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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAPÁ
MANDADO DE SEGURANÇA - AUTORIZAÇÃO DE EXPLORAÇÃO FLORESTAL
SUSTENTÁVEL (AUTEX) EM TERRAS DA UNIÃO - EXPEDIÇÃO PELO SECRETÁRIO DE
ESTADO DO MEIO AMBIENTE - ANUÊNCIA E COOPERAÇÃO DO INCRA - COMPETÊNCIA
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA - PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO - TRAMITAÇÃO
SUSPENSA POR DECISÃO JUDICIAL - DESNECESSIDADE DE CONTRADITÓRIO -
STF TJAP STJ
ILEGALIDADE NÃO CONFIGURADA - LICENCIAMENTO AMBIENTAL - REQUISITOS NÃO
ATENDIDOS - PRETENSÃO MANDAMENTAL - DENEGAÇÃO - 1) Se a “Autorização de
Exploração Florestal Sustentável - AUTEX” é expedida pelo Secretário de Estado do Meio
Ambiente, com anuência/cooperação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária - INCRA, o Tribunal de Justiça é o competente para processar e julgar mandado
de segurança impetrado contra ato omissivo relacionado à expedição da referida
autorização, ainda que envolvendo terras pertencentes à União - 2) Não há ilegalidade
na suspensão do trâmite de processo administrativo, se esta (suspensão) decorre do
cumprimento de decisão judicial, o que também justifica a falta de oportunidade ao
contraditório - 3) Inexiste direito à expedição da “Autorização de Exploração Florestal
Sustentável - AUTEX”, quando o interessado não demonstra o preenchimento dos
requisitos para o pretendido licenciamento ambiental - 4) Não demonstrado o
alegado direito líquido e certo e, considerando a inviabilidade de dilação probatória no
procedimento da ação mandamental, a denegação da segurança é medida que se
impõe.
(MANDADO DE SEGURANÇA. Processo Nº 0011049-79.2020.8.03.0001, Relator
Desembargadora SUELI PEREIRA PINI, TRIBUNAL PLENO, julgado em 15 de Outubro de
2020, publicado no DOE Nº 193 em 23 de Outubro de 2020).
ADMINISTRATIVO - REMESSA EX OFFICIO - MANDADO DE SEGURANÇA - SEGURANÇA CONCEDIDA - APREENSÃO DE MERCADORIAS E PRODUTOS - VIOLAÇÃO A DIREITO LÍQUIDO E CERTO DEMONSTRADA. 1) Configura-se ilegal e abusiva a conduta da Administração ao valer-se de vias transversas e meios coercitivos, especificamente a apreensão de bens, para obter o adimplemento de obrigações, na medida em que pode fazer uso dos meios legais para eventual cobrança de créditos decorrentes de autuação por infração ambiental. 2) Remessa não provida.
(REMESSA EX-OFFICIO(REO). Processo Nº 0005446-56.2019.8.03.0002, Relator Desembargador GILBERTO PINHEIRO, CÂMARA ÚNICA, julgado em 8 de Outubro de 2020)
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
RE 1255571 AgR Órgão julgador: Primeira Turma Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento: 08/09/2020 Publicação: 23/09/2020
Ementa
AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR DANO AMBIENTAL. ALEGAÇÃO DE BAIXO IMPACTO AMBIENTAL DA ATIVIDADE EXTRATIVA, A POSSIBILITAR A DISPENSA DE ESTUDO E DE RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL – EIA/RIMA PELO ÓRGÃO LICENCIADOR. MATÉRIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 279 DO STF. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
RE 1264738 AgR Órgão julgador: Primeira Turma Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento: 24/08/2020 Publicação: 08/09/2020 Ementa
AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. AMBIENTAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE. LEI 14.675/2009 DO ESTADO DE SANTA CATARINA. LICENÇA AMBIENTAL POR COMPROMISSO – LAC. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE. OS ESTADOS-MEMBROS PODEM COMPLEMENTAR A LEGISLAÇÃO FEDERAL EM MATÉRIA DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL, MORMENTE NO QUE SE REFERE A PROCEDIMENTOS AMBIENTAIS SIMPLIFICADOS PARA ATIVIDADES E EMPREENDIMENTOS DE PEQUENO POTENCIAL DE IMPACTO AMBIENTAL. PRECEDENTE: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.615. ATENDIMENTO AO PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO. VERIFICAÇÃO DA HARMONIA DA NORMA LOCAL COM A LEGISLAÇÃO FEDERAL. MATÉRIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
ARE 1263236 AgR Órgão julgador: Segunda Turma Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA Julgamento: 16/09/2020 Publicação: 21/09/2020 Ementa
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AMBIENTAL. DANO AMBIENTAL. DEMOLIÇÃO. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO: SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AUSÊNCIA DE OFENSA CONSTITUCIONAL DIRETA. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.
ADI 5480 Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES Julgamento: 20/04/2020 Publicação: 04/09/2020 Ementa
CONSTITUCIONAL, TRIBUTÁRIO E AMBIENTAL. LEI 7.182/2015 DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. TAXA DE CONTROLE, MONITORAMENTO E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL (TFPG) EXIGIDA SOBRE ATIVIDADES DA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS. LEI COMPLEMENTAR 140/2011. NATUREZA SUPLEMENTAR, SUPLETIVA OU EMERGENCIAL DA FISCALIZAÇÃO NÃO EXCLUI PODER DE TAXAR DOS ESTADOS-MEMBROS. VALOR DA TAXA. DESPROPORCIONALIDADE. PROCEDÊNCIA. 1. Reconhecida a legitimidade ativa da Associação Brasileira de Empresas de Exploração e Produção de Petróleo e Gás (ABEP), tendo em vista a assimétrica distribuição da indústria de petróleo e gás no território nacional e a expressividade das suas filiadas para o segmento como um todo, o que demonstra a sua abrangência nacional. Precedente. 2. Os artigos 23, VI e VII, e 24, VI, da Constituição Federal estabelecem um compromisso federativo de fiscalização ambiental das atividades potencialmente poluidoras, atribuindo aos Estados-Membros autoridade para promover medidas de fiscalização em atividades da indústria petrolífera, mesmo quando realizadas em perímetros sujeitos ao licenciamento por órgãos ambientais da União, como as localizadas em faixas de mar contíguas ao território nacional, o que é confirmado pelos arts. 15 e 17 da Lei Complementar 140/2011, bem como pelo art. 27, III, da Lei 9.966/2000. 3. O caráter subsidiário, supletivo ou emergencial das medidas de fiscalização pelos órgãos ambientais estaduais nas atividades da indústria petrolífera realizadas em águas marinhas não impede a instituição de taxas pelo exercício do poder de polícia, nem induz bitributação, sendo possível a sua compensação com taxas cobradas no âmbito federal (art. 17-P da Lei 6.938/1981). 4. A base de cálculo indicada pelo art. 4º da Lei 7.182/2015 – barril de petróleo extraído ou unidade equivalente de gás a ser recolhida – não guarda congruência com os custos das atividades de fiscalização exercidas pelo órgão ambiental estadual, o Instituto Estadual do Ambiente (INEA/RJ). Desproporcionalidade reconhecida. Nesse sentido: ADI 6211-MC, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 4/12/2019, acórdão pendente de publicação; e ADI 5374-MC, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, decisão monocrática, DJe de 17/12/2018. 5. Ação direta julgada procedente.
ADI 5447 Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO Julgamento: 22/05/2020 Publicação: 07/08/2020
Ementa
Direito ambiental. Ação direta de inconstitucionalidade. Suspensão do período de defeso da pesca por ato do Executivo. Violação ao princípio da precaução. Ameaça à fauna brasileira, à segurança alimentar e à pesca artesanal. 1. Ação que tem por objeto a (in)constitucionalidade do Decreto Legislativo nº 293/2015, que sustou os efeitos da Portaria Interministerial nº 192/2015, a qual, por sua vez, suspendeu períodos de defeso da pesca de algumas espécies por 120 dias, prorrogáveis por igual prazo. O Decreto Legislativo restabeleceu os períodos originais de defeso, ao argumento de que o Executivo, ao editá-la, teria exorbitado de seu poder regulamentar. 2. Ausência de estudos técnicos que comprovem a desnecessidade do defeso nas hipóteses em que foi suspenso pela Portaria. Não apresentação de indícios mínimos da alegada ocorrência de fraude, em proporção que justifique a interrupção do pagamento de seguro-defeso. 3. Inobservância do princípio ambiental da precaução. Risco ao meio ambiente equilibrado, à fauna brasileira, à segurança alimentar da população e à preservação de grupos vulneráveis, que se dedicam à pesca artesanal. Nesse sentido: ADPF 101, Rel. Min. Cármen Lúcia; RE 835.559, Rel. Min. Luiz Fux; RE 627.189, Rel. Min. Dias Toffoli; AI 781.547, Rel. Min. Luiz Fux. 4. Modulação de efeitos da decisão para preservar os atos praticados entre 7/1/2016 e 11/3/2016, período em que o defeso esteve suspenso com respaldo em cautelar deferida pelo Supremo Tribunal Federal e posteriormente revogada (art. 27 da Lei 9.868/1999). 5. Ação julgada improcedente.
ADI 6350 Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 13/10/2020 Publicação: 29/10/2020 Ementa
Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 279 da Constituição do Estado do Mato Grosso. Construção de centrais termoelétricas e hidroelétricas. 3. Necessidade de aprovação do Projeto Técnico de Impacto Ambiental pela Assembleia Legislativa. Inconstitucionalidade. Precedentes. 4. Medida cautelar deferida monocraticamente, ad referendum do Plenário. 5. Ação julgada procedente, nos termos da medida cautelar anteriormente deferida.
ADI 4069 Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. EDSON FACHIN Julgamento: 08/09/2020 Publicação: 24/09/2020 Ementa
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUCIONAL E AMBIENTAL. REGRAS DE DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS. LEI 5.067/2007 DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO QUE DISPÕE SOBRE O ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO E DEFINE CRITÉRIOS PARA A IMPLANTAÇÃO DA ATIVIDADE DE SILVICULTURA ECONÔMICA NO ESTADO. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL. INCONSTITUCIONALIDADE DE NORMAS ESTADUAIS RESTRITIVAS QUE DISPENSAM A ELABORAÇÃO DE EIA/RIMA NOS TERMOS PREVISTOS PELA LEGISLAÇÃO FEDERAL. 1. Observando os procedimentos impostos pelas normas federais, cabem aos Estados, não traçar propriamente as diretrizes de preservação ambiental já dispostas pela lei federal, mas exercer sua competência concorrente e estabelecer, dentro destes requisitos, sua normatização própria a respeito do Zoneamento Ecológico-Econômico. 2. A lei impugnada não trata da instituição do zoneamento propriamente dito, que requer uma série de procedimentos próprios, mas da fixação de critérios mínimos para que seja concretizado pelo Estado do Rio de Janeiro. Ateve-se, assim, a exercer sua competência concorrente, observados os objetivos e os princípios estabelecidos em normas gerais federais. 3. A legislação federal estipula disciplina geral que parece não deixar margem para as restrições estabelecidas pela lei estadual no que concerne à exigibilidade da elaboração de EIA/RIMA. Não se admite que, no uso de sua competência residual, defina o Estado regramento que implica seja afastada a aplicação do determinado pelas normas gerais federais. Inconstitucionalidade da lei estadual que, a título de complementação das normas gerais editadas pela União, dispensa a elaboração de EIA/RIMA nos termos por ela previstos. Precedente. 4. A recomendação de eucalipto para Região Hidrográfica específica, além de não instituir restrição ou exigência quanto ao tipo de silvicultura que pode ser desenvolvida na área, limita-se a indicar orientação propícia às particularidades e aos riscos ambientais da atividade para o território, em conformidade com a competência estadual concorrente para legislar sobre a matéria. A ausência de previsão expressa de EIA/RIMA não significa que a lei, vinculada aos parâmetros federais, não esteja submetida à elaboração do procedimento nos casos de sua obrigatoriedade. A eventual infringência ao regramento programático do ZEE estabelecido pelas normas gerais federais exige
HC 187642 AgR Órgão julgador: Primeira Turma Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO Julgamento: 22/09/2020 Publicação: 28/09/2020 Ementa
Direito penal e processual penal. Agravo regimental em habeas corpus. Crime ambiental. Princípio da insignificância. Inaplicabilidade. Ausência de teratologia, abuso de poder ou ilegalidade flagrante. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 1. Para além de observar que o paciente foi condenado no regime aberto, com substituição da pena, não verifico ilegalidade flagrante ou abuso de poder que autorize a imediata aplicação do princípio da insignificância penal. Seja porque o paciente já foi processado criminalmente pelo mesmo tipo de infração pena, seja pelo grau de reprovabilidade da
conduta, praticada “em local de proteção ambiental com a utilização de petrechos proibidos, no caso, o arrasto motorizado, tendo em vista o risco que esta conduta representa para todo o ecossistema aquático, independentemente da quantidade de espécimes efetivamente apreendidas ou não”. Precedente. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.
STA 858 ED-AgR-ED Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI (Presidente) Julgamento: 24/08/2020 Publicação: 17/09/2020 Ementa
EMENTA Embargos de declaração no agravo regimental nos embargos de declaração na suspensão de tutela antecipada. Decisão monocrática por meio da qual a então Presidente suspendeu cautelar deferida pela Corte de origem que obrigava o embargado a emitir declaração de conformidade. Acórdão por meio do qual o Plenário da Suprema Corte manteve o deferimento da contracautela. Inexistência da alegada omissão. Embargos declaratórios rejeitados. 1. Não padece a decisão embargada de omissão, uma vez que nela houve manifestação clara e adequadamente fundamentada acerca de toda a matéria posta em discussão nos autos. 2. A pretensão deduzida pela embargante no sentido de que o município embargado fosse compelido a emitir a referida declaração de conformidade, ao arrepio de sua legislação ambiental local, foi expressamente afastada pelas decisões anteriormente proferidas nos autos. 3. Ao interpor os presentes embargos alegando que a revogação da contracautela aqui deferida não impediria o embargado de proceder à análise das questões ambientais pertinentes em momento oportuno, em sentido exatamente oposto à manifestação da petição inicial da ação em questão, inegavelmente agiu de má-fé a embargante, a merecer o devido sancionamento. 4. Embargos de declaração rejeitados, com cominação de multa por litigância de má-fé.
SL 1226 AgR Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI (Presidente) Julgamento: 08/09/2020 Publicação: 21/10/2020 Ementa
Agravo regimental na suspensão de liminar. Decisão originária em que se determinou a paralisação de atividade de exploração mineral. Evidências que apontam para ausência de nexo de causalidade entre a atividade desenvolvida e os alegados danos ambientais. Risco à ordem e à economia pública demonstrados. Medida de contracautela deferida
por esta Presidência. Ausência de fundamentos a infirmar a decisão agravada. Agravo regimental não provido. 1. Causa lesão ao interesse público a decisão judicial em que se determina a paralisação da atividade de exploração mineral mesmo quando as evidências probatórias até então produzidas apontam para a ausência de nexo de causalidade entre a atividade de mineração desenvolvida pelo empreendimento e os alegados danos ambientais. 2. Interrupção das atividades desenvolvidas pela usina coagravada que pode acarretar danos irreparáveis, que comprometerão a própria continuidade do empreendimento, bem como a subsistência econômica do município em que ele ocorre. 3. A compensação financeira que as comunidades indígenas localizadas na região estão recebendo como contrapartida pela execução dessa atividade econômica sofrerá interrupção em caso de cessação de tal atividade. 4. As agravantes não apresentaram razões a infirmar os fundamentos da decisão agravada, restando incólume o entendimento de que está presente o risco de dano à ordem e à economia públicas. 5. Agravo regimental não provido.
ARE 1146933 AgR Órgão julgador: Primeira Turma Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento: 18/08/2020 Publicação: 01/09/2020 Ementa
AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. LOTEAMENTO REALIZADO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. DANOS MORAIS E MATERIAIS. NEXO DE CAUSALIDADE. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO CARREADO AOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RESPONSABILIDADE DO INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ – IAP. DECRETO 1.502/1992 DO ESTADO DO PARANÁ. NECESSIDADE DE ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL LOCAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 280 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. REITERADA REJEIÇÃO DOS ARGUMENTOS EXPENDIDOS PELOS AGRAVANTES. MANIFESTO INTUITO PROTELATÓRIO. APLICAÇÃO DA MULTA PREVISTA NO ARTIGO 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
ADI 5547 Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. EDSON FACHIN Julgamento: 22/09/2020 Publicação: 06/10/2020 Ementa
Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO CONAMA Nº 458/2013. CABIMENTO. OFENSA DIRETA. ATO NORMATIVO PRIMÁRIO, GERAL E
ABSTRATO. PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTA. DIREITO FUNDAMENTAL. PRINCÍPIOS DA PROTEÇÃO E DA PRECAUÇÃO. FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE. PROIBIÇÃO DO RETROCESSO. PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E DA PRECAUÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OFENSA. 1. A Resolução impugnada é ato normativo primário, dotada de generalidade e abstração suficientes a permitir o controle concentrado de constitucionalidade. 2. Disciplina que conduz justamente à conformação do amálgama que busca adequar a proteção ambiental à justiça social, que, enquanto valor e fundamento da ordem econômica (CRFB, art. 170, caput) e da ordem social (CRFB, art. 193), protege, ao lado da defesa do meio ambiente, o valor social do trabalho, fundamento do Estado de Direito efetivamente democrático (art. 1º, IV, da CRFB), e os objetivos republicanos de “construir uma sociedade livre, justa e solidária” e “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (Art. 3º, I e III). 3. Deve-se compreender o projeto de assentamento não como empreendimento em si potencialmente poluidor. Reserva-se às atividades a serem desenvolvidas pelos assentados a consideração acerca do potencial risco ambiental. Caberá aos órgãos de fiscalização e ao Ministério Público concretamente fiscalizar eventual vulneração do meio ambiente, que não estará na norma abstrata, mas na sua aplicação, cabendo o recurso a outras vias de impugnação. Precedentes. 4. É assim que a resolução questionada não denota retrocesso inconstitucional, nem vulnera os princípios da prevenção e da precaução ou o princípio da proteção deficiente. 5. Ação direta julgada improcedente.
ARE 1268103 AgR Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. LUIZ FUX (Presidente) Julgamento: 13/10/2020 Publicação: 05/11/2020 Ementa
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO AMBIENTAL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. EDIFICAÇÃO IRREGULAR. DEMOLIÇÃO. INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA. CUMULAÇÃO. LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA. FATOS E PROVAS. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. Não se presta o recurso extraordinário para a análise de matéria infraconstitucional, tampouco para o reexame dos fatos e das provas constantes dos autos (Súmula 279/STF). 2. Agravo interno não provido, com imposição de multa de 5% (cinco por cento) do valor atualizado da causa (artigo 1.021, § 4º, do CPC). 3. Honorários advocatícios majorados ao máximo legal em desfavor da parte recorrente, caso as instâncias de origem os tenham fixado, nos termos do artigo 85, § 11, do Código de Processo Civil, observados os limites dos §§ 2º e 3º e a eventual concessão de justiça gratuita.
ARE 1268974 AgR
Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI (Presidente) Julgamento: 08/09/2020 Publicação: 21/10/2020 Ementa
EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Direito Administrativo e Ambiental. IBAMA. Auto de infração. Multa. Reserva legal. Legislação infraconstitucional. Ofensa reflexa. Fatos e provas. Reexame. Impossibilidade. Precedentes. 1. Não se presta o recurso extraordinário para a análise da legislação infraconstitucional, tampouco para o reexame dos fatos e das provas constantes dos autos (Súmula nº 279/STF). 2. Agravo regimental não provido, com imposição de multa de 1% (um por cento) do valor atualizado da causa (art. 1.021, § 4º, do CPC). 3. Havendo prévia fixação de honorários advocatícios pelas instâncias de origem, seu valor monetário será majorado em 10% (dez por cento) em desfavor da parte recorrente, nos termos do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil, observados os limites dos §§ 2º e 3º do referido artigo e a eventual concessão de justiça gratuita.
ARE 1270509 AgR Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI (Presidente) Julgamento: 24/08/2020 Publicação: 17/09/2020 Ementa
EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Direito Civil. Responsabilidade civil. Poluição ambiental. Danos morais. Legislação infraconstitucional. Ofensa reflexa. Fatos e provas. Reexame. Impossibilidade. Precedentes. 1. Não se presta o recurso extraordinário para a análise de matéria infraconstitucional, tampouco para o reexame dos fatos e das provas constantes dos autos (Súmula nº 279/STF). 2. Agravo regimental não provido, com imposição de multa de 1% (um por cento) do valor atualizado da causa (art. 1.021, § 4º, do CPC). 3. Havendo prévia fixação de honorários advocatícios pelas instâncias de origem, seu valor monetário será majorado em 10% (dez por cento) em desfavor da parte recorrente, nos termos do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil, observados os limites dos §§ 2º e 3º do referido artigo e a eventual concessão de justiça gratuita.
ARE 1279858 AgR Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. LUIZ FUX (Presidente) Julgamento: 13/10/2020 Publicação: 06/11/2020
Ementa
AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO POPULAR. EXTRAORDINÁRIO CONTRA CONCESSÃO OU INDEFERIMENTO DE TUTELA ANTECIPADA OU MEDIDA LMINAR. SÚMULA 735/STF. PRECEDENTES. 1. Segundo o pacífico entendimento do Supremo Tribunal Federal, não cabe recurso extraordinário contra acórdão em que se concede ou se indefere medida liminar ou antecipação de tutela. Incidência da Súmula nº 735/STF. 2. Agravo interno não provido, com imposição de multa de 5% (cinco por cento) do valor atualizado da causa (artigo 1.021, § 4º, do CPC), caso seja unânime a votação. 3. Havendo prévia fixação de honorários advocatícios pelas instâncias de origem, seu valor monetário será majorado no máximo legal em desfavor da parte recorrente, nos termos do artigo 85, § 11, do Código de Processo Civil, observados os limites dos §§ 2º e 3º do referido artigo e a eventual concessão de justiça gratuita.
RE 1253505 AgR Órgão julgador: Segunda Turma Relator(a): Min. EDSON FACHIN Julgamento: 22/09/2020 Publicação: 28/09/2020 Ementa
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INTERPOSIÇÃO EM 22.06.2020. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL NÃO CONFIGURADO. RECURSOS MINERAIS. REPARAÇÃO. VALIDADE DE GUIA DE UTILIZAÇÃO. PRAZO DE RENOVAÇÃO. REQUISITOS LEGAIS. PORTARIA DGDNPM 144/2007. CÓDIGO DE MINERAÇÃO. ALEGADA AFRONTA AO ART. 176, § 1º, DA CF. NECESSIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS E DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DO STF. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O Tribunal de origem, ao apreciar a matéria à luz das normas infraconstitucionais pertinentes ao caso (Portaria DGDNPM 144/2007 e Código de Mineração), entendeu que a inobservância do prazo implicaria somente nas sanções de advertência, multa ou caducidade do título minerário, mas não em ressarcimento, de modo que a ofensa à Constituição, se existente, seria reflexa e indireta, o que inviabiliza o processamento do recurso extraordinário. 2. Eventual divergência em relação ao entendimento adotado pelo Colegiado a quo, que se fundamentou na ausência de configuração de exploração clandestina e de dano ambiental, por considerar que o ato foi lavrado pela União e que o atraso no requerimento da renovação da guia de autorização se trata de mera irregularidade, demandaria o exame das provas dos autos, o que inviabiliza o processamento do apelo extremo, tendo em vista a vedação contida na Súmula 279 do STF. 3. Agravo regimental a que se nega provimento, com previsão de aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC. Inaplicável o artigo 85, § 11, CPC, por se tratar de recurso oriundo de ação civil pública.
HC 189161 AgR Órgão julgador: Primeira Turma Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO Julgamento: 22/09/2020 Publicação: 05/10/2020 Ementa
Processual penal. Agravo regimental em habeas corpus. Crime ambiental. Trancamento da ação penal. Jurisprudência do STF. 1. O trancamento da ação penal só é possível quando estiverem comprovadas, de plano, a atipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a evidente ausência de justa causa. Precedentes. 2. O habeas corpus somente deverá ser concedido em caso de réu preso ou na iminência de sê-lo, presentes as seguintes condições: (i) violação à jurisprudência consolidada do STF; (ii) ofensa clara à Constituição; ou (iii) teratologia na decisão impugnada, caracterizadora de absurdo jurídico. 3. Hipótese em que não estão configurados os requisitos necessários ao reconhecimento da irrelevância material da conduta, a impossibilitar a aplicação do princípio da insignificância. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
RE 1281402 AgR Órgão julgador: Segunda Turma Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI Julgamento: 04/11/2020 Publicação: 09/11/2020 Ementa
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. MULTA AMBIENTAL. INEXIGIBILIDADE. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. CONTROVÉRSIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE OFENSA DIRETA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ARTIGO 1.033 DO CPC. INAPLICABILIDADE. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – Conforme a Súmula 279/STF, é inviável, em recurso extraordinário, o reexame do conjunto fático-probatório constante dos autos. II – É inadmissível o recurso extraordinário quando sua análise implica a revisão da interpretação de normas infraconstitucionais que fundamentam o acórdão recorrido, dado que apenas ofensa direta à Constituição Federal enseja a interposição do apelo extremo. III – Inaplicabilidade do art. 1.033 do CPC, visto que o entendimento de que a ofensa à Constituição seria reflexa não foi o único fundamento para se negar seguimento ao RE. IV – Agravo regimental a que se nega provimento.
ADPF 513
Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. ROSA WEBER Julgamento: 28/09/2020 Publicação: 06/10/2020 Ementa
EMENTA ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. LIMINAR DEFERIDA EM PARTE. REFERENDO. COMPANHIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO MARANHÃO - CAEMA. ENTIDADE ESTATAL PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO EM CARÁTER DE EXCLUSIVIDADE. SANEAMENTO BÁSICO. ART. 23, IX, DA CF. ATIVIDADE ESTATAL TÍPICA. EXECUÇÃO. REGIME DE PRECATÓRIOS. ARTS. 100 E 173 DA CF. CONVERSÃO DO REFERENDO À LIMINAR EM JULGAMENTO DE MÉRITO. PRECEDENTES. PROCEDÊNCIA. 1. É firme a jurisprudência desta Suprema Corte no sentido de que somente as empresas públicas que exploram atividade econômica em sentido estrito estão sujeitas ao regime jurídico próprio das empresas privadas, nos moldes do art. 173, § 1º, II, da Lei Maior. Precedentes. 2. Embora constituída sob a forma de sociedade de economia mista, a CAEMA desempenha atividade de Estado, em regime de exclusividade, sendo dependente do repasse de recursos públicos. Por não explorar atividade econômica em sentido estrito, sujeita-se, a cobrança dos débitos por ela devidos em virtude de condenação judicial, ao regime de precatórios (art. 100 da Constituição da República). 3. A interferência indevida do Poder Judiciário na administração do orçamento e na definição das prioridades na execução de políticas públicas traduz afronta aos arts. 2º, 84, II, 167, VI e X, da CF. Precedentes. 4. Conversão do referendo à liminar em julgamento definitivo de mérito. 5. Arguição de descumprimento de preceito fundamental julgada procedente.
RE 1070796 ED-AgR Órgão julgador: Primeira Turma Relator(a): Min. ROSA WEBER Julgamento: 20/10/2020 Publicação: 19/11/2020 Ementa
EMENTA DIREITO CONSTITUCIONAL E AMBIENTAL. MUNICÍPIO. COMPETÊNCIA CONCORRENTE. INTERESSE LOCAL. ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTS. 5º, CAPUT, XXXVI E LIV, 23, VI E VII, 24, VI, 30, I E II, 93, IX, E 170 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. FUNDAMENTO INATACADO. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 283/STF. PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. USO DE HERBICIDA. COMPETÊNCIA MUNICIPAL. RE 586.224/SP-RG – TEMA Nº 145. CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRIDA COM A JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. O entendimento assinalado na decisão agravada não diverge da jurisprudência firmada no Supremo Tribunal Federal. 2. A jurisprudência desta Suprema Corte não admite recurso extraordinário contra acórdão que contém fundamento infraconstitucional suficiente e esse se torna imodificável. Aplicação da Súmula nº 283/STF: “É inadmissível o recurso
extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles”. Precedentes. 3. As razões do agravo não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, principalmente no que se refere à ausência de ofensa a preceito da Constituição da República. 4. Agravo interno conhecido e não provido.
HC 186849 AgR Órgão julgador: Primeira Turma Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO Julgamento: 24/08/2020 Publicação: 01/09/2020 Ementa
PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL. ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA DENÚNCIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. JURISPRUDÊNCIA DO STF. 1. O trancamento da ação penal, por meio do habeas corpus, só é possível quando estiverem comprovadas, de plano, a atipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a evidente ausência de justa causa. Precedentes. 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que, em se tratando de crimes praticados por mais de um agente, não se pode confundir a denúncia genérica com a denúncia geral, sendo certa a impossibilidade de, nesse momento processual, se exigir do órgão acusador o esgotamento das minúcias dos fatos incriminadores postos sob investigação (HC 178.837, Rel. Min. Luiz Fux). E mais: nos crimes societários é prescindível a descrição minuciosa e detalhada das condutas de cada autor, bastando a descrição do fato típico, das circunstâncias comuns, os motivos do crime e indícios suficientes da autoria ainda que sucintamente, a fim de garantir o direito à ampla defesa e contraditório (HC 136.822, Rel. Min. Luiz Fux). 3. Hipótese em que inexiste risco de prejuízo irreparável aos acionantes, que bem poderão articular toda a matéria de defesa no momento processual oportuno, nas instâncias próprias. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
HC 187416 AgR Órgão julgador: Primeira Turma Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento: 24/08/2020 Publicação: 08/09/2020 Ementa
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIMES PREVISTOS NOS ARTIGOS 50, I, DA LEI 6.766/1979 E 38-A DA LEI DE CRIMES AMBIENTAIS. SUPOSTO DEVER DE PUBLICAÇÃO DA PAUTA DE JULGAMENTO DE INCIDENTE EM RECURSO DE COMPETÊNCIA DA CORTE A QUO. ALEGADA NULIDADE PROCESSUAL.
INVIABILIDADE DO WRIT PARA O EXAME DE QUESTÕES ALHEIAS AO DIREITO DE LOCOMOÇÃO. INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DO “PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF”. REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INADMISSIBILIDADE NA VIA ELEITA. IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DO HABEAS CORPUS COMO SUCEDÂNEO DE RECURSO OU REVISÃO CRIMINAL. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. O reconhecimento das nulidades alegadas pressupõe a comprovação do prejuízo, nos termos do artigo 563 do Código de Processo Penal, sendo descabida a sua presunção, no afã e se evitar um excessivo formalismo em prejuízo da adequada prestação jurisdicional, tampouco pode a defesa valer-se de suposto prejuízo a que deu causa nos termos do artigo 565 do Código do Processo Penal. 2. O Relator guarda poderes para, monocraticamente, negar seguimento a pedido ou recurso manifestamente inadmissível, improcedente ou contrário a jurisprudência dominante ou a súmula do Tribunal, sendo certa a ausência de violação ao princípio da colegialidade quando do exercício dessa faculdade (art. 21, § 1º, RISTF). 3. In casu, i) a paciente foi denunciada pela prática dos crimes previstos nos artigos 50, inciso I, da Lei 6.766/1979 e art. 38-A da Lei de Crimes Ambientais; e ii) o Tribunal a quo consignou que a “apresentação em mesa do Agravo Regimental em tela foi anunciada no sistema externo desde o dia 13.05 (quarta-feira). O julgamento está ocorrendo no dia 19.05 (terça-feira). Logo, as partes tiveram bastante tempo para preparar memoriais e fazer seu envio aos Membros do Órgão Julgador. Na verdade, a parte recorrente confunde julgamento virtual com julgamento presencial por videoconferência”. 4. O objeto da tutela em habeas corpus é a liberdade de locomoção quando ameaçada por ilegalidade ou abuso de poder (CF, artigo 5º, LXVIII), não cabendo sua utilização para examinar a forma de realização de ato processual no qual a defesa se fez presente, máxime diante da ausência de prejuízo. 5. O habeas corpus não pode ser manejado como sucedâneo de recurso revisão criminal. 6. O writ é inadequado para a valoração e exame minucioso
ARE 1278950 ED-AgR Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. LUIZ FUX (Presidente) Julgamento: 13/10/2020 Publicação: 06/11/2020 Ementa
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITOS AMBIENTAL E ADMINISTRATIVO. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. DEMOLIÇÃO DE EDIFICAÇÃO IRREGULAR. BEM IMÓVEL UTILIZADO PARA RECREIO. ARTIGO 93, INCISO IX, DA CONSTITUIÇÃO. VIOLAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO, DA AMPLA DEFESA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA. FATOS E PROVAS. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. O artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal não determina que o órgão judicante se manifeste sobre todos os argumentos apresentados pelas partes, mas sim que ele explicite as razões que entendeu suficientes à formação de seu convencimento. Ao reconhecer a repercussão geral do tema, o Plenário do Supremo Tribunal Federal reafirmou essa orientação (AI 791.292-RG-QO, Rel. Min.
Gilmar Mendes, DJe de 13/8/2010). 2. Ausência de repercussão geral do tema relativo à suposta violação dos princípios do contraditório, da ampla defesa, dos limites da coisa julgada e do devido processo legal (ARE 748.371-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tema 660, DJe de 1º/8/2013). 3. Não se presta o recurso extraordinário para a análise de matéria infraconstitucional, tampouco para o reexame dos fatos e das provas constantes dos autos (Súmula 279/STF). 4. Agravo regimental não provido, com imposição de multa de 5% (cinco por cento) do valor atualizado da causa (artigo 1.021, § 4º, do CPC), caso seja unânime a votação. 5. Havendo prévia fixação de honorários advocatícios pelas instâncias de origem, seu valor monetário será majorado no máximo legal em desfavor da parte recorrente, nos termos do artigo 85, § 11, do Código de Processo Civil, observados os limites dos §§ 2º e 3º do referido artigo e a eventual concessão de justiça gratuita.
ADPF 656 MC Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI Julgamento: 22/06/2020 Publicação: 31/08/2020 Ementa
AÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. MEDIDA CAUTELAR. DIREITO AMBIENTAL. DIREITO À SAÚDE. PORTARIA 43/2020 DA SECRETARIA DE DEFESA AGROPECUÁRIA DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO – MAPA. REGULAMENTAÇÃO DA LEI 13.874/2019, A QUAL DISPÕE SOBRE LIBERDADE ECONÔMICA. PRAZOS PARA APROVAÇÃO TÁCITA DE USO DE AGROTÓXICOS, FERTILIZANTES E OUTROS QUÍMICOS. CONHECIMENTO. ENTRADA, REGISTRO E LIBERAÇÃO DE NOVOS AGROTÓXICOS NO BRASIL, SEM EXAME DA POSSÍVEL NOCIVIDADE DOS PRODUTOS. INADMISSIBILIDADE. AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DA PRECAUÇÃO E DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIOAMBIENTAL. OFENSA, ADEMAIS, AO DIREITO À SAÚDE. PRESENTES O FUMUS BONI IURIS E O PERICULUM IN MORA. CAUTELAR DEFERIDA. I - O ato impugnado consiste em portaria assinada pelo Secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, que estabelece prazos para aprovação tácita de utilização de agrotóxicos, independentemente da conclusão de estudos técnicos relacionados aos efeitos nocivos ao meio ambiente ou as consequências à saúde da população brasileira. II – Trata-se de portaria, destinada ao público em geral com função similar a um decreto regulamentar, o qual, à pretexto de interpretar o texto legal, acaba por extrapolar o estreito espaço normativo reservado pela Constituição às autoridades administrativas. III – Exame de atos semelhantes que vêm sendo realizados rotineiramente por esta Corte, a exemplo da ADPF 489, também proposta pela Rede Sustentabilidade contra a Portaria do Ministério do Trabalho 1.129/2017, a qual redefiniu os conceitos de trabalho forçado, jornada exaustiva e condições análogas às de escravos. IV - A portaria ministerial que, sob a justificativa de regulamentar a atuação estatal acerca do exercício de atividade econômica relacionada a agrotóxicos, para imprimir diretriz governamental voltada a
incrementar a liberdade econômica, fere direitos fundamentais consagrados e densificados, há muito tempo, concernentes à Saúde Ambiental. V- Cuida-se de “um campo da Saúde Pública afeita ao conhecimento científico e à formulação de políticas públicas relacionadas à interação entre a saúde humana e os fatores do meio ambiente natural e antrópico que a determinam, condicionam e influenciam, visando à melhoria da qualidade de vida do ser humano, sob o ponto de vista da sustentabilidade”
ARE 1279292 ED-AgR Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. LUIZ FUX (Presidente) Julgamento: 22/09/2020 Publicação: 09/11/2020 Ementa
Agravo regimental nos embargos de declaração no recurso extraordinário com agravo. Embargos de declaração opostos contra decisão monocrática. Intempestividade. Precedentes. 1. A parte agravante não observou o prazo de 5 (cinco) dias úteis para a oposição dos embargos de declaração (art. 1.023 c/c o art. 219, ambos do CPC). 2. Agravo regimental não provido, com imposição de multa de 1% (um por cento) do valor atualizado da causa (art. 1.021, § 4º, do CPC). 3. Havendo prévia fixação de honorários advocatícios pelas instâncias de origem, seu valor monetário será majorado em 10% (dez por cento) em desfavor da parte recorrente, nos termos do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil, observados os limites dos §§ 2º e 3º do referido artigo e a eventual concessão de justiça gratuita.
Rcl 40275 AgR Órgão julgador: Primeira Turma Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO Julgamento: 22/09/2020 Publicação: 30/09/2020 Ementa
DIREITO CIVIL. AGRAVO INTERNO EM RECLAMAÇÃO. AUSÊNCIA DE ADERÊNCIA ESTRITA ENTRE O ATO RECLAMADO E A DECISÃO PARADIGMA. ADPF 513-MC. 1. O ato impugnado não contraria a decisão proferida em medida cautelar na ADPF 513, Relª. Minª. Rosa Weber, em razão da inexistência de estrita aderência. 2. Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015.
ARE 1136197 AgR
Órgão julgador: Segunda Turma Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 31/08/2020 Publicação: 04/09/2020 Ementa
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO – ALEGADA VIOLAÇÃO A PRECEITOS INSCRITOS NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO EXPLÍCITO DA MATÉRIA CONSTITUCIONAL – SUCUMBÊNCIA RECURSAL (CPC, ART. 85, § 11) – NÃO DECRETAÇÃO, NO CASO, ANTE A AUSÊNCIA DE CONDENAÇÃO EM VERBA HONORÁRIA NA ORIGEM – AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.
AR 2311 Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO Julgamento: 16/09/2020 Publicação: 05/10/2020 Ementa
AÇÃO RESCISÓRIA – VIOLÊNCIA A LEI – VERBETE Nº 343 DA SÚMULA DO SUPREMO. O verbete nº 343 da Súmula do Supremo deve ser observado em situação jurídica na qual, inexistente controle concentrado de constitucionalidade, o Tribunal tenha sinalizado óptica coincidente com a revelada na decisão rescindenda.
MS 30952 AgR-terceiro-ED Órgão julgador: Primeira Turma Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI Julgamento: 20/10/2020 Publicação: 19/11/2020 Ementa
Embargos de declaração no terceiro agravo regimental em mandado de segurança. Omissão do acórdão quanto à determinação de remessa dos autos à Corte competente. Embargos declaratórios acolhidos. 1. Padecendo o acórdão embargado de omissão, justifica-se o acolhimento dos embargos de declaração, nos termos do art. 1.022 do Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/15). 2. Não constou do aludido acórdão determinação para que os autos fossem remetidos à Corte competente, mesmo depois de reconhecida a incompetência do STF para a apreciação do mandamus. 3. Embargos de declaração acolhidos, para se sanar tal omissão e se determinar a remessa dos autos ao STJ.
ADPF 496 Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO Julgamento: 22/06/2020 Publicação: 24/09/2020 Ementa
DIREITO CONSTITUCIONAL E PENAL. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. CRIME DE DESACATO. ART. 331 DO CP. CONFORMIDADE COM A CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988. 1. Trata-se de arguição de descumprimento de preceito fundamental em que se questiona a conformidade com a Convenção Americana de Direitos Humanos, bem como a recepção pela Constituição de 1988, do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato. 2. De acordo com a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos e do Supremo Tribunal Federal, a liberdade de expressão não é um direito absoluto e, em casos de grave abuso, faz-se legítima a utilização do direito penal para a proteção de outros interesses e direitos relevantes. 3. A diversidade de regime jurídico – inclusive penal – existente entre agentes públicos e particulares é uma via de mão dupla: as consequências previstas para as condutas típicas são diversas não somente quando os agentes públicos são autores dos delitos, mas, de igual modo, quando deles são vítimas. 4. A criminalização do desacato não configura tratamento privilegiado ao agente estatal, mas proteção da função pública por ele exercida. 5. Dado que os agentes públicos em geral estão mais expostos ao escrutínio e à crítica dos cidadãos, deles se exige maior tolerância à reprovação e à insatisfação, limitando-se o crime de desacato a casos graves e evidentes de menosprezo à função pública. 6. Arguição de descumprimento de preceito fundamental julgada improcedente. Fixação da seguinte tese: “Foi recepcionada pela Constituição de 1988 a norma do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato”.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRAS CORRETIVAS.
RODOVIA ESTADUAL. LICENÇA AMBIENTAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO
RECURSAL. APLICAÇÃO DA SÚMULA N. 284 DO STF. ESTUDO DO IMPACTO
AMBIENTAL. NECESSIDADE. FUNDAMENTO NÃO ATACADO. INCIDÊNCIA DAS
SÚMULAS N. 283 E 284, AMBAS DO STF.I - Na origem, trata-se de ação civil pública
ajuizada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais contra o Estado de Minas
Gerais e o Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem do mesmo ente
federativo (DEER-MG) objetivando o cumprimento da formalização de licenciamento
ambiental e apresentação de estudo de impacto ambiental para a operação corretiva na
Rodovia MG 801.II - Na sentença, julgou-se procedente o pedido. No Tribunal a quo, a
sentença foi parcialmente reformada para julgar parcialmente procedente o pedido,
apenas para determinar a realização do EIA na regularização da Rodovia MG-801, no
prazo estabelecido na Resolução n. 1.875/2013, bem como no Termo de Compromisso
assumido pelo DER/MG. Nesta Corte, conheceu-se do agravo para conhecer
parcialmente de seu recurso especial, negando-lhe provimento.III - O recorrente
sustenta violação de dispositivos do CPC/2015 relativamente à suposta omissão
perpetrada pelo Tribunal de origem, a despeito da oposição dos embargos de
declaração.IV - O recurso não cabe prosperar nesse ponto. Isso, porque não se
vislumbram as apontadas omissões, tendo o julgador dirimido a controvérsia tal qual
abordado pelas partes, em decisão devidamente fundamentada, não estando o julgador
obrigado a responder a questionamentos.V - Ao julgar os declaratórios, o Tribunal
discorreu sobre a questão relativa à pista e faixa de rolamentos, assim como sobre o
fato de que a Resolução n. 1/1986 se aplicaria à hipótese, em razão do término das obras
da rodovia ser datado de 2006.VI - O afastamento da suposta violação dos apontados
dispositivos do CPC/2015, pelo simples fato de o magistrado ter decidido de forma
contrária à pretensão das partes, nos termos da pacífica jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça: (AgInt no REsp n.1.809.945/SC, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia
filho, Primeira Turma, julgado em 20/4/2020, DJe 23/4/2020 e AgInt no AREsp
n.1.589.316/RJ, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
30/3/2020, DJe 2/4/2020).VII - O segundo tópico do inconformismo recursal está
centrado na alegação de ocorrência de prescrição, que foi assim afastada pelo decisum:
"Conforme decisão prolatada em sede de Agravo de Instrumento n° 1.0514.13.002992-
9/001, a N.pretensão ministerial se direciona.à licença de operação ambiental corretiva,
de modo a impedir a perpetuação de supostos danos advindos da implantação da
rodovia (MG 810), trata-se de combate a fato renovado no tempo, inviável, assim,
reconhecer-se a prescrição. Além, reconhece-se em jurisprudência que as ações que
veiculam reparação de dano ambiental são imprescritíveis." VIII - O recorrente não
consegue demonstrar a apontada violação de Lei Federal relativa à prescrição,
considerando a excepcionalidade do caso abordado em temática ambiental, o que
enseja a incidência do Óbice Sumular n. 284/STF.IX - O entendimento perfilhado pelo
acórdão recorrido não diverge da jurisprudência desta Corte, lembrando, ainda, que, em
recente entendimento, o STF decidiu não haver prazo para pedidos indenizatórios
decorrentes de danos ambientais - Tema n. 999 - RE n. 654.833/AC.X - As duas últimas
alegações recursais estão centradas na afirmação de ser incabível a exigência do
EIA/RIMA, pelo fato de ela não existir no momento da construção da rodovia.
XI - Sobre o assunto, o Tribunal a quo considerou que, ainda que existente antes da
década de 60, a respectiva rodovia somente teve sua pavimentação iniciada em 2004,
findada em 2006, quando já vigente o ato normativo que exigia o referido estudo -
Resolução n.1/86 do Conama.XII - Verifica-se que o reexame do acórdão recorrido, em
confronto com as razões do recurso especial, revela que o citado fundamento, utilizado
de forma suficiente para manter a decisão proferida no Tribunal a quo, não foi rebatido
no apelo nobre, o que atrai os óbices das Súmulas n. 283 e 284, ambas do STF. XIII -
Ainda que se pudesse ultrapassar tal óbice, eventual debate sobre a matéria esbarraria
na vedação da Súmula n. 7/STJ, sendo necessário o revolvimento das questões fático-
probatórias que envolvem as características da construção da respectiva rodovia, o que
é de todo descabido no recurso especial.XIV - Os óbices aqui invocados, para a análise
dos inconformismos, também impedem o seguimento do recurso com base em
divergência jurisprudencial.XV - Agravo interno improvido. (AgInt no REsp
1674928/MG, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado em
16/11/2020, DJe 18/11/2020)
CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. ALEGAÇÃO DE LITISPENDÊNCIA ENTRE DUAS
AÇÕES PENAIS QUE TRAMITAM CONCOMITANTEMENTE NA JUSTIÇA FEDERAL E
ESTADUAL. INCIDENTE CONHECIDO. ART. 114, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL CPP. DANOS AMBIENTAIS QUE ATINGEM INTERESSE DA UNIÃO. DECLARAÇÃO
DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA JULGAMENTO DOS FATOS CRIMINOSOS
COM EXTINÇÃO DA COMPETÊNCIA DA AÇÃO NA ESFERA ESTADUAL.1. Conflito positivo
de competência suscitado por empresa e seu representante legal no qual se alega a
existência de ação penal em trâmite na Vara Única Federal de Ilhéus e ação penal
ajuizada na Justiça Estadual perante a 1ª Vara Criminal de Ilhéus possuem idêntico teor
configurando litispendência.2. Nos termos do artigo 114, inciso I do Código de Processo
Penal dá-se conflito de competência, quando duas ou mais autoridades judiciárias se
considerarem competentes, ou incompetentes, para conhecer do mesmo fato
criminoso. Conflito de competência positivo conhecido porquanto, após cotejamento
das denúncias oferecidas pelo Ministério Federal e Estadual resta clara a descrição da
mesma conduta delituosa em tese praticada pelos réus.3. As duas denúncias, uma
oferecida pelo Parquet Estadual e outra pelo Parquet Federal, afirmam que "empresa ré
e seu sócio-administrador, com objetivo de implantar o empreendimento imobiliário
denominado "Reserva Morro de São Paulo", foram responsáveis pela destruição de 1,75
ha (hectares) de floresta do Bioma Mata Atlântica, em estágio médio e avançado de
regeneração, na Fazenda Santo António das Rosas, causando dano direto à unidade de
conservação Área de Proteção Ambiental (APA) das Ilhas de Tinharé e Boipeba, em
Cairu/BA. Conforme iniciais acusatórias oferecidas tanto na Justiça Estadual quanto na
Justiça Federal, a supressão ilegal de vegetação foi possível em razão de licença
ambiental expedida por corré na qualidade de Secretária Municipal de Desenvolvimento
Sustentável, que se baseou em parecer técnico-ambiental oferecido por outra corré,
com informações inverídicas sobre fatos relevantes acerca da caracterização ambiental
da área".4. No incidente em análise resta claro que ambos os Juízos se consideram
competentes para o julgamento dos mesmos fatos criminosos, uma vez que o Juízo
Estadual deflagrou a ação penal com o recebimento da denúncia e que o Tribunal
Regional Federal da Primeira Região determinou o prosseguimento do feito na esfera
federal ao prover recurso em sentido estrito interposto pelo Parquet Federal.5. No
acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da Primeira Região em sede de recurso
em sentido, a competência da Justiça Federal foi reconhecida com fulcro em dois
fundamentos: o envolvimento de Terreno da Marinha e o reconhecimento de que o
dano ambiental atingiu interesse da União.5. No presente os suscitante aduzem que a
área descrita na denúncia é particular, invocando julgado proferido em ação
reivindicatória na seara cível, todavia, não merece reparos o fundamento apresentado
pela pelo Tribunal Regional Federal da Primeira Região no julgamento do recurso em
sentido estrito no sentido de que "o parâmetro para a delimitação da competência
jurisdicional, no caso de domínio de área onde ocorre o dano ao meio ambiente, não é
a natureza da propriedade, e, sim, saber se os danos ambientais atingiram área de
interesse da União".6. Conflito conhecido para reconhecer a competência da Vara Única
Federal de Ilhéus para julgar denúncia oferecida na Ação Penal n° 0501342-
73.2019.8.05.0271, na qual são descritos crimes ambientais supostamente praticados
na Fazenda Santo Antônio das Rosas, situada na cidade de Cairu/BA, quando
implementado empreendimento Reserva Morro de São Paulo, devendo ser extinta Ação
Penal n° 0501342-73.2019.8.05.0271 ajuizada na Justiça Estadual perante a 1ª Vara
Criminal de Ilhéus por tratar dos mesmos fatos criminosos.(CC 168.073/BA, Rel.
Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/10/2020, REPDJe
12/11/2020, DJe 03/11/2020)
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL.NEGATIVA
DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. EXTRAÇÃO DE RECURSOS
MINERAIS. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO E LICENÇAS AMBIENTAIS IMPERIOSAS.
REPARAÇÃO INTEGRAL DO DANO AMBIENTAL. MEDIDAS PARA RECUPERAÇÃO E
COMPENSAÇÃO PELO PERÍODO EM QUE FORAM DESRESPEITADAS AS NORMAS
AMBIENTAIS. CABÍVEL A CUMULAÇÃO DAS CONDENAÇÕES IN CASU.PRECEDENTES.I -
Na origem, trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal contra
o Município de Santiago/RS, com o objetivo de recuperar a área degradada, situada na
faixa de domínio da BR 287 - km 362, em razão da extração de recursos minerais sem a
autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM e obtenção dos
licenciamentos ambientais necessários para tanto, bem como indenização pelos danos
morais coletivos, danos interinos e residuais ocasionados.II - A sentença acolheu
parcialmente os pedidos, condenando a municipalidade a recuperar a área degradada,
bem como a indenizar os danos interinos (intermediários) e os danos residuais
(permanentes), cujos valores devem ser apurados em futura liquidação de sentença.III -
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região deu provimento à apelação interposta para
afastar a condenação pecuniária imposta pelo juízo monocrático.IV - A alegação de
violação do art. 489, § 1º, II e IV, do CPC/2015, não procede, uma vez que o Tribunal a
quo decidiu a matéria de forma fundamentada, analisando todas as questões que
entendeu necessárias para a solução da lide, não obstante tenha decidido
contrariamente à sua pretensão. Precedentes.V - Em relação às apontadas afrontas a
dispositivos da Lei n.7.347/1985 e Lei n. 6.938/1981, constata-se que o Tribunal a quo,
apesar de consignar a insuficiência dos PRAD apresentados, bem como a comprovação
da atividade degradante e desídia da municipalidade com o meio ambiente, entendeu
pela improcedência do pedido indenizatório concedido na sentença, relativamente ao
dano correspondente ao prejuízo ecológico que se mantém (interino e/ou residuais).VI
- Nesse diapasão, o acórdão objurgado se encontra em dissonância com o entendimento
consolidado desta Corte quanto ao ponto, segundo o qual, a necessidade de reparação
integral da lesão causada ao meio ambiente autoriza a cumulação das condenações
supracitadas, porquanto a indenização in casu não corresponde ao dano a ser reparo,
mas aos seus efeitos remanescentes, reflexos ou transitórios.VII - Agravo conhecido
para dar provimento ao recurso especial, restabelecendo integralmente a sentença
monocrática.(AREsp 1677537/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA
TURMA, julgado em 27/10/2020, DJe 17/11/2020)
AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL. CONSTRUÇÃO IRREGULAR EM ÁREA DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE. DEGRADAÇÃO AMBIENTAL COMPROVADA. EFETIVA
REPARAÇÃO. NECESSIDADE. CONSOLIDAÇÃO DA SITUAÇÃO. DIREITO
ADQUIRIDO.INEXISTÊNCIA. TEORIA DO FATO CONSUMADO.
INAPLICABILIDADE.PRECEDENTES.I - Na origem, cuida-se de ação civil pública ajuizada
pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por dano ambiental gerado na
implantação de empreendimento imobiliário em área de preservação permanente, às
margens de curso d'água, sem a devida licença.II - O Tribunal de origem reconheceu a
responsabilidade da parte recorrida pela edificação em área de preservação
permanente sem a correspondente licença ambiental, in verbis: "a infração ambiental
se destaca desde a autuação lavrada em agosto de 1992, quando foi observada
supressão de vegetação natural (capoeira), às margens do rio Una, sem licença
ambiental (fl. 247), não sendo necessário citar outras infrações constantes nos autos.
Ademais, a prova técnica juntada aos autos é unânime em afirmar que o
empreendimento encontra-se parcialmente inserido em APP" (fl. 1.356). Apesar de tais
constatações, a instância ordinária recusou-se a condenar o réu na reparação integral
dos danos ambientais por meio da demolição das construções irregulares em área de
preservação permanente.III - Todavia, de acordo com o entendimento jurisprudencial
firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, não há direito adquirido a poluir ou degradar
o meio ambiente, não existindo permissão ao proprietário ou posseiro para a
continuidade de práticas vedadas pelo legislador.Precedentes: REsp n. 1.706.625/RN,
Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em 11/9/2018, DJe 18/9/2018;
AgInt nos EDcl no REsp n. 1.734.350/SP, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira
Turma, julgado em 16/8/2018, DJe 22/8/2018; e REsp n. 1.381.191/SP, Rel. Ministra Diva
Malerbi (Desembargadora convocada da TRF 3ª Região), Segunda Turma, julgado em
16/6/2016, DJe 30/6/2016.IV - Agravo em recurso especial conhecido para dar
provimento ao recurso especial do Ministério Público do Estado de São Paulo e incluir
no acórdão regional a condenação do recorrido à reparação integral dos danos
ambientais por meio da demolição de toda edificação na área de preservação
permanente.(AREsp 920.749/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA,
julgado em 27/10/2020, DJe 17/11/2020)
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FALHA NO SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA
ELÉTRICA. ALEGADA VIOLAÇÃO AOS ARTS. 489, § 1º, III, IV E 1.022 DO CPC/2015.
INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS, NO ACÓRDÃO RECORRIDO. INCONFORMISMO. INTERESSE
DE AGIR. ILEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA. CONTROVÉRSIA RESOLVIDA, PELO
TRIBUNAL DE ORIGEM, À LUZ DAS PROVAS DOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE DE
REVISÃO, NA VIA ESPECIAL.AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.I. Agravo interno aviado
contra decisão que julgara recurso interposto contra decisum publicado na vigência do
CPC/2015.II. Na origem, trata-se de Ação Civil Pública, ajuizada pela Associação
Brasileira de Defesa do Consumidor - PROTESTE contra o Município de São Paulo e a
Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo S/A, alegando que, em razão das
chuvas ocorridas entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015, as áreas abrangidas pela
concessão da Eletropaulo, vêm experimentando queda no fornecimento de energia
elétrica. Informou que tais áreas permanecem, durante dias e até semanas, sem o
serviço, acarretando prejuízos materiais aos cidadãos. Requer que a Prefeitura
desenvolva sistema de informatização geográfica, promova manutenção e reparo da
rede elétrica e, em caso de panes, restabeleça o serviço em prazo máximo de quatro
horas. Pugna, ainda, pela condenação da ré ao pagamento de indenização aos
consumidores, por danos materiais e morais. O Tribunal de origem reformou a sentença,
que havia julgado extinto o feito, sem resolução do mérito, determinando o retorno dos
autos à origem, para prosseguimento do feito.III. Não há falar, na hipótese, em violação
aos arts. 489, § 1º, III, IV e 1.022 do CPC/2015, porquanto a prestação jurisdicional foi
dada na medida da pretensão deduzida, de vez que os votos condutores do acórdão
recorrido e do acórdão proferido em sede de Embargos de Declaração apreciaram
fundamentadamente, de modo coerente e completo, as questões necessárias à solução
da controvérsia, dando-lhes, contudo, solução jurídica diversa da pretendida.IV. Em
relação à alegação de ilegitimidade ativa e passiva, o Tribunal de origem, com base no
exame dos elementos fáticos dos autos, consignou que "não há de se cogitar na hipótese
de ilegitimidade ativa por falta de pertinência temática. A autora, indiscutivelmente, é
uma associação ligada aos direitos dos consumidores. Como, segundo suas alegações,
estes foram atingidos pelos episódios ocorridos no período de dezembro de 2014 a
janeiro de 2015, tem legitimidade para defender seus interesses em juízo. Ao contrário
do quanto alegado pelo embargante, não se trata de discussão de matéria
exclusivamente de direito ambiental. Também alega que há ilegitimidade passiva do
Município de São Paulo, já que não mantém qualquer relação de consumo com os
clientes da Eletropaulo e não tem nenhum controle sobre a prestação de serviços
públicos que está a cargo da concessionária da União Federal. Ora, diversos pedidos são
formulados na petição inicial. No entanto, eles não são destinados,
indiscriminadamente, a ambos os réus, exceto no que diz respeito à pretensão
indenizatória. Deve ser analisado cada um dos pleitos, a fim de se perquirir quem tem
condições de cumpri-los". Tal entendimento, firmado pelo Tribunal a quo, não pode ser
revisto, pelo Superior Tribunal de Justiça, por exigir o reexame da matéria fático-
probatória dos autos. Precedentes do STJ.V. O acolhimento da pretensão recursal acerca
da alegada falta de interesse de agir demandaria a análise da matéria fático-probatória
dos autos, o que é vedado em sede de Recurso Especial. A propósito: STJ, AgInt no AREsp
988.549/BA, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, DJe de 25/04/2018; AgRg no
AREsp 638.781/CE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe de
11/09/2015.VI. Agravo interno improvido.(AgInt no AREsp 1650432/SP, Rel. Ministra
ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/10/2020, DJe 12/11/2020)
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL.EDIFICAÇÃO
IRREGULAR EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO E LICENÇAS
AMBIENTAIS IMPERIOSAS. REPARAÇÃO INTEGRAL DO DANO AMBIENTAL. MEDIDAS
PARA RECUPERAÇÃO E COMPENSAÇÃO PELO PERÍODO EM QUE FORAM
DESRESPEITADAS AS NORMAS AMBIENTAIS. CABÍVEL A CUMULAÇÃO DAS
CONDENAÇÕES IN CASU. PRECEDENTES.I - Na origem, trata-se de ação civil pública
ajuizada pelo Ministério Público Federal contra particulares objetivando que os réus se
abstenham de ocupar e explorar as áreas de várzea e de preservação permanente do
imóvel onde está situado o "rancho" descrito na exordial, bem como procedam à
recuperação das respectivas áreas e ao pagamento de indenização ao Fundo de Defesa
dos Direitos Difusos.II - O Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em grau recursal,
reformou em parte a sentença que acolheu parcialmente os pedidos e, ainda que tenha
afastado a prescrição incidente sobre o pedido indenizatório, e consignado acerca da
irregularidade da edificação inserida nos limites de área de preservação permanente,
entendeu pela improcedência do respectivo pedido, na medida em que os réus já teriam
sido condenados a outras obrigações.III - Nesse diapasão, o entendimento perfilhado
pelo acórdão objurgado se encontra em dissonância com a jurisprudência consolidada
desta Corte, segundo a qual, a necessidade de reparação integral da lesão causada ao
meio ambiente autoriza a cumulação das condenações postuladas, porquanto, além de
devido o pleito cominatório - a fim de restaurar a área degradada, a indenização in casu
não corresponde ao dano a ser reparado, mas aos seus efeitos remanescentes, reflexos
ou transitórios. Violação dos citados dispositivos da Lei n. 6.938/1981 caracterizada.IV -
Em razão do óbice da Súmula n. 7/STJ, no entanto, esta Corte não pode fixar o devido
valor indenizatório, por demandar revolvimento do conjunto fático-probatório dos
autos.V - Recurso especial provido para determinar o retorno dos autos ao Tribunal de
origem para a fixação do quantum debeatur.(REsp 1862873/SP, Rel. Ministro
FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/10/2020, DJe 22/10/2020)
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIME
AMBIENTAL. ARTIGOS 40 E 63 DA LEI N. 9.605/1998. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
PUNITIVA. CRIMES COMETIDOS ANTES DE 2010. TRANSCURSO DO LAPSO TEMPORAL
ENTRE A DATA DOS FATOS E O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.ARTIGO 48 DA LEI
AMBIENTAL. PRESCRIÇÃO RETROATIVA. OCORRÊNCIA.AGRAVO DESPROVIDO.1.
