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Seminário “Caminhos para o Brasil – Social” Instituto Teotônio Vilela Brasília, 10 de março de 2016. Histórico das políticas sociais no Brasil Deputado Federal EDUARDO BARBOSA

Seminário “Caminhos para o Brasil –Social”itv.org.br/projeto/itv/arquivos/Apresentacao2_Modo_de... · -Redução da desigualdade na cobertura e no acesso a direitos, estendendo-os

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Seminário “Caminhos para o Brasil – Social”Instituto Teotônio Vilela

Brasília, 10 de março de 2016.

Histórico das políticas sociais no BrasilDeputado Federal EDUARDO BARBOSA

Políticas sociais devem ser estruturadas com capacidade de acompanhar a dinâmica social e a consequente promoção do desenvolvimento

No Brasil, a tradição da filantropia inicia-se a partir das atividades da Igreja Católica, ainda no Brasil colônia, a partir da fundação da Santa Casa de Misericórdia de Santos em 1543. - A atuação das Igrejas na assistência às comunidades mais necessitadas dura todo o

período colonial, até o início do século XIX. - A partir do século XX, outras religiões passam também a atuar no campo da caridade

com fins filantrópicos, e observa-se o crescimento do número de organizações religiosas, confessionais e assistenciais oferecendo seus serviços à população excluída das políticas básicas de educação e saúde.

Organizadas e planejadas pelo Estado somente a partir dos anos 1930 – ERA VARGAS

- a educação, a saúde, a assistência social, a previdência, a habitação e regulação do trabalho passam a integrar a agenda de governo.

� a extensão da cobertura e a disponibilidade de serviços eram função dacategoria socioprofissional, devidamente reconhecida pela lei, e da suacapacidade de barganha, a qual se integrava o trabalhador:

- o reconhecimento de direitos sociais era um ato de iniciativa do PoderExecutivo federal.

- As categorias socioprofissionais dispunham de Institutos de Aposentadorias ePensões (IAPs), que:

a) pagavam aposentadorias e pensões,b) se responsabilizavam por assistência médica e farmacêutica para as

categorias mais afluentes,c) além de prover crédito para fins habitacionais.

� Criação da Legião Brasileira de Assistência - LBA, em 1942, cujo objetivo inicial era prestar auxílio às famílias dos soldados enviados à 2ª Guerra Mundial.

- Com o fim da guerra, continuou a existir para ajudar famílias carentes

�Os trabalhadores rurais, domésticos e autônomos não foram beneficiados.

- Em 1945, Vargas pretendeu incluir essas categorias, com a criação de uma instituição centralizada, como o atual INSS.

- Com a sua deposição naquele ano, a ideia foi esquecida.

�Em 1954, os profissionais liberais foram reconhecidos, passando a integrar o IAP dos bancários

- Unificação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões – IAPs;

- Substituição dos regimes de capitalização, pelos de repartição, em virtude dos graves problemas atuariais;

- Unificação da gestão para todas as categorias socioprofissionais, excetuada a administração pública federal, estadual e dos maiores municípios do Brasil;

- A provisão privada passou a merecer destaque e o acesso a serviços de melhor qualidade passou a depender do fato de o empregador, por exemplo, patrocinar um fundo de pensão ou oferecer planos de saúde geridos pela iniciativa privada;

- Nessa época, a contratação de provisão privada em saúde e educação passou a ser generalizada entre aqueles com maiores rendimentos;

- Criação do fundo de Garantia por Tempo de Serviço, em 1966, em substituição à estabilidade do trabalhador no emprego após 10 anos de serviço no mesmo estabelecimento, vigente entre os anos 1940 e 1960;

Reformas realizadas na década de 60 do século passado:

- Geração de sérios problemas no âmbito das políticas sociais, com a deterioração da qualidade dos serviços sociais públicos, comprometendo a já precária qualidade do atendimento;

- Crescimento exponencial da dívida externa brasileira, com a elevação dos juros em 1979, com graves impactos sobre a seguridade social:

a) redução da disponibilidade de recursos, e

b) elevação da não cobertura devido à redução dos que contribuem para a Previdência em relação à população economicamente ativa

- Redução acentuada no gasto público, com os ajustes macroeconômicos, o que se traduziu em:

a) aposentadorias de menor poder aquisitivo,

b) redução das ações sociais, e

c) restrições no atendimento à saúde.

Essa trajetória pode ser observada até 1988.

A partir da primeira crise do petróleo, em 1973:

INOVAÇÕES BRASILEIRAS TRAZIDAS PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

� - Políticas sociais abrangem a seguridade social e outras relacionadas aos direitos sociais (educação, trabalho, habitação, transporte, etc.)

- Seguridade Social constituída pelas políticas de previdência social, saúde e assistência social

� Controle Social: criação de conselhos para as diferentes políticas sociais em todas as esferas de governo, com a participação de membros das administrações, usuários e instituições relacionadas a elas.

