TCC Luiz Henrique Porto Vilani

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LUIZ HENRIQUE PORTO VILANI

A Caminho da Vitria: Relato de Experincia do Processo de Formao e Desenvolvimento da Equipe Paraolmpica de Tnis de Mesa do Programa Minas Olmpica do Governo de Minas Gerais (2005-2008)

JUIZ DE FORA 2011

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LUIZ HENRIQUE PORTO VILANI

A Caminho da Vitria: Relato de Experincia do Processo de Formao e Desenvolvimento da Equipe Paraolmpica de Tnis de Mesa do Programa Minas Olmpica do Governo de Minas Gerais (2005-2008) Trabalho de concluso de curso apresentado ao Centro de Educao Distncia da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para obteno do ttulo de Especialista em Esportes e Atividades Fsicas Inclusivas para Pessoas com Deficincia. Orientador: Prof. Ms. Hlvio Feliciano Moreira

JUIZ DE FORA 2011

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Universidade Federal de Juiz de Fora Universidade Aberta do Brasil Centro de Educao Distncia

A Caminho da Vitria: Relato de Experincia do Processo de Formao e Desenvolvimento da Equipe Paraolmpica de Tnis de Mesa do Programa Minas Olmpica do Governo de Minas Gerais (2005-2008) Trabalho de concluso de curso apresentado ao Centro de Educao Distncia da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para obteno do ttulo de Especialista em Esportes e Atividades Fsicas Inclusivas para Pessoas com Deficincia e aprovado pela seguinte Banca Examinadora:

__________________________________________________ Examinador 1

__________________________________________________ Examinador 2

__________________________________________________ Examinador 3

EXAMINADO EM: ______/______/__________.

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RESUMO

Compreender os desafios de se gerenciar uma poltica pblica voltada para o desenvolvimento do esporte paraolmpico pode significar importantes reflexes acerca dos aspectos qualitativos do processo de gesto pblica, visando-se a promoo dos direitos e a plena participao das pessoas com deficincia no esporte. O objetivo deste trabalho foi relatar detalhadamente os passos referentes ao planejamento e desenvolvimento das aes do Tcnico Estadual da equipe paraolmpica de tnis de mesa do Programa Minas Olmpica do Governo do Estado de Minas Gerais no perodo de 2005 a 2008. Por meio de anlise documental, foram relatadas as estratgias utilizadas no processo de gesto da equipe desde as dimenses fsicas, tcnicas e tticas at as psicolgicas e sociais, discutindo-se a experincia com o referencial terico apresentado. Este relato de experincia expressou a importncia do estabelecimento de uma sistematizao das aes, com a devida organizao, registro, monitoramento e avaliao, como requisitos bsicos para a eficincia do processo de gesto esportiva. A gesto da equipe apresentou-se coerente com os princpios gerenciais e alcanou os objetivos estabelecidos pelo Governo Estadual, demonstrando-se passvel de ser reproduzida em outras instncias.

Palavras chaves: Pessoas com Deficincia, Tnis de Mesa, Gesto Esportiva.

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ABSTRACT

The challenges of managing a public policy for the development of Paralympic sports can mean important insights about the qualitative aspects for the public management that aimed promoting the rights and full participation of disabled people in sport. This study aimed to describe in detailed steps the management process of a Minas Gerais State Paralympic table tennis Coach team related to the Minas Gerais governance program called Minas Paraolimpica between the years of 2005 to 2008. Through documentary analysis, some strategies used in management process was reported to explain how the training was planning to developed physical, technical, tactical, psychological and social dimensions based on the theoretical framework presented. This experience reported the importance of the establishment of a systematic management process to promote the planning actions, how the organization, registration, monitoring and evaluation as a basic elements required for an efficient sports management process. The management team had to be consistent with management principles to achieved the goals set by the State Government, demonstrating that can be reproduced elsewhere.

Key words: Disabled People, Table Tennis, Sport Management.

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DEDICATRIA

Dedico este trabalho ao meu pai Eduardo Villani (in memorian), maior amigo e companheiro que paralelamente no perodo em que este trabalho relata, lutou contra o cncer e mesmo debilitado, jamais deixou de incentivar, admirar, apoiar, muito menos que eu abandonasse o trabalho que desenvolvia. Mesmo no ltimo ms de sua vida, num leito hospitalar no incio de 2008, disse que eu deveria seguir em frente independente de tudo que estvamos passando no momento. Sua vontade de viver e de ver a consolidao de todos nossos projetos familiares, como minha participao nos Jogos Paraolmpicos de Beijing, possibilitou retomar a fora para prosseguir e superar a maior de todas as dores que j sofri.

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AGRADECIMENTOS

A minha famlia, me, esposa, irmo e cunhada, que sempre estiveram presentes e foram fontes incondicionais de amor e incentivo. Uma fora inestimvel em minha vida.

Ao meu sobrinho Vincius Eduardo, cujo carisma aumentou exponencialmente a felicidade de nossa famlia, facilitando a produo de qualquer trabalho. Valeu cara!

Ao professor, amigo e companheiro Hlvio Feliciano Moreira, no s pela orientao deste trabalho, mas pelo constante incentivo e apoio durante todo o processo aqui relatado.

A amiga Rosana de Carvalho Pereira Bastos, coordenadora do Projeto Minas Paraolmpica, pelo carinho e respeito com que me recebeu na equipe, e pelo empenho e dedicao em viabilizar as demandas que surgiram ao longo do projeto.

Ao Governo do Estado de Minas Gerais, que agradeo na pessoa do Secretrio Rogrio Aoki Romero, pelo pioneirismo e coragem em elaborar e desenvolver um projeto como o Minas Paraolmpico.

Ao fiel companheiro, amigo e colega Breno Wesley Presotti, meu brao direito, cujo apoio incondicional permitiu os resultados relatados neste trabalho.

Aos alunos e atletas de tnis de mesa que significaram a maior fonte de inspirao, motivao, conhecimento, sinceridade e companheirismo.

Aos colegas Lcia Helena, Marcelo, Joo Bernardo, Jairo, Marisa e Altamiro pelo constante apoio e trocas de experincias ao longo do perodo em que ocorreu a experincia.

Ao amigo Edir, pela confiana, incentivo, credibilidade em meu trabalho e pela troca de conhecimentos quanto ao tnis de mesa paraolmpico.

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SUMRIO

1. 1.1. 1.2.

INTRODUO ..................................................................................................................... 8 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................ 12 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 13 Objetivo Geral .................................................................................................... 13 Objetivos Especficos ......................................................................................... 13

1.2.1. 1.2.2. 2.

REVISO DE LITERATURA ......................................................................................... 14

2.1. ASPECTOS GERAIS DO TRATAMENTO HISTRICO S PESSOAS COM DEFICINCIA ............................................................................................................................... 14 2.2. ASPECTOS HISTORICOS DO DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO PARAOLMPICO .......................................................................................................................... 18 2.3. 2.4. 2.5. 2.6. 3. EVOLUO DO ESPORTE PARAOLMPICO NO BRASIL .................................. 22 O PROJETO MINAS PARAOLMPICO........................................................................ 25 TNIS DE MESA PARAOLMPICO ............................................................................. 29 ANLISE DA DISCIPLINA ESPORTIVA ................................................................... 34 METODOLOGIA ................................................................................................................ 43

3.1. SUJEITOS ............................................................................................................................ 44 4. 4.1. 4.2. 4.3. 4.4. 4.5. 5. RELATO DA EXPERINCIA ......................................................................................... 45 FORMAO DO TCNICO ESTADUAL ................................................................... 45 SELEO E ORGANIZAO DA EQUIPE ............................................................... 49 DIAGNSTICO PSICOSSOCIAL DA EQUIPE .......................................................... 53 ESCOLHA E MANEJO DAS CADEIRAS DE RODAS ............................................. 60 O PROCESSO TREINO-COMPETIES .................................................................... 63 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................ 77

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................................ 79

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1. INTRODUO

Ao retratar a evoluo histrica internacional do esporte para pessoas com deficincia, Guett et al (2011:1) afirma que h mais de 100 anos observam-se iniciativas com o intuito de promoo e desenvolvimento do esporte para o referido pblico. Entretanto, na forma moderna como hoje praticado, o paradesporto ainda um fenmeno recente. Vrias so as influncias sociais sobre este processo. Segundo Guett et al (2011:1) no contexto da Unio Europia, h uma preocupao comum s pessoas com deficincia no que tange aos obstculos e experincias de discriminao da pessoa com deficincia em qualquer meio de convvio social. O autor ressalta que esta realidade vem mudando paulatinamente desde o reconhecimento e respeito a uma nova legislao comum aos pases comunitrios da Unio Europia. A este respeito, esta Carta dos Direitos Fundamentais da Unio Europia estabelece no Art. 26, os direitos referentes a integrao das pessoas com deficincia, destacando que a Unio reconhece e respeita o direito das pessoas com deficincia a beneficiarem de medidas destinadas a assegurar a sua autonomia, a sua integrao social e profissional e a sua participao na vida da comunidade (UNIO EUROPIA, 2000). Diante desta realidade, entendendo-se, conforme DePauw; Gavron (1995:18) que o esporte pode ser considerado uma micro sociedade que reproduz valores, normas e padres sociais e culturais da sociedade como um todo, h que se refletir que diversos valores referentes aos direitos da pessoa com deficincia devem ser reconhecidos no ambiente esportivo. Como Micro sociedade, de acordo com DePauw; Gavron (1995:18), o meio esportivo, no pode deixar de ser afetado pelas mudanas polticas, sociais e culturais de um contexto maior. Neste caso, a ordem social implica necessariamente em influncias no esporte e vice-versa, o que proporciona, no caso em questo, oportunidades positivas de transformao do reconhecimento dos valores e benefcios da prtica esportiva enquanto direito dos Europeus. No Brasil, a realidade no muito distinta, entretanto, a maior influncia dos fatos histricos referentes realidade scio-poltica do pas, se estabeleceu por meio da promulgao da Constituio Federal em 1988. De acordo com DAmaral (2008:42) o Brasil tem hoje um dos mais modernos marcos legais de direitos da pessoa com deficincia na Constituio de 1988 e na Lei 7.853/89. Este marco referencial estabeleceu um campo frtil para mudanas significativas no reconhecimento dos direitos das pessoas com deficincia no pas. Sob influncia da nova Constituio, o governo federal sancionou em 1989 a Lei n

