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ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO PARA OS NOVOS TEMPOS EDITORIAL ANO 39 – Nº 282 – Julho/Agosto de 2015 agro Um bom negócio Um bom negócio

Rumos 282

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Revista Rumos - Julho/Agosto 2015

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agroUm bom negócio

Um bom negócio

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etor fundamental para o desenvolvimento econômico do país, o agronegócio brasileiro foi tema de um grande semi-nário realizado pela ABDE em Brasília e é a capa desta 282ª edição da revista Rumos. Em debate, a construção de uma agricultura sustentável, a internacionalização da agroindús-

tria brasileira e as dificuldades do financiamento da atividade agropecuá-ria, ainda que o crédito tenha se expandido de forma considerável nos últi-mos dez anos. Especialistas, produtores, agentes públicos e privados, organismos internacionais... um panorama completo sobre a realidade do setor e suas perspectivas para os próximos anos.

E já que o tema é o futuro, nossa seção Expertise conta com o econo-mista Gustavo Pimentel, especialista em sustentabilidade, que adianta as propostas que deverão ser discutidas, com a liderança do Brasil, na Cúpu-la sobre o Clima da ONU, em Paris, e fala sobre a relação dos investidores e das instituições financeiras com as empresas que adotam a agenda da sustentabilidade como prioritária para os novos negócios. Em diálogo, Laurent Duriez e Laure Schalchli contam sobre a experiência da Agência Francesa de Desenvolvimento no combate às mudanças climáticas, por meio da concessão do crédito verde. Está em nossa coluna Pelo Mundo.

Esta edição traz ainda um importante alerta da ministra do Desen-volvimento Social, Tereza Campello, sobre os riscos de retrocesso que hoje o país enfrenta; a história e casos de sucesso do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas, importante instrumento de apoio aos pequenos negócios do Sebrae, que está completando 20 anos; uma refle-xão sobre a situação grega e de toda a Europa neste momento de crise; e muito mais. Boa leitura!

SAO LEITOR

Seção

RUMOS – 3 – Julho/Agosto 2015

S SUMÁRIO

FOMENTO46

LIVROS48

18REFLEXÃOAndré Pimentel Melhoria de desempenho em tempos de crise

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EXPERTISE

Clima de mudança

REPORTAGEM38 Desenvolvimento socialA ameaçado retrocesso

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24ARTIGO

Para além de questões conjunturais: cenários 2030

Lavinia Barros de Castro

12OPINIÃO

Moral do referendoAntonio Delfim Netto

44PELO MUNDO

Desenvolvimento e agenda climática

Laurent Duriez e Laure Schalchli

22EXTREMO SUL

Nas telas do Brasil Audiovisual

20ARTIGO

Compromisso para gerarlucro socioambiental

Laura Rocha Santos

28Novo ciclo denegócios no campo

REPORTAGEM CAPADebate

Gustavo Pimentel

14ARTIGO

Transferência de tecnologia e ruptura do subdesenvolvimento

Tulio Chiarini

16ARTIGO

Cooperativismo financeiro brasileiro sob nova regulamentação

Ênio Meinen

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8EMPREENDER

História de sucesso Auxílio

36EM DIA

Os novos desafios do compliance no Brasil (parte 2 de 2)

Antonio Carlos A. Telles e Marcelo Coimbra

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RUMOS – 4 – Julho/Agosto 2015 RUMOS – 5 – Julho/Agosto 2015

odemos ter esperanças, acredita Gus-tavo Pimentel. Para o especialista, des-de o fracasso de Copenhague, em 2009, muita coisa mudou. Pimentel acredita que a Conferência do Clima já

vai contar com os resultados de um processo pelo qual os países vêm passando e que apresenta cer-to acúmulo. “Em 2009 vivíamos o momento mais crítico da última crise econômica mundial. Hoje, apesar de este problema não estar totalmente superado, pelo menos os bancos centrais dos paí-ses mais importantes não estão mais naquela situ-ação”, avalia. Para o especialista, a COP 21 já con-ta com uma massa crítica no que tange a alguns acordos bilaterais, com atores muito importantes na negociação, como Estados Unidos e China.

O economista também chama a atenção para o papel do Brasil nesta edição da Conferência, em que deverá ter um protagonismo maior. Isto por-que o chamado Draft Zero (Rascunho Zero), guia para o documento final da Conferência, deve ado-tar como referência a proposta feita pelo Ministé-rio do Meio Ambiente brasileiro para que a nego-ciação possa acontecer com base em um novo modelo: o dos “círculos concêntricos”.

A Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas será realizada entre 30 de novembro e 11 de dezembro deste ano em Paris e já tem presença confirmada de chefes de Estado das nações centrais, indicando que os temas ambientais passaram a ocupar um espaço realmente relevante na pauta mundial. No encontro, líderes globais devem assinar um novo compromisso para limitar o aumento da temperatura do planeta a 2ºC até 2100. É uma questão de sobrevivência, opina Gustavo Pimentel, economista e diretor da Sitawi – Finanças do Bem, consultoria que tem se dedicado a auxiliar as Instituições Financeiras de Desenvolvimento a elaborarem suas Políticas de Responsabilidade Socioambiental. Pimentel conversou com Rumos sobre o encontro mundial e sobre como as empresas brasileiras e o país vêm se posicionando em relação à agenda socioambiental. Ao contrário de momentos anteriores, a expectativa desta vez é positiva.

Por Ana Redig

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Gustavo Pimentel

A proposta divide os países em três grupos. No centro estão as 37 nações mais industrializadas. Estas, além de assumir metas para diminuir a emis-são de gases de efeito estufa, deverão, também, con-tribuir com o Fundo Global do Clima. No círculo seguinte estão os países emergentes, que devem esta-belecer metas de redução voluntárias e sujeitas a ajus-tes, no caso de mudanças significativas como aumento da população ou do PIB. No círculo mais amplo ficariam os países mais pobres, na maioria asiá-ticos e africanos, que seriam encorajados a adotar modos de produção sustentáveis a partir de estímu-los tecnológicos e financeiros.

A proposta visa estabelecer obrigações para todos os países, mas de forma diferenciada, e espera vencer a resistência de países emergentes como China e Índia, que têm contribuído nos últimos cinco anos para para-lisar as negociações. “Ao contrário do Protocolo de Kyoto, que estabelecia um percentual em relação a 1990, o modelo dos círculos concêntricos espera que, com o tempo, todos os países acabem por convergir para o círculo central. É mais fácil de observar a evolu-ção de cada país”, avalia o especialista.

O diretor da Sitawi acredita que a proposta deve ser bem recebida, uma vez que atualmente já existem

tribuir com o aquecimento global com a produção de gases de efeito estufa, ele também causa uma poluição local muito supe-rior a outras fontes. Com isso, os custos com saúde pública têm se tornado muito mais elevados, e isso tem sido percebido em outros países que também utilizam prioritariamente dessa fonte de energia. “Espera-se que esta questão de saúde obrigue a China a buscar soluções para este problema que é local, mas que vai acabar gerando consequências benéficas para o aqueci-mento global também”, aposta.

Segundo o especialista, o Brasil caminha para uma geração mais limpa. Nossa principal fonte de energia elétrica – a água –, ainda que finita e de gestão muitas vezes delicada, não é poluido-ra. Além disso, alternativas como a geração de energia eólica já decolaram. Para ele, nossa próxima fronteira a ser ultrapassada é a energia solar. Neste momento, o principal vilão é a eficiência. “Precisamos acelerar o processo de formulação de uma política, que caminha de forma bastante lenta no Ministério de Minas e Energia e outros órgãos reguladores”, avisa o economista.

Gustavo acredita que o Brasil está claramente fugindo de oferecer subsídios adotados em outros países, responsáveis por acelerar a implantação da energia solar. O país também não está dando a paridade de competitividade para a nova fon-te, principalmente no que tange à importação de equipamen-tos e às impressionantes tarifas de importação, exigidas para quase tudo.

Clima de mudança

players importantes um pouco mais dispostos a negociar e entendendo que os países em desenvolvimento não são todos iguais e, portanto, precisam ter responsabilidades diferencia-das. “Nos últimos seis anos o mundo evoluiu em várias frentes. Avançamos no que se refere a desenvolvimento tecnológico e várias energias renováveis se mostraram viáveis comercial-mente, mesmo sem subsídios”, afirma Pimentel. Ele diz que hoje há investidores com mais experiência em disponibilizar infraestrutura para energia verde, entre outros problemas e ati-vidades que tenham benefícios para as questões climáticas.

O especialista está otimista para a reunião. “Definitiva-mente estamos em uma posição melhor para sair de Paris com um acordo minimamente vinculante”, aposta. Sua maior preo-cupação é com a meta de limitar o aumento da temperatura da Terra a 2ºC até 2100, indicada pela ciência. “Possivelmente sai-rá um acordo sucinto, insuficiente para manter o aquecimento global neste patamar. Isso significa que ele terá que ser aprimo-rado, aos poucos, com novos compromissos em novas roda-das de negociação”, pondera Gustavo. Paris seria, assim, um marco a partir do qual será preciso aprofundar os compromis-sos, especialmente nos próximos cinco anos, caso contrário essa meta não será atingida.

“Vilões” na mira – Um dos maiores vilões das fontes de ener-gia é o carvão, cujo principal produtor é a China. Além de con-

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odemos ter esperanças, acredita Gus-tavo Pimentel. Para o especialista, des-de o fracasso de Copenhague, em 2009, muita coisa mudou. Pimentel acredita que a Conferência do Clima já

vai contar com os resultados de um processo pelo qual os países vêm passando e que apresenta cer-to acúmulo. “Em 2009 vivíamos o momento mais crítico da última crise econômica mundial. Hoje, apesar de este problema não estar totalmente superado, pelo menos os bancos centrais dos paí-ses mais importantes não estão mais naquela situ-ação”, avalia. Para o especialista, a COP 21 já con-ta com uma massa crítica no que tange a alguns acordos bilaterais, com atores muito importantes na negociação, como Estados Unidos e China.

O economista também chama a atenção para o papel do Brasil nesta edição da Conferência, em que deverá ter um protagonismo maior. Isto por-que o chamado Draft Zero (Rascunho Zero), guia para o documento final da Conferência, deve ado-tar como referência a proposta feita pelo Ministé-rio do Meio Ambiente brasileiro para que a nego-ciação possa acontecer com base em um novo modelo: o dos “círculos concêntricos”.

A Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas será realizada entre 30 de novembro e 11 de dezembro deste ano em Paris e já tem presença confirmada de chefes de Estado das nações centrais, indicando que os temas ambientais passaram a ocupar um espaço realmente relevante na pauta mundial. No encontro, líderes globais devem assinar um novo compromisso para limitar o aumento da temperatura do planeta a 2ºC até 2100. É uma questão de sobrevivência, opina Gustavo Pimentel, economista e diretor da Sitawi – Finanças do Bem, consultoria que tem se dedicado a auxiliar as Instituições Financeiras de Desenvolvimento a elaborarem suas Políticas de Responsabilidade Socioambiental. Pimentel conversou com Rumos sobre o encontro mundial e sobre como as empresas brasileiras e o país vêm se posicionando em relação à agenda socioambiental. Ao contrário de momentos anteriores, a expectativa desta vez é positiva.

Por Ana Redig

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Gustavo Pimentel

A proposta divide os países em três grupos. No centro estão as 37 nações mais industrializadas. Estas, além de assumir metas para diminuir a emis-são de gases de efeito estufa, deverão, também, con-tribuir com o Fundo Global do Clima. No círculo seguinte estão os países emergentes, que devem esta-belecer metas de redução voluntárias e sujeitas a ajus-tes, no caso de mudanças significativas como aumento da população ou do PIB. No círculo mais amplo ficariam os países mais pobres, na maioria asiá-ticos e africanos, que seriam encorajados a adotar modos de produção sustentáveis a partir de estímu-los tecnológicos e financeiros.

A proposta visa estabelecer obrigações para todos os países, mas de forma diferenciada, e espera vencer a resistência de países emergentes como China e Índia, que têm contribuído nos últimos cinco anos para para-lisar as negociações. “Ao contrário do Protocolo de Kyoto, que estabelecia um percentual em relação a 1990, o modelo dos círculos concêntricos espera que, com o tempo, todos os países acabem por convergir para o círculo central. É mais fácil de observar a evolu-ção de cada país”, avalia o especialista.

O diretor da Sitawi acredita que a proposta deve ser bem recebida, uma vez que atualmente já existem

tribuir com o aquecimento global com a produção de gases de efeito estufa, ele também causa uma poluição local muito supe-rior a outras fontes. Com isso, os custos com saúde pública têm se tornado muito mais elevados, e isso tem sido percebido em outros países que também utilizam prioritariamente dessa fonte de energia. “Espera-se que esta questão de saúde obrigue a China a buscar soluções para este problema que é local, mas que vai acabar gerando consequências benéficas para o aqueci-mento global também”, aposta.

Segundo o especialista, o Brasil caminha para uma geração mais limpa. Nossa principal fonte de energia elétrica – a água –, ainda que finita e de gestão muitas vezes delicada, não é poluido-ra. Além disso, alternativas como a geração de energia eólica já decolaram. Para ele, nossa próxima fronteira a ser ultrapassada é a energia solar. Neste momento, o principal vilão é a eficiência. “Precisamos acelerar o processo de formulação de uma política, que caminha de forma bastante lenta no Ministério de Minas e Energia e outros órgãos reguladores”, avisa o economista.

Gustavo acredita que o Brasil está claramente fugindo de oferecer subsídios adotados em outros países, responsáveis por acelerar a implantação da energia solar. O país também não está dando a paridade de competitividade para a nova fon-te, principalmente no que tange à importação de equipamen-tos e às impressionantes tarifas de importação, exigidas para quase tudo.

Clima de mudança

players importantes um pouco mais dispostos a negociar e entendendo que os países em desenvolvimento não são todos iguais e, portanto, precisam ter responsabilidades diferencia-das. “Nos últimos seis anos o mundo evoluiu em várias frentes. Avançamos no que se refere a desenvolvimento tecnológico e várias energias renováveis se mostraram viáveis comercial-mente, mesmo sem subsídios”, afirma Pimentel. Ele diz que hoje há investidores com mais experiência em disponibilizar infraestrutura para energia verde, entre outros problemas e ati-vidades que tenham benefícios para as questões climáticas.

O especialista está otimista para a reunião. “Definitiva-mente estamos em uma posição melhor para sair de Paris com um acordo minimamente vinculante”, aposta. Sua maior preo-cupação é com a meta de limitar o aumento da temperatura da Terra a 2ºC até 2100, indicada pela ciência. “Possivelmente sai-rá um acordo sucinto, insuficiente para manter o aquecimento global neste patamar. Isso significa que ele terá que ser aprimo-rado, aos poucos, com novos compromissos em novas roda-das de negociação”, pondera Gustavo. Paris seria, assim, um marco a partir do qual será preciso aprofundar os compromis-sos, especialmente nos próximos cinco anos, caso contrário essa meta não será atingida.

“Vilões” na mira – Um dos maiores vilões das fontes de ener-gia é o carvão, cujo principal produtor é a China. Além de con-

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Para ele, a chamada política de substituição de importações, que começou na década de 1950 e que, de fato, ajudou a industrializar o país, hoje atra-sa a adoção de algumas tecnologias mais avançadas nessas áreas, principalmente relacionadas à energia solar. Recentemente algumas medidas foram ado-tadas para fomentar este mercado no Brasil, princi-palmente através de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “No curto prazo, o banco aceita um índi-ce menor de nacionalização dos equipamentos e estabelece que, no futuro, aumentaria esse índice de nacionalização. Neste meio-tempo, espera-se que

uma cadeia de fornecedores, técnicos etc. possa se formar e estabelecer”, explica.

Políticas socioambientais – Não são apenas as empresas que emitem gases estufa que podem fazer a diferença nessa meta de redução do aquecimento global. No último dia 31 de julho chegou ao fim o prazo estabelecido pelo Banco Central para que todas as instituições financeiras brasileiras apresen-tassem uma política socioambiental com diretrizes até certo ponto operacionais. As instituições de maior porte já estavam em conformidade com a norma, mas ainda faltavam as pequenas e médias aderirem. “Acredito que todas enviaram seus planos, até porque a solicitação não exigiu a implementa-ção de nenhuma ação. Neste momento, este documento vai apenas dar uma ideia ao Banco Central daquilo que as institui-ções gostariam de implementar. Agora vai começar a parte mais interessante, pois todos terão que desenvolver e apre-sentar um plano de ação das suas políticas, ferramentas e roti-nas, e o BC vai precisar começar a fiscalização”, espera Gusta-vo Pimentel, que atuou como consultor junto à Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e ao Banco Intera-mericano de Desenvolvimento (BID) para apoiar as Institui-ções Financeiras de Desenvolvimento do país a construírem suas políticas.

O especialista observa que a resistência inicial das empresas em relação a questões socioambientais já foi superada. Segundo o economista, as instituições financeiras, especialmente as de grande porte e as que já lidavam com recursos de instituições de desenvolvimento internacionais ou multilaterais, evoluíram mui-to nos últimos dez anos. Mas o sistema precisava avançar para englobar, também, as empresas de médio e pequeno porte, para as quais o tema ainda era novidade. “Encontramos uma ótima receptividade por parte das agências de fomento com as quais trabalhamos e tivemos algumas boas surpresas. Observamos que, em muitas delas, pelo fato de buscarem o desenvolvimento social e econômico, de alguma maneira já têm no seu DNA este interesse pelo tema. Então a grande novidade foi inserir de maneira formal a questão social e ambiental, pois o entendi-mento já estava internalizado”, avalia o consultor.

Gustavo Pimentel acredita que a legislação básica no Bra-sil, tanto social como ambiental, já seja suficiente. “O que

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geralmente acontece com a legislação é que ela é complexa e tem a sua fiscalização certamente errática. Como outras coisas no Brasil, até o passado é incerto”, brinca. O que ele quer dizer é que regras já pactuadas podem ser reinterpretadas pelos órgãos fiscalizadores. “Às vezes, encontra-se um nível de dis-cricionariedade do fiscalizador que acaba por gerar uma inse-gurança jurídica nos agentes”, critica.

A grande vantagem deste processo do Banco Central em trabalhar com as instituições financeiras é que elas vão desen-volver capacidades para entender essa complexidade da legis-lação socioambiental e essa ambiguidade da fiscalização. Des-ta forma, ficarão aptas a se protegerem melhor dos riscos e apoiar seus clientes para que eles também melhorem a imple-mentação dessas práticas que, em muitos casos, trata-se ape-nas de cumprir a legislação.

Cenário nacional – O diretor da Sitawi avisa que as empresas brasileiras estão expostas a uma legislação relativamente avan-çada do ponto de vista social e ambiental. Para o especialista, as empresas de grande e médio porte estão relativamente bem, se comparadas ao cenário internacional. “Temos poucas empre-sas que cometem as piores atrocidades se comparamos a outras do mesmo porte e do mesmo setor em outros países emergentes. No Brasil também temos um nível de transparên-cia bastante razoável nas empresas de capital aberto”, afirma Gustavo Pimentel.

Como consultor, o economista identifica um processo semelhante em companhias de todos os tipos e portes. Segun-do ele, geralmente tudo começa com uma liderança. Um CEO ou acionistas que enxergam no tema socioambiental uma importância e um ativo. A partir disso, desenvolve-se um tra-balho com institutos ou associações empresariais, que também têm interesse em impulsionar a agenda socioambiental.

“Eventualmente os reguladores do mercado acabam absorvendo algumas dessas normas como autorregulamenta-ção e passam a sugerir instrumentos e até mesmo demandar práticas mais específicas às empresas”, observa. Este é o caso do Relate ou Explique, iniciativa lançada em 2012 pela BM&F Bovespa, que passou a recomendar que as empresas listadas passassem a indicar em seu Formulário de Referência se publi-cam Relatórios de Sustentabilidade ou Integrado e onde está disponível. Em caso negativo, elas devem explicar por que não o fazem. “Somente esta recomendação, sem obrigatoriedade, já foi suficiente para crescer o número de empresas de capital aberto listadas em Bolsa que passam a reportar questões socio-ambientais”, observa Gustavo.

O economista esclarece que este é um processo que se retroalimenta. Quanto mais CEOs e presidentes de conselho existem com esta visão, mais acionistas – sejam eles investido-res, fundos de pensão ou grandes account managements – passam a enxergar melhor essas práticas, pois elas protegem o valor dos seus investimentos. Isso estimula que mais CEOs incluam essas práticas em suas estratégias, criando um círculo virtuoso.

“Como a Sitawi acompanha muito de perto o movimento

dos financiadores e investidores, que é o nosso foco, podemos afirmar que os bancos têm tido um papel muito importante em relação aos financiamentos, sendo mais restritivos no que tan-ge ao cumprimento de legislação das empresas e até deman-dando algumas boas práticas internacionais, dependendo do porte da empresa e do porte do projeto a ser financiado”, ava-lia Pimentel. Isso tem acontecido, segundo o especialista, por-que os bancos passaram a entender que esta adequação é posi-tiva, pois diminui o risco do crédito e também o risco de repu-tação. “Este movimento aconteceu internacionalmente e aqui no Brasil também. Agora a tendência é que ele se difunda mais com a resolução do Banco Central”, aposta.

Pelo lado dos investidores, acontece um movimento seme-lhante. O especialista explica que existem dois perfis de inves-tidor. Um tem uma abordagem de pré-investimento, ou seja, considera questões socioambientais antes de decidir se com-pra ações da empresa A ou B. O segundo perfil é do investidor que, uma vez compradas as ações, usa seu papel de acionista para implementar boas práticas naquela empresa. “Este é o que chamamos de investidor responsável. Ele utiliza a prática do engajamento para, como acionista, solicitar acesso aos ges-tores com o objetivo de levar uma agenda socioambiental para a empresa, entendendo que assim ela possa melhorar”, explica, alertando que em alguns casos, quando o diálogo não funcio-na, os investidores partem para o ativismo, utilizando o poder de acionista nas assembleias gerais e votando contra os execu-tivos da empresa.

Este movimento, mais comum nos Estados Unidos, tem acontecido especialmente em relação a empresas de combustí-veis fósseis, vis-à-vis a questão do clima. Pimentel destaca que existe uma grande campanha de investidores responsáveis demandando que essas empresas apresentem planos ou mode-los de negócio alternativos à exploração de combustíveis fós-

seis, ou pelo menos mostrem que não vão se engajar com car-vão ou outros tipos de combustíveis não convencionais, que seriam os primeiros a serem deixados de lado em um mundo que pretende realmente fechar um acordo sobre o clima.

Atualmente a Sitawi e seus consultores estão envolvidos com a agenda dos greenbonds – títulos de dívidas verdes. Estes títulos podem ser debêntures, notas promissórias, cédulas de crédito bancário, cédulas imobiliárias, ou seja, podem ter qual-quer roupagem de títulos de dívida existentes no Brasil, desde que seu emissor assuma um compromisso de que os recursos captados serão investidos em ativos verdes ou com benefícios claros para o clima. “A Sitawi está muito empenhada em fomentar esse instrumento no Brasil. Não é necessário nenhum incentivo regulatório, já que não estamos pedindo benefícios fiscais para os títulos. Não se trata disso, mas sim apenas de desenvolver certo ecossistema para que ele possa acontecer”, explica. Para tanto, existe todo um setor que preci-sa ser formado: os potenciais emissores, as empresas que tenham projetos e/ou ativos verdes precisam conhecer o ins-trumento, os investidores brasileiros precisam conhecer e sina-lizar que estão interessados em comprar esses títulos de dívida, os bancos de investimento precisam conhecê-lo para fazer a estruturação e depois poder ajudar seus clientes a emitirem, as agências de rating também precisam entendê-los para que sejam considerados, entre outros.

Em dezembro de 2014, a consultoria realizou o primeiro fórum de greenbonds no Brasil e em outubro devem realizar outro em São Paulo, especificamente focado em empresas que tenham este potencial. “Traremos parceiros ingleses da ONG The Climate Bonds Iniciative, principal ator global que moni-tora e divulga esse conceito mundialmente, para uma série de eventos. Estamos muito animados com o futuro desse instru-mento no Brasil”, completa Gustavo Pimentel.

Gustavo Pimentel

A diminuição da emissão de gases do efeito estufa é considerado um dos objetivos centrais para a melhoria das condições de vida no planeta, especialmente nas grandes metrópoles

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Para ele, a chamada política de substituição de importações, que começou na década de 1950 e que, de fato, ajudou a industrializar o país, hoje atra-sa a adoção de algumas tecnologias mais avançadas nessas áreas, principalmente relacionadas à energia solar. Recentemente algumas medidas foram ado-tadas para fomentar este mercado no Brasil, princi-palmente através de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “No curto prazo, o banco aceita um índi-ce menor de nacionalização dos equipamentos e estabelece que, no futuro, aumentaria esse índice de nacionalização. Neste meio-tempo, espera-se que

uma cadeia de fornecedores, técnicos etc. possa se formar e estabelecer”, explica.

Políticas socioambientais – Não são apenas as empresas que emitem gases estufa que podem fazer a diferença nessa meta de redução do aquecimento global. No último dia 31 de julho chegou ao fim o prazo estabelecido pelo Banco Central para que todas as instituições financeiras brasileiras apresen-tassem uma política socioambiental com diretrizes até certo ponto operacionais. As instituições de maior porte já estavam em conformidade com a norma, mas ainda faltavam as pequenas e médias aderirem. “Acredito que todas enviaram seus planos, até porque a solicitação não exigiu a implementa-ção de nenhuma ação. Neste momento, este documento vai apenas dar uma ideia ao Banco Central daquilo que as institui-ções gostariam de implementar. Agora vai começar a parte mais interessante, pois todos terão que desenvolver e apre-sentar um plano de ação das suas políticas, ferramentas e roti-nas, e o BC vai precisar começar a fiscalização”, espera Gusta-vo Pimentel, que atuou como consultor junto à Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e ao Banco Intera-mericano de Desenvolvimento (BID) para apoiar as Institui-ções Financeiras de Desenvolvimento do país a construírem suas políticas.

O especialista observa que a resistência inicial das empresas em relação a questões socioambientais já foi superada. Segundo o economista, as instituições financeiras, especialmente as de grande porte e as que já lidavam com recursos de instituições de desenvolvimento internacionais ou multilaterais, evoluíram mui-to nos últimos dez anos. Mas o sistema precisava avançar para englobar, também, as empresas de médio e pequeno porte, para as quais o tema ainda era novidade. “Encontramos uma ótima receptividade por parte das agências de fomento com as quais trabalhamos e tivemos algumas boas surpresas. Observamos que, em muitas delas, pelo fato de buscarem o desenvolvimento social e econômico, de alguma maneira já têm no seu DNA este interesse pelo tema. Então a grande novidade foi inserir de maneira formal a questão social e ambiental, pois o entendi-mento já estava internalizado”, avalia o consultor.

Gustavo Pimentel acredita que a legislação básica no Bra-sil, tanto social como ambiental, já seja suficiente. “O que

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geralmente acontece com a legislação é que ela é complexa e tem a sua fiscalização certamente errática. Como outras coisas no Brasil, até o passado é incerto”, brinca. O que ele quer dizer é que regras já pactuadas podem ser reinterpretadas pelos órgãos fiscalizadores. “Às vezes, encontra-se um nível de dis-cricionariedade do fiscalizador que acaba por gerar uma inse-gurança jurídica nos agentes”, critica.

A grande vantagem deste processo do Banco Central em trabalhar com as instituições financeiras é que elas vão desen-volver capacidades para entender essa complexidade da legis-lação socioambiental e essa ambiguidade da fiscalização. Des-ta forma, ficarão aptas a se protegerem melhor dos riscos e apoiar seus clientes para que eles também melhorem a imple-mentação dessas práticas que, em muitos casos, trata-se ape-nas de cumprir a legislação.

Cenário nacional – O diretor da Sitawi avisa que as empresas brasileiras estão expostas a uma legislação relativamente avan-çada do ponto de vista social e ambiental. Para o especialista, as empresas de grande e médio porte estão relativamente bem, se comparadas ao cenário internacional. “Temos poucas empre-sas que cometem as piores atrocidades se comparamos a outras do mesmo porte e do mesmo setor em outros países emergentes. No Brasil também temos um nível de transparên-cia bastante razoável nas empresas de capital aberto”, afirma Gustavo Pimentel.

Como consultor, o economista identifica um processo semelhante em companhias de todos os tipos e portes. Segun-do ele, geralmente tudo começa com uma liderança. Um CEO ou acionistas que enxergam no tema socioambiental uma importância e um ativo. A partir disso, desenvolve-se um tra-balho com institutos ou associações empresariais, que também têm interesse em impulsionar a agenda socioambiental.

“Eventualmente os reguladores do mercado acabam absorvendo algumas dessas normas como autorregulamenta-ção e passam a sugerir instrumentos e até mesmo demandar práticas mais específicas às empresas”, observa. Este é o caso do Relate ou Explique, iniciativa lançada em 2012 pela BM&F Bovespa, que passou a recomendar que as empresas listadas passassem a indicar em seu Formulário de Referência se publi-cam Relatórios de Sustentabilidade ou Integrado e onde está disponível. Em caso negativo, elas devem explicar por que não o fazem. “Somente esta recomendação, sem obrigatoriedade, já foi suficiente para crescer o número de empresas de capital aberto listadas em Bolsa que passam a reportar questões socio-ambientais”, observa Gustavo.

O economista esclarece que este é um processo que se retroalimenta. Quanto mais CEOs e presidentes de conselho existem com esta visão, mais acionistas – sejam eles investido-res, fundos de pensão ou grandes account managements – passam a enxergar melhor essas práticas, pois elas protegem o valor dos seus investimentos. Isso estimula que mais CEOs incluam essas práticas em suas estratégias, criando um círculo virtuoso.

“Como a Sitawi acompanha muito de perto o movimento

dos financiadores e investidores, que é o nosso foco, podemos afirmar que os bancos têm tido um papel muito importante em relação aos financiamentos, sendo mais restritivos no que tan-ge ao cumprimento de legislação das empresas e até deman-dando algumas boas práticas internacionais, dependendo do porte da empresa e do porte do projeto a ser financiado”, ava-lia Pimentel. Isso tem acontecido, segundo o especialista, por-que os bancos passaram a entender que esta adequação é posi-tiva, pois diminui o risco do crédito e também o risco de repu-tação. “Este movimento aconteceu internacionalmente e aqui no Brasil também. Agora a tendência é que ele se difunda mais com a resolução do Banco Central”, aposta.

Pelo lado dos investidores, acontece um movimento seme-lhante. O especialista explica que existem dois perfis de inves-tidor. Um tem uma abordagem de pré-investimento, ou seja, considera questões socioambientais antes de decidir se com-pra ações da empresa A ou B. O segundo perfil é do investidor que, uma vez compradas as ações, usa seu papel de acionista para implementar boas práticas naquela empresa. “Este é o que chamamos de investidor responsável. Ele utiliza a prática do engajamento para, como acionista, solicitar acesso aos ges-tores com o objetivo de levar uma agenda socioambiental para a empresa, entendendo que assim ela possa melhorar”, explica, alertando que em alguns casos, quando o diálogo não funcio-na, os investidores partem para o ativismo, utilizando o poder de acionista nas assembleias gerais e votando contra os execu-tivos da empresa.

Este movimento, mais comum nos Estados Unidos, tem acontecido especialmente em relação a empresas de combustí-veis fósseis, vis-à-vis a questão do clima. Pimentel destaca que existe uma grande campanha de investidores responsáveis demandando que essas empresas apresentem planos ou mode-los de negócio alternativos à exploração de combustíveis fós-

seis, ou pelo menos mostrem que não vão se engajar com car-vão ou outros tipos de combustíveis não convencionais, que seriam os primeiros a serem deixados de lado em um mundo que pretende realmente fechar um acordo sobre o clima.

Atualmente a Sitawi e seus consultores estão envolvidos com a agenda dos greenbonds – títulos de dívidas verdes. Estes títulos podem ser debêntures, notas promissórias, cédulas de crédito bancário, cédulas imobiliárias, ou seja, podem ter qual-quer roupagem de títulos de dívida existentes no Brasil, desde que seu emissor assuma um compromisso de que os recursos captados serão investidos em ativos verdes ou com benefícios claros para o clima. “A Sitawi está muito empenhada em fomentar esse instrumento no Brasil. Não é necessário nenhum incentivo regulatório, já que não estamos pedindo benefícios fiscais para os títulos. Não se trata disso, mas sim apenas de desenvolver certo ecossistema para que ele possa acontecer”, explica. Para tanto, existe todo um setor que preci-sa ser formado: os potenciais emissores, as empresas que tenham projetos e/ou ativos verdes precisam conhecer o ins-trumento, os investidores brasileiros precisam conhecer e sina-lizar que estão interessados em comprar esses títulos de dívida, os bancos de investimento precisam conhecê-lo para fazer a estruturação e depois poder ajudar seus clientes a emitirem, as agências de rating também precisam entendê-los para que sejam considerados, entre outros.

Em dezembro de 2014, a consultoria realizou o primeiro fórum de greenbonds no Brasil e em outubro devem realizar outro em São Paulo, especificamente focado em empresas que tenham este potencial. “Traremos parceiros ingleses da ONG The Climate Bonds Iniciative, principal ator global que moni-tora e divulga esse conceito mundialmente, para uma série de eventos. Estamos muito animados com o futuro desse instru-mento no Brasil”, completa Gustavo Pimentel.

Gustavo Pimentel

A diminuição da emissão de gases do efeito estufa é considerado um dos objetivos centrais para a melhoria das condições de vida no planeta, especialmente nas grandes metrópoles

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Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), administrado pelo Sebrae, está com-pletando 20 anos de uma história de sucesso. Desde que foi criado, em 1995, o fundo acumula a contratação de 266.422 operações de garantia a

pequenos negócios. Foram R$ 8,18 bilhões em avais, que via-bilizaram R$ 11,25 bilhões em financiamentos e permitiram a empreendedores do segmento instalar, ampliar ou moderni-zar seus negócios. Em junho passado, o Fampe contabilizava 117.783 contratos ativos, representando R$ 3,63 bilhões em financiamentos e R$ 2,52 bilhões em avais.

O Fampe nasceu para atender a uma necessidade do seg-mento de micro e pequenas empresas, que, pela natureza e dimensão dos empreendimentos, enfrenta dificuldade para fornecer as garantias requeridas pelo sistema bancário na con-cessão de financiamentos de médio e longo prazos – especi-almente garantias reais baseadas em patrimônio, como imó-veis e bens de alto valor.

A diretora-técnica do Sebrae, Heloisa Menezes, relata que na rede de atendi-mento da instituição são comuns os re la tos de empresários que demons-tram conhecimento do mer-cado em que atuam há anos, possuem parte do capital financeiro para investir, não têm restrições cadastrais e se encontram em condi-ções de assumir prestações mensais que se encaixam em seu fluxo de caixa, mas, por falta de garantias, dei-xam de contratar recursos em condições atraentes e de baixo custo.

Nessa situação, muitos optam por utilizar emprésti-mos de curto prazo para a aquisição de ativos fixos, como máquinas e equipa-mentos. “Essa escolha

sobrecarrega o fluxo de caixa e pode comprometer a situação da empresa. Não é bom nem para o pequeno negócio nem para o banco, pois incorre em aumento do risco de crédito”, diz a diretora.

Sistemas de garantia de crédito, como os fundos de aval, têm o objetivo de permitir às empresas acesso a financiamen-tos adequados, de acordo com um conjunto de regras que bus-cam reduzir o risco de crédito perante as instituições financei-ras. Desse modo, são úteis tanto para o tomador quanto para o emprestador de recursos. E, ao viabilizar financiamentos que, de outra maneira, não seriam realizados, têm papel posi-tivo também para todo o sistema econômico, observa Heloi-sa Menezes, contribuindo para a expansão da atividade pro-dutiva, a criação de empregos e a geração de renda.

O propósito do Fampe é completar as exigências bancá-rias relacionadas a garantias. O fundo cobre até 80% do valor da operação, por proponente, observados certos limi-

tes conforme a finalida-de do crédito – investi-mento, capital de giro, pré-exportação, desen-volvimento tecnológi-co e inovação – e a característica do toma-dor – microempreende-dor individual, micro-empresa ou empresa de pequeno porte (EPP).

O m o n t a n t e d a garantia pode chegar a R$ 700 mil, no caso, por exemplo, de empresas de pequeno porte (fatura-mento de até R$ 3,6 milhões por ano) e de fi n a n c i a m e n t o s d e investimento em desen-volvimento tecnológico e inovação. Em média, no entanto, as operações ficam abaixo disso.

Os recursos do fun-do vêm de dotação do

RUMOS – 9 – Julho/Agosto 2015

não pode ser executada e, com isso, não há expansão do negó-cio nem ampliação do mercado”, enfatiza.

Acompanhamento – Embora a empresa não seja obrigada a contratar consultoria do Sebrae, é papel da instituição, por meio das unidades estaduais, buscar o acompanhamento dos pequenos negócios que utilizam o fundo, tornando disponí-veis aos empreendedores programas de assessoria técnica e de gestão, mediante a oferta de soluções já existentes no siste-ma. O pressuposto é o de que empresas bem estruturadas e bem gerenciadas não apenas oferecem menos risco ao siste-ma financeiro e ao fundo de aval, mas são também as que têm mais condições de crescer e se consolidar.

E os dados indicam que é crescente o número de peque-nos negócios que, além de financiamentos associados ao Fampe, acessam outros tipos de soluções Sebrae. Um levan-tamento feito pela instituição constatou que, em 2012, ape-nas 13% dos empreendimentos que usaram o aval estavam

sendo atendidos com capacitação e outras soluções Sebrae. Em 2015, o total subiu para 60%. Heloisa Menezes obser-va que o indicador é importante, pois mostra interesse cada vez maior dos empresários em melhorar a gestão dos empreendimentos e aumentar a geração de receitas. “Essas iniciativas sinalizam que as micro e pequenas empresas que buscam assessoria empresarial aliada ao acesso aos financiamentos estão sujeitas a menores taxas de risco”, salienta.

Instituições financeiras e empresários destacam a importância do fundo

O Banco do Brasil (BB) participou dos estudos para a criação do Fampe e foi o primeiro a conceder crédito a empresas de pequeno porte com a utilização do aval do fundo. Nos 20 anos de parceria com o Sebrae, a instituição contribuiu para ajus-tar os requisitos operacionais e tecnológi-cos necessários ao atendimento dos pequenos negócios. Devido a essa proxi-midade, o banco é até hoje a instituição financeira que concentra a grande maioria das operações com garantia do fundo. No período, o volume acumulado de ope-rações chegou a R$ 11,1 bilhões, com mais de 250 mil contratos.

O diretor de Micro e Pequenas Empresas do BB, Ilton Schwaab, destaca que o fundo tem conseguido, com suces-so, auxiliar os empreendedores de peque-nos negócios a ter acesso a crédito. Para ele, o uso do mecanismo traz vantagens tanto para os empresários quanto para as instituições financeiras. “A vinculação do

próprio Sebrae, além de receitas provenientes de taxas de con-cessão de aval, aplicações financeiras, doações, recuperação de avais honrados ou parcerias com outras instituições. O patrimônio atual do Fampe é de R$ 656,7 milhões. O meca-nismo não tem caráter assistencialista nem faz aplicações a fundo perdido. O uso dos recursos segue a lógica de mercado, com as operações pautadas por normas definidas em regula-mentos bancários e pela Resolução nº 257/2014 do Conselho Deliberativo Nacional do Sebrae. A inadimplência máxima admitida para a carteira é de 7%.

Para a criação do Fampe, foram feitos estudos de expe-riências relevantes sobre a operação e manutenção de fun-dos dessa natureza, com análise in loco de casos de diversos países, em especial os do Japão e da Coreia do Sul. A expe-riência-piloto foi desenvolvida com o Banco do Brasil, que ajudou a estendê-la a outros agentes de crédito por meio de convênios de cooperação técnica e financeira. A participa-ção da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e do Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES) foram fundamentais na indicação e certi-ficação de bancos, no desenvolvimento de programas de treinamento e no for-necimento de suporte tecnológico para as operações.

As instituições financeiras podem operar o Fampe a partir de convênios assi-nados com o Sebrae. Cabe a elas conce-der ou não os recursos, depois de definir quais linhas de financiamento serão dire-cionadas ao segmento dos pequenos negócios, de acordo com sua política de crédito. Também é papel do agente finan-ceiro fazer a análise de crédito e assumir sua parte nos riscos da operação. Obede-cidas as regras, a instituição não precisa consultar o Sebrae para aprovar o aval.

O tomador de crédito deve atender a todos os requisitos do banco: capital, capacidade de pagamento e fornecimen-to de garantias. Se não tiver garantias sufi-cientes, pode contratar o fundo median-te o pagamento da Taxa de Concessão de Aval (TCA), cujo custo vai depender do número de prestações e da garantia de que precisa. O valor da TCA, que consti-tui receita do Sebrae, pode ser conside-rada item financiável do projeto de investimento.