Tratando-se de crimes cometidos antes de 2010, não se aplica à espécie a atual redação
do art. 110, § 1º, do Código Penal, incluída pela Lei n. 12.234, de 5/5/2010, segundo a
qual a prescrição não pode ter como termo inicial data anterior à denúncia, tendo em
vista a proibição da retroatividade da lei penal mais gravosa.2. Se os fatos não
ultrapassaram a data de 31/12/2005 e o recebimento da denúncia ocorreu somente em
29/2/2012, verifica-se o transcurso do lapso prescricional de 4 anos previsto no art. 109,
inciso V, do Código Penal, devendo ser declarada a extinção da punibilidade do réu pela
prescrição da pretensão punitiva relativamente aos crimes dos arts. 40 e 63 da Lei
Ambiental.3. Quanto ao delito do art. 48 da Lei n. 9.605/1998, o prazo prescricional da
pretensão punitiva teve início na data do recebimento da denúncia, em 29/02/2012 e
fluiu até 1.º/10/2012, data a partir da qual passou a vigorar o benefício da suspensão
condicional do processo, perfazendo, inicialmente, o lapso de 7 meses e 2 dias. Com a
revogação do benefício, em 22/04/2013, foi retomada a fluência do prazo. A sentença
de 1.º grau reconheceu extinguiu a punibilidade diante da prescrição e, por isso, não
interrompeu o prazo prescricional. O acórdão condenatório, por sua vez, datado de
30/6/2016, fixou pena privativa de liberdade inferior a 1 ano, cujo prazo prescricional é
de 2 anos (art. 109, inciso VI, do Código Penal, na redação anterior à Lei n.º
12.234/2010).Assim, transcorrido lapso superior a 2 anos entre a data do recebimento
da denúncia, em 29/2/2012, até a prolação do acórdão condenatório, em 30/6/2016,
desconsiderado o o período de suspensão condicional do processo, resta extinta a
punibilidade do réu, também pelo delito do art. 48 da Lei de Crimes Ambientais, este
pela prescrição na modalidade retroativa.4. Agravo regimental desprovido.(AgInt no
AgRg no HC 397.833/DF, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
20/10/2020, DJe 22/10/2020)
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EM HABEAS CORPUS. PROCESSO
PENAL.TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. CRIME AMBIENTAL. APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. MATÉRIA NÃO APRECIADA NO ACÓRDÃO
COMBATIDO.SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. RECURSO EM HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO, NO PONTO. NOVOS ARGUMENTOS HÁBEIS A DESCONSTITUIR A DECISÃO
IMPUGNADA.INEXISTÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.I - Inviável adentrar
no mérito do presente recurso, pois verifica-se que o eg. T ribunal a quo não se
manifestou adequadamente, no v. aresto ora reprochado, acerca de matéria discutida
neste recurso, ficando, portanto, impedida esta Corte Superior de Justiça de proceder a
sua análise, sob pena de incorrer em indevida supressão de instância.II - Neste agravo
regimental não foram apresentados argumentos novos capazes de alterar o
entendimento anteriormente firmado, devendo ser mantida a decisão impugnada por
seus próprios fundamentos.Agravo regimental desprovido.(AgRg no RHC 132.602/PR,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 20/10/2020, DJe
26/10/2020)
TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO
ESPECIAL.EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO
AMBIENTAL. FALÊNCIA. JULGAMENTO EXTRA PETITA. NÃO
OCORRÊNCIA.INTERPRETAÇÃO LÓGICO-SISTEMÁTICA DA CAUSA DE PEDIR E
PEDIDO.MODIFICAÇÃO DA CONCLUSÃO DO TRIBUNAL A QUO. REEXAME DO
CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7 DO STJ.1. O Superior
Tribunal de Justiça firmou a orientação de que, "nas hipóteses em que a decretação da
quebra ocorrera sob a vigência da Lei 11.101/05, mas o pedido de falência foi feito sob
a égide do Decreto-lei 7.661/45, de acordo com o art. 194, § 4º da nova lei, até a
decretação da falência, deverão ser aplicadas as disposições da lei anterior" (REsp
1.063.081/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 20/10/2011).2. O Ibama
alega que a instância ordinária incorreu em julgamento extra petita em relação à multa
moratória, já que a parte adversa requereu somente a correta classificação da multa
moratória fiscal como crédito subquirografário.3. A instância ordinária proclamou o
entendimento de que a aplicação correta do diploma legal ao presente caso não significa
julgar de maneira extra ou ultra petita, senão dar aos fatos o direito apropriado, com
fundamento na máxima da mihi factum, dabo tibi jus. A conclusão da Corte de origem
está em harmonia com a orientação do Superior Tribunal de Justiça segundo a qual "não
há julgamento extra petita quando o julgador, atendo-se aos fatos narrados (causa de
pedir próxima) empresta-lhes qualificação jurídica não indicada expressamente pela
parte (causa de pedir remota). Vige, nesses casos, a máxima segundo a qual o juiz,
conhecendo a causa, deve aplicar o direito à espécie, consagrada na Súmula nº 456 do
STF, no art. 257 do RISTJ e também nos brocardos iura novit curia e da mihi factum dabo
tibi jus" (AgInt no REsp 1.364.494/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Terceira Turma, DJe
17/4/2017).5. Nesse contexto, para afastar o entendimento a que chegou o Colegiado
de origem, de modo a albergar as peculiaridades do caso e verificar a existência de
decisão extra petita, como sustentado nesse recurso especial, é necessário o
revolvimento do acervo fático-probatório dos autos, o que se mostra inviável em
recurso especial, por óbice da Súmula 7/STJ: "A pretensão de simples reexame de prova
não enseja recurso especial." 6. Agravo interno a que se nega provimento.(AgInt no
REsp 1473642/PR, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/10/2020, DJe 22/10/2020)
AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL. ART.14, § 1º,
DA LEI 6.938/1981. CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA. RIO MADEIRA. INVERSÃO DO
ÔNUS DA PROVA. ART. 373 DO CPC/2015. ART. 6º, VIII, DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR (LEI 8.078/1990). ART. 21 DA LEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA (LEI
7.347/1985). PROVA PERICIAL.PRINCÍPIO IN DUBIO PRO NATURA. SÚMULAS 7 E 83 DO
STJ. CRITÉRIOS DE INDENIZAÇÃO DE FLORESTAS E VEGETAÇÃO. ÁREAS DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE E RESERVA LEGAL.1. Cuida-se de inconformismo com
acórdão do Tribunal de origem que aplicou a inversão do ônus da prova no que se refere
ao dano ambiental.2. Como corolário do princípio in dubio pro natura, "justifica-se a
inversão do ônus da prova, transferindo para o empreendedor da atividade
potencialmente perigosa o ônus de demonstrar a segurança do empreendimento, a
partir da interpretação do art. 6º, VIII, da Lei 8.078/1990 c/c o art. 21 da Lei 7.347/1985,
conjugado ao Princípio Ambiental da Precaução" (REsp 972.902/RS, Rel. Min. Eliana
Calmon, Segunda Turma, DJe 14.9.2009).3. O Tribunal a quo decidiu de acordo com a
jurisprudência do STJ. A ação civil, coletiva ou individual, por dano ao meio ambiente -
irrelevante a natureza do pedido, se indenizatório, restaurador ou demolitório -
obedece a parâmetro jurídico objetivo, solidário e ilimitado, pois fundada na teoria do
risco integral. Além disso, quanto aos outros elementos da responsabilidade civil, cabível
a inversão do ônus da prova. Se transferida ao réu a incumbência probatória,
logicamente a ele cabe produzir todas as modalidades de prova admitidas, inclusive a
pericial, não como dever em favor de outrem, mas como ônus, em razão do seu próprio
interesse, já que arcará com as consequências decorrentes de sua omissão. Precedentes
do STJ.4. Aplica-se à espécie o enunciado da Súmula 83/STJ: "Não se conhece do recurso
especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido
da decisão recorrida." Ademais, o acolhimento da pretensão recursal demanda reexame
do contexto fático-probatório, especialmente das circunstâncias fáticas que levaram à
decisão impugnada, o que faz incidir o óbice da Súmula 7/STJ.5. Ressalte-se que a
inversão do ônus da prova não altera critérios de indenização de florestas e vegetação
nativa, já que, para o STJ, a) não se paga em separado pela cobertura florestal, exceto
se houver Plano de Manejo em plena execução, regularmente aprovado e atualmente
válido, de modo a embasar a exploração comercial existente, limitada a indenização ao
que conste das informações tributárias prestadas pelo expropriado; b) não é indenizável
a cobertura florística em terrenos marginais e praias fluviais (bens públicos, consoante
o art. 21, III, da Constituição Federal), áreas non aedificandi ou com proibição de
desmatamento ou uso econômico direto (p. ex., Áreas de Preservação Permanente),
ressalvada, quanto a estas últimas, exploração econômica indireta (p. ex., ecoturismo,
apiário); c) na área da Reserva Legal, o valor da indenização não se equipara ao da terra
com uso livre e desimpedido, já que vedado o corte raso da vegetação; d) não são
indenizáveis áreas ilegalmente desmatadas; e) se transferida para o expropriante
obrigação de restauração do meio ambiente degradado, as despesas daí decorrentes
descontam-se do quantum debeatur.6. Recurso Especial conhecido parcialmente e,
nessa parte, não provido.(REsp 1818008/RO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 13/10/2020, DJe 22/10/2020)
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRAS CORRETIVAS.
RODOVIA ESTADUAL. LICENÇA AMBIENTAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO
RECURSAL. APLICAÇÃO DA SÚMULA N. 284 DO STF. ESTUDO DO IMPACTO
AMBIENTAL. NECESSIDADE. FUNDAMENTO NÃO ATACADO. INCIDÊNCIA DAS
SÚMULAS N. 283 E 284, AMBAS DO STF.I - Na origem, trata-se de ação civil pública
ajuizada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais contra o Estado de Minas
Gerais e o Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem do mesmo ente
federativo (DEER-MG) objetivando o cumprimento da formalização de licenciamento
ambiental e apresentação de estudo de impacto ambiental para a operação corretiva na
Rodovia MG 801.II - Na sentença, julgou-se procedente o pedido. No Tribunal a quo, a
sentença foi parcialmente reformada para julgar parcialmente procedente o pedido,
apenas para determinar a realização do EIA na regularização da Rodovia MG-801, no
prazo estabelecido na Resolução n. 1.875/2013, bem como no Termo de Compromisso
assumido pelo DER/MG. Nesta Corte, conheceu-se do agravo para conhecer
parcialmente de seu recurso especial, negando-lhe provimento.III - O recorrente
sustenta violação de dispositivos do CPC/2015 relativamente à suposta omissão
perpetrada pelo Tribunal de origem, a despeito da oposição dos embargos de
declaração.IV - O recurso não cabe prosperar nesse ponto. Isso, porque não se
vislumbram as apontadas omissões, tendo o julgador dirimido a controvérsia tal qual
abordado pelas partes, em decisão devidamente fundamentada, não estando o julgador
obrigado a responder a questionamentos.V - Ao julgar os declaratórios, o Tribunal
discorreu sobre a questão relativa à pista e faixa de rolamentos, assim como sobre o
fato de que a Resolução n. 1/1986 se aplicaria à hipótese, em razão do término das obras
da rodovia ser datado de 2006.VI - O afastamento da suposta violação dos apontados
dispositivos do CPC/2015, pelo simples fato de o magistrado ter decidido de forma
contrária à pretensão das partes, nos termos da pacífica jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça: (AgInt no REsp n.1.809.945/SC, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia
filho, Primeira Turma, julgado em 20/4/2020, DJe 23/4/2020 e AgInt no AREsp
n.1.589.316/RJ, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
30/3/2020, DJe 2/4/2020).VII - O segundo tópico do inconformismo recursal está
centrado na alegação de ocorrência de prescrição, que foi assim afastada pelo decisum:
"Conforme decisão prolatada em sede de Agravo de Instrumento n° 1.0514.13.002992-
9/001, a N.pretensão ministerial se direciona.à licença de operação ambiental corretiva,
de modo a impedir a perpetuação de supostos danos advindos da implantação da
rodovia (MG 810), trata-se de combate a fato renovado no tempo, inviável, assim,
reconhecer-se a prescrição. Além, reconhece-se em jurisprudência que as ações que
veiculam reparação de dano ambiental são imprescritíveis." VIII - O recorrente não
consegue demonstrar a apontada violação de Lei Federal relativa à prescrição,
considerando a excepcionalidade do caso abordado em temática ambiental, o que
enseja a incidência do Óbice Sumular n. 284/STF.IX - O entendimento perfilhado pelo
acórdão recorrido não diverge da jurisprudência desta Corte, lembrando, ainda, que, em
recente entendimento, o STF decidiu não haver prazo para pedidos indenizatórios
decorrentes de danos ambientais - Tema n. 999 - RE n. 654.833/AC.X - As duas últimas
alegações recursais estão centradas na afirmação de ser incabível a exigência do
EIA/RIMA, pelo fato de ela não existir no momento da construção da rodovia.
XI - Sobre o assunto, o Tribunal a quo considerou que, ainda que existente antes da
década de 60, a respectiva rodovia somente teve sua pavimentação iniciada em 2004,
findada em 2006, quando já vigente o ato normativo que exigia o referido estudo -
Resolução n.01/86 do Conama.XII - Verifica-se que o reexame do acórdão recorrido, em
confronto com as razões do recurso especial, revela que o citado fundamento, utilizado
de forma suficiente para manter a decisão proferida no Tribunal a quo, não foi rebatido
no apelo nobre, o que atrai os óbices das Súmulas n. 283 e 284, ambas do STF. XIII -
Ainda que se pudesse ultrapassar tal óbice, eventual debate sobre a matéria esbarraria
na vedação da Súmula n. 7/STJ, sendo necessário o revolvimento das questões fático-
probatórias que envolvem as características da construção da respectiva rodovia, o que
é de todo descabido no recurso especial.XIV - Os óbices aqui invocados, para a análise
dos inconformismos, também impedem o seguimento do recurso com base em
divergência jurisprudencial.XV - Agravo interno improvido.(AgInt no REsp 1674928/MG,
Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/11/2020, DJe
18/11/2020)
CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. ALEGAÇÃO DE LITISPENDÊNCIA ENTRE DUAS
AÇÕES PENAIS QUE TRAMITAM CONCOMITANTEMENTE NA JUSTIÇA FEDERAL E
ESTADUAL. INCIDENTE CONHECIDO. ART. 114, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL ? CPP. DANOS AMBIENTAIS QUE ATINGEM INTERESSE DA UNIÃO. DECLARAÇÃO
DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA JULGAMENTO DOS FATOS CRIMINOSOS
COM EXTINÇÃO DA COMPETÊNCIA DA AÇÃO NA ESFERA ESTADUAL.1. Conflito positivo
de competência suscitado por empresa e seu representante legal no qual se alega a
existência de ação penal em trâmite na Vara Única Federal de Ilhéus e ação penal
ajuizada na Justiça Estadual perante a 1ª Vara Criminal de Ilhéus possuem idêntico teor
configurando litispendência.2. Nos termos do artigo 114, inciso I do Código de Processo
Penal dá-se conflito de competência, quando duas ou mais autoridades judiciárias se
considerarem competentes, ou incompetentes, para conhecer do mesmo fato
criminoso. Conflito de competência positivo conhecido porquanto, após cotejamento
das denúncias oferecidas pelo Ministério Federal e Estadual resta clara a descrição da
mesma conduta delituosa em tese praticada pelos réus.3. As duas denúncias, uma
oferecida pelo Parquet Estadual e outra pelo Parquet Federal, afirmam que "empresa ré
e seu sócio-administrador, com objetivo de implantar o empreendimento imobiliário
denominado "Reserva Morro de São Paulo", foram responsáveis pela destruição de 1,75
ha (hectares) de floresta do Bioma Mata Atlântica, em estágio médio e avançado de
regeneração, na Fazenda Santo António das Rosas, causando dano direto à unidade de
conservação Área de Proteção Ambiental (APA) das Ilhas de Tinharé e Boipeba, em
Cairu/BA. Conforme iniciais acusatórias oferecidas tanto na Justiça Estadual quanto na
Justiça Federal, a supressão ilegal de vegetação foi possível em razão de licença
ambiental expedida por corré na qualidade de Secretária Municipal de Desenvolvimento
Sustentável, que se baseou em parecer técnico-ambiental oferecido por outra corré,
com informações inverídicas sobre fatos relevantes acerca da caracterização ambiental
da área".4. No incidente em análise resta claro que ambos os Juízos se consideram
competentes para o julgamento dos mesmos fatos criminosos, uma vez que o Juízo
Estadual deflagrou a ação penal com o recebimento da denúncia e que o Tribunal
Regional Federal da Primeira Região determinou o prosseguimento do feito na esfera
federal ao prover recurso em sentido estrito interposto pelo Parquet Federal.5. No
acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da Primeira Região em sede de recurso
em sentido, a competência da Justiça Federal foi reconhecida com fulcro em dois
fundamentos: o envolvimento de Terreno da Marinha e o reconhecimento de que o
dano ambiental atingiu interesse da União.5. No presente os suscitante aduzem que a
área descrita na denúncia é particular, invocando julgado proferido em ação
reivindicatória na seara cível, todavia, não merece reparos o fundamento apresentado
pela pelo Tribunal Regional Federal da Primeira Região no julgamento do recurso em
sentido estrito no sentido de que "o parâmetro para a delimitação da competência
jurisdicional, no caso de domínio de área onde ocorre o dano ao meio ambiente, não é
a natureza da propriedade, e, sim, saber se os danos ambientais atingiram área de
interesse da União".. Conflito conhecido para reconhecer a competência da Vara Única
Federal de Ilhéus para julgar denúncia oferecida na Ação Penal n° 0501342-
73.2019.8.05.0271, na qual são descritos crimes ambientais supostamente praticados
na Fazenda Santo Antônio das Rosas, situada na cidade de Cairu/BA, quando
implementado empreendimento Reserva Morro de São Paulo, devendo ser extinta Ação
Penal n° 0501342-73.2019.8.05.0271 ajuizada na Justiça Estadual perante a 1ª Vara
Criminal de Ilhéus por tratar dos mesmos fatos criminosos.(CC 168.073/BA, Rel.
Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/10/2020, REPDJe
12/11/2020, DJe 03/11/2020)
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL.NEGATIVA
DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. EXTRAÇÃO DE RECURSOS
MINERAIS. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO E LICENÇAS AMBIENTAIS IMPERIOSAS.
REPARAÇÃO INTEGRAL DO DANO AMBIENTAL. MEDIDAS PARA RECUPERAÇÃO E
COMPENSAÇÃO PELO PERÍODO EM QUE FORAM DESRESPEITADAS AS NORMAS
AMBIENTAIS. CABÍVEL A CUMULAÇÃO DAS CONDENAÇÕES IN CASU.PRECEDENTES.I -
Na origem, trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal contra
o Município de Santiago/RS, com o objetivo de recuperar a área degradada, situada na
faixa de domínio da BR 287 - km 362, em razão da extração de recursos minerais sem a
autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM e obtenção dos
licenciamentos ambientais necessários para tanto, bem como indenização pelos danos
morais coletivos, danos interinos e residuais ocasionados.II - A sentença acolheu
parcialmente os pedidos, condenando a municipalidade a recuperar a área degradada,
bem como a indenizar os danos interinos (intermediários) e os danos residuais
(permanentes), cujos valores devem ser apurados em futura liquidação de sentença.III -
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região deu provimento à apelação interposta para
afastar a condenação pecuniária imposta pelo juízo monocrático.IV - A alegação de
violação do art. 489, § 1º, II e IV, do CPC/2015, não procede, uma vez que o Tribunal a
quo decidiu a matéria de forma fundamentada, analisando todas as questões que
entendeu necessárias para a solução da lide, não obstante tenha decidido
contrariamente à sua pretensão. Precedentes.V - Em relação às apontadas afrontas a
dispositivos da Lei n.7.347/1985 e Lei n. 6.938/1981, constata-se que o Tribunal a quo,
apesar de consignar a insuficiência dos PRAD apresentados, bem como a comprovação
da atividade degradante e desídia da municipalidade com o meio ambiente, entendeu
pela improcedência do pedido indenizatório concedido na sentença, relativamente ao
dano correspondente ao prejuízo ecológico que se mantém (interino e/ou residuais).VI
- Nesse diapasão, o acórdão objurgado se encontra em dissonância com o entendimento
consolidado desta Corte quanto ao ponto, segundo o qual, a necessidade de reparação
integral da lesão causada ao meio ambiente autoriza a cumulação das condenações
supracitadas, porquanto a indenização in casu não corresponde ao dano a ser reparo,
mas aos seus efeitos remanescentes, reflexos ou transitórios.VII - Agravo conhecido
para dar provimento ao recurso especial, restabelecendo integralmente a sentença
monocrática.(AREsp 1677537/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA
TURMA, julgado em 27/10/2020, DJe 17/11/2020)
AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL. CONSTRUÇÃO IRREGULAR EM ÁREA DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE. DEGRADAÇÃO AMBIENTAL COMPROVADA. EFETIVA
REPARAÇÃO. NECESSIDADE. CONSOLIDAÇÃO DA SITUAÇÃO. DIREITO
ADQUIRIDO.INEXISTÊNCIA. TEORIA DO FATO CONSUMADO.
INAPLICABILIDADE.PRECEDENTES.I - Na origem, cuida-se de ação civil pública ajuizada
pelo Ministério Público do Estado de São Paulo por dano ambiental gerado na
implantação de empreendimento imobiliário em área de preservação permanente, às
margens de curso d'água, sem a devida licença.II - O Tribunal de origem reconheceu a
responsabilidade da parte recorrida pela edificação em área de preservação
permanente sem a correspondente licença ambiental, in verbis: "a infração ambiental
se destaca desde a autuação lavrada em agosto de 1992, quando foi observada
supressão de vegetação natural (capoeira), às margens do rio Una, sem licença
ambiental (fl. 247), não sendo necessário citar outras infrações constantes nos autos.
Ademais, a prova técnica juntada aos autos é unânime em afirmar que o
empreendimento encontra-se parcialmente inserido em APP" (fl. 1.356). Apesar de tais
constatações, a instância ordinária recusou-se a condenar o réu na reparação integral
dos danos ambientais por meio da demolição das construções irregulares em área de
preservação permanente.III - Todavia, de acordo com o entendimento jurisprudencial
firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, não há direito adquirido a poluir ou degradar
o meio ambiente, não existindo permissão ao proprietário ou posseiro para a
continuidade de práticas vedadas pelo legislador.Precedentes: REsp n. 1.706.625/RN,
Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em 11/9/2018, DJe 18/9/2018;
AgInt nos EDcl no REsp n. 1.734.350/SP, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira
Turma, julgado em 16/8/2018, DJe 22/8/2018; e REsp n. 1.381.191/SP, Rel. Ministra Diva
Malerbi (Desembargadora convocada da TRF 3ª Região), Segunda Turma, julgado em
16/6/2016, DJe 30/6/2016.IV - Agravo em recurso especial conhecido para dar
provimento ao recurso especial do Ministério Público do Estado de São Paulo e incluir
no acórdão regional a condenação do recorrido à reparação integral dos danos
ambientais por meio da demolição de toda edificação na área de preservação
permanente.(AREsp 920.749/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA,
julgado em 27/10/2020, DJe 17/11/2020)
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FALHA NO SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA
ELÉTRICA. ALEGADA VIOLAÇÃO AOS ARTS. 489, § 1º, III, IV E 1.022 DO CPC/2015.
INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS, NO ACÓRDÃO RECORRIDO. INCONFORMISMO. INTERESSE
DE AGIR. ILEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA. CONTROVÉRSIA RESOLVIDA, PELO
TRIBUNAL DE ORIGEM, À LUZ DAS PROVAS DOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE DE
REVISÃO, NA VIA ESPECIAL.AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.I. Agravo interno aviado
contra decisão que julgara recurso interposto contra decisum publicado na vigência do
CPC/2015.II. Na origem, trata-se de Ação Civil Pública, ajuizada pela Associação
Brasileira de Defesa do Consumidor - PROTESTE contra o Município de São Paulo e a
Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo S/A, alegando que, em razão das
chuvas ocorridas entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015, as áreas abrangidas pela
concessão da Eletropaulo, vêm experimentando queda no fornecimento de energia
elétrica. Informou que tais áreas permanecem, durante dias e até semanas, sem o
serviço, acarretando prejuízos materiais aos cidadãos. Requer que a Prefeitura
desenvolva sistema de informatização geográfica, promova manutenção e reparo da
rede elétrica e, em caso de panes, restabeleça o serviço em prazo máximo de quatro
horas. Pugna, ainda, pela condenação da ré ao pagamento de indenização aos
consumidores, por danos materiais e morais. O Tribunal de origem reformou a sentença,
que havia julgado extinto o feito, sem resolução do mérito, determinando o retorno dos
autos à origem, para prosseguimento do feito.III. Não há falar, na hipótese, em violação
aos arts. 489, § 1º, III, IV e 1.022 do CPC/2015, porquanto a prestação jurisdicional foi
dada na medida da pretensão deduzida, de vez que os votos condutores do acórdão
recorrido e do acórdão proferido em sede de Embargos de Declaração apreciaram
fundamentadamente, de modo coerente e completo, as questões necessárias à solução
da controvérsia, dando-lhes, contudo, solução jurídica diversa da pretendida.IV. Em
relação à alegação de ilegitimidade ativa e passiva, o Tribunal de origem, com base no
exame dos elementos fáticos dos autos, consignou que "não há de se cogitar na hipótese
de ilegitimidade ativa por falta de pertinência temática. A autora, indiscutivelmente, é
uma associação ligada aos direitos dos consumidores. Como, segundo suas alegações,
estes foram atingidos pelos episódios ocorridos no período de dezembro de 2014 a
janeiro de 2015, tem legitimidade para defender seus interesses em juízo. Ao contrário
do quanto alegado pelo embargante, não se trata de discussão de matéria
exclusivamente de direito ambiental. Também alega que há ilegitimidade passiva do
Município de São Paulo, já que não mantém qualquer relação de consumo com os
clientes da Eletropaulo e não tem nenhum controle sobre a prestação de serviços
públicos que está a cargo da concessionária da União Federal. Ora, diversos pedidos são
formulados na petição inicial. No entanto, eles não são destinados,
indiscriminadamente, a ambos os réus, exceto no que diz respeito à pretensão
indenizatória. Deve ser analisado cada um dos pleitos, a fim de se perquirir quem tem
condições de cumpri-los". Tal entendimento, firmado pelo Tribunal a quo, não pode ser
revisto, pelo Superior Tribunal de Justiça, por exigir o reexame da matéria fático-
probatória dos autos. Precedentes do STJ.V. O acolhimento da pretensão recursal acerca
da alegada falta de interesse de agir demandaria a análise da matéria fático-probatória
dos autos, o que é vedado em sede de Recurso Especial. A propósito: STJ, AgInt no AREsp
988.549/BA, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, DJe de 25/04/2018; AgRg no
AREsp 638.781/CE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe de
11/09/2015.VI. Agravo interno improvido.(AgInt no AREsp 1650432/SP, Rel. Ministra
ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/10/2020, DJe 12/11/2020)
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL.EDIFICAÇÃO
IRREGULAR EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO E LICENÇAS
AMBIENTAIS IMPERIOSAS. REPARAÇÃO INTEGRAL DO DANO AMBIENTAL. MEDIDAS
PARA RECUPERAÇÃO E COMPENSAÇÃO PELO PERÍODO EM QUE FORAM
DESRESPEITADAS AS NORMAS AMBIENTAIS. CABÍVEL A CUMULAÇÃO DAS
CONDENAÇÕES IN CASU. PRECEDENTES.I - Na origem, trata-se de ação civil pública
ajuizada pelo Ministério Público Federal contra particulares objetivando que os réus se
abstenham de ocupar e explorar as áreas de várzea e de preservação permanente do
imóvel onde está situado o "rancho" descrito na exordial, bem como procedam à
recuperação das respectivas áreas e ao pagamento de indenização ao Fundo de Defesa
dos Direitos Difusos.II - O Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em grau recursal,
reformou em parte a sentença que acolheu parcialmente os pedidos e, ainda que tenha
afastado a prescrição incidente sobre o pedido indenizatório, e consignado acerca da
irregularidade da edificação inserida nos limites de área de preservação permanente,
entendeu pela improcedência do respectivo pedido, na medida em que os réus já teriam
sido condenados a outras obrigações.III - Nesse diapasão, o entendimento perfilhado
pelo acórdão objurgado se encontra em dissonância com a jurisprudência consolidada
desta Corte, segundo a qual, a necessidade de reparação integral da lesão causada ao
meio ambiente autoriza a cumulação das condenações postuladas, porquanto, além de
devido o pleito cominatório - a fim de restaurar a área degradada, a indenização in casu
não corresponde ao dano a ser reparado, mas aos seus efeitos remanescentes, reflexos
ou transitórios. Violação dos citados dispositivos da Lei n. 6.938/1981 caracterizada.IV -
Em razão do óbice da Súmula n. 7/STJ, no entanto, esta Corte não pode fixar o devido
valor indenizatório, por demandar revolvimento do conjunto fático-probatório dos
autos.V - Recurso especial provido para determinar o retorno dos autos ao Tribunal de
origem para a fixação do quantum debeatur.(REsp 1862873/SP, Rel. Ministro
FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/10/2020, DJe 22/10/2020)
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIME
AMBIENTAL. ARTIGOS 40 E 63 DA LEI N. 9.605/1998. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
PUNITIVA. CRIMES COMETIDOS ANTES DE 2010. TRANSCURSO DO LAPSO TEMPORAL
ENTRE A DATA DOS FATOS E O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
ARTIGO 48 DA LEI AMBIENTAL. PRESCRIÇÃO RETROATIVA. OCORRÊNCIA.
AGRAVO DESPROVIDO.
1. Tratando-se de crimes cometidos antes de 2010, não se aplica à espécie a atual
redação do art. 110, § 1º, do Código Penal, incluída pela Lei n. 12.234, de 5/5/2010,
segundo a qual a prescrição não pode ter como termo inicial data anterior à denúncia,
tendo em vista a proibição da retroatividade da lei penal mais gravosa.
2. Se os fatos não ultrapassaram a data de 31/12/2005 e o recebimento da denúncia
ocorreu somente em 29/2/2012, verifica-se o transcurso do lapso prescricional de 4
anos previsto no art. 109, inciso V, do Código Penal, devendo ser declarada a extinção
da punibilidade do réu pela prescrição da pretensão punitiva relativamente aos crimes
dos arts. 40 e 63 da Lei Ambiental.
3. Quanto ao delito do art. 48 da Lei n. 9.605/1998, o prazo prescricional da pretensão
punitiva teve início na data do recebimento da denúncia, em 29/02/2012 e fluiu até
1.º/10/2012, data a partir da qual passou a vigorar o benefício da suspensão condicional
do processo, perfazendo, inicialmente, o lapso de 7 meses e 2 dias. Com a revogação do
benefício, em 22/04/2013, foi retomada a fluência do prazo. A sentença de 1.º grau
reconheceu extinguiu a punibilidade diante da prescrição e, por isso, não interrompeu
o prazo prescricional. O acórdão condenatório, por sua vez, datado de 30/6/2016, fixou
pena privativa de liberdade inferior a 1 ano, cujo prazo prescricional é de 2 anos (art.
109, inciso VI, do Código Penal, na redação anterior à Lei n.º 12.234/2010).
Assim, transcorrido lapso superior a 2 anos entre a data do recebimento da denúncia,
em 29/2/2012, até a prolação do acórdão condenatório, em 30/6/2016, desconsiderado
o o período de suspensão condicional do processo, resta extinta a punibilidade do réu,
também pelo delito do art. 48 da Lei de Crimes Ambientais, este pela prescrição na
modalidade retroativa.
4. Agravo regimental desprovido.
(AgInt no AgRg no HC 397.833/DF, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 20/10/2020, DJe 22/10/2020)
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EM HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. CRIME AMBIENTAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. MATÉRIA NÃO APRECIADA NO ACÓRDÃO COMBATIDO.
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. RECURSO EM HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO, NO
PONTO. NOVOS ARGUMENTOS HÁBEIS A DESCONSTITUIR A DECISÃO IMPUGNADA.
INEXISTÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
I - Inviável adentrar no mérito do presente recurso, pois verifica-se que o eg. T ribunal a
quo não se manifestou adequadamente, no v. aresto ora reprochado, acerca de matéria
discutida neste recurso, ficando, portanto, impedida esta Corte Superior de Justiça de
proceder a sua análise, sob pena de incorrer em indevida supressão de instância.
II - Neste agravo regimental não foram apresentados argumentos novos capazes de
alterar o entendimento anteriormente firmado, devendo ser mantida a decisão
impugnada por seus próprios fundamentos.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no RHC 132.602/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
20/10/2020, DJe 26/10/2020)
TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL.
FALÊNCIA. JULGAMENTO EXTRA PETITA. NÃO OCORRÊNCIA.
INTERPRETAÇÃO LÓGICO-SISTEMÁTICA DA CAUSA DE PEDIR E PEDIDO.
MODIFICAÇÃO DA CONCLUSÃO DO TRIBUNAL A QUO. REEXAME DO CONTEXTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7 DO STJ.
1. O Superior Tribunal de Justiça firmou a orientação de que, "nas hipóteses em que a
decretação da quebra ocorrera sob a vigência da Lei 11.101/05, mas o pedido de falência
foi feito sob a égide do Decreto-lei 7.661/45, de acordo com o art. 194, § 4º da nova lei,
até a decretação da falência, deverão ser aplicadas as disposições da lei anterior" (REsp
1.063.081/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 20/10/2011).
2. O Ibama alega que a instância ordinária incorreu em julgamento extra petita em
relação à multa moratória, já que a parte adversa requereu somente a correta
classificação da multa moratória fiscal como crédito subquirografário.
3. A instância ordinária proclamou o entendimento de que a aplicação correta do
diploma legal ao presente caso não significa julgar de maneira extra ou ultra petita,
senão dar aos fatos o direito apropriado, com fundamento na máxima da mihi factum,
dabo tibi jus.
4. A conclusão da Corte de origem está em harmonia com a orientação do Superior
Tribunal de Justiça segundo a qual "não há julgamento extra petita quando o julgador,
atendo-se aos fatos narrados (causa de pedir próxima) empresta-lhes qualificação
jurídica não indicada expressamente pela parte (causa de pedir remota). Vige, nesses
casos, a máxima segundo a qual o juiz, conhecendo a causa, deve aplicar o direito à
espécie, consagrada na Súmula nº 456 do STF, no art. 257 do RISTJ e também nos
brocardos iura novit curia e da mihi factum dabo tibi jus" (AgInt no REsp 1.364.494/SP,
Rel. Min. Moura Ribeiro, Terceira Turma, DJe 17/4/2017).
5. Nesse contexto, para afastar o entendimento a que chegou o Colegiado de origem,
de modo a albergar as peculiaridades do caso e verificar a existência de decisão extra
petita, como sustentado nesse recurso especial, é necessário o revolvimento do acervo
fático-probatório dos autos, o que se mostra inviável em recurso especial, por óbice da
Súmula 7/STJ: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial."
6. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no REsp 1473642/PR, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado
em 13/10/2020, DJe 22/10/2020)
AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL. ART.
14, § 1º, DA LEI 6.938/1981. CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA. RIO MADEIRA. INVERSÃO
DO ÔNUS DA PROVA. ART. 373 DO CPC/2015. ART. 6º, VIII, DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR (LEI 8.078/1990). ART. 21 DA LEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA (LEI
7.347/1985). PROVA PERICIAL.
PRINCÍPIO IN DUBIO PRO NATURA. SÚMULAS 7 E 83 DO STJ. CRITÉRIOS DE INDENIZAÇÃO
DE FLORESTAS E VEGETAÇÃO. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E RESERVA
LEGAL.
1. Cuida-se de inconformismo com acórdão do Tribunal de origem que aplicou a inversão
do ônus da prova no que se refere ao dano ambiental.
2. Como corolário do princípio in dubio pro natura, "justifica-se a inversão do ônus da
prova, transferindo para o empreendedor da atividade potencialmente perigosa o ônus
de demonstrar a segurança do empreendimento, a partir da interpretação do art. 6º,
VIII, da Lei 8.078/1990 c/c o art. 21 da Lei 7.347/1985, conjugado ao Princípio Ambiental
da Precaução" (REsp 972.902/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe
14.9.2009).
3. O Tribunal a quo decidiu de acordo com a jurisprudência do STJ. A ação civil, coletiva
ou individual, por dano ao meio ambiente - irrelevante a natureza do pedido, se
indenizatório, restaurador ou demolitório - obedece a parâmetro jurídico objetivo,
solidário e ilimitado, pois fundada na teoria do risco integral. Além disso, quanto aos
outros elementos da responsabilidade civil, cabível a inversão do ônus da prova. Se
transferida ao réu a incumbência probatória, logicamente a ele cabe produzir todas as
modalidades de prova admitidas, inclusive a pericial, não como dever em favor de
outrem, mas como ônus, em razão do seu próprio interesse, já que arcará com as
consequências decorrentes de sua omissão. Precedentes do STJ.
4. Aplica-se à espécie o enunciado da Súmula 83/STJ: "Não se conhece do recurso
especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido
da decisão recorrida." Ademais, o acolhimento da pretensão recursal demanda reexame
do contexto fático-probatório, especialmente das circunstâncias fáticas que levaram à
decisão impugnada, o que faz incidir o óbice da Súmula 7/STJ.
5. Ressalte-se que a inversão do ônus da prova não altera critérios de indenização de
florestas e vegetação nativa, já que, para o STJ, a) não se paga em separado pela
cobertura florestal, exceto se houver Plano de Manejo em plena execução,
regularmente aprovado e atualmente válido, de modo a embasar a exploração
comercial existente, limitada a indenização ao que conste das informações tributárias
prestadas pelo expropriado; b) não é indenizável a cobertura florística em terrenos
marginais e praias fluviais (bens públicos, consoante o art. 21, III, da Constituição
Federal), áreas non aedificandi ou com proibição de desmatamento ou uso econômico
direto (p. ex., Áreas de Preservação Permanente), ressalvada, quanto a estas últimas,
exploração econômica indireta (p. ex., ecoturismo, apiário); c) na área da Reserva Legal,
o valor da indenização não se equipara ao da terra com uso livre e desimpedido, já que
vedado o corte raso da vegetação; d) não são indenizáveis áreas ilegalmente
desmatadas; e) se transferida para o expropriante obrigação de restauração do meio
ambiente degradado, as despesas daí decorrentes descontam-se do quantum debeatur.
6. Recurso Especial conhecido parcialmente e, nessa parte, não provido.
(REsp 1818008/RO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/10/2020, DJe 22/10/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA.
INFRAÇÃO AMBIENTAL. CARÁTER SUBJETIVO. LEGISLAÇÃO LOCAL. EXAME.
IMPOSSIBILIDADE.
1. Conforme estabelecido pelo Plenário do STJ, aos recursos interpostos com
fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de
2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma nele prevista
(Enunciado Administrativo n. 3).
2. Pacificada nesta Corte a compreensão de que, no campo ambiental, "a aplicação de
penalidades administrativas não obedece à lógica da responsabilidade objetiva da esfera
cível (para reparação dos danos causados), mas deve obedecer à sistemática da teoria
da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com
demonstração de seu elemento subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre a
conduta e o dano" (EREsp 1.318.051/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
Primeira Seção, julgado em 08/05/2019, DJe 12/06/2019).
3. Hipótese em que a corte estadual divergiu daquele entendimento ao entender que
"as companhias de petróleo respondem objetiva e solidariamente com os postos de
gasolina" por infração ambiental (contaminação de água subterrânea por vazamento de
combustível), "com fulcro no art. 14, § 1°, da Lei n. 6.938/1981, que atribui
responsabilidade independente de culpa." 4. Inviável o exame de dispositivos da
legislação local em sede de recurso especial, em face do óbice contido na Súmula 280
do STF.
5. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp 1459420/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 13/10/2020, DJe 23/10/2020)
PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME AMBIENTAL.
ARTIGO 48 DA LEI N. 9.605/98. EXIGÊNCIA DE CUMPRIMENTO DAS CONDIÇÕES PARA A
DECLARAÇÃO DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO. LEGALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Tendo sido reconhecida a natureza de suspensão condicional do processo do acordo
feito entre o envolvido e o Ministério Público, o entendimento do acórdão recorrido
encontra-se no mesmo sentido da jurisprudência desta Corte Superior de que, nos
crimes ambientais, a suspensão condicional do processo sujeita-se ao disposto no art.
28 da Lei n. 9.605/1998, só se extinguindo a punibilidade após a emissão de laudo que
constate a reparação do dano ambiental, o que não ocorreu no caso.
2. Ademais, conforme consignado pelo Ministério Público Federal, em seu parecer,
mesmo que assim não fosse o entendimento, como bem ressaltou o Tribunal de origem,
o ora recorrente "se comprometeu no próprio acordo (transação penal) a reparar os
danos que causou ao meio ambiente, constando expressamente que a declaração de
extinção da sua punibilidade estava condicionada ao atendimento dessa condição" (fl.
563). Assim, não tendo havido a reparação do dano, incabível a extinção da punibilidade,
como bem entendeu o Tribunal de origem (e-STJ fls. 613).
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1878790/DF, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 06/10/2020, DJe 15/10/2020)
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE. ATO CONFIGURADO.
REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7 DO STJ. INCIDÊNCIA. MULTA CIVIL E
RESSARCIMENTO INTEGRAL DO DANO AMBIENTAL. MESMA BASE DE CÁLCULO.
POSSIBILIDADE.
1. O Plenário do STJ decidiu que "aos recursos interpostos com fundamento no
CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos
os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas até
então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça" (Enunciado Administrativo n.
2).
2. Considera-se deficiente a fundamentação do recurso especial em que se aponta,
genericamente, ofensa ao art. 535 do CPC/1973 sem a indicação clara e precisa do vício
contido no acórdão recorrido, de modo a atrair a aplicação da Súmula 284 do STF.
3. É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que a falta de indicação, clara e
precisa, do dispositivo de lei federal acerca do qual supostamente houve divergência
jurisprudencial implica deficiência na fundamentação do recurso especial.
4. Conforme pacífico entendimento jurisprudencial desta Corte Superior, improbidade
é ilegalidade tipificada e qualificada pelo elemento subjetivo, sendo "indispensável para
a caracterização de improbidade que a conduta do agente seja dolosa para a tipificação
das condutas descritas nos artigos 9º e 11 da Lei 8.429/1992, ou, pelo menos, eivada de
culpa grave nas do artigo 10" (AIA 30/AM, Rel.
Ministro Teori Albino Zavascki, Corte Especial, DJe 28/09/2011).
5. Hipótese em que, em face das premissas fáticas assentadas no acórdão objurgado,
que reconheceu o enquadramento dos recorrentes nos atos de improbidade
administrativa (arts. 10 e 11 da Lei n.
8.429/1992), com a indicação expressa do elemento subjetivo (dolo), a modificação do
entendimento firmado pelas instâncias ordinárias demandaria induvidosamente o
reexame de todo o material cognitivo produzido nos autos, desiderato incompatível
com a via especial, nos termos da Súmula 7 do STJ.
6. Diversamente do consignado na decisão recorrida, a Corte de origem ressalvou
expressamente que o ressarcimento ao erário não se confunde com a multa ali imposta,
havendo, na verdade, a utilização da mesma base de cálculo, prática que conta com o
beneplácito da jurisprudência da Primeira Turma - REsp 1445348/CE, Rel. Ministro
SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe 11/05/2016.
7. Agravo interno parcialmente provido.
(AgInt no REsp 1367493/SC, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 06/10/2020, DJe 26/10/2020)
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL SUBMETIDO AO ENUNCIADO ADMINISTRATIVO
3/STJ. EXECUÇÃO FISCAL. TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL - TCFA.
CÁLCULO. RECEITA BRUTA ANUAL DA EMPRESA COMO UM TODO (MATRIZ E FILIAIS).
1. Cinge-se a controvérsia dos autos à forma como deve ser calculado o valor cobrado a
título de Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA), se com base na receita bruta
anual de todos os estabelecimentos da empresa que aqui figura como recorrida, ou
então com base na receita bruta anual somente da unidade comercial que requerera a
licença para o exercício de determinada atividade considerada como poluidora
(importação de motocicletas).
2. Em caso idêntico, a Segunda Turma manteve acórdão do Tribunal Regional Federal da
5ª Região que levara em conta o faturamento bruto anual da pessoa jurídica como um
tudo (matriz e filiais), pois, "[c]onsoante o art. 17-D da Lei 6.938/1981, a TCFA é devida
por estabelecimento, e os seus valores são os fixados no Anexo IX desta Lei, o qual, por
sua vez, adota como critérios para definição do aspecto quantitativo o grau de poluição
(pequeno, médio e alto) e o porte da pessoa jurídica (micro, pequena, média e grande
empresa)"; e "[o] § 1° do referido art. 17-D traz, para efeitos dessa lei, os conceitos de
microempresa e de empresas de pequeno, médio e grande porte, sem dar margem a
dúvidas de que o parâmetro considerado é o da receita bruta da pessoa jurídica" (REsp
1661547/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 19/6/2017).
3. Por estar em dissonância com o entendimento acima, deve ser reformado o acórdão
recorrido, que laborou com a premissa de que a TCFA deve ser calculada com base na
receita bruta anual apenas da unidade que praticara a atividade considerada poluidora.
4. Recurso especial do IBAMA provido.
(REsp 1795772/PE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 06/10/2020, DJe 28/10/2020)
ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AGRAVO INTERNO NOS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. EMPRESA QUE PATROCINOU
DESPESAS DE VIAGEM DE LAZER PARA PREFEITO MUNICIPAL. FALECIMENTO DO
ALCAIDE COM A AÇÃO DE IMPROBIDADE JÁ EM ANDAMENTO. POSSIBILIDADE DE
PROSSEGUIMENTO DA DEMANDA EM DESFAVOR APENAS DA EMPRESA PARTICULAR
(LITISCONSORTE PASSIVA). PENALIDADES. CASO CONCRETO. AUSÊNCIA DE
DESPROPORCIONALIDADE.
1. A presença do agente público no polo passivo da ação de improbidade administrativa
é condição para a propositura da demanda em que se busca, igualmente, a
responsabilização de terceiro particular, nos moldes do art. 3º da Lei n. 8.429/92.
2. Já instaurada e estabilizada a ação de improbidade, a posterior morte do único agente
público presente no polo passivo não tem o condão de desconstituir, ipso facto, a
legitimidade passiva do litisconsorte particular remanescente, devendo a demanda
prosseguir contra este último e, sendo o caso, também contra os sucessores do agente
público.
3. Caso concreto em que as sanções impostas à empresa agravante guardam estrita
relação com o grau de reprovabilidade dos atos de improbidade por ela praticados, não
havendo falar em desproporcionalidade.
4. Não obstante a existência de discricionariedade na fixação das penas, é imperativo
que o decreto condenatório observe os limites mínimo e máximo contidos em lei, não
se mostrando possível ao julgador estabelecer o quantum sancionatório em um patamar
aquém do mínimo legal. Nesse sentido: REsp 1.582.014/CE, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 15/4/2016.
5. Agravo interno não provido.
(AgInt nos EDcl no REsp 1300198/SP, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 06/10/2020, DJe 18/11/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. DIMINUIÇÃO DE PESCADO
SUPOSTAMENTE DECORRENTE DA INSTALAÇÃO DE USINA HIDRELÉTRICA. TERMO
INICIAL DA PRESCRIÇÃO. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO INTERNO DO PARTICULAR A QUE SE
NEGA PROVIMENTO.
1. O entendimento do acórdão recorrido encontra-se em consonância com a
jurisprudência desta Corte Superior, segundo a qual o termo inicial para o ajuizamento
da ação em que se busca a reparação de danos é a ciência inequívoca, pelo titular, do
direito subjetivo violado acerca da existência do fato e da extensão de suas
consequências, que, no presente caso, ocorreu com o represamento das águas.
2. Agravo Interno do Particular a que se nega provimento.
(AgInt no REsp 1811857/MA, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 05/10/2020, DJe 09/10/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
INOCORRÊNCIA. DANOS AMBIENTAIS. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS COLETIVOS.
SÚMULA 7 DO STJ. APLICAÇÃO.
1. O Plenário do STJ decidiu que "aos recursos interpostos com fundamento no
CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos
os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas até
então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça" (Enunciado Administrativo n.
2).
2. Inexiste violação do art. 535 do CPC/1973 quando o Tribunal de origem aprecia
fundamentadamente a controvérsia, apontando as razões de seu convencimento, ainda
que de forma contrária aos interesses da parte, como constatado na hipótese.
3. Afastada a condenação por danos extrapatrimoniais coletivos oriundos de danos ao
meio ambiente porque considerado no acórdão impugnado que "as agressões
perpetradas ocorreram em ambiente rural, dentro de propriedade particular, sem
acesso ao público e sem vinculação cultural e emocional com a comunidade do
município de União da Vitória/PR".
4. A modificação da conclusão alvitrada pela Corte a quo reclama imperiosa incursão no
conjunto fático-probatório, inadmissível na instância especial, ante o óbice da Súmula 7
do STJ. Precedentes.
5. Agravo interno desprovido.
(AgInt no REsp 1597754/RS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 05/10/2020, DJe 16/10/2020) AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL - AÇÃO CONDENATÓRIA - DECISÃO MONOCRÁTICA DA PRESIDÊNCIA DESTA
CORTE QUE NÃO CONHECEU DO RECLAMO. INSURGÊNCIA DA AUTORA.
1. Verificada a impugnação específica a todos os fundamentos da decisão proferida em
juízo prévio de admissibilidade, deve ser conhecido o agravo em recurso especial.
2. "Os princípios da livre admissibilidade da prova e da persuasão racional autorizam o
julgador a determinar as provas que repute necessárias ao deslinde da controvérsia, e a
indeferir aquelas consideradas prescindíveis ou meramente protelatórias. Não configura
cerceamento de defesa o julgamento da causa sem a produção da prova solicitada pela
parte, quando devidamente demonstrada a instrução do feito e a presença de dados
suficientes à formação do convencimento" (AgInt no AREsp n. 1.457.765/SP, Relator
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/8/2019, DJe
22/8/2019). 2.1. É assente na jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça o
entendimento de que, não obstante seja objetiva a responsabilidade civil do poluidor-
pagador, em razão de danos ambientais causados pela exploração de atividade
comercial, a configuração do dever de indenizar demanda a prova do dano e do nexo
causal. 2.2. No caso em tela, rever as conclusões alcançadas pelas instâncias ordinárias
quanto a inexistir sequer início de prova da ocorrência de danos pessoais relacionados
ao evento ambiental descrito na inicial - incêndio em containeres - exigiria reexame das
provas contidas nos autos. Incidência da Súmula 7/STJ, aplicável também ao dissídio
jurisprudencial.
3. A reforma do acórdão impugnado no que toca à ocorrência de danos de ordem moral
exigiria derruir a convicção formada pelas instâncias ordinárias quanto à ausência de
demonstração de dano indenizável.
Incidência da Súmula 7/STJ.
4. Agravo interno provido para reconsiderar deliberação anterior e, de plano, negar
provimento ao agravo .
(AgInt no AREsp 1624918/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em
28/09/2020, DJe 01/10/2020)
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO ORDINÁRIA. CANCELAMENTO DE INSCRIÇÃO DE OCUPAÇÃO.
INVALIDADE DA PROVA PERICIAL E INEXISTÊNCIA DE DANO AMBIENTAL.
AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO, NAS RAZÕES DO RECURSO ESPECIAL DO DISPOSITIVO LEGAL
QUE, EM TESE, TERIA SIDO VIOLADO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM.
DEFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF, APLICADA POR ANALOGIA.
ARTIGOS 11 E 12-A DO DECRETO-LEI 9.760/46. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULA 282/STF. INFRINGÊNCIA AO ART. 236, § 1º, DO CPC/73 (ART. 272, § 5º, DO
CPC/2015). TESE RECURSAL NÃO PREQUESTIONADA. SÚMULA 211 DO STJ. AGRAVO
IMPROVIDO.
I. Agravo interno aviado contra decisão que julgara Recurso Especial interposto contra
acórdão publicado na vigência do CPC/2015.
II. Trata-se, na origem, Ação Ordinária proposta por Francisco de Paula Domingues
Porto, em desfavor da União Federal, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e da Agência Estadual de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos, com o objetivo de obter indenização por danos morais e a anulação
"da decisão tomada em maio de 2005 pelo Gerente Regional de Patrimônio da União
em Pernambuco, que promoveu o cancelamento da Inscrição de Ocupação da
propriedade denominada Praia Abreu do Una".
III. A falta de particularização, no Recurso Especial dos dispositivos de lei federal que
teriam sido contrariados, pelo acórdão recorrido, consubstancia deficiência bastante a
inviabilizar o conhecimento do apelo especial, atraindo, na espécie, a incidência da
Súmula 284 do Supremo Tribunal Federal ("É inadmissível o recurso extraordinário,
quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da
controvérsia").
IV. Não tendo o acórdão hostilizado expendido juízo de valor sobre os arts. 11 e 12-A do
Decreto-lei 9.760/46, a pretensão recursal esbarra em vício formal intransponível, qual
seja, o da ausência de prequestionamento - requisito viabilizador da abertura desta
instância especial -, atraindo o óbice da Súmula 282 do Supremo Tribunal Federal ("É
inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a
questão federal suscitada"), na espécie.
V. Para que se configure o prequestionamento, não basta que o recorrente devolva a
questão controvertida para o Tribunal, em suas razões recursais. É necessário que a
causa tenha sido decidida à luz da legislação federal indicada, bem como seja exercido
juízo de valor sobre os dispositivos legais indicados e a tese recursal a eles vinculada,
interpretando-se a sua aplicação ou não, ao caso concreto.
VI. Por simples cotejo das razões recursais e dos fundamentos do acórdão recorrido,
percebe-se que a tese recursal tratada no art.
236, § 1º, do CPC/73 (art. 272, § 5º, do CPC/2015) -, não foi apreciada, no voto condutor,
não tendo servido de fundamento à conclusão adotada pelo Tribunal de origem,
incidindo o óbice da Súmula 211/STJ.
VII. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, "a admissão de
prequestionamento ficto (art. 1.025 do CPC/15), em recurso especial, exige que no
mesmo recurso seja indicada violação ao art. 1.022 do CPC/15, para que se possibilite
ao Órgão julgador verificar a existência do vício inquinado ao acórdão, que uma vez
constatado, poderá dar ensejo à supressão de grau facultada pelo dispositivo de lei"
(STJ, REsp 1.639.314/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, DJe de
10/04/2017). Hipótese em julgamento na qual a parte recorrente não indicou, nas
razões do apelo nobre, contrariedade ao art. 1.022 do CPC/2015.
VIII. Agravo interno improvido.
(AgInt nos EDcl no REsp 1851787/PE, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 28/09/2020, DJe 02/10/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. USUFRUTUÁRIOS DE IMÓVEL.
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO.
INEXISTÊNCIA. AÇÃO RESCISÓRIA. IMPROCEDÊNCIA.
1. O Plenário do STJ decidiu que, "aos recursos interpostos com fundamento no
CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos
os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas até
então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça" (Enunciado Administrativo n.
2).
2. É firme nesta Corte Superior a compreensão de que "a responsabilidade por danos
ambientais é solidária entre o poluidor direto e o indireto, o que permite que a ação seja
ajuizada contra qualquer um deles, sendo facultativo o litisconsórcio. Tal conclusão
decorre da análise do inciso IV do art. 3º da Lei 6.938/1981, que considera 'poluidor, a
pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental'" (AgInt no AREsp
839.492/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
15/12/2016, DJe 06/03/2017).
3. Hipótese em que a Corte local acolheu pedido rescisório formulado pela ora agravante
para reputar violado o art. 47 do CPC/1973, haja vista a ausência de citação dos
usufrutuários de imóvel a cujos proprietários foi imposta obrigação de reparação de
degradação ambiental, em ação civil pública, posição que diverge da assentada por este
Tribunal.
4. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp 1250031/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 28/09/2020, DJe 30/09/2020)
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. OMISSÃO DO ENTE FEDERADO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ACÓRDÃO DO TRIBUNAL A QUO ALINHADO À
JURISPRUDÊNCIA DO STJ.
1. O Tribunal de origem, ao reconhecer a responsabilidade objetiva do Estado por danos
ambientais, em razão de conduta omissiva do ente público, alinhou-se à jurisprudência
deste Sodalício, que se firmou no sentido de que "A legitimidade por dano ambiental
alcança, imediatamente, aquele que, por ação ou omissão, causou ou permitiu que fosse
causado dano ao patrimônio ambiental. Essa responsabilidade de quem assim procede
se define da maneira mais objetiva possível, mediante a simples resposta à pergunta
quem causou, quem provocou ou quem permitiu que o dano ocorresse" (AgRg no AREsp
796.146/SP, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 25/8/2017).
2. Agravo interno não provido.
(AgInt no REsp 1205174/PR, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 28/09/2020, DJe 01/10/2020)
AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS AMBIENTAIS. CONSTRUÇÃO IRREGULAR.
OFENSA AOS ARTS. 138, 139 E 178 do CC. SÚMULA 7/STJ. ART.
2º, § 2º, DA LEI 12.651/2012. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. TERMO DE
COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA. AUSÊNCIA DE OUTORGA DO
CÔNJUGE. LITISCONSÓRCIO PASSIVO FACULTATIVO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA
DOS POLUIDORES DIRETOS E INDIRETOS.
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Trata-se, na origem, de Ação Anulatória de Termo de
Ajustamento de Conduta, proposta por esposa do celebrante do citado acordo, contra
o Ministério Público de São Paulo e o Estado de São Paulo.
2. Em primeiro grau, o pedido foi julgado improcedente.
3. A Apelação da autora não foi provida.
VULNERAÇÃO DOS ARTS. 138, 139 E 178 DO CÓDIGO CIVIL - SÚMULA 7/STJ 4. Não há
como conhecer do Apelo Extremo no tocante à alegada violação dos arts. 138, 139 e 178
do CC/2002, com base no argumento de que há erro substancial que torna nulo o
negócio jurídico pelo fato de o imóvel não se encontrar em Área de Preservação
Permanente e de a agravante ter tido ciência do TAC celebrado entre seu marido e o
Parquet somente após ser surpreendida com a intimação da penhora do imóvel na Ação
Civil Pública, que os réus moveram contra seu marido.
5. Ao decidir a controvérsia, o Tribunal a quo limitou-se a consignar (fl. 301): "Por fim, a
recorrente alega que houve erro substancial, nos moldes do artigo 139 do Código Civil,
o que invalidaria o negócio jurídico. Ocorre que, em conformidade com o artigo 178,
inciso II, do Código Civil, "é de quatro anos o o prazo de decadência para pleitear-se a
anulação do negócio jurídico", contado do dia em que se realizou o negócio. O Termo
de Compromisso de Ajustamento de Conduta foi celebrado em 09 de abril de 2008 e a
presente ação foi ajuizada em 09 de junho de 2014, decorrido o prazo decadencial.
Assim, o tema sequer merece apreciação".
6. Acolher o pleito da recorrente demandaria detalhado reexame de provas, bem como
a apuração do conteúdo do termo de intimação da penhora, das cláusulas do TAC e da
localização do imóvel, o que é inadmissível ante o óbice da Súmula 7/STJ. Os dados
relativos à suposta data em que a autora teria tido ciência do TAC não constam do
acórdão recorrido, tampouco existe discussão quanto à localização do imóvel ? se está
ou não fora de Área de Preservação Permanente.
7. Portanto deve ser rechaçada a tese da recorrente de que "a data consta em todos os
recursos e a intimação da penhora foi juntada as fls. 47 e-STJ dos autos" razão pela qual
"simples consulta a esse documento nos autos não é rever provas".
VIOLAÇÃO DO ART. 2º, § 2º, DA LEI 12.651/2012 ? AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO
8. A aludida afronta ao art. 2º, § 2º, da Lei 12.651/2012 não foi veiculada no recurso de
Apelação, razão por qual, logicamente, não foi debatida no aresto vergastado.
9. Ademais, a ora agravante não prequestionou a matéria em Embargos de Declaração.
Ausente, portanto, o prequestionamento, sendo descabido o argumento da agravante
de que há prequestionamento implícito.
JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA
DOS POLUIDORES DIRETOS E INDIRETOS: LITISCONSÓRCIO PASSIVO FACULTATIVO 10.
No mais o apelo não prospera em relação às teses de nulidade do TAC, existência de
litisconsórcio necessário, em virtude de a agravante ser condômina do bem e não ter
assinado o Termo de Ajustamento de Conduta.
11. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é de que é objetiva e solidária a
responsabilidade por dano ambiental e que, na forma do inciso IV do art. 3º da Lei
6.938/1981, considera-se poluidor toda pessoa física ou jurídica responsável direta ou
indiretamente por atividade causadora de degradação ambiental. Disso decorre que o
dano ambiental pode ser demandado tanto contra o responsável direto quanto contra
o indireto ou mesmo contra ambos, dada a solidariedade estabelecida por lei, não
havendo, ademais, irregularidade ou nulidade em apenas um dos cônjuges figurar no
polo passivo da referida ação, porque em Ação Civil Pública voltada ao ressarcimento de
danos ambientais há litisconsórcio passivo facultativo, abrindo-se ao autor a
possibilidade de demandar qualquer um deles isoladamente, ou em conjunto, pelo todo.
Precedentes.
12. Portanto, não há irregularidade ou nulidade no fato de apenas um dos cônjuges
figurar no polo passivo de ação voltada à reparação de dano ambiental, pois, em se
tratando de Ação Civil Pública voltada ao ressarcimento de danos ambientais, a regra é
a fixação do litisconsórcio passivo facultativo, abrindo-se ao autor a possibilidade de
demandar qualquer um deles, isoladamente ou em conjunto, pelo todo.
CONCLUSÃO 13. Agravo Interno não provido.
(AgInt no REsp 1830035/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 28/09/2020, DJe 14/10/2020)
ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. RECURSO SUBMETIDO AO ENUNCIADO
ADMINISTRATIVO 2/STJ. ATIVIDADE DE MINERAÇÃO EM ÁREA DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL (APA DE JUNDIAÍ/SP). LICENCIAMENTO ANULADO POR MEIO DE DECISÃO
JUDICIAL. PEDIDO ADMINISTRATIVO DE REGULARIZAÇÃO INDEFERIDO EM RAZÃO DE
VEDAÇÃO LEGAL DE MINERAÇÃO EM ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL. PRETENSÃO DE
ANULAÇÃO DESSA DECISÃO ADMINISTRATIVA PARA A RETOMADA DO PROCESSO DE
LICENCIAMENTO, COM APRESENTAÇÃO DE EIA/RIMA.
1. Decorre o presente recurso especial de demanda objetivando a anulação de decisão
da CETESB de indeferimento liminar do plano de trabalho para a elaboração de
EIA/RIMA exigido para fins de licenciamento da atividade de mineração na Área de
Proteção Ambiental de Jundiaí - SP.
2. Alega a recorrente que, quando da criação dessa área de proteção ambiental, exercia
a atividade de mineração em razão da obtenção de certificado de dispensa de licença
de instalação, a qual foi anulada judicialmente em razão de demanda proposta por
empresa que explora loteamento residencial em área vizinha à sua.
3. Entende a recorrente que referida decisão judicial só poderia produzir efeitos a partir
de seu trânsito em julgado - ou, na pior das hipóteses, a partir da citação no aludido
processo -, ficando estabelecida, nesses termos, a existência de licença ambiental na
época da criação da APA de Jundiaí, circunstância que ressalvaria a continuidade de
atividade vedada pelo decreto estadual de criação da área de proteção ambiental
(Decreto Estadual 43.284/1998).
