surpreendida pela gloria - mundocristao.com.br final_surpreendida pela... · Às vezes tenho saudade de experiências marcantes com deus, e anseio por esse algo mais, essa manifestação

Surpreendida pela glória

Traduzido por Maria eMília de Oliveira

SharOn JayneS

uMa reSpOSTa generOSa de deuS aO nOSSO

anSeiO pOr algO MaiS

surpreendida_pela_gloria.indd 3 5/14/15 3:51 PM

Sumário

Agradecimentos 9Prefácio 11

1. O anseio de glória 15 2. reconhecendo a busca apaixonada de deus 34 3. vivendo em união sagrada 55 4. unindo-nos com deus em conversa contínua 80 5. Ousando aumentar suas expectativas 102 6. dizendo “sim” à dança divina 123 7. Confiando em deus em tempos difíceis 151 8. vendo deus através da lente da gratidão e da graça 171 9. preferindo um relacionamento íntimo à religião rotineira 189 10. de glória em glória 210

Guia de estudo 221Notas 247Bibliografia 250Diário de glória repentina 252


Prefácio

eu me lembro como se fosse hoje. era uma noite de domingo. naquela época, a igreja da lagoinha ainda era pequena, e após as reuniões todos se confraternizavam tomando um cafezinho na cantina. eu tinha apenas 8 anos e já estava no carro, sozi-nha com meu pai, esperando mamãe e meu irmão. uma questão me sufocava. na escola dominical, a professora havia contado sobre a necessidade de filhos de pais cristãos terem sua própria experiência de conversão. então, fez a pergunta: quem de nós queria entregar a vida a Cristo? desejei correr à frente, mas fiquei envergonhada porque era a filha do pastor, e já “liderava” meus coleguinhas na igreja. atordoada com minha falta de coragem, saí dali sentindo que precisava resolver isso dentro de mim, senão não teria mais sossego. Meu pai, tão carinhoso, me ouviu e enxugou minhas lágrimas. ele me disse que eu poderia entregar a vida a Cristo ali mesmo, no carro, e oramos juntos. nunca mais me esqueci desse momento.

após esse marco de minha confissão de fé em Jesus, vivi muitas outras experiências na infância e na adolescência que tornaram meu relacionamento com deus algo pessoal e íntimo, simples como a fé de uma criança. Mas a verdade é que, como qualquer pessoa, ao longo da jornada espiritual passei por tempos de sequidão, de dúvidas e questionamentos. esses momentos de provação podem ser circunstâncias adversas ou até mesmo o silêncio de deus. É ainda mais difícil quando não há arrepios nem emoções que possam respaldar a certeza de que ele está


12 SurPreendidA PelA glóriA

comigo. O que me resta é apenas a fé. para fortalecê-la, faço o esforço de relembrar eventos antigos que renovam minha esperança, e busco a palavra, que me alimenta. Mas, com tanto tempo de caminhada cristã, o que me sustenta mesmo é o que já conheço de deus, seu caráter inquestionável e seu amor por mim. essas convicções são uma âncora, estão sedimentadas em meu coração.

Às vezes tenho saudade de experiências marcantes com deus, e anseio por esse algo mais, essa manifestação de glória que quebre a rotina. Mas confesso que na maior parte do tempo o que vivo é um relacionamento estável, sem muitos altos e baixos, o qual aprendi a valorizar como mais precioso que aventuras intensas e passageiras. Como reforça eugene peterson em um de seus livros: “a vida cristã é uma longa obediência numa mesma direção”. Talvez seja bastante parecido com o casamento. Começamos apaixonados, passamos pela prova da rotina e, se vencermos, entraremos na profunda intimidade que independe de grandes aventuras. podemos e precisamos investir tempo em atividades que reguem a plantinha do amor romântico, e vez ou outra atingiremos o alto de uma montanha. Mas a felicidade está escondida nas pequenas expressões de amor no dia a dia.

É claro que tenho expectativa de que a qualquer momento deus rasgue o céu e toque meu coração de forma sobrenatural. anseio pela manifestação de poder que transforma tudo e todos ao redor. Mas sabe o que tenho descoberto? deus está comigo sempre e quer se revelar a mim. aliás, ele se mostra, mas sou eu quem me distraio e não o percebo. Se eu apenas atentar para sua beleza, ficarei fascinada e a chama do amor a deus aquecerá meu coração novamente. estou aprendendo que, para desen-volver a amizade com deus, é preciso me fazer consciente de


Prefácio 13

sua presença, como que o convidando para participar de minha vida diária.

assim, Jesus é meu companheiro quando acordo de ma-nhã. ele é a primeira pessoa com quem falo todos os dias, que participa das minhas atividades comuns no lar, no trabalho, no ministério. Meu pai me contou sobre um homem de deus, um professor no seminário de teologia. Os alunos decidiram espiar pela janela a fim de certificarem-se da vida devocional desse homem que tanto admiravam. esperavam vê-lo de joelhos madrugada adentro, com alguma visitação sobrenatural da parte de deus enquanto ele orava. Mas, qual não foi a surpresa dos seminaristas quando o homem, de pijama, sentou-se na cama e disse: “Boa noite, Jesus”, e deitou-se e dormiu!

