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Sétima Aula Reinaldo R. de Carvalho ([email protected]) Introdução à Astrofísica pdf das aulas estará em http://cosmobook.com.br/?page_id=440

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Stima Aula

Reinaldo R. de Carvalho ([email protected])

Introduo Astrofsica

pdf das aulas estar em http://cosmobook.com.br/?page_id=440

mailto:[email protected]://cosmobook.com.br/?page_id=440

Captulo 7!!

Classificao dos Espectros Estelares!!

- Tipos espectrais de estrelas!- Distribuio de Maxwell-Boltzmann!- Equao de Boltzmann!- Equao de Saha!- O Diagrama HR

Tipos Espectrais de EstrelasCom a inveno da fotometria e da espectroscopia, a nova cincia da astrofsica desenvolveu rapidamente. Em 1817, Fraunhofer j tinha determinado que diferentes estrelas possuem diferentes espectros. Espectros estelares foram classificados segundo vrios esquemas e na medida que os instrumentos eram aperfeioados subdivises foram feitas.

O esquema de classificao de Harvard O B A F G K M, uma seqncia de temperatura, O sendo as mais quentes e M as mais frias. Estrelas no inicio da seqncia so chamadas early-type enquanto aquelas no final da seqncia so as late type. Existem sub-divises dentro de cada classe que variam de 0 a 9 e a nomenclatura early e late tambm se aplica nas sub-divises, como por exemplo uma estrela K0 early enquanto uma B9 late. Um dos catlogos mais importantes de estrelas colecionou cerca de 200000 estrelas e conhecido como catlogo de Henry Draper. Ainda hoje em dia usa-se a terminologia do numero de entrada no catlogo Henry Draper, a estrela Betelgeuse HD39801.

A compreenso terica do tomo quntico no inicio do sculo XX deu aos astrnomos a chave para o entendimento do espectro estelar. Linhas de absoro so criadas quando um tomo absorve um fton com exatamente a energia requerida para um eltron fazer uma transio de um nvel inferior para outro superior. Linhas de emisso so formadas pelo processo inverso, quando um eltron faz uma transio de um nvel superior para um nvel inferior e um nico fton carrega a energia perdida pelo eltron.

A distino entre os espectros das estrelas com diferentes temperaturas refletem os eltrons ocupando diferentes orbitais atmicos na atmosfera dessas estrelas. O tomo pode estar em qualquer um dos vrios estgios de ionizacao e tem um conjunto nico de orbitais em cada estgio. O estgio de ionizao de um tomo denominado por um numeral Romano seguido pelo smbolo do tomo. Por exemplo, H I e He I so hidrognio e hlio neutro, no ionizado. He II o hlio uma vez ionizado. Si III e Si IV significa o tomo do Silcio que perdeu dois e trs eltrons, respectivamente.

A cor de uma estrela depende de sua temperatura superficial.

Classe de LuminosidadeEm 1930 W.W. Morgan e P.C. Keenan desenvolveram um sistema de classe de luminosidade baseado em pequenas diferenas espectrais observadas nos espectros das estrelas. Quando estas classes so colocadas do diagrama H-R, elas fornecem uma subdiviso til dos tipos estelares.

Classes de luminosidade Ia e Ib so compostos de super-gigantes; classe de luminosidade V inclui as estrelas da seqncia principal.

Note que para estrelas de uma dada temperatura superficial, quanto maior o nmero da classe de luminosidade menor a luminosidade da estrela.

Como veremos mais tarde, diferentes classes de luminosidade representam diferentes estgios da evoluo de uma estrela.

!Exemplo: o Sol uma estrela G2 V, temperatura de 5800 K e magnitude absoluta de 4.74.

Paralaxe Espectroscpica

O tipo espectral de uma estrela e a classe de luminosidade, combinadas com a informao no diagrama H-R, permite determinar a distncia estrela.

Uma das estrelas da Pliades tem um espectro que revela ser esta estrela de tipo espectral B8 V (uma estrela quente, azul, da seqncia principal). Usando o diagrama H-R mostrado anteriormente, podemos estimar uma luminosidade de ~ 190 L. O fluxo desta estrela medido como 3.19 x 10-13 F. Assim:

Antes de apresentar a distribuio de Maxwell-Boltzmann, vamos discutir alguns elementos bsicos da teoria cintica dos gases (ver os vdeos).

