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marco LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas jornal Possibilidade de aumento na área verde tornará mais agradável a práticas de atividades físicas no cercadinho da Via Expressa. Página 4 Em sua oficina localizada no Bairro Dom Cabral, Rogério Gomes restaura e coleciona carros antigos, atividades que realiza há 36 anos. Página 2 Apaixonados por camisas de futebol, colecionadores enfrentam dificuldades com preços e famílias para conseguirem raridades. Página 14 Junho • 2011 Ano 39 • Edição 282 RICARDO MALLACO RENATA FONSECA MARIA CLARA MANCHILA A equipe do Hospital Cristiano Machado, em Sabará, tem o desafio de lidar com pacientes que não falam. De um lado, a alegria de fazer com que eles respondam a estímulos. De outro, a dificuldade em conviver com a angústia das famílias que não se acos- tumaram com esse silêncio. Página 12 Presidiários da Penitenciária José Maria Alckimin, localizada em Ribeirão Neves, descobriram no teatro uma forma para repensar os atos cometidos no passado e conscientizar as pessoas encenando peças que retratam suas experiências com o mundo do crime. O Grupo Vida Nova revela talentos e contribui para a ressocia- lização dos detentos. Página 13 O silêncio do paciente A escritora Lya Luft acaba de lançar "A Riqueza do Mundo", que traz ensaios sobre temas como educação e política. Em entrevista ao MARCO, ela conta que depois de lançados, seus livros passam a ser objetos comerciais das editoras e afirma,"eu acho que você faz arte pelo prazer e eu muito para interagir com meus leitores". Página 16 “Não sou de fazer receita para ganhar dinheiro” CARLOS EDUARDO ALVIM Cartões-postais de Minas, com riqueza histórica e beleza natural, cidades como Tiradentes, Ouro Preto, Congonhas, São João del- Rei e Sabará serão destinos procu- rados por quem visitar o estado no período da Copa de 2014. Porém, os trabalhos de preparação dessas cidades estão em estágios diferentes. Enquanto umas pos- suem planos efetivos para atrair turistas do mundial, outras ainda não começaram a se preparar para o evento. Páginas 7, 8 e 9 RENATA FONSECA A COPA TAMBÉM PASSA POR AQUI Vida Nova por meio da arte do teatro Nova divisão nas regionais da capital Com o objetivo de organizar e aumentar a participação da popu- lação na gestão do município, a Prefeitura de Belo Horizonte criará 40 sub-regiões dentro das tradicionais regionais. O novo modelo de gestão compartilhada busca atender melhor os anseios dos moradores do bairros por meio dos líderes comunitários. Página 11 RENATA FONSECA RENATA FONSECA

Jornal Marco - Ed. 282

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Possibilidade de aumentona área verde tornarámais agradável a práticas de atividadesfísicas no cercadinho daVia Expressa. Página 4

Em sua oficina localizadano Bairro Dom Cabral,Rogério Gomes restaurae coleciona carros antigos,atividades que realiza há36 anos. Página 2

Apaixonados por camisasde futebol, colecionadoresenfrentam dificuldadescom preços e famíliaspara conseguirem raridades. Página 14

Junho • 2011Ano 39 • Edição 282

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A equipe do Hospital CristianoMachado, em Sabará, tem o desafiode lidar com pacientes que não falam.De um lado, a alegria de fazer comque eles respondam a estímulos. Deoutro, a dificuldade em conviver coma angústia das famílias que não se acos-tumaram com esse silêncio. Página 12

Presidiários da Penitenciária JoséMaria Alckimin, localizada emRibeirão Neves, descobriram no teatrouma forma para repensar os atoscometidos no passado e conscientizar aspessoas encenando peças que retratamsuas experiências com o mundo docrime. O Grupo Vida Nova revelatalentos e contribui para a ressocia-lização dos detentos. Página 13

O silênciodo paciente

A escritora Lya Luft acaba de lançar "A Riqueza do Mundo", que trazensaios sobre temas como educação epolítica. Em entrevista ao MARCO, elaconta que depois de lançados, seuslivros passam a ser objetos comerciaisdas editoras e afirma,"eu acho que vocêfaz arte pelo prazer e eu muito parainteragir com meus leitores". Página 16

“Não sou defazer receita paraganhar dinheiro”

CARLOS EDUARDO ALVIM

Cartões-postais de Minas, comriqueza histórica e beleza natural,cidades como Tiradentes, OuroPreto, Congonhas, São João del-Rei e Sabará serão destinos procu-rados por quem visitar o estadono período da Copa de 2014.

Porém, os trabalhos de preparaçãodessas cidades estão em estágiosdiferentes. Enquanto umas pos-suem planos efetivos para atrairturistas do mundial, outras aindanão começaram a se preparar parao evento. Páginas 7, 8 e 9

RENATAFONSECA A COPA TAMBÉM

PASSA POR AQUI

Vida Novapor meio daarte do teatro

Nova divisãonas regionaisda capital

Com o objetivo de organizar eaumentar a participação da popu-lação na gestão do município, aPrefeitura de Belo Horizonte criará40 sub-regiões dentro das tradicionaisregionais. O novo modelo de gestãocompartilhada busca atender melhoros anseios dos moradores do bairrospor meio dos líderes comunitários.Página 11

RENATA FONSECA

RENATA FONSECA

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2 ComunidadeJunho • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

jornal marcoJornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: [email protected]

Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920

Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286

Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória GomideChefe de Departamento: Profª. Maria Libia Araújo BarbosaCoordenador do Curso de Jornalismo: Prof. José Francisco BragaCoordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Prof. Jair Rangel

Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais

Monitores de Jornalismo: Bianca de Moura, Carlos Eduardo Alvim, CínthiaRamalho, Keneth Borges, Laura de Las Casas, Nathália Amado, PedroVasconcelos. Samara Nogueira e Tamara FontesMonitores de Fotografia: Renata Fonseca e Maria Clara MancilhaMonitora de Diagramação: Lila Gaudêncio

Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

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KENETH BORGES, 3º PERÍODO

A Copa do Mundo que acontecerá em 2014 noBrasil é um assunto comentado por todos e já movi-menta a capital mineira, uma das sedes dos jogosdo mundial, e as cidades históricas, que esperamum fluxo grande de turistas para conhecerem osbens culturais e naturais da região, além da famosagastronomia mineira, que chama atenção dos tu-ristas de todas as localidades.

Nesta edição uma matéria especial da Copa foirealizada pela equipe do Jornal MARCO, mostran-do como as cidades históricas de Congonhas, OuroPreto, Sabará, São João del-Rei e Tiradentes estãose planejando para receber os turistas que preten-dem aproveitar a viagem para conhecer opatrimônio de Minas Gerais. A reportagem abordaas dificuldades que algumas delas enfrentam paraconcretizarem seus projetos, e como os cursos decapacitação serão o ponto alvo dessas cidades.

O futebol que, indiretamente, movimenta essesmunicípios é também assunto da reportagem sobrea paixão de torcedores que colecionam camisas dediversos times e não economizam na hora deadquirir as raridades. Seja em viagens pelo mundoou por meio da internet, esses apaixonados nãomedem esforços para aumentarem seu acervo depreciosidades.

Essa edição retrata, ainda, como a arte podemudar e direcionar a vida de pessoas que já acredi-tavam em ter perdido o seu caminho e como aressocialização é ponto de partida para esse novocomeço. É o caso dos detentos da PenitenciáriaJosé Maria Alckimim, em Ribeirão das Neves, quepor meio do teatro encontraram um novo rumo ecriaram o Grupo Vida Nova, onde apresentampeças teatrais que eles mesmos escrevem e ence-nam. O público principal do grupo são os alunos darede municipal e estadual, e estima-se que oito milpessoas assistiram o trabalho desses presidiários.

A realidade dos pacientes e a forma humanizadado trabalho desenvolvido pelos profissionais desaúde do Hospital Cristiano Machado, em Sabará,emocionou os estudantes que foram até lá realizara reportagem “Comunicação além das palavras”.Os jovens repórteres se depararam com o desafiode tentar compreender e explicar como os médicos,enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais enten-dem os doentes; maior parte deles também muitojovens e com limitações graves motoras, sensoriaise de comunicação. O resultado é uma indiscutívellição de vida.

Talvez a entrevista com a escritora Lya Luft, queacaba de lançar o livro “A Riqueza do Mundo”,possa ajudar a reflexão sobre os homens e ahumanidade: “Acho que o ser humano foi uma tra-palhada dos deuses. E, por outro lado, o serhumano tem essas coisas maravilhosas. Ele cria aarte, cria filhos, cria laços, cria arquiteturas, crianovidades na medicina que salvam vidas, mas tam-bém cria muita confusão. Ele arma a guerra, violên-cia, se droga. Então, ele é um ser conflitante eambíguo, por isso que ele é interessante. Por isso éque eu escrevo a respeito.”

Aprendizado parafuturos repórteres epara leitores também

editorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialEDITORIAL

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SAMARA NOGUEIRA,4º PERÍODO

Os moradores do BairroCoração Eucarístico po-dem novamente reciclarseu lixo sem precisar terque se deslocar para outrasregiões. Seis meses depoisda retirada das lixeiras dereciclagem que ficavam aolado da entrada principaldo campus Coração Eu-carístico da PUC Minas,novos containeres foraminstalados no início demaio na Avenida Itaú.Apesar de terem sidoimplantados há poucotempo, moradores járessaltam benefícios. "An-tes eu não utilizava, agoraeu utilizo. A instalação foiboa para a comunidade,ela incentiva do lixo", afir-ma Aparecida Duarte.

A demora na instalaçãoprejudicou moradorescomo Michelle Rocha quesem as lixeiras e coletaseletiva parou de reciclarseu lixo. Marco AntonioMartins, Técnico emmobilização Social doSistema de LimpezaUrbana (SLU), explicouque as lixeiras só nãoforam instaladas anterior-mente porque a equiperesponsável estava identi-ficando os locais que aten-dem aos requisitos exigi-dos pela SLU. "A insta-lação depende da identifi-cação de locais tecnica-mente adequados, que

atendam às exigências depossibilidade de coletapelo caminhão da SLU,espaço suficiente no pas-seio, segurança e boascondições para partici-pação da comunidade doentorno", justifica.

Segundo o pró-reitor daPUC Minas, RômuloAlbertini, o Pró-infra daUniversidade solicitou aoSistema de LimpezaUrbana (SLU) a transfe-rência das lixeiras devido amá utilização dos mora-dores. “As pessoas começa-ram a colocar todo tipo delixo inclusive o orgânico,por isso, as lixeirascomeçaram a causar maistranstorno do que solução.Pedimos então, que a SLUtransferisse as lixeiras paraoutros locais próximos,

como a Via Expressa",explica o pró-reitor. Eleainda acrescenta que apopulação deveria ser maisbem educada sobrequestões ambientais, poissó assim os locais destina-dos a reciclagem seriamutilizados de formaproveitosa.

Entretanto, segundoMarco Antonio, o mesmoproblema não é recorrentena Avenida Itaú. "Nomonitoramento realizadoaté agora há boa partici-pação da comunidade coma entrega de materiais reci-cláveis", afirma. Ele adi-anta que caso seja consta-do pela SLU que osequipamentos não com-portam a quantidade demateriais depositadospelos moradores, ela irá

ampliar o número deunidades de coleta.

Além de incentivarnovos hábitos, a instalaçãodos novos containeres pos-sibilitou que moradoresque já tinham o hábito dereciclar seu lixo pudessemvoltar a praticá-lo. SôniaElizabete, por exemplo,que não estava encontran-do locais próximos ao seubairro para depositar seulixo está utilizando asnovas lixeiras. "Estou uti-lizando as lixeiras daAvenida Itaú, o únicoproblema é que quando agente vai lá é difícil esta-cionar, tem retorno e tudomais, era mais fácil levarnas lixeiras da PUC" diz,Sônia.

Lixeiras são instaladas na Av. Itaú

SUCATA VIRA POSSANTEn

MARCELA NOALI,1º PERÍODO

No Bairro Dom Cabral,Região Noroeste de BeloHorizonte, Rogério Go-mes, 52 anos, restaura ehá 36 coleciona carrosantigos. Segundo ele, apaixão por esses carros éde família: seus irmãos jáexerciam a profissão. Emsua oficina estavam maisde 30 modelos de carros,dentre eles, um ShelbyCobra.

Mais de 1.800 modelosde carros, dentre originaise réplicas, passaram peloscuidados de Rogério Go-mes, pois ele diz que háum mercado forte paraesse tipo de produto e queo perfil dos clientes quebuscam esses carros é, emgeral, relacionado a algumtipo de ligação familiarcom um determinadomodelo. Às vezes, por terpertencido ao pai, por teruma história na família,ou porque é um excelenteinvestimento, destaca.

Atualmente, Gomes so-mente restaura os seuspróprios carros. "É um tra-balho que leva muitotempo, de três meses a umano", afirma, para justi-ficar a impossibilidade derealizar outros projetos.

Assim, ele deu início a

um novo projeto: um baritinerante. A ideia é usarum Papa Fila, um tipo decaminhão adaptado emforma de ônibus e quechegou ao Brasil na déca-da de 1950, como um baritinerante para os encon-tros dos clubes de moto-queiros e amantes de car-ros antigos, como o HotRod e o Clube do Puma.Há três anos, RogérioGomes iniciou sua buscapelo Papa Fila, e, depois de

muita procura, há quatromeses, conseguiu comprá-lo e deu início a restau-ração do automóvel. Eleacredita que em até seismeses o projeto do baritinerante estará concluí-do.

EVENTOS Além dos mo-delos de carros antigos, naoficina também está oHot Rod Bar, que é umponto de encontrodaqueles interessados em

veículos em geral. Deco-rado com motos, carros,pôsteres, um Juke Box eum mini posto da Texacono lado externo ao salão,o Hot Rod Bar recria umambiente dos anos 50 deforma única e agradável.

Todo segundo sábadodo mês, o Hot Rod Barpromove um encontrodos participantes doclube Hot Rod. O localtambém é aberto à even-tos particulares.

Morador do Bairro Dom Cabral, movido pela paixão de família, restaura carros antigos há 36 anos em sua oficina na Avenida Itaú

Rogério Gomes tem planos para transformar o Papa Fila, que comprou há 4 meses, em um bar itinerante

As irmãs Sônia e Sandra puderam voltar a reciclar o lixo depois que as novas lixeiras foram instaladas na Av. Itaú

MARIA CLARA MANCILHA

RENATA FONSECA

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3ComunidadeJunho • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

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CÍNTHIA RAMALHO,LAURA DE LAS CASAS,5º E 4º PERÍODOS

Quando chegou para morar noBairro Dom Cabral, Região Noro-este de Belo Horizonte, a aposen-tada Nadir Ferreira Fonseca, 86anos, abriu junto com o marido aprimeira mercearia do lugar,Mercearia do João, localizada àRua Ibiaçá. "Na época em queabrimos a mercearia, não tinhanenhum outro comércio no bair-ro", lembra. Hoje, 24 anos depois,a mercearia não é mais de Nadir,mas continua sendo um dospoucos estabelecimentos comerci-ais existentes no Bairro DomCabral.

Rosemeire Morais Afonso Cruzé sobrinha de Nadir e é a atualproprietária da mercearia. Ela con-ta que já tentou implantar acomercialização de verduras namercearia, porém, a iniciativa nãodeu certo. Rosemeire acaboutendo prejuízos, como a perda demercadorias que estragavam, poisnão eram vendidas. "Eu acho queisso acontecia mais por demanda,porque o pessoal acostuma e pre-fere fazer compra onde tem tudo,num sacolão maior, onde temmais variedade", acredita.

Rosemeire afirma que em todoo bairro, sua mercearia só enfrentaa concorrência de dois estabeleci-mentos. Um deles é a MerceariaLisboa que está localizada à RuaIbiaçá. Edilene Lisboa, 45 anos, éuma das proprietárias desse esta-belecimento que existe no bairrohá seis anos. Ela conta que no iní-cio foi difícil firmar o negócio econquistar a clientela. Muitosfregueses querem comprar fiado epor causa disso os prejuízos sãoenormes. "Já tomei muito canopara sanar a dívida dos outros. Játive que vender meu carro porcausa disso", afirma. A comer-ciante conta que já pensou em

fechar o comércio, porém, mesmocom as dificuldades ainda tentamanter o negócio.

Além da falta de supermercadose sacolões, os moradores do DomCabral também não encontram nobairro outros serviços como açou-gues, farmácias e agências bancá-rias. A falta desses estabelecimen-tos dificulta a vida dos habitantes,que têm que se deslocar até osbairros vizinhos para terem acessoaos serviços.

Para Erotides Martins Novais,64 anos, o Bairro Dom Cabral nãoé um lugar ruim de se morar.Como vive no bairro há 30 anos,ela conhece muitas pessoas e jásabe onde encontrar o que precisa.Porém, a moradora reconhece quea implantação de alguns serviçosno bairro facilitaria a sua vida.Quando precisa de algum remédioou de fazer a compra do mês nosupermercado, ela tem que ir até

os bairros vizinhos, onde osserviços estão disponíveis. Essatarefa nem sempre é fácil, já queela depende do transporte públicoou vai a pé até os estabelecimen-tos. "Quando eu preciso de umremédio, tenho que ir lá no BairroJoão Pinheiro, porque aqui nãotem farmácia. Isso incomodaporque tem horas que não dá parair lá. Se tivesse uma farmácia aquiseria mais fácil. Para trazer ascompras também é difícil, porquevou a pé e nem sempre o super-mercado pode entregar", lamenta.

Nadir Ferreira Fonseca contacom a ajuda dos filhos quandoprecisa de algum serviço que nãoexiste no Dom Cabral. Ela explicaque por ser idosa, a tarefa de sedeslocar até os outros bairros setorna mais difícil e por causadisso, perde um pouco da suaindependência. "Eu não tenhocarro, mas quando preciso de um

remédio, meu filho busca paramim na drogaria. O que eu achoruim na velhice é não poder andarsozinho. Às vezes a gente precisacortar o cabelo, fazer uma comprae tem que esperar os outros. Seaqui no bairro tivesse essesserviços, isso talvez não aconte-ceria", afirma.

Além de possuir um estabeleci-mento na região, Edilene tambémé moradora do Dom Cabral. Paraela, a principal dificuldade é alocalização do bairro. "Aqui tudo émais longe. Farmácia você liga eeles entregam em casa, masaçougue, um sacolão, tudo isso fazmuita falta", alega. A opinião tam-bém é compartilhada por Nadir.Ela conta que já viu várias tentati-vas de abertura de comércios nobairro que não deram certo. "Opessoal fala que é porque aqui estámuito perto do João Pinheiro, e látem tudo. Também aqui está no

meio, então tem supermercadomaior no Coração Eucarístico, queatende tudo, então as pessoaspreferem esses lugares", constata.

