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Pimenta (Capsicum spp.) Apresentação As pimentas são parte da riqueza cultural brasileira e um valioso patrimônio de nossa biodiversidade. São cultivadas em todo território nacional, desde o Rio Grande do Sul até Roraima, em uma imensa variação de tamanhos, cores, sabores e, é claro, picância ou ardume. ‘Malagueta’, ‘Dedo-de-Moça’, ‘Doce Americana’, ‘Chapéu de Bispo’, ‘Cumari Amarela’, ‘Bode’, ‘De Cheiro’, ‘tabasco’ ‘Murupi’, ‘Biquinho’ são apenas algumas das inúmeras pimentas cultivadas no Brasil, todas parentes muito próximas dos pimentões. O agronegócio das pimentas é muito mais relevante do que se imagina, e envolve diferentes segmentos, desde as pequenas fábricas artesanais caseiras de conservas até a exportação de páprica por empresas multinacionais que competem no mercado de exportação de especiarias e temperos. Nos últimos anos, as pimentas têm ganhado um espaço cada vez maior na mídia por sua versatilidade culinária e industrial e também por suas propriedades medicinais. O mesmo princípio que causa a ardência das pimentas – a capsaicina – também é usada para aliviar dores musculares, dores de cabeça e artrite reumatóide, entre outras. O Sistema de Produção de Pimentas (Capsicum spp.)’ certamente contribuirá para o desenvolvimento desta cultura no Brasil, e ajudar principalmente aos pequenos produtores familiares a melhorar sua produtividade. José Amauri Buso Chefe Geral da Embrapa Hortaliças Importância econômica Com a chegada dos navegadores portugueses e espanhóis ao continente americano, muitas espécies de plantas foram descobertas, entre elas as pimentas. As pimentas do gênero Capsicum já eram utilizadas pelos nativos e mostraram-se mais picantes (pungentes) que a pimenta-do-reino ou pimenta- negra, do gênero Piper, cuja busca foi, possivelmente, uma das razões das viagens que culminaram com o descobrimento do Novo Mundo. Diversos relatos de exploradores do Brasil-colônia demonstram que a pimenta era amplamente cultivada e representava um item significativo na dieta das populações indígenas. Ainda hoje, a importância das pimentas continua grande, seja na culinária, nas crenças, na medicina alopática ou natural e inclusive como arma de defesa. São remédios para artrites (pomadas a base de capsaicina), dores musculares (emplastro ‘Sabiá’), dor de dente, má digestão, dor de cabeça e gastrite. A capsaicina, responsável pela pungência das pimentas, é a única substância que, usada externamente no corpo, gera endorfinas internamente que promovem uma sensação de bem-estar, acionando o potencial imunológico. Os índios Caetés foram os primeiros brasileiros a usar a pimenta como arma, sem imaginar que séculos depois a oleorresina de pimenta em aerossol ou em

Sistema de Produção de Pimenta (EMBRAPA)

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Pimenta (Capsicum spp.)

Apresentação

As pimentas são parte da riqueza cultural brasileira e um valioso patrimônio de nossa biodiversidade. São cultivadas em todo território nacional, desde o Rio Grande do Sul até Roraima, em uma imensa variação de tamanhos, cores, sabores e, é claro, picância ou ardume.

‘Malagueta’, ‘Dedo-de-Moça’, ‘Doce Americana’, ‘Chapéu de Bispo’, ‘Cumari Amarela’, ‘Bode’, ‘De Cheiro’, ‘tabasco’ ‘Murupi’, ‘Biquinho’ são apenas algumas das inúmeras pimentas cultivadas no Brasil, todas parentes muito próximas dos pimentões. O agronegócio das pimentas é muito mais relevante do que se imagina, e envolve diferentes segmentos, desde as pequenas fábricas artesanais caseiras de conservas até a exportação de páprica por empresas multinacionais que competem no mercado de exportação de especiarias e temperos. Nos últimos anos, as pimentas têm ganhado um espaço cada vez maior na mídia por sua versatilidade culinária e industrial e também por suas propriedades medicinais. O mesmo princípio que causa a ardência das pimentas – a capsaicina – também é usada para aliviar dores musculares, dores de cabeça e artrite reumatóide, entre outras.

O Sistema de Produção de Pimentas (Capsicum spp.)’ certamente contribuirá para o desenvolvimento desta cultura no Brasil, e ajudar principalmente aos pequenos produtores familiares a melhorar sua produtividade.

José Amauri BusoChefe Geral da Embrapa Hortaliças

Importância econômica

 Com a chegada dos navegadores portugueses e espanhóis ao continente americano, muitas espécies de plantas foram descobertas, entre elas as pimentas. As pimentas do gênero Capsicum já eram utilizadas pelos nativos e mostraram-se mais picantes (pungentes) que a pimenta-do-reino ou pimenta-negra, do gênero Piper, cuja busca foi, possivelmente, uma das razões das viagens que culminaram com o descobrimento do Novo Mundo.

Diversos relatos de exploradores do Brasil-colônia demonstram que a pimenta era amplamente cultivada e representava um item significativo na dieta das populações indígenas. Ainda hoje, a importância das pimentas continua grande, seja na culinária, nas crenças, na medicina alopática ou natural e inclusive como arma de defesa. São remédios para artrites (pomadas a base de capsaicina), dores musculares (emplastro ‘Sabiá’), dor de dente, má digestão, dor de cabeça e gastrite. A capsaicina, responsável pela pungência das pimentas, é a única substância que, usada externamente no corpo, gera endorfinas internamente que promovem uma sensação de bem-estar, acionando o potencial imunológico.

Os índios Caetés foram os primeiros brasileiros a usar a pimenta como arma, sem imaginar que séculos depois a oleorresina de pimenta em aerossol ou em espuma, os famosos ‘pepper spray’ e ‘pepper foam’, seriam utilizados pela polícia moderna.

É igualmente substancial a contribuição histórica brasileira na dispersão destas plantas pelo mundo, eficientemente feita pelos navegadores portugueses e pelos povos que eram transportados em suas embarcações. As rotas de navegação no período 1492-1600 permitiram que as espécies picantes e doces de pimentas viajassem o mundo. As pimentas foram então, introduzidas na África, Europa e posteriormente na Ásia.

Cinco séculos depois do descobrimento das Américas, as pimentas passaram a dominar o comércio das especiarias picantes, sendo de relevância tanto em países de clima tropical como temperado. Atualmente, a China e a Índia tem mais de 1.000.000 hectares cultivados com Capsicum, e os tailandeses e os coreanos-do-sul, tidos como os maiores consumidores de pimenta do mundo, comem de 5 a 8 gramas por pessoa/dia.

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O cultivo de pimentas ocorre praticamente em todas as regiões do país e é um dos melhores exemplos de agricultura familiar e de integração pequeno agricultor-agroindústria. As pimentas (doces e picantes), além de serem consumidas frescas, podem ser processadas e utilizadas em diversas linhas de produtos na indústria de alimentos. A área anual cultivada é de cerca de dois mil ha e os principais estados produtores são Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Ceará e Rio Grande do Sul. A produtividade média depende do tipo de pimenta cultivada, variando de 10 a 30 t/ha. A crescente demanda do mercado, estimado em 80 milhões de reais ao ano, tem impulsionado o aumento da área cultivada e o estabelecimento de agroindústrias, tornando o agronegócio de pimentas (doces e picantes) um dos mais importantes do país. Além do mercado interno, parte da produção brasileira de pimentas é exportada em diferentes formas, como páprica, pasta, desidratada e conservas ornamentais.

Botânica  

As espécies de pimentas do gênero Capsicum pertencem à família Solanaceae, como o tomate, a batata, a berinjela e o jiló. Dentre as espécies do gênero Capsicum, cinco são domesticadas e largamente cultivadas e utilizadas pelo homem: Capsicum annuum; C. bacccatum; C. chinense; C. frutescens e C. pubescens. Destas, apenas C. pubescens não é cultivada no Brasil. O centro de origem das pimentas do gênero Capsicum é o continente americano. O centro de diversidade da espécie C. annuum var. annuum, a forma mais variável e cultivada, inclui o México e América Central; de C. frutescens, inclui as terras baixas do sudeste brasileiro até a América Central e as Antilhas (Índias Ocidentais), no Caribe; de C. baccatum var. pendulum, a Bolívia (maior diversidade) e o sudeste brasileiro; e de C. chinense, a mais brasileira das espécies domesticadas, é a Bacia Amazônia.

A altura e forma de crescimento destas plantas variam de acordo com a espécie e as condições de cultivo. O sistema radicular é pivotante, com um número elevado de ramificações laterais, podendo chegar a profundidades de 70-120 cm. As folhas apresentam tamanho, coloração, formato e pilosidade variáveis. A coloração é tipicamente verde, mas existem folhas violetas e variegadas; quanto ao formato, pode variar de ovalado, lanceolado a deltóide. As hastes podem apresentar antocianina ao longo de seu comprimento e/ou nos nós, bem como presença ou ausência de pêlos. O sistema de ramificação de Capsicum segue um único modelo de dicotomia e, inicia-se quando a plântula atinge 15 a 20 cm de altura. Um ramo jovem sempre termina por uma ou várias flores. Quando isso acontece, dois novos ramos vegetativos (geralmente um mais desenvolvido que o outro) emergem das axilas das folhas e continuarão crescendo até a formação de novas flores. Esse processo vegetativo se repete ao longo do período de crescimento, sempre condicionado pela dominância apical e dependência hormonal.

As flores típicas são hermafroditas, ou seja, a mesma flor produz gametas masculinos e femininos, possuem cálice com 5 (em alguns casos 6-8) sépalas e a corola com 5 (em alguns casos 6-8) pétalas. Para a identificação das espécies, os taxonomistas examinam principalmente as flores. Características morfológicas como o número de flores por nó, posição da flor e do pedicelo, coloração da corola e da antera, presença ou ausências de manchas nos lobos das pétalas e margem do cálice, variam de espécie para espécie e, por meio destas, podemos identificar as principais espécies domesticadas do gênero (Tabela 1).

As espécies do gênero Capsicum são, preferencialmente, autógamas, ou seja, o pólen e o óvulo que é fecundado pertencem a uma mesma flor, o que facilita a sua reprodução, embora a polinização cruzada também possa ocorrer entre indivíduos dentro da mesma espécie e entre espécies do gênero. A polinização cruzada pode variar em taxas de 2 a 90% e, pode ser facilitada por alterações morfológicas na flor, pela ação de insetos polinizadores, por práticas de cultivo (local, adensamento ou cultivo misto), entre outros fatores.

Em termos botânicos, o fruto define-se como uma baga, de estrutura oca e forma lembrando uma cápsula. A grande variabilidade morfológica apresentada pelos frutos são destacadas pelas múltiplas formas, tamanhos, colorações e pungências. Esta última característica, exclusiva do gênero Capsicum, é atribuída a um alcalóide denominado capsaicina, que se acumula na superfície da placenta (tecido localizado na parte interna do fruto), e é liberada quando o fruto sofre qualquer dano físico e pode ser medida em Unidades de Calor Scoville (‘Scoville Heat Units-SHU’) por meio de aparelhos específicos. O valor SHU pode variar de zero (pimentas doces) a 300.000 (pimentas muito picantes). A coloração dos frutos maduros, geralmente, é vermelha mas pode variar desde o amarelo-

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leitoso, amarelo-forte, alaranjado, salmão, vermelho, roxo até preto. O formato varia entre as espécie e dentro delas, existindo frutos alongados, arredondados, triangulares ou cônicos, campanulados, quadrados ou retangulares. Por observação de determinadas características e usos, podemos separar aquilo que chamamos vulgarmente de pimentas e pimentões. Assim, os pimentões (Capsicum annuum var. annuum) apresentam frutos grandes e largos (10-21 cm de comprimento x 6-12 cm de largura), formato quadrado a cônico, paladar não pungente (doce), além de serem habitualmente consumidos na forma de saladas, cozidos ou recheados. As pimentas apresentam, em sua maioria, frutos menores que os pimentões, formatos variados e paladar predominantemente pungente. São utilizadas principalmente como condimento e, em alguns casos, como ornamentais, em razão da folhagem variegada, do porte anão e dos frutos exibirem diferentes cores no processo de maturação.

 

 Tabela 1. Características morfológicas para a identificação das espécies domesticadas de Capsicum.

 Espécie Características morfológicas

C. annuum var. annuum

Geralmente apresenta uma flor por nó, raramente mais de uma e ocasionalmente fasciculadas. Na antese, os pedicelos podem ser eretos, pendentes ou inclinados. A corola é branca (raramente violeta), sem manchas na base dos lobos das pétalas. As anteras são geralmente azuladas. Os cálices dos frutos maduros são pouco dentados e não possuem constrição anelar na junção do pedicelo. Os frutos são de várias cores e formas, geralmente pendentes, persistentes, com polpa firme; as sementes são cor de palha.

C. baccatum var. pendulum

As flores se apresentam em número de uma a duas. Na antese, os pedicelos são geralmente eretos. A corola é branca e sempre apresenta um par de manchas amareladas ou esverdeadas na base de cada lobo das pétalas. As anteras são amarelas. Os cálices dos frutos maduros são evidentemente dentados e não possuem constrição anelar na junção do pedicelo. Os frutos são de várias cores e formas, geralmente pendentes, persistentes, com polpa firme; as sementes são cor de palha.

C. chinense

As flores se apresentam em número de duas a cinco por nó (raramente solitárias). Na antese, os pedicelos são geralmente inclinados ou pendentes, porém, podem se apresentar eretos. A corola é branca esverdeada sem manchas (raramente branca ou com manchas púrpuras) e com lobos planos (que não se dobram). As anteras são geralmente azuis, roxas ou violetas. Os cálices dos frutos maduros são pouco dentados e, tipicamente, apresentam uma constrição anelar na junção com o pedicelo. Os frutos são de várias cores e formas, geralmente pendentes, persistentes, com polpa firme; as sementes são cor de palha.

C. frutescens

As flores se formam em número de uma a três por nó (ocasionalmente fasciculadas). Na antese, os pedicelos são tipicamente eretos. A corola é branca esverdeada, sem manchas e, geralmente, os lobos dobram-se para trás. As anteras são geralmente azuis, roxas ou violetas. Os cálices dos frutos maduros são pouco a não dentados e não apresentam constrição anelar na junção com o pedicelo. Os frutos geralmente são vermelhos, cônicos, eretos, parede muito delgada, com polpa mole; as sementes são cor de palha e mais espessas no hilo.

Clima

A pimenteira é uma planta exigente em calor, sensível a baixas temperaturas e intolerante a geadas, por isso deve ser cultivada preferencialmente nos meses de alta temperatura, condição que favorece a germinação, o desenvolvimento e a frutificação, obtendo-se assim, um produto de alto valor comercial com menor custo de produção.

Para a pimenteira, as temperaturas médias mensais ideais situam-se entre 21oC a 30oC, sendo a média das mínimas ideal 18oC, e das máximas em torno de 35oC, sendo que

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temperaturas acima 35oC prejudicam a formação dos frutos. A germinação é favorecida por temperaturas do solo entre 25oC e 30oC, sendo 30oC a temperatura em que ocorre o menor intervalo de dias entre semeio e germinação, e temperaturas do solo iguais ou inferiores a 10oC inibem a germinação. Para as mudas, o melhor crescimento é alcançado com temperaturas entre 26oC e 30oC, sendo a temperatura de 27oC considerada como a ideal para favorecer o desenvolvimento das plantas.

Baixas temperaturas inviabilizam a produção, provocando a queda de flores e frutos, além de influenciar negativamente a pungência e a coloração dos frutos, provocando redução do valor comercial, principalmente se o produto for destinado à industrialização. Estes fatos são facilmente verificados quando se compara plantios sob proteção plástica e em campo aberto. Além destes efeitos, as baixas temperaturas também podem ocasionar estiolamento de folhas maduras, murcha de partes jovens e crescimento lento. Não há informações sobre os efeitos do fotoperiodismo ou da termoperiodicidade em pimenteiras.

Nas diferentes regiões produtoras do Sul e Sudeste do país as temperaturas elevadas consideradas ideais acontecem na primavera e verão, sendo indicados nos catálogos de empresas produtoras de sementes os meses de agosto a janeiro para semeadura. Entretanto, nas regiões serranas e de temperaturas mais amenas, a época mais conveniente é de setembro a novembro em razão de sua exigência em temperaturas elevadas.

No Rio Grande do Sul, na região de Pelotas, a semeadura de pimenta 'Dedo-de-Moça' é feita em agosto e o transplante das mudas realizado em setembro/outubro. No estado de São Paulo, o semeio ocorre no início da primavera com o transplante das mudas para campo aberto ou sob coberturas plásticas a partir de 40 a 50 dias após a germinação, podendo estender-se até meados de janeiro e fevereiro, como ocorre na região oeste, nos municípios de Jales e Estrela do Oeste. Nestas regiões, com altitudes inferiores a 400 metros e inverno ameno, o ciclo da cultura estende-se por todo ano, sem restrições de época de plantio. Nas regiões com temperaturas amenas do estado de Minas Gerais, a semeadura ocorre de agosto até fevereiro, embora o período mais indicado, em função das temperaturas mais elevadas, seja de setembro a novembro. Em Paraopeba-MG, o semeio de pimenta ‘Malagueta’ em bandejas de isopor sob cobertura plástica é realizado nos meses de julho a outubro, com transplante para campo a partir de agosto, podendo estender-se até dezembro.

Altas cotações para o produto são alcançadas nos meses de inverno quando o Sul e Sudeste são abastecidos principalmente, pela produção das regiões Nordeste e Centro-Oeste, originadas dos estados de Bahia e Goiás, respectivamente. Na região Centro-Oeste, não havendo restrição de temperatura, o cultivo de pimentas, como 'De Cheiro', 'Bode Vermelha', 'Bode Amarela', 'Cumari do Pará' e '‘Malagueta’', pode ser realizado durante o ano todo, com irrigação suplementar no período seco. Normalmente, a semeadura é feita em novembro mas pode estender-se até o final de janeiro. Na região de Catalão, a semeadura de pimenta do tipo 'Jalapeño' é feita em fevereiro/março com transplante a campo a partir de abril. Situação similar é observada em plantios de pimenta doce para páprica na região de Brasilândia de Minas-MG, onde a semeadura direta em campo é feita de março a abril. Na região Nordeste deve ser evitado o plantio na estação chuvosa por dificultar o preparo de solo, tratos culturais e o controle fitossanitário. Em solos de boa drenagem, os plantios na região de Petrolina-PE, podem ser iniciados a partir de janeiro, embora o período preferencial seja de março em diante.

Cultivo Protegido

A técnica de cultivo protegido é utilizada em locais ou épocas em que as condições climáticas, principalmente variações das temperaturas noturna e diurna, distribuição e intensidade das chuvas e ainda direção e velocidade dos ventos, podem interferir no desenvolvimento das plantas ou na qualidade dos produtos. Nestes casos, o cultivo é feito em casa-de-vegetação cujo teto, laterais, frente e fundos são de plástico, ou somente o teto é de filme e as laterais, frente e fundos de tela. A definição das características quanto às dimensões, tipo de teto, tipo do filme ou tela, direção do eixo longitudinal, é baseada em dados climáticos do local.

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Solos

Os solos utilizados para o cultivo de pimenta devem ser profundos, leves, drenados (com bom escoamento de água, não sujeitos a encharcamento), preferencialmente férteis, com pH entre 5,5 a 7,0. Devem ser evitados solos salinos ou com elevada salinidade, uma vez que as pimentas, assim como pimentão, são moderadamente sensíveis. Altas concentrações de sais no solo podem ser de origem natural ou resultantes do uso excessivo de fertilizantes, localização inadequada de fertilizantes ou ainda do uso de água de irrigação com altas concentrações de sais. A salinidade do solo, medida por meio da condutividade elétrica produzida por sais solúveis do solo a 25oC, deve estar abaixo de 3,5 cS/m de condutividade elétrica, pois a partir deste valor a produtividade começa a diminuir.

Do ponto de vista sanitário, recomenda-se que sejam evitadas áreas que tenham sido cultivadas nos últimos 3-4 anos com outras plantas da família das Solanáceas (como batata, tomate, berinjela, pimenta, jiló, fumo, Physalis) ou Cucurbitáceas (como abóbora, moranga, pepino, melão e melancia). Áreas com cultivos anteriores de gramíneas (milho, sorgo, arroz, trigo, aveia), leguminosas (feijão, soja) ou aliáceas (cebola, alho), são as mais indicadas.

