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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL - ULBRA
ÁREA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAL
CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL
METABOLISMO URBANO EM PORTO ALEGRE
E NO MUNDO E SUAS CONSEQUÊNCIAS:
RESPOSTAS DA CIDADE
Cristiano Kern Hickel
Canoas
2009
CRISTIANO KERN HICKEL
METABOLISMO URBANO EM PORTO ALEGRE
E NO MUNDO E SUAS CONSEQUÊNCIAS:
RESPOSTAS DA CIDADE
Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Ambiental à Universidade Luterana do Brasil, Curso de Engenharia Ambiental.
Orientador: André Loureiro Chaves
CANOAS
2009
FOLHA DE APROVAÇÃO
CRISTIANO KERN HICKEL
METABOLISMO URBANO EM PORTO ALEGRE
E NO MUNDO E SUAS CONSEQUÊNCIAS:
RESPOSTAS DA CIDADE
Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado como requisito parcial para a
obtenção do grau de Engenheiro Ambiental à Universidade Luterana do Brasil, Curso de
Engenharia Ambiental, pela seguinte banca examinadora:
___________________________________________
Prof. André Loureiro Chaves – Ulbra
___________________________________________
Prof. Diego Marques Henriques Jung – Ulbra
___________________________________________
Prof. Arlete Arruda – Ulbra
2
"Nós devemos ser a mudança que desejamos ver no mundo."
M.K.Gandhi
Este documento foi produzido em software livre - BrOfficce.org.
3
RESUMO
Este trabalho apresenta uma pequena perspectiva da situação atual das cidades no mundo e de Porto Alegre com relação às suas necessidades de consumo. A partir do entendimento da cidade como um organismo e sua relação e semelhança com os ciclos naturais, analisar a qualidade e quantidade de recursos necessários para a sua sobrevivência. O histórico de formação das cidades entra como elemento de comparação e entendimento do atual modo de se organizar e crescer, onde a economia globalizada protagoniza o papel principal. Dessa análise fica evidenciado um certo desequilíbrio, tanto no aspecto social quanto da preservação do meio ambiente, fruto do consumo desenfreado e todo um padrão de vida moldado por um sistema econômico voraz e pouco inclusivo. Os desequilíbrios podem ser observados do ponto de vista global, com o agravamento do efeito estufa e as alterações climáticas - que afeta a todos -, ou local, nas diferenças sociais colossais explícitas através da má distribuição de renda, habitação, alimentação e mobilidade. Como resposta de mitigação e adaptação a este cenário de incertezas e evidências, pequenas células desse grande organismo se reorganizam sem, no entanto, abandonar o seu corpo: grupos e comunidades dentro da cidade buscam, com os recursos que tem disponíveis, mudar o atual padrão de vida urbano, resgatando valores que reconectam o homem à natureza, com princípios de respeito, cooperação e menor impacto ambiental. Se valem de tecnologias e soluções disponíveis e acessíveis, desde a simples observação e imitação da natureza, edificando habitações bioclimáticas com baixo consumo energético, até o uso de eficientes equipamentos modernos.
Palavras-chave: metabolismo urbano - aquecimento global - habitação - comunidades
4
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................................6
1 OBJETIVOS................................................................................................................................8
1.1 Objetivo Geral......................................................................................................................8 1.2 Objetivos Específicos...........................................................................................................8
2 METODOLOGIA.........................................................................................................................9
3 ORGANIZAÇÃO DAS CIDADES............................................................................................10
3.1 A cidade gira em torno da economia...................................................................................10 3.2 Qualidade de habitação.......................................................................................................11 3.3 Crescimento urbano............................................................................................................14 3.4 Vulnerabilidade social.........................................................................................................16 3.5 Vulnerabilidade ambiental..................................................................................................18
4 METABOLISMO DAS CIDADES............................................................................................19
4.1 Aquecimento global e as mudanças climáticas...................................................................19 4.2 Contribuição das cidades para o aquecimento global.........................................................20 4.3 Consumo de energia............................................................................................................21 4.4 Consumo de combustíveis..................................................................................................22 4.5 Consumo de alimentos........................................................................................................22 4.6 Sistema econômico.............................................................................................................23 4.7 Perdas econômicas com as mudanças climáticas................................................................26
5 CENÁRIO BRASILEIRO..........................................................................................................29
5.1 Emissões da cadeia produtiva da pecuária no Brasil...........................................................29
6 METABOLISMO DA CIDADE DE PORTO ALEGRE............................................................36
6.1 Histórico de formação de Porto Alegre...............................................................................36 6.2 Consumo de energia em Porto Alegre.................................................................................38 6.3 Consumo de combustíveis..................................................................................................39
6.3.1 Frota veicular..............................................................................................................39
7 RESPOSTAS DA CIDADE AOS DESAFIOS...........................................................................43
7.1 Energia solar e as soluções bioclimáticas...........................................................................43 7.1.1 Consumo energético no aquecimento de água............................................................43 7.1.2 Consumo energético na habitação e ambiente construído...........................................45 7.1.3 Estimativa de energia fotovoltaica para suprir o consumo de Porto Alegre................48 7.1.4 Geração e distribuição de energia elétrica...................................................................50
7.2 Referências de experiências locais......................................................................................51 7.2.1 Comunidades..............................................................................................................52
7.3 Mobilidade urbana: transporte humanizado........................................................................63 7.4 Produção e abastecimento de alimentos..............................................................................64
CONCLUSÃO................................................................................................................................65
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................67
5
INTRODUÇÃO
O mundo atualmente vive um grande dilema, onde, por um lado, cientistas apontam as
causas e os riscos das mudanças climáticas ocasionadas pelo agravamento do efeito estufa e,
de outro, um voraz sistema econômico ávido por recursos naturais. Localmente pode-se
observar a crescente degradação dos ambientes naturais, dos recursos hídricos e a perda de
solo produtivo, seja pelo mau uso, exploração predatória ou emissões descontroladas.
Globalmente vê-se a pobreza generalizada e tantas calamidades ambientais.
A lógica que pauta a organização social, de um modo resumido e geral, é a de que
deve-se gerar riquezas de forma crescente. Tais riquezas são oriundas da exploração de
recursos naturais, os quais não possuem qualquer outro valor material se não enquanto recurso
passível de exploração e comercialização. Para que haja comercialização é preciso
consumidores. Percebe-se, então, um ciclo que vai da exploração ao consumo que, no entanto,
não é fechado como demais ciclos da natureza, visto que os resíduos gerados nem sempre
retornam ao início e que grande parte dos recursos explorados não se renovam (ALIER,
2007).
Ao compreender a cidade como um organismo, vê-se a grande demanda por recursos
naturais para o seu abastecimento, cujo metabolismo revela um complexo sistema de entradas
e saídas que influem na organização de todos os setores produtivos, dentro e fora dela, bem
como a sua própria. À medida que uma cidade cresce, aumenta o consumo de alimentos, a
necessidade de serviços e de deslocamentos, desencadeando, naturalmente, em maior
dispêndio energético e demanda por recursos naturais.
No ano de 2008 atingiu-se a marca inédita de 3,3 bilhões de pessoas morando em
cidades, ou seja, metade da população mundial. A urbanização em todo mundo cresce
rapidamente, cuja previsão é de que cerca de 70% da população seja urbana no ano de 2050.
O crescimento da população favelada, estimado em 25 milhões de pessoas por ano,
complementa esse quadro ao evidenciar a relação entre a economia - através da má
distribuição das riquezas geradas – e o desenvolvimento das cidades (UN-Habitat, 2008).
Uma vez estabelecido esse panorama, pode-se suscitar o questionamento: quais serão
as condições ambientais e a qualidade de vida da humanidade se caso preponderar esse
sistema por muito mais tempo? Essa pergunta remete instantaneamente à outra: como existir
com um menor impacto ambiental?
6
Tendo em vista esse questionamento, o presente trabalho busca investigar os principais
impactos ambientais, a nível global, elencados em termos de emissões de gases de efeito
estufa. A partir disso, identificar o papel do Brasil dentro desse processo e, por fim, estimar a
contribuição da cidade de Porto Alegre.
Não se pretende, aqui, esgotar as possibilidades de respostas, nem mesmo esmiuçar a
totalidade de variáveis que compõe os impactos ambientais e suas emissões, mas sim
apresentar os dados estatísticos mais relevantes e acessíveis para que se possa traçar uma
perspectiva da situação atual.
Dentre os vários setores que compõe a lista dos maiores emissores, três foram
escolhidos para análise neste trabalho: energia, transporte, e alimentação. Sendo esses
desmembrados em consumo de eletricidade, o consumo de combustíveis através do transporte
urbano e a produção e consumo de carnes.
7
1 OBJETIVOS
1.1 Objetivo Geral
O presente trabalho propõe uma análise do consumo energético e de recursos
ambientais na cidade de Porto Alegre, correlacionando esse dado com o modo de vida das
pessoas e a economia local e contrastando com o cenário nacional e mundial.
1.2 Objetivos Específicos
Este trabalho tem por objetivos específicos:
• Contextualizar brevemente a situação social e urbana no mundo;
• Contextualizar brevemente a situação social e urbana no Brasil;
• Problematizar o metabolismo urbano e sua relação com o aspecto histórico de
formação da cidade;
• Levantar informações a respeito do impacto ambiental da produção e consumo de
energia, carne e transporte;
• Citar e comentar acerca de experiências e tecnologias mundiais e locais apontadas
como alternativas ao problema apresentado.
8
2 METODOLOGIA
Pesquisa e análise sobre dados secundários obtidos nas bases estatísticas
governamentais (federal, estadual e municipal), revisão bibliográfica nacional e estrangeira,
entrevistas coletadas in loco e/ou por correio eletrônico.
As entrevistas foram buscadas tanto para suprir ou exemplificar a análise dos dados
que estavam sendo trabalhados, quanto para enriquecer as experiências escolhidas como
estudos de caso.
Entrevistas realizadas:
1. Histórico e necessidades atuais da Vila São Judas Tadeu. As informações foram
coletadas junto a um líder comunitário durante visita informal à vila;
2. Estimativa de geração dos painéis solares fotovoltaicos. Foi solicitada informação para
estimar a quantidade de painéis solares fotovoltaicos necessários para abastecer toda a
demanda de energia elétrica de Porto Alegre. O entrevistado foi um doutor em física, o
qual desenvolve pesquisa sobre o desenvolvimento de materiais conversores de
energia solar junto ao Instituto de Química da UFRGS;
3. Orientação solar dos prédios em Porto Alegre. Foi entrevistado um mestre em
arquitetura, para o qual foi questionado sobre a orientação solar de prédios de Porto
Alegre;
4. Informações e fotos obtidas em visita ao IAPI. Foi entrevistado um morador durante
visita na Vila IAPI, o qual relatou a sua percepção sobre as intervenções realizadas nas
casas por seus proprietários e os seus diferentes interesses;
5. Iniciativas para comunidade ecológica em Porto Alegre. Foi entrevistado um ex-
integrante de uma comunidade que estava em processo de implantação na zona sul de
Porto Alegre;
6. Projeto Casarão do Arvoredo. Foi entrevistado um morador e usuário do espaço, para
o qual foi solicitado uma descrição do projeto e das atividades desenvolvidas
atualmente.
9
3 ORGANIZAÇÃO DAS CIDADES
A maneira como uma cidade se organiza, incluindo fatores como localização, política
e economia, tem forte influência sobre o consumo de recursos naturais. Neste capítulo será
analisado, brevemente, a formação e organização das cidades e sua relação com a política e o
sistema econômico.
3.1 A cidade gira em torno da economia
As cidades contemporâneas, de um modo geral, surgiram e se organizaram como
testemunhos do padrão de produção e consumo de um sistema conceitualmente capitalista, ou
seja, sociedades imbuídas de competitividade e cujos hábitos e valores morais são moldados
radicalmente de acordo com a ordem econômica do momento. Sendo a produção de bens de
consumo o alicerce desse sistema, pode-se deduzir, para que haja crescimento econômico, se
faz necessário consumir o que se produz. Ou seja, consumir recursos ambientais. Dessa lógica
decorre uma série de consequências, mas tem-se que o cerne dos conflitos é proveniente da
expansão da produção sobre uma base material que não se expande e que está distribuída pelo
planeta segundo processos naturais (ALIER, 2007).
Ainda, conforme Alier (2007), conflitos ambientais serão cada vez mais frequentes no
mundo contemporâneo, principalmente devido ao aumento de tensões pelo acesso a recursos
naturais. A produção de mercadorias em larga escala estimula a confrontação pelo uso da
natureza, visto que ela foi transformada em recurso para acumulação capitalista. A produção
contemporânea exige, em função da quantidade requerida de recursos naturais, uma
exploração da natureza sem precedentes. O uso crescente vai tornar alguns recursos naturais
raros e cada vez mais estratégicos. O controle de sua extração e beneficiamento será
disputado.
Embora não seja possível determinar um padrão de crescimento e desenvolvimento
igual para todas as cidades, é comum entre todas que a concentração urbana acarreta em
maior dispêndio energético. Logo, na medida em que a humanidade se torna cada vez mais
urbana, estaremos caminhando na direção de economias que requisitam quantidades maiores
de energia e de materiais per capita (ALIER, 2007).
No caso do Brasil, existe forte concentração da renda no campo, decorrente das
condições e o tipo de inserção do país na divisão internacional do trabalho, o que limita a
expansão do setor urbano-industrial. Essas condições estão na raiz dos fortes desequilíbrios
10
distributivos observados no processo de urbanização no Brasil. O êxodo rural configurou-se,
então, de forma crescente, como um êxodo de refugiados do campo, ao contrário do que
ocorreu nos EUA e na Europa, onde os fatores de atração predominaram sobre os fatores de
expulsão. As consequências sócio-econômicas desse processo são conhecidas (favelização,
sub-empregos, crescimento urbano desordenado, etc.). Os que permaneceram no campo
continuaram em situação precária, sem acesso ou com acesso limitado à terra, à educação e
demais serviços de infra-estrutura social e aos benefícios da política agrícola (BUAINAIN,
2003).
A relação campo-cidade é indissociável de qualquer análise política e social do meio
urbano, supostamente pelas consequências da migração do campo para a cidade, mas também
porque a economia urbana jamais é auto-suficiente dado que uma das atividades produtivas
mais essenciais não pode ser desenvolvida em seu seio: a produção de alimentos. Portanto, a
investigação da economia citadina pressupõe o exame de uma área mais ampla, dentro da qual
se dá a divisão de trabalho entre a agricultura e os setores produtivos que se localizam na
cidade. Logo, este metabolismo econômico entre campo e cidade exige uma análise mais
abrangente do que a cidade propriamente dita (SINGER, 1997).
Sendo assim, é ilusório supor que o desenvolvimento ocorre em um ou alguns pontos
do território, deixando o resto intocado. O desenvolvimento se dá em toda economia, porém,
com certas contradições: enquanto industrializa a parte privilegiada do país, reduz ainda mais
as outras à condição de produtores especializados de alimentos ou matérias-primas, privando-
as de grande parte do seu excedente acumulável e da melhor parte de sua mão-de-obra
(SINGER, 1997).
