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ENCICLOPEDIA DA BÍBLIA CULTURA CRISTÃ VOLUME I™ Q-Z 5 Organizador Geral MERRILL C. TENNEY

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  • ENCICLOPEDIADA BBLIAC U L T U R A C R I S T

    V O L U M E I Q-Z 5

    Organizador Geral

    MERRILL C. TENNEY

  • Enciclopdia daBbliaE M C I N C O V O L U M E S

    Organizador Geral MERRILL C. TENNEY

    Organizador Associado STEVEN BARABAS

    V O L U M E C I N C O QZ

    GDITORf CUlTURfl CRISTf

  • S. Um smbolo s vezes utilizado para o Cdice Si- natico, um MS grego do sc. 42 da Bblia (smbolo N) descoberto por Tischendorf num monastrio no Monte Sinai em 1859.

    SAAFE (HW) 1.0 sexto filho de Jadai (1 Cr 2.47).2. Filho de Calebe e sua concubina Maaca;

    pai de Madmana, no sul de Jud (lCr 2.49).

    SAAL. Forma de Se a l na BJ.

    SAALABIM (|'27yi, LXX locXocfiiv , raposas, ou lugar de raposas). Um povoado de D (Js 19.41-45). Lugares relacionados: Aijalom, Zor e Ir-Semes, situa-se a cerca de 24 km a oeste de Jerusalm. Provavelmente uma variante de S a a l b im .

    SAALBIIV. ( M tP , LXX 0aXa|iiv, e aaafiin, raposas ou lugar de raposas). Um lugar em D, no qual os amorreus foram capazes de se manter em meio s conquistas hebraicas (Jz 1.35). Salomo fez dele um dos centros administrativos para a organizao de suas provises (lRs 4.9). O adjetivo gentlico, saalbonita, usado para Eliaba (2Sm 23.32; lCr 11.33, Eliaba, de Saalbon na RSV e B J) pode preservar a forma gentlica de Saalbim, visto que Saalbon no ocorre como nome de

  • 266 SAALBONITA / SBADO

    localidade em lugar algum. provavelmente o mesmo que Saalabim (q.v.), visto que ambos tem as mesmas associaes geogrficas gerais (e.g. Aijalom), e suas diferenas morfolgicas so facilmente explicveis.

    O contexto de Josu 19.42 e 1 Reis 4.9 localizaria Saalbim na regio de Estaol, Bete-Semes e Aijalom, cerca de 24 km a Oeste de Jerusalm, no territrio de D. Geralmente sugerida a moderna Selbit, a cerca de 5 km a noroeste de Aijalom e 13 km ao norte de Bete-Semes, como sua identificao; mas esta identificao incerta.

    A. B o w lin g

    SAALBONITA. Veja S a a l b im .

    SAALIM raposas ou buracos, LXXZaaA,et|i e ZeyaA,en). Uma regio no identificada na qual Saul procurou peias jumentas de seu pai (1 Sm 9.4). Consideraes lingsticas sugerem sua identificao com Saalbim (q.v.) em D, ou com a terra de Sual(q.v.; ISm 13.17)aonortedeMicms, mas nenhuma destas identificaes segura. A informao disponvel indica somente que era um tanto prximo do territrio de Benjamim.

    A. B o w lin g

    SAAR hrri>). A traduo da KJV e ARC de nns no ttulo do Salmo 22. Na mitologia cananita Saar e seu irmo gmeo Salem eram filhos de El, o deus mais antigo do panteo cananita. Saar era o deus do amanhecer, e Salem, do anoitecer. Eles eram comparveis a Castor e Polux da mitologia clssica.

    BIBLIOGRAFIA. C. H. Gordon, Ugaritic Literature (1949), 60-62; G. R. Driver, Canaanite Myths and Legends (1956), 22, 23, 123.

    S. B a r abas

    SAARAIM ( ,_OT, dois portes). 1. Uma torre no Sefel (plancie de colinas) a sudoeste de Jerusalm (Js 15.33-36). O vale de El (moderno Wadi es-Sant), do qual os filisteus retiraram-se em 1 Samuel 17, identificado como caminho de Saaraim (v. 52). Isto apenas sugere que Saa- raim comandava este vale, no necessariamente que Saaraim estava abaixo de Azeca (v. 1). Sua localizao desconhecida.

    2. Um povoado simeonita ao sul de Jud (lCr4.28-31). Uma comparao com outras relaes

    de cidades (Js 15.27-32; 19.2-6) sugere sua identificao com Silim (q.v.) e Sarum (q.v.), mas estas listas no so semelhantes o suficiente para estabelecer a identidade. Sua localizao desconhecida.

    3. (Dnniff). Um descendente de Benjamim. Teve trs esposas e nove filhos (lCr 8.8).

    A. B ow lin g

    SAASGAZ (nmw). Um camareiro de Assuero, rei da Prsia; um eunuco que estava encarregado das concubinas, incluindo Ester (Et 2.14).

    SAAZIM A (n^Tiiii; hebraico margem nsna?; LXX, AZctai|ia; possivelmente lugar(es) alto(s); a sugesto de KB ao ler a margem hebraica como dual: sa-h-sa-yi-ma, dois lugares altos ou morro duplo). Um lugar na fronteira setentrional de Issa- car, entre o Monte Tabor e Bete-Semes (Js 19.22). Sugere-se a moderna El Kerm como uma identificao por causa de sua localizao apropriada na divisa entre as bacias de Issacar e Naftali.

    A. B ow lin g

    SABACTNI. Veja E u , E l i, L a m s a b a c t n i.

    SABAD O . (ruit>, cessao, descanso ; LXX crppaTOV, sbado, semana). O dia da semana de descanso e adorao dos hebreus, que era observado no stimo dia da semana, comeando ao por do sol na sexta-feira e terminando ao por do sol no sbado.

    I. Origem do sbadoA. Teorias sobre a origem

    1. Teoria planetria2. Teoria pan-babilnica3. Teoria do festival lunar

    B. Ensino da Bblia1. A santificao do stimo dia na

    criao2. A ordenana a respeito do man3. O quarto mandamento do declogo

    II. Histria do sbadoA. O sbado da legislao mosaicaB. O sbado nos livros histricos e pro

    fticos do ATC. O sbado no perodo intertestamentrioD. O sbado no perodo do NT

  • SBADO 267

    1. Jesus e o sbado2. Paulo e o sbado

    E. O sbado no perodo ps NT

    III. Conceitos sobre a obrigao crist deguardar o sbadoA. O conceito do sbado cristoB. O conceito do stimo dia

    I. O r ig e m do sbad o

    A. Teorias sobre a origem . 1 . Teoria p la n e t r ia . Geralmente se concorda que a origem do sbado est intimamente relacionada origem da semana. No sc. 19 acreditava-se que a semana de sete dias surgiu da antiga venerao dos sete planetas. Na astrologia da antiga Babilnia estes incluam o sol, a lua e cinco dos corpos celestiais conhecidos como planetas hoje Marte, Mercrio, Jpiter, Vnus e Saturno. Os dias da semana, ento, eram chamados conforme os planetas ou dos deuses associados a estes. Os nomes atuais dos dias da semana refletem esta antiga considerao pelos planetas. Sunday, domingo em portugus, nomeado chamado por causa do sol, sun em ingls; Monday, segunda-feira, da lua, moon, em ingls; Tuesday, tera-feira, de Marte (cp. francs mardi)-, Wednesday, quarta-feira, de Mercrio (cp. francs mercredi)', Thursday, quinta- feira, de Jpiter (cp. francs jeudi); Friday, sexta- feira, de Vnus (cp. francs vendredi); e Saturday, sbado, de Saturno. Todavia, no h prova de que os nomes dos planetas foram aplicados aos dias a semana at o incio da era crist (Willy Rordorf, Sunday, pgs. 24-27). Alm disso, no h qualquer conhecimento seguro de que o reconhecimento dos sete planetas conduziu formao de uma semana de sete dias. Como conseqncia, esta teoria foi quase inteiramente abandonada antes do final do sc. 19.

    2. Teoria p a n -b a b il n ic a . A teoria mais popular no final do sc. 19, especialmente entre os crticos histricos mais liberais, era que a instituio hebraica do sbado remontava diretamente a Babilnia. Durante aquele sculo foi descoberto um nmero grande de tabletes cuneiformes. A palavra shabatum aparece em vrias deles. A palavra era empregada para designar o dcimo quinto dias do ms, ou a poca da lua cheia no ms lunar babilnico. Num dos tabletes descrito como o um nuch libbi, que foi traduzido como um dia de apaziguamento do corao, ou um dia de pacificao do deus.

    Outros tabletes babilnicos indicam que os stimo, dcimo quarto, vigsimo primeiro e vigsimo oitavo dias de certos meses eram observados como dias desfavorveis ou maus. Nestes dias o rei era proibido de comer carne assada em carvo ou qualquer comida tocada pelo fogo. Tambm era proibido que ele utilizasse sua carruagem, trocar suas roupas, ou discutir assuntos de estado. Nestes dias os sacerdotes no podiam consultar os orculos, e os mdicos no podiam tratar os enfermos. Nestes dias, de acordo com uma outra srie de tabletes de barro babilnicos, sacrifcios especiais eram oferecidos aos deuses (John R. Sampey, Sabbath, ISBE, pg. 2630; A. E. Millgram, Sabbath: The Day ofDelight, pgs. 340, 341).

    Embora hajam semelhanas remotas entre as restries dietticas e de viagem impostas sobre o rei babilnico nestes dias e algumas das leis bblicas concernentes ao sbado, as diferenas entre os dias babilnicos e o sbado hebraico excedem muito em valor quaisquer semelhanas. Os dias babilnicos eram calculados a partir do incio do ms; o sbado hebraico era observado a cada sete dias. As restries babilnicas se aplicavam apenas a certas classes da populao; o sbado hebraico era um dia de descanso para todo o povo. No havia cessao das transaes comercias nos dias babilnicos, antes eram considerados mais favorveis tais atividades; nenhum trabalho de qualquer tipo era permitido no sbado hebraico. Alm disso, o termo shabatum no era aplicado a estes dias, mas se restringia ao dcimo quinto dia do ms.

    A teoria pan-babilnica sobre a origem do sbado estava baseada no apenas na alegada semelhana entres os dias maus babilnicos e o sbado, mas tambm em alegadas similaridades entre os tabletes da criao babilnica e o relato bblico da criao. Alexander Heidel mostrou que o pico babilnico, Enuma elish, embora apresente vrias analogias aos primeiros dois captulos de Gnesis, essencialmente diferente da histria bblica da criao, e conclui que nenhuma evidncia indisputvel pode ser produzida a favor de qualquer emprstimo babilnico no registro bblico {The Babylonian Genesis, pag. 117). WalterMaier mais positivo e enftico: Se existe qualquer ligao entre o pico babilnico e o primeiro captulo de Gnesis, ento o poema cuneiforme tem de ser uma repetio desmoralizada, degenerada, vaga e mitolgica da verdade revelada da Bblia (Mimeographed Notes on Genesis, pg. 14).

    3. Teoria d o f e s t i v a l lu n ar. Outra teoria ingnua, intimamente relacionada pan-babi-

  • 268 SBADO

    lnica, de que o sbado hebraico um costume sobrevivente de um antigo festival lunar que pode ou no ser derivado da Babilnia, parece ter algum apio na Bblia. ABiblia freqentemente associa o sbado e a lua nova, em cada casr> mencionando o ltimo primeiro (2Rs 4.23; Is 1.13; Am 8.5). Uma passagem do Pentateuco parece fornecer apio a esta teoria. Em Levtico 23.11,15 ordenado aos hebreus para iniciarem a contagem da oferta movida a partir do dia imediato ao sbado, que, de acordo com a tradio judaica, era interpretado como a manh aps o primeiro dia da Pscoa, que sempre caia num dia de lua cheia. Se esta tradio estiver correta a palavra sbado aqui se refere no ao sbado semanal, mas ao dia da lua cheia.

