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    Por: Fernando Kubitza, Ph. D.Acqua Imagem Servios [email protected]

    Tanques-rede em audes particulares:oportunidade e atenes especiais

    Muitos proprietrios rurais e empresas agroorestais inves-tiram considervel capital na construo de audes paraprover gua para irrigao, consumo animal, combate a

    incndios e recreao. O retorno destes investimentos geralmente demorado e, em muitos casos, pode at mesmo nem ocorrer. Desta

    orma, uma atividade capaz de agregar receitas adicionais, comoa criao de peixes em tanques-rede, pode otimizar o uso destesaudes e reduzir o tempo de retorno do capital investido.

    Grande parte das propriedades rurais no Brasil dispe de audese muitos deles apresentam condies adequadas para a produode peixes em tanques-rede. Esta atividade no consome gua e noimplica em desmatamento ou degradao do entorno do aude. Almdo mais, quando se implanta o cultivo de peixes em tanques-redenestes audes, o empreendedor acaba adotando medidas mais rigo-rosas de conservao do solo na bacia de captao e no entorno doaude, minimizando o transporte de partculas slidas que podemacelerar o assoreamento do aude e prejudicar a qualidade da guae o desempenho dos peixes. Assim, a piscicultura em tanques-rede plenamente compatvel com a maioria das outras ormas de usodos audes rurais.

    O investimento necessrio para iniciar o cultivo de peixes emtanques-rede aproveitando audes j existentes muito menor quandocomparado implantao de pisciculturas em tanques escavados(viveiros). Alm disso, tambm no exige a ocupao de novas reasda propriedade, tampouco compete com outras atividades pelo uso

    da gua. Outra grande vantagem a ser considerada no uso de audesparticulares para a piscicultura em tanques-rede a maior acilidadede licenciamento ambiental do empreendimento, comparado ob-teno de outorga de uso da gua e autorizao para implantaoe operao de cultivos em tanques-rede em guas pblicas.

    Por estes motivos, e tambm pela grande possibilidade deobter bons retornos fnanceiros com a piscicultura, muitos empre-endedores j investiram, e outros tantos tm avaliado com atenoa oportunidade de investir no cultivo de peixes em tanques-rede,tanto em audes prprios ou arrendados de terceiros.

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    Uma boa avaliao da oportunidade do investimentoApesar do grande potencial de aproveitamento dos audes particulares para

    a piscicultura em tanques-rede, antes de decidir pelo investimento o empreendedordeve dedicar especial ateno ao planejamento do negcio. Cinco pontos funda-mentais devem ser considerados antes de entrar no negcio:

    A denio da capacidade de produo dos audes disponveis;

    A identicao das espcies com potencial de cultivo e mercado;

    O levantamento dos possveis mercados e preos de venda; A anlise da viabilidade econmica da implantao do empreendimento;

    A capacidade de formar uma equipe de produo competente.

    A capacidade de produo dos audes - audes de vrios tamanhos podem abrigartanques-rede para a engorda de peixes. Uma nica propriedade pode dispor de umgrande nmero de audes. O mais adequado concentrar o empreendimento em pou-cos audes de maior porte do que pulverizar os tanques-rede em um grande nmerode audes pequenos. Isso facilita a rotina da produo (alimentaes, classicaese transferncia de peixes) e diminui a necessidade de duplicar investimentos eminfraestrutura e equipamentos (plataformas de manejo, barcos para a alimentao,estradas de bom acesso, poitas, iluminao para inibir roubos, entre outros). Tambm

    ca mais fcil prover vigilncia para impedir roubos.Escolhidos os audes de melhor potencial, o empreendedor deve ter a real

    dimenso do que possvel produzir, dadas as limitaes de rea e renovao degua em cada um deles. Ou seja, precisa ter uma idia da capacidade de produodos audes, sem que haja comprometimento da qualidade da gua para o prpriocultivo e para outros usos a que ela se destina. Para isso deve procurar auxlio de

    pessoas experientes no assunto. Invariavelmente, os proprietrios, geralmente leigosna atividade, acreditam que o sistema comporta uma produo muito superior ao que possvel e rapidamente experimentam problemas de qualidade de gua.

    A rea do aude e seu potencial de renovao de gua so fatores importan-tes que determinam a biomassa segura, a capacidade de produo anual e o nvelde alimentao seguro para se atingir esta produo. Na Tabela 1 so apresentadasrecomendaes quanto capacidade de produo de peixes em tanques-rede em pe-quenos audes, respeitando uma taxa de alimentao compatvel com a manutenode adequados nveis de oxignio dissolvido na gua.

