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    cadernos

    ideias

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    Os Cadernos IHU ideiasapresentam artigos produzidos pelos

    convidados-palestrantes dos eventos promovidos pelo IHU. A

    diversidade dos temas, abrangendo as mais diferentes reas

    do conhecimento, um dado a ser destacado nesta publica-

    o, alm de seu carter cientfico e de agradvel leitura.

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    Os riscos e as loucurasdos discursos da razo

    no campo da preveno

    Luis David Castiel

    ano 11 n 188 2013 ISSN 1679-0316

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    UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS

    ReitorMarcelo Fernandes de Aquino, SJ

    Vice-reitorJos Ivo Follmann, SJ

    Instituto Humanitas Unisinos

    Diretor

    Incio Neutzling, SJ

    Gerente administrativo

    Jacinto Aloisio Schneider

    Cadernos IHU ideias

    Ano 11 N 188 2013

    ISSN: 1679-0316

    Editor

    Prof. Dr. Incio Neutzling Unisinos

    Conselho editorialProf. Dr. Celso Cndido de Azambuja

    Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta UnisinosProf. MS Gilberto Antnio Faggion Unisinos

    Profa. Dra. Marilene Maia Unisinos

    Dra. Susana Rocca Unisinos

    Conselho cientficoProf. Dr. Adriano Naves de Brito Unisinos Doutor em Filosofia

    Profa. Dra. Anglica Massuquetti Unisinos Doutora em Desenvolvimento,

    Agricultura e SociedadeProf. Dr. Antnio Flvio Pierucci (=) USP Livre-docente em Sociologia

    Profa. Dra. Berenice Corsetti Unisinos Doutora em Educao

    Prof. Dr. Gentil Corazza UFRGS Doutor em Economia

    Profa. Dra. Stela Nazareth Meneghel UERGS Doutora em MedicinaProfa. Dra. Suzana Kilpp Unisinos Doutora em Comunicao

    Responsvel tcnicoCaio Fernando Flores Coelho

    RevisoIsaque Gomes Correa

    Editorao

    Rafael Tarcsio Forneck

    Impresso

    Impressos Porto

    Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS

    Instituto Humanitas Unisinos IHU

    Av. Unisinos, 950, 93022-000 So Leopoldo RS Brasil

    Tel.: 51.3590 8213 Fax: 51.35908467www.ihu.unisinos.br

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    OS RISCOS E AS LOUCURASDOS DISCURSOS DA RAZONO CAMPO DA PREVENO1

    Luis David Castiel

    Para desenvolver os contedos indicados pelo ttulo, quecorre assumidamente o risco de parecer hiperblico, este artigo

    vai se basear, sobretudo, em um conhecido personagem de his-trias infantis que ir nos conduzir pelas vicissitudes da crise daracionalidade instituda pelo projeto iluminista com vistas a orde-nar e pavimentar os caminhos humanos moldados pela cincia,tecnologia e pela proliferao de objetos tcnicos. Tambm,pretende-se chamar a ateno para aspectos morais e ideolgi-cos que parecem rodear a nfase da racionalidade ensejadapelos discursos dos riscos que iro instituir muitas abordagens

    preventivas que proliferam na atualidade. Para isso, sero utili-zados exemplos e ilustraes da literatura, do cinema e de even-tos ocorridos e divulgados pelos meios de comunicao.

    O protocologista e o louco

    Hoje, no mbito acadmico, mas no apenas, se tornou na-

    turalmente obrigatrio empregar a internet para se fazer pesqui-sas/buscas bibliogrficas sobre qualquer tema de interesse.Mesmo sendo um trusmo, importa mencionar que no contextoda investigao cientfica considerado essencial investigar asituao do estado da arte em relao ao que se publicou emrelao ao objeto de estudo. Ou seja, para uma pesquisa satis-fazer aos cnones metodolgicos, fundamental proceder ao le-vantamento bibliogrfico de forma bastante cuidadosa para evitar

    perdas de artigos eventualmente relevantes ao recenseamento.Muitos expertsem documentao cientfica apregoam anecessidade de se utilizar minuciosamente procedimentos, re-gras, enfim, protocolos a seguir para que no se percam arti-

    1 Uma verso anterior deste texto foi publicada em Castiel, LD, Sanz-Valero, J,Vasconcellos-Silva, PR. Das Loucuras da razo ao sexo dos anjos. Biopoltica/Hiperpreveno/Produtividade cientfica. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2011. Es-t autorizada pela Ed. Fiocruz a ser reproduzida nesta publicao

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    gos nesta busca, especialmente diante da valorizao de estu-dos baseados em revises sistemticas e metanlises que

    dependem de tais expedientes na montagem de seus univer-sos de estudo.Entretanto, um nmero considervel de pesquisadores no

    parece se deter nestes requisitos protocolgicos ao efetuaremsuas buscas bibliogrficas, que utilizam descritores e equaesde busca. Mas os mencionados expertsreiteram a importnciade se utilizar os descritores e palavras-chave segundo a arte doaviamento farmacutico, tal como os boticrios faziam ao seguir

    os protocolos de elaborao de suas especialidades farmacuti-cas, para que os resultados das buscas sejam os mais efetivospossveis. Ou, usando o jargo epidemiolgico, os mais sens-veis e especficos, com a menor margem de erros ou omissesna coleta de dados.

    As estratgias de busca e apreenso de artigos costumamutilizar a lgebra booleana. Ou seja, em termos breves, equa-es algbricas que capturam a essncia das operaes lgi-cas E (incluso), OU(interseco) e NO(diferena), bem comodas operaes da teoria de conjuntos. Ela tambm o funda-mento da matemtica computacional, baseada em nmeros bi-nrios. Muitos no afeitos histria da matemtica podem des-conhecer a origem do termo booleano. Inclusive porque no necessrio saber-se sua origem para empreg-lo. Tal adjetivoprovm do matemtico ingls George Boole (1815-1864)1.

    Seus bigrafos mencionam que Boole era de origem humil-de, que teria nascido na poca e no lugar errados. Mas era umapessoa com dotes de genialidade. Entre outras proezas, quandotinha 12 anos j traduzia poesia em Latim para o idioma ingls.Aos 24 anos publicou seu primeiro paperno Cambridge Mathe-matical Journal. Na dcada seguinte, produziu uma sequnciade artigos originais que procuravam ampliar os limites da mate-mtica. Logo, Boole comeou a desenvolver os usos combina-

    dos da lgebra e do clculo para processar nmeros grandes epequenos. Ele logo comeou a ver as possibilidades de aplica-o de sua lgebra a problemas lgicos. Foi assim que chegous trs operaes j mencionadas (E, OU, NO) que constiturama base de sua lgica binria.

    A princpio, no se deu muita ateno elaborao boole-ana contida em um trabalho publicado em 1854 (intitulado AnInvestigation of the Laws of Thought, on Which Are Founded theMathematical Theories of Logic and Probabilities), mas cerca de12 anos depois o lgico Charles Sanders Peirce retomou asideias de Boole em uma conferncia e passou 20 anos as de-senvolvendo para utiliz-las em elaboraes sobre circuitos ele-trnicos. Hoje, em vrios nveis de pesquisa com recursos infor-mticos e telemticos, impossvel abrir mo da lgica booleanae dos correspondentes desenvolvimentos grficos dos diagra-

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    mas do tambm matemtico ingls John Venn, contemporneode Boole (1834-1923)1.

    Vale mencionar mais um contemporneo e conterrneo deBoole e Venn, igualmente matemtico, Charles Lutwidge Dodgson(1832-1898). Mas este no teve a importncia nem o reconheci-mento como matemtico em comparao a Boole. Charles eragago e tinha uma especial apreciao por jogos de palavras.Apesar de sua gagueira, gostava de ensinar matemtica. Isso oajudou a ter confiana em dar sermes, quando mais adiante emsua vida se tornou dicono. Alm disso, Charles se dedicou

    fotografia, especialmente de meninas. Seu campo de interessesmatemticos era, em termos bastante breves, lgica simblica,determinantes, geometria, a matemtica subjacente a torneios eeleies, muitos quebra-cabeas de vrios tipos2.

    Charles publicou seus primeiros livros em 1860. Eram li-vros-texto de matemtica feitos para estudantes. Em fevereiro de1861 escreveu para a revista The Train, a qual precisava de umpseudnimo. Ento, realizou mais um de seus jogos de palavras,sem saber dimensionar a importncia desta vez: passou seu no-me e sobrenome para o latim e depois os voltou para o ingls,invertendo suas posies: Lutwidge Ludovicus Lewis eCharlesCarolusCarroll. Foi como passou a ser conhecido:Lewis Carroll, autor das notrias obras de literatura: Alice no Pasdas Maravilhase Alice no Pas do Espelho2. Ambas as obrasforam feitas em homenagem Alice Liddel, menina de 11 anos,

    uma das filhas de um dos decanos da Universidade de Oxford,onde Dodgson lecionava. Ele se afeioou profundamente porela. Algo que viria a trazer grandes problemas sua reputao.

    O manuscrito do livro (originalmente chamado As Aventu-ras Subterrneas de Alice) foi presenteado Alice Liddel no Na-tal de 1863. Em 1865, foi publicado sob o pseudnimo do autore com o ttulo com que ficou conhecido. Em dezembro de 1871foi lanado Alice no Pas do Espelho, que consumou a consa-

    grao de Charles, agora Lewis. Produziu outras obras de poe-sia, literatura, matemtica e lgica. Morreu em 1898 de pneumo-nia, deixando muitas especulaes e indagaes a respeito desi e de sua fascinante obra para alm de sua produo acad-mica, assumindo uma aura mtica desde ento.

    Na introduo verso castelhana de El Juego de la Lgi-cade Carroll, o tradutor, prefaciador e selecionador dos textosAlfredo Deao em 1971 oferece um exemplo da mitologia doautor ao se referir acerca do carter neurtico da lgica de Char-les Carroll. Esta fuso de nome e pseudnimo, bem feio dosjogos de palavras do autor dos livros de Alice, serve para desig-nar o homem que escreveu sobre trigonometria e sobre os so-nhos4(p. 10).

    Como se houvesse um Dodgson acadmico (lgico sbrioe circunspecto) e um Carroll literato (escritor delirante e criativo).

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    Um prisioneiro de protocolos, outro, fugitivo das normas. Ejulga que as duas criaturas, tal como Dr. Jekill e Mr. Hyde, apa-

    rentemente separadas, apesar de pertencerem ao mesmo corpo(j em si um contrassenso), se juntam no sem-sentido no seio daprpria lgica. De tal forma que nos livros de lgica se fundem omatemtico com o neurtico (sic) e o que resulta a lgica neu-rtica de Charles Carroll3. Talvez fosse excesso atribuir umdiagnstico psiquitrico de neurose tambm sua lgica, aindaque se justificasse atribuir algo no aceitvel conduta de Dodg-son, mas no exatamente como neurose.

