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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL - ULBRA ÁREA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAL CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL METABOLISMO URBANO EM PORTO ALEGRE E NO MUNDO E SUAS CONSEQUÊNCIAS: RESPOSTAS DA CIDADE Cristiano Kern Hickel Canoas 2009

TCC-revisado-21-12-09

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL - ULBRA

ÁREA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAL

CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

METABOLISMO URBANO EM PORTO ALEGRE

E NO MUNDO E SUAS CONSEQUÊNCIAS:

RESPOSTAS DA CIDADE

Cristiano Kern Hickel

Canoas

2009

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CRISTIANO KERN HICKEL

METABOLISMO URBANO EM PORTO ALEGRE

E NO MUNDO E SUAS CONSEQUÊNCIAS:

RESPOSTAS DA CIDADE

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Ambiental à Universidade Luterana do Brasil, Curso de Engenharia Ambiental.

Orientador: André Loureiro Chaves

CANOAS

2009

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FOLHA DE APROVAÇÃO

CRISTIANO KERN HICKEL

METABOLISMO URBANO EM PORTO ALEGRE

E NO MUNDO E SUAS CONSEQUÊNCIAS:

RESPOSTAS DA CIDADE

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado como requisito parcial para a

obtenção do grau de Engenheiro Ambiental à Universidade Luterana do Brasil, Curso de

Engenharia Ambiental, pela seguinte banca examinadora:

___________________________________________

Prof. André Loureiro Chaves – Ulbra

___________________________________________

Prof. Diego Marques Henriques Jung – Ulbra

___________________________________________

Prof. Arlete Arruda – Ulbra

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"Nós devemos ser a mudança que desejamos ver no mundo."

M.K.Gandhi

Este documento foi produzido em software livre - BrOfficce.org.

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RESUMO

Este trabalho apresenta uma pequena perspectiva da situação atual das cidades no mundo e de Porto Alegre com relação às suas necessidades de consumo. A partir do entendimento da cidade como um organismo e sua relação e semelhança com os ciclos naturais, analisar a qualidade e quantidade de recursos necessários para a sua sobrevivência. O histórico de formação das cidades entra como elemento de comparação e entendimento do atual modo de se organizar e crescer, onde a economia globalizada protagoniza o papel principal. Dessa análise fica evidenciado um certo desequilíbrio, tanto no aspecto social quanto da preservação do meio ambiente, fruto do consumo desenfreado e todo um padrão de vida moldado por um sistema econômico voraz e pouco inclusivo. Os desequilíbrios podem ser observados do ponto de vista global, com o agravamento do efeito estufa e as alterações climáticas - que afeta a todos -, ou local, nas diferenças sociais colossais explícitas através da má distribuição de renda, habitação, alimentação e mobilidade. Como resposta de mitigação e adaptação a este cenário de incertezas e evidências, pequenas células desse grande organismo se reorganizam sem, no entanto, abandonar o seu corpo: grupos e comunidades dentro da cidade buscam, com os recursos que tem disponíveis, mudar o atual padrão de vida urbano, resgatando valores que reconectam o homem à natureza, com princípios de respeito, cooperação e menor impacto ambiental. Se valem de tecnologias e soluções disponíveis e acessíveis, desde a simples observação e imitação da natureza, edificando habitações bioclimáticas com baixo consumo energético, até o uso de eficientes equipamentos modernos.

Palavras-chave: metabolismo urbano - aquecimento global - habitação - comunidades

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................................6

1 OBJETIVOS................................................................................................................................8

1.1 Objetivo Geral......................................................................................................................8 1.2 Objetivos Específicos...........................................................................................................8

2 METODOLOGIA.........................................................................................................................9

3 ORGANIZAÇÃO DAS CIDADES............................................................................................10

3.1 A cidade gira em torno da economia...................................................................................10 3.2 Qualidade de habitação.......................................................................................................11 3.3 Crescimento urbano............................................................................................................14 3.4 Vulnerabilidade social.........................................................................................................16 3.5 Vulnerabilidade ambiental..................................................................................................18

4 METABOLISMO DAS CIDADES............................................................................................19

4.1 Aquecimento global e as mudanças climáticas...................................................................19 4.2 Contribuição das cidades para o aquecimento global.........................................................20 4.3 Consumo de energia............................................................................................................21 4.4 Consumo de combustíveis..................................................................................................22 4.5 Consumo de alimentos........................................................................................................22 4.6 Sistema econômico.............................................................................................................23 4.7 Perdas econômicas com as mudanças climáticas................................................................26

5 CENÁRIO BRASILEIRO..........................................................................................................29

5.1 Emissões da cadeia produtiva da pecuária no Brasil...........................................................29

6 METABOLISMO DA CIDADE DE PORTO ALEGRE............................................................36

6.1 Histórico de formação de Porto Alegre...............................................................................36 6.2 Consumo de energia em Porto Alegre.................................................................................38 6.3 Consumo de combustíveis..................................................................................................39

6.3.1 Frota veicular..............................................................................................................39

7 RESPOSTAS DA CIDADE AOS DESAFIOS...........................................................................43

7.1 Energia solar e as soluções bioclimáticas...........................................................................43 7.1.1 Consumo energético no aquecimento de água............................................................43 7.1.2 Consumo energético na habitação e ambiente construído...........................................45 7.1.3 Estimativa de energia fotovoltaica para suprir o consumo de Porto Alegre................48 7.1.4 Geração e distribuição de energia elétrica...................................................................50

7.2 Referências de experiências locais......................................................................................51 7.2.1 Comunidades..............................................................................................................52

7.3 Mobilidade urbana: transporte humanizado........................................................................63 7.4 Produção e abastecimento de alimentos..............................................................................64

CONCLUSÃO................................................................................................................................65

REFERÊNCIAS.............................................................................................................................67

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INTRODUÇÃO

O mundo atualmente vive um grande dilema, onde, por um lado, cientistas apontam as

causas e os riscos das mudanças climáticas ocasionadas pelo agravamento do efeito estufa e,

de outro, um voraz sistema econômico ávido por recursos naturais. Localmente pode-se

observar a crescente degradação dos ambientes naturais, dos recursos hídricos e a perda de

solo produtivo, seja pelo mau uso, exploração predatória ou emissões descontroladas.

Globalmente vê-se a pobreza generalizada e tantas calamidades ambientais.

A lógica que pauta a organização social, de um modo resumido e geral, é a de que

deve-se gerar riquezas de forma crescente. Tais riquezas são oriundas da exploração de

recursos naturais, os quais não possuem qualquer outro valor material se não enquanto recurso

passível de exploração e comercialização. Para que haja comercialização é preciso

consumidores. Percebe-se, então, um ciclo que vai da exploração ao consumo que, no entanto,

não é fechado como demais ciclos da natureza, visto que os resíduos gerados nem sempre

retornam ao início e que grande parte dos recursos explorados não se renovam (ALIER,

2007).

Ao compreender a cidade como um organismo, vê-se a grande demanda por recursos

naturais para o seu abastecimento, cujo metabolismo revela um complexo sistema de entradas

e saídas que influem na organização de todos os setores produtivos, dentro e fora dela, bem

como a sua própria. À medida que uma cidade cresce, aumenta o consumo de alimentos, a

necessidade de serviços e de deslocamentos, desencadeando, naturalmente, em maior

dispêndio energético e demanda por recursos naturais.

No ano de 2008 atingiu-se a marca inédita de 3,3 bilhões de pessoas morando em

cidades, ou seja, metade da população mundial. A urbanização em todo mundo cresce

rapidamente, cuja previsão é de que cerca de 70% da população seja urbana no ano de 2050.

O crescimento da população favelada, estimado em 25 milhões de pessoas por ano,

complementa esse quadro ao evidenciar a relação entre a economia - através da má

distribuição das riquezas geradas – e o desenvolvimento das cidades (UN-Habitat, 2008).

Uma vez estabelecido esse panorama, pode-se suscitar o questionamento: quais serão

as condições ambientais e a qualidade de vida da humanidade se caso preponderar esse

sistema por muito mais tempo? Essa pergunta remete instantaneamente à outra: como existir

com um menor impacto ambiental?

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Tendo em vista esse questionamento, o presente trabalho busca investigar os principais

impactos ambientais, a nível global, elencados em termos de emissões de gases de efeito

estufa. A partir disso, identificar o papel do Brasil dentro desse processo e, por fim, estimar a

contribuição da cidade de Porto Alegre.

Não se pretende, aqui, esgotar as possibilidades de respostas, nem mesmo esmiuçar a

totalidade de variáveis que compõe os impactos ambientais e suas emissões, mas sim

apresentar os dados estatísticos mais relevantes e acessíveis para que se possa traçar uma

perspectiva da situação atual.

Dentre os vários setores que compõe a lista dos maiores emissores, três foram

escolhidos para análise neste trabalho: energia, transporte, e alimentação. Sendo esses

desmembrados em consumo de eletricidade, o consumo de combustíveis através do transporte

urbano e a produção e consumo de carnes.

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1 OBJETIVOS

1.1 Objetivo Geral

O presente trabalho propõe uma análise do consumo energético e de recursos

ambientais na cidade de Porto Alegre, correlacionando esse dado com o modo de vida das

pessoas e a economia local e contrastando com o cenário nacional e mundial.

1.2 Objetivos Específicos

Este trabalho tem por objetivos específicos:

• Contextualizar brevemente a situação social e urbana no mundo;

• Contextualizar brevemente a situação social e urbana no Brasil;

• Problematizar o metabolismo urbano e sua relação com o aspecto histórico de

formação da cidade;

• Levantar informações a respeito do impacto ambiental da produção e consumo de

energia, carne e transporte;

• Citar e comentar acerca de experiências e tecnologias mundiais e locais apontadas

como alternativas ao problema apresentado.

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2 METODOLOGIA

Pesquisa e análise sobre dados secundários obtidos nas bases estatísticas

governamentais (federal, estadual e municipal), revisão bibliográfica nacional e estrangeira,

entrevistas coletadas in loco e/ou por correio eletrônico.

As entrevistas foram buscadas tanto para suprir ou exemplificar a análise dos dados

que estavam sendo trabalhados, quanto para enriquecer as experiências escolhidas como

estudos de caso.

Entrevistas realizadas:

1. Histórico e necessidades atuais da Vila São Judas Tadeu. As informações foram

coletadas junto a um líder comunitário durante visita informal à vila;

2. Estimativa de geração dos painéis solares fotovoltaicos. Foi solicitada informação para

estimar a quantidade de painéis solares fotovoltaicos necessários para abastecer toda a

demanda de energia elétrica de Porto Alegre. O entrevistado foi um doutor em física, o

qual desenvolve pesquisa sobre o desenvolvimento de materiais conversores de

energia solar junto ao Instituto de Química da UFRGS;

3. Orientação solar dos prédios em Porto Alegre. Foi entrevistado um mestre em

arquitetura, para o qual foi questionado sobre a orientação solar de prédios de Porto

Alegre;

4. Informações e fotos obtidas em visita ao IAPI. Foi entrevistado um morador durante

visita na Vila IAPI, o qual relatou a sua percepção sobre as intervenções realizadas nas

casas por seus proprietários e os seus diferentes interesses;

5. Iniciativas para comunidade ecológica em Porto Alegre. Foi entrevistado um ex-

integrante de uma comunidade que estava em processo de implantação na zona sul de

Porto Alegre;

6. Projeto Casarão do Arvoredo. Foi entrevistado um morador e usuário do espaço, para

o qual foi solicitado uma descrição do projeto e das atividades desenvolvidas

atualmente.

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3 ORGANIZAÇÃO DAS CIDADES

A maneira como uma cidade se organiza, incluindo fatores como localização, política

e economia, tem forte influência sobre o consumo de recursos naturais. Neste capítulo será

analisado, brevemente, a formação e organização das cidades e sua relação com a política e o

sistema econômico.

3.1 A cidade gira em torno da economia

As cidades contemporâneas, de um modo geral, surgiram e se organizaram como

testemunhos do padrão de produção e consumo de um sistema conceitualmente capitalista, ou

seja, sociedades imbuídas de competitividade e cujos hábitos e valores morais são moldados

radicalmente de acordo com a ordem econômica do momento. Sendo a produção de bens de

consumo o alicerce desse sistema, pode-se deduzir, para que haja crescimento econômico, se

faz necessário consumir o que se produz. Ou seja, consumir recursos ambientais. Dessa lógica

decorre uma série de consequências, mas tem-se que o cerne dos conflitos é proveniente da

expansão da produção sobre uma base material que não se expande e que está distribuída pelo

planeta segundo processos naturais (ALIER, 2007).

Ainda, conforme Alier (2007), conflitos ambientais serão cada vez mais frequentes no

mundo contemporâneo, principalmente devido ao aumento de tensões pelo acesso a recursos

naturais. A produção de mercadorias em larga escala estimula a confrontação pelo uso da

natureza, visto que ela foi transformada em recurso para acumulação capitalista. A produção

contemporânea exige, em função da quantidade requerida de recursos naturais, uma

exploração da natureza sem precedentes. O uso crescente vai tornar alguns recursos naturais

raros e cada vez mais estratégicos. O controle de sua extração e beneficiamento será

disputado.

Embora não seja possível determinar um padrão de crescimento e desenvolvimento

igual para todas as cidades, é comum entre todas que a concentração urbana acarreta em

maior dispêndio energético. Logo, na medida em que a humanidade se torna cada vez mais

urbana, estaremos caminhando na direção de economias que requisitam quantidades maiores

de energia e de materiais per capita (ALIER, 2007).

No caso do Brasil, existe forte concentração da renda no campo, decorrente das

condições e o tipo de inserção do país na divisão internacional do trabalho, o que limita a

expansão do setor urbano-industrial. Essas condições estão na raiz dos fortes desequilíbrios

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distributivos observados no processo de urbanização no Brasil. O êxodo rural configurou-se,

então, de forma crescente, como um êxodo de refugiados do campo, ao contrário do que

ocorreu nos EUA e na Europa, onde os fatores de atração predominaram sobre os fatores de

expulsão. As consequências sócio-econômicas desse processo são conhecidas (favelização,

sub-empregos, crescimento urbano desordenado, etc.). Os que permaneceram no campo

continuaram em situação precária, sem acesso ou com acesso limitado à terra, à educação e

demais serviços de infra-estrutura social e aos benefícios da política agrícola (BUAINAIN,

2003).

A relação campo-cidade é indissociável de qualquer análise política e social do meio

urbano, supostamente pelas consequências da migração do campo para a cidade, mas também

porque a economia urbana jamais é auto-suficiente dado que uma das atividades produtivas

mais essenciais não pode ser desenvolvida em seu seio: a produção de alimentos. Portanto, a

investigação da economia citadina pressupõe o exame de uma área mais ampla, dentro da qual

se dá a divisão de trabalho entre a agricultura e os setores produtivos que se localizam na

cidade. Logo, este metabolismo econômico entre campo e cidade exige uma análise mais

abrangente do que a cidade propriamente dita (SINGER, 1997).

Sendo assim, é ilusório supor que o desenvolvimento ocorre em um ou alguns pontos

do território, deixando o resto intocado. O desenvolvimento se dá em toda economia, porém,

com certas contradições: enquanto industrializa a parte privilegiada do país, reduz ainda mais

as outras à condição de produtores especializados de alimentos ou matérias-primas, privando-

as de grande parte do seu excedente acumulável e da melhor parte de sua mão-de-obra

(SINGER, 1997).

