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MANUAL SOBRE CONTRATAO PBLICA

Elaborado por: Maria do Rosrio Silva e Andreia Magalhes NOTA PRVIA O presente trabalho foi elaborado expressamente para as aces de formao da CTOC, pelo que, no pretende ser um ponto de chegada, mas apenas um ponto de partida contribuindo para dar a conhecer as novas regras da contratao pblica. O Cdigo dos Contratos Pblicos (CCP)1, aprovado pelo Decreto-Lei n. 18/2008, de 29 de Janeiro, estabelece uma nova disciplina aplicvel contratao pblica, tendo ao longo destes dois anos de existncia sofrido alteraes, como sejam as introduzidas pela Rectif. N. 18-A/2008, de 28 de Maro, Lei n. 59/2008, de 11 de Setembro, Decreto-lei n. 223/2009, de 11 de Setembro. As ltimas alteraes foram introduzidas pelo Decreto-lei n. 278/2009, de 02 de Outubro. Este diploma veio volvido um ano sobre a plena vigncia do CCP, garantir uma maior flexibilidade na aplicao do CCP, adaptando-o s actividades de investigao e desenvolvimento promovidas por instituies cientficas e de ensino superior cf. Alteraes aos artigos 2. (entidades adjudicante) e 5. unnime afirmar de nem sempre o Cdigo dos Contratos Pblicos aprovado pelo Decreto-lei n. 18/2008, de 29 de Fevereiro se adequava natureza da actividade das mencionadas instituies, verificando-se, nalgumas situaes, constrangimentos prossecuo dos seus objectivos que importava reduzir ou remover, quando confrontadas com as suas congneres internacionais, ou ainda no quadro da crescente cooperao com empresas em matria de I&D. As principais inovaes ao nvel da contratao pblica prendem-se com a eliminao da fase de habilitao, que deferida para um momento ps adjudicao, com a eliminao do acto pblico, bem como com a desmaterializao de todo o procedimento de formao dos contratos. As novidades assumem especial relevncia quer, para o sector pblico quer, para o sector privado. As regras de formao do contrato previstas no CCP aplicam-se a todo o sector pblico administrativo tradicional. Aplicam-se tambm ao sector empresarial do Estado, s Regies Autnomas e s Autarquias Locais, quando as empresas actuem fora da lgica do mercado e da livre concorrncia. Estas regras da contratao pblica previstas no CCP aplicam-se tambm a entidades privadas que actuem nos sectores especiais da gua, da energia, dos transportes e dos servios postais, quando essas entidades sejam detentoras de direitos especiais ou exclusivos. Com o CCP foi unificado, num s diploma, toda a matria de contratao pblica, ou seja, o regime jurdico das empreitadas de obras pblicas constante do Decreto-Lei n 59/99, de 2 de Maro, o regime de aquisio de bens e servios estabelecido no Decreto-Lei n 197/99, de 8 de Junho, e o regime referente1

Cf. Declarao de Rectificao n. 18-A/2008, de 28 de Maro.

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aos chamados sectores excludos (gua, energia, transportes e servios postais), constante do DecretoLei n 223/2001, de 9 de Agosto, bem como a transposio, para o nosso ordenamento jurdico, das Directivas 2004/17/CE e 2004/18/CE, ambas de 31 de Maro, que incidem sobre estas matrias. Foi assim compilado num nico diploma legislativo, toda a informao necessria a quem intervm neste tipo de processos, seja pelo lado da oferta seja pelo lado da procura. Uma das maiores inovaes a desmaterializao dos procedimentos, possibilitando, ou no, o encurtamento de prazos, a reduo dos custos e ganhos de eficincia. Com este diploma, foram tambm acrescentadas previses que tm em considerao novos mtodos e desenvolvimento de boas prticas em sede de contratao pblica, como sejam: Acordos-quadro; Centrais de compras; Leiles electrnicos e Sistemas de aquisio dinmicos. Dentro do mbito referido, procura-se a sensibilizao dos formandos para a estrutura em que assenta a contratao pblica, apresentando um conjunto de matrias fundamentais ao seu entendimento. Certamente que este trabalho apresentar lacunas em funo do objectivo proposto, pelo que desde j se agradece, a todos os leitores, que as faam chegar ao conhecimento da autora como ponto de melhoria para trabalhos futuros.

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ndiceMDULO II - ENQUADRAMENTO GERAL 1. Objectivos do Cdigo dos Contratos Pblicos 2. Estrutura do Cdigo dos Contratos Pblicos 3. Princpios da contratao pblica 3.1 - Princpio da transparncia 3.2 - Princpio da igualdade 3.3 - Princpio da concorrncia 4. Definies 5. Entidades adjudicantes e contraentes pblicos (artigos 2. e 3.) 6. Contratos excludos e contratao excluda 6.1 - Contratos excludos 6.2 - Contratao excluda 7 - Valor do contrato, preo base e preo contratual 8. Tipos de procedimentos pr-contratuais 9. Regra geral de escolha do procedimento 10. Valor do contrato de locao ou aquisio de bens mveis, de aquisio de servios e empreitadas de obras pblicas em funo do procedimento adoptado 11. Escolha do procedimento em funo de critrios materiais 11.1 - Critrios materiais 11.2 - Contratos mistos II. REGRAS ESPECIAIS RELATIVAS A CONTRATOS DE LOCAO OU AQUISIO DE BENS MVEIS E DE AQUISIO DE SERVIOS III. FIGURAS ESPECIAIS 12. Agrupamentos de entidades adjudicantes (art. 39.) 13. Acordos-Quadro (art. 251. ss.) 14. Centrais de compras (art. 260. ss.) IV - ALTERAES INTRODUZIDAS AO CDIGO DOS CONTRATOS PBLICOS PELO DECRETOLEI 278/2009, DE 2 DE OUTUBRO: 15- Documentos de habilitao 16- Documentos da proposta 17-Impedimentos 18- Ajuste Directo 19 - Programa de concurso e plano de trabalhos 20- Libertao de cauo e trabalhos a mais 33 34 34 34 35 36 Pg. 7 7 8 8 8 9 9 9 12 13 13 13 15 20 20 21 22 22 22 24

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MDULO IIV - TRAMITAO PROCEDIMENTAL COMUM 21. Anncio de pr-informao (art. 34.) 22. Deciso de contratar (art. 36.) 23. Publicitao dos anncios 24. Peas do procedimento (art. 40.) 25. Caderno de encargos (art. 42. ss.) 36 36 36 37 37 38

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26. Erros e omisses do caderno de encargos (art. 61.) 27. Participao de agrupamentos (art. 54.) 28. Impedimentos (art. 55.) 29. Documentos que constituem a proposta (art. 57.) 30. Desaparecimento do acto pblico 31. Propostas variantes (art. 59.) 32. Anlise das propostas (art. 70.) 33. Preo anormalmente baixo (art. 71. 34.Critrio de adjudicao (art. 74. e 75.) 35. Dever de adjudicao (art. 76.) 36. Tipificao das causas de no adjudicao (art. 79.) 37. Apresentao dos documentos de habilitao (art. 81.) 38. Cauo (art. 88. ss.) 39. Celebrao do contrato (art. 94. ss.) 40. Outras regras da tramitao pr-contratual VI. TRAMITAO DO AJUSTE DIRECTO 41. Modalidades de ajuste directo 42. Valor do contrato em funo da escolha do ajuste directo 43. Escolha do ajuste directo em funo de critrios materiais 45. Participao de agrupamentos (art. 117.) 46. Tramitao do ajuste directo 47 Tramitao do ajuste directo simplificado (artigos 128. e 129.) VII. TRAMITAO DO CONCURSO PBLICO 48. Modalidades de concurso pblico 49. Valor do contrato em funo da escolha do concurso pblico 50. Escolha do concurso pblico em funo de critrios materiais 51. Prazos mnimos para apresentao das propostas 51.1. Contagem do prazo para apresentao das propostas 51.2. Prorrogao do prazo para apresentao das propostas (artigo 64.) 52. Desaparecimento da fase de qualificao dos concorrentes 53. Modelo de avaliao das propostas (artigo 139.) 53.1. Modelo de avaliao das propostas - etapas (cf. alnea n) do n. 1 do artigo 132. do CCP) 53.2. Regras do modelo de avaliao das propostas (artigo 139. do CCP) 53.3. Pontuaes parciais em cada factor/subfactor elementar (n. 5 do artigo 139.) 54. Leilo electrnico 54.1. Noo e mbito 54.2. Objecto 54.3. Regras do leilo electrnico 55. Fase de negociao das propostas (artigos 149. a 154.) 56. Tramitao do concurso pblico 57. Tramitao do concurso pblico urgente (artigos 155. a 161.) VIII. TRAMITAO DO CONCURSO LIMITADO POR PRVIA QUALIFICAO 58. Modalidades e fases do concurso limitado 59. Valor do contrato em funo da escolha do concurso limitado

40 43 43 44 45 64 47 47 48 48 49 50 54 54 55 56 56 57 58 62 62 72 73 73 74 75 75 76 76 76 79 79

79 79 79 79 80 80 81 81 88 89 89 89

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60. Escolha do concurso limitado em funo de critrios materiais 61. Qualificao dos candidatos 61.1. Requisitos mnimos de capacidade tcnica 61.2. Requisitos mnimos de capacidade financeira 61.3. Modelos de qualificao 61.3.1. Modelo simples de qualificao 61.3.2. Modelo complexo de qualificao 61.4. Preenchimento dos requisitos mnimos por agrupamentos 62. Documentos que constituem a candidatura 63. Prazos mnimos para apresentao das candidaturas 63.1. Contagem do prazo para apresentao das candidaturas 63.2. Prorrogao do prazo para apresentao das candidaturas (artigo 175.) 64. Dever de qualificao 65. Prazos mnimos para apresentao das propostas 65.1. Contagem do prazo para apresentao das propostas 65.2. Prorrogao do prazo para apresentao das propostas (artigo 64.) 66. Modelo de avaliao das propostas (artigo 139.) 67. Leilo electrnico (artigos 140. e segs.) 68. Tramitao do concurso limitado IX. TRAMITAO DO PROCEDIMENTO DE NEGOCIAO 69. Modalidades e fases do procedimento de negociao 70. Escolha do procedimento de negociao 71. Fase da apresentao das candidaturas e da qualificao dos candidatos 72. Fase da apresentao e anlise das verses iniciais das propostas 73. Fase da negociao das propostas 74. Fase da anlise das verses finais das propostas e da adjudicao 75. Tramitao do procedimento de negociao: passo-a-passo 76. Fases do dilogo concorrencial 77. Escolha do dilogo concorrencial 78. Fase da apresentao das candidaturas e da qualificao dos candidatos 79. Fase da apresentao das solues e dilogo com os candidatos qualificados 80. Fase da apresentao e anlise das propostas e adjudicao 81. Tramitao do dilogo concorrencial

89 90 91 91 92 92 92 93 93 94 95 95 96 96 97 97 97 97 97 102 102 103 104 105 105 105 106 107 107 108 108 109 109

