Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    1/93

    Direito Administrativo I

    Professor Colao AntunesLicenciado, mestre e doutor em Coimbra

    Programa e bibliografiaDisponvel no Sigarra e na reprografiaLegislao Administrativa Bsica (colectnea actualizada) deve incluir a Lei doCdigo de Processo Administrativo e a Lei do Estatuto dos Tribunais AdministrativosCurso de Direito Administrativo, Freitas do Amaral (volumes I e II)Administrativa autnoma e associaes pblicas, Vital Moreira (tese dedoutoramento)

    Breve introduo

    Pulverizao da administrao

    A organizao administrativa (administrao pblica em sentido orgnico), pode ser,por exemplo, directa e indirecta, autnoma regional e local.Neste mbito, em prol da eficcia, o Direito pblico muitas vezes substitudo peloDireito privado, prtica que se tornou comum a partir dos anos 60/ 70, quando oDireito Administrativo comeou a ser constitutivo e que tem mais a ver com a gestoadministrativa do que com o regime jurdico. Em alternativa, poder-se-ia adaptar oDireito pblico s mutaes sociais e econmicas.Esta comutao deve-se celeridade do Direito privado, que no deve, porm,confundir-se com eficcia, uma vez que o processo administrativo perde garantias(ex: a audincia dos interessados em Direito Pblico um elemento garantstico; noDireito privado no h legitimidade para se recorrer).No entanto, pulverizao de entidades administrativas leva fragmentao doregime jurdico do Direito administrativo. Por influncia do Direito comunitrio (queno conhece distino entre Direito Pblico e Direito Privado), o Direitoadministrativo vai mesmo perdendo a sua personalidade.

    Modalidades da actividade de administrao pblica:Acto administrativoRegulamento administrativoContrato administrativo

    O contrato administrativo comea, hoje em dia, a tornar-se mais importante do queo acto administrativo, que se centra na ideia de autoridade.

    Discricionariedade

    A deciso discricionria na administrao est sempre vinculada:Ao princpio da legalidade;

    Aos fins de interesse pblico (garantidos atravs das competncias funcionais,para que no se incorra num vcio orgnico), que so o fundamento e o limite da

    1

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    2/93

    discricionariedade;Aos princpios que regem o Direito administrativo (ex: princpio da

    participao dos interessados no processo).

    Noo de Administrao PblicaEm sentido orgnico

    - Agentes administrativos- Pessoas colectivas

    Primrias ou territoriaisSecundrias

    Conjunto articulado de entidades que de uma forma permanente e constanterealizam o interesse pblico (ex: o docente que entrou para os quadros dauniversidade).

    Em sentido objectivo ou dinmico

    Actividade (tomada de decises) designada no Cdigo de ProcedimentoAdministrativo (ex: a administrao burocrtica).

    Influncia do Direito Comunitrio

    O Direito Comunitrio influencia o Direito Administrativo, atravs de duascaractersticas que no so do Direito Positivo:

    aproxima-se da Commonwealthefeito primrio e directo (prevalncia sobre o Direito interno e entrada

    imediatamente em vigor de regulamentos e de directivas, quanto aos fins mas no

    quanto aos meios).Os organismos de Direito Pblico uma figura criada pelo Direito Comunitrio paraque as pessoas colectivas privadas dos diferentes pases tenham um acessoigualitrio a concursos internacionais, por exemplo.

    Fontes

    O Direito Constitucional passa e o Direito Administrativo prevalece.Ottomaya

    H uma Constituio administrativa dentro da Constituio, que o conjunto denormas e princpios constitucionais que dizem respeito ao Direito Administrativo (ex:art. 266 e 267).

    A natureza composta da administrao s vezes leva a que haja uma dualidade de jurisdies.

    2

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    3/93

    O Direito Administrativo um ramo do Direito Pblico, que tem uma relaoespecfica com a noo de administrao pblica. Administrao Pblica umafigura que tem trs manifestaes : Em sentido orgnico ou subjectivo

    Equivale noo de organizao administrativaConjunto de unidades organizatrias que desenvolvem, a ttulo principal, a

    funo administrativa.

    Sistema de entidades administrativas, rgos, servios, agentes do Estado edemais pessoas colectivas pblicas que prosseguem, de uma forma regular econstante, a satisfao dos interesses pblicos. Em sentido material ou funcional

    Actividade administrativa ou funo que a constelao de entidadesadministrativas desenvolve. Em sentido formal

    Modalidades tpicas da funo administrativa (actos, regulamentos econtratos).

    utilizada para distinguir a funo administrativa das outras funes doEstado, como a legislao e a jurisdio.

    Nota: no entender do Prof. Colao Antunes, a administrao no est vinculada aprosseguir necessidades colectivas, mas interesses pblicos. So os interessespblicos que unem os rgos e as actividades.

    A administrao pblica costuma ser confundida com a administrao central doEstado, mas mais ampla, at porque a administrao do Estado nem sempre central (administrao perifrica, como por exemplo as comisses dedesenvolvimento regional, que prosseguem os interesses do Estado comabrangncia territorial). Do mesmo modo, para alm da administrao directa do

    Estado, h a administrao indirecta (ex: institutos e empresas pblicos) e aadministrao autnoma, que pode ser local (autarquias locais) ou regional (regiesautnomas dos Aores e da Madeira).Um exemplo que denota a ideia de que a administrao mais ampla que aadministrao central do Estado o particular relevo que a CRP d administraoautnoma regional (art. 225 e ss) .

    Pode haver relaes administrativas entre:Entidades pblicas e particularesParticulares

    As pessoas colectivas pblicas actuam atravs de rgos, que tm comoinstrumentos os servios administrativos.

    3

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    4/93

    O mbil da actividade administrativa a prossecuo do interesse pblico,conjugado com a proteco dos direitos e interesses dos particulares (art. 226) . Isto possvel, porque a administrao modelada por clusulas procedimentais, nosendo um acto puramente unilateral ( sempre necessrio ouvir os tutelares dedireitos subjectivos). Deve procurar-se harmonizar a melhor prossecuo dosinteresses pblicos com os interesses privados (ex: a expropriao de terrenos peloEstado para a construo de um hospital deve limitar-se ao estrito espaonecessrio). o Cdigo do Procedimento Administrativo (criado em 1991 e alteradoem 1996) que rege toda a actividade administrativa. A administrao actua combase no princpio da legalidade (art. 199) contedo material da actuaoadministrativa. Neste artigo transparece uma ideia meramente executiva, porm,com a evoluo do Estado de Direito liberal para o Estado Social de Direito,administrao deixa de se limitar a uma funo executiva, tornando-se tambmconstitutiva ou confortadora (ex: prestao de subsdios) alnea g).

    Nota: O Governo um rgo simultaneamente poltico e administrativo.

    Necessidades colectivas (Prof. Freitas do Amaral) :Bem-estarCulturaSegurana

    Para o Prof. Colao Antunes, nem todas as necessidades colectivas so interessespblicos. Estes ltimos pressupem uma operao normativa, porque deve haveruma avaliao prvia das necessidades colectivas para seleccionar quais merecem oprima de interesse pblico.A Administrao no est vinculada a prosseguir todas as necessidades colectivas,mas apenas aquelas que o legislador constitucional entende que sejam interessepblico (h uma catarse).

    A Escola de Coimbra, influenciada por Rogrio Soares, tem uma noo de interessepblico primrio de natureza poltico-constitucional (ex: paz, justia), abstracto-formal. Nesta perspectiva, os interesses pblicos secundrios seriam os perseguidospela Administrao Pblica.

    Segundo o prof. Colao Antunes:Interesses pblicos primrios aqueles que resultam para uma autoridadeadministrativa de uma sua atribuio (aqueles que a lei incumbe as pessoas

    colectivas pblicas de prosseguir). Assim, as atribuies so interesses pblicos quea pessoa administrativa est obrigada por lei a prosseguir.Interesses pblicos secundrios os que a Administrao Pblica deve ponderarquando tem que tomar uma deciso. Isto demonstra que a Administrao no monoltica, ao estarem envolvidos outros sujeitos portadores de interesse pblico(ex: a construo de uma auto-estrada um interesse pblico primrio por ser umavia de comunicao, mas h interesses pblicos secundrios a ponderar, como asexpropriaes, o direito ambiental, etc.).

    Quem determina o interesse pblico o legislador. A Administrao Pblica oinstrumento criado pela ordem pblica para prosseguir os interesses pblicos (temum dever inalienvel). A haver uma margem de escolha quanto realizao dointeresse pblico concreto. Cf. Art. 266/ O Direito Administrativo e a sua justia noincio do sc. XXI, Colao Antunes, pgs. 32 - 66) .

    4

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    5/93

    O interesse pblico tanto pode ser realizado por aco de um particular, como daprpria Administrao Pblica.

    Pessoas colectivas de Direito PblicoPara que haja uma relao jurdico-administrativa preciso que, pelo menos de umlado, esteja uma pessoa colectiva de Direito Pblico. O que distingue uma pessoacolectiva de Direito Pblico de uma pessoa colectiva de Direito Privado que aprimeira:

    regida pelo Direito Pblico; objecto de criao por uma lei pblica (normalmente, por iniciativa

    central, mas tambm pode ser local); dotada de uma capacidade jurdica pblica, mas tambm pode estar

    dotada de uma capacidade jurdica de Direito Privado (pode estar apta para a gestoprivada - a administrao actua como um particular, numa posio de paridade, poisest despida de ius imperium - ex: comprar ou alienar bens);

    tem autonomia administrativa financeira;a responsabilidade civil est sujeita responsabilidade administrativa;tem prerrogativas (poderes e deveres exorbitantes*) de autoridade;no tem o poder de se dissolver;est sujeita aos tribunais administrativos (jurisdio prpria).

    O problema da natureza da administrao pblica est relativamente s pessoascolectivas pblicas secundrias (criadas pelo Estado), colocando-se a questo desaber o que pblico e privado. Quando a lei nisso omissa, o intrprete tem quese socorrer de alguns critrios para saber que legislao se aplica e qual a

    jurisdio adequada. Isto devido apario das entidades mistas (ex: empresas comcapitais pblicos e privados).

    Para Freitas do Amaral, os critrios de qualificao (compsitos) so:1) Critrio da iniciativa quanto criao2) Finalidade3) Capacidade JurdicaA pessoa colectiva pblica seria, ento, a que fora criada por iniciativa pblica, queprosseguisse interesses pblicos (ex: criao de uma sistema de segurana social) eque fosse dotada de poderes de autoridade. Deve, porm, recorrer-seexclusivamente aos critrios 1) e 3).

    * Est sujeito a deveres de interesse pblico face aos particulares.

