Upload
ngongoc
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Síntese da 14ª Reunião Ordinária da CNPI
A 14ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista, realizada entre os
dias 25 e 27 de agosto de 2010, no Centro de Formação em Política Indigenista da Funai,
localizado em Sobradinho, teve como pauta os seguintes pontos:
Pauta
- Dia 25 de agosto
Inauguração do Centro de Formação em Política Indigenista
- Dia 26 de agosto
Apresentação e esclarecimentos de dúvidas sobre o Regimento Interno da Funai
- Dia 27 de agosto
Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas – PNGATI
___________________________________________________
1
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Dia 25 de agosto
Abertura simbólica da 14ª Reunião Ordinária, com a presença do Sr. Ministro da Justiça
Dando início aos trabalhos da 14ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política14ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política
IndigenistaIndigenista, realizada no recém-inaugurado Centro de Formação em Política Indigenista, localizado em
Sobradinho, Brasília – DF, a secretária executiva da CNPI, Teresinha Maglia, deu boas-vindas e
cumprimentou a todos os presentes, especialmente o presidente da CNPI e da Funai, Márcio Meira, e o
ministro de Estado da Justiça, Sr. Luis Paulo Telles Barreto, a seguir convidando o presidente da CNPI
para assumir a coordenação da reunião.
O presidente Márcio Meira iniciou afirmando que pela primeira vez está sendo realizada
reunião da CNPI num espaço próprio da Funai, o que vai representar economia, e é mais positivo ainda
tendo em vista que este é um espaço digno para isso, até porque as subcomissões vão poder se reunir
nesse mesmo local, ao invés de terem de utilizar espaços de outros órgãos, como vinha acontecendo.
Em seguida, o presidente ressaltou que a reunião da CNPI neste dia é um ato simbólico de abertura, em
virtude da presença do ministro da Justiça, que os honra com sua presença nesse ato, ao que convidou o
ministro para proferir algumas palavras.
O ministro da Justiça, Luis Paulo Barreto, deixou um abraço para todos os presentes,
explicando que não poderá ficar durante a reunião, mas não poderia deixar de destacar a importância
dos trabalhos da Comissão Nacional de Política Indigenista. Apresentando um breve histórico dos
trabalhos da Comissão, afirmou que já foram realizadas 13 reuniões ordinárias em Brasília, 6
extraordinárias, 13 seminários, sendo 1 seminário nacional e 10 regionais sobre o Estatuto dos Povos
Indígenas, bem como 3 seminários regionais sobre empreendimentos em terras indígenas. Ou seja, vem
sendo realizado todo um trabalho, que acarretou avanços para os povos indígenas.
Entre esses avanços, o ministro destacou aqueles na área da saúde, em que foi criada a
Secretaria de Atendimento à Saúde Indígena, declarando ser do conhecimento de todos o quanto o Sr.
Antonio Alves [que será o secretário], é respeitado em todo o país. Lembrando que o presidente da
República se recorda de que a saúde foi o assunto mais mencionado na última reunião da Comissão da
qual participou. Na educação, destacou a criação dos Territórios etnoeducacionais; mencionando ainda
2
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
a inauguração de 30 pontos de cultura; o projeto de criação do Conselho Nacional de Política Indigenista
e a nova proposta de texto para o Estatuto dos Povos Indígenas, que foram enviados ao Congresso
Nacional, sendo que este último passará por discussão e poderá sofrer emendas.
A respeito da Funai, o ministro afirmou que é funcionário do Estado há mais tempo, e os
próprios índios procuravam o Ministério da Justiça pedindo uma nova Funai, o que foi trazido para a
pauta pelo presidente Márcio, com medidas que incluem o concurso público, melhores salários, uma
nova estrutura administrativa, um novo estatuto, a nova secretaria de saúde. Fecham 2010 com uma
pauta intensa, que está em andamento, sem esquecer que ainda há o que avançar, como no que
concerne à demarcação das terras indígenas, sua proteção, auto-sustentabilidade para todos que lá
vivem; capacitação para os servidores, para que se possa colocar em prática as políticas discutidas na
CNPI. Tudo isso foi feito junto com os índios, pois foi discutido pela CNPI, após anos se ressaltando a
necessidade dessas medidas. Portanto, acabam 2010 com muitas conquistas e ainda muito a fazer.
Para enfrentar o quadro de preconceito enfrentado pelos povos indígenas, que advém
do desconhecimento, precisam estar unidos, juntos. A Funai e o Ministério da Justiça poderão avançar
muito juntos, ainda que acertando e errando, mas devem continuar juntos tentando avançar. Pela
primeira vez o regimento interno da Funai foi discutido com as lideranças indígenas, apesar de ser uma
norma muito interna dos órgãos. Da mesma forma, houve o processo de consulta sobre o Plano
Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas - PNGATI, destacando que as terras
indígenas são as áreas mais protegidas no país.
O ministro concluiu afirmando que vê a importância dos temas apresentados à CNPI, e
que a discussão dos mesmos certamente vai representar avanço. O Ministério da Justiça tem orgulho da
CNPI e vai continuar prestigiando e participando dos esforços para que se transforme em conselho,
concluindo com congratulações ao presidente Márcio por tudo o que está sendo feito.
A seguir fez uso da palavra o representante indígena Ak’Jaboro Kayapó, o qual afirmou
que há tempos os indígenas pedem “para a Funai levantar”, e agora, com o presidente Lula, estão
conseguindo fazer isso, pelo que agradece a todos os que estão na CNPI. Foi aprovada a criação da
Secretaria de Saúde Indígena, e agora gostariam que fosse criado o Conselho Nacional de Política
Indigenista, que está no Congresso junto com o Estatuto. Pede a ajuda do ministro e do presidente para
3
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
que a reestruturação da Funai aconteça e dê certo na base, lembrando que os povos indígenas querem
que a Funai seja mudada para melhor, todos querem que ela melhore.
Concluídas essas falas, o presidente Márcio deu por encerrado o primeiro dia desta 14ª
Reunião Ordinária da CNPI, que como já mencionado tinha caráter simbólico, destinando-se a ouvir as
palavras do Sr. ministro da Justiça. Assim, destacou que a pauta da reunião será tratada no dia seguinte,
para o que conta com a presença de todos.
Dia 26 de agosto – manhã
Regimento Interno da Funai
O presidente Substituto e diretor da Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento
Sustentável da Funai, Aloysio Guapindaia desejou bom dia a todos e informou que estaria presidindo a
reunião no período da manhã e o presidente Márcio Meira à tarde.
A seguir explicou que foi elaborada uma apresentação do regimento interno da Funai,
que foi feita da maneira mais dinâmica possível, na forma de organogramas, com as competências
gerais, a partir do que seria apresentada toda a proposta do regimento, passando-se a seguir à
discussão. Isso posto, consultou a plenária quanto à concordância em relação à metodologia proposta,
explicando que durante a apresentação os que desejassem deveriam tomar nota das dúvidas e
questionamentos. Não tendo havido ressalvas, foi iniciada apresentação sobre o regimento interno da
Funai.
O presidente substituto explicou que o organograma da Funai foi elaborado de acordo
com o que consta no Estatuto, instituído pelo decreto 7056/09, em que são previstos na estrutura
órgãos colegiados – que são os Comitês Regionais, a Diretoria Colegiada e o Conselho Fiscal; órgãos de
assistência direta e imediata – o Gabinete da Presidência; órgãos seccionais – Auditoria Interna,
Procuradoria, a Corregedoria, a Ouvidoria e a Diretoria de Administração e Gestão; órgãos específicos e
singulares – que são a Diretoria de Proteção Territorial e a Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento
Sustentável; órgãos descentralizados – que são as Coordenações Regionais; e o órgão científico e
4
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
cultural, o Museu do Índio. De modo geral esta é a estrutura da Funai, estabelecida no novo Estatuto da
Funai. O regimento interno tem o objetivo de, a partir das definições constantes do Estatuto,
estabelecer competências para cada órgão apresentado no organograma.
É importante que se diga, prosseguiu Aloysio Guapindaia, que a minuta que está sendo
submetida à discussão não está totalmente pronta, até porque tem que passar pela CNPI, mas ainda há
detalhamentos que precisam ser elaborados. No entanto o texto já está adequado tecnicamente e
segue estrutura que é regulada por portarias do Ministério do Planejamento, cujas normas devem ser
seguidas por todos os órgãos, uma vez que há regras sobre como se deve montar o regimento de um
órgão público. Lembrando que não se pode fugir do que está estabelecido no Estatuto, uma vez que o
regimento nada mais é que um desdobramento das competências já colocadas no Estatuto.
Dando prosseguimento, foi iniciada a apresentação das competências de cada setor da
Funai, iniciando pela presidência (vide transcrição completa), destacando que o presidente coordena
todas as competências políticas e administrativas do órgão. Quanto aos comitês regionais, é um órgão
colegiado, mas suas competências são tratadas em conjunto com as das coordenações regionais.
Prosseguindo, o presidente substituto afirmou que a Diretoria Colegiada é uma novidade que aparece
no estatuto, e a Funai passa a ser organizada a partir dessa diretoria (competências descritas na
transcrição completa). Frisando que essas competências estão presentes no estatuto e se repetem no
regimento e esclarecendo que sua principal atribuição é a gestão estratégica, não se sobrepondo às
atribuições do presidente.
Foram apresentadas a seguir as competências do Gabinete da Presidência; Conselho
Fiscal; Auditoria Interna; Procuradoria Federal Especializada; Corregedoria, frisando que esta é uma
novidade que é apresentada na estrutura da Funai, a qual já está implantada e atuante; Ouvidoria,
também uma novidade e já está atuante. Prosseguindo na apresentação, passou-se à Diretoria de
Administração e Gestão, antes explicando que a maior parte das competências que foram apresentadas
constam do Estatuto da Funai, embora ainda devam ser feitos ainda maiores desdobramentos, como no
caso da Ouvidoria.
5
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Com relação à Diretoria de Administração e Gestão, foi explicado que já foram feitos os
desdobramentos das coordenações e mesmo dos serviços, entretanto na presente apresentação, por
uma questão de tempo, não seria feito o detalhamento em termos das atribuições das Coordenações, e
sim apenas das Coordenações Gerais. Lembrando que em caso de dúvidas poderá ser feita consulta à
minuta do regimento entregue a todos.
Assim passou-se à apresentação da estrutura da Diretoria de Administração e Gestão,
iniciando pela Coordenação Geral de Gestão Estratégica – CGGE, composta por 3 coordenações: a
Coordenação de Desenvolvimento e Avaliação Institucional, Coordenação de Tecnologia da Informação
e Coordenação de Gestão do Conhecimento. Esclarecendo que ainda está em discussão a permanência
da Coordenação de Tecnologia da Informação nesta Coordenação Geral.
A próxima, Coordenação Geral de Orçamento, Contabilidade e Finanças – CGOF,
composta pelas seguintes coordenações: Coordenação de Orçamento e Finanças, Coordenação de
Contabilidade e Coordenação de Execução Orçamentária e Financeira; Coordenação Geral de Recursos
Logísticos – CGRL, composta pela Coordenação de Material e Patrimônio e Coordenação de Serviços
Gerais; Coordenação Geral de Gestão de Pessoas – CGGP, da qual fazem parte a Coordenação de
Administração de Pessoal, Coordenação de Legislação de Pessoal e o Centro de Formação em Política
Indigenista.
A propósito, foi destacado que todas as coordenações foram criadas para dar conta da
atribuição principal, que é de responsabilidade da Coordenação Geral, desdobrando-se as suas
competências. E, ainda, que várias dessas coordenações são novidade, como é o caso da CGGE, CGRL e
CGGP, coordenação à qual está ligado o Centro de Formação em Política Indigenista, que não aparece
no regimento, pois está na estrutura da Coordenação de Formação e Desenvolvimento, cuja equipe vai
trabalhar no próprio centro, onde serão desenvolvidas as políticas de capacitação do órgão. Concluindo
a exposição sobre a Diretoria de Administração com explicação no sentido de que houve uma mudança
importante, relativa à transferência para a DAGES da gestão da Renda Indígena, que antes era feita pela
CGPIMA (Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente, atualmente Coordenação Geral
de Gestão Ambiental).
6
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Dando continuidade, passou-se à exposição sobre a Diretoria de Promoção ao
Desenvolvimento Sustentável – DPDS, iniciando pela descrição das competências da diretoria, que
constam no decreto e serão utilizadas no regimento. As coordenações que compõem essa diretoria são:
Coordenação Geral de Gestão Ambiental – CGGAM, da qual fazem parte a Coordenação de
Acompanhamento de Licenciamento Ambiental, a Coordenação de Projetos Ambientais e a
Coordenação de Monitoramento e Avaliação; Coordenação Geral de Educação – CGE, composta pela
Coordenação de Políticas Educacionais, Coordenação de Articulação e Projetos Educacionais e
Coordenação de Avaliação e Monitoramento; Coordenação Geral de Promoção ao
Etnodesenvolvimento – CGETNO, da qual fazem parte a Coordenação de Monitoria e Avaliação,
Coordenação de Projetos e Coordenação de Articulação Intersetorial, e, finalmente, pela Coordenação
Geral de Promoção dos Direitos Sociais – CGPDS, explicando que no âmbito desta coordenação há uma
novidade importante, que se trata de uma coordenação que trata de infra-estrutura em terras
indígenas.
No que se refere à Diretoria de Proteção Territorial – DPT, após a descrição das
competências da diretoria foi apresentada a sua estrutura, sendo ela: Coordenação Geral de Assuntos
Fundiários – CGAF, composta pela Coordenação de Análise e Levantamento Fundiário, Coordenação de
Registros Fundiários e Coordenação de Desocupação de Terras Indígenas; Coordenação Geral de
Geoprocessamento – CGGEO, composta pela Coordenação de Demarcação, Coordenação de Cartografia
e Coordenação de Informação Geográfica; Coordenação Geral de Identificação e Delimitação – CGID,
da qual fazem parte a Coordenação de Planejamento da Identificação e Delimitação, Coordenação de
Antropologia, Coordenação de Delimitação e Análise; Coordenação Geral de Monitoramento Territorial
– CGMT, composta pela Coordenação de Informação Territorial, Coordenação de Prevenção de Ilícitos e
Coordenação de Fiscalização; e finalmente Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato
– CGIIRC, que tem em sua estrutura a Coordenação de Índios Isolados, a Coordenação de Índios Recém-
Contatados e as Frentes de Proteção Etnoambiental, que são 12. Destacando que essa coordenação
geral fazia parte da Diretoria de Assistência e agora passa a integrar a Diretoria de Proteção Territorial.
A seguir foi apresentada a estrutura das Coordenações Regionais, compostas pelos
seguintes setores: Divisão Técnica, Serviço Administrativo, Serviço de Planejamento e Orçamento e
Serviço de Monitoramento Ambiental e Territorial, frisando que a esta estrutura estão também ligados
7
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
os Comitês Regionais e as Coordenações Técnicas Locais. Assim como feito quanto à sede, foi
apresentada a descrição das competências das Coordenações Regionais e dos setores que fazem parte
de sua estrutura.
Prosseguindo, foi feita a leitura das competências das Coordenações Técnicas Locais e dos
Comitês Regionais, a respeito do que foi explicado que há uma proposta de inclusão de texto no artigo
7º do Decreto do seguinte texto: “O Comitê Regional terá o número máximo de 30 e mínimo de 10
membros votantes, sendo a metade de representantes indígenas locais e metade de servidores da
FUNAI, devendo o Regimento Interno prever os critérios de participação” e ainda “A representação
indígena no Comitê Regional não poderá ser exercida por servidor público”; e “A convocação de
reuniões extraordinárias do Comitê Regional dependerá, obrigatoriamente, de disponibilidade
orçamentária para esse fim na Coordenação Regional”. Sendo a proposta que o texto seja incluído no
decreto e repetido no regimento interno. Finalmente se passando à apresentação quanto às
competências do Museu do Índio.
Concluído a apresentação sobre a proposta de regimento interno da Funai, o presidente
substituto abriu a palavra para a plenária a fim de que fossem apresentados comentários e
questionamentos. O primeiro a falar foi o representante indígena do Nordeste e Leste, Caboquinho
Potiguara o qual afirmou que, observando atentamente a apresentação, preocupou-se inicialmente com
o desconhecimento quanto ao regimento anterior, que também não deve ser do conhecimento dos
demais, e que seria útil para fazerem comparação. Precisariam ter maior embasamento jurídico para
que possam de fato ter condições de aprovar o regimento, sugerindo que a bancada indígena tivesse
acesso ao regimento anterior a fim de fazerem discussão mais objetiva.
Brasílio Priprá cumprimentou a todos e parabenizou Rondon pelos 100 anos de
proteção aos povos indígenas, parabenizando a Funai pela nova sede. Expressou também preocupação
por não terem conhecimento do regimento anterior, sem o que considera difícil aprovarem o atual,
diante do que demanda que possam ir para as bases mais informadas para orientá-los sobre o que está
sendo feito. Solicitou ainda que disponham de mais tempo para fazerem essa comparação, e que esse
processo seja feito sempre em conjunto com os povos e organizações indígenas.
8
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Sansão Ticuna afirmou que, primeiramente, gostaria de dizer que estão iniciando uma
nova atividade na Funai, com a reestruturação; que entendem que um regimento é importante em
qualquer instituição, e sua preocupação relaciona-se mais ao tempo em que estão discutindo, pois
embora haja todo o tempo pela frente, o que está acontecendo é que, quando se fala na reestruturação
da Funai, já está feita, formatada, foi realizado concurso público e agora é que estão começando a ter
um momento para conhecer o regimento que vai servir daqui para o futuro.
Prosseguindo, Sansão Ticuna afirmou que considera importante esse processo, porém
precisam de mais tempo, para estudar, discutir bastante o texto do regimento, no entanto, receberam a
minuta durante a reunião da bancada indígena e se preocuparam com o pouco tempo para analisarem a
proposta. Estão tentando fundamentar um documento que vai servir para o bom funcionamento da
instituição, e para isso precisam ter o conhecimento adequado; já sabem como vai funcionar cada
departamento e coordenação, e sua maior preocupação é que mude bastante principalmente o perfil
dos servidores que vão assumir as Coordenações Regionais e as Coordenações Técnicas Locais.
Dilson Ingaricó, do estado de Roraima, afirmou que o papel de coordenação regional
não ficou muito claro, enquanto que o das coordenações técnicas está melhor trabalhado, portanto
sentiu falta de entender o que a sede central pode fazer para a coordenação regional. Acredita que a
estrutura toda está bem desenhada, mas reforça a palavra de Caboquinho e Sansão, pois para que
possam dar ok para o regimento precisam ter acesso ao anterior, não para regredir a discussão, mas a
fim de que possam assumir com segurança a responsabilidade de tomar essa decisão.