3.2 Qualidade de habitação

Singer (apud MARICATO, 1979) ao estudar a evolução da cidade no aspecto

imobiliário, revela que os programas de renovação urbana, embora não se possa generalizar,

indubitavelmente têm por resultado mais comum a recuperação das áreas em deterioração

para o uso das camadas média ou rica e das empresas que lhes prestam serviços. Os antigos

moradores destas áreas nada ganham com a renovação. Não tendo poder aquisitivo para

continuar na zona renovada, são obrigados a se mudar, o que implica muitas vezes em maior

distância do trabalho, pagamento de aluguel mais elevado (a renovação urbana reduz a oferta

de alojamentos baratos) e a perda de relações de vizinhança, o que, para pessoas pobres e

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desamparadas, pode ser o prejuízo mais trágico. Em última análise, conclui Singer, “a cidade

capitalista não tem lugar para os pobres”.

Singer relata, ainda, que programas de renovação urbana são muitas vezes justificados

como meio de ajudar os pobres, mas na realidade são as famílias pobres e os pequenos

negócios as principais vítimas.

Como consequência dessas relações, observa-se a crescente quantidade de pessoas

residindo em sub-moradias e muitas vezes sem acesso a saneamento básico. Em 2003 a ONU,

através do programa UN-Habitat, divulgou que a população favelada mundial cresce em 25

milhões de pessoas por ano, dado também citado por Davis (2007).

A tabela 1 abaixo mostra a percentagem da população morando em favelas por região

no mundo.

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Tabela 1: População urbana e favelada mundial.

Região População

Urbana (mil hab)

2005a

Porcentagem da população urbana

morando em favelas (%) 2005b

População

Favelada (mil hab)

2005cPaíses em

desenvolvimento 2.219.811 36,5 81.044África do Norte 82.809 14,5 12.003África Sub-Saara 264.355 62,5 164.531América Latina e

Caribe 434.432 27,0 117.439Leste Asiático 593.301 36,5 216.436Sul Asiático 468.668 42,9 201.185Sudoeste Asiático 243.724 27,5 67.074Oeste Asiático 130.368 24,0 31.254Oceania 2.153 24,1 519Fonte: UN_HABITAT Global Urban Observatory, 2008.

Notas: a: United Nations Population Division, World Urbanization Prospects: Revisão 2005.

b: População vivendo em domicílios com pelo menos um dos itens em forma pracária: água, saneamento, área

suficiente (mais de três pessoas por cômodo), ou moradia durável.

c: A estimativa da Revisão 2005 é baseada numa mudança de definição sobre saneamento adequado, conforme

definido pelo WHO e UNICEF em 2005, e endossado pelos membros da Slum Peer Review, os quais incluem

UN-HABITAT, o Banco Mundial, UNFPA, UN Statistics Division e várias universidades.

A desigualdade também é notável na distribuição de renda, fato observado em quase

todas as cidades brasileiras, inclusive - e principalmente - nas capitais, como em Porto Alegre,

onde no ano de 2000 a unidade de desenvolvimento humano (UDH) com maior renda per

capita representava 23 vezes mais que a UDH com menor renda per capita. Sendo o cálculo

da renda per capta uma média, deduz-se que a maior renda é ainda muitas vezes maior que a

menor (PMPA et al., 2008).

Acontece, ainda, que a formação urbana irregular, protagonizada principalmente por

essa parcela da população de baixo poder aquisitivo, ocupa áreas de interesse de preservação

ambiental, tal como encostas de morro, entorno de nascentes e córregos, áreas verdes. Tem-se,

com isso, dentre tantas implicações, um agravante no impacto ambiental causado pela

expansão urbana desordenada.

Em Porto Alegre essa realidade foi demonstrada através do estudo de Anton e Moraes

(PMHIS, 2005), cujo resultado apontou a existência de 486 núcleos e vilas irregulares no

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município.

3.3 Crescimento urbano

O mundo é agora urbano. No ano de 2008 a humanidade atingiu uma marca inédita:

pela primeira vez na história metade da população mundial, ou 3,3 bilhões de pessoas, vive

em áreas urbanas. Globalmente, o nível de urbanização crescerá dramaticamente nos

próximos 40 anos atingindo 70% no ano de 2050 (UN-Habitat, 2008).

Nas últimas duas décadas, a população urbana dos países em desenvolvimento cresceu

à média de 3 milhões de pessoas por semana. Em meados do século 21 a população urbana

total dos países em desenvolvimento irá mais que dobrar, indo dos 2,3 bilhões em 2005 para

5,3 bilhões em 2050 (UN-Habitat, 2008).

Por volta do ano de 2050 a Ásia abrigará 63% da população urbana global, ou 3,3

bilhões de pessoas; A África terá uma população urbana de 1,2 bilhões, ou próximo a 1/4 da

população urbana mundial. Ao todo, 95% do crescimento da população urbana mundial nas

próximas quatro décadas será absorvido por cidades dos países em desenvolvimento. Em

média, as cidades dos países em desenvolvimento cresceram à taxa anual de 2,5% de 1990 a

2000. Nessa taxa, a população urbana dos países em desenvolvimento irá dobrar em 29 anos.

A região mais urbanizada nos países em desenvolvimento é América Latina e Caribe,

com 77% da sua população vivendo em áreas urbanas. A região continuará urbanizando-se

pelas próximas duas décadas, quando a proporção da população urbana atingirá 85%.

O desenvolvimento urbano na América Latina e Caribe tem sido caracterizado por um

alto grau de primazia urbana, com grande proporção da população urbana residindo nas

maiores cidades. Em 2000, um quinto da população urbana total da região morava em grandes

cidades com mais de 5 milhões de habitantes. Além disso, entre as 14 aglomerações urbanas

mais populosas do mundo, quatro estão localizadas nessa região: São Paulo, Cidade do

México, Buenos Aires e Rio de Janeiro.

O crescimento das favelas diminuiu em alguns países entre 1980 e 1990, quando o

processo de redemocratização resultou na adoção de políticas progressistas com vistas a

promover uma governança mais inclusiva e a redução das desigualdades. No entanto, um fator

marcante na tumultuada história econômica e política da região da América Latina e Caribe é

a persistência da pobreza em massa diante da enorme riqueza. A região continua a ter a maior

desigualdade de renda no mundo, o que dificulta o seu potencial para alcançar um

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desenvolvimento urbano harmonioso.

O crescimento urbano é o resultado da combinação dos fatores: localização geográfica,

crescimento populacional natural, migração rural-para-urbano, desenvolvimento de

infraestrutura, políticas governamentais, estratégias corporativas, e outras forças políticas e

econômicas maiores, incluindo a globalização.

Contrariamente à percepção comum, a migração das zonas rurais para as urbanas não é

mais o fator dominante determinante do crescimento urbano nos países em desenvolvimento.

Em termos demográficos, a causa principal do crescimento urbano na maioria dos países é o

aumento natural - quando os nascimentos ultrapassam as mortes. Estimativas das Nações

Unidas indicam que o aumento natural representa cerca de 60% do crescimento das

populações urbanas (UN-Habitat, 2008).

Determinantes demográficos que perfazem os restantes 40% do crescimento urbano

são as migrações, tanto intra-nacional (rural para urbano e urbano para urbano) e

internacional, e a transformação dos assentamentos rurais em zonas urbanas, um processo

conhecido como "reclassificação".

Na análise da UN-HABITAT acerca das causas e efeitos do crescimento populacional

em uma amostra de 24.515 das cidades que mais cresceram nos países em desenvolvimento

(cidades que crescem a uma taxa média anual de mais de 2%) entre 1990 e 2000, mostra que

as forças impulsionadoras do crescimento urbano são muitas vezes complexas e sobrepostas.

Entretanto, essa análise levou à identificação dos três mais importantes motores do

crescimento urbano na África, Ásia e América Latina e Caribe:

1. As políticas econômicas e industriais (ou seja, criação de zonas econômicas especiais,

industrialização e promoção de exportações) e investimentos estratégicos relacionados

em duas áreas-chave: infraestrutura de transportes e comunicações e de setores de

serviços comerciais;

2. Melhorias na qualidade de vida nas cidades (serviços básicos, transporte, áreas verdes,

equipamentos públicos); e

3. Alterações na estrutura jurídica e/ou administrativa das áreas urbanas.

Entre 1990 e 2000, a urbanização das regiões em desenvolvimento foi caracterizada

pela entrada de novas cidades que não existiam como tal antes. Esta constelação de 694 novas

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cidades começaram como cidades rurais e tornaram-se zonas urbanas em virtude de alterações

no seu estatuto administrativo, no crescimento natural ou na imigração.

Não apenas o número de cidades cresceu, mas muitas das já existentes se tornaram

maiores: 122 pequenas cidades (13%) tornaram-se cidades intermediárias ou grandes; 66

cidades intermediárias (23%) tornaram-se grandes ou muito grandes; e 10 grandes cidades

(5%) tornaram-se muito grandes.

Essas mudanças não são apenas uma questão de números - elas também representam

uma mudança qualitativa na percepção "pequena", "intermediária" e "grande" em termos de

tamanho da cidade ao longo do tempo. O surgimento de aglomerações urbanas "hiper-

grandes" ou "meta-cidade" com mais de 20 milhões de habitantes levou a uma mudança

fundamental nas concepções de tamanho da cidade.

A tabela abaixo mostra o número e a população de novas cidades estabelecidas desde

1990 em várias regiões no mundo.

Tabela 2: População em novas cidades estabelecidas desde 1990.

Região Novas cidades

pequenas

Novas cidades

intermediárias

Novas cidades

grandes

Total

Número População Número População Número População Número População

África 44 6.335.094 1 523.265 0 0 45 6.858.359

Am. Latina e

Caribe 171 27.138.867 6 3.930.127 2 3.008.885 179 34.077.879

Ásia 295 60.825.858 125 86.595.611 50 65.491.865 470 212.913.334

Exclui China &

Índia 72 13.374.321 5 3.109.207 0 0 77 16.483.528

China 78 26.331.991 119 82.966.103 49 64.485.448 246 173.783.542

Índia 145 21.119.546 1 520.301 1 1.006.417 147 22.646.264

TOTAL 510 94.299.819 132 91.049.003 52 68.500.750 694 253.849.572Fonte: UN-HABITAT Global Urban Observatory 2008. Data source: UN Demographic Yearbooks, various years

(1985 - 2004).

3.4 Vulnerabilidade social

Regionalmente, África e América Latina tem o nível mais alto do mundo de

iniquidade, com a maioria dos países e cidades experienciando amplas disparidades entre o

rico e o pobre. Em ambas regiões, a quinta parte mas pobre da população responde por apenas

3% do consumo nacional.

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A sociedade não pode esperar por harmonia se grandes porções de sua população são

privadas das necessidades básicas enquanto outros vivem na opulência. Uma cidade não pode

ser harmoniosa se alguns grupos concentram recursos e oportunidades enquanto outros

permanecem empobrecidos (UN-Habitat, 2008).

A análise de UN-HABITAT sobre a iniquidade urbana em 28 países em

desenvolvimento mostrou que o crescimento econômico positivo desde o início dos anos 1980

tem sido acompanhado por um incremento na desigualdade urbana em 43% dos países.

Não obstante a isso, a recente experiência econômica de grandes economias em

desenvolvimento mostra que enquanto a renda per capita aumenta, a desigualdade de renda

também aumenta.

Na América Latina e Caribe, apenas 5% da população recebe um quarto de toda a

renda nacional, em comparação com países do Sudeste asiático, onde os 5% mais ricos

recebem 16% de toda a renda nacional, e os países desenvolvidos, onde os 5% mais ricos

recebem 13%. Enquanto isso, os 30% mais pobres da população da América Latina e Caribe

recebem apenas 7,5% do rendimento nacional, uma figura que não é comparável a qualquer

outra parte do mundo; mesmo nas sociedades mais desiguais, os grupos mais pobres

normalmente recebem pelo menos 10% do rendimento nacional.

UN-HABITAT utilizou um índice chamado Coeficiente Gini para avaliar a

desigualdade urbana através da análise de renda e consumo, onde o Brasil é apontado com a

maior desigualdade dentre os países em desenvolvimento. Neste índice, zero indica a

igualdade perfeita, enquanto 1 indica a iniquidade perfeita, sendo a linha intermediária o valor

0,4, “linha de alerta”. No ano de 2005 a Colômbia se encontrava com um coeficiente Gini de

0,59, o Chile 0,52, o México 0,50, o Uruguai 0,45, enquanto o Brasil com 0,60 (valor

considerado extremamente alto pelos padrões internacionais).

Assim, além de criar uma maior vulnerabilidade social, limitando o acesso aos

serviços básicos, serviços públicos e oportunidades, as desigualdades são cada vez mais

associadas à tensões sociais, conflitos e diferentes formas de agitação social. Conflitos desta

natureza causam destruição da infra-estrutura e bens e significativas perdas de capital humano

através da morte, o deslocamento e migração forçada. Em suma, conflitos retrocedem o

relógio do desenvolvimento em vários anos.

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3.5 Vulnerabilidade ambiental

Se por um lado o assentamento de populações mais pobres é vulnerável

ambientalmente por instalar-se em locais inadequados, como beira de rios e córregos e

encostas de morros, além da falta de saneamento, por outro a cidade como um todo pode

correr certo risco ambiental, independente de classe social ou condições de moradia.

Em outubro de 2009, diversos cientistas e profissionais brasileiros e estrangeiros

ligados à Climatologia reuniram-se para debater acerca de eventos extremos e os riscos

associados às mudanças climáticas. Dessa reunião resultou um documento intitulado Carta de

Canela, cujo conteúdo demonstra a preocupação da comunidade frente às iminentes

modificações das condições climáticas.

Concluíram nessa carta, os cientistas, que a economia brasileira é baseada em recursos

naturais, os quais dependem do clima, tal como as fontes de energia, agricultura e

biodiversidade, ambas vulneráveis às mudanças do clima. Eventos extremos, como as secas,

enchentes e furacões observados no Brasil nos últimos anos mostram que o país é vulnerável

às variações do clima.

Relatou-se, ainda, que projeções e cenários climáticos estimados até o final do século

XXI, gerados por modelos matemáticos, indicam que o território brasileiro sofrerá impactos

em consequência do aumento da frequência e da intensidade de eventos extremos (SBMET,

2009).

Como foi visto nos capítulos anteriores, quanto maior a cidade, maior é o seu consumo

energético e a necessidade de importação de alimentos. Tudo isso a torna dependente de

fontes externas, por sua vez dependentes de acessos viários ou portuários, de abastecimento

de energia elétrica e combustíveis. Qualquer rompimento num eixo dessa cadeia pode

desencadear significativos prejuízos à população. Sendo o Brasil um país cuja energia elétrica

é gerada e distribuída de forma centralizada, por exemplo, fica evidente que qualquer falha ou

acidente no abastecimento da rede afetará grandes regiões simultaneamente.

Outro exemplo de vulnerabilidade ocasionado pelas mudanças no clima, que não vê

fronteiras nem distingue classe social, é o surgimento de doenças tropicais onde o clima é

mais frio em função do aumento do nível médio de temperatura, tal como febre amarela,

malária e encefalite (IPCC, 2007).

Vê-se, portanto, que a vulnerabilidade ambiental é muito ampla e, dentro desse

contexto, diz respeito a todos, sugerindo a necessidade de atitudes de adaptação e mitigação.

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4 METABOLISMO DAS CIDADES

Como qualquer outro sistema orgânico, as cidades consomem, metabolizam e

transformam energia, água e materiais em produtos e resíduos. Um estudo de UN-Habitat

(2008) mostra claramente que não é o nível de urbanização num país ou o tamanho da cidade

que determina a quantidade de emissão de gases de efeito estufa per capita; o nível de

emissões é determinado por outros fatores, tal como o padrão de consumo, estilo de vida,

forma e estrutura urbana e políticas ambientais.

