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Dissertação Artigo de Revisão Bibliográfica Mestrado Integrado em Medicina 2013/2014 Suplementação de Iodo na Preconceção, Gravidez e Lactação Penélope Aguiar Saraiva Gomes de Almeida Porto, Junho de 2014

Suplementação de Iodo na Preconceção, Gravidez e Lactação · –, um dos principais componentes da pólvora. A resposta a esta demanda foi obtida pela queima de algas secas,

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Dissertação – Artigo de Revisão Bibliográfica Mestrado Integrado em Medicina

2013/2014

Suplementação de Iodo na Preconceção, Gravidez e Lactação

Penélope Aguiar Saraiva Gomes de Almeida

Porto, Junho de 2014

PENÉLOPE AGUIAR SARAIVA GOMES DE ALMEIDA

SUPLEMENTAÇÃO DE IODO NA PRECONCEÇÃO, GRAVIDEZ E LACTAÇÃO

Dissertação de Mestrado Integrado em

Medicina submetida ao Instituto de Ciências

Biomédicas Abel Salazar da Universidade do

Porto

Ano letivo 2013/2014

Orientador: Dra. Graça Buchner

Categoria: Médica Especialista de Ginecologia-

Obstetrícia, Assistente Hospitalar de

Obstetrícia no Centro Hospitalar do Porto e

Assistente Eventual do Mestrado Integrado em

Medicina do ICBAS

Afiliação: Instituto de Ciências Biomédicas Abel

Salazar, Rua do Jorge Viterbo Ferreira nº 228,

4050-313 PORTO

Porto, Junho 2014

II

III

Dedicatória

Aos meus pais. Por tudo.

IV

V

Resumo

Introdução: O iodo é um componente essencial das hormonas tiroideias, desempenhando um

papel crucial no neurodesenvolvimento. Consequentemente, um aporte iodado insuficiente

durante a preconceção, gravidez e lactação pode ter efeitos adversos importantes, sabendo-se

inclusivamente que o défice iodado constitui a primeira causa mundial evitável de atraso

mental. Uma orientação para a suplementação de iodo nesta fase do ciclo de vida foi

recentemente introduzida em Portugal, todavia existe ainda alguma controvérsia acerca da

implementação desta prática.

Objetivos: Esta revisão pretende fazer uma súmula do estado de arte acerca da

suplementação iodada na preconceção, gravidez e lactação, de modo a esclarecer os

potenciais prós e contras desta medida.

Desenvolvimento: Após a contextualização do tema – através de algumas considerações gerais

acerca do Iodo, da sua distribuição e fisiologia –, são exploradas as necessidades iodadas ao

longo da vida, bem como os vários métodos de monitorização do iodo no organismo. De

seguida, apresentam-se e discutem-se os principais estudos efetuados sobre o impacto do

défice de iodo relativamente às suas consequências, epidemiologia, tratamento e prevenção.

Por fim, aborda-se a questão do excesso de iodo e os seus potenciais efeitos deletérios.

Conclusão: O status nutricional global de iodo tem melhorado marcadamente durante a última

década, no entanto, alcançar a população ainda insuficiente representa um enorme desafio.

Obter uma nutrição iodada adequada na população geral deve ser o objetivo primordial do

combate ao défice de iodo, acreditando-se que a implementação de programas nacionais de

iodização do sal é o método ideal para vir a consegui-lo. Enquanto estes programas não

atingem um funcionamento estável e sustentado, a suplementação de iodo na preconceção,

gravidez e lactação revela-se essencial em regiões de défice iodado severo. Todavia, esta

medida permanece controversa em regiões de défice limítrofe, como é o caso de Portugal,

dada a ausência de estudos adequados, concluindo-se assim que há uma necessidade

imperativa de evidência científica respeitante à suplementação neste contexto.

Palavras-chave

Iodo, Gravidez, Défice de Iodo, Perturbações por défice de iodo, Suplementação de iodo,

Desenvolvimento neurológico, Cognição, Concentração urinária de iodo.

VI

VII

Abstract

Introduction: Iodine is an essential component of thyroid hormones and therefore it plays a

main part in neurodevelopment. So, an insufficient iodine intake during preconception,

pregnancy and lactation has important adverse effects, iodine deficiency being the most

important cause of preventable mental retardation worldwide. A recent guideline about iodine

supplementation has been introduced in Portugal, although there is still some debate about

this practice.

Objectives: The intent of this review is to provide a summary of the state of the art on iodine

supplementation during preconception, pregnancy and lactation, presenting the main

advantages and disadvantages of this practice.

Development: In the first place, some general information on iodine, its worldwide

distribution and physiology is provided. Afterwards, iodine requirements and monitoring

methods are described. Then, the main studies about iodine deficiency effects, epidemiology,

treatment and prevention are presented and discussed. Finally, the subject of iodine excess

and its repercussions is approached.

Conclusions: Although the global iodine status has improved markedly in the last decade,

reaching the remaining iodine deficient population represents a huge challenge. To achieve

adequate iodine nutrition in the general population must be the main objective of the combat

against iodine deficiency and the implementation of national salt iodization programs is the

ideal way to ensure it. While these programs don’t reach an effective and sustained

functioning, iodine supplementation during preconception, pregnancy and lactation is

essential in regions of severe iodine deficiency. In the other hand, this practice remains

controversial in regions of borderline deficiency, as it happens in Portugal, due to absence of

adequate studies, providing the needed scientific evidence.

Key-words

Iodine, Pregnancy, Iodine deficiency, Iodine deficiency disorders, iodine supplementation,

Neurologic Development, Cognition, Urinary Iodine Concentration.

VIII

IX

Índice

Dedicatória ................................................................................................................................... III

Resumo .......................................................................................................................................... V

Palavras-chave ............................................................................................................................... V

Abstract ....................................................................................................................................... VII

Key-words .................................................................................................................................... VII

Índice de tabelas .......................................................................................................................... XI

Lista de Abreviaturas .................................................................................................................. XIII

Introdução ..................................................................................................................................... 1

Considerações Gerais .................................................................................................................... 3

Enquadramento Histórico ......................................................................................................... 3

Ecologia e Fontes de Iodo ......................................................................................................... 4

Fisiologia .................................................................................................................................... 5

Necessidades de Iodo ao Longo da Vida ....................................................................................... 7

Gravidez e Lactação................................................................................................................... 7

Monitorização do Iodo no Organismo .......................................................................................... 9

Concentração Urinária de Iodo ................................................................................................. 9

Outros Métodos ...................................................................................................................... 10

O Défice de Iodo e as suas Consequências ................................................................................. 13

A Importância na Preconceção, Gravidez e Lactação e na Infância ........................................ 13

Défice Iodado Severo .......................................................................................................... 14

Défice Iodado Leve a Moderado ......................................................................................... 15

Epidemiologia do Défice de Iodo ................................................................................................ 17

Tratamento e Prevenção do Défice de Iodo ............................................................................... 21

Iodização do Sal ....................................................................................................................... 21

Suplementação de Iodo na Preconceção, Gravidez e Lactação .............................................. 22

O Excesso de Iodo e as suas Consequências ............................................................................... 25

Conclusão .................................................................................................................................... 27

Referências Bibliográficas ........................................................................................................... 29

X

XI

Índice de tabelas

Tabela 1 – Recomendações para o aporte diário de iodo, por faixa etária ou grupo populacional

....................................................................................................................................................... 7

Tabela 2 – Critérios epidemiológicos para avaliar o estado nutricional relativo ao iodo baseados

na mediana das UIC de crianças de idade escolar (≥6 anos) ........................................................ 9

Tabela 3 – Critérios epidemiológicos para avaliar o estado nutricional relativo ao iodo baseados

na mediana das UIC de mulheres grávidas ................................................................................. 10

Tabela 4 – Espectro das iodine deficiency disorders ................................................................... 13

Tabela 5 – Número de países por classe de aporte iodado ........................................................ 17

