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O sujeito forja o ambiente, o ambiente “forja” o sujeito: mediação indivíduo-ambiente em ergonomia da atividade Mário César Ferreira Apresentação: Ercilio Domingos Turato Junior

Seminario Ercilio O Sujeito Forja o Ambiente

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O sujeito forja o ambiente, o ambiente “forja” o sujeito: mediação indivíduo-ambiente em ergonomia da atividade

Mário César Ferreira

Apresentação:Ercilio Domingos Turato Junior

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A ergonomia está sendo chamada a responder múltiplas demandas do mundo produtivo:

• melhorias das condições materiais e instrumentais de trabalho dos assalariados;

• identificação de agentes nocivos à saúde dos trabalhadores;

• transformações na organização sociotécnica do trabalho;

• impactos dos usos de novas tecnologias;

Sua intervenção opera-se em um cenário socioeconômico em ebulição:

• internacionalização da economia agravando o desemprego estrutural;

• insatisfação crescente dos trabalhadores diante da ameaça onipresente da demissão e suas condições de trabalho;

• boom de informatização que (re)orienta a reestruturação produtiva;

• nova consciência ambiental.

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“A ergonomia pode ser definida como uma abordagem científica antropocêntrica que fundamenta-se em conhecimentos interdisciplinares das ciências humanas para, de um lado, compatibilizar os produtos e as tecnologias com as características dos usuários e, de outro, humanizar o contexto sociotécnico de trabalho, adaptando-o tanto aos objetivos do sujeito ou do grupo com às exigências das tarefas” (Ferreira, 2003:22)

Definição de ergonomia:

Desse modo, Ferreira enfatiza a abordagem da ergonomia da atividade (francofônica), a qual, grosso modo, compreende:

• Investigar para compreender o objeto de estudo;

• Produzir soluções para transformar as situações-problemas investigadas visando àarticulação harmoniosa entre o bem-estar dos sujeitos, a eficiência e a eficácia de suas atividades

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Indivíduo

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Análise de três variáveis que caracterizam as especificidades do olhar da ergonomia:

•Variável indivíduo: o conjunto de trabalhadores assalariados, compreendendo homense mulheres, os quais constituem a classe trabalhadora;

•Variável ambiente: caracterizada por um Contexto de Produção de Bens e Serviços –CPBS singular, espacialmente e formalmente circunscrito, cuja configuração em ditada por regras formais e informais;

•Variável trabalho: atividade humana ontológica singular, baseada em estratégias de mediação individual e coletiva com o CPBS, buscando garantir assim, os meios necessários para sobrevivência, o bem-estar físico, psicológico e social e, ainda, responder às regras prescritas.

Interação indivíduo-ambiente, mediada pelo trabalho

AmbienteTrabalho

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Concepção de ambiente

• Trata-se de um ambiente de trabalho que pode ser genericamente chamado de Contexto de Produção de Bens e Serviços – CPBS, o qual disponibiliza os recursos materiais, instrumentais, tecnológicos e organizacionais aos trabalhadores, que exercem suas atividades, possibilitando o movimento ou “atividade” das coisas.

Análise do CPBS

• Ter por direção a situação-problema, ou seja, um estudo no objeto CBPS norteado pela demanda, analisando os fatores que o compõem em movimentos de ida-e-volta (zoom-in e zoom-out).

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Fatores que compõem o CPBS:

• Informações econômicas que envolvem a empresa: evolução histórica; ciclo de vida de um produto; posição no mercado; tipos de produtos e serviços existentes; exigências de clientes e usuários; comportamento dos concorrentes; dentre outros;

• Política pessoal da empresa: evolução demográfica do quadro de pessoal e sua distribuição; política de recrutamento, seleção e desenvolvimento de pessoal; a mobilidade interna do pessoal relacionado com a inovação tecnológica e ao perfil epidemiológico; dentre outros;

• Determinações jurídicas externas à empresa: Código de Defesa do Consumidor; Legislação de Segurança e Medicina do Trabalho do Ministério do Trabalho; normas da ISO.

• Características externas da localização espacial da empresa: levantamento de informações como: variações climáticas; transportes existentes; fornecimento de saneamento básico; dentre outros;

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• Organização do processo de trabalho, um dos principais estruturadores do CPBS:

•Propriedades técnicas: disposição topológica da estrutura organizacional; os fluxos de produção ou prestação de serviços; os procedimentos técnicos e administrativos; as características da matéria-prima; os instrumentos e equipamentos etc.

