7
UNIDADE I – A NATUREZA E AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA. 1.1 A IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA. 1.2 O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA. 1.2.1 Auguste Comte, o fundador da Sociologia. 1.2.2 O primeiro sociólogo inglês: Herbert Spencer. 1.2.3 O sistematizador da sociologia: Émile Durkheim. 1 A NATUREZA E AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA segundo Anthony GIDDENS 1.1 A Importância da Sociologia Giddens pergunta para o seu leitor, idealmente um estudante de sociologia: “porque é que está a estudar sociologia? [...] Sejam quais forem suas motivações, é provável que, sem que o saiba necessariamente, tenha muito em comum com outros que estudam Sociologia” (p.4) por que “os meios sociais de onde provimos têm muito a ver com o tipo de decisões que consideramos adequadas” (p.5). Ora, o mesmo se aplica para a escolha dos cursos de jornalismo e administração. Lembramos da primeira aula quando vocês responderam à pergunta que fiz sobre as escolhas pessoas pelos cursos de jornalismo e administração. Experiências de vida pessoais são semelhantes a de outros e essa semelhança pode indicar que compartilhamos contextos e trajetórias semelhantes. Mas se nossas escolhas são determinadas em parte pelos contextos sociais nos quais nos socializamos como se explica a individualidade e a mudança social? Giddens fala de estruturas sociais para entender a não aleatoriedade de fatos e ações e de estruturação para entender como ocorrem os processos de mudança social. Continuidade e mudança, dependência social da individualidade e dependência da sociedade das ações individuais. Uma problemática fundamental que Giddens consegue sintetizar muito bem com as noções de estrutura social e estruturação. “O sociólogo é alguém capaz de se libertar do quadro das suas circunstâncias pessoais e pensar as coisas num contexto mais abrangente [...] abstrairmos-nos das rotinas familiares da vida quotidiana de maneira a poder olhá-las de forma diferente” (p. 2) explica Giddens. Assim, abstraímos o valor simbólicode tomar café da descrição que poderíamos fazer desse mesmo ato: despeja-se café numa xícara para depois beber. É uma abstração difícil, pois estamos acostumados a atribuir automaticamente ao consumo de café um valor simbólico que compartilhamos em sala de aula: receber visitas em casa, botar o papo em dia com familiares e vizinhos, acompanhar um pequeno intervalo no serviço, participar do franquias-internacionais way of life, estudar, etc. Beber café se entende como a prática de atividades de interação ritualizadas, socialmente aceitáveis e por isso mesmo convencionais. Lembrando que o que é convencional para uma forma de vida pode ser inaceitável numa outra. O encontro com rituais diferentes ou estranhos aos nossos valores facilita o tipo de abstração da qual fala Giddens. Além abstrair o valor simbólico de um ato corriqueiro como tomar uma xícara de café, abstraímos também, desse ato “uma rede de relações sociais e econômicas de dimensão internacional“, na qual aquele ato é um nódulo: o consumo. “A produção, transporte e distribuição do café implicam transações constantes que envolvem pessoas a milhares de quilômetros dos consumidores” (p. 3). Ainda há de se considerar na abstração sociológica que tomar café “pressupõe um processo de desenvolvimento social e econômico passado” do qual o consumo generalizado de café é o resultado. É esse processo histórico que permite perceber como o consumo localizado do café se difundiu globalmente. Entretanto, o fato do café ser consumido globalmente não quer dizer que as opções de estilo de vida dos consumidores de café sejam as mesmas. “A globalização aumenta a consciência das pessoas acerca de questões que se passam em pontos remotos do planeta, incentivando-as a atuar no dia a dia em função desse novo conhecimento” (p. 4). O reconhecimento da rede de relações

sobre giddens _ anonimo

Embed Size (px)

DESCRIPTION

UNIDADE I – A NATUREZA E AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA. 1.1 A IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA. 1.2 O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA. 1.2.1 Auguste Comte, o fundador da Sociologia. 1.2.2 O primeiro sociólogo inglês: Herbert Spencer. 1.2.3 O sistematizador da sociologia: Émile Durkheim. 1 A NATUREZA E AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA segundo Anthony GIDDENS 1.1 A Importância da Sociologia Giddens pergunta para o seu leitor, idealmente um estudante de sociologia: “porque é que está a estudar sociologia? [...] Sejam quais f

Citation preview

Page 1: sobre giddens _ anonimo

UNIDADE I – A NATUREZA E AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA.1.1 A IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA.1.2 O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA. 1.2.1 Auguste Comte, o fundador da Sociologia.1.2.2 O primeiro sociólogo inglês: Herbert Spencer.1.2.3 O sistematizador da sociologia: Émile Durkheim.