Distribuio de Maxwell-Boltzmann

Um estado do gs pode ser especificado por coordenadas cannicas

{q1, q2 q3N} {p1, p2 p3N}

{pi,qi}

Um ponto no espao de fase representa um estado do sistema como um todo, ou seja de todas as partculas.

Um grande nmero de estados do gs corresponde a uma dada condio macroscpica do gs.

P, V, T

q

p

Gibbs chamou esta coleo de sistemas um ensemble. O ensemble descrito por uma funo (p,q,t) tal que (p,q,t) dp dq seja o nmero de pontos representativos, que num dado tempo t est contido no elemento infinitesimal dp dq de centrado em p,q.

Teorema de Liouville

Se ns seguirmos o movimento de um ponto representativo no espao , encontramos que a densidade de pontos representativos na vizinhana constante.

Outro importante conceito o de ergodicidade, que diz que se esperamos um tempo suficientemente longo, o locus de um ponto representativo do sistema cobrir todo o espao de fase. Ou seja, o ponto representativo se aproxima de qualquer ponto acessvel no espao de fase: isto quer dizer que o ensemble correspondente ao equilbrio termodinmico aquele para o qual constante sobre o espao de fase acessvel.

q

p

ponto representativo

Para se compreender o esquema de classificao espectral duas questes so importantes e devem ser investigadas. Em que rbitas os eltrons so mais comumente encontrados ? Qual o nmero relativo de tomos nos diferentes estgios de ionizao ?

Distribuio de Maxwell-Boltmann

A Mecnica Estatstica a rea da fsica que trata das propriedades estatsticas de sistemas compostos de muitas partculas. Por exemplo, um gs contm um grande nmero de partculas com uma grande variao de velocidades e energias.

Na prtica seria impossvel descrever o comportamento detalhado de cada partcula individualmente, no entanto o gs como um todo tem certas propriedades bem definidas como temperatura, presso e densidade. Para um gs em equilbrio trmico (o gs que no aumenta nem diminui sua temperatura rapidamente) a funo de distribuio de velocidades de Maxwell-Boltzmann descreve a frao de partculas que possuem velocidades dentro de um certo domnio. Assim, o nmero de partculas por unidade de volume tendo velocidades entre e + d dado por

onde n o nmero de partculas por unidade de volume, n = n/, m a massa da partcula, a constante de Boltzmann e T a temperatura do gs.

O expoente da funo de distribuio a razo da energia cintica de uma partcula do gs e a energia trmica caracterstica.

frao de partculas com velocidades entre e + d

No existe um nmero significativo de partculas com energia muito maior ou muito menor que a energia trmica. A distribuio atinge um mximo quando estas energias so iguais, numa velocidade denominada velocidade mais provvel.

Devido a assimetria na distribuio com um excesso de valores de alta velocidade, vemos que a velocidade mdia quadrtica, vmq, ligeiramente maior do que a velocidade mdia quadrtica de uma distribuio gaussiana.

Exemplo 1: A rea sob a curva entre duas velocidades igual a frao de partculas naquele intervalo de velocidades. Para determinar a frao de tomos de Hidrognio em um gs de temperatura T = 10000 K com velocidades entre 2.0 x 104 m/s e 2.5 x 104 m/s necessrio integrar a funo de Maxwell-Boltzmann entre os dois limites. A partir da equao

A equao acima tem soluo analtica entre 0 e , mas entre dois valores quaisquer necessita de integrao numrica. Mas em primeira aproximao podemos fazer v = (v2 + v1)/2 e escrever

Aproximadamente 12.5% dos tomos de Hidrognio em um gs a 10000 K tem velocidades entre 2.0 x 104 m/s e 2.5 x 104 m/s. Uma integrao numrica mais precisa fornece 12.76%.

A Equao de BoltzmannOs tomos ganham e perdem energia na medida que colidem. Assim, a distribuio de velocidades, dada pela equao de Maxwell-Boltzmann, produz uma distribuio definida de eltrons entre as rbitas atmicas. A distribuio de eltrons governada por um resultado fundamental da mecnica estatstica.

Seja sa um conjunto de nmeros qunticos que identifica um certo estado de energia, Ea. Similarmente seja um conjunto sb para um outro estado Eb. Por exemplo, consideremos Ea = -13.6 eV, o estado fundamental do Hidrognio, com sa = {n = 1, l = 0, ml = 0, ms = 1/2}. Ento a razo entre a probabilidade P(sb) que o sistema esteja num estado sb e a probabilidade P(sa) que o sistema est no estado sa dada por:

Onde T a temperatura comum aos dois estados. O termo e-E/kT denominado fator de Boltzmann.