    De qualquer forma, tomamos a liberdade de inclu-lo nacategoria protocologista louco, assumindo a loucura como umconceito nibus, que, por ser impreciso, permite muitas e dis-tintas definies e interpretaes que inclui desde a insanidademental, passando pela irreflexo, falta de discernimento; tam-bm, imprudncia, temeridade; mas sobretudo aquilo que foges normas, que fora do comum; e, ainda, pessoa, animal oucoisa a que se devota grande amor ou entusiasmo4. No casode Carroll, todas as possibilidades, de alguma maneira, podemser aplicadas.

    Curiosamente, Deao no faz qualquer meno explcitas crticas aos comportamentos julgados imprprios na biografiade Carroll, ainda que esta psicopatologia parea evocar taisemanaes. Uma especulao acerca desta circunstncia podese localizar no fato de a Espanha no incio da dcada de 1960

    ainda estar sob o regime de censura do governo franquista, con-texto de Deao quando escreveu este texto.Talvez hoje se possa sugerir, sem decerto a incluso de

    comportamentos reprovveis tais como ocorreu com Carroll,que certas neuroses podem afetar a alguns professores de ma-temticas (p. 13), adictos das formulaes lgicas para descre-ver e explicar a realidade e a vida enquanto que aqueles teri-cos de manicmios3(p. 13) seriam capazes, talvez em insana

    conscincia de criticar a estas disposies obsessivas.Enlouquecimento prprio de tempos enlouquecidos. Sim,

    porque quaisquer crticas a este estado natural de coisas de-nunciando a insanidade dominante, em meio s presses vigen-tes na academia, podem parecer despropositadamente ensan-decidas. Quem sabe, alguma Alice contempornea, decertodiagnosticada como portadora de distrbio de hiperatividade edficit de ateno, assistiria irrequieta ao desfile do monarca doPas das Loucuras da Razo e exclamaria, para constrangimen-to dos circunstantes, o Rei est louco.

    Uma das possveis explicaes simplistas atribuveis aeste panorama acadmico decorreria da alta competitividadepor recursos de pesquisa mesclada a lutas de prestgio. Tam-bm, cabe enfatizar ao frenesi de avaliaes desfocadas e des-locadas em sua pseudomeritocracia bibliomtrica. Para alm de

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    seus mritos cientficos, artigos e paperscirculam tambm comomercadorias nos fluxos acadmicos globalizados, fazendo com

    que acadmicos se obriguem a se comportar sintomaticamentecomo coelhos de Alice, frenticos em sua sobrecarregada de-manda de atividades e tarefas.

    Voltando a Deao, este cita a Jean Gattgno, introdutor daobra lgica de Carroll em francs, em sua explicao da supostacontradio de Carroll, ao mencionar que sua literatura fantsti-ca apresenta simplesmente o mostrurio de armadilhas e difi-culdades em que camos quando no observamos as regras e

    leis formuladas pela obra lgica3(p. 13).Segundo Gattgno (apud Deao3), os livros carrollianos

    de Alice consistiriam no repertrio dos erros e perplexidades aque a linguagem nos conduz quando no a usamos com cuida-do, e os livros dodgsonianos de lgica seriam manuais de pro-filaxia, destinados a nos mostrar os cuidados que devemos tercom a linguagem para que ela no nos enlouquea. Especial-mente, se pensarmos no af emprico-lgico presente no am-biente de pesquisa.

    Protocologista um neologismo que, de forma caricatural,designa um imaginrio adepto incondicional dos protocolosque, de alguma maneira, se dedica a produzir, lidar ou seguirprotocolos no mbito de suas prticas de pesquisa ou de pla-nejamento, gesto ou interveno na sade, seja na esfera co-letiva ou na individual. D tanta importncia a este modo de

    pensar e organizar a ponto de empreg-los para orientar suaprpria vida. Protocolos, nesta acepo, consistem em disposi-tivos lgicos nos quais se pretende que os termos que os cons-tituem sejam unvocos em sua semntica para que no hajaambiguidades de sentido que produzam interpretaes equivo-cadas e aes errneas.

    Em outras palavras, protocolos se referem a procedimentosbem estabelecidos que se configuram como sequncias (algorit-

    mos) de aes objetivas, estipuladas para a execuo de pro-cessos, de tal modo que possam ser realizados efetivamente, damesma forma, por diferentes indivduos, sem margem de inter-pretaes subjetivas. Em termos esquemticos, a grande ques-to que se coloca a ideologia subjacente que se naturaliza eestabelece referncias e padres preferenciais para a gestodas nossas vidas no formato imunitrio da autonomia individua-lista racional.

    Mas voltemos ao Pas das Maravilhas, cujo tema central a luta de Alice para se adaptar s regras deste novo mundo, nocaso, s regras e condutas do mundo adulto5. Pode-se extra-polar que Wonderlandtambm a terra prometida pelo globa-lizante capitalismo individualista neoliberal cujos preceitos, pa-dres e por que no protocolos racionais devemos todosnos pautar.

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    H uma cena importante na narrativa: a da Hora do Ch.Alice est acompanhada de estranhos personagens: o j men-

    cionado Coelho, o Arganaz (espcie de rato silvestre) e o Cha-peleiro Louco. No enredo, o chapeleiro explica a Alice que eleest sempre tomando ch porque quando tentou cantar para aRainha de Copas em uma festa, ela sentenciou-o morte porassassinar o tempo6. J naquela poca no se devia matar otempo havia que aproveit-lo para ser-se produtivo em meioao contexto capitalista britnico da poca.

    Nosso heri conseguiu escapar decapitao. Ento, che-

    ga concluso que o tempo tinha sido assassinado de fato, eele e o Coelho continuam a tomar o ch, mesmo que o relgiotenha parado de verdade. Na hora do ch, quando Alice chega,os indivduos trocam de lugares mesa, de um momento paraoutro e juntamente com o Coelho, o chapeleiro faz curtos co-mentrios pessoais, perguntando charadas irrespondveis e de-clamando poesia sem sentido, de tal modo que Alice acaba de-sistindo da companhia6.

    Na Louca Hora do Ch manifestam-se no registro lgico/ilgico dos convivas ( exceo de Alice) as peculiaridades dalinguagem, onde transparece o talento para os jogos de palavrase charadas que notabilizou Carroll.

    H, tambm, em Alice no Pas do Espelho um importantedilogo entre Alice e o personagem em forma de um grande ovo Humpty Dumpty (em ingls, uma expresso que designa

    pessoa pequena e desajeitada; mas tambm h vrias outrasteorias para sua origem, incluindo uma meno ao monarca cor-cunda Ricardo III, personagem de Shakespeare)7.

    Quando uso uma palavra, diz Humpty Dumpty, com umtom de escrnio, significa o que escolhi para significar, nemmais nem menos. A questo , diz Alice, se podes fazer pala-vras significarem tantas coisas diferentes. A questo , dizHumpty Dumpty, quem vai comandar isso tudo6(p. 136).

    A univocidade no apenas o produto do que h e que colocado em cena e visualizvel. Mas tambm de uma srie demecanismos para evitar a apario e a experincia de multiplici-dade, para lan-la na invisibilidade. H processos e mtodospara apagar a natureza incerta de alguns aspectos em favor deobjetos aparentemente estveis e separados8.

    Em algumas circunstncias (como em situaes mdicasde urgncia) podem ser imprescindveis, mas podem ter o efeitodplice de instituir um modo preferencial de instituir realidadespara habitarmos e desinstituir outras possibilidades interessan-tes de se viver.

    O Chapeleiro Louco providencialmente se encarrega deembaralhar a lgica que busca a univocidade. Antes de seguir,cabe mencionar a origem desta expresso inglesa. H contro-vrsias quanto a isso. Pode derivar da incidncia substantiva do

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    verbo hatter que tm os significados de importunar, fatigar,desgastar; pode ser referido ao ingls chamado Robert Crab

    que no sculo XVIIera identificado por seu chapu chamativo econhecido em sua localidade por mad hatter. Ele teria dado suariqueza para os pobres evivido se alimentando base de comi-da encontrada no campo, como frutas vermelhas, grama e cer-tas folhas; pode ser uma adaptao da palavra inglesa atter,com o significado de veneno, relacionada com a palavra adderreferente a um tipo de vbora; e pode estar relacionado intoxi-cao mercurial crnica (tambm denominada Sndrome do

    Chapeleiro Louco) comum nos sculos XVIIIe XIX, quando o ni-trato de mercrio era usado para curar ao feltro9.

    Suas manifestaes incluem uma neuropatia sensrio-moto-ra perifrica moderada com tremor, estomatite, vermelhido depele e uma sndrome neuropsiquitrica caracterizada por timidez,isolamento, facilidade em se enrubescer, irritabilidade, disposiopara rixas e labilidade de humor. H indcios que os trabalhadoresda confeco dos chapus de feltro colocavam materiais conten-do mercrio em suas bocas para amolec-los de modo a torn-losmais maleveis, permitindo seu manuseio10.

    No entanto, mesmo sendo peculiar como era o modo deagir do Chapeleiro, seu comportamento no apresentava ne-nhum dos tpicos comportamentos da intoxicao mercurial11.

    Alm disso, o desenhista que ilustrou as primeiras ediesdos livros de Alice, John Tenniel, teria se inspirado em uma figu-

    ra importante da poltica inglesa e elaborado uma caricatura nafigura do chapeleiro para o primeiro ministro Benjamin Disraeli.Ainda que no haja provas decisivas nesse sentido, as seme-lhanas entre as imagens dessas figuras so muito grandes12.

    Ainda assim, h uma hiptese de que Carroll teria sugeridoa Tenniel que o desenhasse para se parecer com Teophilus Car-ter, um comerciante de mveis de Oxford, que era conhecidocomo chapeleiro louco por usar cartola e por ter ideias excntri-

    cas teria concebido uma cama despertadora que acordava apessoa lanando-a fora do leito. Alm disso, h muitos objetosde moblia na cena (mesa, cadeira de braos, escrivaninha)6.

    Pois bem, contrariando Humpty Dumpty(e seguindo LewisCarroll) vamos dar vazo ao fluxo associativo e explorar os sen-tidos da palavra mercrio. Assim, nos deparamos com vriasacepes para alm do elemento qumico e do metal lquido: narubrica astronomia, o planeta mais prximo do Sol; h um vege-tal mercrio-do-campo; a derivao em sentido figurado me-diador de negcios, especialmente amorosos. A palavra mercu-rial se refere, como adjetivo, substncia mercrio; comosubstantivo, ao medicamento no qual entra tal substncia e repreenso. No idioma de Carroll, como adjetivo, diz respeito,entre outras acepes, ao planeta, ao metal, ao deus, mas tam-bm a algo mutvel, voltil, errtico13.

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    Porm, interessa-nos aqui a etimologia mitolgica de Mer-crio como deus do comrcio, dos mercadores e dos ladres.

