Upload
vanlien
View
218
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
M a i o d e 2 0 1 1 • T a x V i e w • 1
Edição Especial • Maio de 2011 • Número 35
Tax ViewDIPJ 2011Empresas precisam ficar atentas às mudanças na declaração
para fazer o correto preenchimento. A Ernst & Young Terco
realiza mesas-redondas por todo o País em maio para
esclarecer essa e outras questões.
Página 8
Apetite de investidores estrangeiros pelo Brasil dribla alta na tributação Página 7
Solidariedade tributária reforça a importância da adequada gestão de terceirizadosPágina 3
Marco Aurélio Greco comenta o futuro dos intangíveis e o planejamento tributárioPágina 4
2 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 1
Caro leitor,
Nas últimas edições do Tax View,
a premiada equipe de Impostos
da Ernst & Young Terco tem tentado
antecipar as principais tendências
e o que deve vir pela frente no ambiente
tributário brasileiro. Para os
contribuintes é estratégico saber com
antecedência e de que maneira essas
mudanças afetarão seus negócios
e operações. E nós estamos atentos
a essa necessidade do mercado.
Por isso, estamos dando destaque
às mudanças na Declaração
de Informações Econômico-Fiscais
da Pessoa Jurídica (DIPJ) 2011
na presente edição. O tema requer
cuidado por parte das empresas —
especialmente aquelas que estão
obrigadas a apresentar o Fcont
este ano pela primeira vez. Para 2012,
acreditamos que as obrigações
acessórias das empresas tributadas
com base no lucro real sejam
consolidadas em um único ambiente
eletrônico, o e-Lalur. A partir do
próximo ano, é possível que seja
solicitado um maior detalhamento das
informações prestadas pelas empresas
na DIPJ sobre seus cálculos de
preços de transferência. A Receita
Federal está conduzindo atualmente
um projeto-piloto nesse sentido.
Por falar em Receita Federal, ela
está aumentando a fiscalização dos
planos de stock options (opções
de ações) que as empresas conferem
a seus executivos e empregados.
O Fisco pretende detectar a
remuneração disfarçada cedida ao
executivo na hora de fazer o devido
O Tax View é uma publicação destinada a clientes e colaboradores da Ernst & Young Terco que aborda assuntos e questões relevantes para as empresas nas áreas de legislação tributária e legal, jurisprudência, tendências e oportunidades da economia. As opiniões aqui expressas não devem ser utilizadas, de maneira isolada, para a tomada de decisões por parte das organizações. Estamos à disposição para discutir nossas opiniões e sua aplicação em cada caso concreto.
Você pode participar enviando suas dúvidas e sugestões para [email protected]
Edição Especial Maio de 2011 Número 35
E d i t o r i a lrecolhimento do Imposto de Renda.
As relações trabalhistas e os cuidados
que elas suscitam são tema também
de matéria sobre a adequada gestão
de terceirizados, tendo em vista
a Medida Provisória 510, que prevê
a solidariedade tributária entre
empresas consorciadas.
Outro destaque refere-se aos
sucessivos aumentos de IOF (Imposto
sobre Operações Financeiras)
nos últimos dois anos para frear
a apreciação do Real frente ao Dólar
no mercado brasileiro. A posição
privilegiada do Brasil, que virou
alvo de polpudos investimentos
estrangeiros, predominou, e o governo
não conseguiu atingir seu intento.
Portanto, as entradas de divisas
externas prosseguem, e a moeda
norte-americana continua registrando
baixas cotações.
Pensando ainda em tendências,
entrevistamos o professor Marco
Aurélio Greco, doutor em Direito pela
PUC-SP, que falou sobre a tributação
de intangíveis e o planejamento
tributário. O desenvolvimento
econômico e a complexidade crescente
das relações comerciais, na opinião
do especialista, vêm exigindo
um novo olhar sobre a tributação
por parte das empresas, da Justiça
e do próprio Fisco.
Boa leitura!
Sócio coordenadorJosé M. R. Silva
Coordenador editorialCláudio Yano
Jornalista responsávelRoseli Loturco (MTB 25.529/110/12/SP)
ReportagemKatia Hochman e Rosa Symanski
Projeto gráfico e direção de arteAlex Rossetto
Edição final e distribuiçãoDepartamento de Comunicação e Gestão da Marca
Eliézer Serafini São Paulo / Campinas [email protected]
Alfredo Neto Rio de Janeiro [email protected]
Rogério Simões Norte/Nordeste [email protected]
Alessandro Lacerda Belo Horizonte/Goiânia/Brasília [email protected]
Eneas Moreira [email protected]
2 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 1
M a i o d e 2 0 1 1 • T a x V i e w • 3
G e s t ã o d e Te r c e i r i z a d o s
Solidariedade tributária reforça a importância da adequada gestão de terceirizados
Os recentes incidentes noticiados na mídia com empresas que enfrentaram problemas
em canteiros de obras com mão de obra terceirizada trazem à tona uma questão que
tem se tornado crucial para muitas empresas: a adequada gestão dos seus terceirizados.
A prática ganha especial importância atualmente a partir da Medida Provisória (MP)
510, que tramita com força de aprovação em Brasília, prevendo a solidariedade tributária
entre as empresas que atuam na forma de consórcio.
Pela MP, as empresas consorciadas poderão ser solidariamente responsabilizadas a
arcar com tributos federais devidos por empresas parceiras no consórcio. Por enquanto,
as empresas são responsáveis pelos encargos trabalhistas e demais questões de
compliance de suas contratadas, ou seja, há um controle vertical, em função da Súmula
331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST). A partir da MP, as companhias também
precisam ficar atentas ao cumprimento das obrigações fiscais por parte de suas
companheiras de consórcio. “No ambiente atual, com muitas obras em andamento por
conta dos megaeventos esportivos e também de infraestrutura, realizadas por consórcios
de empresas, essa questão ganha especial relevância”, explica Marcelo Godinho, gerente
sênior de Capital Humano da Ernst & Young Terco. “Pouquíssimas empresas possuem
um processo de gestão da mão de obra terceirizada. Agora, com grandes obras no País,
além de as empresas se verem necessitadas de controlar efetivamente o compliance
trabalhista e previdenciário de seus subcontratados, surge a preocupação de, assim
como o olhar vertical, se abrir uma prática de enxergar o colega consorciado”, completa.