CONCORRÊNCIA O economistaFlávio Constantino Barbosa afir-ma que a permanência de comér-cios em bairros residenciais épequena, justamente porque essesestabelecimentos sofrem a concor-rência de empreendimentosmaiores que estão em outros bair-ros e que são de fácil acesso paraos moradores. "Essa oferta deempreendimentos maiores queforam sendo realizados em viasque permitem acesso, é que passaa vender para o público daqui. Asfamílias que residem aqui e dese-jam compras grandes e mais diver-sificadas, não vão encontrar issoaqui no bairro por causa do perfilde ocupação dele. Você pode ter obairro que tem uma densidademais elevada, todo ocupado, maspor pessoas que não têm neces-sariamente a renda suficiente paragastar nesses estabelecimentos",conta.

Quanto à instalação de estabe-lecimentos maiores, que oferecempromoções e grande oferta de pro-dutos, o economista afirma quesão difíceis de se firmarem nessesbairros por conta da densidadedemográfica, perfil de ocupaçãodo bairro, preço de aluguel e gas-tos com transporte. "Esses sãoproblemas que, de uma formageral, atingem a todos, mas quepodem se agravar, por exemplo, sevocê não tem por parte daprefeitura uma boa políticaurbana e a preocupação com oespaço", avalia.

Além disso, Flávio tambémexplica que os serviços em esta-belecimentos de bairro, muitasvezes são mais caros do que osmesmos serviços oferecidos naregião central da cidade.

FALTAM SERVIÇOS NO DOM CABRALAusência de estabelecimentos comerciais, como açougues e farmácias, além de agências bancárias, faz com que moradores do local tenham que se deslocar até os bairros vizinhos

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PEDRO VASCONCELOS,4° PERÍODO

Diariamente um grandenúmero de pessoas que dependedo transporte público de BeloHorizonte sofre com ostranstornos gerados pelos atrasose pela lotação de algumas linhasde ônibus. Este problema se agra-va quando o quadro de horário deuma linha é alterado, fazendo comque alguns usuários tenham queajustar suas rotinas.

Este é o caso de ChristianoSantiago de Oliveira, 24 anos, queestá sofrendo na pele as reduçõesde viagens da linha 9410. "Eu soumuito metódico em relação aoshorários dos ônibus. Eu semprepercebo estas mudanças, nãogosto de perder tempo no ponto",diz. Christiano mora no BairroSagrada Família e trabalha emuma loja no centro da cidade, otrajeto é curto, mas muitas vezesdemorado e cansativo. "Eu sei queo trânsito é complicado, com issojá estou até acostumado. O pro-blema é que eu pegava um ônibusàs 13h05 e este horário não existemais, demorei duas semanas paraperceber a mudança, ficava cercade 15 minutos a mais no ponto",afirma.

A reclamação de Christianoprocede, segundo Gilvan Marçal,assessor de comunicação daBHTrans, a linha sofreu no mês de

março uma redução de cinco via-gens, em um total de 182 do seuquadro de horários. Gilvan explicaque este tipo de mudança écomum. "Estes ajustes são depraxe. Em determinados períodossão necessários. Isto é para ade-quar a quantidade de ônibus àsnecessidades da população", expli-ca. Entretanto, para Christiano, asalterações deveriam ser mais bemdivulgadas. "Eles só colocam umaviso em uma folha de ofíciopequena, colada em um painel doônibus. É difícil perceber", ressalta.

A linha 9410 é uma das respon-sáveis pelo transporte de pessoaspara o campus da PUC Minas noCoração Eucarístico, RegiãoNoroeste de Belo Horizonte. Estasmudanças no quadro de horáriodividem as opiniões dos estu-dantes. Para Marina Chagas daSilva, 22 anos, a mudança foi bemperceptível, sobretudo no períodomatinal. "De manhã o ônibus estávindo muito mais cheio, um infer-no, achei que tinha reduzido atémais viagens", diz. Para o estu-dante Rodrigo Luiz Lagares, 20

anos, entretanto, as reduções nãoalteraram em nada a sua rotina."Para mim está até melhor.Alguma mudança no trânsitodeixou a minha volta para casamuito mais rápida, não tenhonada para reclamar não", afirma.

Gilvan explica que algunsusuários podem sentir mais estasalterações do que outros. "No casodo 9410, os alunos da PUCpodem ter uma sensibilidademaior às mudanças de horários,mas eles têm que se dar conta queas mudanças levam em conside-

ração o bem estar de toda a popu-lação", afirma.

Outros dois ônibus que servema PUC também sofreram alte-rações no seu quadro de viagens.Neste mesmo período a linha4111 ganhou 22 viagens, numtotal de 219. Para o assessor, estaalteração só foi possível por causadas reclamações de moradores noportal da BHtrans. "A demandapor mais ônibus foi constatadacom a ajuda das reclamações feitasno portal", afirma. Mesmo comacréscimo , o 4111 ainda é alvo dereclamação de usuários. Para oestudante Rafael Drumond, 26anos, o problema são os atrasos."Chega a ser bizarro a quantidadede ônibus que atrasa. Depois pas-sam todos de uma vez ", diz.

Já o 4110 ganhou três viagens,quantidade, que segundo algunsusuários, é irrelevante diante dasnecessidades da população. Para adona de casa Camila Albertini daSilva, 43 anos, a linha precisa de umaumento mais significativo. "Ônibusdemorado igual a este eu nunca vi ",ressalta. Gilvan conta que a maioria dasreclamações referentes ao 4110 estãodiretamente ligadas com problemasde trânsito externos, como obras edesvios. "O 4110 tem sofridomuito com as obras do BoulevardArrudas, em casos como este ocidadão tem que ter um poucomais de paciência", conclui oassessor.

Horários de ônibus alterados geram transtornos

Quando precisa comprar remédios, a aposentada Nadir Ferreira Fonseca conta com a ajuda dos filhos para buscá-los nos bairros vizinhos

As alterações de horários nos quadros de viagens, a superlotação e os atrasos dos ônibus são alvo de reclamações dos passageiros

MARIA CLARA MANCILHA

LAURA DE LAS CASAS

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4 ComunidadeJunho • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Apesar de aprovadapelos usuários, a praçatem alguns pontos queprecisam ser melhoradosalém da falta de árvores,de acordo com o presi-dente da Associação dosMoradores do BairroCoração Eucarístico, Ira-cy Firmino da Silva.Trânsito caótico e viasde acesso pouco ade-quadas são alguns dosproblemas que os fre-quentadores do localenfrentam diariamente.

A ausência de umapassarela que chegue atéa praça faz com que aspessoas se arrisquem emmeio ao trânsito intensoda Via Expressa para seexercitarem. Para agra-var a situação, os perío-dos em que a praça émais movimentada, ma-nhã e noite, coincidemcom os horários de picodo tráfego.

Nídia Maria de Jesus,51, é uma das vítimasdesse trânsito caótico.Há oito anos, ela estavaindo caminhar com umaamiga no local e foi atro-pelada quando atraves-sava a Via Expressa.

Apesar de testemunhasafirmarem que o sinal depedestres estava fechadodurante o atropelamen-to, em uma via comoaquela, uma passarelaseria mais adequadapara garantir a segu-rança dos pedestres.

Hoje, Nídia está de-sempregada e em umacadeira de rodas. O paidela, o aposentado JoséLuís Filho, morador doCoração Eucarístico,acredita ser um erropraticar exercícios físicosem locais perigosos co-mo o Cercadinho. Eleressaltou que, depois doacidente, prefere seexercitar nas proximi-dades de sua casa,mesmo sem poder con-tar com condições apro-priadas.

Segundo informaçõesda BHTrans e da Su-perintendência de De-senvolvimento da Capi-tal (Sudecap), não exis-tem projetos para me-lhorar a sinalização, nempara a construção deuma passarela no local.

Moradores queremmelhorias na pista

O cenário da pista de corrida localizada na Via Expressa pode mudar. O projeto Adote o Verde da ONG Amigos da Natureza, fará uma análise do solo e da temperatura para iniciar o plantio das árvores no local. No final deste ano, será realizada uma campanha educativa “Mão Verde Arborização Urbana, Uma Ação Humana” para conscientizar moradores

PISTA VAI GANHAR MAIS ÁREA VERDEn

DIOGO MAIA,

ISABELA MARTINS,

LUIZA SERRANO,

NATHIELE LOBATO,

RAPHAELA CANABRAVA,7º PERÍODO

Localizada na ViaExpressa, ao lado da estaçãodo metrô da Gameleira, apista de corrida conhecidacomo Cercadinho é o únicoespaço que a população daregião possui para se exerci-tar. O lugar foi revitalizadono final do ano de 2009,pela Companhia Mineira dePromoção (Prominas) –órgão responsável peloExpominas – como formade compensação peladegradação ambiental cau-sada pela empresa ao localonde hoje se encontra onovo parque do Expominas.Apesar de aprovado pelosmoradores da região, o localnão oferece área verde ade-quada para a prática deexercícios físicos, mas essasituação pode mudar embreve.

De acordo com o assessorde gabinete da RegionalNoroeste, Jair Di Gregório,integrantes do projeto“Adote o Verde”, organizadoem parceria com aPrefeitura, farão uma visitaao local no final do anopara realizar um estudo téc-nico. O objetivo é averiguara possibilidade do plantiode algumas árvores napraça.

O estudo envolverá aanálise do solo, da tempe-ratura e até mesmo do rele-vo. Após a coleta inicial dosdados, outra equipe, lidera-da pela paisagista DeiseLúcia de Freitas, observaráa rotina dos usuários para,aí sim, começar o plantio de

árvores no local. Esseprocesso é mais lento justa-mente porque o local foiconstruído em um caso decondicionante.

O projeto é de autoria daONG “Amigos daNatureza” que, em parceriacom a Regional Noroeste, aSecretaria do MeioAmbiente e a Prefeitura deBelo Horizonte, pretendeiniciar, no final desse ano,uma campanha educativade porta em porta pelosbairros da região. Entre elesestão o Coração Eucarístico,Dom Cabral e CarlosPrates, que receberão visitasdos membros da ONG, como intuito de incentivar umapostura ambientalmentecorreta por parte dosmoradores, principalmenteas crianças. O projeto,chamado "Mão Verde

Arborização Urbana, UmaAção Humana", tem comoobjetivo mobilizar osmoradores e conscientizar apopulação sobre aimportância da presença doverde na capital e sobretudona Região Noroeste que,segundo Jair Di Gregório, éa mais carente em áreasverdes em Belo Horizonte.

Segundo Deise Lúcia,que também é a diretoraexecutiva da ONG, as áreasmais afastadas do Centronão estão sendo esquecidas."O prefeito estava cuidandoda casa dele, agora ele vaicomeçar a cuidar do seuquintal", explica.

A Prominas também faráparte desse plantio deárvores, pois ela ainda par-ticipa de todos os assuntosrelativos ao Cercadinho. Emcasos como esse, onde uma

empresa ou órgão são orde-nados a construir um local,seja uma praça, um parqueou uma pista, o lugar ficasob responsabilidade damesma por até três anosapós a sua construção.Como o lugar terminou deser construído no final de2009, toda a manutençãodo Cercadinho será confia-da à Prominas até o final de2012. Depois desse prazo,se a empresa quiser adotar olugar, poderá inclusive,colocar placas de publici-dade, divulgando e pro-movendo o seu nome.

ELOGIOS Quem passa emfrente ao local não consegueimaginar que antigamenteali era um espaço onde olixo era acumulado, atrain-do ratazanas e afastando ospedestres. Hoje, o antigo

lixão deu lugar a uma praçacom pista de corrida, apa-relhos de ginástica, parqui-nho infantil e rampa deskate. Isso tudo no meio dotrânsito caótico da ViaExpressa, uma das avenidasmais movimentadas da ca-pital. O tráfego intenso daregião é inclusive, uma dasdificuldades enfrentadaspara quem quer ter acesso àpraça. Mas até mesmo essesempecilhos são superadosem prol da saúde.

Uma das beneficiadaspelo novo formato do localé a aposentada ElizabethMarques, que caminhatodos os dias. "A criaçãodeste local veio em boahora, pois caminhar pelasruas do bairro é impossível,devido ao desnível dos pas-seios", explica. "Aqui, aindaé bom para trazer as cri-

anças. Tirá-las um pouco decasa", completa.

E é exatamente isso quefaz a babá RosinéliaResende, 36 anos. Ela leva opequeno Lucas Resende, deapenas 2 anos, para brincar,todas as manhãs, no play-ground da praça. Atravessara avenida requer atençãoredobrada, mas, ao chegar àpracinha, a alegria da cri-ança compensa toda a pre-ocupação anterior. "Achoótimo passar um tempocom ele aqui. Ele se distrai ese diverte com segurança. Éum ambiente muito bom",afirma a babá.

E todas as manhãs, Jacobé outra figura que marcapresença na praça. Óculosescuros, boné e roupasleves. Na cabeça, inúmerasboas histórias de mais desete anos de convívio noCercadinho, e na prosa, umdiscurso que convence qual-quer um a comprar umaágua de coco. "Com essepequeno comércio sustentoa minha família. Minhas fi-lhas se formaram na facul-dade com o dinheiro quetiro daqui", conta o comer-ciante.

Com 64 anos, um sorrisoaberto no rosto debaixo deum sol de mais de 30 graus,Jacob não perde o bomhumor. Entre um caso eoutro de sua família, elerelembra o crescimento dapraça. "Trabalhar aqui éuma grande satisfação, já fizmuitas amizades. Aqui,antes, não era o que é hoje.Cresceu muito. Ficou maisseguro e com equipamentosnovos. Isso é bom. Atrai aspessoas e me ajuda no orça-mento de casa", comentou.

FOTOS: RICARDO MALLACO

A área de lazer pode receber mais área verde por meio do plantio de árvores no local. A iniciativa visa melhorar as condições da pista para a prática de exercícios

A emissão de monóxido de carbono prejudica a prática de exercícios

Péssimas condições prejudicam caminhadaA caminhada, atividade

mais praticada no Cercadinho,faz parte da rotina do belo-horizontino, que mesmo como corre-corre diário, reservaalgumas horas do seu dia paramelhorar o condicionamentofísico e manter um equilíbriosaudável entre corpo e mente.

A caminhada é, inclusive,o primeiro passo que umapessoa deve dar para sair dosedentarismo. Caminhar aoar livre e com outras pessoasajuda no bem-estar físico epsicológico. "O contato como meio ambiente alivia oestresse e a ansiedade,quando realizados em ambi-entes adequados", afirmaBruno Martins, professor deEducação Física.

As condições de cami-nhada no Cercadinho sãoquestionáveis. Sob o aspe-cto da saúde, devido à emis-são de monóxido de car-bono feita pelos meios detransporte, a qualidade dosexercícios fica afetada. Essecomprometimento se deveao fato de, no momento dacaminhada, o organismodemandar por mais oxi-gênio e este vem adicionadode impurezas ou toxinas.No caso da praça da ViaExpressa, essa situação, no

momento, ainda é agravadapela ausência de árvores,que ajudariam na purifi-cação do ar.

Outro aspecto a ser leva-do em consideração é a forteintensidade do sol, que podese tornar uma vilã das ativi-dades físicas. O professor deFisiologia da PUC Minas,Alex Guazi, explica queabusar do sol durante a ca-minhada não vale a pena. "Oexcesso de sol reduz a sobre-carga dos mecanismos fi-siológicos envolvidos natermo-regulação, diminuin-do a desidratação, diminuin-do também a sobrecarga dosistema cardiovascular, limi-tando o tempo de realizaçãoda atividade física", disse.

Praticada de maneira cor-reta, a caminhada só trazbenefícios, que vão desdeganhos cardiovasculares atéa manutenção de peso. Paraa cardiologista SandraLamark, caminhar ajuda amanter o funcionamentosaudável do corpo. "A corri-da estimula o sistema car-diovascular, proporcionan-do melhor oxigenação dosangue. Além disso, auxiliana quebra da glicose e dostriglicérides, equilibrando ogasto calórico", ressaltou.

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5ComunidadeJunho • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Pessoas que residem e possuem estabelecimentos no Carlos Prates sofrem com a ação de pichadores que, durante a noite, depredam os imóveis e poluem visualmente as ruas do bairro

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ISABELA JACOE, NATHÁLIA AMADO,3º PERÍODO

É só caminhar algunsmetros pelo bairro SãoGabriel para perceber aquantidade de obstáculosimpostos aos pedestres.Muitas das calçadas sãodesniveladas e totalmentedespreparadas para o trânsi-to de deficientes, idosos emães que levam criançaspara a escola.

A maioria dos pedestresque passa por ali todos osdias, já se acostumou com adificuldade, e encontrammaneiras de driblá-las, sejapassando rente ao muro ouse expondo na rua ao riscode ser atropelado peloautomóveis. A pedestreThiffany Lorrayne Gonçal-ves Marques, 13 anos, sentedificuldade ao transitar portrechos estreitos dascalçadas. Ela concorda queas vias estão em péssimoestado e que necessitam dereparos. “Moro no bairro hánove anos e sempre foiassim”, salienta.

Na Rua Anapurus, umadas principais vias do bair-ro, o fluxo de veículos epedestres é intenso. Muitasvezes, ambos dividem o

mesmo espaço devido aopéssimo estado dascalçadas. Em alguns trechoshá acúmulo de lixo, entu-lho e muito mato. Em ou-tros só existe o meio fio.Além disso, a maioria dosbueiros não está devida-mente tampada, represen-tando risco para quem porali transita.

Há ainda locais ondesequer é possível encontrarcalçada. Informado sobre asirregularidades, o gerente decomunicação social daRegional Nordeste, JúlioCésar Soares disse que osproblemas com os bueirossão de responsabilidade daCompanhia de Saneamentode Minas Gerais (Copasa).Quanto às calçadas, estassão de responsabilidade doproprietário do imóvel,cabendo à prefeitura vistori-ar e notificar. “Vou comu-nicar o setor de limpezaurbana para agendar umavistoria no local, após con-cluída a vistoria de 15 à 20dias estaremos agendando acapinação”, opina.

A situação da Rua Jacuí,via que serve de acesso aometrô, não é diferente. Osmoradores se queixam dosbueiros mau tampados, dairregularidade e também da

falta de pavimentação dacalçada. Segundo umamoradora, que preferiu nãose identificar, a prefeituraapenas fez a instalação domeio fio, mas não pavimen-tou a calçada, que é deterra, o que atrapalha osmoradores, pois além degerar poeira, em época dechuva aumenta o risco deacidentes por elas ficaremescorregadias em função dalama. “Colocaram meio fiodepois de muita insistência.Os carros estacionavam emfrente ao meu portão, difi-cultando a minha pas-sagem”, declara a moradora.

Os moradores afirmamainda que a Prefeitura deBelo Horizonte já foi diver-sas vezes contactada, masnada foi feito até hoje. Odireito à acessibilidade emvias públicas é asseguradopela Lei Federal 10098/2000, e pelo Decreto5296/2004.

