Sahlins, M. Cultura Na Prática (6) - Que é o Iluminismo Antropológico

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que é o Iluminismo antropológico

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  • QUE ILUMINISMO ANTROPOLGICO?

    Algumas lies do sculo XX"*

    Ouse saber! Mas de que servido intelectual precisaria a antropologialibertar-se em nossa poca? Sem dvida, de uma poro de idias herdadas,inclusive o sexismo, o positivismo, o geneticismo, o utilitarismo e muitosoutros desses dogmas do folclore nativo ocidental mdio, comum, que sefazem passar por formas universais de compreenso da condio humana.No terei a pretenso de falar sobre todas essas coisas, mas apenas da teoriacivilizadora com que Kant respondeu a sua clebre pergunta: "Que oiluminismo?" (1983). Para ele, a pergunta passou a ser: De que modo, como uso progressivo de nossa razo, podemos escapar da barbrie?

    E esta passou a ser a pergunta para ns. A antropologia moderna aindaluta com o que pareceu ser o Iluminismo para os filsofos do sculo XVIII,mas veio a se revelar uma conscincia provinciana da expanso europia eda mission civilisatrice. Alis, "civilizao" foi uma palavra inventada pelosphilosophes- para se referirem a sua prpria sociedade, claro. Seguindo ospassos de Condorcet, a possibilidade de aperfeioamento que eles assimcelebraram transformou-se, no sculo XIX, numa sucesso progressiva de

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    * Originalmente publicado na Annual Review 01An th ropology, n. 28, 1999.

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    . vi ria gl bal cl apitalisrno, tambm n d stin u xc iam '111. a r .duziros contrastes iluminados entre o Ocidente e o Resto, Ao contrrio, a ideolo-gias de "modernizao" e "desenvolvimento" que vieram na esteira da domi-nao ocidental extraram suas premissas bsicas do mesmo antigo regimefilosfico, At os argumentos crticos esquerdistas acerca da "dependncia"e da "hegemoni' capitalista puderam chegar a vises igualmente sombriasda capacidade histrica dos povos nativos e da vitalidade de suas culturas,Em um sem-nmero de narrativas da dominao ocidental, as vtimas ind-genas aparecem como neopovos sem histria: sua prpria ao desaparece,mais ou menos junto com sua cultura, no instante em que os europeus irrom-pememcena,

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    UI11 '01'01: ri ria I de alemo era o de que os outros passariam.1"" 1,1:t S '1' , ntnrn 11te m ns - se sobrevivessem. claro que o Iluminismo), huvin I I' 'I arad e a eventualidade, ao insistir na universalidade da razodo 1 r ir sso humanos: um curso do desenvolvimento que seria bom - em

    10 [os os sentidos da palavra - para a espcie humana como tal e como umlodo. "evolucionisrno unilinear" do sculo XIX foi uma conseqncia,111t l' P lgica lgica dessa noo iluminada de racionalidade universal. TodosI .riu m de passar pela mesma seqncia de desenvolvimento. Em sua Primi-1;//(' ulture, de 1870, E. B. Tylor mostrou a destruio que o futuro reser-v.iva para a apreciao da diversidade cultural endossando, como um m-rod apropriado para a determinao dos estgios da evoluo cultural, aim rtal observao do dr. Johnson de que "um grupo de selvagens iguala utro" (1903, v. 1, p. 6). De qualquer modo, para voltar a outros povos.nto confrontados com a "civilizao" ocidental, Marx tambm sups que, pas mais desenvolvido em termos industriais s faz mostrar aos menosdesenvolvidos a imagem de seu prprio futuro" (1967, p. 8-9). Um clssicorecente do gnero foi-.Stages ofEconomic Growth, de Walt Rostow (1960),

    m sua seqncia unilinear de cinco estgios de desenvolvimento que vodas "sociedades tradicionais" "era do alto consumo de massa". (Rostow deveter estado entre os primeiros a perceber que o auge da evoluo social huma-na era fazer compras.) Explicitamente apresentada como uma alternativaaos estgios de progresso marxistas - o subttulo do livro "Um manifestono comunista" -, a tese de Rostow teve todas as caractersticas de uma ima-gem especular, inclusive o efeito de transformar a esquerda em direita. Tam-bm compartilhado com muitas teorias do "desenvolvimento" foi o alegresenso de tragdia cultural de Rostow: a desintegrao necessria das "socie-dades tradicionais", que, no esquema desse autor, funcionava como umapr-condio para a "decolagem econmica". Outra necessidade era a domi-nao estrangeira, capaz de realizar essa destruio salutar; caso contrrio, asrelaes costumeiras da produo tradicional imporiam um teto ao cresci-