Com a entrada em vigor da MP 510, os potenciais riscos tributários, trabalhistas e
previdenciários passam a ser maiores para as empresas. Elas precisarão ficar “de olho”
não apenas em suas terceirizadas, mas também naquelas que estão em seu mesmo
patamar no consórcio. O prazo também é uma questão de atenção. Mesmo em uma
obra executada, por exemplo, em 12 meses, os empregados insatisfeitos têm um prazo
de dois anos, contados da rescisão de seus contratos de trabalho, para entrar na
Justiça com ações trabalhistas pleiteando direitos dos últimos cinco anos. Já o prazo
para reclamações relacionadas ao FGTS pode retroagir a 30 anos.
“A verificação do cumprimento com as obrigações tributárias é muito importante, já que
cada consorciada tem responsabilidade solidária com o consórcio. Tal medida trará mais
segurança jurídica, societária e patrimonial às atividades desenvolvidas pelos consórcios.
Por isso, é primordial que o consórcio e as consorciadas possuam uma governança
tributária consolidada, a fim de evitar riscos de possíveis autuações fiscais”, analisa Letícia
do Amaral, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT).
A Ernst & Young Terco, antevendo a necessidade de as empresas se resguardarem,
tem trabalhado com a ferramenta Proa-Labor, que faz o monitoramento de potenciais
contingências previdenciárias, fundiárias e fiscais, ao realizar uma verdadeira varredura
nas informações prestadas pelas empresas por meio do Manad, GFIP e Dirf, garantindo
que os empregados das empresas terceirizadas encontram-se regularmente reportados
nas folhas de pagamentos, percebendo salário e os devidos reflexos para fins de INSS,
FGTS e IRRF. “O monitoramento durante uma obra, evita que as empresas tenham
surpresas no futuro”, explica Godinho. Ele prevê que, com essa ferramenta, as empresas
reduzam suas provisões de perdas em cifras que chegam a milhões de reais. n
Para mais informações,
entre em contato com:
Marcelo [email protected]
Ernst & Young Terco oferece ao mercado a ferramenta
Proa-Labor que auxilia no mapeamento de potenciais
contingências tributárias e trabalhistas
4 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 1
Quanto vale um vencedor de Prêmio Nobel chefiando uma equipe
de pesquisadores? E qual o valor de atributos como imagem,
reputação e confiança? Essas são algumas das questões que
o professor Marco Aurélio Greco propõe para reflexão quando
o assunto é a tributação de bens intangíveis. Esse é um tema que
vem ganhando cada vez mais importância no ambiente tributário
nacional, uma vez que as operações comerciais têm um grau
de sofisticação crescente, e a identificação da renda torna-se uma
tarefa complexa. Nesse novo ambiente, o atual modelo de Imposto
de Renda mostra-se inadequado, enquanto outros tributos
como PIS/Cofins estão mais alinhados com os tempos atuais.
Marco Aurélio Greco é doutor em Direito pela PUC-SP, professor
da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
e também membro associado da European Association of
Tax Law Professors. Em entrevista ao Tax View, ele reflete sobre
a questão do planejamento tributário e os próximos passos
que os contribuintes podem esperar para o futuro próximo, entre
outras questões. Confira a seguir.
Marco Aurélio Greco
E n t r e v i s t a
4 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 1
M a i o d e 2 0 1 1 • T a x V i e w • 5
Tax View • A globalização tem
alterado significativamente nos últimos
anos os modelos de negócios
e, consequentemente, tornado a
identificação de renda cada vez mais
complexa. O senhor acredita que será
cada vez mais difícil identificar e
tributar a renda? Estaríamos vivendo
uma crise do Imposto de Renda? Como
o senhor vê o futuro desse tributo?
Marco Aurélio Greco • De maneira geral,
a sociedade passa por uma mudança
de perfil. Pelo modelo clássico, havia
uma ideia de continuidade, constância.
Contudo, hoje estamos vivendo a
transição para uma sociedade em que
a incerteza passa a ser constante.
Vemos a liquefação das estruturas e dos
modelos tradicionais e clássicos para
tratar dos temas tributários. Daí surge
uma série de consequências. Há 100
anos, quando a renda estava relacionada
à propriedade da terra, havia melhores
condições de identificá-la. Nos tempos
atuais, tem-se uma série de operações
complexas internacionais, variáveis e
mutantes, em uma velocidade cada vez
mais difícil de acompanhar. Considerando
o perfil tradicional do Imposto de
Renda, penso que ele já está em crise
há um bom tempo. Onde está a renda?
Se olharmos para as operações
internacionais, vemos que responder
a essa pergunta é muito difícil. Será
complicadíssimo identificar qual a renda
e onde ela foi gerada. Se a realidade
não é física, quais serão os mecanismos
para identificar o fato gerador?
Tax View • A complexidade crescente
das operações comerciais também
passa pela questão da tributação
dos intangíveis, que é um dos temas
cujo estudo tem capturado a
sua atenção. O senhor acredita que
os tributos atuais são adequados
para essa nova realidade?
Marco Aurélio Greco • Quando se fala
de intangível, encontramos a literatura
muito focada em marcas e patentes.
Mas os bens intangíveis não se
restringem apenas a esses dois itens.
Estamos falando de outros bens que têm
valor e que precisam ser considerados
A tributação da renda das empresas já está em crise há um bom tempo. Nas operações internacionais é complicado identificar qual é a renda e onde ela foi gerada. Se a realidade não é física, quais serão os mecanismos para identificar o fato gerador?
nos negócios e na tributação. Por
exemplo, quanto vale um Prêmio Nobel
chefiando a equipe técnica de um
laboratório farmacêutico? Quanto vale
o conhecimento aplicado, know-how,
mas não patenteado? Lembre-se
de que a fórmula da Coca-Cola não está
patenteada. É um conhecimento
aplicado. Outro aspecto complexo do
tema é como avaliar o intangível para
fins de sua representação contábil e
tratamento tributário. Como mensurar
a habilidade de um ser humano? Um
jogador de futebol, por exemplo. Além
disso, atualmente, a imagem, a
reputação, a confiança também têm
valor. Essa mudança de paradigma
certamente gera e gerará cada vez mais
impactos tributários, pois onde existe
valor há, em tese, capacidade
Marco Aurélio Greco • Acho inevitável.