    Geralmente o regime de reno-vao de gua nos audes no mantmuma regularidade ao longo do ano. Hmaior renovao na poca das chuvase menor na estiagem. Assim, paradeterminar a biomassa segura a sersustentada no aude, possibilitandoo planejamento inicial da produo,o empreendedor deve considerar o

    perodo de menor renovao de gua.Implantado o projeto, com base nacondio de qualidade de gua apsatingida a biomassa segura inicial-mente proposta, o empreendedor

    poder avaliar se h possibilidade deaumentar, ou mesmo se deve diminuir,a intensidade de produo no aude.

    Exemplo de aplicao da Tabela 1 -um aude de 4 hectares com renovao

    prxima de zero, pode sustentar uma

    biomassa instantnea de 8 toneladasde peixes (4ha x 2t/ha) e uma cargadiria de rao entre 80 e 120kg (4hax 20kg/ha/dia a 4ha x 30kg/ha/dia).A produo anual esperada deve carentre 20 e 28 toneladas (4ha x 5t/ha/ano a 4ha x 7t/ha/ano);

    Outro exemplo - um aude de 15hectares com renovao de 5 a 10%ao dia pode sustentar uma biomassainstantnea de 45 toneladas (15ha x

    3t/ha) e uma carga diria de raoentre 600 e 750kg (15ha x 40kg/ha/dia a 15ha x 50kg/ha/dia). A produoanual esperada deve car entre 120 e150 toneladas (15ha x 8t/ha/ano a 15hax 10t/ha/ano).

    O produtor deve assegurar umnvel de oxignio de pelo menos 3a 4mg/l pela manh no interior dostanques-rede, de forma a manter umadequado desempenho dos peixes. N-veis de oxignio abaixo de 2mg/l, almde prejudicar o desempenho (cresci-mento e converso alimentar), podemdeixar os peixes mais susceptveis aomanuseio e doenas, aumentando amortalidade no cultivo. Para evitar

    problemas com o oxignio dissolvido fundamental no exceder os limitesseguros de alimentao. Tais limitesso excedidos quando o produtor ins-tala mais tanques-rede do que o aude capaz de suportar, ultrapassando a

    Tabela 1. Sugesto bsica de capacidade de produo para incio de implantao do cultivo detanques-rede em audes rurais, de acordo com os dados gerados com a planilha do livro Cultivo de

    Peixe em Tanques-Rede (Ono e Kubitza 2003).

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    biomassa segura. O produtor inexperientee que no tem controle sobre os parme-tros de qualidade de gua, sempre tendea acreditar ser possvel instalar uma novalinha de tanques-rede, pois enganado

    pelo grande espao ainda disponvel noaude. Este produtor acaba aprendendo,da maneira mais dura, que h um limite desustentao que deve ser respeitado.

    Espcies que podem ser cultivadasem tanques-rede - Diversas espciesde peixes podem ser produzidas emtanques-rede. A tilpia, o pintado, ocatsh americano, a carpa comum, os

    peixes redondos, o pirarucu, a jatuaranae a matrinx so exemplos de espciescom bons resultados obtidos no cultivoem tanques-rede. As condies de mer-cado (preferncias, demanda e preo), adisponibilidade de alevinos, o custo de

    produo, entre outras particularidades,devem ser avaliadas pelo produtor antesde optar por uma outra espcie. A tilpia- dentre todas estas espcies, a tilpia a melhor para quem est debutando naatividade. O produtor no tem diculdadeem obter alevinos, o peixe resistente aomanuseio mesmo quando envolve pessoal

    pouco experiente. E o mercado da til-pia est em plena ascenso. Por esses eoutros motivos a tilpia hoje a espciemais cultivada em tanques-rede no pas.

    O uso de tanques-rede a opo maisacertada quando se pensa em produzirtilpias em audes particulares. Geral-mente estes audes so profundos, tmobstculos ao arrasto das redes (plantasaquticas, troncos e galhos de rvores,etc) e no podem ser drenados comfreqncia, seja por falta de estrutura

    para drenagem completa, seja pelo usoda gua em outras atividades. Sob taiscondies, a despesca de tilpias soltasno aude humanamente impossvel. Noentanto, quando as tilpias so cultivadasem tanques-rede, a colheita simples eeciente. Apesar da relativa facilidade de

    produo de tilpias nos tanques-rede,em algumas situaes a grande ofertalocal pode tornar o valor de venda poucoatrativo diante do custo de produo entre1,90 e 2,20/kg hoje obtido com a tilpiaem tanques-rede. Estes custos podemvariar em funo da regio do pas, escalade produo e peso mdio nal do peixe

