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Roger Chartier - a força das representações: história e ficção

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Chartier surpreende afinidades e contradições entre ordens discursivas muito diferentes, como o universo do manuscrito, o mundo da cultura impressa e a contemporaneidade da era digital. Nesse caso, o historiador mostra-se capaz de observar, na forma literária, indícios do contexto da produção, circulação e recepção. Por isso mesmo, o método de Chartier supõe o desenvolvimento de uma relação complexa entre discursos diversos.

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Chapecó, 2011

Roger ChartierA força das representações:

história e ficção

João Cezar de Castro Rocha (Org.)

Reitor: Odilon Luiz Poli Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Maria Luiza de Souza LajúsVice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Claudio Alcides Jacoski

Vice-Reitor de Administração: Sady Mazzioni

Diretor de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu: Ricardo Rezer

Catalogação elaborada por Caroline Miotto CRB 14/1178Biblioteca Central da Unochapecó

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

418.4 Roger Chartier – a força das representações: história e R723r ficção / João Cezar de Castro Rocha (Org.) – Chapecó, SC : Argos, 2011. 291 p. (Grandes Temas ; 13) ISBN: 978-85-7897-027-7 1. Chartier, Roger. 2. Leitura. 3. Leitura - História. I. Rocha, João Cezar de Castro. II. Título. CDD 418.4

Todos os direitos reservados à Argos Editora da Unochapecó

Av. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi – Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141(49) 3321 8218 – [email protected] – www.unochapeco.edu.br/argos

Conselho Editorial: Rosana Maria Badalotti (presidente), Carla Rosane Paz Arruda Teo (vice-presidente),

César da Silva Camargo, Érico Gonçalves de Assis, Maria Assunta Busato, Maria Luiza de Souza Lajús, Murilo Cesar Costelli, Ricardo Rezer,

Tania Mara Zancanaro Pieczkowski

Coordenadora: Maria Assunta Busato

Sumário

Apresentação: Roger Chartier e os estudos literários

PARTE IUma trajetória intelectual: livros, leituras, literaturas

Roger Chartier

Intervenção – debate do texto “Uma trajetória intelectual: livros, leituras, literaturas”

Carlinda Fragale Pate Nuñez

Romances e leitura na Inglaterra setecentistaSandra Guardini Vasconcelos

PARTE II O passado no presente. Ficção, história e memória

Roger Chartier

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As memórias do outro – debate do texto “O passado no presente. Ficção, história e memória”

Márcia Abreu

Leitura e materialidade da história da literaturaRegina Zilberman

PARTE III Materialidade e mobilidade dos textos.

Dom Quixote entre livros, festas e cenáriosRoger Chartier

Comentário ou três questões – debate do texto “Materialidade e mobilidade dos textos.

Dom Quixote entre livros, festas e cenários”Nelson Schapochnik

Machado de Assis – o texto impresso, as lacunas e a leitura João Cezar de Castro Rocha

Uma resposta aos impasses – a obra de Roger Chartier, a História Cultural e os estudos literários

André Luiz Barros da Silva

Apêndice:Aula Inaugural do Collège de France

Roger Chartier

Sobre os autores

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Apresentação: Roger Chartier e os estudos literários

João Cezar de Castro Rocha

Breve história de um encontro

Roger Chartier é professor no Collège de France, onde ocupa a cátedra Écrit et cultures dans l’Europe moderne.1 Além disso, é Directeur d’études na École des Hautes Études en Sciences Sociales e doutor honoris causa da Universidade Carlos III, de Madri, e da Universidade de Santiago do Chile. Entre seus diversos títulos, podemos citar alguns: Corresponding Fellow (British Academy); The Panizzi Lectures (British Library, Londres); Annenberg Visiting Professor (University of Pennsylvania); Marta Sutton Weeks Distinguished Visitor at the Humanities Center (Stanford University); Andrew D. White Professor-at-Large (Cornell University). Ele re-

1. Na página do Collège de France, o leitor pode encontrar informações dos cursos atualmente ministrados por Roger Chartier: <http://www.college-de-france.fr/default/EN/all/eur_mod/>. É possível também assistir a alguns de seus seminários, cujas gravações encontram-se disponíveis na página: <http://www.college-de-france.fr/default/EN/all/eur_mod/audio_video.jsp>.

