STJ - Férias e salário-maternidade.pdf

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    RECURSO ESPECIAL N 1.322.945 - DF (2012/0097408-8) RELATOR : MINISTRO NAPOLEO NUNES MAIA FILHORECORRENTE : GLOBEX UTILIDADES S/A ADVOGADO : NELSON WILIANS FRATONI RODRIGUES RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL PROCURADOR : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL

    EMENTA

    RECURSO ESPECIAL. TRIBUTRIO. CONTRIBUIO PREVIDENCIRIA. SALRIO-MATERNIDADE E FRIAS USUFRUDAS. AUSNCIA DE EFETIVA PRESTAO DE SERVIO PELO EMPREGADO. NATUREZA JURDICA DA VERBA QUE NO PODE SER ALTERADA POR PRECEITO NORMATIVO. AUSNCIA DE CARTER RETRIBUTIVO. AUSNCIA DE INCORPORAO AO SALRIO DO TRABALHADOR. NO INCIDNCIA DE CONTRIBUIO PREVIDENCIRIA. PARECER DO MPF PELO PARCIAL PROVIMENTO DO RECURSO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO PARA AFASTAR A INCIDNCIA DE CONTRIBUIO PREVIDENCIRIA SOBRE O SALRIO-MATERNIDADE E AS FRIAS USUFRUDAS.

    1. Conforme iterativa jurisprudncia das Cortes Superiores, considera-se ilegtima a incidncia de Contribuio Previdenciria sobre verbas indenizatrias ou que no se incorporem remunerao do Trabalhador.

    2. O salrio-maternidade um pagamento realizado no perodo em que a segurada encontra-se afastada do trabalho para a fruio de licena maternidade, possuindo clara natureza de benefcio, a cargo e nus da Previdncia Social (arts. 71 e 72 da Lei 8.213/91), no se enquadrando, portanto, no conceito de remunerao de que trata o art. 22 da Lei 8.212/91.

    3. Afirmar a legitimidade da cobrana da Contribuio Previdenciria sobre o salrio-maternidade seria um estmulo combatida prtica discriminatria, uma vez que a opo pela contratao de um Trabalhador masculino ser sobremaneira mais barata do que a de uma Trabalhadora mulher.

    4. A questo deve ser vista dentro da singularidade do trabalho feminino e da proteo da maternidade e do recm nascido; assim, no caso, a relevncia do benefcio, na verdade, deve reforar ainda mais a necessidade de sua excluso da base de clculo da Contribuio Previdenciria, no havendo razoabilidade para a exceo estabelecida no art. 28, 9o., a da Lei 8.212/91.

    5. O Pretrio Excelso, quando do julgamento do AgRg

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    no AI 727.958/MG, de relatoria do eminente Ministro EROS GRAU, DJe 27.02.2009, firmou o entendimento de que o tero constitucional de frias tem natureza indenizatria. O tero constitucional constitui verba acessria remunerao de frias e tambm no se questiona que a prestao acessria segue a sorte das respectivas prestaes principais. Assim, no se pode entender que seja ilegtima a cobrana de Contribuio Previdenciria sobre o tero constitucional, de carter acessrio, e legtima sobre a remunerao de frias, prestao principal, pervertendo a regra urea acima apontada.

    6. O preceito normativo no pode transmudar a natureza jurdica de uma verba. Tanto no salrio-maternidade quanto nas frias usufrudas, independentemente do ttulo que lhes conferido legalmente, no h efetiva prestao de servio pelo Trabalhador, razo pela qual, no h como entender que o pagamento de tais parcelas possuem carter retributivo. Consequentemente, tambm no devida a Contribuio Previdenciria sobre frias usufrudas.

    7. Da mesma forma que s se obtm o direito a um benefcio previdencirio mediante a prvia contribuio, a contribuio tambm s se justifica ante a perspectiva da sua retribuio futura em forma de benefcio (ADI-MC 2.010, Rel. Min. CELSO DE MELLO); dest'arte, no h de incidir a Contribuio Previdenciria sobre tais verbas.

    8. Parecer do MPF pelo parcial provimento do Recurso para afastar a incidncia de Contribuio Previdenciria sobre o salrio-maternidade.