3.2 Qualidade de habitação
Singer (apud MARICATO, 1979) ao estudar a evolução da cidade no aspecto
imobiliário, revela que os programas de renovação urbana, embora não se possa generalizar,
indubitavelmente têm por resultado mais comum a recuperação das áreas em deterioração
para o uso das camadas média ou rica e das empresas que lhes prestam serviços. Os antigos
moradores destas áreas nada ganham com a renovação. Não tendo poder aquisitivo para
continuar na zona renovada, são obrigados a se mudar, o que implica muitas vezes em maior
distância do trabalho, pagamento de aluguel mais elevado (a renovação urbana reduz a oferta
de alojamentos baratos) e a perda de relações de vizinhança, o que, para pessoas pobres e
11
desamparadas, pode ser o prejuízo mais trágico. Em última análise, conclui Singer, “a cidade
capitalista não tem lugar para os pobres”.
Singer relata, ainda, que programas de renovação urbana são muitas vezes justificados
como meio de ajudar os pobres, mas na realidade são as famílias pobres e os pequenos
negócios as principais vítimas.
Como consequência dessas relações, observa-se a crescente quantidade de pessoas
residindo em sub-moradias e muitas vezes sem acesso a saneamento básico. Em 2003 a ONU,
através do programa UN-Habitat, divulgou que a população favelada mundial cresce em 25
milhões de pessoas por ano, dado também citado por Davis (2007).
A tabela 1 abaixo mostra a percentagem da população morando em favelas por região
no mundo.
12
Tabela 1: População urbana e favelada mundial.
Região População
Urbana (mil hab)
2005a
Porcentagem da população urbana
morando em favelas (%) 2005b
População
Favelada (mil hab)
2005cPaíses em
desenvolvimento 2.219.811 36,5 81.044África do Norte 82.809 14,5 12.003África Sub-Saara 264.355 62,5 164.531América Latina e
Caribe 434.432 27,0 117.439Leste Asiático 593.301 36,5 216.436Sul Asiático 468.668 42,9 201.185Sudoeste Asiático 243.724 27,5 67.074Oeste Asiático 130.368 24,0 31.254Oceania 2.153 24,1 519Fonte: UN_HABITAT Global Urban Observatory, 2008.
Notas: a: United Nations Population Division, World Urbanization Prospects: Revisão 2005.
b: População vivendo em domicílios com pelo menos um dos itens em forma pracária: água, saneamento, área
suficiente (mais de três pessoas por cômodo), ou moradia durável.
c: A estimativa da Revisão 2005 é baseada numa mudança de definição sobre saneamento adequado, conforme
definido pelo WHO e UNICEF em 2005, e endossado pelos membros da Slum Peer Review, os quais incluem
UN-HABITAT, o Banco Mundial, UNFPA, UN Statistics Division e várias universidades.
A desigualdade também é notável na distribuição de renda, fato observado em quase
todas as cidades brasileiras, inclusive - e principalmente - nas capitais, como em Porto Alegre,
onde no ano de 2000 a unidade de desenvolvimento humano (UDH) com maior renda per
capita representava 23 vezes mais que a UDH com menor renda per capita. Sendo o cálculo
da renda per capta uma média, deduz-se que a maior renda é ainda muitas vezes maior que a
menor (PMPA et al., 2008).
Acontece, ainda, que a formação urbana irregular, protagonizada principalmente por
essa parcela da população de baixo poder aquisitivo, ocupa áreas de interesse de preservação
ambiental, tal como encostas de morro, entorno de nascentes e córregos, áreas verdes. Tem-se,
com isso, dentre tantas implicações, um agravante no impacto ambiental causado pela
expansão urbana desordenada.
Em Porto Alegre essa realidade foi demonstrada através do estudo de Anton e Moraes
(PMHIS, 2005), cujo resultado apontou a existência de 486 núcleos e vilas irregulares no
13
município.
3.3 Crescimento urbano
O mundo é agora urbano. No ano de 2008 a humanidade atingiu uma marca inédita:
pela primeira vez na história metade da população mundial, ou 3,3 bilhões de pessoas, vive
em áreas urbanas. Globalmente, o nível de urbanização crescerá dramaticamente nos
próximos 40 anos atingindo 70% no ano de 2050 (UN-Habitat, 2008).
Nas últimas duas décadas, a população urbana dos países em desenvolvimento cresceu
à média de 3 milhões de pessoas por semana. Em meados do século 21 a população urbana
total dos países em desenvolvimento irá mais que dobrar, indo dos 2,3 bilhões em 2005 para
5,3 bilhões em 2050 (UN-Habitat, 2008).
Por volta do ano de 2050 a Ásia abrigará 63% da população urbana global, ou 3,3
bilhões de pessoas; A África terá uma população urbana de 1,2 bilhões, ou próximo a 1/4 da
população urbana mundial. Ao todo, 95% do crescimento da população urbana mundial nas
próximas quatro décadas será absorvido por cidades dos países em desenvolvimento. Em
média, as cidades dos países em desenvolvimento cresceram à taxa anual de 2,5% de 1990 a
2000. Nessa taxa, a população urbana dos países em desenvolvimento irá dobrar em 29 anos.
A região mais urbanizada nos países em desenvolvimento é América Latina e Caribe,
com 77% da sua população vivendo em áreas urbanas. A região continuará urbanizando-se
pelas próximas duas décadas, quando a proporção da população urbana atingirá 85%.
O desenvolvimento urbano na América Latina e Caribe tem sido caracterizado por um
alto grau de primazia urbana, com grande proporção da população urbana residindo nas
maiores cidades. Em 2000, um quinto da população urbana total da região morava em grandes
cidades com mais de 5 milhões de habitantes. Além disso, entre as 14 aglomerações urbanas
mais populosas do mundo, quatro estão localizadas nessa região: São Paulo, Cidade do
México, Buenos Aires e Rio de Janeiro.
O crescimento das favelas diminuiu em alguns países entre 1980 e 1990, quando o
processo de redemocratização resultou na adoção de políticas progressistas com vistas a
promover uma governança mais inclusiva e a redução das desigualdades. No entanto, um fator
marcante na tumultuada história econômica e política da região da América Latina e Caribe é
a persistência da pobreza em massa diante da enorme riqueza. A região continua a ter a maior
desigualdade de renda no mundo, o que dificulta o seu potencial para alcançar um
14
desenvolvimento urbano harmonioso.
O crescimento urbano é o resultado da combinação dos fatores: localização geográfica,
crescimento populacional natural, migração rural-para-urbano, desenvolvimento de
infraestrutura, políticas governamentais, estratégias corporativas, e outras forças políticas e
econômicas maiores, incluindo a globalização.
Contrariamente à percepção comum, a migração das zonas rurais para as urbanas não é
mais o fator dominante determinante do crescimento urbano nos países em desenvolvimento.
Em termos demográficos, a causa principal do crescimento urbano na maioria dos países é o
aumento natural - quando os nascimentos ultrapassam as mortes. Estimativas das Nações
Unidas indicam que o aumento natural representa cerca de 60% do crescimento das
populações urbanas (UN-Habitat, 2008).
Determinantes demográficos que perfazem os restantes 40% do crescimento urbano
são as migrações, tanto intra-nacional (rural para urbano e urbano para urbano) e
internacional, e a transformação dos assentamentos rurais em zonas urbanas, um processo
conhecido como "reclassificação".
Na análise da UN-HABITAT acerca das causas e efeitos do crescimento populacional
em uma amostra de 24.515 das cidades que mais cresceram nos países em desenvolvimento
(cidades que crescem a uma taxa média anual de mais de 2%) entre 1990 e 2000, mostra que
as forças impulsionadoras do crescimento urbano são muitas vezes complexas e sobrepostas.
Entretanto, essa análise levou à identificação dos três mais importantes motores do
crescimento urbano na África, Ásia e América Latina e Caribe:
1. As políticas econômicas e industriais (ou seja, criação de zonas econômicas especiais,
industrialização e promoção de exportações) e investimentos estratégicos relacionados
em duas áreas-chave: infraestrutura de transportes e comunicações e de setores de
serviços comerciais;
2. Melhorias na qualidade de vida nas cidades (serviços básicos, transporte, áreas verdes,
equipamentos públicos); e
3. Alterações na estrutura jurídica e/ou administrativa das áreas urbanas.
Entre 1990 e 2000, a urbanização das regiões em desenvolvimento foi caracterizada
pela entrada de novas cidades que não existiam como tal antes. Esta constelação de 694 novas
15
cidades começaram como cidades rurais e tornaram-se zonas urbanas em virtude de alterações
no seu estatuto administrativo, no crescimento natural ou na imigração.
Não apenas o número de cidades cresceu, mas muitas das já existentes se tornaram
maiores: 122 pequenas cidades (13%) tornaram-se cidades intermediárias ou grandes; 66
cidades intermediárias (23%) tornaram-se grandes ou muito grandes; e 10 grandes cidades
(5%) tornaram-se muito grandes.
Essas mudanças não são apenas uma questão de números - elas também representam
uma mudança qualitativa na percepção "pequena", "intermediária" e "grande" em termos de
tamanho da cidade ao longo do tempo. O surgimento de aglomerações urbanas "hiper-
grandes" ou "meta-cidade" com mais de 20 milhões de habitantes levou a uma mudança
fundamental nas concepções de tamanho da cidade.
A tabela abaixo mostra o número e a população de novas cidades estabelecidas desde
1990 em várias regiões no mundo.
Tabela 2: População em novas cidades estabelecidas desde 1990.
Região Novas cidades
pequenas
Novas cidades
intermediárias
Novas cidades
grandes
Total
Número População Número População Número População Número População
África 44 6.335.094 1 523.265 0 0 45 6.858.359
Am. Latina e
Caribe 171 27.138.867 6 3.930.127 2 3.008.885 179 34.077.879
Ásia 295 60.825.858 125 86.595.611 50 65.491.865 470 212.913.334
Exclui China &
Índia 72 13.374.321 5 3.109.207 0 0 77 16.483.528
China 78 26.331.991 119 82.966.103 49 64.485.448 246 173.783.542
Índia 145 21.119.546 1 520.301 1 1.006.417 147 22.646.264
TOTAL 510 94.299.819 132 91.049.003 52 68.500.750 694 253.849.572Fonte: UN-HABITAT Global Urban Observatory 2008. Data source: UN Demographic Yearbooks, various years
(1985 - 2004).
3.4 Vulnerabilidade social
Regionalmente, África e América Latina tem o nível mais alto do mundo de
iniquidade, com a maioria dos países e cidades experienciando amplas disparidades entre o
rico e o pobre. Em ambas regiões, a quinta parte mas pobre da população responde por apenas
3% do consumo nacional.
16
A sociedade não pode esperar por harmonia se grandes porções de sua população são
privadas das necessidades básicas enquanto outros vivem na opulência. Uma cidade não pode
ser harmoniosa se alguns grupos concentram recursos e oportunidades enquanto outros
permanecem empobrecidos (UN-Habitat, 2008).
A análise de UN-HABITAT sobre a iniquidade urbana em 28 países em
desenvolvimento mostrou que o crescimento econômico positivo desde o início dos anos 1980
tem sido acompanhado por um incremento na desigualdade urbana em 43% dos países.
Não obstante a isso, a recente experiência econômica de grandes economias em
desenvolvimento mostra que enquanto a renda per capita aumenta, a desigualdade de renda
também aumenta.
Na América Latina e Caribe, apenas 5% da população recebe um quarto de toda a
renda nacional, em comparação com países do Sudeste asiático, onde os 5% mais ricos
recebem 16% de toda a renda nacional, e os países desenvolvidos, onde os 5% mais ricos
recebem 13%. Enquanto isso, os 30% mais pobres da população da América Latina e Caribe
recebem apenas 7,5% do rendimento nacional, uma figura que não é comparável a qualquer
outra parte do mundo; mesmo nas sociedades mais desiguais, os grupos mais pobres
normalmente recebem pelo menos 10% do rendimento nacional.
UN-HABITAT utilizou um índice chamado Coeficiente Gini para avaliar a
desigualdade urbana através da análise de renda e consumo, onde o Brasil é apontado com a
maior desigualdade dentre os países em desenvolvimento. Neste índice, zero indica a
igualdade perfeita, enquanto 1 indica a iniquidade perfeita, sendo a linha intermediária o valor
0,4, “linha de alerta”. No ano de 2005 a Colômbia se encontrava com um coeficiente Gini de
0,59, o Chile 0,52, o México 0,50, o Uruguai 0,45, enquanto o Brasil com 0,60 (valor
considerado extremamente alto pelos padrões internacionais).
Assim, além de criar uma maior vulnerabilidade social, limitando o acesso aos
serviços básicos, serviços públicos e oportunidades, as desigualdades são cada vez mais
associadas à tensões sociais, conflitos e diferentes formas de agitação social. Conflitos desta
natureza causam destruição da infra-estrutura e bens e significativas perdas de capital humano
através da morte, o deslocamento e migração forçada. Em suma, conflitos retrocedem o
relógio do desenvolvimento em vários anos.
17
3.5 Vulnerabilidade ambiental
Se por um lado o assentamento de populações mais pobres é vulnerável
ambientalmente por instalar-se em locais inadequados, como beira de rios e córregos e
encostas de morros, além da falta de saneamento, por outro a cidade como um todo pode
correr certo risco ambiental, independente de classe social ou condições de moradia.
Em outubro de 2009, diversos cientistas e profissionais brasileiros e estrangeiros
ligados à Climatologia reuniram-se para debater acerca de eventos extremos e os riscos
associados às mudanças climáticas. Dessa reunião resultou um documento intitulado Carta de
Canela, cujo conteúdo demonstra a preocupação da comunidade frente às iminentes
modificações das condições climáticas.
Concluíram nessa carta, os cientistas, que a economia brasileira é baseada em recursos
naturais, os quais dependem do clima, tal como as fontes de energia, agricultura e
biodiversidade, ambas vulneráveis às mudanças do clima. Eventos extremos, como as secas,
enchentes e furacões observados no Brasil nos últimos anos mostram que o país é vulnerável
às variações do clima.
Relatou-se, ainda, que projeções e cenários climáticos estimados até o final do século
XXI, gerados por modelos matemáticos, indicam que o território brasileiro sofrerá impactos
em consequência do aumento da frequência e da intensidade de eventos extremos (SBMET,
2009).
Como foi visto nos capítulos anteriores, quanto maior a cidade, maior é o seu consumo
energético e a necessidade de importação de alimentos. Tudo isso a torna dependente de
fontes externas, por sua vez dependentes de acessos viários ou portuários, de abastecimento
de energia elétrica e combustíveis. Qualquer rompimento num eixo dessa cadeia pode
desencadear significativos prejuízos à população. Sendo o Brasil um país cuja energia elétrica
é gerada e distribuída de forma centralizada, por exemplo, fica evidente que qualquer falha ou
acidente no abastecimento da rede afetará grandes regiões simultaneamente.
Outro exemplo de vulnerabilidade ocasionado pelas mudanças no clima, que não vê
fronteiras nem distingue classe social, é o surgimento de doenças tropicais onde o clima é
mais frio em função do aumento do nível médio de temperatura, tal como febre amarela,
malária e encefalite (IPCC, 2007).
Vê-se, portanto, que a vulnerabilidade ambiental é muito ampla e, dentro desse
contexto, diz respeito a todos, sugerindo a necessidade de atitudes de adaptação e mitigação.