Portanto, e tendo em vista que o consumo de energia é o principal fator de

contribuição de gases de efeito estufa, é importante entender quais setores consomem a maior

parcela de energia para que se possa tomar as ações de remediação apropriadas para redução

dessas emissões. Seria muito útil, como sugere o relatório UN-Habitat da ONU, compreender

as cidades como sistemas orgânicos que têm o seu próprio metabolismo.

O metabolismo de uma cidade envolve os insumos - energia, água e materiais - que

são consumidos e transformados em resíduos e bens (as saídas). Tal como qualquer sistema

termodinâmico, o consumo urbano de energia pode ser mais ou menos eficiente. Uma cidade

ecologicamente bem sucedida e energeticamente eficiente deveria, idealmente, combinar

crescimento econômico com equidade social e a mínima geração de resíduos (incluindo

emissão de gases de efeito estufa).

Nesse sentido, para atender a padrões mínimos com relação aos resíduos, as cidades

devem preencher dois pré-requisitos: minimização do uso de combustíveis fósseis e insumos

materiais; e maximização da reciclagem e reaproveitamento de energia, água e materiais. A

necessidade para um desenvolvimento urbano equilibrado, exige, portanto, que as cidades

funcionem como um metabolismo circular, em vez de um linear.

4.1 Aquecimento global e as mudanças climáticas

A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, aprovada em

1992, define o fenômeno Mudanças Climáticas Globais como "Mudança que possa ser direta

ou indiretamente atribuída à atividade humana, que altere a composição da atmosfera mundial

e que se some àquela provocada pela variabilidade climática natural observada ao longo de

períodos comparáveis" (FURRIELA, 2006).

Segundo o Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC), o aumento da

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19

concentração de gases de efeito estufa na atmosfera do planeta, resultante de atividades

antrópicas, está alterando a variabilidade natural do clima e causando uma mudança climática

global irreversível. Tais alterações são consequências do aumento do nível médio da

temperatura. Esse desarranjo provoca alterações nos padrões de chuvas, aumentando a

possibilidade de secas em certas regiões e alagamentos em outras, aumenta a ocorrência de

tempestades fortes e eventos extremos e, além de tudo, está provocando o derretimento da

calota polar e geleiras, o que acarreta no aumento do nível do mar (IPCC, 2007).

Todas as nações do mundo têm consciência da gravidade da situação e, dentro do

possível dos interesses políticos e econômicos, buscam diminuir suas emissões de gases de

efeito estufa.

4.2 Contribuição das cidades para o aquecimento global

A contribuição das cidades para o aquecimento global deriva, basicamente, dos

processos de combustão (produção de energia). Porém, a energia desempenha um papel vital

sustentando o metabolismo das cidades. Agricultura, a qual sustenta tanto as populações rurais

quanto as urbanas, por exemplo, também contribui para as emissões de gases de efeito estufa.

Mudança de uso do solo (para urbanização ou cultivo) e agricultura combinados, representam

mais de 30% das emissões globais de gases de efeito estufa (UN-HABITAT, 2008).

Enquanto cidades da América Latina geralmente produzem baixas emissões de CO2,

individualmente países da região, como o Brasil, estão entre as 20 maiores emissores de CO2

a nível mundial. Em 2000, a América Latina foi responsável por 12 por cento das emissões

globais de CO2, com mudança de uso da terra e desmatamento representando cerca de metade

destas emissões. Na região as emissões de metano de origem antropogênica (pecuária,

produção e consumo de combustíveis fósseis) representam 9,3 por cento do total mundial.

Brasil, México, Venezuela, Argentina, Colômbia e Peru são responsáveis por mais de 80 por

cento das emissões de gases de efeito estufa na América Latina e Caribe. O gráfico abaixo

ilustra as emissões per capita no mundo.

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4.3 Consumo de energia

Nos 10 anos entre 1980 e 1990 a humanidade consumiu metade da energia que se usou

nos 180 anos anteriores (ANGELO, 2008).

O consumo de energia costuma ser associado ao grau de desenvolvimento de um país.

Entretanto, a produção, o consumo e os subprodutos resultantes da oferta de energia exercem

pressões sobre o meio ambiente e os recursos naturais.

Estudos indicam que se pode utilizar o consumo de energia per capita como um

indicador dos níveis de desenvolvimento de determinada região. Na maioria dos países nos

quais o consumo de energia potencial per capita está abaixo de uma tonelada equivalente de

petróleo (tEP) por ano, as taxas de analfabetismo, mortalidade infantil e fertilidade são altas,

enquanto a expectativa de vida é baixa. Ultrapassar a barreira de 1 tEP per capita parece ser

determinante para o desenvolvimento. Por exemplo, nos países industrializados da União

Européia, o consumo médio é de 3,22 tEP per capita, enquanto a média mundial é de 1,66 tEP

per capita (SEPLAG, 2009).

Figura 1: Emissões de CO2 per capita em cidades do mundo.

San Dieg

o (20

04)

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04)

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8

10

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11,7

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4,84 3,8

2,92,3

1,5

Emissões per capitaC

O2

per c

apita

(ton

elad

as)

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21

4.4 Consumo de combustíveis

Estimativas do Banco Mundial indicam que em áreas urbanas metropolitanas o setor

dos transportes contribui para um terço ou mais das emissões totais de gases de efeito de

estufa. A crescente necessidade de energia que os países enfrentam nesse setor, especialmente

nos transportes urbanos em países em desenvolvimento, representa um grande desafio em

termos de segurança energética e externalidades ambientais associadas às emissões. O

crescimento das cidades secundárias e a expansão urbana, dentro e na periferia das

metrópoles, contribuem para a pressão sobre as redes de transportes urbanos. A tendência de

aumento da motorização, em todas as suas formas, implica em viagens mais demoradas para o

transporte público de superfície - que por sua vez, induz a maior uso de automóveis e táxi -

consequentemente a segurança rodoviária é prejudicada, o consumo de combustível aumenta,

e a qualidade de vida urbana é deteriorada.

Com relação ao setor energético e transportes, Stern (2007) avalia que as emissões

podem ser reduzidas mediante o aumento da eficácia energética, com alterações na procura e

a adoção de tecnologias limpas em matéria de energia, produção de calor e transportes. O

setor de energia a nível mundial necessitaria reduzir suas emissões em, no mínimo, 60% até

2050 para que as concentrações atmosféricas se estabilizassem numa certa faixa de segurança

bastante pessimista (considerando também significativas reduções de emissões no setor de

transportes).

4.5 Consumo de alimentos

Estudos recentes da FAO retomaram o tema da ameaça que a pecuária implica para o

meio ambiente, fato conhecido desde muito tempo e que não deve ser subestimado,

especialmente com a crescente demanda mundial e os novos dilemas relacionados com o

aquecimento global.

De acordo com Relatório Síntese para as mudanças climáticas publicado pelo IPCC

em novembro de 2007, o setor da agricultura contribui em 13,5% nas emissões de gases de

efeito estufa, ficando atrás dos setores desmatamento (silvicultura), indústria e energia (IPCC,

2007). Apesar de otimista (vide dados da FAO: STEINFELD, 2006), essa estimativa já aponta

fortes indícios de que o nosso modo de produzir alimentos não vai bem.

Já em estudo produzido pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a

Alimentação (FAO), coordenado por Henning Steinfeld poucos meses antes da divulgação do

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relatório do IPCC, essa contribuição das emissões por setor foi mais detalhada e

profundamente investigada, especificamente para a questão da alimentação. O estudo revelou

a associação entre a pecuária e o aquecimento global, apontando que a pecuária é responsável

por 18% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) quando considerados outros fatores da

cadeia produtiva como alteração no uso do solo, processos de produção de ração, manuseio de

esterco, processamento da carne, transporte (STEINFELD, 2006).

Soma-se a esse estudo dados que apontam que entre 40 e 50% de todos cereais

produzidos no mundo são destinados para alimentação de animais de abate, sendo que no caso

da soja chega a 75% (AIKING, 2009).

Outra correlação possível diz que são necessários 7 kg de grãos, como milho e soja

para produzir 1 kg de carne. Considerando que o americano comum come 124 kg de carne por

ano, equivale dizer, então, que devem ser contabilizados 868 kg de grãos além do consumo

direto (NIERENBERG, 2009).

Em termos mundiais, em função de uma série de conjunturas políticas e tecnológicas

ocorridas na última metade do século anterior, uma investigação da FAO aponta que entre os

anos de 1950 e 2000 a população mundial aumentou menos de 3 vezes, de 2,6 bilhões para 6

bilhões de pessoas, enquanto que a produção de carne aumentou em mais de 5 vezes: de 45

para 233 bilhões de quilos/ano.

A FAO alerta para um caso de epidemiologia, pois além dos impactos diretos ao meio

ambiente e a contribuição para o aquecimento global, o aumento da produção dos diferentes

tipos de carne também incrementa o risco de transmissão de enfermidades dos animais aos

homens.

4.6 Sistema econômico

Criticar o sistema econômico dominante do último século pareceria uma tolice

afirmam Gary Gardner e Thomas Prugh (WWI, 2008), levando-se em consideração o conforto

sem precedentes e outras conveniências obtidos pela humanidade nesse período. A produção

econômica global aumentou cerca de 18 vezes entre 1900 e 2000. A expectativa de vida saltou

à frente, nos Estados Unidos de 47 a quase 76 anos. Doenças mortais, tais como pneumonia e

tuberculose foram controlados. Do campo às máquinas que substituem a labuta, enquanto os

carros, aviões, computadores, e telefones celulares estimularam outras frentes de trabalho e

novas opções de estilo de vida. As maravilhas do sistema parecem evidentes.

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No entanto, complementam eles, para todos os seus sucessos, certos sinais sugerem

que o sistema econômico convencional está com problemas graves e que necessitam de

transformação. Algumas evidências apontadas estão nos efeitos secundários da atividade

econômica moderna recente.

Níveis de dióxido de carbono atmosférico estão em seu nível mais elevado em 650.000

anos, a temperatura média da Terra a mais alta em milhões de anos, e o Oceano Ártico poderá

estar pela primeira vez completamente sem gelo já em 2020 - estudos posteriores à esta

publicação antecipam o fato para 2013 (MASLOWSKI et al, 2008); Quase um em cada seis

espécies de mamíferos europeus está ameaçada de extinção, enquanto as espécies marinhas

atualmente pescadas poderão entrar em colapso até 2050; A poluição atmosférica urbana

provoca 2 milhões de mortes prematuras a cada ano; O declínio da população de abelhas,

morcegos e outros polinizadores de vital importância está comprometendo culturas agrícolas e

ecossistemas; diversos impactos sociais, desde a parcela da população de 2,5 bilhões de

pessoas vivendo com US$ 2 ou menos por dia, ao rápido avanço da obesidade e as doenças

relacionadas, entre outros.

Lester Brown escreveu sua obra baseado em três grandes evidências. A primeira diz

respeito que não estamos conseguindo reverter o quadro no sentido de salvar o planeta. A

segunda, de que é preciso uma visão de como seria uma economia ambientalmente

sustentável, a qual ele denomina de uma eco-economia. A terceira é de que necessitamos de

um novo tipo de organização de pesquisa, de forma que ofereça não apenas uma visão de uma

eco-economia, mas também avaliações constantes do avanço na concretização dessa visão

(BROWN, 2003).

Brown descreve a situação atual como uma economia autodestrutiva, no sentido de

que suas ações não levam em conta a finitude dos recursos explorados nem tampouco os seus

impactos. Analisa que os indicadores econômicos do último meio século revelam um

progresso extraordinário: o crescimento da economia em sete vezes, entre 1950 e 2000; o

comércio internacional cresceu mais rapidamente ainda; o Índice Dow-Jones, indicador

largamente utilizado para as ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova York, subiu de

3.000 em 1990 para 11.000 em 2000. Era difícil não ficar otimista quanto às perspectivas

econômicas de longo prazo, ao se iniciar o novo século.

O que ninguém contava é que esse otimismo desapareceria se houvesse uma análise

dos indicadores ecológicos. Cada indicador global estava orientado na direção errada. As

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políticas econômicas que geraram o crescimento extraordinário da economia mundial são as

mesmas que estão destruindo seus sistemas de apoio. Um manejo inadequado está destruindo

florestas, pradarias, pesqueiros e terras agrícolas.

A partir deste espectro, Brown dá uma percepção precisa de que embora se viva numa

sociedade urbana de alta tecnologia, ainda assim depende-se dos sistemas naturais da mesma

forma que nossos ancestrais dependiam. Com isso demonstra que a nossa economia em

expansão, como hora está estruturada, está destruindo nossos sistemas de apoio, consumindo

seu capital natural e cujas demandas estão suplantando os ecossistemas.

Num estudo sobre o colapso de civilizações, Joseph Tainter (também citado por

Brown) discorre sobre as diversas causas que influenciaram no declínio de civilizações ao

longo da história. Segundo o autor, a deterioração ambiental foi a causa do colapso de várias

civilizações, apontando como os dois maiores fatores ao longo dos tempos: a gradual

deterioração ou depleção de uma base de recursos (usualmente a agricultura) causado pela má

gestão humana, e uma mais rápida perda de recursos devido a flutuações ambientais ou

mudança climática (TAINTER, 1990).

Embora não se fale em civilizações a nível planetário do mesmo porte da atual -

comparando Tainter e Brown - pode-se juntar os fatos e perceber que numa economia global

cada vez mais integrada, o colapso de ecossistemas poderá ter consequências econômicas

também globais.

Ao analisar a relação entre ecologia e economia, para assim compreender melhor a

pressão da existência humana sobre o meio ambiente, pode-se partir de um estudo de caso

muito recente na nossa história, a China.

Com um apanhado de dados sobre a China, Brown demonstra a perversidade de uma

economia de consumo global e o que acontece quando um grande número de pessoas pobres

se torna repentinamente mais abastado. À medida que a renda cresceu na China, também o

consumo aumentou. Os chineses já alcançaram os americanos no consumo per capita de carne

suína, e agora concentram suas energias em aumentar a produção da carne bovina. No

entanto, para elevar o consumo per capita da carne bovina na China aos níveis do americano

médio, seriam necessários 49 milhões de toneladas adicionais. Se tudo isto fosse produzido

com gado confinado, no estilo americano, seriam necessárias 343 milhões de toneladas anuais

de grãos, um volume igual a toda a colheita dos Estados Unidos. Por outro lado, caso a China

resolvesse obter sua proteína animal no mar, precisaria de 100 milhões de toneladas de frutos

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25

do mar - equivalente a todo o pescado mundial.

Enquanto a questão da alimentação possa ser justificada pela grande massa humana

daquele país, certos bens de consumo estão diretamente relacionados ao estilo de vida

(consumo). Em 1994, o governo chinês decidiu que o país desenvolveria um sistema de

transportes centrado no automóvel e que a indústria automotiva seria um dos impulsionadores

do futuro crescimento econômico. Beijing convidou grandes montadoras como Volkswagen,

General Motors e Toyota a investirem na China. O objetivo era de que cada chinês possuísse

um ou dois carros e consumisse petróleo no ritmo dos Estados Unidos - se a idéia se

concretizasse a China necessitaria de mais de 80 milhões de barris de petróleo ao dia -

ligeiramente superior aos 74 milhões de barris diários que o mundo produz atualmente (dados

de 2003). Além disso, a fim de oferecer as vias e estacionamentos necessários, precisaria

também pavimentar cerca de 16 milhões de hectares de terra, uma área equivalente à mais da

metade dos 31 milhões de hectares de terra atualmente produzindo a safra anual de 132

milhões de toneladas de arroz, seu alimento básico.