    9. Recurso Especial provido para afastar a incidncia de Contribuio Previdenciria sobre o salrio-maternidade e as frias usufrudas.

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    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da PRIMEIRA Seo do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

    Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Benedito Gonalves, Srgio Kukina, Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3a. Regio), Ari Pargendler, Arnaldo Esteves Lima, Humberto Martins e Herman Benjamin votaram com o Sr. Ministro Relator.

    Compareceu sesso, o Dr. FABIO DA COSTA VILAR, pela recorrente.

    Braslia/DF, 27 de fevereiro de 2013 (Data do Julgamento).

    NAPOLEO NUNES MAIA FILHOMINISTRO RELATOR

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    RECURSO ESPECIAL N 1.322.945 - DF (2012/0097408-8)

    RELATOR : MINISTRO NAPOLEO NUNES MAIA FILHORECORRENTE : GLOBEX UTILIDADES S/A ADVOGADO : NELSON WILIANS FRATONI RODRIGUES RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL PROCURADOR : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL

    RELATRIO

    1. Trata-se de Recurso Especial interposto por GLOBEX

    UTILIDADES S/A, com fundamento no art. 105, inciso III, alnea a da Constituio

    da Repblica em adversidade ao acrdo proferido pelo egrgio TRF da 1a. Regio,

    assim ementado:

    TRIBUTRIO. CONTRIBUIO PREVIDENCIRIA. PRESCRIO. SALRIO-MATERNIDADE. FRIAS. INCIDNCIA. PRIMEIROS QUINZE DIAS DE AFASTAMENTO POR MOTIVO DE ENFERMIDADE. TERO CONSTITUCIONAL DE FRIAS. NO INCIDNCIA. COMPENSAO. POSSIBILIDADE. JUROS DE MORA. CORREO MONETRIA. TAXA SELIC.

    1. Tratando-se de tributos sujeitos a lanamento por homologao, o Superior Tribunal de Justia assentou que o prazo prescricional da ao de repetio de indbito, ou que vise compensao, como regra geral, ocorrer aps o transcurso de cinco anos, contados da ocorrncia do fato gerador (prazo decadencial), acrescido de mais cinco anos, contados da homologao tcita.

    2. A Corte Especial deste Tribunal, em julgamento realizado em 02/10/2008, declarou a inconstitucionalidade da segunda parte do art. 4 da LC 118/2005, nos termos do voto da lavra do Desembargador Federal Leomar Amorim (AI na AC 2006.35.02.001515-0/GO). Assentado, tambm, que a aplicabilidade da LC 118/2005 se refere apenas a fatos geradores posteriores sua vigncia.

    3. As verbas recebidas em virtude de salrio-maternidade possuem natureza salarial, caracterizando renda, razo pela qual sobre ela incide a contribuio previdenciria.

    4. Somente as parcelas incorporveis ao salrio do servidor sofrem a incidncia da contribuio previdenciria. Os valores percebidos pelo empregado nos primeiros 15 dias de afastamento do trabalho por motivo

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    de doena no possuem natureza salarial, uma vez que no h contraprestao ao trabalho realizado e possui efeitos transitrios, no devendo sobre ele incidir a contribuio previdenciria.

    5. Quando o trabalhador no puder usufruir suas frias, far jus percepo do valor das frias a ttulo de indenizao, sobre o qual no incidir a contribuio previdenciria.

    6. No incide contribuio previdenciria sobre o abono constitucional de tero de frias, porquanto tais valores no se incorporam aos proventos de aposentadoria.

    7. Est autorizada a compensao dos valores pagos a ttulo de contribuio sobre os quinze dias de afastamento do empregado por motivo de doena e tero constitucional de frias, com qualquer tributo arrecadado e administrado pela Secretaria da Receita Federal, ainda que o destino das arrecadaes seja outro, nos termos do art. 74 da Lei 9.430/1996, com a redao dada pela Lei 10.637/2002.

    8. A correo monetria dever incidir desde a data do pagamento indevido do tributo at a sua efetiva compensao, devendo ser utilizada a taxa SELIC.