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7.853/89, que dispe sobre o apoio s pessoas com deficincia, sua integrao social, dentre outras providncias (BRASIL, 1989). A complementao por meio de outras leis e decretos subseqentes estabeleceu uma prerrogativa legal para a superao dos preconceitos e da discriminao contra as pessoas com deficincia ainda antes que a prpria Unio Europia. No h como negar que desde a Declarao Universal dos Direitos Humanos em 1948 diversos movimentos internacionais influenciaram e inspiraram transformaes do comportamento e respeito incluso social das pessoas com deficincia. Entretanto, o pice destes movimentos que marcou sobremaneira os direitos e o processo de incluso social das pessoas com deficincia, adveio no mbito das pesquisas e discusses na rea educacional. Primeiramente a Declarao Mundial sobre Educao para Todos, proclamada na Conferncia Mundial sobre Educao para Todos realizada em Jomtien (Tailndia) em 1990 e posteriormente a Declarao de Salamanca (Espanha) proclamada na Conferncia Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, realizada pela UNESCO, em Salamanca (Espanha), em junho de 1994, influenciaram decisivamente a legislao e as iniciativas nas mais diversas aes pblicas com o intuito de se romper com a incmoda situao da excluso social das pessoas com deficincia. Os desdobramentos da aplicao dos novos termos constitucionais, da Lei n 7.853/89, bem como dos movimentos internacionais supracitados, afetaram sensivelmente o desenvolvimento do esporte paraolmpico no Brasil. Segundo Senatore (2006:18) sob influncia da nova legislao, o Governo brasileiro criou, em 1990, a Secretaria dos Desportos da Presidncia da Repblica (SEDES) tendo, na sua estrutura organizacional, o Departamento de Desportos para Pessoas Portadoras de Deficincia (DEPED). Os trabalhos desta Secretaria demandaram um oramento anual especfico destinado ao esporte para pessoas com deficincia aprovado para o ano de 1991 e posteriormente constitui-se uma comisso de entidades que culminaram com a fundao do Comit Paraolmpico Brasileiro em 09 de fevereiro de 1995 (SENATORE, 2006:19). Logo, paralelamente ao fenmeno do desenvolvimento do esporte paraolmpico em nvel internacional, o Brasil apresentou uma sensvel evoluo demonstrada conforme o Comit Paraolmpico Brasileiro CPB (s.d.) que passou da 37 colocao geral nos Jogos Paraolmpicos de 1996 para 9 Colocao nos Jogos Paraolmpicos de 2008. Importante destacar que esta ascenso estabeleceu-se num momento em que, de uma forma geral, o esporte para pessoas com deficincia no mbito internacional, vinha ocupando um lugar de destaque na sociedade por meio de um intenso crescimento e reconhecimento social. Segundo Sainsbury (2004:6), ao longo dos anos 90, observou-se um rpido crescimento tanto na

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representatividade do nmero de pases quanto na participao dos atletas em termos quantitativos nos Jogos Paraolmpicos. O autor destaca ainda alguns aspectos de influncia, como o fato da unificao do caderno de encargos para se pleitear a realizao dos Jogos olmpicos terem sido vinculados realizao dos Jogos Paraolmpicos, o que ofereceu maior qualidade aos locais de competio e mudou o cenrio internacional. A este respeito, Sainsbury (2004:8) destaca que um dos primeiro passos que acelerou o processo de crescimento do esporte paraolmpico, foi a maior oferta de modalidades esportivas que estimulou os atletas a se especializarem em uma nica modalidade ao invs do mesmo participar de 04 (quatro) ou 05 (cinco) esportes como era comum anteriormente em nvel internacional. Como conseqncia deste contexto, de acordo com Samulski; Noce (2002:157)O desporto paraolmpico tem conquistado um espao cada vez maior no cenrio nacional e mundial. Dessa forma, tem-se evidenciado a necessidade de melhoria das condies de treinamento e tambm de melhor suporte para o atleta paraolmpico dedicar-se s atividades esportivas (SAMULSKI; NOCE, 2002:157).

Com base nas influncias oriundas dos fatos supracitados, o paradesporto nacional passou a cumprir com um slido processo de desenvolvimento. Conforme Costa; Santos (2002:70) o esporte para pessoas com deficincia, no Brasil, hoje uma realidade incontestvel. Entretanto, os autores apresentam uma srie de dificuldades como a falta de uma infra-estrutura adequada por parte dos clubes e associaes de esportes, para o desenvolvimento da prtica esportiva, tais como:locais apropriados, materiais e equipamentos adequados, alm da conscientizao dos prprios portadores de deficincia e sua famlia sobre a importncia do esporte como fator preponderante no auxlio reinsero do portador de deficincia na vida social, a falta de profissionais habilitados e adequadamente preparados para atuarem com essas pessoas nos esportes especficos, principalmente, no que diz respeito a avaliao e metodologia do treinamento esportivo com bases cientficas (COSTA; SANTOS, 2002:70).

Paralelamente aos acontecimentos e contexto atual destacados, no estado de Minas Gerais, estratgias isoladas buscaram incentivar determinadas iniciativas de fomento ao paradesporto, mas sem uma poltica mais incisiva e destinada especificamente ao pblico de pessoas com deficincia. Diante da grande demanda, o Governo do Estado de Minas Gerais, com base na Lei Federal n 7.853/89, e sob o argumento da considervel mudana de paradigmas no que diz respeito s questes relativas s Pessoas com Deficincia, passando de uma viso paterno/assistencialista para outra que garante os direitos individuais e coletivos e a efetiva incluso social destas pessoas, criou no ano de 2005 o Projeto Minas Olmpica Equipe Paraolmpica (Minas Paraolmpico) (MINAS GERAIS, 2005).

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O projeto Minas Paraolmpico buscou, dentro de uma poltica de aes integradas do Governo de Minas Gerais, estabelecer como medida prioritria, o fomento e a promoo do paradesporto. De acordo com a proposta:o Projeto Minas Paraolmpica vem como uma das aes que iro impulsionar o desenvolvimento de polticas integradas junto s diversas esferas do governo e a sociedade civil, de forma a garantir os direitos das pessoas com deficincia prtica desportiva em seus diversos nveis (MINAS GERAIS, 2005).

Com o objetivo geral de difundir o desenvolvimento e a consolidar o Movimento Paraolmpico em Minas Gerais, o Minas Paraolmpico estabeleceu critrios especficos para apoiar e promover diversas modalidades paraolmpicas tais como: atletismo, natao, jud, halterofilismo, hipismo, goalball, tnis de mesa e tnis sobre rodas. Criou-se, portanto, equipes permanentes de cada uma das modalidades esportivas supracitadas. A composio das equipes foi realizada por meio da anlise de currculos de tcnicos e atletas das diversas modalidades, indicados pelas entidades estaduais de prtica esportiva voltadas para o trabalho de esportes para pessoas com deficincia. Uma coordenao tcnica geral e dois consultores tcnicos foram convidados para comandar as aes e estabelecer instrumentos integrados de planejamento, controle e acompanhamento do processo de treinamento esportivo em cada uma das modalidades. Para tanto, estabeleceu-se um problema geral sobre como adequar e estabelecer um processo de gesto (planejamento, organizao, direo, controle e avaliao) capaz de garantir o alcance dos objetivos de cada uma das equipes das respectivas modalidades contempladas no Projeto Minas Paraolmpico. O desafio da equipe de Tnis de Mesa foi justamente desenvolver um plano de ao capaz de alcanar tais objetivos. A este respeito, partiu-se da hiptese de que se a equipe estabelecesse um processo de treinamento devidamente sistematizado por meio de periodizao e controle das variveis de rendimento e pautando-se no nvel em que cada um dos atletas que compuseram a equipe se encontravam, seria possvel alcanar os objetivos da equipe traados em linhas gerais pelo Projeto Minas Paraolmpico. Com base nesta questo e na proposio hipottica descrita, o presente trabalho busca relatar detalhadamente todo o processo de gesto da equipe permanente de tnis de mesa do Projeto Minas Paraolmpico, com base nas diversas contingncias inerentes ao ambiente de treinamento esportivo e s dificuldades de infra-estrutura salientadas por Costa; Santos (2002). Consiste, portanto, um relato de experincia do tcnico estadual da modalidade com base em distintos procedimentos adotados, bem como na reflexo de cada passo do processo

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analisadas sob a luz de questes tcnicas, polticas e sociais vivenciadas durante a experincia.

1.1.

JUSTIFICATIVA

A funo de coordenao tcnica de uma equipe recm formada para representar um Projeto pblico indito no estado de Minas Gerais, e talvez, no Brasil, com certeza estabelece uma grande responsabilidade, mas tambm um gratificante desafio. Compartilhar esta experincia por meio de um trabalho acadmico uma possibilidade de contribuir de forma sistemtica com a produo de novos conhecimentos ou mesmo ser uma referncia tcnica para novas reflexes, problematizaes e intervenes cada vez mais seguras das possibilidades de sucesso no mbito do esporte paraolmpico. Importante destacar que o ttulo deste trabalho no se refere especificamente s conquistas esportivas alcanadas por meio desta equipe. A Caminho da Vitria no trata de um relato de experincia direcionado exclusivamente ao sucesso esportivo, como um caminho para vitria. O ttulo refere-se ao processo de como cada um dos atletas envolvidos, direta ou indiretamente nos treinamentos e no acmulo de experincias profissional do Tcnico Estadual, dos Tcnicos de Base e dos prprios atletas, estabeleceram um ambiente propcio para desenvolver potencialidades e relaes sociais nas mais diversas dimenses do desenvolvimento humano. A palavra Vitria tem um significado muito especial na trajetria de vida de cada um dos atletas envolvidos no mesmo, e logo, expressa muito mais do que simplesmente as conquistas esportivas, ampliando-se signos referentes s conquistas sociais. Estabelecer este termo Vitria, no ttulo do trabalho, foi uma forma de homenagear um dos atletas cujo valor atribudo a Vitria envolve todas suas conquistas sociais, tais como: sua independncia social, seu casamento, o nascimento de seus filhos, ou seja, representa as superaes nas mais diversas situaes em sua vida. O termo Vitria representa, portanto, o que o esporte proporcionou para que cada um dos atletas alcanasse na promoo e usufruto de sua autonomia, bem como do reconhecimento e vivncia de seus direitos. Ao longo de toda a carreira do Tcnico Estadual da equipe, no mbito do tnis de mesa, desde sua experincia como atleta, rbitro, dirigente at a parte tcnica (professor, preparador fsico e tcnico), o convvio precoce, ainda na infncia, com um atleta com deficincia em especial, constituiu um marco referencial para o desenvolvimento pessoal e profissional do mesmo. Esta trajetria permitiu uma leitura diferenciada sobre o esporte

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adaptado, pois o atleta em questo, no iniciou sua carreira no esporte por meio de sua adaptao institucional com base no regulamento paraolmpico, mas sim, ao longo dos mais de 10 anos em que ele participou exclusivamente no esporte olmpico, adaptando-se tcnica e taticamente seu jogo para uma realidade inclusiva. Somente por volta de 1996, o atleta tomou conhecimento da possibilidade de participao no esporte paraolmpico e assim iniciou sua carreira no esporte adaptado. Este relato de experincia, embora delimitado entre os anos 2005 e 2008, reflete, portanto, uma histria iniciada no ano de 1987, partindo-se do esporte inclusivo para o esporte adaptado. Logo, no h como deixar de contextualizar esta experincia sem antes balizar as influncias anteriores e a respectiva construo do conhecimento que pde ser colocado em prtica partir de 2005. Este relato justifica-se tambm pela escassez de trabalhos cientficos e tcnicos, em especial de relatos de experincias bem sucedidas, devidamente refletidas, no mbito do esporte paraolmpico, principalmente no que tange a modalidade Tnis de Mesa.

1.2.

OBJETIVOS

1.2.1.