    Sabe-se que Mercrio o equivalente romano do deus gregoHermes. Seu nome latino provm da palavra merx, mercado-ria14. Era o mensageiro dos deuses, servindo-os com zelo, rapi-dez, mas sem muitos escrpulos. Era considerado como o maisatarefado dos deuses e dos homens e tinha muita importnciano conselho dos deuses. Alm disso, atribua-se a ele quem te-ria organizado uma linguagem exata e regular, inventado os ca-racteres da linguagem escrita, configurado a regularidade das

    frases, nomeado a muitos objetos e coisas, entre outros aspec-tos. No seria absurdo sugerir-se que seria o protodeus dos pro-tocolos. Mas era criticado por seus defeitos: gnio inquieto (mer-curial) e conduta sub-reptcia, reprovvel15.

    Mercrio seria o pai do deus P, sendo Penlope, a me.P outra divindade interessante. o guarda dos rebanhos,deus dos bosques e dos pastos, protetor dos pastores, apresen-ta-se com chifres e pernas de bode. As ninfas faziam troa de Pem funo de sua aparncia desagradvel. Ele, segundo cons-ta, teria decidido nunca entregar-se ao amor. Era visto tambmcomo o deus dos caadores. Quando entrava nos bosques comsua sexualidade retumbante, aterrorizava as ninfas. Como sm-bolo da obscuridade, P causa nas pessoas os terrores pnicos,considerados sem motivos15.

    Ento, temos de ser, nos dias atuais, por razes diversas,

    devotos pagos tanto de Mercrio divindade responsvel pe-lo mercado, pelos fluxos de mercadorias, protetor dos merca-dores (no mencionemos os ladres), como de P geradordo pnico tanto como etimologia como pelo medo que provo-ca na selva global da economia capitalista em descontrole. As-sim, estamos merc do correspondente pnico de recessomundial no contexto de governos e empresas originrio dasvicissitudes dos mercados com seus riscos, apostas, perdas

    que, inclusive, se materializaram na megacrise financeira queassolou o mundo em finais de 2007, com agravamento no se-gundo semestre de 2008 e incio de 2009 e cujas repercussespermanecem em 2013.

    O pas das loucuras da razo

    A evocao de Mercrio e de P se justifica aqui em funode se levar cada vez menos em conta a divina providncia comorecurso para zelar-se de fato por nossa proteo. Como assinalaBernstein16: o homem moderno transformou perigos em riscos. Aracionalidade, a autonomia e a responsabilidade pessoal so oselementos que devem nortear nossas aes e suas consequn-cias. Segundo ele, o que mudou na era moderna foi que Deus foiaos poucos sendo menos encarregado das operaes para ze-

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    lar por nossa segurana e mais colocada na cincia e tecnolo-gia. Muitos aspectos de nossas vidas que sempre estiveram sob

    os desgnios divinos agora esto cada vez mais sob o encargohumano. Assim, um grande territrio se separa do mbito doacaso e passa a fazer parte dos domnios da tica e da moral(como as possibilidades de prolongamento da vida mediante re-cursos tcnicos em centros de tratamento intensivo e as ques-tes da pesquisa e uso de clulas-tronco pela medicina).

    A razo e a cincia se configuraram como os vetores me-diadores preferenciais nas relaes entre o humano e o mun-

    do, cada vez mais desencantado. Com isso, as reaes doshumanos aos perigos mudaram. Em vez de buscar harmoni-zar-se com a vontade divina, os humanos dedicam-se a umaprocura atribulada de sintonia consigo mesmos, preferencial-mente pela via da tcnica, diante da aparente fragilizao dasreligies ocidentais seculares em relao tecnocincia.

    Esse o contexto para designar, parafraseando a Carroll, oque estamos denominando como o Pas das Loucuras da Ra-zo, na verdade o conturbado mundo em que vivemos. As lou-curas da razo que inspiram este artigo so expostas pelos ris-cos tecnolgicos e foram exploradas por Joost Van Loon, quepublicou em 2002 o livro Risco e a Cultura Tecnolgica: Rumouma Sociologia da Virulncia,onde desenvolveu tal relao. Napoca era professor de teoria social na Universidade de Nottin-gham, Reino Unido. Hoje professor de sociologia geral e teo-

    ria sociolgica na Katholische Universitt Eichsttt-Ingolstadt,Baviera, Alemanha17.Segundo van Loon18, a terrvel ironia da moderna tecno-

    cincia se localiza no fato paradoxal de que, ao tentar exercer eaumentar seu domnio sobre as vicissitudes, termina por gerarmais vicissitudes. As contingncias que se manifestam como su-tis disfunes guardam a possibilidade de crescer e solapar ca-balmente as premissas estruturais assumidas como estveis,

    asseguradas. Parece que no h outra forma de sustentar a rotatecnocientfica a que estamos vinculados em busca do conheci-mento e da previso seno incluindo a disfuncionalidade.

    As anomalias no podem ser excludas porque pertencem racionalidade organizacional dos processos tecnolgicos edos sistemas sociais contemporneos. Parece que a principalresposta sociocultural disponvel a de ensejar um pnico morale instituir a reatividade fbica ao risco. Se assim for, esta situa-o conduz a tentativas irrealistas de controle, de modo que asestratgias de mediao neste contexto estaro sempre fada-das ao esgotamento, uma vez que a configurao geral das ope-raes no tem possibilidades de integrao. Haveria um desa-juste primordial na gnese das causas que afeta a viabilidade decontrolar, reduzir ou evitar as consequncias.

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    O efeito colateral da busca de maior segurana medianteprocessos tecnolgicos gerar ambientes afetados por elevao

    da sensao de risco. Atualmente, no raro, as pessoas podemse sentir oprimidas pela descomunal carga de informaes sobreriscos em seus cotidianos. Isso, de algum modo, faz com que asreaes racionais ao risco sejam praticamente impossveis.

    Por exemplo, tenta-se constantemente se calcular e con-trolar riscos aparentemente mais fceis de serem geridos, co-mo aqueles sinais de doenas crnicas, nveis de colesterol,estresse, obesidade, tabagismo, exposio solar, sexo insegu-

    ro como alvos substitutos em relao aos medos existenciais.Mas isso diz respeito somente para aqueles que podem atuarcomo agentes de consumo de segurana e proteo pessoal19.Haja vista, por exemplo, no Rio de Janeiro, a aquisio de car-ros blindados alis, cada vez mais o termo blindagem se di-funde em desdobramentos metafricos que seguem uma sinto-mtica imunitria levada ao paroxismo. Entretanto, quantomais nos preocupamos com isso, mais o mundo parece amea-ador e mais medo se tem.

    Como diz Bauman,

    quando todo o mundo, em todas as ocasies, vulner-vel e carece de certeza do que pode lhe trazer a manhseguinte, a sobrevivncia e a segurana, no uma cats-trofe repentina, que parece excepcional [...]. a evitaodos golpes distribudos aleatoriamente o que parece uma

    iseno, um dom excepcional, uma demonstrao de gra-a, uma prova de sabedoria e a efetividade das medidasde emergncia, a vigilncia intensificada, os esforos ex-traordinrios e as precaues excepcionalmente hbeis20(p. 70-71).

    No entanto, Bauman19parece no enfocar precisamente asquestes do risco, especialmente no que se relaciona com ocampo da sade, ao afirmar que riscos, afinal, so pragmatica-mente importantes desde que continuem calculveis e passveisde uma anlise de custo-benefcio e assim, quase por defini-o, os nicos riscos que causam alguma preocupao aos pla-nejadores da ao so os que podem afetar os resultados numaperspectiva relativamente curta em termos de espao e tempo(grifo nosso, p. 132).

    Ora, sem dvidas, a afirmao em relao ao pragmatismo

    no h reparos a fazer. Mas notria a preocupao no campoda promoo da sade para intervenes nas exposies aosriscos (mencionadas h dois pargrafos acima) numa perspecti-va nitidamente menos imediata em termos de espao e tempo,ao propor o controle precoce dos assim ditos fatores de risco sdoenas crnico-degenerativas. Veja-se, por exemplo, os enun-ciados dos riscos da obesidade infantil na incidncia de diabetes

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    e na elevao dos nveis de colesterol considerado fator derisco para enfermidades circulatrias na vida adulta.

    De qualquer forma, diante da intensidade do individualis-mo nas sociedades modernas, mais decises cruciais so co-locadas no mbito da responsabilidade pessoal, dificultando odesenvolvimento de estratgias racionais que sirvam para selidar com as constelaes de riscos vigentes. Se existe estaprofuso de coisas arriscadas, deixa de ser razovel despen-der tanto esforo, tempo e recursos no enfrentamento de tan-tos e variados riscos...

    Em suma, afastando-se de Deus, o homem obrigou-se aproduzir explicaes no religiosas para calamidades, desas-tres, catstrofes, assim como se forou a criar meios de intervirpara no ser pego desprevenido por elas. A moderna tecnocin-cia foi fortemente motivada por um desejo de controlar, prever eprevenir. Fazendo com que a antecipao se manifeste em cl-culo racional, perigos passaram a ser geridos como riscos emtermos de probabilidades, assumindo o formato de uma holovi-gilncia vigilncia total que pode ser subdividida em exterovi-gilncia panptica, disciplinar e coletiva, a qual se agrega aintravigilncia sinptica, comportamental e individual.

    Ambas so justificadas dentro de um regime de hipersegu-rana. Alis, vivemos sob a gide de um Estado de segurana,uma vez que esta se tornou uma categoria poltica crucial21. Oparadigma da segurana foi inventado para tentar administrar a

    desordem, e no para impedi-la22

    .Podemos considerar que o paradigma da segurana possuiuma grande proximidade com o paradigma imunitrio, que vere-mos mais adiante. Ambos so instituintes e constituintes do am-biente que vigora na organizao do mundo atual, que se apre-senta cada vez mais sujeito a desgovernos, mas almejamosmant-lo sob nosso governo pela via tecnolgica o qual, porsua vez, enseja mais preocupao com os riscos.

    Sem dvida, os meios de comunicao de massa partici-pam intensamente da construo de um clima de averso aosriscos que pode chegar, no limite, ao pnico moral, em funo desua velocidade de difuso extensiva, amplificao e atribuiode significados e de valores na exibio reiterada de ameaasdesastrosas nossa integridade, sobretudo no que se refere aocrime organizado, ao terrorismo internacional, ou mesmo, even-tos isolados de hediondos assassinatos. Temos, ento, monta-gens de redes e atores responsveis pela insegurana fomenta-da por um estado belicista que declara guerra para enfrentar osriscos e as ameaas estabilidade social.

    Segundo van Loon (2002), trata-se de um conceito que sur-giu como resposta para lidar com os riscos relacionados com ocrime e a agitao social, primariamente dentro das fronteiras deum Estado-nao. A noo de estado belicista sugere que a rup-

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    tura da ordem social est sempre presente no horizonte da so-ciedade de risco. No somente porque o potencial catastrfico

    da tecnocincia no pode ser mais contido pelo princpio da se-gurana, mas tambm porque estas prprias tecnologias quenos permitem atribuir significados aos riscos e que estimulamnossas sensibilidades a eles foram afetadas pela virulnciadestes mesmos riscos.

