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PROCESSO Nº: 0000434-20.2015.4.05.8202 - AÇÃO PENAL - PROCEDIMENTO ORDINÁRIO AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL e outro RÉU: MAYCO ALEXANDRE GOMES e outros ADVOGADO: Francisco George Abrantes Da Silva e outros 8ª VARA FEDERAL - PB (JUIZ FEDERAL TITULAR) SENTENÇA (Tipo D - Res. CJF 535/2006) 1. RELATÓRIO O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ofereceu denúncia em face de FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, ELAINE DA SILVA ALEXANDRE, FERNANDO ALEXANDRE ESTRELA, MAYCO ALEXANDRE GOMES, HORLEY FERNANDES, GERALDO MARCOLINO DA SILVA, MARCOS JOSÉ DE OLIVEIRA, CARLOS RENATO ANDRADE GONÇALVES e JONAS BRÁULIO DE CARVALHO ROLIM, pela suposta prática das condutas típicas previstas no art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013, art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93, arts. 296, inciso II, 297, 299 e 347, todos do Código Penal, art. 1º, caput e §1º, inciso II, da Lei n.º 9.613/98 e art. 12 da Lei n.º 10.826/03. Em síntese, segundo o MPF, nos autos do PIC n.º 1.24.002.000250/2014-46 e IPL n.º 048/2014, há elementos probatórios que indicam a existência de uma organização criminosa do colarinho branco com o objetivo reiterado de fraudar licitações públicas em diversos municípios da Paraíba, Ceará, e Rio Grande do Norte, mascarar desvios de recursos públicos em favor próprio e de terceiros, lavar dinheiro público desviado e fraudar os fiscos federal e estadual. Aduz que a organização se utilizava da participação de “empresa fantasma” em diversas licitações para que formulasse proposta fictícia e, ao sagrar-se vencedora, o adimplemento contratual seria feito por outra empresa, que deteria a estrutura operacional necessária (empregados, maquinário, veículos, etc.), ou pelos servidores do próprio ente público licitante. O MPF aduz que há fortes indícios de que as pessoas jurídicas SERVCON e TEC NOVA são “empresas fantasmas”, pois: a) os dados do Sistema SAGRES do TCE/PB apontam a participação da Construtora Servcon em 142 licitações, movimentando, em cinco anos, o valor de R$14.233.923,45, e a participação da empresa Tec Nova em 35 licitações, movimentando, em dois anos, o valor de R$ 2.777.655,37, sendo tais cifras somente de pagamentos de órgãos públicos; b) referidas empresas não registraram qualquer empregado durante todos os anos de funcionamento; c) nos anos de 2009 a 2012 houve informação à Receita Federal de que estavam inativas; d) análise das notas fiscais eletrônicas demonstram que não houve a aquisição de insumos em montante suficiente para execução das obras licitadas; e) as aludidas empresas não prestam nenhum serviço a particulares, apenas para prefeituras do sertão nordestino; f) quinze saques efetuados da conta das empresas na boca do caixa no montante aproximado de três milhões de reais. 1/89

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PROCESSO Nº: 0000434-20.2015.4.05.8202 - AÇÃO PENAL - PROCEDIMENTO ORDINÁRIO AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL e outro RÉU: MAYCO ALEXANDRE GOMES e outros ADVOGADO: Francisco George Abrantes Da Silva e outros 8ª VARA FEDERAL - PB (JUIZ FEDERAL TITULAR)

SENTENÇA

(Tipo D - Res. CJF 535/2006)

1. RELATÓRIO

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ofereceu denúncia em face de FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, ELAINE DA SILVA ALEXANDRE, FERNANDO ALEXANDRE ESTRELA, MAYCO ALEXANDRE GOMES, HORLEY FERNANDES, GERALDO MARCOLINO DA SILVA, MARCOS JOSÉ DE OLIVEIRA, CARLOS RENATO ANDRADE GONÇALVES e JONAS BRÁULIO DE CARVALHO ROLIM, pela suposta prática das condutas típicas previstas no art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013, art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93, arts. 296, inciso II, 297, 299 e 347, todos do Código Penal, art. 1º, caput e §1º, inciso II, da Lei n.º 9.613/98 e art. 12 da Lei n.º 10.826/03.

Em síntese, segundo o MPF, nos autos do PIC n.º 1.24.002.000250/2014-46 e IPL n.º 048/2014, há elementos probatórios que indicam a existência de uma organização criminosa do colarinho branco com o objetivo reiterado de fraudar licitações públicas em diversos municípios da Paraíba, Ceará, e Rio Grande do Norte, mascarar desvios de recursos públicos em favor próprio e de terceiros, lavar dinheiro público desviado e fraudar os fiscos federal e estadual.

Aduz que a organização se utilizava da participação de “empresa fantasma” em diversas licitações para que formulasse proposta fictícia e, ao sagrar-se vencedora, o adimplemento contratual seria feito por outra empresa, que deteria a estrutura operacional necessária (empregados, maquinário, veículos, etc.), ou pelos servidores do próprio ente público licitante.

O MPF aduz que há fortes indícios de que as pessoas jurídicas SERVCON e TEC NOVA são “empresas fantasmas”, pois: a) os dados do Sistema SAGRES do TCE/PB apontam a participação da Construtora Servcon em 142 licitações, movimentando, em cinco anos, o valor de R$14.233.923,45, e a participação da empresa Tec Nova em 35 licitações, movimentando, em dois anos, o valor de R$ 2.777.655,37, sendo tais cifras somente de pagamentos de órgãos públicos; b) referidas empresas não registraram qualquer empregado durante todos os anos de funcionamento; c) nos anos de 2009 a 2012 houve informação à Receita Federal de que estavam inativas; d) análise das notas fiscais eletrônicas demonstram que não houve a aquisição de insumos em montante suficiente para execução das obras licitadas; e) as aludidas empresas não prestam nenhum serviço a particulares, apenas para prefeituras do sertão nordestino; f) quinze saques efetuados da conta das empresas na boca do caixa no montante aproximado de três milhões de reais.

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De acordo com a denúncia, a investigação revelou que, em cada município, existem agentes executores, ligados à administração municipal e, portanto, impedidos de licitar regularmente, os quais realizam as obras, pagando uma comissão pelo “aluguel” das empresas de propriedade de Francisco Justino e auferindo lucros diretos e indiretos.

Com base em indícios de prática de diversos ilícitos em procedimentos licitatórios nos Municípios de Joca Claudino/PB, Cajazeiras/PB, Santa Helena/PB e Uiraúna/PB, para realização das obras a seguir descritas, a acusação, sinteticamente, delimitou-se:

Havia uma organização criminosa supramunicipal atuante nos referidos Municípios para vencer licitações públicas, denunciando Francisco Justino do Nascimento (Justino), Elaine da Silva Alexandre (Laninha), Fernando Alexandre Estrela, Mayco Alexandre Gomes, Horley Fernandes e Geraldo Marcolino da Silva;

Oito licitações públicas teriam sido fraudadas em razão da participação em conjunto da Servcon e Tec Nova: a) Concorrência n.º 01/2014 de Uiraúna/PB (na forma tentada); b) Convite n.º 06/2013 de Santa Helena/PB (na modalidade consumada); c) Tomada de Preços n.º 01/2014 de Joca Claudino (na forma tentada); d) Convite n.º 14/2012 de Cajazeiras (na modalidade consumada); e) Convite n.º 01/2013 de Cajazeiras (na modalidade consumada); f) Pregão n.º 01/2013 de Joca Claudino (na modalidade consumada; g) Convite n.º 07/2013 de Cajazeiras (na forma tentada); e h) Concorrência n.º 01/2014 de Joca Claudino (na forma tentada).

Francisco Justino do Nascimento e Elaine Alexandre do Nascimento teriam cometido o crime de falsidade ideológica porquanto mantiveram cada um dos acusados dois registros de CPF perante a Receita Federal do Brasil.

Em diligência realizada na residência de Francisco Justino e Elaine Alexandre no dia 26.06.2015, foram apreendidos envelopes contendo documentos indicativos da participação da empresa Tec Nova na Concorrência Pública n.º 00002/2015 do Município de Cajazeiras/PB, cuja sessão para recebimento ocorreria às 8h30min daquele mesmo dia. Dentro dos envelopes, foram encontrados documentos autenticados por falso sinal público do tabelião, pois os selos apostos não teriam sido regularmente emitidos pelo Cartório Nobre Coelho. Na sede da empresa Tec Nova, foram encontrados 33 (tinta e três) selos de autenticação do referido Cartório para documentos assinados em branco e sem data, o que configuraria o crime de falsificação do selo ou sinal público.

Ainda por ocasião da busca e apreensão, foi localizado no envelope contendo os documentos para habilitação na Concorrência n.º 00002/2015 demonstrativo de resultado do exercício 2014 da empresa Tec Nova, elaborado por Carlos Renato Andrade e assinado por Elaine Alexandre do Nascimento, constando como receita de prestação de serviços quantia muito inferior àquela encontrada no Sagres/TCE-PB, fato que se enquadraria no delito de falsidade ideológica.

Também foi apreendida uma procuração particular em que Laninha outorga poderes de representação a Francisco Justino em relação à Concorrência Pública n.º 00002/2015. Contudo, referida procuração foi selada com um Selo de Reconhecimento de Autenticidade de Assinatura emitido pelo Cartório Ramos Formiga datado do dia 26.06.2015, ou seja, supostamente feita no mesmo dia em que a Polícia Federal, às 6h,

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cumpriu os mandados da Operação Andaime, o que revelaria a prática do crime de falsificação de selo ou sinal público.

Narra o MPF que foram apreendidos, tanto na residência do casal Justino e Laninha quanto na sede da empresa Tec Nova selos de autenticação do Cartório Nobre Coelho para documentos assinados em branco e sem data, o que possibilitava a autenticação de quaisquer cópias como sendo fiéis reproduções dos originais. Os selos adulterados foram utilizados nos seguintes documentos: cópia de Certidão de Acervo Técnico – CREA/PB, cópia de declaração de capacidade técnica – Prefeitura Municipal de Bernardino Batista/PB, cópia de Certidão Negativa de Débitos e Certificado de Inscrição de Fornecedores e Prestadores de Serviços, ambos do Município de Cachoeira dos Índios e cópia de Certidão Simplificada da Junta Comercial do Estado da Paraíba.

Na sede da Tec Nova, foram encontrados dois carimbos utilizados em autenticações e reconhecimentos de firmas por cartórios, que propiciam a falsificação do serviço cartorário.

Francisco Justino e Elaine Alexandre teriam, ainda, falsificado, em parte, documento público do CREA-PB, uma vez que foi encontrada e apreendida cópia colorida de uma folha de papel timbrado do referido conselho profissional, em branco e contendo apenas carimbos e assinaturas das funcionárias Ricanda Costa de Almeida e Maria Inez Damaceno Mafra Caju.

Ainda na mesma diligência, foram apreendidos Livros Diários constando demonstrações contábeis inverídicas de encerramento de exercício, o que configuraria o crime de falsidade ideológica. Da Servcon (exercício 2014) foi assinado por Francisco Justino e pelo contador Marcos José de Oliveira, e da TecNova (exercício 2012), subscrito por Fernando Alexandre e pelo mesmo contador Marcos José de Oliveira.

O órgão ministerial imputa a Justino e Laninha a ocultação dos seguintes bens e valores considerados produtos dos crimes acima narrados: a) imóvel na Rua São Sebastião, 118, Cajazeiras/PB; b) imóveis na Rua Santo Antônio, s/n.º e n.º 104, Cajazerias/PB; c) imóvel na Rua São Sebastião, n.º 82, Cajazeiras/PB; e d) dinheiro em espécie no valor de R$ 174.905,00.

Em cumprimento de mandado judicial de busca e apreensão, foi apreendida, no dia 26.06.2015, na residência de Horley Fernandes, um revólver calibre 32, Marca GH, além de 10 cartuchos de munição intacta, com a confissão do acusado em depoimento posterior.

Enfim, Horley Fernandes e Jonas Bráulio de Carvalho Rolim teriam praticado fraude processual ao apresentarem pedido de prisão domiciliar, em conversão à prisão temporária decretada em face de Horley, por alegarem que o acusado teria sido internado no dia anterior à sua prisão em unidade de terapia intensiva do Hospital Regional de Cajazeiras apesar de os documentos por eles apresentados não indicarem tal ocorrência, o que foi confirmado posteriormente pelo médico que o atendeu.

Ao fim, entende o órgão ministerial ter havido a prática de diversos ilícitos imputados aos acusados na seguinte forma:

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1. Francisco Justino do Nascimento: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013 (uma vez); art. 90 da Lei n.º 8.666/93 (oito vezes, sendo quatro tentadas); art. 299 do CP (duas vezes); art. 296, II, do CP (quatro vezes); art. 297 do CP (duas vezes); art. 1º, caput, da Lei n.º 9.613/98 (três vezes), art. 1º, §1º, II, da Lei n.º 9.613/98 (uma vez);

2. Elaine da Silva Alexandre: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013 (uma vez); art. 299 do CP (duas vezes); art. 296, II, do CP (quatro vezes); art. 297 do CP (duas vezes); art. 1º, caput, da Lei n.º 9.613/98 (três vezes), art. 1º, §1º, II, da Lei n.º 9.613/98 (uma vez);

3. Fernando Alexandre Estrela: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013 (uma vez); art. 90 da Lei n.º 8.666/93 (três vezes, sendo duas tentadas); art. 299 do CP (uma vez);

4. Mayco Alexandre Gomes: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013 (uma vez); art. 90 da Lei n.º 8.666/93 (cinco vezes, sendo duas tentadas);

5. Horley Fernandes: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013 (uma vez); art. 90 da Lei n.º 8.666/93 (oito vezes, sendo quatro tentadas); art. 12 da Lei n.º 10.826/03 (uma vez); art. 347 do CP (uma vez);

6. Geraldo Marcolino da Silva: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013 (uma vez); art. 90 da Lei n.º 8.666/93 (oito vezes, sendo quatro tentadas);

7. Marcos José de Oliveira; art. 299 do CP (duas vezes);

8. Carlos Renato Andrade Gonçalves: art. 299 do CP (uma vez);

9. Jonas Bráulio de Carvalho Rolim: art. 347 do CP (uma vez).

A denúncia foi recebida em 28.07.2015 (id. n.º 4058202.2705590).

Decisão determinando o levantamento do sigilo processual (id. n.º 4058202.2705596).

Em Acórdão proferido no HC nº 6018-PB pelo Egrégio TRF5, em benefício de Jonas Bráulio de Carvalho Rolim, foi concedida a ordem pleiteada – trancamento do presente feito em relação ao ora acusado -, “haja vista a atipicidade da conduta descrita pelo órgão ministerial, não estando configurado, na hipótese, o delito de fraude processual” (id. n.º 4058202.2705600 - págs. 46/53).

Devidamente citados, os acusados ofereceram respostas às acusações, aduzindo, em apertada síntese, o que se segue:

Marcos José de Oliveira suscitou, preliminarmente, a inépcia da denúncia pela ausência de justa causa ante a inexistência, em tese, do crime a ele imputado, pois somente fez inserir as informações de acordo com os documentos fornecidos pelas empresas. Arrolou uma testemunha (id. n.º 4058202.2705601).

Carlos Renato Andrade Gonçalves alegou, em preliminar, a inépcia da inicial sob o argumento de que ela se apresenta de forma lacônica, obscura e imprecisa quanto à sua conduta. Aduziu, ainda, a ausência de justa causa para o prosseguimento da ação

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penal. No mérito, pugna pela sua absolvição ante a ausência de ato ilícito praticado, uma vez que apenas inseriu as informações lhe repassadas por Francisco Justino, não tendo qualquer ligação com a empresa e sem conhecimento acerca dos dados. Apresentou rol com duas testemunhas (id. n.º 4058202.2705602).

Horley Fernandes argumentou, em preliminar, a inépcia da inicial argumentando que ela se apresenta de forma obscura e imprecisa quanto à individualização de sua conduta, estando ausentes elementos que o relacionam aos fatos delituosos. Afirmou, ainda, a ausência de justa causa para prosseguimento da ação penal e, no mérito, pugnou pela sua absolvição, pois é sócio minoritário da empresa Tec Nova, meramente figurativo, não tendo qualquer participação nas atividades da empresa. Indicou rol com oito testemunhas (id. n.º 4058202.2705605 e 4058202.2705606 – págs. 1/21).

Geraldo Marcolino da Silva suscitou, em sede preliminar, a ausência de condições para o exercício da ação penal, com relação ao crime capitulado no art. 2º da Lei n.º 12.850/2013, em face da atipicidade dos fatos praticados anteriormente à vigência da referida lei, porquanto os imputados teriam ocorrido entre 2012 e 2014, anteriores, pois, à vigência do mencionado tipo penal. Argumentou, ainda, a inépcia da inicial e, no mérito, pleiteou sua absolvição, porque prestava serviço a Justino como engenheiro emitindo ARTs, mas que recebia R$ 1.000,00 mensais e ficou como sócio figurativo. Por fim, requereu a realização de perícia grafotécnica nos documentos dos certames licitatórios que compõem cartas convites, porque atribuiu a Justino ter aproveitado seus dados e documentos para utilizá-los nos certames. Não arrolou testemunhas (id. n.º 4058202.2705606 – págs. 23/39).

Elaine Alexandre do Nascimento assegurou, no mérito, a inexistência dos delitos a ela imputados, em especial a ausência de organização criminosa, porquanto não se configurou uma sociedade estável ou permanente com a finalidade de praticarem um fim comum. Pleiteou sua absolvição, argumentando não ter assinado documentos falsos e a ausência do crime de falsidade ideológica. Por fim, requereu a realização de exame grafotécnico no documento citado na fl. 38 (numeração original dos autos físicos) da denúncia, perícia técnica nos 33 selos de autenticação do Serviço Notarial Nobre Coelho, perícia técnica na procuração pública expedida com data de 26.06.2015 pelo Cartório Ramos Formiga, além de expedição de ofícios ao Cartório Antônio Holanda, solicitando certidão sobre imóveis, à 2ª Vara da Comarca de São João do Rio do Peixe/PB, solicitando certidão circunstanciada da situação de processo em curso naquele uízo e ao Banco Itaú, requerendo informações sobre conta corrente encerrada. Arrolou três testemunhas (id. n.º 4058202.2705608, 4058202.2705610 e 4058202.2705611 – págs. 1/2).

Francisco Justino do Nascimento suscitou, preliminarmente, a inépcia da inicial, sob o argumento de esta se apresentar de forma lacônica e imprecisa quanto à individualização de sua conduta, bem como a ausência de justa causa para o prosseguimento da ação penal. No mérito, pugna pela sua absolvição. Indicou rol com quatro testemunhas (id. n.º 4058202.27058612).

Fernando Alexandre Estrela, igualmente, suscitou, preliminarmente, a inépcia da inicial, sob o argumento de esta se apresentar de forma lacônica e imprecisa quanto à individualização de sua conduta, bem como a ausência de justa causa para o

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prosseguimento da ação penal. No mérito, pugna pela sua absolvição, uma vez que era sócio meramente figurativo e não tinha qualquer poder de decisão na empresa. Apresentou rol com quatro testemunhas (id. n.º 4058202.27058614).

Mayco Alexandre Gomes também formulou preliminar de inépcia da inicial, argumentando que esta foi apresentada de forma obscura e imprecisa quanto à individualização da conduta a ele imputada, como também alegou ausência de justa causa para o prosseguimento da ação penal. Requereu, no mérito, sua absolvição, uma vez que era sócio meramente figurativo e não tinha qualquer poder de decisão na empresa. Arrolou quatro testemunhas (id. n.º 4058202.27058616).

Decisão afastando as preliminares de inépcia da inicial, ausência das condições para o exercício da ação penal e ausência de justa causa e indeferindo os requerimentos de realização de perícia técnica em documentos e a expedição de ofícios, realizados pelas defesas de Geraldo Marcolino e Elaine Alexandre. Considerando estar a inicial lastreada em razoável suporte probatório, ratificou este Juízo a decisão de recebimento da denúncia, deixando de absolver sumariamente os réus e determinando o regular prosseguimento do feito (id. n.º 4058202.2705618 – págs. 2/14).

Procedeu-se à colheita de prova oral, com a inquirição das testemunhas, bem como interrogatório dos réus (id. n.º 4058202.2705626 – págs. 4/25).

Na fase do art. 402 do CPP, o MPF não requereu diligências.

A defesa de Elaine Alexandre requereu realização de perícia técnica nos selos apreendidos com exame grafotécnico nas assinaturas neles constantes, bem como na procuração pública expedida em 26.06.2015 (id. n.º 4058202.2705629 – págs. 1/2).

Horley Fernandes solicitou a realização de perícia grafotécnica em todos os documentos que constam a assinatura do acusado nas licitações relacionadas pelo MPF como fraudadas, bem como em documentos que faz referência (id. n.º 4058202.2705629 – págs. 8/11).

Geraldo Marcolino ratificou as diligências requeridas em sua resposta à acusação (id. n.º 4058202.2705629 - págs. 16/17).

Os demais acusados nada requereram.

Intimado, o MPF pugnou pelo indeferimento dos pedidos de diligências formulados pelos acusados ao argumento de que seriam contraditórios às delações prestadas, solicitando a juntada de cópia integral das colaborações premiadas firmadas com Elaine Silva Alexandre, Fernando Alexandre Estrela, Mayco Alexandre Gomes e Geraldo Marcolino da Silva, como também de cópia do vídeo que representa a colaboração firmada por Justino (id. n.º 4058202.2705631).

Decisão deste Juízo determinando a juntada das colaborações (processos 0000861-17.2015.4.05.8202, 0000863-84.2015.4.05.8202 e 0000557-18.2015.4.05.8202), firmadas posteriormente à apresentação da denúncia. Em relação aos requerimentos da parte ré, foi determinada a intimação prévia dos acusados, visando ao exercício do contraditório em relação aos documentos juntados, para, somente após, serem analisados (id. n.º 4058202.2705632 – págs. 1/3).

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A defesa de Horley Fernandes peticionou informando persistir interesse nas diligências pleiteadas (id. n.º 4058202.2705632 – pág. 10).

Juntado aos autos cópia de decisão proferida pelo TRF da 5ª Região, nos autos do Mandado de Segurança n.º 0801552-29.2016.4.05.0000, impetrado por Afrânio Gondim Júnior contra ato deste Juízo que deferiu a alienação antecipada dos veículos apreendidos pela Polícia Federal no bojo do IPL n.º 0048/2004, denegando a ordem pretendida (id. n.º 4058202.2705633).

Juntada de Laudo encaminhado pela Polícia Federal, oportunidade em que foi solicitada autorização para destinação das armas e munições apreendidas ao Exército Brasileiro (id. n.º 4058202.2705634).

Petição apresentada pelo Banco Toyota do Brasil S.A., na qualidade de terceiro prejudicado, por meio da qual requereu a juntada de documentos (id. n.º 4058202.2705635).

Este Juízo decidiu da seguinte forma quanto aos pedidos de diligência complementares dos acusados (id. n.º 4058202.2705636):

“Diante o exposto:

a) DEFIRO a realização das seguintes provas requeridas por Elaine Alexandre do Nascimento:

a.1. Perícia técnica nos selos apreendidos na residência de Francisco Justino e Elaine (item 04 do Relatório de folhas 14/69, Volume 01, Apenso I – Equipe 01), e na sede da empresa TECNOVA (itens 09 e 10 do Relatório de folhas 121/143, Volume 01, Apenso I – Equipe 04), para que se certifique a autenticidade e originalidade dos mesmos;

a.2. Exame grafotécnico nas assinaturas constantes nos referidos selos, para averiguar se foram feitas, ou não, pela oficiala Verônica Dantas Macambira e pela escrevente Christiane Morais de Souza;

a.3. Perícia técnica no selo constante na procuração particular cuja cópia se encontra na folha 26 do Volume 01, Apenso I, para que se certifique a autenticidade e a originalidade do mesmo;

a.4. Exame grafotécnico na assinatura constante no referido selo, para averiguar se partiu do punho do Sr. Enilson Ricardo Ramos Formiga.

b) INDEFIRO os pedidos de diligências complementares requeridas por Horley Fernandes;

c) INDEFIRO, por ora, o pedido de diligências complementares requeridas por Geraldo Marcolino da Silva, por se tratar de pleito genérico.

d) Intime-se o MPF para se manifestar acerca dos documentos acostados às folhas 649/654, 656/665 e 667/696.”