Tabela 6 – Doses recomendadas para a suplementação de iodo por grupo populacional em

regiões onde a utilização de sal iodado ocorra em < 90% dos domicílios e onde a UIC mediana

seja inferior a 100μg/L em crianças de idade escolar ................................................................. 22

Tabela 7 – Aporte iodado máximo tolerado por idade ou grupo populacional .......................... 25

XII

XIII

Lista de Abreviaturas

BMIC: Breast milk iodine concentration

DDR: Dose Diária Recomendada

DGS: Direção Geral de Saúde

DIT: Diiodotirosina

ICCIDD: International Council for the Control of Iodine Deficiency Disorders

IDD: Iodine Deficiency Disorders

IOM: U.S. Institute of Medicine

MIT: Monoiodotirosina

NIS: Sodium Iodine Symporter

QI: Quociente de Inteligência

RDA: Recommended Dietary Allowance

RIC: Renal Iodine Clearance

RNI: Recommended Nutrient Intake

SCF-EC: Scientific Committee on Food – European Commission

SPEDM: Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo

T3: Triiodotironina

T4:Tiroxina

Tg: Tiroglobulina

TPO: Peroxidase tiroideia

TSH: Thyroid Stimulating Hormone

UIC: Urinary Iodine Concentration

UNICEF: United Nations Children’s Fund

WHO: World Health Organization

XIV

1

Introdução

O iodo é um micronutriente essencial presente no corpo humano em pequenas

quantidades, sendo um componente fundamental das hormonas tiroideias – tiroxina (T4) e

triiodotironina (T3). Estas hormonas são responsáveis por regular o metabolismo celular, além

de desempenharem um papel crucial no desenvolvimento do sistema nervoso central.(1-7)

Nos seres humanos, este processo ocorre maioritariamente durante o período fetal e

nos dois a três primeiros anos de vida, consequentemente, um aporte iodado adequado

durante a gravidez é de extrema importância. De facto, as necessidades diárias de iodo variam

ao longo do ciclo de vida, estando aumentadas durante a gravidez e a lactação, dada a

necessidade de transferir, primariamente, hormonas tiroideias e, a partir de certa altura, iodo,

para o feto.(4, 6-9)

Dependendo do timing e da severidade da hipotiroxinemia, as consequências clínicas

do défice iodado variam amplamente. A manifestação mais extrema é o cretinismo, sendo

resultado de um défice iodado severo, o qual é, felizmente, cada vez mais raro. No entanto, os

graus mais subtis de diminuição da capacidade cognitiva, potencialmente resultantes de

défices mais discretos, revestem-se também de grande importância para a saúde pública,

afetando a qualidade de vida e a produtividade económica das populações. Assim, de acordo

com a World Health Organization (WHO), o défice de iodo afeta ainda 1,88 biliões de pessoas,

constituindo a principal causa mundial evitável de atraso mental!(4-7, 9-12)

Em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo

(SPEDM) realizou um estudo nacional sobre o aporte de iodo nas grávidas, tendo-se verificado

que este era globalmente insuficiente de acordo com as recomendações da WHO – apenas

16,8% das grávidas do Continente apresentavam valores de iodúria adequados e nas Regiões

Autónomas somente uma minoria de 5,4% atingia iodúrias satisfatórias.(2, 13)

Tendo em conta estes resultados, a SPEDM recomendou a introdução de

suplementação de iodo nas mulheres grávidas e nas lactantes em Portugal, motivando a

Direção Geral de Saúde (DGS) a emitir a seguinte Orientação, a 26/08/2013: “As mulheres em

preconceção, grávidas ou a amamentar devem receber um suplemento diário de iodo sob a

forma de iodeto de potássio – 150 a 200μg/dia, desde o período preconcecional, durante toda

a gravidez e enquanto durar o aleitamento materno exclusivo (…) ”.(1, 2, 13)

2

Chegando a este ponto, parece claro que a suplementação de iodo deve ser

implementada, no entanto, persistem dúvidas acerca desta medida, devido à falta de estudos

científicos apropriados que a suportem em contextos de défice leve a moderado. Por outro

lado, alguns estudos sugerem que aumentar o aporte de iodo numa população pode

comportar alguns riscos, bem como que um défice de iodo leve pode estar associado à

diminuição do hipotiroidismo e da tiroidite autoimune.(3-6)

Assim, o objetivo da presente dissertação é elaborar uma revisão da literatura nacional

e internacional acerca da suplementação de iodo durante a preconceção, gravidez e lactação,

explorando os prós e contras desta medida.

3

Considerações Gerais

Enquadramento Histórico O Iodo – elemento químico de símbolo I, número atómico 52 e massa atómica 126,9 –

foi descoberto de forma acidental, em Maio de 1811, pelo químico francês Bernard Courtois.

Durante o seu serviço ao exército de Napoleão, Courtois procurava uma fonte

acessível e rentável de salitre – nitrato de potássio, KNO3 –, um dos principais componentes da

pólvora. A resposta a esta demanda foi obtida pela queima de algas secas, encontradas em

larga escala ao longo da costa atlântica francesa, e da subsequente utilização das suas cinzas

para a extração de potássio. No entanto, este processo químico originava compostos de

enxofre, os quais se depositavam nos tanques utilizados, implicando a adição de ácido

sulfúrico, de modo a evitar o acúmulo de detritos. Assim, face a uma adição de ácido sulfúrico

superior ao habitual, surgiu uma nuvem de vapor violeta, o qual condensou em contacto com

as superfícies frias circundantes, levando ao aparecimento de cristais escuros de aparência

metálica. (6, 14, 15)

Tendo em conta o cenário de guerra que envolve este episódio, é fácil de entender que

Courtois não teve oportunidade para prosseguir qualquer investigação, todavia cedeu algumas

amostras dos cristais obtidos aos químicos Humphry Davy e Gay-Lussax. Estes, separadamente,

dedicaram-se a estudar a misteriosa substância, identificando-a como um novo elemento

químico, denominado iodo, a partir do grego iodes, violeta. (6, 14, 15)

Posteriormente, em 1895, Baumann identifica a presença de iodo na glândula tiroide

e, em 1917, Marine e Kimball demonstram que o aumento da tiroide (bócio) se deve ao défice

de iodo, podendo ser prevenido pela suplementação deste micronutriente.(6)

Em 1960, a WHO realiza a primeira estimativa da prevalência do bócio e reporta que

20-60% da população mundial teria défice de iodo e/ou bócio. No entanto, os programas de

saúde pública da maioria dos países não davam qualquer atenção a este flagelo, até aos anos

70-80, altura em que surgem os primeiros estudos caso-controlo em regiões com défice de

iodo, indicando que a suplementação de iodo eliminava o aparecimento de novos casos de

cretinismo, reduzia a mortalidade infantil e melhorava a função cognitiva de toda a população.

(6)

Nos anos 90, firma-se o termo Iodine Deficiency Disorders, (IDD) ou perturbações por

défice de iodo, respeitante a um espectro de doenças cuja eliminação começa então a ser

contemplada em várias estratégias nacionais de nutrição.(2, 6)

4

Ecologia e Fontes de Iodo O iodo encontra-se amplamente, mas desigualmente, distribuído no meio ambiente,

pelo que a quantidade de iodo nos alimentos e na água varia significativamente em função da

zona geográfica de onde provém. Vejamos: a maior parte do iodo encontra-se nos oceanos

(cerca de 50μg/L), sob forma de iões iodeto (I-), os quais oxidam formando iodo elementar (I2).