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    11 .xisrno, ao imperialismo e aos outros males da sociedade ocidental. O1'1' blema dessa antropologia de advocacia no est simplesmente no fatoI que os argumentos so julgados por sua moralidade, mas sim que a mo-ralidade, persuasiva a priori, passa a ser o argumento. O verdadeiro e o bomtornam-se um s. Entretanto, uma vez que o valor moral costuma ser umatributo externo fornecido pelo (e para o) analista muito fcil inverter ossinais, o que leva a alguns curiosos argumentos em double bind, dos estilos"fadados ao fracasso" ou "fadados ao sucesso".

    Consideremos, por um lado, os efeitos devastadores da expansocapitalista ocidental e, por ouqo, a ordenao autnoma desses efeitos pelospovos locais, de acordo com suas prprias luzes culturais. Por mais opostosque possam ser como concluses empricas, ambos podem ser rejeitados combase nas mesmas alegaes morais - e muitas vezes o so. Pois, falar da aohistrica dos povos-nativos, por mais verdadeira que ela seja, ignorar a tira-nia do sistema mundial do Ocidente e, portanto, conspirar intelectualmentecom sua violncia e sua dominao, ao passo que falar da hegemonia siste-mtica do imperialismo, por mais verdadeira que ela seja, ignorar as lutasdos povos pela sobrevivncia cultural e, portanto, conspirar intelectualmentecom a violncia e a dominao ocidentais. A guisa de alternativa, podemostornar moralmente persuasivas a dominao global e a autonomia local -isto , a favor dos povos -, chamando esta ltima de "resistncia". Essa umaestratgia fadada ao sucesso, uma vez que essas duas caracterizaes, a domi-nao e a resistncia, so contraditrias e, numa certa combinao, expres-sam toda e qualquer eventualidade histrica. Desde Gramsci, enunciar aidia de hegemonia tem acarretado a descoberta igual e oposta da resistncia

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    As sociedad s locais do Ter ir e Quart Mundos c Ill, rn, eptiIJdllll'II/(',organizar as foras irresistveis do sistema mundial de ardo m S '11PIl')l'tillsistema de mundo: de vrias formas e com sucesso varivel, d 'P '1ldl'IIdo d,lnatureza da cultura nativa e da forma de dominao externa. 1" ' I\,10 Imuito iluminador a maneira como os banquetes de porcos da N( va (;lIill1',as reivindicaes fundirias dos maori, os cultos medinicos no Zilllldhlll.os barracos dos trabalhadores brasileiros, as trocas fijianas e um Ml1111t'III111findvel de formas culturais definidas so explicadas, para a s3I'isl:1

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    do t01l1i11 '1111' P,\I':I ,\ il!t,\ ' 1m illl {IIS P,II,I :t r ,t'iao xnu iucurul cxruv.ur:di stroando :I se i ,da I - nativa. s al 1'6 'S I, 'alllb ill qu . S' m LI InVL mP,II';\ o .ont incntc "no eram mais esquims", acreditava Hughc , "no eraml'I.lis p 'S5 as que preservassem uma tradio cultural prpria". Nas dcadasdi' 1( O ' 1960, rapazes de l foram para as foras armadas norte-ameri-.II1,IS ou para escolas do continente, sob o patrocnio das misses ou do Bu-

    It .111ol'lll lians Affairs (BIA), e quando este despachou famlias inteiras para11 hornu " Seatrle ou Oakland, dentro dos programas de "relocao e

    ,I\~bl 11'i, ao emprego", o entendimento geral era o de que eles aprenderiam,I VIV 'r mo brancos da espcie Homo economicus, corrariam relaes comsuas aldeias e suas culturas e nunca mais voltariam. "Eles tm de abrir mo,1(11' amente, da estrutura abrangente das crenas e prticas dos esquims",disse Hughes sobre os migrantes de Gambell. "E, quanto mais essas pessoasse deslocam nessa direo, mais o vilarejo de Gambell, como uma aldeia.squim, desaparece do cenrio humano" (ibid.).