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Petição do MPF requerendo que cópia do Acórdão juntado a estes autos, relativo ao Mandado de Segurança tombado sob o n.º 0801552-29.2016.4.05.0000, seja juntada aos autos do processo n.º 0000278-66.2014.4.05.8202. Na oportunidade, o Parquet Federal ainda se manifestou favoravelmente ao pleito da autoridade policial visando ao encaminhamento da arma e munições apreendidos em poder do acusado Horley Fernandes ao Comando do Exército Brasileiro e pelo indeferimento do pedido de extração de cópia dos autos pelo Banco Toyota do Brasil S.A. (id. n.º 4058202.2705637).

Nova decisão deste Juízo, oportunidade em que ficou assim decidido (id. n.º 4058202.2705640 – págs. 1/4):

“Diante do exposto:

a) DEFIRO o pleito do órgão ministerial para que sejam juntadas cópias do acórdão e da certidão do seu trânsito em julgado de folhas 649/654-v aos autos de n.º 0000278-66.2014.4.05.8202;

b) AUTORIZO o encaminhamento das armas e munições apreendidas ao Exército Brasileiro, nos termos do art. 25 da Lei n.º 10.826/03, conforme requerido pela Polícia Federal à fl. 656, após prévia intimação do réu Horley Fernandes para que se manifeste, no prazo de 5 (cinco) dias, acerca da referida destinação;

c) INDEFIRO o pedido de extração de cópias dos autos apresentado pelo Banco Toyota Brasil S/A à fl. 667;

d) DETERMINO a intimação da ré Elaine Alexandre do Nascimento para que, no prazo de 30 (trinta) dias, apresente, diretamente à Polícia Federal, o material solicitado pelo perito criminal na Informação Técnica n.º 071/2017-SETEC/SR/PF/PB (fls. 720/725), nos exatos termos lá recomendados, especialmente os itens “5” e “10”, devendo comunicar a realização de tal providência nestes autos, no prazo de 05 (cinco) dias após o cumprimento da apresentação do material;

e) para viabilizar a diligência do item “d”, DETERMINO que sejam, novamente, encaminhados à Polícia Federal os documentos contidos no envelope de fl. 766.

Decorrido o prazo anteriormente fixado, sem que a ré Elaine apresente o material pertinente, deve o órgão policial devolver os documentos supracitados, independentemente de pronunciamento deste Juízo.

f) DEFIRO EM PARTE o pedido de habilitação de fls. 768/771, feito por Wendell Alves Dantas, tão somente para que tenha acesso ao conteúdo da colaboração premiada firmada entre o MPF e Francisco Justino do Nascimento, contida nas mídias de fls. 30, 31, 32, 33 e 36 do processo n.º 0000557-18.2015.4.05.8202, apenso a este feito.”

Certidão indicando a existência de valor – R$ 11.000,00 - em conta judicial deste Juízo decorrente da alienação de uma Motocicleta Honda NX 400I Falcon, nos autos 0000014-78.2016.4.05.8202 (Alienação de Bens do Acusado) (id. n.º 4058202.4030117).

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Certidão indicando a existência de valor – R$ 16.000,00 - em conta judicial (CEF 055800586400700 6) deste Juízo decorrente da alienação de um veículo Fiat Uno Sporting, nos autos 0000359-44.2016.4.05.8202 (Alienação de Bens do Acusado) (id. n.º 4058202.4132519).

Juntada aos autos do Laudo de Perícia Criminal Federal n.º 548/2019 – SETEC/SR/PF/PB (id. n.º 4058202.4228236 – págs. 114/142).

Nas alegações finais, o MPF requereu a absolvição de Francisco Justino do Nascimento e Elaine Alexandre do Nascimento em relação à prática do delito tipificado no art. 296, II, do Código Penal, em relação à adulteração do sinal público do tabelião do Cartório Ramos Formiga; assim como em relação à segunda imputação referente à adulteração de selos do Cartório Nobre Coelho. Pugnou, ainda, pela absolvição de Marcos José de Oliveira e Carlos Renato Andrade em relação a todas as imputações do delito tipificado no art. 299 do Código Penal. Ademais, aduzindo que a materialidade delitiva e a autoria dos acusados restaram amplamente comprovadas e que não houve nada nos interrogatórios ou testemunhos que rebatessem todo o arcabouço acusatório produzido, pugnou pela condenação de:

1. Francisco Justino do Nascimento às penas dos seguintes delitos: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013 (uma vez); art. 90 da Lei n.º 8.666/93 (oito vezes, sendo quatro tentadas); art. 299 do CP (duas vezes); art. 296, II, do CP (duas vezes); art. 297 do CP (duas vezes); art. 1º, caput, da Lei n.º 9.613/98 (três vezes), art. 1º, §1º, II, da Lei n.º 9.613/98 (uma vez);

2. Elaine da Silva Alexandre às penas dos seguintes delitos: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013 (uma vez); art. 299 do CP (duas vezes); art. 296, II, do CP (duas vezes); art. 297 do CP (duas vezes); art. 1º, caput, da Lei n.º 9.613/98 (três vezes), art. 1º, §1º, II, da Lei n.º 9.613/98 (uma vez);

3. Fernando Alexandre Estrela às penas dos seguintes delitos: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013 (uma vez); art. 90 da Lei n.º 8.666/93 (três vezes, sendo duas tentadas); art. 299 do CP (uma vez);

4. Mayco Alexandre Gomes às penas dos seguintes delitos: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013 (uma vez); art. 90 da Lei n.º 8.666/93 (cinco vezes, sendo duas tentadas);

5. Horley Fernandes às penas dos seguintes delitos: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013 (uma vez); art. 90 da Lei n.º 8.666/93 (oito vezes, sendo quatro tentadas); art. 12 da Lei n.º 10.826/03 (uma vez); art. 347 do CP (uma vez);

6. Geraldo Marcolino da Silva às penas dos seguintes delitos: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013 (uma vez); art. 90 da Lei n.º 8.666/93 (oito vezes, sendo quatro tentadas).

Enfim, o MPF pugnou que, “em caso de condenação dos réus Francisco Justino do Nascimento, Mayco Alexandre Gomes e Fernando Alexandre Estrela, que lhe sejam concedidos os benefícios previstos nos acordos de colaboração premiada celebrados entre os réus e o MPF (Processos nº 0000557-18.2015.4.05.8202 e 0000861-17.2015.4.05.8202); devendo ainda, a ré Elaine Alexandre do Nascimento, em caso de condenação, cumprir sua pena

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em regime aberto, tendo em vista cláusula constante no acordo de colaboração firmado entre o MPF e Francisco Justino do Nascimento” (id. n.º 4058202.4332301).

O réu Francisco Justino do Nascimento ofertou alegações finais, pugnando sua absolvição em relação à acusação de prática dos delitos capitulados nos artigos 296, inciso II, 297 e 299 do CP, porquanto não teriam ficado demonstradas a materialidade e autoria. Ademais, rogou pela concessão dos benefícios previstos na Cláusula Quinta da colaboração premiada firmada (processo n.º 0000557-18.2015.4.05.8202).

O acusado Carlos Renato Andrade Gonçalves, em suas razões finais, asseverando que inexistem provas de que o acusado participou do delito de falsificação ideológica, escorado nas alegações finais do MPF, pugnou pela sua absolvição (id. n.º 4058202.4541812).

Por sua vez, o denunciado Horley Fernandes apresentou alegações finais, suscitando, preliminarmente, pelo reconhecimento da nulidade do processo em razão do indeferimento de seu requerimento de perícia grafotécnica visando identificar em quais documentos relativos às licitações referidas pelo MPF constam sua efetiva assinatura e os em quais figuram o carimbo indicado por Justino.

No mérito, Horley indicou que detinha apenas 1% das quotas sociais da empresa Tec Nova e não se encontrava na direção da empresa, atuando no setor técnico em troca de R$1.000,00 mensais. Asseverando, assim, inexistirem provas da ocorrência do crime de fraude licitatória, descabida seria também a acusação de que faria parte de organização criminosa. Quanto à imputação de fraude processual, afirma que não ficou caracterizado o dolo específico na sua atuação, considerando que o pedido em seu favor – questionado pelo MPF – foi formulado por advogado habilitado nos autos, cuja atuação foi considerada indiferente penal pelo TRF-5. Requereu, quanto a estes crimes, sua absolvição.

Enfim, em relação à acusação de posse ilegal de arma de fogo, Horley confessou a prática do crime, requerendo a aplicação da atenuante de confissão (id. n.º 4058202.4541818).

Em suas alegações finais, a ré Elaine Alexandre do Nascimento refutou genericamente sua participação nos delitos a ela imputados, requerendo, por conseguinte sua absolvição. Pleiteou, enfim, a concessão do benefício previsto em cláusula constante no acordo de colaboração firmado entre o MPF e Francisco Justino, notadamente para que, na eventual imposição de pena privativa de liberdade, independentemente do patamar alcançado, seja fixado o regime inicial aberto (id. n.º 4058202.4558644).

Mayco Alexandre Gomes apresentou suas alegações finais assentando que não tinha poder de decisão na empresa Tec Nova, apesar de fazer parte do quadro societário, e que não há provas de sua autoria nos delitos a ele imputados, porquanto não existiu uma única citação a seu nome nem se verificou qualquer interceptação telefônica em que os interlocutores tenham mencionado seu nome. Nesses termos, requereu sua absolvição (id. n.º 4058202.4641987).

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O denunciado Marcos José de Oliveira ofertou razões finais, asseverando não ter qualquer participação no fato criminoso ora apurado e requerendo, ao fim, sua absolvição (id. n.º 4058202.4648692).

Em alegações finais, Fernando Alexandre Estrela indicou que não ficou demonstrada sua participação nas fraudes à licitação. Ainda, argumentou que, se tais crimes tiverem ocorrido antes da vigência da lei que tipificou o crime de organização criminosa, deve ser absolvido por força do princípio da irretroatividade da lei penal. Por fim, pondera que o crime tipificado no art. 299 do CP deve ser absorvido (Princípio da Consunção) pelo art. 90 da Lei n.º 8.666/93, considerando que o crime de falsidade teria sido realizado para a concretização do suposto delito-fim. Ainda, requereu que, em caso de condenação, sejam observados os benefícios previstos nos acordos de colaboração premiada celebrados entre os réus e o MPF (id. n.º 4058202.4720351).

Considerando que as defensoras do acusado Geraldo Marcolino da Silva, Dr.ª Fernanda Gonçalves Diniz Frota e Dr.ª Silvia Paula Alencar Diniz, foram intimadas do despacho de id. 4058202.4564593 para se justificar da inércia após serem intimadas para apresentar alegações finais em favor do supracitado acusado, no entanto, mais uma vez permaneceram inertes, este Juízo fixou pena de multa, solidariamente, em desfavor das advogadas, no valor de 10 (dez) salários mínimos, equivalente a R$9.980,00 (id. n.º 4058202.4723568).

Em suas alegações finais, o réu Geraldo Marcolino da Silva afirmou que, embora sócio minoritário da SERVCON, nunca participou ativamente da referida sociedade e que apenas assinava alguns documentos na qualidade de engenheiro, recebendo em troca a quantia de R$1.000,00 a título de pró-labore, pugnando pela sua absolvição ou, caso contrário, aceitação dos termos do Acordo de Colaboração Premiada constantes do Processo n.º 0000863-84.2015.4.05.8202 (id. n.º 4058202.4830238).

Ao argumento de que não possuem desejo de abandonar a causa ou deixarem de representar juridicamente o acusado Geraldo Marcolino da Silva e que apresentaram as alegações finais, as advogadas Dr.ª Fernanda Gonçalves Diniz Frota e Dr.ª Silvia Paula Alencar Diniz requereram a reconsideração do despacho de id. n.º 4058202.4723568, que fixou em desfavor de ambas multa na quantia de dez salários mínimos (id. n.º 4058202.4830349).

Foi determinada a intimação dos acusados para apresentação de suas alegações finais observando-se unicamente a sequência diferenciada (entendimento do recente julgado da 2ª Turma do STF nos autos do HC 157627-PR) em relação ao colaborador Francisco Justino do Nascimento, não obstante a presença de outros delatores na hodierna Ação Penal – Geraldo Marcolino da Silva, Elaine da Silva Alexandre, Mayco Alexandre Gomes e Fernando Alexandre Estrela (id. n.º 4058202.4338924).

Assim, considerando que, a princípio, as alegações foram apresentadas sem observância da sequência estabelecida no referido HC 157627-PR, este Juízo determinou nova intimação dos réus não colaboradores para ratificarem ou retificarem suas razões finais já apresentadas (id. n.º 4058202.5245851).

Devidamente intimados, à exceção da manifestação do réu Marcos José, ratificando as alegações finais já colacionadas (id. n.º 4058202.5274754), os demais

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acusados quedaram-se inertes, razão pela qual entendo válidas as alegações finais na sequência apresentada, conforme previamente ressaltado.

Em seguida, vieram-me os autos conclusos para sentença.

É o relatório.

2. FUNDAMENTAÇÃO

2.1. Preliminarmente

2.1.1. Nulidade em razão do cerceamento de defesa

A defesa do acusado Horley Fernandes suscitou a nulidade processual em razão do indeferimento de seu requerimento de perícia grafotécnica visando identificar em quais documentos relativos às licitações referidas pelo MPF constam sua efetiva assinatura e nos quais figuram o carimbo indicado por Francisco Justino durante seu interrogatório.

Indicou a defesa que, apenas por ocasião do interrogatório de Francisco Justino, o qual afirmou ter utilizado um “carimbo com assinatura” do acusado Horley Fernandes em algumas licitações, teve conhecimento desse fato. Além disso, asseverou que a autoridade policial identificou a existência de alguns documentos em que se questiona se de fato foram assinados por Horley Fernandes.

Na decisão de id. n.º id. n.º 4058202.2705636, este Juízo já enfrentou referido pedido, indeferindo-o ao argumento de que “na fase do art. 402 do CPP, as diligências só devem ser deferidas de circunstância ou fatos surgidos na instrução. Assim, é certo que a defesa teve a oportunidade de questionar a autenticidade das assinaturas em questão desde o momento da resposta à acusação, tendo em vista que os documentos em que constam as assinaturas foram acostados aos autos em instante anterior a esse, e mesmo assim não o fez”.

Não há que se falar em cerceamento de defesa como consequência do indeferimento da prova requerida, principalmente porque não demonstrada qualquer possível arbitrariedade praticada por este julgador. Se a parte considerar a realização de referida prova indispensável, a contrario sensu do que decidido pelo Juízo, não se apresenta suficiente para caracterizar ofensa a seu direito de defesa (HC - HABEAS CORPUS - 419745 2017.02.60929-1, SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, STJ - SEXTA TURMA, DJE DATA:26/03/2019).

Nesse sentido, não reconheço a nulidade processual aventada pelo réu.

2.1.2. Do pedido de reconsideração da aplicação de multa com base no art. 265 do CPP às advogadas Dr.ª Fernanda Gonçalves Diniz Frota e Dr.ª Silvia Paula Alencar Diniz

As advogadas Dr.ª Fernanda Gonçalves Diniz Frota e Dr.ª Silvia Paula Alencar Diniz pugnaram pela reconsideração da multa arbitrada com base no art. 265 do CPP sob o argumento de que jamais tiveram a intenção de causar qualquer prejuízo ao acusado Geraldo Marcolino, inclusive por fazer parte da família, e que, por residirem e

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trabalharem em Fortaleza/CE, não têm o hábito de consultar o PJe da Justiça Federal da Paraíba.

Compulsando os autos, observo que as advogadas foram intimadas para apresentarem as alegações finais em 06.10.2019 (id. 4058202.4514176) e se quedaram inertes. Novamente intimadas, sob pena de aplicação de multa, em 26.10.2019 (id. 4058202.4641287), estas se quedaram novamente inertes. Não havendo alternativa, este Juízo arbitrou multa, em 12.11.2019, por meio de decisão de id. 4058202.4723568, já que, após duas intimações, as causídicas ainda se mostraram inertes.

A alegação de que não possuem o hábito de consultar o PJe da Justiça Federal da Paraíba reforçam os fundamentos utilizado na fixação da pena de multa, principalmente considerando que, como as próprias peticionantes informaram, representam o acusado Geraldo Marcolino em outros sete processos da “Operação Andaime”.

Nesse contexto, não pode ser tolerada a conduta das causídicas que, apesar de habilitadas pelo referido réu em oito processos criminais decorrentes de uma grande operação, ficaram por mais de trinta dias (tempo decorrido entre a primeira intimação e a aplicação da multa) sem sequer acessar o sistema judicial (PJe) em que são processados os referidos feitos.

Assim, apesar de as advogadas terem apresentado alegações finais, observa-se que só o fez após aplicação da multa por este Juízo e sem apresentarem qualquer motivo imperioso para sua inércia. Importa mencionar que o art. 265 do CPP é claro a respeito do abandono da causa pelo patrono, não sendo outro o entendimento dos tribunais:

PENAL. CRIME DE MOEDA FALSA. INTRODUÇÃO EM CIRCULAÇÃO E GUARDA. CONDENAÇÃO. APELAÇÃO. DESPROVIMENTO. I - Apelação interposta à Sentença proferida nos autos de Ação Criminal, que condenou o Réu em face da prática do Crime de Moeda Falsa (artigo 289, parágrafo 1°, do Código Penal), à Pena de 04 (quatro) anos de Reclusão e Multa de 120 (cento e vinte) Dias-Multa, e substituiu a Pena Privativa de Liberdade por duas Restritivas de Direito, consistentes em Prestação de Serviços à Entidade Pública e Prestação Pecuniária, e aplicou Multa de 10 (dez) Salários Mínimos ao Advogado por Abandono de Causa, na forma do artigo 265 do Código de Processo Penal. II – O Abandono de Causa ter-se-ia verificado a partir das Alegações Finais, as quais não foram apresentadas pelo Advogado constituído pelo Réu, apesar de devidamente intimado, o que ensejou a nomeação da Defensoria Pública da União para a Representação da Parte. [...] (ACR 00073575920154058300, Desembargador Federal Alexandre Costa de Luna Freire, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data: 18/07/2017 - Página: 11.)

Portanto, rejeito o pedido de reconsideração das patronas, mantendo a decisão de id. 4058202.4723568 em sua integralidade, ressaltando, por oportuno, que não se trata de imposição que deriva de relação hierárquica - que, efetivamente, inexiste -, mas de reconhecimento de violação ao dever de cooperação e boa-fé processual, com efeitos endoprocessuais, autorizado pelo art. 265, do CPP.

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Ademais, em decorrência do não pagamento da multa aplicada, determino que a PFN Campina Grande seja oficiada a fim de inscrever o débito em dívida ativa.

2.2. Mérito

Antes de iniciar a análise dos tipos penais, é importante tecer algumas considerações acerca da formação da organização criminosa descoberta pela “Operação Andaime”.

De acordo com o PIC no 1.24.002.000250/210-46 e o IPL no 048/2014, foram reunidos elementos probatórios pelo MPF, Polícia Federal e CGU que demonstram a existência de uma organização criminosa capitaneada por Francisco Justino do Nascimento, voltada para a prática de fraudes licitatórias em diversos municípios da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, além do mascaramento de desvios de recursos públicos, bem como lavagem e fraude aos fiscos estadual e federal.

Na Paraíba, o esquema criminoso caracteriza-se por núcleos específicos: a) em Cajazeiras/PB; b) em Cachoeira dos Índios/PB; c) em Bernardino Batista/PB; e d) em Joca Claudino/PB.

A investigação teria se iniciado a partir de representação em que se noticiava a irregularidade do contrato administrativo decorrente de procedimento licitatório conduzido pelo Município de Marizópolis, envolvendo a Servcon Construções Comércio e Serviços Ltda – EPP, relativamente à pavimentação de ruas.

A trama criminosa consistiria na execução da obra por parte de funcionários da Prefeitura de Marizópolis, cabendo à Servcon o fornecimento de notas “frias” com o intuito de conferir aparência de legalidade à fraude no procedimento licitatório e consequente desvio de recursos públicos.

O início das fraudes teria ocorrido com a constituição da sociedade empresária IMCON Limpeza e Construções, cujo quadro societário era composto por Francisco Justino do Nascimento e sua esposa Elaine da Silva Alexandre (Laninha), com os percentuais de 30% (trinta por cento) e 70% (setenta por cento), respectivamente.

A participação societária, ainda segundo o MPF, teria sido repassada para Kennedy Leandro Gomes, José Alves de Oliveira Neto e Francisco Pereira de Sousa, supostos laranjas de Moacir Viana Sobreira, que atuava, em princípio, com o mesmo modus operandi de fornecimento de notas fiscais frias.

Esse mesmo procedimento seria também utilizado, ainda de acordo com o MPF, pela sociedade Servcon Construções Comércio e Serviços LTDA-EPP, cuja composição societária era formada inicialmente entre Francisco Justino e seu genitor, Justino Raimundo do Nascimento, mas, posteriormente em outubro de 2011, assumido Geraldo Marcolino da Silva, com 1% das cotas societárias, enquanto Francisco Justino ficou com 99%.

No mesmo sentido, a Tec Nova Construção Civil LTDA – ME, cuja composição societária era formada por Mayco Alexandre Gomes, com 99% (noventa e nove por

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cento) das quotas, e Maria Alda da Silva Alexandre, com o restante 1% (um por cento) das quotas societárias.

De outro lado, Fernando Alexandre Estrela e Horley Fernandes passaram a deter as quotas de Mayco (filho de Eliana) e Maria Alda (genitora de Elaine Alexandre e avó de Fernando Estrela), respectivamente. Posteriormente, Elaine da Silva Alexandre sucedeu a Fernando Alexandre na participação societária.

A relação de parentesco entre os sócios permitiria concluir, ainda segundo o MPF, que Francisco Justino figurava como o real administrador de ambas as empresas, inclusive pela utilização de recursos dessa sociedade empresária para aquisição de automóvel e movimentação bancária.

Tanto a Servcon quanto a Tec Nova seriam empresas fictícias, servindo ao único propósito de fornecimento de notas fiscais “frias” pela participação irregular em 177 (cento e setenta e sete) licitações, fornecendo documentos para promover a lavagem de R$ 17.000.000,00 (dezessete milhões de reais).

Aduz-se, ainda, que tais empresas não teriam registrado empregados durante os seus anos de funcionamento, não adquiriram insumos compatíveis com as obras pelas quais eram responsáveis nem declararam lucros perante a Receita Federal do Brasil, informando, inclusive, que estariam inativas em alguns exercícios (2009 e 2011, relativamente à Servcon e em 2012, no que se refere à Tec Nova).

Essas empresas foram constituídas para participarem de licitações fraudadas, atribuindo-lhes a execução de obras públicas, para esconderem os reais beneficiários dos recursos públicos – pessoas ligadas à administração municipal, portanto, impedidas de licitar regularmente.

O núcleo criminoso nos municípios contrata os serviços de Francisco Justino que, através de suas empresas “fantasmas”, participa da licitação e fornece toda a documentação legal para dar esteio à despesa pública, sendo Francisco Justino remunerado por esse serviço em valor variável entre 02 a 04% do valor da nota fiscal, conforme interceptação telefônica (fls. 240 e 248 do IPL) e confissão de Afrânio Gondim (fls. 185/190 do IPL). Tais informações também podem ser confirmadas nas delações premiada contidas nas mídias digitais (anexadas a esta ação penal em 17.06.2016, conforme certidão de id. n.º 4058202.2705632 – pág. 5), bem como no interrogatório de Francisco Justino do Nascimento (id. n.º 4058202.2705626 – págs. 4/25 – gravado em mídia digital).

Diante deste cenário, o MPF imputa a prática dos seguintes crimes aos acusados: art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013, art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93, arts. 296, inciso II, 297, 299 e 347, todos do Código Penal, art. 1º, caput e §1º, inciso II, da Lei n.º 9.613/98 e art. 12 da Lei n.º 10.826/03.

Como são múltiplas as acusações, cada tipo penal será examinado em tópico próprio.

2.2.1. Do tipo penal previsto no artigo 2º, caput, da Lei n.o 12.850/2013.

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O MPF imputa a prática do tipo penal descrito no art. 2º, caput, Lei n.º 12.850/2013 aos acusados Francisco Justino do Nascimento, Elaine da Silva Alexandre, Fernando Alexandre Estrela, Mayco Alexandre Gomes, Horley Fernandes e Geraldo Marcolino da Silva.