4. A despeito da falta de prequestionamento dos dispositivos da Lei 9.784/1999
apontados como violados, o recurso especial não poderia ser conhecido, pois o
acolhimento da tese de que a referida decisão judicial ressalvara à recorrente a
apresentação de EIA/RIMA para fins de regularização da atividade demandaria exames
de fatos e provas - providência vedada na presente via, nos termos da Súmula 7/STJ -,
pois não consta do acórdão recorrido menção a respeito desse fato.
5. Não obstante, ainda que se fosse o caso de se levar em conta a anterior licença
irregularmente concedida, o acórdão recorrido interpretou legislação local para concluir
que a inexistência de licença ambiental válida quando da criação da APA de Jundiaí não
permite a regularização da atividade apenas com a elaboração e aprovação de
EIA/RIMA. Assim, o óbice da Súmula 280/STF também impede o conhecimento do
recurso especial nessa parte.
6. Quanto ao mais, a tese de que a Lei 9.985/2000 teria derrogado disposições da lei
estadual que a confrontavam não pode ser examinada na presente via, sob pena de
usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal para processar e julgar recurso
extraordinário contra decisão que julga válida lei local contestada em face de lei federal,
nos termos do art. 102, III, d, da Constituição Federal.
7. Recurso especial não conhecido.
(REsp 1771981/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 22/09/2020, DJe 25/09/2020)
PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. OPERAÇÃO CAIXA DE
PANDORA. 1. INDEFERIMENTO DE DILIGÊNCIAS FINAIS. ALEGADO CERCEAMENTO DE
DEFESA. DISCRICIONARIEDADE MOTIVADA DO JUIZ. ART. 400, § 1º, DO CPP. 2. PEDIDO
DE REPETIÇÃO DE PERÍCIA, DE OITIVA DE ASSISTENTE TÉCNICO E DE OITIVA DE DELATOR
DA OPERAÇÃO "PATMOS". PEDIDOS INDEFERIDOS DE FORMA MOTIVADA. CARÁTER
IMPERTINENTE, DESNECESSÁRIO OU PROTELATÓRIO DAS DILIGÊNCIAS.
FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. 3. APARELHO UTILIZADO POR DURVAL BARBOSA.
PERÍCIA DEFERIDA NO RHC 68.893/DF.
EVENTUAL PERECIMENTO DO OBJETO. SITUAÇÃO QUE NÃO REVELA DESCUMPRIMENTO
DA DECISÃO. SITUAÇÃO A SER ANALISADA PELO JUÍZO A QUO. 4. PEDIDO DE CÓPIAS DE
PROCESSOS. NEGATIVA DE ACESSO NÃO DEMONSTRADA. RELEVÂNCIA DA PROVA NÃO
INDICADA. MERA ESPECULAÇÃO. 5.
CONCLUSÕES FIRMADAS PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. DESCONSTITUIÇÃO QUE
DEMANDARIA INDEVIDO REVOLVIMENTO DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE NA
VIA ELEITA. 6. PEDIDO DE PERÍCIA EM HD APREENDIDO NA OPERAÇÃO MEGABYTE.
PLEITO DEFERIDO ANTERIORMENTE PELA CORTE LOCAL.
ESCLARECIMENTOS REQUERIDOS PELO JUÍZO DE ORIGEM. RESPOSTAS NÃO
APRESENTADAS. NECESSIDADE DE SE AGUARDAR O CUMPRIMENTO DAS DILIGÊNCIAS
JÁ DEFERIDAS. 7. RECURSO EM HABEAS CORPUS A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO.
1. O art. 400, § 1º, do CPP, autoriza o Magistrado a indeferir as provas que considerar
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias, uma vez que é ele o destinatário da prova.
Dessa forma, o indeferimento fundamentado da prova requerida pela defesa não revela
cerceamento de defesa, quando justificada sua desnecessidade para o deslinde da
controvérsia.
2. Quanto aos pedidos de repetição de perícia, de oitiva de assistente técnico e de oitiva
de delator da operação "Patmos", com a finalidade de fazer prova no sentido de que o
aparelho utilizado por Durval Barbosa na captação ambiental, não foi realizada por
aparelhos da Polícia Federal, tem-se que já constam dos autos laudos dos peritos da
Polícia Federal e dos assistentes técnicos defensivos, além de já ter sido "encartada aos
autos a mídia das declarações" do delator da denominada 'Operação Patmos'.
Constata-se, portanto, sem grande esforço, serem realmente desnecessárias as provas
requeridas.
3. Acaso o conjunto probatório revele que, de fato, não se realizou a perícia no aparelho
efetivamente utilizado, em virtude da sua não localização, não há se falar em
descumprimento do RHC 68.893/DF. Com efeito, a eventual impossibilidade de se
periciar o aparelho utilizado não foi desprezada pelo STJ que, ao julgar os embargos de
declaração opostos contra o acórdão proferido no referido recurso, esclareceu que
"eventual perecimento do objeto a ser periciado deve ser analisado pelo Magistrado de
origem, com base no regramento legal".
4. No que concerne à segunda diligência requerida, referente à expedição de ofício à 2ª
Vara Criminal de Brasília para encaminhamento de cópias do Inquérito n.
2017.01.1.010799-9 e da Medida Cautelar n. 2017.01.1.011201-2, observo que, além de
os recorrentes não terem se desincumbido de demonstrar a necessidade da referida
prova, afirmando apenas que "a rigor, não cabe à defesa nada além de especular", não
ficou demonstrada a negativa de acesso aos referidos autos.
5. Além de as decisões das instâncias ordinárias estarem suficientemente
fundamentadas e não apresentarem vício capaz de comprometer o exercício do
contraditório e ampla defesa, assegurado com bastante amplitude aos acusados,
inclusive pelo Superior Tribunal de Justiça, tem-se que eventual desconstituição das
conclusões firmadas pelas instâncias de origem demandaria o indevido revolvimento de
fatos e provas, o que não é cabível na via eleita.
6. No que diz respeito ao pedido de "realização de perícia em HD apreendido em poder
do delator premiado Durval Barbosa quando deflagrada a operação 'Megabyte', em
2008", constato que se trata, em verdade, de pedido para se aguardar a vinda da perícia
ou dos esclarecimentos, o que se revela completamente plausível. Ora, se o Tribunal de
origem autorizou a perícia e o Magistrado de primeiro grau determinou que fossem
prestados esclarecimentos, necessário se faz aguardar o cumprimento das
determinações judiciais.
7. Recurso em habeas corpus a que se dá parcial provimento, apenas para determinar
que se aguarde o resultado da diligência relativa aos "esclarecimentos sobre os motivos
da eventual inviabilidade de espelhamento dos dados digitais contidos no 'item 01 da
Equipe DF-05'".
(RHC 132.767/DF, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 22/09/2020, DJe 28/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EM
MANDADO DE SEGURANÇA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA NÃO SURPRESA.
INEXISTÊNCIA. ERRO MATERIAL. CARACTERIZAÇÃO. ACOLHIMENTO PARCIAL DO PLEITO
INTEGRATIVO COM A IMEDIATA RETOMADA DO JULGAMENTO DO RECURSO
ORDINÁRIO PELO SEU MÉRITO. SUSTENTAÇÃO ORAL JÁ REALIZADA EM SESSÃO
ANTERIOR. LEI DE REGISTROS PÚBLICOS (LEI N. 6.015/73). SOLICITAÇÃO DO PARQUET
IMPETRANTE AO OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS PARA A AVERBAÇÃO DA EXISTÊNCIA
DE INQUÉRITO CIVIL AMBIENTAL NA MATRÍCULA DE IMÓVEL LOTEADO. RECUSA DO
SERVENTUÁRIO CHANCELADA PELO JUÍZO DA COMARCA. FALTA DE OBSERVÂNCIA AO
REGULAR RITO DA DÚVIDA REGISTRAL.
ILEGALIDADE CONFIGURADA. OFENSA AOS ARTS. 198 E SEGUINTES DA LEI N.
6.015/73. NECESSIDADE DE RENOVAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE DÚVIDA.
1. Observada a ausência de prova pré-constituída do direito alegado no mandamus, a
extinção do feito prescinde de prévia manifestação da parte impetrante (art. 10 do CPC),
por se tratar de exigência inerente ao próprio ato da impetração, cujo iter, ademais, não
consente com a possibilidade de dilação probatória, mediante o tardio aporte de prova
documental que, desde logo, deveria ter acompanhado a exordial. Nesse sentido: RMS
54.566/PI, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe 9/10/2017.
2. De acordo com a norma prevista no artigo 1.022 do CPC/2015, são cabíveis embargos
de declaração nas hipóteses de obscuridade, contradição, omissão ou erro material na
decisão embargada.
3. Tem-se por evidenciada, no caso, a existência de erro material no julgado, uma vez
que, contrariamente ao que restou consignado na decisão embargada, o pleito
mandamental veio instruído com a necessária prova documental pré-constituída,
fazendo-se de rigor, por isso, o exame do mérito do recurso ordinário do Parquet
impetrante.
4. Ressai dos autos que, na origem, o Promotor de Justiça impetrante solicitou ao Oficial
de Registro de Imóveis da comarca que promovesse a averbação da existência de
inquérito civil ambiental na matrícula de específico imóvel loteado, providência ao final
recusada pelo serventuário e pelo Juiz de Registros Públicos.
5. Caso em que o iter compartilhado pelo Oficial e pelo Juiz se desgarrou do rito
delineado no art. 198 da LRP, resultando num procedimento de dúvida que correu à
revelia da parte interessada (in casu, o Promotor impetrante), que não teve
oportunidade de expor suas razões ao Magistrado e, menos ainda, a possibilidade de
apelar ao competente Tribunal, diante de uma decisão que lhe foi induvidosamente
desfavorável (art. 202 da LRP).
6. Embargos de declaração acolhidos para sanar erro material contido no acórdão
embargado e, em sequência, dar provimento parcial ao recurso ordinário a fim de,
também em parte, conceder o mandado de segurança impetrado pelo Parquet autor.
(EDcl no RMS 60.158/RJ, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
22/09/2020, DJe 02/10/2020)
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO POPULAR.
ANULAÇÃO DE LEI MUNICIPAL COM BASE EM CONTRARIEDADE À CONSTITUIÇÃO DO
ESTADO. ART. 1º DA LEI N. 4.717/65. OFENSA CONFIGURADA. IMPOSSIBILIDADE
DE UTILIZAÇÃO DA AÇÃO POPULAR COMO MEIO DE CONTROLE ABSTRATO DE
CONSTITUCIONALIDADE.
1. Verifica-se não ter ocorrido ofensa ao art. 535 do CPC/73, na medida em que o
Tribunal a quo dirimiu, fundamentadamente, as questões que lhe foram submetidas,
apreciando integralmente a controvérsia posta nos autos, não se podendo, ademais,
confundir julgamento desfavorável ao interesse da parte com negativa ou ausência de
prestação jurisdicional.
2. Cuida-se, na origem, de ação popular que pretende, nos termos da peça vestibular:
"provimento jurisdicional com o fim de ser definitivamente declarada nula a Lei
2.099/2003, bem como de todos os atos dela por ventura originados, ou
subsidiariamente para que sua execução seja suspensa até que sejam efetuados todos
os estudos de vizinhança e impacto ambiental, como também seja dada oportunidade
de esclarecimento à população por intermédio de Audiência Pública, ficando então
demonstrado o atendimento dos parâmetros ambientais e participativos" (fl. 17).
3. De acordo com a jurisprudência desta Corte Superior, "A ação popular é imprópria
para o controle da constitucionalidade das leis pelo sistema concentrado. Admite-se,
apenas, quando a declaração de inconstitucionalidade for incidenter tantum" (REsp
958.550/SC, Rel.
Ministro JOSÉ DELGADO, Primeira Turma, DJe 24/4/2008).
4. No caso concreto, a ação popular é manejada, inegavelmente, para efetuar o controle
de constitucionalidade da Lei n. 2.099/2003 do Município de Niterói, razão pela qual
deve ser extinta, sem apreciação do mérito, por inadequação da via eleita.
5. Como ensina MARÇAL JUSTEN FILHO, "a ação popular não é meio para o controle em
abstrato da constitucionalidade de atos legais" e, por isso, o "ato impugnado por meio
de ação popular deve ter sido praticado por agente público no exercício de competência
administrativa" (Curso de direito administrativo. 13. ed. São Paulo: Thomson
Reuters, 2018, p. 1196).
6. Recurso especial da municipalidade provido.
(REsp 1870470/RJ, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
22/09/2020, DJe 07/10/2020)
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPACTO AMBIENTAL. DUPLICAÇÃO DA BR-101. ALEGADA
VIOLAÇÃO AOS ARTS. 489 E 1.022 DO CPC/2015.
INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS, NO ACÓRDÃO RECORRIDO. INCONFORMISMO. OFENSA AOS
ARTS. 494 DO CPC/2015, 927 DO CÓDIGO CIVIL E 1º DA LEI 7.347/85.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF. DANO MORAL COLETIVO.
CONTROVÉRSIA RESOLVIDA, PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, À LUZ DAS PROVAS DOS
AUTOS. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO, NA VIA ESPECIAL. AGRAVO INTERNO
IMPROVIDO.
I. Agravo interno aviado contra decisão que julgara Recurso Especial interposto contra
acórdão publicado na vigência do CPC/2015.
II. Na origem, trata-se de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal, em
desfavor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT e do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente - IBAMA, objetivando a condenação dos réus à
elaboração e à execução de um programa de apoio à comunidade de Morro Alto/RS,
bem como uma indenização por danos morais coletivos.
III. Não há falar, na hipótese, em violação aos arts. 489 e 1.022 do CPC/2015, porquanto
a prestação jurisdicional foi dada na medida da pretensão deduzida, de vez que os votos
condutores do acórdão recorrido e do acórdão proferido em sede de Embargos de
Declaração apreciaram fundamentadamente, de modo coerente e completo, as
questões necessárias à solução da controvérsia, dando-lhes, contudo, solução jurídica
diversa da pretendida.
IV. Não tendo o acórdão hostilizado expendido juízo de valor sobre os arts. 494 do
CPC/2015, 927 do Código Civil e 1º da Lei 7.347/85, a pretensão recursal esbarra em
vício formal intransponível, qual seja, o da ausência de prequestionamento - requisito
viabilizador da abertura desta instância especial -, atraindo o óbice da Súmula 282 do
Supremo Tribunal Federal ("É inadmissível o recurso extraordinário, quando não
ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada"), na espécie.
V. O Tribunal de origem, com base no exame dos elementos fáticos dos autos, manteve
a sentença de parcial procedência, consignando que "'a demora dos órgãos DNIT e
IBAMA na inclusão de medidas mitigadoras e compensadoras por ocasião da ampliação
da BR101, embora indesejável, não pode ensejar a caracterização do dano moral
coletivo' (...), sendo que não restou demonstrado que tal demora tenha excedido os
limites da tolerabilidade ou representado grave sofrimento à referida comunidade, a
ponto de ensejar a condenação em danos morais coletivos indenizáveis". Tal
entendimento, firmado pelo Tribunal a quo, no sentido de que inexiste dano moral
coletivo, não pode ser revisto, pelo Superior Tribunal de Justiça, por exigir o reexame da
matéria fático-probatória dos autos. Precedentes do STJ.
VI. Agravo interno improvido.
(AgInt no REsp 1854084/RS, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 21/09/2020, DJe 25/09/2020)
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS AMBIENTAIS. ALEGADA VIOLAÇÃO AOS ARTS. 489 E 1.022
DO CPC/2015. INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS, NO ACÓRDÃO RECORRIDO. INCONFORMISMO.
DANOS MATERIAIS E DANOS MORAIS COLETIVOS.
PRETENDIDA REVISÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. CONTROVÉRSIA RESOLVIDA,
PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, À LUZ DAS PROVAS DOS AUTOS.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO, NA VIA ESPECIAL. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO INTERNO
IMPROVIDO.
I. Agravo interno aviado contra decisão que julgara Recurso Especial interposto contra
acórdão publicado na vigência do CPC/2015.
II. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal,
em desfavor da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - CHESF, pleiteando a
condenação desta à indenização por danos causados ao meio ambiente e danos morais
coletivos. O acórdão reformou, em parte, a sentença, que julgara parcialmente
procedente o pedido, para redistribuir o quantum indenizatório por danos morais e
materiais.
III. Não há falar, na hipótese, em violação aos arts. 489 e 1.022 do CPC/2015, porquanto
a prestação jurisdicional foi dada na medida da pretensão deduzida, de vez que os votos
condutores do acórdão recorrido e do acórdão proferido em sede de Embargos de
Declaração apreciaram fundamentadamente, de modo coerente e completo, as
questões necessárias à solução da controvérsia, dando-lhes, contudo, solução jurídica
diversa da pretendida.
IV. Na forma da jurisprudência do STJ, não se pode confundir decisão contrária ao
interesse da parte com ausência de fundamentação ou negativa de prestação
jurisdicional. Nesse sentido: STJ, REsp 801.101/MG, Rel. Ministra DENISE ARRUDA,
PRIMEIRA TURMA, DJe de 23/04/2008; REsp 1.672.822/SC, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de 30/06/2017; REsp 1.669.867/SC, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 30/06/2017.
V. O Tribunal de origem, com base no exame dos elementos fáticos dos autos, conclui
que "a importância de R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais), fixada a
título de indenização pelos danos materiais, mostrava-se suficiente para abarcar,
também, a indenização por danos morais". Tal contexto não autoriza a majoração
pretendida, de maneira que não há como acolher a pretensão do recorrente, em face
da Súmula 7/STJ.
VI. Agravo interno improvido.
(AgInt no REsp 1869690/CE, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 21/09/2020, DJe 25/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 3/STJ. ALEGADA OMISSÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO.
NÃO OCORRÊNCIA. SEGURO DE ACIDENTE DE TRABALHO. FATOR ACIDENTÁRIO DE
PREVENÇÃO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DE DIVERSOS DISPOSITIVOS
APONTADOS COMO VIOLADOS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 211/STJ.
CONFRONTO ENTRE A LEGISLAÇÃO QUE AUTORIZA A COBRANÇA E O PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE TRIBUTÁRIA. ENFOQUE CONSTITUCIONAL DA MATÉRIA.
REENQUADRAMENTO PELO DECRETO 6.957/2009. REEXAME DO CONJUNTO
PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. PRECEDENTES. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. A preliminar de ofensa aos artigos 489 e 1022 do CPC/2015 deve ser rejeitada, pois
na linha da jurisprudência desta Corte, não há falar em negativa de prestação
jurisdicional, nem em vício quando o acórdão impugnado aplica tese jurídica
devidamente fundamentada, promovendo a integral solução da controvérsia, ainda que
de forma contrária aos interesses da parte.
2. Verifica-se que alguns dos dispositivos legais apontados como violados não foram
objeto de debate na Corte de origem, razão pela qual é inviável o conhecimento das
questões, ante a ausência do indispensável prequestionamento, nos termos da Súmula
211/STJ.
3. Não compete ao Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso especial, analisar
eventual contrariedade a preceito contido na CF/88, nem tampouco uniformizar a
interpretação de matéria constitucional.
4. O Superior Tribunal de Justiça já firmou orientação no sentido da legalidade do
enquadramento, por decreto, das atividades perigosas desenvolvidas pela empresa,
com os respectivos escalonamentos, para fins de fixação da contribuição para o Riscos
Ambientais do Trabalho - RAT (antigo Seguro de Acidentes de Trabalho - SAT).
5. O Tribunal de origem entendeu que a reclassificação da empresa se deu com base em
estudos estatísticos. Assim, a análise da pretensão recursal, no sentido de reconhecer
que a reclassificação dos índices foi feita sem levar em consideração estatísticas de
acidentalidade, exige reexame de matéria fático-probatória, o que esbarra no óbice da
Súmula 7/STJ.
6. Agravo interno não provido.
(AgInt no REsp 1781815/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 21/09/2020, DJe 24/09/2020)
RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. CRIMES AMBIENTAIS.
CONFLITO APARENTE DE NORMAS. ARTS. 48 E 64 DA LEI N.
9.605/98. CONSUNÇÃO. ABSORVIDO O CRIME-MEIO DE DESTRUIR FLORESTA E O PÓS-
FATO IMPUNÍVEL DE IMPEDIR SUA REGENERAÇÃO. CRIME ÚNICO DE CONSTRUIR EM
LOCAL NÃO EDIFICÁVEL. PRESCRIÇÃO DO CRIME-FIM.
FULMINADA A PRETENSÃO PUNITIVA DO ESTADO QUANTO AO CRIME-MEIO.
RECURSO EM HABEAS CORPUS PROVIDO.
1. Consoante já decidido por esta Corte, quando praticados no mesmo contexto fático,
o delito de impedir a regeneração natural da flora (art. 48 da Lei 9.605/98) configura
pós-fato impunível do delito de construção em área não edificável sem a respectiva
licença ambiental (art. 64 da Lei 9.605/98). Precedentes.
2. Declarada a prescrição do crime-fim (art. 64 da Lei 9.605/98) torna-se necessário o
trancamento da ação penal deflagrada para a apuração do crime-meio (art. 48 da Lei
9.605/98), uma vez que a consunção põe fim à autonomia do crime-meio, não
subsistindo a pretensão punitiva do Estado quanto a esse fato delituoso.
3. Desse modo, extinta a punibilidade do crime-fim pela prescrição, como no caso dos
autos, não há previsão no ordenamento jurídico que autorize restaurar a pretensão
punitiva quanto aos delitos absorvidos.
4. Recurso em habeas corpus provido para determinar o trancamento da Ação Penal n.
0056521-49.2007.8.07.0001, em trâmite na 2ª Vara Criminal da circunscrição especial
judiciária de Brasília, o que não impede nova propositura de inicial acusatória atendendo
aos rigores legais.
(RHC 130.332/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 15/09/2020,
DJe 23/09/2020)
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL.
EDIFICAÇÃO IRREGULAR EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E EM TERRENO DE
MARINHA. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO E LICENÇAS AMBIENTAIS IMPERIOSAS.
REPARAÇÃO INTEGRAL DO DANO AMBIENTAL. MEDIDAS PARA RECUPERAÇÃO E
COMPENSAÇÃO PELO PERÍODO EM QUE FORAM DESRESPEITADAS AS NORMAS
AMBIENTAIS. CABÍVEL A CUMULAÇÃO DAS CONDENAÇÕES IN CASU.
PRECEDENTES.
I - Na origem, trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal
contra Márcio Soares da Costa objetivando a demolição de barraca de praia
irregularmente construída, por se tratar de área de preservação permanente e terreno
de marinha, na Praia de Quixaba, no Município de Aracati/CE, bem como a reparação
dos danos ambientais e a condenação ao pagamento de indenização ao Fundo de Defesa
dos Direitos Difusos.
II - A sentença acolheu os pedidos, condenando o réu à recuperar a área degradada, com
a demolição da edificação irregular e remoção de todos os materiais e entulhos
decorrentes de sua ocupação, devendo, para tanto, apresentar Plano de Recuperação
de Área Degradada (PRAD), bem como indenização pecuniária em favor do Fundo de
Defesa dos Direitos Difusos.
III - O Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em sede recursal, reformou a decisão para
afastar a condenação à reparação do dano ambiental e indenização imposta,
remanescendo, apenas, a condenação com relação à demolição da construção irregular.
IV - Em relação à apontada afronta a dispositivos da Lei n.
4.771/1965 e Lei n. 6.938/1981, constata-se que o Tribunal a quo, apesar de consignar
acerca da irregularidade da edificação inserida nos limites de área de preservação
permanente e em terreno de marinha, que perdura por mais de 30 (trinta) anos,
entendeu pela improcedência dos pedidos de reparação do dano ambiental e
indenização pecuniária.
V - Nesse diapasão, o acórdão objurgado se encontra em dissonância com o
entendimento consolidado desta Corte segundo o qual, a necessidade de reparação
integral da lesão causada ao meio ambiente autoriza a cumulação das condenações
supracitadas, porquanto, além de devido o pleito cominatório - a fim de restaurar a área
degradada, a indenização in casu não corresponde ao dano a ser reparado, mas aos seus
efeitos remanescentes, reflexos ou transitórios.
VI - Recurso especial provido para restabelecer integralmente a sentença monocrática.
(REsp 1869672/CE, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado em
15/09/2020, DJe 23/09/2020)
DIREITO AMBIENTAL. INSTITUIÇÃO DE RESERVA LEGAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA
NA VIGÊNCIA DO ANTIGO CÓDIGO FLORESTAL. TEMPUS REGIT ACTUM.
INCIDÊNCIA DA LEI N. 4.771/1965. PROPRIEDADE RURAL. INSERÇÃO SUPERVENIENTE
DO IMÓVEL RURAL EM PERÍMETRO URBANO. MANUTENÇÃO DA OBRIGAÇÃO ATÉ QUE
LEI MUNICIPAL DISCIPLINE O PARCELAMENTO DO SOLO URBANO, COM A OBSERVÂNCIA
DO REGIME DE PROTEÇÃO DE ÁREAS VERDES URBANAS. AGRAVO CONHECIDO PARA
CONHECER E PROVER O RECURSO ESPECIAL, COM AS VÊNIAS AO MINISTRO RELATOR,
DETERMINANDO O RETORNO DOS AUTOS À CORTE DE ORIGEM A FIM DE QUE PROSSIGA
NO JULGAMENTO DO RECURSO.
1. Na origem, tem-se ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público mineiro em
2007, em razão de o réu não ter feito a averbação da reserva legal, nos termos da Lei n.
4.771/1965 (Antigo Código Florestal). O pleito foi julgado improcedente pela Corte de
origem ao entendimento de que não é aplicável nem a Lei n. 4.771/1965 (Antigo Código
Florestal) nem os normativos da Lei n. 12.651/2012 (Atual Código Florestal), não
havendo, portanto, direito à instituição da reserva legal na propriedade, porque o
imóvel, antes rural, passou a ser considerado contido em zona de expansão urbana a
partir de 2011.
2. Não há controvérsia quanto à natureza rural da área à época em que ajuizada a ação
civil pública (2007), que tem, entre os seus pedidos, justamente a obrigação de
implementação de reserva legal, porque ela não foi constituída a tempo e modo. Dessa
forma, se a área pertencia ao meio rural no momento em que se questionou o
cumprimento da obrigação (instituição da reserva legal), é perfeitamente aplicável à
hipótese as disposições da Lei n.
4.771/1965 (Antigo Código Florestal), pois assente nesta Corte Superior o entendimento
segundo o qual em matéria ambiental a lei a ser aplicada é aquela vigente ao tempo do
fato (tempus regit actum), posição que assegura o cumprimento do princípio da vedação
do retrocesso ambiental.
3. Não obstante o Código Florestal de 1965 não ter tratado expressamente a respeito
da extinção ou manutenção da reserva legal quando ocorrer a alteração da localização
da propriedade (do meio rural para de área de expansão urbana), é prudente que se
conserve a obrigação de manutenção da reserva legal na propriedade, por coerência
com o sistema legal de proteção ambiental, até que sobrevenha regulamentação pela
legislação urbana do município, com o registro do parcelamento do solo urbano, sendo
esta a previsão contida no art. 19 do Atual Código Florestal, in verbis: "A inserção do
imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal não desobriga o
proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal, que só será extinta
concomitantemente ao registro do parcelamento do solo para fins urbanos aprovado
segundo a legislação específica e consoante as diretrizes do plano diretor de que trata o
§ 1º do art. 182 da Constituição Federal (grifo nosso)".
4. Agravo conhecido para conhecer e dar provimento ao recurso especial do Ministério
Público do Estado de Minas Gerais.
(AREsp 1066063/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão
Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/09/2020, DJe
29/09/2020)
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. AMEAÇA E LESÃO CORPORAL NO AMBIENTE
DOMÉSTICO. AUDIÊNCIA. ART. 16 DA LEI N. 11.340/2006. ACÓRDÃO RECORRIDO.
FUNDAMENTO SUFICIENTE. IMPUGNAÇÃO. AUSÊNCIA. SÚMULA N.
283 DO STF. AUTORIA E MATERIALIDADE DELITIVAS. COMPROVAÇÃO.
VERIFICAÇÃO. INVIABILIDADE. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA N. 7 DO STJ.
DIÁLOGOS FEITOS POR MEIO DO APLICATIVO 'WHATSAPP'.
UTILIZAÇÃO COMO PROVA. NECESSIDADE DE ATO NOTARIAL. ART. 384 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. RAZÕES DO APELO NOBRE DISSOCIADAS DOS FUNDAMENTOS DO
ACÓRDÃO IMPUGNADO. FALTA DE IMPUGNAÇÃO CONCRETA.
SÚMULAS N. 283 E 284 DO STF. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. O Tribunal de origem afastou a existência de nulidade, pela falta de realização da
audiência prevista no art. 16 da Lei n.
11.340/2006, sob o fundamento concreto de que esta somente ocorre quando a vítima,
antes do recebimento da denúncia, manifesta interesse em se retratar da
representação. O recurso especial, entretanto, limitou-se a alegar, genericamente, a
existência de nulidade pela falta da audiência, mas sem refutar, especificamente, o
fundamento utilizado pelo acórdão recorrido, o qual, na verdade, sequer foi
mencionado nas razões recursais. Sendo assim, nesse aspecto, tem incidência a Súmula
n. 283 do Supremo Tribunal Federal.
2. Após uma minudente análise das provas pericial e testemunhal, e do depoimento da
vítima, a Corte de origem ratificou a conclusão no sentido de estarem comprovadas as
práticas dos delitos de ameaça e de lesão corporal leve, afastando, quanto a este último,
expressamente, que a alegação defensiva de que o Agravante teria apenas segurado a
ofendida pelos braços não encontrou guarida nos elementos colhidos na instrução
processual. Para rever as conclusões que chegaram as instâncias ordinárias, seria
necessário o reexame de matéria fático-probatória, descabido em recurso especial.
3. A alegação, trazida no recurso interno, de que se busca apenas um "olhar sobre a
prova" é vaga e carece da precisão conceitual e técnica necessária nos recursos dirigidos
às instâncias extraordinárias, não sendo minimamente apta para dar suporte à
pretensão de afastamento da incidência da Súmula n. 7 do Superior Tribunal de Justiça.
4. A Corte a quo afastou a necessidade de transcrição, por ato notarial, dos diálogos
feitos por aplicativo de mensagens, a partir dos seguintes fundamentos: a) a prova teria
natureza indiciária e equivaleria à gravação ambiental, sendo suficiente para deflagrar a
ação penal; b) o Réu não impugnou a prova em momento oportuno; c) a ameaça pode
ser comprovada por qualquer meio; d) o disposto no art.
384 do Código de Processo Civil constitui mera faculdade. As razões do recurso especial,
entretanto, estão dissociadas desses fundamentos, que sequer foram mencionados, e
não impugnaram concretamente nenhum deles, mas se limitaram a sustentar,
genericamente, a necessidade do ato notarial para utilização dos diálogos como prova.
Dessa forma, em relação a esse aspecto, têm incidência as Súmulas n. 283 e 284 do
Supremo Tribunal Federal, conforme consignou a decisão agravada.
5. O argumento, suscitado no agravo regimental, de que os fundamentos utilizados no
acórdão recorrido eram "tão absurdos que foram devidamente impugnados no recurso
especial", também se mostra vago e carece de suporte mínimo para afastar a conclusão
da decisão agravada. Se a parte entendia que as premissas jurídicas utilizadas pela Corte
de origem eram absurdas, devia tê-las expressamente refutado no recurso especial e
não sobre elas silenciar completamente, como ocorreu no caso concreto.
6. A impossibilidade de conhecimento do recurso especial, no que diz respeito à ofensa
ao art. 384 do Código de Processo Civil, impede também a análise da tese de que os
diálogos não poderiam ser utilizados para dar suporte à condenação, porque poderiam
ser objeto de elaboração, manipulação ou alteração, porque trazidas no apelo nobre a
pretexto de violação ao referido dispositivo.
7. Agravo regimental desprovido.
(AgRg nos EDcl no AREsp 1618394/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA,
julgado em 15/09/2020, DJe 29/09/2020)
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIME PREVISTO NO ART. 68 DA LEI N.
9.605/1998. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. DECISUM QUE CONCLUIU PELA
INEXISTÊNCIA DE HIPÓTESES DE REJEIÇÃO DA INICIAL ACUSATÓRIA OU DE
DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE DESOBEDIÊNCIA. TRANCAMENTO DO PROCESSO
POR AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. NÃO CABIMENTO. ANÁLISE SOBRE A MATERIALIDADE
E A AUTORIA DO DELITO QUE NÃO PODE SER PROCEDIDA NA VIA ELEITA. RECURSO
DESPROVIDO.
1. Na hipótese dos autos, o Agravante foi denunciado, em 1.º/04/2016, como incurso
no art. 68 da Lei n. 9.605/1998, sob a acusação de que, no mês de julho de 2013, deixou
de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental, porquanto, não obstante tenha
sido embargada a área de 457,167 hectares da sua propriedade rural pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, arrendou-a,
"onde foi realizada colheita de arroz e milho, bem como plantio de soja" (fl. 59).
2. Apesar de sucinta, a decisão que manteve o recebimento da denúncia apontou,
fazendo referência à acusação apresentada pelo Réu, que inexistem as hipóteses de
rejeição da inicial acusatória ou de desclassificação para o delito de desobediência.
3. Nessa perspectiva, o entendimento está conformado à jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça pacificada no sentido de que "[...] a decisão que recebe a denúncia
(CPP, art. 396) e aquela que rejeita o pedido de absolvição sumária (CPP, art. 397) não
demandam motivação profunda ou exauriente, considerando a natureza interlocutória
de tais manifestações judiciais, sob pena de indevida antecipação do juízo de mérito,
que somente poderá ser proferido após o desfecho da instrução criminal, com a devida
observância das regras processuais e das garantias da ampla defesa e do contraditório"
(RHC 60.582/MT, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
13/12/2016, DJe 19/12/2016; sem grifos no original).
4. O trancamento do processo-crime pela via do habeas corpus é medida de exceção,
que só é admissível quando emerge dos autos, sem a necessidade de exame valorativo
do conjunto fático ou probatório, a atipicidade do fato, a ausência de indícios capazes
de fundamentar a acusação ou, ainda, a extinção da punibilidade, circunstâncias não
evidenciadas no caso em apreço.
5. Não se pode impedir o Estado, antecipadamente, de exercer a função jurisdicional,
coibindo-o de realizar o levantamento dos elementos de prova para a verificação da
verdade dos fatos - o que constitui hipótese de extrema excepcionalidade, não
evidenciada na espécie. É prematuro, pois, determinar desde já o trancamento do
processo-crime, sendo certo que, no curso da instrução processual - que, segundo as
informações prestadas pela Magistrada de primeiro grau, ainda não foi encerrada em
razão da insistência da Defesa na oitiva de testemunha (fl. 337) -, poderá a Defesa
demonstrar a veracidade das alegações.
6. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC 582.831/MT, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
15/09/2020, DJe 29/09/2020)
AMBIENTAL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. CÔMPUTO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO CÁLCULO DA
RESERVA LEGAL. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA DO CÓDIGO FLORESTAL.
VEDAÇÃO AO RETROCESSO ( PRINCÍPIO TEMPUS REGIT ACTUM).
PRECEDENTES DA PRIMEIRA TURMA E DA SEGUNDA TURMA DO STJ. RESSALVA DO
PONTO DE VISTA DO RELATOR. AGRAVO INTERNO DOS PARTICULARES A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
1. O Tribunal de origem se posicionou a favor da aplicação retroativa do Novo Código
Florestal, com vistas ao cômputo da Área de Preservação Permanente no percentual da
Área de Reserva Legal, a fatos ocorridos em 5.4.2000 (fls. 2.246).
2. O ato jurídico ? qual seja, o dano pela degradação do espaço protegido ? não se
qualifica como perfeito, completo ou finalizado, justamente pelo seu caráter contínuo,
renovando-se de forma ininterrupta. A aplicação da Lei 12.651/2012 para as supressões
de vegetação ocorridas durante a vigência da Lei 4.771/1965 não configura, desse modo,
retroatividade sobre o ato jurídico já acabado, pois o dano permanece; a hipótese trata,
isso sim, da tradicional aplicabilidade imediata da Lei aos fatos acontecidos em sua
vigência.
3. O que não se pode é admitir o fracionamento da natureza jurídica do dano ambiental
por degradação de espaços protegidos: de um lado, para a contagem da prescrição,
considerá-lo como dano permanente, de modo a renovar o termo inicial do prazo
prescricional e impedir com isso sua fluência; de outro, para definir qual a Legislação
aplicável para tratar o dano como um ato jurídico perfeito, a atrair a incidência da Lei
mais gravosa.
4. Consequentemente, a análise da existência e a recomposição do dano em APP,
reserva legal ou outro dos espaços tutelados pelo Novo Código, devem se pautar,
atualmente, pela totalidade do regime da Lei 12.651/2012 (ressalvadas, por óbvio, as
disposições declaradas inconstitucionais pelo STF), ainda que a degradação tenha
ocorrido na vigência da Lei 4.771/1965.
5. Entretanto, ambas as Turmas da 1a .Seção deste Tribunal Superior firmaram
entendimento segundo o qual a regra geral será a incidência da legislação florestal, de
direito material, vigente à época dos fatos, na qual se determina a aplicação da Lei
4.771/1965 para as degradações ambientais ocorridas em sua vigência (PET no REsp.
1.240.122/PR, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 19.12.2012 e REsp.
1.646.193/SP, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Min. GURGEL
DE FARIA, DJe 4.6.2020).
6. Agravo Interno dos Particulares a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1467501/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 14/09/2020, DJe 21/09/2020)
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL EM ÁREA INDÍGINA.
EXPLOSÃO DE NAVIO PETROLEIRO. NEXO DE CAUSALIDADE. DANOS MORAIS.
CONTROVÉRSIA RESOLVIDA, PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, À LUZ DAS PROVAS DOS
AUTOS. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO, NA VIA ESPECIAL. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO
INTERNO IMPROVIDO.
I. Agravo interno aviado contra decisão que julgara Recurso Especial interposto contra
acórdão publicado na vigência do CPC/73.
II. No acórdão objeto do Recurso Especial, o Tribunal de origem julgou parcialmente
procedente o pedido em ação ajuizada pela FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO - FUNAI,
na qual postula a condenação da agravante em indenizar a comunidade indígena
habitante da Ilha da Cotinga/PR, pelos danos decorrentes da explosão do navio Vicuña.
III. No caso, o Tribunal de origem, com base nos elementos probatórios dos autos,
concluiu que (a) "o conjunto probatório evidencia a relação de causalidade entre as
alterações ambientais ventiladas e a explosão do navio petroleiro"; (b) "o Laudo Técnico
Vicuña - fls. 140-159, elaborado pelo IBAMA e pelo IAP - Instituto ambiental do Paraná,
evidenciou a existência de danos ao meio ambiente. Comprovado o dano ambiental, não
há como a empresa autora escusar-se de suas obrigações legais"; (c) "o acidente com o
navio Vicuña, afetou os hábitos alimentares da comunidade indígena Guarani-mbya
residente na Ilha da Cotinga, uma vez que foi proibida a pesca e a coleta de caranguejos,
no período de dezembro a janeiro de 2004. Também a venda de artesanato na cidade
de Parananguá ficou prejudicada, uma vez que a proibição de banho de mar devido ao
acidente com o navio Vicuña, afastou os turistas do litoral"; e (d) "a equação
fática/jurídica imanente à lide e às finalidades precípuas do instituto - sancionatória,
pedagógica e inibitória -, há que ser minorada a indenização para R$ 10.000,00 para
cada família identificada no local".
IV. Nos termos em que a causa fora decidida, infirmar os fundamentos do acórdão
recorrido ? no tocante à comprovação do nexo causal e à razoabilidade do valor fixado
a título de indenização ? demandaria o reexame de matéria fática, o que é vedado em
Recurso Especial, nos termos da Súmula 7/STJ. Nesse sentido: STJ, AgInt no REsp
1.811.696/RS, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA PRIMEIRA TURMA, DJe de
11/12/2019; AgInt nos EDcl no AREsp 1.490.534/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, DJe de 20/03/2020; AgInt no AREsp 1.525.615/RJ, Rel.
Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 12/03/2020.
V. Agravo interno improvido.
(AgInt no REsp 1577474/PR, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 14/09/2020, DJe 22/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL.
LICENÇA. MATÉRIA FÁTICA NÃO APRECIADA. DEVOLUÇÃO AO TRIBUNAL DE ORIGEM.
ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO
DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO.
I ? Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016,
o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional
impugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015.
II ? O reconhecimento de eventual violação ao art. 1.022 do CPC/15 dependerá da
presença concomitante das seguintes circunstâncias processuais: i) oposição de
embargos de declaração, na origem, pela parte interessada; ii) alegação de ofensa a esse
dispositivo, nas razões do recurso especial, de forma clara, objetiva e fundamentada,
acerca da mesma questão suscitada nos aclaratórios; iii) publicação do acórdão dos
embargos sob a vigência do CPC/15; e iv) os argumentos suscitados nos embargos
declaratórios, alegadamente não examinados pela instância a quo, deverão: v) ser
capazes de, em tese, infirmar as conclusões do julgado; e vi) versar questão envolvendo
matéria fático-probatória essencial ao deslinde da controvérsia ou demandar
interpretação de direito local..
III ? O recurso integrativo foi oposto a fim de que a instância ordinária se pronunciasse
sobre as seguintes questões: (i) à "conclusão de que as dunas sobre as quais foi
construído o empreendimento em questão seria supostamente e originariamente
desprovida e descoberta de vegetação; (ii) em argumentar como seria possível
compatibilizar a sobredita assertiva com os documentos acostados, os quais
demonstram o inverso; (iii) como compatibilizar a Resolução CONAMA 34/2003 com a
construção de um empreendimento sobre dunas cobertas por uma vegetação nativa e,
(iv) se a autarquia federal ambiental embargante não teria competência para atuar em
relação ao caso em apreço, apenas pelo fato de ter sido o empreendimento objeto de
licenciamento pela SEMACE, face ao disposto no art. 17 ,§ 3º, da Lei Complementar n.
140/2011 e a jurisprudência consolidada no âmbito do STJ acerca da temática em foco.
IV - Observo tratar-se de questões relevantes, oportunamente suscitadas e que, se
acolhidas, poderiam levar o julgamento a um resultado diverso do proclamado.
Ademais, a não apreciação das teses, à luz dos dispositivos constitucional e
infraconstitucional indicados a tempo e modo, impede o acesso à instância
extraordinária.
V ? Não apresentação de argumentos suficientes para desconstituir a decisão recorrida.
VI ? Em regra, descabe a imposição da multa, prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de
Processo Civil de 2015, em razão do mero improvimento do Agravo Interno em votação
unânime, sendo necessária a configuração da manifesta inadmissibilidade ou
improcedência do recurso a autorizar sua aplicação, o que não ocorreu no caso.
VII ? Agravo Interno improvido.
(AgInt no REsp 1819583/CE, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 14/09/2020, DJe 17/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AMBIENTAL. AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL.
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO
AMBIENTAL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.
INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. RECOMPOSIÇÃO DE ÁREA DEGRADADA.
PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO. SÚMULA N. 07/STJ. INAPLICABILIDADE.
ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA.
APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
DESCABIMENTO.
I ? Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016,
o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional
impugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015.
II ? Os comandos legais que autorizam a exploração antrópica das Áreas de Preservação
Permanente devem ser interpretados restritivamente, sob pena de colocar em risco o
equilíbrio ambiental, comprometendo a sobrevivência das presentes e futuras gerações.
Não havendo controvérsia quanto ao fato de o empreendimento abranger Área de
Preservação Permanente, na qual fora canalizado curso d'água ao arrepio da legislação
ambiental, de rigor a recomposição da área degradada. Precedentes.
III ? Não apresentação de argumentos suficientes para desconstituir a decisão recorrida.
IV ? Prequestionamento implícito dos dispositivos legais apontados no recurso especial,
considerando haver, no acórdão recorrido, manifestação expressa sobre a tese, a
despeito de não terem sido indicados explicitamente. A questão posta diz com a
valoração dos atos praticados em Área de Preservação Permanente, circunstância que
afasta a incidência da Súmula n. 07 desta Corte.
V ? Em regra, descabe a imposição da multa, prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de
Processo Civil de 2015, em razão do mero improvimento do Agravo Interno em votação
unânime, sendo necessária a configuração da manifesta inadmissibilidade ou
improcedência do recurso a autorizar sua aplicação, o que não ocorreu no caso.
VI ? Agravo Interno improvido.
(AgInt no REsp 1800773/SC, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 14/09/2020, DJe 17/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. QUEIMA DE PALHA DE CANA-DE-AÇUCAR. DANO
AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. MULTA.
AUTO DE INFRAÇÃO. REGULARIDADE.
I - Na origem, trata-se de ação ajuizada contra a Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo - Cetesb objetivando anular o Auto de
Infração em decorrência de suposta queima de palha de cana-de-açúcar.
II - Na sentença, julgou-se procedente o pedido para anular a multa.
No Tribunal a quo, a sentença foi mantida. Nesta Corte, conheceu-se do agravo para dar
provimento ao recurso especial, julgando improcedente o pedido, em razão da
regularidade do Auto de Infração.
III - Inicialmente cumpre salientar que o incêndio é fato incontroverso nos autos, bem
como evidente "[...] a atividade de remoção de trilhos da linha férrea que corta a
propriedade, por meio de maçaricos e botijões de oxigênio." IV - A alegação recursal,
considerando as próprias constatações do acórdão recorrido em relação ao incêndio,
está centrada no fato de que, em se tratando de dano ambiental, a responsabilidade, in
casu, é objetiva, e sua pretensão encontra amparo na jurisprudência desta Corte em
casos análogos. A propósito, confiram-se: (AgInt no AREsp n. 1.410.897/MS, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 2/4/2019, DJe
5/4/2019, REsp n. 1.768.207/SP, Rel.
Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, julgado em 12/3/2019, DJe 18/3/2019, REsp
n. 1.692.018/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 6/2/2018,
DJe 11/3/2019 e AgRg no AREsp n.
479.026/SP, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, julgado em 26/4/2016,
DJe 11/5/2016).
V - Observado que o entendimento aqui consignado, lastreado na jurisprudência, é
prevalente no Superior Tribunal de Justiça, aplica-se o enunciado da Súmula n. 568/STJ.
VI - Agravo interno improvido.
(AgInt no AREsp 1424470/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA,
julgado em 14/09/2020, DJe 21/09/2020)
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA.
VIOLAÇÃO DO ART. 489 DO CPC/2015. NÃO OCORRÊNCIA. RESSARCIMENTO POR DANO
AMBIENTAL CAUSADO DURANTE A VIGÊNCIA DO CONTRATO DE LOCAÇÃO.
RESPONSABILIDADE DOS FIADORES. REEXAME FÁTICO E PROBATÓRIO DOS AUTOS E
DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS. SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. DESCABIMENTO DE RECURSO
ESPECIAL POR VIOLAÇÃO DA LEI ESTADUAL. SÚMULA 280 DO STF.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADA. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Afasta-se a violação do art. 489 do CPC/2015 quando o eg.
Tribunal estadual aprecia a controvérsia em sua inteireza, dando-lhe a devida
fundamentação.
2. O eg. Tribunal Estadual, com arrimo no acervo fático-probatório carreado aos autos e
conforme disposto no contrato firmado entre as partes, concluiu pela responsabilidade
dos fiadores em arcar com os danos causados durante a vigência do contrato de locação.
A pretensão de modificar tal entendimento, considerando as circunstâncias do caso
concreto, demandaria reexame de matéria fático-probatória e das cláusulas contratuais,
o que é inviável em sede de recurso especial, a teor das Súmulas 5 e 7/STJ.
3. Não cabe recurso especial por violação a lei estadual, conforme disposto na Súmula
280/STF, aplicada por analogia.
4. Divergência jurisprudencial não comprovada devido à ausência de cotejo analítico
entre os acórdãos paradigmas e o v. acórdão estadual.
5. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt nos EDcl no AREsp 1559169/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
julgado em 14/09/2020, DJe 01/10/2020)
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
APLICABILIDADE. PROPOSTA DE AFETAÇÃO COMO REPRESENTATIVO DA
CONTROVÉRSIA. AMBIENTAL. LEI N. 12.651/2012 (NOVO CÓDIGO FLORESTAL).
APLICAÇÃO NO TEMPO.
1. Delimitação da questão de direito controvertida: possibilidade de se reconhecer a
retroatividade de normas não expressamente retroativas da Lei n. 12.651/2012 (novo
Código Florestal) para alcançar situações consolidadas sob a égide da legislação anterior.
2. Recurso especial submetido à sistemática dos recursos repetitivos, em afetação
conjunta com o REsp n. 1.762.206/SP.
(ProAfR no REsp 1731334/SP, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 08/09/2020, DJe 16/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
APLICABILIDADE. PROPOSTA DE AFETAÇÃO COMO REPRESENTATIVO DA
CONTROVÉRSIA. AMBIENTAL. LEI N. 12.651/2012 (NOVO CÓDIGO FLORESTAL).
APLICAÇÃO NO TEMPO.
1. Delimitação da questão de direito controvertida: possibilidade de se reconhecer a
retroatividade de normas não expressamente retroativas da Lei n. 12.651/2012 (novo
Código Florestal) para alcançar situações consolidadas sob a égide da legislação anterior.
2. Recurso especial submetido à sistemática dos recursos repetitivos, em afetação
conjunta com o REsp n. 1.731.334/SP.
(ProAfR no REsp 1762206/SP, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 08/09/2020, DJe 16/09/2020)
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE. POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA.
PESSOA JURÍDICA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. PRAZO. ART. 109 DO CÓDIGO
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A prescrição da pretensão punitiva antes do trânsito em julgado da sentença deve ser
regulada pelos prazos previstos no art. 109 do Código Penal, nos casos de crimes
ambientais cujo preceito secundário do tipo não preveja exclusivamente a pena de
multa, ainda que praticados, em tese, por pessoa jurídica. Precedentes.
2. Na espécie, a ré responde pelo crime do art. 54, § 2º, II, da Lei n. 9.605/1998 ? poluição
atmosférica. A pena máxima abstratamente cominada ao delito é de 5 anos. Portanto,
nos termos do art. 109, III, do CP, a prescrição antes do trânsito em julgado da sentença
verifica-se em 12 anos. Houve apenas dois marcos interruptivos até o presente
momento ? data da consumação do delito, 16/8/2011, e recebimento da denúncia,
4/9/2015 ?, entre os quais decorreu período inferior a 12 anos. Não há, portanto, como
extinguir a punibilidade da agravante, por não haver ocorrido a prescrição da pretensão
punitiva.
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp 1621911/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 08/09/2020, DJe 14/09/2020)
ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. MOLDURA FÁTICA: AÇÃO CIVIL
PÚBLICA AJUIZADA EM 2011, PARA RECOMPOR E PRESERVAR A RESERVA LEGAL EM
IMÓVEL RURAL. COMPENSAÇÃO AMBIENTAL FEITA NO MESMO BIOMA, PORÉM FORA
DA MESMA MICROBACIA HIDROGRÁFICA, CONFORME PERMISSÃO DO ART. 66, III E §
6o., II DA LEI 12.651/2012. A PRETENSÃO MINISTERIAL CONSISTE EM OBRIGAR QUE A
COMPENSAÇÃO OCORRA NA MESMA MICROBACIA, NOS TERMOS DA LEGISLAÇÃO
AMBIENTAL REVOGADA (ART. 44, III DA LEI 4.771/1965). ANÁLISE JURÍDICA:
ENTENDIMENTO PREDOMINANTE, NA PRIMEIRA TURMA DESTA CORTE SUPERIOR,
QUANTO À INVIABILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL.
ACÓRDÃO PARADIGMA: RESP 1.646.193/SP, REL. MIN. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
REL. P/ ACÓRDÃO MIN. GURGEL DE FARIA, DJE 4.6.2020. RESSALVA, TODAVIA, PARA A
POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS EXPRESSAMENTE RETROATIVOS,
COMO O ART. 66, EM DISCUSSÃO NESTES AUTOS. PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL PELO PROVIMENTO DO APELO NOBRE. RECURSO ESPECIAL DO PRESENTANTE
MINISTERIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. PRELIMINARMENTE: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973
(relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os
requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas até
então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (Enunciado Administrativo 2).
2. Inexiste a alegada violação do art. 535, II do CPC/1973, pois a prestação jurisdicional
foi dada na medida da pretensão deduzida, conforme se depreende da análise do
acórdão recorrido. O Tribunal de origem apreciou fundamentadamente a controvérsia,
não padecendo o acórdão recorrido de qualquer omissão, contradição ou obscuridade.
Observe-se, ademais, que julgamento diverso do pretendido, como na espécie, não
implica ofensa à norma ora invocada.
3. MOLDURA FÁTICA DO ACÓRDÃO RECORRIDO: Trata-se, na origem, de Ação Civil
Pública proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, no ano de
2011, contra o ESPÓLIO DE VICENTE AULICINO, pleiteando, em suma, a demarcação e a
recuperação da área de reserva legal em seu imóvel rural.
4. Para tanto, aduz o Parquet que, diante da degradação da reserva legal em seu imóvel,
o proprietário promoveu a compensação ambiental, adquirindo reserva legal em
terreno rural diverso.
Entretanto, tal compensação não teria observado a exigência do art.
44, III da Lei 4.771/1965 (o antigo Código Florestal), segundo o qual somente seria
compensável a reserva legal dentro da mesma microbacia hidrográfica.
5. A sentença (fls. 546/549) e o acórdão (fls. 697/733), proferidos já na vigência da Lei
12.651/2012, rejeitaram a pretensão ministerial, ao argumento de que o Código
Florestal atualmente em vigor não exige que a compensação ocorra na mesma
microbacia, bastando que as reservas legais se situem no mesmo bioma, conforme seu
art. 66, § 6o., II. Assim, aplicando ao caso a modificação legislativa, concluíram que a
área de reserva legal adquirida pelo réu localiza-se no mesmo bioma do imóvel a ser
compensado, com a chancela do órgão ambiental estadual, o que tornaria lícita a
compensação (fls. 717).
6. DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA: Estabelecer a legislação aplicável à compensação
ambiental da reserva legal em imóvel rural: se o art.
44, III da Lei 4.771/1965, segundo o qual a compensação deveria ocorrer dentro da
mesma microbacia; ou o art. 66, III e § 6o., II da Lei 12.651/2012, que não impõe tal
exigência, demandando apenas que a áreas compensadas se localizem no mesmo
bioma.
7. QUANTO AO MÉRITO: A Segunda Turma deste Tribunal Superior firmou entendimento
segundo a qual a regra geral será a incidência da legislação florestal, de direito material,
vigente à época dos fatos, na qual se determina a aplicação da Lei 4.771/1965 para as
degradações ambientais ocorridas em sua vigência (PET no REsp.
1.240.122/PR, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 19.12.2012).
8. Essa tese foi referendada pela Primeira Turma, por maioria, no julgamento do REsp.
1.646.193/SP, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Min. GURGEL
DE FARIA, DJe 4.6.2020.
Entretanto, naquela ocasião, foi admitida a aplicação dos dispositivos expressamente
retroativos do Novo Código Florestal.
Este é o caso do art. 66 - que inclusive foi objeto de discussão no aresto -, o qual rege
formas alternativas de recomposição da reserva legal para os imóveis consolidados até
22.7.2008.
9. Por conseguinte, a pretensão do MINISTÉRIO PÚBLICO está em dissonância com a
compreensão da Primeira Turma desta Corte Superior. Afinal, o que busca o Parquet é
impedir a compensação realizada com espeque no art. 66 da Lei 12.651/2012, por
pretender a incidência das regras da Lei 4.771/1965. No julgamento do REsp.
1.646.193/SP, por outro lado, prevaleceu a tese de que o sobredito art. 66 aplica-se, sim,
retroativamente, nos exatos termos de seu caput.
10. Recurso Especial do Presentante Ministerial a que se nega provimento, em
divergência ao parecer do Ministério Público Federal.
(REsp 1532719/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 08/09/2020, DJe 15/09/2020)
PENAL E PROCESSUAL PENAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. PRODUÇÃO DE MATERIAL
PORNOGRÁFICO COM MENOR. GRAVAÇÃO AMBIENTAL PELA GENITORA DA VÍTIMA.
PROVA LÍCITA. PRISÃO PREVENTIVA. EXTREMA GRAVIDADE DELITIVA.
WRIT DENEGADO.
1. Nos termos da jurisprudência da Corte, é lícita a prova produzida pela genitora da
menor vítima de crime sexual, consistente em gravação audio/visual ambiental, dado o
seu legítimo poder-dever de proteger a infante e desvendar o ato criminoso, situação
que se assemelha à gravação de conversa telefônica feita com a autorização de um dos
interlocutores, sem ciência do outro, quando há cometimento de delito por este último,
hipótese já reconhecida como válida pelo Supremo Tribunal Federal. Precedentes.
2. Inexiste ilegalidade na prisão preventiva quando justificada na extrema gravidade do
ato criminoso praticado, haja vista que, segundo consta, praticou atos libidinosos
diversos da conjunção carnal com LMPTL, sua filha, que à época possuía três anos de
idade.
Ainda, prevalecendo-se de relações domésticas e familiares contra a mulher, registrou,
por meio de câmera instalada em um cômodo da sua residência, cenas pornográficas
envolvendo a vítima [...] de se ver que a menor se urinava quando sua genitora passava
a arrumar suas roupas para que fosse dormir na residência paterna.
3. Habeas corpus denegado.
(HC 578.058/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 08/09/2020,
DJe 14/09/2020)
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL
PENAL. CRIME DE POLUIÇÃO AMBIENTAL. PLEITO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
PRESENTES INDÍCIOS DE AUTORIA E DE MATERIALIDADE DELITIVA. AUSÊNCIA DE JUSTA
CAUSA NÃO EVIDENCIADA DE PLANO. AGRAVO DESPROVIDO.
1. O entendimento pacífico desta Corte é de que o trancamento da ação penal pela via
do habeas corpus e do recurso ordinário em habeas corpus é medida de exceção, que
só é admissível quando emerge dos autos, sem a necessidade de exame valorativo do
conjunto fático ou probatório, que há imputação de fato penalmente atípico, a
inexistência de qualquer elemento indiciário demonstrativo de autoria e materialidade
do delito ou, ainda, a extinção da punibilidade.
2. Se extrai da inicial acusatória, oxigenada pelos documentos angariados no Inquérito
Civil, os indícios suficientes de autoria, pois o Denunciado, engenheiro civil, teria sido o
responsável técnico pela execução da obra que permitiu a drenagem pluvial de
efluentes, "através de um tubo que passa por um canal a céu aberto diretamente no
solo, sem nenhum tipo de tratamento, contaminando o solo e o lago Água Preta".
3. A materialidade delitiva foi demonstrada por avaliação técnica, que constatou a
presença, nas amostras coletadas, de "níveis de AMÔNIA E DBO (Demanda Bioquímica
de Oxigênio) em desacordo com os recomendáveis"; e também por meio de visita in
loco e prestação de informações por Órgãos Públicos e outras Instituições, sendo
esclarecido "que o condomínio em tela não possui Estação de Tratamento de Efluentes-
ETE" e "que o empreendimento também não possui as licenças ambientais exigidas por
lei para poder funcionar" 4. Ao contrário do que quer fazer crer o Agravante, não se
evidencia, estreme de dúvidas, a alegada falta de justa causa. Em verdade, tais fatos,
aparentemente, se amoldam ao crime previsto no art. 54, § 2.º, inciso V, da Lei de Crimes
Ambientais e, portanto, legitimam o prosseguimento da ação penal em desfavor do Réu.
5. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no RHC 113.988/PA, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
08/09/2020, DJe 22/09/2020)
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL.
DOSIMETRIA. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM RESTRITIVA DE
DIREITOS. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO DESPROVIDO.
1. O art. 44 do Código Penal estabelece que será admitida a conversão da pena corporal
por restritiva de direitos se "a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que
essa substituição seja suficiente". No caso em análise, o Tribunal de origem asseverou
não ser admissível a concessão do benefício, por se tratar de réu que ostenta duas
condenações por crimes ambientais, além de ser reincidente e ostentar mais
antecedentes, sem que possa inferir arbitrariedade em tal conclusão.
2. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC 587.984/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
01/09/2020, DJe 09/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA TUTELA PROVISÓRIA. CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. CONSTITUCIONAL. AMBIENTAL.
PROCESSUAL CIVIL. CONTRACAUTELA. TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA. ART.
300 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. REQUISITOS. PRESENÇA. DIREITO AO MEIO
AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO. FUMUS BONI JURIS.
INTERESSE DIFUSO. PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E PRECAUÇÃO. INVERSÃO DO ÔNUS
PROBATÓRIO. SÚMULA N. 618/STJ. MEDIDA LIMINAR CONCEDIDA NA ORIGEM.
REVISÃO. SÚMULA N. 7/STJ. PERICULUM IN MORA EM FAVOR DA PROTEÇÃO
AMBIENTAL. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO
ATACADA. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE
2015. DESCABIMENTO.
I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o
regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional
impugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015.
II - A concessão de tutela provisória de urgência é cabível no âmbito deste Tribunal
Superior para atribuir efeito suspensivo ou antecipar a tutela em recursos ou ações
originárias de sua competência, devendo haver a satisfação simultânea dos requisitos
da verossimilhança das alegações e do perigo de lesão grave e de difícil reparação ao
direito da parte, bem como para concessão de efeito suspensivo a recurso especial
interposto.
III - O direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, insculpido no
caput do art. 225 da Constituição da República, é interesse difuso, de titularidade
transindividual, emergindo, nesse cenário, os princípios da precaução e da prevenção,
os quais impõem a priorização de medidas que previnam danos à vulnerável biota
planetária, bem como a garantia contra perigos latentes, ainda não identificados pela
ciência.
IV - Consoante o teor da Súmula n. 618/STJ, em homenagem ao princípio da precaução,
impõe-se a inversão do ônus da prova nas ações civis ambientais, de modo a atribuir ao
empreendedor a prova de que o meio ambiente permanece hígido, mesmo com o
desenvolvimento de sua atividade. Na espécie, não se extrai dos autos nenhuma
comprovação, pelo Agravante, de que sua atividade não causaria a degradação
apontada na ação civil pública, constatando-se, na verdade, a iminente ameaça de
severos danos ambientais, bem como à saúde pública de um sem-número de pessoas,
mormente pelo risco concreto de contaminação do rio Paraíba do Sul.
V - Rever o entendimento da Corte de origem, pela concessão de medida liminar
pleiteada pelo Parquet, demandaria necessário revolvimento de matéria fática, inviável
em sede de recurso especial, à luz do óbice contido na Súmula n. 07 desta Corte,
circunstância que revela a presença do fumus boni iuris necessário ao deferimento da
tutela de urgência ora pleiteada.