    No entanto, na dcada de 1980, Gambell estava passando por umcrescimento espetacular- de 372 habitantes em 1970 para 522 em 1989-,graas, em grande parte, ao retorno de migrantes que voltavam para reto-mar um "estilo de vida de subsistncia", como explicou uma nova gerao deetngrafos, a eptome do que eles descreveram como um "renascimento"cultural geral. Gambell era uma das aldeias de um conjunto, ao qual tambmpertenciam Wainright, na encosta norte, e Unalakleet, no baixo Yukon, queuma equipe antropolgica chefiada por Joseph Jorgensen conheceu comcerta profundidade na dcada de 1980 - com o objetivo de determinar comoesses "esquims da era do petrleo" estavam lidando com sua dependn-cia cada vez maior (Jorgensen, 1990; Jorgensen, s.d.). Assim como RichardNelson, quem primeiro havia estudado Wainright nos anos 1960 e pensaraequivocadamente que a economia de subsistncia estava acabada - "sub-sistncia", na poltica identitria do Alasca, uma palavra de efeito cujo sig-nificado, nesse contexto, seria mais ou menos equivalente a "costume tra-dicional" -, e muitos outros etngrafos, a equipe de Jorgensen constatouque os esquims das dcadas de 1980 e 1990 haviam mudado muito mais emuito menos do que qualquer um poderia esperar (Jorgensen, 1990, p. 5).

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    ~111",II,111I IlI,m 11111I III .t d" ",1111.11 1111111"d, 11111111"1',1.1 I""dllll\' I It! 11V1'111 11 1,1'. 1111111,til I : I III III!'. I'111li 111 I 11V I', I I 1111,,~ I i 1111I111lornin.uu 'IIH'III 'lldll "d,I,.I',"I\'II,(I dll ""illl d,' vid.1 li, ,,,II.,i'll 1111,1 11101nipulndnx nt rnvs I.I,r.J.I~()" d'll()dll~,lo' li'llil)lli~,() O,'"III\'il,I',,/\ I1in ia ti 10V( 1111'lII nn I 'S':\ . nn '01'1:\ '1':\ lir '1:1111'111' i>I'OI)(11l illll,tI

    a sua d 'P .ndncia de 'apiwlisll1o. M:IS, visu t]1I 'S 'lIS prprios II1()d(),~ ti\' \1"1duo eram rdcnad s pcl parentesco - em ambcll, p I' um ,'i, 1 '111.1 ti,cls patrilineares ainda florescente -, o efeito foi um les br har I' '1,:11d,1 11.1dio, que se estendeu das relaes de reciprocidade intcn ivas '111I (' 1',1rentes at as relaes csmicas de doao recproca de vida entre 1\011\ '11', ,animais, passando pelo renascimento dos festivais de invern que ",I Vi.1111classicamente realizado esses intercmbios. (No Yukon, ouvi os yupil ,1111',111fonos referirem-se a esses festivais como "potlatche!'.) Ao mesmo Il'lllj l(', ( 111vez de os ilhus migrantes partirem para perder sua cultura, o t.:kito di 011Ipermanncia, por perodos mais longos ou mais curtos, na Tcrrn I" I 111mem Branco, foi estender a aldeia de Gambell desde sua sede munl, 1\,1 illl,lde So Loureno, at os membros do cl espalhados em locais to di~('\llltquanto o Oregon e a Califrnia. Entre outras razes, o aumento 1:\" ItI!',i,tncia" em casa levou a um aumento do "compartilhar" longe dela. Um '~t 11111.do "cornpartilhamento de subsistncia" de uma unidade domsti n, I "tilzado por Lynn Robbins, mostrou que ela estava conectada dessa rnan 'il',1,\outras 29 unidades em Gambell, a 23 na aldeia de Savoonga, em So L( \11'1'11o, a sete em Nome, duas em Fairbanks, a uma em Sitka, a duas no r '[',011e a seis na Califrnia. A rede inclua 315 pessoas em 70 unidades dom li ';I~,com a maioria dos presentes sendo oferecida aos membros do cl patriar nl,Fazendo eco a relatrios similares, provenientes de todas as partes do Al: S ',I,Jorgensen escreveu: "Em suma, por parte dos esquims, h uma determinande manter sua cultura tradicional e, ao mesmo tempo, adotar uma aceita lOpragmtica dos benefcios da tecnologia moderna" (ibid., p. 6).