Tributo é instrumento de geração de
receita para atender a políticas públicas.
Estas visam atender a demandas sociais,
que são ilimitadas. Se há 50 anos eu
tomava água com açúcar para resolver
um problema, hoje quero um remédio
de última geração. O crescimento
da arrecadação para que o Estado possa
fazer frente às novas demandas sociais
é também inevitável. Se os tributos
clássicos, focados nos bens físicos, pela
limitação destes, só conseguem gerar
certo nível de arrecadação, a tendência é
buscar receitas em outras manifestações
de riqueza, como, por exemplo, a
movimentação financeira. A CPMF tem
qualidades como tributo. Um deles é o
efeito anestésico: as pessoas não sabem
exatamente quanto pagam devido
contributiva. Em termos de sistema
brasileiro, temos uma estrutura que vem
desde a época da Emenda Constitucional
nº 18, de 1965. A concepção do sistema
tributário naquele momento foi baseada
em parâmetros físicos, pois esse era
o mundo da época. Hoje, essa estrutura
está em xeque. Mas, se pensarmos
nos tributos atuais, acredito que
as contribuições para o PIS e a Cofins são
os mais alinhados a essa nova realidade,
ainda que ajustes sejam necessários,
uma vez que eles não se preocupam com
o bem físico, mas com a receita gerada.
Tax View • Atualmente, discute-se
a possibilidade de retorno de uma
contribuição como a CPMF. Faria
sentido a instituição de um tributo
sobre movimentações financeiras
no Brasil de hoje?
à natureza da tributação, que ocorre
na hora da movimentação bancária.
Além disso, ela gerou uma arrecadação
significativa. Em um momento em
que cresce a necessidade de receita,
não me surpreenderia com a instituição
de algo parecido com a CPMF.
Tax View • O seu livro sobre
planejamento tributário causou
grande impacto e influenciou bastante
a maneira como o tema passou
a ser analisado pelo hoje Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais
(Carf). Como o senhor analisa a
situação atual do planejamento fiscal
e de seu controle no Brasil?
Marco Aurélio Greco • Vejo com
preocupação em um ponto: o das
penalidades. O mundo não é tudo ou
nada. Não é sim ou não. Não é bivalente.
M a i o d e 2 0 1 1 • T a x V i e w • 5
6 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 1
Se vivemos durante décadas em um
modelo em que se podia fazer tudo que
fosse lícito e anterior ao fato gerador
como forma legítima de planejamento,
e aí mudamos para um modelo em que
se passa a levar em consideração a causa
das transações, então é necessário existir
um período de transição. Isso quer dizer
que não se pode punir algo que foi feito
em um cenário em que seria permitido,
só porque hoje não é mais. Ou seja,
se o contribuinte cometeu uma conduta
reprovável, qual o seu grau de culpa?
Se ele fez uma operação em 2002
considerada legítima naquela época,
por que vai ser punido agora? Na minha
concepção, se o que foi feito, na época
em que foi feito, comportava aquela
interpretação, o Fisco pode e deve cobrar
o tributo, mas não punir o contribuinte,
que reabrir uma discussão de dez anos,
em que já se caminhou bastante.
Tax View • Ainda não temos
um histórico muito grande de decisões
judiciais envolvendo a revisão de
planejamentos tributários. Em sua
opinião, o Poder Judiciário está
preparado para desempenhar
esse papel?
Marco Aurélio Greco • Podemos ilustrar
essa pergunta com duas imagens. Se
pensarmos na estátua da justiça grega,
temos uma mulher com olhos abertos
e uma espada. Ou seja, a justiça é algo
que se vê e que, diante de uma violação,
deflagra uma punição. A estátua da
justiça romana é uma mulher de olhos
vendados e com uma balança. De acordo
com a imagem, a justiça não é algo que
se vê, mas que se ouve. Esse é o nosso
Os bens intangíveis não se restringem somente a marcas e patentes. Atualmente, a imagem, a reputação, a confiança também têm valor. Essa mudança de paradigma certamente gera e gerará cada vez mais impactos tributários.
modelo. Vejo nas discussões judiciais
tributárias duas histórias sendo
contadas, uma em cada ouvido. Aí vem
a questão: qual a história que vai ser
contada ao juiz? Temos então o embate
entre Fisco e contribuintes sendo travado
com as partes falando em frequências
diferentes. Um está falando em legalidade
e segurança, que são temas mais
abstratos, e o outro está falando em falta
de moradia, fila de hospital, ou seja,
problemas compreensíveis por todos.
O primeiro passo é estar no mesmo nível
de frequência. No Judiciário, o tipo de
argumento apresentado pelo contribuinte
tem que mudar. Se a Fazenda fala de falta
de moradia e fila de hospital, nós temos
que falar em adequação da tributação
à realidade por ela captada e nas
distorções que ela pode gerar diante dos
riscos inerentes à sociedade atual; tudo
como está sendo pretendido agora.
Julgo que há um insatisfatório
equacionamento do tema das multas.
Tax View • Há grande expectativa
pela regulamentação do parágrafo único
do artigo 116 do Código Tributário
Nacional (CTN), que trouxe a chamada
norma geral antielisiva. O senhor
acredita que essa regra é a ideal para
o Sistema Tributário Brasileiro?
Marco Aurélio Greco • Acredito que
a questão esteja bem colocada no CTN.
Porém, na minha opinião, um grande
passo que deve ser dado diz respeito
à criação de uma regra procedimental
com critérios para a desconsideração
pelo Fisco de atos privados, que permita
calibrar as multas. O parágrafo único
do artigo 116 do CTN ficaria do jeito
que está. Do contrário, teríamos
isso sem esquecer as questões ligadas
ao orçamento público e ao controle dos
gastos públicos. Esse debate não pode
estar apenas focado nas tecnicidades
da cobrança e da arrecadação.
Tax View • Fala-se, uma vez mais,
em uma reforma tributária no Brasil.
O senhor acha que ela é necessária?
Acredita que haja ambiente político
para uma reforma abrangente
do Sistema Tributário Brasileiro?
Marco Aurélio Greco • A grande questão
que não vem sendo abordada, quando
se fala em reforma tributária, é: reforma
para quê? Se você disser: vamos fazer
uma reforma para assegurar políticas
públicas, é uma coisa. Reforma para
desonerar o consumidor da tributação
de produtos essenciais, é outra. Se for
para aumentar a competitividade,
é outra diferente. Se for para resolver
a guerra fiscal, outra. Parece que
não há consenso quanto a essa pergunta.