Às vezes imaginamos que o relacionamento com deus deve ser parecido com as manifestações no Sinai, quando fogo, terremoto e trovões faziam estremecer o coração dos israelitas. Conhecer a deus pode até incluir momentos assim, de estre-mecer o coração. na cruz, porém, Jesus nos abriu um novo e vivo caminho pelo véu da sua carne que foi rasgado, dando-nos livre acesso ao pai.

Sem deixar de ansiar por essas experiências de estremecer o coração, tenho desenvolvido uma sensibilidade para ouvir o pai me chamar na simplicidade e intimidade do dia a dia. de vez em quando ele me atrai como diz Salmos 27.8: “a Teu respeito diz o meu coração: Busque a minha face! a tua face, Senhor, buscarei”. paro tudo e respondo a esse chamado para um mo-mento de intimidade maior, mais sensível, mais consciente dele perto de mim.

em Surpreendida pela glória, Sharon Jaynes escreve exata-mente sobre essa sede insaciável inerente a todo ser humano.



enquanto buscarmos saciá-la em outras fontes, jamais nos satisfaremos. Minha oração, por mim mesma, e por toda pes-soa que ler este livro, é que encontremos o caminho da graça aberto por Jesus e nos aproximemos de deus, não só na jornada da obediência e do esforço, mas do prazer de sua presença nos momentos inesperados, pequenos e simples da intimidade do dia a dia. “Cristo em nós, a esperança da glória” — glória plena no porvir, e vislumbres dessa glória repentina e surpreendente a cada dia.

ana paula valadão BessaFilha, esposa e mãe

líder do ministério de louvor diante do Trono


1o anseio de glória

ó deus, tenho experimentado tua bondade, e ela me satisfez e me fez desejar mais. estou plenamente consciente de minha necessidade de um pouco mais de tua graça.

a. W. Tozer, The Pursuit of God [À procura de deus]

aconteceu novamente.não me surpreendi.as palavras de frustração e anseio partiram do coração dela

para a caixa de entrada de meus e-mails.

Querida Sharon,Tenho uma vida muito abençoada. estou casada com o

mesmo homem há quarenta anos. Tenho quatro filhas lindas, que aparentemente se casaram com homens perfeitos, e nove netos maravilhosos. Fui criada em lar cristão, e minha mãe continua viva e com saúde aos 85 anos. Meu marido está aposentado, e temos uma vida confortável. nunca sofri abusos ou maus-tratos. Tenho amigos e amigas, e a maioria diz que sou uma pessoa feliz. ainda assim, falta-me algo. apesar de tudo de bom que a vida me deu, meu maior desejo é ter um relacionamento íntimo com Jesus.

estou tentando, tentando de verdade. apesar de ter sido criada na igreja, casei com um judeu e afastei-me de deus. entreguei minha vida a Cristo numa reunião de mulheres cristãs quinze anos atrás e, desde então, passei a buscar deus.



Senti que necessitava de um novo comprometimento com ele. hoje, faço um estudo bíblico on-line, participo ativamente de uma igreja local, visito um asilo uma vez por mês e colaboro na escola bíblica de férias. leciono na escola dominical, frequento a igreja assiduamente e oro todos os dias.

estou lendo e estudando a Bíblia e sei que, quando bus-camos perdão, ele nos é concedido. pedi perdão a deus pelas escolhas que fiz e creio que ele me perdoou. agora estou pedindo a ele que me mostre qual é seu propósito para minha vida. O que ele deseja de mim? O que planejou para mim? estou me esforçando para que ele me oriente. estou disposta a seguir seus passos todas as vezes que eu entender quais são.

esse é ponto crucial de meu problema. depois de entregar a vida a Cristo, filiei-me a uma igreja e comecei a ler a Bíblia diariamente. no entanto, nunca tive aquela sensação arrebatadora de mudança que muitas pessoas vivenciam. em momentos de quietude, quando desejo conhecê-lo melhor e aguardo as respos-tas em silêncio, não sinto aqueles cutucões dos quais as pessoas falam. Sei que algumas chegaram ao fundo do poço e, depois, passaram por uma mudança dramática de vida, acompanhada de um ápice emocional. Às vezes, eu me pergunto se precisarei passar por uma grande provação para ter a sensação maravilhosa de um relacionamento verdadeiro com Cristo.