O preparo consiste de limpeza da área, aração a uma profundidade de 30 cm, seguida de gradagem de nivelamento. Logo após a primeira gradagem faz-se a calagem de acordo com a análise de solo. Uma segunda gradagem é feita para incorporar o calcário ao solo e adequá-lo a sulcagem. O plantio pode ser feito em canteiros, mas o mais comum é o plantio em sulcos, que devem ter 30 a 40 cm de largura e 20 a 25 cm de profundidade. A distância entre os sulcos deve ser de 80 cm e devem ter uma declividade de 0,2% a 0,5% para facilitar o escoamento da água sem causar erosão. Após a incorporação de matéria orgânica (uma semana antes do plantio) e dos fertilizantes (um dia antes do plantio), o sulco ficará com a forma de ‘U’.

Em épocas chuvosas, recomenda-se a construção de canteiros com 20-25 cm de altura e 0,8-1,0 m de largura, para facilitar a drenagem e reduzir riscos de contaminação com murcha-de-fitóftora (Phytophhtora capsici). Se o plantio for feito em uma área pequena, os canteiros podem ser levantados com o auxílio de uma enxada.

A dose de calcário a ser aplicada, caso seja necessário, pode ser calculada com base na elevação da saturação de bases de um valor considerado adequado para cada lavoura. Para o cálculo é necessário que se tenha em mãos os resultados da análise e o valor de saturação de bases indicado para a espécie vegetal em questão. Adota-se a sequinte fórmula:

Dose de calcário (t ha-1) = (V2 - V1)T/PRNT

onde onde V2 é a saturação por bases desejada (70% a 80% para a pimenteira), V1 é a saturação de bases atual do solo [(Ca+2 + Mg+2 + K+) x 100/T], T é a capacidade de troca de cátions potencial do solo [Ca+2 + Mg+2 + K + (H+Al)], e PRNT = poder relativo de neutralização total do cálcario a ser aplicado.

 Adubação  

A quantidade de adubo a ser aplicada é determinada com base na análise química do solo e nos boletins-aproximação de cada região. Como na maioria destes boletins não existem recomendações para a cultura da pimenta, utiliza-se a recomendação feita para o pimentão.

Aplicar calcário para elevar a saturação de bases a 80% e o teor mínimo de magnésio a 8 mmol/dm3. Em situações onde é muito difícil fazer a análise química do solo, existem algumas aproximações que auxiliam o produtor quanto às quantidades e tipos de adubos a serem utilizados. Porém, o produtor terá maiores chances de acerto fazendo a análise química anual de solo 2-3 meses antes da calagem. A quantidade de fertilizantes indicada deverá ser distribuída uniformemente no sulco ou no canteiro, revolvendo bem o solo a uma profundidade de aproximadamente 30 centímetros para que ocorra uma boa incorporação.

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Nos latossolos da região do Distrito Federal adota-se a recomendação de adubação de plantio de P e K apresentada na Tabela 1. A adubação nitrogenada deve ser feita na base de 150 kg/ha de N. A adubação orgânica usada neste tipo de solo deve ser na razão de 30 t/ha de esterco de curral ou 10 t/ha de esterco de galinha. Além de NPK, fontes de B e Zn devem ser aplicadas no solo antes do plantio na base de 15-20 kg/ha.

No Estado de São Paulo, recomenda-se a adubação mineral e calagem publicada no Boletim Técnico 100 do Instituto Agronômico de Campinas. Os fertilizantes devem ser aplicados 10 dias antes do transplante das mudas, no sulco de plantio, em quantidades de acordo com a análise do solo e as recomendações descritas na Tabela 2. Na adubação orgânica utiliza-se 10 a 20 t/ha de esterco de curral curtido, ou 1/4 dessas quantidades de esterco de galinha curtido. Acrescentar à adubação de plantio 1 kg/ha de B e de 10 a 30 kg/ha de S.

A EPAMIG, por meio do Boletim Técnico nº 56, recomenda para a cultura da pimenta, doses de 20 t/ha de esterco de curral ou 5 t/ha de esterco de galinha por metro de sulco. Em seguida, aplicar também ao longo do sulco o adubo químico (de acordo com a Tabela 3) e misturar tanto o esterco como o adubo com a terra por meio de duas passadas de cultivador no fundo do sulco.

Até a fase de florescimento, as adubações de cobertura são feitas com adubo nitrogenado e durante a frutificação com uma mistura de adubo nitrogenado com potássico, em intervalos de 30-45 dias. No caso das pimentas, em que a colheita pode prolongar-se por mais de um ano, as adubações de cobertura devem ser feitas até o final do ciclo com base em observações no crescimento ou aparecimento de sintomas de deficiências nutricionais. Normalmente utiliza-se 20-50 kg/ha de N e 20-50 kg/ha de K2O.

 

Tabela 1. Recomendação de adubação com P2O5 e K2O para a cultura do pimentão na região do Distrito Federal, baseada na análise química do solo. Níveis no solo (ppm) Dosagem (kg/ha) P K P205 K200-10 0-50 400-600 150-20011-30 51-100 200-400 100-15031-50 101-150 100-200 50-100+50 +150 50 -Fonte: Instituto Agronômico de Campinas – IAC (1996). Emater 1987, para o DF Plantio Embrapa Hortaliças

 

 

Tabela 2. Recomendação de adubação mineral para a cultura da pimenta no Estado de São Paulo, baseada na análise química do solo .

NitrogênioP resina , mg/dm3 K+ trocável, mmolc/dm3 Zn, md/dm3 0-25 26-60 > 60 0-1,5 1,6-3,0 > 3,0 0,6 > 0,6

N, kg /ha P2O5, kg /ha K2O, kg /ha Zn, kg /ha

40 600 320 160 180 120 60 30Fonte: Instituto Agronômico de Campinas – IAC (1996). Emater 1987, para o DF Plantio Embrapa Hortaliças

 

Tabela 3. Recomendação de adubação mineral para a cultura da pimenta no Estado de Minas Gerais , baseada na análise química do solo . Teor no solo de   Dosagem (kg/ha)

P ou K P2O5 K2O N

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Baixo 300 240 60Médio 240 180 60Alto 180 120 60Fonte: EMPAMI, Boletim Técnico 56, Viçosa-MG, 1999

Cultivares

 

A maioria das cultivares de pimentas plantadas no Brasil como a '‘Malagueta’' (C. frutescens), 'Dedo-de-Moça' (C. baccatum), 'Cumari' (C. baccatum var. praetermissum), 'De Cheiro' e 'Bode' (C. chinense), são consideradas variedades botânicas ou grupos varietais, com características de frutos bem definidas. Normalmente, o produtor produz sua própria semente, e as diferenças existentes dentro destes grupos estão relacionadas às diferentes fontes de sementes utilizadas para o cultivo.

São poucos os programas nacionais de melhoramento de pimentas. Destes destaca-se o desenvolvimento de cultivares de pimenta doce para processamento industrial, como páprica doce e pimenta picante dos tipos 'Jalapeño' e 'Cayenne' para molhos líquidos, coordenado pela Embrapa Hortaliças. Os fatores que provavelmente restringem trabalhos de melhoramento com pimentas advém da dificuldade de se manusear as pequenas flores para a execução dos cruzamentos e multiplicação das sementes; a produção escassa de sementes por frutos, uma vez que estes normalmente são muito pequenos e ainda a picância extrema dos frutos, dificultando a extração das sementes. Outro fator importante é a área consideravelmente pequena de produção de pimentas, que implica no desinteresse das companhias de sementes de produzirem e comercializarem sementes.

Apesar do crescente interesse no cultivo pimentas, este ainda é feito por pequenos produtores que produzem suas próprias sementes ou compram frutos maduros em mercados e feiras e deles extraem as sementes que serão utilizadas para plantio. Normalmente estas sementes são de qualidade variável, apresentam baixa germinação e podem transmitir doenças, já que são obtidas sem seguir regras básicas para a produção de sementes. Na maioria das áreas cultivadas com pimentas, as plantas apresentam sintomas de mancha-bacteriana (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria), doença transmitida a longas distâncias por meio de sementes.

Capsicum annuum é a espécie mais cultivada e inclui as variedades mais comuns deste gênero como pimentões e pimentas doces para páprica e consumo fresco e pimentas picantes como 'Jalapeño', 'Cayenne' entre outras, e ainda poucas cultivares ornamentais (Tabela 1). As pimentas dos tipos 'Jalapeño' e 'Cayenne' podem ser consumidas frescas, ou na forma de molhos líquidos (frutos maduros e vermelhos), desidratados na forma de flocos ou pó, ou ainda em conservas (verdes) e escabeches. Estas pimentas são cultivadas principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás.

Os tipos mais comuns e cultivados da espécie C. baccatum no Brasil são as pimentas 'Dedo-de-Moça', 'Chifre-de-Veado' e 'Cambuci' (também conhecida como 'Chapéu de Frade') (Tabela 1). Neste grupo de pimentas, a pungência dos frutos é menos intensa; há inclusive cultivares de pimenta 'Cambuci' que são doces. A pimenta 'Dedo-de-Moça' é cultivada principalmente nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Além de ser consumida fresca, em molhos e conservas, também é utilizada na fabricação de pimenta 'calabresa' (desidratada na forma de flocos com a semente). A pimenta 'Cumari' é bem popular na região Sudeste do Brasil e é encontrada também em estado silvestre, crescendo sob árvores diversas e em capoeiras. Normalmente as plantas são mantidas por alguns anos e chegam a formar verdadeiros arbustos. Os frutos desta pimenta são bem pequenos, arredondados ou ovalados, de coloração vermelha quando maduros.

C. chinense é a mais brasileira das espécies domesticadas e caracteriza-se pelo aroma acentuado dos seus frutos. Há tipos varietais desta espécie com frutos extremamente picantes, como a pimenta 'Habanero', muito popular no México. No Brasil, as mais conhecidas são as pimentas 'De Cheiro', 'Bode', 'Cumari do Pará', 'Murici', 'Murupi', entre outras. Há também, dentro da espécie, uma expressiva variabilidade de formatos e cores de frutos. A pimenta 'De Cheiro', que predomina no Norte do país, possui frutos de tom

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amarelo-leitoso, amarelo-claro, amarelo-forte, alaranjado, salmão, vermelho e até preto. A pungência também é variável, são encontrados frutos doces a muito picantes. Na região Centro-Oeste, é mais comum o cultivo da pimenta 'Bode', que tem frutos arredondados de cor amarela ou vermelha quando maduros, e da 'Cumari do Pará', que possui frutos ovalados de coloração amarela quando maduros. Ambas possuem pungência e aroma característicos que as distinguem das demais. A pimenta 'Murupi', cultivada nos estados do Amazonas e Pará, possui coloração amarela e o aroma das pimentas 'De Cheiro' e 'Bode'.

A espécie C. frutescens é representada pelo tipo de pimenta mais conhecido e consumido no Brasil, a pimenta '‘Malagueta’'. Plantada em todo o país, destacam-se os cultivos nos estados de Minas Gerais, Bahia e Ceará. Também pertence a esta espécie a pimenta 'Tabasco', conhecida mundialmente pelo molho de pimenta que leva seu nome. Estas pimentas são extremamente picantes, possuem frutos pequenos de formato alongado e de coloração vermelha quando maduros.

Existem no mercado algumas cultivares de pimenta sendo comercializadas, como ‘Agronômico 11’ (C. annuum), resultado de um programa de melhoramento desenvolvido pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) visando resistência a viroses. Esta pimenta destina-se a consumidores que preferem frutos de pimenta doce no preparo de seus pratos.

Poucas companhias de sementes existentes no Brasil comercializam sementes de pimenta e aquelas que o fazem restringe-se a alguns tipos específicos, como cultivares de pimenta do tipo 'Jalapeño' (sementes importadas), 'Cambuci' ou 'Chapéu de Frade', '‘Malagueta’' e 'Dedo-de-Moça' (Tabela 1).

 Tabela 1. Características de cultivares e híbridos de pimenta disponíveis no mercado brasileiro.

Características de cultivares e híbridos de pimentatipo malagueta

cultivares "malagueta" "malagueta" "malagueta" "malagueta" "malagueta"ciclo(dias) - - - - -início de

colheita(dias após

semeadura)110 - 120 100 - 120 100 - 120 100 110

planta vigorosa vigorosa arbustiva - -cor do fruto Verde/

vermelhoVerde/

vermelhoVerde/

vermelhoVerde/

vermelhoVerde/

vermelhoformato alongado filiforme alongado piramidal alongado

peso medio de fruto/tamanho (diam x comp.

0,6 – 0,8x3-4cm

2-3 cmcomprimento

0,6-0,7 g/0,5x2,0cm

0,5-1,0x2-5cm

-outras

caracteristicasardida Picante e

produtivaMuitopicante

picante Muitopicante

empresa de sementes

Sakata Horticeres TopseedGarden

Isla Feltrin

tipo dedo-de-moçacultivares " dedo-de-moça " " dedo-de-moça " " dedo-de-moça "ciclo(dias) 90

(verão)- -

início de colheita(dias após semeadura)

- 100 - 120 110planta - arbustiva -

cor do fruto Verde/vermelho

Verde/vermelho

Verde/vermelho

Page 9: Sistema de Produção de Pimenta (EMBRAPA)

formato cilíndrico cilíndricopeso medio de

fruto/tamanho (diam x comp.

1,2 x 8-10cm

1 x 13cm

-outras caracteristicas picante Saborosa

E picantepicante

empresa de sementes Isla TopseedGarden

Feltrin

tipo cambucicultivares “chapéu-de-bispo " " cambuci " " chapéu-de-bispo "ciclo(dias) 90

(verão)- -

início de colheita(dias após semeadura)

- 110-130 100 - 120planta - vigorosa arbustiva

cor do fruto Verdeclaro

Verdeclaro

Verdeclaro

formato cilíndrico cilíndricopeso medio de

fruto/tamanho (diam x comp.

4-6 x 3-5cm 30 – 40g / 6-7 x 5-7 cm

-outras caracteristicas Sabor bem

adocicadodoce Levemente

picanteempresa de sementes Isla Sakata Topseed

Gardentipo Americana

cultivares "agronômico-11"

"híbrido dirce R"

"amarelaalongada"

"híbrido canal" "híbridolipari"

ciclo(dias) - - 100 - -início de

colheita(dias após

semeadura)110 - 130 110 - 130 - 80-80 -

planta Vigorosa eprodutiva

vigorosa - vigorosa -

cor do fruto Verdeclaro

Verde Verde-claro/

amarelo

Verde-claro/brilhante

Verde-escuro/vermelho

formato alongado alongado comprido cônico alongadopeso medio de fruto/tamanho (diam x comp.

50-60 g/3,5 – 4,5 x16-19 cm

110-130 g/20-22 cm

Comp.

10-15 cmcomp

110 – 120 g/5 – 6 x 25-27

cm

130 g/ 5x27 cm

outras caracteristicas

Resistente a PVY

Resistente a PVY(estirpe1-2) e toMV

Sabor adocicado

Sabor suave Resistente aTMV

empresa de sementes

Sakata Sakata Isla Petossed/SVS Clause/sakama

tipo Americanacultivares "hibrido

pinóquio""híbrido p-

240""híbrido jully" "híbrido

foulki""doce

 Italiana”ciclo(dias) - - 85 100 -início de

colheita(dias

Page 10: Sistema de Produção de Pimenta (EMBRAPA)

após semeadura) - - - - 100-110

planta - - Vigorosa eprecoce

Portemedio

vigorosa

cor do fruto Verde-escuro/vermelho

Verde-limão

Verde-escuro/vermelho

Verde-escurobrilhante

Verde /vermelho

formato alongado alongado cônico cônico cônicopeso medio de fruto/tamanho (diam x comp.

130g 120g /5x25cm

180g 180 – 200g 200g / 5x18 cm

outras caracteristicas

Alta produtividade

Resistente aTMV

Resistente aTMV

Resistente aTMV

Sabor suave

empresa de sementes

Clause/sakamaClause/sakama Topseedpremium

Topseedpremium

Topseed

tipo jalapeño (picante)cultivares " jalapeño " " jalapeño M" " firenza "ciclo(dias) 95 95 -

início de colheita(dias após semeadura)

- - -planta vigorosa vigorosa vigorosa

cor do fruto Verde/vermelho

Verde/vermelho

Verde/vermelho

formato cónico cónico cónicopeso medio de

fruto/tamanho (diam x comp.

45g/3,5x9,0cm

45g/3,5x9,0cm

-outras caracteristicas Resistente a

TMVResistente a

TMV e CMVMuito picante

empresa de sementes TopseedGarden

TopseedPremium

Rogers/ Agrocinco

tipo jalapeño (picante)cultivares "Híbrido

Jalapeño  Plus"“Híbrido "

grande" Hibrido   Mitila "

" Hibridotula "

ciclo(dias) Ciclo médio 75-90 70-85 65-70início de

colheita(dias após semeadura) - - - -

planta vigorosa vigorosa vigorosa -cor do fruto Verde/

vermelhoVerde/

vermelhoVerde/

vermelhoVerde/

vermelhoformato cónico cónico cónico cónico

peso medio de fruto/tamanho (diam x comp.

45g/3,5x9,0cm

3-5 x 9-11cm

3-4 x 8-9 cm

4 x 11 cmoutras

caracteristicasResistente a

TMV e CMVAlta

produtividadeAlta

produtividadeResistente a PVY e TEV

empresa de sementes

Petoseed/SVS Petoseed/SVS Petoseed/SVS Petoseed/SVS

Outros tipos (picantes)cultivares "cayenne

Long slim""malacante" "híbrido

Torito 2137""híbrido caliente 2138"

"amarelacomprida"

ciclo(dias) - - - - -

Page 11: Sistema de Produção de Pimenta (EMBRAPA)

início de colheita(dias

após semeadura)

110 - 120 100 - 110 - - 110-125

planta arbustiva arbustiva - - Arbustiva eereta

cor do fruto Verde/vermelho

Verde/vermelho

Verde/vermelho

Verde/vermelho

amarela

formato cilíndrico cilíndrico alongado alongado cônicopeso medio de fruto/tamanho (diam x comp.

10g / 1 x13cm

10g/2 x 10cm

1,3 – 1,5 x15-18 cm

1,5 x 18

-outras

caracteristicasFrutos para conserva

Frutos picantes

Frutos para conserva

Frutos para conserva

saborpicante

empresa de sementes

Topseed Topseed sakama sakama Topseedgarden

Produção de mudas

 

Em bandejas de isopor

A produção de mudas em bandejas deve ser feita em ambiente protegido, como telados. A técnica mais recomendável para se produzir mudas é de semeio em bandejas de isopor de 128 células, preenchidas com substrato comercial ou preparado na propriedade, colocando uma semente por célula. Caso haja comprometimento da germinação, o ideal é aumentar o semeio para três sementes / célula, procedendo-se a um desbaste posteriormente, se necessário, através do corte com tesoura, rente ao colo das mudas menos vigorosas quando estas apresentam pelo menos duas folhas definitivas. O arranquio das mudas germinadas em excesso não é recomendado pelo risco de comprometer o sistema radicular da muda remanescente na célula .

As bandejas devem ser colocadas em suporte tipo bancada, formada por tela de arame ou somente por fios de arame a 0,60-0,70 m do solo, a fim de que haja luz na parte inferior da bandeja . Este cuidado impede o desenvolvimento das raízes por baixo da bandeja, o que facilita a retirada das mudas por ocasião do transplante , evita injúrias às raízes novas e não cria condições para infecção das mesmas por fungos e bactérias do solo.

As irrigações (duas vezes por dia , no máximo ) deverão ocorrer nas horas de temperaturas mais amenas, ou seja, no início da manhã e final da tarde, utilizando-se água fresca e em quantidade suficiente para que se verifique apenas o início da drenagem (gotejamento) na parte inferior da bandeja. O cuidado nas irrigações é fundamental para se obter mudas de boa qualidade. Em caso de necessidade, deve ser feita uma adubação foliar após o desbaste, pulverizando-se as mudas com uma solução de adubo foliar com uma formulação de macro + micronutrientes. Deve-se evitar o excesso de nitrogênio para não favorecer a proliferação de doenças fúngicas nos tecidos foliares.