    Sistemas administrativos

    A Administrao, na sua organizao e no contrato jurisdicional da sua actividade,divide-se no espao e no tempo.

    Tipos de sistemas administrativos:1) Tradicional (at sc. XVII e XVIII)2) Francs ou de administrao executiva (sistema portugus)3) Anglo-saxnico ou de administrao judiciria

    1) Existiu at ao sc. XVIII e Revoluo Francesa (1789), antes da separao dospoderes e do estabelecimento do princpio da legalidade;

    5

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    6/93

    - Concentrao de poderes (Estado absolutista);- No havia nenhum sistema de garantias no contencioso administrativo;- As normas administrativas eram de eficcia interna/ organizativas;- As normas no vinculavam a Administrao na sua relao com o particular (ex:expropriao como venda coactiva).

    2) e 3)- Princpio da separao de poderes- Princpio do Estado de Direito- Princpio da sujeio da Administrao Pblica legalidade

    2) A Revoluo Francesa trouxe alguma dificuldade em impor a nova ordem social epoltica, por isso, a Administrao , desde logo, muito centralizada (ex: o Presidentedo municpio era de nomeao central);- um direito especial estatutrio que rege a organizao administrativa (emancipa-se do Direito Privado e cria instrumentos jurdicos prprios do Direito Administrativo);- So os tribunais administrativos que julgam o Direito Administrativo. Eram um

    rgo administrativo que no gozava da ideia de independncia ou imparcialidadeface ao poder administrativo;- A Administrao tinha discricionaridade, porque no havia a tutela executiva, isto, o juiz no podia impor a reposio da situao correcta, que ficava a cargo daAdministrao;- Princpio da execuo prvia o ttulo executivo o acto. A Administrao podeprovocar um acto desfavorvel ao particular sem autorizao prvia do tribunal;- Auto-tutela executiva (a eficcia um pressuposto da executividade, mas no sedevem confundir).

    3) A Administrao era, inicialmente, mais descentralizada;- regulada pelo Direito comum;- A competncia de julgar pertence aos tribunais comuns;- Expandiu-se para os EUA e Amrica latina (Brasil);- O juiz tem poderes de plena jurisdio (pode anular um acto e obrigar aAdministrao a aplicar o acto devido);- O ttulo executivo a sentena (tem que haver uma pronncia prvia do juiz).

    Actualmente, as diferenas entre o sistema francs e o anglo-saxnico atenuaram-se(ex: o Direito anglo-saxnico, embora regido pelo Direito comum, comea asubmeter-se muito legislao administrativa). Esta uniformizao muito graas

    ao Direito comunitrio, que vem homogeneizar as vrias ordens jurdicas nacionais.Noo de Direito Administrao

    O Direito Administrativo um ramo do Direito Pblico, constitudo por um conjuntode normas jurdicas que regulam a organizao e o funcionamento da AdministraoPblica, bem como as relaes estabelecidas com outros sujeitos na actividade degesto pblica.

    A Administrao est munida de poderes de autoridade quando recorre ao DireitoPblico. Pode, porm, recorrer ao Direito Privado, actuando despida de ius imperium ,isto , em paridade com os particulares.Ao nvel substantivo, portanto, o Direito Administrativo tem-se aproximado do DireitoPrivado, enquanto que a nvel processual as atribuies dos Tribunais

    6

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    7/93

    Administrativos tm-se alargado. O novo cdigo processo dos tribunaisadministrativos j entende que, quando a Administrao pratique um contrato deDireito Privado mas sujeito a um procedimento pr-contratual, se converte numcontrato de natureza pblica para efeitos de contencioso.

    Categorias de normas administrativas:Normas orgnicas

    Instituem quais das pessoas colectivas e atribuem-lhes os fins de interesse pblico a prosseguir. Definem tambm os rgos que constituem as pessoascolectivas, assim como a estrutura organizatria da Administrao. Outroraentendia-se que eram normas puramente internas, mas hoje em dia j seconsideram os efeitos externos das mesmas.

    Normas funcionais (procedimentais) Aquelas que hoje esto definidas no Cdigo de Procedimento Administrativo,que regem o modo de agir da Administrao, a sua actividade ou dialctica. Aactividade administrativa jurdica, sendo que estas normas tm eficciaexterna por ofereceram garantias procedimentais.

    Normas relacionaisSo as que regulam as relaes entre a Administrao Pblica e os particulares, bem como com outras pessoas colectivas. Estabelecem poderesde autoridade (prerrogativas de Direito Pblico), mas tambm consagramdeveres e sujeies (vinculaes e limitaes) relativamente aos indivduos,tendo em vista o interesse pblico, porque as normas administrativas sobilaterais.

    Funo da Administrao harmonizar os interesses pblicos com os dosparticulares, segundo o princpio da proporcionalidade (art. 266, CRP e art. 5/ 2,CPA). Os meios da actividade administrativa devem ser proporcionais aos objectivosa realizar. Este um princpio fundamental do Direito Administrativo, muito em proldo declnio do princpio da legalidade (apenas fixa o fim e a competncia, deixandoalguma discricionaridade Administrao, razo pela qual se impe que se chamemoutros princpios, como o da boa f).

    O Direito Administrativo moderno nasce com as revolues liberais e a consequenteconstitucionalizao. O primeiro limite que posto Administrao do Estado polciad-se por fora do princpio da separao dos poderes. Institui-se a autonomia daAdministrao, que, porm, continua vinculada ao princpio da legalidade. Comea,

    portanto, a surgir a ideia de bilateralidade, confere direitos e deveres. O cidado v-se protegido por garantias administrativas e contenciosas.O contencioso ainda era, contudo, muito limitado. O Direito Administrativo foi, emverdade, criado mais para garantir as posies jurdicas da Administrao e os seusprivilgios do que para tutelar os interesses dos particulares.As Constituies liberais vm consagrar um catlogo de direitos (ex: antes o prncipepodia expropriar consoante a sua vontade; nesta poca, considera-se o direito depropriedade e d-se-lhe garantias efectivas), o que significou um grande salto. Nasprimeiras fases do Estado de Direito liberal, todavia, ainda havia um predomnio doDireito Administrativo como um direito especializado para proteger a Administraodo que o particular (tenso entre o privilgio da Administrao e o direito docidado). Entretanto, comearam a aparecer novas garantias contenciosas,limitando-se a discricionaridade, pelo que se passou para um direito administrativomais centrado nos direitos do cidado. Actualmente, vemo-nos de frente com o

    7

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    8/93

    fenmeno inverso, a hiper-legislao.Hoje em dia, em suma, pe-se o acento tnico na salvaguarda dos direitos einteresses legalmente protegidos. este o equilbrio que o Direito Administrativoest obrigado a cumprir.

    Caractersticas do Direito Administrativo: JuventudeOrigem jurisprudencialAutonomiaCodificao

    O Direito Administrativo um direito nascente com a Revoluo Francesa (o quesignifica que tem apenas dois sculos de existncia, muito pouco quando comparadocom a antiguidade do Direito Civil, por exemplo).

    Em Frana, o Direito Administrativo comeou por ser uma criao dos tribunais, da asua origem jurisprudencial. Um dos seus mitos fundadores est no acrdo AgnsBlanco.Em Portugal, a criao dos tribunais foi posterior, uma vez que o DireitoAdministrativo nasceu atravs de uma interveno do legislador.No incio, o que os franceses chamavam tribunais administrativos no o eram defacto, mas um rgo administrativo independente (estavam entronizados no poderexecutivo, de acordo com a viso rgida do princpio da separao dos poderes).Os tribunais administrativos j no existem para proteger a Administrao, mas poruma razo de especializao.

    Relativamente autonomia, o facto do Direito Administrativo ser um Direito recenteno significa que no constitua j um sistema coerente, com uma unidade que odistingue dos outros Direitos.O Direito Administrativo foi constitudo com base nas excepes ao Direito Privado,tendo entretanto criado princpios e institutos jurdicos prprios (ex: ideia de plano,da prossecuo do interesse pblico, da discricionariedade).Hoje o Direito Administrativo, embora continue a ser formalmente Direito Pblico,est a perder a especialidade e a autonomia que o caracterizavam. O quepermanece face variedade dos instrumentos utilizados pela Administrao ovnculo do interesse pblico (perpassa tanto a actividade administrativa de gestopblica como a actividade administrao de gesto privada). Esta viso vai contra aopo de Freitas do Amaral, que coloca o Direito Administrativo como um ramo do

    Direito Pblico, graas sua caracterstica de ser o direito comum da funoadministrativa.

    Vrios cdigos administrativos surgiram no sc. XIX, pelo que a codificao no umfenmeno recente no Direito Administrativo.O Cdigo de Procedimento Administrativo destinado a regular a actividadeadministrativa da gesto pblica. Essencialmente, pretende racionalizar e tornartransparentes os desgnios da Administrao Pblica na prossecuo do interessepblico.

    Fontes

    Direito comunitrio

    8

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    9/93

    O Direito Administrativo Comunitrio no pode deixar de ser construdo com basenos institutos e nas doutrinas nacionais, essencialmente nas solues mais perfeitas(ordenamento jurdico francs e alemo), tais como os princpios daproporcionalidade, da no discriminao ou da boa f.Houve meios processuais decalcados do sistema jurdico francs (ex: o recursocontencioso de anulao o principal meio do contencioso de natureza objectivista),assim como os vcios do acto.

    Mas este movimento ascendente converteu-se em movimento descendente, vistoque os institutos foram re-elaborados pelo Tribunal de Justia das comunidadeseuropeias e re-enviadas para as ordens jurdicas nacionais com um papel catalisador(para harmonizar os direitos deficitrios) e efeitos na jurisprudncia dos pases,atravs do primado e do efeito directo. Isto porque o Direito Comunitrio move-seno binrio do efeito til e do efeito directo. Este processo implicou alguma tenso,particularmente na Alemanha (por ser a ordem jurdica mais perfeita e o pas maisforte).

    Exemplo da influncia do Direito Comunitrio no Direito nacional:A directiva transposta que vem permitir uma espcie de recurso urgente seguida deprovidncias cautelares de emergncia (antigamente, quando se recorria para aanulao do acto de adjudicao, j o contrato estava celebrado, por isso s poderiadar lugar a uma indemnizao, no havia a reposio da situao justa.

