191
UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE MEDICINA Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos Ana Catarina Dias Rodrigues MESTRADO EM MEDICINA LEGAL E CIÊNCIAS FORENSES (4ª Edição) Lisboa, 2011

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Master thesis in Forensic Anthropology

Citation preview

Page 1: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE MEDICINA

Suturas Cranianas como Indicadores

da Idade à Morte em Indivíduos

com mais de 55 anos

Ana Catarina Dias Rodrigues

MESTRADO EM MEDICINA LEGAL E CIÊNCIAS FORENSES

(4ª Edição)

Lisboa, 2011

Page 2: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

A impressão desta dissertação foi aprovada pela Comissão Coordenadora

do Conselho Científico da Faculdade de Medicina de Lisboa em reunião de

vinte e dois de Novembro de dois mil e onze.

Page 3: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE MEDICINA

Suturas Cranianas como Indicadores da

Idade à Morte em Indivíduos com mais

de 55 anos

Ana Catarina Dias Rodrigues

Orientação: Professora Doutora Eugénia Maria Guedes Pinto Antunes da Cunha

(Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra)

Co-Orientação: Professora Doutora Helena de Seabra Geada

(Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa)

Todas as afirmações efectuadas no presente documento são da exclusiva responsabilidade do autor, não

cabendo qualquer responsabilidade à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa pelos

conteúdos nela representados.

Page 4: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

I

“Quanto maiores são as dificuldades a vencer,

maior será a satisfação.”

MARCUS TULLIUS CÍCERO Politico/Orador/Filósofo

Page 5: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

II

Page 6: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

III

ÍNDICE DE CONTEÚDOS

ÍNDICE GERAL III

ÍNDICE DE FIGURAS V

ÍNDICE DE TABELAS VII

LISTA DE ABREVIATURAS IX

RESUMO / PALAVRAS-CHAVE XI

ABSTRACT / KEYWORDS XIII

AGRADECIMENTOS XV

ÍNDICE GERAL

1. INTRODUÇÃO 1

1.1. Antropologia Forense 3

1.2. Perfil Biológico 5

1.2.1. Diagnose Sexual 5

1.2.2. Ancestralidade 6

1.2.3. Estatura 7

1.2.4. Estimativa da Idade 7

1.3. Estimativa da Idade à Morte 9

1.3.1. Idade Biológica vs Idade Cronológica 9

1.3.2. Metodologias de Estudo 11

1.3.2.1. Em Não-Adultos 13

1.3.2.2. Em Adultos 14

1.3.3. Algumas Noções Anatómicas do Crânio 17

1.3.4. O Crânio como Elemento de Estudo na Estimativa da Idade à Morte 23

1.3.5. Estudos Complementares 28

1.3.6. Estudos Relevantes 29

1.3.6.1. {1856-1920}: Primeiros Estudos 30

1.3.6.2. {1920-1936}: A Era de Todd & Lyon 33

Page 7: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

IV

1.3.6.3. {1937-1955}: Depois de Todd & Lyon 36

1.3.6.4. {1955-1957}: 2 anos, 2 Grandes Estudos 38

1.3.6.5. {1960-1984}: Análises Multifactoriais 40

1.3.6.6. {Em 1985}: Meindl & Lovejoy 43

1.3.6.7. (Antes e) Depois de Meindl & Lovejoy: Claude Masset 46

1.3.6.8. Mais recentemente: Os Últimos 16 Anos 48

1.4. Envelhecimento e Senescência 55

2. OBJECTIVOS 59

3. MATERIAL E METODOLOGIA 63

MATERIAL 65

3.1. Colecção de Esqueletos Identificados Luís Lopes 65

3.2. A Amostra Inicial 70

METODOLOGIA 72

3.3. Metodologia Antropológica 72

3.4. Metodologia Estatística 76

3.4.1. Precisão e Exactidão 80

3.5. Fase de Aprendizagem 82

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 83

4.1. RESULTADOS 85

4.1.1. A Amostra Final 85

4.1.2. Normalidade 93

4.1.3. Erro Intra-Observador 94

4.1.4. Erro Inter-Observador 96

4.1.5. Análise da Aplicação do Método Testado 97

4.1.6. Caixas de Bigodes Relativos às Observações Efectuadas 108

4.1.7. Testes de Correlação 121

4.2. DISCUSSÃO 124

5. CONCLUSÕES 137

Page 8: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

V

5.1. Estudos para o Futuro 143

6. REFERÊNCIAS 145

7. ANEXOS 161

7.1. Anexo 1- Exemplo da Ficha de Registo 163

7.2. Anexo 2- Exemplo da Base de Dados em SPSS® 165

7.3. Anexo 3- Fotografias de Indivíduos da Amostra 167

7.4. Anexo 4- Fotografias do Local de Armazenamento da Amostra 169

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Intervenção da Antropologia e Patologia Forenses. 3

Figura 2: Crescimento no crânio humano. 18

Figura 3: Estrutura interna do osso craniano. 18

Figura 4: (A) Vista anterior do crânio; (B) Vista lateral do crânio. 20

Figura 5: Representações esquemáticas de: (A) uma sutura plana, (B) uma sutura denteada, (C)

uma sutura escamosa e (D) sua secção). 21

Figura 6: Vista superior do crânio. 22

Figura 7: (A) Vista anterior de um crânio de uma criança com encerramento assimétrico da

sutura coronal; (B) Vista superior do mesmo crânio. 25

Figura 8: Exemplo do desenvolvimento da sutura sagital, que passa de uma estrutura simples e

plana (a) a uma estrutura complexa, com inúmeras interdigitações (c); diferente plano das inter-

digitações (d). 26

Figura 9: Vista posterior de um crânio com dez ossículos supranumerários na sutura

lambdóide. 27

Figura 10: Sutura metópica, que se estende desde o nasion ao bregma. 28

Figura 11: Sutura metópica, que se estende desde o nasion ao bregma, exemplar da colecção

Luís Lopes. 28

Figura 12: Exemplo de dois indivíduos pertencentes à amostra estudada da Colecção Luís

Lopes, com idades muito semelhantes (indivíduo a: 67 anos; indivíduo b: 66 anos) e graus de

encerramento das suturas muito díspares. 41

Figura 13: Localização dos dez pontos de referência adoptados por Meindl e Lovejoy 45

Page 9: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

VI

Figura 14: Armazenamento da colecção Luís Lopes (A) armários; (B) gavetões

individuais. 67

Figura 15: Exemplo do armazenamento de um indivíduo, num dos gavetões. 67

Figura 16: Exemplo de uma ficha de registo individual da colecção Luís Lopes. 68

Figura 17: Distribuição etária dos indivíduos da amostra inicial. 70

Figura 18: Representação esquemática da divisão das suturas cranianas em segmentos (A) e dos

graus de encerramento (B). 73

Figura 19: Esquema explicativo de um gráfico caixa de bigodes: Q1 - 1º quartil; Q2 - 2º quartil;

Q3 - 3º quartil. 79

Figura 20: Esquema explicativo dos bigodes de um gráfico caixa de bigodes. 79

Figura 21: Distribuição etária dos indivíduos da amostra final. 86

Figura 22: Nova distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra estudada. 87

Figura 23: Décadas de nascimento dos indivíduos da amostra. 88

Figura 24: Décadas da data de morte dos indivíduos da amostra. 89

Figura 25: Naturalidade dos indivíduos da amostra. 90

Figura 26: Distribuição dos indivíduos da amostra em função da sua causa de morte e por

sexos. 92

Figura 27: Distribuição etária da amostra estudada. 93

Figura 28: Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para cada sutura

craniana. 97

Figura 29: Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura coronal, por

sexos. 98

Figura 30: Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura sagital, por

sexos. 100

Figura 31: Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura lambdóide,

por sexos. 101

Figura 32: Frequência de diagnósticos correctos para todas as suturas, em função dos grupos

etários. 103

Figura 33: Frequência de diagnósticos correctos, em função dos grupos etários estabelecidos

em conjunto com Vieira. 105

Figura 34: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura coronal, para os grupos etários

estabelecidos. 108

Figura 35: Indivíduo nº 74 da Colecção Luís Lopes. (A)- Vista superior do crânio, evidencian-

do as suturas coronal e sagital; (B)- Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura

lambdóide. 109

Figura 36: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura sagital, para os grupos etários

estabelecidos. 110

Page 10: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

VII

Figura 37: Indivíduo nº 233 da Colecção Luís Lopes. (A)- Vista superior do crânio, eviden-

ciando as suturas coronal e sagital; (B)- Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura lamb-

dóide. 111

Figura 38: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura lambdóide, para os grupos etá-

rios estabelecidos. 111

Figura 39: Indivíduo nº 323 da Colecção Luís Lopes. (A)- Vista superior do crânio, eviden-

ciando a (quase) obliteração das suturas coronal e sagital; (B)- Vista posterior do crânio, evi-

denciando a sutura lambdóide totalmente encerrada. 112

Figura 40: Indivíduo nº 158 da Colecção Luís Lopes. (A)- Vista superior do crânio, eviden-

ciando as suturas coronal e sagital; (B)- Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura lamb-

dóide (quase) totalmente aberta. 113

Figura 41: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura coronal dos indivíduos do sexo

masculino, para os grupos etários estabelecidos. 114

Figura 42: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura coronal dos indivíduos do sexo

feminino, para os grupos etários estabelecidos. 115

Figura 43: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura sagital dos indivíduos do sexo

masculino, para os grupos etários estabelecidos. 116

Figura 44: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura sagital dos indivíduos do sexo

feminino, para os grupos etários estabelecidos. 117

Figura 45: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura lambdóide dos indivíduos do

sexo masculino, para os grupos etários estabelecidos. 118

Figura 46: Caixa de bigodes relativo às observações da sutura lambdóide dos indivíduos do

sexo feminino, para os grupos etários estabelecidos. 119

Figura 47: Indivíduo nº 158 da Colecção Luís Lopes. (A)- Vista superior do crânio, eviden-

ciando a sutura coronal quase encerrada e a sagital totalmente obliterada; (B)- Vista posterior do

crânio, evidenciando a sutura lambdóide completamente fechada. 120

Figura 48: Indivíduo nº 158 da Colecção Luís Lopes. (A)- Vista superior do crânio, eviden-

ciando a ausência de vestígios das suturas coronal e sagital; (B)- Vista posterior do crânio, evi-

denciando a sutura lambdóide completamente obliterada. 120

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra inicial. 71

Tabela 2: Correspondência esperada entre os grupos etários e os graus de encerramento. 74

Tabela 3: Classificação qualitativa do valor de kappa. 77,95

Page 11: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

VIII

Tabela 4: Interpretação do coeficiente de correlação. 80,121

Tabela 5: Distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra estudada. 86

Tabela 6: Nova distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra estudada. 87

Tabela 7: Décadas de nascimento dos indivíduos da amostra. 88

Tabela 8: Décadas de morte dos indivíduos da amostra. 89

Tabela 9: Naturalidade dos indivíduos da amostra, por distrito. 90

Tabela 10: Causas de morte dos indivíduos da amostra. 91

Tabela 11: Estatística descritiva da amostra estudada. 93

Tabela 12: Estatística kappa entre a 1ª e a 2ª observações. 95

Tabela 13: Estatística kappa entre a 2ª e a 3ª observações. 95

Tabela 14: Estatística kappa entre observadores diferentes. 96

Tabela 15: Diagnósticos correctos e incorrectos para cada sutura craniana. 97

Tabela 16: Teste de Wilcoxon para as suturas cranianas. 98

Tabela 17: Diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura coronal, em função dos

sexos. 99

Tabela 18: Teste de Wilcoxon para a sutura coronal, em função dos sexos. 99

Tabela 19: Diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura sagital, em função dos

sexos. 100

Tabela 20: Teste de Wilcoxon para a sutura sagital, em função dos sexos. 101

Tabela 21: Diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura lambdóide, em função dos

sexos. 102

Tabela 22: Teste de Wilcoxon para a sutura lambdóide, em função dos sexos. 102

Tabela 23: Diagnósticos correctos por sutura craniana, em função das classes etárias. 103

Tabela 24: Teste de Wilcoxon para a sutura coronal, de acordo com as classes etárias. 104

Tabela 25: Teste de Wilcoxon para a sutura sagital, de acordo com as classes etárias. 104

Tabela 26: Teste de Wilcoxon para a sutura lambdóide, de acordo com as classes

etárias. 105

Tabela 27: Diagnósticos correctos por sutura craniana, em função dos grupos etários estabeleci-

dos conjuntamente com Vieira. 106

Tabela 28: Teste Qui-Quadrado, por sutura craniana. 106

Tabela 29: Correlação do encerramento entre as suturas cranianas. 121

Tabela 30: Correlação entre as suturas cranianas e os grupos etários. 122

Tabela 31: Correlação entre diagnósticos correctos e incorrectos, entre suturas . 122

Tabela 32: Correlação entre os métodos de estimativa da idade à morte: através do grau de

encerramento das suturas cranianas e o método de Suchey-Brooks. 123

Tabela 33: Teste Qui-Quadrado, para os dois métodos. 123

Page 12: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

IX

LISTA DE ABREVIATURAS

ABFA: American Board of Forensic Anthropology

AF: Antropólogo Forense

CEIMA: Colecção de Esqueletos Identificados do Museu Antropológico

DNA: Deoxyribonucleic Acid (Ácido Desoxirribonucleico – ADN)

EUA: Estados Unidos da América

ICD: International Classification of Diseases (Classificação Internacional das Doenças)

IC: Intervalo de Confiança

INML, I.P.: Instituto Nacional de Medicina Legal, I.P.

SBS: Suchey-Brooks System (Sistema Suchey-Brooks)

TAC: Tomografia Axial Computorizada

TSP: Two Step Procedure

df: degrees of freedom (Graus de Liberdade)

dp: desvio padrão

dta.: direita

e.g.: exempli gratia (por exemplo)

esq.: esquerda

i.e.: id est (isto é)

n.a.: não aplicável

vs.: versus (vérsus; em oposição a)

Page 13: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

X

Page 14: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

XI

RESUMO

A estimativa da idade à morte é uma das questões fulcrais a que a Antropologia Forense

procura dar resposta; no entanto, as metodologias para alcançar tal objectivo não são

consensuais entre a comunidade científica. Quando se trata de indivíduos mais velhos, o

problema aumenta exponencialmente. Historicamente, o crânio foi a primeira parte do

esqueleto a ser, sistematicamente, investigada para a estimativa da idade à morte, atra-

vés do grau de encerramento das suturas.

Neste trabalho estudaram-se as suturas cranianas como indicadores da idade à morte

numa amostra esquelética identificada da Colecção Luís Lopes do Museu Bocage

(Museu Nacional de História Natural de Lisboa). Foi aplicada uma metodologia simpli-

ficada de classificação do grau de encerramento das suturas exocranianas em 116 indi-

víduos, repartidos por ambos os sexos e três classes etárias, todos eles com idades supe-

riores a 55 anos.

Analisaram-se as três principais suturas cranianas (coronal, sagital e lambdóide), que

foram dividas em segmentos e estes classificados de zero a quatro. As classificações

foram registadas e, para cada sutura, calculadas as médias.

Os resultados alcançados não se conformam com as expectativas, na medida em que

mostram que não existe correlação entre o encerramento das suturas e a idade. Não se

obtiveram estimativas da idade satisfatórias para a maioria dos indivíduos da amostra. O

método apenas estimou correctamente a idade em 44 indivíduos (37,93%) através das

suturas coronal e sagital e em 36 indivíduos (31,03%), através da sutura lambdóide.

Page 15: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

XII

O método de estimativa da idade à morte através da obliteração das suturas cranianas

não parece ser uma metodologia precisa e fiável, quando aplicada a indivíduos com

mais de 55 anos, não sendo recomendada a sua utilização.

PALAVRAS-CHAVE: idade à morte; mais de 55 anos; suturas cranianas; encerramento.

Page 16: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

XIII

ABSTRACT

The estimation of age-at-death is one of the key issues to which Forensic Anthropology

seeks to address; however, the methodologies to achieve this are not always consensual

among the scientific community. When it comes to the elderly, that problem increases

exponentially. Historically, the skull was the first part of the skeleton to be systematical-

ly investigated to estimate age-at-death, using suture closure as an age indicator.

Cranial sutures as an age-at-death indicator were studied in an identified skeletal sample

from the Luís Lopes Collection of the Bocage Museum, located at the National Museum

of Natural History, in Lisbon. A simplified methodology for the classification of the

ectocranial suture closure was applied to 116 individuals from both sexes and distri-

buted by three age categories; all individuals were older than 55 years.

The three main cranial sutures (coronal, sagittal and lambdoid) were analyzed and di-

vided into segments, to these a score from zero to four, was assigned. The scores were

recorded and the averages for all the sutures were calculated.

The achieved results are not consistent with the expectations to the extent that they

show there is no correlation between suture closure and age. No satisfactory estimates

of age were yielded for most of the sample individuals. The method only correctly esti-

mated the age of 44 individuals (37.93%) through the coronal and sagittal sutures and in

36 individuals (31.03%) through the lambdoid suture.

Cranial suture closure is neither an accurate nor a reliable methodology for estimating

age-at-death in the elderly; its use is not recommended.

KEYWORDS: age-at-death; elderly; cranial sutures; closure.

Page 17: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

XIV

Page 18: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

XV

AGRADECIMENTOS

Quero expressar o meu reconhecimento à Professora Doutora Eugénia Cunha, por ter

aceitado e orientado a presente dissertação, por todo o apoio e disponibilidade demons-

trada ao longo dos meses de trabalho e pela sua ilustre sabedoria.

À Professora Doutora Helena Geada, pela co-orientação desta dissertação e pela con-

fiança em mim depositada.

Ao Professor Doutor Jorge Costa Santos, por ter decidido aprovar o projecto subjacente

a esta dissertação e confiança demonstrada.

À Dr.ª Manuela Marques, Bibliotecária do Instituto Nacional de Medicina Legal, Dele-

gação do Sul, pela simpatia, disponibilidade e prontidão mostradas.

Ao Doutor Hugo Cardoso, curador do Museu Bocage, por ter disponibilizado o material

necessário à investigação deste trabalho.

Ao Rui Gonçalves, Secretário da Direcção da Delegação do Sul, por nos ter aturado e

se mostrar sempre disponível e bem-disposto.

Um (colossal) obrigada ao Doutor Francisco Curate, sem o seu “GPS” não teria conse-

guido chegar ao meu destino.

Aos meus pais e irmã, os três pilares que durante toda a minha vida me apoiaram, inde-

pendentemente das dificuldades que se apresentaram (e não foram poucas). Amo-vos.

Ao Pedro, o quarto pilar, sempre comigo…”LU”

Finalmente, à Joana Vieira, companheira de viagem, obrigada pelo apoio e pelas garga-

lhadas nas (muitas) horas de trabalho que passámos juntas.

Page 19: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

XVI

Page 20: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

1

I. INTRODUÇÃO

Page 21: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

2

Page 22: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

3

INTRODUÇÃO

1.1 A ANTROPOLOGIA FORENSE

Nos dias de hoje, bem como no passado, a Medicina Legal consagra um valor social

inquestionável para a comunidade (Schmitt et al., 2006). Como definiu o Professor Luís

Augusto Duarte Santos, a Medicina Legal é uma “Disciplina, ciência e arte, que recolhe

conhecimentos e técnicas médico-biológicas e físico-químicas que, com método e espí-

rito próprios, elabora e aplica para a codificação e execução das leis criminais, civis e

sociais, segundo as realidades desses conhecimentos.” A Patologia Forense é, prova-

velmente, uma das especialidades mais conhecida. Todavia, existe uma grande interdis-

ciplinaridade entre as diversas ciências forenses componentes da Medicina Legal,

nomeadamente, entre a Patologia Forense e a Antropologia Forense, pois ambas traba-

lham com o corpo humano como um todo (Cunha & Cattaneo, 2006; Pinheiro & Cunha,

2006; Gonçalves, 2008) (figura 1).

Figura 1 - Intervenção da Antropologia e Patologia Forenses (adaptado de Pinheiro & Cunha, 2006)

Segundo o American Board of Forensic Anthropology (ABFA) (2008), a Antropologia

Forense aplica os conhecimentos da Antropologia Biológica às contendas legais. O

Antropólogo Forense (AF) adequa as técnicas e conhecimentos desenvolvidos na

Antropologia Biológica para a identificação de restos humanos e auxílio na detecção de

possíveis crimes (Ubelaker, 2006; ABFA, 2008). Nunca é demais realçar que a identifi-

Page 23: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

4

cação de restos humanos esqueletizados ou muito decompostos é fundamental, seja por

razões legais, seja por razões humanitárias ou de cariz social.

Actualmente, as perícias do AF são requisitadas tanto para a análise de restos humanos

“mais ou menos” esqueletizados (como afirmou T. D. Stewart, em 1976), como (e cada

vez mais) para a identificação de indivíduos vivos, (Ubelaker, 2006; Franklin, 2010).

Numa investigação forense, o AF deve responder a dez perguntas essenciais, que o

auxiliarão na consecução do seu principal objectivo de identificação e reconstrução dos

eventos que rodeiam a morte do indivíduo (Cattaneo & Baccino, 2002; White & Fol-

kens, 2005; Pickering & Bachman, 2009):

1) É osso?

2) É humano?

3) É recente?

4) Quais os ossos presentes?

5) Quantos indivíduos estão presentes?

6) Qual é a ancestralidade?

7) Qual é o sexo?

8) Qual é a idade?

9) Qual é a estatura?

10) Características individualizantes?

Quando se tratam, efectivamente, de restos humanos, para o estabelecimento do perfil

biológico do indivíduo, são as respostas às perguntas seis a nove que fornecem essa

informação – “the big four”: diagnose sexual, ancestralidade, estimativa da estatura e

estimativa da idade à morte.

Tanto em contexto forense como paleoantropológico, é imperioso que a estimativa da

idade à morte seja realizada com a maior precisão possível (Ritz-Timme et al., 2000).

Este continua a ser um dos predicados da Antropologia Forense (Franklin, 2010).

A estimativa da idade à morte persiste, porém, como o “calcanhar de Aquiles da Antro-

pologia Forense”, tanto em cadáveres como em indivíduos vivos (Ritz-Timme et al.,

2000; Schmitt, 2002; Cunha et al., 2009:2; Franklin, 2010).

Page 24: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

5

1.2 PERFIL BIOLÓGICO

Ao longo do último século, as Ciências Forenses e, com maior relevância para o presen-

te trabalho, a Antropologia Forense, têm sofrido um crescimento exponencial e, com

tamanha expansão, observou-se, paralelamente, o desenvolvimento e melhoramento de

técnicas adequadas às novas exigências (Bass, 1979; Ubelaker, 2006; Cunha & Catta-

neo, 2006; Dirkmaat et al., 2008).

Os ossos contêm uma gigantesca quantidade de informação que, na ausência de técnicas

que permitam avaliá-la de forma eficaz, pouco nos poderão transmitir acerca dos indiví-

duos aos quais os esqueletos pertencem (White & Folkens, 2005).

O estabelecimento do perfil biológico terá implicações importantíssimas na identifica-

ção positiva dos restos humanos, uma vez que, caso não se tenham tido todos os cuida-

dos e seguido todos os protocolos, poderão existir fortes consequências legais.

Como mencionado anteriormente, com a informação gerada através das respostas a qua-

tro parâmetros de identificação: o sexo, a ancestralidade, a estatura e a idade; estabele-

ce-se, então, o perfil biológico de um indivíduo.

1.2.1 DIAGNOSE SEXUAL

As diferenças morfológicas entre os sexos começam apenas a ser aparentes depois da

puberdade, portanto, os métodos morfológicos de diagnose sexual são menos fiáveis

para os grupos etários mais jovens (Rösing et al., 2007). Por ser um critério comum a

todas as populações do mundo, o padrão de dimorfismo sexual do osso coxal, é o indi-

cador mais fiável para a determinação do sexo (Bruzek & Murail, 2006). No entanto, o

AF nunca deve basear-se num só indicador e não basta descrever, morfologicamente, as

diferenças sexuais do esqueleto, para se obter uma metodologia válida para efectuar a

Page 25: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

6

diagnose sexual. Sendo o osso coxal o mais discriminante, o crânio é o segundo elemen-

to do esqueleto com maior dimorfismo sexual, ao qual sucedem os ossos longos. Os

outros elementos do esqueleto podem ser usados para a determinação deste parâmetro,

embora com níveis inferiores de fiabilidade. Quanto maior for o número de caracteres e

ossos analisados para efectuar esta determinação, mais exacta esta irá ser (Ferembach et

al., 1979; Bruzek & Murail, 2006). “Nenhum carácter único do esqueleto humano per-

mite uma determinação do sexo fiável.” (Bruzek & Murail, 2006:226).

1.2.2 ANCESTRALIDADE

Em Antropologia Forense, a avaliação da ancestralidade é alcançada pela da observação

de características da morfologia craniofacial e dentária, através de medições, normal-

mente associadas à análise de funções discriminantes (Albanese & Saunders, 2006; Kat-

zenberg & Saunders, 2008). O crânio é o componente do esqueleto que contém um

maior número de elementos informativos acerca da ancestralidade de um indivíduo

(Albanese & Saunders, 2006; Klepinger, 2006; Katzenberg & Saunders, 2008).

Existem características observáveis: a largura da face, presença ou ausência de progna-

tismo facial, posição e altura da ponte nasal, zigomáticos recuados ou não, presença ou

ausência do osso Inca, incisivos em forma de pá, presença da cúspide de Carabelli nos

primeiros molares, persistência da sutura metópica na idade adulta. Estes elementos

distintivos nunca devem ser utilizados individualmente para atribuir determinada ances-

tralidade, i. e., o AF deve sempre ter em conta um conjunto destas características e nun-

ca basear-se numa só (White & Folkens, 2005; Klepinger, 2006; ; Albanese & Saun-

ders, 2006; Katzenberg & Saunders, 2008).

Existem três grandes grupos populacionais para classificar um indivíduo quanto à sua

ancestralidade: europeu, africano e asiático, e cada um deles possui um conjunto das

Page 26: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

7

referidas características, que lhe é particular (Gill, 1986; Albanese & Saunders, 2006;

Katzenberg & Saunders, 2008).

1.2.3 ESTATURA

Este parâmetro é utilizado em Antropologia Forense com duas finalidades: construção

do perfil biológico de indivíduos não identificados; e para apoiar “investigações putati-

vas” explica Konigsberg et al. (2006:1).

É fundamental ter a noção que mesmo a estatura (registada) de um indivíduo vivo pode

não corresponder à sua estatura real, o que introduz, à partida, um factor de erro

(Konigsberg et al., 2006; Klepinger, 2006). Vários estudos (Krogman & İşcan, 1986)

estabeleceram equações de regressão para estimar a estatura de um indivíduo (caracte-

risticamente) baseadas nas proporções dos membros, sendo que os membros inferiores

são os que apresentam resultados mais fiáveis (Klepinger, 2006; Konigsberg et al.,

2006).

1.2.4 ESTIMATIVA DA IDADE

A estimativa deste parâmetro do perfil biológico depende, sobremaneira, dos elementos

do esqueleto que se encontram presentes para análise e se se está a lidar com restos de

adultos ou não-adultos (İşcan, 1989; Franklin, 2010;). Os métodos mais frequentemente

utilizados são a erupção e calcificação dentárias, para não-adultos; o crânio (encerra-

mento das suturas), a sínfise púbica (alterações na morfologia), translucidez radicular, a

superfície auricular e a quarta costela (extremidade esternal), para indivíduos adultos

(Buikstra & Ubelaker, 1994; Berg, 2008; Cunha et al., 2009; Franklin, 2010).

A maioria dos autores aconselha, quando possível, que seja efectuada uma abordagem

multifactorial para estimar a idade de um indivíduo adulto desconhecido, tentando-se

Page 27: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

8

assim que a estimativa obtida no final da análise seja mais precisa e fiável, quando con-

traposta a uma estimativa baseada num único critério (Rösing et al., 2007), porém,

como é natural em ciência, existem opiniões contrárias, como é o caso de Schmitt

(2002).

Continuamente debatida (Santos, 1995) continua a ser a aplicação dos padrões de idade

determinados com base em séries osteológicas modernas a populações passadas (Mas-

set, 1982; White, 1991; Masset, 1993) e vice-versa. Como Masset (1982) afirma na sua

tese de doutoramento: acredita existir uma “tendência secular” que provocaria que o

encerramento das suturas cranianas se efectuasse mais tardiamente, nas populações pas-

sadas.

Page 28: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

9

1.3 ESTIMATIVA DA IDADE À MORTE

Dentro do estabelecimento do perfil biológico de um indivíduo, a determinação da idade

à morte é, definitivamente, um dos passos cruciais na análise osteológica.

Antes de mais, é imprescindível fazer a distinção entre idade biológica e idade cronoló-

gica, condicionantes da estimativa da idade à morte, para posteriormente serem aborda-

das as metodologias de estudo.

1.3.1 IDADE BIOLÓGICA vs. IDADE CRONOLÓGICA

Baer (1973:77) define idade biológica como “um agregado ou compósito de vários fac-

tores discretos de desenvolvimento”, „a maioria dos quais intimamente relacionados

entre si‟, complementam Introna e Campobasso (2006:70), considerando conjuntamente

a senescência fisiológica, química e sensorial (Acsádi & Nemeskéri, 1970; McKern,

1970; Santos, 1995). A idade cronológica refere-se à idade de calendário ou de registo

civil (a que aparece no documento de identificação pessoal) (Santos, 1995).

Como é expectável, existe uma relação estreita entre os indicadores da idade biológica e

da idade cronológica de um indivíduo, embora não se trate de uma relação “linear ou

constante” (Introna & Campobasso, 2006:71). O cálculo da idade de uma criança é pas-

sível de ser feito com relativa segurança, todavia, essa segurança vai diminuindo, consi-

deravelmente, à medida que a idade do sujeito a ser avaliado aumenta (Pickering &

Bachman, 2009). Naturalmente, quando a avaliação da idade é feita em indivíduos mor-

tos, o erro engrandece (Santos, 1995).

A idade biológica é determinada segundo os níveis de desenvolvimento sexual, dentário

e ósseo, através da análise de indicadores de maturidade, correlacionando-os depois

com a idade cronológica. Desta forma, assume-se que o desenvolvimento e maturação

Page 29: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

10

dentários, ósseos e sexuais se processam de forma cronologicamente análoga (Schmitt

et al., 2002).

Ora, sabe-se hoje em dia, que tal não acontece e diferenças entre as idades baseadas

nestes indicadores são muito frequentes, o que faz com que a idade biológica nem sem-

pre corresponda à idade cronológica. Uma das principais razões para que se verifiquem

estas discrepâncias é que ao realizar a estimativa da idade de um indivíduo, está-se a

avaliar a maturidade e não a idade em termos de anos ou meses (Introna & Campobas-

so, 2006).

Por vezes, sucedem situações em que investigadores inexperientes, em contextos foren-

ses, estimam a idade óssea e a idade dentária e interpretam-na como sendo a idade cro-

nológica do indivíduo (Introna & Campobasso, 2006). Contudo, isto apenas seria ver-

dadeiro se esse indivíduo, em específico, apresentasse taxas de desenvolvimento e

maturação semelhantes a indivíduos do mesmo sexo e de uma população de referência

afim (Johnston & Zimmer, 1989; Introna & Campobasso, 2006). Como a exactidão da

estimativa da idade depende grandemente da variabilidade sexual e da ancestralidade,

para que a idade óssea e a idade dentária possam ser utilizadas para avaliar o desenvol-

vimento, existe a necessidade de fazer uso de padrões sexuais e populacionais específi-

cos (Schmitt et al., 2002; Introna & Campobasso, 2006).

Introna e Campobasso afirmaram mesmo:

“A variação na idade biológica tem efeitos profundos na avaliação da idade, tanto em

indivíduos vivos, como em mortos (Schmitt et al., 2002) e, muitas vezes, a margem de

erro da correlação entre a idade biológica e a idade cronológica é demasiado elevada

para permitir conclusões forenses exactas.” (Introna & Campobasso, 2006:72).