Como o I2 é extremamente volátil, evapora para a atmosfera, voltando ao solo através da

chuva, completando assim o seu ciclo. Todavia, este ciclo pode ser lento ou incompleto em

diversas regiões, deixando os solos e a água deficitários, de modo que as culturas que crescem

nesses solos são pobres em iodo e, consequentemente, os animais e humanos que consomem

esses alimentos desenvolvem défice iodado.(4, 6)

Assim, a deficiência de iodo é comum em áreas montanhosas (Alpes, Andes, Atlas e

Himalaias), em regiões do interior (África, Ásia e Europa Central), bem como em áreas sujeitas

a inundações frequentes, como o Sul e o Sudeste Asiático. No entanto, também pode ocorrer

em ilhas e zonas costeiras, como acontece nos Açores e no Reino Unido.(4, 6, 16, 17)

O teor de iodo nativo da maioria dos alimentos é muito baixo, entre os 3-80 μg por

porção, sendo que os alimentos de origem marinha, como o peixe, o marisco e algumas algas,

têm um conteúdo de iodo mais elevado. Realce-se, os peixes de água doce podem ser pobres

em iodo, visto que o seu conteúdo neste oligoelemento apenas reflete a água em que

vivem.(1, 4, 6)

Curiosamente, nos EUA e em alguns países europeus as principais fontes de iodo são o

leite, já que as glândulas mamárias concentram iodo, e o pão, dada a utilização de iodo em

alguns suplementos adicionados à massa. (1, 4, 6, 18, 19)

A exposição ao iodo pode provir de diversas outras fontes, como suplementos

dietéticos, alguns corantes alimentares, produtos utilizados na irrigação e fertilização dos

solos, bem como na alimentação do gado, além dos produtos iodados usados para desinfetar

as tetas dos animais e os canais por onde é extraído o leite. Por outro lado, alguns

desinfetantes de pele, produtos de contraste para procedimentos imagiológicos e

medicamentos, como a amiodarona, também são fontes a considerar. (1, 4, 6, 19)

Mais tarde, falaremos do caso particular do sal iodado, uma fonte de iodo de elevada

importância para a prevenção das IDD.

5

Fisiologia O iodo é ingerido sob várias formas químicas, como o iodeto, que é rápida e quase

completamente absorvido no estômago e no duodeno, e o iodato (amplamente utilizado na

iodização do sal), o qual é reduzido no intestino e então absorvido como iodeto. Nos adultos

saudáveis esta absorção é superior a 90%.(4, 6)

O iodo é retirado da circulação principalmente pela tiroide e pelos rins, sendo que a

clearance renal é praticamente constante, enquanto a clearance tiroideia varia com consumo

de iodo. Em condições de fornecimento adequado, apenas cerca de 10% do iodo absorvido é

retido pela tiroide, concentrando este glândula 70-80% dos 15 a 20mg totais de iodo presentes

no organismo de um adulto saudável. Por outro lado, num cenário de deficiência crónica deste

micronutriente, a fração extraída pela tiroide pode exceder os 80% e o conteúdo tiroideu de

iodo pode cair abaixo dos 20μg. (3, 4, 6)

O transporte do iodo, sob forma de iodeto, para o interior da tiroide dá-se através de

uma glicoproteína transmembranar, localizada na membrana basolateral das células foliculares

tiroideias – o NIS (Sodium Iodine Symporter) –, ocorrendo contra um gradiente de

concentração 20 a 50 vezes superior ao do plasma. Trata-se então de um processo de

transporte ativo que utiliza a energia produzida pelo movimento de sódio a favor do seu

gradiente eletroquímico para a translocação simultânea de iodo, contra o seu gradiente

eletroquímico. (6)

No interior das células foliculares, os aniões iodeto rapidamente difundem até à

superfície apical, onde são transportados pela pendrina – um transportador de membrana

Iodo/Cloro – para vesículas exocíticas fundidas à própria membrana. Nestas vesículas o iodeto

é rapidamente oxidado em iodo elementar, pela peroxidase tiroideia (TPO) e pelo peróxido de

hidrogénio, e ligado a resíduos de tirosina da tiroglobulina (Tg), produzindo monoiodotirosina

(MIT) e diiodotirosina (DIT), percursoras das hormonas tiroideias. Assim, a ligação de duas

moléculas de DIT produz T4 e a ligação de uma molécula de DIT com uma de MIT produz T3.

(3, 6, 20)

Paralelamente a este processo, a tiroglobulina é sintetizada e glicosada no retículo

endoplasmático rugoso da célula sendo incorporada nas já referidas vesículas exocíticas, as

quais se encontram no lúmen dos folículos tiroideus. (20)

Posteriormente, estas vesículas sofrem endocitose e unem-se a lisossomas, formando

fagolisossomas, nos quais ocorre a digestão da Tg por proteases, o que permite a libertação de

6

T4 e T3 para a circulação. Estas hormonas têm semivida de 5-8 dias e de 1,5-3 dias,

respetivamente, e o iodo libertado na sua degradação pelas deiodinases periféricas entra na

pool de iodo plasmático, podendo ser novamente retido pela tiroide ou excretado pelos rins.

Mais de 90% do iodo ingerido acaba por ser excretado na urina e apenas uma pequena

quantidade é detetada nas fezes. (3, 4, 6, 20)

A Thyroid Stimulating Hormone (TSH) produzida pela hipófise é responsável pela

estimulação do NIS e pela consequente promoção do transporte do iodeto, existindo também

um mecanismo de autorregulação do tireócito. (3, 6)

7

Necessidades de Iodo ao Longo da Vida

Estudos do turnover de iodo tiroideu, da captação tiroideia de isótopos radioativos do

iodo, bem como do equilíbrio fisiológico de iodo no organismo, realizados em indivíduos

eutiroideus, foram utilizados para estimar as necessidades diárias de iodo. Com base nos

dados obtidos, o U.S. Institute of Medicine (IOM), bem como a WHO (em conjunto com a

UNICEF e o ICCIDD – International Council for the Control of Iodine Deficiency Disorders)

propuseram aportes diários de iodo, muito semelhantes, como se pode observar na Tabela 1.

(1, 6, 21)

Tabela 1 – Recomendações para o aporte diário de iodo, por faixa etária ou grupo

populacional (12, 22)

Faixa etária IOM (RDAa, μg/dia) Faixa etária WHO, UNICEF e ICCIDD

(RNIb, μg/dia)

0-6 meses 110 Crianças 0-5 anos 90 6-12 meses 130 Crianças 1-8 anos 90 Crianças 9-13 anos 120 Crianças 6-12 anos 120 Adultos (≥ 14 anos) 150 Adultos (≥ 12 anos) 150 Gravidez 220 Gravidez 250 Lactação 290 Lactação 250 aRDA = Recommended dietary allowance,

definida como o aporte diário médio necessário para cobrir as necessidades de 97-98% dos indivíduos saudáveis de uma determinada faixa etária.

bRNI = Recommended nutrient intake, definido

como o aporte diário estimado para cobrir as necessidades de “praticamente todos” os indivíduos saudáveis de uma determinada faixa etária. Corresponde à dose diária recomendada (DDR).

Gravidez e Lactação Ao consultar a Tabela 1 reparamos que as recomendações de aporte iodado são

superiores na gravidez, o que se deve a três importantes fatores:

1. Aumento na produção materna de T4, de 40-50%, de modo a manter o eutiroidismo

materno e a transferir hormonas tiroideias para o feto, antes da tiroide fetal estar em

funcionamento;

2. Transferência de iodo para o feto, particularmente numa fase mais tardia da gestação;

3. Potencial aumento da clearance renal de iodo (Renal Iodine Clearance, RIC).(6, 21, 23-

26)

A literatura disponível não chega a um consenso firme acerca das quantias concretas

de T4 e de iodo transferidas para o feto durante a gestação, nem tão pouco acerca do valor de

iodo captado diariamente pela tiroide fetal.