Crizanto Xavante falou a seguir, ressaltando que foi dito que esse é um texto em
discussão, o que possibilita que sejam feitas sugestões. Prosseguindo, levantou questionamentos com
relação à renda indígena, afirmando que estão lutando pela autonomia indígena, em que a Funai tenha
mais o papel de assistente técnico e não de forma paternalista, ao que pede que possam aprofundar a
discussão do texto. Comentou ainda sobre a presidência dos Comitês Regionais, afirmando que na saúde
está sendo feita mudança no sentido de que não só mais a instituição presida os conselhos de saúde.
Portanto, já que a gestão é compartilhada, pede que se considere isso também nos casos dos comitês
regionais. Sobre a composição, acredita que cada comitê vai decidir, de acordo com sua realidade.
9
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Dodô Reginaldo parabenizou por estarem discutindo, pois o regimento vai influir no
futuro das crianças indígenas, devem estar sempre preocupados com a população que representam,
pois na base também há idéias boas para que possam dar sua opinião e de que maneira pode ser feito.
Quanto aos Comitês Regionais, questionou o fato de que a CNPI pode opinar, porém sem direito a voto.
Deoclides Kaingang cumprimentou a todos e afirmou que gostaria de deixar claro que,
quando solicitaram ao presidente Márcio para discutir o regimento, sempre se dizia que havia ajustes a
fazer, sendo que receberam o material apenas 2 dias atrás, e, se o órgão demorou tanto para fazer e o
texto ainda não está consensuado, fica muito difícil para a bancada indígena decidir. Acredita que
precisam de mais tempo para discutir esse regimento com as bases e com suas organizações, até porque
acredita que elas ainda não tiveram acesso ao documento.
Aloysio Guapindaia comentou a seguir sobre as intervenções, afirmando que há
preocupação corrente nas falas com relação ao tempo, tendo em vista que o material foi entregue 2 dias
atrás e não foi possível que se aprofundassem no que foi proposto, nem que discutissem o texto nas
bases ou junto às organizações indígenas. Isso é fato e devem considerar que elaborar um regimento
interno é complexo, assim como é complexo fazer a discussão sobre ele. Os servidores estão
trabalhando no regimento durante o ano de 2010, a instituição continua empenhada e trabalhando, e
isso está exigindo de todos uma grande atividade, pois a Funai não se dedica só a isso, não podem parar
as outras atividades. Esse esforço está exigindo dos técnicos, diretores, do presidente da Funai, pois
estão se dedicando enormemente a isso, e de fato o tempo para o debate na CNPI foi curto,
reconhecem que não há como superar essa discussão num único dia de debate.
Por outro lado, do ponto de vista da Funai, o regimento não está terminado, serão
necessárias outras discussões e reformulação. Devem levar isso em conta e tirar encaminhamentos
para, ao final do debate, resolver essa questão. O desafio é ter o regimento implantado até antes do
final do ano, portanto trabalham com um cronograma que prevê que esteja em vigor até o mês de
outubro, quando o governo entra em transição, trazendo outras obrigações para a Funai em termos de
transição de governo. Portanto o calendário eleitoral impõe algumas coisas a essa discussão.
No que concerne ao questionamento quanto ao regimento anterior, foi explicado em
outras ocasiões que esse texto não foi trazido à discussão porque de fato não existe regimento interno
1
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
anterior. Lembrando que houve duas reestruturações na Funai no governo Lula, e embora houvesse um
prazo, não foi feito um novo regimento interno – o regimento de 2003 perdeu a validade em face da
nova estrutura, e o órgão ficou sem regimento até que viesse a segunda reestruturação, e ele não foi
feito. Essa é a terceira reestruturação, e no momento se está trabalhando numa proposta de regimento,
sendo importante que compreendam que essa situação não pode continuar, pois a instituição funciona
há 7 anos sem regimento, as pessoas trabalham sem saber quais são as suas competências e atribuições.
Como o decreto modificou significativamente a estrutura do órgão, caso não venha a ser
aprovado um novo regimento os servidores vão continuar atuando com as atribuições e competências
que cada um atribuiu a si, recriando competências que tomam por base o regimento anterior a 2003, ou
outras que não estão escritas em lugar nenhum. O regimento é o passo seguinte, necessário para que a
reestruturação aconteça, lembrando que está em curso a organização dos seminários regionais sobre a
reestruturação, onde serão discutidos os comitês regionais e uma agenda de trabalho regional, que são
o passo seguinte para a implantação da nova estrutura. Portanto, no que se refere ao tempo, devem
trabalhar com esse olhar, de forma que o regimento esteja valendo até outubro, antes de entrarem no
período de transição.
Quanto ao questionamento concernente às competências da sede central e unidades
regionais, esclareceu que a observação vem da conclusão de que na coordenação regional se diz que
deve se reportar à sede central, ao mesmo tempo em que aparece que esta tem o papel de dar as
coordenadas da política e fazer com que as ações que forem realizadas nas regiões sejam
acompanhadas na sede central. A coordenação regional tem obrigações para com a sede, mas esta
também tem para com as coordenações regionais.
Isso está claro ao se colocar as competências, pois tudo o que está colocado na sede
como competência se realiza não só na sede, mas na ponta também, uma vez que a Funai é um sistema
descentralizado, que se alimenta de forma permanente, pois não se realiza política sem trabalhar
informações, o que é feito pela ponta, que enxerga realidades, situações, propõe soluções e isso deve
ser passado para a sede central. Por isso foi criada uma Coordenação Geral de Gestão Estratégica, de
1
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Gestão da Informação, que vão atuar também na solução das problemáticas regionais. Foi pensado um
sistema em que todos têm atribuição específica, mas que atuam na elaboração das políticas regionais.
A coordenação política nas regiões é atribuição das Coordenações Regionais, e isso está
muito claro, sendo que a consonância com a sede central é necessária, pois ela organiza tudo isso e
permite que as ações sejam realizadas de forma qualificada. Mas hoje isso não acontece porque a
instituição não tem capacidade ainda – e isso está sendo providenciado – de produzir e qualificar
informações. A sede deve estar posicionada com esse olhar regional, mas hoje muitas vezes olha para si
mesma enquanto órgão central e não consegue ter olhar regional. E com a nova estrutura querem
mudar essa realidade.
Com relação ao questionamento quanto aos comitês serem presididos pelo
Coordenador Regional, isso consta no Estatuto e teria de ser seguido no regimento, a não ser que se
mude no Estatuto. O comitê regional é ligado à instituição, Funai – Coordenação Regional. Os conselhos
são regulados por lei, lembrando que há diferenças entre conselhos e comitês, portanto, teriam de
verificar se há impedimento para que seja estabelecida uma presidência rotativa. De toda forma, isso
exigiria alteração no decreto, que é muito claro quanto ao fato de que a presidência será exercida pelo
coordenador regional, que por sua vez representa o presidente na região.
Sobre a CNPI só ter direito a voz, todas as organizações convidadas têm apenas direito a
voz, sejam elas governamentais ou não governamentais, representantes estaduais e municipais – estes
podem ser convidados para discutir assuntos de interesse do comitê, e após os esclarecimentos e
participação necessária é o comitê quem delibera, ele toma a decisão final. O comitê é paritário, e foi
pensado como a instância que toma as decisões, trazendo as discussões para dentro dele e atuando na
articulação e desenvolvimento das ações dentro da região. As decisões devem ser tomadas pelo comitê,
lembrando que as pactuações são de fato necessárias, mas seria inadequado desequilibrar a capacidade
do comitê de tomar decisões.
Com relação à Renda Indígena, explicou que foi formada no tempo do SPI, é o
patrimônio indígena que gerou renda, sendo que no tempo do SPI isso acontecia, por exemplo, por meio
da criação e comercialização de gado, pelo arrendamento de terras, retirada de madeira, exploração de
garimpo, entre outros. O SPI administrava essa renda e a Funai, ao ser criada, recebeu essa “herança”,
1
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
sendo que, quando veio a Constituição de 1988, muitas das atividades da Funai exercidas junto com as
comunidades indígenas ficaram proibidas, o que restou foi a compra e venda de artesanato.
O fato é que hoje a Funai tem bens que não pertence a ela – prédios, carros,
computadores e outros – que pertencem ao patrimônio indígena, assim como tem depositado em suas
contas recursos que são oriundos da compra e venda de artesanato e outras rendas que não se faz mais.
Muitas a Funai usou em projetos em benefícios dessas mesmas comunidades. Outra coisa que a Funai
usa como patrimônio são os programas de mitigação e compensação ambientais – como os convênios
celebrados com o DNIT, que repassou recursos para o programa da Funai no PPA e este por sua vez é
repassado para a Renda Indígena, que é extra-orçamentária.
Prosseguindo, Aloysio Guapindaia informou que hoje são mais de 60 contas, de recursos
não orçamentários, que são criadas pelo Tesouro Nacional e administradas pela Funai. No Estatuto não
dava para a Funai por fim nisso, portanto continua administrando o patrimônio, e o faz por autorização
de determinada comunidade, enquanto que antes, no estatuto anterior, se dizia que a Funai fazia e
pronto. Hoje foi feita essa mudança, de forma que a Funai só administra a referida renda a pedido de
determinada comunidade, caso contrário a própria comunidade administra. O Estatuto vinha
basicamente sendo repetido ano após ano, e apenas agora estão sendo adotadas medidas efetivas para
mudar isso, tendo se elaborado um Estatuto que se alinhou com os fundamentos da Constituição
Federal de 1988. Portanto, há essa herança, sendo que esse patrimônio não pertence à Funai, que
apenas o administra, há bens e recursos financeiros e é preciso avançar na discussão sobre as novas
orientações que o órgão deveria adotar para proceder de forma mais clara e transparente nessa área.
Foi esclarecido, ainda, que até então o patrimônio era administrado pela CGPIMA,
Coordenação Geral do Patrimônio Indígena e Meio Ambiente na estrutura anterior, setor que recebeu
essa “herança” e vinha fazendo a gestão do patrimônio indígena e dos projetos de impactos ambientais,
que eram depositados no patrimônio. O novo estatuto separa os bens desses projetos, e atribui à
Diretoria de Administração e Gestão a competência de gerir esses recursos, já que é essa diretoria que
administra os bens e recursos da Funai em geral, com o que se mudou a realidade segundo a qual os
técnicos que são de uma área fim precisavam atuar na área meio. O que cabe à área fim é o
desenvolvimento dos projetos e programas da renda indígena, que os coordena, cabendo à DAGES a
1
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
gestão do que se refere à área meio. Isso permite um melhor controle desses recursos, que de fato são
de terceiros.
Luiz Titiah questionou a forma como a cópia do regimento chegou aos representantes
indígenas, afirmando que precisam levá-lo ao conhecimento das bases e que os representantes
indígenas não têm culpa de que não havia regimento. Além disso, querem participar dos comitês, não só
ouvir e opinar; vêm apanhando muito com as mudanças que estão sendo feitas na estrutura da Funai e
ficou triste ao saber que o regimento não será discutido nos seminários sobre a reestruturação. A renda
que querem hoje é ter suas terras de volta, por meio do que podem ter a sua autonomia. Concluindo,
Luiz Titiah afirmou que, se não for ampliada a participação indígena nos comitês, a autonomia indígena
ficará prejudicada, destacando finalmente que haviam sido escolhidos representantes indígenas para
participar da discussão do regimento interno, mas isso não aconteceu.
Antonio Caboquinho afirmou a seguir que, uma vez que serão realizadas 10 oficinas
regionais, deveria se aprovar a proposta de se fazer uma oficina extraordinária para discutir e tirar
proposta a respeito dos seminários regionais. Com o modelo da nova Funai, ao falar das competências,
principalmente das coordenações e comitês, preocupa-se com relação à necessidade de se ter
consonância com a direção da Funai, o que a seu ver não vai funcionar se não houver consonância com
as comunidades. No que se refere ao voto da CNPI, foi dito que a diretoria é que vota, mas estão
trabalhando na CNPI por uma política participativa, e sem direito ao voto está sendo limitada a
participação efetiva da Comissão, que é pelo que estão trabalhando.
Dando prosseguimento às falas, Ak’Jaboro Kayapó teceu uma série de comentários
sobre a presença da Força Nacional na Funai. Sansão Ticuna pergunta sobre a participação de lideranças
indígenas nos Comitês Regionais, afirmando que há muitos indígenas que hoje são servidores públicos e
assumem cargos, e portanto não se justificaria a restrição quanto à participação nos comitês, solicitando
maiores esclarecimentos sobre esse item. Com relação à Renda Indígena, afirmou que o povo Ticuna é
agricultor, sobrevive disso, questionando se esse povo já teria de alguma forma sido beneficiado com
recursos também.
Crizanto Xavante declarou que o objetivo das mudanças deve ser buscar melhorias para
os povos indígenas; que os indígenas precisam se unir com relação aos Comitês, discutir essa questão.
1
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Anastácio Peralta afirmou que o regimento precisa existir, comentando a importância de que entendam
o que é e para que serve um regimento, afirmando que ele mesmo, por exemplo, não sabe o que é um
regimento interno. Brasílio Priprá comentou a respeito do artigo que determina que não poderão fazer
parte do comitê indígenas que sejam servidores, opinando no sentido de que, se forem escolhidos por
sua base para representá-la, e se o fazem no sentido de ajudar, não está correta essa restrição.
Destacando que esse ponto será questionado pelas comunidades indígenas.
André Araújo/MDA, sugeriu que esse artigo não seja excluído, mas sim melhor
especificado, definindo que tipo de servidor não pode participar, pois em sua opinião de fato, se o
indígena é servidor da Funai, não faz sentido que esteja na bancada indígena.
A propósito dessa última questão, e, de forma mais ampla, tratando do Comitê
Regional, Aloysio Guapindaia afirmou que ele foi pensado dentro de uma estrutura e seguindo as
diretrizes da CNPI. Ou seja, regionalmente estruturam um comitê, que seria uma espécie de comissão
regional paritária, como a CNPI – metade indígena, metade de governo, que no caso seria a Funai, e não
o governo estadual ou municipal, por ser um comitê que tem o principal objetivo de discutir um plano
regional de atuação da Funai, a princípio, mas também de outros órgãos de governo. A exemplo da
educação, saúde e outros órgãos que realizam ações junto aos povos indígenas. Chama-se comitê
regional, mas na verdade é um comitê gestor da política regional e é evidente que deve se basear nas
diretrizes das políticas definidas pela CNPI ou pelo próprio conselho quando for criado. Isso para que
tenha um olhar nacional, ao mesmo tempo em que permite que a CNPI tenha olhar regional – e deve
haver uma ponte entre os dois.
O presidente destacou ainda que o comitê regional não é conselho pela mesma razão
que a CNPI não é conselho, ou seja, pelo fato de que um conselho precisa ser criado por lei. Assim,
optou-se pela criação dos comitês em razão do fato de que essa é uma decisão que pode ser adotada no
âmbito do Executivo; é paritário por ser espaço de pactuação política regional entre o governo e a
sociedade, para que paute sua atuação política de forma pactuada. Ao falar do plano regional, a
necessidade de estabelecer plano anual, regulamento regional, cabe lembrar que será executado pela
Coordenação Regional e terá orçamento. O regulamento estabelecerá o nível de pactuação, os acordos
1
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
necessários, é uma espécie de regulamento das pactuações, sendo importantíssima a definição desse
regulamento.
Estando ligado a um órgão público, que é a Funai, entra-se na questão da representação
do servidor público – lembrando que um órgão público precisa ter autonomia, sendo neste caso um
órgão executivo; assim como as organizações indígenas precisam ter suas autonomias preservadas. E
essa discussão sobre como manter essas autonomias deve ser feita de forma permanente. O presidente
é o gestor máximo do órgão e responde legalmente por isso; assim como a Funai não pode entrar na
autonomia das comunidades indígenas e suas organizações. Para respeitar essas autonomias se pensou
na criação de um espaço para que se possa discutir essas pactuações, e nesse ponto entra a
representação do servidor, pois eles fazem parte de um determinado órgão.
O servidor que representa a sociedade civil dentro de um conselho acaba incorrendo em
uma incoerência, portanto, não é adequado que a representação da bancada seja feita por servidores.
Lembrando que todos os comitês e conselhos são pautados nesse princípio, e embora esse assunto
esteja em discussão, a seu ver pode-se incorrer em prejuízo à autonomia. O ideal seria ter os conselhos
regionais criados por lei, porém foi feito o que foi possível; é preciso respeitar a paridade, caso contrário
não se trata de pactuação e sim de imposição política.
Respondendo a Ak’Jaboro, Aloysio Guapindaia explicou que quando se entra em
qualquer órgão é necessário se identificar, estas são regras de qualquer órgão público – ninguém pode
ser impedido de entrar, pois todo cidadão deve ter acesso aos serviços que os órgãos de governo
prestam, entretanto deve haver regras para a entrada de visitantes. Caso não exista isso, fica-se à mercê
da ação de pessoas estranhas, inclusive ocorrem casos de roubos e outros problemas e se faz necessário
garantir a segurança por meio da definição de regras e normas de acesso. O controle é necessário e
estão procurando melhorar a forma como é feito, o que não representa limitação ao acesso, apenas o
mínimo de controle. Ninguém entra em um órgão público para passear e por isso ao procurar um órgão
é preciso que a pessoa informe aonde vai, o que vai fazer, daí se entra em contato com o setor
competente para informar que está indo determinada pessoa lá; o servidor público deve ter segurança
para trabalhar e embora a maioria das pessoas aja de boa-fé há aqueles casos que não são assim.
1
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Milena, da Casa Civil, em referência à informação de que há necessidade de elaboração
de um plano de ação da coordenação regional, pergunta como estão pensando a questão da
responsabilização pela prestação de contas a ser feita pelo comitê. Respondendo, o presidente
substituto afirmou que o trabalho dos comitês será alimentado pelas Coordenações Técnicas Locais, que
por sua vez são um grupo técnico que vai identificar as problemáticas, elaborar projetos, principalmente
em prol do desenvolvimento sustentável. O que vier a ser produzido pelas CTLs será encaminhado para
as Coordenações Regionais, que vão sistematizar esse trabalho, utilizando formulários próprios para
isso, e o resultado será remetido aos comitês, para deliberação e análise. O comitê vai tomar as decisões
com base na informação que vai ser repassada pelas Coordenações Regionais, tendo como parâmetro o
que consta de orçamento definido no PPA, ressaltando que cada região vai ter seu orçamento.