Page 30: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

11

Uma das formas de atenuar esta problemática será aprofundar o estudo e conhecimento

do crescimento e desenvolvimento do ser humano ao longo das suas etapas de vida

(Bass, 1986).

1.3.2 METODOLOGIAS DE ESTUDO

Por não ser fácil encontrarem-se esqueletos completos, bem preservados e, pelo facto de

o material esquelético se poder fragmentar facilmente, tornou-se imprescindível desen-

volver técnicas para a estimativa da idade à morte com base no maior número possível

de ossos, desde que possuam indicadores de idade. De acordo com İşcan, quase todos os

ossos do corpo humano podem conter um indicador de idade, todavia, é essencial que

“saibamos onde os procurar, como os reconhecer e como os interpretar” (İşcan,

1989:14).

A pesquisa para determinar quais as regiões do esqueleto que exibem modificações

morfológicas associadas à idade tem sido extensa. Thompson e Black (2007) recomen-

dam que as modificações do esqueleto relacionadas com a idade sejam dividas em três

fases: crescimento e desenvolvimento; equilíbrio; e senescência. A fase de crescimento

e desenvolvimento inclui crianças e adolescentes; é, essencialmente, influenciada por

factores genéticos e ambientais; trata-se da fase em que, quiçá, seja mais simples efec-

tuar uma estimativa da idade mais exacta, pois os padrões de desenvolvimento para cada

idade são, razoavelmente, previsíveis e encontram-se, relativamente, bem documentados

(Thompson & Black, 2007). Na segunda fase (equilíbrio), as alterações no esqueleto

tornam-se muito mais variáveis, não só inter-populacionalmente, como também entre os

indivíduos de uma mesma população. Na última fase (senescência), o esqueleto sofre

degeneração que é, basicamente, determinada por “factores como o estado de saúde,

nutrição e funções endócrinas” (Thompson & Black, 2007:207). Esta será a fase em que

Page 31: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

12

se torna mais difícil estimar a idade de um indivíduo e constitui um dos grandes pro-

blemas da Antropologia Forense (Klepinger, 2006; Thompson & Black, 2007; Katzen-

berg & Saunders, 2008).

Alguns autores (Rösing, et al., 2007) afirmam que métodos como a determinação da

racemização do ácido aspártico, a análise histológica do tecido ósseo e dentário ou a

contagem das camadas de crescimento no cimento dentário, são mais precisos e exactos

para a estimativa da idade à morte em adultos. Contudo, tratam-se de métodos que

envolvem equipamentos específicos que, nem sempre se encontram disponíveis, e pro-

cedimentos demasiado morosos (Martrille, 2006; Cunha et al., 2009).

Ao perscrutar a literatura, é notória a diferença de opiniões demonstrada pelos autores

acerca dos métodos a utilizar para estimar a idade à morte de indivíduos adultos desco-

nhecidos, em contextos forenses.

No decorrer da vida, todo o nosso organismo sofre modificações e adaptações – o

esqueleto não é excepção, passando por alterações cronológicas sequenciais ao longo do

tempo (Ritz-Timme et al., 2000; White & Folkens, 2005). Durante o período da infância

e adolescência, surge a dentição (posteriormente, a dentição definitiva), as epífises dos

ossos fundem-se com as diáfises; inclusivamente, depois da adolescência, a fusão dos

ossos continua, ocorrendo, também, degeneração progressiva (White & Folkens, 2005).

É nesta progressão de eventos osteológicos que se baseia a maioria dos estudos antropo-

lógicos de estimativa da idade à morte. Não obstante, é fundamental ressaltar que mes-

mo o desenvolvimento normal de um indivíduo (até o de uma criança) é “descontínuo”

(Lampl et al., 1992) e existe uma grande variação entre indivíduos diferentes no que

concerne à taxa e tempo de desenvolvimento das referidas mudanças osteológicas.

Assim, pode dizer-se que a estimativa da idade à morte de um indivíduo envolve a inter-

Page 32: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

13

rupção discricionária do “continuum de crescimento” (White & Folkens, 2005:363).

Mais ainda, indivíduos que possuam a mesma idade cronológica podem exibir diferen-

tes graus de desenvolvimento (situação que é mais regra do que excepção); estes vieses

tornam a idade à morte um parâmetro altamente complexo de estimar (İşcan, 1989;

Ritz-Timme et al., 2000; Schmitt, 2005; Introna & Campobasso, 2006; Klepinger, 2006;

Katzenberg & Saunders, 2008; Cunha et al., 2009; Harth et al., 2009).

1.3.2.1 EM NÃO-ADULTOS

“De todos os parâmetros usados para identificar restos esqueléticos de crianças, a esti-

mativa da idade é o mais fiável” (Lewis & Favel, 2006:243).

Converter a idade biológica em idade cronológica, de forma exacta, é a base para efec-

tuar a estimativa da idade em indivíduos não adultos, através de aspectos do desenvol-

vimento e maturação óssea e dentária (White & Folkens, 2005; Lewis & Favel, 2006).

O desenvolvimento dentário é o indicador que melhor caracteriza a idade biológica,

uma vez que sofre menos influências externas do que outros elementos do esqueleto.

Por esta razão e, também, pelo facto de os dentes, ao serem elementos resistentes,

serem, frequentemente, encontrados em contextos forenses, arqueológicos e paleontoló-

gicos, são o indicador eleito para a estimativa da idade em não-adultos. Para estimar a

idade através da dentição podem ser aplicados métodos radiológicos, macroscópicos e

microscópicos. Os mais utilizados são a mineralização, erupção e desenvolvimento den-

tários, que seguem um padrão que “pode ser dividido em etapas” (Lewis & Favel,

2006:244). Devido à variação sexual neste indicador ser muito mais significativa para o

dente canino, não se deve ter em conta o referido dente ao proceder-se à avaliação da

idade através da erupção dentária (White & Folkens, 2005).

Page 33: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

14

Os métodos microscópicos de análise dentária ajudam a pelejar os erros que surgem na

interpretação da idade cronológica através da idade biológica, pois examinam marca-

ções características do desenvolvimento na microestrutura dentária, permitindo ao perito

atribuir uma “idade individual” (Lewis & Favel, 2006:247) ao sujeito em análise.

Quando os dentes não se encontram presentes, outros elementos do esqueleto têm que

ser usados para proceder à estimativa da idade em indivíduos não-adultos. O compri-

mento das diáfises dos ossos longos é um método muito empregue em fetos e recém-

nascidos. Em crianças mais velhas e adolescentes, utiliza-se a fusão das epífises com as

diáfises dos ossos do esqueleto pós-craniano, pois estas sucedem-se de forma progressi-

va e sequencial (White & Folkens, 2005; Lewis & Favel, 2006). Quando a fusão das

epífises e diáfises dos ossos longos está completa, alguns autores sugerem a sincondrose

occipital basilar para estimar a idade em adolescentes (apesar de ser fiável, unicamente,

para o sexo feminino) ou a fusão dos anéis vertebrais lombares e torácicos (Lewis &

Favel, 2006).

1.3.2.2 EM ADULTOS

Exceptuando o encerramento das suturas cranianas e a modificação da sínfise púbica

(“que se assemelha, em parte, a processos de maturação óssea” (Schmitt, 2002:54)),

para indivíduos adultos, os marcadores da idade baseiam-se, particularmente, nos indi-

cadores da senescência (Schmitt, 2002).

A sínfise púbica, a translucidez radicular, as alterações da superfície auricular, o aspecto

ventral das costelas e as suturas cranianas são dos indicadores da idade melhor docu-

mentados e mais empregues (Ferembach et al., 1979, Meindl & Lovejoy, 1985; Saun-

ders et al., 1992; Schmitt et al., 2006).

Page 34: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

15

Quando se fala em indivíduos adultos, pode falar-se num indivíduo com 25 anos ou

num indivíduo com 80 anos. Assim, alguns autores optaram por dividir o grupo dos

indivíduos adultos em três subgrupos, de modo a facilitar as classificações: “jovens

adultos” (até 40 anos), “adultos maduros” (mais de 40 anos) e “idosos” (mais de 65

anos) (Baccino & Schmitt, 2006:261-262).

A metamorfose da sínfise púbica é um dos métodos mais usados, senão o mais usado

para estimar a idade em indivíduos adultos. Esta estrutura sofre alterações, ao longo da

vida que são, razoavelmente, classificáveis. O primeiro sistema de classificação foi

desenvolvido por Todd, em 1920, que estipulou 10 fases, em três grandes etapas meta-

mórficas da sínfise. Em 1990, Suchey e Brooks, apoiando-se em estudos anteriores

(Brooks, 1955; Todd, 1920), dividiram essas metamorfoses morfológicas em apenas

seis fases (separadamente, para o sexo masculino e para o sexo feminino). Para facilitar

a classificação dos indivíduos, encontram-se disponíveis moldes de todas as fases para

comparação visual directa (McKern & Stewart, 1957; Suchey & Brooks, 1990; White &

Folkens, 2005; Baccino & Schmitt, 2006; Thompson & Black, 2007).

Mais recentemente, foram desenvolvidos procedimentos que fazem a conjugação de

dois ou mais métodos de estimativa da idade. Exemplo disso mesmo é o Two Step Pro-

cedure (TSP) (i.e., o método dos dois passos). Trata-se de uma metodologia que com-

plementa, “cronologicamente, não matematicamente” (Baccino & Schmitt, 2006:262) o

método de estimativa da idade através da sínfise púbica de Suchey e Brooks (SBS- sis-

tema de Suchey-Brooks) com o método desenvolvido por Lamendin, baseado na denti-

ção (Lamendin et al., 1992; Baccino & Schmitt, 2006). Primeiramente, deve examinar-

se a sínfise púbica do indivíduo, de modo a poder classificá-lo numa das fases do SBS

(seja como adulto jovem (I, II ou III) ou mais velho (IV, V ou VI)); isto permite uma

pré-escolha, pois se o indivíduo for alocado nas fases I, II ou III do SBS, será este o

Page 35: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

16

método usado para estimar a idade; se o indivíduo for classificado numa das fases pos-

teriores do SBS, aplicar-se-á, então, o método de Lamendin (Suchey & Brooks, 1990;

Lamendin et al., 1992; Baccino & Schmitt, 2006). O método de Lamendin não varia

para os sexos e baseia-se na translucidez dos dentes uni-radiculares (Lamendin et al.,

1992; Martrille, 2006; Baccino & Schmitt, 2006). Estes dois métodos são apenas com-

plementares e não conjuntos. Como expectável, o TSP revela um nível de eficácia mais

elevado que os métodos SBS ou de Lamendin usados em separado (Baccino & Schmitt,

2006). O TSP é de simples e rápida aplicação, não apresentando grandes variações

inter-observador e ambos os métodos que o constituem foram desenvolvidos em amos-

tras de referência “multi-regionais” (Baccino & Schmitt, 2006:268), de grande tamanho;

continuando a ser testados e avaliados com resultados satisfatórios. Apesar de ser um

bom método para estimar a idade em indivíduos adultos com idades compreendidas

entre os 40 e os 65 anos, não funciona bem para idades superiores a esta. Naturalmente,

os resultados também serão negativamente influenciados em indivíduos que exibam

doença periodontal grave (Lamendin et al., 1992; Baccino & Schmitt, 2006).

Lovejoy e colegas (1985) estudaram a superfície auricular do ilium, como indicador da

idade e defenderam que esta estrutura possuía algumas vantagens em relação à sínfise

púbica, nomeadamente, por ser mais resistente (logo, com maior probabilidade de se

encontrar bem preservada em contextos forenses e arqueológicos) e por as alterações

que nela se registam, continuarem a manifestar-se bem para além dos 50 anos de idade.

İşcan e Loth (1986) propuseram as alterações (“aparência, formato, textura e qualidade

geral”) da extremidade esternal da quarta costela como um indicador da idade, apesar de

ser variável com o sexo. Definiram nove fases, em que na primeira, a extremidade da

costela se apresenta com margens regulares e arredondadas, e plana ou ligeiramente

ondulada. Com a idade, os rebordos vão-se tornando cada vez mais irregulares e mais

Page 36: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

17

finos (İşcan & Loth, 1986). Existem moldes detalhados, que facilitam a comparação

visual directa. Alguns autores criticaram este novo método devido a, por vezes, ser

impossível identificar a quarta costela quando o esqueleto se encontra incompleto; por

isso, surgiram estudos posteriores, aplicando os princípios básicos do método proposto

por İşcan e Loth às extremidades esternais de outras costelas (İşcan & Loth, 1986; Whi-

te & Folkens, 2005; Baccino & Schmitt, 2006).

Métodos histológicos, como a observação da remodelação cortical óssea (e.g.: Kerley,

1965; Singh & Gunberg, 1970; Thompson, 1979; Stout, 1992, 1996; Prieto, 1993; Stein,

Thomas, 1995, 1999; Cho, 2002; Martrille, 2003) (Martrille, 2006), contagem dos

osteões (Cunha et al., 2009), entre outros, são métodos (alguns) mais recentes e igual-

mente válidos, porém, não serão descritos, pois o tema deste trabalho não se insere nes-

sa temática.

Todavia, dos métodos supramencionados, o mais controverso e mais antigo é o encer-

ramento das suturas cranianas, que será analisado em separado, adiante.

1.3.3 ALGUMAS NOÇÕES ANATÓMICAS DO CRÂNIO

O crânio é o elemento mais complexo do esqueleto humano (Gray, 2003; Drake et al.,

2005). Na altura do nosso nascimento, o crânio é constituído por 45 elementos indivi-

duais e é bastante grande, relativamente a outras partes do corpo. Durante o desenvol-

vimento, o crânio passa por fases importantes, tais como a erupção dentária, endureci-

mento das fontanelas, encerramento das suturas, aumento do tamanho dos seios nasais

(figura 2) (Gray, 2003; Drake et al., 2005; White & Folkens, 2005).

Page 37: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

18

Figura 2 - Crescimento no crânio humano (adaptado de White & Folkens, 2005)

No indivíduo adulto, o esqueleto craniano é composto por vinte e nove ossos (crânio e

face), sendo que oito constituem o crânio, em si: occipital, (dois) parietais, frontal,

(dois) temporais, esfenóide e etmóide (figura 4) (Sobotta, 2000; Gray, 2003; Drake et

al., 2005).

Figura 3 - Estrutura interna do osso craniano (adaptado de Drake et al., 2005)

recém-nascido

três anos

seis anos adulto idoso

jovem adulto

Page 38: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

19

O osso craniano é composto por três camadas (Jaslow, 1990); as camadas interior e

exterior (respectivamente, tabula interna e tabula externa) são formadas por osso com-

pacto, e a camada intermédia (o diplöe) é constituída por osso esponjoso (figura 3)

(Sobotta, 2000; Gray, 2003; Drake et al., 2005; White & Folkens, 2005).

O osso frontal (ímpar) localiza-se na zona frontal do neurocrânio (Sobotta, 2000; Gray,

2003; Drake et al., 2005; White & Folkens, 2005). Pode apresentar, na linha média, a

sutura metópica, ou o que resta dela, em indivíduos adultos (figuras 4, 10 e 11). A

extremidade superior do osso frontal é, normalmente, denteada e articula com os ossos

parietais, através da sutura coronal. A extremidade orbitária articula com os ossos

nasais, lacrimais, zigomáticos, com o osso esfenóide e com o osso etmóide (figura 4)

(Sobotta, 2000; Gray, 2003; Drake et al., 2005)

Os ossos parietais (pares) formam o tecto e as laterais da abóbada craniana. Cada parie-

tal articula com o oposto, com o osso frontal, o occipital, o temporal e o esfenóide (figu-

ra 4). A articulação dos dois ossos parietais é feita através da sutura sagital; a sutura

lambdóide constitui a articulação entre o osso occipital e os dois ossos parietais (figura

4 (B)) (Sobotta, 2000; Gray, 2003; Drake et al., 2005; White & Folkens, 2005).

Os ossos temporais (pares) alojam os órgãos da audição, compõem a superfície superior

da articulação temporo-mandibular e formam a transição entre a parte lateral e a base da

caixa craniana. A escama do temporal articula com os parietais, através da sutura esca-

mosa (figura 4 (B)). Cada temporal articula com o temporal oposto (através da sutura

sagital), o occipital (através da sutura lambdóide), o esfenóide, o zigomático e com a

mandíbula (Sobotta, 2000; Gray, 2003; Drake et al., 2005; White & Folkens, 2005).

Page 39: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

20

O osso occipital (ímpar) localiza-se na região postero-inferior do crânio. Possui um

grande orifício na base, o foramen magnum, por onde passa, inferiormente, o tronco

cerebral para o canal vertebral. O occipital articula com os parietais, os temporais, o

Figura 4 - (A) Vista anterior do crânio (modificado de McKinley & O‟Loughlin, 2006). (B) Vista lateral do crânio (modificado de McKinley & O‟Loughlin, 2006).

Região escamosa do temporal

(A)

(B)

Page 40: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

21

esfenóide e o atlas (primeira vértebra) (figura 4 (B)) (Sobotta, 2000; Gray, 2003; Drake

et al., 2005).1

Figura 5 - Representações esquemáticas de: (A) uma sutura plana, (B) uma sutura denteada, (C) uma

sutura escamosa e (D) sua secção (adaptado de Platzer, 1991)

Os ossos cranianos encontram-se em articulação através das suturas - bandas de tecido

fibroso conectivo (Gray, 2003; Drake et al., 2005). De acordo com a sua forma as sutu-

ras classificam-se como: planas (figura 5 (A)), como a internasal; denteadas (figura 5

(B)), como a sagital; e escamosas (figura 5 (C e D)), como temporo-parietal (Platzer,

1991). 1 Por não serem relevantes para o presente trabalho e para não tornar esta revisão de anatomia demasiado maçadora, os restantes

ossos cranianos não serão descritos.

A B

C D

Page 41: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

22

De acordo com a localização as suturas cranianas podem ser divididas em três conjun-

tos: as que se situam na base, as que se situam nas laterais e as que se situam na abóba-

da do crânio (Gray, 2003; Drake et al., 2005). São apenas mencionadas as suturas da

abóbada do crânio, pois foram as estudadas neste trabalho: são a sagital (interparietal), a

coronal (fronto-parietal) e a lambdóide (occipito-parietal) (figuras 4 e 6) (Gray, 2003).

Figura 6 - Vista superior do crânio (modificado de Drake et al., 2005)

Krogman e İşcan (1986) afirmaram que as suturas cranianas são análogas às articula-

ções das epífises, pois possuem bases de crescimento e timing2 de fusão similares.

2 Por não existir uma palavra em português com o mesmo conceito, optou-se pela palavra inglesa ao longo do trabalho, para definir

o “momento sincrónico”, o decorrer do tempo até à altura em que se dá determinado evento.

Page 42: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

23

Nos indivíduos jovens as suturas cranianas apresentam-se como estruturas simples, rec-

tas e muito largas (Singer, 1953). Os ossos cranianos, nestes indivíduos, articulam entre

si através de um tecido reticular, elástico e colagenoso. Com o avançar da idade, as

cavidades do osso esponjoso que constituem o diplöe aumentam em número e em tama-

nho e o osso cortical que forma a camada mais exterior – a tabula externa – diminui em

espessura. As fibras do tecido reticular conectivo são reduzidas, o que acarreta o estrei-

tamento da articulação (sutura), as margens dos ossos cranianos tornam-se irregulares,

devido à proliferação de espículas ósseas e, apesar de ser variável, a morfologia das

suturas, torna-se cada vez mais complexa (Sabini & Elkowitz, 2006).

Quando dois ossos adjacentes se unem, a sutura deixa de ser móvel. Tal tendência (tran-

sição de articulações totalmente abertas a articulações completamente unidas) parece

dever-se, entre outras, ao efeito de forças mecânicas (Jaslow, 1990). Em alguns indiví-

duos, no entanto, pode acontecer um fenómeno que Todd denominou de lapsed union3,

em que ocorre a acumulação de tecido ósseo na margem da sutura, não se completando

o processo de encerramento (Todd & Lyon, 1924, 1925; Rogers, 1982; Krogman &

İşcan, 1986).

1.3.4 O CRÂNIO COMO ELEMENTO DE ESTUDO NA ESTIMATIVA DA IDADE À MORTE

O aspecto relativo às suturas cranianas mais estudado é o grau do seu encerramento e,

como tal, tem tido uma história que se pode classificar de interessante (Meindl & Love-

joy, 1985).

“Poucos problemas em Antropologia suscitaram tantas afirmações contraditórias como

o da estimativa da idade à morte através da sinostose das suturas cranianas” (Masset,

3 Por não ser uma expressão traduzível, a autora preferiu mantê-la no inglês original, ao longo de todo o trabalho.

Page 43: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

24

1982:4). Apesar de ser um método usado desde o séc. XVI (Meindl & Lovejoy, 1985), a

sua fiabilidade e precisão são ainda bastante debatidas.

Sendo o corpo humano “altamente adaptável”, alguns autores asseveram ser improvável

que a idade seja o único factor a influenciar o encerramento das suturas cranianas (Key

et al., 1994; Sabini & Elkowitz, 2006). Apesar de existir influência de factores intrínse-

cos no encerramento das suturas, são evidentes os efeitos de factores extrínsecos ou

ambientais nas características destas, como forças de tensão, o crescimento do cérebro e

exigências de músculos activos (Sabini & Elkowitz, 2006).

Page 44: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

25

A variabilidade no encerramento e morfologia das suturas é muito elevada e pode

envolver diversas modificações (Jaslow, 1990; Sabini & Elkowitz, 2006), todas elas

afectando de modo diferente esse processo:

Craniossinostose (figura 7): trata-se de uma situação na qual as suturas, nas

crianças, encerram mais cedo que a idade normal esperada. O encerramento prematuro

das suturas provoca deformações no crânio e o cérebro (crescimento e desenvolvimen-

to) poderá ser afectado. A causa mais frequente da craniossinostose é a assimetria cra-

niana (Bolk, 1915; Živanoviš, 1983; Hauser et al., 1991; White, 1996).

Figura 7 - (A) Vista anterior de um crânio de uma criança com encerramento assimétrico da sutura coro-

nal (adaptado de Khanna et al., 2011);

(B) Vista superior do mesmo crânio (adaptado de Khanna et al., 2011).

Interdigitação (figura 8): as suturas cranianas são, inicialmente, estruturas sim-

ples e rectas, mas tornam-se mais complexas, desenvolvendo interdigitações através de

processos de crescimento e reabsorção óssea. Estudos demonstraram que as inter-

Page 45: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

26

digitações auxiliam na transmissão de forças de um osso craniano para outro. Quanto

mais complexas forem as interdigitações ou mais tempo uma sutura se mantém aberta,

maior é a força nessa sutura específica. Reciprocamente, a ausência de crescimento ou

movimento resultarão, possivelmente, na obliteração da sutura (Sabini & Elkowitz,

2006; Herring, 2008; Rice, 2008). Os resultados do estudo realizado por Jaslow (1990)

evidenciam que suturas altamente interdigitadas têm maior flexibilidade e absorvem

mais energia, devido à presença de fibras de colagénio adicionais e ao acréscimo da área

de superfície da articulação (Herring, 2008; Rice, 2008).

Figura 8 - Exemplo do desenvolvimento da sutura sagital, que passa de uma estrutura simples e plana (a)

a uma estrutura complexa, com inúmeras interdigitações (c); diferente plano das interdigitações (d). p - osso parietal; ss - sutura sagital (adaptado de Rice, 2008).

Page 46: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

27

Ossículos supranumerários (figura 9): são ossos pequenos e irregulares que se

desenvolvem a partir de centros de ossificação adicionais, localizados ao longo das

suturas cranianas e no interior das fontanelas (White, 1996; White & Folkens, 2005;

Rice, 2008). A presença de ossículos supranumerários é variável, mas tipicamente bas-

tante elevada, sobretudo na sutura lambdóide, com causas genéticas e ambientais (Whi-

te, 1996). Alguns estudos indicam que a presença de ossículos supranumerários impede

a obliteração das suturas (Nayak, 2008, Verma et al., 2010).

Figura 9 - Vista posterior de um crânio com dez ossículos supranumerários na sutura lambdóide (adapta-

do de Nayak, 2008).

Metopismo (figuras 10 e 11): é a persistência da sutura metópica4 na idade adulta.

Normalmente, a sutura metópica encerra entre o primeiro e segundo ano de idade e

encontra-se completamente obliterada aos três anos, embora possa permanecer patente

até por volta dos sete anos (Bolk, 1915; Zumpano et al., 1999; White & Folkens, 2005).

4 A sutura metópica é a sutura que divide bilateralmente o osso frontal, à nascença. Estende-se desde o nasion até à fontanela ante-

rior. A sua fusão inicia-se no nasion e continua superiormente, de forma progressiva, até atingir a fontanela (Weinzweig, 2003)

Page 47: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

28

O metopismo manifesta-se em cerca de 8% da população adulta; pode ter variadas cau-

sas, como o crescimento anormal dos ossos do crânio, interrupção do crescimento, for-

ças mecânicas, disfunções hormonais, hereditariedade ou factores genéticos (Masset,

1982). Esta condição pode interferir no processo de encerramento das restantes suturas

cranianas, parecendo diminuir a propensão para a sua obliteração (Masset, 1982).

Figura 10 - Sutura metópica, que se estende

desde o nasion (A) ao bregma (B) (adaptado de

Castilho et al., 2006).

Figura 11 - Sutura metópica, que se estende

desde o nasion (A) ao bregma (B), exemplar da

colecção Luís Lopes (Rodrigues e Vieira, 2010).

Apesar se serem inúmeros os factores que podem afectar o encerramento das suturas

cranianas e a complexidade dos padrões suturais, sabe-se ainda muito pouco acerca da

exacta funcionalidade do encerramento das suturas e as suas várias fases.

1.3.5 ESTUDOS COMPLEMENTARES

Se existe um mecanismo selectivo para o encerramento das suturas cranianas, só pode

ser descoberto e estudado através da observação do encerramento das suturas em huma-

nos, restos fossilizados e primatas antropóides (Key et al., 1994). Um dos pioneiros

neste tipo de estudo foi Bolk (1915), que observou crânios de platirrinos, catarrinos e

A A

B

Page 48: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

29

grandes símios. Bolk concluiu que o encerramento prematuro era um exemplo de um

fenómeno atávico. Em 1930, Krogman descreveu as sequências de obliteração das sutu-

ras cranianas e faciais em oito espécies de primatas, incluindo gorilas, chimpanzés,

orangotangos, gibões, babuínos e macacas. Obteve conclusões muito semelhantes às de

Todd e Lyon (com crânios humanos), ou seja, existia uma propensão para as suturas

iniciarem o encerramento endocranialmente.

No final da década de 1980, Falk et al. (1989) estudaram 330 moldes internos de crâ-

nios de macacos rhesus (Macaca mulatta) com idades conhecidas e compararam os

resultados com os obtidos por Todd e Lyon (em 1924 e 1925) e por Meindl e Lovejoy

(em 1985). Foi observada uma forte relação entre a idade e o encerramento das suturas

para os macacos rhesus, apesar de que, tal como se verificou nos humanos, esta relação

decrescia muito nos indivíduos mais idosos (Falk et al., 1989).

1.3.6 ESTUDOS RELEVANTES

Foram realizadas observações do encerramento das suturas cranianas, primeiramente,

no séc. IV a.C., por Hipócrates, apesar de não terem sido utilizadas como ferramenta de

identificação relacionada com a idade até muito mais tarde (Todd & Lyon, 1924;

McKern & Stewart, 1957). É a Vesalius e ao seu pupilo Fallopius, em 1542, que se atri-

bui o facto de, pela primeira vez, notarem a progressão do encerramento das suturas

cranianas com a idade (Todd & Lyon, 1924; Ashley-Montagu, 1938; Singer, 1953;

Masset, 1982; Masset, 1989; Hershkovitz et al., 1997; Beauthier et al., 2010).

Apesar de existirem algumas descrições iniciais da variação do encerramento das sutu-

ras cranianas, somente a partir do séc. XIX foram publicados estudos científicos acerca

deste assunto.

Page 49: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

30

Nas próximas linhas descrevem-se, cronologicamente, as metodologias e conclusões de

alguns dos mais relevantes estudos, dos últimos 160 anos.

1.3.6.1 {1856 - 1920}: PRIMEIROS ESTUDOS

Antes de 1856, não havia sido conferida grande importância à observação das alterações

a nível do crânio, motivadas pelo avançar da idade. De acordo com Todd e Lyon (1924)

e Ashley-Montagu (1938), foi somente em meados do séc. XIX que Gratiolet (1856)

descreveu, pela primeira vez, que o encerramento das suturas exocranianas progredia de

forma sequencial, com a idade (McKern & Stewart, 1957; Masset, 1982). Em 1861, o

médico francês Broca estudou crânios de indivíduos do sexo masculino, com idades

superiores a 50 anos e examinou as suturas visíveis. Desenvolveu um sistema de 4 pon-

tos para a classificação do grau de encerramento das suturas (Todd & Lyon, 1924). Em

1862, o arqueólogo alemão Welcker concluiu que o encerramento das suturas se afigu-

rava como um método promissor para a estimativa da idade, não obstante alguns resul-

tados contraditórios e uma grande insuficiência de estudos acerca do tema.

Em 1869, Pommerol constatou que o período de união para cada sutura variava entre

indivíduos, mas seguia um padrão geral (Todd & Lyon, 1924; Masset, 1982), identifi-

cando a seguinte sequência:

1) indivíduos com <35 anos tinham suturas cranianas abertas;

2) indivíduos com ≈40 anos, sutura sagital iniciava encerramento;

3) indivíduos com 50 anos, sutura coronal começava a encerrar;

4) indivíduos com >65 anos, sutura escamosa terminava encerramento (Todd & Lyon,

1924).

Sauvage (1870), explicou que o encerramento das suturas cranianas tinha o seu início

na superfície endocraniana e que o tempo de encerramento de uma sutura não era afec-

tado pelo seu grau de complexidade, pois a obliteração completa ocorria, caracteristi-

Page 50: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

31

camente, aos 45 anos de idade e as suturas exocranianas raramente encerravam por

completo (Singer, 1953; McKern & Stewart, 1957).

No ano de 1885, foram dois os investigadores proeminentes no estudo das suturas cra-

nianas, Topinard e Ribbé. O primeiro estipulou que se todas as suturas cranianas se

encontrassem abertas, o indivíduo teria menos de 35 anos; se a zona posterior da sutura

sagital tivesse começado a encerrar, o crânio rondaria os 40 anos; se a sutura coronal

tivesse iniciado o encerramento junto ao bregma, o indivíduo teria 50 anos ou mais

(Sahni et al., 2005). Ribbé examinou 50 crânios com idades conhecidas, 40 dos quais

eram caucasianos e os restantes 10 seriam, presumivelmente, negróides (Todd & Lyon,

1924). Registou a primeira ocorrência de união nas suturas em indivíduos com 21 anos

e a última em indivíduos com 55 anos de idade. Servindo-se da média, Ribbé concluiu

que o encerramento das suturas se iniciava entre os 40 e os 45 anos de idade (desvio

padrão: 15-20 anos) e que, exocranialmente, as suturas sagital e lambdóide encerravam

previamente à coronal (Todd & Lyon, 1924). Em 1890, Dwight afirmou que, antes de

atingir os 30 anos, todas as suturas cranianas se encontravam abertas; que o encerramen-

to das suturas começava endocranialmente e que sucedia mais cedo nos indivíduos do

sexo masculino. Dwight concluiu que o encerramento se tratava de um processo irregu-

lar e, como tal, sem valor indicativo da idade (Dwight, 1890; Todd & Lyon, 1924;

McKern & Stewart, 1957; Masset, 1982).