    As quatro fases da lua ocorrem aproximadamente a cada sete dias. Pensava-se que os dias nos quais a lua nova, cheia, crescente e quarto minguante apareciam eram observados com sacrifcios ao deus lunar, e depois pelo descanso do trabalho (R. J. Floody, Scientific Basis ofSabbath and Sunday, pgs. 44,45). As seguintes consideraes sustentam a idia de que havia algum tipo de relacionamento entre a observncia das fases da lua e a do sbado semanal: (1) os calendrios antigos estavam baseados nos movimentos da lua;(2) os judeus celebravam o dia da lua nova com sacrifcio e festa e, provavelmente, com a suspenso das ocupaes dirias (ISm 20.18-34; 2Rs 4.23);(3) os judeus tinham certos sbados estabelecidos que caam no dia da lua cheia, a saber, a Pscoa, a festa dos Tabernculos e a festa do Purim; (4) o shabatum babilnico, que era usado para designar o dcimo quinto dia do ms, ou a poca da lua cheia no ms lunar babilnico, etimologicamente equivalente ao shabat hebraico.

    O sbado hebraico, entretanto, no tinha ligaes com as fases da lua. Ocorria ao trmino de uma semana peridica de sete dias que era independente tanto do ms lunar quanto do ano solar. Millgram conclui:

    Ainda permanece a questo, como poderia ou como aconteceu que a antiga observncia semtica da lua nova e cheia, ou a observncia das quatro fases da lua como dias maus, se transformassem na semana peridica com seu sbado humanitrio? Esta pergunta no pode ser respondida satisfatoriamente.A nica concluso que possa ser extrada que a semana hebraica de sete dias, com seu dia de descanso humanitrio como o temos na atualidade, uma criao nica do carter religioso hebraico e uma das mais

    valiosas contribuies hebraicas civilizao humana (A. E. Millgram, Sabbath: TheDay ofDelight, pg. 342).

    B. Ensino da Bblia. 1. A sa n tif ic a o d o s t im o d ia n a cr ia o . Os hebreus no reivindicam ser os criadores desta instituio nica. Eles afirmam que o prprio Deus seu criador. O registro disso est preservado na Bblia. A origem divina do sbado descrita nos captulos iniciais de Gnesis. Os primeiros dois captulos descrevem a atividade criadora de Deus durante e seis dias e sua santificao do stimo dia por ter ele cessado a sua obra de criao (Gn 1.12.3). A palavra sbado no empregada, porm certo que o autor tinha a inteno de afirmar que Deus abenoou e santificou o stimo dia como o sbado.

    O arranjo da narrativa da criao em seis perodos chamados dias, seguido por um stimo dia de descanso, parece ter sido feito propositalmente desta forma a fim de estabelecer um dia sagrado semanal. O ensino bblico posterior sobre o sbado parece corroborar com isto. O quarto mandamento do Declogo, conforme registrado em xodo, oferece como motivo da observncia israelita do sbado o fato de que em seis dias, fez o Senhor os cus e a terra, o mar e tudo o que neles h e, ao stimo dia, descansou; por isso, o Senhor abenoou o dia de sbado e o santificou (x 20.11). As palavras de Jesus, O sbado foi estabelecido por causa do homem, e no o homem por causa do sbado (Mc 2.27), aponta para trs, para alm do mandamento mosaico para o propsito e vontade original de Deus. Elas indicam que o sbado veio a existir quando o homem veio a existir (grego yvexo).

    Parece claro, portanto, que a origem e a instituio divina do sbado aconteceu no princpio da histria humana. Naquela ocasio Deus no apenas providenciou um exemplo divino de guardar o stimo dia como um dia de descanso, mas tambm abenoou e santificou o stimo dia para uso e benefcio do homem. No h meno da observncia do sbado pelos patriarcas, embora um perodo de sete dias seja mencionado vrias vezes no relato de No e do dilvio (Gn 7.4,10; 8.10,12), e uma semana mencionada na histria de Jac e Raquel (29.27). Se os patriarcas tinham conhecimento ou observavam o sbado no importa; a revelao de Deus a Moiss era de que ele havia institudo o sbado ao trmino da criao.

    2. A a rd e i lana a r e s p e i to d o m an . Aprimeira meno da palavra sbado est em xodo 16.23 que apresenta algumas regras a respeito

  • SBADO 269

    do recolhimento e preparao do man, quando os israelitas estavam no deserto de Sim. Ao comando do Senhor, Moiss ordenou ao povo a recolher e preparar uma poro dupla de man no sexto dia em relao aos outros dias (Ex 16.5). Quando os lderes da congregao relataram a Moiss que o povo havia feito assim, ele respondeu, Isto o que disse o Senhor: Amanh repouso, o santo sbado do Senhor (16.22,23). No dia seguinte Moiss ordenou ao povo consumir o que havia sobrado e acrescentou, porquanto o sbado do Senhor; hoje, no o achareis no campo. Seis dias o colhereis, mas o stimo dia o sbado; nele, no haver (16.25,26). Alguns do povo, apesar deste mandamento explcito, saram a fim de recolher man no stimo dia (16.27). Neste momento o Senhor disse a Moiss, At quando recusareis guardar os meus mandamentos e as minhas leis? Considerai que o Senhor vos deu o sbado; por isso, ele, no sexto dia, vos d po para dois dias; cada um fique onde est, ningum saia do seu lugar no stimo dia (16.28,29).

    Esta passagem mostra que Israel certamente conheceu o sbado antes da entrega da lei no Sinai. Eles no chegaram no Sinai seno no ms seguinte (16.1; 19.1). Esta passagem tambm mostra que esta no foi a primeira instituio do sbado. A maneira incidental em que a matria introduzida e a repreenso do Senhor pela desobedincia do povo sugerem que o sbado j era previamente conhecido. A pergunta do Senhor, At quando recusareis guardar os meus mandamentos e as minhas leis? soa como se j existisse h muito tempo. De fato, a equiparao do sbado com o stimo dia, a declarao de que o Senhor deu aos israelitas o sbado e o registro de que o povo, ao comando de Deus, descansasse no stimo dia, tudo aponta inequivocamente para a instituio primitiva do sbado.

    3. O q u a r to m a n d a m e n to d o D e c lo g o . O quarto mandamento em si no tem a pretenso de ser a primeira promulgao do sbado. Suas palavras introdutrias, Lembra-te do dia de sbado (Ex 20.8), sugere que o sbado j era sido conhecido, mas foi esquecido ou era negligenciado. O motivo dado no mandamento para a snatificao do sbado foi o exemplo de Deus ao terminar sua criao (20.9-11). O mandamento apontou de volta para a instituio original do sbado.

    O quarto mandamento fez do sbado uma instituio distintamente hebraica. Fez parte integral da aliana que Deus fez no Sinai com Israel. A aliana

    consistiu dos dez mandamentos proclamados pelo prprio Senhor no monte (Dt4.13; 5.2-21). O quarto mandamento tem uma posio central nesta aliana, servindo como uma ponte de ligao entre aqueles mandamentos que tm a ver com obrigaes para com Deus e para com o homem.

    Os Dez Mandamentos so prefixados por uma declarao de que Deus havia tirado Israel da terra do Egito (x 20.2; Dt 5.6). Estas palavras podem ser aplicadas em seu sentido literal apenas aos filhos de Israel. O estilo dos mandamentos em si tambm indica que eles eram especificamente dados aos israelitas. O quinto mandamento contm uma promessa de longevidade na terra que o Senhor estava prestes a dar a Israel (Ex 20.12; Dt 4.16). Semelhantemente, a verso deuteronmica do quarto mandamento apresenta a libertao de Israel da servido no Egito como a principal razo para a observncia do sbado (Dt 5.15). Guardar o sbado declarado, em outro lugar, como um sinal da obedincia de Israel a Deus (Ex 31.13; cp. Ne 9.14). Serve para distinguir Israel das outras naes. No pode haver dvida de que em seu contexto e aplicao originais a ordenana sabtica era uma lei intencionada apenas para o povo de Israel.

    Ao mesmo tempo, evidente que o quarto mandamento contm princpios que so aplicveis a todos os povos. Ele reconhece a obrigao moral do homem de adorar seu Criador, para o que tempos e lugares determinados para a adorao so necessrios, assim como a cessao das ocupaes comuns da vida. Reconhece tambm a necessidade bsica do homem de um dia semanal de descanso. A histria do homem tem demonstrado sua necessidade de recuperao de suas energias fsicas e mentais uma vez a cada sete dias, assim como tambm sua necessidade de ter um dia da semana separado para a devoo e instruo espirituais. O mandamento sabtico fez provises para estas necessidades dos antigos israelitas.

    II. H ist ria do s bad o

    A. O sbado da legislao mosaica.Os regulamentos para a observncia do sbado na legislao mosaica so relativamente simples. O sbado tinha de ser observado a cada sete dias; tinha de ser observado por todos: servos, humildes animais de carga, membros do lar hebraico e convidados que se encontravam dentro de seus portes, a todos foi ordenado parar de trabalhar naquele dia (x 20.8-11; Dt 5.12-15).

    O aspecto humanitrio desta desobrigao do trabalho no sbado especialmente enfatizado em

  • 270 SBADO

    Deuteronmio, onde a libertao de Israel da servido opressiva do Egito apresentada como a razo para a guarda do sbado (Dt 5.14,15). A coleta de man no stimo dia foi expressamente proibida (x 16.27-29). Semelhantemente, ascender um fogo no sbado era proibido (35.3). Apenalidade por profanar o sbado, fazendo qualquer tipo de trabalho nele, era a morte (31.14). O homem que foi encontrado recolhendo lenha no sbado foi apedrejado at a morte (Nm 15.32-36).

    O sbado, todavia, no era um dia de inatividade total. Os sacerdotes exerciam seus ofcios junto ao Tabernculo. Os pes da proposio tinham de ser postos na mesa no lugar santo no dia de sbado (Lv 24.8). Um sacrifcio especial, alm do sacrifcio dirio normal, tinha de ser oferecido no dia do sbado (Nm 28.9,10). O rito da circunciso era realizado no sbado, se este fosse o oitavo dia aps o nascimento da criana (Lv 12.3; cp. Jo 7.22). O sbado listado entre as festas sagradas, as festas fixas do Senhor (23.1-3). Esta, como as outras, era proclamada como uma santa convocao (23.3). Isto s pode significar que era considerado um dia para se convocar a congregao de Israel para adorao. Na antiga histria dos israelitas o sbado era um dia de descanso saudvel do trabalho e de adorao solene no santurio de Deus.

    B. O sbado nos livros histricos e profticos do AT. A primeira meno ao sbado nos livros histricos est em 2 Reis 4.23, que contm uma pergunta proferida pelo marido da mulher sunamita, em cuja casa Eliseu fora hospedado. Ela pediu a seu marido um dos moos e um dos jumentos, a fim de ir procurar o profeta (4.22). Seu marido expressou surpresa diante de seu pedido e disse, Por que vais a ele hoje? No dia de Festa da Lua Nova nem sbado (4.23). Sua meno ao sbado foi incidental, mas seu comentrio simplesmente sugere que era normal suspender o trabalho e visitar o profeta no sbado.

    Visitar um profeta no sbado seria necessariamente limitado a poucos. H evidncia de que visitar o Templo no sbado era um costume mais comum. H vrias referncias em Crnicas ao ritual realizado no Templo neste dia (lCr 9.32; 23.31; 2Cr2.4; 8.13; 23.4; 31.3). O profeta Isaas, em sua condenao da hipocrisia dos adoradores, parece indicar que congregaes aconteciam assemblias no Templo nesse dia (Is 1.13).

    Isaas denunciou a observncia sabtica formalstica de seu tempo (1.12,13), e definiu a verdadeira observncia do sbado como deixar de lado seus prprios modos e seus prprios prazeres,

    e alegrando-se no Senhor (58.13,14). Outros profetas levantaram suas vozes em protesto contra o abuso do sbado (Jr 17.21,22; Ez 22.8; Am 8.4). Eles consideravam a destruio de Jerusalm e o cativeiro dos judeus como devidos, pelo menos em parte, profanao do sbado (Jr 17.27; Ez 20.23,24). Osias predisse que Deus faria cessar o sbado de Israel por causa da sua infidelidade (Os 2.11); mas esclarecido por Isaas e Ezequiel (Is 66.23; Ez 44.24) que esta cessao no tinha a inteno de ser permanente.