Tenho lutado para identificar meus pecados, imaginando que isso me ajudaria a me sentir mais perto de deus. Faço de tudo para não ser mexeriqueira, orgulhosa nem fútil. esforço--me sempre para ser paciente. não tenho vícios graves, mas luto constantemente para ser uma pessoa melhor. Tento iniciar cada dia com alguns momentos de quietude, leitura da Bíblia e oração. Tento concentrar-me em deus o dia inteiro.

há algo errado comigo? as outras mulheres também sen-tem esse vazio? eu deveria sentir algo mais? O que mais devo fazer? Sei que Cristo me ama, mas me falta alguma coisa e não sei o que é. O que devo fazer?

Stephanie


o AnSeio de glóriA 17

“ah, Stephanie”, eu murmurei, “não, você não está sozinha. Suas palavras refletem os anseios de todas as mulheres ao redor do mundo e, por que não dizer, ao longo dos séculos. por que é tão difícil sentir-se perto de deus? por que essa caminhada de fé parece ser tão difícil?”

Deve haver algo maisaquela foi a primeira vez que recebi notícias de Stephanie, mas não a primeira vez que ouvi um grito vindo do coração. Os pormenores de sua história eram diferentes, mas eu ouvira o mesmo anseio partindo de muitas outras pessoas.

a maioria de nós aproxima-se de Cristo com uma dose de “paixonite aguda”: um turbilhão de emoções misturado com uma inexplicável conscientização de que descobrimos nossa razão de ser. Mas, depois de alguns anos de jornada espiritual, o encanto que aumentou de intensidade nos primeiros tempos enfraquece e cai na religião rotineira que vai se entrelaçando com a vida sobrecarregada pelas tarefas e pelos compromissos. São nesses momentos que secretamente começam os questio-namentos. “deve haver mais que isso”, pensamos. “O que estou deixando escapar? O que há de errado comigo? estou agindo corretamente, mas deus parece estar muito distante. estou me esforçando ao máximo, mas nunca parece ser o suficiente. afinal, o que deus deseja realmente de mim?”

Tenho tido o privilégio de ministrar às mulheres durante décadas e ouço sempre o mesmo grito vindo do coração daquelas que desejam ter um relacionamento profundo, íntimo e vivo com Cristo, mas que não sabem como conseguir isso.

Talvez você se identifique com elas. você anseia estar perto de deus, mas sente que falta algo, que você não conhece a fórmula misteriosa para que isso aconteça. dou a isso o nome de “anseio



de glória” — um desejo persistente de sentir a presença de deus em todos os momentos do dia. Talvez, à semelhança da maioria das mulheres, você tenta desesperadamente equilibrar a pilha de coisas que o mundo exige, mas, de alguma forma, deixa deus escapar por entre os espaços que são poucos e distantes uns dos outros. você anseia passar alguns momentos de consagração com deus, mas descobre que esse desejo está obstruído pelas responsabilidades diárias dos assuntos próprios deste mundo — as tarefas que exigem sua atenção. deseja ardentemente sentir a presença de deus, mas se sente muito distante dele quando desliga a lâmpada do abajur da mesa de cabeceira e desaba na cama, exausta mais uma vez. “Talvez amanhã”, você diz com um suspiro.

isso lhe parece recorrente? Se sim, você não está sozinha.a ironia é que permitimos que a agitação da vida obstrua a

Fonte de vida. O salmista escreveu: “Sim, cada um vai e volta como a sombra. em vão se agita, amontoando riqueza sem saber quem ficará com ela” (Sl 39.6). ann voskamp repercute esse la-mento: “em um mundo viciado em velocidade, passo tão rápido pelos momentos que os transformo em um borrão profano”.1

e nessa mancha de impiedade, nesses momentos indistintos do mundo que passam rapidamente, sabemos que alguma coisa não está certa; por isso, lutamos para tornar tudo melhor. a maioria de nós é rápida em pensar que “algo mais” significa “fazer mais”. Criamos coragem e ligamos os motores — ingressamos num novo grupo, apresentamo-nos como voluntárias em favor de uma nova causa, cozinhamos um prato a mais para alimentar os enfermos. Tentamos silenciar as dores de um coração faminto, alimentando-o com o pão e a água do dever. Mas, no fim do dia, apesar de sentirmos um bem-estar autoinduzido, o vazio



em nossa alma, que só pode ser preenchido por deus, ecoa com os roncos produzidos pela fome.

ansiamos por uma aproximação com deus, mas temos dificuldade em saber exatamente como seria essa aproximação. É aquele algo mais. algo diferente. um sabor que ainda não experimentamos. um país que ainda não visitamos. um pôr do sol que ainda não contemplamos. um amor que ainda não abraçamos. “Tem de haver algo mais”, gritamos! e estamos certas. desejamos ardentemente a aproximação que só é obtida com um relacionamento íntimo com Jesus.