    produzido. Custos mais elevados podemocorrer se os cultivos forem prejudicados

    pelo mau planejamento, doenas, roubosou escapes de peixes. Os preos de ven-da da tilpia cultivada em tanques-redevariam entre R$ 2,50 e R$ 5,00/kg, emfuno da regio, tamanho do peixe, estra-tgia de comercializao e mercado alvo.O pintado (surubim) - o cultivo deste

    peixe em tanques-rede vem empolgandoalguns produtores em So Paulo e MinasGerais. Devido ao seu alto valor de mer-cado, o pintado uma interessante opoquando preciso maximizar os lucros soblimitada disponibilidade de rea, o quegeralmente ocorre em pequenos audes

    particulares. O pintado desfruta de grandeconceito e valor no mercado. No entan-to, o produtor que optar por investir nocultivo do pintado, deve estar preparado

    para mudanas na rotina do cultivo. Uma

    delas a realizao de alimentaes du-rante o perodo noturno, principalmentenos tanques-rede com juvenis, que no sealimentam bem durante o dia. Pintados demaior porte (acima de 20-25cm) podemser habituados alimentao em horriosde baixa luminosidade (primeiras horasda manh e ao nal do dia). No entanto,ainda se alimentam melhor durante anoite. Mudar a rotina da produo pararealizar as alimentaes noturnas temsuas vantagens em nosso pas. A principal

    delas a inibio de roubos e vandalis-mos. Funcionrios trabalhando so maisecientes nisso do que um vigia dormindoa noite inteira. Alm do mais, concen-trando o manejo da alimentao durantea noite, o perodo diurno ca reservado

    para outras atividades de manejo (classi-cao, transferncias, despescas, reco-lhimento de peixes mortos, ajustes nosanis de alimentao, etc), sem que hajainterferncias com a rotina de alimenta-o. O custo de produo do pintado emtanques-rede varia em funo da escala de

    produo, qualidade do alevino (ecin-cia do treinamento alimentar e gentica) e

    peso nal do peixe produzido. Este custohoje gira entre R$ 4,30 a 5,80/kg, prati-camente o dobro do custo de produoda tilpia. Isso se deve principalmente aomaior custo dos alevinos e das raes nocultivo do pintado. Assim, o produtor queoptar pelo pintado deve estar preparado

    para investir mais no custeio da produo.

    "O uso de tanques-

    rede a opo mais

    acertada quando se

    produz tilpias em

    audes particulares.Geralmente

    estes audes so

    proundos, tm

    obstculos ao

    arrasto das redes

    e no podem ser

    drenados com

    reqncia, seja por

    alta de estrutura

    para drenagem

    completa, ou pelo

    uso da gua em

    outras atividades.

    Sendo assim, a

    despesca de tilpias

    soltas no aude

    humanamenteimpossvel. No

    entanto, quando os

    peixes so cultivados

    em tanques-rede, a

    colheita simples".

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    Apesar desse maior custo, os produtoresde pintado tm recebido R$ 8,00 a 10,00

    por quilo de peixe inteiro com a venda aintermedirios (transportadores de pei-xes vivos, atacadistas e supermercados).Preos ainda melhores, entre R$ 10,00 e12,00/kg so obtidos com a venda diretaaos pesque pagues e ao consumidor nal.Esta maior margem de lucro possvel com

    o pintado resulta em retorno superior aoque pode ser obtido com a tilpia, tornan-do atrativa at mesmo a implantao deempreendimentos de pequeno porte.

    Uma avaliao dos canais de mercado -O pescado oriundo da piscicultura podeser comercializado de diversas formas:a) peixe vivo para pesca esportiva, parao mercado de peixe vivo ou mesmo paraentrega aos frigorcos e algumas redesde supermercado; b) peixe abatido para

    venda direta ao consumidor nal na fa-zenda ou em feiras livres; ou para vendaa restaurantes ou a atacadistas (super-mercados, frigorcos, entre outros); c)

    produtos processados na propriedade,para vendas diretas ao consumidor nal,a restaurantes ou a atacadistas. Quandoa escala de produo relativamente

    pequena, os peixes acabam sendo vendi-dos localmente a preos compensadores,seja para consumidores no municpio ou

    pesque-pagues locais. Em particular, a

    venda de peixes vivos diretamente aoconsumidor, apesar de exigir grande de-dicao do produtor, possibilita alcanaralta margem de lucro e um mercado semconcorrente para os produtos da aqi-cultura. Dos relatos que tenho ouvidode produtores em diversas regies do

    pas, todos que partiram para esta formade comercializao, principalmente noincio dos seus empreendimentos, caramimpressionados com o sucesso dessa mo-dalidade de venda. Com uma produomaior, muitas vezes necessrio expandiro horizonte de comercializao. Isso podeexigir investimentos em infraestruturade transporte de peixe vivo ou mesmo ainstalao de uma pequena unidade de

    beneciamento, geralmente com alvare licena para funcionamento no muni-cpio expedido pela vigilncia sanitria e

    prefeitura local. Isso possibilita ampliar oleque de produtos ofertados (peixe evis-cerado e ls frescos e congelados), con-

    tribuindo para o aumento nas vendasdiretas. Quando estes investimentosno so possveis, o produtor passa adepender de transportadores de peixesvivos ou de outros intermedirios/atacadistas para escoar parte ou todaa sua produo.

