Tecnologia Na EJA

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  • NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS: QUEM USA A FAVOR DE QUEM E PARA QU? BIANCA MARIA SANTANA DE BRITO (FACULDADE DE EDUCAO DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO). Resumo Tratase de uma pesquisa sobre os usos educativos das novas tecnologias de informao e comunicao (TICs) na educao de jovens e adultos (EJA), com objetivo de subsidiar as polticas pblicas e a formao de professores. As TICs impactam diversas dimenses da vida social contempornea e sua incorporao aos processos de ensino tem sido amplamente recomendada. Logo as polticas pblicas de educao passaram a prever a aquisio de equipamentos e programas, e a formao de professores para sua utilizao pedaggica. Entretanto, os usos e o papel que essas tecnologias desempenham nos processos pedaggicos so ainda pouco conhecidos, em especial na EJA. Em consonncia com o pensamento de Freire (1995), o estudo maneja a hiptese de que, dependendo dos usos e finalidades, as TICs tm o potencial de expandir a capacidade crtica e criativa dos indivduos. Considerase ainda que a marginalizao das redes e fluxos de informao reafirma a excluso social dos estudantes desta modalidade de ensino. O estudo emprico ser realizado em distritos representativos da diversidade sociocultural e dos contextos de excluso socioeconmica na capital paulistana, e compreender: o mapeamento dos usos educativos das TICs em escolas pblicas de EJA; a construo de uma tipologia desses usos pedaggicos dessas ferramentas; e a anlise de prticas pedaggicas em unidades escolares representativas desses usos. Palavras-chave: Tecnologias de Informao e Comunicao, Polticas Pblicas, Educao de Jovens e Adultos.

    Acho que o uso de computadores no processo de ensino aprendizagem, em

    lugar de reduzir, pode expandir a capacidade crtica e criativa (...) Depende de

    quem usa a favor de qu e de quem e para qu. (FREIRE, 1995: 98)

    Introduo

    O Ministrio da Educao brasileiro (MEC) ainda no formalizou uma poltica efetiva

    de incorporao das Tecnologias de Informao e Comunicao (TICs) nos

    processos de ensino-aprendizagem. Os poucos programas de equipamento das

    escolas e capacitao de professores, como o Programa Nacional de Tecnologia

    Informacional (Proinfo), ainda demonstram pouca clareza de objetivos e resultados

    (ANDRADE, 2008). No que concerne s polticas de Educao de Jovens e Adultos

  • (EJA), coordenadas pela Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e

    Diversidade (Secad), no h diretrizes especficas.

    Uma pesquisa que analise as recomendaes de especialistas e organismos

    internacionais, as prticas escolares de utilizao de computadores ainda no

    sistematizadas e as valoraes de educandos e educadores da EJA pode contribuir

    para a fundamentao de polticas pblicas de incluso digital e formao de

    educadores. Diferentemente da maioria dos estudos de polticas educacionais, que

    avaliam programas e polticas consolidados, ela seguiria a recomendao de Pierre

    Lvy, quando afirma que nos estudos da cibercultura, no se trata apenas de

    raciocinar em termos de impacto (qual o impacto das 'infovias' na vida poltica,

    econmica ou cultural), mas tambm em termos de projeto (com que objetivo

    queremos desenvolver as redes digitais de comunicao interativa) (LVY, 1999:

    13).

    Referencial Terico

    Inovaes tecnolgicas so criaes sociais que remodelam sociedades. Aspectos

    diversos como trabalho, capital e tempo vm sendo resignificados e tm exercido

    influncia mtua com a presena das chamadas tecnologias da informao e da

    comunicao, o que permite afirmar que a sociedade est em rede (CASTELLS,

    1999).

    Neste contexto, um conjunto de tcnicas materiais e imateriais de prticas, de

    atitudes, de modos de pensamento e de valores se desenvolve. a chamada

    cibercultura (LVY, 1999: 17). Segundo Lvy (1999), na cibercultura:

    as universidades e, cada vez mais, as escolas primrias e secundrias esto

    oferecendo aos estudantes a possibilidade de navegar no oceano de

    informao e de conhecimento acessvel pela Internet. H programas

    educativos que podem ser seguidos distncia na world wid web. Os correios

  • e conferncias eletrnicas servem para o tutoring inteligente1 e so colocados

    a servio de dispositivos de aprendizagem cooperativa. Os suportes

    hipermdia permitem acessos intuitivos, rpidos e atraentes a grandes

    conjuntos de informaes (p. 170) .