Destaca-se ainda o eventual crescimento no consumo de papel, o qual caso aumentasse

dos 35 quilos anuais per capita, para o nível dos Estados Unidos, de 342 quilos, a China

necessitaria de mais papel do que o mundo produz atualmente.

Dessa forma, Brown conclui que a China está demonstrando que o mundo não poderá

continuar mais seguindo o caminho econômico atual. Está (este exemplo) enfatizando a

urgência para reestruturarmos a economia global, construindo uma nova economia, "uma

economia projetada para a Terra" (BROWN, 2003).

Brown indaga, por fim, como poderemos realizar esta transformação econômica

quando todos os tomadores de decisões econômicas - líderes políticos, planejadores

corporativos, banqueiros de investimento ou consumidores individuais - são orientados por

sinais do mercado e não pelos princípios da sustentabilidade ecológica?

4.7 Perdas econômicas com as mudanças climáticas

Em uma escala global, existe uma relação evidente entre as emissões, a população e o

PIB, refletindo a importância da população e o crescimento econômico como fatores

desencadeadores de emissão. Por exemplo, no ano de 2000, 8,7% da população do mundo

estava localizado na América Latina e Caribe, que emitiram 5,8% das emissões globais de

CO2, com a seguinte média do PIB per capita: US$ 637 (nações de baixa renda), US$ 1.799

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26

(nações de média-baixa renda) e US$ 4.795 (nações de média-alta renda). Em contraste, a

América do Norte tinha um PIB per capita de US$ 28.910 e 5,2% da população mundial, mas

contribuiu com 13,7% das emissões globais naquele ano, mais que o dobro da América Latina

e Caribe. Em contraste, um indivíduo do Saara Africano contribui em menos de um décimo do

CO2 produzido por uma pessoa comum no mundo desenvolvido (UN-Habitat, 2008).

Nos países recém-industrializados, o impacto combinado do crescimento populacional,

urbanização, motorização e aumento do consumo de energia são particularmente importantes

em termos de emissões, especialmente em países como a China e a Índia. Em 2007, a China

ultrapassou os Estados Unidos como o principal emissor de gases do efeito estufa, o aumento

foi atribuído principalmente ao aumento do consumo de carvão, os processos industriais e

uma mudança no estilos de vida.

Ainda, conforme a ONU, evidências sugerem que, se as tendências atuais continuarem

iguais, as alterações climáticas podem, eventualmente, prejudicar as economias nacionais e

urbanas. As perdas econômicas de darão a partir da diminuição da produção agrícola, aumento

das ondas de calor, eventos climáticos extremos como secas, inundações, perda da

biodiversidade, doenças e erosão do solo. Estima-se que uma brusca e em grande escala a

mudança climática pode levar a uma perda média de 5 a 10% do PIB global, sendo que os

países pobres sofrerão com custos superiores a 10% do PIB. Este cenário foi descrito Nicholas

Stern como a maior quebra de mercado jamais vista.

Um estudo independente, conduzido por Nicholas Stern, analisou uma ampla série de

provas relativamente aos impactos das alterações climáticas e dos custos econômicos,

apresentando a seguinte conclusão: os benefícios de uma ação rigorosa e antecipada

ultrapassam de longe os custos econômicos da falta de ação (STERN, 2007).

Nesse estudo, Stern analisa que as alterações climáticas afetarão os elementos básicos

da vida das pessoas a nível mundial – acesso à água, produção de alimentos, saúde e

ambiente. Centenas de milhões de pessoas poderão sofrer de fome, de falta de água e de

inundações costeiras.

Através dos resultados de modelos econômicos formais, Stern calcula que, se não

atuarmos imediata e rigorosamente, o total dos custos e riscos das alterações climáticas será

equivalente à perda anual de, no mínimo, 5% do PIB global. Se levarmos em conta uma série

de riscos e impactos mais amplos, as estimativas dos danos poderão aumentar para 20% ou

mais do PIB. Por outro lado, os custos da tomada imediata de medidas podem ser limitados

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anualmente a cerca de 1% do PIB global.

Segundo Claudio Angelo (2008), o maior desafio que a humanidade terá que enfrentar

coletivamente é abandonar o vício da economia global nos combustíveis fósseis, dentro do

prazo que a estabilização do clima exige. A partir de um apanhado de estatísticas o autor

justifica sua afirmação: o consumo de petróleo no mundo cresceu de 470 milhões de toneladas

em 1950 para 3,7 bilhões em 2004 - uma aumento de quase 800%. As emissões dos gases de

efeito estufa que deveriam ter caído segundo o Protocolo de Kyoto, subiram 24% só entre

1990 e 2004 (ANGELO, 2008).

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5 CENÁRIO BRASILEIRO

Atualmente o Brasil desempenha importante papel no cenário mundial, com forte

industrialização e economia em crescimento, sendo muito visado por outras nações, também,

em função dos recursos naturais e das terras abundantes em seu território.

5.1 Emissões da cadeia produtiva da pecuária no Brasil

O Brasil relaciona-se com os dados apresentados pela FAO sobre as emissões

mundiais nesse setor da pior forma possível: é um dos maiores produtores mundiais de carnes.

Com base nessas informações, sobre a contribuição da pecuária para o aquecimento global e

também sobre a produção mundial de grãos e cereais para alimentação do rebanho, pode-se

confrontar com as estatísticas brasileiras e ainda relacionar com mais um fator relevante para

as emissões de gases de efeito estufa: o desmatamento.

Na última revisão do Censo Agropecuário realizado recentemente, o IBGE releva que,

de modo geral para a Região Norte do país, é fato contundente a expansão dos padrões

motivados pela pecuária. Atualmente as pastagens se estendem como uma frente pecuarista

para o interior do Pará, com São Félix do Xingu contabilizando um dos maiores rebanhos do

País. IBGE destaca, também, a configuração de novos padrões de domínio e predomínio de

pastagens formados nos Estados de Rondônia, Acre e Amazonas, motivando complexas

disputas ambientais (IBGE, 2009).

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A floresta vem paulatinamente dando lugar à outra paisagem, como é visto nos

resultados do censo que apontam significativo avanço em direção à “especialização, domínio

e predomínio de pastagem” na pré-Amazônia Maranhense e em amplas áreas do estado.

Notadamente, a lavoura da soja alterou o cenário ao sul destes estados, alçando-os ao

plano dos circuitos produtivos de uma economia globalizada, diversa daquela motivada pela

Figura 2: Expansão da agropecuária no país. Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006. IBGE, 2009.

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pecuária extensiva das terras comunais do cerrado. O IBGE observa, ainda, que a análise

comparativa do perfil de ocupação prevalecente, nos períodos intercensitários, deve

considerar o contexto das transformações da matriz energética do país, na qual a introdução

da cana-de-açúcar está sinalizando uma nova dinâmica de utilização da terra e de expansão

das cidades e de redes de serviços, em suporte ao espaço agrário (IBGE, 2009). Ou seja, é

notável o aumento da tendência de pressão da agropecuária sobre a floresta.

Observa-se que o aumento do preço da soja no mercado mundial, em meados de 1970,

despertou ainda mais o interesse dos agricultores e do próprio governo brasileiro. A produção

brasileira de soja era realizada com cultivares e técnicas importadas dos Estados Unidos.

Assim, a cultura só produzia bem, em escala comercial, nos estados do Sul, onde as cultivares

americanas encontravam condições semelhantes a seu país de origem. Com os investimentos

em pesquisas novas cultivares foram criadas, permitindo que o grão fosse plantado com

sucesso em regiões de baixas latitudes. Como pode ser observado no gráfico da figura 2, a

última década foi a afirmação da cultura no Brasil, que passou a ser o segundo maior produtor

mundial, e, a soja, o principal produto agrícola na pauta das exportações brasileiras.

O IBGE comenta que no último período intercensitário a soja apresentou um aumento

de 88,8% na produção, alcançando 40,7 milhões de toneladas em 15,6 milhões de hectares,

um aumento de 69,3% na área colhida. Em termos absolutos, representa um aumento de 6,4

milhões de hectares, caracterizando a soja como a cultura que mais se expandiu na última

Figura 3: Produção de soja no Brasil - 1970/2006. Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006. IBGE, 2009.

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década. A cultura foi cultivada em 215.977 estabelecimentos, gerando 17,1 bilhões de reais

para a economia brasileira.

O IBGE revela, também, que os produtores brasileiros optaram pelo cultivo da soja

transgênica no Brasil, tanto que dos 215.977 estabelecimentos agropecuários que cultivaram

soja em 2006, 46,4% utilizaram sementes geneticamente modificadas, cultivadas em cerca de

4,0 milhões de hectares. A grande maioria das áreas cultivadas fizeram uso de agrotóxicos

(95,1%) e adubação química (90,1%) (IBGE, 2009).

Vê-se, portanto, que o gigante do agronegócio brasileiro está inserido numa cadeia

produtiva complexa e relacionado a grandes impactos ambientais.

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32

Uma outra relação relevante, mas não abordada diretamente neste trabalho, é o fato

destacado pelo IBGE mostrando que em 2007 o milho apresentou um crescimento de quase

9,2 milhões de toneladas (21,5%). Esse aumento se justifica em pelo avanço dos preços do

Figura 4: Pressão da pecuária sobre o bioma da floresta Amazônica. Fonte: Greenpeace, 2009.

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mercado externo, levando os produtores brasileiros a ampliaram a área cultivada. O

aquecimento dos preços do milho, no mercado externo, deveu-se ao fato de os Estados

Unidos, maior produtor e exportador mundial, destinarem parte da sua produção para a

transformação em etanol, com o objetivo de diminuir a dependência do petróleo, que tem

atingido preços elevados (IBGE, 2009).

Em termos de número de indivíduos do rebanho bovino, dado divulgado através do

Ministério da Agricultura, pode-se observar claramente o avanço da pecuária sobre a região

brasileira que mais sofre com o desmatamento.

Comparativamente com os estados do sul, tem-se que o Rio Grande do Sul possui o

maior rebanho da região, com 14.240.000, e apresentou um crescimento no período entre

1990 e 2005 de cerca de 4%. O Paraná, segundo maior rebanho da região sul, apresentou um

crescimento de cerca de 15% no mesmo período, passando de 8.617.000 para 10.153.000

cabeças. O rebanho catarinense é de 3.377.000 de cabeças.

Mato Grosso, por exemplo, possuía em 2005 o maior rebanho nacional, com

26.652.000 cabeças, sendo que em 1990 era de 9.041.000 cabeças, representando um

crescimento de 66%. O gráfico abaixo mostra as linhas de crescimento de alguns Estados no

período entre 1990 e 2005.

Figura 5: Evolução do rebanho bovino em alguns Estados brasileiros (IBGE, 2009). Fonte: Adaptado de Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (www.agricultura.gov.br >

Estatísticas > Pecuária - Acesso em 24/09/09) referenciando IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal 2005.

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 -

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

Rebanho por Estado

ROACPAMGPRSCRSMSMTGO

Ano

Cab

eças

(x10

00)

Page 36: TCC-revisado-21-12-09

34

Conforme pode-se observar no gráfico, os maiores crescimentos de rebanho bovino

estão nos Estados do norte ou centro-oeste, todos com forte relação com o avanço da fronteira

agrícola e o desmatamento.

No Censo Agropecuário 2006, o IBGE apontou que a pecuária foi a principal atividade

econômica dos estabelecimentos agropecuários pesquisados pelo censo, representando 44,0%

do total de estabelecimentos e 62,0% de sua área total. Esse número desconsidera a parcela de

produção de grãos e cereais destinada para os animais, logo, supõe-se ser ainda maior a

relação de uso da terra para produção animal.

Vê-se, portanto, de forma resumida, como o Brasil está inserido nessa complexa

cadeia, sendo grande emissor de gases de efeito estufa relacionados ao setor produtivo de

carne, direta e indiretamente.

Page 37: TCC-revisado-21-12-09

35

6 METABOLISMO DA CIDADE DE PORTO ALEGRE

Como parte indissociável do todo, a cidade de Porto Alegre também contribui para as

emissões planetárias de gases de efeito estufa, pois também tem o seu processo de

crescimento e consumo. Não diferente de muitas outras grandes cidades ao redor do mundo,

teve origem ao redor da produção econômica.

6.1 Histórico de formação de Porto Alegre

Numa análise da evolução de Porto Alegre, Souza (SOUZA, 1997) apresenta cinco

distintos períodos históricos que contextualiza a cidade no desenvolvimento do Rio Grande do

Sul e do Brasil. O primeiro se passa entre 1680 e 1772, fase em que o Rio Grande do Sul é

incorporado à Colônia do Brasil e quando, então, começaram a surgir alguns povoados junto

aos campos de Tramandaí e Viamão. Nesse período chegaram os açorianos ao Porto de

Viamão, o qual passou a ser chamado de Porto dos Casais. A cidade atinge o primeiro milhar

de habitantes.

Entre 1772 e 1820 foi a fase caracterizada pela crescente produção de trigo pelos

açorianos, na região do Jacuí. A produção era escoada por Porto Alegre, criando condições de

desenvolvimento portuário e consequentemente de desenvolvimento urbano. A população

chega aos 12 mil habitantes.

O terceiro período descrito pela autora vai de 1820 até 1890, e foi marcado por fortes

conturbações, desde a estagnação econômica decorrente da produção do trigo, até a guerra dos

Farrapos. No entanto, também teve um forte desenvolvimento portuário combinada com a

imigração européia. Essa imigração teve papel decisivo no desenvolvimento local e regional,

dando um impulso na economia e firmando um mercado consumidor. Com isso inicia uma

nova fase da cidade, que vai de 1890 a 1945, entrando num momento de industrialização e

substituição de produtos importados. Esse é o período da República, da valorização da cidade,

do incremento da burguesia urbana e da readequação da cidade aos novos tempos. Nesse

período a população passa de 52 mil para 275.600 habitantes.

O quinto período, por fim, tem início em 1945 até os dias de hoje e é caracterizado

pela metropolização. O desenvolvimento industrial trouxe à cidade diversas consequências.

Ocorreu um crescimento populacional muito grande, proporcionalmente ao êxodo rural. No

início da década de 1970 a população já se aproxima de 900 mil habitantes.

Page 38: TCC-revisado-21-12-09

36

Complementarmente, Buainain et al. (BUAINAIM, et al, 2003) relata que num dado

momento, com as cidades já bem desenvolvidas, uma série de acontecimentos políticos e

econômicos influenciaram a vida no campo e o crescimento urbano, especialmente o êxodo

rural. Quando o acesso às terras livres pelas massas de imigrantes e libertos foi bloqueado,

esses permaneceram cativos da insegurança da posse da terra, tornando-se reserva de trabalho

barato de uma classe de latifundiários desprovidos de visão estratégica de construção de uma

nação - à exceção do Sul do país, onde, por razões estratégicas de segurança de fronteiras,

criou-se uma forte base de produtores agrícolas familiares.

Buainaim relata, ainda, que a forte concentração da renda no campo nesse período foi

fator limitante para a expansão do setor urbano-industrial, fazendo parte dos desequilíbrios

distributivos observados no processo de urbanização no Brasil. Comparativamente a outros

países, especialmente aos EUA e à Europa, o êxodo rural no Brasil configurou-se como um

êxodo de refugiados do campo, onde os fatores de expulsão predominaram sobre os fatores de

atração proporcionados pela cidade (ao contrário do que ocorreu nos EUA e na Europa).