18
4 METABOLISMO DAS CIDADES
Como qualquer outro sistema orgânico, as cidades consomem, metabolizam e
transformam energia, água e materiais em produtos e resíduos. Um estudo de UN-Habitat
(2008) mostra claramente que não é o nível de urbanização num país ou o tamanho da cidade
que determina a quantidade de emissão de gases de efeito estufa per capita; o nível de
emissões é determinado por outros fatores, tal como o padrão de consumo, estilo de vida,
forma e estrutura urbana e políticas ambientais.
Portanto, e tendo em vista que o consumo de energia é o principal fator de
contribuição de gases de efeito estufa, é importante entender quais setores consomem a maior
parcela de energia para que se possa tomar as ações de remediação apropriadas para redução
dessas emissões. Seria muito útil, como sugere o relatório UN-Habitat da ONU, compreender
as cidades como sistemas orgânicos que têm o seu próprio metabolismo.
O metabolismo de uma cidade envolve os insumos - energia, água e materiais - que
são consumidos e transformados em resíduos e bens (as saídas). Tal como qualquer sistema
termodinâmico, o consumo urbano de energia pode ser mais ou menos eficiente. Uma cidade
ecologicamente bem sucedida e energeticamente eficiente deveria, idealmente, combinar
crescimento econômico com equidade social e a mínima geração de resíduos (incluindo
emissão de gases de efeito estufa).
Nesse sentido, para atender a padrões mínimos com relação aos resíduos, as cidades
devem preencher dois pré-requisitos: minimização do uso de combustíveis fósseis e insumos
materiais; e maximização da reciclagem e reaproveitamento de energia, água e materiais. A
necessidade para um desenvolvimento urbano equilibrado, exige, portanto, que as cidades
funcionem como um metabolismo circular, em vez de um linear.
4.1 Aquecimento global e as mudanças climáticas
A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, aprovada em
1992, define o fenômeno Mudanças Climáticas Globais como "Mudança que possa ser direta
ou indiretamente atribuída à atividade humana, que altere a composição da atmosfera mundial
e que se some àquela provocada pela variabilidade climática natural observada ao longo de
períodos comparáveis" (FURRIELA, 2006).
Segundo o Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC), o aumento da
19
concentração de gases de efeito estufa na atmosfera do planeta, resultante de atividades
antrópicas, está alterando a variabilidade natural do clima e causando uma mudança climática
global irreversível. Tais alterações são consequências do aumento do nível médio da
temperatura. Esse desarranjo provoca alterações nos padrões de chuvas, aumentando a
possibilidade de secas em certas regiões e alagamentos em outras, aumenta a ocorrência de
tempestades fortes e eventos extremos e, além de tudo, está provocando o derretimento da
calota polar e geleiras, o que acarreta no aumento do nível do mar (IPCC, 2007).
Todas as nações do mundo têm consciência da gravidade da situação e, dentro do
possível dos interesses políticos e econômicos, buscam diminuir suas emissões de gases de
efeito estufa.
4.2 Contribuição das cidades para o aquecimento global
A contribuição das cidades para o aquecimento global deriva, basicamente, dos
processos de combustão (produção de energia). Porém, a energia desempenha um papel vital
sustentando o metabolismo das cidades. Agricultura, a qual sustenta tanto as populações rurais
quanto as urbanas, por exemplo, também contribui para as emissões de gases de efeito estufa.
Mudança de uso do solo (para urbanização ou cultivo) e agricultura combinados, representam
mais de 30% das emissões globais de gases de efeito estufa (UN-HABITAT, 2008).
Enquanto cidades da América Latina geralmente produzem baixas emissões de CO2,
individualmente países da região, como o Brasil, estão entre as 20 maiores emissores de CO2
a nível mundial. Em 2000, a América Latina foi responsável por 12 por cento das emissões
globais de CO2, com mudança de uso da terra e desmatamento representando cerca de metade
destas emissões. Na região as emissões de metano de origem antropogênica (pecuária,
produção e consumo de combustíveis fósseis) representam 9,3 por cento do total mundial.
Brasil, México, Venezuela, Argentina, Colômbia e Peru são responsáveis por mais de 80 por
cento das emissões de gases de efeito estufa na América Latina e Caribe. O gráfico abaixo
ilustra as emissões per capita no mundo.
20
4.3 Consumo de energia
Nos 10 anos entre 1980 e 1990 a humanidade consumiu metade da energia que se usou
nos 180 anos anteriores (ANGELO, 2008).
O consumo de energia costuma ser associado ao grau de desenvolvimento de um país.
Entretanto, a produção, o consumo e os subprodutos resultantes da oferta de energia exercem
pressões sobre o meio ambiente e os recursos naturais.
Estudos indicam que se pode utilizar o consumo de energia per capita como um
indicador dos níveis de desenvolvimento de determinada região. Na maioria dos países nos
quais o consumo de energia potencial per capita está abaixo de uma tonelada equivalente de
petróleo (tEP) por ano, as taxas de analfabetismo, mortalidade infantil e fertilidade são altas,
enquanto a expectativa de vida é baixa. Ultrapassar a barreira de 1 tEP per capita parece ser
determinante para o desenvolvimento. Por exemplo, nos países industrializados da União
Européia, o consumo médio é de 3,22 tEP per capita, enquanto a média mundial é de 1,66 tEP
per capita (SEPLAG, 2009).
Figura 1: Emissões de CO2 per capita em cidades do mundo.
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Emissões per capitaC
O2
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(ton
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as)
21
4.4 Consumo de combustíveis
Estimativas do Banco Mundial indicam que em áreas urbanas metropolitanas o setor
dos transportes contribui para um terço ou mais das emissões totais de gases de efeito de
estufa. A crescente necessidade de energia que os países enfrentam nesse setor, especialmente
nos transportes urbanos em países em desenvolvimento, representa um grande desafio em
termos de segurança energética e externalidades ambientais associadas às emissões. O
crescimento das cidades secundárias e a expansão urbana, dentro e na periferia das
metrópoles, contribuem para a pressão sobre as redes de transportes urbanos. A tendência de
aumento da motorização, em todas as suas formas, implica em viagens mais demoradas para o
transporte público de superfície - que por sua vez, induz a maior uso de automóveis e táxi -
consequentemente a segurança rodoviária é prejudicada, o consumo de combustível aumenta,
e a qualidade de vida urbana é deteriorada.
Com relação ao setor energético e transportes, Stern (2007) avalia que as emissões
podem ser reduzidas mediante o aumento da eficácia energética, com alterações na procura e
a adoção de tecnologias limpas em matéria de energia, produção de calor e transportes. O
setor de energia a nível mundial necessitaria reduzir suas emissões em, no mínimo, 60% até
2050 para que as concentrações atmosféricas se estabilizassem numa certa faixa de segurança
bastante pessimista (considerando também significativas reduções de emissões no setor de
transportes).
4.5 Consumo de alimentos
Estudos recentes da FAO retomaram o tema da ameaça que a pecuária implica para o
meio ambiente, fato conhecido desde muito tempo e que não deve ser subestimado,
especialmente com a crescente demanda mundial e os novos dilemas relacionados com o
aquecimento global.
De acordo com Relatório Síntese para as mudanças climáticas publicado pelo IPCC
em novembro de 2007, o setor da agricultura contribui em 13,5% nas emissões de gases de
efeito estufa, ficando atrás dos setores desmatamento (silvicultura), indústria e energia (IPCC,
2007). Apesar de otimista (vide dados da FAO: STEINFELD, 2006), essa estimativa já aponta
fortes indícios de que o nosso modo de produzir alimentos não vai bem.
Já em estudo produzido pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a
Alimentação (FAO), coordenado por Henning Steinfeld poucos meses antes da divulgação do
22
relatório do IPCC, essa contribuição das emissões por setor foi mais detalhada e
profundamente investigada, especificamente para a questão da alimentação. O estudo revelou
a associação entre a pecuária e o aquecimento global, apontando que a pecuária é responsável
por 18% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) quando considerados outros fatores da
cadeia produtiva como alteração no uso do solo, processos de produção de ração, manuseio de
esterco, processamento da carne, transporte (STEINFELD, 2006).
Soma-se a esse estudo dados que apontam que entre 40 e 50% de todos cereais
produzidos no mundo são destinados para alimentação de animais de abate, sendo que no caso
da soja chega a 75% (AIKING, 2009).
Outra correlação possível diz que são necessários 7 kg de grãos, como milho e soja
para produzir 1 kg de carne. Considerando que o americano comum come 124 kg de carne por
ano, equivale dizer, então, que devem ser contabilizados 868 kg de grãos além do consumo
direto (NIERENBERG, 2009).
Em termos mundiais, em função de uma série de conjunturas políticas e tecnológicas
ocorridas na última metade do século anterior, uma investigação da FAO aponta que entre os
anos de 1950 e 2000 a população mundial aumentou menos de 3 vezes, de 2,6 bilhões para 6
bilhões de pessoas, enquanto que a produção de carne aumentou em mais de 5 vezes: de 45
para 233 bilhões de quilos/ano.
A FAO alerta para um caso de epidemiologia, pois além dos impactos diretos ao meio
ambiente e a contribuição para o aquecimento global, o aumento da produção dos diferentes
tipos de carne também incrementa o risco de transmissão de enfermidades dos animais aos
homens.
4.6 Sistema econômico
Criticar o sistema econômico dominante do último século pareceria uma tolice
afirmam Gary Gardner e Thomas Prugh (WWI, 2008), levando-se em consideração o conforto
sem precedentes e outras conveniências obtidos pela humanidade nesse período. A produção
econômica global aumentou cerca de 18 vezes entre 1900 e 2000. A expectativa de vida saltou
à frente, nos Estados Unidos de 47 a quase 76 anos. Doenças mortais, tais como pneumonia e
tuberculose foram controlados. Do campo às máquinas que substituem a labuta, enquanto os
carros, aviões, computadores, e telefones celulares estimularam outras frentes de trabalho e
novas opções de estilo de vida. As maravilhas do sistema parecem evidentes.
23
No entanto, complementam eles, para todos os seus sucessos, certos sinais sugerem
que o sistema econômico convencional está com problemas graves e que necessitam de
transformação. Algumas evidências apontadas estão nos efeitos secundários da atividade
econômica moderna recente.
Níveis de dióxido de carbono atmosférico estão em seu nível mais elevado em 650.000
anos, a temperatura média da Terra a mais alta em milhões de anos, e o Oceano Ártico poderá
estar pela primeira vez completamente sem gelo já em 2020 - estudos posteriores à esta
publicação antecipam o fato para 2013 (MASLOWSKI et al, 2008); Quase um em cada seis
espécies de mamíferos europeus está ameaçada de extinção, enquanto as espécies marinhas
atualmente pescadas poderão entrar em colapso até 2050; A poluição atmosférica urbana
provoca 2 milhões de mortes prematuras a cada ano; O declínio da população de abelhas,
morcegos e outros polinizadores de vital importância está comprometendo culturas agrícolas e
ecossistemas; diversos impactos sociais, desde a parcela da população de 2,5 bilhões de
pessoas vivendo com US$ 2 ou menos por dia, ao rápido avanço da obesidade e as doenças
relacionadas, entre outros.
Lester Brown escreveu sua obra baseado em três grandes evidências. A primeira diz
respeito que não estamos conseguindo reverter o quadro no sentido de salvar o planeta. A
segunda, de que é preciso uma visão de como seria uma economia ambientalmente
sustentável, a qual ele denomina de uma eco-economia. A terceira é de que necessitamos de
um novo tipo de organização de pesquisa, de forma que ofereça não apenas uma visão de uma
eco-economia, mas também avaliações constantes do avanço na concretização dessa visão
(BROWN, 2003).
Brown descreve a situação atual como uma economia autodestrutiva, no sentido de
que suas ações não levam em conta a finitude dos recursos explorados nem tampouco os seus
impactos. Analisa que os indicadores econômicos do último meio século revelam um
progresso extraordinário: o crescimento da economia em sete vezes, entre 1950 e 2000; o
comércio internacional cresceu mais rapidamente ainda; o Índice Dow-Jones, indicador
largamente utilizado para as ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova York, subiu de
3.000 em 1990 para 11.000 em 2000. Era difícil não ficar otimista quanto às perspectivas
econômicas de longo prazo, ao se iniciar o novo século.
O que ninguém contava é que esse otimismo desapareceria se houvesse uma análise
dos indicadores ecológicos. Cada indicador global estava orientado na direção errada. As
24
políticas econômicas que geraram o crescimento extraordinário da economia mundial são as
mesmas que estão destruindo seus sistemas de apoio. Um manejo inadequado está destruindo
florestas, pradarias, pesqueiros e terras agrícolas.
A partir deste espectro, Brown dá uma percepção precisa de que embora se viva numa
sociedade urbana de alta tecnologia, ainda assim depende-se dos sistemas naturais da mesma
forma que nossos ancestrais dependiam. Com isso demonstra que a nossa economia em
expansão, como hora está estruturada, está destruindo nossos sistemas de apoio, consumindo
seu capital natural e cujas demandas estão suplantando os ecossistemas.
Num estudo sobre o colapso de civilizações, Joseph Tainter (também citado por
Brown) discorre sobre as diversas causas que influenciaram no declínio de civilizações ao
longo da história. Segundo o autor, a deterioração ambiental foi a causa do colapso de várias
civilizações, apontando como os dois maiores fatores ao longo dos tempos: a gradual
deterioração ou depleção de uma base de recursos (usualmente a agricultura) causado pela má
gestão humana, e uma mais rápida perda de recursos devido a flutuações ambientais ou
mudança climática (TAINTER, 1990).
Embora não se fale em civilizações a nível planetário do mesmo porte da atual -
comparando Tainter e Brown - pode-se juntar os fatos e perceber que numa economia global
cada vez mais integrada, o colapso de ecossistemas poderá ter consequências econômicas
também globais.
Ao analisar a relação entre ecologia e economia, para assim compreender melhor a
pressão da existência humana sobre o meio ambiente, pode-se partir de um estudo de caso
muito recente na nossa história, a China.
Com um apanhado de dados sobre a China, Brown demonstra a perversidade de uma
economia de consumo global e o que acontece quando um grande número de pessoas pobres
se torna repentinamente mais abastado. À medida que a renda cresceu na China, também o
consumo aumentou. Os chineses já alcançaram os americanos no consumo per capita de carne
suína, e agora concentram suas energias em aumentar a produção da carne bovina. No
entanto, para elevar o consumo per capita da carne bovina na China aos níveis do americano
médio, seriam necessários 49 milhões de toneladas adicionais. Se tudo isto fosse produzido
com gado confinado, no estilo americano, seriam necessárias 343 milhões de toneladas anuais
de grãos, um volume igual a toda a colheita dos Estados Unidos. Por outro lado, caso a China
resolvesse obter sua proteína animal no mar, precisaria de 100 milhões de toneladas de frutos
25
do mar - equivalente a todo o pescado mundial.