    Durante o perodo do exlio, o sbado cresceu em proeminncia, quando comparado a outras festas judaicas, visto que era independente do Templo em Jerusalm, enquanto que as outras festas dependiam daquele centro religioso. No perodo do retomo do exlio, a observncia foi restaurado na Palestina, em grande parte por meio das reformas de Neemias. No seu regresso Palestima, ele ficou surpreso ao ver a profanao difundida do dia sagrado. Pessoas trabalhavam nos campos, ajuntavam colheitas e compravam e vendiam publicamente no dia de sbado. Neemias repreendeu os nobres de Jud e ordenou que os portes de Jerusalm fossem fechados durante o sbado (Ne 13.15-22). Seus vigorosos esforos foram grandemente responsveis pelo estabelecimento do sbado como um dia de descanso universal entre os judeus da Palestina.

    C. O sbado no perodo intertesta- m entrio. Nos anos seguintes as reforma de Neemias e Esdras, seus sucessores, os escribas, desenvolveram um cdigo de regulamentos e restries que regiam as observncias sabticas. Este cdigo tinha a inteno de salvaguardar e preservar o esprito do sbado, como a casca protege a semente. Foi uma tentativa de cercar a lei de forma que sua observncia correta fosse garantida. A discusso de casos verdadeiros ou hipotticos conduziu formulao de trinta e nove artigos, os quais proibiam toda sorte de trabalho comum de agricultura, industria e domstico, a no ser que fosse pela sua natureza, ou dependendo das circunstncias do caso, necessrio (G. F. Moore, Judaism in the First Centuries of the Christian Era, pp 27-30).

    Os esforos dos escribas para promover um respeito pelo sbado hebraico foram bem sucedidos. O sbado se tomou to profundamente arraigado na conscincia judaica e to valorizado pelo judeu individual, que nos dias dos Macabeus muitos preferiram morrer a profan-lo. Os judeus se recusaram a participar em batalhas, at mesmo em

  • SBADO 271

    autodefesa, no seu dia santo. Posteriormente, porm, Matatias, o lder da revolta contra a tirania de Antoco IV, determinou que era permitido levantar armas em autodefesa no sbado (IMac 2.41).

    A deciso de Matatias significante porque foi o primeiro de muitas outras designadas a liberalizar as restries da observncia do sbado. Muitas formas foram desenvolvidas a fim de tomar conhecida a letra da lei. O motivo para a extensa casustica sobre o sbado era indubitavelmente, tomar a lei mais praticvel, mas isto conduziu a muitas interpretaes extravagantes e forcadas. Por exemplo, a partir da interpretao rabnica do mandamento de xodo 16.29 que diz cada um fique onde est no dia do sbado, foi determinado que a jornada de um dia de sbado no devia exceder 1000 m alm da casa da pessoa. Contudo, se um homem colocasse nesta distncia no dia anterior ao sbado comida suficiente para duas refeies, por meio deste ato ele a consistia em sua habitao e, portanto, podia continuar por mais 1000 m. Semelhantemente, se famlias que viviam em casas individuais que davam para um ptio comum depositassem alimento no ptio antes do sbado, estabelecendo com isso uma ligao entre as casas e transformando-as numa s habitao, lhes era permitido transportarem coisas de uma casa para outra sem quebrar a lei (A. Edersheim, The Life and Times of Jesus the Messiah, Vol. II, pg. 777).

    Uma das caractersticas mais distintas deste perodo foi o surgimento da sinagoga. A sinagoga se tomou o centro da vida religiosa do Judasmo, no apenas naqueles lugares que estavam distantes de Jerusalm, mas tambm ao lado do Templo em Jerusalm. A freqncia sinagoga se tomou habitual no dia do sbado (cp. Lc 4.16). O sbado hebraico se tomou distintamente um dia de adorao, uma adorao largamente ligada sinagoga.

    D. O sbado no perodo do NT. 1. Jesus e o sbado. No incio do perodo do NT o verdadeiro significado do sbado havia sido obscurecido pelas numerosas restries postas sobre sua observncia. A observncia do sbado se tomou basicamente extemo e formal. Os homens se tomaram mais preocupados com a observncia meticulosa de um dia do que com as necessidades pungentes dos seres humanos. Era inevitvel que Jesus entrasse em conflito com os lderes judeus por causa do sbado. Era costume de Jesus visitar a sinagoga aos sbados (Lc 4.16; cp. Mc 1.21; 3.1; Lc 13.10). Em seus ensinamentos ele confirmou

    a autoridade e validade da lei do AT (Mt 5.17-20;15.1-6; 19.16-19; 22.35-40; Lc 16.17). Sua nfase, todavia, no era em uma observncia extema da lei, antes num cumprimento espontneo da vontade de Deus que est por baixo da lei (Mt 5.21-48;19.3-9). Jesus procurou esclarecer o verdadeiro sentido do sbado mostrando o propsito original da sua instituio: O sbado foi estabelecido por causa do homem, e no o homem por causa do sbado (Mc 2.27).

    Em seis ocasies diferentes Jesus entrou em conflito com judeus por causa da discriminao deles do sbado. Ele defendeu seus discpulos por colherem espigas no sbado aludindo ao tempo quando Davi e seus homens comeram os pes da proposio (Mt 12.1-4; Mc 2.23-26; Lc 6.1-4). Ao fazer isto, Jesus colocou o mandamento do sbado na mesma categoria da lei cerimonial que proibia o comer deste po sagrado por outros alm dos sacerdotes, e ensinou que as necessidades humanas tinham precedncia sobre os requerimentos legais do sbado. Ele tambm lembrou seus crticos de que os sacerdotes no Templo profanavam o sbado e eram inocentes (Mt 12.5). Ele, sem dvida, se referiu prtica prescrita na lei sobre circuncidar no sbado, se isto for o oitavo dia aps o nascimento (Lv 12.3; Jo 7.22,23). Conseqentemente, a lei cerimonial que requer a circunciso da criana oito dias aps o nascimento assumiu precedncia sobre a lei do sbado. Foi nesta mesma ocasio que Jesus disse que o sbado foi feito para o homem e no o homem para o sbado (Mc 2.27), indicando que ele considerava o sbado como uma providncia para a necessidade e bem estar do homem, e no como um requerimento legal opressivo. Foi tambm nesta ocasio que Jesus afirmou seu senhorio sobre o sbado (Mt 12.8; Mc 2.28; Lc 6.5).

    Jesus expressou ira para com aqueles judeus na sinagoga em Cafamaum que demonstraram mais interesse pela observncia meticulosa do sbado do que pelo ser humano que era privado do uso de uma mo, e o curou diante de todos eles (Mc 3.1-5). Numa outra ocasio, quando o chefe da sinagoga ficou indignado porque Jesus curou uma mulher que tinha um esprito de enfermidade durante dezoito anos, ele defendeu sua ao apelando para a prtica comum de soltar os animais domsticos a fim de os levar para beberem gua no sbado (Lc 13.10-17). Novamente, quando Jesus, sob os olhares crticos dos fariseus, curou um homem hidrpico no sbado, ele se defendeu perguntando aos seus crticos se deixariam de resgatar um boi ou jumento que havia cado num poo naquele dia (14.1-6).

  • 272 SBADO

    As outras duas ocasies quando as aes de Jesus no sbado provocaram conflito com os lideres judeus so registradas em Joo. Uma foi a cura do homem impotente no tanque de Betesda (Jo5.1-18); a outra foi a cura do homem que nasceu cego (9.1-41). Na primeira destas ocasies Jesus defendeu seu direito de curar no sbado com base em que seu Pai no parava suas atividades beneficentes naquele dia (5.17) e na segunda ocasio ele condenou a cegueira espiritual dos fariseus (9.40,41).

    Em todos estes exemplos Jesus mostrou que ele colocava a necessidade humana acima da simples observncia externa do sbado. Jesus nunca fez ou disse qualquer coisa a fim de tirar do homem os privilgios proporcionados por um dia de descanso como este Por outro lado, no se pode dizer que Jesus tinha a inteno de perpetrar o sbado hebraico ou estendeu sua aplicao a todos os homens. No que diz respeito ao registro dos evangelhos, ele nunca fez meno ao quarto mandamento. Ao enfatizar o princpio que est por traz da lei, o esprito e propsito da lei, ao invs dos seus regulamentos formais e externos, ele preparou o caminho para a abolio de todas as leis e ordenanas externas do AT.

    2. Paulo e o sbado. Os primeiro cristos eram judeus fieis. Eles adoravam diariamente no Templo em Jerusalm (At 2.46; 5.42). Eles observavam os servios na sinagoga (At 9.20; 13.14; 14.1; 17.1,2,10; 18.4). Eles honravam a lei de Moiss (21.20). Os cristos judeus sem dvida continuaram a observar o sbado. Quando os gentios foram introduzidos na comunidade crist, levantou-se um problema com respeito relao deles para com a lei judaica. Havia aqueles que insistiam na necessidade deles se submeterem ao rito da circunciso e guardar a lei de Moiss, que, naturalment, incluiria o mandamento sabtico (At 15.1,5; G1 2.3-5). Outros, dos quais Paulo se tomou lder, afirmavam que no era necessrio que os gentios convertidos aceitarem a religio do Judasmo. Paulo argumentava que, visto que eles receberam o Esprito sem que observassem a lei, eles no eram obrigados a adotar o cerimonial judaico para poder viver em justia (G1 3.2,3; cp. At 15.7-10)

    O apstolo Paulo considerava a lei como um jugo de servido do qual os cristos tinham de ser libertos (G1 5.1). Em sua revolta contra a lei externa (P. Cotton, From Sabbath to Sunday, pg.11) Paulo no fez distino entre a lei moral e a cerimonial. Era tudo parte da antiga aliana que

    foi abolida em Cristo (2Co 3.14). O sbado est definitivamente includo no escrito de dvida, que era contra ns e que constava de ordenanas, que, declara Paulo, Deus cancelou e removeu inteiramente, encravando-o na cruz (Cl 2.14). Ele mencionado juntamente com festas e luas cheias, sendo todas declaradas ser apenas sombra das coisas que haviam de vir (2.16,17). Guardar dias e meses, e tempos, e anos, ser escravo aos rudimentos fracos e pobres (G14.9,10; cp. Cl2.20). A observncia de dias uma caracterstica do homem que dbil na f (Rm 14.1-5).

    Paulo no fornece qualquer base para se impor o sbado hebraico aos cristos. O cristo est livre do peso da lei. O Esprito de Cristo o capacita a cumprir a vontade de Deus sem que precise observar externamente as demandas da lei. O autor de Hebreus, semelhantemente, fala do sbado hebraico apenas como um tipo de descanso de Deus, que a herana de todo o povo de Deus (Hb4.1-10). Ele no instrui seus leitores a guardarem o sbado, antes ele os estimula a esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso (4.11).

    E. O sbado no perodo ps NT. Osprimeiros Pais da Igreja do 2- e 3a scs. eram praticamente unnimes em sua opinio sobre o sbado hebraico. Alguns insistiam que foi completamente abolido; outros enfatizavam seu carter tpico; mas todos concordavam que no era obrigatrio ao cristo.

    Incio, discpulo do apostolo Joo e bispo de Antioquia, escreveu ao povo de Magnsia (atualmente Manisa, lurquia) nos primeiros anos do sc. 22: No sejam enganados com doutrinas estranhas, nem com fbulas antigas. Pois se ainda vivemos de acordo com a lei judaica, estamos admitindo que no recebemos a graa; e ento prossegue em categorizar seus leitores como aqueles que foram criados na ordem antiga das coisas mas que haviam alcanado a posse de uma nova esperana, no mais observando o sbado (The Ante-Nicene Fathers, Vol. I, pgs. 62, 63).