Objetivo Geral

Relatar a experincia da equipe de Tnis de Mesa do Projeto Minas Paraolmpico vinculada ao Programa Minas Olmpica do Governo do Estado de Minas Gerais no perodo de dezembro de 2005 a dezembro de 2008. O Projeto Minas Paraolmpico busca no decorrer de sua aplicao, no s fortalecer a atuao das equipes e atletas individuais que j praticam as modalidades contempladas, bem como, fomentar e incentivar os atletas em potencial atravs do apoio tcnico financeiro s suas entidades de origem.

1.2.2.

Objetivos Especficos

Relatar detalhadamente os passos referentes ao planejamento e desenvolvimento da equipe de Tnis de Mesa do Projeto Minas Paraolmpico, bem como as estratgias utilizadas no processo de gesto do treinamento da equipe (planejamento, direo, controle, avaliao) nos aspectos tcnicos, tticos, fsicos, psicolgicos e sociais para que os objetivos do Projeto Minas Paraolmpico fossem alcanados.

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2. REVISO DE LITERATURA

2.1.

ASPECTOS GERAIS DO TRATAMENTO HISTRICO S PESSOAS COM DEFICINCIA

Compreender alguns fatos histricos do movimento do esporte para pessoas com deficincia fundamental para uma maior reflexo acerca da experincia a ser relatada. Para Fay; Wolff (2009:233), impossvel criar hipteses e discutir o futuro do esporte para pessoas com deficincia no sculo XXI, sem evidenciar o contexto histrico de como esta rea se desenvolveu no sculo XX. O autor ainda salienta a importncia de se estabelecer uma linguagem comum no que tange terminologia. Alm do mais, para se compreender o desenvolvimento do esporte, importante refletir sobre o contexto histrico referente aos aspectos gerais do tratamento social dispensado s pessoas com deficincia. A este respeito, no Brasil, Sassaki (2003) estabelece que a terminologia utilizada pode representar um importante componente na construo de uma verdadeira sociedade inclusiva. O autor afirma que Na linguagem se expressa, voluntariamente ou involuntariamente, o respeito ou a discriminao em relao s pessoas com deficincias. Muito do que se observa na evoluo da terminologia reflexo do desenvolvimento da sociedade e dos estigmas criados a partir do reforo a preconceitos sociais. Marques; Moura e Castro; Silva (2001:74) apresentam 05 grandes perodos de desenvolvimento das atitudes em relao s pessoas com deficincia os quais correspondem a fases distintas da histria, mas que ainda hoje pode-se perceber resqucios de preconceitos formados em cada poca, mas infelizmente reproduzidos ao longo do tempo. DePauw; Gavron (1995:22) tambm contextualizam estes perodos, embora sem denomin-los. Entretanto, os autores apresentam dados complementares do contexto histrico, sendo uma fonte essencial de informao complementar. O primeiro perodo denominado por Marques; Moura e Castro; Silva (2001:74) como Perodo da Separao, conforme DePauw; Gavron (1995:22) nas sociedades primitivas (3.000 A.C 500 A.C), a superstio e a sobrevivncia eram elementos bsicos da

organizao social. Neste caso, pessoas que apresentavam alguma deformao ou incapacidade de caar seu alimento ou se defender de predadores, eram fatalmente separados da sociedade. O fato de uma pessoa com deficincia conviver e fazer parte de um grupo social, ser uma situao de risco, era visto como m sorte, logo estas pessoas eram

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abandonadas pelo grupo, segregadas ou separadas, quando no eliminadas em determinadas sociedades. De acordo com DePauw; Gavron (1995:22) na Grcia e em Roma (500 A.C. 400 D.C), pessoas que nasciam com deficincia deveriam lutar contra um ambiente fsico extremamente hostil, com ocorrncia de infanticdios sob alegao de eugenia. Na realidade, Gregos e Romanos eliminavam, abandonavam ou as expulsavam das respectivas comunidades, sob a alegao da necessidade dos cidados terem que ser fisicamente fortes e capazes de proteger o estado de ataques inimigos. Pode-se perceber que seja sob a alegao da necessidade de fora fsica para exercer funes sociais capazes de fornecer alimentos ou de defender as respectivas comunidades, as pessoas com deficincia eram separadas de suas sociedades, o que de uma forma indireta, significava fatalmente sua morte, quando assim j no eram tratados por meio de infanticdio ou eliminao direta dos considerados invlidos para os objetivos sociais. No segundo perodo, denominado por Marques; Moura e Castro; Silva (2001:74) como Perodo da Proteo, os antecedentes histricos apresentavam um contexto em que havia um sentimento de horror em relao deficincia, que foi dando lugar ao sentimento de caridade, o qual corresponde ao incio da era da proteo. Estes autores afirmam que esta concepo apareceu com o desenvolvimento das religies monotestas. Segundo DePauw; Gavron (1995:23), a viso do cristianismo pregava compaixo s pessoas com deficincia e em funo das influncias da viso do perodo anterior, entre os sculos V e XV, a proteo a estas pessoas passou a ocorrer em ambientes em que a igreja exercia influncia direta. Neste caso, as pessoas com deficincia foram protegidas da sociedade em geral sendo segregadas em ambientes de proteo tais como monastrios e cortes reais. As influncias religiosas deste perodo, foram decisivas para promover a aceitao, compreenso e o tratamento humanitrio das pessoas com deficincia. Entretanto, h que se observar que embora protegidos e em certo ponto tolerados, eles eram tolidos de diversas atividades sociais sob a alegao de incapacidade (DEPAUW; GAVRON, 1995:23). Sobre o terceiro perodo, denominado de Perodo da Emancipao por Marques; Moura e Castro; Silva (2001:74), importente ressaltar conforme DePauw; Gavron (1995:24), que nos sculos XVI e XVII as pessoas com deficincia ainda eram perseguidas. Importante lembrar, que historicamente na Idade Mdia, que ficou conhecida como a Idade das Trevas, o temor ao demnio e as foras do mal era um mecanismo opressor da sociedade. A este respeito, neste perodo houve uma tradio de relacionar a deficincia com obras demonacas, no caso das pessoas com deficincia mental, eram comum prticas como tortura,

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queima em fogueiras ou ambos. Foi somente no final do sculo XVIII, com o surgimento das idias iluministas da Revoluo Francesa, que os problemas acerca das vises deturpadas das pessoas com deficincia comearam a ser encarados e encaminhados por uma via mais racional e cientfica (MARQUES; MOURA E CASTRO; SILVA, 2001, p. 75). De acordo com DePauw; Gavron (1995:26), durante este novo perodo, outras entidades passaram a compor a assistncia s pessoas com deficincia, tais como asilos, hospitais, escolas com regime de internato, dentre outros estabelecimentos pautados em ensino humanitrio. Alm do mais, os autores enfatizam que sob influncia do iluminismo, alguns movimentos em prol daqueles que so diferentes passaram a ser aceitos principalmente em funo de argumentos defendidos por educadores e filsofos da poca. Segundo Marques; Moura e Castro; Silva (2001:75) neste perodo apareceram as primeiras tentativas de explicao e classificao dos diferentes tipos de deficincia, bem como os primeiros estudos cientficos nesta rea. Foi com base nas influncias dos resultados destes estudos que se estabeleceu uma fase de grande otimismo quanto ao desenvolvimento das pessoas com deficincia, dando subsdios para o surgimento do quarto perodo, ou seja, o Perodo da Integrao. O conceito de Integrao comeou a ser defendido no final do sculo XIX, mas somente foi colocado em prtica no sculo XX (MARQUES; MOURA E CASTRO; SILVA, 2001, p. 75). Foi a partir da segunda metade do sculo XX que o conceito de normalizao passou a ser refletido nos mbitos filosficos e educacionais. No entanto, h que se observar que:a ideia principal contida no conceito de normalizao encontrava-se j subjacente, desde 1948, na Declarao Universal dos Direitos do Homem, quando a se afirma o direito de todas as pessoas, sem qualquer distino, ao casamento, propriedade, a igual acesso aos servios pblicos, segurana social e efectivao dos direitos econmicos, sociais e culturais (MARQUES; MOURA E CASTRO; SILVA, 2001, p. 75).

O autor afirma ainda que a igualdade que se pretende, como ponto de partida e como meta, no dever ser entendida como sinnimo de normalizao absoluta (MARQUES;MOURA E CASTRO; SILVA, 2001, p. 75). .

Logo, percebe-se a necessidade da construo de uma

concepo mais especfica sobre o conceito e respeito ao termo diferena. Conforme Marques; Moura e Castro; Silva (2001:75) construir um edifcio com larguras de portes diferentes criar a igualdade de acesso a todos, isto , para haver igualdade tm de existir diferenas.

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Com base nas discusses internacionais oriundas das reas sociais, educacionais e filosficas deste perodo, novas orientaes e necessidades mais efetivas de se organizar socialmente para se respeitar efetivamente os direitos e deveres das pessoas com deficincia ganharam propores e levaram a um consenso internacional sobre tais necessidades. De acordo com Marques; Moura e Castro; Silva (2001:75) este contexto que aparece, com a Declarao de Salamanca, em 1994, o quinto e ltimo perodo (por ns considerado), ou seja, a incluso. O conceito de incluso fruto dos princpios da Declarao Universal dos Direitos Humanos em 1948. O Art. 1 desta declarao, um exemplo do que se espera de uma sociedade inclusiva, todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos (ORGANIZAO DAS NAES UNIDADES-ONU, 1948). Com base neste documento e buscando-se considerar as diferenas culturais entre os pases, vrios movimentos foram estabelecidos com o intuito de alcanar a plenitude dos direitos humanos. Dentre estes, a Declarao Mundial sobre Educao para Todos, proclamada na Conferncia Mundial sobre Educao para Todos realizada em Jomtien (Tailndia) em 1990 e posteriormente a Declarao de Salamanca (Espanha) proclamada na Conferncia Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, realizada pela UNESCO, em Salamanca (Espanha), em junho de 1994, foram responsveis por grandes transformaes nos paradigmas referentes incluso da pessoa com deficincia, seja no ambiente escolar, foco da discusso destes encontros, seja no mbito social, conseqncias de reflexes inerentes necessidade de se estabelecer transformaes e mudanas de atitudes necessrias para se criar uma sociedade inclusiva. Os novos rumos a partir da perspectiva inclusiva proporcionaram as sociedades contemporneas distinguirem-se, em grande parte das anteriores,pela afirmao do respeito pela dignidade humana e pela garantia de que ao portador de qualquer necessidade especial lhe ser permitido integrar-se nas diversas metas do funcionamento social sem qualquer barreira psicolgica ou fsica (MARQUES; MOURA E CASTRO; SILVA, 2001, p. 75).

Finalmente, DePauw; Gavron (1995:29) afirmam que a participao plena da pessoa com deficincia na maioria das sociedades ainda est longe de ser uma realidade. Entretanto, com base numa perspectiva histrica, pode-se perceber uma tendncia progressiva da incluso e aceitao da pessoa com deficincia.

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2.2.