Em 1905, Parsons e Box examinaram 82 crânios, masculinos e femininos, com idades

conhecidas (Todd & Lyon, 1924). Os dois investigadores concluíram que, nos crânios

saudáveis, o encerramento, raramente, ocorria em indivíduos com idades inferiores a 30

anos; a partir dos 60 anos, todas as suturas endocranianas se encontravam, completa-

mente, obliteradas. Parsons e Box (1905) determinaram que as suturas menos denteadas

(mais simples) fechavam antes que as outras e que não existiam diferenças nos períodos

Page 51: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

32

de encerramento entre o lado direito e o lado esquerdo do crânio. Propuseram, ainda,

que a lambdóide seria a última das suturas da abóbada craniana a encerrar completa-

mente (Todd & Lyon, 1924; Ashley-Montagu, 1938). Parsons e Box (1905) inferiram

sobre o trabalho de Dwight (1890), corroborando as suas conclusões sobre o encerra-

mento das suturas cranianas acontecer mais tarde nas mulheres, bem como de as suturas

exocranianas serem tão variáveis que não deveria ser feita qualquer estimativa da idade

baseada nestas, particularmente, quando fosse possível observar o interior do crânio

(Todd & Lyon, 1924; Ashley-Montagu, 1938; Krogman, 1962).

Frédéric, em 1906, estudou 344 crânios, tornando-se no primeiro investigador com

uma amostra de grandes dimensões. Todavia, apenas 104 crânios, de ambos os géneros,

do total da amostra haviam sido autopsiados, permitindo o estudo da superfície endo-

craniana. Frédéric (1906) apresentou a sua própria escala de classificação do grau de

obliteração das suturas cranianas, com 5 graus (figura 16 (B)): de 0 a 4, em que o 0 cor-

respondia à sutura totalmente aberta e o 4 correspondia à sutura totalmente obliterada

(Todd & Lyon, 1924; Krogman, 1962; Ferembach et al., 1979; Masset, 1982). Ao exa-

minar as suturas endocranianas, Frédéric verificou que a sutura lambdóide encerrava

posteriormente à sutura sagital e à coronal (Todd & Lyon, 1924). Frédéric deduziu,

então, que seria impossível um intervalo de precisão inferior a 10 anos na estimativa da

idade de um crânio através deste método. Determinou, também, que o encerramento das

suturas cranianas ocorria mais tarde nas mulheres, concordando, assim, com Dwight

(1890) e Parsons e Box (1906) (Todd & Lyon, 1924; McKern & Stewart, 1957; Krog-

man, 1962; Masset, 1982).

No ano de 1915, numa amostra de 1820 crânios de indivíduos jovens caucasianos, Bolk

calculou a frequência absoluta da ocorrência de encerramento prematuro. A partir desta

análise, o autor propôs uma nova terminologia para o encerramento das suturas: “preco-

Page 52: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

33

ce” (encerramento antes dos sete anos de idade) e “prematuro” (encerramento após os

sete anos de idade, mas antes da idade „normal‟ para o encerramento) (Bolk, 1915).

1.3.6.2 {1920 - 1936}: A ERA DE TODD & LYON

Os resultados e conclusões, até esta data, apresentavam-se muito contraditórios, o que,

frequentemente, advinha do facto de as amostras serem, estatisticamente, desadequadas

(McKern & Stewart, 1957).

Em 1924, Todd e Lyon abordaram três condições importantes, anteriormente, negli-

genciadas: o reduzido tamanho das amostras estudadas, bem como o facto de serem

constituídas por indivíduos com a mesma ancestralidade; os indivíduos terem, geral-

mente, idades desconhecidas ou não confirmadas; e, por fim, o facto de existirem pou-

cos crânios autopsiados, não permitindo analisar a superfície endocraniana com facili-

dade e precisão. Agravando esta situação, a não especificação, por parte dos autores, se

os resultados e conclusões se referiam às suturas exo- ou endocranianas (Todd & Lyon,

1924; McKern & Stewart, 1957).

Todd e Lyon (1924) propuseram-se, então, a “apresentar os factos respeitantes ao encer-

ramento das suturas cranianas” (Todd & Lyon, 1924:326). Com o objectivo de colmatar

todos estes problemas e dificuldades, Todd e Lyon, durante os anos de 1924 e 1925,

escreveram quatro trabalhos sobre o encerramento das suturas endo- e exocranianas, em

indivíduos adultos caucasianos e negróides. Esta investigação teve o objectivo específi-

co de conceber um sistema numérico e preciso de classificação do grau de encerramento

das suturas cranianas, até à altura inexistente, na opinião dos autores (McKern & Ste-

wart, 1957; Krogman, 1962; Masset, 1982). Todd e Lyon afirmaram:

“ […] investigadores anteriores tornaram-se confusos na sua interpretação […]. Até nós

termos reunido o material datado com precisão no Museu Hamann, ninguém possuía

Page 53: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

34

uma colecção suficiente de crânios com idades conhecidas, para justificar a interpreta-

ção da relação do encerramento das suturas com a idade” (Todd & Lyon, 1924:355).

Inicialmente, os dois investigadores examinaram mais de 1.000 crânios, dos quais rejei-

taram os de idade desconhecida e os que não possuíam esqueleto pós-craniano, para

posterior estudo comparativo. Resultou, assim, uma amostra com 365 indivíduos cauca-

sianos e 149 indivíduos negróides. Esta amostra sofreu nova redução, ao serem excluí-

dos os crânios que os autores consideraram não-normais, ou seja, com encerramento

irregular das suturas cranianas (Todd & Lyon, 1924; Singer, 1953; Krogman, 1962;

Masset, 1982). Todd e Lyon afirmaram estar confiantes nas suas rejeições, uma vez que,

desta forma, puderam examinar o esqueleto completo e cruzar informações com a

documentação legal dos indivíduos. O intervalo de idades dos indivíduos pertencentes à

amostra final foi dos 18 aos 84 anos (Todd & Lyon, 1924).

Todd e Lyon (1924) agruparam as suturas cranianas e adoptaram métodos de estudos

anteriores: do trabalho de Broca (1861), adoptaram o arranjo da “complicação”5 das

suturas, a escala de classificação dos graus de obliteração e subdivisão de determinadas

suturas; de Frédéric (1906), a inversão da categorização da quantidade de encerramento

das suturas, de 0 a 4.

De modo a tornar os resultados gráficos mais harmoniosos, Todd e Lyon optaram por

utilizar intervalos de três anos, em vez de idades reais; eliminar crânios que apresentas-

sem progresso irregular no encerramento das suturas e com desvios no crescimento do

esqueleto pós-craniano (Todd & Lyon, 1924; McKern & Stewart, 1957). Das observa-

ções preliminares, os autores concluíram que existia “uma clara sequência ordenada de

idade no progresso do encerramento das suturas” (Todd & Lyon, 1924:333). Na parte I

5 Em inglês “complication”. Refere-se ao que, mais tarde, se denominou como tipo de sutura de acordo com a forma (denteada,

plana, escamosa), ou seja, se a sutura é mais simples ou mais “recortada”.

Page 54: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

35

do seu trabalho, publicada em 1924, Todd e Lyon afirmaram que o encerramento das

suturas endocranianas nos indivíduos caucasianos do sexo masculino era mais activo

entre os 26 e os 30 anos de idade; que o fenómeno de lapsed union era mais frequente

na sutura lambdóide; e que o encerramento das suturas só se correlacionava com a idade

quando a amostra possuía grandes dimensões e não a um nível individual (Todd &

Lyon, 1924; McKern & Stewart, 1957).

“Os nossos resultados apresentam um valor explícito, mas apenas quando tidos em con-

ta, conjuntamente, com indicações dadas por outras partes do esqueleto.” (Todd &

Lyon, 1924:380).

Em 1925, Todd e Lyon publicaram três trabalhos que constituíram o seguimento do

referido estudo.

Na parte II, Todd & Lyon (1925a) estudaram as suturas exocranianas em indivíduos

caucasianos adultos do sexo masculino. Deste estudo, os autores chegaram às seguintes

conclusões: as suturas exocranianas manifestavam encerramento mais lento e mais

variável; a união das suturas exocranianas nunca se mostrou tão completa como nas

endocranianas (que haviam estudado na parte I do trabalho); exocranialmente, era evi-

dente a existência de lapsed union em todas as suturas (Todd & Lyon, 1925a).

Na parte III da sua investigação (Todd & Lyon, 1925b), Todd e Lyon concentraram o

seu estudo no encerramento das suturas da superfície endocraniana em indivíduos

negróides do sexo masculino. Os dois investigadores acreditavam ser um estudo deveras

importante, uma vez que tentavam discernir se o seu primeiro trabalho sobre indivíduos

caucasianos do sexo masculino poderia ser aplicado como procedimento padrão para

diferentes ancestralidades. Todd e Lyon rejeitaram muitos crânios que, mais uma vez,

classificaram de anormais, devido a atrasos no encerramento. Ora, os dois investigado-

Page 55: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

36

res concluíram que existia “qualquer coisa de diferente” a acontecer no crânio dos indi-

víduos de “raça6 negra” (Todd & Lyon, 1925b:48), o que se poderia classificar como

variação genética específica da população negróide (Todd & Lyon, 1925b).

Na parte IV, Todd e Lyon estudaram o encerramento das suturas exocranianas em 79

crânios de indivíduos adultos negróides do sexo masculino. No final do estudo, os auto-

res concluíram que os padrões de encerramento das suturas exocranianas eram, essen-

cialmente, os mesmos nos indivíduos caucasianos e negróides do sexo masculino; que o

encerramento das suturas exocranianas era mais errático, mais lento e mais incompleto

do que o encerramento das suturas endocranianas, que haviam estudado em trabalhos

anteriores; que a presença de lapsed union era característica de todas as suturas exocra-

nianas, apesar de não surgir em todos os indivíduos (Todd & Lyon, 1925c).

Dos quatro trabalhos, Todd e Lyon (1924, 1925a, 1925b, 1925c) puderam concluir que

não existiam diferenças no encerramento das suturas cranianas entre indivíduos negrói-

des e caucasianos; relativamente aos sexos, inferiram que o encerramento ocorria pri-

meiramente nas mulheres, apesar de os intervalos não serem grandes.

1.3.6.3 {1937 - 1955}: DEPOIS DE TODD & LYON

Os trabalhos de Todd e Lyon (1924, 1925a, 1925b, 1925c) foram fortemente criticados,

particularmente, pela sua decisão de rejeitar todos os crânios com padrões de encerra-

mento acelerados ou retardados (“anormais”), chegando aos 40 crânios caucasianos (em

307) e 41 crânios negróides (em 120). Este tipo de rejeição provocou um inevitável viés

nos dados, levando a uma falsa homogeneidade da amostra que, por seu turno, fomen-

tou uma considerável fonte de erro (Masset, 1989). Singer (1953) e McKern e Stewart

6 O termo “raça” está referenciado aqui por ter sido transcrito do trabalho dos investigadores. Durante todo o trabalho, o termo

utilizado para referir este parâmetro de identificação é “ancestralidade”.

Page 56: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

37

(1957) teceram, também, críticas relativas à forma como Todd e Lyon (1924, 1925a,

1925b, 1925c) decidiram atenuar as curvas dos gráficos.

Masset (1989) realçou que os resultados contraditórios obtidos por Todd e Lyon (1924,

1925a, 1925b, 1925c) e, anteriormente, por Frédéric (1906), haviam sido negligenciados

durante décadas devido à barreira linguística, facto que não impediu muitos autores de

continuarem a citar Todd e Lyon (1924, 1925a, 1925b, 1925c) e de empregarem os seus

métodos, durante os anos que se seguiram.

Em 1937, Cattaneo estudou 100 crânios argentinos, inferindo que o encerramento das

suturas cranianas poderia apenas fornecer um mero indicador sugestivo da idade

(Krogman, 1962).

Hrdlicka, em 1939, asseverou que o encerramento das suturas endocranianas era, uni-

camente, fiável num intervalo de dez anos, acima e abaixo da idade prevista (Krogman,

1962).

Em 1952, Cobb empregou a metodologia de Todd e Lyon (1924, 1925a, 1925b, 1925c)

e, corrigindo Hrdlicka (1939), afirmou que o encerramento das suturas cranianas (não só

das endocranianas, como Hrdlicka havia atestado) era fiável, apenas, num intervalo de

nove anos, acima e abaixo da idade prevista (Krogman, 1962). O debate do tema encon-

trava-se aceso, com os autores a lutarem por uma posição de relevo na investigação

sobre o encerramento das suturas como método para estimar a idade à morte.

No ano de 1953, Singer classificou o encerramento das suturas cranianas (tanto endo-

como exocranianas) como um método dúbio e perigoso. Tendo observado as suturas da

abóbada craniana em 430 crânios de várias ancestralidades, Singer (1953) considerou

que os crânios anormais rejeitados por Todd e Lyon (1924, 1925a, 1925b, 1925c) por

Page 57: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

38

apresentarem padrões não usuais de obliteração das suturas eram, na verdade, muito

frequentes. Com a sua investigação, Singer concluiu que existia uma tendência, em

ambos os sexos, para as suturas cranianas nunca encerrarem completamente, ou encerra-

rem muito mais cedo que o previsto por Todd e Lyon, daí não ser possível fazer qual-

quer estimativa da idade através do encerramento das suturas, quer individualmente,

quer em conjunto; quer exo-, quer endocranialmente (Singer, 1953; McKern & Stewart,

1957).

1.3.6.4 {1955 - 1957}: 2 ANOS, 2 GRANDES ESTUDOS

Brooks (1955) foi também uma das autoras que criticou o método do encerramento das

suturas cranianas, mormente, a sua falta de aplicabilidade em paleodemografia. Brooks

utilizou os métodos de estimativa de idade à morte desenvolvidos por Todd (encerra-

mento das suturas cranianas e alterações da sínfise púbica) e a mesma amostra osteoló-

gica identificada (proveniente da Colecção Hamann-Todd), com o intuito de averiguar

se se tratavam de métodos aplicáveis a outras ancestralidades, que não a caucasiana ou a

negróide, e de determinar a correlação existente entre os dois ditos métodos, quando

aplicados a um só indivíduo. Todavia, Brooks estudou as suturas cranianas e as sínfises

púbicas isoladamente do resto do esqueleto (Brooks, 1955).

A determinação do sexo dos indivíduos era feita através do índice isquio-púbico, sem-

pre que possível, largura da chanfradura ciática, ângulo sub-púbico, morfologia geral do

crânio e da mandíbula (Brooks, 1955). A estimativa da idade era baseada numa escala

de 5 pontos (0- completamente aberta, até 4- completamente fechada) como havia, ana-

logamente, aplicado Todd (Todd & Lyon, 1924, 1925a, 1925b, 1925c). A autora afir-

mou, então, que:

Page 58: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

39

“Não há forma de comprovar a eficácia, tanto da idade craniana, como da idade púbica,

sendo estas diferentes num mesmo indivíduo, excepto através de uma abordagem indi-

recta” (Brooks, 1955:571).

Brooks atestou que o encerramento das suturas cranianas tendia a possuir um desfasa-

mento (atraso) de entre 5 a 25 anos (média ±9 anos), relativamente às sínfises púbicas.

“Não é um indicador fiável, independentemente do sexo ou da raça” (Brooks, 1955:583-

586).

McKern, antropólogo físico, e Stewart, curador de Antropologia Física do Museu

Nacional dos Estados Unidos da América (EUA), publicaram, em 1957, um relatório

técnico para o exército dos EUA (McKern & Stewart, 1957). Os investigadores empre-

garam vários métodos, para a identificação de soldados mortos na guerra, dedicando

uma das secções do extenso trabalho ao método do encerramento das suturas cranianas.

Utilizaram uma fusão dos métodos dantes usados por Todd e Lyon (1924, 1925a,

1925b, 1925c) e Singer (1953): leitura das suturas exocranianas, com o sistema de clas-

sificação de 5 graus (Todd & Lyon, 1925a, 1925c), mas com o acréscimo do 4º segmen-

to na divisão da sutura coronal (Singer, 1953). Embora o intervalo de idades da amostra

fosse restrito e, relativamente, pequeno (17 aos 50 anos - pois as observações eram limi-

tadas a indivíduos do sexo masculino pertencentes ao exército dos EUA, mortos durante

a guerra), os autores analisaram 450 esqueletos identificados e afirmaram que o encer-

ramento das suturas seguia um padrão uniforme. Não obstante a sua progressão com a

idade, os autores afiançaram ser demasiado errático a fim de poder ser utilizado na

estimativa da idade à morte. Além das suturas da abóbada craniana, McKern e Stewart

estudaram, conjuntamente, as suturas faciais e verificaram que o encerramento global

das suturas provia uma estimativa da idade mais precisa do que recorrendo, somente, às

suturas da abóbada craniana. Os autores consideraram, no entanto, que este método era

Page 59: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

40

demasiado incerto “tanto como evidência directa, como apenas de apoio” (McKern &

Stewart, 1957:37), obtendo-se estimativas, meramente, em termos de décadas. Explica-

ram mesmo:

“São tão erráticos, o início e a progressão, que uma série adequada irá fornecer um

qualquer padrão, em qualquer faixa etária. Assim, como guia para a determinação da

idade, tal tendência é de pouca utilidade.” (McKern & Stewart, 1957:37).

No mesmo ano, McKern publicou um estudo no qual concluiu que a avaliação total do

esqueleto era a forma mais precisa e fiável de proceder à estimativa da idade e não ape-

nas a utilização de um único indicador. Porém, o investigador determinou que a sínfise

púbica era o indicador mais fiável e outros seriam, unicamente, necessários na sua

ausência (McKern, 1957). Este tipo de afirmação foi alvo de várias críticas por outros

autores (Meindl & Lovejoy, 1985).

Ainda assim, este foi um dos primeiros estudos multifactoriais, no que concerne a

estimativa da idade à morte. Tornou-se um ponto marcante na Antropologia Forense e

Física pois, a partir deste estudo, a procura de um método com uma abordagem multi-

factorial levou muitos investigadores a desenvolver novas técnicas para a análise do

encerramento das suturas cranianas

1.3.6.5 {1960 - 1984}: ANÁLISES MULTIFACTORIAIS

Por volta da década de 1960, o método de estimativa da idade à morte baseado no

encerramento das suturas cranianas era considerado pouco fiável, o que realmente não

impediu muitos investigadores de tentarem encontrar a tão procurada relação entre a

idade e o encerramento das suturas cranianas (Acsádi & Nemeskéri, 1970; Perizonius,

1984; Meindl & Lovejoy, 1985; Sahni et al., 2005; Dorandeu et al., 2008).

Page 60: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

41

Powers (1962), num estudo que realizou com crânios de soldados provenientes de

vários países da Europa, verificou enormes discrepâncias entre a idade cronológica

(registada) dos indivíduos e a idade estimada. Nas suas observações, o autor deparou-se

com crânios de indivíduos muito jovens nos quais as suturas já se encontravam comple-

tamente obliteradas e indivíduos com 100 anos que exibiam suturas totalmente abertas.

Estes resultados mostraram-se semelhantes aos já encontrados por Dwight, em 1890

(Dwight, 1890; Powers, 1962) (figuras 12 e 13).

Figura 12 - Exemplo de dois indivíduos pertencentes à amostra estudada da Colecção Luís Lopes, com

idades muito semelhantes (indivíduo a: 67 anos; indivíduo b: 66 anos) e graus de encerramento das sutu-

ras muito díspares (Rodrigues & Vieira, 2011).

Os húngaros Acsádi e Nemeskéri, em 1970, desenvolveram o método complexo para a

análise do encerramento das suturas cranianas (Acsádi & Nemeskéri, 1970; Krogman &

İşcan, 1986; Galera, et al., 1998). Tal como McKern tinha feito três anos antes, os

investigadores optaram por uma abordagem multifactorial, estudando, para além das

b a

Page 61: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

42

suturas endocranianas, também a sínfise púbica, a cabeça do fémur e a cabeça do úme-

ro. Empregaram uma versão modificada do sistema implementado por Broca dividiram

as suturas em segmentos e classificaram cada um segundo a escala de Martin (0- Sutura

aberta; […]; 4- Sutura fechada) (Acsádi & Nemeskéri, 1970; Perizonius, 1984; Galera,

et al., 1998).

Excluíram todos os casos patológicos existentes na amostra inicial. Os investigadores

verificaram que o encerramento das suturas endocranianas principiava na sutura coro-

nal, seguindo-se a sagital e, finalmente, a lambdóide. Exocranialmente, registaram graus

2 de encerramento para a sutura coronal em indivíduos de todas as idades, e graus 3 e 4

apenas em cerca de um terço dos casos; a sutura sagital não encerrava completamente,

tendo registado classificações de entre 2 e 3.9, em indivíduos com idades superiores a

60 anos; para a sutura lambdóide, os investigadores indicaram que, para além de encer-

rar muito lentamente e de forma muito variável, apresentava grau 1 em indivíduos com

idades até aos 70 anos (figuras 12 e 13). Acsádi e Nemeskéri (1970) determinaram,

então, que o encerramento das suturas cranianas podia ser utilizado como método de

estimativa da idade à morte, empregando limites de idade amplos. Consideraram o

método válido e de grande importância, desde que aplicado com outros indicadores de

idade (Acsádi & Nemeskéri, 1970; Galera, et al., 1998).

Servindo-se precisamente dos mesmos métodos que Acsádi e Nemeskéri (1970), Peri-

zonius, em 1984, examinou 256 crânios de indivíduos adultos, com mais de 20 anos

(Perizonius, 1984; Sahni et al., 2005). Perizonius analisou as suturas exocranianas e as

endocranianas, com a ajuda de uma lanterna que inseria através do foramen magnum.

Não registou diferenças significativas nas médias de encerramento das suturas entre os

sexos, ou mesmo entre as duas superfícies do crânio. Ao verificar que a média de encer-

ramento parecia aumentar até cerca dos 69 anos e depois de essa idade diminuir, Peri-

Page 62: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

43

zonius decidiu dividir a amostra inicial em dois grupos etários: acima e abaixo dos 50

anos de idade. Assim, depois de proceder à análise estatística dos dados obtidos, con-

firmou que apenas a sutura coronal possuía uma correlação, estatisticamente, significa-

tiva entre a idade e o encerramento, embora, unicamente, no subgrupo mais novo da

amostra. Para o subgrupo mais velho, o investigador verificou que as correlações obti-

das eram muito fracas ou mesmo inexistentes. (Perizonius, 1984; Sahni et al., 2005).

No mesmo ano, Baker (1984) estudou uma amostra total de 195 crânios com idade à

morte conhecida e de diferentes ancestralidades, recolhidos entre os anos de 1981 e

1983, de indivíduos autopsiados no gabinete médico-legal de Los Angeles, na Califór-

nia. Baker (1984) observou as três principais suturas, cujo grau de encerramento classi-

ficou utilizando uma escala muito simplificada, de apenas 3 graus: sutura aberta (O);

união parcial (P); sutura completamente obliterada (C) (Galera, et al., 1998). Observou

que o encerramento começava na superfície endocraniana e estabeleceu duas regras,

independentemente dos sexos: 1) se as suturas endocranianas se encontravam abertas, o

indivíduo teria 27 anos ou menos; 2) se as suturas endocranianas se encontravam total-

mente obliteradas, o indivíduo teria 26 anos ou mais. Baker encontrou, ainda, evidên-

cias que o sexo e a ancestralidade influenciavam a estimativa da idade (Baker, 1984;

Galera, et al., 1998).

1.3.6.6 {EM 1985}: MEINDL & LOVEJOY

Grandes críticos dos seus antecessores, Meindl e Lovejoy (1985) pretenderam mostrar

os erros cometidos no momento de pôr em prática os métodos de estimativa da idade à

morte através do encerramento das suturas cranianas.

“Se estiver disponível mais do que um critério para avaliar a idade à morte de um esque-

leto, então manifestamente, todos deverão ser empregues” (Meindl & Lovejoy, 1985:3).

Page 63: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

44

Esta afirmação mostra, claramente, a posição dos autores relativamente à abordagem

que deveria ser feita na estimativa da idade à morte. Examinaram, então, 236 crânios da

colecção Hamann-Todd, estudando as suturas exocranianas, contrariamente, à maioria

dos estudos anteriores, porquanto era a sua convicção que estas suturas, por se mante-

rem abertas até idades mais avançadas, seriam mais fiáveis para estimar a idade em

indivíduos idosos, para os quais eram necessários novos padrões (Meindl & Lovejoy,

1985; Galera, et al., 1998; White, 2000). Inicialmente, determinaram dezassete pontos

de referência específicos na superfície exocraniana; posteriormente, sete desses locais

foram excluídos devido a não apresentarem relação com a idade, assimetria, abertura em

idades extremas, entre outros factores. Os restantes dez pontos de referência foram divi-

didos em dois sistemas (grupos) (figura 13):

Sistema da abóbada (ponto médio da sutura lambdóide , lambda , obelion ,

sagital anterior e bregma );

Sistema lateral-anterior (ponto médio da sutura coronal , pterion , esfeno-

frontal , esfeno-temporal inferior e esfeno-temporal superior ) (Meindl & Love-

joy, 1985).

Page 64: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

45

Figura 13 - Localização dos dez pontos de referência adoptados por Meindl e Lovejoy (adaptado de

Meindl & Lovejoy, 1985)

Nestes dez pontos de referência específicos, observaram segmentos de 1cm, classifican-

do-os segundo uma escala de quatro graus:

0- Sutura aberta: não há evidência de encerramento;

1- Encerramento mínimo: há evidências de algum encerramento, desde uma simples

ponte óssea até 50% de sinostose da sutura;

2- Encerramento avançado: evidências de um elevado grau de encerramento, mas exis-

tem porções da sutura que não se encontram completamente obliteradas;

3- Sutura obliterada: somente algumas pontuações delatam a existência da sutura naque-

le local (Meindl & Lovejoy, 1985).

Numa fase posterior do estudo, para a determinação de qual seria a melhor combinação

dos locais que deveria ser empregue na estimativa da idade e, uma vez que, a calote é

um dos elementos do crânio com maior durabilidade, Meindl e Lovejoy (1985) confir-

maram que os 5 pontos de referência do sistema lateral-anterior eram, globalmente, os

mais eficazes, sendo o pterion o ponto que apresentou a correlação mais elevada

(Meindl & Lovejoy, 1985). Utilizando análises de co-variância, os autores concluíram

Page 65: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

46

que o sexo e a ancestralidade não possuíam qualquer efeito (mensurável) na estimativa

da idade através do encerramento das suturas cranianas. Não obstante, fosse através de

que método fosse, a estimativa da idade à morte deveria ter em conta indicadores pós-

cranianos, como controlos para as variações das suturas cranianas (Meindl & Lovejoy,

1985).

“Qualquer indicador que reflicta a idade biológica e cujo conteúdo informativo seja

independente de outros indicadores será útil para uma estimativa definitiva da idade,

seja sob condições arqueológicas ou forenses. […] o encerramento das suturas cranianas

é um critério com estas características. Não desejamos implicar que determinar a idade

através do encerramento das suturas cranianas não possui riscos; não é o caso…um

maior desenvolvimento do encerramento das suturas cranianas como indicador da idade

é certamente sugerido pelo presente estudo […]” (Meindl & Lovejoy, 1985:65-66).

Com esta afirmação é fácil perceber que os investigadores não rejeitaram o encerramen-

to das suturas cranianas como um indicador válido para a estimativa da idade à morte,

todavia, salientaram que se tratava de um indicador “global” da idade.

1.3.6.7 (ANTES E) DEPOIS DE MEINDL & LOVEJOY: CLAUDE MASSET

Em 1982, ao escrever a sua tese de doutoramento, sendo Masset um fervoroso crítico

dos seus colegas investigadores, deixou esse facto bem patente no seu trabalho. Assina-

lou a falta de relevância atribuída às diferenças no encerramento das suturas cranianas

entre os sexos registadas por alguns dos investigadores, que outros afirmavam ainda não

existirem. Masset considerou que a maioria dos seus colegas utilizava amostras com-

postas por indivíduos tendencialmente idosos (Masset, 1982). Segundo o autor, não se

deveria fazer uso de uma população de referência que possuísse indivíduos cuja idade

média fosse demasiado jovem ou demasiado idosa, facto que iria afectar os resultados

Page 66: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

47

da estimativa da idade. De modo a evitar este viés, Masset sugeriu que fossem utilizadas

populações de referência em que existisse uma distribuição etária uniforme dos indiví-

duos, com cada classe a possuir um número de elementos equivalente (Masset, 1982).

Masset observou 849 crânios da Colecção de Lisboa e 65 da Colecção de Esqueletos

Identificados do Museu Antropológico (CEIMA), uma vez que a amostra de Lisboa não

possuía indivíduos com idades superiores a 70 anos. Dividiu as suturas coronal, sagital e

lambdóide em segmentos (figura 18 (A)) e classificou-os segundo uma escala de oblite-

ração (figura 18 (B)) de cinco graus, onde o zero correspondia à sutura totalmente aber-

ta e o quatro à obliteração completa (Masset, 1982; Masset, 1989). O investigador cal-

culou então o coeficiente de obliteração S através da fórmula:

(Masset, 1989:88).

Na qual, os valores dos segmentos pares seriam as respectivas médias e 10, o número de

segmentos suturais analisados. Este coeficiente S era, depois, utilizado na resolução de

equações de regressão, que o próprio autor estabeleceu:

Tabula externa Tabula interna NÃO METÓPICOS

Homens:

Mulheres:

METÓPICOS

Homens:

Mulheres:

(Masset, 1982:149).

As correlações obtidas levaram Masset a concluir que o encerramento era mais lento nas

mulheres, nas suturas exocranianas e nos indivíduos metópicos, daí que tenha obtido

Page 67: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

48

oito equações de estimativa da idade. Masset afirmou que as suturas cranianas forne-

ciam pouca informação para determinar a idade à morte, com segurança. Inferiu ainda

que, se fossem utilizadas como um conjunto, as suturas tornam-se-iam um pouco mais

úteis, mas ainda assim, mostrando resultados pouco fiáveis e pouco precisos (Masset,

1982; Masset, 1989).

1.3.6.8 MAIS RECENTEMENTE: OS ÚLTIMOS 16 ANOS

Em 1994, Buikstra e Ubelaker propuseram a combinação de diversos métodos de

estimativa da idade à morte através do encerramento de várias suturas cranianas (Todd

& Lyon 1924, 1925a, b, c; Baker, 1984; Meindl & Lovejoy, 1985; Mann, 1987) (Buiks-

tra & Ubelaker, 1994). Funcionaria? Constataram, então, que estes novos padrões pro-

duziam, ainda, “resultados antigos”, ou seja, o estudo não aportou nada de novo (Hersh-

kovitz et al., 1997).

Segundo Hershkovitz e colegas (1997), este novo método não teve em conta as baixas

correlações existentes entre a idade e os pontos das suturas referenciados para os estu-

dos (Buikstra & Ubelaker, 1994; Hershkovitz et al., 1997).

No mesmo ano, Key, Aiello e Molleson (1994) propuseram-se testar os métodos de

estimativa da idade à morte determinados por Nemeskéri (1970), Perizonius (1984) e

Meindl e Lovejoy (1985), numa amostra de 183 crânios pertencentes à colecção Spital-

fields, proveniente de um cemitério de Londres (sécs. XVIII e XIX). No final, e basean-

do-se nos resultados desta análise, as autoras pretendiam indicar uma nova técnica de

estimativa da idade com base no encerramento das suturas cranianas. Todos os indiví-

duos da amostra tinham idade e sexo conhecidos, de modo a que pudesse ser testada,

também, a variação devida ao dimorfismo sexual e às diferenças intra- e inter-

populacionais. A conclusão principal a que as autoras chegaram foi que os métodos de

Page 68: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

49

estimativa da idade assentes no encerramento das suturas cranianas desenvolvidos para

uma determinada amostra não iriam gerar os mesmos resultados (idades estimadas com

a mesma precisão) noutra amostra (Key et al., 1994). Concluíram, também, que siste-

mas de análise baseados nas suturas endocranianas produziam resultados mais precisos,

quando se aplicavam em diferentes populações. Para o método de Acsádi e Nemeskéri

(1970), Key e colegas determinaram que não existiam diferenças significativas entre os

sexos; que esta técnica fornecia, somente, classes etárias muito amplas, assistindo, ape-

nas, na distinção entre indivíduos jovens, de meia-idade e idosos (Key et al., 1994). A

análise do método de Meindl e Lovejoy (1985), que usa as suturas exocranianas, sugeria

que existiam diferenças entre os sexos. Provaram-se também as diferenças inter-

populacionais, comparando as duas amostras: Hamann-Todd, através do método de

Meindl e Lovejoy (1985) e Spitalfields, através do método de Key et al. (1994); a últi-

ma exibia idades à morte mais avançadas que a primeira. Não obstante, a amostra estu-

dada por Key e colegas com o método de Meindl e Lovejoy (1985) mostrou encerra-

mento retardado nas suturas exocranianas e no sexo feminino (Key et al., 1994). Por

último, o sistema de Perizonius (1984) confirmou diferenças inter-populacionais, pois

provou ser de “uso muito limitado” (Key et al., 1994:203) para a amostra de Spital-

fields. A alocação de indivíduos da amostra no subgrupo com menos de 50 anos (divi-

são estabelecida por Perizonius, em 1984) falhou em mais de metade dos casos. O sis-

tema para os indivíduos mais velhos (Perizonius, 1984) foi aplicado aos restantes indi-

víduos da amostra de Spitalfields, mas, como Perizonius havia já concluído, em 1984,

este sistema apresentava uma fraca correlação com a idade, facto corroborado pelas

autoras, ao verificarem que o grau de encerramento das suturas cranianas não aumenta-

va, invariavelmente, com a idade (Key et al., 1994).