• As tarefas prescritas: constituem o script estabelecido pelos organizadores das atividades a serem executadas pelos trabalhadores em um dado ambiente de trabalho.

Características dasTarefas

toda tarefa é preexistenteou anterior à atividade

toda descrição ou prescrição de tarefa veicula explícita ou implicitamente um modelo de sujeito

toda tarefa requer do sujeito uma dupla atividade: de elaboração mental e de execução

• Características das tarefas:

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Perfil da Organização do Trabalho

Tarefas prescritas

EspecificidadesTécnicas

Exigências deProdutividade

Exigências deQualidade

Normas deSegurança

Regras Informais

Contexto de Produção de Bens e Serviços – CPBSAspectos centrais da Organização do Trabalho

“Assim, uma decorrência principal das variáveis que engendram a concepção de ambiente é que no mundo produtivo, regra geral, o CPBS está previamente posto. Desta forma, ele influencia seus “habitantes e usuários” estabelecendo suas propriedades e lógicas de funcionamento. Logo, ele tende a “moldar” o comportamento, explicitando limites e possibilidades de ação dos diferentes protagonistas – os indivíduos – que o utilizam nas situações de trabalho. Essa interação dá-se com base em uma dialética que parece marcar a evolução do sistema produtivo: o sujeito inventa o contexto sociotécnico e este, por sua vez, o “reinventa”... com um resultado final que parece eternamente inacabado” (Ferreira, 2003:28)

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Concepção de indivíduo

• As características do contexto sociotécnico ditam as especificidades dos indivíduos, assim, tendo por pano de fundo o CPBS, a ergonomia da atividade estabelece duas dimensões que se complementam na compreensão da noção de indivíduo: a diversidade interindividual e a variabilidade intra-individual.

Anotação: Os meios de produção podem ser iguais, porém, os indivíduos jamais são iguais, eles diferem entre si por diferentes fatores. Esse é um dos principais questionamentos que a ergonomia coloca aos enfoques de inspiração taylorista, contrapondo-se à noção abstrata de trabalhador médio e do homem como variável de ajuste.

Diversidade interindividual: Aspectos visíveis: gênero, idade, dimensões corporais, etc;e, aspectos menos visíveis: traços de personalidade, história pessoal, experiências fora do local de trabalho, etc. Tais características influenciam significativamente a conduta dos sujeitos em situação de trabalho, dando visibilidade aos diferentes modos de se individuar.

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Variabilidade intra-individual: considera o estado pessoal de cada sujeito em função davariável tempo, reconhecendo três recortes temporais que repercutem no modo de agir desse indivíduo:

• variações em curto prazo (jornada de trabalho): influenciadas pelas exigências cotidianas do trabalho, pelas mudanças dos ritmos biológicos, pelos acontecimentos na esfera da vida social fora do trabalho etc.

• variações em médio prazo (semana, meses): influenciadas pelo desgaste (físico, mental e psíquico) acumulado ao longo de curtos intervalos produzindo um sentimento de cansaço ou fadiga crônica;

• variações em longo prazo (anos, décadas): influenciadas pelo envelhecimento biológico do organismo e, principalmente, pelos efeitos provenientes dos contextos de trabalho.

Anotação: Essas variações influenciam o modo de agir dos trabalhadores no ambiente de trabalho em termos físicos (posturas, gestos, movimentos, deslocamentos), cognitivos (diagnóstico, planejamento e resolução de problemas) e afetivos (bem-estar e mal-estar, vivências de prazer e sofrimento, construção da identidade)

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8:00 10:00 12:00 14:00

Número de movimentos do trabalhador no

contexto diário deseu modo

operatório

Horário detrabalhodiário

15

10

5

Variações em curto prazo (jornada de trabalho) – aspecto: movimentos do trabalhador

Exemplo fictício

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4 8 12 16

Média daevolução donúmero de

resolução deproblemas no

processoprodutivo pelo

trabalhador

Tempo deTrabalho em

anos

90

60

30

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Variações em longo prazo (anos, décadas) – aspecto: resoluções de problemas

Exemplo fictício

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“Em síntese, a concepção de indivíduo que preside a perspectiva analítica da ergonomia da atividade não é concebê-lo como um ente abstrato, mas um ser humano que pensa, age e sente em um ambiente de trabalho. Um indivíduo que coloca o seu corpo (gestos, deslocamentos, capacidades perceptivas, experiências...) para agir intencionalmente em um contexto sociotécnico de trabalho, buscando alcançar resultados específicos” (Ferreira, 2003:32)