    Anlise preliminar da viabilidade

    econmica - Antes de decidir pelaimplantao, fundamental realizaruma anlise da viabilidade econmicado empreendimento, de forma a pre-ver o potencial de retorno ao capitalinvestido sob diferentes cenrios, prin-cipalmente variando as condies de

    preo de venda, volume de produoanual e preos dos principais insumosde produo (geralmente a rao e osalevinos). Para realizar esta anlise preciso ter uma idia do tamanho

    do investimento (em tanques-rede,equipamentos, infra-estrutura de su-

    porte e demais desembolsos que seronecessrios para a implantao doempreendimento). Tambm preciso

    prever o montante das despesas opera-cionais (rao, mo de obra, alevinos,insumos diversos, manuteno dasinstalaes e equipamentos) e ter uma

    previso das receitas (descontadas asdespesas e impostos sobre as vendas).As receitas so geralmente estimadas

    com base nos preos de venda queforam aferidos em diversos canaisde mercado, como o pesque-pague, omercado local (peixe vivo ou abatido)e os atacadistas.

    Capacidade para ormar a equipede produo - A maior diculdade

    para a operao de uma piscicultura a relativa diculdade de encontrarfuncionrios familiarizados com o ma-nejo envolvido na produo de peixes.

    Assim, o proprietrio deve se certicarde que contar com suporte tcnicoinicial, tanto para planejar a produoe as atividades rotineiras, como paracapacitar os funcionrios e gerentes doempreendimento. O sucesso da produ-o depende, em grande parte, do olharatento, da habilidade e do cuidado dosfuncionrios, alm da capacidade deorganizao de quem gerencia o diaa dia do cultivo. Muitos proprietrios

    "O proprietrio de

    uma piscicultura deve

    se certifcar de que

    contar com suportetcnico inicial,

    tanto para planejar

    a produo e as

    atividades rotineiras,

    como para capacitar

    os uncionrios

    e gerentes do

    empreendimento. O

    sucesso da produo

    depende, em grande

    parte, do olhar

    atento, da habilidade

    e do cuidado dos

    uncionrios, almda capacidade de

    organizao de quem

    gerencia o dia a dia

    do cultivo".

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    interessados no cultivo de peixes em tanques-rede acabamoptando por fazer experimentaes, colocando muitasvezes gente inexperiente e sem suporte para conduzir asatividades de rotina, que geralmente acabam sendo execu-tadas nas brechas entre as atividades principais que estesfuncionrios desempenham na fazenda.

    Onde posicionar os tanques-rede?Decidir onde posicionar os tanques-rede em um aude

    no uma tarefa muito simples. Os produtores quase sempre co-locam os tanques-rede nos locais mais fundos, em geral prximo barragem. Diversos motivos induzem a isso: o principal, e hlgica nisso, acreditar que quanto mais distantes os tanques-rede carem dos resduos orgnicos do fundo, menor o risco de

    problemas com a qualidade da gua no interior dos tanques-redee menor o risco de doenas e infestaes por parasitos. O segun-do motivo, pelo fato de poder contar com um acesso mais fcils estruturas, visto que o topo da barragem geralmente oferece

    boas condies de trfego de veculos, facilitando a chegada dosinsumos e a sada dos peixes. O terceiro motivo o fato de que,

    posicionando os tanques-rede no local mais fundo, dicilmente

    haver necessidade de desloc-los quando ocorre um abaixa-mento no nvel do reservatrio, o que pode ocorrer em audesusados para irrigao durante os meses de estiagem.

