /LOUVARS NOSSA NOBRE MISSO

HOMENAGENS.O senhor fora alado ao posto de Patrono das Mulheres Militares da Marinha, pois em sua gesto, fruto de uma viso arrojada para a poca, admitiu as mulheres em nossas fileiras, criando o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha (Lei n6807 de 7 de julho de 1980), fazendo com que nossa Instituio fosse pioneira em contar com a presena feminina em seus Quadros.1 2

Maximiano Fonseca, De Taboas a Braslia, Rio de Janeiro, Editora ao Livro Tcnico, 1999. Id.

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Hoje no mais existe este Corpo, e as oficiais e praas encontram-se nas mais diversas funes nas diversas Organizaes Militares contribuindo sobremaneira para o profissionalismo e eficincia de nossa Fora. No dia de seu nascimento, 6 de novembro, comemora-se o Dia Nacional do Amigo da Marinha, da qual o senhor foi o grande incentivador, atravs da Sociedade de Amigos da Marinha (SOAMAR), quando incrementou um melhor e mais estreito relacionamento da Marinha com os soamarinos e a sociedade, incentivando-os a divulgar em seu meio a importncia do Poder Naval para o Pas e a serem sentinelas avanadas da Marinha com a responsabilidade, afetuosa e livremente assumida, de defend-la e engrandec-la. O nome do terminal da Baa da Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ), da Petrobras, empresa da qual foi diretor (30 de abril de 1985 a 10 de junho de 1991) alterou-se, desde junho de 1998, para Terminal Martimo Almirante Maximiano. No poderia me furtar de mencionar a novidade, da que acredito gostar mais. Quando exerceu o cargo de Ministro da Marinha, Vossa Excelncia homenageou seu grande amigo, o Capito-de-Fragata Arnaldo da Costa Varella, dandolhe o nome ao Navio Balizador Comandante Varella (H18). Hoje, o senhor nomeia nosso Navio Polar, o Almirante Maximiano (H41). Um dos quatro navios mais modernos de pesquisa antrtica do mundo brasileiro! Quanto orgulho! muito superior ao destemido e saudoso Navio de Apoio Oceanogrfico Baro de Teff, adquirido em 1982 e que prestou Marinha, Hidrografia Brasileira, ao Programa Antrtico e suas pesquisas inestimvel servio. A tripulao do H-41, Cadncia MXima, possui o mesmo entusiasmo na execuo das Operaes Antrticas, dos primeiros que iniciaram essa aventura, mantendo a elevada tradio de nosso Programa Antrtico Brasileiro (PROANTAR), no continente glacial onde, desde 1983, (recordasse-se) tremula nosso pavilho nacional na Estao Antrtica Comandante Ferraz (EACF), na Ilha Rei George, consolidando desta forma, nossa participao no Tratado Antrtico. Na Praa dArmas do Navio Polar, carinhosamente chamado de Tio Max pela tripulao, encontra-se sua espada de Guarda-Marinha da turma de 24 de dezembro de 1941, por desejo de sua esposa, Sra. Helosa Palmer. Lembra-se quando o senhor assumiu o Ministrio, dia 15 de maro de 1979? Na profuso de pensamentos, um se sobressaa...

Aquele modesto garoto de Taboas, cujos melhores sonhos eram atingir o posto de almirante, chegava Braslia e assumia o mais alto cargo da Marinha do Brasil. Atingindo o mais alto cargo da Marinha, tal fato contribuiu ainda mais para aumentar ainda mais meu otimismo e minha crena no futuro do Brasil, uma vez comprovando que as oportunidades esto abertas a todos os brasileiros, que podem galgar, honestamente, as mais elevadas posies3. uma pena que o senhor no esteja aqui para compartilhar conosco essas alegrias e sucessos de nossa Fora e de nosso Brasil. Mas nosso Comandante-emChefe na Esfera Celeste o chamou. Acredito, piamente, que no cu tambm segue-se o lema da Diretoria de Hidrografia e Navegao (DHN): Restar sempre muito o que fazer...

NOTCIAS DA MARINHA DO BRASIL: ONTEM, HOJE E PARA SEMPREESCOLA NAVAL Nas palavras do Almirante Paulo Bonoso de Duarte Pinto, seu contemporneo, para quem passou a Presidncia do Clube Naval, aps exerc-la de 11 de junho de 1977 a 15 de maro de 1979, a Escola Naval: Tu [Escola] s como um velho marinheiro, nesta pedra cinza, pedao de cais. E o teu corao no se cansa de conceber, de alimentar, de preparar novas almas, para o duro combate, meninos que se fazem homens, homens do mar, homens para o mar... e com a alta responsabilidade de preservar a vocao martima de nosso povo, despertlo para seu futuro de grandeza que no pode prescindir do mar. Aqui em Villegagnon, as instalaes foram modernizadas e reformadas. Dispomos de uma infraestrutura digna das grandes Academias Navais do mundo. Almirante permanecemos vigilantes e prontos para o combate e a nos dedicarmos inteiramente ao servio3

Ib.

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da Ptria4, tais como o aspirante do ento Curso Prvio (1ano) de 5 de abril de 1937, declarado Guarda-Marinha (n22) em 24 de dezembro de 1941, o qual fora extremamente entusiasmado pelas matrias relacionadas navegao, instrumentos nuticos e hidrografia. Afinal, em nossa Escola que iniciamos e nos despertamos para nossa vocao de homens do mar. E, j que falei sobre os homens do mar, acredito que cabem aqui alguns comentrios sobre aspectos importantes de sua carreira, que gostaria de relembrar, pois como o senhor dizia: os exemplos e ensinamentos de ex-chefes e comandantes moldam nossa formao militar e nos preparam para desempenhar os diversos cargos ao longo de nossa carreira5. Almirante Maximiano, peo-lhe permisso para, a partir deste momento, interromper as notcias sobre nossa Fora e lhe mostrar um pouco do artigo que pretendo escrever sobre o senhor para publicao na Revista Acadmica da Escola Naval, a Villegagnon e se porventura omitir alguma funo exercida, perdoe-me a falta.

NHI RIOBRANCO (14 DE NOVEMBRO DE 1951 A 3 DE JULHO DE 1953)Cerca de oito meses aps estar servindo na Base Naval de Natal, onde exercera as funes de Comandante do Centro de Formao de Reservistas de Natal e de Encarregado da Diviso Militar da Base, foi, com grata surpresa designado Comandante do NHi Rio Branco, participando de uma das maiores efemrides da Histria da Hidrografia de nosso pas, o Primeiro Levantamento Hidrogrfico (LH) da Barra Norte do Rio Amazonas (1952). Nesta comisso, com pouco mais de 340 dias de durao, at ento a mais longa executada pelo nosso servio hidrogrfico em tempos modernos, pode compreender a solido do comandante6, distante da famlia e do porto sede. Vale ressaltar que as cartas nuticas da regio eram baseadas em LHs efetuados pelo hidrgrafo francs Tardy de Montravel entre 1842-1848. Ainda sem dispor de equipamentos eletrnicos de posicionamento, e utilizando-se pela primeira vez do ecobatmetro em LHs, o CT Maximiano e sua tripulao realizaram admirveis trabalhos, executando o LH e produzindo as cartas nuticas que permitiram a abertura do Canal Norte do Amazonas a navios de grande porte, em proveito da explorao de mangans na regio. Apesar das dificuldades e intempries, o servio fora executado com sucesso. SENTIR AO TEU LADO O SERVIO/E A GRANDEZA DA HIDROGRAFIA... BRASILEIRA!

CARREIRA NAVALSE, EM BATALHA, O FEROZ INIMIGO/ TU COMBATES, ALTIVO E SEM MEDO, /NA ESQUADRA, ESTAREMOS CONTIGO, / DESVENDANDO DO MAR O SEGREDO: 2 GUERRA MUNDIAL (GM), O INCIO DO OFICIALATO E O APERFEIOAMENTO EM HIDROGRAFIA. No incio da carreira, o ento 2o Tenente Maximiano embarcado no Cruzador Rio Grande do Sul, participou do patrulhamento do Atlntico Sul, durante a 2 GM. Sendo um dos 25 Oficiais de nossa Marinha com mais de 300 dias de mar em operaes de guerra foi laureado com a Medalha de Servios Relevantes e a Medalha de Bronze da Fora Naval do Nordeste. Aps o conflito, foi designado para o NT Duque de Caxias, e em seguida, para o Encouraado Minas Gerais. Apesar de querer ir para a Base Fluvial de Ladrio, para ter alguma experincia com a Marinha do Interior teve o pedido negado, pois em breve cursaria Hidrografia (1949), o stimo curso da especialidade na Marinha, como era seu desejo, j como CapitoTenente (CT). Aps o curso, solicitou sua ida para Natal (RN), e apesar da dificuldade de oficiais com que lutava a DHN, o Diretor concordou em liber-lo.4 5

ESTGIOS NOS ESTADOS-UNIDOS (FEVEREIRO A OUTUBRO DE 1954)Em reconhecimento e como prmio pelo notvel LH na Barra Norte, foi designado para estgios no United States Hydrographic Office e no Coast and Geodesic Survey, ambos afetos s tcnicas aplicadas hidrografia e construo de carta nutica. Dentre outras tarefas determinadas pela DHN, estava a escolha de um equipamento de posicionamento eletrnico. Sua proposta de aquisio do sistema Raydist fora aceita e, a partir de 1955, acelerou-se substancialmente a execuo do Plano Cartogrfico Brasileiro, sendo este equipamento de coleta de dados geodsicos muito utilizado nos LHs at a dcada de 1980. Posteriormente fora Encarregado da Diviso de Levantamentos da DHN (novembro de 1954 a dezembro de 1956).6

Juramento Bandeira Nacional. Maximiano Fonseca, De Taboas a Braslia, Rio de Janeiro, Editora ao Livro Tcnico, 1999.