Enquanto a questão da alimentação possa ser justificada pela grande massa humana
daquele país, certos bens de consumo estão diretamente relacionados ao estilo de vida
(consumo). Em 1994, o governo chinês decidiu que o país desenvolveria um sistema de
transportes centrado no automóvel e que a indústria automotiva seria um dos impulsionadores
do futuro crescimento econômico. Beijing convidou grandes montadoras como Volkswagen,
General Motors e Toyota a investirem na China. O objetivo era de que cada chinês possuísse
um ou dois carros e consumisse petróleo no ritmo dos Estados Unidos - se a idéia se
concretizasse a China necessitaria de mais de 80 milhões de barris de petróleo ao dia -
ligeiramente superior aos 74 milhões de barris diários que o mundo produz atualmente (dados
de 2003). Além disso, a fim de oferecer as vias e estacionamentos necessários, precisaria
também pavimentar cerca de 16 milhões de hectares de terra, uma área equivalente à mais da
metade dos 31 milhões de hectares de terra atualmente produzindo a safra anual de 132
milhões de toneladas de arroz, seu alimento básico.
Destaca-se ainda o eventual crescimento no consumo de papel, o qual caso aumentasse
dos 35 quilos anuais per capita, para o nível dos Estados Unidos, de 342 quilos, a China
necessitaria de mais papel do que o mundo produz atualmente.
Dessa forma, Brown conclui que a China está demonstrando que o mundo não poderá
continuar mais seguindo o caminho econômico atual. Está (este exemplo) enfatizando a
urgência para reestruturarmos a economia global, construindo uma nova economia, "uma
economia projetada para a Terra" (BROWN, 2003).
Brown indaga, por fim, como poderemos realizar esta transformação econômica
quando todos os tomadores de decisões econômicas - líderes políticos, planejadores
corporativos, banqueiros de investimento ou consumidores individuais - são orientados por
sinais do mercado e não pelos princípios da sustentabilidade ecológica?
4.7 Perdas econômicas com as mudanças climáticas
Em uma escala global, existe uma relação evidente entre as emissões, a população e o
PIB, refletindo a importância da população e o crescimento econômico como fatores
desencadeadores de emissão. Por exemplo, no ano de 2000, 8,7% da população do mundo
estava localizado na América Latina e Caribe, que emitiram 5,8% das emissões globais de
CO2, com a seguinte média do PIB per capita: US$ 637 (nações de baixa renda), US$ 1.799
26
(nações de média-baixa renda) e US$ 4.795 (nações de média-alta renda). Em contraste, a
América do Norte tinha um PIB per capita de US$ 28.910 e 5,2% da população mundial, mas
contribuiu com 13,7% das emissões globais naquele ano, mais que o dobro da América Latina
e Caribe. Em contraste, um indivíduo do Saara Africano contribui em menos de um décimo do
CO2 produzido por uma pessoa comum no mundo desenvolvido (UN-Habitat, 2008).
Nos países recém-industrializados, o impacto combinado do crescimento populacional,
urbanização, motorização e aumento do consumo de energia são particularmente importantes
em termos de emissões, especialmente em países como a China e a Índia. Em 2007, a China
ultrapassou os Estados Unidos como o principal emissor de gases do efeito estufa, o aumento
foi atribuído principalmente ao aumento do consumo de carvão, os processos industriais e
uma mudança no estilos de vida.
Ainda, conforme a ONU, evidências sugerem que, se as tendências atuais continuarem
iguais, as alterações climáticas podem, eventualmente, prejudicar as economias nacionais e
urbanas. As perdas econômicas de darão a partir da diminuição da produção agrícola, aumento
das ondas de calor, eventos climáticos extremos como secas, inundações, perda da
biodiversidade, doenças e erosão do solo. Estima-se que uma brusca e em grande escala a
mudança climática pode levar a uma perda média de 5 a 10% do PIB global, sendo que os
países pobres sofrerão com custos superiores a 10% do PIB. Este cenário foi descrito Nicholas
Stern como a maior quebra de mercado jamais vista.
Um estudo independente, conduzido por Nicholas Stern, analisou uma ampla série de
provas relativamente aos impactos das alterações climáticas e dos custos econômicos,
apresentando a seguinte conclusão: os benefícios de uma ação rigorosa e antecipada
ultrapassam de longe os custos econômicos da falta de ação (STERN, 2007).
Nesse estudo, Stern analisa que as alterações climáticas afetarão os elementos básicos
da vida das pessoas a nível mundial – acesso à água, produção de alimentos, saúde e
ambiente. Centenas de milhões de pessoas poderão sofrer de fome, de falta de água e de
inundações costeiras.
Através dos resultados de modelos econômicos formais, Stern calcula que, se não
atuarmos imediata e rigorosamente, o total dos custos e riscos das alterações climáticas será
equivalente à perda anual de, no mínimo, 5% do PIB global. Se levarmos em conta uma série
de riscos e impactos mais amplos, as estimativas dos danos poderão aumentar para 20% ou
mais do PIB. Por outro lado, os custos da tomada imediata de medidas podem ser limitados
27
anualmente a cerca de 1% do PIB global.
Segundo Claudio Angelo (2008), o maior desafio que a humanidade terá que enfrentar
coletivamente é abandonar o vício da economia global nos combustíveis fósseis, dentro do
prazo que a estabilização do clima exige. A partir de um apanhado de estatísticas o autor
justifica sua afirmação: o consumo de petróleo no mundo cresceu de 470 milhões de toneladas
em 1950 para 3,7 bilhões em 2004 - uma aumento de quase 800%. As emissões dos gases de
efeito estufa que deveriam ter caído segundo o Protocolo de Kyoto, subiram 24% só entre
1990 e 2004 (ANGELO, 2008).
28
5 CENÁRIO BRASILEIRO
Atualmente o Brasil desempenha importante papel no cenário mundial, com forte
industrialização e economia em crescimento, sendo muito visado por outras nações, também,
em função dos recursos naturais e das terras abundantes em seu território.
5.1 Emissões da cadeia produtiva da pecuária no Brasil
O Brasil relaciona-se com os dados apresentados pela FAO sobre as emissões
mundiais nesse setor da pior forma possível: é um dos maiores produtores mundiais de carnes.
Com base nessas informações, sobre a contribuição da pecuária para o aquecimento global e
também sobre a produção mundial de grãos e cereais para alimentação do rebanho, pode-se
confrontar com as estatísticas brasileiras e ainda relacionar com mais um fator relevante para
as emissões de gases de efeito estufa: o desmatamento.
Na última revisão do Censo Agropecuário realizado recentemente, o IBGE releva que,
de modo geral para a Região Norte do país, é fato contundente a expansão dos padrões
motivados pela pecuária. Atualmente as pastagens se estendem como uma frente pecuarista
para o interior do Pará, com São Félix do Xingu contabilizando um dos maiores rebanhos do
País. IBGE destaca, também, a configuração de novos padrões de domínio e predomínio de
pastagens formados nos Estados de Rondônia, Acre e Amazonas, motivando complexas
disputas ambientais (IBGE, 2009).
29
A floresta vem paulatinamente dando lugar à outra paisagem, como é visto nos
resultados do censo que apontam significativo avanço em direção à “especialização, domínio
e predomínio de pastagem” na pré-Amazônia Maranhense e em amplas áreas do estado.
Notadamente, a lavoura da soja alterou o cenário ao sul destes estados, alçando-os ao
plano dos circuitos produtivos de uma economia globalizada, diversa daquela motivada pela
Figura 2: Expansão da agropecuária no país. Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006. IBGE, 2009.
30
pecuária extensiva das terras comunais do cerrado. O IBGE observa, ainda, que a análise
comparativa do perfil de ocupação prevalecente, nos períodos intercensitários, deve
considerar o contexto das transformações da matriz energética do país, na qual a introdução
da cana-de-açúcar está sinalizando uma nova dinâmica de utilização da terra e de expansão
das cidades e de redes de serviços, em suporte ao espaço agrário (IBGE, 2009). Ou seja, é
notável o aumento da tendência de pressão da agropecuária sobre a floresta.
Observa-se que o aumento do preço da soja no mercado mundial, em meados de 1970,
despertou ainda mais o interesse dos agricultores e do próprio governo brasileiro. A produção
brasileira de soja era realizada com cultivares e técnicas importadas dos Estados Unidos.
Assim, a cultura só produzia bem, em escala comercial, nos estados do Sul, onde as cultivares
americanas encontravam condições semelhantes a seu país de origem. Com os investimentos
em pesquisas novas cultivares foram criadas, permitindo que o grão fosse plantado com
sucesso em regiões de baixas latitudes. Como pode ser observado no gráfico da figura 2, a
última década foi a afirmação da cultura no Brasil, que passou a ser o segundo maior produtor
mundial, e, a soja, o principal produto agrícola na pauta das exportações brasileiras.
O IBGE comenta que no último período intercensitário a soja apresentou um aumento
de 88,8% na produção, alcançando 40,7 milhões de toneladas em 15,6 milhões de hectares,
um aumento de 69,3% na área colhida. Em termos absolutos, representa um aumento de 6,4
milhões de hectares, caracterizando a soja como a cultura que mais se expandiu na última
Figura 3: Produção de soja no Brasil - 1970/2006. Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006. IBGE, 2009.
31
década. A cultura foi cultivada em 215.977 estabelecimentos, gerando 17,1 bilhões de reais
para a economia brasileira.
O IBGE revela, também, que os produtores brasileiros optaram pelo cultivo da soja
transgênica no Brasil, tanto que dos 215.977 estabelecimentos agropecuários que cultivaram
soja em 2006, 46,4% utilizaram sementes geneticamente modificadas, cultivadas em cerca de
4,0 milhões de hectares. A grande maioria das áreas cultivadas fizeram uso de agrotóxicos
(95,1%) e adubação química (90,1%) (IBGE, 2009).
Vê-se, portanto, que o gigante do agronegócio brasileiro está inserido numa cadeia
produtiva complexa e relacionado a grandes impactos ambientais.
32
Uma outra relação relevante, mas não abordada diretamente neste trabalho, é o fato
destacado pelo IBGE mostrando que em 2007 o milho apresentou um crescimento de quase
9,2 milhões de toneladas (21,5%). Esse aumento se justifica em pelo avanço dos preços do
Figura 4: Pressão da pecuária sobre o bioma da floresta Amazônica. Fonte: Greenpeace, 2009.
33
mercado externo, levando os produtores brasileiros a ampliaram a área cultivada. O
aquecimento dos preços do milho, no mercado externo, deveu-se ao fato de os Estados
Unidos, maior produtor e exportador mundial, destinarem parte da sua produção para a
transformação em etanol, com o objetivo de diminuir a dependência do petróleo, que tem
atingido preços elevados (IBGE, 2009).
Em termos de número de indivíduos do rebanho bovino, dado divulgado através do
Ministério da Agricultura, pode-se observar claramente o avanço da pecuária sobre a região
brasileira que mais sofre com o desmatamento.
Comparativamente com os estados do sul, tem-se que o Rio Grande do Sul possui o
maior rebanho da região, com 14.240.000, e apresentou um crescimento no período entre
1990 e 2005 de cerca de 4%. O Paraná, segundo maior rebanho da região sul, apresentou um
crescimento de cerca de 15% no mesmo período, passando de 8.617.000 para 10.153.000
cabeças. O rebanho catarinense é de 3.377.000 de cabeças.
Mato Grosso, por exemplo, possuía em 2005 o maior rebanho nacional, com
26.652.000 cabeças, sendo que em 1990 era de 9.041.000 cabeças, representando um
crescimento de 66%. O gráfico abaixo mostra as linhas de crescimento de alguns Estados no
período entre 1990 e 2005.
Figura 5: Evolução do rebanho bovino em alguns Estados brasileiros (IBGE, 2009). Fonte: Adaptado de Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (www.agricultura.gov.br >
Estatísticas > Pecuária - Acesso em 24/09/09) referenciando IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal 2005.
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 -
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
Rebanho por Estado
ROACPAMGPRSCRSMSMTGO
Ano
Cab
eças
(x10
00)
34
Conforme pode-se observar no gráfico, os maiores crescimentos de rebanho bovino
estão nos Estados do norte ou centro-oeste, todos com forte relação com o avanço da fronteira
agrícola e o desmatamento.
No Censo Agropecuário 2006, o IBGE apontou que a pecuária foi a principal atividade
econômica dos estabelecimentos agropecuários pesquisados pelo censo, representando 44,0%
do total de estabelecimentos e 62,0% de sua área total. Esse número desconsidera a parcela de
produção de grãos e cereais destinada para os animais, logo, supõe-se ser ainda maior a
relação de uso da terra para produção animal.
Vê-se, portanto, de forma resumida, como o Brasil está inserido nessa complexa
cadeia, sendo grande emissor de gases de efeito estufa relacionados ao setor produtivo de
carne, direta e indiretamente.
35
6 METABOLISMO DA CIDADE DE PORTO ALEGRE
Como parte indissociável do todo, a cidade de Porto Alegre também contribui para as
emissões planetárias de gases de efeito estufa, pois também tem o seu processo de
crescimento e consumo. Não diferente de muitas outras grandes cidades ao redor do mundo,
teve origem ao redor da produção econômica.
6.1 Histórico de formação de Porto Alegre
Numa análise da evolução de Porto Alegre, Souza (SOUZA, 1997) apresenta cinco
distintos períodos históricos que contextualiza a cidade no desenvolvimento do Rio Grande do
Sul e do Brasil. O primeiro se passa entre 1680 e 1772, fase em que o Rio Grande do Sul é
incorporado à Colônia do Brasil e quando, então, começaram a surgir alguns povoados junto
aos campos de Tramandaí e Viamão. Nesse período chegaram os açorianos ao Porto de
Viamão, o qual passou a ser chamado de Porto dos Casais. A cidade atinge o primeiro milhar
de habitantes.
Entre 1772 e 1820 foi a fase caracterizada pela crescente produção de trigo pelos
açorianos, na região do Jacuí. A produção era escoada por Porto Alegre, criando condições de
desenvolvimento portuário e consequentemente de desenvolvimento urbano. A população
chega aos 12 mil habitantes.
O terceiro período descrito pela autora vai de 1820 até 1890, e foi marcado por fortes
conturbações, desde a estagnação econômica decorrente da produção do trigo, até a guerra dos
Farrapos. No entanto, também teve um forte desenvolvimento portuário combinada com a
imigração européia. Essa imigração teve papel decisivo no desenvolvimento local e regional,
dando um impulso na economia e firmando um mercado consumidor. Com isso inicia uma
nova fase da cidade, que vai de 1890 a 1945, entrando num momento de industrialização e
substituição de produtos importados. Esse é o período da República, da valorização da cidade,
do incremento da burguesia urbana e da readequação da cidade aos novos tempos. Nesse
período a população passa de 52 mil para 275.600 habitantes.
O quinto período, por fim, tem início em 1945 até os dias de hoje e é caracterizado
pela metropolização. O desenvolvimento industrial trouxe à cidade diversas consequências.
Ocorreu um crescimento populacional muito grande, proporcionalmente ao êxodo rural. No
início da década de 1970 a população já se aproxima de 900 mil habitantes.
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Complementarmente, Buainain et al. (BUAINAIM, et al, 2003) relata que num dado
momento, com as cidades já bem desenvolvidas, uma série de acontecimentos políticos e
econômicos influenciaram a vida no campo e o crescimento urbano, especialmente o êxodo
rural. Quando o acesso às terras livres pelas massas de imigrantes e libertos foi bloqueado,
esses permaneceram cativos da insegurança da posse da terra, tornando-se reserva de trabalho
barato de uma classe de latifundiários desprovidos de visão estratégica de construção de uma
nação - à exceção do Sul do país, onde, por razões estratégicas de segurança de fronteiras,
criou-se uma forte base de produtores agrícolas familiares.