então, esforçamo-nos mais ainda. participamos de estudos bíblicos, frequentamos a igreja, oramos e lemos nossos devo-cionais. Tudo conforme o figurino. e, mesmo assim, sentimos o tempo todo que estamos decepcionando deus. Com o último “amém” do dia, suspiramos fundo: “O que mais deus deseja de mim?”.

alguns anos atrás, numa manhã de janeiro, fiz a deus essa mesma pergunta. acabara de concluir um grande projeto escrito e estava pronta para agarrar a próxima grande tarefa para deus. acomodei-me em minha cadeira favorita com uma xícara de café fumegante na mão e minha Bíblia surrada, para passar alguns momentos a sós com meu pai celestial. li alguns versículos e orei. Quando comecei a me levantar, senti a mão de deus, forte e invisível, segurando-me no lugar. ele tinha algo mais para mim. “aquiete-se, e saiba que eu sou deus”, ele pareceu dizer. “pare de lutar.”

de repente, eu me vi em companhia dos discípulos no mar tempestuoso da galileia. enquanto refletia nos últimos 25 anos de minha vida, eu me vi rolando nas ondas de uma atividade interminável. uma rajada de tarefas soprando furiosamente



ao redor de mim — e em mim. rolando de uma onda agitada de trabalho e prazos de entrega em direção à próxima onda, e equilibrando-me para preservar a vida. nos olhos de minha mente, meus companheiros de barco não eram o grupo hete-rogêneo dos discípulos do primeiro século; eram mulheres de todas as camadas sociais, tentando se firmar nas águas turbu-lentas da vida.

“Mestre, não te importas que morramos?”, elas perguntaram. “Salva-nos!”

então, senti Jesus falando comigo da mesma forma como falou ao vento e às ondas violentas: “aquiete-se! acalme-se!”.

Continuei no mesmo lugar.após alguns momentos, entendi que não sabia como me

aquietar e me acalmar. nunca havia compreendido completa-mente a ideia de “acalme-se e saiba”. Sabia que deus era deus. era a parte do “acalme-se” que me aturdia. permanecer sentada não fazia parte de minha natureza, e talvez fosse exatamente a minha natureza que deus estava tentando domar. Minha “natu-reza” — ou tendência natural de trabalhar para deus — estava se interpondo no caminho de minha adoração e comunhão com deus. Minha rotina de meditação autoimposta estava interferin-do no romance divino no qual ele queria que eu me envolvesse.

você está surpresa por eu ter dito essas palavras? ah, amiga, ai de mim se eu não for sincera. Sinto esse anseio de glória da mesma forma que você. Às vezes estou tão atarefada, trabalhan-do, trabalhando, trabalhando, que o sussurro suave de deus me chamando para perto dele é sufocado pelos ruídos que eu mesma produzo. Como é triste admitir isso, mas, algumas vezes quando deus me estende a mão e me convida para acompanhá-lo à pista de dança da vida, minhas danças já estão todas comprometidas.



Muitas noites eu me curvo para apagar a lâmpada do abajur de cabeceira, desabo exausta na cama e digo com um suspiro: “Talvez amanhã, Senhor”.

eu não creio que a ideia de “aquietar-se e saber” se apresente de forma natural para qualquer uma de nós. não aprendemos que precisamos nos movimentar? “Mantenha os olhos na bola”, “Concentre-se no alvo”, “Se você não sabe para onde está indo, provavelmente não chegará lá”. Frases motivacionais, sem dúvi-da. Mas aquelas palavras vieram de deus, e a mensagem dele era diferente. enquanto o mundo me cutucava: “não fique parada aí; faça alguma coisa!”, deus estava me dizendo o oposto: “não faça nada; fique aí”.

e ele conseguiu atrair minha atenção; permaneci, portanto, onde estava.

“está bem, deus”, perguntei, “o que queres realmente de mim?”ele me surpreendeu. ele sempre faz isso quando me dispo-

nho a ouvir. veio-me à mente atos 17.28. Creio que ele o pôs ali: “... nele vivemos, nos movemos e existimos”. ele pareceu dizer: “aprenda o que isso significa”. abri minha Bíblia novamente e li as palavras, meditando em cada frase.

