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1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA – ROTEIRO DA 1.ª AVALIAÇÃO 1.ª QUESTÃO. Flagrante policial é o registro de um crime no exato momento de sua ocorrência. Levantamentos estatísticos feitos nos EUA comprovam que o número de flagrantes de pedofilia homossexual é cinco vezes maior que o de pedofilia heterossexual. Esta estatística tem sido utilizada por grupos homofóbicos para apresentar a opção homossexual como essencialmente pedófila. Sabendo que as estatísticas estão corretas como você contestaria a conclusão dos homofóbicos utilizando apenas os elementos da assertiva desta questão e sua experiência como observador de atitudes preconceituosas no convívio social diário de nosso país? 2.ª QUESTÃO. Joaquim era mendigo e faturava R$ 1.000,00 por mês, gastando quase tudo com bebida. Nunca trabalhou. Mendigou durante 27 anos, morava nas ruas e morreu de alcoolismo crônico aos 47 anos. Antes disso se aposentou por invalidez aos 42 anos. Como Joaquim nunca teve carteira assinada nem desconto previdenciário na folha podemos concluir que exemplos como o de Joaquim constituem algumas das causas da crise financeira de nossa Previdência Social. Esta certa esta assertiva? Responda usando as seguintes informações: Contribuição social indireta sobre o preço das bebidas alcoólicas = 11% do valor de venda; Parcela destinada à Previdência Social = 60% da contribuição social indireta sobre o preço das bebidas alcoólicas; Taxa média de remuneração das aplicações em títulos da dívida pública durante o período de vida de Joaquim = 0,5% ao mês. 3.ª QUESTÃO - No modelo socialista de produção qual fator de produção está ausente? 4.ª QUESTÃO – Quais são as consequências de um sistema econômico com absoluta liberdade para empreender sem nenhum tipo de regulação sobre as atividades econômicas? 6.ª QUESTÃO – Quais são as consequências de um sistema econômico forçadamente igualitário decorrente de uma intervenção reguladora permanente do Estado para impedir o surgimento de desigualdades entre os agentes econômicos? 7.ª QUESTÃO – Qual é a solução proposta pelo pensador federalista americano Benjamin Franklin para o dilema do equilíbrio entre liberdades absolutas e igualdades forçadas? 8.ª QUESTÃO – Fatos sociais diferenciam-se dos fatos econômicos quando na apreciação de seus efeitos não se encontram valores monetários definidos. No entanto, mesmo que não se possa atribuir valor econômico a um fato social nada impede que seus desdobramentos futuros não possam ter consequências econômicas. Nos textos sobre “ RACIOCÍNIO ECONÔMICO E SISTEMA PRISIONAL” observam-se considerações analíticas sobre a validade das conclusões feitas pelos autores. Considerando o que está escrito podemos afirmar que nenhuma análise econômica é completamente conclusiva, isto é, as conclusões

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INTRODUÇÃO À ECONOMIA – ROTEIRO DA 1.ª AVALIAÇÃO

1.ª QUESTÃO. Flagrante policial é o registro de um crime no exato momento de sua

ocorrência. Levantamentos estatísticos feitos nos EUA comprovam que o número de flagrantes de pedofilia homossexual é cinco vezes maior que o de pedofilia heterossexual. Esta estatística tem sido utilizada por grupos homofóbicos para apresentar a opção homossexual como essencialmente pedófila. Sabendo que as estatísticas estão corretas como você contestaria a conclusão dos homofóbicos utilizando apenas os elementos da assertiva desta questão e sua experiência como observador de atitudes preconceituosas no

convívio social diário de nosso país?

2.ª QUESTÃO. Joaquim era mendigo e faturava R$ 1.000,00 por mês, gastando quase tudo com bebida. Nunca trabalhou. Mendigou durante 27 anos, morava nas ruas e morreu de

alcoolismo crônico aos 47 anos. Antes disso se aposentou por invalidez aos 42 anos. Como Joaquim nunca teve carteira assinada nem desconto previdenciário na folha podemos concluir que exemplos como o de Joaquim constituem algumas das causas da crise financeira de nossa Previdência Social. Esta certa esta assertiva?