A partir daí é elaborado o plano de trabalho, que só vai ser analisado pela Diretoria
Colegiada depois de passar pelo comitê; durante a execução da atividade, o comitê, as CTLs e
representações indígenas acompanham. No final do ano se analisa o que foi feito, bem como a
prestação de contas, que deverá ser enviada a Brasília; não é uma prestação somente contábil e
financeira, mas diz respeito a saber se as metas foram alcançadas, se modificou uma realidade a ser
abordada. Não é, portanto, uma análise meramente orçamentária, mas dos objetivos, metas, com olhar
estratégico de atuação da região.
Milena pergunta quem assina a prestação de contas, ao que o presidente respondeu
que será o coordenador regional, que é servidor da Funai, até porque todos os procedimento
administrativos são de responsabilidade dos servidores do órgão.
Neste ponto foram encerradas as atividades do período da manhã, ficando as inscrições
para intervenções e questionamentos já feitas previstas para serem atendidas à tarde.
Dia 26 de agosto – Tarde
Regimento Interno da Funai (continuação do debate)
1
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Dando prosseguimento à discussão iniciada no período da manhã, sobre o regimento
interno da Funai, o presidente Márcio Meira convidou para fazer uso da palavra o próximo inscrito, que
no caso era o representante da sociedade civil, Gilberto Azanha. Este afirmou que, conforme explicado
anteriormente, comitê
teria estrutura semelhante à CNPI, sendo que, na contestação feita pelas lideranças indígenas, havia
ficado claro que o comitê, num primeiro momento, teria caráter mais de diálogo entre Funai e índios no
que concerne à gestão. Enquanto que figuras importantes, como SEDUC etc., inclusive a CNPI, seriam
apenas convidados para dizer o que estão fazendo. O comitê, assim como a CNPI, foram criados por
decreto e os participantes estão participando por terem alguma participação na política indigenista,
portanto, acha estranho que sejam convidados apenas para dizerem o que estão fazendo e não sejam
cobrados. Saúde e educação tratam de assuntos importantes e se é só para informar não vão sequer
aparecer, portanto acredita que deveriam compor o comitê, pelo menos num primeiro momento, até
que se convertam em conselhos. Pergunta, finalmente, por que o comitê será restrito à Funai em sua
composição.
Luis Titiah afirmou que gostaria de voltar à discussão da manhã, feita por Ak’Jaboro
Kayapó, afirmando que concordam em ser identificados ao entrar na Funai, pois ao participar da
capacitação sobre os seminários a respeito da reestruturação a todo o momento em que saiam
precisavam se identificar; se há roubos ou similares na Funai não podem ser confundidos com essas
pessoas, se há índios envolvidos nisso devem responder, mas deve haver respeito, pois quando se
apresentam para entrar é feita ligação ao setor para onde estão se dirigindo e se dizem que não vão
atender não são autorizados a subir.
Daniela Alarcon, da Secretaria de Políticas para Mulheres, convidada permanente,
apresentou sugestão a respeito do regimento, no sentido de que fosse recuperada solicitação da
subcomissão de Gênero, Infância e Juventude quanto à reestruturação ser uma oportunidade para se
garantir a representação das mulheres. Portanto propõe que os comitês contemplem a representação
em termos de gênero, sendo que no texto atual o regimento apenas indica o número mínimo e máximo
de participantes, sugerindo que se contemple isso ou pelo menos saia recomendação de Brasília para as
Coordenações Regionais para que seja contemplada a diversidade. Especialmente considerando que não
1
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
é em todas as regiões que as mulheres estão mobilizadas para conquistar seu espaço, e cabe ao Estado
criar condições para se garantir essa participação. Em termos de redação, sugere que seja incluída a
frase “contemplando a diversidade de gênero”.
Crizanto Xavante expressou sua preocupação com a presença da Força Nacional na
Funai, afirmando que são sabedores de que deve existir segurança e preservar a vida dos servidores, no
entanto, já há segurança responsável pela Funai; a presença da Força Nacional está fazendo com que os
indígenas se sintam lesados em seus direitos.
Dilson Ingaricó afirmou que, ao se reunir, a bancada indígena pautou alguns pontos
preocupantes relacionados à estrutura da Funai, como por exemplo quanto à CGE, da qual teria sido
retirada a responsabilidade apoiar a educação indígena em termos financeiros e políticos. Na referida
reunião tratou-se, entre outras questões, da Carta resultante do 7º Acampamento Terra Livre, realizado
em Mato Grosso do Sul, entre os dias 16 e 19 de agosto, e na qual são reunidas as principais questões
discutidas no encontro, passando-se a seguir à leitura do referido documento (vide degravação).
Dando prosseguimento à discussão sobre o regimento interno, Gersem Baniwa fez a
seguir algumas considerações a propósito da apresentação feita no período da manhã, pelo presidente
substituto. Primeiramente afirmou que é interessante o fato de que está contemplada a qualificação da
representação indígena e governamental nas instâncias colegiadas de governo – como é uma
experiência nova no governo devem buscar dar ênfase a isso, deixar claros os diferentes níveis de
participação, como o fato de que não se deve permitir a participação de servidores na bancada indígena.
Destacando que em sua região sempre se pautaram pela premissa de que os representantes indígenas
não devem ao mesmo tempo ocupar cargos de direção em órgãos de governo, abrindo espaço para
participantes indígenas que não mantêm vínculos com o governo. Com isso dão bom exemplo visando a
garantir a legitimidade e ao mesmo tempo a autonomia que foi mencionada pela manhã, “até porque o
contrário disso representa imoralidade”. Estão tratando dos comitês regionais, e gostaria que isso fosse
pensado no nível da CNPI, e que isso valha não só para o Ministério da Justiça, mas para várias
instâncias.
No regimento se está tratando das regiões, prosseguiu Gersem Baniwa, mas pergunta se
não seria o caso de garantir um comitê regional que reúna essas regionais, para dar conta da política no
1
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
nível nacional, “quem sabe no futuro se possa avançar nisso”. Como conectar e articular os diferentes
espaços e territorialidades da Funai. E há outro detalhe, que expressa pela segunda vez: a forma de ter
comitês regionais e um comitê nacional é para dar conta da política indigenista no âmbito da Funai, o
que deveria desonerar a CNPI, que a cada vez está se tornando a comissão indigenista da Funai, quando
não se deveria priorizar somente o que diz respeito ao órgão indigenista, pois há muitos outros temas
que precisam ser tratados com igual importância. A CNPI se desafogaria para tratar de agenda mais
ampla, quando hoje o que acontece é se tratar de assuntos ligados à Funai.
Em terceiro lugar, é importante esta discussão, mas em muitas regiões é importante
agilizar, acelerar a retomada da normalidade, é preciso dar maior normalidade às ações e funções da
Funai – há muitas unidades em que se criaram lacunas, vazios, dificuldades de funcionalidade no dia-a-
dia da Funai, por exemplo não se sabe quem vai ser o novo coordenador e se cria toda uma dificuldade
de trabalho prático. Há parceria Funai – MEC e estão sentido essa dificuldade. Como sugestão, propõe
que seja criada uma força-tarefa para retomar a normalidade da Funai.
Outra questão – está na bancada do governo e muitas vezes não acompanha, mas
pergunta se de fato há necessidade da urgência em termos do tempo político para apressar a aprovação
do regimento, propondo estabelecer um espaço de tranqüilidade para se discutir com a devida
profundidade a estrutura da Funai e assim deixar um legado mais qualificado para o futuro, deixando
uma nova proposta de regimento realmente bem elaborada. Que equipes técnicas da CNPI possam se
aprofundar, discutir e realmente fazer um bom trabalho quanto ao regimento da Funai.
Marcos Apurinã, coordenador da COIAB, afirmou que é importante registrar sua
primeira participação na CNPI, referindo-se inicialmente ao documento lido por Dilson, cujo teor reitera,
e chamando atenção para um outro documento, que afirma ter sido feito por um coordenador da Funai
de Altamira, no qual Marcos seria citado, e que a seu ver reflete a situação pela qual estão passando na
região. O que ao em sua opinião prova que ainda devem enfrentar preconceito dos próprios servidores
da Funai. Esse funcionário precisa ser humanizado, educado, afirmou Marcos Apurinã, e esse centro vai
servir para isso; estiveram em Altamira fazendo movimento de esclarecimento das comunidades
indígenas sobre a reestruturação, que não foram consultadas, e foi tomada essa atitude, sobre a qual
solicitam providências para que isso não se repita mais.
2
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
O presidente Márcio Meira respondeu aos questionamentos, solicitando a Marcos
Apurinã que apresente à Ouvidoria documento formal informando sobre o fato mencionado em sua
fala, de forma a caracterizar que houve eventual desrespeito aos direitos indígenas, para que possa
avaliar que medidas tomar, inclusive se seria o caso de encaminhar a questão à Corregedoria. De
antemão pede desculpas pelo que porventura tenha ocorrido, pois, embora o órgão tenha muitos
servidores, nada justifica esse tipo de atitude.
Prosseguindo, o presidente afirmou que se faz necessário dividir os assuntos que foram
tratados – regimento, segurança da Funai e o documento do Acampamento Terra Livre, lido por Dilson.
Começando por este último, afirmou que o documento tem legitimidade, como todos os outros que o
movimento indígena tem apresentado, com os quais em muitos pontos há concordância, e em outros há
divergência. A presidência da CNPI vai acolher e submeter as questões a análise para que se possa dar
andamento. Mas já adiantando dois pontos, no que concerne à educação – quanto à Funai ter tirado
apoio técnico à área de educação –, é preciso deixar claro o que já disse em outra reunião:
institucionalmente falando, não existe retirada da Funai, retirada de apoio, pelo contrário, está sendo
celebrado convênio com o MEC, e não há nenhuma mudança, inclusive na área da educação superior. O
que está acontecendo é adequar o atendimento ao que está previsto nos convênios, que às vezes
precisam ser renovados, revistos, e basta um problema eventual em algum convênio para que se
espalhe notícia de que a Funai não estaria mais repassando apoio à educação. Não existe isso, e sim o
que há é a continuidade e o aperfeiçoamento da atuação da Funai.
Outro ponto mencionado no documento é com relação à prisão de Glicéria
[Tupinambá], que é membro suplente da CNPI, e que na última reunião, ao retornar para casa, foi presa.
Um ato que foi imediatamente repudiado pela Funai, que tomou providências imediatas, tendo sido a
ação de habeas corpus da Funai que soltou não só Glicéria como seus dois irmãos. E devido a isso foram
vitoriosos, tendo se obtido a soltura dos três. Portanto, de forma alguma houve qualquer desleixo por
parte da Funai.
No que concerne à questão Cinta Larga, a Funai tem tomado todas as medidas possíveis
com relação a essa situação, inclusive se procedeu ao fechamento do garimpo e estão até mesmo
desenvolvendo atividades econômicas alternativas na região. Lembrando que Marcos Apurinã atuou
2
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
como parceiro na tentativa da resolução do problema; não que tudo tenha sido resolvido, mas o Estado
tem atuado no sentido de solucionar os problemas, verificados inclusive dentro do Estado, que, diga-se
de passagem, não é homogêneo.
Com relação à demarcação do território Guarany Kaiowá, Anastácio é testemunha dos
esforços da Funai para dar prosseguimento aos procedimentos visando à demarcação, estão tomando
todas as medidas possíveis para enfrentar as dificuldades. Semana passada houve vitória importante,
que foi a decisão da Justiça que permitiu a entrada da Funai nas fazendas para dar prosseguimento aos
estudos; a direção da Funai foi contatada pelo presidente Lula, que solicitou a celeridade do órgão na
resolução dessa situação.
A propósito da presença da Força Nacional de Segurança na Funai, já esclareceu e volta
a repetir que ela não está controlando ou impedindo a entrada de ninguém no órgão, o procedimento
de controle que está sendo feito é aquele que existe em qualquer órgão de governo, com a finalidade de
garantir a segurança no local. A razão da presença da Força Nacional é devido ao fato de que vários
membros da direção estão sofrendo ameaças anônimas, e por recomendação do Ministério da Justiça se
manteve a presença da Força Nacional. Diante das colocações que foram feitas, acredita que a bancada
indígena pode formalizar as preocupações que foram apresentadas para que possam até mesmo
reavaliar junto ao Ministério da Justiça a questão da presença dessa força. Lembrando que não se trata
somente da segurança da instituição, mas das pessoas que integram a direção, pois têm sofrido
ameaças contra a sua integridade física. A situação poderá ser reavaliada a partir da análise que vier a
ser feita levando em conta as considerações presentes no documento da bancada indígena. Esse seria o
encaminhamento para se reavaliar a questão da segurança.
Quanto ao regimento da Funai, e respondendo a pergunta de Gersem, o presidente
destacou inicialmente a questão de que a representação indígena no comitê regional não tenha vínculo
com o governo - esclarecendo que a proposta de regimento é justamente que a bancada indígena não
seja composta por indígenas que têm cargos no governo. O que visa a garantir a autonomia e a
legitimidade da bancada. A propósito, lembrando aos membros da bancada indígena e da sociedade civil
que em uma oportunidade anterior solicitou que reflitam sobre a participação de representantes
indígenas na CNPI que são membros de órgãos do governo, pois está previsto no regimento da Comissão
2
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
que isso não pode acontecer. Inclusive consta no decreto a previsão de que sejam realizadas
assembléias para que se proceda à escolha de membros que venham a substituir aqueles que sejam
servidores. E, muito embora não se possa deixar de ressaltar que esses membros têm contribuído muito
na Comissão, faz a solicitação para que se corrija rapidamente essa situação.
No que tange à sugestão de que se crie um fórum nacional que reúna os comitês
regionais, confessa que não pensaram nessa proposta ao trabalhar no regimento, por acreditar que a
CNPI e os comitês poderiam cumprir esse papel. De fato poderia ser criado um conselho no âmbito
exclusivo da Funai para que se possa discutir os assuntos que dizem respeito exclusivamente ao órgão;
ao se tratar dos comitês regionais no âmbito do regimento poderiam criar uma espécie de fórum
nacional para tratar dessas questões.
Com relação ao papel da CNPI e dos comitês, está claro – já respondendo a Gilberto –
que ambos têm papel de discussão da política indigenista na região, sendo que o artigo 10º do decreto –
parágrafo 5º trata justamente da participação de outros órgãos governamentais. Este seria um caminho
para aperfeiçoamento, mas o aperfeiçoamento dos comitês se dará por portaria e num primeiro
momento a portaria de nomeação dos membros incluirá a nomeação dos outros órgãos que se julgar
importante participar do comitê, portaria esta que será assinada pelo presidente da Funai. A idéia era
que não tivessem direito a voto, mas podem trabalhar, como aperfeiçoamento, que possam também ter
direito a voto, sendo que através da portaria se poderá formalizar a participação desses órgãos nos
comitês.
O decreto prevê a participação dos membros da CNPI nos comitês, mas sem direito a
voto, no entanto acredita que este é um ponto que poderá ser discutido, poderão considerar essa
possibilidade. A idéia era que o comitê fosse uma instância regional, composta pelos representantes da
região; a CNPI poderia participar, porém sem direito a voto, porque os membros da Comissão já têm
direito ao voto na CNPI, onde se decide a política em âmbito nacional, cabendo aos representantes
regionais o voto nas questões que dizem respeito a sua região.
Quanto ao funcionamento das unidades regionais, mencionada por Gersem Baniwa, o
presidente afirmou que estão funcionando, embora exista uma minoria que ainda não tem seus
coordenadores regionais nomeados e estrutura para o funcionamento. Devem considerar, no que
2
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
concerne à dificuldade de funcionamento, a questão do boicote, pois há alguns servidores que fazem
corpo mole ou de alguma forma geram dificuldades que impedem o pleno funcionamento da unidade.
Estão apostando que os novos servidores que serão nomeados vão contribuir para que se possa mudar
essa prática e estão fazendo todo o esforço para que a mudança se dê o quanto antes. A maioria dos
coordenadores regionais estão nomeados e o desafio maior agora diz respeito à nomeação dos
coordenadores regionais.
Sobre a sugestão feita por Daniela, acha interessante e de fato não pensaram nela;
talvez pudessem estabelecer algum tipo de critério de percentual, perguntando se isso já foi definido
pela Secretaria ou se há alguma recomendação nesse sentido que possa servir de base para que esse
tema seja tratado no regimento. Daniela afirmou que em geral se trabalha com um percentual de 30%,
que é o número usado nas eleições, mas que o ideal seria trabalhar inicialmente com uma
recomendação. O presidente concordou que se inclua no regimento uma recomendação no sentido de
garantir uma participação maior de mulheres indígenas nos comitês, e inclusive na CNPI, onde também
a maioria é de homens.
Com relação aos comitês, vão tratar de assuntos que dizem respeito não só à Funai, que
tem assento porque está no âmbito de sua competência a coordenação da política indigenista brasileira,
mas sempre ficou claro que deveria haver a participação de representantes de todas as esferas de
governo e de outras entidades da sociedade civil. O voto paritário incluirá ou não essa questão; no
regimento interno, acredita que a portaria do presidente da Funai por meio da qual serão nomeados os
membros já deverá incluir não só os representantes indígenas, mas também de outros órgãos, o que
seria mais um ponto a ser considerado para o aperfeiçoamento do decreto presidencial.
Quanto ao prazo, a preocupação maior é que se chegue ao final do ano sem que a Funai
tenha um regimento interno, lembrando que o órgão está sem regimento desde 2003. Destacando que
é verdade que a Funai se comprometeu a apresentar a proposta antes dessa plenária, no entanto isso
foi muito mais difícil do que imaginava. Considera que deve ter sido colocado por Aloysio Guapindaia
sobre a importância de chegarem ao final do ano com o regimento aprovado, precisam de um tempo
para fechar, fazer os ajustes, e no máximo em novembro precisam publicar esse regimento.
2
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Anastácio Peralta afirmou que o Estado tem ações, sendo que no Mato Grosso do Sul a
maioria dos municípios trabalham com educação ou agricultura, e é difícil que participem sem ter direito
a voto; com voz e voto vão participar mais efetivamente do comitê, destacando que por meio de sua
participação vão poder acompanhar melhor o que esses órgãos estão fazendo. Lembrando que também
há organizações não governamentais que desenvolvem ações junto aos povos indígenas. Portanto, caso
essa participação seja melhor definida, vão poder cobrar melhor.
Crizanto Xavante foi o próximo a fazer uso da palavra, destacando que em geral
participa dos trabalhos da subcomissão de saúde, mas nesta reunião participou da subcomissão de
Educação, e lendo as atas preocuparam-se com o fato de que, de acordo com parecer da Procuradoria
Jurídica da Funai, cabe ao órgão somente “acompanhar” as ações nessa área, embora o presidente
tenha dito que não muda nada. Assim, pergunta como fica o apoio aos indígenas que estão cursando o
nível superior, afirmando que não consegue compreender como o órgão pode atuar de forma efetiva se
for somente acompanhar as ações.