Em outros locais do bair-ro não é apenas o mal esta-do das calçadas que atrapa-lha. Alguns estabelecimen-tos comerciais, principal-mente bares utilizam acalçada para acomodaçãode seus clientes, dificultan-do a passagem de transe-untes. Na rua Jacuí, há tam-

bém uma oficina mecânicaque ocupa a calçada com oscarros que aguardam manu-tenção.

“Alguns usuários de dro-gas que moram debaixo doViaduto da Estação do

metrô, às vezes utilizamesses carros velhos comoabrigo do sereno”, contaLurdes Gonzaga, 60 anos,que há 41 mora nessa rua.

O artigo 67 da Lei7.166/96, parágrafo 15 do

Código de Posturas daPrefeitura de Belo Hori-zonte, proíbe o uso dascalçadas. As atividades sósão permitidas nas áreasedificadas e o passeio devepermanecer desobstruído.

Mau uso das calçadas afeta pedestres no São Gabriel

Na Rua Jacuí, uma oficina mecânica ocupa a calçada com carros e prejudica quem transita pelo local

BIANCA DE MOURA

PICHAÇÕES POLUEM RUA RIO POMBAn

LAURA DE LAS CASAS,TAMARA FONTES,4º E 3º PERÍODOS

Ao chegar de manhã cedopara trabalhar em sua loja,localizada à Rua Rio Pomba,no Bairro Carlos Prates, naRegião Noroeste de BeloHorizonte, Idenilza Souza sesurpreende com mais umapichação nos muros. "Já pin-tei várias vezes. Incomodamuito, porque eu pinto e elespicham outra vez, no dia se-guinte", conta a comercianteque é dona de seu próprionegócio há 13 anos. Apichação é um problemarecorrente não só na ruaestreita e comprida, que abri-ga vários tipos de comércios eresidências particulares, mastambém em toda a cidade.

Outra comerciante emoradora do bairro, quenão quis ser identificada,pintou seu estabelecimentopichado uma vez, depoisdesistiu. "Para quê pintar? Agente chega dois dias depoise já esta tudo sujo outra vez,ainda pior", reclama. Elaconta que ninguém nuncadenuncia à polícia porque ospichadores agem à noite,quando ninguém os vê."Então não tem comochamar a polícia, não sabe-mos quem são, não temosprovas", explica.

Já Idenilza agiu diferente.Instalou uma câmera dolado de fora de sua loja, paraver quem estava pichandoseus muros. "Não adiantounada. Eles vieram, jogarampedra, quebraram minhacâmera e picharam tudo denovo. Assim fica difícildenunciar, porque a gentechama a polícia e elesquerem saber quem foi, não

consegui nem filmar quemfoi", lamenta a comerciante.

A pichação é marca re-gistrada principalmente doscentros das capitaisbrasileiras, mas vêm tomandoconta de outros cantos dascidades e incomodando oscidadãos que não sabemcomo agir diante desse crimeque torna as paredes das ruassujas e visualmente feias.Existe uma competição silen-ciosa entre os pichadores, quebuscam se superar rabiscandosuas respectivas marcar emlugares cada vez mais altos.Isso, para eles, significa status.

Recentemente, foi apro-vada uma lei que proíbe avenda de sprays para menoresde 18 anos. Quem quiseradquirir o produto deve seidentificar, provando a maio-ridade, e ainda ter seu nomeregistrado na nota fiscal.

Outra medida adotada com ointuito de conscientizar aspessoas sobre esse crime é afrase que consta em todos ossprays que diz "Pichação écrime (Art. 65 Da Lei No.9.605/98). Proibida a venda amenores de 18 anos".

O cabo Almeida, daPolícia Militar de MeioAmbiente explica que asdenúncias devem ser feitaspelo telefone 181, nomomento da ação. "No fla-grante nós detemos a pessoae enviamos um boletim dire-to para o Instituto Brasileirodo Meio Ambiente e dosRecursos NaturaisRenováveis (Ibama), que vaicobrar uma multa de R$ 1mil. Além disso, tem a partecriminal, prisão que vai detrês meses a um ano", diz."A denúncia é anônima",acrescenta.

Criado em setembro de2009, o Projeto MovimentoRespeito por BH procura odespertar da civilidade.Com a participação daspolícias Militar e Civil,Ministério Público e PoderJudiciário, o projeto visa,principalmente, o ordena-mento da capital, com a par-ticipação efetiva da comu-nidade, criando leis e garan-tindo o cumprimento.

Um dos objetivos éconter as pichações.Vicente Arthur TeixeiraSales Dias, secretárioMunicipal de ServiçosUrbanos e gerente do pro-jeto, garante que há me-

lhorias apesar da comple-xidade no âmbito dapichação. "Aos poucos agente está conseguindocumprir o processo. Nósconseguimos no Institutode Educação, que está háum bom tempo sempichação", afirma.

Vicente declara que oprocesso não é rápido, qual-quer conscientização dapopulação exige grandesmudanças e a superação deresistência inicial emrelação às novas leis. Elecita a proibição da dis-tribuição de sacolas plásti-cas pelo comércio, que cau-sou estranhamento, mas

começa a ser apoiada e ouso de cinto de segurança."Praticamente ninguémentra no carro sem porcinto hoje, todos nós sabe-mos disso, convivemos comisso, sentimos no começoqualquer mudança é com-plexa", diz Vicente.

A dificuldade de fisca-lização gera outras saídaspara solucionar o problema,como a criação de formasde de denúncia semtranstornos e a indenizaçãoimediata. "A vantagem éque a comunidade nãoaguenta mais, temos quecriar todas as formas pos-síveis deles participação".

A pichação em residências e estabelecimentos comerciais na Rua Rio Pomba, localizada no Bairro Carlos Prates, incomoda e traz prejuízos para moradores

MARIA CLARA MANCILHA

Movimento conscientiza população

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6 CampusJunho • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

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CÍNTHIA RAMALHO,5º PERÍODO

Um grupo de alunos daPUC Minas se encontroucom o prefeito de BeloHorizonte, Márcio Lacer-da para a realização de umtrabalho acadêmico. Osalunos Júlia Silper, JéssicaMarques, Iury Souza,Irina Glória Matos e IvanNitraud, do 2ª período deCiências Econômicas, con-versaram com o prefeitopara a realização de umtrabalho da disciplinaDireito I, ministrada peloprofessor Sabino Freitas.

O trabalho teve comoobjetivo principal discutira Lei de DiretrizesOrçamentárias e a LeiOrçamentária Anual, parainiciar a discussão sobre aLei Complementar 101 de04-05-2000, que comple-tou 11 anos de promul-gação em maio deste ano.

Durante a audiência,Márcio Lacerda falousobre a participação docidadão no processo políti-co de Belo Horizonte edestacou a importância doOrçamento Participativo,referência para a gestãoparticipativa. Em BH, aparticipação popular no

processo político aindaconta com o apoio doPlanejamento Estratégicode Belo Horizonte, inicia-tiva que permite aocidadão acompanhar osprogramas de ação daprefeitura e fiscalizarcomo o dinheiro público éempregado.

Márcio Lacerda afirmouque este ano, a expectativade crescimento para asReceitas TributáriasPróprias é em torno de20%. "Este crescimentotem permitido à Prefeituraacelerar o ritmo das obrase de investimentos impor-tantes para a cidade, prin-cipalmente aqueles esco-lhidos pela população pormeio do OrçamentoParticipativo", observou.

O prefeito de BeloHorizonte ainda falousobre as obras para a Copado Mundo de 2014, queacontecerá no Brasil. O"Mineirão" é um dospoucos estádios em que osprojetos de ampliaçãoencontram-se em estágioavançado. O prefeito disseque o município estátomando junto aoGoverno federal R$ 1 bi-lhão para obras deinfraestrutura e o Governo

do Estado contribui comR$ 300 milhões paradesapropriações. Ele aindaafirmou que essas obrasnão irão atender apenas ademanda da Copa doMundo. "[As obras] vãocontribuir para incluirBelo Horizonte em umnovo patamar urbano,com mais qualidade devida e melhor mobilidadede todos os cidadãos",disse.

Sobre as obras de ampli-ação do metrô, MárcioLacerda afirmou que esse éum compromisso da presi-dente Dilma Roussef, den-tro do Programa deAceleração doCrescimento (PAC) Doisda Mobilidade. Para a rea-lização das obras, os inves-timentos federais requeri-dos chegam a R$ 2 bilhõese 400 milhões e vão viabi-lizar a Parceria PúblicoPrivada (PPP) do metrôem 50% de investimentofederal e 50% de investi-mento privado, mais a par-ticipação do Estado e doMunicípio. "De qualquermaneira, esperamos umaresposta do GovernoFederal até julho paraestas definições que vãoalém do metrô, pois

envolvem outras inter-venções viárias, principal-mente voltadas para a me-lhoria do fluxo do trans-porte rápido de ônibus(BRT), que vai atendercerca de 900 mil pas-

sageiros", declarou.A estudante Júlia Silper

conta que o primeiro con-tato com o prefeito se deupor e-mail e lembra que aresposta demorou umpouco para chegar. Após a

conclusão do trabalho, aestudante faz um balançopositivo do resultado. "Aentrevista foi ótima. Con-seguimos falar sobre tudo,porque ele foi muito aber-to", comentou.

Alunos do 7º período do curso de Nutrição da PUC Minas do Barreiro ajudam no trata-

mento de pessoas portadores de diabetes. No atendimento, elas recebem informações

sobre a doença, aprendem a adotar novos hábitos alimentares e a evitar o sedentarimo

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JORGE SANTOS, 4º PERÍODO

O Curso de Nutrição daPUC Minas no Barreiro,está oferecendo atendi-mento gratuito a diabéti-cos da região para o con-trole da doença. As ativi-dades fazem parte de umadisciplina feita por alunosdo 7º período que prati-cam o conhecimento ad-quirido em sala de aulapor meio do estágio super-visionado por professorese monitores. Os alunosrealizam os atendimentosconforme a demanda ecom orientações em grupoe individual aos pacientes.

De acordo com a coor-denadora do curso, RaquelMarques Diniz, no iníciodo projeto, em março,houve muita procurapelos atendimentos comaproximadamente 290 ins-crições, o que levou a cri-ação de três novos gruposvoluntários com alunos deoutros períodos. Atual-mente, são sete gruposcom média de 25pacientes, em sua maioriamulheres.

Uma delas é a comer-ciante Teresinha de FátimaRodrigues Barcelos, 57anos, que procurou aunidade da PUC quandofoi informada pela mãe doprojeto através de uminformativo no ônibus.Teresinha, que tem dia-betes há dois anos, afirmaque está mudando a ali-mentação. “Foi ótimo. Aprimeira consulta foi parafalar da diabetes; depoissobre o açúcar, da insulina,foi abordado tudo”, expli-

ca. Ela também aproveitapara elogiar o atendimen-to que teve durante assessões onde pode fazerperguntas e esclarecerdúvidas. “Acho muitoimportante esse projetoporque nem todo mundotem que saber de tudo.Caíram mitos e verdadesde comer alimentos quesaem da terra. Como detudo, mas pouco”, diz.

A falta de informação,segundo a coordenadora,contribui para agravar adoença pelo fato das pes-soas acharem que serãoproibidas de comer. “Esseconceito que elas têm donutricionista é antigo.Temos que explicar deforma clara a doença,adaptar a alimentação deacordo com a sua con-dição, prezamos pela ali-mentação a baixo custo emuitas vezes o resultadonão depende do profis-sional de saúde, dependedo paciente”, explica.

Para o encarregadoMartinho Ricardo deOliveira, 50 anos, a expe-riência foi boa porque elenão sabia como combatera doença que ele já tem háum ano e o deixou hospi-talizado por 25 dias. Eleconta que aprendeu comoutilizar os alimentos e oque pode ou não podeusar. “Não punha adosagem certa, agorareduzi. No dia em quecomo arroz não comobatata,” explica. Adeptoda caminhada, Martinhotambém consome verdurase toma insulina para ocontrole da diabetes.

ORIENTAÇÃO EleonorCouto de Araújo Estanis-lau cursa o 6º período deNutrição e é monitora dostrabalhos feitos pelos cole-gas de curso. SegundoEleonor, os atendimentosrealizados esclarecem mui-to à população que nãosabe como lidar com oproblema. Ela informa quedurante o acompanha-mento ao paciente é dadouma lista de substituiçãode alimentos e o pacienteé orientado a praticaratividade física, com oauxílio de um profissional,para evitar o sedentaris-mo. “É um crescimentopessoal e profissionalmuito grande ajudar aspessoas na reeducação ali-mentar e promover o bemestar da população, pro-movendo a saúde”, fala.

A coordenadora docurso informa que apenasos adultos e com diabetestipo 2 são atendidos nessemomento pelo fato dessetipo da doença ser maiscomum e atingir mais essafaixa etária da população.Com duração de umsemestre letivo, sendo umavez por semana, o sucesso étamanho que ainda há pes-soas na espera. Enquantoisso ela reforça o recadopassado aos pacientes queprocuram ajuda. “O con-trole da diabetes é para avida toda, é um processocontínuo”, avisa.

Um projeto futuro, afir-mou Raquel, é o auxílio nocontrole da hipertensãoque atinge milhares debrasileiros. Outras infor-mações no telefone (31)3328-9543.

AUXÍLIO NO CONTROLE DO DIABETES

Márcio Lacerda recebe alunos da PUC Minas

Com ajuda de estudantes de nutrição da PUC Barreiro, pessoas que têm diabetes aprendem a lidar com a doença

RENATA FONSECA

O prefeito Márcio Lacerda recebeu alunos do 2º período do curso de Ciências Econômicas da PUC Minas

CARLOS AVELIN

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7EspecialJunho • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

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CARLOS EDUARDO ALVIM, CÍNTHIA RAMALHO, KENETH BORGES, LAURA LAS CASAS,4º, 5º, 3º E 4º PERÍODOS

Faltam três anos para a Copado Mundo de Futebol no Brasil,mas já existem pessoas que nãoveem a hora da competiçãocomeçar para, além de acompa-nhar os jogos, visitar os pontosturísticos do país. É o caso dafonoaudióloga argentinaConsuelo Gonzáles, 47 anos,que está no Brasil para participarde um congresso e já planejavoltar com a família em 2014."Eu já combinei com minhafamília que viremos todos oscinco. Meus filhos, meu maridoe a minha enteada. Pretendemosficar entre o Rio de Janeiro eMinas Gerais, e aproveitar aépoca para conhecer os lugares",conta a argentina que já viajoupelo Nordeste brasileiro e pelaAmazônia.

As cidades históricas, loca-lizadas próximo à capitalmineira, são destinos muitoprocurados pelos turistas quevêm para Minas Gerais. Esseslugares despertam o interesse detantas pessoas por conservaremuma memória muito antiga dopaís, de uma época em que oscolonizadores portugueses aindatomavam conta do territóriobrasileiro. Além das igrejas,obras de arte, artesanato,culinária e arquitetura, os turis-tas escolhem cidades como OuroPreto, Sabará, São João Del Rei eTiradentes, por serem loca-lizadas em lugares com muitaárea verde, visuais bonitos e cal-mos. "Minas Gerais tem umaoferta muito ampla, não é sópatrimônio histórico, embora eleseja muito forte, mas tem umsegmento de natureza muitoforte que gera muito fluxo",explica a Superintendente dePolíticas do Turismo da

Secretaria de Estado de Turismo(Setur), Jussara Maria Rocha.

Por serem cartões postais deMinas Gerais no cenárionacional e internacional, ascidades históricas mineiras serãoatrativos para aqueles quevierem ao estado, especifica-mente a Belo Horizonte, paraacompanhar os jogos do mundi-al. Pensando nisso, o Governodo Estado criou a SecretariaExtraordinária para a Copa de2014 (Secopa), que lida comtodas as ações que dizemrespeito à preparação de MinasGerais para a Copa do Mundo eque funciona como uma grandearticuladora entre as outras se-cretarias da administração esta-dual.

Ludimila Kai, do Núcleo de

Relacionamento com Centros deTreinamentos de Seleção daSecopa, conta que um trabalhoespecífico para as cidadeshistóricas do estado ainda estásendo estruturado. "A gente estácomeçando agora a fazer ummapeamento das necessidadesde capacitação, principalmentedessas cidades, porque sãocidades que a gente sabe que,independente do trabalho quenós fizermos, elas vão receberturistas durante a Copa, dada aproximidade, além dessascidades serem conhecidas inter-nacionalmente. E a expectativa éque a gente trabalhe mesmo deuma forma tanto a potencializaressas características turísticas,quanto capacitar a rede de

serviços", aponta.Segundo projeções do

Ministério do Turismo, para aCopa de 2014, é esperado umfluxo de cerca de três milhões deturistas dentro do país, sendoque destes, 600 mil são turistasestrangeiros. Jussara MariaRocha diz que os esforços daSecretaria concentram-se nacapacitação dos serviçoshoteleiro e gastronômico ofereci-dos. "A gente está diagnostican-do as estruturas de atendimentoe informação, mas no caso deroteiros, a gente já tem recortesdefinidos, as cidades já são desti-nos turísticos, já existe umamplo trabalho de roteirizaçãofeito por várias entidades e tam-bém pelos operadores de turis-mo", afirma.

De acordo com a superinten-dente as primeiras ações de qua-lificação promovidas pela Seturcomeçam ainda este ano. Em umprimeiro momento, elas serãovoltadas para a preparação deguias turísticos e por ações deroteirização e de ampliação equalificação da rede hoteleira.

A Setur pretende criar umprograma de capacitação especí-fico, além dos que já estão sendooferecidos pelo Ministério doTurismo, como o Programa BemReceber Copa, destinado àsáreas específicas do receptivoturístico e o Programa OláTurista, que oferece treinamentode inglês e espanhol para osprofissionais de hotelaria.Segundo Jussara, esses dois pro-gramas estão direcionados prin-cipalmente às cidades-sede e quea iniciativa de capacitação doestado não é para sobrepor as doMinistério do Turismo, mascomplementá-las. "Só o BemReceber Copa, ele já traz umainformação interessante, massozinho não atende à necessi-dade de profissionalização equalificação que os estados pre-cisam, e nosso estado é um esta-

do que requer isso", afirmaJussara.

Em relação aos investimentosde infra-estrutura, Ludimila Kaidiz que existem verbas específi-cas para o que for necessáriofazer nas cidades que deman-darem estes recursos.

PROMOÇÃO A superintendenteda Setur acredita que a realiza-ção da Copa no Brasil será umgrande dinamizador do fluxoturístico para o país, principal-mente para Minas Gerais. Paraque isso aconteça, ela afirma queserá preciso fortalecer a pro-moção do turismo do estadotanto no mercado nacional,quanto no mercado interna-cional. Uma das alternativas seráa criação de roteiros integrados

com destinos turísticos de outrosestados, como as praias doNordeste e do Rio de Janeiro. "Agente sabe que Minas, sozinha,não se vende no mercado inter-nacional. Não é uma coisa muitosimples quando você concorrecom o Nordeste, Amazonas eFoz do Iguaçu", aponta.