    Ainda assim, do ponto de vista de uma antropologia tradicional- pnruno mencionar sistemas mundiais e teoria da dependncia, economia cI 'senvolvimentista e teoria da modernizao, ps-modernismo e teoria da 10balizao -, a pergunta : Como foi que os esquims fizeram isso?

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  • I\d 111,11,I) I '111111111,11,111~,IIIII IIIIIIII~ N,I dl~III~' .11I1111 I', 1',111, VII1111' I II Illi.l~ IItlld 111.1',,lldllll'"I\ ti '1l1111,1~ ',li I d.u] '~, 10111 vi~t.I\ ,111,1'.'1 , lil/, '''gIl11l,1~ d,llI qlll!lI(H'~ lcv.uu.rd.rx 11,Io~ 'sqllil1l6S c, dCSM' li\( 10,1I Ol1SII'IIir 11111,1nutropolo ,i:1 liip '1'11':1li .ionnl, ti' a ordc OJl1 as mnn 'i-I,IS s(:pltl1do as juais nstr em suas uliura rradi ionais,

    A indigenizao da modernidade

    'is uma cano moderna do povo enga, da Nova Guin, sobre a capta-,:I do poder-conhecimento dos europeus - os "Homens Vermelhos", nolin uajar local:

    Quando chegar o momento,Nossos jovens se alimentaro das palavras deles,Depois que os Homens Vermelhos se afastarem destas terras,Nossos jovens, como beija-flores,Depois que os Vermelhos se forem,Sugaro as flores,Voltando a ficar aqui.Faremos como eles,E nos alimentaremos de ses feitosComo beija-flores sugando flores.

    Talyaga, 1975, n.p.

    Invertendo as relaes reais de explorao e dominao, seria fcil con-fundir esses versos com as fantasias ilusrias dos desapcderados. Contudo,seria um erro sup-los motivados por um desprezo das pessoas por si mes-mas ou um sentimento de sua destruio iminente, Na moderna ernografiadas terras altas da Nova Guin, tudo indica que o sentimento de usurpaocultural - ambiguamente representado aqui por beija-flores alimentan-do-se dos poderes dos homens brancos banidos - seja o princpio norteadorda ao histrica de seus habitantes. Em vez de desalento, trata-se de umaao de avano para a modernidade, guiada pela certeza de que os enga serocapazes de subordinar as coisas boas dos europeus ao desenvolvimento desua prpria vida. "Develop-man" o termo neomelansio, e no seria umerro repidginizd-lo no ingls como "o desenvolvimento do homem", uma

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  • 548 o 549 o

    111,1i,fll'lJlkllll 1111'111.Iqllll" '11' 'fi, ( "1',,11.1111,11.1111:11111di',', ')" d( illdi!', 'Iti'l.1."" ( PiO) 'lI) .1 in lil', lIi'l"U,.IOti" IIIOt!('lllid:ltk',

    A'l>illl, '111 . 'I'! os :ISp' 'tos il1d( ~'lias, o .nvolvim '1110 (1l1 as ~ I' a'.ll'il,"isl;IS in: '1'11:1'j n:ds P .rrnitiu [uc s nga e L1Lr h bitantc daI('li ,I :111as da N v u in "de envolve rn" suas ordens culturais, isto , o'1"' ,I 'S .ru ndiam p r de nvolvi-gente - uma quantidade maior e me-111111ti" [uil LI consideram coisas boas, Esse um relato etnogrfico co-11111111:t r .spcito dessa regio desde a dcada de 1960, Beneficiando-se dos1,1 IOS :1lI~ ridos no mercado pelo trabalho migrante, pela produo de,ti ( . dc u tras lavouras comerciais, as grandes trocas cerimoniais inter-(I. ni ::IS - instituio que um marco na cultura das terras altas - flores-