1 A NATUREZA E AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA segundo Anthony GIDDENS

1.1 A Importância da Sociologia

Giddens pergunta para o seu leitor, idealmente um estudante de sociologia: “porque é que está a estudar sociologia? [...] Sejam quais forem suas motivações, é provável que, sem que o saiba necessariamente, tenha muito em comum com outros que estudam Sociologia” (p.4) por que “os meios sociais de onde provimos têm muito a ver com o tipo de decisões que consideramos adequadas” (p.5). Ora, o mesmo se aplica para a escolha dos cursos de jornalismo e administração. Lembramos da primeira aula quando vocês responderam à pergunta que fiz sobre as escolhas pessoas pelos cursos de jornalismo e administração. Experiências de vida pessoais são semelhantes a de outros e essa semelhança pode indicar que compartilhamos contextos e trajetórias semelhantes.

Mas se nossas escolhas são determinadas em parte pelos contextos sociais nos quais nos socializamos como se explica a individualidade e a mudança social? Giddens fala de estruturas sociais para entender a não aleatoriedade de fatos e ações e de estruturação para entender como ocorrem os processos de mudança social. Continuidade e mudança, dependência social da individualidade e dependência da sociedade das ações individuais. Uma problemática fundamental que Giddens consegue sintetizar muito bem com as noções de estrutura social e estruturação.

“O sociólogo é alguém capaz de se libertar do quadro das suas circunstâncias pessoais e pensar as coisas num contexto mais abrangente [...] abstrairmos-nos das rotinas familiares da vida quotidiana de maneira a poder olhá-las de forma diferente” (p. 2) explica Giddens. Assim, abstraímos o “valor simbólico“ de tomar café da descrição que poderíamos fazer desse mesmo ato: despeja-se café numa xícara para depois beber. É uma abstração difícil, pois estamos acostumados a atribuir automaticamente ao consumo de café um valor simbólico que compartilhamos em sala de aula: receber visitas em casa, botar o papo em dia com familiares e vizinhos, acompanhar um pequeno intervalo no serviço, participar do franquias-internacionais way of life, estudar, etc. Beber café se entende como a prática de atividades de interação ritualizadas, socialmente aceitáveis e por isso mesmo convencionais. Lembrando que o que é convencional para uma forma de vida pode ser inaceitável numa outra. O encontro com rituais diferentes ou estranhos aos nossos valores facilita o tipo de abstração da qual fala Giddens.

Além abstrair o valor simbólico de um ato corriqueiro como tomar uma xícara de café, abstraímos também, desse ato “uma rede de relações sociais e econômicas de dimensão internacional“, na qual aquele ato é um nódulo: o consumo. “A produção, transporte e distribuição do café implicam transações constantes que envolvem pessoas a milhares de quilômetros dos consumidores” (p. 3).

Ainda há de se considerar na abstração sociológica que tomar café “pressupõe um processo de desenvolvimento social e econômico passado” do qual o consumo generalizado de café é o resultado. É esse processo histórico que permite perceber como o consumo localizado do café se difundiu globalmente.

Entretanto, o fato do café ser consumido globalmente não quer dizer que as opções de estilo de vida dos consumidores de café sejam as mesmas. “A globalização aumenta a consciência das pessoas acerca de questões que se passam em pontos remotos do planeta, incentivando-as a atuar no dia a dia em função desse novo conhecimento” (p. 4). O reconhecimento da rede de relações

Page 2: sobre giddens _ anonimo

socioeconômicas envolvidas na atividade de produção e comercialização do café passa a ser avaliado a partir de valores compartilhados pelas pessoas resultando em opções relacionadas a diferentes estilos de vida e visões de mundo. Assim, no caso do café, conhecimento a respeito das formas de produção e processamento do café, dos efeitos da cafeína no organismo e até das formas de exploração da mão de obra empregada na sua produção entram no bojo de informações que vão determinar se a pessoa vai comprar café orgânico, artesanal, descafeinado, etc.

Os limites da abstração sociológica, isto é, da capacidade de se libertar do quadro das próprias circunstâncias de vida pessoais e pensar um contexto mais abrangente.