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cebeu inúmeros prêmios, entre os quais, o “Annual Award of the American Printing History Association” (1990) e o “Prix Gobert” (Académie Française, 1992).

O trabalho de Roger Chartier, um dos mais destacados his-toriadores da atualidade, renovou o campo de estudos da história do livro. Isso sem mencionar suas contribuições fundamentais na discussão dos conceitos centrais de textualidade, autoria e lei-tura. Autor de uma obra tão numerosa quanto importante, tem seus livros traduzidos para diversos idiomas.2 Além disso, Roger Chartier mantém o programa Les Lundis de l’Histoire,3 na rádio France Culture. Historiador conhecido pelo rigor na consulta às fon-tes e pelo caráter meticuloso de suas pesquisas, Chartier também é capaz de dirigir-se a um público mais amplo, sem perder a mar-

2. Em português, destacam-se os seguintes títulos: À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002; Do palco à página: publicar teatro e ler romances na época moderna (séculos XVI-XVIII). Tradução de Bruno Feitler. Rio de Janeiro: Casa de Palavra, 2002; Os desafios da escrita. Tradução de Fulvia M. L. Moretto. São Paulo: Editora Unesp, 2002; Formas e sentido. Cultura escrita: entre distinção e apropriação. Tradução de Maria de Lourdes e Meirelles Matencio. Campinas: Associação de Leitura do Brasil e Mercado de Letras, 2003; Leituras e leitores na França do Antigo Regime. São Paulo: Editora Unesp, 2003; Inscrever e apagar: cultura escrita e literatura (séculos XI-XVIII). Tradução de Luzmara Curcino Ferreira. São Paulo: Editora Unesp, 2007; Origens culturais da Revolução Francesa. Tradução de George Schlesinger. São Paulo: Editora Unesp, 2008; A história ou a leitura do tempo. Tradução de Cristina Antunes. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

3. No momento, Roger Chartier é produtor do programa e apresenta-o uma vez por mês. Nas outras semanas, o programa é conduzido por Jacques Le Goff, Michelle Perrot e Philippe Levillain.

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ca que distingue seus livros: uma impecável erudição aliada a uma imaginação histórica nem sempre comum em sua área de estudos.

Aliás, foi o caráter propriamente transdisciplinar da obra de Roger Chartier que inspirou a ideia do “Colóquio Internacional Roger Chartier e os Estudos Literários”, realizado na Universida-de do Estado do Rio de Janeiro, em julho de 2007, no âmbito da Pós-Graduação em Letras. O objetivo do encontro era propor per-guntas estimulantes à obra do historiador francês. Afinal, como poucos, ele transformou nossa compreensão dos papéis históricos do autor, do texto e do ato de leitura. Tratava-se, então, de indagar sua obra a partir de pontos de vista característicos dos estudos literários.

Cruzando disciplinas

Contudo, reconheça-se de imediato que o próprio Chartier sempre demonstrou uma sensibilidade especial para as especifici-dades do discurso literário. Em sua vasta bibliografia, a literatura nunca é reduzida à mera função de documento, como se poderia esperar de uma historiografia de corte tradicional. Em suas pala-vras, “Este primeiro rumo de investigação [...] não deve de modo algum ser compreendido como uma redução do texto literário em documento [...]”.4 Por exemplo, através de finas análises, propria-

4. Chartier, Roger. Formas da oralidade e publicação impressa. In: ______. Do palco à página: publicar teatro e ler romances na época moderna (séculos XVI-XVII). Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2002. p. 23.

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mente literárias, de contos de Jorge Luis Borges – “El congreso”, “Utopía de un hombre que está cansado” e “El espejo y la másca-ra” – reunidos em Libro de arena, Chartier surpreende afinidades e contradições entre ordens discursivas muito diferentes, como o universo do manuscrito, o mundo da cultura impressa e a con-temporaneidade da era digital.5 Nesse caso, o historiador mostra-se capaz de observar, na forma literária, indícios do contexto da produção, circulação e recepção. Por isso mesmo, o método de Chartier supõe o desenvolvimento de uma relação complexa entre discursos diversos, relação que estimula o tipo de diálogo propos-to no “Colóquio Internacional” anteriormente aludido.