    A designao Direito Administrativo Europeu imprpria. Direito AdministrativoEuropeu engloba o Direito Comunitrio e a Conveno Europeia dos Direitos doHomem (recebido no art. 6 do Tratado da Unio Europeia), por fora da interacodas ordens jurdicas nacionais no Direito Comunitrio e do seu peso no planonacional. No podemos falar num Direito Administrativo europeu conceptual, istoporque h assimetrias, quer a nvel conceptual, quer do ordenamento jurdico(Direito Positivo). No h uma uniformidade, dado que o legislador comunitrio temutilizado sobretudo directivas, em detrimento dos regulamentos (as directivasvinculam o resultado mas concedem liberdade quanto aos meios, o tornandonecessrias as adaptaes pelas ordens jurdicas nacionais que as afastam entre si)., portanto, prematuro falar-se em Direito Administrativo Europeu ou Comunitrio.H, efectivamente, uma tendncia nesse sentido, mas neste momento o que existe um Direito Administrativo de integrao, devido heterogeneidade dos sistemas.As administraes nacionais tm funcionado com administraes comunitriasindirectas e, cada vez mais, como administrao conjunta. Os rgos administrativosnacionais comeam a ser comunitrios.

    Exemplos da integrao do Direito Comunitrio:O Tribunal de Justia goza do princpio do reenvio, o que significa que se o juiznacional se deparar com uma dvida atinente ao alcance da aplicao de umanorma comunitria ou por haver uma coliso com uma norma nacional pode apelar,atravs do reenvio judicial, ao Tribunal de Justia para que este se pronuncie, com oobjectivo de conseguir um efeito integrador.

    Podemos tambm falar de Direito Administrativo Europeu para falar da supremaciado Direito Comunitrio relativamente a qualquer norma nacional.

    Direito Constitucional

    9

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    10/93

    H uma relao que se estabelece, crescentemente vinculativa, entre o DireitoConstitucional e o Direito Administrativo, relativamente s normas e princpiosconstitucionais que se aplicam ao Direito Administrativo.

    As constituies modernas j no so apenas um estatuto da pessoa colectivaEstado, mas introduzem os princpios fundamentais dos ramos de Direito Pblico,tais como o Direito Administrativo e o Direito Penal (duas matrias s quais dadoespecial relevo), e Privado. Pode-se mesmo dizer que contm uma Constituioadministrativa em si mesmas.Ottomaya afirmava que O Direito Constitucional passa e o Direito Administrativo

    permanece . O Direito Constitucional , de facto, muito volvel s rupturas polticas,to na ordem do dia na Alemanha de 1924. Nas ltimas dcadas, contudo, tem-severificado que ambos passam. O Direito Constitucional tem tido um papeldinamizador ou propulsor do Direito Administrativo, fenmeno essencialmentevisvel nas constituies espanhola, brasileira e portuguesa. A Administrao passoua ter uma grande presena no Direito Constitucional e a Constituio passa e ter umpapel fundamental para a Administrao Pblica. H ento um fundamento

    constitucional do Direito Administrativo. Diz-se mesmo que a Constituio a fontedo Direito Administrativo, ou que o Direito Administrativo Direito Constitucionalconcretizado (art. 266 e 272 CRP). A Constituio portuguesa de 1976 a quemais ateno d Administrao, por razes histricas e polticas (25 de Abril).Historicamente, as constituies liberais (1822, 1826, 1838 e 1911) no do muitapreponderncia Administrao, ao passo que em 1933 j se lhe d algumaateno, mas em 1976 que se denota uma clara diferena quanto extenso e intensidade. As revises mais importantes em matria de Direito Administrativoforam as de 1982, 1989 e 1997.Houve uma grande evoluo do texto original da Constituio at ao actual:1. Crescente complexizao da Administrao a nvel constitucional,quanto estrutura organizacional;2. Maior vinculao constitucional da Administrao (quer no que respeita organizao, quer actividade administrativa);3. Crescente densificao dos direitos e das garantias dos particulares face Administrao, quer no mbito procedimental, quer no contencioso (crescentesubjectivao do contencioso e nus garantstico).

    1. Foram constitucionalizadas associaes administrativas e entidadesadministrativas independentes.2. O art. 266, quanto aos princpios que regem a actividade administrativa, naverso original era muito mais limitado do que hoje em dia.3. A reviso de 1989 consagrou os tribunais administrativos como verdadeirostribunais (com a mesma dignidade dos judiciais - art. 209, b e 212/ 3 ).

    Princpios constitucionais gerais que tm uma influncia directa sobre aAdministrao:

    Estado de Direito democrticoEstado comunitrio ( uma Constituio compromissria, porque conjuga

    a autonomia da Administrao regional com a unidade de Administrao Pblica)Integrao europeia do Estado socialPrincpio da reserva de lei

    Princpios relativos aos direitos fundamentais: Art. 18 : vinculao aos DLG

    10

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    11/93

    Art. 271 : responsabilidade civil e criminal dos funcionrios Art. 20 : tutela jurisdicional efectiva Art. 47 e 48 : acesso funo pblica Art. 52/3 : direito de petio

    Princpios relativos organizao administrativa e actividade administrativa(Constituio Administrativa):

    Art. 182, 199/d), 267 : interferem com a estrutura da organizaoadministrativa

    - Princpio da desconcentrao administrativa (administrao perifrica doEstado/ administrao indirecta, art. 267 e 199)

    - Princpio da descentralizao administrativa (administrao autnomaregional e local/ territorial e institucional)

    A Constituio tambm consagra um painel de direitos de natureza procedimental:Direito participao no processo administrativoDireito a ser notificado

    Direito fundamentao expressa dos actos (art. 268/1, 2 e 3)Garantia contenciosa:Princpio da tutela jurisdicional efectiva e plena

    A organizao administrativa

    1. Estrutura orgnica da Administrao Pblica

    Vamos estudar, primeiramente, a noo orgnica de Administrao Pblica, na quala figura relevante so as pessoas colectivas de Direito Pblico.

    Pessoas Colectivas Pblicas

    - Estado e demais entidades colectivas territoriais;- Entidades como tal qualificadas pela lei;- Entidades criadas pelo Estado ou por outras pessoas colectivas pblicasterritoriais.

    Critrio misto de qualificao:IniciativaPoderes pblicos

    O problema jurdico quanto natureza s se coloca em relao s pessoas colectivaspblicas derivadas (criadas pelos entes pblicos primrios, como o Estado e aadministrao autnoma).

    As pessoas colectivas pblicas so os elementos fundamentais, a par dos serviospblicos (que actuam na dependncia dos rgos administrativos). Actuam atravsde rgos administrativos, no relacionamento com os particulares.

    Nem todas as entidades pblicas infra-estaduais esto subordinadas ao Estado (has entidades autnomas). Estado (pessoa colectiva universal e rgo superior denatureza administrativa) difere de entres pblicos menores (de natureza infra-estadual).Entes pblicos menores so, usualmente, associados s autarquias locais. Esta

    11

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    12/93

    designao prefervel utilizada pelo Prof. Freitas do Amaral de entessubordinados. Os entes pblicos menores so de natureza exclusivamenteadministrativa, exceptuando as regies autnomas. Tm um mbito limitado ousectorial. A sua existncia depende do Estado (embora tenham autonomia, estosempre sujeitas tutela da legalidade).

    As pessoas pblicas tm uma variedade de regimes.

    Tipologia:

    A primeira distino entre o Estado e demais entidades territoriais (regiesautnomas, autarquias, etc.) e entidades no territoriais ou de natureza funcional(institutos, etc.).

    1) Entes territoriais:So bsicos, primrios, a matriz dos outros e, por isso, vm

    extensamente contemplados na Constituio;

    Base territorial;Substracto populacional universal (corporaes territoriais, segundoManuel Andrade);

    Carcter originrio e necessrio (h quem defenda mesmo o seucarcter pr-estatal);

    Generalidade de atribuies (satisfao das necessidades gerais darespectiva populao) - vm designadas na lei;

    Tipificao constitucional;Poder para criar outros entes pblicos e exercer controlo sobre eles

    mesmos.

    1) Entes funcionais:Secundrios;O territrio no entra na sua definio (tem, quando muito, importncia

    na delimitao da circunscrio onde ele exerce a sua competncia);Quando tm substracto pessoal, no se trata de uma colectividade de

    cidados definidos somente pelo territrio de residncia, mas sim por algum outrotrao distintivo;

    Carcter contingente;Atribuies ou finalidades especiais;Carcter atpico e singular;Em princpio, incapacidade para criar outros entes pblicos.

    Critrio da natureza estrutural do ente institutos pblicos (pessoas colectivas debase institucional, incluindo as empresas e as fundaes pblicas) e corporaespblicas.

    Esta distino vem assemelhar-se a uma rplica de Direito Civil, entre fundaes ecorporaes.

    2) Fundaes:

    Substracto constitudo por acervo patrimonial;Interesse definido pelo fundador;Vontade transcendente do fundador;

    12

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    13/93

    S cessa por esgotamento do patrimnio ou realizao dos fins;Interesse altrustico;Fazem parte da administrao indirecta.

    2) Corporaes:Substracto pessoal;

    Seguem o interesse dos membros;So orientadas para a vontade imanente dos membros;Cessa por falta de membros;Interesse prprio;Administrao autnoma.

    As universidades pblicas tm uma natureza institucional muito discutida peladoutrina.Freitas do Amaral considera-as institutos pblicos de natureza corporativa.

    Jorge Miranda entende que so institutos mistos.Colao Antunes defende que no so corporaes pblicas, porque no tmassociados membros, mas funcionrios.

    2) Institutos Pblicos:O Estado exerce sobre eles poder de superintendncia e o poder de

    tutela;Obedecem a uma vontade externa - heterogoverno;Instrumentos da administrao estatal, constituindo formas de

    descentralizao imprpria (administrao indirecta).

    2) Corporaes Pblicas:

    O Estado exerce somente o poder de tutela;Governador por uma vontade interna - autogoverno;Formas de descentralizao, prosseguindo sob sua responsabilidade e

    sem ter que prestar contas ao Governo, os interesses que lhe so confiados pelaConstituio e pela lei (administrao autnoma).

    Critrio da posio dos entes pblicos relativamente a outros. Esta classificao valepara os entes pblicos menores, face ao Estado e outras entidades territoriais.

    3) Entes dependentes:

    Criados por outros entes pblicos autnomos;Sujeitos a orientao e controlo de mrito do ente-matriz;Administrao indirecta;Institutos, empresas e fundaes pblicas (base institucional).

    3) Entes independentes:Gozam de autonomia em relao a outros;No esto sujeitos a orientao do Estado, nem a controlo de mrito da

    sua aco;Nunca so totalmente independentes, porque o Estado mantm sempre

    o poder de extinguir os entes pblicos menores;Administrao autnoma;Autarquias locais e associaes pblicas (entes pblicos autnomos que

    correspondem a colectividades pessoais).13

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    14/93

    Entes independentes atpicos carecem de substracto pessoal, nem gozam deautogoverno.

    Qualquer ente pblico tem um pouco destes dois elementos: instrumentalidade eindependncia.