Em sementeiras

As sementeiras devem ser preparadas com revolvimento da terra, destorroamento e correção da fertilidade com base na análise química do solo. Os canteiros devem ter de 1,0 a 1,2 m de largura, 0,20 a 0,25 m de altura e comprimento de acordo com a necessidade de mudas. As sementes devem ser distribuídas uniformemente em sulcos transversais ao canteiro, distanciados 0,10 m um do outro e com 1,5 a 2,0 cm de abertura e 1,0 a 1,5 cm de profundidade. Gastam-se de 3 a 5 gramas de sementes por metro quadrado de sementeira. Após a distribuição, as sementes devem ser cobertas com terra do sulco. A colocação de

Page 12: Sistema de Produção de Pimenta (EMBRAPA)

uma cobertura com saco de aniagem sobre o canteiro evita que o impacto das gotas da água de irrigação ou de chuva desenterrem ou afundem as sementes, prejudicando a germinação ou a emergência. O número de sementes é de aproximadamente 200 por grama. A área da sementeira deve ser calculada com base na área que será plantada e no espaçamento a ser utilizado.

Compra de mudas

Atualmente é possível adquirir mudas ou contratar a produção das mesmas com profissionais que se dedicam a esta atividade. Este sistema é recomendado para cultivo em áreas maiores e apresenta como principais vantagens a rapidez na obtenção das mudas, assim como a boa qualidade das mesmas. O produtor pode fornecer ao viveirista suas próprias sementes ou indicar a cultivar ou variedade e adquirir as sementes no mercado .

 

Plantio  

O transplante é realizado quando as mudas apresentarem de 4 a 6 folhas definitivas ou aproximadamente 10cm de altura. No caso de terem sido formadas em sementeiras, as mudas devem ser retiradas com cuidado, preferencialmente com o torrão para se evitar danos às raízes. Os espaçamentos dos sulcos de plantio ou canteiros são definidos de acordo com a cultivar ou tipo de pimenta, região de plantio ou ciclo da cultura (Tabela 1). Em regiões de inverno rigoroso, a cultura é eliminada em meados de abril-maio, com aproximadamente 150 dias de ciclo. O mesmo acontece com as culturas de pimenta destinadas à industrialização para páprica, quando o campo é eliminado após 2 a 3 colheitas. Em regiões onde o ciclo da cultura pode ser prolongado por até um ano, é necessário garantir espaço adequado para crescimento vegetativo da pimenteira.

Tabela 1. Informações sobre espaçamentos, época de plantio e ciclo dos principais tipos de pimentas em diferentes regiões do país .

RegiãoTipode

Pimenta

Espaçamento

(m x m)

Estande

(nº plantas

/ha)

Épocada

semeadura

Cicloda cultura

São Paulo ‘Dedo-de-Moça’ 1,50 x 1,00 6.500dezembro

ajaneiro

12 meses

Goiás e DF‘De Cheiro'

'Bode','Cumari do Pará'

1,20 x 0,80 10.400novembro

ajaneiro

12 meses

‘‘Malagueta

’’1,50 x 1,00 6.500

novembroa

janeiro12 meses

Catalão-GO ‘Jalapeño’ 1,00 x 0,33 30.000fevereiro

amarço

6 a 7 meses

Paraopeba - MG 'Malagueta' 1,00 x 0,80 12.500 dezembro 12 mesesPelotas - RS ‘Dedo-de-Moça’ 0,80 x 0,50 25.000 agosto 8 meses

Ceará ‘Tabasco’

Tratos culturais

 

Durante o ciclo da pimenteira devem ser realizadas várias práticas culturais, tais como irrigação (ver Irrigação), manejo de plantas invasoras (ver Manejo de plantas daninhas), de

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insetos pragas (ver Pragas e métodos de controle) e patógenos (ver Doenças e métodos de controle), adubação de cobertura (ver Adubação), desbrota, tutoramento e ‘mulching’.

As plantas de pimentão são tutoradas tanto no sistema de cultivo protegido como em campo aberto. As hastes lenhosas da maioria dos tipos de pimenta dispensam tutoramento e desbrota. Entretanto, caso apareçam brotações na haste principal abaixo da primeira bifurcação , elas podem ser retiradas. Em locais de ventos fortes, pode ocorrer a necessidadede se fazer tutoramento da planta (colocando-se uma estacade madeira ou bambu juntoà planta) ou o plantio de quebra-vento em voltado campo(capim-elefante, milho, cana-de-açúcar).

Para se evitar o aparecimento de plantas invasoras, a ocorrênciade doenças de solo, manter a temperaturado solo e reduzir a evaporação da águado solo, pode-se colocar um filme de plásticode cor negra(‘mulching’) ou dupla-face, ou seja, negro de um lado e branco e outro. Neste caso, o lado branco deve ficar para cima para refletir a radiação, e assim evitar o aquecimento do solo. A colocação do filme pode ser feita antes ou após o transplante.

 Irrigação

 

A produção de pimentas em regiões com chuvas regulares e abundantes pode ser realizada sem o uso da irrigação. Todavia, em regiões com precipitação mal distribuída ou deficitária, o uso da irrigação é decisivo para a obtenção de altos rendimentos em cultivos comerciais.

A deficiência de água, especialmente durante os estádios de floração e pegamento de frutos, reduz a produtividade em decorrência da queda de flores e abortamento de frutos. Todavia, plantas de pimenta submetidas a deficiência moderada de água no solo produzem frutos mais pungentes, com maior teor de sólidos solúveis e de matéria seca. O excesso de água no solo também pode comprometer a produção de pimentas. Irrigações excessivas, principalmente em solos de drenagem deficitária, prejudica a aeração do solo e favorece o desenvolvimento de várias doenças de solo, como a causada por Phytophthora capsici.

A produtividade, a qualidade de frutos e a ocorrência de doenças também podem ser afetadas pela forma com que a água é aplicada às plantas, ou seja, pelo método de irrigação utilizado. Assim, o suprimento de água às plantas no momento oportuno e na quantidade correta, além da forma que a água é aplicada às plantas, é decisivo para o sucesso da cultura.

Alguns problemas freqüentemente observados, relacionados ao manejo inadequado da irrigação e à utilização de sistemas de irrigação não apropriados, são: baixa eficiência no uso de água, de energia e de nutrientes, maior incidência de doenças fúngicas e bacterianas, baixa produtividade e redução na qualidade de pimentas (pungência, coloração, etc.)

SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO

Vários são os sistemas que podem ser utilizados para a irrigação da cultura de pimentas. A escolha deve ter como base a análise de vários fatores, tais como: tipo de solo, topografia, clima, custo do sistema, uso de mão-de-obra e energia, incidência de pragas e doenças, rendimento da cultura, quantidade e qualidade de água disponível.

Na Tabela 1 são apresentadas algumas características dos principais sistemas de irrigação que podem ser utilizados na cultura. No Brasil, a cultura de pimentas é irrigada principalmente pelos sistemas por aspersão, seguido pelo sistema por sulcos e, em menor escala, pelo gotejamento.

Dentre os sistemas por aspersão, o convencional semiportátil é o mais utilizado. Para a

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produção de pimentas em larga escala, como para páprica, tem sido utilizado o sistema pivô central. A principal vantagem da aspersão é a possibilidade de ser utilizada nos mais diversos tipos de solo e topografia e ter menor custo que o gotejamento. Por outro lado, favorece maior incidência de doenças foliares, principalmente, por remover agrotóxicos e propiciar condições de alta umidade junto ao dossel das plantas.

Dentre os sistemas superficiais, o por sulcos é o mais indicado, sendo utilizado principalmente pelos pequenos produtores de pimentas. Apresenta as vantagens de não molhar a parte aérea das plantas e ter custo inicial inferior aos demais sistemas. Não é recomendado para solos com alta taxa de infiltração, como os arenosos, terrenos de topografia declivosa ou ondulada. Outros sistemas superficiais, a exemplo da irrigação por faixas e inundação, mesmo que temporária, não devem ser utilizados, haja vista que a cultura não tolera solos com aeração deficiente.

Mais recentemente, alguns produtores de pimenta ‘Malagueta’ no estado do Ceará têm optado pelo uso do gotejamento. A grande vantagem do sistema consiste na aplicação da água de forma localizada na zona radicular sem atingir a parte aérea das plantas, minimizando a ocorrência de doenças. A fertirrigação e a economia no uso de água, em geral entre 20 e 30%, são outros grandes trunfos do gotejamento frente aos demais sistemas de irrigação. Fertilizantes, como nitrogênio e potássio, podem ser aplicados de forma parcelada via irrigação, aumentando a eficiência no uso dos mesmos e a produtividade. As principais desvantagens são o maior custo do sistema e o risco de entupimento. O custo está diretamente relacionado ao espaçamento entre linhas de plantio; assim, o sistema é mais recomendado para as pimentas cultivadas com espaçamento entre linhas acima de 1,0 m, como a ‘Malagueta’ ou aquelas com alto retorno econômico. A presença de partículas sólidas e orgânicas, de carbonatos, de ferro e de bactérias na água e a formação de precipitados insolúveis dentro da tubulação são as principais causas de entupimento de gotejadores. Este problema pode ser eficientemente contornado utilizando-se sistemas de filtragens e realizando-se o tratamento químico da água quando necessário.

Por não molharem a folhagem das plantas, os sistemas por sulcos e gotejamento podem favorecer, por outro lado, ácaros e insetos, a exemplo de pulgões, os quais são agentes transmissores de viroses, além de doenças como o oídio. A irrigação por sulcos pode favorecer ainda a disseminação de fungos e bactérias ao longo dos sulcos por meio da água de irrigação.

NECESSIDADE DE ÁGUA DA CULTURA

A necessidade total de água da cultura de pimentas é variável, pois além das condições climáticas, depende grandemente da duração do ciclo de desenvolvimento de cada cultivar. Em termos gerais, varia de 500 a 800mm, podendo ultrapassar os 1.000mm para cultivares de ciclo longo. A necessidade diária de água, também chamada de evapotranspiração da cultura, engloba a quantidade de água transpirada pelas plantas mais a água evaporada do solo, sendo expressa em mm/dia, varia de 4 a 10mm/dia no pico de demanda da cultura.

A cultura da pimenta apresenta quatro estádios distintos de desenvolvimento com relação às necessidades hídricas. A duração de cada estádio depende da cultivar, condições edafoclimáticas e sistema de cultivo.

Estádio Inicial

O estádio inicial de estabelecimento da cultura, no caso de semeio direto no campo, vai da semeadura até as plantas atingirem 4 a 6 folhas definitivas. Para o plantio por mudas, este estádio ocorre 5 a 10 dias após o transplante. A deficiência de água pode prejudicar a germinação de sementes e o pegamento de mudas, comprometendo o estande e a produtividade. Irrigações em excesso, tanto neste quanto nos estádios subseqüentes, favorecem a maior incidência de doenças de solo.

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Da semeadura até a emergência de plântulas, as irrigações devem ser leves e freqüentes procurando manter a umidade da camada superficial do solo (0 a 15cm) próxima à capacidade de campo. Neste estádio, o turno de rega médio varia de 1 a 4 dias, dependendo do tipo de solo e condições climáticas. Em solos arenosos e sob condições de alta temperatura e baixa umidade relativa do ar, por exemplo, as irrigações devem ser diárias. Sob condições climáticas extremas, podem ser necessários vários parcelamentos diários da irrigação por gotejamento.

No caso de transplante de mudas, o solo deve ser previamente irrigado, realizando uma segunda irrigação imediatamente a seguir. Daí até o estabelecimento das mudas, as irrigações devem ser realizadas a cada um a dois dias; em solos arenosos pode ser necessária mais de uma irrigação por dia.

A primeira irrigação, realizada antes do plantio ou do transplante, deve ser suficiente para elevar a umidade do solo até a capacidade de campo nos primeiros 30cm do solo. A lâmina de água a ser aplicada, dependendo do tipo e da umidade inicial do solo, varia de 15 a 25mm para solos de textura grossa e de 30 a 50mm para os de texturas média ou fina.

Estádio Vegetativo

Compreende o período entre o estabelecimento inicial das plantas e o florescimento pleno. Limitações no desenvolvimento vegetativo das plantas, resultantes da ocorrência de déficit hídricos moderados, têm pequeno efeito na produção desde que o suprimento de água no estádio reprodutivo (floração e frutificação) seja adequado. Ademais, deficiência moderada de água favorece maior desenvolvimento em profundidade do sistema radicular das plantas.

Irrigações excessivas, principalmente por aspersão, tanto neste quanto nos estádios seguintes, favorecem a maior ocorrência de doenças fúngicas e bacterianas, além de aumentar a lixiviação de nutrientes, especialmente de nitratos.

Estádio Reprodutivo

Estádio que vai da floração plena até o início da maturação de frutos. É comum, entre os diferentes tipos de pimentas, a ocorrência de um período onde existem flores, pimentas verdes e maduras, o que requer a realização de várias colheitas. Neste caso, o término do estádio reprodutivo deve ser estendido até o início da maturação das pimentas a serem apanhadas na colheita de maior produção.

O estádio reprodutivo é o mais crítico em relação à deficiência de água, especialmente durante o florescimento e pegamento de fruto. A deficiência de água favorece a queda de flores e o abortamento de frutos, além de reduzir o tamanho de fruto e favorecer a ocorrência de podridão apical. Irrigações excessivas, em solos com drenagem deficiente, prejudica a aeração do solo e favorece doenças, comprometendo a produtividade e aspectos qualitativos dos frutos. Irrigações freqüentes por aspersão devem ser evitadas em condições onde a podridão de frutos e doenças foliares são problemáticas.

Estádio de Maturação

Período entre o início da maturação de frutos e a última colheita. É o estádio menos sensível à deficiência de água no solo. Irrigações freqüentes podem prejudicar a qualidade de frutos e favorecer maior incidência de doenças, principalmente quando realizada por aspersão.

Melhor qualidade de frutos, como maior pungência em pimentas picantes, maior teor de sólidos solúveis em pimentas para molho líquido, maior teor de matéria seca e melhor coloração em pimentas para páprica e maior concentração na maturação, pode ser

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obtida submetendo as plantas a níveis moderados de deficiência de água no solo, por meio da adoção de turnos de rega mais espaçados que no estádio reprodutivo e/ou da antecipação do final das irrigações.

MANEJO DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO

A reposição da água do solo no momento oportuno e na quantidade adequada envolve parâmetros relacionados à planta, ao solo e ao clima. Existem vários métodos disponíveis para o controle da irrigação, que apresentam vantagens e desvantagens. Métodos que permitem um controle criterioso, como o do balanço hídrico e o da tensão da água do solo, baseiam-se no conhecimento de propriedades físico-hídricas do solo, necessidades hídricas específicas da cultura e fatores climáticos associados a evapotranspiração. Estes métodos requerem equipamentos para o monitoramento da umidade do solo (tensiômetros, blocos de resistência elétrica, etc.) e/ou equipamentos para estimativa da evapotranspiração (tanque Classe A, termômetros, higrômetros, radiômetros etc.), além de pessoal qualificado.

Para a produção de pimentas em grande escala é aconselhável o uso de um método com melhor precisão que o apresentado anteriormente, como aqueles baseados na avaliação da umidade do solo e/ou da evapotranspiração da cultura em tempo real.

A precisão do método do turno de rega simplificado pode ser sensivelmente melhorada calculando-se a evapotranspiração da cultura em tempo real. Assim, o valor de ETc a ser considerado deve ser igual à média da evapotranspiração ocorrida no período entre duas irrigações consecutivas. Uma forma simples para o cálculo da evapotranspiração é o uso do tanque classe A, que pode instalado nas imediações ou dentro da área cultivada.

O manejo da irrigação pode também ser realizado por sensores que medem a tensão da água no solo, ou seja, a ‘força’ com que a água é retida pela matriz do solo. Desta forma, pode-se determinar o momento exato de se irrigar e a quantidade de água a ser aplicada por irrigação. Para a cultura de pimenta irrigada por aspersão ou sulcos, a tensão recomendada varia entre 25 e 30 kPa, durante o estádio reprodutivo, entre 50 e 60 kPa durante os estádios vegetativo e de maturação. Para gotejamento, a tensão recomendada varia de 10 a 15 kPa. O sensor mais utilizado para medição da tensão é o tensiômetro.

Um sensor de baixo custo e manutenção, recentemente desenvolvido pela Embrapa Hortaliças, é o ‘Irrigas’. O sensor não fornece leituras de tensão, mas somente indica se a tensão de água do solo está abaixo ou acima 25 kPa. Assim, pode ser utilizado durante a estádio reprodutivo da cultura de pimentas sob irrigação por aspersão ou sulcos. Na versão atualmente disponível, o sensor não é recomendado para gotejamento.

FERTIRRIGAÇÃO

Fertirrigação é o processo de aplicação de fertilizantes via água de irrigação. É apropriada para uso em sistemas por aspersão tipo pivô central e, principalmente, por gotejamento. Pela facilidade de aplicação, os fertilizantes podem ser injetados na tubulação de forma parcelada para atender às necessidades das plantas. O parcelamento permite manter o nível de fertilidade no solo próximo ao ideal durante todo o desenvolvimento da cultura, possibilitando incrementos de produtividade e minimizando a lixiviação de nutrientes.

Os principais dispositivos de injeção são: tipo venturi, tanque de diferencial de pressão e bombas injetoras (diafragma e pistão). Todos os dispositivos podem ser utilizados em sistemas por gotejamento, sendo a bomba de pistão a melhor opção para pivô central. O venturi é o mais utilizado em sistemas por gotejamento, devido seu baixo custo.

Os nutrientes mais aplicados via fertirrigação são os de maior mobilidade no solo, como

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o potássio e nitrogênio. O fósforo e outros nutrientes pouco móveis devem ser fornecidos, preferencialmente, como adubação básica de plantio.

Para gotejamento sugere-se aplicar de 10% a 20% da recomendação total de nitrogênio e de potássio em pré-plantio, para se ter uma reserva no solo e favorecer o desenvolvimento inicial do cultivo. O restante é fornecido via fertirrigação à medida que as plantas se desenvolvem. A ocorrência de podridão apical e a necessidade de pulverizações foliares com cálcio podem ser eliminadas aplicando-se parte do cálcio via fertirrigação durante o florescimento e a frutificação. Para solos arenosos, a fertirrigação deve ser realizada a cada 1 a 2 dias, enquanto para solos argilosos pode-se adotar uma freqüência de uma a duas vezes por semana.

Para pivô central, aplicar 1/3 do nitrogênio em pré-plantio e parcelar o restante via água de irrigação, a partir de 30 dias após o plantio, a cada duas a três semanas até o início da maturação. O potássio e o cálcio, embora menos utilizados, também podem ser aplicados via água.

Os principais fertilizantes utilizados via água são: uréia, cloreto de potássio, nitrato de cálcio, nitrato de potássio, sulfato de amônio, sulfato de potássio e cloreto de cálcio. O cálcio não deve ser aplicado em água contendo bicarbonato (acima de 400 mg/L) ou ser injetado simultaneamente com fertilizantes à base de sulfatos ou fosfatos sob o risco de precipitar e causar entupimento de tubulações e emissores.

 

Tabela 1. Eficiência de irrigação, custo inicial, uso de energia e mão-de-obra para diferentes sistemas de irrigação.

SistemaEficiência1

(%) Custo(R$/ha)

Energia2

(kWh/mm/ha)

Mão-de-obra(h/ha/ irrigação )

Sulcos 40 - 70 800 - 1.500 0,3 - 3,0 1,0 - 4,0

Convencional portátil 60 - 75 1.000 - 2.000

3,0 - 6,0 1,5 - 3,0

Convencional semi-portátil

60 - 75 1.500 – 2.500

3,0 - 6,0 0,7 – 2,5

Convencional permanente

70 - 85 3.000 - 5.000 3,0 - 6,0 0,2 - 0,5

Autopropelido 60 - 70 3.000 - 5.000

6,0 - 9,0 0,5 - 1,0

Pivô central 75 - 90 3.000 - 5.000

2,0 - 6,0 0,1 - 0,7

Gotejamento 75 - 95 3.000 - 5.000

1,0 - 4,0 0,1 - 0,3

1 Em sistemas mal dimensionados e sem manutenção adequada à eficiência pode ser ainda mais baixa .

2 Altura de recalque entre 5 e 50 m. Dividir por 3,2 para estimar litros de diesel /mm/ha.

Fonte: Adaptado de Marouelli e Silva (1998)

 

Plantas daninhas

 

A interferência das plantas daninhas reduz a produtividade e qualidade dos frutos. Portanto, é necessário controlar as plantas daninhas, pelo menos durante o período crítico (cerca de dois terços do ciclo da cultura), ou seja, até que a cultura cubra suficientemente a superfície

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do solo, e não sofra mais interferência negativa delas. A necessidade de controle depende do grau de infestação e agressividade das plantas daninhas.