8

Delange aponta para um acréscimo de 75-150μg/dia na produção de T4, o que implica

um aporte adicional de 50-100μg/dia de iodo. A este valor soma-se o necessário para produzir

a T4 a transferir para o feto, ainda não estabelecido, além da quantidade de iodo

propriamente dito a ser transferida, que Delange conclui rondar os 50μg. Assim, aos 150μg

diários necessários para um aporte iodado adequado na idade adulta, acrescem 100μg, no

mínimo, contabilizando um total de 250μg, o que está de acordo com a RNI proposta pela

WHO.(12, 25, 26)

Importa também referir os estudos conduzidos por Romano et al., Pedersen et al. e

Glinoer, os quais se debruçam sobre os efeitos da suplementação iodada durante a gravidez no

volume tiroideu, e permitiram estimar que um aporte iodado de 200-280μg/dia seria indicado,

já que previne o aumento da glândula tiroideia. (6, 21, 24, 27-29)

Durante o período de lactação, as necessidades de iodo mantêm-se aumentadas, dado

que a transferência de iodo para o recém-nascido permanece, agora através do leite materno.

As fontes bibliográficas apresentam uma maior concordância neste âmbito, nomeadamente

quanto aos valores médios de leite materno excretado diariamente e quanto à concentração

média de iodo no leite materno, a BMIC – breast milk iodine concentration –, apontando para

uma excreção diária de iodo no leite materno de 75-200μg/dia (Delange). O IOM chega mesmo

a um valor médio diário de 115μg/dia, o qual pode ser adicionado ao aporte iodado de

150μg/dia recomendado, perfazendo um total de 265μg/dia, muito próximo da RNI proposta

pela WHO.(6, 12, 21, 22, 25)

9

Monitorização do Iodo no Organismo

Os métodos recomendados para a avaliação do estado nutricional relativo ao iodo

numa população são a concentração urinária de iodo (Urinary Iodine Concentration, UIC), a

prevalência de bócio, a TSH sérica e a Tg sérica. Estes indicadores complementam-se, pois a

UIC reflete a ingestão recente de iodo (dias) e a prevalência de bócio indica o aporte de iodo a

longo prazo (meses a anos), enquanto a Tg sérica remete para uma resposta intermédia

(semanas a meses).(4, 6)

Concentração Urinária de Iodo Como vimos, 90% do iodo ingerido aparece, eventualmente, na urina, pelo que a UIC,

ou iodúria, é considerada um excelente indicador do aporte de iodo, podendo ser expressa em

μg/L, em relação à creatinina (μg/g de creatinina), ou relativamente à excreção urinária em

24h (μg/dia). (2, 5, 6, 26)

De acordo com a WHO, a mediana das UIC aferidas através de um levantamento

nacional das iodúrias encontradas em amostras simples de urina (portanto, em μg/L) de uma

população significativa de crianças de idade escolar – aproximadamente 1200 crianças (30

grupos de 40 crianças) – pode ser usada para classificar uma população quanto ao seu aporte

de iodo (Tabela 2).(4-6, 12)

Tabela 2 – Critérios epidemiológicos para avaliar o estado nutricional relativo ao iodo

baseados na mediana das UIC de crianças de idade escolar (≥6 anos)a (12)

UIC mediana (μg/L) Aporte de iodo Estado nutricional

<20 Insuficiente Défice de iodo severo 20-49 Insuficiente Défice de iodo moderado 50-99 Insuficiente Défice de iodo leve 100-199 Adequado Ótimo 200-299 Mais do que adequado Aporte provavelmente adequado para

mulheres grávidas ou a amamentar, mas pode representar riscos para a população geral

≥300 Excessivo Risco de consequências adversas (hipertiroidismo induzido pelo iodo, tiroidite autoimune)

a Aplica-se a adultos, mas não a mulheres grávidas ou a amamentar

Estimativas populacionais do aporte de iodo diário podem então ser extrapoladas a

partir da UIC, utilizando a fórmula: UIC (μg/L) x 0,0235 x peso corporal (kg) = aporte de iodo

diário, a qual contempla o volume médio de urina excretado em 24h e assume uma

biodisponibilidade média do iodo de 92%. Utilizando esta fórmula, uma UIC de 100μg/L

corresponde, grosso modo, a uma ingestão diária de 150μg de iodo. (4-6, 22)

10

No entanto, convém reforçar que este é um indicador populacional, pois os aportes

individuais de iodo podem variar consideravelmente de dia para dia e, consequentemente,

também as UIC verificadas em amostras pontuais de urina. Deste modo, é um erro assumir

que todos os indivíduos com UIC inferiores a 100μg/L apresentam défice de iodo, pois para

estimar o aporte individual de iodo seriam necessárias várias colheitas de urina de 24h. (4-6)

No que concerne ao âmbito específico desta revisão, convém realçar que a WHO, o

ICCIDD e a UNICEF recomendam a mediana das UIC como principal método para avaliar o

estado nutricional relativo ao iodo em populações de grávidas, utilizando os critérios presentes

na Tabela 3. (3, 6, 12, 26)

Tabela 3 – Critérios epidemiológicos para avaliar o estado nutricional

relativo ao iodo baseados na mediana das UIC de mulheres grávidas a (12)

UIC mediana (μg/L) Aporte de iodo

<150 Insuficiente

150-249 Adequado

250-499 Mais do que adequado

≥500 Excessivo b

a Para mulheres a amamentar ou crianças <2 anos, uma mediana urinária ≥100 μg/L

pode ser usada para definir um aporte de iodo adequado. b

O termo “excessivo” significa que excede a quantidade necessária para prevenir

o défice de iodo.

Outros Métodos Quanto aos restantes métodos, menos pertinentes para a presente dissertação,

atente-se que a prevalência de bócio pode ser utilizada para definir a severidade do défice de

iodo numa população, de acordo com os seguintes critérios: abaixo de 5%, aporte de iodo

suficiente; 5-19,9%, défice leve; 20-29,9%, défice moderado; e acima de 30%, défice severo.

No entanto, o volume tiroideu pode demorar anos a regressar ao normal após correção do

défice iodado, o que constitui uma desvantagem deste método.(4-6, 12)

A TSH sérica é considerada como um indicador insensível quanto ao aporte de iodo nos

adultos, pois, ainda que aumente ligeiramente face ao défice iodado, mantém-se, tipicamente,

no intervalo normal. Todavia, possui sensibilidade e utilidade para avaliar o estado nutricional

nos recém-nascidos, já que nesta faixa etária o turnover de iodo tiroideu está fisiologicamente

aumentado. Se por si só isto já implicaria uma estimulação acrescida pela TSH, face a um

défice de iodo o aumento desta hormona na circulação sanguínea é ainda mais expressivo.

Deste modo, a WHO afirma que uma frequência superior a 3% de valores de TSH >5mU/L

sugere um aporte de iodo insuficiente numa população. (4-6, 12)

11

Por fim, a Tg sérica apresenta-se como um método promissor, pois correlaciona-se

amplamente com a severidade do défice de iodo aferido pela UIC mediana, diminui

rapidamente face à repleção de iodo e apresenta elevada sensibilidade. No entanto, é

necessário recorrer a um imunoensaio dispendioso (ainda que estejam a ser desenvolvidas

outras técnicas de avaliação) e implica a avaliação simultânea dos anticorpos anti-Tg, cujas

implicações em cenários de défice de iodo são ainda desconhecidas.(5, 6)

12

13

O Défice de Iodo e as suas Consequências

O défice de iodo provoca múltiplos efeitos adversos no desenvolvimento e

crescimento de animais e humanos, os quais, no seu conjunto, constituem as já referidas

Iodine Deficiency Disorders (IDD) (Tabela 4). As IDD resultam de uma produção insuficiente de

hormonas tiroideias (hipotiroidismo), devido a um aporte de iodo inadequado.(4-6, 8)

Tabela 4 – Espectro das iodine deficiency disorders(5, 6, 12)

Grupo populacional Consequências do défice de iodo

Todas as idades Bócio Hipotiroidismo Suscetibilidade aumentada à radiação nuclear

Feto Abortamento espontâneo Nado-morto Anomalias congénitas Mortalidade perinatal

Recém-nascidos Cretinismo endémico Mortalidade infantil

Crianças e adolescentes Alterações da função cognitiva Atraso do desenvolvimento psicomotor Hipertiroidismo induzido pelo iodo

Adultos Alterações da função cognitiva Hipertiroidismo induzido pelo iodo

A Importância na Preconceção, Gravidez e Lactação e na Infância Numa região com aporte iodado adequado, uma mulher saudável mantém a referida

reserva de iodo tiroideu de 15-20mg, pelo que, mesmo face às necessidades aumentadas de

iodo inerentes à gravidez, consegue manter o eutiroidismo, utilizando este armazenamento.