Outro canal de informaçãocriado pela Setur é um portalbilíngue que será lançado nosegundo semestre deste ano. Elevai possibilitar que turistas detodos os lugares do mundoacessem e tenha uma amplainformação das atividades turís-ticas oferecidas em MinasGerais. "É um das ferramentasque a gente quer deixar antecipa-da, porque o turista já está

começando a pesquisar agora. Seeu não posso fazer uma pro-moção em todos os mercados domundo, porque isso custa muitodinheiro, eu tenho uma ferra-menta web que me leva a todosos cantos", explica.

A turista argentina ConsueloGonzáles já está se informandosobre os locais que quer visitarno período em que estiver noBrasil para a Copa. "Meu sonhosempre foi conhecer Ouro Pretoe Tiradentes. Todos falam tãobem desses lugares, dizem quetêm uma beleza diferente, quetêm algo mais bucólico, maisintimista. Acho que a desculpados jogos será ótima para daruma escapada e passar, nem queseja dois dias, em uma cidade-zinha dessas", diz.

Assim como Consuelo, os tu-ristas que buscam as cidadeshistóricas do estado possuem umperfil diferenciado. Por isso, asações específicas para este públi-co concentram-se em ofereceralgo novo. "É um turista que temum nível de informação muitointeressante, ele já vem sabendoo que vai encontrar, então agente tem que ter um esforçomuito maior ainda na qualifi-cação dessa oferta", afirmaJussara.

As secretarias de cultura e tu-rismo das cidades históricasainda não foram chamadas pelaSetur para uma reunião específi-ca de discussão sobre o plano deação para as iniciativas da Copado Mundo. "Neste momento agente está finalizando o nossoplanejamento que deve ficarpronto agora em junho. Depois,a gente vai partir para uma coisamais pactuada com eles, paravalidar as ações, definiratribuições e afirmar as parceriasnecessárias", adianta a superin-tendente.

HISTÓRIA E BELEZA PARA QUEM VIER

[ ]“INDEPENDENTE DOTRABALHO QUE NÓSFIZERMOS, ELAS VÃORECEBER OS TURISTAS

DURANTE A COPA” (LUDIMILA KAI)

[ ]“MEU SONHO SEMPRE

FOI CONHECER OURO

PRETO E TIRADENTES”CONSUELO GONZÁLES

(TURISTA ARGENTINA)

CARLOS EDUARDO ALVIM

Para receber os visitantes que estarão em Minas Gerais para acompanhar os jogos da Copa em 2014, a cidade de Tiradentes terá sua parte histórica restaudada, além da criação de dois museus, oferecendo mais atrativos para os turistas

Os preparativos para a Copa do Mundode 2014 estão movimentando todo oBrasil. Em Minas Gerais, além de BeloHorizonte, que vai sediar jogos do mundial, as cidades históricas tambémcomeçam a se preparar para receber osturistas que virão assistir as partidas econhecer os cartões postais do estado

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8jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório do

Localizada na Região Campos dasVertentes do estado, a 190 quilômetrosde Belo Horizonte, a cidade deTiradentes também já se prepara parareceber os turistas que virão a MinasGerais para acompanhar os jogos domundial de 2014. De acordo com osecretário Municipal de Turismo, FelipeWagner Gomes Barbosa, reuniões com oMinistério do Turismo já foram realizadaspara acertar os detalhes da preparação.

"Nós estamos firmando parcerias, tra-balhando para capacitar as pessoas quetrabalham no turismo para falar inglês,para atender bem o turista que vai visi-tar a cidade durante a Copa do Mundo",diz. Segundo Felipe Barbosa, oMinistério do Turismo oferecerá cursosgratuitos de capacitação ao setorhoteleiro e gastronômico da cidade.

Felipe Barbosa diz ainda que aadministração municipal está trabalhan-do para melhorar a infraestrutura erestaurar o centro histórico. O BancoNacional do DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) estáinvestindo R$ 31 milhões emTiradentes para a recuperação dopatrimônio histórico e a criação denovos atrativos. "Nós estamos constru-indo o primeiro museu da liturgia aquina cidade, estamos reformando oMuseu Padre Toledo e a antiga cadeiavai se transformar no Museu deSant'Anna", conta. Ele informa que osnovos museus ficarão prontos a partir de2012 e acredita que até 2014 a partehistórica da cidade estará reformada.

Recentemente a Companhia deSaneamento de Minas Gerais (Copasa)assinou convênio com a Prefeitura deTiradentes para realizar as obras doesgotamento sanitário da cidade, comrecursos previstos de R$ 9 milhões. Deacordo com o Felipe Barbosa, até 2014a obra estará concluída e resolverá umantigo problema do município.

Presidente da Associação Comercialde Tiradentes e proprietária de umapousada ali, Maria do Carmo JanotVilhena, conta que houve uma primeirareunião com representantes doMinistério do Turismo, que serviu paramostrar como a cidade e os empresáriospoderão se beneficiar com o evento."Eles vieram aqui e falaram sobre asexpectativas para a Copa no Brasil,como é que eles vão fazer, quais são asprioridades, enfim, eles já deram aqueleprimeiro painel para o empresariadolocal alertando sobre as necessidades dagente ajudar a melhorar o padrão deatendimento de modo geral", explica.

Para Maria do Carmo, a cidade aindaprecisa melhorar e resolver algunsproblemas que afetam os serviços ofere-cidos, como a inexistência de caixaeletrônico 24 horas. “Fizemos umacarta pedindo uma série de melhoriaspara o turista, principalmente para oestrangeiro, como guias turísticos quefalem inglês e a ampliação do horário deatendimento na Secretaria de Turismo",aponta.

A presidente afirma que os trabalhosde capacitação e formação para os cola-boradores da rede hoteleira e gas-tronômica da cidade sempre foram umapreocupação dos empresários. "A gentequer que o turista que venha aTiradentes tenha um atendimento difer-enciado, então essa é nossa preocupaçãoque existe antes da Copa e que semprevai existir", garante.

Tiradentes é hoje um dos centroshistóricos da arte barroca mais bempreservados do país e que conserva ascaracterísticas da época do Brasil

Colônia. Tombada pelo patrimôniohistórico nacional, a pequena cidade desete mil habitantes é um dos atrativosturísticos para quem passa por MinasGerais e quer conhecer um pouco dahistória e se admirar com as belas pai-sagens do local, com destaque para aSerra de São José.

ATRATIVO NATURAL "A cidade de SãoJoão del-Rei por si só já é um atrativonatural, localizado numa região impor-tante da história do estado. A proximi-dade de Tiradentes e a Maria Fumaça,que é uma atração muito visitada pelos tur-istas, é outro diferencial que vai fazer comque o turista venha visitar a região", diz oSecretário Municipal de Cultura e Turismode São João del-Rei, Ralph Araújo Justino.

Porém, mesmo com a potencialidadeturística do município, a 186 quilômetrosda capital, o secretário afirma que ainda nãoexiste um trabalho específico para receber osturistas que virão para a Copa de 2014.Segundo Ralph, ainda não aconteceu ne-nhuma reunião com as associações comerci-ais, de hotéis e pousadas do município. Elediz que em recente conversa com pessoas doMinistério do Turismo e com a Secretaria deTurismo do Governo do Estado foi comen-tado sobre a realização, em breve, de cursosde capacitação para os serviços de atendi-mento em hotéis e restaurantes.

O secretário afirma que apesar do atrasona preparação, a cidade está apta a receberos visitantes. "Nós estamos preparados parareceber o turista, temos excelentes hotéis epousadas, temos um aeroporto com voosdiários e que foi recentemente inagurado,temos um Centro de Atendimento aoTurista bem no centro da cidade", atesta.

Tiradentes e São João del-Rei se contrastam na preparação

Sabará é a cidade histórica maispróxima a Belo Horizonte, umas dassedes da Copa de 2014. Com isso, omunicípio já se prepara para o even-to em paralelo com as obras emcomemoração aos 300 anos de VilaReal, o desejo é se tornar um dosroteiros culturais.

De acordo com o prefeito WilliamBorges, um dos primeiros objetivos émudar o visual da cidade, acabandocom pichações que estão presentesem monumentos históricos e bensculturais. Para isso, campanhas deconscientização serão realizadas paraos moradores, e residências tambémganharão cara nova, muitas delasserão pintadas. Para o roteiro cultu-

ral, quatro caminhos turísticos serãocriados e todos poderão guiar os vi-sitantes para os principais monu-mentos do patrimônio histórico,como o Museu do Ouro, as famosasigrejas históricas e o Chafariz doKaquende, construção de 1757, quefornece água pura.

O prefeito ressalta que para quetodas as obras sejam realizadas, oapoio do Governo Federal é es-sencial. "Até 2013 devemos receberR$ 30,4 milhões do Programa deAceleração do Crescimento dasCidades Históricas e assim, podere-mos utilizar o recurso na recupe-ração das relíquias que pertencem aSabará", explica.

Para o atendimento ao turista,cursos de capacitação serão realiza-dos no segundo semestre deste ano,de acordo com o Secretário deTurismo André Gustavo Alves. "Ofoco principal neste momento são oscursos de capacitação e aperfeiçoa-mento do profissional que já atua naárea. Para o segundo semestre esta-mos negociando cursos de capaci-tação com o Senac, no primeiromomento serão destinados cursosgratuitos na área de hotelaria e gas-tronomia", afirma.

Segundo William, alguns lugaresdestinados à prática de esportesserão revitalizados para a Copa,como a recuperação do Campo daLiga, Praça de Esportes e Estádio daSiderúrgica que em 2010 recebeu osJogos da Taça BH Júnior, passandopelo campo sabarense times comoAtlético-MG, Flamengo, Guarani eCaxias.

Sabará investe em cursos einfraestrutura para a Copa

Conhecida internacionalmente, São João del-Rei ainda não começou a se prepararpara receber os turistas que virão de várias partes do mundo para a Copa de 2014

As imagens dos doze profetas esculpidas por Aleijadinho no Santuário doBom Jesus de Matosinhos atraem turistas do mundo todo a Congonhas

A Praça Santa Rita é um dos atrativos turísticos encontrados na cidade de Sabará

CARLOS EDUARDO ALVIM

CÍNTHIA RAMALHORENATA FONSECA

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Especial 9Abril • 2011docursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório

Patrimônio cultural dahumanidade, Ouro Preto é um dosdestinos tutísticos mais procuradosdo Brasil, por abrigar igrejas comobras especiais do artista barrocoAleijadinho, além de construções daépoca colonial e muitos museus quecontam sobre a temporada dos incon-fidentes nas terras das montanhas.Além de ter esse valor cultural signi-ficativo, é um município tambémconhecido por seus eventos culturais,artísticos e religiosos, como carnaval,cerimônias daSemana Santa e festi-vais de inverno, dejazz e de cinema,entre muitos outros.A edição 2014 dotradicional festival deinverno coincidirácom o período de dis-puta da Copa doMundo no Brasil em julho de 2014."Isso vai gerar uma circulação muitogrande de dinheiro e trabalho dentroda nossa cidade", analisa o gestor deTurismo de Ouro Preto, ThiagoRodrigues, pensando nos turistas queaproveitarão a competição para co-nhecer os arredores da capital

A cidade histórica tem populaçãoaproximada de 79 mil habitantes.Segundo o secretário de Turismo,Chiquinho de Assis, Ouro Preto ofe-rece 5 mil leitos no parque hoteleiro,além do universo estudantil, quetambém abriga boa parte dos visi-tantes, nas famosas repúblicas. Para osecretário, o fato do campeonato defutebol mais famoso do mundo acon-tecer no Brasil em 2014, e uma das

cidades-sede ser Belo Horizonte, des-perta atenção especial em diversossetores da cidade. "A partir disso,uma agenda de trabalho está sendoorganizada", informa.

Chiquinho analisa a importânciado Comitê Gestor para a Copa, umgrupo de trabalho formado peloConselho Municipal de Turismo(Comtur) e amparado pela sociedade,por meio de representações daPrefeitura, da Câmara Municipal e daUniversidade Federal de Ouro Preto

(UFOP). "Queremos omaior número possívelde investimento nainfraestrutura de umacidade como a nossa,que é tombada, umpatrimônio histórico,que tem carência elimitações físicas", afir-ma o secretário. Ele

ainda explica que um dos setoresmais importantes na temporada daCopa será o transporte, para trazer elevar visitantes que escolham OuroPreto para acolher suas famílias."Sentimos falta de uma chamadapública e oficial à cidade para quecomece a se discutir esse assunto",completa.

As ações que já acontecem na cidade,voltadas para a temporada de jogos de2014, são poucas, mas mostram que acidade, de alguma forma, já está se orga-nizando. O Serviço Nacional deAprendizagem Comercial (Senac) é umainstituição que oferece diversos cursospara a sociedade e está indo para OuroPreto realizar cursos direcionados ao tra-balho de garçons. "Além disso, estão

sendo feitas parcerias com escolas deidiomas para trazer a língua estrangeirapara o mercado, para a segurança públi-ca da cidade, para o policial conseguirfalar inglês e espanhol, pelo menos",explica o secretário.

Outra ação que já está encaminhadaé o investimento em um espaço que serátransformado em centro de arte e lazer,com artesanatos, venda de doces daregião e outros tipos de cultura comoexposições temporárias, por exemplo."Vai ser uma grande área cultural e deentretenimento que certamente vai serutilizada por toda a população, de algu-ma forma", diz o gestor de turismoThiago Rodrigues.

Como opção de lazer, Chiquinhopromete investir em uma divulgaçãoespecial do chamado TurismoEcológico. "Nós temos várias florestase parques estaduais nos rodeando.Esta é uma ação com várias parceriasque está sendo organizada", ressalta osecretário. Para Chiquinho, exploraras áreas externas à cidade também éuma maneira de fugir da super-lotação, incentivando passeios alter-nativos que podem ser feitos poradultos e crianças.

Um problema citado por Thiago,ainda sem solução, é a questão deespaço para estacionar os veículosdos visitantes. Como Ouro Preto éuma cidade estreita e pequena, asruas não comportam a quantidade decarros que circulam, sendo este ummotivo de preocupação por parte dosgestores. "Já pensamos em fazer umportal anterior à cidade, onde os tu-ristas estacionassem seus veículos eseguissem para Ouro Preto por meiode transporte público, mas isso é sóuma idéia, não tem nada planejadoainda", analisa.

Transporte e estacionamentosão problemas para Ouro Preto

O município de Congonhas doCampo está localizado a 83quilômetros da capital mineira e serároteiro obrigatório para os turistasque vierem a Belo Horizonte para aCopa do Mundo e quiserem co-nhecer as cidades históricas. Famosanacional e internacionalmente peloturismo religioso e cultural, a cidadeconcentra um conjunto de obras bar-rocas esculpidas por Aleijadinho,como as imagens em pedra-sabãodos doze profetas, localizadas noSantuário do Bom Jesus deMatosinhos. Porém, não é apenascom esse tipo de atividade que acidade espera ganhar a preferênciados turistas que vierem a MinasGerais para os jogos do mundial,como explica a secretária de turismoda cidade, Jacqueline Romero. "Nãosão só as obras de Aleijadinho queCongonhas têm a oferecer. A gentetem que explorar os outros lados,como o ecoturismo. Então, o turistapode vir para fazeruma caminhada, ir auma cachoeira e tam-bém conhecer asobras do Aleijadinho",afirma.

Segundo a secretáriade turismo, hoje, omaior desafio deCongonhas é fazercom que o turista permaneça maistempo na cidade. De acordo comdados da Secretaria, um turista fica,em média, quatro horas emCongonhas. Na maioria dos casos, sãovisitantes que passam uma tarde nacidade. "O nosso desafio é fazer comque o turista que vem para o jogo, setem que esperar dois dias entre umapartida e outra, que ele gaste esses doisdias em Congonhas", salienta.

Apesar da preocupação em tentaratrair esses turistas, Jacqueline afir-ma que a cidade está atrasada emrelação aos preparativos para aCopa. "Congonhas está muito próxi-ma da cidade-sede, então, vai respin-gar para todos os cantos e a genteprecisa se preparar muito. Hoje, nós

estamos começando a pensar o quepode ser feito, estamos atrasados,mas estamos começando agora",admite.

O assessor de imprensa daPrefeitura de Congonhas, AlissonFerreira Freire, revela que a cidadeestá tomando medidas em relação àconservação e restauração do seupatrimônio histórico. "Tem umembelezamento da cidade e restau-ração dos patrimônios históricos quedevem sair para a Copa. Agora,capacitação do pessoal, isso aindaestá em conversa", declara.

De acordo com JacquelineRomero, reuniões com o ServiçoNacional de AprendizagemComercial (Senac) serão realizadas

para se discutir a ofer-ta de cursos de capa-citação. Segundo ela,cada setor daprefeitura terá umapessoa para pensar oque poderá ser feitopara melhorar acidade e assim, poderreceber os turistas.

Porém, até agora nenhuma ação efe-tiva foi realizada. "Não tem nada efe-tivo, pelo menos da parte do turis-mo, porque Congonhas é uma cidademuito dividida, o prefeito deuautonomia para todas as secretarias,então, todas as secretarias têm queunir forças para trabalhar em prol dacidade", afirma.

Edileia Aparecida de Paula traba-lha como vendedora em uma lojalocalizada no centro histórico deCongonhas. Ela conta que em épocasde festas, como o Jubileu de BomJesus de Matosinhos, que aconteceem setembro, o movimento nacidade aumenta. Com a Copa, avendedora acredita que o fluxo deturistas será maior. Porém, ela afirma

que não houve nenhuma ação efeti-va relacionada ao comércio nacidade. Mesmo assim, Edileia acre-dita que os comerciantes vão sepreparar para receber os turistas damelhor maneira possível. "Na partedo comércio, tenho certeza quetodos vão trabalhar para ter bastanteestoque e na maneira de atender osclientes, para que tudo seja muitobom", assegura.

Segundo a Secretaria de Turismo,no período de 2002 a 2010 a cidaderecebeu 787.556 turistas. Só em2010, o número de pessoas que visi-taram Congonhas chegou a 57.051turistas. A Secretaria ainda não temuma projeção do número de turistasque irá a Congonhas na época domundial. Mesmo assim, JacquelineRomero afirma que a cidade, hoje,não possui estrutura para receber ademanda. De acordo com asecretária, Congonhas oferece hojecinco hotéis, três pousadas, trêshotéis fazenda, seis casas familiaresdo Pouso e Café (programa em quefamílias disponibilizam a residênciapara os turistas) e uma área de cam-ping. Dessas opções, 500 leitos sãoreservados para atender aos turistas."Não temos estrutura. Teremos queter mais leitos, porque hoje a maior-ia dos leitos existentes são ocupadospor trabalhadores que realizam algu-ma atividade próxima a Congonhas",afirma.