MODULO III82. As plataformas de contratao electrnica

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82.1 Servios a assegurar pelas Plataformas Electrnicas 82.2 Carregamento das propostas na Plataforma Electrnica 82.3.Regras de funcionamento das plataformas electrnicas 82.4 Segurana das Plataformas Electrnicas 83. Assinatura Electrnica e certificado digital Enquadramento geral 83.1. Certificao Digital O que ? 83.2. Certificao Digital - Introduo a Principais Conceitos 83.3. Certificao Digital - Integridade e Assinatura Digital 83.4. Certificao Digital versus Certificado Digital 83.5. Certificao Digital - Confidencialidade 83.6. Certificao Digital - Timestamping 83.7. Time-Stamping - Complemento Assinatura Digital 83.8. Enquadramento legal dos certificados digitais qualificados e das assinaturas electrnicas 84. Garantias dos Interessados - (Meios de impugnao) 84.1. Garantias Administrativas 84.1.1. Actos impugnveis 84.1.2. Prazo para apresentao da impugnao 85.1.3.Efeitos da impugnao 84.2. Garantias Jurisdicionais 85. Legislao relevante Anexo I Decreto-Lei n. 18/2008, de 29 Janeiro alterado pelo Decreto-lei n- 278/2009, de 2 de Outubro

113 114 114 115 117 118 119 120 122 124 124 125 125 128 128 128 128 128 129 130 131

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MDULO I

I. ENQUADRAMENTO GERAL 1. Objectivos do Cdigo dos Contratos Pblicos Com o CCP foi unificado, num s diploma, toda a matria de contratao pblica, ou seja, o regime jurdico das empreitadas de obras pblicas constante do Decreto-Lei n 59/99, de 2 de Maro, o regime de aquisio de bens e servios estabelecido no Decreto-Lei n 197/99, de 8 de Junho, e o regime referente aos chamados sectores excludos (gua, energia, transportes e servios postais), constante do DecretoLei n 223/2001, de 9 de Agosto, bem como a transposio, para o nosso ordenamento jurdico, das Directivas 2004/17/CE e 2004/18/CE, ambas de 31 de Maro, que incidem sobre estas matrias. Ou seja, temos, num nico diploma legislativo, toda a informao necessria a quem intervm neste tipo de processos, seja pelo lado da oferta seja pelo lado da procura. Com o CCP pretendeu-se igualmente simplificar, clarificar e modernizar as regras e procedimentos aplicveis, bem como consagrar os princpios fundamentais que devem presidir contratao pblica, tais como concorrncia, igualdade, estabilidade, publicidade e transparncia, que no devem ser esquecidos dada a sua relevncia. Importa, porm referir que o CCP no se restringe aos contratos abrangidos pelas directivas, aplicandose, tendencialmente, a todo e qualquer contrato celebrado pelas entidades adjudicantes nele previstas cujo objecto abranja prestaes que esto ou sejam susceptveis de estar submetidas concorrncia de mercado (cf. n. 2 do artigo 1. e n. 1 do artigo 16.). Alm disso, o CCP regula no apenas a fase de formao dos contratos pblicos mas tambm a fase de execuo daqueles que revistam a natureza de contrato administrativo (de acordo com os critrios fixados no n. 6 do artigo 1.).

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2. Estrutura do Cdigo dos Contratos Pblicos

ESTRUTURA DO CCP

Partes I mbito de aplicao do cdigo

Descrio mbito de aplicao objectivo e subjectivo, contratao excluda, reas sectoriais especficas (gua, energia, etc.). Formao de contratos cujo objecto abranja prestaes que esto ou sejam susceptveis de estar submetidas concorrncia do mercado. contratos Execuo do contrato administrativo em geral, bem como definio de regras especficas para determinados tipos de contratos administrativos. Procedimento contra-ordenacional Entidades competentes ASAE ou InCI. Regras especficas referentes s notificaes e comunicaes, contagem de prazos durante a fase pr contratual e durante a fase de execuo.

II

Disciplina da contratao pblica

III Regime substantivo administrativos

dos

IV Regime contra-ordenacional

V Disposies finais

3. Princpios da contratao pblica contratao pblica, enquanto procedimento administrativo, aplicvel a generalidade dos princpios da actividade administrativa (por exemplo: o princpio da legalidade, o princpio da proporcionalidade, o princpio da imparcialidade e o princpio da boa f). A Constituio da Republica Portuguesa (CRP), o direito administrativo e o prprio Cdigo de Procedimento Administrativo (CPA), enunciam vrios princpios jurdicos (vd art. 266 da CRP e artigos 3 a 12 do CPA). Os princpios so de grande relevncia na interpretao e integrao de lacunas jurdicas. Destacam-se, no entanto, trs princpios que so especialmente aplicveis matria da contratao pblica, os quais enformaram as solues jurdicas criadas pelo legislador do CCP e aos quais se deve fazer apelo aquando da interpretao das suas normas:

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3.1 Princpio da transparncia (promovido pela regra da desmaterializao total e obrigatria dos procedimentos pr-contratuais) Por exemplo: O critrio de adjudicao e as condies essenciais do contrato que se pretende celebrar devem estar definidos previamente abertura do procedimento e ser dados a conhecer a todos os interessados a partir da data daquela abertura. O mesmo em relao aos factores e subfactores que o integram. 3.2 Princpio da igualdade (que opera, particularmente, ao nvel da participao dos interessados nos procedimentos) Na formao dos contratos pblicos devem proporcionar-se iguais condies de acesso e de participao dos interessados em contratar, segundo critrios que traduzam juzos de valor dos aspectos decisivos para contratar, coordenados com o objecto especfico do contrato. Iniciado o procedimento, no pode ser feita discriminao de qualquer natureza entre os interessados em contratar nem admitir-se qualquer interpretao das regras que disciplinam a contratao que seja susceptvel de determinar uma discriminao entre os concorrentes e aqueles que no apresentaram candidaturas ou propostas. 3.3 Princpio da concorrncia (potenciado pela utilizao de mecanismos mais rigorosos, como por exemplo, o modelo de avaliao das propostas) Na formao dos contratos deve garantir-se o mais amplo acesso aos procedimentos dos interessados em contratar, e em cada procedimento deve ser consultado o maior nmero de interessados, no respeito pelo nmero mnimo que a lei imponha. Apesar das exigncias formais terem o mesmo valor jurdico das materiais, por terem a mesma fonte (lei), o certo que a no admisso de um concorrente por este motivo no deve deixar de ponderar a utilidade que resulta para o interesse publico de uma maior concorrncia, potenciada por um maior numero de concorrentes.

4. Definies Artigo 1., n. 2, CCP e artigo 1 da DIRECTIVA 2004/18/CE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 31 de Maro

Contratao pblica Estamos perante a actividade contratual da Administrao Pblica, que diz respeito fase de formao dos contratos pblicos, a qual se inicia com a deciso de contratar e termina com a celebrao do contrato, ou seja, respeita aos actos e formalidades necessrios formao, celebrao, execuo, modificao e extino de contratos.

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Contratos pblicos so todos aqueles que sejam celebrados pelas entidades adjudicantes previstas no CCP - independentemente da sua designao (por exemplo: protocolo, acordo, etc.) e da sua natureza (pblica ou privada). Contratos de empreitada de obras pblicas so contratos pblicos que tm por objecto quer a execuo, quer conjuntamente a concepo e a execuo, quer ainda a realizao, por qualquer meio, de trabalhos relacionados com uma das actividades na acepo do anexo I, da Directiva 2004/18/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 31 de Maro ou de uma obra que satisfaa as necessidades especificadas pela entidade adjudicante. Por obra entende-se o resultado de um conjunto de trabalhos de construo ou de engenharia civil destinado a desempenhar, por si s, uma funo econmica ou tcnica. Contratos pblicos de fornecimento so contratos pblicos que no os abrangidos pelos Contratos de empreitada de obras pblicas, que tm por objecto a compra, a locao financeira, a locao ou a locao-venda, com ou sem opo de compra, de produtos. Um contrato pblico que tenha por objecto o fornecimento de produtos e, a ttulo acessrio, operaes de montagem e instalao, considerado um contrato pblico de fornecimento. Contratos pblicos de servios so contratos pblicos que no sejam contratos de empreitada de obras pblicas ou contratos pblicos de fornecimento, relativos prestao de servios mencionados no anexo II da Directiva 2004/18/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 31 de Maro. Um contrato pblico que tenha por objecto, simultaneamente, produtos e servios na acepo do anexo II, considerado um contrato pblico de servios sempre que o valor dos servios em questo exceda o dos produtos abrangidos pelo contrato. Um contrato pblico que tenha por objecto servios, na acepo do anexo II, da Directiva 2004/18/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 31 de Maro e que, s a ttulo acessrio em relao ao objecto principal do contrato, inclua actividades na acepo do anexo I, considerado um contrato pblico de servios. Concesso de obras pblicas um contrato com as mesmas caractersticas que um contrato de empreitada de obras pblicas, com excepo de que a contrapartida das obras a efectuar consiste quer unicamente no direito de explorao da obra, quer nesse direito acompanhado de um pagamento. Concesso de servios um contrato com as mesmas caractersticas que um contrato pblico de servios, com excepo de que a contrapartida dos servios a prestar consiste quer unicamente no direito de explorao do servio, quer nesse direito acompanhado de um pagamento.

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Concursos para trabalhos de concepo so procedimentos que permitem entidade adjudicante a seleco de um ou de mais trabalhos de concepo, ao nvel de estudo prvio ou similar, designadamente nos domnios artstico, do ordenamento do territrio, do planeamento urbanstico, da arquitectura, da engenharia ou do processamento de dados. Acordo-quadro um acordo entre uma ou mais entidades adjudicantes e um ou mais operadores econmicos, que tem por objecto fixar os termos dos contratos a celebrar durante um determinado perodo, nomeadamente em matria de preos e, se necessrio, de quantidades previstas. (cfr. artigo 251. do CCP e n. 5 do artigo 1. da Directiva n. 2004/18). um contrato normativo, pois tem por objecto regular, em maior ou menor medida, os termos das relaes contratuais que se estabelecero ao longo de um determinado perodo temporal futuro. Sistema de aquisio dinmico um processo de aquisio inteiramente electrnico para a compra de bens ou servios de uso corrente, cujas caractersticas geralmente disponveis no mercado satisfazem a entidade adjudicante, limitado no tempo e aberto, ao longo de toda a sua durao, a qualquer operador econmico que satisfaa os critrios de seleco e tenha apresentado uma proposta indicativa conforme com o caderno de encargos. Leilo electrnico um processo interactivo que obedece a um dispositivo electrnico de apresentao de novos preos, progressivamente inferiores, e/ou de novos valores relativamente a determinados elementos das propostas, desencadeado aps uma primeira avaliao completa das propostas e que permite que a sua classificao se possa efectuar com base num tratamento automtico.

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5. Entidades adjudicantes e contraentes pblicos (artigos 2.2 e 3.) O CCP define duas categorias de entidades adjudicantes: o sector pblico administrativo tradicional e os organismos de direito pblico.

SECTOR PBLICO ADMINISTRATIVO TRADICIONAL (n. 1 do art. 2. do CCP) Estado Regies autnomas Autarquias locais Institutos pblicos Fundaes pblicas* Associaes pblicas Associaes** de que faam parte uma ou vrias entidades do sector pblico administrativo tradicional e que sejam por elas maioritariamente financiadas, estejam sujeitas ao seu controlo de gesto ou tenham um rgo de administrao, de direco ou de fiscalizao cuja maioria dos titulares seja, directa ou indirectamente, por elas designada.* Com excepo das que sejam instituies de ensino superior.