Nele. Vivemos. Nos movemos. E existimos.Senti deus falar ao meu coração: “É aí que você encontrará

o segredo para satisfazer esse anseio de glória. essa é a resposta que você procura. É aí que você encontrará o que suas irmãs tanto almejam. você está fazendo a pergunta errada. não é o que eu quero de você. É o que eu quero para você. e, nesse pequeno versículo, você encontrará a resposta — não apenas para você, mas para outras pessoas que se encontram no mesmo barco que você. isso acalmará a tempestade em seu coração agitado”.



deus surpreendeu-me naquela manhã. eu esperava que ele me desse uma nova tarefa — algo a ser feito para ele. Outro projeto para concluir. Outro estudo para devorar. Outra causa para defender. ele, porém, me surpreendeu. não tinha nada a ver com o que foi dito antes. Foi um versículo: “... nele vivemos, nos movemos e existimos”.

eu me perguntei: “Será essa a chave para abrir a porta atrás da qual estava escondido o remédio para curar aquele anseio de glória? a porta na qual estou batendo há tanto tempo?”. aceitei com entusiasmo o convite de deus quando ele estendeu sua mão para mim.

Fazendo a pergunta erradaSerá que temos tornado nosso relacionamento com deus difí-cil demais? lutamos muito para nos aproximar do coração de deus, e ele está o tempo todo com a mão estendida para nos alcançar. Salmos 46.10 diz: “parem de lutar! Saibam que eu sou deus!”. Pare de lutar!

Faz mais de meio século que venho lutando, buscando e procurando deus. e, como um gato querendo morder o rabo, eu corro em círculos. Corro em círculos no deserto com os israelitas, se você gostar da comparação. livre da escravidão, claro. Seguindo cheia de esperança em direção à minha terra prometida. Mas, de uma forma ou de outra, andando a esmo no deserto, sempre em círculos, sem chegar à margem do Jordão.

e não estou sozinha. as estatísticas mostram que um dos maiores desejos dos cristãos é estar cada vez mais perto de deus.2 numa pesquisa recente, 65% das pessoas que frequentam igreja disseram que estavam declinando ou estagnadas em seu crescimento espiritual.3 Mas pedro escreveu: “Seu divino poder



nos deu tudo de que necessitamos para a vida e para a piedade” (2pe 1.3). deus nos dá tudo de que necessitamos para termos uma vida de crescimento, de amadurecimento contínuo e abundante. e por que não temos essa vida? por que a maioria de nós vive parada nas areias da mediocridade e complacência do deserto? por que a maioria de nós se satisfaz em mastigar as verdades pré-digeridas pelos professores em vez de aproximar-se da mesa de banquete e festejar com deus numa mesa posta para dois?

“deus, o que queres realmente de mim?”Tenho meditado nessa pergunta desde o início de meu re-

lacionamento com Cristo. Talvez você também tenha. Quando eliminamos toda a água da sopa rala de perguntas que os homens e mulheres têm cozinhado no coração ao longo dos séculos, essa é a única pergunta que resta na panela. e sentimos que, se pudéssemos responder a essa única pergunta, descobriríamos por que esse anseio de glória persiste e como satisfazê-lo.

Já fiz essa pergunta milhares de vezes, mas numa manhã gelada de janeiro, aquietei-me durante algum tempo para ouvir. então, em completo silêncio, ele me mostrou que eu e minhas irmãs atarefadas estávamos fazendo a pergunta errada. em vez de perguntar a deus o que ele quer de nós, precisamos perguntar o que ele quer para nós.

Meditei em atos 17.28 ao longo do ano seguinte, após o dia em que deus despertou meu apetite com as possibilidades envoltas naquelas seis palavrinhas. passei então a entender que o que ele quer para nós é que sintamos sua presença, experi-mentemos seu amor e nos alegremos no relacionamento íntimo à medida que “vivemos, nos movemos e existimos” em união sagrada com ele. Quando fazemos isso, ele abre nossos olhos



para sua glória em todos os lugares, e o anseio que sentimos se torna mais suave.

Definição de glóriavocê já parou para pensar por que fomos criadas? Fomos criadas para a glória de deus e para glorificá-lo (is 43.7), porque ele se agradou de fazer isso (ef 1.5). O conceito de glória é uma ideia difícil para a mente humana compreender. parece coisa do outro mundo. podemos ter vislumbres de seu significado nas escrituras, mas, então, como uma estrela cadente que aparece por apenas um instante, ele desaparece na imensidão da sabe-doria infinita de deus. Mas vejamos o que podemos aprender a respeito dessa palavra grandiosa.

no antigo Testamento, a palavra hebraica mais comum para “glória” é kabôd, que significa “peso”, “honra” ou “estima”. a Bí-blia associa a glória de deus à forma pela qual ele se manifesta ou torna sua presença conhecida. alguns teólogos chamam esses episódios de teofania. deus fez-se presente num fogo consumidor (Êx 24.16-17), numa nuvem móvel (Êx 13.21) e no murmúrio de uma brisa suave (1rs 19.12). Sua glória reflete--se na criação (Sl 19.1) e em seu controle soberano da história (at 17.26). Sua glória faz-se conhecida na vida de simples seres humanos como você e eu.