    mo nunca nas ltimas dcadas, Entre os enga, os mendi, os sia-IIt' ~ ou tros, essas cerimnias aumentaram tanto em freqncia quanto11.1juantidade em termos de pessoas envolvidas e de bens negociados, Por'ons guinte, os grandes homens (big-men) so mais numerosos e pode-1'(s .Antigas alianas entre cls, que haviam sido esquecidas, foram reavi-vadas, As redes interpessoais de parentesco se ampliaram e fortaleceram,\> rtanto, o dinheiro tem sido meio, em vez de oposio sociedade, Asdulas de alto valor substituem as conchas como principais objetos dev, lor para troca, ddivas de caminhonetes Toyota complementam os1 rcos de praxe, e fartas quantidades de cerveja funcionam como pre-S n tes iniciatrios (acrescentando algumas dimenses de celebrao sfc tividades costumeiras), Aprisionado nas obrigaes recprocas e nospagamentos do preo-da-noiva, "o dinheiro que circula nas trocas no ,.m geral, de modo algum 'consumido'", como observou Andrew Strathern'obre os hagener, "mas continua circulando, impulsionado pela dvida epeloinvestimento" (1979, P: 546), Rena Lederman relatou que, entre os mendimodernos, as obrigaes de troca entre os cls e parentes criam "uma de-manda de moeda moderna muito maior do que a demanda gerada pelosmercados existentes" (1986b, P: 332), Da os mendi dizerem que elestm averdadeira economia de troca, em contraste com a mera "economia deubsistncia" dos homens brancos (idem, P: 236), Isso que situaoembaraosa.

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    :1a I taram sob a condio de "cultura chinesa, habilidades ocidentais", ou,IIUma outra formulao clebre, "os estudos chineses so fundamentais, os.siudos ocidentais tm serventia prtica" (Chou Tse-tsung, 1960, p. 13).6Ainda assim, seria meramente permanecer no interior do estrutural-fim-'i nalismo ocidental se encarssemos isso como uma inverso das relaes.ntre base e superestrutura. Trata-se de algo que parece representar uma:\I'ropologia ainda mais interessante na qual a prxis uma expresso deum esquema cultural csmico - mediante cuja realizao a matria e a for-ma se constituem como entidades empricas e inteligveis -, a realizao deum esquema cultural numa funo pragmtica. A explicao apia-se maisna pertinncia de valores de sentido do que de causas mecnicas. Granet

    ma a histria de um certo duque do perodo Chou de quem se dizia queno conseguira conquistar a China porque, na ocasio de sua morte,sacrificaram-se seres humanos a seu esprito.

    Dinheiro e mercados, moralidades e mentalidades

    Cultura esquim, tcnicas ocidentais. Ou, como disse o chefe da aldeiado Yukon ao antroplogo:

    Pegamos qualquer tecnologia que funcione e a adaptamos a nossosobjetivos e usos. (... ) Isso parece incomodar as pessoas que queremque continuemos prstinos, ou que admitamos nossas contradiespor querermos a tecnologia e controlarmos e preservarmos os recur-

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    ,CI tilll 1111 .til 111,I ( ) 1'111'1"' 11111 11111111111110111111, 1\"tI,IJlI.II'111111I'c111ti"1',101'1" . '"111\11.11111"I1 1111' 1IIII',III,III,I'))(lop, (IC )