ORGANISMOS DE DIREITO PBLICO (do n. 2 do art. 2. do CCP)

Pessoas colectivas*** que, independentemente da sua natureza pblica ou privada, (i) tenham sido criadas especificamente para satisfazer necessidades de interesse geral, sem carcter industrial ou comercial, e (ii) sejam maioritariamente financiadas pelas entidades do sector pblico administrativo tradicional, estejam sujeitas ao seu controlo de gesto ou tenham um rgo de administrao, de direco ou de fiscalizao cuja maioria dos titulares seja, directa ou indirectamente, designada por aquelas entidades.

** Com excepo das associaes de direito privado que prossigam finalidades a ttulo principal de natureza cientfica e tecnolgica. *** Incluindo instituies de ensino superior de natureza fundacional e associaes de direito privado que prossigam finalidades a ttulo principal de natureza cientfica e tecnolgica.

O que so pessoas colectivas criadas especificamente para satisfazer necessidades de interesse geral, sem carcter industrial ou comercial? So pessoas colectivas cuja actividade econmica, envolvendo uma dimenso colectiva ou pblica, no se submete lgica do mercado e da livre concorrncia, por fora da especial relao que mantm,

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O Decreto-lei 278/2009, de 2 de Outubro revogou a alnea c) do n.. 2 do artigo 2. do CCP

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directa ou indirectamente, com uma entidade do sector pblico administrativo tradicional (mormente, o Estado ou as autarquias locais). Ou seja, so pessoas colectivas que no actuam no mercado de forma plenamente concorrencial por comparao com os demais operadores econmicos privados, uma vez que dispem (ou podem dispor) de vantagens ou benefcios3 concedidos pelo sector pblico administrativo tradicional pelo que exercem a sua actividade numa situao privilegiada que no est ao alcance do operador econmico comum. Contraente pblico a designao dada a qualquer entidade adjudicante do sector pblico administrativo tradicional aps a celebrao do contrato. Ou seja, a denominao entidade adjudicante apenas vlida para a fase de formao dos contratos: uma vez celebrado o contrato, as entidades adjudicantes passam a designar-se contraentes pblicos. Os organismos de direito pblico tambm podem ser considerados contraentes pblicos, aps a celebrao do contrato, nos termos previstos na alnea b) do n. 1 e no n. 2 do artigo 3.

6. Contratos excludos e contratao excluda 6.1 Contratos excludos no esto sujeitos ao CCP, nem para efeitos de formao, nem para efeitos de execuo dos mesmos (cf. artigo 4.). Destacam-se os contratos administrativos de provimento e os contratos individuais de trabalho, bem como os contratos de compra e venda, de doao, de permuta e de arrendamento de bens imveis. 6.2 Contratao excluda designa o conjunto de contratos cuja formao no est submetida Parte II do CCP (apesar de a Parte III poder ser aplicvel sua execuo, na medida em que esses contratos revistam natureza administrativa). Do artigo 5. 4merecem especial destaque: a. Contratos que devam ser celebrados com uma entidade, que seja ela prpria uma entidade adjudicante, em virtude de esta beneficiar de um direito exclusivo de prestar o servio a adquirir (desde que a atribuio desse direito exclusivo seja compatvel com as normas e os princpios constitucionais e comunitrios aplicveis). Ou seja, a aquisio de um servio a uma entidade prestadora desse servio em regime de exclusividade no est sujeita s regras da Parte II do CCP, desde que a entidade prestadora desse servio pertena ao sector pblico administrativo tradicional ou seja um organismo de direito pblico (cf. alnea a) do n. 4 do artigo 5.);

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Exemplo de vantagem ou benefcio para este efeito: atribuio de compensao pblica para suportar o risco econmicofinanceiro da actividade. 4 Foi aditado um n. 3 a este artigo pelo Decreto-lei n. 278/2009, de 2 de Outubro 3 - A parte II do presente Cdigo no igualmente aplicvel formao dos contratos, a celebrar pelos hospitais E. P. E. e pelas associaes de direito privado que prossigam finalidades a ttulo principal de natureza cientfica e tecnolgica, bem como, exclusivamente no mbito da actividade cientfica e tecnolgica, pelas instituies de ensino superior pblicas e pelos laboratrios de Estado

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b. Contratos cujo objecto principal consista na atribuio de subsdios ou de subvenes de qualquer natureza, por parte de uma entidade do sector pblico administrativo tradicional (que no por parte de um organismo de direito pblico) cf. alnea c) do n. 4 do artigo 5.; c. Contratos de aquisio de servios financeiros relativos emisso, compra, venda ou transferncia de ttulos ou outros instrumentos financeiros, nomeadamente os contratos relativos a operaes de obteno de fundos ou de capital pela entidade adjudicante, bem como os contratos a celebrar em execuo das polticas monetria, cambial ou de gesto de reservas e os de aquisio de servios de carcter financeiro prestados pelo Banco de Portugal (cf. alnea e) do n. 4 do artigo 5.); d. Contratos in house (cf. n. 2 do artigo 5.), isto , contratos (independentemente do seu objecto) relativamente aos quais se verifiquem os seguintes dois requisitos cumulativos: A entidade adjudicante exera sobre o adjudicatrio um controlo anlogo ao que exerce sobre os seus prprios servios; e O adjudicatrio desenvolva o essencial da sua actividade em benefcio da entidade adjudicante. O que deve entender-se por controlo anlogo ao exercido sobre os seus prprios servios? A figura da contratao in house depende da existncia de um controlo que permita entidade adjudicante influenciar, de forma determinante, as decises do adjudicatrio, nomeadamente no que diz respeito aos seus objectivos estratgicos. O requisito do controlo anlogo h-de aproximar-se, de acordo com a organizao administrativa portuguesa, do poder de direco que uma entidade pblica detm sobre os seus servios, o qual consiste na possibilidade de determinao concreta da conduta alheia atravs de ordens ou instrues. Ou seja, para que haja contratao in house preciso que a entidade adjudicante possa produzir, em relao actividade/gesto do adjudicatrio, um efeito equiparado ao da emisso de ordens ou instrues pelo que no suficiente a existncia de um mero poder de tutela. O que deve entender-se por desenvolvimento do essencial da sua actividade em benefcio da entidade adjudicante? De acordo com o entendimento da Comisso Europeia e do Tribunal de Justia das Comunidades Europeias, para efeitos de preenchimento deste requisito, o adjudicatrio deve prestar, pelo menos, 80% da sua actividade em favor da entidade adjudicante o que depende de uma averiguao casustica. Se esta situao se verificar no mbito da relao estabelecida entre uma entidade adjudicante e a outra entidade ou seja o adjudicatrio ento, trata-se de um caso de contratao in house que, por isso, no est sujeita s regras da contratao pblica. Ou seja, por exemplo, um Municpio pode contratar directamente os servios de uma empresa municipal por esta prestados sem sujeio Parte II do CCP (o que no afasta a aplicao da sua Parte III, uma vez que o contrato de aquisio de servios qualificado como contrato administrativo).

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7 - Valor do contrato, preo base e preo contratual

Preo a pagar pela entidade adjudicante ou por terceiros Valor de quaisquer contraprestaes a efectuar em benefcio do adjudicatrio Valor econmico de vantagens directas para o adjudicatrio que possam ser configuradas como contrapartidas da execuo do contrato

VALOR CONTRATO *

17. 1 CCP

Parmetro base quando aspecto submetido concorrncia PREO BASE Limite mximo que fundamenta a excluso de propostas Mais baixo dos valores previstos no n. 1 do artigo 47 Preo a pagar pela entidade adjudicante em resultado da proposta adjudicada e pela execuo de todas as prestaes que constituem o objecto do contrato Includo o preo a pagar na sequncia de qualquer prorrogao contratual expressa ou tcita 47. CCP

PREO CONTRATUAL

97. CCP

* O valor do contrato consiste num valor mximo (valor limite) decorrente de limiares legalmente fixados para cada procedimento no entanto, as entidades adjudicantes podem de fazer estimativas para efeitos de prever, aproximadamente, quanto esto dispostas a pagar para adquirir o bem ou servio em causa. Valor do contrato o valor mximo do benefcio econmico de que o adjudicatrio usufruir em funo do procedimento adoptado, ou seja, tendo em conta o procedimento adoptado ao abrigo da regra geral de escolha do procedimento (e no em funo de um critrio material5). Resumindo: a escolha do procedimento que determina o valor (mximo) do contrato e no o contrrio. Preo base o parmetro base do preo, quando este constitui um aspecto da execuo do contrato submetido concorrncia. O preo base no um preo estimado, nem tem natureza meramente indicativa. Pelo contrrio, o preo base um limite mximo que funciona como fundamento de excluso das propostas que o ultrapassem. Sempre que o contrato a celebrar implique o pagamento de um preo pela entidade adjudicante, o preo base o preo mximo que a entidade adjudicante se dispe a pagar pela execuo de todas as

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O referido valor mximo h-de, pois, coincidir com os limiares internos para o efeito fixados nos artigos 19. a 21. do CCP.

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prestaes que constituem o seu objecto, correspondendo ao mais baixo dos seguintes valores (cf. n. 1 do artigo 47.):Valor fixado no caderno de encargos O mais baixo destes valores Valor mximo do contrato a celebrar permitido pela escolha do procedimento (quando este for adoptado ao abrigo da regra geral de escolha do procedimento: art. 19. a 21.)

Valor mximo at ao qual o rgo competente pode autorizar a despesa inerente ao contrato a celebrar (competncia atribuda por lei ou por delegao)

Ou seja, o preo base, enquanto parmetro excludente das propostas, pode ser fixado pela entidade adjudicante no caderno de encargos. Eis um exemplo de clusula do caderno de encargos que fixa um preo base: Pelo fornecimento do mobilirio escolar de acordo com as condies previstas no presente caderno de encargos, a entidade contratante deve pagar ao adjudicatrio o preo total de _________________ [a preencher com o valor que vier a ser declarado na proposta, o qual no pode, em qualquer caso, ser superior a 100.000 (cem mil euros)], acrescido de IVA, taxa legal em vigor, se este for legalmente devido.. O preo base fixado no caderno de encargos no deve ser superior ao: Valor do contrato em funo do procedimento escolhido por exemplo: se for escolhido escolhe o concurso pblico sem anncio no Jornal Oficial da Unio Europeia (JOUE) para a formao de um contrato de aquisio de peas auto, ento s lhe permitido celebrar um contrato de valor inferior a 125.000, pelo que no deve ser fixado no caderno de encargos um preo base superior (se tal acontecesse, prevaleceria o limite de 125.000); Valor mximo at ao qual o rgo competente pode autorizar a despesa inerente ao contrato a celebrar por exemplo: se, no caso apresentado da aquisio de automveis, o rgo competente s pudesse autorizar a despesa at ao valor mximo de 100.000, ento este seria o preo base; porm, se o rgo competente pudesse autorizar a despesa at ao valor mximo de 3.750.000, ento o preo base corresponderia ao valor do contrato em funo do procedimento escolhido (125.000). A fixao de um preo base no caderno de encargos ou o recurso aos critrios supletivos de determinao desse mesmo parmetro (valor do contrato ou limite da competncia para autorizar a despesa) visa assegurar que a entidade adjudicante no seja obrigada a comprar a qualquer preo estando, desta

