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TempoLivre N.º 241 Outubro 2012 Mensal 2,00 www.inatel.pt Entrevista Vítor Melícias Viagens Inatel Fim-de-Ano Ponta Delgada e Praga Paixões Joana Amendoeira Turismo Sénior Inatel 2012

Tempo Livre Outubro

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Tempo Livre Outubro

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TempoLivreN.º 241Outubro 2012Mensal2,00 €

www.inatel.pt

EntrevistaVítor Melícias

Viagens Inatel Fim-de-AnoPonta Delgada e Praga

PaixõesJoana Amendoeira

Turismo SéniorInatel 2012

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Sumário

Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais:Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva:500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Teresa Joel Colaboradores: António Costa Santos, CarlosBarbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, ManuelaGarcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Sousa Ribeiro, Susana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas:Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada deSant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão eArtes Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de pro-priedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 135.345 exemplares

Na capaFoto: Direitos reservados

41TURISMO SÉNIOR INATEL 2012

As inscrições para oTurismo Sénior 2012, destafeita da responsabilidadeexclusiva da FundaçãoInatel, têm início a 24 deOutubro.

5 EDITORIAL

6 CARTAS E COLUNA

DO PROVEDOR

8 NOTÍCIAS

14 CONCURSO

DE FOTOGRAFIA

46 CENTENÁRIO TURISMO

48 PAIXÕES

Joana Amendoeiraregressa aos discos com 'Amor Mais Perfeito', uma homenagemao mestre Fontes Rocha

52 MEMÓRIA

Novelas

54 OLHO VIVO

56 A CASA NA ÁRVORE

79 O TEMPO E AS PALAVRAS

Maria Alice Vila Fabião

80 OS CONTOS

DO ZAMBUJAL

82 CRÓNICA

Álvaro Belo Marques

59 BOA VIDA

76 CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos e Cartaz

16ENTREVISTA

Vítor MelíciasFigura destacada da vida portuguesa,o antigo Provedor da Misericórdia deLisboa, está hoje mais virado parafunções na ordem franciscana, mascontinua atento à realidade e ànecessidade da existência de novos'profetas" que "com coragem, comisenção e com sentido, mobilizem echamem a atenção para a gravíssimasituação que está a ocorrer no Mundoe em Portugal".

24TERRA NOSSA

S. Miguel: paraíso atlânticoO património arquitectónico, culturale, sobretudo, a beleza paisagística sãovalores inquestionáveis da ilha e dasua capital, Ponta Delgada, razãobastante para a proposta Inatel de umfim de ano diferente e retemperadorpara os seus associados ebeneficiários.

30VIAGENS INATEL

Praga: a eterna magia Poucas cidades no mundo possuem oromantismo da capital da RepúblicaCheca e raras são as que se podemorgulhar de oferecer ao viajante tãoamplo museu ao ar livre.

34UNIVERSIDADE SÉNIOR

aprender nunca acabaSão já mais de oito mil, em Portugal,os estudantes a frequentar asuniversidades sénior.

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Editorial

Vítor Ramalho

Ter orgulho na Inatel

No último número desta revista fiznotar que as verbas que há mais devinte anos - era então Primeiro-ministro o Prof. Cavaco Silva - são

transferidas pelo Estado para que a Inatel progra-me e execute programas governamentais sociais,não são receitas da fundação.

O Estado sempre precisou os objectivos dosprogramas acompanhando-os e fiscalizando-os.Um deles, o Turismo Sénior abrangeu em cadaano, muitos milhares de beneficiários. Os seusefeitos, na coesão social, na dinamização econó-mica das regiões e no encaixe financeiro para oEstado são evidenciados por estudos universitá-rios insuspeitos. A contribuição do Estado repre-sentou no máximo 1/3 dos encargos uma vez queos beneficiários pagavam o remanescente.

Até à data, não chegou à Inatel confirmaçãoda contribuição pública para a execução do pro-grama deste ano, apesar das diligências da tutela.

A Administração da Inatel deliberou por issoavançar com um programa alternativo, contandoem exclusivo com os seus meios, tal como haví-amos feito também com o Turismo Solidário, ini-ciado em 12 de Agosto. Este programa alternati-vo "Turismo Sénior Inatel" terá os preços natural-mente mais elevados e o universo dos candidatosserá menor, mas não poderíamos hesitar na suaexecução contando cada vez mais com as nossaspróprias forças.

Se as transferências públicas ainda vierem,melhor. Não duvidamos da total compreensão eapoio dos beneficiários e da dedicação dos tra-balhadores para o êxito desta iniciativa.

A propósito da senioridade permitimo-nosinvocar a reportagem sobre a UniversidadeSénior neste Ano Europeu do EnvelhecimentoActivo e da Solidariedade Intergeracional parao qual a Inatel tanto tem contribuído, com deze-nas de iniciativas.

E porque o tempo do nosso tempo corre quase

à velocidade da luz é útil termos presente que arealidade nos indica estarmos já quase no finaldo ano. Daí as reportagens sobre a cidade dePraga e também sobre São Miguel, nos Açores,opções que, com os eventos que ocorrerão emmuitas das nossas Unidades Hoteleiras se abrempara a entrada com o pé direito no novo ano,renovando a esperança num mundo melhor.

Édessa esperança que nos fala, na entre-vista, o Dr. Vítor Melícias Lopes, meuquerido amigo e colega dos bancos daFaculdade de Direito nos idos de ses-

senta e personalidade que é referência de princí-pios e valores, hoje tão necessário realçar.

Neste mundo aberto e global, impulsionadorda livre circulação das pessoas era indispensávelinvocar, também, o centenário do turismo emPortugal para cuja organização a Inatel contri-buiu. A nossa Fundação, como os seus 77 anosde idade foi aliás determinante para a dinami-zação do turismo. Também neste domínio deve-mos ter orgulho nela. Ter orgulho é tudo fazerpara a reforçar, ainda mais, contra ventos emarés. n

OUT 2012 | TempoLivre 5

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6 TempoLivre | OUT 2012

Cartas

Coluna do Provedor

Turismo SéniorApós várias presenças, quer a nível de Programaspara Seniores, e de Turismo para Todos, só meresta agradecer a acção da Inatel neste campo, efazer votos de que a Fundação continue a ter pre-sentes os seniores deste país. Bem hajam! Todos,desde o presidente, aos responsáveis pela progra-mação, às funcionárias acompanhantes e, a todosos que trabalham em Santarém. Bem hajam pelovosso trabalho e pela dedicação.

José Caetano Pereira, sócio nº 270955

Inatel CaparicaApreciámos a nova colocação do bebedourojunto do parque infantil, com agrado de familia-res e das próprias crianças. Acontece que nemsempre os familiares estão por perto para auxilia-rem os mais baixinhos a chegarem ao manípulopara beberem água.Não será possível a colocação de um degrau nosopé do bebedouro? Aqui deixamos esta nossasugestão.

Lígia Teixeira e Fernando Teixeira, sóciosnº 280290 e nº 280291

“Não deixem morrer o Parque”Venho, por este meio, apresentar o meu desconten-tamento, pela falta de empenho por parte da Inatelno acompanhamento das carências do Parque deCampismo do Cabedelo que, ano após ano, se vaidegradando. Já o conheci com outra vida e con-dições, desde a piscina que é fundamental paracativar novas pessoas pois noto que quem mais fre-quenta são os tradicionais. Para tanto, é precisoinvestir em todos os meios, limpeza, infra-estrutu-ras, pessoal e organização. Só assim, este parque,situado numa zona geográfica estratégica, bonita ecom tanto potencial para a pratica de desportosnáuticos, campismo e lazer, poderá ter futuro. Porfavor não deixem morrer o parque. José Eduardo Cunha da Costa, sócio nº462477

50 anos na InatelCompletam, este mês, 50 anos de ligação àFundação Inatel os associados: António AlbertoPessoa Martins, de Lisboa; Afonso HenriqueGonçalves Cruz, de Amadora; António Almeida,de Lisboa; Jorge Aniceto Carneiro, de Amadora; Maria Emília Dores Santos Azevedo, de Coimbra.

DESABAFAVA-ME, há tempos, um associadoque nunca se sentira derrotado nem pessimistaa respeito de difíceis experiências por que pas-sou. Pelo contrário, acreditou sempre que após atempestade viria a bonança, sem, todavia, teroptimismos inconscientes nem ficar de braçoscruzados. É um bom exemplo para os maus tem-pos que se vivem! Compreendo porém que asdificuldades por que passamos não sejam fáceise que provoquem um certo desalento: É que háportugueses que não tiveram férias porque nãotiveram salário; é que há portugueses queentraram em Setembro sem terem já umemprego à sua espera, mas aguardando-os asexigências do crédito bancário a que recorrerame a angústia de não poderem pagar as dívidas. Éque nenhum país é livre se não tiver segurançae justiça social para todos os seus residentes. Porisso compreendo também o eco de algunsdesabafos de associados quando se fala de fériase da reentrada nas ocupações profissionais.Tenho, porém, a convicção que a Europa social

e solidária dará o seu passo decisivo e criar-se-ão, em toda a comunidade, as condiçõesnecessárias que, também em Portugal se esta-beleçam os equilíbrios correctores de erros acu-mulados ao longo dos anos, agora mais visíveisnum mundo global cada vez mais transparenteem que os malefícios de uma informação abun-dante que é, basta vezes, deprimente, trazsoluções dignas e certezas de que a esperançanão é demagogia. A Fundação é responsável erespeitada, com formas humanas de tratamentoé realçada em testemunhos interessantes, querecebemos, como a de um associado recordandoque desde há anos tem feito férias nas nossasUnidades Hoteleiras com total agrado. Foramférias diferentes que gostariam de voltar a ter em2013. Reconhecem que a Inatel tem um trata-mento humano num ambiente familiar que seestende na totalidade das actividades daFundação. É por estas e por outras que acredita-mos sermos capazes de ultrapassar a crise! É quesomos diferentes! n

A correspondênciapara estas secções

deve ser enviadapara a Redacção de

“Tempo Livre”,Calçada de Sant’Ana,

nº. 180, 1169-062Lisboa, ou por e-mail:

[email protected]

Kalidá[email protected]

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Page 8: Tempo Livre Outubro

l A Inatel Alamal estreou-se notriatlo, modalidade desportiva decrescente adesão popular, ao recebero "I Triatlo Alamal", uma iniciativada autarquia do Gavião e daFederação de Triatlo de Portugal(FTP), com a participação de centenae meia de atletas. Inserida na taça dePortugal PorTerra da FTP, e integrandoa componente de trail, a provadecorreu num magníficoenquadramento paisagístico da região,banhada pelo Tejo, através dos trilhosde BTT e Pedestre da Inatel/Câmarade Gavião e que tornaram estacompetição mais atractiva e dinâmica;Recorde-se que a Taça de PortugalPorTerra é uma competição disputadapor etapas, integrando provas deduatlo e triatlo em formato todo-o-

terreno e destina-se atodos os atletas, quersejam filiados ou nãofiliados na FTP. Filipe Azevedo, atleta doGarmin Olímpico deOeiras, foi o grandevencedor da TaçaPorTerra, seguido de JoãoFerreira (Águias deAlpiarça) e Rafael Gomes(Sporting). No sector

feminino, a prova foi dominada pelasatletas do Amiciclo, classificadas nostrês primeiros lugares. Venceu RitaLopes, seguida de Sofia Brites eAndreia Lopes. A prova aberta foiganha, nos sectores masculino efeminino, por atletas do núcleosportinguista da Golegã.

I Triatlo Alamal

Notícias

l O projecto português "Ecos deIbsen", de Cristina Carvalhal e daprodutora "Causas Comuns", foi umdos 57 candidatos (provenientes de32 países) ao financiamentonorueguês, para a produção de umespectáculo, e foi um dos quatrovencedores do prémio "IBSENAwards", juntamente com projectosoriundos de Inglaterra, Cuba eHungria. A "Bolsa de EstudoInternacional Ibsen" (InternationalIbsen Scholarships) foi criada peloGoverno norueguês em 2007 e contaeste ano com a quinta edição. Asbolsas são entregues a projectosoriginais e inovadores nas áreas dodrama e artes performativas, bemcomo projectos que incentivempensamentos e discursos críticosrelativos a questões existenciais,morais ou à sociedade

contemporânea, de acordo com astécnicas dramatúrgicas de Ibsen(considerado o maior dramaturgonorueguês do séc. XIX). O projectoportuguês "Ecos de Ibsen", vencedordo prémio norueguês, subirá aopalco do Teatro da Trindade emJunho de 2013, com encenação deCristina Carvalhal, produção da"Causas Comuns" e co-produção daFundação INATEL. Trata-se de umtexto original português que serálevado à cena com actores comoJoão Lagarto, Manuela Couto eSandra Faleiro e, entre outros, 15actores amadores, associados daInatel. A escolha dos actoresamadores resultará de um workshoppara os associados (individuais oudos CCD) da Fundação, facto que foivalorizado pelo júri norueguês queanalisou as 57 candidaturas.

Trindade conquista prémio internacional

8 TempoLivre | OUT 2012

Cristina Carvalhal e CuchaCarvalheiro, directora doTeatro da Trindade

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Page 9: Tempo Livre Outubro

l Integrado nas acções Inatelcomemorativas do Ano Europeu doDesenvolvimento Activo eSolidariedade Intergeracional, aAgência da Horta, nos Açores,propõe-se realizar uma exposição debrinquedos antigos (até à década de70 do séc. XX). Para tal, conta com eapela à colaboração de todos osinteressados em emprestar algumbrinquedo da sua infância que aindaguardem. O objectivo deste evento émostrar às gerações mais jovens como que se brincava noutros tempos,como a evolução, também nesta área,

foi rápida e exponencial e como eramdiferentes as noções de divertimentoe de lazer. Os brinquedos devem serenviados até ao fim o mês deOutubro, para a Agência da Horta(Edif. Amor da Pátria - Rua D. PedroIV, nº 26 R/C norte - 9900-111 Horta -Faial), devidamente acondicionados eidentificados com: Nome, morada etelf/mail do proprietário; Ano dobrinquedo.A Fundação compromete-se a tratarcom cuidado os brinquedosrecebidos e a devolvê-los logo após ofim da Exposição.

“Envelhecer Saudávele Activo”

l Da autoria de António Lacerda

e Nuno Cordeiro, o livro

"Envelhecer Saudável e Activo"

(Ed. Lidel, 2012), proporciona

uma útil e oportuna informação

sobre as patologias mais

frequentes na idade sénior,

como a osteoporose, a artrose, a

fibromialgia, a reabilitação em

cirurgia de anca e do joelho,

problemas da coluna e outras

lesões ou distúrbios físicos. No

final de cada capítulo, os

autores respondem a perguntas

que os seus doentes

diariamente lhes fazem,

aumentando a informação sobre

a doença e sobre o tratamento

mais adequado. O livro inclui

um guia prático que permite ao

leitor sénior escolher um

programa de exercícios diários

de resistência, de flexibilidade

ou de equilíbrio, conforme as

respectivas patologias. Os

direitos de autor da obra –

integrada nas iniciativas do Ano

Europeu dedicada ao

envelhecimento activo –

revertem para a Laço,

associação sem fins lucrativos

dedicada à prevenção,

diagnóstico e tratamento do

cancro da mama em Portugal.

"O Meu Brinquedo"

l Na prossecução do seu projectolúdico - formativo para o correnteano, a Agência Inatel da Horta leva a

cabo um curso de Arte Floral quedecorrerá, de 26 a 30 de Novembro,nas instalações da Agência. Asinscrições estão abertas de 22 deOutubro a 17 de Novembro. A 2 deOutubro teve início o Curso de Cortee Costura, integrado neste conjuntode acções destinadas a proporcionartempos de lazer formativos e activosa sócios e não sócios Inatel da ilha

do Faial.

Curso de Arte Floral

OUT 2012 | TempoLivre 9

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Page 10: Tempo Livre Outubro

"O Deus da Ausência"

l "Uma saga em que a terra se

encontra naturalmente com a

gente,

simbolizando o

Douro a Pátria

confrontada

com a

exigência de

contrariar a

adversidade e a

decadência

(…) é a vida

em estado

puro que aqui encontramos como

na grande literatura", eis como

Guilherme de Oliveira Martins

define o "O Deus da Ausência" (Ed.

Minerva Coimbra), o mais recente

romance de Joaquim Sarmento.

Com extensa obra publicada

(crónicas, teatro e ficção), o antigo

deputado e autarca em Lamego

"tornou-se - considera Fernando

Dacosta - um caso singularíssimo

no nosso panorama literário".

Notícias

l Mais de 20 esculturas, feitas a partirde lixo encontrado em praias eretirado do mar, poderão ser visitadasgratuitamente no Oceanário até 26 denovembro. A exposição, "Keep theoceans clean", da autoria da "SkeletonSea", foi já visitada por mais dequatro milhões de pessoas, tendopassado por aquários como oOceanografic de Valência, o Aquáriode San Sebastian e o Museu Marítimode Bilbao. Os visitantes poderão contemplar o"Flip Flop Fish", peça feita comchinelos de plástico e a "RoxyMermaid" construída com detritos deembarcações, entre outrasimpressionantes esculturas. Os

artistas do "Skeleton Sea", surfistas eamantes da natureza, pretendemmostrar que, com algum lixo e muitacriatividade, é possível criar obras dearte que inspiram o público aproteger os ecossistemas marinhos.Desde 1995 que o grupo compostopelo português João Parrinha, ofotógrafo alemão Xandri Kreuzader eLuís de Dios Mellada, está na estrada.Antes de chegar a Lisboa, este trio deartistas passou por cidades comoFuerteventura e Biarritz.

l O Parque de Jogos 1º de Maio da Inatel foi palco, de 14 a 16 de Setembro, da

"Feira Alternativa - Festival da Terra", iniciativa centrada na redução, reutilização e

reciclagem na área de consumo. Milhares de visitantes puderam contactar com

novidades do mercado, nas áreas da Alimentação Natural, Permacultura, Ecologia e

Sustentabilidade, Turismo Natureza, e Medicinas não convencionais, patentes nas

dezenas de pavilhões e stands da Feira.

Lixo marinho e arte no Oceanário de Lisboa

"Festival da Terra"

10 TempoLivre | OUT 2012

Roxy Mermaid - Criada por Xandi Kreuzedernas praias de Biarritz durante umcampeonato de surf, esta sereia, feita apartir de resíduos de barcos recolhidos emzonas costeiras do Quénia e da Indonésia.

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Page 11: Tempo Livre Outubro

l O Portugal Maior - Encontro Internacional para o

Envelhecimento Activo, a decorrer de 5 a 9 de Dezembro

próximos, numa iniciativa da AIP - Feiras, Congressos e

Eventos em Parceria com a Escola Superior de Educação

João de Deus, licenciatura de Gerontologia, assume-se

como elo de ligação entre os 50+ e as ofertas disponíveis

no mercado, promovendo o negócio e a discussão

científica entre empresas e entidades e utilizadores,

reunindo, num só espaço, a maior diversidade de recursos

e pessoas com um interesse comum com o objectivo de

proporcionar aos 50+ todos os cuidados, integrando-os

numa Sociedade Multigeracional e dignificando-os,

segundo as suas necessidades específicas e

potencialidades individuais.

O número de pessoas idosas tem crescido

consideravelmente na sociedade em que vivemos. Espera-

se que daqui por 30 anos 50% da população tenha mais de

50 anos. Portugal terá, em 2050, 37,73% de pessoas com 65

anos ou mais.

Envelhecimento Activo

l O Museu do Oriente organiza, ainda, nos dias 11 de

Outubro, 8 de Novembro e 6 de Dezembro, das 19h00 às

20h00, uma visita orientada para adultos à exposição O

Chá: de Oriente para Ocidente, patente ao público até dia

13 de Janeiro de 2013. Denominada "Oriente e Ocidente em

torno de uma chávena de chá", a

iniciativa convida os

participantes a conhecer a

história por detrás do chá, a

bebida mais emblemática do

Oriente, que conquistou povos,

mercados e o mundo, traçando

rotas entre o Oriente e o

Ocidente.Os visitantes são ainda desafiados a integrar o

workshop "A arte de viajar", o curso "Arte e Natureza dos

Jardins Japoneses" e os ateliês de pomadas, compressas e

unguentos, de fabrico de papel artesanal e de fabrico de

prendas a partir de plantas e especiarias do Oriente e do

Ocidente, entre outros cursos e conferências.

Museu do Oriente

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Page 12: Tempo Livre Outubro

Al-AndalusRediscovered

l O Auditório da Fundação Mário

Soares foi palco do lançamento

do livro de Marvine Howe, "Al-

Andalus Rediscovered - Ibéria os

New Muslims", com a

participação, além da autora, de

vários correspondentes da

Imprensa estrangeira em

Portugal, como

Alison Roberts

(BBC), Barry

Hatton

(Associated

Press), Belen

Rodrigo (ABC),

Kati Mujaray

(HVG, Hungria),

Mario Dujisin

(ANSA) e Peter Wise (Financial

Times).

Marvine Howe, que cobriu

acontecimentos no Sul da

Europa, no Norte da África e no

Médio Oriente para o "New York

Times" e para outros jornais norte-

americanos durante quase meio

século, apresenta, na sua obra,

uma perspectiva diferente sobre

os muçulmanos na Europa. O

pano de fundo para o livro é Al

Andalus, o nome árabe para a

Península Ibérica, região que tem

um relacionamento secular e

ambivalente com os muçulmanos

e enfrenta agora um intenso

afluxo migratório, em frágeis

botes, do Magreb e da África

Subsaariana para a costa sul de

Espanha. A autora e os jornalistas

estrangeiros presentes no

lançamento debateram o impacto

da devastadora crise económica

sobre a imigração e o futuro da

sua política de convivência com

os imigrantes em geral e as

comunidades muçulmanas em

particular.