Nessa aula problematizamos a seguinte afirmação de Giddens na qual se refere à abstração do processo histórico que fez do consumo do café uma prática mundial:

“Embora seja [o café] uma bebida originária do Médio Oriente, o seu consumo maciço data do período da expansão colonial ocidental, há cerca de um século e meio atrás” (p. 3, grifo nosso).

Nessa aula foi proposto um exercício em duplas. As duplas escolherão um produto ou serviço e praticarão a abstração sociológica identificando o valor simbólico (rituais, o que é aceitável/inaceitável socialmente no uso/consumo) desse produto ou serviço, sua rede de relações sócio-econômicas internacionais e o seu desenvolvimento histórico, e irão entregar um relatório de uma folha desse exercício na próxima segunda. Além da discussão desse exercício iremos abordar a importância social da prática sociológica. Na terça, os sociólogos fundadores: Durkheim, Weber e Marx.

2 O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA

A Sociologia tem seu início no solo da Revolução Francesa em 1789, acalentada pela força das transformações sociais, dos movimentos e das crises na sociedade. m seu começo, carrega poderosa inclinação pelo ideal de ordem social, estabelecendo-se historicamente a partir dos transtornos causados pela desorganização da sociedade, colocando-se como herdeira do conservadorismo europeu do século XIX.

A Revolução Francesa cultiva o individualismo, o racionalismo e o igualitarismo. Mas o conservadorismo europeu repele tais ideais, pois alega que eles arruinariam a ordem social (controle, posição e hierarquia).

1.2.1 Auguste Comte, o fundador da Sociologia.

Nascido em Montpellier, no Sul da França, em 19/01/1790, Augusto Comte foi um filósofo francês, fundador da Sociologia e do Positivismo que, desde cedo, revelou uma grande capacidade intelectual e uma prodigiosa memória. Seu interesse pelas ciências naturais era conjugado pelas questões históricas e sociais e, com 16 anos, em 1814, ingressou na Escola Politécnica de Paris. No período de 1817-1824 foi secretário do conde Henri de Saint-Simon (1760-1825), expoente do socialismo utópico; todavia, como Saint-Simon apropriava-se dos escritos de seus discípulos para si e como dava ênfase apenas à economia na interpretação dos problemas sociais, Comte rompeu com ele, passando a desenvolver autonomamente suas reflexões. São dessa época algumas fórmulas fundamentais: "Tudo é relativo, eis o único princípio absoluto" (1819) e "Todas as concepções humanas passam por três estádios sucessivos - teológico, metafísico e positivo -, com uma velocidade proporcional à velocidade dos fenômenos correspondentes" (1822) (a famosa "lei dos três estados").

Comte trabalhava intensamente na criação de uma filosofia positiva quando, em virtude de problemas conjugais, sofreu um colapso nervoso, em 1826. Recuperado, mergulhou na redação do Curso de filosofia positiva (posteriormente, em 1848, renomeado para Sistema de filosofia positiva), que lhe tomou doze anos. Em 1842, por criticar a corporação universitária francesa, perdeu o emprego de examinador de admissão à Escola Politécnica e começou a ser ajudado por admiradores, como o pensador inglês John Stuart Mill (1806-1873). No mesmo ano, Comte separou-se de Caroline Massin,

Page 3: sobre giddens _ anonimo

após 17 anos de casamento. Em 1845, apaixonou-se por Clotilde de Vaux, que morreria no ano seguinte. Entre 1851 e 1854 Comte redigiu o Sistema de política positiva, em que extraiu algumas das principais conseqüências de sua concepção de mundo não-teológica e não-metafisica, propondo uma interpretação pura e plenamente humana para a sociedade e sugerindo soluções para os problemas sociais; no volume final dessa obra, apresentou as instituições principais de sua Religião da Humanidade. Em 1856, publicou o livro Síntese subjetiva, primeiro e único volume de uma série de quatro dedicados a tratar de questões específicas das sociedades humanas: lógica, indústria, pedagogia, psicologia, mas faleceu, possivelmente de câncer, em 5 de setembro de 1857, em Paris. Sua última casa, na rua Monsieur-le-Prince, 10, foi posteriormente adquirido por positivistas e transformado no Museu Casa de Augusto Comte.

