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Parasitologia TENÍASE - PARTE 1

TENÍASE - PARTE 1 · O conjunto teníase / cisticercose representa um grande problema de saúde pública. No Brasil, as espécies de Tênias são uns dos parasitas mais comuns, sendo

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Parasitologia

TENÍASE - PARTE 1

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• INTRODUÇÃO

O Complexo Teníase / Cisticercose é constituído por duas entidades mórbidas distintas, causadas pelas mesmas espécies de cestódeos, porém em fases dife-rentes do seu ciclo de vida. A Teníase é conhecida popularmente como “solitá-ria”, enquanto que a Cisticercose é conhecida como “lombriga na cabeça”. Nes-te resumo, conheceremos melhor a Teníase. Sua classificação científica se defi-ne por: Reino – Animalia; Filo – Platyhelmintes; Classe – Cestoda; Ordem – Cyclophyllidea; Família – Taeniidae; Gênero – Taenia; Espécie – Taenia sp.

• EPIDEMIOLOGIA

Trata-se de uma verminose cosmopolita, ou seja, pode ser encontrada em pra-ticamente qualquer lugar do mundo. Possui alta prevalência (10%) nos países em desenvolvimento, onde existem condições socioeconômicas desfavoráveis, saneamento básico precário e vigilância sanitária falha. O conjunto teníase / cisticercose representa um grande problema de saúde pública.

No Brasil, as espécies de Tênias são uns dos parasitas mais comuns, sendo en-contradas em cerca de 5% dos bovinos e suínos inspecionados. Sendo a sua prevalência variável dependendo da região e época investigadas. São mais co-muns ou mais notificadas, nas regiões Sul e Sudeste. A provável baixa preva-lência em algumas regiões pode ser explicada ou pela falta de notificação ou porque os tratamentos são realizados nos grandes centros, como Rio de Janei-ro, São Paulo, Curitiba, Brasília, o que dificulta a investigação da procedência do local da infecção.

• TRANSMISSÃO E CICLO BIOLÓGICO

A teníase humana ou solitária pode ser causada pela Taenia solium ou Taenia saginata, formas adultas hermafroditas, que parasitam o intestino del-gado do ser humano. Possuem como formas evolutivas: ovo, cisticerco e verme adulto. Os ovos das duas espécies são morfologicamente indistinguíveis, pos-suindo as mesmas características, e por isso, se fala “ovo de tênia”. Trata-se de um ovo embrionado, apresentando formato esférico, medindo cerca de 300 µm a 400 µm de diâmetro, de cor amarelo-amarronzado, com estriações periféricas

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radiais, embrióforo espesso e estriado protegendo o embrião. Esse embrião recebe os nomes de Hexacanto ou Oncosfera e possui três pares de acúleos ou ganchos, sendo formado por uma membrana-dupla. Os ovos são liberados no interior das proglotes grávidas juntamente com as fezes do hospedeiro e so-brevivem viáveis no ambiente externo por meses. Esses ovos liberados, serão então ingeridos pelos hospedeiros intermediários (suínos e bovinos), juntamen-te com a água e alimentos contaminados.

Os bovinos serão infectados pela espécie Taenia saginata e os suínos pela Ta-enia solium. Uma vez dentro dos organismos desses animais, mais precisamen-te na região intestinal, o embrião hexacanto será liberado do ovo e usando seus 3 pares de ganchos, irá perfurar a mucosa intestinal, chegando á circulação sanguínea e, finalmente, alcançando a musculatura do hospedeiro.

Nesses músculos, o embrião hexacanto se desenvolverá até formar a larva ou cisticerco, que pode sobreviver por anos alojado nessa musculatura. No caso da Taenia saginata, seu cisticerco é o Cysticercus bovis; e no caso da Taenia so-lium, seu cisticerco é chamado de Cysticercus celullosae. Como a cisticercose humana é raramente causada pelo Cysticercus bovis, denomina-se que o termo “cisticerco” seja usado em referência ao Cysticercus celullosae da Taenia so-lium. Essa larva permanece na sua forma encistada nos músculos dos animais, sendo constituída por uma vesícula com líquido translúcido. No seu interior, é encontrada a escólex ou cabeça da Taenia com suas quatro ventosas, rostelo com acúleos e colo já formados.

O ser humano é o único hospedeiro definitivo das Tênias e será infectado ao ingerir a carne crua ou mal cozida dos bovinos e/ou suínos, contendo essas lar-vas alojadas na sua musculatura. Essas carnes são conhecidas popularmente como “carne de canjiquinha” ou “carne com pipoquinha” e são muito procura-das por terem o sabor diferenciado. Uma vez ingeridas, chegando ao estômago, a vesícula será digerida e haverá o desincistamento. A larva migrará até o intes-tino delgado e se desenvolverá até verme adulto por cerca de 2 semanas.

Esse verme adulto se fixará à mucosa intestinal usando a sua escólex e residirá nesse ambiente. Seguindo a escólex ou cabeça, se localiza o colo ou pescoço do verme, região mais fina do seu corpo e com enorme potencial de multiplica-ção celular. A partir do pescoço, se forma o estróbilo do verme adulto formado por proglotes imaturas, maduras e grávidas. Cada proglote funcionará como

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uma unidade individual, reproduzindo-se de forma independente. Nas proglo-tes imaturas, são formados os órgãos sexuais masculinos. Seguindo a matura-ção, nas proglotes maduras, são encontrados os dois órgãos sexuais: masculino e feminino, aptos para a reprodução. Por fim, na última porção do estróbilo, são encontradas as proglotes grávidas, contendo os ovos no seu interior.

As espécies de Tênia se diferenciam pelas características encontradas nas es-cólex e nas proglotes grávidas dos vermes adultos. No caso da Taenia saginata, a escólex é quadrangular, medindo 2 mm de comprimento, com quatro vento-sas, sem rostelo e sem acúleos. Sua proglote grávida possui formato retangular, com muitas ramificações uterinas – 12 a 30 ramos -, contendo cerca de 160 mil ovos no seu interior. Já a Taenia solium possui uma escólex com 1 mm de com-primento, de aspecto “solar” devido à presença do rostelo com acúleos, com 4 ventosas. Sua proglote grávida apresenta formato mais quadrangular, com me-nos ramificações uterinas – 7 a 12 ramos -, contendo cerca de 80 mil ovos no seu interior. A Taenia saginata pode alcançar até 12 metros de comprimento (em casos de crescimento exagerado, pode chegar a 25 metros), com cerca de 2 mil proglotes formando o seu estróbilo. A Taenia solium pode alcançar até 7 metros de comprimento com cerca de 1 mil proglotes formando o seu estróbilo. Com isso e considerando a extensão do intestino humano, somente 1 verme consegue habitar e parasitar o hospedeiro humano, por isso recebe o nome po-pular de “solitária”. Em ambas, o verme adulto apresenta o corpo achatado dor-so-ventralmente, em forma de fita.

Uma vez que as proglotes grávidas são desenvolvidas, elas podem se despren-der do restante do corpo do verme e migrarem até a região anal sendo libera-das espontaneamente (6 or dia, em média) ou serem eliminadas juntamente com as fezes do ser humano.

O ciclo biológico da Taenia sp. é heteroxêmico, contando com dois tipos de hospedeiros para se completar – o ser humano (definitivo) e os suínos e os bovinos (intermediários).

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“Carne de canjiquinha ou com pipoquinha” – contendo as larvas de Taenia sp.