Existem quatro tensões prévias que
precisam ser equacionadas antes de se
falar em reforma, no sentido de mudança
mais profunda. Primeira: temos a
União Federal de um lado e Estados
e Municípios de outro. Há uma tensão
quanto à assunção das despesas públicas
e à distribuição das receitas. Segunda:
Estados entre eles e Municípios entre
eles, ou seja, guerra fiscal. Terceira:
carga tributária. O debate está mal
posto, uma vez que está focado no
percentual do PIB que a carga
representa. Mas qualquer número
é aceitável ou inaceitável, dependendo
de dois requisitos que são a consciente
deliberação quanto à sua dimensão
e a adequada utilização dos recursos
arrecadados. A quarta tensão seria
relativa à competição entre os próprios
agentes econômicos. Se conversarmos
com a área industrial, a ideia de reforma
não necessariamente coincide com
a do setor comercial, ou do financeiro,
ou então do de serviços. Ou seja, há o
jogo dos agentes econômicos entre eles.
Dessa forma, enquanto não tivermos
um norte, ou seja, não soubermos
claramente aonde se quer chegar com
a reforma, não vejo como realizá-la. n
6 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 1
M a i o d e 2 0 1 1 • T a x V i e w • 7
Aumento de carga
tributária, volta da CPMF
e royalties do pré-sal
são temas que estão
na pauta do governo
e merecem atenção do
empresariado
Contribuintes podem esperar definições tributárias para 2011
período de eleições, quando as despesas
correntes aumentaram muito, gerando
um déficit orçamentário e deixando
apenas 5% para serem aplicados
nas despesas de capital. Hoje o governo
persegue a sustentabilidade da dívida,
suscitando confiança na política
econômica e tendo um controle muito
rígido sobre gastos governamentais”,
analisa Domingos Orestes Chiomento,
presidente do Conselho Regional
de Contabilidade de São Paulo (CRC SP).
Diante desse cenário de contas que não
fecham, Wanderlei Ferreira, sócio de
Tributos da Ernst & Young Terco acredita
que o governo pode lançar mão de um
aumento de carga tributária este ano para
cobrir os buracos. “Nos últimos anos,
já vivemos diversas histórias semelhantes
Passada a festa do Carnaval, é hora de
acender o pisca-alerta das empresas e
se preparar para algumas definições de
temas da política fiscal que devem sair
do papel ao longo de 2011. O Supremo
Tribunal Federal (STF), por exemplo,
tem cerca de 70 temas tributários
em pauta para votação. Novidades
em relação a questões que afetam
diretamente o ambiente de negócios
como, por exemplo, aumento de carga
tributária, royalties do pré-sal, volta da
CPMF e definições quanto à escrituração
para fins fiscais precisam estar no radar
dos empresários, de acordo com os
especialistas consultados pelo Tax View.
“O que o governo vem fazendo neste
início de mandato é conter o déficit
público causado em 2010 por conta do
Para mais informações, entre em contato com:
Pedro Custó[email protected]
Tributação não freia a entrada de capitais no País
A condição de o País ter se tornado
um importante foco de investimentos
implicou o surgimento de certas distorções
dentro da política monetária que estão
sendo difíceis de o governo administrar.
Uma delas foi a tentativa de contenção
da depreciação do dólar diante do
real por meio da institucionalização
do Imposto sobre Operações Financeiras
(IOF) – medida também adotada
para conter as aplicações de investidores
estrangeiros no País. O imposto,
no entanto, não surtiu o efeito almejado
sobre as entradas de capital estrangeiro
e teve efeito praticamente nulo na
trajetória da moeda norte-americana.
“Desde que o Brasil se tornou investment
grade, o que se tem visto é uma grande
entrada de remessas. Esses ingressos,
que estão derrubando a cotação do
dólar, não foram afetados com a entrada
em vigor do IOF, já que os capitais
continuam chegando, invariavelmente”,
explica Pedro Custódio, sócio de Impostos
para a área de Serviços Financeiros
da Ernst & Young Terco.
As primeiras medidas do IOF foram
tomadas no mês de outubro de 2010,
quando o imposto determinou a taxação
de 6% sobre aplicações de estrangeiros
no mercado de renda fixa, em uma
tentativa de conter a entrada excessiva
de capital estrangeiro no País. “A
medida não funcionou porque os capitais
continuaram entrando por meio de
outras modalidades, como investimentos
diretos, e pelas operações de captações
de empresas no exterior”, explica Tatiana
Pinheiro, economista do Santander.
Os dados comprovam a ineficácia
da medida, pois as entradas de
investimentos estrangeiros, ao longo
de 2010 até o fim de março deste ano,
permaneceram registrando uma média
mensal de U$ 10 bilhões a U$ 15
bilhões, de acordo com dados do Banco
Central. “Esse desempenho ilustra bem
quanto as medidas foram inócuas, já
que os investimentos permaneceram no
mesmo patamar”, diz a economista.
Já o câmbio, por sua vez, fechou
dezembro de 2010 no patamar
de R$ 1,66, e, em maio deste ano,
a moeda norte-americana está na casa
de R$ 1,60, R$ 1,61. Antes da primeira
medida do IOF, em outubro, a cotação
do dólar estava em R$ 1,68. “As
tentativas de conter o câmbio e as
entradas de investimentos estrangeiros
com o IOF realmente não surtiram efeito
porque a moeda brasileira é commodity,
ou seja, 55% das nossas exportações
são compostas de commodities, que,
por sua vez, estão em alta no mercado
internacional”, afirma Tatiana Pinheiro.
A economista concorda que o fato
de o País estar entre os emergentes
no momento atual, o torna alvo
de recursos externos.
O sócio de Impostos para a área de
Serviços Financeiros da Ernst & Young
Terco, por sua vez, refere-se à
persistência da entrada de recursos
no País como “as dores do crescimento”.
“O Brasil, apesar dessas medidas,
continua absolutamente atraente para
os investidores estrangeiros, ou seja,
permanecemos vivendo em um ambiente
de ciclo virtuoso da economia, que
não vai ser contido apenas com medidas
tributárias. Mas, em contrapartida, com
essas medidas, o governo acabou
arrecadando mais”, observa Custódio.