Id.

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J CONHECES DO FUNDO A PRUMADA /SEM HAVERES LANADO O TEU PRUMO/POIS NAVEGAS EM REA SONDADA, /PELA CARTA INDICAMOS TEU RUMO. COMANDOS E DIREO NA DHN Teve a oportunidade de comandar, ainda, os Navios- Hidrogrficos Caravellas (12/1956 a 07/1957), Sirius e Canopus e o Navio-Oceanogrfico Almirante Saldanha (06/1969 a 01/1970), alm de dirigir o Centro de Sinalizao Nutica e Reparos Almirante Moraes Rego (CAMR). No Comando do NHi Sirius (01/1958 a 03/1959), o qual teve a oportunidade de receber no Japo como Imediato, voltou a realizar levantamento na Barra Norte do Rio Amazonas. Dispondo de muito mais recursos, avaliou que poderia ter executado o LH de 1952 em metade do tempo. Em 1961 foi designado instrutor no curso de Aperfeioamento de Hidrografia. J no comando do NHi Canopus (07/1963 a 11/1964) completou o levantamento da costa sul do Brasil e iniciou o do Arquiplago de Abrolhos. Promovido a Capito-de-Mar-e-Guerra, tornou-se o primeiro diretor do CAMR (01/1966 a 02/1967), antes um departamento da DHN. Elaborou o planejamento para recuperao e melhoramento do servio de sinalizao nutica no Brasil, que se consubstanciou como o primeiro plano de longo prazo para o mesmo, servindo de base para a elaborao da parte do Plano Diretor da Marinha pertinente sinalizao nutica. Posteriormente, foi Delegado da Capitania dos Portos do Rio Grande do Sul em Porto Alegre (12/1964 a 12/1965), e membro do Estado-Maior da Junta Interamericana de Defesa, em Washington, Estados Unidos da Amrica (05/1967 a 04/1969).

Promovido a Almirante-de-Esquadra (25/11/1976) tomou posse como Diretor-Geral do Material da Marinha (DGMM, de 18/01/77 a 15/03/79). Escolhido pelo Exmo.Senhor Presidente da Repblica Joo Figueiredo para Ministro de Estado da Marinha foi empossado no cargo em 15 de maro de 1979 exercendo-o at o dia 22 de maro de 1984.

MINISTRO DE ESTADO DA MARINHA: LEALDADE E TRABALHOAo ser honrado com o convite do Presidente Figueiredo para exercer o cargo de Ministro da Marinha, fez apenas duas promessas ao chefe: Lealdade e Trabalho. E procurou seguir a risca o integral cumprimento das mesmas. De forma empreendedora e dinmica, implementara doutrinas e idias que iriam se refletir na eficincia de nossa Fora nos anos vindouros. Para um relato mais completo de sua gesto, o Ministro Maximiano Fonseca escreveu um livro-relatrio, sob o ttulo Cinco anos na Pasta da Marinha. Visionrio, percebeu a relevncia estratgica para a Marinha em dominar a tecnologia da energia nuclear, sendo um dos idealizadores do Programa Nuclear Brasileiro. Decorrncia possivelmente do que ouvira do notvel cientista Almirante Alvaro Alberto, como Capito-Tenente, na dcada de 1950 , numa conferncia no Clube Naval8. Ainda durante sua gesto na DGMM, o ento CF (EN) Othon Luiz Pinheiro da Silva regressara dos Estados Unidos, onde conclura um curso sobre energia nuclear. Aps confeco de relatrio detalhado, este preconizara que a Marinha deveria desenvolver um projeto de enriquecimento de urnio, com o propsito de dominar a obteno de tecnologia para um submarino nuclear. Sabiamente a Alta Administrao Naval compreendeu a importncia desta tecnologia, e hoje, a propulso nuclear est prxima de ser alcanada por nossa Fora. Ainda sobre submarinos, preconizou o Ministro Maximiano de possuirmos capacidade tecnolgica para o projeto, construo e manuteno dos mesmos, criando o programa para construo de submarinos convencionais, que resultou em transferncia de tecnologia para o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro e a construo dos Classe Tupi IKL-209.8

UM NOVO HORIZONTE REPLETO DE DESAFIOS: OFICIAL-GENERALNo comando do NOc Almirante Saldanha foi promovido a Contra-Almirante. Do elogio concedido pelo Diretor da DHN, o ento Contra-Almirante Jlio de S Bierrenbach, transcrevo o seguinte trecho (...) A DHN perde um grande Comandante, mas lucra, e com ela toda a Marinha, com o acesso de S. Exa. ao crculo dos Oficiais-Generais . 7 Nomeado Diretor de Administrao da Marinha (4/02/1970), contribuiu para a criao de uma nova mentalidade administrativa na Marinha. Promovido a Vice-Almirante fora Comandante do 1 Distrito Naval (05/05/1975 a 01/1977), onde se destacou pela implantao da Estao Naval do Rio de Janeiro, na Ilha de Mocangu.7

Ib.

Maximiano Fonseca, Cinco Anos na Pasta da Marinha, Rio de Janeiro, Editora Independente, 1985.

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Na rea da Hidrografia e Sinalizao Nutica, alm da incorporao de novos meios flutuantes, foram adquiridos novos equipamentos, notadamente o Sistema de Automao Cartogrfica, que veio colocar a DHN no mesmo nvel dos melhores servios hidrogrficos. Ao deixar a pasta contvamos com 414 faris e faroletes, destes, nada menos de 116 haviam sido acrescentados na sua gesto. Sua ao culminou com a transferncia da DHN para a Ponta da Armao, em Niteri, o que vem permitindo, hoje, a contnua expanso da Diretoria e de suas organizaes militares subordinadas. Teve a iniciativa, e mesmo a tomada da deciso, em realizaes das quais se destacam a transferncia do 5 Distrito Naval da cidade de Florianpolis (SC) para a do Rio Grande (RS), aps complexo e minucioso estudo do Vice-Almirante Caminha, ento Comandante do 5 Distrito, em 1983; Criao do Comando Naval de Manaus, hoje 9 Distrito Naval; transformao do projeto Cabo Frio em Instituto Nacional para os Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira IEAPM; Criao do posto de Almirante-de-Esquadra do Corpo de Fuzileiros Navais, ocasio na qual recebeu do Ex-Ministro Almirante Augusto Hamann Rademaker Grnewald o seguinte telegrama: Felicitaes justa iniciativa criao posto Almirante de Esquadra CFN Alto Comando da Marinha PT Cumprimentos. Em alto nvel foram realizadas freqentes reunies do Almirantado para decidir sobre grandes problemas da Marinha. Alm disso, institui uma reunio anual do conselho de Almirantes, durante as quais qualquer Almirante tinha a oportunidade de expor seu ponto de vista sobre os problemas da Marinha. Tambm se instituiu uma reunio de confraternizao anual com os oficiais da reserva e reformados, quando aps uma palestra durante a qual o Ministro expunha os problemas da Marinha, concedia a palavra aos que dela quisessem fazer uso para emitir suas opinies e sugestes. Em sua gesto apenas deixou de visitar dois estados que tinham rgos da Marinha, quais sejam Sergipe (Capitania dos Portos) e Acre (Delegacia da Capitania em Boca do Acre), o que pretendia fazer em 1984, no concretizando tais visitas em virtude de ter deixado o Ministrio antes da data a prevista. Visitou praticamente todos os rgos da Marinha nas diversas reas, de delegacia de Capitania para cima, tendo inclusive visitado algumas Agncias de Capitanias. Em 1984 foi agraciado com o ttulo de Doutor Honoris Causa pela Fundao Universidade Federal do Rio Grande.

AGRADECIMENTOS E PALAVRAS FINAISAlmirante,quando o senhor assumiu o Ministrio, proferiu as seguintes palavras: (...) Sinceramente, no posso me vangloriar de ser alado a to elevado cargo exclusivamente por mritos pessoais, se eles existiram, pois, salvo meu amor Marinha, muitos foram os que contriburam para que eu pudesse reunir as qualidades que me habilitaram a concorrer a uma indicao to honrosa (...), em seguida agradeceu aos seus pais, mestres, esposa e subordinados. semelhana de Vossa Excelncia, ao finalizar este artigo, agradeo ao Exmo. Vice-Almirante Luiz Fernando Palmer Fonseca, Diretor de Hidrografia e Navegao, pela maneira corts e simptica a qual sempre respondeu, durante as raras oportunidades que a Marinha me concedeu, s inmeras curiosidades feitas por mim sobre o Ministro Maximiano, seu pai. Ao Comando e tripulao do Navio Polar Almirante Maximiano, na figura de seu Comandante, CMG Segvia, agradeo a fidalguia com que fui recebido a bordo.