Luis Titiah retomou a questão da prisão de Glicéria Tupinambá, ressaltando que esteve
presente no momento em que ela foi detida, tendo recebido informação de que ela não foi presa antes
da reunião da CNPI para evitar repercussão na reunião com o presidente Lula. Destacou que a situação
não está resolvida, pois, segundo Informações que estão circulando, os fazendeiros estão se
mobilizando para que o cacique Babau seja morto, inclusive oferecendo prêmio pela sua cabeça, ao que
convidou Patrícia Pataxó para fazer algumas considerações. Patrícia afirmou que apesar de admirar e
respeitar o trabalho da Procuradoria e do procurador o fato é que a Funai “não tem pernas” para
acompanhar o que acontece no Brasil, afirmando que é sua convicção que Glicéria foi presa devido às
palavras que proferiu na última reunião da CNPI, durante a qual se posicionou com relação à atuação da
Polícia Federal em sua região.
Prosseguindo, afirmou que a Funai não tem condições de acompanhar os casos que
envolvem indígenas, relatando que durante 7 dias o órgão não tinha conhecimento do paradeiro do
cacique, tendo o representante do CIMI percorrido vários órgãos prisionais antes de ter conhecimento
sobre o seu paradeiro. Destacou que o cacique não foi solto devido à ação da Funai e sim devido a uma
articulação da Secretaria Especial de Direitos Humanos, que recorreu à Corregedoria do Judiciário, no
2
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
entanto está claro que as investigações vão continuar. Sugere que o órgão tome posição, que a
Ouvidoria visite o território Tupinambá, pois será uma vergonha que seja feita visita pela Secretaria
antes da Funai; declarando ainda que não está sendo feita a distribuição dos habeas corpus pelo
Tribunal da Bahia. Concluindo, pergunta o que pode ser feito para acompanhar melhor a criminalização
dos povos indígenas no Brasil, especialmente na região dos Tupinambá.
O Procurador Geral da Funai, Antonio Salmeirão, afirmou que concorda com o que foi
dito no sentido de que a Procuradoria não tem pernas, destacando que não tem pernas suficientes, pois
vem agindo sim, na medida em que lhe é possível. Há um procurador que foi designado para levantar
quais e quantos são os inquéritos, e isso foi feito, sabem exatamente quantos são, e não são poucos. E
ele vai fazer o acompanhamento. De fato não foi apenas devido à ação da Funai que o cacique foi solto,
houve a participação da Secretaria de Direitos Humanos; concorda que houve dificuldades com o
procurador de Boirarema.
O procurador informou ainda que no dia seguinte a procuradora do Conselho de
Direitos Humanos poderá esclarecer sobre o grupo que está se formando para ir à região falar com
diversas autoridades. Informando ainda que o cacique esteve em Brasília e já foi acertado
anteriormente que é preciso manter entendimentos com vários órgãos para tratar sobre o fato de que
muitos órgãos se negam a prestar atendimento a indígenas, e também sobre a questão do preconceito.
Esclarecendo ainda que, se forem retirados, os pequenos fazendeiros serão reassentados, sendo que, a
partir dessa visita, poderá haver vários desdobramentos.
Concorda que da primeira vez que Babau foi preso o habeas corpus da Funai foi julgado
e ele foi solto, mas em seguida foi preso novamente; de fato parece que por alguns dias não se soube de
seu paradeiro, mas isso também foi resolvido. A situação das dificuldades que estão sendo vividas na
região foram apresentadas na CDH, vão voltar a ela, e a comissão que está indo na semana que vem
pretende falar com os delegados, e estes serão responsabilizados, o inquérito sobre a tortura de 5
indígenas na ação da polícia feita na Serra do Padeiro será reaberto. Concluindo, o procurador afirmou
que estão muito atentos a essa situação de violência que está ocorrendo na Serra do Padeiro, que fica
difícil se deslocarem a todo o momento para lá, mas há um procurador que está acompanhando essa
situação.
2
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Paulo Pankararu se manifestou a seguir, afirmando que Gersem Baniwa ressaltou que
tem aberto mão de ser membro de conselhos para que possa ocupar cargos, e também tem feito isso
pessoalmente. Na qualidade de representante de governo, sugere que usem o espaço da CNPI para
discutir assuntos que não dizem respeito somente ao seu próprio povo, mas que digam respeito às
problemáticas que afetam os povos indígenas como um todo, citando como exemplo o caso do
território do povo Pataxó que se arrasta há anos na justiça. Tem acompanhado de perto o caso do
cacique Babau, e pode dizer que o processo de demarcação pode ser considerado como medida
estruturante, inclusive o CDH trabalha a proteção da pessoa de duas formas – a demarcação do
território e em segundo lugar a proteção do indivíduo. Com relação ao caso de Babau e seus irmãos,
como está na alçada da justiça, tem sido feito o acompanhamento em conjunto com a Procuradoria
Jurídica.
Ressaltou que é importante que possam contar com o apoio dos advogados indígenas,
que é o que se está buscando com resultado do convênio com o Cinep. Considera que não se deve tratar
o desfecho do caso do cacique Babau como o êxito de uma área específica, mas sim de um esforço
conjunto do Estado visto de forma mais ampla. Sendo que alguns casos devem ser resolvidos no âmbito
da Justiça, e não compete às outras esferas agir em áreas que vão além da sua competência.
Destacando que mesmo com as limitações enfrentadas pelo órgão indigenista tem se buscado dar
respostas consistentes na medida do possível.
Retomando a palavra, o presidente Márcio Meira destacou que deve ficar claro que têm
sido feitos esforços para dar o encaminhamento necessário para as questões, lembrando que nos
últimos 3 anos e meio conseguiram duplicar o número de procuradores federais atuando na Funai, mas
mesmo assim isso ainda não é suficiente, pois a demanda é muito grande. Destacando a importância de
que se atue de fato na defesa daqueles que estão tendo os seus direitos violados.
Saulo Feitosa destacou que tem havido atuação na questão da criminalização e que o
mais importante é atuar na fonte dos conflitos, que é a questão da terra, tendo sido mantidas conversas
com a Diretoria de Proteção Territorial no sentido de que sejam agilizadas cada vez mais as indenizações
e com isso se diminua a ocorrência de conflitos. Esteve visitando Glicéria e os dois irmãos que estavam
presos, relatando que ela sofreu muito na prisão, inicialmente ficou presa com 8 detentas, que eram
2
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
usuárias de crack e cocaína, ela sofre de asma e tinha dificuldades para dormir, e durante o período que
esteve presa teve ainda que fazer uma cirurgia no seio. Cabe destacar que, como membro da
subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania, tem agora até mais condições de atuar na CNPI, em face
de toda a experiência pela qual passou, pois embora algumas pessoas sofram muito com a depressão
pós-período de prisão ela sai fortalecida, ainda que abalada.
Saulo Feitosa relatou que de fato houve um período em que não se sabia do paradeiro
de Babau, narrando os fatos ocorridos durante o período que o cacique esteve preso até que viesse a
ser libertado, inclusive destacando que inicialmente não havia um mandado de prisão e ele ficou um
período como “hóspede”, o que demonstra a arbitrariedade que caracterizou toda essa situação,
destacando inclusive o fato de que a CNPI não agiu como deveria com vistas a acompanhar o caso. O
mais complicado é que a Funai e a Polícia Federal estão no mesmo ministério, o que mostra que o
ministro deve atuar nesse caso, até porque não se trata de uma situação isolada. O empenho agora
deve ser o de viabilizar as distensões possíveis, ressaltando que a comunidade da Serra do Padeiro é um
exemplo em termos de capacidade de produção e é preciso buscar alternativas para que se solucione
essa situação que tanto tem prejudicado a comunidade.
Fazendo referência ao caso de Glicéria, Sansão Ticuna afirmou que o bebê esteve preso
apesar de tão novo, com o que gostaria de destacar a importância de se considerar o tema direitos das
crianças, lembrando que será realizada conferência sobre esse assunto, e que ele deve ser abordado na
Comissão. Afirmando ainda que esse assunto é tratado pela OIT, que foca o trabalho infantil, e isso
também afeta as crianças indígenas, portanto deve ser tratado. Outra questão diz respeito à
preocupação com relação à participação de servidores na Comissão, afirmando que a maioria dos
indígenas que teve condições de se escolarizar são servidores públicos, e, se forem generalizar a maior
parte dos indígenas vai ter que sair de conselhos e comissões, pois há muitos professores indígenas e
outros profissionais que atuam nesses fóruns.
Anastácio Peralta deu informe sobre os dois professores que desapareceram no
município de Paranhos, um tendo sido encontrado morto e outro estando ainda desaparecido, sobre o
que informou que uma comissão retornou na tentativa de encontrar o corpo. Destacando que é um
lugar perigoso, e informando que teve conhecimento de que está faltando comida para alimentar a
2
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
equipe que está fazendo esse trabalho, ao que pede que se tome alguma medida para resolver esse
problema.
Paulo Pankararu afirmou que, considerando a importância do tema relacionado à
criminalização de indígenas, poderia se pensar como proposta que em locais como o sul da Bahia, Mato
Grosso do Sul e Maranhão, seria importante terem coordenações temáticas que pudesse fazer o
trabalho que a Ouvidoria faz em Brasília, acompanhando essas áreas de conflito.
O indígena Tseresaró Xavante, da aldeia de Sangradouro, e que convidado pelo CTI para
participar da reunião, falou a seguir afirmando que é muito importante o trabalho da Funai tendo em
vista que os estados e municípios não atuam da mesma forma que esse órgão; destacou a importância
de que a Funai continue a atuar na educação indígena, que haja uma maior integração da CNPI com as
organizações indígenas, coordenações regionais, CTLs, que os membros da Comissão passem para as
unidades da Funai o resultado das discussões, que seja aberto o espaço para a participação dos jovens, e
que a discussão na CNPI seja aberta, de forma que quando vierem para Brasília possam participar e
acompanhar o que está sendo tratado.
Prosseguindo, relatou uma situação em que um indígena Xavante foi preso de forma
arbitrária, a juíza utilizou de subterfúgios, e a comunidade reagiu e tomou as medidas que julgou
adequadas à situação. Pede que sejam chamados os mais velhos, que se leve a discussão para as bases,
caso contrário é uma perda de tempo e essa discussão toda não leva a nada. Sendo que, trabalhando
em conjunto, podem mudar a situação; em alguns estados sofrem ameaças claras de fazendeiros, não
têm segurança. O decreto determina que a Funai faça a intermediação desses casos, que monitore e
demonstre que está de olho nessas áreas, pedindo enfim que os caciques que são membros da CNPI
apareçam e aos poucos possam ir somando forças.
Marcos Tupã cumprimentou a todos, destacando duas preocupações, relacionadas à
reestruturação da Funai e os seminários que vão acontecer. Alguns representantes indígenas estão em
Brasília desde o dia 18, quando participaram de treinamento sobre a metodologia e discussão dos
seminários. Preocupa-se, ao pensar nos seminários, que sejam meramente de esclarecimentos e
informação, pois na base vai haver demandas de interesses, e afirmando que chamou sua atenção e o
preocupa que, quando houver demandas e proposições da região, esses assuntos não serão discutidos e
2
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
sim encaminhados à diretoria colegiada, para decisão. Quando falam no regimento interno, que deve
ser mais claro e se tome decisão encaminhada nos seminários, preocupam-se também com o número
de servidores que vão participar, devendo se pensar de forma que os indígenas tenham um maior
número de participantes, pois são apenas 25 de sua região, enquanto que são 50 servidores ou mais.
Como encaminhamento, Marcos solicita que os seminários não sejam somente de
informação e esclarecimento, pois na região vai haver demandas de encaminhamentos sobre as aldeias,
políticas e representação. Portanto, demanda que se dê encaminhamento mais direto, inclusive sobre o
regimento, para que se tenha maior qualidade em termos de definições.
Prosseguindo, Marcos Tupã tratou sobre situação envolvendo a regularização fundiária
de terra localizada em Manguetá (Santa Catarina), ao que leu documento denunciando o ministro da
Justiça pela assinatura da portaria 2747, de 20 de agosto 2010, que revoga a declaração de posse
permanente do grupo Guarany Mbiá sobre o referido território. O que atribui ao objetivo de atender a
interesses econômicos e de candidatos a governo do estado, que pretendem levar adiante
empreendimentos na referida área. Solicita que a Funai interceda a fim de reverter a assinatura do
documento e continue atuando na defesa dos direitos indígenas.
A propósito, o procurador geral da Funai esclareceu que o que foi lido refere-se a duas
ações judiciais impetradas em Joinville, informando que já foram adotadas 2 medidas judiciais e mais
uma está em andamento e de fato o ministro cumpriu a decisão da justiça. No entanto, a Funai está
agindo e acredita que em breve terão notícias positivas com respeito a esse caso.
Ak’Jaboro Kayapó destacou que é importante ver que os jovens querem participar, e é
bom que eles vejam que os membros da CNPI estão trabalhando pela defesa dos direitos indígenas, é
bom que veio e pode observar que estão sofrendo, deixam suas famílias e vêm para Brasília para
defender os direitos de todos os povos indígenas. Afirmou que está feliz com a reestruturação, estão
lutando e estão ganhando. Sobre a segurança da Funai, disse que concorda que é preciso ter segurança,
isso os mais novos entendem, só que os seguranças fazem várias perguntas e além disso os mais velhos
muitas vezes nem têm documentos para apresentar e não os deixam entrar sem que apresentem esses
3
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
documentos. Comentou ainda sobre a fala de Gersem Baniwa, de que servidores públicos não devem
ser parte de conselho, quando na verdade eles assumem esses cargos justamente para levar
informações para a base, esclarecer, trazer as informações da cidade para os que estão na base. [Como
Gersem não se encontrava mais na reunião, Ak’Jaboro destacou que vai conversar com ele
pessoalmente].
O presidente Márcio afirmou, inicialmente, sobre a questão da educação, que segundo
consta inclusive do Estatuto da Funai e do regimento interno que está em discussão, está colocado logo
no início a competência do órgão, que inclui não só acompanhar mas também executar, acompanhar as
ações nessa área. O texto do regimento é muito claro quanto ao que está proposto e este artigo está
baseado no Estatuto da Funai, que deve ser entendido como um todo, desde o inciso II, onde estão
descritas as finalidades do órgão, sendo que o termo “acompanhar” deve ser entendido dentro de um
contexto. Ocorre que muitas pessoas ainda têm dúvidas, questionando se a Funai vai cumprir suas
atribuições. Lembrando que existe a lei, e esta determina, dá atribuições também para o MEC, com o
qual está sendo celebrado convênio, e também com outros órgãos.
Tranqüiliza a todos no sentido de que a Funai continuará dando o apoio técnico à
educação em suas várias áreas. Concorda com os encaminhamentos propostos por Saulo, que as
indenizações sejam pagas o mais rápido possível na região do sul da Bahia, de Mato Grosso do Sul,
Maranhão; orgulha-se de ter sido o presidente que assinou a autorização para os estudos da terra dos
Tupinambá, inclusive esteve em audiência pública com os fazendeiros, quando enfrentou a tropa de
choque da região. Destacando também que no dia anterior houve vitória importante no Tribunal
Regional Federal em Brasília com relação ao território Maraiwatsede, a favor da demarcação, situação
que envolveu todos os procuradores e servidores empenhados na questão.
Com relação à questão do jovem indígena, frisou que existe uma subcomissão de
Gênero, Infância e Juventude, e este é um tema importante na reestruturação, tanto é que inclusive foi
criada a Coordenação de Gênero e Geracional, onde atuam duas mulheres indígenas; vem sendo
discutida a questão da adoção e outros pontos em que tem sido feito o enfrentamento, como é o caso
do infanticídio, que vem sendo discutido no Congresso Nacional.
3
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
No que se refere aos membros da Comissão que são servidores públicos, devem ter
claro que a CNPI tem um regulamento e se não for cumprido à risca ficam fragilizados, pois os membros
que estejam nessa situação podem ser acusados de estar sendo manipulados, coagidos ou outros tipos
de posturas semelhantes. Para a própria CNPI seria importante garantir que os membros sejam pessoas
das organizações indígenas, para não fragilizar a Comissão; isso não quer dizer que não vão poder
continuar contribuindo para a discussão e implementação das políticas públicas, pois são pessoas que
estão contribuindo com a política de outra perspectiva.
Respondendo às perguntas sobre a metodologia dos seminários, seria importante ficar
claro que os seminários são de informação e esclarecimento porque não há como discutir mérito sem
que primeiro todos saibam o que é a reestruturação da Funai. Os seminários não são o fim e sim o início
de um processo de discussão, e por isso eles têm dois objetivos – que as pessoas saibam de fato o que é
uma coordenação regional, a gestão participativa etc., depois vão estabelecer agenda de como vão
trabalhar, com os comitês sendo um espaço importante de intervenção e protagonismo. É natural e
sabem que vão aos seminários e as comunidades vão demandar, mas este não é o objetivo; a partir dos
seminários vão criar os espaços para o atendimento das demandas.
O presidente prosseguiu afirmando ainda que é preciso ter claro que os seminários são
um ponto de partida e não de chegada. Sobre o número de participantes, são 100 indígenas e 50
servidores da Funai, portanto a maioria dos participantes é composta de representantes indígenas; a
participação dos servidores é decisão visando a incluir os servidores e responde a uma reivindicação do
próprio movimento indígena, para que acompanhem de fato o processo. A experiência de se incluir os
servidores só reforça a importância de que se faça isso.
Antonio Caboquinho afirmou que, no caso dos Potiguara, ocorre que não há servidores
suficientes para ocupar o número de vagas da região, e além disso ocorre que há 30 caciques, então
solicitaram diminuir o número de servidores e aumentar o de indígenas. O presidente comentou que
nesses casos é óbvio que deve prevalecer o bom senso, pois há unidades da Funai em que o número de
servidores é pequeno, a coordenação regional é nova e ainda vai receber novos servidores, e portanto o
mais coerente é que se faça isso.
3
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Sobre as portarias relativa aos Guarany Mbiá, o presidente declarou que a Funai vai
atuar firmemente para a revogação das liminares, assim que tomou conhecimento determinou que a
Procuradoria tomasse medidas firmes com relação a este caso; essas portarias foram assinadas na
gestão do presidente Márcio, pelo ministro Tarso Genro, e têm todo o interesse em que se vá até o fim.