    Em sntese, a mdia atua vigorosamente na construo deum ambiente de riscos ameaadores e, por sua vez, participa najustificao e legitimao de uma poltica de hipersegurana pa-

    ra o seu enfrentamento. Um exemplo ocorreu em novembro de2010 no Rio de Janeiro durante o estado de aumento da sensi-bilidade ao risco diante da violncia gerada pela disseminaode assaltos e incndios de veculos automotores provocados portraficantes de drogas como protesto pela ocupao policial decomunidades pelas Unidades de Polcia Pacificadora (conheci-das tambm por UPPs). Como costuma ocorrer em eventos de-sastrosos, houve a reiterao pela mdia televisiva de assusta-doras cenas de veculos sendo queimados que continuaramocorrendo durante alguns dias em diversos locais. Por meio des-sa rememorao da violncia, aumentou ainda mais a sensaode insegurana em uma cidade marcada pelo convvio com ma-nifestaes criminosas resultantes do trfico de drogas. Justifi-cadamente, no havia qualquer dvida que a resposta blica porparte das foras oficiais era imprescindvel para o retorno da

    ordem, ainda que os criminosos, em grande parte tenham fugidona ocasio.

    As relaes entre tecnologia, cultura e riscos

    Agora, como uma breve e parcial sntese pode-se aventarque vivemos em um contexto em que as relaes entre tecnolo-gia, cultura e riscos so extremamente complexas. Consideradoindividualmente, cada risco pode ter uma etiologia racional e po-de ser razoavelmente explicado, antecipado e sofrer interven-es. Entendidos como fenmeno cumulativo e complexo, osriscos parecem ser bem menos razoveis. Encarados como umfenmeno geral abstrato, riscos se tornam apocalpticos17. Mais:insinuam algo de insano na forma com que a vida cotidiana nassociedades tecnocientficas, que, guardadas as diferenas, po-

    dem se tornar para muitos um desgastante exerccio de convviocom a desordem e a insegurana. No toa que convivemosseguidamente com situaes catastrficas e sua respectiva difu-so nos meios de comunicao de massa que ampliam a sensa-o de incerteza, imprevisibilidade e medo. Somente no decor-rer dos ltimos anos sucederam-se eventos catastrficos comoa mencionada crise financeira global, a pandemia de gripe su-na, a queda do Airbus da Air France no oceano, as enchentes na

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    regio Serrana do Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense e osdesastres ssmicos no Haiti, Chile e Japo, entre vrios outros

    eventos calamitosos.Mesmo com fama de alarmista descontrolado, o jornalistada agncia de notcias Associated Press, Seth Borenstein, espe-cializado em cincias do clima23, juntamente com a tambm jor-nalista Julie Reed Bell, divulgou uma matria intitulada 2010, omundo vai loucura: terremotos, enchentes e tempestades emdiversos portais de notcias na internet e jornais impressos nosdias 20 e 21 de dezembro de 2010, no clima de retrospectiva

    anual que costuma ocorrer nesta poca do ano. No texto, emsntese, enfatiza-se o fato de que nesse ano, em toda a nossagerao, houve estatsticas aumentadas de mortes cerca de260 mil pessoas causadas por terremotos, ondas de calor, en-chentes, vulces, supertufes, tempestades, avalanches e se-cas em diversas partes do mundo. Mais mortes do que as ocor-ridas em ataques terroristas do ltimos 40 anos. Mesmoconsiderando a dimenso aleatria para que se sucedam taissituaes, h a responsabilizao das aes humanas que le-vam a alteraes climticas, aumentando consideravelmente aprobabilidade da correspondente ocorrncia de calamidades.

    Ademais, desastres provocaram perdas econmicas de222 bilhes de dlares, valores muito elevados, mas que no seconstituem em recordes porque muitas reas afetadas eram po-bres (como o Haiti) e no possuam nveis altos de seguridade.

    Alm dos desastres ditos naturais, houve catstrofes tecnolgi-cas, como o enorme vazamento de petrleo no Golfo do Mxicoe colapsos trgicos em vrias minas de prospeco de minriosnos Estados Unidos, China e Nova Zelndia (afortunadamente,o acidente do Chile foi uma das poucas excees em termos deperda humanas)24.

    Cabe acrescentar ainda que apesar da separao entre ris-co e incerteza ser ainda dominante, pode-se considerar que ela

    difcil de ser sustentada. Risco e incerteza se embricam: riscosso incertos, incertezas seguras. Van Asselt e Vos25 afirmamque, no contexto do princpio da precauo, a incerteza muitasvezes, implcita ou explicitamente, percebida como algo que po-de ser erradicada. Ou, pelo menos, reduzida pela pesquisa, pelamonitorao ou, simplesmente, pelo passar do tempo. Algumasincertezas podem ser estimadas, pois resultam de sistemas ouprocessos bem conhecidos. Porm, muitas incertezas relevan-tes no contexto do princpio da precauo no podem ser redu-zidas e muito menos exorcizadas.

    O paradoxo da incerteza se refere adoo de uma me-dida preventiva diante da insuficincia de provas cientficas. Emoutras palavras, quando o princpio da precauo utilizado pa-ra lidar com incertezas, o seu emprego acaba por demonstrar os

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    limites da cincia em proporcionar evidncias confiveis dosriscos potenciais.

    Todavia, sempre que se estabelece uma ao preventiva,a cincia chamada a fim de avaliar/avalizar os riscos poten-ciais. Em suma, trata-se de uma configurao paradoxal: porum lado, reconhece-se que a cincia no pode trazer as ansia-das evidncias decisivas sobre riscos incertos, enquanto, poroutro, recorre-se cincia para procurar estabelecer-se algumnvel de certeza. Assim, o conhecimento ocupa um lugar alta-mente paradoxal, se no contraditrio, na essncia do princpio

    da precauo.Talvez um dos sinais primordiais da loucura da razoes-

    teja localizado nas tentativas da razo de afirmar paroxistica-mente sua sanidade ao apartar-se imunitariamente da loucura.Foucault26 j palmilhava o trajeto que faz chegar ao medievalnavio dos loucos para onde as cidades medievais se livravamde seus insanos ao despach-los ao mar e, depois no sculoXVIII, enviando-os aos asilos. O estatuto da loucura se transfor-ma com o tempo, primeiramente como foco da excluso, depois,do confinamento. Foucault percebe uma mudana. Durante aRenascena, a figura do louco era inseparvel da Razo aloucura da razo. Tanto que Pascal escreve que os homens soto necessariamente loucos, que no ser louco chegaria a serlouco de um outro tipo de loucura27.

    No sculo XVIII, o racionalismo reivindica uma capacidade

    de escolher objetos e, nas novas regras do mtodo cartesiano,eliminava-se a loucura ao releg-la ao erro, iluso. Eliminadado reino do racional e tornada estigmatizada, a loucura se tornoua fronteira decisiva entre o mundo da razo e da desrazo. Aloucura se tornou uma ameaa e o evanescimento do louco dacena era o requisito para a primazia da razo28.

    Alguns consideram que a razo torna os humanos mais li-vres, mas assume que nos faz tambm mais miserveis. Isso

    porque a tecnocincia amplifica enormemente nossos recursosde domnio e controle sobre a natureza, e, ao mesmo tempo, aprimazia das Luzes se associa a um aumento de mitos e ritosimprescindveis para lidar com o mundo que se torna sedutora-mente deslumbrante e, decepcionantemente, desencantado29.

    Seguindo esta linha argumentativa, aderimos ao coment-rio de van Loon17ao abordar a teoria dos atores-rede de Latoure indicar que o projeto latouriano parte de um experimento men-tal (gedanken experiment): e se a realidade e a representaono esto separadas? No caso, importa evitar o conceito plat-nico de Ideia como qualquer coisa que no seja a obedincia normalizao de formas particulares do pensamento como co-nhecimento. Sem a submisso ao imperativo da Ideia, a razoperde suas pretenses transcendentais e se torna uma formaespecificada culturalmente de busca de poder. Ento, relativi-

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    zando as afirmaes categricas de van Loon, mas mantendosua anlise sobre Latour, o que provm da razo a moral, a

    verdade, os valores, a tica, expressa uma carga considervelde vontade de poder.Aqui, estamos nos referindo que, ao lado dos avanos tec-

    nocientficos que nos maravilham diante de seu poder e alcanceem nossas vidas, coexiste um lado negro das Luzes. Algo dis-funcional como em um efeito adverso de algum avano tecnol-gico em enredos de fico cientfica. Ou algo trazido malevola-mente por um anjo maligno, cujo nome se refere ao fato de ser

    portador das luzes, em sagas de fundo religioso. Mas o que estem questo a tendncia desarrazoada e autodestrutiva dopensamento moderno racional.

    Formas racionais de organizar a desrazo

    As mais impressionantes manifestaes da loucura da ra-

    zo se localizam nas polticas nazistas de extermnio que, inclu-sive, se basearam em polticas de outros pases (incluindo osEstados Unidos) que geraram programas de esterilizao deindivduos considerados inaptos. Hitler admirava estes progra-mas bem como a efetividade genocida estadunidense para comos povos indgenas deste pas. As ideias de extermnio nazi sesustentavam em noes originrias de pervertidas fontes dapesquisa biomdica racial da poca30. Mas no apenas, teve a

    pretenso de se sobrepor intimamente com ela como uma mani-festao nunca vista de biocracia31.

    Pode-se considerar um momento crucial da tendncia ge-nocida nazista a reunio de altos representantes do governoalemo em janeiro de 1942 em Wannsee, lado ocidental de Ber-lim com o objetivo de determinar os critrios e mtodos atravsdos quais o governo iria executar a poltica de Hitler no sentidode eliminar os judeus do mbito de influncia alemo nos territ-rios ocupados pelo regime nazista. Tal evento foi transformadoem filme produzido pela BBC/HBOConspirao(2001) (h umaoutra produo cinematogrfica alem feita para a televiso(1984) chamada A Conferncia de Wannsee) que apresenta areunio secreta. O enredo do filme foi concebido de modo aapresentar a mesma cronometragem da reunio original.

    O filme comea com a chegada de diversos oficiais de dis-

    tintas instncias nazistas para a reunio no casaro onde o co-ronel Adolf Eichmannn, Oficial da SSpara Assuntos Judaicosplanejou cuidadosamente a reunio. Essa coordenada pelooficial da SS, Reinhard Heydrich (de uma forma mais perversa,ambos protocologistas no pas das loucuras da razo), segundoem comando, subordinado a Himmler que inicia explicando omotivo da reunio: o significativo problema judeu, uma vez queos judeus da Europa no podem ser eficientemente contidos,

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    nem podem ser forados a emigrar para outros pases. Discu-tem-se as possibilidades de esterilizao e de exemplos de raa

    miscigenada, nas quais os judeus que tm um ou mais avs ju-deus. Logo adiante a discusso se dirige para a escolha maisadequada em termos de custos/benefcio no uso de cmaras degs para o extermnio em massa. O filme se mantm at o finalna tenso e no calor da abominvel discusso desenvolvida du-rante a reunio, cuja deciso, como costuma acontecer, j esta-va delineada: a construo de campos de concentrao e a so-luo final atravs das cmaras de gs32.