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    vcf ulos qll:1I(1'1 ,'-1 '1'1'.no, :\S (..~pitll':lI(hs m I ,\ITOS ti' I 'S ':1,1 111111111di[czoiro I S' trinta' leis P S, maS .squc 'i (li nvi 's de suhsisl 1i in d(lo, I",luim s. arur pl 't 'v' nn I 111m 'li i 11:1.in 'o d :1 'S, p '11 '1\ ('1111a m rad re yupil d TI ial (na baa I Bri ti). Ess .s avies '1',\111m Id "primordialm n te para (l) e tender a faixa d SLIbsi: I !lI 'ia :dr ':\1\I\.tI li1,Idas por renas e (2) oferecer transporte, median te s Ii ira ,50, :I p:\ 1'(111('S \'111visita nas aldeias prximas, objetivos totalmente ompntv is '0111os I111\11.1mentes, orientados para a subsistncia, da comunidad "(1991, I, H ),Esses modernos modos de produo paleolticos conferem bvias IOllll,1 deficincia economia de subsistncia - e algumas no to bvias, OIl\1l 1\ I1vrar-se da necessidade de pescar, preparar e armazenar os milhar si, ,~:IIII\ Inecessrios para alimentar uma matilha de ces durante o invern ,M.I ,Itambm possibilitam uma maneira mais eficaz de engajar-se na 0110111i.1tilmercado da qual dependem as atividades de obteno de alirn nt , sdV;'1',I'1I ,proporcionando a mobilidade ou estabilidade para a caa iru rm itcut ' tildinheiro - quando e onde (e se) surgir a oportunidade. A 1111':rill tI.lopinies gerais dos dois ltimos sculos, as relaes dos yupik c I os n1Ii111.\Icontinuam, no entanto, inteiramente diferentes das rela s apil:tli.~t.I~ tilproduo que lhes fornecem o equipamento de caa necessrio. h:1S' I 1 'li ~(Icitou John Active, um yupik que trabalha na estao de rdi I ,I 'vis:IO ti 11

    governo em Bethel- o ano da entrevista 1992:

    Os animais, as aves e as plantas tm conscincia, e ns s cr:1lanlO~com o mesmo respeito que sentimos uns pelos outr s. S 11:10nativos referem-se a esses animais como "caa". Para I 5, n :I~':tIIum jogo. Ns no jogamos com os animais. Quando levamos :lllimais para dentro de nossas casas, ns os tratamos m visitas,(... ) Agradecemos a eles por terem sido capturad S n r 'dit:IIIIII.',que seu esprito voltar para os deuses ntar: mo .lcs fOI:1I11tratados. (Os "deuses" pareccm ser mcstr S 'spil'illl:1is d:ls 'sP~('i('N,como na difundida cosrnol ia d S I ovos S 'I .ntrionnis.) S' o,~,lIti.

  • 111,11(01 '11111111111.t1.lclm,I' ~n 111'11\('\(11111'I '1,11/011110,\dl,II~.(... ) No,\,ms .111\'.'II.IiN11,10,1!ln'lIdt'!';1I1Ii~M) 110livro d vuc S (:1IHllia). (11 'ns 'I, 1( 9 I, p. 71)

    No simplesmente que as culturas esquims - ou de outros grupossetentrionais, como os den e os cree da baa James, sobre quem se fizeramobservaes similares nos ltimos tempos - perduraram apesar do capitalis-mo, ou por que as pessoas resistiram a ele. Trata-se menos de uma cultura deresistncia do que da resistncia da cultura. Envolvendo a assimilao doestrangeiro na lgica do familiar - uma mudana nos contextos das formasou foras estrangeiras, que tambm modifica seus valores -, a subverso cul-tural da natureza das relaes interculturais. Sendo inerente ao do-tada de sentido, essa resistncia da cultura a forma mais inclusiva de di-ferenciao histrica, no necessitando de uma poltica intencional de opo-sio cultural nem se restringindo s reaes dos que so oprimidos pelocolonialismo. Mesmo aqueles que esto sujeitos dominao ocidental e srelaes de dependncia agem no mundo como seres scio-histricos, demodo que sua experincia do capitalismo mediada pelo habitus de uma

    forma de vida indgena. Obviamente, verdade que sua dependncia ex-cessivamente clssica poderia acabar com pessoas como os yupik. Entre-mentes, no entanto, a aparente mistificao cultural da dependncia pro-duz uma crtica emprica da ortodoxia de que o dinheiro, os mercados e asrelaes da produo mercantis so incompatveis com as formas de orga-nizao das chamadas sociedades tradicionais.