Finalmente, foi definido encaminhamento quanto à realização de reunião entre o
Ministério da Justiça, Funai e Polícia Federal a fim de discutir a questão da criminalização de
indígenas, o que deverá ser intermediado pela secretária executiva da CNPI. Ao que foram encerrados
os trabalhos deste dia, iniciando-se na manhã do dia seguinte com a discussão sobre a Política Nacional
de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas – PNGATI.
Dia 27 de agosto – manhã
Informes
Iniciando a reunião, foram lidas as cartas de Mauro Noleto, que representou o
Ministério da Justiça, e de Sandro Tuxá, tratando as duas de informar que os mesmos não mais estariam
participando da CNPI, o primeiro devido ao fato de ter se afastado do Ministério da Justiça e o segundo
por ter se candidatado a deputado no estado da Bahia.
Dando prosseguimento, Antonio Caboquinho afirmou que a bancada indígena se reuniu
para discutir a questão dos membros que são representantes na Comissão, ocasião em que aprovaram
encaminhamento no sentido de que seja informado para as organizações que solicitaram a renovação
das representações que os representantes indígenas solicitam à Funai que defina datas e arque com os
custos das reuniões para definir os novos representantes. Sobre o regimento, disse que na primeira
semana que estiveram em Brasília acreditavam que os seminários seriam para aprovar o regimento, mas
querem que sirvam para preenchimento de lacunas no regimento. Solicita que seja feito um seminário
maior, como foi feito com o Estatuto do Índio, com a participação da CNPI, a fim de discutir o regimento
interno.
3
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Em referência aos assuntos tratados, o presidente Márcio Meira afirmou, inicialmente,
que a CNPI deve verificar as datas em que estão marcadas as assembléias para escolha dos novos
membros, e que será verificada a possibilidade de colaboração eventual da Funai no que for viável.
Quanto ao regimento, lembrou que no dia anterior ficou definido que receberiam contribuições para o
regimento até o final dos seminários, previsto para o final de outubro, pois precisam do mês de
novembro para adotar os encaminhamentos necessários e enviar a proposta para o Ministério da
Justiça. O entendimento da Presidência foi que até o final dos seminários estariam abertos para receber
sugestões, após o que deverá apresentar o texto ao Ministério da Justiça.
A seguir se passou à aprovação da ata da 6ª Reunião Extraordinária da CNPI, realizada
na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, não tendo havido ressalvas a não ser a inclusão do nome de
Daniela Alarcon, da Secretaria Especial de Políticas de Mulheres, tendo a referida ata sido aprovada sem
outros destaques. Em seguida passou-se à deliberação quanto à ata da 13ª Reunião Ordinária da CNPI,
ao que foi explicado que a degravação não contém o trecho relativo à reunião com o presidente Lula,
uma vez que a equipe de filmagem foi retirada da sala. Ficou aprovado como encaminhamento que será
utilizado o registro feito pela relatora na referida reunião, acrescentando a apresentação do Ministério
de Minas e Energia. O presidente comprometeu-se, ainda, de tentar recuperar o áudio da referida
reunião que tenha sido feito pela Presidência e que voltarão a tratar da ata da 13ª Reunião Ordinária na
próxima reunião.
Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas - PNGATI
Passando ao tema da pauta do dia, foram convidadas para fazer uso da palavra a
coordenadora da Coordenação Geral de Gestão Ambiental da Funai, Marcela Menezes, e a
Coordenadora da Carteira Indígena, do Ministério de Meio Ambiente, Lylia Galetti.
Antes, o presidente fez uma breve apresentação sobre o assunto, afirmando que a
PNGATI se trata de uma política reivindicada pelo movimento indígena até mesmo antes de ter sido
criada a CNPI, no sentido de que fosse instituída política de gestão ambiental e territorial. Antes dessa
política, foi estabelecida parceria entre Funai e MMA para tratar do GEF Indígena, que é o precursor
3
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
desse processo; destacando que quando chegou à Funai já havia negociação nesse sentido, ainda que o
assunto estivesse meio parado. Conseguiram recurso no Banco Mundial e agora o projeto está em fase
de implementação, sendo uma importante conquista do governo nessa direção.
Já criada a CNPI, na reunião realizada em junho de 2008, reuniram-se pela primeira vez
com o presidente Lula, quando foi assinada portaria ministerial entre o ministro da Justiça, Tarso Genro,
e o ministro de Meio Ambiente, criando um Grupo Interministerial para produção de proposta de uma
política nacional de gestão ambiental em terras indígenas. O GT é composto por membros do governo e
representantes indígenas, também da CNPI, que foram indicados para participar dos processos de
consulta, e no último ano a CNPI realizou, juntamente com o Ministério do Meio Ambiente, em conjunto
com as organizações indígenas e com a participação da CNPI, as consultas sobre essa política. Seria
importante registrar na ata a memória desse processo de conquista e avanço, sendo que agora se chega
ao momento em que o grupo interministerial vai apresentar o resultado do seu trabalho, o que não
significa que foi concluído, mas o trabalho vai resultar no decreto do presidente da República.
Toya Manchinery, membro do GTI e da CNPI, foi convidado a contribuir na apresentação
ao que explicou que não participou da reunião no dia anterior porque estava na reunião do Grupo de
Trabalho Interministerial. Essa política é um processo bastante interessante para as comunidades
indígenas, mas é preciso lembrar de projetos importantes que desencadearam esse processo – o PPTAL,
que atuou na proteção e gestão de terras indígenas na Amazônia; o PDPI; o GEF Indígena, tendo o
movimento indígena definido que seria importante expandir essa iniciativa para todos os povos
indígenas. As consultas foram um processo muito participativo, do qual fizeram parte mais de 1500
indígenas, e que foi organizado em conjunto com as organizações indígenas. Nessas consultas, puderam
opinar sobre a gestão do seu território e buscaram discutir formas de garantir uma gestão que gere
recursos e aumente a economia familiar. A proposta de decreto, ao ser assinada pelo presidente, vai ser
muito interessante para os povos indígenas, pois será orientação de como gerir os recursos ambientais;
não cria direitos, mas define como o Estado deve atuar.
A Coordenadora de Gestão Ambiental da Funai, Marcela Menezes, cumprimentou a
todos e explicou que faz parte da coordenação do GT, juntamente com Lylia Galetti e a APIB, passando a
seguir à apresentação do vídeo produzido na Consulta de Mato Grosso do Sul.
3
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Ao final da apresentação, a coordenadora da CGGAM fez apresentação (vide
degravação) em Power Point na qual inicialmente se informou sobre o GTI – composição,
funcionamento, finalidade; marcos legais; o porquê de se criar uma Política Nacional de Gestão
Territorial e Ambiental de Terras Indígenas; reuniões realizadas pelo GTI para elaborar o documento
base que foi levado às consultas, bem como para definição da metodologia; sobre as consultas já
realizadas e reuniões posteriores às consultas, visando à sistematização das contribuições de todas as
consultas. Foi informado ainda sobre a metodologia utilizada nas consultas para a elaboração da minuta
e para a sistematização dos resultados; sobre o processo consultivo – desde o seminário nacional,
realizado em 2009, às reuniões de sistematização, em 2010; sobre o objetivo das consultas, que foi o de
apresentar e colher propostas e sugestões dos povos indígenas sobre o tema. Destacando que além das
consultas foram realizadas pequenas prévias – em Boa Vista, Cuiabá, somente com os povos do Mato
Grosso, Xingu, Amazônia; tratando ainda sobre participação social e protagonismo indígena, número de
participantes indígenas e, finalmente, passando à apresentação do documento base com as
contribuições obtidas nas consultas e que será analisado pela CNPI.
Com relação à minuta do decreto, foi explicado que contém as seguintes partes:
Capítulo I – Disposições preliminares, no qual são apresentados conceitos, como o de Gestão Territorial
e Ambiental de Terras Indígenas, faixa de segurança etnoambiental, terras indígenas; Capítulo II – Das
Diretrizes, que são 13 e em resumo buscam reconhecer os direitos dos povos indígenas, valorizar suas
culturas e organizações sociais, garantir do protagonismo e autonomia indígena, valorizar a contribuição
das mulheres indígenas, e das terras indígenas para a preservação dos biomas brasileiros por meio da
proteção, conservação e recuperação dos recursos naturais imprescindíveis à reprodução física e
cultural das presentes e futuras gerações, entre outras.
O Capítulo III contém os objetivos da Política, estando o objetivo principal contido no
artigo 4º, qual seja: “[…] garantir e promover a proteção, a recuperação, a conservação e o uso
sustentável dos recursos naturais das terras e territórios indígenas, assegurando a integridade do
patrimônio indígena, a melhoria da qualidade de vida e as condições plenas de reprodução física e
cultural das atuais e futuras gerações dos povos indígenas, respeitando sua autonomia e formas
próprias de gestão territorial e ambiental”.
3
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Alguns dos temas contemplados nos objetivos específicos são a proteção das terras e
recursos naturais; governança e participação indígena; entorno e etnozoneamento; terras indígenas,
áreas protegidas, unidades de conservação; povos indígenas em isolamento voluntário e povos de
fronteira; preservação e recuperação de danos ambientais; licenciamento ambiental de obras e
atividades potencialmente poluidoras dentro e no entorno das terras indígenas; uso sustentável dos
recursos e apoio a iniciativas produtivas indígenas; propriedade intelectual e patrimônio genético;
capacitação e formação para implementação da PNGATI; recuperação de áreas degradadas, ATER,
reversão e multas por ilícitos ambientais, ICMS ecológico, intercâmbios, entre outros.
O Capítulo IV trata das Instâncias de Gestão e Monitoramento da Política, no qual se
define como órgãos de gestão da PNGATI: I) a CNPI; II) a Conferência Nacional da PNGATI; III) o Comitê
deliberativo Nacional da PNGATI; IV) os Comitês Regionais da PNGATI; V) os Comitês Locais da PNGATI.
Constando deste capítulo a descrição das competências de cada uma das instâncias.
No Capítulo V estão descritos os Instrumentos e Mecanismos Financeiros da Política,
instituindo-se o Programa Nacional de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas – PROGATI e
definindo a origem dos recursos para o seu funcionamento. Finalmente, o Capítulo VI contém as
Disposições Transitórias e o Capítulo VII as Disposições Finais. Sendo finalmente apresentado o
montante total de investimento nas consultas, no valor de R$ 2.000.082,11.
Lylia Galetti, integrante da bancada indígena enquanto representante do Ministério do
Meio Ambiente, parabenizou a Funai pelo novo centro de treinamento, que é um espaço bonito e
adequado para se reunirem. Sobre a PNGATI, destacou que tiveram uma secretaria executiva, que
trabalhou muito para dar conta desse processo, inicialmente exercida por Isabela, e depois foi assumida
por Hilda Araújo, da Funai. Destacando ainda que o trabalho da equipe logística e administrativa, cuja
coordenação foi feito por Hilda, foi muito importante; assim como foi muito importante a atuação das
organizações indígenas que foram parcerias, as quais mobilizaram a sociedade local para acompanhar o
evento, chamaram convidados, e isso deu maior consistência às consultas. Algo que precisa ser
destacado, prosseguiu Lylia Galetti, é que se buscou nesse processo ir além da consulta, mas incentivar
o protagonismo indígena. E a parceria de governo não só com as organizações, mas com a articulação de
3
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
organizações indígenas, que a partir de Brasília fez um grande trabalho, tanto nas regiões como
enquanto articuladora nacional.
Cabe informar ainda que os recursos da PNGATI saíram em grande parte do MDS,
entendendo que os recursos para desenvolvimento e fomento teriam relação direta com a gestão
ambiental; ministério este que vem colocando a questão da relação direta da segurança alimentar e o
bom estado das terras indígenas para a sustentabilidade indígena. E diante disso foi um parceiro
fundamental na discussão da política e certamente será também na implementação, já no novo escopo
da gestão ambiental e territorial.
O presidente Márcio reiterou os parabéns à equipe que desenvolveu todo o processo de
consulta, colocando a seguir a palavra à disposição da plenária.
Gersem Baniwa parabenizou o GTI pelo trabalho, em particular Funai e Ministério do
Meio Ambiente, afirmando que o processo de consulta tem um resultado muito qualificado, um dos
melhores ao qual já teve acesso. Fez porém algumas considerações, destacando a necessidade de se
reconhecer a importância da gestão ambiental e territorial para os índios urbanos, o que considera uma
decisão muito sábia. Uma segunda questão é que em dois momentos o texto menciona consulta aos
povos indígenas e, como se trata de proposta de lei – o presidente interrompeu explicando que estão
discutindo a proposta de um decreto do presidente da República, não se trata de uma lei, mas de um
decreto – ao que Gersem retomou falando que, como se trata de uma política tão importante, sentem
às vezes dificuldade de saber o que é consulta prévia. Pergunta se não poderiam avançar definindo
melhor o que é a consulta prévia, saindo do conceito geral do que é consulta, pois se ficar muito
genérico pode-se considerar qualquer reunião como consulta.
Colocou ainda questão sobre o artigo 26, comentando que as licenças ambientais são
um tema muito importante, afirmando que além da participação deveria se prever o consentimento com
relação àquele licenciamento no caso específico; sobre os objetivos específicos para capacitação, sugere
que se utilize o termo “capacitar” e não “instrumentalizar”. Todos os itens tratam da recuperação e
restauração de áreas, mas também a preservação e conservação, pois isso dá a idéia de que primeiro se
deixa deteriorar para depois recuperar determinada área. Trata-se não só de recuperar mas também de
3
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
fazer manejo para que a preservação tenha continuidade. Finalmente, a política a seu ver é muito boa e
vai ter sucesso.
Simone Karipuna fez destaque sobre o item 34, que trata sobre a propriedade
intelectual e patrimônio genético, solicitando que se verifique o fato de que, na discussão sobre o
Estatuto, foi definido que o controle do patrimônio genético deve ficar com os indígenas e o órgão
indigenista, no entanto mencionam o patrimônio sobre o controle de outros ministérios.
Dilson Ingaricó agradeceu o esforço dos técnicos e dos servidores da Funai e MMA que
se envolveram no processo; em todos os discursos se fala em gestão, em várias áreas, mas muitas vezes
não se compreende o papel de cada setor ou instituição, sendo que uma palavra mal interpretada pode
prejudicar todo o conjunto. Toda a comunidade deve participar da construção de seu espaço político, de
gerenciar o que é seu, e isso nem sempre acontece. A lei existe para ser respeitada e podem ser feitas
novas leis de acordo com as mudanças na realidade e o desejo das populações.
O presidente Márcio comentou a seguir que, em primeiro lugar, do ponto de vista da
Funai, é muito importante a definição de uma política nacional de gestão ambiental, pois este é o maior
desafio que o Brasil tem com relação às terras indígenas – a Constituição Federal faz o reconhecimento
do direito dos povos indígenas sobre seus territórios, vieram outras legislações e foi feito todo o esforço
da nação brasileira no sentido de ter terras indígenas demarcadas como de usufruto exclusivo dos povos
indígenas, sendo que a maior parte dessas terras fica na Amazônia, mas também estão localizadas no
cerrado e em outros biomas.
O grande desafio do Brasil agora é a sustentabilidade dessas terras, a proteção das
florestas, cerrado, dos biomas nas quais estão, mas também de garantir a sustentabilidade econômica,
pois a partir de ter sua terra demarcada agora os povos indígenas precisam ter suas atividades
produtivas preservadas. Todas as mudanças operadas pelo Estado brasileiro em termos de gestão que
estão se expressando por meio da reestruturação, contratação de novos servidores, a inauguração do
centro, que vai formar novos profissionais, mudanças na área da saúde. Tudo isso tem relação muito
forte com essa política. A política de saneamento das terras indígenas, relacionada à saúde, tem relação
3
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
direta com isso, quem vai nas aldeias vê como é importante a questão do lixo, tratamento da água, que
têm relação direta com a gestão ambiental.
Portanto o Estado está fortalecendo a sua presença para garantir a gestão das terras
indígenas como o controle da sua sustentabilidade, com a participação indígena; os comitês regionais
prevêem essa participação, assim como outros conselhos e comitês existentes em outros órgãos. Essa
política só vem reforçar essa caminhada da presença do Estado brasileiro no território, que é a questão
principal em sua relação com os povos indígenas, inclusive para garantir a soberania do Estado nas
terras indígenas.
A política foi muito bem elaborada, pode haver pontos a melhorar, mas representa um
grande avanço para o país, dará a ele um papel ainda mais importante, inclusive quanto às matas de
desmatamento nos próximos anos. Sabe-se que as terras indígenas têm uma participação importante
nesse processo, apesar de já serem as áreas com menor desmatamento.
Essa política vai iniciar novo momento histórico no país quanto à sua presença no
território, fortalecendo o papel dos povos indígenas nessa proteção. Em termos de gestão, estão
construindo programa de gestão e proteção que é coordenado pelo Ministério da Justiça, com ações de
vários ministérios, e considera que essa política também deve ser uma ação específica dentro do
programa de proteção dos povos, pois com isso o programa ganha cada vez mais força em termos das
ações que deve desenvolver no âmbito da política brasileira.
Do ponto de vista da Funai, essa política é estratégica para o pais, para a nação, para o
futuro – os próximos 20 ou 30 anos serão de desafio e essa política terá um papel fundamental. E por
isso investiram nesse centro, uma escola do Estado brasileiro para formar técnicos capacitados para
promover a gestão territorial e ambiental e outras questões. Portanto é um passo decisivo para a
política indigenista, que completa 100 anos, em que se inicia uma nova relação com os povos indígenas,
de gestão compartilhada.
O Coronel Cecchi, do Ministério da Defesa, afirmou que tiveram acesso a esse material
na segunda-feira e apesar de ter participado como membro convidado, tendo participado da consulta
realizada em Curitiba, pergunta qual seria o procedimento para aprovação da política por parte da CNPI,
4
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
em que parte vão aprofundar a discussão do texto e quando poderá ser aprovado. Como dito por
Marcela, o texto foi baseado no Estatuto que ainda não foi aprovado, perguntando se existe priorização
dessa política em relação ao Estatuto, a respeito do que pede que seja feito esclarecimento.
O procurador da Funai, Antonio Salmeirão, cumprimentou a todos e parabenizou a
equipe pelo brilhante resultado, afirmando que o mérito da proposta principal é a compatibilização das
políticas públicas – há diversas legislações, mas há a necessidade de compatibilizar a execução das
políticas públicas na área ambiental, que as vezes entra em conflito. Em termos de análise jurídica, não
estão criando nada, mas usando os instrumentos já existentes, regulamentando a legislação e
compatibilizando diversas leis. No que tange à relação com o Estatuto, em menção à pergunta do
Coronel Cecchi, o que foi aventado é que o Estatuto foi adotado como parâmetro para que depois não
houvesse conflito com os princípios nele estabelecidos, mas a base legal são as atuais leis em vigor.