CONCLUSOPretendi com este artigo mostrar um pouco da vida deste Chefe Naval e lder que fora o Almirante Maximiano Eduardo da Silva Fonseca, de maneira a manter viva sua memria e exemplo. Vivendo e amando a Marinha e o Brasil, com entusiasmo e dedicao ao servio do incio ao fim de nossas vidas, seremos muito felizes na vocao que escolhemos, pois na Marinha s se entra, e dela nunca mais se sai. Penso que o homem poder considerarse realizado na vida, se, mesmo sem ter feito grandes coisas, ao se aproximar do seu nal, no tenha arrependimento dos caminhos trilhados ao longo da mesma, isto , caso fosse possvel recome-la os trilharia novamente Almirante Maximiano Fonseca O sonho de menino simples do interior foi, na realidade, muito alm daquilo com que ele conscientemente poderia imaginar. A Marinha ofereceu-lhe opor-

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tunidades sem par, s quais lhe permitiram galgar todos os postos da carreira e ocupar posies que nunca ousara ambicionar, culminando com a indicao para o cargo de Ministro de Estado. Na Marinha, foi Tenente, Comandante, Almirante. Mas sobretudo foi um brasileiro que sempre acreditou na grandeza e no futuro de seu pas. Parafraseando as palavras do grande Chefe Naval Almirante Pedro Max Fernando de Frontin, Patrono de Minha Turma: Quando no se pode fazer tudo

que se deve, deve-se fazer tudo que se pode. Espero ter feito tudo o que se pode... Sabers ser o nosso desejo Que jamais tu navegues sozinho...

Obrigado Almirante Maximiano. Respeitosamente, Vitor Deccache Chiozzo Aspirante

BIBLIOGRAFIAFONSECA, Maximiano. De Taboas a Braslia, Rio de Janeiro, Editora ao Livro Tcnico, 1999. ______. O que segura este pas. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1987. ______. Cinco anos na Pasta da Marinha. Rio de Janeiro, Edio Independente, 1985. SEPULVEDA, Antonio Cesar Martins. Cano do Hidrgrafo, 1981.

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Encouraado Minas Gerais (1910) aps o seu comissionamento

UM PERSONAGEM DA HISTRIA NAVAL BRASILEIRACMG (RM1) Pedro Gomes dos Santos Filho

Em 1784, quando tomava conta de algumas cabeas de gado prximo ao rio Bendeng, nos sertes de Monte Santo, Provncia da Bahia, um menino encontrou uma pedra de cor amarronzada, bem diferente das outras da regio. A pedra era grande, com dois metros de dimetro e mais de cinco toneladas de peso. Em 1810, um grupo de cientistas da Sociedade Real de Londres atestou se tratar de um meteorito que se chocou com a Terra em data desconhecida. A pedra ficou conhecida como o Meteorito de Bendeng. Tempos depois, aps a deciso de transportar o meteorito para a Corte, no Rio de Janeiro, coube ao Imperador escolher algum para dirigir a difcil faina, que j tentada uma vez, fracassara. Quem teria as qualificaes necessrias para tal empreendimento? Quem possuiria conhecimentos de engenharia e da prtica marinheira de manobrar com poleame, aparelhos de laborar e acessrios? Resposta: um Oficial de Marinha. D. Pedro II convidou pessoalmente o PrimeiroTenente da Armada Jos Carlos de Carvalho. O escolhido pelo Imperador tornou-se Aspirante em 1864, ano em que ingressou na Marinha Joaquim Cndido Nascimento, heri da Guerra do Paraguai que ostenta seu nome em um dos Avisos de Instruo da Escola Naval. No ano seguinte, o Aspirante Carvalho embarcou na canhoneira de rodas Henrique Martins e, sob o Comando do ento Primeiro-Tenente Jernimo Gon-

alves, seguiu para o Paraguai. Regressou EN para completar os estudos. Em 1867 estava de volta ao Teatro de Operaes. Participou de diversas aes de combate durante dois anos e cinco meses, seu tempo de campanha. Chegou a ser ferido em duas ocasies. Como Segundo-Tenente, comandou chatas bombardeiras, tomadas dos paraguaios em Riachuelo, e imediatou dois navios: Monitor Rio Grande e Encouraado Colombo. Foi condecorado como Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro e com a Medalha de Bravura Militar. Com um incio brilhante, parecia que a sua carreira na Marinha seria um sucesso. Nem tanto. Aps a guerra, serviu em vrios navios e dedicou-se ao estudo de mquinas. Tudo ia bem, quando na funo de Diretor da oficina de mquinas do Arsenal de Marinha de Mato Grosso desentendeu-se com o Inspetor do Arsenal. Submetido a Conselho de Guerra sob a acusao de ter desrespeitado seu superior hierrquico, foi sentenciado com 30 dias de priso. Mesmo tendo sido absolvido posteriormente pelo Superior Conselho Militar, pediu demisso do Servio da Armada. Jos Carlos deixou a Marinha, mas no saiu da Histria. Em dezembro de 1879, ocorre nas ruas do Rio de Janeiro um protesto contra a cobrana de vinte ris, ou seja, um vintm, nas passagens dos bondes, instituda pelo Ministro da Fazenda, Afonso Celso de

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Assis Figueiredo, futuro Visconde de Ouro Preto. O protesto, conhecido como a Revolta do Vintm, contou com a participao direta do tenente Carvalho, que se juntou aos maiores instigadores do tumulto. Na manh de 1 de janeiro, quando o imposto comearia a vigorar, o governo mandou postar policiais e tropas de linha nas estaes e locais mais concorridos. A exaltao popular ultrapassou qualquer expectativa. O povo aplaudia freneticamente os oradores antimonarquistas como Ferreira de Menezes, Ferro Cardoso, Lopes Trovo, Jos do Patrocnio e o tenente Carvalho, vivando mais entusiasticamente os discursos mais radicais.1 A perturbao da ordem pblica foi grave. Aos gritos de Fora o vintm! a populao espancou condutores, virou bondes e arrancou trilhos das ruas do centro da cidade. Nas trincheiras de paraleleppedo da Rua Uruguaiana, Jos Carlos de Carvalho foi detido por ordem do Almirante Elisrio Barbosa e recolhido, junto com seu irmo Carlos Augusto, oficial da ativa, Corveta (reclassificada mais tarde como cruzador) Guanabara. Fora da Marinha, onde poderia trabalhar um exoficial, com apurada formao tcnica e experincia da vida no mar? Em diversos locais e profisses afins, mas dificilmente como jornalista. Entretanto, no foi este o pensamento de Jos Carlos. Ao deixar o Servio Ativo, tornou-se reprter da Gazeta de Notcias, jornal antimonarquista e abolicionista, considerado o rgo de imprensa mais popular do Rio de Janeiro. Mesmo sendo um republicano convicto, ou talvez por causa disso, foi um dos trs reprteres escolhidos para acompanhar D. Pedro II na sua viagem a Minas Gerais, em 1881. Era a primeira vez que uma comitiva imperial se fazia acompanhar por jornalistas. Alm do jornal, Carvalho tambm representava A Revista Ilustrada, fundada pelo caricaturista Angelo Agostini, em 1876. Quando a comitiva deixou Ouro Preto para visitar outras cidades, o reprter deu um furo de reportagem ao presenciar a queda do Imperador do seu cavalo, quando o animal se assustou com um grupo de mulheres que apareceram para saudar o monarca. O tombo foi notcia e alvo de caricatura publicada na revista, tendo grande repercusso. Mas no foram somente as atividades jornalsticas que deixaram o reprter (ou seria tenente?) em evidncia.2 1

A volta a Ouro Preto foi marcada por um incidente provocado por Jos Carlos de Carvalho. Nas pginas da Revista Ilustrada, o incauto jornalista comentou que as mulheres da capital mineira eram liberais e acessveis, alm de ser belas, meigas, atraentes, de olhos negros que prometiam tanto quanto.... Ele seguramente desconhecia o terreno onde pisava. A populao evoltouse e ameaou linchar o reprter, que teve que fugir disfarado com roupas fornecidas pelo mordomo do Imperador. O agitador de 1880 aprendeu o que signicava estar do outro lado do motim. A partir desse episdio, com receio de outra incondncia mineira, A Revista Ilustrada deu por encerrada a sua cobertura da viagem.2 Visconde ou cidade, Ouro Preto decididamente no dava sorte para o nauta jornalista. Ser tenente e reprter no bastava; Jos Carlos de Carvalho era tambm engenheiro. E dos bons. Trabalhou em diversas empresas, inventou um sistema de sinalizao eltrica adotado pela Marinha e, seis anos aps suas peripcias em Minas Gerais, foi escolhido pelo Imperador para capitanear a faina de transporte do meteorito de Bendeng, com incio em sete de setembro de 1887. Projetada por Jos Carlos de Carvalho, mandou-se construir uma carreta que, engenhosamente, poderia andar sobre trilhos, ou sobre rodas, dependendo das condies encontradas no trajeto. A carreta possua dois pares de grandes rodas de madeira, para rodar em solo, e na parte interna, especialmente calculadas, rodas metlicas para rodar sobre trilhos, de tal modo que, estando sobre estes ltimos, as rodas de madeira no tocassem o cho. Por vezes, o carreto era puxado por juntas de boi. Noutras ocasies, pondo-se em prtica as habilidades de um marinheiro, tirava-se proveito do emprego de estralheiras, talhas dobradas, patescas e estropos, e de todas as engenhosas disposies de cabos e roldanas de que o homem do mar sabe servir-se para, com esforos relativamente pequenos, locomover pesos considerveis.3CARVALHO, Jos Murilo de. D. Pedro II. So Paulo: Companhia das Letras, 2007. www.meteoritos _brasileiros. kit.net.

MELLO, Maria Tereza Chaves de. A Repblica consentida. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2007.