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forma, munida de um parmetro excludente das propostas que apontem para preos acima de determinado tecto. Com efeito, tendo o legislador do CCP confirmado a existncia de um dever de adjudicar por parte das entidades adjudicantes que iniciam e anunciam ao mercado um procedimento pr-contratual pblico, a falta de fixao de um preo base pode implicar a adjudicao de uma proposta que apresente um preo considerado elevado, uma vez que inexiste parmetro base do preo cuja violao permita fundamentar a sua excluso por esse motivo. o que ocorre quando, por exemplo, o procedimento escolhido permite a celebrao de contratos de qualquer valor (como acontece com o concurso pblico com anncio no JOUE, por exemplo) e, simultaneamente, a competncia do rgo que autoriza a despesa no se encontra limitada (como acontece com o Conselho de Ministros, por exemplo). Comparando a noo de valor do contrato com a de preo base conclui-se que: Ambas as noes apontam para a ideia de limite: valor mximo do benefcio econmico que pode ser obtido pelo adjudicatrio, por um lado, e preo mximo que a entidade adjudicante se dispe a pagar, por outro; Ao contrrio, porm, do que acontece com a noo de valor do contrato, a noo de preo base no abrange qualquer preo a pagar por terceiro, nem qualquer outra contraprestao ou vantagem que decorra para o adjudicatrio para alm do preo pago pela entidade adjudicante. Resumindo: O preo base pode coincidir com o valor do contrato; O preo base no pode ser superior ao valor do contrato; A proposta cujo preo ultrapasse o preo base no pode ser admitida pelo que deve ser excluda (quer este coincida ou seja inferior ao valor do contrato). Preo contratual corresponde ao preo a pagar, pela entidade adjudicante, em resultado da proposta adjudicada, pela execuo de todas as prestaes que constituem o objecto do contrato (n. 1 do artigo 97.). Por um lado, o preo contratual s nasce aps a adjudicao, uma vez que decorre do preo constante da proposta adjudicada. Por outro lado, refere-se a um preo concretamente fixado por referncia ao preo proposto pelo adjudicatrio. Por fim, apenas est em causa o preo a pagar pela entidade adjudicante (no abrangendo preo a pagar por terceiros, contraprestaes ou vantagens directas). No preo contratual est expressamente includo (cf. n. 2 do artigo 97.) o preo a pagar pela execuo das prestaes objecto do contrato na sequncia de qualquer prorrogao contratualmente prevista, expressa ou tcita, do respectivo prazo. Ou seja, se o contrato previr a possibilidade de o

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seu prazo de execuo se prorrogar (situao comummente denominada renovao do contrato), quer atravs de manifestao (expressa) das partes nesse sentido, quer atravs de no denncia (tcita) dentro de determinado prazo, ento, o preo contratual no diz apenas respeito ao primeiro perodo de vida do contrato, incluindo tambm o preo a pagar (em caso de prorrogao e independentemente de esta ocorrer efectivamente) por todas as eventuais extenses do perodo de vida do contrato, desde que contratualmente previstas. Em suma: o preo contratual abrange todas as parcelas de preo que o adjudicatrio pode, potencialmente, receber da entidade adjudicante ao abrigo do contrato celebrado atento o contedo desse mesmo contrato, nomeadamente as clusulas que permitam a sua renovao. Est expressamente afastado do preo contratual (cf. n. 3 do artigo 97.) qualquer acrscimo de preo a pagar em resultado de uma modificao objectiva do contrato (como tal identificada na Parte III do CCP), da necessidade de repor o equilbrio financeiro (tal como previsto na lei ou no contrato) ou do eventual pagamento de prmios por antecipao do cumprimento das prestaes objecto do contrato. Comparando a noo de preo contratual com a de valor do contrato e a de preo base conclui-se que: Ao contrrio das noes de valor do contrato e de preo base, que apontam para uma ideia de limite (valor mximo do benefcio econmico que pode ser obtido pelo adjudicatrio, por um lado, e preo mximo que a entidade adjudicante se dispe a pagar, por outro), o preo contratual correspondente a um valor concreto, fixado em resultado do preo proposto pelo adjudicatrio e aceite pela entidade adjudicante; semelhana da noo de preo base (ao contrrio, porm, do que acontece com a noo de valor do contrato), o preo contratual no abrange qualquer preo a pagar por terceiro, nem qualquer outra contraprestao ou vantagem que decorra para o adjudicatrio para alm do preo pago pela entidade adjudicante. Resumindo: O preo contratual pode coincidir com o preo base e com o valor do contrato; O preo contratual no pode ser superior ao preo base nem ao valor do contrato; Se a anlise de uma proposta revelar que o preo contratual dela resultante seria superior ao preo base, a proposta deve ser excluda.

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Esquema Noes Concntricas

Valor do Contrato

Preo Base

Preo Contratual

Nota: fonte Manual de Procedimentos Contratao Pblica de Bens e Servios Do incio do procedimento celebrao do contrato Srvulo & Associados - Sociedade de Advogados, RL

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8. Tipos de procedimentos pr-contratuais O CCP prev e regula os seguintes tipos de procedimentos de formao de contratos pblicos (cf. n. 1 do artigo 16.):TIPO DE PROCEDIMENTOS Simplificado (artigo 128 CCP) Com convite a uma nica entidade Ajuste Directo Geral (artigos 114 e seguintes CCP) Com convite a mais de uma entidade Com convite a mais de uma entidade e com negociao (artigo 118 CCP) Urgente (artigos 155 e seguintes CCP) Sem leilo electrnico e sem negociao Concurso Pblico Geral (artigos 130 e seguintes CCP)

Com leilo electrnico (artigos 140 e seguintes CCP) * Com negociao (artigos 149 e seguintes CCP) **

Concurso Limitado por Prvia Qualificao (artigos 162 e seguintes CCP) Procedimento por Negociao (artigos 193 e seguintes CCP) Dialogo Concorrencial (artigos 204 e seguintes CCP) Instrumentos Procedimentais Especiais (artigos 219 e seguintes CCP)* S admissivel para a formao de contratos de locao ou de aquisio de bens mveis ou de contratos de aquis io de servios ** S admissivel para a formao de contratos de concesso de obras pblicas ou de concesso de servios pblicos

9. Regra geral de escolha do procedimento O CCP introduz uma nova lgica ao nvel da escolha dos procedimentos de ajuste directo, de concurso pblico e de concurso limitado por prvia qualificao. abandonada a ideia segundo a qual, nos termos da anterior legislao, os procedimentos pr-contratuais eram escolhidos em funo do valor estimado do contrato a celebrar. De acordo com esta ideia, o Decreto-Lei n. 197/99 dispunha que aplicvel o concurso pblico quando o valor do contrato seja igual ou superior a. Ou seja, determinados procedimentos deviam ser adoptados de acordo com o valor estimado do contrato a celebrar. De acordo com o CCP, as entidades adjudicantes no tm de adoptar determinados procedimentos em funo do valor estimado do contrato a celebrar, podendo escolher livremente entre o ajuste directo, o concurso pblico ou o concurso limitado. Porm, o CCP prev uma consequncia como contrapartida desta liberdade de escolha: a escolha do procedimento condiciona o valor do contrato a celebrar (cf. artigo 18.). Ou seja, apesar de a entidade adjudicante no ter o dever de escolher, por exemplo, o concurso 20

pblico para a formao de um contrato em funo do seu valor estimado, a verdade que a escolha do ajuste directo para a formao desse mesmo contrato apenas permite entidade adjudicante celebr-lo se o respectivo valor for inferior a um determinado limite fixado no CCP.REGRAS PARA ESCOLHER O PROCEDIMENTO Regras Em funo do valor Pelo critrio material Em funo do tipo do contrato Contratos mistos Em funo da entidade adjudicante Artigo do CCP 17. a 22. 23. a 30. 31. 32. 33.

10. Valor do contrato de locao ou aquisio de bens mveis, de aquisio de servios e empreitadas de obras pblicas em funo do procedimento adoptadoESCOLHA DO PROCEDIMENTO EM FUNO DO VALOR DO CONTRATOUn: CONTRATOS PROCEDIMENTOS ESPECIFICIDADES Empreitadas 19. Loc./Aqu. bens mveis 20., 128. Aquisio de servios 20., 128. Outros 21. Sem valor 21.

Simplificado

-

? 5.000

? 5.000

-

-

Autarquias Ajuste Directo (AD) Geral

< 150.000

< 75.000

< 75.000 < 25.000 (neste caso para aquisio de planos, de projectos ou de criaes conceptuais nos < 100.000 domnios da arquitectura ou da engenharia) < 193.000

S/ limite

Organismos de direito pblico Ex: Empresas Municipais Urgente Concurso Pblico (CP) Geral Concurso Limitado por Prvia Qualificao (CLPQ) Procedimento de Negociao (PN) Dilogo Concorrencial (DC) S/ publicao no JOUE C/ publicao no JOUE

< 1.000.000

< 4.845.000

< 193.000 < 193.000

-

-

S/ limite S/ limite

S/ limite - estes dois procedimentos no podem ser escolhidos em funo do valor do contrato, embora quando aplicveis no tm limite de valor.

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11. Escolha do procedimento em funo de critrios materiais 11.1 - Critrios materiais A par da regra da determinao do valor (mximo) do contrato em funo do procedimento adoptado ao abrigo da regra geral de escolha do procedimento (de ajuste directo, de concurso pblico ou de concurso limitado), o recurso ao disposto nos artigos 24. e seguintes do CCP permite, em regra, a celebrao de contratos de qualquer valor: esto em causa critrios materiais que, verificando-se, justificam a adopo de um determinado procedimento independentemente do valor do contrato a celebrar6. Estes critrios so abordados nos captulos respeitantes a cada um dos tipos de procedimentos.ESCOLHA DO PROCEDIMENTO EM FUNO DO CRITRIO MATERIALPROCEDIMENTOS CONTRATOS AD CP CLPQ PN DC

Empreitadas

24

251

Loc./Aqu. Bens mveis

24

262 29 28 Prev regra semelhante do pode ser utilizado este tipo de 30 artigo 28, ou seja utilizar este procedimentos, ultrapassando os S utilizvel quando o objecto do procedimento,ultrapassando limiares comunitrios e sem contrato a celebrar seja os limiares comunitrios e sem obrigatoriedade de publicao no particularmente complexo obrigatoriedade de publicao JOUE no JOUE

Aqusio de servios

24

27

3

Concesso de servios pblicos

Concesso de empreitadas de obras pblicas Contratos de sociedade

24, d) e f)

Notas 1 Especfico para Empreitadas - prev a possibilidade de recurso a este procedimento quando a obra a realizar seja ao abrigo de um acordo quadro 2 Especfico para Loc./Aqu. Bens mveis 3 Especfico para Aqusio de servios

11.2 - Contratos mistos Quando est em causa a formao de contratos mistos7 ou seja, contratos cujo objecto abranja duas ou mais prestaes de tipo diferente, por exemplo: um contrato que, simultaneamente, abranja o fornecimento de bens mveis e a prestao de servios - a ideia geral do artigo 32. a seguinte: a escolha do ajuste directo, do concurso pblico ou do concurso limitado s permite a celebrao de6 Excepto nas situaes excepcionais previstas no n. 2 do artigo 24., nas alneas a) e f) do n. 1 e nos n.s 3 e 7 do artigo 27. casos em que existe um valor mximo do contrato coincidente com os limiares previstos nesses preceitos (cfr. n.s 3 e 4 do artigo 47. do CCP). 7

S permitida a celebrao de contratos mistos se as diferentes prestaes a abranger pelo respectivo objecto forem tcnica ou funcionalmente incindveis ou, no o sendo, se a sua separao causar graves inconvenientes para a entidade adjudicante (n. 1 do artigo 32.) o que implica um dever de fundamentao no sentido de justificar a opo por um contrato misto em vez da celebrao de contratos individualizados.