Todavia, no caso de uma mulher submetida a um défice crónico do aporte iodado, o seu

balanço nutricional de iodo será negativo, pois, para compensar a ingestão de iodo diminuída,

terá vindo a recorrer à dita reserva para manter o eutiroidismo. Assim, se esta mulher

engravidar, não terá como compensar as necessidades aumentadas de iodo, dando-se,

consequentemente, o aparecimento de alterações patológicas, como o bócio e o

hipotiroidismo, que podem afetar a saúde materna e fetal.(4, 6, 8)

As repercussões mais preocupantes do défice de iodo ocorrem durante a vida fetal, já

que as hormonas tiroideias são vitais para o crescimento e desenvolvimento do feto,

particularmente do sistema nervoso central. No entanto, a função tiroideia fetal começa

apenas às 10-12 semanas e o sistema vascular porta hipofisário conclui o seu desenvolvimento

ainda mais tarde, às 18-20 semanas. Deste modo, durante a primeira metade da gestação o

feto depende da transferência de hormonas maternas para que o denominado

neurodesenvolvimento dependente das hormonas tiroideias ocorra sem problemas. Este

14

fenómeno inclui uma série de processos de proliferação e migração neuronal, crescimento

axonial, ramificação dendrítica, diferenciação das células da glia, bem como mielinização e

sinaptogénese.(3, 4, 6, 8, 9)

O neurodesenvolvimento não é, obviamente, estanque ao período fetal, prolongando-

se pelos dois a três primeiros anos de vida, pelo que aportes iodados adequados durante a

lactação e a primeira infância são também de suma importância. No que concerne ao período

de lactação, dada a capacidade da glândula mamária de concentrar iodo, o fornecimento

iodado ao recém-nascido através do leite materno pode ser mantido mesmo em situações de

défice iodado materno. Finalmente, durante a infância o aporte iodado passa a depender da

alimentação familiar, influenciando consideravelmente o desempenho cognitivo e

comportamental das crianças.(3, 4, 6, 8)

Assim, entende-se facilmente que o défice de iodo prejudica irreversivelmente o

desenvolvimento cerebral, todavia a extensão com que tal dano ocorre depende da severidade

do défice.

Défice Iodado Severo

O défice severo de iodo in útero provoca uma condição denominada cretinismo,

caracterizada sempre por um atraso mental significativo, associado a um espectro variável de

problemas de crescimento, postura, marcha, audição, discurso, bem como a hipotiroidismo.

Foram descritos dois tipos de cretinismo, embora os sintomas de ambos possam por vezes

sobrepor-se no mesmo indivíduo, constituindo uma forma mista. O tipo mais comum é o

cretinismo neurológico, caracterizado por um atraso mental severo, surdez e mudez,

estrabismo e espasticidade motora proximal. Por outro lado, o cretinismo mixedematoso, ou

cretinismo hipotiroideu, apresenta um atraso mental menos grave, mas implica um

hipotiroidismo profundo, com atrofia e fibrose tiroideia. Deste modo, inclui todas as

características relacionadas com o hipotiroidismo severo precoce: atraso do crescimento

severo, maturação incompleta da configuração naso-orbital, atrofia da mandibula, pele seca e

espessada, cabelo seco e escasso e atraso na maturação sexual. (3, 4, 6-9)

A importância de um aporte de iodo adequado na prevenção do cretinismo foi

destacada em 1960, num estudo de grandes dimensões realizado na Papua Nova Guiné, em

zonas de défice iodado severo e cretinismo endémico. Neste estudo, verificou-se que uma

injeção de óleo iodado na preconceção ou na gravidez precoce reduzia a incidência de

cretinismo e melhorava as funções psicomotoras das crianças, comparadamente com as

15

mulheres que recebiam um placebo. Seguiram-se estudos no Zaire, na China (principalmente

no Oeste), no Peru e no Equador, todos com conclusões semelhantes.(4, 6-9, 30-32)

De facto, de acordo com a WHO, o défice de iodo constitui ainda hoje a principal causa

mundial evitável de atraso mental, sendo que o cretinismo se encontra no extremo de

gravidade do espectro de repercussões que tal défice pode ter no SNC. Assim, este espectro

inclui graus variados de impacto na função cognitiva, mesmo na ausência de atraso mental

declarado. Neste contexto, foram realizadas duas meta-análises que, apesar de terem algumas

limitações (incluem estudos maioritariamente observacionais, não ponderam fatores

potencialmente confundidores, uma delas inclui apenas estudos feitos na China…), chegam a

conclusões semelhantes, estimando que as populações, particularmente as crianças,

submetidas a um défice de iodo severo crónico apresentam uma redução média do QI de 12 a

13,5 pontos.(3, 6, 33, 34)

De um diferente ponto de vista, também é conhecida a associação entre um défice de

iodo severo e diversos problemas obstétricos, incluindo o abortamento espontâneo, a

prematuridade e a ocorrência de nados-mortos. De facto, em áreas de défice severo,

constatou-se uma relação inversa entre os níveis maternos de T4 durante a gravidez e a taxa

de mortalidade da descendência. Estudos decorridos na China, no Zaire e na Indonésia indicam

que atingir a repleção de iodo em grávidas e recém-nascidos pode reduzir as taxas de

mortalidade neonatal e infantil até 50%.(3, 6, 7)

Défice Iodado Leve a Moderado

As consequências do défice de iodo leve-moderado ainda não foram completamente

esclarecidas.

Diversos autores apontam que um défice deste tipo durante a gravidez, ainda presente

em vários países industrializados, possa afetar o desenvolvimento cognitivo da descendência.

Nesse sentido, de 1991 a 2002 foram realizados 6 estudos randomizados e controlados na

Europa acerca dos efeitos da suplementação iodada em grávidas com défice de iodo leve a

moderado. Todos verificaram um aumento significativo na UIC materna e 4 dos 6 estudos

reportaram uma minimização do aumento de volume da tiroide materna e fetal, todavia

apenas dois revelaram uma diminuição da TSH materna (dentro do intervalo normal). Por fim,

nenhum exibiu efeitos laterais da suplementação ou qualquer alteração nas concentrações de

T3 e T4 maternas ou fetais.(4-9, 23, 27-30, 35-40)

16

Assim, estes estudos sugeriram que em áreas de défice iodado leve-moderado a

tiroide materna é capaz de se adaptar e corresponder às necessidades acrescidas de hormonas

tiroideias. No entanto, não foram avaliados desfechos clínicos a longo-prazo, como o bócio

materno ou o desenvolvimento infantil, de modo que os potenciais efeitos adversos de um

défice de iodo leve-moderado permaneceram por esclarecer.(5-10, 23)

Em 2009 foram publicados dois estudos espanhóis que investigaram o efeito da

suplementação iodada em grávidas com défice de iodo moderado no neurodesenvolvimento

da sua descendência. Ambos sugeriram que tal processo poderia ser prejudicado por um

défice iodado moderado, mas, infelizmente, apresentavam diversas falhas no seu desenho.(9,

35, 41, 42)

Em 2013, foi publicado no Reino Unido um estudo observacional que avalia a

performance cognitiva dos filhos de 1040 grávidas divididas em duas categorias: as que no 1º

trimestre tinham iodúria inferior a 150 μg/L e aquelas com iodúria superior a 150 μg/L. Foi

aplicado um teste de QI à descendência aos 8 anos de idade, tendo os resultados revelado que

os filhos de mulheres com carência iodada apresentavam uma redução nos valores de QI

estatisticamente significativa, comparativamente com os filhos das grávidas com aporte

iodado adequado. Neste caso foram isolados e contemplados 21 fatores confundidores, o que

aumenta a relevância deste estudo.(16, 35)

Por outro lado, alguns estudos associam o hipotiroidismo subclínico materno (definido

como um aumento da concentração de TSH no segundo trimestre) e a hipotiroxinemia

materna (uma concentração de T4 livre inferior ao percentil 10 na 12ª semana de gestação) a

um comprometimento do desenvolvimento psicomotor e da função cognitiva da

descendência. No entanto, tais estudos foram realizados em regiões com aporte de iodo

suficiente, pelo que a hipofunção tiroideia não pode ser atribuída ao défice iodado.(4, 5, 43,

44)

Deste modo, os dados relativos aos efeitos de um défice de iodo leve a moderado

durante a gravidez são ainda limitados, havendo uma necessidade de estudos randomizados

controlados que investiguem tais repercussões.