As plantas daninhas interferem diretamente no desenvolvimento da pimenta, competindo por água, nutrientes, luz e liberando substâncias aleloquímicas, que afetam a germinação e o crescimento da pimenteira. O grau de competição que uma planta sofre depende da cultura (espécie, variedade/cultivar, densidade e espaçamento de plantio) e da população de plantas daninhas (espécie, densidade, distribuição e duração do período de competição). Esses fatores podem ser modificados pelas condições edáficas (tipo, textura, fertilidade e umidade do solo), climáticas e práticas culturais (rotação e consórcio de cultivos).

O espaçamento e a densidade de plantio são fatores importantes no balanço competitivo, pois influenciam a precocidade e a intensidade do sombreamento promovido pela cultura. Plantios mais densos dificultam o desenvolvimento das plantas daninhas, as quais têm que competir mais intensamente com a cultura na utilização dos fatores de produção.

Após o PCI até o final do ciclo (Figura 1, fases G-I), as plantas daninhas não interferem significativamente na produtividade, mas podem amadurecer e aumentar o banco de sementes no solo, bem como servir de hospedeiros de insetos-pragas, fitopatógenos e nematóides, além de dificultar e onerar a colheita. Com a introdução da mosca-branca, que utiliza as plantas daninhas como hospedeiros, fonte de alimento e reprodução, a incidência de viroses na cultura tem crescido muito, reforçando a necessidade de adotar programas de manejo integrado de plantas daninhas.

 

 ANVISA: Sistema de Informações sobre Agrotóxicos.

<http://www4.anvisa.gov.br/AGROISA/asp/frm_pesquisa_agrotoxico.asp>.

 As técnicas de manejo integrado de plantas daninhas são prevenção, erradicação e controle.

A prevenção consiste em se evitar a introdução e/ou disseminação de sementes ou qualquer propágulo vegetativo de plantas daninhas em áreas não infestadas (Figura 1, fases C-I). As medidas de prevenção e controle devem ser eficientes de forma a prevenir o aumento do

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banco de sementes ou propágulos vegetativos no solo, evitando que plantas daninhas cresçam e amadureçam suas sementes em áreas limítrofes, além de hospedarem insetos-praga e patógenos, são fontes para outras infestações dentro ou fora das áreas cultivadas. As plantas daninhas podem ser distribuídas pelo vento, água, máquinas e implementos, matéria orgânica, animais e por meio do plantio de mudas com torrão e lotes de sementes de hortaliças que contenham misturas de sementes de plantas daninhas. Fundamentalmente, a introdução e a disseminação das plantas daninhas nas áreas agrícolas são evitadas quando os mecanismos de disseminação delas são rigorosamente observados.

Erradicação é a eliminação de todas as estruturas de propagação de uma planta daninha de determinada área. Ela é, normalmente, usada em áreas pequenas e recentemente infestadas. Inspeções dos campos devem ser realizadas regularmente (Figura 1, fases C-I) para identificar focos iniciais e adotar medidas de controle dirigido de forma a erradicá-las. Muitas vezes a remoção mecânica é recomendada para eliminar plantas daninhas tolerantes ou resistentes a determinados herbicidas. O produtor deve ficar atento ao aparecimento de espécies novas (como por exemplo: a parasita Cuscuta spp.), devendo eliminá-las antes que produzam e disseminem suas sementes.

 

Controle é a supressão das plantas daninhas até um limiar de dano econômico, ou seja, até atingir um nível de controle onde a planta daninha remanescente não interfira significativamente na produtividade biológica da cultura (Figura 1, fases C-F). Esta é a prática de manejo mais comumente usada quando a planta daninha já está estabelecida. O controle e pode ser feito por meio de métodos culturais, mecânicos, químico (manejo direto, dirigido não seletivo) ou de forma integrada (Figura 1). A eficiência do controle dependerá do grau de infestação e agressividade das espécies de plantas daninhas, época do controle, estágio de desenvolvimento das plantas, condições climáticas, tipo de solo, disponibilidade de herbicidas, de mão-de-obra e de equipamentos e conhecimento da interação entre as plantas de pimenta e das plantas daninhas.

Preferencialmente, deve-se lançar mão dos métodos culturais e mecânicos, tais como: rotação de culturas, o uso de espaçamento e densidade adequados, coberturas orgânica e/ou inorgânicas do solo, solarização, cultivos e capinas.

O controle químico seletivo não é recomendado para a cultura de pimenta, em razão da falta de registro de herbicidas junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento[1].

O preparo do solo e a irrigação estimulam a germinação e desenvolvimento das plantas daninhas (Figura 1, fases C-E). Recomenda-se fazer o preparo do solo duas a três semanas antes do transplantio para permitir a germinação, crescimento e o controle pós-emergente das plantas daninhas (4 a 6 folhas definitivas) na área, por meio da aplicação de herbicidas de manejo não seletivos de ação de contato, como diquate e paraquate, ou sistêmica, como glifosato, realizada antes do transplantio das mudas de pimenta. O preparo do solo deve ser bem feito, livre de torrões e de resíduos dos restos culturais (Figura 1, fase C) facilitando, desse modo, o controle das plantas daninhas, proporcionando o estabelecimento e o crescimento vigoroso das mudas de pimenta.

O cultivo mecânico para controlar as plantas daninhas pode ser usado sozinho ou juntamente com os herbicidas de manejo e não seletivos. O cultivo é mais eficiente quando as plantas daninhas estão ainda pequenas, com 4 a 8 folhas definitivas. Nesse estádio as plantas daninhas podem ser removidas facilmente sem causar dano à cultura (Figura 1, fases E-F). A eficiência do controle mecânico sobre as plantas daninhas perenes é baixa, podendo aumentar o problema se os propágulos vegetativos forem removidos para locais não infestados.

O produtor de pimenta procura, sempre que possível, cultivar áreas sob rotação de culturas, evitando aquelas previamente utilizadas com solanáceas. A rotação adequada de culturas é importante para o manejo de plantas daninhas, pois as práticas culturais provocam mudanças na população de plantas, havendo a cada ano uma nova relação de interferência entre as diferentes espécies. Numa comunidade mista de plantas existe sempre um balanço

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competitivo entre as espécies, predominando as mais agressivas e adaptadas ao sistema de cultivos sucessivos ou de rotação.

Em virtude de não existir um método de controle que, aplicado isoladamente, proporcione resultados satisfatórios, capaz de prevenir o crescimento e a reprodução de todas as plantas daninhas, reduções substanciais nos níveis de infestação só poderão ser alcançadas com a integração das técnicas de manejo, entre as quais são empregados diferentes métodos de controle. Portanto, deve ser utilizado o manejo anual planejado, persistente e que empregue, fundamentalmente, diversas medidas integradas de controle e erradicação associadas a preventivas (Figura 1). Inclui ações que antecedem as primeiras operações de preparo do solo (Fase C) a partir do primeiro ciclo cultural (Fases A-I), por meio do levantamento, identificação e mapeamento das plantas daninhas presentes na gleba (Fase A), planejamento e escolha das técnicas de manejo possíveis de usar durante os ciclos culturais (Fase B), preparo do solo (Fase C), do plantio (Fase D), colheita (Fase H), período pós-cultivo (Fase I) e ações que visem o ciclo cultural subsequente (Fase J).

 

Doenças

Doenças de plantas são anormalidades provocadas geralmente por microrganismos, como bactérias, fungos, nematóides e vírus, mas podem ainda ser causadas por falta ou excesso de fatores essenciais para o crescimento das plantas, tais como nutrientes, água e luz. Neste caso, são também conhecidas como distúrbios fisiológicos.

Várias são as medidas que podem ser adotadas para evitar a ocorrência de doenças em plantas ou mesmo reduzir seu impacto no produto comercial. A observação harmoniosa de um conjunto de medidas de controle, também conhecido como controle integrado, tem como objetivo principal a redução da necessidade do uso de agrotóxicos.

Para que as doenças sejam bem controladas é necessário que a cultura seja bem conduzida, ou seja, que a planta não esteja sujeita a estresses provocados por fatores diversos, tais como época de plantio desfavorável, adubação desbalanceada, ferimentos nas plantas, competição com plantas daninhas e o uso de cultivares não adaptadas ao clima. Dentre estes fatores, deve ser dada atenção especial ao tipo de solo e modo de irrigação. Plantas de pimenta são muito sensíveis a solos encharcados e morrem prematuramente por esta causa. O controle de doenças de plantas é, mais que tudo, ‘medicina preventiva’, ou seja, a estrita observação de medidas que devem ser adotadas antes mesmo do plantio.

A seguir, são mencionadas algumas medidas para evitar o aparecimento de doenças ou reduzir seu efeito:

1. Plantar sementes de boa qualidade, adquiridas de firmas idôneas. Em caso de produção própria, devem ser escolhidas as plantas saudáveis para se retirar sementes. Muitas doenças das pimentas são transmitidas pela semente;

2. Preferir variedades bem adaptadas ao clima local e à época de plantio, e que tenham resistência às principais doenças que ocorrem na região. Estas informações podem ser obtidas em catálogos de empresas de sementes;

3. Escolher para instalação da cultura uma área bem ventilada, que não tenha histórico de plantio recente com solanáceas (pimentão, tomate, berinjela, jiló), com solo bem drenado, não sujeita a empoçamento de água;

4. Fazer uma adubação balanceada, baseada em análise do solo. Falta ou excesso de nutrientes são causas freqüentes de distúrbios fisiológicos graves;

5. Produzir ou adquirir mudas sadias. Infecções precoces, provocadas por semente contaminada ou substrato infestado, dificultam sobremaneira a manutenção da sanidade nas plantas adultas. Sementeiras devem ser feitas preferencialmente em telados instalados

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em locais separados do campo de cultivo, onde as mudas ficam protegidas de vetores de viroses;

6. Evitar o excesso de água na irrigação, pois este é o fator que mais afeta o desenvolvimento de doenças, em especial aquelas associadas ao solo;

7. Usar água de irrigação de boa qualidade, que não tenha sofrido contaminação antes de chegar à propriedade;

8. Controlar os insetos que são vetores de viroses e que provocam ferimentos nas plantas, principalmente nos frutos;

9. Evitar ferimentos à planta durante as operações de amarrio, capinas, irrigação ou outros tratos culturais;

10. Realizar as pulverizações de preferência de forma preventiva, quando as condições climáticas forem favoráveis a uma determinada doença. Após o seu estabelecimento, a maioria das doenças não pode mais ser controlada;

11. Evitar ao máximo o trânsito de pessoas e de máquinas que podem levar estruturas de patógenos de uma área para outra. Em cultivos protegidos, recomenda-se colocar uma caixa com cal virgem na entrada para desinfestação de calçados;

12. Destruir os restos culturais, que normalmente hospedam populações de patógenos e insetos. Esta destruição pode ser feita por enterrio profundo ou queima controlada;

13. Realizar rotação de culturas, de preferência com gramíneas, tais como milho, trigo, arroz, sorgo ou capim. Esta medida é muito importante para o controle de doenças de solo, mais difíceis de serem controladas;

14. Inspecionar a lavoura com freqüência para identificar possíveis focos de doença, ainda em seu início.

Principais doenças das pimentas

As pimentas podem ser atacadas por muitas doenças, que assumem diferentes graus de importância dependendo principalmente da época de plantio. A seguir, são apresentadas as principais doenças das pimentas que ocorrem no Brasil, enfatizando algumas medidas específicas de controle.

 

Doenças causadas por fungos

TombamentoMurcha-de-fitóftoraMancha-de-cercósporaAntracnoseOídioMancha-aveludada

Doenças causadas por bactérias

Murcha-bacterianaMancha-bacterianaTalo-oco

Doenças causadas por vírus

Doença causadas por nematóides

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Distúrbios fisiológicos e causados por artrópodes

Podridão-apicalClorose-internervalClorose-das-folhasFumagina

Doenças de pós colheita

Doenças causadas por fungos

Tombamento - Pythium spp., Phytophthora spp. e Rhizoctonia solani

É uma doença que afeta plantas jovens e ocorre em sementeiras, em copinhos, em bandejas ou em mudas recém transplantadas. É provocada por fungos de solo, que podem também estar presentes na água de irrigação. Com a crescente utilização de bandejas contendo substratos produzidos comercialmente, este problema tem se tornado cada vez menor.

Mudas afetadas apresentam escurecimento ou apodrecimento na base do caule, provocando o tombamento da planta. Sob leve pressão, o topo da planta se desprende sem que a raiz seja arrancada. A doença evolui normalmente em reboleiras.

Controle

· Não fazer a sementeira em solo anteriormente cultivado com solanáceas;· Usar substrato comercial e bandejas de isopor novas ou desinfestadas com água sanitária para a produção de mudas; no caso de se usar saquinhos para produzir as mudas, utilizar solo esterilizado;· Irrigar com moderação, pois os fungos envolvidos no tombamento são favorecidos por alta umidade;· Produzir as mudas em local ventilado, de preferência em casa de vegetação ou telado. A bancada deve ser ripada ou telada, para permitir o escorrimento do excesso da água de irrigação;· Usar água de boa qualidade para irrigação, que não tenha possibilidade de ter sido contaminada até chegar à propriedade.

Murcha-de-fitóftora (requeima, podridão-de-fitóftora, pé-preto) - Phytophthora capsici

É uma das principais doenças das pimentas no Brasil. Provoca maiores perdas no verão, pois é favorecida por alta temperatura e alta umidade do solo. As plantas afetadas apresentam murcha repentina observada inicialmente nas horas mais quentes do dia. É comum aparecerem várias plantas murchas ao mesmo tempo, em fileiras ou em reboleiras. Poucos dias após o murchamento inicial, a planta morre, ocasião em que pode ser observado um escurecimento na base do caule. Sob alta umidade do ar, pode ocorrer também a infecção de partes aéreas da planta, com manchas escuras e amolecidas nas folhas e no caule.

Controle

· Usar solo ou substrato esterilizado para produzir mudas;· Evitar plantios em períodos quentes e úmidos do ano;· Plantar em local bem ventilado;· Plantar em solos bem drenados, não sujeitos a encharcamento;· Em época de chuvas, plantar em camalhões, que evitam o acúmulo de água no pé da planta;· Fazer um manejo adequado da irrigação, evitando fornecer excesso de água à planta;· Fazer rotação de culturas, de preferência com gramíneas. As cucurbitáceas

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(abóbora, moranga, melancia, melão) devem ser evitadas por serem também atacadas pelo patógeno.

Mancha-de-cercóspora - Cercospora capsici

É uma doença favorecida por temperatura acima de 25 °C e umidade do ar acima de 90%. Plantas com estresse nutricional são mais sensíveis à doença. Pode ser transmitida pelas sementes e pelo vento. Os sintomas ocorrem principalmente nas folhas, na forma de manchas circulares marrons, com o centro cinza claro, que às vezes pode rasgar ou se desprender da lesão, dando um aspecto de folha furada. As manchas podem alcançar um diâmetro superior a um centímetro. As folhas mais velhas podem amarelecer e cair em função do ataque da doença.

Controle

· Plantar sementes de boa qualidade, adquirida de firma idônea, ou mudas comprovadamente sadias;· Evitar o plantio próximo a culturas velhas;· Pulverizar preventivamente com fungicidas registrados para a cultura;· Adubar corretamente a plantação, com base em análise de solo;· Fazer um bom manejo da irrigação, evitando aplicar excesso de água, adotando-se o sistema de gotejamento;· Evitar plantios em épocas com alta intensidade de chuva, especialmente quando a temperatura for alta;· Eliminar os restos de cultura logo após a última colheita;· Fazer rotação de culturas por, pelo menos, um ano.

Antracnose (Colletrotrichum spp.)

Sua importância é reconhecida quase que exclusivamente pelas lesões que provoca em frutos, em campo ou após a colheita. É mais problemática em cultivos de verão, quando ocorrem temperatura e umidade altas. O patógeno é disseminado por sementes infectadas e por respingos de água de chuva ou irrigação. A doença se inicia como pequenas áreas redondas e deprimidas, que crescem rapidamente e podem atingir todo fruto. Sob alta umidade, o centro das lesões fica recoberto por uma camada cor-de-rosa, formada por esporos do fungo. Os frutos atacados não caem e as lesões permanecem firmes, a não ser que haja invasão de organismos secundários que aceleram a sua deterioração.

Controle

· Fazer o plantio menos adensado em época favorável à doença, para permitir melhor ventilação entre as plantas;· Fazer um manejo adequado da irrigação, evitando excesso de água. A irrigação por gotejamento, por não provocar o molhamento da parte aérea, reduz drasticamente a chance de aparecimento da doença;· Pulverizar preventivamente a cultura no início de frutificação com fungicidas registrados;· Destruir os restos culturais imediatamente após a última colheita;· Fazer rotação de culturas, de preferência com gramíneas.

Oídio - Oidiopsis taurica

Ataca com maior intensidade os cultivos irrigados por gotejamento. Inicialmente, são observadas manchas cloróticas na superfície superior das folhas. Sob condições favoráveis à doença, estas manchas tornam-se necróticas ou com muitas pontuações negras, com formato pouco definido. A superfície inferior da folha fica recoberta com estruturas

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esbranquiçadas do fungo, podendo levar a uma clorose geral da folha. Entretanto, pode ocorrer clorose e necrose sem que se perceba claramente o ‘pó branco’, dificultando o diagnóstico da doença. Folhas muito atacadas podem cair, e os frutos não são atacados pela doença.

Controle

· Evitar plantar nas proximidades de plantas velhas de pimentão ou tomate;· Adubar corretamente as plantas, de acordo com análise do solo;· Fazer irrigação por aspersão, levando-se em conta que esta técnica pode intensificar o ataque de outras doenças;· Pulverizar preventivamente com fungicidas registrados;· Destruir os restos culturais logo após a última colheita.

Mancha-aveludada - Phaeoramularia sp.

Ocorre esporadicamente em algumas regiões do Brasil. Pode causar algum dano à planta somente em condição de alta umidade e alta temperatura, principalmente em locais sombreados. Os sintomas consistem inicialmente de manchas cloróticas arredondadas na superfície superior da folha. Com o desenvolvimento da doença, na parte inferior da folha surgem lesões acinzentadas devido à presença de esporos do fungo. As folhas velhas são as mais atacadas e podem cair sob alta infestação. Os frutos não apresentam sintomas desta doença.

Controle

· Fazer rotação de culturas, preferencialmente com gramíneas;· Evitar plantios em áreas pouco ventiladas;· Não plantar próximo a cultivos velhos de pimentão;· Adubar a planta com base em análise de solo;· Manejar a irrigação, evitando-se excesso de água.

Doenças causadas por bactérias

Murcha-bacteriana (murchadeira) - Ralstonia solanacearum

Causa perdas em pimentas somente quando a temperatura e a umidade são muito altas, situação que é freqüente em regiões Norte e Nordeste do Brasil e ainda em alguns pólos de produção de terras baixas na Região Sudeste. A bactéria não é transmitida pela semente, mas pode ser introduzida em um campo através de mudas infectadas, água contaminada e solo infestado aderido a máquinas agrícolas. Plantas afetadas podem não murchar, e apresentar apenas uma redução em crescimento. Quando murcham, os sintomas aparecem inicialmente nas horas mais quentes do dia. As folhas novas murcham primeiro, às vezes de um só lado da planta. O tecido exposto pelo descascamento da base do caule de planta murcha fica amarronzado. Na maioria das vezes, a doença só é percebida a partir do início da frutificação.

Controle

· Escolher a área de plantio, que não deve ter histórico da doença em solanáceas ou em outras hospedeiras de R. solanacearum;· Evitar a contaminação do solo através de pessoal e máquinas que transitam por áreas contaminadas;· Plantar em solos com boa drenagem, não sujeitos a encharcamento;· Plantar nas épocas menos quentes do ano;· Não irrigar em excesso;· Evitar ferimentos nas raízes e na base da planta;

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· Arrancar, colocar em saco de plástico e retirar do campo as plantas com sintomas iniciais de murcha, espalhando aproximadamente 100 gramas de cal virgem na superfície da cova vazia; · Evitar o uso de plástico preto como cobertura do solo durante o verão, porque mantém a temperatura e a umidade do solo excessivamente elevadas.