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•Síntese da concepção de indivíduo:

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Concepção de trabalho

Esfera sócio-histórica: papel ontológico do trabalho como conformador da espécie humana

“Como processo, o trabalho é atividade mediadora entre o indivíduo e o ambiente, em uma via de mão-dupla: ao buscar transformar o ambiente para satisfazer suas necessidades materiais e espirituais, o indivíduo, como resultados dos efeitos da própria ação, é “transformado” por ele. É nesta acepção que assume sentido o título desse artigo: o sujeito forja o ambiente, o ambiente “forja” o sujeito. Isto se viabiliza pelo papel mediador do trabalho” (Ferreira, 2003:34)

“Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo – braços e pernas, cabeça e mãos -, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil àvida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza”. (Marx, 2003:.211 – O Capital)

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Esfera individual: mecanismos que estruturam o trabalho como uma ação individual de caráter finalística

•O trabalhador regula sua produção para atender a um determinado fim ou resultado prescrito;

•O trabalhador realiza uma concepção, antes da prática efetiva, de sua estratégia de mediação com o ambiente de trabalho, bem como, sua própria atividade de trabalho.

“Pressupomos o trabalho sob forma exclusivamente humana. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colméia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade” (Marx, 2003:.212 – O Capital)

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Bem-estar Mal-estar

Eficiência Eficácia

Contexto de Produção deBens e Serviços - CPBS

Mediação(Individual e Coletiva)

Custo Humano doTrabalho (CHT)

Trabalhador(es)

Vivências

Performances

Tarefas

Formais e Informais

Complexidade

Eventos Críticos

Atividade de Trabalho como Estratégia de Mediação Individual e Coletiva

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Resultados

Objetivos

Meios

Estado

Regulação Modo Operatório

Modo Operatório e Regulação: situação sem condicionantes - Guerin

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Análise Ergonômica do Trabalho – AET: Instrumental para investigar a mediação indivíduo-trabalho-ambienteOs cinco pressupostos fundamentais da AET:

•Situação-problema: origem da demanda dos interlocutores – diretores, sindicalistas, trabalhadores etc;

•Participação: fator determinante para resultados confiáveis da AET, no qual os trabalhadores e chefias direta ou indiretamente envolvidos com a situação-problema participam da AET. Três aspectos dessa participação: a) deve ser efetiva e não formal; b) fundada no desejo voluntário dos sujeitos; c) ocorrer no inicio, meio e fim da AET.

•Informação: matéria-prima essencial para construção da AET. Conhecer in loco as situações de trabalho, contatar os trabalhadores, clientes e usuários para realização de entrevistas; fazer uso de equipamentos ex. máquina fotográfica etc.

•Variabilidade: possui duas dimensões interdependentes. De um lado, a variabilidade intra e interindividual. Variabilidade do contexto sociotécnico que pode ser normal ou acidental.

• Atividade: “O que faz o trabalhador, como o faz” constituindo o aspecto nuclear e mais importante da AET.

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Os instrumentos de pesquisa da AET:

•Análise documental: exame de documentos disponibilizado pela empresa, trabalhadores, sindicatos etc.

•Entrevistas: individual ou coletiva, visando dar visibilidade às representações operativas dos sujeitos;

•Observações: São de dois tipos:a) livres ou abertas, visando estabelecer o primeiro contato com as situações de trabalho, estabelecer um contato mais direto com os trabalhadores etc; b) sistemáticas, as quais visam efetuar registros de ordem quantitativa (ex.: deslocamentos na área de trabalho) e ordem qualitativas (ex.: descrição do ciclo de uma tarefa);

•Mensuração físico-ambiental: consiste no registro por meio de equipamentos de precisão (ex.: decibelímetro, termômetro etc)

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Hipótesesespecíficas

Observações abertas

Delimitação e análiseda

Situação-problema

Análise dastarefas

Análise do Processo técnico

Observaçõessistemáticas

Sistematizaçãodos dados

Diagnóstico

Validação dosresultados

Escolha das situaçõesHipótese global

Perfil dosClientes, Usuários

Características daprodução

Perfil dos funcionários

Indicadores deeficácia

Funcionamento da Instituição, características da população

Análise da atividade

AET: Etapas e Procedimentos Principais