7
Professor(a) ... NOME: Questão 1 — UFSCAR Em casa, brincava de missa, — um tanto às escondidas, porque minha mãe dizia que missa não era cousa de brincadeira. Arranjávamos um altar, Capitu e eu. Ela servia de sacristão, e alterávamos o ritual, no sentido de dividirmos a hóstia entre nós; a hóstia era sempre um doce. No tempo em que brincávamos assim, era muito comum ouvir à minha vizinha: “Hoje há missa?” Eu já sabia o que isto queria dizer, respondia afirmativamente, e ia pedir hóstia por outro nome. Voltava com ela, arranjávamos o altar, engrolávamos o latim e precipitávamos as cerimônias. Dominus non sum dignus …* Isto, que eu devia dizer três vezes, penso que só dizia uma, tal era a gulodice do padre e do sacristão. Não bebíamos vinho nem água; não tínhamos o primeiro, e a segunda viria tirar-nos o gosto do sacrifício. (Machado de Assis, Dom Casmurro, Obra completa.) *Trecho da fala do sacerdote, no momento da comunhão, que era proferida em latim, antes do Concílio Vaticano II. A fala inteira, que deve ser repetida três vezes, é: Dominus non sum dignus ut intres sub tectum meum, sed tantum dic verbum e sanabitur anima mea, cuja tradução é: Senhor, não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e minha alma será salva.

Simulado 2

Embed Size (px)

Citation preview

Professor(a) ...

NOME:

Questão 1 — UFSCAR

Em casa, brincava de missa, — um tanto às escondidas, porque minha mãe dizia que missa não era cousa de brincadeira. Arranjávamos um altar, Capitu e eu. Ela servia de sacristão, e alterávamos o ritual, no sentido de dividirmos a hóstia entre nós; a hóstia era sempre um doce. No tempo em que brincávamos assim, era muito comum ouvir à minha vizinha: “Hoje há missa?” Eu já sabia o que isto queria dizer, respondia afirmativamente, e ia pedir hóstia por outro nome. Voltava com ela, arranjávamos o altar, engrolávamos o latim e precipitávamos as cerimônias. Dominus non sum dignus …* Isto, que eu devia dizer três vezes, penso que só dizia uma, tal era a gulodice do padre e do sacristão. Não bebíamos vinho nem água; não tínhamos o primeiro, e a segunda viria tirar-nos o gosto do sacrifício.

(Machado de Assis, Dom Casmurro, Obra completa.)

*Trecho da fala do sacerdote, no momento da comunhão, que era proferida em latim, antes do Concílio Vaticano II. A fala inteira, que deve ser repetida três vezes, é: Dominus non sum dignus ut intres sub tectum meum, sed tantum dic verbum e sanabitur anima mea, cuja tradução é: Senhor, não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e minha alma será salva.

Pedir hóstia por outro nome quer dizer:

A) tentar ganhar um beijo.

B) pedir em nome de Capitu.

C) mentir sobre a missa.

D) solicitá-la à vizinha.

E) pedir um doce.

Questão 2 — UFAM

Leia as alternativas abaixo, que se referem ao romance Dom Casmurro, de Machado de Assis.

I) Não se tem certeza se Capitu de fato traiu Bentinho, principalmente se levarmos em conta que tudo é narrado do ponto de vista deste personagem, que é um ciumento extremado e possui uma natureza imaginativa ao extremo.

II) O autor-personagem é um cinqüentão solitário que reproduz, no Engenho Novo, a casa em que se criara na antiga rua de Mata-Cavalos, com o intuito de restaurar a adolescência na velhice.

III) No estilo narrativo do romance observa-se a técnica dos capítulos quase sempre curtos e, dentro deles, as apóstrofes ao leitor e as digressões ora graves ora humorísticas.

IV) A humilde Capitu revela-se esperta e cativante, insinuando-se vitoriosamente no pequeno mundo de D. Glória, a mãe viúva de Bentinho, vindo a casar-se, posteriormente, com seu companheiro de meninice.

Estão corretas ou são admissíveis:

a) Somente II e III

b) Somente I e III

c) Somente I e IV

d) Somente I, II e IV

e) Todas as alternativas

Questão 3 — CESGRANRIO

Inventário da infância perdida

Um homem é feito na infância, aperfeiçoado na adolescência e cristalizado na idade madura. Depois dos quarenta a existência humana, a não ser para os asiáticos, que têm o segredo da vida longeva e produtiva, assinala realmente uma decadência interminável, até que ela se torna insuportável: toda a razão da vida se concentra em algumas coisas muito específicas, em seres, sobretudo, e daí o conflito que se trava no interior de cada ser humano quando aquilo que ele quis ser para duas, três ou quatro pessoas — pois é nisso que se concentra a nossa vida — deixou de ser o que realmente se quis ser ou parecer.