Observação: O controle químico não é economicamente viável. As cultivares disponíveis não apresentam níveis satisfatórios de resistência.

Mancha-bacteriana (pústula-bacteriana) - Xanthomonas campestris pv. vesicatoria

É comum em locais onde prevalecem altas temperatura e umidade, como no período de verão. Chuvas de vento seguidas de nebulosidade prolongada favorecem a disseminação, a penetração e a multiplicação da bactéria, resultando em ataques severos da doença. Os sintomas mais visíveis aparecem em plantas adultas. As folhas mais velhas são as mais atacadas e apresentam lesões de formato irregular, de cor verde-escura e com aspecto encharcado. Sob condições favoráveis à doença, as lesões formam manchas grandes e com aspecto ‘melado’ nas folhas. As folhas atacadas amarelecem e caem, sendo esta uma das características mais marcantes da doença. A desfolha provocada pela doença ocorre de baixo para cima. Nos frutos, a bactéria causa manchas similares a verrugas, inicialmente esbranquiçadas e depois com os centros escurecidos.

Controle

· Plantar sementes e mudas isentas do patógeno, produzidas por firmas idôneas;· Evitar plantios em épocas quentes e sujeitas a chuvas freqüentes;· Não usar sementes provenientes de lavouras em que houve ocorrência da doença;· Não irrigar em excesso, principalmente por aspersão;· Pulverizar preventivamente com fungicidas cúpricos, que também têm ação bactericida;· Destruir os restos culturais logo após a última colheita;· Fazer rotação de culturas, de preferência com gramíneas.

Talo-oco (podridão-mole) - Erwinia spp.

Causa prejuízos somente em cultivos conduzidos sob alta temperatura e alta umidade. Nesta condição, caules e frutos com injúrias mecânicas ou provocadas por insetos, apodrecem rapidamente. Os pontos da planta mais sensíveis ao ataque inicial da doença são aqueles onde há um acúmulo de água, como as bifurcações do caule e a região peduncular dos frutos. O caule afetado escurece e seca devido ao apodrecimento da medula. Nos frutos, o ataque ocorre principalmente a partir de ferimentos causados por insetos. Após a colheita, a bactéria pode iniciar o apodrecimento mole em frutos contaminados externamente por ferimentos resultantes do manuseio inadequado durante a colheita, transporte e comercialização.

Controle

· Evitar plantio em locais muito úmidos, especialmente durante o verão;· Evitar o excesso de água na irrigação;· Evitar ferimentos na planta durante os tratos culturais e nos frutos na colheita, transporte e comercialização;· Adubar corretamente a cultura, de acordo com a análise do solo. O excesso de nitrogênio promove crescimento exagerado da folhagem, formando um ambiente favorável à doença;· Pulverizar com fungicidas cúpricos, principalmente quando houver ferimentos nas plantas, como após amarrio, desbrota ou a ocorrência de granizo;· Controlar insetos que provocam ferimentos nos frutos;· Após a colheita, manter os frutos secos e em local bem ventilado.

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Doenças causadas por vírus

Vários vírus podem atacar os pimentais, como os tospovirus (vírus do vira-cabeça), transmitidos por algumas espécies de tripes, e os potyvirus (mosaicos), transmitidos por pulgões. Os sintomas são muito variáveis, dependendo da espécie e da variedade de pimenta, da espécie do vírus, do grau de virulência da estirpe do vírus, da época em que a planta foi infectada e das condições ambientais, principalmente da temperatura. A planta infectada normalmente tem o seu desenvolvimento retardado. As folhas mais novas ficam pequenas, deformadas e apresentam diferentes tonalidades de verde e amarelo, com pontuações necróticas, algumas vezes com pequenos anéis concêntricos. Nos frutos, também ocorrem deformações, mosaico, necrose e anéis, estes normalmente de tamanho maior que nas folhas. Na maioria das vezes, não é possível diagnosticar as espécies de vírus envolvidas, através dos sintomas, sendo necessários testes em laboratório

Controle

· As medidas de controle de vírus são preventivas e devem ser seguidas por todos os produtores de uma região;· Medidas de higienização têm um efeito considerável na redução da incidência da doença: eliminar campos abandonados, erradicar plantas com sintomas no plantio quando a incidência for baixa, manter o campo e arredores livres de plantas daninhas;· Produzir mudas em local protegido de insetos vetores, afastado dos campos de produção e pulverizando-as periodicamente para evitar que se infectem precocemente;· Plantar as mudas no maior estádio de desenvolvimento possível, de modo a retardar as infecções precoces em campo pelo vetor;· Pulverizar contra o vetor somente nos primeiros dias após o transplante; · Plantar cultivares resistentes. Embora na atualidade praticamente não existam cultivares resistentes disponíveis, deve-se consultar as companhias de semente para novas cultivares com esta característica.

Doença causadas por nematóides

Nematóide-das-galhas - Meloidogyne incognita

Ocorre com maior intensidade durante o período mais quente do ano. A doença é mais severa em solos arenosos. Pode se tornar limitante quando se planta pimenta sucessivamente na mesma área ou quando se faz rotação com outra cultura suscetível, como feijão de vagem, quiabo e tomate. A doença se manifesta normalmente em reboleiras. As plantas afetadas apresentam sintomas que sugerem a deficiência de água e de nutrientes, ou seja, desenvolvimento abaixo do normal, amarelecimento das folhas e murchamento. Estes sintomas se devem à formação de galhas (engrossamentos) e apodrecimento das raízes, que perdem a capacidade normal de absorver água e nutrientes do solo.

Controle

· Evitar os plantios em períodos quentes do ano, principalmente em terrenos sabidamente infestados;· Plantar em terreno sem o histórico da doença, ou seja, que não tenha sido plantado anteriormente com espécies suscetíveis;· Plantar mudas de boa qualidade, que não estejam infectadas pelo patógeno;· Fazer rotação de culturas com gramíneas;· Utilizar matéria orgânica no plantio, que favorece microorganismos antagônicos aos nematóides.

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Distúrbios fisiológicos e causados por artrópodes

Podridão-apical - Deficiência de cálcio

É causada pela deficiência de cálcio durante o desenvolvimento dos frutos. Ocorre em solos com baixo teor de cálcio ou em condições que dificultam a sua absorção, como irrigação deficiente e danos às raízes. A lesão inicia-se como uma área encharcada na região apical-lateral do fruto. À medida que o fruto cresce, a parte afetada vai se tornando amarronzada, endurecida, ressecada e deprimida, sendo comum o crescimento de fungos secundários na sua superfície. Frutos com podridão-apical amadurecem precocemente.

Controle

· Fazer adubação balanceada, baseada em análise do solo;· Manter as plantas bem irrigadas, evitando períodos com falta ou excesso de água.

Clorose-internerval - Deficiência de magnésio

Raramente ocorre em plantios bem conduzidos, quando a adubação é feita baseada em análise do solo. A calagem feita com calcário dolomítico normalmente evita este distúrbio porque contém magnésio. Os sintomas são mais visíveis após o início de frutificação, pois o magnésio é translocado para os frutos em desenvolvimento. As folhas mais velhas são as mais afetadas. O sintoma típico é a clorose entre as nervuras.

Controle

· Adubar corretamente as plantas, de acordo com análise do solo;· Controlar a água de irrigação, evitando falta ou excesso;· Utilizar calcário dolomítico na correção de acidez do solo;· Pulverizar com sulfato de magnésio na dosagem de 1,5%.

Clorose-das-folhas - Deficiência de nitrogênio

É de rara ocorrência em cultivos bem conduzidos, adubados corretamente. Como no caso do magnésio, deve-se levar em conta que este distúrbio pode ser devido a problemas fisiológicos ou patológicos no sistema radicular, que afetam a absorção de nutrientes pela planta, ou com o esgotamento deste nutriente em plantas com longo ciclo produtivo. Toda a folhagem fica amarelecida e a planta apresenta um desenvolvimento lento. A não ser por uma redução de tamanho, não se observam sintomas típicos de deficiência de nitrogênio nos frutos.

Controle

· Adubar as plantas com base em análise do solo, inclusive em cobertura;· Adotar medidas que mantenham o sistema radicular sadio;· Irrigar corretamente as plantas.

Fumagina

Ocorre em conseqüência da infestação de pulgões, moscas brancas ou cochonilhas, que secretam substância adocicada na superfície de folhas e frutos, onde se desenvolve um fungo de cor escura. Este fungo não infecta nenhum órgão da planta, mas dá um aspecto estranho e desagradável e pode afetar a capacidade de fotossíntese. O nome da doença é devido ao aspecto de fuligem na superfície das folhas, ramos e frutos.

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Controle

· Controlar insetos;· Evitar plantios adensados.

Doenças de pós-colheita

Doenças de pós-colheita em frutos de pimentas são provocadas principalmente pelo fungo Colletotrichum spp. (antracnose) e pela bactéria Erwinia spp. (podridão-mole) em períodos de alta umidade e no verão. As duas doenças podem provocar perdas significativas porque os frutos doentes são descartados durante a comercialização. Os fungos Geotrichum sp. e Rhizopus sp. Também podem causar podridão nos frutos principalmente após a ocorrência de ferimentos e danos mecânicos. O pedúnculo dos frutos pode ser atacado por fungos, como Alternaria alternata, Fusarium spp. e Cladosporium fulvum, e bactérias como Erwinia spp., comprometendo a qualidade visual dos frutos.

Controle

. Garantir, através de medidas de controle químico e/ou cultural, a sanidade dos frutos no período que antecede a colheita (caso seja feito o controle químico, o período de carência dos produtos deve ser rigorosamente observado);. Colher os frutos quando estes estiverem secos;. Colher, selecionar e transportar os frutos de maneira que ocorra o mínimo de ferimentos, que são as principais portas de entrada dos patógenos;. Usar contentores apropriados para colheita e transporte, fáceis de serem lavados e desinfestados, e que produzem menos injúrias nos frutos;. Quando os frutos são lavados, somente deve-se acondicioná-los nas embalagens depois que eles estiverem completamente secos;. A água usada para lavar os frutos deve ser isenta de agrotóxicos e de microorganismos;. Os frutos comercializados em sacos de plástico, bandejas de isopor recobertas por filme plástico de PVC ou caixas plásticas do tipo ‘PET’, ou outras embalagens fechadas devem ser mantidos sob refrigeração;. Frutos comercializados a granel devem ser expostos em ambiente bem ventilado, evitando bolsões de umidade, onde podem iniciar-se focos de podridões;. Frutos podres devem ser eliminados para evitar a contaminação de frutos vizinhos.

Pragas

Vários artrópodes estão associados com pimenteiras desde a sementeira até a colheita dos frutos e a maioria das espécies não causam dano econômico, sendo algumas delas benéficas, pois tratam-se de predadores e parasitóides de outras espécies de insetos.

As populações de insetos causam danos diretos ou indiretos às plantas quando fatores climáticos ou condições específicas do agroecossistema favorecem o crescimento destas populações, e aí sim, elas passam a causar danos econômicos que, para serem evitados, necessitam do uso de medidas de controle. A forma mais eficiente e econômica de prevenir os danos causados por insetos e ácaros é através do monitoramento da cultura, de modo que as populações possam ser detectadas no seu início. Isto pode ser feito através da determinação direta do número de insetos sobre as plantas ou de seus danos sobre estas, ou através de outros meios como a utilização de armadilhas adesivas para aprisionamento de moscas, pulgões e tripes, luz para a captura de mariposas ou água utilizada para coleta de pulgões. Com estas informações e outras sobre a biologia e ecologia das espécies pode-se estimar com bom nível de precisão as épocas mais favoráveis para sua ocorrência, freqüência e densidade populacional, tipo e importância econômica dos danos causados.

Ainda que em nossos sistemas de produção o controle químico, através da aplicação de inseticidas e acaricidas, seja o método empregado mais freqüentemente, observa-se que na maioria das vezes esta prática é desnecessária e, portanto antieconômica e danosa ao

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homens, animais domésticos e ao meio-ambiente. A obediência às recomendações listadas a seguir tornariam mais racional e eficiente o controle de pragas na cultura da pimenteira:

1. O controle de insetos e ácaros deve ser feito de maneira integrada, onde práticas como a destruição de restos culturais, eliminação de plantas hospedeiras silvestres ou voluntárias, rotação de culturas, utilização de cultivares resistentes, utilização de mudas sadias, além de mecanismos que assegurem a presença de inimigos naturais nas áreas cultivadas, sejam combinadas com pulverizações de agrotóxicos seletivos e devidamente registrados para a cultura;

2. Inseticidas e acaricidas jamais devem ser aplicados preventivamente, mas somente ao se notar a presença de danos na cultura ou aumento das populações das pragas;

3. Familiaridade com os equipamentos de pulverização, que devem ser de boa qualidade e sujeitos à manutenção periódica.

Principais insetos e ácaros que causam dano à pimenteira

Os artrópodes associados à cultura da pimenteira podem causar danos indiretos, como os pulgões e tripes, vetores de viroses, e danos diretos, como besouros, lagartas, minadores de folhas, percevejos, cochonilhas e ácaros.

 

. Vetores de viroses

. Pulgões

. Tripes

. Besouros

. Vaquinha

. Burrinho

. Lagartas

. Lagarta Rosca

. Brocas do ponteiro e dos frutos

. Minadores de folhas

. Mosca-do-mediterrâneo

. Ácaros

. Percevejos e cochonilhas

 

 Vetores de viroses

As principais espécies de vetores de viroses associadas com pimenteira são os pulgões Myzus persicae e Macrosiphum euphorbiae e os tripes Thrips tabaci e Frankliniella shulzei. Ainda que os danos diretos causados por estas espécies sejam de pouca importância, os danos indiretos causados através da inoculação de viroses têm importância econômica. Os pulgões, principalmente da espécie Myzus persicae, transmitem o vírus do mosaico do pimentão, enquanto que o vírus do vira-cabeça é transmitido pelas duas espécies de tripes.

Pulgões - Myzus persicae e Macrosiphum euphobiae

O pulgão verde M. persicae apresenta geralmente cor verde-clara quase transparente, havendo formas roxas ou amareladas. O abdômen e tórax têm aproximadamente a mesma largura até a base dos cornículos, que são ligeiramente mais largos na sua metade apical, enquanto a cauda é pequena.

O pulgão M. euphorbiae é o maior dos afídeos que infestam solanáceas. Apresenta cor verde-escura, embora haja referências a formas rosadas ou amarelas com manchas escuras no dorso. O corpo é alongado e as pernas e antenas são compridas. Os cornículos são

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cilíndricos e de comprimento aproximadamente igual a um terço do tamanho do corpo. A cauda é de tamanho igual a um terço do comprimento dos cornículos.

Embora M. euphorbiae possa transmitir o vírus do mosaico do pimentão, a espécie M. persicae é mais importante pelo maior número de plantas hospedeiras, pela grande capacidade de proliferação e pela disseminação de muitas viroses. As plantas de pimenteira infectadas pelo vírus do mosaico apresentam redução no crescimento, folhas encrespadas com acentuado mosaico, depreciação dos frutos e prejuízos na produção. Até 100% das plantas de uma área podem ser infectadas, se medidas de controle não forem implementadas previamente.

Controle

· Não se recomenda a utilização de inseticidas para o controle dos vetores do vírus do mosaico do pimentão, por ser absolutamente ineficiente para prevenir a disseminação da moléstia, uma vez que os pulgões transmitem o vírus com uma simples picada de prova;· Preparar as mudas em viveiros protegidos por telas contra pulgões é a melhor garantia de redução de perdas na produção causadas por viroses.

Tripes - Thrips tabaci, T. palmi e Frankliniella shulzei

Nestas espécies, as formas ápteras têm corpo alongado medindo aproximadamente 1 a 2 mm de comprimento e mostram coloração branco-hialino ou amarelo-claro. Os insetos podem ser encontrados na face inferior das folhas, brotações, primórdios florais e flores. Os tripes causam danos diretos às plantas pela sucção da seiva. Estes, porém são infinitamente menores do que aqueles produzidos indiretamente através da transmissão do vírus de vira-cabeça do tomateiro. Os tripes adquirem o vírus somente na fase larval, tornando-se capaz de transmiti-lo pelo resto da sua vida. Os sintomas mais comuns de vira-cabeça na cultura da pimenteira são: mosaico amarelo, faixa verde nas nervuras, anéis concêntricos, paralisação do crescimento e deformação dos frutos. As plantas infectadas na sementeira ou logo após o transplantio têm sua produção totalmente comprometida. Quando a contaminação ocorre tardiamente, a produção é menos afetada em quantidade e qualidade.

Os insetos, particularmente o T. palmi, causam danos diretos nas plantas, levando a seu ‘enfezamento’ e retardando seu desenvolvimento. As folhas mostram-se ‘lanhadas’, retorcidas, de tamanho reduzido e, sobretudo, disformes. Os frutos apresentam-se com manchas de escurecimento, cicatrizes de vários tipos, deformações diversas e redução de tamanho. As flores sofrem danos diretos que causam abortamento que implica na redução da produção de frutos por planta sendo associada à presença do tripes com a incidência de vírus do vira-cabeça.

Controle

· Produzir mudas em viveiros construídos em local afastado dos campos de produção e protegido por telas que evitem a entrada dos tripes;· Erradicar plantas hospedeiras nativas, solanáceas silvestres e solanáceas cultivadas voluntárias; · Evitar plantios novos em área adjacente a plantios mais antigos; · Incorporar ou queimar restos culturais;· Se registrado o produto, recomenda-se o uso de inseticida de solo somente na fase de sementeira, além de pulverizações periódicas com produtos de ação sistêmica ou de contato, na sementeira e na fase inicial da cultura;· Intensificar as pulverizações durante os períodos imediatamente anterior e posterior ao transplante, quando as plantas são mais susceptíveis ao vírus.

Besouros

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Diversos coleópteros danificam a pimenteira, como o burrinho, Epicauta suturalis (Coleoptera, Meloidae), crisomelídeos conhecidos como ‘vaquinha’ Diabrotica speciosa (Coleoptera, Chrysomelidae) que são as espécies mais importantes, além de ‘bicudos ou carunchos’ como Helipodus destructor e Faustinus cubae (Coleoptera, Curculionidae).

Vaquinha - Diabrotica speciosa

Os adultos têm 5-7 mm de comprimento, corpo ovalado e coloração geral verde brilhante, mostrando três manchas amarelo-alaranjadas em cada élitro. As fêmeas fazem a postura no solo, próximo ao caule das plantas. As larvas são brancas e possuem no dorso do último segmento abdominal uma placa quitinosa de cor marrom ou preta. Os danos causados pelas larvas às raízes de pimenteira são em geral pouco importantes. Os adultos, contudo, podem produzir injúrias sérias quando se alimentam das folhas, principalmente em plantas nas sementeiras ou recém-transplantadas para o campo.

Outros crisomelídeos como Systena tenuis, Epitrix parvula, Symbrotica bruchi e Diabrotica spp. são mencionados na literatura como pragas da pimenteira, principalmente das mudas recém-transplantadas, de cujas folhas se alimentam. Estes insetos perfuram as folhas causando atraso no desenvolvimento ou morte das plantas.

Burrinho - Epicauta suturalis

Os adultos são besouros polífagos, negros, revestidos de densa pilosidade cinza na cabeça, élitros e patas, medindo 8-17 mm de comprimento. As fêmeas ovipositam geralmente no solo, podendo alcançar 400-500 ovos durante sua existência. Os ovos eclodem após 10 dias, e deles originam-se larvas que são ativas, fortes e predadoras de outros insetos. O adulto é a única fase desta espécie que é prejudicial às plantas, porque se alimenta das folhas, ramos tenros e brotações da pimenteira e outras solanáceas.

Controle

· Práticas culturais como rotação de culturas, aração e gradagem do solo, pousio e queima dos restos culturais reduzem populações de burrinhos e vaquinhas;· Inseticidas com ação de contato e ingestão são em geral eficientes para controlar estes insetos.