Notícias

l Paulo de Carvalho recebeu, nopassado dia 17 de Setembro, aMedalha de Mérito da CâmaraMunicipal de Lisboa pelos seus 50

anos de carreira, na presença deamigos mais próximos, dos filhosPaulo Nuno, Mafalda Sachetti,Bernardo, (aka Agir), e, entre outros,dos cantores Rita Guerra, Camané eAntónio Manuel Ribeiro. No discursode agradecimento, Paulo de Carvalhofalou da sua infância e vivência nacidade de Lisboa, primeiro nafreguesia de São Cristóvão, e depoisem Alvalade, onde ainda vaifrequentemente. E congratulou-se poruma cidade cada vez maismulticultural, marcada por diferentesraças, religiões e culturas. AntónioCosta encerrou a cerimónia,manifestando o seu profundocontentamento por ter tido aoportunidade de entregar a medalhaa Paulo de Carvalho que "terá sidodas pessoas que mais contribuiu paraa canção e música portuguesa".

Lisboa homenageou Paulo de Carvalho

12 TempoLivre | OUT 2012

l "Crónicas do País Relativo -Portugal minha questão", Volume I,antologia seleccionada e organizadapor Ricardo Neves, editado emJunho último, recolhe dezenas decrónicas de Fernando Paulouro(Fundão,1947), publicadas no "Jornaldo Fundão", cuja redacção chefiou ede que é director desde 2002. Nestestextos - curtos, mas substantivos elúcidos - reveladores da qualidade,cultura e empenhamento cívico eprofissional do autor, FernandoPaulouro ("um dos grandesjornalistas portugueses", sublinhaBaptista-Bastos no prefácio) escrevesobre os mais variados temas efiguras da política, sociedade,cultura e lugares.

"Crónicas do País Relativo"

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Page 13: Tempo Livre Outubro

l Na Galeria 3+1, na Rua António Maria Cardoso, está patente

uma exposição de fotografia de Bernardo Sassetti, comissariada

por Daniel Blaufuks. Inaugurada por ocasião da

evocação/homenagem que o Teatro Municipal São Luiz dedicou

ao pianista e compositor, falecido em Maio último. A iniciativa

incluiu - a par de concertos e exibição de filmes com bandas

sonoras de Bernardo Sassetti - a outorga, a título póstumo da

Medalha de Ouro da cidade, entregue à família pelo presidente da

autarquia, e o descerramento de uma placa de homenagem no

Jardim de Inverno do teatro.

Marco Rodrigues leva o fado à Índia

l O fadista Marco Rodrigues vai concretizar em Fevereiro, na

Índia, um projecto que visa dar a conhecer "as características do

fado, quer do ponto de vista instrumental, quer da estrutura

poética".

Trata-se do projecto "Tantos Fados - O Outro Lado de Tantas

Lisboas", que o fadista apresentou no início do ano e que, por

proposta da Fundação INATEL, em parceria com a Fundação do

Oriente, vai apresentar no Festival do Monte, que decorre no início

de Fevereiro de 2013, em Goa. "Este projecto - explicou Marco

Rodrigues à Lusa - vai ao encontro daquilo que nós, pessoas do

fado, devemos fazer, que é arranjar formas de salvaguardar o

património que só pode ser preservado se for conhecido e

entendido, daí haver uma vertente didáctica, de "workshop", que

prevê, também, levar o projecto às escolas e bibliotecas do país.

"O plano de salvaguarda inscrito na candidatura aprovada pela

UNESCO prevê um programa educativo", acrescentou o fadista,

que citou explicitamente o texto oficial, lembrando que se deve

verificar a "integração transversal de conteúdos relacionados com

o universo e cultura do Fado, nos programas escolares dos vários

níveis de ensino – do básico ao superior –, articulando as

perspectivas académicas e científicas com o saber e a

participação efectiva da comunidade do fado: intérpretes,

músicos, autores, compositores, construtores de instrumentos".

Galeria lisboeta expõefotos de Bernardo Sassetti

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Page 14: Tempo Livre Outubro

XVII Concurso “Tempo Livre” Fotografia

[ 1 ]

[ 1 ] Paulo Amado, S. João da MadeiraSócio n.º 393614

[ 2 ] Maria Pereira,Montemor-o-NovoSócio n.º 486828

[ 3 ] Maria Morais,LisboaSócio n.º 526389

[ 2 ]

14 TempoLivre | OUT 2012

[ 3 ]

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Page 15: Tempo Livre Outubro

[ a ] Ana Cardoso, PortelaSócio n.º 153528

[ b ] Jorge Tavares, Ponta DelgadaSócio n.º 525634

[ c ] José Barreiro, AlbufeiraSócio n.º 36010

Menções honrosas

Regulamento

1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.

2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.

4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, um máximode 3 fotografias de formato mínimo de10x15 cm e máximo de 18x24 cm, empapel, cor ou preto e branco.

5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.

6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.

7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.

8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano.

9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL».

10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2013, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.

11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.

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Entrevista

Vítor Melícias“Tudo o que existe é detodos e para todos…”Figura destacada da vida portuguesa, Vítor Melícias (Ramalhal, Torres Vedras,1938), festejou, em Julho, 50 anos de sacerdócio franciscano. Licenciado emdireito canónico e em direito, exerceu múltiplos cargos na área da solidariedadee foi Comissário da transição de Timor para a independência. Hoje, as suasresponsabilidades respeitam sobretudo à ordem franciscana de que é provincial,além de responsável da União Europeia dos Frades menores. Mas tal nãosignifica que Vítor Melícias ande distraído ou alheio a outras realidades. "Muitopelo contrário - sublinha - sinto que há coisas que é preciso dizer e fazer (…)aliás, estou a sentir que neste momento é bom que apareçam os profetas, aspessoas que com coragem, com isenção e com sentido mobilizem e chamem aatenção para a gravíssima situação que está a ocorrer no Mundo e em Portugal".

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Foi um dos fundadores da DECO, esteve noMontepio Geral, na Misericórdia, no ServiçoNacional de Bombeiros, no Conselho Econó -mico e Social…Estive…e estou, ainda, no Conselho EconómicoEuropeu …Foi Comissário para a Transição em Timor, fezparte de órgãos dirigentes de diversas fun-dações…Sim, sim. Até estive no Inatel. Presidi aoConselho Geral quando era Provedor daMisericórdia.Pode dizer-se, adaptando a expressão, que é umfrade dos sete ofícios …Sete ou mais …De todas estas actividades e funções, qual foi aque mais o entusiasmou, que mais lhe agradou?É difícil discriminar. Tive o privilégio e a felici-dade de ter feito tudo com gosto, com alegria. E,normalmente, essas actividades situam-se todasna área da solidariedade, do relacionamentoentre pessoas, de projectar coisas em conjuntoem favor das pessoas. E, portanto, posso dizer,tanto nos bombeiros, como nas misericórdias,como nas mutualidades, nas IPSS, nessa activi-dade de cooperação internacional como Timor eoutras, porque não foi só Timor, tenho-me senti-do profundamente realizado. Mesmo a outronível, no Conselho Económico e Social portu-guês, onde durante 14 anos fui vice-presidente, eno Comité Económico e Social em Bruxelas,onde ainda sou membro activo e presente combastante frequência, sinto-me bem porque sãoactividades onde sentimos que a nossa experiên-cia de vida e os nossos ideais podem ter apli-cação concreta. E, portanto respondendo directa-mente à pergunta, sou um bocadinho comoaquela criança a quem perguntam: gosta mais doPai ou gosta mais da Mãe? Eu gosto de tudo!E esteve em Timor, tem acompanhado a situ-ação em Timor …Tenho acompanhado, porque mantenho muitoboas relações com as pessoas, os dirigentes:Xanana e o próprio presidente eleito MatanRuak, com os bispos, nomeadamente o bispoBasílio Nascimento, de Baucau, e com insti-tuições timorenses. E sou, há vários anos, dele-gado geral da ordem franciscana para Timor -Leste. Tenho, aliás, neste momento, 14 jovenstimorenses a fazerem os seus estudos na ordem

franciscana em Portugal. Há, ainda, uma escolaem Torres Vedras - agrupamento de escolas PadreVítor Melícias - geminada com uma escola emSoibada, onde muito perto se encontra o templode nossa senhora de Aitara. Essa Soibada que opróprio presidente, hoje primeiro-ministroXanana, apelidou de universidade ou Coimbratimorense. Nestas duas escolas, desenvolvomuita actividade de cooperação: enviando pro-fessores e livros, recebendo professores e alunos.Timor para mim, como, felizmente para a maiorparte dos portugueses, é um fenómeno tambémde coração. Faz parte da nossa vida. Quando sefala de Timor não se fala de qualquer coisa dedistante, nem no tempo, nem na geografia. Équalquer coisa que nos está dentro da vida, donosso coração. Portanto, sou nesse aspecto umdiakalai, um timorense! Completou em Julho 50 anoscomo padre franciscano …Exactamente, mas sou francisca-no desde antes, porque nos fran-ciscanos há os que são padres e osque não são - os chamados irmãosleigos. Eu tornei-me franciscanomuito jovem: aos 16 anos entreipara o seminário da Ordem edepois acabei por exercer a pro-fissão definitiva com 21.Contudo, como padre fui ordena-do em Julho de 1962, e este ano, como se costu-ma dizer, são as bodas de Ouro. Tive aliás umacelebração, juntamente com os colegas queforam ordenados no mesmo ano, na casa ondevivo - Convento dos Franciscanos da Luz - eoutra celebração na minha aldeia, onde nomesmo dia, no mesmo mês - 12 de Agosto - desseano, há 50 anos, celebrámos a festa popular deSanto António, o patrono da aldeia, Ramalhão,no concelho de Torres Vedras.Natural de Torres Vedras é também o bispo doPorto …O D. Manuel Clemente, somos amigos desdesempre. É um grande bispo e ilustre Torriense.O Prof. Adriano Moreira citou-o, recentemente,ao salientar a necessidade, no actual contextoportuguês, de uma maior intervenção dos fran-ciscanos…Ah, sim, a propósito dos 90 anos do prof.Adriano Moreira, na homenagem que se lhe fez,

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“Há uma visãofranciscana daeconomia, que parteda ideia de que tudoo que existe é detodos e paratodos…”

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Entrevista

ele referiu-se à minha presença invocando a cir-cunstância de ser franciscano e que são cada vezmais necessários os critérios de São Francisco edo Franciscanismo. É curioso que este sentimen-to, tão espontaneamente manifestado pelo pro-fessor, e de maneira tão simpática, foi o mesmoque a 5 de Maio deste ano, o insuspeito vice-ministro das Finanças da Alemanha, em Assis,defendeu, declarando que o que precisamos é deuma Europa mais Franciscana, em referência aoque hoje é reconhecido como um dos valores dacultura: a economia franciscana. Economia franciscana?De facto, há uma visão franciscana da economia,que parte da ideia de que tudo o que existe é detodos e para todos. E, portanto, sem impedir quehaja formas de propriedade privada, formas deadministração mais restrita, tudo deve ser gerido

no sentido de preservar, por umlado a natureza: porque SãoFrancisco cantava, nós somosirmãos de todos os seres, do Sol eda Lua… e o homem ao encontrarrecursos para si mesmo, não podeprejudicar, violentar a Natureza.Uma ecologia, não do interesse,mas de fraternidade. O homemdeve tratar bem todos os seres,porque são seus irmãos e não ape-

nas com medo que eles venham a faltar, como àsvezes acontece na ecologia moderna, dita de inte-resses. Ora bem, nesta ideia básica, o franciscanopropõe que todos os bens devam ser geridos comdisponibilidade. O ser humano ao apropriar-setem a noção que não está numa propriedadeabsoluta, numa propriedade individual, mas quetudo tem um valor que deve ser propiciado àspessoas. Há um grande filósofo e economistatambém franciscano, que é Santo António deLisboa …De Pádua, para os italianos…Santo António de Lisboa, e de Pádua também, éum santo universal, aliás houve um Papa, no séc.XIX, que o definiu como o Santo de todo omundo. E ainda, em 1985, num grande congres-so internacional em França, ele foi reconhecidocomo o primeiro santo de perfil verdadeiramenteeuropeu. Santo António quando morreu era já,naquela época, há cerca de oito séculos, umhomem com um perfil à portuguesa, aberto, uni-

versalista, muito culto - daí ser um Doutor daigreja. Não só falava línguas, tinha um profundoconhecimento das escrituras, e sobretudo umavisão que levou a que grandes economistas,nomeadamente Schumpeter (um historiador daeconomia) que caracteriza São Bernardino deSena como o maior economista da Idade Média eSanto António de Lisboa, que tinha exactamenteo mesmo pensamento, é considerado um bomfilósofo da Economia. Mas, infelizmente, algu-mas pessoas pensam que Santo António é umaespécie de Zé do Povo, zé-povinho do Altar,como um dia lhe chamou aqui alguém. Ele não éum zé-povinho que faz milagres, que faz o povosaltar. Ainda bem que o povo o sente na suadimensão humana e que faz festa popular, porémSanto António tem um valor muito mais profun-do. Ora bem, esta ideia de que é preciso hoje umaeconomia que não se baseie tanto no interessedas pessoas pelos lucros e dos países, mas umaeconomia aberta, numa economia global ou glo-balizada que se atenda mais ao interesse univer-sal das pessoas, portanto que se globalize a soli-dariedade, a protecção às pessoas e não o inte-resse individual de pessoas, grupos ou mesmo depaíses. Quando o prof. Adriano Moreira falava deuma necessidade de critérios franciscanos, decerteza absoluta que tinha isso em mente. Comohomem cultíssimo e profundamente actualizado,está de certeza nesta sintonia.Aliás, as perspectivas económicas, a nível glo -bal, não são nada animadoras …Muito pelo contrário, todos temos consciênciaque a globalização começou por ser comercial efinanceira e acabou por não ir além disso. Querdizer, não há ainda uma globalização dos crité-rios económicos em que se produzam os bens emfunção das necessidades da população mundial enão apenas em função dos interesses de resulta-do de alguns grupos, de alguns países ou de gran-des empresas multinacionais ou outras. A globa-lização precisa de ser dominada, domesticadapor critérios de solidariedade, respeitando a sub-sidiariedade, ou seja, a iniciativa das pessoas, dosgrupos e dos países. Haver uma visão global quepermita conduzir e dominar a globalização nessesentido, senão provoca o desastre que agora esta-mos a ver …E com as alterações climáticas a agravarem asituação…

“A globalizaçãoprecisa de serdominada,domesticada porcritérios desolidariedade”

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Completamente. Quer dizer, há neste momentoaté um desvario, porque em vez de serem os cri-térios ou os políticos a decidir, quem decide é apressão do mercado. E o mercado não tem rosto,conduz-se apenas por interesses imediatos. Háque inverter isto, retirar a capacidade de decisãoe de intervenção da mão dos mercados e passá-lapara a mão de gente responsável. Ou na formapolítica actual dos partidos ou noutra correspon-dente…A existência de uma Democracia assentena dinâmica dos partidos realmente não é grandecoisa como se vê, mas por enquanto ainda nãoencontrámos melhor. Se conseguirmos encontrarformas de cidadania activa, que seja diferente eque defenda este interesse global, seguramente éum passo que vamos dar na humanidade.Enfrentamos uma crise de falta de valores quepermite que interesses de grupos, e os financeirosem primeiro lugar, se sobreponham ao interessegeral, ao bem-comum das pessoas. No fundo, oque falta aqui é uma solidariedade que é sinóni-mo de responsabilização pelo bem de todos.O Cardeal Carlo Maria Martini, antigo arcebis-po de Milão, dizia não entender porque é queDeus deixou morrer o seu filho na cruz. Era,confessava, uma questão que o atormentava…Aliás toda a humanidade, desde os gregos. A tra-gédia grega, todo o pensamento filosófico,mesmo o do cristianismo, tem sido exactamenteeste: o problema do Mal e o problema do sofri-mento. Situações como Auschwitz e outros gran-des dramas de exploração de povos, por outrospovos, correspondem um pouco a esta interro-gação que nos aflige, do chamado silêncio deDeus. Dá impressão que Deus não intervém. Éclaro que é uma dinâmica de história, de liberda-de do ser humano, de limitação do próprio serhumano. E, portanto, a preocupação existe masnão podemos ser nós, com os nossos critériosracionais, limitados, a definir se é Deus que estáa fazer, ou Deus que não está a fazer. Contudo, osofrimento humano deve ser uma preocupaçãoprimeira da humanidade, sem dúvida. Todos nósdevemos conjugar capacidades e talentos paraque entre o homem e a natureza, de que ele éirmão, haja mais harmonia. O cardeal Carlo Martini dizia, também, na suaderradeira entrevista, o seguinte: "A Igreja estácansada, a nossa cultura envelheceu, as nossasigrejas são grandes e estão vazias. E o aparelho

burocrático alarga-se. Os nossos ritos religiosose as vestes que usamos são pomposos" …E tem toda a razão. Aliás, foi uma das frases maisapreciadas dele porque é um homem do VaticanoII (de que estamos agora a celebrar 50 anos). Umhomem que viveu essa mesma dinâmica, outramaneira de viver o mundo que ele sentia emretrocesso. Muitas coisas dentro da própria igrejavoltaram, pura e simplesmente, atrás. Aquelaesperança e abertura do Vaticano II foi de novodominada pelo ritualismo, pelo curialismo, peloformalismo, que ele denuncia e muito bem! Apreocupação da genuflexão, do vestido, dapompa, do poder, da capacidade de intervençãoem vez de ser, exactamente, a capacidade de esta-belecer comunhão entre todos os seres humanos,entre todas as religiões ou não religiões, entre oscrentes e não crentes. Porque tanto é direito teruma crença como não ter umacrença. Ser ateu ou ser agnósticoé um direito fundamental daspessoas. E, portanto, criar esteclima de respeito mútuo, de inte-racção, para que se encontremcaminhos comuns onde todospossam participar, deve ser umapreocupação da igreja. Os fundamentalistas ainda têmmuita força…Infelizmente, ainda há dentro daIgreja - e não é só na igreja católica - movimentosfundamentalistas que apenas procuram defenderuma certa visão da dimensão religiosa.Ultrapassar o fundamentalismo, quer da partedos cristãos quer da parte dos islâmicos, ou daparte dos judeus é um passo positivo para ahumanidade. E o cardeal era um homem ecumé-nico, do diálogo, tal como o Papa João XXIII queesteve na base do concílio Vaticano Segundo. Decerto modo, também o Papa João Paulo II. Sãohomens de abertura ao universalismo. E tambémnós portugueses, enquanto povo duma culturauniversalista, um povo de encontro. Que anda-mos a singrar os mares ao encontro de culturascompletamente distintas, de outras etnias, de ummundo desconhecido. Somos sempre marcadospor aquilo que, curiosamente um grande histo-riador português, Jaime Cortesão, no seu tratadoclássico sobre os Descobrimentos, chamava "amística dos descobrimentos" e identificava como

“A esperança deabertura do VaticanoII foi de, novo,dominada peloritualismo, pelocurialismo, peloformalismo…”

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Entrevista

a mística franciscana, isto é, quando os nossosnavegadores iam por esses mares fora, com medodo desconhecido - se o mar acabava a pique dummomento para o outro, o que estaria atrás dosAdamastores - os frades diziam: seja o que forque a gente encontre, é nosso irmão! Vamos tra-tar como irmão. Esta mística de fraternidade e deabertura ao outro, de um povo que, além dos des-cobrimentos, faz encontro de povos e de culturas,é uma mística que estamos a precisar, designada-mente, entre religiões. O cenário traçado pelo Cardeal Martini emrelação à igreja católica não será o mesmo daigreja portuguesa?Seguramente, até porque a igreja portuguesa éuma igreja normalmente conservadora. Não é

uma igreja progressista, de van-guarda, digamos assim. É umaigreja popular …Mas tem, agora, bons teólogos ebispos novos …Tem bons teólogos, tem. Mas, oproblema não é só um problemade episcopado, embora, obvia-mente, isso marque. É um proble-ma de cultura geral. E a nossa cul-tura, quer do clero, mesmo doclero mais jovem, quer do povo,normalmente é uma cultura deum povo crente, religioso que dáum jeito à sua própria religião.Portanto, vive a sua fé, ajeitando-

se e ao ajeitar-se, às vezes, faz com que hajamuita rotina, muito peso da tradição.Provavelmente, às vezes, dando como tema prin-cipal da religião, coisas que se estudavam ser asprimeiras: a devoção de Fátima, a devoção de nãosei quê, quando outros temas religiosos e da reli-gião são, talvez, mais importantes: a bem aventu-rança pelos pobres, a religião como motivador dasolidariedade, a religião como motivador de umaética, de valores. Às vezes cede um pouco ao pie-tismo, à prática da piedade. É importante queuma religião tenha as suas práticas, mas é muitomais importante que tenha os seus valores, assuas causas de Fé.O que explica a posição conservadora da Igrejaportuguesa relativamente a certas questõescomo o divórcio, a contracepção, a homossexu-alidade…

Sim, sim, a Igreja portuguesa é nesse aspectouma igreja lenta. Não vou dizer retrógrada, masvou dizer lenta. Apesar de tudo ainda tem tido,mesmo em temas como a legislação do aborto,um comportamento bastante respeitável no sen-tido de saber distinguir: uma coisa é a Fé, a reli-gião e a Igreja, outra coisa é a sociedade. A socie-dade tem as suas próprias leis, que são leis paratodos, quer para os cristãos quer para os nãocristãos. As leis de uma sociedade devem pautar-se pelos critérios da ética comum. A ética religio-sa deve ser defendida pelas próprias religiões. Seuma religião diz aos seus crentes: isto não sepode fazer de maneira nenhuma ainda que a leido Estado diga o contrário, ele não faz. Ou entãoopta pela obediência civil e não pela religiosa.Há, na Igreja católica, quem defenda a orde-nação de homens casados e até a ordenação demulheres …Eu mesmo tenho defendido isso em público. E opróprio Cardeal Martini mostrou-se favorável aessa abertura. Em Portugal, figuras como o antigoBispo de Braga, D. Eurico, e outras pessoas, já odefenderam. A questão do celibato católico aca-bará, mais década menos década, por ser ultra-passada.Seria uma forma de compensar a crescente faltade vocação religiosa, o défice de padres, os se -minários vazios… Não é só por esse motivo. É pela própria opçãopessoal. Uma pessoa pode ter opção matrimoniale opção ministerial, isto é, de serviço religioso.Não é nada incompatível. Teologicamente nuncafoi assim. É apenas um problema meramente dis-ciplinar. A disciplina pode mudar e ainda porcima a Igreja católica é praticamente uma dasúltimas a ter esta exigência. As outras igrejascristãs já não têm este tipo de exigência. O maisrazoável é o critério da opcionalidade. Aquelesque têm vocação de celibato, devem ser respeita-dos, dando-lhes, inclusivamente, mais responsa-bilidades. Há igrejas cristãs, não ocidentais, nãocatólicas, onde os não casados têm acesso, porexemplo, ao episcopado. Ou seja, podem ser bis-pos, com funções que exigem mais disponibili-dade, mais entrega. Isso podia ser uma solução. Eum bom cura da aldeia porque é que não há-deser um bom cidadão, casado com os seus filhos ea sua mulher exercendo o seu ministério, a suafunção?