    Princpios normativos essenciais (em matria de organizao administrativa):Princpio da descentralizao

    Ad. Autnoma - territorial- institucional

    Caso particular: descentralizao por servios ou imprpria Ad. indirecta

    Princpio da desconcentrao Ad. Local ou Regional (perifrica)

    Ver art. 267/ 1 e 2 CRP

    Princpio da desconcentrao

    Diviso de funes pela organizao administrativa de uma pessoa colectivapblica, estando ligada distribuio de poderes e competncias pelos seusrgos.

    Diz-se administrao concentrada quando todo o poder decisrio estconcentrado no superior hierrquico e desconcentrada quando os poderesesto distribudos entre o superior hierrquico e o subalterno, embora sob asua superviso.

    Desconcentrao administrativa:Vertical

    - Funcional ou burocrtica- Territorial

    Horizontal

    A desconcentrao vertical a regra. A funcional ou burocrtica d-se quandoo ministro delega num subalterno, ao passo que a territorial acontece no casodos servios centrais de um ministrio delegarem no governo civil (rgoperifrico da administrao central do Estado), por exemplo.

    A desconcentrao horizontal est relacionada com a diviso de poderesentre vrios rgos, de forma funcional (ex: dentro do Governo, entre osvrios ministros).

    A desconcentrao uma forma de descongestionamento de competnciasdentro do Estado. Vai de encontro a uma maior celeridade, propiciando maiorqualidade dos servios. Tem a desvantagem de criar uma pluralidade decentros decisrios, tornando mais complexa uma deciso harmoniosa.

    14

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    15/93

    Pode ser:OriginriaDerivada

    originria quando a distribuio dos poderes pela pessoa colectiva pblica feita directamente pela lei (ex: quando uma nova lei vem estabelecer que odirector geral passa a conceder a licena de frias aos funcionrios, invs doministro).

    derivada quando resulta de uma delegao de poderes (ex: a lei admite queo ministro delegue no director a licena de frias dos funcionrios).

    Princpio da descentralizao

    Descentralizao no um conceito unvoco.No sentido amplo, trata-se da atribuio de funes administrativas aentidades administrativas infra-estaduais, que tanto podem ser territoriais

    como funcionais. Neste sentido, o critrio suficiente era a existncia de umapessoa colectiva distinta do Estado. Era uma forma de transferncia depoderes e repartio de tarefas entre a administrao directa do Estado eoutros entes administrativos por ele criados, no sentido de executarem umadeterminada funo.Numa outra acepo, entende-se que as funes administrativas seencontram repartidas por entidades administrativas infra-estaduais quegozem de um certo grau de independncia face ao Estado, que no detm oseu monoplio. O segundo requisito , portanto, o facto de existirpersonalidade jurdica e autonomia face ao Estado. Alguns autores baseiam-se neste critrio para retirar as universidades administrao indirecta,considerando-as administrao autnoma.

    Ad. Autnoma:TerritorialFuncional, associativa ou corporativa

    Caracterstica da administrao autnoma:Personalidade jurdica;Autonomia administrativa e financeira;Patrimnio prprio;Possibilidade de gerir autonomamente os assuntos especficos

    daquela comunidade (autogoverno);rgo eleitos no e pelo ente;

    Tutela de mera legalidade por parte do Estado.

    Ao intermdio entre descentralizao e desconcentrao, Marcello Caetano e Freitasdo Amaral chamam devoluo de poderes . Na ptica do prof. Colao Antunes a- Descentralizao por servios ou imprpria (tcnica)

    , ento, o processo atravs do qual os interesses pblicos estaduais ou de

    uma pessoa colectiva territorial (municpios) so postos por lei a cargo de umapessoa colectiva pblica de fins singulares (ex: instituto ou empresa pblicos).

    15

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    16/93

    Se o Estado uma pessoa colectiva de fins mltiplos ou universais, h outraspessoas colectivas tambm de fins mltiplos, mas de mbito mais restrito.

    Assim, essas pessoas colectivas so um conjunto de entidades administrativasque prosseguem, em nome prprio, o interesse pblico do Estado, acrescendoque os seus rgos so nomeados e podem ser demitidos por um acto doGoverno, o que implica que o Estado tenha uma influncia significativa quanto sua gesto.

    Fala-se em administrao imprpria, uma vez que a Constituio apenas falaem descentralizao e em desconcentrao (no prevista).

    Nota: a administrao autnoma regional ou local pode criar a sua administraoindirecta (ex: empresas pblicas municipais). At as associaes pblicas(administrao autnoma de carcter associativo) podem ter administraoindirecta, na medida em que podem tutelar um mini-instituto (ex: a universidade emrelao faculdade).

    Princpio da subsariedade (art. 6 CRP)

    Este princpio procura encontrar o nvel institucional adequado para tomar decises,dando preferncia a administraes infra-estaduais, em detrimento da administraodo Estado. Desta forma, reconhece a necessidade de atribuies a entidadesdescentralizadas, com vantagens para as comunidades (a proximidade garante asatisfao dos seus interesses pblicos). Encontra algum fundamento nos princpiosda garantia da autonomia local e regional (art. 277 CRP) e no princpio dadescentralizao. Reconhece-se, portanto, primazia s decises dos rgos dessascomunidades, em relao s decises estaduais. A distribuio de competncia dentro do mbito da descentralizao democrtica da administrao pblica.Administrao directa, indirecta e autnoma

    Administrao do Estado entidades que prosseguem interesses pblicos dealcance universal, estando a cargo do Estado.

    Distingue-se de administrao autnoma Territorial- Regional (regies autnomas)- Local (autarquias locais)

    Funcional (associaes pblicas e ordensprofissionais) *

    * O elemento territorial pode existir, no sendo definitrio, ao invs do elementosociolgico.

    Quer a administrao do Estado, quer a administrao autnoma, podem teradministrao directa (: quando a actividade levada a cabo directamente pelosservios da pessoa colectiva) e administrao indirecta (: quando a actividadeadministrativa executada por pessoas colectivas dependentes ou instrumentais,como um instituto pblico ou uma empresa pblica).

    Pedagogicamente considera-se que a administrao directa :

    16

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    17/93

    Quando a actividade administrativa levada a cabo directamente pelos prpriosservios do Estado, dirigido pelo Governo, tendo tantos departamentos quantosministrios que o compem.

    Os servios esto organizados piramidalmente (de forma vertical). H, portanto, umarelao jurdica de tipo hierrquico, que tem como epicentro o poder de direco.Cabem rgos centrais (: tm uma competncia universal sobre todo o territrio) ergos de mbito regional ou local, que formam a administrao regional ou local doEstado (administrao perifrica).

    A administrao indirecta :A actividade administrativa levada a cabo por conta do Estado, mas porintermdio de outras entidades administrativas, dependentes instrumentais, queactuam em nome prprio, mas para realizar interesses pblicos estaduais.

    constituda por todas as entidades pblicas administrativas quedesenvolvem - com personalidade jurdica prpria, autonomia administrativa e

    financeira, mas controle do Estado - interesses da administrao-me. sobretudo uma administrao de natureza institucional ( uma entidadefictcia), porque, enquanto que a um municpio corresponde uma colectividade, auma instituto pblico ou a uma empresa pblica no corresponde nenhumsubstracto territorial ou pessoal, ou seja, so apenas uma criao do Direito.

    No auto-definem as suas competncias, que lhes so impostasexteriormente. Podem ser criadas e extintas pelo Estado, sendo controladas pelasuperintendncia e a tutela.

    So total ou parcialmente financiadas pelo Oramento de Estado.Gozam de patrimnio e pessoal prprios, personalidade jurdica e autonomia

    administrativa e financeira, podendo praticar actos administrativos que soimpugnveis contenciosamente sem ser necessrio recorrer para o Governo,enquanto superior hierrquico.

    Podem organizar as suas contas.

    A dependncia institucional resulta em dois tipos de controlado Estado:Superintendncia

    Tutela- Legalidade- Mrito

    Superintendncia poder de emanar orientaes, directivas e fixar prioridadesde aco.

    A tutela preventiva e sucessiva. Tutela de legalidade verifica a correcta execuo da lei. Tutela de mrito avalia da oportunidade e convenincia das medidas tomadas(verificao da eficcia da gesto).

    Se o poder de tutela se assegura apenas do cumprimento da lei em vigor, porqueno pertencer ao domnio dos tribunais? Que legitimidade tem a Administrao

    Central para controlar a legalidade? habitual dizer-se que incorporam a administrao indirecta dois entes

    17

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    18/93

    administrativos essenciais:Institutos pblicosEmpresas pblicas

    Os institutos pblicos e as empresas pblicas so entes pblicos menores desubstracto institucional, excluindo quer as autarquias locais, quer as associaespblicas.

    O prof. Colao Antunes entende que as empresas pblicas no societriasconstituem uma modalidade de institutos pblicos, apesar do seu regime jurdicodistinto.

    Caso atpico: muitas vezes, o Estado desenvolve alguns poderes para as autarquiaslocais, sem querer perder a sua tutela, criando-se uma situao de cumulativamenteadministrao autnoma e indirecta.

    A administrao autnoma :

    Ao invs da administrao do Estado, a administrao autnoma corresponde satisfao de interesses especficos de determinadas colectividades territoriais ouformaes sociais (associaes pblicas, isto , agrupamentos socio-profissionais).

    Caractersticas:Existncia de auto-administrao (autogoverno), uma vez que tem

    poderes decisrios prprios, define a sua orientao poltico-administrativa, estandoapenas sujeita a um controlo de mera legalidade.

    Visam a realizao de interesses prprios da colectividade.Os seus rgos so emanados da colectividade local, beneficiam de

    electividade e representatitividade prprias.

    Ao contrrio da administrao indirecta, criada por razoeis de eficincia outecnicidade face crescente complexidade da vida administrativa, a administraoautnoma fruto da pluralidade das sociedades polticas contemporneas(existncia de comunidades com autonomia).

    Num sentido abrangente, a administrao autnoma a administrao de interessespblicos especficos de uma determinada comunidade, por intermdio de pessoascolectivas pblicas territoriais ou funcionais, com poderes administrativos prprios,que actuam sob responsabilidade prpria e sujeitos apenas a uma tutela de mera

    legalidade.Elementos constitutivos e cumulativos da noo de administrao pblica autnoma:

    Existncia de uma colectividade local ou de uma formao social infra-estadual (tem que haver um elemento comum relevante, que ou a residnciaou o aspecto profissional, para que haja uma homogeneidade quanto aosmembros e ao interesse comum) ;

    Reconhecimento de um interesse pblico prprio ou especfico dacolectividade (a partir deles se distingue materialmente as funes administrativasdo Estado das tarefas especficas do ente autnomo, no sentido de prosseguir osseus interesses pblicos prprios) ;

    Princpio do auto-governo (administrao pelos prprios administrados,atravs dos seus representantes, rgos emanados da colectividade no h umahetero-orientao) ;

    18

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    19/93

    rgos administrativos que gozam de grau considervel de autonomiaface ao Estado (s so responsveis perante os membros da colectividade, emboraa independncia nunca seja total, porque existe sempre uma tutela de meralegalidade) .