A secretária acredita que a Copa doMundo poderá ser uma grande opor-tunidade para que turistas do mundointeiro conheçam Congonhas. Alémdisso, ela afirma que as medidas ado-tadas para o mundial contemplarãotodos os setores da cidade. "Temmuita coisa para ser feita e issoenvolve todo mundo, não só aPrefeitura, porque vai ser benéficopara a cidade toda", observa.

[ ]“NÃO TEM NADA

EFETIVO, PELO MENOS

DA PARTE DO

TURISMO”JACQUELINE ROMERO

[ ]"QUEREMOS O MAIOR

NÚMERO POSSÍVEL DE

INVESTIMENTO NA

INFRAESTRUTURA”CHIQUINHO DE ASSIS

Congonhas reconhece atrasonos preparativos para o mundial

omeçou a se prepararo para a Copa de 2014

antuário doCongonhas

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10 CidadeJunho • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

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RAIANE COSTA,RENAN COSTA,4° PERÍODO

Seja pela manhã aosair de casa, ou mesmo anoite, retornando a ela. Éconsenso entre todos osbrasileiros que usam dotransporte público, quenão existe nada maisestressante do que ofamoso ônibus lotado.Foi pensando nisso quehá oito anos surgiu emBelo Horizonte o projeto"Leitura para Todos", quenasceu com o objetivo deproporcionar umaviagem menos maçante aquem usa o transportepúblico, além de estimu-lar a leitura disponibi-lizando nos ônibus textoscurtos de fácil leitura.

Maria AntonietaPereira, membro daONG "Teia de Textos" eidealizadora do projeto,conta que a idéia surgiuem 2003, quando elavoltava da Argentina,

onde viu o quanto opovo daquele país praticao hábito da leitura.Segundo ela, era sua von-tade fazer com que obrasileiro também tivessea leitura como costume.

Ela conta ainda que aONG realiza periódicaspesquisas de opiniãosobre o projeto e afirmaque os usuários gostammuito da idéia.

Quem ilustra essa falade Maria Antonieta é adona de casa Maria daConceição de Moura, 45anos, que aprova comlouvor a iniciativa. "Élegal, a gente aprende,acaba adquirindo ohábito de ler o que estáescrito e quando pega umônibus que não tem,sente falta. Fico sabendomuita coisa tudo dentrodo ônibus", conta.

O caixa de supermer-cado Cleber da Silva, 30anos, ressalta outroponto relevante do proje-to, que é proporcionar a

leitura a quem só temaquele curto espaço dodia para fazê-la. "É muitosignificante, para a popu-lação ter um pouco deconhecimento, aprender,nem que seja dentro doônibus, até mesmoporque temos poucotempo e vivemos na cor-reria, muitos de nós sótemos tempo de ler noônibus, vários aqui pas-sam tanto tempo aquique é bom ter algo praler", comenta Cléber.

Desde abril deste ano,o projeto passa por umanova fase, onde sãoexpostos textos rela-cionados à ciência. Essanova etapa, que está pre-vista para durar doisanos, conta com a parti-cipação do Instituto deCiências Biológicas daUniversidade Fedral deMinas Gerais (UFMG) e,segundo MariaAntonieta, a idéia surgiupara que a populaçãotenha acesso a este tipo

de informação. "A univer-sidade precisa difundir oconhecimento que pro-duz, precisa democrati-zar o acesso da popu-lação a essas infor-mações, inclusive, paraestimular os jovens a setornarem futuros cientis-tas", ressalta.

Ao que parece, essanova empreitada estáagradando aos leitores,como é o caso da domés-tica Lúcia de CássiaFerreira, 40 anos, queaprova a união entre li-teratura e ciência. "Oprojeto é importante,porque do caminho daminha casa até o traba-lho eu vou lendo, a genteque tem pouco tempo,muitas vezes não lê porfalta de oportunidade. Eaqui no ônibus a genteaproveita o tempo paraler. E agora que fala sobreciência a gente aprendemais, muitas vezes coisasque a gente não sabia",salienta Lúcia.

Ciência e leitura nas viagens de ônibus por BH

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MAYARA FOLCO, 6º PERÍODO

Badulaques e penduri-calhos presos a um coletesuper colorido despertama curiosidade. É sócomeçar a falar que a"Vovó Fadinha" rapida-mente rouba a atenção detodos. As crianças sen-tadas no chão arregalamos olhos a cada novo deta-lhe da história. A voz, osgestos e trejeitos da vovódeixam as palavras muitomais coloridas do que ocolete que ela usa, e nacabeça dos ouvintes umnovo mundo é construídoem imagens. VovóFadinha, habilidosa, setransforma em amiga ínti-ma das crianças e narra ahistória como quem revelaum segredo valioso. Paraos que acham a tramamaluca demais ou duvi-dam do que ela diz, vovónão se curva e ainda se jus-tifica exibindo a prova desuas palavras. "É tudo ver-dade, é o livro que estádizendo", afirma.

Vovó Fadinha é a conta-dora de histórias e profes-sora universitária, MariaCristina Labarrère, 68anos. Ela é uma das quatrocontadoras de história queparticiparam do evento"Era uma vez... Hora doconto" na BibliotecaPública Infantil Juvenil nodia 30 de abril. A ativi-dade é uma ação de incen-tivo a leitura e faz parte doprojeto ContandoHistórias. Maria Cristinadiz que as histórias fazemparte da sua vida. "Cresciouvindo, depois passei a

contar para meus filhos enetos", explica. Segundoela, sua maior satisfaçãoem contar histórias é veras crianças procurandolivros nas estantes da bi-blioteca. "No livro você é odono da história, não pre-cisa gastar um tostão parair à África se você tiverimaginação", afirma.

A advogada MariaLúcia Miranda, 68 anos,também integra a equipede contadores de históriase se declara apaixonadapor literatura. "Gostar deler me ajudou a superar apobreza. Como não tinhalazer, lia muito", explica.Contadora há 10 anos,Maria Lúcia revela queouvir histórias não é coisasó para os pequenos. "Oadulto tem a criança den-tro de si e consegue com-

preender o outro lado doque está sendo narrado",acrescenta.

Para a advogada, ashistórias contribuem paraa formação do caráter. "Naliteratura projetamos osnossos conflitos, o bem e omau se resolvem". Para ela,as escolas deveriam ter umcontador de história oupelo menos um professorque atue como um facilita-dor da leitura, capaz de lerbem o texto literário efazer do livro um amigo dacriança.

A professora Maria doRosário, 43 anos, levou afilha Alice Menezes, 8anos, para conferir o even-to. Para a professora, ospais devem trazer as cri-anças para ouvir ashistórias. "A atividade éum estímulo a leitura, va-

loriza a cultura através dolazer e entretenimento".Para Alice, participar do"Era uma vez...Hora doconto" é um momentodivertido. "Quando estououvindo, imagino que ahistória está acontecendona mesma hora", afirma amenina.

HISTÓRIAS A contação dehistórias é uma práticaantiga que acompanha ahumanidade há tempos,desde antes da invençãoda escrita. Além de esti-mular a imaginação, ouvire contar histórias ajuda apreservar as lendas, a cul-tura e o folclore de umpovo. Mas será que na erados vídeo-games e dainternet ainda há espaçopara esse tipo de inte-ração? O Encontro

Semanal de Contadores deHistória promovido pelaBiblioteca Pública Infantile Juvenil de BeloHorizonte (BPIJ) é a provade que uma história bemcontada atrai crianças eadultos.

Desde 1991, a bibliote-ca promove o encontro emque os participantes nar-ram histórias, trocamexperiências, fazem exercí-cios de narração,pesquisam e selecionamtextos da literaturabrasileira e mundial, datradição escrita e oral.Aberto ao público, o even-to é gratuito e acontecetodas as sextas-feiras às10h na Biblioteca Pública.Participam a cada dia, emmédia, 30 pessoas, entreouvintes e contadores embusca de formação. No

encontro semanal são rea-lizados os ensaios para asapresentações que ocor-rem em hospitais, creches,escolas públicas, centrosculturais e mensalmentena própria biblioteca.

Segundo a arte-edu-cadora Isabel Rodrigues,coordenadora do evento,qualquer pessoa pode par-ticipar do encontro. "Avontade maior do projetoé realizar um movimentopara recuperar a tradiçãode se contar histórias nosmeios familiares, escolaresou no convívio social emgeral. Em princípio, pais,mães, avós, babás, alémdos educadores formaissão tidos como potenciaisnarradores de histórias”,conta.

Mas, Isabel Rodriguesdestaca uma característicaessencial aos interessadosem se tornarem conta-dores de histórias, o gostopela literatura. "É precisoser leitor e bom ouvinte,gostar de ouvir histórias ede lê-las. Ser um amanteda Literatura", afirma.Para a coordenadora, con-tar e ouvir histórias é umaprática que contribui paraa formação das crianças."É fundamental tanto nasrelações interpessoaisquanto na formação dospequenos. Trata-se demais do que uma apren-dizagem para se tornarleitor: implica o desen-volvimento da imaginaçãoe da criatividade, a trocade sentimentos e saberes,o cuidado com o outro emesmo o prazer de estarjuntos", acrescenta.

HISTÓRIAS PARA QUEM QUER OUVIR

Projeto “Contando Histórias” é uma iniciativa para promover a leitura e a recuperação da tradição de contar histórias. Todas as sextas-feiras são realizados encontros abertos ao

público na Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte; os participantes fazem exercícios de narração, análise de textos da literatura brasileira e mundial e trocam experiências

Maria Cristina Labarrère assume a identidade da Vovó Fadinha para contar histórias para crianças que participam do projeto “Contando Histórias”

RENATA FONSECA

Textos de Ciências são a novidade do Projeto Leitura para Todos, em BH

PEDRO VASCONCELOS

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11CidadeJunho • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Com uma área de31.774 m2 e população de271.194 habitantes, aRegional Centro-Sul é amais densa demogra-ficamente. Ao longo dosanos foi concentrandoatividades comerciais e setornou o pólo das movi-mentações financeiras.Hoje, é uma referênciaeconômica, política e cul-tural de Belo Horizonte,embora isso não aconteçaem todo o seu território.

Nos 49 bairros que acompõem, verifica-se umaheterogeneidade de carac-terísticas políticas e sócio-econômicas. Apesar de seuÍndice de DesenvolvimentoHumano (IDH) elevado(0,914), superior aos devários países europeus, exis-tem diferenças entre seusbairros, um desafio para aadministração municipal.

Bairros como Carmo eSion, por exemplo, sãoequipados com boainfraestrutura comercial,

de lazer, escolas públicas eparticulares, praças e par-ques conservados, grandenúmero de bares e restau-rantes, hospitais e empre-sas, dentre outros, é alta-mente desenvolvida eseus moradores possuemqualidade de vida. Já oAglomerado da Serraengloba vilas como NossaSenhora da Conceição,Cafezal e Novo SãoLucas. No mapa, situa-seno mesmo recorte regio-nal que a Região Sul, masa realidade de seus mora-dores evidencia uma qua-lidade de vida expres-sivamente menor.

O gerente Regional deProgramas Sociais daSecretaria deAdministração RegionalMunicipal Centro-Sul,Paulo Emílio Gonçalves,manifesta expectativapositiva, apesar de o novomodelo ainda não ter sidoapresentado às secretarias.“Qualquer outro agrupa-

mento feito na centro-sulseja um olhar mais apura-do e que venha a somarpara a gente e para a po-pulação", observa.

Assim, de acordo como novo modelo de gestãocompartilhada, os bairrosda Centro-Sul ficarãoagrupados em cinco sub-regiões, reforçando umaproximidade territorialcom a população e suasdemandas, além de aju-dar na implantação deações que condizem comos problemas específicosde cada um. "Estamosfazendo um levantamen-to das lideranças de todosos bairros de BH para aju-dar nessa relação entrepopulação e Prefeitura. Aintenção é construir umaponte que nos leve direta-mente às necessidades decada bairro ou sub-região", afirma AnaniasJosé de Freitas, chefe daAssessoria Especial deMárcio Lacerda.

Região mais rica da cidadeapresenta disparidade social

A questão urbanadeve considerar osdesafios apresentadospelo desenvolvimentoeconômico interna-cional, marcado pelaglobalização da pro-dução, informatiza-ção e sofisticação dosserviços. Nas grandescidades apresentam-se novos desafios eacentuam-se proble-mas como a elitizaçãode algumas áreas, ge-ração de espaços privi-legiados com serviçosmodernos e áreas debaixa renda, carentes decondições básicas.

De acordo com oarquiteto José AbílioBelo, o processo deplanejamento pres-supõe algumas etapas;momentos específicosde governo e sociedadecivil se debruçaremsobre seus problemas,suas qualidades e

potencialidades especí-ficas. "É um momentode geração de infor-mações e conhecimen-to, constituído pormuitos olhares. Sãoconstruídos os diagnós-

ticos, que ao seremaprofundados e consis-tentes já indicam apróxima etapa, que é adefinição de objetivos emetas de futuro, decurto, médio e longoprazos", afirma.

O planejamentourbano visa a criação edesenvolvimento deprogramas que buscam

melhorar a qualidadede vida da populaçãodentro de uma dadaárea. Para que isso ocor-ra é criado por exigên-cia constitucional, paramunicípios com mais

de 20.000 habi-tantes, o PlanoDiretor, em quePrefeito, Câmara epopulação trabalhamjuntos. Ele é o instru-mento básico dapolítica de desen-volvimento domunicípio. O Planoreflete os anseios da

comunidade e visa umacidade melhor. SegundoJosé Abílio, a parte maisdelicada é ter açõescoerentes com o plano."É preciso, na sequên-cia, estabelecermos for-mas para controlar,avaliar e monitorar oque foi definido noplano e sua implemen-tação", explica.

A importância do projetopara a qualidade de vida

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BÁRBARA CAMPOS,BÁRBARA MARTINS,RENATA BRANDÃO,7º PERÍODO

Desde 1983, BeloHorizonte é tradicional-mente dividida em noveadministrações regionais,um critério de organizaçãoque leva em conta aposição geográfica e ahistória de ocupação dosbairros belo-horizontinos.Mas a capital mineira ga-nhará, em breve, novoscontornos. A Prefeitura deBelo Horizonte (PBH) vaicriar 40 sub-regiões dentrodas regionais já existentes.O objetivo da iniciativa éampliar o conceito degestão participativa e me-lhorar a prestação deserviços públicos.

Na prática, de acordocom a Secretaria Muni-cipal Adjunta de GestãoCompartilhada, respon-sável pela implantação doprojeto em BH, a divisãovai facilitar o planejamen-to de políticas públicasmais específicas para cadasub-região, pois levará emconta critérios econômi-cos, de infraestrutura e devulnerabilidade em saúde,próprios de cada agrupa-mento de bairros. Outroaspecto defendido pelaPBH na adoção destemodelo é manter um diá-logo mais próximo com apopulação.

A secretária municipaladjunta de gestão compar-tilhada da Prefeitura deBelo Horizonte, MariaMadalena Franco Garcia,destaca a importância doprojeto. "Gosto de falarque, com esse modelo, écomo se colocássemosuma lupa em cima das

regiões da cidade, propor-cionando uma análisemais detalhada de suasespecificidades e a criaçãode soluções mais efi-cientes", afirma.

O Projeto de GestãoCompartilhada é compos-to por seis ciclos. Neles,serão feitas reuniões entreas áreas da PBH envolvi-das no projeto, o prefeitoMárcio Lacerda, as secre-tarias regionais e as lide-ranças das regiões, a fimde debater os problemasdos bairros e elaborar pro-

postas. Após o processo deavaliação dessas pro-postas, caso sejam viáveis,será realizado um Fórumda Cidade – previsto paramarço de 2012 – paraserem apresentadas as pro-postas e inaugurado o OPRegional.

De acordo com AnaLuiza Nabuco, coorde-nadora geral da sala deSituação, um espaço cria-do na PBH para orientar aagenda do governante,realizar pesquisas e forne-cer dados atualizados de

todas as regiões da cidade,no novo projeto. As sub-regiões são formadas como propósito de homo-geneizar as áreas de umaregional. “Ou seja, aproxi-mar realidades mais pare-cidas dentro de umaregional", explica.

Sobre a opção por estemodelo de gestão AnaLuiza revela que, no anopassado, foi desenvolvidopela PBH um projeto-pilo-to que considerava adivisão em sub-regiõesapenas para a Regional

Norte. "Esse projeto-pilotofoi concluído e verificamosque se trata de uma opçãoviável e compatível com omodelo de gestão compar-tilhada. Como a idéia seráestendida para todas asoutras regionais, traba-lhamos agora para criarestratégias de implantaçãoefetivas", esclarece.

FUNCIONAMENTO As sub-regiões serão formadasdentro de cada uma dasnove regionais – Barreiro,Centro-Sul, Leste, Nordes-

te, Noroeste, Norte, Oes-te, Pampulha e VendaNova –, que contarão comquatro ou cinco recortes,em média. A intenção nãoé delimitar um espaço físi-co, mas manter um diálo-go com diferentes lide-ranças. Por esse motivo, assubdivisões, possivelmen-te, não devem receberdenominações para nãoconcorrerem com as iden-tidades já conhecidas. Elasserão identificadas apenascom números dentro dasnove regionais.

O arquiteto do Conse-lho Regional de Engenha-ria, Arquitetura e Agrono-mia de Minas Gerais(CREA-MG), José AbílioBelo, explica que esse novomodelo pode representarum enorme salto de quali-dade na prestação dosserviços públicos, mas emsua avaliação, podem tam-bém ser uma fonte de gas-tos públicos, com maispessoal, instalações físi-cas, equipamentos econdições de trabalho quedrenam os recursos públi-cos e não oferecem melho-ria de serviços à popu-lação. "Equilibrar essescustos e os benefícios paraa população é um dospontos chave dessa dis-cussão", comenta oarquiteto.

Apesar disso, a secretáriaMaria Madalena Garciagarante que o "processo decriação desse modelo nãoexigiu recursos financeirosextras ou a criação de novoscargos públicos, nem aescolha de representantesoficiais em cada território",já que as sub-regiões conti-nuarão sob responsabilidadedos secretários regionais.