ASPECTOS

HISTORICOS

DO

DESENVOLVIMENTO

DO

MOVIMENTO PARAOLMPICO

Os reflexos histricos da emancipao e da incluso das pessoas com deficincia influenciaram sobremaneira o desenvolvimento do esporte paraolmpico. A histria do esporte paraolmpico nos remete, por exemplo, aos preceitos olmpicos do Baro Francs, Pierre de Coubertin em 1896. Segundo Costa; Carvalhedo (2000:2), cavalheirismo, respeito mtuo, integridade, amizade, fair play, excelncia, dentre outros, so valores morais atribudos por Coubertain como importantes meios a serem desenvolvidos pelo esporte na construo de uma sociedade pacfica. De acordo com Lauff (2007:32), as competies para pessoas com deficincia tais como, Deaflympics (Jogos do Silncio/Olimpadas dos Surdos), os Jogos Paraolmpicos e a Special Olympics, foram todas inspiradas nos Jogos Olmpicos modernos partir de 1896. Embora o movimento esportivo para pessoas com deficincia auditiva, a Deaflympics represente o mais antigo processo de sistematizao de competies internacionais para pessoas com deficincia, tendo seu marco histrico a realizao dos primeiros jogos em 1924 em Paris, outras iniciativas ao redor do mundo culminaram com o surgimento dos Jogos Paraolmpicos em 1960 e da Special Olympics em 1968. Senatore (2006:10) destaca que:o esporte para pessoas com deficincia existe h mais de 100 anos. Nos sculos 18 e 19 a contribuio das atividades esportivas foi maior no sentido da reeducao e da reabilitao das pessoas com deficincia. Depois da I Grande Guerra (1914/1918), a fisioterapia e a medicina esportiva surgiram como recursos importantes na recuperao das cirurgias internas e ortopdicas (SENATORE, 2006, p. 10).

De interesse para este trabalho, o aspecto competitivo do esporte paraolmpico, a histria dos Jogos Paraolmpicos destacada por Lauff (2007:39) pelo trabalho de Sir Ludwig Guttmann iniciado em 1944, ainda durante a II Guerra Mundial. Segundo Senatore (2006:10), o Dr. Guttmann tambm foi uma vtima da guerra. Judeu, nascido e residente na Alemanha, ele teve que fugir para a Inglaterra onde foi contratado pelo governo britnico para comear um trabalho de reabilitao para lesionados medulares dando origem ao Centro Nacional de Lesionados Medulares de Stoke Mandeville (SENATORE, 2006, p.10). De acordo com Guttmann (1967:117) durante a II Guerra Mundial, introduziu-se a prtica regular de esportes como parte essencial do tratamento mdico de pessoas com leso medular no Centro Nacional de Lesionados Medulares do Hospital de Stoke Mandeville em

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Aylesbury, Inglaterra. Observou-se que estas atividades apresentaram grande sucesso no processo de reabilitao fsica, psicolgica e social dos pacientes. Aps o perodo de guerra, as atividades esportivas foram intensificadas. Segundo Guttmann (1967:117) o Centro Nacional de Lesionados Medulares investiu em infra-estrutura para as reas de esportes e recreao, construindo um salo recreativo para a realizao de treinamentos de Tiro ao Arco e Tnis de Mesa, assim como a construo de uma grande piscina coberta. Em um artigo clssico na rea de ortopedia, Guttmann (1954:1) afirma que o esporte ministrado desde o incio no tratamento de leses medulares, um dos mtodos mais importantes para a reabilitao fsica, pois destaca que a pessoa com paraplegia est apta a se tornar um esportista, tendo ainda seu direito pratica do esporte respeitado. Esta idia provou estar correta e o movimento esportivo para pessoas com leso medular desenvolveu sensivelmente nos ltimos trs anos (1951 a 1953), tornando-se um movimento internacional (GUTTMANN, 1954, p.1). Como j salientado, Guttmann (1976:125) ressalta que as atividades esportivas foram includas no tratamento mdico, e a participao neste processo incentivou muitos pacientes a continuar a prtica esportiva com vistas ao bem estar fsico e recreao aps a alta hospitalar. Logo, conforme Guttmann (1967:125), a prtica do esporte por parte dos lesionados medulares alm dos benefcios supracitados ainda proporciona o desenvolvimento de valores fundamentais sades destas pessoas ao evitar o sedentarismo. A este respeito, o autor relata que este processo despertou tambm interesse e entusiasmo no esporte de competio e gerou a demanda de se instituir em 1948, os Jogos de Stoke Mandeville. Estes Jogos, que a princpio eram realizados anualmente como um evento nacional, passaram a ser reconhecidos internacionalmente em 1952 quando pessoas com deficincia de outras partes do mundo passaram a disput-los (GUTTMANN, 1976:225). O reconhecimento oficial da comunidade esportiva sobre o trabalho do Dr. Guttmann veio em 1956 nos Jogos Olmpicos de Melbourne (Austrlia). De acordo com Guttmann (1967:125) durante esta edio dos Jogos Olmpicos, o Comit Olmpico Internacional prestou uma homenagem por meio do oferecimento de um prmio olmpico aos Jogos de Stoke Mandeville. Guttmann (1967:125) afirma que no poderia ter havido prova melhor da mudana radical do reconhecimento do potencial das pessoas com paraplegia no meio social, do que este reconhecimento dos ideais Olmpicos. Foi neste contexto que em 1960 na cidade de Roma, os I Jogos Paraolmpicos foram institudos oficialmente. Segundo Guttmann (1976:225) estes foram os priomeiros jogos

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realizados fora de Stoke Mandeville. Os competidores e acompanhantes foram alojados na Vila Olmpica e os Jogos foram realizados em um dos estdios olmpicos, reconhecendo-se a necessidade de investimentos similares ao esporte olmpico. Observa-se neste contexto que o esporte paraolmpico teve sua origem vinculada a um componente mdico-teraputico, mas segundo Costa; Sousa (2004:31) o esporte e a educao fsica adaptada evoluram sensivelmente nos aspectos relacionados incluso. uma das reas do conhecimento que mais se desenvolveu nos ltimos anos, em relao especificidade de atendimento ao portador de deficincia. Podemos dizer que foi percebendo a diferena e valorizando principalmente a potencialidade dos deficientes que estes avanos puderam ser materializados e, como exemplo, citamos a concretizao dos Jogos Paraolmpicos (COSTA; SOUSA, 2004, p.31).

importante salientar, mesmo que por coincidncia, que os I Jogos de Stoke Mandeville, foram realizados em 1948, mesmo ano em que a Assemblia Geral das Naes Unidas proclamou a Declarao Universal dos Direitos Humanos. Ou seja o desenvolvimento do esporte paraolmpico andou lado a lado com a evoluo do reconhecimento da igualdade de direitos das pessoas com deficincia. Logo, o papel do esporte para pessoas com deficincia foi se transformando ao longo dos tempos de uma perspectiva mdica para uma perspectiva social. Arajo (1997:7) afirma que:O trabalho de reabilitao buscou no esporte no s o valor teraputico, mas o poder de restabelecer ou estabelecer novos caminhos, o que resultou em maior possibilidade de interao destas pessoas. Atravs do esporte reabilitao estava retornando comunidade um deficiente, capaz de ser eficiente pelo menos no esporte (ARAJO, 1997, p.7).

Costa; Sousa (2004:36) elucidam a percepo de que neste contexto havia o objetivo geral de promover a integrao social das pessoas com deficincia:Pudemos verificar que a integrao dessas pessoas pde tornar-se uma realidade atravs da prtica de atividade fsica e desportiva pelo deficiente, participando de eventos nacionais e internacionais, chegando realizao das Paraolimpadas. No podemos deixar de enfatizar que essa integrao apesar de concreta apenas de uma minoria, considerando que, tanto para os ditos normais nas Olimpadas como para os portadores de necessidades especiais nas Paraolimpadas, a efetiva participao de uma grande minoria (COSTA; SOUSA, 2004, p.36).

O fato da perspectiva competitiva de alto rendimento proporcionar a participao de uma minoria da populao com deficincia, no reduz, no entanto, os benefcios que a prtica do esporte podem proporcionar desde o processo de reabilitao integrao social destas pessoas. Souza Sobrinho (2006:26) faz a seguinte considerao acerca desta questo:O esporte, considerando-se a definio de deficincia aprovada pela Resoluo n 48 de 1996 da Organizao das Naes Unidas ONU, cumpre os nobres objetivos de detectar e desenvolver os potenciais das pessoas com deficincia e proporcionar a

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elas oportunidades para que sejam reconhecidas como capazes de participar da vida comunitria em condies de igualdade com as demais pessoas. O esporte vem cumprindo eficazmente este papel nas suas mais diversas formas de manifestao, seja, inicialmente, exercendo uma funo teraputica, com base nas diversas formas de atuao da esporteterapia, ou seja promovendo a incluso social, tanto com base no esporte de reabilitao quanto no esporte competitivo, nas suas mais diversas formas de manifestao, tanto do esporte adaptado quanto do esporte paraolmpico ou mesmo do esporte olmpico. Um novo passo est sendo dado agora, com a implementao, em todo o Brasil, de programas de desenvolvimento do esporte escolar adaptado e paraolmpico (SOUZA SOBRINHO, 2006, p. 26).

Ao longo da histria dos Jogos Paraolmpicos, os mesmos passaram em 1988 a serem realizados no mesmo local dos Jogos Olmpicos SENDO CONSIDERADO UM marco histrico (ARAJO, 1997, p.14). De acordo com Arajo (1997:13) no ano seguinte foi criado o Comit Paraolmpico Internacional (IPC) em 1989, que constituiu uma mudana de filosofia, por meio da busca de equiparao com o movimento Olmpico. O trabalho neste intuito surtiu efeito, e conforme Costa; Sousa (2004:30) a partir do ano 2000, por meio de um acordo entre o Comit Olmpico Internacional e o Comit Paraolmpico Internacional, a realizao dos Jogos Paraolmpicos tornou-se um requisito obrigatrio no caderno de encargos para os pases que desejarem sediar os Jogos Olmpicos. Logo percebe-se que o desenvolvimento do esporte paraolmpico ao longo dos anos, assim como o reconhecimento dos diferentes valores e papis cumpridos por este movimento, constituiu-se uma ao integrada que possibilitou diversas leituras e possibilidades na contribuio dos requisitos relacionados a formao de uma sociedade inclusiva. Fay; Wolff (2009:232) destaca que as iniciativas referentes ao esporte para pessoas com deficincia avanaram no acesso, incluso, equidade, respeito, legitimao e oportunidade para estas pessoas se de desenvolverem no esporte e na sociedade.

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2.3.