Concluindo, parabenizou a todos os envolvidos – à Presidência que levou adiante essa iniciativa, órgãos
envolvidos e aos povos indígenas.
Luana Lazzerini, do Ministério do Desenvolvimento Social, também parabenizou a todos
pelo trabalho, após o que recuperou um dado presente no relatório de segurança alimentar
encomendado pela Funasa, segundo o qual a área onde há maior índice de desnutrição entre as
mulheres indígenas é na região Norte, o que chama atenção, pois é onde está a maioria das terras
indígenas. Ressaltando que falar de preservação ambiental é falar também na soberania e segurança
alimentar. Mencionando o item 34, perguntou sobre o ecoturismo em terras indígenas, perguntando
como foi a discussão e como é a legislação a este respeito. Finalmente, Luana deu informe sobre o
decreto assinado pelo presidente da República a respeito da Política Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional.
Sansão Ticuna falou a seguir, destacando que gostaria de reforçar conversas que já
tiveram a este respeito, quanto ao fato de 29% do seu estado (Amazonas) é composto de terras
indígenas, no entanto faltam planos voltados para a gestão ambiental e territorial. Outra preocupação
seria com relação a iniciativas que já acabaram, como é o caso do PPTAL e PDPI, que o seu povo não
chegou a conhecer, e agora esperam que a PNGATI gere efeitos sobre seu território. Enquanto que
Anastácio Peralta comentou que é estranho pensar que estejam tentando ensinar o índio como fazer a
4
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
gestão do meio ambiente, quando na verdade os povos indígenas é quem realmente sabem como
preservar a natureza e respeitá-la como deve ser.
Carlos Nogueira, do Ministério de Minas e Energia, afirmou que gestão territorial e
ambiental é essencial não só em terras indígenas, lembrando que municípios com população acima de
20 mil habitantes devem ter um plano de gestão, portanto é algo necessário para indígenas e não
indígenas. Ressaltando que o estudo em si é fundamental inclusive para minimizar e equacionar
eventuais conflitos com relação ao território. Prosseguindo, questionou a apresentação no seguinte
sentido: o presidente colocou que em 2008 a CNPI entendeu que seria importante fazer esse estudo, e
posteriormente surgiu a portaria, no entanto na abertura da apresentação não foi citada a CNPI, sendo
que a Comissão é que irá encaminhar o documento. Mais grave é que isso não é citado na portaria
interministerial, pois em sua opinião deveria ter sido mencionado que existe uma Comissão Nacional de
Política Indigenista, que tem a perspectiva de se tornar um conselho, e que deve ser citada nos
considerandos, o que fortaleceria o trabalho que estão fazendo.
Afirmou ainda que “gestão ambiental” tem a ver com o conhecimento e o estudo
profundo sobre o território – ao falar de gestão ambiental é preciso conhecer todos os aspectos do que
diz respeito a esse conhecimento, realizar estudos para de fato conhecer o território. Até porque há
muitos problemas que são gerados pelo fato de que, por exemplo, constroem-se estradas em locais que
não se deveria. Enfim, a gestão ambiental implica um conhecimento que vai além do que foi previsto,
pois se trata de conhecer de fato um determinado território, havendo vários elementos que devem ser
considerados. Sugere que se inclua uma frase no artigo 6º onde se menciona a que a gestão será feita
pela CNPI, incluindo “ou pelo órgão que o suceder”.
Lylia Galetti passou às respostas e comentários sobre as questões levantadas pela
plenária, iniciando pela fala de Gersem Baniwa, reconhecendo que de fato devem incorporar a
necessidade de se preservar o que não está degradado, o que já está contemplado, mas seria o caso de
reforçar com algo específico; houve recomendações nesse sentido especialmente na região Sul e
Sudeste; acatando, ainda, a sugestão de substituir, na parte que trata dos recursos financeiros, o termo
“instrumentalizar” por “capacitar”. Esclarecendo que ainda será feita revisão em termos jurídicos,
quando serão detectados outros problemas que não ainda não tenham sido considerados.
4
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Quanto ao que destacou Simone Karipuna, Lylia Galetti esclareceu que no trecho em
comento estão se referindo à proteção inclusive do patrimônio genético que está sobre a propriedade
de instituições diversas, vide o caso do patrimônio sob a guarda de instituições como o Embrapa, e que
não por isso deixa de estar sobre a guarda dos povos indígenas. Comentou ainda a sugestão do Coronel
Cecchi, afirmando que o tempo político está reduzido e estão tentando que o presidente Lula assine o
decreto o quanto antes; passaram o texto para a CNPI no dia 20, o que reconhece que foi pouco tempo,
ressaltando que a CNPI está bem representada no GTI, mas de fato alguns membros do governo foram
substituídos e não houve tempo de o GTI propor a substituição. Da mesma forma que houve alguns
problemas de comunicação interna que impossibilitou que fossem feitos os convites diretamente aos
membros da CNPI para que participassem das consultas.
Esclareceu como o Estatuto foi utilizado como parâmetro para as consultas e portanto
não há qualquer dependência entre a política e o Estatuto; quanto ao comentário feito por Anástacio
Peralta, esclareceu que o texto não quer dizer que é a política que vai ensinar ao índio como cuidar do
seu meio ambiente, pelo contrario, trata de reconhecer esse saber. Ressaltando que houve clareza da
representação indígena de reconhecer que houve um contato forte com a sociedade não indígena e que
esse contato trouxe problemas sérios, como aqueles relacionados ao lixo e outros problemas com os
quais os povos indígenas também têm dificuldade de lidar.
Quanto ao que destacou Carlos Nogueira, Lylia Galetti esclareceu que a apresentação foi
aberta indicando quais as instituições que estavam apresentando a política; houve de fato discussões da
PNGATI na CNPI, a subcomissão de Etnodesenvolvimento cobrou maiores informações, a criação do GTI
foi assinada dentro da CNPI, mas na verdade não houve um momento em que a Comissão se reuniu e
definiu que a criação da política seria importante. A iniciativa foi da Funai e do MMA, reconhecendo que
o Estado cuidou muito mais de demarcar do que de preservar as terras indígenas; no entanto seria o
caso de analisar a inclusão da menção sobre a existência da CNPI nos considerandos. A sugestão a
respeito do capitulo 4 é muito bem vinda e será incluída já ao enviarem para a Procuradoria Jurídica.
Sobre a questão da participação do Ministério da Defesa, houve interesse do Estado
Maior de acompanhar as consultas, tendo a solicitação sido aprovada por unanimidade na CNPI, e
mesmo a representação da CNPI não tendo participado houve participação local dos membros de Forças
4
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Armadas, com contribuições muito importantes em aspectos sobre a implementação da política em
áreas de fronteiras e outras. E com a política acredita que vão poder trabalhar muito mais na articulação
e trabalho em conjunto com esses órgãos.
Menezes/CGGAM/Funai, informou sobre o rito de aprovação do decreto - vai transitar
pelas procuradorias jurídicas dos dois órgãos (Funai, MMA); a aprovação será encaminhada pelos órgãos
via Ministério da Justiça e será encaminhado à Presidência. Podem definir um prazo de
aproximadamente 15 dias para que possam dar suas contribuições, caso não tenham tido tempo de
analisar até este momento. Prosseguindo, afirmou que as considerações de Carlos Nogueira são
pertinentes, e vão corrigir, fazendo as referências que foram sugeridas. Sobre o etnoturismo e
ecoturismo, informou que foi previsto como ponto fundamental que apenas serão feitos quanto houver
o consentimento das populações envolvidas.
Aloysio Azanha esclareceu que esse tema apresentou diversidade de abordagem nas
diversas consultas – sobre o usufruto exclusivo foi aprovado que apóiam iniciativas vindo das
comunidades indígenas, que os estudos de impacto socioambiental sejam feitos previamente à
exploração. O GTI vem trabalhando um “pacote institucional” pós-decreto, para que seja implementado
na prática, correndo paralelamente à implementação pelos meios devidos por meio de atos que não
dependem de decreto.
Assim, em razão do adiantado da hora, foram encerradas as atividades da manhã,
devendo se retomar as inscrições e o debate após a pausa para o almoço.
27 de agosto – Tarde
Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas (continuação)
Dando início aos trabalhos da tarde, procedeu-se à entrega, ao presidente Márcio
Meira, de documento produzido no Acampamento Terra Livre realizado em Mato Grosso do Sul. A
seguir a palavra foi passada para Deoclides Kaingang, que retomou a discussão da manhã, afirmando
que a região Sul é problemática em termos de preservação ambiental. Diante do que solicita que,
4
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
quando houver projetos nessa área, não sejam esquecidos, pois geralmente são contempladas terras da
região Norte, sendo que precisam de recursos para amenizar os problemas ambientais na região Sul,
onde há problemas graves como o arrendamento de terras e não se encontram áreas de florestas
preservadas.
Antonio Caboquinho comentou que deste momento em diante vão ter maior
embasamento para lidar com a questão dos empreendimentos feitos por indígenas em terras indígenas,
que espera não terem mais problemas com o Ibama, uma vez que a produção de camarão caiu pela
metade e a região está sendo recuperada. Quanto ao plano territorial, afirmou que já têm todo um
trabalho sendo feito, e vão encaminhar para Lylia e Marcela, para que tomem conhecimento.
Levantando finalmente questionamentos com relação às terras que foram degradadas pelo plantio de
cana-de-açúcar.
Saulo Feitosa/CIMI, destacou a importância do plano territorial, entendendo que cabe a
cada povo a autonomia na gestão de seu território; apresenta-se política voltada para assegurar
potencialidades e o controle sobre o território, estando em questão a capacidade dos povos indígenas
de gerir o seu território, ressaltando que as críticas recentes sobre os riscos que as terras indígenas
representam se mostram cada vez mais distantes da realidade. Além da questão do tensionamento que
ainda existe em muitas áreas, entre comunidades e alguns órgãos públicos, e acredita que essa política
vai ajudar a evitar esse conflito. Cabe menciona que, na Política, permanecem questões sem solução,
como o caso da sobreposição das unidades de conservação – havendo proposta de permanecer as que
já existem e também a previsão de que possam vir a ser criadas novas unidades. Porém, caso se levasse
em consideração a tradicionalidade na ocupação desse território, não haveria sobreposição. E, no
momento em que se decide que a comunidade tem autonomia de construir o plano territorial, o inciso
que discute as unidades a serem criadas passa a não fazer sentido, pois todo o tempo se reafirma que as
terras indígenas já se constituem nessas unidades. Seria importante positivar as conquistas traduzindo
agora na realidade prática a compreensão dessa amplitude, tanto dentro das terras indígenas quanto
levando em conta a interação com o MMA.
Marcos Apurinã, da COIAB, agradeceu a todos os que contribuíram para esse trabalho
árduo; acreditam que os povos indígenas vêm trabalhando milenarmente a gestão do território, e com
4
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
isso se reconhece que têm valorizado os recursos nas terras indígenas, e o documento só valoriza o que
os índios fazem há muitos anos. Precisam de um mecanismo novo e mais do que nunca o país pode
entender o que há muitos anos não entendeu. Concluindo, expressou o desejo de que o presidente da
República de fato assine o documento e institua a Política.
Tratando a respeito do Estatuto dos Povos Indígenas, Marcos Apurinã declarou que a
expectativa é que no ano que vem seja trabalhado, visando à sensibilidade sobre e o entendimento das
populações indígenas, ressaltando que o documento tirado do Acampamento Terra Livre traz questões
importantes. Ontem, em uma das falas, parabenizou-se o presidente Lula, no entanto nesse mesmo dia
foi assinada a concessão de Belo Monte, e gostaria de expressar sua revolta publicamente na CNPI,
afirmando que indignação é muito grande – esteve em Altamira e vai inclusive entregar documento dos
servidores da Funai, que causou problemas – que Funai precisa melhorar, e os índios precisam ser
melhor entendidos. As empresas estão dando cestas básicas na região e gostaria de expressar sua
revolta, afirmando que vão continuar brigando para que sejam ouvidos. Estiveram com os Guarany
Kaiowá, o presidente disse que vai comprar terras para esse povo, mas querem sua terra tradicional.
Marcos Apurinã mencionou ainda a questão do povo Cinta Larga, afirmando que se
preocupa muito com a situação, pois não sabem desenvolver atividades como o plantio de roça, coleta
de castanha e outros, e deve se buscar alternativas de sustentabilidade para esse povo. Não vão nunca
desistir da luta, a agenda com o governo é importante.
Daniela Alarcon, da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, destacou a
importância de que as mulheres indígenas tenham participado ativamente da consulta, pois têm
contribuição muito grande a oferecer, colocando-se à disposição para incluir as especificidades de
gênero, bem como para desenvolver projetos em conjunto com os órgãos que se fazem presentes, ao
que o presidente destacou que de fato a PNGATI já considerou a questão de gênero, até porque foi
coordenada por várias mulheres.
Brasílio Priprá ressaltou a importância de que se leve a discussão sobre a Política para as
bases, pois se trata de um assunto muito relevante. A representante da Casa Civil afirmou que está
impressionada com o trabalho que foi realizado, a importância da discussão do tema, destacando que
seria interessante explicar o caminho que vai seguir a proposta até que venha a ser aprovada pelo
4
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
presidente da República. Assim, explicou que os ministérios assinarão exposição de motivos, deverão ter
a aprovação de suas respectivas áreas jurídicas e a proposta será então enviada à Casa Civil, que fará
análise de mérito e oportunidade, ressaltando que uma matéria pode ser vetada integralmente ou
parcialmente. Outro ponto importante a destacar é que, se a Casa Civil achar conveniente consultar
outros órgãos, isso poderá acontecer, portanto no processo de análise poderão ser ouvidos do ponto de
vista jurídico e técnico. Há procedimentos e prazos para serem respeitados e a palavra final é a do
presidente da República, e é muito importante que todos os ministérios se coloquem, antes mesmo de
se fazer a exposição de motivos.
Marcela Menezes respondeu aos comentário de Deoclides Kaingang, explicando que a
política tem várias propostas no sentido de que seja feita a implementação de maneira igualitária,
considerando as necessidades de todas as regiões; quanto à sobreposição das unidades de conservação,
foi prevista a elaboração de planos de gestão em conjunto se assim os povos decidirem, assim, portanto,
respeitando a sua autonomia. Quanto à consulta livre prévia e informada, procuraram abarcar a
complexidade da temática, assim como levaram em consideração o que constava na proposta de
Estatuto dos Povos Indígenas produzida pela CNPI.
Lylia Galetti/MMA, afirmou que, em referência tanto à fala de Caboquinho como de
Deoclides, cabe ressaltar que a riqueza da participação indígena foi muito grande – no Sul se discutiu
muito claramente a questão do arrendamento, plantio de soja transgênica, que o Estado deve dar
soluções factíveis, pois parte das comunidades indígenas vive de atividades que trazem problemas
ambientais. Não se fugiu de nenhuma discussão em nenhuma região do país, as contribuições foram
incorporadas e se sistematizou as propostas de forma a chegar a um denominador comum. Com relação
às mulheres, houve uma participação muito qualificada, inclusive houve prévia somente de mulheres
indígenas em algumas regiões, e foi incluída diretriz que trata sobre essa questão da especificidade de
gênero. Agradeceu a Milena, da Casa Civil, pelos esclarecimentos, e está claro o papel deste órgão e que
a palavra final é do presidente da República, tendo havido uma série de discussões visando a possibilitar
que o decreto seja de fato aprovado ainda nessa gestão.
Lylia Galetti esclareceu ainda que em todas as consultas e nas prévias houve propostas
sobre a questão das unidades de conservação, que foram sistematizadas. Do ponto de vista da área
4
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
ambiental, acreditam que deve permanecer a previsão de que ainda venham a ser criadas áreas de
conservação, até porque a Política se trata de um instrumento que serve a todo o país; assim como vai
haver prazo de discussão e aporte de contribuições, haverá discussão em nível de dirigentes sobre os
aspectos que afetam mais diretamente o ICMBIO, o que foi colocado para o GTI, e poderão ser
apresentados ajustes sobre esses itens. A idéia é que, no processo que vai acontecer no período para
contribuição, estas sejam apresentadas por meio de seus dirigentes.
Encaminhamento
O presidente retomou a palavra afirmando que, considerando todos os esclarecimentos
que foram dados pelos membros do GTI, todas as questões de ordem de procedimentos burocráticos
para que o decreto seja assinado, conforme colocado pela Casa Civil, o entendimento da CNPI é de que
o mérito do Plano de Gestão Territorial foi aprovado, pois todos se manifestaram no sentido de
contribuir; considerando também que esse trabalho do GTI deve continuar ainda, deve-se se definir um
prazo, que seria de cerca de 20 dias, durante o qual a CNPI poderia se apropriar das sugestões a serem
incorporadas na minuta. Considerando que será feita exposição de motivos para encaminhar a minuta
de decreto à Casa Civil, após todas as análises jurídicas e técnicas. Tudo isso deve caminhar junto, o GTI
estará recebendo as sugestões dos órgãos e representantes indígenas nesse prazo, para que se possa
adotar todas as medidas a tempo de ser assinado pelo presidente da República.
Assim, não havendo consideração em contrário, fica aprovado o encaminhamento
quanto à aprovação da proposta de Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras
Indígenas e ficam esperando que no devido tempo cheguem a mais um resultado muito importante
para os povos indígenas. No que tange à plenária da CNPI, esse seria o momento final, devendo as
eventuais sugestões serem encaminhadas diretamente para o GTI, no prazo já definido. Ao que
agradeceu a todos os que contribuíram e participaram do processo de construção dessa política,
ressaltando o brilhante trabalho que foi feito por todos que de alguma forma contribuíram nesse
processo.
Lylia Galetti deu informe no sentido de que a Carteira Indígena lançou edital que poderá
ser acessado no site do MDS e MMA, vão ter algumas oficinas, nos estados onde têm parceria efetiva,
colocando-se à disposição para maiores informações.
4
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Relatos das subcomissões
Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania e subcomissão de Etnodesenvolvimento
O relato disse respeito ao trabalho desenvolvido com relação aos Cinta Larga, tendo se
proposto 3 encaminhamentos:
1) Que seja solicitada para a próxima reunião da CNPI a presença das lideranças Cinta-Larga que
estiveram na reunião da CNPI em Rio Branco, do Procurador Reginaldo Trindade, e do Grupo
Operacional, Sr. Mauro Spósito.
2) Deverá haver um espaço para o Ministério da Justiça prestar esclarecimentos quanto aos
avanços e problemas mais recentes da atuação de seus órgãos, Funai e Polícia Federal, com a
finalidade de atender os acordos pactuados nas reuniões junto aos Cinta Larga, principalmente
aqueles relativos ao Projeto Lajes.