BELO HORIZONTE MAIS ORGANIZADAPrefeitura da capital mineira planeja dividir as nove regionais administrativas em 40 sub-regiões para melhorar a qualidade

dos serviços oferecidos e aumentar a participação dos cidadãos e das lideranças comunitárias nas decisões do município

As nove regiões administrativas de Belo Horizonte serão divididas em 40 subregiões para melhor elaboração e administração das políicas públicas

RENATA FONSECA

[ ]“É UM MOMENTO DEGERAÇÃO DE INFOR-MAÇÕES E CONHECI-

MENTO, CONSTITUÍDOPOR MUITO OLHARES”

Page 12: Jornal Marco - Ed. 282

12 SaúdeJunho • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

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CÍNTHIA RAMALHO,KENETH BORGES,5º E 3º PERÍODO

Quem chega ao HospitalCristiano Machado, localizado nomunicípio de Sabará, RegiãoMetropolitana de Belo Horizonte,se depara com uma situaçãocomum a outros hospitais: o silên-cio. Porém, esse silêncio é dife-rente. Nos corredores as únicasvozes ouvidas são as dos fun-cionários. Os pacientes, crônicos,não falam. Alguns têm nomes ehistórias recuperados pelos fun-cionários do hospital, outros não.Para esses, o silêncio é aindamaior. "Os pacientes não falam,isso nos preocupa muito, mas éum aprendizado", afirma a gerenteassistencial do hospital, DoutoraCarmen Mazzilli.

Lidar com esse silêncio é omaior desafio enfrentado pelosfuncionários que trabalham noHospital Cristiano Machado,como explica a gerente assisten-cial. No passado, o hospital, co-nhecido como Sanatório RoçaGrande, foi um centro criado paratratar portadores de hanseníase.Em 1977 passou a integrar aFundação Hospitalar do Estado deMinas Gerais (Fhemig) e em2006, na tentativa de fazer comque o Hospital João XXIII tivessemais leitos de urgênciadisponíveis, passou a receber ospacientes com casos crônicos neu-rológicos e ortopédicos que neces-sitavam de internações de longapermanência. "Esse é um novopaciente que está surgindo, osequelado de trauma, e o que esta-mos fazendo aqui é a terapiapaliativa, que é a terapia do cuida-do", explica a Dr. Carmen.

De acordo com a gerente assis-tencial, o Hospital CristianoMachado possui, hoje, 40 leitos,sendo que quatro são ocupadospor pacientes de hanseníase, jácurados. Os pacientes crônicosocupam 36 leitos. Segundo amédica, a maior parte dessespacientes são jovens entre 15 e 49anos, do sexo masculino, vítimasde acidentes de carro, tiro,alcoolismo, brigas, drogas, atro-pelamentos, violência urbana edoméstica. Entre os pacientesidosos, os casos mais frequentessão sequelas causadas porAcidente Vascular Cerebral(AVC).

COMUNICAÇÃO A enfermeiraCarla Caroline Moreira Lima, quetrabalha no hospital há oitomeses, caminha com certa agili-dade pelos corredores. Ela para emfrente a um quarto, onde entrapara cuidar de um paciente. Emum dos quatro leitos, um meninode 14 anos se encontra deitado esegura entre as mãos imóveis umaesponja azul colocada para evitaro atrofiamento dos membros. Porcausa de um acidente de bicicleta,ele sofreu um traumatismo crani-ano e perdeu parte da massa ence-fálica. A enfermeira conta que eleé o paciente que está internado hámenos tempo no hospital e, porcausa disso, considera que cuidardele seja um grande desafio. "Agente fica um pouco abaladaquando chega algum novato,porque a gente não conhece, entãonão sabemos como ele vai reagirquando tiver com dor ou inco-modado", explica.

Apesar de estar em contato comesses pacientes todos os dias,Carla Caroline afirma que teratenção ao menor sinal é muitoimportante, pois é através das

expressões faciais ou reação aqualquer movimento dentro doquarto, que ela conseguirá enten-der o que se passa com o paciente."Quando eles estão com dor, geral-mente a face muda, então, a gentetem que estar sempre observandoessas coisas", diz.

A enfermeira conta que em seutrabalho, mesmo ao lidar compacientes que apresentam sempreo mesmo quadro, não existe roti-na, já que as reações de cadapaciente são muito diferentes. "Apartir do momento em que agente conhece o paciente, a gentejá sabe, com um olhar mesmo, queele não está muito bem. Ele sabeque a gente está perto dele e reagede uma forma diferente quandotem carinho", afirma.

Enquanto Carla Caroline cuidado menino de 14 anos, um "bomdia" rompe com o silêncio do quar-to. Apesar de já ser de tarde, aenfermeira responde com bomhumor ao paciente que está deita-do na cama da frente. Devido aosestímulos que recebeu dos dife-rentes profissionais, ele é um dospacientes que consegue esboçar,mesmo que com muita dificul-dade, algumas palavras.

A terapeuta ocupacional ValériaCampanha Alves conta que já con-segue se comunicar com outrosdois pacientes. O primeiro chegouao hospital sem conseguir ne-nhum tipo de comunicação.Valéria descobriu que antes do aci-dente, o rapaz era cantor e faziaparte de uma dupla musical. Hoje,com o trabalho realizado pela te-rapeuta ocupacional através damúsica, ele consegue cantar algu-mas letras. No mesmo quarto,encontra-se um paciente que sóconsegue mexer as mãos. Valériapara em frente à cama e faz umapergunta: "Eu tinha quatro laran-jas e dei duas para a minha irmã,com quantas eu fiquei?". A respos-ta vem rápida em um simplesgesto. Com as mãos ele mostra o

número dois. Depois de observaro paciente, a terapeuta ocupa-cional descobriu que ele conseguiafazer operações. "Você vai traba-lhando, vai descobrindo, porqueele não fala duas, mas ele mostra.Então, a comunicação é isso",explica.

A fisioterapeuta Luana Pinhotrabalha no hospital há dois anose conta que o trabalho que realizacom os pacientes crônicos é maisvoltado para a questão respi-ratória. "O lado motor é mais difí-cil, porque eles já chegam aquicom uma posição definida queeles adquiriram por causa dotempo, então, a gente trabalhamais com o lado respiratório",explica.

Segundo Luana, a falta deretorno é o principal desafio parao profissional que lida compacientes crônicos. "A maioriaapresenta o mesmo quadro otempo inteiro, então, o retorno deabrir um olho, de responder, é daminoria e isso é um desafio paratodo mundo", afirma.

TRATAMENTO Em um dos quartosencontram-se quatro leitos.Deitada, em frente à televisão li-gada, está uma moça de 24 anos.Ela não fala e não consegue mexernenhuma parte do corpo, mas aoprimeiro sinal da presença deValéria, esboça um pequeno sor-riso. São com esses pacientes quea terapeuta ocupacional lida hácinco anos. Valéria explica que porserem pacientes crônicos, eles nãofalam e não obedecem a coman-

dos, a maioria está em estado decoma, e o trabalho realizado comeles consiste na estimulação sen-sorial. "Eu estou estimulando essepaciente a nível tátil, principal-mente na percepção corporal. Vouinteragindo com ele no dia a diaatravés da troca do olhar, doacompanhamento de um estímulovisual", esclarece. Através dessetrabalho, a paciente já consegueobedecer a alguns estímulos, comoindicar com o olhar onde seencontra a lâmpada, a janela ou acompanheira de quarto que ficano leito ao lado.

A terapeuta ocupacional explicaque o tipo de tratamento ofereci-do a esses pacientes não é umareabilitação e sim, um tratamentopaliativo. "Eles [pacientes] nãoficam aqui para a reabilitação esaem andando. Não é o objetivoaqui do hospital. O objetivo évocê trabalhar ao máximo opotencial deles para eles irem paracasa do jeito que estiverem me-lhor, mas com certa autonomia,podendo conviver socialmente",conta.

FAMÍLIA Segundo Valéria, apaciente de 24 anos está clinica-mente estável e em condição dealta pelos médicos, porém, não vaipara casa por causa da questãosocial. A psicóloga PolianaCristina Pires trabalha noHospital Cristiano Machado hátrês anos e explica que casos assimsão muito comuns. "Às vezes opaciente está bem clinicamente,mas não tem condições finan-ceiras para sair do hospital",conta.

Para ajudar no tratamento des-ses pacientes, as famílias recebemum auxílio no valor de um saláriomínimo, porém, a psicóloga afir-ma que o valor oferecido não ésuficiente para dar conta doscuidados que um paciente crôniconecessita. Segundo Poliana, quetambém participa da Comissão de

Desospitalização do HospitalCristiano Machado, hoje 15pacientes não têm perspectiva desair do hospital, a maioria porfalta de recursos financeiros.Outro fator que também adia aida desses pacientes para casa é aresistência dos próprios familiares,que preferem deixá-los no hospi-tal.

De acordo com Poliana CristinaPires, a presença da família é fun-damental no tratamento dopaciente crônico. Além do apoio, éo contato com os familiares próxi-mos que possibilita o resgate dashistórias desses pacientes que, namaioria dos casos, chegam ao hos-pital sem nenhuma identificação.Através dos relatos dos pais, mãese maridos a equipe do HospitalCristiano Machado descobre osnomes e escreve as histórias dospacientes, fazendo relações comobjetos e situações que eramimportantes para eles. Mesmoassim, alguns pacientes ainda con-tinuam sem identificação, como éo caso de um homem que é co-nhecido no hospital pelo nomeque recebeu dos próprios fun-cionários, já que nada se sabesobre sua história.

Um homem parado em frente aum dos quartos chama a atenção.Pela reação dos funcionários, queparam para cumprimentá-lo e con-versar, é uma figura já conhecidano Hospital Cristiano Machado.Carlos Ferreira dos Anjos, 65 anosvai todos os dias ao hospital paravisitar o filho, Carlos Felipe Vieirados Anjos, 25 que está internadohá sete meses devido a uma lesãocausada por um acidente de bici-cleta. Carlos Felipe perdeu 70% damassa encefálica. De acordo apsicóloga Poliana, o paciente nãodá nenhuma resposta e nãovoltará do coma, mesmo assim, aolado da cama Carlos Ferreira dosAnjos conversa com o filho. "Elesó não obedece a comandos, mastenho certeza de que eu estoufalando e ele está me ouvindo",afirma o pai.

As dificuldades em lidar compacientes crônicos não estão pre-sentes apenas na rotina dos fun-cionários do Hospital CristianoMachado. Para as famílias, odesafio é ainda maior. Dessaforma, a equipe do hospital ofe-rece um acompanhamento para osfamiliares. Através do convívioeles aprendem a identificar asnecessidades e a lidar com as limi-tações desses pacientes. Alémdisso, o hospital também ofereceuma ajuda psicológica para os pa-rentes que muitas vezes encon-tram dificuldades em aceitar eentender o estado em que ospacientes crônicos se encontram."Eu acho que é mais difícil isso,você lidar com essa angústia,então, a gente tenta ajudar tam-bém", conta a psicóloga PolianaCristina Pires.

Em um quarto, um objeto sedestaca na cabeceira da camaonde uma mulher está deitada. Éuma carta escrita pela filha queesteve no hospital para visitá-la. Aterapeuta ocupacional Valéria seaproxima da cama e comenta oquanto a paciente está bonitanaquele dia. A resposta vematravés de um sorriso, pois o corponão consegue se movimentar. "Sãoformas de comunicação sem serverbalmente. Quando con-seguimos que o paciente pisque,abra a boca, ficamos muito felizes.É um trabalho em equipe e quan-do a gente consegue, ficamosestimulados com os resultados",afirma a psicóloga Poliana.

COMUNICAÇÃO ALÉM DAS PALAVRASPara atender casos crônicos que necessitam de internação de longa permanência, o Hospital Cristiano Machado, localizado em Sabará, conta com uma equipe formada por médicos,

psicólogos, enfermeiros, terapeuta ocupacional, fonaudiólogos, fisioterapeutas, assitente social e nutricionistas. O desafio para esses profissionais é lidar com o silêncio de seus pacientes

A terapeuta ocupacional Valéria Campanha Alves realiza um trabalho de estimulação sensorial com os pacientes crõnicos que não falam

RENATA FONSECA

[ ]"QUANDO ELES ESTÃO COM

DOR, GERALMENTE A FACE

MUDA, ENTÃO, A GENTE TEM

QUE ESTAR SEMPRE OBSER-VANDO ESSAS COISAS"

(CARLA LIMA)

Page 13: Jornal Marco - Ed. 282

13CidadaniaJunho • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Há dois meses, HelvécioSantos de Moura, 25 anos,cumpre sua pena em regimedomiciliar. Condenado porassalto a mão armada, é umdos precursores do GrupoVida. O envolvimento como crime e as drogas começa-ram no início da adolescên-cia. "Entrar no crime foi umaescolha minha. A gente queé de uma classe mais baixa,vê as pessoas com coisasboas e a gente quer ter tam-bém, a gente se ilude edemora para acordar. Agente tem que apanharmuito para aprender", conta.

No final do ano passado,enquanto ainda estavapreso, Helvécio fez a provado Enem e a boa notaalcançada permitiu que eleconseguisse bolsa integral no

Programa Universidade paraTodos (ProUni). Ele está noprimeiro período do cursode Ciências Contábeis."Perdi minha adolescênciano crime, drogas, roubando.Quero mostrar ao pessoalque a gente pode mudar,que a gente pode fazer dife-rente", diz.

Claudinei dos SantosTeófilo, 30 anos, foi conde-nado por dois homicídios ehá 13 dias ganhou o direitoa prisão domiciliar depois depassar seis anos e onzemeses detido. A sentençainicial era de 21 anos, mascom os benefícios concedi-dos pela Justiça teve suapena reduzida. Ele é cantor equando soube do grupo,quis participar. "O teatro ésó um complemento do tra-

balho de conscientização.Eu já havia escrito um livroque chama" Veja o que umaarma fez em minha vida" edepois postei alguns vídeosno Youtube dando o meutestemunho desuperação", conta.

De volta aoconvívio social,Helvécio e Claudi-nei retornam àPenitenciária JoséMaria Alckiminpara os ensaios doGrupo Vida que antecedemas apresentações, mas quan-do não estão nos palcos con-tando as suas histórias desuperação, se encontramsemanalmente para dis-tribuir cartas de prevenção àviolência pelas ruas deRibeirão das Neves.

Oportunidade além do palcoEnquanto recebia o

atendimento psicossocial daequipe da penitenciária,Bruno Carmo de Ávila, 27anos, escutou um barulhoque lhe chamou a atenção.

"Eu fui no atendi-mento e ao lado dasala da assistentesocial, ouvi alguémtocando violão equis saber o queera. Quando mefalaram que eraum grupo de

teatro, eu quis participar, fiz oteste e estou aqui", explica.Antes ser preso, Bruno davaaulas de música. Além do vio-lão, ele toca cavaquinho einstrumentos de percussão.

Condenado por tráfico dedrogas, atualmente elecumpre a sua pena, que ter-

mina em 2013, em regimesemi-aberto. Para Bruno, seuprocesso de ressocializaçãoacontece por meio da música."O teatro tira um pouco dopeso que é a cadeia e a genteaproveita esta oportunidadede estar em contato com aarte para levar uma novamensagem para as pessoas",diz.

Natural de Barão deCocais, cidade localizada naRegião Central de Minas,Alessandro Bruno da Silva,23 anos, foi parar na peniten-ciária por conta do tráfico dedrogas, e por meio do teatro,descobriu o seu potencial paracantar e compor músicas.Recentemente ele participoudo Festipen, um festival demúsica do sistema peniten-ciário, e teve a oportunidade

de gravar duas de suas músi-cas em um CD. "Descobrique o ser humano em si écapaz de mudar sempre. Euerrei novo, estou pagandopelo que fiz e vou sair novo ecom a capacidade de mudar",garante.

O Grupo Vida Nova játem agendadas oito apresen-tações para os próximosmeses, além de uma partici-pação especial em um eventoque acontecerá em BeloHorizonte em outubro, o "BHpela paz". Neste evento, elessubirão ao palco com artistascomo Milton Nascimento,Ivete Sangalo, Fernanda Takaie o Padre Fábio de Melo.Ainda de acordo com o diretore produtor do Vida Nova,Fabio Alves Moreira, em breveo grupo vai gravar um CD.

Talentos que se potencializam

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CARLOS EDUARDO ALVIM,4º PERÍODO

É no tablado do SalãoNobre da Penitenciária JoséMaria Alckimin, localizadana cidade de Ribeirão dasN e v e s , R e g i ã oMetropolitana de BeloHorizonte, que 13 pre-sidiários se reúnem todos osdias para ensaiar as apresen-tações teatrais que eles mes-mos escrevem e encenam.As peças retratam as vivên-cias e as experiências que osdetentos tiveram com omundo do crime, além detemas atuais como oBullying.

O tráfico de drogas euma série de assaltoslevaram Pablo Igor CarneiroMeireles, 31 anos, ao presí-dio. Pertencente a umafamília de classe média altade Belo Horizonte, ele dizque em sua juventude jáhavia usado drogas, mas em2006, teve contato com acocaína e o crack, o que fezlargar o emprego, a mulhere as duas filhas. "A drogaacabou com tudo de maisvalioso que eu tinha emminha vida. Eu tive queperder tudo, para dar valorao que tinha. Tive basefamiliar, financeira, estudeiem bons colégios e deixeipassar tudo isso", conta.

Pablo já cumpriu cincodos nove anos de sua pena eagora está em regime semi-aberto, no qual tem direitoa cinco saídas anuais desete dias cada uma. Ele emais dois presidiários ini-ciaram as atividades dogrupo teatral em março doano passado, quando sepreparavam para apresentarum trabalho para a escola."Tudo começou na sala deaula, num trabalho queestávamos fazendo. Depoisque apresentamos para osprofessores e para turma,apresentamos para o pes-soal do [atendimento] psi-cossocial e falamos da nossaintenção de continuarfazendo o teatro. Eles nãosó gostaram da ideia, comotambém nos ajudaram", diz.

O grupo teatral inspirououtras ideias para Pablo. No

fim deste ano, ele conta quefará a prova do Enem e vaitentar vestibular para ocurso do Direito e, assimque sair da penitenciária,vai construir uma ONG pa-ra trabalhar com jovens,cujas famílias não sabemlidar com o problema dasdrogas.

Nestes 15 meses, as apre-sentações do Grupo VidaNova, nome escolhido pelospresidiários, já foram vistaspor aproximadamente 8 milpessoas, sendo que a maio-ria era formada por alunosde escolas públicas estadu-ais e municipais de BeloHorizonte e da RegiãoMetropolitana.

Para Pablo, o teatro éuma maneira de falar dire-tamente com o jovem emostrar que ele tem cami-nhos diferentes para seguir."Pelo grupo de teatro euposso falar tanto pela mi-nha narração, quanto pelaminha dramatização e levaros jovens a se conscienti-

zarem desse mal pelo qualeu passei” , diz.

Em uma das apresen-tações, Pablo esteve nova-mente de frente do juiz queproferiu a sua sentença, masdessa vez o martelo foisubstituído por palmas."Me sinto vitorioso. Cometierros no passado e hojeestou dando frutos bons eas pessoas percebem e dãoretornos para nós. O mes-mo juiz que me condenou,veio me aplaudir", conta.