Em outras palavras, não se trata de insinuar que o historia-dor seja um ficcionista constrangido, mas de tornar o problema propriamente teórico. Aquela opção representaria precipitação semelhante à crença positivista na relação fiel de fatos, muito em-bora estivéssemos agora advogando a onipresença da ficcionali-dade: a mesma ingenuidade, ainda que em direção oposta.6 Em ambos os casos, faltaria uma reflexão mais cuidadosa que, sem deixar de anotar semelhanças, reconhecesse diferenças decisivas

5. Para a análise dos dois primeiros contos, ver “Línguas e leituras no mundo di-gital” (Os desafios da escrita. São Paulo: Editora Unesp, 2002. p. 11-32). Para o estudo de “El espejo y la máscara”, ver “Formas da oralidade e publicação impressa” (Do palco à página: publicar teatro e ler romances na época moderna (séculos XVI-XVII). Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2002. p. 13-42).

6. Luiz Costa Lima já demonstrou a ingenuidade dessa hipótese. Ver “Aproxima-ção de Jorge Luis Borges” (O fingidor e o censor. No Ancien Régime, no Ilumi-nismo e hoje. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1988. p. 257-306).

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entre as narrativas do historiador e do ficcionista.7 Reflexão, aliás, que Chartier soube pontuar em toda sua obra.

Nesse horizonte, vale recordar o trabalho de Reinhart Koselleck, pois, como ele anotou com agudeza, toda vez que o historiador ignora um fato ou o desdobramento de fatos bem-atestados, ele necessariamente recorre à ficção, a fim de articular hipóteses que busquem suprir a ausência de documentos. Koselleck problemati-zou assim a oposição simples, binária, entre res fictae e res factae, sugerindo que a análise dos sonhos pode constituir valiosa fonte de estudos para o historiador.8

No fundo, a hipótese inicial que orienta o trabalho do histo-riador, quando, pela primeira vez, encontra-se diante de uma mas-sa de documentos, não possui, ao menos parcialmente, o caráter de uma ficção a ser comprovada ou refutada pelos documentos a serem decodificados a partir da hipótese inicial? Contudo, como disse anteriormente, não se devem apagar as fronteiras entre as narrativas do historiador e do ficcionista, já que a mera busca de documentos que comprovem ou não as hipóteses esclarece a natu-reza diversa dos discursos.

Posso esclarecer essa breve reflexão através de obra que marcou época e merece ser recuperada para o debate contempo-

7. Para a valorização do estudo da narrativa como meio privilegiado para o aprofundamento do problema, ver: Riedel, Dirce Côrtes (Org.). Colóquio UERJ: narrativa – ficção e história. Rio de Janeiro: Imago, 1988. Ver ainda: Mitchell, W. J. T. (Org.). On Narrative. Chicago; London: The University of Chicago Press, 1981.

8. Koselleck, Reinhart. Futures Past: On the Semanties of Historical Time. Massachusetts: the MIT Press, 1985 [1979]. p. 216-218.

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râneo sobre as relações entre a história e a literatura.9 Refiro-me ao seminal Philosophie des Als Ob (A filosofia do “como se”). Nes-se fascinante livro, Hans Vaihinger já assinalara a diferença: en-quanto hipóteses devem ser empiricamente confirmadas, a fim de serem validadas, ficções são formas de articulação de ideias que dispensam ulterior confirmação.10 Em tal contexto, destaca-se a estratégia da “história contrafactual”, cuja operação supõe a incor-poração do “como se”, definidor da ficcionalidade, ao trabalho de reconstrução do passado.11

Ora, não é difícil compreender a origem do mal-entendido. Segundo a definição de Wolfgang Iser, tanto a narrativa do histo-riador quanto a do ficcionista empregam os dois procedimentos centrais dos atos de fingir, isto é, os atos de seleção de elementos do real e de combinação desses elementos num relato determina-do.12 Portanto, nenhuma narrativa se confunde com a realidade, constituindo-se somente numa imagem parcial dela. Vale dizer,

9. Devo mencionar o trabalho de Johannes Kretschmer sobre a obra de Hans Vaihinger, assim como sobre o processo de institucionalização da “filosofia do como se”. Kretschmer preparou uma edição crítica da obra, além de ofere-cer uma impecável tradução para o português. Devo a ele o acesso à obra de Vaihinger.

