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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO STATUS JURIDICO PARA A FORMAÇÃO DE SITIOS DE RECREIO JOÃO ROBERTO SEDREZ Itajaí (SC) , novembro de 2009.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

STATUS JURIDICO PARA A FORMAÇÃO DE SITIOS DE RECREIO

JOÃO ROBERTO SEDREZ

Itajaí (SC) , novembro de 2009.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

STATUS JURIDICO PARA A FORMAÇÃO DE SITIOS DE RECREIO

JOÃO ROBERTO SEDREZ

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Doutor Álvaro Borges Oliveira

Itajaí (SC) , novembro de 2009.

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AGRADECIMENTO

Primeiramente a Deus por estar sempre ao meu lado;

Aos meus pais pela dedicação, paciência e apoio, durante estes cinco anos de luta e perseverança;

Em especial a minha esposa, pelo seu amor, sua dedicação e companheirismo ao longo dos

nossos vinte anos de casados, e principalmente pela compreensão e apoio imprescindíveis nestes

cinco anos de curso;

Aos meus três filhos que são a razão de todo o meu esforço para chegar a este momento;

Ao professor Doutor Álvaro Borges Oliveira pela dedicação e companheirismo;

Aos meus colegas de classe pelos cinco anos de companheirismo e apoio para alcançarmos nosso

objetivo, nosso sonho;

A todos os professores desta instituição que através de seus conhecimentos e dedicação,

foram de suma importância para minha formação;

E a todas as pessoas que de uma forma ou de outra auxiliariam na elaboração deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais pelo amor que me dedicam e por terem acreditado no meu sonho;

Aos meus avós, pelos conselhos ao longo de suas vidas;

Em especial a minha esposa Cilene, por ser ela esta mulher guerreira e maravilhosa que ela é me

dando apoio estando sempre ao meu lado e fazendo de mim o homem que sou.

E é claro aos meus filhos que são maravilhosos.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), novembro de 2009.

JOÃO ROBERTO SEDREZ Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando João Roberto Sedrez, sob o título

Status Jurídico para a Formação de Sítios de Recreio, foi submetida em

16/11/2009 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Doutor

Álvaro Borges Oliveira Orientador e Presidente da Banca e pela professora MSc

Grasiele Xavier Examinadora da Banca, e aprovada com a nota (......), (...............).

Itajaí (SC) , novembro de 2009.

Professor Doutor Álvaro Borges Oliveira Orientador e Presidente da Banca

Prof. MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CC/1916 Código Civil Brasileiro de 1916

CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002

CONAMA Conselho Nacional Do Meio Ambiente ET Estatuto da Terra EPIA Estudo prévio de impacto ambiental FMP Fração mínima parcelamento INCRA Instituto nacional de reforma agrária ITR Imposto territorial rural

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que [o] Autor[a] considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Função social da propriedade

Também no entendimento do doutrinador Marcelo Sciorilli : “[...] a função social da

propriedade não é senão o concreto modo de funcionar da propriedade seja como

exercício do direito de propriedade ou não, exigido pelo ordenamento jurídico,

direta ou indiretamente, por meio de imposição de obrigações, encargos,

limitações, restrições, estímulos ou ameaças, para satisfação de uma

necessidade social, temporal e espacialmente considerada”1

Imóvel rural

“É o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se

destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agro-industrial, quer através

de planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada;”2

Módulo rural

Para o doutrinador Benedito Ferreira marques módulo rural pode ser conceituada

como: “[...]a medida adotada para o imóvel rural classificado como ‘Propriedade

Familiar’.”3

Prédio rústico

segundo Moura citado por Oswaldo Opits prédio rustico é: “Todo aquele edifício

que é construído e destinado para as coisas rústicas, tais como todas as

1 SCIORILLI, Marcelo. Direito de Propriedade: evolução, aspectos gerais, proteção, função

social; Política Agrária: conformação, instrumentos, limites. p.84 2 ART. 4º do Estatuto da Terra (Lei 4.504 de 30.11.1964), inciso I. 3 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. p.60-61.

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propriedades rurais com suas benfeitorias, e todos os edifícios destinados para

recolhimento de gados, reclusão de feras e depósito de frutos...”4

Propriedade Familiar

No entendimento do doutrinador Paulo Torminn Borges propriedade familiar é:

“[...]a área de terra que trabalhada direta e pessoalmente por uma família de

composição média, com auxilio apenas eventual de terceiros revela necessária

para a subsistência e ao mesmo tempo suficiente como sustentáculo ao

progresso social e econômico da referida família.”5

Sitio de Recreio

E concluímos com um conceito de sitio de recreio do doutrinador Arthur Pio dos

Santos Neto citado por Raimundo Laranjeira: “Entende-se, portanto, por sitio de

recreio, cada um dos lotes resultantes do parcelamento de um imóvel rural que

perdeu sua capacidade produtiva, atendidas certas circunstâncias fáticas e

condições legais [...], e que passe a ter por destino o repouso de fins de semana,

o lazer, enfim, dos seus proprietários.”6

4 OPITZ, Osvaldo; OPITZ, Silvia C. B. Tratado de Direito Agrário Brasileiro. p.38 5 BORGES, Paulo Torminn. Institutos Básicos do Direito Agrário. São Paulo: Saraiva, 1987.

p.34. 6 LARANJEIRA, Raimundo. Direito Agrário Brasileiro. São Paulo: LTR editora Ltda, 2000. p.

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SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................ 1

INTRODUÇÃO ................................................................................... 2

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 4

DIREITO DAS COISAS ...................................................................... 4

1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA .................................................................................4 1.2 MODOS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL .................................7 1.2.1 AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE PELA TRANSCRIÇÃO DO TITULO NO REGISTRO DO IMÓVEL ...................................................................................................................10 1.2.1.1 principio da publicidade ................................................................................... 13 1.2.1.2 principio da força probante (fé publica) ou presunção ................................. 13 1.2.1.3 principio da legalidade...................................................................................... 14 1.2.1.4 principio da territorialidade ou obrigatoriedade ............................................. 15 1.2.1.5 principio da continuidade ................................................................................. 15 1.2.1.6 principio da retificação ou anulação................................................................ 16 1.2.2 AQUISIÇÃO POR ACESSÃO................................................................................17 1.2.2.1 acessão pela formação de ilhas ....................................................................... 18 1.2.2.2 acessão pela formação de aluvião................................................................... 19 1.2.2.1 acessão por avulsão ......................................................................................... 20 1.2.2.1 acessão por alveo abandonado ....................................................................... 21 1.2.3 AQUISIÇÃO DE PROPRIEDADE IMÓVEL PELO USUCAPIÃO .....................................22 1.2.3.1 usucapião extraordinario.................................................................................. 23 1.2.3.2 usucapião ordinário .......................................................................................... 24 1.2.3.3 usucapião especial............................................................................................ 25 1.3 PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL............................................................27 1.3.1 PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL PELA ALIENAÇÃO ...........................................28 1.3.2 PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL PELA RENUNCIA .............................................28 1.3.3 PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL PELO ABANDONO ...........................................29 1.3.4 PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL PELO PERECIMENTO DA COISA.........................30 1.3.5 PERDA DA PROPRIEDADE PELA DESAPROPRIAÇÃO .............................................30 1.4 PROPRIEDADE E MEIO AMBIENTE.............................................................31

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 37

PROPRIEDADE RURAL NO BRASIL.............................................. 37

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2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PROPRIEDADE RURAL NO BRASIL............37 2.1.1 A FASE DAS SESMARIAS OU SESMARIALISMO .....................................................37 2.1.2 FASE DAS POSSES...........................................................................................38 2.1.3 FASE DA LEI DAS TERRAS ................................................................................39 2.1.4 FASE DO PERIODO REPUBLICANO .....................................................................40 2.2 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE.........................................................41 2.2.1 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE RURAL.........................................................43 2.3 ESTATUTO DA TERRA .................................................................................45 2.4 LEGISLAÇÃO CORRELATA REGULAMENTADORA DO E.T. ....................55

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 58

SITIO DE RECREIO ......................................................................... 58

3.1 PARCELAMENTO DE IMÓVEL RURAL........................................................58 3.1.1 PARCELAMENTO DE IMÓVEL RURAL P/ FORMAÇÃO DE SITIOS DE RECREIO ............60 3.2 ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL .............................................66 3.3 RESERVA LEGAL..........................................................................................71 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 74

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 77

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RESUMO

Esta monografia tem por objeto a análise da condição

jurídica para a formação de sítios de recreio. A presente pesquisa visa a

viabilidade legal e econômica na formação de sítios de recreio, como alternativa

ao proprietário rural que possui grandes áreas, mas que não consegue aplicar a

função social desta propriedade, em prol da coletividade como exige nossa

legislação a começar pela constituição federal. Para iniciar este trabalho trata-se

no primeiro Capítulo de direito das coisas, uma breve abordagem sobre seu

conceito, histórico, modos de aquisição e de perda da propriedade imóvel, e

propriedade imóvel e o meio ambiente, dedica-se o segundo Capítulo a

propriedade rural, esta pesquisa abordou o histórico da propriedade rural no

Brasil, sua função social, alguns artigos do estatuto da terra (Lei 4.504/64)

relevantes ao tema de pesquisa proposto e algumas leis correlatas que

regulamentam o estatuto da terra, no terceiro Capítulo, pesquisamos sobre a

formação de sítios de recreio, abordamos sobre o parcelamento do solo em se

tratando de imóveis rurais tendo por objetivo a formação de sítios de recreio,

abordamos sobre a questão ambiental através do estudo prévio de impacto

ambiental no parcelamento de imóvel rural e da reserva legal. As Considerações

Finais trazem as respostas às hipóteses levantadas, onde se verifica a

possibilidade da formação de sítios de recreio e sua viabilidade legal dada as

suas características.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto a análise da

condição jurídica para a formação de sítios de recreio.

O seu objetivo é pesquisar e observar questões que estão

envolvidas neste tema, como a viabilidade legal e econômica, definindo as

limitações legais impostas com relação à formação de sítios de recreio.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando de direito

das coisas, uma breve abordagem sobre seu conceito, histórico, modos de

aquisição e de perda da propriedade imóvel, e propriedade imóvel e o meio

ambiente.

No Capítulo 2, tratando da propriedade rural no Brasil, esta

pesquisa abordou o histórico da propriedade rural no Brasil, sua função social,

alguns artigos do estatuto da terra (Lei 4.504/64) relevantes ao tema de pesquisa

proposto e algumas leis correlatas que regulamentam o estatuto da terra.

No Capítulo 3, tratando sobre a formação de sítios de

recreio, abordamos sobre o parcelamento do solo em se tratando de imóveis

rurais tendo por objetivo a formação de sítios de recreio, abordamos sobre a

questão ambiental através do estudo prévio de impacto ambiental no

parcelamento de imóvel rural e da reserva legal

Observa-se no primeiro capitulo uma introdução a esta

pesquisa sobre direito das coisas, com foco na propriedade imóvel, no segundo

mais especificamente abordou-se sobre a propriedade imóvel rural e as condições

e limitações que a legislação lhe impõe, passando ao terceiro capitulo que tratou

especificamente do tema que é o foco desta pesquisa, a formação de sítios de

recreio e sua regulamentação.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre formação de sítios de recreio.

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Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

• É possível a formação de sítios de recreio.

• O sitio de recreio está amparado em nossa legislação e

caracteriza-se como propriedade rural.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação7 foi utilizado o Método Indutivo8, na Fase de Tratamento de

Dados o Método Cartesiano9, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente10, da Categoria11, do Conceito Operacional12 e da

Pesquisa Bibliográfica13.

7 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.

8 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 104.

9 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

10 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 62.

11 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 31.

12 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 45.

13 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 239.

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CAPÍTULO 1

DIREITO DAS COISAS

1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Em sua obra “Direito Civil Brasileiro” o doutrinador Carlos

Roberto Gonçalves discorre acerca da Evolução Histórica do direito das coisas

senão vejamos:

O direito das coisas constitui o ramo do Direito Civil mais influenciado pelo direito romano e em relação ao qual, atualmente, se encontra mais homogeneidade no direito comparado do mundo ocidental. A interferência do estado moderno no direito das coisas, no entanto pode ser percebida pelo surgimento de normas de direito público numa seara que até pouco tempo era exclusiva do direito privado.14

Acentua ainda o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves em

seus ensinamentos que:

Sendo a propriedade a matriz dos direitos reais a diversidade de concepções em torno do aludido instituto pode ser compreendida por meio de um escorço histórico, analisando a sua evolução através dos tempos e das fazes mais importantes que contribuíram para a sua feição atual.15

Neste mesmo sentido discorre Lacerda de Almeida quando

diz que:

14 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. 2º ed. rev. e

atual.São Paulo: Saraiva, 2008, v.5, p. 3 15 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.3

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[...] para a feição que apresenta atualmente o direito das coisas, concorreram historicamente, alem das condições geográficas e de outros fatores de ordem física e cosmológica da índole peculiar do povo, suas idéias religiosas e morais, políticas, sociais e econômicas, os quais, e estes principalmente, ainda hoje trabalham o mundo das idéias, fazendo sentir seus resultados na ordem jurídica.16

Já para Venosa a propriedade privada em sua evolução

histórica tinha ligação com outras duas instituições que eram a religião e

conseqüentemente a família como dispôs em sua obra senão vejamos:

A propriedade privada ligava-se a própria religião e esta, por sua vez, à família, com o culto dos antepassados, os deuses pares. O lar da família, lugar do culto, tem intima relação à propriedade do solo onde se assenta e onde se habitam também os deuses. Ali se situam o altar, o culto e a propriedade do solo e das coisas que o guarnecem sob o poder do Pater.17

No entendimento do doutrinador Carlos Roberto Gonçalves:

“coube ao direito Romano estabelecer a estrutura da propriedade.”18

Fundamentando assim o direito civil moderno em se tratando do tema

propriedade.