    Marx diz que o dinheiro destri a comunidade arcaica porque o dinheirose torna a comunidade. Como se uma pessoa, queixou-se Freud, de repenteganhasse um psiquismo ao sacar seu primeiro contracheque. Num livrochamado Money and tbe Morality 01Exchange, Maurice Bloch e JonathanParry reuniram diversos exemplos em contrrio, extrados de uma variedadede sociedades. Opondo-se idia de que o dinheiro d origem a uma de-terminada viso de mundo - a viso anti-social, impessoal e contratual queassociamos aele -, os autores enfatizam "como uma viso de mundo existented origem a determinadas maneiras de representar o dinheiro" (I 989, p. 19).O que eles questionam a posio estrutural conferida ao dinheiro na tota-

    v 554 v v 555 v

    lid,lll( I ,,11I11.t!. '1IIIIIm.l~ ,dlllllll, 11 d, 1\111lilm d IllltiV'" d", 111111.1110 d" dlllll 111\,,11111,I 1111111111".1"1,I' '

    ,'lIpCll'1I11l111,11111'1)"r un Il1ilO".'oIp.II,ldo, I1I111t1,IV.lll.tI,llll 1\1111", 11.111\1111.1,..,1"1':1d, 11,11111,1Ots :lIIHII':tI,scp.u.ul.: di, g 'I\( Imid.ld '\ di ,"I1iJ',11 I1':11''111's. Mas, 011 I, II:!Ohn oposi:to 'SII'Utlll':t! '1111",1\ I '1.1\0 , 1.1 I 11111mia 'd;'! so ial ilidnd " onde as Lransa 'S m.u 'I'i:lis S.IO III.t~ 01 d '11011.1P I. r Ia 'S lal qu inverso, a amoralidacl 1i1',,11,11econmicas e sociais deles decorrentes; suas relaes sociai (," 'sJli 11t 11,11li)com a natureza tambm no desapareceram, e eles no pcrd ')';11\1SlloIi"l 1111dade cultural, nem mesmo ao viverem nas cidades dos bra os.

  • I illl d 11\111.1111111111,1," d! /1 11l1!111LI ( I ',dI 111.1\11.111! """i\1 ' 11.111I1',.IIIi/.1.11)illl '111.1d,1viil.1do~ (1('(', inui: ou yllpil . A pCI'd.1dv 1t,lhdidll I 'S11,l!lj iOI1.Ii.. liSOde 11'116spllx:ldos l)(ll' :I 'S, (abri 'a~'fioti' (;IIIO:lS ti 'I ,I,d ,li) :1,111
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    Mas o iluminismo no tardaria a chegar. Tomando explicitamente orontinuum campons-urbano, Edward Bruner demonstrou a continuidadedi id .ncidade, parentesco e costumes entre as aldeias Toba Batak da regiomontanhosa de Sumatra e seus parentes urbanos em Medan. "Examinadasti ponto de vista estrutural, as comunidades toba batak das aldeias e das'idades fazem parte de um mesmo sistema social e cerimonial" (1%1, p. 515),

    I~,ferindo-se em termos mais amplos ao Sudeste Asitico, Bruner escreveuque, "contrariando a teoria tratlicional, constatamos em muitas cidadesasiticas que a sociedade no se seculariza, o indivduo no fica isolado, asorganizaes de parentesco no se desestruturam e as relaes sociais do meiourbano no se tornam impessoais, superficiais e utilitrias" (idem, p. 508),Em meados da dcada de 1970, tais observaes tinham-se tornado comunsna ptria latino-americana do continuum campons-urbano, bem como nasetnografias dos colegas de Gluckman e de outros, em toda a frica subsaa-riana. E, medida que a gestalt passou da anttese do rural-urbano para asntese da ordem cultural translocal, um estudo aps outro saiu tateando em

    busca de uma terminologia adequada. Os estudiosos falaram variadamentede "sociedade bilocal", de "um nico sistema social e de recursos", uma "redeno territorial da comunidade", um "campo social comum" que unia a zona

    rural e a cidade, "uma estrutura social que abrange as localidades doadoras ereceptoras", "um nico campo social em que h uma circulao substancialdos membros", ou alguma nova espcie dessa ordem (D. Ryan, 1993,