Mas uma grande parte de nossa vida é desenhada muito cedo, quando se inicia o que alguns românticos chamam de aventura humana e que aos poucos vai-se transformando numa incansável continuidade de diminutas frustrações e pequenos embates corporais com a realidade, frustrações que depois se transformam em fontes de amargura.

(...)

O que é a infância, no fundo, senão um período de nossa vida tal como nós o olhamos, depois de adultos: é a versão que se sobrepõe, poderosa, sobre a realidade, e essa versão, por mais suscetível de ser destruída pela análise fria, é a que prevalece e guia nossos passos, por anos intermináveis.

Todo mergulho na infância é ao mesmo tempo doloroso e doce, como aqueles diminutos pratos chineses que misturam gostos e odores. Assim, eu, por exemplo, me lembro, quando faço muita força, de trechos de minha infância: não consigo lembrá-la toda, ou largos períodos dela, talvez porque o que foi doloroso nela tenha sido mais abundante e mais avassalador do que o que foi doce.

ABRAMO, Cláudio. In: A regra do jogo. São Paulo.

Cia das Letras, p. 41, 1989.

No Texto, em relação à infância, é INCORRETO afirmar que ela:

(A) é o alicerce do curso de vida do ser humano.

(B) possibilita ao homem atenuar a realidade dura de sua vida.

(C) se marca por um contexto específico de vida.

(D) se caracteriza pelas certezas do rumo que a vida vai tomar.

(E) já apresenta adversidades na trajetória existencial do ser humano.

Questão 4 — UERGS

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo, referentes aos períodos literários no Brasil.

( ) O Barroco brasileiro caracterizou-se pelo uso de antíteses e de uma literatura conturbada.

( ) A Semana de Arte Moderna foi um marco na Literatura brasileira e aconteceu no Rio de Janeiro, nos dias 18, 19 e 20 de fevereiro de 1922.

( ) Lima Barreto, Euclides da Cunha e Erico Veríssimo foram autores do Pré-Modernismo brasileiro.

( ) A redução dos personagens à condição de animais, o determinismo do meio e o cientificismo são características do Naturalismo brasileiro.

A seqüência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

A) V – F – F – V

B) V – V – F – F

C) F – V – F – V

D) F – F – V – V

E) V – F – V – V

Questão 5 — ENEM

TEXTO I

Onde está a honestidade?

Você tem palacete reluzente

Tem joias e criados à vontade

Sem ter nenhuma herança ou parente

Só anda de automóvel na cidade…

E o povo pergunta com maldade:

Onde está a honestidade?

Onde está a honestidade?

O seu dinheiro nasce de repente

E embora não se saiba se é verdade

Você acha nas ruas diariamente

Anéis, dinheiro e felicidade…

Vassoura dos salões da sociedade

Que varre o que encontrar em sua frente

Promove festivais de caridade

Em nome de qualquer defunto ausente…

ROSA, N. Disponível em: http://www.mpbnet.com.br.

Acesso em: abr. 2010.

TEXTO II

Um vulto da história da música popular brasileira, reconhecido nacionalmente, é Noel Rosa. Ele nasceu em 1910, no Rio de Janeiro; portanto, se estivesse vivo, estaria completando 100 anos. Mas faleceu aos 26 anos de idade, vítima de tuberculose, deixando um acervo de grande valor para o patrimônio cultural brasileiro. Muitas de suas letras representam a sociedade contemporânea, como se tivessem sido escritas no século XXI.

Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010.

Um texto pertencente ao patrimônio literário-cultural brasileiro é atualizável, na medida em que ele se refere a valores e situações de um povo. A atualidade da canção Onde está a honestidade?, de Noel Rosa, evidencia-se

por meio

A) da ironia, ao se referir ao enriquecimento de origem duvidosa de alguns.

B) da crítica aos ricos que possuem joias, mas não têm herança.

C) da maldade do povo a perguntar sobre a honestidade.

D) do privilégio de alguns em clamar pela honestidade.

E) da insistência em promover eventos beneficentes.

✄ - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Gabarito

1) E; 2) E; 3) D; 4) A; 5) A;