Consideremos, por exemplo, que Eb > Ea. Note que na medida que kT decresce para 0 (T 0) a quantidade -(Eb - Ea)/kT - e portanto P(sb)/P(sa) 0. Isto exatamente o que esperamos se no existe qualquer energia trmica disponvel para elevar a energia de um tomo a um nvel superior. Por outro lado, se existe considervel energia trmica disponvel (T ) e -(Eb - Ea)/T 0 e P(sb)/P(sa) 1. Novamente isso exatamente o que se espera, uma vez que com um reservatrio ilimitado de energia trmica todos os nveis de energia disponveis do tomo tm a mesma probabilidade.

Mas lembrem que os nveis de energia do sistema podem ser degenerados, com mais de um estado quntico tendo a mesma energia. Para levar em conta o nmero de estados que tem um nvel de energia, define-se ga como o nmero de estados com energia Ea. Similarmente como gb para o nmero de estados com energia Eb. Eles so chamados de pesos estatsticos dos nveis de energia.

A razo da probabilidade P(Eb) que o sistema ser encontrado em qualquer um dos gbs estados degenerados com energia Eb e a probabilidade P(Ea) que o sistema ser encontrado em qualquer um dos gas estados degenerados com energia Ea dada por

Atmosferas estelares contm um nmero grande de tomos, assim a razo de probabilidades indistinguvel da razo do nmero de tomos. Logo podemos escrever a equao de Boltzmann como:

Exemplo: Para um gs de tomos de HI, em qual temperatura o nmero de tomos com eltrons no nvel fundamental (n = 1) ser igual ao nmero de tomos com eltrons no primeiro nvel de excitao (n = 2) ?

Lembremos que a degenerescncia igual a 2n2. Associando o estado a com o estado fundamental e o estado b com o primeiro estado de excitao e fazendo N2 = N1, temos

Altas temperaturas so requeridas para um significativo nmero de tomos de HI ter eltrons no primeiro estado de excitao. A figura ao lado mostra a ocupao relativa dos nveis fundamental e de primeira excitao, N2 / (N1 + N2) como funo da temperatura.

!Lembre que as linhas de absoro de Balmer so produzidas por eltrons nos tomos de HI que realizam uma transio do nvel n = 2 para um nvel superior. Se uma temperatura de ~ 85000 K necessria para prover eltrons ao primeiro nvel excitado, ento porque as linhas de absoro de Balmer alcanam seu mximo de intensidade a uma temperatura muito mais baixa (~9520 K) ?

En = =13.6 / n2

Vamos agora calcular a frao de tomos de Hidrognio no nvel n = 2 em relao ao n = 1 para temperaturas de T=10000 K e 20000 K. Como a diferena de energia entre os nveis 10.2 eV, temos que E2 - E1 = 10.2 g2 = 8 e g1 = 2.

Agora perguntamos - qual o comprimento de onda de um fton com com energia equivalente a 10.2 eV ? E = h = h c / . Usando h = 4.135667 x 10-15 eV s, c = 3.0 x 108 m s-1, temos = 1216 . Usando a Lei de Wien temos que o comprimento de onda mximo max (T = 10000 K) = 2899 e max (T = 20000 K) = 1449 . Assim, uma estrela com Tef = 20000 K tem muito mais ftons com energia suficiente para excitar o eltron do tomo de Hidrognio ao nvel 2.

N2 / N1 (T = 10000 K) = 0.000029 enquanto que N2 / N1 (T = 20000 K) = 0.0108, que ~ 372 vezes maior (usamos = 8.617 x 10-5 eV/K).

A intensidade de uma linha depende do nmero de tomos no estado de energia a partir do qual a transio ocorre. Assim, precisamos calcular que frao de todos os tomos de um elemento esto naquele estado de energia, que depende da temperatura T. Para um sistema em equilbrio trmico, o nmero de tomos num estado no muda com o tempo. Cada excitao, em mdia, compensa uma des-excitao.

A Equao de Saha

A resposta questo colocada na ltima seo encontra-se no fato de que necessrio levar em conta o nmero relativo de tomos em diferentes estgios de ionizao. Seja i a energia de ionizao necessria para remover um eltron de seu estado fundamental num tomo, assim levando de um estgio de ionizao i para i+1. Por exemplo, a energia de ionizao do Hidrognio 13.6 eV. No entanto, pode ser que os ons iniciais e finais no sejam o estado fundamental.