Desse processo decorreu que os que permaneceram no campo continuaram em

situação precária, sem acesso ou com acesso limitado à terra, à educação e demais serviços de

infra-estrutura social e aos benefícios da política agrícola.

O reflexo da dinâmica econômica no Estado e na região podem ser resumidos no

aumento populacional de Porto Alegre, que entre as décadas de 1940 e 1950 passou de 263

mil para 380 mil habitantes, em 1960 para 626 mil habitantes e em 1970 para 885 habitantes.

A partir da década de 1960 fica claro que muitos dos problemas que se apresentam não podem

mais ser resolvidos apenas no âmbito da jurisdição municipal. Os limites impostos por

acidentes geográficos muitas vezes não correspondem aos fatos socioeconômicos ou às

necessidades administrativas. O uso do solo precisava ser disciplinado, os transportes e sua

infraestrutura necessitavam de integração, ao saneamento apresentavam-se problemas comuns

na região (SOUZA, 1997).

Porto Alegre teve, desde o fim do século 19, governos locais que adotaram práticas de

planejamento urbano no exercício de controle morfológico de seus espaços. Assim, a imagem

da cidade foi se transformando de acordo com a circulação de ideias de cada época que se

desenvolviam em nível nacional e internacional. A partir desse histórico descrito por Almeida

(in LEME, 1999) pode ser visto que o projeto de modernização da cidade, construído ao longo

de décadas, privilegiou os interesses da burguesia local, que pretendeu a remodelação urbana

Page 39: TCC-revisado-21-12-09

37

no atendimento de seus anseios de atualização e de inserção em uma ordem capitalista

mundial. O desaparecimento das antigas estruturas edificadas ou da perda de identidade e da

memória coletiva não faziam parte dos debates. Os anseios de atualização da burguesia

associados à geração de espaço para aplicação e ampliação dos capitais imobiliários

prevaleciam.

6.2 Consumo de energia em Porto Alegre

Conforme os dados da FEE (Fundação de Economia e Estatística), em 2008 Porto

Alegre contava com uma população de 1.438.830 habitantes, com densidade demográfica de

2.896 hab/km2.

O consumo total de energia elétrica em Porto Alegre foi, em 2008, de 3.162.616 MWh,

do que deduz-se um consumo per capita de cerca de 2,2 MWh/hab ano. A tabela abaixo

apresenta o histórico de consumo anual para a cidade.

Tabela 3: Consumo de eletricidade em Porto Alegre.

Ano Consumo total (MWh)1991 2.135.4682000 2.879.5752001 2.889.0722002 2.877.1852003 2.865.3712004 2.884.0052005 2.959.0252006 3.028.3532007 3.183.3092008 3.162.616

A distribuição por setor do consumo de Energia Elétrica em Porto Alegre, em 2008,

apontou para o setor comercial e residencial como os maiores consumidores, com 39,85 e

36,9%, respectivamente.

A tabela abaixo apresenta o consumo anual em 2008 distribuído pelos diferentes

setores avaliados.

Page 40: TCC-revisado-21-12-09

38

Tabela 4: Distribuição do consumo de eletricidade em Porto Alegre.

Setor RS (MWh) % Porto Alegre (MWh) %

Comercial 3.785.423 17,61 1.260.350 39,85

Industrial 6.741.540 31,36 364.686 11,53

Outros 825.418 3,84 6.101 0,19

Residencial 5.968.821 27,76 1.167.141 36,9

Rural 2.739.945 12,74 2.777 0,09

Setor Público 1.439.537 6,7 361.561 11,43

Total 21.500.683 100 3.162.616 100

6.3 Consumo de combustíveis

O consumo de combustíveis derivados do petróleo no Brasil se dá principalmente

através do transporte, visto que sua matriz energética não depende tanto das usinas

termelétricas como outros países.

Porto Alegre apresentou um crescimento nas vendas de combustível entre 2005 e 2007

de mais de 21 milhões de litros. A tabela abaixo mostra a evolução da comercialização de

combustíveis, onde se vê que o aumento dos combustíveis utilizados em veículos particulares

(álcool e gasolina) foi maior que o crescimento do combustível usado no transporte coletivo

(diesel), indicando mais uma evidência da motorização da população.

Tabela 5: Comercialização de combustível em Porto Alegre. Fonte: FEE

Ano Gasolina autom. (litros)

Diesel (litros)

Álcool hidratado (litros)

2005 361.774.892 168.190.296 31.226.4462006 364.537.501 177.581.588 25.007.8072007 369.876.648 171.132.832 41.928.658

6.3.1 Frota veicular

A frota veicular total em Porto Alegre é de 627.580 veículos (inclui desde

ciclomotores à reboques e veículos de carga e tratores), dos quais 518.793 são automóveis

(inclui caminhonetas) - isso representa 82% de automóveis. Se desconsiderarmos a categoria

reboques (16164 unidades) do total da frota, visto que não são veículos automotores,

propriamente, tem-se que a porcentagem de automóveis sobre o total de veículos em

circulação é de 84,8% (DETRAN, 2008).

Page 41: TCC-revisado-21-12-09

39

Os caminhões representam 2,4% da frota de Porto Alegre, e transporte coletivo apenas

0,93%.

Numa outra análise, pode-se supor que a frota total efetiva em circulação não

ultrapassa o número de habilitações em vigor, 605.189 condutores, então tem-se que até

85,7% da ocupação das vias pode se dar pelos automóveis. Tendo em vista de que 98,8% dos

condutores possui habilitação categoria "B" ou equivalente (dado de 2007, excluindo-se a

categoria A), e que 75% possuem apenas "B", é razoável estimar que pelo menos 75% do

trânsito motorizado em circulação é de automóveis.

Isso equivale a dizer que os menos de 1/3 (30%) da população usuária de automóvel

representa mais de 3/4 (75%) dos veículos em circulação nas vias.

A figura abaixo mostra um comparativo do espaço ocupado, em via pública, por 150

pessoas nos diferentes modos de transporte e locomoção.

A tabela abaixo apresenta a proporção conforme o tipo de transporte entre Porto

Alegre e o Rio Grande do Sul, o que indica uma grande concentração veicular na capital do

Estado.

Figura 6: Gráfico comparativo do espaço ocupado, em via pública, por 150 pessoas.

Fonte: Adaptado de Empresa Pública de Transportes de Madrid (Espanha).

Page 42: TCC-revisado-21-12-09

40

Tabela 6: Frota veicular de Porto Alegre em 2008.

Veículo RS (un) Poa (un) %Carga 542.074 58.609 10,81Outros 199.389 35.579 17,84Passageiros 3.397.087 533.392 15,70Total 4.138.550 627.580 15,16

Fonte: Adaptado de FEE - Fundação de Economia e Estatística.

O Rio Grande do Sul e Porto Alegre tem tido um crescente e contínuo aumento na sua

frota veicular, com pequena queda entre os anos de 2002 e 2003 devido à turbulências no

mercado financeiro ocorridas neste período. Os gráficos abaixo ilustram esse comportamento.

Fonte: Adaptado de FEE - Fundação de Economia e Estatística.

Figura 7: Evolução da frota no RS.

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 20082.615.000

2.815.000

3.015.000

3.215.000

3.415.000

3.615.000

3.815.000

4.015.000

4.215.000

Evolução da frota no RS

Ano

Frot

a

Page 43: TCC-revisado-21-12-09

41

Fonte: Adaptado de FEE - Fundação de Economia e Estatística.

Ao confrontar os números da frota veicular dos últimos anos com a média de

passageiros transportados pelo sistema de ônibus de Porto Alegre, percebe-se que o aumento

de veículos coincidiu com a diminuição de passageiros transportados. O gráfico abaixo ilustra

a queda, ano após ano, do uso do transporte coletivo na cidade, desde 1998, com pequena

recuperação em 2008, mas já demonstrando a mesma tendência de queda em 2009 - dados

atualizados até setembro de 2009 (EPTC, 2009).

Fonte: Adaptado de EPTC - Empresa Pública de Transporte e Circulação

Figura 8: Evolução da frota em Porto Alegre.

2003 2004 2005 2006 2007 2008510000

530000

550000

570000

590000

610000

630000

650000

Evolução da frota em Porto Alegre

Ano

Forta

Figura 9: Passageiros transportados no sistema público.

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 200925000000

2600000027000000

28000000

29000000

30000000

31000000

32000000

33000000

34000000

35000000

Média de passageiros transportados

Ano

Pas

sage

iros

Page 44: TCC-revisado-21-12-09

42

7 RESPOSTAS DA CIDADE AOS DESAFIOS

7.1 Energia solar e as soluções bioclimáticas

No Brasil, mais de 40% da energia elétrica é consumida nas edificações residenciais,

comerciais e públicas. O setor residencial responde por 23% do total de consumo nacional,

enquanto o comercial por 11% e o público por 8%.

Correlacionando o hábito de consumo energético do brasileiro e do portoalegrense

com todos os indicativos apresentados até agora quanto aos aspectos climáticos e impactos

ambientais, tendo em vista a iminência de alterações no regime hídrico e outros eventos que

podem colocar em risco a geração e o abastecimento de energia, presume-se ser

imprescindível uma diminuição no consumo elétrico residencial. Tal diminuição pode ser

atingida de diferentes maneiras, muitas das quais acessíveis a qualquer cidadão.

Uma vez que as cidades resolvem essa questão, mesmo que parcialmente, na mesma

proporção tornam-se mais resilientes a eventos não esperados. Além disso,

independentemente de alterações climáticas ou outros riscos, trata-se de rever certos hábitos

de modo a diminuir a pressão sobre o meio ambiente e tantos recursos naturais fundamentais à

vida.

7.1.1 Consumo energético no aquecimento de água

Segundo a Eletrobrás os chuveiros elétricos estão presentes em 67% das residências

brasileiras, sendo que nas regiões sul e sudeste estão em quase 100% delas. O equipamento é

barato, variando de R$ 20,00 para os mais simples, até R$ 350,00 para os mais robustos. A

grande difusão dos chuveiros está fortemente ligada a esses modestos custos de aquisição,

facilidade de instalação, infraestrutura elétrica necessária e falta de regulamentação

(RODRIGUES et al, 2004).

Em Porto Alegre o consumo de energia elétrica residencial representa 36,9% do total,

pouco menos que o setor comercial, com 39,8%. Tal consumo pode ser justificado por vários

fatores, dentre eles o custo relativamente baixo pago pela energia elétrica, além da

disponibilidade até então abundante.

Segundo pesquisas realizadas pelo NORIE - Núcleo Orientado para Inovação da

Edificação (SATTLER, 2004), 35% de toda eletricidade residencial consumida em Porto

Page 45: TCC-revisado-21-12-09

43

Alegre é usada para aquecer água. Tal quadro poderia se modificar consideravelmente caso

fosse utilizado tecnologia de aquecimento solar. Exemplo disso são os coletores solares de

baixo custo utilizados no protótipo de casa do NORIE.

Em estudo realizado pelo Instituto Vitae Civilis (RODRIGUES et al, 2004), dentre

diversas análises para avaliar as dificuldades de uso de energia solar para aquecimento de

água no Brasil, foi discutida a hipótese de que o chuveiro é o principal concorrente da

tecnologia termossolar por seu baixo custo de instalação e por não sofrer praticamente

nenhuma restrição de mercado. Também foi avaliado que os códigos de obras municipais

inibem o uso do termossolar, visto que os critérios (funcionais e econômicos) usados na

elaboração dos códigos não consideram o uso eficiente da energia elétrica, o que acarreta em

pouca ou nenhuma opção de escolha aos futuros ocupantes. Sua conclusão revela que algumas

barreiras para a incorporação de aquecedores solares em edificações não estão relacionadas à

dificuldades técnicas, tecnológicas ou de custos, mas sim pela falta de informação e

sensibilidade por parte dos técnicos e tomadores de decisão municipais e do setor de

construção civil.

Outras discrepâncias foram encontradas nos municípios brasileiros, tal como o

exemplo de Campinas, em São Paulo, onde o cálculo do IPTU é baseado em características do

padrão de construção com sistema de pontuação que, quanto maior, maior o IPTU. Graças a

isso, o cidadão que investir na instalação de coletores solares acabará mais penalizado que

aquele outro que instalou um aparelho de ar condicionado central, pois a residência com

energia solar é considerada mais luxuosa.

Como uma das sugestões apresentadas neste estudo, restrições à implantação de

chuveiros a partir de certa área de habitação, ou outro parâmetro de acordo com a condição

econômica da habitação, por exemplo, poderiam criar condições favoráveis à difusão da

tecnologia termossolar (RODRIGUES et al, 2004).

Com relação à economia de energia elétrica residencial, além dos aspectos

tecnológico, econômico e político, deve-se considerar outros que dependem apenas da

iniciativa individual de cada cidadão, em geral iniciativas simples mas que são normalmente

negligenciadas - provavelmente pelo resultado imediato pouco visível -, tal como desligar

lâmpadas desnecessárias, leds de aparelhos eletrônicos em espera, eletrodomésticos mais

eficientes e com certificação (por exemplo: Procell, Inmetro).

Page 46: TCC-revisado-21-12-09

44

7.1.2 Consumo energético na habitação e ambiente construído

Viu-se até aqui uma pequena parte do metabolismo humano e suas implicações,

protagonizado especialmente pelos imensos organismos que são as cidades. A partir desse

ponto de vista, considerando-se as semelhanças com os ciclos naturais, pode-se afirmar que

não existe um único ponto central, a partir do qual outros giram ao redor. Trata-se de uma

grande cadeia de organismos interligados, sendo cada elo igualmente importante. No entanto,

dentro do aspecto que se estuda neste trabalho, um desses elos assume especial importância: a

cidade. Sendo ela formada de certa infra-estrutura, é inconcebível imaginar uma sem

habitações.

À habitação estão intrinsecamente relacionados o consumo energético, a mobilidade, o

comércio, os serviços e toda organização urbana.

Muitas vezes a arquitetura brasileira é influenciada por modelos de cidades compactas,

especialmente com relação a prédios altos, provindos de países desenvolvidos. Porém,

neglicencia-se o fato de que tais arquétipos são oriundos, em geral, de climas temperados e

frios ou, o oposto, quando vem dos países árabes com sua arquitetura bioclimática adaptada

aos climas tropicais quentes e secos. Ambos quando transpostos para contextos díspares

causam resultados desastrosos (FREITAS, 2005).

Com relação ao que Freitas se refere, associado também a outros fatores, vemos

edificações cada vez mais dependentes de climatização e iluminação artificial, com grande

dispêndio extra de energia. Como exemplo disso em Porto Alegre, temos os prédios do Centro

Administrativo e do IPERS. O primeiro manteve corretamente as maiores fachadas voltadas

para sul e norte, distribuindo assim a incidência da radiação solar, já o segundo optou em

construir as fachadas envidraçadas voltadas para leste e oeste, voltado para a avenida,

ocasionando aquecimento excessivo no verão (HICKEL, 2009).

Como dado ilustrativo e complementar ao exemplo acima, Rüther (2004) revela em

sua pesquisa que, em cidades como o Rio de Janeiro, o ar condicionado responde por 50% do

consumo de energia elétrica em prédios comerciais e públicos no verão, passando a 70% para

os prédios envidraçados.