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“É bom queapareçam os profetas,as pessoas que comcoragem, com isençãoe com sentidomobilizem e chamema atenção para agravíssima situaçãoque está a ocorrer noMundo e emPortugal.”

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O que faria, ou o que seria Jesus Cristo nestenosso tempo é uma das muitas interrogações decrentes e não crentes...Essa interrogação, temos que fazê-la, todos nós,sobre as várias coisas da vida. O que é que fariahoje o filósofo Sócrates? O que é que fariamPlatão ou Aristóteles? O que faria Maomé hoje? Oque faria São Francisco de Assis? O que é quefaria Jesus Cristo? Olhe, isto, no fundo, significatentar confrontar os ideais que esses homens,esses grandes mestres defenderam no seu tempocom aquilo que é a realidade de hoje, De facto, oJesus Cristo o que pregava era: vós sois todosirmãos, respeitai a diferença, porque não hágrego, não há judeu, não há cita, sois todosirmãos. E o que a Humanidade deve hoje valori-zar, é exactamente isto: o pluralismo, a diversida-de. Assim como nós defendemos, e muito bem, abiodiversidade de todos os seres, também entreos seres humanos temos que ter um critério deecologia humana alargada, isto é de diversidade,de respeitar as diferenças culturais, religiosas,anímicas, sejam quais forem, dentro desta ideia:mas somos todos irmãos.Cristo não acabaria igualmente crucificado hojepelas suas ideias?

É muito natural. Tantos cristos há, hoje, por aí,que são marginalizados, 'crucificados' emfunção das suas próprias ideias. Porque defen-dem a liberdade política, ouporque defendem a liberdadereligiosa. Todos os dias há gentea ser crucificada em função devalores que defendem e pelosquais lutam. São os mártires dahistória aos quais a Históriamuito deve. Há quem considere que o PadreMelícias tem estado mais discre-to, menos interventivo…Eu sou um homem, essencialmente, da socieda-de civil e do sector da economia social, das mise-ricórdias, dos bombeiros. Quando estava emfunções de mais visibilidade, tinha, naturalmen-te, mais obrigação de me pronunciar. Hoje, asminhas responsabilidades são sobretudo emrelação a uma ordem religiosa. Como provincialdos franciscanos e como responsável da UniãoEuropeia dos Frades menores, as minhas activi-dades são mais viradas para dentro do convento,do que propriamente para fora. Mas, não signifi-ca que esteja alheio às coisas, muito pelo contrá-

“A minha pensãoé de 1753 euros (…)e não vem para mim,vai para uma contada OrdemFranciscana. Nós nãotemos bens…”

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“Museu de Frades”. São, maioritariamente, ofertas de amigos, incluindo as de um artesão que produz, e lhe envia regularmente, peças exclusivas eoriginais. Trata-se de uma notável e invulgar colecção de esculturas de frades que Vítor Melícias expõe numa ampla sala do convento da OrdemFranciscana. No conjunto das mais de 900 peças expostas (a colecção ultrapassa as 1600 esculturas), oriundas de diferentes países, muitas delas bemdivertidas e irónicas, sobressai um valioso 'frade", com mais de cem anos, obra do grande Mestre Rafael Bordalo Pinheiro.

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Entrevista

rio se sinto que há coisas que é preciso dizer efazer nos momentos em que seja possível fazer,fá-lo-ei com muito gosto. Aliás, estou a sentir queneste momento é bom que apareçam os profetas,as pessoas que com coragem, com isenção e comsentido mobilizem e chamem a atenção para agravíssima situação que está a ocorrer no Mundoe em Portugal.

Têm circulado críticas nas redessociais relativamente ao valor dasua pensão…É falta de informação. As pessoasveicularam que eu tinha umapensão muito elevada, exorbitan-te… Ora, eu tenho uma pensãonormal, respeitante a uma pessoaque trabalhou muito. A minhapensão é de 1753 euros e possomostrar-lhe, se quiser, o compro-vativo. E há outra coisa que as pes-soas não sabem. É que a própria

pensão não vem para mim, vai para uma conta daOrdem Franciscana. Nós não temos bens. Aquiloque um padre franciscano receba, porque lhe foiatribuído ou porque herdou dos pais, ou porquelhe dão em remuneração de trabalho, vai para aOrdem. Aliás, as pensões são um direito e não um

roubo. O meu desconto nunca foi muito grande,obviamente que tive funções de director-geral, fuipresidente de um Banco (Montepio) e de outrasentidades. Algumas pensões estão acima damédia, mas representam o valor dos descontos fei-tos. A pensão que recebo não vem para mim, éaplicada aos pobres. Não tenho propriedades, nãotenho automóvel, nem bicicleta, nem barco, nemcasa, nem conta bancária. Não sou dono de nada,nem quero ser, fiz voto de não ter nada. As pró-prias coisas que tenho são aquelas que uso e nãosão valiosas. Não me preocupam, portanto, essasmentiras que circulam por aí.Preocupa-se mais com o seu Sporting…Mesmo aí tenho que pedir ajuda a alguém parame pagar as quotas (risos). Neste momento, oSporting está com alguma dificuldade, está com-plicado. Já não é o Sporting das grandes glórias…tem equipa para formar, tem finanças para gerir,tem património para defender e não deve ser fácil.Foi presidente do Conselho Geral da Inatel. Queopinião tem do seu papel da na sociedade por-tuguesa?É uma das instituições mais válidas e mais estru-turadas em defesa da dignidade e qualidade devida dos trabalhadores. Infelizmente, às vezes, hápessoas que pensam que aquilo é um feudo doEstado, que o estado é que deve gerir aquilo à suamaneira. Não é. A Inatel é economia social, é ter-ceiro sector, são os trabalhadores ou as entidadesaos quais eles pertencem, aos quais se agregam,que tiveram aquela ideia. Nasceu, há quase 80anos, como uma fundação, depois foi institutopúblico, hoje felizmente não é instituto público,mas uma fundação privada que o Estado nãopode extinguir. Se tiver utilidade pública, ou sedeu para lá subsídios, o Estado tem apenas capa-cidade de intervenção, em relação ao que lámeteu. É muito importante que os trabalhadorestenham consciência que aquilo não é favor ne -nhum que o Estado está a fazer aos trabalhadores,é um direito e um património que os trabalhado-res constituíram através dos tempos - patrimóniofísico, material, económico e sobretudo institu-cional, cultural. Aquilo faz parte da alma dos tra-balhadores portugueses. Defender a Inatel, édefender a dignidade do trabalhador enquantotal e a sua liberdade de exercer uma vida digna,uma vida com qualidade. n

Eugénio Alves (texto) José Frade (fotos)

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“A FundaçãoInatel é uma dasinstituições maisválidas e maisestruturadas emdefesa da dignidade equalidade de vida dostrabalhadores”

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Terra Nossa

É a maior (746,82 km²),mais povoada (131 milhabitantes) e mais fértililha açoriana. Daí,naturalmente, o estatutoda sua capital, PontaDelgada, como sede dopoder político eadministrativo da RegiãoAutónoma dos Açores.Mas São Miguel não seesgota em númeroseconómicos ehabitacionais.

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Ponta Delgada Um

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m paraíso atlântico

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Terra Nossa

Opatrimónio arquitectónico, cul-tural e, sobretudo, a beleza pai-sagística são valores inquestio-náveis da ilha descoberta porvolta de 1426/1439, e povoada

inicialmente por portugueses, judeus, mouros efranceses, atraídos pela fertilidade do solo, poten-ciador, ainda hoje, da sua principal actividadeeconómica, centrada na área agrícola epecuária.

A capital, Ponta Delgada, capitaldesde o século XVI - sucedeu a VilaFranca do Campo, arrasada por umterramoto em 1522 -, é uma cidadeatraente e cosmopolita, debruçadasobre o mar, dotada de modernos equi-pamentos e um comércio activo, masorgulhosa das suas tradições e monu-mentos - igrejas e palácios - dos sécu-los XV e XIX, como a sua bela IgrejaMatriz, o edifício da Sede daAlfândega, os Conventos da Conceição(actual sede do governo regional dosAçores), de Santo André, do Carmo ede Nossa Senhora da Esperança doséculo XVIII), o antigo Colégio dosJesuítas, o Forte de São Brás (tambémconhecido por Castelo de São Brás), aIgreja de São Mateus ou as emblemáti-cas Portas da Cidade.

Aos seus visitantes (Viagens Inatelpropõe um fim de ano 2012 de quatrodias em Ponta Delgada) a cidade apre-senta hoje uma crescente oferta de ser-viços, animação e actividades comespaços comerciais, teatros, cinemas,locais de diversão nocturna, e a reno-vada Marina com as suas piscinas e osespaços de lazer, e outros locais antigos e sempreaprazíveis como o romântico Jardim AntónioBorges, ou o excelente Museu Carlos Machado,instalado no antigo mosteiro de Santo André eque retrata a história natural, a pesca e a agricul-tura de toda a Ilha de São Miguel.

No plano cultural, destacam-se, ainda, diver-sas galerias de arte como o Centro Cultural dePonta Delgada, o Teatro Micaelense, o ColiseuMicaelense, a Galeria Fonseca Machado, aBiblioteca Pública e Arquivo Regional de PontaDelgada localizada no antigo Colégio dos

Jesuítas, além da Biblioteca Municipal CalousteGulbenkian, no centro da cidade.

De construção recente, "Portas do Mar" é umainfraestrutura dotada de vários espaços comer-ciais, restaurantes e esplanadas, um porto paracruzeiros, uma gare marítima, um pavilhão mul-tiusos, uma marina, um anfiteatro ao ar livre, pis-cinas naturais e uma grande passeio junto ao

mar. Passeio também obrigatório para os visitan-tes será o da renovada avenida com vários cafés erestaurantes com vista directa para o mar, locali-zados no centro comercial Solmar AvenidaCenter.

As festas do Senhor Santo Cristo dosMilagres, a maior festa religiosa dos Açores, tra-zem, anualmente, no quinto domingo depois daPáscoa, a Ponta Delgada, muitos milhares depessoas, quer do arquipélago quer do estrangei-ro, sobretudo dos Estados Unidos e Canadá,países que albergam as maiores comunidades

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Aldeia das Sete Cidades Fábrica de Chá

Furnas

Plantação de Chá. Em baixo, pormenor da ilha Ponta Delgada

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Terra Nossa

da diáspora açorianas. Outra importante mani-festação religiosa de São Miguel respeita aosRomeiros: em plena Semana Santa, grupos dedezenas de homens percorrem a ilha a pé,durante oito dias, rezando e cantando em todasas Igrejas e Ermidas que encontram pelo camin-ho. Romeiros que, no seu longo e sereno trajec-to, desfrutam, ainda, da beleza deslumbranteda paisagem verde e florida, onde avultamesplendorosas lagoas e o horizonte magníficode um Atlântico vasto, altivo e persistente.

A célebre Lagoa das Sete Cidades, o ilhéu deVila Franca (reserva natural), o Vale das Furnas,

com as suas caldeiras naturais de águas e lamasquentes e medicinais, a Lagoa do Fogo, na Serrade Água de Pau, e a Lagoa do Congro, próxima deVila Franca do Campo, são exemplos marcantesdos numerosos e atractivos locais que o viajantepode descobrir e desfrutar na ilha de Antero deQuental, Teófilo Braga, Roberto Ivens e NatáliaCorreia, figuras tutelares do património históricoe cultural de São Miguel.

Saborear o Cozido nas Caldeiras, um dos maisconhecidos pratos típicos da região, preparadonas Furnas, no forno geotermal, é outra das expe-riências obrigatórias em S. Miguel. Em poçoscavados no chão, alguns cimentados, enterra-seuma panela contendo os ingredientes (carne elegumes). Várias horas depois, estará pronto edisponível um raro, insólito mas inesquecívelpitéu.

Outra visita possível e interessante respeita àCosta do Nordeste, o ponto mais oriental da ilha,onde se encontra o Pico da Vara o ponto mais altode S. Miguel. É a parte da ilha menos conhecida,mas talvez seja por isso que é a mais preservada,mais florida e em cujas terras se produzem cere-ais, chá, fruta e vinho e se alimenta o vasto gadobovino, responsável pela florescente produção decarne e leite do arquipélago.n

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Viagens Inatel

FIM DE ANO NOS AÇORES - PONTA DELGADA

Partidas de Lisboa ou Porto, de 29 Dez. a 2 Jan.

Preço por pessoa: Quarto duplo - 689 euros; individual - 825

euros

O preço inclui: alojamento em hotel 4*; regime de meia-pensão;

noite de réveillon; passagem aérea; taxas de aviação; assistência

de embarque; passeio à ilha; seguro de viagem. Mais informações:

Loja do Rossio, tel. 211146820/7 - [email protected]; Agência do

Porto, tel. 220007950 - [email protected]

Hotel MarinaAtlântico

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Viagens

Osom de um violino flutua no are não se ouve mais do que ummurmúrio de vozes que, de tãoindistintas, se confundem como marulho das águas submissas

do rio. A manhã desperta bonita, o céu está deum azul imutável e a ponte, uma vez dispersa abruma, deixa-se envolver com gratidão por aque-le halo de luz ainda tremelicante. Praga, a cidademágica, misteriosa, das luzes e das sombras, daslendas e do misticismo, acorda para um novo diasob o manto de uma tranquilidade ordeira quenão tardará a esfumar-se, a meio da manhã,quando a turba se começar a precipitar para osseus lugares mais emblemáticos escondida atrásde câmaras fotográficas, olhando sem ver estesespaços mágicos, respirando sem sentir os enig-mas de um imenso postal capaz de provocar nomais experiente dos viajantes uma espécie deêxtase romântico.

O meu olhar desvia-se do homem que seguraternamente o violino e, sofrendo de uma estra nhaatracção, pousa-se numa das estátuas da Ponte deCarlos IV, banhada pelos raios ainda tépidos dosol matinal. Segundo reza a tradição, foi cons-truída, num tempo remoto em que alquimistas eastrólogos exacerbavam o seu poder, com arga-massa de vinho e ovos para se tornar mais sólida.Como Praga não tinha quantidade suficiente, osovos eram transportados desde as aldeias próxi-mas e, inevitavelmente, pelo caminho partiam-

se, o que levou as gentes de Velvary, nas cerca-nias da capital, a recorrer a uma ideia digna degénios: passaram a enviar ovos cozidos, ignoran-do que estes se inutilizavam para a argamassa.Outros defendem, para justificar a sua resistênciatão reclamada pelo soberano, que se deve ao factoda primeira pedra ter sido colocada a 9 de Julho,dia da conjunção de Saturno com o Sol, uma datafavorável de acordo com os astrólogos.

No lugar onde hoje existe a ponte mais com-prida da Europa construída em pedra, com 520metros de longitude e dez de largura, havia umaoutra, em madeira, destruída por uma inun-dação. Uma vez reconstruída, foi de novo demo-lida, em 1342, pela força da corrente do Moldava,ganhando a solidez que a caracteriza no reinadode Carlos IV, numa época em que a história falada presença de um busto num dos seus pilares,vulgarmente conhecido como O Barbudo, quemedia o nível das águas do rio - quando lhe che-gava às barbas, o Moldava transbordava e proce-dia-se à evacuação; quando a cabeça ficava sub-mersa, todos acorriam à colina do castelo.

As três dezenas de estátuas que decoram aponte, na sua maioria reproduções, parecemolhar-me com uma intensidade desconcertantequando os primeiros turistas começam a pisar oempedrado que o tempo se encarregou de alisar.A vida já não fervilha em voz baixa, o disco sobeno céu eternamente azul, o silêncio é agora subs-tituído pelo constante matraquear das câmaras

Praga A eterna magia de

Poucas cidades no mundo possuem o romantismo da capital da RepúblicaCheca e raras são as que se podem orgulhar de oferecer ao viajante tãoamplo museu ao ar livre, onde diferentes estilos convivem na mais perfeitaharmonia

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DR

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que garantem recordações de um tempo tantasvezes vivido atrás delas e raras vezes ocupado napreguiçosa contemplação que Praga justifica.

As águas do Moldava brilham como mil espe -lhos e eu, entregando-me à minha quietude,deixo que se pinte no meu imaginário o modo devida na capital quando, no lugar das estátuas, seencontrava uma única cruz de madeira, erguidapelos vizinhos da Cidade Velha precisamente nolocal onde foi atirado ao rio o capelão da Catedralde São Vito e à frente da qual rezavam os conde-nados à morte e se lançavam à água, dentro de

cestos de vime, os mercadores e os artesãos deso-nestos.

Para o Moldava foi também empurrado SãoJoão Nepomuceno, confessor da Rainha Sofia,fiel ao seu voto de silêncio mesmo depois desofrer as torturas da parte do rei. E no lugar ondecaiu surgiram cinco estrelas douradas que hoje sepodem ver em redor da sua escultura na ponte,aqui e acolá enfeitada com relevos do martírio dosanto - e muitos deles desgastados porque a tra-dição manda que, quem desejar regressar a Praga,tem de apoiar a mão num deles.

Harmonia de estilosSituada no centro da Europa, a capital daRepública Checa tem na ponte um dos seusmaiores atractivos mas a sua oferta é de tal formavariada que, aqui mais do que em qualquer outrolugar, em Praga é necessário dar tempo ao tempo.Depois de passar a sua infância em França, CarlosIV regressou à Boémia em 1333 e encontrouPraga num estado tão deplorável que, comovido,decidiu ele próprio supervisionar os trabalhos dereconstrução para, anos mais tarde, num períodoem que Moscovo, Paris ou Londres eram cidadesmenores, a apelidar de "jardim do meu prazer."

E, na verdade, Praga surpreende a cada esqui-na pela sua beleza inquietante, pela imponência

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Viagens Inatel

FIM DE ANO EM PRAGA

Partidas de Lisboa ou Porto, de 28 Dez. a 1 Jan.

Preço por pessoa: quarto duplo: 733 euros; supl. individual: 265

euros; supl. saída do Porto: 25 euros; crianças dos 2 aos 9 anos

(quarto partilhado com 2 adultos): 550 euros.

O preço inclui: 4 noites de alojamento em hotel 4*; passagem

aérea; assistência no aeroporto e transporte para hotel; jantar de

fim de ano; uma visita a Praga com guia acompanhante; seguro de

viagem; taxas hoteleiras e de aviação. Mais informações: Loja do

Rossio, tel. 211146820/7 - [email protected]; Agência do Porto,

tel. 220007950 - ag.porto@inatel.

Viagens

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do seu castelo, com quatro pátios com edifíciosde diferentes épocas, entre eles a Catedral de SãoVito e o Mosteiro de São Jorge, lugares de cultono Bairro de Hradcany, onde também fica situa-da a Praça do Castelo. É neste cenário que nos fazsentir pequenos que todos os olhares se cravamno Palácio Schwarzemberg, obra-prima doRenascimento checo, no Palácio Toskana(Barroco), no Palácio Arcebispal (Rococó), noPalácio Martinic, no Palácio Sterberg, palco daGaleria Nacional, um eterno e permanenteencontro com a cultura e a arte arquitectónica nacidade onde, como já se percebeu, todos os esti-los vivem em perfeita harmonia.

Pequenas nuvens, como fiapos de algodão, sãotocadas pela brisa suave quando deixo para trás oMosteiro de Strahov e o Palácio Belvedere e logoos meus passos me levam à Rua Nerudova, comos seus belos exemplos de arquitectura aos quaisninguém fica indiferente. Sem destino definido,acerco-me da Praça da Mala Strana, erro pelaIgreja de São Nicolau, rumo à Praça dosCavaleiros de Malta e por aqui me demoro, divi-dindo o tempo entre o Palácio Nostic e o Turba,até me deter, a meio da tarde, em Smichov, maisa sul, para sentir a fragância da Villa Bertramka,frequentada por Mozart e actualmente um museudedicado ao compositor.

Uns dias depois, ainda sob um sol radioso,deambulo por Josefov, o bairro judeu, detendo-me na sinagoga mais antiga da Europa, no AntigoCemitério e observo, pausadamente, o edifício daCâmara Municipal, nesta cidade dentro da cida-de, com o seu curioso relógio cujos ponteiros semovem em sentido contrário, na mesma direcçãoda escritura hebraica.