    9. Apelao da impetrante a que nega provimento.

    10. Apelao da Fazenda Nacional e remessa oficial a que se nega provimento (fls. 427/428).

    2. Os Embargos de Declarao opostos por ambas as partes

    foram rejeitados, in verbis:

    PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAO. CONTRIBUIO PREVIDENCIRIA. PRESCRIO. SALRIO-MATERNIDADE. FRIAS. INCIDNCIA. PRIMEIROS QUINZE DIAS DE AFASTAMENTO POR MOTIVO DE ENFERMIDADE. TERO CONSTITUCIONAL DE FRIAS. NO INCIDNCIA. COMPENSAO. POSSIBILIDADE. JUROS DE MORA. CORREO MONETRIA. TAXA SELIC. OMISSO. CONTRADIO. OBSCURIDADE. INEXISTNCIA. REDISCUSSO DE MATRIA JULGADA.

    1. Consignado no voto condutor do acrdo embargado que: somente as parcelas incorporveis ao salrio do servidor sofrem a incidncia da contribuio previdenciria. Os valores recebidos pelo empregado nos primeiros 15 dias de afastamento do trabalho por motivo de doena no

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    possuem natureza salarial, uma vez que no contraprestao ao trabalho realizado e possui efeitos transitrios, no devendo sobre ele incidir a contribuio previdenciria.

    2. Incabveis embargos de declarao utilizados indevidamente com a finalidade de reabrir discusso sobre tema jurdico j apreciado pelo julgador. O inconformismo da embargante se dirige ao prprio mrito do julgado, o que desafia recurso prprio.

    3. Necessria a inequvoca ocorrncia dos vcios enumerados no art. 535 do CPC, para conhecimento dos embargos de declarao, o que no ocorre com a simples finalidade de prequestionamento.

    4. Embargos de declarao rejeitados (fls. 427).

    3. No Recurso Especial, alega-se ofensa ao art. 22, I da Lei

    8.212/91, sob o argumento de que a hiptese de incidncia da contribuio

    previdenciria o pagamento de remuneraes destinadas a retribuir o trabalho,

    seja pelos servios prestados, seja pelo tempo em que o empregado ou trabalhador

    avulso permanece disposio do empregador ou tomador de servios (fls. 474).

    No salrio-maternidade e nas frias no h retribuio ao trabalho efetivo ou

    potencial (fls. 476). Portanto, independentemente da natureza jurdica atribuda a

    eles, no podem ser considerados hipteses de incidncia da contribuio

    previdenciria.

    4. Apresentadas as contrarrazes (fls. 608/619), o Recurso foi

    inadmitido na origem (fls. 621/622), subindo a esta Corte, por fora do provimento

    de Agravo de Instrumento (fls. 674/683), momento em que, reconhecida a

    relevncia da matria, determinou-se a submisso do Recurso Especial a

    julgamento pela 1a. Seo.

    5. O MPF, em parecer subscrito pelo ilustre Subprocurador-Geral

    da Repblica WASHINGTON BOLVAR JNIOR, manifestou-se pelo parcial

    provimento do recurso, apenas para afastar a incidncia da Contribuio

    Previdenciria sobre o salrio-maternidade (fls. 665/671).

    6. o que havia de relevante para relatar.

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    RECURSO ESPECIAL N 1.322.945 - DF (2012/0097408-8)

    RELATOR : MINISTRO NAPOLEO NUNES MAIA FILHORECORRENTE : GLOBEX UTILIDADES S/A ADVOGADO : NELSON WILIANS FRATONI RODRIGUES RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL PROCURADOR : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL

    VOTO

    RECURSO ESPECIAL. TRIBUTRIO. CONTRIBUIO PREVIDENCIRIA. SALRIO-MATERNIDADE E FRIAS USUFRUDAS. AUSNCIA DE EFETIVA PRESTAO DE SERVIO PELO EMPREGADO. NATUREZA JURDICA DA VERBA QUE NO PODE SER ALTERADA POR PRECEITO NORMATIVO. AUSNCIA DE CARTER RETRIBUTIVO. AUSNCIA DE INCORPORAO AO SALRIO DO TRABALHADOR. NO INCIDNCIA DE CONTRIBUIO PREVIDENCIRIA. PARECER DO MPF PELO PARCIAL PROVIMENTO DO RECURSO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO PARA AFASTAR A INCIDNCIA DE CONTRIBUIO PREVIDENCIRIA SOBRE O SALRIO-MATERNIDADE E AS FRIAS USUFRUDAS.