Para CAÑELLAS (2002), é possível, ao relacionar uma série de parâmetros de

iluminação (uniformidade e distribuição de iluminância e luminância, controle de

ofuscamento), intervir em ambientes de escritório ou residenciais de modo a possibilitar o uso

da luz natural como principal fonte de iluminação, garantindo a iluminância necessária para a

Page 47: TCC-revisado-21-12-09

45

realização das tarefas visuais e limitando o uso a luz artificial à noite, aos dias nublados e aos

espaços longe das janelas. A minimização do uso da luz elétrica proporciona a racionalização

de energia, além de que a luz natural ainda pode tornar o trabalho mais salubre, prazeroso e

produtivo.

A construção civil é um dos setores mais importantes da economia mundial, sendo os

edifícios responsáveis por 40% do consumo de energia mundial, 16 % da água potável e 25 %

da madeira das florestas e é responsável por 50% das emissões de CO2 (LAMBERTS, 2007).

Não obstante a isso, o produto final do setor produtivo - a edificação - prolonga essa

cadeia de grandes dispêndios energéticos e de recursos naturais, mais uma vez com o aval do

consumidor, que é quem paga diretamente.

É um grande desafio buscar objetivos e estratégias para construção de edificações de

menor impacto ambiental. Por isso, segundo Sattler (2004), não se pode restringir essa busca

apenas àquilo que concerne ao impacto imediato da edificação no meio ambiente, mas

também considerando todos os aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos envolvidos.

Apesar de tudo, a tecnologia e conhecimento disponíveis desde muito tempo, aliados

às reais e atuais necessidades, já apontam para as mudanças possíveis no setor. Exemplos

disso emergem a partir de conceitos de arquitetura bioclimática aplicado a projetos

imobiliários, em que se pode reduzir significativamente a emissão de gás carbônico, o

consumo de energia elétrica, de água e outros recursos naturais.

Nesse sentido, destacando que em um momento de agravamento dos problemas

ambientais urbanos, é de extrema pertinência discutir o quanto a forma urbana interfere sobre

a qualidade e no meio ambiente, Freitas (2005) elenca alguns elementos, vistos a seguir.

Os climas urbanos são modificações locais das condições atmosféricas. Ao longo de

um percurso pela cidade, sucedem-se áreas com características relacionadas a diversos

aspectos físicos, morfológicos e atividades humanas. Notam-se diferenças de temperatura, de

ventilação e de umidade entre ruas ou bairros de uma cidade, que podem ser mais ou menos

quentes, úmidos ou ventilados do que a média preponderante na região.

A tendência na compactação das cidades (adensamento) é notável, sendo observada

através das altas densidades demográficas e construtivas. Para se chegar a ela se faz

justaposição e verticalização dos edifícios. Distintos atores (público, privado e civil) disputam

entre cidades compactas ou dispersas, onde a percepção do ambiente pela população se dá

através de categorias estéticas ou elementos vividos (sensações de tranquilidade, estresse,

Page 48: TCC-revisado-21-12-09

46

convivência e inospitalidade) - em contraste a investidores e governos que veem a qualidade

de vida através dos indicadores sócio-econômicos, tais como expectativa de vida, taxas de

alfabetização e níveis de renda. Freitas (2005) conclui, até esse ponto, que diferentes áreas

podem ser dotadas de qualidade de vida, mas não exatamente pelas mesmas razões.

O elemento seguinte explorado pelo autor diz que o desejo para adensar os centros

urbanos, cuja justificativa é de preservar a natureza do entorno ocupando menores extensões

de terra, deve dialogar com os diversos indicadores da preservação ambiental urbana. Ou seja,

em muitos casos, o conforto é o limite: o desfrute de áreas públicas de lazer limita a ocupação

do solo; a permeabilidade ao vento limita a proximidade das edificações; as facilidades

econômicas e ambientais de acessibilidade limitam o aumento das distâncias a serem

percorridas diariamente pela população.

A partir desse eixo fundamental, o autor ainda demonstra a relatividade da qualidade

de vida na cidade, expondo mais um elemento crucial ao pensamento de cidades saudáveis e

ambientalmente equilibradas. Enquanto num bairro nobre altamente verticalizado encontram-

se médias densidades populacionais, mas com as maiores densidades construtivas, noutro, os

assentamentos populares revelam as maiores densidades habitacionais e menores densidades

construtivas, desconstruindo o mito da alta densidade como decorrente unicamente da

verticalização. No primeiro, a forma verticalizada é associada a altos padrões de vida,

confirmado pela renda, instrução e infra-estrutura. A capacidade de suporte a esse padrão

aponta alguns limites: congestão no tráfego viário, o acúmulo de calor (ilhas de calor), maior

geração de lixo e maior consumo energético. No segundo, se encontra uma população

homogênea, de mesma origem, evidenciando-se uma qualidade de vida baseada nas relações

de vizinhança, na experiência e no sentido de lugar (FREITAS, 2005).

Para Sattler (2004), o aspecto construtivo deve obedecer certas premissas conceituais

de projeto para diminuir o impacto ambiental das edificações, sejam eles: os princípios de

preservação ambiental devem orientar diretamente o processo de desenvolvimento do projeto;

deve-se adotar uma abordagem sistêmica; tanto quanto possível, o projeto deve deve

considerar os ciclos locais para o fluxo de materiais e energia envolvidos; o projeto deve

refletir os processos que ocorrem na natureza e aplicar os seus princípios (projetar com a

natureza); eliminar o uso de produtos que sabidamente apresentam ameaça à saúde humana e

ao meio ambiente; considerar a igualdade entre os humanos as milhares de outras espécies

que compartilham este planeta.

Page 49: TCC-revisado-21-12-09

47

A partir desses princípios, Sattler (2004) sugere o estabelecimento dos seguintes

objetivos-chave para o setor da construção civil: minimizar o consumo de energia e materiais;

comprometimento e responsabilidade social; desenvolvimento e pesquisa sobre opções de

produção que estejam em harmonia com a cultura local; processos participativos; considerar a

avaliação do ciclo de vida a todos produtos. Concluindo, ao final, que o projeto deve ser

gerenciado por pessoas que partilham e entendam os conceitos de preservação ambiental.

Seguindo os preceitos acima, foi implementado no NORIE um protótipo de edificação

que incorporou diversas características, como arquitetura solar passiva, coletores solares de

baixo custo para aquecimento de água, uso de materiais locais e de reaproveitamento ou

reciclagem, uso de vegetação para sombreamento e produção de alimentos, estratégias para

redução do consumo de água - incluindo aproveitamento da chuva e reciclagem -, tratamento

biológico das águas residuárias (MENEGAT, 2004).

Reforçando esses itens e incluindo alguns outros, Palsule (2004), partindo de diversos

estudos de caso pelo mundo, elencou os aspectos que podem ser individualizados como áreas

onde a mudança pode ser efetivada, sejam eles: opção por tecnologia mais limpa por meio de

legislação e pressão dos cidadãos; desenho restaurador para novas casas, lugares públicos e

planejamento integrado; redução da geração do lixo através da reciclagem, redução do

consumo e novos hábitos; redução da ingestão de alimentos que usam intensamente a energia

em sua manufatura, apoiando cooperativas locais; tornar verde o meio ambiente urbano

através do banimento de construções em espaços abertos, conservação de áreas naturais,

plantio de árvores e planejamento de corredores verdes; mudar o meio ambiente industrial e

de negócios, optando pela qualidade em todo o processo; aumentar o nível de conscientização

pública, estabelecendo círculos de estudo e grupos de aprendizado informal.

Segundo Roaf (2009), em breve seremos forçados a implementar as mudanças

necessárias à criação de uma geração de edificações passivas do século XXI, que possam

funcionar em grande parte com fontes energéticas renováveis.

7.1.3 Estimativa de energia fotovoltaica para suprir o consumo de Porto Alegre

A geração de energia eletrética através de células fotovoltaicas tem se mostrado uma

tecnologia cada vez mais promissora, cujo potencial no Brasil pode ser percebido pela

comparação feita por Rüther (2004). O autor parte do caso da usina hidrelétrica de Itaipu, a

qual contribui com cerca de 25% da energia elétrica do país, com seu reservatório inundando

Page 50: TCC-revisado-21-12-09

48

uma área de 1.350km2. Cobrindo-se o lago com painéis fotovoltaicos comercialmente

disponíveis, seria possível gerar o dobro de energia, ou o equivalente a 50% da eletricidade

consumida no Brasil. Complementa, ainda, que diariamente incide sobre a superfície da terra

mais energia vinda do sol do que a demanda total de todos os habitantes do planeta em um

ano inteiro. A partir de seus cálculos, afirma que 12 minutos de sol equivalem à demanda

energética mundial anual.

Embora cada região possua diferentes características climáticas, o que inclui, também,

diferentes valores para as incidências de raios solares, o Brasil é considerado um país muito

bem servido de sol o ano inteiro, satisfazendo plenamente essa condição para uso das

tecnologias solares.

Segundo Pezzi (2009), sabe-se que a radiação solar atinge a superfície da terra com

intensidade de 1000 Watts/m², ao meio dia. Considerando períodos noturnos e de condições

atmosféricas desfavoráveis, dentre outras variações, usa-se a média de 300 Watts/m² para os

cálculos (média sobre todo o planeta).

Os painéis solares fotovoltaicos disponíveis no mercado possuem eficiência entre 5%,

os mais baratos, e 25% para os mais caros. Portanto, para efeitos de cálculo, nesse caso,

considerou-se um valor médio de 15%. Aplicando-se diretamente o percentual de eficiência,

tem-se que, dos 300 Watts/m² iniciais, os painéis fornecerão 45 Watts/m², ou 0,045 kW/m².

Um ano tem 8.760 horas (365 dias x 24 horas), então cada metro quadrado de painel

solar pode gerar 394,2 kWh por ano (8.760 horas x 0,045 kW/m²).

Sabendo-se que o consumo de energia elétrica total de Porto Alegre foi de 3.162.616

MWh, em 2008, ou 3.162.616.000 kWh, calcula-se que a área total necessária de painéis

solares para gerar o mesmo valor é de 8.022.871,6 m², ou 8,02 km². Comparativamente, a área

total da cidade é de 476,30 km² (MENEGAT et al, 1998); a área do reservatório de Itaipu é de

1.350 km² (RÜTHER, 2004).

Não faz parte deste trabalho analisar a viabilidade da estimativa apesentada acima, no

entanto, se a mesma for considerada viável em outros estudos, deve-se ter em conta que cerca

de 35% do consumo energético residencial em Porto Alegre é gasto para aquecimento de água

(SATTLER, 2004), ou a média nacional de 26% (ZOELLNER, 2005). Isso significa que essa

parcela de consumo pode ser suprida através de coletores solares para aquecimento de água,

cuja eficiência de aquecimento é superior às resistências elétricas, além de ter um custo muito

menor do que os painéis fotovoltaicos para geração de energia elétrica.

Page 51: TCC-revisado-21-12-09

49

7.1.4 Geração e distribuição de energia elétrica

Desde que surgiram as primeiras células fotovoltaicas, as tecnologias de produção

evoluíram a tal ponto que se tornou economicamente viável para diversas aplicações. Mais

recentemente, sistemas solares fotovoltaicos vêm sendo utilizados de forma interligada à rede

elétrica pública - até então os sistemas eram sempre autônomos, ou seja, isolados da rede

pública necessitando de um meio de acumulação (baterias) -, como pequenas usinas geradoras

em paralelo às grandes geradoras convencionais (RÜTHER, 2004).

No Brasil a geração de energia elétrica convencional é muito centralizada e distante do

ponto de consumo, fazendo com que o sistema gere perdas na distribuição, aumentando os

custos da produção da energia trazendo prejuízos às concessionárias e ao meio ambiente, além

de deixarem um grande número de consumidores vulneráveis a falta súbita de energia elétrica

(apagões). Em contraste, a geração distribuída por estar disposta próxima da carga (ponto de

consumo ou conexão à rede), evita tais transtornos e custos, além de permitir uma maior

diversificação das tecnologias empregadas para a produção de energia (SALAMONI et al,

2004).

A energia elétrica é fornecida aos consumidores residenciais, comerciais e industriais

através de usinas geradoras e complexos sistemas de transmissão e distribuição. Todas as

usinas convencionais têm problemas inerentes, tais como poluição, emissões atmosféricas,

dependência de fornecimento de combustível e até mesmo oposição da sociedade quanto à sua

construção e operação (nucleares, térmicas a carvão mineral e também muitas hidrelétricas)

(RÜTHER, 2004).

Conforme Rüther (2004) ainda, instalações fotovoltaicas integradas às edificações e

interligadas à rede elétrica pública apresentam muitas vantagens, dentre as quais se pode

destacar: não requer área extra, podendo ser usado no meio urbano próximo ao ponto de

consumo; elimina perdas por transmissão e distribuição; não requer infraestrutura adicional;

os painéis solares podem ser considerados como revestimento arquitetônico em substituição a

outros materiais; produz energia limpa.

Vê-se, portanto, que além da tecnologia solar em si, outros fatores como a transmissão

e distribuição são relevantes na avaliação do impacto ambiental, indicando soluções ao

modelo de geração e distribuição centralizada adotado no Brasil.

Page 52: TCC-revisado-21-12-09

50

7.2 Referências de experiências locais

Não basta uma edificação perfeitamente ecológica de mínimo impacto ambiental,

complementarmente o seu habitante deve imbuir-se desses novos valores, de forma a dar

continuidade ao ciclo.

Muitos projetos e tecnologias com certa intenção de resolver conflitos ambientais, mas

que são apresentados através de políticas paliativas ou comercialmente, tendem a se tornar

obsoletos com o tempo - nos termos de sua concepção original (por melhor que seja) -, talvez

por não considerarem a intenção das pessoas desde o princípio, ou pelas mesmas terem

abandonado ou modificado seus hábitos em função de novas conjunturas econômicas ou

políticas ou por qualquer outra razão, passando a desfigurar a concepção original desses

ambientes ou tecnologias.

O caminho inverso também é válido, reforçando a importância de levar em

consideração a evolução nos valores humanos, onde o resultado final deixa de ser um produto

de consumo e passa a ser um objeto de contato e interação permanente com o ambiente.

Um exemplo muito elucidativo foi o de uma iniciativa de uma organização não-

governamental de São Paulo, a qual após um série de estudos e contatos políticos viabilizou o

financiamento de coletores solares para aquecimento de água para famílias de baixa renda

e/ou não servidas pela rede elétrica pública. Pouco tempo após a instalação dos equipamentos,

os próprios beneficiados pelo projeto, ao descobrir o valor de mercado do material, retiraram

de seus telhados os painéis e os venderam.

Analogamente a esse ciclo de produção e consumo humano, Palsule (2004) observa

que processos de simbiose e autopoiese não estão restritos apenas a sistemas naturais.

Também são aplicáveis às necessidades humanas, uma vez que essas, tal como os sistemas

naturais, têm a preservação ambiental como fenômeno intrínseco e universal dentro de um

ciclo de vida e morte. Ou seja, para discutir desenvolvimento ecologicamente mais correto nas

cidades, é necessário perceber a cidade como uma entidade holística, em vez de uma estrutura

fragmentada.

Complementa Palsule, então, que a apropriação e adoção de sistemas alternativos de

construção e, também, de vida pela sociedade, só irá ocorrer a partir de uma nova ótica, uma

nova forma de olhar e de compreender um novo mundo possível, o qual só será durável se

regido pelos princípios éticos da preservação ambiental.