10 . Vaihinger, Hans. The Philosophy of ‘As if’. New York: Harwort, Brace & Company, 1925 [1911]. p. XXLI.

11. Ferguson, Niall (Org.). Towards a ‘Chaotic’ theory of the Past Virtual History: alternatives and counterfactuals. London: Basic Books, 1997. p. 1-90.

12. Iser, Wolfgang. O fictício e o imaginário: perspectivas de uma antropologia lite-rária. Tradução de Johannes Kretschmer. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1996. (Espe-cialmente capítulo I, p. 16-23).

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no tocante aos dois primeiros atos de construção de mundo,13 isto é, de escrita de um texto, o discurso do historiador e do romancis-ta coincidem mais do que se diferenciam.

Contudo, e esse ponto é fundamental, embora sejam negli-genciados com frequência, os textos ficcionais costumam exerci-tar o ato de fingir que estabelece a distinção básica entre as narra-tivas do historiador e as do ficcionista, qual seja, o desnudamento de sua ficcionalidade. Tal ato recorda a sutil distinção proposta por Vaihinger entre hipótese e ficção.14 Essa diferença implica outra fundamental, ou seja, a própria recepção dos textos, pois o pacto ficcional proposto pelo romancista, e aceito pelo leitor, tem como base a aceitação da verossimilhança interna à obra, em lugar da imposição de uma coerência externa a ela, teoricamente submissa ao que se pôde reconstruir de um momento histórico determina-do. O desnudamento da ficcionalidade do texto literário, portan-to, expressa a seu modo um convite à recepção, definindo um ato específico de leitura.

Pelo contrário, o discurso do historiador desenvolve proce-dimentos discursivos muito diferentes no que se refere ao desnu-damento da ficcionalidade. No caso do historiador, ao contrário do romancista, trata-se de disseminar ao longo do texto instâncias de legitimação extratextual. Um índice comum de institucionali-zação discursiva pode ser encontrado na presença dos seguintes

13. De fato, a obra de Nelson Goodman é importante no desenvolvimento da refle-xão de Wolfgang Iser. Ver, especialmente, de Goodman, Ways of Worldmaking (Indianapolis: Hackett, 1978).

14. Em relação ao desnudamento da ficcionalidade e sua relevância na reflexão de Wolfgang Iser, ver, na obra citada, especialmente, as páginas de 23 a 26.

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elementos: a) notas de rodapé; b) menções a autoridades na área de estudos; c) recurso à comprovação empírica de base documen-tal, sociológica, antropológica etc. Entenda-se: refiro-me ao de-sejo de contar com sólida base empírica, não à discussão de sua pertinência.

Anthony Grafton demonstrou como Leopold von Ranke cuidadosamente desenvolveu um aparato de legitimação da dis-ciplina História, cuja face mais visível foi fornecida pelas notas de rodapé, metonímia do novo método de comparação e análise das fontes primárias; método relacionado ao projeto de instituciona-lização dos estudos históricos: “Alguém se torna historiador [...] submetendo-se a um treinamento especializado. [...] Aprender a elaborar notas de rodapé compõe parte da moderna versão desse aprendizado”.15 Elaborar as notas é um exercício que também al-meja orientar o leitor, pois as instâncias extratextuais explicitam um ato de leitura particular, muito distante do gesto de leitura de um romance, uma novela ou um conto.