    Justino Mrtir, o primeiro grande apologista cristo em meados do sc. 2e, explica em seu Dilogo com Trifo porqu os cristos no guardam a lei de Moiss, no se submetem circunciso, ou observam o sbado. Ele afirma que (1) a verdadeira observncia do sbado sob a nova aliana guardar um sbado perptuo que consiste em desviar do pecado; (2) os homens justos de antigamente, Ado, Abel, Enoque, No e semelhantes, agradaram a Deus sem que guardassem o sbado; e (3) Deus imps o sbado sobre os israelitas por causa

  • SBADO 273

    de sua injustia e dureza de corao (The Ante-Ni- cene Fathers, Vol. I, pgs. 199, 200, 204, 207).

    Irineu, o bispo de Lion durante a ltima parte do sc. 2-, considerou o sbado como simblico do futuro reino de Deus, no qual o homem que tiver perseverado em servir a Deus, participar, num estado de descanso, mesa de Deus (Aganist Heresies, BookIV, cap. 16, The Ante-Nicene Fathers, Vol. I. pg. 481). Ele cita Abrao como exemplo de algum que creu em Deus sem a circunciso e sem a observncia do sbado (ibid.).

    Clemente de Alexandria, escrevendo em Stromata por volta do final do sc. 2, diz: O sbado, pela abstinncia do mal, parece indicar autodomnio (BookVH, cap. 12, The Ante-Nicene Fathers, Vol. II, pg. 545).

    Tertuliano, no comeo do sc. 3-, diz: Nada temos a ver com os sbados ou as outras festas judaicas, muito menos com as dos pagos (On Idolatry, cap. 14, The Ante-Nicene Fathers, Vol.III, pg. 70). Numa outra obra ele diz que aqueles que argumentavam em favor da obrigao continuada de guardar o sbado e da circunciso deveriam mostrar que Ado e Abel, No e Enoque e Melquisedeque e L tambm observaram estas coisas. Ele prossegue dizendo que o sbado era uma figura do descanso do pecado e tpico do descanso final do homem em Deus. Isto, juntamente com outros regulamentos cerimoniais da lei, tinha a apenas pretenso de durar at que um novo Legislador se levantasse para introduzir as realidades das quais estes eram sombras (An Answer to the Jews, cap. 2, The Ante-Nicene Fathers, Vol. III. pgs. 153, 155, 156).

    O sbado hebraico certamente continua sendo observado pelos judeus no cristos at os dias de hoje. Durante os primeiros sculos alguns judeus cristo tambm continuaram na prtica de observar o stimo dia da semana, assim como a reunio para adorao no primeiro dia da semana. Porm sua influncia sobre o Cristianismo, embora discemvel por vrios sculos, especialmente no Oriente, minguou rapidamente aps a destruio de Jerusalm em 70 d.C. (P. Cottton, From Sabbath to Sunday, pgs. 58-63). O testemunho dos Pais ante-nicnos que para a grande maioria dos cristos o sbado era uma instituio judaica que no era obrigatria para os cristos.

    III. C on c eito s so br e a obr ig a o cr istDE GUARDAR 0 SBADO

    A. O conceito do "sbado cristo".Este conceito defende que o domingo o sbado

    do cristo, cuja observao uma obrigao moral com base no quarto mandamento do Declogo. Philip Schaff, o historiador ingls da igreja, o chama de teoria anglo-americana porque tem sido to largamente aceito na Gr Bretanha e Estados Unidos. Ele localiza sua origem nos puritanos, no final do sc. 16 (P. Schaff, History of the Christian Church, Vol. VT, pg. 494).

    Este conceito enfatiza a instituio divina do sbado ao trmino da criao. A bno e santificao do stimo dia por Deus so tomados como significando que ele pretendia que um dia em cada sete fosse observado por todos os homens, em todos os tempos, como um dia de descanso e adorao. O quarto mandamento do Declogo, que alude instituio primitiva do sbado, considerado um mandamento moral e, portanto, de obrigao universal e perptua. Argumenta-se que o dia da semana em que o sbado deve ser observado no era a essncia da lei, antes a observao de um dia em cada sete. Jesus afirmou que ele senhor tambm do sbado (Mc 28) e, portanto, tinha a autoridade de mudar o dia da sua observncia. Geralmente aceito que esta mudana ocorreu durante os quarenta dias entre a ressurreio e ascenso de Cristo, quando ele falou com eles a respeito do reino de Deus (At 1.3).

    Sabadeadores ou sabatistas insistem que Jesus pretendia perpetuar o sbado e estender sua aplicao a todos os homens. Muita nfase colocada na declarao de Jesus, O sbado foi estabelecido por causa do homem, e no o homem por causa do sbado (Mc 2.27), como evidncia de que Jesus considerava o sbado como uma instituio que est baseada na prpria constituio do homem e que foi institudo por Deus desde o prprio princpio, no apenas para Israel, mas para toda a raa humana (W. F. Crafts, The Sabbath for Man, pg. 366). Os ensinos de Paulo a respeito do sbado so tomados como se referindo apenas ao sbado judaico e no ao sbado cristo.

    Este conceito agradou muitos cristos porque procura estabelecer uma base escriturstica firme para a observncia do domingo, fundamentando sua observncia no quarto mandamento. A Bblia de fato, ensina que Deus instituiu o sbado ao final da criao (Gn 2.3). O sbado identificado como o stimo dia (Gn2.3; x 16.29; 20.10; Dt 5.14), no como um dia em sete. H um elemento moral no quarto mandamento, pois faz proviso para a adorao de Deus. H, todavia, tambm elementos cerimoniais no mandamento, que se aplicavam apenas aos israelitas. Embora este mandamento esteja includo entre as leis morais do Declogo,

  • 274 SBADO

    tambm est includo entre as observncias civis e religiosas, que eram obviamente temporais e provisionais. O prprio Jesus tratou a lei sabtica como cerimonial quando defendeu seus discpulos por colher milho no sbado. A lei moral nunca pode ser suspensa por circunstancias de fome ou pelos requerimentos de um regulamento meramente cerimonial. Paulo no fez distino entre leis cerimoniais e morais quando declarou que toda lei externa est abolida para o cristo.

    A fraqueza bsica desta teoria o ensino de que ocorreu uma mudana no dia da semana a ser observado como o sbado. No h a mais leve sugesto no NT de que Jesus transferiu o sbado para outro dia da semana, nem que uma outra pessoa o tenha feito. Alem do mais, se algum insistir na obrigao perptua e universal do quanto mandamento e, ao mesmo tempo, reconhecer que no h nenhuma base no NT para uma mudana no dia da sua observncia, a nica posio lgica, qual se forado, manter que o stimo dia da semana e no o primeiro deve ser observado como o sbado, conforme estipula o quarto mandamento. Esta precisamente a posio que tomada pelos sabatistas do stimo dia.

    B. O conceito do sbado no stimo dia. Este conceito, defendido pelos batistas do stimo dia oriundos da Inglaterra no sc. 17 e pelos adventistas do stimo dia oriundos da Amrica no sc. 19, insiste que os cristos so obrigados a guardar o stimo dia da semana como o sbado. Em apoio a esta posio eles apelam grandemente ao AT, especialmente linguagem do quarto mandamento, a qual, eles apontam, claramente declara que o stimo dia o sbado, estabelecido por Deus a fim de comemorar sua obra de criao. Os Dez Mandamentos so apresentados como a lei de Deus, e diferenciados das leis cerimoniais e civis que so chamadas a lei de Moiss (A. L. Baker, Belief and Work o f Seventh-Day Adventists, pg. 74).

    Os sabatistas do stimo dia tambm encontram evidncia para a observncia do stimo dia no NT. Eles apelam para a prtica de Jesus e dos apstolos de ir sinagoga no sbado (Lc 4.16, At 13.14,42; 16.13; 17.1,2; 18.4). Eles apelam para a profecia de Jesus a respeito da destruio de Jerusalm e a sua exortao a que seus discpulos orassem para que sua fuga no ocorresse no dia de sbado (Mt24.20). Eles at argumentam que a referncia em Apocalipse 1.10 ao dia do Senhor uma referncia ao sbado do stimo dia (ibid., pgs. 73, 74).

    Uma vez que, de acordc. com os adventistas do stimo dia, intil procurar pela mudana da

    observncia do stimo dia para o primeiro dia no NT, eles afirmam que esta mudana foi efetuada pela Igreja Catlica Romana. Eles ensinam que durante os primeiros sculos da Igreja, uma grande apostasia aconteceu, na qual a festa pag do domingo gradualmente foi substituda pelo antigo sbado por lderes no consagrados da igreja e pelo imperador meio pago Constantino (E. G. White, The Great Controversy, pgs. 58, 59).

    A insistncia dos sabadeadores do stimo dia sobre o carter totalmente moral do quarto mandamento e na sua obrigao perptua e universal est baseada em declaraes sem apoio na Bblia. Eles ignoram as declaraes claras de que o quarto mandamento era endereado aos israelitas que o Senhor havia libertado do Egito. Alm disso, a distino que eles fazem entre a lei de Deus e a lei de Moiss no tem apoio bblico. De maneira semelhante, sua interpretao das palavras de Cristo e de Paulo, que so citadas em defesa da perpetuidade do mandamento sabtico, se levada sua concluso lgica, prova muito. A palavra lei como empregada por Jesus e Paulo refere-se a mais que os Dez Mandamentos. Os Sabadeadores do stimo dia no insistem que todas as leis da legislao mosaica tm a inteno de serem observadas pelos cristos desta era. Porm, eles no conseguem enxergar que Paulo definitivamente incluiu o mandamento sabtico entre as ordenanas que foram abolidas em Cristo. A alegao deles de que a Igreja Catlica Romana mudou o sbado do stimo para o primeiro dia da semana sem fundamento. Apesar de haver escritores catlicos romanos que reivindicam que uma mudana como esta foi efetuada pela Igreja Catlica, a evidncia dos antigos Pais da Igreja conclusiva de que estes primeiros lderes da igreja no consideravam o domingo como uma continuao do sbado hebraico.

    Embora escritores posteriores tenham chegado a pensar no domingo como tendo alguma analogia com o sbado hebraico, e outros tenham chamado o dia santo dos cristos de um sbado (Eusbio, Commentary on the Ninety-first Psalm, citado por J. A. Hessey, Sunday, pgs. 299, 300; Alcuin, Homily post Pentecost, citado por A.E. J. Rawlinson, The World's Question and the Christian Answer, pg. 78; P. Alphonsus citado por Hassey, Sunday, pg. 903), eles basearam sua observncia mais sobre a autoridade da igreja do que sobre o quarto mandamento. Os Reformadores, embora defendessem a observncia crist do domingo, no basearam sua observncia no mandamento sabtico.

  • SBADO, JORNADA DE UM / SBADO, PASSADIO COBERTO PARA USO NO 275

    BIBLIOGRAFIA. R. L. Dabney, The Christian Sabbath: Its Nature. Design and Proper Obsen:ance (1882); W. F. Crafts, The Sabbath fo r Man ( 1885); W. W. Everts, Tiie Sabbath: Its Permanence. Promise and Defence (1885);A. E. Waffle, The Lord Is Day: Its Universal and Perpetual Obligation (1885); J. A. Hessey, Sunday: Its Origin. History' and Present Obligation (1889); W. D Love, Sabbath and Sunday (1896); H. R. Gamble, Sunday and the Sabbath (1901): R. J. Floody, Scientific Basis o f Sabbath and Sunday (1906); A. A. Hodge, The Day Changed and the Sabbath Preserved (19 16); E. G. White, The Great Controversy (1926): B. S. Easton, Lords Day, ISBE (1930); J. R. Sampey, Sabbath. ISBE (1930); G. F. Moore, Judaism in the First Centiny o f the Christian Era, Vol. II (1932): P. Cotton, From Sabbath to Sunday (1933); J. P. Hutchison, Our Obligation to the Day o f Rest and Worship (1942); A, Heidel, The Babylonian Genesis (1942); A. E. Millgram, Sabbath: The Day o f Delight (1944); A. E. J. Raw linson, The World's Question and the Christian Answer (1944); G. H. Waterman, The Origin and History of the Christian Study (tese de mestrado no publicada, Wheaton College, 1948); W. Rordorf, Sunday: The History> o f the Day o f Rest and Worship in the Earliest Centuries o f the Christian Church (1968).