EVOLUO DO ESPORTE PARAOLMPICO NO BRASIL

A histria do esporte paraolmpico brasileiro reproduz, em parte, a influncia da rea mdica. Segundo Costa; Souza (2004:34), as primeiras experincias da prtica esportiva por pessoas com deficincia, deu-se em virtude de iniciativas de Robson Sampaio de Almeida e Srgio Serafim Del Grande, residentes no Rio de Janeiro e em So Paulo, respectivamente, aps ficarem deficientes fsicos em decorrncia de acidentes. De acordo com Arajo (1997:17) Robson e Del Grande foram procurar os servios de reabilitao nos Estados Unidos, nos anos de 1950. L, ambos tiveram a oportunidade de vivenciar o esporte como mtodo auxiliar de reabilitao e ao retornarem ao Brasil, acabaram fundando clubes esportivos para pessoas com deficincia. O Clube do Otimismo, fundado por Robson Sampaio em 1958 e o Clube dos Paraplgicos de So Paulo (CPSP), fundado por Del Grande em 1959 so os registros mais antigos de iniciativas nesta rea (ARAJO, 1997, p.18). Senatore (2006:16) considera como marco inicial do movimento esportivo para deficientes no Brasil, a exibio da equipe norte americana da PAN JETS, formada por funcionrios deficientes da Pan American World Airlines. Convidados por Del Grande, e trazidos por incentivo da Associao de Assistncia Criana Deficiente AACD, eles fizeram duas apresentaes no Brasil, em novembro de 1957 no Ginsio do Ibirapuera em So Paulo e em seguida no Ginsio do Maracanzinho no Rio de Janeiro. Durante os eventos foram apresentadas modalidades de basquetebol em cadeira de rodas, arco e flecha e tnis de mesa (ARAJO, 1997, p.17). De acordo com Senatore (2006:17), os primeiros 20 anos do esporte paraolmpico brasileiro foram marcados pela dedicao e a abnegao de alguns atletas, dirigentes, entidades e profissionais de educao fsica, que no mediram esforos no firme propsito de garantir sustentabilidade ao ainda frgil e incipiente desporto paraolmpico. Somente a partir do final da dcada de 80, foi que as entidades esportivas se fortaleceram por meio da promulgao da Constituio Federal e da Lei n 7.853/89. Embasados em um novo aparato legal, o esporte paraolmpico brasileiro pde acompanhar as tendncias internacionais. Diante deste contexto, o Governo brasileiro criou, em 1990, a Secretaria dos Desportos da Presidncia da Repblica (SEDES) tendo, na sua estrutura organizacional, o Departamento de Desportos para Pessoas Portadoras de Deficincia (DEPED). A este respeito, pela primeira vez na histria, um oramento anual foi destinado ao esporte para pessoas com deficincia. Uma comisso de entidades foi constituda para estabelecer estratgias e diretrizes para o

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esporte paraolmpico brasileiro e em 09 de fevereiro de 1995, fruto deste trabalho, fundou-se o Comit Paraolmpico Brasileiro (SENATORE, 2006:19). Esta nova estrutura proporcionou ao Brasil uma rpida evoluo em termos de desenvolvimento e resultados, evoluindo conforme o Comit Paraolmpico Brasileiro CPB (s.d.) da 37 colocao geral nos Jogos Paraolmpicos de 1996 para 9 Colocao nos Jogos Paraolmpicos de 2008. Conforme Costa; Santos (2002:70) o esporte para pessoas com deficincia, no Brasil, hoje uma realidade incontestvel. Alm do mais os autores explicam que desde 1996, o CPB, despertou para a necessidade de envolver os profissionais das universidades no programa de avaliao e treinamento dos atletas paraolmpicos com vistas sua participao nas olimpadas de Atlanta. Neste sentido, o esporte paraolmpico brasileiro pde seguir e optar, pela profissionalizao de aes e efetiva participao dos mtodos cientficos de avaliao e treinamento dos nossos atletas e equipes paraolmpicas (COSTA; SANTOS, 2002, p.71). Esta nova realidade se extendeu partir de 2000 e porporcionou ao Brasil os resultados supracitados que permitiram o ingresso de nosso pas no rol das potncias esportivas paraolmpicas, como previa Costa; Santos (2002). Este acompanhamento sistemtico por parte do CPB, proporcionou um novo alento produo acadmica aplicada ao esporte paraolmpico proporcionando um conhecimento tcnico e cientfico fundamentais para embasar o processo de gesto da preparao de nossos atletas. Os trabalhos como: Marques et al (2009), Vital, et al (2007), Denadai (2002), Leito (2002), Mello et al (2002), Santos; Guimares (2002), Samulski; Noce (2002); Silva; Torres (2002), Silva; Andrade (2002), Silva; Torres (2002), Vital et al (2002), dentre outros, apontam importantes indicadores das reas mdicas, psicolgicas e cincias do esporte aplicadas que proporcionaram parmetros especficos de controle do treinamento, preveno de leses e otimizao do rendimento. Embora o conhecimento cientfico proporcionou estes concretos ganhos no processo de treinamento esportivo de atletas paraolmpicos, Costa; Santos (2002:70) salientam que a infraestrutura do treinamento destes atletas no adequada. Ainda faltam locais apropriados, materiais e equipamentos adequados, alm da conscientizao dos prprios portadores de deficincia e sua famlia sobre a importncia do esporte como fator preponderante no auxlio reinsero do portador de deficincia na vida social. (COSTA; SANTOS, 2002:70). Logo, mesmo diante dos avanos no esporte paraolmpico brasileiro tem-se evidenciado a necessidade de melhoria das condies de treinamento e tambm de melhor suporte para o atleta paraolmpico dedicar-se s atividades esportivas conforme afirma Samulski; Noce (2002:157). Neste sentido, com base nestas necessidades, iniciativas polticas

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nacionais, estaduais e municipais passaram a buscar mecanismos capazes de oferecer um suporte mais adequado ao treinamento de nossos atletas paraolmpicos. Dentre os avanos legais referentes ao esporte em geral, mas que proporcionou um grande fomento ao esporte paraolmpico esto a aprovao da Lei n 10.891 em 09 de Julho de 2004, que institui a Bolsa Atleta, o Decreto n 5.342 de 14 de Janeiro de 2005, que regulamenta a bolsa atleta, a Medida Provisria 502 de 20 de Setembro de 2010 que altera a Lei 10.891/2004 e disponibiliza recursos das loterias federais para a promoo do esporte e paradesporto escolar, alm da Lei n 11.439 de 29 de Dezembro de 2006, que dispe sobre incentivos e benefcios para fomentar as atividades de carter desportivo e d outras providncias. Como o exemplo dos resultados advindos da nova legislao no contexto esportivo, mais de 60 atletas de Tnis de Mesa paraolmpico foram beneficiados com bolsa atleta entre os anos de 2006 e 20081. Receber recursos mensais que proporcionam a possibilidade de investimentos no esporte, como previsto na bolsa atleta, permitiram a estes atletas uma melhor estrutura de treinamento e de participao em competies nacionais e internacionais, proporcionando melhores oportunidades e experincias para o aumento do nvel de rendimento. Diante desta nova realidade, outros investimentos passaram a ser estabelecidos nas esferas estaduais e municipais com possibilidades de usufruto da Lei de Incentivo ao Esporte, bem como da obrigao constitucional de fomentar o esporte para todas as pessoas, sem qualquer tipo de discriminao. Foi com base neste contexto, que o Governo do Estado de Minas Gerais criou o Projeto Minas Paraolmpico vinculado ao Programa Minas Olmpica como forma de fomentar o esporte paraolmpico no estado.

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Dados analisados com base nas planilhas disponibilizadas pelo Ministrio do Esporte. Disponvel em: http://www.esporte.gov.br/snear/bolsaAtleta/lista_contemplados.jsp. Acesso em: 16/06/2011.

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2.4.

O PROJETO MINAS PARAOLMPICO

Considerando-se a vocao do Estado de Minas Gerais, mesmo frente a dificuldades, em desenvolver diversas modalidades paraolmpicas, bem como de promover a prtica esportiva de um nmero significativo de pessoas com deficincia, o Governo do Estado de Minas Gerais criou o Projeto Minas Olmpico no ano de 2005, com intuito de suprir as carncias de uma poltica pblica de esportes focada nestas pessoas. Sob a justificativa de que embora reconhecesse iniciativas, trabalhos e resultados expressivos alcanados no estado por meio do esporte para pessoas com deficincia, Minas Gerais ainda apresentava resultados inexpressivos nos rankings nacionais e internacionais diante de sua dimenso e potencial. Muitas vezes o estado disputava posies com Estados at menores e menos desenvolvidos (MINAS GERAIS, 2005). Assim, o Projeto Minas Paraolmpico veio como uma das aes para impulsionar o desenvolvimento de polticas integradas junto s diversas esferas do governo e a sociedade civil, de forma a garantir os direitos das pessoas com deficincia prtica desportiva em seus diversos nveis (MINAS GERAIS, 2005). De acordo com o Projeto:mais que uma forma de resgatar o tempo e a quase inexistncia de programas de apoio e incentivo prtica de esportes paraolmpicos, o Projeto pretende valorizar o trabalho pioneiro, incansvel e de muitos anos das organizaes da sociedade civil, as entidades de pessoas portadoras de deficincia que, mesmo sem as mnimas condies necessrias e contando apenas coma a garra e a vontade de pessoas que tm trabalhado muito, conseguiram elevar o esporte Paraolmpico a um alto patamar, alcanando timos resultados e conferindo a Minas Gerais o status de Estado participativo e muito competitivo (MINAS GERAIS, 2005).

Durante muitos anos Minas Gerais tem sido bero das mais importantes iniciativas relativas ao esporte Paraolmpico no Brasil. Com equipes e atletas de alto rendimento em diversas modalidades, o estado esteve representado em campeonatos mundiais, jogos panamericanos e consequentemente nas Paraolimpadas de Atlanta, Sidney e Atenas (MINAS GERAIS, 2005). Entretanto, no havia nenhuma poltica pblica sistematizada para fomentar o esporte paraolmpico no estado de Minas Gerais at ento. O Projeto Minas Paraolmpico pretendia, portanto, no decorrer de sua aplicao, no s fortalecer a atuao das equipes e atletas individuais que j praticam as modalidades aqui contempladas, bem como, fomentar e incentivar os atletas em potencial atravs do apoio tcnico financeiro s suas entidades de origem (MINAS GERAIS, 2005).

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Ao lanar este Projeto, o Governo do Estado almejava j nos Jogos Parapanamericanos Rio 2007, alcanar uma maior participao de atletas mineiros, buscandose destaque e a respectiva classificao para os Jogos Paraolmpicos de Beijing 2008 (MINAS GERAIS, 2005). Logo, O Projeto Minas Paraolmpico justificava-se pela necessidade de implantao de uma poltica pblica de esporte voltada para as pessoas portadoras de deficincias; carncia de recursos humanos tecnicamente capazes de trabalhar com o esporte adaptado; Infraestrutura incompatvel com o potencial esportivo estadual; Necessidade de inserir Minas Gerais na rota dos grandes eventos nacionais de esportes para as Pessoas Portadoras de Deficincias; Capacidade de mobilizao da sociedade proporcionada pelo esporte adaptado; Difuso de uma imagem positiva do Estado no cenrio paradesportivo nacional (MINAS GERAIS, 2005). Quanto aos objetivos do Projeto, o geral consistia em difundir o desenvolvimento e a consolidao do Movimento Paraolmpico em Minas Gerais. Os objetivos especficos preconizavam aumentar a quantidade e qualidade dos atletas mineiros que integrariam as equipes brasileiras que participariam dos Jogos Parapanamericanos em 2007, no Rio de Janeiro; Aumentar o nmero de atletas mineiros que participariam da Paraolimpada de Pequim/2008; Melhorar a posio mo rankink nacional e internacional dos atletas mineiros das vrias modalidades paraolmpicas at 2008. Com base neste contexto, o programa iniciou em 2006 contemplando as seguintes modalidades: Atletismo, Natao, Tnis sobre Rodas, Jud, Halterofilismo, Hipismo. Goalball e Tnis de Mesa. Dentre as aes previstas na execuo do projeto, destacavam-se: Avaliao de Atletas e/ou equipes visando identificar o estgio de desenvolvimento do atleta, objetivando o acompanhamento e o monitoramento do desempenho esportivo e dos resultados alcanados nas competies estaduais e nacionais. Capacitao de Recursos Humanos objetivando a atualizao e o aperfeioamento profissional dos tcnicos e demais profissionais que trabalham diretamente com este segmento esportivo. Manuteno de uma Equipe Permanente de Treinadores. O Projeto arcaria com os custos de manuteno de uma equipe permanente de treinadores estaduais. Promoo de Eventos Esportivos Estaduais de Alto Rendimento visava promover eventos esportivos estaduais e/ou nacionais como forma de motivar a sociedade para o