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contratos mistos cujo valor seja inferior ao mais baixo limiar (interno ou comunitrio) que seria aplicvel caso a entidade adjudicante optasse por adquirir as diferentes prestaes em causa atravs de contratos separados. Por exemplo, se o Estado pretender, atravs de um contrato misto, adquirir uma frota de autocarros (fornecimento de bens mveis) associada prestao do servio de terminais de autocarros (que um servio abrangido pela categoria 20 do anexo II B da Directiva n. 2004/18/CE), a escolha do concurso pblico, quando o respectivo anncio no publicado no JOUE, s permite a celebrao de um contrato misto de valor inferior a 125.000: porque o mais baixo dos dois limiares aplicveis se fossem celebrados dois contratos em separado a saber, o limiar relativo aos contratos especiais (193.000) e o limiar relativo aos restantes contratos (125.000). Por outro lado, se, relativamente a uma das prestaes abrangidas pelo contrato misto, for aplicvel um critrio material de escolha do procedimento (por exemplo, um critrio material que permita o recurso ao ajuste directo, independentemente do valor do contrato a celebrar), esta circunstncia contagia a outra prestao abrangida pelo mesmo contrato misto, passando este a poder ser celebrado atravs do procedimento susceptvel de ser adoptado em funo do referido critrio material. O CCP abandona, desta forma, a regra da componente de maior expresso financeira prevista no artigo 5. do Decreto-Lei 197/99, para efeitos de determinao do regime da contratao pblica aplicvel aos contratos mistos.

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II. REGRAS ESPECIAIS RELATIVAS A CONTRATOS DE LOCAO OU AQUISIO DE BENS MVEIS E DE AQUISIO DE SERVIOS Regra n. 1 O n. 1 do artigo 440. CCP estabelece que o prazo de vigncia dos contratos de locao ou aquisio de bens mveis e de aquisio de servios no pode ser superior, em regra, a 3 anos (incluindo quaisquer prorrogaes, expressas ou tcitas, do prazo de execuo das prestaes que constituem o seu objecto). Ou seja, a soma do primeiro perodo de vida do contrato com todas as eventuais extenses do perodo de vida do contrato (desde que contratualmente previstas) no pode exceder 3 anos. Excepo: desde que devidamente justificado e seja necessrio ou conveniente em funo da natureza das prestaes objecto do contrato a celebrar ou das condies da sua execuo, o caderno de encargos pode prever um prazo de vigncia superior a 3 anos (cf. Artigo 48.) Este limite mximo de vigncia no abarca as obrigaes acessrias que (eventualmente) tenham sido estabelecidas inequivocamente em favor da entidade adjudicante (cf. n. 2 do artigo 440.). Isto , se o caderno de encargos previr uma obrigao secundria - relativamente obrigao principal de fornecimento de um bem, por exemplo - que favorea a entidade adjudicante, ento, o prazo dessa obrigao em concreto pode ultrapassar o limite mximo de 3 anos. So exemplos de obrigaes acessrias estabelecidas, de forma inequvoca, em favor da entidade adjudicante: a obrigao de sigilo, a obrigao de conformidade dos bens mveis adquiridos e a obrigao de garantia dos mesmos. Todas estas obrigaes podem ser vlidas por um perodo de tempo superior ao prazo mximo de vigncia do contrato com o qual esto relacionadas. Regra n. 2 No que diz respeito aos contratos de aquisio de servios, o CCP autonomiza um regime relativo a servios a mais, os quais correspondem, grosso modo, aos anteriormente designados servios complementares (cf. artigo 454.). Com efeito, em vez de contemplar um critrio de ajuste directo relativo aos servios complementares, como acontecia na alnea e) do n. 1 do artigo 86. do Decreto-Lei n. 197/99, o CCP configurou a prestao desses servios agora rebaptizados de servios a mais por simetria com o regime dos trabalhos a mais como consequncia de uma ordem emitida pelo contraente pblico no mbito da execuo do contrato. A noo de servios a mais corresponde dos anteriores servios complementares - so aqueles cuja espcie ou quantidade no esteja prevista no contrato e que: a. Se tenham tornado necessrios prestao dos servios objecto do contrato na sequncia de uma circunstncia imprevista; e

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b. No possam ser tcnica ou economicamente separveis do objecto do contrato sem inconvenientes graves para o contraente pblico ou, embora separveis, sejam estritamente necessrios concluso do objecto do contrato. Os requisitos de que depende a emisso da ordem para prestao dos servios a mais so os seguintes (em parte coincidentes com os requisitos de que dependia o anterior ajuste directo para servios complementares, em parte inovadores): a. O contrato no mbito do qual emitida a ordem s pode ter sido celebrado na sequncia de concurso pblico ou de concurso limitado por prvia qualificao8, de ajuste directo adoptado ao abrigo de um critrio material ou de procedimento de negociao; b. O preo atribudo aos servios a mais, somado ao preo de anteriores servios a mais e deduzido do preo dos servios a menos, no pode exceder 5% do preo contratual; e c. O somatrio do preo atribudo aos servios a mais com o preo de anteriores servios a mais e de anteriores servios de suprimento de erros e omisses no exceder 50% do preo contratual. De onde decorrem os seguintes limites emisso de uma ordem para prestao dos servios a mais, cuja verificao cumulativa: Esta ordem no pode ser emitida no mbito da execuo de um contrato celebrado na sequncia de um ajuste directo adoptado ao abrigo da regra geral de escolha do procedimento; O saldo entre servios a mais e servios a menos no pode representar mais do que 5% do preo contratual (limite criado pelo legislador nacional); A soma de todos os servios a mais com os servios de suprimento de erros e omisses no pode representar mais do que 50% do preo contratual (limite imposto pelas directivas comunitrias). A este propsito o CCP esclarece ainda que, por um lado, no so considerados servios a mais aqueles que sejam necessrios ao suprimento de erros ou omisses (independentemente da parte responsvel pelos mesmos); por outro lado, caso no se verifique algum dos requisitos de que depende a emisso de uma ordem para prestao de servios a mais, estes devem ser objecto de um novo contrato (celebrado na sequncia de um procedimento pr contratual adoptado nos termos da regra geral de escolha do procedimento ou em funo de critrios materiais).

8

Com publicao de anncio no JOUE, sempre que o somatrio do preo atribudo aos servios a mais com o preo do contrato no mbito do qual emitida a ordem for igual ou superior ao limiar comunitrio aplicvel.

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III. FIGURAS ESPECIAIS 12. Agrupamentos de entidades adjudicantes (art. 39.) O CCP prev expressamente a possibilidade de as entidades adjudicantes se agruparem com vista formao de um contrato cuja execuo seja do interesse de todas ou de um acordo quadro do qual todas possam beneficiar (cf. n. 1 do artigo 39.) o que no se confunde com a institucionalizao de uma central de compras (artigo 260.). Quando se agruparem para um destes efeitos, as entidades adjudicantes devem designar qual delas constitui o representante do agrupamento que ter competncia para conduzir o procedimento de formao do contrato ou do acordo quadro a celebrar. No entanto, as seguintes decises devem ser sempre tomadas conjuntamente9 pelos rgos competentes de todas as entidades adjudicantes agrupadas: A deciso de contratar; A deciso de escolha do procedimento; A deciso de qualificao dos candidatos (quando o procedimento escolhido tiver fase de prvia qualificao); A deciso de adjudicao. O facto de as entidades adjudicantes se agruparem reflecte-se, necessariamente, nas regras aplicveis escolha do procedimento. Assim: No caso de o agrupamento ser constitudo por pelo menos uma entidade adjudicante do sector pblico administrativo tradicional, o ajuste directo adoptado ao abrigo da regra geral de escolha do procedimento s permite a celebrao de contratos de locao ou aquisio de bens mveis e de contratos de aquisio de servios de valor inferior a 75.000; Independentemente das entidades adjudicantes que constituam o agrupamento, s pode ser adoptado um procedimento em funo de um critrio material quando tal critrio se verifique relativamente a todas as entidades agrupadas. Estas duas limitaes visam impedir boleias fraudulentas atravs da utilizao da figura do agrupamento de entidades adjudicantes: quer ao nvel do valor do contrato, quer ao nvel dos critrios materiais de escolha do procedimento. Em suma, a ideia do CCP a seguinte: sempre que se agrupam entidades adjudicantes s quais so aplicveis diferentes regras da disciplina da contratao pblica, prevalecem sempre as que forem mais exigentes, mais restritivas ou menos flexveis.

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Carecendo da unanimidade de todas as entidades adjudicantes agrupadas.

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O CCP dedica ainda um ltimo preceito ao agrupamento de entidades adjudicantes o n. 6 do artigo 47. , o qual diz respeito ao critrio supletivo de determinao do preo base por referncia ao valor mximo at ao qual o rgo competente pode autorizar a despesa inerente ao contrato a celebrar. Ora, no caso de um agrupamento de entidades adjudicantes, este valor mximo corresponde soma dos valores mximos at aos quais os rgos competentes de cada uma das entidades que integram o agrupamento podem autorizar a respectiva fraco da despesa inerente ao contrato a celebrar. Ou seja, quando o preo base corresponder ao valor mximo at ao qual o rgo competente pode autorizar a despesa inerente ao contrato a celebrar (e no ao valor do contrato em funo do procedimento escolhido, nem ao montante para o efeito fixado no caderno de encargos), ento, se a entidade adjudicante um agrupamento, esse preo base corresponde soma dos valores mximos at aos quais os rgos competentes de cada uma das entidades que integram o agrupamento podem autorizar a despesa. Logo, se num procedimento pr-contratual pblico iniciado por um agrupamento de entidades adjudicantes: No foi fixado em preo base no caderno de encargos; O procedimento adoptado permite a celebrao de um contrato de qualquer valor (por exemplo: concurso pblico com publicidade internacional); O agrupamento constitudo, pelo menos, por uma entidade que no tem limite de competncia para autorizar despesa (por exemplo: Conselho de Ministros, cmara municipal ou organismo de direito pblico); ento, No existe preo base porque o resultado da soma de todos os valores mximos at aos quais os rgos competentes de cada uma das entidades que integram o agrupamento podem autorizar a despesa infinito razo pela qual se torna ainda mais importante a fixao de um preo base no caderno de encargos quando est em causa um agrupamento de entidades adjudicantes. Embora cada entidade adjudicante s seja responsvel para com o agrupamento pelo pagamento da fraco da despesa inerente ao contrato a celebrar correspondente aos bens mveis ou aos servios que efectivamente vai adquirir (e que h-se conter-se, por sua vez, no valor mximo at ao qual o rgo competente dessa entidade pode autorizar a despesa), deve entender-se que as entidades adjudicantes agrupadas so solidariamente responsveis perante o adjudicatrio. Ou seja, salvo se o agrupamento de entidades adjudicantes criar um regime prprio de repartio da responsabilidade - fazendo-o constar do caderno de encargos para efeitos de vinculao do adjudicatrio -, a qualquer uma das entidades agrupadas pode ser pedida a liquidao da totalidade do preo em dvida pelo agrupamento, passando essa entidade a deter o direito de regresso sobre as demais (na medida da dvida de cada uma).