Buainaim relata, ainda, que a forte concentração da renda no campo nesse período foi
fator limitante para a expansão do setor urbano-industrial, fazendo parte dos desequilíbrios
distributivos observados no processo de urbanização no Brasil. Comparativamente a outros
países, especialmente aos EUA e à Europa, o êxodo rural no Brasil configurou-se como um
êxodo de refugiados do campo, onde os fatores de expulsão predominaram sobre os fatores de
atração proporcionados pela cidade (ao contrário do que ocorreu nos EUA e na Europa).
Desse processo decorreu que os que permaneceram no campo continuaram em
situação precária, sem acesso ou com acesso limitado à terra, à educação e demais serviços de
infra-estrutura social e aos benefícios da política agrícola.
O reflexo da dinâmica econômica no Estado e na região podem ser resumidos no
aumento populacional de Porto Alegre, que entre as décadas de 1940 e 1950 passou de 263
mil para 380 mil habitantes, em 1960 para 626 mil habitantes e em 1970 para 885 habitantes.
A partir da década de 1960 fica claro que muitos dos problemas que se apresentam não podem
mais ser resolvidos apenas no âmbito da jurisdição municipal. Os limites impostos por
acidentes geográficos muitas vezes não correspondem aos fatos socioeconômicos ou às
necessidades administrativas. O uso do solo precisava ser disciplinado, os transportes e sua
infraestrutura necessitavam de integração, ao saneamento apresentavam-se problemas comuns
na região (SOUZA, 1997).
Porto Alegre teve, desde o fim do século 19, governos locais que adotaram práticas de
planejamento urbano no exercício de controle morfológico de seus espaços. Assim, a imagem
da cidade foi se transformando de acordo com a circulação de ideias de cada época que se
desenvolviam em nível nacional e internacional. A partir desse histórico descrito por Almeida
(in LEME, 1999) pode ser visto que o projeto de modernização da cidade, construído ao longo
de décadas, privilegiou os interesses da burguesia local, que pretendeu a remodelação urbana
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no atendimento de seus anseios de atualização e de inserção em uma ordem capitalista
mundial. O desaparecimento das antigas estruturas edificadas ou da perda de identidade e da
memória coletiva não faziam parte dos debates. Os anseios de atualização da burguesia
associados à geração de espaço para aplicação e ampliação dos capitais imobiliários
prevaleciam.
6.2 Consumo de energia em Porto Alegre
Conforme os dados da FEE (Fundação de Economia e Estatística), em 2008 Porto
Alegre contava com uma população de 1.438.830 habitantes, com densidade demográfica de
2.896 hab/km2.
O consumo total de energia elétrica em Porto Alegre foi, em 2008, de 3.162.616 MWh,
do que deduz-se um consumo per capita de cerca de 2,2 MWh/hab ano. A tabela abaixo
apresenta o histórico de consumo anual para a cidade.
Tabela 3: Consumo de eletricidade em Porto Alegre.
Ano Consumo total (MWh)1991 2.135.4682000 2.879.5752001 2.889.0722002 2.877.1852003 2.865.3712004 2.884.0052005 2.959.0252006 3.028.3532007 3.183.3092008 3.162.616
A distribuição por setor do consumo de Energia Elétrica em Porto Alegre, em 2008,
apontou para o setor comercial e residencial como os maiores consumidores, com 39,85 e
36,9%, respectivamente.
A tabela abaixo apresenta o consumo anual em 2008 distribuído pelos diferentes
setores avaliados.
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Tabela 4: Distribuição do consumo de eletricidade em Porto Alegre.
Setor RS (MWh) % Porto Alegre (MWh) %
Comercial 3.785.423 17,61 1.260.350 39,85
Industrial 6.741.540 31,36 364.686 11,53
Outros 825.418 3,84 6.101 0,19
Residencial 5.968.821 27,76 1.167.141 36,9
Rural 2.739.945 12,74 2.777 0,09
Setor Público 1.439.537 6,7 361.561 11,43
Total 21.500.683 100 3.162.616 100
6.3 Consumo de combustíveis
O consumo de combustíveis derivados do petróleo no Brasil se dá principalmente
através do transporte, visto que sua matriz energética não depende tanto das usinas
termelétricas como outros países.
Porto Alegre apresentou um crescimento nas vendas de combustível entre 2005 e 2007
de mais de 21 milhões de litros. A tabela abaixo mostra a evolução da comercialização de
combustíveis, onde se vê que o aumento dos combustíveis utilizados em veículos particulares
(álcool e gasolina) foi maior que o crescimento do combustível usado no transporte coletivo
(diesel), indicando mais uma evidência da motorização da população.
Tabela 5: Comercialização de combustível em Porto Alegre. Fonte: FEE
Ano Gasolina autom. (litros)
Diesel (litros)
Álcool hidratado (litros)
2005 361.774.892 168.190.296 31.226.4462006 364.537.501 177.581.588 25.007.8072007 369.876.648 171.132.832 41.928.658
6.3.1 Frota veicular
A frota veicular total em Porto Alegre é de 627.580 veículos (inclui desde
ciclomotores à reboques e veículos de carga e tratores), dos quais 518.793 são automóveis
(inclui caminhonetas) - isso representa 82% de automóveis. Se desconsiderarmos a categoria
reboques (16164 unidades) do total da frota, visto que não são veículos automotores,
propriamente, tem-se que a porcentagem de automóveis sobre o total de veículos em
circulação é de 84,8% (DETRAN, 2008).
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Os caminhões representam 2,4% da frota de Porto Alegre, e transporte coletivo apenas
0,93%.
Numa outra análise, pode-se supor que a frota total efetiva em circulação não
ultrapassa o número de habilitações em vigor, 605.189 condutores, então tem-se que até
85,7% da ocupação das vias pode se dar pelos automóveis. Tendo em vista de que 98,8% dos
condutores possui habilitação categoria "B" ou equivalente (dado de 2007, excluindo-se a
categoria A), e que 75% possuem apenas "B", é razoável estimar que pelo menos 75% do
trânsito motorizado em circulação é de automóveis.
Isso equivale a dizer que os menos de 1/3 (30%) da população usuária de automóvel
representa mais de 3/4 (75%) dos veículos em circulação nas vias.
A figura abaixo mostra um comparativo do espaço ocupado, em via pública, por 150
pessoas nos diferentes modos de transporte e locomoção.
A tabela abaixo apresenta a proporção conforme o tipo de transporte entre Porto
Alegre e o Rio Grande do Sul, o que indica uma grande concentração veicular na capital do
Estado.
Figura 6: Gráfico comparativo do espaço ocupado, em via pública, por 150 pessoas.
Fonte: Adaptado de Empresa Pública de Transportes de Madrid (Espanha).
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Tabela 6: Frota veicular de Porto Alegre em 2008.
Veículo RS (un) Poa (un) %Carga 542.074 58.609 10,81Outros 199.389 35.579 17,84Passageiros 3.397.087 533.392 15,70Total 4.138.550 627.580 15,16
Fonte: Adaptado de FEE - Fundação de Economia e Estatística.
O Rio Grande do Sul e Porto Alegre tem tido um crescente e contínuo aumento na sua
frota veicular, com pequena queda entre os anos de 2002 e 2003 devido à turbulências no
mercado financeiro ocorridas neste período. Os gráficos abaixo ilustram esse comportamento.
Fonte: Adaptado de FEE - Fundação de Economia e Estatística.
Figura 7: Evolução da frota no RS.
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 20082.615.000
2.815.000
3.015.000
3.215.000
3.415.000
3.615.000
3.815.000
4.015.000
4.215.000
Evolução da frota no RS
Ano
Frot
a
41
Fonte: Adaptado de FEE - Fundação de Economia e Estatística.
Ao confrontar os números da frota veicular dos últimos anos com a média de
passageiros transportados pelo sistema de ônibus de Porto Alegre, percebe-se que o aumento
de veículos coincidiu com a diminuição de passageiros transportados. O gráfico abaixo ilustra
a queda, ano após ano, do uso do transporte coletivo na cidade, desde 1998, com pequena
recuperação em 2008, mas já demonstrando a mesma tendência de queda em 2009 - dados
atualizados até setembro de 2009 (EPTC, 2009).
Fonte: Adaptado de EPTC - Empresa Pública de Transporte e Circulação
Figura 8: Evolução da frota em Porto Alegre.
2003 2004 2005 2006 2007 2008510000
530000
550000
570000
590000
610000
630000
650000
Evolução da frota em Porto Alegre
Ano
Forta
Figura 9: Passageiros transportados no sistema público.
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 200925000000
2600000027000000
28000000
29000000
30000000
31000000
32000000
33000000
34000000
35000000
Média de passageiros transportados
Ano
Pas
sage
iros
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7 RESPOSTAS DA CIDADE AOS DESAFIOS
7.1 Energia solar e as soluções bioclimáticas
No Brasil, mais de 40% da energia elétrica é consumida nas edificações residenciais,
comerciais e públicas. O setor residencial responde por 23% do total de consumo nacional,
enquanto o comercial por 11% e o público por 8%.
Correlacionando o hábito de consumo energético do brasileiro e do portoalegrense
com todos os indicativos apresentados até agora quanto aos aspectos climáticos e impactos
ambientais, tendo em vista a iminência de alterações no regime hídrico e outros eventos que
podem colocar em risco a geração e o abastecimento de energia, presume-se ser
imprescindível uma diminuição no consumo elétrico residencial. Tal diminuição pode ser
atingida de diferentes maneiras, muitas das quais acessíveis a qualquer cidadão.
Uma vez que as cidades resolvem essa questão, mesmo que parcialmente, na mesma
proporção tornam-se mais resilientes a eventos não esperados. Além disso,
independentemente de alterações climáticas ou outros riscos, trata-se de rever certos hábitos
de modo a diminuir a pressão sobre o meio ambiente e tantos recursos naturais fundamentais à
vida.
7.1.1 Consumo energético no aquecimento de água
Segundo a Eletrobrás os chuveiros elétricos estão presentes em 67% das residências
brasileiras, sendo que nas regiões sul e sudeste estão em quase 100% delas. O equipamento é
barato, variando de R$ 20,00 para os mais simples, até R$ 350,00 para os mais robustos. A
grande difusão dos chuveiros está fortemente ligada a esses modestos custos de aquisição,
facilidade de instalação, infraestrutura elétrica necessária e falta de regulamentação
(RODRIGUES et al, 2004).
Em Porto Alegre o consumo de energia elétrica residencial representa 36,9% do total,
pouco menos que o setor comercial, com 39,8%. Tal consumo pode ser justificado por vários
fatores, dentre eles o custo relativamente baixo pago pela energia elétrica, além da
disponibilidade até então abundante.
Segundo pesquisas realizadas pelo NORIE - Núcleo Orientado para Inovação da
Edificação (SATTLER, 2004), 35% de toda eletricidade residencial consumida em Porto
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Alegre é usada para aquecer água. Tal quadro poderia se modificar consideravelmente caso
fosse utilizado tecnologia de aquecimento solar. Exemplo disso são os coletores solares de
baixo custo utilizados no protótipo de casa do NORIE.
Em estudo realizado pelo Instituto Vitae Civilis (RODRIGUES et al, 2004), dentre
diversas análises para avaliar as dificuldades de uso de energia solar para aquecimento de
água no Brasil, foi discutida a hipótese de que o chuveiro é o principal concorrente da
tecnologia termossolar por seu baixo custo de instalação e por não sofrer praticamente
nenhuma restrição de mercado. Também foi avaliado que os códigos de obras municipais
inibem o uso do termossolar, visto que os critérios (funcionais e econômicos) usados na
elaboração dos códigos não consideram o uso eficiente da energia elétrica, o que acarreta em
pouca ou nenhuma opção de escolha aos futuros ocupantes. Sua conclusão revela que algumas
barreiras para a incorporação de aquecedores solares em edificações não estão relacionadas à
dificuldades técnicas, tecnológicas ou de custos, mas sim pela falta de informação e
sensibilidade por parte dos técnicos e tomadores de decisão municipais e do setor de
construção civil.
Outras discrepâncias foram encontradas nos municípios brasileiros, tal como o
exemplo de Campinas, em São Paulo, onde o cálculo do IPTU é baseado em características do
padrão de construção com sistema de pontuação que, quanto maior, maior o IPTU. Graças a
isso, o cidadão que investir na instalação de coletores solares acabará mais penalizado que
aquele outro que instalou um aparelho de ar condicionado central, pois a residência com
energia solar é considerada mais luxuosa.
Como uma das sugestões apresentadas neste estudo, restrições à implantação de
chuveiros a partir de certa área de habitação, ou outro parâmetro de acordo com a condição
econômica da habitação, por exemplo, poderiam criar condições favoráveis à difusão da
tecnologia termossolar (RODRIGUES et al, 2004).
Com relação à economia de energia elétrica residencial, além dos aspectos
tecnológico, econômico e político, deve-se considerar outros que dependem apenas da
iniciativa individual de cada cidadão, em geral iniciativas simples mas que são normalmente
negligenciadas - provavelmente pelo resultado imediato pouco visível -, tal como desligar
lâmpadas desnecessárias, leds de aparelhos eletrônicos em espera, eletrodomésticos mais
eficientes e com certificação (por exemplo: Procell, Inmetro).
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7.1.2 Consumo energético na habitação e ambiente construído
Viu-se até aqui uma pequena parte do metabolismo humano e suas implicações,
protagonizado especialmente pelos imensos organismos que são as cidades. A partir desse
ponto de vista, considerando-se as semelhanças com os ciclos naturais, pode-se afirmar que
não existe um único ponto central, a partir do qual outros giram ao redor. Trata-se de uma
grande cadeia de organismos interligados, sendo cada elo igualmente importante. No entanto,
dentro do aspecto que se estuda neste trabalho, um desses elos assume especial importância: a
cidade. Sendo ela formada de certa infra-estrutura, é inconcebível imaginar uma sem
habitações.
À habitação estão intrinsecamente relacionados o consumo energético, a mobilidade, o
comércio, os serviços e toda organização urbana.
Muitas vezes a arquitetura brasileira é influenciada por modelos de cidades compactas,
especialmente com relação a prédios altos, provindos de países desenvolvidos. Porém,
neglicencia-se o fato de que tais arquétipos são oriundos, em geral, de climas temperados e
frios ou, o oposto, quando vem dos países árabes com sua arquitetura bioclimática adaptada
aos climas tropicais quentes e secos. Ambos quando transpostos para contextos díspares
causam resultados desastrosos (FREITAS, 2005).
Com relação ao que Freitas se refere, associado também a outros fatores, vemos
edificações cada vez mais dependentes de climatização e iluminação artificial, com grande
dispêndio extra de energia. Como exemplo disso em Porto Alegre, temos os prédios do Centro
Administrativo e do IPERS. O primeiro manteve corretamente as maiores fachadas voltadas
para sul e norte, distribuindo assim a incidência da radiação solar, já o segundo optou em
construir as fachadas envidraçadas voltadas para leste e oeste, voltado para a avenida,
ocasionando aquecimento excessivo no verão (HICKEL, 2009).
Como dado ilustrativo e complementar ao exemplo acima, Rüther (2004) revela em
sua pesquisa que, em cidades como o Rio de Janeiro, o ar condicionado responde por 50% do
consumo de energia elétrica em prédios comerciais e públicos no verão, passando a 70% para
os prédios envidraçados.