    Mas a deciso de onde posicionar os tanques-redenem sempre pode ser tomada com base em intuio, im-

    pulso ou comodidade. O produtor deve estar ciente deque h um grande risco de se posicionar os tanques-redenos locais mais profundos do aude, devido aos riscos demistura ou desestraticao da coluna dgua (ver Figura1). Portanto, para denir onde os tanques-rede devem ser

    posicionados, diversos aspectos merecem ser considerados.O primeiro deles a necessidade de assegurar um espao

    mnimo de pelo menos 1,0m entre o fundo dos tanques-rede e o fundo do aude. Assim, para tanques-rede com1,5m de altura til, estamos falando em locais com 2,5mde profundidade. A maneira mais objetiva de selecionaro local (satisfeitas s exigncias quanto facilidade deacesso, investimento mnimo e segurana) avaliar o perlde oxignio em profundidade nas reas pr-selecionadas.Debaixo dgua muita coisa pode estar escondida. reascom grande quantidade de vegetao e/ou depsito dematerial orgnico (turfas, por exemplo) podem ter cadosubmersas com a formao do aude. Nveis baixos deoxignio e concentraes elevadas de gs carbnico socaractersticos nestes locais, podendo permanecer assimdurante muito tempo, muitas vezes anos, aps o enchimen-to do aude. Assim, a vericao dos nveis de oxignio dasuperfcie ao fundo pode conrmar se o local adequadoou no. Locais adequados so aqueles em que o oxigniose mantm acima de 3mg/l no ponto equivalente a 70% da

    profundidade. Exemplicando, em um local com profun-didade mxima de 5m, o oxignio dissolvido a cerca de3,5m de profundidade (70% de 5,0m) deve ser, pelo menos,3mg/l. Isso diminui muito o risco de problemas de mortede peixes se houver a mistura da gua do aude.

    O risco dos tanques-rede nos locais mais proundosOs corpos dgua dos audes apresentam estraticao

    fsica, causada por diferenas na densidade da gua em funoda temperatura nas diferentes camadas, conforme ilustrado naFigura 1b e 1c. Na superfcie, em funo da radiao solar, a gua

    permanece mais aquecida e com maior intensidade luminosa. Aintensidade de luz reduzida com o aumento na profundidade e,assim, a gua do fundo no aquecida com a mesma intensidadeque a gua da superfcie. Quanto mais fria for a gua (at 4oC),

    maior ser a sua densidade. Desta forma, a gua mais fria seposiciona nos extratos mais profundos. Com isso ocorre a estra-ticao fsica do corpo dgua de um aude.

    Na camada mais supercial do aude, com radiao solarmais intensa, o toplncton se desenvolve melhor. Atravs da fotos-sntese, o toplncton produz mais de 80% do oxignio utilizado narespirao dos demais organismos aquticos, inclusive os peixes nostanques-rede. Com o aumento na profundidade, a intensidade de luzdiminui, desacelerando a fotossntese e reduzindo a produo de oxi-gnio. Isso resulta em uma reduo progressiva no oxignio dissol-vido, desde a camada mais supercial at a mais profunda do aude.A uma profundidade prxima de 2,4 vezes a transparncia da gua

    (medida com o disco de Sechi) a taxa fotossinttica se iguala taxarespiratria, ou seja, todo o oxignio produzido consumido. Assim,em um aude com gua de transparncia ao redor de 1,00m, abaixode 2,40m no h excedente da produo de oxignio e, a oxigenaodeste extrato mais profundo depende em grande parte da mistura desua gua com a gua do estrato superior, mais oxigenado.

    Adicionalmente, sobre os sedimentos dos audes ocorre adeposio de material orgnico (plncton sedimentado; fezes dos

    peixes; folhas, estercos animais e outros materiais transportados pelovento ou pela enxurrada; restos de plantas aquticas; eventuais sobrasde alimento; fertilizantes orgnicos aplicados no aude; entre outros).Este material depositado nos sedimentos rapidamente reciclado nos

    locais mais rasos do aude (Zona 1). Neste estrato h grande dispo-nibilidade de oxignio, pH adequado e temperaturas elevadas paraacelerar o processo de degradao e decomposio da matria org-nica por bactrias e outros organismos. Os nutrientes liberados neste

    processo so rapidamente assimilados pelo toplncton. Entre eles, ogs carbnico (CO

    2), o nitrognio na forma amoniacal (NH

    4+) ou de

    nitrato (NO3-) e o fsforo na forma de ortofosfatos (HPO

    4-2 e H

    2PO

    4-).

    No entanto, nos locais mais profundos (Zonas 2 e 3), em virtude damenor disponibilidade de oxignio, maior acidez e baixa temperaturada gua, este material orgnico decomposto de forma muito lenta.Isso provoca um acmulo de material orgnico nos sedimentos, re-sultando em depleo total do oxignio e aumento na concentrao degs carbnico nas guas mais profundas. Sem oxignio, o processo dedecomposio da matria orgnica passa a ser anaerbico (fermenta-o), resultando na produo e acmulo de substncias txicas comoa amnia (NH

    3), o nitrito (NO

    2-), o gs sfdrico (H

    2S) e o metano

    (CH4). Assim, alm de ter o oxignio zerado (ou mesmo negativo,

    ou seja, demanda por oxignio) e alta concentrao de gs carbnico,a gua das zonas mais profundas (Zona 3) concentra uma signicativaquantidade de substncias txicas aos peixes.