    Ainda que essa perspectiva venha sendo apontada como a desejvel em diversos

    estudos brasileiros, ela uma realidade distante na maioria das escolas.

    Andressa Andrade, em sua dissertao de mestrado (2007), mostra que

    equipamentos interativos de ltima gerao tm incrementado salas de aulas

    como uma imposio para educandos e educadores transformando

    potencialidades em obrigaes (ANDRADE, 2007: 98).

    Nelson Pretto (2008) tambm chama a ateno para a necessidade de

    qualificao no uso das tecnologias:

    A presena de tecnologias mais simples, como os livros impressos, ou de

    outras mais avanadas, como os computadores em rede, produzindo novas

    realidades, exige o estabelecimento de novas conexes que as situem diante

    dos complexos problemas enfrentados pela educao, sob o risco de que os

    investimentos no se traduzam em alteraes significativas das questes

    estruturais da educao (p. 81)

    Trs dcadas antes das discusses sobre a cibercultura, Ansio Teixeira (1963)

    falou sobre uma revoluo dos meios de comunicao de seu tempo:

    A educao para ste perodo de nossa civilizao ainda est para ser

    concebida e planejada e, depois disto, para execut-la, ser preciso

    verdadeiramente um nvo mestre, dotado de grau de cultura e de treino que

    apenas comeamos a imaginar.

  • Animado com as possibilidades da televiso, do cinema e do disco na escola,

    Teixeira mostrava preocupao com a qualificao do professor, que deveria estar

    apto a conduzir os alunos pelos novos meios de aprendizado.

    Com computadores conectados Internet, somados televiso, ao cinema e

    ao disco, o desafio do professor parece ainda maior. Segundo Oliveira (2001):

    O uso da informtica na educao exige em especial um esforo constante do

    educador para transformar a simples utilizao do computador numa

    abordagem educacional que favorea efetivamente o processo de

    conhecimento do aluno. Dessa forma, a interao com os objetos de

    aprendizagem, o desenvolvimento de seu pensamento hipottico e dedutivo,

    de sua capacidade de interpretao e anlise da realidade tornam-se

    privilegiados e a emergncia de novas estratgias cognitivas do sujeito

    viabilizada (p. 62) .

    E no se pode esperar que o professor esteja pronto para o desafio. Habituado ao

    livro didtico, e muitas vezes escassez de apoio pedaggico, o professor sente

    dificuldades para realizar um trabalho interativo com as diversas mdias. A

    sensao de que o desenvolvimento de habilidades para lidar com a TV e o vdeo

    ainda no haviam sido incorporados ao fazer pedaggico quando 'as novas mdias'

    como o computador e a Internet 'invadiram' o cotidiano escolar (BERGMANN,

    2006: 277). Logo, ao analisar a introduo das novas tecnologias na educao

    essencial discutir a formao dos professores, mediadores do processo (ANDRADE,

    2007: 17).

    Alm de pensar as TICs como mediao na educao, cabe ressaltar a desigualdade

    social que pode ser alimentada se seu uso no atingir pessoas de todas as classes

    sociais. Segundo o socilogo Srgio Amadeu da Silveira (2001), a no-apropriao

    das novas tecnologias tende a ampliar o distanciamento entre ricos e pobres:

  • A excluso digital impede que se reduza a excluso social, uma vez que as

    principais atividades econmicas, governamentais e boa parte da produo

    cultural da sociedade vo migrando para a rede, sendo praticadas e

    divulgadas por meio da comunicao informacional. Estar fora da rede ficar

    fora dos principais fluxos de informao. Desconhecer seus procedimentos

    bsicos amargar a nova ignorncia (p.18 ).

    Apesar de reconhecer a importncia das TICs, evidente que no se pode

    compreender o acesso a elas como sinnimo de desenvolvimento social ou

    cognitivo. A apropriao que os sujeitos fazem das tecnologias que vo definir a

    medida em que elas contribuem, ou no, para o aprendizado e o exerccio da

    cidadania (DURAN, 2008).

    Analisar a apropriao que jovens e adultos em processo de escolarizao

    fazem das TICs tambm pressupe ateno s particularidades da modalidade de

    ensino. A maioria dos estudantes da EJA cresceu no campo, em famlias pobres e

    numerosas que necessitavam do trabalho de todos. A dificuldade de acesso ou a

    falta de escolas rurais limitaram a escolarizao na infncia e na adolescncia. Para

    os que se alfabetizaram, as situaes de leitura e escrita foram raras, levando

    muitos de volta condio de analfabetos. Vivendo no campo ou migrando para

    grandes cidades, os estudantes enfrentaram situaes de preconceito por no

    saberem ler, escrever ou calcular. Superar essa condio o que levou muitos de

    volta aos bancos escolares (GALVO e DI PIERRO, 2007: 16 20).