VII - Ainda à luz dos princípios da precaução e da prevenção, é forçoso concluir que, no
bojo do exame de medidas de urgência em matéria ambiental, o periculum in mora
milita em favor da proteção do meio ambiente, não sendo possível a adoção de outra
solução, senão o imediato resguardo da pessoa humana e do meio ambiente, mormente
em quadros fáticos críticos como o presente.
VIII - Não apresentação de argumentos suficientes para desconstituir a decisão
recorrida.
IX - Em regra, descabe a imposição da multa, prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de
Processo Civil de 2015, em razão do mero improvimento do Agravo Interno em votação
unânime, sendo necessária a configuração da manifesta inadmissibilidade ou
improcedência do recurso a autorizar sua aplicação, o que não ocorreu no caso.
V - Agravo Interno improvido.
(AgInt no TP 2.476/RJ, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 01/09/2020, DJe 02/10/2020)
AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.
RESERVA LEGAL. DANO. OBRIGAÇÃO DE RECUPERAR ÁREA DEGRADADA. TERMO DE
AJUSTAMENTO DE CONDUTA - TAC. ART. 5°, § 6°, DA LEI 7.347/1985.
TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. ART. 784, XII, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE
2015. LIBERDADE CONTRATUAL. FUNÇÃO SOCIAL E ECOLÓGICA DO CONTRATO. ARTS.
421 E 1.228, § 1º, DO CÓDIGO CIVIL. ATO JURÍDICO PERFEITO. PRINCÍPIO DA MELHORIA
DA QUALIDADE AMBIENTAL E PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DE RETROCESSO.
INAPLICABILIDADE DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL (LEI 12.651/2012).
IRRETROATIVIDADE DA LEI. TEMPUS REGIT ACTUM. ART. 6º, CAPUT, DA LEI DE
INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. ART. 12 DO DECRETO FEDERAL
8.235/2014. ABRANGÊNCIA DO TAC. PROBIDADE E BOA-FÉ OBJETIVA NOS NEGÓCIOS
JURÍDICOS. RESERVA MENTAL. ARTS. 110 E 113 DO CÓDIGO CIVIL. CONDUTA
ATENTATÓRIA À DIGNIDADE DA JUSTIÇA. ART. 774 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
1. Trata-se, na origem, de Embargos à Execução opostos pelos recorrentes contra o
Ministério Público estadual. O Termo de Ajustamento de Conduta - TAC foi firmado em
2011, sob a égide das Leis 4.771/1965 (Código Florestal) e 6.983/1981 (Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente). As obrigações combinadas não foram implementadas,
encontrando-se os proprietários em mora quando da promulgação do novo Código
Florestal em 2012. Na petição inicial, os embargantes justificam o inadimplemento com
o argumento de que pediram "a suspensão do cumprimento do termo de ajustamento
até a aprovação do novo Código Florestal" (grifo acrescentado).
2. É pacífico no STJ - inconcebível entendimento divergente da lei - que a aplicação do
novo Código Florestal se perfaz "respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido
e a coisa julgada" (art.
6º, caput, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB, Decreto-Lei
4.657/1942), em sintonia, quanto a fatos pretéritos, com o princípio tempus regit actum.
Precedentes.
3. A legislação ambiental fixa piso, e não teto, de proteção da saúde humana,
biodiversidade, paisagem e sistema climático, donde não tolhe poderes do proprietário
para, na posição de dominus, por ato de liberalidade unilateral (p. ex., Reserva Particular
do Patrimônio Nacional - RPPN) ou bilateral (TAC, p. ex.), avançar além do patamar
mínimo da norma e, voluntariamente, encolher suas faculdades de "usar, gozar e dispor
da coisa" e dos correlatos processos ecológicos (Código Civil, art. 1.228, caput). Em
outras palavras, o dono desfruta de liberdade limitada no uso e aproveitamento dos
recursos naturais, mas retém liberdade ilimitada para abdicar de usá-los ou aproveitá-
los, se imbuído do nobre fim social de conservar o meio ambiente para as presentes e
futuras gerações.
4. Segundo o art. 5°, § 6°, da Lei 7.347/1985, c/c o art. 784, XII, do CPC/2015, o TAC ou
documento assemelhado possui eficácia de título executivo extrajudicial. Suas cláusulas
devem, por conseguinte, ser adimplidas fiel, completa e lealmente no tempo, modo e
condições fixados, incumbindo ao compromissário provar a satisfação plena das
obrigações assumidas. A inadimplência, total ou parcial, dá ensejo à execução do
avençado e das sanções cabíveis.
Uma vez celebrado livre e conscientemente, e preenchidas as formalidades legais,
constitui ato jurídico perfeito, imunizado contra alterações legislativas posteriores que
enfraqueçam obrigações estatuídas em favor da sociedade. Exatamente por reclamar
cabal e fiel implementação, impedido se acha o juiz de, a pretexto de existir lei nova,
negar execução ao TAC, pois tal constituiria grave afronta à garantia da irretroatividade
encapsulada na LINDB e um dos pilares do Estado de Direito. Nessas circunstâncias,
despropositado falar em perda de objeto quer do título, quer da demanda. Do título,
não, pois preservado perante a lei superveniente; da demanda, tampouco, porque
íntegro o interesse processual em executá-lo (CPC/2015, art. 485, VI).
5. Se a garantia da irretroatividade não pode ser rechaçada pelo legislador constitucional
e ordinário, com maior razão e ênfase não pode sê-lo pela Administração, interditada
de a ela desobedecer ao editar norma regulamentar ou ato administrativo. Logo, sem
nenhuma eficácia jurídica o art. 12 do Decreto Federal 8.235/2014.
6. Embora inseridas em Título do Código Civil referente aos "Contratos em Geral", as
cláusulas gerais dos arts. 421 (probidade e boa-fé objetiva) e 422 (função social do
contrato), ambas de ordem pública e interesse social - portanto, diretrizes irrenunciáveis
e inafastáveis a serem estritamente guardadas pelos sujeitos e controladas pelo juiz -,
possuem tripla natureza universal: iluminam o ordenamento jurídico por inteiro,
afetando relações privadas e públicas; abraçam, além das modalidades contratuais
puras, a multiplicidade inumerável de atos e negócios jurídicos, nessa tarefa
complementando o instituto da interpretação, manejado pelo art. 113 do Código Civil,
indo além de seu âmbito; recaem sobre o negócio jurídico em si, mas igualmente se
estendem às fases a ele anterior e posterior.
7. Ofende os princípios da probidade e da boa-fé objetiva o compromissário, em mora,
que retarda a execução de obrigações pactuadas (especialmente as destinadas a reparar
danos metaindividuais) e, em contrapartida, se beneficia de suspensão ou mesmo
remissão de sanções administrativas e penais, sob a escusa de que Projeto de Lei ainda
em discussão poderá eximi-lo de respeitar o ajustado. Outrossim, celebrar negócio
jurídico na expectativa de não ter de cumpri-lo por conta de anunciada reforma
legislativa caracteriza repreensível reserva mental (Código Civil, art. 110).
Hipótese clara, por outro lado, de conduta atentatória à dignidade da justiça, mediante
emprego de meio artificioso para evitar a execução do que acordado em favor da
sociedade. Não se deve esquecer que, ao contrário do que indicaria leitura literal
apressada, o art.
774 do CPC/2015 representa padrão ético-jurídico a guiar o devedor durante o processo
de execução propriamente dito, mas com irradiação para o antes e o depois.
8. Prescreve, genericamente, o Código Civil que "só quanto a direitos patrimoniais de
caráter privado se permite a transação" (art. 841). Ora, intuitivo que o regime jurídico
do TAC necessite resguardar o interesse público muito mais rigidamente do que se
verifica na transação entre particulares. Então, se é verdade que a legislação especial
atribui ao Ministério Público e a outros colegitimados a possibilidade de celebrar e
homologar judicialmente composição para encerrar litígio, não se mostra menos certo
que tais sujeitos estão jungidos às restrições aplicáveis aos negócios jurídicos privados
e a diversas outras que lhes são peculiares, tanto em forma como em conteúdo.
9. Para os porta-vozes processuais da metaindividualidade, a liberdade de contratar
(rectius, de celebrar negócios jurídicos) constante do art. 421 do Código Civil não é
absoluta, nem irrefreável, mas se subordina não só à função social nele prevista, mas
também a cânones jurídicos de regência da vida civilizada em comunidade, entre eles a
função ecológica do contrato, cara-metade da função ecológica da propriedade (art.
1.228, § 1º, do Código Civil). Na tutela de bens e valores que integram a órbita da
coletividade e das gerações futuras, é interditado acordo - em juízo ou
extrajudicialmente, por meio de Termo de Ajustamento de Conduta - concluído à
margem ou em vilipêndio da legalidade estrita. A irrestringibilidade não define a
resolução amigável protagonizada pelos agentes estatais na litigiosidade
transindividual, que obedece a dever inarredável de integral submissão aos interesses e
direitos indisponíveis envolvidos. Em resultado, a atuação do Estado (aí incluído o
Ministério Público) implica atendimento a rígidos pressupostos, limites e vedações. Daí
decorre se franquear ampla vigilância judicial, o que se justifica pelo fato de o TAC ora
incorporar, simultaneamente, como figura anfíbia, componentes ex voluntate e ex lege,
ora não vincular outros colegitimados e vítimas individuais descontentes, em harmonia
com o espírito cauteloso e republicano de pesos e contrapesos.
10. Agravo Interno não provido.
(AgInt no REsp 1688885/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 01/09/2020, DJe 20/10/2020)
AMBIENTAL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
CÔMPUTO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO CÁLCULO DA RESERVA LEGAL.
IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA DO CÓDIGO FLORESTAL.
VEDAÇÃO AO RETROCESSO (PRINCÍPIO TEMPUS REGIT ACTUM). PRECEDENTES DA
PRIMEIRA E SEGUNDA TURMA DO STJ. RESSALVA DO PONTO DE VISTA DO RELATOR.
AGRAVO INTERNO DO PARTICULAR A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Trata-se na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE SÃO PAULO, objetivando a observância do disposto no antigo Código
Florestal, no que diz respeito ao cômputo das áreas de preservação permanente no
cálculo do percentual de Reserva Legal. O Juízo de piso julgou improcedente os pedidos
da exordial. Em sede de Apelação, o Tribunal de origem negou provimento ao recurso
do Parquet, a fim de permitir o cômputo de Área de Preservação Permanente (APP) no
cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel, desde que cumpridas as
condicionantes previstas do Novo Código Florestal.
2. O ato jurídico ? qual seja, o dano pela degradação do espaço protegido ? não se
qualifica como perfeito, completo ou finalizado, justamente pelo seu caráter contínuo,
renovando-se de forma ininterrupta. A aplicação da Lei 12.651/2012 para as supressões
de vegetação ocorridas durante a vigência da Lei 4.771/1965 não configura, desse modo,
retroatividade sobre o ato jurídico já acabado, pois o dano permanece; a hipótese trata-
se, isso sim, da tradicional aplicabilidade imediata da Lei aos fatos acontecidos em sua
vigência.
3. O que não se pode é admitir o fracionamento da natureza jurídica do dano ambiental
por degradação de espaços protegidos: de um lado, para a contagem da prescrição,
considerá-lo como dano permanente, de modo a renovar o termo inicial do prazo
prescricional e impedir com isso sua fluência; de outro, para definir qual a Legislação
aplicável, tratar o dano como um ato jurídico perfeito, a atrair a incidência da Lei mais
gravosa.
4. Consequentemente, a análise da existência e a recomposição do dano em APP,
reserva legal ou outro dos espaços tutelados pelo Novo Código devem se pautar,
atualmente, pela totalidade do regime da Lei 12.651/2012 (ressalvadas, por óbvio, as
disposições declaradas inconstitucionais pelo STF), ainda que a degradação tenha
ocorrido na vigência da Lei 4.771/1965.
5. Entretanto, ambas as Turmas da Primeira Seção deste Tribunal Superior firmaram
entendimento segundo o qual a regra geral será a incidência da legislação florestal, de
direito material, vigente à época dos fatos, na qual se determina a aplicação da Lei
4.771/1965 para as degradações ambientais ocorridas em sua vigência (PET no REsp.
1.240.122/PR, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 19.12.2012 e REsp. 1.646.193/SP, Rel.
Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Min. GURGEL DE FARIA, DJe
4.6.2020).
6. Agravo Interno dos Particulares a que se nega provimento.
(AgInt no REsp 1668484/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 31/08/2020, DJe 03/09/2020)
AMBIENTAL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. CÔMPUTO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO CÁLCULO DA
RESERVA LEGAL. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA DO CÓDIGO FLORESTAL.
VEDAÇÃO AO RETROCESSO (PRINCÍPIO TEMPUS REGIT ACTUM).
PRECEDENTES DA 1a. TURMA E DA 2a. TURMA DO STJ. RESSALVA DO PONTO DE VISTA
DO RELATOR. AGRAVO INTERNO DOS PARTICULARES A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Trata-se na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE SÃO PAULO, objetivando, em síntese, a demarcação e a averbação de
Reserva Legal no imóvel denominado FAZENDA CABECEIRO DO PASSA VINTE, localizado
no MUNICÍPIO DE CRUZEIRO/SP. O Tribunal de origem se posicionou a favor da aplicação
retroativa do Novo Código Florestal com vistas ao cômputo da Área de Preservação
Permanente no percentual da Área de Reserva Legal a fatos ocorridos antes da vigência
do Novo Código Florestal.
2. O ato jurídico ? qual seja, o dano pela degradação do espaço protegido ? não se
qualifica como perfeito, completo ou finalizado, justamente pelo seu caráter contínuo,
renovando-se de forma ininterrupta. A aplicação da Lei 12.651/2012 para as supressões
de vegetação ocorridas durante a vigência da Lei 4.771/1965 não configura, desse modo,
retroatividade sobre o ato jurídico já acabado, pois o dano permanece; a hipótese trata-
se, isso sim, da tradicional aplicabilidade imediata da Lei aos fatos acontecidos em sua
vigência.
3. O que não se pode é admitir o fracionamento da natureza jurídica do dano ambiental
por degradação de espaços protegidos: de um lado, para a contagem da prescrição,
considerá-lo como dano permanente, de modo a renovar o termo inicial do prazo
prescricional e impedir com isso sua fluência; de outro, para definir qual a Legislação
aplicável, tratar o dano como um ato jurídico perfeito, a atrair a incidência da Lei mais
gravosa.
4. Consequentemente, a análise da existência e a recomposição do dano em APP,
reserva legal ou outro dos espaços tutelados pelo Novo Código, devem se pautar,
atualmente, pela totalidade do regime da Lei 12.651/2012 (ressalvadas, por óbvio, as
disposições declaradas inconstitucionais pelo STF), ainda que a degradação tenha
ocorrido na vigência da Lei 4.771/1965.
5. Entretanto, ambas as Turmas da 1a. Seção deste Tribunal Superior firmaram
entendimento segundo o qual a regra geral será a incidência da legislação florestal, de
direito material, vigente à época dos fatos, na qual se determina a aplicação da Lei
4.771/1965 para as degradações ambientais ocorridas em sua vigência (PET no REsp.
1.240.122/PR, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 19.12.2012 e REsp.
1.646.193/SP, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Min. GURGEL
DE FARIA, DJe 4.6.2020).
6. Agravo Interno dos Particulares a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1199197/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 31/08/2020, DJe 04/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. AMBIENTAL. DANO. ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. TEORIA DO FATO CONSUMADO. INAPLICABILIDADE.
MUNICÍPIO. RESPONSABILIDADE. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR
A DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO.
I ? Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016,
o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional
impugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015.
II ? Nos termos da Súmula n. 613 desta Corte, não há falar em direito adquirido à
manutenção de situação que gere prejuízo ao meio ambiente. Precedentes.
III - Na espécie, o particular construiu em Àrea de Preservação Permanente, em
desacordo com a legislação que rege a matéria e sem a devida autorização do Poder
Público, gerando prejuízo ao meio ambiente.
IV - O ente municipal tem o poder-dever de regularizar loteamentos clandestinos ou
irregulares quanto às obras essenciais a serem implantadas de acordo com a lei local,
sem prejuízo da posterior cobrança dos custos de sua atuação saneadora aos
responsáveis.
Precedentes.
V ? Não apresentação de argumentos suficientes para desconstituir a decisão recorrida.
VI ? Em regra, descabe a imposição da multa, prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de
Processo Civil de 2015, em razão do mero improvimento do Agravo Interno em votação
unânime, sendo necessária a configuração da manifesta inadmissibilidade ou
improcedência do recurso a autorizar sua aplicação, o que não ocorreu no caso.
VII ? Agravo Interno improvido.
(AgInt no REsp 1677164/SP, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 31/08/2020, DJe 03/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. EXECUÇÃO FISCAL. INFRAÇÃO AMBIENTAL.
SUSPENSÃO. AÇÃO ANULATÓRIA GARANTIA. INEXISTÊNCIA. FUNDAMENTO NÃO
ATACADO. PROGRAMA DE REGULARIZAÇÃO AMBIENTAL (PRA). CONCRETIZAÇÃO
PENDENTE. FATO NOVO. ANÁLISE. IMPOSSIBILIDADE. PREQUESTIONAMENTO FICTO.
AUSÊNCIA.
1. Conforme estabelecido pelo Plenário do STJ, "aos recursos interpostos com
fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de
2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC"
(Enunciado Administrativo n. 3).
2. Nos autos de executivo fiscal de sanção ambiental, o Regional entendeu que, em
relação ao Auto de Infração n. 019843-A, "a simples propositura de ação anulatória não
se presta a afetar a exigibilidade do crédito", sendo necessária a comprovação de
depósito, de fiança ou de garantia bancária, inexistentes, na espécie e, no tocante ao
Auto de Infração n. 019841-A, não era possível a suspensão, com base no art. 59, § 5º,
do novo Código Florestal (Lei 12.651/2012), "considerando-se que ainda não houve a
concreta implantação do Programa de Regularização Ambiental (PRA), o que inviabiliza
a assinatura do Termo de Compromisso para recuperação da área degradada, requisito
indispensável para a medida pleiteada." 3. In casu, a parte recorrente descurou de
impugnar a necessidade de garantia para a suspensão desejada, falta que atrai, no
ponto, o enunciado da Súmula 283 do STF.
4. O Superior Tribunal de Justiça entende que os autos de infração lavrados na vigência
do antigo Código Florestal "permanecem válidos e blindados como atos jurídicos
perfeitos que são - apenas a sua exigibilidade monetária fica suspensa na esfera
administrativa, no aguardo do cumprimento integral das obrigações estabelecidas no
PRA ou no TC" (PET no REsp 1.240.122/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, Segunda
Turma, julgado em 02/10/2012, DJe 19/12/2012).
5. Na hipótese, o próprio recorrente reconhece que ainda não assinou o Termo de
Compromisso e apenas manifestou interesse em aderir ao PRA, não bastando para a
suspensão almejada apenas a inscrição do imóvel no CAR.
6. De acordo com a jurisprudência do STJ, "não é possível a alegação de fato novo
exclusivamente em sede de recurso especial por carecer o tema do requisito
indispensável de prequestionamento e importar, em última análise, em supressão de
instância" (AgInt nos EDcl no REsp 1.761.051/DF, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, Primeira
Turma, julgado em 09/03/2020, DJe 12/03/2020).
7. Há manifesta ausência de prequestionamento, a atrair a aplicação da Súmula 211 do
STJ, quando os conteúdos dos preceitos legais tido por violados não são examinados na
origem, mesmo após opostos embargos de declaração.
8. Segundo o entendimento desta Corte de Justiça, para se reconhecer o
prequestionamento ficto de que trata o art. 1.025 do CPC/2015, na via do especial,
impõe-se a invocação e o reconhecimento de contrariedade ao art. 1.022 do CPC/2015,
o que não ocorreu.
9. Agravo interno desprovido.
(AgInt no REsp 1622622/PR, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 31/08/2020, DJe 08/09/2020)
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA ESTADUAL X JUSTIÇA FEDERAL. CRIME
AMBIENTAL. ART. 68 DA LEI N. 9.605/98. ATIVIDADE DE RELEVANTE INTERESSE
AMBIENTAL PREVISTA NO ART. 17-C DA LEI 6.938/1981. RELATÓRIO DE ATIVIDADES
POTENCIALMENTE POLUIDORAS - RAPP. SISTEMA DE CONTROLE DO CADASTRO
TÉCNICO FEDERAL. INTERESSE DIRETO E ESPECÍFICO DE AUTARQUIA FEDERAL (IBAMA).
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL (ART. 109, IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - CF).
1. No caso dos autos foi instaurado procedimento judicial, a partir de ofício do IBAMA,
o qual informou a instauração de processo para apuração de responsabilidade
administrativa ambiental de empresa que deixou de entregar, no sistema oficial de
controle Cadastro Técnico Federal, o 'relatório anual RAPP' de que trata o art. 17-C da
Lei n° 6.938/1981 referentes aos anos 2014/2013, 2015/2014, 2016/2015, 2017/2016.
O núcleo da controvérsia consiste em definir a competência para processar e julgar a
conduta tipificada no art. 68 da Lei nº 9.605/98, consistente em deixar de cumprir
obrigação relevante de interesse ambiental. A obrigação de relevante interesse
ambiental que teria deixado de ser praticada está prevista no art. 17-C da Lei nº
6.938/1981.
2. Está caracterizado o interesse direto e específico do IBAMA na apuração do referido
delito uma vez que ele é o destinatário das informações não prestadas, as quais são
essenciais para compor Cadastro Técnico Federal por ele administrado. Em outras
palavras a objetividade jurídica do delito em questão consiste em garantir que a
administração pública exerça a defesa no meio ambiente, recaindo, no caso concreto,
sobre cadastro administrado por autarquia federal, caracterizando, assim, o interesse
da Justiça Federal conforme art.
109, IV, da Constituição Federal - CF.
3. Importante ressaltar que a jurisprudência do STJ também é firme no sentido de que
o mero exercício de atividade fiscalizatória do IBAMA não fixa a competência da Justiça
Federal, sendo imprescindível a demonstração do interesse específico da autarquia na
apuração do delito. Todavia no caso dos autos, não se está fixando a competência da
Justiça Federal tão somente em razão de o IBAMA ter sido responsável por lavrar o auto
de infração. Na espécie, está caracterizado o interesse específico da autarquia federal
na atualização dos dados do Cadastro Técnico Federal para o cumprimento de sua
atribuição de se informar acerca das atividades potencialmente poluidoras, exercendo,
assim, a defesa ambiental na esfera federal.
4. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça - STJ já reconheceu o interesse do
IBAMA na atividade vinculada à Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental - TCFA para
administração do Cadastro Técnico Federal. Precedentes: CC 160.704/PE, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, DJe 5/12/2018 e CC 160.423/PE, de minha relatoria, DJe
25/3/2019.
5. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 1ª Vara de Joinville -
SJ/SC, o suscitado.
(CC 172.819/SC, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
26/08/2020, DJe 02/09/2020)
HABEAS CORPUS. ART. 34 DA LEI N. 9.605/1998. CRIME AMBIENTAL. PESCA EM PERÍODO
DE DEFESO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA.
OCORRÊNCIA. REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA ADMONITÓRIA E DE DILIGÊNCIAS ESTATAIS
PARA A RECAPTURA DO APENADO. NÃO CONFIGURAÇÃO DE MARCOS INTERRUPTIVOS.
HABEAS CORPUS CONCEDIDO.
1. A audiência admonitória não se confunde com o efetivo início ou retomada de
cumprimento da pena e, portanto, não interrompe o prazo prescricional, sob pena de
se criar um novo marco interruptivo, o que é vedado, seja porque o rol previsto no art.
117 do CP é taxativo, seja porque inaceitável a aplicação de analogia in malam partem.
2. Ainda que realizadas diversas buscas sem êxito na recaptura, é do Estado-Juiz o ônus
de garantir a efetividade da execução penal.
3. Para efeito de análise da prescrição da pretensão executória, as penas fixadas nas
duas condenações devem ser isoladamente consideradas, verificando-se a prescrição de
cada uma delas, nos moldes do art. 109, V, do Código Penal, em 4 anos.
4. Interrompido o cumprimento das penas restritivas de direitos em 7/9/2013, e
retomado tão somente em 4/10/17, verifica-se o decurso do prazo prescricional entre
tais marcos interruptivos.
5. Habeas corpus concedido para declarar extinta a punibilidade do paciente em razão
da prescrição da pretensão executória.
(HC 590.459/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 25/08/2020,
DJe 04/09/2020)
AGRAVOS REGIMENTAIS EM RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL.
CRIME AMBIENTAL. VIOLAÇÃO DO ART. 60 DA LEI N. 9.605/1998. PLEITO DE
CONDENAÇÃO. INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS QUE, DIANTE DO QUADRO FÁTICO-
PROBATÓRIO, NÃO IDENTIFICARAM A ATIVIDADE PERPETRADA (REVENDA DE
COMBUSTÍVEL) COMO POTENCIALMENTE LESIVA AO MEIO AMBIENTE.
ALTERAÇÃO DO ENTENDIMENTO INVIÁVEL NA VIA ELEITA. SÚMULA 7/STJ.
1. No que se refere ao pleito de afastamento do óbice da Súmula 7/STJ, visando à
absolvição do agravado, o Juízo singular dispôs que é necessário comprovar que a
conduta do réu foi potencialmente poluidora. [...] Imprescindível, dessa forma, a prova
pericial para comprovar, no caso, que a atividade de revenda de combustíveis dos réus
se tratava de serviço potencialmente poluidor. [...] Não há prova pericial nos autos nesse
sentido, havendo, apenas, a constatação por fiscalização do IAP de que os réus tinham
a atividade de revenda de combustíveis sem o devido licenciamento ambiental, mas não
de que esta atividade fosse potencialmente poluidora. [...] O depoimento do fiscal do
IAP em juízo e os autos de infração ambiental também constantes nos autos não
atestam nada além disso. [...] Não se pode, pela simples natureza da atividade, para fins
criminais, supor que a atividade seja potencialmente poluidora, mas sim, exige-se, que
haja comprovação técnica a respeito. [...] Dessa forma, ausente a perícia em questão
nos autos, impõe-se a absolvição dos réus por insuficiência de prova da materialidade
do delito.
2. A Corte paranaense destacou, ainda, que se verifica que, para a consumação desse
crime, o agente tem que manter estabelecimento, obra ou serviços potencialmente
poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes. [...] Em que
pese estar devidamente comprovado que a empresa AUTO POSTO JERRY LTDA.
mantinha estabelecimento sem licença ou autorização dos órgãos ambientais
competentes, não foi provado que a atividade realizada, revenda de combustível, era
potencialmente poluidora. [...] O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que a
conduta prevista no artigo 60 da Lei n° 9.605/1998, para ser configurada, deve ter a
capacidade de, ao menos, gerar danos à saúde humana. [...] Como afirmado, há prova
robusta de que o estabelecimento mantido pelos apelados estava operando sem a
devida licença ambiental. Entretanto, não há qualquer prova de que a atividade
realizada era potencialmente poluidora. [...] Desta forma, diante da ausência de provas
que comprovem que as condutas dos apelados causaram danos à saúde humana, deve,
também, ser mantida a absolvição destes do delito previsto no artigo 60 da Lei n°
9.605/1998.
3. Não se desconhece que, para a jurisprudência desta Corte Superior, o crime previsto
no art. 60 da Lei n. 9.605/1998 é de perigo abstrato, do qual não se exige prova do dano
ambiental, sendo certo que a conduta ilícita se configura com a mera inobservância ou
descumprimento da norma, pois o dispositivo em questão pune a conduta do agente
que pratica atividades potencialmente poluidoras, sem licença ambiental (RHC n.
89.461/AM, Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJe 25/5/2018).
4. No caso concreto, o recurso não possui condições de admissibilidade, haja vista as
instâncias ordinárias, diante do colacionado nos autos, não terem identificado lastro
probatório suficiente a qualificar a conduta perpetrada pela parte recorrida (revenda de
combustível) como potencialmente lesiva ao meio ambiente.
5. Para revisar o aferido pela Corte de origem seria necessária a incursão em aspectos
de índole fático-probatória, medida essa inviabilizada na via eleita pela incidência do
óbice constante da Súmula 7/STJ.
6. Para a comprovação da materialidade delitiva, é imprescindível a existência de exame
pericial. Com efeito, quando se cuida de delito que deixa vestígios, a inexistência de
exame pericial implica ter-se como não provada a materialidade da infração''. [...] Para
alterar a conclusão a que chegaram as instâncias ordinárias e decidir pela condenação
do agravado, demandaria, necessariamente, revolvimento do acervo fático-probatório
delineado nos autos, procedimento que encontra óbice na Súmula 7/STJ, que dispõe: "a
pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial." (AgRg no AREsp
n.
828.733/MG, Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe 24/8/2018).
7. Agravos regimentais improvidos.
(AgRg no REsp 1846884/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA,
julgado em 25/08/2020, DJe 02/09/2020)
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PRELIMINAR. PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO PUNITIVA. IMPROCEDÊNCIA. CRIME AMBIENTAL (ART. 38 DA LEI N.
9.605/1998). CONTRARIEDADE E NEGATIVA DE VIGÊNCIA DOS ARTS. 619 E 620, AMBOS
DO CPP. IMPROCEDÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO.
CONTRARIEDADE E NEGATIVA DE VIGÊNCIA DO ART. 41 DO CPP.
IMPROCEDÊNCIA. EXORDIAL QUE OSTENTA ELEMENTOS SUFICIENTES PARA
IMPUTAÇÃO. SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA CONDENATÓRIA. TESE ESVAÍDA.
PRECEDENTES DESTA CORTE. CONTRARIEDADE E NEGATIVA DE VIGÊNCIA DOS ARTS. 383
E 384. AMBOS DO CPP. IMPROCEDÊNCIA. CONDENAÇÃO QUE GUARDA HARMONIA
COM A IMPUTAÇÃO VEICULADA NA DENÚNCIA. CONTRARIEDADE E NEGATIVA DE
VIGÊNCIA DO ART. 38 DA LEI N. 9.605/1998 E DO ART. 1º DO CP. DISCUSSÃO ACERCA DA
NATUREZA DA ÁREA. INADMISSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. ATIPICIDADE CALCADA NA
TESE DE QUE A SUPRESSÃO NÃO ESTÁ ALBERGADA PELO TIPO. MANIFESTA
IMPROCEDÊNCIA. CONTRARIEDADE E NEGATIVA DE VIGÊNCIA DO ART. 159, § 3º, DO
CPP. NULIDADE DO LAUDO PELO DECURSO DO PRAZO ENTRE O DANO E A PERÍCIA.
INADMISSIBILIDADE.
SÚMULA 7/STJ. NULIDADE POR ELABORAÇÃO UNILATERAL. IMPROCEDÊNCIA.
CONTRADITÓRIO DIFERIDO. CONTRARIEDADE E NEGATIVA DE VIGÊNCIA DO ART.
617 DO CPP. INADMISSIBILIDADE. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO.
Agravo regimental improvido.
(AgInt no REsp 1560668/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA,
julgado em 25/08/2020, DJe 02/09/2020)
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIMES AMBIENTAIS.
TERRENO DE MARINHA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. REJEIÇÃO DA DENÚNCIA. NECESSIDADE DE REEXAME DE
PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - STJ.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. Nos termos da jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, a União tem
interesse direto e específico na causa que envolva crime ambiental praticado em terreno
de marinha, atraindo a competência da Justiça Federal (RHC 50.692/SC, Rel. Ministro
RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 5/4/2016, DJe 15/4/2016).
2. Quanto à existência de ação civil pública, reconhecendo a competência da justiça
estadual, assim como a duplicidade de ações penais, as teses não foram objeto de
debate e discussão na instância ordinária. Assim, a pretensão carece do adequado e
indispensável prequestionamento, motivo pelo qual incidentes, por analogia, as
Súmulas n. 282 e n. 356, ambas do Supremo Tribunal Federal - STF.
3. Rever o entendimento firmado pela instância ordinária, no sentido de rejeitar a
denúncia por ausência de justa causa, demanda, necessariamente, o reexame do
conteúdo fático-probatório dos autos, incidindo, na espécie, a Súmula n. 7/STJ.
4. Ademais, trata-se da fase de recebimento da denúncia que "exige tão somente a
descrição adequada da conduta delitiva e a indicação de elementos mínimos a sustentar
a acusação" (AgRg no AgRg no AREsp 534.163/RR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 3/8/2017, DJe 16/8/2017).
5. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AREsp 1658776/BA, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA,
julgado em 25/08/2020, DJe 01/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AMBIENTAL E URBANÍSTICO. AÇÃO DEMOLITÓRIA. ART.
1.280 DO CÓDIGO CIVIL. INEXISTÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. ART
47 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 (ART. 114 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
DE 2015). PRINCÍPIO DA BOA-FÉ. ART. 5º, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO RECORRIDO. IMPOSSIBILIDADE DE
REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. SÚMULA 182/STJ.
1. O Tribunal de origem e o Superior Tribunal de Justiça devem examinar a
admissibilidade do Recurso Especial, não estando o STJ vinculado à decisão do Tribunal
a quo. Contudo, os recorrentes possuem o dever de impugnar corretamente a decisão
de admissibilidade por aquele Tribunal proferida, sob pena de não se conhecer do
recurso, o que ocorreu no caso em apreço.
2. Os fundamentos da decisão de admissibilidade proferida pelo Tribunal de origem, que
não conheceu do recurso, não foram atacados adequadamente pelo recurso de Agravo
em Recurso Especial, os quais permanecem incólumes em face da impugnação
apresentada pelos recorrentes. As razões do recurso devem exprimir, com transparência
e objetividade, os motivos pelos quais o recorrente visa à reforma do decisum, o que
não foi feito na peça recursal. O Agravo interposto não impugnou toda a fundamentação
da decisão de admissibilidade, porquanto deixou de atacar a aplicação da Súmula 7 do
STJ e a tese de incompetência do STJ para apreciar violação a dispositivo constitucional.
O STJ entende que o recurso não merece conhecimento, com base na Súmula 182/STJ,
quando deixa de impugnar, com transparência e objetividade, especificamente os
fundamentos da decisão agravada (art. 1.021, § 1º, do CPC), como na hipótese dos
autos, em que os recorrentes não atacaram o precitado dispositivo legal. A pretensão
dos recorrentes não encontra respaldo em nenhum dos incisos do art. 1.022 do CPC,
uma vez que sua intenção é rediscutir a causa, trazendo fundamentos jurídicos já
debatidos no acórdão impugnado.
3. Como regra geral, as demandas urbanístico-ambientais rechaçam, por razões de
política pública, o litisconsórcio passivo necessário (art. 114 do CPC/2015), donde
prescindível a citação do cônjuge, seja porque se está no âmbito de responsabilidade
solidária, seja porque as ações traduzem pretensões conectadas à degradação da
qualidade de vida ambiental ou urbanística, causada por atividade, empreendimento ou
obra irregular, relação jurídica controvertida destituída, no núcleo central da sua
natureza, de discussão acerca da propriedade ou posse do imóvel.
4. No Direito Ambiental e no Direito Urbanístico, o fundamento legal para a ação
demolitória não se assenta, rigorosamente falando, no espaço acanhado do art. 1.280
do Código Civil, exceto se envolvidos "vizinhos" stricto sensu - o legislador faz referência
a "prédio vizinho" -, mas, sim, em relações jurídicas de cunho supraindividual, associadas
ao direito a cidade sustentável e ao direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, garantidos, administrativamente, pelo poder de polícia do Estado e,
judicialmente, pela Ação Civil Pública e Ação Popular, entre outros instrumentos
previstos no ordenamento.
5. Finalmente, à luz do art. 5º do CPC/2015, viola o princípio da boa-fé objetiva deixar o
réu de impugnar, já na contestação, a ausência de citação de cônjuge ou de terceiros
que entende devam integrar a lide, preferindo guardar eventual nulidade, como carta
na manga, para arguí-la apenas ao final da instrução ou, pior, na fase recursal.
6. Embargos de Declaração rejeitados.
(EDcl no AREsp 1580652/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 25/08/2020, DJe 06/10/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AGRAVO INTERNO SUBMETIDO AO ENUNCIADO
ADMINISTRATIVO 3/STJ. PESCADOR ARTESANAL. PRETENSÃO DE REPARAÇÃO DE
DANOS MATERIAIS E MORAIS. CONSTRUÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA FOZ DO
CHAPECÓ. NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE A ATIVIDADE DA USINA E OS DANOS QUE O
PESCADOR TERIA SOFRIDO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO. JUÍZO DE MATÉRIA FÁTICA.
REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. Relativamente à alegada violação ao art. 1.022 do CPC/2015, sem razão o recorrente.
É que a Corte de origem decidiu a controvérsia de modo integral e suficiente ao
consignar que, independentemente da negativa de inversão do ônus da prova, foi
produzida conclusiva prova pericial acerca da controvérsia dos autos; e que as provas
demonstram que a atividade da recorrida não atingiu o volume de peixes na altura do
município onde labora o recorrente, bem mais distante da casa de força da usina que
outros nos quais não houve reconhecimento de impacto na atividade pesqueira. Nesses
termos, não há falar na persistência de omissão relevante no acórdão recorrido.
2. No que importa ao art. 6º, VIII, do CDC, o recorrente não se atentou para o
fundamento da desnecessidade de inversão do ônus da prova, tendo em vista que, ao
fim e ao cabo, houve produção de laudo pericial demonstrando a inexistência de nexo
de causalidade entre a atividade da recorrida e o prejuízo que o recorrente alega ter
sofrido. Assim, estando as razões recursais dissociadas da fundamentação do acórdão
recorrido, o recurso especial não pode ser conhecido na parte em que discutida a
inversão do ônus da prova, nos termos da Súmula 284/STF.
3. Por outro lado, quanto ao tema da necessidade de rejeição motivada da prova
pericial, o recorrente não se atentou para a fundamentação da inexistência de violação
à regra processual, tendo em vista o esclarecimento de que o primeiro laudo pericial foi
vago e inconclusivo acerca da questão controvertida, por isso houve determinação de
produção de novo laudo. Assim, novamente em razão das razões recursais dissociadas
da fundamentação do acórdão recorrido, o óbice da Súmula 284/STF impede o
conhecimento do recurso especial.
4. Por fim, quanto ao dever de indenizar, o acolhimento das alegações do recorrente
demandaria novo juízo de matéria fática para infirmar as conclusões do acórdão
recorrido, baseadas nas provas dos autos, de que não foi demonstrado o nexo de
causalidade entre a atividade da recorrida e os danos que aquele diz ter sofrido. Tal
conclusão foi reforçada pela comparação do caso do autor com outros análogos
envolvendo a recorrida, em que não houve reconhecimento do dano à atividade
econômica em locais muito mais próximos da casa de força da usina hidrelétrica. Assim,
o óbice da Súmula 7/STJ impede o conhecimento do recurso especial no ponto.
5. Agravo interno não provido.
(AgInt no AREsp 1606785/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 24/08/2020, DJe 27/08/2020)
AMBIENTAL. REPARAÇÃO DE DANOS AMBIENTAIS. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO NO
ACÓRDÃO. INEXISTENTES. CORREÇÃO DE ERRO MATERIAL DE OFÍCIO.
I - O Ministério Público do Estado de São Paulo ajuizou ação contra o Estado de São Paulo
e outros, pretendendo a condenação solidária dos réus nas obrigações de não praticar
atividade em área de preservação permanente, de promover a demolição de edificações
já erguidas e no pagamento de indenização por danos causados ao meio ambiente, em
área localizada às margens da Represa de Vargem/SP.
II - A ação foi julgada parcialmente procedente, condenando os réus na abstenção de
qualquer intervenção na área; na demolição das edificações erguidas, bem como na
recomposição da vegetação nativa.
III - Em grau recursal, o Tribunal a quo aplicou o Novo Código Florestal e considerou que
o imóvel em questão não estaria situado em área de preservação permanente,
afastando o ilícito ambiental.
Nesta Corte, deu-se provimento ao recurso especial para restabelecer a sentença.
IV - Os embargos merecem acolhimento parcial para correção de erro material, de ofício,
no dispositivo do acórdão.
V - Assim, onde se lê: "Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial, afastando a
aplicação do Novo Código Florestal ao caso e, assim, restabelecendo a decisão
monocrática." Leia-se: "Ante o exposto, recurso especial provido, para restabelecer a
sentença." VI - Por outro lado, não há omissão relacionada ao decidido nas ADIs 4.901,
4.902 e 4.903 "manejadas perante o STF, nas quais não foi declarada a
inconstitucionalidade do mencionado artigo e se decidiu pela inviabilidade de alegação
de 'vedação ao retrocesso". O acórdão embargado não analisa a constitucionalidade dos
dispositivos, mas apenas aplica ao caso jurisprudência pacífica desta Corte no sentido
de que os dispositivos do Código Florestal não admitem interpretação para reduzir o
"patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de extinção".
VII - Embargos de declaração acolhidos parcialmente para correção de erro material,
sem efeitos modificativos.
(EDcl no REsp 1717736/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA,
julgado em 24/08/2020, DJe 28/08/2020)
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO. CONTRADIÇÃO.
DEFICIÊNCIA NA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INEXISTÊNCIA. DANO AMBIENTAL.
AQUICULTURA. REGISTRO DA ATIVIDADE. NECESSIDADE.
CONSTATAÇÃO. REEXAME. SÚMULA 7/STJ. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA.
DISTRIBUIÇÃO. DESPROPORCIONALIDADE NÃO VERIFICADA. DANO MORAL.
EXCESSIVIDADE. NÃO CONSTATAÇÃO. REVISÃO. SÚMULA 7/STJ. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL PREJUDICADA. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Segundo orientação jurisprudencial vigente no Superior Tribunal de Justiça, não há se
falar em omissão, contradição, obscuridade ou erro material, nem em deficiência na
fundamentação quando a decisão recorrida está adequadamente motivada com base
na aplicação do direito considerado cabível ao caso concreto, pois o mero
inconformismo da parte com a solução da controvérsia não pode ser considerado como
deficiência na prestação jurisdicional.
2. Concluindo o Tribunal de origem pela regularidade da inscrição do recorrido junto ao
órgão responsável pelo acompanhamento da atividade de aquicultura por ele
desenvolvida, descabe ao STJ modificar o posicionamento adotado, ante a incidência da
Súmula 7/STJ.
3. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a distribuição do ônus
sucumbencial deverá ocorrer entre as partes envolvidas na relação processual,
considerando os ganhos e as perdas obtidas com o julgamento da demanda.
4. Conforme o entendimento jurisprudencial deste Tribunal Superior, a revisão, através
de recurso especial, do quantum estabelecido para a condenação ao pagamento de
indenização pelos danos extrapatrimoniais só pode ocorrer quando verificada
excessividade ou irrisoriedade da quantia fixada, situação não atestada no caso em
exame.
5. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, a incidência do óbice imposto pela
Súmula 7/STJ impede a apreciação da divergência jurisprudencial, diante da constatação
da ausência de similitude fático-jurídica entre os julgados confrontados.
6. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp 1596081/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 24/08/2020, DJe 01/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. REPARAÇÃO DE DANO AMBIENTAL.
ALEGAÇÃO DE INADEQUADA VALORAÇÃO DA PROVA PERICIAL PRODUZIDA E DE
IMPARCIALIDADE DO PERITO. PRETENSÃO DE REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO.
INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA DO STJ.
I - O Departamento Autônomo de Água e Esgoto de Araraquara - DAAE ajuizou ação
contra Triângulo do Sol Autoestradas S.A. e outros objetivando a reparação do dano
ambiental e dos prejuízos ocasionados pelos réus, bem como para que estes
apresentem plano de ação para sanar a questão existente. Em sentença, julgaram-se
procedentes os pedidos. No Tribunal de origem, a sentença foi parcialmente reformada
para alterar o valor da reparação. Nesta Corte, não se conheceu do recurso especial.
II - Em relação à indicada violação dos arts. 371, 468 e 473 do CPC/2015, o Tribunal a
quo, na fundamentação do decisum, assim firmou entendimento (fls. 564-566): "[...]
Além disso, tampouco há de ser reconhecida a invalidade do laudo pericial, pois foi claro
em atestar o dano ambiental cometido com a construção da galeria pela Concessionária.
Também não deixou dúvida de que a obra, apesar do eventual licenciamento ambiental,
não era adequada para sanar o problema e que isto tampouco foi corrigido em relação
ao que foi realizado pela recorrente por conta da liminar concedida. Como bem apontou
o Ministério Público: [...] Assim, inegável seu dever de proceder à realização da obra
conforme determinado, bem como a recuperação do meio ambiente. [...]." III - Nesse
sentido, tendo o Tribunal a quo, com base nos elementos fáticos carreados aos autos,
concluído pela regularidade do laudo pericial, para se deduzir de modo diverso, na forma
pretendida no apelo nobre, seria necessário o revolvimento do mesmo acervo
documental já analisado, procedimento vedado em recurso especial, por óbice da
Súmula n. 7/STJ, que assim dispõe: "A pretensão de simples reexame de prova não
enseja recurso especial". Nesse sentido, os seguintes julgados: AgInt no AREsp
1.372.756/PR, Rel.
Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 25/3/2019, DJe 28/3/2019
e AgInt no AREsp 711.020/GO, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em
19/4/2018, DJe 26/4/2018.
IV - Agravo interno improvido.
(AgInt no AREsp 1573880/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA,
julgado em 24/08/2020, DJe 28/08/2020)
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. 1.
CONTROVÉRSIAS NÃO TRATADAS NA DECISÃO AGRAVADA. INOVAÇÃO RECURSAL.
PRECLUSÃO CONSUMATIVA. 2. LITISPENDÊNCIA. MATÉRIA NÃO PREQUESTIONADA.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DO FUNDAMENTO DA DECISÃO AGRAVADA.
INCIDÊNCIA DO ART. 1.021, § 1º, DO CPC/2015. 3.
VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE NÃO CONFIGURADA. 4. A APRECIAÇÃO DA
DEMANDA NÃO ENVOLVE A ANÁLISE DE PROVA DOS AUTOS POR SE TRATAR DE
QUESTÃO MERAMENTE DE DIREITO. 5. RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO
AMBIENTAL. CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA. TERMO INICIAL DO PRAZO
PRESCRICIONAL A PARTIR DO CONHECIMENTO DO DANO E DE SEUS EFEITOS.
APLICAÇÃO DA TEORIA DA ACTIO NATA. 6. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Não há como conhecer das alegações relativas à deficiência recursal e à falta de
prequestionamento de dispositivo que o agravante entende ser aplicável ao caso em
análise, tendo em vista tratar-se de indevida inovação recursal.
2. Cabe à parte agravante, nas razões do agravo interno, trazer argumentos suficientes
para contestar a decisão agravada. A ausência de fundamentos válidos para impugnar a
decisão proferida no agravo em recurso especial atrai a aplicação do disposto no art.
1.021, § 1º, do Código de Processo Civil de 2015.
3. O recurso especial combateu suficientemente a motivação do acórdão recorrido
acerca do termo inicial da prescrição, não havendo falar em inobservância da
dialeticidade recursal.
4. A apreciação da demanda não envolve a análise de provas dos autos, tratando-se de
matéria de direito, o que afasta a incidência da Súmula 7 desta Corte.
5. Segundo a orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, o termo inicial
do prazo prescricional das ações indenizatórias, em observância à teoria da actio nata,
é a data em que a lesão e os seus efeitos são constatados.
6. Agravo interno desprovido.
(AgInt nos EDcl no REsp 1804110/MA, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 24/08/2020, DJe 01/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. PRINCÍPIO DA
PRECAUÇÃO. CABIMENTO. SÚMULA 618/STJ. AFERIÇÃO DAS PECULIARIDADES DO CASO
CONCRETO, AUTORIZADORAS DA INVERSÃO. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. INVIABILIDADE. AGRAVO INTERNO DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA A QUE SE
NEGA PROVIMENTO.
1. O presente Recurso atrai a incidência do Enunciado Administrativo 3 do STJ, segundo
o qual, aos recursos interpostos com fundamento no Código Fux (relativos a decisões
publicadas a partir de 18 de março de 2016), serão exigidos os requisitos de
admissibilidade recursal na forma do novo Código.
2. Esta Corte Superior admite a inversão do ônus da prova em ações que versem sobre
degradação ambiental, nos termos da Súmula 618/STJ, cabendo às instâncias ordinárias
a análise quanto aos requisitos da redistribuição dos encargos probatórios.
3. Assim, tendo o Tribunal de origem concluído pela necessidade de inversão do
sobredito ônus, é inviável a alteração de suas conclusões nesta instância especial, por
demandar o reexame do conjunto fático-probatório. Julgados: AgInt no AREsp.
1.373.360/PR, Rel. Min. GURGEL DE FARIA, DJe 17.10.2019; AgInt no AREsp.
620.488/PR, Rel. Min. OG FERNANDES, DJe 11.9.2018; AgInt no AREsp.
779.250/SP, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 19.12.2016.
4. Agravo Interno da Sociedade Empresária a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1580615/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 24/08/2020, DJe 31/08/2020)
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESMATAMENTO IRREGULAR. DANOS AMBIENTAIS.
DANO MORAL COLETIVO. ALEGADA VIOLAÇÃO AO ART. 1.022 DO CPC/2015.
INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS, NO ACÓRDÃO RECORRIDO.
INCONFORMISMO. CONFIGURAÇÃO DE OFENSA A VALORES FUNDAMENTAIS DA
COLETIVIDADE. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE, À LUZ DAS PROVAS DOS AUTOS, CONCLUIU
PELA NÃO OCORRÊNCIA DE DANO MORAL COLETIVO. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO, NA
VIA ESPECIAL. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.
I. Agravo interno aviado contra decisão que julgara recurso interposto contra decisum
publicado na vigência do CPC/2015.
II. Na origem, trata-se de Ação Civil Pública, ajuizada pelo Ministério Público do Estado
de Minas Gerais em face da parte agravada, com o objetivo de obter a reparação de
danos causados ao meio ambiente por desmatamento irregular. O acórdão reformou,
em parte, a sentença, para julgar improcedentes os pedidos de indenização por danos
morais coletivos e lucros cessantes.
III. Não há falar, na hipótese, em violação ao art. 1.022 do CPC/2015, porquanto a
prestação jurisdicional foi dada na medida da pretensão deduzida, de vez que os votos
condutores do acórdão recorrido e do acórdão proferido em sede de Embargos de
Declaração apreciaram fundamentadamente, de modo coerente e completo, as
questões necessárias à solução da controvérsia, dando-lhes, contudo, solução jurídica
diversa da pretendida.
IV. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que "é possível exigir-se a
comprovação da violação de valores fundamentais da coletividade para configuração do
dano moral coletivo, o que não se confunde com a demonstração dos abalos
psicológicos experimentados por seus membros" (STJ, AgInt no REsp 1.297.882/GO, Rel.
Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, DJe de 15/10/2019).
V. O Tribunal de origem, à luz das provas dos autos, considerou estarem ausentes os
elementos necessários à configuração do dano moral coletivo, uma vez que "não restou
comprovada situação excepcional ensejadora de sofrimento coletivo, nem mesmo a
irreparabilidade ao meio ambiente". A alteração desse entendimento demandaria
incursão no conjunto fático-probatório dos autos, o que é vedado, no âmbito do Recurso
Especial, pela Súmula 7 desta Corte.
VI. Agravo interno improvido.
(AgInt no AREsp 1678409/MG, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 24/08/2020, DJe 16/09/2020)
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA DE CONSERVAÇÃO E MANUTENÇÃO DE VIA FÉRREA.
ALEGADA VIOLAÇÃO AOS ARTS. 489 E 1.022 DO CPC/2015.
INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS, NO ACÓRDÃO RECORRIDO. INCONFORMISMO.
CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. PRAZO PARA
CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO. LEGALIDADE. CONTROVÉRSIA RESOLVIDA, PELO
TRIBUNAL DE ORIGEM, À LUZ DAS PROVAS DOS AUTOS.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO, NA VIA ESPECIAL. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO INTERNO
IMPROVIDO.
I. Agravo interno aviado contra decisão que julgara Recurso Especial interposto contra
acórdão publicado na vigência do CPC/2015.
II. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Federal, em
face do ora agravante, da União e da ANTT, com o objetivo de condená-los em
obrigações de fazer e pagamento de indenização pelos danos ambientais causados, além
de danos morais coletivos, em razão da ausência de conservação e manutenção
adequada e eficiente de via férrea. O Tribunal de origem manteve a sentença de parcial
procedência da demanda.
III. Não há falar, na hipótese, em violação aos arts. 489 e 1.022 do CPC/2015, porquanto
a prestação jurisdicional foi dada na medida da pretensão deduzida, de vez que os votos
condutores do acórdão recorrido e do acórdão proferido em sede de Embargos de
Declaração apreciaram fundamentadamente, de modo coerente e completo, as
questões necessárias à solução da controvérsia, dando-lhes, contudo, solução jurídica
diversa da pretendida.
IV. Na forma da jurisprudência do STJ, não se pode confundir decisão contrária ao
interesse da parte com ausência de fundamentação ou negativa de prestação
jurisdicional. Nesse sentido: STJ, REsp 801.101/MG, Rel. Ministra DENISE ARRUDA,
PRIMEIRA TURMA, DJe de 23/04/2008; REsp 1.672.822/SC, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de 30/06/2017; REsp 1.669.867/SC, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 30/06/2017.
V. O entendimento firmado pelo Tribunal a quo, quanto à ausência de cerceamento de
defesa, tendo em vista a desnecessidade de produção da prova requerida, à correta
obrigação do dever de indenizar e à legalidade do prazo concedido para cumprimento
da obrigação, não pode ser revisto, pelo Superior Tribunal de Justiça, em sede de
Recurso Especial, sob pena de ofensa ao comando inscrito na Súmula 7 desta Corte.
Precedentes do STJ.
VI. Agravo interno improvido.
(AgInt no REsp 1860472/RS, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 24/08/2020, DJe 16/09/2020)
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA. RIO MADEIRA. PESCADORES. CONEXÃO. AÇÃO
COLETIVA E AÇÃO REPARATÓRIA INDIVIDUAL. AUSÊNCIA DE PEDIDO DE SUSPENSÃO DA
AÇÃO INDIVIDUAL. INEXISTÊNCIA DE RISCO DE DECISÕES CONFLITANTES. INVERSÃO DO
ÔNUS DA PROVA. RISCO INTEGRAL.
POSSIBILIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA. REGISTRO DE PESCADOR. QUESTÃO DE MÉRITO.
TEORIA DA ASSERÇÃO. AGRAVO INTERNO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. De acordo com o regime instituído pelo Código de Defesa do Consumidor para
julgamento das ações coletivas lato sensu, a demanda coletiva para defesa de interesses
de uma categoria convive de forma harmônica com ação individual para defesa desses
mesmos interesses de forma particularizada.
2. A ausência de pedido do autor da ação individual para que esta fique suspensa até o
julgamento da ação coletiva, consoante autoriza o art. 104 do CDC, afasta a projeção de
efeitos da ação coletiva na ação individual, de modo que cada uma das ações terá
desfecho independente, não havendo que se falar em risco de decisões conflitantes a
ensejar a reunião dos feitos.
3. A efetiva comprovação do direito dos agravados à indenização pleiteada, em razão da
profissão exercida, diz respeito ao mérito da causa, e não à sua legitimidade ativa.
Ademais, o entendimento do Tribunal de origem não afasta a orientação desta Corte de
que, segundo a teoria da asserção, as condições da ação devem ser aferidas a partir das
afirmações deduzidas na petição inicial, dispensando-se qualquer atividade instrutória.
4. "Tratando-se de ação indenizatória por dano ambiental, a responsabilidade pelos
danos causados é objetiva, pois fundada na teoria do risco integral. Assim, cabível a
inversão do ônus da prova" (AgRg no AREsp 533.786/RJ, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, Quarta Turma, julgado em 22/9/2015, DJe de 29/9/2015).
5. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 776.762/RO, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
24/08/2020, DJe 15/09/2020)
HABEAS CORPUS. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. EXTORSÃO, CONCUSSÃO E EXTORSÃO
MEDIANTE SEQUESTRO POR POLICIAIS CIVIS. POSSIBILIDADE DE APOIO DE AGÊNCIA DE
INTELIGÊNCIA À INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. NÃO OCORRÊNCIA DE
INFILTRAÇÃO POLICIAL. DESNECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PRÉVIA PARA A
AÇÃO CONTROLADA. COMUNICAÇÃO POSTERIOR QUE VISA A PROTEGER O TRABALHO
INVESTIGATIVO. HABEAS CORPUS DENEGADO.
1. A atividade de inteligência desempenhada por agências dos estados, que integram o
Subsistema de Inteligência criado pelo Decreto n. 3.695, de 21/12/2012, consiste no
exercício de ações especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais
ou potenciais na esfera de segurança pública. Alcança diversos campos de atuação - um
deles a inteligência policial judiciária - e entre suas finalidades está não só subsidiar o
planejamento estratégico de políticas públicas, mas também assessorar com
informações as ações de prevenção e repressão de atos criminosos.
2. Apesar de não se confundir com a investigação, nem se esgotar com o objetivo desta,
uma vez que a inteligência de segurança pública opera na busca incessante de dados, o
resultado de suas operações pode, ocasionalmente, ser aproveitado no processo penal
para subsidiar a produção de provas, desde que materializado em relatório técnico.
3. No passado, no Estado do Rio de Janeiro, ante a necessidade de aperfeiçoar o
combate a crimes cometidos por policiais, foi atribuída à Subscretaria de Inteligência
(SSINTE/SESEG) a missão de prestar apoio a determinados órgãos em suas investigações
criminais.
4. Nesse contexto, não é ilegal o auxílio da agência de inteligência ao Ministério Público
do Estado do Rio de Janeiro durante procedimento criminal instaurado para apurar
graves crimes atribuídos a servidores de Delegacia do Meio Ambiente, em contexto de
organização criminosa. Precedente.
5. O Parquet optou por não utilizar a estrutura da própria Polícia Civil para auxiliá-lo no
procedimento apuratório criminal, e é incabível criar limitação, alheia ao texto
constitucional, para o exercício conjunto da atividade investigativa pelos órgãos estatais.
6. Esta Corte possui o entendimento de que a atribuição de polícia judiciária às polícias
civil e federal não torna nula a colheita de elementos informativos por outras fontes.
Ademais, o art. 3°, VIII, da Lei n. 12.850/2013 permite a cooperação entre as instituições
públicas na busca de dados de interesse da investigação.
7. Se agente lotada em agência de inteligência, sob identidade falsa, apenas representou
o ofendido nas negociações da extorsão, sem se introduzir ou se infiltrar na organização
criminosa com o propósito de identificar e angariar a confiança de seus membros ou
obter provas sobre a estrutura e o funcionamento do bando, não há falar em infiltração
policial.
8. O acórdão recorrido está em conformidade com a jurisprudência desta Corte, de que
a gravação ambiental realizada por colaborador premiado, um dos interlocutores da
conversa, sem o consentimento dos outros, é lícita, ainda que obtida sem autorização
judicial, e pode ser validamente utilizada como meio de prova no processo penal. No
caso, advogado decidiu colaborar com a Justiça e, munido com equipamentos estatais,
registrou a conversa que entabulou com policiais no momento da entrega do dinheiro
após a extorsão mediante sequestro.
9. A ação controlada prevista no § 1° do art. 8° da Lei n.
12.850/2013 não necessita de autorização judicial. A comunicação prévia ao Poder
Judiciário, a seu turno, visa a proteger o trabalho investigativo, de forma a afastar
eventual crime de prevaricação ou infração administrativa por parte do agente público,
o qual responderá por eventuais abusos que venha a cometer.
10. As autoridades acompanharam o recebimento de dinheiro por servidores suspeitos
de extorsão mediante sequestro, na fase do exaurimento do crime, e não há ilegalidade
a ser reconhecida em habeas corpus se ausentes circunstâncias preparadas de forma
insidiosa, de forma a induzir os réus à prática delitiva.
11. O habeas corpus não se presta à análise de teses que demandam exame ou
realização de provas.
12. Habeas corpus denegado.
(HC 512.290/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
18/08/2020, DJe 25/08/2020)
HABEAS CORPUS. CRIMES DE PARCELAMENTO IRREGULAR DE SOLO URBANO (ART.
50, INCISOS I, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISOS I E II, DA LEI N.
6.766/1979), DANO AMBIENTAL (ART. 40 DA LEI N. 9.605/1998) E ASSOCIAÇÃO
CRIMINOSA (ART. 288 DO CÓDIGO PENAL). TESE DE AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA
DELITIVA. NECESSIDADE DE INCURSÃO APROFUNDADA NO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. INVIABILIDADE DE ANÁLISE NO ÂMBITO DO WRIT. PRISÃO PREVENTIVA.
FUNDADO RECEIO DE REITERAÇÃO DELITIVA.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS.
IRRELEVÂNCIA, NO CASO. ORDEM CONHECIDA EM PARTE E, NESSA EXTENSÃO,
DENEGADA.
1. Constatada pelas instâncias ordinárias a existência de prova suficiente para instaurar
a ação penal, reconhecer que os indícios de autoria do crime são insuficientes para
justificar a custódia cautelar implicaria afastar o substrato fático em que se ampara a
acusação, o que, como é sabido, não é possível na estreita e célere via do habeas corpus.
Precedentes.
2. Esta Corte Superior e o Supremo Tribunal Federal possuem o entendimento de que é
adequada a fundamentação que decreta a prisão preventiva para a garantia da ordem
pública com base na necessidade de se fazer cessar ou diminuir a atuação de membro
de grupo criminoso.
3. Na hipótese, as instâncias de origem salientaram que o Acusado "seria o líder de
organização criminosa voltada para a prática de crimes de parcelamento irregular" de
solo urbano, bem como haveria "indícios de que os representados são integrantes de
associação criminosa voltada à prática dos crimes de parcelamento irregular de solo
urbano, falsificação de documento, ameaça e, possivelmente, ocultação de ativos".
4. A manutenção da custódia cautelar também encontra-se suficientemente
fundamentada no risco concreto de reiteração delitiva, pois o Paciente é "réu na ação
penal n.
0705178-17.2019.8.07.0012, em trâmite perante a Vara Criminal de São Sebastião, e na
ação penal n. 0705767-21.2019.8.07.0008, sob a responsabilidade da 2ª Vara Criminal
do Paranoá", pela suposta prática de crimes de parcelamento irregular de solo urbano.
5. A eventual existência de condições pessoais favoráveis, tais como primariedade, bons
antecedentes, ocupação lícita e residência fixa, não tem o condão de, por si só,
desconstituir a custódia antecipada, caso estejam presentes outros requisitos de ordem
objetiva e subjetiva que autorizem a decretação da medida extrema.