Posteriormente, iremos recordar os estudos aqui apresentados, na exploração do

tema Suplementação de Iodo na Preconceção, Gravidez e Lactação.

17

Epidemiologia do Défice de Iodo

Pouquíssimos países – Suíça, alguns dos países Escandinavos, EUA e Canadá – tinham

um aporte iodado considerado completamente suficiente antes de 1990, mas desde então

estima-se que a proporção de domicílios que utiliza sal iodado terá subido de 20 para 70% até

2007, reduzindo consideravelmente a incidência do défice de iodo. Esta importante mudança

terá resultado do esforço conjunto de várias organizações internacionais, particularmente a

WHO, a UNICEF e o ICCIDD.(4-6, 10, 45)

Em 2007, a WHO estimou que cerca de 2 biliões de indivíduos teriam um aporte de

iodo deficitário, incluindo 31,5% de todas as crianças de idade escolar. A prevalência mais

baixa de défice iodado ocorria na América (10,6%), local onde se verificava a maior taxa de

consumo de sal iodado (cerca de 90% dos lares). A Europa reportava a prevalência mais alta de

défice iodado (52%), bem como a cobertura mais baixa pelos programas de iodização salina

(25%)(4-6, 8, 10).

Em 2011 foram levadas a cabo novas avaliações, com dados de mais países, graças,

principalmente, a novos estudos europeus, contemplando assim 96,1% da população mundial

de crianças de idade escolar. A prevalência global de aporte iodado deficitário terá descido

para 1,88 biliões de pessoas (cerca de 29,8% das crianças de idade escolar), através de um

progresso mantido e consistente na Europa – onde a prevalência do défice de iodo desceu

para 43,9% – no Este do Mediterrâneo, no Sudeste Asiático e no Pacífico Oeste. No entanto,

em África, não houve qualquer tipo de evolução, mantendo-se, desde 2003, uma prevalência

na ordem dos 40%, o que no fundo traduz um aumento no número de crianças de idade

escolar deficitárias, dado o crescimento populacional, de 50 para 58 milhões.(10)

De um diferente ponto de vista, no que concerne ao número de países, verificaram-se

as seguintes alterações (Tabela 5)(10):

Tabela 5 – Número de países por classe de aporte iodado(10)

Aporte de Iodo 2003 2007 2011

Insuficiente: défice severo 1 0 0 Insuficiente: défice moderado 13 10 9 Insuficiente: défice leve 40 37 23 Adequado 43 49 69 Mais do que adequado 24 27 36 Excessivo 5 7 11

Deste modo, assiste-se a uma evolução favorável, com uma diminuição progressiva no

número de países carenciados, todavia, o número de países com aportes mais do que

18

adequado e excessivo aumentou. Estes dados enfatizam a importância de monitorizar

regularmente o estado nutricional iodado, com o objetivo de detetar tanto aportes

insuficientes como excessivos, pois também estes podem ter consequências adversas, como

iremos ver posteriormente.(4, 10)

Em Portugal desde os anos 60 que existe alguma preocupação acerca do défice iodado

e, inclusivamente, foram realizados alguns estudos (entre as décadas de 60 e 80) que

apontavam para a existência de duas regiões de bócio endémico – o distrito de Castelo Branco

e a Serra Algarvia.(46-48)

Mais recentemente, foram realizados vários estudos relativos ao aporte iodado, o

primeiro dos quais publicado em 2009 e realizado no Minho. Este estudo alertou para uma

carência leve de iodo, verificada em mulheres não grávidas, em grávidas (nos três trimestres e

posteriormente no período de amamentação) e também na sua descendência. Estes

resultados colocaram a comunidade científica em alerta para um potencial défice iodado

generalizado na população portuguesa, motivando a realização de dois estudos nacionais para

a avaliação do aporte iodado em crianças de idade escolar e em grávidas, pela SPEDM.(13, 47,

49)

O estudo do aporte de iodo na população escolar portuguesa avaliou 3680 crianças

provenientes de 78 escolas do Continente, de ambos os sexos, com idades compreendidas

entre os 6 e os 12 anos. Os resultados apontaram para um aporte iodado no limiar do

satisfatório (iodúria mediana de 105,5μg/L), no entanto 47% das crianças estudadas tinham

valores ligeira a moderadamente insuficientes. Foram encontradas diferenças estatisticamente

significativas a nível regional, com a região administrativa do Norte a reportar valores mais

desfavoráveis. Além disso, o sexo masculino e a toma de leite escolar influenciaram

significativa e positivamente as iodúrias. Os dados obtidos foram comparados com a

informação disponível dos estudos dos anos 80, tendo-se verificado uma melhoria franca,

embora persistam áreas de carência. Limbert et al. concluem por fim que a implementação de

programas de iodização do sal deve ser tomada em consideração.(47)

Quanto à nutrição iodada das grávidas portuguesas, Limbert et al. avaliaram as

iodúrias de 3631 mulheres grávidas, seguidas em 17 maternidades do interior e do litoral de

Portugal Continental e também dos arquipélagos dos Açores e da Madeira. A mediana das UIC

encontrada no Continente era de 84,9μg/L, enquanto na Madeira era de 69,5μg/L, e nos

Açores o valor aferido era ainda mais baixo, 50,0μg/L. De facto, a proporção de grávidas com

iodúrias adequadas (>150μg/L) era de apenas 16,8% em Portugal Continental e de 5,4% nas

19

ilhas. Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o interior e o litoral

de Portugal Continental, com o interior a relatar valores significativamente mais baixos,

possivelmente devido à distância do mar, ao menor consumo de peixe e ao status

socioeconómico inferior. A diferença exuberante entre as iodúrias aferidas nas ilhas e no

Contintente parece difícil de explicar à primeira vista, mas, de acordo com a informação local,

o consumo de peixe é escasso, devido ao seu custo elevado. Por outro lado os solos são pobres

em iodo, dado o elevado índice de pluviosidade, levando ao leaching effect, fenómeno de

deslavamento dos solos, reconhecido em estudos dos anos 80 e também apontado como um

importante fator para o status nutricional de iodo no Reino Unido. Assim, a SPEDM recomenda

a suplementação de iodo durante a preconceção, gravidez e lactação em todas as mulheres

portuguesas, bem como a profilaxia do défice iodado através da iodização salina.(13, 16, 46)

Por fim, foi realizado um estudo específico acerca da nutrição iodada nos Açores e na

Madeira, o qual reforçou os resultados obtidos anteriormente, verificando que 92% das

grávidas na Madeira e 99% das grávidas nos Açores apresentavam iodúrias desadequadas.