    Di Pierro (2008: 370) resume em quatro as funes sociais primordiais que a EJA

    tem assumido na Amrica Latina: a escola o espao para os migrantes rurais

    adquirirem os cdigos culturais para a insero no ambiente urbano; na EJA que

    pessoas de baixa escolaridade conseguem as credenciais escolares exigidas pelo

    mercado de trabalho; essa modalidade de ensino oferece a jovens excludos

    precocemente do ensino regular um canal de reinsero e acelerao de estudos; e

  • independentemente do nvel de escolaridade dos indivduos, na EJA h espao para

    atualizao e qualificao, to importantes na cultura globalizada em que vivemos.

    Desde a dcada de 1940 o governo oferece escolarizao a pessoas adultas. Depois

    das campanhas de alfabetizao nos idos de 1950, do Mobral e da

    institucionalizao do Ensino Supletivo, na dcada de 1970, o reconhecimento do

    direto de todos escolarizao se firmou com a Constituio de 1988 (HADDAD, DI

    PIERRO, 2000: 127), cujo artigo 208 garante: I - ensino fundamental, obrigatrio

    e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele no

    tiveram acesso na idade prpria2 ; II - progressiva universalizao do ensino mdio

    gratuito; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado s condies do

    educando;VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, atravs de

    programas suplementares de material didtico-escolar, transporte, alimentao e

    assistncia sade.

    A Lei de Diretrizes de Bases da Educao Nacional (LDB) ratifica o que diz a

    Constituio, em seu Ttulo III: Do Direito Educao e do Dever de Educar, VII -

    oferta de educao escolar regular para jovens e adultos, com caractersticas e

    modalidades adequadas s suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos

    que forem trabalhadores as condies de acesso e permanncia na escola.

    Mesmo com este amparo legal, a EJA no tem sido privilegiada como modalidade

    de ensino, conforme alertam Haddad e Di Pierro (2000):

    o ensino fundamental de jovens e adultos perde terreno como atendimento

    educacional pblico de carter universal, e passa a ser compreendido como

    poltica compensatria coadjuvante no combate s situaes de extrema

    pobreza, cuja amplitude pode estar condicionada s oscilaes dos recursos

    doados pela sociedade civil, sem que uma poltica articulada possa atender de

    modo planejado ao grande desafio de superar o analfabetismo e elevar a

    escolaridade da maioria da populao (p. 128)

  • Muitos governantes justificam a falta de ateno EJA argumentando priorizar a

    educao das novas geraes. Os que esto mais ao fim da vida dariam pouco

    retorno social e econmico. E ao investir na educao das crianas, seria uma

    questo de tempo para o analfabetismo estar erradicado (GALVO e DI PIERRO,

    2007: 60). Das inmeras falhas deste tipo de anlise, vale ressaltar que se

    desconsidera que a educao ao longo da vida um direito de pessoas de todas as

    idades.

    Marta Kohl de Oliveira tem se dedicado a pesquisar a cognio de jovens e adultos

    em processo de escolarizao. Ela aponta caractersticas que tornam os alunos de

    EJA um grupo homogneo, como a condio de excludos da escola regular, a baixa

    remunerao e qualificao profissional, e a origem nas camadas populares da

    populao (em oposio s classes mdias e aos grupos dominantes). Mas Oliveira

    (1999) ressalta que:

    embora a pertinncia a determinado grupo cultural seja, sem dvida, uma

    fonte primordial para a formao do psiquismo e, portanto, para o

    desenvolvimento de formas peculiares de construo de conhecimento e de

    aprendizagem, no podemos postular formas homogneas de funcionamento

    psicolgico para os membros de um mesmo grupo, j que o desenvolvimento

    psicolgico , por definio, um processo de constante transformao e de

    gerao de singularidades (p. 21).

    Dessa maneira, por mais que algumas caractersticas se repitam no funcionamento

    cognitivo de muitos desses alunos, como dificuldades de operao com categorias

    abstratas ou de utilizao de estratgias de planejamento, h pessoas que no

    apresentam essas caractersticas, assim como em grupos altamente escolarizados

    h indivduos com essas caractersticas:

    A escola voltada educao de jovens e adultos, portanto, ao mesmo

    tempo um local de confronto de culturas (cujo maior efeito , muitas vezes,

  • uma espcie de domesticao dos membros dos grupos pouco ou no

    escolarizados, no sentido de conform-los a um padro dominante de

    funcionamento intelectual) e, como qualquer situao de interao social, um

    local de encontro de singularidades (OLIVEIRA, 1999, p. 22).