“O acesso a um fundo de aval acarre-ta custos adicionais ao empresário, mas é importante analisar também a relação cus-to/benefício, que é altamente positiva”, observa Heloisa Menezes. “Com o uso do fundo, é possível alavancar os recursos de que efetivamente o negócio precisa para crescer e aproveitar as oportunida-des de mercado. Sem ele, parte do projeto

AUXÍLIOE EMPREENDER

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Por André Tennitz

Vinícius Chaves, dono de uma pequena empresa em Brasília: com o Fampe, ele reforça o estoque, cumpre contratos com órgãos públicos e ampliou sua capacidade de concorrer em licitações da União.

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Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas completa 20 anos com mais de 260 mil operações contratadas e 11 instituições financeiras conveniadas; objetivo é ampliar os operadores e avalizar ainda mais os pequenos negócios

História de sucesso

RUMOS – 8 – Julho/Agosto 2015

“Com o uso do fundo, é possível alavancar os recursos de que o negócio precisa para crescer e aproveitar as oportunidades de mercado. Sem ele,

parte do projeto não pode ser executado,

não há expansão do negócio

nem ampliação do mercado.”

Heloisa MenezesDiretora-técnica do Sebrae

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Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), administrado pelo Sebrae, está com-pletando 20 anos de uma história de sucesso. Desde que foi criado, em 1995, o fundo acumula a contratação de 266.422 operações de garantia a

pequenos negócios. Foram R$ 8,18 bilhões em avais, que via-bilizaram R$ 11,25 bilhões em financiamentos e permitiram a empreendedores do segmento instalar, ampliar ou moderni-zar seus negócios. Em junho passado, o Fampe contabilizava 117.783 contratos ativos, representando R$ 3,63 bilhões em financiamentos e R$ 2,52 bilhões em avais.

O Fampe nasceu para atender a uma necessidade do seg-mento de micro e pequenas empresas, que, pela natureza e dimensão dos empreendimentos, enfrenta dificuldade para fornecer as garantias requeridas pelo sistema bancário na con-cessão de financiamentos de médio e longo prazos – especi-almente garantias reais baseadas em patrimônio, como imó-veis e bens de alto valor.

A diretora-técnica do Sebrae, Heloisa Menezes, relata que na rede de atendi-mento da instituição são comuns os re la tos de empresários que demons-tram conhecimento do mer-cado em que atuam há anos, possuem parte do capital financeiro para investir, não têm restrições cadastrais e se encontram em condi-ções de assumir prestações mensais que se encaixam em seu fluxo de caixa, mas, por falta de garantias, dei-xam de contratar recursos em condições atraentes e de baixo custo.

Nessa situação, muitos optam por utilizar emprésti-mos de curto prazo para a aquisição de ativos fixos, como máquinas e equipa-mentos. “Essa escolha

sobrecarrega o fluxo de caixa e pode comprometer a situação da empresa. Não é bom nem para o pequeno negócio nem para o banco, pois incorre em aumento do risco de crédito”, diz a diretora.

Sistemas de garantia de crédito, como os fundos de aval, têm o objetivo de permitir às empresas acesso a financiamen-tos adequados, de acordo com um conjunto de regras que bus-cam reduzir o risco de crédito perante as instituições financei-ras. Desse modo, são úteis tanto para o tomador quanto para o emprestador de recursos. E, ao viabilizar financiamentos que, de outra maneira, não seriam realizados, têm papel posi-tivo também para todo o sistema econômico, observa Heloi-sa Menezes, contribuindo para a expansão da atividade pro-dutiva, a criação de empregos e a geração de renda.

O propósito do Fampe é completar as exigências bancá-rias relacionadas a garantias. O fundo cobre até 80% do valor da operação, por proponente, observados certos limi-

tes conforme a finalida-de do crédito – investi-mento, capital de giro, pré-exportação, desen-volvimento tecnológi-co e inovação – e a característica do toma-dor – microempreende-dor individual, micro-empresa ou empresa de pequeno porte (EPP).

O m o n t a n t e d a garantia pode chegar a R$ 700 mil, no caso, por exemplo, de empresas de pequeno porte (fatura-mento de até R$ 3,6 milhões por ano) e de fi n a n c i a m e n t o s d e investimento em desen-volvimento tecnológico e inovação. Em média, no entanto, as operações ficam abaixo disso.

Os recursos do fun-do vêm de dotação do

RUMOS – 9 – Julho/Agosto 2015

não pode ser executada e, com isso, não há expansão do negó-cio nem ampliação do mercado”, enfatiza.

Acompanhamento – Embora a empresa não seja obrigada a contratar consultoria do Sebrae, é papel da instituição, por meio das unidades estaduais, buscar o acompanhamento dos pequenos negócios que utilizam o fundo, tornando disponí-veis aos empreendedores programas de assessoria técnica e de gestão, mediante a oferta de soluções já existentes no siste-ma. O pressuposto é o de que empresas bem estruturadas e bem gerenciadas não apenas oferecem menos risco ao siste-ma financeiro e ao fundo de aval, mas são também as que têm mais condições de crescer e se consolidar.

E os dados indicam que é crescente o número de peque-nos negócios que, além de financiamentos associados ao Fampe, acessam outros tipos de soluções Sebrae. Um levan-tamento feito pela instituição constatou que, em 2012, ape-nas 13% dos empreendimentos que usaram o aval estavam

sendo atendidos com capacitação e outras soluções Sebrae. Em 2015, o total subiu para 60%. Heloisa Menezes obser-va que o indicador é importante, pois mostra interesse cada vez maior dos empresários em melhorar a gestão dos empreendimentos e aumentar a geração de receitas. “Essas iniciativas sinalizam que as micro e pequenas empresas que buscam assessoria empresarial aliada ao acesso aos financiamentos estão sujeitas a menores taxas de risco”, salienta.

Instituições financeiras e empresários destacam a importância do fundo

O Banco do Brasil (BB) participou dos estudos para a criação do Fampe e foi o primeiro a conceder crédito a empresas de pequeno porte com a utilização do aval do fundo. Nos 20 anos de parceria com o Sebrae, a instituição contribuiu para ajus-tar os requisitos operacionais e tecnológi-cos necessários ao atendimento dos pequenos negócios. Devido a essa proxi-midade, o banco é até hoje a instituição financeira que concentra a grande maioria das operações com garantia do fundo. No período, o volume acumulado de ope-rações chegou a R$ 11,1 bilhões, com mais de 250 mil contratos.

O diretor de Micro e Pequenas Empresas do BB, Ilton Schwaab, destaca que o fundo tem conseguido, com suces-so, auxiliar os empreendedores de peque-nos negócios a ter acesso a crédito. Para ele, o uso do mecanismo traz vantagens tanto para os empresários quanto para as instituições financeiras. “A vinculação do

próprio Sebrae, além de receitas provenientes de taxas de con-cessão de aval, aplicações financeiras, doações, recuperação de avais honrados ou parcerias com outras instituições. O patrimônio atual do Fampe é de R$ 656,7 milhões. O meca-nismo não tem caráter assistencialista nem faz aplicações a fundo perdido. O uso dos recursos segue a lógica de mercado, com as operações pautadas por normas definidas em regula-mentos bancários e pela Resolução nº 257/2014 do Conselho Deliberativo Nacional do Sebrae. A inadimplência máxima admitida para a carteira é de 7%.

Para a criação do Fampe, foram feitos estudos de expe-riências relevantes sobre a operação e manutenção de fun-dos dessa natureza, com análise in loco de casos de diversos países, em especial os do Japão e da Coreia do Sul. A expe-riência-piloto foi desenvolvida com o Banco do Brasil, que ajudou a estendê-la a outros agentes de crédito por meio de convênios de cooperação técnica e financeira. A participa-ção da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e do Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES) foram fundamentais na indicação e certi-ficação de bancos, no desenvolvimento de programas de treinamento e no for-necimento de suporte tecnológico para as operações.

As instituições financeiras podem operar o Fampe a partir de convênios assi-nados com o Sebrae. Cabe a elas conce-der ou não os recursos, depois de definir quais linhas de financiamento serão dire-cionadas ao segmento dos pequenos negócios, de acordo com sua política de crédito. Também é papel do agente finan-ceiro fazer a análise de crédito e assumir sua parte nos riscos da operação. Obede-cidas as regras, a instituição não precisa consultar o Sebrae para aprovar o aval.

O tomador de crédito deve atender a todos os requisitos do banco: capital, capacidade de pagamento e fornecimen-to de garantias. Se não tiver garantias sufi-cientes, pode contratar o fundo median-te o pagamento da Taxa de Concessão de Aval (TCA), cujo custo vai depender do número de prestações e da garantia de que precisa. O valor da TCA, que consti-tui receita do Sebrae, pode ser conside-rada item financiável do projeto de investimento.

“O acesso a um fundo de aval acarre-ta custos adicionais ao empresário, mas é importante analisar também a relação cus-to/benefício, que é altamente positiva”, observa Heloisa Menezes. “Com o uso do fundo, é possível alavancar os recursos de que efetivamente o negócio precisa para crescer e aproveitar as oportunida-des de mercado. Sem ele, parte do projeto

AUXÍLIOE EMPREENDER

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Por André Tennitz

Vinícius Chaves, dono de uma pequena empresa em Brasília: com o Fampe, ele reforça o estoque, cumpre contratos com órgãos públicos e ampliou sua capacidade de concorrer em licitações da União.

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Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas completa 20 anos com mais de 260 mil operações contratadas e 11 instituições financeiras conveniadas; objetivo é ampliar os operadores e avalizar ainda mais os pequenos negócios

História de sucesso

RUMOS – 8 – Julho/Agosto 2015

“Com o uso do fundo, é possível alavancar os recursos de que o negócio precisa para crescer e aproveitar as oportunidades de mercado. Sem ele,

parte do projeto não pode ser executado,

não há expansão do negócio

nem ampliação do mercado.”

Heloisa MenezesDiretora-técnica do Sebrae

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Fampe às operações contribui para a qualidade e a adimplência da carteira de crédito do BB, não há dúvida. E a empresa tem outro benefício: o aval propicia o acesso a financiamentos com taxas de juros mais atrativas devido à redução do risco”, observa Ilton.

Além do BB, o Sebrae tem convênio com outras dez instituições visando à utilização do Fampe em financiamentos às MPE: Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Banco de Regional de Desenvolvi-mento do Extremo Sul (BRDE), Agência de Desenvolvi-mento Paulista (Desenvolve SP), Banco de Brasília (BRB), Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso (MT Fomento), Agência Estadual de Fomento (AgeRio), Agência de Fomento de Alagoas (Desenvolve), Agência de Fomento do Estado de Pernambuco (Agefepe), Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) e Agência de Fomento do Rio Grande do Norte (AGN). E está em negociação para a retomada de parceria com a Agência de Fomento de Goiás (Goiás Fomento), a Caixa Econô-mica Federal e o Banco do Nor-deste (BNB).

“Estamos buscando expandir a base de operadores, e acredita-mos ser fundamental ter mais ins-tituições que possam se adequar ao regulamento operacional para que mais pequenos negócios se jam beneficiados”, d iz a diretora-técnica do Sebrae, Heloisa Menezes.

A Desenvolve SP firmou con-vênio com o Sebrae em 2012 para oferecer o Fampe como opção aos empreendedores que pleitei-am financiamento na instituição. Até agora, foram garantidas 140 operações, num total de R$ 6 mi-lhões, das quais 51% já foram qui-tadas. “A possibilidade de contar com o fundo foi importante por-que facilitou a expansão do crédi-to”, diz o superintendente de Polí-ticas Públicas da agência, Pedro Leitão Magyar. As empresas aten-didas nos últimos quatro anos estão localizadas em 11 das 15 regiões administrativas do estado de São Paulo, o que demonstra a ampla capilaridade e alcance do Fundo, segundo Magyar.

O BDMG é outra instituição que vem ampliando o crédito aos pequenos negócios com apoio do Fampe. Com convênio assinado com o Sebrae desde o fim de 2012, o banco tem cerca de R$ 400 mi-lhões liberados para micro e

RUMOS – 11 – Julho/Agosto 2015

dores, principalmente aqueles que estão iniciando sua ativi-dade”, constata Ilton Schwaab, do Banco do Brasil.

Além de fortalecer os pequenos negócios e criar condi-ções para que os agentes financeiros expandam o crédito com maior segurança, o uso do Fampe, sobretudo quando associa-do a programas de melhoria de gestão, tem impacto positivo

re para empresas de comunicação, pôde se mudar para insta-lações mais amplas, comprar novos equipamentos, e dar iní-cio ao desenvolvimento de novos produtos.

“O crédito foi importante para viabilizar os objetivos de ampliar nossa capacidade e ganhar mais espaço no mercado”, diz Jancler Capellete, um dos quatro sócios da empresa, fun-dada há 12 anos em Porto Alegre. A Aspin é um exemplo dos milhares de micro e pequenos empreendimentos que têm se beneficiado do apoio do fundo de aval do Sebrae para obter financiamento em instituições financeiras.

Há três anos, a VCS Comércio, uma empresa de pequeno porte (EPP) de Brasília, contou com aval do Fampe para via-bilizar três operações de financiamento, num total de R$ 480 mil, no Banco do Brasil, com recursos do Fundo Constituci-onal do Centro-Oeste (FCO). Fornecedora de equipamentos eletrônicos para o governo federal, a VCS usou o dinheiro para reforçar o estoque e cumprir os contratos que mantém com a administração pública, além de ampliar a capacidade de concorrência nas licitações promovidas pela União.

“Para mim, foi muito importante e funcionou muito bem. O essencial é ter disciplina, manter a ficha limpa e apli-car os recursos no desenvolvimento da empresa”, destaca Vinícius Chaves, proprietário da VCS.

A manutenção de um bom cadastro também é uma das preocupações de Sandra Maria Alves Carvalho, proprietária da Celebra Festas e Flores, de Goiânia. “Crédito é algo que depende fundamentalmente de um bom nome na praça, uma coisa que é preciso construir”, ensina.

A Celebra, que atua há três anos no mercado de eventos, tomou R$ 150 mil do BB, no ano passado, para adquirir um caminhão de entregas e transporte de material. A empresa utilizou ainda linhas do BNDES para comprar peças de decoração.

Sandra Maria já conta com boa experiência no mundo dos negócios. Desde 1998, até fundar a Celebra, teve uma empresa de publicidade. Ela também procura sempre obter conhecimento nas áreas em que trabalha. Sandra mantém uma fazenda no município goiano de Vianópolis, onde culti-va flores que são utilizadas na decoração dos eventos para as quais a Celebra é contratada. Durante dois anos fez cursos de capacitação em gestão rural no Sebrae. “Isso me ajudou mui-to a tocar o negócio com segurança”, relata.

E EMPREENDER

pequenas empresas, dos quais 40% com suporte do fundo. “Ele permite que as empresas acessem crédito a um custo rela-tivamente baixo, com mais qualidade”, afirma o gerente geral

de Micro e Pequenas Empresas do banco, Rodrigo Teixeira Neves.

A possibilidade do financia-mento garantido pelo Fampe ser associado a um programa de aten-dimento do Sebrae é um fator que faz diferença, na avaliação dos agentes de crédito. Pedro Magyar, da Desenvolve SP, diz ser comum os empresários procurarem a agên-cia orientados pelo atendimento do Sebrae. “O apoio desses pro-gramas é muito importante, pois possibilita alinhar planejamento financeiro, projeto e lucratividade. Isso dá suporte ao empresário para conduzir seu negócio de maneira saudável”, afirma. O resultado da combinação de crédi-to adequado e boa gestão é favorá-vel também às instituições finan-ceiras envolvidas na operação. No caso da Desenvolve SP, apenas 4 dos 140 financiamentos concedi-dos com aval do Fampe estão em situação de inadimplência, segun-do o superintendente.

“Não há dúvida de que os pro-gramas de atendimento contribu-em para melhorar a capacidade de gestão dos empresários. O plane-jamento e o conhecimento do negócio são essenciais para o sucesso do empreendimento. A capacitação desenvolvida pelo Sebrae na área de crédito também é muito importante e vem suprir as demandas de conhecimento apre-sentadas por muitos empreende-

RUMOS – 10 – Julho/Agosto 2015

AUXÍLIO

Segmentação por porte empresarial e setor econômico

Segmentação por setor econômico e porte empresarial

Distribuição Geográfica do Fampe

ME (15%) EPP (85%)

ComércioIndústriaServiço

ComércioIndústriaServiço

Comércio (52%) Indústria (17%)

Serviços (31%)

45%

14%

41% 28%

18%

54%82%

12%

MEEPP

MEEPP

MEEPP

CO:59,82%SUL: 19,21%

SE: 16,10%

NE: 3,80%NO: 1,08%

Passo a Passo para acesso ao Fampe:

Realize o planejamento financeiro detalhado para veri-ficar a real necessidade do financiamento da empresa. Talvez o seu negócio precise primeiro de melhorar a ges-tão financeira, não de recursos emprestados.

Com a certeza de que seu negócio está em boa saúde financeira, o passo seguinte é elaborar o projeto de investimento/plano de negócios/proposta de crédi-to, e identificar a necessidade do financiamento: capi-tal de giro puro? Investimento fixo com capital de giro associado? Desenvolvimento tecnológico & inova-ção?

Identifique uma instituição financeira conveniada ao Sebrae (www.sebrae.com.br) e converse com seu geren-te de relacionamento empresarial sobre a linha de finan-ciamento que atende a sua necessidade.

Negocie com a instituição financeira conveniada ao Sebrae a utilização do Fampe. Não se esqueça de demonstrar que seu projeto de investimento/plano de negócio/proposta de crédito é viável, sendo condição básica para o acesso ao financiamento.

Caso as garantias oferecidas pelo seu negócio não sejam suficientes para a contratação do financiamento, você deve solicitar diretamente à instituição financeira con-veniada a contratação do aval complementar do Sebrae. Não há necessidade de ir ao Sebrae mais próximo.

Tão logo os recursos sejam liberados pela instituição financeira, e estando o pequeno negócio de posse do capital necessário para o investimento, utilize os recur-sos financiados conforme o planejamento realizado, mantendo sempre em dia o pagamento da dívida junto à instituição financiadora.

Procure sempre participar de oficinas, cursos e ativida-des de assessoria empresarial pós-crédito por meio do Sebrae, buscando novas ferramentas de gestão e inova-ção empresarial.

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Fonte: SEBRAE

no processo de desenvolvimento econômico. “Esse arcabou-ço propicia um círculo virtuoso em favor do empreendedoris-mo do país”, diz Schwaab. “O fundo se mostra uma ferramen-ta essencial para colaborar no fortalecimento da economia, em que todos ganham: os micro e pequenos empresários, que passam a ter acesso ao crédito voltado ao investimento produ-tivo, a sociedade, com a geração de empregos e renda, e tam-bém as instituições financeiras, que têm mais segurança para realizar os financiamentos”, completa Pedro Magyar.

Exemplos – O uso do Fampe foi fundamental para que a Aspin Comércio de Produtos de Informática Ltda. tomasse um financiamento do Programa de Geração de emprego e Renda (Proger), operado pelo Banco do Brasil, em 2014, para o projeto de expansão da empresa. Com os recursos, a Aspin, que se dedica ao desenvolvimento de tecnologias de softtwa-

Ilton Schwaab: “A vinculação do Fampe às operações contribui para a qualidade e a adimplência da carteira de crédito do Banco do Brasil, não há dúvida.”

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Fampe às operações contribui para a qualidade e a adimplência da carteira de crédito do BB, não há dúvida. E a empresa tem outro benefício: o aval propicia o acesso a financiamentos com taxas de juros mais atrativas devido à redução do risco”, observa Ilton.

Além do BB, o Sebrae tem convênio com outras dez instituições visando à utilização do Fampe em financiamentos às MPE: Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Banco de Regional de Desenvolvi-mento do Extremo Sul (BRDE), Agência de Desenvolvi-mento Paulista (Desenvolve SP), Banco de Brasília (BRB), Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso (MT Fomento), Agência Estadual de Fomento (AgeRio), Agência de Fomento de Alagoas (Desenvolve), Agência de Fomento do Estado de Pernambuco (Agefepe), Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) e Agência de Fomento do Rio Grande do Norte (AGN). E está em negociação para a retomada de parceria com a Agência de Fomento de Goiás (Goiás Fomento), a Caixa Econô-mica Federal e o Banco do Nor-deste (BNB).

“Estamos buscando expandir a base de operadores, e acredita-mos ser fundamental ter mais ins-tituições que possam se adequar ao regulamento operacional para que mais pequenos negócios se jam beneficiados”, d iz a diretora-técnica do Sebrae, Heloisa Menezes.

A Desenvolve SP firmou con-vênio com o Sebrae em 2012 para oferecer o Fampe como opção aos empreendedores que pleitei-am financiamento na instituição. Até agora, foram garantidas 140 operações, num total de R$ 6 mi-lhões, das quais 51% já foram qui-tadas. “A possibilidade de contar com o fundo foi importante por-que facilitou a expansão do crédi-to”, diz o superintendente de Polí-ticas Públicas da agência, Pedro Leitão Magyar. As empresas aten-didas nos últimos quatro anos estão localizadas em 11 das 15 regiões administrativas do estado de São Paulo, o que demonstra a ampla capilaridade e alcance do Fundo, segundo Magyar.

O BDMG é outra instituição que vem ampliando o crédito aos pequenos negócios com apoio do Fampe. Com convênio assinado com o Sebrae desde o fim de 2012, o banco tem cerca de R$ 400 mi-lhões liberados para micro e

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dores, principalmente aqueles que estão iniciando sua ativi-dade”, constata Ilton Schwaab, do Banco do Brasil.

Além de fortalecer os pequenos negócios e criar condi-ções para que os agentes financeiros expandam o crédito com maior segurança, o uso do Fampe, sobretudo quando associa-do a programas de melhoria de gestão, tem impacto positivo

re para empresas de comunicação, pôde se mudar para insta-lações mais amplas, comprar novos equipamentos, e dar iní-cio ao desenvolvimento de novos produtos.

“O crédito foi importante para viabilizar os objetivos de ampliar nossa capacidade e ganhar mais espaço no mercado”, diz Jancler Capellete, um dos quatro sócios da empresa, fun-dada há 12 anos em Porto Alegre. A Aspin é um exemplo dos milhares de micro e pequenos empreendimentos que têm se beneficiado do apoio do fundo de aval do Sebrae para obter financiamento em instituições financeiras.

Há três anos, a VCS Comércio, uma empresa de pequeno porte (EPP) de Brasília, contou com aval do Fampe para via-bilizar três operações de financiamento, num total de R$ 480 mil, no Banco do Brasil, com recursos do Fundo Constituci-onal do Centro-Oeste (FCO). Fornecedora de equipamentos eletrônicos para o governo federal, a VCS usou o dinheiro para reforçar o estoque e cumprir os contratos que mantém com a administração pública, além de ampliar a capacidade de concorrência nas licitações promovidas pela União.

“Para mim, foi muito importante e funcionou muito bem. O essencial é ter disciplina, manter a ficha limpa e apli-car os recursos no desenvolvimento da empresa”, destaca Vinícius Chaves, proprietário da VCS.

A manutenção de um bom cadastro também é uma das preocupações de Sandra Maria Alves Carvalho, proprietária da Celebra Festas e Flores, de Goiânia. “Crédito é algo que depende fundamentalmente de um bom nome na praça, uma coisa que é preciso construir”, ensina.

A Celebra, que atua há três anos no mercado de eventos, tomou R$ 150 mil do BB, no ano passado, para adquirir um caminhão de entregas e transporte de material. A empresa utilizou ainda linhas do BNDES para comprar peças de decoração.

Sandra Maria já conta com boa experiência no mundo dos negócios. Desde 1998, até fundar a Celebra, teve uma empresa de publicidade. Ela também procura sempre obter conhecimento nas áreas em que trabalha. Sandra mantém uma fazenda no município goiano de Vianópolis, onde culti-va flores que são utilizadas na decoração dos eventos para as quais a Celebra é contratada. Durante dois anos fez cursos de capacitação em gestão rural no Sebrae. “Isso me ajudou mui-to a tocar o negócio com segurança”, relata.

E EMPREENDER

pequenas empresas, dos quais 40% com suporte do fundo. “Ele permite que as empresas acessem crédito a um custo rela-tivamente baixo, com mais qualidade”, afirma o gerente geral

de Micro e Pequenas Empresas do banco, Rodrigo Teixeira Neves.

A possibilidade do financia-mento garantido pelo Fampe ser associado a um programa de aten-dimento do Sebrae é um fator que faz diferença, na avaliação dos agentes de crédito. Pedro Magyar, da Desenvolve SP, diz ser comum os empresários procurarem a agên-cia orientados pelo atendimento do Sebrae. “O apoio desses pro-gramas é muito importante, pois possibilita alinhar planejamento financeiro, projeto e lucratividade. Isso dá suporte ao empresário para conduzir seu negócio de maneira saudável”, afirma. O resultado da combinação de crédi-to adequado e boa gestão é favorá-vel também às instituições finan-ceiras envolvidas na operação. No caso da Desenvolve SP, apenas 4 dos 140 financiamentos concedi-dos com aval do Fampe estão em situação de inadimplência, segun-do o superintendente.

“Não há dúvida de que os pro-gramas de atendimento contribu-em para melhorar a capacidade de gestão dos empresários. O plane-jamento e o conhecimento do negócio são essenciais para o sucesso do empreendimento. A capacitação desenvolvida pelo Sebrae na área de crédito também é muito importante e vem suprir as demandas de conhecimento apre-sentadas por muitos empreende-

RUMOS – 10 – Julho/Agosto 2015

AUXÍLIO

Segmentação por porte empresarial e setor econômico

Segmentação por setor econômico e porte empresarial

Distribuição Geográfica do Fampe

ME (15%) EPP (85%)

ComércioIndústriaServiço

ComércioIndústriaServiço

Comércio (52%) Indústria (17%)

Serviços (31%)

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MEEPP

MEEPP

MEEPP

CO:59,82%SUL: 19,21%

SE: 16,10%

NE: 3,80%NO: 1,08%

Passo a Passo para acesso ao Fampe:

Realize o planejamento financeiro detalhado para veri-ficar a real necessidade do financiamento da empresa. Talvez o seu negócio precise primeiro de melhorar a ges-tão financeira, não de recursos emprestados.

Com a certeza de que seu negócio está em boa saúde financeira, o passo seguinte é elaborar o projeto de investimento/plano de negócios/proposta de crédi-to, e identificar a necessidade do financiamento: capi-tal de giro puro? Investimento fixo com capital de giro associado? Desenvolvimento tecnológico & inova-ção?

Identifique uma instituição financeira conveniada ao Sebrae (www.sebrae.com.br) e converse com seu geren-te de relacionamento empresarial sobre a linha de finan-ciamento que atende a sua necessidade.

Negocie com a instituição financeira conveniada ao Sebrae a utilização do Fampe. Não se esqueça de demonstrar que seu projeto de investimento/plano de negócio/proposta de crédito é viável, sendo condição básica para o acesso ao financiamento.

Caso as garantias oferecidas pelo seu negócio não sejam suficientes para a contratação do financiamento, você deve solicitar diretamente à instituição financeira con-veniada a contratação do aval complementar do Sebrae. Não há necessidade de ir ao Sebrae mais próximo.

Tão logo os recursos sejam liberados pela instituição financeira, e estando o pequeno negócio de posse do capital necessário para o investimento, utilize os recur-sos financiados conforme o planejamento realizado, mantendo sempre em dia o pagamento da dívida junto à instituição financiadora.

Procure sempre participar de oficinas, cursos e ativida-des de assessoria empresarial pós-crédito por meio do Sebrae, buscando novas ferramentas de gestão e inova-ção empresarial.

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24%

87%

13%

Fonte: SEBRAE

no processo de desenvolvimento econômico. “Esse arcabou-ço propicia um círculo virtuoso em favor do empreendedoris-mo do país”, diz Schwaab. “O fundo se mostra uma ferramen-ta essencial para colaborar no fortalecimento da economia, em que todos ganham: os micro e pequenos empresários, que passam a ter acesso ao crédito voltado ao investimento produ-tivo, a sociedade, com a geração de empregos e renda, e tam-bém as instituições financeiras, que têm mais segurança para realizar os financiamentos”, completa Pedro Magyar.

Exemplos – O uso do Fampe foi fundamental para que a Aspin Comércio de Produtos de Informática Ltda. tomasse um financiamento do Programa de Geração de emprego e Renda (Proger), operado pelo Banco do Brasil, em 2014, para o projeto de expansão da empresa. Com os recursos, a Aspin, que se dedica ao desenvolvimento de tecnologias de softtwa-

Ilton Schwaab: “A vinculação do Fampe às operações contribui para a qualidade e a adimplência da carteira de crédito do Banco do Brasil, não há dúvida.”

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FAMPEval para equenos egóciosA P N

Page 12: Rumos 282

resposta dos eleitores gregos – um apertado Não – na consulta popular do dia 5 de julho deste ano de 2015 não deve ser entendida como manifesta-

ção de apoio à irresponsabilidade fiscal. Nem comemorada como a vitória da “antiausteridade”, mas simplesmente de repúdio ao equivocado excesso de austeridade exigido como preliminar do crescimento e não construída simulta-neamente com ele.

Talvez o maior e duradouro efeito do histórico referen-do que empoderou o governo grego seja de ordem moral. O mundo se informou melhor sobre a origem das graves crises financeiras que se espalharam depois de 2008. Elas soma-ram a insopitável busca de lucro dos credores ao irresponsá-vel comportamento dos devedores, produzindo uma desar-ticulação na economia mundial só experimentada nos anos 30 do século passado. A crise de 2007-09 também teve ori-gem em causas que não são as que se encontram nas flutua-ções cíclicas do capitalismo. Numa larga medida são muito parecidas com as que geraram a de 1929, que nos EUA o governo Roosevelt combateu com profundas intervenções na economia (o “New Deal”). Uma delas foi a resposta do Congresso que, sob estímulo do Executivo, aprovou o Glass-Steagal Act, de 1933. Os bancos comerciais foram proibidos de financiar investimentos e ficaram limitados à recepção de depósitos e a empréstimos de curto prazo. Aos bancos de investimento foram reservadas as negociações com as ações e bônus, formas típicas de financiamentos de longo prazo. Quais os motivos? O mais importante foi a des-coberta de que muitos banqueiros poderosos – que opera-vam simultaneamente o curto (comercial) e o longo (investi-mento) prazos, aproveitando-se de informações internas (“insider trading”) – tinham desenvolvido comportamentos eticamente condenáveis. No fim do dia, eles teriam produzi-do ou, pelo menos, agravado, a depressão. Quem não estiver convencido deve ler o famoso Relatório Pécora que resultou do inquérito feito pelo Congresso Americano. Ele revelou os riscos para a estabilidade econômica que estavam escon-didos na expansão de um sistema financeiro absolutamente desregulado, o mesmo que se recriou a partir de 2000.

Um eficiente e competitivo sistema financeiro é elemen-to essencial para mobilização das poupanças que financiam

o investimento, alma do crescimento econômico. Até os anos 80 do século passado, as restrições impostas pelo Act de 1933 não eliminaram a repetição dos “ciclos de negóci-os” ínsitos na organização econômica das sociedades por meio dos “mercados” e não impediram um crescimento razoável. Entre 1950 e 1990, a economia dos Estados Uni-dos da América (EUA) revelou oito “ciclos de negócios”. Num período de 160 trimestres, houve retração em 25 deles, seguidos de retorno à normalidade num tempo um pouco menor (20), com uma queda média de Produto Interno Bru-to (PIB) em cada episódio, da ordem de 2,2%. A depressão de 2007-09, que se seguiu à “grande moderação” que o mun-do viveu por 17 anos a partir de 1990, assumiu característi-cas claramente diferentes delas: começou no 4º trimestre de 2007, foi considerada encerrada no 2º trimestre de 2009 e consumiu 4,3% do PIB. O problema é que hoje, 26 trimes-tres depois de ter passado por seu ponto mínimo, ainda não assistimos a uma recuperação convincente. E ninguém sabe como vai terminar o enorme esforço fiscal e monetário fei-to para enfrentá-la.

Se a crise de 2007-09 tem a mesma origem que a de 1929, é preciso perguntar: Como isso foi possível? A resposta é que nos anos 90 do século passado, o sistema financeiro come-çou a libertar-se da regulação imposta nos anos 1930, alegan-do que ela prejudicava o desenvolvimento econômico. Com apoio no Congresso dos Estados Unidos e suporte “científi-co” inventado ad hoc por uma tribo de economistas cujos membros enganam-se e divertem-se mutuamente com o con-forto do “mercado perfeito” (até na moralidade!) tiveram sucesso. E muito lucrativo... Assistiu-se, assim, em 1999, à revogação final do Glass-Steagal Act, de 1933. Em menos de 10 anos, o novo sistema financeiro – outra vez completamen-te desregulado – voltou ao local do crime. Promoveu, ou pelo menos ajudou a promover, a maior crise econômica da eco-nomia real dos últimos 75 anos.

A verdade é que se produziu uma desorganização que se manifesta na redução da capacidade política e do produto potencial de todas as sociedades, consequências da continui-dade do absoluto domínio das finanças sobre a produção de bens e serviços, que até agora os governos foram incapazes de corrigir.

RUMOS – 12 – Julho/Agosto 2015

Antonio Delfim Netto

Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.

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O OPINIÃO

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Moral do referendo

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AFAP Agência de Fomento do Estado do Amapá S/Awww.afap.ap.gov.br

AFEAM Agência de Fomento do Estado do Amazonas S/A www.afeam.am.gov.br

AFERR Agência de Fomento do Estado de Roraima S/A www.aferr.rr.gov.br

AGEFEPE Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S/A www.agefepe.pe.gov.br

AGÊNCIA DE FOMENTO TOCANTINSAgência de Fomento do Estadodo Tocantinswww.fomento.to.gov.br

AGERIO Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro S/A www.agerio.com.br

AGN Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S/A www.agnrn.com.br

BADESC Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S/A www.badesc.gov.br

BADESUL Badesul Desenvolvimento S/A – Agência de Fomento RS www.badesul.com.br

BANCO DA AMAZÔNIA Banco da Amazônia S/A www.bancoamazonia.com.br

BANCOOB Banco Cooperativo do Brasil S/A www.bancoob.com.br

BANDES Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A www.bandes.com.br

BANPARÁ Banco do Estado do Pará S/A www.banparanet.com.br

BB Banco do Brasil S/Awww.bb.com.br

BDMG Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S/A www.bdmg.mg.gov.br

BNB Banco do Nordeste do Brasil S/A www.bnb.gov.br

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social www.bndes.gov.br

BRB Banco de Brasília www.brb.com.br

BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul www.brde.com.br

CAIXA Caixa Econômica Federal www.caixa.gov.br

DESENBAHIA Agência de Fomento do Estado da Bahia S/A www.desenbahia.ba.gov.br

DESENVOLVE Agência de Fomento do Estado de Alagoas S/A www.desenvolve-al.com.br

DESENVOLVE SP Agência de Desenvolvimento Paulista www.desenvolvesp.com.br

FINEP Inovação e Pesquisa www.finep.gov.br

FOMENTO PARANÁ Agência de Fomento doParaná S/Awww.fomento.pr.gov.br

GOIÁSFOMENTO Agência de Fomento do Estado de Goiás S/A www.fomento.goias.com.br

MT FOMENTO Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S/A www.mtfomento.mt.gov.br

PIAUÍ FOMENTO Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S/A www.fomento.pi.gov.br

SEBRAEServiço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas www.sebrae.com.br

SICREDISistema de Crédito Cooperativowww.sicredi.com.br

SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO

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RUMOS – 15 – Julho/Agosto 2015

m 1979, o físico e tecnólogo argentino Jorge Alberto Sabato¹ conceituou “tecnologia” como sendo o conjunto ordenado de conhecimentos empregados tanto na produção quanto na

comercialização de bens e serviços. Tais conhecimentos estão ligados não apenas aos conhecimentos científicos (pro-venientes das ciências naturais, sociais, humanas etc.), mas também aos conhecimentos empíricos (resultantes da obser-vação, experiências, aptidões específicas, tradição oral e escri-ta etc.).

Em outras palavras, “tecnologia” pode ser tanto um “ar-tefato” (isto é, máquinas, computadores, motores etc.) quan-to um “conhecimento” (codificado e tácito) para a manufatu-ra de produtos, aplicação de um processo e realização de ser-viços. Essas máquinas, computadores, motores e esse conhe-cimento podem ser dissipados de uma nação à outra. A histo-riografia está repleta de exemplos de nações que utilizaram, de forma bem-sucedida, tecnologias desenvolvidas alhures para modernizarem seu aparato produtivo; para tanto, utili-zaram diferentes canais com o objetivo de se apropriarem das melhores tecnologias disponíveis.

A transferência internacional de tecnologia pode se dar por canais legais, mas também por canais ilegais (como con-trabando, roubo, espionagem), sendo que os principais cana-is utilizados mudaram no decorrer do tempo e foram condi-cionados pelas características das tecnologias dominantes em diferentes momentos históricos.

Por exemplo, no início da Primeira Revolução Industrial, o comércio de máquinas não era um canal exclusivo de trans-ferência, uma vez que as máquinas ainda eram rudimentares, pouco precisas, não padronizadas e passavam por aperfeiço-amentos incrementais constantemente. A contratação de mão de obra mostrou-se bastante efetiva na época, uma vez que o conhecimento tecnológico estava basicamente nela cor-porificado. Com a migração, os trabalhadores levavam consi-

vai longe... mas também há casos de nações que importaram tecnologia, modernizaram seu sistema produtivo, porém não romperam com o subdesenvolvimento.

A importação de tecnologia, em muitos casos, pode mera-mente representar uma dependência tecnológica estrutural, a qual faz com que a aquisição de tecnologia externa tenda a ser tratada como “consumo” ao invés de “investimento”, o que parece ser o caso, por exemplo, dos latino-americanos.

Para concluir, pode-se afirmar que a transferência inter-nacional de tecnologia pode permitir a modernização tecno-lógica da nação importadora, ampliando a capacidade de pro-dução, sem garantir a ampliação da aptidão tecnológica doméstica e do rompimento do subdesenvolvimento. A aqui-sição de tecnologia e conhecimentos pode eventualmente ser eficiente no curto prazo, no entanto, não é a melhor opção de longo prazo, já que o desenvolvimento não deriva da mera importação de tecnologias, mas da capacidade doméstica de se estabelecerem sistemas tecnológicos inter-relacionados em evolução, capazes de gerar sinergias para processos de desenvolvimento sustentado. É exatamente esta intercone-xão entre os sistemas tecnológicos que possibilita a difusão de conhecimentos, aptidões e experiências, fundamental para o processo de desenvolvimento. Ademais, o atual paradigma das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e a dinâmica econômica atual das cadeias globais de valor acio-nam novos desafios às nações que buscam se desenvolver.

AARTIGO

go know-how e ajudavam a difundir os novos conhecimentos (sobretudo os tácitos). Em diferentes épocas, outras formas de transferência surgiram.

Mas bastaria importar um conjunto de artefatos e conhe-cimentos produzidos fora das fronteiras nacionais para se modernizar e romper com o subdesenvolvimento? O mestre Celso Furtado², em O mito do desenvolvimento econômico, nos ensi-nou que é possível se industrializar e crescer mantendo a per-petuação do subdesenvolvimento. Portanto, as nações relati-vamente menos desenvolvidas podem desenvolver um pata-mar industrial complexo a partir de esforços de aquisição de tecnologias externas, ou seja, são capazes de se modernizar, sem se desfazer do subdesenvolvimento e dos laços de dependência.

Nações que conseguiram reduzir o hiato tecnológico e se desenvolverem não só importam tecnologia, mas igualmen-te investiram pesadamente na construção de aptidões tecno-lógicas. A aptidão tecnológica se refere às competências, conhecimentos e instituições que compõem a capacidade de uma empresa para criar, gerir e absorver a mudança na tec-nologia que utiliza, ou seja, inclui a qualificação do trabalho, os conhecimentos e experiências, estruturas institucionais e redes. Essa aptidão envolve um processo ativo de aprendiza-do caracterizado pela sua lentidão, cumulatividade e especi-ficidade às firmas e às áreas de conhecimento, e é pressupos-to básico para se aproveitarem eventuais oportunidades tec-nológicas.