Mais uma vez, a SPEDM reforça a recomendação da suplementação iodada.(17)

20

21

Tratamento e Prevenção do Défice de Iodo

Iodização do Sal O método mais eficiente para controlar o défice iodado em praticamente todas as

regiões sujeitas a este flagelo é através da iodização do sal, dado que:

Virtualmente toda a população consome sal;

O aporte de sal é consistente durante todo o ano;

Em vários países a sua produção/importação é limitada a poucas fontes;

A tecnologia para a iodização é simples e a sua implementação não é

dispendiosa;

A adição de iodo não altera a cor ou o sabor do sal;

A quantidade de iodo no sal pode ser monitorizada facilmente.(1, 2, 4-6)

Os primeiros países a implementar programas de iodização salina foram os EUA e a

Suíça, no início dos anos 20, com o objetivo de prevenir o bócio. Entretanto, esta estratégia foi

sendo divulgada e introduzida nos planos de saúde pública de diversos países, principalmente

desde 1990, sendo um tema constante nas assembleias e diretrizes da WHO. Atualmente

estima-se que cerca de 71% da população mundial consome sal iodado.(1, 2, 6, 10)

A WHO, a UNICEF e o ICCIDD recomendam uma adição de iodo na ordem dos 20-

40μg/g de sal, dependendo do aporte de sal local. Em Portugal, o consumo médio de sal é de

2g/dia/pessoa, pelo que, se o sal fosse fortificado, haveria um aporte médio diário de 60μg de

iodo, só por esta fonte. No entanto, em Portugal a legislação acerca deste tema é escassa e

existem vários produtores de sal de pequena escala, o que é reconhecidamente um fator

dificultador na implementação da dita iodização universal do sal (universal salt iodization –

USI). Este termo é utilizado para descrever a iodização de todo o sal utilizado para consumo

humano e também na pecuária. No entanto, esse ideal raramente é alcançado, mesmo em

países com poucas fontes de sal, pois a indústria alimentar é vulgarmente relutante à

utilização de sal iodado e muitos países não o usam na alimentação do gado. (1, 4-6, 50)

A iodização do sal é considerada o modo mais custo-efetivo de garantir um aporte

iodado suficiente e de melhorar a função cognitiva em populações com défice de iodo.

Inclusivamente, estima-se que a potencial perda anual atribuída ao défice de iodo nos países

em desenvolvimento era de 35,7 biliões de dólares americanos, enquanto os gastos anuais

com a iodização do sal são da ordem do meio bilião de dólares americanos. (4-6)

22

Suplementação de Iodo na Preconceção, Gravidez e Lactação Como vimos, a USI é a principal estratégia para atingir uma eliminação sustentável do

défice iodado. De facto, em países cujo programa de iodização salina cubra pelo menos 90%

dos domicílios, consistentemente ao longo de 2 anos, e a UIC mediana seja superior a 100μg/L

(avaliada em crianças de idade escolar),não é necessária suplementação extra na preconceção,

gravidez e lactação.(4-6, 51)

Assim, e tendo em conta as dificuldades de atingir a USI, a WHO recomenda que cada

país monitorize e avalie os seus programas de iodização salina e que então decida se a

suplementação iodada nestes grupos populacionais é indicada. (4-6, 51)

Em países ou regiões com défice de iodo, onde os critérios supracitados não sejam

atingidos, preconiza-se a suplementação na preconceção, gravidez e lactação, bem como nos

dois primeiros anos de vida, de acordo com as seguintes diretrizes (Tabela 6) (4-6, 51):

Tabela 6 – Doses recomendadas para a suplementação de iodo por grupo populacional em

regiões onde a utilização de sal iodado ocorra em < 90% dos domicílios e onde a UIC

mediana seja inferior a 100μg/L em crianças de idade escolar (4-6, 51)

Grupo populacional Dose diária de iodo suplementar (μg/dia)

Dose única anual suplementar de óleo iodado (mg/ano)

Mulheres em idade reprodutiva (15-49 anos)

150 400

Gravidez e Lactação 250 400 Crianças 0-6 meses 90 100 Crianças 7-24 meses 90 200

Como vemos, existem duas modalidades de suplementação: o óleo iodado e os

comprimidos ou gotas de iodeto de potássio. O óleo iodado é administrado anualmente, por

via intramuscular ou, preferencialmente, oral, devido à sua simplicidade, e foi amplamente

utilizado nos primeiros estudos que associaram o défice iodado severo ao comprometimento

do neurodesenvolvimento. Todavia, este método apresenta algumas desvantagens: a

concentração de iodo no organismo ao longo do tempo é francamente heterogénea e há

necessidade de contacto direto com os indivíduos, o que resulta num aumento dos custos.(1,

4, 6, 8)

Os comprimidos ou gotas de iodeto de potássio fornecem um aporte diário de iodo,

permitindo estabilizar a sua concentração no organismo, tal como os suplementos

multivitamínicos fortalecidos com iodo, utilizados durante a preconceção, gravidez e

lactação.(1, 4-6)

23

Recordando agora algumas da informações expostas no tema Défice de Iodo e as suas

Consequências, importa avaliar a relação entre a suplementação iodada e a morbilidade

tiroideia e neurocognitiva.

Em cenários de défice iodado severo, foram realizados cinco estudos de intervenção,

como já referido, na Papua Nova Guiné, Zaire, China, Peru e Equador. O primeiro estudo tinha

o desenho mais forte e demonstrou claramente que a suplementação de iodo numa população

com taxas elevadas de cretinismo reduz abruptamente, ou elimina, a incidência desta

patologia. Os estudos feitos no Zaire e na China reportaram que os scores de desenvolvimento

das crianças cujas mães tomaram suplementos de iodo antes ou durante a gravidez eram 10-

20% superiores aos da descendência de mães não suplementadas. Por fim, os estudos

realizados no Peru e no Equador também sugeriram algum benefício neurocognitivo para os

filhos de mães suplementadas, embora o seu desenho não seja tão forte. Assim, estes estudos

constituem evidência bastante forte para podermos afirmar que a prevenção das

consequências do défice de iodo severo, através da suplementação iodada na preconceção,

gravidez e lactação é benéfica e deve ser implementada.(3, 4, 6-9, 30-32)

No caso do défice de iodo leve a moderado, a literatura já não é tão consensual. Na

realidade, foram realizados apenas dois ensaios de intervenção, não randomizados, não

controlados e não duplo-cego, que associam a suplementação iodada durante a gravidez em

regiões de défice leve-moderado com o neurodesenvolvimento da descendência. Ambos

foram anteriormente citados – estudos espanhóis, publicados em 2009 – e ambos sugerem

que a função cognitiva pode ser prejudicada por um défice iodado moderado.(3, 9)

Berbel et al. recrutou três grupos de grávidas em diferentes fases da gestação: 4-6

semanas, 12-14 semanas e perto do termo, e suplementou todas as mulheres com 200μg de

iodo por dia até ao final da lactação. Aos 18 meses avaliou-se a performance cognitiva das

crianças através da escala Brunet-Lézine, tendo-se verificado que os resultados das crianças do

primeiro grupo (4-6 semanas) eram significativamente mais elevados do que os das outras

crianças. No entanto, este estudo apresenta duas grandes limitações: o número de crianças

avaliado foi muito pequeno e o grupo suplementado desde o início da gravidez apresentava,

logo à partida, níveis de T4 livres mais altos do que os restantes grupos, o que pode influenciar

extensamente os resultados encontrados.(3, 9, 39, 42)

Velasco et al. verificou que crianças cujas mães tinham sido suplementadas com

300μg/dia de iodeto de potássio no primeiro trimestre apresentavam índices de

desenvolvimento psicomotor e comportamental superiores às crianças de mães não

24

suplementadas. No entanto, estas crianças foram avaliadas em diferentes idades e o controlo

de potenciais fatores confundidores foi pobre.(3, 9, 35, 39, 41)

O estudo publicado no Reino Unido em 2013, ainda que compare a performance

cognitiva dos filhos de mães com carência de iodo documentada durante a gravidez com os

filhos de mães não carenciadas, é apenas observacional, ou seja, não é implementado

qualquer tipo de suplementação.(16, 35)