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reconhecimento da prtica de esportes pelas pessoas com deficincia, bem como de estabelecer o calendrio estadual de eventos. Viabilizao da participao dos atletas inseridos no projeto em competies Estaduais e Nacionais de Alto Rendimento - Visava apoiar financeiramente a participao das equipes mineiras permanente em competies estaduais, nacionais e internacionais. Aquisio de equipamentos e materiais esportivos - Apoio s Associaes no sentido de implementarem as atividades esportivas de competio atravs da aquisio e manuteno de materiais e equipamentos esportivos diversos; Promoo de Utilidade Pblica visava informar, orientar, prevenir e alertar a sociedade para comportamentos que lhe proporcionem reais benefcios sociais e de sade, objetivando a melhoria da qualidade de vida da populao em geral e mais diretamente das pessoas portadoras de deficincia. Divulgao Visava atuar junto aos rgos de imprensa e publicidade no sentido de tornar o Projeto conhecido e com isto, influenciar na captao de recursos oriundos dos possveis parceiros. Para viabilizar o projeto, contratou-se uma Coordenao Geral, tendo como sub coordenao, a prpria Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes (SEDESE), com o intuito de supervisionar o seu desenvolvimento do mesmo. Para a execuo do planejamento, desenvolvimento e realizao da rea tcnica, contratou-se ainda dois consultores com ampla experincia na rea. No nvel operacional estabeleceu-se as diretrizes do projeto pautando-se em que s poderiam participar do mesmo, equipes ou atletas vinculados a uma entidade de pessoas portadoras de deficincia que comprovadamente desenvolvia uma ou mais modalidades esportivas paraolmpicas dentre aquelas previstas no mesmo (MINAS GERAIS, 2005). Aos atletas de modalidades individuais, a seguinte performance foi exigida para a participao (MINAS GERAIS, 2005): 1. Estar entre os 10 melhores do mundo na modalidade ou prova no ranking do ltimo ano; 2. Estar entre os 6 melhores do pas na modalidade ou prova no ranking do ltimo ano; 3. Estar entre os 4 melhores do Estado na modalidade ou prova no ranking do ltimo ano. 4. Provar que se encontra em atividade no perodo do incio do projeto. 74 atletas foram contemplados com base em vagas pr-definidas por modalidades, sendo que ao Tnis de Mesa foram destinadas 04 vagas. Como forma de orientar e

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parametrizar indicadores de rendimento, foram previstas duas avaliaes anuais em 2006 com vistas a exames clnicos, laboratoriais, psicolgicos, biomecnicos, fisiolgicos,

cardiolgicos, nutricionais e antropomtricos (MINAS GERAIS, 2005). Uma comisso composta por um biomecnico, um fisiologista, um mdico clnico geral, um psiclogo do esporte e um nutricionista, ficou responsvel por analisar os resultados dos diversos testes e repass-los aos treinadores, em uma reunio nica em local previamente definido (MINAS GERAIS, 2005). Finalmente, foi montada uma equipe de treinadores permanentes do estado (Tcnicos Estaduais e Tcnicos de Base). Os Tcnicos Estaduais de cada modalidade eram responsveis pelo desenvolvimento tcnico, pelas estratgias de treinamento e desenvolvimento qualitativo de sua respectiva modalidade. Os atletas que necessitavam de treinamentos em suas cidades de origem, ou maior apoio devido ao alto nmero de atletas sob seu comando tiveram sua disposio, Tcnicos de Base, para maior suporte aos treinamentos. Estes atletas realizariam seus treinamentos rotineiros nas suas respectivas cidades de origem com os Tcnicos de Base, os quais deveriam encaminhar aos Tcnicos Estaduais, os relatrios mensais, bem como deveriam receber as devidas orientaes conforme o planejamento especfico de cada modalidade elaborado pelos Tcnicos Estaduais com subsdio dos dados da comisso de avaliao (MINAS GERAIS, 2005). Para um melhor controle e desenvolvimento dos treinamentos, foram previstos 02 encontros anuais das equipes permanentes para avaliao e treinamento conjunto nos Centros de Treinamento de Uberlndia com durao mnima de 07 dias (MINAS GERAIS, 2005). O presente trabalho consiste, portanto, no relato de experincia da coordenao do trabalho (Tcnico Estadual) da equipe de tnis de mesa do Projeto Minas Paraolmpico evidenciando-se as estratgias e aes desenvolvidas para alcanar os objetivos propostos.

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2.5.

TNIS DE MESA PARAOLMPICO

O Tnis de Mesa teve sua origem associada a expedies militares britnicas na ndia na segunda metade do sc. XIX. Segundo Izuka; Nagaoka (2006:19) como no estavam acostumados ao forte calor do vero indiano, os militares no dispunham a praticar seu esporte favorito o tnis e resolveram improvisar uma espcie de tnis de mesa, que podia ser praticado sombra de rvores. H registros tambm na Inglaterra que as primeiras lembranas do tnis de mesa revelam um jogo rude, iniciado por estudantes universitrios, com livros dispostos no lugar da rede e por militares que o praticavam com equipamentos improvisados no pas e no Exterior (NAKASHIMA; NAKASHIMA, 2006:9). O esporte se institucionalizou em 1926 com a criao da Federao Internacional (International Table Tennis Federation ITTF) unificando as diversas regras pelas quais a modalidade era praticada em diferentes localidades da Inglaterra e do mundo. No Brasil, h relatos da prtica da modalidade desde 1905 em So Paulo, sendo que Confederao Brasileira de Tnis de Mesa (CBTM) foi criada em 1979 (NAKASHIMA; NAKASHIMA, 2006:9). Importante ressaltar que a partir da segunda metade do sculo XX vrias federaes estaduais foram criadas, e anteriormente fundao da CBTM, a modalidade era gerenciada pela Confederao Brasileira de Desportos (CBD). Com relao ao movimento paraolmpico, desde a implantao do esporte enquanto metodologia aplicada para reabilitao de lesionados medulares no Hospital de Stoke Mandeville, o tnis de mesa, junto com o tiro com arco e o arremesso de dardo foram as primeiras modalidades implementadas por Sir Ludwig Guttmann em 1944 (CIDADE; FREITAS, 2002, p.78) Os benefcios advindos da prtica destas modalidades na reabilitao de lesionados medulares foram comprovados por Guttmann, o que levou inclusive ao investimento do Ministrio da Sade da Inglaterra na construo de um centro de recreao como espao destinado a prtica destas modalidades na dcada de 50 (GUTTMANN, 1967, p.117). Logo, o tnis de mesa esteve presente desde os primeiros momentos da histria do esporte paraolmpico, sendo inclusive, modalidade oficial do programa dos jogos desde os I Jogos de Stoke Mandevile em 1948 e tambm na primeira edio dos Jogos Paraolmpicos em 1960 em Roma. Interessante ressaltar que o tnis de mesa se tornou uma modalidade paraolmpica muito antes de ser reconhecida no programa olmpico, o que s ocorreu no ano de 1988 nos

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Jogos Olmpicos de Seul, Coria. Este dado indica o reconhecimento dos benefcios da modalidade e da necessidade de se estabelecer um rgo independente de gesto da mesma para organizar seu desenvolvimento. A este respeito, de acordo com a International Table Tennis for Disabled - IPTTC (2005:40), o primeiro sub comit de tnis de mesa foi formado em 1970 sob comando da Federao Internacional dos Jogos de Stoke Mandeville International Soke Mandeville Games Federation (hoje International Wheelchair & Amputee Sports Federation IWASF), at ento responsvel exclusivamente para as modalidades destinada aos atletas cadeirantes. At a dcada de 80, vrios sub comits foram criados para gerenciar distintas classes de atletas tais como amputados e les otres que iniciaram sua participao nos Jogos Paraolmpicos de 1976 e os paralisados cerebrais a partir dos Jogos Paraolmpicos de 1980, quando se estabeleceu a necessidade da criao de um processo de gesto unificado da modalidade por meio de um sistema nico de classificao. Logo, desde 1980 o IPTTC foi institudo para se estabelecer tal unificao, mas somente foi reconhecido pelo Comit Paraolmpico Internacional (IPC) nos Jogos Paraolmpicos de 1992. Movimentos como estes de unificao das regras de classificao e unificao das competies independente do tipo de deficincia contriburam com a fuso em 2003 da International Stoke Mandeville Wheelchair Sports Federation (ISMWSF) com a International Sports Organisation for the Disabled (ISOD) passando a se constituir a International Wheelchair & Amputee Sports Federation (IWASF), neste mbito esta entidade rege apenas as modalidades que ainda no possuem reconhecimento de uma federao internacional especfica, o que no o caso do tnis de mesa, hoje sob gesto da ITTF. Atualmente, em favor destes movimentos internacionais de fuso e reconhecimento nico do esporte, a partir de 2008, o IPTTC se fundiu com a ITTF passando a constituir um departamento da Federao Internacional com a inteno de se otimizar a gesto da modalidade independente da condio de se tratar ou no de atletas com deficincia. Esta unificao passou a ser uma exigncia internacional que levou a diferentes repercusses nos mais diversos pases. No Brasil, conforme Senatore (2006:21) em maio de 2000 foi criada a Confederao Brasileira de Tnis de Mesa Adaptado CBTMA, posteriormente renomeada como Confederao Brasileira de Tnis de Mesa Paraolmpico CBTMP, com o objetivo de promover e incentivar a modalidade do tnis de mesa adaptado, praticado pelos atletas com deficincia fsica motora. Por ainda no haver uma entidade internacional que comande o