Ainda discorrendo sobre revolução histórica o doutrinador

Carlos Roberto Gonçalves dispõe:

[...] A concepção foi marcada inicialmente, pelo aspecto nitidamente individualista. O sistema feudal, produto do enfraquecimento das raças conquistadas, introduziu no regime da

16 LACERDA DE ALMEIDA, Francisco de Paula. Direito das Cousas. Rio de Janeiro: Ed. J.

Ribeiro dos Santos, 1908. V. I. p. 22-23 17 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. 6º ed. São Paulo: Atlas, 2006. V.5, p. 152-

153 18 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.3

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propriedade do Direito Romano, no entanto profundas alterações.19

Que segundo Lafayete Rodrigues Pereira tiveram

“conseqüências naturais da necessidade de apoiar no solo a dominação dos

senhores sobre as míseras populações escravizadas.” 20

Não menos importante é a concepção de Arruda Alvim

citado por Carlos Roberto Gonçalves em relação à propriedade na época

medieval:

[...] Havia aquele que podia dispor da terra e a ceder a outrem [...] mas a disponibilidade real do bem cabia sempre àquele que detinha o poder político. O direito dos outros, do direito deste se originava e dependia [...] Havia todo um sistema hereditário para garantir que o domínio permanecesse numa dada família de tal forma que esta não perdesse o seu poder no contestado sistema político.21

No discorrer sobre evolução histórica de direito das coisas

não podemos deixar de citar o conceito do doutrinador Clóvis Beviláqua onde

para ele direito das coisas é:

[...]o complexo de normas reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de apropriação pelo homem. Tais coisas são ordinariamente, do mundo físico, porque sobre elas é que é possível exercer o poder de domínio.22

E como fechamento do contesto histórico na concepção de

Carlos Roberto Gonçalves: 19 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.3 20 PEREIRA, Lafayette. Direito das Coisas. Atual. Por Ricardo Rodrigues Gama. Campinas:

Russel Editores, 2003, p.17 21 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.3 22 BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado. Rio de Janeiro:

Francisco Alves, 1915, p.1

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Gradativamente, porém, essa concepção egoística e individualista foi se modificando, passando a ser enfocado com mais freqüência o aspecto da função social da propriedade, a partir da encíclica do quadragésimo ano, na qual Pio XI sustenta a necessidade de o Estado reconhecer a propriedade e defendê-la, porém em função do bem comum. O sopro da socialização acabou impregnando o século XX, influenciando a concepção da propriedade e o direito das coisas. Restrições foram impostas à onipotência do proprietário, proclamando-se o predomínio do interesse público sobre o privado.23

Com as citações supracitadas e com o conceito do

doutrinador Clóvis Beviláqua, abordamos sucintamente sobre a evolução histórica

do instituto direito das coisas, passando assim ao próximo tema.

1.2 MODOS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL

Em aspectos gerais à aquisição da propriedade imóvel,

como nos ensina Venoza, de acordo com o antigo Código Civil de 1916 em seu

artigo 530 se dá:

Art. 530: I – pela transição do título de transferência no registro do imóvel; II – pela acessão; III – pelo Usucapião; IV – pelo direito hereditário.

Também cita Venosa que:

O Código Civil de 2002 não elenca os modos de Aquisição de propriedade imóvel em artigo específico, mas a partir do artigo 1238 apresenta os artigos referentes a usucapião, aquisição por registro do título, aquisição por acessão.24

23 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.4 24 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p.169

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Ainda sobre o tema o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves,

diz que o Código Civil de 2002 deixou de fora o direito hereditário do capítulo

intitulado “Da Aquisição da Propriedade imóvel”, sendo que este direito é também

um modo de aquisição da propriedade imóvel como dispõe:

O nosso diploma não especificou, limitando-se a disciplinar, no capítulo intitulado ‘Da Aquisição da Propriedade Imóvel’, o usucapião, o registro do título e a acessão (arts. 1238 a 1259). O direito hereditário é, também, modo de aquisição da propriedade imóvel porque, ‘aberta a sucessão a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros e testamentários’ (C.C., art. 1784). O inventário será feito em função do princípio da continuidade do registro de imóveis, para que o herdeiro ali fique como titular do direito de propriedade. Todavia a aquisição desse direito dá-se simplesmente em razão do falecimento do decujus, quando então se considera aberta a sucessão (princípio da Saisine, segundo o qual o próprio morto transmite ao sucessor o domínio e a posse da herança: ‘Le mort saisit Le vip’.25

Em relação da base histórica do Sistema Romano –

Germânico no que tange o Código Civil, nos ensina Venosa que:

Toda a estrutura das classificações civis do Sistema Romano – Germânico dá preeminência e proteção jurídica mais extensa aos bens imóveis, entendendo que no imóvel esta o substrato da riqueza, na Idade Média, a propriedade da terra era sinônimo de sabedoria e poder. Essa noção insere-se nas codificações.26

Como podemos perceber nosso ordenamento quando trata

da aquisição da propriedade imóvel usa como base o modelo Alemão, conforme

cita Venosa:

Nosso ordenamento de aquisição da propriedade seguiu o modelo Alemão, sem, contudo, ser-lhe totalmente fiel. Afastou-se,

25 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.231 26 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p.170

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portanto, do modelo Francês, em que simples pacto transfere a propriedade.27

Também, este, é o entendimento do doutrinador Carlos

Roberto Gonçalves quando dispõe:

Nosso legislador aproximou-se do Sistema Germânico, atenuando-lhe, porém o rigor. No Sistema Alemão o registro tem valor absoluto. Só é proprietário aquele em cujo nome se acha registrado o imóvel, o que constar dos livros cadastrais pro veritate habetur.28

Ainda discorre Venosa:

[...] Entendia-se, porém, de forma contraditória, que a transcrição no Registro Imobiliário era necessária para obtenção de efeito perante terceiros. Por essa razão, Teixeira de Freitas, em sua Consolidação das Leis Civis, acentuou a distinção entre a aquisição de bens móveis e imóveis, sustentando a exigência do registro para os imóveis.29

Concluindo discorre Venosa que:

[...] Quanto aos imóveis, existem nesse direito duas fases distintas: quando do contrato, a propriedade transfere-se, acarretando efeito entre as partes; como registro imobiliário, o direito alcança o efeito “erga omnes”.30

Como explica Venosa, os contratos só tem efeito entre as

partes já com o registro imobiliário, este passa a ter efeito também perante

terceiros.

27 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p.171 28 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.273 29 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p.171 30 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p.171

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Somente para entendermos melhor com relação ao modelo

Francês de aquisição de imóvel leciona Serpa Lopes:

Do ponto de vista formal, o sistema do registro de imóveis do Direito Francês é colocado sobre o critério do nome das pessoas não se levando em conta o imóvel. [...] Os efeitos da transcrição limitam-se, como já vimos, aos de simples oponibilidade do ato em relação a terceiros. Tem caráter puramente negativo. Nenhuma presunção de exatidão.31

Em se tratando, dos aspectos gerais da aquisição da

propriedade imóvel os temas expostos tiveram crucial importância para melhor

compreendermos o instituto estudado.

1.2.1 A Aquisição da Propriedade Imóvel pela Transcrição do Título no

Registro do Imóvel

Neste subtítulo destacam-se algumas normas, conceitos e

princípios que norteiam o instituto da aquisição da propriedade imóvel pela

transcrição do titulo no registro de imóveis.

Inicialmente nos reportaremos ao Código Civil de 2002 em

seu artigo 1245 que proclama:

Art. 1245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do titulo translativo no registro de imóveis. § 1º Enquanto não se registrar o titulo translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel. § 2º Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel.

31 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil. 3. Ed. Rio de Janeiro: São Paulo, 1964,

v.6, p. 517

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Como podemos observar este artigo do CC de 2002 é que

regulamenta o instituto da transcrição do título no registro de imóveis.

Com relação à aquisição da propriedade imóvel pela

transcrição do título no registro de imóveis leciona Venosa:

Como enunciamos o Código Civil de 1916 fortaleceu o Sistema do Registro Público ao introduzir a transcrição como forma de aquisição da propriedade imobiliária, estabelecendo sua presunção “iuris tantum”. . Atualmente a matéria registraria é regulada pela lei nº 6.015 de 31/12/1973, [...] o Código Civil apenas traça lineamentos gerais do registro imobiliário. A escrituração e ordenação dos assentos é ordenada pela lei específica.32

Sobre a transcrição do titulo no registro de imóveis discorre

Venosa que:

Os princípios fundamentais que regem o Registro Imobiliário são os da publicidade, conservação e responsabilidade dos oficiais de registro. Pelos atos registrarios, seus assentos são de acesso a qualquer interessado. A conservação permite o arquivo permanente do histórico imobiliário. Pelo princípio da responsabilidade, os oficiais respondem pelos prejuízos causados por culpa ou dolo, pessoalmente ou por seus prepostos.33

Também sobre o tema exposto em questão leciona Maria

Helena Diniz:

No art. 1227, o Código Civil Brasileiro estabeleceu como um dos meios aquisitivos da propriedade imóvel o registro do título de transferência no cartório de Registro Imobiliário competente (C.C. arts. 1245 a 1247; Lei nº 6.015/73, arts. 167,I, 168 e 169; Lei nº 7433/85; Dec. n. 93240/86 e STF, súmulas 74 e 139), declarando

32 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p. 177 33 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p. 177

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no art. 1245 que a propriedade transfere-se por ato entre vivos, com o registro do respectivo Título Translativo.34

E complementa a doutrinadora Maria Helena Diniz com

relação ao Registro do Título do Imóvel:

Logo, os negócios jurídicos, em nosso sistema jurídico, não são hábeis para transferir o domínio de bem imóvel. Para que se possa adquiri-lo, além de acordo de vontades entre adquirente e transmitente é imprescindível õ registro do título translativo na circunscrição imobiliária competente (Leis n. 6015 de 31/12/1973; 6140 de 28/11/1974; 6216 de 30/06/1975 e 7433/85), sendo necessária, como se vê, a participação do Estado por intermédio do serventuário que faz esse registro público sem o qual não há transferência de propriedade.35

No mesmo sentido salienta Carlos Roberto Gonçalves:

Por influência de Teixeira de Freitas e Lafayette, o Código Civil de 1916, com a finalidade de melhor garantir a propriedade imóvel, passou a exigir, para a transferência do domínio, que o acordo de vontades se complete pelo registro. Tal sistema foi mantido no diploma de 2002, cujo art. 1245 proclama: “transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro de título translativo no registro de imóveis”.36

Com as citações acima supracitadas podemos entender que

sem a transcrição do titulo do imóvel no registro de imóveis não se dá a efetiva

transferência da propriedade deixando assim desprotegido o adquirente do bem

imóvel, para melhor entendermos abordaremos alguns princípios que regem o

registro de imóveis, senão vejamos:

34 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. 20 ed. São Paulo:

Saraiva, 2004, v.4, p.134 35 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas p.134 36 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.273

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1.2.1.1 Princípio da publicidade

É aquele princípio onde qualquer pessoa pode requerer

certidão do registro sem informar o motivo, bastando salvar o numero da

matrícula do imóvel que deseja ter conhecimento.

Neste sentido nos explica Carlos Roberto Gonçalves:

[...] O registro confere publicidade às transações imobiliárias, valendo contra terceiros. Qualquer pessoa poderá requerer certidão do registro sem informar ao oficial ou ao funcionário o motivo ou interesse do pedido.37

Também sobre o principio da publicidade discorre orlando Gomes:

[...] se quer dizer que com o registro, sendo um cadastro geral e completo da propriedade imobiliária, qualquer pessoa pode conhecer a condição jurídica de um bem imóvel, isto é, a quem pertence, se está gravado de ônus real, como foi adquirido, tendo, portanto, elementos seguros para a realização de qualquer operação translativa ou constitutiva de direito real.38

A qualquer pessoa é permitido o acesso as informações

transcritas no registro de imóveis, bastando para isso saber o nome do

proprietário do imóvel ou o numero da matricula.

1.2.1.2 Princípio da força probante (fé pública) ou presunção:

Este principio é aquele que trata da verdade do que está

transcrito no registro, presume-se verdadeiras as informações contidas no registro

de imóveis como discorrem os doutrinadores Carlos Roberto Gonçalves e Maria

Helena Diniz:

37 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.275 38 GOMES, Orlando. Direitos Reais. 19º ed. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 167

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Segundo Gonçalves: “os registros tem força probante, pois

gozam da presunção de veracidade. Presume-se pertencer o direito real à pessoa

em cujo nome se encontra registrado”.39

Também discorre sobre este principio a doutrinadora Maria

Helena Diniz que diz: “Força Probante, é aquela que se funda na fé publica do

registro, pois se presume (CC, art. 1245, § 2º) pertencer o direito real à pessoa

em cujo nome se fez o assento."40

Este principio como discorreram os doutrinadores

supracitados é aquele que garante a verdade dos fatos descritos no registro de

imóveis.

1.2.1.3 Princípio da legalidade

Sobre o principio da legalidade podemos afirmar que é este

de obrigação do oficial do cartório, pois ao oficial incumbe o dever de verificar se

são legais e validas as informações apresentadas a ele.

Para Carlos Roberto Gonçalves o princípio da legalidade é

aquele onde: “incumbe ao oficial do cartório, por dever de ofício, examinar a

legalidade e a validade dos títulos que lhe são apresentados para registro, nos

seus aspectos intrínsecos e extrínsecos”.41

Este principio, é aquele que incumbe ao oficial do cartório, a

obrigação de conferir a documentação necessária e sua respectiva validade, para

que se possa dar andamento ao processo de registro do imóvel.

39 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.275 40 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.139 41 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.277

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1.2.1.4 Princípio da territorialidade ou obrigatoriedade

É aquele que exige o registro na circunscrição imobiliária do

respectivo imóvel, neste sentido salienta Gonçalves:

A escritura pública pode ser lavrada no Cartório de Notas de qualquer localidade, mas o registro só pode ser efetuado no registro de imóveis da situação do imóvel, o que, sem dúvida, facilita a pesquisa em torno dos imóveis.42

Ainda sobre o principio da obrigatoriedade discorre Maria

Helena Diniz:

[...] por ser o registro indispensável à aquisição da propriedade imobiliária inter vivos (CC, arts.1227 e 1245), devendo ser efetivada no cartório da situação do imóvel. Se se tratar de bens situados em várias comarcas o registro deve ser feito em todas elas. 43

Este principio da territorialidade ou obrigatoriedade tem por

objetivo vincular o respectivo imóvel a sua circunscrição imobiliária, a fim de

possibilitar com mais facilidade a pesquisa em relação ao imóvel e evitar

possíveis fraudes.

1.2.1.5 Princípio da continuidade

É aquele principio que vincula a propriedade do titulo a

mesma pessoa que pretende aliená-lo.

Segundo a doutrinadora Maria Helena Diniz, o princípio da

continuidade:

42 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.279 43 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.139

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[...] que constitui o registro um dos modos derivados de aquisição do domínio, prende-se ele ao anterior; se o imóvel não estiver registrado no nome do alienante ou transmitente, não poderá ser levado a assento em nome do adquirente. Urge providenciar primeiro o registro em nome daquele para depois efetuar o deste.44

Leciona sobre este principio o doutrinador Carlos Roberto

Gonçalves:

O principio da continuidade, um dos princípios fundamentais do registro imobiliário, pelo qual somente se admite o registro de um titulo se a pessoa que nele aparece como alienante é a mesma que figura no registro como o seu proprietário.45

Como foi transcrito inicialmente e confirmado através das

citações dos doutrinadores acima supracitadas somente se admite o registro do

titulo se o proprietário e o alienante forem a mesma pessoa.

1.2.1.6 Princípio da retificação ou anulação

Segundo Carlos Roberto Gonçalves: “É admissível a

retificação do registro do imóvel quando há inexatidão nos lançamentos”.46

No mesmo sentido nos explica Walter Ceneviva:

[...] Não é viável entre nós um sistema de presunção de validade absoluta do assentamento imobiliário, confiado a cartórios cujos elementos humanos e materiais nem sempre são de boa qualidade.47

44 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.139 45 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.280 46 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.285 47 CENEVIVA, Walter. Lei dos Registros Públicos Comentada. São Paulo: Saraiva, 1979 e

2007, p. 129

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Também discorre sobre o principio da retificação o

doutrinador Orlando Gomes:

A pretensão de retificação, julgada procedente, importa alteração substancial do registro, porque tem por conseqüência a devolução da propriedade, independentemente do consentimento daquele a quem a retificação prejudica.48

Após suscitar explanações sobre Registro do Título e seus

principais princípios, passamos ao segundo modo de Aquisição de que trata o

Código Civil Brasileiro de 2002.