Além destes ensaios são frequentemente citados os 6 estudos europeus também já

mencionados, mas nenhum desses estudos avalia desfechos clínicos a longo-prazo, pelo que a

associação suplementação-neurodesenvolvimento não é apreciada. De facto, ainda que utilize

a metodologia adequada para determinar a eficácia de uma intervenção, todo este conjunto

de evidência científica é totalmente orientado para surrogate endpoints, ou seja, passos

intermédios, na linha que une a suplementação iodada na mãe e a patologia tiroideia e/ou

neurocognitiva na descendência.(4, 6-8, 21, 23, 30, 38, 40)

Assim, numa pesquisa sistemática às principais fontes de artigos, não são encontrados

ensaios clínicos aleatorizados e controlados que comparem a suplementação generalizada de

iodo versus não-suplementação, em mulheres de uma região com défice ligeiro, quanto a

patient-oriented-outcomes, ou seja, quanto ao impacto dessa suplementação na redução da

morbimoratalidade dos seus filhos.(35, 52)

Todavia, é possível encontrar uma referência a um estudo randomizado e controlado

em curso na Tailândia e na Índia, o qual se propõe a determinar os efeitos da suplementação

iodada diária em grávidas com défice de iodo leve-moderado na função tiroideia materna e da

descendência, em vários desfechos obstétricos e no desenvolvimento infantil. Infelizmente, os

resultados estarão disponíveis apenas em 2015.(9, 53)

Em Portugal, com base nos já referidos estudos da SPEDM, foi emitida pela DGS a

orientação 011/2013, a qual estabelece que as mulheres em preconceção, grávidas ou a

amamentar devem receber um suplemento diário de iodo, sob a forma de iodeto de potássio,

de 150 a 200μg/dia. No entanto, é importante reconhecer a escassez de estudos existente

acerca deste tema e que, presentemente, diretrizes quanto à suplementação iodada em

regiões de aporte limiar têm como base apenas inferências a partir de factos conhecidos.(1, 2,

13, 35, 52)

25

O Excesso de Iodo e as suas Consequências

A maioria da população com aporte iodado adequado é notavelmente tolerante a

ingestões elevadas de iodo. De facto, aportes de 1000μg/dia são tidos como bem tolerados

por adultos, dada a capacidade da tiroide adaptar a captação de iodo a um vasto espectro de

aportes e de regular a síntese e a libertação de hormonas tiroideias. No entanto, em crianças,

aportes continuados superiores a 500μg/dia estão associados a um aumento do volume

tiroideu e em populações com anormalidades tiroideias de base, doses de iodo aumentadas,

em torno do 1g, podem provocar hiper ou hipotiroidismo. Tal acontece porque numa glândula

tiroide danificada, o mecanismo normal de downregulation na captação de iodo pode não

acontecer.(4-6, 39)

Neste sentido, o Scientific Committee on Food – European Commission (SCF-EC) e o

IOM estabeleceram recomendações relativas aos aportes iodados máximos diários (Tabela 7):

Tabela 7 – Aporte iodado máximo tolerado por idade ou grupo populacional(4-6, 54)

SFC-EC, 2002 (μg/dia) IOM, 2001 (μg/dia)

1-3 anos 200 200 4-6 anos 250 300 7-10 anos 300 300 11-14 anos 450 300 15-17 anos 500 900 Adultos 600 1100 Grávidas (>19 anos) 600 1100

A análise da Tabela 7 indica-nos que há ainda alguma controvérsia acerca do limite

superior tolerável do aporte iodado na vida adulta, bem como durante a gravidez, dada a

disparidade dos valores recomendados pelos comités científicos referidos.

Em parte, a dúvida persiste devido ao hipertiroidismo induzido pelo iodo (IIH). Esta

patologia afeta primeiramente adultos mais velhos, com bócio nodular de longa duração, cujo

aporte iodado é subitamente aumentado. Os tireócitos dos nódulos tornam-se muitas vezes

autónomos, isto é, insensíveis ao controlo pela TSH, pelo que, face a um aumento no

fornecimento de iodo, podem produzir hormonas tiroideias em excesso. Os sintomas do IIH

incluem perda de peso, taquicardia, fraqueza muscular e pele quente, mas não a oftalmopatia

característica da doença de Graves.(4-6, 55)

Este cenário pode ocorrer, por exemplo, na fase introdutória de programas de

iodização do sal, como foi relatado no Zimbabué e na República Democrática do Congo, no

26

entanto, é quase sempre transitório e a sua incidência regressa ao basal após 1-10 anos de

intervenção.(4-6, 55)

Alguns estudos acerca das alterações do aporte iodado em populações previamente

deficientes em iodo, realizados na China e na Dinamarca, apontam para aumentos de várias

patologias tiroideias, como o hipotiroidismo subclínico, o hipertiroidismo e a tiroidite

autoimune. Todavia, os desfechos apresentados são muito variados e provavelmente

influenciados por outras variáveis, genéticas e ambientais.(4-6, 40, 56)

Por outro lado, a problematização acerca do limite superior do aporte iodado durante

a gravidez associa-se também com o efeito agudo de Wolff-Chaikoff, que consiste na inibição

aguda da iodização da Tg, face a um fornecimento excessivo de iodo. O mecanismo não está

completamente compreendido, mas crê-se que envolve a produção de iodolipidos e

iodolactonas, o que inibe a síntese de TPO temporariamente. Alguns dias depois, a tiroide

consegue suplantar este fenómeno, através do downregulation do NIS, modulando o influxo

de iodo para a tiroide. No entanto, a glândula tiroideia fetal só adquire esta capacidade de

“escapar” ao efeito de Wolff-Chaikoff às 36 semanas, aproximadamente, de modo que uma

sobrecarga de iodo materno pode causal hipotiroidismo fetal, sem manifestações na

grávida.(3, 39)

27

Conclusão

Terminada esta revisão, verificamos que o status nutricional global de iodo tem

melhorado marcadamente durante a última década, no entanto, apesar de tamanho

progresso, 1,88 biliões de indivíduos têm ainda aporte de iodo insuficiente, e alcançar este

terço restante da população mundial não será fácil. Os principais desafios serão atingir as

regiões mais remotas e com piores condições socioeconómicas, persuadir a indústria alimentar

a utilizar sal iodado, e convencer os pequenos produtores de sal a procederem à iodização do

seu sal, respeitando simultaneamente as políticas para redução do consumo absoluto de sal.(4,

6, 10, 57)

Assim, garantir uma nutrição iodada adequada na população geral deve ser o objetivo

primordial, pois ficou claro que quando as reservas de iodo se encontram repletas, a tiroide da

mulher em idade reprodutiva consegue adaptar-se às necessidades acrescidas consequentes

da gravidez e da lactação.(4, 6, 21, 23, 38)

Por outro lado, enquanto os programas de iodização do sal não atingem uma

implementação estável e sustentada, a suplementação de iodo na preconceção, gravidez e

lactação revela-se essencial em regiões de défice iodado severo, com benefício neurocognitivo

inegável para a descendência. Todavia, esta medida permanece revestida de controvérsia em

regiões de défice leve a moderado, dada a ausência de estudos randomizados e controlados

que associem diretamente a suplementação da grávida ao desempenho cognitivo da

descendência. Deste modo, ainda que haja fortes indícios a apontar para um efeito benéfico

da suplementação também neste contexto de carência leve, uma das principais conclusões a

retirar é a necessidade imperativa de evidência científica robusta que avalie esta relação

causa-efeito.(5, 7, 23, 30, 35, 40, 53)

Na realidade, se os programas de profilaxia iodada forem cuidadosamente

monitorizados, evitando tanto o défice como o excesso de iodo, tudo indica que os benefícios

da eliminação da carência de iodo superarão em muito os potenciais riscos de um excesso

iodado. De facto, a eliminação das IDD pode contribuir para cinco dos objetivos de

desenvolvimento do milénio (Millennium Development Goals):

1. Erradicar a pobreza extrema e a fome;

2. Atingir uma educação primária universal;

3. Diminuir a mortalidade infantil;

4. Melhorar a saúde materna;

5. Desenvolver uma parceria mundial para o desenvolvimento.(4)

28

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