Page 69: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

50

Numa tentativa de colmatar as diferenças inter-populacionais dos métodos testados, Key

e colegas (1994) desenvolveram, então, uma nova metodologia com apenas três graus

de classificação do encerramento das suturas cranianas:

0- sutura completamente aberta;

1- encerramento em progresso (correspondentes ao valor 1 ou 2 da escala de Martin);

3- sutura quase fechada ou obliteração completa (Key et al., 1994).

Deste modo, as investigadoras esperavam, também, reduzir o erro associado à subjecti-

vidade na atribuição da classificação dos graus de encerramento. Key et al. (1994)

basearam-se nos pontos das suturas que possuíam correlações mais levadas com a ida-

de; dividiram a amostra em dois grupos: mais de 50 anos e menos de 50 anos, tornando,

desta forma, a distribuição de idades mais uniforme. A nova técnica foi testada numa

amostra de 140 indivíduos negróides provenientes da África do Sul, em que foram esti-

madas, com precisão, as idades em 70% dos indivíduos do sexo masculino e em 65%

dos indivíduos do sexo feminino. Ainda assim, Key e colegas (1994) alegaram que este

novo método seria, apenas, projectado para fornecer intervalos etários e ser usado em

conjunto com outros indicadores de idade (Key et al., 1994).

Nawrocki, em 1995, estudou as suturas exo- e endocranianas e as suturas palatinas,

aplicando técnicas de regressão e análises de variância, em 100 crânios da colecção

Terry, com idade, sexo e ancestralidade conhecidos. Classificou 27 pontos de referên-

cia, de acordo com Meindl e Lovejoy (1985): dezasseis nas suturas exocranianas, sete

nas endocranianas e quatro nas palatinas (Nawrocki, 1998). Verificou existir uma corre-

lação moderadamente forte entre a idade real e a idade estimada, apesar de o desvio

obtido ter sido de entre 9 e 21 anos. O autor concluiu que existia correlação entre o

encerramento das suturas e o sexo, mas não entre o encerramento e a ancestralidade

(Nawrocki, 1998).

Page 70: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

51

Hershkovitz et al. (1997) estudaram, unicamente, a sutura sagital em 3636 crânios

oriundos das colecções Terry e Hamann-Todd. Escolheram esta sutura por considerarem

que se tratava da única que permitia evitar “pseudo-encerramento” (Hershkovitz et al.,

1997:395) devido à sobreposição de ossos e por se situar na linha média do crânio, não

sendo influenciada por forças biomecânicas. Para diminuir o erro por parte dos observa-

dores, os autores optaram por atribuir estados e não graus, ao encerramento das suturas.

Assim, através da seguinte fórmula, definiram cinco estados de encerramento da sutura

(Hershkovitz et al., 1997):

(Hershkovitz et al., 1997:395)

1) Totalmente encerrada: não existiam sinais da sutura sagital desde o bregma ao lambda

( <2);

2) Parcialmente encerrada: menos de 10% do comprimento da sutura encontrava-se aber-

to (2< <10);

3) Totalmente aberta: a linha de sutura era claramente visível, quase sem interrupções

desde o bregma ao lambda (90< ≤100);

4) Parcialmente aberta: entre 10% e 90% da sutura encontrava-se aberta (10< <90);

5) Encerramento prematuro: todos os crânios com idades compreendidas entre os 5 e 18

anos, exclusive, em que se verificou encerramento total da sutura sagital (Hershkovitz et

al., 1997).

Os investigadores foram extremamente objectivos nas conclusões que retiraram do seu

trabalho, entre as quais: a sutura sagital não podia ser usada para estimar a idade à mor-

te; alguns dos padrões de encerramento das suturas são herdados geneticamente; exis-

tiam diferenças entre os sexos nesses mesmos padrões; a sutura sagital apresentava-se

totalmente aberta com maior frequência nos indivíduos do sexo feminino. Como con-

Page 71: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

52

clusão geral, os autores referiram que o encerramento das suturas cranianas se tratava de

um método de estimativa da idade cujo valor para aplicação em contextos forenses ou

paleodemográficos era, extremamente, limitado (Hershkovitz et al., 1997).

Galera, Ubelaker e Hayek, em 1998, examinaram uma amostra de 963 esqueletos da

colecção Terry, para estudar os métodos cranianos de estimativa da idade à morte de

Acsádi e Nemeskéri (1970), de Masset (1982), de Baker (1984), e de Meindl e Lovejoy

(1985), que aplicaram a todos os crânios da amostra. Todos os métodos empregues exi-

biram correlações elevadas com a idade, sendo aqueles que utilizavam os dados das

suturas endocranianas os que mostraram correlações mais altas. Os investigadores

encontraram diferenças no encerramento devidas à ancestralidade nos quatro métodos,

no entanto, diferenças devidas ao dimorfismo sexual surgiram, apenas, nos métodos de

Acsádi e Nemeskéri (1970) e de Masset (1982). Estes métodos, em que é necessário o

cálculo de um índice de encerramento ou um coeficiente de obliteração, respectivamen-

te, revelaram um melhor desempenho que as metodologias simplificadas de classifica-

ção dos métodos de Meindl e Lovejoy (1985) e de Baker (1984). Os autores afirmaram

que a precisão relativa dos métodos testados poderia variar, quando aplicados a outras

populações (Galera, et al., 1998).

Numa tentativa de nova abordagem ao estudo das suturas cranianas, Lynnerup e

Jacobsen (2003), por considerarem os sistemas de classificação anteriores demasiado

subjectivos, optaram por utilizar a geometria fractal para avaliar as suturas coronal e

sagital, em 31 indivíduos caucasianos identificados, da colecção Terry. Mediram as

dimensões fractais das suturas, colocando fita sobre estas, traçando toda a sutura com

um pino de feltro e usando um digitalizador, de modo a transferir o traçado para um

computador. Os investigadores concluíram que as dimensões fractais das duas suturas

analisadas, embora mostrassem correlações elevadas entre si, não se correlacionavam

Page 72: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

53

com a idade. Lynnerup e Jacobsen (2003) constataram também a existência de indiví-

duos com idade avançada, nos quais as suturas se encontravam completamente abertas,

como havia já acontecido com vários autores anteriormente, desde Dwight (1890). Ape-

sar de não poderem concluir, com significância estatística, acerca da presença ou não de

dimorfismo sexual, devido ao tamanho reduzido da amostra, não verificaram diferenças

entre os sexos (Lynnerup & Jacobsen, 2003).

No ano seguinte, na Índia, Singh e colegas (2004) propuseram-se analisar a relação (ou

ausência de relação) entre o encerramento das suturas cranianas e a idade (Singh et al.,

2004). Através da realização de TACs (tomografias axiais computorizadas) a 100 indi-

víduos vivos, examinaram três cortes axiais do crânio, de modo a poderem analisar o

grau de encerramento das suturas lambdóide, coronal, escamosa e parieto-mastóide.

Todos os indivíduos da amostra tinham idades compreendidas entre os 40 e os 70 anos e

foram distribuídos por seis grupos, com intervalos de cinco anos (Singh et al., 2004).

Devido a irrevogáveis barreiras linguísticas, à falta de esclarecimento acerca do método

e dos resultados obtidos, pouco mais se pode dizer acerca deste estudo, apenas que foi

uma das primeiras tentativas em observar in vivo o encerramento (ossificação) das sutu-

ras cranianas. Porém, para um estudo desta natureza produzir alguns resultados válidos

e permitir retirar conclusões acerca da verdadeira relação idade/encerramento das sutu-

ras cranianas, seria necessário realizar TACs aos mesmos indivíduos, ao longo de toda a

sua vida, obtendo-se, deste modo, uma série cronológica de imagens progressivas do

encerramento/ossificação das suturas, com o envelhecer dos indivíduos.

Também na Índia, um dos mais recentes estudos foi levado a cabo por Sahni, Jit e San-

jeev, que originou um artigo publicado em 2005, na Forensic Science International.

Analisaram uma amostra de 665 indivíduos com idades conhecidas, para a qual classifi-

caram as suturas coronal, sagital e lambdóide, tanto endo- como exocranialmente; divi-

Page 73: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

54

dindo a sutura coronal e a lambdóide em três segmentos e a sutura sagital em quatro (16

segmentos no total). A classificação foi feita da seguinte forma:

“se apenas um dos segmentos da sutura sagital se encontrasse encerrado, atri-

buía-se a classificação 1;

se todos os segmentos se encontrassem encerrados, atribuía-se 4;

se todos os (três) segmentos da sutura coronal dta./esq. ou da sutura lambdóide

estivessem obliterados, a classificação seria 3;

se a sutura completa se encontrasse aberta, a classificação seria 0.” (Sahni et al.,

2005).

Os autores constataram que as suturas encerravam mais cedo nos indivíduos do sexo

masculino; que não existiam diferenças no timing do encerramento entre as suturas da

superfície exocraniana e as da superfície endocraniana e que a obliteração das três prin-

cipais suturas era tão errática, que nenhuma delas auxiliaria na estimativa da idade

(Sahni et al., 2005).

Com o desenvolvimento da tecnologia, podem e devem, ser desenvolvidas novas meto-

dologias para o estudo do encerramento das suturas cranianas. Tomando o exemplo de

Singh et al. (2004), a recolha de dados para análise é passível de ser efectuada de for-

mas muito mais eficientes e inovadoras, tentando-se assim novas abordagens para o

estudo de um indicador que conta já com centenas de anos de investigação.

Page 74: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

55

1.4 ENVELHECIMENTO E SENESCÊNCIA

Há 30 anos, a esperança média de vida dos portugueses rondava os 60 anos para os

homens e os 72 para as mulheres (Portal da Saúde, 2006). “Em 1987/88, a população

portuguesa tinha uma esperança média de vida à nascença de cerca de 73,8 anos, valor

que subiu para os 78,5 anos, em 2005/06” (INE, 2007).

A espécie humana é uma das espécies de seres vivos com maior longevidade, apesar de

os nossos antepassados não terem tido vidas tão longas como as que se verificam nos

indivíduos de hoje. Pelos dados expostos, é possível que a tendência do aumento da

esperança média de vida à nascença, persista. Durante toda a evolução do Homem, a

esperança de vida em todas as idades tem vindo progressivamente a sofrer alterações e a

aumentar, através da interacção das forças culturais e evolucionárias. Actualmente, o

aumento de indivíduos com mais de 55 anos de idade é de 1,2 milhões por mês, a nível

mundial (Harper & Crews, 2000).

Senescência e envelhecimento são dois termos que não possuem, ainda, definições unâ-

nimes entre os investigadores, nomeadamente, entre os especialistas em gerontologia.

Expõem-se aqui duas definições propostas por Harper e Crews:

“Envelhecimento per se, é o simples facto de se existir ao longo do tempo; enquanto

senescência é uma degeneração progressiva, a seguir ao período de desenvolvimento e

obtenção do máximo potencial reprodutivo, que conduz a uma probabilidade aumentada

de mortalidade, um processo que só os organismos vivos mostram.” (Harper & Crews,

2000:468).

Mas nem todos os aspectos fisiológicos exibem declínio com a idade. Existem aqueles

que se mantêm estáveis e outros podem ser reforçados, embora estes possam variar,

tanto entre populações, como de indivíduo para indivíduo. Os reflexos da senescência

Page 75: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

56

podem ser tão individualizantes como as impressões digitais ou mesmo o DNA (Harper

& Crews, 2000). Existem características obrigatórias para que uma alteração relaciona-

da com a idade possa ser considerada como um reflexo da senescência: a alteração tem

que ser cumulativa, universal, progressiva, intrínseca e deletéria entre a população; há

autores que incluem irreversível nestas características (Harper & Crews, 2000; Schmitt,

2002).

No passado, cria-se na existência de um gene responsável pela senescência que, hoje, se

sabe, trata-se de um acumular de mutações que provocam as alterações ao organismo

(Schmitt, 2002). Vistas as coisas, não é por um indivíduo morrer jovem que o seu

esqueleto vai reflectir esse facto ou, vice-versa, pois “um indivíduo idoso pode possuir

um esqueleto com aparência jovem” (Schmitt, 2002:53). Portanto e, como foi já copio-

samente referido, a idade biológica é extremamente variável entre indivíduos de uma

mesma população e entre populações diferentes (İşcan, 1989; Ubelaker, 2000), o que

faz com que esta seja, por vezes, tão diferente da idade cronológica (Schmitt, 2002;

Baccino & Schmitt, 2006; DiGangi et al., 2009; Franklin, 2010). Os processos de

senescência vêm acrescentar discrepâncias a esta relação (idade biológica/cronológica):

quanto mais velho é um indivíduo, mais problemático se torna estimar a sua idade, além

de ser, extremamente, difícil precisar a idade em que a senescência tem início (Schmitt,

2002).

Mais especificamente, no crânio, com o avançar da idade (envelhecimento), registam-se

várias alterações, tanto na forma, como na espessura dos ossos, como também nas sutu-

ras. Progressivamente, as margens dos ossos cranianos tornam-se mais irregulares e

desenvolvem projecções que se interligam, dando origem a uma estrutura, firmemente,

unida. Quando os ossos adjacentes se encontram totalmente unidos, através da oblitera-

Page 76: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

57

ção completa das suturas, o crânio torna-se numa “caixa óssea sólida” (Rogers,

1982:62).

Da literatura retiram-se inúmeros exemplos, algo generalizados e bem díspares, do

fenómeno de progressão do encerramento das suturas cranianas. Desde Todd e Lyon

(1924), a Ashley-Montagu (1938), a Biggerstaff (1977) (Rogers, 1982), todos eles pos-

suíam opiniões bem diferentes relativamente à idade em que se daria o início do encer-

ramento das suturas cranianas, em qual das suturas se iniciaria e, até mesmo, se aconte-

ceria antes na superfície endo- ou exocraniana.

O encerramento das suturas cranianas como indicador da idade à morte para fins foren-

ses, tem vindo a ser, altamente, refutado (Ashley-Montagu, 1938; Singer, 1953; Krog-

man, 1962) e os erros estatísticos associados aos dados recolhidos através deste método,

fortemente, discutidos (Masset, 1989). As suturas cranianas deixam, gradualmente, de

ser articulações fibrosas, como é evidente, para se tornarem numa união óssea firme.

Todavia e, como referido, a escala temporal dos acontecimentos é totalmente inespecífi-

ca e variável, tanto de indivíduo para indivíduo, como entre populações, envolvendo

ainda diferenças entre sexos e ancestralidades (Rogers, 1982). A acrescentar a todas as

variantes, pode ainda dar-se o fenómeno de lapsed union, onde acontece o amontoamen-

to de tecido ósseo nas margens das suturas e o encerramento nunca é completado. Na

superfície externa, com a progressão da idade, o crânio torna-se mais granular, com uma

textura mais grosseira, o que pode, por vezes, dificultar a observação e classificação do

grau de encerramento das suturas (Rogers, 1982).

Page 77: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

58

Como Rogers afirmou:

“Na idade adulta e com o envelhecimento, adquirem-se as qualidades protectoras da

firmeza e rigidez do crânio, em troca da flexibilidade e maleabilidade vitais durante os

anos de formação e desenvolvimento da vida” (Rogers, 1982:65).

Por tudo o exposto, torna-se impreterível que a investigação no âmbito da estimativa da

idade se foque, também, sobre os indivíduos idosos (+ 65 anos), pois a Humanidade

(não só nos países desenvolvidos) está a viver cada vez mais tempo, existindo uma

grande lacuna nas metodologias actuais para análise forense deste tipo de casos.

Page 78: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

59

II. OBJECTIVOS

Page 79: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

60

Page 80: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

61

OBJECTIVOS

O presente trabalho de investigação tem como objectivo primordial determinar se as

suturas cranianas podem ser utilizadas como indicadores para estimar a idade à morte

em indivíduos com idades superiores a 55 anos.

A partir do primeiro objectivo, esta investigação pretende poder responder a várias

questões com as quais o AF se depara quando se trata de estimar a idade de um indiví-

duo à morte, designadamente:

1. Existe alguma mais-valia em basear as leituras do encerramento das suturas crania-

nas nas três principais suturas (i. e. coronal, sagital e lambdóide)?

2. O AF deve fazer a leitura das três suturas e combinar os resultados obtidos? Ou,

pelo contrário, será mais fiável utilizar cada sutura, individualmente?

3. É alguma das três suturas mais fiável para o sexo feminino ou masculino, ou para

um grupo etário específico?

4. É efectivamente expectável que um indivíduo com mais de 75 anos possua suturas

cranianas com grau de obliteração quatro?

5. A experiência do investigador na utilização do método influencia os resultados

finais?

6. Deve o AF continuar a utilizar as suturas exocranianas elemento de estudo para a

estimativa da idade à morte em indivíduos com mais de 55 anos?

Page 81: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

62

Concomitantemente ao presente trabalho, Vieira (2010) realizou um estudo de estimati-

va da idade à morte, igualmente em indivíduos com mais de 55 anos, mas com uma

metodologia diferente: análise das sínfises púbicas através do método de Suchey-

Brooks. Desta forma, esse estudo radica objectivos adicionais aos já mencionados para

o presente trabalho, nomeadamente, depreender a fiabilidade e proficiência da combina-

ção dos dois métodos de estimativa da idade à morte (encerramento das suturas crania-

nas e análise das sínfises púbicas); discernir se algum dos dois métodos é mais eficaz

em determinado grupo etário e qual dos dois será mais fiável para homens e mulheres.

Implicitamente, verificar-se-á qual dos métodos se mostra mais eficaz para estimar a

idade à morte em indivíduos idosos e, assim, assistir o AF no estabelecimento do perfil

biológico, de forma mais rigorosa e precisa.

Por fim, após análise exaustiva dos resultados e discussão dos mesmos, espera-se poder

recomendar, ou não, a continuação da aplicação do referido método, como forma de

estimar a idade à morte em indivíduos idosos.

Page 82: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

63

III. MATERIAL E METODOLOGIA

Page 83: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

64

Page 84: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

65

MATERIAL

3.1 COLECÇÃO DE ESQUELETOS IDENTIFICADOS LUÍS LOPES

“Os restos humanos são interessantes, não apenas devido à sua materialidade e tangibi-

lidade, mas também porque revelam, mesmo que truncada e imperfeitamente, as histó-

rias e as vidas dos indivíduos a que pertenceram.” (Curate, 2010:11).

Os ossos são dos elementos integrantes do corpo humano aqueles que fruem de maior

durabilidade, o que facilita a sua colecção e estudo.

John Hunter, Samuel Morton, William Turner ou Pierre Paul Broca são nomes associa-

dos ao surgimento das primeiras colecções osteológicas, em meados do séc. XIX

(Giraudi et al., 1984; Tobias, 1991; McDonald & Russell, 2005; Cunha & Wasterlain,

2007). As colecções de restos esqueléticos têm potenciado a investigação antropológica,

arqueológica, médica, histórica, na medida em que representam fontes de informação

valiosa, onde cada indivíduo é identificado e dispõe de documentação com dados pes-

soais que, geralmente, incluem data e causa da morte, filiação, origem, entre outros

(Cunha & Wasterlain, 2007). Os elementos que compõem uma série esquelética podem

provir de diversos locais, como escolas médicas, casos forenses, baixas de guerra e

cemitérios (de vários períodos) (Cardoso, 2005; Cunha & Wasterlain, 2007; Curate,

2010). Deste modo, e citando Curate, “uma colecção de esqueletos é social e cultural-

mente determinada, não biologicamente.” (Curate, 2010:12), podendo não retratar os

padrões originais da população da qual deriva. Logo, “reflecte apenas a singularidade de

um grupo de indivíduos que foi incluído nessa série” (Curate, 2010:13; Saunders et al.,

1995).

Page 85: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

66

A Colecção Luís Lopes (também conhecida por Colecção de Lisboa ou Nova Colecção

de Lisboa) encontra-se no Museu Bocage (Museu Nacional de História Natural) em

Lisboa (figura 14). Começou a ser coligida no final de 1980, pelo Professor Luís Lopes,

quando o referido museu requereu à Câmara Municipal de Lisboa a colecta de esquele-

tos que, de outra forma, seriam destinados à incineração ou a valas comuns. Os cemité-

rios do Alto de São João, Benfica e Prazeres foram as três fontes dos restos esqueléticos

que compunham a colecção, originalmente. A informação disponível nos livros de

registo de cada cemitério incluía, acerca de cada indivíduo, o número de registo, número

da sepultura, número do ossário, nome, filiação, local de nascimento, estado civil, pro-

fissão, morada, idade à morte, causa, data e hora da morte, a freguesia da morte, data e

hora do enterro. Através dos certificados de óbito, que eram propriedade do cemitério,

era possível obter qualquer informação adicional que não constasse dos mencionados

livros, através de acesso ao registo civil.

Em 1991, o processo de colecta cessou, pois Luís Lopes reformou-se do seu trabalho no

Museu, o que acarretou também um substancial abrandamento na conservação e admi-

nistração da colecção. Presentemente, a colecção é composta por 16927 esqueletos e 75

indivíduos não identificados. Destes, 1552 indivíduos identificados foram colectados

por Luís Lopes, entre finais de 1980 e 1991; os restantes 140 indivíduos representam já

aquisições efectuadas por Hugo Cardoso, o novo curador desta colecção, desde 2000.

Por razões de organização e documentação, apenas 699 indivíduos se encontram dispo-

níveis para estudo (figuras 14 e 15); não obstante, esta amostra é bem ilustrativa da

colecção como um todo (Cardoso, 2005; Cardoso, 2006; Cunha & Wasterlain, 2007).

7 Os dados constantes do presente trabalho são relativos ao ano de 2005 e encontram-se, naturalmente, desactualizados. Devido a

processos de organização, classificação e numeração, não foi possível ao Museu Bocage fornecer à autora dados actualizados da

Colecção.

Page 86: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

67

Figura 14 - Armazenamento da colecção Luís Lopes (A) armários; (B) gavetões individuais (Rodrigues

& Vieira, 2010)

Figura 15 - Exemplo do armazenamento de um indivíduo, num dos gavetões (Rodrigues & Vieira 2010)

B A

Page 87: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

68

Atendendo à informação biográfica disponível (figura 16), os indivíduos da colecção

são, maioritariamente, de nacionalidade portuguesa (incluindo as ex-colónias) e morre-

ram entre 1880 e 1975. Como não constam dos registos as datas de nascimento dos

indivíduos, foi feita uma simples subtracção da idade à morte do indivíduo ao ano de

morte, obtendo desse modo, os anos de nascimento dos indivíduos, que se situam entre

1805 e 1972.

Numa colecção onde o sexo feminino se encontra ligeiramente sobre-representado,

estão documentados 92 não-adultos (menos de 20 anos) e os grupos etários com maior

frequência representativa são os que albergam indivíduos com mais de 50 anos. Os

indivíduos exibem idades à morte entre o nascimento e os 98 anos (Cardoso, 2005; Car-

doso, 2006).

Figura 16 - Exemplo de uma ficha de registo individual da colecção Luís Lopes (Rodrigues & Vieira,

2010)

A causa de morte é uma das informações que consta na maioria dos registos biográficos

individuais e, a partir destes, nota-se que as doenças relacionadas com o sistema circula-

Page 88: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

69

tório constituem a causa de morte mais frequente (33%). A tuberculose (pulmonar, na

sua maioria; 15%) e as neoplasias (13%) são as causas que se seguem (Cardoso, 2005;

Cardoso, 2006).

A colecção Luís Lopes reflecte, muito provavelmente, as camadas socioeconómicas

baixa e média, de uma população, manifestamente, urbana, onde as mulheres eram

donas de casa (domésticas) e os homens, trabalhadores do comércio (Cardoso, 2005;

Cardoso, 2006).

Page 89: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

70

3.2 A AMOSTRA INICIAL

Como Fuller (2009) afirmava, a amostra revela-se como um subconjunto com as mes-

mas características do conjunto maior do qual provém, pelo menos, em teoria. É natural

que se fale em teoria, uma vez que é nela que têm, obrigatoriamente, que assentar os

estudos que efectuamos, pois como refere Curate: “por necessidade, lidamos com um

grupo de indivíduos mortos e não de pessoas vivas” (Curate, 2010:20).

Antes de se proceder à escolha final dos indivíduos para o estudo, foi realizada uma pré-

selecção de acordo com critérios conjuntos com o já mencionado trabalho executado por

Vieira (2010). Apenas foram incluídos na amostra indivíduos com idades superiores a

55 anos, em que o crânio se encontrasse em bom estado de conservação8, em que as

sínfises púbicas não se encontrassem patologicamente alteradas9, fracturadas ou ausen-

tes em ambos os lados.

Desta pré-selecção resultou uma amostra inicial com 200 indivíduos, masculinos e

femininos, distribuídos como se mostra na figura 17.

Figura 17 - Distribuição etária dos indivíduos da amostra inicial.

8 Em que as suturas estudadas fossem perfeitamente observáveis e classificáveis.

9 Alterações que pudessem enviesar os resultados.

0

10

20

30

40

50

60

55-64 65-74 ≥75

Fre

qu

ên

cia

Grupos etários (anos)

Masculino

Feminino

Page 90: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

71

Na tabela 1 coligiu-se a distribuição dos indivíduos dessa amostra, pelas classes etárias

estabelecidas e por sexos.

Tabela 1 - Distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra inicial.

Classe etária

(anos)

Sexo Total

Masculino

Feminino

n %

n % n %

55-64 21 50,00

21 50,00 42 21,00

65-74 32 45,71

38 58,29 70 35,00

≥75 29 32,95

59 67,04 88 44,00

Total 82 41,00

118 59,00 200 100,00

Posteriormente, esta amostra inicial sofreu nova redução, para se adequar aos requisitos

do trabalho de Vieira (2010). Os resultados são apresentados mais adiante, no subcapí-

tulo 4.1.1 A amostra final.

Page 91: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

72

METODOLOGIA

3.3 METODOLOGIA ANTROPOLÓGICA

Todos os crânios seleccionados para este estudo foram observados macroscopicamente

e, quando necessário, utilizou-se uma lupa de magnificação, para melhor se poder

observar a sutura em análise. As três suturas observadas foram divididas em segmentos

(figura 18 (A)) (Ferembach et al., 1979):

Coronal direita - C1, C2 e C3 e Coronal esquerda - C1, C2 e C3;

Sagital - S1, S2, S3 e S4;

Lambdóide direita -L1, L2 e L3 e Lambdóide esquerda - L1, L2 e L3.

A cada um dos segmentos avaliado individualmente foi atribuída uma classificação de

zero a quatro, consoante o grau de encerramento (figura 18 (B)) (Frédéric, 1906;

Ferembach et al., 1979).

As descrições dos graus de encerramento são as seguintes:

Grau 0- 0% de encerramento (sutura totalmente aberta);

Grau 1- Até 49% de encerramento (menos de metade do segmento está encerrado);

Grau 2- 50% de encerramento;

Grau 3- Mais de 75 % de encerramento;

Grau 4- 100% de encerramento (sutura obliterada).

(Ferembach et al., 1979).

Page 92: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

73

Figura 18 - Representação esquemática da divisão das suturas cranianas em segmentos (A) e dos graus

de encerramento (B) (adaptado de Ferembach et al., 1979).

Os resultados obtidos foram, sucessivamente, arrolados em fichas de registo, previa-

mente, elaboradas pela autora (anexo 1). Em cada ficha de registo consta, além da clas-

sificação do grau de encerramento do segmento, também, a média das classificações

para cada sutura, o número de identificação do indivíduo e o número e data da observa-

ção.

Para cada sutura foi calculada a média dos respectivos segmentos e foi com essa infor-

mação que se realizou análise estatística, uma vez que trabalhar com o valor de cada

segmento por separado seria um trabalho demasiado moroso e extenso para uma disser-

tação de mestrado.

Page 93: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

74

Foram estabelecidos três grupos etários: dos 55 aos 64 anos, dos 65 aos 74 anos e supe-

rior a 75 anos. De acordo com os estudos estabelecidos, as expectativas seriam que aos

indivíduos pertencentes ao grupo etário mais jovem fosse atribuída uma classificação de

entre 1,5 e 2,4 do encerramento das suturas; aos indivíduos do grupo etário intermédio,

esperar-se-ia atribuir um grau de encerramento de entre 2,5 a 3,4; os graus 3,5 a 4

seriam, presumivelmente, atribuídos aos indivíduos mais idosos (do terceiro grupo etá-

rio). A tabela 2 facilita a compreensão dessas previstas correspondências.

Tabela 2 – Correspondência esperada entre os grupos etários e os graus de encerramento.

Grupo Etário Idade do Indivíduo (anos) Grau de Encerramento

1 55 - 64 1,5 – 2,4

2 65 - 74 2,5 – 3,4

3 ≥75 3,5 – 4,0

Como a amostra não possuía indivíduos com idade inferior a 55 anos, não seria expec-

tável encontrar suturas (segmentos) com graus de encerramento inferiores a 1.4, daí que

estes valores não constem desta tabela.

Assim, o procedimento empregue em todos os crânios foi: se o indivíduo possuísse uma

média de encerramento de 3,1 para a sutura sagital (por exemplo), seria alocado no

segundo grupo etário (65-74 anos). Seguidamente, comparar-se-ia este resultado com o

grupo etário real (folha de registo individual) a que o indivíduo pertencia, atribuindo-se,

depois, um diagnóstico correcto ou incorrecto, conforme os grupos etários fossem coin-

cidentes ou não.

Foram efectuadas três observações em cada crânio, com intervalos temporais suficien-

temente alargados, de modo a não haver qualquer cruzamento da informação obtida

entre observações.

Page 94: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

75

Com o intuito de avaliar a variação inter-observador, Vieira (2010) efectuou uma análi-

se a 46 crânios da amostra (aproximadamente, um terço) seleccionados, aleatoriamente.

Não foi facultada qualquer informação acerca do perfil dos indivíduos ou dos resultados

obtidos nas observações levadas a cabo pela autora.

Nesta altura, torna-se pertinente referir que não foram consideradas as observações da

superfície endocraniana, por serem em número não significativo, estatisticamente. Uma

das razões para tal se ter verificado foi a exclusão de muitos dos indivíduos, previamen-

te, seleccionados (em que era possível a observação das suturas endocranianas) por

danos nas sínfises púbicas, danos esses que não haviam sido considerados importantes

inicialmente, mas que se revelaram limitantes para o estudo de Vieira (2010). Porque

ambos os trabalhos tinham de ser efectuados na mesma amostra de indivíduos, se hou-

vesse danos no crânio ou nas sínfises, o indivíduo seria, obrigatoriamente, excluído da

amostra (comum aos dois trabalhos), mesmo que apenas uma das estruturas se encon-

trasse danificada.

Page 95: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

76

3.4 METODOLOGIA ESTATÍSTICA

Os dados recolhidos ao longo do estudo foram compilados numa base de dados, no pro-

grama informático SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences), versão 17.0,

com o auxílio do qual foi feita grande parte da análise estatística.