O tipo penal acima indicado possui a seguinte redação:

Lei 12.850/2013

Art. 2º. Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas.

A Lei 12.850/2013 trouxe o conceito de organização criminosa no art. 1º, §1º:

“Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”.

Analisando o tipo penal1 do artigo 2º, observa-se que “promover/constituir” significa originar, ou seja, criar, dar início, organizar a organização criminosa. “Financiar” que quer dizer custear, prover as despesas, trata-se da conduta do agente que financeiramente sustenta a organização criminosa. E “integrar” que é fazer parte da organização criminosa.

A prática de duas ou mais das condutas descritas não gera concurso de crimes, respondendo o agente por apenas um delito. É crime comum, material e doloso.

Conforme já narrado acima, a organização criminosa se dá quando as pessoas se reúnem, com divisão de tarefas, para realizar a prática de outros delitos, obtendo vantagem de qualquer espécie.

O MPF aduz que, no âmbito da “Operação Andaime”, verificou-se a existência de uma organização criminosa, cuja atuação em diversos municípios paraibanos dava-se da seguinte forma:

a) havia a utilização das duas empresas “fantasmas” (SERVCON e TECNOVA) de propriedade de Francisco Justino do Nascimento em conjunto com outros sócios (Fernando Alexandre Estrela, Geraldo Marcolino da Silva e Horley Fernandes), em que tais empresas venciam as licitações, todavia não executavam as obras, pois os executores eram, em cada município, pessoas ligadas à Administração Municipal e que, dessa feita, eram impedidas legalmente de licitar;

1Habib, Gabriel. Leis penais especiais. Tomo II. 6ª Ed. Salvador: JusPodvm, 2015, p. 32.

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b) em decorrência desse ajuste, Francisco Justino recebia entre 4% e 8% do valor da obra só para emprestar suas empresas para participarem do certame e o restante dos recursos públicos era repassado aos engenheiros para custear a execução direta da obra e obtenção de lucro;

c) as demais empresas participavam das licitações só para darem aparência de legalidade, todavia, faziam parte de um “acordo” em que elas não apresentavam a documentação completa exigida no edital ou apresentavam propostas de preços que impossibilitavam o êxito no certame.

d) os reais agentes executores das obras licitadas foram demandados em ações penais próprias, de acordo com o Município em que atuavam.

Dessa forma, na presente ação, o Ministério Público Federal requereu a condenação dos réus Francisco Justino do Nascimento, Elaine Alexandre do Nascimento, Fernando Alexandre Estrela, Mayco Alexandre Gomes, Horley Fernandes e Geraldo Marcolino da Silva às penas do crime previsto no art. 2º da Lei n.º 12.850/2013, por “promoverem, constituírem, financiarem ou integrarem, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa”.

Assiste razão ao MPF, uma vez que, de fato, os réus integram uma organização criminosa, tendo atuado em conjunto, conforme ficou comprovado ao longo da instrução processual e após as narrativas acerca das materialidades e autorias delitivas de todos os tipos penais demonstrados nos tópicos adiante.

Assim, passa-se, a partir da agora, a demonstrar de forma unificada a materialidade e autoria do crime capitulado no art. 2º da Lei n.º 12.850/2013.

A esse respeito, todavia, de maneira preliminar, cumpre enfrentar o pedido das defesas concernente à alegação de irretroatividade da Lei n.° 12.850/13 a fatos praticados antes da sua vigência.

No caso em apreço, os fatos narrados na denúncia se referem a supostas fraudes licitatórias e apropriações indevidas de recursos públicos que ocorreram nos anos de 2013 (Convite n.º 06/2013 – Santa Helena e Pregão n.º 01/2013 – Joca Claudino) e 2014 (Concorrência 01/2014 – Uiraúna, Tomada de Preços n.º 01/2014 e Concorrência n.º 01/2014 – ambas em Joca Claudino). Além disso, aponta que sobreditos réus associaram-se entre si com o fim de cometer tais crimes, constituindo, portanto, uma organização criminosa.

De início, é necessário registrar que o tipo em comento é de natureza formal, consumando-se com a associação estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas de quatro ou mais pessoas com certa estabilidade para a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a quatro anos, ainda que no futuro nenhum delito seja efetivamente realizado.

Na sua narrativa, os elementos de prova colhidos pela acusação se referem a registros de vínculos entre os corréus Francisco Justino do Nascimento, Elaine Alexandre do Nascimento, Fernando Alexandre Estrela, Mayco Alexandre Gomes, Horley Fernandes e Geraldo Marcolino da Silva, integrantes dos respectivos quadros societários relativos às empresas TECNOVA e SERVCON. Nesse sentido, participaram, em

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conjunto, nas fraudes e irregularidades acometidas às licitações em que referidas empresas figuraram.

Desta maneira, os elementos de prova que subsidiam a acusação abarcam fatos anteriores e posteriores à vigência da Lei n.º 12.850/2013. A esse respeito, cumpre salientar, portanto, que o delito em tela é de natureza permanente, na modalidade integrar, pois a consumação se prolonga no tempo, enquanto perdurar a união pela vontade dos seus integrantes.

Assim sendo, tratando-se de crime permanente, na hipótese de o crime ter início antes do dia 19 de setembro de 2013, mas se prolongar pela vigência da nova Lei, é perfeitamente possível, em tese, a responsabilidade criminal nos termos da Súmula n.º 711 do STF (A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou permanente, se sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência).

2.2.1.1. Da materialidade e autoria delitiva

Como ficou evidenciado, Francisco Justino do Nascimento juntamente com os demais sócios das empresas de fachada, Fernando Alexandre, Mayco Alexandre, Horley Fernandes, Geraldo Marcolino e Elaine da Silva, exerciam claramente o papel na organização criminosa de serem os sujeitos que emprestariam as empresas para simularem a competição entre os licitantes.

Além das fraudes licitatórias denunciadas na presente ação, aduziu o MPF que ainda recai sobre determinados membros da referida Organização Criminosa a prática dos delitos de desvios de recursos públicos em favor próprio e de terceiros, lavagem de dinheiro público e fraude aos fiscos federal e estadual, tudo por meio das empresas SERVCON e TECNOVA.

Francisco Justino, como o decorrer das investigações concluiu, era o operacionalizador de todo o esquema criminoso, porquanto figurava como sócio administrador da SERVCON e, de fato, representava também a empresa TECNOVA nas licitações em que esta figurou. Todo o esquema da organização foi delatado pelo acusado em pormenores nos depoimentos prestados ao MPF nos autos da colaboração premiada em anexo, bem como ratificados em seu interrogatório judicial2, sendo importante destacar alguns trechos:

Interrogatório de Francisco Justino: (...) que era sócio da INCOM e depois teve a SERVCON e administrava a TECNOVA, apesar de não fazer parte do quadro social desta; que na TECNOVA o quadro social foi inicialmente composto por sua sogra e Mayco e depois estes foram substituídos por Fernando e Horley; que Horley era engenheiro e assinava as planilhas; que seu poder era apenas para assinar as planilhas; que os contratos decorrentes das licitações vencidas pela TECNOVA eram assinados por Mayco e depois passou a ser subscrito por Fernando; (...) que o acordo era de 3% do valor licitado, rateado entre os desistentes/perdedores, e que eram escolhidas empresas apenas para dar “cobertura”, falseando a

2 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608 (id. 4058202.2705626).

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regularidade da licitação; que a TECNOVA e SERVCON nem sempre participavam em conjunto; que as pessoas “de dentro” das Prefeituras davam um jeito de inabilitar as empresas que se negassem a participar do acordo; que em todos os Municípios em que participou de licitação, houve manipulação nas licitações; que em boa parte havia participação de prefeitos; (...) que Horley Fernandes foi sócio da TECNOVA e que ele sabia dos acordos e tinha consciência de que participava, assinando planilhas; que Geraldo Marcolino começou como contratado e depois passou a ser sócio, assinando planilhas e recebendo R$1.000,00 mensal, e que tinha consciência da participação em licitações, além de assinar boletins de medição sem fiscalizar e ART sem visitar a obra; que os boletins vinham prontos das prefeituras para os engenheiros assinarem e que, assim que o dinheiro entrava na conta do convênio, já providenciavam os boletins de medição; (...) que Geraldo só assinava as planilhas, que não precisava de autenticação e que não houve fraude de assinatura; (...) que a TECNOVA nunca executou obra com funcionários próprios; que no começo da TECNOVA, os sócios eram a sogra do depoente e Mayco, depois foram substituídos por Horley e Fernando. Enfim, este último saiu, entrando a esposa do interrogado na sociedade, Elaine. Que todos eles tinham conhecimento dos acordos e que viajavam com o depoente para participar das licitações; (...) que o esquema narrado ocorreu em 100% das licitações em que participou com a SERVCON e a TECNOVA; que Geraldo Marcolino foi indicado no CREA, começando como contratado e depois passando para sócio; que um menino que trabalhava para o depoente fazia as ARTs e Geraldo Marcolino só assinava; que tinha a senha de Geraldo Marcolino; que Geraldo Marcolino assinou as propostas da SERVCON e que, quando era apenas para participação da empresa – já sabiam que não ganhariam a licitação e receberiam o citado acordo – utilizava um carimbo com a assinatura de Geraldo Marcolino; que Horley passou a participar da TECNOVA com um contrato de prestação de serviço e depois passou a ser sócio, assinando a alteração contratual; que Horley é padrinho de seu casamento; que as ARTs em nome de Horley foram todos assinados por ele, e por vezes confeccionados pelo seu filho, Harley Braga; que as planilhas e boletins de medição – que já vinham prontos da prefeitura – eram assinados por Horley; que Elaine só entrou seis meses antes da operação; que o depoente preparava toda a documentação e Elaine assinava tudo; que Mayco, Fernando e, por uma ou duas vezes, a sua esposa Elaine levaram documentação para os engenheiros assinarem.

Diante da narrativa evidenciada pelo acusado Justino, confirma-se a denúncia no ponto em que demonstra que a participação das empresas fantasmas TECNOVA e SERVCON servia para mascarar os reais beneficiários dos recursos públicos direcionados aos certames, geralmente pessoas impedidas de licitar por fazerem parte da própria Administração contratante.

No curso da ação, restou amplamente comprovado que Justino quem comandava ambas as empresas – TECNOVA e SERVCON – utilizando-as desde 2013 com o

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principal intuito de fraudar licitações públicas, inclusive em diversos municípios abrangidos pela circunscrição desta 8ª Vara Federal.

Justino ainda confirmou em seu interrogatório que em cada município existiam os respectivos agentes executores - denunciados em ações penais próprias, conforme narrou o MPF – e que estes lhe repassavam um percentual em torno de quatro ou dez por cento do valor contratado a depender do objeto licitado, se obra ou serviço, em contrapartida à utilização da empresa vencedora, fosse ela a SERVCON ou TECNOVA. Além disso, assegurou que suas empresas não executaram nenhuma das licitações em que se sagraram vencedoras a partir do ano de 2013.

Porém, para manter o funcionamento do esquema por ele narrado, precisou da participação de pessoas para preencher o quadro societário das referidas empresas, situação em que se revela a participação dos demais acusados de integrarem a organização criminosa, Fernando, Mayco, Elaine, Horley e Geraldo.

Mayco Alexandre Gomes confirmou, em seu interrogatório3, a participação na organização criminosa, ratificando todos os fatos já trazidos por Justino.

Interrogatório de Mayco Alexandre: que Justino é casado com sua tia; que foi sócio da TECNOVA e saiu porque Justino não cumpriu o combinado de lhe repassar 1% das licitações vitoriosas; que, depois de sair da empresa como sócio, passou a ser funcionário de Justino, organizando documentação; que participou de algumas licitações como representante da TECNOVA mesmo após sair do seu quadro societário; que a SERVCON e a TECNOVA só tinha Francine de funcionária com carteira assinada; que recebia um salário mínimo, mas sem carteira assinada; que Horley Fernandes era engenheiro da empresa e depois passou à condição de sócio; que Horley não visitava obras; que acompanhou visitas aos locais, anteriores às licitações, feitas por Horley e Geraldo; que as obras eram repassadas a pessoas de confiança de Justino, alguns prefeitos, inclusive; que participou de trinta a quarenta licitações como representante da TECNOVA; que, após sua saída da TECNOVA, Fernando Alexandre passou a fazer as funções do depoente; que viu Horley na sede da SERVCON; que acredita que Horley assinava medições, pois era o engenheiro; que confirma ter assinado diversos cheques “em branco” da TECNOVA e os deixado na posse de Justino, uma vez que este quem mandava de fato na empresa; que nunca comprou insumo, materiais de construções, visando à execução de obras; que os cartões e as senhas da empresa ficavam com Justino; que fez de seis a sete visitas prévias aos locais das obras acompanhando Geraldo Marcolino e duas ou três, com Horley Fernandes; que sua remuneração mensal era R$ 1.000,00; que Justino quem retirava as notas fiscais da empresa e que algumas planilhas já eram encaminhadas prontas.

Importante destacar em relação ao acusado Mayco que apesar de ter deixado o quadro societário da TECNOVA em 12.06.2013 (id. n.º 4058202.2705688 – pág. 11),

3 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608 – id. 4058202.2705626.

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anteriormente à vigência da Lei n.º 12.850/2013, manteve-se ativo na organização criminosa, atuando em outras funções, inclusive representando a empresa em diversas ocasiões durante esse período, como por ele mesmo relatado, não ocorrendo qualquer cessação da permanência de suas condutas em relação à organização ora denunciada.

Tal situação se comprova nos autos da Tomada de Preços n.º 01/2014, realizada em janeiro de 2014 pelo Município de Joca Claudino/PB, em que consta, além de procuração4 concedendo-lhe poderes de representação da TECNOVA, sua assinatura na Ata n.º 001/20145, confirmando que, de fato, o réu manteve-se à frente de funções perante a organização criminosa.

O acusado Fernando Alexandre Estrela respondeu como sócio administrador da empresa TECNOVA de 12.06.2013 a 04.11.2014 (Relatório CGU – Ordem de Serviço 201410750 – págs. 7/106), participando do esquema operacionalizado por Justino, que respondia de fato pela referida empresa.

Importa mencionar que as investigações concretizadas pela PF (Relatório Circunstanciado n.º 692/2014 – DPF/PAT/PB7) e pela CGU (Relatório CGU – Ordem de Serviço 201410750 – págs. 7/108) confirmaram a existência de grau de parentesco entre Justino e Fernando.

Quando interrogado9, Fernando confirmou sua participação na organização, dando detalhes dos atos praticados:

Interrogatório de Fernando Alexandre: (...) que apesar de ser sócio da TECNOVA, Justino quem comandava a empresa; que Horley assinava planilhas, mas não visitava obras nem participava de licitações; que participou de aproximadamente de vinte licitações representando diretamente a TECNOVA; que tinha um salário fixo de R$600,00, sem interferir na condução da empresa; que a empresa não tinha empregados registrados; que a empresa não comprava materiais nem maquinário; que Geraldo Marcolino só assinava as planilhas, que eram elaboradas por um rapaz de Cajazeiras; que não participava das reuniões; que Justino fazia o trabalho contábil da TECNOVA e não sabe se havia manipulação na documentação relativa; que não sabe dizer o que é nem quem elabora um livro diário; que o balanço da empresa quem fazia era o contador Carlos Renato; que não sabe se Justino fez acordo com o contador para elaborar irregularmente os balanços; que Justino recebia valores para desistir das licitações, chamados de acordo; que Horley não participava das licitações, apenas assinava planilhas; que não viu

4 Mídia digital à fl. 71 – JOCA CLAUDINO/Pasta SF-02 Melhorias Habitacionais Siconv 781531; subpasta EVIDÊNCIAS;

arquivo: P.08.b) Procuração Tecnova.

5 Mídia digital à fl. 71 – Pasta SF-02 Melhorias Habitacionais Siconv 781531; subpasta EVIDÊNCIAS; arquivo: P.18) Ata

nº 001 da Tomada de Preços nº 001-2014.

6 Mídia digital à fl. 69, PIC nº 1.24.002.000250/2014-46, Anexo XI, págs. 50/53.

7 Id. n.º 4058202.2705826 – págs. 12/17.

8 Mídia digital à fl. 69, PIC nº 1.24.002.000250/2014-46, Anexo XI, págs. 50/53.

9 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608 – id. 4058202.2705626.

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Horley nem Geraldo visitando obras; que a empresa vencedora já era determinada antes da sessão, porque era pago 3% aos demais participantes para saírem da licitação; que alguns deixavam os documentos para fazer as propostas de cobertura ao vencedor; que 95% das licitações foram dessa forma; que Justino recebeu valores para desistir de licitações; que as propostas de preço, planilhas, eram feitas por um rapaz de Cajazeiras; que já levou documentos para Horley e Geraldo Marcolino assinarem; que Justino elaborava as medições e os engenheiros assinavam, mas não levou nenhum para eles assinarem; que Elaine devia saber do esquema; que não viu Elaine levando documentação para assinarem;

Extrai-se, portanto, que Fernando Alexandre, sobrinho de Justino, concordou em figurar como sócio administrador da TECNOVA, em troca de uma remuneração mensal de R$ 600,00, tendo plena ciência da participação da empresa nas fraudes licitatórias. Indicou, inclusive, que aproximadamente 95% dos certames que a TECNOVA participou foram fraudados, confirmando, ainda, que a empresa escolhida previamente para vencer a licitação pagava, a título de acordo, o percentual de 3% para as demais desistirem de participar e que Justino recebeu valores para desistir de licitações.

O MPF comprovou no curso da presente ação penal que Elaine Alexandre, esposa de Justino, também detinha participação ativa na organização criminosa. Em áudio oriundo de interceptação telefônica autorizada judicialmente (id. n.º 4058202.2705889 – pág. 246), verifica-se que Laninha possuía clara intimidade com os assuntos relativos às fraudes perpetradas pela organização criminosa. Vejamos:

ÍNDICE: 7168842 NOME DO ALVO: FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO TELEFONE DO ALVO: 8393045008 DATA DA CHAMADA: 19/11/2014 HORA DA CHAMADA: 07:13:56 DURAÇÃO: 00:00:41 TELEFONE DO CONTATO: 8433880124 TRANSCRIÇÃO: HNI - Justino se encontra? LANINHA - foi deixar Juliana no colégio. HNI - (...) quando ele chegar peça a ele, diga a ele que mandei no email duas notinhas pequenas peça para ele emitir que eu tô tirando aqui as certidões. LANINHA - pronto, assim que ele chegar eu falo para ele. HNI - tá bom. Obrigado Laninha. LANINHA – nada.

Além disso, em seus respectivos interrogatórios10, o próprio Francisco Justino confirmou que sua esposa chegou a levar documentos para os engenheiros assinarem, o que foi ratificado em pormenores por Geraldo Marcolino, transparecendo novamente a intimidade da ré com o esquema envolvendo as empresas TECNOVA e SERVCON.

10 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608 – id. 4058202.2705626.

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Interrogatório de Francisco Justino: (...) que Mayco, Fernando e, por uma ou duas vezes, a sua esposa Elaine levou documentação para os engenheiros assinarem.

Interrogatório de Geraldo Marcolino: (...) que, duas ou três vezes, Elaine foi até a casa do depoente, sozinha, para levar documentos para assinatura; que Elaine especificava os documentos levados, afirmando se tratar de medições de determinada cidade.

Ademais, a acusada Elaine, após a saída do seu sobrinho Fernando Alexandre do quadro societário da TECNOVA em 04.11.2014 (Relatório CGU – Ordem de Serviço 201410750 – págs. 7/1011), passou pessoalmente a ocupar o lugar deste na figura de sócia majoritária, com plena ciência de que a administração de fato da empresa era conduzida por Francisco Justino, como ela própria revelou em seu interrogatório judicial.

Interrogatório de Elaine Alexandre: (...) que a TECNOVA era no nome de seu sobrinho e Justino colocou no nome da depoente; que não tem vínculo com a SERVCON; (...) que não sabe informar sobre a procuração encontrada porque Justino quem entregava os documentos prontos para ela assinar.

Restou evidenciado, portanto, que a acusada Elaine, ciente da necessidade de seu marido em manter ambas as firmas em funcionamento a fim de continuar operando os atos praticados pela organização criminosa, aceitou, livre e conscientemente, ser incluída no quadro societário da TECNOVA após a saída de seu sobrinho Fernando.

Questionada pelo membro do Ministério Público no seu interrogatório como o esposo tinha vários imóveis, veículos, vivia bem financeiramente se ele tinha empresa de construção, mas não possuía qualquer empregado e nem tinha maquinário que justificasse a realização de obras e, portanto, a obtenção de tamanha receita, a Elaine apenas se limitou a dizer que não sabia. Ora, não é crível que ela com razoável esclarecimento formal e atuante na vida diária e laboral do esposo desconhecesse que ele participasse dessa organização criminosa, especialmente sabendo que o escritório da pessoa jurídica fictícia era na própria residência dela.

Geraldo Marcolino e Horley Fernandes, engenheiros civis, atuavam na organização criminosa como responsáveis técnicos, apenas assinando os documentos necessários à participação das empresas nas licitações, sob o comando de Justino.

Geraldo Marcolino integra o quadro societário da SERVCON desde 27.10.2011 (Relatório CGU – Ordem de Serviço 201410750 – págs. 7/1012) e, como responsável técnico, assinava os documentos necessários para a participação da referida empresa nas licitações.

Em seu interrogatório, o próprio acusado confirma sua participação no esquema, indicando, inclusive, que repassou a Justino a senha de seu acesso ao CREA para emissão das necessárias Anotações de Responsabilidade Técnica – ART.

11 Mídia digital à fl. 69, PIC nº 1.24.002.000250/2014-46, Anexo XI, págs. 50/53.

12 Mídia digital à fl. 69, PIC nº 1.24.002.000250/2014-46, Anexo XI, págs. 50/53.

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Interrogatório de Geraldo Marcolino: que era engenheiro da SERVCON; que Justino foi ao CREA perguntando se tinha algum engenheiro disponível e o depoente foi indicado a ele; que assinou contrato com Justino como engenheiro – responsável técnico - da SERVCON com o percentual de 1% em cima do valor da licitação; que nunca recebeu o percentual acertado; que só assinava ART; que não fiscalizava obras; que não visitava obras; que não sabe quantos funcionários a SERVCON possuía; que fazia a visita inicial antes de assinar o contrato; que não sabe quantas ARTs assinou; que Justino lhe pagava R$ 600,00 mensais; que assinava os orçamentos que Justino lhe entregava já elaborados; que Justino era o proprietário da SERVCON e da TECNOVA; que, mesmo sem efetivamente visitar as obras, as Prefeituras lhe forneciam atestado de visita; que assinava os boletins de medição; que nunca visitou obra alguma; que Justino entregava ao depoente as medições já prontas apenas para assinatura; (...) que o próprio Justino retirava a ART do depoente; que deu a sua senha a Justino; que Fernando e Mayco chegaram a levar documentos para o depoente assinar; que o dinheiro, Justino mandava por mototaxi; que, duas ou três vezes, Elaine foi até a casa do depoente, sozinha, para levar documentos para assinatura; que Elaine especificava os documentos levados, afirmando se tratar de medições de determinada cidade.

Em que pese a defesa do réu apontar que ele tinha sido ludibriado pelo Francisco Justino, tal fato não merece acolhimento, tendo em vista que o Geraldo Marcolino é um engenheiro civil experiente, já prestou diversos serviços, como mesmo declarado no seu interrogatório, e não é crível que não tivesse ciência da irregularidade na sua conduta, especialmente por participar apenas formalmente da realização de obras, mas não ir visitá-las.

Mesmo caso é o do acusado Horley Fernandes, que passou a fazer parte do quadro societário da outra empresa de Justino, a TECNOVA, em 12.06.2013 (Relatório CGU – Ordem de Serviço 201410750 – págs. 7/1013), mas antes mesmo, na condição de engenheiro responsável técnico, assinava as planilhas e os documentos apresentados por Justino.

No mesmo modus operandi indicado por Geraldo Marcolino, Horley Fernandes, apesar de posteriormente asseverar que não se recordava, chegou a afirmar em seu interrogatório14 que repassou a senha de seu acesso ao CREA a Justino, a fim de que este emitisse as ARTs necessárias para a participação da TECNOVA nas licitações.