O mesmo conceito da glória de deus encontra-se no novo Testamento na palavra grega doxa, que significa “glória”, “honra” e “esplendor”. João escreveu: “aquele que é a palavra tornou--se carne e viveu entre nós. vimos a sua glória, glória como do unigênito vindo do pai, cheio de graça e de verdade” ( Jo 1.14). depois do primeiro milagre de Jesus, quando ele transformou água em vinho, João escreveu: “este sinal miraculoso, em



Caná da galiléia, foi o primeiro que Jesus realizou. revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (2.11). em hebreus 1.3, o autor faz esta revelação a respeito de Jesus: “O Filho é o resplendor da glória de deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa”.

a forma verbal “glorificar” é doxazo, cujo significado prin-cipal é “engrandecer, exaltar, louvar, atribuir honra a deus, reconhecendo sua existência, atributos e atos”,4 ou seja, sua glória. É a revelação e a manifestação de tudo o que ele tem e é. Quando glorificamos a deus, apresentamos uma revelação ou manifestação — ou reflexo — de seu caráter. engrandecer a deus é torná-lo facilmente visível. Jesus disse que os discípulos deveriam glorificar a deus quando produzissem muito fruto ( Jo 15.8). por meio de suas ações, os discípulos levaram outras pessoas a deus e o tornaram visível a elas.

a glória de deus é a maneira pela qual ele se faz conheci-do. É quase incompreensível pensar que ele escolheria meros seres humanos para realizar uma tarefa desse porte. a Bíblia, porém, diz que fomos criados à sua imagem (gn 1.26) e como manifestação de sua glória (is 43.7). você foi criada para tornar deus conhecido de outras pessoas — para mostrar a elas como deus é. ele se faz conhecido de nós e por meio de nós. a glória de qualquer criatura está em cumprir totalmente o propósito para o qual foi criada — e isso inclui você e eu.

“glória” é uma palavra enorme — uma palavra de peso. neste livro, vamos examinar detalhadamente um aspecto da glória: como deus se faz conhecido em sua vida à medida que você “vive, se move e existe nele”.

você é capaz de se lembrar de um momento em que sentiu a presença de deus e teve certeza absoluta de que era a presença



dele? Talvez tenha sido quando você se converteu, ou talvez on-tem. você pode ter tido uma sensação arrebatadora de seu amor, recebido uma resposta à oração, sentido uma paz inexplicável ou presenciado um milagre. Mas quando isso aconteceu... ah, quando isso aconteceu... você soube que teve um encontro com o divino. O momento veio e foi embora, e você ficou assombrada. lembra-se? Foi deus que se apresentou a você pessoalmente. dou a isso o nome de glória repentina — um momento íntimo com seu Criador, o amado de sua alma, uma “paixonite aguda” genuína, um vislumbre do céu.

a título de ilustração, reflita como Sheldon vanauken, autor de A Severe Mercy [Misericórdia genuína], descreve o momento em que ele teve certeza de estar apaixonado por sua mulher, davy:

aquele que nunca se apaixonou pode confundir o sentimento de amor com embevecimento ou uma mistura de afeição com atração sexual. Quando, porém, a “coisa verdadeira” acontece, não existem dúvidas. um homem na selva à noite, conforme alguém disse, pode confundir o rugido de uma hiena com o rugido de um leão; mas, quando ouve o rugido do leão, ele sabe [muito] bem que se trata de um leão. O mesmo acontece com o amor genuíno. O mesmo acontece com davy e eu. uma glória repentina.5

eu estive na selva e ouvi o rugido do leão. e sabia muito bem que era deus. O mesmo acontece com o amor genuíno. O mesmo acontece com Jesus e comigo. uma glória repentina. Muitas e muitas vezes.

ao longo da vida, e eu me atreveria dizer ao longo de nossos dias, sentiremos uma glória repentina em momentos imprevi-síveis. Ou pelo menos deveríamos sentir.



uma amiga compartilhou comigo uma glória repentina em sua vida:

a vida tornou-se difícil após meu divórcio. Sem receber pen-são alimentícia e com apenas a renda de um trabalho de meio período, houve dias em que eu não sabia o que pôr na mesa de refeições para mim e meus quatro filhos. eu sempre tinha de escolher entre comprar comida ou pagar a conta de energia elétrica. num desses dias, fui até a caixa de correspondência orando para não encontrar outro aviso da empresa prestadora de serviços sobre corte de energia. Felizmente não havia nada desse tipo. Mas encontrei um envelope sem remetente, e dentro havia um bilhete com estes dizeres: “Jesus ama você”. dentro do bilhete dobrado havia um cupom de uma mercearia, cujo valor daria para comprar comida para, no mínimo, uma semana.

naquele momento, senti que deus havia passado seus braços ao redor de mim e sussurrado ao meu coração: “eu a vejo. eu a amo. eu me preocupo com você”. de repente, sua presença foi tão real que tudo o que consegui fazer foi perma-necer parada ali e chorar.

esses momentos são o bálsamo para o anseio de glória. São os momentos semelhantes ao maná, para matar a fome até chegarmos ao lar celestial. você anseia por esses momentos de glória? Quer saber de uma coisa? deus anseia oferecê-los a você em dose muito maior do que você os deseja!