6. Ordem de habeas corpus parcialmente conhecida e, nessa extensão, denegada.
(HC 561.739/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 18/08/2020, DJe
02/09/2020)
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME AMBIENTAL. EXTRAÇÃO DE AREIA
SEM A COMPETENTE AUTORIZAÇÃO. APONTADA OFENSA AO ART. 55, CAPUT, DA LEI
N.º 9.605/1998. PLEITO ACUSATÓRIO DE EXCLUSÃO DO RECONHECIMENTO DA
ATIPICIDADE MATERIAL DA CONDUTA DENUNCIADA.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. DIREITO PENAL MÍNIMO.
INAPLICABILIDADE. CONSTATAÇÃO DE SIGNIFICANTE POTENCIAL LESIVO AO
ECOSSISTEMA DA REGIÃO. DEVER DE DEFESA E PRESERVAÇÃO DO PODER PÚBLICO AO
MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO PARA AS PRESENTES E FUTURAS
GERAÇÕES. REQUISITOS OBJETIVOS - DA CONDUTA MINIMAMENTE OFENSIVA; DO
REDUZIDO GRAU DE REPROVABILIDADE DO COMPORTAMENTO DENUNCIADO E DA
LESÃO JURÍDICA INEXPRESSIVA - NÃO PREENCHIDOS. DETERMINAÇÃO DO
PROSSEGUIMENTO DO FEITO. ALEGADO ÓBICE DA SÚMULA N. º 7/STJ. INOCORRÊNCIA.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A superação da atipicidade material da conduta delitiva passou ao largo do óbice da
Súmula n.º 7/STJ, pois resultou da mera leitura e análise do voto vencido, proferido pela
Desembargadora Salise Monteiro Sanchotene.
2. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1838593/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
04/08/2020, DJe 19/08/2020)
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. FURTO QUALIFICADO,
ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA, CRIME CONTRA A ORDEM ECONÔMICA E CRIME AMBIENTAL.
DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE. IMPOSSIBILIDADE.
RÉU PRESO DURANTE TODA A INSTRUÇÃO CRIMINAL. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA
COM FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. INSUFICIÊNCIA. RECURSO DESPROVIDO.
1. A decretação ou a manutenção da prisão preventiva depende da configuração
categórica de um ou mais dos requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal. Para
isso, o Julgador deve consignar, expressamente, elementos reais e concretos
indicadores de que o indiciado ou acusado, solto, colocará em risco a ordem pública ou
econômica, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal.
2. No caso, a prisão preventiva, mantida na sentença condenatória, está
suficientemente fundamentada na necessidade de se acautelar a ordem pública. Com
efeito, o Magistrado singular consignou que o Recorrente e outros Acusados estariam
praticando, de forma reiterada, crimes de furto a vagões de trem há, aproximadamente,
6 (seis) meses, período em que "comercializaram, em tese, toneladas de grãos, adubo e
até combustível produto de crime, causando expressivo prejuízo econômico à vítima",
bem como afirmou que as medidas cautelares alternativas não seriam suficientes para
"interromper a escalada criminosa dos agentes", que, em tese, atuavam de "forma
organizada e com divisão de tarefas bem definida" na execução dos delitos e na
comercialização da res furtiva.
3. O Tribunal de origem também afirmou a necessidade da prisão preventiva para a
garantia da ordem pública, assinalando que o Recorrente possui "diversas outras
sentenças condenatórias transitadas em julgado".
4. Ademais, "Conforme já decidiu a Suprema Corte, 'permanecendo os fundamentos da
custódia cautelar, revela-se um contrassenso conferir ao réu, que foi mantido
custodiado durante a instrução, o direito de aguardar em liberdade o trânsito em
julgado da condenação' (STF, HC 111.521, Rel. Ministro RICARDO LEWANDOWSKI,
SEGUNDA TURMA, julgado em 08/05/2012, DJe 22/05/2012)" (RHC 109.382/MG, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 03/03/2020, DJe 16/03/2020).
5. Consideradas as circunstâncias do fato e a gravidade da conduta, não se mostra
suficiente, no caso, a aplicação de medidas cautelares diversas, nos termos do art. 282,
inciso II, do Código de Processo Penal.
6. Recurso ordinário em habeas corpus desprovido.
(RHC 125.793/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 04/08/2020,
DJe 19/08/2020)
AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. NÃO CONHECIMENTO. CONCESSÃO DA
ORDEM DE OFÍCIO. CRIME AMBIENTAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. VESTIBULAR QUE NÃO
CONTÉM A DESCRIÇÃO DA NORMA QUE COMPLEMENTA O TIPO PENAL EM BRANCO.
PEÇA INAUGURAL QUE NÃO ATENDE OS REQUISITOS LEGAIS EXIGIDOS.
MÁCULA EVIDENCIADA. DESPROVIMENTO DO RECLAMO.
1. É pacífico neste Superior Tribunal de Justiça que o artigo 56 da Lei 9.605/1998
constitui norma penal em branco, que depende de complementação.
2. Na espécie, o órgão ministerial deixou de indicar expressamente a norma
complementadora do delito previsto no artigo 56 da Lei 9.605/1998, cingindo-se a
mencionar que tinha em depósito substância tóxica perigosa ou nociva à saúde humana
ou ao meio ambiente em desacordo com as exigências estabelecidas em lei ou nos seus
regulamentos, o que revela a inaptidão da inicial para deflagrar a persecução criminal
quanto ao mencionado ilícito. Precedentes.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC 585.526/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
04/08/2020, DJe 25/08/2020)
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME AMBIENTAL.
INÉPCIA DA DENÚNCIA. ALEGADA AUSÊNCIA DE DESCRIÇÃO DA CONDUTA DO
ACUSADO. TESE SUPERADA. PEÇA INAUGURAL QUE ATENDE AOS REQUISITOS LEGAIS
EXIGIDOS E DESCREVE CRIME EM TESE. AMPLA DEFESA GARANTIDA.
MÁCULA NÃO EVIDENCIADA. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Nos termos da jurisprudência deste Sodalício, torna-se prejudicada a alegação de
inépcia da inicial acusatória com a prolação da sentença condenatória, porquanto
durante a instrução processual foi garantido à parte o pleno exercício da ampla defesa
e contraditório.
2. Não pode ser acoimada de inepta a denúncia formulada em obediência aos requisitos
traçados no artigo 41 do Código de Processo Penal, descrevendo perfeitamente a
conduta típica, cuja autoria é atribuída ao recorrente devidamente qualificado,
circunstância que permite o exercício da ampla defesa no seio da persecução penal, na
qual se observará o devido processo legal.
3. No caso dos autos, verifica-se que a participação do recorrente no ilícito descrito na
exordial foi devidamente explicitada, pois na qualidade de sócio-administrador da
pessoa jurídica, omitiu-se na correção das ilegalidades perpetradas no descarte de
resíduos provenientes da atividade exercida pela pessoa jurídica administrada, a fim de
evitar os danos ambientais eventuais, narrativa que constitui crime em tese e lhe
permitiu o exercício da ampla defesa e do contraditório.
SENTENÇA PROFERIDA POR JUIZ DIVERSO DO QUE PRESIDIU A INSTRUÇÃO DO FEITO.
INOCORRÊNCIA. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA. MAGISTRADOS QUE PARTICIPARAM
DA INSTRUÇÃO AFASTADOS, COM FUNDAMENTO EM HIPÓTESES QUE SE ENQUADRAM
NAS EXCEÇÕES PREVISTAS NO ARTIGO 132 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
ILEGALIDADE NÃO EVIDENCIADA.
1. De acordo com o princípio da identidade física do juiz, que passou a ser aplicado
também no âmbito do processo penal após o advento da Lei 11.719, de 20 de junho de
2008, o magistrado que presidir a instrução criminal deverá proferir a sentença no feito,
nos termos do § 2º do artigo 399 do Código de Processo Penal.
2. Em razão da ausência de outras normas específicas regulamentando o referido
princípio, nos casos de convocação, licença, promoção ou de outro motivo que impeça
o juiz que tiver presidido a instrução de sentenciar o feito, por analogia ? permitida pelo
artigo 3º da Lei Adjetiva Penal ?, deverá ser aplicada a regra contida no artigo 132 do
Código de Processo Civil, que dispõe que os autos passarão ao sucessor do magistrado.
3. No caso em apreço, o édito repressivo foi exarado por magistrado que participou da
última audiência de instrução, o qual, inclusive, presidiu a apresentação de alegações
finais de ambas as partes, tendo proferido a sentença condenatória, nos termos legais,
razão pela qual não se vislumbra qualquer mácula em sua prolação.
APLICAÇÃO DA TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO NO TEMPO. CONTINUIDADE DELITIVA.
CRIMES PRESCRITOS. NECESSIDADE DE PREQUESTIONAMENTO.
INCIDÊNCIA DA SÚMULAS N. 282 E 356/STF.
A análise das ilegalidades suscitadas na via especial exige o debate prévio do tema nas
instâncias ordinárias, nos termos das Súmulas n.
282 e 356/STF, inclusive, quando tratar-se de questão de origem pública ou que tenha
surgido na prolação do acórdão objurgado.
Precedentes.
AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. PLEITO ABSOLUTÓRIO. AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE E DE
COMPROVAÇÃO DA AUTORIA. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ.
Devidamente demonstrada a materialidade do crime descrito no art. 54 da Lei de Crimes
Ambientais, a alteração do entendimento firmado na origem é inviável, ante a
necessidade de reexame de provas e a vedação da Súmula n. 7/STJ.
DOSIMETRIA. PRETENDIDO AFASTAMENTO DA AGRAVANTE PREVISTA NO ART. 15,
INCISO II, "A", DA LEI DE CRIMES AMBIENTAIS. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DE
FATOS E PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ.
1. Concluindo a Corte de origem acerca da ocorrência da intenção de auferir lucros na
conduta do recorrente, mantendo a aplicação da agravante prevista no art. 15, inciso II,
"a", da Lei de Crimes Ambientais, a desconstituição do entendimento esposado é
inviável na via especial, ante o óbice da Súmula n. 7/STJ.
2. Agravo desprovido.
(AgRg no AREsp 1465998/DF, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
04/08/2020, DJe 31/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO. TARIFA DE ESGOTO. COBRANÇA PARCIAL POR
SERVIÇOS MAL PRESTADOS. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO REPETITIVO ? RESP
1.339.313/RJ.
1. Conforme assentado na decisão monocrática, no julgamento do REsp 1.339.313/RJ,
submetido à sistemática do art. 543-C do CPC/1973, o STJ fixou o entendimento de que
se afigura legal a cobrança de tarifa de esgoto, ainda quando detectada a ausência ou
deficiência do tratamento dos resíduos coletados, se outros serviços, caracterizados
como de esgotamento sanitário, forem disponibilizados aos consumidores.
2. Assim, é inviável o exame dos argumentos deduzidos no recurso, uma vez que o
entendimento de que não cabe o pagamento parcial de tarifa de esgoto por falta de
prestação integral do serviço foi firmado em Recurso Repetitivo (REsp 1.339.313/RJ),
sendo dever do Poder Público cobrar por possível dano ambiental.
3. Agravo Interno não provido.
(AgInt no REsp 1862577/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 29/06/2020, DJe 21/08/2020)
AGRAVO INTERNO. PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. APREENSÃO DE BEM.
PRÁTICA DE INFRAÇÃO AMBIENTAL. TEMA AFETADO AO RITO DOS REPETITIVOS EM
12.11.2019. DETERMINAÇÃO DE SUSPENSÃO DO PROCESSAMENTO DE TODOS OS
PROCESSOS PENDENTES QUE VERSEM ACERCA DA QUESTÃO DELIMITADA CONFORME
ACÓRDÃO PÚBLICADO EM 27.11.2019. DEVOLUÇÃO À CORTE DE ORIGEM.
1. Verifica-se que a questão referente a "Aferir se é condição para a apreensão do
instrumento utilizado na prática da infração ambiental a comprovação de que o bem é
de uso específico e exclusivo para a atividade ilícita (Lei n. 9.605/1998, art. 25, § 4º, atual
§ 5º)" foi afetada pela Primeira Seção do STJ ao rito dos Recursos Especiais repetitivos
(REsp1.814.945/CE, 1.814.944/RN e REsp 1.816.353/RO, Relator Ministro Mauro
Campbell Marques - tema 1036).
Também foi suspensa a tramitação de todos os processos pendentes, individuais ou
coletivos, que versem sobre a citada matéria.
2. Em tal circunstância, deve ser prestigiado o escopo perseguido na legislação
processual, isto é, a criação de mecanismo que oportunize às instâncias de origem o
juízo de retratação na forma dos arts.
1.039 a 1.041 do CPC/2015.
3. Agravo interno provido, determinando-se a devolução dos autos à Corte de origem
para o respectivo sobrestamento feito até a solução do Tema.
(AgInt no AREsp 1522654/AM, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 23/06/2020, DJe 14/09/2020)
ADMINISTRATIVO. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. REGISTRO PÚBLICO.
LEI N. 6.015/73. AVERBAÇÃO IMOBILIÁRIA. PEDIDO DO PARQUET IMPETRANTE DE
AVERBAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE INQUÉRITO CIVIL AMBIENTAL VERSANDO SOBRE
ESPECÍFICO IMÓVEL. RECUSA DO SERVENTUÁRIO CHANCELADA PELO JUÍZO DA
COMARCA. PETIÇÃO INICIAL DO WRIT DESACOMPANHADA DE QUALQUER PROVA
DOCUMENTAL PRÉ-CONSTITUÍDA. INVIABILIDADE DO CURSO DA MARCHA
PROCESSUAL. EXTINÇÃO DO MANDAMUS SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO.
NULIDADE DECLARADA DE OFÍCIO.
1. Trata-se de mandado de segurança impetrado por Promotor de Justiça, dando por
ilegal a recusa de Serventuário, depois chancelada pelo respectivo Juízo registral, em
promover a averbação da existência de inquérito civil ambiental versando sobre
específico imóvel.
2. Ao exame dos autos, verifica-se que o Ministério Público autor ofertou a petição inicial
do writ, sem que esta se fizesse acompanhar de qualquer documento capaz de
referendar o discurso nela desenvolvido. Noutros termos, a exordial do mandamus não
se acha instruída com nenhuma prova documental pré-constituída, por isso que as
ilegalidades acusadas na causa de pedir se suportam, única e exclusivamente, na tão só
narrativa descrita na peça preambular.
3. A circunstância de as partes impetradas, em suas informações, não terem erguido
prejudicial de falta de prova documental pré-constituída, não impede o oficioso
reconhecimento dessa lacuna pelo julgador, enquanto fator impeditivo da regularidade
da marcha processual.
4. Nesse contexto, à falta de prova pré-constituída e essencial ao curso do
procedimento, tem-se por nulo o processo desde o seu nascedouro, impondo-se, por
isso e de ofício, sua extinção sem resolução de mérito, nos moldes do art. 6º, § 5º c/c
art. 485, IV e § 3º do CPC.
5. Recurso ordinário conhecido para, de ofício, extinguir-se o mandado de segurança
sem resolução de mérito.
(RMS 60.158/RJ, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
02/06/2020, DJe 17/08/2020)
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIMES AMBIENTAIS. ARTS. 50, I,
PARÁGRAFO ÚNICO, E II, C/C O ART. 51, AMBOS DA LEI N. 6.766/1979 E 40 DA LEI N.
9.605/1998. INÉPCIA DA DENÚNCIA. AUSÊNCIA JUSTA CAUSA.
NÃO OCORRÊNCIA. TRANCAMENTO DO PROCESSO. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO NÃO
PROVIDO.
1. O trancamento do processo em habeas corpus somente é cabível quando ficarem
demonstradas, de plano, a atipicidade da conduta, a absoluta falta de provas da
materialidade do crime e de indícios de autoria ou a existência de causa extintiva da
punibilidade.
2. No caso, não há nenhum fator a ensejar o pretendido encerramento prematuro da
ação penal na origem. Isso porque a descrição das condutas criminosas atribuídas ao
recorrente satisfaz os requisitos para o início de uma ação penal, pois contém os
elementos objetivos e subjetivo do tipo.
3. Recurso não provido. Cassada a liminar anteriormente deferida.
(RHC 120.485/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
19/05/2020, DJe 22/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO E PREVENÇÃO DE DANOS.
LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO. EMBARGOS DE TERCEIRO.
IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES 1. Cuida-se de inconformismo com acórdão do
Tribunal de origem que inadmite os Embargos de Terceiro interpostos.
HISTÓRICO DA DEMANDA 2. Na origem, a recorrente opôs os Embargos no intuito de
evitar demolição determinada em fase de execução de Ação Civil Pública. De fato, ante
ao descumprimento da adequações ambientais estabelecidas no Termo de Ajuste de
Conduta firmado pelo cônjuge da recorrente, essa medida se revelou necessária.
LITISPENDÊNCIA 3. O Tribunal a quo definiu que há litispendência na presente demanda,
o que leva à sua não admissibilidade: "Ainda que se entenda de modo diverso, de se
observar que, quando da oposição destes embargos de terceiros já existia ação ajuizada
pela recorrente em face do MP, discutindo os mesmos fatos, sob nº 0003337-
22.2014.8.26.0417. Caracteriza-se, portanto, a litispendência, posto que estes embargos
reproduzem ação anteriormente ajuizada e que ainda estava em curso, pendente de
julgamento, já que na outra ação se fazem presentes as mesmas partes, a mesma causa
de pedir e o mesmo pedido. Dessa forma, o resultado seria idêntico, com a extinção da
ação".
SÚMULAS 284/STF E 182/STJ 4. Constata-se, inicialmente, que a parte insurgente
sustenta que os arts. 674 e 675 do CPC, assim como o art. 1.228 do CC, foram violados,
mas deixa de apontar, de forma clara, o vício em que teria incorrido o Acórdão
impugnado. Nesse diapasão, o inconformismo sistemático ? manifestado em recurso
carente de fundamentos relevantes que não demonstre como o acórdão recorrido teria
ofendido o dispositivo alegadamente violado e que nada acrescente à compreensão e
ao desate da quaestio iuris ? não atende aos pressupostos de regularidade formal dos
recursos de natureza excepcional e impede o exato entendimento da controvérsia.
Assim, é inviável o conhecimento do Recurso Especial nesse ponto, ante o óbice das
Súmulas 284/STF e 182/STJ.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO 5. Ademais, os artigos 675 do CPC e 1.228 do CC
não foram ventilados no recurso de Apelação e, logicamente, passaram ao largo do
respectivo Acórdão. Além disso, a recorrente nem sequer prequestionou a matéria em
Embargos de Declaração. O Superior Tribunal de Justiça entende ser inviável o
conhecimento do Recurso Especial quando os artigos tidos por violados não foram
apreciados pelo Tribunal a quo, a despeito da oposição de Embargos de Declaração, haja
vista a ausência do requisito do prequestionamento.
Incide, na espécie, a Súmula 211/STJ: "Inadmissível recurso especial quanto a questão
que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal
a quo".
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA 6. Ao se pronunciar quanto ao caso, a Corte de Origem
externou as seguintes considerações, litteris: "Verifica-se que o artigo 675 do Código de
Processo Civil prevê o momento processual oportuno para sua oposição, afirmando que,
no cumprimento de sentença ou no processo de execução pode ser oposto "até 5 (cinco)
dias depois da adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou da arrematação,
mas sempre antes da assinatura da respectiva carta". O ato impugnado não se amolda
às hipóteses do artigo 675 do Código de Processo Civil, visto que não houve medida de
adjudicação, alienação ou arrematação do bem. Assim, evidente é a inadequação da via
eleita, sendo o caso de manutenção da sentença impugnada.
7. Ainda que não se evidenciasse a impossibilidade de conhecer do presente recurso,
melhor sorte não socorreria a recorrente.
Realmente, na forma do art. 675, do CPC, os Embargos de Terceiro podem ser opostos,
no processo de conhecimento, enquanto não transitada em julgado a sentença. Já no
cumprimento de sentença ou no processo de execução, o prazo é de até cinco dias
depois da adjudicação, da alienação ou da arrematação, mas sempre antes da assinatura
da respectiva carta. No caso em tela a recorrente opõe Embargos no intuito de evitar
demolição determinada em fase de execução de Ação Civil Pública. De fato, ante o
descumprimento da adequações ambientais estabelecidas no Termo de Ajustamento de
Conduta firmado pelo cônjuge da recorrente, essa medida se revelou necessária.
8. O que se percebe agora é a pretensão da recorrente de emprestar a sua própria
interpretação ao supramencionado art. 675, tentando equiparar a ordem executória de
demolição aos atos de constrição judicial da penhora, do arresto e do sequestro.
DISPENSABILIDADE DO LITISCONSÓRCIO PASSIVO 9. "É pacífica a jurisprudência desta
Corte Superior no sentido de que, mesmo na existência de múltiplos agentes poluidores,
não existe obrigatoriedade na formação do litisconsórcio, uma vez que a
responsabilidade entre eles é solidária pela reparação integral do dano ambiental
(possibilidade se demandar de qualquer um deles, isoladamente ou em conjunto, pelo
todo)". (REsp 880.160/RJ, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 27.5.2010).
10. "No dano ambiental e urbanístico, o litisconsórcio é facultativo, ou seja, qualquer
dos agentes pode ser demandado, isolada ou conjuntamente". (AgRg no AREsp
541.229/RJ, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 2/12/2014).
11. Não há irregularidade ou nulidade no fato de apenas um dos cônjuges figurar no
polo passivo da referida ação. Em se tratando de Ação Civil Pública voltada ao
ressarcimento de danos ambientais ou urbanísticos, a regra é a fixação do litisconsórcio
passivo facultativo, abrindo-se ao autor a possibilidade de demandar qualquer um deles,
isoladamente ou em conjunto, pelo todo. (AgRg no AREsp 548.908/DF, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Segunda Turma, Dje 30/6/2015).
PRECEDENTES 12. No mesmo sentido, a pacífica jurisprudência do STJ: REsp 771.619/PR,
Rel. Min. Denise Arruda, Primeira Turma, DJe 11.2.2009;
AgRg no AREsp 432.409/RJ, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe
19/3/2014; REsp 1.358.112/SC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe
28.6.2013; REsp 884.150/MT, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 7.8.2008; REsp
604.725/PR, Segunda Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 22.8.2005; REsp
1.060.653/SP, Primeira Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, DJe de 20.10.2008.
13. Recurso Especial não provido.
(REsp 1800120/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/03/2020, DJe 14/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LOTEAMENTO CLANDESTINO.
OMISSÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. OCORRÊNCIA. JULGAMENTO EXTRA PETITA E
FALTA DE PROVAS DE ÁREA URBANA CONSOLIDADA. OFENSA AO ART. 1.022 DO CPC
CONFIGURADA. CONDENAÇÃO DOS RÉUS AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. DESCABIMENTO.
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública ajuizada pelo
Município de Mogi das Cruzes com o objetivo de compelir os ora agravados a adequarem
suas respectivas edificações e regularizarem o loteamento clandestino onde foram
construídas. Após o deferimento de inclusão do Ministério Público no polo ativo, houve
emenda à inicial, para requerer o desfazimento do parcelamento ilegal, caso não seja
possível sua manutenção, consoante disposto na Lei de Parcelamento e nas legislações
estadual e municipal que tratam da matéria.
2. A sentença julgou o feito procedente para "impor aos requeridos a (1) obrigação de
não fazer quaisquer vendas de lotes, empreendimentos, obras, serviços ou atividades
que possam provocar danos ao meio ambiente, incluindo supressão e vegetação nativa;
retirada de recursos naturais; escavação; aterro; terraplanagem;
plantações e cultivos; criação de gado, avícolas e outros;
construção, reforma ou ampliação; asfaltamento; cascalhamento;
impermeabilização; implantação de barraco, moradia e sua perpetuação;
estabelecimento ou similares, inclusive guias, sarjetas ou postes; edificação; desvio ou
retificação de curso d'água;
despejos, lançamentos, depósitos, acúmulos ou infiltrações de resíduos ou efluentes
potencialmente poluidores; (2) a obrigação de fazer, consistente na recuperação
ambiental total da área degradada, sob seus aspectos físicos e biológicos, desfazendo o
loteamento ali existente, quando impossível a regularização, mediante elaboração de
projeto completo de recuperação ambiental, com cronograma, efetivado por
profissionais habilitados, contratados às custas dos requeridos, projeto este que deverá
ser apresentado para análise da CETESB dentro do prazo de 60 dias" (fl. 780, e-STJ).
3. O Tribunal a quo, por sua vez, consignou: "admitida em tese a hipótese de
regularização fundiária em área de preservação permanente, forçoso reconhecer a
imprescindibilidade da análise prévia da sua possibilidade no caso dos autos,
previamente a determinação do desfazimento do loteamento clandestino e
desalojamento dos moradores. Assim, de rigor a determinação de regularização do
loteamento que deve observar as normas pertinentes ao direito urbanístico e
ambiental, conforme exposto na r. sentença, sendo desnecessário o o sobrestamento
da ação." AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO 4.
A parte insurgente busca a reforma do aresto impugnado, haja vista que teria ofendido
o princípio da adstrição e operado julgamento extra petita, porquanto "possibilitou a
regularização fundiária sem que houvesse pedido nesse sentido". Acrescenta que a Lei
12.651/1912 exige que a regularização fundiária incida sobre área urbana consolidada,
contudo o decisum não menciona nenhum elemento fático ou probatório que ampare
a referida conclusão.
5. Em Embargos de Declaração, o Parquet solicitou a manifestação acerca dos seguintes
pontos: "O v. acórdão, ora em apreciação, concedeu ex officio ao recorridos o direito de
regularização fundiária. Entretanto, ainda que se considere possível o julgamento extra
petita, no caso, em oposição às prefaladas normas processuais, acima aludidas (arts.141,
492, 1013, §1°, do CPC), o contexto fático conspirava, à toda evidência, contra o suposto
direito bafejado no v. aresto embargado, esbarrando, aqui, sempre com o devido
respeito, o decisório embargado no princípio do livre convencimento motivado
substancializado no art. 371, CPC/2015. Deveras, quer por interesse social, quer por um
interesse específico, a regularização fundiária depende sempre de aprovação do
Município, conforme se depreende dos artigos 53, 61 da Lei n.11.977/09".
Complementa: "Uma condicionante intransponível, no caso, é o licenciamento, sob o
âmbito municipal que, no caso, jamais ocorrerá, porque o ente público é co-autor da
ação. Há uma razão objetiva que compeliu esta intervenção do Município de Mogi das
Cruzes: o local do dano está localizado em área de proteção dos mananciais, cursos e
reservatórios de água, de interesse da região metropolitana de São Paulo, conforme
expressamente previsto no artigo 2°, XII, da Lei Estadual 898/75.
(cf. doc. de fls.625). (...) De igual modo, o artigo 65 da Lei 12.651/12 exige para a
regularização fundiária que se trata de área urbana consolidada." 6. Existindo na petição
recursal alegação de ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015, a constatação de que o Tribunal
de origem, mesmo após a oposição de Embargos Declaratórios, não se pronunciou sobre
pontos essenciais ao deslinde da controvérsia autoriza o retorno dos autos à instância
ordinária para novo julgamento dos Aclaratórios opostos.
7. Ainda, não é possível concluir, com clareza, o alcance da decisão, pois, em que pese
ter negado provimento às Apelações dos particulares - que defendiam o direito à
regularização do parcelamento ilegal do solo, por ser ato vinculado do Município - e
mantido a sentença, afirmou ser "de rigor a determinação de regularização do
loteamento que deve observar as normas pertinentes ao direito urbanístico e
ambiental." 8. Nesse contexto, deve ser dado provimento ao Recurso Especial a fim de
que os autos retornem ao Tribunal de origem para que este se manifeste sobre a matéria
articulada nos Embargos de Declaração, em face da relevância da omissão suscitada.
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL DO MUNICÍPIO DE MOGI DAS CRUZES 9. A Corte
Especial do STJ, no julgamento dos EAREsp 962.250/SP, de relatoria do Ministro Og
Fernandes (DJe 21/8/2018), firmou a compreensão de que, em razão da simetria,
descabe a condenação em honorários advocatícios da parte requerida em Ação Civil
Pública, quando inexistente má-fé, como ocorre com a parte autora, por força da
aplicação do art. 18 da Lei 7.347/1985, qualquer que seja o legitimado ativo.
10. Com efeito, o Ministério Público não faz jus ao recebimento de honorários
advocatícios sucumbenciais quando vencedor na Ação Civil Pública por ele proposta,
não se justificando, de igual maneira, conceder tais honorários para outra instituição.
CONCLUSÃO 11. Agravo do Ministério Público conhecido para conhecer do Recurso
Especial e dar-lhe provimento, determinando-se o retorno dos autos à Corte de origem,
para novo julgamento dos Embargos de Declaração, a fim de que se manifeste
expressamente sobre: a) o alcance da decisão colegiada e se foi reconhecido o direito à
regularização fundiária, no caso, ou apenas a sua possibilidade, a ser analisada
posteriormente pelo Poder Público Municipal; b) o argumento de que a possibilidade de
regularização fundiária não foi objeto de debate, em primeiro grau, nem integrou a
causa de pedir; constituindo julgamento extra petita; c) esclarecimento do decisum ante
o disposto nos arts. 53 e 14 da Lei 11.977/2009; d) quais elementos norteadores levaram
a Corte a quo concluir ser aquele espaço ambiental área consolidada. Agravo do
Município conhecido para negar provimento ao Recurso Especial.
(AREsp 1579543/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
18/02/2020, DJe 04/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL, AMBIENTAL E URBANÍSTICO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ARTS.
4º, II, 6º, III E IX, E 10º, DO CÓDIGO FLORESTAL. SOTERRAMENTO DE "BANHADO".
ECOSSISTEMA ESPECIALMENTE PROTEGIDO. PARÂMETROS DA CONVENÇÃO SOBRE
ZONAS ÚMIDAS DE IMPORTÂNCIA INTERNACIONAL (CONVENÇÃO DE RAMSAR).
PRINCÍPIO IN DUBIO PRO NATURA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA, SOLIDÁRIA E ILIMITADA DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL.
LITISCONSÓRCIO PASSIVO FACULTATIVO. SÚMULA 83/STJ.
1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado
do Rio Grande do Sul contra o Município de Caxias do Sul, em razão de dano ambiental
causado por execução de obra pública de alargamento e pavimentação de estrada, da
qual resultou soterramento de banhado situado em Área de Preservação Permanente.
2. O Tribunal a quo manteve integralmente a sentença de procedência e condenou o
ente municipal a recuperar a área degradada. O acórdão recorrido reflete orientação,
consolidada na jurisprudência do STJ, de que a responsabilidade civil pelo dano
ambiental, com base na teoria do risco integral e do princípio poluidor-pagador, é
objetiva, solidária e ilimitada, inclusive quando há omissão do ente público do dever de
controle e de fiscalização, como ocorreu no caso dos autos.
3. Nomenclatura de emprego mais comum no Rio Grande do Sul, o banhado, do
espanhol "bañado", representa tipologia do gênero áreas úmidas (wetlands), ou seja,
zonas alagadas, perene ou intermitentemente. Como se sabe, tais terrenos constituem
ecossistema especialmente protegido por normas tanto internacionais como nacionais.
Incluem, entre outras, as categorias sinônimas ou próximas dos brejos, várzeas,
pântanos, charcos, varjões, alagados.
Áreas ecologicamente estratégicas, funcionam como esponjas de água e estocadores de
matéria orgânica, abrigando complexa rede trófica de alta biodiversidade, com
inúmeras espécies da flora e fauna, várias delas endêmicas ou ameaçadas de extinção.
Desempenham, a um só tempo, a função de caixa d´água e rim da Natureza, pois
absorvem água na cheia e mantêm o fluxo hídrico na estiagem. Nesse processo, filtram
e purificam a água antes do ponto de ressurgência. Sem rigorosa conservação desses
preciosos e insubstituíveis espaços úmidos, a proteção jurídica dos rios e recursos
hídricos ficará capenga e inviabilizada, pois equivaleria a cuidar das pernas e esquecer
os braços.
4. Segundo a Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional de 1971
(Convenção de Ramsar, promulgada pelo Decreto 1.905/1996), reconhecem-se "as
funções ecológicas fundamentais das zonas úmidas enquanto reguladoras dos regimes
de água e enquanto habitas de flora e fauna características, especialmente de aves
aquáticas". Tais áreas "constituem um recurso de grande valor econômicos, cultural,
cientifico e recreativo, cuja perda seria irreparável" (preâmbulo).
5. O Código Florestal, com atecnia legislativa, trata as zonas úmidas ora como Áreas de
Preservação Permanente ope legis do art.
4º, II - lago ou lagoa, que pode ser perene ou intermitente, rasa ou profunda -, ora como
Área de Preservação Permanente administrativa (art. 6º, III e IX), ora como Área de Uso
Restrito (art. 10).
Qualquer que seja a classe em que se enquadre, o banhado está especialmente
protegido, vedada sua destruição. Levando-se em conta que não se está diante de
categorias que se separam claramente, preto no branco, apresentando-se mais como
continuum entre ambientes aquáticos e terrestres, verdadeiras zonas de transição
terrestre-aquáticas, conclui-se que as definições tendem a ser arbitrárias e, por isso,
administrador e juiz devem empregar, no difícil processo de interpretação da norma e
da realidade natural, o princípio in dubio pro natura, nos termos da jurisprudência do
STJ.
6. Em ações judiciais que visam ao ressarcimento de danos ambientais ou urbanísticos,
a regra é a fixação do litisconsórcio passivo facultativo, abrindo-se ao autor a
possibilidade de demandar, de qualquer um deles, isoladamente ou em conjunto, pelo
todo.
Precedentes do STJ.
7. O acórdão recorrido está em sintonia com o atual entendimento do STJ, o que atrai a
incidência da Súmula 83/STJ.
8. Recurso Especial não provido.
(REsp 1787748/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
10/12/2019, DJe 14/09/2020)
RECURSO ESPECIAL. AMBIENTAL. CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIO VERTICAL.
CONJUNTO CÊNICO E PAISAGÍSTICO. MORRO DO CARECA E DUNAS ASSOCIADAS.
DANO AO MEIO AMBIENTE. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 1.022 DO CPC NÃO CARACTERIZADA.
LICENÇA MUNICIPAL DE CONSTRUÇÃO. ANULAÇÃO POR AUTOTUTELA
ADMINISTRATIVA. POSSIBILIDADE. ZONA COSTEIRA. PROTEÇÃO DA PAISAGEM.
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Trata-se, na origem, de "Ação Ordinária c/c Pedido de
Antecipação de Tutela Inaudita Altera Parte" para, judicialmente, obter autorização para
continuar construção de edifício de dezessete andares, denominado "Home Service Villa
del Sol", em Natal/RN, nas proximidades do conjunto cênico paisagístico formado pelo
Monumento Natural do Morro do Careca e dunas associadas, cuja licença ambiental foi
anulada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo - Semurb.
2. Segundo a petição do Recurso Especial do Ministério Público, o "Morro do Careca é
uma paisagem natural notável e de rara beleza.
Esse fato é incontestável! Destaca-se, ainda, o fato de que o cenário natural se encontra
todo preservado e que os edifícios existentes no Bairro de Ponta Negra encontram-se
fora do visual do cordão de dunas. Pode-se afirmar que o Morro do Careca pertence ao
Patrimônio Nacional, uma vez que é expressão singular do ecossistema dunar que, por
sua vez, é um dos mais representativos da Zona Costeira." (e-STJ, fl. 1482).
3. Informa a própria recorrida que a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e
Urbanismo concedeu autorização administrativa para edificação do empreendimento
por meio de Alvará de Construção.
Afirma, na Petição Inicial, que a cassação/anulação do Alvará foi assim fundamentada
pelo Município de Natal: "o estudo ambiental apresentado nos autos do processo nº
23077.033778/2005-20, omitiu descrições relevantes quanto à área de influência do
projeto, assim como a descrição do meio físico e antrópico com as interações dos
respectivos componentes e identificação das tendências evolutivas desses
componentes, no momento em que não considerou o impacto paisagístico do
empreendimento, se omitiu quanto à análise da destinação do esgotamento sanitário
(levando em consideração a infra-estrutura existente no bairro); deixou de analisar os
impactos sócio-econômicos do empreendimento".
4. Todavia, como indicado nas razões do Recurso Especial do Município de Natal, após
o começo das obras, o alvará de construção foi anulado pela Prefeitura por omissão,
imputada ao empreendedor, de descrições relevantes da área de influência do projeto,
do meio físico e antrópico, bem como por desconsideração do impacto paisagístico do
empreendimento, da destinação do esgotamento, levando-se em consideração a
infraestrutura existente no bairro.
5. A sentença julgou improcedente o pedido, e a Apelação foi provida em acórdão
posteriormente anulado pelo Superior Tribunal de Justiça com a determinação de que
se observasse a prerrogativa do Ministério Público de ser intimado pessoalmente.
6. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte rejeitou os Aclaratórios do
Município de Natal e do Parquet estadual e manteve a decisão de provimento da
Apelação.
AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 DO CPC/2015 7. Não se configurou a ofensa ao
art. 1.022 do Código de Processo Civil, uma vez que o Tribunal de origem julgou
integralmente a lide e solucionou a controvérsia.
TESE JURÍDICA EM DEBATE 8. A Corte potiguar assim delimitou a controvérsia (e-STJ, fl.
1441, grifo acrescentado): "iniciada a obra, não poderia o Poder Público anular a licença
anteriormente concedida". Ou seja, "o TJRN considerou que o Município de Natal não
poderia retroceder, retroagir na concessão de uma licença se a obra já havia sido
iniciada. Essa é a tese central do acórdão recorrido." Trata-se, evidentemente, de tese
jurídica que se opõe aos cânones do Direito Administrativo brasileiro (e estrangeiro) e à
jurisprudência do STF e do STJ.
INVALIDAÇÃO DE LICENÇA ADMINISTRATIVA: SÚMULA 473 DO STF E JURISPRUDÊNCIA
DO STJ 9. Segundo consta dos autos, a licença ambiental foi, a princípio, simplesmente
suspensa e, após a conclusão do devido processo administrativo com direito a amplo
contraditório, acabou anulada 10. No Direito brasileiro, a licença de construir, apesar de
ser ato vinculado com caráter de definitividade, submete-se à: a) revogação pura e
simples, garantindo-se ao prejudicado o direito à indenização pelos prejuízos
eventualmente causados, enquanto não iniciada a obra; b) cassação caso deixem de ser
atendidas as condições legais exigidas para sua manutenção e c) anulação diante de
ilegalidade na sua edição, como ocorreu no caso dos autos.
11. Não poderia ser outra a posição diante do poder-dever de autotutela da
Administração, o qual está cristalizado na Súmula 473 do Supremo Tribunal Federal, em
vigor desde 1969: "A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de
vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e
ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial." 12. Como ocorre com atos
administrativos em geral, autorizações e licenças carregam presunção relativa de
legitimidade e definitividade e, por isso, podem (e devem) ser cassadas, revogadas e
anuladas pela Administração, desde que presentes elementos ensejadores para tanto.
É a jurisprudência do STJ: "Aprovado e licenciado o projeto para construção de
empreendimento pelo Poder Público competente, em obediência à legislação
correspondente e às normas técnicas aplicáveis, a licença então concedida trará a
presunção de legitimidade e definitividade, e somente poderá ser: a) cassada, quando
comprovado que o projeto está em desacordo com os limites e termos do sistema
jurídico em que aprovado; b) revogada, quando sobrevier interesse público relevante,
hipótese na qual ficará o Município obrigado a indenizar os prejuízos gerados pela
paralisação e demolição da obra; ou c) anulada, na hipótese de se apurar que o projeto
foi aprovado em desacordo com as normas edilícias vigentes." (REsp 1.011.581/RS, Rel.
Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe de 20/8/2008). Na mesma esteira:
AgInt no Ag 1.421.353/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe de
19/4/2017; REsp 1.227.328/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe
de 20/5/2011, entre outros.
VÍCIOS DA LICENÇA MUNICIPAL IDENTIFICADOS PELA PRÓPRIA PREFEITURA 13. No caso
em exame, patente a ilegalidade da licença de construir anteriormente concedida e a
consequente necessidade de sua anulação, porquanto os pressupostos para sua
concessão não foram observados, especialmente a avaliação do impacto na paisagem
do Morro do Careca e dunas associadas e no trânsito, considerando-se o fato de a Vila
da Ponta Negra ser de pescadores e de seu acesso ser feito em mão única. O próprio
Município confirma que tais aspectos da licença não foram objeto de estudo prévio.
14. O acórdão recorrido noticia (fl. 1438): "após a concessão da licença em favor da Natal
Real State foi observado que requisitos obrigatórios não foram atendidos, como por
exemplo: a avaliação do impacto na paisagem do Morro do Careca e o impacto de
trânsito, tendo em vista trata-se a Vila da Ponta Negra de vila de pescadores, cujo acesso
é feito em mão única. Defende que a concessão original da licença, o aspecto
paisagístico não foi objeto de estudo prévio, o que motivou invalidação da licença,
diante da possibilidade de causar dano ambiental irreversível".
GRANDE EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO SENDO CONSTRUÍDO SEM LICENÇAS
URBANÍSTICA E AMBIENTAL 15. No caso dos autos, o que se tem, pois, é grande
empreendimento imobiliário sendo edificado SEM LICENÇA DE CONSTRUÇÃO E SEM
LICENÇA AMBIENTAL, em um dos cartões postais do Brasil.
PAISAGEM E ZONA COSTEIRA 16. O aresto vergastado, apesar de reconhecer que a
construção realizada pela recorrida prejudica a plena fruição da paisagem e beleza
natural de cartão postal de Natal, além de constituir poluição visual atentatória ao
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, decidiu que o empreendimento
imobiliário deve ser considerado regular não só em razão de terem sido iniciadas as
obras com base em licença ilegal, posteriormente invalidada, mas também porque a
plena visibilidade do citado patrimônio paisagístico e histórico da cidade de Natal deve
ceder a necessidades impostas pelo crescimento das cidades, o que beneficia o interesse
privado em detrimento do público.
17. Nesse sentido, o Tribunal a quo consignou de maneira expressa (fls. 956-960):
"embora as edificações atualmente existentes na proximidade do Morro do Careca
sejam, em sua maioria, de baixo gabarito ... sendo a intenção do Poder Público proteger
a visibilidade da coisa tombada, para que os transeuntes possam melhor contemplá-la,
não deveria haver qualquer tipo de construção em sua volta".
18. A preocupação com a paisagem urbana decorre da necessidade de se ajustar o
território e a forma de sua ocupação, propiciando qualidade de vida aos seus habitantes
e preservação dos espaços verdes e demais áreas consideradas importantes, por suas
funções ecológicas e beleza cênica. Por isso é que sua proteção encerra inegável
interesse difuso relacionado diretamente com a qualidade de vida e o bem-estar da
população, cuja relevância é prevista na legislação brasileira.
19. Finalmente, consigne-se que seria despropósito imaginar que o ordenamento
jurídico brasileiro não reconheça, ignore ou não atribua valor jurídico à paisagem. É
exatamente o contrário, a começar pelo Código Civil ("O direito de propriedade deve ser
exercido [...] de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em
lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais", art. 1.228, § lº, destaque
acrescentado). Na mesma linha, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente considera
poluição "atividades que direta ou indiretamente afetem as condições estéticas ou
sanitárias do meio ambiente" (Lei 6.938/1981, art. 3º, III, "d", grifo acrescentado).
E, mais especificamente, o Estatuto da Cidade, como diretriz geral da Política Urbana: a
"proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do
patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico" (Lei 10.257/2001,
art. 2º, XII, grifo acrescentado).
CONCLUSÃO 20. Recursos Especiais providos para restabelecer a sentença.
(REsp 1820792/RN, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/12/2019, DJe 22/10/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AMBIENTAL. TRANSPORTE DE MADEIRA. CARGA PARCIALMENTE
REGULAR. OCULTAÇÃO DO ILÍCITO. LEGALIDADE DE APREENSÃO DA TOTALIDADE DO
MATERIAL LENHOSO TRANSPORTADO.
1. Cuida-se, na origem, de Ação Ordinária proposta por Laminados Triunfo Ltda., ora
recorrida, contra o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - Ibama, ora recorrente, objetivando declaração da nulidade parcial ou total
de Auto de Infração lavrado por fiscais desse órgão ambiental sob a alegação de a
recorrida vender madeira em desacordo com o documento de origem florestal - DOF.
2. O Tribunal de origem afirmou "que deve ser mantida a autuação quanto às madeiras
restantes, liberando-se à Autora as demais peças de madeiras regularmente
transportadas". Dessa forma, apenas as madeiras irregularmente transportadas,
conforme reconhecido pela Corte Regional, seriam apreendidas.
3. Madeira legalmente extraída e transportada com guia florestal válida, mas utilizada
para esconder ou disfarçar carga ilícita ou dificultar a fiscalização pelas autoridades
competentes, transforma-se em instrumento de crime ou de infração administrativa e,
por isso, deve ser igualmente apreendida.
4. Essa é a intelecção que deve prevalecer quanto à interpretação do art. 25 da Lei
9.605/1998 quando estabelece que, "verificada a infração, serão apreendidos seus
produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos", posição adotada em
leading case da relatoria do Ministro Og Fernandes, que discutia matéria idêntica à
destes autos (REsp 1.784.755/MT, Segunda Turma, DJe de 1º.10.2019).
5. Não demonstra sensatez o juiz que fecha os olhos ao assombroso desmatamento de
nossas florestas e ao escancarado comércio ilegal de madeira e animais, mormente
quando empregados ardis e fraudes para "esquentar" o produto da delinquência ou
acobertar a degradação do meio ambiente. Ao assim proceder, desumpre, diretamente,
a ratio, o espírito e o corpo da proteção constitucional e legal conferida à flora e à fauna,
obliquamente chancelando e, sem querer, incentivando a acelerada destruição de
preciosos ecossistemas. Em situações desse jaez, impõe-se apreensão da totalidade da
carga transportada. Entendimento administrativo ou judicial diverso reduziria o alcance
da norma ambiental que, com dificuldades de toda ordem, busca exatamente
desestimular novas infrações, retirando do transgressor qualquer possibilidade de
vantagem econômica com o desmatamento e o transporte irregular de madeira e
animais. No caso de material lenhoso, cabe ao Poder Público reaproveitá-lo, mediante
uso próprio ou doação a instituições científicas, hospitalares, penais, ecológicas, e
outras com fins beneficentes.
6. Recurso Especial provido.
(REsp 1693917/RO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
21/11/2019, DJe 11/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. RECONVENÇÃO. POSSIBILIDADE DE LITISCONSÓRCIO.
FUNDAMENTO NÃO ATACADO. SÚMULA 283/STF. CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA.
DANO AMBIENTAL. ART. 373, § 1º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INVERSÃO DO ÔNUS
DA PROVA. POSSIBILIDADE. PROVA PERICIAL. RESPONSABILIDADE PELAS CUSTAS.
1. Cuida-se, na origem, de Ação de Reintegração de Posse movida pela recorrente contra
os recorridos. Processada a demanda, houve ajuizamento de Reconvenção, cujo objeto
é a reparação por danos materiais e morais decorrentes da ocupação da área em
disputa, tendo havido decisão judicial de inversão do ônus da prova e determinação de
que os honorários periciais recaiam sobre a empresa, ora recorrente.
2. Acerca da inversão do ônus da prova, nenhum reparo merece o acórdão recorrido.
Em perfeita sintonia com a Constituição de 1988, o art. 373, § 1º, do Código de Processo
Civil reproduz, na relação processual, a transição da isonomia formal para a isonomia
material, mutação profunda do paradigma dos direitos retóricos para o paradigma dos
direitos operativos, pilar do Estado Social de Direito. Não se trata, contudo, de
prerrogativa judicial irrestrita, pois depende ora de previsão legal (direta ou indireta, p.
ex., como consectário do princípio da precaução), ora, na sua falta, de peculiaridades da
causa, associadas quer à impossibilidade ou a excessivo custo ou complexidade de
cumprimento do encargo probante, quer à maior capacidade de obtenção da prova pela
parte contrária.
Naquela hipótese, em reação à natureza espinhosa da produção probatória, a inversão
foca em dificuldade do beneficiário da inversão; nesta, prestigia a maior facilidade, para
tanto, do detentor da prova do fato contrário. Qualquer elemento probatório,
pontualmente - ou todos eles conjuntamente -, pode ser objeto da decretação de
inversão, desde que haja adequada fundamentação judicial.
3. A alteração ope legis ou ope judicis da sistemática probatória ordinária leva consigo
o custeio da carga invertida, não como dever, mas como simples faculdade. Logo, não
equivale a compelir a parte gravada a pagar ou a antecipar pagamento pelo que
remanescer de ônus do beneficiário. Modificada a atribuição, desaparece a necessidade
de a parte favorecida provar aquilo que, daí em diante, integrar o âmbito da inversão.
Ilógico e supérfluo, portanto, requisitar produza o réu prova de seu exclusivo interesse
disponível, já que a omissão em nada prejudicará o favorecido ou o andamento
processual. Ou seja, a inversão não implica transferência ao réu de custas de perícia
requerida pelo autor da demanda, pois de duas, uma: ou tal prova continua com o autor
e somente a ele incumbe, ou a ele comumente cabia e foi deslocada para o réu, titular
da opção de, por sua conta e risco, cumpri-la ou não. Claro, se o sujeito titular do ônus
invertido preferir não antecipar honorários periciais referentes a seu encargo
probatório, presumir-se-ão verdadeiras as alegações da outra parte.
5. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1807831/RO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
07/11/2019, DJe 14/09/2020)
ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. ATIVIDADE PESQUEIRA. LEI 11.959/2009.
LICENCIAMENTO AMBIENTAL. ART. 10, CAPUT, DA LEI 6.938/1981. AUSÊNCIA DE
LICENÇA DE OPERAÇÃO. ARTS. 60 E 70 DA LEI 9.605/1998 C/C O ART.
66 DO DECRETO 6.514/2008. PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL. LEI COMPLEMENTAR
140/2011. SISNAMA - SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE.
RESOLUÇÃO CONAMA 237/1997. EFEITOS DO ATO DE PROTOCOLO E DA TRAMITAÇÃO
DE PEDIDO DE LICENÇA OU AUTORIZAÇÃO AMBIENTAL. OMISSÃO OU INEFICÁCIA DOS
ÓRGÃOS LOCAIS. COMPETÊNCIA SUPLETIVA DO IBAMA.
1. Trata-se, na origem, de Ação Anulatória de auto de infração lavrado pelo Ibama contra
"Norte Pesca SA", por exercício de atividade econômica pesqueira sem Licença de
Operação válida, em desrespeito ao art. 10, caput, da Lei 6.938/1981, à Lei 9.605/1998
e ao Decreto Federal 6.514/2008. O ilícito vem confessado pela empresa, embora
alegue, em defesa, que teria requerido, e ainda dependia de deferimento, renovação de
licença anterior.
2. A empresa autuada exerce, inequivocamente, atividade pesqueira, nos termos da Lei
11.959/2009. Irrefutável a competência federal para apreciar a matéria, sobretudo
porque, no nosso ordenamento contemporâneo, a fauna ictiológica, a fauna
malacológica, a carcinofauna, corais e outros seres vivos aquáticos não integram o
domínio privado, e sim o domínio público, nele avultada a conexão com a União: são
bens públicos o meio hídrico e os seres vivos que naturalmente (naturalis libertas) nele
se encontrem.
3. Sob o ângulo técnico-jurídico, licenciamento ambiental designa procedimento
administrativo formal, ínsito ao poder de polícia da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, de controle do uso dos recursos naturais e da degradação do meio
ambiente. Constitui gênero do qual derivam (como espécies de ato final) licença e
autorização ambiental. Ou seja, falar de licenciamento ambiental é falar de autorização
e licença, o que importa dizer que, em regra, os mecanismos de garantia da sociedade
e das gerações futuras aplicáveis na expedição de licença ambiental se impõem
simetricamente na autorização.
COMPETÊNCIAS AMBIENTAIS DO ESTADO 4. Na arquitetura constitucional, divide-se, em
duas famílias, a competência do Estado, em sentido amplo, no domínio do Direito
Ambiental. De um lado, a competência legislativa ambiental; do outro, a competência
de implementação ambiental (= atribuição para administrar, também chamada de
material). Ao manejar essas modalidades de competência ambiental, o legislador, o
administrador e o juiz empenham-se intensamente em evitar centralização cega que, de
cima para baixo, fulmine o princípio federativo, e descentralização cega que o aniquile
ao reverso, de baixo para cima.
5. Distinguem-se competência de licenciamento e competência de fiscalização e
repressão, inexistindo correlação automática e absoluta entre os seus regimes jurídicos.
Segundo a jurisprudência do STJ, atividades licenciadas ou autorizadas (irrelevante por
quem) - bem como as não licenciadas ou autorizadas e as não licenciáveis ou
autorizáveis - podem ser, simultaneamente, fiscalizadas e reprimidas por qualquer
órgão ambiental, cabendo-lhe alçadas de autuação, além de outras, daí decorrentes,
como interdição e punição: "havendo omissão do órgão estadual na fiscalização, mesmo
que outorgante da licença ambiental, o IBAMA pode exercer o seu poder de polícia
administrativa, porque não se pode confundir competência para licenciar com
competência para fiscalizar" (AgInt no REsp 1.484.933/CE, Relatora Min. Regina Helena
Costa, Primeira Turma, DJe de 29/3/2017, grifo acrescentado). No mesmo sentido: AgRg
no REsp 711.405/PR, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 15/5/2009;
REsp 1.560.916/AL, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe de 9/12/2016;
AgInt no REsp 1.532.643/SC, Rel.
Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe de 23/10/2017. Cf.
também: "o poder de polícia ambiental pode ser exercido por qualquer dos entes da
federação atingidos pela atividade danosa ao meio ambiente" (AgInt no AREsp
1.148.748/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de 24/5/2018,
grifo acrescentado).
6. O princípio da unicidade do licenciamento ambiental significa que o procedimento
correrá, formalmente, perante apenas um dos entes federativos, evitando-se, assim,
duplicidade ou triplicidade capazes de ocasionar ações paralelas, desconexas ou não,
que poderiam angariar incerteza e desperdício de recursos humanos, técnicos e
financeiros, em prejuízo da eficiência e da segurança jurídica.
7. A unicidade é apenas procedimental, o que se encaixa perfeitamente no federalismo
cooperativo, em si nada de anômalo, exceto se trouxer, em contrabando, tentativa de
retirar, debilitar ou esvaziar poderes constitucionalmente atribuídos, ou seja, calar
participação útil da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, como afazeres
próprios do exercício de sua autonomia e competência comum (CF, arts. 18, caput, e 23,
VI e VII). Unicidade não implica monopólio ou menosprezo, nem transmutação do
comum em exclusividade.
PROTOCOLO DE PEDIDO DE LICENÇA OU AUTORIZAÇÃO 8. Insustentável o argumento
da recorrente de que a ação fiscalizadora e repressiva do Ibama seria indevida porque
no momento da autuação tramitava requerimento de renovação de licença ambiental.
Quanto a isso o Tribunal de origem consignou: "a licença ainda não havia sido expedida,
dadas as diversas exigências não cumpridas pela empresa".
9. Ao contrário do que afirma a autuada (estaria ela "amparada por tramitação de
licença perante o órgão municipal", grifei), lídimo amparo legal só possui aquele que age
sob a égide de prévio e válido licenciamento ambiental. Evidentemente, quem requer à
Administração, enquanto aguarda não passa de requerente, status postulatório que se
mantém até a concessão efetiva do ato pretendido. Daí inconcebível que o interessado
se sinta ou se comporte como se já fosse titular de direito administrativamente
reconhecido, pois, no máximo, estampa mera expectativa de outorga. Tal qual sucede
com a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), mero protocolo ou tramitação de pedido
de autorização ou licença, original ou em renovação, nada legitima, nada garante, nada
promete, nada insinua, nada adianta. Tampouco exime de responsabilidade
administrativa, civil e penal aquele que, por sua conta e risco, avança com
empreendimento ou atividade ao arrepio da lei, na marra mesmo, substituindo-se, sem
título ou mandato, ao Estado, em processo de apropriação individual de função pública
(poder de polícia) indelegável e não privatizável.
10. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1802031/PE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
07/11/2019, DJe 11/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AMBIENTAL. TRANSPORTE DE MADEIRA. CARGA PARCIALMENTE
REGULAR. OCULTAÇÃO DO ILÍCITO. INSTRUMENTO DE CRIME OU DE INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA. LEGALIDADE DA APREENSÃO.
1. Trata-se, na origem, de Mandado de Segurança impetrado pelo ora recorrido com o
objetivo de obter liberação da carga de madeira que se encontra acobertada pelos
documentos cabíveis (24,576m³ das essências cupiúba e tauari), bem como a declaração
de nulidade dos autos de infração, apreensão e depósito da referida carga.
2. O Tribunal de origem afirmou que, "no caso dos autos, em que pese a constatação de
que determinada quantidade de madeira estava sendo comercializada sem autorização
legal, parte da carga possuía permissão para transporte e comercialização (29,56m3 de
madeira Tauari e Cupiúba), não merecendo reparos a sentença que autorizou a
restituição da madeira acobertada pela respectiva documentação, bem como para que
a autoridade impetrada promova a redução proporcional da multa imposta no Auto de
Infração." (fl. 147, e-STJ).
3. A Segunda Turma do STJ, ao julgar o REsp 1.784.755/MT, da relatoria do Ministro Og
Fernandes, DJe 1º.10.2019, que discutia matéria idêntica à dos autos, decidiu: "A
legislação ambiental estabelece como efeito imediato da infração a apreensão dos bens
e instrumentos utilizados na prática do ilícito ambiental. Tendo o infrator sido flagrado
transportando madeira em desconformidade com a respectiva guia de autorização, não
é possível que o Judiciário flexibilize a sanção prevista na lei e determine a liberação da
quantia anteriormente permitida. Tal postura compromete a eficácia dissuasória
inerente à medida, consistindo em incentivo, sob a perspectiva da teoria econômica do
crime, às condutas lesivas ao meio ambiente." 4. A madeira legalmente extraída e
transportada com guia florestal válida, mas utilizada para esconder ou disfarçar carga
ilícita ou dificultar a fiscalização pelas autoridades competentes, transforma-se em
instrumento de crime ou de infração administrativa e, por isso, deve ser igualmente
apreendida.
5. Entendimento diverso reduziria o alcance da norma ambiental, que busca
desestimular novas práticas de infrações ambientais, sobretudo desmatamento,
retirando do autor do ilícito qualquer possibilidade de vantagem econômica pelo
transporte irregular de madeiras, cabendo ao Poder Público reaproveitá-las mediante
doação a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes,
conforme o caso.
6. Recurso Especial provido.
(REsp 1714543/MT, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/11/2019, DJe 11/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. ROMPIMENTO DA BARRAGEM DO FUNDÃO,
EXPLORADA PELA MINERADORA "SAMARCO". DESASTRE AMBIENTAL DE MARIANA.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA EM FAVOR DA 12ª VARA FEDERAL
DE MINAS GERAIS. AGRAVO DE INSTRUMENTO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO REGIME DA
AÇÃO POPULAR À AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA DA 12ª VARA FEDERAL DE MINAS
GERAIS. PRECEDENTE DA PRIMEIRA SEÇÃO.
1. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública em que o Ministério Público de Minas Gerais
requer a condenação de Samarco Mineração SA, Vale SA e BHP Billiton Brasil Ltda. a
reparar danos ambientais causados ao Município de Barra Longa, decorrentes do
rompimento da barragem do Fundão, em Mariana-MG.
2. O Juízo estadual declinou de sua competência e determinou a remessa dos autos à
12ª Vara Federal de Minais Gerais. Adveio Agravo de Instrumento do Ministério Público,
do qual o Tribunal de Justiça do Estado não conheceu, com o fundamento de que a
decisão declinatória não se amolda às hipóteses taxativamente descritas no rol do artigo
1.015 do CPC/2015.
3. A Corte Especial do STJ, nos Recursos Especiais 1.696.396/MT e 1.704.520/MT,
submetidos ao rito dos repetitivos, adotou o entendimento de que "o rol do art. 1.015
do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de
instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da
questão no recurso de apelação". Contudo, na mesma ocasião atribuíram-se a esses
precedentes, publicados em 2018, efeitos exclusivamente prospectivos, que não podem
incidir no caso dos autos porque a decisão interlocutória da primeira instância foi
proferida antes, em 2017.
4. O Agravo de Instrumento é cabível no caso, não com amparo no art.
1.015 do CPC, mas por conta da regra do art. 19, § 1°, da Lei 4.715/65, aplicável à Ação
Civil Pública quando for essa omissa e, cumulativamente, a solução adotada para a Ação
Popular guardar compatibilidade com a ratio e princípios daquela. Logo, havendo norma
expressa em regime processual especial ("Das decisões interlocutórias cabe agravo de
instrumento"), não incide o sistema do CPC/2015.
5. Na hipótese dos autos, a controvérsia já foi dirimida pelo STJ no Conflito de
Competência 144.922/MG, tendo a Primeira Seção decidido que "a 12ª Vara Federal da
Secção Judiciária de Minas Gerais possui melhores condições de dirimir as controvérsias
aqui postas, decorrentes do acidente ambiental de Mariana".
6. Excetuaram-se, nesse julgado, "as situações que envolvam aspectos estritamente
humanos e econômicos da tragédia (tais como o ressarcimento patrimonial e moral de
vítimas e familiares, combate a abuso de preços etc)". A Ação Civil Pública de que cuidam
estes autos, todavia, não se enquadra nessas exceções, uma vez que aponta prejuízos a
bens integrantes do patrimônio cultural e imaterial da cidade de Barra Longa e da
comunidade de Gesteira. Além disso, como acentuou o Juízo da 1ª Vara Cível da
Comarca de Ponte Nova em sua decisão declinatória, o pedido feito na Ação Civil Pública
que deflagrou este processo "possui conexão em relação àquele, de maior extensão,
apresentado na ação civil pública em tramite na 12ª Vara Federal da Seção Judiciária de
Minas Gerais".
7. Recurso Especial provido.
(REsp 1768359/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
17/10/2019, DJe 11/09/2020)
DIREITO AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TERRENO DE MARINHA.
DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF.
LITISCONSÓRCIO PASSIVO FACULTATIVO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DE EXECUÇÃO
SUBSIDIÁRIA DO ESTADO. SÚMULA 83/STJ. REEXAME PROBATÓRIO VEDADO. SÚMULA
7/STJ.
1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública Ambiental ajuizada pelo Ministério Público
Federal contra a União, objetivando o cancelamento das inscrições de ocupações
irregulares em terreno de marinha localizado na orla do Município de Aracruz-ES; a
demolição e retirada de construções e materiais visando à recuperação da referida área;
além da delimitação definitiva da preamar média de 1.831 para aquela região.