    1. Conforme iterativa jurisprudncia das Cortes Superiores, considera-se ilegtima a incidncia de Contribuio Previdenciria sobre verbas indenizatrias ou que no se incorporem remunerao do Trabalhador.

    2. O salrio-maternidade um pagamento realizado no perodo em que a segurada encontra-se afastada do trabalho para a fruio de licena maternidade, possuindo clara natureza de benefcio, a cargo e nus da Previdncia Social (arts. 71 e 72 da Lei 8.213/91), no se enquadrando, portanto, no conceito de remunerao de que trata o art. 22 da Lei 8.212/91.

    3. Afirmar a legitimidade da cobrana da Contribuio Previdenciria sobre o salrio-maternidade seria um estmulo combatida prtica discriminatria, uma vez que a opo pela contratao de um Trabalhador masculino ser sobremaneira mais barata do que a de uma Trabalhadora mulher.

    4. A questo deve ser vista dentro da singularidade do trabalho feminino e da proteo da maternidade e do recm nascido; assim, no caso, a relevncia do benefcio, na verdade, deve reforar ainda mais a necessidade de sua excluso da base de clculo da Contribuio

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    Previdenciria, no havendo razoabilidade para a exceo estabelecida no art. 28, 9o., a da Lei 8.212/91.

    5. O Pretrio Excelso, quando do julgamento do AgRg no AI 727.958/MG, de relatoria do eminente Ministro EROS GRAU, DJe 27.02.2009, firmou o entendimento de que o tero constitucional de frias tem natureza indenizatria. O tero constitucional constitui verba acessria remunerao de frias e tambm no se questiona que a prestao acessria segue a sorte das respectivas prestaes principais. Assim, no se pode entender que seja ilegtima a cobrana de Contribuio Previdenciria sobre o tero constitucional, de carter acessrio, e legtima sobre a remunerao de frias, prestao principal, pervertendo a regra urea acima apontada.

    6. O preceito normativo no pode transmudar a natureza jurdica de uma verba. Tanto no salrio-maternidade quanto nas frias usufrudas, independentemente do ttulo que lhes conferido legalmente, no h efetiva prestao de servio pelo Trabalhador, razo pela qual, no h como entender que o pagamento de tais parcelas possuem carter retributivo. Consequentemente, tambm no devida a Contribuio Previdenciria sobre frias usufrudas.

    7. Da mesma forma que s se obtm o direito a um benefcio previdencirio mediante a prvia contribuio, a contribuio tambm s se justifica ante a perspectiva da sua retribuio futura em forma de benefcio (ADI-MC 2.010, Rel. Min. CELSO DE MELLO); dest'arte, no h de incidir a Contribuio Previdenciria sobre tais verbas.

    8. Parecer do MPF pelo parcial provimento do Recurso para afastar a incidncia de Contribuio Previdenciria sobre o salrio-maternidade.

    9. Recurso Especial provido para afastar a incidncia de Contribuio Previdenciria sobre o salrio-maternidade e as frias usufrudas .

    1. Inicialmente, cumpre anotar que o reconhecimento de

    repercusso geral pelo STF no impede o julgamento dos recursos nesta Corte

    (AgRg no Ag 1.272.427/MG, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe 17.08.2010 e AgRg

    no REsp. 1.272.945/PR, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 25.11.2011).

    2. Cinge-se a controvrsia em saber se deve ou no incidir

    Contribuio Previdenciria sobre os valores pagos a ttulo de salrio-maternidade e

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    de frias gozadas.

    3. Conheo e reverencio a orientao desta Corte de que tanto o

    salrio-maternidade quanto as frias gozadas integram a base de clculo da

    Contribuio Previdenciria (REsp. 1.232.238/PR, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN,

    DJe 16.03.2011; AgRg no Ag 1.330.045/SP, Rel. Min. LUIZ FUX, DJe 25.11.2010;

    REsp. 1.149.071/SC, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe 22.09.2010), todavia vejo a

    necessidade de abertura de nova discusso sobre o tema.