    Um ponto que merece detalhamento diz respeito conside-rao objetiva de critrios de incluso e excluso para definirquem judeu suficientemente para ser exterminado exemplocabal de tanatopoltica aplicada com racionalidade. H empre-go de dados demogrficos e uma classificao do que serjudeu baseada em relaes de parentesco para definir a judai-cidade de cada qual. Este material se encontra no assim desig-nado Protocolo de Wannsee cujo texto em ingls foi baseado natraduo do original alemo feita pelo governo ingls preparadacomo prova (evidence) no julgamento de Nuremberg33depoisrevisada por Dan Rogers da Universidade do Alabama para cor-rigir erros e trazer clareza ao contedo.

    Cerca de 11 milhes de judeus estariam envolvidos na so-luo final para a questo judaica. No decorrer da reunio seapresentam dados demogrficos relativos quantidade de ju-

    deus em cada pas e regio europeia. Esses nmeros incluemapenas aqueles judeus que seguem a f judaica, pois em algunspases no existe uma definio do judeu conforme aspectosraciais. Para a evacuao (eufemismo para a eliminao), osjudeus seriam levados em grupos para os chamados guetostransitrios, de onde seriam transportados para o Leste.

    O coordenador da reunio, o oficial Heydrich, declara quepara isso h necessidade de definir exatamente as pessoas

    envolvidas a populao-alvo. Aps discutirem a situao dejudeus de mais de 65 anos, torna-se necessrio definir os ca-sos de miscigenao. Nessa situao, preciso classificarpessoas de mescla sangunea de primeiro grau como judai-cas, com algumas excees, a serem eventualmente revistas,como no caso de filhos de unies com alemes, e daquelesque tiveram recebido permisses de iseno por parte do go-verno. Mas as pessoas miscigenadas, consideradas isentas,devem ser esterilizadas.

    Pessoas de mescla sangunea de segundo grau seroconsideradas como alems, com exceo dos seguintes casos:pessoa mista nascida de uma unio com os dois pais mistos,pessoa mista com uma aparncia indesejvel que a caracteri-za exteriormente como judia, pessoa mista com ficha policial e

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    poltica que evidencia que tal pessoa se sente e se comportacomo judia.

    Casamentos entre judeus integrais e alemes devem serjulgados caso a caso para o cnjuge judaico ser evacuado ouenviado para um gueto de idosos. Os casos de unio entre indi-vduos mistos e alemes devem ser avaliados para a circunstn-cia de no terem filhos a pessoa mista de primeiro grau serevacuada (exatamente como na circunstncia de judeus inte-grais e alemes). Se tiverem filhos, estes podero ser tratadoscomo judeus (pessoas mistas de segundo grau) passveis de

    serem evacuados ou enviados para o gueto com o parentemisto de primeiro grau. Se tais crianas so tratadas como ale-mes, estaro isentas da evacuao.

    Em casamentos entre pessoas mistas de primeiro graucom pessoas igualmente mistas de primeiro grau ou judeus, to-dos so tratados como judeus e, portanto, passveis de evacua-o ou enviadas para um gueto de idosos. Em unies entre pes-soas mistas de primeiro grau e pessoas mistas de segundograu, todos sero evacuados ou enviados para guetos de ido-sos, indiferentemente se possuem filhos, pois os possveis fi-lhos, via de regra, possuem sangue judeu mais fortemente quejudeus de sangue misto de segundo grau34.

    O detalhamento racista contido no Protocolo de Wannseeimpressiona tambm pelo horror contido na meticulosidade clas-sificatria racional que define o destino funesto daqueles inclu-

    dos na taxonomia mortfera. Mesmo parecendo desproposita-da, a comparao da proposta nazista sob uma tica nitidamenteinversa, como em um negativo, pode-se imaginar uma reuniode autoridades polticas do campo sanitrio ou econmico quevai estabelecer critrios para incluir famlias necessitadas emcampanhas de vacinao, programas de suplementao ali-mentar ou de recursos econmicos.

    Vale lembrar que muitas das razes de eliminao dos ju-

    deus no se prendiam a argumentos apenas raciais, mas tam-bm de sade pblica e biossegurana: era uma forma de desin-feco com vistas a eliminar piolhos transmissores de gravesdoenas epidmicas. Se piolhos contaminavam judeus, haviaque radicalmente erradicar tambm aos vetores de infeco.Mas este jogo de deslocamento de significados epidemiolgicosia adiante: os nazistas consideravam os judeus como agentescausais infecciosos sendo, inclusive designados por bacilos,bactrias, parasitas, vrus, micrbios que ameaavam a sadedos alemes30. No mais no plano alegrico, abstrato, mas nadimenso literal, concreta. De certa forma, alm da designaosugerida por Esposito zoopoltica no lugar de biopoltica emsentido estrito, caberia falar em epidemiopoltica, na perspectivade estar-se lidando ainda que distorcidamente com a trade epi-demiolgica clssica: agentes, hospedeiros e ambiente.

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    Obviamente, estamos no mesmo registro biopoltico. A des-comunal diferena reside no fato de que no caso nazista se ma-

    nifesta em sua execrvel vertente tanatopoltica imunitria deregimes totalitrios extremistas. Mais adiante voltaremos a abor-dar aspectos da biopoltica sob o ponto de vista imunitrio. Nes-te momento, cabe enfatizar, seguindo Foucault, que o racismoincludo nas prticas biopolticas define e vincula diretamenteaqueles que devem morrer para que outros possam sobrevi-ver35. Mais: a tanatopoltica pode ser executada homogenea-mente em todo o corpo social, no apenas por deciso sobera-

    na. O poder poltico assume processos biolgicos comoelemento central de suas atividades e o poder mdico trata deexecutar meticulosamente as sentenas genocidas atravs deprocedimentos organizados sistematicamente: escolha na ram-pa de acesso ao campo, incio da liberao do gs, declaraode bito, extrao de dentes de ouro dos cadveres, supervisodos procedimentos de cremao31(p. 181).

    Como assinala Bauman baseando-se em Hannah Arendt,em relao ao julgamento de Eichmann, cujos advogados dedefesa alegavam sua normalidade e senso de cumprimento bu-rocrtico do dever ao tentar cumprir um trabalho bem-feito:

    Os bons burocratas [...] devem ser ponderados [...]. Devemescolher cuidadosamente os meios mais adequados aosfins que receberam ordem de atingir. Precisam empregara razo para escolher o caminho mais curto, mais barato

    e menos arriscado que conduza ao destino apontado. De-vem separar os objetos e as aes relevantes para a tarefados que so irrelevantes, e escolher as aes que apro-ximem o alvo, ao mesmo tempo pondo de lado qualquercoisa que torne mais difcil atingi-lo. [...]. Precisam avaliar ecalcular. Precisam ser, na verdade, mestres supremos doclculo racional36 (p. 84).

    Alis, Bauman considera que a soluo final constitui-secomo efeito da racionalidade da era moderna, e no apenas umfuncionamento defeituoso da racionalidade da era moderna.Seos nazistas utilizam lgica da razo tanatopoltica na SegundaGrande Guerra, no sculo XXos comunistas tambm a seguemno Gulag e os estadunidenses igualmente, ao explodir as bom-bas atmicas em Hiroshima e em Nagasaki, no final deste con-flito. Assim, teriam inaugurado a Guerra do Sculo XXI, no modo

    hiperpreventivo, alicerada no triunfalismo da tecnocincia, queviabilizaria uma mortandade bem mais veloz, sem a sujidadeproveniente das mortes nazistas36 e 37.

    Mudando de foco, uma manifestao de convvio surpreen-dente entre razo tecnocientfica e loucura de quem no a obe-dece ocorreu justamente no Brasil. O fato chamou a ateno damdia tanto pelo fato em si como por suas repercusses. O Pe.Adelir Antonio de Carli ficou conhecido porque morreu ao tentar

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    fazer uma travessia area sustentado em uma cadeira presa amil bales de festa cheios de gs hlio (h uma tradio histri-

    ca de padres voadores bem sucedidos, como os Irmos Wrighte o brasileiro Bartolomeu de Gusmo). Condies climticas im-prprias o levaram para o mar, onde desapareceu. Seu corpo foilocalizado a 100 km da costa de Maric, Rio de Janeiro por umrebocador a servio da Petrobrs, Rio de Janeiro, quase 3 me-ses depois do voo (3 de julho de 2008).

    Ento, em sua ltima proeza partiu de Paranagu no esta-do do Paran no dia 20 de abril de 2008, para ir at Dourados

    (Mato Grosso do Sul). Mas, conforme as condies meteorolgi-cas, poderia ficar na cidade de Ponta Grossa, tambm no Para-n. Pretendia bater o recorde de permanncia no ar em balesdeste tipo 20 horas consecutivas. A razo era nobre: chamar aateno para a causa da Pastoral Rodoviria, entidade criadapor ele para auxiliar espiritualmente motoristas de caminho quetrafegam nas estradas da regio e conseguir recursos paraconstruir um abrigo para eles.

    J havia feito um voo bem sucedido de 110 km com 4 horasno ar em 13 de janeiro de 2008 da cidade de Ampre (sudoestedo Paran) at San Antonio, na Argentina. Em 2006, havia cha-mado a ateno por fazer denncias de violao de direitos hu-manos contra moradores de rua em Paranagu. Tais dennciasteriam levado priso quatro guardas municipais e o secretriomunicipal de segurana pblica da cidade.

    Para o segundo voo, carregava garrafas dgua, barras decereais, um estilete (para furar os bales na aterrissagem), rou-pa trmica, dois celulares e um aparelho de GPS(global positio-ning system). No entanto, os celulares logo deixaram de funcio-nar, quando se desviou para o oceano e, como se soube depois,no tinha domnio para operar o GPS38.

    Como diz a matria da revista semanal pocapor ocasiodo segundo voo:

    Como se no bastasse tanto risco, a experincia em voodo padre era pouca, segundo Mrcio Andr Lichtnow, quefoi por algum tempo seu instrutor de voo alguns anos atrs.Segundo o paraquedista, ele teve apenas dois meses deinstruo na escola de voo livre. O curso levaria seis me-ses, mas o padre foi expulso por indisciplina (grifo nosso)39.

    O episdio recebeu a ateno das agncias internacionais

    de notcias e apareceu em diversos portais internacionais. NoBrasil, a tragdia acabou gerando muitas troas e chacotas dehumor negro de gosto duvidoso na internet: o prximo visitanteda misteriosa ilha do seriado televisivo Lost40, cartaz do filme Eo vento levoucom imagem dos bales41, desenho da srie Ondeest Wallyprocurando localiz-lo em uma praia, onde se divisaao longe no horizonte os bales se aproximando42.

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    Uma das zombarias mais contundentes foi a concesso doprmio Darwin que uma distino atribuda ironicamente de

    forma simblica queles que perpetraram equvocos to gravesque pagaram com a vida ou com sua prpria esterilizao. Apremissa sarcstica e pouco benevolente de fundo gentico:assim tais indivduos, ao provocarem sua autodestruio, cola-boram decisivamente para a melhoria do fluxo(pool)genticohumano ao eliminarem seus prprios genes maus43.