1.2.2 Aquisição por Acessão

Em nosso Código Civil de 2002 a acessão esta disciplinada

como um dos modos de aquisição da propriedade imóvel, neste sentido nos

ensina Venosa que acessão: “[...] significa aumento da coisa, objeto da

propriedade.”49

Porém o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves conceitua

acessão da seguinte forma: “Acessão é, pois, modo de aquisição da propriedade

criado por lei, em virtude do qual tudo o que se incorpora a um bem fica

pertencendo ao seu proprietário.”50

A acessão como modo de aquisição de imóvel pode decorrer

de fenômenos naturais, para Carlos Roberto Gonçalves, a acessão se da de 4

(quatro) formas: acessão pela formação de ilhas, acessão por formação de

aluvião, acessão por avulsão e acessão por álveo abandonado, como veremos a

seguir:

48 GOMES, Orlando. Direitos Reais. p. 170 49 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p. 182 50 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.288

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1.2.2.1 Acessão pela formação de ilhas

Nosso Código Civil em seu artigo 1249 regulamenta a

acessão pela formação de ilhas senão vejamos:

Art. 1249: As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes: I – as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais; II – as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado; III – as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram.

A respeito dessa forma de acessão discorre Venosa:

A formação de ilha no leito de rios não navegáveis dá origem à propriedade dos titulares das margens ribeirinhas na proporção de suas testadas: “insula in flumine nata”. O fenômeno pode decorrer da sedimentação paulatina que faz nascer a ilha ou pelo rebaixamento de águas que coloca o solo à mostra no leito do rio. As ilhas formadas no meio do rio são consideradas acréscimos aos terrenos ribeirinhos. Divide-se o rio pela linha da metade do álveo, fracionando-se a ilha em duas partes.51

Também sobre esta forma de acessão discorre Carlos

Roberto Gonçalves:

O aparecimento das ilhas pode ser determinado pelas causas mais diversas. A aquisição da propriedade das que se formaram por força natural (acumulo de areia e materiais levados pela correnteza, movimentos sísmicos, desagregação repentina de uma porção de terra etc.) ocorre de acordo com sua situação ou

51 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p. 182

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posição no leito dos rios. . Assim, as ilhas que se formam no meio do rio distribuem-se na proporção das testadas dos terrenos até a linha que dividir o álveo ou leito do rio em duas partes iguais; as que se formam entre essa linha e uma das margens consideram-se acréscimos ao terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado.52

Diante dos conceitos expostos, entendemos que acessão é

a aquisição da propriedade pela formação de ilhas, independente da forma ou

causa que tenha sido responsável por esta formação, desde que ocorrida por

força natural.

1.2.2.2 Acessão por formação de aluvião

O art. 1250 do Código Civil disciplina acessão por formação

de aluvião:

Art. 1250: os acréscimos formados sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos aterros marginais, sem indenização. Parágrafo único: o terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem.

O doutrinador Carlos Roberto Gonçalves salienta a visão de

Justiniano quanto à acessão por formação de aluvião:

Segundo a definição de Justiniano, difundida pela doutrina, aluvião é o aumento insensível que o rio anexa às terras, tão vagarosamente que seria impossível um dado momento, apreciar a quantidade acrescida. Esses acréscimos pertencem aos donos dos terrenos marginais, conforme a regra de que o acessório segue o principal.53

52 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.289 53 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.290

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Ainda segundo Orlando Gomes:

Para haver aluvião, o incremento deve se realizar imperceptivelmente, sem que se possa saber a quem pertencem as terras trazidas pela corrente, sem que se possa determinar o lugar de onde se desprenderam. Nisso se distingue, precisamente, da avulsão, que é uma porção de terra destacada por força natural violenta, de uma só vez. Na aluvião, o acréscimo há de ser sucessivo, lento, paulatino, imperceptível.54

Como nos explicaram em detalhes os doutrinadores em

suas citações aluvião é o acumulo de terra nas margens dos rios após decorridos

um certo período de tempo.

1.2.2.3 Acessão por avulsão

Já no caso da acessão por avulsão o deslocamento de terra

é por força da natureza e de forma violenta como disposto no Código Civil no

artigo 1251.

De acordo com o disposto no art. 1251 do C.C. avulsão se

dá:

Art. 1251: quando por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indeniza o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano ninguém houver reclamado. Parágrafo único: recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida. Segundo Venosa:

O fenômeno ocorre em correntes de grandes e rápidas caudais. Nosso Direito apenas leva em conta a aderência natural, não

54 GOMES, Orlando. Direitos Reais. p. 178

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sendo regidas pelo princípio aquelas derivadas de atividade humana. A situação ocorre não apenas quando há aumento de extensão de área, mas também quando há superposição de terreno, acrescendo seu volume.55

Na concepção do doutrinador Orlando Gomes:

Avulsão é o desprendimento, por força natural violenta, de uma porção de terra que se vai juntar ao terreno de outro proprietário. A avulsão só é forma de acessão quando o proprietário do terreno acrescido não consente que a porção de terra seja removida.56

Ainda com relação ao parágrafo único do art. 1251 discorre

Orlando Gomes:

Atribui-lhe a lei direito de opção entre aquiescer que se remova a parte acrescida ou indenizar ao dono do terreno do qual se destacara a porção de terra. Se prefere indenizar, torna-se proprietário da parte acrescida, verificando-se, então, a acessão por avulsão.57

É o entendimento dos doutrinadores supracitados que

avulsão é um modo de aquisição por acessão ocasionada por um fenômeno da

natureza do qual o proprietário do terreno que recebe esta parte de terra não

deixa que esta seja removida.

1.2.2.4 Acessão por álveo abandonado

Sobre o tema, disciplina o art. 1252 do C.C.:

Art. 1252: o álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham

55 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p. 185 56 GOMES, Orlando. Direitos Reais. p. 179 57 GOMES, Orlando. Direitos Reais. p. 179

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indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo.

Sobre o referido artigo discorre Gonçalves:

Como consta no art. 1252 do Código Civil retro transcrito, os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso não tem o direito de indenização, uma vez que estão diante de um acontecimento natural. Todavia, farão jus a ela se o acontecimento decorrer de ato humano. Se o rio retornar ao seu antigo leito, o abandonado voltará aos seus antigos donos.58

Conforme demonstramos são estes os modos de aquisição

de propriedade imóvel por acessão, veremos agora a aquisição de propriedade

imóvel por usucapião.

1.2.3 Aquisição de propriedade imóvel pelo usucapião

A usucapião é o modo de aquisição da propriedade imóvel

pela posse continua durante certo tempo determinado, de acordo com a espécie

de usucapião a que se enquadre, conforme o caso pode ser, usucapião

extraordinário, ordinário, especial ou constitucional.

Discorre Venosa que:

A posse prolongada da coisa pode conduzir a aquisição da propriedade, se presentes determinados requisitos estabelecidos em lei. Em termos mais concretos, denomina-se usucapião o modo de aquisição da propriedade mediante a posse suficientemente prolongada sob determinadas condições.59

Também em sua obra Direito das Coisas, o doutrinador

Arnoldo Wald diz que:

58 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.292 59 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p. 193

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Diversas são os fundamentos doutrinários que procuram explicar a aquisição da propriedade pelo decurso do tempo. Trata-se na realidade, de uma derrogação à perpetuidade do domínio em virtude do qual é possuidor, decorrido certo prazo, torna-se proprietário.60

Segundo o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves:

O fundamento da usucapião está assentado, assim, no principio da utilidade social, na conveniência de se dar segurança e estabilidade à propriedade, bem como de se consolidar as aquisições e facilitar a prova do domínio. Tal instituto, segundo consagrada doutrina, repousa na paz social e estabelece a firmeza da propriedade, libertando-a de reivindicações inesperadas,...61

Este instituto é disciplinado pelo Código Civil de 2002 a partir

do artigo 1238 e se divide em três espécies: usucapião extraordinário, usucapião

ordinário e usucapião especial ou constitucional.

1.2.3.1 Usucapião Extraordinário

Essa espécie de usucapião tem como requisito essencial o

lapso de tempo que é de quinze anos e é disciplinada pelo art. 1238 que dispõe:

Art. 1238: Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquirir-lhe-á a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no cartório de registro de imóveis. Parágrafo único: o prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

60 WALD, Arnoldo. Direito das Coisas. 11º ed. rev. aum. atual. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 169 61 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.235

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Sobre usucapião extraordinário discorre o doutrinador

Orlando Gomes:

A usucapião extraordinário caracteriza-se pela maior duração da posse e por dispensar o justo título e a boa-fé. . Basta que alguém possua, como seu, um bem, durante certo lapso de tempo, para que lhe adquira a propriedade. Seus requisitos a posse sem interrupção nem oposição, em certo prazo, desde que possuída a coisa com animus domini.62

Também sobre o usucapião extraordinário doutrina Carlos

Roberto Gonçalves:

[...] Corresponde à espécie de usucapião mais comum e conhecida. Basta o ânimo de dono e a continuidade e tranqüilidade da posse por quinze anos. O usucapiente não necessita de justo titulo nem de boa fé, que sequer são presumidos: simplesmente não são requisitos exigidos. 63

Como nos ensinam os doutrinadores supracitados para

caracterizar está espécie de usucapião basta que reste provado a posse do

respectivo imóvel pelo decurso de quinze anos contínuos e tranqüilos e o ânimo

de dono.

1.2.3.2 Usucapião ordinário

A usucapião ordinário também tem como requisito o tempo

da posse porem este tempo é apenas de dez anos, nesta espécie de usucapião.

Nosso Código Civil no art. 1242 dispõe:

62 GOMES, Orlando. Direitos Reais. p. 192 63 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.236

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Art. 1242: adquire também propriedade do imóvel aquele que, continua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único: será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.

Neste sentido afirma o doutrinador Orlando Gomes que a

usucapião ordinária:

[...] é a que exige a posse contínua e incontestada, durante certo lapso de tempo, com justo título e boa-fé. Esses requisitos suplementares caracterizam-na porque, exigidas,o lapso de tempo é abreviado.64

Como podemos observar alem do lapso de tempo está

espécie de usucapião também exige como requisito o justo titulo e da boa fé

como se vê disciplinado em nosso ordenamento jurídico.

1.2.3.3 Usucapião especial

A usucapião especial também conhecida como usucapião

constitucional, foi traduzida pela Constituição Federal sob duas formas: usucapião

especial rural e usucapião especial urbana.

A usucapião especial rural está regulamentado no art. 191

da Constituição Federal de 1988, transcrito para o artigo 1239 do Código Civil que

dispõe:

Art. 1239: aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta

64 GOMES, Orlando. Direitos Reais. p. 193

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hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe–á a propriedade. Ainda neste sentido discorre o doutrinador Carlos Roberto

Gonçalves:

A usucapião rural não se contenta com a simples posse. O seu objetivo é a fixação do homem no campo, exigindo a ocupação produtiva do imóvel, devendo neste modo e trabalhar o usucapiente. [...] Tais requisitos impedem que a pessoa jurídica requeira usucapião com base no dispositivo legal em apreço porque ela não tem família nem morada. Tal modalidade não exige, todavia, justo título nem boa-fé.65

Também regulamenta a usucapião urbana o artigo 183 da

Constituição Federal de 1988 transcrito para o artigo 1240 do Código Civil que

dispõe:

Art. 1240: aquele que possuir, como sua, área urbana de até 250 metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio deste que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

Segundo o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves:

Tal espécie não se aplica a posse de terreno urbano sem construção, pois é requisito a sua utilização para moradia do possuidor ou de sua família. Por outro lado, não reclama justo título nem boa-fé, como também ocorre com a usucapião rural.66

Diante dos estudos e pesquisas feitas creio que abordamos

todas as principais formas legais para a aquisição da propriedade imóvel

passando agora ao próximo tema proposto em nosso trabalho que é a perda da

propriedade imóvel.

65 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.292 66 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.240-241

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1.3 PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL

A perda da propriedade imóvel pode se dar de cinco

maneiras, conforme regulamenta o artigo 1275 do Código Civil de 2002 que

dispõe:

Art. 1275: alem das causas consideradas neste código, perdem-se a propriedade: I- por alienação; II- pela renúncia; III- por abandono; IV- por perecimento da coisa; V- por desapropriação.

Parágrafo único: nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinadas ao registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis.

Discorre o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves sobre o

aludido dispositivo legal dispondo que:

Os três primeiros são modos voluntários de perda de propriedade, sendo o perecimento e a desapropriação modos involuntários. A enumeração do aludido dispositivo é meramente exemplificativa, referindo-se ao usar a expressão “além das causas consideradas neste código”, a existência de outras causas de extinção, como a usucapião e a acessão.67

Os modos voluntários e involuntários de perda da

propriedade citadas pelo doutrinador Carlos Roberto Gonçalves são a perda pelo

abandono, pela renúncia e pela alienação, sendo que estas são as modalidades

voluntárias, já as involuntárias são a perda pelo perecimento da coisa e a perda

da propriedade mediante desapropriação como dispõe a seguir.

67 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.305-306

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1.3.1 Perda da Propriedade Imóvel pela Alienação

Segundo Carlos Roberto Gonçalves a alienação se dá:

[...] por meio de contrato, ou seja, de negócio jurídico bilateral, pelo qual o titular transfere a propriedade a outra pessoa. Pode ser a título oneroso, como na compra e venda, ou a título gratuito, como na doação.68

Já na acepção do doutrinador Orlando Gomes alienação é:

“O ato pelo qual o proprietário, por vontade própria, transmite a outrem seu direito

sobre a coisa. O direito de propriedade perde-se pela alienação, para o

transmitente.”69

Diante de tal instituto, podemos, entender alienação como a

vontade de alguém em transmitir a outrem aquilo que é seu por vontade própria.

1.3.2 Perda da Propriedade Imóvel pela Renúncia

Para o doutrinador Orlando Gomes Renúncia é:

O ato pelo qual o proprietário declara explicitamente o propósito de despojar-se do seu Direito. Independe do abandono material da coisa. Para valer não necessita de aceitação de quem quer que seja. É unicamente um ato unilateral. Mas para produzir efeitos, mister se faz, em nosso Direito, que o ato renunciativo seja transcrito no Registro de Imóveis.70

Também discorre o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves

que: “A Renúncia é ato unilateral pelo qual o titular abre mão de seus direitos

sobre a coisa, de forma expressa”.71

68 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.306 69 GOMES, Orlando. Direitos Reais. p. 211 70 GOMES, Orlando. Direitos Reais. p. 211 71 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.306

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Diante das citações supracitadas entendemos o modo de

perda da propriedade imóvel pela renuncia como um ato unilateral ou seja só

cabe a ele a renuncia de seus direitos de forma expressa, transcrita no registro de

imóveis.

1.3.3 Perda da Propriedade Imóvel pelo Abandono

Este instituto ocorre com o abandono do imóvel em razão da

vontade do proprietário de se livrar de um problema, por exemplo, imposto fora de

seu alcance financeiro.

