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Fundação Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro e-mail: [email protected] http://www.rio.rj.gov.br/obras Campo de São Cristóvão n.º 268 / 1º e 3º andares, São Cristóvão Rio de Janeiro CEP. 20921-440 Tel.: 3878-7878 Fax: 3878-7850 RISCO DE ACIDENTES ASSOCIADOS A CORRIDAS DE MASSA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO: LIÇÕES DOS DESASTRES DE 1996 1. Introdução Os escorregamentos associados às chuvas de 13 e 14 e fevereiro de 1996, concentraram-se principalmente nas vertentes sul e sudeste dos Maciços da Tijuca e da Pedra Branca, causaram 65 mortes, destruíram 500 casas, ampliaram as consequências das inundações e, praticamente, paralisaram a vida da Cidade do Rio de Janeiro por 3 dias. O que mais chamou a atenção na tipologia destes acidentes foi o registro, pela primeira vez, de corridas de massa com extensões superiores a 1 Km, avançando sobre terreno com relevo suave ondulado a plano, com gradientes inferiores a 10º. Este relatório descreve, sucintamente, as características e consequências de algumas destas corridas de massa. Seu principal objetivo é avaliar o risco residual de novos acidentes semelhantes, ao longo dos diversos canais de drenagem da cidade. Entretanto, não faz parte do escopo deste trabalho a elaboração de cartas de risco ou susceptibilidade de corridas de massa, que é o objeto de estudos específicos no restante do município, na escala 1:10.000. Consideram-se como corridas de massa, neste trabalho, movimentos gravitacionais de natureza hidrodinâmica, onde uma massa composta por solo rocha e água desloca-se como um fluido viscoso. Destacam-se como características principais: a mobilização de grande volume de material ao longo dos canais de drenagem, extenso raio de alcance, deslocando-se por longas distâncias (inclusive em áreas planas) e grande poder destrutivo (Amaral, 1996) 2. Descrição dos Principais Acidentes Nesta seção, descrevem-se resumidamente as características e consequências de algumas corridas de massa no Rio de Janeiro, cuja distribuição é apresentada na figura 01.

RISCO DE ACIDENTES ASSOCIADOS A CORRIDAS DE ......distâncias (inclusive em áreas planas) e grande poder destrutivo (Amaral, 1996) 2. Descrição dos Principais Acidentes Nesta seção,

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RISCO DE ACIDENTES ASSOCIADOS A CORRIDAS DE MASSA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO: LIÇÕES DOS DESASTRES DE 1996

1. Introdução

Os escorregamentos associados às chuvas de 13 e 14 e fevereiro de 1996, concentraram-se principalmente nas vertentes sul e sudeste dos Maciços da Tijuca e da Pedra Branca, causaram 65 mortes, destruíram 500 casas, ampliaram as consequências das inundações e, praticamente, paralisaram a vida da Cidade do Rio de Janeiro por 3 dias. O que mais chamou a atenção na tipologia destes acidentes foi o registro, pela primeira vez, de corridas de massa com extensões superiores a 1 Km, avançando sobre terreno com relevo suave ondulado a plano, com gradientes inferiores a 10º.

Este relatório descreve, sucintamente, as características e consequências de algumas destas corridas de massa. Seu principal objetivo é avaliar o risco residual de novos acidentes semelhantes, ao longo dos diversos canais de drenagem da cidade. Entretanto, não faz parte do escopo deste trabalho a elaboração de cartas de risco ou susceptibilidade de corridas de massa, que é o objeto de estudos específicos no restante do município, na escala 1:10.000.

Consideram-se como corridas de massa, neste trabalho, movimentos gravitacionais de natureza hidrodinâmica, onde uma massa composta por solo rocha e água desloca-se como um fluido viscoso. Destacam-se como características principais: a mobilização de grande volume de material ao longo dos canais de drenagem, extenso raio de alcance, deslocando-se por longas distâncias (inclusive em áreas planas) e grande poder destrutivo (Amaral, 1996)

2. Descrição dos Principais Acidentes

Nesta seção, descrevem-se resumidamente as características e consequências de algumas corridas de massa no Rio de Janeiro, cuja distribuição é apresentada na figura 01.