Tomemos, por exemplo, o caso relativamente recente da Coreia do Sul. Ela contou pesadamente com a aquisição de tecnologias estrangeiras, sendo o principal canal utilizado a importação de bens de capital, enquanto o investimento dire-to externo teve papel secundário. Ao lado das importações de bens de capital e de produtos tecnológicos, o Estado sul-coreano empreendeu políticas ativas de comércio e industri-ais, as quais foram responsáveis por estimular o dinamismo

tecnológico das empresas industriais locais. Este Estado pas-sou a dar prioridade ao desenvolvimento tecnológico e as ati-vidades de exportação tornaram-se parte integral do esforço governamental em promover a aquisição de capacidades tec-nológicas. Foram tomadas medidas que fomentaram a edu-cação e o treinamento de pessoal qualificado em vários seto-res e foi criada uma infraestrutura de institutos de Ciência e Tecnologia (C&T) com o intuito de servir à indústria, além da criação do Ministério da C&T e o Instituto Coreano de C&T. O Estado sul-coreano fez esforços extraordinários para erradicar o analfabetismo, ampliar a rede de ensino bási-co e médio e melhorar o ensino superior. Portanto, o Estado teve papel ativo na implementação da estratégia coreana de industrialização.

A nosso ver, não existe exemplo na historiografia que demonstre que somente a importação de tecnologia seja sufi-ciente para superar o subdesenvolvimento. Se recuarmos mais na história, encontraremos exemplos, como o caso escandinavo (Suécia, Dinamarca e Noruega), cujo processo de desenvolvimento esteve sempre ligado a um elevado nível de importação de tecnologia e seu processo de emparelha-mento teve como um dos fatores primordiais a preocupação com a formação elementar formal (especialmente formação em engenharia) de jovens.

Outro caso notável é o finlandês. A Finlândia, no século XIX, com uma população relativamente pequena, isolada do restante da Europa e com características climáticas que limi-tavam a agricultura, importou bens de consumo e bens de capital, nos quais a tecnologia da época estava corporificada. Ademais, o Estado finlandês concentrou esforços para o desenvolvimento do sistema de transportes, investiu na modernização da educação primária, técnica e superior, além de ter promovido missões de estudo no exterior como forma de adquirir conhecimento e tecnologia.

A lista de exemplos históricos de nações bem-sucedidas

Tulio Chiarini*

RUMOS – 14 – Julho/Agosto 2015

Transferência de tecnologia e ruptura dosubdesenvolvimento

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* Os pensamentos e ideias expressos neste trabalho não refletem necessariamente aqueles do INT/MCTI. Os eventuais erros são de inteira responsabilidade do autor.¹SABATO, J. A.. Ensayos de Campera. Buenos Aires: Juarez Editor, 1979. 172p.²FURTADO, C.. O mito do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974. 87p.

Tulio Chiarini é analista em C&T da Divisão de Estratégia do Instituto Nacional de Tecnologia, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Economista pela UFMG, mestre em economia pela UFRGS, mestre em administração da inovação pela Scuola Superiore Sant'Anna, doutor em teoria econômica pela Unicamp e pesquisador vinculado ao Grupo de Pesquisa “Economia da Inovação e da Tecnologia” da UFSC. Autor de diversos trabalhos publicados em periódicos indexados nacional e internacionalmente sobre economia industrial, economia da inovação e desenvolvimento

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RUMOS – 15 – Julho/Agosto 2015

m 1979, o físico e tecnólogo argentino Jorge Alberto Sabato¹ conceituou “tecnologia” como sendo o conjunto ordenado de conhecimentos empregados tanto na produção quanto na

comercialização de bens e serviços. Tais conhecimentos estão ligados não apenas aos conhecimentos científicos (pro-venientes das ciências naturais, sociais, humanas etc.), mas também aos conhecimentos empíricos (resultantes da obser-vação, experiências, aptidões específicas, tradição oral e escri-ta etc.).

Em outras palavras, “tecnologia” pode ser tanto um “ar-tefato” (isto é, máquinas, computadores, motores etc.) quan-to um “conhecimento” (codificado e tácito) para a manufatu-ra de produtos, aplicação de um processo e realização de ser-viços. Essas máquinas, computadores, motores e esse conhe-cimento podem ser dissipados de uma nação à outra. A histo-riografia está repleta de exemplos de nações que utilizaram, de forma bem-sucedida, tecnologias desenvolvidas alhures para modernizarem seu aparato produtivo; para tanto, utili-zaram diferentes canais com o objetivo de se apropriarem das melhores tecnologias disponíveis.

A transferência internacional de tecnologia pode se dar por canais legais, mas também por canais ilegais (como con-trabando, roubo, espionagem), sendo que os principais cana-is utilizados mudaram no decorrer do tempo e foram condi-cionados pelas características das tecnologias dominantes em diferentes momentos históricos.

Por exemplo, no início da Primeira Revolução Industrial, o comércio de máquinas não era um canal exclusivo de trans-ferência, uma vez que as máquinas ainda eram rudimentares, pouco precisas, não padronizadas e passavam por aperfeiço-amentos incrementais constantemente. A contratação de mão de obra mostrou-se bastante efetiva na época, uma vez que o conhecimento tecnológico estava basicamente nela cor-porificado. Com a migração, os trabalhadores levavam consi-

vai longe... mas também há casos de nações que importaram tecnologia, modernizaram seu sistema produtivo, porém não romperam com o subdesenvolvimento.

A importação de tecnologia, em muitos casos, pode mera-mente representar uma dependência tecnológica estrutural, a qual faz com que a aquisição de tecnologia externa tenda a ser tratada como “consumo” ao invés de “investimento”, o que parece ser o caso, por exemplo, dos latino-americanos.

Para concluir, pode-se afirmar que a transferência inter-nacional de tecnologia pode permitir a modernização tecno-lógica da nação importadora, ampliando a capacidade de pro-dução, sem garantir a ampliação da aptidão tecnológica doméstica e do rompimento do subdesenvolvimento. A aqui-sição de tecnologia e conhecimentos pode eventualmente ser eficiente no curto prazo, no entanto, não é a melhor opção de longo prazo, já que o desenvolvimento não deriva da mera importação de tecnologias, mas da capacidade doméstica de se estabelecerem sistemas tecnológicos inter-relacionados em evolução, capazes de gerar sinergias para processos de desenvolvimento sustentado. É exatamente esta intercone-xão entre os sistemas tecnológicos que possibilita a difusão de conhecimentos, aptidões e experiências, fundamental para o processo de desenvolvimento. Ademais, o atual paradigma das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e a dinâmica econômica atual das cadeias globais de valor acio-nam novos desafios às nações que buscam se desenvolver.

AARTIGO

go know-how e ajudavam a difundir os novos conhecimentos (sobretudo os tácitos). Em diferentes épocas, outras formas de transferência surgiram.

Mas bastaria importar um conjunto de artefatos e conhe-cimentos produzidos fora das fronteiras nacionais para se modernizar e romper com o subdesenvolvimento? O mestre Celso Furtado², em O mito do desenvolvimento econômico, nos ensi-nou que é possível se industrializar e crescer mantendo a per-petuação do subdesenvolvimento. Portanto, as nações relati-vamente menos desenvolvidas podem desenvolver um pata-mar industrial complexo a partir de esforços de aquisição de tecnologias externas, ou seja, são capazes de se modernizar, sem se desfazer do subdesenvolvimento e dos laços de dependência.

Nações que conseguiram reduzir o hiato tecnológico e se desenvolverem não só importam tecnologia, mas igualmen-te investiram pesadamente na construção de aptidões tecno-lógicas. A aptidão tecnológica se refere às competências, conhecimentos e instituições que compõem a capacidade de uma empresa para criar, gerir e absorver a mudança na tec-nologia que utiliza, ou seja, inclui a qualificação do trabalho, os conhecimentos e experiências, estruturas institucionais e redes. Essa aptidão envolve um processo ativo de aprendiza-do caracterizado pela sua lentidão, cumulatividade e especi-ficidade às firmas e às áreas de conhecimento, e é pressupos-to básico para se aproveitarem eventuais oportunidades tec-nológicas.

Tomemos, por exemplo, o caso relativamente recente da Coreia do Sul. Ela contou pesadamente com a aquisição de tecnologias estrangeiras, sendo o principal canal utilizado a importação de bens de capital, enquanto o investimento dire-to externo teve papel secundário. Ao lado das importações de bens de capital e de produtos tecnológicos, o Estado sul-coreano empreendeu políticas ativas de comércio e industri-ais, as quais foram responsáveis por estimular o dinamismo

tecnológico das empresas industriais locais. Este Estado pas-sou a dar prioridade ao desenvolvimento tecnológico e as ati-vidades de exportação tornaram-se parte integral do esforço governamental em promover a aquisição de capacidades tec-nológicas. Foram tomadas medidas que fomentaram a edu-cação e o treinamento de pessoal qualificado em vários seto-res e foi criada uma infraestrutura de institutos de Ciência e Tecnologia (C&T) com o intuito de servir à indústria, além da criação do Ministério da C&T e o Instituto Coreano de C&T. O Estado sul-coreano fez esforços extraordinários para erradicar o analfabetismo, ampliar a rede de ensino bási-co e médio e melhorar o ensino superior. Portanto, o Estado teve papel ativo na implementação da estratégia coreana de industrialização.

A nosso ver, não existe exemplo na historiografia que demonstre que somente a importação de tecnologia seja sufi-ciente para superar o subdesenvolvimento. Se recuarmos mais na história, encontraremos exemplos, como o caso escandinavo (Suécia, Dinamarca e Noruega), cujo processo de desenvolvimento esteve sempre ligado a um elevado nível de importação de tecnologia e seu processo de emparelha-mento teve como um dos fatores primordiais a preocupação com a formação elementar formal (especialmente formação em engenharia) de jovens.

Outro caso notável é o finlandês. A Finlândia, no século XIX, com uma população relativamente pequena, isolada do restante da Europa e com características climáticas que limi-tavam a agricultura, importou bens de consumo e bens de capital, nos quais a tecnologia da época estava corporificada. Ademais, o Estado finlandês concentrou esforços para o desenvolvimento do sistema de transportes, investiu na modernização da educação primária, técnica e superior, além de ter promovido missões de estudo no exterior como forma de adquirir conhecimento e tecnologia.

A lista de exemplos históricos de nações bem-sucedidas

Tulio Chiarini*

RUMOS – 14 – Julho/Agosto 2015

Transferência de tecnologia e ruptura dosubdesenvolvimento

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* Os pensamentos e ideias expressos neste trabalho não refletem necessariamente aqueles do INT/MCTI. Os eventuais erros são de inteira responsabilidade do autor.¹SABATO, J. A.. Ensayos de Campera. Buenos Aires: Juarez Editor, 1979. 172p.²FURTADO, C.. O mito do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974. 87p.

Tulio Chiarini é analista em C&T da Divisão de Estratégia do Instituto Nacional de Tecnologia, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Economista pela UFMG, mestre em economia pela UFRGS, mestre em administração da inovação pela Scuola Superiore Sant'Anna, doutor em teoria econômica pela Unicamp e pesquisador vinculado ao Grupo de Pesquisa “Economia da Inovação e da Tecnologia” da UFSC. Autor de diversos trabalhos publicados em periódicos indexados nacional e internacionalmente sobre economia industrial, economia da inovação e desenvolvimento

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RUMOS – 17 – Julho/Agosto 2015 RUMOS – 16 – Julho/Agosto 2015

lobo afora, como pudemos constatar no recente congresso do Conselho Mundial de Coo-perativas de Crédito (Woccu), realizado em Denver, no esta-

do do Colorado (EUA), em meados de julho, a busca por leis e regulamentos mais flexíveis e que levem a um maior poder de competição das instituições financeiras cooperativas é uma das principais aspira-ções do setor, cuja resposta passa por uma interlocução fecunda e sadia entre o movi-mento, reguladores e respectivos órgãos de supervisão.

No Brasil, este é um aspecto muito bem equacionado, dado que o diálogo entre o movimento cooperativo e as auto-ridades governamentais é o melhor possí-vel, e o marco regulatório, a começar pela Constituição Federal, substancialmente generoso.

Contudo, em razão especialmente da dinâmica do mercado financeiro, que requer constante aprimoramento dos mecanismos operacionais e padrões de governança, em combinação com um pro-cesso de supervisão que se pretende cada vez mais racional e efetivo, ajustado ao grau de risco das entidades, sempre há espa-ço para avanços.

Nesse sentido, a Resolução CMN nº 4.434, de 5 de agosto corrente, que, a partir da abrangência operacional ou perfil de ris-co, propõe uma nova categorização para as cooperativas; ajusta os níveis de capital e patrimônio líquido a essa nomenclatura e revê o modelo de governança.

A contar da vigência da nova segmentação (em até 180 dias), teremos três tipos de cooperativas, a saber (arts. 15, 17 e 18 da resolução):

de de tal serviço e, por se tratar de cooperativas de 3º grau, assegurar maior independência na sua exe-cução.

Tal providência é ain-da justificada pelo fato de todas as cooperativas esta-rem atualmente vincula-das ao FCGoop – Fundo Garantidor do Cooperati-vismo de Crédito, o que reivindica uma maior uni-formidade no serviço de supervisão auxiliar, atra-vés da aplicação de um padrão mínimo que dê mais segurança e diminua o risco de cobertura de depósitos ao conjunto das entidades contribuin-tes, e também respalde a tomada de decisão sobre futuras (eventuais) opera-ções de assistência finan-ceira.

Estão também em aberto os debates sobre a criação de sociedades coo-perativas que, em substi-tuição às atuais Oscips com semelhante propósi-to, tenham por objeto principal a prestação de garantias em operações de crédito para o pequeno negócio. A iniciativa visa a incrementar o funding para essa finalidade, além de ampliar a credibilidade da solução perante os agen-tes financeiros, uma vez

que o novo tipo societário (cooperativa “de crédito”) estará submetido à supervisão do Banco Central do Brasil.

Por fim, há que se trabalhar no aperfeiçoamento do ins-tituto da solidariedade entre as cooperativas, pré-requisito para a futura consolidação patrimonial dos sistemas associa-dos, e num melhor detalhamento do – até aqui pouco efetivo – regime de cogestão previsto na Lei Complementar 130, de 2009 (art. 16).

No seu conjunto, esses movimentos regulamentares tor-narão o sistema financeiro cooperativo ainda mais sólido e competitivo, apto a inaugurar um novo ciclo de crescimento.

AARTIGO

a) plenas, em cujo grupo estarão classificadas as entidades dispostas a realizar todas as operações permitidas ao segmento, inclusive a assunção de exposições em instrumentos derivati-vos;

b) clássicas, que, além de outras transações de maior risco, não poderão realizar operações nas quais assumam exposição em ouro e em moeda estran-geira; sujeitas à variação cambial e no preço de mercadorias (commodities) e ações, ou, ainda, em derivativos;

c) de capital e empréstimo, que terão as mesmas restrições das clássi-cas, além de não poderem captar depó-sitos e outros recursos junto aos seus associados, embora possam captar recursos de instituições financeiras para repasse aos cooperados, por exem-plo.

Doravante, as cooperativas, por sua assembleia geral, poderão soberana-mente deliberar sobre a amplitude asso-ciativa, em total sintonia com o art. 5º, XVII, da Constituição Federal, e o art. 4º da Lei Complementar 130, de 2009 (respeitadas as vedações do parágrafo único deste dispositivo), devendo a abrangência do quadro social constar do estatuto (art. 16).

Quanto aos limites mínimos de capital e patrimônio líquido, passam a variar conforme a categoria da coope-

rativa e em razão do vínculo (facultativo nos três casos) ou não com uma central (art. 19), sendo maiores no segundo caso. A exigência de valores menores para cooperativas filia-das, uma entre outras tantas distinções pela mesma motiva-ção previstas no novo estatuto normativo, é uma clara indu-

G

ção à verticalização sistêmica, medida salutar para o fortaleci-mento do setor.

No que se refere à gover-nança, as cooperativas plenas (todas) e as clássicas cujos ati-vos médios nos últimos três anos tenham alcançado R$ 50 milhões estarão sujeitas à ado-ção do regime dual (conselho mais diretoria) a partir das elei-ções de 2017, anotado que, doravante, nenhum conselhei-ro poderá atuar simultanea-mente como diretor (art. 27 e §1º). Pela primeira vez, a norma também define um conjunto mínimo de atividades para os conselhos de administração e fiscal (arts. 28 e 31).

Afora essas modificações, vale uma alusão às regras que darão maior transparência e permitirão um maior controle do Banco Central sobre as admissões de cooperativas sin-gulares por centrais e, em espe-cial, as desfiliações, seja por ini-ciativa das singulares, seja das centrais (arts. 40 a 42).

Da mesma forma, há que se saudar o ajuste que permitirá à entidade de auditoria coopera-tiva auditar as demonstrações contábeis das centrais e confe-derações de crédito a ela associ-adas, além do balanço consoli-dado dos arranjos sistêmicos. Adicionalmente, deve-se sali-entar o fato de as demonstra-ções contábeis das cooperati-vas singulares passarem a sujei-tar-se a apenas uma verificação anual pela auditoria externa (art. 45).

Dentre as próximas medidas normativas, o setor cooperativo, em uníssono, aguarda a regulamentação especí-fica sobre as entidades especializadas em auditoria cooperati-va (EAC). O propósito nuclear é deslocar para tais empresas (caso da atual CNAC, por exemplo) parte substancial da supervisão auxiliar, representada pelas atividades de inspeção direta – que envolvem a avaliação do sistema de controles internos, da governança, da gestão de riscos etc. –, hoje aten-didas por cooperativas centrais, de modo a ampliar a qualida-

”Seja feliz com o que você tem, mas fique animado com a chance de ter mais”.

Alan Cohen, empreendedor

Ênio Meinen é advogado, pós-graduado em direito (FGV/RJ) e em gestão estratégica de pessoas (UFRGS) e autor/coautor de vários livros sobre cooperativismo finan-ceiro – área na qual milita há 31 anos –, entre eles “Cooperativismo financeiro: percurso histórico, pers-pectivas e desafios”. Atualmente, é diretor de operações do Banco Coo-perativo do Brasil (Bancoob).

Asc

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Ênio Meinen

Cooperativismo financeiro brasileiro sob nova regulamentação

BC

B

“ A busca por leis mais flexíveis e que levem a um maior poder de competição das instituições financeiras cooperativas é uma

das principais aspirações do setor. Esses movimentos tornarão o sistema ainda mais

sólido e competitivo, apto a inaugurar um novo ciclo de crescimento.

Page 17: Rumos 282

RUMOS – 17 – Julho/Agosto 2015 RUMOS – 16 – Julho/Agosto 2015

lobo afora, como pudemos constatar no recente congresso do Conselho Mundial de Coo-perativas de Crédito (Woccu), realizado em Denver, no esta-

do do Colorado (EUA), em meados de julho, a busca por leis e regulamentos mais flexíveis e que levem a um maior poder de competição das instituições financeiras cooperativas é uma das principais aspira-ções do setor, cuja resposta passa por uma interlocução fecunda e sadia entre o movi-mento, reguladores e respectivos órgãos de supervisão.

No Brasil, este é um aspecto muito bem equacionado, dado que o diálogo entre o movimento cooperativo e as auto-ridades governamentais é o melhor possí-vel, e o marco regulatório, a começar pela Constituição Federal, substancialmente generoso.

Contudo, em razão especialmente da dinâmica do mercado financeiro, que requer constante aprimoramento dos mecanismos operacionais e padrões de governança, em combinação com um pro-cesso de supervisão que se pretende cada vez mais racional e efetivo, ajustado ao grau de risco das entidades, sempre há espa-ço para avanços.

Nesse sentido, a Resolução CMN nº 4.434, de 5 de agosto corrente, que, a partir da abrangência operacional ou perfil de ris-co, propõe uma nova categorização para as cooperativas; ajusta os níveis de capital e patrimônio líquido a essa nomenclatura e revê o modelo de governança.

A contar da vigência da nova segmentação (em até 180 dias), teremos três tipos de cooperativas, a saber (arts. 15, 17 e 18 da resolução):

de de tal serviço e, por se tratar de cooperativas de 3º grau, assegurar maior independência na sua exe-cução.

Tal providência é ain-da justificada pelo fato de todas as cooperativas esta-rem atualmente vincula-das ao FCGoop – Fundo Garantidor do Cooperati-vismo de Crédito, o que reivindica uma maior uni-formidade no serviço de supervisão auxiliar, atra-vés da aplicação de um padrão mínimo que dê mais segurança e diminua o risco de cobertura de depósitos ao conjunto das entidades contribuin-tes, e também respalde a tomada de decisão sobre futuras (eventuais) opera-ções de assistência finan-ceira.

Estão também em aberto os debates sobre a criação de sociedades coo-perativas que, em substi-tuição às atuais Oscips com semelhante propósi-to, tenham por objeto principal a prestação de garantias em operações de crédito para o pequeno negócio. A iniciativa visa a incrementar o funding para essa finalidade, além de ampliar a credibilidade da solução perante os agen-tes financeiros, uma vez

que o novo tipo societário (cooperativa “de crédito”) estará submetido à supervisão do Banco Central do Brasil.

Por fim, há que se trabalhar no aperfeiçoamento do ins-tituto da solidariedade entre as cooperativas, pré-requisito para a futura consolidação patrimonial dos sistemas associa-dos, e num melhor detalhamento do – até aqui pouco efetivo – regime de cogestão previsto na Lei Complementar 130, de 2009 (art. 16).

No seu conjunto, esses movimentos regulamentares tor-narão o sistema financeiro cooperativo ainda mais sólido e competitivo, apto a inaugurar um novo ciclo de crescimento.

AARTIGO

a) plenas, em cujo grupo estarão classificadas as entidades dispostas a realizar todas as operações permitidas ao segmento, inclusive a assunção de exposições em instrumentos derivati-vos;

b) clássicas, que, além de outras transações de maior risco, não poderão realizar operações nas quais assumam exposição em ouro e em moeda estran-geira; sujeitas à variação cambial e no preço de mercadorias (commodities) e ações, ou, ainda, em derivativos;

c) de capital e empréstimo, que terão as mesmas restrições das clássi-cas, além de não poderem captar depó-sitos e outros recursos junto aos seus associados, embora possam captar recursos de instituições financeiras para repasse aos cooperados, por exem-plo.

Doravante, as cooperativas, por sua assembleia geral, poderão soberana-mente deliberar sobre a amplitude asso-ciativa, em total sintonia com o art. 5º, XVII, da Constituição Federal, e o art. 4º da Lei Complementar 130, de 2009 (respeitadas as vedações do parágrafo único deste dispositivo), devendo a abrangência do quadro social constar do estatuto (art. 16).

Quanto aos limites mínimos de capital e patrimônio líquido, passam a variar conforme a categoria da coope-

rativa e em razão do vínculo (facultativo nos três casos) ou não com uma central (art. 19), sendo maiores no segundo caso. A exigência de valores menores para cooperativas filia-das, uma entre outras tantas distinções pela mesma motiva-ção previstas no novo estatuto normativo, é uma clara indu-

G

ção à verticalização sistêmica, medida salutar para o fortaleci-mento do setor.

No que se refere à gover-nança, as cooperativas plenas (todas) e as clássicas cujos ati-vos médios nos últimos três anos tenham alcançado R$ 50 milhões estarão sujeitas à ado-ção do regime dual (conselho mais diretoria) a partir das elei-ções de 2017, anotado que, doravante, nenhum conselhei-ro poderá atuar simultanea-mente como diretor (art. 27 e §1º). Pela primeira vez, a norma também define um conjunto mínimo de atividades para os conselhos de administração e fiscal (arts. 28 e 31).

Afora essas modificações, vale uma alusão às regras que darão maior transparência e permitirão um maior controle do Banco Central sobre as admissões de cooperativas sin-gulares por centrais e, em espe-cial, as desfiliações, seja por ini-ciativa das singulares, seja das centrais (arts. 40 a 42).

Da mesma forma, há que se saudar o ajuste que permitirá à entidade de auditoria coopera-tiva auditar as demonstrações contábeis das centrais e confe-derações de crédito a ela associ-adas, além do balanço consoli-dado dos arranjos sistêmicos. Adicionalmente, deve-se sali-entar o fato de as demonstra-ções contábeis das cooperati-vas singulares passarem a sujei-tar-se a apenas uma verificação anual pela auditoria externa (art. 45).

Dentre as próximas medidas normativas, o setor cooperativo, em uníssono, aguarda a regulamentação especí-fica sobre as entidades especializadas em auditoria cooperati-va (EAC). O propósito nuclear é deslocar para tais empresas (caso da atual CNAC, por exemplo) parte substancial da supervisão auxiliar, representada pelas atividades de inspeção direta – que envolvem a avaliação do sistema de controles internos, da governança, da gestão de riscos etc. –, hoje aten-didas por cooperativas centrais, de modo a ampliar a qualida-

”Seja feliz com o que você tem, mas fique animado com a chance de ter mais”.

Alan Cohen, empreendedor

Ênio Meinen é advogado, pós-graduado em direito (FGV/RJ) e em gestão estratégica de pessoas (UFRGS) e autor/coautor de vários livros sobre cooperativismo finan-ceiro – área na qual milita há 31 anos –, entre eles “Cooperativismo financeiro: percurso histórico, pers-pectivas e desafios”. Atualmente, é diretor de operações do Banco Coo-perativo do Brasil (Bancoob).

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Ênio Meinen

Cooperativismo financeiro brasileiro sob nova regulamentação

BC

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“ A busca por leis mais flexíveis e que levem a um maior poder de competição das instituições financeiras cooperativas é uma

das principais aspirações do setor. Esses movimentos tornarão o sistema ainda mais

sólido e competitivo, apto a inaugurar um novo ciclo de crescimento.

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André Pimentel

RUMOS - 18 – Julho/Agosto 2015

REFLEXÃO

om o acirramento das consequências dessa crise econômica anunciada, tenho recebido muitos questionamentos sobre o que as empresas deveriam fazer para melhorar seu desempenho em momentos como esse. O

problema central com essa pergunta é a clara contradição entre a vontade ou necessidade e o timing.

Costumo pregar que o melhor momento para aprimorar o desempenho é quando a empresa está em condições ideais para dedicar esforço da equipe e foco estratégico, além de disponibilidade de capital, para buscar aumentar de forma relevante e sustentável seu desempenho.

Apesar do aumento da maturidade das lideranças empresariais brasileiras, infelizmente nem todos pensam assim e acabam desperdiçando a chance de se prepararem para os ciclos difíceis. Então, quando estes ciclos aparecem, tentam uma reação tardia para não serem arrastados pela correnteza. Como se no meio de uma forte pneumonia alguém tomasse a decisão que aquela seria a hora certa para se preparar para correr uma maratona.

Apesar do meu severo pessimismo com relação ao que resta de 2015 e de uma porção significativa de 2016, acredito que, mesmo com pneumonia, existem boas práticas de gestão capazes de ajudar quaisquer empresas a minimizar os efeitos da crise. Resumo quatro delas, todas ligadas a atitude, a seguir:

A primeira, e talvez mais importante é: seja otimista, mas não demore um segundo a mais para ajustar a sua operação simplesmente acreditando que a situação vai melhorar. Ao menor sinal de redução das vendas, não acumule estoques. Calibre a produção ou as compras (tanto de produtos de revenda, como de matérias-primas) para não utilizar capital de giro desnecessariamente. Dê férias coletivas, use o lay-off, reduza o número de turnos e as horas trabalhadas. Isso não só reduz despesas diretas, como também indiretas, como energia, água, alimentação e vale transporte.

A segunda ação diz respeito à revisão dos conceitos de desperdício. Ou seja, tudo aquilo que não faz uma grande diferença positiva em época de crise e que não contribui de forma direta ou indireta para gerar ou para poupar caixa.

Substitua viagens por videoconferências, agende as imprescindíveis com antecedência (as passagens e hospeda-gem são mais baratas), opte por hospedagens na região de seus compromissos ou perto dos aeroportos, reduzindo assim os gastos com traslados. Faça uma revisão nos gastos e contratos de telefonia, pois é muito comum uma enorme liberalidade desnecessária do uso de linhas e telefones cor-porativos. Revise os contratos de manutenção, limpeza, alimentação, transporte, plano de saúde, de forma a ajustar os níveis de serviço a uma realidade de crise.

A terceira ação é procurar garantir que todos do time estejam remando para o mesmo lado, ou seja, para longe da cachoeira. Seja transparente com sua equipe; mostre a eles as dificuldades, e comprometa-os com a busca pela supera-ção. Pessoas são o centro das grandes transformações, mas se você tiver dúvida de alguém, substitua imediatamente – pense nas outras tantas que você pode estar colocando em risco mantendo uma que rema contra, ou simplesmente não rema.

Seja muito claro com todos os executivos sobre o único caminho que existe, que é a cooperação verdadeira. Não tolere corpo mole ou corporativismo. Todos são, acima de tudo, executivos da empresa, não apenas das suas respecti-vas áreas.

Por fim, a quarta ação diz respeito à forma como você encara o mercado e seus clientes. Se por um lado não há como transpor uma crise sem receita, por outro as crises econômicas atingem a todos, inclusive seus concorrentes. Por isso, dedique-se para manter os níveis de serviço e a qualidade dos produtos, de forma que os clientes tenham uma melhor percepção do custo/benefício em relação aos seus concorrentes.

GESTÃO

Melhoria de desempenho em tempos de crise

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o Sócio e CEO da Performa Partners, possui mais de 25 anos de experiência em gestão, reestruturação de empresas, fusões e aquisições e governança, no Brasile no exterior.

Page 19: Rumos 282

Edição 2015

Prêmio ABDE-BID

www.abde.org.br

Consulte os vencedoresa partir do dia

09 de outubro em:

Realização

Page 20: Rumos 282

RUMOS – 21 – Julho/Agosto 2015

sistema financeiro nacional tem um dos papéis mais relevantes na promoção do desenvolvimen-to sustentável no país. É através dos recursos apli-cados nas diversas atividades produtivas desen-

volvidas no Brasil que padrões produtivos mais sustentáveis podem ser viabilizados, por exemplo, por meio de linhas de crédito destinadas a fomentar a chamada “economia verde”.

Esse papel indutor da economia real fica ainda mais evi-dente em situações de crise econômica, como no caso recen-te, em 2012/2013, quando as Instituições Financeiras Públi-cas Federais (IFPFs) executaram políticas de crédito anticícli-cas, fomentando a atividade econômica com uma redução gra-dual das taxas de juros de seus produtos financeiros.

Assim, o papel orientador do sistema financeiro para uma transição “mais limpa” na agropecuária, na indústria e até no setor de comércio e serviços desponta como um dos seus prin-cipais papéis na atualidade. Contudo, a responsabilidade soci-oambiental das instituições financeiras (IFs) não se atém à esfera eminentemente produtiva, espraiando-se por questões éticas, sociais e culturais, áreas essas extremamente sensíveis à imagem e reputação no mundo corporativo.

É nesse espectro de atuação que as IFs elaboraram as suas políticas de responsabilidade socioambiental (PRSA), de acor-do com a Resolução CMN nº 4.327/2014. Ora, como os maio-res impactos negativos que as IFs podem gerar são exatamente os indiretos, ou seja, não são aqueles oriundos da sua atividade fim, em sua maior parte relacionados às atividades administra-tivas, mas sim os decorrentes dos empreendimentos que finan-ciam, através do diversificado portfólio de linhas de crédito

Dessa forma, a maior preocupação das IFs nesse processo de criação/revisão de suas PRSAs foi com os dispositivos lega-is relacionados ao gerenciamento do risco socioambiental, que vão desde a etapa de criação de novos produtos/serviços ban-cários até o acompanhamento de projetos já financiados.

No Banco da Amazônia, a política de responsabilidade socioambiental, perfeitamente alinhada à missão institucional, foi publicada em 25 de maio de 2015, antecipando-se, em cer-ca de dois meses, ao prazo determinado pelo Conselho Mone-tário Nacional (CMN), que era até 31 de julho. Para elaborar a

No Relacionamento com as Partes Interessadas, as diretri-zes incluem o incentivo à adoção de boas práticas socioambi-entais pelas partes interessadas, a criação de programa de edu-cação financeira para capacitar as partes interessadas à toma-da de decisões financeiras adequadas; a firmatura de parcerias para a implementação da PRSA e a promoção da excelência na prestação de serviços aos clientes do banco pelos projetis-tas credenciados.

Na Estrutura de Governança, a instituição adotará boas práticas de governança corporativa para as ações referentes à PRSA, envolvendo toda a estrutura organizacional e todos os níveis hierárquicos. Também há previsão de criação de um Comitê de Responsabilidade Socioambiental, de caráter con-sultivo, subordinado ao Conselho de Administração e que contará com a participação de partes interessadas externas.

E, por fim, nas diretrizes de Gerenciamento de Risco Soci-oambiental, o banco compromete-se a criar estrutura de gerenciamento de risco socioambiental com a adoção de sis-temas, rotinas e procedimentos que possibilitem identificar, classificar, avaliar, monitorar, mitigar e controlar o risco soci-oambiental presente em suas atividades e operações. Também aperfeiçoará os critérios socioambientais no processo de cré-dito, adotando as diretrizes estabelecidas na PRSA e os proce-dimentos da Política Socioambiental no Crédito (PSC); e man-terá registros de dados referentes às perdas efetivas em função de danos socioambientais, pelo período mínimo de cinco anos, incluindo valores, tipo, localização e setor econômico objeto da operação. Além disso, fará avaliação prévia dos potenciais impactos socioambientais negativos na criação e no lançamento de novos produtos.

Exemplo para o mundo – O sistema financeiro nacional tem se destacado como referência mundial no tocante à práti-cas de responsabilidade socioambiental e, com a Resolução 4.327, deve se destacar ainda mais, não só pelo maior controle sobre o risco socioambiental, mas inclusive pelo aproveita-mento de oportunidades de negócios que a matéria enseja,

fazendo com que surjam no mercado, por exemplo, novos produtos para adequação das empresas a requisitos de sustentabilidade nos seus processos produtivos, assim como para aspectos sociais, tais como a melhoria das con-dições de trabalho de seus empregados.

Enfim, com a regulamentação em respon-sabilidade socioambiental pelo CMN, espera-se um certo grau de nivelamento das IFs, com um padrão satisfatório de atuação, obviamente guardados os critérios de relevância e proporci-onalidade, bem como o grau de exposição a esse tipo de risco em suas operações.

À guisa de conclusão, não é demais afirmar que a adoção da sustentabilidade no mundo corporativo é um caminho sem volta e ascen-dente. O horizonte é promissor e bons ventos hão de soprar: o meio ambiente e a sociedade agradecem!

sua PRSA, o banco não partiu do zero: o ponto de partida foi a sua Política Corporativa pela Sustentabilidade (PCS), de 2011, haja vista assemelhar-se muito à PRSA prevista na referida resolução. Nesse processo, a instituição também realizou, no período entre 27 de outubro e 9 de novembro de 2014, uma pesquisa sobre a PRSA com seus principais stakeholders – empregados, clientes, parceiros, fornecedores –, obtendo-se um total de 386 respostas, que foram sistematizadas e incorpo-radas, na medida do possível, à política.

Por fim, para concluirmos a elaboração da política, foi rea-lizado benchmarking com as políticas de outras instituições, e contratada consultoria para verificar a aderência da PRSA pro-posta com o disposto na resolução. Adicionalmente, confor-me também prevê a resolução, foi elaborado um Plano de Ação para implementar a política.

Especificamente para o gerenciamento do risco socioam-biental, desde 2006, com a Política Socioambiental no Crédi-to do Banco da Amazônia, além da análise da viabilidade eco-nômico-financeira, é feita uma avaliação socioambiental dos projetos que pleiteiam financiamento. Agora, com a nova PRSA, essa avaliação será aperfeiçoada, melhorando o pro-cesso de gerenciamento de risco socioambiental. Também deverão ser criados critérios específicos de avaliação para ati-vidades com maior potencial de causar impactos dessa natu-reza, tais como alguns tipos de culturas agrícolas, a pecuária e atividades industriais potencialmente mais poluentes ou que usem matérias-primas/insumos sensíveis, tais como madeira para combustão ou minério, por exemplo.

Observe-se ainda que a maior parte das instituições finan-ceiras têm seus programas socioambientais internos, voltados à ecoeficiência, qualidade de vida, descarte de resíduos, dentre outros aspectos, que também devem ser contemplados pela PRSA. O Banco da Amazônia, como braço do governo fede-ral para a execução de suas políticas, planos e programas para o desenvolvimento da região, tem sua agenda ambiental den-tro da Agenda Ambiental da Administração Pública (A3P), do Ministério do Meio Ambiente, e desenvolve ações nos diver-sos eixos do programa: Uso racional dos Recursos Naturais e Bens Públicos; Gestão adequada dos Resíduos Gerados; Con-tratações Sustentáveis; Qualidade de Vida no Trabalho, e Sen-sibilização e Capacitação. Nossa atuação na agenda ambiental tem servido de referência para diversos órgãos e já recebeu o certificado “Selo Verde da A3P”, um reconhecimento pelo nosso trabalho.

Diretrizes e Plano de Ação – A revisão da PRSA deverá acontecer, no máximo, a cada 5 anos, e as suas diretrizes estão assim estruturadas: Sustentabilidade nos Negócios; Organiza-cionais; Relacionamento com as Partes Interessadas; Estrutu-ra de Governança; e Gerenciamento de Risco Socioambiental.

Nas diretrizes de Sustentabilidade nos Negócios, a atua-ção do Banco da Amazônia pauta-se pela promoção do desenvolvimento sustentável por meio da oferta de produtos financeiros adequados às necessidades regionais. Para tanto, o banco orientará a aplicação de recursos para reduzir as desi-gualdades inter e intrarregionais, reforçará o seu papel de fomento à inovação, e ao desenvolvimento científico e tecno-lógico, bem como promoverá a inclusão financeira e o uso sus-tentável dos recursos naturais, dentre outras ações.

Entre as diretrizes organizacionais, destaquem-se a ado-ção de boas práticas de ecoeficiência, por meio do uso susten-tável dos recursos naturais e da gestão adequada de resíduos gerados; a inclusão da educação socioambiental em programa de treinamento de todos os colaboradores; e o programa de relacionamento socioambiental com fornecedores.

RUMOS – 20 – Julho/Agosto 2015

A ARTIGO

O

Políticasocioambientalno Centro

AnáliseSocioambientalno Crédito

Protocolo de Intenções deResponsabilidadeSocioambiental

Prêmio empreendedorismo Consciente

Missão incorporaDeSus

Criação Área Meio Ambiente

Programa Amazônia Recida

Programa Amazônia Otimiza

Política Corporativapela Sustentabilidade

Agenda 21 Bancoda Amazônia

Plano Banco daAmazônia pelaSustentabilidade2011/2022

FNO Biodiversidaderecebe Prêmio AlideVerde

Plano Banco da Amazônia em SituaçõesClimáticas Extremas

Inclusão de critérios de sustentabilidade no edital de patrocínio

Toféu HonorisCausa, daHumanitareFoundation

Certificado EmpresaCidadãFIRLAN E CRC-RJ

2006 2008 2010 20112012

2013

Adesão ao Núcleo dosObjetivos de Desenvolvimentodo Milênio (ODM) - Pará,Tocantins e Amapá

2014

SUSTENTABILIDADE NO BANCO DA AMAZÔNIA

Publicaçãoda PRSA

Selo Verde da A3P

Fonte: Banco da Amazônia

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Por Laura Rocha Santos

2015

Compromisso para gerarlucro socioambiental

Mestre em Economia e Coordenadora de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Banco da Amazônia S.A.

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RUMOS – 21 – Julho/Agosto 2015

sistema financeiro nacional tem um dos papéis mais relevantes na promoção do desenvolvimen-to sustentável no país. É através dos recursos apli-cados nas diversas atividades produtivas desen-

volvidas no Brasil que padrões produtivos mais sustentáveis podem ser viabilizados, por exemplo, por meio de linhas de crédito destinadas a fomentar a chamada “economia verde”.

Esse papel indutor da economia real fica ainda mais evi-dente em situações de crise econômica, como no caso recen-te, em 2012/2013, quando as Instituições Financeiras Públi-cas Federais (IFPFs) executaram políticas de crédito anticícli-cas, fomentando a atividade econômica com uma redução gra-dual das taxas de juros de seus produtos financeiros.

Assim, o papel orientador do sistema financeiro para uma transição “mais limpa” na agropecuária, na indústria e até no setor de comércio e serviços desponta como um dos seus prin-cipais papéis na atualidade. Contudo, a responsabilidade soci-oambiental das instituições financeiras (IFs) não se atém à esfera eminentemente produtiva, espraiando-se por questões éticas, sociais e culturais, áreas essas extremamente sensíveis à imagem e reputação no mundo corporativo.

É nesse espectro de atuação que as IFs elaboraram as suas políticas de responsabilidade socioambiental (PRSA), de acor-do com a Resolução CMN nº 4.327/2014. Ora, como os maio-res impactos negativos que as IFs podem gerar são exatamente os indiretos, ou seja, não são aqueles oriundos da sua atividade fim, em sua maior parte relacionados às atividades administra-tivas, mas sim os decorrentes dos empreendimentos que finan-ciam, através do diversificado portfólio de linhas de crédito

Dessa forma, a maior preocupação das IFs nesse processo de criação/revisão de suas PRSAs foi com os dispositivos lega-is relacionados ao gerenciamento do risco socioambiental, que vão desde a etapa de criação de novos produtos/serviços ban-cários até o acompanhamento de projetos já financiados.