Indiscutível o fato de que os acusados Geraldo Marcolino e Horley Fernandes assinaram documentos (ARTs, planilhas) possibilitando a participação das empresas TECNOVA e SERVCON em diversos procedimentos licitatórios, conforme ficou especificado na análise da materialidade do delito do art. 90 da Lei n.º 8.666/93 relativos

13 Mídia digital à fl. 69, PIC nº 1.24.002.000250/2014-46, Anexo XI, págs. 50/53.

14 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608 – id. 4058202.2705626.

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à Concorrência n.º 01/2014 de Uiraúna e Tomada de Preços n.º 01/2014 de Joca Claudino (tópicos 2.2.2.3. e 2.2.2.4. desta Sentença).

Tanto Geraldo como Horley afirmaram, em seus respectivos interrogatórios, desconhecerem a utilização dos documentos por eles assinados nas fraudes operadas pela organização criminosa.

Todavia, não é concebível que dois engenheiros graduados e experientes passaram anos assinando diversos documentos técnicos, inclusive boletins de medição sem visitação das respectivas obras, desconhecendo o caráter ilícito de suas condutas.

Como ficou amplamente demonstrado, inclusive detalhadamente pelos acusados Justino e Fernando Alexandre, as empresas SERVCON e TECNOVA eram utilizadas, desde 2013, unicamente com o intuito de fraudar licitações públicas, vencendo-as e repassando para terceiros à execução do objeto licitado em troca de um percentual do valor contratado, ou mesmo desistindo de participar dos certames, recebendo, para tanto, o que ficou convencionado de “acordo”.

Assim, conclui-se, a partir de todo o arcabouço probatório, que Francisco Justino operacionalizou um grande esquema de fraudes a licitações públicas e desvios de recursos públicos, utilizando-se, para tanto, das empresas TECNOVA e SERVCON. Para compor o quadro societário dessas empresas e ajudá-lo na empreitada criminosa, contou com a participação de sua esposa, Elaine Alexandre, do sobrinho desta, Fernando Alexandre Estrela e dos engenheiros Geraldo Marcolino e Horley Fernandes, todos com plena consciência da ilicitude de seus atos.

Diante de tudo o que foi demonstrado, não há dúvidas acerca da materialidade e autoria e participação direta de cada um dos réus, Francisco Justino do Nascimento, Elaine da Silva Alexandre, Fernando Alexandre Estrela, Mayco Alexandre Gomes, Horley Fernandes e Geraldo Marcolino da Silva, na organização criminosa existente em torno das empresas TECNOVA e SERVCON, condutas que se amoldam ao tipo no art. 2º, caput, da Lei n. 12.850/2013.

2.2.2. Do tipo penal previsto no artigo 90, caput, da Lei no 8.666/93.

O MPF imputa a prática do tipo penal descrito no art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93 aos acusados Francisco Justino do Nascimento, Fernando Alexandre Estrela, Horley Fernandes, Mayco Alexandre Gomes e Geraldo Marcolino da Silva.

O tipo penal acima indicado possui a seguinte redação:

Lei 8.666/93

Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação:

Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

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O delito em apreço é de natureza formal, não exigindo, para sua configuração, resultado naturalístico consistente em prejuízo para a Administração ou obtenção efetiva de vantagem ao agente.

Para tanto, basta a frustração do caráter competitivo do certame, donde é descabida qualquer alegação de que não houve prejuízo ao erário, ainda que a proposta vencedora tenha fixado valor abaixo daquele fixado pelo orçamento público. E, por público, consideram-se as licitações e os contratos celebrados pela União, Estados, Distrito Federal, Municípios, e respectivas autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas, e quaisquer outras entidades sob seu controle direto ou indireto15.

Ou seja, a consumação ocorre com o mero ajuste, combinação ou adoção de outro expediente, independentemente da adjudicação ou obtenção da vantagem econômica16.

Por igual, a efetiva realização da obra/prestação do serviço, independente da qualidade desta, não retira a materialidade delituosa em apreço.

Destaque-se que, quando ocorre na licitação prática de superfaturamento (art. 96, I, desse diploma legal), haverá duas espécies delitivas em concurso de crimes, senão veja-se:

CONCURSO DOS CRIMES PREVISTOS NO ART. 90 E 96, INCISO I, DA LEI N. 8.666/93. ALEGADA OCORRÊNCIA DE BIS IN IDEM. DESCONFIGURAÇÃO. TIPOS PENAIS DISTINTOS. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO. Tratando-se de tipos penais totalmente distintos, é possível o concurso de crimes, pois o objeto, no tocante ao crime do art. 90 da Lei nº 8.666/93, é a preservação do caráter competitivo do procedimento licitatório, enquanto que na figura penal do art. 96, inciso I, o delinquente, mediante fraude, atinge diretamente a licitação, elevando arbitrariamente os preços, em prejuízo da Fazenda Pública. (RESP 201200729903, CAMPOS MARQUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PR), STJ - QUINTA TURMA, DJE DATA: 30/08/2013 ..DTPB:.)

Mais um ponto que merece deixar registrado neste momento inicial é que a subcontratação é prevista na Lei de Licitações, em seu art. 72, o que afastaria o crime de fraude à licitação. Sobre o dispositivo, cito-o:

Art. 72. O contratado, na execução do contrato, sem prejuízo das responsabilidades contratuais e legais, poderá subcontratar partes da obra, serviço ou fornecimento, até o limite admitido, em cada caso, pela Administração.

15 Art. 85. As infrações penais previstas nesta Lei pertinem às licitações e aos contratos celebrados pela União, Estados, Distrito Federal, Municípios, e respectivas autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas, e quaisquer outras entidades sob seu controle direto ou indireto.

16 TRF1, AC 200342000006590, Clemência de Ângelo, 4ª T. u., 23.08.11.

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Para que seja aplicado o art. 72, necessário, contudo, que se observem alguns aspectos, quais sejam, a decisão acerca de admissão da subcontratação, ou não, deve passar pelo crivo da Administração, dentro do mérito administrativo; a administração deve estabelecer os limites máximos para subcontratação, quando admiti-la, sendo vedada a subcontratação total do objeto e, por fim, a subcontratação deve ser prevista expressamente no edital e no contrato (art. 78, inciso VI, da Lei de Licitações e Acórdãos n.º 1.045/2006 e 1.748/2009, ambos do Plenário do TCU).

No entanto, o caso em apreço não preencheu tais requisitos, sendo totalmente desconhecido para a Administração, ao menos formalmente documentado nos autos do processo licitatório, razão pela qual a tese defensiva de regularidade do procedimento não merece acolhimento, amoldando-se, assim, em tese, a subcontratação irregular em fraude licitatória.

Feitas essas considerações, passo à análise da materialidade delitiva, de acordo com cada um dos procedimentos licitatórios denunciados pelo Parquet Federal.

2.2.2.1. Da materialidade e autoria delitiva

2.2.2.1.1. Convite n.º 14/2012, Convite n.º 01/2013 e Convite n.º 07/2013 todos de Cajazeiras/PB

O Município de Cajazeiras/PB realizou o Convite n.º 14/2012 e o Convite n.º 01/2013, ambos com o objetivo de contratar horas de trator de esteira e vencidos pela “empresa fantasma” SERVCON CONSTRUÇÕES COMÉRCIOS E SERVIÇOS LTDA – EPP.

Ainda, teria o Município realizado o Convite n.º 07/2013, cuja finalidade seria a contratação de tratores destinados a atender à Secretaria de Infraestrutura, no valor de R$62.000,00, em que teria ocorrida a participação das empresas TEC NOVA e SERVCON.

Ressaltou o Ministério Público que tais licitações foram realizadas com recursos municipais e a competência da Justiça Federal para processar o feito estaria justificada em razão da conexão probatória com os demais crimes, na forma do art. 76 do Código de Processo Penal. Acrescentou que tais licitações possuem relação com os demais crimes elencados pela acusação, fazendo com que seja recomendável que sejam julgados pelo mesmo juiz ou Tribunal.

Aduz, por fim, que, embora inexistente qualquer prejuízo à União por ausência de verbas federais no objeto dos procedimentos licitatórios, o que justificaria a competência da justiça estadual, entende o Parquet que há conexão probatória a ensejar a reunião dos fatos em apuração em um único processo, à luz do que preconiza a Súmula n.º 122, do STJ.

Relativamente à constatação de conexão, não se descura que se apresenta como fator determinante da competência para o processamento e julgamento do feito. Eis o que estabelece o artigo 76 do Código de Processo Penal:

Art. 76. A competência será determinada pela conexão:

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I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras;

II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;

III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.

Aponta que se estaria diante de uma conexão instrumental ou probatória, insculpida no inciso III acima transcrito. A razão de ser desse instituto encontra-se na garantia de que infrações que nutrem certa relação de causa e efeito, interferindo umas nas outras, especialmente no que diz respeito ao material probatório, tenham um mesmo tratamento pelo órgão julgador, evitando-se, assim, soluções discrepantes.

A questão central reside em se delimitar a extensão do verbo “influir” contido no inciso III. Parte da doutrina tem entendido que não basta qualquer influência, sendo necessário que haja uma relação de prejudicialidade entre os delitos. Assim, a conexão probatória ou instrumental encontraria seu fundamento na manifesta prejudicialidade homogênea. O caso mais clássico para ilustrar é o do crime de furto e a receptação quando, para se condenar o receptador, é preciso provar que a coisa adquirida era produto de crime. Logo, o furto é prejudicial da receptação.

Diferentemente ocorre no caso em comento. Salienta-se que o simples fato de delitos terem sido elucidados na mesma oportunidade, em razão de diligências realizadas no curso das investigações, não significa que a prova de uma infração irá influenciar no arcabouço probatório das outras.

Portanto, no contexto apresentado nestes autos, especialmente por se tratar de supostas fraudes em certames licitatórios autônomos - não obstante comunguem da similitude do modus operandi -, em princípio, não há reconhecer conexão, devendo haver o trâmite independente dos feitos, respectivamente, nas Justiças Estadual e Federal.

Nesse mesmo sentido, confira-se precedente do Colendo STJ:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. FRAUDE À LICITAÇÃO, FALSIDADE IDEOLÓGICA E FORMAÇÃO DE QUADRILHA. OPERAÇÃO FRATELLI. AÇÃO CAUTELAR INOMINADA JULGADA. PRESENTE WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. VIA INADEQUADA. RECURSOS FEDERAIS. NECESSIDADE DA PRESTAÇÃO DE CONTAS PERANTE OS ÓRGÃOS DE CONTROLE DA UNIÃO. NÃO COMPROVAÇÃO. CONEXÃO PROBATÓRIA. INDISSOCIÁVEL INFLUÊNCIA DA PROVA DE UMA INFRAÇÃO EM OUTRA. NÃO CONFIGURAÇÃO. FLAGRANTE ILEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 1. Por se tratar de habeas corpus substitutivo de recurso especial,

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inviável o seu conhecimento, restando apenas a avaliação de flagrante ilegalidade. 2. Não demonstrada nos autos a necessidade da prestação de contas do recurso obtido perante os órgãos de controle da União, inexequível trasladar a competência para a Justiça Federal. 3. Embora compartilhado entre as esferas Estadual e Federal o material probatório das diversas infrações cometidas, dotadas de inegável similitude do modus operandi, não se evidenciou que a prova de um crime acomete a do outro, requisito indissociável para o reconhecimento da conexão instrumental ou probatória. 4. O simples fato de delitos terem sido elucidados na mesma oportunidade, em razão de diligências levadas a termo no âmago de investigações, não significa necessariamente que a prova de uma infração irá influenciar no arcabouço probatório das outras. 5. No contexto apresentado nestes autos, não há reconhecer conexão, devendo haver o trâmite independente dos feitos nas Justiças Estadual e Federal. 6. Habeas corpus não conhecido. (HC 201402678005, MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, STJ - SEXTA TURMA, DJE DATA:17/08/2015) (grifo nosso).

Desse modo, não conheço dos fatos narrados pelo MPF alusivos às supostas fraudes ocorridas nos procedimentos licitatórios n.º 14/2012, 01/2013 e 07/2013, todos na modalidade convite, por entender incompetente a Justiça Federal para processar e julgar feitos relativos a fatos subsumidos ao que preconizam as Súmulas n.º 208 e 209 do STJ.

Assim, à Secretaria para providências necessárias de remessa ao Juízo Estadual da Comarca de Cajazeiras/PB, competente para julgar o feito em relação à possível fraude nos procedimentos licitatórios n.º 14/2012, 01/2013 e 07/2013, todos na modalidade convite, do Município de Cajazeiras/PB.

2.2.2.1.2. Convite n.º 06/2013 de Santa Helena/PB, Pregão n.º 01/2013 de Joca Claudino/PB e Concorrência n.º 01/2014 de Joca Claudino/PB

O Ministério Público Federal denunciou a possível ocorrência de fraude ao caráter competitivo das seguintes licitações ante a eventual participação, em conjunto, das empresas TECNOVA e SERVCON:

a) Convite n.º 06/2013 de Santa Helena/PB – realizado em 2013, para a execução de serviços de reforma da escola municipal Padre José de Anchieta, com recursos do FUNDEB;

b) Pregão n.º 01/2013 de Joca Claudino/PB – realizado em 2013, visando à contratação de empresa para coleta de resíduos sólidos, no valor de R$ 171.600,00.

c) Concorrência n.º 01/2014 de Joca Claudino/PB – realizado em 2014, com o objetivo de contratar empresa para a construção de açude público no Distrito de Santa Rita, no valor de R$2.262.200,24, com recursos do Convênio n.º 773290.

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Apesar das alegações trazidas pelo órgão ministerial, tanto na sua peça de denúncia como nas alegações finais, deixou de juntar qualquer documento que revele, de fato, a ocorrência dos citados certames.

Após extensa e atenciosa consulta aos autos da presente ação penal tanto nos anexos migrados e importados para o processo eletrônico no Pje quanto para todas as mídias e demais arquivos constantes no anexo físico relativo ao feito depositado na Secretaria desta Vara Federal, não se localizou qualquer referência a essas licitações, nem mesmo sequer no interior de peças produzidas pelos órgãos de fiscalização.

Sendo assim, não havendo qualquer registros nos autos da realização desses certames, salvo unicamente o relato na denúncia e nas alegações finais, reputo absoluta a ausência de provas da própria da realização dos certames, muito menos dos envolvimentos dos acusados, não havendo elementos mínimos necessários para comprovar a materialidade e autoria em relação ao delito do art. 90 da Lei n.º 8.666/93, no que concerne ao Convite n.º 06/2013 de Santa Helena/PB, Pregão n.º 01/2013 de Joca Claudino/PB e Concorrência n.º 01/2014 de Joca Claudino/PB.

Desta maneira, restam pendentes de análise apenas os certames apontados: Concorrência n.º 01/2014 de Uiraúna/PB e Tomada de Preços n.º 01/2014 de Joca Claudino.

2.2.2.1.3. Concorrência n.º 01/2014 de Uiraúna/PB

Conforme comprovou o MPF, o Município de Uiraúna realizou o procedimento licitatório Concorrência n.º 01/2014, visando selecionar a proposta mais vantajosa a fim de executar as obras do Convênio n.º 781043, firmado com o Ministério da Integração Nacional, no valor de R$ 3.043.628,00, para a construção e ampliação de açudes17.

Compulsando os documentos relativos ao referido procedimento licitatório, atesta-se que dela participaram tanto a empresa TECNOVA quanto a SERVCON, apesar de vencida por outra empresa, a Extra Construções, Incorporações e Empreendimentos Ltda, com proposta coincidente com o valor conveniado, R$ 3.043.628,00. Registre-se que todas as demais participantes foram inabilitadas na oportunidade pela CPL, inclusive renunciando ao prazo para interposição de recursos18.

Diante de todo o contexto delineado no tópico 2.2.1. desta Sentença, explicando a atuação da organização criminosa operacionalizada por Francisco Justino, representante de fato de ambas as empresas, com o auxílio dos demais envolvidos, restou evidenciado que a participação conjunta das empresas fantasmas TECNOVA e SERVCON servia unicamente para simular concorrência na licitação, uma vez que elas sequer existiam fisicamente.

Como explicaram Justino e Fernando Alexandre (interrogatórios já transcritos no tópico 2.2.1.1.), as licitações em que participavam a TECNOVA e/ou SERVCON, sem que uma delas se sagrasse vencedora, os desistentes recebiam, a título de acordo, um percentual de 3% do valor licitado. As empresas cujos representantes se negasse a

17 Mídia digital à fl. 69 – Pasta Anexo VIII – Fl. 103 – arquivo Concorrência Volume 01 – págs. 5/13 e 69/76 do pdf.

18 Mídia digital à fl. 69 – Pasta Anexo VIII – Fl. 103 – arquivo Concorrência Volume 03 – págs. 190/197 e 219 do pdf.

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participar do esquema eram inabilitadas, de alguma foram, pela Comissão Permanente de Licitação.

Representando a TECNOVA, inclusive com a juntada de cópia de seus documentos pessoais, Fernando Alexandre Estrela e Horley Fernandes subscreveram os seguintes documentos19: a) Declaração de elaboração independente de proposta; b) Declaração de disponibilidade do responsável técnico na obra; c) Comprovante de entrega; d) Termo de visita ao local das obras ou serviços.

A SERVCON foi representada por Francisco Justino e Geraldo Marcolino, que assinaram os seguintes documentos20: a) Declaração; b) Declaração profissional responsável na obra; c) Comprovante de entrega.

Diante do exposto, restou demonstrada a materialidade do delito de fraude ao caráter competitivo da licitação, na modalidade tentada (art. 14 do CP), uma vez que nenhum das empresas pertencentes à organização criminosa tratada nos autos sagrou-se vencedora da Concorrência n.º 01/2014, bem como ficou comprovada a autoria delitiva de Fernando Alexandre Estrela, Horley Fernandes, Francisco Justino do Nascimento e Geraldo Marcolino da Silva, que, plenamente cientes de que as referidas empresas fantasmas eram utilizadas com o único fito de fraudar licitações, praticaram os atos acima demonstrados.

2.2.2.1.4. Tomada de Preços n.º 01/2014 de Joca Claudino.

O Parquet Federal também comprovou que o Município de Joca Claudino/PB lançou edital de licitação de n.º 01/2014, na modalidade tomada de preços, visando à execução de melhorias em 36 unidades habitacionais no controle da doença de chagas, com recursos oriundos do Convênio nº 650406, firmado com a FUNASA, no valor de R$1.021.000,0021.

Compulsando os documentos relativos ao referido procedimento licitatório, averígua-se que, igualmente ao ocorrido na licitação tratada no tópico 2.2.2.1.3., nela figuraram tanto a empresa TECNOVA quanto a SERVCON, todavia, sagrando-se vencedora do certame a empresa Viga Engenharia Eirelli EPP22, com contrato no valor de R$986.285,27.

Diante de todo o contexto delineado no tópico 2.2.1. desta Sentença, explicando a atuação da organização criminosa operacionalizada por Francisco Justino, representante de fato de ambas as empresas, com o auxílio dos demais envolvidos, restou evidenciado que a participação conjunta das empresas fantasmas TECNOVA e SERVCON servia unicamente para simular concorrência na licitação, uma vez que elas sequer existiam fisicamente.

19 Mídia digital à fl. 69 – Pasta Anexo VIII – Fl. 103 – arquivo Concorrência Volume 01 – págs. 438, 473, 475 e 478 do pdf.

20 Mídia digital à fl. 69 – Pasta Anexo VIII – Fl. 103 – arquivo Concorrência Volume 02 – págs. 44/ 46 do pdf.

21 Mídia digital à fl. 71 – Pasta SF-02 Melhorias Habitacionais Siconv 781531; subpasta EVIDÊNCIAS; arquivo: P.01) Edital da Tomada de Preços nº 01-2014.

22 Mídia digital à fl. 71 – Pasta SF-02 Melhorias Habitacionais Siconv 781531; subpasta EVIDÊNCIAS; arquivo: P.18) Ata nº 001 da Tomada de Preços nº 001-2014.

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Como explicaram Justino e Fernando Alexandre (interrogatórios já transcritos no tópico 2.2.1.1.), as licitações em que participavam a TECNOVA e/ou SERVCON, sem que uma delas se sagrasse vencedora, os desistentes recebiam, a título de acordo, um percentual de 3% do valor licitado. As empresas cujos representantes se negasse a participar do esquema eram inabilitadas, de alguma foram, pela Comissão Permanente de Licitação.

Em nome da empresa TECNOVA, inclusive com a juntada de cópia de seus documentos pessoais, Fernando Alexandre Estrela e Horley Fernandes subscreveram os seguintes documentos23: a) Protocolo de entrega; b) Declaração; e c) Proposta.

A SERVCON foi representada por Francisco Justino e Geraldo Marcolino, que assinaram os seguintes documentos24: a) Protocolo de entrega; b) Declaração; e c) Proposta.

Diante do exposto, restou demonstrada a materialidade do delito de fraude ao caráter competitivo da licitação, na modalidade tentada (art. 14 do CP), uma vez que nenhum das empresas pertencentes à organização criminosa tratada nos autos sagrou-se vencedora da Tomada de Preços n.º 01/2014. Além disso, ficou comprovada a autoria delitiva de Fernando Alexandre Estrela, Horley Fernandes, Francisco Justino do Nascimento e Geraldo Marcolino da Silva, que, plenamente cientes de que as referidas empresas fantasmas eram utilizadas com o único fito de fraudar licitações, praticaram os atos acima mencionados.

2.2.3. Do tipo penal previsto no artigo 299 do Código Penal.

O MPF, na denúncia, imputou a prática do tipo penal descrito no art. 299 do Código aos acusados Francisco Justino e Elaine Alexandre, sob o fundamento de que cada um possui dois CPFs em seus respectivos nomes.

O tipo penal acima indicado possui a seguinte redação:

Falsidade ideológica

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o documento é particular. (Vide Lei nº 7.209, de 1984)

23 Mídia digital à fl. 71 – Pasta SF-02 Melhorias Habitacionais Siconv 781531; subpasta EVIDÊNCIAS; arquivos: P.08) Habilitação Tecnova – págs. 6 e 26, e P.16) Proposta TEC NOVA – págs. 3/114, todas do pdf.

24 Mídia digital à fl. 71 – Pasta SF-02 Melhorias Habitacionais Siconv 781531; subpasta EVIDÊNCIAS; arquivos: P.07) Habilitação Servcon – págs. 3 e 20, e P.15) Proposta SERVCON – págs. 2/113, todas do pdf.

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Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.

O crime de falsidade ideológica, descrito no art. 299 do CP, apresenta como bem jurídico tutelável a fé pública, no que se refere à autenticidade do documento em seu aspecto substancial. Possui como núcleo do tipo os verbos omitir, inserir, fazer inserir. Os objetos das condutas devem ser declarações relevantes a constar em documentos públicos e particulares. Na falsidade ideológica não há alteração do aspecto material do documento, este é todo verdadeiro, como no caso dos autos, no entanto contém uma informação falsa inserida nele, a falsidade de ideia.

Acrescente-se, ainda, que o sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, já, o sujeito passivo é o Estado e, em segundo plano, a pessoa que for prejudicada pela falsificação. O dolo constitui elemento subjetivo do tipo, mas se exige o elemento subjetivo específico, consistente na vontade de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.

Nesse diapasão, a conduta supostamente praticada no caso em análise se baseia na segunda hipótese do elemento objetivo do tipo injusto, referente a 'inserir [...] nele declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita', isto é, o agente insere no documento declaração falsa ou diferente daquela que dele devia constar.

Feitas essas considerações, passo à análise da materialidade delitiva.

2.2.3.1. Da materialidade e autoria delitiva

2.2.3.1.1. Duplicidade CPF - Francisco Justino

Denunciou o Ministério Público Federal que, durante o curso das investigações atinentes à Operação Andaime, teve ciência de que o acusado Francisco Justino ingressou na Polícia Militar do estado da Paraíba com um número de CPF diverso (n.º 441.963.004-30) daquele que utiliza atualmente (n.º 033.889.914-64). Comprovou o alegado a partir dos Relatórios de Pesquisa n.º 2.326/2014 e 2.325/2014, juntados ao PIC n.º 1.24.002.000250.2014-4625.

Analisando-se ambos os registros, verifica-se que há apenas divergência no nome de sua genitora, redigido Francisca Inês do Nascimento no primeiro e Francisca Inez do Nascimento, no segundo.

Alegou o Órgão Ministerial que o acusado, com o CPF n.º 441.963.004-30, já cancelado em razão de multiplicidade, operacionalizou, entre 07.12.1993 e 31.12.2008, a empresa individual Francisco Justino do Nascimento (CNPJ n.º 40.632.861/001-07), com sede em Juazeiro – BA.