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No dia 25 de novembro, a carreta executou os primeiros movimentos sobre o leito do riacho Bendeng. Em junho do ano seguinte, o meteorito foi entregue no Arsenal da Marinha, ato que contou com a presena da Princesa Isabel. Mais tarde, foi transportado para o Museu Nacional, onde se encontra at hoje. A princpio, pode parecer que a difcil e importante tarefa trouxe benefcios financeiros para o seu condutor. Afinal, foi uma iniciativa do Imperador, um trabalho pesado, com durao de quase um ano. Entretanto, Jos Carlos de Carvalho prestou seus servios gratuitamente, sem nada receber em recompensa, atitude no rara de alguns homens pblicos da poca. Pouco mais de um ano aps a chegada do meteorito, quem chega Corte a Repblica. Em contraste com a partida relativamente tranquila da famlia imperial rumo ao exlio na Europa, o fim de sculo no Brasil bastante tumultuado. A Marinha tem papel de destaque. Em 1891, Movimento da Esquadra capitaneado pelo Almirante Custdio Jos de Melo provoca a renncia do Marechal Deodoro. Floriano Peixoto assume a Presidncia. Em setembro de 1893, Custdio, seu Ministro da Marinha, intima o Presidente a renunciar e deflagra a Revolta da Armada. Jos Carlos de Carvalho atuou nos dois movimentos sem repetir o aliado. Teve participao ativa ao lado de Custdio, em 1891. Aproveitou o seu cargo de diretor das Docas do Rio de Janeiro para fornecer lanchas civis e suprimentos para os navios insurgentes, contando com a ajuda do irmo, oficial do cruzador Primeiro de Maro. Ao final do Movimento, foi agraciado com o ttulo de Capito-Tenente honorrio da Armada. O desentendimento com o Almirante veio aps escrever um artigo, dando a entender que a sua ao havia sido decisiva, minimizando a importncia do companheiro de causa. No incio de 1892, ao discordar de iniciativas polticas de Custdio, ento Ministro da Marinha, teve seu posto honorrio cassado e foi desterrado para Macap.4 Quando regressou, em outubro do mesmo ano, Custdio j havia sado do Ministrio e Jos Carlos recebeu de volta seu posto honorrio. Na Revolta da Armada ficou do lado de Floriano no apoio s foras leais ao Marechal de Ferro contra os aliados do Almirante. No embarcou, agiu em terra. Na fase final do conflito, foi a bordo do navio capitnia da Esquadra legal, levar ao4

Comemch, Almirante Jernimo Gonalves, seu antigo Comandante na Guerra do Paraguai, a notcia de que os revoltosos haviam abandonado navios e fortalezas e se asilado nas corvetas portuguesas fundeadas na Baa de Guanabara. Por seus servios recebeu promoo ao posto de Capito-de-Mar-e-Guerra honorrio. Alm de CMG honorrio, Jos Carlos de Carvalho representava o povo. Era, tambm, poltico. Foi como Deputado que chefiou a comitiva de parlamentares do Distrito Federal na homenagem ao Almirante Gonalves pela vitria final sobre os revoltosos, ocorrida aps os combates em Santa Catarina. Prximo ilha de Cotunduba, a comitiva embarcou no cruzador Andrada, capitnia da Esquadra legalista que, formada em trs colunas, preparava-se para entrar no Rio de Janeiro. Mais uma vez, Jos Carlos de Carvalho teve contato com o Almirante Gonalves. A amizade dos dois militares ficou novamente registrada por ocasio do falecimento do Almirante, em 1903, quando em sesso magna do Clube Militar foi homenageado pelo seu antigo Aspirante, em discurso enaltecendo as qualidades do ex-chefe. A Revolta da Armada prejudicou bastante a posio da Marinha no contexto nacional. As perdas de pessoal e material tornaram a sua fora de combate praticamente sem valor. Em julho de 1904, diante dessa situao, o Deputado Laurindo Pitta defendeu ardorosamente no Congresso Nacional um ambicioso programa de construo de meios flutuantes e estabelecimentos de apoio a esses meios, delineado pelo Almirante Julio de Noronha, Ministro da Marinha. O programa j havia sido aprovado na Cmara, quando as lies da batalha de Tsushima (1905) provocaram significativas mudanas nos conceitos estratgicos e tticos da guerra no mar. Em decorrncia, surgiram algumas opinies discordantes ao programa, entre elas a do Deputado Federal pelo Rio Grande do Sul Jos Carlos de Carvalho quando, na sesso de 3 de julho de 1906, observou, com base no que havia visto em termos de construo de navios de guerra, na viagem Europa que acabara de fazer, que julgava precipitada a deciso de implementar-se desde logo o programa aprovado.5 Em 15 de novembro de 1906, assumiu a Presidncia da Repblica o Conselheiro Afonso Pena e, com ele, o novo ministrio. O Ministro da Marinha, Almirante

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MARTINS, Hlio Lencio. A revolta da Armada. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exrcito Ed., 1997.

BRASIL. Ministrio da Marinha. Histria Naval Brasileira. Quarto Volume. Rio de Janeiro: Servio de Documentao Geral da Marinha, 2001.

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Alexandrino de Alencar, com apoio do Chanceler brasileiro, Baro do Rio Branco, e em harmonia com o pensamento do Deputado Carvalho, conseguiu a aprovao de um novo programa, que resultou na obteno de vrios navios, entre eles dois belos encouraados, cujo projeto tinha como modelo o ingls Dreadnought. Carlos de Carvalho no sabia, mas anos mais tarde ele estaria a bordo dessas belonaves, com o seu uniforme de gala, chapu armado e sobrecasaca, sendo recebido com as honras de estilo. Entretanto, no seria uma homenagem. Os cerimoniais no eram presididos pelos Comandantes dos navios, mas por marinheiros revoltados que, aps ferir e assassinar oficiais e praas, ameaavam o Rio de Janeiro com a artilharia dos encouraados. Na manh do dia seguinte deflagrao da Revolta dos Marinheiros, ocorrida em 22 de novembro de 1910, o Deputado e Capito-de-Mar-e-Guerra honorrio Jos Carlos de Carvalho recebeu a misso do chefe do seu partido, Senador Pinheiro Machado, para negociar com os marujos em nome do Governo. Menos de 72 horas depois o Congresso Nacional decretou a anistia. No dia seguinte assinatura do decreto, os navios entraram no porto e a rebelio terminou. Se na Revolta do Vintm o Tenente foi incendirio, na dos Marinheiros, o Comandante agiu como bombeiro. Cumpriu sua misso, mas no se livrou de crticas da oficialidade naval. O Deputado Jos Carlos de Carvalho, com seu posto honorfico e passado naval, no foi perdoado

por ter-se aproximado dos rebeldes, assumindo sua defesa, e apertando a mo dos assassinos dos colegas. Passado tanto tempo, seus pecados tendem a ser absolvidos, quando se pensa que ele agiu como poltico, devendo solucionar, e depressa, um problema que terrorizava a nao, fazia perigar o equilbrio do Governo, que era apoiado pelo seu partido. Considerando ser esta sua misso, o seu xito foi absoluto. Pelo que por deciso do Congresso, considerando relevantssimos os servios prestados na ltima revolta de marinheiros, expondo a sua vida a bem da causa pblica, foi por lei revertido ao servio da Armada, unicamente para efeito de sua reforma no posto de contra-almirante.6 Em 1911, o Almirante Carvalho, homem do mar, entusiasmou-se pela aviao. Tornou-se o primeiro Diretor Presidente do Aeroclube Brasileiro, entidade pioneira da aviao no pas, que tinha como scio fundador e Presidente de Honra Alberto Santos Dumont. Oficial de Marinha, agitador, abolicionista, republicano, jornalista, engenheiro, aliado, inimigo, deputado, negociador, entusiasta da aviao, Jos Carlos de Carvalho, com seus defeitos e virtudes, era, mesmo na opinio dos seus adversrios, um homem de ao. Da Guerra do Paraguai at a primeira dcada do sculo XX, seu nome est marcado para sempre nas pginas da Histria Naval Brasileira.

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MARTINS, Hlio Lencio. A revolta dos Marinheiros. So Paulo: Editora Nacional, 1988.

BIBLIOGRAFIABRASIL. Ministrio da Marinha. Histria Naval Brasileira. Volume Quinto, Tomo IB. Rio de Janeiro: Servio de Documentao Geral da Marinha, 1997. BRASIL. Ministrio da Marinha. Histria Naval Brasileira. Quarto Volume. Rio de Janeiro: Servio de Documentao Geral da Marinha, 2001. CARVALHO, Jos Murilo de. D. Pedro II. So Paulo: Companhia das Letras, 2007. GONALVES, Alberto Augusto. Traos biogrcos do Almirante Jernimo Francisco Gonalves. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1943. MARTINS, Hlio Lencio. A revolta dos Marinheiros, 1910. Rio de Janeiro: Servio de Documentao Geral da Marinha, 1988. ______. A revolta da Armada. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exrcito Ed., 1997. MELLO, Maria Tereza Chaves de. A Repblica consentida. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2007. MOREL, Edmar. A revolta da chibata. Rio de Janeiro: Edies Graal, 1986. VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira. A evoluo do pensamento estratgico naval brasileiro. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exrcito Ed., 1985. ZUCOLOTO, Maria Elizabeth. O meteorito de Bendeng. Texto disponvel em http:// www.meteoritos _brasileiros. kit.net. Acesso em: 02 Set. 2009.