No Banco da Amazônia, a política de responsabilidade socioambiental, perfeitamente alinhada à missão institucional, foi publicada em 25 de maio de 2015, antecipando-se, em cer-ca de dois meses, ao prazo determinado pelo Conselho Mone-tário Nacional (CMN), que era até 31 de julho. Para elaborar a

No Relacionamento com as Partes Interessadas, as diretri-zes incluem o incentivo à adoção de boas práticas socioambi-entais pelas partes interessadas, a criação de programa de edu-cação financeira para capacitar as partes interessadas à toma-da de decisões financeiras adequadas; a firmatura de parcerias para a implementação da PRSA e a promoção da excelência na prestação de serviços aos clientes do banco pelos projetis-tas credenciados.

Na Estrutura de Governança, a instituição adotará boas práticas de governança corporativa para as ações referentes à PRSA, envolvendo toda a estrutura organizacional e todos os níveis hierárquicos. Também há previsão de criação de um Comitê de Responsabilidade Socioambiental, de caráter con-sultivo, subordinado ao Conselho de Administração e que contará com a participação de partes interessadas externas.

E, por fim, nas diretrizes de Gerenciamento de Risco Soci-oambiental, o banco compromete-se a criar estrutura de gerenciamento de risco socioambiental com a adoção de sis-temas, rotinas e procedimentos que possibilitem identificar, classificar, avaliar, monitorar, mitigar e controlar o risco soci-oambiental presente em suas atividades e operações. Também aperfeiçoará os critérios socioambientais no processo de cré-dito, adotando as diretrizes estabelecidas na PRSA e os proce-dimentos da Política Socioambiental no Crédito (PSC); e man-terá registros de dados referentes às perdas efetivas em função de danos socioambientais, pelo período mínimo de cinco anos, incluindo valores, tipo, localização e setor econômico objeto da operação. Além disso, fará avaliação prévia dos potenciais impactos socioambientais negativos na criação e no lançamento de novos produtos.

Exemplo para o mundo – O sistema financeiro nacional tem se destacado como referência mundial no tocante à práti-cas de responsabilidade socioambiental e, com a Resolução 4.327, deve se destacar ainda mais, não só pelo maior controle sobre o risco socioambiental, mas inclusive pelo aproveita-mento de oportunidades de negócios que a matéria enseja,

fazendo com que surjam no mercado, por exemplo, novos produtos para adequação das empresas a requisitos de sustentabilidade nos seus processos produtivos, assim como para aspectos sociais, tais como a melhoria das con-dições de trabalho de seus empregados.

Enfim, com a regulamentação em respon-sabilidade socioambiental pelo CMN, espera-se um certo grau de nivelamento das IFs, com um padrão satisfatório de atuação, obviamente guardados os critérios de relevância e proporci-onalidade, bem como o grau de exposição a esse tipo de risco em suas operações.

À guisa de conclusão, não é demais afirmar que a adoção da sustentabilidade no mundo corporativo é um caminho sem volta e ascen-dente. O horizonte é promissor e bons ventos hão de soprar: o meio ambiente e a sociedade agradecem!

sua PRSA, o banco não partiu do zero: o ponto de partida foi a sua Política Corporativa pela Sustentabilidade (PCS), de 2011, haja vista assemelhar-se muito à PRSA prevista na referida resolução. Nesse processo, a instituição também realizou, no período entre 27 de outubro e 9 de novembro de 2014, uma pesquisa sobre a PRSA com seus principais stakeholders – empregados, clientes, parceiros, fornecedores –, obtendo-se um total de 386 respostas, que foram sistematizadas e incorpo-radas, na medida do possível, à política.

Por fim, para concluirmos a elaboração da política, foi rea-lizado benchmarking com as políticas de outras instituições, e contratada consultoria para verificar a aderência da PRSA pro-posta com o disposto na resolução. Adicionalmente, confor-me também prevê a resolução, foi elaborado um Plano de Ação para implementar a política.

Especificamente para o gerenciamento do risco socioam-biental, desde 2006, com a Política Socioambiental no Crédi-to do Banco da Amazônia, além da análise da viabilidade eco-nômico-financeira, é feita uma avaliação socioambiental dos projetos que pleiteiam financiamento. Agora, com a nova PRSA, essa avaliação será aperfeiçoada, melhorando o pro-cesso de gerenciamento de risco socioambiental. Também deverão ser criados critérios específicos de avaliação para ati-vidades com maior potencial de causar impactos dessa natu-reza, tais como alguns tipos de culturas agrícolas, a pecuária e atividades industriais potencialmente mais poluentes ou que usem matérias-primas/insumos sensíveis, tais como madeira para combustão ou minério, por exemplo.

Observe-se ainda que a maior parte das instituições finan-ceiras têm seus programas socioambientais internos, voltados à ecoeficiência, qualidade de vida, descarte de resíduos, dentre outros aspectos, que também devem ser contemplados pela PRSA. O Banco da Amazônia, como braço do governo fede-ral para a execução de suas políticas, planos e programas para o desenvolvimento da região, tem sua agenda ambiental den-tro da Agenda Ambiental da Administração Pública (A3P), do Ministério do Meio Ambiente, e desenvolve ações nos diver-sos eixos do programa: Uso racional dos Recursos Naturais e Bens Públicos; Gestão adequada dos Resíduos Gerados; Con-tratações Sustentáveis; Qualidade de Vida no Trabalho, e Sen-sibilização e Capacitação. Nossa atuação na agenda ambiental tem servido de referência para diversos órgãos e já recebeu o certificado “Selo Verde da A3P”, um reconhecimento pelo nosso trabalho.

Diretrizes e Plano de Ação – A revisão da PRSA deverá acontecer, no máximo, a cada 5 anos, e as suas diretrizes estão assim estruturadas: Sustentabilidade nos Negócios; Organiza-cionais; Relacionamento com as Partes Interessadas; Estrutu-ra de Governança; e Gerenciamento de Risco Socioambiental.

Nas diretrizes de Sustentabilidade nos Negócios, a atua-ção do Banco da Amazônia pauta-se pela promoção do desenvolvimento sustentável por meio da oferta de produtos financeiros adequados às necessidades regionais. Para tanto, o banco orientará a aplicação de recursos para reduzir as desi-gualdades inter e intrarregionais, reforçará o seu papel de fomento à inovação, e ao desenvolvimento científico e tecno-lógico, bem como promoverá a inclusão financeira e o uso sus-tentável dos recursos naturais, dentre outras ações.

Entre as diretrizes organizacionais, destaquem-se a ado-ção de boas práticas de ecoeficiência, por meio do uso susten-tável dos recursos naturais e da gestão adequada de resíduos gerados; a inclusão da educação socioambiental em programa de treinamento de todos os colaboradores; e o programa de relacionamento socioambiental com fornecedores.

RUMOS – 20 – Julho/Agosto 2015

A ARTIGO

O

Políticasocioambientalno Centro

AnáliseSocioambientalno Crédito

Protocolo de Intenções deResponsabilidadeSocioambiental

Prêmio empreendedorismo Consciente

Missão incorporaDeSus

Criação Área Meio Ambiente

Programa Amazônia Recida

Programa Amazônia Otimiza

Política Corporativapela Sustentabilidade

Agenda 21 Bancoda Amazônia

Plano Banco daAmazônia pelaSustentabilidade2011/2022

FNO Biodiversidaderecebe Prêmio AlideVerde

Plano Banco da Amazônia em SituaçõesClimáticas Extremas

Inclusão de critérios de sustentabilidade no edital de patrocínio

Toféu HonorisCausa, daHumanitareFoundation

Certificado EmpresaCidadãFIRLAN E CRC-RJ

2006 2008 2010 20112012

2013

Adesão ao Núcleo dosObjetivos de Desenvolvimentodo Milênio (ODM) - Pará,Tocantins e Amapá

2014

SUSTENTABILIDADE NO BANCO DA AMAZÔNIA

Publicaçãoda PRSA

Selo Verde da A3P

Fonte: Banco da Amazônia

Div

ulg

açã

o

Por Laura Rocha Santos

2015

Compromisso para gerarlucro socioambiental

Mestre em Economia e Coordenadora de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Banco da Amazônia S.A.

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RUMOS – 23 – Julho/Agosto 2015

Por Danile Rebouças

AUDIOVISUAL

Atuação do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul como agente financeiro do Fundo Setorial Audiovisual contribui para a expansão da produção cinematográfica em diferentes partes do país

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rês anos depois de ser credenciado para atuar como agente financeiro do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) tem motivos para comemorar. Neste período, o número de contratos emitidos pelo

banco, para financiamentos de produções pelo Fundo, cresce a cada ano, assim como a quantidade de projetos inscritos a cada chamada pública realizada pela instituição.

Este ano, o BRDE emitiu 208 contratos até o mês de julho, o que representa 123,6 % a mais do que o total expedido no ano de 2014 (93 contratos). Desde o início da parceria firmada entre a Agência Nacional de Cinema (Ancine), Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e BRDE, em junho de 2012, foram emitidos 368 contratos.

Esta parceria permitiu ao BRDE, que é um banco público de fomento, a execução operacional de algumas linhas de ação do Fundo – formado com recursos da União. O banco já realizou 28 chamadas públicas, num total de R$ 848,9 milhões (excluída a suplementação regional lançada pela Ancine). Os editais contemplam os diversos segmentos do setor audiovisu-al – produção, distribuição/comercialização, exibição e infra-estrutura de serviços.

O FSA tem contribuído com a expansão da produção nacional da atividade cinematográfica e audiovisual brasileira e

a marca BRDE acompanha todos os produtos. “É nosso papel promover o desenvolvimento econômico e social. O setor audiovisual é representativo na economia brasileira e também na Região Sul do Brasil. Na medida em que o banco contribui para que a indústria se desenvolva, gerando empre-go e renda nos diferentes segmentos de sua cadeia produtiva, cumprimos nossa missão”, ressalta o superintendente de Planejamento do BRDE, Maurício Mocelin.

Cenário favorável – O diretor de Planejamento do BRDE, Luiz Noronha, avalia que há uma série de fatores que vêm contribuindo para o aquecimento do mercado brasileiro do audiovisual. O ponto de partida, conforme aponta, é a exis-tência de uma política nacional consistente de fomento à cadeia produtiva do setor, à qual desde 2006 o FSA está vincu-lado. Nos últimos quatro anos somou-se a isso a vigência da chamada Lei da TV Paga (Lei 12.485), que instituiu a obrigato-riedade de veiculação de programação nacional nos canais de televisão por assinatura.

“Como efeito imediato, o interesse por produções nacio-nais cresceu de forma expressiva num curto espaço de tempo, tanto por parte das emissoras de televisão como dos realiza-dores de séries e programas. Para dar conta dessas demandas, a Ancine implantou novas linhas de financiamento e realizou ajustes operacionais importantes nos processos do FSA. Atuando como agente financeiro do sistema, o BRDE conse-guiu dar respostas mais ágeis por meio de sua equipe técnica e, consequentemente, atendeu a um maior número de solicita-ções no período”, afirma Luiz Noronha, justificando o aumento significativo no número de contratos em 2015.

Para ele, “poder contribuir para o desenvolvimento da indústria brasileira do audiovisual em um cenário de crescen-te profissionalização representa a oportunidade de gerar negócios que associam a marca do banco à cultura, à infor-mação, à inovação tecnológica e, sobretudo, à criação de novas oportunidades de trabalho e de geração de renda”.

Projetos – O número de projetos inscritos nas chamadas públicas para o FSA também cresceu. Nas 11 chamadas

Nas telas do Brasil

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realizadas em 2014 houve a inscrição de 2.123 projetos – 50,35% a mais do que no ano ante-rior. Estes números se destacam ainda mais quando se compara com o período de atuação do FSA anterior à parceria com o BRDE. Da criação do Fundo, em dezembro de 2008, até o fechamento do acordo com o banco (em junho de 2012), 861 projetos foram inscritos, sendo que 214 receberam investimento, con-forme divulgou a Rumos na época da assinatu-ra do contrato de parceria.

As chamadas para produção, desenvolvi-mento e comercialização de obras de audiovi-suais acontecem em duas modalidades: con-curso público e fluxo contínuo, que permanece aberta até esgotar todo o valor disponibilizado.

A chefe do Departamento de Programas e Orçamentos do BRDE, Vitória Lunardelli, relaciona este aumento da procura de 2013 para 2014 ao lançamento de uma nova linha para televisões públicas. Foram anunciados cinco editais nesta área, um para cada região do país, o que gerou 756 inscrições. “Mu-damos o foco e os resultados foram bem favoráveis”, diz.

O diretor de Planejamento lembra ainda que a comunica-ção online facilita e agiliza todos os processos, da mesma forma que permite dar transparência aos resultados alcançados. “Isso é bastante motivador para quem deseja ingressar ou reforçar sua presença nesse mercado”, pontua. Para Luiz Noronha, “o fato de que o mercado está em expansão motiva a busca cres-cente por recursos, e a divulgação do mecanismo de financia-mento para a cadeia produtiva do cinema e da televisão por editais públicos, por si só, gera uma mobilização que se amplia a cada chamada”.

Atuação – As diretrizes e as áreas prioritárias para a aplicação dos recursos do Fundo são estabelecidas pelo Comitê Gestor do FSA, que é formado por representantes do Ministério da Cultura, da Ancine, do agente financeiro e do setor audiovisu-al. O BRDE participa das reuniões e pode apresentar suges-tões, porém as definições das linhas de ação e conteúdo das chamadas cabem ao Comitê.

“Nossas equipes dedicam-se ao máximo para dar agilidade e segurança à tramitação dos projetos no banco. Nosso papel é fazer com que os recursos cheguem na ponta com a maior celeridade possível e acreditamos que estamos atingindo esse objetivo. Mas é fundamental trabalhar em sincronia com a Ancine”, comenta o superintendente.

O feedback do setor audiovisual tem sido bastante positi-vo na avaliação de Maurício Mocelin. “Constantemente recebemos e-mails e telefonema dos proponentes elogiando a qualidade e agilidade do nosso trabalho. Isso nos orgulha e motiva a continuar aperfeiçoando cada vez mais nossos processos. Evidentemente, que há casos em que as soluções fogem do nosso alcance, mas procuramos sempre orientar sobre os procedimentos a serem adotados para a solução dos problemas”.

RUMOS – 22 – Julho/Agosto 2015

Oportunidades para as cinco regiões brasileiras

As chamadas para o FSA focam nas diferen-tes regiões brasileiras. Já há ações em andamento que incentivam a produção audiovisual confor-me a realidade do local. Em 2014, por exemplo, a Ancine lançou chamada pública no valor de R$ 95 milhões para suplementação de recursos em editais de estados e municípios, aportando recur-sos de forma descentralizada nos projetos seleci-onados. Outra forma de descentralização, con-forme aponta o superintendente de Planejamen-to, Maurício Mocelin, foi a chamada exclusiva para TVs Públicas, que destinou R$ 12 milhões para cada região do país.

Os resultados são vistos nas telas. Projetos de grande projeção nacional como os filmes Faroeste Caboclo, Copa de Elite, Os homens são de Marte... e é pra lá que eu vou!, Hoje eu quero voltar sozinho, entre outros; e projetos de televisão, a exemplo de As Canalhas e Assunto de Família, são obras que tiveram investimento do FSA, com apoio e operacionalização pelo BRDE.

Em levantamento feito pela chefe do Departamento de Programas e Orçamento do banco, Vitória Lunardelli (foto), que inclui dados até maio de

2015, os estados do Rio de Janeiro e São Paulo ainda concentram a maior parte dos projetos con-templados – 73,2% do total, com 80% dos investi-mentos realizados. No entanto, há na lista estados beneficiados de todas as cinco regiões brasileiras.

Vitória Lunardelli destaca que o reconheci-mento do trabalho do BRDE em todo o país e a maior aproximação com o governo federal são os principais retornos para o banco. “A gestão de um fundo federal nos capacita e abre portas para a gestão de outros fundos, além da visibilidade naci-onal e internacional que temos, devido à inserção da logomarca do BRDE nas obras audiovisuais”, afirma.

O superintendente Maurício Mocelin concor-da que o conhecimento adquirido na gestão de um fundo federal capacita e credencia o banco, e acrescenta que o BRDE continuará melhorando os processos para garantir agilidade e contribuir com o desenvolvimento da produção audiovisual brasileira.

Luiz Noronha, diretor de Planejamento do BRDE, celebra a associação do nome do banco à cultura e à inovação tecnológica

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Atuação do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul como agente financeiro do Fundo Setorial Audiovisual contribui para a expansão da produção cinematográfica em diferentes partes do país

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rês anos depois de ser credenciado para atuar como agente financeiro do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) tem motivos para comemorar. Neste período, o número de contratos emitidos pelo

banco, para financiamentos de produções pelo Fundo, cresce a cada ano, assim como a quantidade de projetos inscritos a cada chamada pública realizada pela instituição.

Este ano, o BRDE emitiu 208 contratos até o mês de julho, o que representa 123,6 % a mais do que o total expedido no ano de 2014 (93 contratos). Desde o início da parceria firmada entre a Agência Nacional de Cinema (Ancine), Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e BRDE, em junho de 2012, foram emitidos 368 contratos.

Esta parceria permitiu ao BRDE, que é um banco público de fomento, a execução operacional de algumas linhas de ação do Fundo – formado com recursos da União. O banco já realizou 28 chamadas públicas, num total de R$ 848,9 milhões (excluída a suplementação regional lançada pela Ancine). Os editais contemplam os diversos segmentos do setor audiovisu-al – produção, distribuição/comercialização, exibição e infra-estrutura de serviços.

O FSA tem contribuído com a expansão da produção nacional da atividade cinematográfica e audiovisual brasileira e

a marca BRDE acompanha todos os produtos. “É nosso papel promover o desenvolvimento econômico e social. O setor audiovisual é representativo na economia brasileira e também na Região Sul do Brasil. Na medida em que o banco contribui para que a indústria se desenvolva, gerando empre-go e renda nos diferentes segmentos de sua cadeia produtiva, cumprimos nossa missão”, ressalta o superintendente de Planejamento do BRDE, Maurício Mocelin.

Cenário favorável – O diretor de Planejamento do BRDE, Luiz Noronha, avalia que há uma série de fatores que vêm contribuindo para o aquecimento do mercado brasileiro do audiovisual. O ponto de partida, conforme aponta, é a exis-tência de uma política nacional consistente de fomento à cadeia produtiva do setor, à qual desde 2006 o FSA está vincu-lado. Nos últimos quatro anos somou-se a isso a vigência da chamada Lei da TV Paga (Lei 12.485), que instituiu a obrigato-riedade de veiculação de programação nacional nos canais de televisão por assinatura.

“Como efeito imediato, o interesse por produções nacio-nais cresceu de forma expressiva num curto espaço de tempo, tanto por parte das emissoras de televisão como dos realiza-dores de séries e programas. Para dar conta dessas demandas, a Ancine implantou novas linhas de financiamento e realizou ajustes operacionais importantes nos processos do FSA. Atuando como agente financeiro do sistema, o BRDE conse-guiu dar respostas mais ágeis por meio de sua equipe técnica e, consequentemente, atendeu a um maior número de solicita-ções no período”, afirma Luiz Noronha, justificando o aumento significativo no número de contratos em 2015.

Para ele, “poder contribuir para o desenvolvimento da indústria brasileira do audiovisual em um cenário de crescen-te profissionalização representa a oportunidade de gerar negócios que associam a marca do banco à cultura, à infor-mação, à inovação tecnológica e, sobretudo, à criação de novas oportunidades de trabalho e de geração de renda”.

Projetos – O número de projetos inscritos nas chamadas públicas para o FSA também cresceu. Nas 11 chamadas

Nas telas do Brasil

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realizadas em 2014 houve a inscrição de 2.123 projetos – 50,35% a mais do que no ano ante-rior. Estes números se destacam ainda mais quando se compara com o período de atuação do FSA anterior à parceria com o BRDE. Da criação do Fundo, em dezembro de 2008, até o fechamento do acordo com o banco (em junho de 2012), 861 projetos foram inscritos, sendo que 214 receberam investimento, con-forme divulgou a Rumos na época da assinatu-ra do contrato de parceria.

As chamadas para produção, desenvolvi-mento e comercialização de obras de audiovi-suais acontecem em duas modalidades: con-curso público e fluxo contínuo, que permanece aberta até esgotar todo o valor disponibilizado.

A chefe do Departamento de Programas e Orçamentos do BRDE, Vitória Lunardelli, relaciona este aumento da procura de 2013 para 2014 ao lançamento de uma nova linha para televisões públicas. Foram anunciados cinco editais nesta área, um para cada região do país, o que gerou 756 inscrições. “Mu-damos o foco e os resultados foram bem favoráveis”, diz.

O diretor de Planejamento lembra ainda que a comunica-ção online facilita e agiliza todos os processos, da mesma forma que permite dar transparência aos resultados alcançados. “Isso é bastante motivador para quem deseja ingressar ou reforçar sua presença nesse mercado”, pontua. Para Luiz Noronha, “o fato de que o mercado está em expansão motiva a busca cres-cente por recursos, e a divulgação do mecanismo de financia-mento para a cadeia produtiva do cinema e da televisão por editais públicos, por si só, gera uma mobilização que se amplia a cada chamada”.

Atuação – As diretrizes e as áreas prioritárias para a aplicação dos recursos do Fundo são estabelecidas pelo Comitê Gestor do FSA, que é formado por representantes do Ministério da Cultura, da Ancine, do agente financeiro e do setor audiovisu-al. O BRDE participa das reuniões e pode apresentar suges-tões, porém as definições das linhas de ação e conteúdo das chamadas cabem ao Comitê.

“Nossas equipes dedicam-se ao máximo para dar agilidade e segurança à tramitação dos projetos no banco. Nosso papel é fazer com que os recursos cheguem na ponta com a maior celeridade possível e acreditamos que estamos atingindo esse objetivo. Mas é fundamental trabalhar em sincronia com a Ancine”, comenta o superintendente.

O feedback do setor audiovisual tem sido bastante positi-vo na avaliação de Maurício Mocelin. “Constantemente recebemos e-mails e telefonema dos proponentes elogiando a qualidade e agilidade do nosso trabalho. Isso nos orgulha e motiva a continuar aperfeiçoando cada vez mais nossos processos. Evidentemente, que há casos em que as soluções fogem do nosso alcance, mas procuramos sempre orientar sobre os procedimentos a serem adotados para a solução dos problemas”.

RUMOS – 22 – Julho/Agosto 2015

Oportunidades para as cinco regiões brasileiras

As chamadas para o FSA focam nas diferen-tes regiões brasileiras. Já há ações em andamento que incentivam a produção audiovisual confor-me a realidade do local. Em 2014, por exemplo, a Ancine lançou chamada pública no valor de R$ 95 milhões para suplementação de recursos em editais de estados e municípios, aportando recur-sos de forma descentralizada nos projetos seleci-onados. Outra forma de descentralização, con-forme aponta o superintendente de Planejamen-to, Maurício Mocelin, foi a chamada exclusiva para TVs Públicas, que destinou R$ 12 milhões para cada região do país.

Os resultados são vistos nas telas. Projetos de grande projeção nacional como os filmes Faroeste Caboclo, Copa de Elite, Os homens são de Marte... e é pra lá que eu vou!, Hoje eu quero voltar sozinho, entre outros; e projetos de televisão, a exemplo de As Canalhas e Assunto de Família, são obras que tiveram investimento do FSA, com apoio e operacionalização pelo BRDE.

Em levantamento feito pela chefe do Departamento de Programas e Orçamento do banco, Vitória Lunardelli (foto), que inclui dados até maio de

2015, os estados do Rio de Janeiro e São Paulo ainda concentram a maior parte dos projetos con-templados – 73,2% do total, com 80% dos investi-mentos realizados. No entanto, há na lista estados beneficiados de todas as cinco regiões brasileiras.

Vitória Lunardelli destaca que o reconheci-mento do trabalho do BRDE em todo o país e a maior aproximação com o governo federal são os principais retornos para o banco. “A gestão de um fundo federal nos capacita e abre portas para a gestão de outros fundos, além da visibilidade naci-onal e internacional que temos, devido à inserção da logomarca do BRDE nas obras audiovisuais”, afirma.

O superintendente Maurício Mocelin concor-da que o conhecimento adquirido na gestão de um fundo federal capacita e credencia o banco, e acrescenta que o BRDE continuará melhorando os processos para garantir agilidade e contribuir com o desenvolvimento da produção audiovisual brasileira.

Luiz Noronha, diretor de Planejamento do BRDE, celebra a associação do nome do banco à cultura e à inovação tecnológica

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ivemos “tempos interessantes”, na expressão cria-da por Eric Hobsbawn. A segunda etapa da ascen-são da China à condição de potência econômica, criando novas instituições internacionais e bus-cando internacionalizar sua moeda; a lenta e incer-

ta digestão da crise financeira e sua metamorfose em crises fis-cal, produtiva, social e política, nas economias mais ricas do pla-neta; a escalada dos eventos climáticos extremos e das crises hídricas, com implicações potenciais para o modelo de cresci-mento mundial; e as mudanças no plano tecnológico, que começam a revolucionar a forma de produzir e distribuir, com implicações de grande alcance para o futuro da distribuição geográfica da produção, da inovação e da geopolítica mundial.

Todos esses fenômenos têm implicações de profundo alcance para o futuro. Juntas, essas questões trazem à tona pos-sibilidades de rupturas com o mundo atual e transformações nos planos econômico, tecnológico, social e político.

No Brasil, o mais forte sinal do presente se dá no campo político. Nos tempos atuais, observam-se: a) fragmentação política e questionamentos da legitimidade das formas tradici-onais de representação; b) conflitos e disputas entre os três poderes; c) novas exigências de governança e de prestação de contas à sociedade; d) maior relevância dos órgãos reguladores e fiscalizadores (e outras instituições paralelas do Estado); e e) amadurecimento em meio à crescente judicialização das rela-ções produtivas e sociais. Todos são fenômenos atuais, sobre os quais não se sabe se perderão força, ou se serão o novo padrão, com o qual o país deverá aprender a conviver.

No âmbito econômico, alargando o horizonte para além de questões conjunturais, ressaltam-se em primeiro lugar as mudanças ocorridas na distribuição de renda e redução da pobreza, mas também os obstáculos colocados no caminho da nova economia brasileira, destacadamente a deficiência da infraestrutura e a baixa produtividade. Desde a segunda meta-de da década passada, a economia brasileira vem passando por um processo de perda de competitividade da indústria manu-fatureira, que tem resultado na redução de seu peso na estrutu-ra produtiva e nas exportações brasileiras (e das exportações brasileiras de manufaturas nas exportações mundiais dessa categoria de bens).

termos de algumas variáveis quantitativas, por se situarem no campo entre os extremos, são muito diferentes entre si. O “Deixa a vida me levar” corresponde a uma situação em que há passividade doméstica frente a um cenário mundial de bonança e em que, a despeito da baixa eficiência e coordena-ção domésticas, o país experimentou fases de melhoria da renda, do bem-estar etc., associadas aos momentos mais favoráveis do ciclo econômico mundial, embora tenha ocor-rido ampla desindustrialização. Já o cenário “Apesar de você” corresponde a uma situação (não totalmente inédita na história do país) em que a adversidade externa funcionou como um desafio que mobilizou de forma positiva as forças políticas domésticas, gerando respostas construtivas com ele-vada capacidade de promover o desenvolvimento do país no longo prazo.

Assim, enquanto no cenário “Deixa a vida me levar” o país passou por momentos de euforia e bem-estar (causa-dos por ventos externos favoráveis), mas não construiu um futuro sólido e independente, no cenário “Apesar de você” atravessou um longo período de adversidades, mas pouco a pouco foram se construindo as bases de um futuro mais próspero.

O objetivo do exercício dos Cenários BNDES, reco-nhecidamente, não está em predizer o futuro. A validade da extrapolação consiste em visualizar quadros limites, entre os quais a realidade, possivelmente, se enquadrará. Um segundo objetivo consiste em, com base na agregação de temas e tendências em debate, verificar a consistência das propostas hoje em curso. Paradoxalmente, a crise atual pela qual passa a economia brasileira e as vivenciadas por diver-sas economias no mundo tornam ainda mais importante uma reflexão de longo prazo, seja para melhor nos prepa-rarmos para futuros adversos, seja para construir alternati-vas promissoras para o país.

AARTIGO

A queda do preço do petróleo (de algo em torno de US$ 100 o barril para níveis próximos a US$ 50 dólares), se dura-doura, também coloca questões para o mundo e para o país. Ainda não é claro se o novo patamar de preço reflete um des-locamento estrutural da curva de oferta mundial (a partir da exploração de petróleo e gás não convencionais) ou um fenô-meno passageiro. No primeiro caso, preços historicamente mais baixos poderão se consolidar como uma tendência de longo prazo. Alternativamente, poderá ocorrer uma recupe-ração do preço (de velocidade discutível), puxado tanto pela redução da oferta (retirada de poços menos produtivos ou questionamentos ambientais mais graves em relação à pro-dução de shale), quanto por movimentos de demanda (recu-peração do crescimento mundial). Em relação à demanda, há de se ressaltar igualmente a incerteza, já que há diversos indí-cios de que o crescimento chinês se dará a ritmos mais baixos em relação aos padrões vigentes.

Diante de um quadro tão indeterminado, é particular-mente desafiador buscar predizer o futuro. Mais do que pro-jetar tendências, é preciso ter em conta possibilidades não óbvias de futuro, identificar incertezas críticas (bifurcações de caminhos) e combinações consistentes entre cenários nacionais e internacionais. Nesse contexto, a técnica de cená-rios para elaborar análises prospectivas é considerada a mais apropriada, por contraste com o emprego de projeções base-adas em modelos econométricos de séries temporais.

O BNDES possui longa experiência de trabalho com cenários. A partir da década de 1980, as experiências de pla-nejamento estratégico começaram a ser estruturadas de for-ma mais organizada, muitas vezes utilizando cenários. Inte-ressam, sobretudo, incertezas que têm grande potencial de alterar o contexto em que a firma atua e que, por isso, care-cem de uma reflexão estratégica. Pretende-se, enfim, capaci-tar o BNDES a se preparar para diversas alternativas de futu-ro, mas também, em certa medida, contribuir para a própria criação de futuros para o país.

Em 2014, o BNDES concluiu uma ampla revisão de seus cenários de longo prazo, que inspirou a revisão de objetivos e indicadores do Mapa Corporativo Estratégico (BSC). Recentemente, os cenários BNDES foram apresentados

para representantes do Sistema Nacional de Fomento, crian-do possibilidades de sinergias para a construção de novas visões de futuro para o país. Trata-se de quatro cenários, que combinam as principais tendências mundiais e brasileiras, batizados com títulos de alguns sucessos do cancioneiro popular brasileiro. Os cenários ocorrem em um horizonte de 15 anos, são não probabilísticos e descritos como uma his-tória que se passa no futuro, em 2030. Neles incorporam-se questões no âmbito político, econômico, regulatório e soci-oambiental, de forma a tornar os cenários abrangentes. Para as variáveis quantitativas, foi utilizado um modelo de consis-tência macroeconômico, que parte de algumas variáveis exógenas capazes de engendrar um conjunto bastante amplo de dados.

Num extremo, temos o cenário designado como “Sonho meu”, por combinar um mundo razoavelmente organizado e próspero com o desenvolvimento brasileiro mostrando con-sistência e sustentabilidade, nos marcos de um projeto pactu-ado por amplas forças políticas domésticas. O país logrou inserção qualificada na divisão internacional do trabalho; for-talecimento da capacidade inovadora; e responsabilidade socioambiental. O crescimento das taxas de investimento e da produtividade reverteu o processo de desindustrialização e compensou os efeitos negativos da mudança demográfica.

No extremo oposto, um mundo multipolar em conflitos criou uma situação mundial extremamente adversa. Esta é agravada pela incapacidade das forças políticas domésticas de construir um projeto nacional, com políticas econômicas consistentes, e pela predominância de interesses ligados à simples exploração de recursos naturais. A consequência foi a redução da capacidade de o país amortecer os efeitos nega-tivos da conjuntura mundial, gerando um cenário marcado por crises recorrentes e desempenho sofrível (cenário “O mundo é um moinho”).

Os cenários intermediários, apesar de mais próximos em

RUMOS – 24 – Julho/Agosto 2015

V

1Este texto está baseado em trabalho desenvolvido no BNDES, em particular, em um texto síntese mais amplo escrito em parceria com o Prof. Francisco Eduardo Pires de Souza, assessor da Presidência.

Lavinia Barros de Castro é doutora em Economiapela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2009) e doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2006), com doutorado sanduíche na Universidade de Berkeley, Califórnia. É economista do BNDES desde 2001, onde trabalhou como assessora da Área de Gestão de Riscos (2007-2013) e atualmente é assessora da Área de Pesquisa Econômica.

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1Lavinia Barros de Castro

Para além de questões conjunturais:cenários 2030

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ivemos “tempos interessantes”, na expressão cria-da por Eric Hobsbawn. A segunda etapa da ascen-são da China à condição de potência econômica, criando novas instituições internacionais e bus-cando internacionalizar sua moeda; a lenta e incer-

ta digestão da crise financeira e sua metamorfose em crises fis-cal, produtiva, social e política, nas economias mais ricas do pla-neta; a escalada dos eventos climáticos extremos e das crises hídricas, com implicações potenciais para o modelo de cresci-mento mundial; e as mudanças no plano tecnológico, que começam a revolucionar a forma de produzir e distribuir, com implicações de grande alcance para o futuro da distribuição geográfica da produção, da inovação e da geopolítica mundial.

Todos esses fenômenos têm implicações de profundo alcance para o futuro. Juntas, essas questões trazem à tona pos-sibilidades de rupturas com o mundo atual e transformações nos planos econômico, tecnológico, social e político.

No Brasil, o mais forte sinal do presente se dá no campo político. Nos tempos atuais, observam-se: a) fragmentação política e questionamentos da legitimidade das formas tradici-onais de representação; b) conflitos e disputas entre os três poderes; c) novas exigências de governança e de prestação de contas à sociedade; d) maior relevância dos órgãos reguladores e fiscalizadores (e outras instituições paralelas do Estado); e e) amadurecimento em meio à crescente judicialização das rela-ções produtivas e sociais. Todos são fenômenos atuais, sobre os quais não se sabe se perderão força, ou se serão o novo padrão, com o qual o país deverá aprender a conviver.

No âmbito econômico, alargando o horizonte para além de questões conjunturais, ressaltam-se em primeiro lugar as mudanças ocorridas na distribuição de renda e redução da pobreza, mas também os obstáculos colocados no caminho da nova economia brasileira, destacadamente a deficiência da infraestrutura e a baixa produtividade. Desde a segunda meta-de da década passada, a economia brasileira vem passando por um processo de perda de competitividade da indústria manu-fatureira, que tem resultado na redução de seu peso na estrutu-ra produtiva e nas exportações brasileiras (e das exportações brasileiras de manufaturas nas exportações mundiais dessa categoria de bens).

termos de algumas variáveis quantitativas, por se situarem no campo entre os extremos, são muito diferentes entre si. O “Deixa a vida me levar” corresponde a uma situação em que há passividade doméstica frente a um cenário mundial de bonança e em que, a despeito da baixa eficiência e coordena-ção domésticas, o país experimentou fases de melhoria da renda, do bem-estar etc., associadas aos momentos mais favoráveis do ciclo econômico mundial, embora tenha ocor-rido ampla desindustrialização. Já o cenário “Apesar de você” corresponde a uma situação (não totalmente inédita na história do país) em que a adversidade externa funcionou como um desafio que mobilizou de forma positiva as forças políticas domésticas, gerando respostas construtivas com ele-vada capacidade de promover o desenvolvimento do país no longo prazo.

Assim, enquanto no cenário “Deixa a vida me levar” o país passou por momentos de euforia e bem-estar (causa-dos por ventos externos favoráveis), mas não construiu um futuro sólido e independente, no cenário “Apesar de você” atravessou um longo período de adversidades, mas pouco a pouco foram se construindo as bases de um futuro mais próspero.

O objetivo do exercício dos Cenários BNDES, reco-nhecidamente, não está em predizer o futuro. A validade da extrapolação consiste em visualizar quadros limites, entre os quais a realidade, possivelmente, se enquadrará. Um segundo objetivo consiste em, com base na agregação de temas e tendências em debate, verificar a consistência das propostas hoje em curso. Paradoxalmente, a crise atual pela qual passa a economia brasileira e as vivenciadas por diver-sas economias no mundo tornam ainda mais importante uma reflexão de longo prazo, seja para melhor nos prepa-rarmos para futuros adversos, seja para construir alternati-vas promissoras para o país.

AARTIGO

A queda do preço do petróleo (de algo em torno de US$ 100 o barril para níveis próximos a US$ 50 dólares), se dura-doura, também coloca questões para o mundo e para o país. Ainda não é claro se o novo patamar de preço reflete um des-locamento estrutural da curva de oferta mundial (a partir da exploração de petróleo e gás não convencionais) ou um fenô-meno passageiro. No primeiro caso, preços historicamente mais baixos poderão se consolidar como uma tendência de longo prazo. Alternativamente, poderá ocorrer uma recupe-ração do preço (de velocidade discutível), puxado tanto pela redução da oferta (retirada de poços menos produtivos ou questionamentos ambientais mais graves em relação à pro-dução de shale), quanto por movimentos de demanda (recu-peração do crescimento mundial). Em relação à demanda, há de se ressaltar igualmente a incerteza, já que há diversos indí-cios de que o crescimento chinês se dará a ritmos mais baixos em relação aos padrões vigentes.

Diante de um quadro tão indeterminado, é particular-mente desafiador buscar predizer o futuro. Mais do que pro-jetar tendências, é preciso ter em conta possibilidades não óbvias de futuro, identificar incertezas críticas (bifurcações de caminhos) e combinações consistentes entre cenários nacionais e internacionais. Nesse contexto, a técnica de cená-rios para elaborar análises prospectivas é considerada a mais apropriada, por contraste com o emprego de projeções base-adas em modelos econométricos de séries temporais.

O BNDES possui longa experiência de trabalho com cenários. A partir da década de 1980, as experiências de pla-nejamento estratégico começaram a ser estruturadas de for-ma mais organizada, muitas vezes utilizando cenários. Inte-ressam, sobretudo, incertezas que têm grande potencial de alterar o contexto em que a firma atua e que, por isso, care-cem de uma reflexão estratégica. Pretende-se, enfim, capaci-tar o BNDES a se preparar para diversas alternativas de futu-ro, mas também, em certa medida, contribuir para a própria criação de futuros para o país.

Em 2014, o BNDES concluiu uma ampla revisão de seus cenários de longo prazo, que inspirou a revisão de objetivos e indicadores do Mapa Corporativo Estratégico (BSC). Recentemente, os cenários BNDES foram apresentados

para representantes do Sistema Nacional de Fomento, crian-do possibilidades de sinergias para a construção de novas visões de futuro para o país. Trata-se de quatro cenários, que combinam as principais tendências mundiais e brasileiras, batizados com títulos de alguns sucessos do cancioneiro popular brasileiro. Os cenários ocorrem em um horizonte de 15 anos, são não probabilísticos e descritos como uma his-tória que se passa no futuro, em 2030. Neles incorporam-se questões no âmbito político, econômico, regulatório e soci-oambiental, de forma a tornar os cenários abrangentes. Para as variáveis quantitativas, foi utilizado um modelo de consis-tência macroeconômico, que parte de algumas variáveis exógenas capazes de engendrar um conjunto bastante amplo de dados.

Num extremo, temos o cenário designado como “Sonho meu”, por combinar um mundo razoavelmente organizado e próspero com o desenvolvimento brasileiro mostrando con-sistência e sustentabilidade, nos marcos de um projeto pactu-ado por amplas forças políticas domésticas. O país logrou inserção qualificada na divisão internacional do trabalho; for-talecimento da capacidade inovadora; e responsabilidade socioambiental. O crescimento das taxas de investimento e da produtividade reverteu o processo de desindustrialização e compensou os efeitos negativos da mudança demográfica.

No extremo oposto, um mundo multipolar em conflitos criou uma situação mundial extremamente adversa. Esta é agravada pela incapacidade das forças políticas domésticas de construir um projeto nacional, com políticas econômicas consistentes, e pela predominância de interesses ligados à simples exploração de recursos naturais. A consequência foi a redução da capacidade de o país amortecer os efeitos nega-tivos da conjuntura mundial, gerando um cenário marcado por crises recorrentes e desempenho sofrível (cenário “O mundo é um moinho”).

Os cenários intermediários, apesar de mais próximos em

RUMOS – 24 – Julho/Agosto 2015

V

1Este texto está baseado em trabalho desenvolvido no BNDES, em particular, em um texto síntese mais amplo escrito em parceria com o Prof. Francisco Eduardo Pires de Souza, assessor da Presidência.