Essa afirmação pode ser constatada em dois níveis, naquilo que se sabe e se pensa

Page 53: TCC-revisado-21-12-09

51

fazer, e nas experiências já realizadas. No primeiro caso, vê-se que as edificações com menor

impacto ambiental encontram pouca receptividade e aplicação imediata no mercado,

demonstrando a necessidade de que tais propostas sejam precedidas ou acompanhadas por

uma ampla re-educação, que religue o indivíduo à natureza. O segundo caso reafirma essa

necessidade a partir das experiências já realizadas, tanto as bem-sucedidas quanto as nem tão

bem, visto que, mesmo ótimos projetos e concepções dependem do uso que seus ocupantes ou

usuários dão a ele (CIB, 1999).

Partindo-se, então, do pressuposto dessa complementaridade indissociável entre

tecnologia e comportamento social, são apresentados alguns casos a seguir.

7.2.1 Comunidades

A organização da cidade em pequenos núcleos e comunidades tem demonstrado um

caminho possível para o equilíbrio entre desenvolvimento e preservação ambiental. Vê-se que

é fundamental a inter-relação entre as pessoas próximas, para que a interação entre as pessoas

e locais mais distantes se faça com maior propriedade de valores: do vizinho de condomínio

para o vizinho de rua, daí para o bairro, para a cidade e para o mundo. As comunidades,

conjuntos habitacionais, ocupações e outros movimentos mostram ao longo do tempo as

diversas tentativas e formas de intervir positivamente na existência humana sobre o planeta.

7.2.1.1 Vila do IAPI

Como exemplo de um projeto potencialmente favorável ao desenvolvimento urbano,

em harmonia com o meio ambiente e outros valores, cuja concepção original foi deformada ao

longo do tempo, cita-se o conjunto habitacional do Passo d'Areia, ou IAPI (Instituto de

Aposentadorias e Pensões dos Industriários), em Porto Alegre.

A vila do IAPI foi erguida entre os anos de 1942 e 1954, nasceu como resposta para

um problema de habitação para as classes populares e o operariado da cidade.

A partir do primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Porto Alegre

(PDDU), em 1979, o conjunto passou a ser designado como área de interesse cultural. Tem

como peculiaridades o uso intenso de vegetação, arborização em praças e parques, ruas e

avenidas de traçado orgânico (que segue as formas da geografia e da natureza) e edificações

implantadas em meio a jardins – evidenciando a inspiração do projeto na Cidade-jardim de

Ebenezer Howard (LAPOLLI, 2006).

Conforme Lapolli, as unidades residenciais no IAPI são compostas de casas

Page 54: TCC-revisado-21-12-09

52

individuais no centro dos lotes com casas germinadas, prédios de dois pavimentos com quatro

unidades, alguns deles mistos com comércio no térreo. Os terrenos das unidades

multifamiliares foram divididos de modo que cada uma das unidades possuísse um pátio para

abrigar galinheiros, pequenas hortas e coradouros - espaços abertos para "corar" roupas (expor

ao sol) -, inclusive para as unidades dos pavimentos superiores.

Certas ideias e características do projeto denotam uma singularidade sem precedentes

para Porto Alegre, e mesmo para o país, até os dias atuais.

Por exemplo, a autonomia cotidiana, ou seja, a vila possuía um sistema de atividades -

escolas primárias (ensino fundamental) e, posteriormente, secundárias (ensino médio),

padarias, mercados, açougues, mercearias, segurança, parque esportivo, praças e hospital (o

hospital não foi construído, mas a vila sempre contou com o Posto de Saúde do IAPI) que

deveriam garantir respostas às demandas básicas de seus moradores sem a necessidade de

deslocamentos maiores, reduzindo sua dependência externa.

Da mesma forma, a preocupação ecológica aparece explicitamente no projeto, através

de várias maneiras, como a então inovadora concepção de uma adutora para atender

exclusivamente ao abastecimento de água e uma estação de tratamento dos esgotos do

conjunto (a primeira de Porto Alegre).

Segundo Lapolli, a Vila do IAPI é tida como importante referencial de arquitetura e

desenho urbano, únicos dentro da configuração de Porto Alegre, mas que vem sofrendo um

contínuo processo de degradação ambiental e descaracterização de sua forma original,

causado por fatores externos e internos à vila. Como fatores externos é citado a especulação

imobiliária e a penetração de áreas comerciais e de serviços nas imediações, acelerando a

substituição de suas tipologias. Como fatores internos, surgem novas necessidades

habitacionais dos moradores, geradas pelo desenvolvimento tecnológico e transformações

culturais, levando a modificações e adaptações nas edificações.

Aqui destaca-se um ponto importante: tais transformações também são provocadas por

uma mudança de costumes e de necessidades de seus usuários. Logo, julga o autor, é legítimo

que os moradores procurem adaptar os seus espaços de moradia às novas necessidades. Esse

elemento permite imaginar o quão ideal poderia ser a vila nos dias de hoje caso tivesse sido

sempre acompanhada e conduzida na linha do equilíbrio entre urbano e campo, homem e

natureza, ainda que tivesse seguido certos avanços tecnológicos e adaptações. Seria a vila,

então, mais do que um patrimônio histórico.

Page 55: TCC-revisado-21-12-09

53

Outro elemento que remete à mesma questão, é o fato de que a vila do IAPI

permaneceu protegida de transformações mais drásticas durante os primeiros anos de

existência graças a um sistema de apropriação dos imóveis que fazia de seus moradores donos

do valor de uso, enquanto o poder público detinha a propriedade efetiva do conjunto (algo

semelhante é aplicado com grande sucesso hoje em dia em Cuba). Contudo, após o golpe

militar de 1964 e a implantação de uma nova política habitacional centralizada, baseada no

Banco Nacional de Habitação (BNH), e com a consequente extinção dos Institutos de

Aposentadoria e Pensões, os imóveis foram vendidos para os seus moradores e o controle

administrativo passou para o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

Conforme conclui Lapolli, o desenho da vila é resultado de uma interpretação apurada

da realidade social. Daí que a vila do IAPI não trata de uma reinvenção da cidade, mas da

interpretação de valores urbanos que são reconhecidos na cidade tradicional e, mais ainda,

incorporando elementos culturalmente sensíveis, respeitando a morfologia do ambiente

natural local e assim dialogando com os movimentos da natureza.

Quando Ebenezer Howard teorizou sobre a Cidade-jardim, segundo Lapolli, já havia

mais de 150 anos que a revolução industrial estava modificando os hábitos, costumes,

sociedade e, principalmente, as cidades. Nesse período de transformações as cidades passaram

de pequenas aglomerações, muito identificadas com funções políticas e de mercado, para

grandes centros de produção e consumo de mercadorias manufaturadas. Era tempo de se

constatar as consequências dessas modificações nas grandes cidades e para propor uma

reforma capaz de reconciliar o homem com a natureza. Um dos principais princípios de

Howard estava na integração entre cidade e campo, consagrado em sua publicação "Garden

Cities of Tomorrow" (Cidades-jardins do amanhã), publicado em 1902.

Page 56: TCC-revisado-21-12-09

54

As figuras, acima, mostram o acesso de entrada aos pátios de duas unidades

habitacionais, onde percebe-se claramente duas diferentes intervenções realizadas pelos seus

moradores. Enquanto numa delas toda a área foi construída e impermeabilizada, a outra

manteve a maior parte livre, com plantios de árvores frutíferas, horta de ervas e hortaliças e

plantas ornamentais (NETO, 2009).

7.2.1.2 Ekoa-caá

Em Porto Alegre pode-se ver diversas outras iniciativas, como por exemplo a

associação Ekoa-caá, constituída para construir uma ecovila, ou um condomínio ecológico. O

terreno com 3,8 ha está localizado no bairro Ponta Grossa, zona sul de Porto Alegre, onde será

implantado o condomínio, o qual diferencia-se dos demais "eco-condomínios" comerciais

pelo fato de que a iniciativa partiu de um grupo de pessoas com o objetivo em comum de

mudar paradigmas e conviver entre si respeitando a todos e a natureza.

A proposta original leva em conta a compreensão e integração dos sistemas físicos e

estruturais ao ambiente natural, bem como a interdependência e conexão entre todos os

elementos, partindo dos preceitos de construções com impacto ambiental reduzido, com baixo

consumo de energia e água, com gestão e tratamento adequados de resíduos e efluentes

(DIEHL, 2009).

Apesar da união entorno de um objetivo em comum, ainda assim os desafios são

grandes, especialmente àquilo que diz respeito às relações sociais quando se coloca em jogo a

Figura 10: Acesso aos pátios de duas unidades

no IAPI.

Figura 11: Vista panorâmica do IAPI e um

pátio no plano inferior.

Page 57: TCC-revisado-21-12-09

55

individualidade das pessoas com suas diferentes necessidades, onde a convivência grupal e o

consenso nas decisões são fundamentais para a sobrevivência do projeto.

Comummente, outras iniciativas partem inicialmente de uma única ou poucas pessoas,

para depois de estabelecido agregar novos participantes. Em alguns casos tornam-se meros

empreendimentos comerciais onde, mesmo sendo o condomínio menos impactante ao meio

ambiente, não necessariamente exige ou provoca as mudanças comportamentais nos

indivíduos.

7.2.1.3 Casa NAT

Exemplo visto em Porto Alegre é o caso da Casa NAT (Núcleo Amigos da

Terra/Brasil), cuja proposta consiste na reforma e intervenção arquitetônica em uma casa

cedida pelo Patrimônio Nacional da União, com o objetivo de transformar o local em um

Centro de Referência em Bioarquitetura no Meio Urbano, abrigando também o Centro de

Documentação Magda Renner (biblioteca).

Os princípios do projeto basearam-se na busca do equilíbrio entre as dimensões do

aspecto social, ambiental, econômico e cultural, adotando os seguintes conceitos no projeto

arquitetônico: utilização de materiais reciclados ou de baixo impacto (levando em conta seu

ciclo de vida); eficiência energética através do uso da energia solar por meio de placas

fotovoltaicas e aquecedores de água; otimização da luz solar para condicionamento térmico e

iluminação natural; tratamento de efluentes local com aproveitamento na manutenção e

irrigação dos jardins produtivos; aproveitamento da água da chuva; cobertura verde com uso

de vegetação nativa; espaços integradores com locais de inter-relação entre usuários e

visitantes, onde a comunidade possa se envolver nas atividades realizadas; possibilidade de

acessibilidade universal (NAT, 2009).

O projeto arquitetônico começou a ser desenvolvido em 2006 por uma equipe de dez

arquitetos, e desde lá já realizou diversas atividades abertas à comunidade, como palestras,

mutirões e encontros sobre o andamento do projeto, permitindo a apropriação pelas pessoas

do processo e ampliando, assim, as ideias a serem aplicadas.

Essa equipe de profissionais desenvolveu uma metodologia participativa que propiciou

uma visão mais abrangente na qualidade técnica do projeto, além de potencializar discussões

sobre problemas urbanos e ampliar a responsabilidade social perante os impactos ambientais

gerados pela indústria da construção civil (SOUZA et al, 2009).

Page 58: TCC-revisado-21-12-09

56

Em resumo, trata-se de uma metodologia de gestão de projeto, participativo e

interdisciplinar como diferencial, ou seja, através de intensa participação dos atores, sejam

eles os técnicos, os idealizadores ou a comunidade e demais público interessado.

Destaca-se as estratégias consideradas (SOUZA, 2007):

• Preservação do volume pré-existente: buscou-se valorizar a autenticidade do edifício

histórico e considerando seu estado de conservação, adotou-se a estratégia de

preservação da volumetria básica, resgatando e recuperando as soluções construtivas,

como as alvenarias portantes de tijolo maciço, o entrepiso elevado com estrutura e

piso de madeira, o traço original do reboco, a pintura que permita a transpiração das

paredes e as esquadrias de madeira;

• Seleção de materiais de baixo impacto ambiental: foram escolhidos materiais menos

prejudiciais ao meio ambiente, observar uma série de critérios - entre eles, avaliar as

propriedades dos materiais e analisar as características da sua cadeia de produção

desde a fase de extração até o momento do seu descarte, principalmente no que se

refere ao consumo de recursos naturais;

• Geração de energia: foi prevista a instalação de 40 painéis fotovoltaicos de 50W de

potência cada e de quatro coletores solares térmicos para aquecimento de água,

posteriormente ao estudo que fez a simulação da incidência solar no local;

• Conforto Ambiental (elementos de arquitetura bioclimática): considerou-se no projeto

as condições climáticas da região onde se localiza. As soluções arquitetônicas

adotadas nesses casos consegue minimizar o consumo de energia, dentre outros

benefícios que proporciona ao ambiente. Basicamente, durante o inverno o

desconforto é devido a baixas temperaturas, enquanto nos meses de verão há excesso

de calor. Dessa forma, as principais estratégias bioclimáticas devem proporcionar

aquecimento para o inverno e ventilação para o verão. Além disso, a edificação deve

possuir inércia térmica, evitando a perda de calor de dentro para fora no inverno e a

entrada de calor de fora para dentro no verão. Dentre as medidas tomadas, cita-se a

criação dos pátios internos, para um melhor aproveitamento da luz natural e para

melhores condições de ventilação; da mesma forma, a localização de vãos na parte

superior das paredes possibilitou a remoção do ar quente, quando necessário; uso de

telhas e fechamentos translúcidos voltados para o sol para reter o calor em dias frios;

Page 59: TCC-revisado-21-12-09

57

uso de materiais isolantes como madeira e a cerâmica para manter a temperatura

interna estabilizada; uso de aberturas baixas para permitir a circulação interna do ar

durante o verão; uso de coberturas verdes no telhado, que possuem inércia térmica,

filtram o ar e reduzem o escoamento de água da chuva;

• Tratamento de efluentes: foi proposto sistema que trata e reutiliza as águas residuais,

direcionando os efluentes tratados para manutenção dos jardins produtivos;

• Paisagismo produtivo: foi implementado um paisagismo produtivo localizado no pátio

central, servindo como interface entre os volumes edificados, integrando a arquitetura,

os usuários e a natureza. A figura abaixo ilustra algumas soluções dadas.

7.2.1.4 Vila São Judas Tadeu

Das iniciativas estudadas para este trabalho, um aspecto salta à frente em todos os

casos: as relações sociais. Parece que disso depende o sucesso ou o fracasso de qualquer

comunidade ou mesmo tecnologia, independente de motivos e origens ou por mais bem

intencionada e correta que pareça sua proposta.

Exemplo positivo que evidencia ainda mais a importância das relações é a Vila São

Judas Tadeu, em Porto Alegre, cuja formação iniciou na década de 1960 a partir da instalação

Figura 12: Planta baixa do paisagismo e vista do pátio central.

Page 60: TCC-revisado-21-12-09

58

de famílias que trabalhavam no Hospital Sanatório Partenon, situado ao lado da vila até hoje.

A associação de moradores foi fundada nos 80, a AMOVITA (Associação de Moradores da

Vila São Judas Tadeu). O local que atualmente abriga as cerca de 700 famílias da vila é uma

área pública estadual, com processo de regularização fundiária em andamento via Ministério

das Cidades.

Com o passar do tempo, a região que antes era pouco habitada, passou a valorizar e a

sofrer forte pressão por interesses imobiliários, sendo que o ápice da tensão foi a expansão do

campus universitário da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS), vizinho à vila. A partir

desse momento iniciou-se uma série de investidas contra a vila, e até mesmo diretamente aos

moradores, com o intuito de remoção da vila. Não fosse a união e a organização dos

moradores, a vila já teria sucumbido às pressões.