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13. Acordos-Quadros (art. 251. ss.) a) O CCP define acordo quadro como o contrato celebrado entre uma ou vrias entidades adjudicantes10 e uma ou mais entidades, com vista a disciplinar relaes contratuais futuras, a estabelecer ao longo de um determinado perodo de tempo, mediante a fixao antecipada dos respectivos termos (artigo 251.). Ou seja, em primeiro lugar, o acordo quadro tem natureza contratual; em segundo lugar, no tem por fim adquirir bens mveis ou servios, mas to-somente regular contratos de aquisio de bens mveis e servios que, no futuro, venham a ser celebrados de acordo com as regras previamente fixadas nesse acordo. Em regra, o prazo de vigncia dos acordos quadro no pode ser superior a 4 anos, incluindo prorrogaes expressas ou tcitas (artigo 256.). Excepcionalmente, porm, o caderno de encargos relativo ao acordo quadro pode fixar um prazo de vigncia superior, desde que tal se revele necessrio ou conveniente em funo da natureza das prestaes objecto desse acordo quadro ou das condies da sua execuo - o que cria, para a entidade adjudicante, um dever agravado de fundamentao dessa deciso. A escolha do procedimento para a formao de um acordo quadro (artigo 253.) e a respectiva tramitao regem-se pela disciplina aplicvel aos procedimentos de formao dos demais contratos pblicos com a seguinte especificidade: a escolha do ajuste directo e do concurso (pblico ou limitado) para a formao do acordo quadro, nos termos da regra geral de escolha do procedimento, s permite a celebrao de contratos ao seu abrigo enquanto o somatrio dos respectivos preos contratuais seja inferior aos valores dos limiares internos (ou seja: 75.000, 125.000 ou 193.000, respectivamente, e consoante a entidade adjudicante) b) S as partes num acordo quadro podem beneficiar do mesmo celebrando contratos ao seu abrigo (n. 1 do artigo 257.). Porm, as partes esto vinculadas ao acordo quadro de forma diversa (artigo 255.): (i) o adjudicatrio tem a obrigao de fornecer bens mveis ou prestar servios, nas condies previstas no acordo quadro, sempre e medida que a entidade adjudicante o requeira; (ii) a entidade adjudicante no obrigada a celebrar contratos ao seu abrigo (podendo, no obstante ter celebrado um acordo quadro para adquirir resmas de papel, optar por compr-las numa papelaria que no pertena a esse acordo) - salvo disposio em contrrio constante do caderno de encargos relativo ao acordo quadro. natural que o mercado se interesse mais por um acordo quadro mediante o qual a entidade adjudicante se vincula a adquirir determinado bem ou servio ao adjudicatrio, durante certo perodo de tempo o que, em princpio, propiciar a apresentao de melhores propostas.

10 Qualquer entidade adjudicante pode celebrar acordos quadro, os quais tambm podem ser celebrados por agrupamentos de entidades adjudicantes (cf. alnea a) do n. 1 do artigo 39.).

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Uma vez que os acordos quadro visam fixar antecipadamente os termos dos contratos a celebrar ao seu abrigo no futuro, desses contratos no podem resultar alteraes substanciais das condies consagradas naqueles acordos (n. 2 do artigo 257.). Todavia, o CCP permite que a entidade adjudicante actualize as caractersticas dos bens mveis ou dos servios a adquirir ao abrigo de um acordo quadro, modificandoas ou substituindo-as por outras, desde que (n. 3 do artigo 257.): Se mantenha o tipo de prestao e os objectivos das especificaes fixadas no procedimento de formao do acordo quadro; e Tal se justifique em funo da ocorrncia de inovaes tecnolgicas; e Essa actualizao se encontre expressamente prevista no caderno de encargos relativo ao acordo quadro. c) O CCP prev duas modalidades de acordo quadro: Com uma nica entidade (alnea a) do n. 1 do artigo 252.) quando no acordo quadro estejam suficientemente especificados todos os aspectos da execuo dos contratos a celebrar ao seu abrigo que sejam submetidos concorrncia pelo caderno de encargos (o chamado acordo quadro fechado); Com vrias entidades (alnea b) do n. 1 do artigo 252.) - quando no acordo quadro no estejam totalmente contemplados ou no estejam suficientemente especificados os aspectos da execuo dos contratos a celebrar ao seu abrigo que sejam submetidos concorrncia pelo caderno de encargos (o chamado acordo quadro aberto). Isto , no permitido celebrar um acordo quadro fechado com vrias entidades, nem permitido celebrar um acordo quadro aberto s com uma. d) No caso do acordo quadro fechado, o caderno de encargos relativo ao seu procedimento de formao, bem como as propostas apresentadas pelos concorrentes, abrangem com suficiente concretizao todos os aspectos da execuo dos contratos a celebrar ao abrigo desse acordo quadro que a entidade adjudicante pretendia submeter concorrncia: o preo, o prazo, a qualidade, a velocidade, etc.. Para a celebrao de contratos ao abrigo desta modalidade de acordos quadro deve adoptar-se o ajuste directo o que, de resto, configura um critrio material de recurso a este tipo de procedimento independentemente do valor do contrato a celebrar (n. 1 do artigo 258.). O contedo dos contratos a celebrar ao abrigo desta modalidade de acordos quadro deve corresponder s condies contratuais estabelecidas no acordo quadro, no sendo sequer necessria a elaborao de um caderno de encargos (n. 2 do artigo 258.) - sem prejuzo da possibilidade, caso tal se revele necessrio, de a entidade adjudicante solicitar ao adjudicatrio que pormenorize aspectos constantes da sua proposta (n. 3 do artigo 258.). 29

e) No caso do acordo quadro aberto, o caderno de encargos relativo ao seu procedimento de formao, bem como as propostas apresentadas pelos concorrentes no abrangem, ou no abrangem com suficiente concretizao, todos os aspectos da execuo dos contratos a celebrar ao abrigo desse acordo quadro que a entidade adjudicante pretendia submeter concorrncia. O programa do procedimento de formao de acordos quadro desta modalidade deve indicar o nmero de propostas a adjudicar - devendo ser adjudicadas, pelo menos, as propostas ordenadas nos trs primeiros lugares, salvo quando o nmero de candidatos qualificados, ou de propostas apresentadas e no excludas, seja inferior (n.s 4 e 5 do artigo 253.). Para a celebrao de contratos ao abrigo desta modalidade de acordos quadro a entidade adjudicante deve dirigir a todos os adjudicatrios do acordo quadro um convite apresentao de propostas (n. 1 do artigo 259.) circunscritas: Aos termos do acordo quadro que se encontravam insuficientemente especificados, de forma a concretiz-los, a desenvolv-los ou a complement-los; ou Aos aspectos da execuo do contrato a celebrar submetidos concorrncia apenas para efeitos do procedimento de formao do contrato a celebrar ao seu abrigo ou seja, aspectos no contemplados para efeitos do procedimento de formao do acordo quadro, embora tenham de ser identificados no respectivo caderno de encargos enquanto aspectos a submeter concorrncia posteriormente. A avaliao das propostas e a preparao da adjudicao que se seguem a este convite regem-se pelas regras aplicveis ao concurso pblico11 (n. 3 do artigo 259.). O modelo de avaliao das propostas para a celebrao de contratos ao abrigo de um acordo quadro deve ter por base os factores e eventuais subfactores que densificaram o critrio de adjudicao previamente previsto no programa do procedimento de formao desse acordo (n. 2 do artigo 259.) pelo que os aspectos insuficientemente especificados ou aqueles que o caderno de encargos relativo ao acordo quadro submeteu concorrncia apenas para efeitos do procedimento de formao do contrato a celebrar ao seu abrigo tm de se reportar, de alguma forma, aos factores e eventuais subfactores que densificaram o critrio de adjudicao previamente previsto para efeitos do procedimento de formao desse acordo quadro. O cumprimento desta exigncia pode passar pela densificao do critrio de adjudicao atravs de uma rvore de factores e subfactores cada vez mais decompostos e/ou pelo recurso a intervalos para efeitos da definio dos aspectos contemplados no procedimento de formao do acordo quadro, a concretizar aquando da celebrao de contratos ao seu abrigo (o que permite a utilizao dos mesmos factores e subfactores do critrio de adjudicao em dois momentos diferentes).

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Podendo mesmo ser utilizado um leilo electrnico.

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14. Centrais de compras (art. 260. ss.) Tanto as entidades adjudicantes do sector pblico administrativo tradicional como os organismos de direito pblico podem constituir centrais de compras para centralizar a contratao pblica relativa locao e aquisio de bens mveis e a aquisio de servios, no que ao presente manual interessa (n. 1 do artigo 260.), as quais podem ser exclusivamente destinadas a um determinado sector de actividade (n. 2 do artigo 260.). A constituio, a estrutura orgnica e o funcionamento das centrais de compras regem-se por diploma prprio (n. 3 do artigo 260.)12. As centrais de compras, enquanto instrumentos procedimentais especiais, no devem confundir-se com a figura dos agrupamentos de entidades adjudicantes que se formam para a celebrao de um concreto contrato ou acordo quadro (artigo 39.). As centrais de compras destinam-se s seguintes actividades principais (n. 1do artigo 261.): Adjudicao de propostas de fornecimento de bens mveis e de prestao de servios - a pedido e em representao de entidades adjudicantes ou de um agrupamento de entidades adjudicantes (como se a central actuasse ao abrigo de uma espcie de contrato de mandato); Locao ou aquisio de bens mveis e aquisio de servios destinados a entidades adjudicantes - nomeadamente por forma a promover o agrupamento de encomendas (actuao em nome prprio seguida de distribuio dos bens e servios pelas entidades adjudicantes); Celebrao de Acordos-Quadros (designados contratos pblicos de aprovisionamento), em qualquer das modalidades anteriormente enunciadas, que tenham por objecto a posterior celebrao de contratos de locao ou aquisio de bens mveis ou de aquisio de servios pelas entidades adjudicantes (como se os contratos pblicos de aprovisionamento fossem um gnero de contrato a favor de terceiro). A pedra de toque do regime das centrais de compras reside no facto de as mesmas estarem sujeitas s disposies do CCP que disciplinam a contratao pblica para efeitos do exerccio das actividades principais acima enunciadas ou seja, quando exerce essas actividades, a central de compras funciona com uma entidade adjudicante submetida ao CCP (n. 2 do artigo 261.). Em qualquer caso, as despesas inerentes ao procedimento de formao de cada contrato a celebrar em concreto so da responsabilidade da entidade adjudicante beneficiria, salvo indicao em contrrio constante do diploma que regula o funcionamento da central de compras (n. 3 do artigo 261.). No que diz respeito ao mbito subjectivo das centrais de compras (artigo 262.), o CCP estabelece que se encontram abrangidas pela contratao centralizada a efectuar por cada central de compras as entidades

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Por exemplo, o Decreto-Lei n. 37/2007, de 19 de Janeiro, que criou a Agncia Nacional de Compras Pblicas, E.P.E..