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2.1 – Corrida de Massa do Açude

A corrida de detritos no talvegue situado na localidade da Fazenda, Parque Nacional da Floresta da Tijuca, mobilizou blocos de mais de 15m3 e arrancou inúmeras árvores, abrindo um sulco no canal com cerca de 20 metros. Observações de campo indicaram que a frente da corrida atingiu aproximadamente 10 metros de altura. O anexo ao laudo de vistoria 533/96 (GEO-RIO, 1996) relata que a avalanche passou junto às construções existentes, atingindo um antigo casarão, danificando-o parcialmente, em vítimas. Um aterro pequeno para passagem da estrada de aceso, foi também destruído (Foto 01).

Foto 01 – Vista parcial da corrida, a jusante do casarão atingido

2.2 Corrida de Massa do Underberg

A corrida de massa que atingiu a Travessa do alemão iniciou-se à cota 750m, com escorregamentos de solo sobre rocha na cabeceira do talvegue. A massa escorregada, com volume estimado de 10.000 m3 estendeu-se por cerca de 600m, incorporando árvores, solo e blocos de mais de 2 metros de diâmetro, das margens e do próprio talvegue.

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Segundo o Laudo de Vistoria 581/96 (GEO-RIO, 1996), uma parte dos

detritos ficou retida nas porções de menor gradiente do vale enquanto o restante prosseguiu, arrancando árvores com altura superior a 30m e agregando detritos. Grandes “boulders” existentes próximos à travessa, amorteceram e retiveram parte da corrida, enquanto a massa restante, composta por árvores, matacões, seixos e sedimentos arenosos com silte e argila, com um volume de aproximadamente 5.000 m3 (com parte da energia de um desnível de mais de 300 metros), destruiu totalmente uma casa, entulhando a maior parte de uma grande propriedade ao longo do canal, invadiu uma outra casa da mesma propriedade, atravessou a rua e danificou uma terceira casa, em frente, sem provocar vítimas (Fotos 02 e 03).

Foto 02 – Vista geral Corrida de Massa do Underberg

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Foto 03 – Detalhe mostrando o local atingido

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2.3 – Corrida de Massa do Vale Encantado A corrida de massa que percorreu o Vale Encantado, no Alto da Boa Vista, estendeu-se por cerca de 1.000m, com um desnível de cerca de 500m, a partir das cabeceiras de drenagem, na cota 750m. Várias contribuições laterais provenientes de deslizamentos em perfis de alteração pouco espessos, com blocos rochosos “in situ”, provocaram a remobilização de depósitos da calha do talvegue. Blocos com mais de 4 metros de diâmetro, foram movimentado. Analisada quantitativamente por Alvarenga (1996), de acordo com as teorias de Bagnold (1954) e Mears (1962), a velocidade máxima da corrida atingiu 11m/, envolvendo 90% de Granito Preto ( d=3.045 g/cm3 ) e 10% de pegmatito (d=2.75 g/cm3) com diâmetro médio de 0,80m., espessura de 2,0m e largura de 19m. Nesta corrida de detritos não houve dano direto a propriedades e pessoas, exceto à própria via aproximadamente paralela ao vale e à redes de água e luz, que foram parcialmente interrompidas. Isto se deveu, basicamente, à inexistência de casas junto ao canal atravessado pela corrida e pela brusca interrupção do fluxo junto a uma garganta com desnível de 30m de altura localizada logo a montante da Pedreira silva Areal. Caso a corrida não tivesse paralisado, o Condomínio Greenwood Park, situado no Itanhangá, teria sido atingido muito mais intensamente do que de fato foi por corridas de lama (Foto 04). Escorregamentos de solo sobre rocha que ocorreram na cabeceira do córrego que atravessa o condomínio Greenwood Park deflagaram uma grande corrida de massa, com um volume estimado de 50.000 m3 , em que blocos com diâmetro superior a 3 metros foram mobilizados e árvores com mais de 15m de altura foram arrancadas.

A corrida percorreu e extravasou o referido córrego (canalizado na maior parte do loteamento) nos pontos de travessia, onde as manilhas existentes não permitiram a passagem dos detritos, percorreu o arruamento existente, derrubou a maior parte da rede de luz e invadiu prédios da administração do condomínio, sem provocar vítimas.