Para CAÑELLAS (2002), é possível, ao relacionar uma série de parâmetros de
iluminação (uniformidade e distribuição de iluminância e luminância, controle de
ofuscamento), intervir em ambientes de escritório ou residenciais de modo a possibilitar o uso
da luz natural como principal fonte de iluminação, garantindo a iluminância necessária para a
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realização das tarefas visuais e limitando o uso a luz artificial à noite, aos dias nublados e aos
espaços longe das janelas. A minimização do uso da luz elétrica proporciona a racionalização
de energia, além de que a luz natural ainda pode tornar o trabalho mais salubre, prazeroso e
produtivo.
A construção civil é um dos setores mais importantes da economia mundial, sendo os
edifícios responsáveis por 40% do consumo de energia mundial, 16 % da água potável e 25 %
da madeira das florestas e é responsável por 50% das emissões de CO2 (LAMBERTS, 2007).
Não obstante a isso, o produto final do setor produtivo - a edificação - prolonga essa
cadeia de grandes dispêndios energéticos e de recursos naturais, mais uma vez com o aval do
consumidor, que é quem paga diretamente.
É um grande desafio buscar objetivos e estratégias para construção de edificações de
menor impacto ambiental. Por isso, segundo Sattler (2004), não se pode restringir essa busca
apenas àquilo que concerne ao impacto imediato da edificação no meio ambiente, mas
também considerando todos os aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos envolvidos.
Apesar de tudo, a tecnologia e conhecimento disponíveis desde muito tempo, aliados
às reais e atuais necessidades, já apontam para as mudanças possíveis no setor. Exemplos
disso emergem a partir de conceitos de arquitetura bioclimática aplicado a projetos
imobiliários, em que se pode reduzir significativamente a emissão de gás carbônico, o
consumo de energia elétrica, de água e outros recursos naturais.
Nesse sentido, destacando que em um momento de agravamento dos problemas
ambientais urbanos, é de extrema pertinência discutir o quanto a forma urbana interfere sobre
a qualidade e no meio ambiente, Freitas (2005) elenca alguns elementos, vistos a seguir.
Os climas urbanos são modificações locais das condições atmosféricas. Ao longo de
um percurso pela cidade, sucedem-se áreas com características relacionadas a diversos
aspectos físicos, morfológicos e atividades humanas. Notam-se diferenças de temperatura, de
ventilação e de umidade entre ruas ou bairros de uma cidade, que podem ser mais ou menos
quentes, úmidos ou ventilados do que a média preponderante na região.
A tendência na compactação das cidades (adensamento) é notável, sendo observada
através das altas densidades demográficas e construtivas. Para se chegar a ela se faz
justaposição e verticalização dos edifícios. Distintos atores (público, privado e civil) disputam
entre cidades compactas ou dispersas, onde a percepção do ambiente pela população se dá
através de categorias estéticas ou elementos vividos (sensações de tranquilidade, estresse,
46
convivência e inospitalidade) - em contraste a investidores e governos que veem a qualidade
de vida através dos indicadores sócio-econômicos, tais como expectativa de vida, taxas de
alfabetização e níveis de renda. Freitas (2005) conclui, até esse ponto, que diferentes áreas
podem ser dotadas de qualidade de vida, mas não exatamente pelas mesmas razões.
O elemento seguinte explorado pelo autor diz que o desejo para adensar os centros
urbanos, cuja justificativa é de preservar a natureza do entorno ocupando menores extensões
de terra, deve dialogar com os diversos indicadores da preservação ambiental urbana. Ou seja,
em muitos casos, o conforto é o limite: o desfrute de áreas públicas de lazer limita a ocupação
do solo; a permeabilidade ao vento limita a proximidade das edificações; as facilidades
econômicas e ambientais de acessibilidade limitam o aumento das distâncias a serem
percorridas diariamente pela população.
A partir desse eixo fundamental, o autor ainda demonstra a relatividade da qualidade
de vida na cidade, expondo mais um elemento crucial ao pensamento de cidades saudáveis e
ambientalmente equilibradas. Enquanto num bairro nobre altamente verticalizado encontram-
se médias densidades populacionais, mas com as maiores densidades construtivas, noutro, os
assentamentos populares revelam as maiores densidades habitacionais e menores densidades
construtivas, desconstruindo o mito da alta densidade como decorrente unicamente da
verticalização. No primeiro, a forma verticalizada é associada a altos padrões de vida,
confirmado pela renda, instrução e infra-estrutura. A capacidade de suporte a esse padrão
aponta alguns limites: congestão no tráfego viário, o acúmulo de calor (ilhas de calor), maior
geração de lixo e maior consumo energético. No segundo, se encontra uma população
homogênea, de mesma origem, evidenciando-se uma qualidade de vida baseada nas relações
de vizinhança, na experiência e no sentido de lugar (FREITAS, 2005).
Para Sattler (2004), o aspecto construtivo deve obedecer certas premissas conceituais
de projeto para diminuir o impacto ambiental das edificações, sejam eles: os princípios de
preservação ambiental devem orientar diretamente o processo de desenvolvimento do projeto;
deve-se adotar uma abordagem sistêmica; tanto quanto possível, o projeto deve deve
considerar os ciclos locais para o fluxo de materiais e energia envolvidos; o projeto deve
refletir os processos que ocorrem na natureza e aplicar os seus princípios (projetar com a
natureza); eliminar o uso de produtos que sabidamente apresentam ameaça à saúde humana e
ao meio ambiente; considerar a igualdade entre os humanos as milhares de outras espécies
que compartilham este planeta.
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A partir desses princípios, Sattler (2004) sugere o estabelecimento dos seguintes
objetivos-chave para o setor da construção civil: minimizar o consumo de energia e materiais;
comprometimento e responsabilidade social; desenvolvimento e pesquisa sobre opções de
produção que estejam em harmonia com a cultura local; processos participativos; considerar a
avaliação do ciclo de vida a todos produtos. Concluindo, ao final, que o projeto deve ser
gerenciado por pessoas que partilham e entendam os conceitos de preservação ambiental.
Seguindo os preceitos acima, foi implementado no NORIE um protótipo de edificação
que incorporou diversas características, como arquitetura solar passiva, coletores solares de
baixo custo para aquecimento de água, uso de materiais locais e de reaproveitamento ou
reciclagem, uso de vegetação para sombreamento e produção de alimentos, estratégias para
redução do consumo de água - incluindo aproveitamento da chuva e reciclagem -, tratamento
biológico das águas residuárias (MENEGAT, 2004).
Reforçando esses itens e incluindo alguns outros, Palsule (2004), partindo de diversos
estudos de caso pelo mundo, elencou os aspectos que podem ser individualizados como áreas
onde a mudança pode ser efetivada, sejam eles: opção por tecnologia mais limpa por meio de
legislação e pressão dos cidadãos; desenho restaurador para novas casas, lugares públicos e
planejamento integrado; redução da geração do lixo através da reciclagem, redução do
consumo e novos hábitos; redução da ingestão de alimentos que usam intensamente a energia
em sua manufatura, apoiando cooperativas locais; tornar verde o meio ambiente urbano
através do banimento de construções em espaços abertos, conservação de áreas naturais,
plantio de árvores e planejamento de corredores verdes; mudar o meio ambiente industrial e
de negócios, optando pela qualidade em todo o processo; aumentar o nível de conscientização
pública, estabelecendo círculos de estudo e grupos de aprendizado informal.
Segundo Roaf (2009), em breve seremos forçados a implementar as mudanças
necessárias à criação de uma geração de edificações passivas do século XXI, que possam
funcionar em grande parte com fontes energéticas renováveis.
7.1.3 Estimativa de energia fotovoltaica para suprir o consumo de Porto Alegre
A geração de energia eletrética através de células fotovoltaicas tem se mostrado uma
tecnologia cada vez mais promissora, cujo potencial no Brasil pode ser percebido pela
comparação feita por Rüther (2004). O autor parte do caso da usina hidrelétrica de Itaipu, a
qual contribui com cerca de 25% da energia elétrica do país, com seu reservatório inundando
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uma área de 1.350km2. Cobrindo-se o lago com painéis fotovoltaicos comercialmente
disponíveis, seria possível gerar o dobro de energia, ou o equivalente a 50% da eletricidade
consumida no Brasil. Complementa, ainda, que diariamente incide sobre a superfície da terra
mais energia vinda do sol do que a demanda total de todos os habitantes do planeta em um
ano inteiro. A partir de seus cálculos, afirma que 12 minutos de sol equivalem à demanda
energética mundial anual.
Embora cada região possua diferentes características climáticas, o que inclui, também,
diferentes valores para as incidências de raios solares, o Brasil é considerado um país muito
bem servido de sol o ano inteiro, satisfazendo plenamente essa condição para uso das
tecnologias solares.
Segundo Pezzi (2009), sabe-se que a radiação solar atinge a superfície da terra com
intensidade de 1000 Watts/m², ao meio dia. Considerando períodos noturnos e de condições
atmosféricas desfavoráveis, dentre outras variações, usa-se a média de 300 Watts/m² para os
cálculos (média sobre todo o planeta).
Os painéis solares fotovoltaicos disponíveis no mercado possuem eficiência entre 5%,
os mais baratos, e 25% para os mais caros. Portanto, para efeitos de cálculo, nesse caso,
considerou-se um valor médio de 15%. Aplicando-se diretamente o percentual de eficiência,
tem-se que, dos 300 Watts/m² iniciais, os painéis fornecerão 45 Watts/m², ou 0,045 kW/m².
Um ano tem 8.760 horas (365 dias x 24 horas), então cada metro quadrado de painel
solar pode gerar 394,2 kWh por ano (8.760 horas x 0,045 kW/m²).
Sabendo-se que o consumo de energia elétrica total de Porto Alegre foi de 3.162.616
MWh, em 2008, ou 3.162.616.000 kWh, calcula-se que a área total necessária de painéis
solares para gerar o mesmo valor é de 8.022.871,6 m², ou 8,02 km². Comparativamente, a área
total da cidade é de 476,30 km² (MENEGAT et al, 1998); a área do reservatório de Itaipu é de
1.350 km² (RÜTHER, 2004).
Não faz parte deste trabalho analisar a viabilidade da estimativa apesentada acima, no
entanto, se a mesma for considerada viável em outros estudos, deve-se ter em conta que cerca
de 35% do consumo energético residencial em Porto Alegre é gasto para aquecimento de água
(SATTLER, 2004), ou a média nacional de 26% (ZOELLNER, 2005). Isso significa que essa
parcela de consumo pode ser suprida através de coletores solares para aquecimento de água,
cuja eficiência de aquecimento é superior às resistências elétricas, além de ter um custo muito
menor do que os painéis fotovoltaicos para geração de energia elétrica.
49
7.1.4 Geração e distribuição de energia elétrica
Desde que surgiram as primeiras células fotovoltaicas, as tecnologias de produção
evoluíram a tal ponto que se tornou economicamente viável para diversas aplicações. Mais
recentemente, sistemas solares fotovoltaicos vêm sendo utilizados de forma interligada à rede
elétrica pública - até então os sistemas eram sempre autônomos, ou seja, isolados da rede
pública necessitando de um meio de acumulação (baterias) -, como pequenas usinas geradoras
em paralelo às grandes geradoras convencionais (RÜTHER, 2004).
No Brasil a geração de energia elétrica convencional é muito centralizada e distante do
ponto de consumo, fazendo com que o sistema gere perdas na distribuição, aumentando os
custos da produção da energia trazendo prejuízos às concessionárias e ao meio ambiente, além
de deixarem um grande número de consumidores vulneráveis a falta súbita de energia elétrica
(apagões). Em contraste, a geração distribuída por estar disposta próxima da carga (ponto de
consumo ou conexão à rede), evita tais transtornos e custos, além de permitir uma maior
diversificação das tecnologias empregadas para a produção de energia (SALAMONI et al,
2004).
A energia elétrica é fornecida aos consumidores residenciais, comerciais e industriais
através de usinas geradoras e complexos sistemas de transmissão e distribuição. Todas as
usinas convencionais têm problemas inerentes, tais como poluição, emissões atmosféricas,
dependência de fornecimento de combustível e até mesmo oposição da sociedade quanto à sua
construção e operação (nucleares, térmicas a carvão mineral e também muitas hidrelétricas)
(RÜTHER, 2004).
Conforme Rüther (2004) ainda, instalações fotovoltaicas integradas às edificações e
interligadas à rede elétrica pública apresentam muitas vantagens, dentre as quais se pode
destacar: não requer área extra, podendo ser usado no meio urbano próximo ao ponto de
consumo; elimina perdas por transmissão e distribuição; não requer infraestrutura adicional;
os painéis solares podem ser considerados como revestimento arquitetônico em substituição a
outros materiais; produz energia limpa.
Vê-se, portanto, que além da tecnologia solar em si, outros fatores como a transmissão
e distribuição são relevantes na avaliação do impacto ambiental, indicando soluções ao
modelo de geração e distribuição centralizada adotado no Brasil.
50
7.2 Referências de experiências locais
Não basta uma edificação perfeitamente ecológica de mínimo impacto ambiental,
complementarmente o seu habitante deve imbuir-se desses novos valores, de forma a dar
continuidade ao ciclo.
Muitos projetos e tecnologias com certa intenção de resolver conflitos ambientais, mas
que são apresentados através de políticas paliativas ou comercialmente, tendem a se tornar
obsoletos com o tempo - nos termos de sua concepção original (por melhor que seja) -, talvez
por não considerarem a intenção das pessoas desde o princípio, ou pelas mesmas terem
abandonado ou modificado seus hábitos em função de novas conjunturas econômicas ou
políticas ou por qualquer outra razão, passando a desfigurar a concepção original desses
ambientes ou tecnologias.
O caminho inverso também é válido, reforçando a importância de levar em
consideração a evolução nos valores humanos, onde o resultado final deixa de ser um produto
de consumo e passa a ser um objeto de contato e interação permanente com o ambiente.
Um exemplo muito elucidativo foi o de uma iniciativa de uma organização não-
governamental de São Paulo, a qual após um série de estudos e contatos políticos viabilizou o
financiamento de coletores solares para aquecimento de água para famílias de baixa renda
e/ou não servidas pela rede elétrica pública. Pouco tempo após a instalação dos equipamentos,
os próprios beneficiados pelo projeto, ao descobrir o valor de mercado do material, retiraram
de seus telhados os painéis e os venderam.
Analogamente a esse ciclo de produção e consumo humano, Palsule (2004) observa
que processos de simbiose e autopoiese não estão restritos apenas a sistemas naturais.
Também são aplicáveis às necessidades humanas, uma vez que essas, tal como os sistemas
naturais, têm a preservação ambiental como fenômeno intrínseco e universal dentro de um
ciclo de vida e morte. Ou seja, para discutir desenvolvimento ecologicamente mais correto nas
cidades, é necessário perceber a cidade como uma entidade holística, em vez de uma estrutura
fragmentada.
Complementa Palsule, então, que a apropriação e adoção de sistemas alternativos de
construção e, também, de vida pela sociedade, só irá ocorrer a partir de uma nova ótica, uma
nova forma de olhar e de compreender um novo mundo possível, o qual só será durável se
regido pelos princípios éticos da preservação ambiental.