A recepção traz à cena o trabalho do historiador, na neces-sária reconstrução das condições concretas da produção do obje-to livro, de suas formas de circulação e dos atos de leitura parti-culares dominantes em momentos determinados. Nesse sentido, a obra do historiador revela-se fundamental para a renovação dos estudos literários no século XXI, ou seja, numa época marcada pelo domínio dos meios audiovisuais e digitais. Poucos historia-dores contribuíram mais do que Roger Chartier para o enten-

15. Grafton, Anthony. Footnote: a curious history. Cambridge; Massachusetts: Harvard University Press, 1997. p. 5.

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dimento tanto de transformações quanto de permanências nem sempre óbvias:

Insistir na importância que manteve o manuscrito após a in-venção de Gutenberg é uma forma de lembrar que as novas técnicas não apagam nem brutal nem totalmente os antigos usos, e que a era do texto eletrônico será ainda, e certamente por muito tempo, uma era do manuscrito e do impresso.16

Este volume Por isso mesmo, o diálogo sistemático da obra de Roger

Chartier com os estudos literários deve continuar e pode transfor-mar-se numa interlocução indispensável num momento histórico em que os professores de literatura precisam, literalmente, rein-ventar seu ofício. Afinal, nas palavras enfáticas de Chartier:

A tarefa é talvez urgente hoje em dia, justamente quando as práticas da escrita estão profundamente abaladas. As muta-ções do nosso presente transformam, simultaneamente, os ins-trumentos da escritura, a técnica de sua reprodução e de sua disseminação e as maneiras de ler. Tal simultaneidade é inédita na história da humanidade.17

16. Chartier, Roger. Morte ou transfiguração do leitor? In: ______. Os desafios da escrita. São Paulo: Editora Unesp, 2002. p. 8.

17. Chartier, Roger. Aula Inaugural do Collège de France. Ver, neste livro, p. 249.

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Neste livro, reunimos as três conferências lidas por Roger Chartier e os textos que foram apresentados no “Colóquio Inter-nacional Roger Chartier e os Estudos Literários”. Esperamos que o leitor encontre, no intercâmbio franco e fecundo, um modelo novo de diálogo tanto entre disciplinas quanto entre intelectuais de contextos culturais diversos. Destaque-se, aqui, a generosida-de intelectual de Roger Chartier: sua abertura para as propostas e sugestões que lhe foram feitas e sua agudeza nas respostas du-rante os debates representaram o ponto alto do “Colóquio Inter-nacional”.

Além disso, reproduzimos, no “apêndice”, a “Aula Inaugural do Collège de France”, proferida em 11 de outubro de 2007. Trata-se de ensaio particularmente importante, porque nele o leitor en-contrará a memória do percurso intelectual do historiador e a pro-jeção de suas futuras pesquisas. De igual modo, o primeiro texto, “Uma trajetória intelectual: livros, leituras, literaturas”, oferece ao leitor uma reconstrução semelhante de seus temas, métodos e de suas afinidades eletivas. A combinação desses dois textos equivale ao esboço da autobiografia intelectual de um pensador em plena atividade.

Trata-se, portanto, de um projeto cuja vitalidade pode ser atestada pelo diálogo que estrutura este livro, permitindo tanto vislumbrar futuros desdobramentos quanto reconstruir a genea-logia de campos disciplinares.

Afinal, em alguma medida, não deixamos de “escutar os mortos com os olhos”, como sugeriu Chartier em sua “Aula inau-gural”, retomando célebre verso de Quevedo. Recorde-se, pois, a primeira quadra do soneto:

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Retirado en la paz de estos desiertos,Con pocos, pero doctos libros juntos,Vivo en conversación con los difuntos,Y escucho con mis ojos a los muertos.18

No caso deste livro, desejamos aprofundar o diálogo que apenas principiamos no “Colóquio Internacional Roger Chartier e os Estudos Literários”. Trata-se, portanto, de uma pesquisa em curso, cuja vitalidade, em boa medida, dependerá da resposta do leitor.

18. Na primeira conferência do “Colóquio Internacional”, intitulada “Uma trajetória intelectual: livros, leituras, literaturas”, Roger Chartier também havia mencionado os versos de Quevedo. Ver, neste livro, p. 21. Antonio Carreira oferece uma excelente introdução aos problemas de edição textual desse soneto em “Quevedo y su elogio de la lectura” (La Perinola: Revista de investigación quevediana, n. 1, p. 87-100, 1997).