Lagartas

Vários tipos de larvas de mariposas e borboletas estão associadas a solanáceas em geral, porém apenas as espécies Neoleucinodes elegantalis (Lepidoptera, Pyraustidae), Tuta absoluta e Gnorimoschema barsaniella (Lepidoptera, Gelechiidae), Agrotis ipsilon e Prodenia spp. (Lepidoptera, Noctuidae) causam danos de importância econômica, por serem mais abundantes e de distribuição generalizada nas culturas. Outras espécies como: Helicoverpa zea (Lepidoptera, Noctuidae), Manduca sexta (Lepidoptera, Sphingidae) e Mechanitis lysimnia (Lepidoptera, Danaidae) são de ocorrência ocasional e não merecem medidas de controle químico especiais.

Lagarta Rosca - Agrotis ipsilon e Prodenia spp.

Estas duas espécies são as mais comuns e os mais importantes tipos de lagartas denominadas ‘roscas’ que são encontradas nas lavouras. São confundidas erroneamente com algumas espécies do gênero Spodoptera, que também têm o hábito de se enroscarem

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ao serem tocadas. Os adultos da lagarta-rosca são mariposas grandes, de envergadura aproximada de 50 mm de comprimento e apresentam asas anteriores escuras e posteriores brancas ou cinzentas. As fêmeas podem fazer postura de até 1000 ovos, que são depositados em folhas e caules das plantas, isoladamente ou em massas. As lagartas possuem o hábito de cortar as plantas ao nível do solo durante a noite e, durante o dia, as lagartas podem ser encontradas a pouca profundidade do solo, bem próximo às plantas cortadas anteriormente.

O prejuízo causado pela lagarta-rosca tem como conseqüência a redução do número de plantas, sendo que em alguns casos há exigência de replantio em até 50% da área. O período em que este inseto torna-se mais prejudicial à pimenteira é logo após o transplantio, quando as plantas estão em fase de pegamento, o que as tornam mais sensíveis. No entanto, mesmo com o crescimento das plantas e, conseqüentemente, com o aumento do diâmetro e da dureza do caule, os danos da lagarta-rosca podem ser observados, através do corte dos ponteiros, que são tenros e não oferecem resistência às suas mandíbulas. Por isso, o acompanhamento da cultura é fundamental para se evitar prejuízos em épocas onde o replantio já não é mais viável.

Controle

· Fazer uma aração profunda três a seis semanas antes do plantio, mantendo neste período a área livre de ervas daninhas e restos culturais;· Após o transplante, procurar manter a cultura limpa, evitando-se o uso de cobertura morta, restos culturais ou restos de capinas na área da cultura, que servem de abrigo para as lagartas, protegendo-as de eventuais predadores ou outras medidas de controle;· Fazer as pulverizações com inseticidas ao entardecer, dirigidas à base e na projeção da copa das plantas.

Brocas do ponteiro e dos frutos da pimenteira - Tuta absoluta e Gnorimoschema barsaniella.

São insetos de ampla distribuição no Brasil e têm importância econômica em algumas áreas localizadas, onde foram constatadas perdas de até 66% dos frutos. As mariposas são muito pequenas, de cor cinza-escura e cabeça marrom-clara, cujo comprimento pode alcançar até 6 mm. A postura é feita no interior dos botões florais ou extremidade das brotações e ponteiro, isoladamente ou em grupos de dois e três ovos. As larvas alimentam-se do interior das hastes ou ponteiro, perfurando galerias, e também das flores e frutos, onde se alimentam das sementes. Há registro de que uma só larva pode danificar vários frutos, antes de iniciar a fase de pupa no solo. Os orifícios da saída das larvas servem como via de entrada para moscas diversas, as quais ovipositam no interior dos frutos, e cujas larvas favorecem o apodrecimento deles. Geralmente os frutos atacados pela praga desprendem-se das plantas, tão logo é iniciada a maturação e, em certos casos, há formação de uma camada bastante espessa de frutos caídos sob a copa das plantas. Os frutos danificados que conseguem manter-se na planta, mesmo maduros, ou aqueles que são colhidos enquanto colonizados pelas larvas ou moscas, concorrem para a deterioração de partidas inteiras de frutos colhidos e embalados, causando grandes prejuízos.

Controle

· Destruir os frutos encontrados sob as plantas para se evitar novas infestações;· A aplicação de inseticidas realizadas ao entardecer proporciona eficiente controle destas espécies, podendo reduzir os danos em até 80%;· Não utilizar inseticidas granulados sistêmicos no solo por ocasião do transplante visando o controle deste inseto (esta prática não apresenta bons resultados).

Minadores de folhas

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As espécies Liriomyza huidobrensis, Liriomyza sativae e Liriomyza spp. (Diptera, Agromyzidae) não são pragas em condições naturais ou onde hortaliças não são continuamente pulverizadas com pesticidas devido à ação eficiente de diversos parasitas e predadores. Estas espécies causam danos econômicos quando inseticidas são utilizados exageradamente, ocasionando assim a eliminação de seus inimigos naturais, as vespinhas e formigas. Os adultos são moscas muito pequenas e apresentam coloração geral amarelo-brilhante e parte do tórax de cor preta lustrosa. As fêmeas utilizam o ovipositor para auxiliar a alimentação e postura. A inserção do ovipositor no limbo foliar inicialmente libera o exsudato da planta do qual a fêmea se alimenta. Favorece também a postura e a proteção dos ovos de condições climáticas adversas e de inimigos naturais. Durante seu ciclo de vida as fêmeas colocam 300-700 ovos, viáveis na sua maioria.

As larvas completam seu ciclo entre 9-12 dias após a postura e, durante este período, escavam galerias no parênquima foliar, que causam a morte das folhas, reduzindo a capacidade da planta em proceder à fotossíntese. Larvas no terceiro instar e pupas medem até 3 mm de comprimento e são de cor amarela.

Controle

· Práticas culturais como o uso de ‘mulching’ e cobertura morta tendem a favorecer a ação de insetos como formigas, tesourinhas e besouros, que são eficientes predadores de pupas do minador de folhas;· Deve-se evitar a aplicação indiscriminada de inseticidas, principalmente aqueles de largo espectro, pois estes produtos eliminam os inimigos naturais do minador-de-folhas.

Mosca-do-mediterrâneo

A mosca-do-mediterrâneo Ceratitis capitata é praga de diversas fruteiras e em geral está associada à cultura do pimenta a partir do início da frutificação. Os ovos são colocados diretamente sobre os frutos e as larvas se alimentam de sementes e da polpa de frutos verdes e pequenos, até frutos grandes e maduros sendo comum encontrar até 12 larvas por fruto. A pupação ocorre em geral no solo. Frutos danificados pela mosca-do-mediterrâneo podem ser aproveitados para produção de páprica, pois não caem das plantas, desde que não contaminados por bactérias. Perdas atribuídas à associação do inseto com a bactéria são estimadas entre 12-18%.

Controle

· Usar armadilhas tipo Jackson com isca de feromônio sexual Trimedilure;· Utilizar isca tóxica com uma mistura de substância atrativa, como proteína hidrolisada 5% ou melaço 10%, com inseticidas.

Ácaros

Os ácaros geralmente causam prejuízos em duas situações: (1) a combinação de fatores climáticos como a alta temperatura, baixa umidade e ausência de chuvas favorecem o crescimento populacional; (2) o desequilíbrio ambiental provocado pelo uso constante de inseticidas e fungicidas nas lavouras, que favorecem o crescimento populacional da praga. As espécies economicamente mais importantes são o ácaro rajado Tetranyuchus urticae e os ácaros vermelhos T. evansi e T. marianae (Acarina, Tetranychidae); o ácaro branco Polyphagotarsonemus latus (Acarina, Tarsonemidae) e ácaro plano Brevipalpus phoenicis (Acarina, Tenuipalpidae).

Por serem muito pequenos, difíceis de se ver a olho nu, uma das maneiras de identificar a espécie é através da descrição da sintomatologia dos danos. O ácaro-rajado apresenta-se nas cores branca, verde, alaranjada e vermelha, e tem duas manchas pretas em seu dorso. O ácaro-vermelho possui coloração vermelha muito intensa, que o distingue facilmente dos

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outros ácaros. Ambos localizam-se na face inferior das folhas independente da idade destas, causando danos caracterizados pelos seguintes sintomas: 1) clorose generalizada das folhas, sendo que as nervuras mantêm-se mais verdes; 2) aparecimento de teia envolvendo uma ou mais folhas; 3) queda acentuada das folhas e morte das plantas. O ácaro-branco localiza-se preferencialmente na parte apical das plantas, nos brotos terminais. Seus danos tornam as folhas endurecidas (‘coriáceas’), com os bordos recurvados ventralmente e de coloração bronzeada. O ácaro-plano localiza-se nas hastes e folhas mais tenras da planta e têm coloração amarelada. As plantas podem apresentar aparência bronzeada ou manchas cloróticas nas folhas.

Controle

. É feito através da aplicação de acaricidas específicos (ácaros vermelho, rajado e branco) ou enxofre, no caso do ácaro plano.

Percevejos e cochonilhas

Algumas espécies de percevejos como Acroleucus coxalis (Hemiptera Lygaeidae), Phthia picta e Corecoris fuscus (Hemiptera, Coreidae), Corythaica cyathicollis, C. monacha e C. passiflora (Hemiptera, Tingidae); e as espécies de cochonilhas Orthezia insignis e O. praelonga (Homoptera, Coccidae), eventualmente causam danos à pimenteira.

Controle

. As aplicações de inseticidas para o controle de outras pragas de importância mantêm as populações de percevejos e cochonilhas abaixo do nível de dano econômico.

Colheita

Colheita

Seleção e Classificação

Embalagens para Pimentas in natura

Conservação Pós-Colheita

 Colheita

As pimentas apresentam diferentes pontos de colheita, de acordo com cada tipo, região de cultivo e época do ano. O ciclo da cultura e o período de colheita são afetados diretamente pelas condições climáticas e pelos tratos culturais, como adubação, irrigação, incidência de pragas e doenças, e a adoção de medidas de controle fitossanitário. De uma maneira geral, as primeiras colheitas são feitas a partir de 90 dias após a semeadura para as pimentas mais precoces, como a ‘Murupi’, e após 120 dias para as mais tardias. O ponto de colheita ideal das pimentas é determinado visualmente, quando os frutos atingem o tamanho máximo de crescimento e o formato típico de cada espécie, com a cor específica demandada pelo mercado: verde para a pimenta ‘Cambuci’; vermelho para a ‘Malagueta’; amarela ou vermelha para a pimenta ‘Bode’; verde-claro para a ‘De Cheiro’; amarela para a ‘Cumari do Pará’; e amarelo-claro para a ‘Murupi’.

As pimentas são mais difíceis de serem colhidas quando comparadas com pimentão devido ao menor tamanho dos frutos e a arquitetura da planta, principalmente aquelas de menor porte e com maior número de galhos. Para efetuar a colheita das pimentas com plantas de porte mais baixo, como a ‘Cumari do Pará’ e ‘Malagueta’, é necessário que os apanhadores fiquem agachados ou curvados, enquanto para aquelas pimentas com plantas mais altas, como a ‘Bode’, é possível fazer a colheita em pé, em uma posição mais confortável. A posição dos frutos das pimentas, seu tamanho e a resistência do pedúnculo também

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interferem na velocidade da colheita. As pimentas ‘Bode’ e ‘Dedo-de-Moça’ possuem frutos maiores e são mais fáceis de apanhar, sendo possível colher até 60kg/dia/operário, enquanto as pimentas ‘Malagueta’ e ‘Cumari do Pará’ possuem frutos menores, o que reduz a velocidade da colheita (aproximadamente 10kg/dia/operário).

As pimentas são colhidas manualmente, arrancando-se os frutos das plantas com ou sem os pedúnculos, dependendo do tipo de pimenta e o uso do produto. Cada colhedor utiliza um recipiente pequeno, como uma lata, prato ou bolsa para recolher os frutos das plantas. Um recipiente adequado para a colheita das pimentas pode ser feito a partir de garrafas plásticas de refrigerante de 2L do tipo ‘PET’, cortando-se o terço superior da garrafa e colocando-se um cordão em duas extremidades laterais para pendurar no pescoço. Além de ser um recipiente barato e fácil de ser feito, o operário fica com as duas mãos livres para executar a colheita, sendo possível segurar os ramos e destacar os frutos sem quebrar a planta. Depois de cheios, estes recipientes são vertidos em baldes ou latas maiores (5-10L) ou então em caixas localizadas estrategicamente próximas do local de colheita.

Quando as pimentas são destinadas especificamente para a indústria de conservas e molhos, podem ser apanhadas sem o pedúnculo diretamente no campo. Para aquelas pimentas com maior resistência do pedúnculo, como a ‘Bode’ e a ‘Dedo de Moça’, às vezes é necessária uma operação adicional no galpão de beneficiamento para retirar completamente o pedúnculo dos frutos destinados para conservas. As pimentas mais picantes (‘ardidas’), como a ‘Malagueta’, causam irritação e até queimaduras na pele das mãos dos colhedores devido aos teores mais elevados de capsaicina, o composto químico responsável pela ardência nas pimentas. Pessoas com pele muito sensível devem utilizar luvas ou outro material de proteção na colheita, embora causem desconforto pelo suor e dificultem a operação. Existem indicações de alguns produtos que podem aliviar as queimaduras e irritação causadas pela capsaicina, como álcool, água sanitária, água ou leite quentes. Aparentemente, a melhor indicação para reduzir os efeitos negativos das pimentas mais ardidas ou picantes é usar óleos vegetais (soja, canola, girassol), azeite de oliva, banha, manteiga ou margarina ou outros produtos a base de gordura, por que a capsaicina é uma substância lipossolúvel, ou seja, solúvel em óleo e outros tipos de gorduras. Este tratamento não elimina completamente o desconforto das queimaduras, mas pode reduzir parcialmente a concentração do composto das mãos. Os colhedores devem sempre se lembrar de não se coçarem ou tocar partes sensíveis do corpo, como olhos e boca, enquanto executam a colheita por conta das queimaduras e pela irritação causadas pelas pimentas, principalmente pela exposição contínua.

O horário ideal para a colheita das pimentas é nas horas menos quentes do dia, no início da manhã e no final da tarde. Quando não é possível colher tudo nestes dois períodos, deve-se armazenar os frutos colhidos sempre a sombra, em local arejado e fresco. A exposição direta ao sol aumenta a respiração e a perda de água, resultando em murcha e deterioração dos frutos. Deve-se também evitar a colheita de frutos molhados pela chuva ou orvalho porque tendem a apodrecer mais rapidamente durante o transporte e a comercialização. Restos de folhas e galhos também devem ser eliminados porque podem tendem a fermentar rapidamente, principalmente quando molhados ou úmidos, e assim aumentar a temperatura no interior das embalagens e reduzir a durabilidade pós-colheita dos frutos.

À medida que baldes, caixas e sacos com as pimentas no campo vão ficando cheios, devem ser transportados até pequenos galpões ou sob a sombra de árvores nas margens da plantação. Estes galpões podem ser construídos de modo simples, com uma cobertura de plástico preto recoberto com capim ou folhas de palmeira, servindo para proteger as pimentas do sol direto e da chuva. Posteriormente, os frutos são acondicionados em sacos plásticos grandes (30kg) ou caixas plásticas ou de madeira (15kg), ou outro tipo de embalagem demandado pelo mercado. Para as pimentas destinadas para a indústria de molhos e conservas, é possível retirar os pedúnculos dos frutos em galpões ao lado da lavoura e armazenar as pimentas diretamente em recipientes plásticos de 50L (‘bombas’ ou ‘bombonas’) com a calda apropriada, feita a base de vinagre ou outro tipo de álcool e sal. Este processo reduz problemas de conservação pós-colheita dos frutos de pimenta colhidos mantidos in natura.

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Seleção e Classificação

Ainda não existe nenhuma norma oficial de classificação e padronização para as pimentas no Brasil. Praticamente todas as operações usuais de beneficiamento são feitas a campo e executadas simultaneamente pelos colhedores. As pimentas para comercialização in natura do tipo ‘Dedo-de-Moça’ devem ser colhidas sempre com o pedúnculo porque melhora a aparência e os frutos tendem a se conservar melhor, o que não se aplica àquelas pimentas que possuem frutos que se destacam facilmente da planta, como ‘Cumari do Pará’, ‘Malagueta’ e ‘Cumari Vermelha (= ‘Passarinho’). Na medida do possível, o colhedor deve eliminar os frutos doentes, brocados, murchos, passados, desuniformes e mal-formados e selecionar na planta somente aqueles bem desenvolvidos e de coloração típica de cada tipo de pimenta. Para aquelas pimentas com frutos pequenos, deve-se tomar cuidado para não colher ramos inteiros com as folhas, evitando-se o contato com o solo para não sujar e contaminar os frutos. Depois de colhidas, pimentas de frutos pequenos, como ‘Cumari’, ‘Bode’ e ‘Malagueta’, devem ser manipuladas com cuidado para evitar danos mecânicos aos frutos, como cortes, abrasões e outros tipos de ferimentos.

Embalagens para Pimentas in natura

São usadas diferentes embalagens para a comercialização de pimentas no Brasil, de acordo com o tamanho e tipo de fruto, região e demanda do mercado. Na CEASA de Goiânia-GO, as pimentas ‘Cumari do Pará’, ‘Malagueta’, ‘Bode Vermelha’, ‘Bode Amarela’ e ‘De Cheiro’ são acondicionadas em sacos plásticos grandes de 30kg. Na CEAGESP em São Paulo-SP, as pimentas com frutos maiores, como ‘Cambuci’, ‘Dedo-de-Moça’ e pimenta doce do tipo americana, são comercializadas em caixas plásticas ou de madeira do tipo ‘K’ (12-15kg); as pimentas com frutos menores, como ‘Malagueta’ e ‘Cumari do Pará’ também são acondicionadas em caixas de papelão (1-2kg) e sacos plásticos (1, 2, 5 ou 10kg). Em todos os mercados atacadistas, as pimentas também são comercializadas em quantidades menores, utilizando-se como unidade copos de vidro ou latas de 250 a 1000ml de capacidade, de acordo com a demanda do cliente.

No varejo, as pimentas são comercializadas de diferentes formas, sendo a mais comum a granel, e os consumidores selecionam manualmente a qualidade e a quantidade a ser comprada. Nas feiras-livres e mercados menores, a medida adotada é um copo de vidro ou lata (250-300ml), sendo possível mesclar diferentes tipos de pimentas por um mesmo preço. Em supermercados e sacolões, as pimentas também são comercializadas em sacos plásticos perfurados de 50g do produto ao preço aproximado de R$ 1,00 (em Brasília, nov/2003), bandejas de isopor recobertas com filmes de PVC com 50-100g e caixinhas do tipo PET de 250ml de capacidade. As embalagens com filmes ou sacos plásticos são as melhores opções de venda porque reduzem a perda de matéria fresca e mantêm a coloração do pedúnculo e dos frutos por um período de tempo maior, principalmente quando mantidas sob refrigeração.

Conservação Pós-Colheita

Não existem informações disponíveis sobre a temperatura ideal de armazenamento para cada um dos tipos de pimenta cultivados no Brasil. As pimentas são frutos tropicais e por esta razão as temperaturas entre 7oC e 12oC são as mais indicadas para reduzir a respiração e outros processos fisiológicos. Os maiores problemas das pimentas destinadas ao consumo in natura são a rápida perda de água dos frutos, que resulta em murchamento, e a descoloração do pedúnculo, que perde sua coloração verde característica. Estes dois problemas reduzem o valor de mercado do produto e podem ser motivos de descarte na comercialização. O armazenamento em temperaturas inferiores a 7oC pode causar injúria por frio (‘chilling’) nos frutos, formando lesões deprimidas. Para evitar a perda acentuada de água, é recomendável deixar os frutos com o pedúnculo e associar a refrigeração ao uso de embalagens plásticas, que mantêm a umidade elevada. No caso de usar embalagens plásticas (sacos de polietileno, filme de PVC ou caixinha tipo PET) e comercializar as pimentas em temperatura ambiente (23-26oC), deve-se fazer alguns furos nas embalagens

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para evitar a condensação de água no seu interior ou sobre os frutos de pimenta. Nesta condição pode ocorrer o desenvolvimento de fungos no pedúnculo e na superfície dos frutos após 2-3 dias, e comprometer a aparência dos frutos.