    No portal http://darwinawards.com aparecem os requisitospara a concesso do prmio:

    impossibilidade de gerar descendncia atravs da pr-pria morte ou esterilizao; excelncia forma espetacu-lar com que gera o equvoco; autosseleo causador doprprio desastre; maturidade indivduo em total domniode suas capacidades mentais e fsicas, em plena posse defaculdades de juzo e cognio; veracidade a ocorrnciano deve ser fictcia43.

    As premissas genticas essencialistas da zombaria me-recem ser abordadas porque se vinculam, mesmo no registrometafrico/sarcstico, a uma perspectiva ideolgica biopolti-ca, de carter imunitrio. No limite, nas entrelinhas dos critriosdos prmios Darwin parecem cintilar as ideias de Foucault aodizer que

    a morte do outro no simplesmente a minha vida, na me-

    dida em que seria minha segurana pessoal; a morte daraa ruim, da raa inferior (ou do degenerado, ou do anor-mal), o que vai deixar a vida em geral mais sadia e maispura35(p. 305).

    Em geral, todas as chacotas abordam mais ou menos impli-citamente o emprego imprprio daquilo que a civilizao ociden-tal pressupe como natural aos indivduos considerados capa-zes para viverem nas sociedades modernas: falha no uso dasfaculdades racionais, utilizao inadequada do livre arbtrio e dacapacidade de deciso autnoma e falta de responsabilidadepessoal. Todas essas dimenses apontam para as caractersti-cas da situao: ausncia de respeito s normas primordiais desegurana diante dos riscos que a aventura radical ensejava, odespreparo tcnico no manuseio dos equipamentos tecnolgi-cos de localizao e comunicao, a desconsiderao de dados

    de previso meteorolgica.Em sntese, carncia de controle, previso e preveno elementos fatais. E talvez mais relevante ainda: uma possvelcrena desmesurada na divina providncia, especialmente dian-te da justeza da causa mas decerto insuficiente em tempos deriscos nos quais as instncias divinas supostamente seriam me-nos levadas em considerao. Hoje no passa impune algumque desajuizadamente, apesar de ser considerado possuidor

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    Cincia, razo, loucura e religio

    Outra representativa situao mortfera de tenso entrecincia, razo, loucura e religio pode ser ilustrada pelos acon-tecimentos que cercaram a suposta possesso demonaca dajovem alem Anneliese Michel nos anos 197046 e 47. Ela nasceuem 1952 em Leiblfing, na Baviera, mas foi criada com as suastrs irms no pequeno municpio de Klingenberg am Main. Seuspais, Anna e Josef Michel, muito religiosos, lhe deram uma edu-cao profundamente catlica.

    Em 1968, com dezesseis anos, Anneliese comea a mani-festar sintomas e comportamentos compatveis com o diagnsti-co de epilepsia associada a um suposto quadro de esquizofre-nia. Esta condio assumida aps ser examinada na clnicapsiquitrica da cidade de Wrzburg. Ela , ento, encaminhadapara internao no hospital psiquitrico de Mittleberg, onde ficapor cerca de um ano em tratamento. Quando recebe alta, conse-gue encerrar seu curso secundrio e inicia estudos universit-

    rios de pedagogia na Universidade de Wrzburg.Mesmo assim, no decorrer desse tempo, Anneliese explici-

    ta continuar a ter vises horrveis e a ouvir vozes assustadorasdizendo que ela queimaria no Inferno, assumindo que estavapossuda por demnios. Seus mdicos no conseguem encon-trar a melhora para sua condio, que vai se agravando. Come-a a ver faces demonacas e no suporta locais, nem objetosconsiderados sagrados. Neste nterim, Anneliese foi medicadacom periciazina para controlar convulses e depois com carba-mazepina para deter seus sintomas psiquitricos. Ambas as dro-gas se mostraram ineficazes em controlar suas manifestaes.

    Em 1973, seus pais pedem aos sacerdotes de sua par-quia que a submetam ao ritual de exorcismo. De incio, o pedi-do recusado. Mas, em 1974, o padre Ernst Alt, um perito noassunto, chega concluso que Anneliese satisfaz aos crit-

    rios para a realizao do exorcismo, uma vez que ela j apre-sentava comportamentos cada vez mais anmalos: agrediaverbal e fisicamente a seus familiares, dormia ao cho e comiainsetos e aranhas e chegava a beber a prpria urina. Berravadurante longo tempo e destrua objetos religiosos, como cruci-fixos e imagens de Jesus. Com frequncia, se desnudava, seurinava e se automutilava.

    Em 1975, comeam os rituais de exorcismo uma a duas

    vezes por semana que se estendem ao redor de nove meses.Nessas ocasies, ela chegava a ser contida por at trs ho-mens, sendo at acorrentada. Ela tambm lesiona os joelhos emfuno dos movimentos compulsivos que faz com eles duranteas sesses. Nesse perodo, continuava tomando os medica-mentos. Mas nem o exorcismo nem o tratamento mdico conse-guem reverter seu quadro.

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    Durante esta fase, Anneliese refere-se a um sonho com aVirgem Maria, onde ela lhe apresenta duas sadas para a sua

    situao: ou ser liberta do domnio demonaco ou seguir em seumartrio com a finalidade de demonstrar para todos a existnciado mundo espiritual e dos entes diablicos. Em outras palavras,Emily faria o sacrifcio em funo de uma causa nobre: a deproduzir evidncias ontolgicas dos seres demonacos que,por oposio, levaria a efeito a demonstrao para todos da con-sequente existncia de Deus.

    Anneliese teria eleito a segunda possibilidade. Em 1 de ju-

    lho de 1976, no dia em que teria predito sua liberao, morreenquanto dormia, com 23 anos de idade. Exames post mortemindicam grave estado de desnutrio e desidratao.

    Logo aps o falecimento, os sacerdotes Ernest Alt e ArnoldRenz comunicam a morte s autoridades locais que, por suavez, abrem procedimentos jurdicos e investigaes compatveiscom as circunstncias. A seguir, as autoridades responsabilizamos dois padres e os pais de Anneliese de homicdio causado pornegligncia mdica.

    O bispo Josef Stangl que deu a autorizao para o exorcis-mo no foi indiciado em funo da idade avanada e estado desade frgil, vindo a falecer em 1979. Curiosamente, foi elequem consagrou como bispo o padre Joseph Ratzinger, que vi-ria a se tornar o Papa Bento XVI.

    O julgamento iniciou-se em maro de 1978 e despertou

    muito interesse na Alemanha. No decorrer do processo, os m-dicos declaram que a jovem no estava possuda e que os pa-dres teriam involuntariamente reforado ao induzir doutrinaria-mente, em razo do exorcismo, a condio psictica deAnneliese. Mais: caso ela tivesse sido encaminhada a atendi-mento mdico adequado de modo que fosse tratada a desnutri-o e desidratao, no teria morrido.

    A defesa jurdica dos padres foi realizada por advogados

    contratados pela Igreja. Os argumentos em defesa dos pais deAnneliese declararam que a prtica exorcista foi lcita, pois asleis alems permitem que seus cidados o exeram sem restri-es suas crenas religiosas. A defesa tambm recorreu a evi-dncias trazidas pelos contedos das gravaes das sessesde exorcismo, nas quais aparecem falas assustadoras atribu-das aos demnios. Os dois religiosos explicitaram suas certezasquanto possesso da jovem e a eficcia dos rituais ao livr-lados entes malvolos, ainda antes da sua morte. Na conclusodo julgamento tanto os sacerdotes como os pais foram conside-rados culpados de grave negligncia, tendo sido estabelecido apena de seis meses com direito liberdade condicional sob fian-a46 e 47. Aos olhos da razo racional dominante, no h outraescapatria seno o estabelecimento da culpa diante da morte

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    vinculada a supostas crenas msticas. No h mais lugar paracoisas deste teor numa poca de desencantamento do mundo.

    Esta histria serviu como inspirao para o enredo de doisfilmes. Uma produo alem (2006), dirigida pelo cineasta Hans-Christian Schmid, chamada Requiem48e outra, hollywoodiana(2005), por Scott Derrickson que foi adaptada esttica e aocontexto norte-americano, com mudana de nomes e locais OExorcismo de Emily Rose49. Temos aqui numa curiosa mescla defilme de terror e de tribunal. Nosso interesse se dirige para abatalha retrica entre expertsque ocorre no desenrolar do julga-

    mento. O que cabe destacar o enfrentamento dos especialis-tas convocados respectivamente pelo promotor e pela advogadade defesa (que sofre ao longo da histria um processo de asce-se espiritual). O expert mdico ligado acusao sustenta oponto de vista psiquitrico e o prejuzo que o exorcismo teriacausado sade da jovem. Uma antroploga especializada empossesses demonacas acionada pela defesa para mostrar apertinncia sociocultural das manifestaes destes fenmenos eo papel dos ritos exorcistas na busca da cura.

    Ou seja, o foco se coloca em um confronto argumentativono interior da seara da razo cientfica. Aqui, o enredo apresentaum aspecto interessante: por mais evidncias da eficcia farma-colgica, o uso do psicotrpico (no filme, simplificado paraapenas um medicamento, denominado Gambutrol) para contro-lar as manifestaes de epilepsia e de loucura da jovem teria

    impedido os eventuais efeitos psicossomticos dos rituais exor-cistas. Ainda assim, permanece no ar a possibilidade da persis-tncia dos eventos espirituais que escapam ao mundo racional.

    Enfim, por mais difcil que seja mudar as amarras racionaisfortemente definidas na atualidade, urge que nos relacionemosde modo distinto com a cultura tecnocientfica e suas demandasracionais que podem derivar por sentimentos irrazoados a lou-cura da razo. E isso inclui a forma de descrever, dar sentido e

    valor aos riscos e seu controle que gera mais descontrole,riscos e insegurana. De acordo com van Loon17, isso diz respei-to relao com a ideia de confiana.

    Uma mudana na confiana o eixo desta questo. Aconfiana uma entidade que sempre envolve um outro parti-cular que lhe confere confiana. Este o paradoxo da confiana.S se confia se algum outro lhe d/atribui confiana. Construira confiana , em geral, um processo que consome tempo, mas,uma vez estabelecido, ele tende a perdurar. A confiana tem aconotao de estabilidade da relao no tempo. esse sentidode confiana que permite tratar a confiana como condio ne-cessria para a socialidade17.