Uma visita a Praga não fica completa sem umaparagem demorada na Praça Velha. Milhares deturistas erguem os olhares ao encontro do relógioastronómico (1410) que marca um tempo quehoje se converte em espectáculo, assistindo, exta-siados, ao desfile da morte e dos apóstolosenquanto toca as horas. Admirando tudo o que osmeus olhos perscrutam, caminho ao longo daRua Celetná, atravesso a Praça da República e,depois de vagabundear pela tortuosa RuaKarlova, chego à Torre da Pólvora, onde me chegao som familiar do violino.

O sol banha as estátuas da Ponte Carlos IV edoura o Moldava. O formigueiro humano, comoque enlouquecido, enche o empedrado. Por alipermaneço, despojado de pressa, escutando oviolino que recorta um céu que vai adquirindouma tonalidade alaranjada. É Praga, a cidade deKafka, a cidade mágica. n

Sousa Ribeiro (texto e fotos)

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O relógio de sol, aponte Carlos (naspáginas anteriores), acasa de Kafka e aIgreja de S. Nicolau,marcam a riquezaarquitectónica ecultural de Praga

DR

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Ano europeu do envelhecimento activo e da solidariedade

Universidades SéniorAprender nunca acabaHá cada vez mais "universidades sénior", instituições vocacionadas paraacolher uma população estudantil muito especial. São já mais de oito mil,em Portugal, os estudantes a frequentar estas universidades, cuja actividadeganha particular acuidade quando se celebra o Ano Europeu doEnvelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações.

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AComissão Europeia criou o AnoEuropeu do EnvelhecimentoActivo e da Solidariedade entreGerações com o fim de encorajara reflexão sobre "a forma como os

Europeus estão a viver cada vez mais e as opor-tunidades que daí decorrem". Para os promotoresda iniciativa, "o envelhecimento activo pode sig-nificar para as pessoas mais velhas a oportunida-de de continuarem a trabalhar e partilhar as suasexperiências, de continuarem a desempenhar umpapel activo na sociedade e de viverem as suasvidas de maneira saudável, independente e pre-enchida". Um desígnio fundamental é a melhoriada qualidade de vida e do bem-estar da popu-lação mais idosa.

O movimento das "universidades sénior"constitui uma "resposta socioeducativa, que visacriar e dinamizar regularmente actividadessociais, culturais, educacionais e de convívio", talcomo se lê nas declarações de princípio de váriasinstituições portuguesas do género.

As primeiras universidades sénior remontamao início dos anos 70, em França, e às experiên-cias de universidades populares dos países nór-dicos. As Universidades da Terceira Idade (UTI)portuguesas seguem o modelo inglês, que nãocontempla nenhuma certificação, mas as formascomo cada instituição materializa os seus progra-mas gera alguma diversidade. Como denomina-dor comum prevalecem a valorização e inte-gração da pessoa idosa e a ocupação dos temposlivres com aprendizagens.

Aprender o que a vida profissionalou familiar não permitiuO modelo jurídico, o tipo de apoios e o carácterprofissional ou de voluntariado da docênciasão aspectos que distinguem entre si estas ins-tituições. No Porto, onde se recolheram osdados para este retrato das UTI, o corpo dis-cente varia entre uma dezena e as quase trêscentenas de estudantes. São variadas as moti-vações de quem procura estas instituições, mashá regularidades, como refere Artur Santos,Director Académico e docente da UniversidadeSénior Contemporânea (USC): "Muitos trazemhistórias de depressão, de solidão e de lutos. Eoutros querem aprender o que antes a vida pro-fissional ou familiar não lhes permitiu".

A questão dos modelos jurídicos é umaquestão sensível. Algumas das UTI são críticasquanto à dependência de subsídios ou apoiospúblicos e preferem reger-se por práticasempresariais ou lutar pela auto-sustentabilida-de. A Universidade Sénior da Foz (USF), fun-dada em 1997 e frequentada por 80 alunos,está integrada no Orfeão da Foz e "não contacom nenhum apoio oficial ou outro", de acordocom Rui Cupertino de Miranda, um dos direc-tores.

A Agitar - Universidade Sénior, que optoupor um modelo de associação com fins nãolucrativos, procura também equilibrar as con-

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Em cima, aula naUniversidade SéniorContemporânea e, embaixo, fachada daUniversidade Séniorda Foz. Na páginaanterior, entrada daAgitar - UniversidadeSénior do Porto.

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Ano europeu do envelhecimento activo e da solidariedade

tas com as quotizações dos alunos. Tem 60 alu-nos e está inserida numa das freguesias maisenvelhecidas da cidade do Porto, Paranhos. Aspreferências disciplinares dos estudantes pau-tam-se por um padrão identificável noutras ins-tituições: "Os seniores procuram essencialmen-te actividades que não tiveram oportunidade dedesenvolver, mas procuram também activida-des que os façam manter activos fisicamente,como as danças e as aulas de relaxamento",revela Ana Pinheiro, da direcção da Agitar. Ogrande interesse pelas novas tecnologias é ine-quívoco; "tudo o que envolve a comunicação é

importante para eles, o e-mail, o chat, oskype…".

Áreas disciplinares dinâmicasA variedade da oferta curricular é um aspectoimportante, como sublinha Artur Santos, daUSC. Daí a grande diversidade temática das 23disciplinas frequentadas por 17 turmas. São aotodo 280 alunos, com idades entre os 50 e os 92anos, numa universidade que publica também(online) uma "Revista Transdisciplinar de Geron -tologia".

A componente solidária, através de parcerias,é central para a USC, "que não deve pensar ape-nas na sua orgânica e nas aulas, tem de desen-volver também a sua responsabilidade social".Preocupação semelhante anima a UniversidadeSénior Florbela Espanca (USFE), ligada à CâmaraMunicipal de Matosinhos, que promove "aulasabertas à comunidade, com apresentação de tra-balhos de investigação feitos pelos alunos, edesenvolve colaboração directa com escolas pro-fissionais e secundárias com a finalidade de pro-porcionar a transmissão dos conhecimentos eexperiências dos seus alunos nas áreas deHistória e Património de Matosinhos", de acordocom João Gomes.

Há uma preocupação em auscultar as expec-tativas dos alunos quanto às áreas disciplinaresdos programas.

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“Os seniores serão mais interventivos”

As UTI portuguesas integram uma

associação que tem a função de as

representar junto de entidades públicas

e privadas e de ajudar a criar novas

unidades. Chama-se RUTIS, nasceu

durante o III Encontro Nacional de UTI

realizado em Almeirim e Santarém, em

2004, e agrega 185 universidades

sénior.

Na perspectiva de Luís Jacob,

presidente da RUTIS, "em relação às

primeiras que foram criadas, as actuais

universidades são mais interventivas,

têm mais actividades e são melhores

organizadas". Para este dirigente, "as

principais dificuldades são as

instalações, a dificuldade em arranjar

transporte para as actividades, a falta de

professores voluntários e a escassez de

receitas". Não se registando apoios

significativos para além dos autárquicos

em alguns casos, "a RUTIS tem feito

vários pedidos ao Ministro da

Solidariedade e Segurança Social para

criar uma legislação de enquadramento

destas organizações, para ser mais fácil

recolherem apoios".

Luís Jacob acredita que, com o

contributo das UTI, "os seniores,

individualmente ou em grupo, serão

mais interventivos socialmente". E cita o

que pode ser lido como a concretização

de um dos principais desideratos das

universidades sénior: "Os vários estudos

a que a RUTIS tem acesso indicam

claramente que os seniores que

frequentam as UTI são mais felizes e

saudáveis dos aqueles que não realizam

actividades úteis".

Pormenor dasinstalações daUniversidade SéniorContemporânea

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A Universidade Sénior Eugénio de Andrade(USEA), que nasceu no seio do Centro Cultural eDesportivo dos Trabalhadores da CâmaraMunicipal do Porto, em 2006, e tem actualmente260 alunos, vai introduzir novas disciplinas nopróximo ano lectivo. Manterá o Inglês e aInformática, muito populares, e acrescentará,entre outras, a disciplina de Mandarim. "A meioe no final do ano passamos questionários de ava-liação da satisfação e procuramos saber se as dis-ciplinas estão a corresponder às expectativas eque disciplinas novas querem", diz Joana Brás,psicóloga, com funções de coordenação pedagó-gica na USEA. Surgiram, assim, as sugestões doMandarim e do Acordo Ortográfico, acrescentaJoana Brás, que destaca, também, as característi-cas socioculturais dos alunos. Há uma forte per-centagem de licenciados de classe média alta, e"muitos ainda estão no activo e procuram porvezes uma disciplina como complemento da for-mação".

Outra característica dominante entre os alu-nos das UTI é a frequência maioritariamentefeminina. Para Ana Trindade, da Agitar, "as mul-heres têm mais apetência para se relacionaremou para se aventurarem em coisas novas". Aexplicação na USEA não é muito diferente: "Peloque as nossas alunas dizem, os homens são maisreceosos de entrarem num mundo novo, de seporem à prova. Mas pode ser também porque játêm outras realidades sociais a que estejam fide-lizados", alvitra Joana Brás. Na USEA as mulhe-res são mais de dois terços, mas o desequilíbriotem tendência a atenuar-se, "talvez porque mui-tas das senhoras conseguem convencer os mari-dos a vir".

Educar para serMuito valorizada por algumas UTI é a condiçãojovem dos docentes e a interacção geracional."Aqui, a idade dos formadores varia entre os 30 eos 45 anos. Temos de ter formadores mais novosdo que os seniores para os manter activos", dizAna Pinheiro, da Associação Agitar.

Leccionar nas UTI é uma tarefa singular. ParaVítor Fragoso, docente de Inteligência Emocionalna USC, trata-se de uma experiência diferenteporque tudo se foca mais "nas necessidades dosseniores, mais do que para o desempenho ouaquisição de conhecimento", procurando-se criar

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Edifício da Universidade Sénior Eugénio de Andrade e, em baixo,Universidade Sénior Florbela Espanca

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Ano europeu do envelhecimento activo e da solidariedade

"um espaço para o auto-conhecimento numa fasede transição da vida activa para a aposentação".Resumindo a dinâmica das UTI, Vítor Fragosodestaca que "o objectivo, mais do que o ensino, éa aprendizagem, educar para as questões essen-ciais da vida, educar para ser, para conviver, edu-car para a condição humana". No plano pedagó-gico, visa-se "promover uma pedagogia dialógica,em que o aluno é um agente activo da própriaacção pedagógica. O objectivo é crescer em con-junto, não é transferir ou acumular informação".

Um aspecto não consensual refere-se à docên-cia em regime de voluntariado. Um corpo docen-te remunerado é visto como factor de responsabi-lização, mas podem coexistir as duas fórmulas,

como sucede na Agitar. No entanto, "a maioria éremunerada, por uma questão de responsabilida-de profissional", diz Ana Pinheiro. "A partir domomento em que pagamos, podemos exigir…",sublinha Daniela Gomes, docente e coordenadorana USEA. Posição semelhante tem a USFE, a fimde "garantir a qualidade dos conteúdos, aliada auma comunicação eficaz e adaptada às especifici-dades do público sénior". Na USF há uma práticasingular: professores e alunos podem trocar depapéis consoante as matérias. Afinal, salienta RuiCupertino de Miranda, que começou justamentepor ser aluno, "as pessoas vêm para não esquecero que sabem, para aprender e ensinar". n

Humberto Lopes (texto e fotos)

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“Este tipo de experiências eu não tinha”

Alguns dos alunos das UTI são ex-

professores, como é o caso de Leonor

Castro, 75 anos, professora do ensino

básico, que se aposentou aos 59 anos e

frequenta a USC. "Quando me reformei

senti-me muito triste… 'agora acabei', foi

o que pensei. E de repente houve

qualquer coisa de novo na minha vida.

Não é que eu tenha aprendido aqui

muito mais do que sabia, mas aprendi a

lidar melhor com a passagem dos anos

e a saber conviver melhor". O

desenvolvimento de novas relações

sociais é o que mais valoriza e destaca o

que ganhou com a entrada numa UTI:

"Ocupação, bem-estar, e melhor

preparação para ter uma vida mais

activa".

António Gomes, 74 anos, foi industrial

têxtil e sempre teve uma vida muito

activa, até mesmo para além da

actividade profissional, em associações

desportivas: foi dirigente do Clube

Fenianos do Porto e colaborador do

jornal O Comércio do Porto. Aposentou-

se com 71 anos e chegou à universidade

sénior pela mão dos filhos. "Ter vindo

para a universidade foi muito bom, já

trouxe para cá pessoas amigas". Não

hesita nas preferências disciplinares:

"Do que gosto mais é do coro e da

internet, recebo uns 50 ou 60 e-mails por

dia. E cheguei à conclusão de que gosto

de escrever. Gosto de estar na

universidade e aconselho a qualquer

pessoa que se aposente".

Porfírio Mendes da Silva, 89 anos,

chegou à universidade a conselho dos

netos. Percorreu, na sua actividade

profissional, meio mundo - África do Sul,

Brasil, Inglaterra, Macau, Estados

Unidos - a "adquirir especialização na

manutenção de locomotivas eléctricas".

Um livro publicado recentemente, já

como aluno da USC, conta algumas

histórias vividas em Angola. Diz que não

se aposentou: "Aposentaram-me!". Fala

das amizades que conquistou e do

companheirismo que descobriu na USC.

Reformou-se em 1993 e entrou para a

USC em 2006. "Ainda estive uns anos

entregue a mim mesmo, mas depois

aqui aprendi a conviver e sobretudo a

ouvir os meus colegas… Este tipo de

experiências eu não tinha…".

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Centenários

Na Grécia antiga, a excelência("areté") significava desenvolver oseu próprio potencial. Não era umconceito que envolvesse a compe-tição com outrém, relacionava-se

antes com a árdua tarefa de ser genuíno. E sergenuíno, autêntico, aquilo que se é no seu me -lhor, é a estratégia que parece convir a Portugalpara que possa tornar-se num destino turístico deeleição. Jorge Mangorrinha, Presidente daComissão Nacional do Centenário do Turismo emPortugal 1911-2011 - no qual a Fundação Inatelparticipou muito activamente até ao seu encerra-mento a 26 de Maio deste ano - foi muito claroquanto ao que pode ser o "turismo de excelência"a oferecer a um "turista esclarecido": "Cada inves-timento deve preservar o mais possível o que égenuíno e autêntico e singular numa região. Oturista que interessa captar procura isso. É por aique devemos ser concorrenciais".

Nada de nos reduzirmos a um papel seguidis-ta, obliterando o que nos distingue, bem pelocontrário: "Não devemos apenas copiar e adaptaras boas práticas lá de fora, devemos tê-las comoparâmetro mas ainda fazer melhor e diferente",conclui Mangorrinha.

Inatel pioneiroÉ justamente pela diferença que a FundaçãoInatel, instituição que se encontra na génese do"turismo social" em Portugal (direccionado para o"apoio ao trabalhador no activo" e mais recente-mente incluindo também o utente sénior), procu-ra ser competitiva. Longe do tempo em que nas-cera associada à ideologia política do EstadoNovo - a FNAT, criada em 1935, inspirava-sedirectamente no Movimento InternacionalAlegria no Trabalho, desenvolvido na Itália deMussolini e na Alemanhã nazi - a sua actuaçãotem privilegiado a sustentabilidade de programas

O turismopara a gentilezaQuando Portugal atingir a excelência, o turista será um viajante comgeografia interior.

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onde à qualidade da vasta rede hote-leira se associa uma programação cul-tural, desportiva e pioneira a nívelambiental. Ao falar da programaçãoligada ao "turismo de natureza", CarlosMamede, vice-presidente da FundaçãoInatel e vogal da Comissão Nacionaldo Centenário do Turismo emPortugal, dá um bom exemplo de comoa criatividade e a organização podemgerar iniciativas aliciantes: "Temos umprograma de caminhadas, com trilhosestabelecidos, guiados por aparelhosGPS. Destinam-se aos grupos de clien-tes que estejam alojados nas unidadeshoteleiras de Castelo de Vide, Foz doArelho, Luso, Piódão, Vila Ruiva eLinhares da Beira. Desenvolvemostambém o programa "Bike Friendly Inatel", peloqual se dispobilizam percursos BTT, tambémcom GPS, e ainda um "menu" apropriado aosciclistas, serviço de manutenção de bicicletas, eclaro, “seguro", descreve Carlos Mamede, identi-ficando as unidades hoteleiras, onde numa par-ceria com a empresa "A2Z-Adventures", é possí-vel usufruir este programa: Manteigas, Alamal,Vila Ruiva, Piódão e Castelo de Vide.

"Geografia pessoal"A aposta num "turismo ambiental" focado na"redescoberta" ou encontro com a Portugalidadeimplicará, no entanto, um longo trabalho derecuperação e valorização do nosso território.Tarefa que o arquitecto Jorge Mangorrinha prevêocupar várias gerações até ser possível reestabe-lecer alguns equilíbrios perdidos. "Num períodode crise é muito difícil regenerar as paisagens(urbanas e rurais) em tempo útil para que estageração possa ver o território diferente, para me -lhor, mas acho que se houver um sinal de quetodos estão a trabalhar para o mesmo, desde ogoverno central às autarquias e às empresas, épossível que possamos dentro de uma ou duasgerações corrigir todos os problemas que existemnum território e têm influência no turismo." Oturismo de qualidade deverá ter assim quase umacomponente formativa, na medida, em que mos-trando a beleza e o "espírito dos lugares" ("geniusloci") é suposto satisfazer quem já tem espíritocontemplativo mas também cativar quem o tem

ainda incipiente. De outra forma, seria contradi-tório apelar à viagem, fomentar o excursionismo,do qual o "Inatel é o grande pioneiro em Portugal"inclusive pela programação de viagens ao estran-geiro. A partir do momento em que o país desen-volve para si mesmo "um novo projecto de des-coberta", conforme enunciou Jorge Mangorrinha,sem menosprezar o conhecimento do seu antigoe vasto património paisagístico, cultural, gastro-nómico, erudito e popular, é suposto proteger osseus Paraísos, acautelando assim o destrutivoturismo de massa. Se Portugal se reencontrarcomo "país de sonho", pela beleza e diversidadeda sua paisagem, a qualidade da gastronomiaregional e a hospitalidade das gentes, então aoferta da excelência destina-se não ao "viajanteidiota", de que fala o sociólogo francês Jean-Didier Urbain, no livro "Le idiot du voyage - his-toires de turistes" (Plon, Paris, 1991) mas ao turis-ta com "geografia pessoal".

Depois do vastíssimo programa das cele-brações do Centenário do Turismo em Portugal(consultar site: www.centenariodoturismo.org/)ter contribuído para fomentar o conhecimento"da história do turismo e das potencialidades donosso país", destacando o papel histórico daFundação Inatel na democratização do lazer, ogrande desafio que parece importante é tornarperceptível que o Paraíso existe em Portugal, épreciso é desenvolver a excelência para se conse-guir usufrui-lo. n

Susana Neves

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Paixões

Aos seis anos foi-lhe detectado um talento pre-coce pelos avós quando cantou 'CavaloRusso' pela primeira vez. Já lá estava "aquelerequebrozinho fadista" de cepa scalabitana,resultado de ouvir os fadistas mais velhos

desde que se lembra. "Em casa ouvíamos muito fado e músi-ca portuguesa", recorda a jovem Joana Amendoeira, lem-brando que a mãe tinha talento para cantar e atribuindo aospais a responsabilidade de se ter iniciado tão cedo no fado;o mesmo valendo para o irmão Pedro, mais velho 11 anos,que a acompanha à guitarra portuguesa.

Entre os muitos vinis de fado, perdia-se a escutar ininter -ruptamente uma colectânea de Amália Rodrigues. Aos oitoanos fez a primeira aparição em público numa festa deNatal para doentes organizada pela mãe, enfermeira. Aindatemia a exposição do palco e não queria cantar em público."O meu pai tinha de me subornar com a promessa de queme comprava uma Barbie… Ficava nervosa, mas a partirdos 11 anos perdi o receio", assegura, reportando-se a quan-do, inscrita pelo irmão, participa na Grande Noite do Fadode Lisboa, em 1994.

"O ambiente do Coliseu na Grande Noite do Fado fez umclique. O fado tornou-se um objectivo. Desde então quis vira Lisboa conhecer as casas de fado e os fadistas. Era eu quepuxava pelos meus pais", conta Joana, que entretantodançava no Grupo Folclórico de Santarém e cantava ali aolado, no extinto restaurante O Castiço, onde conheceuoutros artistas e autores fundamentais. Estava nos sítios cer-tos às horas certas. "Tive oportunidade de estar com Manuelde Almeida, Cidália Moreira ou Teresa Tarouca, que eram asminhas grandes referências. Diziam mesmo que eu tinhauma voz parecida com a da Teresa Tarouca", refere com sau-

dade. Um ano depois, em 1995, vence a Grande Noite doFado no Porto, em juvenis.

Lisboa e o mestre Fontes RochaEntre os 15 e os 17 anos grava os seus dois primeiros álbuns,'Olhos Garotos' e 'Aquela Rua', e estreia-se no estrangeiro.Considera-os "discos um tanto adolescentes", nos quais seouve "uma voz de menina" e muitos fados já cantados poralgumas das suas referências. Tornando-se uma das maisjovens intérpretes de fado com discos gravados, Joana vê o seuterceiro disco, homónimo, de 2003, como o da "maturidade".