    4. Quanto ao salrio-maternidade, de fato, o art. 28, 2o. da Lei

    8.212/91 dispe que o salrio-maternidade considerado salrio-de-contribuio.

    certo, ainda, que o salrio-de-contribuio a base de clculo da contribuio.

    5. Ao meu sentir, todavia, antes de definir a incidncia ou no de

    Contribuio Previdenciria sobre uma determinada verba preciso analisar a sua

    natureza e se a mesma ser computada para clculo dos benefcios de

    aposentadoria, porquanto, conforme iterativa jurisprudncia das Cortes Superiores,

    considera-se ilegtima a incidncia de Contribuio Previdenciria sobre verbas

    indenizatrias ou que no se incorporem remunerao do Trabalhador.

    6. O art. 22 da Lei 8.212/91 prev como fato gerador da

    Contribuio Previdenciria o pagamento efetuado pelo empregador que se destina

    retribuio de servio prestado, seno vejamos:

    Art. 22 - A contribuio a cargo da empresa, destinada Seguridade Social, alm do disposto no art. 23, de:

    I - vinte por cento sobre o total das remuneraes pagas, devidas ou creditadas a qualquer ttulo, durante o ms, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem servios, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos servios efetivamente prestados, quer pelo tempo disposio do empregador ou tomador de servios, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de conveno ou acordo coletivo de trabalho ou sentena normativa (grifo no original).

    7. Assim, tem-se como remunerao a contraprestao paga ao

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    Trabalhador em razo dos servios prestados, enquanto que indenizao tem o

    carter de reparao ou compensao.

    8. Pois bem, o salrio-maternidade um pagamento realizado no

    perodo em que a segurada encontra-se afastada do trabalho para fruio de

    licena maternidade, possuindo clara natureza de benefcio, a cargo e nus da

    Previdncia Social (arts. 71 e 72 da Lei 8.213/91). Como se v, o

    salrio-maternidade no contraprestao paga em razo de servio prestado e

    nem a segurada est disposio do empregador , no se enquadrando, portanto,

    no conceito de remunerao de que trata o art. 22 da Lei 8.212/91.

    9. Por outro lado, a prpria Lei 8.212/91, em seu art. 28, 9o., a,

    estabelece:

    Art. 28 - Entende-se por salrio-de-contribuio:

    (...).

    9 - No integram o salrio-de-contribuio para os fins desta Lei, exclusivamente:

    a) os benefcios da previdncia social, nos termos e limites legais, salvo o salrio-maternidade;

    10. Como se v, a regra de que os benefcios previdencirios no

    sofram a incidncia de Contribuio Previdenciria e apenas uma situao

    relevantssima poderia justificar a excluso de um benefcio de tal preceito.

    11. Ora, o salrio-maternidade deve ser visto dentro da singularidade

    do trabalho feminino e da proteo da maternidade e do recm nascido, assim, no

    caso, a relevncia do benefcio, na verdade, deve reforar ainda mais a

    necessidade de sua excluso da base de clculo da Contribuio Previdenciria,

    no havendo razoabilidade para a exceo acima estabelecida.

    12. Por oportuno, cumpre salientar que o salrio-maternidade,

    inicialmente de responsabilidade do empregador, a partir da edio da Lei 6.136/74

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    passou a ser, direta ou indiretamente, um encargo exclusivo da Previdncia Social,

    como forma de tolher a discriminao contra o trabalho feminino.

    13. Nesse sentido, afirmar a legitimidade da cobrana da

    Contribuio Previdenciria sobre o salrio-maternidade seria um estmulo

    combatida prtica discriminatria, uma vez que a opo pela contratao de um

    Trabalhador masculino ser sobremaneira mais barata do que a de uma

    Trabalhadora mulher.

    14. Assim, no possuindo natureza salarial, no devida a

    Contribuio Previdenciria sobre o pagamento do salrio-maternidade.

    15. Nesse particular, merece destaque o parecer do ilustre

    Subprocurador-Geral da Repblica WASHINGTON BOLVAR JNIOR:

    Em se tratando de contribuies previdencirias, a jurisprudncia do Excelso STF se consolidou no sentido de que no podem incidir em parcelas indenizatrias ou que no incorporem a remunerao do servidor (AI 712.880 AgRg, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 26/05/2009, DJe-113 DIVULG 18-06-2009 PUBLIC 19-06-2009 REPUBLICAO: DJe-171 DIVULG 10-09-2009 PUBLIC 11-09-2009 EMENT VOL-02373-04 PP-00753).