2. O juízo do primeiro grau julgou parcialmente procedentes os pedidos. O Tribunal
Regional analisou a controvérsia e manteve a sentença: "o resultado indesejável
decorreu de uma conjunção de ações e omissões: a omissão da União em relação à
ocupação desordenada de seu patrimônio, a omissão do Poder Público Estadual em
relação ao licenciamento ambiental do local, a omissão do Poder Público Municipal cm
fiscalizar a correta ocupação do solo urbano e a ação daqueles que, diretamente,
causaram os prejuízos ambientais c deles se beneficiaram. Neste ponto, e embora seja
da natureza da reparação do dano a responsabilização objetiva e solidária, nos casos em
que o Poder Público concorre para o prejuízo por omissão a sua responsabilidade
solidária é de execução subsidiária (ou com ordem de preferência), não podendo ser
definida sem que antes seja afastada a possibilidade de os causadores diretos do dano
repararem o prejuízo causado".
3. É assente no STJ o entendimento de que nos casos de danos ambientas, a regra geral
é o litisconsórcio facultativo, por ser solidária a responsabilidade dos poluidores.
Portanto, o autor pode demandar qualquer um dos poluidores, isoladamente, ou em
conjunto, pelo todo, não existindo a obrigação de formar litisconsórcio passivo
necessário com os adquirentes e possuidores dos lotes.
Precedentes: REsp 1.799.449/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe
18/6/2019; AgInt no AREsp 1.221.019/SP, Rel.
Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe 26/2/2019; REsp 880.160/RJ, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 27/5/2010; AgInt no AREsp
1.148.643/SP, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe 28/6/2018; REsp
1.358.112/SC, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 28/6/2013; AgRg no AREsp
541.229/RJ, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 2/12/2014; REsp
1.328.874/SP, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 5/8/2013.
4. O acórdão recorrido encontra-se em sintonia com o entendimento pacífico do STJ, ao
reconhecer a responsabilidade solidária de execução subsidiária do Poder Público
omisso na atividade de fiscalização e prevenção de danos ambientais. Precedentes:
AgRg no REsp 1.497.096/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma,
DJe 18/12/2015; AgInt no REsp 1.326.903/DF, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda
Turma, DJe 30/4/2018; REsp 1.726.432/SP, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 23/11/2018.
5. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1787952/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
15/10/2019, DJe 11/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. TERMO DE AJUSTAMENTO
DE CONDUTA (TAC) CELEBRADO ANTES DA VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL.
TEMPUS REGIT ACTUM.
1. Trata-se, na origem, de Embargos à Execução em que se requer, com fundamento na
superveniência do novo Código Florestal, a extinção de Execução por quantia certa
proposta pelo Ministério Público para o pagamento de multa decorrente do
descumprimento de TAC relativo a infrações ambientais.
2. O pedido das embargantes foi julgado improcedente pelo Juízo do primeiro grau, sob
o argumento de que a Lei 4.771/1965 se aplica aos TACs celebrados durante a sua
vigência. Decidindo Apelação, o Tribunal de origem, com fundamento nas disposições
do novo Código Florestal, anulou a sentença, determinando a adaptação do TAC à nova
legislação.
3. As cláusulas de Termo de Ajustamento de Conduta - TAC, ou de documento
assemelhado, devem ser adimplidas fielmente e de boa-fé, incumbindo ao degradador
a prova da satisfação plena das obrigações assumidas. A inadimplência, total ou parcial,
do TAC dá ensejo à execução do avençado e das sanções de garantia. O STJ consolidou
o entendimento de que o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato
jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada. Precedentes.
4. Uma vez celebrado, e cumpridas as formalidades legais, o Termo de Ajustamento de
Conduta - TAC constitui ato jurídico perfeito, imunizado contra alterações legislativas
posteriores que enfraqueçam as obrigações ambientais nele estabelecidas. Deve, assim,
ser cabal e fielmente implementado, vedado ao juiz recusar sua execução, pois do
contrário desrespeitaria a garantia da irretroatividade da lei nova, prevista no art. 6º da
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei 4.657/1942). Precedentes
do STJ.
5. Recurso Especial provido.
(REsp 1802754/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
08/10/2019, DJe 11/09/2020)
AMBIENTAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. EDIFICAÇÃO CONHECIDA COMO "RANCHO DO ZÉ LUIZ". MARGENS DO
RIO PARDO. NOVO CÓDIGO FLORESTAL. APLICAÇÃO ÀS AÇÕES EM CURSO.
IMPOSSIBILIDADE. REPARAÇÃO NOS TERMOS DA NORMA VIGENTE AO TEMPO DOS
FATOS.
1. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta em decorrência da utilização de
Área de Preservação Permanente situada às margens do Rio Pardo, no Município de
Serrana/SP, do que resultou condenação à reparação integral da área, compensação dos
danos e pagamento de indenização. O Tribunal de origem deu parcial provimento à
Apelação da requerida "apenas para que se considere a área de preservação
permanente tal como prevista na Lei nº 12.651/2012".
RECURSO ESPECIAL DA PROPRIETÁRIA DO RANCHO 2. Pede-se integral aplicação do
novo Código Florestal, sob o argumento de que a Lei 12.651/2012 deu nova definição
de Área de Preservação Permanente e estabeleceu regime especial para áreas rurais
consolidadas até 22.7.2008. No que se refere à pretensão de dimensionamento da Área
de Preservação Permanente em conformidade com a Lei 12.651/2012, vê-se que se trata
de repetição de tese apresentada na Apelação, que nessa parte foi provida, de modo
que não remanesce interesse recursal quanto a esse ponto. No que se refere à
reivindicação do regime especial, previsto para as áreas rurais consolidadas até
22.7.2008, afirma-se no acórdão recorrido que "não se demonstrou que se trata de área
rural consolidada, que no local se desenvolvam as atividades descritas no artigo de lei
invocado e há a delimitação de quantos módulos fiscais equivalem a propriedade em
tela". Não é possível rever esses fatos em virtude do óbice da Súmula 7/STJ.
RECURSO ESPECIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO 3. Defende-se a irretroatividade do novo
Código Florestal. No caso dos autos, a Lei 12.651/2012 sobreveio quando a Ação Civil
Pública já estava em curso.
4. O STJ firmou a orientação de que não se aplica norma ambiental superveniente, de
cunho material, aos processos em curso, seja para proteger o ato jurídico perfeito, os
direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, seja para evitar a redução do patamar
de proteção de ecossistemas frágeis sem as necessárias compensações ambientais.
Precedentes.
5. Recurso Especial de Nair Franco Martins Baricalla não conhecido.
Recurso Especial do Ministério Público provido.
(REsp 1737003/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
08/10/2019, DJe 11/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL, AMBIENTAL E URBANÍSTICO. CONSTRUÇÃO DE OITO
CONDOMÍNIOS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. ASSOREAMENTO DE LAGOA,
DECORRENTE DE OBRA EM SEU ENTORNO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA,
SOLIDÁRIA E ILIMITADA. ART. 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981.
INAPLICABILIDADE DO ART. 403 DO CÓDIGO CIVIL. FATO DE TERCEIRO.
OBRIGAÇÃO CUMULADA DE FAZER CONSISTENTE NA RECOMPOSIÇÃO AMBIENTAL E
INDENIZAÇÃO DOS PREJUÍZOS PROVOCADOS.
1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público do Estado
de São Paulo visando obter provimento jurisdicional que obrigue a empresa, ora
recorrente, a promover medidas de reparação do dano ambiental consistente no
assoreamento da "Lagoa da Guardinha", localizada no Município de Campinas-SP.
Segundo o Tribunal de origem, "inconteste o dano ambiental e a responsabilidade pelas
medidas destinadas à recomposição da área".
Acrescenta que "não é possível que a adoção das medidas necessárias à recomposição
dos danos ambientais fique à mercê da conveniência da particular, em prejuízo do meio
ambiente, razão pela qual cabe ao Poder Judiciário a imposição das obrigações advindas
do ilícito praticado". A recorrente, por sua vez, expressamente reconhece sua obrigação
de promover o desassoreamento da lagoa.
2. Segundo consolidada jurisprudência do STJ, nos termos do art. 14, § 1º, da Lei
6.938/1981, a responsabilidade civil pelo dano ambiental tem natureza objetiva,
solidária e ilimitada, lastreada na teoria do risco integral. Se ilimitada e não sujeita a
prévia restrição, afasta-se por óbvio a incidência do art. 403 do Código Civil. Ao
responsável pelo dano ambiental - irrelevante a titularidade do bem atingindo - incumbe
não só recuperar e indenizar a degradação como também fazê-lo de acordo com termos,
condições e compensações fixados em licença ou autorização administrativa para tanto.
É de resultado (= restabelecimento do statu quo ante) e não de meio a obrigação de
sanar lesão ao meio ambiente, qualidade implícita que se projeta no conteúdo de
decisão judicial ou Termo de Ajustamento de Conduta - TAC. Sobre o tema, confira-se:
"o princípio que rege as condenações por lesões ao meio ambiente é o da máxima
recuperação do dano, não incidindo nessa situação, nenhuma excludente de
responsabilidade." (AREsp 1.093.640/SP, Rel. Min.
Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe 21/5/2018). No mais, incide a Súmula 7/STJ.
3. Recurso Especial não provido.
(REsp 1816808/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/10/2019, DJe 11/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. DANO AMBIENTAL. AÇÃO ANULATÓRIA. AUTO DE
INFRAÇÃO LAVRADO PELO IAP. ATIVIDADES AGROSSILVIPASTORIS EXERCIDAS ÀS
MARGENS DO RIO ARROIO E SEUS AFLUENTES ANTES DE 22 DE JULHO DE 2008. ART. 59,
§§ 4º e 5º, DA LEI 12.651/2012 (NOVO CÓDIGO FLORESTAL). INEXISTÊNCIA DE ANISTIA.
1. Tratam os presentes autos de ação anulatória ajuizada por particular contra o
Instituto Ambiental do Paraná pleiteando a anulação do Auto de Infração aplicado em
decorrência de infrações ambientais cometidas antes de 22 de julho de 2008.
2. O STJ entende que o art. 59, § 4º, da Lei 12.651/2012 não anistiou ou extinguiu ilícitos
administrativos praticados antes 22.7.2008. O acórdão recorrido está, portanto,
dissonante da jurisprudência segundo a qual se acham preservados autos de infração e
sanções aplicadas (art. 59 do novo Código Florestal). Nesse sentido: REsp 1.549.326/MG,
Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 31.5.2016; AgRg no REsp
1.313.443/MG, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 12.3.2014; PET no REsp
1.240.122/PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe de 19.12.2012;
AgInt no REsp 1.419.098/MS, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe
21/5/2018; AgInt no REsp 1.642.068/MG, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 18/6/2019; REsp
1.510.485/MS, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 21/2/2019; AgInt no
REsp 1.572.257/PR, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe 17/5/2019).
3. Como deixa claro o art. 59, §§ 4º e 5º, do novo Código Florestal, o legislador não
anistiou geral e irrestritamente as infrações ou extinguiu a ilicitude de condutas
anteriores a 22 de julho de 2008, de modo a implicar perda superveniente de interesse
de agir. Ao contrário, a exigência de recuperação do meio ambiente degradado nas
chamadas áreas rurais consolidadas continua em vigor, agora por meio de procedimento
administrativo, no âmbito de Programa de Regularização Ambiental - PRA, após a
inscrição do imóvel no Cadastro Ambiental Rural - CAR (§ 2°) e a assinatura de Termo de
Compromisso (TC), valendo este como título extrajudicial (§ 3°).
Apenas a partir daí "serão suspensas" as sanções aplicadas ou aplicáveis (§ 5°, grifo
acrescentado). Com o cumprimento das obrigações previstas no PRA ou no TC, "as
multas" (e só elas) "serão consideradas convertidas em serviços de preservação,
melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente" (§ 5°).
4. Ora, se os autos de infração e multas lavrados tivessem sido invalidados pelo novo
Código ou houvesse sido decretada anistia geral e irrestrita das violações que lhe deram
origem, configuraria patente contradição e ofensa à lógica jurídica a mesma lei referir-
se a "suspensão" e "conversão" daquilo que não mais existiria: o legislador não
suspende, nem converte o nada jurídico.
Vale dizer, os autos de infração já constituídos permanecem válidos e blindados como
atos jurídicos perfeitos que são - apenas a sua exigibilidade monetária fica suspensa na
esfera administrativa, no aguardo do cumprimento integral das obrigações
estabelecidas no PRA ou no TC.
5. Recurso Especial provido.
(REsp 1770374/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/10/2019, DJe 15/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESMATAMENTO NA
AMAZÔNIA. ESTADO DO PARÁ. RESPONSABILIDADE CIVIL PELA DEGRADAÇÃO
AMBIENTAL. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. EXISTÊNCIA DO DANO.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DE DOCUMENTOS PÚBLICOS. MAPAS E IMAGENS DE
SATÉLITE. ART. 405 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. SÚMULA 7 DO STJ.
1. O Tribunal de origem afirma que a jurisprudência do STJ atribui, sob o influxo da teoria
do risco integral, natureza objetiva, ilimitada, solidária, propter rem e imprescritível à
responsabilidade civil ambiental. Nesse sentido: REsp 1.644.195/SC, Relator Ministro
Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 8/5/2017; e AgRg no REsp 1421163/SP, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 17/11/2014. Transcreve precedente
da Segunda Turma: "a obrigação civil de reparar o dano ambiental é do tipo propter rem,
porque, na verdade, a própria lei já define como poluidor todo aquele que seja
responsável pela degradação ambiental - e aquele que, adquirindo a propriedade, não
reverte o dano ambiental, ainda que não causado por ele, já seria um responsável
indireto por degradação ambiental (poluidor, pois)" (REsp 1.251.697/PR, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 17/4/2012).
2. Segundo o acórdão recorrido, inexiste direito adquirido à degradação. O novo
proprietário assume o ônus de manter a integridade do ecossistema protegido,
tornando-se responsável pela recuperação, mesmo que não tenha contribuído para o
desmatamento ou destruição. Precedentes do STJ.
3. Quanto aos documentos apontados no recurso, forçoso concluir que analisar as
questões trazidas pela parte recorrente implica o revolvimento do conteúdo fático-
probatório dos autos, o que é vedado nesta estreita via, ate a incidência da Súmula 7 do
STJ: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial." 4.
Acrescente-se que, consoante o art. 405 do CPC/2015, laudo, vistoria, relatório técnico,
auto de infração, certidão, fotografia, vídeo, mapa, imagem de satélite, declaração e
outros atos elaborados por agentes de qualquer órgão do Estado possuem presunção
(relativa) de legalidade, legitimidade e veracidade, por se enquadrarem no conceito
geral de documento público. Tal qualidade jurídica inverte o ônus da prova, sem
impedir, por óbvio, a mais ampla sindicância judicial. Por outro lado, documento público
ambiental, sobretudo auto de infração, não pode ser desconstituído por prova judicial
inconclusiva, dúbia, hesitante ou vaga, mais ainda quando realizada muito tempo após
a ocorrência do comportamento de degradação do meio ambiente.
5. Em época de grandes avanços tecnológicos, configuraria despropósito ou formalismo
supérfluo negar validade plena a imagens de satélite e mapas elaborados a partir delas.
Ou, em casos de desmatamento apontados por essas ferramentas altamente confiáveis,
exigir a realização de prova testemunhal ou pericial para corroborar a degradação
ambiental.
6. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1778729/PA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
10/09/2019, DJe 11/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. HIPÓTESE DE
LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA, E NÃO DE DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. PRAZO
PRESCRICIONAL.
1. O Tribunal de origem assentou: "A hipótese não é de desapropriação indireta ou
apossamento administrativo, mas de menosvalia por decorrência do imóvel das autoras
haver-se tornado área de proteção permanente, com o lago da barragem, sem que o
empreendedor tenha cuidado de desapropriar, segundo a imposição legal invocada. Não
se aplica, portanto, a prescrição vintenária, que a jurisprudência mandava observar nos
casos de apossamento administrativo, segundo a prescrição aquisitiva da usucapião
extraordinária do Código Civil de 1916. No caso, como considerou a sentença, com
respaldo nos precedentes que citou do Superior Tribunal de Justiça, a hipótese se
submete ao regramento específico do artigo 10, parágrafo único, do Decreto-lei
3365/1941: Extingue-se em 5 (cinco) anos o direito de propor ação que vise a
indenização por restrições decorrentes de atos do Poder Público. Proposta a ação mais
de cinco anos depois da alegada violação a direito, cumpre manter o reconhecimento
da prescrição, por estes e pelos seus próprios fundamentos." 2. A hipótese é de
limitação administrativa ambiental, e não de desapropriação indireta ambiental.
Tampouco se pode, em tais casos, querer aproveitar-se da regra da imprescritibilidade
do dano ambiental, pois não é disso que cuida a demanda. O aresto recorrido coaduna-
se com a orientação do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual: a) as restrições ao
direito de propriedade, impostas por normas ambientais, ainda que esvaziem o
conteúdo econômico, não configuram desapropriação indireta, a qual só ocorre quando
existe efetivo apossamento da propriedade pelo Poder Público; b) o prazo prescricional
para exercer a pretensão de ser indenizado por limitações administrativas é quinquenal,
nos termos do art. 10 do Decreto-Lei 3.365/1941, disposição de regência específica da
matéria. A propósito: REsp 1.345.908/MG, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma, DJe
26/2/2018; e AgRg no REsp 1.511.917/SC, Rel.
Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe 16/8/2017.
3. Recurso Especial não provido.
(REsp 1761178/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/09/2019, DJe 11/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. TERMO DE AJUSTAMENTO
DE CONDUTA REGULARMENTE CELEBRADO. ATO JURÍDICO PERFEITO. AVERBAÇÃO DA
RESERVA LEGAL. REVISÃO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. ART. 167, II, 22, DA
LEI DE REGISTROS PÚBLICOS (LEI 6.015/1973). SUPERVENIÊNCIA DOS ARTS. 12, CAPUT E
§§ 6°, 7° e 8°, 15, 18, § 4º, 66 E 67 DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL (LEI 12.651/2012).
INSCRIÇÃO NO CADASTRO AMBIENTAL RURAL (CAR). ALÍNEA "C". NÃO DEMONSTRAÇÃO
DA DIVERGÊNCIA. FALTA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL, OBJETO DE
INTERPRETAÇÃO DIVERGENTE. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF.
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. ANÁLISE PREJUDICADA.
1. Cuida-se, na origem, de Embargos à Execução de Obrigação de Fazer visando impedir
o prosseguimento de execução ajuizada pelo Ministério Público com o objetivo de
compelir o cumprimento do pactuado em Termo de Ajustamento de Conduta. Busca o
Parquet a regularização de Reserva Legal mediante averbação no Cartório de Registro
de Imóveis.
2. As cláusulas de Termo de Ajustamento de Conduta, ou de documento assemelhado,
devem ser cumpridas fielmente e de boa-fé, incumbindo ao degradador a prova da
satisfação plena das obrigações assumidas.
A inadimplência, total ou parcial, do TAC dá ensejo à execução do avençado e das
sanções nele previstas. O STJ consolidou o entendimento de que o novo Código Florestal
não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos
e a coisa julgada. Precedentes.
3. Uma vez celebrado, e cumpridas as formalidades legais, o Termo de Ajustamento de
Conduta - TAC constitui ato jurídico perfeito, imunizado contra alterações legislativas
posteriores que enfraqueçam as obrigações ambientais nele estabelecidas. Deve, assim,
ser cabal e fielmente implementado, vedado ao juiz recusar sua execução, pois do
contrário desrespeitaria a garantia da irretroatividade da lei nova, prevista no art. 6º, da
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei 4.657/1942).
4. "A existência da área de Reserva Legal no âmbito das propriedades rurais caracteriza-
se como uma limitação administrativa necessária à tutela do meio ambiente para as
presentes e futuras gerações e em harmonia com a função social da propriedade, o que
legitima haver restrições aos direitos individuais em benefício dos interesses de toda a
coletividade." (REsp 1.276.114/MG, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe
11/10/2016).
5. Em linhas gerais, o novo Código Florestal (Lei 12.651/2012) manteve a exigibilidade
universal da Reserva Legal em "todo imóvel rural" (art. 12, caput). Tal dever genérico
incumbe mesmo ao atual proprietário ou possuidor de imóvel "que detinha, em 22 de
julho de 2008, área de Reserva Legal em extensão inferior ao estabelecido no art. 12",
cabendo-lhe optar pela recomposição com plantio, regeneração natural ou
compensação (art. 66). Logo, ninguém está isento de instituí-la, salvo casos peculiares,
expressamente previstos no Código e em numerus clausus, hipótese de obras de
abastecimento público de água e tratamento de esgoto; geração e distribuição de
energia proveniente de empreendimento hidrelétrico;
implantação ou ampliação de rodovias (art. 12, §§ 6°, 7° e 8°);
pequena propriedade de até quatro módulos fiscais sem vegetação nativa na data de
corte (art. 67).
6. Por outro lado, o Código não excluiu, de maneira absoluta, a obrigatoriedade da
averbação da Reserva Legal no registro imobiliário, liberação que ocorre somente se ela
estiver devidamente inscrita no Cadastro Ambiental Rural - CAR (art. 18, § 4º). Se o CAR
inexistir ou não operar de maneira adequada, remanesce a exigibilidade da averbação,
assim como acontecerá quando o proprietário praticar qualquer outro ato cartorial
(compra e venda, permuta, doação, servidão, usufruto, retificação de área, partilha,
hipoteca, usucapião, servidão ambiental, etc), por força do art.
167, II, 22, da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973).
7. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1641168/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
27/08/2019, DJe 11/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO URBANÍSTICO. DIREITO AMBIENTAL. RESERVA LEGAL.
IMÓVEL RURAL INSERIDO EM PERÍMETRO URBANO. TEORIA DO FATO CONSUMADO
(SÚMULA 613/STJ). NÃO APLICAÇÃO. ART. 19 DO CÓDIGO FLORESTAL DE 2012. LEI
6.766/1979.
1. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo MPE/MG contra proprietário
de imóveis com o objetivo de condená-lo à obrigação: a) de fazer consistente na
instituição de área a servir de compensação ambiental nos imóveis de sua propriedade,
no montante de 20% sobre a área total, demarcando, cercando e averbando à margem
das matrículas no registro imobiliário; b) de não fazer consistente na abdicação de toda
e qualquer conduta, intervenção e construção nas áreas reservadas; c) de não dar
continuidade a eventuais atividades realizadas nesses espaços; d) de contratar e elabora
Projeto de Recuperação da Área (PRAD), correspondente ao replantio de espécimes
nativas; e e) de executar o referido projeto com aprovação e acompanhamento dos
técnicos do IEF, no prazo de cento e vinte dias. Pediu finalmente imposição de multa
diária em caso de descumprimento, e pagamento de danos morais coletivos.
2. A sentença julgou extinta a ação sem julgamento do mérito, acolhendo a inépcia da
petição inicial em razão de alegada falta de interesse de agir, pois os imóveis em questão
não mais se encontram em área rural, e sim no perímetro urbano do Município. O
Tribunal de origem manteve a sentença.
3. Segundo o Código Florestal de 2012, "A inserção do imóvel rural em perímetro urbano
definido mediante lei municipal não desobriga o proprietário ou posseiro da
manutenção da área de Reserva Legal, que só será extinta concomitantemente ao
registro do parcelamento do solo para fins urbanos aprovado segundo a legislação
específica e consoante as diretrizes do plano diretor de que trata o § 1o do art.
182 da Constituição Federal" (art. 19, grifo acrescentado). Por outro lado, na espécie
incide a Súmula 613 STJ: "Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em
tema de Direito Ambiental." 4. A regra geral é que exigências e restrições de tutela do
meio ambiente suscitam aplicação universal, abrangendo identicamente imóveis,
empreendimentos, obras e atividades que, consoante enquadramento legal, usem
recursos naturais ou possam causar degradação ambiental. Assim, somente quando a
norma dispuser de maneira expressa, categórica e inequívoca em sentido contrário
poderão o administrador e o juiz distinguir imóvel rural de imóvel urbano, para fins de
incidência do regime jurídico ambiental. "A proteção ao meio ambiente não difere área
urbana de rural, porquanto ambas merecem a atenção em favor da garantia da
qualidade de vida proporcionada pelo texto constitucional, pelo Código Florestal e pelas
demais normas legais sobre o tema." (REsp 1.667.087/RS, Rel.
Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 13/8/2018).
5. Recurso Especial provido.
(REsp 1737014/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
07/05/2019, DJe 15/09/2020)
AMBIENTAL E ADMINISTRATIVO. RESERVA LEGAL NÃO AVERBADA NO REGISTRO DE
IMÓVEIS. NOVO CÓDIGO FLORESTAL. LEI 12.651/1912. PREVISÃO DE DEVER DE
REGISTRAR NO CADASTRO AMBIENTAL RURAL (CAR). AUSÊNCIA DE REVOGAÇÃO DA
OBRIGAÇÃO DE REGISTRAR NO CARTÓRIO IMOBILIÁRIO. DEVER ALTERNATIVO.
INEXISTÊNCIA DE PERDA DO OBJETO DA AÇÃO. DECISÃO DA PRIMEIRA INSTÂNCIA QUE
DETERMINA OUTRAS OBRIGAÇÕES ALÉM DA AVERBAÇÃO.
1. Trata-se de Ação Civil Pública, julgada procedente na primeira instância, visando
determinar a averbação de Reserva Legal e outras obrigações ambientais (recuperação
da área degradada, etc.). O Tribunal de Justiça julgou que houve perda superveniente
do objeto, pois o novo Código Florestal teria dispensado a averbação.
2. Não procede a afirmativa de perda de objeto, pois a Ação Civil Pública tem por fim,
além da averbação, o cumprimento de obrigações de fazer e de não fazer, como a
recuperação da área, medição, demarcação, não intervenção no local, entre outras.
Assim, mesmo que se entendesse ser dispensável a averbação, deveria ter sido
observado que há obrigações diversas reconhecidas na primeira instância.
3. A Lei 12.651/1912, que revogou a Lei 4.771/1965, não suprimiu a obrigação de
averbação da Reserva Legal no Registro de Imóveis, apenas possibilitou que tal anotação
seja realizada, alternativamente, no Cadastro Ambiental Rural - CAR. Precedentes.
4. "A norma contida no art. 68 do Código Florestal de 2012 não socorre o direito
vindicado pela recorrente, remanescendo a obrigação da sociedade empresária de
implantar a área de reserva legal" (EDcl no REsp 1.381.191/SP, Ministro Og Fernandes,
Segunda Turma, DJe 21/8/2017). Além disso: "Cumpre ao oficial do cartório de imóveis
exigir a averbação da área de reserva legal quando do registro da escritura de compra e
venda do imóvel rural, por se tratar de conduta em sintonia com todo o sistema de
proteção ao meio ambiente" (REsp 1.276.114/MG, Ministro Og Fernandes, Segunda
Turma, DJe 11/10/2016).
5. Persiste, pois, o interesse de agir do Ministério Público, não obstante a extinção do
feito sem julgamento do mérito, considerando-se que a criação do Cadastro Ambiental
Rural (CAR) não retira a obrigação de prova da averbação da Reserva Legal e de
cumprimento das demais obrigações ambientais, nos termos da legislação, da petição
inicial e da sentença.
6. Recurso Especial provido.
(REsp 1619772/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/12/2018, DJe 06/10/2020)
PROCESSUAL CIVIL. DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA.
AFASTAMENTO DO LAUDO JUDICIAL EM FAVOR DO LAUDO DA AUTARQUIA.
POSSIBILIDADE. ART. 437 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 (ART.
480 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015). JUSTA INDENIZAÇÃO.
CRITÉRIOS PARA REVISÃO DO ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL DE ORIGEM.
REEXAME DA MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 7/STJ. INDENIZAÇÃO EM SEPARADO DA COBERTURA FLORESTAL. ART.
12, § 2º, DA LEI 8.629/1993. PRESSUPOSTOS E CRITÉRIOS NÃO ATENDIDOS.
JUROS DE MORA. TERRA NUA. TERMO INICIAL. MATÉRIA NÃO PREQUESTIONADA.
1. Trata-se, na origem, de Ação de Desapropriação de imóvel rural de 2.781,39 hectares,
situado no Município de Santa Luzia/AM. Consta do acórdão recorrido: "Nesse contexto,
e à mingua de outros elementos probatórios mais seguros - haja vista as inconsistências
detectadas nos laudos produzidos - considero que o preço médio sugerido na tabela da
própria autarquia expropriante deve ser acolhido como critério de definição da justa
indenização. (...) É certo que ao repudiar o laudo pericial, pode o juiz determinar uma
nova avaliação. Mas é também importante ressaltar que a lei (art. 437 do CPC) não o
obriga a tal, apenas lhe faculta fazê-lo, se assim o entender necessário, já que possui a
liberdade de apreciar livremente as provas trazidas aos autos, devendo, como já foi dito,
demonstrar os motivos que formaram seu convencimento. Razoável, então, encontra-
se o quantum sentenciado." Realmente, o art. 437 do CPC (art. 480 do CPC/2015) não
impõe realização de nova perícia, mas a faculta, caso o juiz a entenda necessária. Assim,
nada o impede de afastar o laudo judicial e tomar por base tabela administrativa ou
outros elementos probatórios constantes dos autos, já que a lei lhe confere ampla
liberdade para ponderar a prova no seu conjunto, desde que motivadamente. Nesse
ponto, a pretensão de revisão do entendimento proferido na origem acerca da alegada
avaliação do imóvel expropriado abaixo do valor do mercado implica, no caso, reexame
da matéria fático-probatória dos autos, o que é vedado em Recurso Especial, conforme
Súmula 7/STJ.
INDENIZAÇÃO EM SEPARADO PELA COBERTURA FLORESTAL 2. Os recorrentes
pretendem a inclusão de indenização de 20% pela cobertura vegetal existente no
imóvel, nos termos do art. 12, § 2º, da Lei 8.629/1993. Evidentemente, como se percebe
no próprio texto legal, o legislador não conferiu carta branca para, primeiro, cálculo em
separado da vegetação natural e, segundo, para a possibilidade de o valor final superar
o preço de mercado do imóvel.
3. Indenização em separado pela cobertura florestal é medida absolutamente
excepcional, condicionada que está a rígidos pressupostos e critérios, entre os quais a
efetiva e categórica comprovação pelo proprietário de exploração econômica e
comercialização lícita e atual, tudo sob a premissa de a atividade ocorrer nos exatos
termos de autorização ou licença administrativa válida e de cumprimento de seus
encargos, respeitado, ademais, o princípio geral da justa indenização, que impõe
observância do teto indenizatório inafastável e intransponível, representado pelo valor
de mercado do imóvel, após computados e adicionados os seus atributos. Precedentes
do STJ. Incide, aqui também, a Súmula 7/STJ.
4. Cabe lembrar, por outro lado, que "os custos com a recuperação ambiental de áreas
comprovadamente degradadas devem ser descontados da indenização. Benfeitorias
edificadas em área de preservação permanente sem o devido licenciamento não são
indenizáveis. Antes, o ilícito ambiental acarretará ônus ao expropriante, decorrentes de
sua recuperação, que deverão ser abatidos da indenização." (REsp 1583705/SP, Rel.
Ministro Og Fernandes, SEGUNDA TURMA, DJe 04/04/2018).
TERMO INICIAL DO JUROS DE MORA 5. Não obstante o Tribunal de origem ter
mencionado o art. 15-B do Decreto-Lei 3.365/1941, a questão referente ao termo inicial
dos juros de mora sobre a indenização da terra nua não foi debatida na origem.
6. O STJ entende ser inviável o conhecimento do Recurso Especial quando a tese
apresentada não foi apreciada pelo Tribunal a quo, a despeito da oposição de Embargos
de Declaração, haja vista a ausência do requisito do prequestionamento. Incide, na
espécie, a Súmula 211/STJ.
7. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1661856/MA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/11/2018, DJe 11/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ART.
405 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. PRESUNÇÃO DE LEGALIDADE,
LEGITIMIDADE E VERACIDADE DE DOCUMENTO PÚBLICO ELABORADO EM INQUÉRITO
CIVIL. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. APLICAÇÃO ANALÓGICA DA SÚMULA 735/STF. APP.
DANO AMBIENTAL. SÚMULA 7/STJ.
1. No tocante à existência de dano ambiental em APP, o acórdão recorrido faz referência
a autos do inquérito civil, laudo acostado à inicial, imagens fotográficas, Cadastro
Ambiental Rural e mapa da área; enquanto os recorrentes referem-se a diferentes
documentos e colam trecho do termo de compromisso de recuperação ambiental e de
mapa descritivo da área. A revisão dos fundamentos do acórdão, lastreado em fatos e
provas, inclusive em laudos, é inviável diante do óbice da Súmula 7/STJ.
2. Consoante o art. 405 do CPC/2015, laudo, termo de vistoria, relatório técnico, auto
de infração, certidão, declaração e outros atos gerados por agentes de qualquer órgão
do Estado possuem presunção (relativa) de legalidade, legitimidade e veracidade, por se
enquadrarem no conceito geral de documento público. Tal qualidade jurídica inverte o
ônus da prova, sem impedir, por óbvio, a mais ampla sindicância judicial. Por outro lado,
documento público não pode ser desconstituído por prova inconclusiva, dúbia,
hesitante ou vaga. São dotados de natureza pública documentos elaborados no âmbito
de Inquérito Civil e investigações preliminares conduzidas pelo Parquet.
3. Verifica-se que, in casu, os recorrentes buscam o reexame de decisão que trata da
concessão de provimento de urgência, o que é vedado pela aplicação analógica da
Súmula 735 do Supremo Tribunal Federal: "Não cabe recurso extraordinário contra
acórdão que defere medida liminar." A jurisprudência do STJ sedimentou-se no sentido
de não ser cabível Recurso Especial contra decisão que defere ou indefere liminar ou
antecipação de tutela, em virtude de sua natureza ser precária.
4 Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1761131/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/11/2018, DJe 08/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PATRIMÔNIO ESPELEOLÓGICO.
DANO AMBIENTAL. OMISSÃO DO ESTADO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E
SOLIDÁRIA. PARQUE MUNICIPAL NATURAL GRUTA DE BOTUVERÁ. PLANO DE MANEJO
ESPELEOLÓGICO DEFINITIVO E LICENÇA AMBIENTAL PARA EXPLORAÇÃO TURÍSTICA DA
CAVIDADE SUBTERRÂNEA. RESOLUÇÃO CONAMA 9, DE 24 DE JANEIRO DE 1986.
UNIDADE DE CONSERVAÇÃO MUNICIPAL. ART. 3º, IV, DA LEI 6.938/1981. LEGITIMIDADE
PASSIVA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULA 282/STF. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. Hipótese em que o Tribunal Regional consignou: "[...] quanto à responsabilidade do
IBAMA e do ICMBio na espécie, essa decorre da omissão dessas entidades à análise e à
aprovação do Plano de Manejo Espeleológico definitivo da Gruta de Botuverá/SC,
caverna de rara beleza formada há pelo menos 65 milhões de anos, até a presente data,
circunstância que concorreu sim aos danos ambientais perpetrados na Gruta situada no
Município de Botuverá/SC. E essa omissão restou demonstrada nos autos a modo
indene de dúvidas." 2. Um dos mais frágeis e preciosos ambientes da Terra, as cavernas
carregam - como repositório raro e insubstituível da evolução dos minerais, do clima e
da própria vida planetária - excepcional valor geológico, ecológico, histórico, paisagístico
e turístico. Nesse sentido, destruir ou degradar caverna constitui atroz perda ética e
científica para a humanidade, prejuízo inestimável ao melhor conhecimento de si
mesma e do seu ambiente natural, reduzindo as possibilidades de examinar o presente
e, a partir dele, vislumbrar o passado e imaginar o futuro. Sob tal enfoque, o destruidor
ou degradador de caverna assemelha-se aos incendiários de bibliotecas, escolas e
arquivos públicos, vândalos cujos atos exterminam e mutilam, mais do que a encarnação
física do etéreo, o próprio saber universal, sem o qual a nossa existência perde sentido
e rumo.
3. Não se pode conhecer da irresignação contra afronta aos dispositivos legais invocados
no apelo recursal, uma vez que não foram analisados pela instância de origem. Ausente,
portanto, o indispensável requisito do prequestionamento, o que atrai, por analogia, o
óbice da Súmula 282/STF.
4. O patrimônio espeleológico (e o habitat a ele associado) integra, como espécie, o
gênero patrimônio ambiental, já que compõe ecossistema planetário dos mais
delicados, repositório de milhões de anos da história geológica e da evolução de formas
de vida, muitas delas endêmicas, daí submeter-se ao regime da Lei da Política Nacional
do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981). Em conformidade com o que dispõe o art. 20, X, da
Constituição Federal, as Grutas de Botuverá, por estarem conceitualmente enquadradas
entre as "cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos", são
bens da União, como reconhecido pelo Tribunal de origem. A antecedência irrenunciável
do dever de conservar, defender e restaurar o bem público ambiental e cultural,
inclusive com exercício do poder de polícia, corresponde, primariamente, ao titular do
domínio, o que não implica excluir a corresponsabilidade de outros órgãos e de
particulares, em regime de solidariedade, sendo irrelevante se o imóvel ou o móvel
integram Unidade de Conservação criada por ente federativo diverso. Necessário não
confundir titularidade de domínio do bem público com titularidade de gestão ambiental,
incapaz esta de eximir de responsabilidade civil, penal e administrativa o sujeito
daquela.
5. A omissão do IBAMA e do ICMBio na análise e aprovação do Plano de Manejo
Espeleológico definitivo da Gruta de Botuverá/SC foi reconhecida pelas instâncias
ordinárias como uma das causas dos danos ambientais identificados. Havendo dever
estatal específico e legalmente definido, inafastável a imputação objetiva e solidária ao
Poder Público, decorrência, ademais, do microssistema jurídico especial de proteção do
meio ambiente, que afasta a responsabilização com base em culpa, própria do regime
comum aplicável à conduta omissiva do Estado em outros campos. Ser dominus do bem
público carrega obrigações incapazes de dissolução, contratual ou não, mesmo que o
Estado não participe, não anua, não autorize ou não licencie condutas degradadoras do
patrimônio ambiental e cultural, pois a falta ou a insuficiência de fiscalização e de
exercício do poder de polícia, vale dizer, a omissão estatal, basta para a
responsabilização, na condição de poluidor direto ou indireto (= "a pessoa física ou
jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por
atividade causadora de degradação ambiental", art. 3º, IV, da Lei 6.938/1981, grifo
acrescentado).
6. Finalmente, consigne-se que, para modificar o entendimento firmado no acórdão
impugnado, seria necessário exceder as razões nele colacionadas, o que demanda
incursão no contexto fático-probatório dos autos, vedada ao Recurso Especial, conforme
Súmula 7 desta Corte: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso
especial." 7. Recursos Especiais não providos.
(REsp 1389107/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
01/12/2015, DJe 26/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. COMPETÊNCIA DO IBAMA. PODER DE FISCALIZAÇÃO.
PRECEDENTES DO STJ.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, à luz inclusive da Lei Compementar
140/2011, adota o entendimento de que "a atividade fiscalizatória das atividades
nocivas ao meio ambiente concede ao IBAMA interesse jurídico suficiente para exercer
seu poder de polícia administrativa, ainda que o bem esteja situado dentro de área cuja
competência para o licenciamento seja do município ou do estado" (REsp 1.326.138/SC,
Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 6/6/2013, DJe
de14/6/2013).
Precedente que, com maior razão, se aplica na hipótese dos autos, em que o bem
público a ser protegido como Área de Preservação Permanente é praia ("Praia do Sagi").
2. Recurso Especial provido.
(REsp 1588811/RN, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
07/06/2016, DJe 26/08/2020)
AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. MULTA.
AUSÊNCIA DE OMISSÃO, ART. 535, II, DO CPC. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211 DO STJ. OFENSA A DISPOSITIVOS
CONSTITUCIONAIS. COMPETÊNCIA DO STF.
1. Não se configura a ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil, uma vez que o
Tribunal a quo julgou integralmente a lide e solucionou a controvérsia que lhe foi
apresentada.
2. A indicada afronta ao art. 145 do CTN, do art. 4º da Lei 11.428/2006, dos arts. 333,
420, 421, 431-A, 458 e 460 do CPC não pode ser analisada, pois o Tribunal de origem
não emitiu juízo de valor sobre esses dispositivos legais. O Superior Tribunal de Justiça
entende ser inviável o conhecimento do Recurso Especial quando os artigos tidos por
violados não foram apreciados pelo Tribunal a quo, a despeito da oposição de Embargos
de Declaração, haja vista a ausência do requisito do prequestionamento. Incide, na
espécie, a Súmula 211/STJ.
3. É importante registrar a inviabilidade de o STJ apreciar ofensa aos artigos da Carta
Magna, uma vez que tal atribuição compete exclusivamente ao Supremo Tribunal
Federal, nos termos do art. 102, III, "a", da CF/1988.
4. O Tribunal Regional consignou: "O fato então, de existir em época anterior outro
estabelecimento no local não autoriza o executado a deixar de cumprir a lei nova e
deixar de dar o correto destino às margens das águas de sua propriedade. O meio
ambiente é interesse difuso público e há sempre que ser respeitado, dando também
observância ao art. 5o, XLV, da CRFB/88, à Lei 9.605/98 (art. 29, especificamente) e ao
próprio Código Florestal (art. 72, especificamente)." 5. In casu, a Corte de origem
analisou a questão mediante a interpretação do art. 5º, XLV, da Constituição Federal, o
que afasta a competência desta Corte para reexaminá-la. Por outro lado, não emitiu
juízo de valor a respeito da lei federal tida por violada.
Assim, incide nesse ponto a Súmula 126: "É inadmissível recurso especial, quando o
acórdão recorrido assenta em fundamento constitucional e infraconstitucional,
qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta
recurso extraordinário." 6. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não
provido.
(REsp 1561032/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
14/06/2016, DJe 26/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO AMBIENTAL. AUSÊNCIA DE OMISSÃO. ART. 535, II, DO CPC.
FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211 DO STJ. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. IMÓVEL RURAL. RESERVA LEGAL EXTRAMUROS.
COMPENSAÇÃO EM BACIA HIDROGRÁFICA DIVERSA.
1. Trata-se de Ação Civil Pública proposta para anular compensação ambiental realizada
com base em dispositivo de Lei Estadual julgado inconstitucional, obrigando, assim, o
proprietário a demarcar, averbar e recuperar a Reserva Legal no imóvel situado em
Uberlândia (Rio Paranaíba), diante da invalidade do ato de intercambiamento que
transfere a limitação administrativa para outra gleba situada a 1.170 km e em bacia
hidrográfica diversa (Rio São Francisco).
2. A apontada divergência deve ser comprovada, cabendo a quem recorre demonstrar
as circunstâncias que identificam ou assemelham os casos confrontados, com indicação
da similitude fática e jurídica entre eles. Indispensável a transcrição de trechos do
relatório e do voto dos acórdãos recorrido e paradigma, realizando-se o cotejo analítico
entre ambos, com o intuito de bem caracterizar a interpretação legal divergente. O
desrespeito a esses requisitos legais e regimentais (art. 541, parágrafo único, do CPC e
art. 255 do RI/STJ) impede o conhecimento do Recurso Especial com base na alínea "c",
III, do art. 105 da Constituição Federal.
3. Segundo a jurisprudência pacífica do STJ, a averbação da Reserva Legal configura
dever do proprietário ou adquirente do imóvel rural, ex lege e propter rem,
independentemente da existência de florestas ou outras formas de vegetação nativa no
momento de transmissão, cabendo ao proprietário e não ao Estado tomar as
providências necessárias à plena restauração da flora para se adequar aos limites
percentuais previstos no Código Florestal. Admite-se a compensação em imóvel diverso
do correspondente à matrícula (= Reserva Legal extramuros), desde que observada,
entre outros requisitos, a equivalência ecológica e de extensão. Precedentes: EREsp
218.781/PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 23/2/2012; EDcl nos
EDcl no Ag 1.323.337/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
1/12/2011; AgRg no REsp 1.375.265/MG, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 24/9/2015; AgRg no AREsp
231.561/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 3/2/2015; AgRg no
REsp 1.367.968/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 12/3/2014;
AgRg no REsp 1.206.484/SP, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 29/3/2011; AgRg nos EDcl no REsp
1.203.101/SP, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Primeira Turma, DJe de 18/2/2011, e
REsp 1.179.316/SP, Rel.
Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe de 29/6/2010.
4. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1533258/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
21/06/2016, DJe 20/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. DUNA. TERRENO NON
AEDIFICANDI. DANO AMBIENTAL IN RE IPSA. DISPENSA DE PROVA TÉCNICA DA
LESIVIDADE DA CONDUTA. RESTAURAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA. COMPETÊNCIA DO
IBAMA. LEI COMPLEMENTAR 140/2011. PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL. ART.
70, § 1º, DA LEI 9.605/1998.
1. A matéria de fundo está pacificada no STJ, inclusive e especificamente quanto a
construções irregulares em praias. No presente caso, o recorrido construiu um
restaurante no Porto das Dunas, no Município de Aquiraz/CE, em Área de Preservação
Permanente, por ser área de duna móvel.
2. Induvidosa a prescrição do legislador no que se refere à posição intangível e ao caráter
non aedificandi das Áreas de Preservação Permanente. Com pouquíssimas exceções em
numerus clausus - sobretudo utilidade pública e interesse social, e ainda assim após
rigoroso e prévio procedimento de licenciamento administrativo -, sua qualificação
jurídica é incompatível com uso econômico direto, isto é, exploração agropecuária,
silvicultura, plantio ou replantio com espécies exóticas, instalação de equipamentos de
lazer, construção ou manutenção de edificações, impermeabilização do solo, limpeza,
capina, plantio de gramíneas, capim, etc. Precedentes do STJ.
3. Causa dano ecológico in re ipsa, presunção legal definitiva que dispensa produção de
prova técnica de lesividade específica, quem desmata, ocupa ou explora Área de
Preservação Permanente, ou impede regeneração da vegetação nativa típica do
ecossistema, comportamento de que emerge obrigação propter rem de restaurar na sua
plenitude e indenizar o meio ambiente degradado e terceiros afetados, sob regime de
responsabilidade civil objetiva, solidária e ilimitada, irrelevante, portanto, a boa ou má-
fé do agente. Precedentes do STJ.
4. No âmbito administrativo, o Ibama e o Instituto Chico Mendes (ICMBio) possuem
poder de polícia para fiscalizar atividades ilícitas contra o meio ambiente, mesmo em
área cuja competência para licenciamento ambiental seja do Estado ou do Município. À
luz da Lei Complementar 140/2011, não se confundem competência administrativa
ambiental preventiva (licenciamento) e competência administrativa ambiental
repressiva (fiscalização e punição). No mesmo sentido, o estatuto dorsal de disciplina
dos ilícitos administrativos ambientais confere iguais poderes aos três níveis federativos,
ao dispor que "são autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e
instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do
Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de
fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha"
(art.
70, § 1º, da Lei 9.605/1998, grifo acrescentado). Precedentes do STJ.
5. Na hipótese dos autos há elemento adicional a fortalecer o poder de polícia do Ibama.
É que duna ao longo da costa, estacionária ou migratória, vegetada ou não, é bem da
União, pois vinculada, na sua formação ou continuidade, a forças naturais direta ou
indiretamente associadas ao "mar territorial" ou a "terrenos de marinha e seus
acrescidos" (Constituição Federal, art. 20, VI e VII). Além disso, acha-se ambientalmente
protegida pelo Código Florestal - quer pela sua rara e singular conformação
geomorfológica, quer por eventual vegetação nativa nela encontrada - como Área de
Preservação Permanente. Se integrante do domínio público da União, evidente o
interesse federal na sua salvaguarda, inclusive com fiscalização e punição de infrações
administrativas de degradação. Nessas circunstâncias, ilegal e nula licença ou
autorização ambiental estadual ou municipal sem explícito, inequívoco e regular
beneplácito administrativo do Poder Público federal.
6. Recurso Especial provido.
(REsp 1397722/CE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
09/08/2016, DJe 26/08/2020)
AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE OMISSÃO. ART. 535, II, DO CPC. FALTA
DE INDICAÇÃO DOS ARTIGOS VIOLADOS. SÚMULA 284/STJ.
COMPETÊNCIA DA UNIÃO. LICENÇA AMBIENTAL. QUEIMA CONTROLADA DA PALHA DA
CANA-DE-AÇÚCAR.
1. Trata-se de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal com o escopo
de proibir o IAP de conceder novas autorizações, além de suspender as concedidas, para
a queima controlada da palha de cana-de-açúcar na área compreendida pela Subseção
Judiciária de Jacarezinho-PR; bem como permitir que o Ibama promova, com
exclusividade, o procedimento de licença ambiental, devendo o órgão federal respeitar
a exigência de prévio EIA/RIMA.
2. Não se configurou a ofensa ao art. 535, I e II, do Código de Processo Civil, uma vez que
o Tribunal de origem julgou integralmente a lide e solucionou a controvérsia que lhe foi
apresentada.
3. A parte recorrente descreveu a situação fática e jurídica posta nos autos, contudo
deixou de salientar quais os artigos da Lei 5.197/1967, do Decreto 99.274/1990, do
Decreto-Lei 221/1967, da Lei 7.802/1989, da Lei 8.723/1993 e da Lei 9.985/2000 foram
violados.
Nesse ponto incide a Súmula 284/STF.
4. O acórdão recorrido está em consonância com os precedentes do STJ, pois a queima
da palha da cana-de-açúcar deve ser feita conforme prévia autorização legal.
Precedentes: AgRg nos EREsp 738.031/SP, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira
Seção, DJe de 4/8/2014; AgRg nos EDcl no REsp 1.094.873/SP, Rel. Ministro Humberto
Martins, Segunda Turma, DJe de 17/8/2009, e AgRg no REsp 1.038.813/SP, Rel. Ministro
Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de 10/9/2009.
5. O Ibama se equivoca ao sustentar a desnecessidade de licenciamento ambiental para
autorizar a queima da palha da cana-de-açúcar. As queimadas são, em tese,
incompatíveis com os objetivos de proteção do meio ambiente estabelecidos na
Constituição Federal e nas normas ambientais infraconstitucionais. Sobretudo em época
de mudanças climáticas, qualquer exceção a essa proibição geral, além de ser necessário
estar prevista expressamente em lei federal, deve ser interpretada restritivamente pelo
administrador e juiz.
6. A autoridade ambiental poderá expedir autorizações - específicas, excepcionais,
individualizadas e por prazo certo -, nos termos legais, sem a perda da exigência da
elaboração, às expensas dos poluidores, de Estudo Prévio de Impacto Ambiental, na
hipótese de prática massificada da queima da palha da cana-de-açúcar, e do dever de
reparar eventuais danos (patrimoniais e morais, individuais e coletivos) causados às
pessoas e ao meio ambiente, com base no princípio do poluidor-pagador.
7. O Tribunal de origem consignou: "O relato deste magistrado acima transcrito quanto
aos nefastos efeitos da queima da palha de cana-de-açúcar no Município paranaense de
Jacarezinho acabaram sendo confirmados, com idêntica intensidade, no Município
paulista de Ourinhos, para onde o sentenciante mudou-se com sua família há pouco
mais de um ano (amparado em autorização da Corregedoria-Regional da Justiça Federal
da 4a Região) e passou a vivenciar de perto idêntica situação." 8. O efeito danoso dessa
queima controlada abrange mais de um Estado, razão pela qual a competência para o
licenciamento da atividade em questão é do Ibama. O art. 7º, XIV, "e", da LC 140/2011
estabelece a competência da União para promover o licenciamento ambiental de
empreendimentos e atividades localizados ou desenvolvidos em dois ou mais estados.
Precedente: RMS 41.551/MA, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe de
27/5/2014.
9. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1386006/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
16/08/2016, DJe 26/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGALIDADE. RESOLUÇÃO 303/2002 CONAMA.
ÁREA NON AEDIFICANDI. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - APP.
RESTINGA. DUNAS E CORDÕES ARENOSOS. DANO ECOLÓGICO PURO. PRINCÍPIO
POLUIDOR-PAGADOR E PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL. OBRIGAÇÃO DE FAZER E
DE PAGAR QUANTIA. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO. REDUCTIO AD PRISTINUM
STATUM.
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Trata-se na origem de Ação Civil Pública proposta pelo
Ministério Público Federal contra Hantei Construções e Incorporações Ltda. Como se
dessume do acórdão recorrido, a empresa desrespeitou restrições legais quando utilizou
Área de Preservação Permanente suprimindo vegetação típica de restinga sobre dunas.
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 2. Segundo o acórdão, a área objeto da lide está
em Área de Preservação Permanente - APP, porquanto se constitui em local de
ocorrência de restingas fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues. Além disso,
a retirada/remoção de parte das dunas foi executada sem autorização dos órgãos
ambientais competentes. Nessa linha, "em se tratando de área de preservação
permanente, a sua supressão deve respeitar as hipóteses autorizativas taxativamente
previstas em Lei, tendo em vista a magnitude dos interesses envolvidos de proteção do
meio ambiente". (REsp 1.362.456/MS, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de 28/6/2013).
CONEXÃO - SÚMULA 235 DO STJ 3. É pacífico no STJ o entendimento de que a conexão
não determina a reunião de processos se um deles foi julgado. Aplica-se, nesse ponto, a
Súmula 235/STJ.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, DO CPC 4. Constato que não se configurou
a ofensa ao art. 535, I e II, do Código de Processo Civil, uma vez que o Tribunal de origem
julgou integralmente a lide e solucionou a controvérsia que lhe foi apresentada.
RESOLUÇÃO CONAMA 303/2002 5. Em precedentes similares à hipótese dos autos,
também de Santa Catarina, a Primeira e a Segunda Turmas do STJ já se manifestaram
sobre a legalidade da Resolução 303/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente,
entendendo que o órgão não exorbitou de sua competência.
6. Nessa linha, destaco precedente em que o Relator, Ministro Humberto Martins,
ressaltou possuir "o CONAMA autorização legal para editar resoluções que visem à
proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, inclusive mediante a fixação de
parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente". (REsp
1.462.208/SC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 6/4/2015). No
mesmo sentido: "O fundamento jurídico da impetração repousa na ilegalidade da
Resolução do Conama 303/2002, a qual não teria legitimidade jurídica para prever
restrição ao direito de propriedade, como aquele que delimita como área de
preservação permanente a faixa de 300 metros medidos a partir da linha de preamar
máxima. Pelo exame da legislação que regula a matéria (Leis 6.938/81 e 4.771/65),
verifica-se que possui o Conama autorização legal para editar resoluções que visem à
proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, inclusive mediante fixação de
parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente, não havendo o
que se falar em excesso regulamentar." (REsp 994.881/SC, Rel.
Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe de 9/9/2009).
RESTINGA: POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE RECUPERAÇÃO IN NATURA E
INDENIZAÇÃO 7. O Tribunal Regional se afastou da jurisprudência pacífica do STJ ao
decidir ser incabível a cumulação de pedidos de recuperação de área degradada e
indenização de danos (cf AgRg no REsp 1.545.276/SC, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, DJe 13/4/2016;
REsp 1.264.250/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
11/11/2011; REsp 1.382.999/SC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe
de 18/9/2014).
8. Um dos ecossistemas mais agredidos do Brasil, em que se encontram dezenas de
espécies da fauna e flora criticamente ameaçadas de extinção, conforme a Lista
Vermelha publicada pela União, a Restinga, antes de ser qualificada como acidente
topográfico, identifica-se juridicamente por suas características fitogeográficas, isto é,
por ser vegetação peculiar localizada em dunas stricto sensu e lato sensu (cordões e
terrenos arenosos).
Precedente em situação análoga e da mesma região costeira: "o Código Florestal
qualifica como área de preservação permanente (APP) não o acidente topográfico em
si, mas a vegetação de restinga que lá se faz presente" (REsp 1.462.208/SC, Rel. Ministro
Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 6.4.2015).
9. Recurso Especial parcialmente provido.
(REsp 1544928/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
15/09/2016, DJe 31/08/2020)
AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO URBANÍSTICO. MATA ATLÂNTICA.
BRUMADINHO. LOTEAMENTO EM ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL.
LICENCIAMENTO.
CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS. NOVAS EXIGÊNCIAS LEGAIS ANTES DA IMPLANTAÇÃO
DO EMPREENDIMENTO. ALEGAÇÃO DE EXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO E ATO
JURÍDICO PERFEITO. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA.
NÃO IMPUGNAÇÃO A FUNDAMENTO EM TESE SUFICIENTE PARA MANTER O ACÓRDÃO
RECORRIDO. SÚMULA 283/STF. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF
E SÚMULA 7/STJ.
1. Em Ação Civil Pública, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais condenou a
recorrente a obter licença ambiental corretiva para dar seguimento a loteamento
realizado em Área de Proteção Ambiental na cidade de Brumadinho, região
metropolitana de Belo Horizonte. A empresa sustenta que o acórdão recorrido
estendeu-lhe obrigação que não existia no momento em que o empreendimento foi
registrado e autorizado, pois a norma então vigente era a Resolução 01/86, que
considerava desnecessário licenciamento em projetos urbanísticos de menos de cem
hectares.
2. Atividades e empreendimentos, imobiliários ou não, devem respeitar as legislações
federal, estadual e municipal vigentes no momento de sua implantação física, já que
licenças ambientais e urbanísticas são emitidas rebus sic stantibus. Daí a existência de
projeto simplesmente aprovado, mas ainda não realizado, não induzir situação eficaz,
líquida e certa capaz de bloquear limitação administrativa superveniente, decorrente da
legislação ambiental, urbanística, sanitária, de parcelamento do solo ou de proteção do
consumidor.
3. In casu, não foi corporificado ato jurídico perfeito, pois o que é ambientalmente ilegal
não se aperfeiçoa jamais, já que o contrário equivaleria, em outras palavras, a
transformar o aberto atentado ao ordenamento jurídico em direito castiço e, pior, em
direito adquirido e permanente de poluir e degradar o meio ambiente.
4. O acórdão recorrido aponta a existência de Termo de Ajustamento de Conduta em
que a recorrente teria assumido a obrigação de promover o licenciamento. O Termo de
Ajustamento de Conduta, uma vez firmado pelas partes, deve ser cabalmente obedecido
e cumprido.
Além disso, a exigência de licenciamento ambiental é da Lei 6.938/1981, bem anterior à
implantação do empreendimento.
5. No acórdão dos Embargos de Declaração, o Tribunal estadual apontou que, "de
qualquer forma, certo é que a empresa embargante não observou o prazo de seis meses
previsto no Decreto de aprovação do loteamento, não havendo que se cogitar, por isso,
de ato jurídico perfeito". Não tendo esse ponto sido atacado pelo recurso, verifica-se
deficiência de fundamentação que obstaculiza que dele se conheça. Aplica-se, nesse
ponto, por analogia, a Súmula 284/STF.
Além disso, o Tribunal de origem decidiu a lide com base na prova dos autos, o que atrai
a incidência da Súmula 7.
6. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1284451/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
20/09/2016, DJe 20/08/2020)
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA PARA O
LICENCIAMENTO AMBIENTAL. LEI 6.938/1981 E LEI COMPLEMENTAR 140/2011.
HIDRELÉTRICAS. RIO DAS ANTAS. BACIA HIDROGRÁFICA. LEI 9.433/1997. ESTUDO
PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL. REEXAME DE PROVAS.
SÚMULA 7 DO STJ. AUSÊNCIA DE OMISSÃO. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA.
1. Cuida-se de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal com o escopo
de anular o licenciamento ambiental de três usinas hidrelétricas que compõem o
Complexo Energético Rio das Antas, todas na Bacia Hidrográfica do Rio Taquari-Antas,
no Estado do Rio Grande do Sul.
2. Não se configurou a ofensa ao art. 535, I e II, do Código de Processo Civil, uma vez que
o Tribunal de origem julgou integralmente a lide e solucionou a controvérsia que lhe foi
apresentada.
3. A indicada afronta do art. 117 do CDC não pode ser analisada, pois o Tribunal de
origem não emitiu juízo de valor sobre esse dispositivo legal. Incide, na espécie, a
Súmula 211/STJ.
4. A mera ocorrência de Mata Atlântica em empreendimento não transfere,
automaticamente, o licenciamento ambiental do órgão estadual para o IBAMA.
Necessária a ocorrência de causa dominial ou ecológica de federalização do
licenciamento, como seria o caso de bens da União, de Unidades de Conservação
federais, existência de espécies ameaçadas de extinção incluídas na Lista Vermelha
federal, entre outras hipóteses. E mesmo aí poderá o Ibama utilizar-se de "instrumentos
de cooperação institucional" (convênios, delegações, etc.) com os órgãos estaduais, nos
termos do art. 4° da Lei Complementar 140/2011. In casu, nos termos do acórdão
recorrido, nenhuma dessas causas de federalização foi identificada, o que confirma a
competência da FEPAM.
5. Se a bacia hidrográfica, nos termos da Lei 9.433/1997, caracteriza a "unidade de
planejamento" da Política Nacional de Recursos Hídricos, deverá ser considerada como
tal no licenciamento ambiental de hidrelétrica, sobretudo quando múltiplos os
empreendimentos a explorarem o potencial de geração dos rios que a compõem. A
fragmentação de Estudos Prévios de Impacto Ambiental viola a ratio da norma, que
exige licenciamento integrado, de modo a evitar simples somatório de impactos locais
e considerar interferências recíprocas e cumulativas. Na hipótese dos autos, as
instâncias ordinárias afirmam o cumprimento dessa imposição legal.
Incide, nesse ponto, a Súmula 7 do STJ.
6. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1319651/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
04/10/2016, DJe 26/08/2020)
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. MEIO AMBIENTE. INEXISTÊNCIA DE LICENÇA
AMBIENTAL. ICMBIO. AUSÊNCIA DE DANOS. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO. PARQUE
NACIONAL DA CHAPADA DOS GUIMARÃES. CENTRO DE VISITANTES DA CACHOEIRA
"VÉU DE NOIVA". POSSIBILIDADE DE O PODER JUDICIÁRIO EXAMINAR O MÉRITO DO ATO
ADMINISTRATIVO.
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. O Ministério Público do Estado de Mato Grosso e o
Município de Chapada dos Guimarães propuseram Ação Civil Pública contra o Ibama,
impugnando a implantação de "Centro de Orientação e Informação" ("Centro de
Visitantes") no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, nas proximidades da
cachoeira "Véu de Noiva".
DESNECESSIDADE DO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL 2. O Parque Nacional da
Chapada dos Guimarães foi alvo da ocupação de grileiros e posseiros, que destruíram
veredas e vegetação das margens dos rios, represaram cursos d'água e desmataram
grandes áreas em seu interior. Em decorrência dessas agressões foi construído o Centro
de Orientação e Informação, em caráter emergencial, sobretudo para garantir a
fiscalização dessa notável Unidade de Conservação.
3. A construção, in casu, destinada a salvaguardar o próprio Parque, não apresenta
potencial de dano que exija a elaboração de Estudo Prévio de Impacto Ambiental.
Ademais, a construção foi precedida de estudo técnico do Instituto Matogrossense de
Engenharia de Avaliações e Perícias, que constatou a sua viabilidade no local. A
legislação florestal admite obra ou construção em Área de Preservação Permanente,
desde que de "utilidade pública" ou "interesse social".
OBRIGATORIEDADE DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL 4. Na hipótese dos autos, embora
seja evidente o "interesse público" da intervenção, toda atividade potencialmente
danosa ao meio ambiente necessita de regular licenciamento ambiental. A licença
ambiental, mesmo em empreendimento público a cargo do próprio órgão ambiental,
não pode ser implícita.
5. De rigor, então, a declaração da desnecessidade de elaboração de Estudo de Impacto
Ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, devendo o órgão ambiental, no entanto,
providenciar a respectiva Licença Ambiental do empreendimento 6. Recurso Especial
parcialmente provido.
(REsp 1213046/MT, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/10/2016, DJe 25/08/2020)
AMBIENTAL. LICENCIAMENTO AMBIENTAL. ART. 10 DA LEI 6.938/1981 E ART.
2° DA LEI COMPLEMENTAR 140/2011. ART. 46, CAPUT, E PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI
9.985/2000 RESOLUÇÃO CONAMA 237/1997. AEROPORTO A SER CONSTRUÍDO NA
ZONA DE AMORTECIMENTO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DA UNIÃO. FLORESTA
NACIONAL. COMPETÊNCIA DO ÓRGÃO AMBIENTAL ESTADUAL.
NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E EXPRESSA DA ADMINISTRAÇÃO DA UNIDADE
DE CONSERVAÇÃO FEDERAL. PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL DO IBAMA E DO INSTITUTO
CHICO MENDES QUE FICA PRESERVADO.
1. Discute-se a competência de condução do licenciamento ambiental para construção
do Aeroporto de Canelas, em área próxima, na Zona de Amortecimento, de Unidade de
Conservação Federal, qual seja a Floresta Nacional de Canela. O MPF pretende se
reconheça que a competência para o licenciamento é do IBAMA ou do Instituto Chico
Mendes. Em contraposição, a própria União, o Estado do Rio Grande do Sul e a Fepam
sustentam que a competência seria do órgão ambiental estadual.
2. A competência para o licenciamento ambiental é disciplinada pelo art. 10 da Lei
6.938/1981 e pela Resolução Conama 237/1997, quadro normativo esse atualizado,
mais recentemente, pela Lei Complementar 140/2011. Nessas normas, há previsão para
licenciamento pela União para obras realizadas dentro de Unidade de Conservação
Federal, embora, em situações particulares, não se possa excluir a possibilidade de o
empreendimento na Zona de Amortecimento trazer risco de dano à UC em si mesma, o
que justificaria a condução do licenciamento pelo próprio órgão federal. Por isso
mesmo, o legislador previu a necessidade de prévias e expressas consulta e autorização
do órgão responsável pela administração da Unidade de Conservação no caso de
instalação de equipamentos de "infra-estrutura urbana em geral" (art. 46, caput, e
parágrafo único da Lei 9.985/2000), expressão genérica que, por óbvio, inclui aeroporto,
tanto pela questão do adensamento populacional, como pelo ruído e outras
interferências provocados pela atividade.
3. A legislação permite a celebração de convênios entre União, Estados e Municípios
para fins de compartilhamento do licenciamento ambiental, desde que preenchidos
rígidos requisitos (art. 2° da LC 140/2011), o que não afeta, por óbvio, a competência da
Justiça Federal. Ainda que a competência para a condução do licenciamento seja do
órgão estadual, o Ibama, o ICMbio e outros órgãos com incumbência ambiental
preservam seu poder fiscalizador, se detectada atividade nociva ao meio ambiente. "A
atividade fiscalizatória das atividades nocivas ao meio ambiente concede ao IBAMA
interesse jurídico suficiente para exercer seu poder de polícia administrativa, ainda que
o bem esteja situado em área cuja competência para o licenciamento seja do município
ou do estado," (AgRg no REsp 1.373.302/CE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, DJe 19/6/2013).
4. Recurso Especial não provido.
(REsp 1319099/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
18/10/2016, DJe 20/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTRUÇÃO EM ÁREA
DE PROTEÇÃO PERMANENTE. OMISSÃO DO MUNICÍPIO DE GUARUJÁ EM FISCALIZAR.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA, SOLIDÁRIA E ILIMITADA DO ESTADO POR OMISSÃO, MAS
DE EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA.
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Cuida-se de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério
Público do Estado de São Paulo contra Altair Moreira de Souza Filho e o Município de
Guarujá com o escopo de obter a demolição de todas as construções, o pagamento de
indenização pelos danos ambientais e a recuperação da Área de Preservação
Permanente localizada em topo de morro.
LEGITIMIDADE DA MUNICIPALIDADE 2. O Município de Guarujá, apesar de ter expedido
o Alvará de Construção, condicionando a supressão da vegetação à obtenção de licença
do órgão de proteção do meio ambiente, não exerceu o seu poder de polícia ambiental
de forma efetiva, porquanto permitiu o início da obra sem a imprescindível aquiescência
do órgão estadual competente.
3. A liminar no Mandado de Segurança impetrado por Altair Moreira de Souza Filho foi
concedida para "exclusivamente autorizar o trâmite dos projetos junto aos órgãos
administrativos competentes, sem que se iniciem obras no respectivo lote". Portanto,
não se pode imputar ao Poder Judiciário a responsabilidade pela omissão e leviandade
do Município, porquanto a decisão judicial foi explícita em proibir o início do
empreendimento em Área de Preservação Permanente.
4. Apesar de se reconhecer a impossibilidade de vigilância ubíqua, inevitável
responsabilizar o Poder Público por omissão quando deixa de cumprir prescrição
normativa expressa, tudo sob o regime objetivo, solidário e ilimitado, mas de execução
subsidiária (posição de devedor-reserva, com "ordem ou benefício de preferência", o
que não é o mesmo que "benefício-divisão"), vedada, assim, a sua convocação per
saltum, pois do contrário se premiaria o coobrigado privado, beneficiário direto da
ilegalidade. A omissão estatal fica mais evidente ainda quando não exercida, a tempo, a
prerrogativa de demolição administrativa ou de outros atos típicos de
autoexecutoriedade. Precedentes: AgRg no REsp 1.417.023/PR, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 25/8/2015; AgRg no REsp
1.286.142/SC, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de
28/2/2013, e AgRg no Ag 822.764/MG, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, DJ
de 2/8/2007.
FALTA DE PREQUESTIONAMENTO - SÚMULA 282/STF 5. Não se pode conhecer da
insurgência contra a ofensa aos arts.
186, 265 e 927 do CC, ao art. 462 do CPC de 1973 e ao art. 4º da Lei 12.727/2012, pois
o referido dispositivo legal não foi analisado pela instância de origem. Dessa forma, não
houve, nem ao menos implicitamente, presquestionamento da questão.
6. Ausente, portanto, o indispensável requisito do prequestionamento, o que atrai, por
analogia, o óbice da Súmula 282/STF: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando
não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada." RESPONSABILIDADE
OBJETIVA DO MUNICÍPIO - APLICAÇÃO DA SÚMULA 126/STJ 7. O Tribunal bandeirante
decidiu sobre a responsabilidade objetiva do Município de Guarujá utilizando-se de
fundamentos infraconstitucional e constitucional: "Além disso, a responsabilidade em
questões ambientais, conforme o previsto no artigo 14, § 1º, da Lei 6.938/81,
recepcionado pelo artigo 225 da Constituição Federal, é objetiva." 8. Assim, incide nesse
caso a Súmula 126 do STJ: "É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido
assenta em fundamento constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente,
por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário." 9.
Recurso Especial de Altair Moreira de Souza Filho não conhecido;
Recurso Especial do Município de Guarujá parcialmente conhecido e, nessa parte, não
provido.
(REsp 1622252/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
20/10/2016, DJe 20/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ÁREA NON AEDIFICANDI.
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - APP. RESERVA LEGAL.
RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO AMBIENTAL. ART. 942, CAPUT, DO CÓDIGO CIVIL.
ART. 3º, IV, DA LEI 6.938/1981. OBRIGAÇÃO PROPTER REM E SOLIDÁRIA.
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo
Ministério Público Estadual contra os recorridos. Segundo se dessume da petição inicial,
o réu Marcos Daniel Peres foi autuado em flagrante por efetuar corte de vegetação em
Reserva Legal e Área de Preservação Permanente em imóvel de sua propriedade.
Ademais, Parecer Técnico do Instituto Ambiental do Paraná aponta que o recorrido
realizava queimadas em sua propriedade, impedindo dessa forma a regeneração da
vegetação natural da área.
2. O TRF julgou procedente o recurso de Apelação interposto pelos recorridos, para
declarar que eles não têm legitimidade passiva, porquanto "as obrigações de
recomposição de reserva legal e área de preservação permanente, também no que se
refere à averbação de tais áreas, possuem natureza 'propter rem', isto é, ficam ligadas
à propriedade, sendo despiciendo aferir sobre o efetivo causador do dano ambiental,
até porque o pai Marcos Daniel Peres agia em nome dos filhos proprietários, como mero
administrador das propriedades rurais".
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL - NATUREZA OBJETIVA, SOLIDÁRIA E
ILIMITADA 3. No Direito brasileiro e de acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça, a responsabilidade civil pelo dano ambiental, qualquer que seja a qualificação
jurídica do degradador - público ou privado -, proprietário ou administrador da área
degradada, é de natureza objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos princípios do
poluidor-pagador, da reparação "in integrum", da prioridade da reparação "in natura" e
do "favor debilis". Precedentes: REsp 1.307.938/GO, Rel. Ministro Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, DJe de 16/9/2014; REsp 1.247.140/PR, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de 22/11/2011 (grifei); AgRg
no REsp 1.367.968/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 12/3/2014,
e EDcl no Ag 1.224.056/SP, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de 6.8.2010.
4. Na responsabilidade civil por dano ao meio ambiente, a natureza jurídica propter rem
das obrigações ambientais não exclui a solidariedade entre os vários sujeitos implicados
- proprietário, possuidor, administrador, contratados, terceiros envolvidos, etc.
-, nos termos do art. 942, caput, do Código Civil e do art. 3º, IV, da Lei 6.938/81.
SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO 5. A supressão de vegetação em APP é medida de rigorosa
exceção, justificável só em casos expressamente previstos em lei, repita-se, listados em
numerus clausus, isto é, hipóteses legais incompatíveis com ampliação administrativa
ou judicial. Sabe-se que uma das regras de ouro da hermenêutica do Estado Social de
Direito traduz-se no axioma de que as exceções aos regimes jurídicos de proteção dos
sujeitos e bens vulneráveis devem ser interpretadas restritivamente.
É o caso, p. ex., dos conceitos de utilidade pública, do interesse social e do baixo
impacto. Precedentes: REsp 1394025/MS, Rel.
Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe de 18/10/2013, e REsp 1.362.456/MS, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de 28/6/2013.
6. Recurso Especial provido.
(REsp 1400243/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
08/11/2016, DJe 26/08/2020)
AMBIENTAL. PAULÍNIA. SERINGUEIRA. INEXISTÊNCIA DE TOMBAMENTO.
DECLARAÇÃO DE ÁRVORE IMUNE AO CORTE. SIMPLES LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA.
ART. 7º DA LEI 4.771/1965 E ART. 70, II, DA LEI 12.651/2012. PREMISSAS FÁTICAS DO
ACÓRDÃO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 7/STJ E 280/STF. .
1. Trata-se, na origem, de Ação Declaratória de nulidade de ato administrativo na qual
a recorrente questiona o procedimento adotado pelo Município de Paulínia, que
declarou ser imune ao corte seringueira localizada em seu terreno, conforme
determinação constante no Decreto Municipal 4.863/2001.
2. Não se pode acolher a tese de ofensa ao art. 9º do Decreto-Lei 25/1937 se o caso
concreto versa sobre declaração de imunidade ao corte e o dispositivo apontado pelo
recorrente disciplina hipótese de tombamento, que nenhuma relação guarda com a
espécie dos autos.
Incidem, nesse ponto, os óbices das Súmulas 7/STJ e 280/STF.
3. Ademais, partindo-se da premissa fático-normativa, estabelecida pelo Tribunal a quo,
de que a legislação municipal definiu hipótese de imunidade ao corte, e não de
tombamento, observa-se que a limitação administrativa combatida no caso concreto
está conforme ao que estabelece a legislação federal. Declaração de árvore imune de
corte - por motivo de localização, raridade, beleza ou condição de porta-sementes - não
implica restrição ou supressão do domínio, mas simples limitação administrativa
decorrente da função social e ecológica da propriedade.
4. Recurso Especial não provido.
(REsp 1444723/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
08/11/2016, DJe 26/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS AO MEIO AMBIENTE.
CONTAMINAÇÃO DO SOLO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULA 211/STJ. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO. DIREITOS INDISPONÍVEIS.
PRESCINDIBILIDADE. IMPRESCRITIBILIDADE DA AÇÃO.
1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública Ambiental ajuizada pelo MPE/SP contra a
Petróleo Brasileiro S/A, em virtude de danos causados ao meio ambiente por
contaminação do solo, proveniente de vazamento de oleoduto de sua propriedade, em
razão de lançamento de poluentes (petróleo bruto) da linha "OSVAT de oleoduto de 30"
do trecho Guararema- Paulínia/SP", em dezembro de 1998. Afirma o Parquet que houve
infiltração de produto no solo e lençol freático em quantidade suficientes "para a
formação de fase livre, embora de pequena espessura, havendo possibilidade de
evolução do problema e contaminação de águas subterrâneas, através da migração de
quantidade de produto que se infiltrou". Foi interposto Agravo de Instrumento contra a
decisão interlocutória na origem que deu o feito por saneado e determinou a produção
de prova pericial, com Agravo Regimental desprovido pelo Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo.
2. No que tange à apontada violação dos arts. 328 e 329 do Código de Processo Civil, a
irresignação não merece prosperar, uma vez que o Tribunal de origem não emitiu juízo
de valor sobre esses dispositivos legais. Incide, na espécie, a Súmula 211/STJ.
3. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que a audiência de conciliação mostra-se
desnecessária quando a controvérsia envolver direitos indisponíveis, como no caso de
danos ao meio ambiente.
Precedente do STJ: REsp 327.408/RO, Rel. Ministro Franciulli Netto, Segunda Turma, DJ
de 14/3/2005.
4. Recurso Especial não provido.
(REsp 1537281/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
10/11/2016, DJe 28/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AMBIENTAL. VIOLAÇÃO DO ART. 557 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA.
DANO AMBIENTAL. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA.
EXECUÇÃO. PRINCÍPIOS POLUIDOR-PAGADOR E DA REPARAÇÃO IN INTEGRUM.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. APLICABILIDADE. PRETENSÃO DE
REEXAME DE PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. MULTA PRESCRITA PELO ART. 538
DO CPC FIXADA PELA CORTE ESTADUAL APÓS TRÊS ACLARATÓRIOS. CARÁTER
PROTELATÓRIO. MANUTENÇÃO.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem o entendimento de que eventual
nulidade na decisão singular do Relator, proferida com fulcro no art. 557 do CPC, fica
superada com a reapreciação da matéria, na via do Agravo Interno, pelo órgão
colegiado.
2. O acórdão recorrido consignou: a) "perfeitamente aplicável a teoria menor da
desconsideração da personalidade jurídica gizada no artigo 4º da Lei nº 9.605/98, já que
a reparação visada pelo órgão ministerial destina-se, como se observa dos documentos
acostados, ao Fundo Municipal de Meio Ambiente"; b) "Em verdade, não tendo sido
oferecidos quaisquer bens de provável alienação, situação essa que, em mais 4 (quatro)
anos de tramitação do agravo de instrumento, restou inalterada - não tendo a
executada, em nenhum momento, sequer tentado garantir o juízo com outros bens -,
resta óbvio que a personalidade jurídica funciona como verdadeiro óbice à execução
pretendida, o que não se deve admitir"; e c) "Basta, na espécie, a verificação da
insuficiência patrimonial da sociedade empresária para compensar os prejuízos
ambientais por ela causados, presunção esta que, em nenhum momento, logrou êxito a
embargante em desconstituir. Digno de menção, ainda, é o fato notório de que a Maxi
Place, localizada ao lado deste Egrégio Tribunal de Justiça, já encerrou suas atividade há
vários anos, o que, diante da ausência de regular auferimento de renda, apenas
perpetuará a irreparabilidade do dano ambiental em questão." 3. À luz do princípio
poluidor-pagador e do princípio da reparação in integrum, inadmissível que a
personalidade jurídica funcione como muro intransponível para execução de obrigação
ambiental do degradador. Com base no acervo probatório dos autos, o Tribunal a quo
constatou a insuficiência patrimonial da empresa, a natureza ambiental da dívida e a
necessidade da aplicação da desconsideração da personalidade jurídica sob pena de se
frustrar a execução. O reexame de matéria fática é defeso ao STJ pelo óbice da Súmula
7/STJ.
4. Após o acórdão prolatado pela Corte estadual em novo julgamento dos Embargos de
Declaração, a agravante opôs sucessivamente três recursos integrativos, todos
rejeitados, haja vista não terem demonstrado omissão, e sim mero inconformismo com
o julgado, que, portanto, deve ser mantido.
5. Agravo Interno não provido.
(AgRg no AREsp 324.781/ES, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 10/11/2016, DJe 28/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTRUÇÃO DE TRAPICHE E RAMPA DE
ACESSO. ÁREA NON AEDIFICANDI. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - APP.
REPARAÇÃO INTEGRAL. POSSIBILIDADE. CUMULAÇÃO. OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO
FAZER E PAGAR QUANTIA. OBRIGATORIEDADE DE PRÉVIO LICENCIAMENTO AMBIENTAL.
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo
Ministério Público Federal contra Famarion dos Santos Batista, Município de São
Francisco do Sul, Fundação de Amparo Tecnológico ao Meio Ambiente e União. Segundo
se depreende dos autos houve aterro e colocação de estruturas físicas (trapiches e
rampa de acesso) em terreno pertencente à União, localizado à margem da Lagoa Capri.
2. O TRF indeferiu o pedido, feito pelo MPF, de condenação do réu Flamarion ao
pagamento de indenização pelos danos materiais causados ao meio ambiente, pois,
segundo a sua interpretação, o legislador teria priorizado a busca pela composição
ambiental.
IMPOSSIBILIDADE DE MANUTENÇÃO DE RAMPA DE ACESSO E TRAPICHE CONSTRUÍDOS
IRREGULARMENTE EM ÁREA DE PROTEÇÃO PERMANENTE ? APP 3. Induvidosa a
prescrição do legislador no que se refere à posição intangível e ao caráter non
aedificandi da Área de Preservação Permanente - APP, nela interditada ocupação ou
construção, com pouquíssimas exceções (casos de utilidade pública e interesse social),
submetidas a licenciamento administrativo. Precedentes: AgRg no AREsp 614.401/SC,
Rel. Ministro OG Fernandes, Segunda Turma, DJe de 3/3/2015; AgRg no REsp
1.494.988/MS, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 9/10/2015;
REsp 1.307.938/GO, Rel.
Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe de 16/9/2014; e EDcl no Ag
1.224.056/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de 6.8.2010.
CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, DE NÃO FAZER E PAGAR 4. A cumulação de
obrigação de fazer, não fazer e pagar não configura bis in idem, porquanto a
indenização, em vez de considerar lesão específica já ecologicamente restaurada ou a
ser restaurada, põe o foco em parcela do dano que, embora causado pelo mesmo
comportamento pretérito do agente, apresenta efeitos deletérios de cunho futuro,
irreparável ou intangível. Precedentes: REsp 1.382.999/SC, Rel. Ministro Humberto
Martins, Segunda Turma, DJe de 18.9.2014; REsp 1.307.938/GO, Rel. Ministro Benedito
Gonçalves, Primeira Turma, DJe de 16.9.2014; REsp 1.227.139/MG, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe de 13.4.2012; REsp 1.115.555/MG, Rel. Ministro
Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe de 23.2.2011.
OBRIGATORIEDADE DE PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO ÓRGÃO AMBIENTAL 5. De acordo com
o Código Florestal brasileiro (tanto o de 1965, como o atual, Lei 12.651, de 25.5.2012) e
a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, a flora nativa, na hipótese de supressão,
encontra-se uniformemente protegida pela exigência de prévia e válida autorização do
órgão ambiental competente, qualquer que seja o seu bioma, localização, tipologia ou
estado de conservação (primária ou secundária).
6. Recurso Especial provido.
(REsp 1528547/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
10/11/2016, DJe 28/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
DESMATAMENTO. VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, DO CPC. ART. 405 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 2015. AUTO DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA.
PRESUNÇÃO DE LEGALIDADE, LEGITIMIDADE E VERACIDADE DE DOCUMENTO PÚBLICO.
HONORÁRIOS PERICIAIS. ART. 18 DA LEI 7.347/1985.
IMPOSSIBILIDADE DE ADIANTAMENTO DE CUSTAS PELO AUTOR.
1. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal
contra os recorridos, objetivando condená-los a repararem o dano ambiental
decorrente de corte ilegal de árvores nativas (araucária).
2. Consoante o art. 405 do CPC/2015, laudo, vistoria, relatório técnico, auto de infração,
certidão, fotografia, vídeo, mapa, imagem de satélite, declaração e outros atos
elaborados por agentes de qualquer órgão do Estado possuem presunção (relativa) de
legalidade, legitimidade e veracidade, por se enquadrarem no conceito geral de
documento público. Tal qualidade jurídica inverte o ônus da prova, sem impedir, por
óbvio, a mais ampla sindicância judicial. Por outro lado, documento público ambiental,
sobretudo auto de infração, não pode ser desconstituído por prova judicial inconclusiva,
dúbia, hesitante ou vaga, mais ainda quando realizada muito tempo após a ocorrência
do comportamento de degradação do meio ambiente.
3. A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que o art. 18 da Lei 7.347/1985 é norma
processual que expressamente afastou a necessidade de o legitimado extraordinário
efetuar o adiantamento de custas e outras despesas processuais, para o ajuizamento de
Ação Civil Pública. Precedentes.
4. Recurso Especial provido.
(REsp 1284069/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
17/11/2016, DJe 28/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO AMBIENTAL. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULA 211 DO STJ. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
IMÓVEL RURAL. AVERBAÇÃO DE RESERVA LEGAL. VALOR DA ASTREINTE. SÚMULA 7 DO
STJ. COMPROVAÇÃO DE PROPRIEDADE DO IMÓVEL RURAL. REGISTRO NO CARTÓRIO DE
IMÓVEIS.
1. O Ministério Público de Minas Gerais ajuizou Ação Civil Pública requerendo
especificamente a demarcação e a averbação da Área de Reserva Legal, para que, em
seguida, os recorrentes a recuperem, sob pena de cominação de multa diária.
2. Assim decidiu o Tribunal de Justiça: "Apelação cível conhecida e parcialmente provida
para determinar a constituição de reserva legal sobre área remanescente de imóvel
rural, rejeitadas três preliminares". Nada a reparar no acórdão recorrido, pois, conforme
a lei, o fracionamento do imóvel não o isenta da obrigação, que é propter rem.
3. A indicada afronta ao art. 1.225 do CC não pode ser analisada, pois o Tribunal de
origem não emitiu juízo de valor sobre esse dispositivo legal. No mais, para se
desconstituirem as premissas estabelecidas no julgado de origem, seria necessário
adentrar-se no exame do acervo fático-probatório dos autos, vedado à instância
especial pela Súmula 7/STJ.
4. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1355729/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
17/11/2016, DJe 28/08/2020)
AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSOS HÍDRICOS. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA.
CONDOMÍNIO RESIDENCIAL. POÇO ARTESIANO. FEDERALISMO HÍDRICO-AMBIENTAL.
REGIME JURÍDICO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS. ART. 12, II, DA LEI .433/1997 E ART. 45,
§ 2º, DA LEI 11.445/1997.
NECESSIDADE DE OUTORGA E AUTORIZAÇÃO AMBIENTAL. PRECEDENTES.
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Trata-se, na origem, de Ação de Obrigação de Fazer
proposta pelo Condomínio do Parque Residencial Ypiranga que, sob o argumento de
haver insuficiência do abastecimento público de água, realizou perfuração de poço
artesiano para uso dos condôminos, sem outorga e autorização ambiental.
2. A sentença julgou procedentes os pedidos. O Tribunal de origem negou provimento à
Apelação, entendendo, em síntese, que inexiste na legislação federal ou estadual
obrigação de outorga ou autorização do órgão público competente para uso de água
extraída de poços artesianos.
3. O INEA interpôs Recurso Especial alegando violação do art. 45, § 2º, da Lei federal
11.445/2007 (Lei do Saneamento Básico) que veda a quem possui instalação hidráulica
predial ligada à rede pública abastecer-se de fontes alternativas.
REGIME JURÍDICO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 4. Qualquer que seja o ângulo pelo qual
se examine a questão, justifica-se a disciplina normativa, pela União, das águas
subterrâneas - reputadas ora federais, ora estaduais -, por constituírem recurso natural,
público, limitado, não visível a olho nu (ao contrário das águas de superfície), e
indispensável à concretização dos direitos fundamentais à vida, à saúde e ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado.
5. Na disciplina dos recursos hídricos, dois diplomas federais são de observância
obrigatória para Estados, Distrito Federal e Municípios: a Lei 9.433/1997 (Lei da Política
Nacional de Recursos Hídricos) e a Lei 11.445/2007 (Lei do Saneamento Básico). A Lei
9.433/1997 condiciona a extração de água subterrânea - quer para "consumo final",
quer como "insumo de processo produtivo" - à prévia e válida outorga pelo Poder
Público, o que se explica pela notória escassez desse precioso bem, literalmente vital,
de enorme e crescente valor econômico, mormente diante das mudanças climáticas
(art. 12, II). Já o art. 45, § 2º, da Lei 11.445/2007 prevê categoricamente que "a
instalação hidráulica predial ligada à rede pública de abastecimento de água não poderá
ser também alimentada por outras fontes".
6. Assim, patente a existência de disciplina normativa expressa, categórica e inafastável
de lei geral federal, que veda captação de água subterrânea para uso de núcleos
residenciais, sem que haja prévia outorga e autorização ambiental do Poder Público. As
normas locais devem seguir as premissas básicas definidas pela legislação federal.
Estatuto editado por Estado, Distrito Federal ou Município que contrarie as diretrizes
gerais fixadas nacionalmente padece da mácula de inconstitucionalidade e ilegalidade,
por afrontar a distribuição de competência feita pelo constituinte de 1988: "Compete
privativamente à União legislar sobre ... águas" (art. 22, IV, da Constituição Federal, grifo
acrescentado). Precedentes do STJ.
CONCLUSÃO 7. Embargos de Divergência conhecidos e providos.
(EREsp 1335535/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
26/09/2018, DJe 03/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. LOTEAMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTRUÇÃO EM ÁREA DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE. LEGITIMIDADE PASSIVA. PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL-
URBANÍSTICO. OMISSÃO DO MUNICÍPIO DE GUARULHOS EM FISCALIZAR.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA, SOLIDÁRIA E ILIMITADA. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO ? SÚMULA 282/STF. OFENSA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
COMPETÊNCIA DO STF.
1. Cuida-se de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo
contra a Imobiliária e Construtora Continental Ltda. e o Município de Guarulhos com o
escopo de regularizar o loteamento clandestino construído irregularmente em Área de
Preservação Permanente, de cobrar indenização pelos danos ambientais e impor a
desocupação e a recuperação do terreno em questão.
2. O Município de Guarulhos não exerceu o seu poder de polícia ambiental-urbanístico
de forma efetiva, porquanto permitiu a ocupação irregular do imóvel e o desmate
progressivo da área sem a autorização dos órgãos administrativos e ambientais. É de
reconhecer, pois, sua legitimidade passiva. Precedentes: AgRg no REsp 1.417.023/PR,
Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 25/8/2015; AgRg no REsp
1.286.142/SC, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 28/2/2013,
e AgRg no Ag 822.764/MG, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, DJ de 2/8/2007.
3. Não se pode conhecer da insurgência contra a ofensa do art. 1º da Lei 9.494/1997,
pois o referido dispositivo legal não foi analisado pela instância de origem. Dessa forma,
não houve, nem ao menos implicitamente, prequestionamento da questão.
4. Ausente, portanto, o indispensável requisito do prequestionamento, o que atrai, por
analogia, o óbice da Súmula 282/STF: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando
não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada." 5. O recorrente insiste
na tese de que não possui responsabilidade pela implantação de loteamento
clandestino, contudo não explicitou em que medida o art. 50, I, II e III, da Lei 6.766/1979
e o art. 91 do CPC de 1973 foram violados. Dessa forma, está caracterizada a deficiência
na fundamentação do recurso. Assim sendo, sua pretensão esbarra no óbice da Súmula
284/STF.
6. É importante registrar a inviabilidade de o STJ apreciar ofensa aos artigos da Carta
Magna, uma vez que tal atribuição compete exclusivamente ao Supremo Tribunal
Federal, nos termos do art. 102, III, "a", da CF/1988.
7. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1356992/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
17/11/2016, DJe 28/08/2020)
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS.
PROCEDIMENTO DEMARCATÓRIO.
1. A Funai defende ser impertinente a fixação de prazo, pelo Poder Judiciário, para a
finalização de procedimento administrativo de demarcação de terras indígenas.
2. "A demarcação de terras indígenas é precedida de processo administrativo, por
intermédio do qual são realizados diversos estudos de natureza etno-histórica,
antropológica, sociológica, jurídica, cartográfica e ambiental, necessários à
comprovação de que a área a ser demarcada constitui terras tradicionalmente ocupadas
pelos índios. Trata-se, como se vê, de procedimento de alta complexidade, que
demanda considerável quantidade de tempo e recursos diversos para atingir os seus
objetivos. Entretanto, as autoridades envolvidas no processo de demarcação,
conquanto não estejam estritamente vinculadas aos prazos definidos na referida norma,
não podem permitir que o excesso de tempo para o seu desfecho acabe por restringir o
direito que se busca assegurar." (REsp 1.114.012/SC, Rel. Ministra Denise Arruda,
Primeira Turma, DJe de 1º/12/2009).
3. Agravo Interno não provido.
(AgInt no REsp 1524045/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 22/11/2016, DJe 27/08/2020)
DIREITO AMBIENTAL. OBRIGATORIEDADE DE AVERBAÇÃO DE RESERVA LEGAL.
REGISTRO IMOBILIÁRIO. SUPERVENIÊNCIA DOS ARTS. 12, CAPUT E §§ 6°, 7° e 8°, 15, 18,
§ 4º, 66 E 67 DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL (LEI 12.651/2012). INSCRIÇÃO NO
CADASTRO AMBIENTAL RURAL (CAR). ART. 167, II, 22, DA LEI DE REGISTROS PÚBLICOS
(LEI 6.015/1973).
APROVEITAMENTO DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO CÁLCULO DO
PERCENTUAL DA RESERVA LEGAL.
1. "A existência da área de Reserva Legal no âmbito das propriedades rurais caracteriza-
se como uma limitação administrativa necessária à tutela do meio ambiente para as
presentes e futuras gerações e em harmonia com a função social da propriedade, o que
legitima haver restrições aos direitos individuais em benefício dos interesses de toda a
coletividade." (REsp 1.276.114/MG, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe de
11/10/2016).
2. O novo Código Florestal (Lei 12.651/2012) manteve a exigibilidade universal da
Reserva Legal em "todo imóvel rural" (art. 12, caput).
Tal dever genérico incumbe mesmo ao atual proprietário ou possuidor de imóvel "que
detinha, em 22 de julho de 2008, área de Reserva Legal em extensão inferior ao
estabelecido no art. 12", cabendo-lhe optar pela recomposição com plantio,
regeneração natural ou compensação (art. 66). Logo, ninguém está isento de instituí-la,
salvo casos peculiares, expressamente previstos no Código e em numerus clausus, p. ex.,
obras de abastecimento público de água e tratamento de esgoto; geração e distribuição
de energia proveniente de empreendimento hidrelétrico; implantação ou ampliação de
rodovias (art. 12, §§ 6°, 7° e 8°); pequena propriedade de até quatro módulos fiscais sem
vegetação nativa na data de corte (art. 67).
3. Por outro lado, o Código não excluiu, de maneira absoluta, a obrigatoriedade da
averbação da Reserva Legal no registro imobiliário, cuja liberação ocorre somente se ela
estiver devidamente inscrita no Cadastro Ambiental Rural - CAR (art. 18, § 4º). Se o CAR
inexistir ou não operar de maneira adequada, remanesce a exigibilidade da averbação,
assim como acontecerá quando o proprietário praticar qualquer ato cartorial (compra e
venda, permuta, doação, servidão, usufruto, retificação de área, partilha, hipoteca,
usucapião, servidão ambiental, etc), por força do art.
167, II, 22, da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973).
4. Com relação ao aproveitamento das Áreas de Preservação Permanente - APPs no
cálculo do percentual da Reserva Legal, o acórdão recorrido assentou que "o apelante,
sequer demonstrou a existência de vegetação nativa, ou de áreas de preservação
permanente nos imóveis objeto do pedido inicial, e, muito menos, a efetivação dos
demais requisitos legais".
5. Segundo o art. 15 do Código Florestal, que cuida apenas de passivo ambiental (isto é,
de desmatamentos antigos, nos termos do dies ad quem fixado na lei), o cômputo das
APPs no percentual da Reserva Legal depende de que o interessado inequivocamente
demonstre, como ônus intransferível seu, que a) a sobreposição não implicará novas
supressões de vegetação nativa; b) as APPs apresentam-se em bom estado físico-
ecológico ou em processo de recuperação de suas funções e serviços ecossistêmicos,
tudo tecnicamente constatado e aprovado pelo órgão ambiental estadual; c) o imóvel
se encontra inscrito no Cadastro Ambiental Rural - CAR; e d) o desmatamento e a
utilização "consolidada" que inviabilizem o cumprimento integral do percentual da
Reserva Legal antecedem o termo final, prescrito no próprio Código (22 de julho de
2008), a partir do qual o proprietário ou posseiro deixa de fazer jus ao benefício.
6. No mais, inviável analisar as teses defendidas no Recurso Especial, pois, para fazê-lo,
necessário seria afastar premissas fáticas estabelecidas pelo acórdão recorrido. Aplica-
se, portanto, o óbice da Súmula 7/STJ.
7. Recurso Especial não provido.
(REsp 1453202/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/12/2016, DJe 26/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL, AMBIENTAL E URBANÍSTICO. LOTEAMENTO IRREGULAR.
REGULARIZAÇÃO. LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO ENTRE RÉUS E ADQUIRENTES E
POSSUIDORES DE LOTES.
1. Na hipótese dos autos, o entendimento da Corte de origem está em conformidade
com a orientação do STJ. Com efeito, em se tratando de dano ambiental e urbanístico,
a regra geral é a do litisconsórcio facultativo. (AgInt no RMS 44.553/MA, Rel. Ministro
Gurgel de Faria, Primeira Turma, julgado em 15/9/2016, DJe de 20/10/2016; AgRg no
AREsp 13.188/ES, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em 14/6/2016,
DJe de 24/6/2016).
2. In casu, não há nenhum pedido contra qualquer dos adquirentes dos lotes irregulares,
muito ao contrário, o remédio primacial postulado cuida de regularização do
loteamento. Apenas sucessivamente - caso impossível ou inviável técnica ou
juridicamente tal medida saneadora - é que se pleiteia desfazimento do
empreendimento ou de parte dele, sendo imposto ao loteador completo ressarcimento
às vítimas, além de restauração da área degradada e indenização pelo dano ambiental.
Na realidade, o que se tem em casos desse naipe é modalidade implícita de cumulação
de ações; a primeira com natureza ambiental-urbanística de conteúdo difuso; e a
segunda, fundamentada no Código de Defesa do Consumidor, no Código Civil e na
legislação correlata, destinada a garantir reparação, pelo loteador, dos direitos
individuais homogêneos dos compradores de boa-fé lesados. Em vez de coincidência de
interesses, ocorre choque frontal entre os interesses do loteador e os dos consumidores,
o que já bem indica o descabimento do litisconsórcio necessário, providência que,
ademais, tumultuaria o processo da ação civil pública, possivelmente inviabilizando a
sua gestão e finalização a bom termo.
3. Recurso Especial não provido.
(REsp 1635393/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/12/2016, DJe 26/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SUPRESSÃO DE FLORESTA EM
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. DANO COMPROVADO.
RESPONSABILIDADE DO TITULAR DA PROPRIEDADE DO IMÓVEL. NATUREZA PROPTER
REM. HONORÁRIOS. VERBA QUE INTEGRA O PATRIMÔNIO DA AUTARQUIA. AVALIAÇÃO
DA OCORRÊNCIA DE DANOS ALÉM DOS CONSTATADOS PELO TRIBUNAL DE ORIGEM.
IMPOSSIBILIDADE. REEXAME DE LAUDO PERICIAL E DE PROVA DE INTIMAÇÃO DE
ASSISTENTE TÉCNICO. SÚMULA 7/STJ.
1. Na hipótese dos autos, nota-se que o acórdão vergastado não está em consonância
com a orientação desta Corte Superior no que diz respeito à responsabilidade do
proprietário. Com efeito, é entendimento do Superior Tribunal de Justiça que a
obrigação de recuperar a degradação ambiental abrange aquele que é titular da
propriedade do imóvel, mesmo que não seja de sua autoria a deflagração do dano,
tendo em conta sua natureza propter rem, fato que autoriza a inclusão do referido
proprietário no polo passivo da demanda. Precedentes do STJ.
2. Outrossim, os honorários advocatícios de sucumbência, quando vencedora a
Administração Pública direta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, ou as autarquias, as fundações instituídas pelo Poder Público, ou as
empresas públicas, ou as sociedades de economia mista, integram o patrimônio público
da entidade. In casu, a verba de honorários deve ser destinada ao Ibama, e não ao fundo
a que alude o art. 13 da Lei 7.347/1985. (AgRg no AREsp 789.684/DF, Rel. Ministro
Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 17/12/2015, DJe de 10/2/2016).
3. Quanto à suposta ofensa ao art. 3º da Lei 7.347/1985, o deferimento da tese recursal
demanda reexame do contexto fático-probatório, mormente em se considerando que o
Tribunal a quo foi taxativo ao reconhecer a inexistência de outros prejuízos além
daqueles que foram objeto da condenação em obrigação de fazer.
Incide, por conseguinte, nesse ponto, o óbice da Súmula 7/STJ.
4. Quanto ao recurso dos particulares, afastar a responsabilidade pelo dano ambiental
também demanda reexame de provas e documentos, principalmente das conclusões do
laudo pericial e dos testemunhos prestados. Igualmente seria necessário avaliar o
contexto probatório para verificar se o assistente técnico foi, ou não, cientificado da
data de realização do exame pericial. Tudo a atrair o óbice da Súmula 7/STJ. Aliás,
relativamente à ciência do assistente técnico sobre a realização da perícia, o Tribunal a
quo certificou que aquele foi intimado (fl. 1.050/e-STJ).
5. Recurso Especial do Ibama parcialmente provido. Recurso Especial de Vanderlei
Ludwig e outro não provido.
(REsp 1635394/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/12/2016, DJe 26/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO. ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. PRÉDIO REFORMADO OU AMPLIADO. DEMOLIÇÃO DA CONSTRUÇÃO.
LICENÇA, AUTORIZAÇÃO E ALVARÁ. ALEGAÇÃO DE DIREITO ADQUIRIDO E ATO JURÍDICO
PERFEITO. REGIME JURÍDICO MATERIALMENTE INTRANSFERÍVEL. LIMITES DA LIDE E DA
COISA JULGADA. AFASTAMENTO DA MULTA ESTABELECIDA PELO ART. 538, PARÁGRAFO
ÚNICO, DO CPC.
IMPOSSIBILIDADE DE REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
1. Em Ação Civil Pública o recorrente foi condenado a cumprir obrigações de fazer e de
não fazer consistentes em demolir construção, reforma e obra, de qualquer espécie,
efetivadas no imóvel em que funciona casa noturna conhecida como Boate Phoenix,
com remoção de todo o entulho, sob pena de multa; proceder à recuperação ambiental
do local e não realizar novas edificações na Área de Preservação Permanente.
2. A lide foi julgada com base em fatos e provas, o que atrai a aplicação da Súmula 7/STJ.
O Tribunal de origem assim se posicionou: "A construção, de 1979 foi autorizada pelo
Município e respeitava a área de preservação permanente; atingida pelo alargamento
da área de preservação em 1989, foi preservada, não com base no direito adquirido (que
não se aplica à hipótese), mas com base na válida autorização e no ato jurídico perfeito.
Aumentada a área de preservação, a construção não pode mais ser ampliada; a lei nova
respeita o ato jurídico perfeito antecedente, mas nos exatos termos em que praticado:
aquela construção, e aquela área; pois as novas autorizações se submetem à lei nova, e
não se permite que, com base na autorização anterior, se amplie a ilegalidade e a
agressão ambiental. A construção antiga não existe mais, pois substituída (não apenas
ampliada) pela construção posterior; não há mais o que preservar, e outra construção
igual será tida como construção nova, não protegida pelo alvará de 1979, que se
exauriu". E concluiu: "A ampliação da construção feita em 1998 havia de amoldar-se à
legislação então vigente; a área de preservação era de trinta metros, de modo que nada
podia ser construída nela. Há duas irregularidades: não foi autorizada pelos órgãos
ambientais; e mesmo que a Prefeitura tivesse anuído, não há como ultrapassar a
infração ambiental. É interessante observar que a planta apresentada à Prefeitura ... não
indica a localização dos cursos d'água e apresenta uma situação, embora sem escala,
claramente enganadora; a aprovação é de clara ilegalidade." 3. Construção nova que,
total ou parcialmente, substitui, amplia ou reforma edificação deve observar a legislação
ambiental, urbanística, sanitária e de parcelamento do solo mais rigorosa vigente no
momento da alteração material realizada no bem. No âmbito ambiental-urbanístico,
alvará - como forma ou veículo de exteriorização de autorização e licença - encarna ato
administrativo individual, com objeto certo e imutável. Incapaz, portanto, de atribuir
status de direito adquirido ou ato jurídico perfeito ao proprietário para, daí em diante,
derrubar ou modificar, a qualquer momento, o que anterior e legalmente foi erigido e,
já sob quadro normativo diverso, pretender que se lhe apliquem exigências débeis e
obsoletas, revogadas e superadas por outras supervenientes com parâmetros restritivos
alargados. Prédio novo não herda regime jurídico ambiental-urbanístico de prédio
velho, mesmo que erguido no mesmo lugar e até sobre as mesmas fundações. Entender
diferentemente equivaleria a burlar inevitável imperativo de aperfeiçoamento
benfazejo da ordem pública ambiental, urbanística, sanitária e de parcelamento do solo
urbano. Tolheria esse esforço permanente e progressivo do legislador e do
administrador inerente à disciplina jurídica de atividades e edificações na cidade e no
campo, regulação que requer acompanhamento pari passu dos avanços do
conhecimento científico e também da expansão das demandas emergentes de maior
garantia da qualidade de vida e do meio ambiente ecologicamente equilibrado, inclusive
quanto à saúde pública, biodiversidade, controle da poluição, paisagem, recursos
hídricos, estética do espaço construído e enfrentamento das mudanças climáticas.
4. O recorrente afirma que houve extrapolação dos limites da lide e da coisa julgada.
Para enfrentar tal pretensão, necessário infirmar as premissas que a Corte de origem
fixou, o que ensejaria revolvimento fático-probatório vedado ao Recurso Especial por
força da Súmula 7/STJ. Com relação à multa estabelecida no art. 538 do CPC, aplicada
na primeira instância, é também de rigor análise fático-probatória para afastá-la, o que
novamente atrai o óbice da mesma súmula.
5. Recurso Especial não provido.
(REsp 1635397/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/12/2016, DJe 26/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO DE DANOS
AMBIENTAIS. REDISCUSSÃO DE QUESTÕES FÁTICAS RECONHECIDAS PELO ACÓRDÃO
RECORRIDO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. OBRIGAÇÃO PROPTER REM. SENTENÇA
INCERTA. NÃO CONSTATAÇÃO.
1. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta com o intuito de reparação de
danos ambientais atribuídos à ora recorrente pela implantação de loteamento
(denominado "Marinas do Guarujá") em 33 hectares de área de mangue no município
de Guarujá-SP.
2. A parte recorrente sustenta que o art. 535, II, do CPC foi violado, mas deixa de
apontar, de forma clara, o vício em que teria incorrido o acórdão impugnado, sem
indicar as matérias sobre as quais deveria ter-se pronunciado a instância ordinária, nem
demonstrar a relevância delas para o julgamento do feito. Aplica-se, nesse ponto, o
óbice da Súmula 284/STF.
3. É inviável analisar as teses defendidas no Recurso Especial (de que não é responsável
pelo loteamento, que o perito judicial não fez a inspeção in loco e de que o laudo judicial
se embasou em outro apresentado unilateralmente pela parte agravada, o qual não
comprova a existência de danos), pois inarredável a revisão do conjunto probatório dos
autos para afastar as premissas fáticas estabelecidas pelo acórdão recorrido. Aplica-se,
portanto, o óbice da Súmula 7/STJ.
4. O acórdão recorrido, ao concluir, em relação à sentença, que "a obrigação de
recuperar o meio ambiente é certa, ficando por determinar-se apenas a forma com que
será cumprida", fixou compreensão no mesmo sentido da do STJ: "Não há falar em
sentença incerta em face da ausência de detalhamento das medidas a serem adotadas,
tendo em vista que foi determinado à recorrente a obrigação que lhe compete em face
do dano ambiental, não devendo o juiz sentenciante especificar condutas que, no caso
concreto, podem não ser suficientes à prevenção/reparação. De forma contrária, a
tutela jurisdicional se esvaziaria com o cumprimento da ordem judicial sem que
houvesse materialmente o adimplemento da obrigação de prevenir novos danos e
estabelecer padrões de controle." (AgRg no REsp 1.121.233/SP, Rel. Ministro Arnaldo
Esteves Lima, Primeira Turma, DJe de 2.2.2011).
5. O STJ tem o entendimento pacífico de que a responsabilidade civil pela reparação dos
danos ambientais adere à propriedade, como obrigação propter rem, sendo possível
responsabilizar também o atual proprietário por danos provocados por condutas
derivadas dos proprietários antigos. Nesse sentido: REsp 1.622.512/RJ, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe de 11.10.2016; e AgRg no REsp
1.367.968/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 12.3.2014.
6. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1635455/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/12/2016, DJe 26/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULA 282/STF. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. PARCELAMENTO
IRREGULAR DO SOLO URBANO. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. REGIME JURÍDICO DE
IMPUTAÇÃO OBJETIVA, SOLIDÁRIA E ILIMITADA, MAS DE EXECUÇÃO SUBSIDIÁRIA.
REVISÃO DOS REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL. NEXO DE CAUSALIDADE.
NECESSIDADE DE REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 7/STJ.
1. Não foi apreciada pelo acórdão recorrido a alegada ofensa ao art. 267, VI, do
CPC/1973. Dessa forma, não se observou o requisito do prequestionamento quanto a
esse ponto, em que incide, por analogia, o óbice da Súmula 282/STF.
2. Nos termos do art. 942, in fine, do Código Civil, o Município também responde pelo
dano ambiental-urbanístico causado por particular que procede a parcelamento
irregular do solo contando com a inércia ou descaso estatal. Trata-se de
responsabilidade civil objetiva, solidária e ilimitada, mas de execução subsidiária
(posição de devedor-reserva, com "ordem ou benefício de preferência", o que não é o
mesmo que "benefício-divisão"), vedada, assim, a sua convocação per saltum, pois do
contrário se premiaria o coobrigado privado, beneficiário direto da ilegalidade.
3. A revisão dos requisitos ensejadores da responsabilidade civil do Estado, na hipótese
dos autos, demanda reexame do acervo fático-probatório coligido, o que é inviável em
Recurso Especial, nos termos da Súmula 7/STJ.
4. Recurso Especial não conhecido.
(REsp 1635457/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/12/2016, DJe 26/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
ADVINDA DE ATIVIDADE INDUSTRIAL. FISCALIZAÇÃO DO ÓRGÃO AMBIENTAL NÃO
IMPEDE TUTELA JUDICIAL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO DEMONSTRADA. FALTA
DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF. INTERESSE DE AGIR DO MINISTÉRIO
PÚBLICO NÃO AFASTADO PELO EXERCÍCIO DE PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL.
1. Trata-se de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público em razão da poluição
do ar por fluoretos - particulados e gasosos, substâncias de alta fitotoxidade - imputada
a empresa que integra, na cidade de Santa Gertrudes, polo cerâmico com mais de 40
indústrias, considerado o maior da América Latina.
2. Estar a atividade ou o empreendimento regularmente licenciado, ou inexistir
autuação administrativa ambiental por infração a padrões de emissão de poluentes, não
impede propositura de Ação Civil Pública com a finalidade de estancar poluição,
determinar, restringir ou vedar comportamento e reparar eventuais danos materiais e
morais ao meio ambiente e às pessoas, sobretudo em polo industrial ou aglomeração
de fontes múltiplas, capazes, por força do adensamento, de interagir entre si e de causar
efeitos cumulativos e sinérgicos.
3. A jurisprudência do STJ consolidou-se favoravelmente a que a simples possibilidade
do exercício do poder de polícia e da executoriedade dos atos administrativos não
impede o acesso ao Poder Judiciário nem implica ausência do interesse de agir. Nesse
sentido: AgRg no REsp 1.396.306/PE, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda
Turma, DJe de 20.10.2014; REsp 1.366.338/SP, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 20.4.2015; REsp 265.300/MG, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJ de 21.9.2006.
5. Recurso Especial não provido.
(REsp 1635468/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/12/2016, DJe 26/08/2020)
AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RECURSOS ESPECIAIS. ÁREA URBANA.
GUARULHOS. CÓDIGO FLORESTAL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.
APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL FEDERAL À ZONA URBANA DOS MUNICÍPIOS.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA DE MENÇÃO A DISPOSITIVOS REPUTADOS
VIOLADOS. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO VERIFICADO. ANÁLISE DE DISPOSITIVOS E
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS INVIÁVEL EM RECURSO ESPECIAL.
1. O Enunciado Administrativo 2, aprovado pelo Plenário do Superior Tribunal de Justiça
em 9/3/2016, dispõe: "Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973
(relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os
requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até
então, pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça." 2. Quanto ao apelo do
Município de Guarulhos, é inadmissível Recurso Especial quanto a questão inapreciada
pelo Tribunal de origem, a despeito da oposição de Embargos Declaratórios, nos termos
do Enunciado 211 da Súmula deste Tribunal. Ademais, tampouco se pode conhecer do
Recurso Especial da Municipalidade em decorrência da ausência de indicação clara dos
dispositivos legais violados. A cognição dos recursos excepcionais é distinta daquela de
que goza a Apelação. Atua-se, em âmbito excepcional, à luz da moldura fática delineada
soberanamente pelo órgão julgador, considerando-se as premissas constantes do
acórdão vergastado. Incide, neste ponto, a Súmula 7 do STJ, que veda o reexame de
fatos e provas.
3. No Recurso Especial interposto pelo particular não houve prequestionamento dos
dispositivos apontados como violados. Quanto ao dissídio jurisprudencial, embora haja
similitude fática, não foram adotadas, entretanto, teses jurídicas opostas.
4. É inviável a apreciação de afronta a dispositivos e princípios constitucionais, sob pena
de usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal. Precedentes do STJ.
5. A jurisprudência do STJ considera aplicável a legislação ambiental à área urbana.
6. Recurso Especial do Município de Guarulhos não conhecido; negado provimento ao
recurso de Luiz Antonio Cezar; julgada prejudicada a análise do pedido de concessão de
efeito suspensivo ao recurso das fls. 866/902.
(REsp 1640053/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/12/2016, DJe 28/08/2020)
AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TUTELA ANTECIPADA. AVERBAÇÃO DE ÁREA DE
RESERVA LEGAL EM PROPRIEDADE RURAL. NECESSIDADE ANTE A IMPOSIÇÃO LEGAL.
SUPERVENIÊNCIA DOS ARTS. 12, CAPUT E PARÁGRAFOS 6°, 7° e 8°, E 18, § 4º, DO NOVO
CÓDIGO FLORESTAL (LEI 12.651/2012).
OBRIGATORIEDADE DA RESERVA LEGAL. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. "A existência da área de Reserva Legal no âmbito das propriedades rurais caracteriza-
se como uma limitação administrativa necessária à tutela do meio ambiente para as
presentes e futuras gerações e em harmonia com a função social da propriedade, o que
legitima haver restrições aos direitos individuais em benefício dos interesses de toda a
coletividade." (REsp 1.276.114/MG, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA,
DJe de 11.10.2016).
2. A demarcação da área de reserva legal em imóvel rural resulta de imposição legal,
decorrente da aplicação do § 4º do art. 18 da Lei 12.651/2012, e independe, portanto,
da comprovação de ocorrência ou de ameaça de dano ambiental. Consoante informou
o recorrente, à época da propositura da ação, o Cadastro Ambiental Rural ainda não
havia sido implantado, de modo que não há falar, no caso dos autos, em dispensa da
averbação da área de reserva legal no respectivo registro do imóvel.
3. Recurso Especial provido.
(REsp 1533194/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/12/2016, DJe 28/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ÁREA NON AEDIFICANDI. ÁREA DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE - APP. RESTINGA. DANO ECOLÓGICO. DISPENSA DE PROVA
TÉCNICA DA LESIVIDADE DA CONDUTA. OBRIGAÇÃO DE FAZER E PAGAR QUANTIA.
POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO. LAGOA DO CAPRI. RETIRADA DE RAMPA DE ACESSO E
TRAPICHE. COMPETÊNCIA DO STF PARA ANÁLISE DE QUESTÃO CONSTITUCIONAL.
REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7 DO STJ.
1. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal
contra Thomas Andreas Huber, a União, o Município de São Francisco do Sul e o órgão
ambiental estadual - FATMA. Como se dessume da petição inicial, o primeiro réu
construiu benfeitorias em terreno de acrescido de marinha e praia, sem autorização dos
órgãos competentes. Os peritos indicam que a área, objeto da lide, está totalmente em
Área de Preservação Permanente - APP, porquanto se constitui em local de ocorrência
de restinga.
2. Induvidosa a prescrição do legislador no que se refere à posição intangível e ao caráter
non aedificandi da Área de Preservação Permanente - APP, nela interditando ocupação
ou construção, com pouquíssimas exceções (casos de utilidade pública e interesse
social), submetidas a licenciamento administrativo. Precedente em situação análoga e
da mesma região costeira: "o Código Florestal qualifica como área de preservação
permanente (APP) não o acidente topográfico em si, mas a vegetação de restinga que lá
se faz presente" (REsp 1.462.208/SC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,
DJe de 6.4.2015). Necessidade de restauração da área degradada. Precedentes: AgRg no
REsp 1.367.968/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 12.3.2014;
REsp 1394025/MS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe de 18.10.2013;
AgRg no AREsp 327.687/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de
26.82013; REsp 1.307.938/GO, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe
16.9.2014; EDcl no Ag 1.224.056/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda
Turma, DJe de 6.8.2010); AgRg no REsp 1.206.484/SP, Rel. Ministro Humberto Martins,
Segunda Turma, DJe de 29.3.2011, REsp 1.175.907/MG e Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe de 25.9.2014.
3. A cumulação de obrigação de fazer, de não fazer e pagar não configura bis in idem,
porquanto a indenização, em vez de considerar lesão específica já ecologicamente
restaurada ou a ser restaurada, põe o foco em parcela do dano que, embora causada
pelo mesmo comportamento pretérito do agente, apresenta efeitos deletérios de cunho
futuro, irreparável ou intangível. Precedentes: REsp 1.382.999/SC, Rel. Ministro
Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 18.9.2014; REsp 1.307.938/GO, Rel. Ministro
Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe de 16.9.2014; REsp 1.227.139/MG, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe de 13.4.2012; REsp 1.115.555/MG, Rel.
Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe de 23.2.2011.
4. Recurso Especial da União não conhecido; conhecido em parte o recurso de Thomas
Andreas Huber e, nessa parte, não provido; Recurso Especial do Ministério Público
Federal provido.
(REsp 1541611/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/12/2016, DJe 28/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CONSERVAÇÃO DAS PALMEIRAS
BRASILEIRAS. OBRIGAÇÃO DE RELEVANTE INTERESSE AMBIENTAL. PROTEÇÃO ESPECIAL
DOS ECÓTONOS. PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL. AMAZÔNIA.
INTERPRETAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO E LICENÇA AMBIENTAL. DESMATAMENTO ILEGAL DE
EXTENSA FLORESTA DE BABAÇU. NATUREZA PENAL E ADMINISTRATIVA DA LEI
9.605/1998.
1. Cuida-se, na origem, de Embargos à Execução Fiscal de multa administrativa por
infração à legislação ambiental consistente em desmatamento ilegal de
aproximadamente 216 hectares de Floresta de Babaçu, na Amazônia Legal, em imóvel
localizado no Município de Coroatá, Estado do Maranhão. O Juiz do primeiro grau julgou
improcedentes os Embargos à Execução. O Tribunal de origem deu parcial provimento
à Apelação apenas para reduzir a verba de honorários.
2. No Brasil, as palmeiras ocupam, na perspectiva da ciência, da cultura e do Direito,
lugar de realce, quer pela função biológica no ecossistema, quer pela função social no
cotidiano das pessoas e na organização econômica, mormente a economia de
subsistência. O chamado babaçu verdadeiro (Attalea speciosa Mart. ex Spreng) é uma
palmeira oleaginosa que assume prestígio de espécie icônica, nobreza que determina,
esteja ou não em floresta primária, elevadíssimo patamar de garantia jurídica -
administrativa e judicial -, que a diferencia e aparta das tipologias comuns da flora
nativa. Tal proteção sui generis independe de utilização atual de suas potencialidades
econômicas, pois também deriva da proeminência de valores imateriais de ordem
ecológica e cultural intrínsecos à espécie em si mesma.
3. Segundo a jurisprudência pacífica do STJ, a Lei 9.605/1998 dispõe sobre tipos de
infrações e de sanções simultaneamente criminais e administrativos. Aqueles são de
competência do juiz criminal; estes, diferentemente, se inserem no âmbito do poder de
polícia ambiental da autoridade administrativa. A imposição concomitante das duas
modalidades de pena não configura bis in idem.
4. Autorização e licença ambiental para uso de recurso natural ou intervenção no meio
ambiente devem ser interpretadas restritivamente quanto ao exercício de direitos que
proporcionam ao requerente.
Exigem, ademais, cumprimento leal dos limites e condicionantes prescritos, vedado ao
administrado, a seu talante, ampliar ou modificar o grau de exploração ou encargos
estabelecidos no ato administrativo ou na legislação. Assim, p. ex., quem conta com
autorização para queima controlada de pasto não pode desmatar ou incendiar floresta
e, muito menos, árvores e vegetação especialmente protegidas. Não custa lembrar que
espécie declarada imune a corte acha-se estrita e permanentemente protegida,
inclusive contra dano colateral, p. ex., avanço de queima controlada.
5. No mais, verifica-se que o recorrente deixou de indicar, de forma inequívoca, os
dispositivos legais supostamente violados pelo acórdão impugnado, o que caracteriza
deficiência na fundamentação recursal, nos termos da Súmula 284 do Supremo Tribunal
Federal.
6. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nesta parte, não provido.
(REsp 1533234/SE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/12/2016, DJe 28/08/2020)
ADMINISTRATIVO. LOTEAMENTO. REGULARIZAÇÃO. ART. 40, § 5º, DA LEI LEHMANN (LEI
6.766/1979). ATIVIDADE VINCULADA. ART. 2º, I E VI, "C", DO ESTATUTO DA CIDADE (LEI
10.257/2001). DEVER-PODER MUNICIPAL LIMITADO A OBRAS ESSENCIAIS.
1. Segundo a jurisprudência do STJ, o termo "poderá", utilizado no art. 40 da Lei
6.766/1999, indica, na verdade, dever-poder do Município, ao qual, sem prejuízo das
obrigações pessoais dos sujeitos responsáveis por ilícitos praticados (inclusive
administradores públicos omissos), incumbe concluir as obras necessárias para a
regularização de loteamento. Em rigor, o dever do Município não se restringe a
regularizar loteamento incompleto, nem decorre essencial ou exclusivamente de
prescrição da Lei Lehmann (Lei 6.766/1979).
2. No Direito Urbanístico brasileiro, há dever inafastável do Município de regularizar
loteamentos, inexistindo margem para discricionariedade. O dever-poder, contudo, não
é absoluto, nem mecânico ou cego, competindo à autoridade municipal cumpri-lo na
forma dos padrões urbanístico-ambientais estabelecidos nas legislações local, estadual
e federal. E, naquelas hipóteses em que óbices legais instransponíveis impeçam, de
maneira absoluta, qualquer regularização, a única solução possível será a remoção dos
ocupantes, de modo a garantir habitação digna que respeite as exigências legais.
3. É encargo inafastável do Município promover a ocupação ordenada do solo urbano,
consoante previsão do art. 30, VIII, da Constituição. O dever de realizar o asfaltamento
das vias, a implementação de iluminação pública, redes de energia, água e esgoto,
calçamento de ruas, etc., refere-se a todo o território do ente político, e não apenas a
esses loteamentos incompletos, a fim de "garantir o bem-estar de seus habitantes", nos
termos do Plano Diretor e da legislação urbanística, conforme o art. 182 da CF,
atendendo-se aos mais carentes em primeiro lugar.
4. No âmbito infraconstitucional, a atuação do governo local deve buscar garantir o
"direito a cidades sustentáveis" e evitar o parcelamento do solo de forma inadequada
em relação à infraestrutura urbana, segundo determina o art. 2º, I e VI, "c", do Estatuto
da Cidade. O dever de regularizar loteamentos há de ser interpretado à luz dessas
disposições constitucionais e legais. A omissão do loteador não gera, por si só,
prioridade incondicional e automática no confronto com outras demandas
preexistentes e relativas à malha urbana. Seria desarrazoado interpretar a lei federal de
tal modo a ponto de nela enxergar uma garantia de "fura-fila" no atendimento das
carências sociais, sobretudo se, para solucionar as eventualmente judicializadas, acabar
por desamparar os mais pobres, com igual precisão urbanístico-ambiental.
5. O art. 40, § 5º, da Lei Lehmann determina que a regularização dos loteamentos deve
observar as diretrizes fixadas pela legislação urbanística, sendo inviável impor ao
Município descumprimento de suas próprias leis (quando, por exemplo, proíbe a
ocupação de certas áreas de risco) por conta tão só de comportamento criminoso do
loteador.