Na maioridade dos 18 anos muda-se de Santarém paraLisboa. Termina o liceu e investe na Academia de Amadoresde Música. Ao mesmo tempo, integra o elenco do Clube deFado, onde canta diariamente durante nove anos. "Vim dearmas e bagagens, instalei-me e senti-me preenchida porviver o sonho de cantar e aprender na casa de fados, que éuma grande escola."Ali conhece o mestre José Fontes Rocha,que se torna seu "professor, mentor, amigo e, sobretudo,cúmplice musical". Para Joana, esse foi um momento-chavee "um grande privilégio", tal como cantar com Alcino deCarvalho ou Maria da Nazaré. "Ensinaram-me a moldar egerir melhor a voz, ter mais intenção, interpretar e dizermelhor as palavras", recorda a fadista.

De Fontes Rocha recebe então duas composições origi-nais - 'Amor Mais Perfeito', em 2000, que dá nome a esteálbum, e 'Fado Joana', em 2006. É em homenagem ao guitar -rista, falecido em 2011, aos 85 anos, que promove o seunovo disco, onde interpreta doze das mais importantescomposições do músico. 'Anda o Sol na Minha Rua', 'Lavavano Rio, Lavava' ou 'Amália' são alguns dos temas, com poe-sia de autores de renome.

Joana AmendoeiraUm “Amor Mais Perfeito”Joana Amendoeira regressa aos discos com 'Amor Mais Perfeito', uma homenagem ao mestreJosé Fontes Rocha que reúne um conjunto de fados do guitarrista, falecido no Verão passado.Em entrevista junto ao CCB, em Lisboa - e numa pausa da tournée de apresentação ao vivodeste seu novo disco -, a fadista faz uma retrospectiva do percurso rico e já longo, que alevou a ser recebida no estrangeiro como uma diva do fado, e revela um lado humilde detotal entrega à música e à poesia que canta.

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Paixões

"Recordo as horas passadas a conversar no bar do Clubede Fado. Tocou com Amália e era um apaixonado pela per-sonagem e pela sua forma de cantar. Contava-me históriasdo fado e ensinava-me a dar 'voltinhas'. Algumas interpre-tações de Amália eram inspiradas na forma como ele canta-va", revela Joana acerca do seu mestre, portuense e electri-cista, migrado para Lisboa aos 30 anos, quando já guitarris-ta profissional. "Era o senhor engenhocas e um homemmuito à frente do seu tempo. Tinha uma oficina onde cons-truía guitarras e cavaquinhos. Nunca vi músico como ele,sempre a improvisar. Cada dia tocava um fado com volti -nhas diferentes. Às vezes ficava delirante quando metia fra-ses de clássicos da música mundial nos fados. As memóriasdele eram muito importantes", sublinha a fadista, que játinha planos de fazer um disco comFontes, em vida. "A saúde dele come -çou a deteriorar-se rapidamente e nãofoi possível", explica, emocionada massatisfeita por concluir e celebrar agoraa obra.

Guitarra é essencial…Joana é uma renovadora que não apre-cia o conceito de 'novo fado'. "O fado éo mesmo mas está em evolução.Quando muito existem novas persona-lidades, vozes, músicos e poetas.Houve um renascimento depois dosanos '80, altura em que se viveu ummarasmo, e é extraordinário observaros novos patamares e públicos que ofado tem abrangido", considera, crendoque "o fado pode evoluir, enriquecido pela inclusão deoutros instrumentos, sem ser desvirtuado; sem se afastar dasua essência". Mas o que é essencial para que o fado o seja?"É difícil explicar, mas sente-se. Não alterando as linhasmestras da escrita e da harmonia, podemos acrescentarnovos instrumentos, dar harmonicamente outras cores aosfados. O próprio poema pode dar uma roupagem nova a umfado, que tem sempre vida nova porque ninguém cantaigual, e esse é um dos objectivos. Jovens fadistas tradicio-nalistas como Carminho, Ricardo Ribeiro ou Raquel Tavaressão capazes de cantar o mesmo fado sem que o pareça."Mas, ainda assim, essencial é a guitarra portuguesa: "Amáliacantava o 'Summertime' com sabor a fado, mas o fado puroempobrece sem guitarra portuguesa. Seria como tirar o ban-doneon ao tango."

Joana recolhe para o reportório poemas de autores por-tugueses consagrados do passado e do presente. O disco 'ÀFlor da Pele', de 2006, marca uma viragem artística pela

qual o grupo da fadista, então composto por Pedro Pinhal,Paulo Paz e Pedro Amendoeira, cria reportório completa-mente original. "Foi aí que comecei a fazer maior recolha emlivros. Temos poesia tão rica e variada, e há tantos poemaspor cantar", observa a artista, que também canta poetas con-temporâneos e, assim, o momento actual, novos conceitos eideias, com a intemporalidade do amor ou de Lisboa. "Apoesia é o género, por excelência, da palavra", afirma Joana,que tem em Sophia de Mello Breyner, Pedro Homem deMello e José Luís Peixoto três referências.

Prémios e momentos-chaveQuando, em 2004, recebe o Prémio Revelação da Casa daImprensa, captura a atenção do público e da crítica em defi-

nitivo. Depois, o Prémio AmáliaRodrigues viria a preencher aindamais as suas medidas. É justo dizerque as distinções têm marcado pontosde viragem num percurso de clara evo-lução musical e artística. O concertona Arena de Portimão, em 2007,somando o pianista virtuoso FilipeRaposo, a Orquestra do Algarve earranjos de João Godinho, reuniu ogrupo em torno de uma reflexão sobreo reportório da fadista e é exemplo deum espectáculo transformador paraJoana e acompanhantes. Já o disco'Joana Amendoeira & Mar Ensemble',gravado ao vivo no Castelo de S. Jorge,recebe a distinção de 'Melhor Disco deFado de 2008' pela Fundação Amália

Rodrigues. Daí se seguiram muitos concertos em salas pres-tigiadas do circuito da world music, em quatro continentes.Falta tocar na Oceânia.

Com sete álbuns, Joana não hesita em ter no último omais querido. "É sempre assim, é o que diz de nós nestemomento. Luto por estar sempre no meu máximo e sinto queestou a cantar e a interpretar cada vez melhor as palavras."

Concertos "Amor Mais Perfeito"Apresentado ao vivo, em concertos programados paravários pontos do país, 'Amor Mais Perfeito', gravado nosEstúdios Pé de Vento, em Foros de Salvaterra, por FernandoNunes, revela o fado na sua essência, tocado com guitarras,viola e contrabaixo. A tour iniciou-se a 28 de Setembro, noMuseu do Vinho do Porto, seguindo-se, em Outubro, Loulé(dia 4), Santarém (13), Lisboa/CCB (14), Moita (19) eSesimbra (20). n

Hugo Simões (texto) e José Frade (fotos)

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Memória

Ofilme passava, por exemplo, no Tivoli, e aca-bada a exibição passava para o chamado"cinema de reprise". Era assim, por exemplo,uma sala no bairro do Restelo onde podía-mos ver ou rever certos filmes, com bilhetes

mais baratos. Vi muito "cinema de reprise" no Restelo.Lembrei-me disto quando as estações de Televisão decidi-ram repor novelas antigas ("O Astro", "Dancin’ Days" ou a"Gabriela"). São as chamadas novelas de reprise com novosactores, reformuladas, mas com base nos argumentos escri-tos por brasileiros como Janete Clair ou Gilberto Braga. ASIC lidera este tipo de reposição.

E foi pensando no novo público telespectador mas tam-bém no antigo que preparámos este trabalho, relembrandoactores que, mais de trinta anos depois, vêem os seus per-sonagens entregues a um conjunto de novos actores que,apesar de tudo, não se saem mal no confronto com os maisantigos.

Quem matou Salomão?Comecemos por "O Astro" (estreado na RTP-1 em 16 deOutubro de 1978) que, à época, se tornou um êxito não sópela interpretação do actor Francisco Cuoco em "HerculanoQuintanilha mas principalmente pela morte do patriarca dafamília Hayalla (Dionísio Azeredo) que levou muitos teles-pectadores, e durante largas semanas, a perguntarem-se"quem matou Salomão?" .Tal como agora, os suspeitos eramvários e quando se descobriu que o assassino era um talFelipe Cerqueira (Edwin Luisi) foi grande a estupefacção. Aautora, Janete Clair, urdiu a intriga de modo a que tanto sepodia desconfiar de Clô, como de Márcio, dos irmãos ou deoutros personagens. Durante meses, o povo não se cansoude perguntar "quem matou Salomão?"

Actores fabulososDaquele período áureo da Globo que nos deu a conhecerintérpretes fantásticos como Dina Sfat (a Amanda apaixo-nada pelo "Astro"), Tony Ramos (Márcio), Teresa Rachel(Clô) ou Rubens de Falco (Samir) só para citar alguns, fize-ram parte, entre outras, a telenovela "Dancin’ Days", em queSónia Braga fez uma espantosa Júlia e, primeiríssima detodas, a história escrita por Jorge Amado e interpretada tam-

bém por Sónia Braga, a "Gabriela" do nosso contentamento.Em "Dancin’ Days" descobrimos um grande actor chamadoAntónio Fagundes, o célebre Cacá, que fez par com SóniaBraga, e anda por aí de novo, mais velho, pai de Pedro e Leo,em "Insensato Coração". Isto nas telenovelas é, como diz opovo, baralhar e tornar a dar.

O país paradoQuando os portugueses descobriram as telenovelas, peque-nas ou grandes histórias dadas em doses certas, as audiên-cias foram espectaculares e de tal forma que, na primeiravez que Dina Sfat veio a Portugal, ficou admirada por serinterpelada nas ruas de Lisboa. "As pessoas são muito sim-páticas, param para conversar comigo, querem saber maiscoisas a meu respeito… Tem sido muito legal…". E foi tudotão legal que, anos mais tarde, a actriz veio mesmo residirem Lisboa.

Hoje, este tipo de programas já não faz parar o trânsitomas ainda é, a par do futebol, um bom indicador de audiên-cias televisivas. Enquanto a SIC nos vai dando, em reprise,as histórias de Júlia, de Márcio e Lili, de Clô e Samir, deAlexandre Quintanilha e Amanda, e se prepara para nos tra-zer uma vez mais a dengosa Gabriela que se enamora deNacib e não gosta de sapato, o povo até se esquece que agasolina aumenta todas as semanas e que o desemprego écada vez maior.

Há mais de trinta anosAs fotografias que escolhemos para ilustrar este artigo sãode intérpretes que, à época, eram de tal forma popularesque, mês após mês, ano após ano, aterravam em Portugalpara fazerem teatro, para animarem festas, para participa-rem em Carnavais. Hoje, mais de trinta anos depois, e coma reposição de telenovelas que foram êxito e, pelos vistos,voltam a sê-lo, alguns deles reaparecem, mais velhos, massempre talentosos como provam, pelo menos, AntónioFagundes e Glória Pires ("Insensato Coração") ou ReginaldoFarias e Regina Duarte ("O Astro").

Resta dizer que os portugueses que dão agora vida a"Dancin’ Days" não deixam ficar mal os brasileiros. Oraentão vamos lá ver as "novelas de reprise". n

Maria João Duarte

Novelas de repriseHá uns anos, havia em Lisboa, umas salas de cinema que exibiam os filmesque já tinham terminado as suas carreiras nas principais salas da cidade.

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1 - António Fagundes foi oexcelente “Cacá” em“Dancin’Days” (o intérpreteportuguês é o AlbanoJerónimo). 2 - Sónia Bragafoi a Júlia na mesma novela.3 - Glória Pires, a Marisa(agora Mariana) da mesmanovela. 4 - Sónia Braga, aGabriela antes e depois. 5 -Francisco Cuoco, o “Astro”.6 - Tony Ramos, o Márciode o “Astro”. 7 -Dina Sfat, aAmanda de o “Astro”.

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Olho Vivo

Vespa caboverdiana

Cabo Verde tem cinco espécies de vespas únicas nomundo, ou não fossem os arquipélagos óptimos

laboratórios para a evolução. Uma equipa decientistas checo-americana identificou cincovespas-cuco, de diferentes tamanhos, queaproveitam a ausência do ninho de vespasnormais para aí depositarem os seus ovos.Estes eclodem mais cedo que os da locatária,

comem os ovos "legítimos" e as novas vespas-cuco são, em seguida, alimentadas até à

maturidade pela dona do ninho. As novasespécies descobertas têm listas pretas e brancas,

como a zebra, e medem entre 3 e 5 milímetros.

Viciados em rede

Um estudo identificou 132 homens e mulheres viciados em Internet, numtotal de 843 pessoas entrevistadas. Os viciados passam o dia a pensar naNet e o seu bem-estar é afectado se têm de ficar offline. A análise genéticadestes indivíduos mostrou que são mais frequentemente portadores deuma mutação de um gene que também tem um papel importante naadição ao tabaco. A mutação do gene CHRNA4 é mais frequente nasmulheres que nos homens, frisam os cientistas da universidade de Bona.

Pai mutante

O maior estudo genéticofeito até hoje, abrangendo85 mil pessoas na Islândia,revelou que herdamos trêsvezes mais mutaçõesgenéticas do pai que damãe e que a taxa de genesmutantes aumenta com aidade do pai, mantendo-seestável independentementeda idade da mãe. Um paide 58 anos transmite duasvezes mais mutações queaos 20. As conclusõesestão publicadas na revistaNature.

Menopausapara quê?

A menopausa no serhumano evoluiu em partepara evitar a competiçãoentre mães e filhas e noras,segundo uma investigaçãofinlandesa publicada emEcology Letters. A análiseajuda a resolver ummistério natural: por querazão a mulher, aocontrário dos outrosmamíferos deixa de serfértil tão cedo na vida.Analisando dados defertilidade ao longo de 200anos, os cientistasconcluíram que acoexistência de bebés deduas gerações na mesmafamília, sem que a avópudesse participar nacriação do neto por ter sidomãe, é fatal para metadedessas crianças, que nãosobrevive ao ano de idade.

A forma do copo

Psicólogos de Bristol descobriram que aforma do copo é fundamental para avelocidade com que se bebe uma bebidaalcoólica. Cento e sessenta voluntários, dos18 aos 40 anos, beberam cerveja, metadedeles num copo alto cilíndrico e a outrametade num copo bojudo tipo-imperial. Oscientistas verificaram que a bebida do copode linhas direitas foi tomada a metade davelocidade da cerveja em copo arredondado.A mesma experiência feita com uma bebidanão-alcoólica determinou que, não sendocerveja, não há diferença entre os dois tiposde copo na velocidade com que é engolido olíquido.

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António Costa Santos ( textos)

Fungos com bom ouvido

Um biólogo suíço conseguiu "criar" uma madeira, que, aplicada naconstrução de violinos, lhes dá o mesmo som de um Stradivarius. Amadeira é submetida à acção de dois fungos (Physisporinus vitreus eXylaria longipes) que transformam as suas propriedades de transmissãodo som, imitando as árvores de crescimento lento que António Stradivariusou, criadas nos invernos gelados e verões frios de 1645-1715. Umviolino construído com esta madeira chegou mesmo a vencer umStradivarius numa prova cega para especialistas.

Fair-playde série

Uma experiência realizadanos Estados Unidos sugereque o sentido de justiça éinato no ser humano e queo fairplay é umanecessidade. Um grupo devoluntários, a quem foidada a beber água salgadapara provocar sedeintensa, preferiu nãoingerir nenhum líquidodurante duas horas aaceitar uma divisãomanifestamente desigualde uma garrafa de águamineral.

Crâniosuper-distraído

As pessoas mais capazesde raciocinar são as quemais facilmente sedistraem a executar tarefasrotineiras, segundo umestudo suíço-americano,publicado em Setembrona revista PsychologicalScience. Os autores daexperiência provaram oque é óbvio: quando amemória operacional estáocupada compensamentos ecruzamento deinformações, "desliga-se"do que é feito"automaticamente". Ainvestigação mostrou quequanto mais "pensador" seé, mais "cabeça no ar" sefica.

A banana respira

Um químico chinês da universidade de Tanjin, Xihong Li, anunciou numcongresso em Filadélfia, que o problema do amadurecimento das bananasem menos de um fósforo, pode estar prestes a ser resolvido, graças a umspray de hidrogel que o seu laboratório desenvolveu. A substância, feita àbase de cascas de caranguejo, aplicada sobre bananas verdes, impediu oseu amadurecimento durante doze dias, matando as bactérias que

facilitam a decomposição do fruto. Li explicou queas bananas, como outros frutos e legumes,continuam vivas, depois de colhidas, absorvendooxigénio e expelindo dióxido de carbonoatravés da pele. Quanto mais a banana respira,mais amadurece.

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No tempo em que as populações serranasportuguesas dependiam da "árvore dopão" (Castanea sativa Mill.) o ouriçonão era apenas a "arma-

dura de picos" que protegia a cas-tanha - posteriormente convertidaem farinha - mas o eventual porta-dor da "chocha", uma castanha sempolpa capaz de revelar o sexo dascrianças antes de nascerem. O pro-cedimento era simples e económi-co: bastava atirar a "chocha" (tam-bém chamada "folecha" ou "fone-co") para o lume: se rebentasse acriança seria um rapaz. A fiabilida-de deste "diagnóstico pré-natal"seria bastante contestável mas oque realmente importava na"Civilização do castanheiro" era a posse ou o usu-fruto de uma ou mais árvores que garantissem bomlenho para construir casa e suficiente castanha parafazer pão - do escuro, porque o pão branco fabrica-va-se com trigo. "Mais vale castanheiro do que sacode dinheiro", aconselha um dos muitos provérbiosportugueses, dedicado a esta Fagaceae. Enquantooutros ditos populares chamam "manhosa" à cas-

tanha porque "vai com quem a apanha". A facilida-de de "pilhar" castanhas, principal fonte de amidona alimentação beirã e transmontana, pelo menosaté ao incremento da produção da batata no séculoXVIII (o tubérculo andino foi introduzido naEuropa durante as Descobertas), gerou a necessida-de de "regular" a prática da respiga, também cha-mada ""rebusco" ou "rabisco", em que o proprietáriopermitia às pessoas da camada social economica-mente mais débil, procurar as castanhas que resta-vam nos soutos após a colheita, rebuscando porentre as folhas secas caídas no solo. Nos anos emque as colheitas se atrasavam, a Junta de Freguesiarespectiva podia anunciar o adiamento do rebusco,

que, por isso, muitas vezes aconte-cia pelo Ano Novo, evitando assim,prejuízos para o proprietário",explica Jorge Paiva, botânico e umdos nossos principais estudiosos docastanheiro ("Do Castanheiro aoTeixo - As outras espécies flores-tais", Público, FLAD, 2007.) Os sou-tos ou pomares de castanheiros (oscastinçais visam a produção demadeira) permitiam encher a des-pensa com "o fruto dos frutos" (naspalavras de Miguel Torga) e aomesmo tempo fomentavam a caça.Cada árvore, e muitas seriam verda-

deiros gigantes multisseculares - Aquilino Ribeirolembra os "colossos" ou "patriarcas" do Codessal -, àmaneira do carvalho-cerquinho e da faia, atraíaamigavelmente uma vastíssima comunidade deanimais. Entre eles, javalis, mochos, águias, anfí-bios e até alguns insectos nefastos como a audacio-sa portésia (Euproctis chrysorrhoea), a borboletabranca que faz cair a bonita folha serrada dos cas-

Quando o castanheiro dava pão parapoder escrever.

A Casa na árvore

Susana Neves

O saltodo patriarca

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Fotos: Susana Neves

tanheiros. Grande atrevimento para tão pequenaborboleta: destruir a copa de uma das mais belasárvores do bosque lusitano, espécie eventualmenteautóctone, porque segundo estudos polínicos fós-seis, realizados na Serra daEstrela, comprovou-se a existên-cia de castanheiros há 8 mil anos,ou seja, ao contrário do que sepensava, a Castanea sativa não foiintroduzida em Portugal pelosfenícios nem pelos romanos.Sobre esta belíssima folha, cadu-ca, que adquire belas tonalidadesde amarelo e castanho durante oOutono, embelezando parques,jardins e, na Inglaterra, tambémalguns arruamentos, reservaramos aforismos lusitanos sugestivafrase que ilustra bem a suaresistência e potencial para cons-tituir um substracto fértil: "As folhas de castanhei-ro andam sete anos na terra e depois ainda voam".

A memória linguística da presença central doscastanheiros na vida dos nossos antepassadosexpressa em aforismos, adivinhas, na toponímia,patronímia, na gastronomia, em contos e em mui-tos vocábulos regionais (Paulo Freixinho fez uma

lista de palavras de "assadeira", mulher que assa ascastanhas até "tanado", cor de castanha, descrita noseu blogue: "http://palavrascruzadas-paulofreixi -n h o . b l o g s p o t . p t / 2 0 1 0 / 1 1 / c a s t a n h a s -

vocabulario.html") revela tam bém avocação literária da Castanea sativa.Atenta às necessidades humanas,dando-nos tudo o que precisáva-mos, esta árvore conseguiu sobretu-do tornar-se palavra. Mais do quefornecer o "castanho" para o "cestovindimo" no Douro, ou o tanino usa -do no curtimento das peles, mais doque ser útil na fitoterapia popular(através das folhas, cascas, flores efruto) tratando inflamações respira-tórias, o castanheiro inspirou aescrita, tornou-se imagem "Quandoo sol aperta, o ouriço arreganha".