O chamado de DeusO Éden estava repleto da glória de deus — beleza deslumbrante misturada com união contínua e comunhão constante com deus. Mas, conforme sabemos, houve um erro terrível, e adão e eva perceberam que estavam nus e sentiram-se envergonhados. e



qual foi a primeira atitude deles quando isso aconteceu? eles se esconderam.

Ouvindo o homem e sua mulher os passos do Senhor deus que andava pelo jardim quando soprava a brisa do dia, escon-deram-se da presença do Senhor deus entre as árvores do jardim. Mas o Senhor deus chamou o homem, perguntando: “Onde está você?”

gênesis 3.8-9

deus chamou em voz alta.deus. Chamou. em voz alta.“Onde está você?”, deus perguntou. É a primeira pergunta na

Bíblia, e foi feita por um deus onisciente. ele faz essa pergunta até hoje. Talvez você a tenha ouvido também. eu ouvi.

a verdadeira tragédia da desobediência de adão e eva foi o rompimento da união entre deus e a humanidade. a união foi despedaçada. destruída. Mas, assim que eva cravou os dentes no fruto proibido, a sombra da cruz elevou-se no horizonte e o plano redentor de deus para restaurar tudo o que havíamos perdido foi posto em ação. e em todo o restante do antigo Testamento, de gênesis 3.9 a Malaquias 4.6, há um chamado de deus pedindo que a humanidade volte para ele.

lemos a respeito dos ciclos da comunhão da humanidade com deus, seguida da rebelião da humanidade contra deus, seguida do apelo de deus para que a humanidade voltasse em meio às circunstâncias difíceis, seguida do arrependimento da humanidade, seguida da comunhão da humanidade com deus, seguida da rebelião da humanidade contra deus, se-guida do apelo de deus para que a humanidade voltasse em



meio às circunstâncias difíceis, seguida do arrependimento da humanidade, seguida da comunhão da humanidade com deus, seguida da...

e o tempo todo deus continua sua busca apaixonada pelo coração humano, dizendo incansavelmente palavras de amor a cada um de nós, que fomos feitos à sua imagem, e nos chamando, primeiro de um jeito, depois do outro.

Curiosamente, a palavra hebraica para “escritura” é mikra, que significa “o chamado de deus”.6 e não é exatamente isso que a Bíblia é? O chamado de deus para atrair a humanidade a ele? para restaurar nossa glória original por meio da obra completada por Jesus Cristo? ele começa com o chamado feito na primeira pergunta: “Onde está você?”. e termina da mesma forma: “eis que estou à porta e bato” (ap 3.20).

a Bíblia diz: “... pois todos pecaram e estão destituídos da glória de deus” (rm 3.23). nenhum de nós vive de maneira per-feita e completa a vida que deus planejou no jardim. Mas a boa notícia é que Cristo em nós é “a esperança da glória” (Cl 1.27). É por meio da união com Jesus que os momentos de glória ocorrem. Sem Cristo em nós, não somos capazes, de maneira nenhuma, de detectar ou refletir a glória de deus. apesar disso, essa foi a intenção original de deus para nós “no princípio”.

a maioria das pessoas concorda que nascemos com uma inerente inquietação interior de que deve haver algo mais do que vemos. Salomão escreveu: “[deus] pôs no coração do homem o anseio pela eternidade” (ec 3.11). por mais que a humanidade tenha tentado satisfazer a fome ou matar a sede da existência de deus ou mascará-la, a eternidade continua a atrair o coração. O anseio de sentir a presença de deus persiste. O anseio de glória é uma vibração crônica.



há, porém, uma boa notícia! você está preparada para ouvi-la? este não é o nosso último lar! estamos simplesmente de passagem nesta estrada chamada vida. e enquanto aqueles que conhecem Cristo não deixarem este mundo e entrarem na glória de deus para sempre, enquanto não respirarmos o aro-ma da eternidade, ele nos dá vislumbres da glória aqui na terra! há momentos de glória repentina em profusão, se dedicarmos tempo para reconhecê-los, aceitá-los e apreciá-los... para provar e ver que o Senhor é bom!

e como fazemos isso? Tudo está envolto naquele pequeno versículo que tomou conta de minha mente naquela manhã gelada de janeiro: “... nele vivemos, nos movemos e existimos” (at 17.28).