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INFLUENCIAR PESSOAS: A ESSNCIA DA LIDERANAAsp (IM) Diego Tinoco Farias

CONSIDERAES INICIAISExistem inmeras formas de se conseguir de uma pessoa o que se deseja. Pode-se, por exemplo, fazer com que um funcionrio aumente sua produo diria ameaando despedi-lo ou mesmo obrigar uma criana a comer mostrando-lhe o chinelo. No entanto, esses mtodos podem trazer resultados indesejveis. Existe uma moeda de troca, universalmente aceita, capaz de levar um indivduo a agir de bom grado. Para tratar deste importante tema, tanto para a vida civil quanto militar, este artigo divide-se em trs partes. Na primeira, A moeda de troca, procuramos demonstrar que o homem possui uma nobre necessidade e tambm que esta, quando satisfeita, torna-o mais suscetvel cooperao. Na segunda parte, A maneira mais fcil de perder um subordinado, enfatizamos

a grande diferena entre chefes e lderes e, principalmente, como aqueles perdem por no atentarem para a forma de como lidar com as pessoas. Na terceira e ltima parte, Como no perder o subordinado: o segredo de Henry Ford, focamos o exemplo de grandes lderes e suas estratgias para manter as pessoas sempre ao seu lado, como um time entrosado.

MOEDA DE TROCAO megainvestidor Warren Buffet, executivo-chefe da Berkshire Hathaway, destinou 40,7 bilhes de dlares para causas sociais. O ex-jogador de futebol Romrio adiou por alguns anos sua aposentadoria para alcanar a marca dos mil gols. O empresrio brasileiro Eike Batista, aps contabilizar seu patrimnio, afirmou: Eu sou o homem mais rico do Brasil. Esses so

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traos da mais profunda solicitao da natureza humana: o desejo de ser importante. o que Freud chama o desejo de ser grande. O desejo de ser o maior filantropo do mundo, o jogador dos mil gols ou o homem mais rico do Brasil so diferentes formas de alimentar a mesma necessidade inerente a todos ns. Maslow, famoso psiclogo do incio do sculo XX, conhecia bem as necessidades humanas. Sua clebre pirmide retrata as necessidades, desde as mais bsicas at as mais nobres. A autorrealizao a necessidade mais elevada - justamente a que se encontra no topo da pirmide. As pessoas identificam seu prprio potencial para alguma atividade e buscam, ento, realizar-se naquilo que dominam. Essa tendncia se expressa no impulso que leva o indivduo a desejar tornar-se sempre mais do que e vir a ser tudo o que pode ser. Foi esse impulso que motivou Abraham Lincoln, Presidente dos EUA entre 1861 e 1865, a estudar por conta prpria e a se tornar um dos homens mais influentes de seu tempo, apesar de sua infncia muito difcil. Se esse desejo no estivesse presente naqueles que nos antecederam, dificilmente teramos atingido uma evoluo tecnolgica como a de hoje e, dessa forma, nenhuma motivao para desbravar o novo e fazer as coisas de modo mais eficiente existiria; viveramos, portanto, como os outros animais. Se uns so excelentes investidores, como Warren Buffet, outros so grandes cientistas, notveis militares; enfim, todos precisam sentir-se importantes naquilo que fazem e naquilo que so. O fator mais importante que podemos satisfazer essas necessidades em outras pessoas. Da prxima vez que algum realizar um trabalho digno de apreciao, apreciemos! Acostumamo-nos tanto com a presena de nossos pais, irmos, amigos, colegas de trabalho, que nunca nos lembramos de dizer o quo importantes so para ns. Dale Carnegie (1937) dizia: nas nossas relaes interpessoais devemos nos lembrar de que nossos companheiros so seres humanos e que, como tais, desejam ouvir uma palavra que os valorize (2009, p.75). Essa a moeda de troca que dignifica toda alma. Magoar as pessoas, alm de no modific-las, jamais as desperta para suas potencialidades.

constatar o mesmo resultado observando o comportamento dos chefes e dos grandes lderes, que se diferenciam muito na forma de lidar com as pessoas. Os chefes que tm a tendncia de procurar erros nos subordinados e critic-los esto mais focados em punir. J os lderes sabem muito bem que a crtica no gera no criticado mudanas duradouras e ainda causa ressentimento, pois fere o grande desejo do homem: o de ser importante. Os lderes bem sabem que seres humanos no so criaturas lgicas. So emotivos, suscetveis a observaes, norteados pelo orgulho e pela vaidade. Pascal (apud Sthepen Covey, 1989), que alm de matemtico era filsofo, costumava dizer que O corao tem razes que a prpria razo desconhece. Benjamin Franklin (apud Dale Carnegie, 1937), diplomata hbil no lidar com pessoas, tinha um segredo que, segundo ele, foi responsvel pelo seu sucesso: No falarei mal de nenhum homem, e falarei tudo de bom que souber de qualquer pessoa. Charles Schwab foi um dos primeiros executivos americanos a receber um salrio superior a um milho de dlares. Quando perguntado sobre o segredo para conseguir tal feito, respondeu: Considero a minha habilidade de despertar o entusiasmo entre os homens a maior fora que possuo, e o meio mais eciente para desenvolver o que de melhor h em um homem a apreciao e o encorajamento. No h meio mais capaz de matar as ambies de um homem do que a crtica de seus superiores. Nunca critico quem quer que seja. Acredito no incentivo que se d a um homem para trabalhar. Assim, sempre estou ansioso para elogiar, mas repugna-me descobrir faltas. Se gosto de alguma coisa, sou sincero em minha aprovao e prdigo no meu elogio. (SCHWAB, apud CARNEGIE, 1937, p. 69)

COMO NO PERDER O SUBORDINADO: O SEGREDO DE HENRY FORDTodos os veres vou pescar no Maine. Pessoalmente sou um apaixonado pelos morangos com creme, mas sei que, por uma estranha razo, os peixes gostam mais de minhoca. Por isso, quando vou pescar, no penso sobre o que mais me agrada. Penso sobre a predileo dos pei-

A MANEIRA MAIS FCIL DE PERDER UM SUBORDINADOB. F. Skinner (2010), outro grande interessado no estudo do comportamento humano, mostrou em um de seus experimentos que um pequeno rato, quando recompensado por bom comportamento, aprendia e retinha o contedo com maior rapidez do que os castigados por mau comportamento. Skinner poderia

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xes. Meu primeiro cuidado no iscar o anzol com morangos com creme. Penduro sempre uma minhoca ou um gafanhotinho no anzol e passo-o em frente dos peixes, perguntando-lhes: vocs no gostariam de provar tal comida? (Dale Carnegie, 1937, p.77) O fato que os peixes no esto interessados nas preferncias do pescador ou no que ele pensa. Para fazer os pequenos animais realizar aquilo que a vontade do pescador, necessrio que este pare de pensar em si prprio e procure pensar como o peixe, ou seja, descubra aquilo que lhes interessa. Guardadas as devidas propores, lidar com homens no muito diferente. Um pai, por exemplo, dificilmente far um filho viciado em cigarro parar de fumar usando argumentos do tipo: No quero mais ver voc fumando ou Pare de fumar, eu no fazia isso quando era da sua idade. Para tal, no deveria expor as suas razes, que s a ele interessam, mas sair do prprio mundo e se perguntar: Se eu estivesse vivendo na pele dele hoje, o que me faria parar de fumar? Essa forma de pensar o conduziria com mais facilidade linguagem que interessa ao filho. O pai poderia indagar, por exemplo: Filho, voc gosta de namorar no gosta? O fumo vai espantar as meninas de voc, ou ento: Filho, voc sempre foi um excelente atleta e quero que seja melhor ainda, porm acredito que para isso voc precise parar de fumar. Henry Ford j sabia disso e certa vez disse: Se h algum segredo de sucesso, ele consiste na habilidade de aprender o ponto de vista da outra pessoa e ver as coisas to bem pelo ngulo dela como pelo seu. Em diversas situaes do dia a dia o lder se encontra na situao de corrigir falhas. Os mais hbeis conseguem faz-lo sem perder os subordinados. Conseguem seu intento, pois conhecem a natureza humana, mesmo que de BIBLIOGRAFIA

forma inata, e fazem com que seus homens no percam o senso de importncia, autoestima e valor interno. A tcnica do sanduche consiste em chamar a ateno de uma pessoa para algo a ser aperfeioado, apontando as qualidades dela antes e depois de expor o problema. Nas aulas de Liderana ministradas na Escola Naval, muito disso foi falado e o que de mais importante ficou foi que um dos erros mais comuns criticar a personalidade do comandado em vez de focar o servio prestado por ela. Outra forma de chamar a ateno sem ferir comear a abordagem mostrando que estamos longe de ser infalveis e que o erro cometido acontece s vezes, mas precisa sempre ser corrigido. Alguns lderes conseguem esse intento de maneira to hbil que levam o subordinado a atingir nveis de motivao e confiana cada vez maiores. Essa a eficincia mxima no ambiente de trabalho. Eles incrivelmente tornam o erro fcil de ser corrigido, demonstrando que ainda continuam confiando em seu potencial e, por fim, convencendo-o de que tem de estar sempre feliz e vibrando.

CONCLUSODessa forma, podemos concluir que para liderar devemos conhecer a natureza humana e saber que toda alma viva deseja ser valorizada. No adianta termos o foco em ns mesmos, pois sozinhos no iremos a lugar algum. Foi com essa plena percepo que o Comandante do USS Benfold, Michael Abrashoff, tornou esse navio o mais vigoroso da Marinha Americana. Em seu livro Its your ship (2010), ele diz: Prometi a mim mesmo considerar cada encontro com qualquer pessoa do navio como a coisa mais importante do momento. Se este artigo pudesse ser resumido em uma nica frase, esta seria: D-se o que todo ser humano deseja: importncia e valor; e recebe-se o que de fundamental importncia para liderar qualquer grupo: o corao aberto.