Curiosamente, não encontra-mos em português a expressão francesa: "Recevoirun coup dans les castagnettes" (do grego "kasta-non"=testículo) que traduzido à letra seria "Levarum pontapé nas castanholas". À palavra "castan-holas" preferimos "tomates". Uma opção a reconsi-derar uma vez que o castanheiro e a castanha sim-bolizam força e virilidade. n

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l CONSUMO A ASAE alerta, em estudo, para os riscos dos suplementos

alimentares, produtos muito populares em Portugal. Pág. 60 l LIVRO

ABERTO O sector editorial e livreiro não está imune à crise, mas o leitor

continua a dispor de muitas e boas opções… Pág. 62 l ARTES O destaque vai

para a mostra 'Arte Déco em Portugal' (Museu do Chiado, Lisboa), com

obras dos grandes artistas nacionais deste estilo. Pág. 64 l MÚSICAS

Novidades: o regresso dos "Pet Shop Boys", com o duplo-CD "Elysium", e

de Lionel Loueke, com "Heritage". Pág. 66 l NO PALCO A "Dança da Morte",

de Strindberg, em cena a partir de 25 de Outubro no Teatro Municipal de

S. Luiz, em Lisboa. Pág. 68 l CINEMA EM CASA

Ficção e realidade, em cenários bem distintos -

USA, Índia, Itália e Iémen - , completam esta

selecção outonal. Pág. 70 l GRANDE ECRÃ "Linhas de

Wellington", de Valeria Sarmiento, com nota razoável, e o talento

comprovado de Tim Burton com "Frankenwennie", nas estreias de

Outubro. Pág. 71 l INFORMÁTICO Tudo sobre um novo e seguro disco

externo, My Passport for Mac, ideal para os consumidores que levam os

seus conteúdos digitais para todo o lado. Pág. 72 l AO VOLANTE Dinâmica,

tecnologia e design, uma combinação singular e surpreendente no BMW

Série 3 Berlina. Pág. 73 l SAÚDE Estamos de novo no Outono e, com os

primeiros dias cinzentos, vêm também as primeiras constipações. Pág. 74 l

PALAVRAS DA LEI Em análise um caso respeitante ao direito à herança

dos chamados "herdeiros colaterais". Pág. 75

BOAVIDA

71

OUT 2012 | TempoLivre 59

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Boavida|Consumo

Carlos Barbosa de Oliveira

Proliferam em farmácias, parafarmácias e lojasde produtos naturais, os chamados "suple-mentos alimentares" (caso de vitaminas, mi -nerais, ácidos gordos essenciais, fibras, várias

plantas e extractos de ervas). Estes produtos prometemcolmatar lacunas de alegadas carências alimentares,muitas vezes atribuíveis a estilos de vida do consumidormoderno, cuja dieta alimentar é muitas vezes pobre emfrutas e vegetais.

Um inquérito/estudo da ASAE revela que 72% dosportugueses consomem suplementos alimentares, o queatesta a popularidade destes produtos entre os consumi-

dores portugueses. A justificação apresentada é ocansaço e/ou concentração (26% das respostas aoinquérito) necessidade de fortalecimento e/ou prevenção(29%) e motivos de saúde (22%). A estética é apontadapor 10% dos consumidores como razão para o consumodestes produtos, enquanto 17% dos inquiridos apresen-tam razões diversas, entre as quais a melhoria do desem-penho físico e intelectual.

Tendo em consideração os elevados riscos para osconsumidores de um uso indevido dos suplementos ali-mentares, a ASAE lança alguns avisos, que vale a penareferenciar.

Nem tudo o que é natural é bom!Os consumidores tendem a escolher suplementos de

Suplementos AlimentaresOs suplementos alimentares são produtos muito populares em Portugal. No entanto, o seu consumo

pode acarretar alguns riscos para os consumidores, como revela um estudo da ASAE.

60 TempoLivre | OUT 2012 JOSÉ ALVES

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origem "natural" por acreditarem que não contêmsubstâncias com efeitos nocivos, nem são susceptíveisde provocar efeitos secundários quando ingeridos commedicamentos.

Infelizmente, o estudo revela uma realidade diversa."Natural" não é sinónimo de "inócuo" e as adulterações ereacções adversas são uma realidade iniludível. Na ver-dade, alguns SA podem originar riscos para a saúde porestarem adulterados com substâncias farmacologicamenteactivas - muitas vezes até já retiradas pelas autoridadesque regulam os medicamentos - porque os riscos da suautilização superam os possíveis benefícios que possamoriginar, mesmo quando utilizadas sob vigilância de ummédico.

Por outro lado, a ingestão excessiva de vitaminas e mi-nerais pode trazer complicações de saúde, havendo quefixar limites máximos de segurança para estas substânciaspresentes nos suplementos alimentares.

O problema agrava-se, porque os consumidores confi-am nos produtos que compram, acreditam que a suaingestão tem impacto positivo nas suas capacidades ou nasua saúde e tomam substâncias que desconhecem, por nãoestarem inscritas nos rótulos.

A legislação comunitária - transposta para o direito por-tuguês - garante mais e melhor segurança e protecção aosconsumidores, já que disponibiliza mais informação,nomeadamente na rotulagem dos produtos.

Com efeito, obriga os operadores económicos a men-cionar na rotulagem para que serve o suplemento alimen-tar, qual a toma diária recomendada e uma advertência deque esta não deve ser excedida. Em caso algum a rotu-lagem poderá atribuir propriedades de tratamento ou cura-tivas para doenças humanas nem fazer referência a taispropriedades.

A ASAE alerta, no entanto, para a existência de produ-tos adulterados, o que torna mais difícil um tratamento

rápido e dirigido quando ocorrem reacções adversas. Ocontrolo e vigilância deste mercado é extremamenteimportante e imprescindível, dada a distribuição eaquisição destes produtos por venda livre e através daInternet.

Apesar de alguns destes produtos, contendo umgrande número de compostos naturais susceptíveis dedegradação e efeitos colaterais, já serem conhecidos naUE, as preocupações em relação à sua qualidade e segu-rança incluem o risco de contaminações químicas emicrobiológicas, bem como reacções adversas e toxi-cológicas. Há, por isso, necessidade de assegurar que asconcentrações de agentes bioactivos se situam entre li -mites seguros. São, portanto, fundamentais as indi-cações de fabricante e distribuidor, para garantia de umacadeia de responsabilidades.

Para além de uma leitura atenta do rótulo, o consumi-dor deve ter em atenção a necessidade de respeitar a DoseDiária Recomendada (DDR).

Muitas vezes, o consumidor comete erros na tomadiária dos SA por não ter conhecimento da importância daadequação à DDR conforme as necessidades diagnosti-cadas.

Ao exceder a dosagem adequada, normalmente pordesconhecimento das consequências, o consumidor podesofrer efeitos adversos inerentes a uma determinada plan-ta, sem perceber a sua origem, o que também irá dificultaro diagnóstico médico no caso de surgirem problemas.

A facilidade de acesso a estes produtos e a minimiza-ção dos riscos associados ao consumo desregulado dos SAjustificaria campanhas de informação que habilitassem osconsumidores a perceberem melhor que, longe de sereminócuos, estes produtos podem mesmo ser bastanteperigosos e colocar em risco a sua saúde, se consumidossem as devidas precauções. n

Poderá aceder ao estudo completo em www.asae.pt/estudos.

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Boavida|Livro Aberto

Boa ficção, erros históricose a “neutralidade” de Salazar

descobertas. Um livro em que se fala, de forma detalha-da e documentada, da morte de Alexandre, o Grande,do assassinato de Júlio César, das descobertas de Cabrale Colombo ou do ataque japonês a Pearl Harbor. Umlivro que junta o rigor à capacidade de entreter e infor-mar o leitor. Com a mesma chancela, destaque-se a pu -blicação de "O Artista, o Filósofo e o Guerreiro", de PaulStrathern, considerado pelo "Washington Post" "livrohistórico do ano" e que, transportando-nos até à Itáliade 1502, junta os destinos, os sonhos e os feitos deLeonardo da Vinci, Maquiavel e César Bórgia. Umaabordagem brilhante de uma época apaixonante em queo génio conviveu com a máxima crueldade e em que ahumanidade inventou novos caminhos políticos, artísti-cos e literários para construir um olhar adaptado a umadiferente e mais ampla visão do mundo. Um livro a nãoperder.

"Mandela – A Construção de um Homem" (Oficina doLivro), do jornalista António Mateus, é um retratoexemplar de uma das maiores figuras do século XX e doprincípio do século XXI, não só pelo seu estoicismo,coragem e génio político, mas também e cada vez pelosempre estimulante exemplo de tolerância, diálogo ecapacidade de integrar a diferença num projecto

José Jorge Letria

Tanto na área da ficção narrativa como na doensaio ou das curiosidades históricas, destacam-se títulos merecedores de realce neste início deOutono.

Comecemos pela ficção narrativa com o novoromance do historiador e ensaísta Miguel Real, com otítulo "O Feitiço da Índia" (D. Quixote), que faz de formainspirada, documentada e intensa a ponte entre épocasdiferentes de um imaginário comum e intemporal.Destaque igualmente, nesta área da edição, para "PenaCapital" (D. Quixote), de Robert Wilson, para o clássico eobrigatório "O Som e a Fúria"(D. Quixote), de WilliamFaulkner, prefaciado por António Lobo Antunes,"Conquista do Sertão" (Casa das Letras), de Guilhermede Ayala Monteiro, "O Cavalo Amarelo" (Asa), de AgathaChristie, e "O Dia Claro" (Oficina do Livro), de JúlioMoreira.

"Os 100 Grandes Erros da História" (Clube do Autor),de Bill Fawcett, é mais uma aposta na edição de obrasque vão ao encontro do crescente interesse do leitor porfactos históricos mais ou menos desconhecidos e pelasua interpretação à luz de recentes investigações e

Apesar da crise que também afecta seriamente o sector editorial e livreiro, o leitor continua a dispor demuitas e boas opções, caso o seu interesse e disponibilidade de tempo se orientem para a leitura, o queé sempre recomendável e desejável.

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Page 63: Tempo Livre Outubro

nacional que o mundo continua a olhar com admiraçãoe respeito.

Advogado e investigador histórico, José AntónioBarreiros tem dedicado muitos anos do seu percursocomo intelectual e cidadão ao estudo, em arquivos por-tugueses e estrangeiros do período da Segunda GuerraMundial, colocando a tónica na espionagem, que tevena neutralidade portuguesa um excepcional espaço demanobra e intervenção. "A Traição a Salazar" (Oficinado Livro), cuja acção decorre em Lisboa em 1941, cons -titui um documento importante sobre um aspecto poucoconhecido da História Contemporânea: o plano de sabo-tagem montado pelos ingleses em Portugal, para o casode se consumar a invasão alemã, e que provocou acólera do ditador Salazar e o fez desencadear uma forteacção repressiva visando numerosos resistentes por-tugueses dessa época, muitos dos quais tiveram ocampo de concentração do Tarrafal como destino.

Destaque ainda para a publicação, pela Casa dasLetras, do segundo volume de "A História do Século XXem 50 Frases", de Helge Hesse. n

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Boavida|Artes

Rodrigues Vaz

AArte Déco deve o seu nome à ExposiçãoInternacional de Artes Decorativas eIndústrias Modernas realizada em Paris,em 1925, tendo este estilo permeado todas as

expressões artísticas e também todos os aspectos da vidaquotidiana, através da arquitectura, grafismo e artes céni-cas, entre outras.

Moderno e cosmopolita, este estilo foi a materializaçãode uma nova maneira de estar e de celebrar a alegria deviver, em contraponto aos horrores da Primeira GuerraMundial. Em Portugal, foi decisivo para a sobrevivência eexpansão de um Modernismo que procurava impor-se aoainda dominante Naturalismo.

O USO DO AZULEJO NO SÉCULO XVII

Igualmente até dia 28 pode também ser vista, no MuseuNacional do Azulejo, a exposição O Uso do Azulejo noSéculo XVII, que apresenta uma mostra da produçãonacional neste período, incluindo painéis nunca antes

apresentados que, graças a programação deinventariação, restauro e investigação, são agoraoferecidos ao público.

Repartida por cinco núcleos, a exposição apre-senta uma selecção de padrões, azulejos orna-

mentais e painéis figurativos seiscentistas, em confrontocom peças de joalharia, têxteis, mobiliário e faiança, nosquais se identificam temas e motivos decorativos.

FILIPE MATOS NA GALERIA ARTE PERIFÉRICA…

Reflectindo sobre a casa, como lugar de passagem, oespaço, que é efémero, e as suas diferentes tipologias, quesão múltiplas e variáveis até ao infinito, a exposição Entre,que o jovem artista Filipe Matos apresenta até dia um deNovembro na Galeria Arte Periférica, Lisboa, joga essen-cialmente com a pintura no espaço e o espaço na pintura,eventualmente um "work-in-progress", em que a pinturaparece estar a aparecer ou a desaparecer, a ser construídaou destruída, pretexto para pensar o gradual, a construção,a desconstrução e a destruição, obras sobre obras, enfim, aacumulação de construções com e sem destino.

Arte Déco em Portugalno Museu do ChiadoAté ao próximo dia 28 do corrente é ainda possível apreciar no Museu do Chiado, em Lisboa, a exposiçãoArte Déco em Portugal, que integra um conjunto de obras de Almada Negreiros, Eduardo Viana, JorgeBarradas, Diogo de Macedo ou Canto da Maia, entre muitos outros artistas marcantes deste estilo.

Desenho deAlmada Negreiros,painel de azulejoportuguês e umtrabalho de MariaBeatriz

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Filipe Matos nasceu em Vilar Formoso, em 1987.Finalista do curso de Artes Visuais - Multimédia (pintura)na Universidade de Évora, acabou o curso tecnológico deArtes e Design na Escola Secundária Afonso deAlbuquerque em 2006. As suas obras "Edificações(monoblocos) #4" e "Edificações - in - out #1", foram dis-tinguidas, respectivamente, com o primeiro e terceirolugar do Prémio Abel Manta de Pintura 2011, instituídopela Câmara Municipal de Gouveia. Dois anos antes,tinha participado no concurso Aveiro Jovem Criador, onde

foi igualmente premiado com uma menção honrosa naárea de pintura.

… E MARIA BEATRIZ NO MUSEU DA ELETRICIDADE

Um registo completamente diferente é o de Maria Beatriz,que apresenta, até 25 de Novembro próximo, no Museu daElectricidade, em Lisboa, a exposição Os Comedores deBatatas, inspirada na pintura homónima de Vincent vanGogh, uma das suas obras mais celebradas do período ini-cial da sua carreira, anterior à sua instalação em França,onde as preocupações sociais e humanas da obra de maturi-dade estão já intensamente presentes. Figuras isoladas emvez de um grupo familiar, uma maioria de jovens de dife -rentes níveis, embora revelando todos sinais de algumdesenraizamento social. Na mão ou nos bolsos as person-agens mostram grandes e grossos palitos de batatas fritas (talcomo se servem nos pacotes comprados nas ruas daHolanda de hoje), sinal recente de comida dos pobresurbanos - como se os sinais de miséria dos mineiros oito-centistas persistissem hoje nesta dimensão da fast food uni-versal. n

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Os "Pet Shop Boys" acabam de regressar ao mercado discográfico com o duplo-CD "Elysium". Osamantes de jazz, por sua vez, não devem perder o CD "Heritage", de Lionel Loueke.

Vítor Ribeiro

Doze novas canções integram o mais recentetrabalho dos britânicos Pet Shop Boys, inter-pretadas no CD 1, enquanto o CD 2 é exclusi-vamente dedicado à parte instrumental da

obra. As orquestrações são assinadas por JoachimHorsley, Andrew Dawson e Ben Leathers e nos coros sãoaudíveis as vozes de, entre outros, Oren, Maxine e JulieWaters.

Surgidos no início da década de 80 do século XX, NeilTennant e Chris Lowe concretizaram ao longo do tempoum projecto cujo sucesso se tornou num caso paradigmáti-co da música pop electrónica. Desde então e até aos nos-sos dias, os Pet Shop Boys já terão vendido mais de 100milhões de discos em todo o mundo. Passados cerca de 30anos e uma vez chegados a "Elysium", 11º álbum dogrupo, Tennant e Lowe continuam a revelar-se exímios cri-adores de um género musical leve, gentil e comercial-mente eficaz. Os apreciadores dos "Pet Shop Boys" nãoperderão tempo se ouvirem este "Elysium".

UM TESOURO DE LIONEL LOUEKE

"Heritage" é o título genérico do mais recente trabalhodiscográfico de Lionel Loueke, músico de origem africana,do Benin, que após muito estudo e perseverança, acaboupor conquistar reconhecimento nos EUA, mais concreta-

Boavida|Músicas

mente no exigente mundo do jazz.Nascido em 1973, Loueke, ainda jovem, começou por

estudar jazz em Paris, posteriormente mudou-se para osEUA, para o Berklee College of Music, em Boston e, porfim, no início do século XXI, foi admitido, por méritopróprio, no Thelonious Monk Institute of Jazz daUniversidade do Sul da Califórnia, onde pontificammestres como Herbie Hancock ou Wayne Shorter, entreoutros grandes criadores.

A originalidade da música de Loueke deve-se, em boaparte, ao modo como transporta para o jazz os sons e os

ritmos tradicionais daÁfrica profunda, sendo queo resultado final se traduzem temas de delicadeza eelegância invulgares.Loueke obriga-nos a reflec-tir. Lionel Loueke (guitarra evoz) faz-se acompanhar porRobert Glasper (teclados),Derrick Hodge baixo) eMark Guiliana (percussões).

Este "Heritage" integra 10 temas e é um pequeno tesouro dojazz contemporâneo agora editado pela Blue Note. n

CARRERAS EM GUIMARÃES. O tenor José Carreras efectua

um espectáculo dia 6 de Outubro, em Guimarães, no Pavilhão

Multiusos, no âmbito da programação da Capital Europeia da

Cultura. Pelas 21h00.

COHEN EM LISBOA. O cantor e compositor canadiano

Leonard Cohen efectua um concerto dia 7 de Outubro, no

Pavilhão Atlântico, em Lisboa, pelas 21h00. No âmbito de uma

digressão mundial para apresentação do álbum "Old Ideas".

FAUSTO EM LISBOA E PORTO. O cantor e compositor Fausto

Bordalo Dias actuará nos Coliseus de Lisboa e do Porto, dias

20 e 25 de Outubro, respectivamente e em ambos os casos

pelas 22h00. Para apresentação do seu mais recente trabalho

discográfico "Em Busca das Montanhas Azuis".

O regresso dos “Pet Shop Boys”e a “herança” de Loueke

CONCERTOS

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Boavida|No Palco

Maria Mesquita

Raramente encenada em Portugal, a “Dança daMorte” é sobretudo um retrato macabro, segun-do a opinião do autor, sobre o convencionalis-mo do casamento. A história centra-se num

casal que vive, aparentemente, isolado do resto domundo, o que o leva a uma convivência intensa, destruti-va e ambígua. O claustrofobismo evidente revela-se empequenos detalhes, como nas discussões conjugais. Cadapalavra argumentada funciona como murros poderososnum combate de igual para igual, sem qualquer vislumbrede vencedor, onde cada uma das partes pretende deitar ooutro abaixo, culpando-o pelos falhanços pessoais eprofissionais e pelos erros nas suas próprias escolhas.

Mais uma vez se reúnem em palco dois actores que,embora de diferentes gerações, se complementam deforma brilhante. Miguel Guilherme e Isabel Abreu têm aparticularidade de se juntarem em dramas psicológicosfortes, cujas personagens interpretadas apresentam umariqueza fora do comum. Por isso, uma vez mais se irãodefrontar no teatro, de forma surpreendente.

FICHA TÉCNICA: Texto: August Strindberg; Tradução: João

Paulo Esteves da Silva Encenação: Marco Martins; Cenografia:

Artur Pinheiro; Desenho de luz: Nuno Meira; Interpretação:

Miguel Guilherme, Isabel Abreu, Sérgio Praia; Co-produção:

Arena Ensemble | SLTM; Apoio: Embaixada da Suécia em

Lisboa

BERGMAN NO TNDMII

"Cenas da Vida Conjugal", êxito de bilheteira no teatro ecinema, também exibido como série na televisão, é umdos textos mais conhecidos de Ingmar Bergman. Agora,até 28 de Outubro, na Sala Garrett do Teatro Nacional D.Maria II, com encenação de Solveig Nordlund, podemosver a versão portuguesa das relações humanas.

João e Mariana são, à partida, um casal unido, feliz,cúmplice. No entanto é atrás das cortinas e quando estãosós que as coisas mudam. Nem tudo parece o que é edescobre-se que cada um tem, à sua maneira, problemaspor resolver e conflitos internos.

Da Suécia com amor…e ódioA "Dança da Morte", peça emblemática do autor sueco August Strindberg, estará em cena a partir de 25de Outubro na Sala Principal do Teatro Municipal de S. Luiz, em Lisboa.

68 TempoLivre | OUT 2012

Miguel Guilhermee Isabel Abreucomplementam-se deforma brilhante nesta“Dança da Morte”.Na página seguinte,Adriano Luz e MargaridaMarinho são osprotagonistas de "Cenasda Vida Conjugal"

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Page 69: Tempo Livre Outubro

(1973) um texto quase autobiográfico que IngmarBergman escreveu em forma de roteiro para uma série detelevisão. Explicou ter demorado dois meses a redigir umahistória que, na verdade, esteve a viver numa vida inteira.E o resultado foi brilhante. Em sucessivos episódios,vemos o desenrolar da relação de um casal com percurso eritmo distintos mas que não se consegue separar.

A posterior versão teatral foi igualmente bem acolhidapelo público e pela crítica e encenada em vários países.Solveig Nordlund esteve um mês na casa do autor, deforma a preparar esta nova versão. Adriano Luz eMargarida Marinho, uma dupla com enorme química tele-visiva, serão os intérpretes do casal desavindo.

FICHA TÉCNICA: Autor: Ingmar Bergman; Tradução e

encenação: Solveig Nordlund; Interpretação: Adriano Luz,

Margarida Marinho e Paula Mora; Cenografia e figurinos: Ana

Paula Rocha; Desenho de luz: Carlos Gonçalves; Música

original e pesquisa de sons: Pedro Marques; Desenho de som:

Sérgio Henriques; Coreografia de luta: David Chan; Assistente

de encenação: Joana Bárcia; Produção: TNDM II

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Page 70: Tempo Livre Outubro

COMPRÁMOS UM ZOO!