A normalidade dos parâmetros estatísticos referentes à amostra seleccionada foi avalia-

da através dos testes de Kolmogorov-Smirnov.

A estatística descritiva foi realizada através do Microsoft Office Excel®.

Dada a elevada importância do cálculo do erro intra-observador em estudos deste tipo,

esta foi uma das primeiras análises estatísticas a ser efectuada, porquanto possibilita ao

investigador considerar o prosseguimento ou cessação do seu trabalho.

A avaliação da concordância na atribuição dos graus de encerramento das suturas cra-

nianas (pelo mesmo observador, em três ocasiões diferentes) foi realizada através da

estimativa da percentagem de concordância (%C) e da estatística kappa (Cohen, 1988).

Ao terem sido realizadas três observações, foram calculados dois valores para cada um

destes parâmetros.

A percentagem de concordância (%C) define-se como:

onde N corresponde ao número total de comparações emparelhadas e N’ ao número de

pares discordantes (Cardoso, 2005).

Page 96: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

77

A estatística kappa (reiterabilidade10

) (Curate, 2005) é utilizada para medir o grau de

concordância para variáveis categóricas (Sá, 2007), relativamente ao que é esperado,

por simples acaso (Landis & Koch, 1977; Sá, 2007); se existe concordância total entre

observadores, então, κ=1; se não existir concordância entre os observadores, além da

que seria esperada pelo acaso, então, κ=0 (Sá, 2007).

A estatística kappa foi calculada a partir da seguinte fórmula:

Obtendo-se, deste modo, os intervalos de kappa. A descrição dos valores de kappa obti-

dos, foram conferidas segundo a proposta de Byrt (1996) (tabela 3), embora o autor refi-

ra que seria preferível se aqueles que apresentam os valores de kappa e aqueles que

lêem os trabalhos que contêm esses valores conseguissem fazê-lo sem termos explicati-

vos como “boa”, ”razoável” e outros, e desenvolvessem antes uma intuição em relação

ao coeficiente, em si, respeitando a prevalência e vieses. Mas o autor considera, tam-

bém, que alcançar tal feito seria extremamente difícil, sobretudo para aqueles investiga-

dores que possuam pouca experiência com a estatística kappa (Byrt, 1996).

Tabela 3 - Classificação qualitativa do valor kappa (Adaptado de Byrt, 1996).

Valor de kappa Descrição

≤ 0 Não há Concordância

0,01 - 0,20 Concordância Fraca

0,21 - 0,40 Concordância Ligeira

0,41 - 0,60 Concordância Razoável

0,61 - 0,80 Concordância Boa

0,81 - 0,92 Concordância Muito Boa

0,93 - 1,00 Concordância Excelente

10

Do inglês repeatability, s.f. Qualidade do que é reiterável, repetível [Etim. Lat. reitéro, repetição] (Houaiss & Villar, 2003:3134).

Page 97: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

78

Para estimar o erro inter-observador procedeu-se, precisamente, da mesma forma que

para a avaliação do erra intra-observador.

De modo a compreender se existiam diferenças entre os sexos, relativamente à frequên-

cia de diagnósticos correctos e incorrectos, recorreu-se à utilização do teste do Qui-

Quadrado (χ2), com um nível de significância de 95% (p<0,05; i.e., para todos os valo-

res de p superiores a 0,05, o teste não apresenta significância estatística) (Maroco,

2007).

Porque a categorização do encerramento de cada uma das suturas se traduz em variáveis

ordinais ou de ranking, foi aplicado o teste não-paramétrico de Wilcoxon. Este teste

permite comparar duas observações diferentes de variáveis emparelhadas, feitas através

de métodos diferentes, no mesmo indivíduo. Neste caso, em particular, através dos

registos individuais de cada indivíduo (“método 1”) e através das observações efectua-

das pela autora (“método 2”) (McKillup, 2005; Maroco, 2007; Sá, 2007). A aplicação

do mencionado teste de Wilcoxon permitiu aferir se as observações efectuadas através

do método do encerramento das suturas produziram resultados similares aos fornecidos

pelos registos individuais, i.e., se a alocação dos indivíduos nas classes etárias foi a cor-

recta (produzindo diagnósticos correctos).

Foi feita uma análise de distribuição em relação a diversos parâmetros, através de caixas

de bigodes (ou box plots). Estes gráficos são compostos por caixas rectangulares bem

distintas; uma para cada grupo, que corresponde aos 50% centrais dos casos → distân-

cia inter-quartil. A linha central, no interior de cada caixa, corresponde à mediana (valor

abaixo do qual se incluem 50% dos casos). Assim, abaixo da mediana tem-se o 1º quar-

til e acima, o 3º quartil (figura 19). Os “bigodes” são as linhas que se prolongam para o

exterior da caixa, abrangendo os casos que não excedem a distância inter-quartil num

Page 98: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

79

factor de 1,5x. Se for o caso, os gráficos de caixas de bigodes exibem, também, os valo-

res atípicos e extremos, através de marcações específicas (figuras 19 e 20) (Attwood et

al., 2000; Sá, 2007).

Figura 19 - Esquema explicativo de um gráfico caixa de bigodes: Q1 - 1º quartil; Q2 - 2º quartil; Q3 - 3º

quartil (Apontamentos de Estatística, Universidade de Aveiro, 2010).

Figura 20 - Esquema explicativo dos bigodes de um gráfico caixa de bigodes (Apontamentos de Estatís-

tica, Universidade de Aveiro, 2010).

O teste não-paramétrico mais utilizado para a análise de correlação, neste tipo de casos,

é o teste de correlação de Spearman (McKillup, 2005). Este foi usado para avaliar a

existência e tipo de correlações que existiriam entre o encerramento observado nas três

Mínimo da amostra,

mas não menos de

Q1–1.5(Q3-Q1)

Máximo da amostra,

mas não mais de

Q3+1.5(Q3-Q1)

Page 99: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

80

suturas avaliadas, entre as suturas cranianas e os grupos etários, e entre diagnósticos

correctos e incorrectos, entre as suturas.

Na tabela 4 mostra-se a forma de interpretação, segundo Cohen (1988), dos valores do

rho de Spearman (coeficiente de correlação).

Tabela 4 - Interpretação do coeficiente de correlação (Adaptado de Cohen, 1988).

Coeficiente de Correlação Interpretação

(0,0 – 0,09) Não há Correlação

(0,1 – 0,3) Correlação Fraca

(0,3 – 0,5) Correlação Moderada

(› 0,5) Correlação Elevada

Valores entre parênteses são positivos ou negativos.

Com a finalidade de perceber se existia algum tipo de relação entre o método empregue

pela autora no presente trabalho e o método de Suchey-Brooks, empregue por Vieira

(2010) no supramencionado trabalho, procedeu-se ao teste de correlação de Spearman

para os diagnósticos correctos e incorrectos. De modo a apurar se os métodos apresen-

tavam diferenças significativas entre si, recorreu-se uma vez mais ao teste do Qui-

Quadrado.

3.4.1 PRECISÃO E EXACTIDÃO

Precisão é o grau de refinamento com que uma estimativa é feita, em estatística é medi-

da pelo desvio padrão; é uma medida do grau de concordância entre valores dos dados

determinados independentemente, sob determinadas condições. Exactidão é o grau com

o qual uma estimativa se ajusta com a realidade; é uma medida do grau de concordância

entre a melhor estimativa e o valor real (Sá, 2007; Drosg, 2009; Antonisamy et al.,

2010).

Page 100: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

81

A precisão e a exactidão num processo de identificação encontram-se dependentes de

determinados factores:

Da composição da amostra: a identificação de restos isolados, ou de indivíduos singu-

lares diminui, à partida, a exactidão do processo de identificação, isto porque o AF vê-

se, normalmente, obrigado a comparar a sua amostra com padrões estimados para outras

populações. Além disso, se a amostra for composta por indivíduos de grupos etários

muito díspares, a análise estatística irá sofrer vieses, que impedirão a precisão e a exac-

tidão de serem, minimamente, significativas (McKillup, 2005; White & Folkens, 2005;

Drosg, 2009).

Dos métodos analíticos: quando são aplicados diferentes métodos de análise são pro-

duzidos diferentes resultados, com diferentes graus de confiança entre uns e outros.

Apoiando-se em resultados estatísticos relativos, tanto à precisão, como à exactidão de

estudos anteriores, o investigador deve escolher aquela metodologia que melhor se

adapta ao tipo de estudo que pretende executar, podendo evitar, também, vieses desne-

cessários (White & Folkens, 2005; Drosg, 2009; Antonisamy et al., 2010).

Da aplicabilidade dos métodos analíticos seleccionados: a maioria dos padrões existen-

tes para proceder à identificação de um indivíduo desconhecido, ou de uma amostra,

foram estabelecidos com base em séries esqueléticas europeias ou americanas. Portanto,

tais padrões possuem uma utilização muito limitada, uma vez que parecem não se apli-

car de forma semelhante a outras populações. Porém, este facto pode ser atenuado se

forem aplicados procedimentos estatísticos correctos que permitam aproximar e adaptar

os resultados de uma população a outra, como por exemplo, o estabelecimento de equa-

ções de regressão (Maroco, 2007; Sá, 2007; Drosg, 2009; Antonisamy et al., 2010).

Page 101: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

82

3.5 FASE DE APRENDIZAGEM

Previamente à análise realizada nos indivíduos seleccionados para o estudo em questão,

a autora despendeu cerca de um mês, numa fase de aprendizagem intensiva, durante a

qual foram analisados indivíduos de casos forenses pertencentes à Delegação do Sul do

Instituto Nacional de Medicina Legal, IP (INML, IP).

Na análise efectuada a estes indivíduos foi empregue a exacta metodologia que, mais

tarde, se aplicou nos crânios dos esqueletos identificados da colecção Luís Lopes.

Com esta fase indispensável de aprendizagem, a autora adquiriu experiência e familiari-

zou-se com o tipo de observação a efectuar, posteriormente, no estudo, propriamente

dito.

Page 102: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

83

IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Page 103: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

84

Page 104: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

85

4.1 RESULTADOS

4.1.1 A AMOSTRA FINAL

A amostra seleccionada inicialmente para este estudo era composta, como foi de resto já

referido, por 200 indivíduos (figura 17), que faleceram entre 1891 e 1969, com idades

iguais ou superiores a 55 anos e com ausência de qualquer tipo de patologia ou

deformação que pudessem influenciar os resultados do estudo.

Conforme dito, Vieira (2010) realizou um estudo titulado “Estimativa da idade à morte

em indivíduos idosos: Estudo da Sínfise Púbica”, com a mesma amostra esquelética. De

modo a tornar exequível a comparação entre os dois métodos, o ajustamento da amostra

esquelética inicial mostrou-se impreterível. Principiou-se o estudo com a dita amostra

de 200 indivíduos, da qual foram, posteriormente, excluídos todos os indivíduos metó-

picos (alegadamente, a velocidade de obliteração das suturas é diferente nestes indiví-

duos) (Masset, 1982) e todos aqueles que exibiam alterações (sobretudo fracturas post-

mortem) na zona da sínfise púbica, bem como aqueles cuja sínfise não se encontrava

presente.

Portanto, a amostra final é composta por 116 indivíduos (N), sendo 49 (42,24%) do

sexo11

masculino e 67 (57,76%) do sexo feminino (tabela 5, figura 21).

11 O termo sexo refere-se à divisão biológica entre machos e fêmeas enquanto o género corresponde às construções sociais que se

criam em redor das diferenças biológicas. No decorrer do trabalho, os termos sexo e género serão utilizados de forma indiscrimina-

da.

Page 105: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

86

Figura 21 - Distribuição etária dos indivíduos da amostra final.

Para uma visualização optimizada da amostra estudada e de forma a cinzelar os coteja-

mentos finais entre os dois estudos sincrónicos, distribuíram-se os indivíduos por quatro

grupos etários, nomeadamente: dos 55 aos 64 anos, dos 65 aos 74 anos, dos 75 aos 84

anos e dos 85 aos 94 anos. Na tabela 5 estão agrupados os dados referentes às frequên-

cias dos indivíduos de cada sexo, pelos grupos etários citados.

Tabela 5 - Distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra estudada.

Grupo etário

(anos)

Sexo Total

Masculino

Feminino

n %

n % n %

55-64 16 13,80

12 10,34 28 24,14

65-74 21 18,11

16 13,79 37 31,90

75-84 11 9,48

28 24,14 39 33,62

85-94 1 0,86

11 9,48 12 10,34

Total 49 42,25

67 57,75 116 100,0

Posteriormente, (e com o intuito de melhor avaliar o método que envolve o encerramen-

to das suturas cranianas) a amostra sofreu uma nova subdivisão etária: dos 55 aos 64

anos, dos 65 aos 74 anos e superior a 75 anos. Estes grupos foram criados com o objec-

0

5

10

15

20

25

30

55-64 65-74 75-84 84-94

Fre

qu

ên

cia

(N)

Grupos etários (anos)

masculino

feminino

Page 106: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

87

tivo de tentar averiguar a performance diferencial do método, nos indivíduos mais ido-

sos. Na tabela 6 está representada a frequência dos indivíduos, por sexos, para essas

mesmas classes etárias.

Tabela 6 - Nova distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra estudada.

Classe etária

(anos)

Sexo Total

Masculino

Feminino

n %

n % n %

55-64 16 13,80

12 10,34 28 24,14

65-74 21 18,10

16 13,80 37 31,90

≥75 12 10,34

39 33,62 51 43,96

Total 49 42,24

67 57,76 116 100,00

A figura 22 viabiliza uma melhor percepção da distribuição dos indivíduos pelas classes

etárias estabelecidas e torna, facilmente, observável a existência de alguma discrepância

entre os sexos, muito mais acentuada na classe dos indivíduos mais idosos.

Figura 22 - Nova distribuição etária e sexual dos indivíduos da amostra estudada.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

55-64 65-74 ≥75

Fre

qu

ên

cia

(N)

Grupos etários (anos)

masculino

feminino

Page 107: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

88

Apesar de nas folhas de registo não constarem as datas de nascimento dos indivíduos, as

mesmas foram deduzidas segundo a fórmula: ano da data de morte – idade à morte.

Todos os indivíduos da amostra nasceram entre 1826 e 1913; a maior frequência de nas-

cimentos situa-se entre 1871 e 1880, equivalendo a 25% do total da amostra (29/116)

(tabela 7; figura 23).

Tabela 7 - Décadas de nascimento dos indivíduos da amostra.

Década de Nascimento n %

1821 - 1830 1 0,87

1831 - 1840 4 3,46

1841 - 1850 7 6,05

1851 - 1860 21 18,12

1861 - 1870 22 18,97

1871 - 1880 29 25,00

1881 - 1890 23 18,83

1891 - 1900 7 6,05

1901 - 1910 1 0,87

1911 - 1920 1 0,87

Total 116 100,00

Figura 23 - Décadas de nascimento dos indivíduos da amostra.

1

4 7

21 22

29

23

7

1 1 0

5

10

15

20

25

30

35

1821 - 1830

1831 - 1840

1841 - 1850

1851 - 1860

1861 - 1870

1871 - 1880

1881 - 1890

1891 - 1900

1901 - 1910

1911 - 1920

Fre

qu

ên

cia

(N)

Décadas de nascimento

Page 108: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

89

Os indivíduos estudados tiveram datas de morte conhecidas e registadas, entre os anos

de 1891 e 1969, como exposto, anteriormente. Observando os dados relativos a essas

datas, pode destacar-se que a maioria dos óbitos (≈27%; 31/116) ocorreu entre as déca-

das de 1940 e 1950 (tabela 8; figura 24).

Tabela 8 - Décadas de morte dos indivíduos da amostra.

Década de Morte n %

1891 - 1900 2 1,72

1901 - 1910 1 0,86

1911 - 1920 7 6,03

1921 - 1930 13 11,21

1931 - 1940 23 19,83

1941 - 1950 31 26,73

1951 - 1960 35 30,17

1961 - 1970 4 3,45

Total 116 100,00

Figura 24 - Décadas da data de morte dos indivíduos da amostra.

A amostra esquelética da Nova Colecção de Lisboa é, na sua maioria, proveniente de

cemitérios da zona de Lisboa e, como seria expectável, aproximadamente 39% (45/116)

da amostra seleccionada possui naturalidade registada em Lisboa. Não obstante, quase

2 1

7 13

23

31

35

4 0

5

10

15

20

25

30

35

40

1891 - 1900

1901 - 1910

1911 - 1920

1921 - 1930

1931 - 1940

1941 - 1950

1951 - 1960

1961 - 1970

Fre

qu

ên

cia

(N)

Décadas de morte

Page 109: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

90

todos os outros distritos do país se encontram representados, incluindo a Madeira e os

Açores. Da totalidade dos indivíduos, apenas quatro são de nacionalidade não portugue-

sa, sendo três de nacionalidade espanhola e um de nacionalidade brasileira. A amostra

inclui ainda quatro indivíduos em que o campo “naturalidade” não se encontrava preen-

chido na folha de registo e é, portanto, desconhecida (tabela 9; figura 25).

Tabela 9 - Naturalidade dos indivíduos da amostra, por distrito.

Distrito n % Distrito n %

Açores 1 0,86 Guarda 4 3,45

Aveiro 4 3,45 Leiria 6 5,17

Beja 3 2,59 Lisboa 45 38,79

Braga 1 0,86 Portalegre 3 2,59

Bragança 1 0,86 Porto 2 1,72

Castelo Branco 5 4,31 Santarém 5 4,31

Coimbra 6 5,17 Setúbal 5 4,31

Évora 3 2,59 Viana do Castelo 2 1,72

Faro 3 2,59 Vila Real 3 2,59

Funchal 1 0,86 Viseu 5 4,31

Não Registado 4 3,45 Outros Países 4 3,45

Total

116 100,00

Figura 25 - Naturalidade dos indivíduos da amostra.

91%

1% 1%

4% 3% Portugal Continental

Arquipélago Açores

Arquipélago Madeira

Outro País

Não Registado

Page 110: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

91

Uma das últimas análises efectuadas à amostra com base nos registos dos indivíduos

concerne à causa de morte. Estes dados indicam-nos que as doenças do sistema circula-

tório (Capítulo IX) são, claramente, a causa de morte mais comum (33,62%; 39/116),

seguindo-se as neoplasias (Capítulo II) (tumores, na maior parte dos casos, cancerosos)

(19,83%; 23/116) (tabela 10).

As causas de morte foram classificadas em conformidade com o sistema ICD-1012

(International Classification of Diseases, 2007) (tabela 10; figura 26).

Tabela 10 - Causas de morte dos indivíduos da amostra (ICD-10).

Causa de Morte

(Capítulos ICD-10)

Sexo Total

Masculino

Feminino

n %

n % n %

I 5 4,31

1 0,86 6 5,17

II 11 9,48

12 10,34 23 19,83

III 0 0,00

1 0,86 1 0,86

IV 1 0,86

0 0,00 1 0,86

VI 1 0,86

4 3,45 5 4,31

IX 15 12,93

24 20,69 39 33,62

X 5 4,31

8 6,90 13 11,21

XI 2 1,72

2 1,72 4 3,45

XII 1 0,86

0 0,00 1 0,86

XIV 3 2,59

3 2,59 6 5,17

XVIII 2 1,72

9 7,76 11 9,48

XIX 0 0,00

1 0,86 1 0,86

XX 1 0,86

0 0,00 1 0,86

Não Registado 2 1,72

2 1,72 4 3,45

Se se fizer uma análise, desagregando o sexo masculino do feminino, os dados revelam

uma patente predominância de causas de morte associadas ao sistema circulatório

(Capítulo IX) entre os indivíduos do sexo masculino (15 ind./116), registando-se uma

12

Capítulo I- Certas doenças infecciosas e parasitárias; Capítulo II- Neoplasias; Capítulo III- Doenças do sangue e dos órgãos

hematopoiéticos, e certos distúrbios que envolvem o mecanismo imunitário; Capítulo IV- Doenças endócrinas, nutricionais e

metabólicas; Capítulo VI- Doenças do sistema nervoso; Capítulo IX- Doenças do sistema circulatório; Capítulo X- Doenças do

sistema respiratório; Capítulo XI- Doenças do sistema digestivo; Capítulo XII- Doenças da pele e do tecido subcutâneo; Capítulo

XIV- Doenças do sistema genito-urinário; Capítulo XVIII- Sintomas, sinais e achados clínicos e laboratoriais anormais, não classi-

ficados noutra parte; Capítulo XIX- Lesões, envenenamentos e outras consequências de causas externas; Capítulo XX- Causas

externas de morbilidade e mortalidade.

Page 111: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

92

situação análoga para os indivíduos do sexo feminino (24 ind./116); relativamente às

doenças dos sistemas genito-urinário (Capítulo XIV) e digestivo (Capítulo XI) assinala-

se uma similitude entre o número de indivíduos dos dois géneros. Dos problemas asso-

ciados ao capítulo III (doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos, e certos distúr-

bios que envolvem o mecanismo imunitário) e ao capítulo XIX (lesões, envenenamen-

tos e outras consequências de causas externas), apenas se registou mortalidade nos indi-

víduos do sexo feminino; verificando-se o contrário para os capítulos IV (doenças

endócrinas, nutricionais e metabólicas) e XX (causas externas de morbilidade e mortali-

dade), nos quais só existe registo de indivíduos do sexo masculino. Nas causas de morte

associadas aos capítulos VI (doenças do sistema nervoso) e XVIII (sintomas, sinais e

achados clínicos e laboratoriais anormais, não classificados noutra parte) é visível a

predominância de mortalidade dos indivíduos do género feminino sobre os do género

masculino; o predomínio de mortalidade do sexo masculino sobre o feminino registou-

se no capítulo I (certas doenças infecciosas e parasitárias) (tabela 10; figura 25).

Figura 26 - Distribuição dos indivíduos da amostra em função da sua causa de morte e por sexos. (As

causas de morte foram classificadas em conformidade com o sistema ICD-10, 2007).

5

11

1 1

15

5 2 1 3 2 1 2

1

12

1 4

24

8

2 3

9

1 2

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Causas de Morte

Fre

qu

ên

cia

(N)

feminino

masculino

Page 112: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

93

4.1.2 NORMALIDADE

A distribuição etária da amostra é gaussiana ou “normal” (figura 27; Kolmogorov-

Smirnov=0,964; p=0,311).

Figura 27 - Distribuição etária da amostra estudada.

A média de idade da amostra total é de 72,28 anos (72,28 ± 9,92 anos). Os indivíduos

do sexo feminino exibem uma média de idade de 75,04 anos (75,04 ± 9,99 anos),

enquanto que os indivíduos do sexo masculino apresentam uma média de 68,51 anos

(68,51 ± 8,56 anos) (tabela 11).

Tabela 11 - Estatística descritiva da amostra estudada

Sexo N Média Moda Mediana Desvio Padrão

Masculino 49 68,51 75 67 8,56

Feminino 67 75,04 68 76 9,99

Total 116 72,28 65 72 9,92

Fre

qu

ên

cia

(N

)

Page 113: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

94

4.1.3 ERRO INTRA-OBSERVADOR

Completaram-se três observações em cada um dos indivíduos que compõem a amostra,

de forma a poder ser determinado o erro intra-observador. A avaliação deste parâmetro

é de extrema importância porquanto possibilita ao investigador aquilatar o prossegui-

mento ou término do seu trabalho.

Compararam-se as primeiras observações com as segundas e as segundas com as tercei-

ras. Este procedimento permitiu determinar e quantificar os diagnósticos discordantes

entre as diferentes observações (% Concordância) (tabelas 12 e 13).

Por se tratarem de três leituras, totalmente, independentes entre si, todos os cálculos

foram efectuados para cada sutura, individualmente. Por conseguinte, o método empre-

gue para a estimativa da idade à morte através da sinostose das suturas cranianas aduziu

um erro intra-observador de 13,79% para a sutura coronal, entre a 1ª e a 2ª observações,

decrescendo ligeiramente entre a 2ª e a 3ª observações para 9,48%. O erro intra-

observador obtido para a sutura sagital entre a 1ª e a 2ª observações foi bastante mais

alto que o obtido para a sutura anteriormente referida, tendo sido de 20,69%, decaindo

para 9,48%, entre a 2ª e a 3ª observações. Já para a sutura lambdóide, a percentagem do

erro intra-observador entre a 1ª e a 2ª leituras atingiu os 16,38% e, seguindo a tendência

das precedentes, baixou para 6,03% entre a 2ª e a 3ª observações. Todos os valores

finais (i. e., entre as 2as

e 3as

observações) se situaram abaixo do valor limite, pré-

estabelecido, de 10%.

Page 114: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

95

Tabela 3 - Classificação qualitativa do valor kappa (Adaptado de Byrt, 1996).

Valor de kappa Descrição

≤ 0 Não há Concordância

0,01 - 0,20 Concordância Fraca

0,21 - 0,40 Concordância Ligeira

0,41 - 0,60 Concordância Razoável

0,61 - 0,80 Concordância Boa

0,81 - 0,92 Concordância Muito Boa

0,93 - 1,00 Concordância Excelente

A estatística kappa (Cohen, 1988) sugere uma boa progressão na concordância do valor

do grau de sinostose atribuído pela observadora em momentos diferentes, para as três

suturas cranianas estudadas. Considerando, então, a classificação qualitativa da estatísti-

ca kappa (tabela 3), as observações progrediram de “Boa” para “Muito Boa”, nas sutu-

ras sagital e lambdóide; e de “Razoável” para “Boa” na sutura coronal. Os dados encon-

tram-se coligidos nas tabelas 12 e 13.

Tabela 12 - Estatística kappa, entre a 1ª e a 2ª observações.

Sutura %C kappa (95% IC) Interpretação do valor kappa

Coronal 86,21 0,541 (0,340 – 0,684) Razoável

Sagital 79,31 0,781 (0,685 – 0,877) Boa

Lambdóide 83,62 0,696 (0,592 – 0,800) Boa

Tabela 13 - Estatística kappa, entre a 2ª e a 3ª observações.

Sutura %C kappa (95% IC) Interpretação do valor kappa

Coronal 90,52 0,791 (0,675 – 0,907) Boa

Sagital 90,52 0,871 (0,795 – 0,947) Muito Boa

Lambdóide 93,97 0,831 (0,749 – 0,913) Muito Boa

Page 115: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

96

4.1.4 ERRO INTER-OBSERVADOR

Quando se fala em erro inter-observador há que ter em mente uma afirmação habitual:

observadores equipados com os mesmos instrumentos podem obter resultados comple-

tamente díspares (Curate, 2010). De facto, foram exactamente assim os resultados regis-

tados entre as duas observadoras. De mencionar que o procedimento para a avaliação do

erro inter-observador é em tudo idêntico ao, precedentemente, relatado para a determi-

nação do erro intra-observador.

As percentagens de erro inter-observador obtidas nas observações praticadas pelas duas

investigadoras, de forma integralmente independente, foram de 15,91% para a sutura

coronal, 13,64% para a sutura sagital e de 36,36% para a sutura lambdóide (tabela 14),

sendo que os três valores se encontram além do limite estipulado de 10%, o que, conse-

quentemente, correspondeu a percentagens de concordância muito baixas.

Conferindo, então, uma classificação ao valor da estatística kappa obtido, explica-se que

para as suturas coronal e sagital essa classificação foi “Boa” e para a sutura lambdóide

foi “Razoável”. Os dados encontram-se resumidos na tabela 14.

Tabela 14 - Estatística kappa, entre observadores diferentes.

Sutura N %C kappa (95% IC) Interpretação do valor kappa

Coronal 46 84,09 0,689 (0,487– 0,891) Boa

Sagital 46 86,36 0,774 (0,609– 0,939) Boa

Lambdóide 46 63,64 0,483 (0,287– 0,679) Razoável

Page 116: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

97

4.1.5 ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO MÉTODO TESTADO

Na amostra total, a percentagem de diagnósticos incorrectos foi superior à percentagem

de diagnósticos correctos, i.e., em que o grupo etário atribuído ao indivíduo através do

método empregue neste trabalho coincidiu com o grupo etário real a que o indivíduo

pertence (figura 28).

Figura 28 – Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para cada sutura craniana.

Analisando as três suturas estudadas, verifica-se que todas registaram percentagens

similares de diagnósticos correctos, percentagens essas, que se revelaram muito baixas.

Para as suturas coronal e sagital, foi mesmo igual: 37,93% (44/116); na sutura lambdói-

de essa percentagem caiu para os 31,03% (36/116) (tabela 15).

Tabela 15 - Diagnósticos correctos e incorrectos para cada sutura craniana.

Sutura Diagnósticos Correctos

Diagnósticos Incorrectos

Total

n %

n %

n %

Coronal 44 37,93

72 62,07

116 100

Sagital 44 37,93

72 62,07

116 100

Lambdóide 36 31,03

80 68,97

116 100

0

20

40

60

80

100

120

Coronal Sagital Lambdóide

Fre

qu

ên

cia

(N)

Suturas

Diagnósticos Incorrectos

Diagnósticos Correctos

Page 117: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

98

As diferenças entre as percentagens de diagnósticos correctos e incorrectos são apenas,

estatisticamente, significativas na sutura lambdóide (Wilcoxon Ζ=-5,736; p=0,000;

tabela 16). Na leitura desta sutura, o método empregue registou uma propensão para

subestimar a idade dos indivíduos, ou seja, a classificação do grau de encerramento des-

ta sutura atribuiu, tendencialmente, aos indivíduos idades mais baixas que as reais. No

caso da sutura coronal e da sutura sagital, as percentagens obtidas não foram significati-

vamente diferentes (coronal: Wilcoxon Ζ=-1,925; p=0,054; sagital: Wilcoxon Ζ=-0,059;

p=0,953; tabela 16). De realçar que a similitude entre as percentagens não se trata de um

aspecto positivo, pois demonstra que o método não foi capaz de classificar correctamen-

te os indivíduos.

Tabela 16 - Teste Wilcoxon para as suturas cranianas.

Sutura Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos

Coronal -1,925 0,054 44 42 30

Sagital -0,059 0,953 44 32 40

Lambdóide -5,736 0,000 36 66 14

Procede-se, agora, à análise de cada sutura, individualmente, atendendo às diferenças

entre os sexos.

Figura 29 - Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura coronal, por sexos.

0

20

40

60

80

100

120

masculino feminino total

Fre

qu

ên

cia

(N)

Sexo

Diagnósticos Incorrectos

Diagnósticos Correctos

Page 118: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

99

No que concerne à sutura coronal, a comparação entre os sexos mostra que existe uma

proximidade nas percentagens dos diagnósticos, sendo que 38,78% (19/49) dos indiví-

duos do sexo masculino e 37,31% (25/67) dos indivíduos do sexo feminino foram clas-

sificados correctamente (tabela 17; figura 29). Estas percentagens de acerto13

são extre-

mamente baixas para um método de estimativa da idade à morte que se pretendia com

aplicação forense.

Tabela 17 - Diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura coronal, em função dos sexos.

Sexo Diagnósticos Correctos

Diagnósticos Incorrectos

Total

n %

n %

n %

Masculino 19 38,78

30 61,22

49 100,00

Feminino 25 37,31

42 68,69

67 100,00

O sexo masculino apresentou resultados, estatisticamente, não significativos no teste de

Wilcoxon, no entanto, é de referir que, para este género, o método testado tanto subes-

timou como sobrestimou a idade dos indivíduos. No sexo feminino observou-se uma

leve tendência para o método subestimar a idade (tabela 18).

Tabela 18 - Teste Wilcoxon para a sutura coronal, em função dos sexos.

Sexo N Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos

Masculino 49 -0,522 0,602 19 13 17

Feminino 67 -2,799 0,005 25 29 13

Total 116 n.a. n.a. 44 32 30

Embora não significativa, na sutura sagital registou-se uma pequena diferença nos diag-

nósticos correctos atribuídos para o sexo feminino e masculino (figura 30).

13

Quando se faz referência a percentagem de acerto, não é mais do que outra forma de referir percentagem de diagnósticos correc-

tos.

Page 119: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

100

Figura 30 - Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura sagital, em função dos sexos.