    No presente caso, o art. 28, 2o. da Lei 8.212/91 expresso ao prever que o salrio-maternidade considerado salrio-de-contribuio. Sabe-se que este salrio-de-contribuio a base de clculo da contribuio, entre outros, do segurado empregado, cuja obrigao na arrecadao e recolhimento recai sobre o empregador, nos moldes do art. 30, I, b, da citada lei.

    Por outro lado, o salrio-maternidade um benefcio a que tem direito o segurado, consoante a regra do art. 71 da Lei 8.213/91 estipulando que o salrio-maternidade devido segurada da Previdncia Social, durante 120 (cento e vinte) dias, com incio no perodo entre 28 (vinte e oito) dias antes do parto e a data de ocorrncia deste, observadas as situaes e condies previstas na legislao no que concerne proteo maternidade.

    O sujeito passivo dessa relao previdenciria, no caso de segurada empregada, como na espcie, o INSS, mas o pagamento do benefcio feito diretamente pelo empregador, que tem direito compensao (art. 72,

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    1o. da Lei 8.213/91).

    Com efeito, deve-se afastar a incidncia da contribuio previdenciria da empresa prevista no art. 22, I da Lei 8.212/91 sobre o salrio-maternidade, posto que inexiste qualquer remunerao paga pelo empregador visando uma retribuio pecuniria, menos ainda servio prestado pelo segurado. Em suma, no h como se admitir a exigncia de recolhimento de contribuio previdenciria da empresa sobre uma prestao devida pelo INSS ao empregado-segurado.

    Mutatis mutandis, interessante trazer baila julgado proferido pelo e. STF em caso relativo ao salrio-maternidade, em que se arguia a inconstitucionalidade do art. 14 da EC 20/98, que fixou limite mximo da renda mensal do benefcio, onerando-se injustamente o empregador em arcar com eventual diferena sobre o salrio-de-contribuio, seno vejamos:

    DIREITO CONSTITUCIONAL, PREVIDENCIRIO E PROCESSUAL CIVIL. LICENA-GESTANTE. SALRIO. LIMITAO. AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 14 DA EMENDA CONSTITUCIONAL N 20, DE 15.12.1998. ALEGAO DE VIOLAO AO DISPOSTO NOS ARTIGOS 3, IV, 5, I, 7, XVIII, E 60, 4, IV, DA CONSTITUIO FEDERAL. 1. O legislador brasileiro, a partir de 1932 e mais claramente desde 1974, vem tratando o problema da proteo gestante, cada vez menos como um encargo trabalhista (do empregador) e cada vez mais como de natureza previdenciria. Essa orientao foi mantida mesmo aps a Constituio de 05/10/1988, cujo art. 6 determina: a proteo maternidade deve ser realizada "na forma desta Constituio", ou seja, nos termos previstos em seu art. 7, XVIII: "licena gestante, sem prejuzo do empregado e do salrio, com a durao de cento e vinte dias". 2. Diante desse quadro histrico, no de se presumir que o legislador constituinte derivado, na Emenda 20/98, mais precisamente em seu art. 14, haja pretendido a revogao, ainda que implcita, do art. 7, XVIII, da Constituio Federal originria. Se esse tivesse sido o objetivo da norma constitucional derivada, por certo a E.C. n 20/98 conteria referncia expressa a respeito. E, falta de norma constitucional derivada, revogadora do art. 7, XVIII, a pura e simples aplicao do art. 14 da E.C. 20/98, de modo a torn-la insubsistente, implicar um retrocesso histrico, em matria social-previdenciria, que no se pode presumir desejado. 3. Na verdade, se se entender que a Previdncia Social, doravante, responder apenas por R$1.200,00 (hum mil e duzentos reais) por ms, durante a licena da gestante, e que o empregador responder, sozinho, pelo restante, ficar sobremaneira, facilitada e estimulada a opo deste pelo trabalhador masculino, ao invs da mulher trabalhadora. Estar, ento, propiciada a discriminao que a Constituio buscou combater, quando proibiu diferena de salrios, de exerccio de funes e de critrios de admisso, por motivo de sexo (art. 7, inc. XXX, da C.F./88), proibio, que, em substncia, um desdobramento do