    G. H. W aterm an

    SBADO, JO R N A D A DE UM (aa[3[3dxov S, jornada de sbado, jornada de um dia de sbado). Uma medida de distncia, um tanto semelhante unidade egpcia de 1000 passos duplos, que servia como o limite de viagem no sbado. A frese se tomou uma expresso comum para uma distncia relativamente curta.

    A distncia tem sido geralmente calculada como 2000 cvados ou aproximadamente 1000 m. Atos 1.12, o nico exemplo da sua ocorrncia na Bblia, especifica seu comprimento como a distncia do Monte das Oliveiras at Jerusalm. (Do porto oriental de Jerusalm ao local atual da Igreja da Ascenso no Monte das Oliveiras ligeiramente superior a 800 m).

    Admite-se que o regulamento teve sua origem no perodo mosaico, na proibio aos israelitas para no deixarem o acampamento para recolherem man no sbado (Ex 16.29). Na Targum de Jerusalm este mandamento ensina: Nenhum homem passe do local alm 2000 cvados no stimo dia. Existem outros regulamentos aos quais se apela num esforo de localizar o origem desta prtica ou preceito. Um a proviso de que a rea pertencente s cidades levticas inclua terras que se estendiam 2000 cvados a partir do muro, em cada lado (Nm 35.5). Outra a suposta distncia

    que separava a Arca e o povo tanto em movimento como acampados (Js 3.4). No que concerne a este regulamento especifico, aplicava-se somente ao deixar a cidade, sendo a distncia prescrita medida a partir do porto da cidade. Dentro da cidade propriamente dita, no importa quo grande fosse, no havia qualquer limitao deste tipo.

    A inteno original da proviso era de assegurar um sbado tranqilo e leve e de guard-lo de se tomar um dia de empreendimento e agitao (Ex16.29). Tambm foi designado a fim de manter o adorador israelita no mbito do centro da sua adorao. O motivo era nobre, mas infelizmente culminou-se num legalismo infrutfero. Como conseqncia, houve esquemas casusticos a fim de tirar vantagem disso. Todavia, permitia uma exceo legtima. Se algum fosse pego a uma certa distncia numa jornada, ele poderia ir ao um abrigo mais prximo para ter segurana. Mas havia esquemas deliberados a fim de deixar do lado a regra. Um desses esquemas era escolher uma rvore ou uma pedra a uma certa distncia, colocar um pouco de comida no local e declarar: Que esta seja minha residncia.

    BIBLIOGRAFIA. Mishnah, trad. H. Danby, Erubin, 4 (1933); J. S. Davis, Sabbath, DDB (1954), 662-665; H. Porter, Sabbath Days Journey, ISBE, IV (1955), 2634; D. J. Wiseman, Weights and Measures, NDB (1962), 1324; T. S. Kepler, Sabbath Days Journey, IDB, IV (1962), 141; P. van Imschoot, Sabbath Journey, EGB (1963), 2076.

    J. H. B ratt

    SBADO, PASSADIO COBERTO PARAUSO NO (ruwn -|023; um termo arquitetnico de significado incerto; possivelmente estrutura coberta, ou barreira); RSV, NASB e ARA o passadio coberto para uso no sbado; ARC coberta do sbado; NVI cobertura que se usava no sbado (2Rs 16.18).

    Se a derivao comum de "po, abrigar, cobrir, estiver correta, a frase se refere ao local coberto ou sala utilizado pelo rei ou pelos sacerdotes para entrar no Templo que o rei Acaz, em algum sentido, retirou da Casa do Senhor, por causa do rei da Assria (2Rs 16.18; cp. 2Cr 28.24).

    Contudo, em vista da referncia em Ezequiel 46.1 s. a um porto no Templo que era mantido aberto no sbado e no dia da lua nova, uma barreira ou grade pode ser indicada pela expresso myyasak hassabt. A derivao pode ser ento de "|0 cercar, encerrar (cp. J 3.23; 38.8).

    F. G. C arver

  • 276 SABAM / SABEDORIA

    SABAM. Forma usada na BJ para Seb em Nmeros 32.3.

    SABO DE LAVANDEIRO. Expresso hebraica (0338 m a s i , que consiste do termo m a , sal alcalino detergente extrado de plantas sabo asiticas como Mesembrianthemum cristallinum, Salicornia solacea, Salsala kali e outras semelhantes (cp. I.Lw, Die Flora der Juden [1924-19341 que so diludas pelo fogo para produzir uma massa pastosa, usada corno um alvejante, especialmente na presena de leo de oliva. O outro termo o semita oaa, pisar, misturar, e assim lavar moda do Oriente Prximo.

    W. White Jr

    SABAT. Forma na BJ para S ebate , Zacarias 1 .7 .

    SABEDORIA (nann e Viaan, destreza, habilidade, conseqentemente: criterioso, usando razo habilmente', aoc|)a, inteligncia ampla e cheia e

  • SABEDORIA 277

    diviso da criana, como o rei havia ordenada, o resultado de tudo isso foi que todos tiveram profundo respeito ao rei, porque viram que havia nele a sabedoria de Deus (lRs 3.16-28). Salomo no apenas gozou de profundo respeito por seu prprio povo, mas pessoas vieram de muitas naes para testar a sua sabedoria, nenhuma delas mais memorvel que a rainha de Sab (10.1-13), e foi acrescentada a seguinte observao assim, o rei Salomo excedeu a todos os reis do mundo, tanto em riqueza como em sabedoria (10.23). To grande foi a sabedoria atribuda a Salomo por sucessivas geraes que foi atribudo a ele o Livro de Provrbios, o de Cantares de Salomo o de Eclesiastes e, entre os livros no-cannicos, o Sabedoria de Salomo.

    Os reis das naes pags eram tidos como possuidores de sabedoria, mas a sabedoria deles foi escarnecida e ridicularizada pelos profetas. Isaas anunciou que Deus castigaria o rei da Assria por causa do seu orgulho arrogante e ostentao de que foi por sua prpria sabedoria que havia triunfado (10.12,13). Igualmente ele declarou que os prncipes de Egito eram totalmente tolos: os sbios conselheiros de Fara do conselhos estpidos (Is 19.11-13). Ezequiel denunciou o rei de Tiro em nome do Senhor porque, disse o profeta, se considere to sbio quanto Deus (Ez 28.2-9 NVI).

    C. Conselheiros. Os conselheiros dos reis e homens que permaneciam nas cortes dos reis eram considerados homens sbios, e isto no apenas entre os judeus. A Ilada de Homero est cheia de referncias a homens sbios como Odisseu e Gereman Nestor que falavam com um deus ou deusa que se encontrava ao seu lado, tomando-se porta-vozes da deidade para aconselhar o rei, freqentemente interpretando sinais e sonhos.

    Jos, quando escravizado no Egito, foi reconhecido por Potifar, seu mestre, como possuindo um entendimento superior ao dos outros homens (Gn39.1-6). Jos foi reconhecido como intrprete de sonhos quando ficou preso por causa da falsa acusao da esposa de seu mestre. O copeiro-chefe e o padeiro-chefe de Fara estavam tambm na priso e ambos sonharam. Jos interpretou os sonhos deles, um de forma favorvel e o outro, desfavorvel. Quando o copeiro foi restabelecido ao servio de Fara como Jos tinha predito, depois de se passar um perodo de mais de dois anos, ele se tomou o ponto de contato por intermdio de quem Jos foi trazido presena de Fara para interpretar um sonho que aborrecia o monarca, o qual nenhum

    homem sbio do Egito pde interpretar (Gn 40; 41). Sendo reconhecido como um sbio superior a todos os conselheiros do Fara, Jos se tomou o segundo, abaixo somente do prprio soberano (Gn 41.33-44).

    Mais tarde Moiss compareceu corte de outro Fara para dar conselho, e igualmente competiria com os homens sbios do Egito, feiticeiros e mgicos do Egito. Quando Moiss buscou a liberao dos israelitas do cativeiro ele operou milagres perante Fara, que reagiu ordenando aos mgicos do Egito que fizessem as mesmas coisas (x 7.11,22; 8.7). No fim, Moiss derrotou os homens sbios do Egito e eles mesmos confessaram o poder superior que ele possua, dizendo Isto o dedo de Deus (x 8.19).

    Tempos ainda mais tarde, Daniel e os jovens prncipes judeus foram contados entre os homens sbios que estavam a servio de Nabucodonosor, o rei da Babilnia. Eles so descritos como jovens sem nenhum defeito, de boa aparncia, instrudos em toda a sabedoria, doutos em cincia, versados no conhecimento e que fossem competentes para assistirem no palcio do rei (Dn 1.4). Mais uma vez os homens sbios de Deus entraram em conflito com os homens sbios da corte do rei. Era um sonho real que precisava ser interpretado que se tomou o problema. Nabucodonosor ordenou aos mgicos, aos encantadores, aos feiticeiros e aos caldeus da sua corte que interpretassem seu sonho. Eles falharam e o rei muito se irou e enfureceu; e ordenou que matassem a todos os sbios da Babilnia (Dn 2.12). Ento Daniel, o homem de Deus, foi habilitado mediante auxilio divino a interpretar o sonho.

    A sabedoria no estava restrita a homens entre os conselheiros reais. Ssera, o oponente de Dbora, era assistido por mulheres sbias. Depois da sua morte nas mos de Jael, a esposa de Hber, Dbora que era a mulher sbia de Israel, entoou uma cano de escrnio contra essas mulheres sbias que estavam especulando sobre a demora de Ssera em retomar da batalha, insistindo que seu lder morto estava atrasado porque estava encontrando e repartindo despojos (Jz 5.30). Joabe, servo de Davi, contratou os servios de uma mulher sbia que ele trouxe de Tecoa para ajud-lo a obter a permisso de Davi para trazer de volta a Jemsalm o jovem Absalo (2Sm 14.1-27). Joabe tambm foi influenciado por uma mulher sbia que vivia em Abel, ganhando a libertao da sua cidade e povo (2Sm 20.16-20).

    Parece haver uma limitao singular entre os homens sbios de Israel. Eles no eram mgicos,

  • 278 SABEDORIA

    feiticeiros ou astrlogos. Aqueles que estavam a servio dos reis de Israel eram considerados especialmente como porta-vozes de Deus, dando o mais sbio dos conselhos porque tinha a sano da divindade. Sobre Aitofel foi dito que o conselho que ele deu era como resposta de Deus a uma consulta; tal era o conselho de Aitofel, tanto para Davi como para Absalo (2Sm 16.23); mas nem todos viviam altura desta reputao. Na realidade, quando Aitofel prcwpu ser um traidor de Davi, o rei desejou que o conselho de Aitofel se transformasse em loucura (2Sm 15.31).

    D. Profetas. Especialmente os profetas eram porta-vozes de Deus, mas eles parecem fizer distino entre eles mesmos e aqueles a quem identificavam como conselheiros dos reis. Na maioria das vezes os profetas estavam em conflito com esses conselheiros que davam aos reis conselhos polticos que eram contrrios ao dos profetas. Isaas condenou fortemente esses conselheiros que aconselhavam Ezequias a fazer uma aliana com o Egito contrrio sua insistncia de que a proteo do Fara traria vergonha para a nao (Is30.1-5). Jeremias aconselhou submisso ao rei da Babilnia e foi considerado um traidor por aqueles que aconselharam o rei a resistir. O profeta, depois de falar das aflies terrveis das quais a nao estava se aproximar do por causa do falso conselho, clamou Assim diz o Senhor: No se glorie o sbio na sua sabedoria (Jr 9.23). Ezequiel, semelhantemente, julgou que os conselheiros eram deficientes com conseqncias terrveis para a nao: Vir misria sobre misria, e se levantar rumor sobre rumor; buscaro vises de profetas; mas do sacerdote perecer a lei, e dos ancios, o conselho (Ez 7.26). O esprito dos profetas era o esprito de Isaas que escreveu Ai dos que so sbios a seus prprios olhos e prudentes em seu prprio conceito (Is 5.21).