Discorre o doutrinador Orlando Gomes que a perda pelo

Abandono:

É o ato pelo qual o proprietário se desfaz da coisa que lhe pertence, por não querer continuar seu dono. Objetiva-se com a derelicção. A intenção de abandonar é imprescindível, devendo resultar de atos que a atestam inequivocamente.72

Para o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves a perda pelo

abandono é também:

[...] ato unilateral, pelo qual o titular abre mão de seus direitos sobre a coisa. Neste caso, não há manifestação expressa. Pode ocorrer, por exemplo, quando o proprietário não tem meios de pagar os impostos que oneram o imóvel.73

Destaca-se como perda da propriedade imóvel pelo

abandono, a desistência de uma das partes sobre a coisa a que tem direito.

72 GOMES, Orlando. Direitos Reais. p. 211 73 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.306

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1.3.4 Perda da Propriedade Imóvel pelo Perecimento da Coisa

Segundo Venosa a perda da propriedade imóvel pelo

perecimento da coisa ou objeto se dá: “Desaparecendo o objeto da propriedade,

por força natural ou atividade humana, não existe mais direito, por lhe faltar

objeto. Trata-se de modalidade involuntária de perda da propriedade.”74

Ainda neste sentido discorre Carlos Roberto Gonçalves:

A perda pelo perecimento da coisa decorre da perda do objeto. Se, por exemplo, um incêndio destrói uma edificação ou fortes chuvas provocam o deslizamento de um morro, fazendo-o desaparecer, os seus respectivos proprietários perdem o poder que tinham sobre ele.75

O perecimento da coisa como perda da propriedade imóvel

se dá pela perda do objeto como descreve Carlos Roberto Gonçalves, para

melhor entendermos é o desaparecimento da coisa em razão de incêndio ou

avalanche de terra, por exemplo, destruindo ou soterrando o imóvel, tendo como

conseqüência a perda do mesmo.

1.3.5 Perda da Propriedade pela Desapropriação

A perda da propriedade pela desapropriação como já

frisamos anteriormente, também se trata de um modo involuntário de perda da

propriedade.

Para Carlos Roberto Gonçalves:

Trata-se de modo involuntário de perda do domínio. A desapropriação é instituto de Direito Público, fundado no Direito Constitucional e regulado pelo Direito Administrativo, mas com

74 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p.252 75 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.308

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reflexo no Direito Civil, por determinar a perda de propriedade do imóvel, de modo unilateral, com a ressalva da prévia e justa indenização.76

Da mesma forma salienta Venosa:

A matéria sobre desapropriação é pertinente tanto ao Direito Civil quanto ao Direito Administrativo. Obedece a princípios constitucionais e possui visar, portanto disciplina processual.[...] A desapropriação diz respeito também a utilização social da propriedade. Esta deve passar ao domínio do Estado em razão de interesse social que supera o interesse individual. Justifica-se a desapropriação como ato de soberania, assim como é o poder de polícia ou poder de tributar.No entanto, ao Estado cumpre indenizar o desapropriado, sob pena de inviabilizar os paradigmas da propriedade privada.77

E nas palavras de Orlando Gomes:

A desapropriação é sem dúvida, modo de perda da propriedade, visto que o dono da coisa se vê compelido a transmiti-la ao expropriante. A extinção é involuntária. O proprietário do bem não pode impedi-la.78

Como podemos perceber o modo de perda da propriedade

imóvel pela desapropriação alem de ser um modo involuntário é também um ato

unilateral da administração pública, onde não cabe ao proprietário do imóvel

questionar, mas sim transmitir o bem ao expropriante.

1.4 PROPRIEDADE E MEIO AMBIENTE

São institutos diferentes mais que interagem em conjunto

para o bem comum da sociedade.

76 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro/Direito das coisas. p.308 77 VENOSA, Silvio Salvo. Direito Civil: Direitos Reais. p.252 78 GOMES, Orlando. Direitos Reais. p. 212

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Primeiramente falaremos um pouco da propriedade como

direito fundamental e numa segunda acepção falaremos do meio ambiente e sua

integração com a propriedade.

A propriedade em nossa carta magna está disposta em seu

art. 5º sob duas definições, uma em seu inciso XXII, que dispõe:

Art. 5º, XXII: é garantido o direito de propriedade.

Ora reportando-se a um direito fundamental de todo cidadão.

E a outra definição esta contida em seu inciso XXIII que

dispõe:

Art. 5º, XXIII: a propriedade atenderá a sua função social.

Ora reportando-se esta definição a ordem econômica de

nossa sociedade.

Fernanda de Salles Cavedon, em sua obra Função Social e

Ambiental da propriedade, fundamenta tais definições dos artigos supracitados

quando dispõe que:

A propriedade no âmbito do texto Constitucional, é trabalhada em duas acepções: como direito fundamental e como elemento da ordem econômica. No seu art. 5º, que traz o rol dos Direitos Fundamentais do cidadão e da coletividade, a Constituição da Republica Federativa do Brasil, ao mesmo tempo em que garante o Direito de Propriedade, atribui a este uma função social.79

Ainda discorre CAVEDON que:

79 CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. Florianópolis:

Visual Books, 2003, p.65

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A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ao qualificar a propriedade como portadora de uma função social e de uma função ambiental, visa-a solução de conflitos entre interesse individual do proprietário e os interesses da coletividade.Dentre estes, destaca-se o interesse em gozar de um ambiente saudável, e alcançar as finalidades sociais que almeja a sociedade brasileira, como o desenvolvimento econômico individual que traga, concomitantemente, vantagens para a coletividade.80

Também leciona o doutrinador Paulo Afonso Leme Machado

quando diz que:

O Direito de propriedade assegurado pela Constituição Brasileira estabelece uma relação da propriedade com a sociedade (art. 5º, XXIII e art. 170, III e VI, ambos da CF/1988). A propriedade não fica constando simplesmente com um direito e uma garantia individual. Dessa forma, se vê com clareza que inexiste juridicamente apoio para a propriedade que agrida a sociedade, que fira os direitos dos outros cidadãos.81

Primeiramente temos o direito de propriedade garantido em

nossa constituição que estabelece uma relação direta entre propriedade e

sociedade, já em uma segunda acepção, observa-se, que o meio ambiente

interage, se integrando com a propriedade e respectivamente com a sociedade.

Senão vejamos o que dispõe o art. 225 caput da CF/88

especificamente em relação ao meio ambiente:

Art. 225 – Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade e dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

80 CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.65 81 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 7º ed. São Paulo:Malheiros,

1999, p.139

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No entendimento de SILVA, nossa constituição ao tratar da

questão ambiental:

Assumiu o tratamento da matéria em temos amplos e modernos. Traz em capítulo específico sobre o meio ambiente, inserido no título da ordem social (cap. XXI do tit. VIII). Mas a questão permeia todo o seu contexto correlacionado com os temas fundamentais da ordem constitucional.82

Também entende Fernanda de Salles Cavedon que:

Além do disposto nesse capitulo especifico sobre o meio ambiente, também no título II, que dispõe sobre os direitos e garantias fundamentais, especificamente no capitulo destinado a elencar os direitos e deveres individuais e coletivos, o texto constitucional colocou a disposição dos cidadãos um instrumento para a defesa de seu direito fundamental ao meio ambiente: a ação popular que visa anular atos lesivos ao meio ambiente dentre outros bens protegidos por esta ação.83

A cerca da citação supracitada dispõe o inciso LXXIII do

artigo 5º da nossa carta magna:

LXXIII – Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio publico ou de entidade de que o estado participe, à moralidade administrativa, do meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má fé, isento de custas processuais e do ônus de sucumbência.

Ainda sobre o tema conclui Cavedon:

Portanto o reconhecimento do meio ambiente preservado como um direito fundamental decorre de que este é condição indispensável ao pleno desenvolvimento da pessoa humana e

82 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 13 ed. revista. São Paulo:

Malheiros, 1997. P. 26 83 CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.89-90

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satisfação de suas necessidades com qualidade de vida. Está diretamente relacionado ao direito fundamental à vida, visto que a realização deste direito requer condições ambientalmente saudáveis.84

Diante do que abordamos destaca-se a importância do meio

ambiente através das palavras dos doutrinadores supracitados relacionando a

propriedade ao meio ambiente como sendo um direito fundamental do cidadão

previsto em nossa Constituição Federal.

Ante o tema proposto explanaremos, agora, sobre a função

ambiental da propriedade, pois é parte importante para nosso tema.

Sobre a função ambiental da propriedade leciona Cavedon:

Da conjunção da proteção legal conferida ao direito de propriedade e ao meio ambiente no ordenamento jurídico brasileiro, origina-se a função ambiental da propriedade. A partir do momento em que o direito de propriedade passa a ser objeto de limitações derivadas da proteção legal do meio ambiente, a propriedade adquiri uma nova função, de caráter ambiental, pela qual o seu uso, gozo e fruição deverá garantir a integridade do patrimônio ambiental nela existente.85

Ainda destaca BENJAMIN que:

Ao lado da funcionalização social da propriedade com o novo texto constitucional deu-se também sua funcionalização ambiental, o que está expressamente previsto no artigo 186 do texto constitucional ao estabelecer como requisito para o cumprimento da função social da propriedade rural a utilização adequada e a preservação do meio ambiente.86

84 CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.90 85 CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p.123 86 BENJAMIN, Antônio Herman V. Dano Ambiental: Prevenção, Reparação e Repressão. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p.79

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Destaca-se que em nosso primeiro capitulo fizemos uma

introdução ao nosso tema de pesquisa abordando sobre direito das coisas, tendo

como foco neste contexto à propriedade imóvel dando destaque as formas de

aquisição e perda da propriedade imóvel, bem como a propriedade e o meio

ambiente e a sua relação com a sociedade dentro do nosso ordenamento jurídico.

Passamos agora ao segundo capitulo de nossa pesquisa

que vai abordar sobre a propriedade rural no Brasil, direcionando desta forma o

foco de nosso trabalho para nosso tema que é a formação de sítios de recreio,

para isto é preciso que compreendamos um pouco mais sobre a propriedade rural

no Brasil, suas características e limitações dentro de nosso ordenamento jurídico.

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CAPITULO 2

PROPRIEDADE RURAL NO BRASIL

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PROPRIEDADE RURAL NO BRASIL

A história da propriedade rural segundo Marcelo Sciorilli, se

desenvolveu em quatro fases, que foram: a fase das Sesmarias, a fase das

posses, a fase da Lei de Terras e a fase da Republica.

2.1.1 A Fase Das Sesmarias ou Sesmarialismo

Está primeira fase como destaca em sua obra o autor

Marcelo Sciorilli, “[...]retroage até a Portugal medieval, mais especificamente a Lei

das Sesmarias, publicada em Santarém no ano de 1375, por D. Fernando l.”87

Discorre ainda Sciorilli que:

Como se anotou, a primeira fase da formação da propriedade rural no Brasil teve no regime das sesmarias ou sesmarialismo, a sua principal característica. João Bosco Medeiros de Sousa explica que a situação decorreu da aplicação das regras, princípios e institutos do direito português na colônia, sem que a coroa se desse conta de que as condições daqui eram diversos daquelas existentes em Portugal.88

Conclui Sciorilli que:

87 SCIORILLI, Marcelo. Direito de Propriedade: evolução, aspectos gerais, proteção, função

social; Política Agrária: conformação, instrumentos, limites. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2007. p.20

88 SCIORILLI, Marcelo. Direito de Propriedade: evolução, aspectos gerais, proteção, função social; Política Agrária: conformação, instrumentos, limites.. p.20

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[...]as sesmarias acabaram por provocar no território brasileiro uma situação caótica, isto é, com grandes faixas de terras improdutivas, aumento da concentração de renda, da desigualdade social e atraso na agricultura.89

Destaca-se em um primeiro momento que a fase do

sesmarialismo, nos trouxe um grande atraso, sobretudo na agricultura, diante da

disparidade na divisão e distribuição das propriedades rurais no Brasil.

2.1.2 Fase das Posses

De acordo com Marcelo Sciorilli temos o período das posses

como sendo a segunda fase da história da propriedade rural no Brasil.

Nesta fase nos ensina Sciorilli:

Com a extinção das sesmarias no Brasil, por força da resolução de 17 de julho de 1822, observou-se uma lacuna na legislação brasileira com relação à disciplina das terras publicas. Teve inicio, então, uma nova fase no processo de colonização do território nacional, pautado no apossamento indiscriminado de terras, sem qualquer requerimento endereçado as autoridades ou mesmo regulamentação pelo poder publico. No período compreendido entre os anos de 1822 a 1850, viveu-se, por conseguinte, um regime que reconhecia grande valor a posse ou ocupação, os quais passavam a constituir modos de aquisição do domínio,...90

A fase das posses como se destaca nas palavras de

Marcelo Sciorilli, foi um período onde as autoridades e o poder publico, não

possuíam qualquer meio para controle da ocupação desordenada e desenfreada

dos posseiros, que por sua vez se encontravam amparados na lacuna existente

na legislação daquela época.

89 SCIORILLI, Marcelo. Direito de Propriedade: evolução, aspectos gerais, proteção, função

social; Política Agrária: conformação, instrumentos, limites. p.21 90 SCIORILLI, Marcelo. Direito de Propriedade: evolução, aspectos gerais, proteção, função

social; Política Agrária: conformação, instrumentos, limites. p.21-22

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2.1.3 Fase da Lei de Terras

Nesta fase diante da lacuna legislativa resultante da

resolução que pôs fim a concessão de sesmarias, nos ensina Marcelo Sciorilli

que:

[...]tornou-se imperativo a regulamentação da posse e da propriedade das terras no Brasil. Havia a necessidade premente de disciplina da matéria a fim de minimizar a situação caótica herdada do período das posses.Foi nesse panorama que surgiu a Lei n. 601, de 18.9.1850, sancionada pelo Imperador e aprovada pela Assembléia Geral. Tinha por escopo tratar de forma sistemática da matéria pertinente às terras no pais, estabelecendo, dentre outras, regras que permitissem a distinção entre as pertencentes ao domínio publico e ao particular.91

Ainda conclui João Bosco Medeiros de Souza em sua obra

Direito Agrário que a Lei nº 601, de 18.9.1850:

É considerado um marco no cenário jurídico nacional e o mais relevante diploma legal até o advento do Estatuto da Terra. Previu o conceito de patrimônio fundiário estatal, próprio e devoluto, diante da exclusão expressa dos bens que, por justo titulo, já integravam patrimônios particulares, quer a titulo de posse mansa e pacifica, quer como propriedade plena. Permitiu aos detentores de sesmarias, ou mesmo simples posseiros, a obtenção de títulos de domínio da respectiva gleba.92

Observa-se que a Lei nº 601, de 18.9.1850, marcou

significativamente a fase da Lei de Terras, pois segundo os doutrinadores acima

supracitados foi a partir da sanção desta, que o Estado e os posseiros, puderam

dar inicio a regularização de suas posses perante o caos instaurado neste

período.

91 SCIORILLI, Marcelo. Direito de Propriedade: evolução, aspectos gerais, proteção, função

social; Política Agrária: conformação, instrumentos, limites. p.22 92 MEDEIROS DE SOUSA, João Bosco. Direito Agrário – Lições Básicas, 3ª ed., São Paulo:

Saraiva,1994. p.21

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Conclui ainda Igor Tenório que “apesar da boa vontade do

poder publico, não se conseguiu colocar termo ao caos fundiário estabelecido no

pais, mercê da imensidão territorial e da rarefação do poder estatal...”93.