Fábio Alves Moreira écoordenador do Núcleo deAcompanhamento e Avalia-ção da Penitenciária JoséMaria Alckmin e é um dosincentivadores da ideia.Com a criação do grupo, elepassou a ser o diretor e pro-dutor do Vida Nova, já queé dançarino do GrupoAruanda e tem experiênciapara trabalhar com osdetentos. “Os ensaios etodo o trabalho que a gentedesenvolve exigem dedi-cação e limite, o que muito

deles não tiveram lá fora, eo que trabalhamos com elesaqui dentro e para devolvê-los de forma diferente paraa sociedade", conta.

De acordo com Fábio, osdetentos que participam dogrupo são os melhoresalunos da escola e os de me-lhor comportamento dentroda penitenciária, mas paraele o retorno dos diretoresdas escolas que recebem asapresentações mostra que oVida Nova está no caminhocerto. "Os diretores dasescolas mandam email con-tando sobre a mudança quea apresentação causou nodia-a-dia das escolas, no querepresentou para os alunos.A própria família dos pre-sidiários abraçou o projeto,eles comentam, participam,estão mais próximos. Algu-mas mães até ajudam nasfantasias, no cenário", co-menta. Fábio também é oresponsável pelas audiên-cias que selecionam os par-ticipantes para o grupo

teatral e que são realizadasmensalmente. Segundo eleexiste uma lista de mais de70 pessoas que queremintegrar o grupo.

RESSOCIALIZAÇÃO Quemaposta também na iniciativaé a pedagoga da Secretariade Estado de Defesa Social(Seds) que trabalha com osdetentos da PenitenciáriaJosé Maria Alckmin, KarolOliveira de Amorin Silva.Para ela este tipo de projetoajuda a desmistificar a ideiade que quem passa pelo sis-tema prisional não temrecuperação. "No teatro elesrefletem sobre os seus atos eas consequências do que fi-zeram no passado. Comisso, eles abrem seus hori-zontes, passam a idealizaruma vida diferente e a teruma consciência crítica",afirma.

O projeto não possuiuma verba específica. Deacordo com Karol, tudo oque o grupo possui foi

adquirido com o apoio eajuda das pessoas envolvi-das, inclusive dos familiaresdos detentos. "A gente nãotem recurso financeiro, tra-balhamos com o que tem.Nós tentamos concorrer àlei de incentivo à cultura,mas por não ter documen-tação completa e o prazoser um pouco corrido, nósnão conseguimos", diz.

A Secretaria de Estado deDefesa disponibiliza trans-porte e escolta para levar osdetentos, mas de acordocom Karol já aconteceramvezes em que o grupo nãopode se apresentar por faltade condução. Ela diz que osintegrantes do grupochegam para as apresen-tações algemados e com asroupa vermelha do sistemaprisional, acompanhadospor agentes do Grupo deIntervenções Táticas (GIT)da Polícia Militar. De acor-do com a pedagoda, além deser um procedimento obri-gatório o fato de terem quechegarem algemados, issofaz parte da mensagem queo grupo quer passar, de quesão presos e que queremmostrar uma nova perspec-tiva para as pessoas paraquem vão apresentar.

Os detentos não recebemnada e não têm as suaspenas reduzidas por partici-parem do grupo teatral, masnão foi assim que Júlio CésarViera, 35 anos, pensouquando começou a partici-par dos ensaios para oteatro. "Eu entrei porque eupensei que iria reduzir aminha pena, diminuir otempo na cadeia, mas depoisda interação que tive com ogrupo, descobri uma novavisão", confessa. Júlio foi con-denado por vários delitos,entre eles tráfico de drogas,roubo e porte ilegal de arma,mas quer fazer do teatro umporta-voz contra o crime. "Eufiz um mal lá fora, a legislaçãoestá me punindo e preocupaem me ressocializar para medevolver à sociedade. Com ogrupo teatral tive o privilégiode através da dramatizaçãolevar uma nova mensagem.Eu me sinto melhor pagandoo erro e conscientizandooutros jovens. ", diz.

LIBERDADE PARA ENCENAR E ENSINARPresidiários da Penitenciária José Maria Alckimin, em Ribeirão das Neves, encontraram no teatro uma maneira

para refletirem seus crimes e conscientizarem as pessoas. O Grupo “Vida Nova” Já se apresentou para 8 mil pessoas

Para participarem do Grupo Vida Novo os presidiários devem frequentar a escola do presídio e passarem por uma seleção feita pelo diretor do grupo

[ ]“QUERO MOSTRARAO PESSOAL QUE A

GENTE PODE MUDAR”

(HELVÉCIO DE MOURA)

RENATA FONSECA

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FREDERICO MACHADO, ÍGOR PASSARINI, PAULO MANGEROTTI, THIAGO BONNA, 4º E 1º PERÍODO

Camisa do ManchesterUnited usada por DavidBeckham, passando porSantiago do Daegu FC daCoréia do Sul, até oHuddersfiled da 3ªDivisão Inglesa, todas elasocupam o espaço de ver-dadeiros troféus no acervomantido por cole-cionadores de camisas defutebol.

Os jornalistas esporti-vos Frederico Jota, de 37anos, e Fábio Pinel, de 32,além de serem colegas detrabalho, possuem amesma paixão pelascamisas do futebol mundi-al. Frederico mantém umacoleção de 860 camisasguardadas em armários ecaixas de papelão, classifi-cadas de acordo com opaís de origem do clube. JáFábio diz que perdeu aconta de quantas camisaspossui. Mas, segundo ele,foi uma camisa doCorinthians adquirida em1994 que o incentivou abuscar outros modelos einiciar sua paixão.

Mas esse não é umhobby somente de jorna-listas ligados ao futebol.Márcio Brito, 32 anos,analista de comércio exte-rior, tem carinho especialpor times da RegiãoNordeste, muitos delesdesconhecidos no resto dopaís. "Por minha famíliaser nordestina eu ganho ecompro camisas dos timesde lá, como do ASA deArapiraca, Ipanema-AL,

Corinthians de Caicó,Santa Cruz", conta.

Camisas raras são espe-ciais para os cole-cionadores. Na busca poressas peças, eles passampor situações inusitadas.Frederico Jota conta queem sua viagem àRepública Tcheca encon-trou uma camisa do SlaviaPraga, preparada parajogo, e que apesar do preçoabusivo, efetivou a com-pra. Márcio Brito tambémviveu uma experiênciamarcante para conseguiruma camisa do Atlético -MG que nunca tinhavisto, ao abordar um cata-dor de latinhas na portado Mineirão e passar poruma difícil negociaçãopara conseguir a mesma.

Frederico conta que ainternet possibilitou aoscolecionadores acesso acamisas de diversos clubesdo mundo todo, principal-mente em sites especia-lizados de compras online.Porém, assim como ele, osapaixonados por camisasencontram algumas difi-culdades. O alto preço dascamisas é considerado amaior barreira na aqui-sição de uma nova peça."O preço é um fator queatrapalha, não acho justouma camisa de Atlético ouCruzeiro custar R$169",diz o também jornalistaFábio Pinel, de 32 anos."As camisas viraram obje-tos de desejos e com a tec-nologia avançada usada nomaterial, os preços foramlá pra cima", ratifica AndréFilipe Dutra Siqueira, co-nhecido como AndréFidusi, jornalista, publici-

tário e ilustrador, de 34anos.

Apesar das coleçõesterem as mais diversascamisas, os colecionadoresafirmam que existem simalgumas restrições. ParaAndré Fidusi e MárcioBrito é inadmissível a pre-sença de camisas deFlamengo e Cruzeiro nosseus acervos. Já FábioPinel, por torcer peloBarcelona, jamais contariacom um exemplar do RealMadrid em sua coleção.

Com centenas decamisas guardadas portoda a casa, Fábio Pinel jáenfrentou reclamações defamiliares e amigos. "Te-nho problemas em casa,minha mulher fica louca,quer mudar de apartamen-to, ela fala 'você fica gas-tando seu dinheiro comisso'", diz Fábio.

Tendo a paixão porcamisas de times de fute-bol, Fidusi, Jota e Pinelresolveram criar o BlogCamisaria Futebol Clube.É neste espaço que elespublicam notícias sobrecamisas novas, raras ou atémesmo inusitadas, mos-trando também curiosi-dades e a história daquelacamisa, algo que atrai fãs eoutros colecionadores. Oblog também ajuda nadivulgação de encontrosque são realizados a cadatrês meses e que vemcrescendo. "O 1º foi umencontro numa mesa, umlevou uma coisa, o outro jáfoi um pouco maior, e o 3ºfoi em um bar muitomaior, com pessoas levan-do araras de camisas",conta Jota.

14 EsporteJunho • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

A PAIXÃO POR CAMISAS DE FUTEBOL

Apaixonados por camisas de futebol, colecionadores se veem em situações inusitadas para conseguirem mais peças para ocupar os acervos que mantém. Enfrentam as reclamações dos

familiares, pagam caro por algumas e se confortam com centenas dessas, raras, das mais variadas épocas ou usadas pelos próprios jogadores em grandes jogos da história do futebol

Márcio Brito já abordou um catador de latinhas na porta do Mineirão para conseguir uma camisa do Atlético- MG

MARIA CALRA MANCILHA

O engenheiro civilRafael de Souza Perez,39 anos, possui 372camisas do Atlético,todas preparadas parajogo, sendo que algumasforam usadas porgrandes jogadores doclube. As camisas divi-dem espaço em umarmário com outros obje-tos, como faixas decampeão, flâmulas,cartões postais, ingressosantigos e revistas commatérias sobre o Galo.Tudo começou aos 14anos de idade, quandoele ganhou de seu

padrinho uma camisautilizada pelo ex-jogadorZenon em 1986. Dadécada de 1970 até aatualidade, são raras ascamisas faltantes nacoleção.

Na medida em queRafael vai tirando ascamisas do cabide, ahistória do Atlético épassada na forma dealgodão a poliéster.Possui peças históricascomo a do ex-zagueiroVantuir, do timecampeão brasileiro de1971; a da final docampeonato brasileiro de

1980 usada pelo ponta-direita Pedrinho; acamisa com cinco estre-las vermelhas em alusãoao pentacampeonatoestadual conquistadoentre 1978 e 1982, e atémesmo camisas compatrocinadores queduraram apenas umapartida, todas elas estãopresentes na coleção doengenheiro. Ele diz quepesquisa os detalhes dascamisas, por meio dereportagens da época,fotos e vídeos dos jogospara identificar a origemdo "manto sagrado".

Camisas que contam histórias

De Belo Horizonte a Porto Alegre em sete diasn

FABRÍCIO LIMA, ÍGOR PASSARINI,1º PERÍODO

Vigia do MuseuHistórico Abílio Barreto,localizado no CidadeJardim, na Zona Sul de BeloHorizonte, José de Castro,35 anos, continua a praticaro cicloturismo em viagensrealizadas nas suas folgas eférias. José, que em 2008foi notícia no MARCO,após realizar sua primeiraviagem de bicicleta atéoutro estado para conhecero mar, agora foi ainda maislonge. Dessa vez, ele passoupelo antigo destino,Florianópolis, e foi até acapital do último estado dafederação, Porto Alegre.

José de Castro trabalhaum dia sim e outro não,chegando a pedalar 500quilômetros por semana.Sempre que está de folgaprocura fazer algumaviagem para cidades próxi-mas. "Costumo ir até NovaSerrana, Itabira, Mon-levade", conta. Estas via-gens se tornam treinamen-tos para as mais longas e

geralmente em percursoscomo esses, por cidades dointerior, a passagem de Joséde Castro é bem rápida.

Para essa viagem a PortoAlegre, José gastou sete diaspedalando, além de outrossete visitando pontos turís-ticos do estado até voltar no

15º dia de avião, pois sóconseguiu esse período deférias. Dentre os lugares quevisitou, estão Gramado eCanela, municípios da serragaúcha. Segundo o ciclistaele não pesquisa antes sobreonde está indo, porque pre-fere conhecer as cidades do

jeito dele e sempre regis-trando tudo com suamaquina fotográfica. Ovigia pedalava o dia todopara conhecer os principaispontos turísticos da capitalgaúcha, e ao chegar nesseslocais e se apresentar, con-tar sua história, as pessoas

se impressionavam. "Elesficam admirados, só acredi-tam porque estou lá", contaJosé de Castro, ao revelarque conversou muito compessoas da cidade.

Esse foi o maior percursoque fez desde que começoua praticar o cicloturismo há15 anos, foram impressio-nantes 1.715 km partindode Belo Horizonte. José deCastro pedalou diariamentecerca de 300 km e aoanoitecer sempre se hospe-dava em algum hotel daregião onde estava. Duranteo trajeto o ciclista per-noitou em seis cida-des,antes de chegar a PortoAlegre, foram elas: TrêsCorações; São Paulo;Registro; São Marcos; SãoJosé e Sombrio. Durante opercurso José enfrentoualgumas dificuldades na BR101 por ser uma estradaestreita onde passammuitos carros e para piorar,esse percurso foi feito sobuma forte chuva. Ele diz sernecessária uma manutençãoa cada 250 km, e quedurante esses sete diasfurou o pneu três vezes.

Os gastos para as viagens

são grandes e na maioriadeles José de Castro nãoconta com nenhum tipo deajuda. Na viagem até PortoAlegre foi gasto um total deR$ 2.320, sendo que os gas-tos com hospedagem e ali-mentação foram todos ban-cados pelo ciclista, já aviagem de volta, de avião,foi presente de TaísPimentel, ex-diretora domuseu onde José trabalha eque após conhecê-lo se sen-sibilizou por sua vontade dedesbravar distancias de bici-cleta.

José de Castro procurasuperar seus limites a cadaviagem e já está programan-do uma aventura aindamais longa, para Fortaleza,mas ainda não tem previsãoda data desta próximaviagem, pois depende desuas férias, ou de troca dehorários com colegas de tra-balho. O sonho do ciclista éjamais deixar de pedalar e,pensa cada vez mais longe,pretende conhecer outrascapitais brasileiras comoBrasília e Cuiabá, além dechegar a Buenos Aires, ca-pital da Argentina.

José pedalou 1.715 Km para ir de BH a Porto Alegre,esse foi o maior percurso desde que começou a praticar cicloturismo

RENATA FONSECA

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15EsporteJunho • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

JOGADORES TÊM APOIO DA FAMÍLIA

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GIOVANNA DE PAULA,1º PERÍODO

A profissão de jogador de fute-bol exige uma mudança constantede local, além de outras adap-tações, que ocorrem ao longo dasua carreira, e conforme os clubesde atuação. Desta forma, não só ojogador tem a sua rotina alterada,mas toda a sua família, que acabaembarcando junto nessas pecu-liaridades da carreira futebolística.

O primeiro desafio da família,quando o jogador começa a trilharos primeiros passos da profissão, ésaber contornar a preocupação ese adaptar às mudançasnecessárias. Maria CândidaSimões Leite, 59 anos, que é mãedo zagueiro Léo, 23 anos, doCruzeiro, explica como se sentiuno início da carreira de seu filho."Eu fiquei muito preocupada,porque ele tinha 12 anos quandofoi para o Rio Grande do Sul, maseu ficava pensando que se eu oproibisse, mais tarde ele poderiafalar que teve uma oportunidadede ser um jogador, só que eu nãopermiti", conta.

Além da dificuldade do inícioda carreira, momento no qual asituação do jogador é instável,deve-se levar em consideração ofato de que em alguns casos afamília não pode acompanhar ojogador em suas mudanças. Aexemplo desta questão, MariaCândida afirma que sofreu muitodurante o tempo em que o Léomorou fora, primeiro em PortoAlegre, quando jogava peloGrêmio, depois em São Paulo,quando defendeu o Palmeiras.Segundo ela, no início da carreira,seu filho algumas vezes lhe tele-fonava chorando e pensava em

desistir do futebol, devido àsaudade da família. A mãe contaque sempre o incentivava a con-tinuar na busca pelo seu sonho.Ela ainda relata que não se mudoucom o seu filho porque já haviaconstruído uma vida em BeloHorizonte, além do que precisavaajudar suas duas outras filhas.

Em meio a todo esse processo, ojogador tem que aprender a equili-brar as relações familiares com osonho do futebol, e muitos delesdesempenham com êxito esta tare-fa. A respeito disso, LeonardoRenan Simões de Lacerda, o Léo,diz que apesar das dificuldadesencontradas para se comunicarcom a família, foi possível levaruma vida normal. Segundo ele,por ter saído de casa muito cedo,enfrentou muitas situações sozi-nho, e isto o fez amadurecer. Léoainda relata, que sua mãe o fezprometer que conciliaria o futebolcom os estudos, e este assim o fez.

E dentre as poucas vezes queMaria Cândida foi visitá-lo no RioGrande do sul, ambos destacamuma em especial, que foi naprimeira partida do Léo comoprofissional, que ocorreu um diaantes do seu casamento.

A consolidação da carreira deum jogador de futebol ocorre jun-tamente com a organização dafamília em prol desse objetivo, jáque esta é base de qualquer pes-soa. Para comprovar essa idéia,atualmente com o fato de o Léojogar no Cruzeiro, time do qualtambém é torcedor, e morar emBelo Horizonte, Maria Cândidoafirma ser um pouco mais fácil aconvivência, pois sempre que épossível o Léo vai a sua casa ou aconvida para alguma confrater-nização em família. De qualquerforma, a mãe de Léo diz entendera rotina de um jogador de futebol,e conclui que seu maior desejo éque seu filho seja feliz na profissão

e continue sempre humilde e per-sistente.

FENIX A primeira oportunidadede Fenix Gonçalves, como jogadorde futebol, surgiu aos 14 anos.Nesta época ele viajou para o Riode Janeiro, e, para isso, largou aescola, com o objetivo de se tornarum profissional na área. Segundoos pais do jogador, AlbertiGonçalves, de 42 anos, e JoséAntônio, de 47 anos, as maioresdificuldades encontradas pelafamília durante as viagens do filhosão a saudade, e também aansiedade, causada por um possí-vel alongamento ou cancelamentode contrato de trabalho. As via-gens costumam durar de seismeses a um ano.

Na opinião dos pais de Fênix, aestrutura atual das organizaçõesde futebol, muitas vezes, desfa-vorece os jogadores que não pos-suem condições de um investi-

mento financeiro grande. Alberticonfessa que já chegou ao pontode dizer para o filho "ah, larga isso(futebol)!", mas o filho sempreinsistiu e ainda insiste no sonho. Arotina da família mudou bastantedesde que o filho se tornoujogador, principalmente quandoainda não era profissional."Principalmente porque tive quetrabalhar mais, para sustentar omeu filho durante as viagens.Muitas vezes dando até o que nãotinha", revela Alberti. Ainda deacordo com a famíla do jogador,apesar dos desafios desse meio,quando aparece algum empresáriohá um diálogo entre este e os pais,o que leva a família a ficar maistranqüila em relação a segurançade seu filho.