STEPHEN, R. Covey. Os 7 Hbitos das Pessoas Muito Ecazes. So Paulo: Editora Best Seller, 1989. SERRANO, Daniel. Teoria de Maslow. Disponvel em: http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos/maslow.htm . Acesso em: 20 Jul. 2010. CARNEGIE, Dale. Como Fazer Amigos e Inuenciar Pessoas. So Paulo: Editora Nacional, Brasil, 2009. ABRASHOFF, D. Michael. Este Barco Tambm Seu. So Paulo: Editora Cultrix, Brasil, 2010. SILVA, F. Ferreira. Skinner e a Mquina de Ensinar. Disponvel em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per07.htm. Acesso em: 12 Jul. 2010.

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A ERA DOS GRANDES ENCOURAADOSCMG (RM1) William Carmo Cesar

A ESQUADRA DE 1910Neste ano de 2010, a Marinha do Brasil comemora o centenrio da chegada ao Rio de Janeiro do primeiro dos grandes encouraados construdos em estaleiros ingleses, encomendados de acordo com o Programa Naval de 1906, resultante de substanciais modificaes do Programa de 1904 do ento Ministro da Marinha, Almirante Julio de Noronha.

Passava um pouco das treze horas do dia 17 de abril de 1910 quando o imponente dreadnought Minas Gerais, novinho em folha, lanou ferros na baa de Guanabara, tendo a bordo o Almirante Alexandrino de Alencar1, autor das arrojadas alteraes da1

DIAS, Arthur. Nossa Marinha. Notas sobre o renascimento da marinha de guerra do Brazil no quatriennio de 1906 a 1910. Rio de Janeiro: Liga Martima Brazileira, 1910, p.384.

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quele primeiro programa naval com as quais pretendeu inserir o Brasil na era dos grandes encouraados. Meses depois, seguindo a esteira de seu um irmo gmeo, o So Paulo tambm demandou a barra do Rio de Janeiro para se incorporar nossa nova Esquadra. Um terceiro super-dreadnought, o Rio de Janeiro, com quase 30.000 toneladas, igualmente encomendado pela marinha brasileira Inglaterra e previsto para ser entregue em 1912, foi, entretanto, vendido para a Turquia. Com a aproximao da I Guerra Mundial, esse grande navio acabou no sendo entregue marinha turca, e sim incorporado marinha real britnica com o nome de Agincourt. Esses trs poderosos encouraados, includos no Programa de 1906/1910, pretendiam dar Marinha do Brasil projeo internacional, compatvel com a nossa condio de potncia emergente, como era o entendimento do chanceler da Repblica, o Baro do Rio Branco, que apoiou as ideias renovadoras do Almirante Alexandrino.

mostra a vulnerabilidade dos cascos de madeira perante os projteis explosivos. Em outubro de 1855, ainda na Guerra da Crimeia, que colocou de um lado o imprio dos czares e do outro o imprio dos sultes otomanos e seus aliados ingleses e franceses, em Kinburn, no litoral norte do mar Negro, fortalezas russas foram bombardeadas por um novo tipo de embarcao e, em seguida, ocupadas. A ao foi executada por trs baterias flutuantes construdas na Frana, Tonnante, Dvastation e Lave, com 53 metros de comprimento e armadas com 16 canhes de 50 libras e duas peas de 18 libras, as primeiras embarcaes encouraadas a enfrentar fortalezas a curta distncia sem sofrer danos significativos, apesar de atingidas pelo fogo das baterias de terra. Sinope e Kinburn decretaram o fim dos navios de linha com cascos de madeira, que praticamente deixaram de ser lanados a partir da segunda metade do sculo XIX, e anunciaram a chegada da couraa como proteo das belonaves contra os projteis explosivos disparados pelos poderosos canhes navais.

O FIM DOS NAVIOS DE LINHA DE MADEIRAEm 21 de outubro de 1805, na batalha naval de Trafalgar, canhes de variados calibres dispostos ao longo de conveses bem artilhados de navios de linha, como a HMS Victory, capitnia do almirante Horacio Nelson, lanaram um sem nmero de projteis atravs de suas temveis bordadas. Slidos e macios, esses projteis perfuravam o costado dos navios adversrios, atingiam mastros e velas e matavam tripulantes, mas os danos gerais causados a bordo pelos impactos nem sempre levavam destruio total e ao afundamento do navio. Menos de uma dcada aps aquele famoso combate, durante o qual o bravo almirante ingls perdeu a vida, graas a um coronel francs especializado em artilharia, Henri-Joseph Paixhans, foi introduzido nos canhes navais seus projteis explosivos dotados com mecanismos de retardo. Essa inovao tecnolgica no armamento naval iria provocar resultados devastadores e drsticas mudanas na concepo de novas belonaves, especialmente na Frana e na Inglaterra. Aps ser empregado sem muito sucesso, em 1843, na guerra entre o Mxico e o Texas, projteis explosivos de canhes Paixhans de seis navios de linha russos destruram e afundaram, em poucas horas, uma frota turca de fragatas e navios menores, na batalha de Sinope, em novembro de 1853. Sinope, ocorrida no litoral turco ao sul do mar Negro, vai trazer

NASCE UM NOVO TIPO DE NAVIO DE GUERRACom a experincia adquirida na construo das baterias flutuantes, os franceses e os ingleses comearam a desenvolver os primeiros navios de guerra encouraados de alto mar. A Frana saiu na frente ao lanar o Gloire, em 1858, seguido da Inglaterra com o Warrior, no ano seguinte. Menos de cinco anos depois, em 1862, nas guas costeiras da Amrica do Norte durante a Guerra da Secesso surgiram dois novos modelos de navios de guerra: o Virginia e o Monitor, ambos encouraados e movidos a vapor. O Virginia, montado pelos Confederados sulistas sobre o casco do ex-Merrimac, abandonado em Norfolk pelos nortistas, tinha canhes em casamata, isto , baterias centrais em estrutura corrida no convs, protegida e com aberturas para a artilharia. J o Monitor, projetado e construdo especialmente para as foras da Unio pelo engenheiro sueco John Ericsson, tinha canhes em torre giratria. Mas ambos eram navios de pequeno porte no apropriados para operaes em alto mar. Na mesma poca foram construdos para a Marinha Inglesa dois navios com quatro torres e couraa, o Prince Albert e o Royal Sovereign. Com essas inovaes, foram eles os verdadeiros ancestrais dos encouraados do sculo XX, mais do que os modelos

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originais de canhes pela borda, representados pelo Gloire e pelo Warrior2. Em 1869, ainda na Inglaterra, foi lanado o HMS Captain, um navio de guerra a vapor mas ainda com trs mastros e velas, um dos ltimos com propulso mista. Incorporado Esquadra do Canal, dotado com duas torres de canhes localizadas prximo linha dgua, teve ele durao efmera pois naufragou na baa de Biscaia, em setembro de 1870, atingido por forte tempestade. Como consequncia desse desastre, o prximo navio lanado pelos ingleses, o HMS Devastation, teve apenas um mastro, mantido como posto de vigilncia e suporte para comunicaes visuais por bandeiras3, portanto sem vergas para velas. Possua canhes de 12 polegadas, couraa de 24, dois hlices e mais espao a bordo para armazenar carvo para uma raio de ao de cerca de 5.000 milhas nuticas, um modelo para as novas geraes de encouraados. Nas ltimas trs dcadas do sculo XIX, no somente a Inglaterra e Frana como tambm a Itlia e a Alemanha continuaram a lanar encouraados com canhes cada vez mais pesados e montados em barbetas ou torres, cujos calibres variaram de 12 polegadas (305mm) a 16,25 polegadas (405mm). Em 1889 o HMS Victoria foi dotado com poderosos canhes de 16,25 polegadas, raiados e de carregamento pela culatra, os mais pesados canhes do sculo, com 110 toneladas, cujos projteis eram capazes de penetrar 37,5 polegadas de ferro forjado4.

Estava comeando a era dos all big guns battleships! Decorrido pouco mais de um ano de Tsushima, ao final de 1906 entrava em cena, na Inglaterra, o mais econmico e poderoso dos encouraados at ento construdos, o HMS Dreadnought, cuja prontificao recorde levara apenas 14 meses. Essa grande belonave, obra da administrao profcua do Almirante Sir John Fisher, ento Primeiro Lorde do Almirantado, que veio a se tornar um modelo-padro de encouraado mundial, possua as seguintes caractersticas bsicas: HMS DREADNOUGHT Deslocamento Comprimento / Boca Couraa Propulso / Velocidade Armamento 17.900 toneladas 160m / 25m 11 polegadas / 28cm (meia nau) 23.000 HP / 4 eixos / 21 ns 10 canhes de 12 em 5 torres duplas (305mm) 24 canhes de 12 libras 5 tubos para torpedos de 18 (submersos)

A ERA DOS ALL BIG GUNS BATTLESHIPSO valor da artilharia naval veio a ser demonstrado durante a guerra russo-japonesa, em maio de 1905, na batalha de Tsushima, quando os navios do almirante Togo venceram seus adversrios da fora naval russa do almirante Rozhdestvensky, graas ao grande poder de destruio dos canhes navais de 12 polegadas da esquadra nipnica atirando a uma distncia superior a 10.000 jardas. Os canhes de longo alcance se mostraram superiores s baterias mistas de calibres variados.2

Logo as marinhas do mundo, especialmente as concorrentes mais prximas da Marinha Real Britnica, comearam a equipar suas esquadras com grandes encouraados. A Alemanha incorporou o Nassau e o Westfalia, a Frana o Danton, a Itlia o Dante Alighieri e os Estados Unidos lanaram o Texas e o New York, este ltimo em 1912 com 27.000t, 10 canhes de 14 polegadas e 21 de 5 polegadas. Na Amrica do Sul, tambm adquiriram seus dreadnought as marinhas da Argentina e do Brasil. A esquadra brasileira incorporou, em 1910, os superdreadnought Minas Gerais e So Paulo, com 21.200t de deslocamento, 160m de comprimento, armados com 12 canhes de 12 (305mm) em torres duplas e 22 de 4,7 (120mm) e com velocidade mxima de 21 ns. Um terceiro adquirido, o Rio de Janeiro, tinha 30.250t, 190m, 14 canhes de 12 polegadas, 20 de 6 (152mm), 10 de 3 (76mm), alm de trs tubos para lanamento de torpedos de 21 polegadas. Nas duas primeiras dcadas do sculo XX, verificou-se uma verdadeira corrida armamentista entre as grandes marinhas do mundo que, em 1914, possu-

PRESTON & BATCHELOR, Battleships 1856 1919. London: Phoebus Publishing Co / BPC Publishing Ltd, 1977, p.15/20. HILL, Richard. War at Sea in the Ironclade Age. London: Cassell & Co, 2000, pg.37.