A estrada para os momentos de glóriaMeditei durante doze meses nas palavras “nele vivemos, nos movemos e existimos” antes de pegar papel e caneta. Ouvi o que outras pessoas que atravessam a estrada comigo tinham a me dizer. Mulheres fazendo malabarismo para cuidar dos filhos, de pais idosos, tentando lidar com a ausência do marido, com as exigências do trabalho, com as tarefas domésticas intermináveis e com a fé vacilante. Mulheres tentando encaixar deus em suas agendas lotadas e sempre achando que não foram bem-suce-didas. Tenho visto a culpa tornar-se companheira constante de mulheres que se escondem atrás dos arbustos com adão e eva em vez de caminhar com deus sem sentir vergonha.

você deseja recapturar o encanto radiante de seus primeiros anos de fé? Seu coração está faminto por algo mais? você tem sentido o anseio inquietante de ter vislumbres da glória de deus aqui na terra?



para mim, aquele encanto inicial foi fortalecido pelos im-pulsos emocionais de uma adolescente ao apaixonar-se por Jesus pela primeira vez. a paixão surge facilmente durante aqueles anos nos quais os jovens mergulham no mar das novas descobertas com desembaraço e impetuosidade. porém, quando voltamos à superfície para respirar o ar da maturidade, temos a tendência de flutuar na corrente do cristianismo e nadar na escola de outras pessoas consagradas que pensam como nós. não estou dizendo que esse lugar seja mau. É seguro. Mas somente as pessoas intrépidas e corajosas são capazes de sair do núcleo sagrado, mergulhar no mar profundo da graça e explorar as profundezas das maravilhas insondáveis de deus. Os tesouros no fundo estão à espera de serem descobertos por pessoas dis-postas a saírem da superfície e mergulhar de cabeça na presença abrangente de deus.

Quero sentir deus de outra forma, não apenas hoje, mas todos os dias. não quero uma religião de avivamento, montada numa tenda, que atiça as brasas para acender a fogueira por uns dias ou por algumas semanas. Quero sentir a presença de deus em cada respiração. É esse também o seu desejo? Creio que o caminho para encontrar essa existência está escondido dentro daquele pequeno versículo: “... nele vivemos, nos movemos e existimos”.

em Cristianismo puro e simples, C. S. lewis citou o doutor Samuel Johnson, um autor histórico: “deve-se antes refres car a memória das pessoas a respeito do que já sabem do que instruí- -las com novidades”.7 ao ler as páginas deste livro, espero que você se lembre da busca apaixonada de deus por seu coração e se permita ser recapturada por ele. Oro para que você desperte novamente para o desejo profundo de conhecê-lo intimamente.



para algumas pessoas, o relacionamento íntimo com Jesus é uma ideia totalmente nova; para outras, um novo despertar de um romance esquecido ou enfraquecido.

eu me ajoelho com Tozer e repito estas palavras comoventes:

ó deus, ó deus trino, quero buscar-te mais; quero buscar ape-nas a ti; tenho sede de tornar-me mais sedento ainda. Mostra--me tua glória, rogo-te, para que possa, assim, conhecer-te verdadeiramente. por tua misericórdia, começa em meu íntimo uma nova operação de amor. diz à minha alma: “levante-se, minha querida, minha bela, e venha comigo” (Ct 2.10). e dá--me graça para que eu me levante e te siga, saindo deste vale escuro onde estou vagueando há tanto tempo.8

espie comigo, pela grade, o momento em que o amado de sua alma vem correndo.

escutem! É o meu amado! vejam! aí vem ele, saltando pelos montes, pulando sobre as colinas. O meu amado é como uma gazela, como um cervo novo. vejam! lá está ele atrás do nosso muro, observando pelas janelas, espiando pelas grades. O meu amado falou e me disse: levante-se, minha querida, minha bela, e venha comigo. veja! O inverno passou; acabaram-se as chuvas e já se foram. aparecem flores na terra, e chegou o tempo de cantar; já se ouve em nossa terra o arrulhar dos pombos. a figueira produz os primeiros frutos; as vinhas florescem e espalham sua fragrância. levante-se, venha, minha querida; minha bela, venha comigo.

Cântico dos Cânticos 2.8-13

enquanto você vira as páginas deste livro, oro para que comece a ver o aparecimento de novos desenhos da verdade — como se estivesse olhando o amor de deus através de um caleidoscópio. e minha oração é que você comece a compreender



a verdade de como deus se sente realmente a seu respeito e o que ele realmente deseja, não apenas de você, mas, acima de tudo, para você. Minha oração é que você comece a ver as múltiplas formas de glória repentina em todos os momentos de seus dias e que você sinta a certeza inegável da presença e do amor de deus à medida que vive, se movimenta e existe nele.


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surpreendida pela gloria - mundocristao.com.br final_surpreendida pela... · Às vezes tenho saudade de experiências marcantes com deus, e anseio por esse algo mais, essa manifestação