Contudo, compulsando os autos, em especial os dossiês integrados encaminhados pela Receita Federal do Brasil26, relativos aos citados CPFs cadastrados em nome do

25 Mídia digital à fl. 67 – arquivo: Volume II – págs. 66/71 do pdf.

26 Mídia digital à fl. 67 – Pasta Volume III – Fl. 450 – Arquivos: Dossiê integrado Francisco Justino cpf 441.963.00-30 e Dossiê Integrado Francisco Justino do Nascimento.

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acusado, verifica-se que o de n.º 441.963.004-30 teve sua baixa efetuada no dia 17.08.1999 em razão da duplicidade.

Nesse sentido, tal dado conflita com a alegação do Parquet Federal de que Francisco Justino teria utilizado o CPF de n.º 441.963.004-30 e concomitância com o atualmente ativo, de n.º 033.889.914-64.

Além disso, em 2006, Francisco Justino teve mercadorias apreendidas na Delegacia da Receita Federal em Foz do Iguaçu – PR, ocasião em que apresentou o CPF de n.º 033.889.914-64, e não o baixado, de n.º 441.963.004-30, como asseverou o MPF.

Sobre os fatos, em seu interrogatório27, Justino assegurou “que o CPF do tempo da Polícia foi cancelado; que quando chegou na Receita, foi tirado um novo e cancelado o anterior; que atribui à Receita a diferença no nome de sua mãe nos dois CPFs”.

Pelo exposto, não restou demonstrada a materialidade do delito de falsificação ideológico, porquanto, cancelado o primeiro CPF registrado em nome de Francisco Justino desde 17.08.1999, não se comprovou que houve uma nova inscrição visando prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, razão pela qual deve referido acusado ser absolvido nos termos do art. 386, VII, do CPP.

2.2.3.1.2. Duplicidade CPF - Elaine do Nascimento

O Ministério Público Federal também denunciou Elaine Alexandre do Nascimento por manter irregularmente dois números de CPFs ativos na Receita Federal do Brasil, sendo um com o nome de solteira, Elaine da Silva Alexandre (n.º 036.357.484-04, registrado em 199828), e outro como nome de casada, Elaine da Silva Nascimento (n.º 056.711.634-47, com registro em 2002).

Com o CPF que consta o nome de solteira, a acusada figurou no quadro societário da já referida empresa IMCON Limpeza & Construções Ltda., juntamente com Justino, no período de 04.03.1999 a 07.07.200929, enquanto com o CPF que registra seu nome de casada, Elaine foi inserida, a partir de 04.11.2014, no quadro societário da empresa TECNOVA, utilizada pela organização criminosa tratada nestes autos para fraudar diversas licitações públicas além de cometer outros crimes.

Diferentemente do caso de Justino, que teve seu primeiro CPF baixado após constatação de duplicidade, os dois CPFs registrados no nome da acusada Elaine do Nascimento ainda se encontram ativos, conforme consulta realizada durante a audiência de instrução e julgamento (interrogatório da ré Elaine Alexandre30 – 11’:15” a 11’:30”).

Em seu interrogatório, sobre esse fato, Elaine explicou:

Interrogatório de Elaine Alexandre: (...) que, em relação ao CPF, após casar, foi à Receita e a servidora quebrou o antigo e emitiu um

27 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608 – id. 4058202.2705626.

28 Mídia digital à fl. 67 – Pasta Volume III – Fl. 450 – Arquivo: Dossiê integrado Elaine da Silva Alexandre.

29 Mídia digital à fl. 67 – arquivo: Volume I – págs. 72/74 do pdf.

30 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608 – id. 4058202.2705626.

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novo, com o nome Elaine Alexandre do Nascimento; que não sabem dizer o motivo por que os dois CPFs encontram-se ativos no site da Receita.

Todavia, como bem ressaltou o MPF, a tese defensiva trazida pela acusada não afasta a acusação que contra ela recai, principalmente pelo fato de que é cediço de que o CPF se trata de um cadastro mantido pela Receita Federal do Brasil, cuja inscrição pode ser feita uma única vez.

As alterações nos dados cadastrais do cidadão não geram modificação no número do registro como quis fazer crer a acusada. Apenas decisão judicial ou administrativa é capaz de determinar a alteração no número de inscrição no CPF.

Ademais, a alegação da ré de que o novo CPF teria sido inscrito após a mudança de seu nome em razão do casamento foi afastada pelo MPF, que comprovou que o casamento da ré somente ocorreu em 20.06.201231, enquanto a segunda inscrição do CPF foi feita desde o ano de 2002.

Inclusive, nos próprios interrogatórios, os réus Francisco Justino do Nascimento, Elaine Alexandre e confirmado pelo Horley Fernandes, relataram que eles conviviam em união estável e tinham uma filha em torno de 15 (quinze) anos, à época do depoimento em 2015, mas que somente contraíram núpcias recentemente cujo padrinho, inclusive, foi o corréu Horley Fernandes. Assim, a certidão de casamento datada de 2012, conforme apontado pela CGU, constituiu fato jurídico corroborado pelos depoimentos dos próprios réus.

Assim, não merece qualquer guarida a alegação da ré Elaine Alexandre de que precisou criar novo CPF por causa do casamento se a inscrição foi feita em 2002 e o casamento contraído em 2012, aproximadamente 10 (dez) anos depois.

Sendo assim, comprovada a materialidade do delito tipificado no art. 299 do CP, bem como a autoria por parte de Elaine Alexandre do Nascimento.

2.2.3.1.3. Demonstrativo de resultado da empresa TECNOVA (exercício 2014)

O MPF denunciou que, em busca e apreensão realizada na residência de Justino e Elaine no dia 26.06.2015, foram apreendidos dois envelopes lacrados contendo o timbre da empresa TECNOVA, destinados à Comissão de Licitação da Prefeitura de Cajazeiras/PB, contendo documentos de habilitação e propostas de preços visando à participação na Concorrência Pública n.º 00002/2015, que seria realizada às 8h30min daquele mesmo dia.

Dentre os documentos de habilitação, o Parquet indicou que constava demonstrativo do resultado do exercício da TECNOVA, elaborado pelo acusado Carlos Renato Andrade Gonçalves e subscrito por Elaine Alexandre, que à época figurava

31 Relatório de análise de material apreendido – Equipe 01 – Auto de Apreensão n.º 80/2015 – id. n.º 4058202.2705641 – pág. 29.

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como sócio administradora da referida empresa, apesar de Justino administrá-la de fato, como já evidenciado.

Abrangendo o período de janeiro a dezembro de 2014, o demonstrativo apreendido indica que, no exercício de 2014, a empresa TECNOVA, obteve uma receita de R$ 645.819,76, não obstante o Sistema Sagres do Tribunal de Contas do Estado da Paraíba revelar que a receita do referido período foi de R$ 1.709.117,7032.

A autoria de Elaine Alexandre confirma-se na esteira do que já narrado quanto à sua participação na organização criminosa, considerando que ela detinha clara intimidade com as fraudes perpetradas e uma vez que consta no referido demonstrativo sua assinatura.

Por outro lado, assiste razão o MPF quando afirma, em suas razões finais, que não restou configurado o dolo na conduta do contador Carlos Renato Andrade Gonçalves. Em seu interrogatório33, o acusado informou que elaborou o balanço a partir de documentos repassados por Justino e não sabia que ele seria utilizado para fraudar licitações.

Além disso, o operacionalizador da organização criminosa, Francisco Justino, afirmou em seu interrogatório34 que nunca repassou valores para o contador Carlos Renato realizar o seu serviço de contabilidade de forma errada ou alterada.

Sendo assim, comprovada a materialidade do delito tipificado no art. 299 do CP, bem como a autoria por parte de Elaine Alexandre do Nascimento, merecendo, todavia, a absolvição do réu Carlos Renato Andrade Gonçalves ante a ausência de provas suficientes do elemento subjetivo da conduta, nos moldes do art. 386, VII do CPP.

2.2.3.1.4. Livros Diário das empresas SERVCON (exercício 2014) e TECNOVA (exercício 2012)

Tecnova

Por ocasião da busca e apreensão realizada na sede da TECNOVA, no dia 26.06.2015, foram encontrados e apreendidos Livros Diário tanto da SERVCON como da TECNOVA, contendo demonstrações contábeis inverídicas de encerramento de exercício.

Da TECNOVA, foram encontradas demonstrações contábeis35, relativas ao exercício 2012, acusando o recebimento de receitas na quantia de R$56.578,00.

32 Relatório de análise de material apreendido – Equipe 01 – Auto de Apreensão n.º 80/2015 – id. n.º 4058202.2705641 –

págs. 19/21.

33 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608 – id. 4058202.2705626.

34 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608 – id. 4058202.2705626.

35 Relatório de análise de material apreendido – Equipe 04 – Auto de Apreensão n.º 67/2015 – id. n.º 4058202.2705641 – pág. 126.

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O MPF acusa que tais valores destoariam daqueles constantes do Sistema Sagres do TCE-PB, porém sem indicar qual seria o valor real das receitas da empresa, nem indicar, nos autos, onde estaria representada tal quantia.

Sendo assim, não se desincumbiu o Órgão Ministerial de seu dever probatório, não ficando comprovada a materialidade do delito tipificado no art. 299 do CP em relação ao Livro Diário (exercício 2012) da empresa TECNOVA.

Dessa forma, merecem os réus Fernando Alexandre Estrela e Marcos José de Oliveira serem absolvidos das imputações relativas à falsidade ideológica no Livro-Diário da TECNOVA no ano de 2012, com base no art. 386, VII, do CPP.

Servcon

Por outro lado, o MPF indica que na mesma ocasião foi apreendido o Livro Diário, exercício 2014, da empresa SERVCON, assinado pelo sócio administrador Francisco Justino e pelo contador Marcos José de Oliveira.

As demonstrações contábeis inseridas no referido livro indicam o recebimento de receitas36, no exercício apontado, no valor de R$ 690.040,17, não obstante, de acordo com dados do Sistema Sagres do TCE-TB, a empresa recebeu naquele ano, apenas de prefeituras de municípios paraibanos, a quantia de R$ 3.610.737,18.

A autoria de Francisco Justino revela-se na esteira de sua ativa participação e comando na cadeia da organização criminosa, considerando que ele detinha plena consciência da ilicitude de seus atos e conhecimento amplo de toda a atuação envolvendo não apenas a empresa SERVCON, na qual exercia a administração formal, mas também a TECNOVA, em que exercia a administração de fato.

Em relação à conduta do contador Marcos José de Oliveira, o MPF, adotando o mesmo entendimento já aplicado ao outro contador denunciado, Carlos Renato, pugnou nas alegações finais pela sua absolvição, considerando que, ao fim da instrução processual, não ficou demonstrado o dolo em sua conduta. Com razão.

Do arcabouço probatório produzido, principalmente as palavras dos três profissionais de contabilidade ouvidos judicialmente – interrogatório de Marcos José e Carlos Renato e oitiva da testemunha Francisco de Assis –, conclui-se que a atuação dos contadores no presente caso resumiu-se a produzir os documentos contábeis das empresas envolvidas a partir de documentos fiscais apresentados por Francisco Justino.

Sendo assim, comprovada a materialidade do delito tipificado no art. 299 do CP, bem como a autoria por parte de Francisco Justino do Nascimento, merecendo, todavia, a absolvição do réu Marcos José de Oliveira ante a ausência de provas suficientes do elemento subjetivo da conduta, nos moldes do art. 386, VII do CPP.

2.2.4. Do tipo penal previsto no art. 296, II, do Código Penal.

36 Relatório de análise de material apreendido – Equipe 04 – Auto de Apreensão n.º 67/2015 – id. n.º 4058202.2705641 – pág. 126.

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O Ministério Público Federal imputa a prática de crime de adulteração de sinal público de tabelião, tipificado no art. 296, § 1º, inciso I, na forma do art. 71, todos do Código Penal, cuja redação é a seguinte:

Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:

I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município;

II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

§ 1º - Incorre nas mesmas penas:

I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;

II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou alheio.

III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

§ 2º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

Cuida-se de crime comum, material e doloso, tendo como sujeito ativo qualquer pessoa e o sujeito passivo é sempre o Estado, a coletividade e a pessoa prejudicada pelo uso indevido do selo ou sinal público falsificado. A fé pública é o bem juridicamente protegido pelo tipo.

Convém destacar que se o crime for cometido por funcionário público incide a causa de aumento de pena prevista no §2º do art. 296 do CPP.

A ação nuclear do tipo penal é verbo “falsificar”, fabricando ou alterando selo ou sinal público. A falsificação poderá ocorrer por meio da contrafação, quando o agente fabrica, criando selo ou sinal público, como também pela sua alteração, com a modificação do verdadeiro.

Também comete o crime em análise, conforme parte final do inciso II, aquele que falsifica sinal público de tabelião.

Posta em destaque a figura típica, resta avaliar se os fatos a esta se subsomem.

2.2.4.1. Da materialidade delitiva

2.2.4.1.1. Selos – Cartório Nobre Coelho de Cajazeiras

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Como já demonstrado, em busca e apreensão realizada na residência de Francisco Justino e Elaine no dia 26.06.2015, foram apreendidos dois envelopes lacrados contendo o timbre da empresa TECNOVA, destinados à Comissão de Licitação da Prefeitura de Cajazeiras/PB, contendo documentos de habilitação e propostas de preços visando à participação na Concorrência Pública n.º 00002/2015, que seria realizada às 8h30min daquele mesmo dia.

No envelope n.º 01, estavam documentos de habilitação da referida empresa, contendo cópias de documentos com selos de autenticação do Cartório Nobre Coelho de Cajazeiras.

Segundo denunciou o MPF, Justino e Elaine teriam falsificado tais documentos utilizando falso sinal público do tabelião para autenticá-los, considerando que aludidos selos de autenticação não foram regularmente emitidos pelo Cartório Nobre Coelho.

Deferido pedido da defesa de Elaine do Nascimento, foi realizada uma perícia técnica pela Polícia Federal. Dentre as conclusões do perito judicial (Laudo n.º 548/19 – SETEC/SR/PF/PB – Id. n.º 4058202.4228236 – págs. 114/143), destaquem-se:

Entretanto, cabe salientar que as 02 (duas) etiquetas encaminhadas como padrão para confrontamento, apesar de muito similares, não são idênticas àquelas questionadas. Há uma ligeira diferença no layout e na tonalidade da cor (figura 5). O Perito entende que essas divergências não consistem em vestígios de falsidade, haja vista que poderiam ser explicadas, por exemplo, por uma não contemporaneidade entre os modelos. No entanto, não é possível uma afirmação inequívoca neste sentido, pois o Perito não teve acesso a todos os modelos de etiquetas já adotados pelo SERVIÇO REGISTRAL NOBRE COELHO.

(...)

2. Exame grafotécnico nas assinaturas constantes nos referidos selos, para averiguar se foram feitas, ou não, pela oficiala Verônica Dantas Macambira e pela escrevente Christiane Morais de Souza.

Os lançamentos à guisa de rubricas apostos nas 34 etiquetas notariais questionadas procuraram simular a rubrica de Verônica Dantas Macambira Coelho.

Nos confrontos entre estes lançamentos e as respectivas rubricas fornecidas como padrão, às fls. 33/35, foram encontradas divergências gráficas significativas, indicativas de inautenticidade (vide tabela 5).

Entretanto, não é possível uma afirmação inequívoca neste sentido por se tratar de lançamentos sem complexidade gráfica e sobretudo porque a existência de divergências grasfoscópicas entre duas escritas não permite, por si só, concluir categoricamente que elas tenham autorias distintas (isso só é exequível quando o suposto autor não possui habilidade gráfica suficiente para produzir os

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escritos questionados). Essa limitação existe devido às diversas causas de variações na escrita de qualquer pessoa, que são (1) variações normais muito acentuadas; (2) alterações fortuitas; (3) alterações causadas por estados patológicos diversos; (4) alterações deliberadas (disfarce gráfico).

Também não foi encontrado nenhum indício de que Christiane Morais de Souza seja a autora desses manuscritos.

Em face das dificuldades apontadas, o quadro grafoscópico neste caso sustenta moderadamente a hipótese de Verônica Dantas Macambira Coelho e Christiane Morais de Souza não serem as autoras desses manuscritos.

Com efeito, na análise dos selos apreendidos, relativos ao Cartório Nobre Coelho, a perícia técnica não foi conclusiva acima de qualquer dúvida razoável, pois asseverou não ser possível afirmar inequivocamente a presença de vestígios de falsidade e que de que, categoricamente, as rubricas apostas nos selos não partiram do punho da Verônica Dantas Macambira Coelho.

Reputo que o grau de certeza apontado pelos peritos (G IV), porque “as evidências suportam moderadamente – e não fortemente – a hipótese de que os manuscritos questionados não foram produzidos pela mesma pessoa que forneceu os padrões”, não se revela suficiente para ensejar um decreto condenatório.

Além disso, explicou que, não obstante terem sido encontradas divergências gráficas significativas, indicativas de inautenticidade quanto às assinaturas apostas nos referidos selos, “não é possível uma afirmação inequívoca neste sentido por se tratar de lançamentos sem complexidade gráfica e sobretudo porque a existência de divergências grasfoscópicas entre duas escritas não permite, por si só, concluir categoricamente que elas tenham autorias distintas”.

Em seu interrogatório37, o acusado Francisco Justino afirmou que os selos lhe foram entregues pelos próprios cartórios, cujos representantes assim agiam para evitar o trabalho na autenticação de diversos documentos de suas empresas.

Nesse diapasão, torna-se necessário frisar que a prova capaz de fundamentar uma sentença condenatória deve ser sólida e sem margem de dúvidas, além de estar compatível com todo o conjunto probatório durante a instrução processual.

No ponto, considerando as conclusões apresentadas pelo perito, inexiste prova inequívoca de que tenha efetivamente ocorrida a falsificação dos selos de autenticação do Cartório Nobre Coelho de Cajazeiras, conforme denunciou o MPF.

Dessa feita, não havendo provas judicializadas que apontem com inegável segurança a materialidade dos fatos narrados na exordial, impõe-se a absolvição dos agentes com fundamento no princípio do in dúbio pro reo.

37 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608.

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2.2.4.1.2. Selo – Cartório Ramos Formiga de Cajazeiras, utilizado em procuração particular apreendida

Ainda por ocasião da sobredita diligência policial, foi apreendida uma procuração particular em que Elaine outorgou poderes a Francisco Justino para representá-lo na multicitada Concorrência n.º 02/2015.

O MPF, na denúncia, narrou que referida procuração foi selada com um Selo de Reconhecimento de Autenticidade de Assinatura emitido pelo Cartório Ramos Formiga datado do dia 26.06.2015, ou seja, supostamente feita no mesmo dia em que a Polícia Federal, às 6h, cumpriu os mandados da Operação Andaime, o que revelaria a prática do crime de falsificação de selo ou sinal público.

Referido documento também foi encaminhado para análise pericial (Laudo n.º 548/19 – SETEC/SR/PF/PB – Id. n.º 4058202.4228236 – págs. 114/143), cujo resultado apontou que “as características gráficas dos escritos questionados são altamente compatíveis com os hábitos gráficos identificados no padrão”.

Com base nas conclusões periciais, e em consonância com o pedido feito pelo Parquet Federal em suas alegações finais, reputo ausente a demonstração da materialidade da imputação em tela, sendo a absolvição dos denunciados, no ponto, medida que se impõe.

2.2.4.1.3. Carimbos utilizados em autenticações e reconhecimentos de firmas por cartórios.

Na mencionada busca e apreensão realizada na sede da Tec Nova, em 26.06.2015, foram encontrados dois carimbos utilizados em autenticações e reconhecimentos de firmas por cartórios, que, segundo narrou o órgão ministerial, propiciam a falsificação do serviço cartorário, imputando a Francisco Justino e Elaine Alexandra a prática do crime capitulado no art. 296, II, do Código Penal.

Ocorre que, avaliando o relatório de análise de material apreendido – Equipe 04 – Auto de Apreensão n.º 67/2015, da Polícia Federal (id. n.º 4058202.2705641 – págs. 125/126), depreende-se que os indícios de falsificação que recaem sobre referidos carimbos surgiram em conjunto com o material apreendidos nos itens 09, 10 e 11 do relatório, que se referem aos selos de autenticação cartorária, acima analisados.

A análise depreendida por este juízo acerca dos selos cartorários apreendidos por ocasião da referida busca e apreensão, afastando a imputação lançada pelo MPF de eventual prática do delito tipificado no art. 296, II, do CP, deixa em dúvida se houve, de fato, pelos acusados a fabricação, alteração ou mesmo uso, por parte dos acusados, dos carimbos indicados.

Francisco Justino, em seu interrogatório38, negou que tenha falsificado os carimbos, uma vez que “Formiga, do Cartório, tinha esquecido o carimbo de autenticação no

38 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608.

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escritório do depoente e, mesmo após ser lembrado do carimbo, o responsável pelo Cartório teria dito que ele poderia continuar utilizando-o”.

Ante o exposto, não demonstrada a materialidade do crime do art. 296, II, do CP, em razão dos fatos denunciados pelo MPF, merecem os acusados Francisco Justino do Nascimento e Elaine Alexandre do Nascimento ser absolvidos das imputações relativas à falsificação de selos e sinais cartorários, com base no art. 386, VII, do CPP.

2.2.5. Do tipo penal previsto no art. 297 do Código Penal.

O MPF imputa a prática do tipo penal descrito no art. 297, CP aos acusados Francisco Justino e Elaine Alexandre.

O tipo penal acima indicado possui a seguinte redação:

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Cuida-se de crime comum e de forma livre, para cuja caracterização exige-se a presença do dolo (elemento subjetivo), não havendo previsão da modalidade culposa. O bem juridicamente tutelado é a fé pública e o objeto material é documento público, o qual, além de objeto material, funciona, também, como elemento normativo do tipo. Nesse sentido, o documento público possui como requisitos essenciais à sua formação: a qualidade de funcionário público de quem o labora, a criação no exercício das funções públicas e o cumprimento das formalidades legais.

Por outro lado, são documentos públicos por equiparação aqueles que o legislador, para fins de aplicação da pena, decidiu colocar no mesmo patamar dos documentos públicos. São eles: documentos emanados de entidades paraestatais (são as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que atuam ao lado e em colaboração com o Estado); título ao portador ou transmissível por endosso, ações de sociedade comercial, livros mercantis e testamento particular.

O núcleo do tipo consubstancia-se na ação de falsificar, que possui o sentido de fabricar um documento até então inexistente, podendo ser total (o documento é criado em sua integralidade) ou parcial; ou de alterar documento público verdadeiro, que pode se dar mediante a substituição de seu conteúdo com frases, palavras ou números que acarretem mudança em sua essência.

Feitas essas considerações, passo à análise da materialidade delitiva.

2.2.5.1. Materialidade e autoria delitivas

2.2.5.1.1. Documentos apreendidos na residência de Justino e Elaine, bem como na sede da TECNOVA.

O Ministério Público denunciou a possível falsificação de diversos documentos públicos em razão de neles terem sido apostos sinais de tabelião falsificados. A peça ministerial refere-se aos seguintes documentos:

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a) cópia de Certidão de Acervo Técnico – CREA/PB, emitida em favor do engenheiro Moacir Viana Sobreira;

b) cópia de declaração de capacidade técnica, sem data, que teria sido emitida pela Prefeitura Municipal de Bernardino Batista/PB;

c) cópia de Certidão Negativa de Débitos e Certificado de Inscrição de Fornecedores e Prestadores de Serviços, ambos do Município de Cachoeira dos Índios/PB, em favor da TECNOVA; e

d) cópia de Certidão Simplificada da Junta Comercial do Estado da Paraíba, em favor da empresa SERVCON.

O MPF lastrou sua acusação considerando que nos sobreditos documentos foram colocados selos cartorários supostamente falsificados.

Contudo, após análise pericial, não foi atestada de forma inequívoca a falsificação dos selos e sinais cartorários utilizados, inclusive com a absolvição dos acusados (item 2.2.4.1. desta sentença) em relação a essa imputação.

De mais a mais, o órgão acusador não se desincumbiu do seu ônus probatório deixando de demonstrar se efetivamente houve a falsificação ou alteração dos citados documentos públicos, o que poderia ter ocorrido com um simples questionamento aos órgãos públicos responsáveis pela emissão – CREA, Prefeitura de Bernardino Batista/PB, Prefeitura de Cachoeira dos Índios/PB e Junta Comercial da Paraíba.