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    princpio da igualdade de direitos, entre homens e mulheres, previsto no inciso I do art. 5 da Constituio Federal. Estar, ainda, conclamado o empregador a oferecer mulher trabalhadora, quaisquer que sejam suas aptides, salrio nunca superior a R$1.200,00, para no ter de responder pela diferena. No crvel que o constituinte derivado, de 1998, tenha chegado a esse ponto, na chamada Reforma da Previdncia Social, desatento a tais conseqncias. Ao menos no de se presumir que o tenha feito, sem o dizer expressamente, assumindo a grave responsabilidade. 4. A convico firmada, por ocasio do deferimento da Medida Cautelar, com adeso de todos os demais Ministros, ficou agora, ao ensejo deste julgamento de mrito, reforada substancialmente no parecer da Procuradoria Geral da Repblica. 5. Reiteradas as consideraes feitas nos votos, ento proferidos, e nessa manifestao do Ministrio Pblico federal, a Ao Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente, em parte, para se dar, ao art. 14 da Emenda Constitucional n 20, de 15.12.1998, interpretao conforme Constituio, excluindo-se sua aplicao ao salrio da licena gestante, a que se refere o art. 7, inciso XVIII, da Constituio Federal. 6. Plenrio. Deciso unnime. (ADI 1.946, Rel. Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 30/04/2003, DJ 16-05-2003 PP-00090 EMENT VOL-02110-01 PP-00123) (fls. 667/670).

    16. Da mesma forma, o art. 148 da CLT, por sua vez, estabelece que

    a remunerao das frias, ainda quando devida aps a cesso do contrato de

    trabalho, ter natureza salarial.

    17. Ouso, no entanto, afirmar que o preceito normativo no pode

    transmudar a natureza jurdica da verba. Ora, tanto no salrio-maternidade quanto

    nas frias gozadas, independentemente do ttulo que lhes conferido legalmente,

    no h efetiva prestao de servio pelo Trabalhador, razo pela qual, no h como

    entender que o pagamento de tais parcelas possui carter retributivo.

    Consequentemente, entende-se tambm no ser devida a Contribuio

    Previdenciria sobre frias gozadas.

    18. Interessante anotar que o Pretrio Excelso, quando do

    julgamento do AgRg no AI 727.958/MG, de relatoria do eminente Ministro EROS

    GRAU, DJe 27.02.2009, firmou o entendimento de que o tero constitucional de

    frias tem natureza indenizatria. No mesmo sentido tambm j se manifestou esta

    Corte:

    TRIBUTRIO E PREVIDENCIRIO. INCIDENTE DE

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    UNIFORMIZAO DE JURISPRUDNCIA DAS TURMAS RECURSAIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. CONTRIBUIO PREVIDENCIRIA. TERO CONSTITUCIONAL DE FRIAS. NATUREZA JURDICA. NO-INCIDNCIA DA CONTRIBUIO. ADEQUAO DA JURISPRUDNCIA DO STJ AO ENTENDIMENTO FIRMADO NO PRETRIO EXCELSO.

    1. A Turma Nacional de Uniformizao de Jurisprudncia dos Juizados Especiais Federais firmou entendimento, com base em precedentes do Pretrio Excelso, de que no incide contribuio previdenciria sobre o tero constitucional de frias.

    2. A Primeira Seo do STJ considera legtima a incidncia da contribuio previdenciria sobre o tero constitucional de frias.

    3. Realinhamento da jurisprudncia do STJ posio sedimentada no Pretrio Excelso de que a contribuio previdenciria no incide sobre o tero constitucional de frias, verba que detm natureza indenizatria e que no se incorpora remunerao do servidor para fins de aposentadoria.

    4. Incidente de uniformizao acolhido, para manter o entendimento da Turma Nacional de Uniformizao de Jurisprudncia dos Juizados Especiais Federais, nos termos acima explicitados. (Pet 7.296/PE, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe 10.11.2009).