    Tipos de Administrao Autnoma: TerritorialNo territorial/ funcional (ex: Casa do Douro)

    Nas pessoas colectivas pblicas que integram a administrao autnoma, o territriofaz parte do seu substracto, enquanto que na Administrao autnoma funcional ocritrio a natureza corporacional ou de actividade econmica.

    Administrao Autnoma Territorial

    Fins mltiplos (universal e polivalente)Art. 261 CRP

    Tipicidade dos rgos autrquicosComunga com a Administrao Autnoma no territorial:

    Substracto colectivoAuto-governo

    Funes da Administrao Autnoma*

    * algumas so comuns Administrao indirecta do Estado (que, porm, nuncadispe de autogoverno nem de autodeterminao, sendo esse o critrio distintivoentre institutos pblicos - administrao indirecta - e associaes pblicas -administrao autnoma).

    Autonomia jurdica (personalidade jurdica)Autonomia administrativaAutonomia financeiraAutonomia normativa

    No mbito da Administrao, estabelecem-se relao de:Hierarquia (administrao directa)Superintendncia (administrao indirecta) Tutela (administrao autnoma) - Legalidade

    - Mrito

    ver art. 199, d) CRP

    Hierarquia: relao de verticalidade interorgnica (entre rgos da mesma pessoacolectiva).Superintendncia: relao intrasubjectiva (entre pessoas colectivas distintas).

    Hierarquia

    A hierarquia consiste numa relao entre dois ou mais rgos com atribuiescomuns, ligados por um vnculo jurdico que confere ao superior o poder de direco

    19

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    20/93

    e ao subalterno o poder de obedincia.

    O superior hierrquico possui, assim, o poder de emanar comandos vinculativossobre todos os subalternos. Esses comandos podem ser de:- natureza especfica e concreta: ordens;- natureza abstracta e prospectiva: instrues.As instrues conferem alguma discricionaridade ao subalterno.

    O superior hierrquico pode pronunciar-se sobre todas as matrias que so dacompetncia do subalterno. Mesmo quando no tem o poder de emanar actos comeficcia externa, continua a poder exercer o seu poder de direco (emanarcomandos vinculativos).

    Ao poder de direco corresponde o poder de obedincia do subalterno, desde que aordem promane do legtimo superior hierrquico, sob forma legal.

    art. 134 CPA

    Quando o funcionrio emana um acto nulo ou inexistente, no h responsabilidadesolidria por parte da administrao.

    Dever de respeitosa reclamao:Se houver uma ordem ilegal, o funcionrio deve reclamar previamente suaexecuo ou pedir a sua confirmao por escrito, com meno expressa dailegalidade constante.

    Poderes hierrquicos:

    Poder de supervisoO superior hierrquico pode revogar, anular o suspender o acto

    praticado pelosubalterno e pode faz-lo por iniciativa prpria ou quando for solicitado

    pelo lesado.

    Poder inspectivoO superior hierrquico pode fiscalizar os servios e o comportamento

    dos subalternos.

    Poder disciplinar

    Pode punir os subalternos quando eles violam os seus direitosestatutrios.

    Poder de apreciaoPode apreciar os recursos hierrquicos, isto , fazer uma reapreciao

    dos casos decididos pelo subalterno, podendo anular ou substituir os actos por ele praticados, desde que o subalterno no disponha decompetncia exclusiva (s exequvel quando h competnciaconcorrentes). Neste caso, no h espao para impugnaes administrativas,apenas contenciosas.

    Poder de decidir conflitos de competnciasPositivos (quando dois subalternos acham que tm competncia para praticar o acto) e negativos (quando ambos acham que no tm

    20

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    21/93

    competncia para o praticar) art. 42 e 43 CPA

    Nota: Revogao de actos vlidos (pela inoportunidade do acto praticado) no omesmo que anulao ou revogao anulatria (por motivos de validade).

    A relao hierrquica um vnculo jurdico, que assenta sobre uma estruturapiramidal. H um poder de direco (sobre todos os subalternos e matrias) e umdever de obedincia, desde que:- A ordem provenha de um legtimo superior hierrquico- Seja matria de servio- Tenha forma de lei.

    Quando a ordem for ilegal, o subalterno est na mesma sujeito ao dever deobedincia, sendo a sua responsabilidade afastada atravs do dever de respeitosareclamao. No caso do interesse pblico carecer de execuo imediata, no tendo osubalterno tempo de esperar pela confirmao, ele pratica o acto fazendo menoexpressa da sua ilegalidade.

    Superintendncia

    Nota: A superintendncia e a tutela tm que vir expressamente na lei.

    o poder conferido por lei ao Estado, por intermdio do Governo ou de qualquerpessoa colectiva de fins mltiplos, de determinar os objectivos (fixar directivas) eorientar a actuao de pessoas colectivas de fins singulares que a ela esto sujeitos

    definio da relao entre o Estado e a administrao indirecta.

    , em suma, o poder de orientao que a pessoa colectiva pblica me tem defixar directivas e recomendaes s pessoas colectivas pblicas que esto na suadependncia.

    Tutela

    Normalmente, os tribunais fazem uma tutela de mera legalidade, no lhecompetindo substituir-se em termos de acerto da deciso Administrao.

    A tutela consiste no poder de controlo e interveno de uma pessoa colectivapblica na gesto dos assuntos de outra pessoa colectiva pblica, visando assegurar

    a legalidade da actuao (tutela de legalidade) e o seu mrito (tutela de mrito). Tem de haver duas entidades distintas:

    Pessoa colectiva tutelarPessoa colectiva tutelada

    Fins:- Assegurar o cumprimento da lei por parte da entidade tutelada (tutela delegalidade);- Quando a lei o permite, a tutela de mrito incide sobre o contedo material dasdecises do ente (verifica se a pessoa colectiva tomou as atitudes mais adequadasno momento oportuno).

    Quando, excepcionalmente, admitida a tutela de mrito para com a administrao

    21

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    22/93

    local ou regional, pretende-se exclusivamente saber da compatibilidade entre osinteresses pblicos locais e os internacional pblicos nacionais. Tem, portanto, umanatureza diferente da tutela de mrito para com a administrao indirecta, sendoque, se assim no fosse, violaria o princpio do autogoverno.

    A tutela, quanto ao contedo, pode ser de vrios tipos:

    Inspectiva A entidade tutelar fiscaliza o bom funcionamento dos rgos e servios

    da entidade tutelada, tendo acesso s suas contas.

    IntegrativaPoder de autorizar (requisito de validade) e aprovar (requisito de

    eficcia) os actos.

    SancionatriaPossibilidade de aplicar sanes por infraces ou irregularidades

    cometidas.Revogatria

    Possibilidade de revogar ou anular actos.

    Substitutiva A entidade tutelar pode suprimir as omisses da entidade tutelada,

    praticando no lugar dela actos de interesse pblico excepcional.

    Relativamente s autarquias locais, a tutela meramente inspectora, podendo serintegrativa, desde que no viole as competncias exclusivamente autrquicas.

    Esta tutela no existe na administrao regional, em prol da sua autonomia poltico-administrativa. D-se apenas um controlo judicial, por no haver legitimidade detutela por parte da administrao activa do Estado.

    As associaes pblicas gozam de imunidade tutelar.

    Administrao central e perifrica do Estado

    Servios centrais

    art. 199 DL 79/2005, 15 de Abril, Lei Orgnica do XVII Governo Constitucional

    Princpio da boa administrao (alneas a e d)Promoo da satisfao dos interesses pblicos

    O Governo o rgo superior da Administrao do Estado. Funciona colegialmente,atravs do Conselho de Ministros, nas situaes previstas na CRP, bem comomediante os diferentes membros que o compem. Possui, como tal, uma estruturaministerial, sendo os ministros os vrtices da pirmide da organizao administrativade cada ministrio. Os ministrios so organizaes administrativas independentes eautnomas entre si. So departamentos da Administrao central do Estado,organizados por:- Gabinetes ministeriais (pessoas destinadas a auxiliar o ministro no servio das

    22

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    23/93

    suas funes);- Servios de estudo e de concepo;- Secretaria geral (servios de coordenao, apoio e controlo de tipo genrico);- Direces gerais (servios executivos, que realizam as atribuies especficas decada ministrio), que se podem dividir em direces por servios).

    Administrao perifrica do Estado: regional e local

    rgos e servios de mbito regional ou local (regio, distrito ou concelho):Governadores civisComisses de coordenao e desenvolvimento regional (CCDR)Reparties de finanas, etc.

    Estes rgos actuam na dependncia hierrquica e directa do Governo(administrao central), numa rea delimitada geograficamente. uma forma dedesconcentrao.

    A Administrao perifrica pode ser:- comum (os governadores civis representam o Governo);- especializada (as CCDR tm competncias no mbito do planeamento eordenamento do territrio, sendo um interface entre o Estado e os municpios).

    DL 104/ 2003, 23 de Maio : cria as CCDR

    A circunscrio administrativa territorial pode ser:Geral (regies, distritos e concelhos)Especial (em vista dos sectores ou ramos administrativos, ex: hidrulica)

    A delimitao especial leva a uma administrao territorial excessiva e confusa. Nose deve confundir, porm, com regies administrativas, que nunca foramimplementadas em Portugal.

    Critrios:A circunscrio administrativa regional um somatrio de distritos (em

    matria de sade e segurana social, por exemplo);Na base das CCDR est o modelo comunitrio a rea definida

    atravs do nvel II das unidades territoriais para efeitos estatsticos da UE (emmatria de planeamento do territrio, ambiente, cultura, etc.). Aproxima-se ao

    tpico anterior, embora as fronteiras no sejam bem coincidentes.rgos mais emblemticos da Administrao perifrica do Estado:

    Governos civis- circunscrio distrital- competncias na segurana e ordens pblicas- natureza singular- tm tendncia a desaparecer

    Administrao Regional

    uma forma de descentralizao, cuja estrutura resulta da Constituio (art. 225) edos seus estatutos.

    23

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    24/93

    Pessoas colectivas pblicas territoriais;Funes poltico-administrativas (distinguem-se das meras funes

    administrativas da administrao autnoma local);Poderes polticos e legislativos;rgo administrativo mais importante: Governo Regional.

    Governo Regional- constitudo pelas secretarias regionais (correspondem aos ministrios);

    - so compostas pelas direces regionais;- divididas em direces de servios.