No ponto, portanto, não ficou comprovada a materialidade do delito de falsificação de documento público, merecendo os acusados Francisco Justino e Elaine ser absolvidos das imputações, com base no art. 386, VII, do CPP.

2.2.5.1.2. Falsificação de documentos do CREA.

O MPF ainda indicou que, por ocasião da busca e apreensão realizada na residência de Francisco Justino e Elaine Alexandre, no dia 26.06.2015, foi apreendida cópia colorida de uma folha de papel timbrado do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia da Paraíba – CREA/PB, em branco, contendo apenas carimbos e assinatura das funcionárias Ricanda Costa de Almeida e Maria Inez Damaceno Mafra Caju39.

A acusação do Parquet Federal se baseou no fato de que, juntamente com os selos em branco de autenticação de documentos também apreendidos, seria a primeira fase da contrafação de um documento público, utilizando folha de papel timbrado para montar certidões e outros documentos falsos em nome do CREA-PB, reproduzindo-os em seguida e realizando a autenticação das cópias com os selos apreendidos.

Quando interrogado, Francisco Justino informou que, em relação à cópia colorida do papel timbrado do CREA constando dois carimbos de funcionários do Conselho, apenas utilizava acervos originais. Além disso, assegurou que o documento

39 Relatório de análise de material apreendido – Equipe 01 – Auto de Apreensão n.º 80/2015 – id. n.º 4058202.2705641 – págs. 41/42.

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tinha sido apresentado pela empresa de Popó em uma licitação e que teria retirado a cópia para denunciar à Prefeitura e o CREA, por suspeitar de sua falsidade.

Não prospera a tese defensiva do acusado. O fato de o documento em questão conter o timbre do CREA e o carimbo com assinatura de duas funcionárias do órgão, sem qualquer conteúdo, demonstra claramente sua falsificação, inclusive com a facilidade de inserção de qualquer conteúdo em seu corpo.

A autoria dos acusados Francisco Justino e Elaine revela-se em razão de o documento falsificado ter sido localizado em sua residência, juntamente com diversos outros relativos à Operação Andaime, sendo certo que, por fazerem parte da organização criminosa revelada nesta ocasião (item 2.2.1. desta sentença), tinham plena consciência da sua ilicitude.

Comprovada a materialidade e autoria por parte de Francisco Justino e Elaine Alexandre da prática do delito tipificado no art. 297 do CP, por terem falsificado documento do CREA-PB.

2.2.6. Do tipo penal previsto no art. 1º, caput, da Lei n.º 9.613/98.

O MPF imputa a prática do tipo penal descrito no art. 1º, caput, da Lei nº 9.613/1998 aos acusados Francisco Justino do Nascimento e Elaine Alexandre do Nascimento.

O tipo penal acima indicado possui a seguinte redação:

Lei 9.613/1998

Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. (Redação dada pela Lei n.º 12.683, de 2012)

Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa. (Redação dada pela Lei n.º 12.683, de 2012)

Gabriel Habib40 aponta que o Crime de "Lavagem" ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores consiste na atividade revestida de objeto lícito que tem por finalidade a transformação de recursos financeiros obtidos de forma ilícita em lícitos, operada por meio de 03 (três) fases: Introdução (placement), dissimulação (layering), e, integração (integration), para que seja ocultada aquela origem ilícita.

O referido autor acentua que a “introdução (placement)” consiste na separação física entre o agente e o produto auferido pelo crime, dificultando a identificação da procedência delituosa do dinheiro. Já a “dissimulação (layering)” é a lavagem propriamente dita, dando-se ares de legalidade por práticas que impedem a descoberta da procedência ilícita dos valores/bens. Finalmente, a “integração (integration)” é a fase na qual os

40 Habib, Gabriel. Leis penais especiais. Tomo I. 7ª Ed. Salvador: JusPodvm, 2015. Pg. 2015.

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valores/bens são formalmente incorporados ao sistema econômico com aparência de objetos lícitos.

Com efeito, o crime de lavagem de dinheiro consuma-se no momento em que o agente delitivo pratica uma ação que envolva os verbos “ocultar” ou “dissimular” a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade do bem, direito ou vantagem. Não se exigindo para a consumação que o agente cumpra todas as etapas/fases da lavagem (introdução/colocação, ocultação/dissimulação e integração), bastando a simples realização da primeira fase “introdução/colocação” ou qualquer outra para que o delito esteja consumado.

O elemento subjetivo necessário à configuração do delito de lavagem está abrangido pelo próprio tipo penal, consistente nos verbos “ocultar” e “dissimular”. Exigindo, todavia, indícios suficientes de que o agente pretende efetivamente “ocultar ou dissimular” e, se a conduta já foi praticada, exigem-se elementos probatórios que demonstrem as ações verbais tipificadas (ocultar/dissimular).

Destaque-se ainda que, nos delitos de lavagem de dinheiro, a tentativa é perfeitamente possível, eis que prevista no art. 1º, § 3º, da Lei nº 9.613/98, e a pena deve ser aumentada de 01 (um) a 02 (dois) terços se os crimes de lavagem forem reiterados ou por intermédio de organização criminosa, nos termos do art. 1º, §4º da citada lei.

Feitas essas considerações, passo à análise da materialidade delitiva, de acordo com cada um dos imóveis denunciados pelo Parquet Federal.

2.2.6.1. Da materialidade e autoria delitiva

2.2.6.1.1. Imóvel na Rua São Sebastião, n.º 118, Cajazeiras/PB.

Na busca e apreensão realizada na residência de Justino e Elaine, no dia 26.06.2015, foi encontrada uma escritura pública de compra e venda de um imóvel residencial situado na Rua São Sebastião, n.º 118, Cajazeiras/PB, datada de 23.02.2015, pelo valor de R$ 30.000,00, constando como comprador Hélito da Silva Alexandre, que é irmão da acusada Elaine Alexandre, e vendedora Rosa Alves de Lacerda.

No entanto, comprovou o MPF que foi verificado, no curso das investigações, que referido imóvel correspondia à sede da empresa TECNOVA e que Hélito da Silva Alexandre, que figurou como comprador do bem, não possui capacidade financeira para sua aquisição, uma vez que é beneficiário do Programa Bolsa Família (NIS 20066312080), com renda per capta declarada de R$ 70,0041.

Compulsando os autos, aufere-se que, na realidade, referido imóvel foi, de fato, adquirido por Justino e Elaine e colocado em nome de Hélito da Silva como estratégia de ocultar o patrimônio acumulado a partir dos crimes cometidos por ambos no seio da organização criminosa revelada a partir da Operação Andaime.

41 Relatório de análise de material apreendido – Equipe 01 – Auto de Apreensão n.º 80/2015 – id. n.º 4058202.2705641 – págs. 30/31.

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Apesar de Justino informar em seu interrogatório42 que a casa da Rua São Sebastião, n.º 118, colocou no nome de Hélito porque este tinha uma parte da herança na casa de sua sogra e pretendia comprar a parte dele com este imóvel, não trouxe qualquer outro elemento que corroborasse com o alegado.

Ouvido na esfera policial, Hélito da Silva confirmou receber a quantia de R$ 70,00 (setenta reais) por mês como benefício do programa Bolsa Família, residir com sua genitora e trabalha com a venda de picolés e salgados em sua própria residência. Ademais, informou não ser o proprietário do imóvel citado na Rua São Sebastião, nº 118, e que Justino lhe pediu para que o imóvel fosse registrado em seu nome (id. n.º 4058202.2705641 – pág. 2/3).

Além do mais, sua esposa, Elaine, e seu sobrinho, Mayco Alexandre, quando ouvidos judicialmente43, confirmaram, enfaticamente, que o imóvel da Rua São Sebastião, n.º 118, pertence a Francisco Justino, sem saber dizer por que estaria registrado em nome de Hélito.

Não se desconhece que a punição pelo delito de lavagem de capitais somente se justifica quando a conduta não seja desdobramento natural do delito antecedente, uma vez que a punição apenas se legitima ao se verificar modo peculiar e eficiente de dificultar a punição do Estado. Nesse sentido, confira-se a doutrina especializada:

“Para a configuração do crime do caput do art. 1 º, é necessária a caracterização de atos de ocultação ou dissimulação de qualquer característica do produto do crime. A mera guarda ou movimentação física do produto do crime, sem ocultação ou dissimulação, não configura o tipo do caput. Assim, se o agente utiliza o capital procedente da infração para comprar imóvel, bens, ou o deposita ou transfere para conta corrente, no Brasil ou no exterior, em seu próprio nome, ou em empresas, fundações ou trusts nas quais consta abertamente como instituidor, não existe o crime em discussão.44

No caso em apreço, portanto, os réus optaram em colocar o imóvel adquirido em nome de terceiro, embora lhes pertencesse de fato a propriedade, usufruindo como se donos fossem, apenas com o intuito de não se vincularem formalmente ao bem.

Assim agindo, Francisco Justino e Elaine Alexandre praticaram o delito do art. 1º, caput, da Lei nº 9.613/1998.

2.2.6.1.2. Imóveis na Rua Santo Antônio, s/n.º e n.º 104.

O Parquet Federal também denunciou que foi encontrada na residência dos acusados Francisco Justino e Elaine Alexandre uma carta de adjudicação, lavrada pelo juízo da Comarca de Cajazeiras/PB, datada de 07.12.1999, em favor de Rosa Alves Lacerda, referente a dois imóveis situados na Rua Santo Antônio, sendo um sem número e outro de n.º 104.

42 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608.

43 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608.

44 BADARÓ, Gustavo Henrique. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais: comentários a Lei 9.613/1998, com as alterações da Lei 12.683/2012. 3. ed, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 120.

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Explicou o órgão acusador que na capa da certidão de registro de imóveis, em que consta a referida carta de adjudicação, consta a seguinte anotação manuscrita: “Procuração de Hélito p/ Jus”, o que denotaria idêntico modus operandi daquele narrado em relação ao imóvel da Rua São Sebastião, n.º 118, em que o irmão de Elaine figura como “proprietário” dos bens.

Apesar das suspeitas surgidas durantes o período investigativo, não houve diligências complementares que confirmassem estarem referidos bens em nome do Hélito da Silva, como acusou o MPF. Não foram juntadas certidões cartorárias dos bens.

No mesmo sentido, em seu depoimento extrajudicial (id. n.º 4058202.2705641 – pág. 2/3), Hélito da Silva não confirmou que o imóvel da casa nº 104 da Rua Santo Antônio lhe pertencia e nem tinha conhecimento de que outros imóveis estariam registrados em seu nome a pedido de Justino. Ademais, indagado acerca da anotação “Procuração de Hélito p/ Jus”, não se recorda de ter passado qualquer procuração para Justino.

Bem, compulsando os autos, observa-se que não constam outros elementos de prova a não ser a carta de adjudicação com a aposição da seguinte frase “Procuração de Hélito p/ Jus”, sem qualquer corroboração em outras provas produzidas nos autos. Assim, não obstante a referida anotação, o Ministério Público não indicou nos autos a existência real do instrumento procuratório ventilado, que possibilitaria Francisco Justino exercer o domínio sobre os bens imóveis.

Durante seus respectivos interrogatórios45, os acusados Justino e Elaine negaram, em uníssono, a propriedade dos bens.

Dessa feita, não havendo possibilidade de condenação criminal fundada apenas com base em indícios e suspeitas, reputo que não restou comprovada a materialidade do crime previsto no art. 1º, caput, da Lei nº 9.613/1998, merecem os acusados Francisco Justino do Nascimento e Elaine Alexandre do Nascimento ser absolvidos das imputações relativas aos Imóveis na Rua Santo Antônio, s/n.º e n.º 104, com base no art. 386, VII, do CPP.

2.2.6.1.3. Imóvel na Rua São Sebastião, n.º 82, Cajazeiras/PB.

A já aludida busca e apreensão ocorrida na residência dos acusados Francisco Justino e Elaine Alexandre do Nascimento também revelou a existência de uma escritura pública de compra e venda de um imóvel residencial situado na Rua São Sebastião, n.º 82, Cajazeiras/PB, datada de 02.07.2013 e constando como compradora Julyanna Emilly Alexadnre do Nascimento, filha do casal46.

Pela escritura pública, Julyanna Emilly teria adquirido referido imóvel, pelo valor de R$ 40.000,00, apesar de, na data do evento, 02.07.2013, contar com apenas treze anos de idade e sem qualquer capacidade financeira para aquisição do bem.

45 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608.

46 Relatório de análise de material apreendido – Equipe 01 – Auto de Apreensão n.º 80/2015 – id. n.º 4058202.2705641 – págs. 30/31.

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Durante seu interrogatório47, Francisco Justino indicou que teria adquirido o bem com os recursos recebidos durante doze anos de trabalho como policial militar e com a venda de confecções, colocando-o em nome de sua filha a pedido de sua esposa, Elaine.

Todavia, além de o acusado não ter comprovado documentalmente sua tese defensiva, a aquisição do questionado bem ocorreu no auge de suas atividades ilícitas frente à organização criminosa por ele operacionalizada, aliado ao fato de que a sua filha claramente não tinha capacidade financeira para dispender de todo aquele dinheiro.

Não se desconhece que a punição pelo delito de lavagem de capitais somente se justifica quando a conduta não seja desdobramento natural do delito antecedente, uma vez que a punição apenas se legitima ao se verificar modo peculiar e eficiente de dificultar a punição do Estado. Nesse sentido, confira-se a doutrina especializada:

“Para a configuração do crime do caput do art. 1 º, é necessária a caracterização de atos de ocultação ou dissimulação de qualquer característica do produto do crime. A mera guarda ou movimentação física do produto do crime, sem ocultação ou dissimulação, não configura o tipo do caput. Assim, se o agente utiliza o capital procedente da infração para comprar imóvel, bens, ou o deposita ou transfere para conta corrente, no Brasil ou no exterior, em seu próprio nome, ou em empresas, fundações ou trusts nas quais consta abertamente como instituidor, não existe o crime em discussão.48

No caso em apreço, portanto, os réus optaram em colocar o imóvel adquirido em nome de terceiro, embora lhes pertencesse de fato a propriedade, usufruindo como se donos fossem, apenas com o intuito de não se vincularem formalmente ao bem.

Dessa feita, comprovadas a materialidade e autoria de Francisco Justino e Elaine Alexandre da prática do delito do art. 1º, caput, da Lei nº 9.613/1998, no tocante ao imóvel localizado na Rua São Sebastião, n.º 82, Cajazeiras/PB.

2.2.7. Do tipo penal previsto no art. 1º, §1º, II, da Lei n.º 9.613/98.

2.2.7.1. Da materialidade e autoria delitiva

O MPF também denunciou Francisco Justino e Elaine Alexandre, imputando-lhes a prática do delito tipificado no art. 1º, §1º, II, da Lei n.º 9.613/98, que prevê:

Lei n.º 9.613/98

Art. 1º (...)

§ 1o Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal: (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

47 Interrogatório gravado em mídia física – CD fl. 608.

48 BADARÓ, Gustavo Henrique. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais: comentários a Lei 9.613/1998, com as alterações da Lei 12.683/2012. 3. ed, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 120.

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(...)

II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere;

Argumenta o Parquet Federal que, durante a diligência de busca e apreensão realizada na residência dos acusados, foi encontrada a quantia de R$ 174.905,00, em espécie, o que configuraria a prática do delito.

A punição pelo delito de lavagem de capitais somente se justifica quando a conduta não seja desdobramento natural do delito antecedente, uma vez que a punição apenas se legitima ao se verificar modo peculiar e eficiente de dificultar a punição do Estado. Nesse sentido, confira-se a doutrina especializada:

“O inc. II é composto de várias condutas (tipo penal de ação múltipla), valendo aqui a ressalva que a prática de mais de uma delas não importa a pluralidade de delitos, mas um único ato criminoso. Analisemos o dispositivo por etapas. Em primeiro lugar, alcança o tipo penal aquele adquire, recebe, ou recebe em garantia os bens de origem ilícita. Nesses casos, apenas será sujeito ativo do delito quem que não praticou a infração antecedente, uma vez que não parece fazer sentido que o possuidor do bem ilícito o adquira, receba ou receba em garantia. Não se admite a autolavagem nesses âmbitos em decorrência da lógica do próprio texto legal, (...). Em primeiro lugar, não parece possível punir por essa modalidade o autor do delito antecedente sem violação do princípio ne bis in idem, pois o agente seria responsabilizado pelo crime e pelo fato de manter em sua posse o produto dele decorrente, sendo este último mera consequência natural do primeiro. Por isso, a modalidade de ‘guardar ou ter em depósito’, não admite a autolavagem. (...)”.49

Na espécie, tenho que a apreensão pura e simples da referida quantia em poder dos acusados não se demonstra suficiente à comprovação da prática do delito em tela. O Relatório de análise de material apreendido – Equipe 01 – Auto de Apreensão n.º 80/201550, que revela a apreensão do dinheiro, não especifica em quais condições os valores foram encontrados durante a diligência, e a mera guarda do numerário – conceito que difere de ocultação – não se apresenta suficiente ao preenchimento dos conceitos do art. 1º da Lei n.º 9.613/1998.

Ademais, o tipo exige a presença de um elemento subjetivo especial consistente na finalidade de ocultação. A esse respeito, o STJ já se manifestou no sentido de que, “no crime de "lavagem" ou ocultação de valores de que trata o inciso II do § 1° do art. 1º da Lei 9.613/98, as ações de adquirir, receber, guardar ou ter em depósito constituem elementos nucleares do tipo, que, todavia, se compõe, ainda, pelo elemento subjetivo consistente na peculiar finalidade do agente de, praticando tais ações, atingir o propósito de ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de quaisquer dos crimes indicados na norma incriminadora.” (APn 472/ES, Rel. Ministro TEORI ZAVASCKI, CORTE ESPECIAL, DJe 8/9/2011).

49 BADARÓ, Gustavo Henrique. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais: comentários a Lei 9.613/1998, com as alterações da Lei 12.683/2012. 3. ed, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, pp. 156-157. 50 Id. n.º 4058202.2705641 – pág. 46.

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No caso em exame, não foram apontados pela autoridade de persecução penal onde estava guardado o dinheiro e em quais circunstâncias foram encontrados os valores em espécie de maneira que pudesse, ainda, supostamente inferir a finalidade de ocultação do patrimônio.

Sendo assim, não comprovada a materialidade do crime analisado, deverão os acusados Francisco Justino do Nascimento e Elaine Alexandre do Nascimento ser absolvidos da respectiva imputação, com base no art. 386, VII, do CPP.

2.2.8 Do tipo penal previsto no artigo 12 da Lei n.º 10.826/2003.

O MPF imputa a prática do tipo penal descrito no art. 12 da Lei n.º 10.826/2003 ao acusado Horley Fernandes.

O tipo penal acima indicado possui a seguinte redação:

Lei 10.826/2003

Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:

Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Os delitos de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido (ar. 12 da Lei n.º 10.826/2003) e posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito na sua figura equiparada (art. 16, p. único, I, Lei n.º 10.826/03) constituem-se como delitos de perigo abstrato ou presumido, dispensando que seja comprovada a exposição do bem jurídico protegido à ameaça de lesão, além de se tratar de crime de mera conduta, consumando-se com a prática de qualquer das condutas nucleares previstas em ambos os artigos, independentemente da produção de resultado naturalístico.

Em igual sentido:

[…] 2. A caracterização dos crimes previstos nos arts. 12 e 16 da Lei 10.826/03 não está condicionada a perícia sobre a potencialidade lesiva das munições apreendidas, pois se trata de crimes de mera conduta, de perigo abstrato, que se perfazem com a simples posse ou guarda da munição, sem a devida autorização pela autoridade administrativa competente. […] (STJ. HC 96143/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 27/05/2010, DJe 21/06/2010).

Importante diferenciar posse de arma de fogo do porte de arma:

[…] I - Não se pode confundir posse irregular de arma de fogo com o porte ilegal de arma de fogo. Com o advento do Estatuto do Desarmamento, tais condutas restaram bem delineadas. A posse consiste em manter no interior de residência (ou dependência desta) ou no local de trabalho a arma de fogo. O porte, por sua vez,

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pressupõe que a arma de fogo esteja fora da residência ou local de trabalho. […] Writ denegado. (STJ, HC 39.787/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 07/04/2005, DJ 23/05/2005, p. 318).

Importante observar que é crime comum, na primeira parte, e próprio na segunda parte, pois o tipo exige que o agente seja o titular ou responsável pelo estabelecimento ou empresa.

Feitas essas considerações, passo à análise do caso concreto.

2.2.8.1. Da materialidade e autoria delitiva

Houve busca e apreensão na residência do réu Horley Fernandes, oportunidade em que foram apreendidas arma e munições, conforme detalhado no auto de apreensão n.º 84/2015 - IPL n.º 122/2015-DPF/PAT/PB (id. n.º 4058202.2705888 – pág. 9).

Laudo de n.º 430/2015-SETEC/SR/DPF/PB concluiu pela aptidão dos bens apreendidos para uso e/ou funcionamento (id. n.º 4058202.2705634).

Assim, verifica-se que a materialidade restou comprovada, pois as munições e arma de fogo de uso permitido estavam na posse do réu, uma vez que foram apreendidas na em sua residência.

Em relação à autoria delitiva do réu Horley Fernandes, as provas são flagrantes, já que a arma e as munições foram apreendidas na sede da empresa de propriedade do réu.

Verifica-se que, em momento algum, ao longo da instrução probatória, a defesa rebateu a acusação deste delito, estando demonstrado que o réu agiu de forma livre e consciente, razão pela qual merece ser condenado às sanções capituladas acima.

Dessa forma, deve o acusado Horley Fernandes ser condenado às sanções do art. 12 da Lei n.º 10.826/2003, vez que presentes materialidade e autoria delitivas.

2.2.9 Do tipo penal previsto no artigo 347 do Código Penal.

Na denúncia, o Ministério Público Federal imputou a Horley Fernandes e ao advogado Jonas Bráulio de Carvalho Rolim a prática do delito capitulado no art. 347 do Código Penal, consistente em fraude processual, ao argumento de que teriam inovado artificiosamente o estado de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito.

Ocorre que em benefício de Jonas Bráulio de Carvalho Rolim foi impetrado Habeas Corpus perante o Egrégio Tribunal Regional Federal da 5ª Região, que, concedendo a ordem pleiteada, determinou o trancamento do presente feito em relação ao ora acusado por reconhecer a atipicidade da conduta descrita pelo órgão ministerial, não estando configurado, na hipótese, o delito de fraude processual (id. n.º 4058202.2705600 - págs. 46/53).

Como o acusado Horley Fernandes, apesar de não ter figurado no referido writ, encontra-se em situação objetiva idêntica à do paciente beneficiado pela concessão da

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ordem (STF, 2ª Turma, HC 87.768/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 29/03/2011, DJe 73 15/04/2011), já que o Parquet não individualizou distinção entre as condutas, a ele se aproveita a conclusão pela atipicidade.

Nesse sentido, impõe-se a absolvição de Horley Fernandes em relação à imputação do art. 347 do Código Penal, considerando a atipicidade da conduta narrada pelo MPF, com fundamento no art. 386, III, do CPP.