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    sua id .ntida I 'S li l'sln", ornuni Ia I' trnnslo ai { 'slr:llt'J,j( ,\1\111\11I p nd nt d 5 us n -r si Iene S LIrba 11 S para bt r s m .los 1ll:l1 dai-. disubsistncia, A prpria ordem rural cstcnd -sc para a ida I " UIll;1 V 1',qlll li'migrantes se associam transitivamente a cada uma dela, c m bnsc cru \1.1relaes em casa, Parentesco, comunidade e afiliaes trib i aclquircm un \funes, e talvez novas formas, como relaes de migrao: rganiznm u 11111vimentao de pessoas e recursos, o cuidado com os dep nd '11\(" 111 te I t Inatal e a proviso de moradia e emprego urbanos, Uma vez qll . as p(' ~Il I'situam seu ser social e seu futuro em seu lugar de origem, os fluxo' Il1I1I 'I i.d.geralmente favorecem os que ficaram na terra natal. A ord m in \(1',111,\ Isustentada pela receita e pelos produtos adquiridos no setor om ," l.tI I 'trangeiro. Mas ser que devemos falar de "remessas", como faz m o, ( 'I"cialistas em economia exterior? Esse fluxo de dinheiro e bens mais 11111preensvel em termos das normas de "reciprocidade", segundo aMl'Ill:t li:" ,I,Hau'ofa (1993), uma vez que reflete as obrigaes dos migrante p:II':\ 1'0111os parentes, ao mesmo tempo que lhes garante os direitos em S LI 1111\:11 dinascimento. A "reciprocidade", em contraste com as "remessas", d slo ':1 :tplllpriadamente a perspectiva analtica de uma aldeia geogrfi :1 P'q lI( 11,1para uma aldeia social espalhada por milhares de quilmetros , .m v "I, d,lamentar o destino de uma aldeia que vive de "remessas", pod damo, I 10mo faz Graeme Hugo, elogiar seu sucesso em inverter "a fun pnr:tsil.'tll,1tradicionalmente atribuda s cidades" (1978, p. 264). Ao dilar: r o dlVi',1I1histrico entre o tradicional e o moderno, a distncia em des nvr Ivi111('11111

    entre o centro e a periferia, e a oposio estrutural entre cids l:io!\ \I" 1I\lIne membros de tribos, a comunidade translocal frustra um 1'1 () ('1111',1111'rvel da iluminada cincia social do Ocidente,

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  • /I 1'11/1111"1 11110,'1/' tl/'ltl/nll,/,('/,,,r!O

    ()!'Vi.111I '1I1t', possfvcl quc n xnnuni lad' rraus]o ai IUI() rurdc ad ~.lp:II'(t 'I' 'Olll( (01'111:1ulturnl. ' s mi rarucs 5' .stal ,I,I' '1'1\\:111'111. no 'Xl 'ri r,::t strutura p de c r uma esp ie de meia-vida ge-1,1 i()n:d, os vn ul s m a ptria dis olvendo-se a cada gerao na cida naid:\ I ' ( li n xtcri r. No entanto, em algumas partes da lndonsia, dafrica

    c ele outr S lugares, a migrao circular acontece h vrias geraes. As in-(ol'll1a ~ d Nairbi na dcada de 1980 fazem eco a observaes feitas emlava .m ] 916: os migrantes no se estavam proletarizando (Elkan, 1985;Pari in, 1975). Partindo de uma ampla resenha da bibliografia antropol-f,i :1 obre cultura e desenvolvimento, Michael Kearney concluiu recente-

    m .n te que "os migrantes no se proletarizaram em nenhum sentido ideo-

    I{>gico profundo" (1986, p. 352). Entretanto, a longevidade da forma no .1questo que me interessa aqui. O que tem maior interesse a criao per-

    manente de novas formas na Cultura das culturas do mundo moderno.

    Ningum pode negar que o mundo assistiu a uma diminuio geral da

  • J\ 1\ N'I I L 11\ NJ\TJVJ\ i\.

    lJIII.1 .dd i.1illl 'rll:IIII~'I1I~'viva 6 indcnc n Jlol(Jicas 11.' gov '/'IlO ':1 :11:1liSI11()S11,11111,lis, que nno :1( 562 (>

    Originalmente publicado em Current Anthropology, v. 37, n. 3, JUI1C 1 (I,