3) Recomendar o agendamento de uma reunião do Grupo Operacional, no qual seja pautado o
relatório da CNPI, a necessidade de atuação de combate ao garimpo em outras áreas indígenas
do país; e previsão e estratégia para o fim da operação Roosevelt. A ata e informe dessa reunião
devem ser remetidas à CNPI antes da próxima reunião (sendo que no âmbito da subcomissão
não houve concordância quanto a este ponto pelos representantes governamentais Coronel
Eustáquio Soares e Carlos Cota, diante do que se passou à votação em plenária, aprovando-se a
proposta da subcomissão).
Luana informou que os dois membros da subcomissão que representavam o MDS não estão mais na
instituição, sendo necessário solicitar a sua substituição.
4
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Informe do CGDPH
Interrompendo os relatos das subcomissões, passou-se a seguir ao informe da
coordenadora geral do CGDPH, conselho ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República, a qual esclareceu que se encontrava presente para trazer informes sobre a ducentésima
reunião ordinária do Conselho, que também têm um grupo de trabalho sobre os Cinta Larga. Porém,
aproveitando a oportunidade, explicou que esteve com o Dr. Augusto Trindade, Piovesan e Dalmo
Dalari, e a expectativa é elaborar o “Diálogo Cinta Larga”; o grupo foi criado em 2007 para acompanhar
os projetos desenvolvidos esse ano, e por volta de 4 de setembro querem fazer diálogo com Funai, MDS,
Polícia Federal, para avaliar como o assunto tem sido tratado visto pelo atores.
O informe que veio dar é sobre os Tupinambá, no sentido de que o Conselho foi
provocado para acompanhar o caso dos Tupinambá de Olivença, dado o episódio com agentes da Polícia
Federal. Diante do que decidiram formar grupo com representantes do Ministério Público Federal, o
Ouvidor de Direitos Humanos, o Ouvidor Agrário nacional, do Conselho de Direitos Humanos, Conselho
de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Procuradoria da Funai e outros órgãos, com os quais
pretendem seguir para o estado, visando a ter acesso a inquéritos policiais, processos judiciais
envolvendo a comunidade e com isso facilitar a solução pacífica do conflito entre índios e não índios.
Visita essa que provavelmente ocorrerá entre o dia 20 e 21 de setembro. Esteve na região, colhendo
depoimentos, assim como esteve com o cacique Babau antes de ser preso e querem estar presentes
para facilitar um diálogo mais respeitoso entre a comunidade e a Polícia Federal. Lembrando que não
têm esse papel institucionalmente mas estão se colocando nesse papel de facilitar o diálogo.
A Dra. Débora Duprat, procuradora da 6ª Câmara do Ministério Público Federal,
solicitou a palavra a fim de também fazer um informe, no sentido de que o MPF firmou ajuste com a 2ª
Câmara do MPF para que fosse formado GT com vistas a exercer controle externo da atividade policial
em relação às comunidades indígenas, a partir do que aconteceu com os Tupinambá. Vão aproveitar
visita à Bahia para verificar que formato pode ser dado a esse trabalho, bem como vão colocar em
campo imediatamente esse grupo para fazer o acompanhamento da atuação da polícia junto aos povos
indígenas.
5
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Saulo Feitosa reforçou que a proposta da subcomissão é que na próxima reunião seja
garantida a participação de Reginaldo Trindade e do Dr. Mário Spósio, e repassadas informações sobre o
grupo de trabalho do qual fez informe a Dra. Deborah Duprat, oportunidade na qual também
submeteriam o relatório da subcomissão concluído e aprovado pela subcomissão. Assim, foram
aprovados os encaminhamentos propostos pela subcomissão.
Subcomissão de Acompanhamento de Empreendimentos com Impactos em Terras Indígenas e
Subcomissão de Terras Indígenas
Gilberto Azanha informou que não houve quorum para a realização da reunião das 2
subcomissões, solicitando que seja disponibilizada a ata da reunião do último seminário de
empreendimentos e também que seja reiterada a solicitação para que um dos representantes do
Ministério de Minas e Energia seja substituído por um servidor da área de recursos hídricos.
O representante do Ministério da Defesa solicita que passe o órgão a fazer parte da
Subcomissão de Terras Indígenas como membro permanente, com o que será possível acompanhar
melhor os trabalhos.
Subcomissão de Comunicação e Cultura
O relato da subcomissão disse respeito aos pontos tratados durante a reunião realizada
no dia 24 de agosto, com a presença de Antonio Pessoa Gomes, Caboquinho Potiguara, Marcos Tupã,
José Carlos Levinho, Diretor do Museu do Índio e Renata Curcio Valente, chefe do Serviço de Estudos e
Pesquisas. Na reunião foi discutida a indefinição em relação ao futuro dos pontos de cultura indígena,
em face do contingenciamento de recursos informado em reunião anterior, sendo que em evento
ocorrido em agosto no Museu do Índio a representante do Ministério da Cultura anunciou o lançamento
de um Edital para 90 pontos de cultura, no entanto nenhum representante desse ministério se fez
presente à reunião da subcomissão para informar sobre o que foi definido sobre essa questão.
5
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Diante disso, foi ressaltada a importância de que o Ministério da Cultura nomeie um
representante para a Subcomissão de Cultura, propondo-se que seja feita mais uma moção solicitando
esclarecimento da política cultural do MINC para os povos indígenas. Outra preocupação expressada
pelos representantes indígenas disse respeito ao Prêmio de Culturas Indígenas do MINC, indagando-se
sobre a previsão de criação de acervos para os resultados dos projetos.
De acordo com a ata da reunião da subcomissão, José Carlos Levinho sugeriu que a
moção a ser feita, solicitando esclarecimento acerca da política cultural, seja encaminhada para os
vários órgãos ou setores do MINC que tenham envolvimento com as políticas culturais para povos
indígenas, como o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o IBRAM (Instituto
Brasileiro de Museus), a SID (Secretaria de Identidade e Diversidade), o Museu do Folclore, entre outros.
Desta forma, seria possível dar visibilidade e transparência às diversas medidas e políticas que vêm
sendo adotadas simultaneamente pelos diferentes órgãos.
Quanto à proposta de moção, foi sugerido que se faça um encontro dos representantes
dos diversos órgãos, para que os mesmos possam dialogar diretamente e apresentar claramente suas
ações e políticas. Ao que se propôs a realização de um encontro ou seminário sobre as políticas culturais
para os povos indígenas, a propósito do que o diretor do Museu do Índio colocou à disposição o espaço
e os serviços do Museu para sua realização, tendo a proposta sido aprovada, com indicação de
aprovação da moção e que nela seja solicitada a realização do encontro.
Após a leitura da ata pelo relator da subcomissão foram feitas várias considerações,
tendo a Dra. Débora comentado a respeito dos conhecimentos tradicionais, no sentido de que há um
decreto recente do presidente Lula que muda toda a concepção do acesso a conhecimentos tradicionais,
mostrando que ele não pode ser dissociado da terra e da cultura, então isso muda completamente a
concepção de partição de benefícios, visão meramente econômica. Se olharem o decreto muitas das
questões de terra e conhecimento de cultura podem ser mudadas – inclusive há uma medida provisória
que não trata de nada disso, mas não sabe bem onde esse assunto pode ser colocado e sugere que haja
reflexão sobre isso.
O presidente deu encaminhamento às propostas da subcomissão no sentido de que seja
solicitada a indicação de um novo representante do Ministério da Cultura, aprovando-se ainda a
proposta de que seja realizado o encontro proposto pela subcomissão.
5
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Subcomissão de Gênero Infância e Juventude
A relatora Leia Bezerra apresentou as questões discutidas pela subcomissão e a seguir
listou os encaminhamentos propostos:
1) Que seja realizado o Encontro Nacional sobre a Lei Maria da Penha e que seja garantida a participação
de todos os membros da bancada indígena da CNPI;
2) Que a Subcomissão de Assuntos Legislativos participe do Encontro Nacional sobre a Lei Maria da
Penha e em conjunto com a Subcomissão de Gênero, Infância e Juventude analise o produto dos
Seminários e elabore uma proposta de emenda para o Estatuto dos Povos Indígenas que defenda os
direitos das mulheres indígenas;
3) Que a FUNAI articule com as organizações indígenas, para o ano de 2011, a realização de Seminários
sobre a Lei Maria da Penha com os homens, conforme solicitado pelas mulheres;
4) Que a CNPI garanta a participação dos Membros da Subcomissão nas Oficinas Regionais sobre
Direitos e Políticas para Crianças e Adolescentes Indígenas que estão sendo realizadas pelo CINEP, DDH
e CONANDA;
5) Que o produto dessas Oficinas seja apresentado posteriormente para a Subcomissão;
6) Que a representante indígena Simone Karipuna passe a integrar a Subcomissão de Gênero, Infância e
Juventude;
7) Que a Procuradoria da FUNAI encaminhe para a Subcomissão de Gênero, Infância e juventude as
informações do acompanhamento das questões relacionadas ao Estatuto da Criança e do Adolescente;
8) Que seja cedida a palavra ao representante da sociedade civil, Saulo Feitosa, a fim de apresentar
informes sobre o trabalho relacionado ao infanticídio.
5
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Subcomissão de Saúde
Procedeu-se à leitura do relatório da reunião da subcomissão, na qual foram
discutidos e demandados os seguintes pontos:
1. Recomposição da Subcomissão da Saúde;
2. Que o Estado brasileiro garanta a participação da Subcomissão da Saúde nas reuniões do Fórum de
CONDISI, na condição de convidada, bem como a participação dos membros do CNPI, nas reuniões
ordinárias e extraordinárias;
3. Recomendação para que a FUNASA mantenha as ações até a transição para a Secretaria de Atenção a
Saúde Indígena / SESAI;
4. Que a Funai dê continuidade no acompanhamento que envolvendo instâncias competentes como:
Ouvidoria da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da Republica, a morte de uma
indígena, Jaira Xavante, na Casa de Saúde Indígena de Brasília – DF, apurando todo o processo. Solicitam
tambem retratação por ter havido um julgamento prematuro por parte de pessoas e instituições, antes
da conclusão do julgamento, caracterizando posições discriminatórias e preconceituosas. E que os
responsáveis por tais matérias sejam responsabilizados.
Subcomissão de Educação
De acordo com a ata da reunião de subcomissão de Educação Escolar Indígena, realizada
no Centro de Formação em Política Indigenista, no dia 24 de agosto, estiveram presentes apenas os
indígenas Dilson Domente Ingaricó e Crizanto Xavante, e embora não tenha havido ainda assim os
representantes indígenas discutiram e encaminharam assuntos muito preocupantes, fazendo os
seguintes encaminhamentos: em relação à Coordenação Geral de Educação/CGE/Funai, conforme
informações contidas na ata da subcomissão de Educação de 31 de maio de 2010, demanda-se que a
Funai, junto com o MEC, garanta apoio técnico financeiro aos programas de ensino superior e
5
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
manutenção e permanência de estudantes indígenas no ensino superior e outras ações referentes à
educação escolar indígena. Sendo que o Decreto n°. 7.056/2009, quando trata da educação, define que
a CGE terá papel de acompanhar as ações de educação indígena, o que significaria que a CGE não terá
papel de apoiar técnica e financeiramente essas ações.
Assim, a Funai estaria consolidando, com a sua reestruturação, o esvaziamento do seu
apoio técnico e financeiro na área de educação escolar Indígena, o que empobreceria o papel
institucional da Funai. Por isso subcomissão de educação da CNPI entende por bem que seja
readequado o Decreto, substituindo o verbo ACOMPANHAR pela frase: “A CGE terá papel de formular,
planejar, coordenar, implementar e acompanhar em parceria com MEC e os Povos Indígenas as ações e
políticas de educação indígena”.
E por fim afirmar no regimento interno da Funai, por entender que isso é uma
reivindicação do movimento indígena e bancada indígena da CNPI, em relação ao processo de
implementação dos territórios etnoeducacionais, que o assunto ainda não está claro, por isso está difícil
de implementar nas comunidades indígenas. Nesse sentido é importante que se crie uma comissão
mista composta por representantes da CNPI, professores indígenas lideranças e o MEC, para se
apropriarem das informações sobre os processos de implementações. Estas poderão ser responsáveis
nas suas bases pela discussão nas pontas.
Com relação ao Sistema Próprio de Educação Escolar Indígena, Crisanto e Dilson
disseram que subcomissão da Educação da CNPI deve aprofundar melhor a discussão sobre o que seria
esse sistema, demonstrando como seria a estrutura política de funcionamento desta questão. Sugerem
que poderia se criar uma Secretaria de Educação Escolar Indígena e consecutivamente criar o Conselho
Nacional de Educação Escolar Indígena e que todo o processo de fundação tenha efetiva participação
dos povos indígenas.
Os representantes indígenas relatam que trataram muito sobre educação escolar
indígena específica e diferenciada, mas que se continua utilizando o mesmo sistema educacional
convencional. Além disso, expressaram sua indignação quanto ao esvaziamento e falta de respeito da
Subcomissão de Educação por parte da bancada de governo e principalmente a representante da Funai,
que se fez presente e em seguida se retirou sob a alegação da ausência das representantes titulares da
5
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
bancada indígena, destacando que se encontrava presentes como suplentes para desenvolver trabalho
na subcomissão de Educação e, assim, seguiram com os trabalhos.
Proposta de resolução sobre os seminários de reestruturação
Concluídos os relatos das subcomissões, a bancada indígena solicitou a palavra para
apresentar proposta de moção relativa aos seminários de informação e esclarecimento sobre a
reestruturação da Funai, e também com respeito à presença da Força Nacional na Funai, tendo as
propostas de resolução sido lidas pela indígena Simone Karipuna e transcritas a seguir:
Resolução n° , de 2010
A Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI, no exercício de suas competências previstas nos inciso III e IV art. 2° do Decreto de 22 de março de 2006, do Presidente da República, que a instituiu no âmbito do Ministério da Justiça.
Considerando a realização de Oficinas Regionais sobre a reestruturação da Funai, decorrente do disposto no Decreto n° 7.056, de 28 de dezembro de 2009;
RESOLVE
Art. 1° Será respeitado e assegurado aos participantes indígenas das Oficinas Regionais destinadas a esclarecer aspectos relacionados à reestruturação da Funai, decorrente da aprovação de seu novo Estatuto pelo Decreto n° 7.056/2009, bem como do Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas da Funai, as informações necessárias e a apresentação de sugestões e propostas, de acordo com a seguinte dinâmica dos trabalhos:
I – Na manhã do 1° dia – esclarecimentos sobre as razões e o conteúdo da reestruturação da Funai, envolvendo o novo Estatuto e a proposta de novo Regimento Interno da Funai;
II – tarde do 1º e 2º dia – discussões e esclarecimentos específicos em Grupos de Trabalhos, constituídos pelos participantes indígenas, nos quais seja possível apresentar sugestões e propostas relacionadas ao Estatuto e ao novo Regimento Interno da Funai;
III – 3º dia – plenário destinado a apresentação das conclusões, sugestões e propostas aprovadas pelos Grupos de Trabalho, com deliberação de eventuais destaques de proposta ou sugestão apresentada por algum Grupo de Trabalho.
Art. 2º Aos funcionários e servidores da Funai será garantido a possibilidade de se reunirem em grupos de trabalho específicos na tarde do 1º dia e durante o 2º dia, paralela e concomitantemente ao desenvolvimento das atividades dos Grupos de Trabalho previstos no artigo anterior.
5
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Parágrafo único – Fica assegurada a possibilidade dos Grupos de Trabalho constituídos pelos funcionários e servidores da Funai apresentarem, de forma unificada e condensada, suas conclusões e sugestões no plenário previsto para o 3º e último dia de cada oficina.
Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua aprovação. [...]
Resolução n° , de 2010
A Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI, no exercício de suas competências previstas nos inciso III e IV art. 2° do Decreto de 22 de março de 2006, do Presidente da República, que a instituiu no âmbito do Ministério da Justiça.
Considerando sucessivos registros de constrangimentos que membros de comunidades e organizações indígenas vêm sofrendo na sede da Fundação Nacional do Índio, em razão da presença ostensiva e o policiamento em curso por agentes da Força Nacional.
RESOLVE
Recomendar a retirada da Força Nacional das dependências e das imediações da Fundação Nacional do Índio. Brasília, 27 de agosto de 2010.
Ao final da leitura, a palavra foi passada para Saulo Feitora/CIMI, o qual afirmou que os
encaminhamentos que foram dados pela Funai com relação aos seminários não estão coerentes com o
que foi discutido e deliberado em outras reuniões da CNPI, em especial o que foi decidido na 12ª
Reunião Ordinária da CNPI, realizada no dia 5 de março, passando à leitura de um trecho da síntese da
reunião em referência, conforme transcrito a seguir:
[...]
Reestruturação da Funai (continuação da discussão iniciada no dia anterior)
A seguir, foi dada continuidade à discussão sobre a reestruturação da Funai, concluindo as falas dos inscritos que não tiveram tempo de se manifestar no dia anterior. Em resposta a perguntas, o presidente afirmou que de fato é muito importante que sejam feitas as oficinas propostas em diversas falas, e que se possa estabelecer junto à subcomissão de Assuntos Legislativos, ou uma subcomissão mais focada no tema, que estabeleçam o calendário, locais das oficinas, inclusive considerando especificidades como a do povo Xavante. Reafirmou o compromisso de que a Funai apresente a proposta de Regimento Interno até mesmo antes da próxima reunião da CNPI, a fim de que possa discutir já na próxima reunião da Comissão. Sobre material informativo, está de pleno acordo que se prepare material para orientar a realização das oficinas, para ajudar no processo pedagógico de construção desse modelo de gestão, ressaltando que este material será preparado. Afirmou que esperam sim a participação indígena no regimento interno e também na regulamentação de cada comitê regional, também no âmbito da CNPI,
5
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
sendo que cada comitê deverá discutir o seu regimento, levando em conta as especificidades de cada região.
Tarde do dia 5 de março
Encaminhamentos sobre a reestruturação da Funai
Após reunião em separado da delegação indígena da CNPI, foram apresentadas as seguintes propostas:
1) Que o governo, prioritariamente a Funai e o Ministério da Justiça, adote postura de acolhida às críticas, ajustando o decreto nos casos em que houve falhas na percepção das realidades peculiares de cada povo ou região étnica, sem necessariamente mexer com o propósito fundamental da reestruturação: a adequação da Funai para o cumprimento de seu papel institucional na perspectiva de uma nova política indigenista, longe do indigenismo tutelar, autoritário, assistencialista e paternalista.