Todavia, é importante notar que uma grande confusão terminológica ocorre com a obra de Comte e seu "Positivismo": ele não tem nenhuma ou pouca relação com o chamado Positivismo Jurídico, ou Juspositivismo, de Hans Kelsen; com a "Psicologia positivista", ou "behaviorismo" (ou "comportamentalismo"), de Watson e Skinner; com o Neopositivismo, do Círculo de Viena, de Otto Neurath, Carnap e seus diversos associados, nem com tantos outros "positivismos" de outras áreas do conhecimento.

A FILOSOFIA POSITIVA

A filosofia positiva de Comte nega que a explicação dos fenômenos naturais, assim como sociais que provenha de um só princípio. A visão positiva dos fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos (Deus ou natureza) e pesquisa suas leis, vistas como relações abstratas e constantes entre fenômenos observáveis.

Adotando os critérios histórico e sistemático, outras ciências abstratas antes da Sociologia, segundo Comte, atingiram a positividade: a Matemática, a Astronomia, a Física, a Química e a Biologia. Assim como nessas ciências, em sua nova ciência inicialmente chamada de física social e posteriormente Sociologia, Comte usaria a observação, a experimentação, da comparação e a classificação como métodos - resumidas na filiação histórica - para a compreensão (isto é, para conhecimento) da realidade social. Comte afirmou que os fenômenos sociais podem e devem ser percebidos como os outros fenômenos da natureza, ou seja, como obedecendo a leis gerais; entrentanto, sempre insistiu e argumentou que isso não equivale a reduzir os fenômenos sociais a outros fenômenos naturais (isso seria cometer o erro teórico e espistemológico do materialismo): a fundação da Sociologia implica que os fenômenos sociais são um tipo específico de realidade teórica e que devem ser explicados em termos sociais.

Em 1852 Comte instituiu uma sétima ciência, a Moral, cujo âmbito de pesquisa é a constituição psicológica do indivíduo e suas interações sociais.

Pode-se dizer que o conhecimento positivo busca "ver para prever, a fim de prover" - ou seja: conhecer a realidade para saber o que acontecerá a partir de nossas ações, para que o ser humano possa melhorar sua realidade. Dessa forma, a previsão científica caracteriza o pensamento positivo.

O espírito positivo, segundo Comte, tem a ciência como investigação do real. No social e no político, o espírito positivo passaria o poder espiritual para o controle dos "filósofos positivos", cujo poder é, nos termos comtianos, exclusivamente baseado nas opiniões e no aconselhamento, constituindo a sociedade civil e afastando-se a ação política prática desse poder espiritual - o que afasta o risco de tecnocracia (chamada, nos termos comtianos, de "pedantocracia").

O método positivo, em termos gerais, caracteriza-se pela observação. Entretanto, deve-se perceber que cada ciência, ou melhor, cada tipo de fenômeno tem suas particularidades, de modo que o método específico de observação para cada fenômeno será diferente. Além disso, a observação conjuga-se com a imaginação: ambas fazem parte da compreensão da realidade e são igualmente importantes, mas a relação entre ambas muda quando se passa da teologia para a positividade. Assim,

Page 4: sobre giddens _ anonimo

para Comte, não é possível fazer ciência (ou arte, ou ações práticas, ou até mesmo amar!) sem a imaginação, isto é, sem uma ativa participação da subjetividade individual e por assim dizer coletiva: o importante é que essa subjetividade seja a todo instante confrontada com a realidade, isto é, com a objetividade.

Dessa forma, para Comte há um método geral para a ciência (observação subordinando a imaginação), mas não um método único para todas as ciências; além disso, a compreensão da realidade lida sempre com uma relação contínua entre o abstrato e o concreto, entre o objetivo e o subjetivo. As conclusões epistemológicas a que Comte chega, segundo ele, só são possíveis com o estudo da Humanidade como um todo, o que implica a fundação da Sociologia, que, para ele, é necessariamente histórica.

Além da realidade, outros princípios caracterizam o Positivismo: o relativismo, o espírito de conjunto (hoje em dia também chamado de "holismo") e a preocupação com o bem público (coletivo e individual). Na verdade, na obra "Apelo aos conservadores", Comte apresenta sete definições para o termo "positivo": real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático.

A LEI DOS TRÊS ESTADOS

O alicerce fundamental da obra comtiana é, indiscutivelmente, a "Lei dos Três Estados", tendo como precursores nessa idéia seminal os pensadores Condorcet e, antes dele, Turgot.