    E. Escribas. Estes homens surgiram como uma classe de expoentes profissionais da lei depois de sua codificao por Esdras. O resultado inevitavelmente foi que os escribas que interpretavam a lei tendiam a produzir uma sabedoria prpria deles. A profecia havia chegado a um fim; o messianismo era, na melhor das hipteses, uma esperana remota. A vida da nao tinha se voltado para a lei; os homens de influncia eram especialmente os intrpretes desta lei. Como resultado direto da cessao da profecia e da nfase no Escribalismo surgiu um movimento que colocou as consideraes de religio sob observao por meio de uma

    avaliao da natureza do homem e do universo no qual a humanidade habitava. Este movimento produziu um tipo de literatura subseqentemente conhecido como literatura de sabedoria. A diferena no ponto de vista entre o escribalismo e esta literatura vista em que os principais representantes da literatura de sabedoria no AT, Eclesiastes, J e Provrbios, quase no mencionam a lei. A Sabedoria de Salomo tem, de fato, uma considerao elevada pela lei, mas d pouca ateno a ela. A Sabedoria de Siraque no somente tem a maior considerao pela lei entre os escritos de sabedoria, mas o tratamento mais extenso deste assunto. O escritor de Siraque identificou a lei com a sabedoria (24.23-25), mas isto foi considerado ser menos que uma representao precisa da atitude dos escritores de sabedoria em relao lei.

    F. Reis magos. O termo reis mago (grego para homens sbios) originalmente se referia aos sacerdotes medos da Prsia, que eram lderes religiosos e professores da sabedoria. Conseqentemente o termo veio a se referir a qualquer um que possusse conhecimento e poder sobrenaturais. Nos escritos rabnicos o termo foi aplicado a mgicos (do qual o termo portugus derivado). Filo de Alexandria usou o termo numa forma depreciativa para descrever homens que no eram genuinamente religiosos, ou at mesmo filosficos. Na LXX o mago estava associado com os encantadores, os feiticeiros e os caldeus (Dn 2.2).

    Os reis magos procuraram Jesus, sendo conduzidos ao Messias recm-nascido pelo sinal divino, a estrela que ia adiante deles. Mateus registra que eles buscavam o rei dos judeus, o que provavelmente indica que eles eram pagos (2.112). No Evangelho de Mateus eles so descritos com a finalidade de mostrar que tais homens, com conhecimento muito superficial dos fatos, estavam, no entanto, cheios de entusiasmo pelo sinal que Deus havia dado, fizeram a longa viagem at Jerusalm e procuravam o Messias, enquanto que os lderes da nao judaica nem mesmo se interessaram em verificar seu relato de que ele havia nascido. Orgenes foi, talvez, o primeiro a dar uma interpretao mstica aos presentes que os magos trouxeram, e at mesmo alguns dos Pais entenderam este evento como retratando a derrota da magia pela vinda de Cristo, a adorao de Jesus pelos reis magos foi tomada como uma admisso da sua derrota. Incio, Orgenes e Tertuliano representam este ponto de vista.

    Um homem encontrado por Filipe em Samaria, que era chamado Simo o mgico, foi descrito

  • SABEDORIA 279

    como um mgico praticante (At 8.9). Este homem teve um papel importante na tradio crist primitiva. Ele foi considerado por alguns como o fundador do Gnosticismo. Parece haver pouca solidez a quaisquer destas tradies. Simo o mgico parece ter sido representante de uma classe de charlates que praticavam a magia para ganho pessoal. Eles vendiam feitios para cura e adivinhao. Suas frmulas de mgica eram derivadas da teosofia e dos cultos msticos orientais que prosperavam no mundo helnico. Este homem foi excludo da comunidade crist e claramente no teve nenhum lugar na igreja primitiva.

    G. Messias. Aqueie que ha de vir, ou Messias, estava associado com a sabedoria antes mesmo da literatura de sabedoria, isto parece ter sido especialmente verdadeiro porque o Messias era a figura mais ilustre numa famlia caracterizada por homens de sabedoria, Davi e Salomo. Isaas o identificou como o Maravilhoso Conselheiro (a ARA, NVI e KJV do a expresso como um s termo, no dois como a ARC) e como um sobre quem o Esprito de sabedoria e de entendimento, o Esprito de conselho e de fortaleza, o Esprito de conhecimento e de temor do Senhor repousaria (Is 9.6; 11.2).

    Os escritores dos livros de sabedoria deram um passo muito importante quando personificaram a sabedoria. Provrbios declara: A suprema sabedoria altissonantemente clama de fora; pelas ruas levanta a sua voz (Pv 1.20 ARC). Provrbios contm a passagem mais famosa de todas na qual a sabedoria identificada como tendo existido antes que o homem fosse criado, at mesmo antes da criao do mundo (8.22-31). A Apcrifa foi alm do AT na personificao da sabedoria. A sabedoria foi declarada como o primognito de Deus, vivendo com Deus e compartilhando de seu trono. Foi declarada como o prprio esplendor da luz eterna. Contemplava-se a sabedoria como um ser divino.

    Muitos professaram descobrir uma relao entre o Logos de Joo 1.1-18 e a personificao da sabedoria (especialmente Pv 8) tomando-se um outro nome de Deus. Todavia outros professaram descobrir uma relao entre Deus falando por meio do Filho que reflete apropria glria de Deus, como a descrio que dada em Hebreus 1 e a personificao da sabedoria. Outros ainda contemplaram Lucas 11.49 que declara Por isso, tambm disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e apstolos, e a alguns deles mataro e a outros perseguiro como sendo uma autodesignao de

    Jesus como a Sabedoria de Deus. Vrios dos Pais sustentaram este conceito com base na passagem paralela de Mateus que comea, Por isso, eis que eu vos envio profetas (Mt 23.34).

    II. F on tes de s H |g |iU A

    Onde um homem poderia obter sabedoria era uma pergunta de grande importncia tanto para os escritores dos livros da Bblia como dos da literatura no-bblica.

    A. Naturalmente adquirida. A habilidade humana para adquirir sabedoria reconhecida; mas tal sabedoria, de acordo com a Bblia, vem apenas do temor do Senhor (Pv 1.7). Para o judeu, a sabedoria era a aplicao da verdade divina experincia humana e somente os loucos desprezam a sabedoria e o ensino. Os jovens eram especialmente encorajados a se aplicarem busca pela sabedoria; a fazer seus ouvidos atentos sabedoria e a inclinar seus coraes ao entendimento (2.2). O autor do Salmo 49 mostra a sabedoria dos seus anos de experincia quando anuncia, A minha boca falar da sabedoria; e a meditao do meu corao ser de entendimento (ARC). Aquilo que segue so as observaes do autor sobre a vida e a morte. Especialmente no Salmo 73 h uma unio do pensamento humano com a verdade divina, os dois combinando para resultar em sabedoria. O escritor deste Salmo diz: Em s refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; at que entrei no santurio de Deus (SI 73.16,17). O autor da Sabedoria de Salomo faz seu apelo para que os homens busquem a sabedoria:

    A sabedoria radiante e no fenece, e ela facilmente contemplada por aqueles que a amam, e se deixa encontrar por aqueles que a buscam (6.12 BJ).

    B. Aprendizagem . Os escritos dos rabinos interessados na interpretao da lei conseqentemente se tomaram o depsito da sabedoria, e aqueles que estudavam a lei obdnham o tesouro da sabedoria. Provrbios apresenta o conselho prtico que conduz a uma vida feliz e bem sucedida, o que este livro chamava de sabedoria, uma qualidade to tica que era um passo curto da moralidade que igualava lei sabedoria que se igualava lei. Na Apcrifa, o livro de Eclesistico (A Sabedoria de Jesus, Filho de Siraque) apresenta uma interpretao moral e religiosa da lei que, semelhantemente prefigurava esta identificao da sabedoria com a

  • 280 SABEDORIA

    lei. incorreto dizer que a sabedoria equivalente lei em Eclesistico, mas a identificao dos dois definitivamente estava em vista. Nos dias do NT, o conhecimento dos rabinos da sabedoria e sua interpretao da lei eram to definidos que aqueles que no eram educados no rabinismo poderiam ser descritos como amaldioados (Jo 7.49).

    C. Revelao. A sabedoria no atribuda com freqncia deidade no AT (lRs 3.28; Is 10.13; 31.2; Jr 10.12; 51.15; Dn 5.11). Mesmo nos livros de Sabedoria raro que Deus seja descrito como sbio (J 9.4; SI 104.24; Pv 3.19). Provavelmente assim porque, na avaliao dos escritores do AT, a sabedoria de Deus transcendia tanto a sabedoria humana que seu conhecimento e entendimento no eram descritos adequadamente pelo mesmo termo que ressaltava as capacidades humanas. Na Apcrifa os escritores posteriores estavam mais dispostos a falar da sabedoria de Deus (Eclo 42.21; Baruque 3.32). No NT h vrias referncias sabedoria de Deus (Rm 11.33; ICo 1.24; Ap 7.12).

    O ponto de vista bblico parece ser que a sabedoria vem de Deus, deve ser encontrada com Deus, em vez de Deus ser sbio. Depois de perguntar onde o lugar do entendimento, J responde dizendo Deus lhe entende o seu caminho, e ele quem sabe o seu lugar (28.23). A sabedoria humana , ento, dada por Deus. E dada em resposta orao, como previamente observado, quando os homens buscam seu conselho. No NT a sabedoria de Deus est especialmente associada com seu Esprito. Em ltima anlise, o homem possui sabedoria apenas como um dom de Deus; ela vem pela revelao divina. Este especialmente o conceito do NT (At 6.10; ICo 2.6; 12.8; Ef 1.17; Cl 1.9; 3.16; Tg 1.5; 3.15-17); mas tambm indicado no AT (lRs 3.11 ss., Ec 2.26; Is 11.2; Dn 1.17).

    III. L iteratura d a sa b ed o ria

    A literatura de sabedoria, no AT, identificada como Provrbios, Eclesiastes, J e Salmos 19; 37; 104; 107; 147; 148. Na Apcrifa, o livro de Eclesistico e a Sabedoria de Salomo se encaixam nesta descrio. No NT o livro de Tiago o que chega mais perto da natureza da literatura de sabedoria.

    A. Cannica. O hebraico mshl ('yn) ou provrbio a expresso mais primitiva como tambm a mais comum da sabedoria hebraica. Porm, no possvel falar de qualquer provrbio particular ou coleo de provrbios na Bblia como

    sendo especialmente antigo. Uma poro do Livro de Provrbios (22.1723.14) foi considerada por muitos estudiosos como tendo afinidades com o material egpcio de Ameneopete, o que indicaria uma antiguidade considervel; pois a forma mais antiga de literatura de sabedoria existia no Egito desde o terceiro milnio a.C. No esto contidos no Livro de Provrbios todos os provrbios da Bblia. Os ltimos sete versculos de Eclesiastes so proverbiais e at certo ponto oferecem a melhor explicao da presena de provrbios na Bblia. Deus desejou ensinar ao homem o modo certo de se viver, para preserv-lo de experincias constrangedoras e da perambulao sem propsito na vida. Um acompanhamento natural disto era um interesse especial em material proverbial aconselhamento do jovem, de forma que Provrbios era chamado freqentemente de O Livro do Jovem.