Lavinia Barros de Castro é doutora em Economiapela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2009) e doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2006), com doutorado sanduíche na Universidade de Berkeley, Califórnia. É economista do BNDES desde 2001, onde trabalhou como assessora da Área de Gestão de Riscos (2007-2013) e atualmente é assessora da Área de Pesquisa Econômica.

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1Lavinia Barros de Castro

Para além de questões conjunturais:cenários 2030

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Por Sarah Barros

otivados pelo início de um novo ciclo produtivo e instigados pelo atual cenário econômico brasileiro e mundial, representantes de instituições financei-ras de desenvolvimento, do Governo Federal, pro-dutores rurais, bancos e cooperativas se reuniram

em Brasília, nos dias 30 e 31 de julho, para o Seminário Finan-ciamento ao Agronegócio. Realizado pela Associação Brasilei-ra de Desenvolvimento (ABDE), com patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o evento proporcionou a discussão dos principais mecanis-mos de financiamento disponíveis para o agronegócio. Tam-bém foram discutidas necessidades e perspectivas para o forta-lecimento e a expansão da produção agrícola e pecuária nacio-nais, para que o Brasil mantenha a posição de liderança do mer-cado mundial em oferta de alimentos.

Com reconhecida evolução nos últimos quinze anos, o agronegócio brasileiro dobrou a produção agrícola no perío-do, passando de 100 milhões de toneladas de grãos produzidos no ano 2000 para 200 milhões de toneladas produzidos no ano passado. Este avanço também foi verificado no que se refere à produtividade das lavouras e pastos nacionais. Há quinze anos, cada hectare era capaz de colocar no mercado 2.600 quilos de grãos. Atualmente, a mesma área consegue produzir 3.600 qui-los de grãos. Estes resultados são demonstrados em contribui-ção para a economia do país, com a agricultura tendo respon-dido por 21% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2014. Na balança comercial do país, a exportação de alimentos somou, no ano passado, US 100 bilhões, ou 44% de todas as $vendas do Brasil ao exterior. Em 2000, o montante total era de US 10,7 bilhões. $

Para o alcance desses resultados, o presidente da ABDE,

DEBATE

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Seminário realizado pela ABDE expõe às Instituições Financeiras de Desenvolvimento as oportunidades de um sólido agronegócio brasileiro e os desafios para expansão em cenário de instabilidade econômica interna e externa

Milton Luiz de Melo Santos, destacou a importância da incor-poração de novas tecnologias por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e de novos processos na produção agropecuária desenvolvidos por meio do trabalho da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), entre outras iniciativas, como a criação da Compa-nhia Brasileira de Armazenamento (Cibrazen), também na década de 1980. “Os dados mostram o quanto o agronegócio brasileiro foi se profissionalizando e se ampliando de maneira que é, de fato, o carro-chefe da economia do nosso país”, avali-ou no discurso de abertura do evento.

A consolidação da produção agrícola e pecuária do Brasil também foi acompanhada pela crescente oferta de crédito ao produtor rural. No ano 2000, o montante destinado para o campo foi de R$ 16 bilhões, até chegar aos atuais R$ 187 bilhões, disponibilizados por meio do Plano Safra 2015/2016. “Nesse período, o uso do crédito rural deixou de ser um uso especulativo, porque muitas vezes esse dinheiro era usado para aplicar na ciranda financeira, e, a partir do momento em que esses recursos começaram a estar cada vez mais disponíveis de forma mais racional, com menos subsídios, passamos a ter outra oportunidade no Brasil, de maneira que o crédito rural deixou de ter o subsídio embutido tão alto que gerava o estí-mulo ao desvio”, avaliou Santos. Tal evolução rendeu ao Brasil o reconhecimento como o maior produtor de alimentos do mundo, posicionado no mercado mundial como o maior pro-dutor de café, açúcar e laranja, além de deter a liderança na exportação de açúcar e etanol e ser o segundo maior produtor mundial do complexo de soja.

Os avanços alcançados pelo Brasil também foram realça-dos pelo diretor de Infraestrutura Social, Meio Ambiente, Agropecuária e de Inclusão Social do BNDES, José Henrique

R REPORTAGEM

RUMOS – 28 – Julho/Agosto 2015 RUMOS – 29 – Julho/Agosto 2015

Novo ciclo de negócios no campo

Paim Fernandes, que assinalou, ainda, a força do agronegócio especialmente na atual conjuntura econômica brasileira. “Os investimentos realizados nas décadas de 1980 e 1990 e a preo-cupação forte com a questão da pesquisa resultaram em ganhos importantes de produtividade e, hoje, o país colhe os frutos, tendo esse setor como o que passa a ser, em momento de dificuldade econômica, o sustentáculo para um resultado um pouco melhor em relação ao nosso PIB”, pontuou Paim.

Neste contexto, o executivo do BNDES, que também é diretor da ABDE, lembrou investimentos do banco de desen-volvimento, em 2014, para fazer frente às necessidades do setor e conseguir suprir demandas dos agentes financeiros que operam suas linhas de crédito. Entre eles, estão melhorias nas plataformas tecnológicas do banco para atender todas as dimensões relacionadas ao setor agropecuário, desde a produ-ção e a agroindustrialização até a comercialização. “O esforço é diário para poder atender cada vez melhor os agentes finan-ceiros e consequentemente agilizar todos os processos. É um esforço grande que precisa contar com o apoio das institui-ções de desenvolvimento”, reforçou Paim.

Principal fonte de financiamento para o desenvolvimento da América Latina e Caribe, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também tem perspectivas positivas para o agronegócio do Brasil, especialmente para garantir a segurança alimentar tanto na América Latina quanto em todo

o mundo. Para isso, a aposta é a inovação em serviços financei-ros para melhorar o acesso dos produtores ao sistema. “O foco deve ser promover mecanismos de gestão de riscos financeiros importantes para alavancar o investimento no setor, aumentar a disponibilidade de crédito de médio e longo prazo que resultem em investimento de capital necessário para aumentar a produtividade e perenizar o processo de moderni-zação do setor”, resumiu o chefe de operações do BID no Bra-sil, Juan Carlos De La Hoz, presente na abertura do seminário.

O superintendente técnico da Confederação de Agricultu-ra e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, também atribuiu à atuação das instituições financeiras a responsabilidade por impulsionar o setor agropecuário, uma vez que dois dos três pilares que sustentam o setor – pesquisa e assistência técnica – dependem do terceiro, que é o crédito. “Com a conjuntura eco-nômica negativa para o produtor, temos que chegar a uma for-ma de, junto às instituições financeiras, desburocratizar e redu-zir os custos administrativos para que o crédito possa chegar ao produtor”, afirmou, salientando já haver o comprometi-mento, tanto de financiadores quanto de tomadores, para redu-zir ações que prejudicam o desenvolvimento dos negócios.

Plano Safra – Da parte do governo federal, o seminário pos-sibilitou o detalhamento das políticas de financiamento agrí-cola desenhadas para o ano safra iniciado no último mês de

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Por Sarah Barros

otivados pelo início de um novo ciclo produtivo e instigados pelo atual cenário econômico brasileiro e mundial, representantes de instituições financei-ras de desenvolvimento, do Governo Federal, pro-dutores rurais, bancos e cooperativas se reuniram

em Brasília, nos dias 30 e 31 de julho, para o Seminário Finan-ciamento ao Agronegócio. Realizado pela Associação Brasilei-ra de Desenvolvimento (ABDE), com patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o evento proporcionou a discussão dos principais mecanis-mos de financiamento disponíveis para o agronegócio. Tam-bém foram discutidas necessidades e perspectivas para o forta-lecimento e a expansão da produção agrícola e pecuária nacio-nais, para que o Brasil mantenha a posição de liderança do mer-cado mundial em oferta de alimentos.

Com reconhecida evolução nos últimos quinze anos, o agronegócio brasileiro dobrou a produção agrícola no perío-do, passando de 100 milhões de toneladas de grãos produzidos no ano 2000 para 200 milhões de toneladas produzidos no ano passado. Este avanço também foi verificado no que se refere à produtividade das lavouras e pastos nacionais. Há quinze anos, cada hectare era capaz de colocar no mercado 2.600 quilos de grãos. Atualmente, a mesma área consegue produzir 3.600 qui-los de grãos. Estes resultados são demonstrados em contribui-ção para a economia do país, com a agricultura tendo respon-dido por 21% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2014. Na balança comercial do país, a exportação de alimentos somou, no ano passado, US 100 bilhões, ou 44% de todas as $vendas do Brasil ao exterior. Em 2000, o montante total era de US 10,7 bilhões. $

Para o alcance desses resultados, o presidente da ABDE,

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Seminário realizado pela ABDE expõe às Instituições Financeiras de Desenvolvimento as oportunidades de um sólido agronegócio brasileiro e os desafios para expansão em cenário de instabilidade econômica interna e externa

Milton Luiz de Melo Santos, destacou a importância da incor-poração de novas tecnologias por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e de novos processos na produção agropecuária desenvolvidos por meio do trabalho da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), entre outras iniciativas, como a criação da Compa-nhia Brasileira de Armazenamento (Cibrazen), também na década de 1980. “Os dados mostram o quanto o agronegócio brasileiro foi se profissionalizando e se ampliando de maneira que é, de fato, o carro-chefe da economia do nosso país”, avali-ou no discurso de abertura do evento.

A consolidação da produção agrícola e pecuária do Brasil também foi acompanhada pela crescente oferta de crédito ao produtor rural. No ano 2000, o montante destinado para o campo foi de R$ 16 bilhões, até chegar aos atuais R$ 187 bilhões, disponibilizados por meio do Plano Safra 2015/2016. “Nesse período, o uso do crédito rural deixou de ser um uso especulativo, porque muitas vezes esse dinheiro era usado para aplicar na ciranda financeira, e, a partir do momento em que esses recursos começaram a estar cada vez mais disponíveis de forma mais racional, com menos subsídios, passamos a ter outra oportunidade no Brasil, de maneira que o crédito rural deixou de ter o subsídio embutido tão alto que gerava o estí-mulo ao desvio”, avaliou Santos. Tal evolução rendeu ao Brasil o reconhecimento como o maior produtor de alimentos do mundo, posicionado no mercado mundial como o maior pro-dutor de café, açúcar e laranja, além de deter a liderança na exportação de açúcar e etanol e ser o segundo maior produtor mundial do complexo de soja.

Os avanços alcançados pelo Brasil também foram realça-dos pelo diretor de Infraestrutura Social, Meio Ambiente, Agropecuária e de Inclusão Social do BNDES, José Henrique

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Novo ciclo de negócios no campo

Paim Fernandes, que assinalou, ainda, a força do agronegócio especialmente na atual conjuntura econômica brasileira. “Os investimentos realizados nas décadas de 1980 e 1990 e a preo-cupação forte com a questão da pesquisa resultaram em ganhos importantes de produtividade e, hoje, o país colhe os frutos, tendo esse setor como o que passa a ser, em momento de dificuldade econômica, o sustentáculo para um resultado um pouco melhor em relação ao nosso PIB”, pontuou Paim.

Neste contexto, o executivo do BNDES, que também é diretor da ABDE, lembrou investimentos do banco de desen-volvimento, em 2014, para fazer frente às necessidades do setor e conseguir suprir demandas dos agentes financeiros que operam suas linhas de crédito. Entre eles, estão melhorias nas plataformas tecnológicas do banco para atender todas as dimensões relacionadas ao setor agropecuário, desde a produ-ção e a agroindustrialização até a comercialização. “O esforço é diário para poder atender cada vez melhor os agentes finan-ceiros e consequentemente agilizar todos os processos. É um esforço grande que precisa contar com o apoio das institui-ções de desenvolvimento”, reforçou Paim.

Principal fonte de financiamento para o desenvolvimento da América Latina e Caribe, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também tem perspectivas positivas para o agronegócio do Brasil, especialmente para garantir a segurança alimentar tanto na América Latina quanto em todo

o mundo. Para isso, a aposta é a inovação em serviços financei-ros para melhorar o acesso dos produtores ao sistema. “O foco deve ser promover mecanismos de gestão de riscos financeiros importantes para alavancar o investimento no setor, aumentar a disponibilidade de crédito de médio e longo prazo que resultem em investimento de capital necessário para aumentar a produtividade e perenizar o processo de moderni-zação do setor”, resumiu o chefe de operações do BID no Bra-sil, Juan Carlos De La Hoz, presente na abertura do seminário.

O superintendente técnico da Confederação de Agricultu-ra e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, também atribuiu à atuação das instituições financeiras a responsabilidade por impulsionar o setor agropecuário, uma vez que dois dos três pilares que sustentam o setor – pesquisa e assistência técnica – dependem do terceiro, que é o crédito. “Com a conjuntura eco-nômica negativa para o produtor, temos que chegar a uma for-ma de, junto às instituições financeiras, desburocratizar e redu-zir os custos administrativos para que o crédito possa chegar ao produtor”, afirmou, salientando já haver o comprometi-mento, tanto de financiadores quanto de tomadores, para redu-zir ações que prejudicam o desenvolvimento dos negócios.

Plano Safra – Da parte do governo federal, o seminário pos-sibilitou o detalhamento das políticas de financiamento agrí-cola desenhadas para o ano safra iniciado no último mês de

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julho. No caso do Plano Safra 2015/2016, voltado principal-mente para o médio produtor rural, estão disponibilizados R$ 187,7 bilhões para a produção prevista de 206 milhões de toneladas de grãos em 57 milhões de hectares, volume que consolida um crescimento anual de 6% em produção e 3% em área, nos últimos 12 anos. A pecuária também apresenta um bom desempenho, com evolução da produção de carnes bovinas (alta de 77%), suínas (crescimento de 161%) e de aves (elevação de 285%). Ao todo, o atual Plano Safra prevê R$ 147,5 bilhões para custeio e comercialização da safra e R$ 38,2 bilhões para investimentos, redução de R$ 6 bilhões em relação ao ano passado.

O diretor do Departamento de Estudos Econômicos da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Wilson Vaz de Araújo, explicou que a elaboração do plano pri-orizou a disponibilidade de mais recursos em relação aos R$ 156,1 bilhões programados para a safra anterior, em lugar de taxas de juros menores, conforme indicação dos próprios pro-dutores rurais.

Segundo Araújo, a despeito de propostas para que o finan-ciamento tivesse juros mais elevados, o esforço do governo foi para que fossem praticadas taxas de juros no limite da inflação. Com isso, os percentuais tiveram alta de 1,5% a 2%, em média, para os montantes destinados a custeio e comercialização. Para investimentos, as taxas foram fixadas em 7,5% para armazena-gem, irrigação, inovações tecnológicas e bens de capital (Mo-derfrota) e em 7% para máquinas e equipamentos agrícolas adquiridos por meio do PSI Rural. “Esses programas tinham taxas de 4,5% e 5%, ou seja, essas taxas subiram, mas não nos níveis do crédito rural normal, ainda são taxas diferenciadas e ainda atrativas para o investidor”, justificou.

Em recursos controlados, que são subsidiados pelo gover-no, foram disponibilizados para esta safra R$ 127,8 bilhões, dos quais 94,5 bilhões são destinados a custeio e comercializa-ção e R$ 33,3 bilhões para investimentos. Desse total, R$ 43 bilhões são oriundos das exigibilidades bancárias ligadas aos

depósitos à vista, obrigatoriamente retidos pelos bancos para utilização pelo sistema de crédito rural. O res-tante foi obtido junto ao Tesouro Nacional, além de recursos empres-tados de fontes próprias dos agentes financeiros. “Ou seja, todos os dema-is recursos são emprestados ao pro-dutor rural pelo esforço dos agentes financeiros, que têm a fonte, mas substancialmente pelo Tesouro Naci-onal, que equaliza esses diferenciais de juros, e, portanto, pelo governo federal, ou seja, pela sociedade como um todo”, enfatizou.

Este ponto foi retomado pelo representante da Federação Brasilei-ra de Bancos (Febraban), Ademiro Vian, em sua avaliação sobre o atual Plano Safra. Segundo ele, devido ao cenário econômico desfavorável, os bancos têm captado cada vez menos

recursos a título de depósito à vista. “As pessoas é que têm a governança dos recursos que deixam no banco. Nenhuma empresa vai deixar no banco o dinheiro parado como deixava antes, nem as pessoas físicas. Em um momento de aumento da taxa básica de juros, a Selic, as transferências e aplicações auto-máticas crescem e as pessoas sacam o dinheiro para pagar as suas contas, esvaziando os depósitos à vista, o que, consequen-temente, esvazia os recursos para o crédito rural”, explicou.

Segundo dados apresentados pela Febraban, na safra 2008/2009, o montante de recursos advindos das exigibilida-des bancárias para o crédito rural era de R$ 30 bilhões e, em 2014/2015, foi de R$ 49 bilhões. Para esta safra, a projeção era de R$ 37 bilhões nos bancos privados, mas já foi reduzida para R$ 28 bilhões. Diante disso, Vian defendeu que haja mais incentivo para que o produtor consiga ampliar a sua renda, pas-sando a depender menos do financiamento subsidiado do governo. Neste campo é que as instituições de fomento teriam mais oportunidades de crescimento. “O essencial é que a renda do produtor e os recursos do Tesouro Nacional precisam ter o uso de forma mais racionalizada. É preciso implementar o segu-ro da renda aos produtores ao longo do tempo e, nesta área, as instituições de fomento têm campo para crescer”, afirmou.

Quanto aos recursos livres, o destaque são os valores dis-ponibilizados por meio de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), comercializados no mercado de capitais. Também nes-te ponto, o representante da Febraban fez ponderações. “Esse plano é o Plano Safra mais caro dos últimos anos, por-que trouxe a LCA para financiar R$ 30 bilhões da safra. As taxas não estão no topo da taxa de mercado, são intermediári-as, mas mesmo assim são taxas de mercado”, analisou. Este maior custo também é justificado pelo esgotamento das exi-gibilidades bancárias.

Agricultura familiar – O seminário esclareceu ainda dados sobre o desempenho e as perspectivas para o Programa Naci-onal de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), desti-

RUMOS – 30 – Julho/Agosto 2015 RUMOS – 31 – Julho/Agosto 2015

nado ao pequeno produtor característi-co da agricultura familiar. O diretor do Departamento de Financiamento e Pro-teção da Produção da Secretaria de Agri-cultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), João Guadagnin, reforçou o compromisso da pasta principalmente em relação à construção coletiva das normas para as operações com verba pública, o que tam-bém garante o fortalecimento da agri-cultura. “Nosso papel é incluir as pesso-as que não acessariam o crédito de outra forma e neste sentido a participação do sistema de cooperativas, além dos dema-is agentes financeiros, tem sido signifi-cativo para o apoio à agricultura famili-ar”, destacou.

O panorama do alcance do Pronaf foi traçado a partir da realidade experi-mentada por agentes financeiros locali-zados em três regiões distintas: na região amazônica, por meio da experiência do Banco da Amazônia; no Centro-Oeste, pelos esforços do Banco de Brasília (BRB); e no Sudeste, a partir das práticas do Banco de Desenvolvimento do Espí-rito Santo (Bandes). No caso da Amazô-nia, a gerente-executiva de Microfinan-ças e Agricultura da instituição, Cristina Lopes, informou sobre a destinação, em 2015, de R$ 700 milhões em fomento à agricultura familiar. “Para 2015, mante-mos a meta estipulada e superada em 2014, devido a algumas questões em nível regional que precisam ser resolvi-das, como o risco amazônico e a capaci-dade operacional das empresas de assis-tência técnica, que têm alta demanda na região”, pontuou.

Segundo Cristina, as dificuldades incluem a própria locali-zação do produtor nos meandros da floresta, o que dificulta a concessão do crédito e o acesso à assistência técnica necessá-ria. “Outro aspecto que impactou os resultados do Acre e do Amazonas foi a cheia de rios. Já nos casos do Maranhão e Mato Grosso, nem sempre há recursos disponíveis”, disse. Ela também ressaltou a prevalência das operações de investimen-tos na carteira do banco, que representaram 96% do total dis-ponibilizado na safra passada. “Essas são operações de maior risco, mas que cumprem com o papel de sermos um banco de fomento em uma região muito carente de recursos”, ponde-rou. Quanto às perspectivas, o Banco da Amazônia pretende ampliar a gestão da carteira Pronaf por meio da padronização de procedimentos, diminuição de riscos de fraudes e qualifica-ção da carteira.

No Espírito Santo, o diferencial tem sido a utilização de consultores que captam clientes diretamente nas fazendas da região, onde 77% dos estabelecimentos são rurais e 40% da área rural do estado são de agricultores familiares. Hoje, no

meio rural são pelo menos 90 consul-tores. O banco opera com o Pronaf desde 1995, mas teve maior desenvol-vimento no programa a partir de 2006. Desde então, são 34.467 operações con-tratadas, somando R$ 973,4 milhões até 2014. O valor médio dos contratos é de R$ 28.241. Para 2015, a previsão é realizar 2.400 contratos, com liberação de R$ 110 milhões.

Neste contexto, o consultor tem a função de captar o cliente, fazer o pro-jeto de financiamento e recolher a docu-mentação necessária para a análise do banco. “Esses consultores são todos agrônomos ou técnicos agrícolas, con-tratados como pessoa jurídica, e pas-sam pela orientação e por treinamentos programados pelo banco”, explicou a gerente do Bandes, Joselane Bolelli. Segundo ela, o trabalho é fortalecido pela participação de parceiros, como bancos estaduais, universidades, secre-tarias estadual e municipais.

Já o gerente de equipe do Banco de Brasília (BRB), Thiago Basílio, desta-cou a atuação no Distrito Federal junto a produtores de hortaliças, responsáve-is pela tomada de 90% do crédito dis-ponibilizado pelo banco para este fim. Um dos fatores de sucesso é a parceria com a Emater-DF que oferece assis-tência técnica gratuita aos produtores da agricultura familiar. “Isso nos asse-gura que o cliente seja, de fato, do perfil determinado para acessar o crédito do Pronaf ”, afirmou.

O banco começou a operar com Pronaf em 2001, junto a um público potencial de 6 mil clien-tes. Desde então, o banco saltou de R$ 1,7 milhão em saldo de operações ativas em 2012 para os R$ 17,2 milhões, atualizados até o primeiro trimestre de 2015. “Hoje, este valor está muito próximo da exigibilidade do banco, que é de R$ 20 milhões. Nosso desafio é captar mais recursos porque chegamos ao limi-te em que temos a exigibilidade para aplicar”, disse. Uma das alternativas adotadas é o recebimento de recursos BNDES para investimentos, que poderá atender essa demanda e liberar os demais recursos para outras necessidades do produtor da agricultura familiar.

Da parte do BNDES enquanto principal fonte de recursos para linha de investimentos, inclusive por meio do Plano Safra e do Pronaf, a previsão é de que a demanda no ciclo produtivo em andamento ocorra normalmente, especialmente por conta do estresse de outras fontes de recursos, atingidas pela instabi-lidade econômica. Do crédito ofertado pelo Mapa e pelo MDA, que juntos somam R$ 216,6 bilhões, o BNDES com-põe linhas de investimento do Plano Safra no montante de R$ 23,4 bilhões e para o Pronaf destina R$ 2,4 bilhões, ofertados

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O Brasil hoje é reconhecido como o maior produtor de alimentos do mundo; nas fotos, a produção e a colheita de café

Abertura: Bruno Lucchi (CNA), João Guadagnin (MDA), José Henrique Paim (BNDES), Milton Santos (ABDE), Juan Carlos de La Hoz (BID) e Wilson Vaz de Araújo (Mapa)

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julho. No caso do Plano Safra 2015/2016, voltado principal-mente para o médio produtor rural, estão disponibilizados R$ 187,7 bilhões para a produção prevista de 206 milhões de toneladas de grãos em 57 milhões de hectares, volume que consolida um crescimento anual de 6% em produção e 3% em área, nos últimos 12 anos. A pecuária também apresenta um bom desempenho, com evolução da produção de carnes bovinas (alta de 77%), suínas (crescimento de 161%) e de aves (elevação de 285%). Ao todo, o atual Plano Safra prevê R$ 147,5 bilhões para custeio e comercialização da safra e R$ 38,2 bilhões para investimentos, redução de R$ 6 bilhões em relação ao ano passado.

O diretor do Departamento de Estudos Econômicos da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Wilson Vaz de Araújo, explicou que a elaboração do plano pri-orizou a disponibilidade de mais recursos em relação aos R$ 156,1 bilhões programados para a safra anterior, em lugar de taxas de juros menores, conforme indicação dos próprios pro-dutores rurais.

Segundo Araújo, a despeito de propostas para que o finan-ciamento tivesse juros mais elevados, o esforço do governo foi para que fossem praticadas taxas de juros no limite da inflação. Com isso, os percentuais tiveram alta de 1,5% a 2%, em média, para os montantes destinados a custeio e comercialização. Para investimentos, as taxas foram fixadas em 7,5% para armazena-gem, irrigação, inovações tecnológicas e bens de capital (Mo-derfrota) e em 7% para máquinas e equipamentos agrícolas adquiridos por meio do PSI Rural. “Esses programas tinham taxas de 4,5% e 5%, ou seja, essas taxas subiram, mas não nos níveis do crédito rural normal, ainda são taxas diferenciadas e ainda atrativas para o investidor”, justificou.

Em recursos controlados, que são subsidiados pelo gover-no, foram disponibilizados para esta safra R$ 127,8 bilhões, dos quais 94,5 bilhões são destinados a custeio e comercializa-ção e R$ 33,3 bilhões para investimentos. Desse total, R$ 43 bilhões são oriundos das exigibilidades bancárias ligadas aos

depósitos à vista, obrigatoriamente retidos pelos bancos para utilização pelo sistema de crédito rural. O res-tante foi obtido junto ao Tesouro Nacional, além de recursos empres-tados de fontes próprias dos agentes financeiros. “Ou seja, todos os dema-is recursos são emprestados ao pro-dutor rural pelo esforço dos agentes financeiros, que têm a fonte, mas substancialmente pelo Tesouro Naci-onal, que equaliza esses diferenciais de juros, e, portanto, pelo governo federal, ou seja, pela sociedade como um todo”, enfatizou.

Este ponto foi retomado pelo representante da Federação Brasilei-ra de Bancos (Febraban), Ademiro Vian, em sua avaliação sobre o atual Plano Safra. Segundo ele, devido ao cenário econômico desfavorável, os bancos têm captado cada vez menos

recursos a título de depósito à vista. “As pessoas é que têm a governança dos recursos que deixam no banco. Nenhuma empresa vai deixar no banco o dinheiro parado como deixava antes, nem as pessoas físicas. Em um momento de aumento da taxa básica de juros, a Selic, as transferências e aplicações auto-máticas crescem e as pessoas sacam o dinheiro para pagar as suas contas, esvaziando os depósitos à vista, o que, consequen-temente, esvazia os recursos para o crédito rural”, explicou.

Segundo dados apresentados pela Febraban, na safra 2008/2009, o montante de recursos advindos das exigibilida-des bancárias para o crédito rural era de R$ 30 bilhões e, em 2014/2015, foi de R$ 49 bilhões. Para esta safra, a projeção era de R$ 37 bilhões nos bancos privados, mas já foi reduzida para R$ 28 bilhões. Diante disso, Vian defendeu que haja mais incentivo para que o produtor consiga ampliar a sua renda, pas-sando a depender menos do financiamento subsidiado do governo. Neste campo é que as instituições de fomento teriam mais oportunidades de crescimento. “O essencial é que a renda do produtor e os recursos do Tesouro Nacional precisam ter o uso de forma mais racionalizada. É preciso implementar o segu-ro da renda aos produtores ao longo do tempo e, nesta área, as instituições de fomento têm campo para crescer”, afirmou.

Quanto aos recursos livres, o destaque são os valores dis-ponibilizados por meio de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), comercializados no mercado de capitais. Também nes-te ponto, o representante da Febraban fez ponderações. “Esse plano é o Plano Safra mais caro dos últimos anos, por-que trouxe a LCA para financiar R$ 30 bilhões da safra. As taxas não estão no topo da taxa de mercado, são intermediári-as, mas mesmo assim são taxas de mercado”, analisou. Este maior custo também é justificado pelo esgotamento das exi-gibilidades bancárias.

Agricultura familiar – O seminário esclareceu ainda dados sobre o desempenho e as perspectivas para o Programa Naci-onal de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), desti-

RUMOS – 30 – Julho/Agosto 2015 RUMOS – 31 – Julho/Agosto 2015

nado ao pequeno produtor característi-co da agricultura familiar. O diretor do Departamento de Financiamento e Pro-teção da Produção da Secretaria de Agri-cultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), João Guadagnin, reforçou o compromisso da pasta principalmente em relação à construção coletiva das normas para as operações com verba pública, o que tam-bém garante o fortalecimento da agri-cultura. “Nosso papel é incluir as pesso-as que não acessariam o crédito de outra forma e neste sentido a participação do sistema de cooperativas, além dos dema-is agentes financeiros, tem sido signifi-cativo para o apoio à agricultura famili-ar”, destacou.

O panorama do alcance do Pronaf foi traçado a partir da realidade experi-mentada por agentes financeiros locali-zados em três regiões distintas: na região amazônica, por meio da experiência do Banco da Amazônia; no Centro-Oeste, pelos esforços do Banco de Brasília (BRB); e no Sudeste, a partir das práticas do Banco de Desenvolvimento do Espí-rito Santo (Bandes). No caso da Amazô-nia, a gerente-executiva de Microfinan-ças e Agricultura da instituição, Cristina Lopes, informou sobre a destinação, em 2015, de R$ 700 milhões em fomento à agricultura familiar. “Para 2015, mante-mos a meta estipulada e superada em 2014, devido a algumas questões em nível regional que precisam ser resolvi-das, como o risco amazônico e a capaci-dade operacional das empresas de assis-tência técnica, que têm alta demanda na região”, pontuou.

Segundo Cristina, as dificuldades incluem a própria locali-zação do produtor nos meandros da floresta, o que dificulta a concessão do crédito e o acesso à assistência técnica necessá-ria. “Outro aspecto que impactou os resultados do Acre e do Amazonas foi a cheia de rios. Já nos casos do Maranhão e Mato Grosso, nem sempre há recursos disponíveis”, disse. Ela também ressaltou a prevalência das operações de investimen-tos na carteira do banco, que representaram 96% do total dis-ponibilizado na safra passada. “Essas são operações de maior risco, mas que cumprem com o papel de sermos um banco de fomento em uma região muito carente de recursos”, ponde-rou. Quanto às perspectivas, o Banco da Amazônia pretende ampliar a gestão da carteira Pronaf por meio da padronização de procedimentos, diminuição de riscos de fraudes e qualifica-ção da carteira.

No Espírito Santo, o diferencial tem sido a utilização de consultores que captam clientes diretamente nas fazendas da região, onde 77% dos estabelecimentos são rurais e 40% da área rural do estado são de agricultores familiares. Hoje, no

meio rural são pelo menos 90 consul-tores. O banco opera com o Pronaf desde 1995, mas teve maior desenvol-vimento no programa a partir de 2006. Desde então, são 34.467 operações con-tratadas, somando R$ 973,4 milhões até 2014. O valor médio dos contratos é de R$ 28.241. Para 2015, a previsão é realizar 2.400 contratos, com liberação de R$ 110 milhões.

Neste contexto, o consultor tem a função de captar o cliente, fazer o pro-jeto de financiamento e recolher a docu-mentação necessária para a análise do banco. “Esses consultores são todos agrônomos ou técnicos agrícolas, con-tratados como pessoa jurídica, e pas-sam pela orientação e por treinamentos programados pelo banco”, explicou a gerente do Bandes, Joselane Bolelli. Segundo ela, o trabalho é fortalecido pela participação de parceiros, como bancos estaduais, universidades, secre-tarias estadual e municipais.

Já o gerente de equipe do Banco de Brasília (BRB), Thiago Basílio, desta-cou a atuação no Distrito Federal junto a produtores de hortaliças, responsáve-is pela tomada de 90% do crédito dis-ponibilizado pelo banco para este fim. Um dos fatores de sucesso é a parceria com a Emater-DF que oferece assis-tência técnica gratuita aos produtores da agricultura familiar. “Isso nos asse-gura que o cliente seja, de fato, do perfil determinado para acessar o crédito do Pronaf ”, afirmou.

O banco começou a operar com Pronaf em 2001, junto a um público potencial de 6 mil clien-tes. Desde então, o banco saltou de R$ 1,7 milhão em saldo de operações ativas em 2012 para os R$ 17,2 milhões, atualizados até o primeiro trimestre de 2015. “Hoje, este valor está muito próximo da exigibilidade do banco, que é de R$ 20 milhões. Nosso desafio é captar mais recursos porque chegamos ao limi-te em que temos a exigibilidade para aplicar”, disse. Uma das alternativas adotadas é o recebimento de recursos BNDES para investimentos, que poderá atender essa demanda e liberar os demais recursos para outras necessidades do produtor da agricultura familiar.

Da parte do BNDES enquanto principal fonte de recursos para linha de investimentos, inclusive por meio do Plano Safra e do Pronaf, a previsão é de que a demanda no ciclo produtivo em andamento ocorra normalmente, especialmente por conta do estresse de outras fontes de recursos, atingidas pela instabi-lidade econômica. Do crédito ofertado pelo Mapa e pelo MDA, que juntos somam R$ 216,6 bilhões, o BNDES com-põe linhas de investimento do Plano Safra no montante de R$ 23,4 bilhões e para o Pronaf destina R$ 2,4 bilhões, ofertados

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O Brasil hoje é reconhecido como o maior produtor de alimentos do mundo; nas fotos, a produção e a colheita de café

Abertura: Bruno Lucchi (CNA), João Guadagnin (MDA), José Henrique Paim (BNDES), Milton Santos (ABDE), Juan Carlos de La Hoz (BID) e Wilson Vaz de Araújo (Mapa)

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RUMOS – 32 – Julho/Agosto 2015 RUMOS – 33 – Julho/Agosto 2015

para custeio. “Desta maneira, o banco dá apoio a políticas públicas para iniciativas de avanços em novas tecnologias, a integração com a floresta, a agregação de valor ao produto e a estruturação de modelos de negócios em novos hábitos de consumo, como produtos de agroeconologia”, elencou o che-fe do Departamento de Suporte aos Programas Agropecuári-os do BNDES, Carlos Alberto Vianna. Ele apresentou opções tanto para médios produtores quanto para pequenos produto-res da agricultura familiar e também iniciativas voltadas para o cooperativismo. “Por meio do BNDES entendemos que há uma racionalidade dos custos do Tesouro Nacional porque as fontes do BNDES são menos onerosas”, destacou.

No caso específico do Pronaf, por exemplo, o banco ampliou, nos últimos dez anos, sua atuação dos R$ 100

milhões em 2005 para os R$ 2,4 bilhões atuais. Na decomposi-ção do crédito, 85% são destinados a investimentos. Os outros 15% vão para linhas de custeio por conta de uma falha de mer-cado que dificulta o acesso de cooperativas de crédito a fontes para esse tipo de financiamento. “A atuação do BNDES per-mite a essas cooperativas de crédito ofertar financiamentos a taxas menos onerosas que as praticadas no mercado”, pontu-ou o gerente de Normas do Departamento de Gestão do Cré-dito Rural da Área Agropecuária e de Inclusão Social do BNDES, Caio Barbosa. Tal importância foi reforçada em pai-nel dedicado às cooperativas, em que os dois principais bancos cooperativos brasileiros, Bancoob e Sicredi, e o Banco de Méxi-co apresentaram dados que expuseram os avanços e desafios para esse segmento.

Cenário internacional – Parte do seminário foi dedicada à análise da conjuntura econômica mundial, que tem influencia-do indicadores importantes para o agronegócio. Na apresenta-ção do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, o foco foi a atual posição das taxas de juros, que têm elevado os custos dos financiamentos. Para ele, é preciso que o empresariado aprenda a correr riscos no mercado financeiro e que as instituições financeiras, por sua vez, aprendam a ofere-cer serviços adequados às especificidades de cada cliente. “O que temos hoje é que estamos organizando a economia do país para fazer negócio em grande escala”, apontou.

Ele também apontou perspectivas para o futuro. Um dos cenários com que o mercado trabalha para 2016 é com a possi-bilidade de que as últimas altas realizadas na Selic sejam uma

sinalização do governo para os investidores para o aumento da rentabilidade das aplicações. “O governo vai elevar forte a Selic para depois cortar quando as expectativas do mercado estiverem ancoradas”, analisou. Entretanto, ele ponderou que o cenário político poderá prejudicar a estratégia, aumentando a desconfiança do mercado.

Já o secretário de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais, João Cruz Reis Filho, se concentrou nos cenários econômicos de alguns dos principais compradores externos dos produtos brasileiros, como a China, que também enfrenta crise e já afeta as exportações brasileiras de soja. Já a exportação de café tem demonstrado crescimento, por conta da recuperação econô-mica vivida pelos Estados Unidos e pela Europa. “Ou seja, o Brasil não está imune ao humor dos mercados internacionais”, afirmou.

Para fazer frente a esta realidade, João Cruz destacou como desafios a manutenção dos avanços em tecnologias, uma vez que o aumento da produtividade está diretamente rela-cionado a elas. Outro aspecto importante é o aperfeiçoamento da gestão. “O crédito deve estar amparado pela assistência téc-nica e pela gestão. O crédito agrícola tem riscos diretamente associados à falta de planejamento. As questões climáticas adversas podem afetar, mas há mecanismos que podem blin-dar a produção de eventos climáticos adversos. Então, o pon-to-chave é a gestão”, frisou.

Internacionalização e Logística – Sinalizado desde o início do seminário, o principal desafio do agronegócio brasileiro é expandir para fora da porteira os progressos percebidos den-tro das fazendas. “Temos problemas na infraestrutura para escoamento da produção e quanto aos altos custos nos portos. Isso é, de fato, um ponto que precisa ser trabalhado e atacado com muita seriedade”, enfatizou o presidente da ABDE.

Em um contexto de agravamento no cenário político e social mundial, com acirramento de conflitos armados em vários países, e de restrições em termos ambientais e de ener-gia, por exemplo, a produção agropecuária ganha importância estratégica, na análise do sócio da Ernest Young (EY) Viktor Andrade. “Todas essas mudanças trouxeram o agronegócio como um todo para um patamar estratégico e, nos últimos anos, tem sido muito bem-visto que a agricultura seja a base de sustentação da economia do Brasil, revertendo o paradig-ma de que o agronegócio não é avançado, não envolve tecno-logia e de que seria melhor ter indústrias”, afirmou.

Ele não descartou, entretanto, a necessidade de que os produtos agrícolas brasileiros tenham maior valor agregado, pelo processamento e sofisticação na oferta. “No que se refe-re ao aumento da produção, o Brasil conseguiu atingir um patamar satisfatório e também estamos indo bem nas agroin-dústrias, mas o mundo não vai permanecer assim e o Brasil não pode deixar de olhar para essas tendências e se preparar para elas”, disse. Entre elas estão questões relacionadas à sus-tentabilidade, segurança alimentar com aumento da popula-ção, pressão de demanda provocada por crescimento da ren-da, competição com setor energético que passa a utilizar ali-mentos para produção de energia, entre outros aspectos, para os quais os produtores brasileiros precisam dar maior aten-ção, segundo Andrade.

s participantes do seminário também puderam conhecer as opções atuais de financiamento com foco em ativida-

des sustentáveis envolvidas na produção de alimentos, bem como a aplicação de inovação para garantir maior produtivida-de e eficiência no trabalho do campo. Os programas estão ali-nhados às metas nacionais de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa. “Para essas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa serem atingidas, será necessá-ria a aplicação de recursos financeiros”, frisou Tiago Luiz Pero-ba, do BNDES.

Uma das fontes para financiar projetos sustentáveis é o Programa ABC, oferecido desde a safra 2010/2011. O progra-ma é fruto da junção de outros programas voltados para aten-der ao produtor rural com viés na preservação do meio ambi-ente, como a recuperação de pastagens e solos degradados, o plantio de florestas e a integração lavoura-pecuária-floresta. Outros tipos produtivos apoiados por linhas de crédito do ban-co são produção em sistemas orgânicos e plantio direto e ainda regularização da propriedade rural perante a legislação ambi-ental, especialmente em área de reserva legal de preservação permanente.

Para a safra atual, o montante destinado por meio do Pro-grama ABC é de R$ 3 bilhões, a taxas de 7,5% para médio pro-dutor e de 8% para os demais, e o prazo de pagamento varia de 5 a 15 anos, a depender da atividade desenvolvida pelo toma-dor. A taxa de juros também está acima das praticadas em anos anteriores, embora abaixo da taxa básica de juros – Selic. “A inovação é que, para plantio de florestas, o limite de R$ 3 milhões é para investimentos de produtores com área de até 15 módulos fiscais. Acima disso, o limite de financiamento pas-sou a ser de R$ 5 milhões”, explicou o representante do Mapa, João Cláudio da Silva Souza.