Segundo o marquês de Condorcet, a humanidade avança de uma época bárbara e mística para outra civilizada e esclarecida, em melhoramentos contínuos e, em princípio, infindáveis - sendo essa marcha o que explicaria a marcha da história.

A partir da percepção do progresso humano, Comte formulou a Lei dos Três Estados. Observando a evolução das concepções intelectuais da humanidade, Comte percebeu que essa evolução passa por três estados teóricos diferentes: o estado 'teológico' ou 'fictício', o estado 'metafísico' ou 'abstrato' e o estado 'científico' ou 'positivo', em que:

• No primeiro, os fatos observados são explicados pelo sobrenatural, por entidades cuja vontade arbitrária comanda a realidade. Assim, busca-se o absoluto e as causas primeiras e finais ("de onde vim? Para onde vou?"). A fase teológica tem várias subfases: o fetichismo, o politeísmo, o monoteísmo.

• No segundo, já se passa a pesquisar diretamente a realidade, mas ainda há a presença do sobrenatural, de modo que a metafísica é uma transição entre a teologia e a positividade. O que a caracteriza são as abstrações personificadas, de caráter ainda absoluto: "a Natureza", "o éter", "o Povo", "o Capital".

• No terceiro, ocorre o apogeu do que os dois anteriores prepararam progressivamente. Neste, os fatos são explicados segundo leis gerais abstratas, de ordem inteiramente positiva, em que se deixa de lado o absoluto (que é inacessível) e busca-se o relativo. A par disso, atividade pacífica e industrial torna-se preponderante, com as diversas nações colaborando entre si.

É importante notar que cada um desses estágios representa fases necessárias da evolução humana, em que a forma de compreender a realidade conjuga-se com a estrutura social de cada sociedade e contribuindo para o desenvolvimento do ser humano e de cada sociedade.

Dessa forma, cada uma dessas fases tem suas abstrações, suas observações e sua imaginação; o que muda é a forma como cada um desses elementos conjuga-se com os demais. Da mesma forma, como cada um dos estágios é uma forma totalizante de compreender o ser humano e a realidade, cada uma delas consiste em uma forma de filosofar, isto é, todas elas engendram filosofias.

Como é possível perceber, há uma profunda discussão ao mesmo tempo sociológica, filosófica e epistemológica subjacente à lei dos três estados - discussão que não é possível resumir no curto espaço deste artigo.

Page 5: sobre giddens _ anonimo

1.2.2 O primeiro sociólogo inglês: Herbert Spencer.

Herbert Spencer (27 de Abril de 1820 - 8 de Dezembro de 1903) foi um filósofo inglês e um dos representantes do positivismo. Para Spencer, a filosofia deve ser muito precisa quanto a evolução e esclarecer, com base nela, os mais variados problemas. Acreditava também que a evolução é um princípio universal que opera sempre.

No que concerne à sua aplicação no domínio da sociologia, ela foi efetuada pelo próprio Spencer, que, assim, aderiu ao movimento do biologismo sociológico. Spencer parte da definição de sociedade como um organismo. Por analogia, destaca, então, processos de crescimento, expressos através de diferenciações estruturais e funcionais. Tratando da evolução da sociedade, Spencer sublinha a importância dos processos de interdependência das partes, bem como a da existência de unidades (células) nos organismos e nas sociedades (ou seja, nos indivíduos). Spencer insiste no fato de que, tal como nos organismos, também nas sociedades se observam fenômenos de assimilação, circulação, regulação, etc.

Os mais importantes de trabalhos de Spencer, que lidam com teoria social e política, são Estáticas Sociais (1850), Princípios de Sociologia (3 vols., 1876-96) e O Homem contra o Estado (1884). Estática social é uma descrição de sociedade como Spencer concebe que deveria ser, a condição ideal de organização política que é enfrentada como um de repouso estático no qual um equilíbrio perfeito foi alcançado entre homem, o organismo individual, e os ambientes dele.

1.2.3 O sistematizador da sociologia: Émile Durkheim.

(Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) é considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia, posterior a Marx, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido amplamente como um dos melhores teóricos do conceito da coesão social.

Partindo da afirmação de que "os fatos sociais devem ser tratados como coisas", forneceu uma definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade, em que o normal seria aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório para o indivíduo e superior a ele, o que significa que a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma existência tangível. Essa preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a realização desse, desde que consiga integrar-se a essa estrutura.

Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de uma solidariedade entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que participam do trabalho coletivo (preponderância progressiva da solidariedade orgânica).