    Podem existir servios perifricos da administrao regional, por fora dadescontinuidade do territrio (ilhas), bem como administrao indirecta.

    H uma certa coabitao entre a administrao perifrica do Estado e aadministrao regional autnoma, se bem que cada vez menos estril, uma vezque os estatutos autonmicos fizeram com que houvesse uma transferncia cada

    vez maior das competncias do Estado para os seus rgos prprios (o Estadorestringe-se s foras policiais e s universidades) processo de regionalizao dasRegies Autnomas dos Aores e da Madeira.

    Ao contrrio do que acontece com a administrao autnoma local, a administraoautnoma regional goza de uma total independncia face ao Estado (no existetutela). A interferncia do Estado, atravs do Representante da Repblica, apenaspor via legislativa e no administrativa.

    Ver art. 230 CRP

    Administrao Autnoma Local

    Pessoas colectivas de populao e territrio, que visam satisfazer os interessespblicos das pessoas naquela rea territorial (fins mltiplos), varivel de acordo como tipo de entidade local.

    Caractersticas fundamentais:Circunscrio territorialAgregado populacionalPresena de interesses pblicos com incidncia local (a sua realizao

    compete exclusivamente aos rgos autrquicos, s podendo haver uma tutela demera legalidade por parte do Estado; s se pode invadir este mbitoexcepcionalmente em caso de confluncia com interesses gerais)

    rgos representativos independentes (recebem a sua legitimidadepoltica e administrativa pela eleio)

    Fontes normativas:- Texto constitucional (art. 235 e ss CRP)- Diplomas fundamentais

    Lei 69/99, 18 de Setembro (quadro das competncias e regies jurdicas)

    Lei 159/99, 14 de Setembro (quadro das transferncias de atribuies ecompetncias para as autarquias locais)

    24

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    25/93

    Conceito de autarquia local capacidade de uma entidade administrativa diferentedo Estado autogiro os assuntos da colectividade que representa.

    Esta noo originria desvirtuou-se pela histria. Com o fascismo e segundo a visode Marcello Caetano, autarquia local passou a ser a capacidade de se tomardecises de carcter definitivo. Esvaiu-se a independncia, de forma a que setornarem uma espcie de instrumento do prprio Estado.Em 1976, seguiu-se uma concepo tautolgica. Dizia-se que as autarquias gozavamde autonomia, porque se sentia a necessidade de realar esta vertente - j por elaincluda no prprio conceito - para salvaguardar os efeitos da mutao histrica.

    Tipologia das autarquias:Freguesias autarquias locais infra-municipais (art. 244 CRP)Municpios autarquias por excelnciaRegies administrativas autarquias locais supra-municipais

    Freguesia:- Assembleia de freguesia- Junta de freguesia

    A assembleia de freguesia o rgo deliberativo. A junta de freguesia um rgoexecutivo colegial, ao qual compete a gesto permanente dos assuntos municipais.

    Na perspectiva da doutrina dominante, existem trs rgos, porque se inclui opresidente da cmara. O prof. Colao, todavia, no tem esta viso, uma vez que opresidente da cmara no mencionado na CRP.

    As competncias da cmara (presidente + vereadores) so vastssimas. Osmunicpios tm uma importncia crucial na elaborao do plano de directormunicipal (PDM) e nos planos de pormenor.

    No h hierarquia entre as autarquias locais, que so estruturas administrativasterritorialmente sobrepostas, entre as quais se verifica uma certa articulao.No que se refere s atribuies municipais, pontifica o DL 159/99. Neste documentodenota-se bem o facto de se tratar de uma pessoa colectiva de fins mltiplos.

    Relativamente s autarquias locais, devem-se ter em conta trs princpios:Princpio da descentralizao

    Princpio da subsariedadePrincpio da generalidade ou da universalidade

    O princpio da universalidade tem que ver com a delegao nos rgos municipaisde todas as atribuies necessrias satisfao dos interesses pblicos locais. Sotarefas especficas devolvidas Administrao autrquica local.

    No se deve confundir municpios (: pessoa colectiva pblica), que tm atribuies,com cmara (: rgo executivo), que tem competncias.

    A autonomia financeira das autarquias locais pressupe receitas prprias, queprovm dos impostos locais. A sua insuficincia pe em causa a autonomiafinanceira administrativa.

    25

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    26/93

    Tem-se procedido ampliao da administrao indirecta atravs daempresarializao dos servios pblicos municipalizados.Neste sentido, deve distinguir-se:- Servios municipais em sentido estrito- Servios municipalizados

    Os servios municipais em sentido estrito so servios administrativos do municpiosem autonomia, que funcionam na dependncia dos rgos.Os servios municipalizados, por sua vez, so aqueles que tm ausncia depersonalidade jurdica prpria, mas aos quais a lei atribui uma considervelautonomia no mbito administrativo e financeiro. Freitas do Amaral designa-os deempresas pblicas municipais. Esto praticamente extintos, sendo objecto deconcesso a empresas privadas e estaduais.

    Finanas locais lei 42/98A auto-suficincia financeira um elemento fundamental da autonomia

    das autarquias locais. Deve haver autonomia de meios financeiros,

    provenientes dos impostos locais e sua gesto (no exclui apossibilidade de receberem transferncias do Estado e fundoscomunitrios).

    Constituio de comunidades intermunicipais de Direito Pblico lei 175/99, 21 deSetembro e lei 11/2003, 13 de Maio (estabelece o regime de criao e o modo defuncionamento dos rgos de duas associaes e as competncias respectivas).

    Fins gerais - municpios ligados entre si por um nexo territorial;Fins especficos - pessoa colectiva pblica criada para a realizao de

    interesses comuns aos municpios que a integram.

    Estrutura de funcionamento:Comunidades intermunicipais de fins gerais

    - Assembleia intermunicipal- Conselho directivo- Comisso consultiva

    Comunidades intermunicipais de fins especficos- Assembleia intermunicipal- Conselho directivo

    Art. 37 : praticam actos que so impugnveis administrativa e contenciosamente.

    Tutela estadual sobre as autarquias locais

    Art. 242/1 CRPA tutela tem que estar prevista na lei e s pode ser exercida na medida por elaformulada. O legislador optou por uma concepo restrita quanto aos fins da tutelaestadual sobre as autarquias locais. O objecto principal verificar o cumprimento dalei nos actos praticados pelas autarquias locais. No se faz uma tutela deoportunidade, mrito ou convenincia, desde que estejam em causa apenasinteresses locais, porque a administrao autnoma local tem competncia exclusiva

    sobre eles. S quando houver um interesse geral associado, que pode ser legtimointervir para os harmonizar.Se h limites quanto aos fins, o mesmo no se pe quanto aos meios, que solivremente admitidos desde que respeitem o princpio da autonomia local.

    26

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    27/93

    A tutela tpica de natureza inspectiva (fiscalizadora), mas pode revestir outrasformas. Segundo o prof. Colao, pode haver, pelo menos, mais uma forma - a tutelaintegrativa - desde que a lei a preveja (a discricionariedade administrativa muitoescassa), seja adequada realizao dos interesses pblicos locais e no comprimadesnecessariamente a autonomia local.A lei no prev uma tutela administrativa sancionatria, porque so os tribunais queapuram responsabilidades.

    Dentro da administrao indirecta, vamos estudar mais pormenorizadamente:Institutos pblicosEmpresas pblicas

    Assim como, na administrao autnoma funcional as:Associaes pblicas

    Institutos pblicos

    Lei Quadro 03/2004, 15 de Janeiro

    Pessoas colectivas de tipo institucional ( no facto de assentarem em organizaesde natureza material e no pessoal que se distinguem das associaes pblicas),que asseguram fins pertencentes ao Estado ou a outra pessoa colectiva de finsmltiplos (pode ser a administrao regional, mas no possvel no caso daadministrao local), actuando em nome prprio na realizao de interesses dapessoa colectiva matriz.

    Podem ser:- servios administrativos- fundos ou patrimnios- estabelecimentos pblicos- estabelecimentos comerciais ou industriais

    Os institutos pblicos podem ser:AdministrativosEconmicos ou empresariais (de substracto empresarial)

    Os institutos pblicos diferem quanto natureza do regime jurdico ordenador.Enquanto os administrativos se subordinam ao direito pblico, os econmicossujeitam-se ao direito privado das sociedades comerciais. Estes ltimos deram lugar

    s entidades pblicas empresariais.Caractersticas:

    So designados e exonerados pelo Governo;Como administrao indirecta, esto sujeitos superintendncia e tutela

    (particularmente forte em matria financeira);Podem ser titulares de sub ou mini-institutos pblicos.

    As universidades tm um estatuto misto, porque tm autonomia administrativa,financeira, pedaggica e cientfica.

    Tipologia:Servios personalizados

    Ex: Instituto da vinha e do vinho27

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    28/93

    Fundos e fundaes pblicasPatrimnios afectos prossecuo de interesses pblicos

    Estabelecimentos pblicos Ex: hospitais, bibliotecas e museus pblicos (as universidades tm um estatutohbrido)

    Os institutos pblicos no gozam de uma garantia constitucional, apenas soreferidos no art. 227, a propsito das regies autnomas.

    O seu regime de jurisdio o controlo financeiro do Tribunal de Contas.

    rgos:Conselho directivoFiscal nicoConselho Consultivo (facultativo)

    Normalmente, os rgos dos institutos pblicos so livremente nomeados e

    exonerados pelo Governo.Os institutos pblicos normalmente esto adstritos a um ministrio particular: oministrio tutelar.

    Empresas pblicas

    Organizaes econmicas criadas com capitais pblicos ou controladas pelospoderes pblicos sob forma empresarial, independentemente do regime jurdicoinstitucional.

    No modo restrito, consideram-se apenas as organizaes dotadas de personalidade jurdica. Falamos de empreendimentos pblicos com personalidade jurdica, emborasob tutela e superintendncia da administrao pblica (Estado + administraoregional + administrao local). Exclumos os servios municipalizados, porque notm personalidade jurdica.

    Tal como esto confeccionadas no nosso ordenamento jurdico, contempla duasmodalidades distintas:

    Entes pblicos empresariaisSociedades de capital pblico

    Os entes pblicos empresariais so de tipo institucional. So pessoas colectivas deDireito Pblico, em que o capital constitudo por um fundo pblico.Segundo a perspectiva do prof. Colao, os entes pblicos empresariais actuamessencialmente atravs do Direito Privado (no exercem uma actividade degesto pblica), embora sejam pessoas colectivas pblicas, uma vez queactuam em funo do lucro. Da que o legislador lhes atribua mais flexibilidade,dando-lhes um estatuto de actividade de Direito Privado.rgos:- Conselho de Administrao- Conselho fiscal- Assembleia Geral ( facultativo, sendo mais frequente quando h vriasentidades pblicas a participar no seu capital)Os rgos podem ser livremente nomeados e exonerados no CM, por sugestodo ministro da tutela.