Paralelamente à luta pela sobrevivência, os moradores da vila São Judas Tadeu

avançam através das dificuldades, resgatando e agregando valores no seu desenvolvimento

como organismo. Atualmente se organizam de modo a promover a geração de renda,

educação infantil e atividades com jovens, atividades beneficientes, atividades culturais,

cidadania e participação em diversos processos da cidade, vida e convivência em comunidade

e, também, buscando a consciência ambiental (OLIVEIRA, 2009).

A AMOVITA conta com uma estrutura organizacional com divisão de secretarias para

os diversos assuntos prioritários como habitação, cultura, organização e comunicação. É a

partir da Associação, onde os moradores decidem suas prioridades, que diversos projetos

ganham forma, dentre os quais destacam-se:

• Atenção Integral à Criança e ao Adolescente como Forma de Prevenção à Violência;

• Viabilização da construção da Creche Comunitária;

• Projeto de Inclusão Social: acesso à universidade pública e privada. Inclusão da Vila

no projeto de Pré-vestibular popular Quizomba. Busca de parcerias para a formação

universitária;

• Atividade para os idosos;

• Projeto Crescer e Aprender: atende crianças da vila no turno inverso ao da escola,

onde são ensinadas noções de cidadania, trabalho em grupo, solidariedade e respeito

às diferenças;

• Projeto Garantia do direito à moradia digna;

• Projeto de Inclusão Digital;

Page 61: TCC-revisado-21-12-09

59

• Projeto Contando a História da Vila: exposição permanente de fotos, constituição de

acervo de documentos, nomes de antigos moradores(as) nas ruas, produção de um

vídeo sobre a historia da vila;

• Projeto Qualificação do Espaço Comunitário: reformas dos espaços coletivos;

• Projeto Geração de Trabalho e Renda: oficinas de artesanato e feira, cursos de

qualificação profissional;

• Projeto Socioambiental: atividades de conscientização sobre os cuidados com a

natureza e limpeza das ruas da vila. Construção de cisternas para aproveitamento da

água da chuva em banheiros e jardins.

A AMOVITA também participou do encontro Cidades em Transição, realizado em

Porto Alegre, que trouxe a experiência mundial do movimento, possibilitando a troca de

informações e o fortalecimento das iniciativas locais em favor da preservação ambiental

(OLIVEIRA, 2009).

Vê-se, nesse exemplo, como a organização e a participação efetiva das pessoas -

mesmo que com poucos recursos - pode contribuir na melhoria da qualidade de vida, ao

mesmo tempo que mantém vivo uma valor humano tão pouco valorizado nas grandes cidades,

onde a individualidade e o egoísmo predominam, que é a cooperação.

A foto abaixo mostra o plantio de uma muda de cerejeira num ato simbólico no local

escolhido para abrigar a futura creche comunitária (OLIVEIRA, 2009).

Figura 13: Plantio de árvores na vila.

Page 62: TCC-revisado-21-12-09

60

7.2.1.5 Movimento Cidades em Transição e as redes mundiais

Ao redor do mundo centenas de iniciativas de comunidades, ecovilas e condomínios,

cujo diferencial esteja na relação entre as pessoas e o meio ambiente, se formaram nas últimas

décadas, com as mais diversas características. Boa parte delas estão unidas em uma rede

mundial, cujo objetivo é fortalecer o movimento de divulgação de experiências e tecnologias,

incentivando novas iniciativas e até mesmo governos e políticas públicas (DAWSON, 2006).

As ecovilas (comunidades intencionais com o propósito de se viver em equilíbrio com

o meio ambiente) em geral são estereotipadas com a imagem de fazendas e áreas naturais de

natureza exuberante, onde as pessoas vivem suas fantasias isoladas do resto mundo. De fato,

certas propostas requerem um contato maior com o ambiente natural, saindo do adensamento

urbano. No entanto, o que predomina são comunidades e movimentos providos de alta

tecnologia e grau de instrução e inteiramente em contato com todo o mundo, seja em meio

urbano ou no campo ou selva.

Diversos movimentos mais urbanos ganham força nesse momento histórico,

promovendo iniciativas de agricultura urbana, compostagem, jardins e paisagismo produtivos,

transportes não motorizados e uma gama de ações e ideias na busca de uma mudança de

hábitos da população, que conduza as comunidades e cidades à menor dependência de

petróleo e fontes externas e poluentes de energia, reduzindo gradativamente o consumo

desnecessário de bens e mercadorias e outros. Destaca-se, nesse caso, o movimento conhecido

mundialmente como Cidades em Transição, cuja intenção é tornar as cidades localmente mais

resilientes em termos de dependência energética, sendo o foco principal de ação a promoção

da integração das comunidades locais visando desenvolver, em conjunto, ações práticas que

levem à mudanças de hábitos (HOPKINS, 2008).

Em Porto Alegre existe um grupo organizado ligado a esse movimento mundial, o qual

reúne diversas iniciativas sociais, desde associações de bairro, cooperativas de produtores

orgânicos, organizações não governamentais, movimentos sociais até sindicatos e

universidade.

7.2.1.6 Utopia e Luta: uma comunidade vertical

Porto Alegre é palco também de outras formas de intervenção no espaço público que

buscam o equilíbrio entre os pilares social, econômico e ambiental. Assim é o caso do

movimento que conquistou o direito à moradia após invasão - e muita negociação - do antigo

Page 63: TCC-revisado-21-12-09

61

prédio fora de uso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), na avenida Borges de

Medeiros.

Hoje o Residencial Utopia e Luta é primeiro prédio público do país destinado à

moradia popular. O projeto foi desenvolvido em parceria entre o Movimento Nacional de Luta

pela Moradia de Porto Alegre (MNLM), Cooperativa de Produção, Trabalho e Habitação Ltda

(Coopernova), o Ministério das Cidades, o INSS e a Caixa Econômica Federal.

Os apartamentos serão no formato JK. Para morar no prédio, além de passar por uma

seleção (deve-se estar disposto a conviver de acordo com as proppstas da comunidade), cada

uma das 42 famílias pagará R$ 25 mil - sem juros e diluídos em 20 anos – à Caixa Econômica

Federal (CEF).

O edifício tem nove andares, sendo que sete são de apartamentos. Cada andar é

temático. O primeiro, dedicado aos homens mais idosos, ‘Andar do Homem Novo’. A

‘Consciência Negra’, os ‘Povos Indígenas’, a ‘Juventude’, a ‘Biodiversidade’, a ‘Mulher’ e a

‘Revolução’ também dão nome aos andares.

No terraço planejou-se uma cozinha industrial, uma horta comunitária e o trabalho de

reciclagem do lixo. No térreo, o espaço destina-se para o teatro, aulas de computação e um

centro de educação infantil (creche). No subsolo do prédio é o lugar de uma lavandeira

coletiva, onde duas máquinas industriais de lavar-roupa e outras duas de secar estarão

disponíveis (CURSO CIDADES EM TRANSIÇÃO, 2009).

Enfim, em vez de cada uma das 42 famílias possuir seu próprio equipamento de lavar,

secar e cozinhar, buscou-se uma solução coletiva, reduzindo o gasto de energia e evitando a

compra de bens de consumo. Tal estratégia também é utilizada por outras comunidades com

viés ecológico, bem como o intenso convívio em torno de atividades culturais e educacionais.

Em termos de ação pelo direito à moradia, não foi encontrado exemplo similar no mundo.

Porém, em termos de concepção de comunidade que se organiza em função de preceitos

ecológicos, a iniciativa compara-se a outros movimentos ao redor do mundo.

7.2.1.7 Casarão do Arvoredo

Outro exemplo de comunidade intencionalmente constituída com vistas à levar a vida

urbana em comunhão com princípios ecológicos é o Casarão do Arvoredo. Trata-se da

ocupação de uma grande casa no centro de Porto Alegre, construída em 1927 por uma família

porto-alegrense tradicional e atualmente tombada como patrimônio histórico, onde dois

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62

grupos, o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá) e o Casa Tierra (arquitetura e

agricultura ecológica na linha da permacultura), além de mais sete moradores, buscam uma

gestão coletiva do espaço (RAYMUNDO, 2009).

Esse projeto tem abrigado, desde seu início, diversas atividades culturais e de

educação ambiental, recebendo hóspedes de outros estados e países que vem em busca da

troca de experiências. O Casarão do Arvoredo conta com uma grande cozinha coletiva, onde

se busca desenvolver a culinária vegetariana; o pátio que antes estava abandonado se tornou

num jardim produtivo, agregando aspectos sociais, ambientais e culturais; o salão de uso

coletivo é onde acontecem as palestras, oficinas e outras atividades promovidas pelos

residentes da casa. A casa se tornou no ponto de encontro de diversos movimentos, culturais

ou ambientais, do Estado.

Destaca-se, ainda, como característica marcante dessa comunidade, o relacionamento

social harmonioso, inclusivo e transformador , tanto interno quanto com a vizinhança.

7.3 Mobilidade urbana: transporte humanizado

A nível mundial muitas políticas e movimentos sociais tem defendido e planejado as

cidades para as pessoas, ou seja, a humanização das cidades passa pela priorização dos

pedestres e ciclistas em detrimento dos automóveis. Incentivo ao transporte coletivo e ao uso

da bicicleta, através da criação de infraestrutura e logísticas de circulação eficientes, já

demonstraram o quanto interfere positivamente na qualidade de vida dos habitantes das

cidades.

Por outro lado, viu-se nesse trabalho que Porto Alegre tem perdido usuários do

transporte coletivo, o que parece uma contradição diante da tendência em direção oposta no

contexto mundial, ainda numa cidade onde tanto se fala em meio ambiente, berço de

personalidades como José Lutzenberger e o pioneirismo ambiental.

Concomitantemente, evidencia-se o crescimento do transporte motorizado individual,

com o aumento da frota de veículos.

Priorizar o tema da mobilidade (inclui não apenas transporte, mas toda e qualquer

circulação de pessoas) é fundamental para qualquer cidade, especialmente quando se observa

o rápido adensamento e verticalização, com a consequente saturação das vias e aumento da

poluição.

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63

7.4 Produção e abastecimento de alimentos

A FAO estima que até 2015 mais de 26 cidades em todo o mundo estarão com mais de

10 milhões de habitantes. Para abastecer de alimentos essa população seria necessário

importar, pelo menos, 6 mil toneladas de alimentos todos os dias.

Esse ritmo de abastecimento por si só já revela um dispêndio energético enorme, ainda

mais sabendo-se da origem e do ciclo de vida uma série de produtos consumidos diariamente

(por exemplo, frutas e legumes que vijam centenas e até milhares de quilômetros antes de

chegar no consumidor final; o impacto da cadeia produtiva da carne).

Mundialmente a agricultura urbana vem sendo apontada como uma solução eficaz em

termos da redução do consumo energético, principalmente quando desenvolvida de forma

orgânica, livre se insumos químicos e agrotóxicos derivados de petróleo.

Em Cuba, por exemplo, quando o país enfrentou os embargos dos EUA tendo

suspensos os abastecimentos de combustíveis e alimentos, houva uma rápida adaptação que

resultou numa agricultura urbana orgânica. Hoje, cerca de 50% das hortaliças consumidas em

Cuba – com 2 milhões de habitantes – é produzida localmente e independente de insumos

externos (MORGAN, 2007).

Um cinturão verde: Porto Alegre possui a segunda maior zona rural dentre as capitais

do país, com grande potencial produtivo, sendo sua produção de hortigranjeiros a segunda

maior fornecedora da CEASA-RS (SINDICATO RURAL, 2009).

No entanto esse potencial é mal orientado e conduzido, pois reflete a dinâmica da

economia gaúcha, com forte relação de dependência com a dinâmica da economia nacional

(FEE, 2009). Além disso, existe uma tendência de crescimento da cidade para aquela região,

sendo, portanto, fortemente pressionada pela especulação imobiliária.

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64

CONCLUSÃO

A maneira como uma cidade se organiza é fruto de fatores como localização, política e

economia, o que também determina o nível de influência sobre o consumo de recursos

naturais. As cidades contemporâneas, de um modo geral, surgiram e se organizaram no

entorno do padrão de produção e consumo de um sistema conceitualmente capitalista.

Historicamente o crescimento econômico tem sido acompanhado por um incremento na

desigualdade urbana em muitos países, fato observado também nas cidades brasileiras, como

é o caso de Porto Alegre, onde no ano de 2000 a unidade de desenvolvimento humano (UDH)

com maior renda per capita representava 23 vezes mais que a UDH com menor renda per

capita.

Não obstante disso, a recente experiência econômica de grandes economias em

desenvolvimento mostra que enquanto a renda per capita aumenta, a desigualdade de renda

também aumenta.

Igualmente é o acesso à moradia e oportunidades, pois população favelada mundial

cresce em 25 milhões de pessoas por ano, como revelou a ONU. Crescimento esse tão

intrigante quanto o crescimento urbano, atingindo a marca de 3,3 bilhões de pessoas residindo

em áreas urbanas, a metade da população mundial, com projeções indicando que chegará aos

70% por volta de 2050.

Como qualquer outro sistema orgânico, as cidades consomem, metabolizam e

transformam energia, água e materiais em produtos e resíduos. Portanto, à medida que a

cidade cresce, aumentam as necessidades de importação de alimentos e energia. O nível dos

impactos ambientais, no entanto, também é determinado por outros fatores importantes, como

o padrão de consumo, estilo de vida, forma e estrutura urbana.

Associado ao estilo de vida estão os hábitos de alimentação e transporte. A pecuária é

responsável por 18% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, enquanto que em áreas

urbanas metropolitanas o setor dos transportes contribui para um terço ou mais das emissões

totais de gases de efeito de estufa. A medida que aumenta a motorização a qualidade de vida

urbana é deteriorada.

Dentro desse cenário, a vulnerabilidade social e ambiental coloca todos em pé de

igualdade, independente de classe social, uma vez que a degradação e contaminação do

ambiente ou os riscos iminentes das mudanças climáticas não encontram fronteiras. Assim

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demonstram cientistas do mundo inteiro, apontando, inclusive, que as alterações climáticas

colocam em risco a própria economia mundial.

Porto Alegre, ao longo de décadas, desenvolveu projetos de modernização da cidade

privilegiando os interesses da burguesia local, fator que determinou a remodelação urbana

visando a inserção em uma ordem capitalista mundial. O desaparecimento das antigas

estruturas edificadas ou da perda de identidade e da memória coletiva não faziam parte dos

debates, a aplicação e ampliação dos capitais imobiliários prevaleciam.

A dimensão dessa característica histórica fica muito evidenciada no caso da vila do

IAPI, onde concluiu-se que os habitantes da cidade são tão importantes quanto os elementos

construtivos, pois eles também são atores do espetáculos da construção das cidades.

Muito da origem peculiar de Porto Alegre reflete-se até os dias atuais, especialmente

com relação aos anseios de uma parcela da população, a qual se deixa conduzir por uma

ordem econômica globalizada, absortas pela própria opulência.

Apesar do grande desafio de urbanizar, viver e conviver sem colocar um fardo enorme

sobre os recursos ambientais do mundo, percebe-se claramente o despertar de uma outra

ordem, trazendo mudanças e respostas às necessidades mais prementes. Vê-se as experiências

locais colocando em prática teorias, experimentando e, aos poucos, construindo modelos de

sociedade em comunhão com o meio ambiente. Das referências mundiais às referências

locais, as diversas peculiaridades constituem uma rica cadeia de trocas e experiências, onde se

vê outro mundo sendo construído e vivido. Chegou-se num ponto de convergência em que o

único impedimento à mudança necessária é o próprio livre arbítrio, ou seja, basta escolher.

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66

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