O mercado estima que o IOF deverá
gerar uma arrecadação entre R$ 6
e R$ 8 bilhões por ano. As cifras não
são confirmadas pela Receita Federal, que
alega não ter estudos conclusivos sobre
o impacto do imposto na arrecadação.
Histórico do IOF
No ano passado, o governo brasileiro
elevou duas vezes, para 6%, o IOF sobre
aplicações de estrangeiros no mercado
de renda fixa, em uma tentativa de
conter a entrada excessiva de capital
estrangeiro no País. No começo deste ano,
o Banco Central anunciou uma medida
para aumentar a demanda do dólar e
desestimular os bancos a operarem para
derrubar a cotação, com o objetivo de
valorizar o real. Pela medida, os bancos
passaram a recolher, sob a forma de
compulsório, 60% do valor correspondente
à sua posição “vendida” no mercado
de câmbio que exceder o menor dos
seguintes valores: US$ 3 bilhões ou
o seu patrimônio de referência. Por fim,
no mês de março deste ano, o governo
se utilizou novamente do IOF para taxar
os empréstimos tomados por empresas
no exterior. O imposto também incide
nas operações de renda variável
desde 2009, quando o governo impôs
uma taxação de 2% nas operações
de investidores estrangeiros em bolsa. n
I n g r e s s o d e d ó l a r e s
Estratégia do governo para
conter trajetória do dólar
com o IOF é driblada pelo
apetite de investidores
M a i o d e 2 0 1 1 • T a x V i e w • 7
8 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 18 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 1
D I PJ 2 0 1 1
Mudanças na DIPJ 2011 requerem mais precisão por parte das empresas
M a i o d e 2 0 1 1 • T a x V i e w • 9M a i o d e 2 0 1 1 • T a x V i e w • 9
O preenchimento correto da DIPJ depende das informações apresentadas no Fcont, que passa a ser entregue por um número maior de empresas este ano
Neste ano, as empresas precisarão
estar mais atentas na hora de
preencher a Declaração de Informações
Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica
(DIPJ) 2011, cujo prazo de entrega
se encerra em 30 de junho. A nova
versão da DIPJ, disponibilizada pela
Receita Federal no início de maio,
traz novidades em relação às
anteriores principalmente nas fichas
36E, 37E e 38A, que tratam
respectivamente de Ativo, Passivo
e Demonstração dos Lucros ou
Prejuízos Acumulados no balanço
para fins fiscais. As novas informações
a serem prestadas dependem –
e muito – do correto preenchimento
do Fcont, considerando os dados
desde 2008. Mas, como a entrega
do Fcont passou a ser obrigatória
para um universo maior de empresas
este ano por determinação da
Instrução Normativa RFB 1.139/11,
elas estão sujeitas a encontrar
dificuldades no primeiro preenchimento
dessa obrigação, o que pode causar
impacto direto na DIPJ.
“Até então, as empresas reportavam
na DIPJ os saldos com base no balanço
societário. O que pode ser mais
complexo agora é que elas precisarão
reportar os saldos de ativos, passivos
e até mesmo do patrimônio líquido
no balanço fiscal, obtidos por meio
dos corretos lançamentos no Fcont,
dentro do RTT”, explica Cláudio Yano,
diretor executivo da área de Impostos
da Ernst & Young Terco.
As mudanças na DIPJ de 2011 fazem
parte de um projeto da Receita
Federal que consiste na integração
de todas as obrigações acessórias
em um único ambiente eletrônico,
o e-Lalur, a ser entregue pelas
empresas tributadas com base no lucro
real a partir de 2012.
Enquanto essas medidas não se
concretizam, as empresas precisam
de um esforço conjunto das suas áreas
de Contabilidade, Tecnologia da
Informação e Fiscal para reunir todas
as informações necessárias. “As peças
contábeis, estruturadas com as novas
normas, serão imprescindíveis para
o correto preenchimento da DIPJ.
Após a conclusão do preenchimento
e a verificação de pendências, é
de suma importância o cruzamento
das informações prestadas com
outras obrigações acessórias”, aponta
Julio Linuesa Perez, membro do
Conselho Regional de Contabilidade
do Estado de São Paulo (CRC SP).
10 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 1
Segundo ele, essas novas informações
dizem respeito aos seguintes dados:
apuração do IPI, para as empresas
sujeitas a essa informação na DIPJ;
controles de operações com o exterior
(importações/exportações); DCTF;
DIRF, além de informes de rendimentos
de serviços prestados, de aplicações e
investimentos, para os sócios/acionistas
e/ou titular, com as retenções na fonte.
As mudanças na DIPJ 2011 também
preveem mais informações referentes
ao IPI de empresas que trabalhem
com alguns tipos de incentivos fiscais
específicos. Outra alteração se
refere ao detalhamento requisitado
para algumas novas hipóteses
de despesas não dedutíveis, como
thin capitalization. A falta de entrega
ou atraso implica o pagamento de multa
de 2% ao mês-calendário ou fração,
incidente sobre o montante do
IRPJ informado na DIPJ, ainda que
integralmente pago, limitada a
20%, observada a multa mínima de
R$ 500,00. Além disso, existe previsão
de multa de R$ 20,00 para cada
grupo de dez informações incorretas
ou omitidas.
Mesas-redondas
Para esclarecer dúvidas relacionadas
à DIPJ 2011, a Ernst & Young Terco
realiza uma agenda de mesas-redondas
em 12 cidades até o dia 31 de maio.
Os eventos estão programados para
as cidades de Recife, Salvador, Porto
Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro,
Manaus, Belo Horizonte, Uberlândia,
Campinas, Fortaleza, Vitória e Goiânia.
Os temas em pauta para os encontros
compreendem as regras gerais
e as principais alterações na DIPJ 2011,
novidades no Fcont 2011 – Controle
Fiscal Contábil de Transição, principais
discussões a respeito do RTT –
Regime Tributário de Transição
(depreciação, lucro da exploração
e ágio, por exemplo), soluções
de consulta sobre o RTT, tratamento
das subvenções de investimento
no RTT e regras de subcapitalização.
Preços de transferência
Uma novidade que as empresas
poderão encontrar a partir
da declaração do próximo ano diz
respeito aos preços de transferência
– termo que se refere ao valor cobrado
por uma empresa na venda de bens,
serviços ou propriedade intangível,
a empresa do mesmo grupo econômico.