No sexo masculino a percentagem de diagnósticos correctos foi de apenas 36,73%

(18/49), ao passo que para o sexo feminino, subiu, muito ligeiramente, para os 38,81%

(26/67) (tabela 19; figura 30). A percentagem de acertos conseguida através deste méto-

do continua a ser muitíssimo baixa.

Tabela 19 - Diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura sagital, em função dos sexos.

Sexo Diagnósticos Correctos

Diagnósticos Incorrectos

Total

n %

n %

n %

Masculino 18 36,73

31 63,27

49 100,00

Feminino 26 38,81

41 61,19

67 100,00

Comparativamente à sutura coronal, quando, para a sagital se testaram os diagnósticos

correctos e incorrectos, em função dos sexos com o teste de Wilcoxon, nenhum dos

sexos mostrou significância estatística (sexo masculino: Wilcoxon Ζ=-1,932; p=0,053;

sexo feminino: Wilcoxon Ζ=-1,491; p=0,136; tabela 20).

0

20

40

60

80

100

120

masculino feminino total

Fre

qu

ên

cia

(N)

Sexos

Diagnósticos Incorrectos

Diagnósticos Correctos

Page 120: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

101

Tabela 20 - Teste Wilcoxon para a sutura sagital, em função dos sexos.

Sexo N Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos

Masculino 49 -1,932 0,053 18 8 23

Feminino 67 -1,491 0,136 26 24 17

Total 116 n.a. n.a. 44 32 40

Apesar disso, o comportamento do método empregue no presente estudo provou ser

diferente para os dois sexos: no sexo masculino exibiu tendência clara para sobrestimar

a idade; no sexo feminino, tanto sub- como sobrestimou a idade dos sujeitos. Estes

resultados demonstram a inconstância nas avaliações do método.

A sutura que pior discriminou a amostra, em termos de idade, foi a sutura lambdóide.

No entanto, é necessário enfatizar que, nesta amostra, todas as suturas foram péssimas

indicadoras da idade à morte.

Figura 31- Frequência de diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura lambdóide, em função dos

sexos.

0

20

40

60

80

100

120

masculino feminino total

Fre

qu

ên

cia

(N)

Sexos

Diagnósticos Incorrectos

Diagnósticos Correctos

Page 121: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

102

Para a sutura lambdóide, a percentagem de diagnósticos correctos foi (uma vez mais)

muito reduzida; fazendo a comparação entre os sexos, verificou-se que apenas 42,86%

(21/49) e 22,39% (15/67) dos indivíduos do sexo masculino e feminino, respectivamen-

te, foram correctamente alocados nos grupos etários (tabela 21; figura 31).

Tabela 21 - Diagnósticos correctos e incorrectos para a sutura lambdóide, em função dos sexos.

Sexo Diagnósticos Correctos

Diagnósticos Incorrectos

Total

n %

n %

n %

Masculino 21 42,86

28 57,14

49 100,00

Feminino 15 22,39

52 77,61

67 100,00

O teste de Wilcoxon tornou patente que, em ambos os géneros, a classificação dos indi-

víduos baseada na observação da sutura lambdóide foi, efectivamente, a mais errónea: o

método usado subestimou a idade em 66 dos 116 indivíduos da amostra, sendo 20 des-

tes homens e 46 mulheres (sexo masculino: Wilcoxon Ζ=-2,518; p=0,012; sexo femini-

no: Wilcoxon Ζ=-5,155; p=0,000; tabela 22).

Tabela 22 - Teste Wilcoxon para a sutura lambdóide, em função dos sexos.

Sexo N Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos

Masculino 49 -2,518 0,012 21 20 8

Feminino 67 -5,155 0,000 15 46 6

Total 116 n.a. n.a. 36 66 14

Concretizando a análise estatística de cada sutura em função dos grupos etários estabe-

lecidos, pode verificar-se que, independentemente, destes e da sutura, a percentagem de

diagnósticos incorrectos atribuídos de acordo com a metodologia empregue neste traba-

lho foi muito (demasiado) elevada (tabelas 23 e 27; figura 32).

Page 122: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

103

Figura 32 - Frequência de diagnósticos correctos para todas as suturas, em função dos grupos etários.

Na distribuição resumida na tabela 23, verifica-se que para a sutura coronal o maior

número de acertos correspondeu à classe etária dos 65-74 anos de idade (25/116;

67,57%); para a sutura sagital, foi a classe etária dos sujeitos mais idosos (23/116;

45,10%); e na sutura lambdóide, o maior número de diagnósticos correctos registou-se

nas classes etárias mais jovens, com uma pequena vantagem na classe dos 55-64 anos

(16/116; 57,14%) (tabela 23).

Tabela 23 - Diagnósticos correctos por sutura craniana, em função das classes etárias.

Sutura

Classe etária (anos)

55 - 64

65 - 74 ≥75

n %

n % n %

Coronal 6 21,43

25 67,57 13 25,49

Sagital 5 17,86

16 43,24 23 45,10

Lambdóide 16 57,14

13 35,13 7 13,73

Total 27 n.a.

54 n.a. 43 n.a.

Como seria expectável, a classe etária para a qual se registou o maior número de diag-

nósticos correctos foi a dos 65-74 anos, classe que pode ser considerada intermédia. A

classe dos indivíduos mais jovens foi aquela que revelou maior porção de diagnósticos

0

10

20

30

40

50

60

Coronal Sagital Lambdóide Total

Fre

qu

ên

cia

(N)

Suturas

55-64

65-74

≥75

Grupos etários:

Page 123: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

104

incorrectos, aferidos pelo método de estimativa da idade à morte através do encerramen-

to das suturas cranianas (tabela 23).

Particularizando a análise por sutura, verifica-se que no grupo etário dos mais jovens, a

metodologia empregue na sutura coronal revelou uma grande propensão para sobresti-

mar a idade dos sujeitos (55-64: Wilcoxon Ζ=-4,960; p=0,000); na classe etária dos

indivíduos mais idosos (≥75) a tendência foi oposta (Wilcoxon Ζ=-5,855; p=0,000); na

categoria etária que compreende às idades dos 65 aos 74 anos, o teste não mostrou sig-

nificância estatística, o método tanto sub- como sobrestimou a idade dos indivíduos (65-

74: Wilcoxon Ζ=-0,775; p=0,439) (tabela 24).

Tabela 24 - Teste Wilcoxon para a sutura coronal, de acordo com as classes etárias.

Classe etária N Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos

55 - 64 28 -4,960 0,000 6 0 22

65 - 74 37 -0,775 0.439 25 4 8

≥75 51 -5,855 0,000 13 38 0

Total 116 n.a. n.a. 44 42 30

Ao analisar o método aplicado no presente trabalho para a sutura sagital, de um modo

geral, este mostrou uma tendência para sobrestimar a idade dos indivíduos da amostra,

exceptuando na classe etária dos mais idosos, em que exibiu uma tendência antagónica

(55-64: Wilcoxon Ζ=-4,344; p=0,000; 65-74: Wilcoxon Ζ=-2,082; p=0,037; ≥75: Wil-

coxon Ζ=-4,774; p=0,000; tabela 25).

Tabela 25 - Teste Wilcoxon para a sutura sagital, de acordo com as classes etárias.

Classe etária N Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos

50 - 59 28 -4,344 0,000 5 0 23

60 - 74 37 -2,082 0,037 16 4 17

≥75 51 -4,774 0,000 23 28 0

Total 116 n.a. n.a. 44 32 40

Page 124: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

105

Prosseguindo com a análise dos resultados do teste de Wilcoxon obtidos para a sutura

lambdóide, verifica-se que a tendência da metodologia usada em sobrestimar a idade

dos indivíduos no grupo etário dos indivíduos mais jovens foi bastante vincada (Wilco-

xon Ζ=-2,392; p=0,017; tabela 26). Nas duas classes etárias mais velhas, a tendência

incontestável foi para o método subestimar a idade dos indivíduos, particularmente, no

grupo 60-74 (60-74: Wilcoxon Ζ=-3,321; p=0,001; ≥75: Wilcoxon Ζ=-5,913; p=0,000;

tabela 26). Foi através da leitura desta sutura que se registou o menor número de empa-

tes (diagnósticos correctos), uns meros 36, em 116 indivíduos totais (tabela 26).

Tabela 26 - Teste Wilcoxon para a sutura lambdóide, de acordo com as classes etárias.

Classe etária N Wilcoxon Ζ p Empates Ranks Negativos Ranks Positivos

50 - 59 28 -2,392 0,017 16 2 10

60 - 74 37 -3,321 0,001 13 20 4

≥75 51 -5,913 0,000 7 44 0

Total 116 n.a. n.a. 36 66 14

Na distribuição dos grupos etários criados em conjunto pela autora e por Vieira (2010),

observa-se que para a sutura coronal, o grupo dos 65-74 anos foi aquele que registou um

número superior de acertos nos diagnósticos atribuídos (25/37) (tabela 27; figura 33).

Figura 33 - Frequência de diagnósticos correctos, em função dos grupos etários estabelecidos em conjun-

to com Vieira (2010).

0

10

20

30

40

50

60

Coronal Sagital Lambdóide Total

Fre

qu

ên

cia

(N)

Suturas

55-64

65-74

75-84

85-94

Grupos etários:

Page 125: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

106

Os grupos etários dos indivíduos mais jovens e dos mais idosos foram aqueles que mos-

traram resultados mais fracos, com apenas 6 e 3 acertos, respectivamente (tabela 27;

figura 33).

Tabela 27 - Diagnósticos correctos por sutura craniana, em função dos grupos etários estabelecidos, con-

juntamente, com Vieira (2010).

Sutura

Classe etária (anos)

55 - 64

65 - 74 75 – 84 85 - 94

n %

n % n % n %

Coronal 6 21,43

25 67,57 10 25,64 3 25,00

Sagital 5 17,86

16 43,24 17 43,59 6 50,00

Lambdóide 16 57,14

13 35,13 7 17,95 0 0,00

Total 27 n.a.

54 n.a. 43 n.a. 9 n.a.

Para a sutura sagital não se verificou qualquer padrão nos diferentes grupos etários. No

grupo etário dos 55-64 anos, a percentagem de diagnósticos correctos para esta sutura

foi de 21,43% (5/28); para o grupo dos 65-74 anos, foi de 43,24% (16/37); para o grupo

etário dos 75-84 anos, foi de 43,59% (17/39); e no último grupo etário definido, a per-

centagem de acertos foi de 50% (6/12) (tabela 27; figura 33).

A percentagem de diagnósticos correctos atribuídos com base na sutura lambdóide mos-

tra um padrão: varia inversamente com a idade dos indivíduos (57,14% → 35,13% →

17,95%). No grupo etário dos mais idosos, o método de classificação do grau de encer-

ramento das suturas cranianas, não alocou nenhum indivíduo correctamente, através da

sutura lambdóide (tabela 27; figura 33).

Tabela 28 - Teste Qui-Quadrado, por sutura craniana.

Sutura N χ2 de Pearson df p

Coronal 116 0,026 1 0,873

Sagital 116 0,052 1 0,820

Lambdóide 116 5,540 1 0,019

Page 126: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

107

Na tabela 28 estão sintetizados os resultados do teste Qui-Quadrado, através do qual se

pode constatar que a percentagem de diagnósticos correctos e incorrectos não difere de

forma significativa entre os sexos, nas suturas coronal e sagital (coronal: Pearson χ2

=0,026; df=1; p=0,873; sagital: Pearson χ2

=0,052; df=1; p=0,820). O mesmo não se

verificou para a sutura lambdóide, para a qual o teste Qui-Quadrado foi estatisticamente

significativo, mostrando que existem diferenças entre os sexos, no que concerne a diag-

nósticos correctos e incorrectos (Pearson χ2

=5,540; df=1; p=0,019) (tabela 28).

Page 127: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

108

4.1.6 CAIXAS DE BIGODES RELATIVOS ÀS OBSERVAÇÕES EFECTUADAS

Iniciou-se a análise de dispersão dos dados com as observações efectuadas das três sutu-

ras estudadas para os grupos etários.

Numa apreciação geral das caixas de bigodes obtidas, confirma-se que os resultados não

estão de acordo com o que seria expectável. Em todas as suturas há registo de valores

atípicos ou extremos; a distribuição das caixas de bigodes não se mostra de acordo com

a distribuição dos graus de obliteração dos indivíduos para os grupos etários estabeleci-

dos; e a dispersão dos bigodes é muito elevada, na maioria das caixas.

Figura 34 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura coronal, para os grupos etários estabeleci-

dos.

Na sutura coronal, particularmente, os indivíduos 74 e 42 constituem dois valores atípi-

cos, embora por razões distintas. O indivíduo 74 (figura 35) tinha 67 anos de idade à

morte (grupo etário 2: 65-74 anos), mas foi-lhe atribuído um grau de obliteração de 0,3

(média das classificações14

atribuídas aos segmentos da sutura coronal) que o alocaria

14

Todos os valores de encerramento obtidos pela autora referidos ao longo do trabalho resultam da média das classificações atri-

buídas aos respectivos segmentos da sutura a que tais valores se reportam.

Gr. Et. N

55-64 28

65-74 37

>75 51

Page 128: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

109

num grupo etário correspondente a indivíduos com idades inferiores a 55 anos (grupo

inexistente na amostra deste trabalho). Por outro lado, o indivíduo 42 destaca-se da cai-

xa por se encontrar correctamente alocado. A maioria dos indivíduos do grupo etário 1

(55-64 anos) apresentou graus de obliteração mais elevados do que seria de esperar.

Portanto, o indivíduo 42, com 56 anos de idade à morte e grau de encerramento 2,0, foi

correctamente alocado no grupo etário 1 (55-64 anos). Neste grupo etário, os valores

dispersaram um pouco entre: ligeiramente acima do grau 2 e o grau 3,5; a caixa mani-

festa uma grande assimetria das distâncias inter-quartil. A dispersão da caixa de bigodes

correspondente aos dados obtidos para o grupo etário 2 é mais elevada, apesar de a dis-

tância inter-quartil dos 1º e 3º quartis não ser muito grande, os bigodes dispersam-se

desde o grau 2 ao 4. O grupo etário 3, que corresponde aos indivíduos com idades supe-

riores a 75 anos, deveria apresentar a caixa entre os valores 3,5 e 4, o que também não

se verifica, facto que demonstra que a maioria dos indivíduos apresentou graus de obli-

teração mais baixos e com maior variação que o esperado para as suas idades (figura

34).

Figura 35 - Indivíduo nº 74 da Colecção Luís Lopes. (A) - Vista superior do crânio, evidenciando as

suturas coronal e sagital; (B) - Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura lambdóide (Rodrigues &

Vieira, 2011).

B A

Page 129: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

110

Figura 36 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura sagital, para os grupos etários estabeleci-

dos.

O gráfico da sutura sagital é muito semelhante ao obtido para a sutura coronal. Nesta

sutura, as caixas de bigodes dos três grupos etários exibem dispersão pelos graus de

obliteração 2 a 4, sendo que as medianas das três caixas se situam, sensivelmente, no

grau 3. Registam-se, similarmente, dois indivíduos correspondentes a valores atípicos:

novamente, o indivíduo 74 (67 anos) (figura 35) pertencente ao grupo etário 2 e o indi-

víduo 233 com, exactamente, a mesma idade (figura 37). Os graus de encerramento

atribuídos a estes indivíduos foram 0,0 para o 74 e 1,0 para o 233; com estes valores de

encerramento seriam alocados num grupo etário com indivíduos com idades inferiores a

55 anos. É de relembrar que a amostra não conta com nenhum exemplar com 54 anos ou

menos (figura 36).

Gr. Et. N

55-64 28

65-74 37

>75 51

Page 130: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

111

Figura 37 - Indivíduo nº 233 da Colecção Luís Lopes. (A) - Vista superior do crânio, evidenciando as

suturas coronal e sagital; (B) - Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura lambdóide (Rodrigues &

Vieira, 2011).

Figura 38 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura lambdóide, para os grupos etários estabe-

lecidos.

Gr. Et. N

55-64 28

65-74 37

>75 51

B A

Page 131: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

112

Uma vez mais, a caixa de bigodes permite confirmar que os graus de obliteração atri-

buídos à sutura lambdóide não corresponderam, na generalidade dos casos, ao que seria

de esperar. Todas as caixas apresentam uma dispersão elevada, mais marcada no grupo

etário 2, onde esta abrange os graus 1 a 4. No primeiro grupo etário, a caixa de bigodes

mostra que, em grande parte dos casos, a idade foi sobrestimada, havendo uma pequena

porção em que ocorreu subestimação deste parâmetro. Já no grupo etário 2, a situação

foi, praticamente, antagónica. Com excepção de uma pequena minoria de indivíduos, no

grupo etário 3 as idades foram, copiosamente, subestimadas. Em cada grupo etário

regista-se um valor atípico. Analogamente ao que aconteceu nas duas outras suturas, um

destes é o indivíduo 74 (figura 35), com 67 anos de idade (grupo etário 2: 65-74 anos),

que recebeu grau de encerramento 0,0 que o classificaria como tendo idade inferior a 55

anos. No grupo etário 1, é o indivíduo 323 (figura 39) com 57 anos que, ao obter um

grau de obliteração de 3,8, constituiu o valor atípico. Este grau de obliteração seria

esperado num indivíduo com 75 anos ou mais, correspondendo ao grupo etário estabe-

lecido 3 (figura 38).

Figura 39 - Indivíduo nº 323 da Colecção Luís Lopes. (A) - Vista superior do crânio, evidenciando a

(quase) obliteração das suturas coronal e sagital; (B) - Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura

lambdóide totalmente encerrada (Rodrigues & Vieira, 2011).

B A

Page 132: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

113

Por último, ao indivíduo 158 (figura 40) pertencente ao grupo etário 3, pois possui 76

anos de idade, foi atribuído um valor 0,2 para o grau de obliteração da sutura lambdói-

de, valor que o alocaria num grupo de indivíduos com idades inferiores a 55 anos. A sua

idade foi largamente subestimada (figura 38).

Figura 40 - Indivíduo nº 158 da Colecção Luís Lopes. (A) - Vista superior do crânio, evidenciando as

suturas coronal e sagital; (B) - Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura lambdóide (quase) total-

mente aberta (Rodrigues & Vieira, 2011).

De forma a avaliar se a dispersão foi ou não similar entre os sexos para cada sutura,

construíram-se caixas de bigodes para ambos os sexos, separadamente. Os resultados

obtidos foram um pouco distintos dos anteriores (na avaliação geral das suturas), não

sendo, no entanto, positivos, uma vez que continuam a não se coadunar com os espera-

dos.

É possível ver que o sexo feminino, independentemente da sutura, exibe uma maior

tendência para registar valores atípicos, facto que também é passível de ser constatado

através da análise dos gráficos expostos acima (figuras 34, 36 e 38), onde todos os casos

de valores atípicos, com uma única excepção, representam indivíduos do sexo feminino.

B A

Page 133: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

114

Figura 41 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura coronal dos indivíduos do sexo masculino,

para os grupos etários estabelecidos.

No grupo sexual masculino, para a sutura coronal, apesar de não terem sido detectados

valores atípicos, os resultados obtidos continuam longe dos previstos. No grupo etário 3,

as idades dos indivíduos foram, incontestavelmente, subestimadas; apenas uma ínfima

parte no extremo do bigode superior foi correctamente classificada. O grupo etário 2 foi

aquele em que os graus de obliteração melhor se conformaram às idades reais dos

indivíduos, visto que a caixa se encontra mais concentrada junto ao grau 3. Não

obstante, foi aquela que apresentou, também, a maior dispersão, com os valores dos

extremos a extenderem-se desde o grau 2 ao grau 4. As idades dos indivíduos do grupo

etário 1 foram, maioritariamente, sobrestimadas, com a maior frequência de casos a

iniciar-se no grau de obliteração 2,5, que corresponderia já ao grupo etário 2 (65-74

anos) (figura 41).

Gr. Et. N

55-64 28

65-74 37

>75 51

♂: 49

♀: 67

Page 134: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

115

Figura 42 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura coronal dos indivíduos do sexo feminino,

para os grupos etários estabelecidos.

Registam-se três valores atípicos na caixa de bigodes do sexo feminino para a sutura

coronal. Dois destes, localizam-se no grupo etário 1 e correspondem aos indivíduos 42 e

384, ambos com 56 anos. Estes obtiveram graus de encerramento de 2,0 e de 2,3,

respectivamente; facto que os tornou nos únicos casos correctamente alocados em todo

o grupo etário 1. Todos os outros indivíduos deste grupo etário obtiveram graus de

obliteração que os colocariam no grupo etário seguinte tendo, portanto, ocorrido

sobrestimação da idade. O restante valor atípico é, de novo, o indivíduo 74 (figura 35)

que, com 67 anos, situado no grupo etário 2 e com um grau de encerramento de 0,3,

seria alocado num grupo etário com indivíduos de idades inferiores a 55 anos. Uma vez

mais se refere que a amostra não apresentava indivíduos com essa característica. O

grupo etário 2 foi aquele em que o “esperado” e o “obtido” estiveram mais próximos.

Apenas a extremidade do bigode superior se encontra fora do intervalo dos graus de

obliteração correspondentes a este grupo etário (2,5 - 3,4). Já no grupo etário 3, obteve-

Gr. Et. N

55-64 28

65-74 37

>75 51

♂: 49

♀: 67

Page 135: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

116

se registo antagónico: a maior frequência dos casos localiza-se abaixo do limite inferior

do grau de encerramento estabelecido para este grupo etário (3,5) (figura 42).

Figura 43 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura sagital dos indivíduos do sexo masculino,

para os grupos etários estabelecidos.

No sexo masculino, para a sutura sagital, as classificações nos três grupos etários foram

bastante semelhantes entre si, situando-se entre o grau 2 - grupo etário 1, ou 2,5 - grupos

etários 2 e 3, e o grau 4. Logicamente, estes resultados não são os expectados. Esta foi a

única sutura que exibiu, para o sexo masculino, um valor atípico. Este localiza-se no

grupo etário 2 e representa o indivíduo 233 (figura 37), de 67 anos, mas que obteve um

grau de obliteração de apenas 1,0, valor que corresponderia a indivíduos com idades

inferiores a 55 anos (que não se encontravam representados na amostra). As caixas de

bigodes apresentam uma elevada distância inter-quartil (figura 43).

Gr. Et. N

55-64 28

65-74 37

>75 51

♂: 49

♀: 67

Page 136: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

117

Figura 44 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura sagital dos indivíduos do sexo feminino,

para os grupos etários estabelecidos.

Como foi já indicado, para o sexo feminino verificaram-se casos de valores atípicos. Na

sutura sagital, esse valor é apenas um, correspondente ao já usual indivíduo 74 (67 anos,

grupo etário 2:65-74 anos) (figura 35), que obteve, novamente, grau 0,0 de

encerramento, que o alocaria num grupo etário inexistente nesta amostra, de indivíduos

com idades inferiores a 55 anos. Comparando com o sexo masculino, os resultados do

sexo feminino foram, ligeiramente, melhores: as caixas revelam-se mais pequenas, não

apresentando distâncias inter-quartil tão elevadas. Os valores das medianas, por outro

lado, tornam-nas um pouco mais assimétricas. As idades dos indivíduos do grupo etário

1 foram largamente sobrestimadas. O grupo etário 2 foi aquele em que, apesar de terem

ocorrido muitos casos de alocações incorrectas, se registou um maior número de

indivíduos com classificações correctas (entre 2,5 e 3,4). Já no grupo etário 3 surgiram,

como se tem vindo a constatar, bastantes casos de indivíduos em que a classificação do

encerramento das suturas subestimou as suas idades reais (figura 44).

Gr. Et. N

55-64 28

65-74 37

>75 51

♂: 49

♀: 67

Page 137: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

118

Figura 45 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura lambdóide dos indivíduos do sexo mascu-

lino, para os grupos etários estabelecidos.

Na sutura lambdóide, para o sexo masculino, não houve registo de valores atípicos. No

entanto, as caixas de bigodes apresentam uma enorme dispersão. A caixa do grupo etá-

rio 1 dispersa-se desde o grau 1 de encerramento até ao grau 3,5; porém, a maior fre-

quência de casos localizou-se perto dos valores esperados (1,5 – 2,4). Tanto no grupo 2

como no grupo 3, houve subestimação da idade dos indivíduos, discernível através da

posição das maiores frequências de casos das caixas de bigodes (abaixo dos valores

previsíveis: 2,5 para o grupo etário 2; 3,5 para o grupo etário 3).

Gr. Et. N

55-64 28

65-74 37

>75 51

♂: 49

♀: 67

Page 138: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

119

Figura 46 - Caixa de bigodes relativa às observações da sutura lambdóide dos indivíduos do sexo femini-

no, para os grupos etários estabelecidos.

Para o sexo feminino, o gráfico da sutura lambdóide mostra cinco valores atípicos, dois

no grupo etário 1, dois no grupo etário 2 e um no grupo etário 3. O já recorrente indiví-

duo 74 e o indivíduo 158 (67 e 76 anos, respectivamente) (figuras 35 e 40), que foram

classificados com graus de obliteração de 0,0 e 0,3. Ora, nenhum destes graus atribuídos

alocaria estes indivíduos nos grupos etários a que realmente pertencem, uma vez que

estes valores seriam expectáveis em indivíduos com idades inferiores a 55 anos. Quanto

aos indivíduos 223 (61 anos) (figura 47), 323 (57 anos) (figura 39) e 456 (68 anos)

(figura 48), seriam os três alocados no grupo etário 3 (≥75 anos), pois obtiveram graus

de encerramento de 3,5, 3,8 e 4,0, respectivamente, mas obviamente isso não aconteceu.

As caixas de bigodes dos dois últimos grupos etários mostram uma dispersão elevada

(desde perto de 1 até cerca de 4) e as maiores frequências destas situam-se abaixo dos

valores dos limites inferiores dos graus de encerramento previstos para os grupos etá-

rios. A caixa de bigodes do grupo etário 1 correspondeu, na sua totalidade, aos valores

esperados (figura 46).

Gr. Et. N

55-64 28

65-74 37

>75 51

♂: 49

♀: 67

Page 139: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

120

Figura 47 - Indivíduo nº 223 da Colecção Luís Lopes. (A) - Vista superior do crânio, evidenciando a

sutura coronal quase encerrada e a sagital totalmente obliterada; (B) - Vista posterior do crânio, eviden-

ciando a sutura lambdóide completamente fechada (Rodrigues & Vieira, 2011).

Figura 48 - Indivíduo nº 456 da Colecção Luís Lopes. (A) - Vista superior do crânio, evidenciando a

ausência de vestígios das suturas coronal e sagital; (B) - Vista posterior do crânio, evidenciando a sutura

lambdóide completamente obliterada (Rodrigues & Vieira, 2011).

B A

B A

Page 140: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

121

4.1.7 TESTES DE CORRELAÇÃO

A tabela que se segue (tabela 4) mostra como interpretar os valores obtidos nos testes de

correlação empregues neste estudo.

Tabela 4 - Interpretação do coeficiente de correlação (Adaptado de Cohen, 1988).

Coeficiente de Correlação Interpretação

(0,0 – 0,09) Não há Correlação

(0,1 – 0,3) Correlação Fraca

(0,3 – 0,5) Correlação Moderada

(› 0,5) Correlação Elevada

Valores entre parênteses são positivos ou negativos.

Os testes de correlação de Spearman aplicados demonstram que existem correlações

significativamente elevadas entre o encerramento observado nas três suturas avaliadas.

Não obstante, esta interpretação não se traduz numa boa avaliação para o método do

encerramento das suturas cranianas, uma vez que os valores das correlações se encon-

tram bastante afastados do valor ideal 1 (coronal-sagital: Spearman rho=0,613;

p=0,000; coronal-lambdóide: Spearman rho=0,572; p=0,000; sagital-lambdóide:

Spearman rho=0,675; p=0,000). Na tabela 29 encontram-se compilados todos os valo-

res.

Tabela 29 - Correlação do encerramento entre as suturas cranianas.

Suturas N Spearman rho p Interpretação

Coronal - Sagital 116 0,613 0,000 Correlação Elevada

Coronal - Lambdóide 116 0,572 0,000 Correlação Elevada

Sagital - Lambdóide 116 0,675 0,000 Correlação Elevada

Entre a sutura coronal e os grupos etários, previamente, estabelecidos existe uma corre-

lação, estatisticamente, significativa, mas fraca (Spearman rho=0,240; p=0,000). Tanto

Page 141: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

122

para a sutura sagital, como para a lambdóide, verifica-se que não existe correlação entre

os scores obtidos para estas suturas e os grupos etários estabelecidos no início do estudo

(sagital: Spearman rho=0,032; p=0,731; lambdóide: Spearman rho=0,112; p=0,233)

(tabela 30).

Tabela 30 - Correlação entre as suturas cranianas e os grupos etários.

Suturas N Spearman rho p Interpretação

Coronal 116 0,240 0,000 Correlação Fraca

Sagital 116 0,032 0,731 Não Há Correlação

Lambdóide 116 0,112 0,233 Não Há Correlação

Registou-se uma correlação elevada entre as suturas coronal e sagital (coronal-sagital:

Spearman rho=0,669; p=0,000; tabela 31); as correlações entre a sutura lambdóide e as

outras duas suturas foram moderadas (coronal-lambdóide: Spearman rho=0,482;

p=0,000; sagital-lambdóide: Spearman rho=0,427; p=0,000; tabela 31). Uma vez mais,

deve sublinhar-se que estas correlações nada logram de positivo, pois continuam a ser

valores muito distantes de 1,00.

Tabela 31 - Correlação entre diagnósticos correctos e incorrectos, entre suturas.

Suturas N Spearman rho p Interpretação

Coronal - Sagital 116 0,669 0,000 Correlação Elevada

Coronal - Lambdóide 116 0,482 0,000 Correlação Moderada

Sagital - Lambdóide 116 0,427 0,000 Correlação Moderada

Page 142: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

123

Os resultados obtidos nos testes de correlação de Spearman sugerem que não existe cor-

relação entre o método utilizado neste trabalho e o método adoptado por Vieira (2010)

no estudo realizado paralelamente (Spearman rho=-0,129; p=0,190; tabela 32).

Tabela 32 - Correlação entre os métodos de estimativa da idade à morte: através do grau de encerramento

das suturas cranianas e o método de Suchey-Brooks.

Métodos Spearman rho p Interpretação

Suturas cranianas vs. Sínfise púbica -0,129 0,190 Não há correlação

Com o auxílio do teste de Qui-Quadrado apurou-se, também, que os dois métodos não

apresentam diferenças, estatisticamente, significativas entre si (tabela 33), ou seja,

ambos falham.

Tabela 33 - Teste Qui-Quadrado, para os dois métodos.

Métodos N χ2 de Pearson GL p

Suturas cranianas vs. Sínfise púbica 116 1,742 1 0,187

Estes resultados significam que ambos os métodos se comportaram da mesma forma no

que concerne à estimativa da idade à morte em indivíduos idosos, i. e., ambos foram

falíveis e pouco úteis para este fim.

Pelo facto de os dois métodos se basearem em indicadores da idade diferentes, que

geram tipos de dados diferentes (ordinais e não ordinais), não foi possível a realização

de mais testes estatísticos para uma comparação mais extensa dos referidos métodos. No

entanto, foi possível efectuar comparações entre os resultados obtidos em cada um dos

estudos, expostas e analisadas no subcapítulo Discussão e no capítulo Conclusões, do

presente trabalho.

Page 143: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

124

4.2 DISCUSSÃO

Efectuar estimativas de idade à morte em indivíduos adultos é um dos passos fundamen-

tais no estudo de restos esqueléticos humanos. Mas é, igualmente, um dos maiores e

mais difíceis problemas da Antropologia Biológica e, sobretudo, da Antropologia

Forense (Masset, 1982), pois, para que a estimativa seja fiável, é necessário que as

metodologias aplicadas sejam válidas (i.e., precisas, exactas e reprodutíveis). Os estudos

em que os investigadores ignoram, ou preferem ignorar, que não existe uma relação

linear entre a idade cronológica e os indicadores da idade num indivíduo, descurando a

variabilidade complexa dos processos de envelhecimento, são demasiado frequentes.