2) Considerando que não vigora o regime tutelar orfanológico sobre os índios e suas coletividades, sendo portanto titulares de cidadania, com direito de participar ativamente da vida política da Nação, bem como exercer direitos individuais e coletivos de seus interesses próprios, reivindicam participação plena em todo o processo de implementação da reestruturação da Funai, em articulação com as organizações indígenas regionais, e considerando os ajustes que deverão ser feitos ao Decreto, a discussão do Regimento, a composição de condições de funcionamento dos Comitês Regionais, a nomeação de coordenadores regionais e a participação na gestão, desde a instância máxima às coordenações regionais e locais.
3) Visando a manter o processo de diálogo da CNPI, o processo de consolidação da reestruturação da Funai e assegurar a participação indígena na elaboração do Regimento Interno, solicitam que seja constituída no âmbito da CNPI uma comissão especial composta por um representante de cada uma das 5 grandes regiões, um representante de cada uma das organizações indígenas regionais um representante das organizações indigenistas e da Funai. Aprovada a comissão, recomendam que seja definido o cronograma de trabalho, dispondo com antecedência da minuta de Regimento trabalhada pela Funai, antes da Reunião Extraordinária da CNPI, que se realizará em abril.
4) Solicitam ainda que seja definido com urgência o cronograma e realização de oficinas nas distintas regiões com recursos financeiros da Funai para fazer os devidos e suficientes esclarecimentos sobre o conteúdo do Decreto e para recolher ainda as demandas específicas das comunidades voltadas para aprimorar a reestruturação da Funai.
5) Enquanto as oficinas regionais não forem realizadas, solicitam da diretoria da Funai esclarecimentos sobre qual é a estratégia pensada para a formação e implementação das coordenações e comitês regionais.
6) Exortam ainda o governo a estudar possibilidades para contemplar a participação indígena no concurso, considerando que muitas vezes os não indígenas têm sérias dificuldades em lidar com as diferenças e especificidades socioculturais desses povos.
5
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
7) Finalmente, solicitam ao plenário da CNPI que aprove resolução a ser encaminhada aos ministérios envolvidos com políticas públicas voltadas aos povos indígenas para que reconsiderem decisões que visam a reduzir ou extinguir instâncias e ações que tratam especificamente dos interesses e demandas dos povos e organizações indígenas.
O presidente consultou o plenário e não havendo ressalvas considerou aprovadas as propostas de encaminhamento apresentadas pela representação indígena, cabendo definir a constituição da subcomissão e dar os encaminhamentos necessários para o seu funcionamento, ressaltando que muitos dos pontos propostos já haviam inclusive sido adiantados como sendo entendimento da direção da Funai. Quanto aos nomes para acompanhar o regimento, sugere que sejam apresentados à secretária executiva.
O presidente sugeriu também que a comissão criada para acompanhar o regimento possa também apresentar uma proposta de agenda das oficinas, datas, locais etc., a ser remetida para a Secretaria Executiva da CNPI. No entanto, em consulta ao plenário e não havendo manifestação em contrário, foi aprovado encaminhamento no sentido de que, constituída a subcomissão a Funai apresentará um cronograma de oficinas para que seja ratificada pela subcomissão. [...]
No que se refere às propostas de resolução, o presidente substituto da CNPI, Aloysio
Guapindaia, afirmou que, antes de abrir o debate, seria preciso esclarecer os seguintes pontos:
- Sobre os seminários: não estava presente na discussão do regimento interno, que é
quando deveriam ter sido levantados os questionamentos feitos neste momento. É importante dizer
que a Funai não está fazendo nada diferente do que foi discutido e encaminhado no dia 5 de março, a
metodologia dos seminários foi discutida com representantes da CNPI e APIB, inclusive participaram de
capacitação na semana passada e em nenhum momento foi questionada a metodologia. Relendo os
tópicos ressaltados por Saulo, não sabe quais os pontos de divergência, a Funai ficou de apresentar
calendários, datas, e hoje há todo um cronograma estabelecido, começando em Eunápolis e Palmas dia
8 de setembro. Não vê desajuste do que foi acertado.
A resolução apresentada pede alteração da metodologia, que foi pactuada num
processo de discussão, e se forem reabrir essa questão isso exigirá muita discussão e poderá inclusive
implicar na modificação de calendários e datas.
5
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Crizanto Xavante fez considerações a seguir dizendo que parece haver duas
presidências, um dia o presidente decide uma coisa – que vão fazer as melhorias no decreto etc., - e no
outro diz outra coisa diferente e com isso seu povo está ficando como “barata tonta”.
Paulo Guimarães afirmou que na reunião da bancada indígena a preocupação
recorrente foi no sentido de que o seminário terá 3 dias de duração, o primeiro somente com os
servidores, o segundo de informação e no terceiro acaba, o que é muito pouco tempo. Respeitando os 3
dias, sugerem portanto uma dinâmica simples - que no primeiro dia apresente o decreto, regimento e se
abra espaço para perguntas; que na tarde do 1º e do 2º dia se dividam em grupos, divididos por temas,
paralelos, para um dia e meio de discussão em grupo, durante os quais poderiam expressar suas idéias,
refletindo a diversidade de opiniões, forma esta que é adotada em vários trabalhos com os povos
indígenas.
Com isso se garantiria a tranqüilidade de que os índios poderiam de fato falar e
apresentar o que quiserem ao invés de ter um funcionário controlando tudo o que dizem. Até porque
ficaram preocupados com a notícia de que cada seminário teria um moderador, que seriam servidores
da Funai que estariam presentes para controlar tudo o que seria dito, cerceando a palavra dos índios,
vigiando e dizendo o que se poderia ou não dizer no evento.
Deborah Duprat questiona porque está prevista a participação dos funcionários no
mesmo espaço que os indígenas, sendo que a relação hierárquica é totalmente diferente e não é assim
que funciona uma consulta. Paulo Guimarães comentou que é muito oportuna a questão, pois o espaço
dos funcionários tem que ser totalmente diferenciado dos indígenas e da forma como está proposto se
estaria gastando recursos do erário com os povos indígenas sendo que 1/3 do tempo seria destinado aos
servidores da Funai. O que querem é que se dê o direito de discutirem, mas sem ocupar o espaço dos
índios, pois com isso se está invadindo o espaço alheio.
A seguir foi convidado para dar esclarecimentos o servidor Francisco Paes, que se
apresentou e afirmou que fica totalmente consternado por se estar dizendo que o espaço dos indígenas
estará sendo usurpado pelos servidores, pois estes também vêm sendo alijados da discussão, sendo que
eles é que vão implementar a nova estrutura, ressaltando ainda que muitos servidores são indígenas.
6
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Prosseguindo, Francisco afirmou que na última reunião da CNPI foi apresentada a
programação dos seminários, que no primeiro dia prevê trabalho com os servidores e os outros dois dias
com servidores e indígenas; quanto à segurança e tranqüilidade para participação, a programação prevê
vários momentos para participação e debate tanto dos servidores como dos indígenas. Sendo que em
todo o processo de mudança ajustes devem ser feitos, e a direção já sinalizou que devem e podem ser
feitos, sendo o objetivo do seminário justamente preparar o espaço para que esses ajustes sejam feitos.
O primeiro objetivo seria esclarecer e informar sobre a reestruturação, e o segundo que se defina uma
agenda de trabalho, que será o espaço para se discutir esses ajustes.
Francisco afirmou ainda que o decreto tenta justamente lidar com esse ponto, que é
foco de crítica, a respeito do histórico da instituição de fazer mudanças de uma hora para a outra sem a
participação indígena, sendo os comitês regionais o espaço para discutir e para definir ajustes. Este deve
ser um espaço dos quais os indígenas devem se apropriar e tentar fazer com que funcione antes de
abandoná-lo; o objetivo é que se instrumentalize os representantes para que possam levar as discussões
para as suas comunidades e a partir daí se possa dar prosseguimento aos encaminhamentos visando aos
ajustes nos comitês regionais.
A seguir Francisco Paes apresentou a metodologia de trabalho proposta para os
seminários, inicialmente com os servidores, que visa a reforçar aspectos que são importantes para a sua
atuação na nova estrutura; o segundo dia, dedicado a discutir o processo de reestruturação e a
distribuição e funcionamento das unidades regionais da Funai; e o terceiro dia, no qual deverá se
discutir o conceito de gestão compartilhada, os comitês regionais, bem como definir uma agenda de
trabalho regional. Esclareceu que a equipe vem trabalhando há mais de dois meses nesse processo, em
diálogo com a CNPI, e obviamente poderão ser feitos ajustes, mas as mudanças que estão sendo
propostas, caso aprovadas, significariam um adiamento de pelo menos mais dois meses na agenda.
Finalmente, Francisco Paes apresentou a programação e explicou em maiores detalhes
como está estruturado o trabalho no segundo e terceiro dia, em especial os trabalhos em grupos,
ressaltando como está pensada a metodologia visando à efetiva participação indígena.
6
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
O presidente Aloysio Guapindaia esclareceu a seguir que a estrutura dos trabalhos foi
toda pensada a fim de promover o diálogo entre servidores e indígenas, pautada na nova estrutura, com
visão crítica, com vistas a se formar os comitês, nos quais estão apostando muitas fichas na nova
estrutura da Funai, e que se não funcionarem vai significar que a estrutura não está sendo implantada
como proposto.
Aloysio Guapindaia destacou ainda que é preciso que fiquem atentos para os objetivos
dos seminários, pois de fato em 3 dias não é possível esgotar o entendimento e resolver todos os
problemas que existem – a idéia é informar e permitir que se compreendam os conceitos básicos,
discutindo em grupos os desafios para a implantação da nova estrutura e tirando agenda de trabalho
regional. Naturalmente ela vai apontar para direções até mesmo da necessidade da reformulação da
estrutura se for o caso – e, no que couber, a alteração do decreto, pois estão conscientes de que deverá
ser alterado. Já existe uma proposta de alteração, mas estão aguardando o resultado dos seminários
para que seja publicado, e em seguida o regimento, o que querem fazer até dezembro.
A proposta da bancada indígena implica a necessidade de um aporte de pessoal maior;
ressaltando que a metodologia proposta pela Funai, com a presença de moderadores, não implica de
forma alguma o cerceamento da participação indígena. Se for acatada a proposta da bancada indígena,
isso implica uma estrutura diferente, indígenas e servidores trabalhariam separados e os próprios
indígenas ficariam responsáveis pela facilitação dos grupos de trabalho, o que é possível, mas
comprometeria a promoção do diálogo. Sendo que o trabalho na região está previsto para ser integrado,
até porque isso é um problema histórico, e é preciso mudar essa forma de trabalho.
Deborah Duprat afirmou que o Ministério enfrentou várias ações no sentido de se
revogar o decreto 7056/09 e conseguiram segurar essas ações devido à perspectiva de que a consulta
seria feita posteriormente, e a presença dos servidores faz com que o caráter dessa consulta seja outro.
O espaço reservado para os índios não pode jamais ser equivalente ou estar permeado pela participação
dos servidores, não é assim que se faz consulta.
Dilson Ingaricó afirmou que a pergunta principal é a seguinte: se as reivindicações das
comunidades indígenas serão consideradas, em termos de revisão do decreto. Comentou que os
esclarecimentos precisam ser feitos de forma muito clara, os moderadores devem estar bastante
6
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
tranqüilos, pois caso reajam de forma agressiva, será pior quando se estiver lidando com as
comunidades indígenas, que estão muito bravas. As comunidades indígenas se sentem excluídas do
processo de reestruturação da Funai, e se os moderadores chegarem dizendo que o seminário de
informar e esclarecer não haverá clima sequer para continuar os trabalhos; sugere que não dêem essa
informação logo no início e sim que se diga que estão presentes para construir juntos o processo.
Saulo Feitosa afirmou que gostaria de esclarecer como foi a discussão no dia anterior,
em que o presidente Márcio Meira afirmou que os seminários seriam meramente informativos e foi lido
documento do Acampamento Terra Livre no qual se apresentou um novo formato para os seminários,
que foi lido na resolução, e também sugere que seja retirada a Força Nacional da Funai, ao que o
presidente Márcio sugeriu que as propostas fossem apresentadas em forma de resolução. Gostaria que
ficasse claro que a sugestão de que fossem feitas resoluções foi do presidente.
Fica impressionado com a fala de Francisco, prosseguiu Saulo, que demonstra que
pessoas dedicadas estão participando desse trabalho, ao que parabeniza tanto Francisco como Karla por
sua aprovação no concurso, destacando que é legítimo que os servidores tenham seu espaço de
discussão. Na reunião de março foram levantadas todas as insatisfações com o processo autoritário por
meio do qual se aprovou o regimento, sendo que na origem da proposta de realizar os seminários, em
março, a proposta é que fosse feito com a participação indígena, tendo inclusive se aprovado a criação
de uma comissão de indígenas para participar da discussão do regimento e dos seminários. Lembrando
que foi dito por Francisco que os servidores da Funai se reuniram por dois meses para discutir a
metodologia, e após isso os índios foram convidados para serem “instrumentalizados” para sua
aplicação, destacando que quer acreditar que esta palavra foi usada no sentido de capacitados e não de
manipulados.
Portanto houve uma inversão e provavelmente aconteceu de que a Funai não leu as
atas em que foram tomadas as decisões, pois o próprio Saulo fazia parte da comissão que foi escolhida
mas nunca foi convidado para nenhuma reunião. Quando estão levantando a discussão sobre a
metodologia não é para se colocar como oposição, mas sim para colocar em pauta as contradições, o
exercício é para que a CNPI seja melhorada a cada dia, inclusive na perspectiva de que se transforme em
conselho.
6
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
Luis Titiah observou que o governo teve dois mandatos e se tivesse feito logo no
primeiro as mudanças que estão sendo feitas agora talvez elas já estivessem em prática; os seminários
certamente vão gerar problemas, até porque houve um servidor da Funai que foi à região e assumiu
compromissos que não foram cumpridos, e isso é muito preocupante. Ouviu na capacitação que nos
seminários todos vão ser iguais, mas gostaria de deixar claro que não vai ser igual, sua participação nos
seminários vai ser como indígena e vai acompanhar as decisões do seu povo. Preocupa-se em saber
quais os interesses que existem pelo fato de alguns servidores não estarem querendo encarar a questão
do regimento, referindo-se a pessoas que vão coordenar os trabalhos – por não saberem a realidade de
cada povo. Ao que recomenda que tenham paciência, e se forem enviadas pessoas que não souberem
ouvir os caciques isso vai gerar problemas. Solicita à Dra. Deborah que os procuradores do MPF nas
regiões estejam presentes em todos os seminários.
Luis Titiah levantou ainda a questão do tempo, que considera pouco para ouvir as
comunidades e para que façam suas colocações, afirmando que não estão sendo contra, mas querem
que sejam respeitados seus direitos.
Sansão Ticuna fez vários comentários sobre a questão da consulta, como deve ser feita,
o que consta na Convenção 169/OIT; deixando ainda recado para o servidor Francisco, no sentido de
que é preciso ter cuidado na hora de se dirigir às lideranças, pois caso se coloque de forma muito forte
pode sofrer as conseqüências, já que o pessoal não está contente nas bases.
Crizanto Xavante afirmou que não está excluindo os funcionários, mas que sua
intervenção teria sido no sentido de que não se deve misturar as coisas, e para que houvesse uma
participação maior dos indígenas – se há programas específicos para capacitar os funcionários por que
não fazer em um momento separado. Consideram que a conquista de um espaço para fazer uma
reunião dessa dimensão sobre esse assunto é uma conquista única. Gostariam de chegar a um
denominador comum sobre a reestruturação, e o seu povo tem dúvidas sobre isso.
Dirigindo-se ao presidente, afirmou que Aloysio tem se alternado com o presidente
Márcio na plenária nesses dias e que foi discutido na capacitação que um indígena participaria de
reunião em outra região, pois como é de fora isso possibilitaria tratar de certas questões de uma forma
6
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
diferente. Solicitando ainda que a programação seja enviada com antecedência e lembrando que em sua
região o clima é mais tenso devido à dificuldade de compreensão da reestruturação.
Francisco Paes informou que, caso seja mantida a programação, não há problema algum
em enviar com antecedência, explicando que está sendo preparado um material de apoio com vários
documentos sobre a reestruturação. Explicou ainda que parte dos recursos que estão sendo usados para
custear os seminários vêm da capacitação dos servidores.
Aloysio Guapindaia destacou que, pelo que entendeu das intervenções, em nenhum
momento os indígenas foram contra a presença dos servidores, apenas querem que tenham atividades
separadas. Infelizmente não pode colocar as resoluções em votação porque não há quorum [uma vez
tendo a bancada governamental se retirado, à exceção de André Araújo], conforme definido no
regimento interno da CNPI, e essa decisão deverá ser tomada pela Diretoria Colegiada da Funai. Quanto
aos seminários, destacou que na proposta apresentada pela bancada indígena os participantes não
recebem informações e já vão para o grupo de trabalho, enquanto que as atividades com os servidores
também precisam de ajustes, pois não poderiam participar desse primeiro momento informativo – seria
mais adequado fazer uma mesma apresentação para os dois públicos.
Saulo afirmou que, se forem considerar a questão do quorum, há várias votações que
foram feitas sem que se tivesse quorum; em sua opinião essa matéria já teria sido votada na reunião de
março. Aloysio afirmou que o encaminhamento não se trata de metodologia, que é o assunto neste
momento.
Quanto à questão da Força Nacional, que segundo os indígenas estaria impedindo-os de
entrar na sede da Funai, e questionando onde estão indo e com quem querem falar, o presidente
esclareceu que a Força Nacional não aborda ninguém, quem faz o controle da entrada e saída de
pessoas é a segurança contratada para esse fim. A Força Nacional está fazendo a segurança da direção,
que já sofreu ameaças, inclusive sua sala foi invadida e não aceita trabalhar nessa situação de
insegurança; mesmo com a Força saindo, os seguranças e as normas vão permanecer, pois se trata de
algo que é necessário para a instituição.
6
Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista
14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010
O presidente deu os encaminhamentos finais, afirmando que vão voltar a esse assunto
futuramente, esclarecendo que a Funai rescindiu o contrato com a empresa de segurança patrimonial
anterior e a substituiu pela que está atuando atualmente exatamente devido a problemas como esse.
Sendo que este é um serviço que a Funai tenta aperfeiçoar, assim como muitos outros órgãos.
Neste ponto, considerou-se encerrada a 14ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de
Política Indigenista, da qual foi feita a presente síntese, que deverá ser complementada pela degravação
completa da reunião e aprovada pelo plenário da CNPI.
Brasília, 27 de agosto de 2010.
6