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Foto 04 – Vista geral do acidente do Vale Encantado

2.4 - Corrida de Massa do Pai João

A corrida de massa da Comunidade Sítio Pai João, iniciada com um escorregamento em tálus numa encosta com 20º de inclinação entre os morros do Pica-Pau e a Pedra do Itanhangá, envolveu um volume de 9.000 m3 , percorrendo cerca de 500 metros. De acordo com o Laudo de Vistoria 298/96 (GEO-RIO, 1996) o acidente destruiu, várias casas, causando 20 mortes, a obstrução da Estrada do Itanhangá e a destruição de dezenas de casas levando à interdição de 25 delas e à remoção da população para uma igreja próxima, na noite de 13.02.1996 (Fotos 05 e 06)

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Foto 05 – Detalhe do acidente da comunidade Pai João

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Foto 06 – Vista geral do acidente na Comunidade Pai João

2.5 Corrida de massa do Condomínio Floresta

A corrida de massa que atingiu o Condomínio Floresta, abrangendo todo o vale do Rio das Pedras, estendeu-se por cerca de 1.000 m, a partir das cabeceiras de drenagem, totalizando um volume estimado e 25.000 m3, aproximadamente. Segundo o laudo 608/96 (GEO-RIO, 1996) vários deslizamentos laterais em perfis de alteração com blocos rochosos “in situ” se combinaram para a deflagração da corrida. A construção nas faixas ribeirinhas e a ruptura de 2 piscinas, ampliaram a capacidade de erosão e remobilização de depósitos de tálus ao longo do talvegue. Como consequências deste acidente registrou-se 01 morte. Duas pontes foram destruídas e cerca de 50 casas sofreram danos parciais ou totais. No interior do condomínio, onde o canal foi estrangulado por construções de moradores, a lama e os detritos cobriram diversas casas (fotos 07 e 08)

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Foto 07 – Vista do acidente do Condomínio Floresta

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Fig. 08 – Detalhe mostrando algumas das consequências do acidente no Condomínio Floresta

2.6 – Corrida de Massa do Quitite

As corridas de massa nos vales dos rios Quitite e Papagaio estenderam-se por 1,6km a partir das cabeceiras de drenagem, na cota 750m, totalizando um volume de 150.000 m3 . Os deslizamentos planares nas escarpas descalçaram e arrastaram blocos rochosos e rocha alterada superpostos à rocha sã. De acordo com o Laudo 530/96 (GEO-RIO, 1996), blocos com mais de 15m3

atingiram construções a jusante. Além do material natural dos taludes marginais e do próprio talvegue, rejeitos de uma mineradora de rochas ornamentais da área, foram incorporados à corrida de masa, ampliando o poder erosivo nas margens. O Acidente causou 01 morte, destruiu cerca de 200 casas e dependências do Clube APCE, causou o fechamento de uma escola pública e impediu o tráfego em diversas ruas. Casas fundadas sobre depósitos de tálus foram descalçadas. Já na cota 30m, contando com material fino, a corrida afetou casas construídas nos cursos naturais dos riachos. Troncos de árvores e muita lama invadiram casas, ampliando os danos do escorregamento (Fotos 09 e 10).

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Uma descrição detalhada desta corrida de massa é objeto de um relatório específico da Gerência de Geologia da GEO-RIO .

Foto 09 – Vista aérea da corrida nos vales dos rios

Quitite e Papagaio, logo após as chuvas de fevereiro de 1996

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Foto 10 – Rio Quitite, a jusante do Clube APCE, mostrando as obras de canalização do rio e reconstrução da ponte destruída pela corrida de massa de

fevereiro de 1996

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2.7 – Condomínio Eldorado

Na cabeceira do rio São Francisco, que cruza o Condomínio Eldorado em Jacarepaguá, escorregamentos de solo sobre rocha, iniciaram uma grande corrida de massa cujo material mais grosseiro, composto por blocos (alguns com volume superior 10m3 ), ficou retido num patamar a montante do loteamento, onde a declividade sofre brusca queda. O material mais fino, prosseguiu, somando-se aos detritos provenientes de escorregamentos dentro do próprio condomínio, cujo volume estimado atingiu 25.000 m3 . Segundo o Laudo de Vistoria 615/96 (GEO-RIO, 1996), maior interesse que a referida corrida, despertou o escorregamento da Rua Carlos Pace, cujos detritos invadiram residências, ruas e córrego, danificando obras e redes de drenagem. Árvores com mais de 20m, foram arrancadas, depositando-se sobre a face da encosta; a língua do escorregamento atravessou um lote não ocupado, o que reduziu os seus prejuízos diretos (Foto 11).