Naturalmente, estes procedimentos irão introduzir erros logo no processamento dos

dados, uma vez que os métodos estatísticos seleccionados irão ser, à partida, desade-

quados (Corsini et al., 2005).

A reiterabilidade dos resultados obtidos pelo mesmo investigador que afere, estatistica-

mente, dois ou mais conjuntos de observações, realizadas em alturas distintas, aponta

para o erro intra-observador. O erro inter-observador remete, por sua vez, à reiterabili-

dade dos dados alcançados por investigadores diferentes, que observaram as mesmas

quantidades (Cardoso, 2000; Weinberg et al., 2005).

O erro intra-observador obtido entre a primeira e a segunda leitura alcançou, de uma

forma geral, valores demasiado elevados (13,79%; 20,69% e 16,38%, para as suturas

coronal, sagital e lambdóide, respectivamente). Porém, estes valores diminuíram signi-

ficativamente entre a segunda e a terceira leituras, situando-se, assim, dentro do limite

proposto de 10% (9,48% para as suturas coronal e sagital e 6,03% para a lambdóide),

permitindo à autora continuar com o trabalho de investigação. Este facto comprova, não

Page 144: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

125

só que a experiência do investigador é útil, mas verdadeiramente indispensável. Houve,

pois, uma progressão positiva na análise das suturas por parte da investigadora, evo-

luindo de “Razoável” para “Boa”, na leitura da sutura coronal; e de “Boa” para “Muito

Boa” na leitura das suturas sagital e lambdóide. As referidas classificações foram atri-

buídas através da interpretação do valor de kappa calculado.

Apesar da melhoria entre observações, os elevados valores das percentagens de erro

intra-observador obtidos indicam, desde logo, que o método empregue é subjectivo.

Quando se faz a avaliação do erro entre dois observadores diferentes, os valores obtidos

corroboram as noções relatadas anteriormente, i.e., devido ao facto de Vieira (2010) não

possuir o mesmo período de treino que a autora, que acabou por se provar essencial,

registou-se uma percentagem de concordância (%C), substancialmente, menor. Os valo-

res do erro ficaram bem acima do limite de 10% (previamente estipulado): 15,91%;

13,64% e 36,36% para a suturas coronal, sagital e lambdóide, respectivamente. Este

facto, associado à subjectividade inerente ao próprio método, tornam-no pouco útil para

ser empregue por investigadores com pouca experiência neste tipo de observações.

Como Lovejoy e colegas (1985) constataram, existem duas grandes fontes de erro em

qualquer estimativa da idade à morte: a variação inerente ao processo biológico de

envelhecimento e a perícia do investigador em estimar a idade biológica do indivíduo

desconhecido. Com tão-somente duas análises estatísticas (cálculo do erro intra- e inter-

observador) foi possível verificar isso mesmo.

A classificação atribuída aos valores da estatística kappa obtidos por Vieira (2010) foi

de “Boa” para as suturas coronal e sagital, e de “Razoável” para a sutura lambdóide,

numa gama de interpretações que vai desde “Nula” até “Excelente”, permitindo afirmar

que não são resultados nada positivos.

Page 145: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

126

Pelos fundamentos expostos, é possível inferir que o método de estimativa da idade à

morte através do encerramento das suturas cranianas possui fraca reiterabilidade (tanto

por investigadores diferentes, como pelo mesmo investigador, em observações diferen-

tes).

No total da amostra, a percentagem de diagnósticos incorrectos foi bastante superior à

de diagnósticos correctos, o que, numa abordagem muito superficial, mostra a falibili-

dade e baixa precisão da metodologia empregue.

Objectivando por sutura, a percentagem de diagnósticos correctos foi muito próxima

para as três suturas observadas, o que indica que o método se comportou de forma idên-

tica nas três, i.e., produziu demasiados erros de diagnóstico etário. Todavia, o encerra-

mento nas suturas coronal e sagital mostrou ser, ligeiramente, mais congruente com a

idade à morte real, que na sutura lambdóide; tendo-se obtido 44 acertos contra 36 desta

última, do total de 116 indivíduos que compõem a amostra. Não obstante as duas sutu-

ras (coronal e sagital) terem apresentado maior número de acertos que a sutura lamb-

dóide, estas não se mostraram úteis ou suficientemente exactas, para poderem ser consi-

deradas bons indicadores da idade à morte.

Com a aplicação do teste de Wilcoxon pretendeu-se aferir se as observações efectuadas

pela autora providenciaram resultados semelhantes aos dados fornecidos pelas folhas de

registo individual dos indivíduos facultadas pelo Museu, ou seja, se as classes etárias

que foram atribuídas através da observação e classificação do encerramento das suturas

cranianas correspondem às classes etárias reais a que os indivíduos pertencem.

Obtiveram-se, então, valores não significativos no teste de Wilcoxon quando se testou a

diferença entre diagnósticos correctos e incorrectos, nas suturas coronal e sagital. Estes

Page 146: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

127

resultados podem ser explicados devido à proximidade entre os empates (ties) e os

ranks positivos, na sutura sagital; e entre os empates e os ranks negativos, na sutura

coronal.

Este teste estatístico permite ainda averiguar quantos indivíduos foram correctamente

classificados através do método do encerramento das suturas (empates) e em quantos

este método subestimou (ranks negativos) ou sobrestimou (ranks positivos) a idade.

Na sutura lambdóide, o método mostrou uma tendência muito vincada para subestimar a

idade dos indivíduos, o que se traduziu na atribuição de uma idade inferior à idade real

destes. Esta sutura encontrava-se, na maioria das vezes, aberta e foi a única sutura à qual

foi atribuído um grau 0 (zero) de encerramento, o que não corresponde ao esperado,

pois, em indivíduos com idade superior ou igual a 55 anos, é expectável que esta sutura

se encontre quase, ou totalmente, obliterada. Pode inferir-se que esta sutura não é, de

todo, um bom indicador da idade, porque a sua observação conduziu a uma elevada per-

centagem de diagnósticos erróneos. Acsádi e Nemeskéri (1970) atestaram isso mesmo,

ao verificarem que esta sutura se encontrava aberta em indivíduos com 70 anos, por

exemplo.

Um método que apresenta uma percentagem de diagnósticos errados superior a 60% não

pode tratar-se, evidentemente, de um bom método de análise. Se se tivesse procedido à

distribuição dos indivíduos, ao acaso, pelas três classes etárias estabelecidas, a probabi-

lidade de acerto seria de 33%, não muito longe da que, efectivamente, se obteve com o

método do encerramento das suturas cranianas. Acrescente-se, ainda, que este valor se

situa acima de vários dos resultados obtidos com algumas suturas, para determinados

grupos etários.

Page 147: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

128

A inconsistência existente entre estudos anteriores relativamente à presença, ou não, de

dimorfismo sexual no encerramento das suturas cranianas, parece tornar-se bem clara

neste trabalho. A sutura coronal e a sutura sagital não mostraram diferenças entre os

sexos, i.e., não classificaram de forma mais eficaz o sexo feminino ou o masculino, ape-

sar de não funcionarem bem em nenhum dos casos. A sutura lambdóide mostrou indí-

cios de dimorfismo sexual. É de notar que os diagnósticos errados rondaram os 65%

(em média) para ambos os sexos, fazendo sobressair, uma vez mais, a falibilidade do

método empregue. Estes resultados levam a concluir que a diferença entre sexos é

meramente estatística e não tem relevância biológica. Entre os investigadores que afir-

mam que existe dimorfismo sexual no encerramento das suturas cranianas encontram-se

Welcker e Dwight, ainda no séc. XIX; no séc. XX, Parsons e Box (1905), Frédéric

(1906), Baker (1984), Hershkovitz e colegas (1997), Masset (1982) e Nawrocki (1998).

Singer (1953), Perizonius (1984) e Key e colegas (1984), obtiveram resultados consis-

tentes com a não existência de diferenças entre o sexo feminino e o sexo masculino.

De uma forma geral, o método aplicado neste estudo, através da observação da sutura

lambdóide, mostrou uma tendência muito vincada para subestimar a idade dos indiví-

duos, tanto nos homens como nas mulheres. Quer através da sutura coronal, quer da

sagital, o método exibiu uma propensão para subestimar a idade dos indivíduos do sexo

feminino. Os indivíduos do sexo masculino foram sobrestimados em termos de idade,

quando se aplicou o método do encerramento das suturas cranianas à sutura sagital;

porém, através da leitura da sutura coronal, a idade destes indivíduos tanto foi sobresti-

mada como subestimada.

Ao fazer-se a abordagem do estudo em questão por grupos etários, os resultados conti-

nuam a demonstrar que a metodologia usada é extremamente ineficaz, pois a percenta-

Page 148: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

129

gem de diagnósticos correctos, independentemente da classe etária a que se refira, foi

diminuta.

Registou-se, para cada uma das classes etárias, uma sutura (diferente) que pode ser con-

siderada como a menos falível (pois, apesar disso, os resultados apresentados foram

igualmente medíocres). Na classe etária dos 55-64 anos, a sutura lambdóide classificou

57% dos indivíduos correctamente, ficando acima das percentagens das duas outras

suturas. Pode-se explicar este resultado se se tiver em conta a tendência que a sutura

lambdóide mostrou em encerrar mais tardiamente que as outras, daí que tenha sido no

grupo etário dos mais jovens que esta sutura obteve os melhores resultados. A sutura

coronal registou 67% de diagnósticos correctos no grupo etário intermédio (65-74

anos), enquanto nos indivíduos com mais de 75 anos, foi a sutura sagital a menos má,

com 45% de acertos.

Nos grupos etários dos indivíduos mais jovens, o método aplicado denotou tendência

para sobrestimar a idade dos indivíduos, resultados verificados em todas as suturas. O

método subestimou a idade de todos os sujeitos com mais de 75 anos, a classe etária dos

mais idosos, também nas três suturas. Para os indivíduos pertencentes ao grupo etário

intermédio (65-74 anos), o encerramento das suturas cranianas tanto subestimou (no

caso da lambdóide), como sobrestimou (no caso da sagital) a idade. A sutura coronal,

para o grupo intermédio, não mostrou resultados com significância estatística, o que

poderá, porventura, dever-se ao facto de o número de sobrestimações ser bastante pró-

ximo do número de subestimações.

Este padrão de antagonismo entre as sobrestimações da idade nos indivíduos jovens e

subestimações nos mais idosos, pode ser compreendido se for levado em consideração

que o grau de encerramento das suturas, nos grupos mais jovens, tende a ser muito simi-

Page 149: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

130

lar ao grau de encerramento encontrado em sujeitos mais velhos, com variações insigni-

ficantes; e o método adoptado para esta investigação não possui precisão suficiente para

que seja possível fazer a correcta estimação.

O método de avaliação do grau de encerramento das suturas cranianas revelou-se pouco

específico, resultado que advém, também, do facto de as classes etárias serem excessi-

vamente amplas. Parafraseando Corsini et al. (2005:1):

“Existe uma tendência sistemática para sobrestimar a idade dos jovens e subestimar a

dos idosos. Dado que a correlação entre os dados biológicos e a idade é baixa, represen-

ta uma limitação fundamental a esta técnica preditiva.”

Uma vez mais, se observa que a técnica estudada não se comportou de forma similar em

diferentes grupos etários; a tendência para errar na estimativa da idade à morte foi uma

constante.

A divisão em segmentos das suturas pode constituir uma fonte de erro, pois para além

da subjectividade na atribuição do grau de encerramento do segmento, existi também a

subjectividade associada aos limites exactos do referido segmento. Desvios de um

milímetro num segmento podem introduzir um erro que se vai estender a outros seg-

mentos, e assim sucessivamente.

A escala de cinco graus aplicada para a classificação do encerramento das suturas reve-

lou-se, identicamente, muito subjectiva e pouco precisa. Por exemplo, a atribuição de

um grau 1 implica que exista até 49% de encerramento, o grau 2 deve ser atribuído a um

segmento que possua 50% de encerramento. Mas, de que forma é possível ao observa-

dor fazer a distinção entre 49% e 50% de encerramento e atribuir, sem erro, o grau cor-

recto ao segmento?

Page 150: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

131

São demasiadas as potenciais fontes de erro associadas a esta metodologia particular.

A correlação é uma técnica exploratória usada para testar se os valores de duas variáveis

estão relacionados significativamente, i.e., se os valores de ambas variam juntos de for-

ma consistente (McKillup, 2005).

As três suturas avaliadas no presente trabalho exibem correlações classificadas como

“elevadas” entre si (segundo a escala de Cohen, 1988), o que, manifestamente, indica

um padrão de encerramento similar para todas elas. Claro que se se atender aos valores,

per se, verifica-se que estes se encontram bastante afastados do valor ideal igual a um,

onde as correlações seriam perfeitas. Esta análise de correlação significa, simplesmente,

que o encerramento das suturas cranianas observadas se correlaciona entre elas,

demonstrando assim que existe um padrão de encerramento comum a todas suturas.

A correlação entre os scores obtidos através da observação do grau de encerramento das

suturas cranianas e a alocação dos indivíduos nos grupos etários pré-determinados, pro-

vou ser inexistente no caso das suturas sagital e lambdóide e “fraca” no caso da sutura

coronal.

Na verdade, a fraca ou inexistente correlação entre o encerramento das suturas cranianas

e a atribuição de um grupo etário aos indivíduos com base neste, encontram-se bem

documentadas na literatura, sendo vários os autores que concordam com esta premissa.

Logo no ano de 1862, o alemão Welcker, apesar de ter considerado o método de estima-

tiva da idade à morte com base no encerramento das suturas cranianas promissor, julgou

que produzia resultados altamente contraditórios. Topinard (1885) mostrava-se céptico

em relação à existência de uma correlação entre a idade e o encerramento das suturas e

Dwight (1890) considerou que se tratava de um processo irregular e sem valor indicati-

Page 151: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

132

vo da idade. Já no séc. XX, Parsons e Box (1905) mostraram-se concordantes com os

seus antecessores; em 1906, Frédéric afirmava ser impossível fazer estimativas com

graus de precisão inferiores a 10 anos. Cattaneo (1937) concluiu que o grau de encerra-

mento das suturas cranianas se tratava apenas de um indicador sugestivo da idade e dois

anos depois, Hrdlicka (1939) explicou que sim, era uma técnica fiável, mas apenas para

intervalos de 9 anos acima e abaixo da idade prevista. Singer, em 1953, foi mais longe e

classificou o método de perigoso e duvidoso. No estudo de 1957, McKern e Stewart,

concluíram que era uma técnica demasiado errática e incerta e que possuía pouca utili-

dade, tanto como evidência directa da idade, como apenas para mero indicador de apoio.

Masset (1982), seguindo esta torrente de dúvidas e cepticismo, obteve no seu estudo,

resultados pouco fiáveis e pouco precisos, com correlações baixas. Também Perizonius

(1984) obteve correlações muito fracas, ou mesmo, inexistentes nos indivíduos idosos, o

que corrobora os resultados obtidos pela autora, no presente trabalho. Mais recentemen-

te, Hershkovitz (1997) e Nawrocki (1998), consideraram a aplicação do encerramento

das suturas cranianas como muito limitada na estimativa da idade e, apesar de Nawrocki

ter obtido correlações moderadas, os desvios associados foram entre 9 e 21 anos. Até

mesmo Todd e Lyon (1955), fervorosos adeptos da utilização deste método, considera-

ram existir correlação com a idade, somente, quando a amostra é grande e não a nível

individual.

Analisando as relações entre as suturas de outra perspectiva, o teste de correlação de

Spearman permitiu averiguar que existem correlações, estatisticamente, significativas

entre todas as suturas estudadas, no que se refere aos diagnósticos correctos e incorrec-

tos. As suturas que melhor se correlacionam são as suturas coronal e sagital, provavel-

mente, por os segmentos destas suturas possuírem graus de encerramento mais próxi-

Page 152: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

133

mos entre si, do que os segmentos da sutura lambdóide, que se correlacionou de forma

moderada com as outras duas suturas. Porém, apesar de a sutura sagital e a sutura coro-

nal terem apresentado o mesmo grau de precisão (mesmo número de diagnósticos cor-

rectos), não avaliaram correctamente os mesmos indivíduos, o que se traduz num factor

negativo a acrescer aos já imputados ao método estudado.

Torna-se claro que, apesar de a escala de classificações considerar os valores das corre-

lações obtidas pela autora como elevadas ou moderadas, estas estão muito longe do que

seria conveniente para se poder sugerir que esta metodologia é fiável na estimativa da

idade à morte.

De uma forma geral, os dados não se coadunam com as expectativas iniciais. Seria, por

exemplo, expectável que um indivíduo com idade superior a 75 anos possuísse as sutu-

ras cranianas completamente obliteradas, não obstante, tal não se verificou na maioria

das observações feitas para este trabalho; houve registo de indivíduos com graus de

encerramento 0 ou 1 e idades reais superiores a 70 anos; situação análoga constatada por

Perizonius, no seu estudo em 1984, por exemplo. Da mesma forma, surgiram indivíduos

com idades inferiores a 60 anos que apresentavam suturas com graus de encerramento

de 3 ou 4, valores que se encontram muito distanciados dos esperados. O subcapítulo

4.1.6 deste trabalho, onde foi feita a análise do método através de caixas de bigodes,

comprova, estatisticamente, estas observações, de resto, pouco prováveis. Todos os tes-

tes estatísticos aplicados aos dados recolhidos corroboram a asserção que o método de

estimativa da idade à morte através do encerramento das suturas cranianas se trata de

um método pouco específico, demasiado subjectivo e não fiável. As suturas cranianas

são estruturas com características muito variáveis que seguem um padrão de encerra-

mento inconstante e mutável de indivíduo para indivíduo.

Page 153: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

134

O método aplicado neste trabalho revelou-se menos falível para grupos etários intermé-

dios (como, de resto, mostram os resultados), onde os valores estimados se aproximam

mais dos registos reais dos indivíduos. Este tipo de resultado em nada é surpreendente,

pois as suturas apresentam-se, mais frequentemente, com algum grau de abertura, ou

seja, nem totalmente abertas, nem totalmente encerradas. Desta forma e, como a maioria

dos indivíduos pertence a grupos etários intermédios, será, certamente, mais plausível

que os indivíduos sejam posicionados nestes mesmos grupos etários. Se a alocação dos

indivíduos tivesse sido efectuada de forma aleatória, os resultados obtidos não teriam

sido, possivelmente, muito diferentes, porquanto o método, em nenhuma das análises,

se mostrou preciso ou exacto.

Aquando da realização do presente trabalho, bem como do estudo simultâneo de Vieira

(2010), um dos objectivos primordiais estabelecido foi perceber se os dois métodos

empregues tinham uma qualquer relação entre si e, em caso afirmativo, qual seria. Fina-

lizados os dois trabalhos, verificou-se que não existe correlação entre os dois métodos

aplicados.

A associação dos dois métodos significaria somar os erros próprios de cada um deles,

diminuindo ainda mais a sua capacidade de estimar a idade à morte, de resto, já bastante

limitada. Portanto, não existe benefício em conjugar os resultados do encerramento das

suturas cranianas com os do método de Suchey-Brooks, utilizando os métodos de forma

individual, para proceder à estimativa da idade à morte em indivíduos com mais de 55

anos.

Analisando os grupos etários, aquele que obteve piores resultados nas estimativas da

idade efectuadas através de um e outro método foi o grupo dos 85 aos 94 anos (para

ambos os métodos). Aqui, uma vez mais, os resultados combinados sugerem que o

Page 154: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

135

diagnóstico da idade à morte é extremamente difícil, sobretudo nos grupos etários dos

indivíduos mais idosos. Quanto ao grupo etário que registou maior número de diagnós-

ticos correctos, não foi o mesmo para o métodos das suturas cranianas e para o método

de Suchey-Brooks. De qualquer forma, saber para qual dos grupos etários os métodos

funcionam melhor é, de certa forma, irrelevante na prática forense, pois, se o objectivo é

estimar a idade, não se irá, certamente, utilizar um método que funcione (e, mesmo

assim, mal) exclusivamente para um determinado grupo etário, uma vez que, tal envol-

veria saber de antemão a que grupo etário pertenceria o indivíduo a ser analisado.

Fica por responder a questão se seria benéfico empregar os dois métodos, mas na medi-

da em que um complementasse o outro na estimativa da idade do mesmo indivíduo, ou

seja, aplicando os dois métodos conjuntamente, fazendo uso dos aspectos mais positivos

de cada um, de forma a que pudessem superar mutuamente as grandes falhas que ambos

apresentam. Recorrendo à literatura, sugere-se que tal seria teoricamente possível, pois

são inúmeros os investigadores que recomendam uma abordagem multifactorial quando

se trata de estimar a idade em restos esqueléticos (e.g. Brooks, 1955; McKern, 1957;

Acsádi & Nemeskéri, 1970; Meindl & Lovejoy, 1985; Key et al., 1994)

São muitos os métodos existentes, actualmente, para a estimativa da idade à morte,

sobretudo em indivíduos adultos. Porém, todos eles, sem excepção, apresentam limita-

ções. Estas tornam-se, efectivamente, patentes quando as técnicas são testadas fora da

população na qual foram desenvolvidas. Os métodos que, inicialmente, poderiam apre-

sentar bons resultados e boas relações com a idade, tornam-se falíveis, pouco fiáveis e

inexactos (Maples, 1989). Como já foi citado, Todd e Lyon (1955) alegaram mesmo

Page 155: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

136

que a metodologia usada no presente estudo não devia ser aplicada a amostras indivi-

duais. Tudo isto se agrava quando se trata de estimar a idade à morte em indivíduos com

mais de 55 anos (Perizonius, 1984; Schmitt, 2002; Martrille et al., 2007; Cunha et al.,

2009).

Page 156: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

137

V. CONCLUSÕES

Page 157: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

138

Page 158: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

139

CONCLUSÕES

O encerramento das suturas cranianas é um método relativamente simples de empregar,

mesmo por observadores inexperientes (Schmitt et al., 2006), mas a conclusão que

Masset retirou do seu estudo é muito debatida: a relação entre a idade cronológica e o

encerramento das suturas é meramente estatística (Masset, 1982). A veracidade desta

afirmação pode ser questionada, mais ainda se a metodologia aplicada para procurar

esse graal da Antropologia que é a determinação da idade à morte, for diferente da de

Masset (e, mesmo, da da própria autora).

Este trabalho representou uma tentativa de trazer alguma luz à relação idade/ encerra-

mento das suturas cranianas. Quando aqui se faz uso do pretérito e da palavra tentativa,

talvez seja porque as perguntas ainda suplantem as respostas.

Schmitt et al. (2006 referem que se trata de um método simples; de facto, é um método

extremamente simples, porém, conclui-se que a experiência do investigador é um factor

fundamental para que as estimativas finais sejam precisas e exactas, visto que o método

se comporta de forma pouco fiável, per se, mesmo quando aplicado por investigadores

experientes. As percentagens de diagnósticos correctos obtidas para qualquer uma das

suturas foram de tal forma fracas, que, por si só, se tornam num parâmetro desencoraja-

dor para a utilização desta técnica de estimativa da idade.

Embora seja uma ajuda imprescindível, a experiência do observador não elimina todas

as fontes de erro (Ferembach et al., 1979).

Porém, há sempre que se ter uma certa prudência quando se fazem reflexões deste géne-

ro, pois a actualidade e os estudos efectuados mais recentemente provaram que o encer-

ramento das suturas cranianas se encontra, verdadeiramente, relacionado com a idade,

Page 159: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

140

existindo, efectivamente, uma tendência para a obliteração com o decorrer da vida. Mas

qual é o teor dessa relação? Qual é a forma do tão procurado graal? Será essa relação

assaz significativa para que a Antropologia confie nela a tarefa de estimar a idade à

morte em contextos forenses?

O conjunto dos resultados alcançados com o método de estimativa da idade à morte em

indivíduos idosos com base no encerramento das suturas cranianas, permitiu ainda

alcançar as seguintes conclusões:

A existência de dimorfismo sexual no encerramento das suturas cranianas foi um

parâmetro para o qual o método revelou grande incongruência, não sendo possível reti-

rar conclusões que se possam estender a toda a amostra.

As três suturas avaliadas revelaram-se muito fracas para a estimativa da idade, não

havendo nenhuma delas que se evidenciasse de forma positiva, ou seja, nenhuma das

suturas funcionou de modo aceitável para as classes etárias da amostra, mormente nos

indivíduos mais idosos, para os quais as suturas exibiram resultados que se podem qua-

lificar de miseráveis.

O processo de divisão das suturas por segmentos pode revelar-se ambíguo, pois, por

um lado, permite ao investigador ser mais minucioso na avaliação da sutura, uma vez

que esta estrutura não apresenta um grau de encerramento uniforme de extremidade a

extremidade. Mas, por outro lado, pode tornar-se noutra fonte de erro e desviar os resul-

tados da realidade, ao existirem mais medições (dados) a serem consideradas. Existiria,

portanto, na opinião da autora, vantagem em segmentar as suturas, porém, este processo

e a sua leitura têm, indubitavelmente, de ser executados com a maior precisão possível.

Page 160: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

141

O crânio, nomeadamente as suturas, como elemento de pesquisa da idade à morte em

indivíduos com mais de 55 anos deve continuar a ser examinado, no entanto, os méto-

dos utilizados para efectuar essas pesquisas devem ser aperfeiçoados, se não mesmo,

renovados e, sobretudo, inovados.

Ainda que, no presente trabalho tenham sido observadas as três principais suturas

cranianas, foi claramente conclusivo que três funcionam melhor que uma e, quantos

mais indicadores forem observados, mais exacta será a estimativa da idade efectuada.

De uma forma geral, a grande conclusão que se retira da elaboração deste trabalho de

investigação é que o encerramento das suturas cranianas se trata de um método tíbio,

impreciso, inadequado e pouco exacto para a estimativa da idade à morte em indivíduos

com mais de 55 anos.

Com isto, não se recomenda a utilização do método do encerramento das suturas crania-

nas para estimar a idade em indivíduos com idades superiores a 55 anos.

Portanto, a procura do graal continua. As metodologias para a estimativa da idade em

Antropologia Forense são técnicas que devem estar em contínua adaptação, conforman-

do-se às exigências crescentes dos novos e tecnológicos tempos.

A comparação entre os dois métodos (das suturas cranianas e de Suchey-Brooks) permi-

tiu concluir que ambos são extremamente falíveis, funcionam mal na estimativa da ida-

de, falhando até nos mesmos grupos etários (o dos indivíduos mais idosos: 85-94 anos);

Page 161: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

142

apesar disso, os grupos etários em que funcionaram menos mal já não se tratam dos

mesmos.

Relativamente aos sexos, o método de Suchey-Brooks mostrou-se menos mau para os

indivíduos do sexo feminino, embora o método do encerramento das suturas cranianas

não exiba diferenças significativas entre os dois sexos, como referido.

Mas porque existem tantas diferenças nas estimativas realizadas pelos dois métodos, se

ambos são métodos de estimativa da idade à morte?

Em teoria, o padrão geral de envelhecimento deveria ser similar entre estruturas orgâni-

cas diferentes, num mesmo indivíduo. No entanto, as diferentes estruturas esqueléticas

possuem ritmos de maturação e envelhecimento dissemelhantes, facto que os diferentes

métodos deveriam levar em conta, de modo a que, no final, a idade estimada para o

mesmo indivíduo, baseada em estruturas diferentes, fosse semelhante. Evidentemente,

os dados sugerem que tal não é o caso, ou seja, na prática, qualquer um dos métodos se

afasta bastante a realidade.

Page 162: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

143

5.1 ESTUDOS PARA O FUTURO

São muitos os métodos desenvolvidos e testados em amostras esqueléticas do passado,

com grandes dimensões ou não, mas sempre com mais de dois ou três indivíduos. Nes-

sas amostras, os referidos métodos, provavelmente, apresentarão bons resultados e

poderão até funcionar em contextos paleontológicos. Contudo, quando se tenta transpor

o mesmo método para um caso forense, este falha rotundamente.

Esta seria, pois, uma das áreas a desenvolver num futuro próximo, pois a Antropologia

Forense encontra-se, verdadeiramente, em falta de metodologias fiáveis, exactas e apro-

priadas para a estimativa da idade à morte, sobretudo em indivíduos com mais de 55

anos.

Sugere-se, portanto, uma ideia já alentada por muitos investigadores: o futuro da esti-

mativa da idade à morte encontra-se numa abordagem multifactorial (Ferembach, et al.,

1979; Meindl & Lovejoy, 1985; Maples, 1989; Brooks & Suchey, 1990; Klepinger, et

al., 1992). Recomenda-se a observação e análise do maior número possível de indicado-

res de idade, no maior número possível de ossos; ainda que não sejam todos eles os

indicadores principais para a estimativa, podem funcionar como auxiliares por forma a

que a estimativa da idade do indivíduo seja mais exacta. Idealmente, seria assim, apesar

de que na realidade forense, tal facto quase nunca seja praticável. Ainda assim, é uma

ideia que não se devia desatender, mesmo que, meramente, para a elaboração de méto-

dos de estudo. Com este tipo de abordagem é necessário ser-se muito cuidadoso em

termos de não permitir que, em vez de funcionarem como auxiliares, os indicadores

funcionem como acúmulos de fontes de erro (Schmitt, 2002). Também a selecção dos

indicadores a conjugar deve ser feita com a maior prudência, pois há imensos factores a

ter em conta, designadamente, a variabilidade dos fenómenos de senescência das dife-

rentes partes do esqueleto.

Page 163: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

144

A abordagem multifactorial é um terreno ainda muito casto, requer ainda muita investi-

gação para que se possam aperfeiçoar as técnicas e os indicadores utilizados, e maximi-

zar de forma positiva a sua conjugação.

Fica também a sugestão para o estabelecimento de padrões baseados em populações de

referência mais recentes, melhor documentadas – colecções osteológicas identificadas

mais aproximadas à população e hábitos actuais, com a utilização de técnicas mais fiá-

veis e amostras de maiores dimensões.

O encerramento das suturas cranianas como indicador da idade à morte não comportou,

apesar de toda a controvérsia e opiniões divergentes, um decréscimo no interesse do seu

estudo. Mais ainda, todo o antagonismo subjacente a este indicador conduziu as novas

gerações a empenharem-se na procura de explicações. Uma das grandes razões para esta

contínua busca baseia-se na falta de conhecimento das relações estruturais e funcionais

das suturas. Investigações nesta área poderiam, com certeza, impulsionar os métodos de

estimativa da idade baseados nestes indicadores e, além disso, trazer alguma informa-

ção/conhecimento à relação entre a idade e o encerramento das suturas.

A aplicação da tecnologia à Antropologia Forense e a este problema, em específico,

como por exemplo, a utilização de tomografias computorizadas ou imagens digitais,

pode ser uma ferramenta muito útil para que haja uma (necessária) evolução.

Page 164: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

145

VI. REFERÊNCIAS

Page 165: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

146

Page 166: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

147

REFERÊNCIAS

-A-

ABFA - American Board of Forensic Anthropology. 2008. (citado a 25 Janeiro 2011) disponível em:

http://www.theabfa.org/.

ACSÁDI, G. Y.; NEMESKÉRI, J. 1970. History of Human Life Span and Mortality. Budapest.

Akadémiai Kiadó.

ALBANESE, J.; SAUNDERS, S. R. 2006. Is It Possible to Escape Racial Typology in Forensic

Identification? In: Forensic Anthropology and Medicine: Complementary Sciences from Recovery to

Cause of Death. SCHMITT, A.; CUNHA, E.; PINHEIRO, J. (Eds.) Humana Press. New Jersey.

ANTONISAMY, B.; CHRISTOPHER, S.; SAMUEL, P. P. 2010. Biostatistics: principles and prac-

tice. Tata McGraw Hill. New Deli.

Apontamentos de Estatística do Curso de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro, 2010.

ASHLEY-MONTAGU, M. F. 1938. Aging of the skull. American Journal of Physical Anthropolo-

gy, 23(3):355–375.

ATTWOOD, G.; DYER, G.; SKIPWORTH, G. 2000. Statistics, Volume 1. Heinemann Educational

Publishers. Oxford.