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adjudicantes previstas no diploma que regula o seu funcionamento. Porm, as entidades adjudicantes no abrangidas pela contratao centralizada a efectuar por uma determinada central de compras podem dela beneficiar (para a aquisio da totalidade ou de apenas algumas categorias de bens mveis ou de servios), nos termos previstos no diploma que regula o funcionamento da mesma. Sempre que o Estado ou os institutos pblicos se encontrem abrangidos pela contratao centralizada a efectuar por uma central de compras13, os acordos quadro devem ser celebrados por essa central de compras e no pelas referidas entidades adjudicantes (n. 2 do artigo 263.). Aos procedimentos de formao dos contratos pblicos de aprovisionamento e dos contratos celebrados ao seu abrigo so aplicveis as regras que vigoram para os acordos quadro (artigo 264.). Concluso: o CCP prev uma ampla margem de conformao legal do modelo de cada central de compras, nomeadamente quanto maior ou menor liberdade das entidades adjudicantes abrangidas no que diz respeito celebrao de contratos fora do seu mbito (quando o objecto desses contratos coincida com o de contratos pblicos de aprovisionamento j celebrados pela central). Pelo que, no caso concreto, tem de se atender ao diploma que rege a central de compras em causa.

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Para a formao dos contratos pblicos de aprovisionamento deve ser adoptado o procedimento de concurso pblico ou de concurso limitado por prvia qualificao com publicidade internacional.

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MDULO II IV - ALTERAES INTRODUZIDAS AO CDIGO DOS CONTRATOS PBLICOS PELO DECRETO-LEI 278/2009, DE 2 DE OUTUBRO Em vigor h pouco mais de um ano, o Cdigo dos Contratos Pblicos (CCP) foi alterado pela segunda vez. O pretexto foi a necessidade de garantir a flexibilidade da sua aplicao s actividades de investigao e desenvolvimento em instituies cientficas e de ensino superior, mas a oportunidade foi aproveitada para a introduo de outras alteraes, na sequncia da actividade que tem vindo a ser desenvolvida pela Comisso de Acompanhamento do Cdigo, entidade na qual a FEPICOP, organismo de que a AECOPS faz parte, tem assento. As modificaes agora inseridas visam clarificar o contedo do diploma e corrigir lapsos entretanto j detectados, sendo de referir, no entanto, que foi entendido que a importncia e o teor dos preceitos alterados justificavam a republicao do CCP. Ao todo, o recentemente publicado Decreto-Lei n 278/2009, de 2 de Outubro, que s aplicvel aos procedimentos de formao de contratos pblicos iniciados aps 7 de Outubro, modificou cerca de 20 artigos, os quais se reportam, designadamente: s entidades adjudicantes; contratao excluda; aos impedimentos; aos documentos da proposta; ao modo de apresentao dos documentos de habilitao e no apresentao dos mesmos; escolha das entidades convidadas e ao convite; ao procedimento de negociao; ao programa do concurso; ao relatrio final da fase de qualificao; liberao da cauo; ao plano de trabalhos; aos trabalhos a mais; indemnizao por reduo do preo contratual; e vistoria. 15 - Documentos de habilitao Os documentos de habilitao devem ser apresentados atravs da plataforma electrnica utilizada pela entidade adjudicante ou, se a mesma se encontrar indisponvel, atravs de correio electrnico ou de outro meio de transmisso escrita e electrnica de dados. Neste ltimo caso, a entidade adjudicante deve identificar, no convite ou programa do procedimento, o endereo de correio electrnico ou de outro meio de transmisso escrita e electrnica de dados, para o qual, com excluso de qualquer outro, devem ser enviados os aludidos documentos de habilitao. Por outro lado, aditado um novo artigo (83-A) intitulado Fora probatria dos documentos de habilitao, o qual dispe quais os documentos que devem constituir prova bastante de que o adjudicatrio no se encontra em algumas das situaes de impedimento identificadas pelo CCP. Quanto no apresentao dos documentos de habilitao aditado um novo nmero, segundo o qual, sempre que se verifique um facto que determine a caducidade da adjudicao (...) o rgo competente para a deciso de contratar deve notificar o adjudicatrio relativamente ao qual o facto ocorreu, fixando-lhe

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um prazo, no superior a cinco dias, para que se pronuncie, por escrito, ao abrigo do direito de audincia prvia. 16 - Documentos da proposta Em virtude do novo diploma, a proposta passa a ter de ser instruda com um estudo prvio nos casos de concepo-construo, competindo exclusivamente ao adjudicatrio a elaborao do projecto de execuo. Na formao de contratos a celebrar pelos hospitais E.P.E, por associaes de direito privado que prossigam finalidades a ttulo principal de natureza cientfica e tecnolgica, bem como, exclusivamente no mbito da actividade cientfica e tecnolgica, pelas instituies de ensino superior pblicas e pelos laboratrios de Estado, prev-se que o programa do procedimento possa permitir que os documentos que constituem a proposta e os documentos de habilitao sejam redigidos em lngua estrangeira, indicando quais os idiomas admitidos. 17 - Impedimentos Uma das alteraes agora introduzidas no CCP consiste na admisso de candidatos ou concorrentes que se encontrem em estado de insolvncia declarada por sentena judicial, em fase de liquidao, dissoluo ou cessao de actividade, sujeitas a qualquer meio preventivo de liquidao de patrimnios ou em qualquer situao anloga, ou tenham o respectivo processo pendente, desde que se encontrem abrangidas por um plano de insolvncia, ao abrigo da legislao em vigor. 18 - Ajuste directo Esclarece-se, relativamente previso de que no podem ser convidadas a apresentar propostas entidades que tenham executado obras, fornecido bens mveis ou prestado servios entidade adjudicante, a ttulo gratuito, no ano econmico em curso ou nos dois anos econmicos anteriores, que a mesma no compreende as situaes ao abrigo do Estatuto do Mecenato. No convite apresentao de proposta ainda aditada a indicao do prazo para a apresentao, pelo adjudicatrio, dos documentos de habilitao, bem como o prazo a conceder pela entidade adjudicante para a supresso de irregularidades detectadas nos documentos apresentados que possam levar caducidade da adjudicao. Por ltimo, so esclarecidos aspectos sobre a fase de negociao, com particular destaque para o facto de a mesma dever incidir apenas sobre os atributos da proposta.

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19 - Programa de concurso e plano de trabalhos No programa de concurso passam a ter de ser indicados: para alm do prazo para a apresentao dos documentos de habilitao pelo adjudicatrio, o prazo a conceder pela entidade adjudicante para a supresso de irregularidades detectadas nos documentos apresentados que possam levar caducidade da adjudicao; todos os documentos que constituem a proposta; e, tratando-se de procedimento de formao de contrato de empreitada ou de concesso de obras pblicas, o documento em que o concorrente indica na proposta os preos parciais dos trabalhos que se prope executar correspondentes s habilitaes contidas nos alvars ou nos ttulos de registo. Quanto ao plano de trabalhos, para alm de poder ser ajustado pelo empreiteiro ao plano final de consignao, passa tambm a poder ser ajustado em caso de prorrogao do prazo de execuo, de deteco de erros e omisses reclamados na fase de execuo ou quando haja lugar a trabalhos a mais. 20 - Liberao de cauo e trabalhos a mais Nos contratos sujeitos a diferentes prazos de garantia e, consequentemente, a recepes provisrias e definitivas parciais, a liberao parcial da cauo promovida na proporo do valor respeitante a cada um dos conjuntos de elementos que compem a obra, designadamente estruturais, construtivos no estruturais ou instalaes tcnicas e equipamentos. Por seu turno, s actuais situaes em que o limite admissvel para a execuo de trabalhos a mais de 25 por cento do preo contratual so acrescentadas as obras de reabilitao ou restauro de imveis, as quais so, assim, equiparadas a obras cuja execuo seja afectada por condicionalismos naturais com especiais caractersticas de imprevisibilidade

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V - TRAMITAO PROCEDIMENTAL COMUM 21. Anncio de pr-informao (art. 34.) As entidades adjudicantes devem enviar para publicao no JOUE, imediatamente aps o incio de cada exerccio oramental, um anncio de pr informao (conforme modelo constante do anexo I ao Regulamento (CE) n. 1564/2005, da Comisso, de 7 de Setembro de 2005), no qual indiquem, no caso de contratos de locao ou de aquisio de bens mveis ou de contratos de aquisio de servios, o preo contratual estimado de todos os contratos a celebrar durante os 12 meses seguintes, quando esse preo seja igual ou superior a 750.00014. O modo de clculo dos preos contratuais estimados encontra-se regulado nos n.s 2, 3 e 6 do artigo 34. do CCP. A publicao do anncio de pr-informao permite a reduo do prazo mnimo para apresentao das propostas em concurso pblico ou limitado e em procedimento de negociao (nos termos previstos no n. 2 do artigo 136. e no n. 2 do artigo 191.).

22. Deciso de contratar (art. 36.) Todos os tipos de procedimentos pr-contratuais, independentemente do objecto do contrato a celebrar, iniciam-se com uma deciso de contratar. Esta deciso tomada na sequncia (i) da verificao, por parte da entidade adjudicante, da existncia de uma necessidade, (ii) da sua completa caracterizao e (iii) da identificao do meio/instrumento/etc. adequado sua satisfao, o qual consistir no objecto do contrato a celebrar. A deciso de contratar cabe ao rgo competente (por lei15 ou por delegao) para a deciso de autorizar a despesa inerente ao contrato a celebrar16. Caso o rgo competente apenas profira a deciso de autorizar a despesa, o CCP considera que a deciso de contratar est nela implcita. Quando o

14 Correspondente ao valor referido, consoante se trate de bens mveis ou de servios, na alnea a) ou b) do n. 1 do artigo 35. da Directiva n. 2004/18/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 31 de Maro de 2004.

As regras de distribuio da competncia para autorizar despesa constam do regime da realizao de despesa pblica actualmente ainda contido nos artigos 16. a 22. e 29. do Decreto-lei 197/99, de 8 de Junho (preceitos expressamente ressalvados pela norma revogatria do Decreto-Lei n. 18/2008, de 29 de Janeiro cf. alnea f) do n. 1 do artigo 14. mas anunciadamente em processo de reviso/substituio).16 Nos termos do disposto no artigo 109. do CCP, todas as competncias atribudas ao rgo competente para a deciso de contratar podem ser delegadas. Quando esse rgo tiver delegado a competncia para a deciso de autorizao da despesa inerente ao contrato a celebrar, o CCP considera que se encontram delegadas todas as restantes competncias desse rgo atribudas pelo prprio Cdigo (excepto daquelas que o delegante expressamente reserve para si). Por sua vez, quando a entidade adjudicante seja um instituto pblico e a competncia para autorizar a despesa inerente ao contrato a celebrar caiba ao ministro da tutela, o CCP considera delegadas no rgo de direco do instituto todas as competncias atribudas pelo prprio Cdigo ao rgo competente para a deciso de contratar.