Benjamin Mee é um jornalista

e escritor que vive em Los

Angeles e enfrenta um duro

desafio depois de enviuvar e

ficar só com

duas filhas para

criar. Deixa o

emprego e com-

pra uma casa

fora da cidade

que precisa de

obras e alberga um jardim

zoológico. Apesar de falta de

experiência e do escasso di -

nheiro, ele vai, em conjunto

com Kelly e a equipa de trata-

dores, fazer tudo para reabrir

o zoo. Drama familiar baseado

na história real de Benjamin

Mee, ex- jornalista do inglês

The Guardian, "Comprámos

um Zoo" é uma belíssima e

surpreendente história de

vida, assinada pelo talentoso

Cameron Crowe, com Matt

Damon na figura do chefe da

família Mee, que tem uma

pequena aparição no filme.

Emocionante e com uma

banda sonora lindíssima assi-

nada por Jonsi, da banda

islandesa Sigur Ros, é um dos

bons filmes estreados este ano

em Portugal.

TÍTULO ORIGINAL: We Bought a

Zoo; REALIZADOR: Cameron

Crowe; COM: Matt Damon,

Scarlett Johansson, Thomas

Haden Church, Elle Fanning;

EUA, 124m, Cor, 2011; EDIÇÃO:

Pris Audiovisuais

O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD

Um grupo de reformados

britânicos decide mudar-se de

armas e bagagens para um

recém-inaugurado hotel em

Jaipur, na Índia, encantado

pelas maravilhosas condições

que este parece oferecer. Mas,

ao chegarem, descobrem que o

local está longe de ser o espaço

maravilhoso com que so -

nhavam e que a comida é

demasiado picante para o seu

conservador

paladar. Com o

tempo e o entu-

siasmo de

Sonny, o jovem

proprietário

local, eles vão

deixar-se encantar e embarcar

na maior aventura das suas

vidas e descobrir que a vida

pode começar de novo. Com

realização do experiente

cineasta inglês John Madden

("A Paixão de Shakespeare",

1998), o filme é baseado no

best-seller da escritora e argu-

mentista Deborah Moggach que

reflecte sobre a solidão e a

capacidade de recomeçar.

TÍTULO ORIGINAL: The Best Exotic

Marigold Hotel; REALIZAÇÃO:

John Madden; COM: Judi Dench,

Tom Wilkinson, Bill Nighy,

Maggie Smith, Dev Patel;

GB/EUA 124m, Cor, 2011;

EDIÇÃO: Pris Audiovisuais

TERRAFERMA

A família Pucillo é uma das

mais antigas e tradicionais da

ilha de Linosa, no Sul da

Sicília. Mas os tempos estão a

mudar, e apesar de Ernesto, o

patriarca, e do seu neto

Filippo procurarem manter a

pesca como a principal activi-

dade, o seu filho Nino desiste

da pesca para investir no tur-

ismo. Giuletta, mãe de

Filippo, também quer que

eles aluguem quartos e pas-

seios de barco. Tudo parece

correr bem até que Ernesto

decide abrigar imigrantes

africanos que procuram

alcançar o velho continente.

Prémio especial do júri no

Festival de Veneza 2011,

"Terraferma" é o mais recente

filme de Emmanuel Crialese,

autor de "Respiro" (2002) e

"Novo Mundo"

(2010). O filme

assenta na

história ver-

dadeira de uma

imigrante

africana de nome Timnit.T e da

sua chegada a esta ilha e é um

belíssimo filme sobre a dura

realidade da imigração clandes-

tina na Europa. Banda sonora

marcante, da qual se destaca o

tema "Le vent nous portera".

TÍTULO ORIGINAL: Terraferma;

REALIZAÇÃO: Emanuele

Crialese; COM: Filipo Pucillo,

Mimmo Cuticchio, Donatella

Finocchiaro, Timnit T.;

Itália/França, 88m, Cor, 2011;

EDIÇÃO: Alambique

A PESCA DE SALMÃO

NO IÉMEN

No Iémen, um sheik

visionário acre dita que a sua

paixão pela pesca do salmão

pode enriquecer as vidas das

pessoas. Não olhando a cus-

tos, procura contratar o maior

especialista de pesca britâni-

co, que encara este desafio

como absurdo e inalcançável

em face das condições desér-

ticas do país. No

entanto, quando

a história chega

à assessora de

imprensa do

Primeiro-mi -

nistro britânico, vai ser dado

um grande destaque a esta

história como uma demons -

tração da força da natureza

humana...

Baseado na obra homónima

de Paul Torday, "A Pesca de

Salmão no Iémen" é um insó -

lito e divertido filme com

final surpreendente. Rodado

em Inglaterra, Escócia e

Marrocos, teve uma passagem

discreta nas salas nacionais.

O elenco, britânico e de quali-

dade, inclui Ewan Mcgregor,

Emily Blunt e Kristin-Scott-

Thomas.

TÍTULO ORIGINAL: Salmon

Fishing in the Yemen;

REALIZAÇÃO: Lasse Hallstrom;

COM: Ewan Mcgregor, Emily

Blunt, Kristin-Scott-Thomas,

Amr Waked; GB, 107m, cor,

2011; EDIÇÃO: Pris Audiovisuais

Ficção e realidade, em cenários bem distintos - USA, Índia, Itália e Iémen - , pautam esta selecçãooutonal. Reais a história da família Mee em "Comprámos um Zoo", e a odisseia da imigrante africanaTimnit ("Terraferma"). Divertidas, originais e surpreendentes são as criações de John Madden, "O ExóticoHotel Marigold", e Lasse Hallstrom, "A Pesca de Salmão no Iémen". Sérgio Alves

Realidade e ficção

Boavida|Cinema em Casa

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Page 71: Tempo Livre Outubro

Boavida|Grande Ecrã

O épico históricoe o fantástico góticoEm "Linhas de Wellington", - a produção de grande fôlego de Paulo Branco aplaudida na Mostra deVeneza deste ano - a realizadora Valeria Sarmiento não chega aos calcanhares do falecido marido, RaoulRuiz, mas dá razoável conta do recado. Já em "Frankenwennie" (outra importante estreia do mês) ficacomprovado que Tim Burton tem talento para dar e vender.

Joaquim Diabinho

Nunca saberemos o que seria "Linhas deWellington" se realizado por Raoul Ruiz, queantes de morrer trabalhava na fase depreparação juntamente com o argumentista

Carlos Saboga. Mas é bastante provável que certassoluções fossem menos convencionais – porventura, atémais criativas – e o filme atingisse o perfeccionismo for-mal e a densidade psicológica revelado no surpreendente,"Mistérios de Lisboa".

Não obstante, o guião é bastante hábil, a narrativa éeficaz, a fotografia de André Szankowski faz com que ofilme ecoe algum do esplendor do género dito épico-histórico e a música de Jorge Arriagada força à fáciladesão. E, pesem algumas debilidades (na criação dealgumas atmosferas) esta ousada recriação, em tom deaventura, da terceira invasão napoleónica, rechaçadapela aliança anglo-portuguesa liderada pelo generalWellesley, futuro duque de Wellington, é de molde atambém permitir uma reflexão política sobre o Portugaldo séc. XIX, o contexto de alianças e as razões da econo-

mia, sem esquecer o papel (de enorme peso) da diplo-macia inglesa, por exemplo.

Para além dos contributos dos veteranos, JohnMalkovich, Catherine Deneuve, Michel Piccoli, IsabelleHuppert, Marisa Paredes, Chiara Mastroianni, "Linhas deWellington" conta também com as prestações de NunoLopes, Soraia Chaves, Carloto Cotta, Afonso Pimentel,Miguel Borges, Paulo Pires, Gonçalo Waddington, MariaJoão Bastos, Manuel Wiborg, Joana de Verona, AdrianoLuz,Vitória Guerra, entre muitos outros.

Tim Burton regressa em força ao filme de animaçãostop motion (técnica que consiste na filmagem fotogra-ma a fotograma) e à sua velha matriz do conto gótico(de que "A Noiva Cadáver" é exemplo maior), ao seuhumor negro, e ao seu brilhantismo visual para umaobra que constitui uma espécie de manifesto moral,"Frankenwennie": um menino decide recorrer ao poderda ciência para trazer à vida o seu cão sem imaginar asterríveis consequências. Para além do tema, da proezanarrativa e das inventivas soluções visuais,"Frankenwennie" é um fabuloso acto sarcástico a queninguém permanecerá indiferente. n

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Page 72: Tempo Livre Outubro

Boavida|Tempo Informático

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Para quem utiliza um Tablet iPad e deseja tirardele o máximo de rendimento e comodidade,encontrámos um acessório que é para alémde uma capa de proteção um verdadeiro com-

panheiro para melhorar a sua produtividade. OKensington Keyfolio Expert funciona como um suportepara usar o tablet em vários ângulos e possui um ino-vador sistema de micro-sucção que o torna compatívelcom todas as versões do iPad. Inclui um teclado táctil deelevada performance que funciona sem fios por blue-tooth, com uma autonomia de 68 horas. E custa apenas99 Euros.

Os discos externos da série MY BOOK são bem conhe -cidos e bastante apreciados. A sua segurança é inques-tionável. Pois a Western Digital acaba de lançar um novoMy Passport for Mac que oferece de facto segurança paraos dados e para os consumidores que levam osseus conteúdos digitais para todo o lado.Com capacidade até 2 TB e uma inter-face USB 3.0 permite tirar partido detransferências mais rápidas. Paraalém do seu design fino e ele-gante que cabe na palma da mãoos discos My Passport incluemfuncionalidades de proteção depalavra-chave e encriptação porhardware para proteger os conteú-dos de acessos não autorizados, o

Entre os acessórios oudispositivos que todos osmeses chegam ao mercadotentamos normalmente trazeraqui os que achamos maisúteis e com a necessáriagarantia de que são produtoscuja origem e fiabilidadeconhecemos. Assim acontecemais uma vez e esperamosque vos agradem.

que os torna ainda mais apetecíveis. Importante é tam-bém a protecção robusta WD Nomad contra poeiras,terra, humidade e até impactos inesperados.

Não resistimos à tentação de trazer aqui uma câmarafotográfica tão inovadora que permite tirar fotos, impos-síveis com qualquer outra câmara. A nova Exilim TRYXda Casio tem uma moldura rotativa com uma funcionali-dade equivalente à de um tripé. O seu desenho original,um sensor de movimento, disparador automático e tem-porizador integrados, oferecem utilizações verdadeira-mente originais: a moldura pode ser rodada e servir desuporte de parede ou de mesa e o sensor de movimentoaciona o disparador apenas quando alguém se aproxima.Auto-retratos ou fotos de grupo são agora possíveis comeste verdadeiro "tripé" integrado, sem que ninguém tenhade ficar de fora para segurar na câmara quando não é pos-sível encontrar um suporte estável adequado. E a moldurapode ser até usada como suporte de cinto, permitindo

usar a câmara para capturar momentos únicos e origi-nais como por exemplo para gravar vídeos enquanto

se pratica desporto ou se brinca com criançaspequenas. A rotação do ecrã facilita fotografar emeventos culturais e desportivos, elevando a

câmara acima das cabeças à nossa frente; omesmo acontece ao nível do chão, conjugan-do essas funções para fotografia aproximada

(macro) e oferecendo um ponto de vista dife -rente face aos animais de estimação. Entre outras

funcionalidades, permite ainda o modo Panoramade fotografia de 360 graus. n

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Boavida|Ao volante

BMW Série 3: o prazer de conduzir Na BMW tudo é feito para potenciar e manter a melhor condução. São utilizadas matérias inovadorasde baixo peso para combater os efeitos da força de gravidade e, simultaneamente, trabalharconstantemente de modo a melhorar os seus motores para que estes obtenham os máximos resultadoscom o mínimo consumo de combustível.

Carlos Blanco

Contudo, os técnicos da marca bávara não se con-tentaram só com a utilização de menos energiae, por isso, prosseguiram de forma a gerarem aprópria energia para os seus motores. Com os

conceitos de condução alternativos que incluem os veícu-los híbridos, totalmente eléctricos e propulsionados ahidrogénio, aproximam-se cada vez mais da mobilidade100% isenta de emissões. Todos os seus modelos integraminovações criativas do BMWEfficientDynamics, como é ocaso do BMW 320dEfficientDynamics Edition queinclui o extraordinário poten-cial de eficiência e dinamismodo premiado conjunto de tec-nologias.

Graças a este conjunto detecnologias, a BMW ganhouagora, além de um conjuntode outros prémios, o primeirogalardão do "Green SteeringWheel" relativo à excelênciaambiental na indústria automóvel.

O BMW Série 3 Berlina é um vencedor em todas as ver-tentes. A dinâmica surpreendente e a tecnologia impres-sionante foram combinadas num design inconfundívelcuja singularidade é potenciada pelas três linhas de designBMW: Modern, Sport e Luxury. Os elementos de designinterior e exterior exclusivos, da marcante grelha BMW emforma de rim e das entradas de ar às jantes de liga leve,conferem ao automóvel uma aparência absolutamente dis-tinta. O resultado traduz-se em três personalidades dife -rentes com um factor em comum - estilo.

A potência e a presença do BMW Série 3 tornam-nosinónimo do prazer de conduzir. Este automóvel represen-ta os conceitos inerentes a todos os BMW: carácterdesportivo, elegância, estética pura e tecnologia pioneira.

Não é por mero acaso que o carácter desportivo seja aprimeira qualidade mencionada. Na sexta geração deste

modelo, que agora ensaiámos, volta a ser a principal ca -racterística do BMW Série 3 Berlina, reflectindo-se emcada detalhe: um design robusto e uma nova dianteiradistinta. O modelo assume-se como o líder evidente dosegmento com conceitos de transmissão que estabelecemos mais elevados padrões de referência em termos de per-formance dinâmica e economia de combustível, graças aoBMW EfficientDyamics, e com inovações excepcionais,como o BMW Head-Up Display Full-Colour, integrado noBMW ConnectedDrive.

As linhas de design BMWModern, Sport e Luxury sãooutra inovação fascinante erepresentam três formas dedesign distintas para o interi-or e para o exterior. Cadalinha de design permite selec-cionar livremente uma sériede versões de equipamentoexclusivo à medida daspreferências do comprador. Oresultado é uma aparênciasempre perfeita e harmoniosa.Desta forma, o BMW Série 3

Berlina demonstra uma versatilidade que o torna numautomóvel único.

A pura dinâmica de condução é uma qualidade ine -rente a todos os BMW. A base técnica para esta experiên-cia de condução entusiasmante é o chassis. Garante umcontacto ideal com a estrada e um comportamento per-feito. Este é o resultado de uma série de componentes ino-vadores perfeitamente combinados e da distribuição depeso à frente/atrás de 50:50.

E a cereja no topo do bolo: entrada no automóvel semchave (porta do condutor, porta do passageiro da frente etampa da bagageira), incluindo iluminação da área circun-dante integrada nos puxadores exteriores das portasdianteiras e traseiras. Inclui ainda a abertura da tampa dabagageira sem mãos - basta um movimento rápido do pésob o pára-choques traseiro para um sensor accionar aabertura da tampa da bagageira.n

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Boavida|Saúde

Volta o Outono, já se ouve tossir…Estamos de novo no Outono e, com os primeiros dias cinzentos, vêm também as primeirasconstipações. As temperaturas mais baixas e o regresso às escolas são condições que, por si só,facilitam o aparecimento das infecções respiratórias. Os mais susceptíveis são sempre os maisindefesos - os doentes crónicos, independentemente da idade, as crianças e os idosos.

M. Augusta Drago medicofamí[email protected]

Orisco de contrair uma infecção respiratóriaaumenta quando as pessoas mais vulneráveishabitam ou permanecem por largos períodosde tempo em espaços partilhados com muitas

pessoas. É o que acontece nos infantários, nas creches enas escolas. Da mesma forma, os idosos residentes emlares ficam mais vulneráveis às infecções respiratórias,porque a aglomeração de pessoas favorece a propagaçãodos agentes causadores desta doença.

Hoje, como as aulas jácomeçaram e as crianças fazemouvir os primeiros espirros, vamosfalar das infecções respiratóriasnas crianças e noutra ocasiãotrataremos dos cuidados a ter comos mais idosos.

Nas crianças, mais de 80% dasinfecções respiratórias são cau-sadas por vírus e só cerca de 10 a20% têm a sua origem em bac-térias. No entanto, muitasinfecções são mistas. Acontece fre-quentemente uma criançacomeçar por ter uma infecção virale, dentro desse quadro viral, vir a ser posteriormenteinfectada por uma bactéria. É muito importante fazer odiagnóstico correcto para se proceder ao tratamento ade-quado pois, como todos devemos saber, a administraçãode antibiótico só deve ser feita quando se suspeita de umainfecção bacteriana.

Felizmente que a maior parte das infecções respi-ratórias nas crianças são auto-limitadas, isto quer dizerque se curam por si, e podem ser perfeitamente tratadasem casa. As infecções respiratórias virais são as mais fre-quentes e apresentam-se como uma simples constipação ecomo gripes, que quase sempre se resolvem em casa, masque também podem desenvolver situações mais com-plexas e requerer internamento hospitalar.

Quando o agente causador é um vírus, contamos sobre-

tudo com as defesas do próprio organismo que, em cir-cunstâncias normais, é quanto basta. Nestes casos o trata-mento que se faz é aos sintomas, apenas para melhorar oestado geral do doente e contribuir para reforçar as suasdefesas imunitárias.

Em qualquer situação, perante uma infecção respi-ratória, há medidas muito simples que podem ser degrande ajuda, tais como desobstruir e humidificar as viasaéreas, quer aplicando soro fisiológico no nariz quer comvapores; hidratar a criança, fazendo-a ingerir mais líqui-dos, e quando estiver deitada, colocar uma almofada para

lhe elevar a cabeça e facilitar arespiração.

Em geral, os pais sabem quan-do uma vulgar constipação secomplica e é preciso que a criançaseja observada rapidamente porum médico. Enquanto essa con-sulta não se efectua, manda aprudência que se mantenha a cri-ança hidratada e com a febre con-trolada. São considerados sinaisde alarme, requerendo uma idaurgente ao médico:

- quando a criança tem dificul-dade em respirar e a respiração é

ruidosa; quando faz um som agudo ao inspirar; quandotem febre alta e calafrios; quando tem tosse intensa, quepode ser seca; quando está agitada ou irritada; se tem asunhas e os lábios arroxeados.

Mas o melhor de todos os tratamentos é a prevenção. Avacina é um bom meio de evitar a maior parte das gripes,mas nem todas as crianças têm indicação para a fazer,pelo que se recomenda consultar o médico assistente. Paraalém da sobrelotação, já referida, existem outros factoresque aumentam o risco de infecções respiratórias nas cri-anças e que devem ser evitados. Estou a falar do tabagis-mo passivo, da exposição a humidades, a bolores e apoluentes. A ausência de aleitamento materno prolongadona primeira infância também pode contribuir paradiminuir as defesas da criança. n

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Boavida|Palavras da Lei

? Minha esposa tem uma prima em 2º grau, solteira,

com 83 anos, sendo neste momento o seu

principal apoio, dado não ter familiares por perto.

Resolveu recentemente, fazer um testamento, na

ausência de ascendentes e descendentes, a favor

de minha esposa e na falta desta a minha filha.

Instituindo-as herdeiras universais.

Sabe-se da existência de pelo menos uma

sobrinha que viveu até há pouco tempo na

Argentina.

Pergunta-se: A sobrinha tem algum direito a

herança, mesmo existindo o citado testamento,

devidamente efectuado num Cartório Notarial?

Sócio devidamente identificado

Pedro Baptista-Bastos

Este caso diz respeito ao chamamentoà herança dos chamados "herdeiroscolaterais", isto é, de todos aqueles quesejam irmãos, sobrinhos ou primos do

autor da herança, caso não haja nem ascendentesnem descendentes vivos dessa mesma pessoa, comonos descreve esta situação.

Tomemos em conta não só as regras próprias para estetipo de sucessão, bem como a regra do artigo 2135º, quedetermina que, dentro de uma classe de sucessíveis, comoos herdeiros colaterais, "dentro de cada classe os parentesde grau mais próximo preferem aos de grau mais afasta-do".

Como parece haver uma sobrinha, filha de irmão ouirmã da prima da esposa do nosso sócio, esta sucede direc-tamente na herança, de acordo com o artigo 2145º doCódigo Civil: "Na falta de cônjuge, descendentes e ascen-dentes, são chamados à sucessão os irmãos e, representati-vamente, os descendentes destes."

Mas atenção: após o falecimento da autora do testamen-to, esta sobrinha tem que ser descoberta, sabendo-se, sepossível, do seu paradeiro. Para tal, e em último caso, faz-se a chamada citação edital da sobrinha, para que se pos-sam esgotar todos os meios legais ao dispor dos interessa-dos na herança. Ninguém é obrigado por lei a deslocar-se à

JOSÉ ALVES OUT 2012 | TempoLivre 75

Herdeiros universaise sucessão de colateral

Argentina, ou ao estrangeiro, para encontrar alguém cujorasto se desconhece, mas deve lançar-se mão deste meiolegal, para que se esgotem as possibilidades legais destasobrinha ser chamada à herança. Como o testamento foilavrado em notário, o mesmo vos indicará quais os passosa seguir para se efectuar a citação edital.

Se ela for descoberta e quiser aceitar a herança, amesma será dividida na parte que couber a essa sobrinha,como representante do irmão da autora do testamento, e aparte que couber à sua esposa, enquanto colateral da auto-ra do testamento.

A determinação de cada parte da herança depende doconjunto de bens que figurem no testamento e seu respec-tivo valor.