2.1.4 Fase do Período Republicano

Esta fase teve seu inicio com o advento do texto

constitucional do ano de 1891, onde destaca Marcelo Sciorilli que:

Por força do art. 64 do texto constitucional de 1891, passaram a pertencer aos Estados às minas e terras devolutas, situadas nos seus respectivos territórios, cabendo a União somente a porção de território que fosse indispensável para a defesa das fronteiras,...94

Apesar do advento da republica, os problemas agrários em

nosso pais continuaram, pois muito pouco se fez para que estes fossem

solucionados, porém segundo Sciorilli:

Em 1946, o Decreto lei nº 9.760 buscou regular a discriminação de terras, estabelecendo as formas de acesso à propriedade das terras publicas e definindo o que era terra devoluta da união. Em 1956, a Lei nº 3.081 disciplinou o processo discriminatório para terras federais, estaduais e municipais. A questão agrária, no entanto, permaneceu insoluta.95

Destaca-se que mesmo com o advento do Decreto lei nº

9.760 de 1946 e da Lei nº 3.081 de 1956, o que realmente constituiu-se como

grande marco legislativo em nosso pais no ensinamento do doutrinador Igor

Tenório foi: 93 TENÓRIO, Igor. Curso de Direito Agrário Brasileiro, São Paulo: Saraiva,1994. p.35 94 SCIORILLI, Marcelo. Direito de Propriedade: evolução, aspectos gerais, proteção, função

social; Política Agrária: conformação, instrumentos, limites. p.23 95 SCIORILLI, Marcelo. Direito de Propriedade: evolução, aspectos gerais, proteção, função

social; Política Agrária: conformação, instrumentos, limites. p.23

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O Estatuto da Terra (Lei 4.504, de 30.11.1964) constituiu outro marco da história legislativa nacional, trazendo definições doutrinárias, estabelecendo princípios e critérios que passaram a reger a posse e o uso da terra. Consagrou o principio da Constituição de 1946, segundo o qual a propriedade rural deveria atender à sua função social.96

Estas foram às quatro importantes fases, a serem

destacadas durante a evolução histórica da propriedade rural no Brasil. Observa-

se, no entanto que apesar de cada uma possuir características importantes, a de

maior relevância foi à fase do período republicano com o advento da Lei 4.504, de

30.11.1964 (Estatuto da Terra), que veio a atender a verdadeira função a que se

destina a propriedade rural que é a sua função social.

2.2 FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

A função social da propriedade está amparada em nossa

carta magna de 1988, especificamente nos artigos 5º inciso XXIII e 170 inciso III

senão vejamos:

Art. 5º... XXIII – a propriedade atenderá a sua função social; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: III – função social da propriedade;

Observa-se que a função social da propriedade caracteriza-

se essencialmente pelo seu uso, seu funcionamento dentro dos limites que impõe

a lei, e em prol da coletividade.

96 TENÓRIO, Igor. Curso de Direito Agrário Brasileiro, p.37

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Neste sentido discorre o doutrinador Alcir Gursen de

Miranda, para quem a função social da propriedade, é na verdade, atributo da

terra senão vejamos:

Função social da terra, pode-se afirmar que constitui o principio central do direito agrário, do qual a função social da propriedade da terra é um subtema, bem como todo e qualquer principio ou instituto que tenha como objeto a terra.97

Em outra acepção temos a lição de José Afonso da Silva

que diz: “A função social da propriedade não se confunde com os sistemas de

limitação da propriedade. Estes dizem respeito ao exercício do direito ao

proprietário, aquela à estrutura do direito mesmo, à propriedade.”98

Também no entendimento do doutrinador Marcelo Sciorilli :

[...] a função social da propriedade não é senão o concreto modo de funcionar da propriedade seja como exercício do direito de propriedade ou não, exigido pelo ordenamento jurídico, direta ou indiretamente, por meio de imposição de obrigações, encargos, limitações, restrições, estímulos ou ameaças, para satisfação de uma necessidade social, temporal e espacialmente considerada.99

Ainda nesta acepção e dando ênfase ao que dispõe o artigo

170 inciso III, de nossa carta magna nos ensina Cássia Celina Paulo Moreira da

Costa que:

Com essa prescrição, a função social da propriedade caracterizou-se como condicionante à atividade econômica, com a

97 MIRANDA, Alcir Gursen. Teoria do Direito Agrário, Belém: Cejup, 1989. p.84 98 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros. 2005

p.282 99 SCIORILLI, Marcelo. Direito de Propriedade: evolução, aspectos gerais, proteção, função

social; Política Agrária: conformação, instrumentos, limites. p.84

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finalística de que seja assegurado a todos, existência digna, conforme os ditames da justiça social.100

Neste contexto podemos concluir que a função social da

propriedade se da de acordo com as características de funcionamento a que ela

se propõe, desde que dentro da legalidade e em beneficio de uma coletividade.

2.2.1 Função social da Propriedade Rural

Destaca-se que a função social da propriedade rural, está

expressa e amparada em nossa carta magna de 1988 no artigo 186 que dispõe:

Art 186 – A função social é cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I – aproveitamento racional e adequado; II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III – função social da propriedade; IV – exploração que favoreça o bem estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Observam-se neste artigo as condições impostas por nossos

legisladores para o cumprimento da função social da propriedade rural.

Ainda destaca-se elencados no artigo 9º da Lei nº 8.629 de

25.2.1993, exatamente o disposto no artigo 186 da constituição Federal de 1988,

e não podemos deixar de frisar que o artigo 186 de nossa carta magna é

praticamente uma reprodução do que diz o artigo 2º, §1º, da Lei 4.504/1964.

No entendimento da doutrinadora Rosalinda P. C. Rodrigues

Pereira, a função social da propriedade rural, diante do que dispõe o texto de

nossa carta magna em seu artigo 186, demonstra que:

100 COSTA, Cássia Celina Paulo Moreira. A constitucionalização do Direito de Propriedade

Privada. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2003. p.189

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A propriedade agrária, por natureza, tem por escopo a produção de outros bens necessários a sobrevivência humana. Logo, se é mantida inerte ou inaproveitada, não exerce sua função econômica, não gerando bens à sociedade. Por isso mesmo é que possui uma destinação social e uma função econômica tão importante que a sua utilização deve ser subordinada a um regime especial, cabendo ao estado fiscalizar o atendimento aos ditames legais e constitucionais.101

Observa-se diante do que prevê nossa constituição, que

deve o proprietário rural atender o que está previsto em nossa carta magna, com

o propósito de alcançar o teor da função social de sua propriedade, de forma que

ela venha a cumprir o que lhe impõe nossa legislação maior.

Ainda conforme o que dispõe o artigo 185 e 186 de nossa

carta magna discorre Paulo Guilherme de Almeida citado por Benedito Ferreira

Marques quanto à expressão propriedade rural senão vejamos:

Cabe aqui uma observação no tocante a expressão: ‘propriedade rural’ usada nos artigos 185 e 186 da constituição para designar ‘propriedade imobiliária rural’, ou simplesmente, ‘imóvel rural’. Uso equivocado, pois por ‘propriedade rural’ se podem entender os bens pertencentes aos que militam na agricultura e que se destinem ao exercício dessa atividade, como por exemplo, estabelecimentos rurais, semoventes, produtos agrícolas, veículos,...102

Ainda destaca-se nas palavras de Benedito Ferreira

Marques que: “Diante deste quadro, a melhor expressão parece ser ‘função social

do imóvel rural’, até porque nem sempre quem trabalha a terra é seu

proprietário...”103

101 PEREIRA, Rosalinda P. C. Rodrigues. “A teoria da Função Social da Propriedade Rural e seus

Reflexos na Acepção Clássica de Propriedade”, in Revista de Direito Civil, Revista dos Tribunais, nº 65, julho-setembro/1993, p. 105.

102 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. 2 ed., Goiânia: editora AB, 1998. p.53

103 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. p.53

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Assim observa-se que é bastante complexo o que se pode

chamar de propriedade rural, diante das varias interpretações que se pode dar a

essa expressão, contudo levando-se em conta que a função social que foi objeto

de analise deste estudo é a função social do imóvel rural, podemos concluir que o

Estatuto da Terra (Lei 4.504/1964), é auto-explicativo ao conceituar a função

social em seu texto legal no § 1º de seu artigo 2º, como veremos no próximo titulo

que vai tratar especificamente do Estatuto da Terra no que dispõe sobre imóvel

rural.

2.3 ESTATUTO DA TERRA

Observa-se que com o advento da Lei 4.504 de 30.11.1964

(Estatuto da Terra), alem de ser esta Lei um marco em nossa história legislativa,

pois regulamentou o instituto da posse e por sua vez o uso da terra, no

entendimento do doutrinador Igor Tenório, esta lei também: ”Consagrou o

principio da Constituição de 1946, segundo o qual a propriedade rural deveria

atender à sua função social.”104

Veremos agora alguns artigos do Estatuto da Terra (Lei

4.504 de 30.11.1964) de suma importância em relação à propriedade rural de

modo à melhor compreendermos este instituto e sua regulamentação em seu

contexto legal.

Em seu artigo 1º caput a Lei 4.504 de 30.11.1964 (Estatuto

da Terra) estabelece que:

Art. 1° Esta Lei regula os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis rurais, para os fins de execução da Reforma Agrária e promoção da Política Agrícola.

Observa-se que o caput deste artigo é objetivo quanto ao

conteúdo a ser regulamentado pelo Estatuto da Terra especificando direitos e

obrigações referentes às propriedades rurais e a finalidade a que se destinam

104 TENÓRIO, Igor. Curso de Direito Agrário Brasileiro, p.37

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neste caso a Reforma Agrária e a promoção da Política Agrícola, ainda assevera

Osvaldo Opitz105 que: “O art. 1º do ET enuncia o principio dominante do sistema

que se deve adotar.“

Já em seu artigo 2º, § 1º, a Lei 4.504 de 30.11.1964

(Estatuto da Terra) proclama exatamente, as palavras do doutrinador Igor

Tenório, quando se refere ao principio da função social da propriedade senão

vejamos:

Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei. § 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando, simultaneamente: a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas famílias; b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; c) assegura a conservação dos recursos naturais; d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem.

Ainda destaca-se a condição imposta no caput do respectivo

artigo nos ensinamentos de Osvaldo Opitz:

[...] (... art. 2º do ET) sob pena de ser desapropriada, porque é de interesse social o aproveitamento de toda propriedade rural improdutiva ou explorada sem manter níveis satisfatórios de produtividade.106

Observa-se que o artigo 2º supracitado em seu caput,

assegura a todos os cidadãos o acesso a propriedade da terra, e ao mesmo

tempo condiciona este acesso a função social desta propriedade, dentro do que

105 OPITZ, Osvaldo; OPITZ, Silvia C. B. Tratado de Direito Agrário Brasileiro. São

Paulo:Saraiva, 1983 vol 1, p.34 106 OPITZ, Osvaldo; OPITZ, Silvia C. B. Tratado de Direito Agrário Brasileiro. p.21

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prevê esta lei. Já em seu § 1º e alíneas, o artigo supracitado apregoa exatamente

o que dispõe nossa carta magna em seu artigo 186 e respectivas alíneas.

Nos ensinamentos de Benedito Ferreira Marques vale

ressaltar algumas considerações a respeito dos requisitos legais que dispõe o §1º

do artigo 2º do Estatuto da Terra, considerações estas que configuram a função

social da propriedade rural senão vejamos:

Como primeiro requisito tem o que dispõe a alínea “b” do

artigo supracitado no entendimento de MARQUES:

[...]do aproveitamento racional e adequado, que no Estatuto da Terra, corresponde ao requisito níveis satisfatórios de produtividade, que é mensurado pelos graus de utilização e de eficiência na exploração, fixados em 80% para o primeiro, e 100% ou mais para o segundo. São os mesmos índices exigidos para a configuração da ‘propriedade produtiva’, que, como já foi dito, é instituto jurídico novo criado pela Constituição Federal vigente, que a inclui como objeto insuscetível de desapropriação. Isso explica o raciocínio do interprete da nova lei, segundo o qual todo imóvel rural, mesmo a pequena ou a média propriedade, deve alcançar esses parâmetros, porque o atingimento do requisito da ‘produtividade’ se inclui entre os requisitos do cumprimento da função social.107

Como segundo requisito, tem o disposto na alínea “c” do

artigo supracitado no entendimento de MARQUES:

[...]a adequada utilização dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente, exige o respeito a vocação natural da terra, com vistas a manutenção tanto do potencial produtivo do imóvel como das características próprias do meio natural e da qualidade dos recursos ambientais, para o equilíbrio ecológico da propriedade e, ainda, a saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas. Trata-se, portanto, de importante exigência, cuja comprovação se mostra bastante complexa, em face da vasta legislação que cerca a matéria.108

107 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. p.54-55. 108 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. p.55.

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Como terceiro requisito, tem o que dispõe a alínea “d” do

artigo supracitado no entendimento de MARQUES:

[...]à observância das disposições que regulam as relações de trabalho, contém, agora, abrangência mais elástica, porquanto não se limita as relações decorrentes de contrato de trabalho, aí incluídos os contratos coletivos, mas também aos contratos agrários. Aqui, a inovação propicia questionamentos que merecem discussão. Primeiro, porque, ao envolver os contratos agrários, limitou-se aos de arrendamento e de parceria (erroneamente adjetivados de “rurais”, no novel texto legal), abstraindo outros contratos inominados admitidos no ordenamento jurídico brasileiro (art. 39, dec. 59566, de 14.11.66). Citem-se, para exemplificar, o contrato de comodato, muito utilizado no meio rural, e o contrato de concessão de uso, instituído pelo decreto-lei nº 271 de 28.02.67, art. 7º, que pode ser perfeitamente utilizado, em caráter oneroso, e por tempo determinado, como negócio jurídico, visando ao uso temporário do imóvel rural. Em segundo lugar, quem sede o uso e o gozo ou somente o uso especifico de imóvel rural a outrem, transfere para ele o ônus do cumprimento da função social, ai incluído o requisito da observância das disposições que regulam as relações de trabalho.109

E concluindo como quarto requisito, tem o que dispõe a

alínea “a” do artigo supracitado no entendimento de MARQUES:

[...]do bem-estar dos proprietários e trabalhadores rurais – encerra na linguagem da lei, uma visível omissão. Preocupa-se com os ‘proprietários’, esquecendo-se dos ‘possuidores’, que na verdade, são os que exploram a terra. Nem sempre os proprietários são possuidores diretos, conforme já foi lembrado em outra passagem. Para os desígnios agraristas o que mais importa é a posse agrária, que se configura pela efetiva exploração da terra. Há, contudo, um dado positivo na configuração deste requisito: a preocupação com os conflitos e tensões sociais no imóvel, o que significa, em outras palavras, a busca da PAZ.110

109 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. p.55-56. 110 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. p.56.