    O Livro de Provrbios conserva muito material antigo, mas no atingiu sua forma presente seno mais tarde, no antes do tempo de Ezequias (veja Pv 25). Os captulos 1-9 so um contraste da sabedoria com a loucura. O apelo para os homens se comportarem sabiamente em todas as relaes da vida. Os captulos 10-24 so uma coleo de provrbios considerada como escrita pelo prprio sbio Salomo. Esta seo pode depender da tradio de que Salomo era mais sbio que todas as pessoas do Oriente e escreveu 3.000 provrbios e1.005 canes (lRs 4.29-34). Tambm dito que os captulos 25-29 so provrbios escritos por Salomo, os quais os homens do rei Ezequias, de Jud, copiaram e organizaram. Os homens que organizaram esta seo foram chamados na LXX de os amigos de Ezequias. Se estes eram transmitidos oralmente ou por escrito (como copiaram pareceria insinuar) no certo. O captulo 30 um orculo de um sbio desconhecido chamado Agur, filho de Jaque. O captulo 31 um poema acrstico, organizado na ordem das letras no alfabeto hebraico, que tenta identificar uma mulher virtuosa. De acordo com o material foi a instruo dada ao rei Lemuel por sua me. A tradio tem dito que Lemuel foi um nome dado a Salomo, quando criana, por Bate-Seba, sua me.

    Eclesiastes tem todas as coisas para todos os homens. Jernimo pensava que era um manual que ordenava a renncia do mundo. Comenius falou dele como um livro que apela por consolao. Heine se referiu a Eclesiastes como um Hino de ceticismo. Delitzch o chamou um Hino do temor piedoso. Johannes Pederson deu-lhe o ttulo de Ceticismo Israelita e Morris Jastrow chamou seu autor de um cnico meigo.

  • SABEDORIA 281

    O autor de Eclesiastes chamou-se de koho- leth, um termo hebraico derivado da palavra que significa ajuntar. Koholeth normalmente traduzida em portugus como o pregador, talvez porque o Lutero tenha usado o termo prediger que significava exatamente isso. Diz a tradio que Eclesiastes (do ttulo da LXX do livro) era de Salomo, filho de Davi (1.1). Muitos estudiosos modernos sustentam que ele era simplesmente um sbio, um dos mestres de sabedoria daquele tempo (12.8). (Veja E c l e s ia s t e s .)

    Koholeth no se sentia preso a nenhuma tradio; ele possua um esprito inquiridor, mas com pouco interesse em dogma. Sua rea de conhecimento no era igual a de J, mas ele era um homem culto, bem informado, que tinha muito discernimento acerca dos assuntos da sua poca. Ele possivelmente conhecia, at certo ponto, a filosofia grega. Ele possua trs grandes amores. Ele tinha amor pela vida, suas emoes eram moderadas, mas estar vivo era realmente bom. Seu segundo amor era a justia. Ele no era indiferente ao sofrimento humano e era proiun- damente sensvel crueldade e loucura da raa humana. A acusao de cinismo veio por causa da sua aparente resignao a um destino inevitvel, acerca do qual os homens no poderiam fazer nada. Seu terceiro amor era a verdade. Ele tentou resolver o quebra-cabea do universo, mas concluiu que tudo era vaidade. O homem era impotente e nada poderia fazer por si mesmo para resolver o enigma da existncia humana. Koholeth amava a vida, mas sua procura pela justia e sabedoria lhe trouxe somente tristeza e desiluso.

    Geralmente acredita-se que J a maior de todas as literaturas de sabedoria. o maior drama no AT e foi chamado por Carlyle de o maior livro do mundo. A princpio, parece que o autor est simplesmente contando a histria das provaes de J, mas na realidade ele est usando essas experincias para impressionar seus leitores com as verdades que ele recebera de Deus. O problema do sofrimento, o maior enigma da mente humana, aquilo que o autor encara. O judeu tinha sido ensinado que o justo sempre prospera e que o mpio sempre sofre. Se, portanto, um homem sofre evidncia conclusiva da sua maldade. Porque no havia conceito de imortalidade, devia ser este o caminho para o judeu manter um universo moral. No Seol no existiam distines. A sepultura no era amiga de ningum. Porque Deus era justo, era necessrio que ele recompensasse os homens nesta vida. O autor de J encontrou dois erros srios nisto: (1) os homens seriam levados

    a fazer o certo para serem recompensados com benefcios terrestres; (2) o pobre, o afligido, o miservel eram abandonados ao seu sofrimento (era o que eles mereciam). No era possvel para J identificar sofrimento com pecado. Para J, o homem desventurado na vida de modo algum poderia ser o menor homem de Deus, agradando-o. O autor poderia simplesmente ter declarado estas verdades, mas ele escolheu apresent-las numa forma dramtica sem igual, J acusado de mau procedimento pelos amigos porque ele enfrentava tempos difceis.

    Vrios Salmos pertencem literatura de sabedoria do AT, os Salmos 19; 104 e 147 so freqentemente citados como salmos da natureza. Para o homem sbio o mundo natural era algo mais que pedras e colinas. As maravilhas do universo natural eram testemunhas da glria do Deus que as criou. Os cus esto constantemente pregando e ensinando (SI 19). O Salmo 37 reflete a perplexidade do autor sobre o carter e a aparente prosperidade do perverso. O perverso pode prosperar at ao fim, mas este fim ser destruio. O justo pode ter muito pouco destes bens do mundo, mas no fim ele possui paz. Igualmente o Salmo 107 canta da graciosidade da providncia de Deus para com os redimidos. O material e temporal se tomam tipos do eterno e espiritual. Os justos so como uma caravana perdida no deserto; eles so como cativos aflitos num calabouo; eles so como homens doentes em seus leitos de morte; eles so como marinheiros que se afundam numa tempestade. Em todas estas circunstncias eles so conduzidos a Deus. Eles clamam por ajuda e ele lhes responde. O Salmo 148 chama todo o universo a render seu louvor a Deus: o sol, a lua, as estrelas, o fogo, o granizo, a neve, os vapores, os mancebos, as moas, os ancios e as crianas. Comeando com os cus o salmista move-se daquela grande aliura ao mais profundo e volta terra. Tudo deve louvar a Deus.

    No NT Tiago o que chega mais prximo de uma literatura de sabedoria. Semeihante aos materiais do AT deste tipo, composto de muitas sees curtas, at mesmo oraes singulares, sobre temas independentes, embora, s vezes, vrios pargrafos se agrupem ao redor de um nico tpico. Possui muitas declaraes que so semelhantes s do Eclesistico apcrifo. Uma ntima semelhana quanto a estrutura, se no quanto ao contedo, foi descoberta por alguns entre Tiago e Tobias (4.519; 12.6-10), mas provavelmente o livro mais semelhante seja Provrbios, embora acredita-se que Tiago contenha referncias a todos os livros

  • 282 SABEDORIA

    do Hexateuco, 1 Reis, Salmos, Eclesiastes, Isaas, Jeremias, Ezequiel e Daniel e a sete dos Profetas Menores. Cinco divises, mais ou menos gerais, do livro podem ser identificadas: (1) 1.2-18, uma discusso sobre o problema das provaes que aparecem na vida, (2) 1.192.26, a natureza da verdadeira religio, (3) 3.1-12, as responsabilida- dss de um porta-voz de Deus, (4) 3.13 5.6, um protesto contra os males prevalecentes na vida, (5) 5.7-20, uma apelo ao desenvolvimento de virtudes crists.

    B. No-cannica. Eclesistico atribudo a Jesus, Filho de Siraque, e tambm conhecido como a Sabedoria de Siraque. Tem uma natureza proverbial, e alguns sugeriram que Siraque usou o Livro de Provrbios como seu modelo. Pensa-se que o prprio livro contm tudo aquilo conhecido de seu autor (39.1-11). No parece com Provrbios apenas em sua forma, mas tambm no contedo. apresentado o ideal da vida como uma sntese da religio, pelo qual o autor quis dizer o temor de Deus e a observncia da lei, que era a parte melhor da sabedoria. Ele estava especialmente familiarizado com o Pentateuco, como tambm com as ordenanas e regulamentos da lei oral, que foram codificados posteriormente na Mishnah. Atarefa de Siraque, como professor, da forma como ele a entendia, era ajudar seus alunos a enfrentar os problemas da vida vivendo justamente. Ele era um judeu de devoo sincera e procurava levar seu povo a uma devoo semelhante a Deus.

    A Sabedoria de Salomo obteve seu ttulo na LXX, mas na Vulgata chamado de Liber Sapien- tiae (Livro de Sabedoria). E uma exortao busca da sabedoria porque ela traz salvao, enquanto que a condenao o destino dos judeus injustos, que desconsideram a sabedoria (caps. 1-5). A sabedoria tambm deve ser buscada porque h uma essncia divina ao redor dela. O entendimento que este autor revela sobre a natureza da sabedoria difere consideravelmente da literatura de sabedoria anterior, formulando muito mais pesadamente conceitos encontrados na filosofia grega (caps. 6-9). A sabedoria se mostra ser o meio pelo qual as bnos vieram a Israel em tempos passado, da mesma forma como o julgamento veio aos gentios sem ela (caps. 10-19). Tambm deve ser observado que h diferenas entre os captulos 1119 e a seo anterior, a qual levantou uma questo relativa unidade da obra, i.e., o autor j no fala mais na primeira pessoa, nem o termo sabedoria encontrado depois de 11.1.

    IV. C on c eito cr ist o

    A sabedoria, para alguns dos profetas, tomou- se uma palavra que era pag em sua conotao. O NT declara algo sobre o mesmo problema, e onde quer que sabedoria se identificasse com o legalismo por um lado, ou com a filosofia pag por outro, era rejeitada. No obstante, h uma apreciao de um certo tipo de sabedoria a ser encontrado no ensino cristo.

    A. Jesus. H no Sermo da Montanha a introduo mais clara e plena ao mtodo de sabedoria a ser encontrado nos ensinos de Jesus, embora haja outras passagens mais breves que possuam este carter (Lc 14.8-10 uma citao de Pv 25.6,7). O amor pela vida e a aprendizagem de grandes lies com importncia espiritual da natureza, que caracterizam os sbios do AT, esto em evidncia no mais longo sermo de Jesus registrado. At mesmo o mtodo dos escritores de sabedoria parece ter sido empregado por Jesus, utilizando, como ele fez, a declarao curta, vigorosa e, s vezes, antittica, projetada para permanecer na memria. Porm, havia dois tipos de sabedoria reconhecidos por ele, um aceito e outro rejeitado. Havia uma sabedoria verdadeira, completamente justificada por seus filhos, que levava os homens a Deus (Lc 7.35), mas tambm havia o falso sbio, de quem ele escondia o significado do seu ensino, enquanto o revelava aos simples (10.21; Mt11.25). Alguns pensavam que Jesus estava, de fato, atacando o ensino da literatura de sabedoria em Lucas 6.27-38 quando ele ordenou amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, pois Siraque tinha ensinado, D ao homem piedoso e no ajudes ao pecador. Faze o bem ao humilde e no ds nada ao mpio (Eclo 12.4,5 BJ).

    B. Paulo. 1 Corntios 1-4 uma passagem especialmente preocupada com a sabedoria. Na realidade, principalmente uma denncia da sabedoria. importante saber que a sabedoria contra a qual Paulo escreveu no era de origem judaica, mas grega. Foram as especulaes vs da filosofia, expressas nas frases vazias e de grande fluncia da retrica sem sentido, que provocaram a ira do apstolo. Esta filosofia estava baseada na confiana no processo de pensamento humano ao invs de uma recepo da revelao de Deus. Foi especialmente em relao ausncia de significado e futilidade da cruz de Cristo, no julgamento dos homens, que Paulo se posicionou. Tal atitude para com a cruz era claramente um

  • SABEDORIA DE JESUS / SABEDORIA DE SALOMO 283

    testemunho da perversidade da sabedoria contra a qual ele escreveu.

    De maneira positiva, Paulo ensinou uma sabedoria prpria dele, destinada aos cristos maduros, moralmente fortes. Provavelmente Paulo no fez referncia doutrina quando disse Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados (ICo2.6), embora alguns acreditem que isto se referia profundidade dos ensinos de Paulo. Parece mais provvel estar associado presena e atividade do Esprito Santo na vida do povo de Deus de um modo pleno e significante, pois Paulo escreveu Deus no-lo revelou pelo Esprito; porque o Esprito a todas as coisas perscruta, at mesmo as profundezas de Deus (ICo 2.10).