3. DISPOSITIVO.

Diante do exposto:

a) declaro a incompetência da Justiça Federal para processar e julgar o presente feito quanto à eventual prática do crime do art. 90 da Lei n.º 8.666/93 nas licitações Convite n.º 14/2012, Convite n.º 01/2013 e Convite n.º 07/2013, todas do Município de Cajazeiras/PB, determinando à Secretaria providências necessárias de remessa ao Juízo Estadual da Comarca de Cajazeiras/PB, competente para julgar o feito em relação à possível fraude nos referidos procedimentos licitatórios.

b) julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE a pretensão punitiva deduzida na denúncia para:

b.1) absolver FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, HORLEY FERNANDES e GERALDO MARCOLINO, estes em relação ao Convite n.º 06/2013 de Santa Helena, Pregão n.º 01/2013 de Joca Claudino e Concorrência n.º 01/2014 de Joca Claudino, FERNANDO ALEXANDRE ESTRELA, em relação ao Convite n.º 06/2013, e MAYCO ALEXANDRE GOMES, em relação ao Pregão n.º 01/2013, Tomada de Preços n.º 01/2014 e Concorrência n.º 01/2014 de Joca Claudino, da prática da prática do crime previsto no art. 90 da Lei n.º 8.666/93, nos termos do art. 386, VII, do CPP;

b.2) absolver FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, no tocante unicamente à duplicidade de CPF, FERNANDO ALEXANDRE ESTRELA, CARLOS RENATO ANDRADE GONÇALVES e MARCOS JOSÉ DE OLIVEIRA, da prática do crime previsto no art. 299 do Código Penal, nos termos do art. 386, VII, do CPP;

b.3) absolver FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO e ELAINE ALEXANDRE DO NASCIMENTO da prática do crime previsto no art. 296, II, do CP, nos termos do art. 386, VII, do CPP;

b.4) absolver FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO e ELAINE ALEXANDRE DO NASCIMENTO da prática do crime previsto no art. 297 do CP, em relação aos documentos apreendidos na residência de Justino e Elaine, bem como na sede da TECNOVA, nos termos do art. 386, VII, do CPP;

b.5) absolver FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO e ELAINE ALEXANDRE DO NASCIMENTO da prática dos crimes previstos no art. 1º, caput e §1º, inciso II, da Lei n.º 9.613/98, em relação unicamente aos imóveis da Rua Santo Antônio, s/n.º e n.º 104, e dinheiro apreendido, o que faço nos termos do art. 386, VII, do CPP;

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b.6) absolver HORLEY FERNANDES da prática do crime tipificado no art. 347 do Código Penal, nos termos do art. 386, III, do CPP;

b.7) condenar FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, ELAINE ALEXANDRE DO NASCIMENTO, FERNANDO ALEXANDRE ESTRELA, MAYCO ALEXANDRE GOMES, HORLEY FERNANDES e GERALDO MARCOLINO DA SILVA nas sanções previstas no art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013, na forma dos arts. 29 e 69, ambos do CP;

b.8) condenar FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO, FERNANDO ALEXANDRE ESTRELA, HORLEY FERNANDES e GERALDO MARCOLINO DA SILVA nas sanções prescritas no art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93 c/c art. 14, II, do CP, na forma dos arts. 29 e 69 (todos por duas vezes – Concorrência nº 01/2014 em Uiraúna-PB e Tomada de Preços nº 01/2014 em Joca Claudino-PB), em concurso material, ambos do Código Penal;

b.9) condenar FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO (por uma vez – Livro Diário da Servcon) e ELAINE ALEXANDRE DO NASCIMENTO (por duas vezes) nas sanções prescritas no art. 299 do Código Penal, na forma dos arts. 29 e 69, em concurso material, ambos do CP;

b.10) condenar FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO e ELAINE ALEXANDRE DO NASCIMENTO (uma vez – doc. CREA) nas sanções prescritas no art. 297 do Código Penal, na forma dos arts. 29 e 69, ambos do CP;

b.11) condenar FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO (por duas vezes) e ELAINE ALEXANDRE DO NASCIMENTO (por duas vezes) nas sanções prescritas no art. 1º, caput, da Lei n.º 9.613/98, na forma dos arts. 29 e 69, em concurso material, ambos do CP;

b.12) condenar HORLEY FERNANDES nas sanções prescritas no art. 12 da Lei n.º 10.826/2003.

Passo, pois, à dosimetria da pena a ser imposta aos condenados (art. 68 CP), analisando as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal, a eventual existência de circunstâncias agravantes e atenuantes, de causas de aumento e diminuição de pena, bem como, ao final, a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade aplicada por pena(s) restritiva(s) de direito ou de suspensão condicional da pena (sursis).

3.1. Do réu FRANCISCO JUSTINO DO NASCIMENTO

3.1.1. Art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

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b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: são desfavoráveis, pois a estrutura organizacional do grupo criminoso foi determinante para a realização de diversos crimes e, por consequência, como demonstrado nestes autos, causou elevado prejuízo ao erário público e a diversas comunidades locais carentes.

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da existência de uma circunstância judicial desfavorável, fixo a pena-base em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes.

Não há causas de aumento e nem de diminuição de pena.

Causas de diminuição e aumento.

Não há causas de aumento ou diminuição o de pena.

Não havendo, todavia, causa de diminuição, torno a pena definitiva em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 53 (cinquenta e três) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos (2014), o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

3.1.2. Art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93 em relação à Concorrência n.º 01/2014 de Uiraúna.

Dosagem da Pena-Base

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Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: não foram desfavoráveis, vez que o delito não chegou a se consumar;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da inexistência de uma circunstância judicial desfavorável, fixando a pena-base em 02 (dois) anos de detenção, no mínimo legal.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Como o delito não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do réu (art. 14, parágrafo único, do CP), que esgotou todos os atos executórios à sua disposição, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que fazendo, fixo a pena definitiva em 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de detenção.

Pena de multa.

Considerando o disposto no art. 99 da Lei n.º 8.666/93, fixo a pena de multa em 2% (dois por cento) do valor do contrato (R$3.043.628,00), correspondente a R$ 60.872,56, levando em consideração a situação econômica do réu e o grau de sua culpabilidade. Considerando a causa de diminuição por força do art. 14, II, do CP, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que perfaz a quantia de R$40.581,71.

3.1.3. Art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93 em relação à Tomada de Preços n.º 01/2014 de Joca Claudino.

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Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: não foram desfavoráveis, vez que o delito não chegou a se consumar;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da inexistência de uma circunstância judicial desfavorável, fixando a pena-base em 02 (dois) anos de detenção, no mínimo legal.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Como o delito não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do réu (art. 14, parágrafo único, do CP), que esgotou todos os atos executórios à sua disposição, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que fazendo, fixo a pena definitiva em 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de detenção.

Pena de multa

Considerando o disposto no art. 99 da Lei n.º 8.666/93, fixo a pena de multa em 2% (dois por cento) do valor do contrato (R$ 986.285,27), correspondente a R$19.725,70, levando em consideração a situação econômica do réu e o grau de sua culpabilidade. Considerando a causa de diminuição por força do art. 14, II, do CP, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que perfaz a quantia de R$ 13.150,46.

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3.1.4. Art. 297 do Código Penal, em relação ao documento do CREA.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: foram normais à espécie, pois a falsificação se destinou a alterar a verdade dos fatos e iludir o leitor, portanto, inerente ao tipo penal;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da inexistência de circunstância judicial desfavorável, fixo a pena-base no mínimo legal, em 02 (dois) anos de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Não há causas de aumento ou diminuição o de pena.

Fixo a pena definitiva em 02 (dois) anos de reclusão.

Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 10 (dez) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos (26.06.2015 – data da busca e apreensão), o qual deverá ser atualizado.

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Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

3.1.5. Art. 299 do Código Penal, em relação ao Livro Diário da SERVCON.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: caracterizados como a fonte propulsora da vontade criminosa51, não merecem valoração outra daquela já fixada pelo próprio tipo penal;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: merecem valoração distinta, considerando que o documento falsificado se refere a empresa fantasma utilizada por organização criminosa para a prática de delitos;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da existência de uma circunstância judicial desfavorável, acrescento ao mínimo legal o quantum de 03 (três) meses, fixando a pena-base em 01 (um) ano e 03 (três) meses de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Não há causas de aumento ou diminuição.

51 Conforme Cezar Roberto Bittencourt. Tratado de Direito Penal, Vol. 1. 11ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 578.

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Fixo a pena definitiva em 01 (um) ano e 03 (três) meses de reclusão.

Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 53 (cinquenta e três) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos, o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

3.1.6. Art. 1º, caput, da Lei n.º 9.613/98, em relação aos imóveis da Rua São Sebastião, n.º 82 e 118, ambos em Cajazeiras/PB.

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: foram normais à espécie, pois a ocultação dos recursos teve como finalidade dificultar a identificação da sua origem, portanto, inerente ao tipo penal;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da inexistência de circunstância judicial desfavorável, fixo a pena-base no mínimo legal, em 03 (três) anos de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

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Incide, na hipótese, a causa especial de aumento de pena prevista no §4º do art. 1º da Lei n.º 9.613/1998, uma vez que, como já ficou comprovado nos autos acima, o crime foi praticado de forma reiterada e por intermédio de organização criminosa, razão pela qual merece a pena ser aumentada em 1/3 (um terço).

Não há, por outro lado, causa de diminuição o de pena.

Fixo a pena definitiva em 04 (quatro) anos de reclusão.

Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 60 (sessenta) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos, o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

Reunião das penas.

Observo que os crimes subsequentes não foram continuação do primeiro, a postura do réu consistiu na prática de várias ações sequenciais ou paralelas, com o intuito de praticar os crimes narrados, sem a presença de semelhança nas condições de tempo. Igualmente, alguns ocorreram em municípios diferentes, Uiraúna, Cajazeiras e Joca Claudino, embora as maneiras de execução tenham sido semelhantes, mas a ficção jurídica do crime continuado não deve ser aplicada porque as diversas ações praticadas se deram sem conexões necessárias entre si e em condições de tempo distintas.

Nas lições de Cezar Bitencourt:

Deve existir, em outros termos, uma certa periodicidade que permita observar-se um certo ritmo, uma certa uniformidade, entre as ações sucessivas, embora não se possam fixar, a respeito, indicações precisas.

A condição de tempo é o que a doutrina alemã chama de “conexão temporal adequada”, isto é, uma certa continuidade de tempo. No entanto, essa continuidade temporal será irrelevante se não se fizerem presentes outros indícios objetivos de continuação das

ações.52

Aplicável o disposto no art. 69 do CP, e, por consequência, havendo condenação às penas dos 6 crimes acima descritos, reúno o quantum de todas as condenações, totalizando a pena de cumprimento em 13 (treze) anos, 06 (seis) meses e 15 (quinze) dias.

No que tange à pena de multa, o total deve ser a soma dos 176 (cento e setenta e seis) dias-multa acrescido dos R$53.732,17, aplicáveis nos itens acima.

52 Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de direito penal : parte geral, 1 – 17. ed. rev., ampl. e atual. De acordo com a Lei n. 12.550, de 2011. – São Paulo : Saraiva, 2012, p. 648.

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Eficácia do acordo de colaboração premiada

Com fundamento no §11 do art. 4º da Lei de n.º 12.850/2013, a sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia, podendo o juiz conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:

I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;

II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;

III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;

IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;

V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

Em outras palavras, o instituto da delação premiada incide quando o agente colabora voluntária e efetivamente com a investigação e com o processo criminal. Esse testemunho qualificado deve vir acompanhado da admissão de culpa e servir para a identificação dos demais coautores ou partícipes e para esclarecimento das infrações penais (STJ, REsp no 1.102.736/SP, rel. Min. Laurita Vaz, 5a T., j. em 4/3/2010, DJe 29/03/2010).

Cumpre ainda destacar que a delação premiada pressupõe a assunção da prática criminosa pelo agente, o que desautoriza a aplicação da atenuante de confissão espontânea (art. 65, III, d, do CP), na segunda fase da dosimetria da pena, em conjunto com os benefícios da delação premiada (§14 do art. 4º da Lei de nº 12.850/2013), na terceira etapa do cálculo da pena, sob pena de inadmissível dupla valoração do mesmo fato, ainda que para beneficiar o acusado.

No caso em exame, tenho que o réu colaborador Francisco Justino do Nascimento foi o primeiro a fazer o acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal, sendo homologado por este juízo no bojo dos autos do processo de nº 0000557-18.2015.4.05.8202 e juntado aos autos por determinação da decisão de id. n.º id. n.º 4058202.2705632 – págs. 1/3 (id. n.º 4058202.2705676 a 4058202.2705683 e anexo físico).

Além disso, foi possível perceber que o réu efetivamente colaborou na identificação dos demais agentes envolvidos na organização criminosa, declinando o modus operandi da estrutura organizacional e a participação de cada um dos envolvidos citados acima, permitindo ao juízo e ao órgão ministerial a percepção das atribuições individuais dos agentes.

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Diante de tais considerações, reputo relevantes as contribuições trazidas pelo colaborador a ponto de merecer a redução da pena no patamar de 2/3 (dois terços) do total aplicável acima.

Portanto, em face de tais considerações, torno a pena total definitiva para o réu em 04 (quatro) anos, 06 (seis) meses e 05 (cinco) dias.

Conforme requerido pelo Ministério Público em sede de alegações finais, em caso de sentença condenatória, pugnou pela concessão dos benefícios previstos na Cláusula Quinta do referido acordo, notadamente para que, na eventual imposição de pena privativa de liberdade, independentemente do patamar alcançado, seja fixado o regime inicial aberto, e que as penas de multa eventualmente impostas sejam estabelecidas no mínimo legal (Cláusula 5ª, inciso X, alíneas “a” e “h”).

Desta forma, o total da pena de multa arbitrada acima deverá sofrer a redução para o mínimo legal, consistindo no mesmo patamar quanto ao valor de R$53.732,17 acrescidos de 40 (quarenta) dias-multa, no mínimo legal.

Regime inicial de cumprimento:

Em que pese o parâmetro estabeleça que a pena privativa de liberdade deveria ser inicialmente cumprida no regime semiaberto, com base no art. 33, § 2º, alínea “b”, do Código Penal, com base no acordo de colaboração, o regime inicial será o aberto.

Da substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos e da suspensão condicional da pena:

Considerando o montante da pena aplicada (EDACR 20030500023309501, Desembargador Federal Manoel Erhardt, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data:13/11/2013), deixo de substituir a pena privativa de liberdade, em razão do não preenchimento da condição estipulada no artigo 44, I, do Código Penal.

3.2. Da ré ELAINE DA SILVA ALEXANDRE

3.2.1. Art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: a ré não possui maus antecedentes, já que contra ela não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social da ré;

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d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: são desfavoráveis, pois a estrutura organizacional do grupo criminoso foi determinante para a realização de diversos crimes e, por consequência, como demonstrado nestes autos, causou elevado prejuízo ao erário público e a diversas comunidades locais carentes.

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da existência de uma circunstância judicial desfavorável, fixo a pena-base em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes.

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Não há causas de aumento ou diminuição o de pena.

Fixo a pena definitiva em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 53 (cinquenta e três) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos (2014), o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

3.2.2. Art. 297 do Código Penal, em relação ao documento do CREA.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

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b) Antecedentes: a ré não possui maus antecedentes, já que contra ela não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social da ré;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: foram normais à espécie, pois a falsificação se destinou a alterar a verdade dos fatos e iludir o leitor, portanto, inerente ao tipo penal;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da inexistência de circunstância judicial desfavorável, fixo a pena-base no mínimo legal, em 02 (dois) anos de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Não há causas de aumento ou diminuição o de pena.

Fixo a pena definitiva em 02 (dois) anos de reclusão.

Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 10 (dez) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos (26.06.2015 – data da busca e apreensão), o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

3.2.3. Art. 299 do Código Penal, em relação ao CPF duplicado.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

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a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: a ré não possui maus antecedentes, já que contra ela não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social da ré;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: caracterizados como a fonte propulsora da vontade criminosa53, não merecem valoração outra daquela já fixada pelo próprio tipo penal;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: merecem valoração distinta, considerando que manteve os dois registros no CPF ativos, utilizando-os para figurar no quadro societário de diferentes empresas administradas de fato pelo seu esposo;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da existência de uma circunstância judicial desfavorável, acrescento ao mínimo legal o quantum de 03 (três) meses, fixando a pena-base em 01 (um) ano e 03 (três) meses de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Não há causas de aumento ou diminuição.

Fixo a pena definitiva em 01 (um) ano e 03 (três) meses de reclusão.

Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 53 (cinquenta e três) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos, o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

53 Conforme Cezar Roberto Bittencourt. Tratado de Direito Penal, Vol. 1. 11ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 578.

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3.2.4. Art. 299 do Código Penal, em relação ao Demonstrativo de resultado da empresa TECNOVA (exercício 2014).

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: a ré não possui maus antecedentes, já que contra ela não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social da ré;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: caracterizados como a fonte propulsora da vontade criminosa54, não merecem valoração outra daquela já fixada pelo próprio tipo penal;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: merecem valoração distinta, considerando que o documento falsificado refere-se à empresa fantasma utilizada por organização criminosa para a prática de delitos;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da existência de uma circunstância judicial desfavorável, acrescento ao mínimo legal o quantum de 03 (três) meses, fixando a pena-base em 01 (um) ano e 03 (três) meses de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Não há causas de aumento ou diminuição.

Fixo a pena definitiva em 01 (um) ano e 03 (três) meses de reclusão.

54 Conforme Cezar Roberto Bittencourt. Tratado de Direito Penal, Vol. 1. 11ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 578.

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Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 53 (cinquenta e três) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos, o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

3.2.5. Art. 1º, caput, da Lei n.º 9.613/98, em relação aos imóveis da Rua São Sebastião, n.º 82 e 118, ambos em Cajazeiras/PB.

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: a ré não possui maus antecedentes, já que contra ela não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social da ré;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: foram normais à espécie, pois a ocultação dos recursos teve como finalidade dificultar a identificação da sua origem, portanto, inerente ao tipo penal;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da inexistência de circunstância judicial desfavorável, fixo a pena-base no mínimo legal, em 03 (três) anos de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Incide, na hipótese, a causa especial de aumento de pena prevista no §4º do art. 1º da Lei n.º 9.613/1998, uma vez que, como já ficou comprovado nos autos acima, o

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crime foi praticado de forma reiterada e por intermédio de organização criminosa, razão pela qual merece a pena ser aumentada em 1/3 (um terço).

Não há, por outro lado, causa de diminuição o de pena.

Fixo a pena definitiva em 04 (quatro) anos de reclusão.

Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 60 (sessenta) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos, o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

Reunião das penas.

Aplicável o disposto no art. 69 do CP, e, por consequência, havendo condenação às penas dos 5 crimes acima descritos, reúno o quantum de todas as condenações, totalizando a pena de cumprimento em 12 (doze) anos, 01 (um) mês e 15 (quinze) dias.

No que tange à pena de multa, o total deve ser a soma dos 229 (duzentos e vinte e nove) dias-multa, aplicáveis nos itens acima.

Eficácia do acordo de colaboração premiada

Com fundamento no §11 do art. 4º da Lei de n.º 12.850/2013, a sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia, podendo o juiz conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:

I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;

II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;

III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;

IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;

V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

Em outras palavras, o instituto da delação premiada incide quando o agente colabora voluntária e efetivamente com a investigação e com o processo criminal. Esse

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testemunho qualificado deve vir acompanhado da admissão de culpa e servir para a identificação dos demais coautores ou partícipes e para esclarecimento das infrações penais (STJ, REsp no 1.102.736/SP, rel. Min. Laurita Vaz, 5a T., j. em 4/3/2010, DJe 29/03/2010).

Cumpre ainda destacar que a delação premiada pressupõe a assunção da prática criminosa pelo agente, o que desautoriza a aplicação da atenuante de confissão espontânea (art. 65, III, d, do CP), na segunda fase da dosimetria da pena, em conjunto com os benefícios da delação premiada (§14 do art. 4º da Lei de nº 12.850/2013), na terceira etapa do cálculo da pena, sob pena de inadmissível dupla valoração do mesmo fato, ainda que para beneficiar o acusado.

No caso em exame, tenho que a ré, malgrado tenha celebrado acordo de colaboração premiada com o Ministério Público, homologado por este juízo no bojo dos autos do Processo n.º 0000861-17.2015.4.05.8202, não colaborou efetivamente, porquanto, além de negar sua participação nos fatos narrados, não identificou a participação de nenhum outro coautor ou partícipe da organização criminosa.

Dessa feita, não faz jus a acusada aos benefícios firmados no acordo.

Portanto, em face de tais considerações, torno a pena total definitiva para a ré em 12 (doze) anos, 01 (um) mês e 15 (quinze) dias e 229 (duzentos e vinte e nove) dias-multa.

Regime inicial de cumprimento:

Em que pese o parâmetro estabeleça que a pena privativa de liberdade deveria ser inicialmente cumprida no regime fechado, com base no art. 33, § 2º, alínea “a”, do Código Penal, com base no acordo de colaboração premiada fechado, homologado e devidamente cumprido, como já analisado, com o réu Francisco Justino do Nascimento, o regime inicial para a acusada será o aberto (Cláusula Quinta, X, “a” (id. n.º 4058202.2705676 – pág. 16).

Da substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos e da suspensão condicional da pena:

Considerando o montante da pena aplicada (EDACR 20030500023309501, Desembargador Federal Manoel Erhardt, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data:13/11/2013), deixo de substituir a pena privativa de liberdade, em razão do não preenchimento da condição estipulada no artigo 44, I, do Código Penal.

3.3. Do réu FERNANDO ALEXANDRE ESTRELA

3.3.1. Art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

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a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: são desfavoráveis, pois a estrutura organizacional do grupo criminoso foi determinante para a realização de diversos crimes e, por consequência, como demonstrado nestes autos, causou elevado prejuízo ao erário público e a diversas comunidades locais carentes.

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da existência de uma circunstância judicial desfavorável, fixo a pena-base em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes.

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Não há causas de aumento ou diminuição o de pena.

Fixo a pena definitiva em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 53 (cinquenta e três) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos (2014), o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

3.3.2. Art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93 em relação à Concorrência n.º 01/2014 de Uiraúna.

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Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: não foram desfavoráveis, vez que o delito não chegou a se consumar;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da inexistência de uma circunstância judicial desfavorável, fixando a pena-base em 02 (dois) anos de detenção, no mínimo legal.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Como o delito não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do réu (art. 14, parágrafo único, do CP), que esgotou todos os atos executórios à sua disposição, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que fazendo, fixo a pena definitiva em 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de detenção.

Pena de multa.

Considerando o disposto no art. 99 da Lei n.º 8.666/93, fixo a pena de multa em 2% (dois por cento) do valor do contrato (R$3.043.628,00), correspondente a R$ 60.872,56, levando em consideração a situação econômica do réu e o grau de sua culpabilidade. Considerando a causa de diminuição por força do art. 14, II, do CP, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que perfaz a quantia de R$40.581,71.

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3.3.3. Art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93 em relação à Tomada de Preços n.º 01/2014 de Joca Claudino.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: não foram desfavoráveis, vez que o delito não chegou a se consumar;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da inexistência de uma circunstância judicial desfavorável, fixando a pena-base em 02 (dois) anos de detenção, no mínimo legal.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Como o delito não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do réu (art. 14, parágrafo único, do CP), que esgotou todos os atos executórios à sua disposição, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que fazendo, fixo a pena definitiva em 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de detenção.

Pena de multa

Considerando o disposto no art. 99 da Lei n.º 8.666/93, fixo a pena de multa em 2% (dois por cento) do valor do contrato (R$986.285,27), correspondente a R$19.725,70, levando em consideração a situação econômica do réu e o grau de sua

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culpabilidade. Considerando a causa de diminuição por força do art. 14, II, do CP, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que perfaz a quantia de R$13.150,46.

Reunião das penas.

Aplicável o disposto no art. 69 do CP, e, por consequência, havendo condenação às penas dos 6 crimes acima descritos, reúno o quantum de todas as condenações, totalizando a pena de cumprimento em 06 (seis) anos, 03 (três) meses e 15 (quinze) dias.

No que tange à pena de multa, o total deve ser a soma dos 53 (cinquenta e três) dias-multa acrescido dos R$ 53.732,17, aplicáveis nos itens acima.

Eficácia do acordo de colaboração premiada

Com fundamento no §11 do art. 4º da Lei de n.º 12.850/2013, a sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia, podendo o juiz conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:

I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;

II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;

III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;

IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;

V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

Em outras palavras, o instituto da delação premiada incide quando o agente colabora voluntária e efetivamente com a investigação e com o processo criminal. Esse testemunho qualificado deve vir acompanhado da admissão de culpa e servir para a identificação dos demais coautores ou partícipes e para esclarecimento das infrações penais (STJ, REsp no 1.102.736/SP, rel. Min. Laurita Vaz, 5a T., j. em 4/3/2010, DJe 29/03/2010).

Cumpre ainda destacar que a delação premiada pressupõe a assunção da prática criminosa pelo agente, o que desautoriza a aplicação da atenuante de confissão espontânea (art. 65, III, d, do CP), na segunda fase da dosimetria da pena, em conjunto com os benefícios da delação premiada (§14 do art. 4º da Lei de nº 12.850/2013), na terceira etapa do cálculo da pena, sob pena de inadmissível dupla valoração do mesmo fato, ainda que para beneficiar o acusado.