    28

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    29/93

    A sua actividade econmica empresarial tem que se compatibilizar com apoltica econmica e social do Governo, que pode fixar directivas e orientaesde forma a que se compatibilizem, ainda que no respeito pela sua autonomia.Foram criadas no mbito de uma poltica de interveno econmica, devido necessidade de controlar certos sectores-chave da economia. Pretendia-seconferir maior eficcia administrao pblica e realizar politicamente oprograma do Governo.Estas entidades pblicas empresariais so hoje residuais, havendo maissociedades de capital pblico.

    As sociedades de capital pblico, por sua vez, so pessoas colectivas de DireitoPrivado. O seu capital est repartido em partes sociais (aces). Os seus estatutosso os das sociedades comerciais.

    rgos:- Assembleia Geral- Conselho de Administrao- Conselho fiscal

    A interveno do Estado pela via indirecta, atravs dos comissrios polticos,na qualidade de accionistas, que so nomeados pelo ministro da tutela.

    Alm dos entes pblicos empresariais e das sociedades de capital pblico, h aindasociedades de capitais mistos.

    Associaes pblicas

    Fazem parte da administrao autnoma funcional. So pessoas colectivas pblicasde natureza associativa, criadas por lei ou acto pblico (:acto administrativo combase na lei), que tm com objectivo realizar os interesses prprios dos membros queformam a referida associao.Caractersticas:

    Autogoverno e rgos emanados da prpria sociedade;Elementos constitutivos: colectividade de pessoas;Auto-administrao: deciso e responsabilidade prprias;Embora se tratem de interesses particulares, a lei confere-lhes dignidade de

    interesses pblicos;Podem ser de natureza religiosa, cultural, profissional, scio-econmica,

    assistencial, etc;

    Deveres e obrigaes: dever de colaborar em tudo o que for solicitado, e nombito das suas funes, com o Estado.

    A lei destaca um determinado interesse pblico especfico e atribui-o a estasentidades privadas, s quais se confere uma dignidade de natureza pblica. Ex:ordens profissionais (osmose do interesse particular com o interesse pblico).

    Tm vrios poderes, que exercem de uma forma autnoma:Privilgio da unicidade (:uma s associao para cada interesse);Inscrio obrigatria;A cutizao pode ser obrigatria;Autonomia regulamentar, administrativa, financeira e disciplinar.

    Relativamente autonomia, as ordens profissionais regulam o estatuto da profisso.29

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    30/93

    O Estado delega neles o acesso profisso e o seu exerccio, cabendo-lhes mesmosuspend-lo ou inibi-lo.

    Gozam de garantia institucional art. 267/4 CRP

    H um regime miscigenado: as associaes pblicas esto sujeitas ao Direito Pblicoe ao Direito Privado.

    Os seus actos so administrativos, estando sujeitos lei da responsabilidadeadministrativa.

    Trs figuras administrativas obscuras:Entidades administrativas independentesEntidades administrativas de Direito PrivadoAdministrao por entidades particulares

    Entidades administrativas independentes

    Estas entidades, quando tm poderes regulamentares e sancionatrios, devemchamar-se Autoridades Administrativas Independentes (as autoridadesadministrativas independentes no esgotam, todavia, o elenco das entidadespblicas independentes).

    So entidades que tm capacidade de autodefinirem as suas orientaes no mbitodas determinaes fixadas pela lei e no esto sujeitas a qualquer tipo de controloquanto forma como exercem as suas competncias.

    uma noo pouco prestvel, porque devia incluir desde o Estado at s outrasformas de administrao autnoma. prpria das colectividades que compem aadministrao autnoma. Podamos consider-las como fazendo parte daadministrao indirecta, no sentido em que estas entidades so criadas pelo Estadoe desempenham funes administrativas que so suas. Mas se h uma coisa que ascaracteriza elas no deverem obedincia a nenhum rgo (o Estado isenta-as decontrolo e subordinao.

    Caractersticas:- So normalmente criadas pelo Governo;- Os seus membros so designados pelo Governo, AR ou at por entidades judiciais;

    - No representam o Governo, nem lhe devem qualquer tipo de obedincia;- O mandato dos membros que a compem mais amplo do que os daadministrao indirecta;- Os seus membros so independentes, inamovveis e irresponsveis perante asdecises que venham a tomar (so indistituveis por esse motivo);- Gozam de meios financeiros que podem ser considerveis e de autonomiafinanceira;- No esto sujeitos a tutela, nem a superintendncia.

    Duas modalidades de entidades:Autoridades reguladoras independentes

    So normalmente criadas pelo Governo e os seus membros so por eledesignados. As suas competncias so habitualmente no mbito econmico efinanceiro, usufruindo de poderes essencialmente regalrios (ex: ANACOM,

    30

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    31/93

    Comisso do Mercado de Valores Imobilirios, etc.).Autoridades de garantia dos direitos fundamentais

    So normalmente criados e os seus membros eleitos pela AR, funcionando junto dela, face delicadeza dos direitos em causa (ex: Comisso Nacional deProteco de Dados Pessoais, Comisso de Acesso aos Dados Administrativos,etc.).

    Aquando da reviso constitucional de 1997, veio-se constitucionalizar estasentidades no art. 267/3, atravs de uma clusula geral. O legislador constituinte ,por no fixar limites, concedeu uma grande liberdade discricionria ao legisladorordinrio. O Estado no deve exonerar-se de definir a poltica pblica em matriaadministrativa e no demitir-se ao ponto de lhes conceder poderes ilimitados. Deviadefinir-se a reas administrativas em que estas entidades devem intervir.

    Porqu a necessidade destas entidades?As entidades administrativas independentes foram importadas dos EUA, de acordocom a ideologia do Estado liberal. Vinham, assim, ampliar os poderes de interveno

    do Estado. No caso europeu, isto significou uma retraco do Estado Social (ou seja,sucedeu-se o fenmeno inverso), porque abdicou de algumas das suas garantiasprestacionais. Vivemos hoje num Estado mnimo regulador, que deixa de prestarservios mas regula abundantemente.

    Entidades administrativas de Direito Privado

    So entidades criadas por entidades pblicas administrativas, que tm um estatuto jurdico-privado, porque recorrem ao Direito Civil ou ao Direito Comercial enquantoprosseguem funes pblicas, contando para isso com um financiamento pblico.Ex: fundaes pblico de Direito Privado

    O legislador to artificioso que criou figuras mistas ou compostas, mas quando aparte pblica dominante ou hegemnica so comparadas a entidades pblicas.

    As entidades administrativas de Direito Privado so fenmenos de privatizao doDireito Administrativo.H trs formas de privatizao:- na forma de actividade (mantm-se o estatuto jurdico-pblico, mas a actividade privada);- na forma de organizao;

    - na forma de exerccio de funes administrativas por particulares.Estas entidades so uma manifestao da privatizao na forma de organizaoadministrativa, uma vez que so criadas ao abrigo do Direito Privado. Esto,contudo, vinculadas aos direitos fundamentais e a sua actividade deve respeitar osprincpios comuns da Administrao Pblica.A CRP no as probe, mas no deveria fixar-lhe limites? No h uma reserva deentidades pblicas (funes que no podem ser atribudas a entidades pblicas)? muitas vezes esta administrao paralela que desacredita a administrao pblicaorgnica.

    Administrao por entidades particulares

    O fenmeno do envolvimento dos interessados na actividade administrativa bastante regular. Passou a ser mais frequente, louvvel e necessrio. O mais recente

    31

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    32/93

    o envolvimento dos particulares no funcionamento dos rgos. Inicialmente, foinos conselhos consultivos. Agora j atingem mesmo nveis decisrios, situao naqual se pode falar de co-administrao. No limite, a lei confia a gesto dedeterminado servio pblico a entidades particulares. o caso das associaespblicas e das ordens profissionais, das fundaes e associaes pblicas de DireitoPrivado. Ex: BrisaA forma mais clssica o exerccio de tarefas administrativas por entidadesparticulares dotadas de poderes de autoridade concessionrios (art. 2/3 CPA eart. 267/3 CRP) . O Estado delegou certos poderes a particulares atravs de umcontrato por determinado tempo. Esta figura tem-se vindo a alargar. No incio, incidiasobre infra-estruturas ou servios de rede (estradas, telecomunicaes, etc.).Actualmente, inclui estabelecimentos de carcter cultural (hospitais, escolas,etc.).Os beneficirios podem ser a sociedade, uma associao, uma fundao, etc.

    Nos termos da lei, podem ser sujeitos fiscalizao administrativa, uma vez que seregem por normas do Direito Administrativo. A relao entre o poder pblico e estasentidades delegatrias de superintendncia.

    No entendimento do prof. Colao, a privatizao no pode ser um princpio geral daactividade administrativa. A regra devem ser as pessoas colectivas pblicas, se bemque o legislador, na sua liberdade constitutiva, tem ultrapassado os limitesimanentes que constam do prprio texto constitucional. Os privados no se devemsubstituir a tarefas que j esto atribudas pela lei a pessoas colectivas pblicas.

    Cooperao: parcerias pblico-privadas. mais frequente verificar-se umacooperao entre pessoas colectivas pblicas, que podem assumir uma formaocasional (sob a forma de protocolos ou contratos, nos quais vrias pessoascolectivas pblicas se associam para prosseguir fins comuns) ou definitiva. Estacolaborao pode englobar entidades pblicas da mesma natureza (ex:intermunicipais) ou de diversa natureza.

    rgos

    Aos rgos competem competncias, ao passo que s pessoas colectivas pblicascompetem atribuies. So os rgos que dirigem as pessoas colectivas pblicas,manifestam a sua vontade e realizam as atribuies das respectivas.

    H pessoas colectivas pblicas que so mono-orgnicas, mas no a regra.