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contrato a celebrar no implique o pagamento de um preo pela entidade adjudicante17, a deciso de contratar cabe ao rgo desta que for competente para o efeito nos termos da respectiva lei orgnica. O rgo competente para a deciso de contratar ainda competente para tomar a deciso de escolha do procedimento (a qual deve ser fundamentada) e a deciso de aprovao das peas do procedimento. 23. Publicitao dos anncios Todos os procedimentos pr-contratuais (com excepo do ajuste directo) so publicitados no Dirio da Repblica (DR) mediante anncio18 enviado Imprensa Nacional Casa da Moeda atravs de meios electrnicos, conforme o formato e as modalidades de transmisso indicados no portal do Dirio da Repblica Electrnico (DRe) cf. www.dre.pt. A publicao dos anncios efectuada em tempo real no caso dos concursos pblicos urgentes e, nos dos demais casos, no prazo mximo de 24 horas19. O anncio ou um resumo dos seus elementos mais importantes pode, posteriormente, ser divulgado por qualquer outro meio considerado conveniente pela entidade adjudicante, nomeadamente atravs da sua publicao em plataforma electrnica por si utilizada. 24. Peas do procedimento (art. 40.) As peas dos procedimentos de formao de contratos so as seguintes:PROCEDIMENTO Ajuste directo PEAS Convite apresentao das propostas Programa do procedimento Concurso pblico Caderno de encargos Programa do procedimento Concurso limitado por prvia qualificao Programa do procedimento Convite apresentao das propostas Caderno de encargos Procedimento de negociao Programa do procedimento Convite apresentao das propostas Caderno de encargos Dilogo concorrencial Programa do procedimento Convite apresentao das solues Convite apresentao das propostas Memria descritiva Caderno de encargos

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Embora possa implicar outro tipo de benefcio econmico a obter pelo adjudicatrio - cf. noo de valor do contrato

18 Conforme modelo aprovado por portaria dos ministros responsveis pela edio do DR e pelas reas das Finanas e das Obras Pblicas 19 Cf. n. 2 do artigo 3. do Decreto-Lei n. 18/2008, de 29 de Janeiro.

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Deste elenco resulta, claramente, que o anncio no uma pea do procedimento. Com efeito, o anncio consiste na divulgao do incio de um procedimento e num convite dirigido aos interessados para acederem s respectivas peas. Neste sentido, o CCP estabelece que tanto as normas do programa do procedimento, quanto as do convite apresentao das propostas prevalecem sobre quaisquer indicaes constantes dos anncios com elas desconformes (cf. n. 6 do artigo 132. e n. 6 do artigo 189.). Por outro lado, no caso de contradio entre o programa do procedimento e o convite apresentao das propostas, prevalecem as normas constantes do primeiro (cf. n. 6 do artigo 189.). Acresce ainda que as normas do CCP (relativas tanto fase de formao como fase de execuo dos contratos) prevalecem sobre quaisquer disposies das peas do procedimento com elas desconformes (cf. artigo 51.). 25. Caderno de encargos (art. 42. ss.) O caderno de encargos a pea do procedimento que contm as clusulas a incluir no contrato a celebrar20 por contraposio ao programa do procedimento que o regulamento que define os termos a que obedece a fase de formao do contrato at sua celebrao. Ou seja, o caderno de encargos deve funcionar como um projecto de contrato, prevendo as obrigaes de ambas as partes em sede de execuo contratual ao passo que o programa do procedimento consiste num guia do procedimento prcontratual que contm as regras do jogo. As clusulas do caderno de encargos dizem respeito a aspectos da execuo do contrato a celebrar, a saber: o preo, o prazo, a qualidade, a garantia, as caractersticas, etc. Estes aspectos da execuo do contrato podem, ou no, estar submetidos concorrncia - ou seja, podem ser totalmente/parcialmente deixados em branco para os concorrentes preencherem com as suas propostas ou podem ser definidos de forma fechada, no sentido de no admitirem ou de lhes ser indiferente que os concorrentes proponham coisa diferente. a) Aspectos da execuo do contrato submetidos concorrncia pelo caderno de encargos Um aspecto da execuo do contrato tradicionalmente submetido concorrncia o preo pode ser totalmente submetido concorrncia se for dada inteira liberdade aos concorrentes para proporem o seu preo ou pode ser parcialmente submetido concorrncia se for imposto um limite: um preo mximo. Neste caso, a concorrncia entre os interessados em apresentar proposta apenas se faz do preo mximo para baixo.

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Nos casos de manifesta simplicidade das prestaes que constituem o objecto do contrato a celebrar, as clusulas do caderno de encargos podem consistir numa mera fixao de especificaes tcnicas e numa referncia a outros aspectos essenciais da execuo desse contrato, tais como o preo ou o prazo (cf. n. 2 do artigo 42. do CCP).

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Outro aspecto da execuo do contrato frequentemente submetido concorrncia a qualidade. Relativamente a este aspecto comum fixarem-se requisitos mnimos que funcionam como limites a partir dos quais funciona a concorrncia do mercado. O CCP apelida estes limites mnimos e mximos (consoante o aspecto da execuo do contrato em causa) de parmetros base (cf. n.s 3 e 4 do artigo 42.) porque fixam a base a partir da qual se faz a concorrncia (quer seja para cima, como no caso da qualidade base; quer seja para baixo, como no caso do preo base). As propostas que violem esses parmetros base devem ser excludas (cf. alnea b) do n. 2 do artigo 70.). Acresce que todos (e apenas) os aspectos da execuo do contrato submetidos concorrncia pelo caderno de encargos devem corresponder a factores/subfactores do critrio de adjudicao da proposta economicamente mais vantajosa (cf. n. 1 do artigo 75.), pois s faz sentido submeter concorrncia aspectos que vo servir para avaliar e comparar as propostas apresentadas pelos concorrentes para efeitos de escolher a melhor. b) Aspectos da execuo do contrato no submetidos concorrncia pelo caderno de encargos O caderno de encargos tambm pode conter aspectos da execuo do contrato no submetidos concorrncia: ou porque esse aspecto est descrito em termos fixos (por exemplo, uma cor: as fardas devem ser brancas lisas) ou porque, apesar de admitir que os concorrentes apresentem diferentes propostas para um determinado aspecto que esteja fixado por referncia a limites mnimos ou mximos, a entidade adjudicante no tem interesse em submeter esse aspecto concorrncia porque lhe indiferente uma melhor ou uma pior proposta, desde que cumpra o limite mnimo ou mximo fixado. Por exemplo, a entidade adjudicante pode fixar um prazo mximo para o fornecimento de bandeiras azuis para hastear nas praias, admitindo que os concorrentes se autovinculem a fornec-las mais rapidamente, mas sem valorizar esse encurtamento de prazo porque, na verdade, a poca balnear s se iniciar em momento posterior ao prazo fixado como mximo, pelo que a entidade adjudicante no tem vantagem em adquirir as bandeiras mais cedo. Neste caso s h motivo de excluso de proposta se o concorrente apresentar um prazo mais dilatado do que o prazo mximo injuntivamente fixado. Pelo contrrio, a apresentao de um prazo mais curto incua: no gera a excluso da proposta, nem gera a sua melhor pontuao aquando da avaliao. Na verdade, no tendo sido submetido concorrncia, o prazo no pode ser valorizado nas propostas apresentadas, nomeadamente para efeitos de emisso de um juzo comparativo de preferncia ou seja, no pode reflectir-se na composio do critrio de adjudicao. No entanto, na medida em que as propostas esto vinculadas aos termos fixos e aos limites mnimos ou mximos utilizados na descrio dos aspectos da execuo do contrato no submetidos concorrncia

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pelo caderno de encargos, a sua violao implica a excluso das propostas (cf. alnea b) do n. 2 do artigo 70.). c) Atributos das propostas versus termos ou condies das propostas O CCP chama atributo da proposta a qualquer elemento ou caracterstica da mesma que diga respeito a um aspecto da execuo do contrato submetido concorrncia pelo caderno de encargos (cf. n. 2 do artigo 56.). Por exemplo: se o caderno de encargos submete concorrncia o preo horrio do servio de limpeza a adquirir, ento 3,5(o preo proposto por um determinado concorrente) um atributo da respectiva proposta; se o caderno de encargos submete concorrncia o peso dos telemveis a adquirir, ento 115g (o peso proposto por um determinado concorrente) um atributo da respectiva proposta.

Quadro Exemplificativo Aspecto da execuo do contrato submetido concorrncia pelo caderno de encargos Preo (por ex. no superior a 3.500.000) Prazo (por ex. no superior a 8 meses) Espessura (por ex. no inferior a 7mm) 2.875,96 6 Meses e 8,3mm Atributo da proposta

Os termos ou condies das propostas, por sua vez, correspondem aos aspectos da execuo do contrato no submetidos concorrncia pelo caderno de encargos, mas relativamente aos quais a entidade adjudicante, em vez de uma descrio em termos fixos, optou por estabelecer limites mnimos ou mximos, cabendo aos concorrentes apresentar propostas mais ou menos aproximadas desses limites (sem os ultrapassar, sob pena de excluso). Fazendo apelo ao anterior exemplo da aquisio de bandeiras, se uma clusula do caderno de encargos fixasse 6 meses como prazo mximo para o respectivo fornecimento, ento o termo ou condio da proposta apresentada por um concorrente seria o prazo concreto a que este se vincularia (no superior a 6 meses, mas que poderia ser inferior). Quadro Resumo Aspecto da execuo do contrato Submetido concorrncia Limite Parmetro base Atributo Aspecto da proposta Atributo

No submetido concorrncia

Limite mn. ou mx.

Termo ou condio

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26. Erros e omisses do caderno de encargos (art. 61.) O CCP introduz um nus que impende sobre os concorrentes - a identificao (e comunicao ao rgo competente para a deciso de contratar) dos erros e das omisses do caderno de encargos por eles detectados e que digam respeito a: a. Aspectos ou a dados que se revelem desconformes com a realidade; ou b. Espcie ou quantidade de prestaes estritamente necessrias integral execuo do objecto do contrato a celebrar; ou ainda c. Condies tcnicas de execuo do objecto do contrato a celebrar que o concorrente no considere exequveis. O referido nus de identificao e comunicao no abrange os erros e as omisses que os concorrentes, actuando com a diligncia objectivamente exigvel em face das circunstncias concretas (nomeadamente, tendo em conta a maior ou menor durao do prazo para a apresentao das propostas), pudessem detectar na fase de execuo do contrato. Como consequncia desse nus, o adjudicatrio responsvel em 50% pelo suprimento dos erros e omisses no identificados mas cuja deteco era exigvel na fase de formao do contrato. O suprimento dos erros e omisses efectiva e atempadamente identificados pelos concorrentes, mas que tenham sido rejeitados ou no tenham sido expressamente aceites pela entidade adjudicante, so da responsabilidade desta ltima (cf. n. 3 do artigo 378., aplicvel ex vi artigos 438. e 451.).

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CONCEITOS - art.61, n. 1Aspectos fiscos do local de execuo da obra, locais circundantes, etc., bem como todos os Aspectos ou dados que se revelem aspectos ou dado, incluidos em todas as peas desconformes com a realidade do CE, que se revelem desconformes com a realidade 1 (vd art. 63, n. 2 CCP) Conceito que mais se aproxima da noo de erros e omisses Erro - incorrecta quantificao no projecto ou no mapa de medies de um traba