    Considerando as especificidades da EJA, na ltima conferncia da UNESCO

    (Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura) sobre a

    educao de adultos, a CONFINTEA, realizada em 1997, em Hamburgo (Alemanha),

    agentes governamentais e no-governamentais de diversos pases firmaram

    compromissos para a formulao de polticas de acesso s novas tecnologias,

    incluindo o Brasil. Segundo a Agenda para o Futuro, que detalha tais

    compromissos para a EJA, as chamadas TICs devem promover, na educao de

    adultos, uma comunicao interativa, uma maior compreenso e cooperao entre

    povos e culturas, a difuso de filosofias, criaes culturais e modos de vida dos

    alunos, o acesso educao distncia, a explorao de novas modalidades de

    aprendizado, o exerccio crtico a partir de anlises dos meios de comunicao, a

    divulgao de material didtico, a promoo do uso legal de propriedade intelectual

    e o reforo a bibliotecas e instituies culturais (CONFERNCIA, 1999: 49 -50).

    Mas como tantas recomendaes, como os usos educativos das TICs se

    concretizam nas escolas? Para Pretto (2008: 82), a ideal apropriao criativa dos

    meios tecnolgicos de produo de informao, capaz de suscitar revises de

    valores, prticas e modos de ser, pensar e agir, depende de novas polticas

    pblicas.

    Metodologia

    A pesquisa ser realizada em uma regio da cidade de So Paulo que apresenta,

    em seu interior, os contrastes socioeconmicos da metrpole. Conforme indicam os

    Mapas de Vulnerabilidade Social, (ANEXOS 1 E 2), produzidos pelo Centro de

    Estudos da Metrpole (CEM Cebrap), os bairros da Subprefeitura

  • Freguesia/Brasilndia abrigam populaes em diversas condies de carncias

    sociais: na Freguesia do , h redutos de pessoas ricas com alta escolaridade,

    consideradas com nenhuma privao; em ambos os bairros, grupos com os piores

    indicadores de renda e altas taxas de analfabetismo, classificadas com altssima

    privao. Em ambos os bairros, pessoas com privao muito baixa, baixa, mdia e

    alta privao.

    Alm da heterogeneidade socioeconmica e das escolas municipais e estaduais que

    oferecem a modalidade EJA, a regio possuiu equipamentos pblicos relevantes

    para a pesquisa: um CEU (Centro Educacional Unificado), um Cieja ( Centro

    Integrado de Educao de Jovens e Adultos), um telecentro municipal e centros de

    cultura e de juventude com laboratrios de informtica.

    A primeira fase do trabalho, de mapeamento das escolas e identificao de quais

    delas utilizam as TICs, ser uma pesquisa quantitativa e documental. Sero

    consultados diretrios pblicos para encontrar instituies que ofeream cursos de

    alfabetizao ou escolarizao bsica (Ensino Funamental e Mdio) para jovens e

    adultos que no tiveram, durante a infncia ou adolescncia, acesso ou

    continuidade dos estudos.

    Para perceber quais das escolas utilizam as TICs, um conjunto de perguntas

    simples ser feito, por telefone ou correio eletrnico, a diretores, coordenadores

    pedaggicos, professores de informtica ou outros profissionais responsveis pela

    utilizao dos computadores e outras ferramentas tecnolgicas na escola.

    A partir das respostas, ser possvel qualificar, em linhas gerais, maneiras como as

    TICs so utilizadas na educao. Segundo Michel de Certeau (1994: 92-93),

    especificar esquemas de operaes, ajuda a analisar aes. Como na literatura se

    podem diferenciar 'estilos' ou maneiras de escrever, tambm se podem distinguir

    'maneiras de fazer' - de caminhar, ler, produzir, falar etc (...) A essas operaes de

    emprego ou melhor, de reemprego (...), gosto de dar-lhes o nome de usos.

  • certo que muitos dos usos educativos que aparecero como resultado dessa fase

    da pesquisa, j foram mapeados em outros estudos, como a dissertao de

    mestrado de Gustavo Isaac Kilner, de 2002; a tese de doutorado de Renata

    Ferramola, de 2001 e ensaios de Nelson Pretto (2008). Por isso, essas publicaes

    sero referncias na elaborao das perguntas feitas aos profissionais, e fontes

    importantes para a escolha de critrios classificatrios, depois de respondidos os

    questionrios.