A Receita Federal está conduzindo
um projeto-piloto para relançar o Audin
(Sistema de Auditorias Internacionais)
que prevê um detalhamento maior
das operações relacionadas aos
preços de transferência. “Atualmente,
as informações prestadas pelos
contribuintes na DIPJ em termos de
preços de transferência é pouco útil
para o Fisco. Pelo Audin a Receita
Federal passa a ter informações
relevantes e detalhadas dos
contribuintes, o que permitirá uma
fiscalização detalhada dos cálculos
já reportados na DIPJ.”, analisa
Demétrio Barbosa, diretor executivo
da área de Impostos Internacionais
da Ernst & Young Terco.
Esse projeto-piloto, que já tinha
sido testado pela Receita Federal
há cinco anos, foi tirado do ar para
ajustes e agora está sendo retomado
com a seleção de alguns contribuintes
para testes. O objetivo da iniciativa
é parte de uma tendência de
aumento de fiscalização por parte
do Fisco utilizando, para tal,
a informatização dos processos.
“Acredito que empresas do setor
automotivo, telecomunicações e
químico/farmacêutico estejam testando
o Audin no momento. Esses são
segmentos que congregam empresas
com intensas negociações
internacionais e, consequentemente,
lidam cotidianamente com preços de
transferência”, aponta Barbosa. n
Para mais informações, entre em contato com:
Cláudio [email protected]
Demétrio [email protected]
10 • T a x V i e w • M a i o
M a i o d e 2 0 1 1 • T a x V i e w • 11
N o t a s
Superior Tribunal de Justiça define situações para perdão de dívida fiscal
As empresas que possuem dívidas com a União no valor de até R$ 10 mil
obtiveram um precedente importante no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A 1a Seção da Corte entendeu que tais dívidas devem ser analisadas
separadamente, considerando-se a natureza dos créditos, nas quatro categorias
elencadas no artigo 14 da Lei nº 11.941, de 2009. Assim, teriam direito
ao benefício, os débitos inscritos em dívidas ativas previdenciárias, tributárias
e as não inscritas em dívida ativa previdenciárias e tributárias. Na prática, o
magistrado deve verificar a soma dos débitos em cada uma das categorias, no
limite de R$ 10 mil cada. O perdão, pela legislação, é válido para dívidas vencidas
até dezembro de 2002. Como o tema foi selecionado como recurso repetitivo,
o resultado do julgamento servirá de orientação para os demais tribunais do País
e deve eliminar diversas execuções de pequeno valor, pendentes no Judiciário. n
Governo discute redução do ICMS
A redução do Imposto sobre a
Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) cobrado sobre alimentos,
remédios, combustíveis, energia e
telecomunicações está na pauta do
governo. De acordo com o secretário
executivo do Ministério da Fazenda,
Nelson Barbosa, os secretários
estaduais de Fazenda já fazem estudos
sobre a tributação de alimentos, que
difere muito de uma unidade da
Federação para outra.
Também está no radar do governo a
redução do ICMS sobre combustíveis,
energia e telefonia. A alta incidência do
tributo estadual é apontada como uma
das causas do elevado custo desses
insumos no País. Barbosa reconheceu,
porém, que essa é uma discussão
difícil, pois a arrecadação estadual está
concentrada neles.
O secretário da Fazenda apresentou
recentemente aos deputados a primeira
“fatia” da proposta de reforma
tributária do governo, cujo objetivo
geral não é reduzir a carga tributária,
mas sim simplificar o sistema. Trata-se
de uma medida para acabar com a
prática de alguns Estados de reduzir
fortemente a tributação sobre
mercadorias vindas do exterior, com o
intuito de movimentar seus portos.
O governo começou o debate desta vez
apresentando uma proposta pontual, e
não ampla, ao Senado, e não à Câmara.
Cabe aos senadores definir a alíquota
mínima e máxima do ICMS nas
transações em que uma mercadoria sai
de um Estado e é consumida em outro.
Atualmente, essa alíquota é de 12% na
maioria dos casos. O que alguns
governadores fazem é reduzir esse
valor médio para 3% ou 4%, no caso
dos importados. Tal redução é feita na
forma da concessão de um crédito
tributário, de alongamento de prazo no
recolhimento do imposto ou na forma
de financiamento. n
Desoneração da folha de pagamento é adiada para junho
O governo pretende enviar ao
Congresso Nacional, ainda neste
semestre, um projeto de desoneração
da folha de pagamento. A previsão
era que o projeto fosse enviado para
votação até maio, mas foi adiado
para o mês de junho e a expectativa
é que a proposta entre em vigor
em 2012. O assunto está sendo
discutido entre governo, sindicatos
e empresários. O objetivo é aliviar
o custo do empregador e estimular
a formalização da mão de obra no
País, sem prejudicar a arrecadação
da Previdência. Atualmente,
a contribuição previdenciária
do empregador é de 20% sobre
o salário do empregado, enquanto
o trabalhador contribui com 8%. n
Governo desiste de restrição a importados
O governo abandonou a ideia de
exigir certificação técnica para
a entrada de produtos importados
no País. A medida foi anunciada
por Fernando Pimentel, ministro
do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior como uma das
ações para reduzir a competição
desleal dos importados em relação
aos produtos nacionais. O governo
chegou a prometer aos empresários
a edição de uma medida provisória,
mas se posicionou recentemente
afirmando que o Instituto Nacional
de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (Inmetro) não
tem condições de implementá-la. n
12 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 1
F i s c a l i z a ç ã o
Leão de olho nas
Stock Options
12 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 1
M a i o d e 2 0 1 1 • T a x V i e w • 13
Remunerar os executivos com as
conhecidas stock options” é uma forma
de a empresa agradar ao seu quadro
e, ao mesmo tempo, atingir as metas
de crescimento dos resultados. Essa
prática, no entanto, começou a chamar
a atenção da Receita Federal, nos
últimos meses, sobre como está sendo
feita a tributação do ganho proveniente
desses planos de stock options.
De olho nos procedimentos de
algumas empresas que disfarçam parte
da remuneração cedida ao executivo
por meio de planos de stock options,
reduzindo assim o recolhimento do
Imposto de Renda, a Receita resolveu
fechar o cerco na fiscalização.