    19. Pois bem, o tero constitucional constitui verba acessria

    remunerao de frias e como se sabe a prestao de cunho acessrio segue a

    sorte das respectivas prestaes principais. Assim, no se pode entender que seja

    ilegtima a cobrana de Contribuio Previdenciria sobre o tero constitucional, de

    carter acessrio, e legtima sobre a remunerao de frias, prestao principal,

    pervertendo a regra urea acima apontada.

    20. Por fim, a FAZENDA NACIONAL argumenta que os valores

    recebidos a ttulo de salrio-maternidade e frias usufrudas integram o clculo de

    benefcio e so considerados no clculo da aposentadoria do Trabalhador.

    21. Entretanto, no h que se falar em ofensa aos Princpios do

    Equilbrio Atuarial e Financeiro de gesto do Regime Geral da Previdncia Social,

    pois a prpria solidariedade do sistema ir permitir, a partir da arrecadao de

    outras fontes, como os valores oriundos do lucro lquido das empresas e de

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    concursos de prognsticos, que verbas em sua essncia no retributivas, como por

    exemplo o salrio-maternidade e as frias usufrudas, no sofram indevidamente a

    incidncia de contribuio previdenciria.

    22. Outrossim, o prprio STF, ao apreciar a constitucionalidade da

    Lei 9.783/99 (ADI-MC 2.010, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJe 12.04.2002),

    concluiu pela necessria correlao entre custo e benefcio, pois o regime

    contributivo, por sua natureza mesma, h de ser essencialmente retributivo,

    qualificando-se como constitucionalmente ilegtima, porque despojada de causa

    eficiente, a instituio de contribuio sem o correspondente oferecimento de uma

    nova retribuio, um novo benefcio ou um novo servio. E acrescentou que a

    existncia de estrita vinculao causal entre contribuio e benefcio pe em

    evidncia a correo da frmula segundo a qual no pode haver contribuio sem

    benefcio, nem benefcio sem contribuio. Ou seja, da mesma forma que s se

    obtm o direito a um benefcio previdencirio mediante a prvia contribuio, a

    contribuio tambm s se justifica ante a perspectiva da sua retribuio em forma

    de benefcio.

    23. Esse foi um dos fundamentos pelos quais se entendeu

    inconstitucional a cobrana de Contribuio Previdenciria sobre a gratificao pelo

    exerccio de Funo Comissionada. E, ao meu sentir, mais uma razo para se

    concluir pela no incidncia da Contribuio Previdenciria sobre as verbas ora em

    discusso, uma vez que no h a incorporao desses benefcios aposentadoria.

    24. Ante o exposto, d-se provimento ao Recurso Especial para

    afastar a incidncia de Contribuio Previdenciria sobre o salrio-maternidade e as

    frias usufrudas.

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    CERTIDO DE JULGAMENTOPRIMEIRA SEO

    Nmero Registro: 2012/0097408-8 PROCESSO ELETRNICO REsp 1.322.945 / DF

    Nmeros Origem: 200701000431350 200834000069115 5542008PAUTA: 12/12/2012 JULGADO: 27/02/2013

    RelatorExmo. Sr. Ministro NAPOLEO NUNES MAIA FILHOPresidente da SessoExmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRASubprocurador-Geral da RepblicaExmo. Sr. Dr. MOACIR GUIMARES MORAES FILHOSecretriaBela. Carolina Vras

    AUTUAORECORRENTE : GLOBEX UTILIDADES S/AADVOGADO : NELSON WILIANS FRATONI RODRIGUESRECORRIDO : FAZENDA NACIONALPROCURADOR : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONALASSUNTO: DIREITO TRIBUTRIO - Contribuies - Contribuies Previdencirias - 1/3 de frias

    SUSTENTAO ORALCompareceu sesso, o Dr. FABIO DA COSTA VILAR, pela recorrente.

    CERTIDOCertifico que a egrgia PRIMEIRA SEO, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso

    realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso:"A Seo, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto do

    Sr. Ministro Relator."Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Benedito Gonalves, Srgio Kukina, Diva

    Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3a. Regio), Ari Pargendler, Arnaldo Esteves Lima, Humberto Martins e Herman Benjamin votaram com o Sr. Ministro Relator.

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