Foto 11 – Vista geral do escorregamento do Condomínio Eldorado

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2.8 – Corrida de Massa do Córrego Boiúna

No vale do córrego da Boiúna, próximo à Rua dos Biólogos, Jacarepaguá, na encosta da margem direita, três grandes escorregamentos translacionais de solo coluvionar e blocos de até 1m3 atingiram o canal de drenagem, formando uma avalanche com volume total de detritos de aproximadamente 1000m3 , que percorreu cerca de 400 metros. O laudo 314/96 (GEO-RIO, 1996), relata a destruição de diversas benfeitorias e um veículo de uma propriedade atravessada pelo rio, sem ocorrência de vítimas (fotos 12 e 13).

Foto 12 – Corrida de Massa do Córrego Boiúna

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Foto 13 – Detalhe mostrando consequências da

corrida do Córrego Boiúna

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2.9 – Corrida de Massa do Pau da Fome

A corrida de massa em epigrafe, iniciou-se a partir de escorregamentos planares do rio Grande e seus afluentes no Parque Estadual da Pedra Branca. A massa acumulada, com grande poder erosivo, percorreu o vale por mais de 4 km, mobilizou inúmeros blocos de tamanho considerável e arrancou várias árvores de grande porte, com volume total estimado da ordem de 200.000m3 . Conforme o Laudo de Vistoria 756/96 (GEO-RIO), a avalanche de detritos, atingiu inicialmente a comunidade do Pau da Fome, destruindo 13 casas e causando 03 vítimas fatais. Prosseguiu a jusante, atingindo e destruindo várias edificações (ponte, piscinas, aterros etc.), que provocaram uma retenção temporária dos detritos e sua dispersão para as margens do rio, numa área de menor gradiente. Ao chegar na planície de inundação do rio Grande, o material da corrida, de granulometria consideravelmente mais fina que no início da corrida, alvejou mais duas moradias, fazendo mais três óbitos. (fotos 14 e 15)

Foto 14 – Vista geral do acidente da Estrada do Pau da Fome

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Foto 15 – Algumas consequências do acidente

3 - Causas Gerais das Corridas de Massa

Em muitas das corridas, como por exemplo no Quitite, Pau da Fome, Vale Encantado e Travessa do Alemão, pôde-se notar um nítido controle estrutural nos canais de drenagem em que as corridas se desenvolveram, associados às direções de fraturamento existentes no município (NE/SW e NW/SE). O fraturamento do maciço rochoso, favorece a formação de perfis de intemperismo, além e condicionar a própria instalação dos talvegues. Assim, pode-se afirmar que as direções de fraturamento presentes na cidade, constituíram-se em efetivos agentes predisponentes às corridas. Trabalhos de mapeamento geológico, em escala de detalhe, em áreas específicas, indicaram que a despeito da grande complexidade geológica local, as corridas foram deflagradas na área das cabeceiras dos rios, sem haver qualquer correlação entre os contatos litológicos e o início das corridas.

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Medidas pluviométricas de algumas estações do Município estão apresentadas no quadro abaixo, indicando a grande concentração de chuva nas vertentes sul e sudeste dos maciços da Tijuca e Pedra Branca:

ESTAÇÃO

PRECIPITAÇÃO (mm)

DIA 13/02/96

DIA 14/02/96

Jacarepaguá

11,06 135,3

Jardim Botânico

199,8 97,0

Alto da Boa Vista 190,6

202,5

4. Avaliação do Risco de Novas Corridas de Massa 4.1. Metodologia

A preparação de cartas de risco ou de susceptilidade de corridas de

massa e mesmo a sua avaliação qualitativa, tem sido descrita por diversos autores, como Smith (1998), Rupke et. Al. (1998), IPT (1992). Pode-se constatar que todo estes trabalhos, partem do conhecimento multi-disciplinar do meio físico, procurando avaliar todo os fatores condicionantes às corridas, como topografia, declividade, vegetação, substrato rochoso e estruturas geológicas, procurando identificar, com trabalhos e campo e foto-interpretação, quais destes tiveram maior influência na deflagração dos acidente, estabelecendo um modelo aplicável a cada local.