!Assim, define-se a funo de partio Z como a soma ponderada do nmero de modos que o tomo pode arranjar seus eltrons com a mesma energia com as configuraes mais energticas recebendo menor peso atravs do fator de Boltzmann quando a soma realizada.

!Se Ej a energia do j-simo nvel de energia e gj a degenerescncia deste nvel, ento a funo de partio Z definida como:

Se usamos as funes de partio Zi e Zi+1 para o tomo em seus estgios inicial e final de ionizao, a razo do nmero de tomos no estgio (i+1) e no estgio i dada por

Esta equao conhecida como equao de Saha, em homenagem ao astrofsico Meghnad Saha. Note que:

1) uma vez que um eltron livre produzido no processo de ionizao, no surpreendente que a densidade de eltrons livres, ne, (nmero de eltrons livres por unidade de volume) esteja no lado direito da equao.

2) Outro fato importante que quando ne aumenta, o nmero de tomos no nvel superior de ionizao diminui, uma vez que existem mais eltrons com os quais o on pode recombinar.

3) O fator 2 na equao reflete os dois possveis estados de spin do eltron livre, ms = 1/2.

4) O termo em parntesis tambm relacionado ao eltron livre com me sendo a massa do eltron.

Algumas vezes escreve-se esta equao em termos da presso de eltrons, Pe = ne T (Lei dos gases ideais)

Combinando as equaes de Boltzmann e de SahaAgora podemos combinar as duas equaes e explicar os espectros estelares que observamos. Consideremos n = 2 (linhas de Balmer). O Hidrognio s tem dois estados de ionizao, ou neutro ou ionizado.

N = N0 + N1

N0 a densidade numrica do Hidrognio neutro

N1 a densidade numrica do Hidrognio ionizado

Para determinar a intensidade da linha de absoro de Balmer precisamos saber a densidade numrica do Hidrognio neutro com eltrons em n = 2. Em relao ao nmero total de tomos de Hidrognio e ons podemos escrever:

Para temperaturas tpicas em atmosferas estelares, T 50000 K T 4 eV. No entanto necessrio E = 10.2 eV para levar um eltron do nvel fundamental ao nvel n = 2.

Grande parte dos tomos de Hidrognio na atmosfera estelar est no nvel fundamental.

N0 a densidade numrica do Hidrognio neutro

N1 a densidade numrica do Hidrognio ionizado

frao de tomos de Hidrognio que tem um eltron no nvel n = 2.

Exerccios

1 - Mostre que temperatura ambiente a energia trmica T ~ 1/40 eV. A que temperatura T igual a 1 eV e a 13.6 eV ?

2 - Usando a figura ao lado estime a frao de tomos de Hidrognio com uma velocidade dentro de 1 km s-1 do valor mais provvel de velocidade.

3 - Mostre que o valor mais provvel de velocidade da distribuio de Maxwell-Boltzmann dado por

4 - Para um gs de tomos de Hidrognio, em que temperatura o nmero de tomos excitados no primeiro nvel 1% do nmero de tomos no estado fundamental ? em que temperatura o nmero de tomos excitados no primeiro nvel 10% do nmero de tomos no estado fundamental ?

5 - Considere um gs de tomos de Hidrognio neutro:

a) Em que temperatura o nmero de tomos no estado fundamental ser igual ao nmero de tomos no segundo estado excitado (n = 3) ?

b) A uma temperatura de 85400 K, quando um nmero igual de tomos (N) est no estado fundamental e no primeiro estado excitado, quantos tomos estaro no segundo estado excitado (n=3). Expresse sua resposta em termos de N.

c) Quando a temperatura, T, vai para como os eltrons no tomo de Hidrognio estaro distribudos, de acordo com a equao de Boltzmann ? Isto , qual ser o nmero relativo de eltrons nos nveis n = 1, 2, 3 ? Esta ser realmente a distribuio que acontecer ? Por que ?

6 - Quando se diz que a uma temperatura de 10000 K quase todos os tomos de Hidrognio esto no estado fundamental e que portanto a funo de partio ZI g1 2.0, que aproximao est sendo feita neste caso ? (considere somente os trs primeiros termos da equao de partio)