Responda usando as seguintes informações:

Contribuição social indireta sobre o preço das bebidas alcoólicas = 11% do valor de venda;

Parcela destinada à Previdência Social = 60% da contribuição social indireta sobre o preço

das bebidas alcoólicas;

Taxa média de remuneração das aplicações em títulos da dívida pública durante o período de vida de Joaquim = 0,5% ao mês.

3.ª QUESTÃO - No modelo socialista de produção qual fator de produção está ausente?

4.ª QUESTÃO – Quais são as consequências de um sistema econômico com absoluta liberdade para empreender sem nenhum tipo de regulação sobre as atividades econômicas?

6.ª QUESTÃO – Quais são as consequências de um sistema econômico forçadamente igualitário decorrente de uma intervenção reguladora permanente do Estado para impedir o

surgimento de desigualdades entre os agentes econômicos?

7.ª QUESTÃO – Qual é a solução proposta pelo pensador federalista americano Benjamin

Franklin para o dilema do equilíbrio entre liberdades absolutas e igualdades forçadas?

8.ª QUESTÃO – Fatos sociais diferenciam-se dos fatos econômicos quando na apreciação

de seus efeitos não se encontram valores monetários definidos. No entanto, mesmo que não se possa atribuir valor econômico a um fato social nada impede que seus desdobramentos

futuros não possam ter consequências econômicas. Nos textos sobre “RACIOCÍNIO

ECONÔMICO E SISTEMA PRISIONAL” observam-se considerações analíticas sobre a validade das conclusões feitas pelos autores. Considerando o que está escrito podemos

afirmar que nenhuma análise econômica é completamente conclusiva, isto é, as conclusões

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sempre dependerão de contextos sociais, históricos, econômicos e mesmo de demográficos,

para a certificação de sua validade?

9.ª QUESTÃO – A principal conceituação de Ciência Econômica enfatiza a oposição entre as

necessidade humanas ilimitadas e os recursos escassos. Disserte sobre esse conceito enfatizando o papel da tecnologia na definição de escassez e da diferença essencial entre

necessidades e desejos.

10.ª QUESTÃO – A Economia tem dois objetivos fundamentais: a produção e a distribuição

de bens e serviços. Qual dos dois objetivos sofre mais influência do sistema político que circunda a economia de um país?

11.ª QUESTÃO – O raciocínio econômico aspira à lógica inerente das ciências da natureza.

Mas tal pretensão é obviamente impossível dado que a economia aplica-se ao universo social o qual não possui leis permanentes nem irrefutáveis. Sendo assim podemos dizer que a ciência econômica não nos fornece certezas, mas apenas tendências que auxiliam na obtenção de um processo decisório mais eficiente. Quando a ciência econômica enuncia normas ou procedimentos visando alcançar melhores resultados dizemos estar diante de sua

função normativa ou da sua função positiva?

12.ª QUESTÃO – Qual é a importância do conceito de custo de oportunidade para a

análise das opções e dos critérios de escolha no processo decisório econômico?

13.ª QUESTÃO – Qual é a importância da tecnologia para as análises que utilizam os

modelos das curvas de possibilidade de produção?

14.ª QUESTÃO – Todo processo decisório implica responder às questões fundamentais

inerentes ao problema. Tais questões fundamentais podem ser resumidas às expressões

QUEM, A QUEM, DE QUEM, QUÊ, QUANDO, QUANTO, ONDE e POR QUÊ. Numa economia de

livre mercado qual é a expressão menos relevante dentre as listadas acima?

15.ª QUESTÃO – Quais são os agentes de um sistema econômico?

16.ª QUESTÃO – O que diferencia os FLUXOS REAL do FLUXO NOMINAL num sistema

econômico?

17.ª QUESTÃO – Qual é a classificação básica dos BENS e SERVIÇOS?.

18.ª QUESTÃO – Descreva os SETORES da economia.

19.ª QUESTÃO – São possíveis ou viáveis SISTEMAS ECONÔMICOS ALTERNATIVOS ao

modelo vigente da ECONOMIA DE MERCADO?

20.ª QUESTÃO – É fato, estatisticamente relevante e comprovado em diversas medições,

que a escolaridade média do estudante negro brasileiro é, em média, dois anos inferior à do

estudante branco. Ante tal evidência matemática, incontestável em seus resultados

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aritméticos, podemos concluir que tal diferenciação decorre da existência de racismo no

Brasil?

21.ª QUESTÃO - O grande traço histórico definidor da sociedade brasileira é a

desigualdade.

As políticas públicas, segundo o economista americano Thomas Sowell e o jornalista

brasileiro Reinaldo Azevedo, deveriam ter como núcleo a independência do indivíduo na

condução de seu destino. Esta é a visão central do pensamento da chamada direita liberal.

Na leitura dos textos “A Grande Fuga” e “Crime e Castigo Dentro de Nós” são

analisadas as relevantes questões sociais da Educação e do Crime sob a ótica da

responsabilidade individual.

Em vista do exposto nesses textos, manifeste-se por APENAS UMA das três seguintes alternativas fundamentando a sua opinião:

a. ALTERNATIVA 1 - A coletividade sabe melhor que o indivíduo das soluções para o

progresso e redução das desigualdades;

b. ALTERNATIVA 2 - A coletividade nunca saberá mais que o indivíduo quanto às

soluções para o progresso e redução das desigualdades;

c. ALTERNATIVA 3 - O Estado, enquanto representante da coletividade, não tem como

saber do potencial de cada indivíduo, mas tem o poder de criar o ambiente propício ao desenvolvimento das potencialidades individuais.

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TEXTOS DE APOIO:

“A GRANDE FUGA”.

Escrito por Thomas Sowell, 8 de setembro de 2009.

Muitas das questões de nosso tempo são difíceis de entender sem que antes seja

entendida a visão de mundo de que fazem parte. Quer o assunto em particular seja educação,

economia ou cuidados médicos, a explicação preferida tende a ser uma explicação externa –

isto é, alguma coisa fora do controle dos indivíduos diretamente envolvidos.

A educação é normalmente discutida em termos do dinheiro gasto com ela, dos métodos

de ensino utilizados, do tamanho das turmas em sala de aula ou em termos de como o

sistema todo é organizado. Os estudantes, em grande medida, são discutidos apenas como

receptores passivos de boa ou má educação.

Mas educação não é algo que possa ser dado a qualquer um. É algo de que os estudantes

tomam posse ou não. A responsabilidade pessoal pode ser ignorada ou minimizada nesta

era “sem pré-julgamentos”, mas, não obstante, permanece um fator preponderante.

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Depois que muitos estudantes passam uma dúzia de anos em escolas públicas, a um custo

total de cem mil dólares ou mais por estudante – e delas saem semiletrados, com pouco

entendimento da sociedade em que vivem, e muito menos do mundo e de sua história – a

maioria das discussões sobre o que saiu errado deixa de fora o fato de que muitos desses

estudantes escolheram usar a escola para vadiar, comportar-se mal, organizar gangues, ou

mesmo para vender drogas.

A grande fuga de nossa época é a fuga da responsabilidade pessoal pelas consequências

dos próprios atos. Diferenças nas taxas de mortalidade provocam editoriais hipócritas sobre

a necessidade de mais cuidados pré-natais a serem oferecidos pelo governo a aqueles sem

recursos para isso. Em outras palavras, a explicação é automaticamente presumida como

algo externo às mães envolvidas e a solução é presumida como algo que “nós” devemos fazer

por “eles”.

Enquanto é verdade que as mães negras recebem menos cuidados pré-natais do que as

mães brancas e que a taxa de mortalidade infantil entre os negros seja maior, também é

verdade que as mulheres de ascendência mexicana igualmente recebem menos cuidados

pré-natais do que as mulheres brancas e, ainda assim, a mortalidade infantil desse grupo é

menor do que entre os brancos. Mas, uma vez que as pessoas detentoras da visão social

predominante vêem o primeiro conjunto de fatos, raramente procuram por quaisquer outros

fatos que possam ir contra a explicação que se encaixa em sua visão de mundo.

A confusão que resulta da falha em reconhecer que os americanos podem ter os

melhores cuidados médicos do mundo sem que tenham a melhor saúde ou a maior

longevidade – uma vez que tantas pessoas escolhem viver de maneira a encurtar suas vidas

–, não é uma parte pequena da grande confusão entre “assistência-saúde [health care]” e

cuidados médicos.

Pode haver consequências práticas de uma insistência dogmática em explicações

externas: explicações que permitem aos indivíduos escapar de sua responsabilidade pessoal.

Os americanos podem acabar arruinando o melhor sistema de cuidados médicos do mundo

na vã esperança de que uma estatização do sistema nos dará uma saúde melhor.

As questões econômicas são abordadas da mesma maneira. Pessoas com baixa renda são

vistas como um problema a ser resolvido por outras pessoas. Estudos que acompanham

os mesmos indivíduos ao longo do tempo demonstram que a vasta maioria dos trabalhadores

que estão no fundo dos 20% com menor renda, acaba subindo e saindo desse grupo.

Muitos são simplesmente iniciantes, sem experiência, que recebem ordenados de

iniciantes, mas cujos salários sobem à medida que adquirem mais habilidades e experiência.

No entanto, há uma pequena minoria de trabalhadores que não ascendem e um grande

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número de pessoas que raramente trabalha e que – surpresa! –, como resultado, tem baixa

renda.

Raramente há alguma ponderação no sentido de que as pessoas que escolhem

desperdiçar anos de seu próprio tempo (e o dinheiro dos contribuintes) na escola precisam

mudar o seu comportamento – ou então que sofram as consequências, de forma bem visível,

de modo a servir de alerta aos outros que depois deles vierem, para que estes não cometam

o mesmo erro.

Não é somente a ideologia do “sem pré-julgamento”, tão cara à intelligentsia, mas também

o interesse próprio de políticos que leva a tanta desconsideração pela responsabilidade

pessoal em favor de explicações externas e programas externos para “solucionar” o

“problema”.

CRIME E CASTIGO DENTRO DE NÓS.

REINALDO0 AZEVEDO.

"O endurecimento da legislação penal serve, sem dúvida, à diminuição da impunidade, para o que devem concorrer também as leis as mais objetivas, com aplicação severa.

Mas ninguém inventou ainda um instrumento útil que possa substituir a consciência individual".

"Só é criminoso quem quer; trata-se de uma escolha." Fiz essa afirmação no meu blog, em VEJA on-line, para escândalo de muitos. Os esquerdistas ficaram furiosos. Como sempre, falam antes e pensam depois. A esquerda, pouco importa o matiz, vive ainda no marxismo do século XIX. É incapaz de entender o homem como um ser dotado de vontade, apto a fazer opções, equipado para distinguir o bem do mal. Seu aparato analítico é fruto do naturalismo

do século retrasado, quando o pensamento foi dominado pelo determinismo científico.

Imaginou-se, então, que tudo o que fosse humano estava subordinado a um conjunto de variáveis alheias às vontades. Até a economia, se bem se lembram, se inseria numa seqüência mecânica, etapista, decidida no mundo das idéias. Ah, quem diria que Karl Marx (1818-1883), um materialista, era, de fato, um discípulo do pior platonismo!? Quem se debruçou sobre sua obra sabe disso: só resistia ao socialismo, "fantasma" (termo apropriado) que rondava a Europa, quem estava a contrapelo da marcha da civilização. Por

isso, os que combatiam o modelo não eram apenas conservadores de uma ordem moribunda (o capitalismo), mas reacionários. E não adiantava espernear: como se diz em má poesia, ninguém conseguiria impedir a chegada da primavera; no máximo, retardá-la. O socialismo

estava inscrito em nossa caminhada evolutiva. O "novo homem" era uma construção coletiva e um destino.

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A economia, a literatura, a psicologia, a sociologia, a antropologia, todo conhecimento,

enfim, à medida que cedia à crítica da razão idealista e aderia a uma suposta razão iluminista, buscava substituir o exame de consciência, estimulado pela fé cristã, por um conjunto de causalidades exteriores: o homem já não precisava mais se confessar à sua consciência ou a seu sacerdote: bastava que se justificasse no tribunal da história. Um contemporâneo de Marx, o escritor russo Fiodor Dostoievski (1821-1881), estava no limite dessas duas eras. Situa o homem na fronteira entre a racionalização que justifica o crime e a consciência que produz a culpa. Se não leram ainda, leiam um dia o romance Crime e Castigo. Juntamente com o personagem Raskolnikov, cometam um homicídio (de fato, dois) por razões até muito "justas". E percorram o calvário que conduz ao arrependimento e,

infelizmente no caso do romance, à redenção. Escrevo esse "infelizmente" porque o fim empobrece a obra, embora engrandeça a piedade que Dostoievski sentia de todos nós.

O que interessa em Raskolnikov? O sofrimento posterior ao crime não deriva da pressão social ou das dificuldades que encontra, na sociedade, por ser um assassino. O que lhe corrói a alma é sua consciência e, eu ousaria dizer, uma espécie de ancestralidade humanista que o

confronta com o horror, tema também de outro romance do escritor russo, Os Irmãos Karamazov. Nenhuma força é tão poderosa para conter a mão assassina quanto uma interdição que está além da ordem prática do mundo, de seu utilitarismo, das exigências pragmáticas. A isso chamamos "moral individual", que pode ou não ser influente, que pode ou não estar ligada a uma tradição cultural.

Atribui-se, aliás, a Dostoievski a frase: "Se Deus não existe, tudo é permitido". Mais ou menos. É bom contextualizar. Quem escreveu isso foi Sartre (1905-1980), em O Existencialismo É um Humanismo. No autor russo, há coisa parecida. Aliocha Karamazov, o santinho de Os Irmãos Karamazov, diz em tom de censura a Ivan, o intelectual ateu e verdadeiro cérebro do parricídio praticado por Smerdiakov (o quarto irmão é Dimitri): "Mas, se Deus não existe, então não há crime e não há pecado; tudo é permitido". A afirmação era feita em tom de censura. No Capítulo 9 do Livro 11, Ivan ouve a mesma afirmação, aí feita pelo diabo, que vem a ser a razão cínica que dilui qualquer postulado moral.

Por que Dostoievski está, a meu juízo, alguns degraus acima do que se produziu no século

XIX – talvez, vá lá, nem tanto como literatura, mas como indagação moral? Porque não se limitou a ser o cronista de uma crise de valores ou o apologista de um novo saber, como era a moda. Sua literatura só existe porque a moral religiosa sofria o assédio e o cerco da razão avassaladora, com seus instrumentos de medição científica, diante dos quais todo saber, considerado então convencional, era relativo e, para muitos, descartável. Raskolnikov e Ivan Karamazov, nesse sentido, são homens absolutamente modernos.

Quem me acompanhou até aqui deve imaginar qual é o fato público que está na origem

deste texto. Sim, é o assassinato brutal do menino João Hélio, no Rio de Janeiro. Àquele episódio, seguiu-se a retórica farisaica que tenta emprestar metáforas novas àquelas teses

do século retrasado: existiria uma ciência fora da consciência individual, privada, que explicaria o crime; estaríamos diante de fatores, todos eles sociais, que expropriariam dos

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assassinos a decisão de matar. O curioso é que a mesma esquerda que pretende fazer dos

facinorosos menores morais, incapazes de se decidir entre o bem e o mal, não se atreve a pedir que lhes seja cassado, por exemplo, o direito de voto. Quem não está equipado para escolher entre a vida e a morte deve exercer que outro direito de escolha?

Voltemos, então, um pouco no tempo: "Quando as leis forem fixas e literais, quando só confiarem ao magistrado a missão de examinar os atos dos cidadãos, para decidir se tais atos são conformes ou contrários à lei escrita; quando, enfim, a regra do justo e do injusto, que deve dirigir em todos os seus atos o ignorante e o homem instruído, não for um motivo

de controvérsia, mas simples questão de fato, então não mais se verão os cidadãos submetidos ao jugo de uma multidão de pequenos tiranos, tanto mais insuportáveis quanto

menor é a distância entre o opressor e o oprimido".

Trata-se de um trecho do Capítulo 4 de Dos Delitos e das Penas, do italiano Cesare Beccaria (1738-1794). É justamente o trecho da obra em que ele ataca o arbítrio dos juízes ao interpretar o "espírito da lei", o que abre espaço para toda sorte de subjetivismos. Notável pensador. Beccaria, que combateu a prática da tortura e do tratamento cruel aos presos,

não obstante, queria uma lei a mais objetiva, voltada à proteção dos que não eram criminosos. E explicava por quê: "Com leis penais executadas à letra, cada cidadão pode calcular exatamente os inconvenientes de uma ação reprovável; e isso é útil, porque tal conhecimento poderá desviá-lo do crime. Gozará com segurança de sua liberdade e dos seus

bens; e isso é justo, porque é esse o fim da reunião dos homens em sociedade".

As leis são manifestações do pacto que todos firmamos em sociedade. Mas jamais terão o poder de incutir uma moral, por mais tolerantes que sejam, a quem considera que tudo lhe é

permitido. Aquela crise que Dostoievski identificou no fim do século XIX, se quiserem saber, ainda é a nossa. O endurecimento da legislação penal serve, sem dúvida, à diminuição da impunidade, para o que devem concorrer também as leis as mais objetivas, com aplicação severa. Mas ninguém inventou ainda um instrumento útil que possa substituir a consciência individual. Eu, a exemplo de Aliocha, também considero que, se Deus não existe, então não há crime e não há pecado. E até concedo que possa haver uma outra religião, não revelada, mas construída, a que se possa chamar, talvez, de humanismo.

Pouco importa se é Deus o ente a nos indagar ou um outro valor igualmente constituído de respeito ao próximo e de tolerância. A verdade é que a lei será sempre impotente para conter a mão criminosa se houver algo em nossa consciência a dizer que tudo nos é permitido. Olhem à volta: o que é que lhes diz o mundo contemporâneo?

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22.ª QUESTÃO. Analise o gráfico e o texto explicativo abaixo e responda a questão a

seguir. A curva de Lorenz pode ser complementada com o Índice de Gini, o qual quantifica o

grau de concentração dos rendimentos.

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Pergunta-se: com base na figura abaixo demonstre, e usando exclusivamente os

recursos gráficos necessários, de que maneira o índice de Gini pode ser calculado,

mediante a construção de um coeficiente que chamaremos de G, situado no intervalo 0< G <1,

e que será medido pela relação entre as áreas alfa (α) e alfa mais beta (α +β) sabendo-se

que esta última área corresponde ao triângulo retângulo ABC?

23.ª QUESTÃO – Qual é a importância das instituições para o progresso econômico

continuado e sustentável?

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TEXTO DE APOIO

“A IMPORTÂNCIA DAS INSTITUIÇÕES PARA O PROGRESSO ECONÔMICO”

Richard Ebeling, terça-feira, 3 de setembro de 2013

No final dos anos 1980, quando o domínio do império soviético na Europa central começou a se esfacelar, surgiu uma premente questão política para a qual poucas pessoas

até então haviam dado atenção: como transformar economias socialistas em economias de

mercado plenamente operantes?

Quanto mais esta discussão ganhava atenção, mais pavoroso era constatar o quão pouco os economistas profissionais eram capazes de contribuir. Por exemplo, no encontro anual da American Economic Association, um considerável número de proeminentes economistas simplesmente admitiu não ter a mais mínima ideia de como criar a ordem institucional necessária para se estabelecer uma economia de mercado.

Na primeira metade do século XX, vários economistas se tornaram cada vez mais interessados em tentar fazer com que a economia se transformasse em uma disciplina "rigorosamente científica". Do ponto de vista destes economistas, tal objetivo requeria a

construção de modelos quantitativos, nos quais os indivíduos e suas ações eram reduzidos a meras "variáveis dependentes" dentro de uma série de equações matemáticas. O indivíduo

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se tornava uma simples variável passiva, a qual "reagia" a várias "limitações" que existiam

dentro da arena das trocas voluntárias. Neste cenário, as instituições políticas, jurídicas e econômicas ao redor deste indivíduo eram simplesmente um "pano de fundo" que servia como base para uma análise quantitativa sobre como as pessoas fazem suas escolhas de acordo com as limitações existentes.

Como estas instituições surgiram e se desenvolveram, e como as ideias e as ações dos indivíduos influenciaram e moldaram estas instituições ao longo do tempo, eram questões quase nunca discutidas.

No entanto, ao longo dos últimos 30 anos, desenvolveu-se um novo ramo da ciência

econômica chamado de Nova Economia Institucional, cujo objetivo principal é investigar exatamente a interação entre o indivíduo e as instituições sociais. Um dos principais contribuidores desta área é Douglass C. North, vencedor do Prêmio Nobel de economia em 1993 por seus trabalhos sobre a história econômica da Europa e dos EUA. Em seu livro Entendendo o Processo de Mudança Econômica, North explica a importância das instituições para o aprimoramento das condições humanas, e mostra as dificuldades de se desenvolver

teorias e implantar políticas voltadas para o melhoramento da sociedade.

North começa sua obra dando ênfase ao inquestionável fato de que o homem vive em um mundo repleto de incertezas e imprevisibilidades, realidade essa que, por si só, impossibilita toda e qualquer aplicação daqueles modelos matemáticos estáticos e

deterministas que dominam a esmagadora maioria dos manuais de economia. O "método científico" funciona maravilhosamente bem para permitir ao homem dominar as leis do mundo da física, mas possui severas limitações e falhas inerentes quando aplicado

indiscriminadamente à condição humana e ao comportamento humano.

O homem possui qualidades exclusivas que são singularmente distintas das características inerentes aos objetos de estudo da física e da química: criatividade e objetividade. O homem raciocina, imagina e planeja. Isso introduz um elemento de imprevisibilidade que não está presente no estudo da natureza inanimada. A ação humana simplesmente não está propensa a probabilidades estatísticas estáveis.

Adaptando alguns temas oriundos da psicologia cognitiva, North argumenta que o

homem está mais para um descobridor racional de padrões do que para um solucionador lógico de problemas. Em outras palavras, tudo indica que a mente humana evoluiu de tal maneira a estar sempre tentando observar uma ordem e uma relação entre coisas e eventos, mesmo quando tais fenômenos podem não estar lá. Como resultado deste comportamento mental, o homem está continuamente tentando estabelecer padrões e relações neste mundo, sempre com o intuito de alcançar inteligibilidade e um grau de certeza previsível.

Esta é a origem das crenças e ideias humanas a respeito de "como as coisas

funcionam", desde superstições primitivas até as mais complexas teorias sobre a natureza e o funcionamento da ordem social. Este sistema de crenças e ideias é transmitido de geração para geração, e vai sendo solidificado nos costumes, nas tradições e em outras instituições

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culturais. Consequentemente, a ordem institucional é o resultado cumulativo de gerações de

mentes que interagiram entre si.