    Enquanto esta gua permanece no fundo, sem perturbao,no h problema. No entanto, quando este estrato do fundo, poralguma razo, se mistura com as outras camadas (em um fenmeno

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    chamado desestraticao), o risco de morte dos peixes nos tanques-rede muito grande. Diferente dos peixes soltos no aude, os peixes connados nostanques-rede no conseguem se deslocar para um local de melhor qualidade degua. Tampouco, devido alta densidade no interior dos tanques-rede, muitos noconseguem acessar a superfcie, onde est o lme de gua mais oxigenado, emcontato com a atmosfera. Inevitavelmente, grande parte dos peixes morre. A bocae os oprculos abertos so sinais claros de que houve asxia, causada pela sbitareduo no oxignio e alta elevao no gs carbnico aps a mistura dos estratos.Quando a morte dos peixes no ocorre imediatamente (ou seja, o oxignio e o gs

    carbnico no atingiram nveis sucientes para matar), nos dias seguintes podeocorrer mortalidade em virtude da intoxicao dos peixes por outras substnciastxicas que aumentaram de concentrao na gua supercial. Por tudo isso, quando

    gativo potencial redox negativo); acmulo dematria orgnica nos sedimentos; decomposioanaerbica do material orgnico; acmulo decompostos txicos, como o nitrito (NO

    2-), o gs

    suldrico (H2S) e o metano (CH

    4).

    (a) Vista superior de um aude com tanques-rede, identifcando reas comdierentes riscos para posicionamento dos tanques-rede.

    ) Seo longitudinal de um aude (AB)

    Seo transversal de um aude (CD)

    os tanques-rede so posicionados nas reas demaior profundidade, o risco de mortalidade dos

    peixes devido mistura das camadas maior.Zona 1 bem iluminada; presena do

    toplncton; temperatura mais elevada; oxi-gnio adequado; pouco gs carbnico; rpidadecomposio de material orgnico;

    Zona 2 menor intensidade de luz;menos toplncton; temperatura, oxignio e

    gs carbnico em nveis intermedirios;Zona 3 pouca ou nenhuma luz;ausncia de atividade fotossinttica; baixosnveis de oxignio (geralmente zero ou ne-

    Figura 1 Na Fig. 1a apresentado um desenho simplifcado deum aude com baterias de tanques-rede posicionadas em dierentes

    locais. Geralmente os produtores posicionam os tanques-rede nasreas mais undas do aude, prximas barragem. Os cortes AB e CDda Fig. 1a so representados na orma de perfs do aude, nas Fig. 1b(perfl longitudinal) e Fig. 1c (perfl transversal), respectivamente.Em ambos os perfs apresentada uma simplifcada estratifcaoda coluna dgua do aude. Estratifcao como esta deve seresperada em todos os audes. Na Fig. 1b observe que a inuncia doestrato mais proundo e de pior qualidade (Zona 3) aumenta quantomais prximo se chega a barragem. Na Fig. 1c observamos que ainuncia desta mesma Zona 3 maior no centro do aude do quenas margens. Posicionar os tanques-rede prximos barragem ounas reas centrais do aude implica em maior risco de incidentescom a mistura destas camadas de gua (desestratifcao).

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    As principais foras que causam adesestraticao da gua dos audes soos ventos fortes, as enxurradas e a quedana temperatura do ar, que afeta a tempe-ratura e a densidade da gua supercial.

    Nos meses de vero, momento em que oaude se encontra fortemente estratica-do, a ocorrncia de temporais, com fortesventos, e/ou grande volume de enxurrada

    carreado para dentro dos audes, as ca-madas de gua podem ser rapidamentemisturadas, desestraticando o aude.Por anos seguidos tenho conhecido pro-dutores que experimentaram mortalidadesbita de tilpias em tanques-rede, princi-

    palmente nos meses de vero. Em quasetodos os casos, ocorreram temporais aoentardecer ou na noite que antecedeu amortalidade. Onde isso no ocorreu, amais provvel causa da morte dos peixes

    por asxia pode ter sido a morte sbita

    do toplncton em audes onde a guaestava excessivamente verde e comtransparncia abaixo de 30cm (mais infor-maes sobre a morte sbita do plncton

    podero ser encontradas em livros sobrequalidade de gua e em matrias j pu-

    blicadas nesta revista). Nos meses deinverno, a temperatura da gua supercialacompanha a queda na temperatura doar. Esse resfriamento da gua supercial