A metodologia utilizada para a avaliação subjetiva do risco potencial, de modo semelhante ao descrito acima, passou pela consulta dos materiais disponíveis, pela definição de critério para a avaliação do potencial de geração e consequências dos processos, pela hierarquização e pela revisão do boletins descritivos do acidente de fevereiro, a realização de sobrevôos de helicóptero com obtenção e fotos oblíquas, além de inspeções detalhadas de campo em cada uma das bacias hidrográficas. O risco residual de novas corridas de massa foi caracterizado levando-se em consideração, principalmente, o volume de material disponível para escorregamentos juntos às cabeceiras de drenagem para ser mobilizado ao longo dos canis e a densidade de ocupação nas áreas a jusante dos anfiteatros.

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4.1 – Resultados Obtidos

Tendo em vista a grande quantidade de material pouco consolidado que permanece na calha dos talvegues, nos taludes laterais, nos locais de quebra de gradiente dos vales, aquele que se acumula pelos processos naturais de erosão e sedimentação, pode-se afirmar que o risco de novas corridas de massa é alto, se mantidas as condições pluviométricas observadas em fevereiro de 1996. Entretanto, observações efetuadas em sobrevôos de helicóptero, mostram que na vertente sudeste do Maciço da Pedra Branca, na área de Jacarepaguá, o risco da recorrência de novas corridas é maior que na vertente sudoeste do Maciço da Tijuca (Vale Encantado), que por sua vez é maior que na vertente sudeste (Travessa do Alemão e Estrada do Açude), em função dos danos envolvidos.

5. Conclusões

Os resultados deste trabalho indicam que ainda persiste o risco de nova corridas de massa nos anfiteatros estudados. Esta situação não se limita aos locais aqui apresentados ou, ainda, naqueles onde ocorreram corridas de menor vulto ou não descritas, podendo se repetir em diversos outros locais da cidade como, por exemplo, nos talvegues da Grajaú-Jacarepaguá, onde condições semelhantes foram observadas nos sobrevôos de helicóptero. É preocupante constatar que, a despeito das proporções dos acidentes relatados, muitas das casas e benfeitoria atingidas pelas avalanches foram e vem sendo reconstruídas junto aos talvegues, estrangulando a seção dos rios, expondo-se novamente à mesma situação original de rico e desrespeitando orientações e embargos fornecidos pela GEO-RIO. Faz-se necessária uma revisão e uma atualização da legislação que regula a ocupação ao longo dos vales de pequenos córregos que dissecam os maciços litorâneos, criando-se uma faixa “non aedificant” paralela ao cursos d’água, mesmo nos locais de baixo gradiente. Pela experiência adquirida nestes acidentes sugere-se que essa faixa, deva ter uma largura de, pelo menos, 50 metros, com afastamento de 25 metros para cada margem.

Page 21: RISCO DE ACIDENTES ASSOCIADOS A CORRIDAS DE ......distâncias (inclusive em áreas planas) e grande poder destrutivo (Amaral, 1996) 2. Descrição dos Principais Acidentes Nesta seção,

Fundação Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro e-mail: [email protected] http://www.rio.rj.gov.br/obras

Campo de São Cristóvão n.º 268 / 1º e 3º andares, São Cristóvão – Rio de Janeiro – CEP. 20921-440 – Tel.: 3878-7878 Fax: 3878-7850

6. Bibliografia

Amaral, C. P. Escorregamentos no Rio de Janeiro: Inventário, Condicionantes e Redução do Risco. 1996, Tese de Doutorado, PUC-RJ. 269 páginas

Instituto de Pesquisas Tecnológicas Análise de risco a Corrida de Massa –

Petrópolis 1992 – São Paulo. 12p. Rupke, J.; Cammeraat, E.;Seijmonsbergen, A .C. Van Westen, C. J. Engineering Geomorphology of the Windentobel Catchment, Apepzell and Skant

Gallen, Switzerland. A Geomorphological Inventory system Applied to Geotechinical Appraissal of Slope Stability Engineering Geology. 1998. Amsterdã (26) p. 33-68

Smith, T. C. A method for Mapping Relative Susceptibillity to Debris Flows, With na Exemple From San Mateo County. 1998 U.S. Geological survey p. 185-194