As regras sob as quais os homens vivem, argumenta North, foram geradas pelos esforços do próprio homem em tentar reduzir suas incertezas sociais. Ao voluntariamente restringir suas próprias ações e as de seus conterrâneos por meio de normas, valores e procedimentos interativos que definem e determinam os códigos de conduta — bem como os fundamentos da legitimidade e da obediência —, o homem introduz graus de previsibilidade aos processos sociais e econômicos.

Algumas destas regras institucionais foram formalmente criadas por meio de códigos

jurídicos e políticos. Mas a grande maioria, se não a quase totalidade, é de regras informais que foram aprendidas e absorvidas em decorrência do simples fato de se nascer e viver dentro de uma determinada sociedade — regras estas que frequentemente não são explicitamente enunciadas.

A grande transformação observada na evolução sociocultural do homem, explica North, ocorreu quando as relações de troca evoluíram do pessoal para o impessoal: ou seja,

quando evoluíram da pequena tribo e suas relações face a face para um amplo mercado no qual homens separados pelo tempo e pelo espaço, e sem qualquer parentesco entre si, se tornaram crescentemente interligados por meio de transações monetárias.

Crenças e ideias sobre o que era justo, moral e correto começaram a se desenvolver

de uma maneira que tornou possível o desenvolvimento, ao longo dos séculos, das instituições hoje presentes nas modernas economias de mercado. North lista uma série destas mudanças históricas ocorridas na Europa Ocidental, especialmente no sistema

bancário, nos mecanismos de crédito (como notas promissórias, duplicatas ou letras de câmbio) e nos contratos comerciais, os quais prepararam o terreno para o crescimento econômico e o contínuo aumento da prosperidade no mundo ocidental observados nos últimos cinco séculos. Um maior respeito pela propriedade privada, a aceitação de uma relativamente irrestrita concorrência de mercado, um maior apreço pelas liberdades individuais sob os auspícios de leis imparciais, e a imposição de mais limites sobre o poder

tributário e regulatório dos governos fizeram com que as energias criativas dos homens em

geral e dos empreendedores em particular fossem totalmente liberadas.

No entanto, o fenômeno oposto também pode ocorrer, e North mostra toda a rigidez e corrupção que surgem quando crenças e ideias errôneas geram instituições que concedem poderes crescentes ao estado — seja em sua forma extrema, como na União Soviética, seja em sua forma mais suave, mas não menos danosa, como no moderno estado intervencionista, protecionista e assistencialista.

O dilema é que estas experiências históricas não garantem que as "lições" corretas

serão aprendidas. Como argumenta North, é comum haver muito "ruído" nos processos

históricos; nem sempre fica claro quais causas (mudanças institucionais ou políticas) geraram quais efeitos (mudanças no bem-estar econômico, inclusive em graus de liberdade). Adicionalmente, boa parte da informação e da interpretação sobre mudanças

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institucionais e políticas chega até a nós por meio de intermediários intelectuais que

possuem suas próprias agendas e ideologias, e que não compreendem o real funcionamento de determinados processos socioculturais.

O real perigo de tudo isso, alerta North, não está apenas no fato de que os vários países que jamais desenvolveram as corretas instituições de mercado possam fracassar neste objetivo; está também, e principalmente, no fato de que a liberdade e a prosperidade nunca estão garantidas para sempre em nenhuma sociedade. Em outras palavras, mesmo as sociedades mais bem sucedidas podem sofrer um retrocesso e se desintegrar,

degenerando-se na estagnação econômica e na tirania política — e tudo em decorrência da aceitação de ideias e crenças erradas, que geram mudanças institucionais fatais.

A correta compreensão do poder e da importância das instituições é essencial tanto para aquela população que queira evitar tragédias quanto para aquela que queira reverter várias políticas perigosas que estejam em curso.

Richard Ebeling leciona economia na Northwood University de Midland, Michigan, é

um scholar adjunto do Mises Institute e trabalha no departamento de pesquisa do American Institute for Economic Research.