    provoca uma queda na temperatura dascamadas subseqentes at que, aos pou-

    cos, o gradiente de temperatura entre asdiferentes camadas minimizado. Comisso, a diferena na densidade entre osestratos se reduz e a mistura da gua doaude acaba ocorrendo, porm de maneiramenos sbita. Esse fenmeno chamadode inverso trmica. Em pequenos audesa inverso trmica pode ocasionar a mortedos peixes nos tanques-rede, porm commenor intensidade do que se poderia es-

    perar em grandes reservatrios.Quando ocorre a morte dos peixes

    pela mistura das camadas (uma mortali-dade muito misteriosa aos olhos de um

    produtor leigo), comum atribuir o pro-blema rao ou mesmo a um possvelenvenenamento intencional da gua doaude. No entanto, uma rao emboloradaou com alguma decincia nutricionalno mata todos os peixes da noite parao dia, a no ser que realmente algumtenha colocado um veneno na rao. E,

    por outro lado, se houve algum envenena-

    mento da gua, os peixes soltos no audetambm deveriam ter morrido. E isso ge-ralmente no ocorre, pois os peixes soltos

    podem procurar locais com oxignio maisadequado ou, at mesmo, se esparramar

    pela superfcie da gua, buscando o lmesupercial mais oxigenado.

    O produtor pode prevenir a ocor-rncia de forte estraticao atravs dos

    seguintes procedimentos de rotina: drenagem peridica da gua do undo,com o uso de monges, cachimbos e ou-tras estruturas que removam continuamen-te o excesso de gua pelo fundo do aude.Se estas estruturas no existem, ainda

    possvel fazer a implantao de sifes paraa descarga da gua do fundo; captao de gua para irrigao noestrato mais proundo do aude. A guaem profundidade geralmente contmmenos material particulado (gua com

    ausncia de plncton), causando menosproblemas com o entupimento de ltrose dos bicos dos aspersores. Alm disso,remover a gua do fundo ajuda a reduzira severidade de morte dos peixes nostanques-rede em um eventual problemacom a mistura da gua do aude. Quandoa gua removida dos estratos interme-dirios, o gradiente de qualidade de guaentre a superfcie e o fundo ca aindamais acentuado, podendo amplicar amortalidade de peixes com a ocorrncia

    da desestraticao. circulao diria da gua nas reas maisundas do aude, com o uso de aeradoresde p ou com propulsores de ar ecientes.Esta circulao deve ser efetuada entreas 12:00 e 15:00 horas, horrios maisquentes do dia e de pico de fotossntese.O objetivo da circulao empurrar agua mais rica em oxignio da superf-cie para o estrato mais fundo do aude,melhorando as condies de oxignio nofundo, reduzindo assim o gradiente dequalidade da gua entre a superfcie e ofundo do aude. O produtor que dispuserde oxmetro notar que aps a circulaode gua haver um aumento na concentra-o de oxignio em profundidade.

    O uso de aeraoEm audes pequenos, se houver

    eventuais problemas com a qualidade dagua, no difcil acudir providenciandouma aerao localizada prxima das

    "Produtores

    inexperientes

    muitas vezes

    minimizam a

    importncia do

    uso de raes dealta qualidade

    e, seduzidos por

    preos atrativos

    e por alsas

    garantias de bom

    desempenho,

    acabam comprandoraes incapazes

    de atender s

    necessidades dos

    peixes cultivados

    em tanques-rede.

    Raes inadequadas,

    prejudicam o

    crescimento e a

    converso alimentar,

    e podem resultar

    em maior incidncia

    de doenas e

    mortalidade no

    cultivo, aps

    o manuseio e

    durante e depois

    do transporte. Com

    isso o custo de

    produo se eleva e

    pode inviabilizar o

    cultivo".

  • 8/3/2019 Tanques-Rede

    9/9

    21Panorama da AQICULTURA, maio/junho, 2007

    q

    linhas de tanques-rede ou mesmo no interior dos tanques-rede. No entanto, em audes de grande porte, o esforodemandado por uma aerao de emergncia pode ser muitogrande, muitas vezes impossvel de prover.

    Em audes com tanques-rede, a aerao deve ser usada apenascomo ferramenta em situaes de emergncia e no com a nali-

    dade de atingir um nvel maior de produo. Realizar uma aeraolocalizada mais eciente do que tentar elevar o oxignio em toda aextenso do aude. De um modo geral, em viveiros de piscicultura, a

    potncia de aerao aplicada varia entre 5 a 10 HP/ha, dependendoda taxa de alimentao, da biomassa de peixes estocada e de diversosoutros fatores. No caso de uma aerao localizada para tanques-redenos audes, esta potncia pode ser reduzida em pelo menos 50% (2 a5HP/ha), visto que a biomassa instantnea e taxa de alimentao porrea geralmente menor do que o praticado em viveiros.