A sociologia fortaleceu-se graças a Durkheim e seus seguidores. Suas principais obras são: Da divisão do trabalho social (1893); Regras do método sociológico (1895); O suicídio (1897); As formas elementares de vida religiosa (1912). Fundou também a revista L'Année Sociologique, que afirmou a preeminência durkheimiana no mundo inteiro.

PENSAMENTO

Durkheim formou-se em Filosofia, porém sua obra inteira é dedicada à Sociologia. Seu principal trabalho é na reflexão e no reconhecimento da existência de uma "Consciência Coletiva". Ele parte do princípio que o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou Humano porque

Page 6: sobre giddens _ anonimo

se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste.

A este processo de aprendizagem, Durkheim chamou de "Socialização", a consciência coletiva seria então formada durante a nossa socialização e seria composta por tudo aquilo que habita nossas mentes e que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. E esse "tudo" ele chamou de "Fatos Sociais", e disse que esses eram os verdadeiros objetos de estudo da Sociologia.

Nem tudo que uma pessoa faz é um fato social, para ser um fato social tem de atender a três características: generalidade, exterioridade e coercitividade. Isto é, o que as pessoas sentem, pensam ou fazem independente de suas vontades individuais, é um comportamento estabelecido pela sociedade. Não é algo que seja imposto especificamente a alguém, é algo que já estava lá antes e que continua depois e que não dá margem a escolhas.

O mérito de Durkheim aumenta ainda mais quando publica seu livro "As regras do método sociológico", onde define uma metodologia de estudo, que embora sendo em boa parte extraída das ciências naturais, dá seriedade à nova ciência. Era necessário revelar as leis que regem o comportamento social, ou seja, o que comanda os fatos sociais.

Em seus estudos, os quais serviram de pontos expiatórios para os inícios de debates contra Gabriel Tarde (o que perdurou praticamente até o fim de sua carreira), ele concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que só é possível se admitirmos que a sociedade é um todo integrado. Se tudo na sociedade está interligado, qualquer alteração afeta toda a sociedade, o que quer dizer que se algo não vai bem em algum setor da sociedade, toda ela sentirá o efeito. Partindo deste raciocínio ele desenvolve dois dos seus principais conceitos: Instituição social e Anomia.

A instituição social é um mecanismo de proteção da sociedade, é o conjunto de regras e procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade, cuja importância estratégica é manter a organização do grupo e satisfazer as necessidades dos indivíduos que dele participam. As instituições são, portanto, conservadoras por essência, quer seja família, escola, governo, polícia ou qualquer outra, elas agem fazendo força contra as mudanças, pela manutenção da ordem.

Durkheim deixa bem claro em sua obra o quanto acredita que essas instituições são valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com uma certa reputação de conservador, que durante muitos anos causou antipatia a sua obra. Mas Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador, sua defesa das instituições se baseia num ponto fundamental, o ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras (num conceito do próprio Durkheim, "em estado de anomia"), sem valores, sem limites leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião. O homem que inovou construindo uma nova ciência inovava novamente se preocupando com fatores psicológicos, antes da existência da Psicologia. Seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da obra de outro grande homem: Freud.

Basta uma rápida observação do contexto histórico do século XIX, para se perceber que as instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia muito questionamento, valores tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivendo em condições miseráveis, desempregados, doentes e marginalizados. Ora, numa sociedade integrada essa gente não podia ser ignorada, de uma forma ou de outra, toda a sociedade estava ou iria sofrer as conseqüências. Aos problemas que ele observou, ele considerou como patologia social, e chamou aquela sociedade doente de "Anomana". A anomia era a grande inimiga da sociedade, algo que devia ser vencido, e a sociologia era o meio para isso. O papel do sociólogo seria, portanto, estudar, entender e ajudar a sociedade.

Na tentativa de "curar" a sociedade da anomia, Durkheim escreve "Da divisão do trabalho social", onde ele descreve a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica entre os membros da sociedade. A solução estaria em, seguindo o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, se cada membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho, ele será obrigado através de um sistema de direitos e

Page 7: sobre giddens _ anonimo

deveres, e também sentirá a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros. O importante para ele é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgânica, interiorizada e não meramente mecânica.

Principais obras• Da divisão do trabalho social, 1893; • Regras do método sociológico , 1895; • O suicídio , 1897; • As formas elementares de vida religiosa , 1912.