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esporte que continua sob a responsabilidade do IPC, a CBTMA no filiada, sendo vinculada ao CPB (SENATORE, 2006:21). Desde a fuso da IPTTC ITTF, e o respectivo reconhecimento do IPC ITTF, o sistema internacional passou a reconhecer a Confederao Brasileira de Tnis de Mesa - CBTM como a responsvel pela gesto da modalidade tanto em nvel olmpico quanto no paraolmpico, o que gerou uma atuao secundria da CBTMP em relao ao novo processo de gesto da modalidade. A CBTM se filiou ao Comit Paraolmpico Brasileiro - CPB em 2009 e hoje a nica instituio legitimamente reconhecida no sistema do esporte paraolmpico. Com relao aos atletas com deficincia intelectual, considerada como a classe 11 nos Jogos Paraolmpicos, a entidade internacional responsvel pela modalidade a INAS (antiga INAS-FID). Embora as modalidades para pessoas com deficincia intelectual tenham sido suspensas partir dos Jogos de Atenas 2004, algumas modalidades voltaro a integrar o programa dos Jogos j em Londres 2012. De acordo com a INAS2, o tnis de mesa hoje uma das modalidades prioritrias na instituio dado o restabelecimento de seu reconhecimento como esporte paraolmpico pela ITTF partir de 2012 nos Jogos de Londres. No Brasil, a Associao Brasileira de Desportos de Deficientes Mentais ABDEM, fundada em 1989 filiada INAS e ao CPB representando oficialmente os atletas da Classe 11 no tnis de mesa. Portanto, alem da classe 11 voltada especificamente para atletas com deficincia intelectual, o tnis de mesa possui outras 10 classes sendo cinco para cadeirantes e 5 para atletas que jogam em p. De acordo com Costa; Sousa (2004:33), no tnis de mesa, participam atletas com paralisia cerebral, amputados e cadeirantes, nas categorias masculina e feminina, por equipe, individual ou open. Joga-se em p ou em cadeira de rodas. Quanto as adaptaes, Loovis (2001:455) ressalta que no geral as regras so as mesmas da ITTF, permitindo-se as seguintes regras complementares para jogos em cadeira de rodas:- Os ps e apoios para os ps dos competidores no podem tocar o solo. - Ser marcado um let (saque invlido) nos seguintes casos: se a bola sair por qualquer um dos lados da mesa dos receptores; se a bola, ao quicar no lado do receptor, retornar em direo rede ou, ainda, se parar na superfcie de jogo, no lado do receptor. - A superfcie de jogo no dever ser usada como apoio para a mo livre durante as jogadas. O jogador pode usar a superfcie de jogo para recuperar o equilbrio aps efetuar um golpe, contanto que a mesa no se mova. - Pode-se diminuir a rea de jogo. Entretanto, esta no deve ser inferior a 8m de comprimento e 7m de largura.2

Dados relatados com base nas informaes do site oficial da Inas. Disponvel em: http://www.inas.org/sports/table-tennis/ Acesso em: 16/06/2011.

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- No h exceo das regras de jogo para os jogadores que atuam em p. (LOOVIS, 2004, p.455).

Embora no haja exceo das regras para os atletas que atuam em p, h que se considerar que existem, conforme estabelecido no carto de classificao funcional, possibilidades de concesses, tais como: o atleta poder sacar de forma alternativa lanandose a bola com a prpria raquete caso no consiga espalm-la ou lan-la para o alto com a mo livre; poder ser permitido o uso de muletas, bengala ou outro objeto de apoio necessrio para que o mesmo mantenha-se equilibrado, resguardando sua integridade fsica, bem como outras especificidades oriundas de cada caso reconhecidamente como limitao e possvel adaptao oriundas da avaliao funcional. Nagashima; Nakashima (2006:15) destacam os seguintes materiais adaptados que podem ser utilizados por atletas cadeirantes ou andantes (que jogam em p): faixa ou bandagem para fixar a mo que joga com a raquete; extensor (aumento) do cabo da raquete; tnis com salto; almofadas (assento) mais altas; rodas com raio maior ou menor; muletas e prteses. Quanto a classificao funcional, para que o atleta seja considerado elegvel, ele dever se submeter a uma avaliao a ser realizada por classificadores devidamente credenciados para tal. Sendo que o caso da deficincia intelectual, h testes especficos cujos resultados devem ser apresentados em formulrios prprios que devero ser apresentados ABDEM para a devida validao e reconhecimento de elegibilidade conforme os requisitos exigidos internacionalmente pela INAS. tnis de mesa paraolmpico dividido em 11 classes distintas: cinco classes (I, II, III, IV, V) para atletas cadeirantes e cinco classes (VI, VII, VIII, IX, X) para atletas andantes, a classe XI destinada exclusivamente aos atletas com deficincia intelectual (NAKASHIMA; NAKASHIMA, 2006, p.11). Os quadros a seguir estabelecem as especificidades funcionais que caracterizam cada uma das 10 classes destinadas aos atletas com deficincia fsica, o que permite uma melhor compreenso de determinadas especificidades inerentes as estratgias e caractersticas das demandas de jogo conforme a potencialidade funcional de cada atleta.

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QUADRO 1 Classificao Funcional de Tnis de Mesa Paraolmpico (Cadeirantes) CADEIRANTES Classe 1 Descrio Atleta com grave reduo da atividade no brao que joga, afetando a ao de agarrar, a flexo do pulso e a extenso do cotovelo. O msculo trceps no funcional (Geralmente quadro de tetraplegia). Atleta com reduo da atividade no brao que joga, afetando a ao de agarrar e a funo da mo (msculos do pulso). O msculo trceps funcional (Geralmente quadro de tetraplegia). Atleta com insuficiente equilbrio quando sentado ereto numa cadeira de rodas sem suporte de um encosto; msculos abdominais e das costas no so funcionais para controlar a parte superior do tronco e fixar a posio lombar (Geralmente quadro de paraplegia). Atleta com suficiente equilbrio quando sentado ereto; sem movimento deliberado no tronco nos planos sagital e frontal devido falta dos msculos funcionais do quadril e da coxa (Geralmente quadro de paraplegia). Atleta com bom equilbrio quando sentado ereto e com a musculatura do tronco e abdome funcionais; amputao em uma das pernas com capacidade funcional de caminhar (Geralmente quadro de paraplegia).

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FONTE: Adaptado de Nakashima; Nakashima (2006:11) QUADRO 2 Classificao Funcional de Tnis de Mesa Paraolmpico (andantes) ANDANTES Classe 6 Descrio Atleta com a combinao de deficincias no brao que joga e nos membros inferiores. Atleta com amputao simples (brao que joga) ou dupla, acima ou abaixo do cotovelo, ou a combinao de ambos; atleta com ambos os membros inferiores afetados. Atleta com amputao simples acima ou dupla abaixo do joelho; atleta com grave deficincia em um ou dois membros inferiores. Atleta com amputao simples abaixo do joelho, mas bom equilbrio dinmico e deficincia mnima em uma perna. Atleta com amputao de 1/3 do antebrao do brao livre, com funo normal do brao que joga; deficincia muscular mnima em uma das pernas.

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FONTE: Adaptado de Nakashima; Nakashima (2006:12)

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2.6.

ANLISE DA DISCIPLINA ESPORTIVA

Para se compreender melhor o tnis de mesa paraolmpico importante ressaltar algumas caractersticas da modalidade que permitem um melhor conhecimento das especificidades tcnico-tticas e exigncias fsicas da modalidade. De acordo com , Drianovski; Otcheva (2002) o tnis de mesa um esporte explosivo que envolve padres dinmicos de movimentos rpidos como tiros e saltos, com mudanas de direes constantes por meio de giros do corpo e distribuio de golpes com grande fora e giro (rotao) sobre a bola. A este respeito, Tenguan; Trocoli (2006:101) afirmam que dentre as capacidades motoras envolvidas na prtica do tnis de mesa, destacam-se a velocidade de reao, velocidade de movimento, potncia, orientao espacial e resistncia de fora. Ao se analisar jogos de alto rendimento da modalidade, Drianovski; Otcheva (2002) detectaram que os atletas executam 302 a 1246 movimentos manuais, o que corresponde a a uma frequncia de 0,26 a 0,69 movimentos por segundo. Em funo destes dados terem sido coletados anteriormente alterao da regra de sets de 21 pontos para 11 pontos, Tenguan; Tricoli (2006:101) estimam que em funo da quantidade de pontos disputados em mdia com a nova regra ter sido reduzido, o nmero de movimentos manuais deve ter baixado para uma mdia de 630 movimentos em uma partida. Drianovski; Otcheva (2002) apresentam que o tempo de bola em jogo de aproximadamente 3,6s, enquanto o intervalo entre os pontos de 9,4s, ou seja uma relao esforo-pausa de cerca de 1 para 2. Ainda com relao a alterao das regras, o estudo de Tang; Mizoguchi; Toyoshima (2002) demonstrou que o aumento do dimetro da bolinha de 38mm para 40mm diminui apenas 1 a 2% a velocidade da bola em jogo, salientando-se que no se observou diferena na desacelerao da mesma. Entretanto, quanto ao tempo de rally, Takeuchi et al (2002) detectou que o aumento no dimetro da bola aumentou a mdia de durao de um ponto de 3,4s para 4,2s Diante destes dados, Franchini (2006:182) afirma que o tnis de mesa apresenta uma caracterstica intermitente. Logo, durante uma partida, o sistema anaerbio altico parece prevalecer na produo de energia para as aes. Os sistemas anaerbico ltico e oxidativo contribuem pouco para a transferncia de energia durante o jogo (FRANCHINI, 2006, p.192). Entretanto, Cosgrove; Hardman (2007:203) afirmam que mesmo frente a uma demanda aerbia relativamente mais baixa, os atletas necessitam ser capaz de lidar com as demandas dos treinamentos, tanto tcnicos quanto os fsicos, e resistir a numerosos jogos em um mesmo

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dia e em dias consecutivos durante uma competio. Ou seja, uma considervel condio aerbia necessria para ajudar na recuperao, reduzir riscos de leses e para permitir ao atleta sustentar o alto nvel de desempenho durante os treinamentos e competies. Sendo assim, o sistema anaerbio fundamental, mas no se pode deixar de lado o desenvolvimento da capacidade aerbia (COSGROVE; HARDMAN, 2007, p. 203). Conforme Malheiro (2007:185) o fato do tnis de mesa ser um esporte de confronto, no qual se opem dois adversrios cujos interesses so opostos, faz com que seja comum conceber a modalidade como um esporte de oposio, acclico, balstico, de situao. Este conjunto de aspectos faz com que o tnis de mesa seja, nos seus elementos estruturais, um desporto que exige competncias tcnicas e estratgicas muito bem desenvolvidas (MALHEIRO, 2007, p. 185). Segundo Kondric et al (2010:166) uma competio em nvel mundial geralmente dura em torno de uma semana, e o atleta tem que jogar vrias vezes neste perodo. A carga pesada e sempre h fatores externos que interferem no rendimento do atleta, tais como um calendrio apertado de competies, adversrios fortes, mudanas na dieta e nos hbitos de sono, um novo ambiente e diferenas de fuso horrio. Dessa forma o atleta deve estar bem preparado fisicamente e mentalmente para que sua habilidade sobressaia. Em funo desta carga estressora, h que se considerar que um desgaste fsico e mental uma consequncia inevitvel e uma boa condio aerbia do atleta ajudaria sobremaneira em sua recuperao e no suporte para tolerar tais cargas (KONDRIC et al, 2010, p. 169) Alm dos aspectos inerentes aos processos fisiolgicos, Lees (2003:713) afirma que atualmente, anlises de jogos, anlise de movimentos, avaliao tcnica, avaliao ttica, desenvolvimento de banco de dados de atletas, e aspectos formativos de atletas e tcnicoes tm sido foco de diversos estudos na rea de esportes de raquete. Alm do mais, anlises tridimensionais biomecnicas de determinados fundamentos do tnis de mesa, bem como simulaes na rea de engenharia esportiva avaliaram possibilidades de mudar a velocidade do jogo e possibilitaram propostas de alteraes nas regras do jogo quanto ao dimetro da bola e propriedades da superfcie da raquete (LEES, 2003). Estas mudanas evidenciam que os cientistas do esporte passaram a evidenciar novas possibilidades de estudos com o intuito de conhecer melhor os princpios que envolvem a dinmica de jogo e as propriedades biolgicas, psicolgicas e mecnicas que podem ser trabalhadas para aumentar o rendimento dos atletas. Do ponto de vista psicolgico, Seve et al (2007) demonstrou que as emoes dos atletas durante um jogo podem variar constantemente em funo das alteraes do placar,