    A aerao pode ser eita das seguintes maneiras: Com o uso de aeradores de ps posicionados prximos as linhas de

    tanques-rede, provendo uma aerao localizada na rea dos tanques-rede. Aeradores de ps so os mais ecientes. No entanto, deve setomar cuidado para no posicionar os aeradores muito prximos aostanques-rede, para no causar desconforto aos peixes com correntesde gua muito rpidas. Aeradores de p tambm podem ser usados

    para circular e misturar a gua nas reas mais fundas dos audes,evitando que ocorra forte estraticao dos audes; Com difusores de ar de adequado tamanho e alta vazo posiciona-dos no interior dos tanques-rede. O sistema de aerao por ar difusodemanda a instalao de sopradores de ar (compressores radial),ramais principais de grande calibre (75, 100 e at mesmo 150mm,dependendo da distncia das tubulaes) e difusores de grande va-zo, de forma a evitar estrangulamentos no sistema e sobrecargasno motor dos sopradores. Grande parte dos sistemas de ar difusoque tenho visto nas pisciculturas tem sido implantada pelos pr-

    prios produtores e no segue os requisitos tcnicos demandadospor este sistema de aerao. Assim, comum ver sopradores dealta potncia estrangulados por tubos e mangueiras nas e mesmo

    por um sem nmero de inecientes pedras porosas de pequenocalibre e vazo. Os resultados: a sobrecarga do sistema, queimafreqente dos motores dos sopradores e uma ineciente aerao.A aerao por ar difuso consome mais energia por unidade deoxignio incorporada, comparado a outros sistemas.

    No entanto, quando necessrio prover aerao apenas emcarter de emergncia, pode ser uma boa opo em tanques-rede nestes audes de pequeno porte. Um sistema de aerao de emergncia tambm pode sermontado com bombas de gua que succionam a gua dasuperfcie do aude e, atravs de uma rede de tubos, conduza gua ao longo de todas as linhas de tanques-rede, injetandoa mesma com presso no interior ou bem nas laterais dos tan-ques. Isso fora a incorporao de oxignio durante a queda

    (efeito cascata) e promove uma melhor circulao de gua nointerior dos tanques-rede.

    Raes de alta qualidade so imprescindveisOs peixes cultivados em tanques-rede dependem

    exclusivamente da rao para suprir, de forma equilibra-da, todos os nutrientes necessrios para adequada sade edesempenho produtivo. Produtores com pouca experinciamuitas vezes minimizam a importncia do uso de raes dealta qualidade e, seduzidos por preos atrativos e por falsasgarantias de bom desempenho, acabam comprando raesincapazes de atender as necessidades dos peixes cultivados

    em tanques-rede. Decincias nutricionais devido ao usode raes inadequadas, alm de prejudicar o crescimento ea converso alimentar, podem resultar em maior incidnciade doenas e mortalidade no cultivo, aps o manuseio e du-rante e depois do transporte. Com isso o custo de produose eleva, podendo inviabilizar o cultivo.

    Consideraes inaisA criao de peixe em tanques-rede uma ativi-

    dade intensiva que demanda um adequado planejamento,conhecimento tcnico, equipe de produo bem treinada eempenho na comercializao, de forma a obter a melhor re-

    munerao possvel e estruturar canais de venda seguros.O uso dos audes particulares disponveis oferece uma

    oportunidade nica de implantar um negcio promissor comuma imobilizao mnima de capital. Essa oportunidade podeser estendida a empreendedores no proprietrios que, atravsde contratos de arrendamento ou atravs de parcerias de pro-duo, podero se tornar donos do seu prprio negcio. Almdisso, ao contrrio da grande imobilizao de investimentofeito na implantao de pisciculturas tradicionais em tanquesescavados, as unidades de cultivo e estruturas de apoio usa-das no cultivo em tanques-rede podem ser transferidas deum local a outro diante de uma eventual necessidade e, atmesmo, vendidas com maior agilidade se houver necessidadede interrupo do empreendimento.

    Observando o universo de propriedades rurais noBrasil, possvel identicar um grande nmero de au-des com potencial para piscicultura convencional ou emtanques-rede de forma sustentvel. A exemplo do que temsido praticado h dcadas na China, o aproveitamento dosaudes disponveis para ns de piscicultura, seja de formatradicional ou com o uso de tanques-rede, por si s, possi-

    bilitar um signicativo aumento na produo e oferta depescado em nosso pas.