    Para cada uso educativo identificado, pelo menos uma escola ser selecionada para

    uma pesquisa qualitativa. Eventualmente, o estudo nas escolas poder ser

    complementado com pesquisa em outras instituies da regio, como telecentros,

    centros de juventude e lan-houses.

    Sero observados e registrados, os dilogos, os eventos, as atividades e os

    trabalhos escolares; as possibilidades que vislumbram para os equipamentos, os

    caminhos que percorrem na Internet, que ferramentas esto habituados a utilizar,

    se essas ferramentas tm usos educativos; a velocidade de conexo das escolas e

    dos computadores; a formao recebida pelos professores para o trabalho com os

    computadores. Entrevistas com alunos, professores, coordenadores pedaggicos,

    diretores e outros envolvidos na utilizao das TICS na escola sero realizadas. Elas

    abordaro os sentidos no uso da tecnologia, as concepes de sociedade em rede

    e de cibercultura, se a escola um lugar de apropriao efetiva das TICs, se h

    incluso digital, se na prtica h subverso da proposta intitucional, se os usos

    propostos inicialmente correpondem aos efetivados, se h vontades e necessidades

    de uso do computador e dos outros equipamentos, se o uso do computador na

    escola corresponde s expectativas pessoais, os limites do uso realizado, as

    possveis transformaes ocorridas com a chegada das mquinas, o acesso a meios

    de comunicao e informao, a publicao do contedo produzido na escola

    (ANDRADE,2007; BERGMANN, 2006; OLIVEIRA, 2001; PRETTO, 2008).

  • Concluses esperadas

    As prticas dos sujeitos sero analisadas com base nos sentidos que eles mesmo

    atribuem utilizao das TICS, amparados pela idia de apropriao tecnolgica

    sintetizada na tese de doutoramento de Debora Duran (2008):

    Em suma, apropriar-se efetivamente da linguagem digital mais do que

    simplesmente 'saber usar', isto , no significa apenas a realizao de aes

    aleatrias ou de operaes obrigatrias, mas a incorporao de recursos

    digitais para a realizao de projetos individuais e/ou coletivos (p. 57-58).

    Conforme alerta Roger Chartier, Em toda a sociedade, as formas de apropriao

    dos textos, cdigos, dos modelos so to, se no mais, distintivas que as prticas

    prprias a cada grupo social (CHARTIER, 2003: 151). Assim, os parmetros da

    anlise dos usos dos computadores sero definidos durante todo o processo de

    pesquisa, com base nas concepes de seus atores sociais, em vez de uma

    categorizao prvia que defina graus de apropriao. A apropriao, tal qual ns

    a entendemos, visa a uma histria social dos usos e das interpretaes, remetidas

    as suas determinaes fundamentais e inscritas nas prticas especficas que as

    constroem (CHARTIER, 2003: 152).

    Os resultados obtidos no mapeamento das escolas que oferecem EJA, e da

    existncia de uso de computadores, cmeras e celulares nessas instituies, sero

    a base da pesquisa qualitativa. Os registros em texto, udio, vdeo ou fotografia,

    obtidos na pesquisa etnogrfica, seja em entrevistas, na observao, ou na prpria

    reproduo das atividades dos estudantes, sero descritos em detalhes e

    analisados a partir do referencial terico e do prprio estudo de campo.

    A anlise consistente de diferentes caminhos individuais, com base nos usos

    educacionais das TICs que lhe deram trilhos, pode apontar possibilidades concretas

    para chegarmos mais perto da escola sonhada por Ansio Teixeira e Paulo Freire.

  • Identificando mudanas qualitativas nos processos de aprendizagem de alunos de

    EJA pelo uso das tecnologias e apontando especificidades no uso das TICs que

    esto distantes das recomendaes de especialistas e da CONFINTEA, teramos um

    norte, a ser investigado e melhorado por outras pesquisas, para a formulao de

    polticas pblicas de utilizao das TICS na educao de jovens e adultos e de

    formao de professores mediadores desse processo.

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    1. Os tutorings, ou Sistemas Tutores Inteligentes, so softwares educacionais que objetivam adequar estratgias educacionais s necessidades de aprendizagem de cada estudante. Funcionam pela combinao de informaes relacionadas aos estudantes, individualmente, ao contedo e s prticas didticas.

    2. A idade prpria definida para o Ensino Fundamental de seis a catorze anos de idade.