Essa afirmação pode ser constatada em dois níveis, naquilo que se sabe e se pensa
51
fazer, e nas experiências já realizadas. No primeiro caso, vê-se que as edificações com menor
impacto ambiental encontram pouca receptividade e aplicação imediata no mercado,
demonstrando a necessidade de que tais propostas sejam precedidas ou acompanhadas por
uma ampla re-educação, que religue o indivíduo à natureza. O segundo caso reafirma essa
necessidade a partir das experiências já realizadas, tanto as bem-sucedidas quanto as nem tão
bem, visto que, mesmo ótimos projetos e concepções dependem do uso que seus ocupantes ou
usuários dão a ele (CIB, 1999).
Partindo-se, então, do pressuposto dessa complementaridade indissociável entre
tecnologia e comportamento social, são apresentados alguns casos a seguir.
7.2.1 Comunidades
A organização da cidade em pequenos núcleos e comunidades tem demonstrado um
caminho possível para o equilíbrio entre desenvolvimento e preservação ambiental. Vê-se que
é fundamental a inter-relação entre as pessoas próximas, para que a interação entre as pessoas
e locais mais distantes se faça com maior propriedade de valores: do vizinho de condomínio
para o vizinho de rua, daí para o bairro, para a cidade e para o mundo. As comunidades,
conjuntos habitacionais, ocupações e outros movimentos mostram ao longo do tempo as
diversas tentativas e formas de intervir positivamente na existência humana sobre o planeta.
7.2.1.1 Vila do IAPI
Como exemplo de um projeto potencialmente favorável ao desenvolvimento urbano,
em harmonia com o meio ambiente e outros valores, cuja concepção original foi deformada ao
longo do tempo, cita-se o conjunto habitacional do Passo d'Areia, ou IAPI (Instituto de
Aposentadorias e Pensões dos Industriários), em Porto Alegre.
A vila do IAPI foi erguida entre os anos de 1942 e 1954, nasceu como resposta para
um problema de habitação para as classes populares e o operariado da cidade.
A partir do primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Porto Alegre
(PDDU), em 1979, o conjunto passou a ser designado como área de interesse cultural. Tem
como peculiaridades o uso intenso de vegetação, arborização em praças e parques, ruas e
avenidas de traçado orgânico (que segue as formas da geografia e da natureza) e edificações
implantadas em meio a jardins – evidenciando a inspiração do projeto na Cidade-jardim de
Ebenezer Howard (LAPOLLI, 2006).
Conforme Lapolli, as unidades residenciais no IAPI são compostas de casas
52
individuais no centro dos lotes com casas germinadas, prédios de dois pavimentos com quatro
unidades, alguns deles mistos com comércio no térreo. Os terrenos das unidades
multifamiliares foram divididos de modo que cada uma das unidades possuísse um pátio para
abrigar galinheiros, pequenas hortas e coradouros - espaços abertos para "corar" roupas (expor
ao sol) -, inclusive para as unidades dos pavimentos superiores.
Certas ideias e características do projeto denotam uma singularidade sem precedentes
para Porto Alegre, e mesmo para o país, até os dias atuais.
Por exemplo, a autonomia cotidiana, ou seja, a vila possuía um sistema de atividades -
escolas primárias (ensino fundamental) e, posteriormente, secundárias (ensino médio),
padarias, mercados, açougues, mercearias, segurança, parque esportivo, praças e hospital (o
hospital não foi construído, mas a vila sempre contou com o Posto de Saúde do IAPI) que
deveriam garantir respostas às demandas básicas de seus moradores sem a necessidade de
deslocamentos maiores, reduzindo sua dependência externa.
Da mesma forma, a preocupação ecológica aparece explicitamente no projeto, através
de várias maneiras, como a então inovadora concepção de uma adutora para atender
exclusivamente ao abastecimento de água e uma estação de tratamento dos esgotos do
conjunto (a primeira de Porto Alegre).
Segundo Lapolli, a Vila do IAPI é tida como importante referencial de arquitetura e
desenho urbano, únicos dentro da configuração de Porto Alegre, mas que vem sofrendo um
contínuo processo de degradação ambiental e descaracterização de sua forma original,
causado por fatores externos e internos à vila. Como fatores externos é citado a especulação
imobiliária e a penetração de áreas comerciais e de serviços nas imediações, acelerando a
substituição de suas tipologias. Como fatores internos, surgem novas necessidades
habitacionais dos moradores, geradas pelo desenvolvimento tecnológico e transformações
culturais, levando a modificações e adaptações nas edificações.
Aqui destaca-se um ponto importante: tais transformações também são provocadas por
uma mudança de costumes e de necessidades de seus usuários. Logo, julga o autor, é legítimo
que os moradores procurem adaptar os seus espaços de moradia às novas necessidades. Esse
elemento permite imaginar o quão ideal poderia ser a vila nos dias de hoje caso tivesse sido
sempre acompanhada e conduzida na linha do equilíbrio entre urbano e campo, homem e
natureza, ainda que tivesse seguido certos avanços tecnológicos e adaptações. Seria a vila,
então, mais do que um patrimônio histórico.
53
Outro elemento que remete à mesma questão, é o fato de que a vila do IAPI
permaneceu protegida de transformações mais drásticas durante os primeiros anos de
existência graças a um sistema de apropriação dos imóveis que fazia de seus moradores donos
do valor de uso, enquanto o poder público detinha a propriedade efetiva do conjunto (algo
semelhante é aplicado com grande sucesso hoje em dia em Cuba). Contudo, após o golpe
militar de 1964 e a implantação de uma nova política habitacional centralizada, baseada no
Banco Nacional de Habitação (BNH), e com a consequente extinção dos Institutos de
Aposentadoria e Pensões, os imóveis foram vendidos para os seus moradores e o controle
administrativo passou para o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).
Conforme conclui Lapolli, o desenho da vila é resultado de uma interpretação apurada
da realidade social. Daí que a vila do IAPI não trata de uma reinvenção da cidade, mas da
interpretação de valores urbanos que são reconhecidos na cidade tradicional e, mais ainda,
incorporando elementos culturalmente sensíveis, respeitando a morfologia do ambiente
natural local e assim dialogando com os movimentos da natureza.
Quando Ebenezer Howard teorizou sobre a Cidade-jardim, segundo Lapolli, já havia
mais de 150 anos que a revolução industrial estava modificando os hábitos, costumes,
sociedade e, principalmente, as cidades. Nesse período de transformações as cidades passaram
de pequenas aglomerações, muito identificadas com funções políticas e de mercado, para
grandes centros de produção e consumo de mercadorias manufaturadas. Era tempo de se
constatar as consequências dessas modificações nas grandes cidades e para propor uma
reforma capaz de reconciliar o homem com a natureza. Um dos principais princípios de
Howard estava na integração entre cidade e campo, consagrado em sua publicação "Garden
Cities of Tomorrow" (Cidades-jardins do amanhã), publicado em 1902.
54
As figuras, acima, mostram o acesso de entrada aos pátios de duas unidades
habitacionais, onde percebe-se claramente duas diferentes intervenções realizadas pelos seus
moradores. Enquanto numa delas toda a área foi construída e impermeabilizada, a outra
manteve a maior parte livre, com plantios de árvores frutíferas, horta de ervas e hortaliças e
plantas ornamentais (NETO, 2009).
7.2.1.2 Ekoa-caá
Em Porto Alegre pode-se ver diversas outras iniciativas, como por exemplo a
associação Ekoa-caá, constituída para construir uma ecovila, ou um condomínio ecológico. O
terreno com 3,8 ha está localizado no bairro Ponta Grossa, zona sul de Porto Alegre, onde será
implantado o condomínio, o qual diferencia-se dos demais "eco-condomínios" comerciais
pelo fato de que a iniciativa partiu de um grupo de pessoas com o objetivo em comum de
mudar paradigmas e conviver entre si respeitando a todos e a natureza.
A proposta original leva em conta a compreensão e integração dos sistemas físicos e
estruturais ao ambiente natural, bem como a interdependência e conexão entre todos os
elementos, partindo dos preceitos de construções com impacto ambiental reduzido, com baixo
consumo de energia e água, com gestão e tratamento adequados de resíduos e efluentes
(DIEHL, 2009).
Apesar da união entorno de um objetivo em comum, ainda assim os desafios são
grandes, especialmente àquilo que diz respeito às relações sociais quando se coloca em jogo a
Figura 10: Acesso aos pátios de duas unidades
no IAPI.
Figura 11: Vista panorâmica do IAPI e um
pátio no plano inferior.
55
individualidade das pessoas com suas diferentes necessidades, onde a convivência grupal e o
consenso nas decisões são fundamentais para a sobrevivência do projeto.
Comummente, outras iniciativas partem inicialmente de uma única ou poucas pessoas,
para depois de estabelecido agregar novos participantes. Em alguns casos tornam-se meros
empreendimentos comerciais onde, mesmo sendo o condomínio menos impactante ao meio
ambiente, não necessariamente exige ou provoca as mudanças comportamentais nos
indivíduos.
7.2.1.3 Casa NAT
Exemplo visto em Porto Alegre é o caso da Casa NAT (Núcleo Amigos da
Terra/Brasil), cuja proposta consiste na reforma e intervenção arquitetônica em uma casa
cedida pelo Patrimônio Nacional da União, com o objetivo de transformar o local em um
Centro de Referência em Bioarquitetura no Meio Urbano, abrigando também o Centro de
Documentação Magda Renner (biblioteca).
Os princípios do projeto basearam-se na busca do equilíbrio entre as dimensões do
aspecto social, ambiental, econômico e cultural, adotando os seguintes conceitos no projeto
arquitetônico: utilização de materiais reciclados ou de baixo impacto (levando em conta seu
ciclo de vida); eficiência energética através do uso da energia solar por meio de placas
fotovoltaicas e aquecedores de água; otimização da luz solar para condicionamento térmico e
iluminação natural; tratamento de efluentes local com aproveitamento na manutenção e
irrigação dos jardins produtivos; aproveitamento da água da chuva; cobertura verde com uso
de vegetação nativa; espaços integradores com locais de inter-relação entre usuários e
visitantes, onde a comunidade possa se envolver nas atividades realizadas; possibilidade de
acessibilidade universal (NAT, 2009).
O projeto arquitetônico começou a ser desenvolvido em 2006 por uma equipe de dez
arquitetos, e desde lá já realizou diversas atividades abertas à comunidade, como palestras,
mutirões e encontros sobre o andamento do projeto, permitindo a apropriação pelas pessoas
do processo e ampliando, assim, as ideias a serem aplicadas.
Essa equipe de profissionais desenvolveu uma metodologia participativa que propiciou
uma visão mais abrangente na qualidade técnica do projeto, além de potencializar discussões
sobre problemas urbanos e ampliar a responsabilidade social perante os impactos ambientais
gerados pela indústria da construção civil (SOUZA et al, 2009).
56
Em resumo, trata-se de uma metodologia de gestão de projeto, participativo e
interdisciplinar como diferencial, ou seja, através de intensa participação dos atores, sejam
eles os técnicos, os idealizadores ou a comunidade e demais público interessado.
Destaca-se as estratégias consideradas (SOUZA, 2007):
• Preservação do volume pré-existente: buscou-se valorizar a autenticidade do edifício
histórico e considerando seu estado de conservação, adotou-se a estratégia de
preservação da volumetria básica, resgatando e recuperando as soluções construtivas,
como as alvenarias portantes de tijolo maciço, o entrepiso elevado com estrutura e
piso de madeira, o traço original do reboco, a pintura que permita a transpiração das
paredes e as esquadrias de madeira;
• Seleção de materiais de baixo impacto ambiental: foram escolhidos materiais menos
prejudiciais ao meio ambiente, observar uma série de critérios - entre eles, avaliar as
propriedades dos materiais e analisar as características da sua cadeia de produção
desde a fase de extração até o momento do seu descarte, principalmente no que se
refere ao consumo de recursos naturais;
• Geração de energia: foi prevista a instalação de 40 painéis fotovoltaicos de 50W de
potência cada e de quatro coletores solares térmicos para aquecimento de água,
posteriormente ao estudo que fez a simulação da incidência solar no local;
• Conforto Ambiental (elementos de arquitetura bioclimática): considerou-se no projeto
as condições climáticas da região onde se localiza. As soluções arquitetônicas
adotadas nesses casos consegue minimizar o consumo de energia, dentre outros
benefícios que proporciona ao ambiente. Basicamente, durante o inverno o
desconforto é devido a baixas temperaturas, enquanto nos meses de verão há excesso
de calor. Dessa forma, as principais estratégias bioclimáticas devem proporcionar
aquecimento para o inverno e ventilação para o verão. Além disso, a edificação deve
possuir inércia térmica, evitando a perda de calor de dentro para fora no inverno e a
entrada de calor de fora para dentro no verão. Dentre as medidas tomadas, cita-se a
criação dos pátios internos, para um melhor aproveitamento da luz natural e para
melhores condições de ventilação; da mesma forma, a localização de vãos na parte
superior das paredes possibilitou a remoção do ar quente, quando necessário; uso de
telhas e fechamentos translúcidos voltados para o sol para reter o calor em dias frios;
57
uso de materiais isolantes como madeira e a cerâmica para manter a temperatura
interna estabilizada; uso de aberturas baixas para permitir a circulação interna do ar
durante o verão; uso de coberturas verdes no telhado, que possuem inércia térmica,
filtram o ar e reduzem o escoamento de água da chuva;
• Tratamento de efluentes: foi proposto sistema que trata e reutiliza as águas residuais,
direcionando os efluentes tratados para manutenção dos jardins produtivos;
• Paisagismo produtivo: foi implementado um paisagismo produtivo localizado no pátio
central, servindo como interface entre os volumes edificados, integrando a arquitetura,
os usuários e a natureza. A figura abaixo ilustra algumas soluções dadas.
7.2.1.4 Vila São Judas Tadeu
Das iniciativas estudadas para este trabalho, um aspecto salta à frente em todos os
casos: as relações sociais. Parece que disso depende o sucesso ou o fracasso de qualquer
comunidade ou mesmo tecnologia, independente de motivos e origens ou por mais bem
intencionada e correta que pareça sua proposta.
Exemplo positivo que evidencia ainda mais a importância das relações é a Vila São
Judas Tadeu, em Porto Alegre, cuja formação iniciou na década de 1960 a partir da instalação
Figura 12: Planta baixa do paisagismo e vista do pátio central.
58
de famílias que trabalhavam no Hospital Sanatório Partenon, situado ao lado da vila até hoje.
A associação de moradores foi fundada nos 80, a AMOVITA (Associação de Moradores da
Vila São Judas Tadeu). O local que atualmente abriga as cerca de 700 famílias da vila é uma
área pública estadual, com processo de regularização fundiária em andamento via Ministério
das Cidades.
Com o passar do tempo, a região que antes era pouco habitada, passou a valorizar e a
sofrer forte pressão por interesses imobiliários, sendo que o ápice da tensão foi a expansão do
campus universitário da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS), vizinho à vila. A partir
desse momento iniciou-se uma série de investidas contra a vila, e até mesmo diretamente aos
moradores, com o intuito de remoção da vila. Não fosse a união e a organização dos
moradores, a vila já teria sucumbido às pressões.