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auto julgamento sobre as jogadas. Frequentemente os atletas precisam lidar com sensaes ruins durante as jogadas e com a falta de prazer durante o jogo. Interessantes impactos de comportamentos no verbais foram encontradas por Geenless et al (2005) ao analisar vdeos de 18 atletas experientes que reportaram que as primeiras impresses acerca do adversrio, tais como uma atitude e postura positiva durante o aquecimento, os trajes de roupas de marcas especficas da modalidade, j promovem um sentimento de menor confiana para derrot-los, quando comparado as impresses com atletas que no possuem tais atitudes e posturas. O estudo conclui que uma linguagem corporal positiva um importante preditor de potencial para a vitria de uma partida. Lima; Samulski; Vilani (2004) demonstraram que para um controle psicolgico mais efetivo durante os jogos, tcnicas cognitivas, tais como buscar retomar a concentrao, buscar analisar o erro e pensar em alternativas para corrigi-lo, foram mais efetivas que tcnicas motoras como saltitar, simular o movimento correto que deveria ter sido executado, etc. A avaliao do sucesso nos dois pontos subseqentes foi o parmetro utilizado para eficcia e demonstrou diferenas estatsticas quando comparado a superao de situaes crticas por meio da aplicao de tcnicas cognitivas e motoras. Quando se busca a devida concentrao para o jogo, diversas questes podem perpassar pelos processos cognitivos do atleta, prestar ateno em que? Quando? Por que? A este respeito, Vilani; Lima; Samulski (2002) identificaram que no tnis de mesa o atleta deve ser capaz de flexibilizar as formas de ateno desde um foco amplo, buscando-se estabelecer mecanismos de percepo sobre o posicionamento do adversrio em relao a mesa e o espao de jogo, a um foco estreito, quando os detalhes do movimento do adversrio como os movimentos que o mesmo executa com seu pulso e brao durante a execuo de um saque, onde o momento e a direo em que a raquete toca a bola ser altamente relevante para se perceber o efeito e responder de forma adequada neutralizando-o ou aproveitando-o. Alm do mais, durante o jogo, os autores evidenciaram que os atletas necessitam de focar tanto em aspectos internos inerentes aos processos que o prprio corpo pode sentir, quanto aos aspectos externos, onde o atleta dever perceber as diversas situaes de jogo. Logo, com base nas exigncias fsicas e motoras de um jogo, os atletas devero flexibilizar as formas de ateno, com a finalidade de se desenvolver ao mximo a qualidade do sistema sensorial. Um treinamento especfico portanto recomendado para que o atleta possa estabelecer uma possvel forma de diminuir o tempo de reao, e apresentar durante a disputa dos pontos uma melhor condio de desenvolver sua inteno ttica de acordo com as caractersticas de cada adversrio.

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Outra caracterstica importante em relao ao jogo de tnis de mesa a questo da gesto do conhecimento do atleta quanto aos processos inerentes s melhores jogadas tcnicas e tticas em funo de um planejamento ttico previamente delineado com base na anlise do jogo do adversrio. De acordo com Sve et al (2002; 2005), mesmo diante de um conhecimento prvio das caractersticas do adversrio, por meio de uma anlise semiolgica, observou-se que este conhecimento no suficiente para delinear as aes tticas, sendo que o conhecimento mais relevante para o jogo, construdo durante o mesmo e no com base nas informaes prvias. Ou seja, embora um conhecimento prvio possa ajudar, essencial que o atleta saiba explorar a combinao das caractersticas e respostas dos adversrios ao seu estilo de jogo com base nas situaes especficas e nas contingncias prprias de cada jogo. Estes dados reforam a importncia da afirmao de Vilani; Lima; Samulski (2002) de que, a ateno no tnis de mesa necessita de um treinamento mais especfico, sendo que o trabalho deve ser bem orientado de maneira flexvel para todas as suas formas, uma vez que esto envolvidas intensamente em um jogo. Lima (1994) apresenta que por ser o tnis de mesa uma modalidade individual, a individualizao do treinamento acaba sendo uma necessidade para se potencializar o desenvolvimento das diversas capacidades do atleta. Neste caso, comum que a relao entre o tcnico e o atleta estabelea vnculos que podem significar uma relao de extrema confiana e gerar uma certa dependncia do atleta em relao ao tcnico durante uma competio. Diante desse contexto, o autor afirma que no processo de treinamento, o tcnico deve buscar promover uma prtica pedaggica capaz de estimular o desenvolvimento da autonomia do atleta. Vilani; Samulski (2005) ao analisar a relao entre tcnicos e atletas brasileiros, verificaram que os atletas que possuem um melhor desempenho possuem uma maior congruncia de respostas sobre o comportamento do tcnico quando comparados com a autopercepo do prprio tcnico. Resultados similares tambm foram encontrados com relao aos atletas mais experientes em comparao com os menos experientes, e com os atletas que possuem maior tempo de treinamento com o mesmo tcnico. Estes resultados denotam a importncia do vnculo pedaggico. Os atletas em idade mdia (categoria infantil), apresentaram um ndice de satisfao de seus tcnicos menor do que os mais jovens (categoria mirim) e os mais velhos (categoria juvenil), o que segundo os autores, pode representar dificuldades de se estabelecer determinados vnculos pedaggicos necessrios a uma relao mais adequada. O estudo recomenda a necessidade de se compreender os diferentes interesses e necessidades dos atletas e flexibilizar os estilos de liderana de acordo com as necessidades

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do grupo e as caractersticas de cada membro do mesmo. Uma boa comunicao imprescindvel para se estabelecer uma relao mais efetiva neste processo. Mais especificamente quanto ao tnis de mesa paraolmpico, algumas consideraes cientficas demonstram a maior complexidade em se analisar as possibilidades de jogo. O ajuste da raquete para tetraplgicos, cuja preenso palmar est comprometida, tem sido foco de estudos para se estabelecer melhores condies de jogo aos atletas. J em 1979, Slatter; Gibb (1979) j demonstravam a importncia de se estabelecer um sistema de raquete que viabilizasse a um custo mais acessvel, uma empunhadura adequada s especificidades dos paraplgicos para segurar a raquete de forma mais efetiva. Conforme os autores, o desenvolvimento de uma luva com velcro onde os atletas podem cal-la antes de empunhar a raquete, para depois envolver o cabo da raquete e prend-lo com o velcro demonstrou ser um meio eficaz para permitir maior firmeza e segurana na empunhadura da raquete. Gomas elsticas tambm foram testadas de forma positiva para envolver a mo j empunhando a raquete. Durante muitos anos, e ainda hoje, pode se observar atletas utilizando sistemas similares a estes. Entretanto, Taktak (1997) observou que com a empunhadura da raquete firme (presa s mos dos atletas), muitos movimentos do pulso ficam limitados e podem prejudicar o desempenho. Para compensar esta limitao, o autor discute sobre a importncia de se estabelecer diferentes ngulos do cabo da raquete para que se possa otimizar o desempenho dos golpes a serem executados de acordo com as caractersticas funcionais de cada atleta. Estas peculiaridades demonstram que o tnis de mesa paraolmpico implica em especificidades que devem ser consideradas nos processos competitivos de acordo com as classes funcionais e caractersticas especficas de cada atleta. O estudo de Cheng-Hua et al (2010a) investigou a situao atual dos fatores inerentes deficincia que impedem a participao no tnis de mesa paraolmpico. 94 atletas que participaram de uma competio em Taiwan no ano de 2005 responderam a um questionrio para o levantamento de dados especficos acerca de fatores que pudessem dificultar ou impedir sua participao no esporte. Ao se comparar se questo de gnero (80% eram homens), o fato de ser casados (60% eram casados), de possuir filhos (50% possuam filhos), e a idade (60% na faixa etria entre 40 e 49 anos de idade), eram fatores preditivos para impedir a prtica da modalidade, os autores no encontraram diferenas significativas. Entretanto, na comparao entre os aspectos do tipo de deficincia (70% eram seqela de poliomielite), se a leso era adquirida ou congnita (90% era adquirida), e a questo da classificao funcional na modalidade (mais de 50% eram das classes 4 ou 5), observou-se

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diferenas significativas como fatores impeditivos da prtica da modalidade. Os autores avaliaram que parece que o comprometimento fsico, em funo das seqelas da leso, aspecto que se evidencia principalmente na classificao funcional, parece ser o maior preditor de um fator impeditivo. Este aspecto evidencia a importncia de se estabelecer a devida acessibilidade aos ambientes de treinamento e competio. Cheng-Hua et al (2010b) realizou outro estudo em 2008, tambm em Taiwan, sobre a utilizao de equipamentos esportivos no tnis de mesa em cadeira de rodas. Os resultados denotaram que 88,5% dos 61 atletas pesquisados utilizavam a empunhadura clssica, sendo que 93,5% empunhavam a raquete com a mo direita. 70,5% dos atletas usavam borracha com pinos externos, que sofre menos atrito e facilita a neutralizao do spin giro da bola nas chamadas jogadas de efeito. Quanto ao manejo da cadeira de rodas, 58,8% dos atletas jogavam com a cadeira de rodas solta, ao passo que 27,9% com a cadeira semi-travada e 21,3% com as cadeiras totalmente travadas. Sobre a classificao, 62,3% eram de classes altas para cadeirantes (classe 4 e 5), 27,9% da classe mdia (classe 3) e 9,8% das classes baixas (classes 1 e 2). Finalmente, quanto a anlise de jogo no tnis de mesa paraolmpico, Vilani; Aburachid; Greco (2006) desenvolveram um modelo para analisar os jogos com base em software livre denominado Transana 1.24 desenvolvido no Wisconsin Center for Education Research, utilizado para tabular dados referentes aos fundamentos tcnicos da modalidade, devidamente categorizados e arquivados em colees de clipes para organizao dos dados. Para cada fundamento foi criada uma planilha de anlise constando os diversos tipos de golpes e suas variaes associado ao tempo de rally possibilitando a transcrio dos dados para uma planilha para posterior anlise estatstica por meio do Pacote Estatstico SPSS for Windows verso 11.0. Os autores concluram que se este procedimento se mostrou perfeitamente adaptvel ao meio esportivo, sendo uma ferramenta de baixo custo e com recursos extremamente proveitosos para uma anlise sistemtica de jogos por meio de vdeo. Alm do mais, recomendou-se diagnosticar os diferentes padres de jogo em cada uma das 10 classes do tnis de mesa paraolmpico para estudos futuros. O mtodo proposto se mostrou adequado para traar o perfil dos atletas, bem como o padro de jogo de cada uma das classes. Logo, observa-se que h diversas possibilidades de estudo no que tange produo de conhecimento