� Universalidade das ofertas (anteriormente a cobertura era em função da categoria do TRABALHADOR, e não para todos):

- Redução da desigualdade na cobertura e no acesso a direitos, estendendo-os a todos, sem eliminar vários dos pilares geradores de desigualdades.

� Descentralização: durante o governo militar, a execução das políticas públicas era CENTRALIZADA na esfera FEDERAL

Dentre as mudanças na seguridade social, destacam-se:

- Os planos de benefícios favoreceram as mulheres que podem se aposentar mais cedo,

- Os trabalhadores rurais passam a segurados, com planos de benefício iguais aos dos assalariados urbanos;

- fixação do piso de benefícios previdenciários em 1 salário mínimo, podendo ser menor no caso de as pensões por morte serem partilhadas por mais de um dependente.

- universalização do atendimento à saúde, desvinculando os direitos da condição de contribuinte da Previdência; e

- criação de benefícios de caráter assistencial, não contributivos equivalentes a 1 salário mínimo (BPC: regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social – Loas, e implementado em 1996);

- a seguridade social mudou de forma radical nos anos mais recentes e seu papel não mais se detém na redistribuição de renda e na provisão adequada de benefícios para atingir um patamar de bem-estar que cubra as necessidades básicas.

- A concepção de seguridade social foi ampliada e se tornou mais proativa para combater os riscos inerentes ao ciclo de vida de cada indivíduo.

- A seguridade busca, também, maximizar o seu potencial produtivo e suas capacidades, com vistas a reduzir as suas vulnerabilidades.

AS POLÍTICAS SOCIAIS PÓS 1988

Vieram garantir aos cidadãos oportunidades mais equânimes de acesso aos recursos e benefícios, em seu percurso histórico

Cenário Atual:

� Novas realidades demográficas (84,85% população urbana)

� Novas estruturas familiares

� Mudanças nas relações de trabalho

� Mudanças tecnológicas

GESTÃO E QUALIDADE DOS SERVIÇOS:Fragmentação institucional: a execução das políticas sociais, como o pagamento de benefícios previdenciários, prestações e serviços da assistência social, ações de saúde e promoção do emprego e seguro-desemprego, está distribuída em três ministérios diferentes, que possuem as suas próprias agências e serviços, com um reduzido nível de interação.

Além da fragmentação ministerial, todos esses segmentos contam com agências diferentes para conceder benefícios ou prestar serviços sociais, o que impede a superação de problemas históricos.

DESAFIOS

Previdência Social

- Aposentadorias por tempo de contribuição e por idade, com aplicação do Fator Previdenciário ou da Regra 85-95

- Ausência de idade mínima

- Novas regras para a concessão de pensão por morte a partir de 2015, de acordo com a faixa etária do pensionista / cônjuge

OS PRINCIPAIS PROBLEMAS ENFRENTADOS NA ATUALIDADE PELA PREVIDÊNCIA SOCIAL, DE ACORDO COM OS

RESULTADOS DE FISCALIZAÇÃO DO TCU, SÃO:

� a sustentabilidade dos regimes previdenciários, em função dos seus déficits

� Riscos de irregularidades na concessão de benefícios

� Baixa recuperação de créditos previdenciários

� Política de pessoal adotada pelo INSS, responsável pela concessão de benefícios: além das disparidades existentes entre o quadro de pessoal, quanto à formação, eficiência, relação entre a quantidade de servidores lotados nas agências e a produção existe a perspectiva de que 47% dos servidores adquiram condições de se aposentarem até 2017.

DESAFIOS para a Previdência Social:

FINANCIAMENTO:� O custeio desafia a lógica contributiva � alguns contribuem regularmente; � outros, de forma intermitente; � muitos raramente contribuem, ou nunca o fazem. � menos de 20% dos trabalhadores que se aposentam o fazem após contribuir

regularmente por 30 ou 35 anos.

Para o Regime Geral:- Alcançar equilíbrio no financiamento das aposentadorias rurais- Envelhecimento e aumento da longevidade da população- Volume de isenções e reduções de alíquotas para o ingresso de mais

pessoas no sistema

Para os Regimes Próprios da União, dos Estados, dos Municípios, e do DF:- Solucionar o déficit atuarial dos regimes previdenciários- Melhorar a fiscalização da gestão de investimentos do Fundos

Previdenciários - Envelhecimento e aumento da longevidade da população

SAÚDE

Sistema Único de Saúde – SUS:

� Cobertura universal, superando a limitação da oferta aos contribuintes da previdência social

� Sistema público complementado pelo privado: ambos com unificação da regulamentação, dos princípios de procedimentos e remuneração por procedimentos, com pactuação bipartite e tripartite.

� Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS), em 1991, a fase preliminar ao PSF;

� PSF, em 1996;

� Acesso e distribuição de medicamentos a portadores de HIV/Aids, em 1996;

� Sistema Nacional de Transplantes, em 1998;

� Programa de medicamentos genéricos, em 1999;

� Criação da Anvisa, em 1999; criação da ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar, em 2000;

� Proteção e direitos das pessoas com transtornos mentais, em 2001;

� Programa Farmácia Popular, para distribuição gratuita de determinados medicamentos, em 2004;

� Criação da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobras), em 2004

� Programa Mais Médicos – esse, com a legalidade questionada por vários setores, em 2014

Após 1988, muitas inovações relevantes:

Principais problemas apontados pelo TCU, em fiscalização em 18 Estados, no ano de 2014 (Relatório Sistêmico de Fiscalização)

- NA ATENÇÃO ESPECIALIZADA:87% com deficiências de tecnologia da informação; 81% com falta de profissionais, o que bloqueia o uso de leitos (47% dos leitos); 77% com bloqueio de leitos por falta de equipamentos (11% dos leitos); 73% com estrutura física inadequada ou falta de manutenção predial; 63% com absenteísmo, que dificulta a prestação de serviços; 59% com atendimento inadequado em razão de equipamentos desatualizados; e 53% com carência de instrumentos de gestão e geração de desperdício.

- NA ATENÇÃO BÁSICA:66% com dificuldade para atrair ou fixar os profissionais de saúde; 65% com insuficiência de recursos financeiros para o custeio do PSF; 52% com problemas para encaminhar ao atendimento especializado; e 52% com falta de materiais básicos.

É provável que essa situação se mantenha sem alteração, até a presente data.

- Ampliar a oferta de serviços

- Melhorar a qualidade dos serviços públicos que atendem a maioria da população

- Superar os problemas da atenção básica para que a melhora se reflita na atenção especializada

- Financiamento insuficiente

- Soluções para a difícil relação entre os sistemas público e privado;

- Fenômeno da judicialização

Desafios na área da Saúde

Assistência Social

Alçada ao status de política pública, dever do estado e direito do cidadão, em 1988, assegurando a oferta de serviços socioassistenciais e benefícios assistenciais, a todos que necessitarem.

Após a Constituição Federal:- Aprovação da Lei Orgânica de Assistência Social, em 1993- Extinção da LBA, no primeiro dia do governo do Presidente Fernando Henrique

Cardoso, em 1995- Criação da Secretaria Nacional de assistência Social- Implantação do Benefício de Prestação continuada – BPC- Criação do Cadastro Único- Criação dos programas de transferência de renda que, unificados, se transformaram

no importante Programa Bolsa Família- Criação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS.

Principais problemas apontados pela fiscalização do TCU:

� A revisão do BPC não tem sido realizada regularmente, com risco de pessoas estarem recebendo indevidamente

� Inexistência de indicadores de porta de saída do Programa Bolsa Família – PBF, contrariando o objetivo de garantir a emancipação sustentada das famílias mais pobres

� Risco de migração de beneficiários do BPF para o BPC, quando os pais alcançam a idade de 65 anos, com consequente aumento dos gastos com o BPC, cujo valor é bastante superior ao PBF

� Necessidade de melhorar indicadores, como, p.ex., os que se referem a superação da pobreza

� Ineficaz fiscalização institucional em relação aos recursos descentralizados do SUAS, ficando a mesma muito a cargo dos conselhos de assistência social

� Apenas 5,9% dos CRAS apresentam oferta de atendimentos socioassistenciais plenamente eficientes (406, de um total de 6.893)

Desafios na área da Assistência Social

� avançar na definição constitucional do financiamento dos serviços; � é preciso um olhar especial para os trabalhadores da assistência social; � É preciso defender a oferta de políticas sociais que superem o conceito de

pobreza baseado apenas na ausência de renda. As transferências são importantíssimas, e devem permanecer como obrigação do Estado brasileiro. Mas é preciso avançar; precisamos ampliar o conceito de pobreza, com análises das reais condições de vida dos nossos usuários e de suas famílias.

� É preciso aferir a qualidade dos serviços ofertados, para que os usuários da assistência social alcancem patamares satisfatórios de desenvolvimento humano, com saúde de qualidade, com educação de qualidade, com saneamento de qualidade, com moradia de qualidade, com segurança pública de qualidade, com primeira infância de qualidade, com trabalho de qualidade.

Além das políticas de seguridade social, é preciso destacar que o campo das políticas sociais é muito mais amplo

Destacam-se, ainda, as políticas de educação, habitação, trabalho e segurança

Muito obrigado!

www.eduardobarbosa.com

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição Federal de 1988.

IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Texto para Discussão 2062. Política social brasileira: conquistas e desafios. Brasília: Ipea, 2015.

TCU – TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Relatórios sistêmicos de fiscalização da saúde, da previdência social e da assistência social.