-B- BACCINO, E.; SCHMITT, A. 2006. Adult Age at Death. In: Forensic Anthropology and Medicine:

Complementary Sciences from Recovery to Cause of Death. SCHMITT, A.; CUNHA, E.; PINHEIRO, J.

(Eds.) Humana Press. New Jersey.

BAER, M. J. 1973. Growth and Maturation: An Introduction to Physical Development. H. A. Doyle

Pub. Co.

BAFO – The British Association for Forensic Odontology. 2002. (citado a 25 Março 2011) disponí-

vel em: http://www.bafo.org.uk/guide.php.

BAKER, R. K. 1984. The Relationship of Cranial Suture Closure and Age Analyzed In a Modern

Multi-Racial Sample of Males and Females. Thesis for the Degree Master of Arts in Anthropology. Ful-

lerton, California State University.

BASS, W. 1979. Developments in the identification of human skeletal material (1968-1978). Amer-

ican Journal of Physical Anthropology 51:555-562.

Page 167: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

148

BASS, W. 1986. Forensic Anthropology: The American Experience. In: Death, Decay and Recon-

struction. Boddington et al. (Eds).

BEAUTHIER, J-P.; LEFEVRE, P.; MEUNIER, M.; ORBAN, R.; POLET, C.; WERQUIN, J-P.;

QUATREHOMME, G. 2010. Palatine sutures as age indicator: a controlled study in the elderly. J Foren-

sic Sci 55(1):153-158.

BERG, G. E. 2008. Pubic bone age estimation in adult women. J Forensic Sci 53(3):569-577.

BOCQUET, J. P.; MAIA, N. A.; ROCHA, A. T. da; MORAIS, H. X. de. 1979. Estimation de l‟âge

aux décès des squelettes d‟adultes par régressions multiples. Contribuições para o Estudo da Antropologia

Portuguesa 10(3):107-167.

BOLK, L. 1915. On the premature obliteration of sutures in the human skull. American Journal of

Anatomy 17:495-523.

BROCA, P. 1861. Sur le volume et la forme du cerveau suivant les individus et suivant les races.

Bull. Soc. Anthrop. Paris. II:139-207.

BROOKS, S. T. 1955. Skeletal age at death: Reliability of cranial and pubic age indicators. Ameri-

can Journal of Physical Anthropology 13:567-597.

BROOKS, S. T.; SUCHEY, J. M. 1990. Skeletal age determination based on the os pubis: a compar-

ison of the Acsádi-Nemeskéri and Suchey-Brooks methods. Human Evolution 5(3):227-238.

BRUZEK, J.; MURAIL, P. 2006. Methodology and Reliability of Sex Determination from the Ske-

leton. In: Forensic Anthropology and Medicine: Complementary Sciences from Recovery to Cause of

Death. SCHMITT, A.; CUNHA, E.; PINHEIRO, J. (Eds.) Humana Press. New Jersey.

BUIKSTRA, J. E.; UBELAKER, D. H. 1994. Standards for data collection from human skeletal re-

mains. Arkansas archeological survey research series No. 44. Fayetteville, Arkansas.

BYRT, T. 1996. How good is that agreement? Epidemiology 7(5):561.

-C- CAMPS, G. 1979. Manuel de Recherche Préhistorique. Paris, Doin, IX.

CARDOSO, H. 2000. Dimorfismo sexual na estatura, dimensões e proporções dos ossos longos e

membros: o caso de uma amostra Portuguesa dos séculos XIX-XX. Tese de Mestrado em Evolução

Humana. Coimbra: Departamento de Antropologia, Universidade de Coimbra.

CARDOSO, H. 2005. Patterns of growth and development of the human skeleton and dentition in

relation to environmental quality: a biocultural analysis of a 20th century sample of Portuguese subadult

skeletons. PhD Thesis in Anthropology. Hamilton, McMaster University.

Page 168: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

149

CARDOSO, H. 2006. Brief communication: The collection of identified human skeletons housed at

the Bocage Museum (National Museum of Natural History), Lisbon, Portugal. American Journal of Phys-

ical Anthropology 129:173-176.

CASTILHO, M. A. S.; ODA. J. Y.; SANT'ANA, D. M. G. 2006. Metopism in adult skulls from

southern Brazil. Int. J. Morphol., 24(1):61-66.

CATTANEO, C.; BACCINO, E. 2002. A call for forensic anthropology in Europe. Int J Legal Med

116:N1–N2.

CATTANEO, L. 1937. Las suturas craneanas en la determinación de la edad. Examen de 100

cráneos. Rev. de la Assoc. Med. Argent 50:387-397.

COBB, M. W. 1952. Skeleton. In: Cowdry’s Problems of Aging. 2nd ed. LANSING, A.I. (Ed.). Bal-

timore.

COHEN, J. 1988. Statistical Power Analysis for the Behavioural Sciences. New Hillsdale. Lawrence

Erlbaum Associates Inc. Publishers.

CORSINI, M-M.; SCHMITT, A.; BRUZEK, J. 2005. Aging process variability on the human skele-

ton: artificial network as an appropriate tool for age at death assessment. Forensic Science International

148:163-167.

CUNHA, E.; BACCINO, E.; MARTRILLE, L.; RAMSTHALER, F.; PRIETO, J.; SCHULIAR, Y.;

LYNNERUP, N.; CATTANEO, C. 2009. The problem of aging human remains and living individuals: A

review. Forensic Sci. Int., doi:10.1016/j.forsciint,2009.09.008.

CUNHA, E.; CATTANEO, C. 2006. Forensic Anthropology and Forensic Pathology: The State of

the Art. In: Forensic Anthropology and Medicine: Complementary Sciences from Recovery to Cause of

Death. SCHMITT, A.; CUNHA, E.; PINHEIRO, J. (Eds.) Humana Press. New Jersey.

CUNHA, E.; WASTERLAIN, S. 2007. The Coimbra Identified Skeletal Collections. In: Skeletal Se-

ries and their Socio-Economic Context. GRUPE, G.; PETERS, J. (Eds.). Rahden/Westf, Verlag Marie

Leidorf GmbH, pp. 23-33.

CURATE, F. 2005. Pressentindo o Silêncio - A perda de osso relacionada com o envelhecimento na

Colecção de Esqueletos Identificados do Museu Antropológico. Tese de Mestrado em Antropologia Bio-

lógica. Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra

CURATE, F. 2010. O perímetro do declínio: osteoporose e fracturas de fragilidade em três amos-

tras osteológicas identificadas portuguesas. Tese de Doutoramento em Antropologia Biológica. Faculda-

de de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra.

Page 169: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

150

-D- DEL SOL, M.; BINVIGNAT, O.; BOLINI, P. D. A.; PRATES, J. C. 1989. Metopismo no individuo

brasileiro. Rev. Paul. Med. 107(2):105-7.

DiGANGI, E. A.; BETHARD, J.D.; KIMMERLE, E. H.; KONINGSBER, L. W. 2009. A new me-

thod for estimating age-at-death from the first rib. Am J Phys Anthrop 138:164-176.

DIRKMAAT, D. C.; CABO, L. L.; OUSLEY, S. D.; SYMES, S. A. 2008. New perspectives in fo-

rensic anthropology. Yearbook of Forensic Anthropology 51:33-52.

DORANDEU, A.; COULIBALY, B.; PIERCECCHI-MARTI, M.; BARTOLI, C.; GAUDART, J.;

BACCINO, E.; LEONETTI, G. 2008. Age-at-death estimation based on the study of frontosphenoidal

sutures. Forensic Science International 177:47–51.

DRAKE, R. L.; VOGL, W.; MITCHELL, A. W. M. 2005. Anatomía para Estudiantes. Elsevier Inc.

DROSG, M. 2009. Dealing with Uncertainties: A Guide to Error Analysis. Springer. New York.

DWIGHT, T. 1890a. The closure of the sutures as a sign of age. Boston Medical Surgery Journal,

122:389-392.

-F-

FALK, D.; KONIGSBERG, L.; HELMKAMP, R. C.; CHEVERUD, J.; VANNIER, M.;

HILDEBOLT, C. 1989. Endocranial suture closure in rhesus macaques (Macaca mulatta). American

Journal of Physical Anthropology 80(4):417-428.

FEREMBACH, D.; SCHWIDETZKY, I.; STLOUKAL, M. 1979. Recommandations pour détermi-

ner l'âge et le sexe sur le squelette. Bulletins et Mémoires de la Société d'Anthropologie de Paris, XIII°

Série, tome 6, fascicule 1, pp. 7-45.

FRANKLIN, D. 2010. Forensic age estimation in human skeletal remains: Current concepts and fu-

ture directions. Legal Medicine 12:1-7.

FRÉDÉRIC, J. 1906. Untersuchungen uber die normale Obliteration der Schädelnähte. Z. Morph.

and Anthrop. 9:373-456.

-G- GALERA, V.; UBELAKER, D. H.; HAYEK, L. C. 1998. Comparison of macroscopic cranial me-

thods of age estimation applied to skeletons from the Terry Collection. J Forensic Sci. 43(5):933–939.

GILL, G.W. 1986. Craniofacial Criteria in the Skeletal Attribution of Race. In:. Forensic Osteology:

Advances in the identification of human remains. 2nd Edition. REICHS, K. J. (Ed). C. Thomas Publisher,

Ltd. Springfield, Illinois.

Page 170: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

151

GIRAUDI, R.; FISSORI, F.; GIACOBINI, G. 1984. The collection of human skulls and postcranial

skeletons at the Department of Human Anatomy of the University of Torino (Italy). American Journal of

Physical Anthropology 65:105-107.

GONÇALVES, G. 2008. No Encalço da Identificação: Avaliação da precisão e exactidão diagnós-

ticas de algumas características morfológicas no crânio. Tese de Mestrado em Medicina Legal e Ciên-

cias Forenses. Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra.

GRATIOLET, P. 1856. Mémoire sur le développement de la forme du crâne de l'homme, et sur

quelques variations qu‟on observe dans la marche de l‟ossification de ses sutures. C.R. Acad. Sc. 43:428-

431.

GRAY, H. Gray´s Anatomy. 2003 Edition. Parragon, UK.

-H- HARPER, G. J.; CREWS, D. E. 2000. Aging, Senescence, and Human Variation. In: Human Biolo-

gy: An Evolutionary and Biocultural Perspective. STINSON, S.; BOGIN, B.; ASHMORE, R. H-;

O‟ROURKE, D. (Eds.).Wiley-Liss Pub. NY.

HARTH, S.; OBERT, M.; RAMSTHALER, F.; REUß, C.; TRAUPE, H.; VERHOFF, M. A. 2009.

Estimating age by assessing the ossification degree of cranial sutures with the aid of Flat-Panel-CT. Legal

Medicine 11:S186–S189.

HAUSER, G.; MANZI, G.; VIENNA, A.; STEFANO, G. de. 1991. Size and shape of human cranial

sutures - A new scoring method. American Journal of Anatomy 190(3):231-244.

HERRING, W. 2008. Mechanical Influences on Suture Development and Patency. In: Craniofacial

Sutures: Development, Disease and Treatment. RICE, D. P. (Ed.) Karger AG. Switzerland.

HERSHKOVITZ, I.; LATIMER, B.; DUTOUR, O.; JELLEMA, L. M.; WISH-BARATZ S.;

ROTHSCHILD, C.; ROTHSCHILD, B. M. 1997. Why do we fail in aging the skull from the sagittal

suture? American Journal of Physical Anthropology 103:393–399.

HRDLICKA, A. 1939. Practical Anthropometry. 2nd ed. (also 3rd and 4th editions edited by T.D.

Stewart). Wistar Institute, Philadelphia.

HUNT, D.; ALBANESE, J. 2005. The history and demographic composition of the Robert J. Terry

Anatomical Collection. The American Journal of Physical Anthropology 127:406-417.

-I- ICD-10: International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems 10th Revi-

sion Version for 2007. 2007. (citado a 23 Outubro 2010) disponível em http://apps.who.int/classifications

/apps/icd/icd10online/.

Page 171: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

152

INE – Instituto Nacional de Estatística. 2007. (citado a 6 Novembro 2010) disponível em

www.ine.pt.

INTRONA, F.; CAMPOBASSO, C. P. 2006. Biological vs. Legal Age of Living Individuals. In: Fo-

rensic Anthropology and Medicine: Complementary Sciences from Recovery to Cause of Death.

SCHMITT, A.; CUNHA, E.; PINHEIRO, J. (Eds.) Humana Press. New Jersey.

İŞCAN, M. Y. 1989. Age Markers in the Human Skeleton. Springfield: Charles C. Thomas Publish-

er, Ltd.

İŞCAN, M. Y.; LOTH, S. R. 1986. Estimation of age and determination of sex from the sternal rib.

In: Forensic Osteology. REICHS, K. J. (ed.). Springfield: Charles C. Thomas Publisher, Ltd.

İŞCAN, M. Y.; LOTH, S. R. 1989. Reconstruction of Life from the Skeleton. Alan R. Liss, Inc.

-J- JASLOW, C. R. 1990. Mechanical properties of cranial sutures. Journal of Biomechanics 23(4):313-

321.

JOHNSTON, F. E.; ZIMMER, L. O. 1989. Assessment of Growth and Age in the Immature Skele-

ton. In: Reconstruction of Life from the Skeleton. İŞCAN, M. Y.; KENNEDY, K. A. R. (Eds.). Liss, New

York. NY.

-K- KATZENBERG, M. A.; SAUNDERS, S. R. 2008. Biological Anthropology of the Skeleton. Wiley

& Sons, Inc., Hoboken, New Jersey.

KEY, C. A.; AIELLO, L. C.; MOLLESON, T. 1994. Cranial suture closure and its implications for

age estimation. International Journal of Osteoarchaeology 4:193-207.

KHANNA, P. C.; THAPA, M. M.; IYER, R. S.; PRASAD, S. S. 2011. Pictorial essay: The many

faces of craniosynostosis. Indian Journal of Radiology and Imaging. (citado a 22 Março 2011) disponível

em: http://www.ijri.org/article.asp?issn=0971-3026;year=2011;volume= 21;issue=1;spage=49;epage=56;

aulast=Khanna.

KLEPINGER, L. L. 2006. Fundamentals of Forensic Anthropology. Wiley & Sons, Inc., Hoboken,

New Jersey.

KLEPINGER, L.; KATZ, D.; MICOZZI, M. S.; CARROLL, L. 1992. Evaluation of cast methods

for estimating age from the os pubis. J Forensic Sci 37:736-770.

KONIGSBERG, L. W.; ROSS, A. H.; JUNGERS, W. L. 2006. Estimation and Evidence in Forensic

Anthropology: Determining Stature. In: Forensic Anthropology and Medicine: Complementary Sciences

Page 172: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

153

from Recovery to Cause of Death. SCHMITT, A.; CUNHA, E.; PINHEIRO, J. (Eds.) Humana Press.

New Jersey.

KROGMAN, W. M. 1930. Studies in growth changes in the skull and face of anthropoids. II. Ecto-

cranial and endocranial suture closure in anthropoids and Old World Apes. American Journal of Anatomy

46(2):315-353.

KROGMAN, W. M. 1962. Skeletal Age: Earlier years, Skeletal Age: Later years I. Suture closure

and skeletal age. In: The Human Skeleton in Forensic Medicine. 1986. KROGMAN, W. M.; İŞCAN, M.

Y. Charles C. Thomas Publisher, Ltd. Springfield, Illinois.

KROGMAN, W. M.; İŞCAN, M. Y. 1986. The Human Skeleton in Forensic Medicine. Charles C.

Thomas Publisher, Ltd. Springfield, Illinois.

-L- LAMENDIN, H.; BACCINO, E.; HUMBERT, J. F.; TAVERNIER, J. C.; NOSSINTCHOUK, R.

M.; ZERILLI, A. 1992. A simple technique for age estimation in adult corpses: the two criteria dental

method. Laboratoire de Biologie Cellulaire et Animale, Faculté des Sciences, Orleans. J Forensic Sci

37(5):1373-1379.

LAMPL, M.; VELDHUIS, J. D.; JOHNSTON, M. L. 1992. Saltation and stasis: A model of human

growth. Science 258:801-803.

LANDIS, J.; KOCH, G. 1977. The measurement of observer agreement for categorical data. Biome-

trics 33: 159-174.

LEWIS, M, E.; FAVEL, A. 2006. Age Assessment of Child Skeletal Remains in Forensic Contexts.

In: Forensic Anthropology and Medicine: Complementary Sciences from Recovery to Cause of Death.

SCHMITT, A.; CUNHA, E.; PINHEIRO, J. (Eds.) Humana Press. New Jersey.

LOVEJOY, C. O.; MEINDL, R. S.; PRYSBECK, T. R.; MENSFORTH, R. P. 1985. Chronological

metamorphosis of the auricular surface of the ilium: a new method for the determination of adult skeletal

age at death. Am J Phys Anthrop 68:15-28.

LOVEJOY, C.; MEINDL, R.; MENSFORTH, R.; BARTON, T. 1985. Multifactorial determination

of skeletal age at death: a method and blind test of its accuracy. Am J Phys Anthrop 68:1-14.

LYNNERUP, N.; JACOBSEN, J. C. 2003. Brief communication: age and fractal dimensions of hu-

man sagittal and coronal sutures. Am J Phys Anthrop 121(4):332-336.

-M- MANN, R. W. 1987. Maxillary Suture Obliteration: A Method for Estimating Skeletal Age. Masters

Thesis, University of Tennessee, Knoxville.

Page 173: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

154

MAPLES, W. 1989. The Practical Application of Age Estimation Techniques. InAge Markers in the

Human Skeleton. . İŞCAN, M. Y. (Ed.). Springfield: Charles C. Thomas Publisher, Ltd.

MAROCO, J. 2007. Análise Estatística com Utilização do SPSS. Edições Sílabo. Lisboa.

MARTRILLE, L. 2006. Comparison between various methods of age estimation in skeletal remains.

Apresentado em: 58th AAFS annual meeting February 20-25

MARTRILLE, L.; UBELAKER, D. H.; CATTANEO, C.; SEGURET, F.; TREMBLAY, M.; BAC-

CINO, E. 2007. Comparison of four skeletal methods for the estimation of age at death on white and

black adults. J Forensic Sci 52(2):302-307.

MASSET, C. 1982. Estimation de l’âge au décès par les sutures crâniennes. Thèse présentée devant

l‟Université Paris VII pour l‟obtention de grade de Docteurs ès-Sciences Naturelles. Paris.

MASSET, C. 1989. Age Estimation on the Basis of Cranial Sutures. In: Age Markers in the Human

Skeleton. İŞCAN, M. Y. (Ed.). Springfield: Charles C. Thomas Publisher, Ltd.

MASSET, C. 1993. Encore l´âge des adultes. Bull et Mém Soc Anthop de Paris t5 :217-224.

MCDONALD, S.; RUSSELL, D. 2005. What did William Hunter know about bone? Clinical Anat-

omy 18:155–163.

MCKERN, T. W. 1970. Estimation of skeletal age from combined maturational activity. American

Journal of Physical Anthropology 15(3):399–408.

MCKERN, T. W.; STEWART, T. 1957. Skeletal age changes in young American males. Quarter-

master Research & Development Command. Technical Report EP-45. Natick, Massachusetts.

McKILLUP, S. 2005. Statistics Explained - An Introductory Guide for Life Scientists. Cambridge

University Press. New York.

MCKINLEY, M.; O'LOUGHLIN, V. D. 2012. Human Anatomy. 3rd Ed. McGraw-Hill Pub. New

York.

MÉDICOS DE PORTUGAL. (citado a 23 Novembro 2010) disponível em: http://medicos deportu-

gal.saude.sapo.pt.

MEINDL, R. S.; LOVEJOY, C. O. 1985. Ectocranial suture closure: a revised method for the de-

termination of skeletal age at death based on the lateral-anterior sutures. American Journal of Physical

Anthropology 68(1):47-56.

MEINDL, R. S.; LOVEJOY, C. O. 1989. Age Changes in the Pelvis: Implications for Paleodemo-

graphy. In: Age Markers in the Human Skeleton. İŞCAN, M. Y. (Ed). Springfield: Charles C. Thomas

Publisher, Ltd.

Page 174: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

155

MEINDL, R. S.; LOVEJOY, C. O.; MENSFORTH, R. 1983. Skeletal age at death: accuracy of de-

termination and implications for human demography. Human Biol. 55(1):73-87.

MIDWEST FORENSICS RESOURCE CENTER at the U.S. Dept. of Energy. (citado a 12 Março

2011) disponível em: http://www.all-about-forensic-science.com/definition-of-forensic-science.html.

MUÑOZ-BARÚS, J.; VIEIRA, D. N. 2009. Forensic Medicine. In: El sistema médico-legal y foren-

se portugués. Cuad Med Forense, 15(57):185-198.

-N- NAWROCKI, S. P. 1998. Regression Formulae for Estimating Age at Death from Cranial Suture

Closure. In: Forensic Osteology: Advances in the Identification of Human Remains (2nd ed.) REICHS, K.

J. (ed.). Charles C. Thomas, Springfield, Illinois.

NAYAK, S. B. 2008. Multiple Wormian bones at the lambdoid suture in an Indian skull. Neuroana-

tomy 7:52–53.

NETTER, F. H. 1999. Atlas de Anatomía Humana – Segunda Edición. Masson S.A. East Hanover,

New Jersey.

-P- PARSONS, F. G.; BOX, C. R. 1905. The relation of the sutures to age. J. Anthrop. Inst., 35:30-38.

PERIZONIUS, W. R. K. 1984. Closing and non-closing sutures in 256 crania of known age and sex

from Amsterdam. Journal of Human Evolution 13:201-216.

PICKERING, R.; BACHMAN, D. 2009. The Use of Forensic Anthropology. CRC Press, Boca Ra-

ton, Florida.

PINHEIRO, J.; CUNHA, E. 2006. Forensic Investigation of Corpses in Various States of Decompo-

sition: A Multidisciplinary Approach. In: Forensic Anthropology and Medicine: Complementary Sciences

from Recovery to Cause of Death. SCHMITT, A.; CUNHA, E.; PINHEIRO, J. (Eds.) Humana Press.

New Jersey.

PINHEIRO, M. F. 2008. CSI Criminal. Universidade Fernando Pessoa. Porto.

PLATZER, W. 1991. Atlas de Anatomía para Estudiantes y Médicos. Ed. Omega. Barcelona.

POMMEROL, F. 1969. Sur la Synostose des OS du Crâne. Thèse, Paris.

Page 175: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

156

PORTAL DA SAÚDE. 2006. Intervenção da Secretária de Estado Adjunta e da Saúde na sessão de

apresentação da Rede de Cuidados Continuados Integrados. (citado a 5 Setembro 2010) disponível em:

http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/a+saude+em+portugal/ministerio/comunicacao/discursos+e

+intervencoes/arquivo/cuidadoscontinuados.htm.

POWERS, S. R. 1962. The disparity between known age and age as estimated by cranial suture clo-

sure. Man 83:52-55.

PRINCE, D. A.; UBELAKER, D. H. 2002. Application of Lamendin‟s adult dental aging technique

to a diverse skeletal sample. J Forensic Sci 47(1):107–116.

-R- RIBBÉ, F. C. 1885. L'Ordre d'Oblitération des Sutures du Crâne dans les Races Humaines. Thèse,

Paris.

RICE, D. P. 2008. Craniofacial Sutures: Development, Disease and Treatment. Karger AG. Swit-

zerland.

RITZ-TIMME, S.; CATTANEO, C.; COLLINS, M. J.; WAITE, E. R.; SCHÜTZ, H. W.;

KAATSCH, H. J.; BORRMAN, H. I. M. 2000. Age estimation: the state of the art in relation to the spe-

cific demands of forensic practice. Int J Legal Med 113:129-136.

ROGERS, S. 1982. The Aging Skeleton: Aspects of Human Bone Involution. Charles C. Thomas

Pub. Springfield.

RÖSING, F. W.; GRAW, M.; MARRÉ, B.; RITZ-TIMME, S.; ROTHSCHILD, M. A.,

SCHMELING, A.; SCHRÖDER, I.; GESERISCK, G. 2007. Recommendations for forensic diagnosis of

sex and age from skeleton. Homo - Journal of Comparative Human Biology 58 (1):75-89.

-S- SÁ, J. P. M. de. 2007. Applied Statistics Using SPSS, STATISTICA, MATLAB and R. Springer-

Verlag Berlin Heidelberg. NY.

SABINI, R. C.; ELKOWITZ, D. E. 2006. Significance of differences in patency among cranial su-

tures. Journal of the American Osteopathic Association 106(10):600-604.

SAHNI, D.; JIT, I.; NEELAM; SANJEEV. 2005. Time of closure of cranial sutures in northwest In-

dian adults. Forensic Science International 148:199–205.

SANTOS, A. 1995. Certezas e Incertezas Sobre a Idade à Morte. Provas de Aptidão Pedagógica e

Capacidade Cientifica – Trabalho de Síntese. Departamento de Antropologia. Faculdade de Ciências e

Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Page 176: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

157

SAUNDERS, S. R.; FITZGERALD, C.; ROGERS, T.; DUDAR, C.; MCKILLOP, H. 1992. A test

of several methods of skeletal age estimation using a documented archaeological sample. Can Soc Forens

Sci J 25:97-118.

SAUNDERS, S.; HERRING, D.; BOYCE, G. 1995. Can Skeletal Samples Accurately Represent the

Living Population They Come From? The St. Thomas Cemetery Site, Belleville, Ontario. In: Bodies of

Evidence. GRAUER, A. (Ed.). Wiley-Liss. New York.

SAUVAGE, H. E. 1970. Sur l'état sénile du crâne. Bull. Soc. d'Anthrop. Ser. 2, T.5:576-586.

SCHMITT, A. 2002. Estimation de l‟âge au décès des sujets adultes à partir du squelette: des raisons

d‟espérer. Bull. et Mem. de la Société d‟Anthropologie de Paris 14(1-2):51-73.

SCHMITT, A. 2005. Une nouvelle méthode pour estimer l‟âge au décès des adultes à partir de la

surface sacro-pelvienne iliaque. Bull. et Mem. de la Société d‟Anthropologie de Paris 17(1-2):89-101.

SCHMITT, A.; CUNHA, E.; PINHEIRO, J. 2006. Forensic Anthropology and Medicine: Comple-

mentary Sciences from Recovery to Cause of Death. Humana Press. New Jersey.

SCHMITT, A.; MURAIL, P.; CUNHA, E.; ROUGÉ, D. 2002. Variability of the pattern of aging on

the human skeleton: Evidence from bone indicators and implications on age at death estimation. J Foren-

sic Sci 47(6):1-7.

SINGER, R. 1953. Estimation of age from cranial suture closure: reports on its unreliability. Journal

of Forensic Medicine 1:52-59.

SINGH, P.; OBEROI, S. S.; GOREA, R. K.; KAPILA, A. K. 2004. Age estimation in old individu-

als by CT scan of skull. Journal of Indian Academy of Forensic Medicine 26(1):10-13.

SOBOTTA, J. 2000. Atlas of Human Anatomy. Urban & Fisher Publishers. München.

-T- THOMPSON, T.; BLACK, S. 2007. Forensic Human Identification. CRC Press. Boca Raton. Flori-

da.

TOBIAS, P. 1991. On the scientific, medical, dental and educational values of collections of human

skeletons. International Journal of Anthropology 6:277-280.

TODD, T. W. 1920. Age changes in the pubis bone: I. The male white pubis. Am J Phys Anthrop

3(3):285-334.

TODD, T. W.; LYON, D. W. 1924. Endocranial suture closure: Its progress and age relationship.

Part I - Adult males of white stock. Am J Phys Anthrop Vol. VII, No.3.

Page 177: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

158

TODD, T. W.; LYON, D. W. 1925a. Cranial suture closure: Its progress and age relationship. Part

II - Ectocranial closure in adult males of white stock. Am J Phys Anthrop Vol. VIII, No.1.

TODD, T. W.; LYON, D. W. 1925b. Cranial suture closure: Its progress and age relationship. Part

III - Endocranial closure in adult males of negro stock. Am J Phys Anthrop Vol. VIII, No.1.

TODD, T. W.; LYON, D. W. 1925c. Suture closure: Its progress and age relationship. Part IV -

Ectocranial closure in adult males of negro stock. Am J Phys Anthrop Vol. VIII, No.2.

TOPINARD, P. 1885. Eléments d'Anthropologie générale. Paris.

-U- UBELAKER, D. H. 2000. Methodological Considerations in the Forensic Applications of Human

Skeletal Biology. In: Biological Anthropology of the Skeleton. 2008. KATZENBERG, M. A.; SAUND-

ERS, S. R. (Eds). Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey.

UBELAKER, D. H. 2006. Introduction to Forensic Anthropology. In: Forensic Anthropology and

Medicine: Complementary Sciences from Recovery to Cause of Death. SCHMITT, A.; CUNHA, E.;

PINHEIRO, J. (Eds.) Humana Press. New Jersey.

-V- VERMA, P.; VERMA, K. G.; GUPTA, S. D. 2010. Cleidocranial dysplasia: a dilemma in diagno-

sis? Archives of Orofacial Sciences 5(2):61-64.

VIEIRA, J. C. 2010. Estimativa da Idade à Data da Morte em Indivíduos Idosos: Estudo da Sínfise

Púbica. Tese de Mestrado. Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa.

-W- WEINBERG, S. M.; SCOTT, N. M.; NEISWANGER, K.; MARAZITA, M. L. 2005. Short Report -

Intraobserver error associated with measurements of the hand. Am J Hum Biol 17:368–371.

WEINZWEIG, J; KIRSCHNER, R. E.; FARLEY, A; REISS, P.; HUNTER, J.; WHITAKER, L. A.;

BARTLETT, S.P. 2003. Metopic synostosis: Defining the temporal sequence of normal suture fusion and

differentiating it from synostosis on the basis of computed tomography images. Plast Reconstr Surg J.

112(5):1211-1218.

WEISS, K. M. 1972. On the systematic bias in skeletal sexing. American Journal of Physical Anth-

ropology 37:239–249.

WHITE, C. D. 1996. Sutural effects of fronto-occipital cranial modification. American Journal of

Physical Anthropology 100(3):397–410.

WHITE, T. D. 1991. Human Osteology. Academic Press, Inc. Harcourt Brace Jovanovich, Pubs.

Page 178: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

159

WHITE, T. D. 2000. Human Osteology. Academic Press. San Diego

WHITE, T. D.; FOLKENS, P.A. 2005. The Human Bone Manual. Elsevier Academic Press. Lon-

don.

WHO - World Health Organization. International Statistical Classification of Diseases and Related

Health Problems, 10th Revision. (citado a 5 Fevereiro 2011). disponível em: http://apps.who.int/classi-

fications/apps/icd/icd10online.

-Z- ŽIVANOVIŠ, S. 1983. A note on the effect of asymmetry in suture closure in mature human skulls.

American Journal of Physical Anthropology 60(4):431-435.

ZUMPANO, M. P.; CARSON, B. S.; MARSH, J. L.; VANDERKOLK, C. A.; RICHTSMEIER, J.

T. 1999. Three-dimensional morphological analysis of isolated metopic synostosis. Anat Rec 256:177–188.

Page 179: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

160

Page 180: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

161

VII. ANEXOS

Page 181: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

162

Page 182: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

163

7.1 ANEXO 1- EXEMPLO DA FICHA DE REGISTO

Page 183: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

164

Page 184: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

165

7.2 ANEXO 2- EXEMPLO DA BASE DE DADOS EM SPSS®

Page 185: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

166

Page 186: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

167

7.3 ANEXO 3- FOTOGRAFIAS DE INDIVÍDUOS DA AMOSTRA

Page 187: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

168

Page 188: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

169

7.4 ANEXO 4- FOTOGRAFIAS DO LOCAL DE ARMAZENAMENTO DA AMOSTRA

Page 189: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011

170

Page 190: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

NOTAS:

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

Page 191: Suturas Cranianas como Indicadores da Idade à Morte em Indivíduos com mais de 55 anos

Ana Rodrigues 2011