Paralelamente à luta pela sobrevivência, os moradores da vila São Judas Tadeu
avançam através das dificuldades, resgatando e agregando valores no seu desenvolvimento
como organismo. Atualmente se organizam de modo a promover a geração de renda,
educação infantil e atividades com jovens, atividades beneficientes, atividades culturais,
cidadania e participação em diversos processos da cidade, vida e convivência em comunidade
e, também, buscando a consciência ambiental (OLIVEIRA, 2009).
A AMOVITA conta com uma estrutura organizacional com divisão de secretarias para
os diversos assuntos prioritários como habitação, cultura, organização e comunicação. É a
partir da Associação, onde os moradores decidem suas prioridades, que diversos projetos
ganham forma, dentre os quais destacam-se:
• Atenção Integral à Criança e ao Adolescente como Forma de Prevenção à Violência;
• Viabilização da construção da Creche Comunitária;
• Projeto de Inclusão Social: acesso à universidade pública e privada. Inclusão da Vila
no projeto de Pré-vestibular popular Quizomba. Busca de parcerias para a formação
universitária;
• Atividade para os idosos;
• Projeto Crescer e Aprender: atende crianças da vila no turno inverso ao da escola,
onde são ensinadas noções de cidadania, trabalho em grupo, solidariedade e respeito
às diferenças;
• Projeto Garantia do direito à moradia digna;
• Projeto de Inclusão Digital;
59
• Projeto Contando a História da Vila: exposição permanente de fotos, constituição de
acervo de documentos, nomes de antigos moradores(as) nas ruas, produção de um
vídeo sobre a historia da vila;
• Projeto Qualificação do Espaço Comunitário: reformas dos espaços coletivos;
• Projeto Geração de Trabalho e Renda: oficinas de artesanato e feira, cursos de
qualificação profissional;
• Projeto Socioambiental: atividades de conscientização sobre os cuidados com a
natureza e limpeza das ruas da vila. Construção de cisternas para aproveitamento da
água da chuva em banheiros e jardins.
A AMOVITA também participou do encontro Cidades em Transição, realizado em
Porto Alegre, que trouxe a experiência mundial do movimento, possibilitando a troca de
informações e o fortalecimento das iniciativas locais em favor da preservação ambiental
(OLIVEIRA, 2009).
Vê-se, nesse exemplo, como a organização e a participação efetiva das pessoas -
mesmo que com poucos recursos - pode contribuir na melhoria da qualidade de vida, ao
mesmo tempo que mantém vivo uma valor humano tão pouco valorizado nas grandes cidades,
onde a individualidade e o egoísmo predominam, que é a cooperação.
A foto abaixo mostra o plantio de uma muda de cerejeira num ato simbólico no local
escolhido para abrigar a futura creche comunitária (OLIVEIRA, 2009).
Figura 13: Plantio de árvores na vila.
60
7.2.1.5 Movimento Cidades em Transição e as redes mundiais
Ao redor do mundo centenas de iniciativas de comunidades, ecovilas e condomínios,
cujo diferencial esteja na relação entre as pessoas e o meio ambiente, se formaram nas últimas
décadas, com as mais diversas características. Boa parte delas estão unidas em uma rede
mundial, cujo objetivo é fortalecer o movimento de divulgação de experiências e tecnologias,
incentivando novas iniciativas e até mesmo governos e políticas públicas (DAWSON, 2006).
As ecovilas (comunidades intencionais com o propósito de se viver em equilíbrio com
o meio ambiente) em geral são estereotipadas com a imagem de fazendas e áreas naturais de
natureza exuberante, onde as pessoas vivem suas fantasias isoladas do resto mundo. De fato,
certas propostas requerem um contato maior com o ambiente natural, saindo do adensamento
urbano. No entanto, o que predomina são comunidades e movimentos providos de alta
tecnologia e grau de instrução e inteiramente em contato com todo o mundo, seja em meio
urbano ou no campo ou selva.
Diversos movimentos mais urbanos ganham força nesse momento histórico,
promovendo iniciativas de agricultura urbana, compostagem, jardins e paisagismo produtivos,
transportes não motorizados e uma gama de ações e ideias na busca de uma mudança de
hábitos da população, que conduza as comunidades e cidades à menor dependência de
petróleo e fontes externas e poluentes de energia, reduzindo gradativamente o consumo
desnecessário de bens e mercadorias e outros. Destaca-se, nesse caso, o movimento conhecido
mundialmente como Cidades em Transição, cuja intenção é tornar as cidades localmente mais
resilientes em termos de dependência energética, sendo o foco principal de ação a promoção
da integração das comunidades locais visando desenvolver, em conjunto, ações práticas que
levem à mudanças de hábitos (HOPKINS, 2008).
Em Porto Alegre existe um grupo organizado ligado a esse movimento mundial, o qual
reúne diversas iniciativas sociais, desde associações de bairro, cooperativas de produtores
orgânicos, organizações não governamentais, movimentos sociais até sindicatos e
universidade.
7.2.1.6 Utopia e Luta: uma comunidade vertical
Porto Alegre é palco também de outras formas de intervenção no espaço público que
buscam o equilíbrio entre os pilares social, econômico e ambiental. Assim é o caso do
movimento que conquistou o direito à moradia após invasão - e muita negociação - do antigo
61
prédio fora de uso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), na avenida Borges de
Medeiros.
Hoje o Residencial Utopia e Luta é primeiro prédio público do país destinado à
moradia popular. O projeto foi desenvolvido em parceria entre o Movimento Nacional de Luta
pela Moradia de Porto Alegre (MNLM), Cooperativa de Produção, Trabalho e Habitação Ltda
(Coopernova), o Ministério das Cidades, o INSS e a Caixa Econômica Federal.
Os apartamentos serão no formato JK. Para morar no prédio, além de passar por uma
seleção (deve-se estar disposto a conviver de acordo com as proppstas da comunidade), cada
uma das 42 famílias pagará R$ 25 mil - sem juros e diluídos em 20 anos – à Caixa Econômica
Federal (CEF).
O edifício tem nove andares, sendo que sete são de apartamentos. Cada andar é
temático. O primeiro, dedicado aos homens mais idosos, ‘Andar do Homem Novo’. A
‘Consciência Negra’, os ‘Povos Indígenas’, a ‘Juventude’, a ‘Biodiversidade’, a ‘Mulher’ e a
‘Revolução’ também dão nome aos andares.
No terraço planejou-se uma cozinha industrial, uma horta comunitária e o trabalho de
reciclagem do lixo. No térreo, o espaço destina-se para o teatro, aulas de computação e um
centro de educação infantil (creche). No subsolo do prédio é o lugar de uma lavandeira
coletiva, onde duas máquinas industriais de lavar-roupa e outras duas de secar estarão
disponíveis (CURSO CIDADES EM TRANSIÇÃO, 2009).
Enfim, em vez de cada uma das 42 famílias possuir seu próprio equipamento de lavar,
secar e cozinhar, buscou-se uma solução coletiva, reduzindo o gasto de energia e evitando a
compra de bens de consumo. Tal estratégia também é utilizada por outras comunidades com
viés ecológico, bem como o intenso convívio em torno de atividades culturais e educacionais.
Em termos de ação pelo direito à moradia, não foi encontrado exemplo similar no mundo.
Porém, em termos de concepção de comunidade que se organiza em função de preceitos
ecológicos, a iniciativa compara-se a outros movimentos ao redor do mundo.
7.2.1.7 Casarão do Arvoredo
Outro exemplo de comunidade intencionalmente constituída com vistas à levar a vida
urbana em comunhão com princípios ecológicos é o Casarão do Arvoredo. Trata-se da
ocupação de uma grande casa no centro de Porto Alegre, construída em 1927 por uma família
porto-alegrense tradicional e atualmente tombada como patrimônio histórico, onde dois
62
grupos, o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá) e o Casa Tierra (arquitetura e
agricultura ecológica na linha da permacultura), além de mais sete moradores, buscam uma
gestão coletiva do espaço (RAYMUNDO, 2009).
Esse projeto tem abrigado, desde seu início, diversas atividades culturais e de
educação ambiental, recebendo hóspedes de outros estados e países que vem em busca da
troca de experiências. O Casarão do Arvoredo conta com uma grande cozinha coletiva, onde
se busca desenvolver a culinária vegetariana; o pátio que antes estava abandonado se tornou
num jardim produtivo, agregando aspectos sociais, ambientais e culturais; o salão de uso
coletivo é onde acontecem as palestras, oficinas e outras atividades promovidas pelos
residentes da casa. A casa se tornou no ponto de encontro de diversos movimentos, culturais
ou ambientais, do Estado.
Destaca-se, ainda, como característica marcante dessa comunidade, o relacionamento
social harmonioso, inclusivo e transformador , tanto interno quanto com a vizinhança.
7.3 Mobilidade urbana: transporte humanizado
A nível mundial muitas políticas e movimentos sociais tem defendido e planejado as
cidades para as pessoas, ou seja, a humanização das cidades passa pela priorização dos
pedestres e ciclistas em detrimento dos automóveis. Incentivo ao transporte coletivo e ao uso
da bicicleta, através da criação de infraestrutura e logísticas de circulação eficientes, já
demonstraram o quanto interfere positivamente na qualidade de vida dos habitantes das
cidades.
Por outro lado, viu-se nesse trabalho que Porto Alegre tem perdido usuários do
transporte coletivo, o que parece uma contradição diante da tendência em direção oposta no
contexto mundial, ainda numa cidade onde tanto se fala em meio ambiente, berço de
personalidades como José Lutzenberger e o pioneirismo ambiental.
Concomitantemente, evidencia-se o crescimento do transporte motorizado individual,
com o aumento da frota de veículos.
Priorizar o tema da mobilidade (inclui não apenas transporte, mas toda e qualquer
circulação de pessoas) é fundamental para qualquer cidade, especialmente quando se observa
o rápido adensamento e verticalização, com a consequente saturação das vias e aumento da
poluição.
63
7.4 Produção e abastecimento de alimentos
A FAO estima que até 2015 mais de 26 cidades em todo o mundo estarão com mais de
10 milhões de habitantes. Para abastecer de alimentos essa população seria necessário
importar, pelo menos, 6 mil toneladas de alimentos todos os dias.
Esse ritmo de abastecimento por si só já revela um dispêndio energético enorme, ainda
mais sabendo-se da origem e do ciclo de vida uma série de produtos consumidos diariamente
(por exemplo, frutas e legumes que vijam centenas e até milhares de quilômetros antes de
chegar no consumidor final; o impacto da cadeia produtiva da carne).
Mundialmente a agricultura urbana vem sendo apontada como uma solução eficaz em
termos da redução do consumo energético, principalmente quando desenvolvida de forma
orgânica, livre se insumos químicos e agrotóxicos derivados de petróleo.
Em Cuba, por exemplo, quando o país enfrentou os embargos dos EUA tendo
suspensos os abastecimentos de combustíveis e alimentos, houva uma rápida adaptação que
resultou numa agricultura urbana orgânica. Hoje, cerca de 50% das hortaliças consumidas em
Cuba – com 2 milhões de habitantes – é produzida localmente e independente de insumos
externos (MORGAN, 2007).
Um cinturão verde: Porto Alegre possui a segunda maior zona rural dentre as capitais
do país, com grande potencial produtivo, sendo sua produção de hortigranjeiros a segunda
maior fornecedora da CEASA-RS (SINDICATO RURAL, 2009).
No entanto esse potencial é mal orientado e conduzido, pois reflete a dinâmica da
economia gaúcha, com forte relação de dependência com a dinâmica da economia nacional
(FEE, 2009). Além disso, existe uma tendência de crescimento da cidade para aquela região,
sendo, portanto, fortemente pressionada pela especulação imobiliária.
64
CONCLUSÃO
A maneira como uma cidade se organiza é fruto de fatores como localização, política e
economia, o que também determina o nível de influência sobre o consumo de recursos
naturais. As cidades contemporâneas, de um modo geral, surgiram e se organizaram no
entorno do padrão de produção e consumo de um sistema conceitualmente capitalista.
Historicamente o crescimento econômico tem sido acompanhado por um incremento na
desigualdade urbana em muitos países, fato observado também nas cidades brasileiras, como
é o caso de Porto Alegre, onde no ano de 2000 a unidade de desenvolvimento humano (UDH)
com maior renda per capita representava 23 vezes mais que a UDH com menor renda per
capita.
Não obstante disso, a recente experiência econômica de grandes economias em
desenvolvimento mostra que enquanto a renda per capita aumenta, a desigualdade de renda
também aumenta.
Igualmente é o acesso à moradia e oportunidades, pois população favelada mundial
cresce em 25 milhões de pessoas por ano, como revelou a ONU. Crescimento esse tão
intrigante quanto o crescimento urbano, atingindo a marca de 3,3 bilhões de pessoas residindo
em áreas urbanas, a metade da população mundial, com projeções indicando que chegará aos
70% por volta de 2050.
Como qualquer outro sistema orgânico, as cidades consomem, metabolizam e
transformam energia, água e materiais em produtos e resíduos. Portanto, à medida que a
cidade cresce, aumentam as necessidades de importação de alimentos e energia. O nível dos
impactos ambientais, no entanto, também é determinado por outros fatores importantes, como
o padrão de consumo, estilo de vida, forma e estrutura urbana.
Associado ao estilo de vida estão os hábitos de alimentação e transporte. A pecuária é
responsável por 18% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, enquanto que em áreas
urbanas metropolitanas o setor dos transportes contribui para um terço ou mais das emissões
totais de gases de efeito de estufa. A medida que aumenta a motorização a qualidade de vida
urbana é deteriorada.
Dentro desse cenário, a vulnerabilidade social e ambiental coloca todos em pé de
igualdade, independente de classe social, uma vez que a degradação e contaminação do
ambiente ou os riscos iminentes das mudanças climáticas não encontram fronteiras. Assim
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demonstram cientistas do mundo inteiro, apontando, inclusive, que as alterações climáticas
colocam em risco a própria economia mundial.
Porto Alegre, ao longo de décadas, desenvolveu projetos de modernização da cidade
privilegiando os interesses da burguesia local, fator que determinou a remodelação urbana
visando a inserção em uma ordem capitalista mundial. O desaparecimento das antigas
estruturas edificadas ou da perda de identidade e da memória coletiva não faziam parte dos
debates, a aplicação e ampliação dos capitais imobiliários prevaleciam.
A dimensão dessa característica histórica fica muito evidenciada no caso da vila do
IAPI, onde concluiu-se que os habitantes da cidade são tão importantes quanto os elementos
construtivos, pois eles também são atores do espetáculos da construção das cidades.
Muito da origem peculiar de Porto Alegre reflete-se até os dias atuais, especialmente
com relação aos anseios de uma parcela da população, a qual se deixa conduzir por uma
ordem econômica globalizada, absortas pela própria opulência.
Apesar do grande desafio de urbanizar, viver e conviver sem colocar um fardo enorme
sobre os recursos ambientais do mundo, percebe-se claramente o despertar de uma outra
ordem, trazendo mudanças e respostas às necessidades mais prementes. Vê-se as experiências
locais colocando em prática teorias, experimentando e, aos poucos, construindo modelos de
sociedade em comunhão com o meio ambiente. Das referências mundiais às referências
locais, as diversas peculiaridades constituem uma rica cadeia de trocas e experiências, onde se
vê outro mundo sendo construído e vivido. Chegou-se num ponto de convergência em que o
único impedimento à mudança necessária é o próprio livre arbítrio, ou seja, basta escolher.
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