Os produtos embalados devem ter uma etiqueta ou rótulo identificador com algumas informações básicas, como tipo de pimenta, data da embalagem e prazo de validade, e nome e endereço do embalador. O prazo de validade varia de acordo com o tipo de pimenta, embalagem utilizada e principalmente temperatura, sendo 5 dias para pimenta De Cheiro e Bode em sacos plásticos perfurados mantidos a 23-25oC e até 10 dias para frutos embalados em filmes de PVC mantidos a 12-15oC.. Em experimentos conduzidos na Embrapa Hortaliças, as pimentas ‘Malagueta’, ‘De Cheiro’, ‘Cumari do Pará’, ‘Bode Vermelha’, ‘Bode Amarela’ e ‘Dedo de Moça’ foram conservadas durante 30 dias a 8oC acondicionadas em bandejas de isopor envoltas por filme de PVC (>90% UR). Na Universidade Federal de Viçosa, determinou-se que a pimenta ‘Malagueta’ pode ser mantida por até 30 dias a 12oC e 90% UR

As pimentas in natura possuem um mercado relativamente pequeno quando comparadas com outras hortaliças, principalmente porque são usadas como temperos, em pequenas quantidades. Ao mesmo tempo, a demanda é relativamente constante e o mercado cativo. Por estas razões, é importante oferecer um produto de alta qualidade ao consumidor, com frutos de tamanho e coloração padronizados e isento de resíduos de agrotóxicos.

Comercialização  

Mercado para pimentas

O mercado para as pimentas é muito segmentado e diverso, devido a grande variedade de produtos e subprodutos, usos e formas de consumo. Este mercado pode ser dividido em dois grandes grupos: o consumo in natura, geralmente em pequenas porções, e as formas processadas, que incluem molhos, conservas, flocos desidratados e pó como ingrediente de alimentos processados.

O mercado para as pimentas in natura é fortemente influenciado pelos hábitos alimentares de cada região do Brasil, e são parte importante de vários pratos tradicionais. Os estados da região Sul são provavelmente os que menos consumem pimentas in natura no País, havendo uma preferência pelas formas processadas, como molhos, conservas e pimentas desidratadas. Na região Sudeste consome-se principalmente a pimenta doce do tipo americana, pimenta ‘Cambuci’, ‘Malagueta’ e ‘Cumari Vermelha’. Na região Nordeste, predominam as pimentas ‘Malagueta’ e ‘De Cheiro’. Na região Norte, as pimentas mais apreciadas são a ‘Murupi’, ‘Cumari do Pará’ e a ‘De Cheiro’; na região Centro-Oeste, tradicionalmente são cultivadas e consumidas as pimentas ‘Bode’, ‘Malagueta’, ‘Cumari do Pará’, ‘Dedo de Moça’ e mais recentemente a ‘De Cheiro’, anteriormente importada do Pará e atualmente já cultivada em Goiás.

O mercado para as pimentas nas formas processadas é muito diferente das pimentas comercializadas in natura pela variedade de produtos e subprodutos que utilizam as pimentas como matéria-prima. O mercado de pimentas processadas é explorado por empresas familiares ou de pequeno porte; empresas de porte médio, especializadas ou não em derivados de Capsicum; e grandes empresas processadoras, geralmente especializadas em determinados tipos de produtos e que visam mais a exportação. Existe um grande número de pequenos processadores familiares ou de pequeno porte que fazem conservas de pimentas em garrafas de vidro com 150ml, praticamente um padrão de mercado, e que comercializam diretamente para os consumidores em feiras-livres, mercados de beira de estrada, pequenos estabelecimentos comerciais e eventualmente atacadistas. As empresas de porte médio, em geral, têm vários tipos de produtos, como conservas, molhos, geléias, conservas ornamentais, entre outros, que são comercializadas em supermercados, mercearias especializadas, lojas de conveniência e de produtos importados, ‘delikatessens’ e até em lojas de decoração. As grandes empresas são especializadas no processamento de determinados produtos, como páprica e pasta de pimenta. A pimenta para a fabricação de páprica (pimenta doce vermelha desidratada na forma de pó) é cultivada e processada por uma grande empresa na região do cerrado mineiro que exporta para a Europa grande parte

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de sua produção. O cultivo da pimenta para páprica é feito pela própria empresa e também por produtores cooperados, sendo que em 2003 foram cultivados 1.600ha na região noroeste de Minas Gerais com cultivares próprias fornecidas pela empresa. Situação semelhante ocorre no estado do Ceará, onde uma empresa iniciou o cultivo da pimenta do tipo ‘Tabasco’, semelhante à ‘Malagueta’, para exportação na forma de pasta. O plantio da ‘Tabasco’ é feito por pequenos produtores em áreas irrigadas, sendo cultivados anualmente 400ha (dados de 2003) com este tipo de pimenta no estado.

O mercado para as pimentas no Brasil sempre foi considerado como secundário em relação às outras hortaliças, provavelmente devido ao baixo consumo e ao pequeno volume comercializado. Este cenário está modificando-se rapidamente pela exploração de novos tipos de pimentas e o desenvolvimento de novos produtos, com grande valor agregado, como conservas ornamentais, geléias especiais e outras formas processadas. Os empreendedores rurais e o segmento da agroindústria podem descobrir novas oportunidades de negócios pela prospecção de mercado e a exploração de ‘nichos’ especializados, aproveitando o bom momento das pimentas na mídia, com uma maior divulgação de suas propriedades medicinais e desfazendo mitos de que pimenta faz mal à saúde. O lançamento de novos produtos a base de pimentas deve ser acompanhada de esclarecimentos aos consumidores, ressaltando-se as características diferenciais em relação aos produtos tradicionais, tanto para as formas processadas como para novas cultivares e tipos para consumo fresco. Exemplos de nichos de mercado para consumo in natura: aumento da oferta e divulgação das qualidades das pimentas do tipo americano, de sabor mais suave e de melhor digestão; uso de pimentas menos ardidas e mais aromáticas, como a ‘De Cheiro’ e ‘Biquinho’; cultivo de pimentas com frutos de diversas cores, formas e de tamanho reduzido para a confecção de conservas ornamentais. Na parte de processamento, desenvolvimento de molhos com diferentes graus de picância ou ardume (teor de capsaicina) e com sabores diferenciados, similar ao ‘Tabasco’ importado dos Estados Unidos; avaliação de novos tipos varietais para uso na indústria de processamento, como pimentas em flocos desidratados, conservas e geléias, entre outros.

Comercialização

A comercialização das pimentas depende do mercado de destino, que determina sua forma de apresentação, quantidade e preço. Na forma in natura, as pimentas são comercializadas como as demais hortaliças, através das centrais de abastecimento (CEASAs), que agrupa e redistribui o produto para o varejo ou para grandes consumidores, como indústrias e restaurantes. Outras formas de comercialização incluem a venda para intermediários, que compram o produto na roça e se responsabilizam pelo transporte e pela venda, e para distribuidores e empacotadores, que reúnem diferentes tipos de pimentas e as embalam com marca própria e depois revendem para a rede de varejo. Algumas das maiores redes de supermercados têm suas próprias centrais de distribuição de produtos hortícolas e comercializam com suas marcas, e neste caso podem adquirir as pimentas diretamente de produtores, fornecedores credenciados ou atacadistas.

Na maioria dos mercados atacadistas, as cotações de preços para as pimentas não distingue os tipos, ou então agrupa em classes genéricas, como ‘pimenta’ ou ‘pimenta vermelha ou ardida’. A CEASA de Goiânia é a única a discriminar todos os tipos de pimentas e fazer as cotações separadamente, talvez pela importância deste produto para a região. Neste mercado, as unidades para a comercialização e cotação média de preço em novembro de 2003 eram as seguintes: pimenta ‘Bode’, R$ 1,00 a lata com 500g; pimenta ‘Cumari’, R$ 2,00 a lata com 500g; pimenta ‘Malagueta’, R$ 4,00 a lata com 700g; e a pimenta ‘De Cheiro’ R$ 3,00/kg. Na CEAGESP, em São Paulo-SP, as cotações de preços são feitas diariamente para três tipos de pimentas, todas comercializadas em caixas do tipo ‘K’ de 12kg.

Os preços médios em novembro/2003 neste mercado eram os seguintes: ‘Cambuci’ (R$ 12,30/cx. ‘K’), pimenta verde americana (R$ 13,10/cx. ‘K’) e pimenta vermelha (R$ 29,55/cx. ‘K’). A pimenta vermelha provavelmente refere-se à ‘Dedo-de-Moça’ ou ‘Malagueta’, que também são comercializadas em caixas de papelão (1-5kg) e em bandejas de isopor de 100g. Na CEASA de Campinas-SP, as cotações de preços são feitas para três tipos de pimentas (preço médio de novembro/2003): pimenta verde americana, R$ 15,00 a caixa ‘K’ com 11kg; ‘Dedo-de-Moça’, R$ R$ 40,00 a caixa ‘K’ com 14kg; e a ‘Cambuci’, R$ 11,00 a caixa ‘K’ com 10kg. Na CEASA do Rio de Janeiro são cotados diariamente três tipos de

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pimenta: ‘Malagueta’, com preços variando de R$ 4,00/kg (maio a julho/2003) a R$ 20,00/kg (agosto/2003); os preços da pimenta ‘Dedo-de-Moça’ (neste mercado conhecida como ‘Caiena’ ou ‘Cayenne’) foram bem estáveis durante o ano, e variaram de R$ 4,00/kg (junho-julho/2003) a R$ 5,00/kg (janeiro a maio/2003), sem cotações no período de agosto a novembro; a pimenta ‘De Cheiro’ apresentou menores preços nos meses de junho-julho/2003 (R$ 5,00/kg) e mais altos em janeiro a maio/2003 (R$ 8,00 a R$ 10,00/kg).

Nas CEASAs de Fortaleza-CE, Porto Alegre-RS, Curitiba-PR e Brasília-DF, os preços são cotados para o produto ‘pimenta’, sem explicitar o tipo ou variedade. Nestes mercados, os preços em novembro/2003 variavam de R$ 2,00 a R$ 4,35/kg.

Variação Estacional de Preços

As cotações de preço das pimentas nos mercados atacadistas e varejistas seguem as mesmas tendências das demais hortaliças. As oscilações de preços dependem da oferta e procura do produto, principalmente da ocorrência de fatores que afetam a produção, como oscilações do clima, incidência de pragas e doenças, disponibilidade e custo das sementes, entre outros. De um modo geral, as pimentas não estão listadas entre os produtos hortícolas contemplados nos calendários de comercialização, com exceção das CEASA de Goiânia-GO e Campinas-SP. O período de menor oferta de pimentas e alta de preços no atacado corresponde aos meses de julho, agosto e setembro em Goiás e aos meses de fevereiro, maio, julho, setembro, novembro e dezembro na CEASA de Campinas.

De uma maneira geral, com as temperaturas mais baixas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste durante os meses de inverno, existe uma tendência de redução na produção de pimentas, plantas típicas de clima quente. Em São Paulo, existe uma maior demanda por pimentas na época de inverno, porque são usadas em sopas, caldos quentes e outros pratos típicos da estação.

Consumo

 Desidratação

Molhos e conservas

Usos e Modos de Consumo

Os diferentes tipos de pimentas têm várias formas de preparo e modos de consumo, sendo uma das hortaliças mais versáteis para a indústria de alimentos. As pimentas doces e picantes podem ser processadas na forma de pó, flocos, picles, escabeches, molhos líquidos, conservas de frutos inteiros, geléias etc. As pimentas picantes ainda são utilizadas pela indústria farmacêutica, na composição de pomadas para artrose e artrite, no famoso emplastro Sabiá, e também pela indústria de cosméticos, na composição de xampus anti-quedas e anti-caspas. A capsaicina, substância responsável pela pungência dos frutos, pode ainda ser utilizada como arma na forma de ‘spray’de pimenta.

Os produtos do processamento de pimentas doces e picantes podem ser divididos em três tipos, de acordo com sua utilização na indústria de alimentos: (1) flavorizantes: frutos processados ainda verdes ou maduros, que dão apenas sabor e aroma ao alimento, sendo a coloração uma característica secundária; (2) corantes: sua função principal é dar cor aos produtos, como a páprica vermelha, que pode ainda ser suave ou picante; (3) pimentas picantes: usadas para a confecção de molhos em pastas (ou líquidos) ou em conservas, como os tipos ‘Malagueta’ e ‘Jalapeño’.

Desidratação

A desidratação é um dos métodos mais antigos de processamento de alimentos, e tem como vantagem a conservação de características organolépticas e dos valores energéticos dos produtos. Com a crescente preferência por parte dos consumidores por produtos

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naturais, os vegetais desidratados (frutos ou hortaliças) têm desempenhado um papel importante no sentido de satisfazer estas necessidades.

Entre os condimentos, o pimentão ou a pimenta doce maduros tem ganho importância na indústria de processamento de alimentos devido a presença de um concentrado de pigmentos naturais na polpa de seus frutos vermelhos e maduros. A coloração vermelha dos frutos é devida a presença de carotenóides oxigenados (xantofilas), principalmente capsorubina e capsantina, que correspondem a 65-80% da cor total dos frutos maduros. Tais pigmentos têm sido largamente utilizados como corantes em diversas linhas de produtos processados como molhos, sopas em pó de preparo instantâneo, embutidos de carne, principalmente salsicha e salame, além de corante em ração de aves.

A área cultivada no Brasil com pimenta doce para processamento industrial na forma de pó (páprica), ainda é muito pequena (cerca de 2.000 ha) e boa parte da produção é exportada. O mercado externo é extremamente exigente quanto a qualidade do produto. Para atender esta demanda é essencial a escolha de uma cultivar adequada, com polpa grossa, alto teor de pigmentos, elevado rendimento industrial e que produza um pó com grande estabilidade. Quanto ao mercado interno, o consumo de pimentão na forma desidratada basicamente restringe-se à indústria de alimentos como condimento/tempero em sopas de preparo instantâneo e em molhos, além da venda a varejo, onde é comercializada em pequenos frascos como tempero. Grande parte da população brasileira desconhece a existência e a composição da páprica e sua utilidade na culinária, mas existe um grande potencial para uma maior popularização deste condimento.

Os frutos de pimentas picantes podem ser desidratados e comercializados inteiros, em flocos com as sementes (pimenta calabresa) e em pó (páprica picante - condimento). A pimenta 'calabresa', por exemplo, é um produto do processamento de pimentas do tipo 'Dedo-de-Moça' e 'Chifre-de-Veado', também denominadas de pimentas vermelhas, que caracterizam-se pela espessura fina da polpa e a presença de um grande número de sementes. Estas características são importantes porque permitem uma desidratação mais rápida dos frutos e maior rendimento, respectivamente, interferindo na qualidade do produto final e custo de produção. O processamento consiste de duas etapas principais: a moagem e a secagem. Nas pimentas desidratadas, a coloração, a pungência e a ausência de contaminantes são especificações importantes para a comercialização. Alternativas simples e econômicas, como o uso de secadores de frutas e hortaliças de pequeno porte evitarão não só a influência de oscilações climáticas (em secagem feitas ao sol), como também a contaminação do produto por fatores externos durante a secagem natural.

Molhos e conservas

É crescente também o mercado para molhos de pimentas em conserva ou líquido, tanto para indústrias de grande porte, quanto para indústrias caseiras. Existe uma grande diversidade de tipos varietais, alguns com múltiplos usos e outros de uso mais específico. Frutos de pimenta 'Malagueta', 'De Cheiro', 'Bode Amarela', 'Bode Vermelha', 'Cumari Vermelha' e 'Cumari do Pará' são usados principalmente em conservas de frutos inteiros. As pimentas do tipo 'Jalapeño' e 'Cayenne' são utilizadas para fabricação de molhos líquidos porque têm frutos maiores, com polpas mais espessas e de coloração vermelha. Frutos verdes de pimenta 'Jalapeño' também são utilizados em conservas e em escabeches (cortados em pedaços).

As pequenas e médias indústrias processadoras de pimentas são carentes de parâmetros químicos, físicos e microbiológicos de controle de qualidade. Os principais pontos de estrangulamento são a falta de qualidade das matérias-primas utilizadas, a ausência no mercado de equipamentos adequados para a produção em pequena escala, higiene durante o processamento e a necessidade de adequação dos processos de produção de conservas, molhos e outros produtos a base de pimenta.

Para o preparo de conservas e de molhos líquidos, é importante utilizar matéria-prima de ótima qualidade e sem danos e submeter o produto ao processo de pasteurização. As conservas e os molhos devem ser armazenados ou conservados em vidros esterilizados,

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identificados com etiquetas com informações básicas sobre o produto, como marca comercial, tipo de pimenta, nome e endereço do fabricante, data de fabricação e validade, entre outros.

 Processamento

Colheita

Seleção e Classificação

Embalagens para Pimentas in natura

Conservação Pós-Colheita

 

Colheita

As pimentas apresentam diferentes pontos de colheita, de acordo com cada tipo, região de cultivo e época do ano. O ciclo da cultura e o período de colheita são afetados diretamente pelas condições climáticas e pelos tratos culturais, como adubação, irrigação, incidência de pragas e doenças, e a adoção de medidas de controle fitossanitário. De uma maneira geral, as primeiras colheitas são feitas a partir de 90 dias após a semeadura para as pimentas mais precoces, como a ‘Murupi’, e após 120 dias para as mais tardias. O ponto de colheita ideal das pimentas é determinado visualmente, quando os frutos atingem o tamanho máximo de crescimento e o formato típico de cada espécie, com a cor específica demandada pelo mercado: verde para a pimenta ‘Cambuci’; vermelho para a ‘Malagueta’; amarela ou vermelha para a pimenta ‘Bode’; verde-claro para a ‘De Cheiro’; amarela para a ‘Cumari do Pará’; e amarelo-claro para a ‘Murupi’.

As pimentas são mais difíceis de serem colhidas quando comparadas com pimentão devido ao menor tamanho dos frutos e a arquitetura da planta, principalmente aquelas de menor porte e com maior número de galhos. Para efetuar a colheita das pimentas com plantas de porte mais baixo, como a ‘Cumari do Pará’ e ‘Malagueta’, é necessário que os apanhadores fiquem agachados ou curvados, enquanto para aquelas pimentas com plantas mais altas, como a ‘Bode’, é possível fazer a colheita em pé, em uma posição mais confortável. A posição dos frutos das pimentas, seu tamanho e a resistência do pedúnculo também interferem na velocidade da colheita. As pimentas ‘Bode’ e ‘Dedo-de-Moça’ possuem frutos maiores e são mais fáceis de apanhar, sendo possível colher até 60kg/dia/operário, enquanto as pimentas ‘Malagueta’ e ‘Cumari do Pará’ possuem frutos menores, o que reduz a velocidade da colheita (aproximadamente 10kg/dia/operário).

As pimentas são colhidas manualmente, arrancando-se os frutos das plantas com ou sem os pedúnculos, dependendo do tipo de pimenta e o uso do produto. Cada colhedor utiliza um recipiente pequeno, como uma lata, prato ou bolsa para recolher os frutos das plantas. Um recipiente adequado para a colheita das pimentas pode ser feito a partir de garrafas plásticas de refrigerante de 2L do tipo ‘PET’, cortando-se o terço superior da garrafa e colocando-se um cordão em duas extremidades laterais para pendurar no pescoço. Além de ser um recipiente barato e fácil de ser feito, o operário fica com as duas mãos livres para executar a colheita, sendo possível segurar os ramos e destacar os frutos sem quebrar a planta. Depois de cheios, estes recipientes são vertidos em baldes ou latas maiores (5-10L) ou então em caixas localizadas estrategicamente próximas do local de colheita.

Quando as pimentas são destinadas especificamente para a indústria de conservas e molhos, podem ser apanhadas sem o pedúnculo diretamente no campo. Para aquelas pimentas com maior resistência do pedúnculo, como a ‘Bode’ e a ‘Dedo de Moça’, às vezes é necessária uma operação adicional no galpão de beneficiamento para retirar completamente o pedúnculo dos frutos destinados para conservas. As pimentas mais picantes (‘ardidas’), como a ‘Malagueta’, causam irritação e até queimaduras na pele das mãos dos colhedores devido aos teores mais elevados de capsaicina, o composto químico responsável pela ardência nas pimentas. Pessoas com pele muito sensível devem utilizar

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luvas ou outro material de proteção na colheita, embora causem desconforto pelo suor e dificultem a operação. Existem indicações de alguns produtos que podem aliviar as queimaduras e irritação causadas pela capsaicina, como álcool, água sanitária, água ou leite quentes. Aparentemente, a melhor indicação para reduzir os efeitos negativos das pimentas mais ardidas ou picantes é usar óleos vegetais (soja, canola, girassol), azeite de oliva, banha, manteiga ou margarina ou outros produtos a base de gordura, por que a capsaicina é uma substância lipossolúvel, ou seja, solúvel em óleo e outros tipos de gorduras. Este tratamento não elimina completamente o desconforto das queimaduras, mas pode reduzir parcialmente a concentração do composto das mãos. Os colhedores devem sempre se lembrar de não se coçarem ou tocar partes sensíveis do corpo, como olhos e boca, enquanto executam a colheita por conta das queimaduras e pela irritação causadas pelas pimentas, principalmente pela exposição contínua.