    Um exemplo interessante a tal respeito o filme justamenteintitulado Confiana(Trust) (1991) de Hal Hartley. O enredo tema jovem Maria Coughlin (Adrienne Shelly), uma jovem estudante

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    secundria que est grvida do namorado. Ao informar ao pai arespeito do fato, ele sofre um enfarto fulminante e a me a expul-

    sa de casa. O namorado a despreza, inclusive porque sua prio-ridade a carreira no futebol americano atravs do ingresso nauniversidade. Matthew Slaughter (Martin Donovan) considera-do violento (carrega no bolso uma granada de mo, trazida daGuerra da Coreia pelo pai), j tendo sido preso por isso. umexpertem consertos e montagem de aparelhos eletrnicos, masno consegue se ajustar aos empregos e suas injunes com asquais discorda, demitindo-se ou sendo despedido. Vive s turras

    com o pai obsessivo por limpeza que lhe obriga a limpar cons-tantemente o banheiro de casa.

    Estes dois desajustados se encontram em Long Island eacabam se aproximando. Justamente nesta atmosfera sombriae incmoda na qual prevalecem conflitos dolorosos e impera asuspeita quanto s intenes maldosas de todos os persona-gens, estabelece-se uma relao necessria de confiana esolidariedade entre eles, que vir a provocar mudanas nasposies subjetivas de cada um. A cena marcante nesse senti-do ocorre quando Maria sobe em um muro e se lana de costasao solo diante de Matthew, atnito, que corre para segur-lacom os braos. H uma esttica distanciada neste ambientetrgico e caricato que transita pelo nonsense, mas bem suce-dida ao transmitir com grande carga emocional as terrveis si-tuaes vividas50 e 51.

    De certa forma, o filme representante de uma tradiocinematogrfica de crtica social da poca em que foi realizado.Mas impressionante perceber como consegue descrever a cri-se moral e de confiana nas sociedades modernas que viria aampliar-se sintomaticamente na dcada e meia seguinte.

    Seguindo van Loon17, importante perceber que a noode confiana se vincula etimologicamente fides, que tambmgera: f, crena, credo, crdito, fidelidade. Todas pressupem

    um pacto simblico bsico de crer nas palavras faladas e escri-tas nos acordos tcitos e explcitos entre indivduos em suasinstncias pessoais e institucionais uma espcie de arranjoessencial que permite reduzir a desconfiana que pode minar aspossibilidades relacionais dos seres humanos.

    A noo de confiana nos sistemas expertdiz respeito so-mente dimenso racional, cognitiva na qual o know-how transformado em uma srie de parmetros puramente tcnicos.Na verdade, est-se realmente se falando no de confiana,mas de confiabilidade, a capacidade de desempenho funcionalde objetos em um mundo racionalizado.

    A confiabilidade se baseia em um senso instrumental de fi-delidade de acordo com as expectativas (por exemplo, equipa-mentos de alta fidelidade). No caso do padre voador, mesmocom a confiabilidade do equipamento, faltou o treinamento para

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    moderna, vitrias que se distribuem de forma profundamentedesigual e injusta entre as populaes deste planeta.

    Ao mesmo tempo, enfatiza-se a necessidade de hiperpreven-o (preveno + precauo + proteo) em funo da ameaadas situaes de desastres, infortnios e falta de segurana (queinclui a dimenso representada pelo aspecto indicada pela expres-so inglesa safety), mesmo com probabilidades baixas de ocorrn-cia. Na retrica argumentativa, utilizam-se metforas imunitrias(antdotos) para o tratamento hiperpreventivo das ameaas.

    Alm disso, importa ainda acrescentar que o vocbulo di-

    cionarizado preveno apresenta duas interessantes perspec-tivas semnticas em suas acepes: uma delas prpria da co-nhecida lgica preventiva, de carter, digamos, objetivo ondeaparece: ao ou resultado de prevenir-se e conjunto de me-didas ou preparao antecipada de (algo) que visa prevenir (ummal). Por outro lado, h formas subjetivas, de base no racio-nal vinculada noo de ameaa: opinio desfavorvel anteci-pada; ideia preconcebida e sentimento de repulsa para comalgum ou algo, sem base racional; preconceito54. Pode-se uti-lizar o termo hiperpervenoindicando um estado no qual am-bas acepes se hipertrofiam e se confundem, tanto no encami-nhamento dito racional como sob a via no racional.

    Assim, seguindo a Castel55, nosso foco se dirige ideologiada preveno generalizada cuja meta inalcanvel e produzuma profunda averso aos muitos riscos e perigos que nos ron-

    dam sem perspectivas de xito. Algo que estimula altos teores deansiedade que marcam a nossa poca de modo inapelvel.Vamos cogitar, ento, uma montagem hiperpreventivaem

    funo das colocaes em cena que se manifestam na noo demontagem.Aqui, se justapem metaforicamente neste termo osentido mecnico de construir um sistema de componentesagregados com uma finalidade particular e a manifestao arts-tica que inclui a encenao teatral e o processo no qual se sele-

    ciona e se une em sequncia as cenas de uma filmagem paraque se torne um filme.

    Esses aspectos visam buscar entendimento para a amplagama de aes que organizam e difundem prticas com vistas preveno, precauo e proteo organizadas sob a forma deinstncias de governo e seus diversos agentes na gesto daconduta de indivduos e grupos em suas vidas cotidianas.

    Procurando se estabelecer nexos entre a grande amplitudede intervenes e as montagens que as orientam, pode-se cap-tar a importncia das estratgias de hiperpreveno veiculadasmediante expertises, vocabulrios/retricas, elementos de car-ter moral (e identitrio), incluindo representaes e desdobra-mentos imaginrios na atual configurao sociocultural da con-duo da conduta humana. Esses aspectos da montagemhiperpreventiva redefinem limites e focos para as perspectivas

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    vigentes e geram novas formas de se atuar naquilo que trazido cena, especialmente no campo da sade.

    Enfim, h indcios significativos de que estamos lidandocom um panorama de fragilizao das propostas da razo ilumi-nista que geram visveis distores e instabilidades. Este qua-dro, por exemplo, se vincula ao esprito da nossa poca, queestabelece um modo particular de compreender (-se), julgar,avaliar e intervir sob a perspectiva de obrigao pessoal sobreuma ampla diversidade de questes humanas, polticas e so-ciais. Proliferam variadas prticas que se cristalizam sob o impe-

    rativo do risco e da hiperpreveno, de forte cunho moralizante,impulsionadas por poderosos interesses econmicos e de pes-quisa, estratgias persuasivas e insidiosas de comunicao, ge-rao pblica de ansiedades sob a gide de supostamente indis-cutvel legitimidade tcnica e cientfica.

    Importa considerar, a partir de Kirkland56, modos alternativospara se pensar preventivamente sobre sade e segurana queimpliquem em necessrios deslocamentos nos modos de tratarconceitos como risco, normalidade, vulnerabilidade, acessibilida-de, prazer, equidade. Para isso, preciso questionar as noesque sustentam uma ideia de sade em seu aparente lugar de re-sultante de um processo estritamente neutro, racional, sem envol-ver dimenses polticas e sociais e suas complexas implicaes.Decises sobre como lidar com este estado de coisas assumemimportantes aspectos de carter pessoal: como alimentar-se, co-

    mo medicar-se, como exercitar-se (ou no), como lidar com des-gastes naturalizados da vida cotidiana e como relativizar as apre-sentaes midiatizadas de questes de sade e preveno.

    Referncias

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    CADERNOS IHU IDEIAS

    N. 01 A teoria da justia de John Rawls Dr. Jos NedelN. 02 O feminismo ou os feminismos: Uma leitura das produes tericas Dra. Edla Eggert

    O Servio Social junto ao Frum de Mulheres em So Leopoldo MSClair Ribeiro Ziebell e Aca-dmicas Anemarie Kirsch Deutrich e Magali Beatriz Strauss

    N. 03 O programa Linha Direta: a sociedade segundo a TVGlobo Jornalista Sonia MontaoN. 04 Ernani M. Fiori Uma Filosofia da Educao Popular Prof. Dr. Luiz Gilberto KronbauerN. 05 O rudo de guerra e o silncio de Deus Dr. Manfred Zeuch

    N. 06 BRASIL: Entre a Identidade Vazia e a Construo do Novo Prof. Dr. Renato Janine RibeiroN. 07 Mundos televisivos e sentidos identirios na TV Profa. Dra. Suzana KilppN. 08 Simes Lopes Neto e a Inveno do Gacho Profa. Dra. Mrcia Lopes DuarteN. 09 Oligoplios miditicos: a televiso contempornea e as barreiras entrada Prof. Dr. Valrio Cruz

    BrittosN. 10 Futebol, mdia e sociedade no Brasil: reflexes a partir de um jogo Prof. Dr. dison Luis GastaldoN. 11 Os 100 anos de Theodor Adorno e a Filosofia depois de Auschwitz Profa. Dra. Mrcia TiburiN. 12 A domesticao do extico Profa. Dra. Paula CaleffiN. 13 Pomeranas parceiras no caminho da roa: um jeito de fazer Igreja, Teologia e Educao Popular

    Profa. Dra. Edla EggertN. 14 Jlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prtica poltica no RS Prof. Dr. Gunter AxtN. 15 Medicina social: um instrumento para denncia Profa. Dra. Stela Nazareth Meneghel

    N. 16 Mudanas de significado da tatuagem contempornea Profa. Dra. Dbora Krischke LeitoN. 17 As sete mulheres e as negras sem rosto: fico, histria e trivialidade Prof. Dr. Mrio MaestriN. 18 Um itinenrio do pensamento de Edgar Morin Profa. Dra. Maria da Conceio de AlmeidaN. 19 Os donos do Poder, de Raymundo Faoro Profa. Dra. Helga Iracema Ladgraf PiccoloN. 20 Sobre tcnica e humanismo Prof. Dr. Oswaldo Giacia JuniorN. 21 Construindo novos caminhos para a interveno societria Profa. Dra. Lucilda SelliN. 22 Fsica Quntica: da sua pr-histria discusso sobre o seu contedo essencial Prof. Dr. Paulo

    Henrique DionsioN. 23 Atualidade da filosofia moral de Kant, desde a perspectiva de sua crtica a um solipsismo prtico

    Prof. Dr. Valrio RohdenN. 24 Imagens da excluso no cinema nacional Profa. Dra. Miriam RossiniN. 25 A esttica discursiva da tev e a (des)configurao da informao Profa. Dra. Nsia Martins do

    RosrioN. 26 O discurso sobre o voluntariado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS MSRosaMaria Serra Bavaresco

    N. 27 O modo de objetivao jornalstica Profa. Dra. Beatriz Alcaraz MaroccoN. 28 A cidade afetada pela cultura digital Prof. Dr. Paulo Edison Belo ReyesN. 29 Prevalncia de violncia de gnero perpetrada por companheiro: Estudo em um servio de aten-

    o primria sade Porto Alegre, RS Prof. MS Jos Fernando Dresch KronbauerN. 30 Getlio, romance ou biografia? Prof. Dr. Juremir Machado da SilvaN. 31 A crise e o xodo da sociedade salarial Prof. Dr. Andr GorzN. 32 meia luz: a emergncia de uma Teologia Gay Seus dilemas e possibilidades Prof. Dr. Andr

    Sidnei MusskopfN. 33 O vampirismo no mundo contemporneo: algumas consideraes Prof. MS Marcelo Pizarro