No entanto, se ela não for encontrada, após a aberturado testamento, e após o prazo dos éditos terem corrido, asua esposa torna-se herdeira universal da totalidade dosbens. n

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Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

HORIZONTAIS: 1-ARUGA; FEL; REMAR. 2-MOTA; DERAM; MANA.3-ALA; POR; CEM; RUM. 4-RA; EIRA; ALÉM; LO. 5-ASIRA; SOR;RIMAS. 6-M; RASA; U; VALA; A. 7-PÓ; VERDE; CO. 8-A; SILO; E;ZONA; C. 9-CROMO; OMS; PASTA. 10-EU; OCOS; ANOS; EL. 11-RÉS; AIS; COR; ELA. 12-ALIA; LONAS; AMAR. 13-RAROS; SER;BRASA.

SOLUÇÕES

ClubeTempoLivre > Passatempos

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15Palavras Cruzadas | por José Lattas

HORIZONTAIS: 1-Canal subterrâneo; Amargo; Lutar. 2-Gorjeta;Abonaram; Colega. 3-Flanco; Preposição; Numerosos; Bebidaespirituosa proveniente da destilação do melaço. 4-Rádio (s.q.);Malhadouro; Acolá; Forma antiga do pronome pessoal comple-mento da 3ª pessoa, que ainda subsis-te em alguns casos. 5-Empunhara; Freira; Poemas. 6-Descrédito; Cava. 7-Cinza;Débil; Cobalto (s.q.). 8-Compartimento subterrâneo onde seguardam misseis, prontos para o lançamento; Banda. 9-Desenho impresso a cores; Organização Mundial de Saúde(sigla); Massa. 10-A pessoa que fala; Chochos; Aniversário;Forma arcaica do artigo o. 11-Cerce; Gemidos; Afecto; Pronomepessoal feminino. 12-Agrupa; Petas; Apreciar. 13-Estranhos;Essência; Ansiedade.

VERTICAIS: 1-Preferiram; Amolar. 2-Nome vulgar das avescolumbiformes, da família das Co-lumbrídeas (pl.); Rua estrei-ta. 3-Joeira; Colérico; Gozas (invertido). 4-Gálio (s.q.); Tempo;Intrínse-co; Adjunção de preposição e artigo. 5-Lavabos; Furna.6-Aflição; Bagatela; Palavra de uma língua ou dialecto faladona Gália, que significava sim. 7-Monstros; Dificuldades. 8-Érbio (s.q.); Concelho de distrito de Santarém; Néon (s.q.). 9-Cobrir de laca; Arrancar. 10-Doçura; Alternativa; Pronome pes-soal complemento, 1ª pessoa do plural. 11-Líquido medica-mentoso que provém da destilação do zimbro; Confrontar. 12-Preposição; Milheiro; Contracção da preposição em e do artigofeminino (pl.); Aparência. 13-Abundância; Padiolas; Avestruz.14-Abole; Pinturas. 15-Densa; Ocultara.

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

ClubeTempoLivre > Passatempos

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 41Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

ClubeTempoLivre > Passatempos

N.º 41 SOLUÇÕES

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Page 77: Tempo Livre Outubro

Cartaz > ClubeTempoLivre

Beja

Curso: Viola Campaniça, de 13 Out. a 17

Nov. | Sáb. 15h/19h Inscrições: até 5

Out. (inscrições limitadas)

Workshop: Iniciação à Caracterização

de Actores, dias 20 e 21; 27 e 28 Out.

Inscrições: até 12 Out. (inscrições

limitadas)

Masterclass: Clarinete, dias 3 e 4 de

Nov. |10h/18h30, Cine Teatro Pax Júlia

Inscrições: até 26 Out. (inscrições

limitadas).Informações - tel. 284 318 070

| [email protected]

Braga

Cursos: Informática | 3ª e 5ª 18h/19h;

Bordados Regionais | 2ª e 4ª 10h/12h;

Educação Musical e Piano | 2ª, 3ª, 4ª e

5ª 17h/20h; Cavaquinho | 2ª e 4ª

19h/20h; Violino | 2ª e 4ª 17h40/20h;

Viola | 3ª e 5ª 19h/20h e 20h/21h; Ballet

| 2ª e 4ª 18h/19h; Danças de Salão | 3ª

18h/20h; Pintura | 3ª e 5ª 10h/12h e

15h/17h. Informações - tel. 253 613 320 |

[email protected]

Évora

Exposição: "Era Uma Vez, Teatro de

Marionetas", de 3ª a Dom., 10h/13h e

14h/18h, até 21 Dez.

Curso: Iniciação à Gaita de Fole, de 15

Out. a 17 Dez. - 2ª | 19h/20h30.

Idade mínima: 8 anos | Os alunos

deverão possuir instrumento próprio.

Informações - tel. 266 730 520 |

[email protected]

Portalegre

Curso: "Formação de Actores -

Expressão Corporal e Dicção", dias 13 e

14; 20 e 21, 14h/19h; 27 e 28, 14h/18h,

Centro Cultural de Campo Maior.

Preços: 30 euros associados | 40 euros

N/ associados

Informações - tel. 245 337 016 |

[email protected]

Porto

Futebol: Início do campeonato - Taça

Fundação Inatel 2012/13, em Vila Nova

Gaia, Porto, Maia, Matosinhos, Paredes,

Gondomar, Valongo.

Conferência: Ilse Losa e o Porto no

Tempo da Guerra - 1939/1945, dia 26, às

21h30, Auditório, Rua do Bonjardim, 501.

Cursos: Informática; Música; Artes;

Línguas; Danças; Yoga; Tai Chi.

Informações - tel. 220 007 950 |

[email protected]

Viana do Castelo

Teatro: Festival de Outono

CCD Casa do Povo de Freixo, de 6 a 30,

Freixo, Ponte de Lima.

Curso: Acção de Formação Musical, de

19 de Out. a 30 de Nov., Encontro de

Tocatas do Vale do Lima. Preços: 5 euros

associados | 7,50 euros N/ associados.

Informações - tel. 258 823 357 |

[email protected]

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Discutem como sempre discutiram desde que seconheceram na Faculdade: civilizadamente,prudência nas palavras, léxico escolhido, ges-tos elegantes, que à força de prática há muito

deixaram de ser estudados, o sorriso sempre pronto a ali-sar qualquer aresta inoportuna. Não obstante, além destaaparente semelhança e da amizade que os une, tudo oresto os separa na vida: o clube de futebol, a marca doscarros e dos fatos, a permilagem dos apartamentos, asideologias políticas e, evidentemente, até o volume dasrespectivas contas bancárias.

De súbito, a palavra cai no meio do diálogo, inespera-da e importuna.

Surpreendentemente, na transparência da tarde, a gai-vota não se deteve no seu voo, nem o seu grito deixou derasgar o azul do espaço ou as ondas deixaram de vir mor-rer-lhes aos pés.

Já é a segunda vez, porém. Já um dia lhe chamara“reaccionário”. Calara-se, mas sentira-se ofendido. Comoagora. O sorriso que envolvera a palavra impedira-oentão de reagir.

“Filisteu! És um filisteu!” Não fora ter lido por acaso aquele conto do Lawrence,

nem sequer sabia que, ainda que risonhamente, estava aser insultado, que, mesmo gracejando, o intelectualíssimoNuno estava a chamar-lhe “aburguesado, materialista,convencional” e a criticar-lhe, implicitamente, os poucosinteresses artísticos e intelectuais. Tudo isso, porque ele,João, aprecia o conforto, é realista, vota e investe “certi-nho”. Quando compra um quadro – que também compra!Gosta de olhar para ele e saber o que vê.

Vez por outra, até vai à Gulbenkian ou ao CCB, quesempre encontra lá pessoas que lhe interessam. Hoje, noentanto, não quer ir a concerto nenhum. Está de férias,quer ir ao Casino!

Interiormente irritado, desvia abruptamente do filhopara o amigo o olhar, que, inevitavelmente, colide com abarreira de um sorriso. Durante um segundo, hesita.Depois, sorri e diz: - Deixa lá ser… Deixa lá ser…

Na verdade, os Filisteus, há muito desaparecidos nas

convulsões da História, ficam a dever a má fama que ostem acompanhado ao longo de séculos aos Hebreus, seusinimigos, que no Antigo Testamento imortalizam osPlishim como povo bárbaro, belicoso, cruel, e de peque-na estatura intelectual, que, vindo por mar (talvez deCreta), ocupa o território vizinho, que, em hebraico,designam por Peleshet, “país de imigrantes ou invasores”(Palastu e Pilishta, em antigas inscrições assírias),“Filisteia” – a actual “Palestina”.

Em 1687, uma confrontação entre universitários ecidadãos comuns na cidade alemã de Jena, em que seregistam várias mortes, leva um clérigo local a fazer umsermão sobre o valor da educação, para o que escolhecomo tema o texto bíblico do Livro dos Juízes, em queDalila diz: “Os Filisteus vêm sobre ti, Sansão”.

Irreverentes, os estudantes, logo decidem que osFilisteus (Philister, em alemão), cujas qualidades negati-vas como povo conhecem da Bíblia, só podem ser os nãouniversitários, logo, os incultos, os destituídos de capa-cidades intelectuais, os que só tem interesses vulgares ematerialistas.

A esse episódio se atribui o desvio do termo “filisteu”do campo semântico histórico geral, para o mais restritoda gíria das classes cultas, em que adquire um carácterprofundamente pejorativo.

Modernas investigações no domínio da arqueologiatêm demonstrado, contudo, que os Filisteus eram, defacto, senhores de uma cultura florescente, reconhecidapela amplidão das suas cidades, pela grandiosidade erequinte das suas construções; pelas inovações introdu-zidas na construção naval e até pela qualidade dos seusvinhos e do seu azeite.

Não tardará, por isso, o dia em que chamar filisteu aalguém seja, logicamente, um elogio, e não só das quali-dades físicas, como era em português, quando, no séc.XVIII, o Padre Bluteau escreve: “Quando querem encare-cer a extraordinária estatura de hua pessoa, dizemos quehe hum Philisteo, porque a maior parte dos Philisteoserão homens de estatura Dicionário Etimológico daLíngua Portuguesa.

Filisteu? com muita honra!Oferecia o seu silêncio / como um copo de água. /E ao bebê-lo /refrescavam-se as palavras.Eduardo Mitre, Presença, in: Líneas de Otoño, Bolívia, 1993. Trad.: MAVF

O Tempo e as palavras

Maria Alice Vila Fabião

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Ainda não eram as dez da manhã,o sol abrasava e Otílio Andrémanteve-se abrigado no toldo.Tostado já ele estava, depois de umasemana em que se expusera comexcesso à inclemência solar. Por umaquestão estética, reconhecia. O ter ultrapas-sado os 56 de idade não o impedia de zelarpela aparência - no vestir, quando vestido, nobronzeado do corpo, caso viesse a desnudar-se.Para já, sentia-se atraente no seu moreno depraia. Teria ainda mais uns dias para reforçar obom aspecto, auxiliado pelas sucessivas doses decreme com que se ia besuntando.

O toldo ao lado, tão próximo que as sombrasse confundiam, parecia agora deserto. Aindabem. Aí se acoitara família ruidosa, tão faladora eaos gritos que não lhe concedia descanso.Decerto outros vizinhos chegariam, tomara quefossem simpáticos ou, pelo menos, discretos.

Entretinha-se a folhear os jornais da manhã -três, um de informação geral, outro de economiae o indispensável desportivo - quando se aperce-beu que alguém se instalava no toldo vizinho. Porenquanto, uma pessoa só. Mulher. E linda, perce-bia-se, apesar dos avantajados óculos escuros quesão moda taparem meio rosto. Olhou-a, disfarça-damente, e não conteve uma exaltação dos senti-dos: nesse preciso momento, ela evadia-se datúnica branca com que chegara, revelando umcorpo sem nada a mais nem a menos.

Tentou regressar à leitura dos jornais masfugiam-lhe os olhos para a figura surpreendenteque o acaso colocara tão perto dele. Sozinha. Porpouco tempo, calculou, o mais provável seriaaparecer um namorado, marido, amante, sabe-selá, e para ali ficariam fazendo-se meiguices.Preferia não ver. Mas enquanto não ocorresse tãopresumível encontro, não era fácil alhear-se dasedutora visão. Ainda bem que o Luís Paulo, o

filho de 24 anos, ficara retido na Holanda porobrigações profissionais. Mais uns dias, avisarapor e-mail, e lá se encontrariam, na praia de sem-pre, menos alegre agora pela falta da mãe.

Otílio André adorava o filho, rapaz de múlti-plas qualidades, a que se juntava, porém, umaaversão incompreensível: não suportava ver o paia interessar-se por mulheres. Nem que fosse umsimples olhar. Birra tanto mais estranha por nãoter partido dele a ruptura do casal. Dia absurdo,esse em que a mulher lhe comunicara que nãolhe apetecia viver mais com ele. E, sem maisexplicações, fechou a porta. Para o severo moço,no entanto, era como se a mãe continuasse donada casa e do marido, devendo o pai comportar-secomo se nada tivesse mudado. Cena tormentosafoi a da tarde em que Otílio André, já a medo,declarou o propósito de juntar os trapinhos comHelena Júlia, nova colega na empresa, uns vinteanos mais nova, carinhosa e bonita, que numintervalo de almoço confessara ao colega andarperdidinha por ele. A reacção de Luís Paulo tra-duziu-se numa crueldade extrema: "Se isso acon-tecer, nunca mais te quero ver!"

Morto à nascença o romance, de novo seguiusozinho para a praia de todos os anos, lá chegariao filho um ou dois dias depois. Atrasara-se,porém, e só não era aborrecido pela liberdadeque lhe deixava para deitar o olho à graciosa do

Sol e sombra

Os contos do

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toldo ao lado. Mais o impressionava ir progressi-vamente notando que em muito se parecia elacom Helena Júlia, de quem se afastara sem poderexplicar porquê.

Assim iam passando os dias, Otílio alegrava-se por não ter surgido ainda o inevitável valetedaquela dama e observava-a estendida na toalha,com frequência retirava os óculos de sol para seentregar à leitura de um livro. Nessas ocasiões,melhor expunha a beleza do rosto e Otílio notoumais semelhanças com Helena Júlia, abrupta-mente retirada do seu caminho por um filho tei-moso num bizarro culto da mãe. Viu a vizinha depraia fechar o livro e correr a refrescar-se nasondas. De imediato sentiu que também lhe ape-tecia ir ao banho. Quando ela retomou o cami nhodo toldo, também lhe pareceu que a água estavaa ficar fria e seguiu-a, uns três metros atrás. Trêsmetros é uma boa distância para se avaliar dasperfeições de um corpo em biquini e o observa-dor concluiu que tão esbelta assim só talvezHelena Júlia.

No dia seguinte ainda pensou meter conver-sa. Imaginou que não seria atrevimento ofere-cer-lhe os jornais da manhã, gesto de simplescortesia. Não deveria a deusa interpretá-lo mal.Deteve-se, porém. Iria, assim, iniciar umarelação de mútuo conhecimento, teria de repe-tir todos os dias a cedência dos jornais, era ine-vitável tagarelarem um pouco e quando LuísPaulo chegasse logo se aperceberia e estavam asférias estragadas. Decidiu ficar quieto.Veio odomingo em que ele se assustou, o toldo aolado permanecia demoradamente vazio. Talvezela tivesse partido e nem uma palavra lhe ouvi-ra, já agora gostaria de saber se também era boade voz, quem sabe se doce e suave como a deHelena Júlia. Aproximava-se o fim da tardequando a viu de volta, e outra vez aquela cenaexcitante de despir a túnica e mostrar muito doque ela cobrira. Apressada seencaminhou para o mar,nadou em braçadas elegan-tes, o silencioso admirador

ficou sentado no toldo com vontade de a ver,agora de frente, quando voltasse do banho. Etão atento se encontrava que nem se apercebeuque nova personagem entrava em cena. Atéouvir:

– Olá, pai !Levantou-se de um pulo para o festivo abraço.

Já nem viu o aproximar da moça, em corrida parao toldo, mas, desta vez, o toldo para que corriaera o dele próprio. Surpreso, desconcertado, viu-a a enganchar o pescoço do filho e não tardaramas apresentações:

– Esta é a Ana, pai. Vai comigo para a Holanda,casamos lá.

Ela fez uma careta e disse:– Oh, que pena! Tantos dias aqui perto do

senhor, sem imaginar que era o meu sogro.Poderíamos ter conversado tanto, não é verdade?

O sogro forçou um sorriso e disse– E você estava aí, nesse toldo? Desculpe, nem

tinha dado por si. Enfio-me na leitura dos jornaise quase não vejo ninguém.

O filho tinha alguma coisa a dizer. SegurouOtílio por um braço, afastando-se um pouco daradiante Ana e segredou:

– A mãe telefonou-mepara participar que temum novo companhei-ro. Agora tu, pai, tenso meu acordo para tecasares com essa HelenaJúlia. Ficarei contente.

– Obrigado – sorriu o pai,enquanto ia enrolando a toa -lha. – Infelizmente, ela já se ca -sou com o director do pessoal. n

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Pela madrugada encontrei a solução para o proble-ma de querermos ir de férias e de não termos di -nheiro suficiente. Um casal nosso amigo, com osseus dois filhos, ia para Canas de Senhorim passar

férias, numa pensão modesta mas impecável, que tinhacomo cozinheiro um reformado da marinha que cozinhavacom mais estrelas do que as do Guia Michelin. E nós tam-bém queríamos ir, claro: eu, a Maria José e a filhaAlexandra.

Esta situação de não termos dinheiro suficiente, estava-nos na massa do sangue; fazia parte do nosso ADN e jávinha de família, pelo que ninguém estranhou ou fezcomentários à penúria reinante. E então, a solução que demadrugada se me apresentou mais fiável era levar um livropara traduzir e pagar o ripanço com o trabalho. Equaçãoperfeita, direi mesmo sem falsa modéstia, brilhante.

Como à tarde não estava de serviço, fui à AgênciaPortuguesa de Revistas falar com um dos sócios, Mário deAguiar, que editava, na altura, cerca de 25 colecções de li -vros cor-de-rosa e quatro revistas. E ele disse que sim sen-hor, por quem é, vou pedir ao meu sócio, o Dias, para quelhe mande um livrito em espanhol. E assim foi, mal ele adi-vinhando em que se metia.

Recebi o livro de 150 páginas da colecção "Pérola", escri-to por uma senhora chamada Maria Morgan (pseudónimo?),já com o título em português de "Um Homem Enigmático"(no original, "El imposible Juan"), que já fora dado pela APR,avanço devido à programação com antecedência e à publi-cidade.

Pois o enredo do livro é bem simples: dois casais da clas-se A, um com uma linda filha e o outro idem e mais umrapaz, têm as respectivas herdeiras num colégio interno declasse A, com uma directora inteligentíssima da mesmaclasse social e um professor de formas apolíneas alcunhado

pelas pequenas de "João sério". Apresentados os actores, háque enquadrar o enredo. Maria Morgan decidiu: que a lindafilha do segundo casal se apaixonasse pelo rapaz do pri-meiro casal (um estroina com carros descapotáveis), massem o saberem, nem um nem o outro! Decidiu também quea menina (lindíssima e alta e loura e perfumada e bem ves-tida) se apaixonasse pelo professor, o tal "João sério", daquiresultando situações cómicas ou apenas ridículas. Falta sóapresentar uma professora, lindíssima, alta, elegante, lourae competente, amiga do "João sério", por quem as meninaspensam que este se teria apaixonado e que ela já estava grá-vida na abertura das aulas do tal "curso especial".

Vão então as duas amigas frequentar um "curso especial"de um ano, que me pareceu de Literatura, enquanto come-cei, ao mesmo tempo, a gostar dos petiscos do cozinheiroex-embarcadiço, na pensão de Canas. Éramos, portanto,quatro casais felizes, dois no livro e dois em férias. Mas ocerto é que a minha filha não queria comer e o livro não sequeria traduzido.

Arranjei um recanto na pensão para executar a minhatradução, convencido, como nove milhões de portugueses,que sabia suficiente castelhano para aquela tradução semgrandes responsabilidades; uma brincadeira de crianças.Pois é!

Na primeira manhã ainda não foi mal mas na segundacomeçou o calvário. Com um dicionário pequenino decinco mil palavras, liliputiano, de um amarelo doentio, meudesauxiliar e desesperante companhia, fui autenticamenteesculpindo, em arrepiante aventura e esforço neuronal,aquela estorinha para adolescentes, muitas vezes escreven-do o que me parecia ser a lógica da sequência, outras fican-do a olhar para o parágrafo esperando, muito quieto, ou queum raio me iluminasse ou que, num flash de fada madri -nha, me surgisse tudo claro e com as palavras certas.

Regressados a Lisboa, entreguei, ao cuidado do senhorMário de Aguiar o livrinho e a tradução. Cerca de oito diasdepois pede-me ele que vá lá falar-lhe. O que fiz a correr.Recebeu-me com uma cara pouco alegre e foi dizendo: "Omeu amigo não traduziu passagens no livro. Noutros sítios,como no final, aumentou em cerca de dezasseis o númerode páginas…" Expliquei-me: "Achei um final muito chochopara uma paixão de 150 páginas. Meti-lhe muito luar, estre-las cadentes, o som de uma valsa vinda do salão de fes-tas…". E ele insensível: "Pedi a um revisor da casa que fizes-se a revisão e isto encareceu o livro, como calcula." "O me -lhor - disse eu -, é pôr um pseudónimo como tradutor, porexemplo Cardo Marques…". "Logo se vê". E eu, envergo -nhado: "Continuamos amigos?". "Claro".

Lá do fundo, na sua secretária, o Dias sorria para mim,com amizade.n

“Traduttoretraditore”

Crónica

Álvaro BeloMarques

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