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Impressão e acabamento

Roger Chartier – a força das representações: história e ficção

João Cezar de Castro Rocha

Grandes Temas

Maria Assunta Busato

Alexsandro Stumpf

Neli Ferrari

Alexandra Fatima Lopes de Souza

Neli FerrariEduardo WeschenfelderLuana Paula BiazusRenan Klaus Alves de Souza

Alexsandro Stumpf

Alexsandro Stumpf

Caroline KirschnerSara Raquel Heffel

Araceli Pimentel Godinho

Carlos Pace DoriAraceli Pimentel GodinhoLúcia Lovato Leiria

16 X 23 cm

Minion Pro entre 10 e 14 pontos

Capa: Supremo 250 g/m2

Miolo: Pólen Soft 80 g/m2

291

800

junho de 2011

Gráfica e Editora Pallotti – Santa Maria (RS)

Argos Editora da Unochapecó

Sobre os autores

André Luiz Barros da Silva – Doutor em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pós-doutor em Letras Modernas pela Universidade de São Paulo (USP)/Fapesp. Especializado em literatura francesa dos séculos XVII e XVIII e nas relações interculturais daquela com a literatura brasileira. Professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Carlinda Fragale Pate Nuñez – Professora adjunta do Instituto de Letras e Procientista da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), além de pesquisadora do CNPq. Fez Doutorado em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 1991) e pós-doutorado na Albert-Ludwigs-Universität/Freiburg (1997). É autora de Electra ou uma constelação de sentidos (2000). Organizou vários livros, dentre os quais, com Francisco Venceslau dos Santos, O Intelectual, a literatura e o poder (Rio de Janeiro: Caetés, 2008) e, com Maria Conceição Monteiro, Traduzibilidades: a tradução em perspectiva (Rio de Janeiro: Caetés, 2009). Os ensaios mais recentes versam sobre figurações do imaginário e suas conexões com a filosofia da história e a geografia cultural.João Cezar de Castro Rocha – Professor de Literatura Comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Realizou seus estudos de pós-graduação no Brasil (UERJ), nos Estados Unidos (doutor em Literatura Comparada pela Stanford University) e na Alemanha

(pós-doutorado pela Alexander von Humboldt-Stiftung / Freie Universität Berlin). Autor de Crítica literária: em busca do tempo perdido? (Argos, 2011); Exercícios críticos – Leituras do contempo-râneo (Argos, 2008); O exílio do homem cordial. Ensaios e revisões (Editora do Museu da República, 2004); Literatura e cordialidade: o público e o privado na cultura brasileira (EdUERJ, 1998), livro que lhe rendeu o “Prêmio Mário de Andrade” (Biblioteca Nacional). Coautor de Evolution and Conversion (Continuum, 2008), com René Girard e Pierpaolo Antonello (edições em português, alemão, italiano, espanhol, polonês, japonês, coreano, tcheco e francês – Prix Aujourd’hui, 2004). Editor de mais de vinte livros, entre os quais a coleção Contos de Machado de Assis (6 volumes, Editora Record, 2008) e os volumes Anthropophagy Today? (Nuevo Texto Crítico 23/24, Stanford University, 1999); The Author as Plagiarist: The Case of Machado de Assis (Portuguese Literary & Cultural Studies, 13/14. Massachusetts: Center for Portuguese Studies and Culture, Dartmouth, 2006); Nenhum Brasil existe – pequena enciclopédia (Rio de Janeiro: Topbooks Editora, 2003). Recentemente, João Cezar de Castro Rocha ocupou a “Cátedra Eusebio Francisco Kino – Diálogo Fe-Cultura” (Universidad Iberoamericana – Guadalajara e Tijuana) e a “Cátedra Machado de Assis de Estudios Latinoamericanos” na Universidad del Claustro de Sor Juana / Embaixada do Brasil (Mé-xico). Recebeu o “Humboldt-Forschungsstipendium” (Alexander von Humboldt-Stiftung / Freie Universität Berlin 2005-2006). Entre outros títulos, foi “Hélio and Amélia Pedroso / Luso-American Foundation Endowed Chair in Portuguese Studies” (University of Massachusetts-Dartmouth – 2009); “Ministry of Culture Visiting Fellow” (University of Oxford, Centre for Brazilian Studies – 2004); “Tinker Visiting Professor” (University of Wisconsin, Madison –

2003); “Overseas Visiting Scholar” (Cambridge University, St John’s College – 2002); “John D. and Rose H. Jackson Fellow” (Yale Uni-versity, Beinecke Library – 2001).