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POTER, E. B. & NIMITZ, Chester. Sea Power. A Naval History. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall Inc,1960, p.331.

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am um grande nmeros desses navios incorporados s suas armadas e com os quais iniciaram a Primeira Guerra Mundial (1914-18). Em 1914 o Almirante Fisher mais uma vez revolucionou a Marinha Real Britnica com o super-dreadnought HMS Queen Elizabeth, de 37.500t, 200m de comprimento, 29m de boca, armado com 8 canhes de 15 (380mm), 12 de 6 e 12 anti-areos de 4 (102mm), alm de quatro tubos submersos para lanamento de torpedos de 21 polegadas. Suas mquinas de 58.000 HP eram movidas a leo combustvel em vez do carvo e proporcionavam uma velocidade de 25 ns.

/12,7mm, mquinas de 150.000HP, velocidade mxima de 27 ns e raio de ao de 8.000 milhas nuticas a 18 ns. Ironicamente, esses colossos armados dos mares foram postos a pique ao final daquela guerra por chuvas de bombas areas e torpedos, e no por salvas de outros encouraados, em engajamento para o qual eles foram concebidos e nunca empregados5. Originalmente destinados a engajar nas linhas de batalha principais, ainda na II GM os encouraados passaram a executar tarefas de proteo, especialmente na defesa antiarea das grandes foras navais nucleadas por NAe, e de apoio de fogo naval nas operaes de desembarque de fuzileiros navais.

A SEGUNDA GUERRA MUNDIALOs grandes encouraados formaram as espinhas dorsais das esquadras por mais de meio sculo, dos 1880 aos 1940. No decorrer da Segunda Guerra Mundial (II GM), de 1939 a 1945, foram sendo substitudos pelos navios-aerdromos (NAe) como navios capitais das Armadas. A propsito, j nos primeiros anos daquela guerra, em ataques inditos contra bases navais, efetuados por aeronaves lanadas de porta-avies, vrios encouraados foram destrudos. O primeiro se deu em Taranto, na Itlia, em novembro de 1940, quando trs encouraados italianos - Cavour, Littorio e Dulio - foram seriamente danificados por aeronaves inglesas do HMS Illustrious. Um ano depois, em dezembro de 1941, foi a vez da base naval norte-americana de Pearl Harbor, Hava, ser duramente atacada por aeronaves japonesas que deixaram fora de combate todos os encouraados norte-americanos ali estacionados Oklahoma, Califrnia, Nevada, West-Virginia e Arizona, e levaram os Estados Unidos da Amrica a entrarem na guerra. Ainda assim, mal a II GM havia comeado na Europa, os encouraados continuaram a serem lanados, como o HMS King George V, na Inglaterra, em 1939 (tinha 42.200t, 227m, 10 canhes de 14/360mm, 16 de 5/133mm, mquinas de 125.000HP e velocidade de 28 ns) e, em 1940, nos Estados Unidos da Amrica, o USS North Caroline (com 38.000t, 222m, 9 canhes de16/410mm, 20 de 5/130mm, mquinas de 121.00HP e velocidade de 26 ns). No incio dos 1940, foram lanados, no Pacfico, os maiores encouraados at hoje construdos: os japoneses Yamato e Musashi, de 67.000 toneladas, 255m de comprimento, 39m de boca, 11m de calado mximo, 9 canhes de 18/460mm, 12 de 6/152mm, 12 de 5

O FIM DOS GRANDES ENCOURAADOSA maioria dos Aspirantes que cursaram a Escola Naval desde o perodo ps Guerra Fria at os dias atuais certamente pouco conhecimento teve das histrias e dos destinos daquelas gigantescas e bem armadas belonaves que guarneceram as Armadas de nossos antepassados. No foram os encouraados navios de seu tempo. O pioneiro Gloire dos franceses, por exemplo, foi desmantelado em 1883 e o seu concorrente ingls Warrior, desde 1987 encontra-se atracado nas Docas Histricas de Portsmouth, na Inglaterra, prximo capitnia de Nelson, a HMS Victory. O mais famoso Dreadnought ingls foi desativado em 1918 e, posteriormente, desmontado em razo do desarmamento do Tratado de Washington de 1922. O Mikasa, capitnia do Almirante Togo em Tsushima, aps ter afundado no porto de Sasebo devido a uma exploso em paiol, foi recuperado e, atualmente, encontra-se preservado como navio-museu em Yokosuka, sendo um remanescente da era pr-dreadnought. O King George V foi descomissionado em 1949 e o North Caroline, ainda hoje, pode ser visitado em Wilmington, na Carolina do Norte, onde se encontra desde 1962 como um Battleship Memorial. O Yamato, como j mencionado, foi posto a pique por aeronaves norte-americanas em abril de 1945. Sobre a estrutura do USS Arizona, afundado em Pearl Harbor em dezembro de 1945, existe desde 1962 um belo memorial erguido em homenagem a todos os militares mortos por ocasio do ataque japons.5

EVANS, David & PEATTIE, Mark. Kaigun. Strategic, Tactic, and Technology in the Imperial Japanese Navy, 1887-1941. Annapolis: Naval Institute Press, 1997, p.382.

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Desde o ano de 1999, um outro encouraado norteamericano da II GM, o USS Missouri, encontra-se na baa de Pearl Harbour, atracado em cais perpendicular ao Arizona Memorial. Esse ltimo encouraado tornou-se especialmente famoso por ter sido em seu convs a cerimnia de assinatura da rendio japonesa pondo fim, em 02 de setembro de 1945, ao longo e sangrento conflito global que foi a IIGM. O USS Missouri voltou guerra naval no conflito da Coreia (1950-53), disparando seus poderosos canhes de 16 polegadas. Mais tarde, revitalizado e modernizado com msseis Harpoon e Tomahawk alm de canhes de tiro rpido Phalanx e equipamentos de guerra eletrnica, participou da Guerra do Golfo lanando, em fevereiro de 1992, msseis Tomahawk sobre o territrio inimigo.

Os ltimos encouraados da Marinha do Brasil no mais existiam no incio da dcada de 1950. O So Paulo, vendido para desmonte, afundou em novembro de 1951 no Atlntico Sul ao ser rebocado para a Europa, recusando-se heroicamente a virar sucata. O Minas Gerais foi desarmado em setembro de 1953. Desde 1976, nem mesmo os velhos cruzadores ligeiros, os ltimos grandes navios de minha gerao artilhados com poderosas baterias principais de canhes de 152mm e secundria de 127mm, os saudosos CL Tamandar e CL Barroso, permaneciam em servio. Que este artigo sirva para mostrar aos Aspirantes de hoje um pouco da histria daquelas imponentes belonaves de ontem, simbolizada no centenrio da chegada da esquadra de 1910.

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AS NOVAS POSSIBILIDADES PARA A GUERRA DE MINAS NO BRASILCT Carlos Eduardo Ribeiro Macedo Asp Pedro Henrique Alfradique Costa Asp Kayo Vierling Teixeira Asp Rafael de Jezuz Andrade Asp Alexander de Almeida Nascimento Silva Asp Fillipi Batista Max Silva

INTRODUO muito comum ouvir que a Guerra Naval de Minas pode ser caracterizada como a guerra dos mais fracos contra os mais fortes. Este chavo tem ao seu lado fatos como o grande atraso do desembarque de Inchon (Guerra da Coreia), tendo em vista a necessidade da realizao de operaes de varredura, por 15 dias consecutivos, por parte da Marinha Americana; e, mais recentemente, na primeira Guerra do Golfo, o elevado prejuzo material sofrido pelo USS Samuel B. Roberts, de mais de 300 milhes de dlares, aps chocar-se com mina de contato iraniana rudimentar de cerca de USD 1.500,00.

nagem (CMM) do oponente, mesmo sem ter sido lanada qualquer mina, tem um vis importante: em pocas atuais, em que h considervel influncia da imprensa no acompanhamento dos conflitos, a minagem uma operao com maior aceitao da opinio pblica, tendo em vista que o meio afetado por essa arma foi de encontro mesma, assumindo o risco de com ela colidir (mina de contato) ou fazer atuar seu mecanismo de detonao (mina de influncia acstica ou magntica). Assim, sendo a minagem rudimentar uma operao relativamente barata e com efeitos importantes (destruio/neutralizao de meios, negao do uso do mar ou grande dispndio do inimigo em operaes de varredura ou caa de minas), bastante razovel acreditar que a Guerra de Minas continuar a ser um relevante ramo da Guerra Naval. A Marinha do Brasil est empreendendo um grande esforo para incrementar sua atual capacidade na Guerra de Minas. Isso materializado pelo atual Grupo de Trabalho para Guerra de Minas, a cargo do ComOpNav, o qual tem buscado rever a organizao, a doutrina e os meios de minagem e CMM. Este artigo apresentar a estrutura em vigor de Guerra de Minas na MB, as principais inovaes e as tendncias das principais marinhas do mundo, e uma entrevista, com o Comandante da Fora de Minagem e Varredura, CF Telmo Luis Pezzutti, acerca das inovaes a serem implementadas como resultado do atual Grupo de Trabalho do ComOpNav.