Estar atento às especificidades do
plano da empresa, como, por exemplo,
se as ações são cedidas sem custo
ao empregado, ou com desconto no seu
preço, é fundamental para entender
as implicações fiscais e previdenciárias
desse tipo de remuneração, e ficar livre
de eventuais reveses ou dúvidas que
possam surgir diante da Receita Federal.
“Os executivos e as empresas que
estiverem tributando adequadamente
a operação com stock options, não
vão correr riscos com o Fisco”, explica
Carolina Rotatori, gerente da prática
de Human Capital Tax Advisory..
Para evitar eventuais transtornos com
a tributação, a especialista aconselha
ter coerência na hora de se fazer
a declaração. “Há empresas que tratam
as stock options como ganho
no salário de executivo, muitas vezes
porque são dadas ações com custo zero
ao empregado ou com custo simbólico.
Desta forma, o ideal é tributar como
salário. Outras empresas, por sua vez,
tratam as stocks options cedidas ao
funcionário como investimento, em que
o profissional está sujeito à flutuação
do mercado. Aí a tributação será
de 15%, que é a diferença entre o valor
da venda e o custo original nesse tipo
de operação”, observa Rotatori.
Segundo ela, no Brasil não há legislação
específica para as stocks options.
“É uma prática que é tratada com regras
gerais. E isso deu margem para que
alguns executivos tratem esse tipo de
remuneração como ganho de capital,
Para mais informações, entre em contato com:
Carolina [email protected]
“A ideia da Receita
Federal é pedir o
plano de stock
options da empresa
e analisar o ganho
para verificar como
estão sendo tratados
os rendimentos tanto
pela empresa quanto
pela pessoa física”
sofrendo a tributação de 15% sobre
o valor da venda e o custo original da
ação, o que é legítimo em casos em que
não foram cedidas ações a custo zero ou
quando os papéis tiveram valores abaixo
das cotações de mercado. É a mesma
tributação que vigora na compra e venda
de ações em bolsa”, afirma Rotatori.
A ação da Receita Federal em cima
de stock options surgiu por causa das
dúvidas que essas operações começaram
a despertar e pelas incongruências
encontradas em algumas declarações
de IR de pessoa física. “A Receita
Federal vai passar a fazer fiscalização
com base em um cenário de muita
incerteza sobre como algumas
empresas tratam as stock options.
Hoje, há dois projetos de lei tramitando
em torno desses planos. Um deles altera
a legislação trabalhista e o outro faz
mudanças na legislação societária.
Sendo aprovados, devem trazer regras
mais claras para a tributação desse tipo
de remuneração”, explica Rotatori.
O recrudescimento da fiscalização
para os planos de stocks options
começou no mês de março deste ano.
“A ideia da Receita Federal é solicitar
o plano de stock options da empresa
e verificar o tratamento contábil
e fiscal dado, para em seguida checar
como estão sendo tratados os ganhos
tanto pela empresa quanto pela pessoa
física”, explica Rotatori.
Segundo ela, o primeiro alvo serão
as empresas de capital aberto
no Brasil. “Em um segundo momento
deve começar a fiscalização nas
multinacionais que participam de planos
globais de stocks options.”
Garantir a compliance, ou adequação
fiscal, à realidade brasileira, será uma
das dificuldades que as multinacionais
poderão ter nesse cenário de
acirramento fiscal. “Os planos de
stock options são traçados do exterior.
Quando a empresa traz o formato
para o Brasil, o método de tributação
pode ser diferente. Mas tudo isso
pode ser superado desde que a empresa
esteja ciente de que está seguindo
as melhores práticas de mercado e as
regras gerais de tributação”, observa. n
14 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 1
nalisando-se a evolução
recente da legislação tributária,
verifica-se a adoção de medidas pelo
Brasil para se enquadrar no contexto
mundial de transparência, entre
as quais se destacam as restrições a
operações realizadas com residentes
em paraísos fiscais ou que gozem
de regimes fiscais privilegiados.
Entre tais medidas está o artigo 26
da Lei nº 12.249/2010, que traz
condições para a dedutibilidade
de despesas no caso de pagamentos
feitos a pessoas físicas ou jurídicas
residentes em paraísos fiscais
ou operando sob regime fiscal
privilegiado.
A exposição de motivos da Medida
Provisória nº 472/2009, que
veiculou esse artigo originariamente,
limitou-se a dizer que “o art. 26
objetiva restringir a dedutibilidade
dos pagamentos efetuados a
entidades off shore sem a necessária
identificação do efetivo beneficiário
e comprovação da sua capacidade
operacional”.
Restrição à dedutibilidade de despesas previstas no artigo 26 da Lei 12.249/2010 Sergio André Rocha
Sócio de Impostos da Ernst & Young Terco
A r t i g o
A Olhando um pouco para a experiência
internacional, identifica-se a restrição
de dedutibilidade de despesas
como um dos instrumentos voltados
ao controle da Concorrência Fiscal
Internacional Prejudicial, como
apontado no relatório Harmful Tax
Competition: An Emerging Global
Issue, editado pela OCDE em 1998.
A regra prevista no caput do artigo
26 da Lei nº 12.249/2010
estabelece uma presunção relativa
de indedutibilidade de pagamentos,
créditos, entregas, empregos
ou remessas de importâncias para
pessoas residentes em paraísos
fiscais ou sujeitas a regimes fiscais
privilegiados. Ou seja, como
regra, tais despesas seriam sempre
indedutíveis, a não ser que o residente
brasileiro possa comprovar,
cumulativamente:
I – a identificação do efetivo
beneficiário da entidade no exterior,
destinatário dessas importâncias;
II – a comprovação da capacidade
operacional da pessoa física ou
entidade no exterior de realizar a operação; e
III – a comprovação documental do pagamento do preço respectivo e do recebimento dos bens e direitos ou da utilização de serviço.
Ao analisarmos os requisitos acima, verificamos que, imaginando uma operação entre partes independentes, apenas o terceiro requisito pode efetivamente ser cumprido pela pessoa jurídica brasileira. Em verdade, em nada acrescentou esse inciso III ao que já previa a legislação tributária: para que a despesa seja dedutível, há que se provar que o desembolso foi feito e que o pagador recebeu o que comprou ou usufruiu dos serviços que contratou.