Em cinco safras, o programa disponibilizou R$ 18,6 bilhões em recursos para o produtor rural investir em susten-tabilidade, tendo sido aplicados R$ 10,5 bilhões, por meio de aproximadamente 35 mil contratos. O pico das aplicações

ocorreu na safra 2011/12, com 85% dos recursos aplicados em relação aos programados, quando o Banco do Brasil come-çou a operar com fonte própria equalizada pelo Tesouro Naci-onal no programa. Na safra mais recente, 2014/15, até maio deste ano, o desempenho foi de aplicação de 65% dos recursos programados.

Na outra ponta do processo de aumento de produtividade das terras brasileiras, o Programa de Incentivo à Inovação Tec-nológica na Produção Agropecuária (Inovagro) tem, para este ano, R$ 850 milhões para investimentos na incorporação de inovação tecnológica nas propriedades rurais. “Quando come-çamos a operar essa linha, na safra 2013/2014, conseguimos aplicação de 28% do orçamento, mas temos avançado com a realização de eventos e treinamentos para esclarecer aos agen-tes financeiros sobre a melhor forma de operar com esses recursos”, pontuou o representante do BNDES. Com isso, na safra 2014/15, 95% do orçamento já foi operacionalizado.

Cases – O painel também apresentou casos de sucesso em investimentos na agricultura sustentável, como o do Badesul Desenvolvimento. Um dos projetos mais recentes é o de incentivo à produção de biometano 12 no Rio Grande do Sul, desenvolvido em parceria com a estatal gaúcha Sulgás. O com-bustível é produzido por meio de um sistema de reutilização de dejetos de gado. “A meta é gerar, por meio desse programa, 10% do total de gás distribuído no estado, nos próximos 10 anos, aumentando a participação de combustível de origem não fóssil na matriz energética gaúcha”, frisou a diretora-presidente da instituição, Susana Maria Kakuta. Para ela, o dife-rencial no financiamento da agricultura sustentável é identifi-car o potencial local, sem ficar preso aos modelos de projetos convencionais.

Já o representante do BID, Luciano Schweizer, apontou a importância da criação de seguros agrícolas capazes de res-guardar o agronegócio das intempéries cada vez menos previ-síveis, com maior exposição e vulnerabilidade das lavouras e

Linhas de financiamento primam pela sustentabilidade e a inovação

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fazendas de gado a secas, inundações, geadas, ventos, grani-zo. “Os riscos desses fatores sobre a produção têm crescido devido ao aumento na frequência e na intensidade com que esses eventos ocorrem”, pontuou. Uma das formas de fazer frente a esses fatores é recorrer ao mercado de seguros. Entretanto, na América Latina e Caribe, 83% da superfície cultivada não possui cobertura de seguro agrícola e, no caso do Brasil, a oferta do produto é subsidiada pelo poder públi-co, como parte da política agrícola nacional. “Ainda assim, menos de 10% da superfície plantada possui seguro agrícola no país”, contabilizou.

Como alternativa para ampliar a atuação das instituições financeiras de desenvolvimento neste segmento, Schweizer apontou os exemplos desenvolvidos na Bolívia, no Chile e no Uruguai. Em comum, os três utilizam o modelo de seguros paramétricos, pelo qual o seguro é ativado diante de um sinis-tro relacionado à incidência de fatores climáticos fora dos padrões históricos, que interfiram na produção e podem ser precificados. “Isso exigiu a simplificação dos mecanismos de contratação do seguro e de pagamento de sinistro e o desen-volvimento de modelos com melhor qualidade de informação quanto às variáveis climáticas relacionadas ao risco a cobrir, por meio de alianças com instituições científicas e universida-des”, explicou.

DEBATE

O secretário-executivo do Ministério de Meio Ambiente, Francisco Gaetani, mediou debate sobre as práticas deagricultura sustentável

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para custeio. “Desta maneira, o banco dá apoio a políticas públicas para iniciativas de avanços em novas tecnologias, a integração com a floresta, a agregação de valor ao produto e a estruturação de modelos de negócios em novos hábitos de consumo, como produtos de agroeconologia”, elencou o che-fe do Departamento de Suporte aos Programas Agropecuári-os do BNDES, Carlos Alberto Vianna. Ele apresentou opções tanto para médios produtores quanto para pequenos produto-res da agricultura familiar e também iniciativas voltadas para o cooperativismo. “Por meio do BNDES entendemos que há uma racionalidade dos custos do Tesouro Nacional porque as fontes do BNDES são menos onerosas”, destacou.

No caso específico do Pronaf, por exemplo, o banco ampliou, nos últimos dez anos, sua atuação dos R$ 100

milhões em 2005 para os R$ 2,4 bilhões atuais. Na decomposi-ção do crédito, 85% são destinados a investimentos. Os outros 15% vão para linhas de custeio por conta de uma falha de mer-cado que dificulta o acesso de cooperativas de crédito a fontes para esse tipo de financiamento. “A atuação do BNDES per-mite a essas cooperativas de crédito ofertar financiamentos a taxas menos onerosas que as praticadas no mercado”, pontu-ou o gerente de Normas do Departamento de Gestão do Cré-dito Rural da Área Agropecuária e de Inclusão Social do BNDES, Caio Barbosa. Tal importância foi reforçada em pai-nel dedicado às cooperativas, em que os dois principais bancos cooperativos brasileiros, Bancoob e Sicredi, e o Banco de Méxi-co apresentaram dados que expuseram os avanços e desafios para esse segmento.

Cenário internacional – Parte do seminário foi dedicada à análise da conjuntura econômica mundial, que tem influencia-do indicadores importantes para o agronegócio. Na apresenta-ção do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, o foco foi a atual posição das taxas de juros, que têm elevado os custos dos financiamentos. Para ele, é preciso que o empresariado aprenda a correr riscos no mercado financeiro e que as instituições financeiras, por sua vez, aprendam a ofere-cer serviços adequados às especificidades de cada cliente. “O que temos hoje é que estamos organizando a economia do país para fazer negócio em grande escala”, apontou.

Ele também apontou perspectivas para o futuro. Um dos cenários com que o mercado trabalha para 2016 é com a possi-bilidade de que as últimas altas realizadas na Selic sejam uma

sinalização do governo para os investidores para o aumento da rentabilidade das aplicações. “O governo vai elevar forte a Selic para depois cortar quando as expectativas do mercado estiverem ancoradas”, analisou. Entretanto, ele ponderou que o cenário político poderá prejudicar a estratégia, aumentando a desconfiança do mercado.

Já o secretário de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais, João Cruz Reis Filho, se concentrou nos cenários econômicos de alguns dos principais compradores externos dos produtos brasileiros, como a China, que também enfrenta crise e já afeta as exportações brasileiras de soja. Já a exportação de café tem demonstrado crescimento, por conta da recuperação econô-mica vivida pelos Estados Unidos e pela Europa. “Ou seja, o Brasil não está imune ao humor dos mercados internacionais”, afirmou.

Para fazer frente a esta realidade, João Cruz destacou como desafios a manutenção dos avanços em tecnologias, uma vez que o aumento da produtividade está diretamente rela-cionado a elas. Outro aspecto importante é o aperfeiçoamento da gestão. “O crédito deve estar amparado pela assistência téc-nica e pela gestão. O crédito agrícola tem riscos diretamente associados à falta de planejamento. As questões climáticas adversas podem afetar, mas há mecanismos que podem blin-dar a produção de eventos climáticos adversos. Então, o pon-to-chave é a gestão”, frisou.

Internacionalização e Logística – Sinalizado desde o início do seminário, o principal desafio do agronegócio brasileiro é expandir para fora da porteira os progressos percebidos den-tro das fazendas. “Temos problemas na infraestrutura para escoamento da produção e quanto aos altos custos nos portos. Isso é, de fato, um ponto que precisa ser trabalhado e atacado com muita seriedade”, enfatizou o presidente da ABDE.

Em um contexto de agravamento no cenário político e social mundial, com acirramento de conflitos armados em vários países, e de restrições em termos ambientais e de ener-gia, por exemplo, a produção agropecuária ganha importância estratégica, na análise do sócio da Ernest Young (EY) Viktor Andrade. “Todas essas mudanças trouxeram o agronegócio como um todo para um patamar estratégico e, nos últimos anos, tem sido muito bem-visto que a agricultura seja a base de sustentação da economia do Brasil, revertendo o paradig-ma de que o agronegócio não é avançado, não envolve tecno-logia e de que seria melhor ter indústrias”, afirmou.

Ele não descartou, entretanto, a necessidade de que os produtos agrícolas brasileiros tenham maior valor agregado, pelo processamento e sofisticação na oferta. “No que se refe-re ao aumento da produção, o Brasil conseguiu atingir um patamar satisfatório e também estamos indo bem nas agroin-dústrias, mas o mundo não vai permanecer assim e o Brasil não pode deixar de olhar para essas tendências e se preparar para elas”, disse. Entre elas estão questões relacionadas à sus-tentabilidade, segurança alimentar com aumento da popula-ção, pressão de demanda provocada por crescimento da ren-da, competição com setor energético que passa a utilizar ali-mentos para produção de energia, entre outros aspectos, para os quais os produtores brasileiros precisam dar maior aten-ção, segundo Andrade.

s participantes do seminário também puderam conhecer as opções atuais de financiamento com foco em ativida-

des sustentáveis envolvidas na produção de alimentos, bem como a aplicação de inovação para garantir maior produtivida-de e eficiência no trabalho do campo. Os programas estão ali-nhados às metas nacionais de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa. “Para essas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa serem atingidas, será necessá-ria a aplicação de recursos financeiros”, frisou Tiago Luiz Pero-ba, do BNDES.

Uma das fontes para financiar projetos sustentáveis é o Programa ABC, oferecido desde a safra 2010/2011. O progra-ma é fruto da junção de outros programas voltados para aten-der ao produtor rural com viés na preservação do meio ambi-ente, como a recuperação de pastagens e solos degradados, o plantio de florestas e a integração lavoura-pecuária-floresta. Outros tipos produtivos apoiados por linhas de crédito do ban-co são produção em sistemas orgânicos e plantio direto e ainda regularização da propriedade rural perante a legislação ambi-ental, especialmente em área de reserva legal de preservação permanente.

Para a safra atual, o montante destinado por meio do Pro-grama ABC é de R$ 3 bilhões, a taxas de 7,5% para médio pro-dutor e de 8% para os demais, e o prazo de pagamento varia de 5 a 15 anos, a depender da atividade desenvolvida pelo toma-dor. A taxa de juros também está acima das praticadas em anos anteriores, embora abaixo da taxa básica de juros – Selic. “A inovação é que, para plantio de florestas, o limite de R$ 3 milhões é para investimentos de produtores com área de até 15 módulos fiscais. Acima disso, o limite de financiamento pas-sou a ser de R$ 5 milhões”, explicou o representante do Mapa, João Cláudio da Silva Souza.

Em cinco safras, o programa disponibilizou R$ 18,6 bilhões em recursos para o produtor rural investir em susten-tabilidade, tendo sido aplicados R$ 10,5 bilhões, por meio de aproximadamente 35 mil contratos. O pico das aplicações

ocorreu na safra 2011/12, com 85% dos recursos aplicados em relação aos programados, quando o Banco do Brasil come-çou a operar com fonte própria equalizada pelo Tesouro Naci-onal no programa. Na safra mais recente, 2014/15, até maio deste ano, o desempenho foi de aplicação de 65% dos recursos programados.

Na outra ponta do processo de aumento de produtividade das terras brasileiras, o Programa de Incentivo à Inovação Tec-nológica na Produção Agropecuária (Inovagro) tem, para este ano, R$ 850 milhões para investimentos na incorporação de inovação tecnológica nas propriedades rurais. “Quando come-çamos a operar essa linha, na safra 2013/2014, conseguimos aplicação de 28% do orçamento, mas temos avançado com a realização de eventos e treinamentos para esclarecer aos agen-tes financeiros sobre a melhor forma de operar com esses recursos”, pontuou o representante do BNDES. Com isso, na safra 2014/15, 95% do orçamento já foi operacionalizado.

Cases – O painel também apresentou casos de sucesso em investimentos na agricultura sustentável, como o do Badesul Desenvolvimento. Um dos projetos mais recentes é o de incentivo à produção de biometano 12 no Rio Grande do Sul, desenvolvido em parceria com a estatal gaúcha Sulgás. O com-bustível é produzido por meio de um sistema de reutilização de dejetos de gado. “A meta é gerar, por meio desse programa, 10% do total de gás distribuído no estado, nos próximos 10 anos, aumentando a participação de combustível de origem não fóssil na matriz energética gaúcha”, frisou a diretora-presidente da instituição, Susana Maria Kakuta. Para ela, o dife-rencial no financiamento da agricultura sustentável é identifi-car o potencial local, sem ficar preso aos modelos de projetos convencionais.

Já o representante do BID, Luciano Schweizer, apontou a importância da criação de seguros agrícolas capazes de res-guardar o agronegócio das intempéries cada vez menos previ-síveis, com maior exposição e vulnerabilidade das lavouras e

Linhas de financiamento primam pela sustentabilidade e a inovação

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fazendas de gado a secas, inundações, geadas, ventos, grani-zo. “Os riscos desses fatores sobre a produção têm crescido devido ao aumento na frequência e na intensidade com que esses eventos ocorrem”, pontuou. Uma das formas de fazer frente a esses fatores é recorrer ao mercado de seguros. Entretanto, na América Latina e Caribe, 83% da superfície cultivada não possui cobertura de seguro agrícola e, no caso do Brasil, a oferta do produto é subsidiada pelo poder públi-co, como parte da política agrícola nacional. “Ainda assim, menos de 10% da superfície plantada possui seguro agrícola no país”, contabilizou.

Como alternativa para ampliar a atuação das instituições financeiras de desenvolvimento neste segmento, Schweizer apontou os exemplos desenvolvidos na Bolívia, no Chile e no Uruguai. Em comum, os três utilizam o modelo de seguros paramétricos, pelo qual o seguro é ativado diante de um sinis-tro relacionado à incidência de fatores climáticos fora dos padrões históricos, que interfiram na produção e podem ser precificados. “Isso exigiu a simplificação dos mecanismos de contratação do seguro e de pagamento de sinistro e o desen-volvimento de modelos com melhor qualidade de informação quanto às variáveis climáticas relacionadas ao risco a cobrir, por meio de alianças com instituições científicas e universida-des”, explicou.

DEBATE

O secretário-executivo do Ministério de Meio Ambiente, Francisco Gaetani, mediou debate sobre as práticas deagricultura sustentável

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R REPORTAGEM

RUMOS – 34 – Julho/Agosto 2015 RUMOS – 35 – Julho/Agosto 2015

Indicada como um ponto fora da curva, a BRF tem conse-guido expandir sua atuação mesmo diante de tais mudanças e, para o diretor Financeiro e de Relação com Investidores, Elcio Ito, o acesso a fontes de financiamento é fundamental para alcançar um patamar mais elevado enquanto exportador de ali-mentos. Atualmente, a BRF obtém metade de sua receita em vendas no Brasil. O restante está distribuído em mais de 120 países entre a Europa, Ásia, América Latina e o Oriente Médio. Deste, são obtidos 21% das receitas da empresa.

O bom desempenho no Oriente Médio é explicado, em parte, pelo fato de a região ser desértica, impondo um alto cus-to para a produção de alimentos, diferentemente do Brasil, onde a produção é mais barata e mais produtiva. “Por essa razão, entendemos que o modelo ideal é manter a produção no Brasil, porque o mercado já viu que aqui é o local mais bara-to e produtivo do mundo”, afir-mou Ito. No caso do Oriente Médio, por exemplo, a matéria-prima é exportada para a fábrica da empresa em Dubai, onde é proces-sado e distribuído.

No caso da Associação Brasile-ira dos Produtores de Algodão (Abrapa), seus associados em dez estados brasileiros respondem pela produção de 1 milhão de toneladas de pluma de algodão e 2 milhões em caroços com qualidade que tem trazido interessados de outros con-tinentes, como a Ásia, onde se con-centra a indústria têxtil mundial. Entretanto, o setor depende da dis-ponibilidade de recursos para pro-duzir, ponto ressaltado pelo presi-dente da entidade, João Carlos Jacobsen.

Para ele, é preciso que os bancos mantenham a oferta de crédito para financiar o agronegócio para garan-tir o suprimento nacional e interna-cional, mesmo no momento de cri-se econômica. “As instituições de fomento são extremamente impor-tantes no equilíbrio da oferta de cré-dito, porque é natural que o banco privado busque os maiores lucros para os seus negócios e as agências de fomento, regionais e estatais, são fundamentais para melhorar o desempenho”, pontuou. Outra via defendida por Jacobsen é a da entra-da de investimentos internacionais. “Precisamos trazer esse dinheiro do investidor internacional com custo mais barato e estamos trabalhando no Mapa e no Bacen para facilitar a captação, especialmente para inves-timentos de longo prazo”, disse.

Na logística do país, para exportação e abastecimento interno, ficou demonstrada a prevalência da utilização de rodo-vias para escoamento da produção – a opção para o transporte de 53% da carga de grãos. Apesar de o transporte rodoviário brasileiro ser mais barato comparativamente a outros países, este também é o mais ineficiente quando se trata de grandes volumes, em grandes distâncias, embora estas sejam justamen-te as razões para a sua utilização.

Apesar da ampliação da fronteira agrícola brasileira em direção ao Centro Oeste e ao Norte, 78% das exportações são feitas por meio dos portos do Sul e do Sudeste. “Foi mais gra-ve em momentos recentes, com a concentração atingindo 85% do escoamento para essas portas, mas, atualmente, vis-lumbramos uma saída norte com crescimento ainda tímido, mas com muito potencial significativo, especialmente pela

hidrovia do Tapajós indo para os portos do Pará”, assinalou o gerente do Departamento de Transportes e Logística do BNDES, Edson Dalto.

O banco de desenvolvimento apresentou o crescimento de desembolsos em projetos de logística, com 35% de alta ao ano desde 2003, incluindo projetos de rodovias, ferrovias, por-tos e aeroportos. São R$ 62 bilhões em recursos do BNDES até 2014. A partir de 2015, a previsão também é de aumento, embora em patamar menor, de 15%, em função dos Planos de Investimentos em Logística (PIL).

Entre os projetos em análise pelo governo federal, o asses-sor técnico da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Carlos Nunes, destacou ações gestadas no âmbito da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Agrone-gócio do ministério, da qual é o secretário-executivo. Segundo ele, a saída mais promissora é voltar a atenção para o Arco Nor-te, que passa pelas cidades de Ilhéus (BA), Brasília (DF) e Cuia-bá (MT), com novas rotas por meio de um sistema hidro-rodoviário para portos das regiões Norte e Nordeste.

Nunes citou as perspectivas de escoamento da produção

do Centro-Oeste por meio de rota integrada entre a BR-163, desde Miritituba (PA) – a 200 km de Santarém – até o Baixo Tapajós. “Já estão sendo implantadas estações de transbordo de cargas que levam de barcaça com 18 mil toneladas cargas de Miritituba até o sistema de Belém e, de lá, são embarcadas para navegação de longo curso (entre países)”, explicou o assessor técnico do MAPA. Em relação a alternativas passando por Sor-riso (MT), esse sistema confere uma redução em US$ 50 a tonelada no custo final da movimentação.

Ao concluir o painel, o consultor para Logística e Infraes-trutura da CNA e ex-presidente da ABDE, Luiz Antônio Fayet, apresentou outras demandas do setor como a implanta-ção de conselhos de usuários de transportes, com atuação na gestão dos modais, e a construção de portos secos, para asse-gurar garantia de qualidade de produtos para consumidores. “Sem esses recintos típicos do interior do país, há maior vulne-rabilidade da qualidade dos produtos brasileiros”, afirmou. No ponto da gestão das hidrovias, ele reforçou a necessidade de maior controle especialmente na Amazônia, que tem importância estratégica para o escoamento de grãos.

A programação do Seminário Financiamento ao Agronegócio incluiu duas palestras apresentadas por especialistas. A primeira palestra, do chefe da Secre-taria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa, Elisio Contini, tratou sobre os desafios da produção de alimentos até 2020. Já o especialista em agronegó-cio do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho (foto), fechou o evento com um resumo dos desafios e oportunidades para o agronegócio brasileiro.

Contini resumiu enquanto avanços do agrone-gócio brasileiro dos últimos anos o que chamou de incorporação de áreas marginais ao agronegócio, principalmente o cerrado. Os bons resultados foram conquistados por aspectos naturais, como as condições climáticas favoráveis e disponibilida-de de minas de fosfato e de calcário, mas também pela aplicação de pesquisas e novas tecno-logias em extensão de áreas aráveis e facilidades de mecanização. “Com isso, os consumido-res foram beneficiados com preços mais baratos para uma maior gama de alimentos, além da ocupação do interior do Brasil”, afirmou.

Ao mesmo tempo, as rápidas mudanças mundiais requerem que o país intensifique esforços para criar sistemas de inteligência e antecipação que respondam a essas mudanças e entendam a multifuncionalidade da agricultura como o uso de alimentos para a produção de energia, além da segurança alimentar das crescentes populações mundiais. “Esses desafios não são triviais, incluem carência de recursos naturais, surgimento de novas pragas e altera-ções na economia dos países. Isso exige novas formas de olhar para o futuro”, frisou. Para isso, seriam necessárias novas composições de esforços e alianças, notadamente acordos comerciais mais rentáveis para o Brasil, e o fortalecimento da base de conhecimentos e for-mação de novos talentos para atuar no campo.

Já a palestra de Vieira Filho sintetizou os debates do seminário no conceito de produtivi-dade. Para isso, ele também utilizou o exemplo do desenvolvimento agrícola e pecuário no Centro-Oeste. Neste processo, houve a integração entre várias técnicas para chegar ao nível de produção observado atualmente, como a correção do solo por meio da calagem, a tropica-lização da cultura de soja e a inoculação de bactérias para captura de nitrogênio nas planta-ções do grão. “A agricultura, assim como processo industrial, está baseada em conhecimento e tecnologia. Foi necessário também desenvolver a capacidade de absorção tecnológica para alcançar produtividade e isso depende de políticas públicas e de financiamento”, concluiu.

Palestras relacionam pesquisa e financiamento para expansão do agronegócio

DEBATE

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As rodovias são a principal opção para escoamento da produção brasileira e este é um entrave para o setor agropecuário no país: expandir os progressos percebidos dentro das fazendas nas últimas décadas para fora da porteira

Exportação de alimentos

2000

2014

US$ 10,7bilhões

US$ 100 bilhões

2000 2014

Grãos produzidos (toneladas)

200 milhões

Crédito rural

R$ 16bilhões

2000 2015

R$ 187bilhões

Números do agronegócio na última década

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Fonte: Embrapa

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Indicada como um ponto fora da curva, a BRF tem conse-guido expandir sua atuação mesmo diante de tais mudanças e, para o diretor Financeiro e de Relação com Investidores, Elcio Ito, o acesso a fontes de financiamento é fundamental para alcançar um patamar mais elevado enquanto exportador de ali-mentos. Atualmente, a BRF obtém metade de sua receita em vendas no Brasil. O restante está distribuído em mais de 120 países entre a Europa, Ásia, América Latina e o Oriente Médio. Deste, são obtidos 21% das receitas da empresa.

O bom desempenho no Oriente Médio é explicado, em parte, pelo fato de a região ser desértica, impondo um alto cus-to para a produção de alimentos, diferentemente do Brasil, onde a produção é mais barata e mais produtiva. “Por essa razão, entendemos que o modelo ideal é manter a produção no Brasil, porque o mercado já viu que aqui é o local mais bara-to e produtivo do mundo”, afir-mou Ito. No caso do Oriente Médio, por exemplo, a matéria-prima é exportada para a fábrica da empresa em Dubai, onde é proces-sado e distribuído.

No caso da Associação Brasile-ira dos Produtores de Algodão (Abrapa), seus associados em dez estados brasileiros respondem pela produção de 1 milhão de toneladas de pluma de algodão e 2 milhões em caroços com qualidade que tem trazido interessados de outros con-tinentes, como a Ásia, onde se con-centra a indústria têxtil mundial. Entretanto, o setor depende da dis-ponibilidade de recursos para pro-duzir, ponto ressaltado pelo presi-dente da entidade, João Carlos Jacobsen.

Para ele, é preciso que os bancos mantenham a oferta de crédito para financiar o agronegócio para garan-tir o suprimento nacional e interna-cional, mesmo no momento de cri-se econômica. “As instituições de fomento são extremamente impor-tantes no equilíbrio da oferta de cré-dito, porque é natural que o banco privado busque os maiores lucros para os seus negócios e as agências de fomento, regionais e estatais, são fundamentais para melhorar o desempenho”, pontuou. Outra via defendida por Jacobsen é a da entra-da de investimentos internacionais. “Precisamos trazer esse dinheiro do investidor internacional com custo mais barato e estamos trabalhando no Mapa e no Bacen para facilitar a captação, especialmente para inves-timentos de longo prazo”, disse.

Na logística do país, para exportação e abastecimento interno, ficou demonstrada a prevalência da utilização de rodo-vias para escoamento da produção – a opção para o transporte de 53% da carga de grãos. Apesar de o transporte rodoviário brasileiro ser mais barato comparativamente a outros países, este também é o mais ineficiente quando se trata de grandes volumes, em grandes distâncias, embora estas sejam justamen-te as razões para a sua utilização.

Apesar da ampliação da fronteira agrícola brasileira em direção ao Centro Oeste e ao Norte, 78% das exportações são feitas por meio dos portos do Sul e do Sudeste. “Foi mais gra-ve em momentos recentes, com a concentração atingindo 85% do escoamento para essas portas, mas, atualmente, vis-lumbramos uma saída norte com crescimento ainda tímido, mas com muito potencial significativo, especialmente pela

hidrovia do Tapajós indo para os portos do Pará”, assinalou o gerente do Departamento de Transportes e Logística do BNDES, Edson Dalto.

O banco de desenvolvimento apresentou o crescimento de desembolsos em projetos de logística, com 35% de alta ao ano desde 2003, incluindo projetos de rodovias, ferrovias, por-tos e aeroportos. São R$ 62 bilhões em recursos do BNDES até 2014. A partir de 2015, a previsão também é de aumento, embora em patamar menor, de 15%, em função dos Planos de Investimentos em Logística (PIL).

Entre os projetos em análise pelo governo federal, o asses-sor técnico da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Carlos Nunes, destacou ações gestadas no âmbito da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Agrone-gócio do ministério, da qual é o secretário-executivo. Segundo ele, a saída mais promissora é voltar a atenção para o Arco Nor-te, que passa pelas cidades de Ilhéus (BA), Brasília (DF) e Cuia-bá (MT), com novas rotas por meio de um sistema hidro-rodoviário para portos das regiões Norte e Nordeste.

Nunes citou as perspectivas de escoamento da produção

do Centro-Oeste por meio de rota integrada entre a BR-163, desde Miritituba (PA) – a 200 km de Santarém – até o Baixo Tapajós. “Já estão sendo implantadas estações de transbordo de cargas que levam de barcaça com 18 mil toneladas cargas de Miritituba até o sistema de Belém e, de lá, são embarcadas para navegação de longo curso (entre países)”, explicou o assessor técnico do MAPA. Em relação a alternativas passando por Sor-riso (MT), esse sistema confere uma redução em US$ 50 a tonelada no custo final da movimentação.

Ao concluir o painel, o consultor para Logística e Infraes-trutura da CNA e ex-presidente da ABDE, Luiz Antônio Fayet, apresentou outras demandas do setor como a implanta-ção de conselhos de usuários de transportes, com atuação na gestão dos modais, e a construção de portos secos, para asse-gurar garantia de qualidade de produtos para consumidores. “Sem esses recintos típicos do interior do país, há maior vulne-rabilidade da qualidade dos produtos brasileiros”, afirmou. No ponto da gestão das hidrovias, ele reforçou a necessidade de maior controle especialmente na Amazônia, que tem importância estratégica para o escoamento de grãos.

A programação do Seminário Financiamento ao Agronegócio incluiu duas palestras apresentadas por especialistas. A primeira palestra, do chefe da Secre-taria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa, Elisio Contini, tratou sobre os desafios da produção de alimentos até 2020. Já o especialista em agronegó-cio do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho (foto), fechou o evento com um resumo dos desafios e oportunidades para o agronegócio brasileiro.

Contini resumiu enquanto avanços do agrone-gócio brasileiro dos últimos anos o que chamou de incorporação de áreas marginais ao agronegócio, principalmente o cerrado. Os bons resultados foram conquistados por aspectos naturais, como as condições climáticas favoráveis e disponibilida-de de minas de fosfato e de calcário, mas também pela aplicação de pesquisas e novas tecno-logias em extensão de áreas aráveis e facilidades de mecanização. “Com isso, os consumido-res foram beneficiados com preços mais baratos para uma maior gama de alimentos, além da ocupação do interior do Brasil”, afirmou.

Ao mesmo tempo, as rápidas mudanças mundiais requerem que o país intensifique esforços para criar sistemas de inteligência e antecipação que respondam a essas mudanças e entendam a multifuncionalidade da agricultura como o uso de alimentos para a produção de energia, além da segurança alimentar das crescentes populações mundiais. “Esses desafios não são triviais, incluem carência de recursos naturais, surgimento de novas pragas e altera-ções na economia dos países. Isso exige novas formas de olhar para o futuro”, frisou. Para isso, seriam necessárias novas composições de esforços e alianças, notadamente acordos comerciais mais rentáveis para o Brasil, e o fortalecimento da base de conhecimentos e for-mação de novos talentos para atuar no campo.

Já a palestra de Vieira Filho sintetizou os debates do seminário no conceito de produtivi-dade. Para isso, ele também utilizou o exemplo do desenvolvimento agrícola e pecuário no Centro-Oeste. Neste processo, houve a integração entre várias técnicas para chegar ao nível de produção observado atualmente, como a correção do solo por meio da calagem, a tropica-lização da cultura de soja e a inoculação de bactérias para captura de nitrogênio nas planta-ções do grão. “A agricultura, assim como processo industrial, está baseada em conhecimento e tecnologia. Foi necessário também desenvolver a capacidade de absorção tecnológica para alcançar produtividade e isso depende de políticas públicas e de financiamento”, concluiu.

Palestras relacionam pesquisa e financiamento para expansão do agronegócio

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As rodovias são a principal opção para escoamento da produção brasileira e este é um entrave para o setor agropecuário no país: expandir os progressos percebidos dentro das fazendas nas últimas décadas para fora da porteira

Exportação de alimentos

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US$ 10,7bilhões

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Grãos produzidos (toneladas)

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Crédito rural

R$ 16bilhões

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R$ 187bilhões

Números do agronegócio na última década

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Fonte: Embrapa

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m 2012, uma das maiores instituições financei-ras do mundo, cuja marca vale US 27 bilhões $sofreu acusação de lavagem de dinheiro. O cri-me gerou multa no valor recorde de quase US $2 bilhões. A empresa comprometeu-se a fazer

uma “limpeza” em sua gestão. Porém, passados três anos, rela-tórios de auditoria do segundo trimestre de 2015 destacaram dois pontos em suas conclusões: 1) as mudanças estavam mui-to lentas; 2) o principal impedimento era a dificuldade de se fazer uma “verdadeira transformação cultural”. “Sólidas polí-ticas escritas representam um passo significativo. Mas isso é somente parte da equação. É indispensável criar uma sólida cul-tura corporativa”, recomendam os auditores.

Ano passado, o tema cultura ganhou destaque na prestigia-da The Economist (11/1/2014), que perguntou: “What does cor-porate culture actually mean?” Uma das principais respostas resgatou antiga definição que não perdeu sua validade: é “o jei-to como fazemos as coisas por aqui”, que muitas vezes é um jei-to bem diferente do que estabelece as “regras formais”.

Por que cuidar da cultura corporativa é essencial? Por que é inútil as organizações escreverem belas declarações de missão, visão, valores e diretrizes éticas que ficam como palavras estáti-cas nos manuais e nas paredes. Essas palavras devem ser dinâ-micas, transformando-se em comportamentos. Não “letras mortas”, mas letras que ganham vida. Trabalhar a cultura é cri-ar sólida ponte entre o discurso e a prática.

Nos Estados Unidos (EUA) pesquisas revelaram investi-mentos da ordem de US 28 bilhões em programas de confor-$midade ou compliance, que não se mostraram efetivos. Ou seja, não produziram o efeito real ou esperado. Por quê? Uma das razões é o excessivo foco em regras e controles que estimulam obediência apenas por meio do medo e da punição. A outra é o foco insuficiente na criação ou aperfeiçoamento da cultura éti-ca, que estimula a autoconsciência movida por valores. Falta um balanceamento entre os dois focos.

A regulamentação (Decreto 8.420, 18/3/2015) da nova Lei Anticorrupção Empresarial brasileira (Lei 12.846/13) esti-mula iniciativas corporativas em Ética&Compliance por meio da criação de Programas de Integridade empresarial. E a legisla-ção sublinha a necessidade da “efetividade” desses programas

como parâmetro de avaliação: a organização precisa demons-trar que tem um programa dinâmico, vivo, e não ideias e regras de fachada. A efetividade exigida desses programas só será con-seguida, de fato, na medida em que haja o devido cuidado com a cultura organizacional, que reflete como as pessoas se com-portam realmente em suas relações, dentro e fora da empresa, com os diversos stakeholders.

Pesquisas internacionais são reveladoras: Segundo a National Business Ethics Survey, à medida que

a cultura ética se aperfeiçoa, a má conduta diminui: é de 88% numa cultura ética muito fraca, e cai para 20% numa cultura ética forte. Qual o comportamento de líderes e funcionários nas culturas éticas fortes? Eles conversam sobre a ética e seu impacto no trabalho que realizam; comunicam a ética como prioridade; dão bons exemplos de conduta ética; são trans-parentes fornecendo informações sobre os desafios e dile-mas éticos que enfrentam; e consideram a ética no processo de tomada de decisão.

Segundo estudos da LRN Corporation¹, as culturas éti-cas fortes são apreciativas. Elas celebram os bons comporta-mentos éticos com prêmios, de reconhecimento em reuniões de equipe, em veículos de comunicação da empresa e como parâmetro de promoção e desenvolvimento profissional. Por-tanto, é necessário ir muito além das punições, estimulando-se a confiança de que o comportamento ético é um bom negócio para todos.

É isso que as mudanças na Federal Sentence Guidelines dos EUA² realizadas em 2004 buscavam inspirar. É isso o que a declaração pública “Compliance é uma Cultura, não apenas uma Política” (9/9/14) feita pelo diretor geral do Departamento de Justiça Criminal Divisão de Antitruste dos EUA buscava inspi-rar³. É isso que as empresas brasileiras devem buscar.

RUMOS – 36 – Julho/Agosto 2015

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Os novos desafios do compliance no Brasil (parte 2 de 2)

¹ The 2014 Ethics&Compliance Program Effectiveness Report –LRN Corporation² Federal Sentence Guidelines USA - Parágrafo 8B2.1 : “To have an Effective Complianece and ethics program an organization shall promote an OrganizationalCulture that encourages ethical conduct and ommitment to compliance with the law.” ³ Citado por Dominique Dussard – ex-Chief Compliance Officer da Solvay e conselheiro senior da LRN Corporation, no Encontro Internacional com Líderes Brasileiros, em 10/12/14, no Rio de Janeiro, organizado pela AbissalConsulting.

Marcelo Coimbra sócio do Fleury & Coimbra Advogados e Coordenador do Grupo de Ética & Governança da Câmara Brasil-Alemanha, representante da LRN Ethics & Compliance Solutions.

consultor empresarial, diretor da AbissalConsulting e representante da LRN Ethics & Compliance Solutions.

Antonio Carlos A. Telles

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A ABDE nasceu para fazer ecoar o ideal dos agentes que representa. Unir esforços, conhecimentos e recursos. Potencializar o desenvolvimento de um país com dimensões continentais. Agora, tem novos desafios: a partir de uma nova visão estratégica, se prepara para se tornar mais forte. Conciliando diferentes saberes, realidades e experiências.

www.abde.org.br

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esponsável pelos principais programas da área social do Governo Federal nos últimos cinco anos, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Tereza Campello, demonstrou preocupação de que os avanços con-

quistados na última década estejam ameaçados com as crises econômica e política que o país vive. O tema foi destacado por ela durante o seminário Acesso a Serviços Públicos como Direito, promovido pelo Instituto Brasileiro de Análises Soci-ais e Econômicas (Ibase) e pela organização ActionAid Bra-sil. Os presentes debateram, entre outros temas, as interações entre desenvolvimento econômico e social, o financiamento aos serviços e a participação social na definição das políticas públicas.

Economista de formação e à frente do MDS desde o início do primeiro mandato de Dilma Rousseff, Campello destacou os avanços obtidos pelo país nos últimos dez anos em diferen-tes áreas do campo social, especialmente no acesso aos servi-ços públicos pelas populações mais vulneráveis, foco do semi-nário. “Precisamos estar muito atentos para garantir que esse momento de crise não tenha impacto e piore a situação da população pobre, mas que, ao contrário, ela seja preservada e tenha cada vez mais acesso aos serviços públicos. Isso exige do governo um esforço maior neste momento e mais articulação entre os setores de poder”, afirmou.

Após apresentar uma série de dados que demonstram avanços recentes nas políticas sociais brasileiras e reconhecer que, mesmo com as mudanças, ainda é preciso avançar bas-tante em diversos serviços, a ministra revelou temor de que o clima político existente hoje no país – tanto na esfera institu-cional, quanto no acirramento do debate na sociedade – represente uma ameaça para as conquistas.

“Não acho que a democracia enquanto Estado Democrá-

RUMOS – 38 – Julho/Agosto 2015

tico de Direito esteja em ameaça no Brasil, como alguns têm apontado, mas as conquistas sociais estão. E a construção da democracia passa pela consolidação dos direitos sociais, por um tecido social coeso, é isso que corre risco hoje no país. Estamos com séria ameaça de retroagir no campo social e dos direitos individuais”, avaliou.

Como exemplo, citou projetos legislativos que considera preocupantes, como a diminuição da idade limite para carac-terização de trabalho infantil e a ampliação das possibilidades de terceirização no mercado de trabalho, recentemente apro-vada pela Câmara dos Deputados. Em diálogo com o Institu-to de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que recentemente iniciou uma pesquisa em que pretende mapear o acesso aos serviços pelas populações mais pobres e as ferramentas necessárias para ampliar esse uso, a ministra defendeu a cons-trução de políticas específicas para permitir que estas popula-ções utilizem os serviços oferecidos pelo Poder Público de forma plena.

Tereza Campello afirmou que o acesso dos mais pobres aos serviços se dá de forma diferente das parcelas médias e ricas, e acredita ser preciso uma elaboração estratégica para chegar a essas famílias e alterar a estrutura social. “Temos a obrigação de assistir aqueles que, se não houver um esforço dos governos, vão ficar de fora. Somente quando o Estado assumir plenamente seu papel, teremos direitos garantidos a toda a população”, defendeu, antes de mais uma vez enumerar conquistas obtidas nos últimos anos. “Por que é importante olhar bem esses dados? Para saber exatamente onde estamos, fincar a estaca e não permitirmos retrocesso”, reforçou.

Economia – O economista Eduardo Fagnani, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Uni-camp), frisou que, para além do ambiente político, os retro-

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como aumento de 1,85% do PIB; 1% gasto em Bolsa Família e Benefícios de Prestação Continuada (BPC), significam incre-mento de 2% da renda e queda no índice de Gini; além disso, 59% dos gastos sociais retornam em forma de imposto, devi-do à estrutura tributária brasileira.

Para ele, o foco em políticas sociais pode auxiliar direta-mente a economia pela expansão do mercado interno, fenômeno verificado com intensidade na última década, e também com a ampliação dos investi-mentos em infraestrutura econômica e social, especialmente nas áreas de sane-amento, mobilidade, educação e saúde.

“O Brasil é um dos poucos países subdesenvolvidos que conseguiu desenvolver sistemas públicos e uni-versais de saúde e de educação. Agora precisamos universalizar o conjunto dos direitos sociais, construirmos um projeto de nação que acelere refor-mas urgentes que o país necessita para avançar: do pacto federativo; da relação entre o público e o privado; do financiamento; e da própria demo-cracia, com reforço do papel do Esta-do na gestão da macroeconomia”, avaliou Fagnani, frisando que consi-dera que o modelo de gestão macroe-conômico atual, baseado no tripé composto por câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primá-

rio, não converge para o objetivo de uma sociedade mais homogênea e menos desigual.

cessos podem ter como origem a linha de política econômica recentemente implementada no país. Para ele, a combinação de “política social boa” com “política econômica” ruim não é possível.