Outro reforo a tal argumento que o lanamento das minas, numa operao defensiva, bastante simples, podendo ser conduzido por quaisquer tipos de embarcao, inclusive barcos pesqueiros. De acordo com os tratados internacionais de conduo da guerra, os beligerantes que lanam mo da minagem, ofensiva ou defensiva, devem notificar internacionalmente a existncia dos campos minados. Tal procedimento, alm de permitir a divulgao de falsos campos minados e um esforo de contra-medidas de mi-

A GUERRA DE MINAS NO BRASIL ORGANIZAO, MEIOS E EQUIPAMENTOSNo que tange s operaes de minagem, as mesmas cabem aos Distritos Navais em complemento defesa porturia. Observa-se, portanto, um enfoque eminentemente defensivo.

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Os meios atualmente capacitados minagem so as Corvetas distritais e os Navios-Patrulha da classe Bracu. Cumpre ressaltar que outros meios podem ser rpida e perfeitamente configurados para emprego em operaes de minagem. As principais minas em utilizao so a MFC-100, de contato, e a MFI, de influncia. O estudo e difuso da doutrina ttica de minagem esto a cargo do Comando do 2 Distrito Naval, que promove anualmente, por meio do Grupo de Adestramento e de Avaliao de Guerra de Minas (GAAGUEM) e do Comando da Fora de Minagem e Varredura (ComForMinVar), o Curso de Guerra de Minas para Oficiais (GUEM-OF), do qual participam Oficiais de todos os Distritos e os futuros Comandantes dos Navios-Varredores. Outro importante avano na Guerra de Minas, implementado pelo Centro de Hidrografia da Marinha, foi o Projeto Carmin, o qual confeccionou cartas de minagem detalhadas para os principais portos brasileiros. Em relao s operaes de CMM, toda a organizao da Marinha e os meios (Navios-Varredores da classe Aratu) esto na rea do Segundo Distrito Naval. O Distrito concentra a doutrina (GAAGUEM), o ComForMinVar responsvel pela operacionalizao e manuteno dos meios, sendo a ltima atividade apoiada fortemente pela Base Naval de Aratu. Atualmente, a Base possui dois amplos cais, dique seco para navios de at 35.000 toneladas, oficinas, heliponto e alojamentos. Alm disso, possui um moderno Complexo de Magnetologia que desenvolve pesquisas e anlises na rea, e prov o controle magntico dos equipamentos, voltado, principalmente aos navios-varredores. Os atuais navios de CMM da Marinha do Brasil (Navios-Varredores da classe Aratu) possuem capacidade exclusiva para realizao de operaes de varredura. Os navios componentes da classe foram construdos na dcada de 70, no estaleiro alemo Abeking & Rasmussen. O casco em madeira e os equipamentos so fabricados em material amagntico. Alm disso, os geradores de bordo fornecem energia de 220Vcc, o que contribui tambm para a baixssima assinatura magntica. Os classe Aratu so capacitados a efetuar varredura mecnica, contra minas de fundeio, e varreduras de influncia acstica (por meio de seus martelos BT, MT e GBT-3) e magntica (com cauda magntica ou HFG-18). A Marinha no possui navios caa-minas. parte os navios-varredores e a estrutura de Guerra de Minas do Com2DN, a Fora de Submarinos

tambm passou a desempenhar um papel importante nas CMM, ao formar mergulhadores com capacidade de detonao de artefatos explosivos.

TENDNCIAS E REALIDADES DA GUERRA DE MINAS PELO MUNDOUm dos grandes legados negativos da II GM na Europa foi a infestao de seu litoral por minas no detonadas. Este fato impulsionou o surgimento de um novo tipo de navio de guerra na Europa: o caa-minas, com capacidade de mapear o fundo das guas litorneas e localizar minas. A detonao/desativao das mesmas pode ser feita por mergulhadores (em voga na Frana) ou por veculos operados remotamente. O investimento nesse tipo de navio e em equipamentos detonadores tem sido a tnica na Europa. A Alemanha, por exemplo, afora o projeto que inspirou a classe Aratu, pouqussimo trouxe de novo em termos de Navios-Varredores. Tampouco outros pases tm navios novos desse tipo. Essa estratgia no parece muito correta, pois as CMM baseadas unicamente na caa de minas, a despeito de sua grande preciso, so excessivamente lentas, uma vez que o mapeamento feito em velocidades no superiores a dois ns, e a destruio/desativao somente possvel mina por mina. Vemos a faina de varredura como um complemento faina de caa de minas e vice-versa. Voltando aos caa-minas europeus, destacam-se sua construo em fibra GRP (Glass Reinforced Plastic), em substituio madeira como material amagntico, e o desenvolvimento de cascos tipo catamars, para melhorar a estabilidade dos meios e incrementar, consequentemente, a preciso dos dados obtidos. Quanto aos equipamentos, merecem ateno os dis-

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positivos de deteco, baseados em sonares rebocados e de casco de varredura lateral (side scan) e em cmeras de alta preciso; e os dispositivos de detonao, antes baseados em veculos remotamente operados (ROV) e, agora, em veculos autnomos (AUV). Visando ao desenvolvimento ainda maior da CMM, as marinhas europeias desenvolveram cursos para acompanhar as novas tendncias. Dentre eles, o EGUERMIN um curso Belgo-Holands, que est localizado na cidade de Ostente na Blgica. A escola credenciada pela OTAN como centro de excelncia na educao e treinamento de CMM, e profere cursos de alta qualidade no que tange ao Ambiente de Guerra de Minas. O Eguermin oferecido para militares natos, aceitando tambm intercmbio, e visa a aperfeioar os conhecimentos e, por conseguinte, aplicao do que h de mais moderno nessa rea. E os Estados Unidos? Ficaram parados na Guerra de Minas? Muito mais influenciados pelas perdas humanas e materiais, do que por um litoral infestado de minas, os americanos investem, cada vez mais, em minimizar a

presena humana nas contra-medidas de minagem. Os EUA tm buscado operar com helicpteros e lanchas varredoras operadas remotamente. Com este propsito est em construo os Littoral Combat Ships (LCS) da classe Freedom, que operaro com a aeronave Sikorsky MH-60S (Knighthawk), com dispositivos de caa e de varredura de minas.

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Redatores do artigo em entrevista ao CF Telmo Luis Pezzutti

Tendo apresentado um esboo geral da situao de Guerra de Minas no Brasil e no mundo, passamos entrevista com o ComForMinVar, CF Telmo. 1) Por que surgiu o Grupo de trabalho (GT) para a Guerra de Minas da Marinha do Brasil, e como o referido grupo est estruturado? Resp.: O GT surgiu com o propsito de avaliar a situao atual dos recursos humanos, de modo a manter ou melhorar a capacitao do pessoal no desempenho das tarefas que so afetas Guerra de Minas (GM); e dos recursos materiais, posicionando o aprestamento dos meios e sistemas brasileiros empregados na GM, identificando problemas, oportunidades de melhoria e propondo solues que visam elevao de tais meios e sistemas ao estado da arte. Tais propostas incluem a opo pela continuidade da operao exclusiva de Navios Varredores (NV), ou pela substituio por Navios Caa-Minas (NCM) ou por uma soluo hbrida, dentro das expectativas previstas no Plano de equipamento e de Articulao da MB (PEAMB) em relao GM. O GT foi composto por representantes dos Setores Operativo, do Material e do Pessoal, Oficiais e servidores civis que, direta ou indiretamente, esto comprometidos com a GM na MB. Os trs se-

tores compuseram trs subgrupos que trataram a GM por assunto, cabendo ao Setor Operacional o estudo da futura estrutura organizacional da GM. 2) A atual estrutura de GM no compe a Esquadra e est quase totalmente concentrada no mbito do Com2DN. Como V. Sa. avalia tal organizao? O GT prev mudanas em tal estrutura? Resp.: A Fora de Minagem e Varredura j foi sediada no Rio de Janeiro e esteve subordinada ao ComemCh, na dcada de 70. Nesta poca, compunham a Fora os NV JAVARI, JUTA, JURU e JURUENA, e os Navios-Patrulha PIRANHA, PIRAQU e PIRAPI. Com a chegada dos NV Classe Aratu, houve a mudana de sede da Fora para Salvador e de subordinao para o Com2DN, em virtude da equidistncia desta cidade aos pontos extremos da costa brasileira. Alm disso, a Base Naval de Aratu (BNA) criou o Departamento de Magnetologia, incluindo Laboratrio e Raia Magntica, com o objetivo principal de manter o requisito de baixa assinatura magntica dos NV. Considerando que a tarefa de minagem defensiva dos portos atribuda aos Comandos Distritais,

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avalio que, pela extenso de nossa costa, o ideal que tivssemos esquadres de NCM ou navios hbridos (capacidade de varredura e de caa a minas) de porto, que atendessem as regies Norte/Nordeste e Sudeste/Sul, em separado. Entretanto, temos de considerar a conjuntura econmica e respeitar a prioridade atual da MB que, no momento, no prev isto. Na minha avaliao, em curto prazo de tempo, que devemos estar prximos o suficiente dos principais portos e terminais estratgicos e da sede da Esquadra, com meios e pessoal capacitados a realizar aes de CMM