ROBSON Ao ser questionado se areiterada mudança de moradia écapaz de influir na vida de umjogador de futebol, Robson Lucas,diz que a resposta está na perso-nalidade de cada jogador e na suarelação com a família. De acordocom ele, a maioria dos jogadorespossui um temperamento maisexplosivo, dado o grau de compe-titividade que a prática do esporteexige. Ciente deste fato, a famíliaao ensiná-lo valores importantes eao apoiá-lo, lhe proporciona maiortranquilidade para enfrentar osdesafios da carreira.

De acordo com Robson Lucas,o ambiente familiar é fundamen-tal para a transição da categoriaaspirante para a profissional, oque para muitos jogadores signifi-ca assumir responsabilidade pre-coce. "Num sentido mais amplo,devo dizer que um ambientefamiliar bem estruturado é a basede qualquer sucesso na vidaprofissional, seja qual for a profis-são. É lá que existe o respeito, oamor incondicional, o compa-nheirismo e o apoio, impres-cindíveis na vida de qualquer atle-ta", diz.

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FABRÍCIO LIMA,ÍGOR PASSARINI,1º PERÍODO

O Centro de ReferênciaEsportiva para Pessoas Portadorasde Deficiência (CRE-PPD), loca-lizado na Avenida Nossa Senhorade Fátima, no Bairro CarlosPrates, implantou, em fevereirodeste ano, o primeiro projeto deesgrima para cadeirantes de MinasGerais. O espaço, que existe desde2003 e faz parte do projetoSuperar da prefeitura de BeloHorizonte, oferece diversas ativi-dades esportivas para a inclusãode pessoas com deficiência física.

O projeto foi montado emparceria com o setor de esgrima doBarroca Tênis Clube. O Barrocafornece os materiais e os profes-sores, além do seu espaço para arealização do projeto uma vez pormês, já que a cada três aulas nocentro de referência, uma ocorrenas dependências do clube, paraque haja o intercâmbio entre oscadeirantes e os outros praticantesda modalidade.

O programa, gratuito, ocorretodas as segundas-feiras, das 20 às22 horas e conta, inicialmente,com seis alunos. Segundo o coor-denador do espaço no turno danoite, José Gontijo Maia, o objeti-vo do projeto, além da integraçãosocial, é formar atletas para a dis-puta de competições nacionais einternacionais, e por isso existe a

intenção de ampliar a divulgaçãopara contar com mais alunos.

ADAPTAÇÕES A esgrima surgiuhá três mil anos praticada por gre-gos e egípcios e possui três moda-lidades básicas: o florete, a espadae o sabre, que se diferenciam noformato da lamina e nas áreas detoque permitidas. No projeto paracadeirantes é utilizada a modali-dade espada. Um dos professoresdo projeto, Kleber Silveira deCastro, afirma que é muito fácil deadaptar o esporte para pessoas nacadeira de rodas. "As adaptaçõespara a prática da esgrima paracadeirantes são simples, a únicadiferença é que as cadeiras ficamfixas no chão.", explica Kleber.Segundo ele, como todos osesportes praticados por deficientesfísicos, a esgrima é dividida emcategorias de deficiência que são:A: Paraplégico ou com a pernaamputada, nenhum tipo de defi-ciência acima do tronco; B: Leveperda de movimentos do braço earticulações acima da cintura; C:Perda maior de movimentos nobraço. As roupas e equipamentosutilizados são os mesmos da esgri-ma convencional.

PERSPECTIVAS Viver em umacadeira de rodas pode ser muitocomplicado, principalmente paraquem praticava esportes e que porum momento considerou que nãopoderia fazer isso novamente.

Mas são muitos os casos de pes-soas que encontraram na esgrimauma motivação a mais para seguirem frente.

Antonio Ferreira Melo, 32anos, conta que ficou sabendo daesgrima através de divulgaçãointerna, pois já pratica outrasmodalidades no local. Antes deadquirir a deficiência praticavadiversos esportes. Foi um acidenteem 2007, num vôo de asa delta,que o colocou na cadeira de rodas.

Marcio Vieira Neves, 40 anos,

conheceu o projeto através de umavisita com seu fisioterapeuta aoespaço, e coincidentemente estavasendo realizada a aula inauguralda esgrima no CRE-PPD. "Meempolguei porque até então sótinha visto esportes com bola queé uma coisa que nunca me interes-sei", conta. Márcio era ciclista efoi atropelado há três anos. Hojese diz 80% feliz após adquirir adeficiência, crê que chegar aos100% seria impossível, pois aslimitações são reais e não podem

ser desconsideradas. Seu principalinteresse é participar de com-petições, pois sempre foi uma pes-soa competitiva.

Projetos como esse tambémlevam alegria aos familiares e ami-gos dos alunos. Virgilio Teixeira,60 anos, é tio de Márcio e o acom-panha a todos os lugares. Eleconta que as aulas estão fazendomuito bem para seu sobrinho:"Agora ele tem novas expectativase desejos", afirma.

As Famílias de jogadores de

futebol têm que adaptar suas

rotinas para acompanhar os

craques em suas carreiras

Maria Cândida Simões Leite é mãe do Zagueiro do Cruzeiro Léo e lida com o fato de morar longe do filho já que não pôde acompanhá-lo

O projeto é o primeiro de Minas Gerais e visa, além da integração social, formar atletas para competir nacional e internacionalmente

RENATA FONSECA

Projeto leva esgrima para cadeirantes na capital

MARIA CLARA MANCILHA

Page 16: Jornal Marco - Ed. 282

Lya LuftEntrevistaESCRITORA

RENATA FONSECA

APENAS UMA ESCRITORA

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CÍNTHIA RAMALHO,5º PERÍODO

Apenas uma escritora. É assim que agaúcha Lya Luft se descreve. Nascida emSanta Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul,Lya já traduziu mais de cem livros para oportuguês, escreveu poemas, contos ecrônicas, mas foi com seu primeiroromance, "As Parceiras", publicado em1980, quando tinha 40 anos, que ela se firmou na carreira de escritora. Assumiu,em 2004, uma coluna quinzenal na revistaVeja, tornando-se a primeira mulher a escrever para a publicação. Aos 72 anos, com 23 livros publicados,Lya acaba de lançar "A Riqueza doMundo", livro de ensaios em que abordatemas como a morte, educação, família epolítica. Em entrevista ao MARCO, aescritora classifica como primitiva a atitude de quem considera livros que vendem muito ruins. Lya conta que buscaem seus livros uma linguagem mais simples, que a aproxime de seus leitores e fala da sua relação com as editoras. "O meu livro agora, virou um objeto decomércio. Essa é a realidade", revela.Além disso, a escritora aborda temas comoo que considera um jeito feminino deexercer o poder e critica o movimento contra o estrangeirismo na LínguaPortuguesa. "A língua não precisa serdefendida, a língua é soberana. Então,deixem a língua em paz", declara.

n A senhora disse que ficou muito surpresa com o livro"Perdas e Ganhos", considerado um best-seller. Como foichegar até lá? A senhora tem algum tipo de preconceitocom essas classificações?“Perdas e Ganhos” é um livro que já está distante, foi em2003. De lá para cá eu publiquei três [livros] infantis,publiquei poesia, dois de crônicas, um de contos. Eu achoque a questão do “Perdas e Ganhos” é que ele realmentefez muito sucesso. Tem pessoas que acham que livro quevende bem não presta, mas então teriam que dizerVirgínia Woolf vendeu muito, Clarice [Lispector] hoje emdia vende muito. Eu acho essa uma atitude bastantetacanha e primitiva de quem não sabe o mundo literáriocomo é que é. Então foi um livro que deu muito sucesso,não fiz outro igual porque não sou de fazer receita paraganhar dinheiro, embora seja bom e isso para mim estáencerrado. Agora, se as pessoas acham que é best- seller,não tem nenhuma importância isso para mim.

n A senhora espera que o novo livro, "A Riqueza doMundo", alcance todas essas pessoas? Existe alguma expectativa?Não tenho nenhuma expectativa, porque eu publico umlivro e depois que eu entreguei para o editor, meu livrovira um objeto comercial, da casa editora e das livrarias.O meu livro agora virou um objeto de comércio. Essa é arealidade. Agora, a minha relação com os meus leitores,isso é uma coisa muito pessoal, há sempre uma grandeafinidade dos leitores comigo, com os meus personagense com as minhas ideias. Isso é que garante uma carreirade 30 anos ou 40 anos, mas eu nunca tenho expectativa.Eu quero que venda bem, porque significa que muitagente vai gostar. Agora, eu acho que essa questão, a expec-tativa de que venda muito, de que seja isso, tira a alegriada gente. Eu acho que você faz a sua arte pelo prazer eeu, muito para interagir com os meus leitores.

n A gente percebe a preocupação com uma linguagemmais coloquial, que se aproxima mais do leitor. A senhorasente essa necessidade de que o leitor esteja próximo daquilo que retrata no papel?Eu escrevo para o leitor. Primeiro escrevo para mimmesma. Conto historinhas ou discorro, ensaio escreversobre diversos assuntos, primeiro para mim. É umamaneira de ordenar meus pensamentos. Mas em segundolugar, ou quase concomitante, eu também escrevo paraum leitor. Eu tenho procurado, através dos anos, uma lin-guagem simples, inclusive nos meus romances complica-dos, inclusive nos meus contos complicados de dois outrês anos atrás, que é "O Silêncio dos Amantes". Eu tenhosempre a busca por uma linguagem simples, porque euquero que a minha linguagem seja transparente, eu queroque a minha linguagem não se interponha entre o meuleitor e os meus personagens ou eu mesma, dependendodo texto.

n No poema que abre a primeira parte do livro, "Deusese Homens" a senhora fala que os deuses estavam muitoinspirados e criaram uma série de coisas e para atrapalhar,o homem. O homem é realmente um perigo para omundo?Eu acho que o ser humano foi uma trapalhada dosdeuses. E, por outro lado, o ser humano tem essas coisasmaravilhosas. Ele cria a arte, cria filhos, cria laços, criaarquiteturas, cria novidades na medicina que salvamvidas, mas também cria muita confusão. Ele arma a guer-ra, violência, se droga. Então, ele é um ser conflitante eambíguo, por isso que ele é interessante. Por isso é que euescrevo a respeito.

n O ensaio "Os Meus Olhos Azuis" fala sobre o precon-ceito. Hoje, vivemos a questão do bullying. Esse é um pro-blema contemporâneo e que está sendo muito explorado?Eu acho que é um problema que sempre existiu. Sempreexistiu os que são chamados de baixinhos, os que sãochamados de gordinhos, de magrelos, de vara pau, degirafa, de vesgo, de preto, de branco, de alemão. Eu achoque faz parte do imaginário do ser humano ter medo do

diferente. O medo do diferente provoca o preconceito enas escolas, o bullying. É que agora virou um pouco moda."Ah, houve bullying". Sempre existiu. Talvez exista maisagora, porque nós estamos todos mais violentos, maisagressivos. Nós estamos nos transformando em umasociedade agressiva e violenta, veja no trânsito. Então,isso obviamente se reflete também, muito especialmente,entre as crianças e os pré-adolescentes, que ainda sãomuito moldáveis, são muito flexíveis e nós adultos, quemsabe, com os nossos preconceitos, com a nossa agressivi-dade, com a nossa linguagem, com a nossa violência emcasa, lhes incutimos essa história. Mas eu acho que umpouco é uma moda falar no bullying. Ele existe, deve sercombatido, mas ele faz parte, infelizmente, da violênciada nossa sociedade.

n Alguma vez a senhora já pensou em desistir de escre-ver? Não. Não vejo por quê. Eu fiquei sem escrever há algunsanos, uns seis anos, em certo período da minha vida, masera por razões pessoais. Eu nunca pensei em desistir,Enquanto eu me divirto, enquanto me faz bem, enquan-to me alegra, eu vou escrever. O dia que eu achar chato,eu vou parar.

n Antigamente o lugar do escritor e do leitor era bemdelimitado. Com a internet isso se modifica. Os própriosleitores estão produzindo e até mesmo produzindo críticasque se propagam muito rápido e atingem um númeromuito grande de pessoas. Como a senhora lida com isso?Não sei. Eu não lido. Eu acho que faz parte da evoluçãodo mundo moderno. O mundo vai para frente, não voltaatrás. Eu não tenho blog, eu não tenho twitter. Existe umblog, mas não é meu, parece que é uma pessoa aqui deMinas que está fazendo esse blog. Ele é muito respeitoso,ele diz ali não oficial, portanto só pode reproduzir frasesde artigos ou de poemas ou de livros meus. Parece quetem 30 e tantos mil seguidores, mas eu não quero ter [umblog]. Primeiro, porque o que eu tenho a dizer, eu digonos meus artigos e nos meus livros. Segundo, eu não meimagino assim "Hoje eu acordei. Está um lindo dia de sol.Vou passear com meu cachorro. Não gostei do que disseo deputado tal" eu preservo a minha palavra para os meuslivros, por enquanto. Outro dia eu posso mudar de ideia,estou todo dia mudando de ideia. Então, as críticas e oselogios, eu sei que logo que começou essa questão deinternet, alguém me disse que tinha no Orkut, ou algumacoisa assim, um grupo "eu amo Lya Luft" e "eu odeio LyaLuft". Olha, eu não quero ver. Não me interessa. Ou euvou olhar só o "Eu amo Lya Luft", o "Eu odeio" não. Nãosei se isso ainda existe então eu acho assim, eu sou muitointeressada nas coisas modernas, mas eu não vou meescravizar a elas.

n A senhora diz que não classifica a literatura que fazcomo feminista?Não. Eu acharia horrível. Eu não sou nem feminista, nemfeminina, nem nada. Existe literatura. Que por acaso éfeita por homens e mulheres. A questão de literatura demulheres, como é esse seminário do qual eu vou partici-par hoje, existem seminários, eu já participei de vários,em vários países do mundo, porque é uma questão aindanão resolvida. Deverá chegar um dia no futuro, como nósnão fazemos seminários sobre literatura masculina, tam-bém não vamos mais fazer sobre literatura feminina.Vamos fazer sobre literatura. Mas eu acho que isso revelaque a questão toda ainda não está resolvida, como nãoestá. A entrada da mulher no mundo fora do quarto, dacozinha, da sala ainda é, dentro da história dahumanidade, uma coisa recente.

n Mas às vezes, entrar em problemáticas como a questãoda violência contra a mulher, do próprio jeito de exercer opoder feminino, isso não é uma visão feminista ou talvezum olhar feminino?Eu acho que essa questão da palavra feminino e feministanão tem mais nada a ver. O feminismo foi um movimen-to importantíssimo na sua época. Então, eu acho que

hoje, qualquer mulher que não seja uma escrava, nofundo seria uma feminista e eu não gosto desses rótulos.Eu acho que o rótulo já terminou. Agora, há questõesmuito importantes e eu escrevo sobre elas bastante, inclu-sive nesse meu novo livro que é "A Riqueza do Mundo",que é sobre o qual eu estou falando e estou trabalhandoem cima, que é a questão, por exemplo, de como a mulherlida com o poder, que é uma coisa muito complicada. Asmulheres, no fundo, pelo menos no seu imaginário maisarcaico, são um pouco criadas para agradar. E o homemterá medo da mulher no poder. Muitas vezes me fazemessa pergunta "A senhora acha que o homem tem medoda chamada nova mulher?". Eu digo sempre que os bobostêm medo e esses não nos interessam. Os interessantesestão achando legal ter uma parceira e não uma escravi-nha. Mas é uma questão bem mais complicada do queisso. Nós não temos ainda muitos modelos de mulheresno poder. Nós temos as primeiras ministras, as primeirasgrandes empresárias, temos hoje uma presidente. Nósestamos, na verdade, nos inventando ainda no poder.Como é que vamos exercer o poder? À maneira masculi-na, correndo o perigo de nos tornarmos caricaturas dehomens, a chefona, a sargentona? À maneira feminina?Mas ela existe? Como ela seria? Doce, cor de rosa, Deusnos livre! Então é interessante, porque a gente está embusca ainda dessa postura. Nós estamos sendo, na ver-dade, praticamente pioneiras.

n A senhora foi linguista, trabalha como tradutora,escreve. Tem liberdade para utilizar as palavras? Eu acho que o ser humano é o senhor das suas palavras.Nós deveríamos poder usar todas as palavras. Posso nãousar algumas para não ofender alguém, quando não queromagoar alguém. Posso não usar algumas por questão derecato, de elegância, não preciso sair escrevendo palavrõeschulos, ou coisa assim. Eu acho que as palavras são paraser usadas, mas elas também são para ser amadas,respeitadas, apreciadas. Então, eu acredito sim que ohomem é o senhor das palavras. Ele deve ser, tanto queeu ando implicando, e o meu artigo da Veja desse fim desemana é sobre isso, um certo movimento, que está bemacentuado no Sul, mas também acho que tem no senado,de querer policiar as palavras. Então, estrangeirismo nãopode, tem que traduzir, tem que defender a língua. A lín-gua não precisa ser defendida, a língua é soberana. Ela vaiaceitar as palavras que interessam, que são boas, vai inte-grar no sistema, assim football passou a futebol, a línguafaz isso. Então, deixem a língua em paz.

n Qual a importância da atividade como colunista emuma revista? Por que ficar tanto tempo em um mesmoveículo, muitas vezes criticado pela posição não muitoimparcial? A senhora já pensou em mudar de veículo?Não. Eu assumo a posição da Veja. Eu sou inteiramente afavor, senão não escreveria para ela. Eu acho que ela cri-tica muitas coisas do governo de que eu não gosto tam-bém. Eventualmente ela é muito mais violenta do que eusou. Eu sou uma pessoa muito mais observadora do queuma crítica. Eu não quero ter muito envolvimento políti-co, porque eu não respeito a política brasileira como ela éfeita hoje na grande maioria dos lugares no Brasil. Eutenho reservas enormes. Eu escrevo na Veja, porque eugosto muito de escrever na Veja. Nunca me ocorreu sairde lá. Tenho liberdade total. Eu só tenho dois deveres: umé entregar [os textos] a cada quinze dias e o outro é es-crever 3983 caracteres com espaços. O resto, inteira liber-dade eu tenho, de maneira que se eu quiser elogiar o go-verno, qualquer coisa, não há censura nenhuma. Mas deum modo geral, eu apoio bastante a posição da Veja.Alguém tem que reclamar. Às vezes reclama um poucoexcessivo, mas eu não sou dona, nem crítica nem censorada revista, mas gosto muito de escrever na Veja. Estou láacho que há seis anos, nunca pensei em mudar. Me sintolivre, me sinto à vontade, gosto da revista, não acho quehaja nenhuma melhor do que ela, que me dê vontade deescrever.

[ ]“EU PRESERVO AS

MINHAS PALAVRAS

PARA OS MEUS LIVROS,POR ENQUANTO”