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Com efeito, o réu colaborador Fernando Alexandre Estrela fez acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal, sendo homologado por este juízo no bojo dos autos do processo de nº 0000861-17.2015.4.05.8202 e juntado aos autos por determinação da decisão de id. n.º 4058202.2705632 – págs. 1/3 (id. n.º 4058202.2705685 e anexo físico).

Além disso, foi possível perceber que o réu efetivamente colaborou na identificação dos demais agentes envolvidos na organização criminosa, declinando o modus operandi da estrutura organizacional e a participação de cada um dos envolvidos citados acima, permitindo ao juízo e ao órgão ministerial a percepção das atribuições individuais dos agentes. Em suas alegações finais, o Parquet Federal pugnou pela concessão em favor do réu dos benefícios previstos no referido acordo de colaboração premiada.

Diante de tais considerações, reputo relevantes as contribuições trazidas pelo colaborador a ponto de merecer a redução da pena no patamar de 2/5 (dois quintos) do total aplicável acima.

Portanto, em face de tais considerações, torno a pena total definitiva para o réu em 03 (três) anos, 06 (seis) meses e 3 (três) dias.

Conforme proposto pelo Ministério Público no acordo de colaboração firmado com o réu, em caso de sentença condenatória, pleitearia a concessão dos benefícios previstos na Cláusula Quinta do referido acordo, notadamente para que as penas de multa eventualmente impostas sejam estabelecidas no mínimo legal (Cláusula 5ª, inciso II).

Desta forma, o total da pena de multa arbitrada acima deverá sofrer a redução para o mínimo legal, consistindo no mesmo patamar quanto ao valor de R$53.732,17 acrescidos de 10 (dez) dias-multa, no mínimo legal.

Regime inicial de cumprimento:

Tendo em vista o parâmetro acima, tem-se que a pena privativa de liberdade deverá ser inicialmente cumprida no regime aberto, com base no art. 33, § 2º, alínea “c”, do Código Penal.

Da substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos e da suspensão condicional da pena:

O réu satisfaz os requisitos do art. 44, incisos I a III do CP, com redação dada pela Lei nº 9.714 de 25 de novembro de 1998 (pena aplicada não superior a quatro anos, crime praticado sem violência ou grave ameaça, não reincidência em crime doloso e circunstâncias judiciais favoráveis), motivo pelo qual a pena alternativa se mostra suficiente, adequada e proporcional.

Sendo assim, substituo a pena privativa de liberdade do réu pela pena restritiva de direito, consistente na modalidade prevista no art. 43, I, do Código Penal, com redação dada pela Lei nº 9.714/98, a saber:

a) prestação pecuniária, nos termos do art. 45, §1º, do CP, a obrigação de o réu depositar a quantia a ser fixada em audiência admonitória em conta judicial, nos termos

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da resolução do CNJ de n.º 154 de 13 de julho de 2012, a ser destinada a entidades públicas, sem prejuízo do pagamento de outras penalidades eventualmente já aplicadas;

b) prestação de serviço à comunidade ou à entidade pública devendo ser cumprida à razão de uma hora por dia de condenação (CP, art. 46, § 3º), consoante vier a ser fixado pelo juízo da execução, de modo que a pena restritiva de direito tenha a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída (CP, art. 55).

3.4. Do réu MAYCO ALEXANDRE GOMES

3.4.1. Art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: são desfavoráveis, pois a estrutura organizacional do grupo criminoso foi determinante para a realização de diversos crimes e, por consequência, como demonstrado nestes autos, causou elevado prejuízo ao erário público e a diversas comunidades locais carentes.

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da existência de uma circunstância judicial desfavorável, fixo a pena-base em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes.

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

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Não há causas de aumento ou diminuição o de pena.

Fixo a pena definitiva em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 53 (cinquenta e três) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos (2014), o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

Eficácia do acordo de colaboração premiada

Com fundamento no §11 do art. 4º da Lei de n.º 12.850/2013, a sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia, podendo o juiz conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:

I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;

II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;

III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;

IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;

V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

Em outras palavras, o instituto da delação premiada incide quando o agente colabora voluntária e efetivamente com a investigação e com o processo criminal. Esse testemunho qualificado deve vir acompanhado da admissão de culpa e servir para a identificação dos demais coautores ou partícipes e para esclarecimento das infrações penais (STJ, REsp no 1.102.736/SP, rel. Min. Laurita Vaz, 5a T., j. em 4/3/2010, DJe 29/03/2010).

Cumpre ainda destacar que a delação premiada pressupõe a assunção da prática criminosa pelo agente, o que desautoriza a aplicação da atenuante de confissão espontânea (art. 65, III, d, do CP), na segunda fase da dosimetria da pena, em conjunto com os benefícios da delação premiada (§14 do art. 4º da Lei de nº 12.850/2013), na terceira etapa do cálculo da pena, sob pena de inadmissível dupla valoração do mesmo fato, ainda que para beneficiar o acusado.

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Com efeito, o réu colaborador Mayco Alexandre Gomes fez acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal, sendo homologado por este juízo no bojo dos autos do processo de nº 0000861-17.2015.4.05.8202 e juntado aos autos por determinação da decisão de id. n.º 4058202.2705632 – págs. 1/3 (id. n.º 4058202.2705685 e anexo físico).

Além disso, foi possível perceber que o réu efetivamente colaborou na identificação dos demais agentes envolvidos na organização criminosa, declinando o modus operandi da estrutura organizacional e a participação de cada um dos envolvidos citados acima, permitindo ao juízo e ao órgão ministerial a percepção das atribuições individuais dos agentes. Em suas alegações finais, o Parquet Federal pugnou pela concessão em favor do réu dos benefícios previstos no referido acordo de colaboração premiada.

Diante de tais considerações, reputo relevantes as contribuições trazidas pelo colaborador a ponto de merecer a redução da pena no patamar de 2/5 (dois quintos) do total aplicável acima.

Portanto, em face de tais considerações, torno a pena total definitiva para o réu em 02 (dois) anos, 02 (dois) meses e 03 (três) dias.

Conforme proposto pelo Ministério Público no acordo de colaboração firmado com o réu, em caso de sentença condenatória, pleitearia a concessão dos benefícios previstos na Cláusula Quinta do referido acordo, notadamente para que as penas de multa eventualmente impostas sejam estabelecidas no mínimo legal (Cláusula 5ª, inciso II).

Desta forma, o total da pena de multa arbitrada acima deverá sofrer a redução para o mínimo legal, consistindo em 10 (dez) dias-multa.

Regime inicial de cumprimento:

Tendo em vista o parâmetro acima, tem-se que a pena privativa de liberdade deverá ser inicialmente cumprida no regime aberto, com base no art. 33, §2º, alínea “c”, do Código Penal.

Da substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos e da suspensão condicional da pena:

O réu satisfaz os requisitos do art. 44, incisos I a III do CP, com redação dada pela Lei nº 9.714 de 25 de novembro de 1998 (pena aplicada não superior a quatro anos, crime praticado sem violência ou grave ameaça, não reincidência em crime doloso e circunstâncias judiciais favoráveis), motivo pelo qual a pena alternativa se mostra suficiente, adequada e proporcional.

Sendo assim, substituo a pena privativa de liberdade do réu pela pena restritiva de direito, consistente na modalidade prevista no art. 43, I, do Código Penal, com redação dada pela Lei nº 9.714/98, a saber:

a) prestação pecuniária, nos termos do art. 45, §1º, do CP, a obrigação de o réu depositar a quantia a ser fixada em audiência admonitória em conta judicial, nos termos

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da resolução do CNJ de n.º 154 de 13 de julho de 2012, a ser destinada a entidades públicas, sem prejuízo do pagamento de outras penalidades eventualmente já aplicadas;

b) prestação de serviço à comunidade ou à entidade pública devendo ser cumprida à razão de uma hora por dia de condenação (CP, art. 46, § 3º), consoante vier a ser fixado pelo juízo da execução, de modo que a pena restritiva de direito tenha a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída (CP, art. 55).

3.5. Do réu HORLEY FERNANDES

3.5.1. Art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: são desfavoráveis, pois a estrutura organizacional do grupo criminoso foi determinante para a realização de diversos crimes e, por consequência, como demonstrado nestes autos, causou elevado prejuízo ao erário público e a diversas comunidades locais carentes.

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da existência de uma circunstância judicial desfavorável, fixo a pena-base em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes.

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

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Não há causas de aumento ou diminuição o de pena.

Fixo a pena definitiva em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 53 (cinquenta e três) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos (2014), o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

3.5.2. Art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93 em relação à Concorrência n.º 01/2014 de Uiraúna.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: não foram desfavoráveis, vez que o delito não chegou a se consumar;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da inexistência de uma circunstância judicial desfavorável, fixando a pena-base em 02 (dois) anos de detenção, no mínimo legal.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

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Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Como o delito não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do réu (art. 14, parágrafo único, do CP), que esgotou todos os atos executórios à sua disposição, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que fazendo, fixo a pena definitiva em 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de detenção.

Pena de multa.

Considerando o disposto no art. 99 da Lei n.º 8.666/93, fixo a pena de multa em 2% (dois por cento) do valor do contrato (R$3.043.628,00), correspondente a R$ 60.872,56, levando em consideração a situação econômica do réu e o grau de sua culpabilidade. Considerando a causa de diminuição por força do art. 14, II, do CP, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que perfaz a quantia de R$40.581,71.

3.5.3. Art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93 em relação à Tomada de Preços n.º 01/2014 de Joca Claudino.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: não foram desfavoráveis, vez que o delito não chegou a se consumar;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da inexistência de uma circunstância judicial desfavorável, fixando a pena-base em 02 (dois) anos de detenção, no mínimo legal.

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Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Como o delito não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do réu (art. 14, parágrafo único, do CP), que esgotou todos os atos executórios à sua disposição, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que fazendo, fixo a pena definitiva em 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de detenção.

Pena de multa

Considerando o disposto no art. 99 da Lei n.º 8.666/93, fixo a pena de multa em 2% (dois por cento) do valor do contrato (R$986.285,27), correspondente a R$19.725,70, levando em consideração a situação econômica do réu e o grau de sua culpabilidade. Considerando a causa de diminuição por força do art. 14, II, do CP, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que perfaz a quantia de R$13.150,46.

3.5.4. Artigo 12 da Lei n.º 10.826/2003.

Dosagem da Pena-Base Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa

condenação transitada em julgado; c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social

do réu; d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa

circunstância judicial; e) Motivos: a motivação do delito foi a posse da arma sem autorização, inerente à

figura típica em análise; f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua

gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: infringência à paz social, não cabendo, por isto, valoração

excedente; h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram

para a concretização do crime.

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Em face da inexistência de uma circunstância judicial desfavorável, fixo a pena-base em 01 (um) ano de detenção, no mínimo legal.

Circunstâncias atenuantes e agravantes Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes. Causas de diminuição e aumento Não há causas de aumento ou diminuição o de pena. Fixo a pena definitiva em 01 (um) ano de detenção. Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 10 (dez) dias-multa, sendo cada dia-multa

correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos (26/06/2015 – data da apreensão das armas e munições), o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no

§ 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

Reunião das penas.

Aplicável o disposto no art. 69 do CP, e, por consequência, havendo condenação às penas dos 6 crimes acima descritos, reúno o quantum de todas as condenações, totalizando a pena de cumprimento em 07 (sete) anos, 03 (três) meses e 15 (quinze) dias.

No que tange à pena de multa, o total deve ser a soma dos 63 (sessenta e três) dias-multa acrescido dos R$53.732,17, aplicáveis nos itens acima.

Regime inicial de cumprimento:

Estabeleço que a pena privativa de liberdade deverá ser inicialmente cumprida no regime semiaberto, com base no art. 33, § 2º, alínea “b”, do Código Penal.

Da substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos e da suspensão condicional da pena:

Considerando o montante da pena aplicada (EDACR 20030500023309501, Desembargador Federal Manoel Erhardt, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data: 13/11/2013), deixo de substituir a pena privativa de liberdade, em razão do não preenchimento da condição estipulada no artigo 44, I, do Código Penal.

3.6. Do réu GERALDO MARCOLINO DA SILVA

3.6.1. Art. 2º, caput, da Lei n.º 12.850/2013.

Dosagem da Pena-Base

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Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: são desfavoráveis, pois a estrutura organizacional do grupo criminoso foi determinante para a realização de diversos crimes e, por consequência, como demonstrado nestes autos, causou elevado prejuízo ao erário público e a diversas comunidades locais carentes.

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da existência de uma circunstância judicial desfavorável, fixo a pena-base em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Circunstâncias atenuantes e agravantes.

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Não há causas de aumento ou diminuição o de pena.

Fixo a pena definitiva em 03 (três) anos, 07 (sete) meses e 15 (quinze) dias de reclusão.

Pena de multa.

Fixo a pena de multa em 53 (cinquenta e três) dias-multa, sendo cada dia-multa correspondente a 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época dos fatos (2014), o qual deverá ser atualizado.

Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no § 2° do art. 49, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal.

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3.6.2. Art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93 em relação à Concorrência n.º 01/2014 de Uiraúna.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: não foram desfavoráveis, vez que o delito não chegou a se consumar;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da inexistência de uma circunstância judicial desfavorável, fixando a pena-base em 02 (dois) anos de detenção, no mínimo legal.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Como o delito não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do réu (art. 14, parágrafo único, do CP), que esgotou todos os atos executórios à sua disposição, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que fazendo, fixo a pena definitiva em 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de detenção.

Pena de multa.

Considerando o disposto no art. 99 da Lei n.º 8.666/93, fixo a pena de multa em 2% (dois por cento) do valor do contrato (R$3.043.628,00), correspondente a R$ 60.872,56, levando em consideração a situação econômica do réu e o grau de sua

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culpabilidade. Considerando a causa de diminuição por força do art. 14, II, do CP, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que perfaz a quantia de R$40.581,71.

3.6.3. Art. 90, caput, da Lei n.º 8.666/93 em relação à Tomada de Preços n.º 01/2014 de Joca Claudino.

Dosagem da Pena-Base

Em atenção às circunstâncias dos arts. 59 e 60 do Código Penal, infere-se o seguinte:

a) Culpabilidade: revela-se albergada pelo tipo penal, não sendo possível qualquer juízo de desvalor adicional;

b) Antecedentes: o réu não possui maus antecedentes, já que contra ele não pesa condenação transitada em julgado;

c) Conduta social: não há nos autos elementos que permitam aferir a conduta social do réu;

d) Personalidade: não foram colhidos elementos suficientes à valoração dessa circunstância judicial;

e) Motivos: a motivação do delito foi o acréscimo patrimonial, inerente à figura típica em análise;

f) Circunstâncias: assim entendidas como aquelas que influem sobre a sua gravidade, não lhes foram desfavoráveis, pois a prática, da forma como realizada, é a comum para esse tipo de crime;

g) Consequências: não foram desfavoráveis, vez que o delito não chegou a se consumar;

h) Comportamento da vítima: as vítimas (Estado e munícipes) não contribuíram para a concretização do crime.

Em face da inexistência de uma circunstância judicial desfavorável, fixando a pena-base em 02 (dois) anos de detenção, no mínimo legal.

Circunstâncias atenuantes e agravantes

Não há circunstâncias atenuantes e nem agravantes.

Causas de diminuição e aumento

Como o delito não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do réu (art. 14, parágrafo único, do CP), que esgotou todos os atos executórios à sua disposição, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que fazendo, fixo a pena definitiva em 01 (um) ano e 04 (quatro) meses de detenção.

Pena de multa

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Considerando o disposto no art. 99 da Lei n.º 8.666/93, fixo a pena de multa em 2% (dois por cento) do valor do contrato (R$986.285,27), correspondente a R$19.725,70, levando em consideração a situação econômica do réu e o grau de sua culpabilidade. Considerando a causa de diminuição por força do art. 14, II, do CP, a pena deve ser diminuída em 1/3 (um terço), o que perfaz a quantia de R$13.150,46.

Reunião das penas.

Aplicável o disposto no art. 69 do CP, e, por consequência, havendo condenação às penas dos 6 crimes acima descritos, reúno o quantum de todas as condenações, totalizando a pena de cumprimento em 06 (seis) anos, 03 (três) meses e 15 (quinze) dias.

No que tange à pena de multa, o total deve ser a soma dos 53 (cinquenta e três) dias-multa acrescido dos R$53.732,17, aplicáveis nos itens acima.

Eficácia do acordo de colaboração premiada

Com fundamento no §11 do art. 4º da Lei de n.º 12.850/2013, a sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia, podendo o juiz conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:

I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;

II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;

III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;

IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;

V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

Em outras palavras, o instituto da delação premiada incide quando o agente colabora voluntária e efetivamente com a investigação e com o processo criminal. Esse testemunho qualificado deve vir acompanhado da admissão de culpa e servir para a identificação dos demais coautores ou partícipes e para esclarecimento das infrações penais (STJ, REsp no 1.102.736/SP, rel. Min. Laurita Vaz, 5a T., j. em 4/3/2010, DJe 29/03/2010).

Cumpre ainda destacar que a delação premiada pressupõe a assunção da prática criminosa pelo agente, o que desautoriza a aplicação da atenuante de confissão espontânea (art. 65, III, d, do CP), na segunda fase da dosimetria da pena, em conjunto com os benefícios da delação premiada (§14 do art. 4º da Lei de nº 12.850/2013), na

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terceira etapa do cálculo da pena, sob pena de inadmissível dupla valoração do mesmo fato, ainda que para beneficiar o acusado.

No caso em exame, tenho que o réu colaborador, malgrado tenha celebrado acordo de colaboração premiada com o Ministério Público, homologado por este juízo no bojo dos autos do Processo n.º 0000863-84.2015.4.05.8202, não colaborou efetivamente, porquanto, como indicou o MPF em suas alegações finais, o réu negou que tivesse conhecimento do esquema ilícito, afirmando que agia por confiar em Francisco Justino, além de não identificar nenhum outro coautor ou partícipe da organização criminosa.

Dessa feita, não faz jus a acusada aos benefícios firmados no acordo.

Portanto, em face de tais considerações, torno a pena total definitiva para o réu em 06 (seis) anos, 03 (três) meses e 15 (quinze) dias além da multa no total de 53 (cinquenta e três) dias-multa acrescido dos R$ 53.732,17.

Regime inicial de cumprimento:

Estabeleço que a pena privativa de liberdade deverá ser inicialmente cumprida no regime semiaberto, com base no art. 33, § 2º, alínea “b”, do Código Penal.

Da substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos e da suspensão condicional da pena:

Considerando o montante da pena aplicada (EDACR 20030500023309501, Desembargador Federal Manoel Erhardt, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data: 13/11/2013), deixo de substituir a pena privativa de liberdade, em razão do não preenchimento da condição estipulada no artigo 44, I, do Código Penal.

3.7. Para todos os réus.

Do direito de recorrer em liberdade: Não havendo necessidade de decretação de prisão preventiva, nos moldes dos artigos

312 e 313 do Código de Processo Penal, asseguro aos condenados o direito de recorrerem em liberdade.

Valor mínimo da indenização O Código de Processo Penal foi modificado pela Lei 11.719/2008 que, dentre outras

alterações, estabeleceu que o magistrado ao proferir a sentença condenatória fixará o valor mínimo de indenização à reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido (art. 387, IV).

Tal previsão, diga-se de passagem, louvável, tem o escopo de agilizar a indenização

da vítima de um ilícito penal, permitindo que o ofendido ou sua família tenha seu prejuízo reparado sem a necessidade de propositura de ação própria.

No presente caso, requereu o Ministério Público Federal a condenação dos réus

solidariamente ao pagamento de R$ 18.000.000,00 (dezoito milhões de reais) a título de

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reparação mínima ao erário. No entanto, o Parquet não fundamentou de onde atribuiu tal valor, havendo apenas a remissão à fl. 63 dos autos, na denúncia, de que a organização criminosa chefiada por Francisco Justino do Nascimento teria fraudado 177 licitações e desviou mais de 17 (dezessete) milhões de reais.

Em que pese haver a menção ministerial, reputo desproporcional aos fatos objeto do

presente feito. Como visto, esta ação penal se limitou a apreciar fraudes licitatórias e outros crimes correlatos em dois certames.

Desta maneira, não merece guarida o pedido ministerial, não tendo o parquet se

desincumbido minimamente de seu ônus de demonstrar as razões pelas quais arbitrou valor tão dissonante com os autos.

Custas Condeno, por fim, todos os sentenciados ao pagamento das custas processuais (art.

804 e 805 do CPP), proporcionalmente.

4. Deliberações finais.

As intimações dos réus e defensores desta sentença se darão na forma do artigo 392 do Código de Processo Penal.

Em relação às armas e munições apreendidas, cumpra-se conforme já determinado na decisão de id. n.º 4058202.2705640 – págs. 1/4.

Após o trânsito em julgado, adotem-se as seguintes providências:

a) Proceda(m)-se com as informações no sistema referente(s) à(s) condenações (rol dos culpados conforme art. 393, II, do Código de Processo Penal e Resolução JF 408/2004), e/ou absolvições;

b) Comunique-se ao TRE/PB, para os fins do art. 15, inciso III, da CF/88;

c) Comunique-se ao Departamento de Polícia Federal para fins de atualização dos assentamentos criminais;

d) Proceda-se com os cálculos necessários e atualizações monetárias devidas;

e.1.) Para dar início a execução das penas impostas, com base no que disciplina art. 6º, § 1º, c/c art. 14, § 1º, ambos do Ato nº 208/2019, proceda-se com consulta ao Sistema Eletrônico de Execução Unificado (SEEU) para que se identifique se já existe processo de execução penal em trâmite no território nacional.

e.2.) Em existindo, expeça-se guia de execução/recolhimento e remeta-a juntamente com as peças necessárias, por meio de malote digital, ao processo cadastrado no SEEU para o acompanhamento e fiscalização das penas por parte do Juízo de execuções penais competente.

e.3.) Em não existindo, proceda-se com o cadastramento de novo feito no SEEU em relação ao(s) réu(s) condenado(s), procedendo-se, independente de novo despacho,

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com a remessa da execução penal, via SEEU, ao Juízo de execuções penais da jurisdição de residência do(s) réu(s).

f) Após, arquivem-se, com baixa na distribuição.

Ainda com relação à eventual execução penal, esclareço o seguinte:

Eventuais pedidos de parcelamento da pena pecuniária, transferência de locais para prestação de serviços e necessidade de audiência de justificação restam autorizadas para serem apreciados pelo Juízo de Execuções Penais competente para o acompanhamento e fiscalização das penas impostas.

Saliento que cada uma das penalidades tem destinação diversa, de modo que a pena de multa se destina ao Fundo Penitenciário Nacional, a de prestação pecuniária à Conta Judicial deste Juízo Federal para reversão em favor de entidades beneficentes devidamente cadastradas, e as custas processuais à Justiça Federal de 1º Grau.

Nesse sentido, como mecanismos de pagamento elenco os seguintes:

1. Pagamento da prestação pecuniária: depositado na conta judicial deste juízo no Banco Caixa Econômica, conta: 00000999-2, Agência: 0558, Operação: 005.

2. Pagamento da pena de multa: através da GRU gerada no site do Portal SIAFI: http://consulta.tesouro.fazenda.gov.br/GRU_NOVOSITE/GRU_SIMPLES.ASP (Unidade Gestora: 200333, código de recolhimento: 14600-5).

3. Pagamento das custas processuais: através da GRU gerada no site do Portal SIAFI: http://consulta.tesouro.fazenda.gov.br/GRU_NOVOSITE/GRU_SIMPLES.ASP (Unidade Gestora: 090008, código de recolhimento: 18710-0).

4. Pagamento da indenização: através da GRU gerada no site do Portal SIAFI: http://consulta.tesouro.fazenda.gov.br/GRU_NOVOSITE/GRU_SIMPLES.ASP (Unidade Gestora: 090008, código de recolhimento: 18860-3).

Em caso de recurso voluntário, venha-me o feito concluso.

Publicação e registro decorrem automaticamente da validação eletrônica.

Intimem-se.

Sousa/PB, data de validação no sistema.

MARCOS ANTÔNIO MENDES DE ARAÚJO FILHO

Juiz Federal da 8ª Vara Federal

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20031417405256100000005383531

Processo: 0000434-20.2015.4.05.8202Assinado eletronicamente por: MARCOS ANTONIO MENDES DE ARAUJO FILHO - MagistradoData e hora da assinatura: 14/03/2020 17:42:07Identificador: 4058202.5367385Para conferência da autenticidade do documento: https://pje.jfpb.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam