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Estudos: Análise sobre a aplicação do imposto sobre a importação
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REVISTA DE DIREITO PBLICO, LONDRINA, V. 2, N. 1, P. 213-224, JAN./ABR. 2007.
Uma anlise crtica de algumas decises proferidas pelo STF, STJ e TRF da 4 regio no que diz respeito ao critrio temporal do imposto de
importao
Bruna Carolina Tmega1
Resumo
Este artigo versa sobre a regra matriz do imposto de importao: hiptese tributria (critrio material, temporal e espacial) e relao jurdica tributria (critrio pessoal sujeito ativo e passivo e critrio quantitativo base de clculo vezes alquota). Outrossim, discorre sobre alguns julgados proferidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justia (STJ) e Tribunal Regional Federal (TRF) da 4 Regio, no que diz respeito ao critrio temporal do imposto em questo. Palavras-Chave: Imposto de importao; Entrada no territrio nacional; Registro da declarao de importao.
1 Introduo
O imposto de importao encontra-se disciplinado no artigo 153 da Constituio
Federal, nos artigos 19 a 22 do Cdigo Tributrio Nacional (CTN) e em diversas legislaes
infraconstitucionais esparsas, dentre as quais o Decreto-Lei n 37/66, que, alm de dispor
sobre o imposto de importao, reorganiza os servios aduaneiros e d outras providncias.
O fim precpuo desse imposto, tambm conhecido por tarifa aduaneira, direitos de
importao, tarifas das Alfndegas, direitos aduaneiros, dentre outras denominaes,
proteger e incentivar a aplicao de capitais nas indstrias nacionais. Tem natureza
regulatria porque objetiva regular o comrcio exterior mais do que arrecadar recursos
financeiros. Da porque se fala mais em funo extrafiscal do que arrecadadora. Com efeito,
Hugo de Brito Machado (2006, p. 317) leciona que o imposto de importao muito mais
importante como instrumento de proteo da indstria nacional do que como instrumento
de arrecadao de recursos financeiros para o tesouro puro.
Por isso, o imposto de importao livre do princpio da anterioridade e no precisa
observar o prazo de 90 dias da publicao da lei (art. 150, II, c e 1, CF), ou seja, pode ser
1 Formanda em Direito pela Universidade Estadual de Londrina, e-mail [email protected].
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cobrado no mesmo exerccio em que seja publicada lei que o instituir ou aumentar, a partir
do momento de sua vigncia. Alm disso, facultado ao Poder Executivo alterar a alquota
do imposto de importao (art. 153, 1, CF) por meio de Decreto - Leis que carece de
agilidade nas reformulaes legislativas.
Dentro desse contexto, o presente artigo, alm de discorrer sobre os elementos que
compem a regra matriz do imposto de importao hiptese tributria (critrio material,
espacial e temporal) e relao jurdica tributria (critrio pessoal e quantitativo) tem por
objetivo principal analisar algumas decises proferidas pelo Supremo Tribunal Federal,
Superior Tribunal de Justia e Tribunal Regional Federal da 4 Regio (que engloba os
Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran) no que diz respeito ao critrio
temporal do imposto de importao.
2 Hiptese tributria do imposto de importao
O artigo 19 do Cdigo Tributrio Nacional estabelece o fato gerador do imposto de
importao, qual seja, a entrada do produto estrangeiro no territrio nacional. O imposto de
importao grava, portanto, a introduo no territrio nacional de produtos estrangeiros,
considerados estes como qualquer bem material procedente de outro pas e dotado de valor
econmico.
O critrio material consiste em importar, trazer do exterior, fazer vir de outro pas
produto estrangeiro ou desnacionalizado (aquele que perdeu a caracterstica de nacional ao
ser exportado) destinado a permanecer definitivamente no Brasil uma vez que no incide
imposto de importao, conforme preceitua o Decreto-Lei n 37/66, sobre mercadorias que
apenas fazem escala no Brasil por embarcao ou aeronave ou mercadorias estrangeiras que
ingressam no territrio nacional to somente para participar de feiras ou exposies,
retornando origem aps cumprida sua finalidade. Afora isso, o Decreto n 2.412/97
permite a importao, com suspenso do pagamento de tributos, de mercadorias que sero
submetidas industrializao e, em seguida, destinadas exportao.
O critrio espacial o territrio nacional, entendido como todo o espao em que o
Brasil exerce sua soberania nacional. A Lei n 8.617/93 dispe sobre os componentes do
territrio nacional, a saber: mar territorial (faixa de 12 milhas martimas medidas a partir da
linha de base da costa continental em mar baixa); zona contgua (faixa adjacente ao mar
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territorial, de igual largura); zona econmica exclusiva (faixa que se estende das 12 s 200
milhas martimas) e plataforma continental (leito e o subsolo das reas submarinas que se
estendem alm do mar territorial at 200 milhas martimas da linha de base).
No entanto, s at o fim da zona contgua que o Brasil pode tomar medidas de
fiscalizao para evitar infraes aos regulamentos aduaneiros (art. 5, I, Lei n 8.671/93). O
critrio espacial abrange, portanto, todo o territrio nacional at as 24 milhas martimas
contadas da linha de base da costa continental em mar baixa, excludo, entretanto, o
territrio brasileiro abarcado por zonas francas, onde no h incidncia do imposto de
importao nem habitual controle aduaneiro.
J o critrio temporal a data da entrada da mercadoria ou produto no territrio
nacional, nos termos dos artigos 19 do CTN e 1 do Decreto-Lei n 37/66. Contudo, os
artigos 23 e 44 do Decreto-Lei n 37/66 estabelecem que, em se tratando de mercadoria
despachada para consumo, considera-se como ocorrido o fato gerador na data do registro,
na repartio aduaneira competente, da declarao feita para o desembarao da
mercadoria. Esse ponto vai ser analisado mais a frente.
3 Relao jurdica tributria
No que atine ao critrio pessoal, o sujeito ativo, ente competente para instituir,
fiscalizar, exigir/cobrar e arrecadar o imposto de importao a Unio (art. 153, CF). O
sujeito passivo pode ser o contribuinte (aquele tem relao pessoal e direta com o fato
gerador) ou o responsvel (aquele que no pratica o fato gerador, mas responsvel pelo
cumprimento da obrigao tributria).
Preceitua o artigo 22 do CTN que contribuinte do imposto de importao o
importador ou quem a ele a lei equiparar e o arrematante de produtos apreendidos ou
abandonados. O art. 31 do Decreto Lei 37/66 arrola como contribuinte o importador e os
equiparados a ele: o destinatrio de remessa postal internacional indicado pelo respectivo
remetente e o adquirente de mercadoria entrepostada.
Considera-se importador qualquer pessoa que promova a entrada de mercadoria
estrangeira no Territrio Nacional. Pode estar regularmente estabelecida ou no, pois a
capacidade tributria passiva independe de formalismos (art.126 CTN). O destinatrio de
remessa postal internacional indicado pelo respectivo remetente sujeito passivo da relao
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jurdica tributria sempre que a encomenda revele destinao comercial ou exceda o
mnimo para efeito de desonerao fiscal. Por fim, o adquirente de mercadorias
entrepostadas aquele que adquire mercadorias que foram importadas e esto depositadas
no entreposto aduaneiro ou em feira, congresso, mostra ou evento semelhante, com a
suspenso do pagamento do imposto e sob controle fiscal (artigos 356 e 357 do Decreto n
4.543/02).
De acordo com o art. 32 do Decreto-Lei n 37/66, so responsveis pelo imposto de
importao o transportador, quando transportar mercadoria procedente do exterior ou sob
controle aduaneiro, inclusive em percurso interno; e, o depositrio, assim considerada
qualquer pessoa incumbida da custdia de mercadoria sob controle aduaneiro. O pargrafo
nico desse artigo traz os responsveis solidrios: o adquirente ou cessionrio de
mercadoria beneficiada com iseno ou reduo do imposto; o representante, no Pas, do
transportador estrangeiro; o adquirente de mercadoria de procedncia estrangeira, no caso
de importao realizada por sua conta e ordem, por intermdio de pessoa jurdica
importadora; e, o encomendante predeterminado que adquire mercadoria de procedncia
estrangeira de pessoa jurdica importadora.
O critrio quantitativo possibilita a preciso exata da quantia devida a ttulo de
tributo. explicitado pela conjugao da base de clculo com a alquota. O imposto de
importao calculado pela aplicao das alquotas previstas na Tarifa Aduaneira sobre a
base de clculo, de acordo com o Decreto-Lei n 37/66.
A base de clculo , conforme Maria Helena Diniz, a medida padro ou grandeza
econmica adotada pela lei tributria que indica o modo de apurao do valor da prestao
pecuniria a ser arrecadada (apud CDIGO TRIBUTRIO NACIONAL: comentado e anotado,
2003, p. 52). So trs as formas legais, indicadas no art. 20 do CTN, para caracterizar a base
de clculo:
a) a unidade de medida adotada pela lei tributria quando a alquota for especfica.
A lei ordinria estabelece que a base de clculo do imposto nesse caso a quantidade de
mercadoria, expressa na unidade de medida indicada na tarifa, v.g., quilos, litros, metros,
volume, unidades etc;
b) o preo normal que o produto ou seu similar alcanaria, ao tempo da
importao, em uma venda em condies de livre concorrncia para a entrega no porto ou
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lugar de entrada do produto no pas quando a alquota for ad valorem. Esse valor
geralmente consta na fatura comercial do lugar da expedio da mercadoria, acrescentando-
se ao custo, as despesas de frete e seguro, at a entrega no porto ou local de destino no
Brasil (BALEEIRO, 1985, p. 132), mas pode ser desconsiderado se houver motivos para
dvidas quanto exatido desse valor. O art. 2, II, do Decreto-Lei n 37/66 preceitua que,
quando a alquota for ad valorem, a base de clculo o valor aduaneiro apurado segundo
as normas do art.7 do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comrcio GATT; e,
c) o preo da arrematao, quando se trata de produto apreendido ou abandonado
levado a leilo.
As alquotas podem classificar-se, consoante Leo Krakowiak e Ricardo Krakowiak
(apud MELO, 2003, p. 61), como gerais, convencionais ou diferenciais: as gerais so as
previstas na Tarifa Externa Comum e aplicveis s importaes em geral; convencionais so
as objeto de acordos internacionais, bilaterais ou multilaterais, prevalecendo sobre as gerais;
e diferenciais, em percentual superior s gerais, visam retaliao aduaneira.
O Cdigo Tributrio Nacional menciona, em seu art. 20, a classificao das alquotas
em especfica (quantia fixa em dinheiro referente a uma unidade de medida) e ad valorem
(determinado percentual a ser aplicado base de clculo, que varia de produto para
produto). Segundo Edivaldo Ravenna Picazo (apud CDIGO TRIBUTRIO NACIONAL:
comentado e anotado, 2003, p. 54), as alquotas especficas encontram-se em desuso. As
alquotas ad valorem esto previstas na Tarifa Externa Comum (TEC), instituda pelo Tratado
de Assuno (Decreto Legislativo n 350/91) e devem ser adotadas pelos 04 Estados
membros do MERCOSUL Mercado Comum do Sul - (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai).
Com referncia aos produtos oriundos de terceiros pases, de acordo com Jos Eduardo
Soares de Melo (2003, p. 61), o Brasil assumiu o compromisso junto ao GATT de aplicar
determinadas alquotas.
4 Critrio temporal nos tribunais
Em consonncia com o art. 19 do CTN, o Decreto-Lei n 37/66, em seu artigo 1,
estabelece que o imposto de importao incide sobre mercadoria estrangeira e tem como
fato gerador a sua entrada no territrio nacional. Contudo, em seu artigo 23, dispe que, em
se tratando de mercadoria despachada para consumo, considera-se como ocorrido o fato
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gerador na data do registro, na repartio aduaneira competente, da declarao feita para o
desembarao da mercadoria.
Em face disso, no que atine ao momento da ocorrncia do fato gerador, dvidas
poderiam surgir sobre se o fato gerador seria a entrada da mercadoria no territrio nacional
ou a data do registro da declarao de importao porquanto entre tais datas poderiam
decorrer vrios dias, sendo que nesse perodo haveria a possibilidade de ser a alquota do
imposto de importao majorada, prejudicando o sujeito passivo.
Os Tribunais vm decidindo reiteradamente que, no caso de importao de
mercadoria despachada para consumo, o fato gerador, para o imposto de importao,
consuma-se na data do registro da declarao de importao, inexistindo incompatibilidade
entre o art. 23 do Decreto-lei 27/66 e o art. 19 do CTN, sendo irrelevante o regime fiscal
vigente na data da emisso da guia de importao, ou quando do desembarque da
mercadoria.
O STF proclamou inexistir incompatibilidade do art. 19 do CTN com os arts. 23 e 24
do D.L. 37/66 e, no julgamento da ADI (ao direta de inconstitucionalidade) n 1293-DF,
manifestou-se, in verbis:
O imposto de importao tem como fato gerador a entrada de produtos estrangeiros no territrio (CTN-66, art. 19). Tratando-se de mercadoria despachada para consumo, considera-se ocorrido o fato gerador na data do registro, na repartio competente, da declarao apresentada pelo importador (DEL-37/66), art. 23 c/c art. 44), sendo irrelevante para esse efeito especfico, a data da celebrao do contrato de compra e venda ou a do embarque ou a do ingresso no pas de mercadoria importada.
Para o STJ, o desembarao aduaneiro, por completar a importao, representa,
para efeitos fiscais, a entrada no territrio da mercadoria, inclusive quando se trata de
mercadoria de bens de capital/de produo porque entende que o termo mercadoria para
consumo tem sentido amplo, conforme as seguintes ementas:
IMPORTAO. FATO GERADOR. COMPATIBILIDADE DO ART. 23 DO DECRETO-LEI N. 37/66 COM O ART. 19 DO CTN. DISSDIO PRETORIANO. SMULA N. 83/STJ. PRECEDENTES. [...] 3. O STJ j pacificou o entendimento de que inexiste incompatibilidade entre o art. 19 do Cdigo Tributrio Nacional e o art. 23, pargrafo nico, do Decreto-Lei n. 37/66, visto que o desembarao aduaneiro completa a importao e, conseqentemente, representa, para efeitos fiscais, a entrada no territrio nacional da mercadoria. [...] (STJ RESP 184861, Processo
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199800584900/RJ, rgo Julgador SEGUNDA TURMA, DJ DATA 16/05/2005, p. 273, Relator JOO OTVIO DE NORONHA).
TRIBUTRIO. IMPOSTO DE IMPORTAO. BENS DE CAPITAL. FATO GERADOR. REGISTRO. REPARTIO ADUANEIRA. DECLARAO DE IMPORTAO. "MERCADORIA PARA CONSUMO". INTERPRETAO GENRICA. DECRETO-LEI N 37/66. I - Esta Corte j possui entendimento assentado no sentido de que o fato gerador do imposto de importao ocorre na data do registro, na repartio aduaneira, da declarao de importao, consubstanciado pelo desembarao aduaneiro, no havendo que se falar em incompatibilidade entre o art. 23 do Decreto-lei n 37/66 e o art. 19 do CTN. Precedentes: REsp n 157.162/SP, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJ de 01/08/05 e REsp n 184.861/RJ, Rel. Min. JOO OTVIO DE NORONHA, DJ de 16/05/05. II - O argumento no sentido de que, no caso de bens de capital, o fato gerador do imposto de importao se realiza com a entrada do produto no territrio nacional no se sustenta, eis que o termo "mercadoria para consumo", previsto no Decreto-lei n 37/66 tem sentido genrico, aplicando-se inclusive aos bens de produo. Precedente: EDcl no REsp n 313.117/PE, Relatora Ministra DENISE ARRUDA, DJ de 10/05/04. [...] (STJ AGRESP 412220, Processo 200200161906/RS, rgo Julgador PRIMEIRA TURMA, DJ DATA 19/12/2005, p. 211, Relator FRANCISCO FALCO).
Por outro lado, o STJ tambm reconhece que o imposto de importao tem como
fato gerador a entrada da mercadoria de procedncia estrangeira no territrio nacional,
sendo esta regra a que prevalece na importao de bens de capital, o que vai de encontro
com o entendimento acima demonstrado:
TRIBUTRIO. IMPOSTO DE IMPORTAO. FATO GERADOR. COMPATIBILIDADE DO ARTIGO 19 DO CDIGO TRIBUTRIO NACIONAL COM O ARTIGO 23 DO DECRETO-LEI N 37/66. BENS DE CAPITAL. FATO GERADOR. MOMENTO DA OCORRNCIA. ENTRADA. TERRITRIO NACIONAL. 1. A regra geral prevista nos artigos 19 do Cdigo Tributrio Nacional e 1 do Decreto-Lei n 37/66 dispem que o imposto de importao tem como fato gerador a entrada da mercadoria de procedncia estrangeira no territrio nacional. 2. Quando se tratar de mercadoria destinada ao consumo considera-se ocorrido o fato gerador do imposto de importao a data da do registro na repartio aduaneira da declarao feita para fins de desembarao aduaneiro, consoante o disposto no artigo 23 do Decreto-Lei n 37/66, o qual compatvel com o artigo 19 do Cdigo Tributrio Nacional. Precedentes. 3. Prevalece a regra geral insculpida no artigo 19 do Cdigo Tributrio Nacional na importao de bens de capital - o fato gerador do imposto de importao ocorre na entrada dos produtos estrangeiros no territrio nacional. 4. Recurso especial improvido (STJ RESP 328835, Processo 200100697108/SC, rgo Julgador SEGUNDA TURMA, DJ DATA 14/11/2005, p. 236, Relator CASTRO MEIRA).
Diante disso, verifica-se que o STJ, muito embora afirme que o fato gerador do
imposto de importao a data da entrada da mercadoria no territrio nacional, considera
que, quando se trata de mercadoria para consumo (em sentido amplo), para fins fiscais, a tal
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entrada representada pela declarao de importao e ora decide que isto se aplica aos
bens de capital (deciso da 1 Turma), ora sustenta que no (deciso da 2 Turma).
O TRF da 4 Regio caminha na mesma direo, entende que o fato gerador do
imposto de importao ocorre com a declarao da importao e no com a entrada fsica
da mercadoria no territrio nacional, sendo irrelevantes as datas de embarque da
mercadoria, de celebrao do contrato de compra e venda e do momento do ingresso fsico
dos bens em territrio nacional:
TRIBUTRIO. IMPORTAO. TRIBUTOS. OCORRNCIA DO FATO GERADOR. DESEMBARAO ADUANEIRO. TAXA DE CMBIO. LEGALIDADE. 1. A legislao tributria aplicvel operao de importao aquela vigente poca do fato gerador, nos termos do art. 105, do CTN, e art. 150, III, a, da Constituio Federal. 2. O fato gerador do Imposto de Importao ocorre por ocasio do registro da Declarao de Importao, momento que se d o desembarao aduaneiro da mercadoria, e no com a simples entrada fsica desta no territrio nacional. O desembarao aduaneiro completa a importao e, conseqentemente, representa, para efeitos fiscais, a entrada no territrio nacional da mercadoria. 3. O art. 106, da Lei n 8 .981/95, autorizou o Poder Executivo a alterar a forma de fixao e a periodicidade da taxa de cmbio, no havendo que se falar na existncia de direito adquirido utilizao de determinada taxa de cmbio fixa. Ademais, a variao do cmbio da moeda estrangeira no representa majorao do tributo, nem alterao da base de clculo ou da alquota. Ao contrrio, a base de clculo ser simplesmente o resultado aritmtico da converso do valor expresso em moeda estrangeira com a taxa vigente. Portanto, no agiu com excesso de poder o Executivo ao alterar a taxa de cmbio, submetendo-a livre flutuao do mercado, em coerncia com a poltica econmica global adotada poca (TRIBUNAL - QUARTA REGIO, MAS, Processo 200004010444968/PR, rgo Julgador PRIMEIRA TURMA, DJU DATA 26/04/2006, p. 848, Relatora VIVIAN JOSETE PANTALEO CAMINHA). TRIBUTRIO. IMPOSTO DE IMPORTAO. BENEFCIO PARA OS PASES DO MERCOSUL. MAJORAO DA ALQUOTA. FATO GERADOR. REGISTRO DA DECLARAO DE IMPORTAO. A Portaria n 115, de 28 de maro de 1995, que beneficia a importao entre os pases do Mercosul no extensvel aos produtos originrios de terceiros pases. A majorao de alquota de imposto de importao por Portaria Interministerial atende necessidade de controle da atividade econmica. O imposto de importao tem por alquota aquela vigente no momento de ocorrncia de seu fato gerador, que no caso de mercadoria pronta para consumo, o registro da declarao de importao na repartio aduaneira. Irrelevante as datas de embarque da mercadoria, de celebrao do contrato de compra e venda e do momento do ingresso fsico dos bens em territrio nacional. Havendo julgamento simultneo dos feitos, desacolhendo-se, no mrito, a pretenso do autor, na ao principal, deve a ao cautelar ser julgada igualmente improcedente face a ausncia de fumus boni iuris. Apelao improvida e remessa oficial provida (TRIBUNAL - QUARTA REGIO, AC, Processo 199804010338540/PR, rgo Julgador SEGUNDA TURMA, DJU DATA 26/07/2000, p. 75/76, Relator JOO PEDRO GEBRAN NETO).
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Assim, constata-se que o entendimento desses tribunais est, de certa forma, em
consonncia. Contudo, data vnia, no parece ser essa a melhor interpretao da lei
tributria. Hugo de Brito Machado (2006, p. 318) leciona que a entrada do produto
estrangeiro no territrio nacional constitui a ocorrncia do fato gerador e o desembarao
aduaneiro a forma pela qual tal ocorrncia se exterioriza ou documentada e, apenas por
questo de ordem prtica, para fins de determinao da taxa de cmbio a ser utilizada na
converso do valor das mercadorias importadas para a moeda nacional, considera-se a data
da declarao para o desembarao aduaneiro.
O mesmo doutrinador (MACHADO, 2006, p. 319) afirma, ainda, que a entrada da
mercadoria no territrio nacional no pode ser vista como fato isolado, de maneira que se o
sujeito passivo obtm a guia de importao (ou forma equivalente de autorizao da
importao) ou efetua o contrato de cmbio e efetiva a aquisio do bem no exterior, tem
direito a que a importao se complete no regime jurdico ento vigente (art. 150, III, a c/c
o art. 5, XXXVI de CF). Isso porque, se assim no fosse, a importao como atividade
empresarial seria invivel uma vez que o governo poderia levar runa qualquer
importador com um simples ato de elevao de alquota do imposto de importao, o que
efetivamente no compatvel com o Estado de Direito que assegura a livre iniciativa
econmica (MACHADO, 2006, p. 319).
Para Edivaldo Ravenna Picazo, o momento da ocorrncia do fato gerador do
imposto de importao apresenta-se em destaque vista do princpio da no surpresa e, ao
examinar a deciso do STF acima exposta aduz que
este silogismo tem levado muitos empresrios a sofrer irrecuperveis prejuzos financeiros em decorrncia de aumentos inesperados e muitas vezes abusivos, de alquotas, exatamente no momento em que mercadorias importadas estariam sendo descarregadas em reas aduaneiras, sem que ainda se estivesse expedida a declarao de importao. A melhor soluo no nos parece aquela aplicada pela Excelsa Corte, pois desconsidera o princpio da no surpresa. De acordo com nosso entendimento dever-se-ia optar por uma interpretao teleolgica e extensiva do dispositivo, permitindo, sem prejuzo da legalidade, que o importador que j houvesse concludo os atos preparatrios para o recebimento da mercadoria, no sofresse os efeitos da mudana extraordinria de alquotas. Isso daria a devida segurana jurdica a qualquer negcio internacional, numa rea de mercado na qual se espera plena estabilidade e regras claras de transio (apud CDIGO TRIBUTRIO NACIONAL: comentado e anotado, 2003, p. 51-52).
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Sabe-se que facultado ao Poder Executivo alterar as alquotas do imposto de
importao e aplic-las de imediato ao sujeito passivo porque o objetivo maior proteger o
mercado interno brasileiro. No entanto, deve-se observar o critrio temporal desse imposto
fixado em lei.
Ora, o entendimento dos tribunais acima mencionados fere, data venia, o
ordenamento jurdico brasileiro porque est expresso tanto no Cdigo Tributrio Nacional
(art. 1) como no Decreto-Lei n 37/66 (art. 1) que o fato gerador do imposto de
importao a data da entrada da mercadoria no territrio nacional. Alm disso, o artigo
150, III, a, da Magna Carta brasileira preceitua que, sem prejuzo de outras garantias
asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municpios cobrar tributos em relao a fatos geradores ocorridos antes do incio da vigncia
da lei que os houver institudo ou aumentado.
Sendo assim, o imposto de importao deve ser sempre calculado de acordo com as
regras vigentes no momento da entrada da mercadoria no territrio nacional. No porque
a mercadoria se destina ao consumo que deveria receber tratamento diferenciado. O artigo
23 do Decreto-Lei n 37/66 revela-se, portanto, imbudo de ilegalidade e
inconstitucionalidade ao considerar como ocorrido o fato gerador na data da declarao de
importao, quando se tratar de mercadorias destinadas ao consumo.
5 Concluso
O fim precpuo de imposto de importao proteger a indstria nacional e o
secundrio arrecadar recursos financeiros aos tesouros pblicos. Em vista disso, livre do
princpio da anterioridade e no precisa observar o prazo de 90 dias da publicao da lei (art.
150, II, c e 1, CF). Faculta-se, ainda, ao Poder Executivo alterar a alquota do imposto de
importao (art. 153, 1, CF), sem depender das reformulaes legislativas, cujos
procedimentos so normalmente morosos.
A regra matriz desse imposto pode ser formulada da forma que segue. Hiptese
Tributria critrio material: importar produto estrangeiro; critrio espacial: territrio
nacional at o limite da zona contgua (24 milhas martimas); critrio temporal: momento da
entrada da mercadoria no territrio nacional.
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Relao Jurdica Tributria critrio pessoal: o sujeito ativo a Unio e o sujeito
passivo o importador ou quem a ele a lei equiparar; critrio quantitativo: a base de clculo,
dependendo do caso, pode ser a unidade de medida adotada pela lei tributria, o preo
normal do produto importado ou o preo da arrematao do produto importado e leiloado;
a alquota a fixada na tabela e pode ser especfica, ad valorem ou convencional (tambm
depende de cada caso em concreto).
Quanto ao critrio temporal, merece ser o entendimento dos tribunais modificado
no sentido de que o momento do fato gerador do imposto de importao deve ser
considerado como a data da entrada do produto estrangeiro no territrio nacional, inclusive
no que diz respeito s mercadorias destinadas ao consumo, devendo ser declara a
ilegalidade e inconstitucionalidade do artigo 23 c/c o artigo 44 do Decreto-Lei n 37/66.
Isso porque, a entrada do produto estrangeiro no territrio nacional constitui o
momento da realizao do fato gerador do imposto de importao e o desembarao
aduaneiro apenas a forma pela qual tal ocorrncia se exterioriza ou documentada, razo
pela qual deve ser aplicada a alquota vigente ao tempo da entrada fsica da mercadoria no
territrio nacional, sob pena de ofensa aos artigos 19 do CTN e 150, III, a c/c o art. 5,
XXXVI da CF.
Referncias
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Bruna Carolina Tmega
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