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Destaca-se, que, os requisitos supracitados pelo doutrinador

Benedito Ferreira Marques, devem ser observados respectivamente, ao mesmo

tempo, pois somente assim se obterá o cumprimento da função social da

propriedade rural dentro dos preceitos legais exigidos.

Ainda com relação ao § 2º alínea “b” do aludido artigo

supracitado, este, discorre a respeito da obrigação e responsabilidade do poder

publico, quanto ao desempenho da função social da propriedade da terra, senão

vejamos:

§ 2° É dever do Poder Público:

b) zelar para que a propriedade da terra desempenhe sua função social, estimulando planos para a sua racional utilização, promovendo a justa remuneração e o acesso do trabalhador aos benefícios do aumento da produtividade e ao bem-estar coletivo.

Destaca-se que de acordo com o dispositivo legal

supracitado, incumbe ao poder publico o dever de cuidar para que a propriedade

da terra atinja o objetivo proposto pelo legislador, objetivo este que tem como

propulsor o bem estar da coletividade.

Ainda relacionado aos direitos a propriedade não podemos

deixar de fora o disposto no artigo 3º da Lei 4.504 de 30.11.1964 (Estatuto da

Terra) senão vejamos:

Art. 3º O Poder Público reconhece às entidades privadas, nacionais ou estrangeiras, o direito à propriedade da terra em condomínio, quer sob a forma de cooperativas quer como sociedades abertas constituídas na forma da legislação em vigor.

Neste artigo o poder publico reconhece o direito das

entidades privadas tanto nacionais quanto estrangeiras em adquirir terras em

condomínio ou em forma de sociedade, desde que em conformidade com a

legislação brasileira pertinente a cada situação.

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Passamos agora ao artigo 4º do Estatuto da Terra (Lei 4.504

de 30.11.1964), é em conformidade com o que dispõe este artigo, que o poder

publico, define as varias categorias e suas classificações quanto as dimensões

em medida e de uso da propriedade rural. Em nossa pesquisa o foco a ser

abordado foi direcionado a quatro incisos deste artigo que são:

Art. 4º Para os efeitos desta Lei definem-se: I - "Imóvel Rural", o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agro-industrial, quer através de planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada;

Com ênfase ao conceito legal de Imóvel rural o doutrinador

Oswaldo Opitz destaca que:

Adotou a Lei nº 4504 a corrente que pugna pela característica da destinação do imóvel rural ou prédio rústico, quando diz: ‘Imóvel rural é o prédio rústico que se destina à exploração extrativa, agrícola, pecuária ou agroindustrial. ’111

Ainda conceituando prédio rústico, Moura citado por

Oswaldo Opits diz que prédio rústico é:

Todo aquele edifício que é construído e destinado para as coisas rústicas, tais como todas as propriedades rurais com suas benfeitorias, e todos os edifícios destinados para recolhimento de gados, reclusão de feras e depósito de frutos,...112

Passamos agora aos incisos II e III do artigo 4º e seus conceitos:

II - "Propriedade Familiar", o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva

111 OPITZ, Osvaldo; OPITZ, Silvia C. B. Tratado de Direito Agrário Brasileiro. p.39 112 OPITZ, Osvaldo; OPITZ, Silvia C. B. Tratado de Direito Agrário Brasileiro. p.38

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toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros;

No entendimento do doutrinador Paulo Torminn Borges

propriedade familiar é:

[...]a área de terra que trabalhada direta e pessoalmente por uma família de composição média, com auxilio apenas eventual de terceiros revela necessária para a subsistência e ao mesmo tempo suficiente como sustentáculo ao progresso social e econômico da referida família.113

III - "Módulo Rural", a área fixada nos termos do inciso anterior;

Para o doutrinador Benedito Ferreira marques módulo rural

pode ser conceituada como:

[...]a medida adotada para o imóvel rural classificado como ‘Propriedade Familiar’. A fixação dessa área – que é feita por órgão competente do Governo Federal (atualmente INCRA) – leva em conta diversos fatores, entre os quais o tipo de exploração a que se destina o imóvel, a qualidade da terra, a proximidade do centro consumidor e outros julgados necessários pelo mencionado órgão. Daí dizer-se que tal medida é variável de região para região.114

Observa-se através dos conceitos supracitados em razão

dos dispositivos legais dos incisos II e III do art. 4º do Estatuto da Terra que o

módulo rural é a medida mínima usada para identificar imóvel rural qualificado

como propriedade familiar, e que esta medida mínima varia conforme a região em

que o imóvel esteja localizado e o tipo de exploração econômica do mesmo.

113 BORGES, Paulo Torminn. Institutos Básicos do Direito Agrário. São Paulo: Saraiva, 1987.

p.34. 114 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. p.60-61.

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Não obstante os incisos III e IV destacam-se como os mais relevantes incisos deste artigo, pois estão ligados diretamente ao tema desta monografia, que é sitio de recreio, como sendo um de seus fundamentos o ajuste de sua medida e a espécie exploração econômica a que se enquadre, neste caso turismo rural e laser, viabilizando a prática do principio constitucional da função social da propriedade previsto no artigo 5º, XXIII, de nossa carta magna. Senão vejamos o que dispõe o inciso IV:

IV - "Minifúndio", o imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da propriedade familiar;

Assim descreve Oswaldo Opitz: “O ET, em seu art. 4º, IV,

considera como propriedade minifundiária o imóvel rural de área e possibilidades

inferiores as da propriedade familiar.”115(ou módulo rural)

E ainda conclui OPITZ que:

[...]Se tal prédio, pela sua pequenez, não garante toda a atividade do conjunto familiar, de modo a lhe propiciar os meios de subsistência e um certo progresso econômico, considera-se minifúndio, que deve desaparecer ou pela venda, ou pela desapropriação, ou pela agregação a outro prédio, para dar lugar ao prédio rústico ideal representado pelo chamado módulo rural (art. 4º, III).116

Destaca-se ainda a opinião de José Celso Ribeiro Vilela de

Oliveira quando se refere à variação no dimensionamento do módulo rural, quanto

ao tipo de exploração de cada região:

Há grande variação na fixação das áreas mínimas, levando-se em conta o a exploração tipicamente reproduzida em cada uma das regiões do país. Contudo, nem sempre esse mínimo está a refletir a realidade: ora ele se mostra aquém do que efetivamente seria necessário ao sustento da família, especialmente nos casos em que se empregam meios rudimentares de exploração da terra; ora o módulo rural é suplantado por culturas de maior aporte

115 OPITZ, Osvaldo; OPITZ, Silvia C. B. Tratado de Direito Agrário Brasileiro. p.54 116 OPITZ, Osvaldo; OPITZ, Silvia C. B. Tratado de Direito Agrário Brasileiro. p.54

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tecnológico ou de maior expressão econômica, caso em que ele poderia ser facilmente diminuído, já que a exploração permite muito além do sustento familiar.117

Destaca-se de certa forma a possibilidade de

regulamentação de áreas menores do que o modulo rural mais precisamente

regularizando os chamados minifúndios rurais, observa-se ainda que o Dec.

55891/65 em seu art. 6º inciso II, que veio com o objetivo de regulamentar o

Estatuto da Terra, define com maior clareza que: “minifúndio é o imóvel rural que

tiver área agricultável inferior à do módulo fixado para a respectiva região e tipo

de exploração.”

Observa-se ainda, com relação ao Estatuto da Terra (Lei

4.504/64), alem dos dispositivos até aqui tratados, o artigo 61 e seus parágrafos

que dispõe sobre os projetos de colonização particular com suas exigências e

formalidades, para a criação dos chamados sítios de recreio e outras formas de

parcelamento rural.

No ensinamento do doutrinador Oswaldo Opitz sobre as

regras da colonização particular e suas formalidades, o mesmo discorre que:

Há regras obrigatórias para que se possa colonizar uma determinada área particular. Não basta querer dividir em lotes a gleba para se ter uma colonização. É preciso disciplinação, sob pena de cair num desordenado fracionamento sem técnica e condições de aproveitamento econômico da propriedade rural.118

Vejamos o que nos diz o artigo 61 caput do Estatuto da terra

(Lei 4.504/64) in verbis:

117 OLIVEIRA, José Celso Ribeiro Vilela de. A flexibilização do módulo rural à luz do principio da

função social da propriedade. Jus Navigandi, Teresina, a. 13, n. 2080, 12 mar. 2009. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12440. Acesso em: 29 set. 2009.

118 OPITZ, Osvaldo; OPITZ, Silvia C. B. Tratado de Direito Agrário Brasileiro. p.299

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Art. 61. Os projetos de colonização particular, quanto à metodologia, deverão ser previamente examinados pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, que inscreverá a entidade e o respectivo projeto em registro próprio. Tais projetos serão aprovados pelo Ministério da Agricultura, cujo órgão próprio coordenará a respectiva execução.

Neste sentido discorre MARQUES que:

Os projetos de colonização particular devem ser previamente examinados, do ponto de vista metodológico, por órgão da administração pública federal, onde deverão ser registrados, após sua aprovação.119

Em seu parágrafo 2º o artigo 61 do Estatuto da terra discorre

sobre as regras para que o proprietário rural possa vir a lotear suas terras com o

objetivo de urbanizá-las ou de formar nelas sítios de recreio senão vejamos:

§ 2º O proprietário de terras próprias para a lavoura ou pecuária, interessados em loteá-las para fins de urbanização ou formação de sítios de recreio, deverá submeter o respectivo projeto à prévia aprovação e fiscalização do órgão competente do Ministério da Agricultura ou do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, conforme o caso.

E concluindo o doutrinador Oswaldo Opitz nos ensina que:

[...]os projetos de colonização particular deverão ser examinados previamente pelo INCRA, que inscreverá a entidade e o respectivo projeto em registro próprio. Tais projetos serão aprovados pelo Ministério da Agricultura. Sua execução também será vigiada pelo órgão do INCRA que coordenará sua execução.120

É sempre buscando a ótica da regulamentação, que os

doutrinadores supracitados analisam o art. 61 e seu parágrafo 2º, que dispõe

sobre o parcelamento da propriedade rural com o objetivo de criar áreas menores

119 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. p.86. 120 OPITZ, Osvaldo; OPITZ, Silvia C. B. Tratado de Direito Agrário Brasileiro. p.299

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que o módulo rural, áreas estas equivalentes a minifúndios rurais, como por

exemplo, a formação de sítios de recreio, desde que estas normas que

regulamentam esta forma de parcelamento rural, sejam cumpridas e fiscalizadas.

2.4 LEGISLAÇÕES CORRELATAS REGULAMENTADORAS DO ESTATUTO

DA TERRA

Passamos agora a analisar alguns dispositivos legais que

regulamentam e que possuem uma correlação com os dispositivos do Estatuto da

Terra (Lei 4.504/64), mencionadas no titulo anterior.

O decreto nº 55.891/65, que veio a regulamentar o Estatuto

da Terra dispõe em seu artigo 11 que:

Art. 11. O módulo rural, definido no inciso III do art. 4º do Estatuto da Terra, tem como finalidade primordial estabelecer uma unidade de medida que exprima a interdependência entre a dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e condições do seu aproveitamento econômico.

No entendimento do doutrinador Benedito Ferreira Marques

“Tem-se, assim, que o módulo rural é a medida adotada para o imóvel rural...”121

Ainda sobre módulo rural discorre Paulo Guilherme de

Almeida citado por Benedito Ferreira Marques:

Módulo Rural, transformado no instituto da fração mínima de parcelamento (FMP). Justamente para permitir a aplicação do principio da função social, o legislador instituiu o módulo rural. Paralelamente estabeleceu a regra que proíbe o desmembramento do imóvel rural em áreas de dimensão inferior à constitutiva do módulo da propriedade, visando com isso evitar a proliferação de áreas tidas como antieconômicas, para efeito de

121 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. p.60

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exploração agropecuária, o que acarreta problemas graves de distorção fundiária.122

Destarte o instituto da Fração Mínima de Parcelamento

(FMP), está regulamentado na Lei 5.868/72 em seu art. 8º caput senão vejamos:

Art. 8º - Para fins de transmissão, a qualquer título, na forma do Art. 65 da Lei número 4.504, de 30 de novembro de 1964, nenhum imóvel rural poderá ser desmembrado ou dividido em área de tamanho inferior à do módulo calculado para o imóvel ou da fração mínima de parcelamento fixado no § 1º deste artigo, prevalecendo a de menor área.

No entendimento do doutrinador Arthur Pio dos Santos Neto

citado por Raimundo Laranjeira:

[...] o supracitado art. 8º inova quando permite não só a divisão, mas também o desmembramento de imóvel rural em áreas menores que o módulo, ao criar a fração mínima de parcelamento concomitantemente com ‘o módulo calculado para o imóvel’, prevalecendo, como diz o final do artigo: ‘a de menor área’.123

Em se tratando de parcelamento do imóvel rural não

podemos deixar de destacar o comentário a Lei 6.766 de 1979 que trata do

parcelamento do solo, vejamos o que diz o doutrinador Rafael Augusto de

Mendonça Lima:

A lei nº 6.766 de 1979 aplica-se exclusivamente, para os loteamentos e desmembramentos de imóveis (rurais e urbanos), para fins urbanos. Esta lei só interessa ao direito agrário (e ao INCRA) porque permite o parcelamento (loteamento, desmembramento ou divisão) de imóveis rurais para fins urbanos, caso em que o INCRA, aplicando o Direito Agrário, tem que intervir.124

122 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. p.64 123 LARANJEIRA, Raimundo. Direito Agrario Brasileiro. São Paulo: LTR editora Ltda, 2000. p.

230

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Conclui o doutrinador Arthur Pio dos Santos Neto citado por

Raimundo Laranjeira em relação ao parcelamento do solo quando se refere aos

desmembramentos supracitados que:

Importante é assentar que, com relação aos desmembramentos onde se faça necessária prévia anuência do INCRA, devem eles obedecer ao disposto no Decreto nº 59.428 de 1966, que regulamentou o Titulo II (capítulos I e II) e o Titulo III (capitulo II) do Estatuto da Terra e aos procedimentos estabelecidos na Instrução nº 17-B de 09/12/1980, baixada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. 125

Observados os preceitos legais mais relevantes em relação

a nossa pesquisa passamos agora ao terceiro capitulo de nosso trabalho que tem

por objetivo destacar a cerca da formação de sítios de recreio como alternativa

para a propriedade rural, buscando assim, suprir seu potencial turístico e de lazer,

observando os preceitos legais e preservando o meio ambiente.

124 LIMA, Rafael Augusto de Mendonça. Direito Agrário. Rio de Janeiro: ed. Renovar, 1994. p.

335 125 LARANJEIRA, Raimundo. Direito Agrario Brasileiro. p. 241

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CAPITULO 3

SÍTIOS DE RECREIO

3.1 PARCELAMENTO DE IMÓVEL RURAL

O parcelamento do imóvel rural resta efetivado, decorrente

do desmembramento, do loteamento ou de sua divisão nos termos da legislação

civil conforme entendimento do doutrinador Raimundo Laranjeira.