6. Evidentemente, ao Poder Judiciário não compete, pois seria um despropósito,
determinar, sem previsão legal expressa, regularização de loteamento clandestino (não
aprovado pelo Município) em terrenos que ofereçam perigo imediato para os
moradores lá instalados, assim como daqueles estejam em Áreas de Preservação
Permanente, de proteção de mananciais de abastecimento público, ou mesmo fora do
limite de expansão urbana fixada nos termos dos padrões de desenvolvimento local. A
invervenção judicial, nessas circunstâncias, faz-se na linha de exigir do Poder Público a
remoção das pessoas alojadas nesses lugares insalubres, impróprios ou inóspitos,
assegurando-lhes habitação digna e segura - o verdadeiro direito a cidade.
7. Mesmo na hipótese de loteamentos irregulares (aprovados, mas não inscritos ou
executados adequadamente), a obrigação do Poder Público restringe-se a oferecer
infraestrutura para inseri-los na malha urbana, como ruas, esgoto, iluminação pública
etc., de modo a atender aos moradores já instalados, sem prejuízo do também dever-
poder de cobrar dos responsáveis os custos decorrentes de sua atuação saneadora.
8. Mais importante que discutir se há discricionariedade ou dever-poder de regularizar
loteamentos (e, sem dúvida, dever-poder existe!) é reconhecer que a atuação da
Prefeitura não serve para beneficiar o loteador faltoso. Sem falar que vai muito além de
garantir os direitos dos adquirentes de lotes prejudicados pela omissão, pois incumbe
ao Administrador, também por força de lei, considerar a cidade como um todo e os
direitos dos outros munícipes à qualidade urbanístico-ambiental.
9. O que deve orientar a atuação do Município é, essencialmente, o interesse coletivo
na observância aos "padrões de desenvolvimento urbano" (art. 40, caput, in fine, da Lei
Lehmann), para cumprir as "funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes" (art. 182, caput, da CF). Isso, como é fácil perceber, nem sempre é
observado ao se impor ao Município, simples e automaticamente, imediata
regularização de um dado loteamento, quando houver situações, mais graves e
urgentes, de degradação urbana e da dignidade da pessoa humana em outros bolsões
de pobreza.
10. Descabe compelir o Município a proceder ao asfaltamento, por exemplo, de
condomínio de veraneio ou de classe média se as ruas da cidade, que servem
diariamente os moradores permanentes ou os em pobreza extrema, não possuem esse
melhoramento. Inviável ainda obrigá-lo a implantar calçadas e vias em condomínio de
luxo, apenas porque o loteamento não foi completado, se o restante da cidade, onde
moram os menos afortunados, não conta com iluminação pública ou esgotamento
sanitário. Em síntese, o juiz dos fatos haverá, na apuração da responsabilidade estatal,
de estar atento a esses conflitos para definir, entre as prioridades urbanístico-
ambientais, o que é mais importante.
11. Compete ao governo local implementar sua legislação urbanística, em especial seu
Plano Diretor, à luz das diretrizes constitucionais.
São elas que, no atacado, determinam as prioridades e orientam o direcionamento dos
recursos públicos, previstos na legislação orçamentária. Nesse contexto, a intervenção
do Judiciário, para determinar a atuação da Prefeitura, caberia apenas na hipótese de
descumprimento das políticas urbanísticas locais, conforme traçadas nas normas
aplicáveis.
12. O correto é as instâncias ordinárias examinarem as obras a serem realizadas. Pode
tratar-se de melhorias necessárias, como ruas e iluminação pública para servir aos
loteamentos já ocupados por moradores, hipótese em que caberia ao Município
implementá-las. Mas também se pode estar a se referir a vias que atendam lotes ainda
não comercializados ou a outras obras não essenciais previstas no loteamento
aprovado, mas inexistentes no restante da malha urbana, cuja implantação não pode,
nem deve, ser imposta ao Poder Público.
13. Na hipótese dos autos, impossível afastar peremptoriamente a responsabilidade do
Município, devendo esse ser condenado a realizar somente as obras essenciais a serem
implantadas, em conformidade com a legislação urbanística local (art. 40, § 5º, da Lei
Lehmann).
In casu, o Município de Soledade foi condenado subsidiariamente "a providenciar a
edificação das obras de infraestrutura habitacional: pavimentação viária, tubulação
(águas fluviais, inclusive sanitárias) e iluminação, nos exatos termos da Lei 6.766/79".
Portanto o acórdão recorrido não merece reparo.
14. Recurso Especial não provido.
(REsp 1616348/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/12/2016, DJe 28/08/2020)
DIREITO AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEIO AMBIENTE.
DESMATAMENTO DE ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. MATA ATLÂNTICA.
OBRIGAÇÃO DE FAZER E PAGAR QUANTIA. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO. EXISTÊNCIA
DE DANO MORAL COLETIVO AMBIENTAL.
1. Trata-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público estadual
em virtude de desmatamento de Área de Preservação Permanente em mata nativa, no
Município de Mariana/MG. O Parquet pede a condenação do infrator a reflorestar e a
pagar indenização pelos danos causados ao meio ambiente. O ato ilícito, o seu nexo de
causalidade e os danos ambientais foram constatados nos autos, portanto não existem
dúvidas de que ocorreram.
2. A cumulação de obrigação de fazer, de não fazer e pagar não configura bis in idem,
porquanto a indenização, inclusive pelo dano moral coletivo, em vez de considerar lesão
específica já ecologicamente restaurada ou a ser restaurada, põe o foco em parcela do
dano que, embora causada pelo mesmo comportamento pretérito do agente, apresenta
efeitos deletérios de cunho futuro, irreparável ou intangível. Precedentes: REsp
1.328.753/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe de 3/2/2015; REsp
1.382.999/SC, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 18.9.2014; REsp 1.307.938/GO, Rel.
Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe de 16.9.2014; REsp 1.227.139/MG,
Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe de 13.4.2012; REsp 1.115.555/MG,
Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe de 23.2.2011.
3. Recurso Especial provido.
(REsp 1635451/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/12/2016, DJe 28/08/2020)
RECURSO ESPECIAL. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. DANOS CAUSADOS À BIOTA. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 4º, VII, E 14, §
1º, DA LEI 6.938/1981 E DO ART. 3º DA LEI 7.347/1985.
CONDENAÇÃO DOS REÚS EM HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. IMPOSSIBILIDADE.
1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta com o fito de obter recuperação da
Área de Preservação Permanente degradada e condenação ao pagamento de
indenização pelos danos causados aos interesses difusos. O Tribunal a quo entendeu
que não é possível cumular as obrigações de recompor e de indenizar.
2. A jurisprudência do STJ está consolidada no sentido da viabilidade, no âmbito da Lei
7.347/1985 e da Lei 6.938/1981, de cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e
de indenizar.
Precedentes do STJ.
3. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que,
quando a Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público for julgada procedente,
descabe condenar a parte vencida em honorários advocatícios. Ressalvado o ponto de
vista do Relator.
4. Recurso Especial parcialmente provido.
(REsp 1617219/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
02/02/2017, DJe 31/08/2020)
PROCESSO CIVIL. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RESERVA LEGAL.
REGISTRO NO CADASTRO AMBIENTAL RURAL ? CAR. OBRIGAÇÃO. AVERBAÇÃO.
CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público estadual
objetivando a condenação dos réus na obrigação de retirarem toda e qualquer cultura,
obra ou construção do local destinado à Reserva Legal, não realizarem plantios,
desmates ou colocarem animais, instituírem e averbarem a Reserva Florestal em sua
propriedade rural, apresentarem planta em meio digital da propriedade, recomporem a
cobertura vegetal, entre outros pedidos. O Juiz do primeiro grau julgou parcialmente
procedente o pedido. O Tribunal a quo negou provimento à Apelação dos ora
recorrentes, mantendo a sentença.
2. "De acordo com a jurisprudência do STJ, a obrigação de demarcar, averbar e restaurar
a área de reserva legal constitui-se uma obrigação propter rem, que se transfere
automaticamente ao adquirente ou ao possuidor do imóvel rural. Esse dever jurídico
independe da existência de floresta ou outras formas de vegetação nativa na gleba,
cumprindo-lhes, caso necessário, a adoção das providências essenciais à restauração ou
à recuperação das mesmas, a fim de readequar-se aos limites percentuais previstos na
lei de regência." (REsp 1.276.114/MG, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe
de 11/10/2016).
3. Recurso Especial não provido.
(REsp 1635392/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
07/02/2017, DJe 31/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LOTEAMENTO PRAIA DO IBIRAQUERA. ÁREA
NON AEDIFICANDI. IMPOSSIBILIDADE DE AJUIZAMENTO DE EMBARGOS DE TERCEIRO
FORA DAS HIPÓTESES PREVISTAS NO DISPOSITIVO LEGAL. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. COMPETÊNCIA DO STF PARA APRECIAR
VIOLAÇÃO DE PRECEITO CONSTITUCIONAL.
1. Cuida-se de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal com o escopo
de obrigar os proprietários de terrenos no Loteamento Praia de Ibiraquera, Município
de Imbituba/SC, a requererem autorização judicial para construir ou reformar seus
imóveis, pois estão localizados em área non aedificandi.
2. A sentença proibiu o Município e os órgãos ambientais de procederem ao
licenciamento ou autorização de qualquer obra ou reforma nos imóveis sem autorização
judicial. O Tribunal regional, confirmando a sentença que indeferiu a petição inicial dos
Embargos de Terceiro, concluiu que não houve ato de apreensão judicial nem prática de
qualquer dos atos mencionados no art. 1.046 do CPC de 1973 que justificasse o
ajuizamento da demanda.
3. Realmente, os Embargos de Terceiro, conforme disposto no art.
1.046 do CPC de 1973, poderão ser opostos por quem, não sendo parte no processo,
sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão judicial em casos
como o de penhora, depósito, arresto, sequestro, alienação judicial, arrecadação,
arrolamento, inventário ou partilha, o que não se verifica neste processo.
4. Por outro lado, a indicada afronta ao art. 47 do CPC e ao art. 16 da Lei 7.347/1985 não
pode ser analisada, pois o Tribunal de origem não emitiu juízo de valor sobre esses
dispositivos legais. O Superior Tribunal de Justiça entende ser inviável o conhecimento
do Recurso Especial quando os artigos tidos por violados não foram apreciados pelo
Tribunal a quo, a despeito da oposição de Embargos de Declaração, haja vista a ausência
do requisito do prequestionamento. Incide, na espécie, a Súmula 211/STJ.
5. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1635006/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
14/03/2017, DJe 31/08/2020)
AMBIENTAL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ART. 2º DO CÓDIGO FLORESTAL DE
1965. EDIFICAÇÃO QUE NÃO RESPEITA DISTÂNCIA MÍNIMA DE CURSO DE ÁGUA.
APLICABILIDADE DA LEGISLAÇÃO FLORESTAL AO MEIO URBANO.
1. Na origem, trata-se de Ação Civil Pública promovida pelo Ministério Público Federal,
tendo em vista a construção de edifício residencial à beira-mar, em Santo Antônio de
Lisboa, local apontado como "vilazinha açoriana preservada", na ilha de Florianópolis,
Santa Catarina, o qual, por estar situado a menos de 30 metros de curso d´água,
configuraria, na hipótese dos autos, Área de Preservação Permanente, nos termos do
art. 2º, "a", 1, do Código Florestal de 1965. À ação do MPF aderiram, como assistentes
litisconsorciais, a União, o Ibama, a Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa
Catarina - Fatma - e a Associação dos Moradores de Santo Antônio de Lisboa.
2. O empreendimento contou, de início, com licença concedida pelo órgão ambiental
catarinense (Fatma), posteriormente cassada por este ter constatado curso d'água
natural com existência omitida pela empresa, o qual, embora poluído parcialmente e
tamponado, poderia ser recuperado.
3. Julgou-se procedente a Ação Civil Pública na primeira instância, tendo sido reformada
a sentença, por maioria, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Oferecidos
Embargos Infringentes, a decisão favorável à construtora foi mantida, novamente por
maioria, vencida a Des. Federal Marga Tessler.
4. Não se pode conhecer do recurso da União, diante da inexistência de
prequestionamento dos dispositivos ditos violados. Registro que a União nem sequer
ofereceu Embargos de Declaração buscando seu exame.
5. A autarquia ambiental não tem legitimidade para alegar violação ao art. 535 do
CPC/1973, pois ela não apresentou Embargos de Declaração contra o acórdão do
Tribunal a quo, tendo também decaído do direito de alegar omissão no julgamento.
Ainda que se admitisse que os Embargos de Declaração opostos pelo MPF poderiam ser
aproveitados pelo Ibama, não seria o caso de provê-los, pois inexiste omissão.
6. Assim, pode-se conhecer do Recurso Especial do Ibama, como do recurso do MPF,
apenas quanto à alegação de violação ao art. 2º, "a", 1, da Lei 4.771/1965.
Jurisprudência pacífica do STJ sobre a aplicação do Código Florestal às áreas urbanas 7.
Já na sua própria ementa, curta, o acórdão recorrido indica a premissa hermenêutica e
o fundamento jurídico para o decisum, ao afirmar que não se trata "de área de
preservação permanente, tendo em vista ser inaplicável ao caso o Código Florestal, que
assim define as áreas 'de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez)
metros de largura' (art. 2°, a, 1, da Lei 4.771/65), uma vez que se trata de área urbana,
cujas peculiaridades devem ser levadas em consideração ao se aplicar a legislação
florestal" (e-STJ fl. 1185, grifo acrescentado). No voto em si, sustenta que o Código
Florestal, "em sua concepção, não é vocacionado a regular as áreas verdes urbanas",
afastando, sua aplicação no caso concreto.
8. A questão da aplicação do Código Florestal às àreas urbanas está pacificada no STJ em
sentido oposto ao do acórdão recorrido: "Os imóveis situados nas zonas urbanas não
devem estar fora do alcance do Código Florestal, permitindo a eles o indiscriminado
dano ao meio ambiente." (REsp 1.589.408/SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira
Turma, DJe 2/6/2016, grifo acrescentado). Nesse sentido: RMS 8.766/PR, Rel. Ministro
Francisco Peçanha Martins, Segunda Turma, DJ 17/5/1999; RMS 9.629/PR, Rel. Ministro
Demócrito Reinaldo, Primeira Turma, DJ 1º/2/1999; REsp 1.113.789/SP, Rel. Ministro
Castro Meira, Segunda Turma, DJe 29/6/2009.
9. Cite-se, ainda, outro precedente mais recente: "em se tratando de área de
preservação permanente, qual seja, a margem de rio, deve ser respeitado o limite
previsto na legislação ambiental, para construção de imóvel. A Lei n. 4.771/1965 deve
ser aplicada em parcimônia com o Código Florestal, não se excluindo a aplicação daquela
pelo simples fato de o imóvel estar localizado em zona urbana." (REsp 1.290.434, Rel.
Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 05/05/2016, grifo acrescentado).
10. O parágrafo único do art. 2º do Código Florestal de 1965 explicitamente estabelecia
sua aplicabilidade às áreas urbanas, o que não foi alterado pelo art. 4º do Código de
2012.
Conclusão 11. Recurso Especial da União não conhecido. Recursos Especiais do Ibama e
do MPF conhecidos em parte e, nessa parte, parcialmente providos.
(REsp 1162410/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
02/05/2017, DJe 15/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. ART. 1º, CAPUT, DA LEI DE PROTEÇÃO À FAUNA (LEI 5.197/1967).
ART. 20, CAPUT, DA CONVENÇÃO SOBRE COMÉRCIO INTERNACIONAL DAS ESPÉCIES DA
FLORA E FAUNA SILVESTRES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO (CITES). USO DE CHIMPANZÉ EM
ANÚNCIO COMERCIAL. PUBLICIDADE ABUSIVA EM TESE. ART. 37, § 2º, DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR (LEI 8.078/1990).
1. Cuida-se de Ação Civil Pública proposta pelo Ibama contra a Pepsico com o escopo de
condená-la a obrigação de não fazer e ao pagamento de indenização por danos
ambientais em razão de ter feito campanha publicitária na televisão "na qual dois
chimpanzés ingeriam, durante seis semanas, os refrigerantes coca cola e pepsi cola,
sendo que, ao final da experiência, o que ingeriu pepsi cola aparecia dirigindo um carro
em uma praia, acompanhado de várias mulheres. Posteriormente, veiculou a pepsico
novo vídeo, no qual o chimpanzé aparecia sambando, novamente rodeado de
mulheres".
2. Na Lei de Proteção à Fauna (Lei 5.197/1967), a expressão animais "que vivem
naturalmente fora do cativeiro" (art. 1º, caput) inclui tanto os que se acham em
liberdade, como aqueles que, devendo permanecer livres, estão ilegalmente
aprisionados fora de seu habitat. Ademais, cumpre lembrar que, consoante o art. 35, §
2º, do mesmo estatuto, os meios de comunicação, tanto mais os que operam sob regime
de concessão, têm o dever de informar e educar sua audiência, particularmente crianças
e adolescentes, sobre a importância da proteção da fauna, exatamente o oposto de
anúncios comerciais que, mesmo sem envolverem maus-tratos, desinformam e
deseducam ao humanizar animais silvestres e banalizar sua guarda e exploração, uso
impróprio que incita desejos de posse e, assim, pode estimular o tráfico nacional e
internacional. Realce-se que a prova de procedência lícita incumbe a quem detém a
guarda do animal, constatação cabal sempre de rigor até porque "os exemplares vivos
pertencentes à fauna silvestre exótica, que tenham ingressado no País ou que tenha sido
tentado seu ingresso sem Licença ou Certificado CITES, deverão ser devolvidos ao país
exportador" (art.
20, caput, da Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna
Selvagens em Perigo de Extinção - CITES, da qual o Brasil é signatário).
2. Nos termos do art. 37, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor, em tese caracteriza
publicidade abusiva - que "desrespeita valores ambientais" - o uso em anúncio comercial
de animal ameaçado de extinção, integrante do Anexo I da CITES, indiferente que seja
da fauna brasileira ou exótica, ou criado em cativeiro. Todavia, a afronta à Lei
8.078/1990 não pode, in casu, ser analisada, pois o Tribunal de origem não emitiu juízo
de valor sobre o dispositivo legal invocado, que nem sequer foi objeto da Apelação.
Incide, assim, a Súmula 211/STJ.
3. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1549459/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
09/05/2017, DJe 01/09/2020)
RECURSOS ESPECIAIS. DIREITO AMBIENTAL. OFENSA AOS ARTS. 293 302 E 324 DO
CPC/1973, 21 DA LEI 7.347/1985 E 6º, VIII, DA LEI 8.078/1990.
SÚMULA 211/STJ. ART. 295, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC/1973.
INEXISTÊNCIA DE INÉPCIA. CONTROVÉRSIA BEM DELIMITADA. ART. 286 DO CPC/1973.
PEDIDO GENÉRICO. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE OFENSA AOS ARTS. 5º DA LEI
7.347/1985, 128, 315, CAPUT, PARÁGRAFO ÚNICO, E 460 DO CPC/1973.
1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública ajuizada, após meses de tentivas de
composição amigável, pelo Ibama contra usina de açúcar visando, no essencial,
determinar à empresa que proceda ao licenciamento de sua atividade agrícola, à
averbação da Reserva Legal e à recuperação das Áreas de Preservação Permanente.
2. O Tribunal de origem ressalta que a empresa "atua desde 1887, sendo precedida de
engenhos que já exploravam a atividade agrícola de plantio de cana de açúcar desde a
época colonial", parecendo indicar que o Código Florestal não se aplicaria na espécie,
no que contrariaria, de forma frontal, a jurisprudência pacífica do STJ.
Entendeu, ainda, que "a menção genérica à recuperação da área supostamente
degradada e à condenação ao pagamento de uma indenização e à compensação
ambiental se revela inconsistente e imprecisa, não se podendo identificar,
razoavelmente, a causa de pedir e o o respaldo jurídico da súplica". Conclui que a
petição, no que tange à Reserva Legal e APPs, não "evidencia o parâmetro temporal a
ser observado, para tal providência". Tudo para decidir pela inépcia da inicial.
3. Acerca da alegada violação dos arts. 286 (pedido genérico) e 295, parágrafo único
(inépcia da petição inicial), do CPC/1973, a irresignação do Ibama merece prosperar.
4. A petição da Ação Civil Pública ambiental deve identificar os pedidos (p. ex.,
desocupação de espaço protegido, reparação e compensação por eventuais danos
causados) e as causas de pedir (p.
ex., exploração ilegal de Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal). A
extensão, gravidade e localização exata da ocupação e exploração indevidas são o objeto
principal da instrução judicial no processo de conhecimento, com produção de prova
pericial, ocorrendo, amiúde, que isso se dê somente na fase de liquidação ou
cumprimento de sentença. Foi exatamente essa a técnica descritiva utilizada pelo Ibama
na sua longa e minuciosa petição inicial (basta, para se constatar, que se confiram os
itens I, IV, V e VII da peça), donde descabido falar em inépcia da exordial.
5. Mesmo que se admita ser o pedido genérico (o que não procede), ainda assim a inicial
não poderia ser considerada inepta, pois seria caso de se admitir sua formulação nesses
termos, por impossibilidade de apresentação de pedido líquido. Como se sabe, o STJ
admite formulação de pedido genérico diante da impossibilidade de imediata
mensuração do quantum debeatur ou da necessidade de prova complexa, de natureza
técnica, bem como nas hipóteses de dano moral. Nesse sentido: REsp 1120117/AC, Rel.
Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 10.11.2009, DJe 19.11.2009; REsp
1.534.559/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 22.11.2016, DJe
21.12.2016; REsp 764.820/MG, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em
24.10.2006, DJ 20.11.2006, p. 280;
AgRg no Ag 1.300.075/SP, Rel. Ministro Massami Uyeda, Terceira Turma, julgado em
3.8.2010, DJe 18.8.2010.
6. Recurso Especial do Ibama parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. Recurso
Especial da Usina Trapiche não provido.
(REsp 1597833/PE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
18/05/2017, DJe 09/09/2020)
AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MORTANDADE DE PEIXES NO
RIO PARANÁ. RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL. ARTIGOS 3º, II E IV, E 14, § 1º, DA
LEI 6.938/1981. NEXO DE CAUSALIDADE COMPROVADO. FECHAMENTO ABRUPTO DAS
COMPORTAS DA USINA HIDRELÉTRICA DE JUPIÁ E A MORTE DE PEIXES. REVISÃO DOS
ASPECTOS FÁTICOS ENVOLVIDOS. IMPOSSIBILIDADE. ÓBICE DA SÚMULA 7 DO STJ.
1. Na Ação Civil Pública alega-se que a Usina Hidrelétrica de Jupiá fechou de maneira
brusca suas comportas, acarretando o rápido rebaixamento do nível de vazâo d´água,
fazendo com que se formasse o denominado "sequeiro" (poças de água), o que
ocasionou a mortandade de toneladas de peixes no Rio Paraná. Daí o pedido de
repovoamento com alevinos e proibição de fechamento brusco das comportas.
2. Possuir o empreendedor licenciado programas de mitigação ou compensação de
danos ambientais não lhe dá salvo conduto para praticar impunemente novas
degradações ou agravar as ínsitas à operação, em si, do empreendimento ou atividade.
Tais programas referem-se, normalmente, a impactos ambientais negativos pretéritos,
instantâneos ou de efeitos permanentes, associados à implantação do projeto,
apresentando, assim, gênese retrospectiva. Consoante a Lei 6.928/81, "é o poluidor
obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade" (art. 14, § 1º). O
conceito de poluidor é, ex lege, o "responsável, direta ou indiretamente, por atividade
causadora de degradação ambiental" (art. 3º, IV). Na mesma toada, a noção de
degradação ambiental vem prescrita ope legis: "alteração adversa das características do
meio ambiente" (art. 3º, II). Logo, neste tema não há mistérios a serem desvendados,
nem espaço para construções teóricas esotéricas ou cerebrinas, que mais confundem
do que propriamente esclarecem institutos, sem falar que se afastam da letra expressa
e do espírito da legislação.
3. O Tribunal de origem, com base no conjunto fático-probatório dos autos, assentou:
"A meu ver, inexiste qualquer circunstância que implique na modificação da sentença
combatida, que se mostra ungida aos contornos do conjunto probatório dos autos, uma
vez que restou provado o nexo de causalidade entre a mortandade de peixes constatada
no Rio Paraná com o fechamento abrupto das Comportas da Usina Hidrelétrica de Jupiá,
como inclusive se pode aferir da leitura do Laudo Pericial Judicial". Rever tal
entendimento, central no acórdão recorrido, implica revolvimento do conjunto fático-
probatório dos autos, o que esbarra no óbice da Súmula 7 do STJ.
4. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1666011/MS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
27/06/2017, DJe 31/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AMBIENTAL. PRAIA. BEM DA UNIÃO. ART. 10, § 3°, DA LEI
7.661/1988. BARRACA LOCALIZADA NA PRAIA DO CUMBUCO, MUNICÍPIO DE CAUCAIA,
CEARÁ. PAISAGEM. POLUIÇÃO VISUAL. ART. 405 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE
2015. PRESUNÇÃO DE LEGALIDADE, LEGITIMIDADE E VERACIDADE DE DOCUMENTO
PÚBLICO NA PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL.MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal,
ora recorrido, "em face da Barraca 'O Costa', objetivando provimento judicial que
determine: a) a imediata remoção de todos os obstáculos que impeçam o livre acesso à
área de praia; b) a proibição de realização de quaisquer obras, construções, edificações,
benfeitorias úteis, necessárias ou voluptuárias, que inovem, de qualquer forma, no
estado do restaurante; c) a imediata desocupação da barraca, com a retirada de todos
os seus apetrechos e d) a demolição e recomposição da área em que foram
implementadas tais construções". O Juiz de primeiro grau julgou procedente o pedido.
O Tribunal a quo negou provimento à Apelação da ora recorrente e assim consignou na
sua decisão: "Há nos autos vasta, documentação administrativa comprovando que a
construção se encontra em área de praia, a exemplo das, fotografias e dos Laudos
Técnicos ... Ademais, consistindo tal localização área de preservação permanente, é
vedada a realização de construção que impeça o livre acesso a tal área." 2. Com relação
à produção da prova pericial, esclareça-se que "cabe apenas às instâncias ordinárias
analisar a conveniência e necessidade de produção probatória" (REsp 1.002.366/SP, Rel.
Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 24.4.2014). Além disso, consoante o art.
405 do CPC/2015, laudo, vistoria, relatório técnico, auto de infração, certidão,
declaração e outros atos gerados por agentes de qualquer órgão do Estado possuem
presunção (relativa) de legalidade, legitimidade e veracidade, por se enquadrarem no
conceito geral de documento público. Tal qualidade jurídica inverte o ônus da prova,
sem impedir, por óbvio, a mais ampla sindicância judicial. Por outro lado, documento
público não pode ser desconstituído por prova inconclusiva, dúbia, hesitante ou vaga.
3. O conceito de praia é legalmente estabelecido (art. 10, § 3°, da Lei 7.661/1988). Praia
e duna, qualificadas como bens públicos federais, são destinadas, em perpetuidade, ao
uso comum do povo, vedada qualquer atividade ou construção, mormente privadas e
comerciais, que represente, direta ou indiretamente, obstáculo, restrição ou embaraço
à livre circulação das pessoas, ao acesso desimpedido e ao pleno gozo dos seus atributos
naturais. Também estão, na perspectiva ambiental, protegidas estritamente, tanto na
feição geomorfológica como na da biodiversidade e paisagem, inclusive e especialmente
contra a poluição visual. O Município e o Estado não podem dispor, indiferente o
pretexto ou o tipo de instrumento, de bem componente do patrimônio público da
União.
Inscrição em Junta Comercial ou pagamento de tributo não se prestam para, pela via
transversa, regularizar ou mitigar situação de irregularidade dominial ou ambiental.
Finalmente, oferecer serviços e atender bem turistas e visitantes não autoriza, nem
legitima, degradar, comprometer ou se apropriar egoisticamente daquilo que, ope legis,
pertence à Nação brasileira, às presentes e futuras gerações.
4. Recurso Especial não provido.
(REsp 1658398/CE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
19/09/2017, DJe 31/08/2020)
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LOTEAMENTO IRREGULAR.
PARCELAMENTO DO SOLO. DESVIRTUAMENTO DO USO DE IMÓVEL RURAL. LEI
6.766/1979.
1. Trata-se de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Rio
Grande do Sul com intuito de obrigar os recorridos a regularizarem loteamento urbano.
O Tribunal de origem entendeu que, por não se tratar de zona urbana ou de expansão
urbana, incabível a obrigação do promovente ao parcelamento e do Município à
regularização do fracionamento de terra.
2. O parcelamento rural, regido pelo Decreto-Lei 58/1937, admite o fracionamento de
imóveis para fins estritamente rurais somente se: a) observado o aspecto quantitativo,
a saber, o módulo rural, variável nos Estados da Federação; e b) respeitada a finalidade,
com uso voltado para fins agrícolas, pecuários, agroindustriais ou para extrativismo. A
utilização de terreno, ainda que este possua tamanho inferior ao módulo rural e seja
carente de obras de infraestrutura e de áreas públicas, em muitos casos com finalidade
de moradia e de lazer, pode caracterizar desvirtuação da finalidade rural do imóvel e até
mesmo fraude.
3. A Lei 6.766/1979 impõe o dever de regularizar loteamentos para evitar lesão aos
padrões da cidade sustentável (dimensão urbanístico-ambiental) e defender direitos
dos adquirentes de boa fé de lotes (dimensão consumerista). Precedentes do STJ.
4. Estar a ocupação implantada na zona rural - ainda que obedecendo o módulo mínimo,
como in casu - e sem infraestrutura urbana não conduz à conclusão de que eventual
parcelamento ou "condomínio" teria, necessariamente, natureza rural. Até mesmo
porque não basta a simples e nua localização (critério locacional) para definir imóvel
como rural, ganhando relevante destaque a sua destinação econômica ou utilidade real
(critério finalístico). Precedentes do STJ.
5. Ocupação na zona rural por loteamento ou condomínio irregular, aptos a formar
núcleo urbano - com claras indicações de uso diverso da atividade rural: agrícola,
pecuário, agroindustrial ou extrativista, mesmo que para lazer -, desvirtua usos lícitos
do imóvel e caracteriza embrião para, no futuro, terceiros seguirem, no entorno, o
(péssimo) exemplo, pondo abaixo qualquer pretensão de planejamento municipal.
6. Ressalte-se que: a) a área deve ser transformada em zona de urbanização específica,
nos termos do art. 3º, caput, da Lei 6.766/1979, para que a requerida regularização seja
possível; ou b) a obrigação deve ser substituída por indenização (perdas e danos), com
desfazimento do condomínio irregular e recomposição do local ao estado anterior, caso
o Município não altere o zoneamento para zona urbana ou de expansão urbana
(mantendo assim a zona como rural).
7. Recurso Especial provido.
(REsp 1317547/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
26/09/2017, DJe 31/08/2020)
AMBIENTAL. ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. ACORDO PARA MANUTENÇÃO DO
MURO DE ARRIMO, DESDE QUE LICENCIADO PELO ÓRGÃO COMPETENTE.
LICENÇA AMBIENTAL CONCEDIDA PELO MUNICÍPIO. INADIMPLEMENTO DA AVENÇA
NÃO DEMONSTRADO. AUSÊNCIA DE OFENSA AO ART. 535 DO CPC/1973.
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DO CONTEÚDO FÁTICO-PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 7/STJ. INADMISSIBILIDADE DO RECURSO.
1. Cuida-se de inconformismo com acórdão do Tribunal de origem, que confirmou
decisum do primeiro grau, que entendeu ter havido parcial cumprimento das obrigações
de fazer executadas pela recorrente e assumidas pelo recorrido, relativas à obtenção de
licença ambiental em Área de Preservação Permanente.
2. Verifica-se que o conteúdo normativo dos dispositivos legais em questão não foi
debatido no acórdão hostilizado, apesar da oposição de Embargos de Declaração, não
tendo servido de fundamento à conclusão adotada pela Câmara Julgadora. Incide, nesse
ponto, o óbice da Súmula 211/STJ.
3. Para rever a definição do acórdão com relação ao alcance dos danos ambientais, ao
cumprimento do acordo e à regularidade da licença ambiental, imprescindível
reexaminar o conjunto fático-probatório constante dos autos, o que é vedado ao
Recurso Especial, nos termos da Súmula 7/STJ.
8. Recurso Especial conhecido parcialmente e, nesta parte, não provido.
(REsp 1666013/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/10/2017, DJe 31/08/2020)
AMBIENTAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. NOVO CÓDIGO FLORESTAL.
IRRETROATIVIDADE. APLICAÇÃO DA LEI 12.651/2012.
1. Cuida-se de inconformismo com decisum do Tribunal de origem que possibilitou a
compensação de eventuais Áreas de Preservação Permanente (APPs) em lugar
destinado a Reserva Legal, fundamentando-se no art. 15 da Lei 12.651/2012 (Código
Florestal).
2. É entendimento do STJ que não se emprega norma ambiental superveniente à época
dos fatos, de cunho material, aos processos em curso, seja para proteger o ato jurídico
perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, seja para evitar a redução
do patamar de proteção de ecossistemas frágeis sem as necessárias compensações
ambientais. Precedentes.
3. Recurso Especial provido.
(REsp 1667582/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/10/2017, DJe 31/08/2020)
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. POLUIÇÃO. RECURSOS HÍDRICOS.
LANÇAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS, SEM TRATAMENTO, NO CURSO D'ÁGUA E
NO SOLO. PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO IN INTEGRUM. ARTS.
4º, VII, E 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981 E ART. 3º DA LEI 7.347/1985.
ART. 5º DA LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL. INTERPRETAÇÃO IN DUBIO PRO
NATURA DA NORMA AMBIENTAL.
1. Os autos cuidam de Ação Civil Pública proposta com o fito de obter responsabilização
por danos ambientais causados pelo lançamento de efluentes industriais, sem
tratamento, em curso d'água e no solo. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
considerou provado o dano ambiental; porém julgou improcedente o pedido
indenizatório pelo dano ecológico pretérito e residual.
2. A jurisprudência do STJ está firmada no sentido da viabilidade, no âmbito da Lei
7.347/1985 e da Lei 6.938/1981, de cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e
de indenizar.
3. Adotado pelo Direito Ambiental brasileiro (arts. 4°, inciso VII, e 14, § 1°, da Lei
6.938/1981), o princípio da reparação in integrum deságua na exigência da
compreensão a mais ampla possível da responsabilidade civil, possibilitando a
cumulação do dever de recuperar o bem atingido ao seu estado natural anterior (=
prestação in natura) com o dever de indenizar prejuízos, inclusive o moral coletivo (=
prestação pecuniária), mesmo que por estimativa.
Reparação integral também pressupõe observar com atenção a função punitiva e
inibitória da responsabilidade civil, de modo a afastar perigosa impressão, real ou
imaginária, de que a degradação ambiental compensa, social e financeiramente.
4. Recurso Especial parcialmente provido.
(REsp 1661859/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/10/2017, DJe 31/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ILHA FLUVIAL. RIO FEDERAL.
ART. 1º, I, DA LEI 9.433/1997. CÓDIGO DE ÁGUAS (DECRETO 24.643/1934).
NECESSIDADE DE ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL - EPIA/RIMA.
ASSENTAMENTO DE AGRICULTORES EM ILHAS DO RIO PARAÍBA DO SUL. IMPACTO
REGIONAL. COMPETÊNCIA DO IBAMA PARA O LICENCIAMENTO.
FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL. SÚMULA 126/STF. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE
DISPOSITIVOS VIOLADOS. SÚMULA 284/STF.
1. Trata-se de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Federal e pelo
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro pugnando pela anulação de ato da
Comissão Estadual de Controle Ambiental que autorizou assentamento de agricultores
em ilhas situadas no Rio Paraíba do Sul.
2. Terrenos marginais, acessões e praias fluviais e lacustres seguem o regime dominial
do rio ou corpo d´água em que se encontram ou a que aderem. São, pois, ora federais,
ora estaduais, mas nunca municipais e muito menos privados. A Constituição de 1988
(arts. 20 e 26) e a Lei 9.433/1997 (Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos, art. 1º,
I) - prevista a possibilidade de outorga de uso - adotam categorização dominial
estritamente pública-binária, em oposição ao Código de Águas (Decreto 24.643/1934),
que, nesta parte, encontra-se revogado, consoante jurisprudência do STJ. No caso das
ilhas fluviais e lacustres, a sua dominialidade deixa de coincidir exatamente com a do
corpo d´água, ampliando-se as prerrogativas dos Estados (arts. 20, IV, e 26, III). Mas
mesmo assim, impossível negar o intenso e inafastável interesse da União nessas áreas
umbilicalmente atreladas ao bem federal, pois tudo o que nelas ocorrer pode afetar
direta e até de modo irreversível a qualidade de vida e ambiental do corpo d´água em si
e das populações por ele servidas.
3. O Tribunal de origem se utilizou de fundamentos constitucionais para determinar a
necessidade de prévio licenciamento pelo Ibama e de Estudo e Relatório de Impacto
Ambiental (EIA e Rima). Incide, assim, a Súmula 126 do STJ: "É inadmissível recurso
especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamento constitucional e
infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida
não manifesta recurso extraordinário." 4. A parte recorrente aponta violação ao Decreto
87.516/1982, contudo não indica o dispositivo legal que teria sido afrontado.
Portanto, está caracterizada a deficiência na fundamentação do recurso. Dessa forma,
sua pretensão esbarra no óbice da Súmula 284/STF.
5. O acórdão recorrido foi enfático em determinar a competência do Ibama para
licenciar o assentamento agrícola instalado nas ilhas fluviais do Rio Paraíba do Sul, bem
da União, pois existe interesse da autarquia federal na proteção do ecossistema em
questão.
6. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1676451/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/10/2017, DJe 31/08/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. DIREITO URBANÍSTICO. ART. 40 DA LEI 6.766/1999.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE PASSIVA DO MUNICÍPIO.
FAMÍLIAS RESIDENTES EM ÁREA DE RISCO. OCUPAÇÃO IRREGULAR. DANOS
AMBIENTAIS. MULTA DIÁRIA. DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO JUDICIAL.
MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. RECURSO ESPECIAL
NÃO PROVIDO.
1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público estadual,
ora recorrido, contra o Município de Guarulhos, ora recorrente, "visando regularização
ou desfazimento, com conseqüente reparação dos danos ambientais e urbanísticos de
área de risco com ocupações humanas." (fl. 236). O Juiz do primeiro grau julgou
procedente o pedido. O Tribunal a quo negou provimento à Apelação.
2. Padrões e posturas urbanísticos de ordenamento do território devem ser fielmente
respeitados por todos, inclusive pela Administração, cabendo-lhe, em acréscimo, dever
vinculado de fiscalizar o respeito às prescrições normativas, punir infratores e,
solidariamente em execução subsidária, reparar eventuais danos materiais e morais
causados, ressalvado seu direito de regresso. A jurisprudência do STJ é firme no sentido
"de que o Município tem o poder-dever de agir para fiscalizar e regularizar loteamento
irregular, pois é o responsável pelo parcelamento, uso e ocupação do solo urbano,
atividade essa que é vinculada, e não discricionária." (REsp 447.433/SP, Rel. Ministra
Denise Arruda, Primeira Turma, DJ de 22/6/2006, p. 178).
3. Recurso Especial não provido.
(REsp 1683004/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
16/11/2017, DJe 31/08/2020) PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL.
QUEIMA DA PALHA DE CANA-DE-AÇÚCAR. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. DANO
AMBIENTAL. AUTORIZAÇÃO PELO ÓRGÃO COMPETENTE. ÔNUS DA PROVA DE
AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA AMBIENTAL. SÚMULA 7/STJ.
1. Trata-se de Ação Civil Pública que, na origem, tomou por base reclamações de
residentes do pequeno Município de Maruim, Sergipe, com aproximadamente 16.000
habitantes.
2. Sabe-se que a queima da palha da cana-de-açúcar está sujeita ao regime do art. 27 do
Código Florestal, razão pela qual este procedimento - extremamente danoso ao meio
ambiente - é admitido somente mediante prévia autorização dos órgãos ambientais
competentes, nos termos do parágrafo único do mesmo artigo e do disposto no Decreto
2.661/1998. Para o STJ, "a palha da cana-de-açúcar está sujeita ao regime do art. 27 e
seu parágrafo do Código Florestal, razão pela qual sua queimada somente é admitida
mediante prévia autorização dos órgãos ambientais competentes, nos termos do
parágrafo único do mesmo artigo e do disposto no Decreto 2.661/98, sem prejuízo de
outras exigências constitucionais e legais inerentes à tutela ambiental, bem como da
responsabilidade civil por eventuais danos de qualquer natureza causados ao meio
ambiente e a terceiros." (EREsp 418.565/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira
Seção, DJe 13/10/2010).
3. O princípio da precaução incide sobre todos os domínios do Direito Ambiental, aí
incluídos empreendimentos e atividades urbanos e rurais, industriais, agrosilvopastoris
e de serviços. Não configura exceção, pois, a queima da palha da cana, consoante
precedente do STJ, específico no tema: "O princípio da precaução, consagrado
formalmente pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento - Rio 92 (ratificada pelo Brasil), a ausência de certezas científicas não
pode ser argumento utilizado para postergar a adoção de medidas eficazes para a
proteção ambiental. Na dúvida, prevalece a defesa do meio ambiente." (REsp
1285463/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 6/03/2012).
4. Quem alega atuar com base em autorização ou licença ambiental tem o dever de
apresentá-la em procedimento administrativo ou judicial em que se conteste o
comportamento degradador. Não se trata de inversão do ônus da prova, mas de
incumbência própria a cargo do investigado ou réu.
5. Na hipótese dos autos, contudo, à margem da afirmação do recorrente de que é
duvidosa a existência de autorização do IBAMA, rever o entendimento da Corte estadual
seria possível somente por meio do reexame do acervo fático-probatório existente nos
autos, o que não se permite em Recurso Especial, ante o óbice da Súmula 7/STJ.
6. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
(REsp 1630961/SE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
07/12/2017, DJe 16/09/2020)
DIREITO AMBIENTAL. IMÓVEL URBANO. RECURSOS HÍDRICOS. ÁREA DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE. MARGEM DE RIO. VEGETAÇÃO CILIAR. APLICAÇÃO DO CÓDIGO
FLORESTAL.
1. O acórdão recorrido está em confronto com orientação do STJ, segundo a qual a
proteção jurídica do meio ambiente não difere entre áreas urbana e rural. Dentro ou
fora da cidade, o meio ambiente é um só, inexistindo diferença em ratio, grau de
prestígio, ou modo de aplicação da legislação de garantia da saúde, biodiversidade e
paisagem. Na urbe, nascentes, rios, córregos, riachos, veios d´água, lagos, lagoas,
várzeas e alagados demandam máxima atenção do Administrador, tanto no
licenciamento como na fiscalização, sobretudo em áreas de adensamento populacional,
especulação imobiliária, parcelamento desenfreado e ocupações ilícitas. O Direito
Ambiental assegura quer o meio ambiente bem conservado - a afluência ambiental -,
quer, com maior razão até, o pouco ou quase nada, o restinho mesmo - a indigência
ambiental - que teimosamente sobreviveu à implacável degradação.2. Recurso Especial
provido.(REsp 1667404/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 13/03/2018, DJe 09/09/2020)
AMBIENTAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. NOVO CÓDIGO FLORESTAL.
IRRETROATIVIDADE. PROTEÇÃO DE ECOSSISTEMAS FRÁGEIS.1. Trata-se na origem de
Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público do Estado de São Paulo contra os ora
recorridos na qual se postulou, em suma, a condenação em obrigações de não fazer, de
fazer, além de indenização por danos ambientais por exploração de áreas de
preservação permanente e de reserva legal.2. A jurisprudência do STJ é no sentido de
que não se emprega norma ambiental superveniente de cunho material aos processos
em curso, seja para proteger o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e
a coisa julgada, seja para evitar a redução do patamar de proteção de ecossistemas
frágeis sem as necessárias compensações ambientais. Precedentes.3. Recurso Especial
não provido.(REsp 1696945/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 15/03/2018, DJe 09/09/2020)
AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. TERMO DE AJUSTAMENTO DE
CONDUTA.AVERBAÇÃO DE RESERVA LEGAL. ATO JURÍDICO PERFEITO. ART. 6º, DA LEI
DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (DECRETO-LEI 4.657/1942)
IRRETROATIVIDADE DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL.1. Hipótese em que a Corte de
origem entendeu que, no que se refere à averbação da Reserva Legal, "compulsando-se
os autos, verifica-se que o acordo não foi cumprido ... De outro lado, o Termo de
Ajustamento de Conduta foi devidamente assinado e deve ser cumprido.Todavia, o
cumprimento do acordo deve ser compatibilizado com o Novo Código Florestal Lei n°
12.651/12".2. O STJ consolidou o entendimento de que o novo Código Florestal não
pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a
coisa julgada. Precedentes.3. Uma vez celebrado e cumpridas as formalidades legais, o
Termo de Ajustamento de Conduta - TAC constitui ato jurídico perfeito, imunizado
contra alterações legislativas posteriores que enfraqueçam as obrigações ambientais
nele previstas. Deve, assim, ser cabal e fielmente cumprido, vedado ao juiz recusar sua
execução, pois do contrário desrespeitaria a garantia da irretroatividade da lei nova,
prevista no art. 6º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei
4.657/1942).4. Recurso Especial provido.(REsp 1718940/SP, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 10/04/2018, DJe 09/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.TERMO DE
AJUSTAMENTO DE CONDUTA - TAC. NÃO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES
ASSUMIDAS. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. DESNECESSIDADE
DE PROVA PERICIAL. ART. 405 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. PRESUNÇÃO
DE LEGALIDADE, LEGITIMIDADE E VERACIDADE DE DOCUMENTO PÚBLICO. FIXAÇÃO
DE ASTREINTE. REDUÇÃO DO VALOR DA MULTA. REEXAME DO CONTEXTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ.1. O Tribunal de origem consignou que "a embargante,
por sua vez, apenas afirma que deu cumprimento ao TAC por meio da documentação
acostada, inclusive a que atribuiu como comprovante de 'fato novo extintivo da
execução', todas referentes a procedimentos (TCRAs) anteriores ao TAC (...) E no
sopesamento das provas contidas nos autos, reputa-se como mais relevante ao deslinde
da causa a informação técnica trazida pelo órgão ambiental competente (...).Deste
modo, bem comprovada a desídia da embargante em cumprir as obrigações pactuadas
(...) Sendo assim, seu descumprimento, incontroverso, está provado e é inconteste, de
forma que a execução proposta é juridicamente possível com a nele prevista é exigivel".
A revisão das conclusões do acórdão recorrido demanda análise de cláusulas específicas
do Termo de Ajustamento de Conduta e das provas produzidas, notadamente para
concluir se houve perda superveniente do objeto da ação. Incidem, portanto, as Súmulas
5 e 7 do STJ.3. Quanto à necessidade de produção de prova pericial, o Tribunal de origem
entendeu que, "no caso dos autos, além de ser farta a documentação apresentada por
ambas as partes, vê-se que os fatos postos são incontroversos, bastando apenas a
sensibilidade do julgador para aferir o direito a ser aplicado ao caso concreto, não
precisando de outras provas". Consoante o art. 405 do CPC/2015, laudo, termo de
vistoria, relatório técnico, auto de infração, certidão, declaração e outros atos gerados
por agentes de qualquer órgão do Estado possuem presunção (relativa) de legalidade,
legitimidade e veracidade, por se enquadrarem no conceito geral de documento
público. Tal qualidade jurídica inverte o ônus da prova, sem impedir, por óbvio, a mais
ampla sindicância judicial. Por outro lado, documento público não pode ser
desconstituído por prova inconclusiva, dúbia, hesitante ou vaga.4. A redução do valor
fixado a título de astreinte implica, como regra, revolvimento dos fatos e circunstâncias
da causa, vedado pela Súmula 7/STJ. Excetua-se apenas a hipótese de valor irrisório ou
exorbitante, o que não se configura neste caso.5. Recurso Especial não conhecido.(REsp
1718984/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
17/04/2018, DJe 11/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ADIMPLEMENTO, NO CURSO DO PROCESSO,
DA OBRIGAÇÃO. EXISTÊNCIA DE RESOLUÇÃO DO MÉRITO DA QUESTÃO
CONTROVERTIDA.1. Consta dos autos que o Parquet propôs Ação Civil Pública com o
escopo de obrigar os recorridos a averbarem "área destinada à reserva florestal legal na
matrícula do imóvel ou o seu registro no Cadastro Ambiental Rural".2. O Juiz do primeiro
grau, com fulcro no art. 267, VI, do CPC de 1973, extinguiu o processo extinto sem o
julgamento do mérito, uma vez que teria ocorrido a perda superveniente do objeto,
porquanto os recorridos adimpliram a obrigação de inscrever a propriedade no SISCAR.
O Ministério Público estadual pleiteia que seja proferida sentença resolvendo o mérito
da causa, haja vista eventual cumprimento da obrigação ter ocorrido durante o trâmite
processual.3. O adimplemento total da pretensão deduzida em juízo pelo autor, durante
o curso da relação processual, subsume-se à hipótese do art.269, II, do CPC de 1973, "o
que afasta a tese de carência da ação por falta de interesse de agir ou perda do objeto,
devendo o feito ser extinto com resolução do mérito".4. Recurso Especial provido.(REsp
1725771/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
17/04/2018, DJe 11/09/2020)
AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA. ÁREA DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ATO JURÍDICO PERFEITO. ART. 6º DA LEI DE
INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (DECRETO-LEI
4.657/1942).IRRETROATIVIDADE DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL.1. O STJ consolidou o
entendimento de que o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato
jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada. Realmente, uma
vez celebrado o acordo e cumpridas as formalidades legais, o Termo de Ajustamento de
Conduta - TAC constitui ato jurídico perfeito, imunizado contra alterações legislativas
posteriores que enfraqueçam as obrigações ambientais nele previstas. Deve, assim, ser
cabal e fielmente cumprido, vedado ao juiz alterar, sob qualquer pretexto, o seu
conteúdo, seja em processo de conhecimento, seja de execução, pois do contrário
desrespeitaria a garantia da irretroatividade da lei nova, prevista no art. 6º da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei 4.657/1942).2. Nesse sentido,
deve ser respeitado o Termo de Compromisso de Recuperação Ambiental, pois o novo
Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito.3. Recurso
Especial provido.(REsp 1714551/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 24/04/2018, DJe 08/09/2020)
AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRIGAÇÃO DE PROJETO DE ATERRO SANITÁRIO.
RECURSO DO IBAMA. FIXAÇÃO DE ASTREINTE CONTRA O GESTOR PÚBLICO.
IMPOSSIBILIDADE QUANDO O AGENTE NÃO FIGURAR, PESSOALMENTE, NO POLO
PASSIVO.1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública interposta pelo Ibama em
desfavor do Município de São João do Tigre-PB, objetivando que a municipalidade
implantasse aterro sanitário e desativasse lixão em desconformidade com as normas
ambientais.2. A sentença do primeiro grau fixou multa diária pessoal ao então Prefeito
Municipal de São João do Tigre/PB, em caso de descumprimento, no valor de R$
1.000,00 (mil reais), a contar do final do prazo de 45 (quarenta e cinco) dias seguintes à
intimação da sentença.3. O Tribunal de origem reformou a sentença nesse ponto por
entender que "em conformidade com o entendimento consolidado do STJ a fixação de
astreintes pessoal ao gestor público, sem que ele tenha participado da lide, ofende os
princípios do contraditório e da ampla defesa." (fl. 475, e-STJ).4. Nos termos da
jurisprudência pacífica do STJ, em se tratando de obrigação de fazer, é permitida ao juiz,
de ofício, ou a requerimento da parte, a imposição de multa cominatória ao devedor
(astreinte), mesmo que seja contra a Fazenda Pública. Todavia, não é possível a extensão
da referida multa a quem não participou efetivamente do processo.5. Observa-se que
não se está negando vigência ao art. 11 da Lei 7.347/1985; porém determinar a
cominação de astreinte aos gestores públicos sem lhes oferecer oportunidade para se
manifestarem em juízo acabaria por violar os princípios do contraditório e da ampla
defesa (REsp 1.315.719/SE, rel. Min Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 18/9/2013;
AgRg no AREsp 196.946/SE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado
em 2/5/2013, DJe 16/5/2013). Em outras palavras, no legítimo intuito de garantir a
autoridade da prestação jurisdicional e a efetividade do processo, o gestor público pode,
sim, pessoalmente, ser alvo de imposição de multa civil por descumprimento de
prescrição judicial, mas para tanto precisa ser, formalmente, chamado aos autos, de
modo a se evitar que seja surpreendido com a medida cominatória.6. Recurso Especial
não provido.(REsp 1728528/PB, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 24/04/2018, DJe 08/09/2020)
AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. PARQUE NACIONAL
GRANDE SERTÃO VEREDAS. ARTS. 8º E 11 DA LEI 9.985/2000.APOSSAMENTO
ADMINISTRATIVO. INDENIZAÇÃO.1. Trata-se, na origem, de ação proposta pela parte
recorrida contra o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMbio,
objetivando a indenização de imóvel de sua propriedade que alega ter sido abrangido
pelo Decreto 97.658, de 12 de abril de 1989, que criou o Parque Nacional Grande Sertão
Veredas.2. O Acórdão recorrido está em sintonia com o atual entendimento do STJ, no
sentido de que, como regra, a criação de Parque Nacional (arts. 8º e 11 da Lei
9.985/2000), importa desapropriação indireta, considerando a transferência da
propriedade do imóvel para o expropriante, sendo reconhecido o direito à justa
indenização, razão pela qual não merece prosperar a irresignação da parte
recorrente.Incide, in casu, o princípio estabelecido na Súmula 83/STJ: "Não se conhece
do Recurso Especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no
mesmo sentido da decisão recorrida".Evidentemente, com o reconhecimento da
desapropriação direta ou indireta, o domínio e a posse do imóvel devem ser transferidos
de imediato ao Estado.3. Quanto ao pagamento de juros compensatórios, o Acórdão
recorrido está em sintonia com julgados do STJ.. Recurso Especial não provido.(REsp
1724777/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
24/04/2018, DJe 08/09/2020)
ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA DE OFENSA AO ART.
535 DO CPC. NOVO CÓDIGO FLORESTAL. IRRETROATIVIDADE.1. Cuida-se de
inconformismo contra acórdão do Tribunal de origem, que autorizou a averbação de
área de reserva legal em imóvel de propriedade da recorrente, sob pena de pagamento
de multa diária.2. A jurisprudência do STJ é no sentido de que não se emprega norma
ambiental de cunho material, superveniente à época dos fatos, aos processos em curso,
seja para proteger o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa
julgada, seja para evitar a redução do patamar de proteção de ecossistemas frágeis sem
as necessárias compensações ambientais. Precedentes.3. Recurso Especial a que se
nega provimento.(REsp 1693952/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 08/05/2018, DJe 14/09/2020)
AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. AVERBAÇÃO DA RESERVA LEGAL. DEVER DO
PROPRIETÁRIO. MULTA DIÁRIA. REEXAME DO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO
PRODUZIDO NOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. NORMA AMBIENTAL
SUPERVENIENTE. IRRETROATIVIDADE DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL. PROCESSO EM
ANDAMENTO.1. O valor estabelecido pela instância ordinária para a astreinte pode ser
revisto no STJ tão somente nas hipóteses em que a condenação revelar-se irrisória ou
exorbitante, distanciando-se dos padrões de razoabilidade, o que não é o caso dos
autos. Aplicação da Súmula 7 do STJ.2. Nos termos da jurisprudência pacífica desta Corte
Superior, a averbação da Reserva Legal configura-se como dever do proprietário ou
adquirente do imóvel rural, devendo, outrossim, tomar as providências necessárias à
restauração ou à recuperação das formas de vegetação nativa para se adequar aos
limites percentuais previstos no Código Florestal. Ademais, a Lei 12.651/1912, que
revogou a Lei 4.771/1965, não suprimiu a obrigação de averbação da Reserva Legal na
matrícula do imóvel.3. Para o Superior Tribunal de Justiça, inaplicável norma ambiental
superveniente, de cunho material, a processos em curso, se ofender o ato jurídico
perfeito, direitos ambientais adquiridos ou a coisa julgada, ou, ainda, se reduzir o
patamar de proteção de ecossistemas frágeis e criticamente ameaçados sem as
necessárias compensações ambientais. Precedentes.4. Recurso Especial do Ministério
Público de São Paulo provido.Recurso Especial de João Ruiz Lourenço e outros
parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.(REsp 1724039/SP, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/05/2018, DJe 09/09/2020)
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. BEM PÚBLICO. TERRA DEVOLUTA. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. OFENSA AO ART. 1.022 DO CPC/2015 NÃO CONFIGURADA.REINTEGRAÇÃO
DE POSSE. ESBULHO. OCUPAÇÃO DE ÁREA PÚBLICA POR PARTICULARES.
CONSTRUÇÃO ILEGAL. IMPOSSIBILIDADE DE INDENIZAÇÃO POR ACESSÕES E
BENFEITORIAS. DEMOLIÇÃO. DEVER DE RECUPERAR DANO AMBIENTAL.1. Trata-se de
litígio derivado de ocupação ilegal de terras públicas. A jurisprudência do STJ é firme no
sentido de que, configurada ocupação ou uso indevido de bem público, não há falar em
posse (nova ou velha), mas em mera detenção, de natureza absolutamente precária, o
que afasta direito de retenção e a indenização por acessões e benfeitorias de qualquer
natureza.Incabível falar em posse privada de coisa imóvel ou móvel coletiva.Ao
contrário, está-se diante de apropriação contra legem do que pertence à Nação,
grilagem pura e simplesmente. Em hipótese alguma tais bens sucumbem ao patrimônio
de particulares, nem mesmo reflexamente, ainda que estejam, à margem da lei, sob
poder de fato do esbulhador.2. Recurso Especial provido.(REsp 1725364/SP, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/05/2018, DJe
09/09/2020)
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS AMBIENTAIS.
PRÉVIA APURAÇÃO EM INQUÉRITO CIVIL. ART. 8°, § 1°, DA LEI 7.347/1985.
POSSIBILIDADE DE AMPLIAÇÃO DO OBJETO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DAS DEMAIS QUESTÕES RECURSAIS.MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC/1973 NÃO CONFIGURADA.1. Trata-se,
na origem, de Ação Civil Pública em que o Juízo da primeira instância delimitou o objeto
da inicial ao que apurado no Inquérito Civil Público, ou seja, somente aos danos
ambientais decorrentes de altos índices de salinibilidade no Canal Quitingute,
imputados às ora recorrentes, em detrimento do escopo geográfico maior aludido na
peça exordial.2. É inviável analisar as teses, defendidas nos Recursos Especiais, relativas
à falta de produção de provas, ao excesso dos limites da inicial e ao cerceamento de
defesa, pois inarredável a revisão do conjunto probatório dos autos para afastar as
premissas fáticas estabelecidas pelo acórdão recorrido. Aplica-se, portanto, o óbice da
Súmula 7/STJ.3. A instauração antecedente de Investigação Preliminar ou Inquérito Civil
configura mera faculdade, não sendo, portanto, requisito para o ajuizamento de ação
civil pública. Precedentes do STJ. Na mesma linha, é possível a ampliação do objeto da
ação civil pública, indo além dos fatos apurados pelo Ministério Público em
procedimento administrativo prévio. Finalmente, no processo civil coletivo, assim como
no individual, a produção de prova e o exercício do contraditório se dão em juízo,
inexistindo, pois, necessidade de pré-constituição probatória como condição para o
exercício da ação civil pública. 4. Recursos Especiais parcialmente conhecidos e, nessa
parte, não providos. (REsp 1729539/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 15/05/2018, DJe 11/09/2020)
AMBIENTAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO ANULATÓRIA DE MULTA AMBIENTAL.LICENÇA
OU AUTORIZAÇÃO AMBIENTAL VENCIDA. DESCRIÇÃO SUFICIENTE DA CONDUTA.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. FUNDAMENTOS NÃO ATACADOS. SÚMULA 283 DO STF.
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO INTERPOSTO.
SÚMULA 7 DO STJ. EXAME DE LEI LOCAL. SÚMULA 280 DO STF.HISTÓRICO DA
DEMANDA 1. Na origem, cuida-se de Ação Anulatória objetivando a desconstituição do
Auto de Infração Ambiental lavrado pelo Departamento Estadual de Proteção de
Recursos Naturais, em razão de o recorrente "explorar vegetação nativas,
correspondente a 73 unidades, mediante corte isolado, localizada em área comum, de
domínio privado, sem aprovação prévia do órgão ambiental competente, incorrendo no
disposto do Art. 53 da Resolução SMA-32/2010". A sentença julgou improcedentes os
pedidos, a qual foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. NULIDADE
DO AUTO DE INFRAÇÃO 2. Não merece prosperar a alegação de nulidade, com o
argumento de que a especificação da vegetação suprimida deveria ter vindo no corpo
do Auto de Infração. O voto condutor do acórdão abordou a questão de maneira
exaustiva. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 3. Incide a Súmula 126 do Superior Tribunal de
Justiça, pois, embora o Tribunal a quo tenha aplicado também o art. 24, VI, da CF para
fundamentar o mesmo entendimento, o recorrente não interpôs Recurso
Extraordinário.4. Ainda dentro do exame do princípio da legalidade, deve-se verificar
que não cabe exame também quanto à alegada ofensa ao art.6º da Lei Estadual
10.177/1998, ante o óbice da Súmula 280 do Supremo Tribunal Federal: "Por ofensa a
direito local não cabe Recurso Extraordinário." AUTORIZAÇÃO DE DESMATAMENTO
VENCIDA 5. Quanto à conduta punida, o recorrente afirmou possuir autorização do
órgão ambiental para suprimir vegetação nativa, a qual, contudo, estava vencida. Aduz
que "não imaginou que a licença tivesse prazo de validade" (fl. 179, e-STJ). O Tribunal
de origem corretamente constatou: "nos termos do artigo 53 da Resolução SMA
32/2010, a multa é devida mesmo na hipótese de a supressão ocorrer em desacordo
com a aprovação concedida pelo órgão ambiental. E no caso sub judice, a autorização
de fls. 37, expedida em 14/02/2006, expressamente estabelece sua validade até
13/02/2007, e a autuação ocorreu em 05/05/2011, portanto mais de quatro anos após
a expiração da validade da referida autorização".6. Autorização ou licença ambiental
vencida e nada são a mesma coisa. Na essência, o poder de polícia ambiental não difere
daquele próprio a outros microssistemas administrativos, como o de trânsito.Por acaso
seria lícito ou imune à sanção alguém que, tecnicamente habilitado, trafegasse com a
CNH vencida? CONCLUSÃO 7. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte,
não provido. (REsp 1705452/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 22/05/2018, DJe 09/09/2020)