    NoronhaN. 34 O mundo do trabalho em mutao: As reconfiguraes e seus impactos Prof. Dr. Marco AurlioSantana

    N. 35 Adam Smith: filsofo e economista Profa. Dra. Ana Maria Bianchi e Antonio Tiago Loureiro Arajodos Santos

    N. 36 Igreja Universal do Reino de Deus no contexto do emergente mercado religioso brasileiro: umaanlise antropolgica Prof. Dr. Airton Luiz Jungblut

    N. 37 As concepes terico-analticas e as proposies de poltica econmica de Keynes Prof. Dr.Fernando Ferrari Filho

    N. 38 Rosa Egipcaca: Uma Santa Africana no Brasil Colonial Prof. Dr. Luiz MottN. 39 Malthus e Ricardo: duas vises de economia poltica e de capitalismo Prof. Dr. Gentil CorazzaN. 40 Corpo e Agenda na Revista Feminina MSAdriana Braga

    N. 41 A (anti)filosofia de Karl Marx Profa. Dra. Leda Maria PaulaniN. 42 Veblen e o Comportamento Humano: uma avaliao aps um sculo de A Teoria da Classe Ocio-sa Prof. Dr. Leonardo Monteiro Monasterio

    N. 43 Futebol, Mdia e Sociabilidade. Uma experincia etnogrfica dison Luis Gastaldo, Rodrigo Mar-ques Leistner, Ronei Teodoro da Silva e Samuel McGinity

    N. 44 Genealogia da religio. Ensaio de leitura sistmica de Marcel Gauchet. Aplicao situao atualdo mundo Prof. Dr. Grard Donnadieu

    N. 45 A realidade quntica como base da viso de Teilhard de Chardin e uma nova concepo da evolu-o biolgica Prof. Dr. Lothar Schfer

    N. 46 Esta terra tem dono. Disputas de representao sobre o passado missioneiro no Rio Grande doSul: a figura de Sep Tiaraju Profa. Dra. Ceres Karam Brum

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    N. 47 O desenvolvimento econmico na viso de Joseph Schumpeter Prof. Dr. Achyles Barcelos daCosta

    N. 48 Religio e elo social. O caso do cristianismo Prof. Dr. Grard DonnadieuN. 49 Coprnico e Kepler: como a terra saiu do centro do universo Prof. Dr. Geraldo Monteiro SigaudN. 50 Modernidade e ps-modernidade luzes e sombras Prof. Dr. Evilzio TeixeiraN. 51 Violncias: O olhar da sade coletiva lida Azevedo Hennington e Stela Nazareth MeneghelN. 52 tica e emoes morais Prof. Dr. Thomas KesselringJuzos ou emoes: de quem a primazia

    na moral? Prof. Dr. Adriano Naves de BritoN. 53 Computao Quntica. Desafios para o Sculo XXI Prof. Dr. Fernando HaasN. 54 Atividade da sociedade civil relativa ao desarmamento na Europa e no Brasil Profa. Dra. An

    VranckxN. 55 Terra habitvel: o grande desafio para a humanidade Prof. Dr. Gilberto DupasN. 56 O decrescimento como condio de uma sociedade convivial Prof. Dr. Serge LatoucheN. 57 A natureza da natureza: auto-organizao e caos Prof. Dr. Gnter KppersN. 58 Sociedade sustentvel e desenvolvimento sustentvel: limites e possibilidades Dra. Hazel

    HendersonN. 59 Globalizao mas como? Profa. Dra. Karen GloyN. 60 A emergncia da nova subjetividade operria: a sociabilidade invertida MS Cesar SansonN. 61 Incidente em Antares e a Trajetria de Fico de Erico Verssimo Profa. Dra. Regina ZilbermanN. 62 Trs episdios de descoberta cientfica: da caricatura empirista a uma outra histria Prof. Dr.

    Fernando Lang da Silveira e Prof. Dr. Luiz O. Q. PeduzziN. 63 Negaes e Silenciamentos no discurso acerca da Juventude Ctia Andressa da SilvaN. 64 Getlio e a Gira: a Umbanda em tempos de Estado Novo Prof. Dr. Artur Cesar IsaiaN. 65 Darcy Ribeiro e o O povo brasileiro: uma alegoria humanista tropical Profa. Dra. La Freitas

    PerezN. 66 Adoecer: Morrer ou Viver? Reflexes sobre a cura e a no cura nas redues jesutico-guaranis

    (1609-1675) Profa. Dra. Eliane Cristina Deckmann FleckN. 67 Em busca da terceira margem: O olhar de Nelson Pereira dos Santos na obra de Guimares Rosa

    Prof. Dr. Joo Guilherme BaroneN. 68 Contingncia nas cincias fsicas Prof. Dr. Fernando HaasN. 69 A cosmologia de Newton Prof. Dr. Ney LemkeN. 70 Fsica Moderna e o paradoxo de Zenon Prof. Dr. Fernando HaasN. 71 O passado e o presente em Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade Profa. Dra. Miriam

    de Souza RossiniN. 72 Da religio e de juventude: modulaes e articulaes Profa. Dra. La Freitas PerezN. 73 Tradio e ruptura na obra de Guimares Rosa Prof. Dr. Eduardo F. CoutinhoN. 74 Raa, nao e classe na historiografia de Moyss Vellinho Prof. Dr. Mrio MaestriN. 75 A Geologia Arqueolgica na Unisinos Prof. MS Carlos Henrique NowatzkiN. 76 Campesinato negro no perodo ps-abolio: repensando Coronelismo, enxada e voto Profa.

    Dra. Ana Maria Lugo RiosN. 77 Progresso: como mito ou ideologia Prof. Dr. Gilberto DupasN. 78 Michael Aglietta: da Teoria da Regulao Violncia da Moeda Prof. Dr. Octavio A. C. ConceioN. 79 Dante de Laytano e o negro no Rio Grande Do Sul Prof. Dr. Moacyr FloresN. 80 Do pr-urbano ao urbano: A cidade missioneira colonial e seu territrio Prof. Dr. Arno Alvarez

    KernN. 81 Entre Canes e versos: alguns caminhos para a leitura e a produo de poemas na sala de aula

    Profa. Dra. Glucia de SouzaN. 82 Trabalhadores e poltica nos anos 1950: a ideia de sindicalismo populista em questo Prof. Dr.

    Marco Aurlio SantanaN. 83 Dimenses normativas da Biotica Prof. Dr. Alfredo Culleton e Prof. Dr. Vicente de Paulo BarrettoN. 84 A Cincia como instrumento de leitura para explicar as transformaes da natureza Prof. Dr.

    Attico Chassot

    N. 85 Demanda por empresas responsveis e tica Concorrencial: desafios e uma proposta para agesto da ao organizada do varejo Profa. Dra. Patrcia Almeida Ashley

    N. 86 Autonomia na ps-modernidade: um delrio? Prof. Dr. Mario FleigN. 87 Gauchismo, tradio e Tradicionalismo Profa. Dra. Maria Eunice MacielN. 88 A tica e a crise da modernidade: uma leitura a partir da obra de Henrique C. de Lima Vaz Prof.

    Dr. Marcelo PerineN. 89 Limites, possibilidades e contradies da formao humana na Universidade Prof. Dr. Laurcio

    NeumannN. 90 Os ndios e a Histria Colonial: lendo Cristina Pompa e Regina Almeida Profa. Dra. Maria Cristina

    Bohn MartinsN. 91 Subjetividade moderna: possibilidades e limites para o cristianismo Prof. Dr. Franklin Leopoldo e

    Silva

    N. 92 Saberes populares produzidos numa escola de comunidade de catadores: um estudo na perspec-tiva da Etnomatemtica Daiane Martins Bocasanta

    N. 93 A religio na sociedade dos indivduos: transformaes no campo religioso brasileiro Prof. Dr.Carlos Alberto Steil

    N. 94 Movimento sindical: desafios e perspectivas para os prximos anos MS Cesar SansonN. 95 De volta para o futuro: os precursores da nanotecnocincia Prof. Dr. Peter A. SchulzN. 96 Vianna Moog como intrprete do Brasil MSEnildo de Moura CarvalhoN. 97 A paixo de Jacobina: uma leitura cinematogrfica Profa. Dra. Marins Andrea KunzN. 98 Resilincia: um novo paradigma que desafia as religies MSSusana Mara Rocca LarrosaN. 99 Sociabilidades contemporneas: os jovens na lan house Dra. Vanessa Andrade PereiraN. 100 Autonomia do sujeito moral em Kant Prof. Dr. Valerio Rohden

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    N. 152 Entre a Revoluo Mexicana e o Movimento de Chiapas: a tese da hegemonia burguesa no Mxi-co ou por que voltar ao Mxico 100 anos depois Claudia Wasserman

    N. 153 Globalizao e o pensamento econmico franciscano: Orientao do pensamento econmico fran-ciscano e Caritas in Veritate Stefano Zamagni

    N. 154 Ponto de cultura teko arandu: uma experincia de incluso digital indgena na aldeia kaiow eguarani Teikue no municpio de Caarap-MS Neimar Machado de Sousa, Antonio Brand e JosFrancisco Sarmento

    N. 155 Civilizar a economia: o amor e o lucro aps a crise econmica Stefano ZamagniN. 156Intermitncias no cotidiano: a clnica como resistncia inventiva Mrio Francis Petry Londero e

    Simone Mainieri PaulonN. 157 Democracia, liberdade positiva, desenvolvimento Stefano ZamagniN. 158 Passemos para a outra margem: da homofobia ao respeito diversidade Omar Lucas Perrout

    Fortes de SalesN. 159 A tica catlica e o esprito do capitalismo Stefano ZamagniN. 160 O Slow Food e novos princpios para o mercado Eriberto Nascente SilveiraN. 161 O pensamento tico de Henri Bergson: sobre As duas fontes da moral e da religio Andr Bray-

    ner de FariasN. 162 O modus operandi das polticas econmicas keynesianas Fernando Ferrari Filho e Fbio Henri-

    que Bittes TerraN. 163 Cultura popular tradicional: novas mediaes e legitimaes culturais de mestres populares pau-

    listas Andr Luiz da SilvaN. 164 Ser o decrescimento a boa nova de Ivan Illich? Serge LatoucheN. 165 Agostos! A Crise da Legalidade: vista da janela do Consulado dos Estados Unidos em Porto

    Alegre Carla Simone RodegheroN. 166 Convivialidade e decrescimento Serge LatoucheN. 167 O impacto da plantao extensiva de eucalipto nas culturas tradicionais: Estudo de caso de So

    Luis do Paraitinga Marcelo Henrique Santos ToledoN. 168 O decrescimento e o sagrado Serge Latouche

    N. 169 A busca de um ethos planetrio Leonardo BoffN. 170 O salto mortal de Louk Hulsman e a desinstitucionalizao do ser: um convite ao abolicionismo

    Marco Antonio de Abreu ScapiniN. 171 Sub specie aeternitatis O uso do conceito de tempo como estratgia pedaggica de religao

    dos saberes Gerson Egas SeveroN. 172 Theodor