Deixando o terceiro requisito de lado, cabe examinarmos os dois primeiros.
De acordo com o inciso I do artigo 26 da Lei nº 12.249/2010, cabe à pessoa jurídica brasileira identificar o beneficiário efetivo da transação, definido, de acordo com o § 1º desse mesmo dispositivo, como sendo “a pessoa física ou jurídica não constituída com o único ou principal objetivo de economia tributária que auferir esses valores por sua própria conta e não como agente, administrador fiduciário ou mandatário por conta de terceiro”.
Não vamos entrar aqui na análise do conceito de beneficiário efetivo e de suas implicações. Contudo, considerando que uma das características dos paraísos fiscais consiste exatamente no sigilo
M a i o d e 2 0 1 1 • T a x V i e w • 15
não tenham sido efetuadas com o único ou principal objetivo de economia tributária”.
O requisito de demonstração da capacidade operacional da pessoa não residente pode ser considerado incongruente, na medida em que não se verifica na maioria das operações desenvolvidas em paraísos fiscais; contudo, uma vez estabelecido, é claramente inviável exigir-se a demonstração de capacidade operacional, estabelecendo para o afastamento desse requisito outra exigência de difícil comprovação, a não ocorrência de planejamento fiscal.
Em resumo, parece-nos que a regra em comento é incongruente e incoerente, não se encontrando apta à aplicação pelos contribuintes sem que seu conteúdo normativo seja extrapolado a uma quase indedutibilidade absoluta de pagamentos feitos a pessoas residentes em paraísos fiscais ou que gozem de regimes fiscais privilegiados.
Cremos que o Brasil seguiu aqui o mesmo caminho trilhado em outros temas, como a transparência internacional do artigo 74 da Medida Provisória nº 2.158/2001, as regras contra a subcapitalização e a listagem dos regimes fiscais privilegiados, pois, embora não se possa questionar o fim que se buscava com a edição de tais normas, verifica-se que a regulamentação brasileira ou é incompleta, gerando insegurança, ou é muito abrangente, extrapolando os fins da norma, ou é confusa, inviabilizando sua aplicação prática.
Temos visto um esforço louvável do legislador brasileiro e da Receita Federal do Brasil para alinhar nossa legislação com os padrões internacionais de transparência e controle de paraísos fiscais e regimes fiscais privilegiados. Contudo, o que se percebe na prática é a edição de normas confusas e incoerentes. A regra de CFC mais abrangente do mundo, regras de preços de transferência que não seguem qualquer padrão internacional, uma lista de regimes fiscais privilegiados que é descasada dos trabalhos da OCDE e menciona regimes que não existem mais, e agora essa regra incongruente e incoerente de restrição de dedutibilidade.
Cremos que a regra do artigo 26 da Lei nº 12.249/2010, da maneira como está redigida, não é compatível com o ordenamento jurídico pátrio, devendo ser revista pelo legislador. Dos requisitos previstos para dedutibilidade nesse dispositivo, apenas o do inciso III poderia ser mantido, embora o mesmo já seja inerente às regras de dedutibilidade previstas na legislação do Imposto de Renda. Os demais requisitos não são razoáveis e devem ser afastados como condições para a dedução de despesas referentes a pagamentos para pessoas físicas ou jurídicas residentes em paraísos fiscais ou sujeitas a regimes fiscais privilegiados. n
societário, criou a lei uma condição
que não pode ser cumprida
pela pessoa jurídica brasileira por
sua própria conta, ao menos quando
a operação não seja feita com
parte relacionada.
O mesmo pode ser dito a respeito
do requisito estabelecido no inciso II.
Numa transação real, entre partes
independentes, a pessoa jurídica
brasileira não terá possibilidade
de comprovar a dita capacidade
operacional do fornecedor.
Em relação a esse item, chama a
atenção uma questão adicional. Os
paraísos fiscais são costumeiramente
utilizados para a concentração
de bens e direitos capazes de gerar
rendas passivas, como aluguéis,
royalties, juros, dividendos, etc.
Ou seja, raramente se realizam em tais
jurisdições atividades empresariais
que tipicamente demandam uma
estrutura organizacional relevante.
Como vimos acima, ao estabelecer
condições que, de acordo com a
forma como as transações de
mercado se desenvolvem, não podem
ser cumpridas pela pessoa jurídica
brasileira, é possível argumentar que a
regra não é congruente com o suporte
empírico sobre o qual deve incidir.
Por outro lado, identificamos
também que as condições previstas
no artigo 26 da Lei nº 12.249/2010
são incoerentes, por demandarem
do contribuinte o cumprimento de
condições notadamente irrazoáveis.
Por exemplo, o inciso II desse
dispositivo estabelece a obrigação
de comprovação da capacidade
operacional da pessoa física ou jurídica
no exterior para realizar a operação.
Esse requisito se casa com a
necessidade de realização de atividade
econômica substantiva pela pessoa
física ou jurídica não residente,
típico instrumento de controle
de planejamentos tributários
abusivos. Depois a Lei afirma que
“a comprovação do disposto no
inciso II do caput deste artigo não se
aplica no caso de operações que
Para mais informações, entre em contato com:
Sergio André [email protected]
“Olhando para a experiência internacional, identifica-se a restrição de dedutibilidade
de despesas como um dos instrumentos voltados ao controle da Concorrência Fiscal Internacional prejudicial, como apontado no relatório Harmful Tax Competition de 1998”
16 • T a x V i e w • M a i o d e 2 0 1 1
Trabalhar com determinação.
Nós conhecemos bem a sua história.
Empreender, crescer e ser líder de
mercado não é uma questão de sorte.
O ambiente de negócios, cada vez
mais complexo, exige uma gestão
efetiva dos riscos e oportunidades.
A constante evolução tecnológica,
mudanças nas estruturas de negócios
e o dinamismo do mercado global são
fatores que evidenciam essa tendência.
Qualquer que seja sua área de
atuação ou estágio de crescimento,
para que sua empresa consiga se
destacar no mercado, colocamos, lado
a lado, nosso conhecimento global e a
experiência no middle market.
É por isso que somos a mais
completa empresa de auditoria e
consultoria do Brasil.
Auditoria | Consultoria Tributária e
Trabalhista | Consultoria de Estratégia
e Gestão | Transações Corporativas
www.ey.com.br