Podem ser considerados desmembramentos na visão do

doutrinador Fernando P. Sodero:

[...] a divisão do imóvel rural para formação de outro imóvel rural, o parcelamento em projetos de colonização, os loteamentos para fins de urbanização, para implantação de industrias, para formação de sítios de recreio ou ainda para atender as necessidades da população rural ou urbana.126

Também nos ensinamentos do doutrinador Arthur Pio dos

Santos Neto citado por Raimundo Laranjeira:

O desmembramento importa na simples divisão do imóvel em outro ou outros de menor dimensão, enquanto o loteamento é o fracionamento da área primitiva em vários lotes ou parcelas. Embora o termo loteamento se aplique, com maior propriedade, ao parcelamento para fins de urbanização ou de expansão urbana, também pode ocorrer em relação a um imóvel rural, como nas hipóteses de implantação de agrovilas ou de núcleos populacionais em projetos de colonização.127

126 SODERO, Fernando P. O Modulo Rural e suas Implicações jurídicas. São Paulo: LTr

Editora, 1975. p. 165 127 LARANJEIRA, Raimundo. Direito Agrário Brasileiro. p. 238

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Diante de tais preceitos não podemos deixar de mencionar o

julgamento do doutrinador Benedito Ferreira Marques quando dispõe sobre a

possibilidade do parcelamento do imóvel rural em área ínfima, sem tirar-lhe as

potencialidades de produção compatíveis com a sua função social, senão

vejamos:

[...]é justamente essa divisão que pode provocar o surgimento de unidades muitas vezes tão ínfimas, que se tornam impotentes para propiciar aproveitamento econômico. E ai o ordenamento jurídico interfere para evitar esse fracionamento, ainda que o imóvel seja fisicamente divisível. Para o direito agrário essa questão é altamente relevante, porque interfere diretamente no postulado da função social da propriedade da terra. Em respeito a esse principio, justifica-se a interferência do Poder Publico em editar regras imperativas capazes de obstacular fracionamentos indesejáveis.128

Observa-se que a legislação que regulamenta o

parcelamento de imóvel rural é objetiva quanto à medida mínima a ser fracionada

e impõe restrições, para que seja autorizado, este tipo de parcelamento.

Quando se trata da criação de propriedades rurais com

medidas menores do que àquelas identificadas como (FMP), Fração Mínima de

Parcelamento nossa legislação é rigorosa quando dispõe que para ser

considerado imóvel rural, para incidência de ITR, a propriedade deverá ser

superior a um hectare e se destinar a atividade agrária.

Neste sentido o doutrinador Oswaldo Opitz leciona:

Os arts. 14 e 15 do Decreto-lei nº 57, de 18-11-1966, foram derrogados pelo art.12 da Lei 5.868/72, de maneira que o sitio de recreio poderá ou não ser imóvel rural, para fins de incidência do ITR, desde que se enquadre no preceito do art. 6º da Lei 5.868. Também o prédio urbano que comprovadamente seja utilizado em

128 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. p.66

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exploração extrativa vegetal agrícola, pecuária ou agroindustrial, referido no art. 15 do Decreto-lei nº 57, para o efeito do art. 32 da Lei nº 5.172/66, desde que sua área seja superior a um hectare. Portanto, em ambas a hipótese somente incidirá o ITR se a área superar um hectare e se destinar a atividade agrária.129

Destacamos em nosso trabalho neste primeiro momento

uma abordagem geral com relação ao parcelamento de imóvel rural passando

agora a tratar mais especificamente sobre a formação de sítios de recreio, tema

este especifico de nossa pesquisa.

3.1.1 Parcelamentos de Imóveis Rurais para Formação de Sítios de Recreio

Nossa legislação é bastante rigorosa quando se trata da

divisão da propriedade rural em áreas menores do que aquelas enquadradas

dentro do fracionamento mínimo de parcelamento, rigor este atribuído a corrente

contrária ao minifúndio que é aquele imóvel rural com área inferior a Fração

Mínima de Parcelamento.

Neste sentido discorre Benedito Ferreira Marques:

Admitido como uma espécie de imóvel rural, o minifúndio é combatido e desestimulado no ordenamento jurídico agrário, na medida em que constitui uma distorção do sistema fundiário brasileiro, porque não cumpre a função social. Alem disso, não gera impostos nem viabiliza a obtenção de financiamentos bancários pelo minifundiario. Corresponde ao que, no Direito Agrário Argentino, é chamado de ‘parvifúndio’, que se caracteriza por ser imóvel deficitário.130

Cabe aqui uma ressalva quando se fala de propriedade

familiar e propriedade minifundiária, uma vez que a lei não estabelece a área

129 OPITZ, Osvaldo; OPITZ, Silvia C. B. Tratado de Direito Agrário Brasileiro. p.40 130 MARQUES, Benedito Ferreira. Direito Agrário Brasileiro. p.69

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mínima que estaria submetida à propriedade familiar. Senão vejamos os

ensinamentos do doutrinador Ismael Marinho Falcão que diz:

[...] a Lei nº 5.868, de 12 de dezembro de 1972, alterou dispositivos do Código Tributário Nacional, não tomou conhecimento do conceito estabelecido pelo Estatuto da Terra, pecou mais ainda, esse diploma legal ao ir além do que deveria, quando estabeleceu, em seu art. 6º, que não é rural aquele imóvel com área inferior a um hectare, esquecendo-se o legislador que a propriedade rural a que alude o Estatuto da Terra não tem um parâmetro definido, posto que esteja sujeito a uma área máxima a ser fixada para cada região e de acordo com o tipo de exploração (art. 4º, II, da lei nº 4.504/64), não estabelecendo a lei, pois qual a área mínima a que estaria jungida a propriedade familiar – imóvel rural por excelência diante de sua destinação eminentemente rural.131

Observam-se diante das citações expostas acima, duas

vertentes com concepções divergentes, com relação ao conceito de imóvel rural,

quando se trata da área mínima a ser adotada para o imóvel rural.

Neste sentido analisemos agora o que nossa legislação

dispõe em relação aos chamados parcelamentos para formação de sítios de

recreio.

Primeiramente veremos o que dispõe o Estatuto da Terra

(Lei 4.504/64) em seu artigo 61, § 2º:

Art. 61. Os projetos de colonização particular, quanto à metodologia, deverão ser previamente examinados pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, que inscreverá a entidade e o respectivo projeto em registro próprio. Tais projetos serão aprovados pelo Ministério da Agricultura, cujo órgão próprio coordenará a respectiva execução. § 2º O proprietário de terras próprias para a lavoura ou pecuária, interessados em loteá-las para fins de urbanização ou formação de sítios de recreio, deverá submeter o respectivo projeto à prévia aprovação e fiscalização do órgão competente do Ministério da

131 FALCÂO,Ismael Marinho. Direito Agrário Brasileiro: doutrina, jurisprudência, legislação e

prática. São Paulo: EDIPRO, 1995. p. 201.

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Agricultura ou do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, conforme o caso.

Destaca-se o ensinamento do doutrinador Arthur Pio dos

Santos Neto citado por Raimundo Laranjeira sobre o aludido artigo:

Este fato – valorização das terras – torna antieconômico qualquer tipo de exploração agrária, dando lugar ao aparecimento de pequenas glebas destinadas ao lazer, embora nelas possam existir incipientes atividades agrícolas, como plantios hortigranjeiros, formação de pomares e criação de aves entre outros. Consciente desta realidade, o Estatuto da Terra prevê, no art. 61, § 2º, a possibilidade do loteamento de imóveis rurais que tenham perdido sua condição de agro-produtivos, para a formação de sítios de recreio.132

Para regulamentar o disposto no artigo 61 do Estatuto da

Terra o legislador através do decreto 59.428/66 em seu artigo 96 caput e incisos II

e III dispõe que:

Art. 96 Os projetos de loteamentos rurais, com vistas à urbanização, industrialização e formação de sítios de recreio, para serem aprovados, deverão ser executados em área que: II - Seja oficialmente declarada zona de turismo ou caracterizada como de estância hidromineral ou balneária. III - Comprovadamente tenha perdido suas características produtivas, tornando antieconômico o seu aproveitamento. Parágrafo único. A comprovação será feita pelo proprietário ou pela municipalidade em circunstanciado laudo assinada por técnico habilitado, cabendo ao IBRA ou ao INDA, conforme o caso, a constatação de sua veracidade.

Em entendimento a norma supracitada leciona o doutrinador

Arthur Pio dos Santos Neto citado por Raimundo Laranjeira que:

“Regulamentando o disposto no artigo 61 do Estatuto da Terra, o Decreto nº

132 LARANJEIRA, Raimundo. Direito Agrário Brasileiro. p. 244

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59.428, de 27.10.1966 admite, em seu artigo 96, a formação de sítios de

recreio,...”133

Dando seqüência a apreciação do artigo 96 e seus incisos,

discorre Arthur Pio dos Santos Neto citado por Raimundo Laranjeira que:

Em razão dessa determinação legal, dos pedidos para aprovação dos projetos de loteamento para fins de sítios de recreio, devem constar, na primeira hipótese (inciso II), cópia do Diário Oficial que declarou o município ou parte dele (nesta a gleba a desmembrar) zona balneária ou estância hidromineral ou climática. Caso não seja esta a razão do desmembramento proposto, ou não exista o antes aludido ato declaratório, deverá o proprietário comprovar a perda, por força da valorização do imóvel, da sua capacidade produtiva agrária, mediante laudo firmado por engenheiro agrônomo habilitado ou órgão técnico oficial especifico.134

Observa-se que além do decreto 59.428 de 27.10.1966 que

regulamenta o artigo 61, § 2º do Estatuto da Terra, o INCRA baixou a Instrução

Normativa de nº 17-b de 22.12.1980 que orienta como e em quais situações pode

ocorrer o parcelamento do solo para a formação de sítios de recreio, senão

vejamos o que diz esta instrução normativa INCRA 17-B, em seu item 3, no que

tange ao parcelamento de imóveis rurais:

17-B, item 3 – PARCELAMENTO, PARA FINS URBANOS, DE IMÓVEL RURAL LOCALIZADO FORA DA ZONA URBANA OU DE EXPANSÃO URBANA, vejamos: 3.1 – O parcelamento, para fins urbanos, de imóvel rural localizado fora de zona urbana ou de expansão urbana, assim definidas por lei municipal, rege-se pelas disposições do art. 96 do Dec. Nº 59.428, de 27/10/66, e do art. 53 da Lei nº 6766, de 19/12/79. 3.2 – Em tal hipótese de parcelamento, caberá, quanto ao INCRA, unicamente sua prévia audiência.

133 LARANJEIRA, Raimundo. Direito Agrário Brasileiro. p. 244 134 LARANJEIRA, Raimundo. Direito Agrário Brasileiro. p.244

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3.3 – Os parcelamentos com vistas à formação de núcleos urbanos, ou à formação de sítios de recreio, ou à industrialização, somente poderão ser executados em área que: b) seja oficialmente declarada zona de turismo ou caracterizada como de estância hidromineral ou balneária; c) comprovadamente tenha perdido suas características produtivas, tornando antieconômico o seu aproveitamento. 3.4 – A comprovação será feita pelo proprietário, através de declaração da municipalidade e/ou através de circunstanciado laudo assinado por técnico habilitado. 3.5 – Verificada uma das condições especificadas no item 33, o INCRA, em atendimento a requerimento do interessado, declarará nada ter a opor ao parcelamento. 3.6 – Aprovado o projeto de parcelamento, pela Prefeitura Municipal ou pelo Governo do Distrito Federal, e registrado no Registro de Imóveis, o INCRA, a requerimento do interessado, procederá à atualização cadastral, conforme disposto no item 2.3. (2.3 – A atualização cadastral será: a) do tipo "CANCELAMENTO", quando o parcelamento abranger a totalidade da área cadastrada; b) do tipo "RETIFICAÇÃO" quando o parcelamento, para fins urbanos, abranger parcialmente a área cadastrada e permanecer como imóvel rural uma área remanescente) Como exposto a instrução normativa é auto-explicativa, não

deixando questionamentos em seu texto legal, que tem por objetivo orientar a

respeito do parcelamento para fins urbanos de imóvel rural localizado dentro ou

fora da zona urbana ou de expansão urbana, os chamados sítios de recreio.

Acerca do que dispõe a instrução normativa supracitada

comenta o doutrinador Arthur Pio dos Santos Neto citado por Raimundo

Laranjeira que:

Alem das exigências mencionadas, deverá o requerente comprovar o cadastramento do imóvel junto ao INCRA e de que está quite com o pagamento do Imposto Territorial Rural. Também acompanharão o projeto as plantas completas do loteamento, em quatro vias, elaboradas por técnico habilitado, devendo constar delas o ‘de acordo’ da Prefeitura Municipal onde se situe e dos órgãos envolvidos com a proteção ambiental, ecológica, histórica, conforme o caso. De regra, os lotes para a formação de sítios de recreio não devem ter área inferior a meio hectare nem exceder a

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do módulo para exploração indefinida da zona típica do município em que estiver inserido135

Cabe aqui frisar que a instrução normativa 17-b de

22.12.1980, tem por finalidade regulamentar as formas de parcelamento de

imóvel rural, no caso o loteamento e o desmembramento, dando diretrizes a

serem seguidas para que se possa concluir com sucesso o empreendimento

pretendido.

E concluímos com um conceito de sitio de recreio do

doutrinador Arthur Pio dos Santos Neto citado por Raimundo Laranjeira:

Entende-se, portanto, por sitio de recreio, cada um dos lotes resultantes do parcelamento de um imóvel rural que perdeu sua capacidade produtiva, atendidas certas circunstâncias fáticas e condições legais [...], e que passe a ter por destino o repouso de fins de semana, o lazer, enfim, dos seus proprietários.136

Observa-se que alem dos requisitos legais ora

apresentados, ainda existe a necessidade da aprovação da Prefeitura do

Município, onde se situe o parcelamento do imóvel rural, para a formação de

sítios de recreio, e dos órgãos ambientais através de legislação e institutos

próprios que veremos na seqüência de nossa pesquisa.

É sabido que toda atividade econômica ou não, que envolva

questões ambientais, possui proteção especial expressa em nossa constituição

federal em seu artigo 225 e parágrafos.

Veremos agora dois temas de suma importância para a

compreensão de nossa pesquisa. São eles o Estudo prévio de impacto ambiental

e o da Reserva Legal. 135 LARANJEIRA, Raimundo. Direito Agrário Brasileiro. p. 244-245 136 LARANJEIRA, Raimundo. Direito Agrário Brasileiro. p.244

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3.2 ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL NO PARCELAMENTO DO

IMÓVEL RURAL

Como havíamos mencionado anteriormente, este instituto o

EPIA, possui grande importância para nossa pesquisa, pois é através dele que se

tem um dimensionamento do que se pode ou não fazer com relação ao meio

ambiente, ao desenvolver uma atividade como o parcelamento rural.