    Normalmente, so pluriorgnicas.Classificao:

    1) rgos deliberativos e executivos2) rgos superiores e subalternos3) rgos singulares (: um titular) e colegiais (so a regra art. 14 a 28 CPA)4) rgos centrais e locais (: competncia numa determinada circunscrioterritorial)5) rgos primrios (: competncia prpria para decidir certas matrias definidas

    por lei) , secundrios (: competncia no mbito da delegao de poderes) e vicrios(: apenas podem exercer competncias em regime de substituio ex: art. 41CPA)6) rgos activos (: com poderes para decidir e executar aces) , consultivos (:

    32

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    33/93

    funo de informar, atravs de pareceres, o rgo activo a fim de tomar a deciso) ede controle7) rgos eleitos e no eleitos8) rgos permanentes e provisriosAs pessoas colectivas existem para prosseguir determinados fins, isto , atribuies(: interesses pblicos que a lei incumbe uma determinada pessoa colectiva pblicade prosseguir) . Para ser possvel a prossecuo das atribuies, preciso que apessoa colectiva pblica esteja dotada de rgos, que so centros de imputao depoderes funcionais, que o mesmo que dizer competncias (: conjunto de poderesfuncionais que a lei confere a um rgo para que ele possa prosseguir as atribuiesda pessoa colectiva a que pertence) .Vigora o princpio da legalidade, porque a lei que atribui e extingue atribuies ecompetncias. , portanto, a lei que define e qualifica os interesses pblicos e no aadministrao.O mbito das atribuies muito varivel, tendo a sua amplitude mxima no Estado.Quanto administrao autnoma, o legislador fala em interesses regionais, aopasso que para a administrao local fala em interesses prprios das populaes.

    Em ambos os casos, tratam-se de conceitos indeterminados.Vigora o princpio da especialidade, porque no razovel que o rgo exercite asua competncia para prosseguir atribuies em matrias que so alheias pessoacolectiva pblica em que est inserido. Para prosseguir as atribuies da pessoacolectiva pblica em que se insere, pratica todos os actos necessrios econvenientes.

    Os rgos, quando actuam, sofrem uma dupla limitao:a) s podem usufruir das suas prprias competncias;b) quando agem, no podem usar as suas competncias para prosseguir atribuiesalheias sua pessoa colectiva pblica.Assim, as competncias e atribuies limitam-se mutuamente.

    Estado

    Em virtude da organizao horizontal do Governo por ministrios, as atribuiesesto repartidas. Alguns ministrios possuem atribuies especficas, sendo ascompetncias dentro dos ministrios distribudas pelos respectivos rgos.Em geral, os rgos exercitam competncias diferentes, mas as atribuies so asmesmas (ex: cmara e junta, no caso dos municpios). Dentro do Estado, os rgos(ministros) tm as mesmas competncias para atribuies diferentes. Os ministriosfuncionam como se fossem entidades administrativas distintas (: pessoas colectivaspblicas), porque o que varia no so as competncias, mas as atribuies.

    Competncia

    A distino entre competncia e atribuio importante para distinguir entre meios(: actos juridicamente materiais, que so postos em prtica pelos rgos, com vista prossecuo dos fins) e fins.

    Se um rgo invade a competncia de outro rgo a consequncia a nulidade por

    falta de atribuio.Quanto competncia, vigora o princpio da legalidade (: a lei que define e retiraas competncias de um determinado rgo) art. 29 CPA

    33

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    34/93

    A competncia no se presume, tem que estar definida na lei ou num regulamento. imodificvel (: no pode ser alterada por um rgo da administrao), inalienvel eirrenuncivel (: um rgo no pode alterar o contedo da competncia ou distribui-lopor outros rgos, a no ser no caso da delegao de poderes ou figuras afins).A consequncia jurdica da renncia titularidade de competncia por um rgo anulidade do acto, nos termos do n2, art. 29 CPA .

    Distribuio de competncias:1) Em funo da matria2) Em funo do territrio3) Em funo do tempo

    1) O legislador entende que certo interesse pblico ou conjunto de interessespblicos deve ser confiado a determinado rgo, porque excepcionalmentevocacionado para a sua prossecuo.

    2) A competncia exercida numa determinado circunscrio territorial.

    Funcionamento dos rgos colegiais

    Os rgos colegiais para se reunirem precisam de dois pressupostos fundamentais:a) marcao (: acto em que se fixa o dia e a hora da reunio)b) convocatria (: notificam-se os membros do rgos da data e da hora, assimcomo da ordem de trabalhos)

    Reunio:OrdinriaExtraordinria

    Em princpio, s podem deliberar sobre as matrias que estiverem includas naordem de trabalhos. O art. 19 abre a possibilidade de deliberarem em reunioordinria sobre assuntos no agendados, se considerarem urgente. Em reunioextraordinria, s se pode deliberar nos assuntos previamente agendados.Nos termos do art. 21, se houver inobservncia sobre a matria das reunies,estamos perante uma ilegalidade. Ao abrigo do art. 133,o acto nulo.

    Em princpio, o crum de reunio (: maioria do nmero legal dos membros comdireito a voto) e o crum deliberativo coincidem, a no ser que a lei exija uma

    fraco de votos superior maioria qualificada. Se o crum de reunio no forverificado, convoca-se uma nova reunio, nunca antes de 24h.

    Mtodos de apuramento da vontade do rgo:Votao (: contagem das vontades individuais)Consenso (: consentimento tcito em torno de uma deciso)

    H vrias formas de apurar a vontade do rgo:Maioria absoluta (regra)Maioria relativa (coincide com a proposta mais votada)Maioria qualificada (para casos especiais)Por unanimidade

    Formas de votao:

    34

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    35/93

    Nominal (art. 24/1)Secreta

    A votao nominal a regra; neste caso, os membros do rgo do a conhecer osentido voto. Para que a votao seja secreta, exigvel que estejam em causa asqualidades ou comportamento de uma pessoa.

    Havendo empate na votao, atribuiu-se um peso especial ao voto do presidentevoto de qualidade (ganha a proposta que teve o consentimento do presidente).

    Tambm pode haver voto de desempate, nos casos em que no est previsto que opresidente vote (ele vota, nesse caso, s para desempate).

    Delegao de poderes

    A delegao de poderes uma excepo ao princpio da irrenunciabilidade einabilianabilidade.

    Quanto natureza jurdica da delegao de poderes, h trs teses:1) Transferncia ou inalienao de competncias2) Autorizao3) Transferncia do exerccio de competncias

    Transferncia ou inalienao de competncias

    Atravs do acto de delegao, a titularidade dos poderes do rgo delegantetransfere-se para a esfera do rgo delegado, ficando o primeiro desligado dela.

    Autorizao

    A lei de habilitao (que pressuposto da delegao de poderes) estipula umacompetncia condicional do delegado, que est apenas sujeita prvia autorizaodo rgo delegante (a competncia primria j est no rgo delegado,necessitando apenas da autorizao). uma autorizao meramente permissiva eno constitutiva (porque os poderes j esto na esfera do rgo).

    Nenhuma destas teses colhe, porque: transferncia : a competncia sempre do rgo delegante (no pode alienar a

    responsabilidade, uma vez que mantm uma srie de poderes, como o daavocao*, revogao e emisso de directivas), assim ele no transfere acompetncia, s o seu exerccio;

    autorizao : em nome prprio, a competncia no pertence ao delegando; sempre do delegante.

    Estas teses violam o art. 29 CPA, que determina que as competncias soinalienveis e irrenunciveis, no podendo ser transmitidas atravs de mero actoadministrativo.

    * Retirar uma competncia da esfera do rgo avocando e coloc-la sob suaresponsabilidade.

    Transferncia do exerccio de competncias35

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    36/93

    Acto praticado por um rgo de uma pessoa colectiva pblica atravs do qual elepermite que outro rgo, em princpio da mesma pessoa colectiva, pratique actosque so da sua prpria competncia (qualificao especial junto do delegado paraexercer, em nome prprio, uma competncia alheia). A competncia originria sempre do delegante.

    Esta a tese que se mantm.

    Regime jurdicoArt. 35 e ss

    A delegao de poderes depende da lei a prever lei de habilitao. Sem aautorizao legal para cada competncia, a delegao corresponder a umarenncia de competncia, sendo, nos termos do art. 29/2 CPA, nula. Nestes casos, oacto que viesse a ser praticado ao abrigo da delegao sofreria do vcio daincompetncia.

    A delegao de poderes para se tornar operativa precisa de se concretizar num actode delegao de poderes. Este uma mera faculdade, que deve ser usada pelotitular da competncia em causa.

    art. 35/2 e 3 : consagra-se uma norma de habilitao geral. Nestes casos, a leidispensa uma habilitao legal especfica. O delegaste pode delegar no seu inferiorhierrquico mas s no mbito da administrao ordinria corrente. Administraoordinria , todavia, um conceito indeterminado, pelo que o prof. Colao faz umainterpretao restritiva, considerando que se trata de actos certificativos (quasemeramente burocrticos); tudo o que ultrapasse a gesto corrente no deve caberneste instituto.

    art. 36 : o delegaste pode autorizar o delegado a sub-delegar. Para que sematerialize correctamente, a lei exige:

    Manifestao expressa de vontade do delegante (j no se exige aautorizao legal; basta que a lei no se oponha).

    A segunda sub-delegao acontece quando o sub-delegado pode sub-delegar assuas competncias sub-delegadas. Pressupostos:

    necessrio que o delegante e o sub-delegante no tenham vedado essapossibilidade (tal como na primeira sub-delegao, no precisa autorizao do

    delegante). art. 37 : contedo da delegao de poderes. No acto de delegao ou de sub-delegao, deve o rgo delegante ou sub-delegante fazer uma enumeraopositiva dos poderes que os delegados ou sub-delegados podem praticar (veda apossibilidade de uma reserva genrica de competncias do rgo delegante).Estes actos esto sujeitos a publicao no DR, sob pena de ineficcia (consiste numagarantia para os administrados). Os actos praticados antes da publicao soinvlidos por vcio de incompetncia (porque o acto que transmite o exerccio dacompetncia ainda no produziu efeitos).

    art. 38 : o rgo delegado, quando pratica um acto, deve mencionar essaqualidade. importante do ponto de vista das garantias administrativas dosparticulares (fornece meios de reaco contra a prtica de um acto ilegal ofensivo daesfera jurdica - art. 158/2 e 176 CPA *).

    36

  • 7/31/2019 Sebenta Administrativo I e II (Aulas) - Autor Desconhecido

    37/93

    * A relao jurdico-administrativa estabelecida pela delegao de poderes no hierrquica, da que o recurso hierrquico seja imprprio.

    Poderes do delegante ou sub-delegante

    art. 39 CPAPodem emitir directivas ou instrues vinculantes para o delegado, que fixam

    o modo de exerccio dos poderes delegados ou sub-delegados (o rgo deleganteno se substitui ao rgo delegado no estabelecimento do contedo do acto, senoa delegao deixaria de fazer sentido).

    Podem avocar e revogar os actos praticados pelo rgo delegado.Podem revogar nos termos do art. 142 CPA.

    Avocar o poder de chamar a si um determinado procedimento ou, estando jconcludo, o seu acto de concluso.

    art. 40Podem extinguir a delegao

    - por revogao- por caducidade resultante de se terem esgotado os efeitos ou quando haja

    mudana dos titulares (a delegao um acto intuitus personae , porquepressupe uma relao de confiana entre o delegante e o delegad