Márcia Abreu – Professora livre-docente pelo Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. Durante muitos anos, dedicou-se ao estudo da literatura de folhetos nordestina, resultando daí sua tese de doutorado, posteriormente publicada no livro Histórias de Cordéis e Folhetos (Mercado de Letras/ALB, 1999). Tem realizado pesquisas na área de História do Livro e da Leitura, que originaram vários livros e artigos, dentre os quais, Leitura, História e História da Leitura (Mercado de Letras/ALB/FAPESP, 2000); Cultura letrada no Brasil: objetos e práticas (organizado com Nelson Schapochnik, Mercado de Letras/ALB/FAPESP, 2005); Os Caminhos dos livros (Mercado de Letras/ALB/FAPESP, 2003); Trajetórias do romance – circulação, leitura e escrita nos séculos XVIII e XIX (Mercado de Letras/Fapesp, 2008).

Nelson Schapochnik – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo e professor de Metodologia do Ensino de História na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Foi bolsista da Fapesp e da Fundação Calouste Gulbenkian. Autor de João do Rio: um dândi na Cafelândia (Boitempo, 2004); Cultura letrada no Brasil: objetos e práticas (organizado com Márcia Abreu, Mercado de Letras/ALB/Fapesp, 2005); Sobre as bibliotecas: de fato e de ficção (Ateliê, no prelo). Publicou ensaios e capítulos de livros sobre bibliotecas, livros e leitura.

Regina Zilberman – Professora adjunta do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutorou-se em Romanística pela Universidade de Heidelberg, Alemanha, e fez o pós-doutorado na Brown University, Estados Unidos. É doutora honoris causa pela Universidade Federal de Santa Maria. São publicações suas, entre outras, Estética da Recepção e História da Literatura; Fim do livro, fim dos leitores?; Como e por que ler a literatura infantil brasileira.

Roger Chartier – Professor no Collège de France na cátedra Écrit et cultures dans l’Europe modern. Directeur d’études na École des Hautes Études en Sciences Sociales. Entre seus inúmeros títulos, podemos mencionar “Corresponding Fellow” (British Academy); “Annenberg Visiting Professor” (University of Pennsylvania); “Marta Sutton Weeks Distinguished Visitor at the Humanities Center” (Stanford University); “Andrew D. White Professor-at-Large” (Cornell University). Recebeu o “Annual Award of the American Printing History Association” (1990) e o “Prix Gobert” (Académie Française, 1992). Autor de uma obra tão numerosa quanto importante, tem seus livros traduzidos para diversos idiomas. Em português, podemos destacar os seguintes títulos: À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude (2002); Do palco à página: publicar teatro e ler romances na época moderna (séculos XVI-XVIII) (2002); Os desafios da escrita (2002); Formas e sentido. Cultura escrita: entre distinção e apropriação (2003); Leituras e leitores na França do Antigo Regime (2003); Inscrever e apagar: cultura escrita e literatura (séculos XI-XVIII) (2007); Origens culturais da Revolução francesa (2008); A história ou a leitura do tempo (2009).

Sandra Guardini Vasconcelos – Professora titular de Literaturas de Língua Inglesa na Universidade de São Paulo, curadora do Fundo João Guimarães Rosa do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB, USP) e bolsista de Produtividade em Pesquisa (CNPq). Além de traduções e da organização de vários livros, tem artigos e capítulos de livros publicados no Brasil e no exterior e é autora de Puras misturas: estórias em Guimarães Rosa (Hucitec/Fapesp, 1997); Dez lições sobre o romance inglês do século XVIII (Boitempo, 2002); e A formação do romance inglês: ensaios teóricos (Hucitec/Fapesp, 2007) – Prêmio Jabuti de Teoria/Crítica Literária de 2008.

Este livro está à venda:

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