“O que nos permitiu avançar nos últimos anos? Desde a década de 1980 temos boas políticas sociais implantadas por diferentes governos. O que nos fez dar um salto foi a articulação positiva entre o crescimento econômico e a política social, com mais empregos, aumento de renda, uma melhoria geral no mercado de trabalho e os programas de transfe-rência de renda. É essa articulação entre a economia e o social que nos permite avançar”, opinou.

Neste sentido, ele avaliou que o “Mi-nha Casa, Minha Vida” é o melhor exemplo de como utilizar uma política social para fazer crescer a economia, argumentando que o programa foi pen-sado como política anticíclica, em 2009, no auge da crise financeira mundial ini-ciada um ano antes. O programa hoje está presente em 5.310 municípios, com uma capilaridade que agrega dinamis-mo econômico a diferentes regiões do país.

O economista destacou que, atual-mente, o país utiliza 25% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em gastos sociais, o que significa que essas políticas podem representar um motor para o desenvolvimento econômico. Fagnani lembrou que cada 1% gasto em Educação, retorna

DESENVOLVIMENTO SOCIALR REPORTAGEM

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Em seminário no Rio de Janeiro, organizações sociais e integrantes do próprio governo, como a ministra Tereza Campello, discutem estratégias para superar as crises política e econômica – e evitar que elas comprometam os ganhos da última década

Por Jader Moraes

Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social, apresentou os dados das conquistas sociais da última década. “Por que precisamos olhar para isso? ”, afirmou. Para saber exatamente onde estamos, fincar a estaca e não permitirmos retrocesso

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A ameaça do retrocesso

“O que nos permitiu avançar nos últimos

anos? Desde a década de 1980 temos boas políticas sociais, em diferentes governos.

O que nos fez dar um salto foi a

articulação positiva entre crescimento

econômico e política social.”

Eduardo FagnaniEconomista

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esponsável pelos principais programas da área social do Governo Federal nos últimos cinco anos, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Tereza Campello, demonstrou preocupação de que os avanços con-

quistados na última década estejam ameaçados com as crises econômica e política que o país vive. O tema foi destacado por ela durante o seminário Acesso a Serviços Públicos como Direito, promovido pelo Instituto Brasileiro de Análises Soci-ais e Econômicas (Ibase) e pela organização ActionAid Bra-sil. Os presentes debateram, entre outros temas, as interações entre desenvolvimento econômico e social, o financiamento aos serviços e a participação social na definição das políticas públicas.

Economista de formação e à frente do MDS desde o início do primeiro mandato de Dilma Rousseff, Campello destacou os avanços obtidos pelo país nos últimos dez anos em diferen-tes áreas do campo social, especialmente no acesso aos servi-ços públicos pelas populações mais vulneráveis, foco do semi-nário. “Precisamos estar muito atentos para garantir que esse momento de crise não tenha impacto e piore a situação da população pobre, mas que, ao contrário, ela seja preservada e tenha cada vez mais acesso aos serviços públicos. Isso exige do governo um esforço maior neste momento e mais articulação entre os setores de poder”, afirmou.

Após apresentar uma série de dados que demonstram avanços recentes nas políticas sociais brasileiras e reconhecer que, mesmo com as mudanças, ainda é preciso avançar bas-tante em diversos serviços, a ministra revelou temor de que o clima político existente hoje no país – tanto na esfera institu-cional, quanto no acirramento do debate na sociedade – represente uma ameaça para as conquistas.

“Não acho que a democracia enquanto Estado Democrá-

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tico de Direito esteja em ameaça no Brasil, como alguns têm apontado, mas as conquistas sociais estão. E a construção da democracia passa pela consolidação dos direitos sociais, por um tecido social coeso, é isso que corre risco hoje no país. Estamos com séria ameaça de retroagir no campo social e dos direitos individuais”, avaliou.

Como exemplo, citou projetos legislativos que considera preocupantes, como a diminuição da idade limite para carac-terização de trabalho infantil e a ampliação das possibilidades de terceirização no mercado de trabalho, recentemente apro-vada pela Câmara dos Deputados. Em diálogo com o Institu-to de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que recentemente iniciou uma pesquisa em que pretende mapear o acesso aos serviços pelas populações mais pobres e as ferramentas necessárias para ampliar esse uso, a ministra defendeu a cons-trução de políticas específicas para permitir que estas popula-ções utilizem os serviços oferecidos pelo Poder Público de forma plena.

Tereza Campello afirmou que o acesso dos mais pobres aos serviços se dá de forma diferente das parcelas médias e ricas, e acredita ser preciso uma elaboração estratégica para chegar a essas famílias e alterar a estrutura social. “Temos a obrigação de assistir aqueles que, se não houver um esforço dos governos, vão ficar de fora. Somente quando o Estado assumir plenamente seu papel, teremos direitos garantidos a toda a população”, defendeu, antes de mais uma vez enumerar conquistas obtidas nos últimos anos. “Por que é importante olhar bem esses dados? Para saber exatamente onde estamos, fincar a estaca e não permitirmos retrocesso”, reforçou.

Economia – O economista Eduardo Fagnani, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Uni-camp), frisou que, para além do ambiente político, os retro-

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como aumento de 1,85% do PIB; 1% gasto em Bolsa Família e Benefícios de Prestação Continuada (BPC), significam incre-mento de 2% da renda e queda no índice de Gini; além disso, 59% dos gastos sociais retornam em forma de imposto, devi-do à estrutura tributária brasileira.

Para ele, o foco em políticas sociais pode auxiliar direta-mente a economia pela expansão do mercado interno, fenômeno verificado com intensidade na última década, e também com a ampliação dos investi-mentos em infraestrutura econômica e social, especialmente nas áreas de sane-amento, mobilidade, educação e saúde.

“O Brasil é um dos poucos países subdesenvolvidos que conseguiu desenvolver sistemas públicos e uni-versais de saúde e de educação. Agora precisamos universalizar o conjunto dos direitos sociais, construirmos um projeto de nação que acelere refor-mas urgentes que o país necessita para avançar: do pacto federativo; da relação entre o público e o privado; do financiamento; e da própria demo-cracia, com reforço do papel do Esta-do na gestão da macroeconomia”, avaliou Fagnani, frisando que consi-dera que o modelo de gestão macroe-conômico atual, baseado no tripé composto por câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primá-

rio, não converge para o objetivo de uma sociedade mais homogênea e menos desigual.

cessos podem ter como origem a linha de política econômica recentemente implementada no país. Para ele, a combinação de “política social boa” com “política econômica” ruim não é possível.

“O que nos permitiu avançar nos últimos anos? Desde a década de 1980 temos boas políticas sociais implantadas por diferentes governos. O que nos fez dar um salto foi a articulação positiva entre o crescimento econômico e a política social, com mais empregos, aumento de renda, uma melhoria geral no mercado de trabalho e os programas de transfe-rência de renda. É essa articulação entre a economia e o social que nos permite avançar”, opinou.

Neste sentido, ele avaliou que o “Mi-nha Casa, Minha Vida” é o melhor exemplo de como utilizar uma política social para fazer crescer a economia, argumentando que o programa foi pen-sado como política anticíclica, em 2009, no auge da crise financeira mundial ini-ciada um ano antes. O programa hoje está presente em 5.310 municípios, com uma capilaridade que agrega dinamis-mo econômico a diferentes regiões do país.

O economista destacou que, atual-mente, o país utiliza 25% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em gastos sociais, o que significa que essas políticas podem representar um motor para o desenvolvimento econômico. Fagnani lembrou que cada 1% gasto em Educação, retorna

DESENVOLVIMENTO SOCIALR REPORTAGEM

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Em seminário no Rio de Janeiro, organizações sociais e integrantes do próprio governo, como a ministra Tereza Campello, discutem estratégias para superar as crises política e econômica – e evitar que elas comprometam os ganhos da última década

Por Jader Moraes

Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social, apresentou os dados das conquistas sociais da última década. “Por que precisamos olhar para isso? ”, afirmou. Para saber exatamente onde estamos, fincar a estaca e não permitirmos retrocesso

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A ameaça do retrocesso

“O que nos permitiu avançar nos últimos

anos? Desde a década de 1980 temos boas políticas sociais, em diferentes governos.

O que nos fez dar um salto foi a

articulação positiva entre crescimento

econômico e política social.”

Eduardo FagnaniEconomista

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Com uma argumentação também crítica à atual política econômica federal, o professor da Universidade de São Paulo (USP) José Marceli-no de Rezende Pinto, especialista em Política e Gestão Educacional com ênfase em financia-mento da educação, lembrou que os investi-mentos na área impactam indiretamente a eco-

nomia, mas também o fazem de forma direta – salários representam 85% dos gastos em Educação e se desdobram em aumento de renda, que geram consumo, produção e tri-butos. “Por isso é temerário que se discutam cortes sem pen-sar em uma saída”, criticou.

Para o economista e mestre em Desenvolvimento Agrí-cola Francisco Menezes, diretor do Ibase e consultor da Acti-onAid Brasil, organizadoras do evento, mesmo em momento de crise é preciso pensar além. “Nosso objetivo é incidir nas políticas públicas. Não desconhecemos o momento difícil que o país vive, não podemos ignorar a conjuntura, mas é importante trabalharmos com uma perspectiva estratégica, pois as crises são temporárias”, frisou.

RUMOS – 40 – Julho/Agosto 2015 RUMOS – 41 – Julho/Agosto 2015

por meio do microcrédito.“O país tem uma dívida social grande com as populações

mais vulneráveis e temos trabalhado para tentar resolver isso. O Brasil teve um despertar tardio para a educação e outras áreas importantes. Tudo isso é muito recente, a Constituição de 1988 é um marco. Tivemos, em nossa história, um momento de modernização da indústria, outro de moderni-zação na agricultura, mas não foram acompanhados de investimentos em educação e políticas sociais”, admitiu.

Pacto federativo – A pedagoga Edel Moraes, extrativista e vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extra-tivistas, cobrou que o Poder Público atue de acordo com as diferenças existentes em cada região do país – sem privilégios, mas sem desconsiderar condições desfavoráveis históricas. “Não dá para pensar o financiamento da mesma forma para o Sul, o Norte ou o Nordeste. É preciso ter olhar diferenciado

para aquelas populações que ainda são ‘invisíveis’”, afirmou, destacando que os desafios na região amazônica são maiores para o investimento público e possuem especificidades que precisam ser respeitadas.

Para a secretária nacional de Habitação do Ministério das Cidades, Inês Magalhães, é preciso pensar o pacto federativo e revisitar o tema da descentralização de responsabilidades, para que o Poder Público atue com maior eficácia nas dife-rentes regiões. Ela apontou algumas questões dissonantes na política pública, especialmente na área de habitação, em que, por exemplo, a competência para regulação do uso do solo e a aprovação dos projetos é municipal, mas as exigências míni-mas para contratação são federais.

“Não podemos deixar de pensar na heterogeneidade e nas desigualdades econômicas, institucionais e administrativas de cada região, mas ao mesmo tempo precisamos trabalhar com regras nacionais, pensar em escala, cobrar celeridade”, listou.

R REPORTAGEM

para aprimorar seu planejamento e desenvolver projetos que sejam mais efetivos para quando um novo ciclo de expansão se desenhar. Ele acredita que diversas falhas fizeram com que o investimento não prosperasse em outros momentos da vida econômica do país. “Planejar é um desafio importante para o Brasil”, declarou.

Ele afirmou que a situação difícil atual será superada e um dos caminhos possíveis para essa superação é estabelecer boas parcerias com o setor privado, tema que precisa ser dis-cutido com mais profundidade no país. Essas parcerias podem ajudar o Brasil a enfrentar os grandes desafios que pos-sui em áreas como o saneamento, a mobilidade urbana e a ilu-minação pública.

No BNDES, destacou Paim, há uma área específica vol-tada para políticas de geração de trabalho e renda, que possui relação especial com as cooperativas, sobretudo no que diz respeito à agricultura familiar, e com pequenos empresários,

DESENVOLVIMENTO SOCIAL

O sociólogo Silvio Caccia Bava, diretor e editor-chefe do jornal Le Monde Diplomatique Brasil, defendeu que a participa-ção da sociedade é etapa vital para o amadurecimento de uma democracia. Lembrando as manifestações dos últimos anos, afirmou que quando o processo democrático não absorve as demandas da população, essas demandas “va-zam” para as ruas.

“A participação social é uma expressão da própria demo-cracia, não apenas um instrumento burocrático que o gover-no tem que implementar, uma etapa formal. Precisamos revi-talizar os espaços de participação, pois trata-se de uma rela-ção política: o governo precisa da participação, pois o ajuda a governar melhor, e o cidadão também precisa saber que sua demanda será considerada”, afirmou Bava, que também foi fundador e coordenador geral do Instituto Pólis e é presiden-te da Associação Latino-americana de Organizações de Pro-moção do Desenvolvimento (Alop).

O secretário nacional de Participação Social da Secretaria Geral da Presidência da República, Renato Simões, recém-chegado ao cargo, afirmou que qualquer direito social é fruto de construção coletiva e histórica, ou seja, não é fruto apenas da ação de um governo, mas envolve a participação ativa da sociedade. “Não há direito adquirido sem luta social”, disse.

Ele reforçou que é preciso que os diferentes grupos sociais estejam unidos para evitar retrocessos neste momento particu-lar da história brasileira, em que “o terreno está árido”, mas lembrou que historicamente o protagonismo da sociedade na luta por direitos se deu em momentos críticos, inclusive duran-te os períodos em que o país vivia sob Regime de Exceção.

Para Simões, é pre-ciso revitalizar os espa-ços de pactuação com os organismos e pes-soas que compõem o tecido social brasileiro. Somente este ano, afir-mou, serão realizadas 20 mil conferências em todo o país, com a participação de 2,3 milhões de pessoas, que desembocarão em 12 grandes conferên-cias nacionais até maio de 2016.

Os grandes desa-fios detectados pela secretaria nestes espaços são: o aumento da qualidade da par-ticipação, com a substituição de velhas rotinas por metodolo-gias que incluam outros sujeitos nessas discussões, como a juventude; a ampliação da efetividade da resposta governa-mental, que também diz respeito à transparência das ações do governo; e a instituição de uma mesa de entendimento nacio-nal para enfrentar as diferentes crises que o país enfrenta.

“Neste momento dolorido, de ruptura de pactos estabele-cidos nos últimos anos, precisamos reunir essa grande rede para um novo momento de repactuação, para garantirmos avançar, e não apenas lutarmos contra o retrocesso”, afirmou.

Diversos representantes de organizações e movimentos sociais presentes ao evento cobraram do poder público, em suas diferentes esferas, maior articulação e escuta das comuni-

dades, que estão capacitadas e aptas para apoiar os governos no desenho das políticas públicas que diretamente vai impactá-las.

A coordenadora do Centro de Agriculturas Alternativas do Norte de Minas e mestre em Desenvolvi-mento Social, Leninha de Souza, con-tou sobre as experiências de parceri-as para a superação das dificuldades oriundas do clima do semiárido bra-sileiro, com o projeto Um Milhão de Cisternas, executado por entidades sociais com o apoio do MDS. Jurema Constâncio, coordenadora nacional da União Nacional por Moradia Popular, relatou a gestão da constru-ção das primeiras 70 casas populares

erguidas no Rio de Janeiro pelo programa Minha Casa Minha Vida Entidades, na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Nesta modalidade, a construção de moradias populares é de responsabilidade das entidades sociais, e não de empresas de construção, como nos outros modelos do MCMV. E a peda-goga Cleonice Dias contou a experiência do Comitê Comuni-tário e da Agência de Desenvolvimento da Cidade de Deus, também no Rio de Janeiro. O grupo, formado por moradores, organizações locais e pequenos empresários da comunidade, tem protagonizado diferentes ações e políticas de desenvolvi-mento na favela conhecida internacionalmente após o filme dirigido por Fernando Meirelles, em 2002. “O Estado brasilei-ro precisa pensar o serviço público a partir do público. Nós temos condições de fazer”, finalizou Cleonice.

Participaçãosocial e democracia

Financiamento – O diretor de infraestrutura social do Ban-co Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e diretor da Associação Brasileira de Desenvolvi-mento (ABDE), José Henrique Paim, admitiu que o país vive um momento de preocupação com relação aos investimen-tos, mas defendeu que se deve, ao analisar o quadro, pensar em longo prazo. A crise estrutural, avaliou, exige que se pense em perspectiva. “Nesse momento, é importante que reco-nheçamos que criamos mecanismos importantes de desen-volvimento social nos últimos anos, em que dificilmente tere-mos retrocessos. Haverá menos recursos, mas as políticas vão se manter”, disse.

Paim ressaltou que o país deve aproveitar esse momento

José Henrique Paim, diretor do BNDES

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Diversas entidades sociais participaram do evento e cobraram por maior diálogo com o Poder Público

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Com uma argumentação também crítica à atual política econômica federal, o professor da Universidade de São Paulo (USP) José Marceli-no de Rezende Pinto, especialista em Política e Gestão Educacional com ênfase em financia-mento da educação, lembrou que os investi-mentos na área impactam indiretamente a eco-

nomia, mas também o fazem de forma direta – salários representam 85% dos gastos em Educação e se desdobram em aumento de renda, que geram consumo, produção e tri-butos. “Por isso é temerário que se discutam cortes sem pen-sar em uma saída”, criticou.

Para o economista e mestre em Desenvolvimento Agrí-cola Francisco Menezes, diretor do Ibase e consultor da Acti-onAid Brasil, organizadoras do evento, mesmo em momento de crise é preciso pensar além. “Nosso objetivo é incidir nas políticas públicas. Não desconhecemos o momento difícil que o país vive, não podemos ignorar a conjuntura, mas é importante trabalharmos com uma perspectiva estratégica, pois as crises são temporárias”, frisou.

RUMOS – 40 – Julho/Agosto 2015 RUMOS – 41 – Julho/Agosto 2015

por meio do microcrédito.“O país tem uma dívida social grande com as populações

mais vulneráveis e temos trabalhado para tentar resolver isso. O Brasil teve um despertar tardio para a educação e outras áreas importantes. Tudo isso é muito recente, a Constituição de 1988 é um marco. Tivemos, em nossa história, um momento de modernização da indústria, outro de moderni-zação na agricultura, mas não foram acompanhados de investimentos em educação e políticas sociais”, admitiu.

Pacto federativo – A pedagoga Edel Moraes, extrativista e vice-presidente do Conselho Nacional das Populações Extra-tivistas, cobrou que o Poder Público atue de acordo com as diferenças existentes em cada região do país – sem privilégios, mas sem desconsiderar condições desfavoráveis históricas. “Não dá para pensar o financiamento da mesma forma para o Sul, o Norte ou o Nordeste. É preciso ter olhar diferenciado

para aquelas populações que ainda são ‘invisíveis’”, afirmou, destacando que os desafios na região amazônica são maiores para o investimento público e possuem especificidades que precisam ser respeitadas.

Para a secretária nacional de Habitação do Ministério das Cidades, Inês Magalhães, é preciso pensar o pacto federativo e revisitar o tema da descentralização de responsabilidades, para que o Poder Público atue com maior eficácia nas dife-rentes regiões. Ela apontou algumas questões dissonantes na política pública, especialmente na área de habitação, em que, por exemplo, a competência para regulação do uso do solo e a aprovação dos projetos é municipal, mas as exigências míni-mas para contratação são federais.

“Não podemos deixar de pensar na heterogeneidade e nas desigualdades econômicas, institucionais e administrativas de cada região, mas ao mesmo tempo precisamos trabalhar com regras nacionais, pensar em escala, cobrar celeridade”, listou.

R REPORTAGEM

para aprimorar seu planejamento e desenvolver projetos que sejam mais efetivos para quando um novo ciclo de expansão se desenhar. Ele acredita que diversas falhas fizeram com que o investimento não prosperasse em outros momentos da vida econômica do país. “Planejar é um desafio importante para o Brasil”, declarou.

Ele afirmou que a situação difícil atual será superada e um dos caminhos possíveis para essa superação é estabelecer boas parcerias com o setor privado, tema que precisa ser dis-cutido com mais profundidade no país. Essas parcerias podem ajudar o Brasil a enfrentar os grandes desafios que pos-sui em áreas como o saneamento, a mobilidade urbana e a ilu-minação pública.

No BNDES, destacou Paim, há uma área específica vol-tada para políticas de geração de trabalho e renda, que possui relação especial com as cooperativas, sobretudo no que diz respeito à agricultura familiar, e com pequenos empresários,

DESENVOLVIMENTO SOCIAL

O sociólogo Silvio Caccia Bava, diretor e editor-chefe do jornal Le Monde Diplomatique Brasil, defendeu que a participa-ção da sociedade é etapa vital para o amadurecimento de uma democracia. Lembrando as manifestações dos últimos anos, afirmou que quando o processo democrático não absorve as demandas da população, essas demandas “va-zam” para as ruas.

“A participação social é uma expressão da própria demo-cracia, não apenas um instrumento burocrático que o gover-no tem que implementar, uma etapa formal. Precisamos revi-talizar os espaços de participação, pois trata-se de uma rela-ção política: o governo precisa da participação, pois o ajuda a governar melhor, e o cidadão também precisa saber que sua demanda será considerada”, afirmou Bava, que também foi fundador e coordenador geral do Instituto Pólis e é presiden-te da Associação Latino-americana de Organizações de Pro-moção do Desenvolvimento (Alop).

O secretário nacional de Participação Social da Secretaria Geral da Presidência da República, Renato Simões, recém-chegado ao cargo, afirmou que qualquer direito social é fruto de construção coletiva e histórica, ou seja, não é fruto apenas da ação de um governo, mas envolve a participação ativa da sociedade. “Não há direito adquirido sem luta social”, disse.

Ele reforçou que é preciso que os diferentes grupos sociais estejam unidos para evitar retrocessos neste momento particu-lar da história brasileira, em que “o terreno está árido”, mas lembrou que historicamente o protagonismo da sociedade na luta por direitos se deu em momentos críticos, inclusive duran-te os períodos em que o país vivia sob Regime de Exceção.

Para Simões, é pre-ciso revitalizar os espa-ços de pactuação com os organismos e pes-soas que compõem o tecido social brasileiro. Somente este ano, afir-mou, serão realizadas 20 mil conferências em todo o país, com a participação de 2,3 milhões de pessoas, que desembocarão em 12 grandes conferên-cias nacionais até maio de 2016.

Os grandes desa-fios detectados pela secretaria nestes espaços são: o aumento da qualidade da par-ticipação, com a substituição de velhas rotinas por metodolo-gias que incluam outros sujeitos nessas discussões, como a juventude; a ampliação da efetividade da resposta governa-mental, que também diz respeito à transparência das ações do governo; e a instituição de uma mesa de entendimento nacio-nal para enfrentar as diferentes crises que o país enfrenta.

“Neste momento dolorido, de ruptura de pactos estabele-cidos nos últimos anos, precisamos reunir essa grande rede para um novo momento de repactuação, para garantirmos avançar, e não apenas lutarmos contra o retrocesso”, afirmou.

Diversos representantes de organizações e movimentos sociais presentes ao evento cobraram do poder público, em suas diferentes esferas, maior articulação e escuta das comuni-

dades, que estão capacitadas e aptas para apoiar os governos no desenho das políticas públicas que diretamente vai impactá-las.

A coordenadora do Centro de Agriculturas Alternativas do Norte de Minas e mestre em Desenvolvi-mento Social, Leninha de Souza, con-tou sobre as experiências de parceri-as para a superação das dificuldades oriundas do clima do semiárido bra-sileiro, com o projeto Um Milhão de Cisternas, executado por entidades sociais com o apoio do MDS. Jurema Constâncio, coordenadora nacional da União Nacional por Moradia Popular, relatou a gestão da constru-ção das primeiras 70 casas populares

erguidas no Rio de Janeiro pelo programa Minha Casa Minha Vida Entidades, na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Nesta modalidade, a construção de moradias populares é de responsabilidade das entidades sociais, e não de empresas de construção, como nos outros modelos do MCMV. E a peda-goga Cleonice Dias contou a experiência do Comitê Comuni-tário e da Agência de Desenvolvimento da Cidade de Deus, também no Rio de Janeiro. O grupo, formado por moradores, organizações locais e pequenos empresários da comunidade, tem protagonizado diferentes ações e políticas de desenvolvi-mento na favela conhecida internacionalmente após o filme dirigido por Fernando Meirelles, em 2002. “O Estado brasilei-ro precisa pensar o serviço público a partir do público. Nós temos condições de fazer”, finalizou Cleonice.

Participaçãosocial e democracia

Financiamento – O diretor de infraestrutura social do Ban-co Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e diretor da Associação Brasileira de Desenvolvi-mento (ABDE), José Henrique Paim, admitiu que o país vive um momento de preocupação com relação aos investimen-tos, mas defendeu que se deve, ao analisar o quadro, pensar em longo prazo. A crise estrutural, avaliou, exige que se pense em perspectiva. “Nesse momento, é importante que reco-nheçamos que criamos mecanismos importantes de desen-volvimento social nos últimos anos, em que dificilmente tere-mos retrocessos. Haverá menos recursos, mas as políticas vão se manter”, disse.

Paim ressaltou que o país deve aproveitar esse momento

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É

possível agir ao mesmo tempo em prol do desen-volvimento econômico e contra as mudanças cli-máticas. Isso é um pilar da estratégia da Agência Francesa para o Desenvolvimento (AFD), insti-tuição financeira pública que atua no combate à

pobreza e na promoção do desenvolvimento em mais de 70 países, em quatro continentes, incluindo o Brasil. Em 2014, 53% dos financiamentos da AFD no exterior contribuíram no combate às mudanças climáticas, do total de 8,1 bilhões de euros empenhados sob forma de empréstimos soberanos ou não soberanos, subvenções, garantias, participações e repas-se de recursos. Tal preocupação está presente em todas as suas ações setoriais: saneamento bási-co, energia, transporte coletivo e desenvolvimento urbano, e ou-tros. Dessa forma, entre 2012 e 2014, os projetos financiados permitiram dimi-nuir as emissões de gases de efeito estufa em 11,7 milhões de toneladas de equivalente de CO por ano 2

(eq/ano).De fato, nos deparamos hoje com

uma problemática inédita. De um lado, a aceleração da desordem climá-tica compromete os avanços do desenvolvimento, especialmente nos países mais pobres. Do outro lado, o desenvolvimento pode agravar a desordem climática, por estar atrelado ao aumento do consumo de recursos naturais e de energias fósseis. Essa rea-lidade coloca as agências de fomento e os bancos de desenvolvimento frente a novos desafios: conciliar as necessi-dades de desenvolvimento com o fator climático e acompanhar os paí-ses na sua transição ecológica.

A situação fica especialmente acir-rada no que tange à geração e ao con-sumo de energia. A questão é central para os países emergentes e menos avançados. A título de exemplo, as lâmpadas de baixo consu-mo são mais utilizadas na África que no continente europeu. Em Marrocos, uma grande parte do déficit fiscal resultou de um mecanismo de subsídio para energia fóssil. Com o aumen-

to estrutural do preço da energia no decorrer dos anos, a situa-ção se tornou insustentável, levando o país a adotar um plano para energia solar e estratégias voltadas para o setor eólico e para investimentos em prol da eficiência energética. De modo geral, frente à alta da demanda em energia prevista nos próxi-mos anos, os investimentos em eficiência energética se torna-rão cada vez mais necessários para limitar os gastos onerosos em novas infraestruturas de geração.

É neste cenário que a AFD promove o uso eficiente da energia (indústrias performantes e pré-dios eficientes, especi-almente) e as energias renováveis, seja nas cadeias produtivas já competitivas (geotermia, hidroeletricidade, eólica, biomas-

sa), seja por meio do desenvolvimen-to de cadeias emergentes (solar) no intuito de alcançar a paridade dos cus-tos com as tecnologias convenciona-is. Porém, tratando-se muitas vezes de investimentos de pequeno porte, como atingir os múltiplos atores cha-ves, entre eles, as micro ou pequena empresas, e fomentar a emergência de projetos?

Entre os principais instrumentos de financiamentos dedicados desen-volvidos nestes últimos anos pela AFD e pela sua subsidiária Proparco, que oferece empréstimos ao setor pri-vado, encontram-se as “linhas de cré-dito verdes”. Trata-se de mecanismos de intermediação bancária visando acompanhar os bancos públicos ou privados dos diversos países para financiar clientes que inovem em matéria de energia renováveis, eficiên-cia energética e uso responsável dos recursos naturais (despoluição, gestão dos recursos hídricos e dos resíduos sólidos). Além da vertente financeira, geralmente por meio da concessão de empréstimos não soberanos aos ban-cos, são desenvolvidos programas de

assistência técnica (capacitação, respaldo técnico, diagnósti-cos...) para apoiar os bancos locais, seus clientes e outros atores envolvidos na identificação de projetos, demonstração de sua viabilidade econômica e implementação.

As “linhas de crédito verdes” representam atualmente mais de um terço das atividades do grupo AFD em prol do combate às mudanças climáticas. São desenvolvidas no âmbito do programa Sustainable Use of Natural Resources and Energy Finance (Sunref), buscando incentivar os bancos locais a serem protagonistas na green finance e implementarem boas práticas de gerenciamento do risco socioambiental. Além de funding ade-quado, as ações incluem estudos de mercado, simulações, mutualizações dos riscos de créditos, entre outros. Desde 2006, foram empenhados mais de 2 bilhões de euros no Programa Sinref, direcionados a mais de 50 bancos parceiros públicos e privados, em 22 países, dos quais 1 bilhão já foi desembolsado. Os setores contemplados incluem a indústria, os serviços, a habitação e a agricultura. Com relação aos impactos, estima-se que as linhas verdes levaram a uma adição de 300 mil quilowatts na capacidade instalada em usina de gera-ção de energia verde e a uma redução no consumo de mais de um bilhão de quilowatts-hora/ano, além de evitar a emissão de 14 milhões de toneladas de CO eq/ano. 2

Entre outros exemplos bem-sucedidos, na Turquia, parce-rias com bancos público e privados (Halkbank, € 100 milhões, TEB, € 50 milhões, TSKB, € 50 milhões) financiaram projetos de micro, pequena e grande empresas, entre eles uma pequena central hidroelétrica, a extensão do parque eólico e a substitui-ção de equipamento de linha de embalagens para produtos agroalimentares. Na Jordânia, linhas de créditos ao Capital Bank e Cairo Aman Bank ( 53 milhões) permitiram o US$ finan-ciamento da primeira empresa de reciclagem de lubrifi-cantes no país e de escolas mais eficientes. Na China, foi inici-ada em 2006 uma parceria com três bancos (€ 180 milhões, por meio do Ministério das Finanças) para apoiar empresas desejo-sas de investir em eficiência energética ou energia renovável (55 projetos financiados), além de apoio e capacitação dos ban-cos para o desenvolvimento da carteira de green credit, levando a premiação por sua atuação pioneira no mercado chinês de green finance. Outras operações na Índia e na África do Sul levaram às respectivas reduções de 405 mil e 1,2 milhão de toneladas de CO eq/ano.2

No Brasil, a primeira parceria da AFD com um banco público de desenvolvimento iniciou-se em 2013, quando a AFD assinou um contrato de 50 milhões de euros com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) para financiar projetos de infraestrutura municipal voltados para questões climáticas e para a universalização de serviços bási-cos. Os investimentos podem colaborar com a adaptação dos territórios a eventos climáticos extremos (seca, enchentes), a redução da emissões de carbono nos setores de mobilidade urbana, gestão de resíduos sólidos, ou a eficiência energética. Em paralelo, um programa de cooperação técnica apoia o BDMG na avaliação dos projetos e de seus impactos, além de conscientizar os municípios e concessionários e acompanhá-los na preparação dos projetos.

Em 2014, a AFD firmou com o BNDES um financia-mento de 165 milhões de euros para investimentos nas áreas de inovação energética (redes inteligentes e energias renová-veis inovadoras, tais quais a solar), de eficiência energética (Energy Servicing Companies – Esco), e de energias renováveis (eólica, pequenas centrais hidrelétricas, biomassa de segunda geração). Uma primeira etapa é o financiamento de cinco par-ques eólicos no Piauí.

Por meio de suas linhas de crédito verdes, a AFD segue uma estratégia que se desdobra nos seguinte resultados: redu-zir o impacto negativo no meio ambiente local e global; redu-zir a carga fiscal das importações de combustíveis fósseis; aumentar a competitividade das empresas locais; reduzir os impactos na saúde das populações, apoiar a estruturação da oferta bancária voltada para a economia verde; criar novas oportunidades de emprego neste setor.

Investir nas respostas aos desafios climáticos significa, tam-bém, investir em setores criadores de riquezas. Por meio do financiamento de projetos emblemáticos, visamos demonstrar que é possível superar a oposição entre a agenda climática e o desenvolvimento, propondo soluções positivas frente às mudanças climáticas. Tal é a mensagem que a AFD levará em dezembro, na ocasião da Conferência das Partes sobre as mudanças climáticas (COP21), que ocorrerá em Paris.

RUMOS – 44 – Julho/Agosto 2015 RUMOS – 45 – Julho/Agosto 2015

Laurent Duriez e Laure Schalchli

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O décimo artigo da série “Pelo Mundo” foi escrito em parceria por Laurent Duriez e Laure Schalchli, e trata da atuação da Agência Francesa para o Desenvolvimento – AFD. Laurent é atualmente diretor do grupo AFD no Brasil. Formado em engenharia agronômica, ele integrou a equipe da Proparco, filial da AFD para o setor privado, com experiência operacional em diversos países (Quênia, Gana). Laurent assumiu, em Washington, o cargo de primeiro conselheiro ao lado do administrador da França para o FMI e Banco Mundial. Laure Schalchli é gerente de Projetos da agência. Ela tem pós-graduação em biologia pela École Normale Supérieure (Université Paris VI) e atuou como jornalista especializada em desenvolvimento sustentável. Atualmente é responsável por projetos junto a entes subnacionais e bancos de desenvolvimento.

Desenvolvimento e a agenda climática

Linhas de crédito verdes

Mais de € 2 bilhões emprestados

para bancos desde 2006:

› África Subsaariana: € 360 M• África Oriental: € 102 M

• África Occidental: € 35 M• África do Sul: € 120 M

• Região do Oceano Índico: € 100 M

› Ásia: € 756 M• China: € 180 M• Índia: € 370 M

• Indonésia : € 196 M• Armênia : € 10 M

› Mediterrâneo e Oriente Médio: € 600 M• Turquia: € 310 M• Jordânia: € 40 M• Egito: € 150 M• Tunísia: € 40 M• Líbano: € 35 M

› América Latina e Caribe: € 291 M• México: € 36 M

• Peru: € 40 M• Brasil: € 215 M

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PPELO MUNDO

É

possível agir ao mesmo tempo em prol do desen-volvimento econômico e contra as mudanças cli-máticas. Isso é um pilar da estratégia da Agência Francesa para o Desenvolvimento (AFD), insti-tuição financeira pública que atua no combate à

pobreza e na promoção do desenvolvimento em mais de 70 países, em quatro continentes, incluindo o Brasil. Em 2014, 53% dos financiamentos da AFD no exterior contribuíram no combate às mudanças climáticas, do total de 8,1 bilhões de euros empenhados sob forma de empréstimos soberanos ou não soberanos, subvenções, garantias, participações e repas-se de recursos. Tal preocupação está presente em todas as suas ações setoriais: saneamento bási-co, energia, transporte coletivo e desenvolvimento urbano, e ou-tros. Dessa forma, entre 2012 e 2014, os projetos financiados permitiram dimi-nuir as emissões de gases de efeito estufa em 11,7 milhões de toneladas de equivalente de CO por ano 2

(eq/ano).De fato, nos deparamos hoje com

uma problemática inédita. De um lado, a aceleração da desordem climá-tica compromete os avanços do desenvolvimento, especialmente nos países mais pobres. Do outro lado, o desenvolvimento pode agravar a desordem climática, por estar atrelado ao aumento do consumo de recursos naturais e de energias fósseis. Essa rea-lidade coloca as agências de fomento e os bancos de desenvolvimento frente a novos desafios: conciliar as necessi-dades de desenvolvimento com o fator climático e acompanhar os paí-ses na sua transição ecológica.

A situação fica especialmente acir-rada no que tange à geração e ao con-sumo de energia. A questão é central para os países emergentes e menos avançados. A título de exemplo, as lâmpadas de baixo consu-mo são mais utilizadas na África que no continente europeu. Em Marrocos, uma grande parte do déficit fiscal resultou de um mecanismo de subsídio para energia fóssil. Com o aumen-

to estrutural do preço da energia no decorrer dos anos, a situa-ção se tornou insustentável, levando o país a adotar um plano para energia solar e estratégias voltadas para o setor eólico e para investimentos em prol da eficiência energética. De modo geral, frente à alta da demanda em energia prevista nos próxi-mos anos, os investimentos em eficiência energética se torna-rão cada vez mais necessários para limitar os gastos onerosos em novas infraestruturas de geração.

É neste cenário que a AFD promove o uso eficiente da energia (indústrias performantes e pré-dios eficientes, especi-almente) e as energias renováveis, seja nas cadeias produtivas já competitivas (geotermia, hidroeletricidade, eólica, biomas-

sa), seja por meio do desenvolvimen-to de cadeias emergentes (solar) no intuito de alcançar a paridade dos cus-tos com as tecnologias convenciona-is. Porém, tratando-se muitas vezes de investimentos de pequeno porte, como atingir os múltiplos atores cha-ves, entre eles, as micro ou pequena empresas, e fomentar a emergência de projetos?

Entre os principais instrumentos de financiamentos dedicados desen-volvidos nestes últimos anos pela AFD e pela sua subsidiária Proparco, que oferece empréstimos ao setor pri-vado, encontram-se as “linhas de cré-dito verdes”. Trata-se de mecanismos de intermediação bancária visando acompanhar os bancos públicos ou privados dos diversos países para financiar clientes que inovem em matéria de energia renováveis, eficiên-cia energética e uso responsável dos recursos naturais (despoluição, gestão dos recursos hídricos e dos resíduos sólidos). Além da vertente financeira, geralmente por meio da concessão de empréstimos não soberanos aos ban-cos, são desenvolvidos programas de

assistência técnica (capacitação, respaldo técnico, diagnósti-cos...) para apoiar os bancos locais, seus clientes e outros atores envolvidos na identificação de projetos, demonstração de sua viabilidade econômica e implementação.

As “linhas de crédito verdes” representam atualmente mais de um terço das atividades do grupo AFD em prol do combate às mudanças climáticas. São desenvolvidas no âmbito do programa Sustainable Use of Natural Resources and Energy Finance (Sunref), buscando incentivar os bancos locais a serem protagonistas na green finance e implementarem boas práticas de gerenciamento do risco socioambiental. Além de funding ade-quado, as ações incluem estudos de mercado, simulações, mutualizações dos riscos de créditos, entre outros. Desde 2006, foram empenhados mais de 2 bilhões de euros no Programa Sinref, direcionados a mais de 50 bancos parceiros públicos e privados, em 22 países, dos quais 1 bilhão já foi desembolsado. Os setores contemplados incluem a indústria, os serviços, a habitação e a agricultura. Com relação aos impactos, estima-se que as linhas verdes levaram a uma adição de 300 mil quilowatts na capacidade instalada em usina de gera-ção de energia verde e a uma redução no consumo de mais de um bilhão de quilowatts-hora/ano, além de evitar a emissão de 14 milhões de toneladas de CO eq/ano. 2

Entre outros exemplos bem-sucedidos, na Turquia, parce-rias com bancos público e privados (Halkbank, € 100 milhões, TEB, € 50 milhões, TSKB, € 50 milhões) financiaram projetos de micro, pequena e grande empresas, entre eles uma pequena central hidroelétrica, a extensão do parque eólico e a substitui-ção de equipamento de linha de embalagens para produtos agroalimentares. Na Jordânia, linhas de créditos ao Capital Bank e Cairo Aman Bank ( 53 milhões) permitiram o US$ finan-ciamento da primeira empresa de reciclagem de lubrifi-cantes no país e de escolas mais eficientes. Na China, foi inici-ada em 2006 uma parceria com três bancos (€ 180 milhões, por meio do Ministério das Finanças) para apoiar empresas desejo-sas de investir em eficiência energética ou energia renovável (55 projetos financiados), além de apoio e capacitação dos ban-cos para o desenvolvimento da carteira de green credit, levando a premiação por sua atuação pioneira no mercado chinês de green finance. Outras operações na Índia e na África do Sul levaram às respectivas reduções de 405 mil e 1,2 milhão de toneladas de CO eq/ano.2

No Brasil, a primeira parceria da AFD com um banco público de desenvolvimento iniciou-se em 2013, quando a AFD assinou um contrato de 50 milhões de euros com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) para financiar projetos de infraestrutura municipal voltados para questões climáticas e para a universalização de serviços bási-cos. Os investimentos podem colaborar com a adaptação dos territórios a eventos climáticos extremos (seca, enchentes), a redução da emissões de carbono nos setores de mobilidade urbana, gestão de resíduos sólidos, ou a eficiência energética. Em paralelo, um programa de cooperação técnica apoia o BDMG na avaliação dos projetos e de seus impactos, além de conscientizar os municípios e concessionários e acompanhá-los na preparação dos projetos.