    C. Tiago. O Livro de Tiago o nico livro no NT que pode ser corretamente descrito em sua totalidade como gnmico, ou literatura de sabedoria. O documento mais semelhante a Tiago na literatura crist primitivo conhecido pelo ttulo em latim, Doctrina Apostolorum (Acerca da Doutrina dos Apstolos). A Epstola de Tiago poderia, com poucas anotaes crists removidas, passar apropriadamente como uma exortao da sinagoga. Tiago contempla o perigo ao Cristianismo no tanto como uma perverso da doutrina proveniente de um ensino hertico, mas como um engano (ou enganos) no campo da vida prtica. O interesse do livro preponderadamente tico, uma nfase numa vida piedosa. A sabedoria de Tiago a sabedoria de viver uma vida aceitvel a Deus, que a mesma nfase que Jesus deu, como registrada nos sinpticos.

    BIBLIOGRAFIA. E. Mack, The Hebrew Looks Up To God (1936); J. R. Macarthur, Biblical Literature and its Background (1936); T. W. Manson, A Companion to the Bible (1939); R. H. Pfeiffer, History o f NT Times with an Introduction to the Apocrypha (1949); H. H. Rowley, The Unity o fthe Bible (1953,); Vi. E. Chase, Life and Language in the OT (1955); L. Kohler, Hebrew Man: How He Looked, Lived and Thought (1956); B. M. Metzger, An introduction to the Apociypha (1957).

    H . L. D ru m w rjh g t J r .

    SABEDORIA DE JESUS. Veja E c le s i s t i c o .

    SABEDORIA DE SALOMO (Zoa Xa/.o> Hwo). Um importante livro pseudnimo inserido na LXX, mas nunca aceito no cnon hebraico e, por conseguinte (na Igreja Protestante) encontrado

    apenas na Apcrifa. Encontra um lugar entre as Escrituras cannicas da Igreja Catlica Romana onde, porm, no conhecido pelo ttulo dado nos MSS da LXX, mas simplesmente como o Livro de Sabedoria, via ttulo na traduo da Vulgata e na Latina Antiga. O livro foi muito popular na igreja primitiva, onde recebeu outros ttulos como Sabedoria Divina (Clemente de Alexandria, Or- genes) e Livro de Sabedoria Crist (Agostinho). E considerado por muitos como o mais elevado empreendimento entre es escritos da Apcrifa.

    1. Contedo. A Sabedoria de Salomo tida como o pice da assim chamada literatura de sabedoria, a culminao de sculos de tradio sobre o tema da sabedoria. Embora haja uma afinidade evidente entre a Sabedoria de Salomo e os escritos de sabedoria anteriores (J, Ec, Pv) em comparao com seu volume contemporneo e companheiro mais prximo na Apcrifa, Eclesistico, vem mente. Em ambos, a sabedoria o foco da ateno, citada como personificada e exaltada na fraseologia mais entusiasmada. Se a Sabedoria de Salomo excede Eclesistico aqui, por causa de seu emprego de conceitos e terminologia helnicos na demonstrao de seus argumentos. H vrias semelhanas adicionais, porm mais superficiais, entre os dois; e.g., uma preocupao com problemas desconcertantes, o repetido contraste do justo com o mpio, uma avaliao da histria do justo. Uma diferena notvel entre os dois escritos, porm, encontrada no estilo literrio. Eclesistico consiste basicamente de colees de aforismo declaraes curtas e vigorosas colecionadas de forma aleatria na ordem de Provrbios. Sabedoria de Salomo, ao contrrio, consiste mais de passagens extensas sobre temas selecionados. Como resultado desta diferena, a Sabedoria de Salomo pode ser esboada muito mais prontamente que Eclesistico.

    Ns podemos convenientemente dividir Sabedoria de Salomo em trs divises principais, como no seguinte esboo sugerido.

    I. Sabedoria: O justo e o perverso constratados(1.15.23)A. O virtuoso, no o incrdulo, encontrar

    sabedoria (1.1-15)B. O argumento do mpio (1.162.24)C. Experincias adversas do justo so

    enganosas (3.14.19)1. Sofrimento (3.1-12)2. Esterilidade (3.134.6)3. Morte prematura (4.7-19)

  • 284 SABEDORIA DE SALOMO

    D. O contraste entre o justo e o mpio no julgamento (4.20 5.23)

    II. Sabedoria: O apelo pessoal de Salomo(6.19.18)A. Exortao (6.1-25)B. Reminiscncia pessoal (7.1 -21)C. Panegrico sobre a sabedoria (7.228.1)D. Reminiscncia pessoal (cont.) (8.2-21)E. A orao de Salomo por sabedoria

    (9.1-18)

    III. A experincia de Israel e do Egito justapostas (10.1 19.22)A. O papel da sabedoria na histria, de

    Ado at o xodo (10.1-21)B. Israel e Egito. A ao antittica de Deus

    (11.1-14)C. O castigo uniforme de Deus sobre Egito

    (11.15 12.2)D. O castigo uniforme de Deus sobre Ca-

    na (12.3-18)E. Observaes finais sobre a pacincia de

    Deus (12.19-27)F. Divagao sobre a futilidade da idolatria

    (13 1 15.19)G. Israel e Egito. A ao antittica de Deus

    (cont.) (16.1 19.22)

    Na primeira seo o autor retrata com traos corajosos o contraste entre o justo e o perverso. Como em Eclesistico, a sabedoria nada tem a ver com o conhecimento, mas com a retido. Quer dizer, o homem que possui sabedoria o homem cuja vida justa. Em sua exortao introdutria nosso autor vira isto ao contrrio, argumentando que a sabedoria no pode ser alcanada pelo homem mau ou mpio. Tal pessoa, de fato, alcana apenas a morte. Um exemplo do raciocnio insano do descrente (dado na primeira pessoa pl.) fornecido imediatamente ao leitor (cap. 2). Visto que esta presente vida tudo que um homem tem, eles argumentam, vamos nos entregar festana antes de morrermos, e vamos oprimir e abusar dos justos que so uma repreenso a ns. Continuando seu argumento, o autor salienta que as experincias adversas do justo sofrimento, esterilidade e morte prematura no devem ser mal interpretadas. Elas so melhores que as aparentes bnos que o mpio desfruta. Pois a vindicao da justia de um homem vir, no final das contas, no julgamento e na imortalidade que o espera. E o julgamento final que vai expor a misria do incrdulo. Este ltimo ponto vividamente comunicado pelo autor no

    pungente lamento pungente que ele coloca nos lbios do perverso no julgamento final (5.4ss.). O justo viver para sempre, ele conclui, recebendo uma coroa gloriosa do Senhor (5.16). Eles sero guardados pelo Senhor, mas o fim do perverso ser desastroso.

    Na segunda seo do livro, o autor retoma a exortao com a qual o livro comea. Aqui se encontra o pice de todos os escritos judaicos sobre a sabedoria. Salomo, o mais sbio dos reis de Israel, declarado falar aos reis e governadores contemporneos. E o dever deles, ele declara, buscar a sabedoria em suas aes. A sabedoria vir ao lder que a busca, e aquele que a honra remar para sempre. Salomo, ento, recapitula a seu prprio nascimento e infncia, o que em cada relato era normal. Sua vida, porm, foi marcada por um zelo singular pela sabedoria diante da qual todas as outras coisas empalideciam na insignificncia. Neste ponto a lembrana pessoal interrompida por uma incomparvel passagem em louvor sabedoria (7.22-8.1). O autor continua falando da sabedoria como personificada, embora aqui, talvez, a palavra mais forte hipostatizada seja mais apropriada. A sabedoria descrita na linguagem mais exaltada linguagem que, no sentido exato, pode ser aplicada somente a Deus. De fato, ela nada mais que o veculo da ao de Deus. Ela um eflvio do poder de Deus, uma emanao purssima da glria de Deus (7.25 BJ). A passagem comea enumerando vinte e uma caractersticas (3x7) da sabedoria, vrios destes termos so tomados da filosofia grega. Diz-se que a sabedoria impregna e penetra todas as coisas (7.24 BJ); um reflexo da luz eterna, um espelho ntido da atividade de Deus (7.26 BJ); capaz de fazer todas as coisas e renovar todas as coisas (7.27), e ordenar bem todas as coisas (8.1). A seguir, Salomo continua com seu relato sobre sua prpria peregrinao em direo a sabedoria. 4 sabedoria no apenas de- sej vel para seu prprio bem, provendo um homem com a verdadeira riqueza, mas indispensvel para o governo eficaz de seus prprios sditos. Com tudo isto em mente, Salomo em orao pede sabedoria a Deus. A orao apresentada (cap. 9) uma expanso considervel da orao encontrada nos escritos cannicos (IRs 3.7-9; 2Cr 1.8-10).

    A terceira parte do livro, considerada por muitos como um tanto anticlimtico, comea com uma breve avaliao da histria bblica de Ado at o xodo (cap. 10). demonstrado como os heris de Israel que no so mencionados, mas em cada exemplo mencionados simplesmente como o justo ( SKoao) cada um

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    guardado pela sabedoria, enquanto que aqueles que a negligenciaram trouxeram runa sobre si mesmos. Do captulo 11 em diante, o escritor se preocupa quase que exclusivamente com os eventos ligados ao xodo. Em particular, ele tem a inteno de mostrar como uma e a mesma coisa (ou coisas semelhantes) causaram mal ao Egito e bem para Israel. Embora esta passagem deva ter sido considerada por seu autor como a realizao da sabedoria nos eventos concretos da histria passada de Israel, impressionante que a palavra sabedoria ocorra somente duas vezes nos captulos restantes. O primeira exemplo antittico dado o da gua: a gua dada aos israelitas no deserto contrastada com a gua do Nilo, que os egpcios no puderam beber. Neste ponto, o autor faz uma pausa para elaborar o carter cuidadosamente avaliado do julgamento de Deus sobre o Egito e Cana. Estes inimigos de Deus poderiam ter sido aniquilados num instante por sua vontade, contudo ele executou o julgamento gradualmente para prover oportunidade para o arrependimento. Aparentemente desviado pela necessidade de uma explicao sobre a situao deles, o autor ataca o que estava no corao da sua loucura idolatria (caps. 13-15). Visto que o autor acha pelo menos inteligvel a adorao das belezas da natureza, embora, claro, ele no a sancione, ele no tem nada alm de escrnio para aqueles que adoram coisas feitas pelo homem. Ele apresenta um relato sobre a origem da idolatria (representao daqueles ausentes, quer por distncia ou por morte), organiza em forma de tabela o fruto da idolatria (cap. 14) e fornece uma declarao final sobre a loucura da idolatria (cap. 15). Concluda sua digresso do assunto principal, o autor resume sua discusso sobre a ao antittica de Deus entre os israelitas e egpcios. Alm do uso da gua por Deus, ele proveu animais repulsivos (rs) para infestar o Egito, mas codomizes para Israel festejar; os israelitas foram salvos das mordidas das serpentes, mas os egpcios no puderam encontrar cura para as mordidas dos gafanhotos e moscas. Os elementos fogo, chuva e granizo operaram em favor de Israel, mas dano para o Egito. Talvez o mais interessante dos contrastes, porm, ocorra nos caps. 17 e 18, onde o autor, fazendo extenso uso de materiais lendrios judaicos (Midrash rabnica), fala de uma escurido misteriosa que engoliu os egpcios enquanto os israelitas conheceram somente a bno da luz. A morte, verdade, veio sobre ambos, Egito e Israel, mas no caso do ltimo, no teve efeito duradouro. Finalmente, o Mar Vermelho provou ser uma bno para Israel, mas apenas destruio para os

    egipcios. O livro termina muito abruptamente com um nico v. (19.22) afirmando que Deus glorificou seu povo e o ajudou em todo tempo.

    2. Unidade, autor e data. No resumo que acaba de ser exposto acima, pode ser observado que a terceira seo do livro bastante diferente das duas primeiras. Este fato levou vrios estudiosos concluso de que obra de um segundo autor. A sabedoria raramente mencionada nestes ltimos c