O horário ideal para a colheita das pimentas é nas horas menos quentes do dia, no início da manhã e no final da tarde. Quando não é possível colher tudo nestes dois períodos, deve-se armazenar os frutos colhidos sempre a sombra, em local arejado e fresco. A exposição direta ao sol aumenta a respiração e a perda de água, resultando em murcha e deterioração dos frutos. Deve-se também evitar a colheita de frutos molhados pela chuva ou orvalho porque tendem a apodrecer mais rapidamente durante o transporte e a comercialização. Restos de folhas e galhos também devem ser eliminados porque podem tendem a fermentar rapidamente, principalmente quando molhados ou úmidos, e assim aumentar a temperatura no interior das embalagens e reduzir a durabilidade pós-colheita dos frutos.

À medida que baldes, caixas e sacos com as pimentas no campo vão ficando cheios, devem ser transportados até pequenos galpões ou sob a sombra de árvores nas margens da plantação. Estes galpões podem ser construídos de modo simples, com uma cobertura de plástico preto recoberto com capim ou folhas de palmeira, servindo para proteger as pimentas do sol direto e da chuva. Posteriormente, os frutos são acondicionados em sacos plásticos grandes (30kg) ou caixas plásticas ou de madeira (15kg), ou outro tipo de embalagem demandado pelo mercado. Para as pimentas destinadas para a indústria de molhos e conservas, é possível retirar os pedúnculos dos frutos em galpões ao lado da lavoura e armazenar as pimentas diretamente em recipientes plásticos de 50L (‘bombas’ ou ‘bombonas’) com a calda apropriada, feita a base de vinagre ou outro tipo de álcool e sal. Este processo reduz problemas de conservação pós-colheita dos frutos de pimenta colhidos mantidos in natura.

Seleção e Classificação

Ainda não existe nenhuma norma oficial de classificação e padronização para as pimentas no Brasil. Praticamente todas as operações usuais de beneficiamento são feitas a campo e executadas simultaneamente pelos colhedores. As pimentas para comercialização in natura do tipo ‘Dedo-de-Moça’ devem ser colhidas sempre com o pedúnculo porque melhora a aparência e os frutos tendem a se conservar melhor, o que não se aplica àquelas pimentas que possuem frutos que se destacam facilmente da planta, como ‘Cumari do Pará’, ‘Malagueta’ e ‘Cumari Vermelha (= ‘Passarinho’). Na medida do possível, o colhedor deve eliminar os frutos doentes, brocados, murchos, passados, desuniformes e mal-formados e selecionar na planta somente aqueles bem desenvolvidos e de coloração típica de cada tipo de pimenta. Para aquelas pimentas com frutos pequenos, deve-se tomar cuidado para não colher ramos inteiros com as folhas, evitando-se o contato com o solo para não sujar e contaminar os frutos. Depois de colhidas, pimentas de frutos pequenos, como ‘Cumari’, ‘Bode’ e ‘Malagueta’, devem ser manipuladas com cuidado para evitar danos mecânicos aos frutos, como cortes, abrasões e outros tipos de ferimentos.

Embalagens para Pimentas in natura

São usadas diferentes embalagens para a comercialização de pimentas no Brasil, de acordo com o tamanho e tipo de fruto, região e demanda do mercado. Na CEASA de Goiânia-GO, as pimentas ‘Cumari do Pará’, ‘Malagueta’, ‘Bode Vermelha’, ‘Bode Amarela’ e ‘De Cheiro’ são

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acondicionadas em sacos plásticos grandes de 30kg. Na CEAGESP em São Paulo-SP, as pimentas com frutos maiores, como ‘Cambuci’, ‘Dedo-de-Moça’ e pimenta doce do tipo americana, são comercializadas em caixas plásticas ou de madeira do tipo ‘K’ (12-15kg); as pimentas com frutos menores, como ‘Malagueta’ e ‘Cumari do Pará’ também são acondicionadas em caixas de papelão (1-2kg) e sacos plásticos (1, 2, 5 ou 10kg). Em todos os mercados atacadistas, as pimentas também são comercializadas em quantidades menores, utilizando-se como unidade copos de vidro ou latas de 250 a 1000ml de capacidade, de acordo com a demanda do cliente.

No varejo, as pimentas são comercializadas de diferentes formas, sendo a mais comum a granel, e os consumidores selecionam manualmente a qualidade e a quantidade a ser comprada. Nas feiras-livres e mercados menores, a medida adotada é um copo de vidro ou lata (250-300ml), sendo possível mesclar diferentes tipos de pimentas por um mesmo preço. Em supermercados e sacolões, as pimentas também são comercializadas em sacos plásticos perfurados de 50g do produto ao preço aproximado de R$ 1,00 (em Brasília, nov/2003), bandejas de isopor recobertas com filmes de PVC com 50-100g e caixinhas do tipo PET de 250ml de capacidade. As embalagens com filmes ou sacos plásticos são as melhores opções de venda porque reduzem a perda de matéria fresca e mantêm a coloração do pedúnculo e dos frutos por um período de tempo maior, principalmente quando mantidas sob refrigeração.

Conservação Pós-Colheita

Não existem informações disponíveis sobre a temperatura ideal de armazenamento para cada um dos tipos de pimenta cultivados no Brasil. As pimentas são frutos tropicais e por esta razão as temperaturas entre 7oC e 12oC são as mais indicadas para reduzir a respiração e outros processos fisiológicos. Os maiores problemas das pimentas destinadas ao consumo in natura são a rápida perda de água dos frutos, que resulta em murchamento, e a descoloração do pedúnculo, que perde sua coloração verde característica. Estes dois problemas reduzem o valor de mercado do produto e podem ser motivos de descarte na comercialização. O armazenamento em temperaturas inferiores a 7oC pode causar injúria por frio (‘chilling’) nos frutos, formando lesões deprimidas. Para evitar a perda acentuada de água, é recomendável deixar os frutos com o pedúnculo e associar a refrigeração ao uso de embalagens plásticas, que mantêm a umidade elevada. No caso de usar embalagens plásticas (sacos de polietileno, filme de PVC ou caixinha tipo PET) e comercializar as pimentas em temperatura ambiente (23-26oC), deve-se fazer alguns furos nas embalagens para evitar a condensação de água no seu interior ou sobre os frutos de pimenta. Nesta condição pode ocorrer o desenvolvimento de fungos no pedúnculo e na superfície dos frutos após 2-3 dias, e comprometer a aparência dos frutos.

Os produtos embalados devem ter uma etiqueta ou rótulo identificador com algumas informações básicas, como tipo de pimenta, data da embalagem e prazo de validade, e nome e endereço do embalador. O prazo de validade varia de acordo com o tipo de pimenta, embalagem utilizada e principalmente temperatura, sendo 5 dias para pimenta De Cheiro e Bode em sacos plásticos perfurados mantidos a 23-25oC e até 10 dias para frutos embalados em filmes de PVC mantidos a 12-15oC.. Em experimentos conduzidos na Embrapa Hortaliças, as pimentas ‘Malagueta’, ‘De Cheiro’, ‘Cumari do Pará’, ‘Bode Vermelha’, ‘Bode Amarela’ e ‘Dedo de Moça’ foram conservadas durante 30 dias a 8oC acondicionadas em bandejas de isopor envoltas por filme de PVC (>90% UR). Na Universidade Federal de Viçosa, determinou-se que a pimenta ‘Malagueta’ pode ser mantida por até 30 dias a 12oC e 90% UR

As pimentas in natura possuem um mercado relativamente pequeno quando comparadas com outras hortaliças, principalmente porque são usadas como temperos, em pequenas quantidades. Ao mesmo tempo, a demanda é relativamente constante e o mercado cativo. Por estas razões, é importante oferecer um produto de alta qualidade ao consumidor, com frutos de tamanho e coloração padronizados e isento de resíduos de agrotóxicos.

Produção de sementes

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A produção de sementes de pimentas pode ser desenvolvida nas mesmas regiões e sob as mesmas condições de clima e solo recomendadas para a produção de frutos. É desejável, entretanto, buscar uma época do ano com temperaturas e umidades relativas mais baixas, para se evitar a elevada ocorrência de pragas e doenças. O clima ameno não prejudica a produção e contribui para a obtenção de sementes de alta qualidade, com menores riscos de perda de produção.

As pimentas têm flores perfeitas e reproduzem-se preferencialmente por autofecundação. Entretanto, a quantidade de polinização cruzada natural pode variar com a cultivar e com outros fatores ambientais, sendo a presença de insetos polinizadores o mais importante. O isolamento dos campos de produção de sementes de diferentes cultivares deve respeitar uma distância mínima de 300m para a classe fiscalizada. Na produção de sementes híbridas, apesar da polinização artificial ser feita antes da abertura das flores femininas maduras, recomenda-se manter a separação física de outros genótipos, devido ao risco de contaminação genética por insetos (microhimenópteros) que perfuram botões florais fechados em busca de pólen e néctar.

A área destinada à produção de sementes fiscalizadas deve variar de um mínimo de 0,2 a um máximo de 2 hectares, ser de fácil acesso, bem localizada, plana ou suavemente inclinada, arejada, de preferência não cultivada recentemente com outras Solanáceas. Deve apresentar solo leve, profundo, bem drenado, ligeiramente ácido, rico em matéria orgânica e nutrientes minerais, e estar livre de plantas daninhas, pragas e doenças limitantes para a cultura de pimenta. O preparo do solo deve ser o mais bem feito possível, iniciando pelo enterramento profundo dos restos da cultura anterior. O espaçamento entre fileiras pode ser até 50% maior do que o comumente utilizado na produção de frutos, permitindo maior facilidade na execução dos tratos culturais, maior espaço para a observação das plantas e alteração do microclima em favor da cultura.

A semeadura deve ser feita com sementes de boa qualidade genética, física, fisiológica e fitossanitária. As sementes devem ser semeadas em bandejas de isopor, com substrato adequado para a produção de mudas. Quando as plântulas apresentarem de 4-6 folhas verdadeiras podem ser transplantadas para local definitivo. O método de semeadura em sacos plásticos também tem sido muito utilizado. O tratamento químico é uma prática indispensável nesse momento, devendo-se utilizar fungicidas à base de iprodione, thiram, captan, carboxim ou tiabendazol, na dose de 3g de produto comercial por quilo de sementes. A profundidade da semeadura deve ser no máximo 1cm. São necessárias 100 a 150g de sementes para suprir a necessidade de mudas para um hectare.

Além dos tratos culturais normais, algumas práticas específicas podem ser aplicadas à produção de sementes, para alcançar melhores resultados. O estaqueamento das plantas evita o seu tombamento e garante níveis mais elevados de qualidade fitossanitária nas sementes. A desbrota das primeiras ramas laterais contribui para ventilar o colo das plantas e permite economizar energia para a formação das sementes. A eliminação de plantas atípicas da mesma espécie ou de outras espécies silvestres e cultivadas deve ser efetuada rigorosamente no início da floração e na pré-colheita. Para o controle de viroses, é indispensável combater os pulgões e outros insetos vetores.

Na produção de sementes híbridas, a flor emasculada (sem as anteras) deve ser protegida por saquinho de papel encerado ou rolete de papel alumínio, até o momento da polinização. Esta deve ser efetuada de preferência em dias claros, de pouco vento e sobretudo no final da manhã, para melhorar a eficiência de fertilização. Os saquinhos de papel devem voltar a proteger as flores após a polinização.

Para algumas cultivares, a colheita pode ser iniciada aproximadamente aos 60 dias após o florescimento ou quando mais de 80% dos frutos estiverem mudando de cor. Esta alteração indica o atingimento do ponto de maturidade fisiológica das sementes, quando são observados níveis máximos de germinação e vigor e níveis mínimos de deterioração. Recomenda-se, nessa fase, o repouso dos frutos por três dias, a sombra e a temperatura ambiente para uniformizar a maturação e facilitar a sua trituração. Sugere-se fazer primeiramente a extração de sementes dos frutos mais maduros (coloração vermelha) e posteriormente dos frutos que estão em repouso. Frutos imaturos, de coloração verde, geralmente produzirão sementes menos vigorosas ou até inférteis. As principais características a serem selecionadas e mantidas na fase de colheita, visando-se qualidade

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total, são o tamanho e o formato característico dos frutos da cultivar, a ausência de defeitos e a boa condição fitossanitária. A produtividade média é variável, sendo considerada normal quando alcança 150 a 200kg de sementes por hectare.

A extração das sementes pode ser feita a seco ou por via úmida. O primeiro processo é conduzido manualmente, sendo mais indicado para obtenção de sementes em pequena escala. A extração via úmida é feita mecanicamente e requer equipamentos para o esmagamento dos frutos, sendo mais utilizada em escala comercial.

O processo de secagem exige cuidados especiais. As sementes ainda úmidas devem ser colocadas para secar a sombra, em ambiente fresco e ventilado, perdendo lentamente a umidade superficial para o ambiente. A movimentação das sementes é desejável nessa fase inicial. A temperatura não deve ultrapassar os 30ºC, sob pena de se danificar o sistema de membranas das células embrionárias. Uma vez eliminada a umidade superficial, as sementes devem ser transferidas para estufas elétricas reguladas a 38ºC, onde devem permanecer de 24 a 48 horas até atingirem grau de umidade próximo a 6%.

A análise das sementes deve ser conduzida ‘sobre papel’, de acordo com as Regras para Análise de Sementes – RAS do Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento - MAPA. A condição recomendada é a manutenção por 16h a 20ºC e 8h a 30ºC. A primeira contagem deve ser feita aos seis dias e a contagem final aos 14 dias após a instalação do teste. Em caso de dormência, as RAS prescrevem umedecer o substrato inicialmente com uma solução de nitrato de potássio (0,2%), em vez de água, ou fornecer luz por 8 a 16 horas.

A embalagem correta das sementes contribui para a preservação das qualidades originais do lote, fazendo com que cheguem perfeitas ao destino e apresentem um bom desempenho fisiológico na nova semeadura. As sementes de pimentas devem ser embaladas com grau de umidade de 6%, em latas ou sacos de papel aluminizado contendo 100g do produto. Nessa condição, o seu poder germinativo normalmente fica garantido pelo prazo de três anos.

O armazenamento deve ser feito de preferência em ambiente frigorificado, com temperatura próxima a 4ºC, se as sementes estiverem acondicionadas em embalagens herméticas. Secas e resfriadas, as sementes reduzem o nível interno de atividade metabólica, consomem menos energia através da respiração e mantém a sua viabilidade por períodos mais prolongados.

 

Coeficientes técnicos

 Coeficientes técnicos, custos, rendimentos e rentabilidade

As pimentas do gênero Capsicum destacam-se como importantes produtos do agronegócio brasileiro. Na pauta do comércio internacional de hortaliças, o volume das exportações brasileiras atingiu 8.479 toneladas no valor de US$ 17.344 mil em 2004. Em contrapartida, as importações foram de 641 toneladas no valor de US$ 1.403 mil. Desta forma, as pimentas Capsicum beneficiaram a balança comercial brasileira com um superávit US$ 15.941 mil. Comparando-se com o ano 2000, verifica-se que as exportações aumentaram em volume (22,1%) e em valor (43,0%).

Em razão da elevada capacidade de geração de emprego e renda, principalmente para os pequenos produtores, as pimentas Capsicum posicionam-se dentro da agricultura brasileira como culturas de elevada importância socioeconômica.

Foi levantada a eficiência econômica de diferentes sistemas de produção de pimentas Capsicum praticados por pequenos produtores de diferentes regiões do País. Foram considerados os coeficientes técnicos e os custos de produção das pimentas mais valorizadas pelo agronegócio brasileiro, como ‘Tabasco’, ‘Malagueta’, ‘Dedo-de-Moça’ (ou ‘pimentas vermelhas’, uma denominação regional) e ‘Jalapeño’. As informações foram coletadas por pesquisadores e extensionistas diretamente nas áreas de produção de

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Piracanjuba-GO (‘Malagueta’); Turuçu-RS (‘Dedo-de-Moça’); Ouvidor-GO (‘Jalapeño’); e Crato-CE (‘Tabasco’). Levando-se em conta as informações sobre os coeficientes técnicos e custos de produção, utilizou-se o método de orçamentação parcial para realização das análises econômicas. Este método, comumente utilizado em análises de perfil, fornece os indicadores econômicos básicos para uma cultura e, em geral, é aplicado em análises estáticas comparativas de culturas ou ciclos de produção (PERRIN et al., 1985; SCOLARI et al., 1985; SNODGRASS; WALLACE, 1993; LAIARD; GLAISTER, 1996; EMBRAPA, 2002; ANDREWS; REGANOLD, 2004).

Os custos de produção de pimenta ‘Tabasco’ e ‘Jalapeño’ foram levantados em 2001. Nestes sistemas operacionalizados por pequenos produtores, os custos de produção por hectare são relativamente baixos, quando comparados aos custos de outras hortaliças. No sistema de produção de pimenta ‘Tabasco’, o item que mais onerou os custos de produção são os insumos (66,11%), principalmente os adubos químicos (33,4%) e as sementes (20%), que em geral são importadas. O sistema de produção de pimenta ‘Jalapeño’ também tem os custos de produção mais onerados pelos insumos (41,2%), apresentando maior peso na composição dos custos operacionais os adubos químicos (19,3%) seguidos pelas mudas, que em geral são adquiridas de produtores especializados.

Os sistemas de produção de pimenta ‘Dedo-de-Moça’ e ‘Malagueta’ foram levantados em 2002. Estes sistemas são conduzidos de maneira simples, com baixo nível tecnológico e os custos variáveis de produção também são baixos, não chegando a R$ 4.000,00. A produção da pimenta ‘Dedo-de-Moça’ tem os custos de produção mais onerados pela mão-de-obra (60,8%). Esta pimenta é utilizada desidratada como pimenta seca do tipo “calabresa”. As pimentas ‘Malagueta’ são muito utilizadas para a confecção de molhos e conservas. Os pimentais são explorados por um período de dois anos. Tanto no primeiro como segundo ano são empregadas tecnologias simples, os sistemas são intensivos em mão-de-obra, sendo este o item que mais onera os custos no segundo ano (53,1%). No primeiro ano, os insumos são o grupo que mais pesa na composição dos custos no primeiro ano de exploração (47,2%). As sementes utilizadas na produção de mudas são colhidas nos pimentais dos próprios produtores.

Os indicadores básicos fornecidos pelas análises econômicas permitem afirmar que todos os sistemas são eficientes do ponto de vista técnico-econonômico. A rentabilidade das pimentas em todos os sistemas foram maior do que 1, indicando que cada unidade monetária (UM) aplicada na cultura retornou ao produtor em valores que variam de 1,72 UM para a pimenta ‘Tabasco’, alcançando até 2,24 UM para a pimenta ‘Malagueta’ no segundo ano. No caso da ‘Malagueta’ cultivada no segundo ano, esta etapa representa a exploração final do pimental e o produtor faz aplicações mínimas de insumos, sendo a mão-de-obra para colheita e acondicionamento o fator mais intensivo. Desta forma, os custos tornam-se mínimos e facilmente diluídos pela produtividade obtida, o que proporciona elevada margem de lucro ao (55,3%) ao produtor. Observa-se pelo ponto de equilíbrio da produção comercial que em todos os sistemas a produtividade apresentou significativa capacidade de diluir os custos variáveis da produção, portanto os sistemas considerados, apesar de empregar tecnologias simples, são todos eficientes do ponto de vista técnico-econômico. Esses sistemas podem se tornar ainda mais lucrativos com a utilização de materiais genéticos mais potentes associados à inovação da base técnica do produtor.

O cultivo de pimentas Capsicum deve ser recomendado para agricultura familiar como alternativa de diversificação da produção. A exploração de pimentas Capsicum, além de representar uma fonte importante de geração de emprego e renda na agricultura, são produtos que agregam valor na forma processada e detém amplas oportunidades de mercado, tanto na forma in natura como processada.