Em 2014, a AFD firmou com o BNDES um financia-mento de 165 milhões de euros para investimentos nas áreas de inovação energética (redes inteligentes e energias renová-veis inovadoras, tais quais a solar), de eficiência energética (Energy Servicing Companies – Esco), e de energias renováveis (eólica, pequenas centrais hidrelétricas, biomassa de segunda geração). Uma primeira etapa é o financiamento de cinco par-ques eólicos no Piauí.

Por meio de suas linhas de crédito verdes, a AFD segue uma estratégia que se desdobra nos seguinte resultados: redu-zir o impacto negativo no meio ambiente local e global; redu-zir a carga fiscal das importações de combustíveis fósseis; aumentar a competitividade das empresas locais; reduzir os impactos na saúde das populações, apoiar a estruturação da oferta bancária voltada para a economia verde; criar novas oportunidades de emprego neste setor.

Investir nas respostas aos desafios climáticos significa, tam-bém, investir em setores criadores de riquezas. Por meio do financiamento de projetos emblemáticos, visamos demonstrar que é possível superar a oposição entre a agenda climática e o desenvolvimento, propondo soluções positivas frente às mudanças climáticas. Tal é a mensagem que a AFD levará em dezembro, na ocasião da Conferência das Partes sobre as mudanças climáticas (COP21), que ocorrerá em Paris.

RUMOS – 44 – Julho/Agosto 2015 RUMOS – 45 – Julho/Agosto 2015

Laurent Duriez e Laure Schalchli

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O décimo artigo da série “Pelo Mundo” foi escrito em parceria por Laurent Duriez e Laure Schalchli, e trata da atuação da Agência Francesa para o Desenvolvimento – AFD. Laurent é atualmente diretor do grupo AFD no Brasil. Formado em engenharia agronômica, ele integrou a equipe da Proparco, filial da AFD para o setor privado, com experiência operacional em diversos países (Quênia, Gana). Laurent assumiu, em Washington, o cargo de primeiro conselheiro ao lado do administrador da França para o FMI e Banco Mundial. Laure Schalchli é gerente de Projetos da agência. Ela tem pós-graduação em biologia pela École Normale Supérieure (Université Paris VI) e atuou como jornalista especializada em desenvolvimento sustentável. Atualmente é responsável por projetos junto a entes subnacionais e bancos de desenvolvimento.

Desenvolvimento e a agenda climática

Linhas de crédito verdes

Mais de € 2 bilhões emprestados

para bancos desde 2006:

› África Subsaariana: € 360 M• África Oriental: € 102 M

• África Occidental: € 35 M• África do Sul: € 120 M

• Região do Oceano Índico: € 100 M

› Ásia: € 756 M• China: € 180 M• Índia: € 370 M

• Indonésia : € 196 M• Armênia : € 10 M

› Mediterrâneo e Oriente Médio: € 600 M• Turquia: € 310 M• Jordânia: € 40 M• Egito: € 150 M• Tunísia: € 40 M• Líbano: € 35 M

› América Latina e Caribe: € 291 M• México: € 36 M

• Peru: € 40 M• Brasil: € 215 M

Page 46: Rumos 282

A Caixa Econômica Federal encerrou o Ano Safra 2014/2015 com volume recorde de R$ 8,3 bilhões em con-tratações de crédito rural. Os valores englobam as linhas de custeio e investimento, agrícola e pecuário, além de linhas destinadas à comercialização, contratadas com produtores rurais, agroindústrias e cooperativas. Em junho, o banco bateu a marca de R$ 472 milhões contratados em um único dia, acumulando R$ 2,85 bilhões no mês. Contribuíram para isso a disponibilidade de recursos, a agilidade e a simplicida-de na concessão do crédito.

“A Caixa tem se posicionado como uma importante parceira dos produtores, oferecendo soluções de crédito adequadas às principais atividades agropecuárias, com processos ágeis e sem burocracia”, explica o vice-presidente de Negócios Emergentes da Caixa, Fabio Lenza. Para o Ano Safra 2015/2016, a instituição projeta uma car-teira de Crédito Rural de aproximadamente R$ 10 bilhões, atendendo produtores, cooperativas e agroindústrias.

RUMOS – – Julho/Agosto 2015 46 RUMOS – – Julho/Agosto 2015 47

A pesquisa reali-zada pela Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) com empreende-dores e pesquisado-res durante o primei-ro evento do “Movi-mento pela Inova-ção”, realizado em São Carlos, no final de junho, chegou a um surpreendente resultado: mais da metade dos entrevistados (61%) pretendem investir em inovação ainda este ano, apesar da crise econômica. Num cenário que contempla também o desejo de investir em 2016, esse número chega a 81%.

O evento realizado pela Desenvolve SP no Parque Tecno-lógico de São Carlos (ParqTec) aproximou pesquisadores, estudantes e empresários das diversas formas de apoio disponí-veis no estado para investimentos em projetos inovadores. Ao todo 62 empreendedores e pesquisadores responderam a pes-quisa com questões de múltipla escolha para identificar o perfil do empreendedor, suas percepções sobre inovação e as dificul-dades para se investir, entre outros temas. O levantamento mostrou, entre outros resultados, que o ano não está perdido para 61% dos entrevistados, que disseram ter a intenção de investir em inovação ainda este ano. Outros 20% responderam que pretendem investir em 2016, e outros 15%, nos próximos três anos. Apenas 3% não pretendem apostar em inovação nos próximos anos.

“Estes resultados reforçam que a Desenvolve SP está no caminho certo, incentivando a inovação e procurando reduzir as dificuldades para quem busca o crédito sustentável para tirar seu projeto do papel”, diz Milton Luiz de Melo Santos, presi-dente da instituição financeira.

F FOMENTO

Em cerimônia com a presença do governador Paulo Hartung e de diversos secretários estaduais, o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) apresentou sua política operacional até 2018. Com reforço na missão de apoiar os segmentos econômicos inovadores e oferecer solu-ções de financiamento para o estado, o documento “Desen-volvimento em Rede” também enfatiza o papel de articulador que a instituição deve desempenhar nos próximos anos. “O trabalho para o desenvolvimento é em rede, é um trabalho de todos nós, e o Bandes quer ser um facilitador desse processo, um articulador entre as prefeituras, as entidades privadas, os órgãos de governo”, destacou o diretor-presidente do banco, Luiz Paulo Vellozo Lucas.

O governador, por sua vez, frisou que com este novo modelo o Bandes começa um processo de inovação e reinven-ção da instituição. “Um banco contemporâneo vai além da liberação de recursos, é muito mais articulação do que dinhei-ro. O que falta muitas vezes é acolher e mostrar caminhos e o Bandes e a Secretaria de Desenvolvimento têm esse papel. Podemos e vamos avançar na orientação e articulação para estabelecer novas opções de matriz energética em nosso esta-do”, afirmou Hartung.

O documento apresentado enfatiza que, entre as linhas de atuação do banco nos próximos quatro anos, serão prioridade segmentos como a cadeia de Petróleo e Gás, o turismo e a implantação de empreendimentos relativos à Economia Verde e Economia Criativa. A previsão é que até o final de 2018 tenham sido movimentados na economia capixaba mais de R$ 1,8 bilhão em liberação de financiamentos com recursos do banco e de fontes adicionais. Até o final deste ano, a proposta é de que R$ 381 milhões circulem no estado por meio do apoio do banco de desenvolvimento. “Estamos agindo com firmeza e motivação para enfrentarmos essa agenda de crise, estimu-lando o investimento e a atividade produtiva, combatendo o negativismo e formulando projetos. A intenção é atrair agentes econômicos dentro e fora do estado para as oportunidades e prioridades que surgem nessa conjuntura”, ressaltou Luiz Paulo Vellozo.

Agência de Fomento de Alagoas cria aplicativo para empreendedores

Caixa registra recorde em contratação de crédito rural

Desenvolve SP realiza pesquisa para saber otimismo entre empreendedores

Bandes apresentanovas linhas de atuação

A Agência de Fomento de Alagoas (Desenvol-ve) lançou, no final de julho, um aplicativo gratuito para smartphones com a finalidade de apresentar as oportunidades de negócios disponíveis em todo o território alagoano para possíveis investidores.

O Alagoas Negócios será compatível com apa-relhos dotados dos sistemas operacionais IOS e Android. Segundo o presidente da Desenvolve, Antonio Pinaud, o aplicativo é de fácil manuseio e permitirá ao usuário acompanhar, mesmo offline, negócios atrativos em todas as regiões do estado com opções que variam entre indústria, comércio, serviços e agronegócio.

“Esse aplicativo é mais um auxílio à impulsão do desenvolvimento socioeconômico de Alagoas, que corrobora com a premissa da nossa instituição em

criar soluções de fomento. Nosso objetivo é dar visibilidade aos negócios formatados a partir de recursos da Desenvolve, assim como a outros que estejam aptos a receber crédito de possíveis investi-dores”, destacou Pinaud.

A ferramenta disponibilizará aos usuários a opção de simulação de crédito, além de dados refe-rentes a projetos que integram os 18 Arranjos Pro-dutivos Locais (APLs) de Alagoas.

Os dados serão atualizados periodicamente e novos negócios, à medida que forem surgindo, serão incluídos na relação oferecida. A ferramenta terá, ainda, o atributo de ser georreferenciada, ou seja, mostrará ao usuário, através de coordenadas geo-gráficas, um mapa com pontos mais aproximados para a localização do negócio de interesse.

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O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou, em agosto, um novo instrumento de financiamento a projetos de infraestrutura e de apoio ao mer-cado de capitais. Trata-se da Linha de Suporte à Liquidez (LSL) para juros de debêntures. A linha vai permitir que o emissor de debêntures de infraestrutura possa financiar, exclusivamente, os juros a serem pagos aos investidores em títulos emitidos em ofertas públicas. A linha será utilizada na emissão de debêntu-res de projetos já apoiados pelo BNDES e que sejam vincula-dos a sociedades de propósito específico (SPEs) de infraestru-tura em que a participação dos empreendedores via equity nas fontes de recursos do projeto seja de, no mínimo, 20%. Assim, as empresas beneficiá-rias devem atuar nos setores de logística e transporte, mobilidade urbana, energia e sane-amento básico.

BNDES lança linha para estimular emissões de debêntures

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BDMG sedia encontro de instituições de fomento do Mercosul

O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) sediou, no mês de julho, o encontro de agências de fomento e bancos de desenvolvimento, como parte do V Fórum Empre-sarial Mercosul. O evento contou com dois workshops que discutiram as experiências de dois bancos de desenvolvimen-to com atuação regional, o Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e o Banco do Nordeste (BNB), e a atuação das agências internacionais, com a participação do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O presidente do BDMG, Marco Aurélio Crocco, destacou a importância da troca de experiências entre instituições de fomento e falou sobre a nova missão do banco. “O BDMG tem assumido um papel cada vez mais protagonista em Minas G e r a i s . E s t e governo acredita que o Estado tem um papel relevan-te na economia”, afirmou Crocco, que também é vice-presidente da Associação Brasi-leira de Desenvol-vimento (ABDE). B

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A Caixa Econômica Federal encerrou o Ano Safra 2014/2015 com volume recorde de R$ 8,3 bilhões em con-tratações de crédito rural. Os valores englobam as linhas de custeio e investimento, agrícola e pecuário, além de linhas destinadas à comercialização, contratadas com produtores rurais, agroindústrias e cooperativas. Em junho, o banco bateu a marca de R$ 472 milhões contratados em um único dia, acumulando R$ 2,85 bilhões no mês. Contribuíram para isso a disponibilidade de recursos, a agilidade e a simplicida-de na concessão do crédito.

“A Caixa tem se posicionado como uma importante parceira dos produtores, oferecendo soluções de crédito adequadas às principais atividades agropecuárias, com processos ágeis e sem burocracia”, explica o vice-presidente de Negócios Emergentes da Caixa, Fabio Lenza. Para o Ano Safra 2015/2016, a instituição projeta uma car-teira de Crédito Rural de aproximadamente R$ 10 bilhões, atendendo produtores, cooperativas e agroindústrias.

RUMOS – – Julho/Agosto 2015 46 RUMOS – – Julho/Agosto 2015 47

A pesquisa reali-zada pela Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) com empreende-dores e pesquisado-res durante o primei-ro evento do “Movi-mento pela Inova-ção”, realizado em São Carlos, no final de junho, chegou a um surpreendente resultado: mais da metade dos entrevistados (61%) pretendem investir em inovação ainda este ano, apesar da crise econômica. Num cenário que contempla também o desejo de investir em 2016, esse número chega a 81%.

O evento realizado pela Desenvolve SP no Parque Tecno-lógico de São Carlos (ParqTec) aproximou pesquisadores, estudantes e empresários das diversas formas de apoio disponí-veis no estado para investimentos em projetos inovadores. Ao todo 62 empreendedores e pesquisadores responderam a pes-quisa com questões de múltipla escolha para identificar o perfil do empreendedor, suas percepções sobre inovação e as dificul-dades para se investir, entre outros temas. O levantamento mostrou, entre outros resultados, que o ano não está perdido para 61% dos entrevistados, que disseram ter a intenção de investir em inovação ainda este ano. Outros 20% responderam que pretendem investir em 2016, e outros 15%, nos próximos três anos. Apenas 3% não pretendem apostar em inovação nos próximos anos.

“Estes resultados reforçam que a Desenvolve SP está no caminho certo, incentivando a inovação e procurando reduzir as dificuldades para quem busca o crédito sustentável para tirar seu projeto do papel”, diz Milton Luiz de Melo Santos, presi-dente da instituição financeira.

F FOMENTO

Em cerimônia com a presença do governador Paulo Hartung e de diversos secretários estaduais, o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) apresentou sua política operacional até 2018. Com reforço na missão de apoiar os segmentos econômicos inovadores e oferecer solu-ções de financiamento para o estado, o documento “Desen-volvimento em Rede” também enfatiza o papel de articulador que a instituição deve desempenhar nos próximos anos. “O trabalho para o desenvolvimento é em rede, é um trabalho de todos nós, e o Bandes quer ser um facilitador desse processo, um articulador entre as prefeituras, as entidades privadas, os órgãos de governo”, destacou o diretor-presidente do banco, Luiz Paulo Vellozo Lucas.

O governador, por sua vez, frisou que com este novo modelo o Bandes começa um processo de inovação e reinven-ção da instituição. “Um banco contemporâneo vai além da liberação de recursos, é muito mais articulação do que dinhei-ro. O que falta muitas vezes é acolher e mostrar caminhos e o Bandes e a Secretaria de Desenvolvimento têm esse papel. Podemos e vamos avançar na orientação e articulação para estabelecer novas opções de matriz energética em nosso esta-do”, afirmou Hartung.

O documento apresentado enfatiza que, entre as linhas de atuação do banco nos próximos quatro anos, serão prioridade segmentos como a cadeia de Petróleo e Gás, o turismo e a implantação de empreendimentos relativos à Economia Verde e Economia Criativa. A previsão é que até o final de 2018 tenham sido movimentados na economia capixaba mais de R$ 1,8 bilhão em liberação de financiamentos com recursos do banco e de fontes adicionais. Até o final deste ano, a proposta é de que R$ 381 milhões circulem no estado por meio do apoio do banco de desenvolvimento. “Estamos agindo com firmeza e motivação para enfrentarmos essa agenda de crise, estimu-lando o investimento e a atividade produtiva, combatendo o negativismo e formulando projetos. A intenção é atrair agentes econômicos dentro e fora do estado para as oportunidades e prioridades que surgem nessa conjuntura”, ressaltou Luiz Paulo Vellozo.

Agência de Fomento de Alagoas cria aplicativo para empreendedores

Caixa registra recorde em contratação de crédito rural

Desenvolve SP realiza pesquisa para saber otimismo entre empreendedores

Bandes apresentanovas linhas de atuação

A Agência de Fomento de Alagoas (Desenvol-ve) lançou, no final de julho, um aplicativo gratuito para smartphones com a finalidade de apresentar as oportunidades de negócios disponíveis em todo o território alagoano para possíveis investidores.

O Alagoas Negócios será compatível com apa-relhos dotados dos sistemas operacionais IOS e Android. Segundo o presidente da Desenvolve, Antonio Pinaud, o aplicativo é de fácil manuseio e permitirá ao usuário acompanhar, mesmo offline, negócios atrativos em todas as regiões do estado com opções que variam entre indústria, comércio, serviços e agronegócio.

“Esse aplicativo é mais um auxílio à impulsão do desenvolvimento socioeconômico de Alagoas, que corrobora com a premissa da nossa instituição em

criar soluções de fomento. Nosso objetivo é dar visibilidade aos negócios formatados a partir de recursos da Desenvolve, assim como a outros que estejam aptos a receber crédito de possíveis investi-dores”, destacou Pinaud.

A ferramenta disponibilizará aos usuários a opção de simulação de crédito, além de dados refe-rentes a projetos que integram os 18 Arranjos Pro-dutivos Locais (APLs) de Alagoas.

Os dados serão atualizados periodicamente e novos negócios, à medida que forem surgindo, serão incluídos na relação oferecida. A ferramenta terá, ainda, o atributo de ser georreferenciada, ou seja, mostrará ao usuário, através de coordenadas geo-gráficas, um mapa com pontos mais aproximados para a localização do negócio de interesse.

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O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou, em agosto, um novo instrumento de financiamento a projetos de infraestrutura e de apoio ao mer-cado de capitais. Trata-se da Linha de Suporte à Liquidez (LSL) para juros de debêntures. A linha vai permitir que o emissor de debêntures de infraestrutura possa financiar, exclusivamente, os juros a serem pagos aos investidores em títulos emitidos em ofertas públicas. A linha será utilizada na emissão de debêntu-res de projetos já apoiados pelo BNDES e que sejam vincula-dos a sociedades de propósito específico (SPEs) de infraestru-tura em que a participação dos empreendedores via equity nas fontes de recursos do projeto seja de, no mínimo, 20%. Assim, as empresas beneficiá-rias devem atuar nos setores de logística e transporte, mobilidade urbana, energia e sane-amento básico.

BNDES lança linha para estimular emissões de debêntures

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BDMG sedia encontro de instituições de fomento do Mercosul

O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) sediou, no mês de julho, o encontro de agências de fomento e bancos de desenvolvimento, como parte do V Fórum Empre-sarial Mercosul. O evento contou com dois workshops que discutiram as experiências de dois bancos de desenvolvimen-to com atuação regional, o Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e o Banco do Nordeste (BNB), e a atuação das agências internacionais, com a participação do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O presidente do BDMG, Marco Aurélio Crocco, destacou a importância da troca de experiências entre instituições de fomento e falou sobre a nova missão do banco. “O BDMG tem assumido um papel cada vez mais protagonista em Minas G e r a i s . E s t e governo acredita que o Estado tem um papel relevan-te na economia”, afirmou Crocco, que também é vice-presidente da Associação Brasi-leira de Desenvol-vimento (ABDE). B

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RUMOS – 49 – Julho/Agosto 2015

história do Brasil já foi contada talvez alguns milhares de vezes, nas mais diversas publicações, sob diferentes

enfoques. Da chegada dos portugueses ao país, até o ciclo político atual. Ou, antes, das formas de vida dos povos nativos, passando pelas lutas e revoltas populares, até um futuro imaginário, desenhado a partir de nossas potências e expe-riências históricas. Tudo isso e um pouco mais já passaram por livros, filmes e outras obras que retrataram a história do Brasil.

Pensando nisso, até surpreende que a ideia de escrever uma “biografia” sobre o país tenha se materializado apenas agora. Pois é isso que nos entrega as autoras Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling, em uma obra que vem recebendo elogios da crítica e figura, des-de que foi lançado, semana após semana, na lis-ta dos mais vendidos do Brasil.

Para encarar o desafio de escrever uma bio-grafia de uma “personagem” tão complexa, as autoras decidem contar a história de uma forma não conven-cional, aliando uma documentação original e uma iconografia rica a um texto acessível, que foque em aspectos muitas vezes ignorados ou minimizados em outras obras.

Assim, nessa travessia de mais de quinhentos anos, se debruçam não somente sobre a “grande história” mas tam-bém sobre o cotidiano, a expressão artística e a cultura, as minorias, os ciclos econômicos e os conflitos sociais (muitas vezes subvertendo as datas e os eventos consagrados pela tra-dição). No fundo da cena, mantêm ainda diálogo constante com aqueles autores que, antes delas, se lançaram na difícil empreitada de tentar interpretar ou, pelo menos, entender o Brasil.

Em entrevista ao blog da editora que publica a obra, as autoras afirmam que mais do que uma narrativa cronológica, o livro possui um argumento geral: ele procura entender como o caminho para a democracia foi difícil e singular neste país que contou com o mais duradouro sistema escravocrata da era moderna.

“Também cabe insistir em outra marca que encontramos no caminho e decidimos sublinhar. Ao longo da nossa histó-ria, a palavra liberdade foi expressa em épocas diferentes nas mais diversas circunstâncias e pelos mais diferentes persona-gens. Compreender o poder da palavra liberdade e o modo como ela se manifesta na origem dos caminhos da democra-cia brasileira ajuda a entender a longa jornada das lutas sociais do povo brasileiro”, afirmam, com a conclusão de que a demo-

Uma biografia não convencional

L LIVROS

cracia é hoje um dos mais fortes consensos no país e sua consolidação constitui um dos principais legados para as próximas gerações.

Ao longo de dezoito capítulos e quase oitocentas páginas, a história retratada é a de um longo processo de embates e avan-ços sociais inconclusos, em que a constru-ção falhada da cidadania, a herança contra-ditória da mestiçagem e a violência apare-cem como traços persistentes. Sistematica-mente, os capítulos abarcam os fatos ape-nas até a primeira eleição de Fernando Hen-rique Cardoso. Mas sua conclusão avança até o momento presente, passando por epi-sódios recentes, como as manifestações de junho de 2013, e outros até inconclusos, como o escândalo da Petrobras.

“A primeira eleição de FHC e sua posse em 1995 marcam o fim do período de rede-mocratização e daqui para a frente está

tudo em aberto. Nossa aposta é que uma novíssima história do Brasil está — ou deveria estar — começando, e nós brasileiros temos grandes tarefas pela frente: recuperar a República, sus-tentar o desenvolvimento, ampliar a igualdade, acentuar a democracia…”, enumeram.

O livro ganhou efusivos elogios de nomes de peso, como biógrafo Lira Neto, autor da trilogia sobre Getúlio Vargas, entre outras obras consagradas (“as autoras, com singular competência, conseguem aliar clareza e consistência, densi-dade e fluidez, rigor histórico e prazer do texto”); do hisoria-dor e membro da Academia Brasileira de Letras José Murilo de Carvalho (“livre de esquemas rígidos de interpretação, de oficialismos, de preocupações de exaltar ou condenar, trata-se de relato interpretativo novo, desafiador, vazado em lin-guagem transparente, alheia a jargões acadêmicos”; e do his-toriador britânico e um dos mais conceituados brasilianistas atuais, Kenneth Maxwell (“há tempos precisávamos de uma história do Brasil abrangente, sensível e ancorada em pesqui-sa rigorosa”).

Lilia Schwarcz é professora do Departamento de Antro-pologia da USP e vencedora do Prêmio Jabuti de Livro do Ano, em 1999, com a obra As barbas do imperador - D. Pedro II, um monarca nos trópicos; e Heloisa Starling é professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciênci-as Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais e possui cerca de trinta livros publicados, entre obras em que é autora e organizadora.

As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling narram em livro biográfico a história de uma personagem complexa e rica – o Brasil. De Pedro Álvares Cabral ao recente noticiário político, as páginas retratam o caminho difícil e singular para a construção da democracia em um país marcado pelo sistema escravocrata e com anseio permanente de liberdade

RUMOS – 48 – Julho/Agosto 2015

A

A temática do salário mínimo é central no debate público e na política econômica no Brasil há várias décadas. Mecanismo impor-tante na redução da desigualdade de renda desde o Plano Real, os rea-justes reais do salário mínimo têm representado um desafio fiscal rele-vante, uma vez que o piso salarial do mercado formal de trabalho é também o valor do benefício míni-mo de diversos programas sociais. Reconhecendo a importância des-se assunto para o cenário econô-mico nacional, os autores apre-sentam nessa obra os trabalhos apresentados durante o profícuo seminário sobre o salário mínimo realizado em maio de 2014. É um conjunto de estudos que analisa a questão do ponto de vista do mer-cado de trabalho, da inflação, dis-tribuição de renda e contas públi-cas, entre outros aspectos. Os tex-tos apresentados buscam esclare-

Salário mínimo em debate

cer as relações da política de salário mínimo sobre o mercado de trabalho, os índices de pobreza e a dis-tribuição de renda, os gas-tos públicos e outras ques-tões macroeconômicas.

Política de Salário Mínimo para 2015-2018Nelson Barbosa Filho, Samuel Pessôa, Rodrigo Leandro de Moura Elsevier, 312p., 2015

A tecnologia já está inserida no nosso dia a dia, mas isso não quer dizer que seja fácil dominar todas as chamadas “ondas tecnológi-cas”: plataformas de redes sociais, Mobilidade, Computação em Nuvem, Big Data, Internet das Coi-sas, Inteligência Artificial. Com o objetivo de clarear essas ideias para os leitores, Cezar Taurion, consultor e especialista em novas tecnologias com passagem pela IBM Brasil, trouxe tais conceitos para as empresas.

Para ele, já vivemos uma revo-lução nas tecnologias com uma rapidez que deixa qualquer pessoa tonta, pois há um turbilhão de transformações e as áreas de Tec-nologia da Informação (TI) devem reinventar-se. A conver-gência aparece em todos os momentos!

Nessa obra, o consultor fala sobre mudança de atitude e os

Turbilhão de informações

Tecnologias emergentes – Mudança de atitude e diferenciais competitivos nas empresasCezar TaurionÉvora, 368 p., 2015.

caminhos que podem ser trilhados para entender o tempo em que vivemos e aprimorar os negócios para que tirem o melhor proveito dos novos tem-pos.

Dividida em três volumes, a obra do jornalista Franklin Mar-tins reúne mais de mil canções que contam a história da República de 1902 a 2002. Na trilogia, o autor aposta na música popular como uma forma de narrar os fatos polí-ticos e sociais mais importantes do país no último século.

O primeiro volume aborda a fase que se estende de 1902 ao iní-cio do golpe militar de 1964. Na segunda parte, Martins aborda a produção musical durante o nebu-loso período da ditadura militar brasileira, que é considerada a épo-ca mais rica em termos de crônica político-musical no país. No últi-mo número, o autor registra os tro-peços, as conquistas e os desafios vividos pelo país desde a abertura política, em 1985, até a primeira eleição de Lula, em 2002.

Acompanhado do lançamen-

História em canções

to literário, foi lançado o site www.queminventou-obrasil.com, em que é possível ouvir trechos ou mesmo a íntegra de todas as músicas citadas no livro, acompanhadas de seu contexto histórico.

Quem foi que inventou o Brasil?: a música popular conta a história da República (Vols. I, II e III) Franklin MartinsNova Fronteira, 2015

Neste livro, os autores partem de uma percepção – de que, apesar de as empresas gastarem bilhões de dólares todos os anos, mundo a fora, com a elaboração de estraté-gias, os resultados pouco apare-cem – para propor uma solução: a construção de uma estratégia da execução, que assegure que os pla-nos traçados de fato aconteçam.

De acordo com os autores, somente na Europa o mercado de consultoria movimenta 32 bilhões de dólares todo ano e 12% disso vai para consultoria em estratégia. No mundo todo, o valor gasto ape-nas com consultoria de estratégia chega a 50 bilhões de dólares. Liz Mellon e Simon Carter indicam que estudos de instituições norte-americanas mostram que 70% das iniciativas de mudanças fracassam em sua execução.

Como alternativa para enfren-

Executar a estratégia

tar esse cenário, eles pro-põem um método que se realiza em cinco pontos importantes, entre eles a mobilização dos executi-vos e o estímulo à resi-liência individual e orga-nizacional.

Transformando visão estratégica em ação proativaLiz Mellon e Simon CarterM.Books, 216p., 2015

Brasil, uma biografiaLilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel StarlingCompanhia das Letras, 792 p.,2015.

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RUMOS – 49 – Julho/Agosto 2015

história do Brasil já foi contada talvez alguns milhares de vezes, nas mais diversas publicações, sob diferentes

enfoques. Da chegada dos portugueses ao país, até o ciclo político atual. Ou, antes, das formas de vida dos povos nativos, passando pelas lutas e revoltas populares, até um futuro imaginário, desenhado a partir de nossas potências e expe-riências históricas. Tudo isso e um pouco mais já passaram por livros, filmes e outras obras que retrataram a história do Brasil.

Pensando nisso, até surpreende que a ideia de escrever uma “biografia” sobre o país tenha se materializado apenas agora. Pois é isso que nos entrega as autoras Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling, em uma obra que vem recebendo elogios da crítica e figura, des-de que foi lançado, semana após semana, na lis-ta dos mais vendidos do Brasil.

Para encarar o desafio de escrever uma bio-grafia de uma “personagem” tão complexa, as autoras decidem contar a história de uma forma não conven-cional, aliando uma documentação original e uma iconografia rica a um texto acessível, que foque em aspectos muitas vezes ignorados ou minimizados em outras obras.

Assim, nessa travessia de mais de quinhentos anos, se debruçam não somente sobre a “grande história” mas tam-bém sobre o cotidiano, a expressão artística e a cultura, as minorias, os ciclos econômicos e os conflitos sociais (muitas vezes subvertendo as datas e os eventos consagrados pela tra-dição). No fundo da cena, mantêm ainda diálogo constante com aqueles autores que, antes delas, se lançaram na difícil empreitada de tentar interpretar ou, pelo menos, entender o Brasil.

Em entrevista ao blog da editora que publica a obra, as autoras afirmam que mais do que uma narrativa cronológica, o livro possui um argumento geral: ele procura entender como o caminho para a democracia foi difícil e singular neste país que contou com o mais duradouro sistema escravocrata da era moderna.

“Também cabe insistir em outra marca que encontramos no caminho e decidimos sublinhar. Ao longo da nossa histó-ria, a palavra liberdade foi expressa em épocas diferentes nas mais diversas circunstâncias e pelos mais diferentes persona-gens. Compreender o poder da palavra liberdade e o modo como ela se manifesta na origem dos caminhos da democra-cia brasileira ajuda a entender a longa jornada das lutas sociais do povo brasileiro”, afirmam, com a conclusão de que a demo-

Uma biografia não convencional

L LIVROS

cracia é hoje um dos mais fortes consensos no país e sua consolidação constitui um dos principais legados para as próximas gerações.

Ao longo de dezoito capítulos e quase oitocentas páginas, a história retratada é a de um longo processo de embates e avan-ços sociais inconclusos, em que a constru-ção falhada da cidadania, a herança contra-ditória da mestiçagem e a violência apare-cem como traços persistentes. Sistematica-mente, os capítulos abarcam os fatos ape-nas até a primeira eleição de Fernando Hen-rique Cardoso. Mas sua conclusão avança até o momento presente, passando por epi-sódios recentes, como as manifestações de junho de 2013, e outros até inconclusos, como o escândalo da Petrobras.

“A primeira eleição de FHC e sua posse em 1995 marcam o fim do período de rede-mocratização e daqui para a frente está

tudo em aberto. Nossa aposta é que uma novíssima história do Brasil está — ou deveria estar — começando, e nós brasileiros temos grandes tarefas pela frente: recuperar a República, sus-tentar o desenvolvimento, ampliar a igualdade, acentuar a democracia…”, enumeram.

O livro ganhou efusivos elogios de nomes de peso, como biógrafo Lira Neto, autor da trilogia sobre Getúlio Vargas, entre outras obras consagradas (“as autoras, com singular competência, conseguem aliar clareza e consistência, densi-dade e fluidez, rigor histórico e prazer do texto”); do hisoria-dor e membro da Academia Brasileira de Letras José Murilo de Carvalho (“livre de esquemas rígidos de interpretação, de oficialismos, de preocupações de exaltar ou condenar, trata-se de relato interpretativo novo, desafiador, vazado em lin-guagem transparente, alheia a jargões acadêmicos”; e do his-toriador britânico e um dos mais conceituados brasilianistas atuais, Kenneth Maxwell (“há tempos precisávamos de uma história do Brasil abrangente, sensível e ancorada em pesqui-sa rigorosa”).

Lilia Schwarcz é professora do Departamento de Antro-pologia da USP e vencedora do Prêmio Jabuti de Livro do Ano, em 1999, com a obra As barbas do imperador - D. Pedro II, um monarca nos trópicos; e Heloisa Starling é professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciênci-as Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais e possui cerca de trinta livros publicados, entre obras em que é autora e organizadora.

As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling narram em livro biográfico a história de uma personagem complexa e rica – o Brasil. De Pedro Álvares Cabral ao recente noticiário político, as páginas retratam o caminho difícil e singular para a construção da democracia em um país marcado pelo sistema escravocrata e com anseio permanente de liberdade

RUMOS – 48 – Julho/Agosto 2015

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A temática do salário mínimo é central no debate público e na política econômica no Brasil há várias décadas. Mecanismo impor-tante na redução da desigualdade de renda desde o Plano Real, os rea-justes reais do salário mínimo têm representado um desafio fiscal rele-vante, uma vez que o piso salarial do mercado formal de trabalho é também o valor do benefício míni-mo de diversos programas sociais. Reconhecendo a importância des-se assunto para o cenário econô-mico nacional, os autores apre-sentam nessa obra os trabalhos apresentados durante o profícuo seminário sobre o salário mínimo realizado em maio de 2014. É um conjunto de estudos que analisa a questão do ponto de vista do mer-cado de trabalho, da inflação, dis-tribuição de renda e contas públi-cas, entre outros aspectos. Os tex-tos apresentados buscam esclare-

Salário mínimo em debate

cer as relações da política de salário mínimo sobre o mercado de trabalho, os índices de pobreza e a dis-tribuição de renda, os gas-tos públicos e outras ques-tões macroeconômicas.

Política de Salário Mínimo para 2015-2018Nelson Barbosa Filho, Samuel Pessôa, Rodrigo Leandro de Moura Elsevier, 312p., 2015

A tecnologia já está inserida no nosso dia a dia, mas isso não quer dizer que seja fácil dominar todas as chamadas “ondas tecnológi-cas”: plataformas de redes sociais, Mobilidade, Computação em Nuvem, Big Data, Internet das Coi-sas, Inteligência Artificial. Com o objetivo de clarear essas ideias para os leitores, Cezar Taurion, consultor e especialista em novas tecnologias com passagem pela IBM Brasil, trouxe tais conceitos para as empresas.

Para ele, já vivemos uma revo-lução nas tecnologias com uma rapidez que deixa qualquer pessoa tonta, pois há um turbilhão de transformações e as áreas de Tec-nologia da Informação (TI) devem reinventar-se. A conver-gência aparece em todos os momentos!

Nessa obra, o consultor fala sobre mudança de atitude e os

Turbilhão de informações

Tecnologias emergentes – Mudança de atitude e diferenciais competitivos nas empresasCezar TaurionÉvora, 368 p., 2015.

caminhos que podem ser trilhados para entender o tempo em que vivemos e aprimorar os negócios para que tirem o melhor proveito dos novos tem-pos.

Dividida em três volumes, a obra do jornalista Franklin Mar-tins reúne mais de mil canções que contam a história da República de 1902 a 2002. Na trilogia, o autor aposta na música popular como uma forma de narrar os fatos polí-ticos e sociais mais importantes do país no último século.

O primeiro volume aborda a fase que se estende de 1902 ao iní-cio do golpe militar de 1964. Na segunda parte, Martins aborda a produção musical durante o nebu-loso período da ditadura militar brasileira, que é considerada a épo-ca mais rica em termos de crônica político-musical no país. No últi-mo número, o autor registra os tro-peços, as conquistas e os desafios vividos pelo país desde a abertura política, em 1985, até a primeira eleição de Lula, em 2002.

Acompanhado do lançamen-

História em canções

to literário, foi lançado o site www.queminventou-obrasil.com, em que é possível ouvir trechos ou mesmo a íntegra de todas as músicas citadas no livro, acompanhadas de seu contexto histórico.

Quem foi que inventou o Brasil?: a música popular conta a história da República (Vols. I, II e III) Franklin MartinsNova Fronteira, 2015

Neste livro, os autores partem de uma percepção – de que, apesar de as empresas gastarem bilhões de dólares todos os anos, mundo a fora, com a elaboração de estraté-gias, os resultados pouco apare-cem – para propor uma solução: a construção de uma estratégia da execução, que assegure que os pla-nos traçados de fato aconteçam.

De acordo com os autores, somente na Europa o mercado de consultoria movimenta 32 bilhões de dólares todo ano e 12% disso vai para consultoria em estratégia. No mundo todo, o valor gasto ape-nas com consultoria de estratégia chega a 50 bilhões de dólares. Liz Mellon e Simon Carter indicam que estudos de instituições norte-americanas mostram que 70% das iniciativas de mudanças fracassam em sua execução.

Como alternativa para enfren-

Executar a estratégia

tar esse cenário, eles pro-põem um método que se realiza em cinco pontos importantes, entre eles a mobilização dos executi-vos e o estímulo à resi-liência individual e orga-nizacional.

Transformando visão estratégica em ação proativaLiz Mellon e Simon CarterM.Books, 216p., 2015

Brasil, uma biografiaLilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel StarlingCompanhia das Letras, 792 p.,2015.

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CARTAS DO LEITOR

Redação e AdministraçãoAvenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20020-906Telefone (21) 2109.6041Fax (21) 2109.6004

[email protected] Gerente de Comunicação - Editora Thais Sena Schettino

EquipeJader MoraesLivia Marques PimentelNoel Joaquim Faiad

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E C O N O M I A & D E S E N V O L V I M E N T O P A R A O S N O V O S T E M P O S

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CONSELHO DOS ASSOCIADOSPresidente: Luciano Coutinho

DIRETORIAPresidente: Milton Luiz de Melo Santos

1º Vice-Presidente: Marco Aurélio Crocco Afonso

2º Vice-Presidente: Ilton Luis Schwaab

Diretores: Francisco Soares, José Henrique Paim, Humberto Tannús Junior, Otto Alencar Filho, Rogério Tavares, Susana Kakuta, Valmir Rossi Secretário-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima

Publicação bimestralISSN 1415-4722

Instituições Associadas à ABDE

AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A.AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A.AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A.AGÊNCIA DE FOMENTO TOCANTINS – Agência de Fomento do Estado de TocantinsAGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A.AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A.AGERIO – Agência Estadual de FomentoBADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A.BADESUL Badesul Desenvolvimento S.A. Agência de Fomento – – BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A.BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A.BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A.BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A.BB – Banco do Brasil S.A.BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A.BNB – Banco do Nordeste do Brasil S.A.BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e SocialBRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo SulBRB – Banco de BrasíliaCAIXA – Caixa Econômica FederalDESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A.DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A.DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento PaulistaFINEP – Inovação e PesquisaFOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A.GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A.MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A.PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A.SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas EmpresasSICREDI – Sistema de Crédito Cooperativo

Capa Noel Joaquim Faiad

Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas

Distribuição SVD/Sistemas de Venda Direta

Conselho EditorialMilton Luiz de Melo Santos, João Paulo dos Reis Velloso, Maurício Borges Lemos e Thais Sena Schettino.

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.

RUMOS – – Julho/Agosto 2015 50

@

Ano 39 – Nº 282 Julho/Agosto 2015

BibliotecáriaRecebemos e agradecemos o envio da revista Rumos: Economia &

Desenvolvimento para os Novos Tempos. Gostaria de receber os demais fascículos se ainda disponíveis impressos a partir de 2014, que faltam na nossa coleção. Ressaltamos que temos interesse em con-tinuar recebendo esta publicação.

Informamos também que as revistas científicas da Universidade Católica de Brasília estão disponíveis em meio eletrônico e podem ser acessadas gratuitamente pelo Portal de Revistas Eletrônicas. Maria de Fátima Paulo de Medeiros. Bibliotecária. Universidade Católica de Brasília (DF)

PedidoTendo em vista a importância da revista em nossa instituição, gos-

taria, se possível, de solicitar alguns exemplares da revista Rumos que não recebemos, para que assim nosso acervo fique completo. Desde já, agradeço. Jaqueline. Associação Jaboticabalense de Educação e Cultura. Jaboticabal (SP)

AgradecimentoPrezados, recebemos e agradecemos como doação: Rumos, v. 39,

n° 281, maio/jun., 2015. Gostaríamos de continuar recebendo, faz par-te do nosso acervo a doação do periódico. Rosa Urpia. Biblioteca Profº João Saturnino da Silva. Salvador (BA)

Acesse: www.abde.org.br

Leia a revista e consulte as edições passadas.

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