Observa-se que o Conselho Nacional Do Meio Ambiente

(CONAMA), órgão federal criado pela Lei 6.938 de 31.8.81, como sendo o órgão

supremo quando tratamos das questões relacionadas ao meio ambiente, definiu

através da resolução nº 001/86, o que é impacto ambiental em seu artigo 1º,

senão vejamos:

Art. 1º. Para efeito desta resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota; IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais;

Esta definição que nos traz o artigo supracitado, do que

podemos caracterizar como impacto ambiental envolve inúmeras formas de

degradação causadas por varias atividades efetuadas pelo ser humano. Neste

contexto cabem os ensinamentos dos doutrinadores José Joaquim Gomes

Canotilho e José Rubens Morato Leite quando dizem que:

[...] Algumas dessas atividades, consideradas presumidamente impactantes, tiveram seu licenciamento expressamente vinculado a realização prévia de um estudo de impacto ambiental. [...] o que significa dizer que o licenciamento de qualquer obra ou atividade, seja ela pública, seja ela privada, capaz de alterar de forma

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significativa as propriedades do meio ambiente, deverá ser antecedido por um estudo de impacto ambiental.137

Posteriormente a resolução 001/86 do CONAMA, o Estudo

Prévio de Impacto Ambiental (EPIA), restou consagrado em nossa Constituição

de 1988 em seu inciso IV, do §1º do artigo 225 que diz:

Art. 225...... § 1º Para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao poder Publico: IV – exigir na forma da lei, para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

Em relação ao que dispõe o inciso IV supracitado podemos

dizer, que é este dispositivo obrigatório, porem sobre esta obrigatoriedade

restaram duvidas como no entendimento do doutrinador Alcides Leopoldo e Silva

Junior citado por Vladimir Passos de Freitas, onde:

Se, por um lado, o legislador andou bem, tornando indispensável e prévio o estudo, por outro, deu margem a omissões e a eventuais danos, por condicionar a realização do EPIA somente quando possa resultar “significativa” degradação do meio ambiente, sem que existam parâmetros incontroversos para se medir o que sejam razoáveis ou toleráveis deteriorações ou estragos. Assim, ainda que toda obra ou atividade potencialmente poluidora ou de qualquer forma degradadora ao meio ambiente esteja sujeita a um licenciamento ambiental, nem todas se subordinarão ao Estudo Prévio de Impacto Ambiental. 138

E se posiciona o doutrinador Alcides Leopoldo e Silva Junior

citado por Vladimir Passos de Freitas quando expõe que:

137 CANOTILHO, Jose Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Direito Constitucional

Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 244 138 FREITAS, Vladimir Passos de. Direito Ambiental em Evolução – nº 3. 1ª ed. Curitiba: Juruá,

2007. p. 35

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A dispensa da realização do EPIA por entender o administrador ausente o risco de significativa degradação ao meio ambiente somente deveria se dar após audiência pública e por decisão fundamentada, estando legitimados qualquer pessoa, entidade ambiental ou Ministério Público a pleitearem em juízo a obrigatoriedade de sua decisão.139

Entende-se que mesmo com a omissão do dispositivo legal

apontada pelo doutrinador Alcides Leopoldo e Silva Junior, nosso legislador ao

criar este dispositivo visou com isto, regrar a degradação, diante da exploração

desmedida de nosso meio ambiente.

Neste sentido destaca-se o entendimento dos doutrinadores

Marchesan, Steigleder e Cappelli citados por José Joaquim Gomes Canotilho e

José Rubens Morato Leite quando dizem que o EPIA: “visa a evitar que um

projeto, justificável sob o prisma econômico, ou em relação aos interesses

imediatos de seu proponente, se revele posteriormente nefasto para o meio

ambiente.”140 Caracterizando assim sua natureza preventiva.

Destaca-se ainda que nossa constituição não recepcionou

alguns aspectos da resolução 001/86, como podemos observar no ensinamento

do doutrinador Toshio Mukai que diz:

Dessa forma, a referida resolução CONAMA 001, de 31.8.81, restou desconforme com a Constituição Federal de 88, não tendo sido por ela recepcionada em dois aspectos: no ponto em que fixava a competência exclusiva do Estado membro para as licenças ambientais, e, portanto, para a exigência do estudo prévio de impacto ambiental e no ponto em que exigia o referido estudo para toda e qualquer atividade simplesmente modificadora do meio ambiente.141

139 FREITAS, Vladimir Passos de. Direito Ambiental em Evolução – nº 3. p. 41 140 CANOTILHO, Jose Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Direito Constitucional

Ambiental Brasileiro. p. 243 141 MUKAI, Toshio. Direito Ambiental sistematizado. 6ª ed., Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 2007. p. 91

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E conclui Toshio Mukai: “Por essa razão, na realidade, a

mencionada resolução, nesses aspectos, estava derrogada pela constituição de

1988.”142

Para suprir estas divergências da legislação pertinente o

CONAMA baixou a resolução nº 237, de 19.12.97. E sobre essa resolução

conforme entendimento do doutrinador Toshio Mukai, ocorreram, alguns

aspectos a serem apreciados, “que corrigiram as distorções da resolução 001/86

em face da constituição de 1988.”143

Dentre esses aspectos levantados pelo renomado

doutrinador, a um de relativa importância em nossa pesquisa, que é o do artigo 3º

e seu parágrafo único da resolução 237/97, pois dispõe exatamente sobre este

titulo com relação ao estudo de impacto ambiental, nos seguintes termos:

Art. 3º - A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quando couber, de acordo com a regulamentação. Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando que a atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação do meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de licenciamento.

Nos termos do disposto no artigo terceiro e parágrafo único

supracitados ensina o doutrinador Toshio Mukai que:

Verifica-se, assim, que a nova resolução disciplinou de modo diferente a questão da exigência do estudo de impacto ambiental, pois, agora, não há mais, para qualquer empreendimento ou atividade, a referida exigência, adaptando-se a Constituição Federal, que só exige para casos de significativa degradação do meio ambiente.144

142 MUKAI, Toshio. Direito Ambiental sistematizado. p. 91 143 MUKAI, Toshio. Direito Ambiental sistematizado. p. 92 144 MUKAI, Toshio. Direito Ambiental sistematizado. p. 93

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E conclui MUKAI:

E, nesse sentido, aquela relação prevista de obras e atividades sujeitas ao referido estudo, pelo art. 2º da resolução nº 001/86, não mais prevalece, pelo menos na sua generalidade. Ademais, o § 1º do art. 2º da nova resolução fixou, no anexo nº 1, o rol de empreendimentos e atividades que estão sujeitos ao licenciamento ambiental, e, portanto, à eventual exigência do Estudo Prévio de Impacto Ambiental.145

Esta exigência do EPIA mencionada pelo doutrinador Toshio

Mukai tem por objetivo principal, resguardar e minimizar os danos ao meio

ambiente.

E neste sentido, discorre o doutrinador Nelson R. Bugalho

citado por Alcides Leopoldo e Silva Junior, quando leciona que o EPIA tem por

principal escopo:

[...] apontar quais os reflexos negativos, diretos e indiretos, que da obra ou atividade resultarão sobre o meio ambiente e, ainda, se for o caso, estabelecer quais as medidas de mitigação que podem ser realizadas para minimizar os efeitos no ambiente.146

Diante das citações dispostas e dos dispositivos legais

mencionados, mesmo que desprovido na ótica de alguns doutrinadores é

inexeqüível imaginar uma obra ou atividade sem que seja feito antes o estudo

prévio de impacto ambiental para a sua realização, desde que esta atividade

envolva direta ou indiretamente o meio ambiente.

Como fechamento deste capitulo passaremos agora ao

próximo instituto a ser abordado, no item 3.3 que é o instituto da reserva legal.

145 MUKAI, Toshio. Direito Ambiental sistematizado. p. 93 146 FREITAS, Vladimir Passos de. Direito Ambiental em Evolução – nº 3. p. 35

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3.3 RESERVA LEGAL

Para todo parcelamento de imóvel, rural ou urbano, a

necessidade em conformidade com nossa legislação de se deixar um percentual

deste imóvel destinado a preservação do meio ambiente, em nosso trabalho de

pesquisa nos interessa o estudo do parcelamento do imóvel rural para formação

de sítios de recreio, e nesta linha de pensamento o instituto relacionado a este

empreendimento é o instituto da reserva legal, diante disto:

Destaca-se por Reserva Legal, como sendo uma forma de

proteção jurídica especial de nossas florestas. E neste sentido nossa Constituição

Federal, em seu artigo 225 comina ao Poder Público e à coletividade a obrigação

de proteger e preservar o meio ambiente para todas as gerações. Assim entende-

se que, conforme previsão do inciso III, do §1º compete ao Poder Público à tarefa

de resguardar estes ambientes.

A Reserva Legal, dentro do contesto de proteção expresso

em nossa constituição, consiste na destinação de uma área contínua de cada

propriedade rural destinada à preservação e proteção da flora e fauna local, está

prevista nos artigos 16 e 44 do Código Florestal (Lei 4.771/65).

Neste sentido é o entendimento da doutrinadora Roxana

Cardoso Brasileiro Borges ao nos ensinar que:

A reserva legal é um espaço territorial especialmente protegido, de manejo sustentável. A instituição da reserva legal não é indenizável nem sequer enseja desapropriação. Sua regulamentação é feita pelos artigos 16 e 44 do Código Florestal (Lei 4.771/65). O objetivo das reservas legais é a preservação da diversidade biológica de espécimes da fauna e, principalmente da flora.147

147 BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. São Paulo:

LTr, 1999. p.127-128.

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Também é o ensinamento da doutrinadora Fernanda de

Salles Cavedon sobre o tema:

O Código Florestal institui, ainda, outro mecanismo de proteção das florestas e demais formas de vegetação, a reserva legal, em seus artigos 16 e 44, que corresponde a uma percentagem da propriedade rural na qual a cobertura vegetal deve ser mantida em sua integridade, sendo averbada a margem da inscrição de matricula do imóvel e, na sua inexistência, deverá se proceder o florestamento ou reflorestamento, conforme o caso.148

A reserva legal foi regulamentada pela medida provisória nº

1.956-50/00 que foi reeditada pela MP nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001.

Vejamos como ficou definido reserva legal de acordo com a

medida provisória de nº 2.166-65 de 24.08.01 em seu art. 1º, § 2º, inciso III:

Art. 1o ......... § 2o Para os efeitos deste Código, entende-se por: III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas;

Com relação a definição dada pela Medida provisória

supracitada entende o doutrinador Nicolao Dino de Castro e Costa Neto que:

Pela definição acima, constata-se que as reservas florestais legais são suscetíveis de exploração econômica, diferentemente do que sucede com as florestas de preservação permanente. Proíbe-se na reserva florestal legal o corte raso, admitindo-se, entretanto, a utilização de cobertura arbórea mediante a adoção de técnicas de manejo florestal sustentável. A reserva florestal legal alcança

148 CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. p. 113

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apenas áreas sujeitas ao domínio privado. Esse é, aliás, outro traço que a distingue da floresta de preservação permanente, pois esta pode atingir áreas públicas ou particulares.149

Entende-se neste sentido que a reserva legal pode vir a ser

explorada economicamente desde que se adotem técnicas de manejo

sustentável, não ocasionando a degradação da mesma.

Com esta ultima abordagem concluímos nossa pesquisa

passando agora as considerações finais.

149 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. Proteção Juridica do Meio Ambiente – I Florestas.

Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p.214.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente monografia teve como objeto de pesquisa a

análise jurídica para a formação de sítios de recreio.

Ante ao exposto no decorrer desta pesquisa, verificou-se

que o Direito se encontra em permanente transformação, porém ainda não

acompanha a realidade no tocante as propriedades rurais e a necessidade de

alternativas que visem a fixação do homem ao campo. Frente a essas alterações

não se pode rejeitar as experiências já constatadas. Desta forma baseamos estas

pesquisas nas legislações vigentes e nas interpretações doutrinárias disponíveis

sobre este tema, de forma que foi estabelecido, no curso da pesquisa, um

raciocínio lógico evolutivo sobre a formação de sítios de recreio dentro de nosso

ordenamento jurídico.

Para se chegar ao objetivo desta pesquisa foi necessária a

construção de três capítulos, cada qual abordando institutos de crucial

importância para esta monografia. O primeiro Capítulo tratou em aspectos gerais

do direito das coisas, da aquisição e perda da propriedade imóvel e da

propriedade imóvel e o meio ambiente, os quais foram pesquisados de forma

científica.

Definido o direcionamento desta pesquisa para a

propriedade imóvel, mais precisamente propriedade imóvel rural, visto ser este o

foco desta pesquisa, pois tem relação direta com o tema proposto para esta

monografia, no caso a formação de sítios de recreio.

Adentramos no segundo Capítulo, tratando da propriedade

rural no Brasil, sua função social, o estatuto da terra basicamente em seus artigos

relevantes a esta pesquisa, bem como as legislações correlatas que

regulamentam estes artigos do estatuto da terra.

Após pesquisar sobre a propriedade rural e suas

características como a função social que é requisito expresso em nossa

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constituição Federal para que se possa caracterizar a propriedade como sendo

rural. Assim, iniciou-se o terceiro Capítulo abordando a Propriedade imóvel como

forma de sitio de recreio, falamos sobre o parcelamento do imóvel rural, e com

relação às questões ambientais, abordamos a cerca do estudo prévio de impacto

ambiental e a reserva legal como sendo estes quesitos relevantes para a

implantação deste tipo de empreendimento, a formação de sitio de recreio

Terminado o trabalho proposto, isto é, a descrição dos

capítulos, entende-se não só por conveniência mas também pelo prumo

metodológico, cabe ressaltar sobre os problemas e as hipóteses que se

formularam na introdução.

Tinha-se como problema principal a questão que envolve a

possibilidade ou não, da formação de sítios de recreio, visto o fato de nossa

legislação restringir a criação destes tipos de minifúndios, e completando este

problema, restava saber se existia ou não o amparo legal para a formação de

sítios de recreio?

A resposta a primeira parte do problema é que sim existe

como implantar o sitio de recreio desde que preenchidos alguns requisitos

impostos pela lei, e para fundamentar esta resposta nos reportamos ao estatuto

da terra (Lei 4.504/64) em seu artigo 61, § 2º e ao artigo 96 do decreto 59.428/66

em seus incisos II e III que regulamentaram o art. Supracitado do ET, portanto a

resposta a segunda parte do problema é que sim o sitio de recreio possui amparo

legal, porem com restrições, tais como os requisitos do artigo 96 do decreto

59.428/66 em seus incisos II e III supracitados, instruídos pela normatização

interna 17-b do INCRA em seus itens 3.3, alíneas b e c, 3.4, 3.5, e 3.6 que é

bastante claro quando diz que alem da aprovação do INCRA, há também a

necessidade da aprovação do empreendimento pelo município e pelo órgão

ambiental responsável pela região, onde este será implantado.

Portanto restaram confirmadas as hipóteses ao menos em

tese, pois destaca-se que a maior barreira para a implantação deste tipo de

empreendimento é a questão relacionada ao meio ambiente e aos órgãos

ambientais, ficando neste contexto muitos problemas a serem solucionados ainda.

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Ressalta-se, ainda, que da pesquisa apresentada, muitos

problemas sem solução ainda permaneceram, e que novos trabalhos devem ser

levantados sobre a questão da propriedade imóvel rural em nosso ordenamento

jurídico principalmente com relação as questões ambientais, visto que a

legislação ambiental restringe bastante os atos praticados dentro de uma

propriedade rural.

Estas são as considerações que se julgam oportunas a

apresentar. Devemos ressaltar que com a constante evolução de nossa

sociedade nascem novos direitos todos os dias e nosso ordenamento jurídico está

a quem de conseguir acompanhá-los.

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